Jonal Marco #326

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COM 3,5 POR 2,5 CM, O MENOR JORNAL DO BRASIL É RELANÇADO EM DIVINÓPOLIS E ENCANTA LEITORES COM SUA FORMA SINTÉTICA DE FAZER JORNALISMO.

Orlando Bento

Flora Silberschneider

Wilson Avelar

MORADORES DE SANTA TEREZA SÃO UM EXEMPLO DE PARTICIPAÇÃO. ELES PROPÕEM MODELO DE UTILIZAÇÃO DO MERCADO DISTRITAL.

NEM ESPECIAL,NEM HERÓI. TOSTÃO, ÍDOLO DO CRUZEIRO, SE DEFINE COMO UM PROFISSIONAL COMPROMETIDO COM TUDO AQUILO QUE FAZ.

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marco Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo . Faculdade de Comunicação e Artes . PUC Minas . Ano 43 . Edição 326 . Dezembro . 2016

Política mobiliza a juventude

Estudantes assumem a liderança dos principais acontecimentos em 2016. Editorial, páginas 8 e 9

Flora Silberschneider

leia ainda

Mário Penna é referência no tratamento do câncer Instituto já passou por muitas dificuldades e, mesmo assim, nunca parou sua luta. Sua história é marcada pela humanização e construida com muito esforço. O Hospital Luxemburgo e o Mário Penna compõem o Instituto. Página 3 Divulgação

Tradição natalina está sendo esquecida por algumas pessoas Após anos de tradição, o espirito natalino mudou de significado para algumas pessoas. Antes comemorado pelo nascimento de Jesus, hoje é um evento que o comércio aproveita para lucrar e em que as pessoas consomem e presenteiam. Esquece-se, assim, o verdadeiro significado da data. Página 12

Marianne Fonseca


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m editorial

O ano que marcou Flora Silberschneider 7º Período

OPINIÃO CRÔNICA

Felicidade é bem que não se compra Camila Vieira 7º Período

Jornal MARCO Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal PUC São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286

Editora: Profª. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Maura Eustáquia e Prof. Getúlio Neuremberg Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Clara Carvalho, Giulia Staar, Karine Borges, Letícia Perdigão e Marina Moregula Monitoras de Fotografia: Flora Silberschneider e Marianne Fonseca Monitores de Diagramação: Laura Brand e Samuel Lima Apoio: Laboratório de Fotografia e NEP CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares

Jéssyca Pereira Silva Relações Públicas 1º Período

ComCiência é o título da fascinante exposição da artista australiana Patricia Piccinini, no CCBB de Belo Horizonte até 9 de janeiro. Através do hiperrealismo, a artista tensiona a dimensão animal da vida humana em contraponto com o triunfo da razão e da ciência. Ao mesmo tempo, põe em crise o olhar julgador em relação ao outro. Figuras de perfil incomum, mistura de características humanas e animais, presença de crianças e representação de seres próximos são parte do repertório da artista. Ela propicia uma aproximação com as obras que desafia a quebra de paradigmas sociais e culturais carregados em relação àquilo que foge de padrão. Piccinini usa materiais próximos à nossa realidade, como cabelo humano e animal e silico-

ne, tornando mais inteligíveis as expressões faciais dos personagens. Devido à impactante proposta, a exposição obteve enorme sucesso ao redor do mundo, lotando os espaços em que foi apresentada. Para causar reflexão no espectador, a exposição tenta envolvê-lo na experiência. No trajeto, além das esculturas, pode-se observar quadros feitos com materiais semelhantes ao das esculturas, pequenos filmes e projeções. Junto à luz baixa e ao som agonizante, causam um sentimento de angústia, capaz de tomar toda a atenção de quem está presente. As obras são manifestações artísticas de grande impacto e reavaliação, que nos trazem questionamentos sobre o mundo em que vivemos e dos julgamentos que fazemos em relação ao outro. Sugerem a pergunta sobre por quê possuímos tamanha aversão ao desconhecido e ao diferente.

Quem pratica e escreve sobre futebol está de luto. A Chapecoense, clube que está fazendo história no futebol brasileiro, chegava à sua primeira final de campeonato internacional. Mas o evento não aconteceu. A equipe do MARCO presta sua homenagem à delegação do time - atletas e dirigentes - e aos colegas jornalistas que morreram no cumprimento de sua missão.

m expediente

Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Cláudia Siqueira Chefe de Departamento: Prof. Ercio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel

O hiperrealismo e a ideia de um olhar consciente

Homenagem

Arte: NEP

O ano de 2016 foi repleto de acontecimentos marcantes tanto no Brasil quanto no mundo. A população brasileira vivenciou um capítulo importante da história da política. O MARCO esteve presente e atento para repercutir a maioria desses fatos, como o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, as manifestações de rua e, mais recentemente, as ocupações estudantis. Paralelamente, o jornal não deixou de acompanhar os fatos após um ano da tragédia em Mariana, o cotidiano dos moradores vizinhos à PUC, abordando temas como a interdição de casas no bairro João Pinheiro por razão de vazamentos, a história da Vila São Vicente e a vida de personalidades dos bairros e no campus. Nesta edição, são destacadas as mobilizações dos estudantes nas escolas, as histórias de instituições marcantes para a cidade, como o Hospital Mário Penna. Nesta última edição do ano, parte da equipe se despede da monitoria. Em nome de todos, agradeço aos leitores pelo carinho e apoio ao jornal. Ficamos felizes de fazer parte dessa família que o MARCO construiu com a cidade e a universidade. É sempre importante o retorno de vocês, leitores, que indicam temas e estão sempre atentos à procura de um novo meio para se informar. Toda a equipe se despede de 2016 com sentimento de dever cumprido e o coração cheio de alegria. Acreditamos que, fazendo a nossa parte, informando e interpretando os acontecimentos com imparcialidade, conseguimos ajudar a criar uma sociedade melhor. Desejamos um Feliz Natal e um próspero 2017, recheado de boas notícias na vida de todos.

O Natal é uma das minhas épocas favoritas do ano. As ruas se enchem de luzes que invadem os corações das pessoas e o espírito de natal se encarrega de aquecê-los, com o auxilio, é claro, de biscoitos enfeitados, deliciosos e quentinhos. No fim do ano, o mundo parece ser um só, celebrando a partilha e se lembrando do quão especiais são aqueles que vivem conosco. Afinal, decorar a casa e montar a árvore não é uma tarefa de um apenas, mas uma tradição das famílias que já pensam no que vão fazer para a ceia, enquanto preparam o lar. Nos tempos antigos, a ceia era feita para viajantes que chegavam cansados em vilas e encontravam uma família que os acolhia para jantar, com fartura de alimentos e de amor. Em um mundo tão ameaçador como o nosso, as pessoas não costumam mais abrir as portas de suas casas com facilidade e se escondem atrás dos muros. Mas a magia natalina resgata a bon-

dade que ainda existe em algum lugar. Ela está naqueles que apadrinham crianças, que enviam cartas aos Correios, nos pais que ensinam aos filhos a importância de doar, nos que levam alimento e alento para os que precisam; nos que compartilham abraços, sorrisos e desejam bom dia. Por aqui a neve não cai sobre nós, para deitarmos sobre ela e fazermos anjos, mas podemos ser os próprios anjos. Sempre fui fascinada por tudo que envolve magia e pensava que encontraria esse tipo de coisa apenas nas páginas dos livros. Mas passar a noite de Natal com a família, assistir aos especiais na TV - que podem ser os mesmos todos os anos, mas nunca perdem a graça por toda a nostalgia e clima gostoso que trazem - celebrar o renascimento e distribuir presentes, desejando coisas boas ao outro enquanto nos sentimos em paz, ora, há algo de mágico nisso: É a esperança de que a felicidade existe. E, ao contrário dos presentes materiais, ela é algo que não se compra.

CRÍTICA

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fórum dos leitores

Eutanásia e religião Li a matéria sobre eutanásia na última edição do Jornal Marco e achei muito verdadeira. Acredito que Deus é bom e misericordioso, não acho que ele ficaria zangado se eu encurtasse o prazo para encontrá-lo. Acredito que somos seres humanos de livre escolha e de livre pensamento. Sou católica e sei que católicos sempre ficarão falando a mesma lenga-lenga de que só Deus pode dar um fim aos sofrimentos intermináveis. Parabenizo a coragem do Jornal de abordar um assunto delicado de forma concisa e pela extensa pesquisa realizada. Anna Maria Carrera, Aposentada


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SAÚDE

Mário Penna continua sua luta contra o câncer

Marianne Fonseca

O doente ainda sofre preconceito, mas pesquisas e tecnologia aumentam suas possibilidades de cura Ana Clara Carvalho 7º Período

Ninguém quer receber a notícia de que está com câncer, principalmente antes dos 40 anos; mas foi o caso de Vânia Darque, diagnosticada com câncer de mama aos 32 anos. Ela sentiu um nódulo ao fazer o autoexame durante o banho, foi para o posto fazer mamografia e, depois de três meses recebeu o diagnóstico. “Quando eu o senti, o caroço tinha o tamanho de um grão de feijão. Até o final dos exames, ele já tinha o tamanho de uma laranja”, conta Vânia. O tumor tomou 85% da sua mama esquerda. Como o caso já estava bem avançado, a indicação foi de cirurgia, - mastectomia - que é a retirada total da mama. Porém, por Vânia ter apenas 32 anos, a médica optou por procedimentos menos radicais que possibilitassem o desaparecimento do tumor. Foram dois anos de tratamento, nove meses de quimiote-

rapia e 33 sessões de radioterapia. Sem precisar tirar a mama, Vânia Darque se tratou, o tumor sumiu e ela foi curada. Há três meses, passou por uma cirurgia de reconstrução de mama, que foi necessária, devido a um esvaziamento axilar – retirada de todos os gânglios da axila – que deixou suas mamas desproporcionais. Mesmo com alta há um ano e meio, ela continua sendo paciente do hospital recebendo acompanhamento. O tratamento começou em 2013 e Vânia foi atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no hospital Luxemburgo, uma das unidades do Instituto Mário Penna, instituição filantrópica hospitalar, de referência, no tratamento do câncer. O instituto inclui, também, o hospital Mário Penna, a Casa de Apoio Beatriz Ferraz e um Núcleo de Ensino e Pesquisas. A história do instituto foi construída com muito esforço estimulado pelo sucesso no tratamento

de muitas pessoas que passaram por lá. O Luxemburgo atende 30% de pacientes particulares e de convênios; já o Mário Penna é totalmente voltado para o SUS. Mas os recursos do convênio do instituto com o SUS não são suficientes para mantê-lo. Por exemplo, um procedimento de quimioterapia, que custa em torno de mil reais, é oferecido apenas por R$300,00. A outra parte é arrecadada pela comunidade, através de doações e de lojas associadas à promoção do troco solidário. SUPERAÇÃO

O hospital Mário Penna já foi conhecido como “depósito de doentes”, pois era um lugar onde eles ficavam desamparados e sem assistência. A portaria fechava às 18h, pois não havia quem pudesse ficar ali para cuidar deles. No outro dia, muitos já tinham morrido durante a noite e eram enterrados no Cemitério da Saudade, na maioria das vezes, como indigen-

Hospital vai além do cuidar A Casa de Apoio Beatriz Ferraz abriga pacientes que vêm de outras cidades e não têm onde ficar. Beatriz Ferraz era conselheira e uma das fundadoras do grupo de voluntariado – Volmape. Sua filha, Mariângela Ferraz acompanhou a mãe quando ela estava com câncer de ovário e, nesse período, ficou muito íntima do sofrimento oncólogico. Antes de Beatriz morrer, ela expressou à sua filha o desejo de que seguisse com a obra dela. Mariângela foi presidente das voluntárias e atualmente é diretora de humanização. Há um ano foi instituída essa diretoria para proporcionar aos doentes e funcionários um ambiente acolhedor no instituto. “Dentro do hospital oncológico as perdas são recorrentes, é muito sofrimento. Temos de estar junto com essa equipe toda que cuida do paciente, promovendo um ambiente humanizado”, explica. A ideia é promover ações que quebrem a rotina. Por exemplo, os estagiários de psicologia trabalham na espera do paciente, e, ao acolhê -los procuram convida-los a expres-

sarem seus sentimentos, escrevendo, por exemplo, mensagens que são entregues para os funcionários, como um recado de bom dia. “É um modo legitimo e humanizado da gente saber, do próprio paciente, como se sente e de ele nos dar força”, afirma Mariângela. O projeto de humanização, também, sai dos hospitais. Os pacientes que têm câncer de laringe, indicados à cirurgia, perdem as cordas vocais e não falam mais. Uma das formas de voltarem a falar é através do uso de prótese. É preciso que eles passem por um período de recuperação; para isto, foi criado o “Coral Aprendiz”. Mesmo que o paciente não queira participar do coral, os ensaios são importantes para ajudar no uso da prótese. Eles começaram se apresentando nos hospitais e agora já saem, inclusive, para escolas. Eles cantam na base do esforço e, nessas apresentações, dão alguns depoimentos, principalmente para os adolescentes, sobre o uso do tabaco e álcool, principais causas do câncer de laringe.

tes. “Quando você chegava à porta do hospital o cheiro já exalava na rua: um mau cheiro que vinha de dentro do hospital. Era de pessoas que estavam apodrecendo ainda vivas”, conta Osmânio Pereira, fundador da Associação dos Amigos do Hospital Mário Penna. A Associação, fundada em 1971, procura mobilizar pessoas e buscar ajuda para o hospital. Através de carnês distribuídos em igrejas e graças a uma ajuda anônima, eles conquistaram sua primeira ambulância. Pereira relata que a associação foi criada por ele, junto com Antônio Jannotti, depois que a irmã dele, Célia Jannotti, disse ter visto uma mulher, que se autodenominou Nossa Senhora de Nazaré, que lhe pediu para olhar pelo hospital. Depois da morte de Célia, em 1970, eles decidiram continuar sua missão. O médico João Baptista Resende, especialista no tratamento cirúrgico e estudioso da cura do câncer, foi um dos maiores responsáveis pela obra de surgimento do Mário Penna. Sua chegada ao ainda “depósito” foi um divisor de águas para a instituição. Com ele, foi criado o primeiro bloco cirúrgico do hospital e, do seu trabalho, junto com seus alunos residentes, começaram a aparecer às primeiras altas. Um hospital onde morriam 100% dos pacientes, atualmente, é

Vânia não deixou que a doença lhe roubasse o sorriso

referência no tratamento do câncer. Faz qualquer porte de cirurgia oncológica, atende cerca de dois mil pacientes de quimioterapia por mês e realiza mais de 234 mil aplicações de radioterapia por ano. PROJETO

No Núcleo de Ensino e Pesquisas já acontecem trabalhos de ponta em parceria com universidades nacionais e estrangeiras e o instituto tem um projeto de inovação tecnológica voltada para a oncologia. Hoje, os moradores do interior de Minas, com suspeita de câncer, são encaminhados aos hospitais Luxemburgo ou Mário Penna. Muitos viajam mais de 700km, chegam com fome, fazem vários exames e só então descobrem que estavam com tumores benignos, não cancerosos. Esse problema será resolvido com o projeto já elaborado de uso da telemedicina e a telepatologia. Com ele vai-se criar um centro de coletas de materiais nas cidades distantes, em convênio com

um hospital local, da rede pública e/ou privada. O material, coletado por médicos, será posto numa lâmina e através da telepatologia chegará ao centro de pesquisas em Belo Horizonte. Assim, será possível identificar o tipo e o estágio do tumor sem que o paciente tenha de viajar. Para ter-se a opinião de mais de um médico, o material será repassado para outros centros avançados de tecnologia. Ao final, o paciente vai ser informado do seu diagnóstico e qual o local apropriado para o tratamento. Se for para algum hospital do Instituto, já vai estar com data e hora marcada, e o médico já terá acesso ao seu diagnóstico. “Agiliza o procedimento médico, evita sofrimento, transtorno, e não congestiona o hospital. Isso tudo através da inovação tecnológica que é o que o Mário Penna está sonhando fazer”, explica Osmânio Pereira. Divulgação

Funcionárias trabalham na humanização dos pacientes


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CIDADE

Rafael Vieira Carelli 1° Período

A inclusão e socialização de pessoas com algum tipo de deficiência é pauta cada vez mais atual. E este é o tipo de trabalho que realiza o Instituto São Rafael, em Belo Horizonte. Há 90 anos, completados em setembro, o Instituto auxilia deficientes visuais na escolarização, habilitação e reabilitação para a vida e o trabalho. O São Rafael se mantém com recursos do Estado e por meio de doações; hoje atende 63 alunos de escola fundamental e mais 300 alunos em outros cursos, prestando a essas pessoas apoio fundamental. Alfredo Sales é um destes alunos. Por causa de diabetes, diagnosticada tardiamente, ele, que era caminhoneiro, ficou cego aos 25 anos. Buscou auxílio para conseguir realizar as tarefas diárias e seguir a vida após a

Instituto São Rafael quer mais inclusão Desde os anos 20, os deficientes visuais ali encontram apoio para enfrentar suas dificuldades doença, encontrando no São Rafael um apoio importante na recuperação. “Passei por uma psicóloga e uma terapeuta operacional e comecei a estudar, na reabilitação, para aprender a me virar no dia a dia em tarefas básicas como andar na rua, realizar as atividades do cotidiano. Aprendi a fazer café, passar roupa e coisas do gênero”, relembra Alfredo. DESAFIOS Ainda assim, as dificuldades enfrentadas pelos deficientes visuais em Belo Marianne Fonseca

O instituto oferece diversas aulas como tapeçaria, massoterapia e libras

Horizonte são inúmeras. Alfredo ressalta que o descaso do poder público é visível em vários pontos da capital. “Em alguns lugares onde andamos, há o piso tátil, que auxilia na locomoção, mas ele leva à algum poste ou buraco e acaba, até mesmo, causando acidentes. Além disso, poucas pessoas têm o bom hábito de ajudar a gente a atravessar a rua ou a achar algum endereço”, lamenta. Para além dessas atividades básicas, o Instituto mantém para esses alunos e pessoas com outras deficiências, aulas de musicalização, tapeçaria, massoterapia, costura e curso de Libras. A diretora do São Rafael, Juliany Sena, afirma que a vontade do Instituto é ampliar suas atividades. “A partir do ano que vem, vamos oferecer cursos técnicos mistos, para pessoas com deficiência ou sem. Já temos duas turmas de massoterapia e estamos estudando oferecer cursos de informática com foco na acessibilidade.” A redução no número de alunos no Instituto, observada nos últimos anos, não é um ponto negativo para

Juliany. “A escola já esteve mais movimentada, contudo isso se deve ao fato de que, hoje, a inclusão está mais presente na sociedade; os deficientes agora estão tendo espaços para estudar e se especializar em locais mais próximos de suas casas.” REABILITAÇÃO Um dos pontos mais importantes do São Rafael é a recepção de pessoas que se tornaram deficientes visuais depois de adultos. A dificuldade, nestes casos, costuma ser maior pelo fato de a pessoa já estar acostumada ao

modo de vida de um não-deficiente e se ver na situação de ter que mudar sua rotina e adaptar-se a um novo cenário. Personagem importante, neste primeiro momento de impacto, é a professora Luzia Mendes, também deficiente, que dá aulas de Braile para os adultos recém-chegados. “Faço isso por amor, gosto de fazer o que faço. Já passaram muitos alunos por mim e isso me dá uma satisfação muito grande.” Ela estudou no Instituto São Rafael, no Ensino Fundamental e se formou em letras na UFMG. Voltou para servir ao Instituto que a ajudou durante toda a vida. Deu aulas de alfabetização, antes de ensinar o Braile e sente orgulho de sua jornada na inclusão dos deficientes. “É o que eu sempre gostei e sempre quis fazer. É uma forma de retribuir aquilo que o Instituto me deu quando precisei.”

Instituição faz parte do patrimônio de Belo Horizonte O Instituto São Rafael está localizado em área importante na história de Belo Horizonte. O prédio, erguido em 1894, fica na confluência das Avenidas Augusto de Lima e Contorno, ponto que remete aos tempos mais antigos da capital. Fundado em 2 de setembro de 1926, o Instituto acompanhou o crescimento da cidade desde o seu processo de construção. A sua importância foi reconhecida pela Prefeitura Municipal em 2013, quando o prédio foi tombado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Municipal.

Escola de Saúde Pública comemora 70 anos de realizações Nádia Gomes 1º Período

Chegar aos 70 anos não é uma tarefa fácil. Completar sete décadas de vida com tradição, inovação e reconheci mento como entidade que promove mudanças constantes na saúde pública, não é pra qualquer um. Mas esta é a realidade da Escola de Saúde Pública de Minas Gerais (ESP-MG). Situada na Avenida Augusto de Lima, no Barro Preto, ela está comemorando 70 anos de excelência na qualificação de trabalhadores da saúde pública de Minas Gerais. Criada em 1946, no

processo de reestruturação do Departamento de Higiene do Estado de Minas Gerais, a escola é a pioneira em sua área no Brasil. Maria Aparecida Mendes, enfermeira e oitava mulher a ocupar o cargo de diretora geral da escola, diz que é um sonho realizado dirigir uma instituição que tem um papel ímpar na qualificação dos trabalhadores do SUS. “São mais de 300 mil profissionais qualificados e mais de nove mil docentes envolvidos com a escola. Temos um papel importante de contribuição para a consolidação do sistema de saúde público em Minas Gerais e

no Brasil”. A ESP-MG exerce papel primordial, também, no desenvolvimento de programas de extensão e pesquisas sobre temas relevantes em saúde pública. A superintendente de Educação, Junia Celani, ressaltou a importância da ESP na história de Mi-

nas Gerais: “Ela surgiu antes da Secretária Estadual de Saúde, antes mesmo da existência do SUS e ao verificarmos sua história, podemos acompanhar as demandas de saúde pública no Estado. Em 1988, com o surgimento do SUS, nós passamos a dar curso de saúde da Flora Silberschneider

A escola é pioneira em saúde publica no Brasil

família e especialização em saúde mental, bem no bojo da reforma psiquiátrica. Muito do que foi decidido na reforma psiquiátrica, no Estado, passou pelos corredores da escola. Quem trabalha na saúde pública passou por aqui em algum momento.” O médico e ex-aluno da ESP Hudson Prado explica: “A escola é um espaço de discutir, conversar, propor coisas diferentes e refletir sobre a saúde publica e seus principais desafios. É uma honra fazer parte do seu quadro de alunos. Eu não seria o médico que sou se não tivesse tido a oportunidade de treinamento

que tive aqui. Além disso, meu primeiro contato com computador foi aqui dentro. Anos atrás, foi oferecido um curso de Windows para que os profissionais pudessem utilizar tecnologia, corretamente, nos postos de saúde, visando otimizar o trabalho”. O diferencial da escola fica evidente a cada conversa com funcionários: todos parecem extremamente satisfeitos com o que fazem e destacam o seu comprometimento com a saúde. Com um grupo permanente de profissionais concursados e comprometidos, a Escola Pública de Saúde de Minas é exemplo para o país.


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CIDADE

Polícia só desvenda 5% dos homicídios Maioria dos crimes no Brasil não chega a ser solucionada ou nem mesmo punida. Desemprego e falta de estrutura das polícias estão entre as causas da violência Winicyus Gonçalves 8º Período

Faltava um mês para Fabrício fazer 22 anos, quando ele foi assassinado em abril de 2012, no bairro Ouro Preto, na região da Pampulha, em BH. Apaixonado por automóveis, ele não chegou sequer a realizar o seu sonho de comprar um carro. Foi morto com três tiros, no meio da rua, por volta das 18 horas, após uma tentativa de assalto. O caso dele é apenas um, em meio à violência que tem resultado na morte de milhares de pessoas no Brasil. Especialistas colocam o País entre os mais violentos do mundo. A ocorrência cotidiana de homicídios, tentativas e roubos atinge patamares inadmissíveis. E essa violência cresceu nas últimas décadas, sem dar sinais de trégua. De acordo com os últimos dados do Mapa da Violência 2016, por ano são mais de 57 mil mortes no Brasil. E os casos em que os assassinos são punidos não chegam sequer a 8%.

TRAGÉDIA Fabrício era estudante de gastronomia. Queria ser mestre confeiteiro. “A sensação de abandono, de não ter ninguém por você é terrível.Vai-se perdendo a credibilidade que se tem nos homens, nas autoridades, cada dia mais”, diz Francisco Galeano, pai do rapaz. Ele e a esposa, com medo de morrer como o filho, fugiram de BH para o interior da Bahia. “Só lágrima, tristeza e dor pela impunidade, nos resta; nada acontece, você não tem resposta”, lamenta Maria Galeano, mãe de Fabrício. Casa, salão de beleza, pizzaria, tudo o que eles construíram, com a ajuda do filho, ficou para trás. Segundo o professor Eduardo Queiroz Mello, da Faculdade de Direito da PUC Minas, a situação estrutural do país contribui para o aumento da violência :“A violência se expande fundamentalmente por causa do desemprego. À medida em que a pessoa se vê sem perspectiva, sem

chances no mercado, ela parte pra opções radicais”. Para o professor, a crise que o país enfrenta, após um período de 13 anos de inclusão social, favoreceu o crescimento, separando a violência estrutural do crime organizado. PUNIÇÃO Nos Estados Unidos, o índice de solução dos homicídios é de 65%. E no Reino Unido, 90%. No Brasil, estimativas, inclusive da Associação Brasileira de Criminalística, indicam que de 5% a 8% dos assassinos são punidos. De cada cem, mais de 90 nunca foram descobertos. Para o professor Queiroz Mello, a violência tem essa e outras causas como a falta de estrutura das polícias – civil e militar – para dar conta de suas atribuições. Ele ainda acha equivocado o pensamento de que “a policia prende e o juiz solta”, que já faz parte do senso comum. “Se o Judiciário solta alguém é porque encontra alguma irregularidade, ou até uma

ilegalidade na prisão”. Mas há casos, também, em que “as provas materiais desaparecem. Todo mundo passeia no local do crime. As testemunhas não são entrevistadas corretamente, nem são identificadas. Isso aí faz com que, cada vez mais, não se consiga a condenação do criminoso”, explica o sociólogo e especialista em segurança pública, da PUC Minas, Moisés Augusto. O professor Queiroz Mello ressalta ações que implementadas levariam os processos a andar mais rápido. “Como alterações pontuais nas leis processuais penais e a nomeação de juízes para comarcas sem juiz efetivo há anos. É preciso mudar esse quadro no Brasil inteiro”. Benefícios aos réus, como a delação premiada podem resultar em uma investigação mais eficaz, mas Mello ressalta que “a delação premiada não deve se converter quase ‘numa indústria’, no sentido de que se ‘negocie’ para que o investigado fale. A delação tem que ser espontânea, sa-

bendo, quem delata, o que faz e que benefícios poderá vir a ter”. ESTRUTURA Números da Pesquisa de Informações Básicas Estaduais (Estadic) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). mostram que a Polícia Civil de MG tem o menor efetivo da região Sudeste, se comparada ao tamanho da população atendida. Algumas unidades não contam sequer com internet. Os dados mostram que no Estado há um policial civil para cada 2.113 habitantes. Em São Paulo, são 1.353 moradores para cada investigador. No Rio de Janeiro, são 1.546, próximo ao índice do Espírito Santo (1.545). Além de ter o menor efetivo da região, Minas também é o Estado com o maior número de municípios que não têm pelo menos uma delegacia. Especialistas entendem que esse atraso de Minas Gerais contribui para o aumento da criminalidade. Para o professor Eduardo

Queiroz Mello, os entraves são mais burocráticos do que de outro tipo e mostram que o centro do problema está na estrutura das polícias. “Temos uma polícia mal estruturada, não mal preparada. Essa dificuldade não se dá só por aspectos legais, mas por questões estruturais”, como plano de carreira, ferramentas modernas, estágio em corporações estrangeiras. Para o sociólogo Moisés Augusto, o sucateamento da Polícia Civil é retrato da política adotada no País de priorizar o policiamento repressivo em detrimento do profissional responsável pela investigação, que favorece a punição e inibe o crime. Moisés Augusto destacou que isso cria um círculo vicioso. “Sem investigação competente vai haver um aumento da criminalidade. A medida tomada pelo Estado será investir no policiamento de repressão, e vai aumentar a distância entre a Polícia Militar e a Polícia Civil”. Flora Silberschneider

Coreu tem se esforçado para diminuir a violência A violência no bairro Coração Eucarístico tem assustado os moradores e motivado ações da Polícia Militar e da Associação dos Moradores para proteger quem vive no bairro. Nesse sentido a Policia Militar iniciou um movimento de aproximação mais efetiva com os moradores da área. Para o major Ricardo, da 9º Companhia da Polícia Militar, é importante

que o canal de comunicação entre a Polícia Militar e a comunidade esteja sempre aberto. “Nós nos apresentamos para que os moradores do bairro nos conheçam e estejam cientes das nossas ações para garantir a segurança deles”. O major ainda acrescenta que os moradores podem ligar para o telefone da companhia sempre que precisarem. Professor Queiroz Mello acredita que mudanças nas leis processuais penais precisam ser feitas

BH faz combate sistemático aos acidentes no trânsito Natália Alves 3º Período

Acidentes no trânsito são a causa principal da morte de jovens entre 15 e 29 anos no mundo. Por isto foi criado pela ONU, o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito (WDR, World Day of Remembrance), data lembrada no terceiro domingo de novembro, para refletir sobre o problema. Esse ano, a data foi celebrada no domingo (20). Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a cada ano são mais de 1,2 milhões de mortes por cau-

sa de acidentes e em mais da metade estão envolvidos pedestres (22%), motociclistas (23%) e ciclistas (4%). Segundo o Instituto Avante Brasil, o país está no 4º lugar do ranking da maior quantidade de mortes no trânsito. BH foi a cidade que teve o maior número de acidentes fatais, em MG, nos últimos dois anos: foram 352 mortes, segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). PERDAS A psicóloga, Gláucia Rezende, conta que per-

deu a filha em um acidente quando ela voltava de uma fazenda, com amigos, há 18 anos. “Ela havia tirado carteira recentemente, mas deixou o carro na casa de uma amiga e foi de carona. O motorista tinha bebido e estava em alta velocidade na estrada. O carro capotou e dos quatro jovens, ela foi a única que morreu.” Gláucia é a idealizadora do projeto Apoio a Perdas Irreparáveis (API) e explica que a morte da filha foi o principal motivo para criar a rede de apoio a enlutados. A API promove reuniões e palestras abertas àqueles que sofreram perda

de algum ente querido e precisam de apoio para seguir em frente. A psicóloga acredita que a imprudência dos motoristas, em especial dos jovens, é um comportamento que precisa ser mudado. “Há essa cultura de transgressão das leis, de achá-las desnecessárias. O que precisa ser disseminado são a prevenção e o cuidado”, afirma. O número de acidentes de trânsito em BH, de acordo com dados da BHTrans, assim como o grau de severidade e dos traumas causados, reduziu drasticamente nos últimos anos graças a utilização de radares. Essa medida permite preservar, em média, 180 vidas por ano, desde o início de sua implantação, em 2000. LEGISLAÇÃO Apesar dessa melhoria,

atitudes como o excesso de velocidade, dirigir alcoolizado e falta de atenção ainda são registrados entre moradores. A cada hora, quatro motoristas são flagrados pelas autoridades de trânsito desrespeitando a lei, segundo o Detran MG. A Lei nº 13.281 entrou em vigor em novembro e tem causado polêmica. Com multas mais caras e punições mais rígidas, ela traz as novas alterações do Código de Trânsito Brasileiro. A advogada e professora de Direito Penal da PUC Minas, Juliana Macedo, afirma que as alterações são importantes, pois a legislação precisa evoluir de acordo com as necessidades da sociedade. Sobre às infrações de trânsito, ela explica que pode haver punições tanto na esfera administrativa

quanto penal. “Uma conduta, como dirigir embriagado, está prevista como crime no Art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro e a pessoa fica sujeita a pena privativa de liberdade; também está prevista, como penalidade administrativa, uma multa, e o motorista estará sujeito à suspensão da direção, retenção do veículo ou recolhimento da carteira.” Entre as mudanças da nova lei, está a multa de quase R$ 3 mil a quem se recusar a soprar o bafômetro, o que é infração gravíssima, além da suspensão da direção por um ano. Parar em vagas de deficiente físico e idoso também se tornou infração gravíssima: perda de 7 pontos e multa de R$ 293,00.


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Aline Beatriz Taynara Barbosa 2º e 1º Períodos

Desde pequena, Carmélia Felizardo Ribeiro, 56, aprendeu com a mãe a importância de ajudar o próximo. Foi dela a iniciativa de criar o projeto social Ateliê MeninaFlor, que por meio de oficinas de artesanato uniu a habilidade manual de artesãs do bairro São Gabriel. A artesã, que já foi voluntária na Fundação Metodista de Ação Social e Cultural, conta que essa experiência, esse “pé no social”, nasceu dentro de casa. “Minha mãe sempre foi muito envolvida em movimentos de igreja, fazia enxovais para bebês, tinha uma senhora doente que minha mãe ajudava levando sopa e fazendo

CIDADE

Oficina de artesanato marca vida de mulheres Ateliê Menina-Flor deixa legado de trabalhos sociais, ensinando artesanato para jovens e idosos do bairro alguns panos de prato. Essas coisas a gente foi aprendendo”, comenta. “Dessa forma, eu comecei a me interessar e sempre tive vontade de fazer trabalhos sociais.” Por volta de 1987, Carmélia, juntamente com uma funcionária da fundação, Marta, conseguiu uma sala para atender às mães e avós das crianças assistidas no local. “Quando terminou o projeto Habitare, do qual eu participava, ficavam muitas senho-

ras sentadas, próximo à entrada da fundação, conversando e fazendo crochê. Um dia, a assistente social da associação, Marta, me convidou para fazermos um trabalho com elas. Descobrimos que eram mães, avós, tias e vizinhas das crianças atendidas na fundação, que não tinham como voltar para casa para depois buscarem as crianças, pois o transporte na época era precário. Então, enquanto ficavam lá esperando o Vitória Oliveira

Geralda (a esquerda) e as gêmeas Fifica e Rô já participaram do ateliê

atendimento acabar, faziam crochê e batiam papo”.Conversando com o diretor da associação, conseguiram uma sala, inclusive com lanche, para essas senhoras que às vezes ficavam o dia inteiro sem comer. Formaram, assim, um grupo de mulheres e começaram a dar cursos de artesanato. O ateliê MeninaFlor nasceu em 2001 a partir da ideia de Carmélia de fazer um

trabalho social para ajudar os moradores do São Gabriel. “Chama-se ‘menina-flor’ por causa da estória de uma boneca que representa um local escuro e sem vida onde uma flor nasce, apesar de tudo”, explica a artesã.

Márcia Helena Antão, 68, amiga de Carmélia durante anos, entrou, também, para o projeto social. A trajetória de Márcia é parecida com a da companheira. Aprendeu artesanato

ainda na infância: “Comecei aos cinco anos; sempre via minha mãe e minha avó fazendo e me interessei”, conta a mulher. As amigas ressaltam a importância de ajudar o próximo. “É preciso, ajudar e respeitar o outro. É aquela frase que sempre digo ‘Não dê o peixe, ensina a pescar’”, diz Carmélia. Para Márcia, a benevolência e a caridade são fatores de grande relevância para a caminhada do projeto. “A benevolência está junto com a caridade, que é respeito, a amizade, e a paciência para compartilhar os ensinamentos com o próximo. O que eu sei não quero levar para debaixo do chão, quero ensinar às pessoas aquilo de bom que aprendi um dia”, frisa.

É preciso ensinar a pescar Várias mulheres foram beneficiadas com o projeto, entre elas, dona Geralda, 69, e as gêmeas Maria do Carmo e Maria do Rosário, 80, conhecidas como Fifica e Rô. Geralda é artesã há dez anos. Seis anos atrás, ela fez parte do projeto Menina-Flor. Conta que foi uma experiência incrível e lamenta a não continuidade do projeto, pois hoje em dia o Menina-Flor não tem mais um local. Fifica e Rô fizeram parte do projeto e participaram de diversas oficinas em que aprenderam a fazer produtos artesanais como bonequinhas e palhacinhos.

“Era um grupo de senhoras que juntas aprendiam a fazer pintura, artesanato. O conhecimento que uma tinha passava pra outra e assim por diante”, conta Geralda. “Com o fim das oficinas eu comecei a dar cursos na Oitava Igreja Presbiteriana e vendo os trabalhos em exposições e feiras, promovidas pela própria igreja”, acrescenta. Segundo Fifica, elas aprenderam artesanato nas oficinas do ateliê. “A gente aprendeu com a Carmélia e sua turminha”. Como Geralda disse, “foi uma experiência enriquecedora,” completa Rô.

Moradores do São Gabriel querem o apoio dos vereadores Letícia Perdigão 4º Período

Escutar mais os jovens, investir em cultura e profissionaização, além de oferecer mais opções de lazer são as principais demandas do São Gabriel aos três vereadores eleitos pela região. São eles Marilda Portela, do PRB (8.497 votos), Carlos Henrique, do PMN (5.206 votos) e o reeleito Reinaldo Preto do Sacolão, do PMDB (5.492 votos). Na última semana de outubro, lideranças

e moradores do S.G. se reuniram para discutir suas expectativas em relação à ação dos vereadores municipais, que tomam posse no início de 2017. Durante o encontro, realizado na Igreja Nossa Senhora da Anunciação, foram apontadas as necessidades de investimento nas áreas de saúde, educação, lazer e segurança pública. O enfoque principal foi dedicado às atividades para crianças, adolescentes e jovens que, de acordo com a comuni-

dade, são vulneráveis à criminalidade e sem perspectiva de melhorias de vida. Para a maioria dos participantes, falta diálogo com a juventude. Considerando isso, foram listadas propostas para dar eixo às conversas futuras com moradores e com os parlamentares eleitos. Entre as ideias levantadas, estão um pré-vestibular comunitário,. oficinas de profissões e orientação profissional. Além disso, palestras para pais e alunos nas escolas, abordando

questões como saúde, criminalidade e tecnologia. Outro aspecto ressaltado na discussão foi o investimento em capacitação dos jovens para trabalharem em sociedade. Os moradores não focaram, necessariamente, no que cabe por lei aos vereadores. Debateram a possível articulação do que pode ser feito com o apoio dos parlamentares eleitos. É que eles se comprometeram a representar o bairro e a dar suporte às demandas sociais locais, aos

direitos dos moradores e ao aproveitamento do potencial transformador da região. Cabe aos vereadores fiscalizar o executivo municipal e propor leis que defendam o interesse público, repre-

sentando a população. Dessa forma, os moradores acham que eles podem buscar modos de melhorar a qualidade de vida na região. Colaboraram Guilherme Peixoto - 1º período e João Morais - 6º período David Brisco

Moradores se reúnem para discutir ações conjuntas


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LITERATURA

Grande Sertão: Veredas faz 60 anos Marianne Fonseca

Guimarães Rosa encanta leitores ao dar voz ao sertão poético de Minas Gerais Karine Borges 5° Período

“Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja”. Assim começa Grande Sertão: Veredas, história de vingança, lutas, perseguições, medos, dúvidas e amores pelos sertões de Minas Gerais, Goiás e sul da Bahia, contada em longo monólogo por Riobaldo, ou Tatarana ou Urutu-Branco. Trata-se de um ex-jagunço, personagem central do livro que, envelhecido, relata sua experiência de vida a um misterioso interlocutor. O livro, lançado em 1956 e que completa 60 anos, é considerado obra prima da literatura brasileira e das mais significativas do mundo. Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora. Rita Gabrielli, doutoranda em Literaturas de Língua Portuguesa, da PUC, diz que a importância de Rosa se deve a ele “atestar e celebrar para a sociedade a literatura como potência (re) criadora e transformadora”. A comemoração dos 60 anos do livro gerou um seminário nacional sobre Rosa na PUC Minas, que “acontece em função da força de alcance da obra, da sua competência em encenar a condição humana em sua

complexidade, perdurando em diversos tempos e espaços, marcando a existência dos mais diversos sujeitos”, afirma Rita. Entre diferentes impactos da obra, destacam-se as mudanças na literatura brasileira resultantes da linguagem utilizada por Rosa. Ele é considerado por muitos como o articulador do falar mineiro associado ao arcaísmo, brasileirismos e neologismos. A linguagem ultrapassa os limites “prosaicos” para ganhar dimensão poético-filosófica. NOVA LINGUAGEM

A linguagem faz uma recriação de si mesma recondicionando-se inventivamente para sair do lugar comum e dar maior dimensão ao discurso. Para a professora de Letras da PUC Minas, Márcia Marques de Morais, a questão referente à dificuldade de leitura da obra diz respeito ao uso constante da metalinguagem (explicação de um código através do uso do próprio código. Por exemplo, um poema falando da própria ação de se fazer um poema). “Para mim, a verdadeira personagem, o narrador da obra, é a linguagem”, comenta. Rita Gabrielli aponta outra contribuição da obra de Rosa: “A de refletir as coisas do mundo, já que ele não hesita em explorar línguas, em trabalhar com a forma, para mostrar que o mundo é mesmo ‘muito Marianne Fonseca

Rita diz que gosta de Rosa, com quem se identifica

misturado’, que a humanidade não se reduz a dicotomias, como ‘bom ou mal’, ‘bonito ou feio’, ‘comunista ou fascista”. LEITURA DIFÍCIL

Os jovens do ensino médio consideram Rosa um autor difícil. Mas Rita e Márcia dizem que, hoje, há relatos de professores segundo os quais, ao contrário do que muitos acham, os alunos não têm grande dificuldade com a obra dele por se identificarem com ela. Márcia acredita que há alunos do ensino médio que consideram Machado de Assis mais difícil que Rosa. Rita acredita que é importante, ao trabalhar a literatura rosiana com jovens, “mostrar o quanto ela é atual, porque, afinal, reflete sobre a condição humana”. Ela também acredita que o autor é mais lido quando o leitor se identifica com o texto. “Uma literatura, como a de Guimarães, constantemente lida e relida, é sempre atual porque há muito nela com o que se identificar”. “Ele é um autor que desafia os leitores. A linguagem é o seu principal instrumento para provocar o efeito de estranhamento no leitor, porque ela é utilizada de forma a extrapolar o limite do dizível. Para ler Rosa, temos que aceitar esse desafio brincando com a linguagem junto com o autor”, observa. PÓS-ROSA

A dificuldade da linguagem utilizada por Rosa e o seu requinte de qualidade fizeram com que um vácuo se seguisse, após Grande Sertão, na literatura brasileira. Esperava-se, de modo geral, que uma grande literatura como a dele acabasse influenciando, direta ou indiretamente, o trabalho de escritores e o gosto dos leitores. Para a professora Márcia, “o período pós -Rosa foi marcado por um buraco no surgimento de novos escritores, por causa da riqueza de suas produções. Não consigo encontrar autores influenciados por Rosa; é difícil essa apropriação

Grande Sertão é um convite renovado a uma viagem de encantamento

da linguagem utilizada. Vários autores tentaram e para mim os que tentaram não foram felizes”. Já Rita se lembra do autor Luiz Ruffato, com seu Eles Eram Muitos Cavalos: “A São Paulo de Ruffato lembra o sertão de Rosa, na medida em que também encena a mistura constitutiva da huma-

nidade. Por meio de um trabalho formal singular, Ruffato faz da São Paulo, encenada, no seu romance, mais do que um espaço geográfico, um espaço de questões existenciais de diversos sujeitos – um espaço subjetivo, portanto, como o sertão de Rosa”. Mas, fora do Brasil, grandes nomes da

literatura de língua portuguesa, inspirados em Rosa, construíram obras que lhes valeu - cada um a seu tempo - o Prêmio Camões: José Luandino Vieira (Angola) e Mia Couto (Moçambique). O prêmio Camões é a maior distinção conferida a autores de países de Língua Oficial Portuguesa.

Viagem pelos caminhos do Sertão Este ano, o jornalista Gustavo Werneck, do Estado de Minas, durante dez dias percorreu com sua equipe (fotógrafo, guia e motorista) os caminhos de Riobaldo, protagonista do livro Grande Sertão: Veredas, rumo à região do Liso do Sussuarão, na margem esquerda do Rio São Francisco, em território mineiro. A equipe passou por Cordisburgo, Três Marias, Pirapora, Buritizeiro e Paracatu. O projeto foi proposto pelo diretor de redação Carlos Marcelo Carvalho para a primeira de uma série de matérias ao longo do ano, em homenagem a Rosa. “A ideia era encontrar personagens que pudessem contar as histórias de Diadorins (homossexuais e travestis) que vivem no sertão e tiveram coragem de viver a vida da forma que escolheram”, comenta Werneck. Ele comenta que não tinha entrevistas marcadas. Eles foram encontrando os personagens por acaso e, para a história de cada um, o repórter fez uma relação com trechos do livro que representavam algo de sua trajetória de vida. Kiara, uma delas, a única pessoa para a qual ele tinha referência, havia sido morta. Então ele foi atrás da informação: “Procurei família, amigos e acabei descobrindo. Quando achei a história, percebi que a dificuldade era porque o telejornal de referência tinha dado o nome dela errado. Após ouvir o que acontecera, identifiquei a vida dela com

esta fala de Rosa: O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado! E bala é um pedacinho de metal”. Outro personagem que eles encontraram foi Luana, uma menina de 15 anos, vaqueira, que divide a cama com a namorada, no sertão, com o consentimento do pai. Werneck disse que a história da moça foi bem interessante. “Quando ela tomou coragem para contar para o pai que era lésbica e que tinha uma namorada, ficou com medo do que podia acontecer”. Mas a atitude do pai dela foi admirável: “Ele foi contra tudo o que as pessoas achavam e até do que ela esperava. Ele disse ‘ao invés de perder uma filha agora tenho duas’. Isso me fez pensar. Como é que em um lugar, como o sertão, em que a gente acha que as pessoas são mais conservadoras e propícias a não aceitar o homossexualismo, ele aceitou? Na cidade, muitos pais não aceitam e até expulsam os filhos de casa”, disse Werneck. Para ele, esta reportagem foi um grande aprendizado. Após a caminhada, ele e sua equipe concluíram que essa foi uma grande recompensa como profissionais do jornalismo. Segundo Werneck, “o melhor do jornalista é isto: correr atrás das histórias para poder contá-las, porque enquanto houver boas histórias para contar sempre haverá alguém para escutá-las”.


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Estudantes ocupam universidade em Aprendizado, visibilidade nacional, integração entre os cursos e vivência política são parte do legado que a mobilização deixa a alunos e professores da PUC. O protesto Flora Silberschneider

Marina Moregula Samuel Lima 4º Período

Ocupantes do Coração Eucarístico têm dormido no prédio 47 do Instituto de Ciências Sociais

UFMG: conflitos e rádio ocupada Uma manifestação de secundaristas e universitários contra a PEC 55, no dia 18 de novembro, terminou em conflito com a Polícia Militar de Minas Gerais, em frente à portaria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na Avenida Antônio Carlos. Os policiais utilizaram balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo e entraram na universidade para perseguir os alunos após a manifestação. Estudantes fizeram filmagens do momento e divulgaram o fato nas redes sociais. O reitor Jaime Ramírez repudiou a ação da polícia e afirmou, em entrevista à Rádio UFMG Educativa, que sua primeira ação foi providenciar atendimento médico aos 12 alunos feridos no conflito. Ele disse, ainda, que as imagens do conflito “falam por si” e mostram a ação violenta, excessiva e inaceitável dos policiais. O movimento estava previsto para acabar às 11 horas, quando os policiais começaram a atirar sem dialogar com os alunos. Os manifestantes correram para dentro do campus da UFMG, mas alguns policiais os seguiram. Professores fizeram, então, um cordão humano na entrada da universidade para proteger os

estudantes. Os vídeos e fotos do momento, feitos pelos manifestantes, estão na página no Facebook “Ocupa Tudo UFMG”, voltada para a divulgação de notícias sobre as ocupações em todos os prédios da universidade. RÁDIO CRUA UFMG

A Rádio UFMG Educativa foi ocupada no dia 6 de novembro depois de negociações com a diretoria. Parte da programação está voltada ao tema das ocupações e recebe o nome de Rádio Crua UFMG. São três horas de programação diária, divididas em quatro períodos de 45 minutos e produzidos por secundaristas e universitários. Segundo Roberta Alves de Oliveira, integrante da ocupação e estudante de pedagogia na UFMG, “esta ocupação tem objetivo claro: dar voz aos estudantes, mostrar o que acontece no dia a dia da ocupação”. A ideia é oferecer uma alternativa à mídia tradicional, que não aborda o tema de forma justa. A programação inclui entrevistas, repasses dos secundaristas, debates sobre a PEC e sobre temas sociais e políticos como racismo, feminismo, maternidade na universidade, pautas LGBTs.

Lugar de pertencimento, sobrevivência, transformação, formação, respeito e integração. É isso que a ocupação representa para cerca de 40 alunos da PUC que participam do movimento no campus Coração Eucarístico. Os ocupantes foram à Brasília participar da manifestação junto ao Senado durante a votação da PEC 55 e, ao voltar, iriam decidir se a ocupação continuaria ou teria fim. Entretanto,

mesmo com o Senado aprovando a PEC em primeiro turno, o movimento, que começou no dia 6 de novembro, já é considerado vitorioso por alunos e professores envolvidos. Para Thainá Nogueira, presidente do DCE, as conquistas incluem o estímulo ao debate dentro da universidade, a visibilidade nacional e o protagonismo como primeira universidade privada a ser ocupada no país. “Temos outras PUCs ocupadas no Brasil, isso só foi possível depois do nosso exem-

plo aqui.” O movimento luta por pautas nacionais, mas também locais, como a questão da mensalidade da PUC e da assistência aos alunos bolsistas e aos diretórios acadêmicos. As reivindicações locais foram reunidas pelos ocupantes em uma carta, entregue à Reitoria no dia 23 de novembro. Thainá avalia que o movimento “vai sair vitorioso pela visibilidade que teve e pelas pautas locais na carta de reivindicações”. A Reitoria se comprometeu a responder ainda

PEC 55 afeta também educação privada As universidades privadas serão diretamente impactadas pela PEC 55. Para a professora de pedagogia e da pós-graduação em educação, Maria Auxiliadora Oliveira, as principais razões para a legitimidade das ocupações nas PUCs são os cortes previstos nas políticas de inclusão social, como o Prouni e o Fies. Segundo ela, as áreas mais afetadas são as de pesquisa, mestrado e doutorado, que são constituídas por pessoas que, em geral, precisam trabalhar. Maria Auxiliadora acredita que o corte de gastos vai representar uma elitização dos mestrados e doutorados. Além disso, uma pesquisa, realizada por ela e mais dois professores do Programa de Pós-graduação em educação, verificou que os alunos do Prouni são os que menos faltam, apresentam menor índice de

evasão e recebem grande parte dos destaques acadêmicos. “As classes menos favorecidas têm que ter maiores oportunidades. Para isso, o Prouni é essencial.” A professora ainda se posicionou contra o “Escola Sem Partido” e a Medida Provisória (MP) 746, que propõe uma reestruturação no ensino médio. Alguns pontos, como a volta dos vestibulares e a não necessidade de licenciatura para dar aulas no ensino médio, representam um retrocesso na educação. Para ela, o problema do ensino público não está apenas nas salas de aula: “Muitas escolas têm ótimos professores, mas, enquanto não houver no Brasil uma equalização social, os alunos do ensino público terão menos chances”. Flora Silberschneider

As ocupações estudantis inspiraram trabalhos acadêmicos de estudantes da PUC. Rafael Fernandes Lourenço, aluno do 3º período do curso de jornalismo, produziu um folheto informativo. No trabalho para a disciplina de Fotografia, ele aborda “as ocupações secundaristas” em uma fotorreportagem, relatando desde suas inspirações até a forma como se organizam, bem como seu dia a dia de debates e oficinas.


9 OCUPAÇÕES

defesa da educação e da democracia Flora Silberschneider

contra a PEC 55 começou no dia 6 de novembro. em dezembro. Emilly Prado é estudante de ciências sociais e diz que se sente mais aluna da universidade por causa da experiência de participar da ocupação: “A gente está aprendendo política na prática; as teorias sociais e políticas estão acontecendo de fato nas assembleias, nas votações, espaços de voz. Tudo isso tá rolando, todo mundo cresceu politicamente”. Estudante de geografia, Almir Frattezi está na ocupação desde os primeiros momentos e explica que sua maior inspiração são os secundaristas. Ele se sente motivado ao ver o tamanho do movimento e ao sentir que faz parte de uma luta que é de todos. Já Olívia Santos, estudante de ciências sociais, acredita que o melhor foi a integração entre os cursos: “Conhe-

ci pessoas que não conheci em três anos nessa universidade.” Ela participa da roda de mulheres do movimento, do grupo de trabalho da cozinha e acredita que ocupar enriquece o histórico de um estudante. “Contribui para nossa formação política. A gente está num período em que precisamos disso, de construir pautas coletivamente, porque vivemos um retrocesso e acredito que este movimento vem pra nos tornar agentes de transformação.” Anselmo Gomes Júnior cursa ciências sociais, no prédio 47, que está ocupado, mas afirma que não se sentia parte do lugar antes disso. “A gente ganhou uma cozinha da galera da arquitetura, isso aqui é nosso lugar. Não só o prédio 47, mas a PUC, agora, é nossa.” Ele reforça que é preciso re-

Faixas e cartazes produzidos pelos alunos estão espalhados pelo prédio. Um deles traz as regras gerais de convivência da ocupação

ver o assistencialismo para quem está na universidade por meio de algum programa social: “O assistencialismo pra estar aqui existe apenas no papel”. PROFESSORES

Professores ligados à Associação dos Docentes da Flora Silberschneider

PUC Minas (Adpuc) se pronunciaram a favor da ocupação por meio de um manifesto divulgado no dia 8 de novembro. No documento, eles consideram a iniciativa dos estudantes corajosa e legítima, e a PEC 55 uma medida prejudicial à educação e autoritária, já que não foi discutida por diferentes setores da sociedade brasileira. “A luta dos estudantes é também a nossa luta.” Segundo o professor Luis Roberto Martins, integrante da Adpuc, a Associação entende que os estudantes não estão ferindo as condições de trabalho da comunidade acadêmica e estão lutando pelo que é direito

deles. Apesar de o protagonismo do movimento ser dos estudantes, ele acredita que o apoio dos professores, além de dar certa tranquilidade aos alunos, é fundamental para atrair mais pessoas para a discussão. Tanto nas universidades quanto nas escolas, os professores têm participado de maneira muito ativa, discutindo a PEC e a reforma do ensino médio em suas aulas e em debates organizados, nas ocupações, pelos próprios alunos. O professor Martins avalia que a grande conquista da ocupação na PUC foi que “a universidade há muito tempo estava distante de discussões, debates

e mobilizações, que são necessários. Com esse processo que se iniciou pelos estudantes, começa a haver algumas indagações sobre o nosso papel no sentido de melhorar as condições dentro do campus, o quanto é necessário pensar o que é a educação no Brasil ou na própria universidade”. Independentemente de, ao final, os alunos alcançarem ou não o atendimento às reivindicações, para o professor uma coisa mudou na universidade: a ocupação trouxe para dentro dela os problemas que estão afetando a sociedade. brasileira, atualmente.

Reitoria não quer semestre prejudicado Universitários recebem secundaristas em almoço de confraternização no campus Coração Eucarístico

Alunos do S. Gabriel se mobilizam Guilherme Peixoto Taynara Barbosa 1º Período

No dia 7 de novembro, aconteceu no campus São Gabriel uma assembleia de estudantes. A reunião, realizada com o objetivo de discutir questões relacionadas à PEC 55, examinou várias propostas levantadas pelos alunos e, ao fim, os participantes decidiram, por 104 votos a 36, ocupar as dependências da

unidade. Durante toda a assembleia, os estudantes destacaram a necessidade de fortalecer as ocupações de outras universidades e escolas de ensino médio. Sobre a Proposta de Emenda Constitucional que motivou a ocupação, um dos integrantes do movimento diz entender que se trata da “PEC do fim do mundo”. “Se a gente for parar pra pensar, todo estudante e trabalhador está sendo atin-

gido por ela”, diz uma estudante que, assim como os demais entrevistados, pediu anonimato. O movimento no S. Gabriel vem sendo garantido por doações externas de alimentos e produtos de higiene pessoal. Um componente do grupo classificou a situação da ocupação como “tranquila”. “Mas a cada dia a gente vai precisar mais, vão vir mais pessoas pra dormir aqui e apoiar”, relata.

A Reitoria da PUC se posicionou sobre as ocupações por meio de uma nota oficial divulgada no dia 8 de novembro. Na nota, diz compreender a relevância do movimento e reafirma seu compromisso em contribuir para a “construção de um mundo mais justo, participativo e fraterno”. Entretanto, tendo em vista os direitos de todos os alunos, ela não pode permitir que as atividades acadêmicas sejam prejudicadas, especialmente em função da proximidade do final do semestre letivo. Um pedido de rein-

tegração de posse foi ajuizado no dia 4 de novembro e acolhido pela Justiça no dia 7. “A medida decorre das competências e deveres de ofício dos gestores da Instituição, em especial os estabelecidos nos incisos IV e V do art. 28 do Estatuto da Universidade”. Os incisos dizem respeito às competências do reitor: “IV - dirigir e administrar a Universidade; V - zelar pela fiel observância da legislação aplicável, em especial do Estatuto e demais normas da Universidade”. No entanto, os alunos se recusaram a desocupar

o campus e uma audiência de conciliação iria ser agendada pela Justiça. Por meio da nota, a PUC se compromete ainda “a não valerse de meios abusivos para proceder à desocupação de suas instalações, na certeza de que tal situação terá uma breve e satisfatória solução”. A Reitoria afirma, também, que adotou medidas para atender às necessidades dos ocupantes de entrar e sair da universidade, bem como de transitarem com alimentos, colchões e cobertores.


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Laura Brand 4º Período

O Vossa Senhoria, recordista como menor jornal do mundo pelo Guiness Book em 2000, e atual detentor do título de menor do Brasil, volta a encantar com sua forma inusitada de contar histórias. Medindo 3,5 por 2,5 centímetros, o jornal foi relançado em agosto deste ano, em Divinópolis (MG), conquistando novos leitores. O Vossa Senhoria foi fundado,originalmente, em 1935 no estado de Goiás pelo mineiro Leônidas Schwindt. Ao se mudar para Divinópolis, o jornalista e gráfico trouxe para o interior de Minas seu posicionamento crítico refletido nas páginas do jornal. Por causa de sua abordagem investigativa, Leônidas precisou mudar de cidade diversas vezes perseguido pela polícia. O Vossa Senhoria circulou até 1956. Em 1985, inspirada pelo projeto idealizado por seu pai, Dolores Schwindt deu continuidade ao jornal e reduziu sucessivamente seu formato até o tamanho atual. Esse esforço rendeu ao Vossa Senhoria, em 2000, o título do Guiness Book, ganhando manchetes no mundo inteiro. Ele deixou de ser editado em 2007 e, nove anos depois, é relançado como uma joia do periodismo. CONTEÚDO

Leida Reis, diretora de redação do Vossa Senhoria, é responsável por pautar os assuntos que compõem, mensalmente, as pequeninas páginas do jornal. Com a ajuda de correspondentes, ela reúne a gama de informações publicadas no jornal. “Temos uma corres-

IMPRENSA

Menor jornal do Brasil ressurge em M. Gerais Reconhecido internacionalmente por seu tamanho inusitado, o jornal Vossa Senhoria, de Divinópolis, mescla o tradicional formato impresso com uma forma diferente de informar leitores e contar histórias Flora Silberschneider

sar de ser um jornal tão pequeno, tem informações interessantes, vale a pena assinar”. “Sempre o levo na bolsa, mostro para as pessoas; elas acham muito interessante”, conta Beatriz. Atualmente, a divulgação do jornal é feita de forma colaborativa. Em diferentes cidades, pessoas dispostas a divulgá-lo colaboram para manter vivo um ideal de mais de 80 anos. “Toda vez que eu saio na Savassi, levo o bolso cheio e deixo exemplares na caixa do supermercado, bilheteria do cinema”, conta Milton Nogueira. MODERNO

Milton Nogueira exibe a evolução do jornal que, com o passar dos anos, só diminuiu de tamanho

pondente em Brasília que se encarrega de fazer uma análise econômica e eu mesma faço a página de política, buscando algo que leve o leitor a pensar”, conta Leida. “Como o jornal mantém a tradição de ter ligação intrínseca com Divinópolis, buscamos sempre alguma notícia local, de cidades ou esportes”. Também possui correspondentes em Itaúna, Nova Serrana, Natal e, inclusive, Nova York. Quatro das 28 páginas do jornal são traduzidas para o inglês, uma forma de agradar aos assinantes internacionais e atrair um público cada vez maior, em diferentes localidades. A ideia tem dado certo. Desde que foi

relançado, o Vossa Senhoria recebeu diversas mensagens de apoio de toda parte do mundo. Yang Ning, editora de notícias da Televisão Central da China, CCTV, a maior rede de televisão do país, saudou o retorno do jornal em uma das páginas da edição de setembro. Allegra Gravelius, assessora de Malala Yousafzai, enviou ao Vossa Senhoria, em outubro, uma frase do discurso da ativista paquistanesa para o Nobel da Paz de 2014. Com uma linha editorial independente e crítica, o jornal busca ser combativo e plural. Toda edição conta com um cronista e um poeta do mês, páginas de filosofia,

receitas, artes plásticas, história do jornal e espaço do leitor. DIFERENCIAL

Milton Nogueira, atual presidente do Vossa Senhoria, é um dos principais responsáveis pelo reconhecimento internacional do jornal. Após décadas trabalhando na ONU como consultor ambiental, levou o jornal para líderes do mundo inteiro. Nogueira vê o Vossa Senhoria como uma forma sintética de interpretar o mundo. Quando assumiu a frente do jornal, a pedido de Dulce, outra filha de Leônidas Schwindt, descobriu a dificuldade em descrever

uma ideia completa em uma página tão pequena. Na edição de agosto, uma das páginas noticiou o Pokekar, uma ideia de um morador de Divinópolis em cobrar para levar crianças para caçar Pokemons pela cidade. “Colocar essa ideia em duas linhas é um desafio intelectual muito interessante”, afirma Nogueira. Beatriz Gontijo, 67 anos, é uma das assinantes do Vossa Senhoria. Na época em que morava em Divinópolis, ela já conhecia o pequeno jornal, mas foi apenas após seu relançamento, em agosto desse ano, que decidiu se tornar assinante. Para a aposentada, o tamanho do jornal não interfere em sua qualidade: “Ape-

Leida Reis defende que o Vossa Senhoria, com sua proposta sintética, é capaz de ganhar espaço no jornalismo atual. “Estamos encontrando pessoas interessadas nessa mídia tradicional e, ao mesmo tempo, inovadora para os dias de hoje”, diz ela. Da mesma forma como surgiu, na década de 30, em meio a um tempo de crise econômica, hoje ele é relançado num contexto de crise do jornalismo impresso. Grandes jornais estão sendo obrigados a se reinventar enquanto o Vossa Senhoria volta, não para fazer nenhuma revolução, mas para manter a história de um veículo que completa 81 anos. “Sou fã das grandes reportagens, mas acredito também na palavra certeira, no texto literário ou analítico pequenininho que encanta e faz refletir”, defende Leida Reis.

Flora Silberschneider

Um pouco mais sobre o Vossa Senhoria O Vossa Senhoria tem tiragem mensal de mil exemplares. Cada exemplar custa R$ 5,00 e é possível assiná-lo anualmente por R$ 60,00. Atualmente é vendido apenas em uma dúzia de bancas e livrarias em Divinópolis e Belo Horizonte, mas já existe o esforço, por parte de sua equipe, de expandir sua venda para outros locais. A montagem do jornal é manual. As páginas chegam impressas da gráfica e Leida Reis, diretora de redação, e uma assistente se encarregam de montar tudo na ordem Nenhuma das edições do jornal ultrapassa o tamanho de um smartphone

correta e dar formato ao Vossa Senhoria. O jornal chega para os assinantes em uma embalagem plástica dentro de um envelope simples, que protege o pequeno exemplar. Por enquanto não há previsão de um site que reproduza o conteúdo exato do jornal. O portal apenas conta a história do Vossa Senhoria e oferece o serviço de assinatura. É uma forma de preservar o seu formato característico e estimular a curiosidade dos leitores.


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Luana Dias 1º Período

Consumir é a ação principal do mundo capitalista. Para os jovens, o consumo significa ainda mais. Incentivados pela mídia, para eles, o “ter” é essencial para “ser”. O consumo, para esse grupo, é uma forma de se autoafirmar diante da sociedade. O consumismo é o ato de comprar sem necessidade. Com o mundo digital, adquirir um produto ficou mais fácil: basta um click. Para o professor de psicologia do consumo da PUC Minas, Bruno Vasconcelos, consumismo não é doença, apesar de existirem casos assim. “A gente até pode falar em consumismo, em vício de comprar, mas nós temos uma sociedade que funciona quase colocando como imperativo o consumo. Compra! Compra! Então, se a gente tivesse outro modelo social talvez pudéssemos falar desse vício. Mas hoje o consumo é quase uma regra”, ele explica.

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Jovens se autoafirmam através do consumismo Por se tratar de um público mais sensível ao discurso de imagens, a juventude é seduzida com maior facilidade pelas marcas tra possibilidade de interpretação da necessidade de consumo: Entender isso de maneira desconstruída. Ou seja, usar o consumo para se diferenciar. O mercado hoje trabalha com essa possibilidade de levar a pessoa a despregar-se da sua identidade.”, diz ele. Nádia Gomes, estudante do primeiro período de jornalismo, considera-se consumista. Para ela, comprar é prazeroso e ajuda nos momentos em que não se sente bem. Ela conta que

consumir se tornou estratégia de autoafirmação. Ela sempre gostou de se vestir bem mas, quando estava acima do peso, era desafiador encontrar roupas que a deixassem satisfeita. “Hoje em dia, vestir e comprar me fazem sentir bem. É autoafirmação completamente”. A estudante não vê a construção da identidade, através do consumo, como um problema ou sinal de superficialidade. Para ela, é uma maneira do jovem demonstrar sua personalidade.

Segundo o professor e coordenador dos Cursos de Especialização em Estratégia de Marketing, José Coelho Albino, o consumismo surge da necessidade do indivíduo, tratado como objeto pela sociedade, querer se sentir sujeito. Quando a sociedade retira a subjetividade, o espaço íntimo de opiniões do ser humano, ele busca isso no consumo. “Quanto mais o indivíduo é um código de barra numa chamada, ao invés de ser uma pessoa, com nome, Flora Silberschneider

AUTOAFIRMAÇÃO De acordo com o professor Vasconcelos, os jovens são um público mais sensível ao discurso enunciativo e de imagens. Por isso, são seduzidos com mais facilidade pelas marcas. As práticas de consumo para eles estão relacionadas à construção de identidade. “É como se ao consumir determinadas marcas a pessoa passasse a pertencer a determinados grupos. Ela teria o reconhecimento desses grupos. Mas tem ou-

Vitrines fazem parte do jogo de sedução do comércio, no sentido de atrair consumidores

maior essa necessidade. Quando ele vira o caixa do banco número 1, o morador do apartamento 103, a sociedade lhe nega subjetividade. Então, ele se expressa através da roupa, do carro que usa, porque nos outros lugares ele é apenas mais um.” O consumidor acredita que as marcas trabalham pensando nos seus sentimentos ao usar os produtos. O prof. José Albino explica que há um mecanismo psíquico chamado possessão narcísica, segundo o qual, se um produto simboliza rebeldia e o indivíduo o compra, ele se sente rebelde, devido à posse. Estudante do quarto período de jornalismo, Ane Guimarães é fã da marca de sapatos Melissa. Ela se identificou com a marca quando era mais nova porque gostou dos modelos diferentes do convencional. “Era estranho, não era o padrão. Então se você não está no padrão, você não se encaixa. Era um grito usar, era meu modo de mostrar minha rebeldia”, conta Ane. Ao contrário disso, ela hoje acha que os jovens usam a Melissa porque a marca se difundiu e seus produtos estão na moda.

m personagem

ESTRATÉGIAS As marcas se aproximam dos jovens através das plataformas digitais. Segundo José Albino, uma das estratégias usadas é conversar com o jovem na sua linguagem, através das redes sociais, utilizadas por eles, como Snapchat e Twitter. Outra estratégia é o engajamento e posicionamento que as marcas estão assumindo. “Elas estão conseguindo aproveitar as várias mídias, respeitando as linguagens, dialogando com os clientes e assumindo uma personalidade.” Assim os jovens estão se identificando com a marca, também, pelas causas que elas defendem. Celebridades da internet, como blogueiros e youtubers, têm sido outra maneira de as empresas chegarem até esse público. Elas presenteiam essas pessoas com seus produtos para que eles sejam mostrados em suas mídias. O psicólogo Bruno Vasconcelos explica que o uso dessas figuras referenciais é uma estratégia nova. Aparentemente, tem dado resultados e está sendo estudada. Larissa Andrade é estudante do segundo período de jornalismo e dona do canal “Falsa Cinderela” no Youtube. Ela relata que já recebeu duas vezes produtos enviados por marcas para sua casa. Depois de usar, ela os mostrou em seu canal. “Quando a gente vê os vídeos, a gente fica mais consumista. Hoje, há muitos vídeos mostrando compras.”, conta.

Arquivo Pessoal

Professor da PUC é novo presidente do CNPq Tamiris Ciríaco 7° Período

“Sempre terei o Prof. Dr. Mário Neto Borges como exemplo de um excelente profissional e pessoa”, diz a estudante de engenharia de energia, Priscila Alves Ribeiro. Integrante do corpo docente da PUC há mais de dez anos, o professor Mário Neto Borges tem uma extensa trajetória profissional e, em outubro, foi nomeado presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Graduado pela PUC Minas e mestre em engenharia elétrica pela UFMG, é doutor em inteligência artificial aplicada à educação pela Universidade de Huddersfield da Inglaterra. Segundo ele, a inteligência artificial está cada vez mais presente e evoluindo de uma maneira espetacular. “Várias coisas hoje são feitas com componentes de inteligência artificial. Um exemplo são esses editores de texto. Você usa esse editor no computador quando digita uma determinada palavra muitas vezes e ele a aprende. Então, quando você digita errado, ele a corrige, porque tem na memória

dele a palavra correta já arquivada”, explica o prof. Borges. A presidência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) tem uma explicação simples. “Ao fazer esse convite, o ministro Gilberto Kassab confessou que, por não ser da área, havia consultado várias instituições como a Academia Brasileira de Ciência, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa e vários pesquisadores que ele conhece. Em todas as áreas meu nome foi sugerido. Então, ele resolveu que seria interessante me convidar para conversar”, contou o professor. Após uma boa conversa, foi feita uma análise de seu currículo e sua experiência para o trabalho foi considerada bastante válida; dessa forma, ele foi confirmado para o cargo. O professor, que já fez várias pesquisas, dá destaque à que foi realizada em seu doutorado sobre um sistema especialista na elaboração de cursos de engenharia. “Esse foi um trabalho interessante por que ele reuniu, de um lado,

a tecnologia de sistemas especialistas, a área de inteligência artificial e, por outro lado, os conceitos e os princípios do currículo para cursos de graduação. Com isso, elaborei um programa que é capaz de ajudar os cursos de engenharia a elaborar os seus currículos”, contou o prof. Borges. “Esse foi o trabalho mais importante porque colaborou para que os cursos de engenharia pudessem avançar no sentido de ser mais eficazes nos seus resultados, formar melhor os profissionais de engenharia e tornarem-se mais atraentes para os alunos”. Dos alunos, o professor só tem elogios. “O Mário Neto é uma pessoa incrível. Um grande líder. Foi um privilégio ter a oportunidade de desenvolver um projeto sob sua orientação. Digo isso não só pelo admirável conhecimento técnico que ele possui, mas também pela notável tranquilidade e senso de humor que me inspiraram durante o tempo em que trabalhamos juntos”, contou o aluno Rafael Bambirra. “É sem dúvida uma pessoa detentora de um conhecimento inimaginável. Ele está sempre disponível para tirar dúvi-

Mário é doutor em inteligência artificial das, sugerir melhorias nos trabalhos, de uma forma muito educada, respeitosa e carinhosa. É inquestionável que tê-lo como orientador contribuiu muito positivamente e fez toda a diferença no desenvolvimento do meu projeto de conclusão de curso”, acrescentou a aluna Priscila Alves Ribeiro. Já Otávio de Avelar Esteves, coordenador do curso de engenharia de energia, disse que a presença de Mário Neto no corpo docente “contribuiu demais durante esse tempo. Uma pessoa com um currículo fantástico, dedicada e comprometida com as coisas que assume. Sua nomeação é algo que nos orgulha muito, mas com uma pontada de tristeza por sua saída.


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Comércio desvirtua o sentido do Natal População lamenta que a data, de celebração religiosa e familiar, vá se resumindo, gradativamente, a uma troca de presentes, até mesmo sem saber porquê Ester Pinheiro Ilsa Martins 1º Período

Para todo mundo, em termos gerais, o Natal significa paz, alegria, fraternidade e generosidade; mas para o comércio, também é uma excelente época do ano, quando há um forte aumento das vendas. Essa comercialização do natal, entretanto, tem agredido a sensibilidade de muita gente que sente saudades do tempo em que ele era, essencialmente, uma festa religiosa e de confraternização familiar. Para Luiza Rocha, 18, estudante da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), o Natal deixou de ser somente uma época de confraternização. “Muita gente só pensa no Natal para ganhar presentes, vendo-o apenas como

umdia de trocar coisas materiais”, observa. Thales Ribeiro, 23, também estudante da universidade, defende a mesma ideia. “Eu acho que assim como a Páscoa e outras datas em que a gente se presenteia, o comercio fez uma coisa que estragou o sentido original do Natal”, disse ele. A tradição de colocar presentes embaixo da árvore é raramente abandonada, mesmo em tempos de crise, como o atual. A vendedora Bárbara Cordeiro, 26, da loja Pg&b no bairro Coração Eucarístico, afirma que, nessa parte do ano, há maior movimentação comercial. Mas que é inferior se comparado ao dessa mesma época nos anos anteriores. “A população tinha maiores condições na hora de presentear fami-

liares e amigos, gastavam mais. Entretanto, muitos ainda compram impulsionados pelo décimo terceiro”, comenta. “O capitalismo encara o natal como mais uma festa para vender”, afirma Wanderley Chieppe Felippe, 67, professor de psicologia na PUC Minas. Ele diz que faz questão de comemorar essa data especial, todos os anos, não pela troca de presentes e, sim, pelo real objetivo desse dia tão importante. “O Natal é uma festa religiosa e eu sou católico, então eu acho que lembrar o nascimento de Jesus é muito significativo, muito expressivo. Não dou muito valor a presentes não; é muito mais importante a reunião da família, uma oração em família”, acrescentou. Leda Horta, 85, mo-

Natal é tempo de generosidade Mesmo com a mercantilização do Natal, ainda existem pessoas que acreditam que a data é um tempo de confraternização, amor e solidariedade. Em Belo Horizonte é realizada, há 25 anos, a campanha Papai Noel dos Correios através dela, crianças de classes sociais menos favorecidas escrevem cartas para o Papai Noel pedindo presentinhos A campanha visa incentivar a solidariedade e generosidade. Ela permite que os cidadãos do Brasil inteiro possam ser solidários, “ajudando” o Papai Noel a levar, para essas crianças, mais do que presentes de natal, esperança. O professor e pró-reitor de Extensão, Wanderley Chieppe Felippe,

conhece o projeto dos correios. “Minha esposa já pegou dez cartinhas lá, exatamente para nós podermos contribuir com este Natal solidário”. “As crianças geralmente estão pedindo mais roupas do que brinquedos, então nós compramos roupas para elas e eu acho que faz muito sentido pra gente e pra eles,” acrescenta. A campanha Papai Noel dos Correios teve ínicio no dia 11 de novembro e se encerrou no dia 02 de dezembro, em Belo Horizonte e há postos de adoção de cartinhas espalhados por toda a cidade, basta conferir no site da empresa e participar. Crianças de todo o País agradecem.

Flora Silberschneider

Na Av. Contorno, prédio enfeita e embeleza a cidade

radora do bairro Coração Eucarístico e dona de uma floricultura, conta que comemora o Natal com um jantar com seus filhos. “Faço uma oração, agradecendo a Deus. É preciso saber que o natal não é só festa, é o dia em que Jesus nasceu”, disse a

comerciante. Sônia Rita, 77, também moradora do bairro, afirma que gosta de tudo no natal. “O natal alegre, a família toda, junta; a gente tem que estar animada para comemorar esse dia 25, que é um dia

lindo”. Mas o comércio, em sua opinião, não tem nenhuma relação com o verdadeiro intuito do natal. “O meu neto falou para mim esses dias: vovó, eles não sentiram ainda qual é o espírito do natal”, comenta Sônia Rita.

Festividades já acontecem no entorno da PUC Na região noroeste de BH já aconteceram algumas comemorações de natal. No bairro João Pinheiro, nos dias 5 e 6 de novembro, houve a festa de Nossa Senhora do Rosário que contou com a participação da comunidade e das congregações, que dançaram e fizeram apresentações. “Teve um almoço e muita musica”, comenta Gilson Pereira Dias, líder da associação do bairro. A festa começou no sábado e foi finalizada no domingo. No bairro Dom Cabral, de acordo com a Associação de Moradores, Marianne Fonseca

não houve uma celebração para as crianças no dia 12 de outubro. Então o pessoal decidiu que, no dia 17 de dezembro, teria uma festa para elas, baseada no natal. A associação, com o apoio da comunidade e da creche Bom Jesus, programou distribuir presentes para as crianças. Segundo eles, a festa busca renovar o espírito do natal: “Será uma comemoração com enfeites e Papai Noel”, afirmaram. Ela acontecerá na praça da comunidade e será aberta ao público. Nos bairros Coração Eucarístico e Padre Eustáquio, as associações ainda

não têm planos para o natal. Segundo Cassius Magnus, vice-presidente da associação de moradores do Coração Eucarístico, a entidade tem interesse em desenvolver projetos para a comunidade, mas falta vontade e ação dos moradores. Ele afirma que a procura da associação é maior em casos de problemas de infraestrutura. Alexandre, representante da associação dos moradores do bairro Padre Eustáquio, afirmou que por enquanto não há nenhum projeto para o natal.

Presépio é motivo de encantamento Marianne Fonseca 5º Período

O Natal chega e, como de costume, o presépio da PUC Minas está pronto; desta vez, em um local mais discreto, no jardim central do campus Coração Eucarístico. O primeiro presépio montado, no mundo, foi feito por São Francisco de Assis, em 1223. A

intenção era explicar, de um modo mais simples, como acontecera o nascimento de Jesus Cristo. No século XVIII, a tradição de montar o presépio em casas, praças, escolas e lojas popularizou-se. Todo ano, moradores do bairro e a comunidade acadêmica aguardam o presépio da PUC para visitá-lo.


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Marianne Fonseca 5º Período

“Não tenho definição para ele. Só tenho coisas boas para falar. Pedrinho ficou marcado na história.” É assim que, emocionada, dona Mariinha fala sobre padre Pedro de Sousa Pinto que foi pároco, por 15 anos, no bairro Dom Cabral. Ali, ele começou a construir sua história como sacerdote, que, no dia 8 de dezembro, completa 50 anos. A vontade de ser padre vem desde pequeno: “Eu tinha uma tendência de sentir que Deus me queria como padre; eu brincava de celebrar missas”, afirma padre Pedro. Nascido em Moeda, ele mudou-se para Belo Horizonte aos 16 anos. No bairro Nova Suíça, onde morava, via os seminaristas de batina pegar o bonde e aquilo tocou-lhe o coração. Com 18 anos, resolveu mandar uma carta para dom Cabral, arcebispo de BH na época (1954). falando sobre a sua vontade de ser padre. “Em 1955, entrei para o seminário e fiquei por 12 anos”, conta padre Pedro. Em 1966, ordenou-se e, perto do seminário, no bairro Dom Cabral, sua vida religiosa começou. Quando chegou não tinha igreja, casa paroquial, não tinha nada e ninguém se conhecia; seu primeiro desafio foi criar um clima de

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Padre Pedro dedica sua vida aos moradores São 50 anos de sacerdócio que incluíram um período marcante para a comunidade do bairro Dom Cabral comunidade e de harmonia entre os moradores. Com o bairro recémconstruído, teve que associar o bem comunitário com os afazeres da igreja. “Tive que pensar no bem das pessoas, o bairro quando foi entregue não tinha ruas asfaltadas, ônibus chegava com muita dificul-

dade, então tivemos que lutar muito pelas melhorias”, comenta. Como não tinha igreja, padre Pedro celebrava missas nas casas e nas ruas; os batizados eram feitos na casa da própria família. “Meu filho foi batizado na sala da minha casa”, didona Mariinha, moradora do

Dom Cabral e amiga de padre Pedro. Depois de um tempo, com um clima mais amistoso e comunitário e os moradores se conhecendo melhor, a luta para construir a igreja começou. Fizeram mutirões para arrecadação de materiais. “Padre Pedro e o povo do Marianne Fonseca

Padre conta que o desejo de seguir vida sacerdotal surgiu na infância

Dom Cabral eram muito simples e ele sofreu muito aqui para construir a igreja, lutou muito”, acrescenta D. Mariinha. Desde que chegou ao bairro, a preocupação do padre foi com todos, das crianças aos mais velhos. “Eu me preocupava com os meninos porque, a praça não tinha nada, só buracos. Eles estavam jogando bola na rua e eu passei lá, parei e brinquei com eles, depois tirei do carro uma bola de vôlei e uma rede para eles brincarem; são coisas que a gente faz de forma espontânea”, conta o padre. Seu cuidado com os jovens da comunidade não se resumia à forma com que eles se divertiam, mas também em torná-los mais próximos de Deus. “Ele dava muito apoio para nós e muita força, fazia teatro, nos ensinava a cantar. Ele tinha uma forma carinhosa de levar os jovens para dentro da igreja”, afirma Ilâinda Vieira. Os jovens daquela época definem padre Pedro como um pai,

amigo e irmão. Durante seus 15 anos no bairro, padre Pedro lutou muito pelo bairro e para o bem de todos; fez até campanha para arrecadação de cadernos para aqueles que não tinham condições de comprar. “Fiquei muito feliz com a caminhada no Dom Cabral”, afirma o religioso. Ele se lembra até que no período da ditadura, não sofreu nenhum tipo de repressão, mas conta que foi perseguido por um carro durante alguns dias. Havia um grupo de casais no Coração Eucarístico e ele dava assistência para esses casais. “Cada dia a reunião era em uma casa; aonde eu ia, também ia um carro atrás. Tomei atitude e fui à polícia. Chegando lá, eu olho para baixo e o carro que me seguia estava bem ali, estacionado. Falei com o policial e então ele me disse que estavam me confundido com outra pessoa,” conta padre Pedro. Hoje, ele é pároco emérito do santuário São Judas Tadeu, onde está há 20 anos. Em comemoração aos seus 50 anos de ordenação sacerdotal, Pe. Pedro está lançando uma autobiografia, com o título Plano de Deus. Segundo ele, o livro tem este nome porque é uma reflexão sobre como Deus agiu em sua vida, em cada lugar por onde passou.

Moradores querem reabrir o Mercado em Santa Tereza Flora Silberschneider 7º Período

Fechado desde 2007, o Mercado Distrital de Santa Tereza é hoje um depósito de móveis e entulhos da Prefeitura. Tendo em vista melhorar o bairro e criar um novo ambiente de lazer e cultura, os moradores estão se mobilizando para reabrir o Mercado. Mutirões de limpeza, feiras agronômicas e de artesanato já foram realizadas pelos moradores com o objetivo de mostrar, para o poder público, qual é uso que querem do local. Diferentemente do que a Prefeitura propunha, os moradores esperam transformar o Mercado em uma área que englobe tanto o lazer, a educação e cultura quanto a questão alimentar, razão pela qual ele foi construído primeiramente na década de 70. Uma das lideranças, Lincoln Barros, conta que as propostas da Prefeitura foram diversas, mas nenhuma atendeu aos anseios dos moradores, além de contrariarem o ambiente tradicionalmente boêmio, gastronômico e cultural do

bairro. A primeira grande proposta, em 2007, foi a implementação da sede da Guarda Municipal no local. Depois, no primeiro mandato do prefeito Márcio Lacerda, o governo fez um convênio com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), para instalar uma Escola Automotiva no Mercado. Os moradores se mobilizaram, porque sabiam que as propostas afetavam a proteção das Áreas de Diretrizes Especiais (ADE), nas quais o bairro está inserido. Segundo a moradora Guiomar Frota e o morador Lincoln Barros, a sede da Guarda ou a Escola Automotiva no Mercado iria, a médio prazo, impactar o trânsito da região e colocar em risco a regulamentação que proíbe a construção de certas edificações. Devido à sua ocupação históricocultural a região tem características específicas para implementação de empreendimentos urbanos, como por exemplo, construções de até 400 metros quadrados e predominância de empreendimentos residenciais na região.

Guiomar conta que os moradores começaram a fazer reuniões semanalmente, toda segunda-feira na Praça Santa Tereza, propuseram anteprojetos de lei e conseguiram o apoio de alguns vereadores. Neste ano, depois de muitos embates, o Mercado passou a ser gerido pela Fundação Municipal de Cultura (FMC). Com isso, foi criada uma Comissão Paritária entre a sociedade civil e a Prefeitura, que tem o intuito de discutir novas formas para ocupação do Mercado. Essa comissão facilitou a conversa dos moradores com o poder público, que permitiu realizar diversas atividades na área externa, o antigo estacionamento do Mercado. Junto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o coletivo Salve Santa Tereza elaborou o projeto Mercado Vivo + Verde para mostrar, na prática, o que os moradores querem que aconteça no Mercado. Além disso, fizeram mutirões de limpeza do lote, capinaram e começaram a plantação de hortas e jardins.

Wilson Avelar

Moradores se uniram para limpar o lote e cuidar do jardim externo do Mercado PRÓXIMAS ETAPAS A área interna ainda está totalmente fechada e Barros espera que, até o final deste ano, o movimento consiga implementar um projeto arquitetônico, criado pelos moradores, para reforma total do Mercado Distrital. Guiomar também ressalta que agora só falta liberação por parte da Prefeitura. “Falta a prefeitura liberar, porque tem projeto e gente querendo participar. Nas feiras participam feirantes de produtos orgânicos, artesãos e artistas. Todos eles têm um interesse em realizar

essas atividades dentro do mercado. Já tem o público, participantes e clientela”, afirma. Entretanto, lamenta que, até hoje, depois de anos de conversa, o poder público não estabeleceu nenhum prazo, espera que a próxima gestão dê uma resposta mais rápida e efetiva. A conquista desse ano foi a criação, junto com a Comissão Paritária, de um edital que será lançado para ocupação do espaço externo do Mercado. Artistas e moradores vão poder inscrever projetos e eventos culturais para ações nessas áreas. Três coletivos estão à frente de toda movimenta-

ção, o Salve Santa Tereza, a Associação Comunitária do bairro, que é a representação formal, e o Movimento dos Sem Terra na parte do incentivo à agroecologia. Para Guiomar, a participação dos moradores é fundamental, porque assim é possível a “construção de uma agenda pública que atenda realmente os interesses da população”. Ressalta que esses movimentos estão sempre em atuação constante com a cidade, fazendo pesquisas de opinião e tentando agradar os moradores, para uma melhor convivência na cidade.


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CULTURA

Cinema abre espaço para reflexões Cineclubes abrem o diálogo entre o filme e a atualidade e oferecem espaço para produções independentes e não comerciais Flora Silberschneider 7º Período

Os amantes do cinema se uniram para encontrar um jeito diferente de ver filmes, desde a década de 30, no Brasil. Cinéfilos, estudiosos, artistas, diretores ou apreciadores das películas tiveram a ideia de, além de exibir, discutir os filmes de diversos gêneros e estilos. Criaram o que hoje chamamos de Cineclubes. Cineclubes são coletivos sem fins lucrativos e muitas vezes os próprios integrantes tem que bancar o orçamento para que trabalhem. Na maioria são os jo-

vens que estão à frente destes coletivos. O anseio subversivo da juventude incentivou a criação de diversos clubes na capital mineira. Um deles é o Cineclube Aranha que, com menos de seis meses, já tem parceria com o Cine Santa Tereza para exibição dos filmes. A temática do coletivo é a mulher no cinema. Um grupo de amigas se reuniu no facebook para empoderar a mulher na produção cinematográfica e, então, resolveram criar um cineclube para que produções fossem divulgadas. Uma quarta-feira por mês exibem filmes e, para mediar

os debates, só mulheres são convidadas; entretanto, o público é diversificado. Marcela Santos e Mariah Soares, membros do Cineblube Aranha, afirmam que querem construir uma discussão junto com a comunidade. Como as pessoas são atraídas pelas temáticas dos filmes, elas buscam, dentro das produções femininas, filmes de gêneros diferentes para variar os debates e reflexões. Para elas, a cinefilia é diferente da crítica. “Não é uma aula, é discussão, cinefilia é algo mais pessoal com o filme”, frisa Marcela. Mesmo com pouco Flora Silberschneider

A essência dos cineclubes são os debates após os filmes

tempo de criação elas avaliam que já é possível perceber a importância do cineclube. Para Mariah, eles são, por natureza, de resistência. Marcela acrescenta que o Cineclube Aranha é uma forma de quebrar o ciclo das produções cinematográficas feitas apenas por homens. MAIS COLETIVOS Abrindo o leque de discussões, tem-se o Cineclube Comum, sem uma temática fixa, que trabalha com mostras de filmes buscando discutir o espaço comum, a política e a cidade. Marina Souto, membro do coletivo, afirma que os cineclubes também são espaços para reunir pessoas, criando outro lugar de convivência na cidade. “É um programa social, ocupam o espaço da cidade e do cinema”, comenta. Antes, o grupo tinha parceria com o Sesc Paladium para exibição das mostras, mas, agora, por cortes de gastos da empresa, não tem um calendário fixo, no local. Conseguiram através do edital do Filme em Minas produzir cadernos de ensaios críticos dos filmes exibidos nas mostras. O programa é uma parceria da Secretaria de Cultura de Minas com a

Cemig para incentivar a produção audiovisual no Estado. Victor Guimarães, que também é membro do Cineclube Comum, acredita que nos próximos anos será mais difícil conseguir editais para cultura devido à atual situação política do País. PARA SABER Outro cineclube que também está em busca de editais do Filme em Minas é o Cinefronteira, oriundo do Cineclube Fafich. Criado por universitários e amantes do cinema, o coletivo exibia os filmes na Universidade Federal de Minas Gerais, mas agora quer levá -los para escolas de Minas e espaços itinerantes da cidade. João Campos, membro do cineclube, explica que buscam trabalhar com produções brasileiras contemporâneas, principalmente as produzidas por mineiros. “Queremos fazer o público perceber que, às vezes, o seu vizinho pode ser um grande cineasta e provocar o desejo dos mineiros de fazer cinema”, ressalta.

Muitos cineastas brasileiros começaram seu contato com o cinema através dos cineclubes. Como Victor Guimarães, que relembra a história de alguns diretores pernambucanos. Abre-se espaço também para fomentar o interesse e reflexão sobre o cinema brasileiro, como explica João Campos: “Quanto mais focos de distribuição e reflexão sobre isso, mais pessoas vão ter acesso. Saber que ele existe vai ampliar a reflexão sobre suas temáticas, podemos estar criando críticos para esse tipo de produção, fora do comercial”. CINEMA EDUCA João Campos ressalta que o cinema tem grande importância para a formação do ser humano. “O cinema modifica nosso olhar, desloca nossa sensibilidade e cria o hábito de pensar: é um foco de interação, como a literatura”, explica. Victor também acredita nesse potencial do cinema que, para ele, ajuda a pensar o mundo de outra maneira graças ao poder de filtrar o mundo por meio de uma visão diferente. Ele entende que “o cineclube vai contra a concepção de filmes apenas por entretenimento. Tendem a interferir na sensibilidade e no pensamento das pessoas”.

Sindicato e Casa dos Jornalistas são homenageados em livro Nathália Cioffi 1º Período

Estimular os jovens profissionais do jornalismo a prosseguir em sua missão de contribuir para o fortalecimento da democracia e, ao mesmo tempo, criar uma narrativa de interesse de toda a população. Foi com este objetivo que o editor Paulo Lemos se pôs a campo para, com o apoio da categoria, escrever o livro Álvares Cabral, 400 – A Casa da Liberdade, lançado em novembro. Para realizar seu projeto, Lemos contou com recursos da Lei Rouanet, o patrocínio da empresa CBMM e a disposição de mais de 10 jornalistas, de diferentes gerações, que escreveram sobre os 70 anos de lutas do Sindicato e 50 da Casa dos Jornalistas, em defesa dos direitos humanos e das liberdades políticas no Brasil. “Os fatos ali narrados estão entrelaçados com a vida da comunidade mineira e a cultura de Minas

Gerais, o que torna o livro prazeroso de ler”, disse Lemos. O presidente do Sindicato, Kerison Lopes, no dia do lançamento do livro, agradeceu a participação de todos os jornalistas e escritores envolvidos no trabalho. Ele ressaltou ser “este um momento muito especial porque o Sindicato tem uma longa e rica história e não só da categoria profissional dos jornalistas, mas na luta pela liberdade de opinião.” Já o presidente da Casa dos Jornalistas, Mauro Werkema, lembrou as muitas dificuldades do sindicato, que confrou empresas jornalísticas, lutou contra a ditadura implantada pelo golpe de1964, enfrentando processos e a repressão contra jornalistas. A sede do Sindicato é a Casa dos Jornalistas, inaugurada em 1965, que sofreu atentados a bomba de extremistas de direita durante a ditadura. Daí ser chamada pelos jorna-

listas de “Casa da Liberdade”. Ela patrocinou e sediou debates, inspirou a criação de vários sindicatos e movimentos civis. Seus filiados tornaram-se ativos militantes pelas liberdades civis e políticas. Esta história, seus principais personagens, estão contados no livro, que é um documento de memória, também, da resistência democrática pela liberdade de pensamento e de expressão em Belo Horizonte e Minas Gerais, na opinião de Paulo Lemos. LIBERDADE “Apesar da história girar em torno dos jornalistas e dos anos vividos pelo Sindicato, o foco é a liberdade. Mais do que os nomes de ex-presidentes e diretores que conduziram heroicamente esse quase século de travessia, a maior personagem desses 70 anos, na minha modesta opinião, foi a liberdade, a defesa da liberdade”, afirma Paulinho Assunção,

jornalista e escritor. A ideia de criar o livro, segundo Mauro Werkema, surgiu de encontro de jornalistas e escritores desejosos de documentarem esta trajetória e deixarem um registro histórico. “O livro foi elaborado em quatro meses de pesquisa e reda-

ção, entrevistas com todos os ex-presidentes e alguns jornalistas que viveram alguns momentos das entidades; visitas a arquivos, análise documental, busca fotográfica e muita discussão”, explicou Werkema. Paulo Lemos conta que a maior dificuldade foi

reunir recursos financeiros para o trabalho de pesquisa de texto, fotografias e de pessoal para levantar maior quantidade de material, entrevistar mais pessoas e profissionais. “Mas, como sempre, também, contamos com a boa vontade de todos e o trabalho saiu”.

Anis Leão faz releitura de Rui Barbosa O professor Anis José Leão, um dos fundadores do curso de Comunicação na UFMG e leitor de Rui Barbosa, quis homenagear o “Águia de Haia”, universalizando, no inglês, o discurso e o pensamento do mestre, no livro Oração aos Moços, (Addressing the Young Oração aos Moços). Nesse desafio contou, por oito anos, com a colaboração do professor Pedro Eymard Callou, coautor da obra. A versão bilíngue tem o objetivo de reforçar a importância desta obra literária e, agora, alcançar um público ainda maior. Considerado um marco na literatu-

ra clássica brasileira, o livro Oração aos moços, cujo tema é a ética profissional no Direito, foi composto a partir do texto do discurso de paraninfo de Rui Barbosa, à turma de 1920 da Faculdade de Direito de São Paulo. Nele, Rui faz um balanço de sua atuação, como advogado e cidadão ativo, e exorta os jovens advogados a pautarem sua conduta nas premissas da Justiça, da legalidade e da boa-fé. Ou seja, a ser ético, a ter uma postura moral inatacável como auxiliar da Justiça e como cidadão.


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ESPORTE

Time de handebol da FCA ganha ouro no InterPUC A jovem equipe feminina da Ajac superou as expectativas no campeonato Rhanna Trindade 7° Período

O time feminino de handebol da Atlética José Albino de Comunicação, associação que representa o prédio 13 em competições esportivas, ganhou seu primeiro campeonato este semestre. A equipe saiu vitoriosa na edição 2016 do InterPUC, liga disputada entre as Atléti-

cas da PUC Minas. É um grupo bem novo, fundado em 2014, com atletas que disputam diferentes modalidades esportivas. Visando aumentar a integração entre a comunidade universitária, o InterPUC é a competição que conta com a participação das atléticas de Direito, Engenharia, Relações Internacionais, Educação Física e Comu-

nicação da PUC Minas. Além destes times, foi convidada para participar do campeonato, a Atlética da Escola Superior Dom Helder Câmara. A Atlética de Comunicação procura, através do esporte, integrar todos os alunos da Faculdade, incluindo os três turnos e os quatro cursos. A ideia já existia há mais tempo,

Vitória dentro e fora da quadra Quinze anos de idade, escola nova, time de handebol formado e muitos planos traçados. Naquele momento, Luiza Fiorese, agora com 20 anos, recebeu a notícia de que tinha um câncer no fêmur. Ela praticava o esporte desde os 11 anos pela escola em que estudava. Luiza é natural de Venda Nova do Imigrante (ES) e atualmente mora em Belo Horizonte. Mesmo tendo se recuperado do câncer, após nove meses de tratamento, Luiza teve algumas sequelas na perna. Próteses no fêmur, joelho e na fíbia limitam a jovem em muitos aspectos, inclusive continuar no esporte. “A notícia de não poder jogar mais foi arrasadora pra mim. Decidi

que isso não me deixaria esquecer o esporte em geral e resolvi fazer faculdade de jornalismo para, futuramente, trabalhar como jornalista esportiva”, conta Luiza. Já em BH, além de retomar sua vida e continuar os estudos, Luiza deu a volta por cima no seu contato com o handebol. Por morar em uma república de estudantes, foi convidada por uma colega para treinar o time de Relações Internacionais da PUC, para um campeonato interno, e a equipe chegou até à final. Hoje, Luiza treina o time da Ajac que se prepara para futuras competições, após a vitória no InterPUC.

Nara Mourão

Parte do time comemora a medalha de ouro do InterPUC de 2016

mas foi em janeiro que alguns alunos e ex-alunos da Faculdade conseguiram tirá-la do papel. Na edição de 2016 do InterPUC a Ajac participou pela primeira vez. Para Luiza Fiorese, treinadora dos times de handebol da Atlética, a participação no campeonato fortaleceu a equipe: “Tem sido uma experiência maravilhosa poder estar em contato com o que eu amo fazer. Mesmo não sendo uma treinadora de verdade, por não ter estudado pra isso, eu sinto que eles me respeitam e é uma relação muito boa”. TIME FEMININO

O time de handebol feminino da Ajac reúne alunas de três dos quatro cursos de Comunicação. Tatiana Meira, de 20 anos, estuda publicidade e propaganda, joga handebol desde 2005 e já disputou cinco edições dos Jogos Escolares de Minas Gerais. Atualmente, é atleta da Ajac e acompanhou a evolução do time desde janeiro deste ano.

Um dos avanços notados por Tatiana, é o resultado da história de Luiza Fiorese, que cruzou com o time de handebol. No início deste semestre Luiza foi convidada para ser treinadora da Ajac e aceitou a proposta. O desafio foi instantâneo, já que a Atlética se inscreveu no InterPUC, campeonato que começaria em setembro.Luiza teria só um mês para treinar os times feminino e masculino. O reflexo da boa relação entre treinadora e atletas foi nítido logo nos primeiros jogos. Tatiana Meira conta que Luiza foi responsável pela transformação de talentos individuais em uma equipe. “Ela nos ajudou psicologicamente, é uma pessoa muito inteligente e esforçada, sempre fazendo de tudo para o melhor do time. Evoluímos muito tecnicamente e taticamente,” observa. O time, que até então era novo e sem muito entrosamento, se viu diante de uma relação de entrega, de ambas as partes, para fazer com que a

primeira participação da Ajac no InterPUC fosse significativa. O time de handebol masculino chegou até às semifinais do campeonato, enquanto as meninas conseguiram chegar à final e sair vitoriosas em cima da Atlética de Direito, um dos times mais tradicionais do InterPUC. O percurso até a vitória não foi fácil. O InterPUC começou no dia 3 de setembro e as meninas do handebol enfrentaram, ainda nas fases de classificação, o time da Dom Helder, assim como as Atléticas de Relações Internacionais, de Engenharia, e na final contra a de Direito, que assim como o time da Ajac, também estava invicta. No dia 1° de outubro, em um jogo apertado, o time saiu vitorioso e ganhou o InterPUC. “Poder ser campeã de novo me fez reviver muitas coisas mágicas dentro de mim.Fazia tempo que não sentia o gostinho da vitória assim no jogo, na emoção”, conta Luiza..

Trekking é uma alternativa para quem ama a natureza Chiara Ribeiro 2º Período

Você detesta academia de ginástica? Tudo bem: pode parar de usar isso como pretexto para uma vida sedentária. Há vários esportes interessantes e bons para a saúde e a estética fora delas. Um deles é o Trekking. O esporte, cada dia que mais, ganha visibilidade e mais praticantes em Belo Horizonte. A atividade consiste em caminhar em trilhas naturais e exige grande esforço físico e estabilidade emocional dos praticantes. Mas há uma recompensa: a aliança entre o prazer de contemplar a natureza e a prática de uma atividade física que permite escapar do sedentarismo e do estresse do dia-a-dia.

Existem diversos grupos em Belo Horizonte, devido ao aumento da demanda. Eles são formados por praticantes mais experientes que, geralmente, são os guias das trilhas, por praticantes de nível médio e iniciantes. Esses grupos auxiliam os novatos com orientações gerais sobre primeiros socorros e dicas sobre equipamentos, bem como auxiliam na escolha das trilhas. O esporte é procurado, principalmente, por quem deseja começar a praticar atividades físicas e por competidores da categoria. A busca se dá por diversos motivos entre eles o desejo de ter contato com a natureza e a possibilidade de conhecer lugares diferentes, além do seu baixo custo. Para começar, basta ter um bom tênis, roupa de

ginástica e mochila para suprimentos. Os benefícios do Trekking são diversos e observados desde as primeiras trilhas. Ela fortalece os ossos, músculos, tendões e ligamentos, principalmente das pernas, eliminando o estresse e trazendo bem -estar. Melhora também a resistência cardiovascular,

a circulação e a qualidade do sono. “Se hoje eu tenho uma boa condição física é porque, na verdade, os valores que eu adquiri na prática do montanhismo me cobraram manter uma vida saudável e vida controlada”, explica José Roberto Cardoso, 46, profissional de Educação Física que praFlora Silberschneider

Caminhar e apreciar belas paisagens é o objetivo do grupo

tica a atividade há 35 anos. O Trekking pode ser de baixo a alto impacto e os efeitos no corpo são manifestados de modos diferentes. Recomendase, antes de sua pratica, a procura, auxílio e assistência de um profissional para saber informações básicas como tipo sanguíneo, alergias, principalmente ligadas à comida, medicamento e animais que podem ser encontrados durante as trilhas. É preciso saber também sobre tendência de desenvolvimento de problemas ósseos e articulares, que podem se manifestar durante o exercício. Para desfrutar das paisagens e do ambiente natural é importante também desenvolver hábitos de uso consciente dos lugares. “A gente tem de pensar no

mínimo impacto a causar naquela área, que é natural, publica e de uso por todos. A montanha não está lá para nos servir, podemos usufruir o que ela tem pra nos oferecer, mas gerando o mínimo de impacto”, ressalta Henrique Costa, 44, médico veterinário que pratica Trekking há sete anos . Além do benefício para a saúde, o esporte, também, permite uma grande interação entre seus praticantes. “Desde que comecei a caminhar mudaram minhas percepções de socialização. As montanhas nos ensinam a ser mais pacientes, mais solidários, mais amigos, mais companheiros, ensina a julgar menos. Você conta caso, ouve caso, ri o dia todo. A interação com o povo é sensacional”, destaca Henrique.


m jornalmarcoedição326dezembro2016

TOSTÃO

ENTREVISTA

LETÍCIA PERDIGÃO 4º Período

Atleta campeão é cronista esportivo super-respeitado Tempos vividos, sonhados e perdidos; um olhar sobre o futebol – este é o sugestivo nome do mais recente livro do ex-jogador Tostão, hoje cronista esportivo e médico. O lançamento, em outubro, do livro de memórias, coincidiu com as comemorações dos 50 anos da conquista da Taça Brasil pelo Cruzeiro Esporte Clube, em 7 de dezembro de 1966, vencendo, o então imbatível, Santos, de Pelé. Alguns dos seus ex-companheiros de clube, como Raul Plassmann, estiveram presentes ao evento, para prestigiar o amigo e lembrar o primeiro título nacional daquele time, nacionalmente conhecido como Academia do Barro Preto. No livro, Eduardo Gonçalves de Andrade, perto de completar 70 anos, diz que as décadas de 50 a 70 – quando a Seleção Brasileira conquistou três títulos mundiais (58/62 e 70) e os times do Santos, de Pelé, do Botafogo, de Garrincha, e do Cruzeiro campeão nacional, encantavam os torcedores de todas as latitudes: “Foi um período de encantamento, que serviu para definir e marcar o estilo brasileiro de jogar.” Tostão conta que seu livro descreve as mudanças evolutivas do futebol nos últimos 60 anos, experimentadas por ele em três períodos diferentes, de 20 anos cada, de sua vida como atleta, médico e cronista. O craque do Cruzeiro e da Seleção, que teve a carreira abreviada por um problema no olho (descolamento de retina), não acha que foi um jogador especial, e admite que gostaria de ter jogado por mais tempo, porque estava na sua melhor fase. Nas páginas de Tempos vividos..., Tostão também expõe projetos e realizações do tempo em que trocou os gramados pelos livros de medicina e plantões em hospitais de Belo Horizonte. Fala de sua quase reclusão e do retorno ao mundo do futebol, para tornar-se, pouco a pouco, um dos mais respeitados cronistas esportivos do Brasil. Mas ele prefere se definir como “alguém que escreve sobre futebol e que, por acaso, jogou futebol” .

No seu novo livro, com trechos publicados pela revista Piauí, em outubro, você diz que 1958 a 1970 foi um período de encantamento. Você atribui esse encantamento a uma característica da época que hoje não existe mais? Havia uma descontração, uma irreverência, uma improvisação, às vezes confundida equivocadamente com falta de compromisso, na forma de jogar futebol. Não era melhor nem pior do que é hoje. Foi um período importante para determinar o estilo brasileiro de jogar, marcado por estas características. Você é lembrado como um dos maiores jogadores de futebol da história do Brasil. Como lida com isto? Da mesma

forma que se comportava nos anos devem e o que não devem fazer. 60/70? Acredito que tenham mais consciNunca me considerei especial. ência do quão efêmera é a carreira. Costumo dizer que não sou um ex-jogador que escreve sobre fute- Sua atuação no futebol teria sido bol, mas sim alguém que escreve muito mais duradoura, se não fosse o sobre futebol e que, por acaso, descolamento da retina? Gostaria de jogou futebol. ter jogado mais? Como cronisSim, com certeza. ta, costumo me Encerrei a carreira, Parar não foi nenhum trauma, foi foco. manter distante única e exclusivamenPrecisava me afastar da relação direte, pelo problema no para render o máxita com clubes e olho. Ainda era jomo na nova profissão que tinha escolhido dirigentes, para vem, estava em forma conservar minha e poderia jogar ainindependência. da mais alguns anos. Faço tudo o que quero, sem sofrer nenhum tipo de assédio. Na época de joga- Com relação a este problema com dor, era um pouco diferente, já a retina, como o enfrentou naquela que estava muito mais exposto. época? E como recebeu o término da carreira futebolística? O que acha da maneira como os Fui avisado de que não teria jogadores da atualidade lidam com a mais a mesma condição de encarreira e, até mesmo, com a efemerixergar objetos em profundidade. dade dela? Isso, para quem praticava futebol Acredito que os atletas atuais esem alto nível, era muito ruim. tão muito mais bem preparados e Poderia até ter continuado miauxiliados, por empresários e asnha carreira, mas não teria mais sessores. Todos têm muito acesso condições de exercer a atividaà informação e conhecem o que de em alto nível. Preferi parar. Orlando Bento

No período de faculdade, do exercício da medicina, das aulas, você se afastou completamente do futebol? Sim. Encerrei um ciclo na minha vida e comecei outro. Dediqueime 100% à minha nova carreira. Por isso me afastei do mundo do futebol. Não foi nenhum trauma, foi foco. Precisava me afastar para render o máximo na nova profissão que tinha escolhido. Quais semelhanças e diferenças percebeu na valorização da medicina versus a valorização do futebol? Cada profissão tem suas características próprias e, consequentemente, suas especificidades. Sempre consegui separar muito bem minha vida. Nunca houve nenhum tipo de interferência. Você foi comentarista, agora é colunista, um dos melhores do país, ganhou um prêmio internacional. Para chegar a este ponto, o que é necessário? A vivência em campo soma? Acho que ajuda, mas não é só isso. Para ser comentarista, é necessário estar antenado, acompanhar jogos, ouvir outros colegas, ler muito. E eu faço tudo isso. Como um livro sobre aspectos táticos e técnicos do futebol se tornou a autobiografia Tempos vividos, sonhados e perdidos? O que o leitor vai encontrar nele? Não se trata de uma autobiografia. Apenas descrevo as mudanças evolutivas do futebol nos últimos 60 anos. Dividi em três períodos de 20 e, coincidentemente, foram três períodos diferentes da minha vida, como atleta, médico e comentarista. Onde está e para onde vai o futebol brasileiro? O Tite é o que faltava para resgatar a relação de amor do torcedor com a Seleção Brasileira? O Tite é um ótimo treinador, conhecedor das novidades técnicas e táticas, mas não é o senhor absoluto do saber. Claro que tem sido importante nesse resgate, mas passa também por outros fatores. O futebol brasileiro sempre produziu bons jogadores, mas os craques, (tirando o Neymar) não mais existem. Se um ou dois atletas, como Gabriel Jesus ou Douglas Coutinho, evoluírem ainda mais, pode ser que façamos bom papel na próxima Copa do Mundo. Agora, o futebol brasileiro é diferente da Seleção Brasileira, que tem jogadores que jogam no exterior. Internamente, o futebol brasileiro ainda não está em um bom caminho, já que ainda está nas mãos de dirigentes amadores e irresponsáveis.


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