Jornal Marco #322

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A EXPOSIÇÃO IMAGENS DA QUEBRADA REÚNE FOTOS PRODUZIDAS POR JOVENS EM OFICINAS NO AGLOMERADO DA SERRA PÁGINA 13

UMA COMUNIDADE DE CIGANOS HABITA, EM TENDAS E CASAS DE TIJOLO, UMA REGIÃO ENTRE OS BAIRROS SÃO GABRIEL E OURO MINAS PÁGINA 7 Letícia Perdigão

Simone Moura

UMA VIDA DEDICADA À DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS. ESTE É O PERFIL DO PADRE LANCELOTTI, QUE DEU PALESTRA NA PUC MINAS PÁGINA 16 Flora Silberschneider

marco jornal

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 44 . Edição 322 . Junho de 2016

Islamismo

Judaísmo

Atuação do Papa reforça diálogo entre religiões PÁGINA 3

Catolicismo

Sebastian Rodriguez (fotospúblicas.com)

LEIA AINDA

Festas juninas ganham novo contorno em BH

Mulheres na prisão têm vida de muita carência

Comida farta, danças típicas e muita alegria. Estes ingredientes compõem as festas juninas, muito aguardadas por reforçarem tradições e a cultura da nossa gente. O Arraial de Belô vai ocorrer entre os dias 24 de junho e 3 de julho. A Prefeitura espera que o evento atraia turistas e a população em geral. PÁGINA 12

Flora Silberschneider

Falta de produtos de higiene, poucas vagas para trabalho e insuficiência de profissionais para acompanhamento psicológico são alguns dos problemas que afetam as prisioneiras nas penitenciárias de Minas Gerais. O número de mulheres envolvidas no crime aumentou nos últiSamuel Mendes

Falta de sangue é um desafio às autoridades A falta de sangue tem sido um problema sério em todos os estados brasileiros. Em situações de emergência, a questão se torna dramática. Há quem advogue, nesse sentido, o abrandamento das exigências de segurança em relação aos doadores, de modo a incluir, entre eles, maior percentual de homossexuais. Mas esta é uma posição controversa. PÁGINA 11

mos anos e a superlotação já é uma realidade, também, nas prisões que acolhem exclusivamente mulheres. Muitas cometeram crimes relacionados ao tráfico de drogas e estão presas sem saber, sequer, quanto tempo ficarão por lá. PÁGINA 4

Boa alimentação é essencial para uma vida saudável Uma rotina esforçada, integrando dieta balanceada e atividades esportivas, pode ser a combinação perfeita para uma vida saudável. A pouca disponibilidade de tempo leva muitas pessoas à dificuldade de manter a alimentação certa e elas fazem lanches rápidos que não são nada balanceados. Hoje em dia, marmitas saudáveis começam a ser fornecidas por nutricionistas, numa solução positiva para quem quer manter-se em forma e ficar longe de restaurantes ou lanchonetes. Há cardápios, até, para quem é vegano, basta saber procurá-los. PÁGINA 10


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Comunicação

Encontro nacional Respeito à é realizado na FCA pluralidade editorial

Simpósio reúne professores de vários estados para discutir adequações às novas diretrizes exigidas pelo MEC

MIRNA DE MOURA

e das relações passou a ser determinante para a forma como esse mundo também é definido, a comunicação passa a ser ainda mais importante e estudada”, afirma.

6º PERÍODO

A sociedade está prestando mais atenção a episódios de intolerância e violência contra homossexuais, negros e mulheres, como o recente e impressionante atentado contra uma boate frequentada por LGBTs em Orlando (EUA). Nesse contexto, o papa Francisco reforça, através de pronunciamentos, a importância da tolerância e do respeito à diversidade para o convívio pacífico e harmônico das comunidades. Além deste tema, o jornal aborda assuntos que vão ao encontro dos Direitos Humanos, como o descaso nas penitenciárias, as situações de tortura e o tráfico de pessoas na contemporaneidade. Dá-se continuidade à série sobre as conquistas democráticas do Diretório Central dos Estudantes, da PUC Minas. O MARCO também traz matérias que mostram iniciativas culturais que promovem o entretenimento aliado ao comprometimento social, como a exposição de fotografias do Aglomerado da Serra, Festival Internacional de Teatro e a tradicional festa junina. Essa será a última edição da equipe de monitores formada por mim e meus amigos Thiago, Tamiris e Isabela. Eternos agradecimentos pelos ensinamentos dos nossos editores Ana Maria, Maura e José Maria. Deixamos o jornal com muito aprendizado adquirido e a certeza de que a próxima equipe desempenhará papel tão importante, fazendo o MARCO avançar ainda mais. Faça uma boa leitura e até a próxima!

expediente jornal marco

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal PUC Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ercio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editora: Prof. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Maura Eustáquia e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Isabela Maia, Karine Borges e Tamiris Ciríaco Monitoras de Fotografia: Flora Silberschneider e Marianne Fonseca Monitores de Diagramação: Thiago Carminate e Mirna de Moura Apoio: Laboratório de Fotografia CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares

DESAFIOS

Os desafios do ensino de comunicação giram em torno, principalmente, da capacidade de Professores discutem currículos dos cursos Flora Silberschneider acompanhar o surgimento de novas FLORA SILBERSCHNEIDER plataformas e de capacitar a faculdade 6º PERÍODO para trazer, para dentro de seu espaço, tais Valores humanísticos é a característica “experiências de vida”. O coordenador do principal para aqueles que atuam na área curso de comunicação social da UFMG, de comunicação. Esta é a visão comum professor Nísio Teixeira, lembra que anentre os profissionais da área que partici- tigamente, pelo cenário sombrio e restriparam, nos dias 24 e 25 de maio, na PUC tivo, as universidade se tornaram lugares que potencializavam iniciativas e discusMinas, do Encontro Nacional de Comusões e, hoje, elas já não têm esse poder. nicação. As universidades brasileiras, por Para ele, o mundo “lá fora” está dando exigência do MEC, têm que adequar os mais oportunidades de experiências para cursos de comunicação às novas normas os alunos do que a própria universidade. propostas pelo Ministério, de modo a se Na sua visão, falta incentivo para a partiunificarem nacionalmente. Diante disso, cipação deles nas atividades internas; daí os coordenadores dos cursos de comuni- ser, “preciso estabelecer uma ponte entre cação social, de diversas regiões do País, a universidade e o mundo externo”. encontraram-se em Belo Horizonte para Outra dificuldade para os coordenadodiscutir os desafios e soluções em relação res é manter amplo um currículo que se às diretrizes curriculares do MEC. estipula em bases específicas. Para Nísio, A comunicação está presente na vida a separação das habilitações em comunide todos, diariamente, e com o passar do cação dificultou o processo de atender à tempo, novas tecnologias surgem median- flexibilização, que é um parâmetro geral do as relações humanas. Para o coordena- na educação do país. A Universidade Fedor do curso de comunicação da PUC Mi- deral de Minas Gerais tenta manter as nas, professor Ercio Sena, o profissional mudanças curriculares recorrentes. A cada deve pensar para além de si mesmo: “Na cinco anos, são repensadas as disciplinas e medida em que a mediatização do mundo alternativas para atender melhor o aluno

e a situação mundial da época. Na visão do professor Ercio, a escola deve se preocupar com a bagagem cultural juntamente com a técnica, mas “sem produzir um certo encantamento excessivo sobre ela”. Segundo ele, há uma maior facilidade quando se fala em adequar o curso aos novos suportes tecnológicos. “Talvez o aluno já venha com mais informação que o próprio professor, no que diz respeito a suportes eletrônicos, mas o que o indivíduo não pode abrir mão é da faculdade de pensar e problematizar o mundo em que vive”, destaca. Vem daí a ênfase em humanidades. Durante as mesas de debates, os representantes de diversos estados expuseram suas realidades de ensino. Gente do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Ceará, dentre outros. Juntos elaboraram um documento final, com os desafios e propostas discutidas no Encontro. Ele será entregue às entidades nacionais de comunicação, ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) e ao Conselho Nacional de Comunicação do MEC. Uma das propostas seria uma revisão da exigência do estágio obrigatório para os alunos de comunicação, uma vez que essa obrigatoriedade pode esbarrar na existência de poucas vagas no mercado de trabalho. Além disso, foi incentivada a continuidade desse movimento no Fórum Ensicom, que acontece anualmente na Intercom, encontro nacional da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, em setembro próximo. “Tentaremos que o Ensicom passe a problematizar as questões que levantamos com uma articulação ainda maior”, disse o prof. Ercio Sena. O prof. Nísio viu esse primeiro encontro como muito importante para estreitar relações entre professores e profissionais de diferentes estados.

Mídia é essencial na vida da comunidade KARINE BORGES 4° PERÍODO

A Faculdade de Comunicação e Artes comemorou, no dia 17 de maio, 45 anos com a palestra do professor Adriano Duarte Rodrigues, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), da Universidade Nova de Lisboa, sobre o tema “Afinal, o que são os media?”. Ele impactou os alunos de Comunicação da PUC ao abrir sua fala dizendo que “comunicação não se ensina, descobre-se”. Depois, foi mostrando que a comunicação é um processo constitutivo de nossa experiência como animais sociais, interativos, pois a interação é responsável pela sobrevivência do homem. Observou que a mídia está entrelaçada na vida da espécie humana, tem a mesma idade da nossa espécie e possui como uma de suas características os dispositivos técnicos que nos permitem construir ambientes habitáveis independentes do território físico em que estejamos. Logo, tudo na vida depende da intervenção da mídia, pois para o professor Adriano, “mídia não é senão um conjunto exclusivo de meios que utilizamos para sobrevivermos”. Ele observou que a partir de um momento as sociedades humanas inventaram um sentido para a tecnicidade mecânica que foram inventando: “a máquina não é um objeto técnico que funciona por si só, precisa de ser manipulada para servir os

humanos”. Ele comparou, de certo modo, os instrumentos da comunicação com os utensílios domésticos que não funcionam sozinhos, já que são objetos técnicos dos quais dependemos para fazer algo sejam eles uma colher ou um eletrodoméstico. O importante para o ser humano, na opinião dele, é continuar tal processo que fortalece sua existência.

Adriano Duarte conversa com alunos

Marianne Fonseca

Forum dos Leitores

Leitores dão sua opinião ao jornal AGRADECIMENTO Quero agradecer a matéria que foi feita sobre o jubileu de ouro da minha amada Paróquia Bom Pastor, no bairro Dom Cabral. Foi uma festa linda, cheia de alegria e emoção. DORIAN GRAY RODRIGUES ALVES (MORADORA)

MATÉRIAS SOBRE CULTURA Eu acho o jornal Marco um excelente veículo de comunicação. Entretanto, a parte cultural deixa muito a desejar. Vocês poderiam dar um foco maior na cultura, tão importante para todos nós. CAROLINA MARINHO (PROFª DE JORNALISMO, PUBLICIDADE E PROPAGANDA)

Retificação: O nome de Dorian foi citado incorretamente em matéria da edição passada. O MARCO usou o nome Dora. ENVIE COMENTÁRIOS OU SUGESTÕES ATRAVÉS DO EMAIL JORNALMARCO@PUCMINAS.BR


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Religião

KARINE BORGES MARIANNE FONSECA 4° PERÍODO

Desde que o cardeal Jorge Mario Bergoglio tornouse Papa Francisco, em 2013, após a renúncia de Bento XVI, significativa mudança ocorreu na imagem pública da Igreja Católica Apostólica Romana que congrega 1,2 bilhão de pessoas no mundo inteiro. Jesuíta, fortemente identificado com ideias franciscanas e cada vez mais envolvido com temas políticos e sociais, o novo pontífice não para de surpreender os fiéis e seguidores de outras religiões com os seus pronunciamentos marcados pela compreensão do ser humano. Sua maneira de ser – gentil, mas severa e correta – está ajudando a desfazer o mal-estar gerado pelos casos de pedofilia envolvendo bispos e padres e a superar o desconforto público causados pelas disputas de poder no âmbito da Cúria Romana. A simplicidade de Francisco, que encanta a maior parte do povo, provoca arrepios nas alas mais conservadoras da Igreja Católica que vê nele “grande risco de desvirtuamento da doutrina da Igreja”. A figura popular do Santo Padre encanta – e também suscita discussões acerca do que ela pode trazer de transformações para a Igreja Católica. O papa Francisco não silencia diante de perguntas espinhosas, acena com força para a responsabilidade social do sacerdócio e aceita com uma desenvoltura nunca vista antes, em seus antecessores, discutir temas considerados “espinhosos” como celibato religioso, homossexualidade e drogas. Em pouco tempo, Francisco não só cativou ateus como conquistou respeito e admiração de líderes de outras confissões religiosas. Ele é o primeiro papa latino -americano em 1.200 anos e tem-se esforçado no sentido de retomar a base evangélica da Igreja, atendo-se mais às pessoas e suas necessidades de amparo espiritual e menos às exigências ritualísticas no exercício da fé católica. Douglas Dantas, professor de Cultura Religiosa na PUC Minas , o vê como um

Católicos ou não, todos admiram o Papa Francisco Francisco vem transformando a Igreja Católica e as pessoas, com sua compaixão, harmonia, abertura de pensamento, humildade e simplicidade papa profético: “É como os profetas bíblicos que não anunciavam somente o amor de Deus, mas denunciavam tudo aquilo que diminui a pessoa, aquilo que prejudica os mais vulneráveis, tudo aquilo que constituía em injustiça social”. Mesmo assim, sua imagem hoje é de um homem santo, aberto a novas ideias e propostas de um mundo novo e diversificado em vários quesitos. Entretanto, apesar de sua popularidade, Francisco não ousou ir tão longe como querem os vanguardistas. Sua grande ousadia continua a ser a preservação do seu modo simples e modesto de vida, longe dos suntuosos salões do Vaticano.

FAMÍLIA Francisco, que se apresenta como um religioso aberto ao diálogo, disposto a ouvir as partes, é conservador em assuntos doutrinários. Embora tenha reconhecido recentemente que é justo e necessário que um casal se separe quando há violência, reiterou em seus três anos de pontificado, a condenação ao aborto, ao casamento homossexual e à eutanásia, embora em tom menos agressivo em comparação com o de seus antecessores. Em 2013, o papa pediu o acolhimento e o fim da discriminação de homossexuais e divorciados no âmbito da Igreja com a publicação do Motu Proprio (espécie de normativa), intitulado Mitis Iudex Dominus Iesus (O Senhor Jesus, Juiz Clemente). Por este documento, houve uma reforma do processo de declaração de nulidade do casamento religioso, levando muita gente apressada a interpretar isto como sinal de aceitação do matrimônio homoafetivo e do divórcio. O papa pediu mais com-

preensão em relação às famílias não tradicionais no documento “A Alegria do Amor” após dois dias de sínodo (reuniões de bispos). Na abertura Francisco reafirmou a indissolubilidade do casamento religioso e condenou o divórcio. Mesmo a família tradicional vivendo uma crise profunda, que afeta o conjunto da sociedade e em particular a Igreja, de cujas diretrizes oficiais muitos fiéis se afastaram, tem o apoio dele. Assim, reiterou ser ela composta por um homem e uma mulher, mas pediu aos sacerdotes de todo o mundo para aceitar gays e lésbicas, divorciados católicos e outras pessoas que vivem em situações que a igreja considera “irregulares”, nos diferentes cultos. O pontífice diz que a Igreja não deve continuar a fazer julgamentos e “atirar pedras” contra aqueles que não conseguem viver de acordo com ideais de casamento e vida familiar apresentados pelo Evangelho. Ele tem insistido na defesa de que a consciência individual deve ser o princípio orientador para os católicos na interpretação das complexidades do casamento, da vida familiar e do sexo. Para a Igreja, o casamento continua indissolúvel, o divórcio civil, sem validade, razão pela qual os católicos divorciados que voltam a se casar, não recebem a comunhão. No documento “A alegria do amor” o Pontífice diz: “Desejo, antes de mais nada, reafirmar que cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito”. E pediu à Igreja que “valorize” as “uniões de fato” e reconheça os “sinais de amor” entre estes casais e que eles sejam acolhidos e acompanhados com paciência e delicadeza.

Professor Douglas acredita que o Papa está fazendo história

O rabino Uri Lam, da Congregação Israelita Mineira e membro do Fórum Nacional para o Diálogo Católico Judaico e do Fórum do Diálogo Católico-Judaico de Minas Gerais, acha que esta é uma postura maravilhosa de Francisco: “O papa entende que todo ser humano, independente de sua orientação sexual, status familiar ou qualquer outro critério, foi criado igualmente à imagem e semelhança de Deus. Fico muito feliz que a Igreja Católica tenha um líder que ama as pessoas como elas são e que abre espaço para os setores mais frágeis ou discriminados da sociedade”. Sobre essa postura, o professor Douglas observou ser ela, em tudo, diferente das dos seus antecessores: “É um Papa que se preocupa mais com a missão e a responsabilidade da instituição na sociedade, e creio que essa sua postura tem tudo a ver com a sua trajetória anterior enquanto bispo em Buenos Aires.” Há relatos de que ele andava de metrô, ia a favelas, residia em acomodações simples, entre outras atitudes humildes.

Marianne Fonseca

Outras religiões Francisco afirma que as boas relações e o diálogo entre líderes religiosos são muito importantes para a compreensão, respeito mútuo e a amizade. “Como chefes religiosos, temos a obrigação de denunciar todas as violações da dignidade e dos direitos humanos. A vida humana, dom de Deus Criador, possui um carácter sagrado. O mundo espera que sejamos homens e mulheres de paz, capazes de viver como irmãos e irmãs, apesar das diferenças étnicas, religiosas, culturais ou ideológicas.” O sheik Mokthar, guia espiritual do Centro Islâmico de Minas Gerais, é um dos admiradores do papa Francisco: “O islamismo tem por ele muito respeito. Respeitamos todos os líderes religiosos e com o Papa Francisco não é diferente. Pastores, padres, sheiks merecem tratamento de carinho por serem aqueles que cuidam da comunidade”. Sobre as atitudes e a simplicidade de Francisco na vida religiosa, Mokthar destaca a importância disso e afirma que as religiões precisam ir além: “a Igreja precisa investir em projetos, dar oportunidades, fazer trabalhos que incentivem a pessoa a fazer algo, não deixa-los acomodados. O papel da igreja, das mesquitas, dos templos é de ser mais próximos uns aos outros”. Para o rabino Uri Lam o papa Francisco é uma figura que transmite suavidade, amor, simplicidade e respeito ao ser humano: “É um belo contraponto à uma sociedade, em particular no Brasil atual, em que alguns de seus setores tende para a violência, a corrupção, a homofobia, o racismo, o antissemitismo e outras pragas modernas. Ele é muito humano”. Francisco está fazendo historia, mas não se pode esperar que ele esteja aberto a todas as reivindicações. O avanço é um processo lento e sua doutrina e teologia moral envolvem questões mais delicadas. “Ele está contribuindo para a sociedade, para os direitos humanos, a valorização da pessoa. É assim que Deus vê o ser humano, com misericórdia, com olhar de ternura”, diz o professor Douglas Dantas.

Atento às Redes

-Mokthar é responsável pela mesquita de BH

Arquivo Pessoal

Para ficar mais próximo da população mundial, principalmente dos jovens, o Papa está ‘entrando com tudo’ na moda das redes sociais, entre elas, e a mais usada por ele, o Twitter. Ali atinge, aproximadamente, 26 milhões de seguidores e suas falas são publicadas em várias línguas como inglês, árabe, francês, espanhol e português. Ele reconhece as vantagens desses meios de comunicação e disse que “a internet pode ser usada para construir uma sociedade saudável e aberta; é um presente de Deus que acarreta uma grande responsabilidade”. Sua mais nova aquisição no mundo virtual foi na rede social Instagram: desde o dia 19 de março seu endereço está disponível para todos como @franciscus. Para a divulgação de sua conta, ele postou no Twitter a seguinte fala: “Inicío um novo caminho, no Instagram, para percorrer com vocês a estrada da misericórdia e da ternura de Deus”. Em pouco mais de 40 minutos, a conta no Instagram já somava 82 mil seguidores. Para ele, as redes sociais são uma forma mais ágil de evangelizar os jovens, já que eles estão presentes em grande número no mundo online. Assim, faz postagens frequentes, não só sobre assuntos religiosos, como também sobre questões de interesse público e social.

Para Uri Lam, Francisco transmite suavidade

Arquivo Pessoal


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junho.2016 . jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Direitos Humanos

Mulheres sofrem com o descaso em penitenciárias Carência de medicamentos e produtos de higiene estão entre as dificuldades enfrentadas pelas presas. Além disso, falta assistência psicológica a todas MIRNA DE MOURA FLORA SILBERSCHNEIDER 6º PERÍODO

Os muros cor de rosa, descascados já dão uma impressão de descuido à aparência do Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, em Belo Horizonte. Por dentro, não é diferente. As salas de espera dos visitante têm o mesmo aspecto. O ambiente cinza é hostil, assim como a recepção dos agentes. A postura é de superioridade, para deixar claro quem está no comando. É a configuração da filosofia do sistema prisional brasileiro. Nele se trabalha sob a lógica do isolamento e da repressão considerada “desumana” pela ONU (Organização das Nações Unidas). As reclamações das encarceradas são muitas: insuficiência de medicamentos, de produtos de higiene e de banheiros; superlotação dos alojamentos, omissão de informações. Para a detenta M.A., o pior de tudo é o desrespeito das agentes penitenciárias. A diretora do Complexo, Cristiane Mafort, diz que as reclamações “já viraram uma ladainha. Repetem sempre as mesmas coisas a quem vem de fora”. Pode mesmo ser uma “ladainha”, mas perduram por não ser, nunca, atendidas. O kit de higiene pessoal, por exemplo, fornecido pelo Estado é precário: contém três rolos de papel higiênico, dois pacotes de absorventes(antes era um), uma barra de sabão de côco e uma pasta de dente. É tudo para um mês de uso. Quem trabalha na oficina da Boreda, empresa de utensílios domésticos, recebe um kit especial da empresa contendo xampu, condicionador, creme de corpo e um desodorante. As demais ficam à mercê das doações externas. Do pouco que recebem,quando falta para alguém, dividem entre si. “As penitenciárias femininas, mesmo tendo muito o que melhorar, estão bem à frente das masculinas, muitas vezes pela questão de espaço”, disse a psicóloga Ludmilla Faria, que trabalha na Estevão Pinto há um ano. Ela esteve durante dez anos em presídios

Nas oficinas, palavras motivadoras servem de inspiração para as mulheres masculinos e acha a penitenciária feminina uma “surpresa positiva”. Enquanto no presídio masculino trabalhava com mais de mil homens, no feminino são cerca de 400 detentas. As sessões de tratamento variam de acordo com a necessidade de cada uma, definida pelos psicólogos ou agentes penitenciários. Ludmilla observa que as mulheres falam mais, compartilham as angústias com facilidade e querem receber tratamento adequado. A demanda é grande, mesmo com menor quantidade de pacientes e por isso, nem sempre consegue-se atingir resultados satisfatórios. Para reverter essa situação, há duas possibilidades: aumentar o número de psicólogos ou diminuir o de presas atendidas. Mesmo neste cenário adverso, ela e seus colegas tentam dar continuidade aos atendimentos. Criaram, para tanto, o sistema Fale Comigo, através do qual, de 15 em 15 dias, as prisioneiras escrevem seus problemas e pedem apoio psicológico. Nesses “bilhetes”, a vontade de retomar o contato com a família é recorrente. Pedem para falar ao telefone para tentar se sentir mais próximas da família, já que, às vezes, a localização da Penitenciária dificulta ou impede visitas. Na visão de Ludmilla, não há como conseguir reinserção social se a família ficar afastada. Mas a regra é clara: as ligações telefônicas que, antes, eram semanais, hoje só são permitidas duas vezes ao mês, com tempo cronometrado de 15 minutos.

VISITAS

As filas são longas e a espera passa de horas. Para a revista individual, o visitante deve ficar nu e até suas partes íntimas são revistadas. Pelas recorrentes tentativas de passar drogas e aparelhos eletrônicos nas visitas, as revistas se tornaram extremamente invasivas e minuciosas, causando constrangimento. Por isso, Mali Camargos, reclusa da penitenciária Estevão Pinto e muitas colegas preferem não receber visitas. Há quatro anos sem ver os seus 21 filhos - dez deles adotivos - Mali não quer que sua filha caçula, de dez anos, passe novamente pelo “trauma da revista”. Apenas os mais velhos se sujeitam, apesar de tudo. Aquelas que recebem visitas, reclamam que o contato físico é restrito, limitando a demonstração de afeto. Nas visitas íntimas a situação piora: elas só são permitidas mediante comprovação oficial de união estável do casal. Quinzenalmente podem receber seus parceiros, mas afirmam que nem sempre ficam em situação confortável já que, no presídio, “você nunca está sozinha”. “Como é que a gente resguarda nossa individualidade? Com as nossas paredes. Agora imagina você morar numa casa sem paredes?”. Esse é o questionamento da psicóloga Ludmilla em relação à realidade das mulheres dentro das prisões. “Lá todo mundo se mete na vida do outro”. É mesmo difícil manter a individualidade num quarto com 20 camas e 27 pessoas, que dividem um único banheiro.

Flora Silberschneider

Na tentativa de padronizar tudo – aparência, comportamento, modo de ser – as prisioneiras são obrigadas a usar roupas iguais e corte de cabelo parecido, perdendo mais um pouco de sua individualidade. Para Ludmilla, isso é um obstáculo à manutenção da personalidade da mulher. Reclusas, são obrigadas a se submeter à um padrão estético diferente dos seus, sem que isto tenha qualquer conexão com a pena pelo crime cometido. Com a autoestima baixa, o trabalho psicológico fica mais difícil, bem como o reingresso na sociedade. SUPERLOTAÇÃO A falta de espaço fisico é uma característica da maioria dos presídios no Brasil. De acordo com o levantamento da Infopen (Informações Estatísticas do Sistema Penitenciário Brasileiro) o déficit de vagas, no País, é de aproximadamente 231 mil. As mulheres correspondem a aproximadamente 6% da população carcerária que totalizou cerca de 607 mil jovens, em junho de 2014. Nos últimos 14 anos, o número de detentas cresceu 567%, passando de 5.601 para 37.380, agravando a situação. Os dados são do último levantamento do Infopen feito pelo Departamento Penitenciário Brasileiro (Depen), do Ministério da Justiça. O presídio Estevão Pinto é o único exclusivamente feminino em Belo Horizonte. No total, atualmente, há 370 mulheres presas embora sua capacidade seja de 334 vagas, em razão de um dos alojamentos estar em reforma. Quando a re-

forma se completar, serão 374 vagas totais. Mas, de acordo com a diretora, Cristiane Mafort, o presídio já esteve com mais de 400 mulheres, no final do ano passado e início deste. Na visão da diretora, o Sistema Prisional Mineiro, em comparação aos outros do Brasil, é bom, embora tenha muito o que melhorar. “Faltam profissionais para o volume de trabalho, treinamento de agentes, capacitação e, além de tudo, vivemos em um sistema jurídico muito burocrático. Há mulheres que estão aqui à espera de um veredicto sobre o seu caso, sem saber quanto tempo de pena cumprirão e se serão condenadas ou não”. A pesquisa revela ainda que, em Minas Gerais, cerca de 30% das detentas estão presas sem condenação. No Brasil, apenas 27% das mulheres infratoras sabem o tempo total que cumprirão de pena. O crime mais comum entre elas é o tráfico de drogas: cerca de 68%. Na Penitenciária Estevão Pinto, Cristiane calcula que quase 80% das mulheres estiveram envolvidas com o tráfico. Para esses crimes, a pena varia de 5 a 15 anos. No intuito de diminuir os dias de reclusão, o trabalho, a escola e o bom comportamento podem contar para a remissão da pena. Empresas particulares fazem parceria com o presídio para instalar ali oficinas de trabalho. As atividades desenvolvidas variam de costura, montagem de embalagens, fabricação de biscoitos, até design de sobrancelhas, entre outros. O ofício ensinado é, na maioria, mecânico, sem incen-

lho externo, é necessário que tenham cumprido 1/6 da pena, haja autorização da direção do presídio, tenham aptidão para a atividade e boa conduta. Na Estevão Pinto, a escolha de quem vai para as oficinas ou não é feita pelo Programa Individual de Ressocialização (PIR). Nele analisa-se o perfil de cada mulher, seus trabalhos anteriores à reclusão, as habilidades, vontade e condição psicológica. Apesar de ser um direito, a realidade do trabalho oferecido nas penitenciárias é diferente, como afirma o advogado. “O que se vê hoje é que o Estado não é capaz de oferecer trabalho a todos os detentos. Assim, desenvolve-se a ideia de trabalho como um ‘benefício’ e não como um direito”. Essa realidade é confirmada pelo Infopen: ali se informa que apenas 30% das mulheres reclusas, até junho de 2014, em Minas Gerais, estavam exercendo algum tipo de atividade laboral. Em função das poucas vagas, algumas delas produzem artesanato por conta própria, em momentos autorizados pela direção da penitenciária. Os custos do artesanato saem de seus bolsos, o que reduz a margem de lucro das artesãs. Uma colcha grande,

GEM PRODUZIDA NA DISCIPLINA

JORNALISMO INVESTIGATIVO)

Rachaduras e descascados compõem fachada

Trabalho é direito, mas não é para todas Uma das formas das presas escaparem da monotonia e reduzirem a sua pena é o trabalho, ao qual elas têm direito, seja ele dentro ou fora da cadeia. Na Penitenciária Estevão Pinto, das atuais 370 reclusas, 140 estão exercendo algum tipo de atividade profissional. De acordo com o art. 31 da Lei de Execução Penal (LEP), e o art. 41, II, da mesma lei, (Lei nº 7.210/1984), o trabalho, além de tudo, é um dever de quem está cumprindo pena de privação de liberdade, respeitando sempre as aptidões e capacidades de cada um. Na Penitenciária Estevão Pinto, o benefício só começou. A diretora Cristiane Maforte, afirma, porém, que “já estão sendo feitos novos arranjos para que mais empresas façam parceria com o presídio e ofereçam mais vagas de trabalho às presas”. O advogado criminalista Aghisan Xavier observa que a falta de investimentos financeiros por parte do Estado dificulta a expansão do direito ao trabalho a todas as presas. Os critérios para definir quem poderá trabalhar dentro da penitenciária são baseados em bom comportamento e sociabilidade. No caso de traba-

tivo à produção criativa e intelectual. Não há preocupação de formar um profissional e sim ter um trabalhador ou trabalhadora de nível médio, que ocupará um cargo de operador no mercado externo. A exceção é a oficina de artesanato. A supervisora da oficina da Boreda, Renata Santos, afirma que “o objetivo da empresa é recuperar essas mulheres e darlhes oportunidade de trabalho para quando saírem”. Sobre o termo “recuperar”, a psicóloga Ludmilla diz que “é uma péssima palavra, porque parece que você tem uma cadeira velha, que vai recuperar, consertar. Acho que a ideia mais correta é você ligar essas pessoas de novo ao campo social”. A produção intelectual situa-se no setor da educação formal, sob responsabilidade do programa de Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Em Minas Gerais, 53% das mulheres privadas de liberdade não têm o ensino fundamental completo. Para F.L, a escola é o melhor jeito de alcançar a ressocialização. Por estar em regime fechado, ela não poderá sair para fazer faculdade caso passe no Enem. Sua única opção de ingressar no ensino superior é através de cursos à distância. Porém, na Estevão Pinto, não há estrutura para receber internet. Ela terminará o ensino médio em agosto deste ano, mas sua pena vai até 2018. Nesse tempo, teme esquecer o que aprendeu e não ser capaz de atingir resultados satisfatórios no Enem, quando sair do presídio. Para tentar atender casos como o de F.L, a diretora diz que há planos para instalação de salas com acesso à internet para que seja possível às detentas dar continuidade aos seus estudos. Mas a data para isto não está definida. “Nosso desafio é fazer com que as detentas saiam daqui uma pessoa melhor, independentemente do crime cometido”, diz a diretora. (REPORTA-

por exemplo, demora 15 dias para ser feita e é vendida a R$ 300 e rende apenas a metade do valor para quem a produz. Isso, porque a outra metade é usada na compra da matéria-prima e dos instrumentos de produção. “Nem uma agulha eles nos dão aqui”, reclama uma das presas, que não quis se identificar. A produção é vendida em feiras que acontecem dentro da penitenciária ou pelas famílias das detentas. A quantia mínima que a presa, em regime fechado, que trabalha dentro da penitenciária deve receber, segundo o artigo 29, §§1º e 2º da LEP, é de três quartos do salário mínimo, ou seja, R$ 293,33. A lei também vale para as atividades exercidas fora da prisão. O salário total tem três destinações, segundo estabelece em Minas Gerais o decreto nº 44.184, de 23/12/2005. Metade do valor é encaminhada à família e serve para ajudá-la a sobreviver. A outra metade é divida em duas partes iguais: uma fica com o Estado e serve para custear a indenização dos danos causados pelo crime, quando necessário, ou o dinheiro servirá para ressarcir o Estado das despesas com a manutenção do condenado. Apenas os 25% restantes serão depositadas para a presa em uma

Flora Silberschneider

poupança à qual ela terá acesso quando deixar a penitenciária e possa sobreviver até conseguir trabalho e reajustar-se ao meio social. Pela LEP, as presas fazem jus a redução da pena por estarem trabalhando: para cada três dias trabalhados um dia é descontado de sua pena. Para isso, o dia de trabalho deve ter jornada de 6 a 8 horas. Mesmo com as dificuldades que enfrentam, todas as presas disseram estar satisfeitas com a atividade que exercem dentro da prisão. A perspectiva de muitas delas é de que o trabalho possa ajudá-las quando voltarem à liberdade. O advogado Xavier também acredita nos benefícios do ofício. “O trabalho garante ao preso, além da renda, uma forma de se sentir útil e parte integrante da sociedade. Acredito que o trabalho seja, então, uma ligação do preso com o mundo exterior e irá ajudá-lo na sua ressocialização”. Porém já aconteceram casos em que algumas mulheres preferiram o trabalho em reclusão ao invés do trabalho externo. O motivo? Estão tão “viciadas” em controle e obediência que não conseguem agir e ser produtivas em liberdade. Têm medo do mundo cá fora; por se sentirem inseguras e ameaçadas optam pela permanência entre grades.


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Campanha do Ministério Público de Minas Gerais

Século XXI: tortura ainda existe A teoria diz uma coisa, mas a prática é diferente. Quem deveria proteger, tortura, e quem sofre é a sociedade. Pesquisa mostra que, em 60% dos casos de tortura, autores são agentes públicos AYANA BRAGA 3º PERÍODO

Mesmo com tantas leis e preceitos dizendo que ninguém deve sofrer tortura, esse ato ainda existe e é recorrente no Brasil. Essa prática medieval é muito usada por aqueles que, em teoria, deveriam defender a sociedade: os agentes públicos. “Diariamente a Comissão Estadual de Assuntos Carcerários da Ordem dos Advogados do Brasil/Seção Minas Gerais (OAB/MG) recebe denúncias acerca de abusos praticados dentro das mais de 150 unidades prisionais existentes no Estado”, comenta Fábio Piló, presidente da Comissão. CASOS POLICIAIS Uma pesquisa feita no Brasil, em 2013, mostra que mais de seis em cada dez casos de tortura foram cometidos por agentes públicos, principalmente policiais, agentes penitenciários e monitores de unidades de internação de jovens. Uma das conclusões do levantamento é de que os agentes públicos torturam para

obter confissão de crime ou informações para desvendar delitos. A tortura está intimamente ligada aos “atos de violência ou grande ameaça, ao intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo”. De acordo com o Código Penal Brasileiro, a definição de maus tratos é “expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina”. Uma das dificuldades de classificar uma agressão como tortura é que a lei 9.455/97, que a definiu como crime, deixa margem para distintas interpretações. Seu principal problema é provar que a violência ou grave ameaça foi seguida de intenso sofrimento físico ou mental. “Para alguns juízes, um braço quebrado pode se enquadrar nesses

casos, para outros não”, comenta um advogado que não quer se identificar. Outra dificuldade em configurar a tortura é a falta de provas. Muitos casos ocorrem em unidades prisionais ou durante abordagens policiais e dificilmente há testemunhas. Os possíveis denunciantes têm medo de ser vítima desses agressores, se falarem. Além disso, a perícia é feita por outros agentes do Estado, os policiais técnico-científicos, alguns com forte espírito de corpo. Robson Sávio, coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) da PUC, diz que “é preciso coletar o máximo de informações possíveis como hora, local, fotos, vídeos, testemunhas e depois acionar vários órgãos ao mesmo tempo, como Defensoria Pública, Ministério Público e a Comissão de Direitos Humanos, além da própria polícia, já que esta é obrigada a aceitar denúncias”. É difícil saber as dimensões da tortura, já que ela abrange muito mais que o sofrimento físico. Sávio comenta que “os danos psicológicos da tortura podem

Caso na Bahia gera debate de impunidade Esta matéria do site do jornal El País descreve a denúncia de um caso de tortura na Bahia: No último dia 27 de abril, I. J. , um adolescente baiano de 16 anos ainda com o rosto de menino, voltava do almoço em direção ao lava jato do tio, onde trabalhava por R$100 por semana. No caminho, na garupa da moto de um amigo, foi parado por uma viatura com três policiais militares, mas não foi conduzido à delegacia. Os agentes levaram os garotos para um matagal, no entorno do presídio Lauro de Freitas, no bairro de Itinga, a 40 minutos de carro da turística Salvador. Foi ali, no meio do nada, onde o GPS da viatura parou de funcionar e onde, segundo denúncia que está sendo investigada, I. foi torturado durante horas. Os detalhes das agressões vieram do próprio adolescente que descreveu a sessão de tortura ao chegar à casa. Ele, segundo esse relato, contado entre lágrimas pela mãe, sofreu várias tentativas de asfixia com uma sacola plástica, recebeu golpes no corpo todo sem deixar marcas externas e foi desafiado a escolher entre um pau fino e outro mais grosso para ser abusado pelos policiais. Após o violento interrogatório, Inácio e seu amigo tampouco foram levados à delegacia. Mais uma viatura somou-se à ação policial e acompanhou os jovens até suas casas. Procuraram, sem mandado judicial, armas e drogas que, segundo seus familiares, não tinham. Os agentes, porém, disseram ter achado uma pistola e com ela pegaram Inácio para levá-lo, quatro horas depois da abordagem, até a delegacia. Algemado a uma barra de ferro e obrigado a ficar de pé, Inácio, menor de idade, passou a noite preso. Liberado no dia seguinte, o adolescente, que estudava no turno da noite, relatou à mãe, uma

desempregada de 35 anos, sua primeira passagem policial. O relato foi complementado pelo amigo que sobreviveu às agressões. “O menino andava torto, tinha as pernas inchadas de ter passado a noite inteira de pé, e dois dias depois começou a passar mal, com falta de ar. Levei-o ao médico”, lembra a mãe. No primeiro atendimento em um posto de saúde, ele recebeu remédio e foi dispensado mas, nos dias seguintes, não conseguia respirar. Em 2 de maio ele foi internado e morreu quatro dias depois. O médico, segundo a família, explicou que o menino tinha uma lesão na traqueia, que tinha afetado o esôfago e comprometido os pulmões, lesões supostamente associadas às tentativas de asfixia que ele sofrera. No primeiro informe, ao qual o El País teve acesso, o doutor constatou que o garoto havia sido vítima de agressões e apresentava um “enfisema subcutâneo na região cervical”, normalmente associado a uma lesão pulmonar que permite que o ar escape dos pulmões para se infiltrar embaixo da pele. O laudo que explicará as causas da morte de um menino, até então sem problemas de saúde, ainda não está pronto. “Meu filho não era errado, mas mesmo que fosse eles não teriam direito de fazer o que fizeram com ele”, reclama a mãe, que resolveu denunciar o caso, ainda com o garoto no hospital, à Corregedoria da Polícia, órgão fiscalizador da corporação. “Eles nos advertiram que sabiam onde a gente morava, mas eu denunciei. Antes dele morrer. Só não deu tempo de salvar a vida dele”, afirma. Os seis policiais envolvidos continuam trabalhando normalmente e a Corregedoria está fazendo a investigação.

“Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. “Ninguém será submetido à tortura, nem tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”. (Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948; Artigo 3º) “Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. (Constituição da República Federativa do Brasil de 1988)

atingir até a terceira geração da vítima”. Não se pode generalizar a questão dos agentes públicos, mas os que assim agem, o fazem por acreditarem na impunidade. As penas podem ser diminuídas drasticamente ou convertidas em trabalhos comunitários. Mais de 37% dos policiais condenados por esses crimes, em 2014, conseguiram ser absolvidos na segunda instância. “A péssima estrutura do judiciário, que é altamente seletivo, demora anos para investigar casos de tortura e quando chegam à investigação mostram que a legislação formal é totalmente diferente da vida como ela é”, comenta o professor. “Os agentes normalmente sabem com quem podem agir, por isso, pessoas negras e de baixa renda acabam sendo as mais atingidas”, diz Sávio. QUEM SOFRE MAIS A professora de história, Luzia Sousa, aponta o papel da mídia na “naturalização” da violência policial contra jovens negros. “Você percebe isso nas manchetes. Se é um jovem branco preso com droga, é ‘Estudante preso com droga’. Se é um negro, é ‘Traficante preso com droga’”. Segundo Luzia, isso colabora para tornar as mortes de jovens negros “normais”. “É como se eles não tivessem humanidade, profissão, família, futuro”, explica. Depois da denúncia, de posse das informações principais, um processo é aberto e depoimentos começam a ser colhidos. A punição con-

tra aqueles que cometem o crime de tortura ocorre tanto na esfera administrativa quanto na criminal. Administrativamente, o caso é levado até a corregedoria da Seds (Secretaria de Estado e Defesa Social), se agentes penitenciários, ou à corregedoria da Polícia Civil, se o crime for cometido nas cadeias públicas. Nas corregedorias, a conduta do servidor público será apurada e ele poderá ser demitido. Na esfera criminal, autônoma da administrativa, a pessoa responderá pelo crime a ela imputado pela denúncia ao Ministério Público; a pena prevista em lei para o crime de tortura varia de dois a oito anos de reclusão. A Lei 9.455 ainda prevê que a condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. Alguns policiais e até mesmo estudiosos afirmam que o comportamento que esses profissionais têm nas ruas é resquício de um treinamento autoritário e desumano. O policial tende a descontar no cidadão sob sua guarda a repressão que sofre no quartel, sendo autoritário, arbitrário e impositivo. Para evitar esse tipo de ação, Fábio Piló diz que é preciso “melhorar a formação dos agentes prisionais, submetendo-os a aulas de direitos humanos, sociologia, criminologia, direito penal e leis extravagantes; informando aos presos seus direitos e fomentando a denúncia. A punição deve ser exemplar contra todos”.

“A escola de polícia não tem qualificação nenhuma e não prepara ninguém para atuar na rua. A formação é agressiva, não respeita os direitos humanos, é arrogante e autoritária e o policial só sabe agir da mesma forma quando sai da academia”, desabafa um ex-policial militar, hoje aposentado. ERRO JUDICIÁRIO Casos de erro e abuso do poder policial já chocaram todo o país e foram parar até na mídia internacional. Uma história conhecida é a dos Irmãos Naves que, em depoimento, só confessaram um homicídio que não cometeram porque estavam sendo torturados. O episódio se deu em Araguari, cidade do interior de Minas Gerais, em 1937, época do regime ditatorial de Getúlio Vargas. Durante meses, um delegado, Chico Vieira, e seus comandados submeteram os irmãos Naves à tortura para que confessassem haver matado Benedito Pereira, para roubar. Em 24 de julho de 1952, Benedito reapareceu vivo em Nova Ponte, na fazenda de seu pai. Em meados de 1953, os irmãos Naves foram inocentados, oficialmente, de toda e qualquer acusação de crime. Por sete anos inteiros, Sebastião e seu advogado João Alamy Filho lutaram na Justiça, até 1960, quando conseguiram processar o Estado e assim garantir a indenização devida à família.

O prof. Robson Sávio se preocupa com o lado psicológico da família da vítima

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REBECA MALUF 2º PERÍODO

A violência dentro das escolas não é incomum, o que preocupa pais e autoridades na área de educação. A professora da PUC Minas, Sandra Tosta, fez uma pesquisa sobre o assunto e constatou serem recorrentes os atos de violência em escolas e no seu entorno, como a própria mídia mostra. “Os eventos considerados violentos em meio escolar são mais frequentes entre professores e alunos e entre alunos. Agressões verbais, físicas e depredação do patrimônio escolar estão entre as ocorrências mais frequentes”, afirma a pesquisadora. No bairro Dom Cabral, em meados do ano passado, aconteceu um caso semelhante na Escola Estadual Assis das Chagas. Uma criança agrediu o colega de sala, ambos na faixa dos dez anos. O pai do menino ofendido, Paulo Roberto Lages, pediu providências à direção da escola que não conseguiu marcar uma reunião com ambas as famílias. Ele, então, decidiu retirar o filho do educandário. Paulo Roberto relata que o menino implicava não somente com seu filho, mas também com outras crianças. Como a criança não contava o que acontecia, quando ele descobriu, percebeu que se tratava de algo constante. A reunião com os pais dos dois alunos não ocorreu por incompatibilidade de horários de trabalho. Paulo trabalhava à noite na época e só tinha tempo de manhã. Ele sentiu falta de um esforço maior por parte da direção para conseguir um momento comum para essa conversa.

Comunidade

Situações de agressão preocupam pais e mestres Escola Estadual Assis das Chagas comemora o jubileu de ouro, com muitos serviços prestados à sociedade. Maio foi o mês das celebrações Gostaria, também, que houvessem normas, da parte do Estado, a serem aplicadas em situações como essa.

CAUSAS VARIADAS O atual diretor Fábio Cássio da Cruz, que assumiu o cargo em fevereiro deste ano, afirma que no cotidiano das escolas, tanto da rede pública como da rede privada, há brigas entre alunos. “Conflitos, tanto de meninos quanto de meninas, são bem comuns. A escola tem um papel na educação, na formação e no ensino em si. E a família tem a responsabilidade de educação formal, comportamental. A questão da violência reflete muito o ambiente em que a criança vive fora da escola; é o que ela traz para dentro.” Cruz explica que a Escola Assis das Chagas lida com essa questão dando importância, primeiro, à participação da família, porque há necessidade do envolvimento dela na parte de orientação. “Escola e família têm que trabalhar em conjunto”, acrescenta. As causas de agressões são variadas, desde um desentendimento entre colegas, tentativas de auto-afirmação para a criança ser vista, até questões familiares que ela presencia, como brigas constantes entre os pais,

ou quando vê a mãe sofrendo agressão verbal ou física. Então cada caso tem que ser tratado de acordo com a sua individualidade, explica o diretor. Muitos problemas são causados também por ciúmes entre as meninas e por fofocas que acontecem. A ex-diretora Rita de Cássia Lima não deu entrevista porque não mora mais em BH e não foi localizada.

DADOS RELEVANTES “A violência na escola não pode ser vista como algo da própria instituição, na medida em que muito do que ocorre em seu interior está associado ao que ocorre fora dela. Por exemplo, o grau de agressão e de intolerância que marcam a sociedade estará, também, evidenciado nas rotinas escolares”, destaca a professora do Programa de Pós-graduação em Educação, da PUC, Sandra Tosta. Ela escreveu um livro em parceria com o professor Luiz Alberto Gonçalves, da UFMG, com o resultado da pesquisa sobre a violência no meio escolar, desde 2006. Trata-se de iniciativa do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais sobre: “Rede Particular de Ensino: Vida de Professor e Violência na Escola”, feita em parceria com o Programa de Pós-graduação em Educação e o Pro-

Maria da Conceição é funcionária da Escola Assis das Chagas há 26 anos

Marianne Fonseca

A Escola completou 50 anos em maio, com várias festividades

Marianne Fonseca

situações de violência que incluíam o professor; atitudes que a direção adotava para amenizar os conflitos. O estudo apontou que essas são as situações que acontecem com maior frequência. Mas, há também alguns casos de mortes: assassinatos dentro ou perto das escolas, envolvendo pessoas ligadas a elas. “Não existe uma solução

única para todo e qualquer caso, é preciso considerar as especificidades de cada um. O fundamental é que os governos não fechem os olhos para a questão da violência em meio escolar e estejam sempre disponíveis para dialogar com a comunidade escolar”, explica a professora, Sandra Tosta. Segundo ela, o “pacto com as famílias” é fundamental nesses casos.

grama de Pós-graduação em Tratamento da Informação Espacial da PUC. O objetivo foi investigar a percepção do professor sobre a violência nas escolas particulares. “A pesquisa buscou entender a percepção dos professores: evidências de indicadores ou fatos de violência escolar e sua frequência; caracterizar os tipos de violência a partir da fala dos professores; levantar e identificar situações de envolvimento direto do professor em atos de violência; consequências da violência escolar em sua vida; tratamento dado pela gestão escolar às situações de violência; divulgação das situações de violência pela mídia”, esclarece Sandra. De acordo com os resultados, 20% do conjunto de professores já testemunharam tráfico na escola; mais da metade, isto é, 62%, presenciaram agressão verbal e 24% agressão física; 39% viram situações de intimidação e 35% de ameaça. A pesquisa mostrou também que 53% dos entrevistados já estiveram diante de situações de danos ao patrimônio da escola e 20% ao patrimônio pessoal, 14% presenciaram furto e 10% roubo. Metade dos professores confirmou práticas de afastamento, suspensão e/ou demissão dos envolvidos em

Bar do Geraldinho divide opiniões ISABELA MAIA PINHEIRO 5º PERÍODO

A existência de bares nos bairros de Belo Horizonte garante a sobrevivência de famílias, mas por outro lado, incomoda muita gente. Essa realidade não é diferente no Dom Cabral. O bar do Geraldinho, localizado à rua Guatambu, divide a opinião dos moradores. Alguns dizem que o estabelecimento não perturba a sua rotina, outros acham que ele causa incômodos. Ivanilce Magali Sodré conta que o bar não interfere negativamente em sua vida. “Tem horário pra fechar, mais ou menos meia-noite, depois eles juntam as coisas e limpam a rua”, relata. A moradora destaca também que, quando há som alto, os clientes é que o colocam e, assim que o dono do estabelecimento percebe, pede para desligar. Morador do bairro há aproximadamente 35 anos, Flávio Drager Maia também não se incomoda com o movimento. De acordo com ele, sob o comando de Geraldinho o bar atraiu clientes e, apesar disso, não atrapalha. Em relação à proposta de fechamento do bar Maia diz que isto é “um absurdo”, pois

o bar “gera emprego e beneficia mais a coletividade do que pessoas que são incomodadas”. Outro morador, que não quis se identificar e que mora perto, diz que o estabelecimento perturba sua tranquilidade e que outros vizinhos também se sentem assim mas não se pronunciam devido à amizade que têm pelo Geraldinho. Segundo ele, o barulho começa na quinta-feira e se estende até domingo, toda semana. Os frequentadores colocam som alto e não é possível assistir à televisão dentro de sua própria casa. Outro ponto levantado pelo morador foi a sujeira: apesar de limparem a área do bar, os donos do estabelecimento não se preocupam com a frente das casas dos vizinhos, que também ficam com sujeira deixada pelos clientes. De acordo com a Gerência Regional de Fiscalização Integrada, da Regional Noroeste da Prefeitura, o Bar do Geraldinho funciona regularmente, com alvará de localização e funcionamento. Ainda segundo a gerência, não houve reclamações recentes sobre ele. Nas últimas reclamações, a fiscalização compareceu e, naquele momento, não constatou as irregularidades denunciadas.

Escola comemora Jubileu de Ouro Este ano, a Escola Estadual Assis das Chagas está comemorando 50 anos. Maria da Conceição Pinto, funcionária há 26 anos, começou como professora do Ensino Fundamental, dando aulas do primeiro ao quarto ano no turno da manhã. Mais tarde, atuou como supervisora pedagógica no turno da tarde. De 2007 até 2015, passou a trabalhar na vice-direção e, recentemente, voltou para a antiga função de supervisora. Ela explica que, com o passar dos anos, o colégio viveu várias mudanças, tanto nos métodos didáticos e corpo de funcionários, como no que diz respeito à estrutura física. Depois de o bairro Dom Cabral ter sido fundado em 1965, a escola, que era um projeto para se construir juntamente com as casas populares, foi inaugurada em 3 de maio de 1966, de acordo com o que dizem os registros. Não se tem muita informação sobre o patrono da escola, Assis das Chagas, pessoa a quem prestaram uma homenagem, dando seu nome à escola. Na comemoração do aniversário, ex-diretores e ex-professores foram convidados à participar de um momento cívico em que, todos os alunos, professores e servidores, cantaram, no pátio, o hino nacional. A escola lançou a Cápsula do Tempo, isto é, uma ideia de alunos do UNI-BH, pela qual os estudantes da escola fizeram um registro para ser aberto daqui a dez anos. A festa terminou com um Abraço Solidário, no qual todos se abraçaram celebrando a união nestes 50 anos. As celebrações prolongaramse no mês de maio; essa foi a primeira vez que a escola festejoui seu aniversário. Como a escola não dispõe de documentos que relatem a sua fundação, a diretoria solicitou ao professor de história, que também dá aulas no UNI-BH, um projeto de pesquisa para resgatar este passado. Os estudantes dessa universidade estão ajudando na montagem de um documentário e, talvez, de um livro que conte a trajetória. A supervisora Maria da Conceição diz gostar muito de lá por ser uma escola familiar e acolhedora, tanto para alunos como para novos funcionários. Ela mora no bairro desde quando começou a trabalhar na Assis das Chagas, em 1990; como a maioria dos moradores ela veio do interior. Isso contribuiu para a manutenção de algumas tradições pela escola. “Os meninos e os pais se comprometiam mais. Hoje, parece que os pais jogam a responsabilidade de educar para a escola, como se isso fosse função só nossa”, opina a supervisora. “Os alunos hoje em dia não respeitam mais os educadores. Temos uma dificuldade muito grande de lidar com essa situação da disciplina na escola.” Ela comenta que os responsáveis muitas vezes não comparecem às reuniões nem participam da vida escolar do aluno, e, quando aparecem, falam que as coisas devem acontecer do jeito que os filhos querem.


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Comunidade

3º PERÍODO

Quem passa por algumas ruas na fronteira dos bairros São Gabriel e Ouro Minas não consegue deixar de observar um cenário peculiar: entre tendas e algumas casas de tijolo, roupas muito coloridas secam ao sol; há por lá, também, intensa circulação de homens, mulheres, crianças e de alguns animais. Trata-se do acampamento de um grupo de ciganos que toca sua vida diante dos olhares curiosos de quem circula na região. Pouca gente conhece os hábitos e as convicções desse grupo tão fechado e discreto. Povo de hábitos nômades, os ciganos estão espalhados por todo o mundo. No Brasil, a etnia com mais representatividade é a Kalon, instalada no bairro São Gabriel. Contrariando os estereótipos, este grupo não vive apenas em tendas. O acampamento localiza-se na rua Nossa Senhora de Guadalupe, “em frente ao campo com os cavalos”, como explicam os vizinhos. Entre as poucas tendas, há casas de tijolos, com muitos panos coloridos nas janelas. De acordo com Antonio Cesário, um cigano kalon de 63 anos, e um dos poucos do acampamento que não acha “bobagem” dizer o sobrenome, só mora sob lonas quem não tem condição de construir. “Antes, não tínhamos banheiro ou chuveiro. Tínhamos que ir para o mato. Agora, quando aparece oportunidade, a pessoa faz uma casa. Quando eu tiver condições, vou fazer três cômodos e, na frente, um barzinho”, revela. A mudança das tendas para as casas “comuns” só começou quando o clã sedentarizou-se, assentando-se de vez no local e conseguiu a posse do terreno, explica Roney, de 23 anos. “Nossos pais andavam a cavalo, rodando muito e parando aqui ou ali. Com certa idade, nossos ancestrais ficaram por aqui e não saíram mais. Esse acampamento onde moramos tem dez anos, mas nós viemos migrando de onde hoje é a estação (de metrô do São Gabriel). Vieram desalojando a gente e nos empurraram para fazer a estação e depois para fazer a via - 240. Aí, cansamos de ser empurrados e ficamos aqui”, explica o jovem cigano. Antonio explica a origem

Ciganos vivem bem perto do São Gabriel Comunidade cigana é importante para a formação cultural no Brasil. Suas crenças e tradições estão presentes em BH

Angelita diz que as mulheres casam-se cedo para não desonrarem a família do grupo e a trajetória deles: “Nós já existimos aqui há uns 39 anos. A gente rodava muito, conhecendo várias cidades e lugares, mas depois pensamos em sossegar. Ganhamos esse pedaço aqui que é delícia e onde podemos viver em paz, conta ele, com alegria. Mas, para conseguirem o terreno, a luta foi árdua: “Nosso representante, o Carlos, entrou na Justiça para ganharmos esse terreno. Agora, nós temos a posse daqui. Ele foi a Brasília para a gente ter documento desse “trem” todo. Aqui era da União, uma linha férrea velha da Rede Ferroviária Federal”. O representante mencionado por ele é Carlos Amaral, presidente da Associação Guiemos Kalon, que, segundo os moradores do acampamento, cuida de toda a vida burocrática do grupo. “O que a gente não sabe ele cuida, como das leis e do jurídico”, comenta Roney. Antonio acrescenta: “Tudo é nas leis; nós não fazemos manifestação e não somos de entestar. Eu não sei nem ler. Então ele que cuida de tudo”. No acampamento a maioria dos ciganos mais velhos é analfabeta. “Eles acham que não aprendem depois de velho, ficam dizendo que cavalo velho não aprende não”, conta Kelen, uma kalon de 17 anos que largou os estudos ao se ca-

sar: “Fiz o primeiro grau. Não formei porque casei, e é costume aqui cuidar da casa. Não nasci pra estudar; nasci pra ser sustentada pelo meu marido. Escolhi assim”. Kelen explica onde e como os casamentos acontecem: “A

Letícia Perdigão

festa é no acampamento e vêm ciganos de outros bairros e até de outras cidades. A cerimônia é na igreja - pode ser na evangélica, católica, espírita, macumbeira ou na que a pessoa escolher e gostar. Eu fui a mais velha daqui a casar, pois a

maioria casa com 14, 15 anos. Mas a gente escolhe com quem vai casar; estamos no século 21”, explica, sorrindo, diante do espanto da repórter com a pouca idade das mulheres ao se casar. A sogra da jovem, Angelita, uma kalon de 58 anos, explica os motivos de elas casaremse tão jovens: “Nossas moças não namoram; não saem. Não podem ter menino antes de casar. É a maior desonra”. Kelen completa: “Funciona assim: gostei e quero casar com ele. Ele gostou também; aí se conhecem por uns 3 a 6 meses pra ver se encaixam e depois se casam, se der certo. Se não, parte-se pra outra, mas não é obrigado. Só não podemos envergonhar o pai da gente. Temos que ficar quietas dentro de casa. É tradição. Já se nasce pra casar”.

Comunidade preserva tradições Para comercializar os cavalos, os ciganos viajam muito. “Vamos bastante para o norte de Minas, onde têm muitos conhecidos da gente, que compram sem medo. Ficamos de 30 a 40 dias fora. Trazemos a carreta cheia de cavalos e vendemos aqui. Nas viagens, vou eu e meus meninos; às vezes vão as noras também. Comprar e vender cavalo é comigo mesmo. Você pode se formar até médico, mas não vai saber isso que sei. Não sei nem assinar meu nome, mas nisso aqui sou pós-graduado”, afirma Antonio Cesário, com orgulho. Os mais jovens já não querem saber dessas práticas comerciais e os mais velhos almejam uma boa formação escolar para as crianças. “Minhas netinhas estão todas na escola. Os meninos todos estudam. Sei que estudo não resolve se não tiver dinheiro pra investir e formar, ou para entrar na faculdade. Então, agora temos de investir nos meninos pequenos. Reunir os tios e os irmãos para formar os meninos em alguma coisa”, destaca Antonio. As crianças kalons, além de receberem o ensino tradicional nas escolas, também aprendem costumes e o dialeto do clã, o chibi. “A gente ensina algumas coisas, passa para os filhos da gente. É no dia a dia mesmo que se vai aprendendo; não tem escola pra ensinar isso não. Por exemplo: a gente tá conversando e fala uma palavra que o menino não entendeu. Aí, ele vai perguntar que palavra é aquela. Não tem livro, nem caderno, nada não. É tudo na nossa memória mesmo, que é boa. Claro que algumas coisas vão se perdendo com o tempo. As palavras que você não precisa mais, esquece”, ressalta Roney. Os ciganos evitam falar chibi perto de não ciganos, porque as pessoas não o entenderiam

e é preciso explicar. Roney afirma também que os ciganos são iguais a qualquer outra pessoa: “Nós já estamos mais que adaptados. Tem até mulheres não ciganas que casaram com ciganos e moram aqui. De resto, tudo é mais lenda, aquele folclore. Cigano é normal, feito vocês. Temos conta no nosso nome, como água, luz, esgoto. Tem que pagar imposto do mesmo jeito”.

POLÍTICA CONTRA O PRECONCEITO

Em Belo Horizonte, desde 2010 as comunidades ciganas estão incluídas na política de promoção da igualdade racial do município, que visa garantir direitos a esses grupos que ainda sofrem com a desconfiança e o preconceito de parte da população. Desde 2006, o dia 24 de maio é marcado como o Dia Nacional dos Ciganos, quando se busca reforçar a luta pelo reconhecimento da importância da etnia para a formação cultural do Brasil. No país, hoje, vivem três comunidades ciganas: kalons, roms e sintis, todos de origem ibérica. No Brasil, o primeiro registro cigano que se tem é do século XVI, quando um grupo, de maioria kalon, chegou deportado de Portugal. A origem mundial dos ciganos é envolta em suposições, já que eles são um povo que mantém seus registros e histórias apenas na oralidade e, mesmo assim, com desapego ao passado. Ao todo, há milhões de ciganos espalhados por todo o mundo e o que os difere é o fato de não serem gadgés, como eles denominam os não-ciganos.

Dona Julieta mora no bairro há 56 anos TAMIRIS CIRÍACO 6° PERÍODO “Ela não se olha, ela se dá”. Numa roda de conversa com as integrantes do bazar Maria de Nazaré, da paróquia Coração Eucarístico, declarações semelhantes a essa são feitas ao se perguntar quem é Dona Julieta. Ela é uma das primeiras moradoras do Coração Eucarístico. Natural de Entre Rios, Julieta Azevedo de Morais, 85 anos, mudou-se para Belo Horizonte aos 30 anos. Antes de vir para a cidade, morou em Ipatinga após se casar com Luís de Morais, que faleceu em 2001. Com seis filhos casados, 13 netos e uma bisneta, ela conta que se mudou para BH para poder dar educação aos filhos: “A única coisa que podia deixar para eles é o estudo. Eu não tinha riqueza para deixar, mas como eu não estudei queria que meus filhos estudassem”. Dona Julieta, como a maioria a conhece, conta que estudou até o terceiro ano primário, pois era o único que tinha onde morava. Quando se mudou para BH, o Coração Eucarístico “não tinha rua, não tinha nada, era só pasto, uma fazenda. Só tinha uma casa do alemão próximo onde fica o EPA, hoje em dia, e um pouco mais pra frente morava a família da dona Rita. Aí vim morar num barracão de tábua que não tinha água, não tinha luz, não

Os homens do grupo, que estavam próximos à jovem durante a conversa, reforçam quase em coro: “Mulher, só na cozinha e dentro de casa; nós, ciganos, não gostamos que mulher trabalhe fora; a gente tem um pouco de ciúme”. Roney tenta explicar melhor: “Nossas mulheres trabalham só no doméstico, nós que trabalhamos fora pra trazer dinheiro. Elas ficam independentes para cuidar das crianças, da casa, esses negócios”. Kelen ressalta que muitas também trabalham com costura, fazendo os vestidos típicos e coloridos dos ciganos. Por sua vez, os homens trabalham, em sua maioria, em atividades de comércio, seguindo costume transmitido através de gerações e também pela falta de qualificação e estudo. “Trabalhamos revendendo coisas, como artesanato de couro de boi, chicote, cabresto, cela e na compra e venda de cavalo. O que nós não gostamos é de gente mandando na gente.”nós. Gostamos de ser independente. O que você fez é seu. Se você fez dez Reais, é seu; fez mil, é seu também. Cigano não gosta de serviço fixo e salário fixo”, conta Roney.

tinha nada”. Na época o marido de dona Julieta trabalhava em uma firma cujos patrões compraram alguns terrenos no local que revenderam para os funcionários. Sua família adquiriu alguns desses lotes. D. Julieta era lavadeira;lavava roupa de 38 famílias que moravam no centro da cidade e também para algumas lojas. “Comecei a lavar para pronta entrega; vinham àqueles sacos enormes, para eu lavar e engomar para devolver às lojas. Eram lojas que alugavam roupas de casamento, de festas. As donas que encomendavam o serviço iam falando uma para outra, e ficava um entra e sai por aqui o dia todo”. Seu quintal, hoje todo florido, na época era cheio de varais, todos muito próximos para que todas as roupas coubessem e secassem a tempo de entregar no prazo combinado. Ela participou de muitas conquistas do bairro. Esteve presente quando a primeira rua, a Dom Prudêncio Gomes, foi aberta e ajudou na construção da igreja Coração Eucarístico. “Foi com muita dificuldade a construção. Todo mundo trabalhando, fazia muita barraquinha,para juntar dinheiro.”Ela conta que naquela época muitas barraquinhas eram em um lote cercadode arame Mas, com o crescimento do bairro, o terreno virou itinerário de alguns ônibus e assim pararam de organizar

as barraquinhas. “Recebíamos doação e muita coisa não se precisava comprar”, conta. No início, quando se mudou e dona Julieta assistia as missas na igrejinha da Vila São Vicente, antiga Vila dos Marmiteiros no bairro Padre Eustáquio. Ela conta que na época ,monsenhor Éder, atual pároco, ainda estava estudando no seminário. “Quando estávamos construindo a igreja eu ia lá todo dia. Eu e as vizinhas vigiávamos tudo para espantar ladrão. Nunca tive medo de morrer. Uma vez eu e seu Paulo vimos um ladrão andando com uma vela dentro da igreja. Chamamos a polícia e, até eles chegarem, ficamos vigiando. Eu tomava conta das chaves da igreja. Como conhecia tudo fui na frente procurar o ladrão. Depois disso, minha família ficou muito brava e, a partir daquele dia, parei de ser zeladora pois tinham medo de que morresse”, conta ela. Mesmo não sendo lavadeira há 21 anos, D. Julieta ainda cuida de todas as roupas da igreja. Quando se aposentou ela começou com um trabalho voluntário de ajudar a um asilo e uma creche. Com ajuda de amigos e de sua família D. Julieta arrecada doações e todo mês envia um carro com mantimentos,alimentos e fraldas geriatricas para a cidade de Entre Rios. Lá ela ajuda a creche Municipal e o asilo São Vicente

nossa gente

de Paulo.Na creche são 180 crianças e no asilo 60 idosos. As pessoas sempre a ajudaram. Alguns amigos doam leite, outros toalhas e no Natal, D. Julieta distribui uma lista para as pessoas que queiram ajudar, enviando para os idosos pijamas e camisolas, de todos os tipos, e para as crianças uma peça de roupa, sapato e, se quiserem, também um brinquedo. Dona Julieta está sempre pronta para ajudar as pessoas, é uma mãe de todos, aquela com “todos os predicados de bondade”, dizem seus amigos. Marianne Fonseca

LETÍCIA PERDIGÃO

D. Julieta é exemplo de bondade


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DÉBORA DE SOUZA 2º PERÍODO

Imagine a cena: jovens de baixa renda que moram em bairros no entorno da PUC São Gabriel são convidados a participar de oficinas às quais nunca tiveram acesso, nas áreas de fotografia, vídeo, jogos digitais e robótica. De repente, um novo mundo se abre para eles, pois as atividades fazem parte de um projeto maior da universidade. O impacto é comentado pelo jovem Lucas Vieira: “Esse projeto nos oferece uma esperança de futuro.” O Projeto Vila Fátima resulta de uma parceria entre a Arquidiocese de Belo Horizonte, a Providência Nossa Senhora da Conceição e a Pró-reitoria de Extensão (Proex) da PUC Minas e atende jovens entre 15 e 17 anos de idade da região de Justinopólis. Ele ajuda a fortalecer seus vínculos familiares e comunitários. De acordo com Luciana Fagundes da Silveira, coordenadora acadêmica do projeto Vila Fátima, as diversas oficinas oferecidas - entre elas as de fotografia, vídeo, jogos digitais, robótica, corpo e movimento e culinária - atuam como uma espécie de chamariz para os jovens de baixa renda. A partir da iniciativa, eles são convidados a participar de rodas de conversa,

Campus

Projeto da Vila Fátima encanta jovens da RMBH Adolescentes participam de diversas oficinas realizadas em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de BH. Trabalho é acompanhado por alunos da PUC

Nas oficinas de robótica, os jovens aprendem a controlar robôs

nas quais são discutidas questões relacionadas à juventude, protagonismo juvenil, cidadania e empoderamento desses adolescentes. Para Lucas, esse momento de discussão é importante, pois não só ajuda na formação do caráter, como também melhora o convívio social. “O pessoal do meu curso era muito tímido, mas, depois de algumas reuniões, eles já foram se abrindo mais”,

relembra. Lucas soube do projeto por meio de divulgação na Escola Estadual Manoel Martins de Melo, onde estuda, e descobriu na oficina de robótica uma área de interesse. O jovem avalia que projetos como o Vila Fátima são essenciais na comunidade porque “eles nos oferecem uma nova perspectiva de vida”. Segundo ele, a maioria dos jovens que participam hoje das oficinas antes es-

Débora de Souza

tavam em casa sem fazer nada ou soltos nas ruas. “Com a chegada do projeto, eles se descobrem nas oficinas e passam a ter oportunidade de crescer em diversas áreas”, ressalta. MUDANÇA

Diversos alunos da PUC Minas são professores nas oficinas ofertadas pelo Vila Fátima. Essa interação gera benefícios tanto para os estudantes,

que atuam em conjunto com a comunidade, quanto para os jovens, que têm a oportunidade de aprendizado e de melhor desempenho escolar. A Oficina de Robótica, por exemplo, conta com quatro professores, divididos entre estudantes dos cursos de Engenharia da Computação e Sistemas da Informação. “Nós ensinamos os meninos como controlar os robôs, através da programação em blockline; explicamos a eles também como funcionam alguns comandos de programação e tentamos embasar isso em conceitos da física, como resistência e atrito. Assim, eles podem unir conhecimentos das duas áreas, da programação e da física”, explica Patrick Roberto. Ele é aluno do curso de sistemas da informação da PUC São Gabriel e extensionista no Projeto Vila Fátima. “Antigamente eu era bem violenta e brigava bastante. Depois que entrei aqui, aprendi a conviver melhor em sociedade”, conta Ariene Lorenay, de

16 anos, que agora passa a maior parte dos dias nas oficinas de vídeo e fotografia. Ariene relaciona essa mudança no comportamento à chegada das extensionistas da PUC no projeto, responsáveis pelas rodas de conversa que ocorrem após as oficinas. “Uma vez por semana, as meninas da pedagogia conversam com a gente e abordam diversos temas, como mercado de trabalho, sexualidade, emprego etc. Hoje, por exemplo, teremos uma dinâmica sobre como se comportar em uma entrevista de emprego; então nós fazemos um currículo e nos preparamos como se fôssemos fazer uma entrevista de verdade”, explica. Com a perspectiva de abrir caminhos para um futuro melhor para esses jovens, o projeto conta, também, com oficinas ligadas ao empreendedorismo e à educação financeira, discutindo a inserção do jovem no mercado de trabalho e os direitos da juventude.

Intercâmbio: experiência que ajuda a crescer LETÍCIA PERDIGÃO 3º PERÍODO

Busca por novos conhecimentos, oportunidade de viver experiências em outras culturas, pelo desejo de ter um diferencial no currículo, chance de fazer contatos profissionais importantes e, até mesmo, pelo prazer de viajar pelo mundo e aproveitar também como “turista”. Estes são os principais motivos que levam estudantes universitários a se interessarem por cursos no exterior, na condição de intercambistas. Entretanto, muitos desistem por receio de crise emocional ou falta de recursos financeiros. Outros encaram o desafio e descobrem que é sim possível estudar fora do Brasil, mesmo com pouco dinheiro e incertezas. É o caso, por exemplo, do estudante Álvaro Petrus, que ficou seis meses cursando jornalismo na cidade de Porto, Portugal. Ele explica que, mesmo com aperto financeiro, assim que soube da aprovação no programa de intercâmbio da PUC, correu atrás para conseguir ir. “Não podia perder a oportunidade. Fiz várias ações para conseguir dinheiro, pesquisei como poupar, mas nunca pensei em desistir”. Para ele, pesquisar é a palavra chave para quem deseja estudar fora. “Eu pesquisei muitas hospedagens e, para reduzir gastos, aluguei um quarto e dividi com outro estudante. Outra coisa que fazia

era cozinhar em casa, evitando comer fora, e substituía alimentos caros lá, como a carne bovina, por frutos do mar”, exemplifica. O estudante reduziu tanto os gastos durante os estudos que até sobrou dinheiro para viajar por lá. “Eu pesquisava tanto, sobre tudo, que achava passagens muito baratas dentro da Europa. Fui a Paris e Madrid, por exemplo, gastando pouco”. Outra dica de Álvaro é fazer amizades: “Em algumas das viagens fiquei em casa de amigos recentes. Eu frequentava igrejas do Porto, jogava bola com o pessoal, promovia jantares. Assim, conheci muita gente bacana de todo canto do mundo”.

de amizades com os moradores locais: “Eu joguei vôlei na universidade e fazia trabalhos acadêmicos só com gente de lá. Claro que tinha amizade com brasileiros, mas para aproveitar ao máximo é preciso contato com a cultura local e as pessoas de lá”. Gabriela Resende, que estudou um mês de espanhol em Santiago do Chile, também valoriza as amizades locais. “Graças aos amigos que fiz, me poupei de apertos. Andar em grupo, com gente que

conhece o ambiente sempre ajuda e traz segurança, até mesmo emocional”, revela. É buscando essa segurança que o estudante Leonardo Fontes está arrumando as malas para passar um mês no Canadá, onde ficará hospedado em uma residência familiar. “Além da estrutura da casa, esse tipo de hospedagem me pareceu mais proveitoso já que vou ter contato direto com os hábitos cana-

SABER INTERAGIR

A interação é uma das regras para que a passagem por outro país seja proveitosa. É o que explica o ex-aluno e agora psicólogo Guilherme Ferreira. “Intercâmbio é uma palavra que diz muito das nossas relações com o outro, com o mundo. É uma troca bilateral, exige uma abertura genuína, tanto para reconhecer a virtude do outro quanto para enxergar o melhor em nós mesmos. Temos que ampliar os horizontes e, de jeito nenhum, nos fecharmos em um grupo só de intercambistas”, diz ele. Por sua vez, o aluno da PUC São Gabriel, Breno Castro de Barcellos, que fez um mês de intercambio profissional em Belgrado, na Sérvia, reforça a importância

Álvaro poupou dinheiro e conseguiu passear pela Europa

Arquivo pessoal

denses e falar o tempo todo em inglês”. PUC VALORIZA

Para Camila Sacchetto, da Assessoria de Relações Internacionais da PUC Minas, a função do intercâmbio é ser proveitoso. “O aluno ganha muito com a experiência, pois pode expandir seus horizontes e conhecimentos, tornando-se mais flexível e adaptável, o que o beneficia tanto no campo profissional como pessoal”, pondera. Os relatos dos estudantes confirmam o posicionamento de Camila. Segundo Guilherme Ferreira, por exemplo, os seus maiores ganhos foram a autonomia e a independência. “O jovem, longe do lar, tem de lidar diretamente com o mundo. Nesse caso, um mundo completamente novo”, ressalta ele. A aluna Gabriela concorda: “Além de voltar sabendo falar bem o espanhol e de conhecer pessoas diferentes, voltei outra pessoa da minha primeira viagem internacional. Foi bom ter ido sozinha, pois voltei mais madura.” Só em 2015, a PUC Minas enviou 126 alunos para o exterior e recebeu outros 70 de vários países por meio de seus três programas de mobilidade acadêmica. Quem quiser saber mais detalhes dos programas é só conferir na área “Internacional” do site da universidade.


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Campus

DCE tem eleições democráticas Restaurante estudantil e regularização de DAs são as principais propostas da chapa eleita. Organizar pendências deixadas pela diretoria anterior será um desafio para nova gestão ISABELA MAIA PINHEIRO 5º PERÍODO

Alunos e professores de comunicação se reúnem em frente ao prédio 13

Marianne Fonseca

DA discute momento político MARIANNE FONSECA 4° PERÍODO

Luto é verbo. Foi assim que no dia 19 de maio a diretoria do DA José Milton Santos (DA Jomis), da Faculdade de Comunicação e Artes convocou alunos, professores e funcionários para discutir pensamentos e ações sobre o atual momento político do país. Com o tema central “O papel da Universidade na luta pela democracia: avanços, retrocessos e desafios” alunos e professores fizeram um debate que reuniu aproximadamente 60 alunos e oito professores, no turno da tarde, em frente ao prédio 13, no campus Coração Eucarístico. O próximo passo será fazer uma articulação que mobilize todos os DAs e o DCE em favor de um movimento de luta, para expor situações. Os alunos da comunicação têm outra tarefa que é produzir conteúdo online para informar cada vez mais as pessoas e tornar esse movimento visível. A vice-presidente do DA e estudante de jornalismo, Juliana Gusman, conta: “Nossa principal tarefa agora é de informar, problematizar e questionar, pois existem muitas informações mal articuladas e bobagens sendo ditas. Somos responsáveis por fa-

zer essa mudança. Ninguém faz diferença sozinho, por isso temos que nos articular; o evento foi realizado pelo DA, mas os desdobramentos não serão somente nossos.” Os alunos da tarde demonstraram maior interesse em participar. Devido ao número de presentes, a reunião no turno da manhã não aconteceu. O estudante de jornalismo, Cristino Melo, diz que realmente não ficou sabendo da reunião e acredita que o final de semestre, com provas e trabalhos, pode ter atrapalhado: “Acredito que esses debates são essenciais, apesar de não gostar. O cenário político carece de jovens lideranças, a maioria dos jovens que vemos são filhos e netos de políticos consagrados, todos têm as mesmas ideias arcaicas de seus progenitores. É nesses debates que surgem novas ideias, que podem melhorar a situação política do país”. Lutar pela democracia é uma atitude que não pode ser deixada de lado e é, com esse propósito, que o DA busca alternativas para mobilizar os estudantes. “Estamos criando estratégias para conscientizar os alunos através da arte, com investimentos em performances, para dar uma agitada na galera”, diz Juliana.

As eleições do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da PUC Minas aconteceram finalmente. Nos dias 18 e 19 de maio, 3.413 estudantes foram às urnas para escolher uma das cinco chapas em disputa. O processo voltou à normalidade após sete anos de pleitos com chapa única. Agora foi eleita a chapa Por Todos os Cantos. A nova gestão é composta por 183 alunos. Seis deles fazem parte da executiva, composta por presidente e vice-presidente, primeiro e segundo tesoureiros e primeiro e segundo secretáriosgerais. Os outros alunos são divididos em oito grupos de trabalho: comunicação; meio ambiente; cultura; esporte e lazer; movimento estudantil; qualidade de ensino, pesquisa e extensão; social; e grupos de trabalhos específicos. A nova presidente do DCE, Thainá Nogueira, do curso de jornalismo, tomou posse no dia 1º de junho e disse que o foco de sua gestão será a assistência estudantil. Entretanto, Thainá explica que, antes de colocar as propostas em prática, terá que resolver problemas deixados pela gestão anterior. “A gente está lidando num território minado e tem de conhecê-lo bem, saber como funciona e quais são os problemas para depois tentar resolver alguma coisa”, comenta. De acordo com Thainá,

entre as pendências estão a resolução de contratos e processos trabalhistas anteriores e uma recuperação do espaço ocupado pelo diretório. As dívidas deixadas pela gestão anterior ainda estão em processo de cálculo. “Se você der uma volta pelo lugar, vai ver que está tudo zoneado, jogado às traças, cadeiras quebradas, os armários, vazios”, relata. A nova gestão pretende melhorar o ambiente do DCE. BENEFÍCIOS Entre as propostas da chapa Por Todos os Cantos, algumas importantes são a reinauguração do restaurante estudantil e a regularização dos Diretórios Acadêmicos (DAs) e Centros Acadêmicos (CAs) da universidade. De acordo com a presidente, alguns diretórios encontram-se irregulares devido à burocracia para registrar em cartório as chapas eleitas. Quando não há o registro, o DA não tem acesso à conta com o dinheiro dos contribuintes e, consequentemente, tem que fechar as portas. Segundo João Guilherme Gonçalves, presidente do Conselho de DAs, atualmente existem 30 diretórios acadêmicos no campus Coração Eucarístico. Dez deles estão funcionando regularmente. Entre os outros 20 existem diretórios fechados ou irregulares. Quanto ao restaurante estudantil, o primeiro passo da

nova gestão será averiguar o contrato do espaço existente ao lado do DCE, que pertence ao diretório central e onde há atualmente uma empresa prestando serviço. “Por enquanto, tem uma pessoa da nossa gestão que já conversou com o responsável pela horta da PUC para fazermos parcerias, mas não tem nada concluído”, explica Thainá. Ela acrescenta que também buscará subsídios financeiros tanto na universidade quanto em esferas públicas, como governo municipal e federal. Essas questões, entretanto, ainda estão em aberto. De acordo com a presidente, o bandejão existe na PUC Rio de Janeiro, PUC Rio Grande do Sul e PUC São Paulo.

PARTICIPAÇÃO Para Eduardo Nicolai, tesoureiro da diretoria provisória que ficou no comando do DCE de outubro até maio, a atuação dos estudantes na votação das eleições foi expressiva. “Eu gostei bastante até porque houve cinco chapas inscritas e há tempo não tinha isso aqui dentro”, comenta. Todos os alunos da PUC Minas podem participar da votação, já que não é necessário ser contribuinte do DCE para isso. Na última eleição, votaram 3.413 alunos dos 17 mil alunos do campus Coração Eucarístico.

personagens

Professora da PUC treina os boinas azuis da ONU ANABELLA MENDES NATALIA ALVES 2° PERÍODO

Boinas azuis ou capacetes azuis: assim são conhecidos os militares das Forças de Manutenção da Paz, enviados pela ONU (Organização das Nações Unidas) às zonas de conflito armado. Eles vem de diferentes países e seu papel é manter a paz e a segurança em áreas de risco. Para tanto, são treinados em cursos que incluem aulas de direitos humanos, ministradas por instrutores da ONU. Um deles é Luz Amparo, 46, solteira e atualmente professora universitária do curso de Direito da PUC Minas. Amparo, que leciona direitos humanos e direito internacional privado na PUC, é formada em direito pela Universidade de Lima, Peru, e fez doutorado no Chile. Como instrutora dos boinas azuis já trabalhou em vários países. “Eu já dei aulas no Chile, Argentina e Peru. Aqui, no Brasil, ainda não, pois estou dedicada à carreira docente na PUC. Mas já tive convites do Centro de Treinamento de Operações de Paz, do Brasil, que fica no Rio de Janeiro”. Ela mora em Belo Horizonte e vê o Brasil como um país de grande diversidade cultural. Gosta de ir ao teatro e destaca a Lagoa da Pampulha como um lugar bom para caminhar, algo que gosta de fazer em seu tempo livre. Ela observa que, por ser o único país latino americano a ter outro idioma, que não o espanhol,

o Brasil se destaca e diferencia dos seus vizinhos continentais, além de ser um país muito grande e continental. Amparo disse que, para ela, é um prazer trabalhar para a ONU: “Gosto de trabalhar com os boinas azuis. A qualquer momento posso dar instrução a eles desde que algum Centro de Treinamento precise. Mas meu trabalho como professora na Faculdade me faz levar para meus alunos a função dos boinas azuis e das missões de paz no mundo”. Ela pode atuar em qualquer país que disponha de Centros de Treinamento e que façam parte da ONU. As aulas são divididas em duas partes, uma teórica e outra prática. A primeira consta de instruções a respeito dos aspectos jurídicos dos direitos humanos, imprescindível para as missões. Isso porque os boinas azuis operam em situações especiais, interagindo com diversos grupos vulneráveis que precisam de suporte e é necessário que cumpram bem os direitos e as liberdades básicas inerentes a qualquer ser humano. Já a parte prática é ministrada por militares que treinam as tropas nos Centros de Operações de Paz, sobre táticas de governo e comportamento em áreas de conflito. Tudo começou para Amparo quando ela estava elaborando sua tese de doutorado. “Trabalhei muitos anos na Argentina, em contato com o Departamento de Operações de Paz, naquele país. Eles me convidaram para fazer um estágio,

e então, comecei com instrução e uns cursos sobre direitos humanos e Missões de Paz”, conta. Os soldados das Forças de Paz precisam conhecer, por exemplo, quais são os tratados de direitos humanos, em nível internacional, que protegem as mulheres, crianças, os idosos e refugiados. Principalmente os grupos mais vulneráveis em uma missão de paz que a ONU se obriga a assistir. Às vezes, os problemas desafiam tais acordos e acabam sendo levados a apreciação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, órgão encarregado de zelar pela manutenção da paz e da segurança internacional. Suas decisões são obrigatórias para todos os Estados-membros da ONU e o Conselho tem o poder, inclusive, de autorizar intervenção militar para garantir a execução de suas resoluções. A professora acredita que seu trabalho é importante, pois garante o conhecimento de leis e dispositivos internacionais que protegem a vida e outros direitos das pessoas, conferindo mais legitimidade ao trabalho dos boinas azuis em áreas onde esses direitos são violados. São situações especiais, de ameaça a grupos vulneráveis. Um caso emblemático foi o do Haiti. Muitos militares latino-americanos e de outras partes do mundo participaram, sob o comando do Brasil, conseguiram pacificar o país e garantir-lhe condições para resistir a um terremoto e de promover eleições gerais.

Luz já treinou militares no Chile, Argentina e Peru

A professora Amparo explica que os boinas azuis passam por avaliação prévia envolvendo exame psicotécnico, exame físico e, principalmente, de língua inglesa. O treinamento começa logo em seguida podendo durar de um a três meses, dependendo da missão que lhes será delegada. Ela explica que as tropas enviadas para manutenção da paz são equipadas com armamento leve e aconselhadas a usar a força apenas em casos de autodefesa, como último recurso e jamais atacar. Falar sobre a sua atuação como instrutora das Nações Unidas foi o que trouxe Amparo ao Brasil. Ela foi convidada para fazer palestras no Tribunal de Justiça Militar, em 2014, e não quis sair do país depois disso. “Um dos meus objetivos é

Arquivo Pessoal

falar bem o português; nunca tive uma aproximação com essa língua, antes”, explica. Além de ministrar aulas de direito internacional e direitos humanos, também leciona direito de integração e direito político. Antes de vir para o Brasil deu aulas na Argentina e no Peru e trabalhou na Academia Diplomática dos dois países. Ela considera a internacionalização do corpo docente das instituições importantes e, por isto mesmo, aceitou o convite para ministrar aulas na PUC Minas. Dar instruções aos boinas azuis é um trabalho que ela pode fazer sempre que um centro de treinamento precisar; enquanto isso, ela repassa seus conhecimentos e sua experiência institucional para futuros advogados.


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AMANDA SANTOS CAMILA VIEIRA 6° PERÍODO

A vida do estudante e do trabalhador de cidade grande é complicada. A rotina de acordar e enfrentar o trânsito, estudar, trabalhar, acaba deixando qualquer um esgotado e sem tempo para fazer outra coisa, inclusive se alimentar. Os lanches rápidos podem até enganar o estômago na hora, mas com o tempo, doenças podem atrapalhar o dia já cheio e estressante. Engana-se quem pensa que se alimentar de maneira saudável é apenas incrementar o prato com salada. De acordo com a nutricionista Bruna Prade, uma alimentação balanceada é feita através da combinação certa de alimentos. “Nosso corpo necessita de várias fontes de energia como o carboidrato encontrado no pão, batata e macarrão. Também precisa de proteína, encontrada em carnes e de lipídios que são as gorduras boas. Só assim o corpo funciona de maneira equilibrada”. Camilla Fiorini é estudante e tem uma rotina cor-

Bem-estar

Marmitas saudáveis são opção para se comer bem Produtos orgânicos, alimentação balanceada e prática de atividades físicas contribuem para a prevenção de doenças, o bem- estar e a qualidade de vida rida. Além de estudar pela manhã, o estágio toma conta de suas tardes e a noite é preenchida pela academia. Ela conta que foi ginasta na infância e sua alimentação era muito rígida. Mas isso mudou quando abandonou o esporte. “Parei de fazer atividade física, não tinha controle da minha alimentação. Quando comecei a namorar, a situação se complicou, pois eu e o meu namorado comíamos muito fast food em shoppings e lanchonetes e engordamos dez quilos de uma vez.” Foi quando percebeu que precisava mudar. Através de uma nutricionista, Camilla incluiu de novo em sua alimentação os legumes e verduras, cortou o açúcar

e o carboidrato em excesso. Tudo isso combinado com atividade física, como academia e boxe cinco vezes na semana. Para se adaptar e comer direito, mesmo tendo que fazer várias coisas, ela tem que preparar tudo bem cedo. “Infelizmente, não tenho como ir em casa almoçar e fazer meus lanches. Saio com uma bolsa térmica. Todos os dias, acordo as cinco da madrugada para fazer o lanche da manhã, lanche da tarde, fruta e uma refeição para treino. Assim consigo comer bem durante o dia. Em relação ao almoço, o meu estagio oferece comida saudável, pois trabalho em um hospital”. A nutricionista de Camilla é Lívia Ávila, especia-

Aparelhos dentários são acessórios para jovens ADRIANA DE OLIVEIRA 2º PERÍODO

Os aparelhos ortodônticos que, tempos atrás, se associavam ao estereótipo do jovem estilo “nerd”, hoje viraram objeto de desejo de muitos adolescentes. O acessório, até então usado para correção de imperfeições nos dentes, tem se tornado símbolo de beleza entre o público jovem. Uma rápida observação na sala de espera de um consultório odontológico, no centro de Belo Horizonte, verificou mulheres, de diversas idades, usando o aparelho apenas por “se sentirem bem” com a peça. “Acho que não me vejo sem ele e vou chorar no dia em que eu tirar”, diz Giovanna Pires Souza Noronha, que encontrou no aparelho ortodôntico uma nova forma de se diferenciar das outras pessoas devido à possibilidade de trocar as cores das chamadas “borrachinhas” para combinar com os outros acessórios que compõem seu vestuário. Por sua vez, a paciente Cristine Monteiro, de 33 anos, diz que o uso do aparelho é algo comum em sua família, e mesmo que o tratamento dentário chegue ao fim, ela não pretende se livrar da peça que hoje faz parte dos seus acessórios mais pessoais: “Todos os meus irmãos usaram aparelho, inclusive minha irmã gêmea. Ao contrário deles, eu ainda não concluí meu tratamento, mas adoro usá-lo

e espero que o meu tempo de tratamento se prolongue”. Ana Clara Ramalho, de 19 anos, mantém o mesmo desejo que suas colegas de consultório: “Não me imagino mais sem o aparelho, pois ele já é uma característica minha”, afirma a jovem - que é conhecida entre as amigas como “a loirinha do aparelho”. Para o ortodontista João Paulo Terra, em alguns casos, esse tipo de comportamento torna-se um problema, já que o paciente em tratamento ortodôntico rejeita a possibilidade de removê-lo. “Há casos em que programamos e agendamos a remoção do aparelho e este cliente simplesmente não aparece à consulta de remoção e abandona o tratamento para permanecer com o aparelho. Advertimos que usar aparelho sem acompanhamento e por tempo prolongado pode ser prejudicial à saúde bucal”, ressalta o dentista. Entre os danos mais frequentes estão cáries, gengivites, prejuízos periodontais e de mastigação. Para os especialistas, muitos destes problemas podem ser irreversíveis, levando até mesmo a perda dos dentes. Eles reforçam que somente ortodontistas podem fazer qualquer alteração nos aparelhos e reinteram que os equipamentos odontológicos e seus componentes sempre têm finalidades específicas que devem ser seguidas à risca pelos pacientes

Consultório Odontológico da PUC Minas propicia tratamento para moradores

Marianne Fonseca

André Gomes busca manter alimentação vegana, mesmo na correria diária

lista em nutrição esportiva. Segundo ela, uma alimentação equilibrada deve conter, em média, quatro tipos de frutas diferentes; leite e seus derivados em torno de quatro vezes ao dia; carne magra e no mínimo dois litros de água. Mas existe um detalhe. “Cada individuo é único e portanto suas necessidades são diferentes.” André Luiz Gomes é um exemplo de alguém que tem alimentação diferente. Ele é vegano e evita comer tudo que envolve animais. Leite, ovos e carne são alguns dos alimentos que não entram em seu cardápio. Ele afirma ser possível comer bem sem precisar acrescentá-los à dieta. “Em qualquer sacolão é possível encontrar praticamente tudo de que preciso e, através da procura pode-se encontrar similares da carne como tofu, hambúrgueres de soja e salgados com recheios diferentes. Gosto muito da coxinha de jaca, por exemplo.” O horário de almoço de Gomes é curto. Quando ele não prepara sua marmita em casa, costuma comer em restaurantes que já oferecem esse tipo de prato, como um carrinho vegetariano na Praça da Liberdade. Ali encontra almoço, salgados e pratos como estrogonofe, escondidinho e lasanha, tudo feito de forma que não envolva nada de origem animal. Uma dica dele é, na hora de comer, trocar o leite de vaca por leite de soja, amêndoas ou coco. “Depois de fazer isso, parei de ter crises alérgicas. O leite animal possui muitas substâncias e secreções que fazem mal e podem gerar intolerância.” É importante que seja feita a substituição certa para que a falta desses alimentos não cause déficit nutricional. O ômega 3 por exemplo, está presente apenas em carnes, mas existem comprimidos com essa “boa gordura” que, segundo André, podem ser tomados durante a semana,.Além disso, o pode ser encontrado na linhaça. O ômega 3 tem ação anti-inflamatória, ajuda a controlar o colesterol e os níveis de pressão arterial, além de contri-

buir para o fortalecimento do sistema imunológico. Para quem vive na turbulência, a nutricionista Bruna Prade sugere alimentos de rápida preparação, como sanduíches naturais, sopas, aveia, saladas e vitaminas. Para as bebidas ela indica, além de bastante água, os chás e sucos naturais, lembrando de aproveitar também as frutas da estação. Mas é importante separar um tempo para desfrutar a refeição. “Quando a pessoa come muito rápido, tem tendência a desenvolver esofagite, um inflamação da mucosa do estômago que pode causar distensão abdominal, além de dificultar a digestão dos enzimas”, explica a nutricionista. Outro problema de comer rápido é a confusão que pode causar ao cérebro. “Ao não mastigar direito, o cérebro entende que seu corpo não esta saciado.” Diz a nutricionista Fernanda Amaral. “Você acaba comendo mais do que precisa e isso pode levar à obesidade.” Na hora de comer, é importante separar um horário específico para fazer isto com calma.

MARMITAS Como as marmitas saudáveis estão em alta, elas acabam virando uma opção para a alimentação balanceada dos pacientes de Fernanda. A nutricionista esta no ramo de nutrição há 20 anos e diz que depois de trabalhar em empresas de alimentos e dar palestras, resolveu abrir seu próprio negócio de marmitas. “É o que está na moda. As pessoas estão se preocupando com uma alimentação legal e levar o almoço feito em casa é uma garantia de que você pode comer bem, dentro do seu orçamento.” Elena Ciciliotti também tem solução para quem procura esse tipo de alimentação saudável e preparada. Ela é dona de um empreendimento responsável pela preparação de alimentos orgânicos, o Vila Verde Eco Alimentação. O alimento orgânico é aquele produzido da forma natural, que não

Flora Silberschneider

foram geneticamente modificados, nem sofreram a ação de agrotóxicos e aceleradores de crescimento. Elena começou o negócio quando percebeu a dificuldade das pessoas de selecionar comidas saudáveis no dia a dia. De acordo com a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) agrotóxicos em excesso podem causar intoxicação, trazendo sintomas como dor de cabeça, sonolência e dores no estômago. Essa intoxicação pode evoluir e se tornar crônica levando a doenças como câncer. Além disso, o agrotóxico degrada o meio ambiente e pode contaminar animais que ingerem esse tipo de comida. A ANVISA fiscaliza empresas para avaliar a quantidade de agrotóxicos usados nas plantações, apreendendo aqueles que estiverem acima do permitido. Mas para realmente fugir dos alimentos com pesticidas, a melhor opção são os orgânicos. -“O valor nutricional de um alimento orgânico é muito superior, pois não tem contaminação com nenhum tipo de químico. Por isto, são mais fáceis de digerir pelo corpo e previnem doenças”, explica Elena. Ela é procurada por atletas, gestantes e pais com crianças pequenas, “já que muitos não sabem como funciona, nutricionalmente, a montagem de um cardápio; resolvi passar isso para elas, pois cuidar da alimentação sempre foi natural para mim”. No dia a dia, Elena costuma trabalhar sozinha, mas para eventos já tem equipe fixa para distribuição e venda. Os produtos do Vila Verde Eco Alimentação podem ser encontrados em algumas escolas que lhe oferecem parceria e também nas feiras orgânicas de Belo Horizonte. “A festa junina está chegando e surgem pedidos bacanas”, conta ela. Uma boa opção para quem quer entrar nas comemorações de inverno cuidando da saúde é buscar os orgânicos.


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Saúde

Doação de sangue diminui e preocupa toda a sociedade

Contradições que prejudicam

Garantir o suprimento de sangue de boa procedência é responsabilidade da Hemominas que segue todas as exigências CATARINA FARIA CELSO LAMOUNIER FELIPE LEANDRO PAOLA ANTONINI PHILLIPE MARTINS 2º PERÍODO

Em 2016, algumas das principais capitais do país enfrentam um grande problema: a falta de doações aos bancos de sangue brasileiros. Houve uma queda de aproximadamente 30% em relação às doações no início de 2015. Ano passado, durante os meses de junho e julho, devido ao frio e às férias, ocorreram baixas ainda maiores nas doações e, por isso, as campanhas se intensificaram. O que agrava essa realidade é que quem deseja se voluntariar tem de responder a um questionário bastante exigente na triagem e muita gente desiste. As perguntas começam por requisitos básicos como idade e peso mínimo. Em seguida, já eliminam todos que possuem histórico de certas doenças como malária e HIV. O grupo de possíveis doadores se estreita ainda mais com a rejeição de indivíduos que tenham feito tatuagem e piercings nos últimos seis meses.

Os bancos de sangue podem variar de acordo com as estações do ano

Outra exigência agrava, ainda mais, a redução de doadores: a proibição, assegurada pela lei, de que homossexuais ou bissexuais, que tiveram relações sexuais nos últimos 12 meses, possam doar. A determinação existe em muitos países e foi criada na década de 1980, no auge da epidemia de Aids. Hoje, mesmo com todo o avanço tecnológico, os bancos de sangue ainda rejeitam esse grupo de doadores. A regulamentação não é válida para mulheres homossexuais, que tem autorização para doar sangue, com algumas restrições: não podem ter

tido relações sexuais com alguém diferente de sua parceira fixa nos últimos 12 meses, mesma norma regulamentada para heterossexuais. “Um amigo meu estava internado e precisava muito de doadores de sangue. Cinco outros amigos LGBTs foram impedidos de doar e sugeriram que eu mentisse. Recusei-me, porque isso, de fato, é um absurdo. Um rapaz do nosso grupo topou, falou até que era virgem. Mas, gente, é claro que não vão ficar um ano sem transar - ainda mais eu estando casado. Enquanto isso, os bancos de sangue continuam com

Você poderá doar sangue se: - Estiver entre 16 anos e 69 anos, desde que a primeira doação seja antes dos 60 anos - Estiver bem de saúde, descansado e bem alimentado - Possuir peso igual ou superior a 50 quilos - O intervalo de doações para mulheres é 90 dias e para os homens é de 60 dias Você não poderá doar sangue se: - For diabético - Tiver feito tratamento dental nas últimas 72 horas antes da doação - For portador de epilepsia - Tiver doença de Chagas ou tiver tido contato com o barbeiro transmissor - Estiver com anemia - For homem homossexual ou bissexual sexualmente ativo nos últimos 12 meses - Estiver com hipertensão ou hipotensão arterial no momento da doação - Tiver realizado piercings e/ou tatuagens há menos de seis meses - Estiver amamentando, a menos que o parto tenha ocorrido há mais de 12 meses - Teve hepatite após os dez anos de idade - For portador HIV - Estiver grávida - Estiver doente no dia da doação

Adair Gomez

estoques abaixo da quantidade esperada”, contou o publicitário Guilherme Augusto, de 26 anos. Além do Brasil, o Reino Unido, Austrália, Suécia, Japão, Hungria e Nova Zelândia aplicam a restrição de um ano de abstinência aos homens que fazem sexo homoafetivo. Recentemente, os Estados Unidos também passaram a ter a tolerância de acordo com o tempo de abstinência (antes não aceitavam doações de homossexuais em nenhuma circunstância). Há quem veja aí preconceito em relação a homens homossexuais, bissexuais ou pansexuais. Para doar sangue, essas pessoas teriam de ficar um ano em abstinência sexual, mesmo mantendo relacionamentos monogâmicos com o uso de preservativos. E, talvez, nem assim consigam fazer a doação.

Muitos especialistas apontam contradições na portaria do Ministério da Saúde que contém o regulamento técnico dos procedimentos de coleta de sangue. Ali se vê, por exemplo, no Artigo 64, uma norma restritiva, segundo a qual “considerar-se-á inapto, temporário por 12 (doze) meses o candidato que tenha sido exposto a seguinte situação: IV – homens que tiveram relações sexuais com outros homens e/ou as parceiras sexuais destes”. No entanto, o segundo artigo, do mesmo documento, no seu parágrafo 3º estabelece que: “ Os serviços de hemoterapia promoverão a melhoria da atenção e acolhimento aos candidatos à doação, realizando a triagem clínica com vistas à segurança do receptor, porém com isenção de manifestações de juízos de valor, preconceito e discriminação por orientação sexual, identidade de gênero, hábitos de vida, atividade profissional, condição socioeconômica, cor ou etnia, dentre outras, sem prejuízo à segurança do receptor.” Em vista desta aparente contradiçõo, foi requerida ao Ministério da Saúde, no fim de 2013, a mudança do texto. Recentemente, o Ministério informou que até o final do ano a referida portaria será revisada “considerando as evidências científicas mais atuais e as recomendações nacionais e internacionais sobre o assunto”. Mas não antecipou se esta a regra será alterada.

O doutor Luiz Claudio, responsável pela triagem de uma das unidades do Hemominas, em Belo Horizonte, afirmou que o fator imediato que exclui esses homens homossexuais e bissexuais de serem voluntários, é o fato de eles praticarem sexo anal com frequência, o que acarreta maior risco de fissuras e, consequentemente, aumenta a chance de contágio da Aids. Os homens homossexuais que questionam a restrição dizem que a orientação sexual da pessoa não determina a prática do sexo anal, uma vez que heterossexuais muitas vezes também fazem isto. Aperfeiçoar o método de exame do sangue póscoleta é uma forma de acabar com a questão da seletividade de doadores. Utilizando-se essa tecnologia de forma adequada e respeitando o período da janela imunológica, os motivos para negar doações de sangue desapare-

ceriam, independente da orientação sexual. Mas, a Hemominas tem outra visão. Através de sua assessoria de comunicação a instituição explicou que a restrição está determinada na norma técnica que trata a doação de sangue no Brasil. Essa restrição está baseada em que todo esforço deve ser envidado para redução do risco transfusional. Nesse sentido, os candidatos à doação que mantêm relação sexual com pessoas do mesmo sexo possuem risco acrescido para transmissão de doenças. Informou também que não existem estudos científicos no sentido de aferir perdas de sangue decorrentes dessa exigência e que, o papel da Hemominas é o de esclarecer a sociedade de todos os benefícios, riscos e limitações a doação de sangue. Desta forma, toda a sociedade só tem a ganhar. (REPORTAGEM PRODUZIDA NA DISCIPLINA APURAÇÃO E REDAÇÃO)

Campanha quer provocar mudança das exigências Adair Gomez

Na busca da conscientização sobre os estigmas fomentados pela exigência em relaçao aos gays, e para chamar atenção sobre a perda de sangue decorrente do volume de doadores descartados “de forma inadequada” no ato da seleção, a campanha Wasted Blood (“Sangue Desperdiçado”, em tradução livre) criou uma fila simbólica em seu site. Nela, homossexuais se colocam à disposição para doar. A iniciativa é da ONG norteamericana All Out que se movimenta ao redor do mundo, inclusive no Brasil, defendendo bandeiras relativas à garantia dos direitos humanos. Como extensão das atividades do grupo na internet, a Wasted Blood também ganhou as ruas. Um caminhão vermelho pode ser visto trafegando pelo centro da cidade de São Paulo com um painel que mostra, em

tempo real, a quantidade de litros de sangue potencialmente desperdiçados em virtude da portaria 2712, do Ministério da Saúde. Mais de 97 mil litros foram virtualmente contabilizados até agora. O número é baseado na quantidade de inscrições feitas no site da organização. “O preconceito e a homofobia matam, mas não só por casos diretos – como assassinatos, a violência levada à sua forma física. E não mata apenas homossexuais, se formos pensar em toda a cadeia de afetados por uma portaria como essa. Existem pessoas que precisam de sangue, e estão angustiadas pela escassez da doação. A campanha expõe essa visão, de que a homofobia e a bifobia atingem pontos na sociedade que extrapolam os seus objetos de ódio”, alerta Clayto Nobre, um dos agentes da All Out no Brasil.


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Cultura

Festa junina é tempo de alegria Em todas as regiões brasileiras, as pessoas se preparam para festejos de junho. Com muita tradição e cultura, São João e São Pedro estão em alta nesta época do ano ANA CLARA MOREIRA 6º PERÍODO

Os meses de junho e julho são aguardados por muita gente por causa das tradicionais festas juninas. Além do frio do inverno, essa época do ano é marcada em todo país por celebrações que incluem comidas e danças típicas, trazidas para o Brasil na época da colonização. Na Idade Média, alguns países europeus comemoravam os dias de Santo Antônio, São João e São Pedro e, com a chegada dos portugueses em terras tupiniquins, os ritos do Velho Continente aqui também desembarcaram, primeiramente no Nordeste. Na década de 1950, com a forte migração nordestina para o centro-oeste e sudeste, o legado se espalhou, ganhando novos contornos com o passar do tempo. Em Minas Gerais, as festas juninas começaram no interior, como forma de agradecer aos santos as boas colheitas. Por isso, sempre há comida farta, feita com ingredientes colhidos nos campos. Além disso, o forró e o sertanejo são os ritmos que marcam a festa, sempre muito alegre. Na capital mineira, uma das maiores festas do gênero é o Arraial de Belô, que acontece desde 1979, quando era conhecido como o Forró de Belô. O evento já passou por diversos locais, como a Via 240,

Expominas e, mais recentemente, a Praça da Estação. O evento hoje é uma realização conjunta da Belotur em parceria com a União Junina Mineira, órgão que representa os grupos de quadrilheiros de todo o Estado. No ano passado, segundo a Belotur, o Arraial movimentou cerca de R$ 5 milhões, entre os setores de eventos, alimentício, têxtil e turístico e a expectativa para 2016 e os próximos anos é de que os números cresçam cada vez mais. O diretor de Eventos e Operações Turísticas da Belotur, Gilberto Castro, acha que a partir da edição 2016, entre os dias 24 de junho e 3 de julho, o Arraial de Belô será bem mais do que um concurso de quadrilhas na Praça da Estação. Para ele, é preciso ampliar a cultura junina na cidade, realizando diversas atividades em todas as regionais. “Nós temos a intenção de tornar o Arraial de Belô um evento maior, que abranja toda a cidade, em todos os âmbitos, e tentar levar esse costume a crescer de forma efetiva. “Estamos dialogando com o Centro de Referência da Moda para fechar algumas oficinas de confecção de trajes juninos. Também estamos em entendimentos com a rede de bibliotecas públicas municipais para fechar uma semana especial, voltada ao tema junino, com oficinas, exposições e outras atividades

Grupo São Gererê tem tradição nas apresentações de quadrilha

nesses centros culturais”, informa Castro. Ainda segundo o diretor, além de ser importante economicamente, a festa é uma marca de Belo Horizonte em nível nacional. “O ganhador do Arraial de Belô participa do torneio nacional, disputa com grandes quadrilhas, como as de Caruaru e Campina Grande, e a gente não fica atrás em nada. Pelo contrário. Essas grandes festas acabam tendo apelo de grandes shows e o nosso foco, aqui, é a cultura junina de raiz.” Para a União Junina Mineira, representada por seu presidente, Jadison Nantes, as quadrilhas são um dos principais elementos das festas juninas e a organização dos grupos como uma unidade é de grande importância para a manu-

tenção da tradição. “Até 2004, existiam várias associações em Belo Horizonte com algumas quadrilhas da Região Metropolitana, que buscavam representatividade. Mas, naquela época, por essa fragmentação, a representatividade conquistada era muito pequena”, explica. Segundo ele, a inciativa de criar a União Junina significou mais organização para os quadrilheiros e, principalmente, mais atenção do poder público. Algumas das principais conquistas da entidade foram o envio das representantes mineiras para competições nacionais, como Arraial Brasil e o Concurso Nacional de Casal de Noivo. PAPEL SOCIAL

Além dos aspectos cul-

Arquivo do grupo Família São Gererê-

turais, econômicos e turísticos, os grupos de quadrilha desenvolvem um forte trabalho social que, de acordo com Nantes, pode mudar vidas. Os ensaios, que acontecem durante o ano inteiro, são responsáveis por tirar das ruas jovens que poderiam ter envolvimento com a criminalidade e as drogas. “Eu tenho certeza absoluta de que o poder público não tem essa noção, mas as quadrilhas realizam, na sua essência, um trabalho social muito silencioso. Eu sou prova viva disso. Com 13 anos de idade, perdi pai e mãe. E, morando no bairro São Geraldo, uma região de periferia, eu conheci a quadrilha São Gererê e a partir dali eu tomei um rumo na minha vida. Interessei-me por teatro, cultura e música. Tornei-me

conselheiro tutelar. Se eu não tivesse me envolvido com a quadrilha, poderia ter me envolvido com outras coisas”, ressalta ele. Por sua vez, Rafael Eduardo, coreógrafo e diretor do grupo Feijão Queimado, campeão do Arraial de Belô 2015, reforça a importância do trabalho social desenvolvido nos grupos e teme que com as novas gerações, a tradição se perca. “A quadrilha é uma dança de raiz, tradicional, que vem na nossa bagagem desde o período escolar. Só que hoje em dia ela vem se perdendo. As crianças não querem desenvolver a quadrilha tradicional. Elas colocam funk e axé na coreografia. A dança é a manifestação popular. Se o povo não a cultiva ela morre.”

Festival leva o teatro às ruas de Belo Horizonte PABLO NASCIMENTO 5º PERÍODO

A voz ao microfone ecoa por toda orla da Lagoa do Santa Lúcia. Ao lado do campinho de areia, um palco com cortinas e cadeiras de plástico já posicionadas. Um pouco mais ao fundo, uma arquibancada com degraus de concreto de onde olhares desconfiados observam. Em poucos minutos tudo se transforma. O espaço não cabe mais gente e o “senhoras e senhores” bem alto anuncia o início do espetáculo. Quem se apresenta é a companhia de circo francesa Les Acrostiches – uma das convidadas do 13º Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT BH) que movimentou a cidade no fim do mês de maio. Em nove dias de evento, o festival, realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte através da Fundação Municipal de Cultura (FMC), transformou a capital mineira em um grande palco com mais de 70 atrações. Entre elas, espetáculos locais, nacionais e internacionais. Com programação farta, o FIT BH não é apenas uma vitrine de espetáculos. O diretor de artes cênicas e música da Fundação, Jefferson da Fonseca Coutinho, conta que desde a criação dele, em 1993,

A companhia francesa Acrostiches et Compagnie apresentou-se, ao ar livre, na Barragem Santa Lúcia

a organização objetiva torná-lo, também, um espaço de aprendizado, reflexão e troca de experiências. Neste ano não foi diferente. Os amantes das artes puderam participar de oficinas e workshops ministrados por críticos, diretores e escritores de várias partes do mundo. “Ele [o festival] sempre foi essa plataforma de diálogo, de troca e nesse momento também é uma felicidade muito grande para a Fun-

dação Municipal de Cultura poder beneficiar os artistas por meio de seminários, dessas oficinas e desses workshops. Essa troca é muito importante”, ressalta. Outra maneira de fomentar esse intercâmbio cultural foi a abertura de um espaço dedicado a quem está iniciando. Quatro grupos criados em escolas de artes cênicas da cidade foram selecionados para compor a grade do festival e

Pablo Nascimento

mostrar um pouco do trabalho que estão desenvolvendo. Um desses grupos foi o Batatas e Carambolas, constituído por alunos do curso de formação do Galpão. Eles apresentaram, no Teatro Marília, a peça “Cama, mesa e banho”, dirigida por Fábio Furtado, coordenador pedagógico do Galpão Cine Horto. Para ele, ações como essas são uma oportunidade de troca de aprendizado. “Eu acho que a possibilidade

de assistir a outras escolas e esse tipo de troca é muito enriquecedor”. Além das apresentações nos tradicionais teatros, o FIT BH 2016 tomou conta das principais praças e avenidas da cidade. Em um breve balanço do festival, Jefferson Coutinho destaca como um dos principais motivos de comemoração a ocupação artística das ruas de Belo Horizonte. “Nesta 13ª edição consideramos ter conseguido retomar o fortalecimento dos espetáculos de rua. Não os espetáculos que são de palco e são levados para a rua, mas os espetáculos pensados para a rua. Os espetáculos que têm a rua como palco da sua construção, da sua criação. Questão do espaço público não como um lugar de passagem, mas como um lugar de troca, de ocupação, de encontro”, analisa. A companhia francesa Les Acrostiches, que esteve pela primeira vez no Brasil, foi umas das que fizeram apresentações apenas em espaços públicos. Para Sylvie Commagnac, supervisora técnica da companhia, foi “um grande prazer” essa experiência pois, para ela “o que há diferente aqui é a plateia. É uma plateia viva e que participa muito da apresentação”.


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Educação

EUNICE GOMES 2º PERÍODO

A exposição de fotografias ”Imagens da Quebrada” mostra um pouco do cotidiano e das transformações ocorridas no Aglomerado da Serra, segundo maior conjunto de favelas da América Latina e o maior de Minas Gerais. São 108 fotos produzidas por jovens e adolescentes moradores de sete vilas que compõem o Aglomerado, localizado na região Centro Sul de Belo Horizonte. A exposição já passou pelo Centro Cultural Vila Fátima, Praça do Cardoso, ambos no Aglomerado, Superintendência Regional de Ensino-Metropolitana, no bairro Santo Antônio; e, em outubro, será apresentada no XI Seminário de Extensão, na PUC Minas, campus Coração Eucarístico. A exposição é o resultado de um projeto de pesquisa em fotografia etnográfica, a partir do olhar dos jovens e adolescentes, com o objetivo de registrar as transformações ocorridas no Aglomerado, após as intervenções do Programa Vila Viva e demais obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do Governo Federal. A exposição foi promovida pelo Programa de Extensão da PUC Minas, através do Escritório de Integração do Curso de Arquitetura e Urbanismo. “Imagens da Quebrada” é um desdobramento da pesquisa de iniciação científica sobre práticas educomunicativas - campo de estudo e intervenção social que articula as áreas da educação e da comunicação, segundo o antropólogo Milton Guran. Trata-se do trabalho da ex-aluna de Comunicação Social, Simone Moura, durante sua trajetória acadêmica na PUC Minas, que tem na fotografia um instrumento de investigação científica e de intervenção social. Em 2015, “Imagens da Quebrada” foi incorporado às ações promovidas pelo Projeto de Extensão Lajes, através de oficinas culturais, no Aglomerado da Serra, sob o financiamento do Proex (Pró-reitoria de extensão) da PUC Minas. Para os participantes da oficina, o que fez mais sentido foi a autorrepresentação da comunidade. “Há uma mudança, até na fala deles, eu vejo que há uma mudança também em relação à comunidade”. Durante as oficinas, foram discutidos vários temas a partir de uma pergunta inicial: como essa comunidade é representada na mídia nacional e quais as imagens que ganham maior visibilidade? A ideia não era somente produzir fotos. Era também discutir as imagens de maior visibilidade e que eles gostariam de mostrar no âmbito local. A partir dessas discussões, os jovens tiveram oportunidade de qualificar seus discursos; eles perceberam, por exemplo, que as imagens propagadas têm uma relação de poder, pois quem detém os meios de comunicação já tem uma imagem estereotipada das favelas e é assim que eles a identificam. “Quando a gente discute e analisa criticamente tais imagens preconceituosas, é possível depois produzir as nossas imagens livres, sem reproduzir o discurso hegemônico, massivo”, observa Simone.

Olhar fotográfico registra cotidiano do Aglomerado Aglomerado da Serra é fonte de inspiração para exposição de fotografia. O trabalho mostra transformações do maior conjunto de vilas de Minas Gerais RESULTADOS

Há um ganho real para os jovens e para a idealizadora do projeto: oportunidade coletiva de discutir e de abrir um espaço de fala diferente para a favela. Isso contribui muito para extrair-se uma imagem e um conceito realista das favelas, não só de Belo Horizonte, mas das favelas do Brasil. A partir disso, pergunta-se que imagens se quer mostrar? “É nesse momento que aprender uma linguagem fotográfica faz sentido”, diz Simone. A partir da apropriação, pelos jovens, das ideias e do que pensam as pessoas do local, sobre si mesmas; das memórias dessa comunidade. Então eles podem decidir falar sobre a beleza de uma porta vermelha, por exemplo, que o impressionou. “Mostrar um detalhe que ele viu no trajeto de sua escola à sua casa, que ali tem certa estética. Deixar de mostrar apenas a imagem massificada da violência”. Em consequência dessas elaborações, os jovens ganham autonomia, se instrumentalizam e passam a desejar e a querer se apropriar da linguagem fotográfica para fazer novos registros. Aos poucos, eles passam a ser capazes de registrar essa singularidade de visão, resignificada, não para a mídia, mas, sobretudo, para si mesmos. “Ele quer mostrar o cotidiano. E o que é o cotidiano? É ele tomando sorvete, é a loja de roupa ali em frente, é o moço ali vendendo picolé; é a dona do biscoito; o Cafezal onde está acontecendo a capoeira”, lembra Simone. São essas coisas familiares que, embora os jovens saibam que não vão ganhar audiência, para eles são importantes e por isto decide mostrá-las . Só não fazem sentido para a sociedade, mas para ele, que mora nesse lugar, tem uma força, uma potência afetiva muito grande. Por isto, os jovens querem fotografar o simples, o corriqueiro. Para a comunidade, há o reconhecimento de si mesma naquelas fotos. Embora nem todo morador ou moradora seja retratado nas imagens, cada um se reconhece como parte dela e por meio das fotos, nele se desperta um sentimento de pertencimento com reflexos efetivos nas suas vivências dentro da comunidade. Simone observa que “cada um se vê ali; vê o seu cotidiano; vê o seu território retratado ali naquelas imagens”. A oficina de fotografia passa por dois momentos: o dos adolescentes, que têm um vínculo afetivo com aquela imagem que é produzida e o morador que se vê ali retratado. O corriqueiro passa a ser coletivo; de todos. Os resultados foram positivos, mas os trabalhos carecem de recurso

As fotos trazem um novo olhar para a comunidade

Simone Moura

Moradores se envolvem com as fotos que registram sua vida

para ser oferecido em vários espaços da comunidade que abriga 20 mil jovens e adolescentes. Até agora, só foram oferecidas 20 vagas. “A favela não tem que ter só o tipo de discurso que ganha visibilidade na mídia: o da violência, da pobreza, da carência, da disputa de gangues. Não. Isso aí é apenas uma das narrativas que existem sobre a favela. Quando as fotos ganham visibilidade, para além dos limites da comunidade, levam outra mensagem para quem não conhece o Aglomerado; esse outro olhar, o poético, que é o da roupa pendurada no varal, do cachorro que passeia com a menina, o da igreja. Surge um outro discurso que é produzido desse olhar. Ele permite, ele provoca em quem vê uma possibilidade de criar outras historias”. Denise Pirani, coordenadora do projeto Lajes, reforça a importância da exposição “Imagens da Quebrada”: “Nosso intuito é também mostrar

Simone Moura

para a sociedade que essas pessoas são sensíveis à cidade, ao direito à cidade, à participação, ao desejo de partilhar como eles veem esse lugar, e não o discurso oficial da mídia.” Faz parte dos objetivos do projeto publicar um livro com os relatos sobre o Aglomerado da Serra e as 108 fotos, inclusive as que não entraram na exposição. Para isso será necessário recurso e a coordenadora informa que está sondando o interesse de editoras.

ADOLESCENTES O nome “Imagens da Quebrada” é uma referência à forma como os jovens costumam se referir às vilas em que moram. Durante o caminho percorrido para fazer as fotos, eles nomeavam o território como “quebrada”. Emily, 13 anos, que é uma das fotógrafas, conta que durante as oficinas conheceu lugares fora do Aglomerado da Serra. “Conheci o Arquivo Públi-

co. Vi como era, antigamente, aqui. Melhorou muito porque agora tem muitas coisas lojas, mais ônibus, mais escolas”. Sabrina, 12, disse que “no arquivo tem documentos sobre a comunidade, há muitas fotos antigas. As fotos mostram como era antes o Aglomerado. “Gostei de fazer fotos de ângulo baixo. É quando a gente pega a câmera e tira a foto de baixo para cima”. Alicia, 12 anos, observa: “a foto que eu mais gostei foi a que eu tirei do colar da minha amiga. Ele é um círculo e foi quando a gente estava aprendendo formas geométricas. Minha mãe gostou muito de eu ter participado das oficinas; ela ficou muito triste por ter acabado.” Aline, 12 anos, explica que a partir da ida ao Arquivo Público, eles começaram a estudar a história do Aglomerado. Fizeram um mapa da rua da casa deles até a escola, para ter um mapa afetivo dos locais por onde passavam. “Numa ida nossa à vila Cafezal ficamos interessados em saber porque as ruas e os becos tinham nomes ligados à musica binária, à regência, serenata e perguntamos para as pessoas mais velhas”. Diogo, 13 anos, disse: “Eu sempre gostei de tirar foto e, com esse curso, eu vou poder tirar fotos muito melhores. Quero comprar uma máquina fotográfica e sair pelo mundo tirando fotos.” De acordo com Simone Moura, o projeto de fotografia teve a finalidade de trabalhar com a autorrepresentação e de “mostrar que o que é singular pra mim tem um significado para mim. A partir da dimensão apenas do discurso da mídia, as pessoas não têm a dimensão do que é viver no morro. Quem mora aqui, é quem vai poder fazer tal recorte através da composição e do enquadramento das suas fotografias”.

Realidade desestimula muitos jovens a querer ser professor ANDRÉIA LOMAS CAROLINA FONSCECA LUIZA CRISTINA 1º PERÍODO

Você já pensou em ser professor? Em caso afirmativo, por que desistiu? Provavelmente por causa do desestímulo tanto do salário quanto da sociedade. Essa é a realidade de milhares de jovens que estão prestes a definir sua vida profissional. Muitos deles sonham em ser professores, mas o sistema em que estão inseridos acaba por desestimulá-los. Salários ruins e a falta de formação de qualidade geraram a queda de prestígio do professor. Buscando melhorar essas condições, em 2015, foram aparovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais, normas obrigatórias para a educação básica que orientam o planejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino. A professora do curso de história na PUC Minas, Carla Ferretti, avalia que a qualidade da proposta é boa: “Não é garantia de melhoria, no entanto já é um passo”. As Diretrizes buscam um esforço para melhorar a qualidade do ensino no Brasil e busca avanços na área, mas ainda há muito que ser feito. Acreditar na educação, no estudante e na compreensão da realidade social são passos para o exercício da profissão de professor, observam os pedagogos. A respeito das escolas, há uma disparidade entre o que é ensinado na licenciatura e a realidade nas salas de aula. Segundo o professor de português e coordenador pedagógico do EJA (Educação de Jovens e Adultos), Antônio Rodrigues de Souza, da Escola Municipal Maria Elena da Cunha Braz, “muitos professores se assustam quando se deparam com a realidade da escola. É como se fosse outro mundo e por isso o tempo dedicado ao estágio poderia ser maior”, explica.

EXPANSÃO

Medidas efetivas podem ser adotadas para melhorar o ensino médio. Algumas são aumentar a oferta de vagas nas instituições de ensino, procurando-se uma universalização do ensino médio, ou seja, estender esse grau de ensino ao maior número de jovens possível, como é feito na educação básica. Outro passo importante é colocar em prática a equação: bom salário + boa formação = bons professores. Os cursos de formação precisam responder a desafios da relação entre teoria e prática, aumentando sua carga horária. A professora Carla observa que, “para melhorar a educação no Brasil, exige-se e sugere-se uma tonelada de iniciativas, mas é obvio que a gente nunca vai ter todas elas de uma só vez. Começar a fazer algo já é um passo efetivo.” Já o prof. Souza acredita que outro passo importante é “a participação mais efetiva da família no processo escolar, isso também é uma grande necessidade”. Para muitos estudantes, o sentido e o valor da educação não estão muito claros e isto acaba por fomentar o seu desinteresse pelas aulas e pelos cursos. A preparação tanto do professor quanto do aluno são processuais, não têm fim. O cotidiano da escola apresenta permanentemente novos desafios, ensinando-se a lidar com a realidade. De acordo com a professora Carla, deve-se “olhar mais para o Brasil e deixar um pouco os parâmetros internacionais, ainda que eles sejam de grande importância como referência”. De acordo com os especialistas, a escola pública e as instituições de nível médio têm tido grandes avanços. A escola não pode perder a sua função real de ensinar, e para isso, deve seguir procurando não só as falhas, mas valorizar as qualidades e os pontos positivos de cada instituição, traçando perfis sociais para buscar cada vez mais a melhoria do ensino em todos os níveis.


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Cidade

Tráfico humano chama a atenção das pessoas Intervenção de ONG britânica desperta curiosidade para o problema do tráfico de pessoas. Número de vítimas no último ano chega a mais de cem DÉBORA ASSIS 5º PERÍODO

Um total de 115 pessoas, de diferentes faixas etarias, cairam na rede de trafico de pessoas, em Minas Gerais, entre janeiro e novembro de 2015. Os dados são da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania de Minas Gerais (Sedpac), que aponta que, entre os anos de 2011 e 2015, foram 564 pessoas submetidas a esse tipo de situação. O tráfico humano é caracterizado como “recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou recebimento de pessoas, por meio de ameaça ou uso da força ou outras formas de coerção, rapto, fraude, engano, abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade ou de dar ou receber pagamentos ou benefícios para obter o consentimento para uma pessoa ter controle sobre outra, para o propósito de exploração”. Essa definição encontra-se no Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em especial de Mulheres e Crianças (Protocolo de Palermo, 2000). Traficar pessoas é transformar alguém em mercadoria comercializável, é escravizar e explorar, além de violar os direitos humanos. Na maioria dos casos, as vítimas são obrigadas a trabalhar sem qualquer tipo de remuneração. Tais pessoas, em geral, são obrigada à prostituição, serviços braçais, domésticos ou a trabalhos forçados em pequenas fábricas. Além disso, algumas têm os órgãos removidos e comercializados.

DESINFORMAÇÃO

Nascida no Brasil, Charlotte

Cohen é uma das vítimas do tráfico humano e, assim, adotada ilegalmente por um casal francês. Na França, desde pequena estranhou fazer aniversário duas vezes por ano. Isto porque seus documentos, registravam 30 de maio como sua data de nascimento mas seus pais adotivos comemoravam seu aniversário em 30 de abril. A explicação era simples: a mãe lhe dizia que, no cartório erraram o lançamento da data. Charlotte também não entendia por que seus outros amigos adotados tinham permissão para procurar as suas origens, enquanto ela não podia nem tocar no assunto sem ser advertida por sua família francesa.

Atualmente, ela tem 29 anos. Durante a infância, conviveu com o preconceito: seus colegas de escola rejeitavam-na por ter traços físicos diferentes. Aos 14 anos, encontrou no escritório de seu pai uma pasta com documentos sobre sua adoção que lhe despertaram desconfiança. Descobriu, então, ter sido vítima de tráfico humano; assim aos 16 anos de idade, saiu da casa dos pais adotivos devido aos desentendimentos sobre o assunto de sua adoção. A saída, autorizada por decisão do juizado de menores francês, levou-a ao internamento em um lar de crianças. Seu sonho sempre foi voltar para o seu país de origem: “Eu queria morar

no Brasil; eu sempre quis desde pequena. Por várias questões, entre elas porque sofri muito preconceito lá [na França], então não consegui me integrar na sociedade.” Em um intercâmbio na Espanha, Charlotte tornou-se amiga de uma brasileira que a convidou para morar em uma república de estudantes do Brasil. Assim, ela começou a aprender a língua portuguesa. Em 2012, veio para o Brasil com a ajuda de um desses amigos. Aqui criou a campanha “Em busca da minha mãe no Brasil”. e ela entrou com um processo contra a mulher responsável por sua adoção ilegal bem como de outras crianças.

GIFT BOX

A caixa do Gift Box atrai os olhares de quem passa por perto

Marianne Fonseca

O movimento Gift box foi criado no Reino Unido pela ONG Stop the Traffik, durante as Olimpíadas de Londres, em 2012. Seu objetivo é o de fortalecer a luta mundial contra o tráfico humano através da sensibilização das pessoas. O projeto consiste em colocar uma caixa em um local público, grande e atrativa, como um embrulho de presente. Trata-se de uma representação do modo - atrativo e fascinante - como os traficantes conseguem atriar ou convencer as vítimas. Em volta da caixa, há frases como “realize seus sonhos” e “veja o mundo e ganhe um bom dinheiro”. Dentro dela, há depoimentos e histórias reais de pessoas que receberam falsas propostas e que se tornaram vítimas do tráfico humano. Em Belo Horizonte, o projeto chegou através da ONG 27 Million em parceria com a Secretaria Estadual de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac) e com o Programa de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. A caixa passou pela Praça da Liberdade e pela Rodoviária. Leandro Barbosa é voluntário da ONG 27 Million e fica na “caixa de

presente” para dar orientação e informação a quem passa por ela. “As vitimas, em geral, já são adultas. Eram crianças quando passaram por esta experiência terrível, mas ainda sentem suas histórias como coisas são recentes, que ainda marcam, que ainda ferem”, conta Barbosa. Pessoas são traficadas tanto de um país para outro, como de um estado para o outro e até mesmo entre cidades da mesma região. Barbosa dá o exemplo de quatro homens que já passaram pela caixa: “Eles sempre tiveram trabalho fixo em empreiteiras e barragens mas, com a crise econômica atual, acabaram perdendo o emprego. Passaram, então a procurar pessoas que recrutam trabalhadores para obras no interior para conseguir uma fonte de renda. Só não sabiam tratar-se de trabalho caracterizado como escravo porque nunca receberam o valor ajustado e condizente com as horas trabalhadas”. Temendo ficar sem nada, as pessoas, com a ilusão de conseguir o dinheiro, vão se submentendo à exploração. “Essa situação, bem complexa, acaba revitimizando a pessoa que retorna à uma situação de vulnerabilidade.

DIAGNÓSTICO Segundo Rafaela da Costa, gerente do Programa de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Petp) da Sedpac, as modalidades de tráfico reconhecidas pelo Protocolo de Palermo são: exploração da prostituição, trabalho ou serviços forçados, escravatura, servidão ou práticas similares e remoção de órgãos. A pesquisa Diagnóstico Sobre Tráfico de Pessoas nas Áreas de Fronteira, realizada pela Secretaria Nacional de Justiça, pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) e pelo International Centre for Migration Policy Development (ICMPD) aponta ainda outras modalidades: adoção ilegal, casamento servil, prática de atividade criminosa, medicância e servidão doméstica. O Petp implantou, em 2012, o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Netp). O núcleo realiza ações de prevenção e combate ao tráfico de pessoas em Minas Gerais. Rafaela da Costa diz que as principais atividades são de articulação e instrumentalização de redes locais, municipais e estaduais de enfrentamento ao tráfico, envolvendo todas as esferas do poder público e da sociedade.

Ônibus podem eliminar trabalho de cobradores KARINE BORGES 4° PERÍODO

O projeto de lei que pode acabar com a obrigatoriedade do trabalhado dos cobradores no transporte coletivo da capital já se encontra nas mãos do Prefeito Márcio Lacerda, para possível sanção. Ele tem gerado desconforto para a categoria dos trabalhadores que receia ficar desempregada caso a lei seja sancionada pelo prefeito. Cerca de 60% das linhas de ônibus da capital ficaram paralisadas na manhã do dia 25 de abril. Os trabalhadores protestaram contra o projeto de lei 1881/16, aprovado em segundo turno pela Câmara Municipal.

RECEIO Após a decisão na Câmara, motoristas resolveram parar durante algumas horas para protestar contra a medida que consideram temerária. De acordo com Márcio Ferreira, representante do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Minas Gerais (STTR-BH) “toda a categoria de trabalhador está mobilizada e novas ações acontecerão para impedir que o prefeito Marcio Lacerda sancione a lei”.

O motorista de ônibus, William Renato Moura Santana, se sente “lesado” pela lei assim como os cobradores, pelo estresse que causa exercer dupla função em um trabalho, às vezes, pouco valorizado. Para ele, há prejuizo total, inclusive para a segurança dos passageiros. “Não traz segurança nem para mim nem para o passageiro, nem aos outros usuários da via porque a atenção que o motorista precisa ter está dividia entre dirigir e a preocupação de cobrar a tarifa; temos de ficar de olho na catraca para não ter prejuízo.”. Empresas de transportes dizem que os motoristas não exercem dupla função mas eles discordam.“Somente com os motoristas responsáveis por tudo dentro do coletivo as coisas se complicam. Por exemplo, na ajuda aos idosos e aos deficientes físicos que precisam do elevador. Temos de deixar a direção para manusear o equipamento e, ao mesmo tempo prestar atenção em quem entra e sai do ônibus”, disse Santana. O adicional de salário definido para os motoristas com a dupla função também é motivo de protestos. “O valor é de apenas R$350,00, em média, quando o salário do cobrador é de R$1.000,00 além

de mais R$400,00 de ticket alimentação”, comenta Santana com indignação. Cristiano Nogueira da Silva é cobrador de ônibus e diz que o projeto de lei prejudica muitos pais de família que dependem do emprego para pagar aluguel e colocar comida na mesa para os filhos. Ele acrescenta: “É um enorme problema já que os motoristas terão que dirigir e cobrar ao mesmo tempo, acionar o elevador quando necessário e dirigir por até dez horas seguidas”. Tanto para Santana quanto para Nogueira exercer a dupla função durante um longo período chega a ser estressante e pode ser perigoso para os trabalhadores das empresas, para os passageiros e para os pedestres encontrados ao longo do trajeto de um determinada linha de ônibus. De acordo com Fábio Roberto, assessor do vereador Autair Gomes, autor do Projeto de Lei, a idéia foi apresentada de comum acordo com os sindicatos dos trabalhadores e com o sindicato patronal, durante as discussões sobre implnatação e expansão da bilhetagem eletronica.

GARANTIA Maurício Reis, assessor de

comunicação do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) afirma que “a eventual sanção pelo prefeito Márcio Lacerda do projeto de lei não implicará em demissão em massa dos cobradores do sistema de transporte coletivo urbano na capital mineira”. Segundo Reis, “é impossível fazer uma demissão em massa sem impor risco de colapso ao sistema. Além disso, há o compromisso profissional

com o Sindicato dos Rodoviários nesse sentido”. De acordo com o SetraBH, o projeto de lei busca estimular a implantação de novas tecnologias no sistema e reforçar a segurança no interior dos veículos. “O incentivo à ampliação do sistema de bilhetagem eletrônica implica em um incentivo na redução da circulação de dinheiro no transporte público para desestimular a ação de assaltantes, podendo aumentar a sensação de

segurança para usuários do coletivo”, comenta Reis. Ele ainda diz que “para a bilhetagem chegar a todos os usuários, será necessário um período longo de tempo, razão pela qual está fora das considerações do SetraBH a demissão de agentes de bordo”. A bilhetagem teve início em 2002, quando cerca de 55% dos usuários utilizavam o vale transporte. E atualmente apenas 68% dos usuários fazem uso do cartão BHBus.

Atualmente o cargo de cobrador ainda existe, mas a tendência é dele acabar

Flora Silberschneider


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Comportamento

Poker atrai atenção de jovens Não sendo considerado um jogo de azar, o poker torna-se costume entre jovens do Brasil. Crescem os clubes, as federações, campeonatos e até mesmo escolas para ensinar como jogá-lo RODRIGO ALVARENGA 1° PERÍODO

O Poker no Brasil conta com 21 federações estudais que cuidam do esporte, incluindo a Federação Brasileira, o que mostra seu crescimento em relação a participantes e torneios, cada vez mais frequentes no País. O campeonato brasileiro, BSOP (Brazilian Series Of Poker), já conta com cerca de 800 mil participantes com prêmios por etapa de R$ 1 milhão. Em Minas, o campeonato tem premiação fixa de R$50 mil, e enfrenta algumas dificuldades, como a necessidade de participantes de todo o Estado. Para Cristiano Rabello de Sousa, presidente de Federação Mineira de Poker, a dificuldade está ligada à locomoção dos participantes. A Federação Mineira de Texas Holden, uma das primeiras do país e uma das que ajudaram a fundar a Confederação Brasileira, nasceu em 2007 e já conta com 12 clubes filiados; três deles ficam na Região Metropolitana de BH, e estima-se que existam cerca de quatro a cinco clubes, não filiados, na região. ESPORTE Considerado

esporte

O jogo tem sido procurado cada vez mais por jovens de Belo Horizonte

pelo Ministério do Esporte, o Poker tem nove modalidades e sua categoria mais importante é o Texas Holden, jogado em duas formas: a primeira é Torneio, mais comum no Brasil, em que os competidores se eliminam nas mesas até que fiquem sem fichas; o campeão é quem eliminar todos. A segunda, é o Rigth Game, em que a pessoa entra na mesa e pode sair a qualquer momento retirando o valor de suas fichas. O atual campeão mineiro, Fabio Issa, que joga desde 2008, já é profissional há três anos. Issa dá preferência a torneios

nacionais. Ano passado ficou no top 10 do Campeonato Brasileiro e diz que, “estudo e preparação são fundamentais para ser um bom profissional”. Atualmente, o campeão dá cursos para jogadores de nível intermediário, nos quais o foco é buscar compreender a interpretação das pessoas durante as partidas. Para ele, as principais características que um bom profissional deve ter são: “Saber matemática e estatística mas, na minha visão, o que mais conta é a cabeça. A pessoa deve ter um psicológico muito forte”, afirma Fabio Issa. Já

para o presidente da Federação Mineira, Cristiano Rabello, as características dos jogadores devem ser “paciência, concentração, saber analisar psicologicamente o adversário, saber a hora de blefar e olhar a linguagem corporal. Os profissionais, além de preparar a mente, devem preparar o corpo para partidas de até 12h de duração”. Rogerio Jorge Bessas, dono do Caiçara Poker Club, um dos clubes de Belo Horizonte filiado a Federação Mineira, diz que “o Poker exige habilidade de analisar, pois não é um jogo de sorte.”

Dia de princesa pode sair caro para os pais TÉRCIA CAROLINE 3º PERÍODO

Qual menina nunca sonhou em ser princesa? E qual menino nunca quis ser um herói? Sem dúvida, as histórias fantásticas encantam as crianças e aguçam a sua imaginação. Tais narrativas, conhecidas como contos de fadas, são geralmente o primeiro contato que a criança tem com a literatura e isso pode, às vezes influenciá-la ao longo da vida. Essas histórias, que à primeira vista parecem meramente entretenimento, são, na verdade, muito importantes. A psicóloga Vânia Brina, que dedicou grande parte de sua carreira ao atendimento de crianças, acredita no potencial do uso de histórias nas sessões, mesmo para adultos, atuais clientes. Ela explica que existem quatro fases para a formação da inteligência de uma pessoa e que os contos de fadas são essenciais à segunda fase, chamada de pré-operacional, na qual é trabalhado o campo da imaginação. Vânia ressalta também que, além do trabalho com o imag-

inário, ao se envolver com a narrativa e as personagens, outro ponto importante das histórias fantásticas é a ideia de resolução de problemas. A criança, ao perceber que a personagem principal sempre consegue solucionar os transtornos que surgem ao longo da história, acredita que ela também vai conseguir vencer os seus próprios problemas. “A criança pensa: se ela pode, eu também posso”, diz. É o cultivo do sentimento mais importante do ser humano: a esperança. Por fazer parte do processo de formação da inteligência e pelo encantamento proporcionado, os contos de fadas se internalizam na mente das pessoas e sua influência ultrapassa a fase infantil. As festas de debutante e as de casamento, consideradas tão importantes pela sociedade, são um grande exemplo dessa influência. Para viver o tão sonhado “dia de princesa”, algumas meninas e mulheres planejam e tentam realizar, a todo custo, grandes festas, que muitas vezes chegam a ultrapassar o orçamento dis-

Flora Silberschneider

ponível para tal evento. Principalmente na comemoração dos 15 anos, cabe aos pais decidir como realizar a festa, já que a aniversariante não tem condições financeiras. Para ver o sonho da filha, e muitas vezes o deles também, realizado, alguns pais acabam por contrair dívidas. Cecília e Rômulo Resende são exemplos desses pais que fizeram o possível para dar a melhor festa para a filha. “Minha filha, Fernanda, sempre foi muito comunicativa e tinha muitos amigos na escola. Quando chegou a fase dos 15 anos, ela foi convidada para muitas festas e ficou louca para fazer a dela”, lembra Cecília. Como, na época, não tinham recursos necessários para a isto, a solução encontrada pelo casal foi fazer um empréstimo no banco e negociar com o patrão a venda das férias. Contam também que depois da festa tiveram que controlar ainda mais os gastos, para conseguir pagar a dívida, mas que todo o esforço foi recompensado. Cecília lembra que ver o sor-

Segundo ele, prova disto é que os vencedores, geralmente, são sempre os mesmos. Amadores e pretendentes a profissionais, em algum momento, erram, mostrando que não existe uma dependência da sorte, pois os profissionais mantêm a liderança em rankings. LEGALIDADE Segundo o professor de introdução ao estudo de direito da PUC MG, Alexandre Travessoni Gomes Trivisonno, “já existem alguns pareceres que excluem o poker do rol de jogos de azar. Isto importa porque o jogo de azar, no

Brasil, está definido por lei como contravenção penal e, portanto, é proibido. A proibição atinge todos os jogos que dependem principalmente da sorte”. Ele explica que um torneio pode ser organizado de forma lícita em locais públicos e a partir do momento em que um prêmio seja estabelecido. Só será considerado crime um jogo em que ocorram apostas e no qual o campeão receba dinheiro, pois a lei de contravenções penais proíbe jogos de apostas em qualquer competição esportiva. Sobre a dificuldade de legalizar, o poker, o professor explica que esta questão não é jurídica, mas sim política. Ao contrário do que ocorre no caso das loterias, o Governo não teria condição de controlar as casas de poker para a tributação da atividade. Por outro lado, do ponto de vista administrativo, é difícil dizer como seria feita a tributação. “Qualquer projeto de lei nesse sentido ainda poderia enfrentar dificuldades no Congresso Nacional onde há um certo conservadorismo em relação ao assunto. Melhor será reforçar sua identidade como esporte, distanciando-o da de jogo de azar”.

Muitas meninas sonham em ter sua noite de princesa

riso estampado no rosto da filha e as lágrimas dela de emoção, durante a comemoração do aniversário, foi muito gratificante e acrescenta: “Fizemos a festa, que foi muito boa por sinal. Realizamos o sonho dela e no fundo, o nosso também.” O desejo de ser tratada comoprincesa, pelo menos por um dia, vai muito além da nostalgia em relação às histórias e fantasias ouvidas e vividas na infância. A psicóloga Vânia explica que um dos motivos que leva a mulher a ter esse sonho tem relação direta

Silvinho Lage

com a construção da imagem da princesa no imaginário social. “A princesa é sempre representada como pessoa admirada, querida, ‘aplaudida’ e bonita. É essa admiração que as mulheres buscam ao querer realizar grandes festas para comemorar seus 15 anos ou o casamento”, diz Vânia. Para ela, as meninas e mulheres lutam tanto por essa festa porque no fundo sentem que lhes falta certa admiração no cotidiano.


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Entrevista

PE. JÚLIO LANCELOTTI

Padre dedica sua vida aos moradores de rua Há muito tempo ele está envolvido na luta a favor dos moradores de rua e em defesa dos direitos humanos. Formado em pedagogia e teologia, padre Júlio Renato Lancelotti é professor primário e universitário e trabalhou no Serviço Social de Menores, de São Paulo, hoje Secretaria Municipal de Assistência Social de São Paulo. Ele é um dos colaboradores na formulação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e, em 26 de julho de 1991, fundou a Casa Vida 1, depois a Casa Vida 2 para crianças portadoras do HIV. É sacerdote desde 20 de abril de 1985 e tem se destacado como Vigário Episcopal para o Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, ao ajudar moradores de rua a lutar por respeito e observância de seus direitos. Doutor Honoris Causa pela PUC-SP, já recebeu muitos prêmios e distinções pelo serviço que presta à população carente e aos menores em situação de risco. MARIA EDUARDA FARIA CAROLINA PEIXOTO MARINA ALVIM 1º PERÍODO

Para o senhor, como é trabalhar há tantos anos, com as pessoas em situação de rua? Lutar, conviver, estar junto e estar do lado deles e sentir deles carinho também. Eu acho que para a cidade a presença deles acaba gerando conflito, divisão, acirramento de luta e desdobramento de conflito; da minha parte, às vezes, os sentimentos são de dor e compromisso que se renova; na visão deles, sou um aliado.

pulação de rua começou há muito tempo em São Paulo e vocês sabem que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não faz o censo da população de rua, porque considera só a população domiciliada. A população que está sem domicílio não entra no censo. Para eles, a população de rua é aquela que está em abrigos ou nos logradouros públicos.

O que mais afeta a relação entre os órgãos públicos e a população em situação de rua? Isso é uma das minhas maiores preocupações. O que deve aparecer muiQuais os cuidados mais imto na narrativa da população de rua portantes no trato com essas é o efeito da institucionalização que pessoas? desumaniza. A gente vive proibindo Proporcionar-lhes aquilo que elas nea população de rua: eles não podem cessitam, o cuidaamar, eles não têm sendo com o que elas timentos, eles têm que mais precisam. ter uma racionalidade Então a gente tem que é uma racionalique ser cuidadodade técnica e a gente Sair da rua, às so e observador fica usando um discurpara identificar o vezes, é uma so do “isso aqui é que que elas necessiresposta muito é o bom para você”, “é tam e não aquilo autoritária e de isso que você tem que que eu quero. Às cima pra baixo fazer”. Fica colocando vezes, eu quena cabeça deles aquilo ro dar o que elas que são os padrões da não precisam. O chamada normalidade principal cuidado é identificar a casocial. E nem sequer se busca saber rência: de quem tem fome é comida; o que é realmente bom pra ele, o que de quem tem sede, água; de quem é realmente ele precisa. carente, amor; de quem tem solidão, companhia; e de quem chora, chorar junto e enxugar a lágrima.

Qual o objetivo do trabalho com as pessoas em situação de rua? O objetivo maior é conviver junto e construir, com eles, respostas. Sair da rua, às vezes, é uma resposta muito autoritária e de cima pra baixo; então a gente tem que descobrir com eles o que eles estão buscando. Quantos moradores de rua existem em São Paulo? Hoje, em São Paulo, segundo os dados apresentados pela Prefeitura, são 16 mil pessoas. Esse número, para nós, não corresponde à realidade. O censo da po-

Qual o papel da universidade nessa luta? Eu acredito que uma universidade pode ser um espaço de acompanhamento e observatório dessas questões. Eu acredito muito que a voz de uma universidade pode ser importante. Eu reclamo muito isto na PUC de São Paulo: que se posicione frente a determinadas questões como, por exemplo, a centralização das ações. É para tratar a população de rua de forma homogênea? É para ter um determinado controle? Mesmo numa cidade que tenha duas mil pessoas em situação de rua, existem questões de territórios, existem questões de controle de território. Então, tratar isso de uma forma centralizada será a melhor forma? Ou será uma forma só de controle? Nessas duas questões, eu acho que a universidade é um espaço de debate destas dúvidas. O que o senhor acha que falta para haver um contato mais humano de todos com a população de rua? Nesse sentido eu acredito que a palavra do Papa Francisco tem sido muito forte. Ele rebate o sentido

Flora Silberschneider

tinham feito. Depois, colocamos a segunda cruz na Secretaria de Habitação, porque não há nenhuma resposta da habitação. Morar é um direito fundamental da nossa forma de viver, um lugar onde você pode comer, deitar, sonhar, fazer amor, onde você pode ficar sozinho. Você precisa ter um lugar para sua intimidade. A terceira cruz foi colocada na subprefeitura, onde existe o “rapa” que tira tudo, chutando panelas de comida, pegando os remédios. A quarta cruz foi colocada no gabinete do prefeito. Depois na Secretaria de Direitos Humanos e na Secretaria de Segurança Pública também.

Como o senhor analisa a situação das mulheres de rua? da população “descartável”, lembranO número de mulheres na rua é medo-nos que todos fazem parte de nosnor do que o de homens, mas as musa sociedade. Toda nossa ação, toda lheres sofrem mais. Elas são mais nossa convivência, todo nosso trabadiscriminadas, patologizadas, tratalho com essa população é, de certa das como pessoas desequilibradas. forma, uma contradição se nós não A narrativa das mulheres é mais dranos colocarmos realmente ao lado mática, mais contundente, mais dodeles, se nós não tivermos com eles lorida, porque elas carreuma convivência gam a maternidade, elas real. Não uma carregam algumas coisas convivência de que, ligadas à intimidade imposição ou de da vida da mulher, são enquadramento O amor é um muito complicadas. Na porque, fazendo parte da higiene, houve risco. Ninguém isso, estaríamos uma vez que eu chamei querendo que eles tem apólice de uma moradora de rua que voltem para aquiseguro de amor estava na porta da Igreja lo que não deu para conversar comigo e certo na vida deela disse que não podia les. Respondensair de onde estava, pordo melhor à sua pergunta: um dia, que havia “adoecido”. Em algumas um companheiro da rua virou para regiões, “adoecer” é menstruar. As mim e disse: “Tô cansado da técnica mulheres não têm acesso a absorvenperguntar pra mim: quantas latinhas tes, a prevenções de DST (doenças você catou hoje? Ela nunca pergunsexualmente transmissíveis), a exatou pra mim: você tá bem? O que mes que previnem câncer de mama, você tá sentindo? Isso ela nunca me a se lavarem, terem roupas limpas. perguntou”. Vejam, o conteúdo desta narrativa: ele mostra que nós damos muito valor aos documentos. Às ve- E quanto às crianças? Eu sinto um aumento do número de zes eu penso que ele é mais respeitacrianças na rua, como do de adultos. do do que a própria pessoa. Convívio Em São Paulo começa a aumentar, é diferente: você pode levar muito tempo para saber o nome da pessoa, outra vez, o número de crianças e porque somos muito “de questionáadolescentes sozinhos, cheirando rios” e pouco de conversa, de olhar a cola ou com outra substância. Na pessoa. E isso é o que falta na maioria Cracolândia também há crianças. Eu das vezes, nos trabalhos sociais. acredito que é um desafio maior. Na minha experiência com a Pastoral do Conversar com a sociedade Menor nós procurávamos realizar sobre esse assunto ainda é com eles atividades que eles podiam um desafio. Por quê? multiplicar sem a nossa presença e Porque é falar de um enfrentamento promovíamos o lanche com eles, na de conflito. Uma coisa que nós não rua. Segundo alguns psicólogos e podemos ter é medo do tema, da ideia algumas escolas de psicologia, você muitas vezes pseudo humanista, até tem que ter experiências positivas pseudo cristã, de que não há conflito. que você possa multiplicar. Você tem Há conflito sim. Vai ter conflito e nós que fazer uma experiência de amor vamos ter de enfrentá-lo. Não tem na sua vida que seja tão boa que você jeito de você estar do lado dos poqueira repetir. Eu não quero repetir bres, dos descartáveis, dos evitáveis, nenhuma experiência negativa. dos indesejáveis e não ter conflito. Discutíamos muito isso em momenAcho que o acirramento do conflito tos de adoção de crianças com maior não é a briga pela briga, mas é você dificuldade de serem aceitas porque desnudar os interesses. o problema maior é elas serem adotadas e depois serem rejeitadas. O amor O que o senhor aprendeu é um risco. Ninguém tem apólice de com esse trabalho? seguro de amor. Eu acredito que nós Tem uma coisa que eu aprendi nesses temos que viver experiências signianos de convívio com a população de ficativas ou humanas e de amor tão rua. Uma senha de aproximação: o boas que a gente queira multiplicar. olhar. Eu uso muito essa senha: olhar nos olhos das pessoas. Eu comentei O que pode ser feito quanto no meu Facebook, na sexta-feira santa, quando fazemos sempre uma ca- à agressão contra moradores minhada pelo centro da cidade. Esse de rua? Eu acho que a gente tem que deano, eles fizeram a vivência das paránunciar, mostrar, publicisar. Isso é bolas da misericórdia e, como um siuma perversidade arquitetônica, é a nal de falta de misericórdia, eles fizeperversidade da cidade que quer se ram a opção de colocarmos uma cruz livrar dos pobres. A gente tem que na porta de cada secretaria municipal denunciar, explodir junto com eles, e estadual, com uns cartazes mostranestar lá com eles, para ajudar a acado porque aquela secretaria é bar com isso. E denunciar. Hoje a causa de morte e não de rengente tem que usar as redes sociais da. A primeira em que nós para denunciar isso. Porque o povo fomos foi na Secretaria da rua tem Whatsapp também. Wi-fi de Assistêntambém serve para eles. Eles sempre cia Social. me avisam: “O rapa tá aqui padre, Colocamos vem logo!”. Então eu acho que a gena primeira te tem que criar redes de resistência e cruz e os cartazes que eles tomar posição.


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