Marco #315

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Rafaela Andrade

APÓS RETIRADA DE MORADORES DA REGIÃO, OBRAS PARA A NOVA RODOVIÁRIA DO SÃO GABRIEL DEVEM COMEÇAR LOGO PÁGINA 11

Guilherme Cambraia

CEMITÉRIO DO BONFIM: VISITAS ABERTAS À COMUNIDADE REVELAM HISTÓRIAS DE PESSOAS QUE VIVERAM EM BELO HORIZONTE PÁGINA 8

Guilherme Cambraia

A JUDOCA KETLEYN QUADROS, PRIMEIRA MEDALHISTA DE ESPORTE INDIVIDUAL DO BRASIL, SE PREPARA PARA AS OLIMPÍADAS RIO 2016 PÁGINA 16

marco jornal

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 315 . Setembro de 2015

Lidyane Ponciano

Laysa Viegas

Liberdade e tolerância dão força à democracia Em agosto, populares voltaram às ruas num contexto de crise econômica e política no país. Os protestos foram realizados por manifestantes contrários e favoráveis ao governo, respectivamente, nos dias 16 e 20. O MARCO ouviu professores de ciências sociais, que analisaram o cenário atual e enfatizam o cumprimento dos princípios de liberdade e tolerância, que

LEIA AINDA

O legado que Fernando Brant deixa para a MPB A contribuição de Fernando Brant à música brasileira, sua participação no Clube da Esquina e as parcerias com Milton Nascimento, Tavinho Moura, entre outros, são lembrados em homenagem especial nesta edição. Nas obras do poeta, ganharam espaço a situação política do país, e, principalmente, os sentimentos dos jovens moradores de Belo Horizonte, seus sonhos e anseios. Brant também é

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Crime em bar no entorno da PUC traz repercussões para a região

Arquivo Pessoal

lembrado como uma figura notável. Sua filha, Ana Luísa, dá uma entrevista inédita para o MARCO e conta fatos pitorescos sobre a personalidade do pai. Rodrigo Borges relembra os tempos de Clube da Esquina, o companheirismo e as boas risadas que faziam parte das reuniões do grupo. Já o especialista Bruno Viveiros destaca a importância das letras de Brant, que deram voz a toda uma geração.

devem prevalecer num país democrático. E também alertam sobre o risco que algumas reivindicações representam para a democracia. A ética no jornalismo e os cuidados na apuração também são tratados nesta edição, quanto à cobertura das manifestações populares visando-se retratar as diferentes opiniões.

O Bar do Kareca, localizado nas redondezas da PUC, foi cenário do assassinato do jovem Daniel Vianna, no início de agosto. O MARCO aborda as repercussões deste fato, trazendo informações sobre a interdição e reabertura dos bares do Centro Comercial Top Shopping (Shopping Rosa). Mostra, também, depoimentos de um dirigente da Associação de Moradores do Coração Eucarístico, de um pró-reitor da PUC, do dono de um bar interditado e da síndica do Shopping. Os bares assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e, agora, funcionarão em horários regulamentados. Essa medida divide opiniões: enquanto alguns consideram que será efetiva na redução de “bagunças” das calouradas, dono de bar acredita que a redução de horas de trabalho será prejudicial aos negócios. PÁGINA 9

Guilherme Cambraia

Demissão reacende o debate sobre liberdade de expressão O debate sobre a liberdade de expressão voltou à tona após a demissão do jornalista Aloísio Morais, do jornal “Hoje Em Dia”. Ele foi afastado do veículo, depois que compartilhou um post no Facebook em que opinou sobre a divulgação de uma pesquisa à época do segundo turno da campanha eleitoral à

Presidência, no ano passado. Morais possui imunidade sindical, pois é diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais. Especialistas comentam esse fato, com base no princípio de liberdade de expressão, que está previsto também nas redes sociais. PÁGINA 4


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Cidade

editorial

Reflexões sobre as liberdades DÉBORA ASSIS

Festival procura dar oportunidade aos artistas locais e descentralizar os eventos culturais em Belo Horizonte

4º PERÍODO

Os leitores recebem esta edição 315, com a oportunidade de se informarem sobre assuntos de grande interesse público. O MARCO traz as repercussões das manifestações populares de agosto e uma reportagem que aborda a liberdade de expressão nas redes sociais. Ainda neste exemplar, as matérias de interesse da comunidade tratam de temas como a insegurança no Coração Eucarístico e um projeto que ajuda moradores de rua, no Dom Cabral. Destaca-se também, texto sobre a riqueza poética que o compositor e poeta mineiro, Fernando Brant, deixa como herança para o país. Os leitores são convidados, ainda, a passear pelo Cemitério do Bonfim, conhecendo, através de suas alamedas, histórias da nossa cidade. E saber o que andam fazendo os alunos da PUC Minas para monitarar o consumo de água . São assuntos submetidos à sua análise e reflexão que, hoje, preocupam cidadãos de todas as latitudes, no mundo conturbado em que vivemos. Matérias sobre tênis para cadeirantes, skatistas no Mineirão e uma entrevista com a judoca Ketleyn Quadros completam a nossa edição. Tenham uma boa leitura e, depois, expressem suas opiniões sobre esta edição do MARCO.

Comunicação para todos DÉBORA ASSIS 4º PERÍODO

A Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) e o Diretório Acadêmico (DA) realizam, nos dias 7 e 8 de outubro, a 3ª edição do FICA 13 – Festival de Comunicação e Artes. O evento abordará o tema “Democracia e Diversidade Cultural”. Ércio Sena, coordenador do curso de Comunicação Social, enfatiza a proposta de uma reflexão a partir de produções, intervenções e mostras. Elas devem re-

Descontorno cultural expressa diversidade

fletir como a democracia e a chance de participação das pessoas nos campos da arte e da cultura dependem “do compromisso com a explicitação da possiblidade de diversidades que existem nesses campos”. O FICA 13 incluirá palestras e oficinas, em cerca de 48 atividades. Para os alunos do 1º ao 4º períodos, da disciplina Seminários, será obrigatório um mínimo de atividades. Os alunos do 5º ao 8º serão liberados de aula caso se inscrevam em atividades.

expediente jornal marco

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal PUC Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ercio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editora: Prof. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Maura Eustáquia e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Clara Sales, Débora Assis, Isabela Maia, Jamilly Vidigal, Marina Fonseca e Winicyus Gonçalves Monitor de Fotografia: Guilherme Cambraia Monitor de Diagramação: Thiago Carminate CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares

JÉSSCIA MARQUES PAOLA PRIMAVERA BRUNO DE ASSIS AYANA BRAGA 1º E 2º PERÍODOS

Sábado, dia 14 de agosto ocorreu o Descontorno cultural no CCPE (Centro Cultural Padre Eustáquio). Foram oferecidas ao público oficinas, apresentações de teatro, dança e circo, exposições fotográficas, saraus de poesia, entre outras atrações artísticas gratuitas ao longo de 12 horas de programação. O Descontorno Cultural é uma proposta da Fundação Municipal de Cultura, que existe desde 2012 com objetivo de descentralizar os eventos culturais de BH, levando-os para fora da zona delimitada pela Avenida do Contorno. Os eventos programados ocorrem anualmente em 16 Centros culturais da capital. Nessa edição, o tema foi diversidade musical. No CCPE os gêneros musicais variaram do forró ao folk -rock. Com uma estrutura organizada, segurança e conforto para o público que foi prestigiar o evento, os artistas puderam apresentar-se e mostrar sua arte sem nenhum problema. A primeira atração foi ginástica terapêutica Lian Gong. Fundamentada na medicina tradicional chinesa, ela tem como objetivo principal a prevenção de dores e a estimulação dos sentidos. Após a ginástica, ocorreu a mesa da partilha: café da manhã oferecido aos presentes no local. Às 8h30, apresentou-se o músico italiano Alberto Lombardi. Seu repertório incluiu músicas em italiano, francês, inglês e português, entre composições autorais e “covers”. Morador há dois anos no bairro Padre Eustáquio, ele já viveu, com sua esposa Júlia Lombardi, em vários lugares do mundo. Entre eles a Tunísia, onde aprendeu a falar francês e a Inglaterra, nos anos 1960, onde teve contato com a músi-

Muro no bairro Padre Eustáquio ilustra ideia do evento

ca de Bob Dylan, seu artista preferido. MUITA FESTA

Às 9h30, o grupo de forró Assum Preto, formado pelo trio Bruno Valeriano, Robson Junior e José Neto, fez o público o dançar com uma apresentação de cerca de duas horas. Entre os mais animados, estavam os alunos do professor Maciel, que formam o grupo Arena do Forró. As aulas do grupo acontecem aos sábados, das 9h às 12h e é direcionado, principalmente, aos idosos. Segundo Thaís Corrêa, que faz parte do grupo há um ano e meio, a população do Padre Eustáquio abraçou o forró. Ela ainda destacou os benefícios da dança, que além de ser uma atividade física, alegra as pessoas. Ainda de acordo com a aluna, nada disso seria possível, não fosse o comprometimento do professor. “A gente vem porque sabe que o professor Maciel nunca falta. O compromisso dele é o que move o projeto”. A alegria, de fato, parece ser uma constante entre aqueles que aderiram ao forró. Praticamente todos aqueles que dançavam sorriam. De acordo com o instrutor Mateus Carvalho, que trabalha no local há cerca de três anos, “se todo mundo dançasse forró, as pessoas seriam mais felizes”. Já na opi-

Ayana Braga

nião do aluno Thomaz Magno, a dança tem o poder de agregar as pessoas e um efeito terapêutico. “Às vezes se está com um problema; dançar faz você esquecê-los, assim como uma terapia”. A partir do meio-dia, houve apresentações de poesias e músicas de diversos frequentadores do Centro Cultural. Aurita dos Santos, uma senhora de 85 anos, estava entre eles. Sua produção artística vai da poesia à música. Ambas foram lançadas oficialmente, sendo o livro um conjunto de poemas produzidos em diferentes fases de sua vida e seu CD uma mistura de vários estilos que abrangem a valsa, samba e bolero. O espetáculo infantil “João e Maria” e a intervenção circense dos alunos da Escola Livre de Artes e Master Class encheram o pátio principal e animaram o público, principalmente o infantil, de forma prazerosa e divertida. Tiocapone, a banda de um homem só, surpreendeu a todos com sua apresentação, logo no início da tarde, com sua desenvoltura para tocar vários instrumentos. Ele afirma que o evento é uma oportunidade enorme para que os artistas locais mostrem sua arte e para que a população se reúna em torno de algo grandioso culturalmente. Além das apresentações artísticas de música

e teatro, alguns vendedores locais aproveitaram o movimento para expor seu artesanato, que variava de bijuterias a artigos de decoração. A gerente do espaço, Simone Rocha, apoia a iniciativa porque acha importante que a produção artesanal local seja exposta e oferecida ao público. EXPERIÊNCIAS

O Centro Cultural, além de divulgar variadas expressões artísticas, atua como um espaço onde ocorre um estreitamento dos laços sociais dos moradores da região. De acordo com o vereador Tarcísio Caixeta (PT), locais assim são importantes em grandes cidades, como Belo Horizonte, onde o senso de coletividade está cada dia mais fraco. Já de acordo com Simone Rocha, isso pode ser percebido mais facilmente entre os idosos. “Esse espaço é importante para a saúde deles. Não só em nível físico, mas também mental. Aqui eles trocam experiências e aprendem juntos. Dessa maneira, a cultura acaba provocando reflexões e contribuindo para uma vida melhor”. Outro fenômeno que ocorre no Centro Cultural é a quebra de preconceitos. De acordo com Edson Matozinhos, o local é frequentado por todo tipo de pessoa, não havendo discriminação nem racial, nem de classe social.

Forum dos Leitores

Cotidiano do bairro O Jornal “Marco” por suas edições, que ultrapassam a casa de três centenas, já faz parte da vida dos moradores do Coração Eucarístico. As reportagens abordando o cotidiano do bairro e as entrevistas com os moradores criaram um

elo muito forte entre as partes. Como um “laboratório” para os estudantes de comunicação da PUC, esta conquista revela o alto nível do rigor acadêmico e do profissionalismo com que as questões são tratadas e veiculadas. Interessante seria enfocar o trabalho dos muitos profissionais que residem aqui, bem como as atividades que acontecem no

bairro. João Alberto Pereira - graduado em filosofia e psicologia, aposentado, fundador do grupo Fé e Política e morador do Coração Eucarístico há 26 anos. ENVIE

COMENTÁRIOS OU SUGESTÕES ATRA-

VÉS DO EMAIL JORNALMARCO@PUCMINAS.BR


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Política

JAMILLY VIDIGAL 5º PERÍODO

A concepção clássica de Política baseia-se na convivência humana e na possibilidade de haver diferentes formas de diálogo em favor do bem comum. Ao longo do mundo moderno, a democracia possibilita esse acordo entre pluralidades e diferenças na sociedade. Faz parte do modelo democrático a tolerância e o tratamento igualitário para as diversas formas de expressão, que, partindo do princípio de liberdade, não podem estar dissociados. O momento de manifestações vivido pelos brasileiros e a divergência de opiniões presente nesses movimentos reforça a importância de se pensar o direito de expressão, assim como o dever de se respeitar o que é oposto. No dia 16 de agosto, manifestantes se reuniram na Praça da Liberdade para protestar contra o atual governo. As reclamações dirigiamse à situação econômica do país, a denúncias envolvendo contratos da Petrobras e ainda houve pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Já no dia 20, foram às ruas grupos favoráveis ao governo e em defesa de conquistas sociais. O Jornal MARCO ouviu dois especialistas em ciências sociais para falarem sobre as questões da democracia, liberdade e tolerância, analisando a atual conjuntura e o que deve prevalecer nesse contexto. As manifestações populares são interpretadas com preocupação pelos professores Elaine Sampaio e Carlos Vasconcelos Rocha, que também apontam os pontos positivos dessa prática. Ambos veem, nos pedidos de impeachment e

Manifestações dividem opinião dos mineiros Especialistas enfatizam que o direito à liberdade de expressão é legítimo, mas intervenção militar e o impeachment põem em risco a democracia

intervenção militar, uma ameaça ao sistema político. “Insatisfação é legítima, manifestação faz parte e é bom que as pessoas façam, mas nós temos regras. Por exemplo, não se pode tirar um presidente da República porque não gosta dele. Isso tem um período, em 2018 quem quiser vai poder tirar”, destaca Vasconcelos. Quanto ao caráter imediatista das reivindicações, Elaine acredita que há tolerância no sentido de haver direito à manifestação, nunca à incitação da violência. “Deve-se procurar uma saída para a crise dentro das instituições que já existem para processar conflitos. Quando se pede uma saída que não corresponde à lei, está sendo posto em risco a democracia, e isso é preocupante”. O DIREITO

A Constituição brasileira prevê o direito de manifestação e expressão livre de opinião. Como o Brasil vive sob o regime democrático, a tolerância faz parte da convivência e a liberdade deve prevalecer. “Há aqueles que estão reivindicando a apuração dos acontecimentos da corrupção, há aqueles que querem o impedimento da presidente, aqueles que estão contra o partido e outros que são favoráveis. Há uma pluralidade de atores se expressando e que têm o direito de se expressar. A liberdade tem

que conviver com a tolerância. Se elegemos um único conjunto de ideias e valores como representativo da sociedade, aí estamos na ditadura”, salienta a professora. De acordo com Vasconcelos, o pressuposto geral da política é a tolerância, respeito à diversidade e tratamento igualitário para que as pessoas possam se expressar, desde que respeitem as normas. “Quando alguns propõem romper com esse avanço civilizatório da sociedade brasileira, com sangue e suor, o que essas pessoas estão estabelecendo no horizonte é a intolerância, desclassificação do outro, e, no limite, a guerra”, completa.

Praça da Liberdade foi um dos pontos de encontro

Opinião e imagem geram polêmica No domingo, 16 de agosto, duas alunas do curso de jornalismo da PUC registraram imagens que retratam a insatisfação contra o atual governo. A foto (à esquerda) ilustra três senhoras segurando um cartaz com os dizeres: “Porquê não mataram todos em 1964?”. O registro teve muita repercussão nas redes sociais, twitter e facebook, além do jornal Folha de S. Paulo, que reproduziu a foto em uma de suas colunas. Analisando a imagem, a professora Elaine Sampaio considera a manifestação com o cartaz um fato isolado, que não merece relevância. “Quando temos manifestações de multidões, temos atores dos mais diferenciados. Sempre

vai haver a presença de grupos mais radicais. Eu realmente não daria muita importância, porque não é algo que está sendo focalizado por um grande número de pessoas”, afirma. Em contrapartida, o professor Carlos Vasconcelos Rocha aponta a indignação que a fotografia causa: “Essa foto é uma ofensa a qualquer ser humano. Sair advogando o assassinato de outros é crime. Mais grave ainda quando remete a uma pessoa que é encarnação de uma vontade que foi expressa segundo regras vigentes. Não é uma agressão a uma pessoa, é agressão a uma coletividade”. No que diz respeito à relação entre 1964 e o contexto atual,

com as presentes reivindicações, também há divergência entre os especialistas. Elaine considera os contextos diferentes: “Na verdade, em 64 há um clamor muito grande por mudanças estruturais, questões de distribuição de renda e reforma agrária. Teve todo um contexto, inclusive internacional, onde essas manifestações foram interpretadas como uma ameaça ao próprio capitalismo. Todas essas variáveis vão interferir e levar à instituição a incapacidade de resolver esse conflito”. A especialista acrescenta: “Não me parece semelhante com o que vivemos hoje. Hoje temos uma falta de credibilidade de um

governo com muitos escândalos de corrupção, crise econômica, inflação, desemprego e a cobrança do povo”. No entanto, Vasconcelos vê semelhança entre os dois períodos em um aspecto. “Nas duas situações temos a presença de uma classe média que em grande parte é covarde e assume os interesses das elites. [Eles] têm saúde e meios para se informar, mas sentam na frente da televisão e são informados seletivamente por quem tem grandes interesses no meio desse jogo. Parte da nossa classe média é tosca, preconceituosa e pouco generosa, apesar de se dizer cristã”, afirma o professor.

Ética na produção jornalística

Reivindicações polêmicas remetem ao período militar

A questão ética no jornalismo é um tema relevante. Uma das alunas que fotografaram as manifestações do dia 16 de agosto relatou os cuidados adotados na abordagem das pessoas (fontes) e divulgação das imagens. A ideia de tirar fotos inicialmente era proposta de trabalho para uma disciplina do curso. Na manhã do domingo, as alunas acompanharam o protesto na Praça da Liberdade e registraram as frases mais enfáticas, respeitando as opiniões dos que lá estavam. As três senhoras, que seguravam o cartaz (foto ao lado) “Porquê não mataram todos em 1964?”, estavam sentadas, quando foram indagadas sobre o mesmo. Depois de explicar-lhes o objetivo do trabalho, foi pedida autorização para a foto, então concedida. Mesmo informadas de que a ima-

gem poderia não ser publicada, as senhoras concordaram com a sua divulgação. Uma das estudantes conta o que ocorreu depois: “Não fui eu quem divulgou. Mandei a foto para um grupo de whatsapp, um membro publicou no twitter e a foto viralizou”. A imagem também foi publicada no jornal “Folha de S. Paulo”, por isso ganhou caráter público. A justificativa para a montagem da cartolina foi dada pela senhora que, durante todo o protesto, esteve segurando-a: “Muita gente que morreu em 64 não tinha nada a ver e quem deveria ter morrido não morreu, como a Dilma e José Dirceu. Eles mataram muita gente também, a Dilma participou até de sequestro”. A redação do MARCO preferiu não divulgar a identidade da repórter fotográfica.


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WINICYUS GONÇALVES 6° PERÍODO

A liberdade de expressão, um dos valores mais caros da democracia, ganhou força com a sentença da juíza Adriana de Sena Orsini, da Justiça do Trabalho de Minas Gerais. Ela reconheceu o direito de um editor, o jornalista Aloísio Morais, criticar e discordar de seu empregador, o jornal “Hoje Em Dia” num post no Facebook. Ele é diretor do sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais (SJPMG) e da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). O caso ganhou relevância porque refere-se a princípios constitucionais (liberdade de expressão e imunidade sindical) até agora não observados pela empresa, que alegou justa causa para dispensá-lo. O “Hoje Em Dia” propôs na Justiça do Trabalho ação visando respaldar sua decisão, mas perdeu a causa e foi condenado a reintegrar Morais à sua equipe. O jornal recorreu e o processo corre em segunda instância, atualmente. A HISTÓRIA Em outubro de 2014, Morais, então editor-adjunto do caderno Horizontes do “Hoje Em Dia”, compartilhou, em sua página pessoal no Facebook, críticas do sociólogo e professor aposentado da UFMG, Paulo Saturnino, sobre o resultado discrepante da pesquisa eleitoral do instituto Veri-

Comunicação

Liberdade de expressão põe imprensa em xeque Decisão favorável a jornalista ganha importância por se tratar da livre manifestação dos cidadãos nas redes sociais

sódio, Morais acrescenta que antes, já vinha sendo alvo de permanente “assédio”, da direção do “Hoje Em Dia” tentando imputar-lhe faltas, e, com advertências, responsabilizando-o por erros ortográficos que, segundo ele, não havia cometido. Morais também reclama que suas funções e turno eram alterados sem quaisquer justificativas. POSIÇÃO DO JORNAL Aloísio Morais fez parte da equipe do “Hoje Em Dia” durante 28 anos

tá em relação aos demais institutos, publicado na primeira página do jornal. O Veritá foi o único a prever a vitória do candidato do PSDB, Aécio Neves, sobre a candidata Dilma Rousseff por larga vantagem de votos. Simultaneamente, os Institutos Ibope e Datafolha mostravam que os dois candidatos estavam tecnicamente empatados: Aécio com 51% e Dilma com 49%. O comitê tucano reproduziu a informação nos programas do horário eleitoral de rádio e TV. Entretanto, dias depois, o jornal “Folha de

S.Paulo” publicou uma matéria onde o dono do instituto Veritá, Adriano Silvoni, afirmou que a pesquisa continha “inverdades”. A direção do “Hoje Em Dia” advertiu Morais através de carta. Posteriormente, afastou-o de suas funções na redação e suspendeu o seu salário, além de acionar a Justiça. Diante dessa situação, Aloísio Morais contratou um advogado para defender seus direitos. Morais diz que, antes do episódio, já se tornara “pedra no sapato” do jornal por sua história e

Guilherme Cambraia

liderança sindical. Ex-presidente e atual diretor do Sindicato dos Jornalistas, ele exercera as mais diversas funções na publicação – de editor de assuntos gerais, a editor de política e da primeira página. Para ele, o jornal procurava, também, com a ação, desrespeitar um princípio constitucional sobre a liberdade de expressão e também abrir um precedente no que diz respeito à imunidade de um dirigente sindical. “O jornal não me quer, e eu também não tenho ambiente para voltar”, afirma. Antes deste epi-

O setor jurídico do “Hoje Em Dia”, após solicitação da Direção de Jornalismo, enviou o seguinte texto ao jornal MARCO: “[...] Todas as ações judiciais, exceto, naturalmente, as que correm em segredo de justiça – que não é o caso sob ótica – são públicas e podem ser consultadas diretamente no foro competente, sendo possível, inclusive, a extração de peças para conhecimento integral e reprodução”. Acrescenta a nota: “de todo modo, calha [vale] destacar que não é comum e conveniente que as partes litigantes se manifestem publicamente

sobre assuntos que estejam sub judice e que lhes são próprios (posto tratar-se de caso específico que, em princípio, só diz respeito aos envolvidos diretamente)”. Diz ainda a nota: “Fosse caso de natureza especial, de repercussão geral ou de interesse coletivo, teríamos muito prazer em examinar a oportunidade de apresentarmos algum tipo de posicionamento institucional, mas não é o caso”. “Trata-se, essa demanda, unicamente de uma querela em que são debatidas teses e particularidades derivadas da relação trabalhista de um colega funcionário e seu empregador. Nada mais!” “A empresa está cumprindo rigorosamente as decisões da Magistrada, sendo certo que a ação, como poderá ser averiguado no processo, foi elevada ao Tribunal do Trabalho, como é lídimo direito da parte fazê-lo. Não houve trânsito em julgado.”

Uma sentença inovadora A decisão da juíza Adriana Orsini, da 47ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte, pode gerar jurisprudência sobre o assunto. Ela ganha importância por tratar da liberdade expressão dos cidadãos no novo ambiente das redes sociais. Em 13 páginas, a juíza lembra que “é importante, desde já, realçar e afirmar que as redes sociais são marcadas pelo tom informal, sendo corriqueiro e diuturno que seus usuários emitam opiniões/comentários de maneira despretensiosa”. Prossegue lembrando que, nos dias atuais, “é impossível desconhecer a importância do Facebook como um meio ativo de comunicação informal, de compartilhamentos desde textos, fotos, memes, comentários, reportagens, além de ser extensão de espaço de expressão de direitos da personalidade, sem falar, da utilização da rede social Facebook como espaço de interação pessoal, familiar e de amizade”. Sobre o comentário de Morais na rede social, a juíza faz esta análise: “Certo é que o jornal publicou pesquisas com resultados bem distintos. Em seu poder de decisão editorial escolheu como capa os dados dissonantes. E, ao escolher como capa do jornal pesquisa destoante, assumiu o risco de provoPesquisas tinham resultados discrepantes

car reações variadas de seus leitores, inclusive seus próprios empregados, como também que estas pessoas reagissem com perplexidade e fizessem comentários nas redes sociais acerca das divergências observadas”. A juíza Orsini lembrou ainda que, em função disso, vários leitores do próprio “Hoje em Dia”, na página do Facebook, em 22 de outubro de 2014, mostraram sua indignação, através de expressões como “jornal aecista” e “jornal tendencioso”, discordando dos resultados das pesquisas publicadas. Segundo ela, tanto na postagem do professor Paulo Saturnino quanto no compartilhamento feito por Aloísio Morais “não há críticas ao jornal”, mas a disparidade da pesquisa publicada um dia antes da eleição com o resultado das urnas. Diante disso, ela entendeu que o os documentos demonstram que os resultados das pesquisas eleitorais publicadas por Morais “já eram objeto de consideráveis críticas, não tendo o comentário descrito nenhum fato específico ou apresentado qualquer elemento que pudesse ser interpretado como uma acusação formal contra o jornal Hoje em Dia, seu empregador”.

Guilherme Cambraia

Advogados analisam o caso à luz da Constituição O professor e doutor em Direito Constitucional da PUC Minas, Mário Lúcio Quintão, avalia que o “Hoje Em Dia” possa ter demitido Morais porque ele divergia politicamente da orientação da empresa. O especialista compreende que, em nenhum momento, Morais quis macular a imagem do jornal: “A postagem que ele fez foi em relação ao instituto de pesquisas. Foram coisas paralelas. Se a juíza soube depurar os fatos, isso é uma demonstração inconteste de que o Aloísio, em momento algum, se serviu do seu cargo para emitir opiniões que contrariassem as posições manifestadas pelo jornal”. Quintão entende que as redes sociais, como o Facebook, onde Aloísio compartilhou o post, “representam no Brasil uma quebra de monopólio da imprensa tradicional ao permitir uma interação e uma participação

maior de segmentos sociais”. Para o especialista, elas podem ser consideradas como um espaço democrático, onde é livre a manifestação de opinião. O especialista ressalta a necessidade de um marco regulatório da imprensa para ampliar a liberdade de expressão, a pluralidade e a diversidade de informação, a ser discutido amplamente com a sociedade e não ser imposto. Para ele, a falta de uma legislação mais contundente dá brechas para a manipulação de informação pelos órgãos de imprensa. Luciano Silva, advogado do Sindicato dos Jornalistas, que representou Aloísio Morais na Justiça do Trabalho, diz que a internet reproduz, em escala menor, o princípio constitucional da liberdade de expressão. Ele compreende que Morais se utilizou deste princípio para compartilhar o

post, sem ter a intenção de prejudicar o jornal. “O que eu levei à discussão também é que seria uma prática antisindical, demostrando que com essa atitude a empresa queria, na verdade, livrar-se dele enquanto dirigente sindical”, afirma Silva. A Constituição brasileira garante imunidade a todos os dirigentes sindicais, somente podendo ser desligado da empresa em que trabalha em caso de falta grave, devendo ela ser devidamente provada. O advogado aguarda que o processo seja distribuído para ver de que modo a matéria será reanalisada. Como o processo corre em segunda instância, ele considera que o “Hoje Em Dia” não tem obrigação de reintegrar Morais imediatamente, e sim se o jornalista ganhar a ação após esgotarem-se todos os recursos possíveis.


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Música

Fernando Brant: vida é poesia Grandes composições, aprendizado, dedicação e universalidade poética, são heranças que o compositor, cronista e poeta deixa para a música e a literatura brasileiras FELIPE LEANDRO JAQUELINE AMARAL LOREN SANTOS DÉBORA ASSIS 1º E 4º PERÍODOS

Um pai encantador, uma pessoa simples. É assim que Ana Luísa Brant, emocionada, refere–se a Fernando Brant. A sala onde a jornalista, em entrevista exclusiva , contou ao MARCO, varias histórias sobre o grande poeta e compositor,transformou-se com a evocação de imagens e histórias dele. Brant morreu no dia 12 de junho, deixando um riquíssimo legado para a música popular brasileira. Ele estudou Direito, mas seguiu a carreira de jornalista, escrevendo para a revista “O Cruzeiro”, desde 1969. Era presidente da União Brasileira dos Compositores, onde travava uma batalha pelos direitos autorais. Em suas composições havia sempre o reflexo de algo que tinha acontecido em sua vida.

“O que me surpreendia nele era a generosidade e compreensão; sempre foi muito carinhoso e amigo”, diz Ana Luísa. Ela relembra seu tempo de infância, no qual, ao ser perguntada, na escola, sobre o que seus pais faziam, ela respondia: “Minha mãe faz croché e meu pai bebe”, sem saber que o pai tornaria-se um grande nome na literatura e na música brasileira. Tímido, Brant era mais reservado quando chegava a algum lugar onde se encontravam muitas pessoas diferentes. Esperava que alguém começasse a conversar com ele; mas mesmo com esse detalhe, se mostrava muito atencioso. Como Fernando sempre trabalhou em casa, devido à sua vida como jornalista e compositor, Ana Luísa conta que sua irmã, Isabel Brant, na infância sentiase envergonhada diante de seus amigos porque acreditava que o pai não trabalhava. “Ela levou um tempo para entender que ele

Ana Luísa destaca a generosidade do pai

Guilherme Cambraia

trabalhava tanto quanto os outros, mas era um trabalho completamente diferente,” completa, rindo. CAMINHANTE Fernando Brant, filho entre dez irmãos, gostava da casa cheia de amigos e familiares; ouvia música em tudo o que fazia. O compositor tinha o hábito de andar a pé por Belo Horizonte; gostava de ir do Colégio Estadual Central à casa da avó que morava na esquina entre as ruas Grão Pará, Aimorés e avenidas do Contorno e Getúlio Vargas. Mesmo depois da juventude, Brant preservou esse costume e, andando pela cidade, descobria novos lugares e traduzia isso em suas crônicas. Relembrando seus tempos de infância, a filha do poeta disse que o pai contava muitos casos durante as reuniões familiares e que, isso, acabou se tornando um reflexo no que ele escrevia. De forma reservada e simples, ao escutar sua música, Encontros e Despedidas, na trilha sonora da novela Senhora do Destino, Brant sentia-se feliz, mas não gostava de se vangloriar das coisas que conquistava. Por essa característica, ele sempre mostrava, naturalmente, para a família as crônicas e letras musicais que escrevia. Da canção Travessia, criada “sem querer”, surgiu

fica para a minha geração e para as outras,” completa. A preocupação desses artistas não era a de criar algum modismo, mas produzir uma música bem-feita e fazer disso uma profissão.

Na Praça Duque de Caxias, no bairro Santa Tereza, região onde surgiu o movimento Clube da Esquina, Rodrigo Borges, filho de Marilton Borges, conta o que aprendeu na convivência com Fernando Brant e os amigos do Clube. Borges diz que Brant conciliava e sintetizava duas correntes poéticas, a do lirismo e a da simplicidade. “Isso cativava não só no casamento perfeito dele com o Milton Nascimento, mas com outros parceiros e na força com a qual a música dele acabou chegando ao público,” destaca. “Contador de casos, piadista, uma pessoa com um astral incrível e um grande companheiro,” lembra Rodrigo, ao falar que o grande pilar do Clube da

Guilherme Cambraia

Esquina sempre foi a amizade. Dos encontros casuais, surgiram muitas canções, por acaso, como “Para Lennon e McCartney”, que nasceu durante um almoço na casa da família Borges. Fazer as coisas não apenas com a técnica, mas também, com amor e dedicação é o grande legado que Brant deixou junto com as parcerias musicais e com as suas “filhas”, como chamava as suas músicas. Deste aprendizado com o Clube da Esquina, Borges destaca o processo criativo. Lembra seu tio, Lô Borges, que acha fundamental não se reprimir, arquitetar e ter senso crítico. “O Fernando trazia isso, essa questão do trabalho, do ofício da palavra. Essa é a grande lição que

uma bela amizade e parceria com o cantor e compositor Milton Nascimento e, assim, a carreira dos dois se iniciou. Considerava as músicas como filhas, não tinha uma preferida, criava um sentimento único por todas. Nunca entendeu por que as pessoas ligavam Canção da América à tristeza; para Brant, essa música era linda, alegre e retratava a amizade. Com muito carinho, falava sobre suas composições com o amigo Tavinho Moura.

Arquivo Pessoal

Apaixonado por futebol, Fernando jogava bola, nos tempos de mocidade, entre a Rua Cláudio Manoel e Avenida do Contorno, e tinha como time do coração o América Futebol Clube. Nos dias dos jogos não marcava nenhum compromisso, pois adorava assistir às partidas; até criou um hino junto com Tavinho Moura. Por anos frequentou bares como o Saloon, Cervejaria Brasil e passava parte do seu tempo no Edifício Maletta. Já mais velho, fre-

quentava muito o CCBB (Circuito Cultural do Banco do Brasil), na Praça da Liberdade. Ia ao cinema e frequentava, assiduamente, o concerto da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Antes da sua última cirurgia, Brant pediu à sua esposa que não deixasse de ir ouvir a orquestra. Segundo ele, “não tem coisa pior para um artista que olhar para a plateia e ver dois lugares vazios,” conta Ana Luísa.

Busca da liberdade

Síntese e lirismo

Rodrigo relembra a amizade do Clube

Fernando Brant e Milton Nascimento, em 1969

POETA DA CIDADE Atenção e curiosidade faziam de Brant um grande poeta, por registrar a seu tempo e espaço. Ele deixou marcado, em suas palavras, momentos e fatos que ajudam a entender como a cidade era vivida em seu tempo. Rodrigo Borges ainda destaca a simplicidade de Fernando Brant ao dizer que ele era uma pessoa que se sentaria em uma praça para conversar sobre qualquer assunto. O Clube da Esquina, através de Marilton Borges, está trabalhando com uma proposta de fazer show-homenagem, no bairro Santa Tereza. Além disso, Rodrigo disse que, como intérprete das músicas do letrista, ele o relembra em seus shows e sempre vê os amigos de Brant fazendo pequenas homenagens, diariamente, para o compositor.

Através de suas poesias e letras musicais, Fernando Brant retratava a situação cívica do país, a necessidade de transformação política e a busca pela liberdade, em um tempo de ditadura militar. “Fernando Brant é importante porque ele foi responsável por vários termos que deram a cara ao Clube da Esquina, como a amizade e a ideia da viagem como troca de experiência,” diz Bruno Viveiros, doutorando em história pela UFMG e autor do livro “Som Imaginário: a reinvenção da cidade nas canções do Clube da Esquina”. No Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, em 67, Milton Nascimento obteve o segun-

do lugar com a música Travessia. É a primeira composição da parceria entre Milton e Fernando Brant. A partir desse momento, outras grandes surgiram e tornaram-se famosas. Belo Horizonte sempre foi uma capital que atraiu os jovens que tentavam uma vida nova. Os criadores do Clube da Esquina tornaram-se amigos, antes mesmo de se tornarem compositores e artistas. O movimento é o resultado de todos esses encontros de pessoas diferentes com gostos diferentes, trazendo influências de vários lugares. “Beto Guetes e Lô são fãs dos Beatles, Wagner Tiso tem conhecimento de música clássica, Mil-

ton Nascimento tem a influência do Congado e o Tavinho Moura trouxe, das ‘andanças’ do norte de Minas, o Jazz e a Bossa Nova,” afirma Bruno Viveiros. A amizade foi a grande mola propulsora para esses artistas. Brant consegue traduzir os anseios e os sonhos, ele é o retrato de Belo Horizonte, de Minas, do Brasil. Em suas poesias, crônicas e letras, a cidade é vivida todos os dias. Ele retratava cenas do cotidiano, os encontros, os bares, a política e a simplicidade de cada dia. Suas canções foram compartilhadas com jovens que estavam pensando a mesma coisa e que se preocupavam com o futuro do país.

Manuscrito inédito de Coração Civil

Arquivo Pessoal

O manuscrito com a letra da música Coração Civil, escrita por Fernando Brant, é apresentado de forma inédita pelo MARCO. Nele, o compositor assina “Bituca e eu”, devido à parceria com Milton Nascimento. O lirismo deles caracteriza toda a obra: “Eu vou levando a vida, eu vou viver bem melhor / doido pra ver o meu sonho teimoso um dia se realizar”.


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ROBERTO BARCELOS 4° PERÍODO

O Memorial Minas Vale, do Circuito Cultural da Praça da Liberdade, recebeu, em agosto, a exposição da jornalista Glória Tupinambás e do repórter fotográfico Renato Weil. O trabalho do casal faz um paralelo entre a cultura de Minas Gerais e a de outros países, com fotos e textos que contam histórias sobre como o exótico pode estar enraizado nos costumes do nosso Estado. A exposição tem 150 fotos que compõem o livro “O Mundo em Minas”, e ficarão expostas até o dia 27 de setembro. As fotos são de Weil, e os textos, de sua esposa, Glória. Ela disse que, no começo, não tinha pensado nessa conexão entre Minas Gerais e o mundo. As viagens aconteceram por causa do gosto dela e do marido de desbravar lugares novos, que fogem do roteiro habitual de turismo. Quem teve a ideia de ligar as duas coisas foi o produtor cultural, Dalton Miranda, que procurou o casal em uma das vindas deles ao Brasil, e falou-lhes a possibilidade de transformar o material recolhido em um projeto maior. A ideia de Miranda surgiu quando ele viu a foto de uma rocha tirada na Austrália, e percebeu semelhanças entre ela e um paredão de pedras da Serra da Canastra. A proposta do produtor cultural entusiasmou os jornalistas, já que, antes disso, eles não haviam pensado no que fazer com o material recolhido. “Não podíamos desperdiçar tudo o que conseguimos, mas não queríamos criar um guia de viagens”, diz Glória.

VIAGENS Depois de se programarem, Glória e Renato adotaram a proposta do livro com o objetivo e viajar ao interior de Minas Gerais em busca de novas fotos e inspirações. O olhar do casal já estava treinado para encontrar semelhanças entre as experiências que tivera, ao explorar o mundo, e aquelas que iam surgindo no Estado onde cresceram.

Cultura

Jornalistas mostram relação de Minas com o mundo através de fotos Depois de conhecer 59 países e 100 municípios do Estado, o casal de jornalistas apresenta o seu trabalho para o público, no Memorial Minas Vale

Autores querem viajar à Patagônia para começar novo trabalho

Aos poucos, a ideia foi tomando forma e eles notaram que as semelhanças eram mais do que esperavam. “As mais complexas e interessantes foram encontradas na religião”, conta Glória, para quem os mantras, cânticos e orações das mesquitas árabes lembram o repique dos sinos das nossas igrejas barrocas. Também na poeira das estradas de terra de Minas Gerais, as proximidades se revelaram. Os carroções de boi que cortam o nosso sertão não são diferentes dos usados pelos trabalhadores de Myanmar, país onde conseguiram identificar algo parecido com o “jeitinho mineiro” no comportamento

dos moradores. O país do sudeste asiático esteve fechado por causa da ditadura militar, o que colaborou para manter intactos aspectos importantes de sua cultura. Glória disse que foi aí, nesse país, que ela e o seu marido se sentiram mais próximos da cultura de Minas, principalmente por causa do modo hospitaleiro e simples dos seus moradores. Ela se lembra especialmente no dia em que precisaram dormir na rua por não encontrarem um hotel vazio ao chegar. De manhã, ao acordar, conversaram com uma senhora e sua filha, que os observavam. Elas ficaram surpresas ao descobrir que, além de não serem pobres,

abandono e adoção, animais submetidos a teste de laboratório. A extinção de algumas espécies e a ética humana no relacionamento com os animais também são temas recorrentes no evento. Os filmes também tratam sobre pessoas vegetarianas e que consequências isso pode acarretar para a saúde delas, para o meio ambiente e o futuro do planeta. Filmes que mostram a conscientização das pessoas do meio rural e a sua ligação com os animais que estão sob seus cuidados. A Mostra foi organizada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). Silvana Portugal, coordenadora do projeto em BH, conta um pouco sobre essa experiência e a escolha da cidade: “O ideal é realizar a mostra onde tem grupos da

SVB, pois dá muito trabalho conseguir cinema, parceiros, patrocínio”. A mostra é direcionada a todos os tipos de público, “inclusive para as pessoas que são pecuaristas, para ver como está a situação. Qualquer um que se sensibilize pela causa, que já seja vegano, ativista, vegetariano ou que não seja”.

Marina Carneiro

eles tinham casa em outro país e estavam ali a passeio. “A mulher se apaixonou pela gente quando contamos que estávamos fascinados pelo país dela”, diz Glória. O encontro rendeu convite para jantar na casa delas. Apesar do lugar ser bastante simples, a comida foi feita com carinho e bastante requinte. A família toda estava lá para conhecer os dois e ouvir suas histórias, lembrando-lhes a hospitalidade mineira.

FOTOGRAFIAS O trabalho fotográfico da exposição e do livro “O Mundo em Minas”, mostra a preocupação do Renato Weil em procurar detalhes

que ilustram a proposta do projeto. Se no começo a fotografia servia como registro de viagem, o seu foco agora é aproximar pessoas mostrando que, apesar do exotismo ou da distância elas têm mais semelhanças do que diferenças a separá-las. Para Weil, o segredo das fotos está não apenas no detalhe técnico do controle da luz; está na forma de abordagem. Ele diz que é preciso chegar com calma, conversando, para conhecer melhor a personagem que será fotografada. “Prefiro câmeras menores por causa disso, para não assustar as pessoas”. Ele optou por câmeras mais simples para realizar o seu trabalho; só quando começou a viajar por Minas comprou duas lentes novas, mas sempre escolhendo equipamentos mais simples. O desejo de captar imagens espontâneas deixa claro o gosto do repórter fotográfico pelas “fotos roubadas”. Tiradas no momento ideal para evidenciar as ligações de Minas com pontos distantes do mundo, sem precisar de qualquer tratamento especial do autor ou adulteração, antes de ser exposta.

NOVAS IDEIAS Os projetos do livro e da exposição surgiram por causa da paixão do casal por viagens, além de acharem que as férias começavam a ficar pequenas para eles. “Queríamos fazer das viagens a nossa profissão”, conta Glória, agora se preparando para conhecer as três Américas em um motorhome que chamam, carinhosamente, de Casa Nômade.

A ideia da Casa Nômade surgiu em uma viagem na Austrália. Por causa dos custos altos desse país, o casal preferiu alugar um “motorhome” para cortar algumas despesas. Foi possível acomodar em um espaço único o carro, a casa e o restaurante, o que tornou a viagem, economicamente, mais viável. Depois disso, os dois começaram a trabalhar num plano de adaptar o que é de essencial para eles em um único espaço. Em janeiro eles compraram uma Sprinter Mercedes-Benz e deixaram-na por cinco meses em uma oficina para ser transformada em casa móvel. A carroceria do furgão, que se assemelha a um baú, tem menos de dez metros quadrados. Contudo, o limite no espaço não impediu que fossem instaladas ali uma cama, geladeira, fogão, máquina de lavar roupa e até uma garagem para a moto que eles carregam. A viagem não tem data fixa para começar. O casal estima que seja entre o final de setembro e o começo de outubro. Enquanto isso, apenas viagens menores já foram feitas com a Casa Nômade, apenas para o interior de Minas Gerais, para fazer testes essenciais antes da aventura pelas três Américas. Glória e Renato querem descer até a Patagônia, sul do Chile e da Argentina para de lá começar o novo trabalho. No livro que eles pretendem lançar, o casal falará sobre as paisagens que vão desbravar e as culturas que vão conhecer.

Mostra reúne filmes sobre proteção animal

NAYARA OLIVEIRA VITOR FERNANDES 4º PERÍODO

A Mostra Internacional de Cinema Pelos Animais começou há alguns anos, em Curitiba, e já passou por diversas cidades do Brasil. Agosto foi a vez de Belo Horizonte e de Florianópolis receberem o evento. Do dia 6 ao dia 12, na capital mineira, foram exibidos filmes (curtas, médias e longas) produzidos em todo mundo, por amadores e profissionais. Os temas, sempre envolvendo a causa animal, foram os mais variados. O direito dos animais, o vegetarianismo, o veganismo, dentre outros. Alguns tratam do resgate de animais, sobre a privação de liberdade, o

REVELAÇÃO Patrícia Longuinhos é colaboradora do Movimento Mineiro Pelos Direitos dos Animais: “A mostra aqui em BH foi uma revelação, pois todas as sessões ficaram lotadas, inclusive no domingo (9), Dia dos Pais, que achamos que não teria ninguém. A mostra animal tem espaço em Belo Horizonte, tem público, isso ficou comprova-

do”. A receptividade foi tão grande que já está certo para 2016. “O objetivo é que seja parte do calendário cultural da cidade, evento anual”. Val Consolação é advogada e ativista e participou alguns dias do evento. “Eu como ativista da causa estou honrada com esse evento aqui em BH”. Para ela a mensagem que a Mostra trouxe foi muito bem transmitida para o público. “São vários tipos de filmes, para todos os tipos de pessoas e gostos. Quem veio se mostrou curioso a respeito do evento e muitos têm ou querem ter um comprometimento com a questão ambiental como um todo”. O estudante de biomedicina da UFMG, Lucas Tavares, adorou. Além da boa organização e de ter conhe-

Melhores obras sobre o tema são premiadas O prêmio Oscow, Oscar com cabeça de vaca, foi criado em 2009 por integrantes da SVB de Curitiba. O prêmio é uma crítica social e representa, segundo os integrantes, uma ironia contra o glamour, o luxo e alienação característicos de eventos da alta sociedade humana, em contraste com a triste realidade da ex-

cido pessoas novas ressalta: “Esse assunto da indústria da carne é algo que toca na ferida de todo mundo. Ninguém quer ver o que realmente acontece e como os animais sofrem. Mas isso é

ploração animal. A vaca foi escolhida para simbolizar os animais, que nem sempre recebem o respeito que merecem por parte do homem, e a intenção do Festival de mudar essa realidade para melhor. As estatuetas são entregues aos filmes homenageados de acordo com a indicação do público.

necessário. As pessoas precisam ver para que possam se conscientizar e mudar seus hábitos, ou que pelos menos façam uso de produtos de origem animal com a consciência do que há por trás”.


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Cidade

Circuito Cultural mais acessível Novo governo estadual adota medidas para que a população tenha mais acesso aos espaços culturais da Praça da Liberdade. Mudança de gestão do CCPL promete valorização do patrimônio

e dar à população condições de fruição deste espaço de cultura.”

Circuito artístico da Praça da Liberdade passa por mudanças administrativas LUIS MAURO QUEIROZ 1° PERÍODO

Valorizar o patrimônio cultural de Minas Gerais, cuidar melhor dele e facilitar o acesso aos espaços de fruição de cultura são os objetivos que norteiam as mudanças que sendo feitas no Circuito Cultural da Praça da Liberdade (CCPL). A responsabilidade é da nova diretoria do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). Michelle Arroyo, diretora do instituto e responsável pelas inovações, explica que o governador Fernando Pimentel decidiu assumir, ele próprio, a questão do CCPL, para acelerar as mudanças em beneficio da população. O CCPL é um importante centro artístico de Belo

Horizonte, inaugurado em 2010. Abrange 12 museus o que faz dele um dos mais importantes circuitos do Brasil. Ali estão também, o Circuito Cultural Banco do Brasil, que é uma parceria público privada do Estado com o Banco, e o museu do Palácio da Liberdade, atualmente em reformas. Com a posse do novo governador, Fernando Pimentel (PT), houve mudanças do comando e dos rumos do CCPL. Para esclarecer estes pontos, a reportagem do MARCO conversou com a presidente do Iepha, Michele Arroyo. Segundo ela, a principal diferença é que a gestão do CCPL que, no governo anterior, era feita por uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que recebia recursos do Governo do Estado passa a ser responsabilidade

Júlia Guedes

do Iepha. É que o novo governo entende que o CCPL deve ser repensado enquanto instrumento de política pública cultural e para isso é importante que ele próprio assuma sua gestão. Michele também apontou a necessidade de tornar o Circuito mais próximo dos interesses da população e não apenas um “projeto estratégico do governo”. “Por decisão do secretário de Cultura, Angelo Oswaldo e do governador, o Iepha assumiu o Circuito com dois objetivos principais: pensar um modelo de gestão para o CCPL, adequando-o a esta nova visão e pensá-lo em função da valorização do patrimônio cultural de Minas Gerais. Isto inclui políticas de salvaguarda para esse patrimônio e planejar como aumentar o acesso a ele, recuperá-lo fisicamente

DEMOCRATIZAÇÃO O Circuito tem alguns problemas de funcionamento que dificultam sua popularização, entre eles sua localização, na região centro-sul da capital mineira área de acesso mais dificil para parte dos moradores da cidade. Outra dificuldade são os preços dos alimentos nas lanchonetes do local: os valores não são acessíveis a todo tipo de públicos. Um lanche ali custa, em média, R$ 22,50 por pessoa. Uma família constituída por pai, mãe e filho pagaria R$ 67,50 por uma refeição rápida. Além disso, problemas como transporte público entre a Praça da Liberdade e outras áreas da Região Metropolitana de Belo Horizonte dificultam, o deslocamento da população para o CCPL. Mas a assessoria de comunicação do Museu de Minas e Metais afirmou que apesar disso, o público que frequenta o museu é diversificado. “Tem muita gente que vem sim. Nossas pesquisas apontam que o acesso ao museu, principalmente após a entrada se tornar gratuita, em dezembro de 2013, foi democratizado. O problema mais serio é o fato de o lugar ficar numa

região carente de transporte público, pois não tem um metrô por exemplo, e com o aumento das passagens de ônibus existe uma questão estrutural a resolver”. Luciana Nogueira, professora de Ciências Sociais da PUC Minas, observa que não só questões estruturais e de locomoção funcionam como empecilhos à democratização do CCPL. “É muito difícil uma pessoa de um centro específico frequentar outro, sem conhecimento preciso sobre aquele espaço. O museu Gerdau é de graça, mas as pessoas não se sentem a vontade para entrar ali – isso acontece em qualquer sociedade. É preciso ter o hábito, saber como é e para que frequentar aquele lugar. Só assim a pessoa irá procurá-lo e ali se sentir bem. Ela observou que, muita gente das classes populares não se sente atraída pelo CCPL porque tudo ali é “extremamente imponente, com seguranças de terno, nas portas, criando umclima totalmente diferente do seu contexto de vida. Digo, não é algo convidativo”. Para ela, também o que há lá dentro são atividades que não chamam a atenção de todos. Não são espaços democráticos; se quisessem ser deveriam ter atividades para pessoas de vários níveis de instrução e idade, que se

renovassem, que fossem populares. “Não precisa ser tudo “arte popular”, mas deve haver uma variedade de elementos que integrem tais visitantes ao local. Acho que o CCPL não foi pensado para o grande público”. A democratização do CCPL também foi abordada pela presidente do Iepha. Segundo ela existem planos para que os museus ganhem uma abrangência que transcenda o perímetro da Praça da Liberdade, contemplando toda área central de Belo Horizonte. “Nós ampliamos o perímetro do CCPL, numa perspectiva de que o Circuito não se encerra fisicamente no entorno imediato da praça. É mais abrangente: nossa ideia é pegar o eixo da rua da Bahia, desde a avenida Afonso Pena até a parte posterior do Palácio (da Liberdade), da avenida João Pinheiro, da rua Sergipe, pensando no contexto da praça . Não apenas na praça restrita, mas no seu entorno e atraindo outros parceiros importantes, que são espaços já existentes e consagrados da cidade”. Outro desafio grande para a nova gestão “é pensar o Circuito Cultural, em termos de programação, do acesso a seus conteúdos, de forma articulada, não apenas com áreas adjacentes, como a Savassi, mas com a cidade de Belo Horizonte,

Palácio da Liberdade abre-se a visitas em setembro A construção mais emblemática do Circuito é, com certeza, o Palácio da Liberdade. Sede do governo mineiro por décadas, o prédio preserva e respira a história política de Minas. Desde a inauguração do CCPL, o prédio transformouse em museu que conta muito das histórias dos governantes mineiros. Porém, desde o começo do ano, foi fechado por problemas estruturais, diagnosticados pelo Corpo de Bombeiros. Segundo o deputado estadual Durval Ângelo (PT), o problema na estrutura do prédio foi verificado, in-

clusive, no dia da posse de Fernando Pimentel, em Janeiro deste ano. “No dia da posse vivemos uma situação interessante – o Corpo de Bombeiros ficava controlando o número de pessoas que estavam no segundo andar para evitar um problema de excesso de peso, pois as tábuas estavam apodrecidas”. Michele Arroyo informou que “obras emergenciais” estão sendo feitas para reparar tais problemas e para atualizar a estrutura do prédio. “O Palácio da Liberdade tinha duas deficiências: um

sistema de combate à incêndio que não funcionava e era serio quanto a segurança e uma desarticulação entre o número de visitantes e a capacidade do Palácio de recebe-los adequadamente. Estamos fazendo uma obra emergencial de apoio logístico à recepção dos visitantes com uma sala de espera, com um local para guardar bolsas e um espaço de permanência com água, banheiro, cobertura. São melhorias estruturais. Paralelamente foi feita a revisão de todo o acervo do Palácio, que é tombado pelo patrimônio estadual, e elaborado um

novo roteiro de visitação – livre, em que todas as informações estarão em um aplicativo que o visitante baixa quando chega ou através de celulares que estarão disponíveis para ele. Assim o visitante tem o próprio roteiro com informação em suas mãos para fazer todo o percurso, tanto no primeiro andar do edifício quanto no segundo, além dos jardins”. Segundo Michele, o Palácio deve estar pronto e abre-se as visitas no próximo dia treze de setembro.

Parklets fazem sucesso entre moradores e comerciantes ISABELA GOMES 3º PERÍODO

Construídos com o intuito de ser um local de lazer e convívio social, os Parklets, também conhecidos como Varandas Urbanas, tem feito sucesso entre os moradores e quem passa pela região centro-sul de Belo Horizonte. O primeiro Parklet, construído há dois meses na rua Goitacazes com rua Rio de Janeiro, tem surpreendido todos. Apesar de ter enfrentado resistências antes da instalação, por medo do local ser tomado por moradores de rua, o espaço foi apropriado por moradores locais e pessoas que traba-

lham na região. Elas não só o utilizam, mas também ajudam a cuidar da sua limpeza e até mesmo deixam, ali, disponíveis materiais para leitura como revistas e jornais. “Até de madrugada tem gente aqui; sentam até no piso quando os bancos estão ocupados. É uma novidade muito bonita e interessante para a nossa cidade”, comenta Eraldo Cândido, que é porteiro do edifício em frente. A Varanda não trouxe benefícios só para os moradores que se sentam e se divertem ao entardecer e nos fins de semana, mas também para quem procura um lugar tranquilo, seja para descansar no horário

de almoço, para namorar, para uma boa leitura ou para uma boa conversa entre amigos. Os universitários, Natália Vertelo, Kennedy Caetano e Isadora Campos, afirmam que o ambiente se tornou um local de descanso quando os parques se encontram fechados, pois é um local público, agradável e aberto 24h, onde até mesmo se esquecem de estar no centro da cidade devido à arborização. Para os comerciantes da região o Parklet trouxe mais visibilidade para as lojas, porém ainda não sentiram mudança no fluxo de clientes e no aumento de vendas. Entretanto acreditam que essa forma de

humanizar a rua possa trazer resultado para o comércio, futuramente. Marcos Inneco, vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), acha que ainda é cedo para falar de tendências em relação ao número de vendas, mas está confiante pois, segundo a pesquisa da Measuring the Street, NYC DOT, divulgada pela Prefeitura de Nova York, a criação de Parklets com bancos gerou 14% de aumento de vendas das lojas vizinhas. Para ele, além desse possível benefício nas vendas, a marca que se associa diretamente com esse tipo de ação positiva na cidade, automaticamente está

Pessoas aproveitam o espaço para descansar

agregando mais valor à sua empresa, pois quem passa pelo local faz relação da marca com esse conceito positivo. Para a consultora de vendas Maria Souza Mota, a Varanda trouxe mais segurança para a região pois possui uma câmera de vigilância e o afluxo de pessoas aumentou bastante, o que dificulta os assaltos. “O lugar é seguro e agradável, as pessoas ficam sentadas com seus celulares e tablets e até hoje não houve nenhum roubo”, afirma o consultor imo-

Guilherme Cambraia

biliário Eugênio Pacelli Felipe, comerciante da região que elogia a iniciativa. Observa que o centro não tem espaços para praças e a varanda acaba se tornando um diferencial em local cheio de prédios. Ana Maria Travassos, síndica do edifício Lopes Ribeiro, notou que o policiamento aumentou na região, tornando o local mais seguro e atrativo. Acha também que o local tem atraído até mesmo os turistas que visitam a cidade.


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Patrimônio histórico

História e arte dão novo significado ao Cemitério do Bonfim Visitação guiada reúne, no local, turistas que buscam conhecer um pouco da cidade, através de outra perspectiva JAMILLY VIDIGAL GUILHERME CAMBRAIA 5º E 6º PERÍODOS

São quase 176 mil metros quadrados de extensão, divididos em ruas e alamedas, repletas mausoléus que, à primeira vista, espantam o visitante. A começar pelo portão principal, de onde já se vê, ao final da rua, a praça principal, onde um túmulo cívico homenageia um dos principais prefeitos da Belo Horizonte, Otacílio Negrão de Lima. O Cemitério do Bonfim, ponto de encontro de histórias e tradições, é hoje um local de turismo, onde gente de todo lugar pode conhecer um pouco da história da Capital através dos relatos da professora Marcelina das Graças de Almeida. Historiadora, ela idealizou o roteiro, que dura três horas, e, um domingo por mês, leva 40 visitantes ao local. O trabalho começou com alunos universitários de Marcelina e, depois, por ser muito apreciado, transformou-se num roteiro turístico a pedido da Fundação de Parques Municipais, abrindo-se à participação da comunidade e interessados em geral. Dois repórteres do Jornal MARCO acompanharam o percurso das visitações, guiados pela professora.

ROTEIRO

A visita, conduzida por Marcelina, começa com uma breve exposição sobre o processo de escolha do local e da construção da Capital, ressaltando a preocupação dos planejadores da cidade em separar e circunscrever os espaços de vivos e dos mortos. Em seguida, no primeiro ponto do roteiro, uma breve parada no jazigo perpétuo da Família Falci, tradicionais moradores de Belo Horizonte, conhecidos pela grande casa de materiais de construção que mantinham. Atrás dele, um túmulo simples, mas com materiais finamente trabalhados, chama a atenção: é da família Natali, marmoreiros autores da maior parte dos trabalhos que se vê nas sepulturas do Bonfim, entre eles o jazigo-capela dos Falci. A simplicidade deste túmulo surpreende os leigos que, dado a profissão daquela família, esperam algo monumental. Mas a importância e riqueza da obra só são percebidas pelos artistas setoriais capazes de identificar o granito rosa, extremamente raro de que é feito o túmulo, e o seu fino acabamento. Passada a praça principal, vira-se à esquerda, na quadra 18, onde estão enterradas pessoas que fizeram historia em Minas Gerais: D. Julia Kubits-

chek, mãe do presidente Juscelino, pessoas da família Perrela e Savassi, antigos donos da padaria que acabou dando nome à praça, no bairro dos Funcionários. Ali também estão membros da comunidade árabe, o tumulo do Corpo de Bombeiros, onde são enterrados os soldados do fogo que morrem em serviço, e os de dois ex-governadores de Minas Gerais, Raul Soares e Olegário Maciel. No mausoléu de Raul Soares há uma escultura de um anjo segurando uma lamparina. Ali pode-se deixar uma moeda em memória da lenda do barqueiro Caronte, encarregado de ajudar as almas em sua travessia para o terceiro mundo, facilitada com o pedágio. Na sepultura dos Soldados de Fogo, localizada entre os dois grandes jazigos da quadra, a única imagem presente faz referência a um soldado no toque do silêncio. Por fim, o terceiro túmulo de grande importância, que pertence a Olegário Maciel. No estilo Art Decó, o ex-presidente de província é homenageado com os brasões de Minas e da República, ali esculpidos, e três figuras representando a Lei, Justiça e Trabalho, que com o tempo ganharam cor da pátina – proteção natural do bronze.

No caminho para o antigo prédio do necrotério, uma nova parada foi acrescentada ao roteiro, o túmulo do escoteiro Caio Martins, recentemente descoberto por Marcelina. Trata-se do menino-herói, morto, aos 15 anos, depois de um acidente de trem. Enquanto aguardava socorro, e sem perceber sua hemorragia interna, Caio ajudou a resgatar os acidentados. O menino, que virou símbolo do escotismo no Brasil, está enterrado ao lado de dois amigos, cujos corpos foram resgatados por ele. À época da construção de BH, o necrotério podia ser visto de qualquer ponto da cidade, já que o cemitério encontra-se no ponto mais alto fora do perímetro da Avenida do Contorno. O edifício foi construído com o trabalho sofisticado de engenheiros belgas. O portão de ferro fundido faz menção à morte através da simbologia da flor de lótus, da foice e da serpente engolindo o próprio rabo. A princípio, o projeto colocava o prédio na rua principal, de frente para a entrada. Dessa forma, os mortos seriam enviados para exame necroscópico e em seguida enterrados. A ideia não funcionou, e mais adiante a construção foi utilizada como capela até, finalmente, ser desativada. O necrotério é o

Imagem do ex-governador Olegário Maciel

único bem tombado do cemitério.

CRIANÇAS

Ao lado esquerdo do necrotério, fica a quadra três, conhecida como Quadra dos Inocentes. Ela desperta curiosidade com seus túmulos pequenos e predominantemente brancos, nos quais eram enterrados somente crianças. A maioria das esculturas ali presentes são de João Amadeu Mucchiut, artista austríaco responsável pelas obras mais bonitas do Bonfim. Na parte de trás do necrotério, outro elemento chama a atenção dos visitantes: no local de sepultamento da jovem belga Berthe Abèle Cherezede nasceu uma árvore, deixando o ambiente melancólico e misterioso. A moça de 20 anos era filha de um dos engenheiros responsáveis pela construção da Capital. Antes da saída, o último túmulo visitado é o da Irmã

Guilherme Cambraia

Benigna, freira que fazia parte da congregação de irmãs auxiliares de Nossa Senhora da Piedade. Maria da Conceição Santos passou a se chamar Irmã Benigna Victima de Jesus ao ingressar no convento. O jazigo florido e cheio de agradecimentos revela as graças por ela concedidas a todos que ali depositaram seus pedidos e fé. O corpo foi retirado do cemitério, em 2012, e ela está em processo de beatificação pelo Vaticano. É uma das sepulturas mais visitadas no Bonfim. De volta ao portão de entrada, sente-se que o cemitério, agora tem um novo sentido. Todos aqueles jazigos, que antes pareciam inertes, ganham vida e transformamse em história viva. A visitação ao Bonfim, verdadeiro “museu a céu aberto”, está disponível a quem quiser saber um pouco da memória de Belo Horizonte.

Infraestrutura do local é carente

Cemitério exibe uma grande variedade de trabalhos artísticos

Guilherme Cambraia

O Cemitério do Bonfim é o mais antigo da capital mineira, construído e inaugurado antes mesmo da cidade. Abriu suas portas em 10 de fevereiro de 1897 no bairro Bonfim e foi o único até a década de 1940. Na época acreditava-se que os mortos deveriam ficar longe dos vivos, por isso, o cemitério foi planejado em uma região fora do perímetro da Avenida do Contorno, região central da cidade inaugurada 10 meses depois. O local é composto por 54 quadras dividas entre duas alamedas principais e diversas ruas secundárias. Possui mais de 25 mil túmulos, onde foram realizados cerca de 225 mil sepultamentos. Em suas sepulturas há uma infinidade de obras de arte, em sua maioria esculturas em mármore e bronze. Muitas dessas peças foram feitas por artistas europeus renomados que vieram para o Brasil no fim do século XIX, e seus estilos variam desde o Art Decó e o Belle Èpoque, até o modernismo brasileiro. Nos últimos anos o cemitério não vinha recebendo o cuidado devido, e o acervo de obras de arte tornou-

se alvo de furtos e depredações. A Prefeitura de Belo Horizonte foi cobrada, principalmente pelo Ministério Público e pela Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor, a tomar atitudes para evitar tais ocorrências. Algumas medidas já foram realizadas, como o aumento do número de Guardas Municipais na segurança do cemitério e a instalação de arames nos muros. André Luís Ribeiro, encarregado da administração e limpeza do cemitério, aponta problemas na manutenção e questiona a falta de apoio da Prefeitura. A equipe responsável pela restauração de túmulos depredados, poda, capinação, e dedetização do ambiente, foi reduzida de 32 para nove funcionários, que não dão conta de cuidar das 54 quadras. Segundo Ribeiro, a tarefa só é bem feita por quem gosta e tem certo carinho pelo cemitério. “É uma covardia deixar trabalhos tão fantásticos sem cuidado, as pessoas não valorizam a fortuna que temos aqui”, afirma.

Projeto nasceu na universidade Todo o projeto de visitações do Cemitério do Bonfim foi idealizado e criado por uma só pessoa: Marcelina Almeida. Graduada em História pela UFMG, sempre se interessou pela arte e pela cultura. Seu mestrado teve como tema a história de Belo Horizonte, e durante suas pesquisas, uma igreja que ocupava o atual terreno da Catedral de Nossa Senhora da Boa Viagem, ganhou grande destaque. Ali se encontrava um antigo sítio de sepultamentos, que virou alvo de pesquisa de Marcelina e colocou-a pela primeira vez, frente à frente com o tema da morte. Após a conclusão do mestrado, Almei-

da foi convidada por uma professora a fazer o mapeamento da produção artística de Belo Horizonte. Durante estas pesquisas, muitas fontes faziam referências ao Cemitério do Bonfim, o que a motivou a investigar e descobrir o imenso acervo de obras de arte ali guardado. A fascinação pela história que podia ser estudada a partir daquelas manifestações artísticas incentivou-a a fazer seu doutorado pesquisando os “Cemitérios Românticos”, comparando o do Bonfim com outros de características semelhantes, localizados na Cidade do Porto, em Portugal. Depois de concluir o doutorado, Al-

meida passou a dar aulas na Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), e sempre incentivou seus alunos a realizar estudos no cemitério do Bonfim. “Daí nasceram essas visitas: eu trazia meus alunos pra pesquisar, e desse trabalho acadêmico surgiu esse projeto pra comunidade em geral e para as escolas. Desde então a procura é muito grande”, conta. Atualmente ela é a única encarregada de orientar as visitações e, por isso, a carga horária é limitada. Entretanto, outros profissionais serão treinados e qualificados para guiar os visitantes e, dessa forma, atender melhor à demanda da comunidade.

Marcelina é responsável pela condução das visitas

Guilherme C.


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Comunidade

ISABELA MAIA MARINA CARNEIRO 4º PERÍODO

Bares localizados perto da PUC Minas , no Centro Comercial Top Shopping (Shopping Rosa), reabrem após serem interditados pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Depois de uma reunião no Ministério Público, dia 19 de agosto, com participação da Polícia Militar, Prefeitura, a síndica do Shopping Rosa e donos dos estabelecimentos interditados, ficou decidido que os bares voltariam a funcionar. Na ocasião, foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre a PBH, bares e Ministério Público que restringe o horário de funcionamento. A interdição ocorreu após o assassinato do jovem Daniel Adolpho de Mello Vianna, na madrugada do dia 8 de agosto, por recomendação do Ministério Público. O jovem foi atingido no rosto por Paulo Henrique Costa Lourenço, preso em flagrante. O crime ocorreu por volta de uma hora da manhã, após um esbarrão entre os dois rapazes. Na reunião do dia 19, ficou acordado que, no primeiro mês de cada semestre, os estabelecimentos vão funcionar até as 17h e, depois disso, até as 23h. Lisandro Martins, mais conhecido como Lisboa, dono do restaurante do Bandeco, afirma que o TAC prejudicará os negó-

Bares do Rosa voltam a funcionar após acordo Depois de reunião com a Polícia Militar, estabelecimentos comerciais estão autorizados a reabrir, inicialmente, até às 17 horas

cios. Ele está insatisfeito porque desde o final de 2014 havia um acordo com o Ministério Público regulamentando o horário de funcionamento que ele, rigorosamente, cumpriu. Os bares deveriam fechar às 22h na primeira semana de aula. Lisboa assegura que, no dia do assassinato, o seu bar já estava fechado, no horário combinado. “A promotoria enxergou tudo como um local só, o Shopping Rosa. Não separou um comércio do outro. A interdição deveria ser para punir quem não estava cumprindo os acordos. Só que nós (do Bandeco) fomos punidos também”. CALOURADAS

Nas primeiras sextasfeiras do mês de volta às aulas, o aglomerado no Shopping Rosa fica maior, trazendo incômodos e problemas para a comunidade. O presidente da Associação de Moradores do Coração Eucarístico (Amocoreu), Walter Freitas, diz que o bairro vive sob uma bagunça generalizada nesse período.

blico e o evento é aberto, os riscos aumentam exponencialmente”. De acordo com a síndica do prédio, Eunice Gonçalves Tarzan, os jovens não têm limites dentro dos bares e acham que também não tem limites no condomínio. “A gente tirou o banheiro público porque ninguém merecia a bagunça. Agora, cada lojista tem a chave”, ressalta. Bares foram interditados na semana seguinte ao assassinato

“Nessas calouradas vemos uso de drogas, sexo explícito, pessoas fazendo das vias, porta das residências e árvores banheiros públicos. O trânsito fica uma loucura, param em lugares proibidos, nas garagens e esquinas. Não respeitam nada”, completa Walter. Sobre o caso de Daniel Adolpho, ele diz: “Nesse ambiente de ‘pode tudo’ das calouradas, você encontra, às vezes, um sujeito para quem não pode nada. Foi o caso desse rapaz que matou o Daniel. Para ele, não podia nem

esbarrar. E aí de forma brutal, por motivo torpe, ele atirou no outro”. A Amocoreu, a Associação de Moradores e Amigos do Dom Cabral, a PUC Minas e a síndica do Condomínio Centro Comercial Top Shopping são contrárias a essas concentrações. O professor Rômulo Albertini, pró-reitor de logística e infraestrutura da PUC, afirma que “quando se fala ‘calouradas da PUC’, as pessoas acham que a PUC está participando disso, e não participa. É, na verdade,

Guilherme Cambraia

radicalmente contra”. Albertini diz que a PUC se preocupa com os problemas da região, trazidos pelas calouradas, e que está sempre aberta ao diálogo. “O que eu faço como professor e muitos outros também, é desincentivar os alunos a participarem. E não é fácil. Os jovens querem participar, não querem um lugar que não têm ninguém. Querem interagir, ver outros jovens. A preocupação é que essa interação seja saudável. Mas infelizmente quando tem muito pú-

REGULAMENTO

Em 2005, o regulamento do condomínio em que se localizam os estabelecimentos passou a proibir bares. Segundo a síndica, em 2006 foi aberto um processo no Ministério Público para o fechamento dos imóveis, uma vez que eram irregulares, mas ele foi arquivado. Lisboa, proprietário do Bandeco, diz que não infringe o regulamento: “É proibido funcionamento de bar e não somos um bar: somos um restaurante. Meu alvará e minha licença são de restaurante, que é permitido no regulamento”.

Criminalidade aumenta no Coração Eucarístico POLLYANA SALES REBECA VASCONCELOS 1º PERÍODO

Moradores da rua Dom Lúcio Antunes vêm sofrendo com o grande aumento da criminalidade na região. O bairro está entre as nove zonas consideradas “quentes” de criminalidade em Belo Horizonte, segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). Isso significa que há maior ocorrência de assalto a pedestres, roubos a lojas e estabelecimentos de serviço e de veículos, que fun-

cionam como chamativos para os assaltantes. Outro fator preocupante é que em 64% dos assaltos ocorridos no bairro usam-se armas de fogo. Tania Maria Prates trabalha na região há seis anos e procura alternativas para se sentir mais segura. “Trabalho sempre com a porta fechada; abro apenas para receber meus clientes. É uma forma que encontrei para me sentir mais protegida na medida do possível”, diz. Tania já presenciou vários casos de violência: “São muitos

Região vem sendo ponto de assaltos e infrações de trânsito

fatos: outro dia assaltaram um carro na frente do meu salão”. Entre as vítimas, também estão usuários dos pontos de ônibus. A colaboração entre os moradores e a Polícia Militar (PM) tem sido umas das medidas adotadas. Como por exemplo, a PM implantou a Rede de Vizinhos Protegidos. Os moradores mais próximos se conhecem e trocam informações de segurança e sobre fatos em tempo real, via aplicativos de redes sociais, como grupos no Whatsapp. No entanto, esse é um pro-

Guilherme Cambraia

cesso que está sendo aprimorado, visto que os moradores ainda estão sendo cadastrados para, depois, serem incluídos em grupos mais específicos. Segundo Cassius Marcellus, vice-presidente e diretor de comunicação da AmoCoreu (Associação de Moradores do Bairro Coração Eucarístico), esta tem sido uma forma eficaz e única de enfrentar o problema, mas ainda está longe de o resolver totalmente. “A ação da PM não consegue reduzir sozinha a criminalidade e a falta de segurança. O número de policiais por aqui é pequeno. Além disso, o Coreu tem sido cada vez mais visitado por pessoas de outros bairros no horário noturno devido aos bares locais, que mantém suas atividades até altas horas da madrugada”, afirma Cassius. “Temos projetos sociais a serem implantados em breve. Vamos criar diversos grupos em que os próprios moradores conduzirão as atividades. Com a participação dos moradores nessas ações coletivas fica mais fácil identificarmos aqueles que não são daqui. O objetivo maior é sempre promover a paz e a boa convi-

vência”, completa. Porém o vice-presidente afirma que o número de moradores empenhados em colaborar com a associação ainda é pequeno. TRÂNSITO As infrações no trânsito também preocupam devido ao transtorno que geram para a comunidade. A principal queixa é quanto aos motoristas que violam a legislação: vários param em locais proibidos, como faixa de pedestres, por exemplo. Cassius conta: “Vários carros são estacionados nas esquinas, e isso vem atrapalhando os transportes públicos ao fazerem conversões. É proibido estacionar, e mesmo assim, alguns motoristas ainda param, atrapalhando a visibilidade das vitrines do comércio local”. Ele reclama também de automóveis parados às portas de garagem, fazendo com que os moradores não consigam entrar ou sair com seus carros. “A Amocoreu tem cobrado de forma intensa e constante da Prefeitura a presença da guarda municipal, tanto durante o dia, como a noite, já que os guardas municipais são quem tem o poder de multar atualmente”.

Cassius aponta uma das possíveis soluções para o problema: “Sou a favor das multas, por ser uma forma de educar. Infelizmente, apenas conversar não adianta. Não acho necessário um maior número de vagas e, sim, um incentivo para o uso de ônibus”. Não são apenas os moradores do bairro que destacam a gravidade do problema, mas também alunos da PUC. Um exemplo é Marina Peixoto Barbosa, 20 anos, estudante de direito. Em sua opinião, faltam vagas para estacionar no bairro pela presença do comércio e da universidade. “O movimento local é muito grande todos os dias e incomoda os pedestres com essa lotação de veículos particulares”, afirma Marina. Ela pondera sobre a questão de multas e sinalização: “Eu acho que, antes de punir o motorista, é preciso oferecer mais vagas. Seria uma boa alternativa alguns lugares que cobrassem estacionamento. Uma amiga minha teve o carro rebocado mas, onde havia estacionado, segundo ela, não tinha nenhuma placa que sinalizasse a proibição”.


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Comunidade

Casa Esperança: uma atitude de compaixão

Outras ações pelos bairros Ailton também colabora com a higienização das ruas; ele distribui algumas garrafas PET, com adesivos personalizados e algumas sacolinhas plásticas em seu interior,

A comida alimenta sonhos; roupas devolvem a dignidade. Com esta ideia, um cidadão comum adapta a rotina corrida para fazer o bem. Aos 55 anos, Aílton abre as portas da sua casa e ajuda pessoas carentes, à margem da sociedade

Aílton doa cadeira de rodas para morador de rua ALYRSON JOSÉ AGUILAR CAROLINE RESENDE 1º PERÍODO

Se você acompanha as edições do MARCO provavelmente já chegou a ver a matéria publicada na edição 313 no mês de junho desse ano. Ela retrata a situação de moradores de rua. Segundo o censo de 2014, realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, existem cerca de 1.827 pessoas morando nas ruas da cidade. Nesse quadro, as iniciativas individuais podem fazer diferença, como é o caso de Ailton Fernandes Maciel, idealizador do projeto

“Casa Esperança” situado à Imbiaçá 265, bairro Dom Cabral. A “Casa Esperança” é um grupo de apoio ao morador de rua e a famílias carentes, com o objetivo de contribuir com ‘’assistência” a essas pessoas. Espírita e pai, Ailton sentiu necessidade de ajudar o próximo como a si mesmo “A oração diz “Pai nosso que estais no céu”, se ele é “Pai nosso”, somos todos irmãos, não é mesmo?”. Assim ele se dirige a todos os ajudados. Parte de sua renda é direcionada ao projeto e vem da fabricação de uma cera de lavagem de automóveis a seco, que ele vende para oficinas de lanternagem e pintura e para lavajatos.

Arquivo Pessoal

O grupo existe há cerca de dois anos quando ele se sensibilizou com um morador de rua e resolveu alimentá-lo com pão, manteiga e achocolatado. Logo viu que poderia expandir esse ato, que hoje beneficia de 25 a 30 pessoas da região, distribuindo lanches diariamente. Ele conta com a colaboração de vizinhos e amigos para completar os ingredientes e distribuir, todo mês, 15 cestas básicas para creches, lares e moradores de rua. Ailton também arrecada peças de roupas para doações, cadeira de rodas e de banho, eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos e muletas que costumam passar

por reformas e antes de ser doadas. E vai multiplicando suas doações: fabrica para isto material de limpeza, desinfetantes e sabão. “Olhei na internet, comecei a fazer e deu certo. Não tenho nenhum interesse em vender esses produtos, tanto é que os adesivei. São exclusivamente para doações, pois até o óleo que eu preciso para a composição do sabão eu peço e ganho,” afirma. Seu próximo objetivo é organizar melhor o espaço físico do projeto, já que ele funciona em sua casa, para facilitar a limpeza local e colocar em uso a máquina de fabricar fraldas descartáveis, que já possui material suficiente para a fabricação de mil unidades. Ele quer, também, guardar as roupas em um lugar mais adequado. Um dos desafios da Casa Esperança é conseguir ser registrada e assim poder procurar ajuda em órgãos oficiais. Para isso é necessário arrecadar R$600,00, que Ailton pretende conseguir com uma rifa do seu próprio violão. Para quem quiser conhecer o local, ele está aberto para visitação todos os dias, inclusive aos sábados, quando o grupo realiza a higienização dos moradores de rua, corta seus cabelos e faz-lhes a barba. Além disso, quem quiser acessar o site para saber como ajudar, o endereço é: www.ailtonfloyd8.wix.com/esperanca.

para que as pessoas, ao passear com seus cães, as utilizem para coleta e retirada de fezes de seus cachorros, mantendo as ruas mais limpas. “As pessoas vão passear com os cães e, na maioria das vezes, se esquecem de levar sacolas; é uma contribuição para a cidade ficar mais limpa”, diz. Há litros de PET distribuídos desde a PUC até a pracinha do Coração Eucarístico. Ele revela ainda que muitas pessoas que ajuda têm moradia, mas preferem as ruas. Como Tiago, 30 anos, que recebe atenção e cuidados do projeto. “Praticamente tudo, ele me traz rango, traz roupas. Passa aqui, ajuda “nois” e vai embora”, reconhece o jovem. Tiago, mesmo tendo casa, recorre à rua como forma de refugiar-se dos problemas do ambiente doméstico. “A relação com a minha casa é meio conturbada; então eu chego aqui bato um papo, aqui me sinto à vontade”, conta. É como se andar lhe trouxesse mais conforto. Como se de alguma forma, vagando por algumas horas encontrasse um tipo de esperança, que, logo chega, através do gesto amigo de Ailton, carregando lanches e oferecendo um ombro amigo todos os dias, sob o viaduto da Silva Lobo. Segundo a assistente social, Rosângela Cosenza, essas iniciativas são positivas e só tendem a acrescentar: “Eu acho que isso esta relacionado a uma questão de caridade; essas ações, que hoje são muito raras por termos uma vida muito corrida. Temos pouco tempo de olhar pro lado e de ver o próximo. Eu acho que quem faz isso, de certa forma, pode até estar cumprindo um papel que deveria ser das instituições formais, ou ONGs, logo, a pessoa que faz isso só tem valor, na minha opinião”. Segundo ela, tais medidas, vindas de uma pessoa singular não atrapalham o serviço de instituições, pois eles não vão deixar de fazer o que devem. “Isso é um comportamento de foro íntimo, suprindo a obrigação é do Estado. Ele sim, deve oferecer uma vida decente a população. Mas se alguém tem condição de ajudar e quer fazer por uma questão dela, individual, não tem como ser negativo. É uma iniciativa muito positiva”, afirma.

Falta participação no Dom Cabral MARINA CARNEIRO 4º PERÍODO

O que fortalece uma Associação de Moradores? A união de todos em torno de objetivos comuns, asseguram seus dirigentes. É o que está faltando, na opinião do novo presidente da Associação de Moradores e Amigos do Bairro Dom Cabral (Amabadoc), para a entidade superar suas dificuldades. Elas vão desde a demora da Prefeitura em liberar recursos para melhorias no bairro, até a falta de participação e engajamento da população. Ao contrário do passado quando o bairro se formou, poucas pessoas se interessam, atualmente, em participar das lutas do bairro. A passividade dos moradores contrasta-se com a combatividade dos primeiros moradores, o que trouxe grandes benefícios para a

região. Na edição 311 do MARCO, a reportagem Histórias do Dom Cabral relata como, diferentemente de hoje, a população do bairro já foi muito participativa. Muitas conquistas foram o resultado de ações coletivas, como por exemplo, a construção da Igreja Bom Pastor, ruas pavimentadas, a construção da Praça da Comunidade e expansão das linhas de ônibus. Além disso, eventos como quadrilha, feiras de artesanato, campanhas de arrecadação e debates políticos eram frequentes e serviam como pontos de encontro e formas de conscientização e colaboração entre os moradores. Wilson Pacifico, atual presidente da Amabadoc, e Mauricio Antônio de Sales, antecessor de Wilson e atual vice-presidente, mostram-se

decepcionados com a falta de participação dos moradores quanto aos problemas do bairro. Mas eles e os companheiros de diretoria esperam reverter a situação. Planejam, por exemplo, realizar a festa de 50 anos do bairro, evento em que os moradores poderão se encontrar e interagir. A associação realiza, também, uma reunião aberta aos moradores toda primeira terça-feira do mês: “Nós solicitamos que todos compareçam à reunião. A associação está aberta para todos. Tentamos informar e passar isso, pois a benfeitoria que nós temos que fazer não é para nós, é para o bairro. Então, a gente pede para quem tem disponibilidade, comparecer. Mas isso não acontece”, diz Wilson.

JOVENS DISPERSOS Fernando Machado, tesou-

reiro da Creche Bom Pastor localizada na Praça da Comunidade, acha que há um problema de comunicação entre a associação e os moradores: “Quando eu falo em divulgação, falo também do virtual. Os jovens hoje são antenados. Eu acho que, para ter boa repercussão, mais engajamento e interesse, as redes sociais seriam o ideal para falar com eles. Falta, então, divulgação em redes sociais”. A vice-presidente da Bom Pastor e conselheira fiscal da Amabadoc, Sandra Vasconcelos, concorda com Machado e diz, ainda, que sente falta de uma liderança jovem no bairro. Ela afirma que os jovens, ali, estão muito dispersos e desinteressados. Ela acredita que um projeto social para retirar os jovens da rua e torná-los mais participativos no bairro seria interes-

Maurício e Wilson, da Amabadoc

sante. Além disso, os jovens se beneficiariam com uma escola de segundo grau no bairro.

INSEGURANÇA

O bairro enfrenta muitos problemas, mas a segurança pública é um dos mais urgentes a serem resolvidos. O vice-presidente da associação, Maurício Sales, lamenta que os roubos e assaltos estejam aumentando muito no bairro. Já Wilson Pacífico conta que, devido à precariedade da segurança no bairro, planeja realizar uma reunião da asso-

Guilherme Cambraia

ciação com a Polícia Militar e a comunidade para discutir a questão e sugerir solução. “Espero que a comunidade possa retribuir e participar com o que vamos tentar fazer para tornar esta área menos perigosa”. Entre as ideias levantadas, está a necessidade de maior presença policial no bairro, de uma guarita e um sistema de vigilância “Olho Vivo” que, para Sandra, ajudariam a evitar assaltos e a reduzir a violência.


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Comunidade

Obras começam a sair do papel Reassentamentos, indenizações, lixo e destroços pelo bairro São Gabriel barram o início da construção da nova rodoviária de Belo Horizonte. Obra deveria ser entregue antes da Copa do Mundow ANA CLARA SCAVASSA RAFAELA ANDRADE 7° E 6° PERÍODOS

Após quase quatro anos de impasses, a nova rodoviária de Belo Horizonte, no bairro São Gabriel, região nordeste da capital, pode começar a sair do papel, de acordo com a BHTrans. A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) está retirando o lixo e os destroços das casas que foram demolidas em meados de 2013, para que a construção tenha início. Em 2011, a empresa SPE Terminal venceu a licitação para implantar e ser responsável pela operação da nova rodoviária. Passado o tempo, a obra que deveria ser entregue em 2013/2014, antes do início da Copa do Mundo sediada no Brasil, foi prorrogada. Segundo a BHTrans, o atraso se deu devido aos problemas com a retirada das pessoas que viviam na Vila São Gabriel. A Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) informou que 274 famílias foram reassentadas ou receberam indenização, no processo iniciado em março de 2012. Desse total, 144 preferiram ser remanejadas para conjuntos habitacionais. Os apartamentos entregues foram distribuídos em três conjuntos: Ebenézer, Nova Esperança e Nova Canaã, localizados nos bairros Ribeiro de Abreu e Belmonte, ambos na região nordeste da cidade. Há 28 anos morando no bairro São Gabriel, próximo ao local de construção da nova rodoviária, Ismael Venâncio reclama do descaso com os destroços que fazem do local um depósito de lixo

Moradores ainda convivem com o lixo deixado pela demolição das casas

e esconderijo para criminosos: “Muita gente já foi assaltada aqui. Se eles derrubaram as casas, tinham que limpar o local para dar mais segurança. Meus filhos chegam tarde do serviço, da faculdade, e nós ficamos preocupados. Dependendo da hora, se alguém gritar aqui, ninguém tem coragem de sair de casa”. Venâncio é pai de quatro filhos. Boa parte da área, que estava repleta de lixo e destroços, já foi limpa pela SLU, mas algumas áreas ainda precisam receber os serviços. Segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), mais 32 imóveis que ficam no entorno da construção, e não interferem no início das obras, serão desapro-

priados. Visitas e conversas com as famílias são realizadas desde fevereiro deste ano, de acordo com a Sudecap. Após a limpeza e liberação dos terrenos, a empresa SPE Terminal terá seis meses para iniciar a construção da rodoviária. A obra deve ser concluída em 18 meses. Sendo assim, caso o terminal comece, de fato, a ser construído este mês, o prazo para a empresa responsável encerrar as obras vai até fevereiro de 2017. O terminal rodoviário vai ter 35.500m² de área construída, totalizando um investimento de R$66,5 milhões, que serão desembolsados pela empresa SPE Terminal. O projeto contempla a construção de 41 plata-

Rafaela Andrade

formas para embarque e desembarque no 1º piso, com expansão prevista para 56 plataformas, 400 vagas cobertas para estacionamento de automóveis no 2º piso, praça de alimentação próxima à área de espera, e cerca de 70 bilheterias para venda de passagens. A rodoviária vai ser integrada ao sistema de BRT (Transporte Rápido por Ônibus) implantado na Avenida Cristiano Machado, e também será ligada à Estação BHBUS São Gabriel, com integração com o metrô, linhas municipais e intermunicipais. O terminal vai ter capacidade para atender cerca de 40 mil passageiros por dia. De acordo com a BHTrans, a região do São

Gabriel foi escolhida para receber a rodoviária após estudos que a apontaram como o melhor local, devido ao fácil acesso às principais vias da cidade, como Anel Rodoviário e Avenida Cristiano Machado. AFETADOS

Há dois anos, Vivian Queiroz vive em um dos apartamentos do conjunto habitacional localizado no bairro Belmonte, com três filhos e o marido. Ela morava numa casa de quatro cômodos, de quintal grande, com piscina, na Vila São Gabriel, próximo à rua Jacuí. Gostava da casa e estava acostumada com o bairro, pois passou a infância lá. Próximo a ela viviam os pais, os tios e outras pes-

soas de sua família. Todos foram removidos por causa da construção da nova rodoviária. “Minha sogra recebeu uma indenização e teve que inteirar R$50 mil pra conseguir comprar uma casa em Vespasiano”, conta a moça. A prefeitura ofereceu R$40 mil pela casa de Vivian; como o valor era baixo, a família decidiu ir para o conjunto no Belmonte. Ela conta que, mesmo não gostando de morar em apartamento, a estrutura é boa. Quanto aos benefícios que a nova rodoviária vai trazer para a cidade, Vivian não é muito otimista: “Acho que para mim e para o pessoal que foi retirado da Vila não vai trazer muitas melhorias”. A demora na construção e o descaso com os destroços das casas demolidas, que ficaram no local por muito tempo, deixam a moça indignada: “Era muito ruim passar por lá e ver aquilo. Retiraram a gente na pressa, e depois de dois anos, ainda não construíram a rodoviária”. A partir de agora, ela pode vender o apartamento e ir morar em outro lugar, e é o que pretende fazer. Igor Santos morava na Vila São Gabriel desde os dois anos de idade. Sua família vivia há anos no lugar. Ele está satisfeito com o apartamento no Belmonte, mesmo sentindo saudades da antiga casa. Acredita que a rodoviária vai trazer desenvolvimento para a cidade e visibilidade para os bairros do entorno. “Lá na vila São Gabriel tinha tiroteio, era meio perigoso, mas tirando isso eu não queria ter mudado de lá não. Aqui é mais tranquilo. A estrutura do prédio é boa”.

‘Mundo por vir’ foi o tema da Scap 2015 VICTOR CARVALHO ARTHUR LENOIR LIMA 2º PERÍODO

Alunos observam os quadros de Dagson Silva

Henrique Cacique

A PUC Minas São Gabriel realizou a sétima edição da Scap (Semana de Ciência, Arte e Política), discutindo temas de grande repercussão no cenário global. O evento não se restringiu apenas à comunidade acadêmica; os moradores do entorno foram convidados a participar, com o intuito de promover a expansão da universidade fora do ciclo acadêmico. O tema guarda-chuva deste ano foi baseado na leitura do livro de Eduardo Viveiros de Castro e Débora Danowski, “Há mundo por vir? – ensaio sobre os medos e os fins”. O livro retrata o fim do mundo, de maneira otimista,

propondo soluções que passam pela valorização das sociedades tradicionais e indígenas. O tema “Mundo por Vir” pauta assuntos como: aquecimento global, crise hídrica, urbanização, entre outros. A professora da PUC Minas, Elisa Rezende, esteve à frente da organização da Scap pelo quarto ano consecutivo. Ela alterou parte do formato da Semana, tornando o encontro maior e mais diversificado: “Eu fico muito visada nesses momentos, mas não podemos esquecer que a Scap funciona graças a um esforço conjunto de vários setores da unidade, como por exemplo, com a ajuda do Frei Mário Taurinho, que trabalha na Pastoral, Lucianda Fagundes e Aline Mendes, que estão na área

das pesquisas e também do nosso pró-reitor Cláudio Bahia e o diretor da nossa unidade, Alexandre Rezende, além de todos os funcionários. O nosso principal objetivo é a formação geral do aluno, pois os assuntos que tratamos são úteis para todos os cursos”, disse. A Scap aconteceu do dia 31 de agosto ao dia 5 de setembro. No dia 29 de agosto, o Cortejo de Maracatu percorreu as ruas do bairro São Gabriel, e deu início ao evento, além de divulgar e convidar os moradores e a comunidade acadêmica. Dentre as atrações, houve as apresentações de comunidades indígenas, africanas e ciganas; Scap Of (oficinas para os alunos); feiras, shows e palestras.


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DANIELA FERNANDES TÉRCIA CAROLINE 2° PERÍODO

Quase nunca requisitadas e com a produção suspensa desde 2005, as moedas de um centavo foram sendo desvalorizadas e desaparecendo do mercado. Segundo o Banco Central, ainda existem mais de três bilhões delas em circulação. Tal quantia está distribuída em pequenos estoques, tanto no comércio, quanto em algumas agências bancárias-, em coleções ou esquecidas em algum lugar pelos consumidores. Segundo o Banco Central, a produção da moeda foi suspensa porque o número em circulação já era suficiente, representando cerca de 30% do total de moedas do país, na época. Hoje, existem cerca de 16 moedas para cada cidadão, e estas representam 15% do total em circulação. Eduardo Horta, Gerente de Atendimentos da Agência do Santander na PUC Minas, declara que a moeda pode ser sacada por qualquer cliente que desejar. No entanto, normalmente, quando solicitadas ao Banco Central, as moedas nem chegam à Agência. Segundo ele, o encerramento da fabricação das moedas é uma forma de poupar um gasto do governo, já que o

Economia

Moedas de um centavo desaparecem do mercado Elas ainda estão em circulação, mas no momento da compra dificilmemte são vistas. Comerciantes têm dificuldades para devolver o troco aos clientes

custo de produção delas é muito mais alto do que realmente valem. Horta explica que no troco dos pagamentos efetuados na agência, os valores inexatos são sempre arredondados para mais, para não haver prejuízo aos clientes do Banco. Com o constante desuso, a maioria dos consumidores já passou a abrir mão das moedas nos trocos das transações comerciais diárias. Além disso, quase sempre fazem suas compras com cartões de crédito e débito, que diminuem, significantemente, a necessidade do uso de moedas. Alguns comerciantes do bairro Coração Eucarístico ainda mantêm um pequeno estoque para os clientes que as exigem, mas o que normalmente acontece é o arredondamento dos preços quebrados. Patrícia Fernandes, vendedora e caixa da papelaria Opção, afirma que, na maioria das vezes, quando o pagamento se dá em dinheiro, o

O estudante Thales Ribeirro iniciou a coleção ao saber que a produção seria suspensa

próprio cliente faz o arredondamento, pagando os poucos centavos a mais ou a menos. Outro fator que colabora para o sumiço da moeda são as coleções. Thales Ribeiro, 23, estudante da PUC, tem um total de 61 moedas. Apesar da quantia, que já foi

quase quatro vezes maior, ele não se considera um verdadeiro colecionador, e diz que ‘’as tem por ter’’. Thales diz que começou a juntar as moedas assim que soube que a produção seria suspensa, dessa forma passaria a ter algo que, futuramente, quase

Crise econômica afeta a região do São Gabriel ANA CLARA SALES SCAVASSA 7º PERÍODO

Dirce Araujo diminuiu suas compras no mercado

Ana Clara Scavassa

Reajustes e dimimuição nas vendas. São consequências da crise econômica brasileira, que se agravou este ano tanto para comerciantes, quanto para os consumidores. O bairro São Gabriel não ficou de fora deste cenário. Além de contar com um forte comércio, ele ainda abriga uma unidade da PUC Minas, que contribui economicamente para o seu desenvolvimento. Mesmo assim, no setor alimentício e de vestuário, o local tem sentido os efeitos da crise. “Quanto à minha compra do mês, o valor dobrou”, disse Dirce Jardim de Araújo, servente de limpeza, moradora do bairro Tupi, que trabalha no São Gabriel e é acostumada a comprar no comércio local. Para driblar os efeitos da crise, ela tem substituído alguns

Guilherme Cambraia

ninguém teria. O estudante não pensa em vender as moedas já que não vê rentabilidade nisso. Apesar da circulação quase nula da moeda, muitos comerciantes adotam preços terminados em R$ 0, 99. Como consumidor, o engenhei-

alimentos, como por exemplo a carne e alguns itens do sacolão: “Carne estou comprando só a branca, porque o preço está melhor. Carne vermelha não estou comprando mais. No sacolão, só fruta de época e algumas verduras. Já houve vezes em que eu não comprei cebola, por estar muito cara”. Larissa Helen Gon Santos, comerciante, disse que na loja de açaí em que trabalha, a alternativa para atrair consumidores e obter lucro, nesta época de crise, é fazer várias promoções. “O nosso açaí aumentou e tivemos que mudar o preço do cardápio. Para poder compensar a diminuição nas vendas, a cada semana fazemos uma promoção diferente, com preços bem em conta. A única coisa que subiu pouco, que compramos aqui no bairro, foram os descartáveis que usamos”. Para a estudante da PUC Rafaela Andrade, o comércio informal de ambulantes, próximos da universidade, também apresentou aumento em seus preços. “Fui comprar um bolo muito pequeno e paguei R$ 2,50. Não que seja muito,

ro de Minas Carlos Alberto Carvalho, afirma que esta é uma estratégia eficaz, já que “o ser humano tende a tirar vantagem de tudo”. Ele argumenta ainda que isso causa efeito psicológico levando o consumidor a pensar que pagou menos.

mas pelo tamanho achei caro. Mesmo com o aumento, o pessoal não deixa de comprar, porque chega muitas vezes à faculdade sem lanchar. Por isso, acabam comprando sem verificar os preços, ou pagando mais”, disse a estudante. A comerciante Renata Karine de Jesus Silva trabalha em uma loja de calçados, e falou que houve aumento de preços em todos os produtos. “O aumento foi de dois a dez reais, mas o povo vê e nota diferença. Alguns calçados que estavam R$ 49,90 passaram a custar R$ 59,90. Não tivemos diminuição nas vendas, mas o aumento de preços sim”, diz. Moradora do bairro, a estudante Loraynne Burjaily, contou que mesmo com a crise, o bairro ainda consegue sustentar seu comércio. “Houve um aumento de tudo. Hoje com R$ 100,00 não compramos mais a mesma coisa que compraríamos ano passado. Mas esse é um problema nacional, não só do São Gabriel. Mesmo com a crise, eu noto que as pessoas consomem bem no bairro. Bem mesmo”.


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Campus

DCE deve funcionar em breve Após a Justiça ser acionada e a ‘’Viva Voz dos Estudantes’’ ter terminado sua gestão, o prédio está fechado, mas o prazo para reabertura já foi determinado ELIZA DINAH 4º PERÍODO

Uma comissão temporária foi eleita para gerir o Diretório Central dos Estudantes (DCE), após a última eleição para a diretoria ser suspensa por ordem da Justiça (ver edição 314 do Jornal MARCO). O Conselho de DAs, que assumiu a gestão do DCE, tem 45 dias para convocar a Eleição de uma nova Junta Eleitoral, responsável pelo processo de inscrição e seleção de novas chapas para a eleição de nova diretoria do DCE. Uma comissão assumiu o diretório, provisoriamente; ela foi definida dia 20 de agosto, através de eleição na reunião do Conselho de DAs. É formada por três membros de diferentes áreas: Airton, William e David, que representam Humanas, Exatas e Saúde, respectivamente. O novo grupo tem apenas poder administrativo, ou seja, está autorizado a receber o dinheiro da

conta do DCE e a pagar funcionários, os serviços de impressão, a internet e a receber dinheiro de credores. Thainá Nogueira, presidente do DA de Comunicação Social, explica que o Diretório Central não se resume apenas a computadores, internet, funcionários bons e sinuca. “Ele tem de se preocupar em ensinar aos estudantes qual é o seu papel principal - a atividade político-estudantil - e a representação do corpo discente. Pode ser muito importante, por exemplo, na assistência aos alunos inadimplentes, na mobilização dos estudantes em prol de causas dentro da Universidade, como o nosso principal desafio que é o combate do aumento da mensalidade’’. Com base na grande importância que esse organismo tem para os estudantes e a universidade, o jornalista Américo Antunes, ex-presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas),

do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais e do DCE (início dos anos 90), explica que, para que a gestão de um diretório seja eficiente, ela não pode estar encastelada em torno de si mesma. “É necessário que o exercício da representação dos estudantes seja transparente não só no sentido da democracia interna, mas também financeiramente, já que quem sustenta a entidade são os próprios alunos”. Antunes acredita que, diante do cenário conturbado que o DCE-PUC vive, a retirada da contribuição mensal não é a melhor solução. ‘’Eu não acho, de modo algum, que negar recursos à entidade seja o caminho para mudá-la. A gente altera é participando, é lutando, é guerreando, é mobilizando’’, justifica. Outro aspecto essencial para uma boa gestão é a intensa relação com os DAs, de quem o DCE é voz. De acordo com Thainá Noguei-

Thainá Nogueira avalia que a interação entre os diretórios é fundamental

ra, o Diretório Central pode ser comparado a um país e os Diretórios Acadêmicos aos ‘’estados’’ desse país. Para todos os alunos serem alcançados e ouvidos, a boa relação entre as duas frentes se torna indispensável. Isso deve ser uma das maiores metas para quem assumir o Diretório futuramente. ‘’É

uma representação dupla, uma cadeia de colaboração que começa na base, da sala de aula, e aflui para os centros acadêmicos fortalecendo o DCE’’, explica Américo Antunes. Ele lamenta que o DCE tenha chegado ao fundo do poço como chegou. ‘’Disputas judiciais, ter que re-

Lucas Félix

correr à Justiça para definir uma questão que é própria dos estudantes, isso é um absurdo’’. Ele acredita que isso aconteceu devido a um processo mal conduzido e que será necessário um intenso trabalho para recuperar e reconstruir a imagem da entidade.

“Cibus Theologicus” no Espaço Fé e Cultura ALEXANDER TEIXEIRA LÚCIA DE FILIPPIS 1º PERÍODO

Mensalmente, os alunos do curso de Teologia são convidados a se encontrar no Espaço Fé e Cultura da PUC Minas, campus Coração Eucarístico, para um momento de cultura e lazer, de bons diálogos e de familiaridade. A escolha da expressão latina Cibus Theologicus define muito bem o evento: o Alimento Teológico; além de ser físico (lanche), alimenta a alma, as amizades e o aparato cognitivo dos que participam. Em setembro de 2014 e, mais precisamente, durante as eleições para os membros do colegiado, o curso de Teologia ganhou um enfoque: o desafio de institucionalizar confraternizações mensais entre alunos, professores e funcionários. A ideia inicial era a de proporcionar um instante de articulação, diálogos e compreensão que transcendesse o ambiente da sala de aula. “Junto com a busca da qualidade acadêmica e com o fomento à cultura, a questão da familiaridade também foi uma das finalidades iniciais

do evento”, assegurou o coordenador e professor do curso de Teologia, Padre Evandro Campos Maria. Inicialmente, as confraternizações tiveram um desafio: articular um espaço livre que pudesse abarcar de maneira harmônica e horizontal todos os 130 alunos do curso, além dos visitantes e professores que se interessassem em participar. Depois de alguns meses, a PUC ofereceu o Espaço Fé e Cultura, o que foi essencial para o desenvolvimento do evento. A proposta foi assumida pelo advogado, aluno e membro do colegiado do curso de Teologia, Douglas Xavier, e contou com o apoio dos coordenadores e funcionários do curso. “Quando fui eleito ao colegiado, recebi várias propostas de confraternização. Nós, aqui da Teologia, somos um pouco diferentes de vocês: nossa graduação tem por base a formação sacerdotal. Embora o curso entre no rol do vestibular, a maioria das pessoas que faz Teologia quer ser padre. Em vista disso, a graduação tem vários seminaristas, das mais diversas cidades do Brasil.

Para estabelecer uma relação mais familiar com os alunos, até mesmo para explorar o intercâmbio cultural, tivemos a ideia de integrar o lanche, a cultura e a fé”, afirma. Cada mês, uma turma fica responsável por anfitrionar os participantes. A proposta de temas é articulada livremente. O mês de setembro, por exemplo, é dedicado, segundo a Igreja, à “Palavra de Deus” (Bíblia). Por isso, o tema referente ao mês gira em torno dessa questão. A confraternização referente ao mês de agosto e prevista para o início de setembro terá como tema a questão das vocações. Segundo Xavier, há uma abrangência de temas, e as pessoas não ficam “acorrentadas” a somente um recorte temático. Além do lanche e de boas conversas, o evento conta com algumas apresentações culturais em sua abertura, articuladas pelos próprios participantes. Devido a isso, muitos membros da comunidade acadêmica da PUC sentem-se atraídos pela música e pela movimentação do Espaço Fé e Cultura e são muito bem recebidos. Além da música, os

Segundo o padre Evandro, familiaridade é uma das finalidades do evento

Thiago Carminate

encontros contam com declamação de poemas autorais e exposição de pinturas. Porém, em termos de divulgação e de extensão, há o desafio de se expandir as confraternizações para todos os cursos. “Seria interessante esta proposta, só que esbarramos em questões institucionais. A PUC é uma universidade grande, então cada faculdade tem seu próprio estatuto, suas próprias regras colegiais. Visto isso, partir e expandir as confraternizações para toda a comunidade acadêmica da universidade,

em termos de divulgação, é uma questão complicada. Envolve muita burocracia. Mas fica a idéia! Fica a proposta para que, ao olharem para nossa iniciativa, os outros colegiados também percebam a importância de estabelecer uma conexão saudável e universal fora da sala de aula”, observou Xavier. Além das questões institucionais expostas por ele, Padre Evandro confessa que “O evento, embora não seja institucionalizado para toda comunidade acadêmica, está aberto para quem quiser par-

ticipar. Nós, do curso de Teologia, temos abertura para os outros. Portanto, esses encontros têm como base o que é peculiar ao nosso curso: a valorização e a abertura para o próximo”, acrescenta. Em geral, a aceitação tanto dos alunos e professores do curso de Teologia, quanto dos demais discentes e docentes que já participaram do evento, é muito positiva. Além disso, há esperanças de se desenvolver uma política de extensão e de divulgação para as confraternizações se tornarem ainda maiores.

Embaixada francesa tem presença na PUC JAMILLY VIDIGAL 5° PERIODO

A estudante de psicologia da PUC São Gabriel, Manoela Marra, 23 anos, é a atual embaixadora universitária da França na PUC Minas. Ela conheceu o programa através do site da universidade. A experiência e fluência adquiridas no intercâmbio na França, entre 2009 e 2010, a motivaram e foram importantes para que Manoela fizesse parte dessa proposta. Os jovens embaixadores franceses, independentemente do curso, são selecionados pelo Serviço de Cooperação e Ação Cultural da embaixada francesa (Scac) e a Assessoria de Relações Internacionais. O objetivo do Scac, em parceria com a Uniminas e o Campus France, é promover a cultura francesa no campus de universidades mineiras através dos estagiários, que são responsáveis por incentivar a cultura francófona, promover eventos e divulgar as oportunidades de estudo na França. Sendo o programa piloto em Minas Gerais, ele engloba a PUC Minas como única instituição particular, por conseguinte, outras 11 federais, além da Uemg, a Unimontes

e o Cefet-MG. Na PUC essé a segunda edição, tendo começado no segundo semestre de 2014. Além disso, existe a possibilidade de as atividades serem replicadas em outros estados. No mês de setembro será ministrada uma palestra para apresentar os programas de intercâmbio e as parcerias entre as universidades brasileiras e francesas pelo Campus France. Durante o semestre também estão previstas atividades internas, como clubes de conversação, cineclubes e outras ações culturais. “O trabalho contribui muito. Através da comunicação conheço muita gente e, ao mesmo tempo, melhoro meu francês e o currículo”, afirma Manoela. A assessora de relações internacionais da PUC, professora Rita Louback, destaca a iniciativa para a universidade, que desde 2008 tem feito esforço para aumentar a visibilidade junto a parceiros internacionais: “Nós da assessoria de relações internacionais temos a obrigação de prospetar, criar a política de internacionalização e submeter à aprovação de instâncias superiores. O programa de embaixador universitário é único da França, se pudéssemos ter essa iniciativa com outros países seria melhor”.


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Consumo

Medidor ajuda a poupar água Alunos da PUC Coração Eucarístico criam aparelho que mede consumo hídrico. A ideia é ajudar na conscientização

sem levar em conta o consumo mensal de cada família.

ANABELLA DE FÁTIMA MENDES NATÁLIA EVANGELISTA GOMIDE 1º PERÍODO

A crise hídrica vem preocupando seriamente os brasileiros. Nesse contexto, a procura de meios para economizar água aumentou consideravelmente. Pensando nisto, seis alunos, entre eles, Felipe Ferreira e Igor Xavier, do curso de Engenharia Eletrônica e Telecomunicações da PUC, Campus Coração Eucarístico, criaram um medidor do consumo de água, o Econômetro, que ajuda a fazer esta economia. O Econômetro opera através de um ou mais sensores que captam a quantidade de água que passa por ele. Logo depois, transforma esses dados em sinais elétricos que, em seguida, são enviados a uma central eletrônica. Nela ficam armazenados até que o usuário faça download por meio de conexão Bluetooth entre a central eletrônica e o celular. O resultado é a quantidade de litros de água gastos , registrada em gráficos e tabelas que o aplicativo exibe. Felipe Ferreira, aluno da disciplina TAI (Trabalho Acadêmico Integrador), esclarece que por ser barato e de fácil instalação, o medidor é também uma solução para os condomínios, onde hoje o consumo total de água é dividido por todos,

EXPERIMENTAÇÃO

Após efetuar todos os testes em laboratório e verificar o funcionamento, os alunos instalaram o aparelho na casa de Felipe. A instalação foi feita e o grupo obteve sucesso no desempenho. Mas algo inesperado ocorreu: após o download dos dados de consumo, o estudante percebeu que havia um gasto médio de oito litros de água, no período da noite, enquanto todos estavam dormindo. Esse gasto na verdade era de um vazamento, que só foi detectado

em consequência da funcionalidade do Econômetro. O equipamento foi elaborado desde o inicio com o objetivo de ajudar na economia de água, atendendo à condição de ser útil e acessível. Segundo Felipe, “em um cenário cada vez mais preocupante em relação ao uso da água, o brasileiro está mais atento às diversas formas de economia”. A ideia é de que o aplicativo ajude na conscientização e que auxilie o usuário a definir suas próprias metas de consumo. A grande vantagem do dispositivo é que a leitura é feita em tempo real, o que permite que

Aplicativo faz leitura em tempo real do consumo

o usuário calcule o gasto, por exemplo, ao tomar banho, podendo controlar, logo, seu consumo. Outro beneficio é que o aparelho pode ser instalado em qualquer saída de água, ou seja, torneira, caixa d’água, etc.

O aparelho pode ser instalado em qualquer saída de água

Lucas Félix

Belo Horizonte ganha novos serviços de alimentação DÂMARIS ALMEIDA 4º PERÍODO

Atualmente, locais de alimentação 24 horas são cada vez mais comuns. Na capital mineira, é possível encontrar bares, lanchonetes e padarias a qualquer hora do dia. Há 14 anos, Sebastião Maffille Júnior fez o grande negócio de sua vida ao vender uma pequena mercearia na zona rural de Viçosa, para abrir uma padaria na capital. Hoje, são 14 unidades Mixpão, das quais seis ficam abertas 24

horas. “O público da madrugada é constante. Não existe um momento de pico”, conta Maffille Júnior. Sua mais nova padaria é a Mixpão, no bairro Goiânia. Outra alternativa para os que buscam se alimentar a qualquer hora é o restaurante La Greppia, situado à Rua da Bahia, 1196, Centro, que oferece grande variedade de massas todos os dias – e noites. O local tem fama por sua clientela boêmia, e conta ainda com muitas opções de cerveja. Oferece também diversas promoções para

Restaurante Bolão no bairro Santa Tereza

Dâmaris Almeida

atrair públicos em todos os horários, como almoço self service sem balança, e à noite rodízio de massas, por R$ 22,00. O público do local é bem variado, sendo frequentado pelos mais jovens, até os mais velhos. PORÇÕES Mas uma das madrugadas mais tradicionais de BH é a do tradicional Bolão, localizado na Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza. O restaurante serve o espaguete à bolonhesa desde 1961, além de mexidos e porções que vão de R$22,00 a R$26,50. Para os que ainda querem dividir uma cerveja com os amigos antes de ir embora, o local também é indicado. Pedro Augusto, 23, estudante da faculdade Pitágoras, disse que praticamente em todas as madrugadas de sábado vai ao restaurante com os amigos. “Sempre mato minha fome quando venho pra cá, além de finalizar a noite com a última rodada de cerveja com toda

a galera”, contou Pedro Augusto. O local é frequentado por todos os tipos de público, porém, o público jovem é predominante. Além desses lugares, quem gosta de fast food, locais de comidas rápidas, pode encontrar a qualquer hora na Savassi, o McDonald’s da avenida Getúlio Vargas. “Amo vim pra cá, nunca tive problemas com o atendimento, e ainda um bom quebra-galho para um fim da noite”, disse a estudante da Escola Municipal Imaco, 17, Jéssica Sales. O local tem público variado. O que diferencia um local do outro é o tipo de alimentação que cada um oferece em seu cardápio. A padaria Mixpão tem, durante toda a madrugada, várias fornadas de pão francês. Já no La Greppia, o prato principal da casa são as massas. No tradicional Bolão, o espaguete é o mais pedido. No caso do McDonald’s, restaurante fast food, há em seu cardápio lanches rápidos, sorvetes, entre outros.

Lucas Félix

De acordo com Felipe, o grupo está em processo de aquisição da patente, junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi). Geraldo Cardoso de Melo, engenheiro eletricista e professor da disciplina Telecomunicações do curso de Engenharia Eletrônica e Telecomunicações, supervisionou o projeto acadêmico do grupo. Ele afirma que o aparelho poderá trazer lucro para os seus criadores: “É importante que se registre a patente do trabalho, que consumiu tempo e recursos. É uma ideia original. O registro da patente garantirá, aos idealizadores do projeto, o direito aos bônus que eventualmente o mesmo vier a gerar. É justo que seja assim”. O professor acrescenta que o projeto é muito atual e oportuno: “O mundo atravessa uma crise no abastecimento de água. Precisamos desenvolver ferramentas, como essa, que controlem o desperdício de água e conscientize a população da importância de economizá-la”.

PUC orienta comunidade sobre nutrição MARINA CARNEIRO 4°PERIODO

Uma boa alimentação é benéfica para a prevenção de variadas doenças, como por exemplo, as cardiovasculares, diabetes e obesidade. Na intenção de educar melhor a população belo-horizontina sobre a melhor maneira de se alimentar, o Curso de Nutrição na PUC Minas no Barreiro ofereceu, no inicio de setembro, atendimento gratuito para os inscritos num programa. Os interessados foram ao campus, onde se realizaram medição do peso e altura, avaliação do Índice de Massa Corporal (IMC), orientação sobre a divisão alimentar, mastigação e passos básicos para a alimentação saudável. Além disso, os participantes foram apresentados a algumas substâncias ocultas nos alimentos, como sal, gordura, açúcar e fibras, além de serem informados sobre a importância delas na prevenção e/ou tratamento de doenças. O atendimento foi realizado por acadêmicos da disciplina Estágio Supervisionado em Nutrição Social, sob a supervisão da professora Raquel Marques Diniz.


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Esporte

MELISSA RACHID 8° PERÍODO

Trabalho de respeito, disciplina e ética. É assim que Gerson Carlos de Souza, 64, diretor e fundador da ONG Tênis para Todos justifica o sucesso de um projeto que já vem realizando há mais de dez anos. Teólogo, jornalista e quase pastor - ele conta que a entidade foi fundada sem objetivo inicial de trabalhar com aulas de tênis para deficientes físicos, mas acabou por descobrir essa possibilidade pouco tempo depois de sua fundação. A entidade que oferece gratuitamente aulas e preparação profissional em tênis, sempre teve como foco popularizar esse esporte tanto para crianças em idade escolar, quanto para universitários de Educação Física. “Nosso objetivo é levar conhecimento sobre o tênis, visto como de cunho elitista, para pessoas que não tem acesso a ele. Mas como também abrimos espaço para deficientes físicos cadeirantes fazerem nossas aulas, isso acaba chamando mais atenção de quem nos descobre, por ser uma coisa diferente,” explica. O trabalho, que hoje conta com vários núcleos, começou depois de Gerson Carlos ser nomeado Diretor de Esporte da Regional Centro-Sul, pelo então prefeito Célio de Castro, em 2001. Ele conta que foi procurado pelo arquiteto e professor de tênis Cícero Caixeta que lhe propôs o desafio de ensinar pessoas, sem recursos financeiros, a jogar tênis, em um trabalho voluntário. “Na época, a Escola Municipal Imaco funcionava dentro do Parque Municipal. Então fizemos um experimento de levar meninos do Aglomerado da Serra e Aglomerado Santa Lúcia para a escola e passar as manhãs ensinando o esporte para eles que gos-

Aula de tênis para todos Projeto socioesportivo já treinou deficientes físicos para competições de paraolimpíadas e inicia programa voltado para crianças e adolescentes cadeirantes

taram muito! Começamos a atender 40 alunos e o Imaco ficava encarregado de dar almoço e disponibilizar o chuveiro para eles tomarem banho depois do treino.” Em pouco tempo, dois anos depois, ele conseguiu ampliar as vagas para 80 alunos. Foi quando mais um desafio apareceu. Um de seus alunos, cujo pai era cadeirante, propôs que ele também participasse das aulas. A princípio, ninguém acreditava ter recursos e condições para isso, mas depois de aceitarem o desafio, a demanda por esta modalidade foi aumentando e a ONG terminou o ano com um grupo de sete cadeirantes. E assim foi, até quem em 2004, os alunos do programa foram convidados para participar de um torneio paraolímpico de tênis em Brasília. De acordo com o Souza dois de seus atletas deficientes foram convidados para competir. “Achávamos que não teríamos chance, mas à medida em que eles competiam, iam passando de fase até que os dois se tornaram finalistas. Competiram um contra o outro na final e vencemos. Foi aí que a fundação ganhou grande repercussão no quesito tênis em cadeira de rodas.”. Para a psicóloga Luiza Prates, 24, o tênis não é só uma forma da pessoa se exercitar fisicamente. O esporte serve também para ajuda-las a desenvolverem a coordenação motora e a disciplina. Formada na UFMG, Prates começou a trabalhar na ONG em 2012 como supervisora de núcleos cuja função era acompanhar os projetos, fazer reuniões periódicas e

dar assistência ao trabalho de monitores e professores. Ainda de acordo com a psicóloga, apesar do número de alunos cadeirantes ser menor que o de alunos não deficientes, a entidade continua focada em treiná-los para as paraolimpíadas. “O tênis em cadeiras de rodas é o diferencial da ONG, mas não é o foco principal. Em um ano já atendemos mais de 1000 crianças de escola enquanto, na cadeira de rodas, atendemos entre 35 e 40 alunos neste mesmo ano. Ainda assim, fomos nós que capacitamos os cadeirantes que participaram das Paraolimpíadas de 2012 e temos a Natiele, uma atleta paraolímpica em formação.”. Natiele Ribeiro, 16, é estudante e entrou para o Tênis para Todos quando tinha apenas 12 anos de idade. Desde então, participa de torneios nacionais e internacionais de paraolimpíadas como as Paraolimpíadas Escolares de 2013, em São Paulo, onde foi medalha de ouro em dupla e medalha de prata individual. Ela também participou do Niterói Open, em 2014, conquistando a medalha de prata em dupla, e no Uberlândia Open, esse ano, ficou em segundo lugar; recentemente, foi convidada para participar de um torneio na Argentina, que acontecerá em outubro. Sobre as Paraolimpíadas 2016, Gerson Carlos Souza acredita ainda ser muito cedo para a adolescente conseguir pontuação suficiente no ranking e assim, representar o Brasil. Mas existe a possibilidade – e intenção – que ela jogue nas Paraolimpíadas de 2020. Para que isso aconteça, é necessário que Natiele

Esplanada do Mineirão é nova opção para skatismo GABRIELA MAIRINK NATÁLIA ALVES 1º PERÍODO

O Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, é o único no Brasil com uma extensa esplanada externa. Seu uso frequente por skatistas tem chamado a atenção e acarretou no reconhecimento do espaço como um dos melhores points para a prática do esporte. A Esplanada foi criada com a reforma do Mineirão como parte do projeto que era pré-requisito da FIFA para a Copa do Mundo de 2014. Um dos arquitetos responsáveis, Bruno Campos, conta que a topografia um pouco acidentada da área do Mineirão permitiu a adaptação da Esplanada ao próprio terreno e pos-

sibilitou a criação das escadarias e rampas que são utilizadas pelos skatistas na realização de suas manobras. “Não imaginava que fosse fazer esse sucesso todo com eles”, observa. O espaço é frequentado por quem está iniciando e por atletas profissionais. Jay Alves, skatista profissional desde os 22 anos, tem a vantagem de morar próximo e frequenta a Esplanada desde sua abertura, em fevereiro de 2014. Diz que a estrutura do espaço é muito boa, perfeita para andar de skate. A maioria dos esportistas que frequentam a pista comenta que a preferência pelo local se deve muito à infraestrutura. “O local é realmente incrível, a qualidade do espaço e os obstá-

culos naturais fazem com que eu queira ir lá”, diz Bernardo Melo que anda de skate há 13 anos. Ele conta que participa de campeonatos e competições desde os 8 anos e que a Esplanada deveria receber grandes eventos setoriais. Donara Anacleto, 18 anos, comenta que por ser nova no skate a “pista” é ainda melhor para a prática do esporte. Ela destaca também o clima agradável criado pelas caixas de som que tocam músicas durante o dia e considera a segurança do local um fator importante. “Não é um lugar perigoso para ficar até tarde.” Há vigilantes 24 horas no local e câmeras posicionadas ao longo de toda a extensão para garantir a segu-

Cadeirantes avaliam o projeto como uma forma de inclusão esportiva

participe, ao máximo, de competições, tanto que a fundação já tem um calendário com a data de todos os torneios internacionais para atletas paraolímpicos. A garota, que conheceu o programa por meio de um dos ex-atletas da fundação, diz que não sabia o que era o tênis antes de fazer parte do programa e se descobriu na ONG. “Agora, meu maior sonho é chegar ao grupo

dos quatro melhores atletas paraolímpicos de tênis do mundo e, se possível, ser professora também.”. A professora da Educação Física e aluna não cadeirante da ONG, Gabrielle Dias, 25, reconhece o potencial que a casa dispõe para tornar o sonho da colega possível e explica como funcionam os treinos na entidade. “Aqui, na ONG, quem é cadeirante pode competir

Melissa Rachid

com quem não é. Eu, por exemplo, já treinei com a Natiele e perdi (risos). Mas existe um controle em relação a isso. Por exemplo, quem é andante e novato, pode competir com quem é cadeirante e já tem experiência, para equilibrar. Mas em competições oficiais, aí o adversário tem que ser igual ao outro. Cadeirante com cadeirante e andante com andante.”

Autoestima renovada O “Tênis para todos” ficou um período sem divulgação e sem a procura do esporte pelos deficientes, devido à falta de recursos e de parcerias para o trabalho. Agora, a escola está iniciando um novo projeto, chamado Superação, contemplado com vantagens da Lei do Incentivo ao Esporte. Ele é voltado para crianças e adolescentes com deficiência física ou mobilidade reduzida. Eles treinam o tênis assentados em cadeira de rodas, mesmo que não sejam cadeirantes de fato, como é o caso da própria Natiele. Ela tem uma perna menor que a outra e, por isso, precisa da cadeira de rodas para jogar. A psicólogaLuiza Prates disse que o objetivo deste programa, cujas inscrições já estão abertas (www.tenisparatodos.com.br), é trabalhar a autoestima dos deficientes, nessa faixa etária. Ela explica que existe uma dificuldade muito grande por parte do deficiente ao lidar com o preconceito, na fase de criança e adolescência. “A criança tem que viver com essa diferença na escola; o adolescente tem que entrar em seu meio social e ele não sabe onde e como se encaixar sendo cadeirante. É nessamomento que eles têm maior di-

rança do público. O espaço dispõe ainda de banheiros, bebedouros, lanchonetes e postos de atendimento médico gratuito para casos de acidentes. A presidente da Associação Pro-civitas (Associação dos Moradores dos Bairros São Luís e São José), Juliana Renault, diz que não há nenhuma reclamação dos moradores da região quanto à presença dos skatistas porque “é um uso completamente compatível com o lugar”. Além dos skatistas, a Esplanada também é frequentada por crianças e adultos que gostam de andar de patins ou bicicleta. A entrada é gratuita e o acesso é livre, diariamente, das 7h às 21h, exceto dias de jogos e eventos.

ficuldade em sair de casa, nas relações interpessoais, desenvolvimento de autoconceito, autoconfiança e autoestima. Então tudo isso é trabalhado aqui também. Não só a questão do esporte.”. Para Natiele Ribeiro, a ONG foi fundamental em todos os aspectos de sua vida, inclusive para trabalhar sua autoestima. “Uma das melhores coisas que a ONG fez pra mim, foi ajudar a minha volta aos estudos. Eu não gostava de ir para a escola, pois tinha muita vergonha da minha deficiência,” coisa hoje superada. Além dos alunos deficientes físicos, os profissionais da ONG também reconhecem a gratificação de fazer parte dessa experiência. “Quando eu cheguei à entidade, não sabia como portar-me em relação ao deficiente. E aqui a gente descobre que são pessoas comuns, como qualquer outra. E isso é um aprendizado que levamos para a vida. Além do mais, tênis é um esporte apaixonante, que trabalha o corpo todo e a questão da saúde, por nos exercitar. É uma coisa prazerosa.”, disse Luiza Prates.

Arquitetura favorece a prática do esporte

Thyago Rodrigues


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Entrevista

KETLEYN QUADROS

Judoca sonha com medalha olímpica em 2016 Ketleyn Quadros é uma judoca brasileira que compete na seleção de judô na categoria meio-médio (até 63kg). É a primeira mulher medalhista das Olimpíadas em esportes individuais do Brasil. Ela fala sobre a importância da medalha de bronze, suas competições, a falta de incentivo ao esporte, no Brasil, e da união dos judocas brasileiros. Ketley treina no Minas Tênis Clube e tem se preparado para garantir sua vaga nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Além disso, luta para conciliar os treinos e competições com os estudos acadêmicos. Ela cursa Educação Física na Faculdade Pitágoras, em Belo Horizonte. MARINA CARNEIRO 4° PERIODO

Garanti minha vaga em fevereiro de 2008, no ano das Olimpíadas. Eu vinha treinando muito, garanti minha vaga em competições como o Grand Slam de Paris, hoje assim chamado, mas na época era o Torneio de Paris. Fiquei em quinto lugar. Peguei adversárias fortíssimas e, aí, comecei a treinar para Pequim. Eu não tive muitos treinos, mas lutei com possíveis adversárias que eu ia encontrar nos jogos. E isso foi muito bom para ter noção de quem era forte, ver técnicas e levar isso para o meu professor. E desde então treinamos muito forte. Conquistei a medalha de bronze, sendo a primeira mulher a ganhar uma medalha em esportes individuais para o país.

Como entrou para o judô? Comecei no Sesi (Serviço Social da Industria) de Ceilândia,(DF) minha cidade, por indicação de professores, devido [á demonstração] de muita energia dentro de sala de aula. A principio, experimentei todas as modalidades esportivas que eu podia fazer. Corrida, dança, qualquer tipo de jogo. Eu me interessei primeiro pela natação, só que no caminho da natação eu sempre via crianças brincando de quimono e perdi várias horas assistindo às aulas de judô.Aí comecei a chegar atrasada na natação. Meu professor até brigou com a minha O que representou mãe. E eu expliquei que era porque para você a conquista ficava assistindo o judô. Minha mãe da medalha olímpica? disse que eu podia experimentar o A medalha foi parte de todo o trajudô. Mas ela achava que eu não ia balho feito. Não só dos técnicos do passar de uma semana. Mas não: foi Clube, como dos meus professores amor à primeira vista. Eu adorei o que, desde pequena, acreditavam no judô, sempre amei. meu potencial. E, lógico, o apoio familiar que eu tive que foi inconComo é a trajetória dicional. Se minha mãe não me no Minas Tênis Clube? apoiasse, se não acreditasse na eduQuem é o treinador? cação que ela tinha me dado para vir Temos o sensei Floriano Almeida para cá sozinha, eu acho que não seque é o técnico principal, e o sensei ria possível realizar esse sonho. auxiliar que é o Alexandre. A equiRepresentou bastante responsabilipe é espetacular. A gente tem apoio dade para mim; querendo ou não, nutricional. Temos a psicóloga que você vira formador de opinião. As assiste o nosso treino, o fisioterapessoas procuram o clube porque peuta que vem fazer nosso prevensonham em também ser medalhistivo, para evitar lesões. Então em tas. Então elas querem ter esse tipo termos de estrutura, realmente não de treino. tem de que reclamar. A preparação Eu deixei o convívio da minha faesta sendo feita, o trabalho também. mília para vir pra cá, então não seria É individualizado na medida do justo não treinar e não dar o mepossível, porque é uma equipe muilhor de mim. E há pessoas aqui se to grande. Mas eu acho que estamos espelhando, crianças que veem que no caminho certo, treinando muito. é possível. Patrocinadores que estão É uma equipe de grande potencial. enxergando potencial no esporte e no clube. No judô feminino muda Como você se isso. profissionalizou? Quando terminei meu ensino mé- Quais os principais prêmios dio, tive que optar: ou eu ia seguir e medalhas conquistados? uma carreira de estudar e trabalhar, Além do bronze dos Jogos Olímpiou sair de Brasília e achar um lugar cos de 2008, fui campeã das Olimque me desse estrutura, tanto para píadas do Universíade (Jogos Uniestudar quanto para fazer um esporversitários Mundiais), que também te de que eu gosto. Então vim para é muito importante. E fui também Belo Horizonte, aos 17 anos, depois vice-campeã de um mundial milide passar no teste do Minas Tênis tar. Mas acaba que todas as minhas Clube e fui muito bem acolhida competições, desde medalhas em por aqui. Completei 18 anos, e dois Grand Slam e medalhas em copas anos depois, conquistei minha vaga, do mundo, até passar em seletivas em 2008, nos Jogos Olímpicos de nacionais, são muito importantes. Pequim. E as coisas foram acontecendo muito rápido. O importante Há preconceito para mim é que eu sempre tive pro- por ser mulher e negra? fessores que acreditaram no meu Eu acho que isso já mudou muito. potencial e me treinaram sem espeEu não sei se eu não percebi o prerar nada em troca. conceito, se ele existiu ou não. O que

Guilherme Cambraia

tinha, na época, eram perguntas do E, se avaliar o Minas, a maioria tipo: mas mulher pode fazer judô? dos atletas não é de Belo Horizonte Eu acredito, sim, que antigamente e nem de Minas. Então, o que está as mulheres sofreram preconceito, acontecendo? E ainda, como falta porque não é à toa que começaram incentivo desde o início, o interesse a lutar muito depois dos homens. também é difícil de aparecer. Falta Tinham que lutar escondidas e era investimento para os clubes porque uma mulher para vários homens. E não se entende que eles são fontes ainda era considerado um esporte de oportunidades. Eles conseguem extremamente masculino. dar bolsas de estudo para os atletas Hoje a gente tem até musas do mas, infelizmente, não conseguem judô. Então acho que mudou nesse suprir a necessidade de todos os essentido; se teve preconceito, eu portes olímpicos. Realmente, falta nunca percebi, nem por ser mulher muito apoio nesse sentido. nem por ser negra. O bom do judô, no Brasil, é que o treino é misto, O Brasil tem uma tradição masculino e feminino juntos. En- no judô. O Brasil é uma retão a nossa equipe é muito unida. A ferência ou uma potência? Com certeza é uma potência. Não gente não pensa muito feminino e só no feminino, em que a maioria masculino, só no Brasil. das categorias está entre as primeiras colocadas do ranking mundial. O masculino também sempre foi muito forte e o bom do judô é que a gente sempre acaba treinando com O importante nossos possíveis adversários. Essa é pra mim é saber a única forma da gente evoluir. competir muito Então [o Brasil] é uma potência por bem, estar feliz causa disso, tem muito amor enfazendo o que volvido no esporte porque a maioeu amo, porque ria dos atletas faz essa modalidade o resultado porque a ama e, às vezes, é mãe paé consequência trocinando, são clubes e é tudo com muita garra.

Como atleta de judô, o que você acredita que falta hoje no Brasil? Falta estrutura de mais clubes e centros de treinamento. Até mesmo colégio, que seria direito de toda criança. Ter educação e lazer, mas não tem. Se olharmos Minas Gerais, educação física não é nem obrigatória. Se o pai disser que não quer e assinar um termo, a criança não faz. Eu acho isso um absurdo. Esporte é educação, é uma outra forma de oportunidade. O esporte,como a cultura e o lazer- é um lado a ser desenvolvido e que muitos não conseguem e os prejuízos são muito grandes, tanto na saúde quanto para desenvolver novos talentos. Acho que a gente perde muito nisso. Temos muitos talentos no Brasil, professores espetaculares, atletas que sonham mas, infelizmente, por falta de estrutura, não conseguem. Falta incentivo para os clubes de judô crescerem? Falta sim. Em Minas Gerais, por exemplo, o clube que mais tem modalidades olímpicas é o Minas. Numa cidade enorme, que é Belo Horizonte, não é possível que todos os atletas estejam aqui.

Como está a preparação para as Olimpíadas? Está cada vez mais detalhada, porque como vai chegando próximo todo mundo já está muito bem preparado, física e psicologicamente. Então, os detalhes começam a fazer a diferença. O treino continua forte. No judô não tem descanso, porque você não compete apenas uma temporada, você compete o ano inteiro. Você não tem férias, você tem dias de folga. De manhã temos a parte física. À tarde, o treino de judô mesmo. E mais um treino extra, que é técnico, de uma hora, de lapidação de golpe ou tática. Fora os horários com psicólogo, que variam de acordo com cada atleta. Tem o apoio nutricional, que é feito por ciclos, de tempos em tempos faz-se a manutenção da alimentação, verifica-se se está adequada. E, à noite, eu estudo. Agora, é classificar a minha vaga para os jogos do Rio. Garantindo a vaga, uma possível medalha, se possível, uma final, porque a de bronze a gente já tem (risos). Mas o importante pra mim é saber competir muito bem, estar feliz fazendo o que eu amo, porque o resultado é consequência.


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