SAI O CAVALO E ENTRA A BICICLETA, NA VERSÃO DO BIKE POLO ADAPTADA PARA AS GRANDES CIDADES BRASILEIRAS, COMO BH PÁGINA 15
CRUZ VERMELHA DÁ OPORTUNIDADES DE INCLUSÃO E ABRE PORTAS PARA JOVENS QUE VIVEM EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL PÁGINA 10 Guilherme Cambraia
Raul Brandão
O PROFESSOR RICARDO RABELO ANALISA A ATUAL CONJUNTURA POLÍTICA E ECONÔMICA DO BRASIL EM CENÁRIO DE CRISE E APONTA SOLUÇÕES PÁGINA 16 Guilherme Cambraia
marco jornal
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 317 . Novembro de 2015
Moradia é fator de dignidade Teto, terra e trabalho são fatores básicos para a dignidade humana, segundo o papa Francisco. Para as quase nove mil famílias que vivem no Isidoro, não há nada disso: teto é uma conquista ainda distante; terra ninguém possui e trabalho só alguns poucos. Nada está tão longe das pessoas que estão vivendo em condições precárias, numa área entre os municípios de Belo Horizonte e Santa Luzia. Crianças brincam no chão de terra batida, sem qualquer proteção. Essa situação revela a gravidade do problema habitacional que, agora, preocupa até o Ministério Público Estadual. PÁGINAS 8 E 9
Juliana Gusman
LEIA AINDA
Trânsito desordenado afeta região do Coração Eucarístico A movimentação intensa e as infrações cometidas na rua Dom Lúcio Antunes, no Coração Eucarístico, geram transtorno em horários de pico. Essa situação exige maior monitoramento pela BHTrans e Polícia Militar. Já perto da Estação Gameleira, vans e carros particulares oferecem transporte a usuários em condições ilegais.
Lazer acessível em BH vai de praças a museus temáticos
Guilherme Cambraia Guilherme Cambraia
Desperdício de água ocorre perto da PUC Muitos moradores na região da PUC não estão usando a água de forma racional. Alguns deles lavam calçadas com mangueiras, contribuindo ao desperdício. Por outro lado, há aqueles que buscam conscientizar os vizinhos, distribuindo panfletos educativos. PÁGINAS 6 E 7
Ao contrário do que se propaga, Belo Horizonte oferece muitas opções de lazer gratuitas. Museus, centros culturais e parques têm uma programação diversificada e de baixo custo para os visitantes. Confira nesta edição a programação e o que há de interessante em vários locais. PÁGINA 12
Projeto forma jovens políticos
Pampulha poderá ser Patrimônio
Guilherme Cambraia
O Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Pampulha está concorrendo ao título de Patrimônio Cultural da Humanidade, conferido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). A votação será realizada em junho de 2016, mas a capital já recebeu a visita da arquiteta venezuelana, Maria Eugênia Bacci, que avaliou as condições em que se encontram os monumentos. São cinco edifícios articulados em torno da Lagoa da Pampulha. PÁGINA 13
Guilherme Cambraia
Um grupo de 114 estudantes, dos ensinos médio e fundamental, de 38 escolas de Minas Gerais, participaram em outubro de mais uma rodada do Parlamento Jovem, em Belo Horizonte. O programa busca a formação política e educação para a cidadania, propiciando aos jovens oportunidade de conhecer as atribuições do Poder Legislativo e de participar da atividade parlamentar. A realização é da Assembleia Legislativa com o apoio da PUC Minas. PÁGINA 4
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Inclusão
editorial
Além das fronteiras de um jornal-laboratório
PUC dá apoio aos moradores de rua Iniciativa auxilia pessoas que moram em situação de rua, na capital, oferecendo assistência médica, jurídica e psicológica LOREN SANTOS SÍLVIA OLIVEIRA
ANA CLARA SCAVASSA 7º PERÍODO
1º PERÍODO
O jornal MARCO, produzido pelo laboratório do curso de jornalismo da PUC Minas, tem uma sucursal no campus São Gabriel, localizado na região nordeste de Belo Horizonte. Ali é desenvolvido um trabalho com o intuito de incentivar os alunos de jornalismo da PUC Minas São Gabriel a produzir matérias para aperfeiçoarem-se em apuração e redação e aprofundar sua preparação para o mercado de trabalho. Nesta edição 317 do MARCO, estão presentes duas matérias de alunos do São Gabriel: sobre os estudantes do interior de Minas que vêm estudar na capital e sobre as reformas que estão ocorrendo dentro do campus. A primeira matéria aborda a vivência de alunos que saíram de suas cidades deixando casa, família e amigos no interior do Estado para vir para Belo Horizonte em busca da realização do sonho de ter uma carreira de nível superior. A segunda matéria tem o objetivo de informar a comunidade acadêmica sobre as melhorias que estão sendo feitas no campus São Gabriel, para propiciar a toda a comunidade acadêmica maior conforto e, aos estudantes com dificuldades de locomoção, facilidades de acesso a todas as dependências. O principal desafio da sucursal do jornal MARCO no São Gabriel é a mobilização dos alunos, até agora, pouco interessados em aproveitar essa oportunidade ótima de aprendizagem. Nós, que aderimos ao MARCO, procuramos divulgar temas do interesse da comunidade externa e interna da PUC Minas, como, por exemplo, a violência no bairro. Para amenizá-la, a PUC Minas São Gabriel procura integrar-se, cada vez mais, à comunidade externa por meio de projetos de extensão que visam atender aos desafios vividos pelas pessoas. Aos poucos, vamos nos dando a conhecer. Neste número, este objetivo tem continuidade.
Mais de 1800 pessoas vivem em situação de rua, na capital mineira, de acordo com o Terceiro Censo de População de Rua de Belo Horizonte, realizado pela UFMG em parceria com a Prefeitura Municipal. O levantamento revela, também, que a maioria delas é do sexo masculino, na faixa etária entre 18 e 80 anos. Com o objetivo de ajudar as pessoas nessas condições, a PUC Minas acabou de aprovar, em primeiro lugar entre mais de 100 propostas, o projeto de extensão “Andanças”, que já vem oferecendo auxílio jurídico, psicológico e de saúd a pessoas em situação de rua. “As atividades são realizadasvido por cinco professores e 30 estudantes dos cursos de direito, psicologia e enfermagem, em parceria com a Pastoral de Rua, da Arquidiocese de Belo Horizonte, a Aliança de Misericórdia e o Escritório de Direitos Humanos, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social disse o seu coordenador, o prof. Bruno Vasconcelos, da PUC Minas. O projeto começou a ser implementado em fevereiro deste ano e, agora, com a sua institucionalização, as atividades poderão ser incrementadas. Segundo o professor Vasconcelos, todos os dias são feitos acolhimentos, abordagens na rua, atendimento psicológico e terapêutico, atividades de educação, saúde, conscientização. “ A gente busca melhorar as condições dessas pessoas que praticamente, não têm nada, sequer relações afetivas satisfatórias” disse ele. O acolhimento é o primeiro contato entre a equipe e as pessoas e dá abertura às abordagens, que consistem em ouvi-las e dar-lhes voz, com o intuito de compreender quais são suas necessidades e, assim, poder encontrar melhores formas de saná-las. Os atendimentos psicológicos e terapêuticos têm o intuito de proporcionar aos que
estão em situação de rua um suporte emocional na construção de uma visão crítica sobre a sua realidade. Laísa Rodrigues, aluna do curso de psicologia e voluntária do projeto, explica que o atendimento terapêutico consiste, muitas vezes, em ajudar as pessoas em seus pequenos problemas do cotidiano. “Eu já fiz acompanhamento em banco, com moradores de rua que têm dificuldade por conta da idade ou, às vezes, porque não compreendem direito o que as pessoas estão falando; então, eu traduzo um pouco”, explica. O trabalho de conscientização acontece em duas mãos: procurando aproximálos da maneira como são vistos pela sociedade e também do modo como eles veem essa sociedade. Através dessa compreensão, mais informada pela racionalidade, é possível buscar melhor condição de vida e de saúde para essa população. Natália Viegas, 21 anos, aluna do curso de enfermagem e também voluntária no projeto, conta que faz rodas de conversa com as pessoas em situação de rua, para discutir políticas públicas, principalmente sobre saúde, e tirar as dúvidas que elas tenham em relação a diabetes, hipertensão, HIV e outras. Segundo ela, tratam-se de “pessoas super inteligentes, super engajadas, com as políticas públicas para eles. Esta convivência deu-me uma experiência maravilhosa de vida”.
FÓRUM
Para definir políticas relativas a essa realidade adversa, foi instituído, em 1993,o
Daniel luta pelos direitos dos moradores de rua
Fórum de População de Rua, inicialmente, integrando organizações do poder público e entidades civis. A partir de 2005, ele passou a incluir seu principal interessado – a população de rua. O Fórum é uma instância de debate e definição de ações, tendo o apoio e parceria da Pastoral de Rua, organização comunitária, sem fins lucrativos, ligada à Arquidiocese de BH. As reuniões acontecem sempre na segunda segundafeira do mês, com a finalidade de acompanhar e monitorar o desenvolvimento das políticas públicas para as pessoas em situação de rua e propor novas medidas que assegurem os direitos deles. As reivindicações mais evidentes são por moradia, emprego e atendimento nos serviços de saúde da rede pú-
Felipe Leandro
blica. Segundo Daniel, um dos moradores de rua que participa ativamente, “ainda é muito cedo para que a população de rua possa dizer que os seus direitos já foram todos alcançados. Temos que vencer muitas barreiras”. Segundo o Decreto Nº 7.053, de dezembro de 2009, “considera-se população em situação de rua o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória”.
Impressões: o trajeto do olhar “Antes de chegar ao Fórum, onde os moradores de rua se reúnem, pensamos que ali haveria apenas os moradores, provavelmente mal vestidos, sujos, conversando sobre o tema da reunião. No entanto, deparamo-nos com uma realidade completamente diferente. O que vimos foram pessoas bem vestidas, arrumadas, limpas. Ficamos surpresos. Seriam elas os moradores de rua lutando por seus direitos? Quando entrevistamos um morador de rua ficamos boquiabertos com a educação com que nos tratou, o seu diálogo e sua interação no fórum. O nosso olhar preconceituoso achava que isso seria impossível. Não há dúvidas de que a nossa visão sobre eles se alterou depois de conhecê-los”. FELIPE LEANDRO 1° Período
expediente
Forum dos Leitores
jornal marco
Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br
O começo da carreira
Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920
A jornalista Adriana Araújo, âncora na TV Record, registrou em seu Insta-
Sucursal PUC Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ercio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editora: Prof. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Maura Eustáquia de Oliveira e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Clara Sales, Débora Assis, Isabela Maia, Jamilly Vidigal, Tamiris Ciríaco, Winicyus Gonçalves Monitor de Fotografia: Guilherme Cambraia Monitores de Diagramação: Thiago Carminate e Mirna de Moura
gram o recebimento do MARCO. Ela foi entrevistada na edição passada, na série de matérias com jornalistas renomados que foram monitores do jornal-laboratório.
Informação e explicação Achei o jornal em cima da mesa de jantar da casa de minha patroa e a capa, falando dos parques, me chamou a atenção, porque adoro cachoeiras e conheço bem o Parque Estadual de Ibitipoca. Acabei lendo outras coisas e gostei demais do jornal porque ele explica pontos importantes das notícias o que nos ajuda a entender melhor os assuntos. Por que os outros jornais não fazem o mesmo? Eu moro em Betim e lá tem uma PUC; lá também tem um jornal como este? Agora, sempre que o MARCO estiver disponível por aqui vou querer ler. Gostei mesmo; demais.
Apoio: Laboratório de Fotografia
SILVANA MATOS – DIARISTA
CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares
ENVIE COMENTÁRIOS OU SUGESTÕES ATRAVÉS DO EMAIL JORNALMARCO@PUCMINAS.BR
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Opinião
Alunos da PUC estão indecisos
Em enquete, estudantes da PUC Minas declaram e justificam suas inclinações políticas. Dentre os 106 entrevistados, 34% têm posicionamento político indefinido. Alguns só fizeram humor
Enquete provoca discussão política em sala de aula
CAMILA NAVARRO MARIANA CAMPOLINA MATHEUS LIMA RAFAEL LEITE 6° PERÍODO
Nas eleições de 2014, que reelegeram a presidente Dilma, a população brasileira se mostrou mais engajada na política do país. Durante o processo eleitoral, ficou clara a polarização, que dividiu a população entre discursos de esquerda e direita, associados, em sua maioria, aos partidos PT e PSDB, respectivamente. Um ano depois, o cenário de separação persiste. No entanto, os comentários e discursos, muitas vezes agressivos e intolerantes, que puderam ser lidos e ouvidos durante todo esse ano,nas redes sociais, ainda são vazios ideologicamente. Isso ocorre pois os conceitos de direita e esquerda não são claros para a maioria dos jovens e adultos e os princípios definidos pelos partidos são mal delimitados. Historicamente, podese dizer que uma pessoa é de “esquerda” quando defende a luta das classes trabalhadoras, populares, buscando o bem estar coletivo. No caso de uma pessoa de “direita”, o pensamento é o oposto. A luta é pela manutenção do “status quo” e privilégios das classes dominantes, geralmente as mais altas. Isso caracteriza
um pensamento mais conservador, ao contrário da esquerda, que luta por mudanças e mobilidade social. Uma enquete realizada em outubro, entre 106 alunos da PUC Minas, mostrou que 31% deles se consideram de esquerda, 21% de centro, 14% de direita. Mas, cerca de 34% dos alunos que responderam afirmaram não ter uma opinião definida sobre o tema. Os alunos que mais participaram da enquete foram do curso de jornalismo, cerca de 23% (25 alunos), direito, com 18% (20 alunos) e engenharia, com 14% (15 alunos). Entre os 25 de jornalismo, 14 se definiram de esquerda. Apenas dois se posicionaram à direita, dois não definiram posição e três se definiram como centro. No caso dos estudantes de direito, a posição predominante foi a de centro. A metade dos 20 alunos que responderam assim se definiu. De modo equilibrado, 25% dos alunos escolheram a esquerda e outros 25% não definiram posição. Nenhum dos alunos do curso escolheu a direita. Entre os estudantes de engenharia, a vertente com mais apoiadores foi a direita: um terço dos alunos (15 pessoas). Quatro estudantes se definiram como de esquerda e apenas dois de centro. Quatro alunos preferiram não definir posição.
Guilherme Cambraia
ARGUMENTOS No geral, entre aqueles que dizem ser de esquerda, há a presença de argumentos mais elaborados, como “por ser a ideologia da maior parcela da população mundial, a que permite levar o povo a ter melhor condição de vida, por criar melhores condições de consumo à maior parte da população”. Além disso, também houve justificativas emocionais: por não suportar a “direita hipócrita”, marcando a presença dos discursos intolerantes e pouco embasados que se veem nas redes sociais. No caso dos alunos que se definiram como de direita, o padrão se repete. Há pessoas que defendem as ideias, como ser a favor da liberdade econômica, do capitalismo privado de mercado, do liberalismo econômico. E também há aqueles que argumentam em relação à própria esquerda, dizendo coisas como: “o modo de pensar da esquerda inverte valores consolidados, propondo mudanças já testadas e sem sucesso”. Entre os alunos de centro, há os que justificam, sua posição observando que: “há aspectos positivos/negativos de ambos os lados. Para a realidade social e política do país atualmente não cabe uma ‘divisão’ tão rígida”. Porém, também houve aqueles que mantiveram discursos mais
agressivos, dizendo-se de centro “porque não defendem bandido”. A análise mais geral das respostas dos alunos que escolheram o centro como posição política permite verificar que aí estão os que são contra as posições extremas, levando em consideração que tanto a esquerda quanto a direita têm pontos positivos e negativos. Para o doutor em ciências sociais e professor universitário Paulo Diniz, os dados da enquete colocam em pauta um tipo de comportamento comum das pessoas. “A dificuldade de posicionamento em
relação ao quadro vigente. Esse quadro, por si só, não apresenta definições claras de posições com as quais as pessoas possam se identificar. Portanto, os alunos estão refletindo um defeito da estrutura, o que já podia ser esperado”, explica. Diniz ainda esclarece que a dificuldade para a definição entre esquerda e direita tem motivos históricos. “Desde a década de 1990, com o fracasso das experiências de socialismo real no Leste Europeu, há uma sensação marcante em toda a parte de que as ideologias perderam lugar no mundo de hoje. Principalmente, a divisão entre esquerda e direita deixou de desempenhar o papel importante que havia tido no passado”. A faixa etária média dos alunos da PUC Minas (entre 18 e 25 anos), que participaram da enquete, mostra que ela atinge pessoas que já não possuem muito compromisso com a questão ideológica e o mundo dos conceitos. Talvez isso explique, também, o fato de a maioria deles não terem uma opinião formada a respeito da polarização definindo-se como de centro, por não conhecer bem as posturas. Para o cientista político Dimas Antônio, os alunos têm dificuldade de se definir como direita ou esquerda devido a falta de interesse. “O estudante, como de resto a população
brasileira é muito senso comum. Informa-se através de fontes duvidosas e tem pouca curiosidade”, explica. Isso também justifica o porquê de tantas argumentações rasas e sem embasamento. Os estudantes parecem querer participar das discussões políticas, porém não se informam adequadamente para fazê-lo. A maioria dos alunos que responderam à enquete declarando sua preferência pela esquerda ou direita utilizou em seus argumentos posicionamentos do PT ou do PSDB, que são os dois maiores partidos do Brasil. Paulo Diniz chama a atenção para os riscos de se basear opinião pessoal em posicionamentos partidários, uma vez que, para ele, os dois partidos não possuem tantas diferenças ideológicas quanto a maioria das pessoas imagina. “Nesse sentido, são agremiações muito próximas no que se refere a objetivos, diferindo principalmente na forma como cada um se propõe a buscar tais objetivos e colocá-los em prática”, esclarece. Para ele, a rivalidade agressiva existente entre os dois partidos, nos dias atuais se dá, principalmente, pelo fato de a ideologia não ter um papel tão forte nas posições políticas no país.
Direita versus Esquerda No Brasil, mesmo com a polarização política, a diferença entre as ideologias não parece tão clara. Muitas vezes por falta de informação dos eleitores, em outras porque os partidos políticos dominantes no país apenas pareçam muito diferentes. A maioria deles, na verdade, converge para os mesmos lados. Para o doutor em ciências sociais e professor universitário Paulo Diniz, não há, necessariamente, um conteúdo ideológico significativo para diferenciar o discurso. “Prova disso é que partidos políticos que, formalmente, se orientam pelo pensamento de ‘direita’, compõem a base de apoio político do governo federal petista já há muitos anos”, afirma. “É a divisão do espaço da burocracia estatal”, completa. Na verdade, o que diferencia as correntes ideológicas no Brasil são as ações no campo econômico. A direita está associada, principalmente, ao liberalismo, à não intervenção do governo na economia e à redução de impostos sobre empresas. Os esquerdistas, por sua vez, defendem a distribuição de renda e repudiam o neoliberalismo, que teria como consequências a privatização de empresas e espaços públicos e perda de direitos sociais conquistados, o que geraria mais desigualdade social. No âmbito da política brasileira os maiores partidos representantes destes dois lados são o PT, conhecido por ser de esquerda e o PSDB, de direita. No entanto, para o professor Paulo Diniz, do ponto de vista ideológico, os dois partidos não se distanciam muito quanto aos seus objetivos. Para o professor, algumas questões são unânimes, mesmo que não pareça. “É quase um consenso, entre os
analistas isentos, o fato de que os governos de Fernando Henrique e de Lula representam uma nítida continuidade – tanto em pontos fortes quanto em pontos fracos”, explica. Atualmente, as visões sobre direita e esquerda têm aumentado ainda mais o abismo entre elas em relação a questões sociais. As questões morais que envolvem temas como casamento gay, direitos LGBT, aborto e legalização das drogas são vistas como bandeiras esquerdistas. A direita, nesse aspecto, é a “responsável” por defender os direitos da família tradicional e visão mais conservadora. E, nesse ponto, a “família tradicional brasileira”, tem sido bem representada no cenário político pela Bancada Evangélica que, entre outros assuntos polêmicos, tenta recriar o Estatuto da Família, que passaria a excluir casais homossexuais do conceito de família. Assim, só seriam reconhecidos pelo Estado, aqueles núcleos formados por um casal de homem e mulher. Outra medida polêmica foi a proposta do deputado e presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), que visa dificultar o auxílio a mulheres que desejam realizar o aborto, mesmo nos casos de estupro. Já no que se diz respeito à esquerda, alguns tipos de discurso e programas são mais marcantes: a defesa das minorias, da igualdade social, condições de trabalho, direitos das mulheres e da causa LGBT. Defende, ainda, programas sociais de distribuição de renda e sistemas como as cotas, frequentemente atacados por representantes e simpatizantes da direita.
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Política
Jovens se iniciam na atividade legislativa O Parlamento Jovem debateu este ano o tema “Segurança pública e direitos humanos”, proporcionando aos estudantes de ensino médio e fundamental a oportunidade de compreender o processo de elaboração e aprovação de projetos de leis
Simulação da plenária final para aprovação de projeto de lei ANA MARTINS 2º PERÍODO
Belo Horizonte recebeu, no dia 21 de outubro, os estudantes do Parlamento Jovem escolhidos em 38 municípios para participar desta experiência de atuação política efetiva. Esse é o momento em que jovens têm a oportunidade de se conhecer mais e de se entrosar, pois até então trabalhavam em seus municípios separadamente. Nesse momento, eles debateram as propostas de ações a serem encaminhadas ao Legislativo Estadual, que já foram aprovadas nas etapas municipais e regionais. Estas propostas são levadas através da Comissão de Participação Popular. A coordenadora do projeto na cidade de Pouso Alegre, Mônica Fonseca, fala sobre sua dupla experiência de participação no Parlamento Jovem: “Participei em 2010 como estudante, e foi uma experiência positiva que levei para a mi-
nha vida pessoal e minha formação acadêmica.Hoje, como coordenadora, eu aprendo muito com esses estudantes, a cada ano. Os jovens trazem inovações, ideias que podem contribuir para contruir uma política pública efetiva”. Participando pela primeira vez, Helen Morais conta suas primeiras impressões: “A experiência está sendo muito importante pra mim, porque não via motivo pra gostar da política. A campanha “Mais jovens na política” serve pra gente ver que tem direito à cidadania, direito de saber o que se passa na Assembleia e em qualquer lugar. No próximo ano, estarei trabalhando no tema Mobilidade Urbana”. OBJETIVOS O Parlamento Jovem é um projeto de formação política para jovens estudantes do ensino médio, e essa formação política é constituída, implementada e avaliada por uma rede de formação cidadã de qual fazem parte a Assembleia
Guilherme Cambraia
Legislativa de Minas Gerais, PUC Minas, 38 câmaras municipais e os parceiros locais dessas câmaras como: ONGs, escolas, poder executivo local, igrejas e associações de moradores. O projeto é dividido em três etapas: a primeira é a etapa municipal que acontece durante o primeiro semestre; a segunda é a etapa regional que aconteceu em agosto e, por último, a etapa estadual, nos dias 21, 22 e 23 de outubro em Belo Horizonte. FINAL Os trabalhos da etapa final do Parlamento Jovem 2015 começaram no Sesc Venda Nova, em Belo Horizonte. O tema em questão esse ano foi “Segurança pública e direitos humanos”. Para se preparar melhor e poder votar no tema do ano que vem com mais segurança, os 114 estudantes participaram de uma dinâmica de interação, ministrada pela professora de teatro Joselma Luchini Chaves.
O objetivo da dinâmica é dar a oportunidade de se conhecerem melhor, de modo a trabalharem em conjunto suas ideias, para sugerir e votar o tema do Parlamento Jovem de 2016. As técnicas usadas nessa dinâmica são as de Augusto Boal, do Teatro do Oprimido, com jogos de vivência em cena e a improvisação teatral focada nos temas colocados em pauta para o ano que vem. No dia 22 de outubro, aconteceu a votação e os temas mais votados foram: Mobilidade Urbana, que venceu com 50 votos, a Governança Democrática, com 49 votos, e Inclusão Social das Pessoas com Deficiência Física, que recebeu 11 votos. Após a votação, houve duas atividades simultâneas. Os estudantes assistiram a uma palestra do consultor de Gestão Pública da ALMG, Mário Cesar Moreira, sobre o papel da consultoria no Legislativo e no Parlamento Jovem de Minas. Em seguida os servidores da Gerência-Geral de Projetos Institucionais (GPI), Marcelo Zuppo e Patrícia Andrade Santos, aplicaram a dinâmica de funcionamento dos grupos de trabalho que seriam formados na tarde do dia 22, na Escola do Legislativo (ELE). Em decorrência de alguns imprevistos, os grupos de trabalho não puderam se deslocar do Sesc Venda Nova para a Escola do Legislativo. Eles, então, realizaram suas atividades no próprio Sesc com a presença dos representantes da Escola. Apesar de ficarem um período sem energia elétrica, os alunos se empenharam e estavam motivados a demonstrar e debater suas ideias e opiniões.
Encerrando as atividades, houve a plenária estadual na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O evento foi aberto pelo presidente, deputado Adalclever Lopes (PMDB), que elogiou o projeto. A solenidade contou com a presença do secretário de Estado de Desenvolvimento Regional, Política Urbana, e Gestão Metropolitana, deputado Tadeu Martins Leite, de outros deputados e vereadores de Belo Horizonte. Representando a PUC Minas, esteve presente o pró-reitor de Extensão, professor Wanderley Chieppe Felipe. PROPOSTAS Durante a plenária estadual, que apresentou o resultado final do debate do tema “Segurança Pública e Direitos Humanos”, diversas propostas foram feitas. Uma delas é a de criação e a ampliação de projetos de prevenção à crimina-
lidade, através da reativação e ampliação do Programa Fica Vivo para todos os municípios do Estado. Os estudantes, além de sugerirem a ampliação do “Olho vivo”, querem a ampliação da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apacs), da Casa da Mulher e das Patrulhas Rurais. Uma outra proposta é a criação de incentivos fiscais para empresas que promoverem oficinas culturais e esportivas em escolas estaduais, e a criação de casas de apoio às vítimas de violência doméstica e aos moradores de rua, para propiciar-lhes suporte psicológico, financeiro e capacitação profissional. No total, foram aprovadas 18 propostas na plenária estadual. O documento final foi recebido pela presidente da Comissão de Participação Popular da ALMG, deputada Marília Campos.
Parceiros importantes do Parlamento Jovem A PUC Minas é a instituição de ensino superior parceira na coordenação estadual do Parlamento Jovem, realizado pela Assembleia Legislativa e pela universidade, que esteve presente em todas as etapas do projeto, na orientação e na coordenação junto aos legislativos. A Universidade estabelece uma parceria estratégica de construção metodológica de pensamento e elaboração dos princípios do Parlamento Jovem. O coordenador estadual representante da Instituição é o professor Alexandre Teixeira. Segundo ele, o Parlamento Jovem “é um projeto voltado para envolver os jovens com a política e cada vez mais vem crescendo a participação deles. É notória a evolução do projeto com o passar dos anos, expressa na qualidade das propostas apresentadas. No início, a maioria se concentrava na sugestão de projetos de lei. Hoje as sugestões estão mais amplas, há mais propostas abrangendo
outras ações focadas no acompanhamento e na fiscalização das políticas públicas”.
ENGAJAMENTO
Fernanda Freitas, coordenadora estadual da Escola do Legislativo da ALMG, disse: “As atividades dessa etapa final estão sendo um presente. Em 2015 estamos tendo a oportunidade de trabalhar a visão de trabalho colaborativo. Todas as ações desenvolvidas na preparação da plenária tem nos mostrado o quanto os jovens se empenharam no decorrer de 2015”. Este ano, um fator diferencial foi a participação dos monitores de diversos cursos como: direito, comunicação, ciências sociais, psicologia. “Eles estão muito motivados com essas responsabilidades maiores que estão assumindo e tem sido de um valor enorme para nós. Existe um engajamento mais sistematizado e uma participação mais efetiva”, complementa Fernanda.
Políticos honestos existem e são respeitados ELIZA DINAH 4º PERÍODO
Quando se pensa que o futuro do país e da nação depende de alguém, uma opção nunca surge na cabeça das pessoas: a atuação dos políticos. Existe uma descrença generalizada nos políticos e a maioria dos eleitores não se sente mais representada por eles. Pesquisa recente do Ibope verificou que o nível de confiança dos brasileiros nas instituições políticas diminuiu drasticamente, especialmente no Congresso Nacional e nos partidos políticos. Mas não há motivos para se desacreditar totalmente nos ocupantes dessas posições. Ainda há
Tarcísio busca manter seus valores
Wikimedia
gente honesta na Câmara e no Senado Federal. lutando pelos interesses do povo. É o que pensa Wallison Brandão, assessor do ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, por quem tem sincera admiração. Segundo ele, “um ou outro eventualmente tem errado e as pessoas ouvem falar (o que acontece em todos os partidos, inclusive no PT), mas você não pode generalizar’’. Patrus começou sua carreira política muito cedo em sua cidade natal, Bocaiúva, e é considerado, até por seus adversários, um exemplo de político que construiu uma trajetória respeitada e reconhecida por sua integridade, tanto no âmbito do Partido dos Trabalhadores, como entre a oposição e eleitores. Ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-deputado federal, foi também ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Hoje, ministro do Desenvolvimento Agrário, ele conta que seus princípios e valores vêm da formação cristã e do envolvimento intenso com a religião. ‘’Desde cedo eu comecei a interessar pelas questões políticas, sociais, a partir dessa minha vinculação com a Igreja’’, recorda. Mas observa ser importante, no exercício das diferentes funções, saber agir com equilíbrio entre religião e política, para não deixar que as crenças pessoais interfiram no poder de escolha e decisão que cabem à população. O ministro relembra momentos intensos da infância, em que sentia necessidade de fazer a diferença na vida das pessoas: ‘’Tive colegas de origem muito humilde e tudo isso foi me marcando. Eu me lembro quando, aos dez anos, tinha dois colegas que moravam na roça e iam todo dia a pé e descalços pra escola. Quando nós terminamos
o curso primário, eles não puderam continuar os estudos por razões econômicas. Então, comecei a me perguntar desde muito cedo porque uns podem e outros não’’.
JUSTIÇA SOCIAL Também respeitado por sua coerência é o ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado, do Partido Socialista Brasileiro, que já foi vereador, deputado estadual, deputado federal por três mandatos e secretário de Estado do Trabalho e Ação Social. Em Juiz de Fora, não há quem não o conheça. Ele foi prefeito por três mandatos e tem sua vida profundamente ligada à cidade. Para continuar lutando na política, teve coragem de renunciar, em 1966, à carreira conquistada em concurso para juiz de Direito, cargo importante na vida jurídica e de imenso prestígio. Ele preferiu seguir como candidato a vereador e lutar por novas conquistas na política. Uma vez eleito vereador, como candidato mais votado nas eleições de 1966, assumiu o mandato em 1967, e foi eleito por unanimidade presidente da Câmara Municipal. Como vereador, lutou para levar qualidade de vida às populações da zona rural. Começava aí sua luta à favor das classes menos favorecidas da população. Não foi por outro motivo que, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, como deputado estadual, sobressaiu-se ao presidir a Comissão de Constituição e Justiça e ao apoiar – em meio à ditadura militar – a anticandidatura de Ulisses Guimarães à Presidência da República, ato de rebeldia da oposição que começava, a partir dali, a evidenciar de modo mais forte o repúdio ao regime de exceção implantado no país.
Delgado acredita que valores éticos são importantes para qualquer cidadão, principalmente os políticos, e cita que ser austero, rigoroso, não fazer qualquer concessão com a coisa pública, buscar ser eficiente e lutar de todas as formas contra o neoliberalismo são valores que busca seguir. Manter-se firme com suas convicções nunca é tarefa fácil, principalmente em um ambiente de muita disputa, traições e julgamentos. E as propostas e convites para o “lado fácil da política’’ sempre vêm várias vezes, conta o ex-prefeito: ‘’Tive que expulsar pessoas da minha casa ou do gabinete por fazerem propostas de indignidades. Foram muitas vezes. Nunca admiti conversa que não fosse respeitando a coisa pública’’.
Patrus tem reputação ilibada
Eliza Dinah
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Comunicação
Jornalismo além das fronteiras A segunda edição da série de reportagens sobre ex-monitores do jornal MARCO traz os jornalistas Fernanda Odilla e Vinícius Carvalho, que consolidaram suas carreiras no exterior
Após lançar seu livro, Fernanda mora em Londres e estuda sobre corrupção
Arquivo pessoal
Fernanda Odilla Mesmo estando fora do jornalismo diário, Fernanda continua Após o lançamento de seu primeiro li- escrevendo como freelancer. vro, “Pizzolato”, no ano passado, FernanEla afirma que nunca deixará de exerda Odilla está se dedicando ao doutorado cer sua profissão: “Eu sempre gostei muito em Londres. Ela decidiu dar uma pausa no de ser repórter, desde que entrei numa rejornalismo diário para refletir sobre o que dação, nunca fui outra coisa. Eu acho que ouviu e escreveu em seus últimos trabalhos, nunca vou deixar de ser jornalista, só estou em Brasília, e está estudando o tema cordando uma pausa, mas continuo gostando rupção na King’s College London. Mas, semuito de ser repórter e acho que eu não gundo disse, nunca deixará de ser repórter. vou deixar de ser repórter nunca”. Seus caminhos mantiveram-na sempre Fernanda acredita que, hoje, o profissioenvolvida com o meio impresso. Desde o nal da comunicação deve ser cada vez mais primeiro período na Faculdade de Comunicação da PUC Minas, Fernanda colaborou completo e menos segmentado, por isso, recom matérias para o MARCO. Em 1997, comenda aos atuais alunos de jornalismo: na segunda tentativa, foi selecionada para “O repórter hoje tem que ser muito mais estagiar no jornal, o que lhe abriu portas multimídia do que ele era há cinco, dez anos atrás. Se puder exerpara o mercado. “Sou citar isso na faculdade eu muito grata aos professoacho excelente, porque já res que eram editores do MARCO, Maurício Lara chega pronto para o mere Fernando Lacerda”. O repórter hoje tem cado de trabalho, ou pelo Foram eles quem a indimenos mais preparado”. que ser muito mais caram para seu primeiro Outra dica aos estumultimídia do que ele era estágio, em um veículo de dantes é a participação no há cinco, dez anos atrás. peso, e seu primeiro trajornal MARCO, seja pela balho, no jornal “Hoje em monitoria seja publicando Dia”. “Além de terem sido matérias, desde o primeiro mentores eles foram muito importantes período. Ela considera que o repórter que para a minha carreira.” sabe sugerir boas pautas tem mais chances Fernanda acredita que ter começado a de realizar um trabalho prazeroso: “Quanescrever matérias desde o primeiro período do você sugere suas próprias pautas maioacelerou sua formação. “Meu primeiro texres são as chances de você ser extremamento não tinha cara de matéria, então a sensação que eu tenho é de que eu inverti um te feliz executando a tarefa”.
O jornalista vinculado ao Unicef dedica-se a trabalhos sociais em Angola
Vinícius Carvalho
JAMILLY VIDIGAL
JAMILLY VIDIGAL
5° PERÍODO
5° PERÍODO
pouco o processo durante o curso. Aprendi a fazer jornalismo, a escrever matéria, no MARCO, ao invés de aprender na sala de aula e levar para a prática. O conhecimento da sala de aula foi um complemento”. E observa: “a experiência no MARCO foi definitiva para a minha vida profissional. Quando cheguei numa redação de jornal, já sabia os jargões, já sabia como fazer. Foi determinante para seguir minha carreira no impresso/internet porque uma coisa está ligada à outra. Eu não seria a mesma se não tivesse passado por lá”.
TRABALHOS EM BRASÍLIA Depois de formar-se, Fernanda sonhava cobrir política em Brasília: “Eu me lembro de uma vez em que o Lucas Figueiredo foi falar na PUC e contou das experiências dele em Brasília.Talvez muito influenciada por ele eu também quis trabalhar lá”. Antes de conseguir o emprego em Brasília, ela passou pelo “Hoje em Dia” e o “Estado de Minas”, que abriu portas para o “Correio Braziliense”, onde trabalhou por quase três anos até ser contratada pela “Folha de S. Paulo”. Foram sete anos na “Folha” cobrindo casos de corrupção e escândalos; o suficiente para a jornalista escrever seu primeiro livro e resolver aprofundar-se no assunto, quando decidiu fazer doutorado em Londres.
O CASO PIZZOLATO Durante uma entrevista coletiva na Polícia Federal em 2014, quando trabalhava na “Folha de S. Paulo”, Fernanda teve a ideia de escrever seu primeiro livro. O objetivo da conferência era anunciar a trajetória da PF na prisão do ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. A história, cheia de detalhes, empolgou a jornalista: “Eu achei que aquilo deveria ser contado com mais detalhes em um espaço maior”. Sobre o trabalho de investigação e a redação do livro ela comenta o esforço exigido: “Eu esgotei as horas que tinha disponíveis no jornal e viajei muito para tentar refazer os passos dele. Fui à cidade natal, à fronteira com a Argentina, por onde ele atravessou e ao Rio, no apartamento onde ele morava. Também fui à Itália e fiquei hospedada na mesma pousada em que ele se hospedou”. Ao final das entrevistas ela as transcrevia com algumas anotações e tirava fotos para ajudar na descrição dos ambientes. Seguiu o percurso utilizando seu gravador, câmera do próprio celular e paciência para extrair o máximo de informação. Após o resultado positivo da primeira experiência, Fernanda Odilla pretende, futuramente, realizar mais trabalhos como esse.
Thainá Nogueira
que todos vivem as mesmas preocupações. Pra mim é sempre muito valioso ter esse contato com essas diferenças porque me faz querer ser mais simples”.
A defesa de crianças e jovens em situação social de risco faz parte do trabalho do jornalista Vinícius Carvalho cuja experiênNA ESCOLA cia profissional se diferencia da maioria dos A opção pelo jornalismo partiu do gosto seus colegas. Muitos estudantes idealizam por redação de texto e Vinícius não imatrabalhar nos grandes veículos de comunicação, mas existem inúmeras possibilida- ginava que podia se reinventar na profisdes fora deles, capazes de trazer felicidade são: “Vocação é uma coisa que a gente vai descobrindo o tempo todo. Eu optei pelo e realização. Vinícius formou-se pela Faculdade de jornalismo porque basicamente gostava de Comunicação da PUC Minas em 2002. escrever muito”. No último período do curso, foi selecionaEle acredita que o curso de jornalismo do para participar do Curso Intensivo de precisa de um complemento extra, pois coJornalismo Aplicado do Jornal “O Estado nhecimento e experiências para a formação de S. Paulo”, patrocinado pela Organiza- do bom profissional vão além da educação ção das Nações Unidas para a Educação, a formal. “O curso evidentemente trouxe Ciência e a Cultura (Unesco). conhecimento e experiência, mas nunca o Ao final dos três meses de intensivo, considerei suficiente por si só. Da minha ele produziu com seus colegas um encarparte, procurei uma segunda graduação em te sobre Patrimônio Cultural e conseguiu história na UFMG e me joguei desde cedo destaque na capa deste caderno. Esta etapa nos estágios, entre eles nos jornais O Temfoi decisiva para que, em 2003, fosse convidado para trabalhar na assessoria de co- po e Super Notícia”. Em relação ao MARmunicação da Unesco, em CO, Vinícius aconselha Brasília, onde ficou por que os atuais estudantes quase três anos. de jornalismo passem pela De 2005 a 2013, Viníexperiência da monitoria: cius dedicou-se ao mestraO curso evidentemente “Recomendo muitíssimo do no Centro de Desentrouxe conhecimento volvimento Sustentável a todos os colegas de jorda Universidade de Brasínalismo para que partie experiência, mas lia (UnB), combinado ao cipem do MARCO, para nunca o considerei trabalho de freelancer para um entendimento mais suficiente por si só. arcar com as despesas. Foi amplo das possibilidades colunista e repórter espedo jornalismo neste procial de um suplemento de cesso integral que vai da meio ambiente do Jornal do Brasil e trapauta à produção, apuração, edição, revibalhou na secretaria-executiva da Rede de são, impressão e distribuição”. Tecnologia Social (RTS). E acrescenta falando que, além disso, os Na maioria de seus trabalhos, esteve envolvido com questões socioambientais monitores têm a oportunidade de desene traçou sua trajetória nesta área. Há dois volver um banco de fontes e um portfólio anos é consultor de comunicação do Uni- capazes de abrir outras portas no jornaliscef, órgão da ONU voltado à defesa da mo. “Isso sem falar nas amizades para toda criança e adolescente, em Angola, onde se vida, que, para mim, são o maior patrimôdedica a áreas de Registro de Nascimento nio que o MARCO me deixou”. O período em que esteve na PUC Minas e Justiça para Crianças. Um de seus trabalhos consiste na ampliação do registro de e, principalmente no jornal-laboratório, foi crianças nessas regiões, visto que, hoje, so- um impulso para sua carreira. Foi seleciomente 56 em cada 100 crianças angolanas nado como monitor, na segunda tentativa, possuem documento oficial. sob a supervisão dos ex-professores FernanAlém disso, o projeto visa a expansão do Lacerda e Maurício Lara. dos serviços de justiça para essas crianQuanto ao envolvimento com questões ças. “Nosso objetivo é ampliar os conheci- sociais, Vinícius aponta a dificuldade em mentos da população sobre os direitos das relação à remuneração nesta área. Mas, crianças em contato com a lei, tanto vítipara ele, a maior gratificação vem do sucesmas de crimes, como crianças testemunhas so de ter se encontrado profissionalmente. e alegadamente infratoras”, conta Vinícius. “Eu tive sorte, pois desde sempre consegui O contato com outras culturas é algo muito presente na vida do jornalista, que me engajar em pautas que acreditava. Tive passa muito tempo longe de casa, mas ten- a sorte de fazer o curso de jornalismo do ta aproveitar ao máximo essas experiências: “Estadão”. Ele era patrocinado pela Unesco “No final é um investimento que a gente e tinha foco na educação e eu vi que era faz em nossa própria capacidade de se co- uma área em que eu gostaria de permanemunicar. Existe uma grande diferença en- cer. É onde eu me vejo feliz, onde eu pretre as pessoas no mundo, mas ao final vejo tendo continuar”.
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WINICYUS GONÇALVES 6° PERÍODO
A demanda por transporte público de qualidade, rapidez e conforto impulsiona o transporte clandestino em Belo Horizonte e Região Metropolitana. Aproveitando um cenário de carências, carros particulares e algumas vans estão circulando no ponto de ônibus, em frente à entrada da Estação de metrô, na Gameleira, na Via Expressa. Essas vans estão levando passageiros no perímetro urbano de BH e em seu entorno. É a volta do transporte clandestino, conhecido dos belo-horizontinos. Desde 2011, quando a Lei Municipal 10.309 começou a valer, proibindo a prática, os motoristas ilegais adotam estratégias para fugir da fiscalização. Uma delas é seguir destinos sem paradas intermediárias e concentrar as viagens durante a noite e madrugada, quando a vigilância é menor. Além de serem ilegais, muitos veículos estão em condições precárias e não oferecem segurança aos passageiros. A viagem nele é preocupante nos dois sentidos: da Estação Gameleira até Contagem, e da Estação Gameleira até o aglomerado da Serra. No caso de Contagem, a van seguiu para os bairros Jardim Califórnia, Inconfidentes e Riacho das Pedras com vários problemas. A porta de embarque não funcionava e, para subir no veículo, os passageiros entravam pela porta da frente. O acesso só foi possível porque os responsáveis retiraram um dos bancos. Não havia cinto de segurança, artigo ignorado até mesmo pelo motorista. Muitos passageiros viajavam de pé e usavam uma barra de fer-
Comunidade
ro instalada no teto da van para se segurar. A passagem custa R$ 5,00 (mais cara que os R$ 4,70 do transporte convencional metropolitano), e, segundo um dos responsáveis, são feitas em média, quinze viagens por dia. Uma das passageiras explica que é cômodo usar a van, já que ela embarca na rua São Paulo, no centro, e vai direto para Betim. Além disso é bem mais rápido que os ônibus convencionais. SERRA Para a Serra, os clandestinos fazem o trabalho semelhante ao de um táxi -lotação. Eles estacionam em um ponto de ônibus na praça Sete e seguem viagem para completar a lotação. Os carros de passeio circulam durante todo o dia, apesar de as viagens à noite serem mais frequentes. “É quando tem menos fiscal”, contou um motorista. Em cinco minutos, três carros pararam no ponto. Uma fila chegou a se formar. O motorista informou que lucra diariamente cerca de R$ 150. A passagem custa R$ 3,60, mais cara que no convencional (R$ 3,40). Os passageiros disseram que a demora e a falta de linhas para o bairro contribuem para o uso dos clandestinos. Todos acham confortável, e a maioria adere ao discurso preparado pelos donos no caso de a polícia parar: dizer que é apenas uma carona. A Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) informou que a fiscalização é feita regularmente com o apoio da Polícia Militar, mas não passou dados.
Demanda por acesso rápido leva usuários ao transporte ilegal Ponto de ônibus na entrada da Estação Gameleira é um dos locais mais visados por motoristas clandestinos na capital
Grande parte dos veículos que param na Via Expressa seguem para Contagem
Guilherme Cambraia
Insegurança é problema nos clandestinos A falta de segurança é o principal problema do transporte clandestino de acordo com o Departamento de Estradas e Rodagens (DER). Além disso há sonegação de impostos e o sucateamento dos veículos. Segundo o DER, os usuários estão sujeitos a motoristas alcoolizados, inabilitados e há veículos sem manutenção. Em caso de acidente, se ficar comprovado que o carro era clandestino, as seguradoras podem alegar que os passageiros estão participando de uma atividade ilegal e deixar de pagar o seguro obrigatório. Muitos desses motoristas não são devidamente habilitados. Na região metropolitana, entre janeiro e agosto, foram abordados 279 veículos, feitas 146 retenções e 13 apreensões. Em todo o ano de 2014 foram 5.550 veículos retidos e 1.500 apreendidos.
O DER informou que as operações são frequentes e locais foram mapeados, mas não informou os endereços nem quantas dessas apreensões foram em Betim.
LEGISLAÇÃO A Lei Municipal 10.309 estabelece normas para coibir o transporte clandestino ou irregular. O transporte remunerado em veículo particular ou de aluguel feito por pessoa física ou jurídica sem concessão, permissão ou autorização inadequada são irregulares. A lei ainda prevê apreensão do veículo por pelo menos 15 dias, multa de R$ 1.500, pagamento dos custos de remoção e estadia no pátio e encaminhamento do condutor para a delegacia competente.
Infrações criam transtornos para o trânsito do Coreu ISABELA MAIA 4º PERÍODO
A rua Dom Lúcio Antunes é paralela à Dom José Gaspar, onde está a portaria principal da PUC Minas. O movimento de veículos de todo tipo pela via acarreta problemas ao trânsito, gerando consequências na circulação por toda a região. A rua é estreita e, na esquina com a principal via do bairro, a Coração Eucarístico, encontra-se um semáforo e um ponto de ônibus, além de uma lanchonete, um banco e um salão de beleza, o que contribui para intensificar a presença de carros e complicar o tráfego e o trânsito. Nos horários de saída dos alunos e dos trabalhadores, por volta de 12h30 e 18h, o trân-
sito fica mais pesado. Nesses horários de pico, alguns veículos estacionam em local proibido, próximos à esquina, e o congestionamento é geral. De acordo com Humberto Carlos, taxista que trabalha na região há mais de dez anos, a rua Dom Lúcio Antunes também apresenta problemas de circulação. “Entrar em garagem é a coisa mais difícil porque para carro de um lado e do outro da rua e ainda tem os ônibus”, ressalta. Humberto conta que já viu, mais de uma vez, ônibus passarem e arrancarem o retrovisor de outro veículo. Já o comerciante e dono da Boca do Forno, Márcio Mesquita, diz não se incomodar com o barulho ou o trânsito pesado próximo ao seu estabelecimento. “Faz barulho, mas como
comerciante não posso me incomodar porque dependemos do movimento”, explica. Ele ressalta que o fato do estacionamento ser proibido atrapalha seu comércio, já que os clientes não tem como parar nem para pegar uma encomenda. O estacionamento no passeio em frente ao estabelecimento é uma solução, mas não comporta o movimento de clientes. “O ruim do trânsito na rua é não poder parar porque eles multam”, diz.
SOLUÇÕES Para o taxista Humberto, o trânsito de toda a região é muito complicado devido às vias estreitas e o grande fluxo: uma opção para resolver o problema seria transformar a Praça da Federação, a principal do bairro, em cruzamento. “Ela é a única praça de BH que permite estacionamento em volta”, enfatiza. O aluno da PUC Minas, Érico Mafra, estuda na universidade desde o início de 2014
e sempre pega ônibus na esquina da rua Dom Lúcio Antunes. “É terrível porque a rua é muito estreita. O ônibus ocupa toda a rua e os carros parados atrapalham mais ainda”, constata. “Isso sem contar as pessoas que param no cruzamento. É uma questão de bom senso”, conclui. Mafra lembra que muitos ônibus passam por ali a caminho da Via Expressa e os carros estacionados em local proibido interrompem o fluxo, que é maior do que a rua suporta. “Talvez fosse possível mudar o ponto de ônibus de lugar para distribuir melhor o movimento”, sugere o aluno. O ponto de ônibus em questão está no itinerário de três linhas: 4110, 4111 e 9410. A BHTrans informou, em nota, que a rua Dom Lúcio Antunes tem toda a sinalização necessária e que, em parceria com a Polícia Militar, vai intensificar o monitoramento na região.
Quem multa infratores
Vias estreitas atrapalham o fluxo de carros e pioram o trânsito na região
Guilherme Cambraia
Parar em local proibido, conversar ao celular enquanto dirige e avançar o sinal vermelho são infrações de que todos os motoristas têm conhecimento. A dúvida, contudo, é sobre quem tem o poder de multar. Atualmente, a instituição autorizada a aplicar multas é a Polícia Militar (PM). Qualquer militar pode multar, desde que esteja com o uniforme da PM. Junto a ela, atua a Guarda Municipal, que em Belo Horizonte é autorizada a multar motoristas infratores, desde agosto deste ano. De acordo com a BHTrans, desde 2009 a empresa é impedida por decisão judicial de aplicar multas. Suas responsabilidades dizem respeito às atividades relativas a operações de trânsito, controle do tráfego viário e dos serviços de transporte público.
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Comunidade
Casais optam por menos filhos A tendência à redução das famílias é uma característica marcante do século XXl. Hoje os pais estão mais preocupados com a educação, aumento da violência e o custo de vida elevado TÉRCIA MENDONÇA YASMIN KAIZER
Maternidade é bem adiada
2º PERÍODO
O almoço em família no domingo conta, cada vez, com menor número de familiares: este é o resultado da decisão dos jovens casais em ter menos filhos. Dentre todos os fatores que colaboram para essa redução, o financeiro e as dificuldades de educação são os mais alegados. Essa diminuição de filhos, por casal, é perceptível na família do comerciante Antônio Carlos Vilas Boas de Oliveira, um dos oito filhos de dona Maria José, pai de três e avô de um casal. Sua mãe teve oito filhos porque “naquela época, não havia muito lazer e formas de se distrair, como televisão e internet. Assim o relacionamento em família era mais forte; somam-se a isso a inexistência de formas de prevenção da gravidez”, diz Oliveira. Ele observa que criar um filho hoje é mais caro, pois antigamente não existia tanto consumismo. Diferentemente das crianças e jovens de hoje, que têm grande quantidade de roupa, a maioria de marca, Oliveira lembra que quando criança só usava vestimentas simples e tinha apenas três ou quatro conjuntos. Além disso, agora existe muito mais preocupação com a educação.“Se antes as pessoas paravam de estudar no ensino médio, hoje procuram ensino superior e especializações e isso custa caro”, diz ele. Há também uma diferença muito grande em relação à idade em que as pessoas se casam e têm o primeiro filho. A mãe de Oliveira casou-se aos 18 anos e
Foto de família com muitos integrantes virou coisa do passado
teve seu primeiro filho aos 19, enquanto ele casou-se com 28 anos e teve o primeiro filho dois anos depois. O professor Josimar Gomes Colen, mora no bairro Coração Eucarístico há cinquenta anos. Ele veio do norte de Minas Gerais e afirma que lá é muito comum ter família grande; ele, por exemplo, 21 irmãos. Entretanto, é pai de um casal e avô de uma menina. Em sua família, a diferença na idade de ter um filho também é bastante grande. Enquanto sua mãe teve o primeiro com 17, ele se tornou pai aos 31. Ele também disse que o primeiro ponto a considerar antes de ter um filho é custo
A psicóloga Maria Ignez Costa, especialista em psicologia familiar, diz que a diminuição de filhos por casal é uma realidade associada a múltiplos fatores, como as mudanças nas relações de gênero, e o planejamento familiar. Por outro lado as tecnologias de reprodução assistida também permitem adiar a maternidade para após os 40 anos, quando as mulheres já conseguiram maior afirmação em suas carreiras, o que leva à opção por um único filho. “Atualmente vivemos com famílias que buscam relações mais igualitárias, tanto entre os gêneros quanto entre as gerações. No ambiente familiar todos têm o direito de expressar suas opiniões e de serem ouvidos, as decisões que envolvem os filhos tendem a ser mais negociadas”, afirma a especialista. Arquivo pessoal
da educação. “Um pai e uma mãe conscientes tem muito medo de colocar um filho no mundo sem as devidas condições básicas de ensino”. Como professor, ele afirma que o ensino no Brasil está degradado e que é difícil ver uma universidade que se preocupa tanto com isto, até hoje, como a PUC Minas, onde ele e os dois filhos estudaram. Ele acha que a PUC tem uma coisa que as outras não têm: formação religiosa. “Eu tenho um medo muito grande quando as pessoas não se preocupam com uma coisa chamada religião, porque Deus está em primeiro plano e a gente não pode se esquecer disso”. Outro fator que influencia a decisão de
ter menos filhos é a violência crescente, que inibe os pais e a falta de tempo para se dedicar a eles diante das inúmeras oportunidades de lazer que existem hoje. Isso leva casais a querer aproveitar bem antes de encarar a responsabilidade de criar um filho. Antônio e Josimar acham que suas experiências de infância são bem diferentes das experiências das crianças nos dias atuais. Hoje, as crianças e adolescentes são considerados sujeitos de consumo, para os quais há uma enorme quantidade de produtos e de propaganda a eles dirigida. Antes isto não existia. E faz muita diferença.
População desperdiça água na escassez TAMIRIS CIRÍACO 5° PERÍODO
O uso indevido da água está presente em todo o mundo. É um problema socioambiental que traz grandes consequências para a humanidade, tornando cada vez mais necessário o uso racional. É por isso que morando no bairro Coração Eucarístico há exatos 38 anos, José Carlos Costa Pôssas, administrador de empresas e professor, também conhecido como Saraiva, faz um trabalho de conscientização. Outros moradores despreocupado não atentam para o problema. Para incentivar seus vizinhos e conhecidos, José Carlos distribui um panfleto falando da importância de amenizar o desperdício. No texto, há alertas sobre a quantidade de água gasta em simples atividades do dia a dia, além de sugestões e possíveis soluções para a redução do gasto. Antes, em suas caminhadas rotineiras, Saraiva chamava atenção das pessoas que estavam desperdiçando água mas, para evitar conflitos com a vizinhança, decidiu parar. Com sua sacolinha na mão, em todos os lugares por onde passa, José Carlos vai entregando um de seus panfletos. Ao fazê-lo pede para que a pessoa repasse a mensagem, seja tirando uma cópia e compartilhando entre a família e os amigos, seja apenas explicando sobre o tema para que mais pessoas fiquem informadas e se conscientizem. José Carlos relembra os anos 80, quando Roberto Carlos, após visitar a Floresta Amazônica, lançou a música “Amazônia, insônia do mundo”, junto com Erasmo Carlos. Era uma forma de alerta à população. Para ele, é necessário atitudes como essa nos dias de hoje, para causar maior comoção da população sobre o desperdício que, por muitos, tem passado despercebido. MELHORIAS Amélia Baêta Pôssas, esposa de José Carlos, também se incomoda com o desperdício de água no bairro. Conta que houve possibilidade de colocarem uma piscina no prédio onde moram, mas “nós batemos o pé. Não pelo pagamento da diferença pela água, mas pelo gasto. É desnecessário deixar, por exemplo, o chuveiro aberto pra menino ficar brincando”, explica a moradora.
A Associação de Moradores do Bairro lembra que a escassez de água está presente no Brasil inteiro e que sua preservação é uma questão de cidadania. Sendo assim, deve haver uma consciência coletiva e o uso da água deve ser feito com equilíbrio. A associação não tem uma campanha devido à sua falta de estrutura, mas percebe que, pela divulgação da própria mídia em geral, os moradores estão tomando consciência e reduzindo os gastos. O desperdício de água não advém apenas de atividades realizadas no dia a dia, como escovar os dentes com a torneira aberta ou limpar a calçada com a mangueira. É consequente também de ações que não são normalmente visíveis, como vazamentos em canos e outros escapamentos durante a distribuição de água para os bairros. Por esse motivo, a Copasa lançou o projeto “Caça-Gotas”, que visa acabar com o problema e com as ligações clandestinas, conhecidas como “gatos”. Existem muitos vazamentos na rede hidráulica da Região Metropolitana de Belo Horizonte e a dificuldade de identificá-los e estancá-los ocorre em função do relevo irregular e da grande malha de canos. Assim, são enviadas equipes especializadas nesse tipo de atendimento para solucionar os problemas. A assessoria de imprensa da Copasa informou que, com o projeto, reduziu-se o tempo para a correção de vazamentos de água em Belo Horizonte: as operações que, antes, duravam aproximadamente 9h, hoje levam 4h18min. Até agosto, os dados indicam que a Companhia realizou 120.836 atendimentos na RMBH. A assessoria da Copasa lembra que a utilização da água é responsabilidade de todo cidadão. Com a atual escassez hídrica, não se recomenda o uso de mangueira, seja para lavar calçadas ou carro. A sugestão é de que, no lugar da mangueira, use-se a vassoura para limpeza das calçadas e ao lavar o carro, baldes para armazenar a água e se possível reutilizá-la.
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Moradia
Planos milionários para a região do Vetor Norte A partir da implantação da Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, da construção da Linha Verde e da transformação do aeroporto de Confins em terminal industrial, o vetor norte, região em que está localizada a ocupação, passou a ser o novo eixo de desenvolvimento metropolitano de Belo Horizonte e área cobiçada pela especulação imobiliária. Por meio de uma lei especial, aprovada dentro da reforma da Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo, do Plano Diretor de BH, a Câmara de Vereadores alterou os padrões de urbanização de área verde da cidade, flexibilizando o uso de terrenos que podem, agora, receber prédios de até 5 mil metros quadrados. A regulamentação das Operações Urbanas Consorciadas (OUC) em Belo Horizonte aconteceu também pelo mesmo mecanismo. Foram demarcadas como futuras OUCs largas parcelas do território municipal. Além disso, foi aprovada a Operação Urbana do Isidoro, que previa a ocupação planejada da última grande área ainda não urbanizada de Belo Horizonte. Neste momento, veio à tona um projeto bilionário para a construção de um bairro de classe média que utilizaria um terço daquele território que envolveria a criação de parques, de centros comerciais e de cerca de 72 mil unidades habitacionais. O projeto criado pelo ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná, Jaime Lerner, seria executado pela Direcional Engenharia e pela Rossi Residencial. Ao que tudo indica, o empreendimento, que destinaria 3 mil casas provisoriamente à criação de uma vila para a Copa do Mundo, fracassou, entre outros motivos, por pressão de ambientalistas. Não existe indicativo, no entanto, de que ele não possa ser retomado a partir da desocupação da área. A momentânea ou definitiva impossibilidade da construção de um novo bairro de classe média abriu caminho para que empreendedores e proprietários começassem a negociar parte do território com o Programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal. O projeto pretende construir 13.400 unidades habitacionais na região.
A menina da capa O seu olhar era assustado, porém, não se intimidou em posar para as lentes da nossa sempre repórter, Juliana Gusman. O seu nome: Vitória. Coincidentemente, o mesmo da ocupação onde mora. A inocência da criança, evidente nas fotos, encantou todos os que visitaram a ocupação, até chegar à redação e cativar os olhos de todos nós do MARCO. Vitória é filha de Angélica e irmã de Carolina. Angélica não quis falar muita coisa, deixou apenas que a repórter fotografasse as meninas. Vitória tem três anos. Filha de pai desconhecido. A mãe dela não trabalha. Quem sustenta a família é a avó, já que a mãe está desempregada e não tem outra pessoa para ajudar a cuidar de crianças tão pequenas. Elas moram no meio de uma ladeira, em uma rua bem íngreme, num barraco de 30 m²”. WINICYUS GONÇALVES 6º PERÍODO
Ocupações do Isidoro Em um conflito que envolve moradores, poder público e iniciativa privada, cerca de 30 mil pessoas podem ser despejadas GABRIELLA BERNARDES ISABELA ANDRADE WINICYUS GONÇALVES 6° PERÍODO
Marcela está grávida. À espera de seu segundo filho. Ao seu lado sua primeira filha, Joana, de um ano e três meses. Tem de vida o mesmo tempo da ocupação: um ano e 3 meses. Marcela não tem mais esperança. Tanto ela quanto seus filhos continuarão resistindo no Vitória até o destino mudar seu caminho. Pelas ruas de chão de terra, existem casas pequenas, sem estrutura, feitas apenas de tijolos e madeira, onde crianças brincam com o que tem. A ameaça de colocar 8 mil famílias na rua, contando entre elas um grande número de idosos e crianças, trouxe à tona um antigo ponto fraco da Região Metropolitana de BH: a destinação dos territórios que não cumprem função social e o tratamento a ser dispensado aos alijados do direito à moradia. Os moradores das ocupações Vitória, Rosa Leão e Esperança, na região do Isidoro, que compreende o norte de Belo Horizonte e parte de Santa Luzia, convivem com a ameaça constante de despejo. Situada no chamado vetor norte de Belo Horizonte, os aproximadamente 9,5 milhões de metros quadrados da Mata do Isidoro – maior que a área interna da Avenida do Contorno – compõe o último cinturão verde da cidade, repleto de nascentes e de mata nativa preservada. Rodeada por bairros populares como Zilah Sposito, Ribeiro de
Abreu e Tupi, a região é marcada, ao longo das décadas, por ocupações irregulares. Parte do local também é conhecido como Granja Werneck, pois, na década de 20, o médico Hugo Werneck queria construir ali um sanatório para tuberculosos e, por isto, ganhou a extensa gleba doada pelo município de Santa Luzia. A área, também conhecida como região do Isidoro, tem mais de 3 milhões de metros quadrados e abriga três ocupações. Segundo os moradores, na Rosa Leão, são 1,5 mil famílias, na Esperança 2,6 mil famílias e na Vitória são 4,5 mil COMUNIDADE
A maior parte das casas é de alvenaria e foi construída com as economias dos moradores. Elas convivem com habitações feitas de gambiarras criativas, como capa de carro, sacolas plásticas, lonas, materiais recicláveis, evidenciando a precariedade econômica de algumas famílias e, ao mesmo tempo, a riqueza criativa deles para garantir sua sobrevivência em meio a vulnerabilidade à qual estão expostos. Assim como os adultos, as crianças estão acostumadas a fazer longas caminhadas, seja para brincar ou para ajudar nas compras. Muitas delas vão descalças, carregando pacotes de arroz e feijão. Dois meninos falam de seus sonhos: Milena quer ser advogada e João Vítor, policial. Duas profissões que conhecem pela convivencia quase diaria com profissionais destas áreas dentro das ocupações.
Míriam, 13 anos, tem uma queixa: sofre muito bullying na escola onde estuda por morar em uma ocupação. Lá, recebeu o apelido de “Míriam do pévermelho”. Os pais dela também sofrem preconceito por morar no local. O pai dela foi, inclusive, demitido do emprego por este motivo. O posto de saúde de Santa Luzia não aceita nenhuma criança da ocupação porque, segundo a administração, elas não têm certidão de nascimento e, assim, não se pode cadastrá-las. Muitas crianças que adoecem ficam sem assistência. O posto de saúde mais próximo à ocupação, se recusa a atender os moradores, alegando que precisa do tal cadastro. Além de problemas relacionados a saúde, esse mês a ocupação chegou a ficar mais de quatro dias sem água. SONHOS
João Inácio Marques, 71 anos, está montando um barraco para morar com suas netas, Tainara Raiane, 10, e Maria Gabriela, 6. Os três, no momento, vivem de favor em uma casa na cidade de Esmeraldas. As meninas não veem a mãe que se mudou para o Rio de Janeiro há anos; o pai de Tainara foi assassinado; o pai da mais nova vive com a mãe delas no Rio, junto com o irmão ,de 5 anos, das garotas. Subindo uma ladeira longa e bem íngreme, João Inácio carrega dois tubos de PVC que farão parte da nova moradia. “Vim para cá, porque quero uma casa própria”, disse o senhor. Atrás dele, suas netas percorrem o longo trajeto debaixo do sol quente. As meninas ainda não têm amigos na ocupação; a mais velha gosta de jogar queimada com os colegas da escolinha em Esmeraldas; a mais nova que ainda não estuda, brinca com
as poucas bonecas que têm. Desde cedo as crianças do Izidoro, ajudam nos afazeres domésticos o que explica o fato de brincarem mais na escola. Além disso, os presentes que ganham em datas comemorativas, dificilmente são brinquedos: costumam ser materiais escolares e roupas. Erica da Silva, 4 anos, adora sua boneca Barbie; anda com ela para todo lado, mesmo já estando suja de terra, maltrapilha e desgastada pelo tempo. “Não temos para onde ir, eu pagava 400 reais de aluguel e ganho 800”, é o que diz Geraldo, que trabalha em estacionamentos, padrasto de Erica e de Leonardo da Silva, 7 anos. Os dois consideramno seu pai e Geraldo se esforça para dar o melhor para as crianças. Para isso, conta com a ajuda de seus colegas de trabalho, que o ajudarão na compra do material necessário para finalizar o barraco em vive com a mulher e os dois garotos. Fã do Clube Atlético Mineiro, Leonardo fala bastante de seus dois cãezinhos, Sofia e Pipoca. Além de brincar com os bichinhos, ele gosta de assistir futebol. E não é para menos: o menino pretende tornar-se jogador profissional. Assim como ele, mesmo em meio a limitações, as crianças da ocupação não deixam de sonhar. Como os irmãos Milena de Paula, 8, e João Victor de Paula, que querem ser advogada e policial. PROBLEMAS
Devido às dificuldades de deslocamento nas ocupações, algum comércio fpequeno foi surgindo nas diferentes áreas. As bitacas se tornaram fonte de renda para algumas famílias. É o caso de Robson Nathanael, dono do estabele-
Isidoro ou Isidora?
Habitações precarias colocam em risco todos que vivem nas ocupações
Juiana Gusman
Oficialmente, o nome da região onde estão localizadas as ocupações é grafada como Isidoro. Mas quem conversa com os moradores pelo menos uns minutos percebe que todos falam Isidora, com a letra ‘a’ no final. A professora Margarete Leta, da Associação dos Arquitetos Sem Fronteira, afirma que nos mapas de Belo Horizonte, até pelo menos 1937, o ribeirão que deu nome a essa área está grafado como Ribeirão da Isidora. Assim como o Ribeirão do Onça, próximo ao Isidora, ambos foram usados no masculino nos mapas seguintes. No Quilombo Mangueiras, existente na mesma região, comenta-se que Izidora teria sido uma escrava alforriada que ali constituiu sua descendência. O historiador Alessandro Borsagli afirma que, segundo os quilombolas, existiu uma Isidora da Costa, que possuía sete alqueires de terras no ribeirão do Onça. É possível que o nome venha dela – Isidora da Costa.
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Moradia
onde todos lutam por moradia
Idosos já perderam a esperança de dias melhores e de uma vida mais suave
cimento conhecido como “Barraca”, um dos pontos preferidos das crianças: é ali que elas compram suas balas, pipoca doce, paçoquinha e chips. Robson têm duas filhas,de 6 e 8 anos e um rapaz de 14, que vivem na ocupação. Todos estão na escola; mais velho já está concluindo, dentro da sua faixa de idade, o ensino médio. Vivendo com o pequeno lucro da vendinha seus filhos aprenderam a dividir o pouco que tem, sem reclamação. FUTURO
Alguns jovens da Izidora, quando saem da infância entram no mercado de trabalho com a perspectiva de um futuro melhor. Porém, nem sempre os adolescentes chegam à fase adulta. No dia 22 de outubro, João Vítor, 14 anos, morreu com 6 tiros
em um conflito policial. O jovem engajado, esteve presente nas assembleias da ocupação em que morava, lutando pela resistência da sua comunidade e por melhores condições de vida. João também compunha músicas de rap que, falavam da luta das pessoas marginalizadas socialmente. A mídia tradicional não relatou o acontecimento, que ficou restrito às redes sociais. Em nota o site das brigadas populares afirmou: “João Vítor também foi vítima da falta de oportunidades e da negação do direito à cidade e à moradia adequada, que se desdobra em conflitos fundiários para os quais o poder público se nega a dar uma resposta justa e eficaz. É mais um que parte sem dizer adeus, e era apenas um adolescente.” Nas comunidades, as
Juliana Gusman
decisões importantes são tomadas em assembleias democráticas. Há recolhimento de lixo e preocupação com a preservação ambiental. A vida em coletividade leva os moradores a procurar formas de se proteger das relações com o tráfico de drogas e o crime organizado. De acordo com dados do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) em 2010, o déficit habitacional de Belo Horizonte era de 150 mil moradias. O programa Minha Casa Minha Vida não entregou sequer uma habitação para a faixa salarial à qual os moradores da ocupação pertencem: de 0 a 3 salários mínimos. SITUAÇÂO
A Mata do Isidoro também abriga os remanescentes do Quilombo Mangueiras. Constituída
hoje por 19 famílias a comunidade utiliza as terras à margem do Ribeirão Isidoro, desde o século XIX, para sustento e reprodução de seu modo de vida. Do território, que um dia chegou a 387 mil quilômetros quadrados, hoje restam 17 mil, reivindicados junto ao Incra. Atualmente, a família restringe suas atividades a apenas dois desses quilômetros. Os moradores dos bairros que estão no entorno da ocupação, como o Baronesa, em Santa Luzia, reclamam. “Enquanto eu tenho que pagar um financiamento habitacional no banco por 30 anos para poder ter a minha casa, esses oportunistas querem invadir e ganhar tudo de graça. E tem gente que ainda os defende”, protesta o comerciante Denílson Pereira. Para a
dona de casa Maria Aparecida Gomes, “direito a moradia digna é conquistado a partir do esforço, do trabalho, e não a partir de invasões”. Diversas negociações foram feitas, envolvendo representantes de moradores de ocupações, da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), da Arquidiocese de Belo Horizonte e do Ministério Público Estadual. Eles tentam uma saída pacífica para a solução do problema, mas nada foi acertado efetivamente. Conforme citou a coordenadora da ocupação Rosa Leão, Charlene Cristiane Egídio, as lideranças da ocupação estão em conversas constantes para que seja discutida uma alternativa. “E vamos achar porque nós, as famílias do Isidoro, estamos dispostos a isso”, apostou Charlene. Na dia 19 de agosto, moradores da Ocupação do Isidoro fizeram um protesto na capital. Manifestantes chegaram a atear fogo em um ônibus e fechar a MG-010, na pista do sentido Confins. Houve confronto com a polícia. A líder pontuou a necessidade de negociar para evitar conflitos como o ocorrido. “A Polícia não está preparada para fazer a reintegração de posse”, disse ela . CONFRONTO
Confiante em diálogo direto com o governo do Estado, Charlene afirmou que o grupo defende moradia popular para todos aqueles que vivem no território ocupado. “Sabe o que a gente quer? Garantia do direito à moradia que está na Constituição. Nós estamos dispostos, sim, a pagar. Nós não queremos nada de graça, não.” Segundo o assessor de
imprensa da PM, major Gilmar Luciano, o resultado desse mapeamento é preocupante: “Temos uma grande área verde devastada, um transtorno ambiental irreparável. Também mapeamos armas de fogo no local. É possível que alguns criminosos tentem uma ação de guerrilha”, afirma. Luciano acha que a Polícia Militar tem trabalhado o cumprimento da reintegração de posse “com atenção especial à dignidade humana” para garantir “a tranquilidade psíquica e física” das pessoas. “Quem desejar, de maneira livre e pacífica, sair do local desapropriado, a Polícia Militar e as autoridades estarão prontas a acolhê-los. É muito importante que as pessoas busquem apoio para as crianças, os idosos, as gestantes. A prefeitura dá suporte logístico para que eles retirem seus pertences com antecedência”, ressalta o militar. A defensora pública de Minas Gerais, Cristiane Neves, assegura que a Defensoria tem participado das negociações e que acredita na solução do conflito. Segundo ela, “o que os representantes do Governo trazem é que naquela localidade,do Isidoro, realmente serão construídas casa populares. Ela esclareceu que a missão da Defensoria é de mediação das relações, em defesa dos mais necessitados. O governo de Minas Gerais afirmou, em nota, que as negociações entre os moradores das ocupações e o Poder Executivo estão acontecendo desde o dia 2 de fevereiro. O governo propôs o reassentamento das famílias no próprio terreno, onde seriam disponibilizadas unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida.
Ação do MP aponta problemas
A poeira está por todo lado pois as ruas são de terra batida
Juliana Gusman
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) propôs em julho de 2014 uma ação civil pública para garantir o direito à moradia para as famílias que estão na ocupação. O MPMG pede, ainda, a abstenção de qualquer conduta de retirada das famílias até que tramitem todos os pedidos na Justiça para esclarecimento sobre a situação dos terrenos. Os réus da ação são as prefeituras de BH e Santa Luzia, a administração estadual, uma empresa e duas pessoas físicas que se declararam donos de partes da terra. A Promotoria de Direitos Humanos exige explicações sobre a exata localização das ocupações, até então declaradas como invasões somente em terrenos da capital. Conforme o MPMG, porções dos acampamentos Rosa Leão e Vitória estão em território de Santa Luzia. A promotoria cobra também um posicionamento sobre a porção da Ocupação Rosa Leão que está situada em uma Zona de Especial Interesse Social (ZEI) – áreas em relação às quais há interesse público por ordenar a ocupa-
ção por meio de urbanização e regulação fundiária. A área foi definida como ZEI no Decreto 10.483/11, mas conforme a promotoria, nenhuma política de urbanização foi implementada. O MPMG quer que todas as famílias das ocupações sejam cadastradas em programas sociais de assistência à moradia. Algumas já estão inscritas mas outras nunca foram contempladas. De acordo com a promotora Janaína de Andrade Lauro, todas as ações e mediações do poder público em relação às ocupações estão voltadas para retirada e não para a aferição da situação das famílias. “Nosso objetivo é garantir-lhes o direito à moradia.” “Os problemas que impedem a reintegração de posse são apenas o meio. O fim da ação é garantir o direito a moradia digna daqueles que estão ali, assim como de todas as pessoas que estão escritas em cadastros municipais ou cadastros únicos”, afirmou a promotora.
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Campus
personagens
Cruz Vermelha possibilita a primeira oportunidade
Estudantes vivem desafios longe de casa Alunos que se mudam para a Belo Horizonte com o intuito de se realizar profissionalmente contam sobre seu aprendizado. Alguns aliam trabalho e estudo para se sustentar PATRÍCIA ADRIELY GOMES 8º PERÍODO
Jovens tem oportunidade de crescimento pofissional na PUC Minas CAMILA NAVARRO MARIANA CAMPOLINA MATHEUS LIMA RAFAEL LEITE 6° PERÍODO
Guilherme Cambraia
muita experiência na área administrativa, aprendeu muito sobre informática e pretende ser contratado após o período de menor aprendiz. “Após seis meses (de contratação), o funcionário da PUC ganha até 70% de bolsa em grande parte dos cursos”, disse o garoto, que sonha fazer ciências da computação.
A filiada mineira da Cruz Vermelha Brasileira é o maior e mais antigo movimento internacional em ação em Minas Gerais. A instituição tem mais de 150 anos e atua em quase 200 CONTRATADOS países de todos os continentes. Em Alguns jovens aprendizes são adMinas, mantém o Ação Jovem, um dos seus principais programas. Nes- mitidos como funcionários pela unise projeto, a PUC Minas é sua aliada versidade após o período de aprendina missão de abrir a jovens da Região zado. Foi o caso de Thiago Aguiar, de Metropolitana de BH oportunidades 20 anos. Entre 2011 e 2013, ele foi de trabalho e crescimento pessoal e aprendiz da Cruz Vermelha no prédio 13. Em 2014, surgiu uma vaga como profissional. Pelos corredores e salas dos seto- auxiliar administrativo da PUC TV e res do campus Coração Eucarístico, é Thiago aproveitou a oportunidade. “A Cruz Vermelha abriu muitas portas impossível transitar sem encontrar os para eu crescer, como pessoa e como meninos do Ação Jovem. Montando profissional”. Ele também começou, equipamentos, levando café para as recentemente, o curso de administrasecretarias e laboratórios, entregando ção na universidade. documentos e ligando computadores Rômulo Teixeira, 36, também era e projetores das salas de aula, os “cajovem aprendiz e, hoje, é funcionário misas vermelhas” estão presentes. da PUC Minas. Ele entrou na Cruz Douglas Gonçalves Ferreira, 17, Vermelha em 1995, e foi contratacomeçou a trabalhar na PUC no dia do pela universidade em 1997 como 10 de outubro de 2014. Antes disso, auxiliar de serviços, quatro dias após precisou fazer a inscrição no site da completar 18 anos. Hoje, é supervisor Cruz Vermelha. Após análise psicode manutenção civil na universidade. lógica e socioeconômica, ele foi esco“Eu fui tendo as oportunidades e, lhido para participar de um curso de graças a Deus, sempre corri atrás”. capacitação, que foi “totalmente diferente do que pensava”. Nele, teve de submeter-se a avaliações que considerou a parte difícil do processo. Após aprender coisas, que ele nem imaginava, sobre o universo da informática e da internet, passou a integrar o banco de jovens profissionais da Cruz Vermelha. Hoje, o estudante Cruz Vermelha abriu portas para Rômulo Guilherme Cambraia auxilia no trabalho de instalação de equipamentos nas salas do prédio 13 da Para ele, o trabalho na Ação Jovem, da Faculdade de Comunicação e Artes, Cruz Vermelha, foi de grande imporalém de dar apoio à secretaria da fa- tância para chegar onde está: graças culdade. à bolsa concedida pela universidade, O estudante Welberton Nunes, hoje cursa engenharia de produção. 17, faz parte do projeto há um ano “Eu tinha uma meta, que era estudar, e três meses, e auxilia nas atividades me formar e buscar os objetivos que no prédio 47, do curso de arquitetura a universidade sempre nos proporcioe urbanismo. Ele conta que ganhou nam alcançar”.
Deixar a cidade de origem em busca de realização profissional é um desafio enfrentado por vários jovens brasileiros. Muitos deles partem de pequenas localidades para encarar um curso superior em grandes centros. Essa é a realidade, por exemplo, de muitos estudantes da unidade São Gabriel da PUC Minas. A vida é corrida e com pouco dinheiro, mas todos ressaltam um ponto positivo: a liberdade de viver longe da família. Um exemplo é o de Eduardo Leopoldino, que abandonou o quinto período do curso de engenharia elétrica, em Uberaba, no Triângulo Mineiro, para estudar jogos digitais em Belo Horizonte, na PUC Minas. “Eu tinha muita vontade de estudar isso, mas não sabia se existia no Brasil. Um dia descobri o curso em BH. Decidi largar tudo e vir para cá morar sozinho”, afirma o jovem, enquanto cria um cenário de jogo em seu computador. Ele trabalha em um monitor de 32 polegadas, num quarto de poucos metros quadrados, de uma república no bairro São Gabriel. Por sinal, essas repúblicas estudantis são os destinos escolhidos como lar pela maioria dos estudantes. Rafaela Galdino, de 18 anos, também escolheu uma moradia estudantil para ficar na capital mineira, para onde veio estudar jornalismo na PUC Minas. Mesmo existindo um curso da área perto de sua cidade natal, Ipatinga, no Vale do Aço, quis vir porque as “oportunidades e o mercado aqui são bem melhores do que lá”. Ela aguardava o horário da aula assistindo Netflix em seu quarto, que abriga, milimetricamente, uma cama e uma cômoda. As principais vantagens dessa moradia, popular, segundo os universitários, são a localização estratégica e estrutura em relação ao baixo preço, quesitos importantes para quem está estudando. Mesmo com a família em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Rafaela Perez preferiu viver em uma re-
pública em BH para estudar Administração na PUC Minas. “O principal motivo da minha escolha foi facilitar o trajeto casa, trabalho e faculdade. Cheguei a vir de van por duas semanas, mas o custo-benefício e cansaço não compensam”. Enquanto fala, vai colocando a comida, previamente preparada, para aquecer no micro-ondas, depois de um dia de trabalho e uma noite de estudos. LIBERDADE Rafaela, que sempre viveu com a família, enfrenta dificuldades na nova rotina. “Eu não sei cozinhar; tenho, então, de comprar coisa congelada e de fritar. A base da refeição é miojo”, confessa, aos risos. Já Eduardo Leopoldino diz que sente falta de quando trabalhava. “Mais pelo dinheiro, não pelo tempo, porque hoje eu faço muito mais coisas e meu dia rende mais”. Os três jovens ressaltam a mesma vantagem sobre o local em que vivem atualmente: a liberdade. “Morar sozinho é ser mais livre”, diz Eduardo. “O bom é a independência porque minha mãe ficava muito no meu pé para certas questões, como horário e arrumação”, lembra Rafaela Galdino. “O melhor é deixar o quarto do jeitinho que você quiser, sem mãe falando para arrumar a cama”, completa Rafaela Perez. Mas, ficar longe da família é uma situação difícil. “Todo dia a minha mãe me liga e conversa. Tem dia em que ela não tem nem assunto, mas liga mesmo assim. É difícil ficar longe, mas eu vou vê-los todo feriado”, disse Rafaela Galdino. “O pior é mesmo a ausência da família. Eu me encontro com eles nos finais de semana e a gente conversa também por WhatsApp e telefone”, diz Rafaela Perez. Para Eduardo, a saudade da namorada é um grande problema. “Ela é minha melhor amiga e erámos muito parceiros quando vivíamos juntos. Agora é cada um por sua conta, se virando com suas coisas”.
Obras garantem conforto e acessibilidade no São Gabriel DÂMARIS ALMEIDA 4º PERÍODO
Em 2013, o campus da PUC Minas São Gabriel passou por pequenas reformas para dar acessibilidade aos portadores de deficiência, no local. Esta sempre foi uma preocupação da universidade e, por isso, desde julho de 2015, as reformas se tornaram mais intensas. Elas incluem desde vagas, para cadeirantes, no estacionamento, até melhorias nos auditórios. Segundo Daniel Vaz, responsável pelo Setor Administrativo de Compras e Espaço Físico da Unidade, as obras internas como as do Bloco I, no auditório e nas salas 30 e 31 multimeios, visam melhorar, para todos, a circulação pelas dependências da universidade. No Bloco B, bandos de pombos ali concentra-
dos trouxeram consequências como muita sujeira e risco de doenças. Como medida preventiva, foi colocado um dispositivo eletrônico no prédio da secretaria acadêmica (Bloco B), que emite um som capaz de afastar os pássaros. Além disso, o Bloco recebeu diversas obras de manutenção, como pinturas e outros acabamentos. As rampas também foram reformadas para oferecer melhor acesso aos cadeirantes e, no estacionamento, foram criadas vagas exclusivas para idosos e cadeirantes. Em toda área externa da PUC Minas São Gabriel, as árvores foram podadas e o terreno foi capinado. Para a estudante do 4º período de jornalismo, Vivian Leite, “as reformas são necessárias para garantir mais conforto aos estudantes, além de melhorar a aparência da universidade”.
Para resolver o problema de cães abandonados no campus, no começo do segundo semestre de 2015, a pró-reitoria autorizou a compra de casinhas para eles e destinou um espaço próprio para acomodá-los. A iniciativa partiu dos próprios alunos, que observavam o “abandono” dos bichos. Segundo eles, dessa forma os animais seriam acolhidos na unidade e teriam um local para se abrigar e passar as noites. Aderman Figueiredo, estudante do 3º período de jornalismo, aprovou a iniciativa. “A ideia da casinha de cachorro foi perfeita. Agora eles têm um lugar tranquilo para dormir e se alimentar, já que várias pessoas trazem ração. Além disso, eles ainda curtem um espaço verde cheio de sombras”, disse.
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Privatização
BH restringe uso de espaços A população belo-horizontina não aprova a privatização dos espaços públicos. Cidadãos são proibidos, por exemplo, de utilizar gratuitamente os locais para fins fotográficos BEATRIZ BREDER BRUNA VOLPINI ELISA FERREIRA IZABELLA LIMA LARISSA BARROS LETÍCIA BOSICH
A questão das catracas O QUE A LEI VIGENTE DIZ: O Município de Belo Horizonte está auto-
6º PERÍODO
Elas dão às cidades algumas de suas principais características, contrastando com os edifícios. As áreas verdes, como parques, praças e jardins, e aquelas ocupadas por ruas e terrenos sem densas construções, têm uma função muito além da que está garantida na Constituição: permitir o exercício do direito à livre circulação e uso pelos cidadãos. Palcos de manifestações e encontros sociais, esses locais estão ganhando novas formas e estruturas. Na capital, os limites entre o público e o privado, por outro lado, ficam mais difíceis de ser percebidos, uma vez que a Prefeitura restringe o direito de uso de espaços “públicos”. Atualmente, em BH, o acesso a vários espaços como parques, praças, ruas é restrito em muitos bairros, apesar disso ferir a Constituição brasileira. No Artigo 5º, parágrafo XV, lê-se: “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. No parágrafo XVI: “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”. Embora seja um direito expresso, seu exercício é cada vez mais difícil, frente ao esquema de “privatização” desses locais. Quase todos estão cercados por grades, alguns têm até horário de visitação, e o acesso a outros - inclusive a certas ruas - também esbarra nas cancelas com guaritas, construídas para controlar a circulação das pessoas. São medidas tomadas pelo poder público e, às vezes, por moradores por ele autorizados, sob a alegação de melhorar a sua segurança e deixar espaços “públicos” melhor conservados. Até os parques, que levam o “público” no nome, ganham regras “privatizantes”. Moradora do condomínio Estância do Ibisco em Contagem, Mariana Xavier afirma que, desde que mora lá, ocorreram algumas mudanças quanto à segurança do local. Em 2005, mesmo sem ter cancelas e espaços restritos, o condomínio já mantinha um segurança na entrada 24 horas por dia. Até 2009, não havia nenhum registro de assaltos, mas no mesmo ano aconteceu um sequestro dentro das dependências e o caso ganhou enorme repercussão entre os moradores. Depois disso, os responsáveis pela segurança decidiram instalar cancelas e restringir o acesso. Hoje, como na maioria dos condomínios privados, cartões personalizados são necessários para entrar no local. Pessoas que não moram nas casas do residencial necessitam de autorização prévia de algum outro morador. Sobre a restrição do espaço, Mariana é taxativa ao dizer que, enquanto o governo não for capaz de resolver as questões de segurança, os políticos não devem aprovar uma lei que impeça os próprios cidadãos de fazer isso. Ela a vê como uma saída imediatista para os problemas.
RESTRIÇÕES
“Espaço público” pressupõe um local onde qualquer cidadão pode transitar e dele usufruir livremente. No entanto, assim como existe a lei que garante o direito do cidadão de ir e vir, existe a lei que permite a construção de condomínios privados (Lei nº 9.959, de 20/7/2010) e a portaria que oficializa a cobrança de taxas pela utilização de determinados lugares como
rizado a conceder às associações de moradores o direito de uso real das vias em cul-de-sac (ruas sem saída). Na prática, mediante permissão da Prefeitura, é possível que ruas, que não fazem ligação viária com áreas externas, sejam fechadas com a instalação de guaritas, cancelas ou equipamentos que limitem a circulação de veículos e pedestres.
O QUE O PROJETO DE LEI DIZ:
Parque Municipal não permite a utilização do local para trabalhos fotográficos
pano de fundo para o registro profissional fotográfico (Portaria FPM Nº 005 de13 de janeiro de 2015). O Parque Municipal Américo Renné Giannetti, por exemplo, não cobra o valor em dinheiro, mas sugere que o fotógrafo faça a doação de algum item de que o parque necessite em troca da utilização do local para as fotos. Bárbara Dutra, há oito anos na profissão, teve uma experiência incomum. Ano passado, ao ser convidada por uma grife a fazer fotos de um catálogo de moda, no Parque Municipal, deparou-se com exigências surpreendentes. Soube, por terceiros, que só conseguiria fazer as fotos caso a grife pagasse. Como isso era uma novidade, Bárbara resolveu fazer-se de desentendida, o que não surtiu efeito. Assim que chegou com seu equipamento, representantes do Parque abordaram-na dizendo que a cobrança pelo uso do espaço não seria feita em dinheiro, mas em material. A partir de um acordo entre as partes, ela pôde fazer o ensaio fotográfico, Bárbara deveria doar ao Parque um móvel no valor de R$500. A administração explicou que não se trata de cobrança, mas de uma troca de favores entre o usuário e o Parque. O vereador Joel Moreira (PTC), autor de um Projeto de Lei que proíbe a cobrança das “taxas vale” para produções fotográficas, com ou sem fins lucrativos, acha que, como o local é público, a cobrança é injusta e inconveniente, pois penaliza o próprio cidadão, que, na verdade, é o dono daquele espaço. Segundo ele, a justificativa está no artigo 50 da Constituição, inciso 1º, que afirma que todo tributo só pode ser instituído por lei. Para ele, se é uma taxa a ser paga em dinheiro ou em qualquer outro bem, ela deve ser autorizada ou instituida através de lei. Moreira ainda explica que sua intenção, ao propor a lei, não é questionar se a cobrança por algum local “público” é legal ou não. Seus questionamentos abordam apenas se a política pública é ou não voltada para o cidadão. O vereador defende não somente o corte de taxas, alegando sua inclusão nos diversos impostos já pagos pelo cidadão, mas também é a favor da utilização do espaço público por todos. Para ele, o fotógrafo, as noivas e as debutantes têm todo o direito de usufruir, desde que o façam de forma organizada. O Projeto de Lei está em processo de tramitação na Câmara Municipal. O consenso é de que deve haver um agendamento e uma programação da hora da utilização dos locais. O professor de Fotografia na PUC, Eugênio Sávio, apoia o controle do uso dos parques e praças através do agendamento de hora e data para as fotos, além da contribuição espon-
A área verde no Parque Municipal contrasta com prédios da região
Guilherme Cambraia
Guilherme Cambraia
tânea, com a doação de algum material. Para ele, a cobrança de taxa é inconveniente pois o que é interessante e necessário é um controle de uso por parte da administração daqueles locais.
OUTRAS QUEIXAS
Constantes reclamações foram registradas depois que a administração da Fundação Zoo -Botânica (FZB-BH) começou a cobrar taxas pela realização de filmagens e fotografias profissionais no local. Os valores, que chegam a R$ 3 mil pelo agendamento diário (terça a domingo, de 8h30min às 16h) de um dos espaços do zoológico, são considerados abusivos. Outro projeto de lei municipal a ser debatido em audiência pública pretende mudar a situação de ruas que não fazem ligação viária com áreas externas e que, hoje, são fechadas com a instalação de guaritas, cancelas ou outros equipamentos que limitam a circulação de veículos e pedestres. Conforme a atual legislação, o município está autorizado a conceder às associações de moradores o direito de uso real das vias em cul-de-sac (termo em francês referente às ruas sem saída e “balões de retorno”). De acordo com a coordenadora estadual das Promotorias de Justiça de Habitação e Urbanismo, Marta Larcher, os loteamentos são bairros que, uma vez aprovados, as áreas públicas (ruas, praças, áreas verdes, etc.) passam ao domínio público e são denominados bens de uso comum do povo, acessíveis a qualquer pessoa. Para ela, alguns empreendimentos são chamados de condomínios, mas são verdadeiramente loteamentos, fechados ilegalmente. A partir deste fechamento, os bens passam a ser usufruídos apenas pelos moradores daquela localidade. A arquiteta e urbanista, Regina Andrea Martins, concorda com a desobstrução de espaços públicos para uso comum dos cidadãos, porque isto é um direito garantido pela Constituição. Entretanto, no caso dos condomínios fechados, que já foram aprovados e registrados desde sua concepção, é preciso verificar com clareza qual é a situação legal das vias de circulação envolvidas nesta questão, e a quem elas pertencem de fato.
UM OUTRO LADO
Criador do projeto de lei PL 1.526/15 que revoga a lei 8.768 de 2004 que autoriza o direito de uso das ruas definidas como “sem saída”, o vereador Wellington Magalhães propõe a retirada de cancelas, guaritas e portarias de condomínios fechados criados em espaço público. A ideia é fazer valer uma prerrogativa básica de todos: direito à cidade e ao espaço público. Magalhães afirma que, quando um grupo de
Proposto pelo vereador Wellington Magalhães (PTN), o Projeto de Lei 1.526/15 propõe tornar sem efeito as leis nº 8.768/04 e 10.068/11, que disciplinam as concessões, bem como revogar as outorgas já concedidas. Também é determinação do PL que sejam removidas, em até 30 dias (após a publicação da lei), portarias, guaritas ou mobiliário urbano construído e instalado em decorrência da outorga revogada. O descumprimento da regra levaria a uma multa diária de R$ 10 mil.
moradores fecha a rua e restringe a circulação dos demais, ele frustra o interesse público e tira dos outros o direito de passear, praticar esportes e viver momentos de lazer em áreas que foram consagradas ao uso compartilhado. Para discutir o projeto de lei foi realizada uma audiência pública, aberta a todos os interessados. Por parte dos moradores de condomínios, que estiveram presentes à discussão, a alegação mais frequente foi a de que o fechamento das vias e a instalação de guaritas lhes dá mais segurança. Um exemplo disso é o Parque Cássia Eller, na região da Pampulha, localizado dentro de um condomínio fechado. Dessa forma, o acesso ao Parque fica restrito. Segundo a Fundação Municipal de Parques, a instalação das cancelas (a legalidade ou não da medida) vem sendo recorrentemente discutida em audiências públicas na Câmara dos Vereadores. Já os moradores do Condomínio Fazenda da Serra alegam que o objetivo das cancelas não é restringir a entrada dos frequentadores do Parque, mas sim, por meio do controle de entrada, dar uma sensação de segurança os moradores, preocupados com o grande número de assaltos no Bairro Castelo. Porém, o advogado Antônio Machado afirma que a realidade não é bem essa. Frequentador assíduo do parque, ele gosta de passear no local com seus cachorros e afirma que, ao contrário do que informa o site da própria prefeitura, o Cássia Eller não fica aberto aos domingos. O advogado mostra-se indignado por ser impedido de fazer uso de um espaço público logo no domingo, que é o único dia da semana que a maioria das pessoas possuí o dia inteiro livre. Segundo o vereador Wellington Magalhães, a ideia é abrir caminho para regularizar a situação desses empreendimentos. Ele observa que, se por um lado essa regularização vai impedir a privatização do que é público, por outro dá segurança jurídica para os próprios moradores dos condomínios, normalizando a situação e evitando que eles tenham problemas futuros junto ao poder público e aos órgãos de fiscalização urbana.
Cancelas de condomínio dificultam a entrada do público no parque Cássia Eller
Marina Dias
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Cidade
Capital oferece lazer a baixo custo
Circuito em destaque
Museus, centros culturais e parques diversificam programação em busca de novos visitantes. Algumas atrações são gratuitas DANIELA FERNANDES 2º PERÍODO
Conhecida como a capital dos bares e botecos, Belo Horizonte oferece muito mais do que isso. Cercada por parques, museus e casas de cultura, a cidade abriga várias exposições permanentes e temporárias, além de espaços diversos de lazer destinados a todos os tipos de público. Não se cobra nada ou quase nada aos seus visitantes. O Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB), localizado no bairro Cidade Jardim, é um exemplo de espaço gratuito, que estimula os moradores a conhecerem um pouco mais sobre a história de BH. Segundo a gestora Célia Regina Alves, o público visitante vai ao Museu para conhecer e se reconhecer nas histórias e memórias contadas nas exposições. O Museu também realiza várias pesquisas que permitem conhecer melhor o passado e o presente de BH. PARQUES O Parque Ecológico Lagoa do Nado, localizado no bairro Itapuã, região Norte, realiza atividades de educação ambiental, cultura e esporte. O espaço conta com uma vasta diversidade de fauna e flora, além de uma biblioteca, sala multimeios, teatros de arena e de bolso, quadras poliesportivas, campo de futebol, pista para caminhadas e viveiro de mudas. Já na região Sul, outra opção de lazer é o Parque das Mangabeiras, localizado ao pé da Serra do Curral, famoso por seu mirante que permite uma vista geral de BH. Há três opções de roteiro para quem deseja conhecer melhor o Parque: Roteiro do Sol, Roteiro da Mata e Roteiro das Águas. No Roteiro do Sol, são percorridas as áreas destinadas à recreação e esportes, abrangendo, por exemplo, a pista de skate e o parque esportivo, que corresponde ao conjunto de 18 quadras. O vice-presidente da Federação Mineira
Museu Histórico Abílio Barreto é uma opção fora da área central de BH
de Skate, Alexandre Dota, conta que a construção da pista resultou de uma batalha. “Antes da pista, a gente andava próximo àquele laguinho”, relata Dota, enquanto aponta para a pequena área que não tem nenhuma estrutura para a prática do esporte. Segundo ele, além de ser um lugar muito bonito, o ambiente é seguro e familiar. O skatista, que tem três filhos, diz que eles também são frequentadores do Parque. “Aqui é a nossa praia. Aqui é a praia de BH” diz. Outro skatista, produtor de vídeos, Leo Lopes, diz que está sempre no Parque. Segundo ele, o espaço é agradável e a pista é muito bem feita, mesmo já sendo considerada um pouco ultrapassada. “A gente também cuida da pista pra fazer um bom uso”, comenta Leo, referindo-se às reparações feitas, quando necessárias, pelos próprios usuários. No Roteiro da Mata é explorada a observação da vegetação, tendo-se contato, por exemplo, com o Centro de Educação Ambiental (Ceam). Nele há atividades de educação e interpretação ambiental. Já no Roteiro das Águas é possível observar alguns cursos
d’água que formam a bacia do Córrego da Serra, no entanto, sem contato com as nascentes, por uma questão de preservação. O Parque ainda dispõe de quadras de peteca, tênis, playgrounds, mesas de jogos e outras trilhas. VISITANTES Para as catequistas Márcia Vieira e Rosemary Felício, que acompanhavam uma turma de crianças, o Parque das Mangabeiras é espaçoso e tem mais opções de lazer. Elas saem do bairro União e fazem o passeio pelo menos uma vez ao ano com as crianças. Segundo o gerente André Funghi, a natureza é a principal atração e todos os visitantes podem e conseguem trilhar os roteiros disponíveis. Mesmo aqueles que têm restrições físicas podem conhecer o trajeto, já que o Parque oferece micro-ônibus que fazem os passeios internos. Durante a semana, a frequência de visitantes é mais baixa, o que leva ao fechamento dos quiosques de alimentação. Há, por isso, muita reclamação de quem vai lá entre terça e sexta-feira. Funghi relaciona a baixa visitação ao fato de o Parque estar distante do Centro e de outros bairros.
Guilherme Cambraia
E também “pelo fato de o Parque estar situado num bairro de classe alta, as pessoas tem receio de visitá-lo. Deve haver maior conscientização por parte da população em relação a essa ideia. A população é dona dos ambientes públicos e deve saber aproveitá-los”. LEITURA A Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, integrante do Circuito Cultural da Praça da Liberdade, é outro importante espaço, gratuito, voltado ao público interessado no
A Casa Fiat de Cultura procura valorizar o patrimônio, a circulação dos bens culturais e a difusão das culturas brasileira e mundial. Sua última exposição, ReConhecimento – A Gravura Norueguesa Contemporânea, em setembro e outubro, reuniu mais de 100 obras de 21 artistas que representam a variedade do universo das artes gráficas norueguesas nos últimos 25 anos. O Espaço do Conhecimento UFMG é cativante para os interessados em evolução humana e astronomia. Sua exposição principal, Demasiado Humano, ocupa três andares do prédio e aponta os modos como a civilização vê e constroi o mundo através mundo da leitura. Com um acervo de mais de 260 mil títulos nacionais e internacionais (livros, jornais, revistas, coleção infantojuvenil, títulos em braille e audiolivros), o espaço se destina a todos os públicos. Segundo a diretora, Alessandra Gino, a Biblioteca oferece, em média, 50 atividades mensais. Entre as principais, estão a Hora do Conto e da Leitura, programa de contação de histórias que atende ao público deficiente visual, além de contações de histórias infantojuvenis, palestras, oficinas, seminários, bate-papos com escritores e exposições literárias e itinerantes. A Biblioteca, que tem cerca de 120 mil leitores cadastrados, realiza dois projetos de extensão, para levar um pouco da Bi-
dos tempos. Além de oferecer exposições temporárias, periodicamente, o espaço também conta com um planetário, com visão em 360º, onde são projetados filmes ligados à astronomia, e um terraço onde podem ser feitas observações celestes utilizando de telescópios. O Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) é dedicado a exposições, shows e peças teatrais; conta com uma galeria de 12 salas, duas delas com exposições permanentes. A mais recente exposição é Zeitgeist – A Arte da Nova Berlim. A mostra, que reúne pintura, fotografia, videoarte, performance, instalação e a cultura dos clubs berlinenses, vai até 11 de janeiro. blioteca e da leitura para outros espaços. Um deles é o Carro-biblioteca, em que um caminhão adaptado, com capacidade de 3500 livros, circula em seis bairros da região metropolitana de BH. O projeto Caixa-estante é voltado a lugares em que as pessoas normalmente não têm grande acesso à leitura. Caixas, com uma média de 200 livros, são levadas a presídios, creches, asilos, entre outros espaços carentes. Há uma frequência de cerca de 30 mil visitantes mensais. Para quem ainda não é cadastrado e deseja ter acesso aos livros da Biblioteca, é só levar um comprovante de residência e o documento de identidade, acompanhados de uma contribuição de R$3,00, referente ao valor da carteirinha.
Parque das Mangabeiras também tem alternativas para a prática de esportes
Daniela Fernandes
Arte: Mirna de Moura
Museus mostram futebol e pintura O Museu Brasileiro de Futebol, localizado no Estádio Mineirão, no bairro Pampulha, tem o objetivo de mostrar ao público o futebol como um fenômeno cultural e social no Brasil. O acervo procura contribuir para o debate em torno deste esporte como elemento marcante na formação da identidade cultural do povo brasileiro. O Museu conta com cinco salas com exposições sobre o futebol desde suas origens históricas, passando pelas histórias dos clubes mineiros, pelas memórias de personagens do futebol, chegando à representação do futebol em meio a outras artes. Já o Museu Inimá de Paula, localizado à rua da Bahia, no Centro, reúne um acervo permanente dedicado ao pintor. São expostas cerca de 80 obras do artista em constante rodízio, acompanhadas da remontagem de seu atelier, sala de autorretratos e galeria virtual, além de documentos, livros, objetos pessoais e instrumentos de trabalho.
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Patrimônio
Pampulha pode ganhar título O Conjunto Arquitetônico e Paisagístico é o único concorrente brasileiro ao título de Patrimônio Cultural da Humanidade, a ser conferido pela Unesco. A votação acontece em junho de 2016 AYANA BRAGA
A herança de Juscelino
2º PERÍODO
O Conjunto Moderno é formado por cinco edifícios articulados em torno do espelho d’água de um lago urbano artificial, a Lagoa da Pampulha, construídos quase simultaneamente entre 1940 e 1943. Desde 1996, a Pampulha está incluída na lista da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como potencial patrimônio cultural da humanidade. Em 2012, a Prefeitura retomou a candidatura e documentação sobre o complexo, enviando-a à Unesco. Foi aceita em dezembro do ano passado. O Conjunto Arquitetônico e Paisagístico, já tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), pelo Iepha (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais) e pela Fundação Municipal de Cultura, tem títulos em âmbitos federal, estadual e municipal. O local em que cada prédio foi construído foi definido com o objetivo de garantir a circulação pelos espaços e de atuar como âncoras para a atração de pessoas para o novo lugar. O propósito de Juscelino era aliar arquitetura e paisagismo com o lazer e turismo. A Lagoa funciona como elemento articulador dos espaços, integrando as obras de arte aos edifícios e estes à paisagem, reforçando as relações visuais que estabelecem entre si. A nomeação de Patrimônio Cultural da Humanidade é feita com base em três critérios, exigidos pelo órgão: ser uma obra-prima do gênio criativo humano, ter intercâmbio considerável de valores humanos e ser um exemplar excepcional de um conjunto arquitetônico ou tecnológico, ou uma paisagem que ilustre estágios significativos da história humana. É um título de fundamental importância para a memória, identidade, criatividade dos povos e riqueza das culturas. Como único sítio candidato do Brasil, a expectativa é de que em junho de 2016, após a votação dos mais de 190 Estados-membros, o conjunto ganhe o título, sendo o 18º título do Brasil e o 4º no estado. EXIGÊNCIAS Em setembro, a cidade recebeu a visita da arquiteta vene-
Na década de 50 a Casa do Baile era palco de festas
Guilherme Cambraia
Igreja São Francisco de Assis foi inaugurada em 1943
Guilherme Cambraia
zuelana Maria Eugênia Bacci, que veio pelo Icomos (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios), órgão consultor da Unesco. A arquiteta avaliou se o que estava no dossiê coincidia com a realidade, conhecendo detalhadamente cada espaço do conjunto que concorre ao título. O secretário administrativo municipal, José Geraldo Prado, diz que se espera, depois da visita da especialista, “um parecer favorável, mesmo que venha com algumas exigências”. A visitante demonstrou duas preocupações inquietantes quanto à questão ambiental e ao turismo sustentável. Ela observou que é preciso investir, de maneira consistente, para “que esses bens sejam abraçados pela cidade e que se estabeleçam estratégias de visitação e conhecimento para que tais bens se tornem autossustentáveis, criando uma movimentação em torno deles e ajudando a preservá-los”. Para receber esse possível título, algumas mudanças já estão sendo feitas pela Prefeitura a fim
Museu de Arte foi projetado para ser cassino
Guilherme Cambraia
de melhorar e preservar o complexo. Uma nova iluminação foi instalada, dando mais segurança a quem passeia pela orla; a ciclovia foi reformada e ampliada, para o conforto dos ciclistas; os jardins dos edifícios foram recuperados, segundo as ideias originais do seu criador, Burle Marx; placas de identificação em três línguas foram instaladas ao redor da lagoa; reformas e restauração em três - Casa do Baile, Casa Kubitschek e Igreja São Francisco de Assis - dos cinco espaços estão em andamento, desde 2013, além da despoluição da lagoa. A fase de desassoreamento da Lagoa da Pampulha foi concluída em 2014, com a retirada de 800 mil m³ de detritos orgânicos e inorgânicos, sedimentados ao longo dos anos e carregados por oito cursos d’água, afluentes da bacia. A fase de tratamento começará após a escolha da melhor técnica de limpeza das águas, com início dos trabalhos previsto para este ano ainda. O prazo da execução das obras é de dois anos e serão feitas por alguns consórcios escolhidos pela Comissão Permanente de Licitações da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura. Essas são as principais exigências da Unesco quanto à manutenção e proteção do complexo. Tudo será avaliado antes da concessão do provável título. “É preciso agir localmente e pensar globalmente, pois a Pampulha, hoje, é um patrimônio cultural, independente do reconhecimento da Unesco, do título formal. Essa obra de Niemeyer já transcendeu há muito tempo os limites da cidade”, destaca o secretário José Geraldo Prado.
Juscelino Kubitschek de Oliveira foi prefeito de Belo Horizonte de 1940 a 1945 e ficou conhecido como “prefeito furacão” pela quantidade e rapidez das obras que realizou. Ele pretendia transformar a cidade em uma metrópole moderna para realizar um intercâmbio com os principais centros urbanos do país. A barragem, atual Lagoa da Pampulha, é resultado do represamento de diversos córregos e foi iniciada na gestão de Otacílio Negrão de Lima, para resolver problemas de abastecimento de água na cidade. JK teve um olhar diferente para o projeto e viu um potencial turístico e de lazer a ser criado ali. Convidou o então jovem arquiteto Oscar Niemeyer, que desenhou todo o conjunto, dando início à obra que marcou sua passagem pela capital de Minas. A Pampulha representou para o arquiteto Oscar Niemeyer, uma oportunidade de “desafiar a monotonia da arquitetura contemporâ-
nea”, baseando-se na modernidade, ousadia e na ruptura estética. A arquiteta Lívia Leonardo observa: “Niemeyer inicia com a Pampulha, seu legado arquitetônico, aliando técnica, sensibilidade, arquitetura e arte”. Junto com ele, trabalharam vários paisagistas e artistas plásticos, promovendo-se uma interação entre arquitetura, artes plásticas e paisagismo que foi e é prestigiada e reconhecida no mundo inteiro. Marcelo Cedro, professor de história na PUC Minas e estudioso sobre a Pampulha, lembra que “as formas arquitetônicas de Oscar Niemeyer, o paisagismo de Burle Marx e os murais de Portinari, que compõem o conjunto, eram citados em matérias de revistas e catálogos especializados em arte nos EUA e na Europa, dando, portanto, visibilidade à cidade de Belo Horizonte no quesito modernidade”.
Belo-horizontinos têm carinho pela região Como um lugar de lazer e descontração na periferia da nova capital de Minas Gerais, houve um deslocamento da centralidade referencial da modernidade para essa região. A região central passou a conviver com essa nova área que refletia um cenário moderno e elegante. Grande parte da elite na década de 1940 deslocavase para a região da Pampulha para frequentar as festas, o cassino, assistir a espetáculos e praticar esportes. Hoje, não mais com o viés somente de lazer, a Pampulha conta com mais de 50 bairros, sendo uma das maiores regiões de BH. Não se pode dizer que é uma área industrializada, até porque é necessário preservar o conjunto arquitetônico, mas contém uma infraestrutura capaz de atender aos mais de 140 mil habitantes, com escolas, hospitais, supermercados, transporte, etc. Dulcina Figueiredo, moradora da região há 34 anos, admira muito o conjunto de obras que tem perto de casa. “Nós, moradores da região, sejam os antigos ou os novos, temos uma ligação bem próxima, de pertencimento, carinho e cuidado com essa maravilha que nos cerca”, afirma. Mas, por não ser rota de caminho de muitas pessoas que se deslocam diariamente, essa ligação próxima não se dá com todos os moradores. O secretário José Geraldo Prado comenta que ainda são poucos os belo-horizontinos
que conhecem e/ou visitam com frequência não só a orla da lagoa e o complexo arquitetônico, mas também a região, que tem ainda o Mineirão, Mineirinho, Zoológico, Parque Ecológico e Aeroporto da Pampulha. “Além de se divertir na região e aproveitar a paisagem, o complexo é de grande riqueza sobre a história da nossa cidade. Como moradores da capital, é nosso dever conhecer a trajetória de Belo Horizonte e o conjunto que é conhecido mundialmente”, desabafa Dulcina. Perguntada sobre o título a que o conjunto está concorrendo, ela diz: “Excelente! Seria muito bom para a cidade como um todo, mas principalmente para nós, moradores próximos, que veremos os primeiros resultados e melhorias, o movimento da Prefeitura e dos órgãos competentes pela manutenção dessas obras de referência mundial. Além de ver mais pessoas circulando e se encantando com o legado”. A Prefeitura tem distribuído banners e flyers em toda a cidade, para incentivar os moradores a visitar o Conjunto. Ela editou um catálogo que contém um resumo da história e o que inclui o interior de cada prédio, com várias fotos que ilustram a arquitetura e a beleza dos jardins. O catálogo também apresenta uma síntese do significado de patrimônio cultural da humanidade e o que isso implicará na nossa cidade, além de um mapa com a localização de todos os espaços.
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Cultura e lazer
Filme discute o papel do artista Projeto Nonada lança curta-metragem produzido por alunos da PUC São Gabriel. Apresentada na Scap, a obra propõe a reflexão sobre o controle do autor sobre suas produções ISABELA MAIA 4º PERÍODO
O desafio do artista diante de sua arte é o tema do filme produzido por quatro alunos de comunicação da PUC São Gabriel. A dúvida de publicar ou guardar um poema, como fazer a divulgação de uma publicação recém lançada, o receio de mostrar para o mundo aquilo que saiu de dentro de si: estas são algumas das reflexões provocadas pelo curta “O verso que queria ser livre”. Apresentado à comunidade durante a Scap (Semana de Ciência, Arte e Cultura da PUC) em setembro, o curta de 23min foi produzido com o apoio técnico dos laboratórios de áudio, foto e vídeo do campus São Gabriel. No filme, o poeta interpretado por Ítalo Mendes, escreve um poema e se depara com palavras que conversam com ele e pedem para sair do papel. A narrativa se desenvolve através da angústia do poeta que tenta encontrar uma maneira de satisfazer a vontade das palavras, libertando-as. “A gente não utilizou nenhum efeito especial para tentar falar isso. Foram tentativas de dentro da cabeça de alguém que quer, literalmente, libertar as palavras do papel”, explica Breno Bedê, do 4º período de Produção Multimídia e roteirista do filme. Para Lucas Maia, do 8º período de Publicidade e Propaganda, que também participou da produção filme, o curta é uma espécie de metáfora da liberdade. “Ao longo
do desafio de libertar as palavras, vão rolando poemas que são as únicas falas que aparecem no filme. São esses poemas que são desenvolvidos e contam o drama pelo qual o poeta passa”. O filme propõe uma reflexão sobre o papel do artista na distribuição e divulgação de sua própria arte. “Esse é um dos grandes problemas não só do cinema brasileiro, mas de muitos outros ramos artísticos. Muitos poetas escrevem para si e nunca publicam nada, deixando a arte muito maltratada”, reflete Bedê. Dentre as referências utilizadas para a construção do curta, estão o húngaro Béla Tarr e o estadunidense Spike Jonze. Lucas Maia ressalta que, com base nesses cineastas, fizeram um filme que utiliza a técnica do plano em sequência. “É um filme bonito, com uma história bonita”, explica. PRODUÇÃO A ideia do filme surgiu quando Breno Bedê apresentou à diretora de extensão da PUC São Gabriel, professora Elisa Rezende, um argumento que havia escrito um ano antes. Sem saber da proposta de Bedê, Lucas Maia e sua colega de turma, Tamiris Freitas, procuraram a professora Elisa e demonstraram interesse em participar do Nonada. O projeto de extensão audiovisual realizado pela Faculdade de Comunicação e Artes produz, na unidade São Gabriel, um curtametragem a cada ano. Com roteiro de Bedê e o auxílio de direção de Tamiris e Maia, o
Breno e Lucas são produtores do documentário
curta começou a se tornar realidade. Faltava ao grupo apenas Milsane de Paula, também do 8º período de Publicidade e Propaganda, que assina a direção de arte do filme. DESAFIOS Bedê conta que um desafio interno do grupo foi encontrar uma história em comum. “A gente foi lapidando a narrativa porque cada um tinha vontade de uma coisa”, lembra. “Eram três histórias. O Breno com a história dele, que ele escreveu. Depois viemos, eu e a Tamiris, cada um com uma ideia. Juntar nossas propostas e tentar arrumar um jeito que agradasse aos três foi um grande desafio”, segundo Maia. O local da gravação também se tornou
Guilherme Cambraia
um empecilho para o grupo. Eles lembram que procuravam a casa perfeita e, por terem ficado um mês esperando uma resposta, atrasaram muito. Maia conta que “a gravação do filme ocorreu em Sabará, em uma casa que está para ser vendida. A Milsane conseguiu o local com uma imobiliária”. O projeto Nonada traz para os alunos uma proposta de realização independente, sem recursos financeiros. Por isso, todos os custos do curta foram divididos entre os próprios alunos. “Foi uma produção a oito mãos”, explica Maia. O projeto envolveu os laboratórios de áudio, vídeo e foto do São Gabriel. A fotografia e a edição, que também contou com a experiência de Bedê, foram feitas pelos laboratórios da faculdade.
Passeios noturnos convidam a viver novas emoções ISABELA GOMES 3º PERÍODO
Belo Horizonte é uma cidade cheia de atrações turísticas e educativas que são pouco conhecidas pela população, como as visitas noturnas que acontecem no Jardim Zoológico e no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG no bairro do Horto. Durante os passeios, o visitante desvenda um pouco da natureza em seu estado natural num momento inusitado: o período noturno. Além de maior contato com os animais de hábitos noturnos - corujas, curiangos, morcegos - é possível aproveitar a paisagem da mata à noite, orientando-se à luz de lanterna e, no caso da visita ao Zoológico, apenas sob a luz da lua. A Expedição Coruja é um projeto que já existe há dez anos no Jardim Zoológico e nasceu do desejo de proporcionar uma visão diferente do Jardim. No passeio, o visitante observa o comportamento dos animais e seus hábitos após o pôr-do-sol. Também é possível obter informações específicas, sobre temas especias, desde que se faça um pedido à respeito à administração do local. Os monitores procuram sempre dar ênfase aos animais noturnos regionais que as vezes não são motivo de muito interesse durante o dia, como é o caso do lobo-guará, da anta
- maior mamífero do Brasil - e do tamanduá-bandeira, espécie ameaçada de extinção. Uma parte empolgante do passeio é a alimentação do leão, que ocorre no período da noite. As visitas acontecem geralmente de março a outubro, podendo haver algumas exceções no período de férias escolares. Elas são realizadas duas vezes por mês, nas noites de lua cheia, para facilitar a caminhada, sendo uma delas reservada para grupos escolares ou de
universitários. Ao chegar, os visitantes vão para o auditório para conhecer um pouco mais sobre o projeto e os animais que encontrarão; fazem um lanche, já incluído no pacote, e partem para caminhada. Os visitantes também conhecem os bastidores do trabalho dos tratadores, quem são eles, como atuam e quais suas estratégias e cuidados para lidar com os animais. A bióloga e educadora Gislaine
Alguns morcegos são manuseados pelo público
Todos celebram o Dia dos Mortos ANABELLA PERDIGÃO NATÁLIA ALVES 1° PERÍODO
O Dia de Finados, antes Dia das Almas, foi celebrado no dia 2 de novembro. Ele tem sua origem no desejo de estarmos em comunhão com os que já se foram. É uma celebração cristã instituída na Idade Média pelo monge beneditino Odilon de Cluny, no ano 998. O costume de rezar pelos mortos já existia mas foi, a partir de então, que se popularizou e ganhou dife-
rentes tradições ao redor do mundo. O professor de Teologia da PUC Salustiano Gomez conta que no Brasil a tradição está enfraquecendo, mas os brasileiros aproveitam esse dia para recordar seus entes queridos. “Uma grande parte da população aproveita para unir-se, recordar e religar-se àquelas pessoas que se foram e que seguem sendo importantes em suas vidas.” Dessa maneira, o intuito do monge Odilon ainda prevalece, pois ele acreditava na proposta de lembrar dos
irmãos após sua morte. Gomez acredita na importância das religiões no tratamento da morte, já que cada uma delas busca sua própria explicação para o que vem depois. Um dos objetivos é “unir a realidade ao misterioso, para que a vida seja digna e tenha plenitude”. É comum a ida de parentes e amigos aos cemitérios nesta data para homenagear seus mortos, depositando flores nas lápides. É o caso de Michelle Barbosa, que sempre se recolhe neste dia e presta respeito
Arquivo do zoológico
Xavier, coordenadora da expedição, afirma que os visitantes vivenciam uma oportunidade única e divertida pois podem observar de perto a rotina dos animais e de seus tratadores, desfrutando do recurso de poder conversar e tirar suas dúvidas com um biólogo, um veterinário e um tratador do Zoológico. Ela conta que ocasionalmente os visitantes vão a casa de répteis aprender um pouco mais sobre seus hábitos, podendo até mesmo tocá-los. A visita aos répteis não é divulgada com antecedência para ser uma surpresa para os visitantes. As inscrições para o passeio ao luar podem ser feitas pelo site da Fundação ou diretamente pelo e-mail visitanoturnazoo@pbh.gov.br. Crianças entre sete e 12 anos pagam R$30 e a partir dos 13 anos, o preço é R$40. Na Fundação Zoobotânica existem visitas noturnas, também, ao aquário temático da Bacia do Rio São Francisco. Elas são realizadas todas as segundas sextas-feiras do mês a partir das 19h e não é necessária a formação de grupos. A visita não é guiada, mas os funcionários estão sempre presentes para tirar qualquer dúvidas. Já o projeto Lua Cheia é um passeio noturno que acontece no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, localizado no Horto. As visitas ocorrem às sextas e sábados de lua cheia, nos meses de abril a se-
aos seus pais. “Lembro-me dos meus pais e do legado que me deixaram. Portanto, acredito que seja um dia para reflexão e oração pela vida de todos”, afirma ela.
OUTROS LUGARES Esse sentimento não é compartilhado da mesma forma no México. No país, é comum um clima festivo em que os mexicanos vestem fantasias coloridas de caveiras para homenagear os mortos. A crença é de que as almas retornam para a Terra para visitar os entes queridos e a tradição é recebê-los com alegria. A comemoração ocorre em dois dias, sendo o dia 1º de novembro
tembro. As inscrições abrem quinze dias antes do evento e são realizadas através do site do Museu. Para crianças acima de 12 anos, o preço é R$15. Crianças abaixo dos 12 anos, idosos e grupos estudantis do ensino básico e superior pagam R$10 . O evento consiste em caminhada por trilhas dentro da mata do museu onde acontecem paradas específicas para explicações sobre os astros e animais encontrados no caminho. Algumas espécies de morcego, por exemplo, ficam preservadas em um vidro com formol e o visitante pode pegá-los para observar mais de perto. Após a caminhada, há uma parada cultural onde acontecem contação de histórias ou espetáculos teatrais; em seguida, ocorre a parada científica, uma palestra onde são apresentados os répteis. Neste momento, os visitantes podem fotografar e tocar os animais. Segundo Guilherme Prata, co-coordenador do projeto e extensionista do Museu, o público das visitas é bem diversificado e a maioria das pessoas se surpreendem. Quando veem o nome do evento (Lua Cheia no Museu), logo imaginam um passeio que envolve a observação dos astros, mas, quando participam, percebem que vai além disso.
dedicado às crianças e o dia 2 de novembro aos adultos. Segundo David Torres, estudante mexicano da PUC, assim como no Brasil, no México as famílias se dedicam a limpar e enfeitar os túmulos, e uma das flores que se destaca é o crisântemo. Os mexicanos acreditam que essa flor, lá chamada de cempasúchitl, atrai e guia a alma dos mortos. Ele também esclarece que, ao contrário do que se pensa sobre a cultura da morte no México, o dia em que uma pessoa morre é de luto e tristeza. A festa e a celebração acontecem apenas no Dia dos Mortos. Também na Espanha a data é lembrada de maneira
diferente. A comemoração acontece no dia 1º de novembro – Dia de Todos os Santos –, as pessoas também se vestem com roupas coloridas e um doce especial, chamado Hueso de Santos (Osso dos Santos), é servido como sobremesa. Outro país que possui comidas típicas na data é a Itália. Nas últimas semanas de agosto, a população começa a preparar biscoitinhos chamados “ossos” e um doce conhecido como “pão dos mortos”. Já a tradição japonesa é a de prestar homenagem aos ancestrais. A celebração dura três dias, começando no dia 15 de agosto, e envolve danças e comidas especiais.
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Esporte
JAMILLY VIDIGAL WINICYUS GONÇALVES 5° E 6° PERÍODOS
Quando há partida de vôlei em Belo Horizonte ou na região metropolitana, já se sabe: os torcedores comparecem em massa. O mineiro tem uma relação histórica de carinho com o esporte e isso tem se intensificado com as conquistas da Seleção Brasileira e das equipes mineiras em torneios nacionais e internacionais. Os maiores públicos da história do vôlei foram registados em solo mineiro. Em 1995, na decisão da Liga Mundial, entre Brasil e Itália, o Mineirinho recebeu 27 mil pessoas e estabeleceu o maior público da história do vôlei mundial em ginásio coberto. Minas também detém a marca de maior público em uma partida entre clubes: 24.082 espectadores assistiram à vitória do Minas Tênis Clube sobre o Banespa, de São Paulo, na decisão da Superliga 2001/2002. O torcedor José Mauro Soares acompanha o time do Sada Cruzeiro há seis anos em todos os jogos da equipe em Contagem. Soares conta que a paixão surgiu por acaso. “Depois que o time se tornou Cruzeiro, o interesse aumentou por causa do futebol. Mas me apaixonei pelo vôlei. Hoje posso dizer que torço mais pelo Cruzeiro do vôlei do que do futebol”. A campanha vitoriosa do time nas quadras tam-
bém tem ajudado a consolidar torcedores. A iniciativa de montar um time de vôlei surgiu por parte da Sada. A transportadora do empresário Vittorio Medioli criou um time, em 2008, com o nome de Sada/Betim. “A Sada sempre teve interesse em investir no esporte. Quando criamos o time de vôlei, vimos a oportunidade perfeita porque o torcedor mineiro ama vôlei, completamente diferente de outros estados”, aponta Andreia Santos, coordenadora do Sada Cruzeiro. Em 2009, o time associouse ao Cruzeiro, formando o Sada Cruzeiro. Desde então, a equipe se tornou multicampeã. Em novembro, em Betim, derrotou a fortíssima equipe russa do Zenit Kazan e conquistou o segundo título mundial de sua história, reafirmando o posto de única equipe, fora do continente europeu, a conseguir tal
Paixão dos mineiros pelo vôlei aumenta O gosto pelo esporte entre os mineiros contribui para recordes de público em competições nacionais e mundiais feito. Outras conquistas são o tricampeonato da Superliga e o campeonato Sul-Americano de Clubes, além do hexacampeonato Mineiro e a Copa Brasil. Minas Gerais tem mais três clubes na elite do vôlei brasileiro: Minas Tênis Clube, Montes Claros Vôlei e UFJF, sendo o estado mais representado na competição.
Time feminino da Escolinha do Minas em treino
SUCESSO
Para o presidente da Federação Mineira de Vôlei (FMV), Tomás Mendes, o segredo do sucesso atual do Cruzeiro e também do histórico de clubes mineiros está associado a vários fatores: “O Sada Cruzeiro tem sido bem sucedido porque joga praticamente com a mesma equipe e o mesmo treinador há seis anos. Isso facilita o entrosamento. Mas o que todos os clubes mineiros têm em comum é um forte investimento nas categorias de base em detrimento de contratações caras”. A categoria de base tem dado um grande retorno a um dos principais times de vôlei do país: o Minas Tênis Clube. A equipe é a maior vencedora nacional, com sete títulos (quatro da antiga Liga Nacional e três da atual Superliga). Das quadras minastenistas surgiram nomes como Giba, Dante, André Nascimento, Henrique Guilherme Cambraia e Samuel, que brilha-
ram inclusive na Seleção Brasileira. Para Ricardo Pazzini, torcedor do Minas, o clube representa um romantismo que não existe mais no vôlei. “Foi um privilégio ver nomes como Giba, Dante e André Nascimento surgindo destas quadras. Hoje, vemos os clubes, principalmente os paulistas, com grandes patrocinadores, mas priorizando as contratações de atletas consagrados sem investir na formação de novos jogadores”. Mas para Pazzini, o grande jogador da história do Minas jogou em outra época. “O Pelé, sem dúvida, foi um dos grandes jogadores da história do vôlei brasileiro. A geração da década de 80 do Minas foi uma das responsáveis por consolidar o vôlei no cenário esportivo brasileiro”. O ex-jogador, José Francisco Filho (Pelé), tem uma história de vida dura. Com a perda de seu pai, aos seis anos e sem escolha, foi internado na Febem, junto a mais dez irmãos. Após sua saída de lá, trabalhou como trocador de ônibus e, aos 16 anos, pôde ingressar no esporte, defendendo a equipe
de vôlei do Clube Guaíra, no bairro Betânia. Seu talento foi reconhecido nos primeiros meses de trajetória profissional, quando foi convidado a jogar pelo Olímpico Club, onde permaneceu por um ano, antes de defender o Minas Tênis, que o projetou no cenário nacional. Ele jogou em vários clubes dentro e fora do país, além de ter defendido a Seleção por nove anos, em 165 jogos. Dentre os títulos conquistados, foi tricampeão brasileiro (84, 85 e 86) e bicampeão Sul-Americano (84 e 85) pela equipe FiatMinas. Segundo Pelé, o investimento nas categorias de base é fundamental para construir um time vencedor. “O investimento no garoto que está nessas categorias promove inclusão social e cidadania, além de reforçar a identidade dele com o clube”. Após encerrar sua carreira como atleta, Pelé tornou-se assistente técnico da equipe adulta de vôlei, a Vivo/Minas. Paralelamente, fundou uma escolinha de vôlei que atende crianças carentes e é vereador em BH.
Esporte que une polo e bicicleta chega a BH
MIRNA DE MOURA LUANA SANTOS SILVA 5° E 2º PERÍODO
Um esporte que mistura a sofisticação do polo com a força do hóquei e a agilidade das bicicletas está conquistando as metrópoles brasileiras. O pouco conhecido hardcourt bike polo, ou simplesmente bike polo, que chegou ao Brasil em 2009, veio para ficar. O esporte é para quem gosta de dinamismo e não tem medo de contato. Em 2013 o esporte começou a ser praticado em Belo Horizonte; a cidade conta hoje com seis times e cerca de 20 jogadores. O poleiro Pedro de Castro, também conhecido como Toast, conta como o time de que faz parte, o Dizzy Bike Polo, foi criado: “Há alguns anos começamos um grupo de pedal, pedalamos toda segunda feira. Desse grupo surgiu um serviço de entregas de bicicleta: já que a gente pedala de graça porque não ganhar uma grana com isso? E por sua vez, desse grupo surgiu o nosso time”. A capital sediou a segunda edição do Campeonato Bra-
sileiro de Bike Polo, durante a Virada Cultural de BH em 2014. O atual campeão brasileiro, Underdogs, ficou em primeiro lugar e o time da casa, o Dizzy Bike Polo em terceiro. Recentemente os mineiros conquistaram o primeiro lugar, em um campeonato regional, que aconteceu em São José dos Campos, disputado também pelo Underdogs, que acabou em terceiro. “A concorrência faz o esporte crescer, aumenta o número de times, aumenta a pressão e a competitividade”, comenta Castro.
REGRAS
Divididos três a três, montados em suas bicicletas e equipados com proteções e tacos, também chamados de mallet, os jogadores começam a partida. Os times podem ser masculinos, femininos ou mistos. São aceitos todos os tipos de bicicleta comum, porém as fixas, sem marchas, são as mais utilizadas pelos profissionais. O objetivo é simples: golear o adversário, usando o taco para jogar a bolinha em direção ao gol. Existem muitas regras: é
Bruna mostra que meninas também jogam
Raul Brandão
proibido colocar o pé no chão ou na bola. O contato entre os poleiros só pode acontecer de igual para igual, ou seja, corpo com corpo, bicicleta com bicicleta e taco com taco. Caso o contrário aconteça, por exemplo corpo com taco, é considerado falta, assim como trombadas frontais e perpendiculares. A partida encerra-se quando um dos times faz cinco gols ou quando der dez minutos, ou seja, o que acontecer primeiro. Empates são aceitos.
CONTRATEMPOS
O esporte apresenta algumas dificuldades em Belo Horizonte. Uma delas é a falta de quadras adequadas. O grupo de poleiros geralmente treina na praça Juscelino Kubitscheck, no bairro Mangabeiras, ou em uma quadra na Avenida Tereza Cristina, no Bairro Salgado Filho. “Os espaços não têm iluminação para treinar à noite, único horário disponível já que todos trabalham; são esburacados, não têm contenção para a bolinha não correr para longe e sumir de vista e ainda temos que dividir com o pessoal do futebol”, reclama Pedro. Os equipamentos são outro problema: como o polo não é um esporte difundido no Brasil, é difícil achar o taco ou mallet; os poleiros usam e abusam da criatividade para confeccioná-los. Adaptam sozinhos as bicicletas e à medida que caminham para o lado mais profissional da prática, importam os equipamentos, o que sai caro. Esse é outra questão comentada por Pedro: a falta de verba. “Os equipamentos, as bicicletas, dinheiro para pagar nossas viagens para as competições, tudo sai do nosso bolso. Começamos a escrever um projeto para a Prefeitura de BH para conseguir subsídio públi-
co, mas ainda somos pequenos e desconhecidos. Precisamos ganhar corpo para conseguir patrocinadores e incentivos.”
POLEIRAS Por ser um esporte misto, mas majoritariamente masculino, e com muito contato e trombadas, com frequentes lesões, é natural pensar que as mulheres levem desvantagem no corpo a corpo. “Existe um campeonato exclusivo para meninas, chama Interpolas, mas não faz diferença ser mulher ou ser homem para praticar o esporte. Me sinto como os meninos, às vezes penso: ‘Nossa, só eu de menina! E os meninos tratam a gente sem diferença, igual’, esclarece Bruna Castro, poleira há dois anos, em BH. Castro justifica a existência dos times mistos: “Como são poucos os aventureiros do bike polo, misturamos homens e mulheres para formar times. E a gente não pega leve com as moças, até porque elas jogam de igual para igual e seria machismo também. Uma vez chamamos uma poleira de São Paulo para substituir um jogador nosso que estava machucado; terminamos no terceiro lugar da competição”. Segundo ele, o pessoal “só pega leve com iniciantes, independente do gênero, por ser um esporte de muito contato e que exige habilidade com a bicicleta; senão a gente assusta a pessoa e ela não vai querer voltar a jogar”. Bruna dá dicas para quem quer começar no esporte, persistência, ser destemido e treinar muito, mesmo que no início as coisas sejam difíceis. O grupo empresta equipamentos e até mesmo bicicletas para quem quer começar.
A história do bike polo A origem do bike polo é controversa: há quem diga que foi criado na Índia; outros na Irlanda, a segunda versão porém é mais aceita. Criado na Irlanda, no município de County Wicklow, em 1891, pelo ciclista Richard J. Mecredy, o esporte espalhou-se rapidamente pelo Reino Unido, já que o polo tradicional é restrito às elites, devido ao alto custo dos cavalos. No início do século XX, já tinha se espalhado pela Europa e possuía uma associação, a Bicycle Polo Association of Great Britain. O esporte debutou oficialmente nas Olimpíadas de Londres, de 1908, com uma partida demonstrativa entre Irlanda e Alemanha. Mesmo sendo cotado para as edições seguintes, o bike polo nunca reapareceu nas competições. Um dos motivos foi a Primeira Guerra Mundial que diminuiu expressivamente o número de participantes; a guerra chegou até a cancelar a edição das Olimpíadas de 1916. Cem anos depois de sua criação, na cidade de Seattle, nos Estados Unidos, o esporte recobrou forças através de um grupo de bike messengers, serviço de entrega feito de bicicleta. Praticavam bike polo entre um serviço e outro, onde fosse possível: em becos, lotes vagos e até coberturas de prédio, adaptando-se às circunstâncias. De um esporte tradicionalmente praticado em gramados foi para o concreto da cidade. Em 2009, o agora chamado hardcourt bike polo competia em nível mundial e a cidade de Toronto, no Canadá, foi a primeira a sediar o evento. Arte: Mirna de Moura
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Entrevista
RICARDO RABELO
Crise econômica afeta produção e rotina do brasileiro Os cidadãos brasileiros estão sendo mais afetados pela atual crise econômica na questão do emprego e pelo aumento da inflação. A avaliação é feita pelo professor Ricardo Fonseca Rabelo, do Departamento de Ciências Econômicas da PUC Minas e doutor em Comunicação. Ele acredita que há um exagero da mídia em apontar o momento ruim da economia, deixando de lado alguns aspectos positivos. DÉBORA ASSIS 4º PERÍODO Quais setores da economia brasileira são afetados pela crise? Existem setores que não foram atingidos? Dos setores do PIB (Produto Interno Bruto) como agricultura, serviços e indústria, o mais afetado foi a indústria. Realmente, isso vem já de alguns anos e tem reduzido, inclusive, a participação da indústria no PIB. O setor de serviços, que é basicamente o comércio, o financeiro, informática e telecomunicação, no início do governo Dilma, em 2011, manteve-se em crescimento; até 2014, ainda teve algum desempenho positivo, variando de acordo com o trimestre. A agricultura é o setor que se pode dizer, menos sofreu com a crise porque o preço das commodities não caiu em geral. Estaríamos em uma situação muito pior se a agricultura tivesse uma grande queda. Aliás, em 2014, o PIB só não teve uma queda maior por causa da agricultura: um trimestre ela cresceu 19%; mas isso depende do período por causa das safras. A partir de qual momento a crise econômica atual foi identificada? Houve um processo de desaceleração. Do ponto de vista do governo, da opinião pública e da mídia, 2012 já assustou; em 2013 teve um crescimento muito menor que 2010 e 2012 que foi de 0,9%. Mas, a culpa era da crise externa dos EUA e da União Europeia. Em 2013 deu uma recuperada: cresceu 2,3%. Em 2014 não foi só a questão da crise econômica, tivemos a Copa do Mundo também e as consequências das manifestações públicas de 2013, o que foi uma questão mais política. O mercado de trabalho, ano passado, por exemplo, registrou uma taxa de desemprego de 4,5%, que é um índice espetacular em se tratando do Brasil. Agora, caiu muito em relação a 2014 quando ainda houve um crescimento. A grande percepção da crise pela sociedade e por todos os setores está sendo este ano porque a queda está sendo maior. Quais são as principais causas da crise econômica? Há um grande debate desta questão entre acadêmicos e políticos. Em primeiro lugar, o nosso problema tem sido, já tem algum tempo, o desempenho da indústria porque todo o desenvolvimento da economia brasileira tem sido sustentado pelo crescimento da produção industrial. Quando a indústria cresce, outros setores crescem porque a indústria demanda componentes e serviços dos outros setores. A origem do problema está na perda da competitividade de nossos produtos em razão da supervalorização da moeda, mantida por muito tempo no governo Lula, e também a perda do dinamismo da economia. Neste período, a economia cresce graças ao consumo das famílias e ao investimento,
na taxa média de 20% do PIB. A partir desse último período ela vem caindo sistematicamente. O investimento aponta para o futuro; então, se ele cai, o desenvolvimento o acompanha. Alguns autores atribuem o problema à da interna, embora seja, em valores política que vem desde o governo do absolutos, muito grande, cerca de 2 Fernando Henrique Cardoso, passantrilhões e 700 bilhões de reais, ainda do pelo governo Lula de manutenção não chegou a 50% do PIB, logo está da alta taxa de juros. Com a taxa de mais ou menos controlada. Nós temos juros muito alta não há incentivo ao a necessidade de financiamento exterconsumo, ao investimento e é realno por volta de 80 bilhões de dólares, mente complicado para todos os atoque vem entrando no país via capital res econômicos. Já no governo Lula, especulativo. Este é o problema porna crise de 2008 se fez toda uma série que o ideal é que tal financiamento de políticas anticíclicas, ou seja, Miocorra via investimento direto, em nha Casa Minha Vida, a desoneração fábricas, lojas, bancos; esse é o bom do IPI (Imposto sobre Produtos Indusfinanciamento externo. O problema trializados) sobre automóveis e linhas da perda do grau de investimento é brancas e isso deu muito resultado na exatamente não manter essa entrada época: levou ao aumento do consumo. de capital “positivo”. Não quer dizer Mas, de lá para cá, essas medidas não que o Brasil está quebrando ou qualtêm tido o mesmo efeito e, agora, o quer coisa assim. Os movimentos que governo não tem condições fiscais o governo têm feito são exatamente de reeditá-las, face a queda da renda para tentar manter a credibilidade ine das vendas. Como grande parte dos ternacional porque quando há perda impostos é indireta e cobrada sobre de credibilidade, há o famoso efeito venda e produção, se estes segmen“manada” (todos fazem as mesmas tos são afetados, a renda do governo ações), de fuga de capital externo. também cai. Outros autores já veem o problema da econoComo o senhor mia brasileira como avalia o tratareflexo da crise extermento que a na, porque o Brasil não grande mídia se integrou à economia O que se vê é uma tem dado a crise mundial e não fez as polarização muito econômica? reformas que tinha que grande entre vários Há uma ênfase muito fazer no ponto de visgrande da mídia, prinagentes sociais, ta do Estado. Outros cipalmente da mídia autores afirmam que a políticos e jornalística mais esperecuperação da econoeconômicos, cializada, na situação mia é possível graças assim é difícil chegar ruim que a economia ao tamanho do nosso a algum lugar vive. Evidentemente mercado interno. Isso que isso tem efeitos gera a esperança de ter muito fortes no comum desenvolvimenportamento dos agentes econômicos. to maior, continuar a distribuição de Eu acho que seria possível mostrar a renda, gerar com isso o aumento de realidade: não tingir as coisas de cor consumo, ter possiblidade de melhode rosa, mas também apontar os fatorar a questão da infraestrutura e de res positivos. Apesar de ser um serimpulsionar o desenvolvimento tecviço para o cidadão, de alertar para o nológico. cuidado de não fazer dívida, o exagero da imprensa é prejudicial. A grosDe que maneira os cidadãos so modo, a TV aberta e os jornais de brasileiros são mais afetados? grande circulação acabam tendo efeiPela questão do emprego porque o to muito negativo nessa questão de crescimento maior do desemprego é criar uma expectativa muito ruim nos na área industrial, que é onde se tem consumidores, gerando até um certo os postos mais bem remunerados. cansaço. Em agosto, a inflação caiu e Além disso, a inflação também afeta parece que o pessoal ficou triste. Tem porque corrói o salário e desestimula essa coisa de reforçar muito o aspeco consumo. Isso afeta, principalmento negativo. A mídia fala muito em te, as categorias de mais baixa renda. responsabilidade do governo e resGrande taxa de inflação nos setores de ponsabilidade fiscal; devia também alimentos e serviços, afeta a populahaver responsabilidade da mídia em ção de modo geral. relação a mostrar a realidade da situação, mostrar também que nós temos O que é o selo de condição de, pelo menos, atenuar os bom pagador e como problemas e, quando houver coisas o Brasil perdeu esse selo? positivas, mostra-las. Existem as agências de classificação de risco que têm suas metodologias próprias de cálculo desse risco. O O Brasil vem perdendo o presBrasil perdeu o selo conferido pela tígio no cenário internacional? Standard & Poor’s, uma dessas agên- É possível recuperá-lo? A questão de imagem do país está cias. É um pouco difícil de entender muito vinculada à mídia. Foi criada porque, do ponto de vista da dívida uma grande expectativa em relação externa, nós temos reservas internaao Brasil no plano mundial e ela não cionais suficientes para garanti-la, se consumou. Os órgãos de imprensa bem maiores que a dívida. A dívi-
Guilherme Cambraia
mundiais não contribuem muito também. O governo poderia fazer algum esforço para se promover no exterior; uma feira industrial, por exemplo. Não tenho notado uma política vigorosa de propaganda, de passar informação sobre as potencialidades do Brasil para contrabalançar essa imagem negativa divulgada pela mídia. A política de comunicação atual do governo não tem sido boa nem internamente. Às vezes eu estou pesquisando algo para dar aula e descubro alguns planos e medidas do governo que ele não divulgou direito; externamente, também a divulgação positiva não tem sido muito eficiente. Quais as medidas que o Brasil deve adotar para sair ou amenizar a atual crise? O grande problema hoje é que o governo não está tendo protagonismo. Assim o Congresso Nacional está aprovando uma série de medidas estranhas feitas muito mais para ganhar apoio de certas categorias da população do que realmente dentro de um projeto de solução para os problemas reais. É preciso ter uma estratégia de curto, médio e longo prazo para sair da crise. O que se vê é uma polarização muito grande entre vários agentes sociais, políticos e econômicos, assim é difícil chegar a algum lugar. É preciso ter um mínimo de consenso nessa situação. A crise não interessa a ninguém, pouca gente ganha dinheiro e poder com isso; o conjunto da sociedade está perdendo, então é necessário ter uma estratégia de crescimento econômico com possibilidade de apoio político em torno de um objetivo claro e nós estamos absolutamente carentes disso.
Entenda os termos PIB – Produto Interno Bruto
Valor agregado a todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território econômico de um país, independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras desses bens e serviços.
Commodities
O termo significa “mercadoria” em inglês. São mercadorias em estado bruto ou mercadorias primárias produzidas em grande quantidade. São produtos extraídos da natureza, como café, ferro, algodão.
Novíssimo Dicionário de Economia – Paulo Sandroni