Jornal Marco #329

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Ana Luisa Santos

Ana Luisa Santos

Igor Batalha

BOAVENTURA SANTOS ANALISA A DEMOCRACIA BRASILEIRA E DISCUTE SOBRE O CENÁRIO POLÍTICO EM TEMPOS DE CRISE

DESCRIMINALIZAÇÃO DA MACONHA ENTRA EM PAUTA QUANDO SE FALA DA SUA UTILIZAÇÃO PARA FINS MEDICINAIS

OS ALIMENTOS QUE SÃO DESCARTADOS POR GRANDES MERCADOS PODEM SER UTILIZADOS PARA OUTROS FINS, EVITANDO DESPERDÍCIO

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marco Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo . Faculdade de Comunicação e Artes . PUC Minas . Ano 44 . Edição 329 . Maio . 2017 Ana Luisa Santos

Violência

contra a mulher Do lar à escola, a sociedade precisa combater a impunidade e tratar os agressores Página 7, 8 e 9

Ana Luisa Santos

leia ainda

Jornais impressos enfrentam o desafio da mídia digital Desde o seu surgimento em 1808, o jornalismo brasileiro vem sofrendo diversas transformações. Seu futuro é incerto. Diversos especialistas apostam no desaparecimento dos veículos impressos diante da concorrência dos meios digitais. Outros acreditam que o jornal vai priorizar as interpretações dos fatos e análises dos dados das reportagens.

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Igor Batalha

Depressão pode levar ao suicídio Médicos recomendam maior atenção para pessoas deprimidas, principalmente jovens, pois os índices de suicídio neste grupo vêm crescendo. Ouvi-los é a melhor forma de prevenção. Página 15


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Precisamos falar sobre feminicídio Samuel Lima 5° Periodo

Prevalece na sociedade brasileira uma mentalidade machista e retrógrada. Devido a uma forte herança patriarcal, que atravessa gerações, mulheres são vítimas de diferentes formas de agressão. Apesar disso, diversas pessoas e instituições lutam para eliminar tais injustiças. Nesta edição, o MARCO mostra como os movimentos feministas estão chamando a atenção para o problema, impulsionando leis com medidas protetivas e preventivas que amparam mulheres nessas situações. O empoderamento feminino tem, aos poucos, mudado mentalidades. Hoje, a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio contribuem para o surgimento de novas visões e alternativas para o problema, ainda grave, como atesta o assassinato recente de uma estudante de economia da PUC. Outra temática de destaque é o projeto de Reforma da Previdência, que configura violência social ao aumentar a idade e o tempo mínimo para a aposentadoria e cortar benefícios dos trabalhadores. Segundo alguns especialistas, a razão para tal mudança seria o envelhecimento da população, que tornaria insustentável o sistema previdenciário como é hoje. Apesar de ser necessária, a reforma, como está sendo feita, causa impactos sociais muito graves, atingindo as camadas mais pobres da população. A Previdência Social é um importante sistema de distribuição de renda, dos mais ricos para os mais pobres e, portanto, se aprovada a reforma, haverá um processo de exclusão social. O tema tem gerado muitas discussões, protestos e greve por afetar todos os trabalhadores do país. Além disso, a edição 329 traz uma importante discussão sobre o uso de maconha para fins medicinais. O preconceito, a falta de conhecimento e a proibição da planta, considerada droga ilícita no Brasil, impedem que muitas pessoas tenham uma qualidade de vida melhor e possam se tratar de forma mais adequada. A matéria mostra como a cannabis é utilizada para ajudar essas pessoas, apresenta a situação atual da possível legalização e a diferença para a descriminalização. Desejamos a todos uma boa leitura.

OPINIÃO CRÔNICA

O sonho da vida Gabrielle Monteiro 3° Período

Todos temos sonhos. Alguns sonham em conhecer o mundo, outros em ter sucesso na área de atuação. E existem aqueles que querem construir família, as que sonham em ser mães. Tem gente que diz que essas são loucas, imagina só sonhar em ter trabalho! Criar uma pessoa, educá-la, repreendê-la, acordar de madrugada com o barulho do choro, ter restrição de horário por conta da criança, levá-la e buscar na escola, levar para a aula de inglês, natação. A criança cresce um pouco mais e é preciso ensiná-la a falar, a se comportar na escola, levar a festas infantis, à casa dos amigos, buscar no meio da noite porque a criança não conseguiu dormir longe de casa. Depois, quando o filho já tem idade suficiente para ir e vir sozinho, você continua sem dormir por preocupação, festas de 15 anos, boates aos 18 anos. Aí começa a faculdade, tem que ensinar como é a vida adulta, a dirigir, explicar

que uma decepção amorosa não vai acabar com a vida do seu pequenino. Alguns acham loucura querer toda essa dor de cabeça para a vida inteira. A essas pessoas, as sonhadoras dizem que não é pela dor de cabeça, não é para ser fácil. É pela satisfação de ver o filho conseguir realizar algo que você tinha dificuldade, é pelo coração bater mais rápido quando o pequeno fala “mamãe”, é pela felicidade de ver o filho formando, conquistando o mundo acadêmico e depois o profissional. É ver o filho cometendo os mesmos erros seus e poder ajudar, tranquilizar que tudo vai ficar bem e você estará sempre ali. É passar a ter dois corações, por ouvir “você é a melhor mãe do mundo, eu te amo”. É pelo abraço apertado, pedido de ajuda, sorriso da conquista, beijo da saudade, pedido do melhor colo do mundo, pela certeza de que a vida vale muito. É pelo amor. Ser mãe é um dos sonhos mais completos: repleto de dificuldades, mas recheado de carinho e amor.

CRÍTICA

A construção atmosférica do suspense em Fragmentado Misael Avelino 7º Período de Cinema

Fragmentado (2017), último filme de M. Night Shyamalan, conhecido por Corpo Fechado (2000), Sinais (2002) e Sexto Sentido (1999), tem em comum com a filmografia do diretor a concepção de uma atmosfera de suspense construída em sequências bem dirigidas e carregadas de muita tensão. Na trama, três garotas são seqüestradas e mantidas em cativeiro por Kevin, um desconhecido. Enquanto elas procuram uma forma de escapar, vamos descobrindo mais sobre ele: vinte e três personalidades distintas convivem em sua mente e uma delas, a “Besta”, está prestes a se libertar. Cada vez mais somos mergulhados em um clima de tensão criado pelo uso de elementos narrativos como o espaço extracampo, que aparentemente não revela nada, mas aos poucos sugere pistas

ao entendimento do ato como um todo. Na sequência do sequestro, Casey, a primeira a perceber que algo estranho está acontecendo, rapidamente lança seu olhar para a janela do para-brisa e vê – fora de campo – algo esparramado no chão. Só então o espectador percebe que o motorista não é o pai, mas um desconhecido. O uso do espaço físico também é fundamental para a construção da tensão na obra: o cativeiro das garotas gera uma atmosfera claustrofóbica e é nele que a trama se intensifica. Todavia, é a personagem de Casey quem mais nos surpreende. Flashbacks bem inseridos no decorrer do filme nos revelam pistas sobre a sua vida. É como se ela oferecesse a todo tempo respostas psicológicas diante das ações de Kevin. Sua aparência física pode parecer frágil, mas nos momentos finais descobrimos como ela é capaz de entendê-lo, pois sabe o que é viver após um trauma.

m expediente Jornal MARCO Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal PUC São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Cláudia Siqueira Chefe de Departamento: Profª. Viviane Maia Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Ercio do Carmo Sena Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Viviane Maia

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fórum dos leitores

Editora: Profª. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Maura Eustáquia e Prof. Getúlio Neuremberg Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais

O Marco nas salas de aula

Monitores de Jornalismo: Ana Clara Carvalho, Bruna Curi, Giulia Staar, Marina Moregula e Taynara Barbosa

Tomo o jornal por um Marco na formação da comunidade acadêmica. Nos oferece oportunidade

Monitoras de Fotografia: Ana Luisa Santos e Igor Batalha Monitores de Diagramação: Laura Brand e Samuel Lima Apoio: Laboratório de Fotografia e NEP CTP e Impressão: Fumarc Tiragem: 12.000 exemplares

de pensar temas atuais - locais, nacionais - de perspectivas diversas da grande mídia, tão previsível como tem se mostrado! Frequentemente compartilho suas matérias com meus alunos! Dineia Domingues Professora de Psicologia na PUC Minas, campus Coração Eucarístico


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Alexandre Guglielmelli Raissa Cardoso 5º Período

A Reforma da Previdência Social proposta pelo governo de Michel Temer vem gerando protestos entre a maioria dos trabalhadores no Brasil. Categorias como a dos motoristas, metalúrgicos, bancários e a dos professores são algumas que decidiram pela greve geral ocorrida em 28 de abril, em protesto pela perda de direitos. O projeto do Poder Executivo foi apresentado ao Congresso em dezembro para ser votado pela Câmara dos Deputados e continua em análise. Entre as medidas previstas, há itens que alteram profundamente as condições de aposentadoria, sob a justificativa de que a seguridade social é deficitária e prejudica a economia do país. No texto que ainda pode ser novamente modificado pelo Congresso,, a idade mínima para aposentadoria será de 65 anos para homens e de 62 para mulheres. Para os trabalhadores que desejam se aposentar recebendo salário integral, o tempo mínimo de contribuição deverá ser de 49 anos. Pelas regras atuais de aposentadoria, a soma da idade e o tempo de contribuição devem totalizar 85 para mulheres e 95 para homens, e o tempo mínimo de contribuição exigido é de 15 anos. Uma das partes mais polêmicas do projeto são as regras de transição: normas que controlariam a apo-

POLÍTICA

Reforma da Previdência viola muitos direitos constitucionais Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, 71% dos brasileiros são contra as mudanças. A proposta prossegue no Congresso Nacional sentadoria de homens com mais de 50 anos e mulheres com mais de 45 anos. A proposta em análise no Congresso determina que a pessoa deverá trabalhar um tempo a mais para poder se aposentar com o salário integral. Esse tempo corresponderia à metade do período que ainda falta para a pessoa se aposentar. Se o período for, por exemplo, dois anos, pelas regras atuais, o trabalhador precisaria trabalhar um ano a mais, totalizando três anos. Para muitos trabalhadores, a incerteza sobre a aposentadoria é uma realidade assustadora. A professora da rede pública estadual, Maria Aparecida de Souza, conta que está há poucos meses da data de reconhecimento de sua aposentadoria e, por isso, teme que a reforma seja aprovada ainda esse ano: “O regime dos professores é diferente, não é a CLT. Nossa aposentaria é especial, com 25 anos. Nos contaram sobre essa regra de transição, mas ninguém sabe muito bem quanto a mais vai ter que trabalhar. É péssimo não saber realmente quanto tempo falta para se aposentar, ainda

RNO TEMER E EU GOVE

mais no caso do professor, que é uma categoria que sempre ganhou muito pouco e lutou muito para ter condições diferenciadas de aposentadoria”, conta. Outros pontos da reforma vêm sendo criticados e causando polêmica, como o estabelecimento de uma idade mínima de aposentadoria igual para todos, negando as diferentes condições de trabalho. Para Jairo Nogueira, secretário geral da CUT-MG (Central Única dos Trabalhadores), determinar uma idade mínima igual para todos os trabalhadores é inviável: “Existem muitas pessoas que trabalham no meio rural e se sacrificam muito mais que as que trabalham no meio urbano. Além disso, há as profissões de risco, que afetam a saúde do trabalhador. É muito grave colocar a mesma idade mínima para homens e mulheres, quando várias fazem jornada dupla.” Outro fator muito discutido é a questão do déficit nas contas públicas, que

Alunos e professores da PUC se unem contra as reformas Samuel Lima 5° Período

Professores da PUC e alunos ligados ao DCE aderiram à greve geral no dia 28 de abril. A decisão foi tomada em assembleia extraordinária convocada pela Adpuc (Associação de Docentes da PUC), por unanimidade. De acordo com seu presidente, professor Roberto Márcio, o principal motivo da paralisação é a luta pela cidadania e contra a perda de direitos que as reformas do governo Temer estão causando. Antes da paralisação, o DCE desenvolveu várias atividades com o objetivo de mobilizar os estudantes e explicar a situação atual da reforma da Previdência Social. Além da divulgação de panfletos, cartazes e a realização de uma assembleia no dia 26, um debate foi promovido no dia 24. O evento contou com a presença de Ricardo Berzoini, ex-ministro da Previdência no governo Dilma, e Beatriz Cerqueira, presidente da CUT-MG e coordenadora geral do Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação (SindUTE).

Segundo Thainá Nogueira, presidente do DCE, além de trazer informação para os estudantes, é importante convidar profissionais ligados à área para abordar a Reforma da Previdência e mostrar por que as pessoas estão se colocando contra essa pauta e mover mais estudantes para aderir à greve geral. A presidente destacou que os organizadores fizeram questão de incluir uma mulher na mesa do debate, uma vez que a reforma afetará mais as mulheres. No debate, Ricardo Berzoini e Beatriz Cerqueira apresentaram os principais pontos com os quais não concordam, principalmente pelos impactos sociais graves que a Reforma da Previdência trará. Já o professor Walter Marinho de Oliveira, do curso de Administração, apresentou os motivos econômicos pelos quais a reforma é necessária, a seu ver. Alunos de vários cursos da PUC participaram ativamente da discussão, o que contribuiu para um maior aprendizado de todos os presentes.

o governo alega haver para justificar a reforma. Críticos questionam a explicação e afirmam que a Previdência Social não é a maior causadora do saldo negativo e que não deveria haver reforma retirando direitos da população trabalhadora. Roberto de Carvalho Santos, advogado especialista em Direito Previdenciário, afirma que “a Previdência faz parte da seguridade social, que é um direito de todos. Não vejo a Previdência como um gasto e, sim, como um investimento que ajuda as economias locais a se sustentarem. Além de ser um instrumento fundamental para distribuição de renda”. Santos concorda e afirma que o motivo da queda nas contas da seguridade é a diminuição na contribuição devido ao aumento do número de trabalhadores sem carteira assinada. A necessidade de reforma em nosso sistema previdenciário é uma proposição defendida por economistas e estudiosos do tema, que utilizam outros argumentos para sustentar a tese. Um dos mais importantes é o demográfico. Como explica a economista Eleonora Bastos, professora da PUC, tem “menos gente nascendo e muita gente vivendo mais, o que é bom, pois é longevidade. Só que isso acaba sobrecarregando o sistema.” A expectativa de vida do brasileiro é de 75,5 anos. De 1940 a 2015, a expectativa de vida no Bra-

sil teve um aumento de 30 anos. Nesse mesmo período, a mortalidade infantil caiu quase 90%. No entanto, estados diferentes apresentam resultados diferentes em relação à esperança de vida. Santa Catarina, por exemplo, tem expectativa de aproximadamente 78,7, enquanto Alagoas apresenta números bem menores, chegando a 66 anos para os homens. Diferenças grandes entre os sexos também chamam atenção. Em Alagoas, a variação entre a expectativa de vida dos homens e das mulheres foi de 9,5 anos. Muitos dos que criticam as medidas propostas pelo governo Temer condenam também a maneira como as votações estão sendo conduzidas e os interesses partidários e empresariais por trás da ideia das reformas. A advogada Ana Lídia Franco questiona as verdadeiras motivações dos responsáveis por essas medidas: “Como eu posso acreditar que uma política comprometida com interesses partidários poderia fazer uma reforma para beneficiar a todos? O que eles estão fazendo é em benefício próprio, não do povo”. Roberto de Carvalho acredita que, por ser uma reforma que afete profundamente a população, deveria haver amplo debate antes da tomada de decisão. Para o diretor da CUT-MG, muitas pessoas estão sendo enganadas com a propaganda do Governo. Ele discorda, até mesmo, do termo utilizado: “Reforma dá a entender que é uma coisa boa, algo que vai

melhorar. E é o contrário, é o fim da aposentadoria”. A necessidade de reformas em diferentes setores da sociedade para ajudar na recuperação da economia parece um consenso entre os críticos e os apoiadores da proposta do Governo Temer. Eles divergem, entretanto, quanto à maneira dessas reformas serem feitas, e em que setores devem mexer para melhorar a situação econômica do país sem liquidar as conquistas sociais e os direitos já conquistados. “Eu não admito que o rombo da economia seja custeado pelos trabalhadores pobres e pelos que precisam se aposentar”, explica Ana Lídia. Para ela, a melhoria da economia depende da qualidade do governo: “Precisamos de um governo sério, que tenha em mente os melhores interesses do trabalhador, e que, independente de posições partidárias, queira o melhor para o Brasil’’. Na base do governo, o clima é diferente: a expectativa é de que a reforma seja aprovada. Segundo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, as reformas estão “correndo bem” e devem ser aprovadas até o final do segundo semestre desse ano. Enquanto a tramitação segue no Congresso, também segue o temor de trabalhadores, como Maria Aparecida, que não sabe se poderá se aposentar. “Estou vivendo o pior momento da minha vida. Esse momento de espera, de não saber o que vai acontecer, de só poder aguardar e ver o que vai ser feito de nossas vidas”, lamenta. Fernanda Oliveira

O debate sobre a Previdência Social é importante para manter estudantes informados


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SEGURANÇA

Insegurança provoca acidentes de trabalho

Igor Batalha

Ausência dos equipamentos de proteção coletiva é o principal problema nos ambientes das atividades Kívia Morrana Francielle Laudino 1º Período

Nos últimos cinco anos, foram registrados, em média, mais de 700 mil acidentes de trabalho por ano, sendo que, desses, 2.8 mil resultaram em óbito e 15 mil em danos permanentes à saúde. Isso resultou em mais de 7 milhões de dias de trabalho perdidos, gerando um prejuízo de aproximadamente R$11 bilhões para a Previdência Social. Esses dados dizem respeito apenas aos acidentes notificados; estão fora dessa conta os trabalhadores autônomos, informais, servidores públicos, militares e empregados domésticos. O Brasil, em 2016, foi considerado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) o quarto país do mundo em registro de acidentes no ambiente profissional. De acordo com o auditor-fiscal do Trabalho, Carlos Duarte Piancastelli, a maioria dos acidentes ocorre por falta de EPC (Equipamentos de Proteção Coletiva). Por exemplo: sinalizador de segurança, corrimão de escadas e fitas antiderrapantes. Ou seja, mesmo que o EPI (Equipamento de Proteção Individual) -como capacetes, luvas, óculos- esteja sendo usado, ele dificilmente protegerá o trabalhador em todas as situações. “Do mesmo jeito que o empregador é obrigado a fornecer e exigir o uso do EPI,

ele também tem obrigação de instalar proteções coletivas”, explica Carlos Duarte. Segundo Antônio Fabrício, professor de direito e presidente da OAB de Minas Gerais (Ordem dos Advogados do Brasil/ Minas Gerais), são considerados acidentes de trabalho todos aqueles que ocorrem durante o expediente ou no deslocamento de ida e vinda para o emprego e também doenças físicas e mentais provocadas pela atividade profissional. As doenças mais comuns são LER (Lesões por esforços repetitivos) e Dort (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) provocadas por repetições e esforços excessivos. Um sargento da Policial Militar, que preferiu não ser identificado, contou que se envolveu em um acidente quando conduzia um preso e perdeu parte do dedo indicador, o que lhe deixou sequelas: “Meu dedo não mexe, minha mão não fecha corretamente e fiquei com limitações no movimento”. O sargento contou também que não teve o apoio suficiente, pelo contrário. “Estão tentando dificultar a minha vida pelo fato de eu me encontrar há mais de três meses afastado do trabalho”, conta. O militar ainda relatou que a ajuda financeira ficou por conta do plano de saúde da Polícia Militar, para o que ele contribui mensalmente, e que ainda não pôde voltar a trabalhar

por causa da lesão. Nos primeiros 15 dias, quem deve cobrir os direitos do acidentado é o empregador. Após quinze dias afastado, ele passa a receber o auxílio-acidente, que é um benefício previdenciário. Esse benefício vale até quando a perícia médica do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) assegurar que o cidadão está apto para voltar ao trabalho. Carlos Duarte Piancastelli conta que não há um tempo limite para o afastamento do acidentado e para o recebimento do benefício: “A Previdência revê de tempos em tempos esse benefício e, se não há possibilidade do trabalhador retornar ao trabalho que ele exercia antes, tudo vai depender do desenvolvimento da doença”. Trabalhadores informais terão acesso aos direitos se forem contribuintes do INSS. “Por isso é importante ter carteira assinada’’ completa Piancastelli. O autônomo Welbert Batista conta que, enquanto trabalhava como ajudante de cozinha em um restaurante, perdeu parte do dedo médio. Ele diz que recebeu amparo, mas não foi o suficiente. “Uma empresa que paga os remédios, mas não dá ajuda psicológica não está oferecendo o suficiente”, desabafa Welbert. Ele também conta que não recebeu nenhum apoio financeiro após a recuperação, só obteve auxílio com os medicamentos. Igor Batalha

Trabalhadores autônomos se arriscam sem nenhuma proteção

Antônio Fabrício, professor de direito e presidente da OAB de Minas Gerais, observa que as leis que regem os trabalhadores são as mesmas para empregados de empresas estatais e públicas: “São leis federais, de números 8.212 e 8.213 as duas do ano de 1991. Elas regem os trabalhadores de maneira geral. Normalmente os trabalhadores que vão para o INSS são os trabalhadores regidos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e os trabalhadores federais serão afastados por seus institutos de previdência.” AJUDA

Existem dois tipos de indenização por acidentes de trabalho: por danos materiais e mentais. “As chamadas indenizações por dano material ocorrem quando uma pessoa fica inválida e não vai mais poder trabalhar. Então, se faz uma conta do tempo de vida útil que ela teria e do salário que ela recebia. Por exemplo, uma pessoa viveria até 65 anos e sofre um acidente com 50 então ela vai receber uma indenização equivalente ao salário dela entre 50 e 65 anos. Já o dano moral é diferente, não tem como quantificar o prejuízo, então o juiz vai

Equipamentos dão segurança aos trabalhadores

avaliar alguns parâmetros como a capacidade financeira da empresa, o salário do empregado, o tipo de desenvolvimento que aquele empregado podia ter e atribuir um tipo de indenização nesse sentido”, explica. O primeiro passo após o acidente é procurar um médico e registrar, na empresa, o ocorrido. A vítima do acidente ou, caso ela esteja impossibilitada, a pessoa que a socorreu, deve declarar o CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), um comprovante do acontecimento. Caso a empresa não forneça o CAT, o funcionário pode conseguir o documento no sindicato ou ele mesmo pode emiti-lo sozinho. “Esse empregado pode ficar afastado pelo INSS recebendo valores neste período de afastamento, mas depois ele deve procurar um advogado e ajuizar uma ação na Justiça do Trabalho para que tenha a reparação do dano moral e material”, diz o professor Antônio Fabrício. Se a

empresa não oferecer nenhum tipo de assistência, o trabalhador deve também procurar a Justiça do Trabalho. Depois de ocorrido, é preciso que as causas do acidente sejam identificadas. Muitas vezes não há investigação para acidentes mais leves. Entretanto, em caso de acidentes graves, fatais ou que resultem em sequelas permanentes e graves, o Ministério do Trabalho e a perícia técnica da Polícia, analisam as condições de fato. Se houver irregularidades, a empresa pode ser punida com multas pesadas O empregador tem a obrigação de estar atento ao andamento dos processos que acontecem no dia a dia da empresa. De acordo com o professor Antônio Fabrício, “se o funcionário não estiver treinado para a função, muito provavelmente o juiz vai entender a culpa dessa empresa e condená -la por essa omissão”.

Semana de Prevenção ajuda a conscientizar trabalhadores Nos dias 2, 3 e 4 de maio, no Campus do Coração Eucarístico da PUC, a Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Sipat) foi celebrada com eventos voltados para o bem-estar e a saúde do trabalhador, abertos aos professores e funcionários da instituição. O intuito é de intensificar as ações de segurança dentro da Universidade. Lourival Reis presidente da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) destaca a importância da prevenção de acidentes: “A Universidade tem o tamanho de uma cidade, então a gente tem trabalhadores desde o setor técnico-administrativo, até o trabalhador de obra e o trabalhador de limpeza. Todos eles

precisam ser assistidos com relação a essa questão de acidente de trabalho; então, trazemos nessa semana uma programação que engloba vários tipos de palestras e atividades culturais para tentar evitar que o acidente aconteça”. A comemoração consta de palestras e apresentações, com a presença do humorista Geraldo Magela, com a palestra “Um ceguinho de olho no futuro”. Geraldo contou com muito humor como superou as dificuldades da vida sendo deficiente visual. O evento também tem uma parte de saúde com aferição de pressão arterial, teste de Glicemia Capilar e Orientações gerais para todos os participantes.


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5 COMUNIDADE

Festas do Bom Pastor integram os moradores

Ana Luisa Santos

Barraquinhas estão de volta em maio para celebrar o padroeiro da paróquia do bairro Dom Cabral Andréia Lomas 2° Período

Tradicionais no bairro Dom Cabral, as barraquinhas da Paróquia Bom Pastor estão de volta este ano. De 29 de abril até o dia 07 de maio as festividades religiosas em comemoração ao padroeiro da paróquia, o Bom Pastor, contaram com barraquinhas em torno da igreja. Nos finais de semana após a celebração das 19 horas, eram oferecidos

caldos, canjicas entre outros artigos alimentícios, e conjuntos musicais. A paróquia, que completou 50 anos no ano passado, mantém a tradição de realizar essa festividade, antes mesmo de a igreja do bairro ter sido construída. Para vivência religiosa e de arrecadação de fundos para a igreja, as barraquinhas têm uma motivação ainda maior: a interação e o lazer para os moradores do bairro Dom Cabral e região.

Segundo o padre Renato Alves, a festividade possui cunho religioso e antropológico. “Além de celebrarmos a figura do Pastor, aquele que cuida e guia, há a interação dos moradores”, afirma. Durante as duas semanas de comemorações a programação fica por conta da paróquia e dos moradores que, durante as celebrações, são responsáveis pelas liturgias e discussões de temas reflexivos a respeito do Bom Pastor.

FESTA JUNINA Sandra Vasconcelos é voluntária há dez anos na Paróquia Bom Pastor e vê a festa com satisfação: “Eu amo! Faço o trabalho voluntário nas doações e na divulgação. A comunidade fica esperando a barraquinha. Chegar e ver crianças e famílias me deixa muito feliz”. A Associação de Moradores vê, na realização das festividades, a chance de o público pertencente ao bairro ter a forma

A paróquia mantém essa tradição a mais de 50 anos

de convivência lúdica e saudável. Segundo o vice-presidente da Associação, Maurício Antônio de Sales, o bairro é carente de eventos. Ele ressalta: “Infelizmente o bairro não tem eventos para a população, então é muito positivo as barraquinhas como forma de encontro e de lazer para os moradores”. Outra tradição da Paróquia Bom Pastor é a festa junina das crianças,

realizada no salão paroquial. A comemoração encerra o primeiro semestre do ano e acontece antes das férias. Voltada para o público infantil da catequese, a festa junina contará com barraquinhas de brincadeiras, como boca do palhaço e com comidas típicas como cachorro quente e pipoca, relata Fabíola Cristina da Cunha, uma das coordenadoras da catequese.

Sandra é mãe de 11 filhos e trabalha em restaurante no Coração Eucarístico Marcella Gasparete Esther Armani 1º Período

Sandra Santos Fauzina, 44 anos, trabalha há um ano com sua filha mais velha no restaurante Café com Dom, na avenida Dom José Gaspar, no bairro Coração Eucarístico. Apesar da simples rotina, a cozinheira guarda uma história de vida peculiar. Natural de Belo Horizonte, Sandra tem 11 filhos, de sete pais diferentes. Mesmo não tendo planejado nenhuma gestação, sempre sonhou em ser mãe. “A minha mãe me lembrava que, quando eu era criança, falava que ia ter dez filhos, tanto é que tive bonecos que hoje têm os nomes dos meus meninos”, conta. Tudo começou aos 12 anos quando conheceu seu primeiro companheiro, vizinho de muro no bairro Fernão Dias. Aos 14 teve seu primeiro filho, mas o perdeu em um aborto espontâneo. Três anos depois, engravidou-se de Ana Caroline, sua primeira filha. Após dois anos ganhou Amanda Camila, e aos 23, se separou do pai das meninas. Depois de um ano teve

o primeiro menino, Marcos Henrique, hoje com 23 anos. A seguir, foi mãe de Yuri Matheus (22), Isaac (18), Maria Eduarda (17), Nicolle (15), Antônio (14), Pedro Henrique (13), Vinícius (11) e o caçula Marli Emanuel, com 6 anos. Dos filhos que teve, Sandra criou apenas seis, mas deixa claro que a convivência com todos é muito frequente. Ela relata, também, que não gosta de precisar dos pais deles, mas que a relação permanece muito tranquila: “Todos os pais dos meus meninos são meus amigos, se eu precisar, eles estarão lá”. Atualmente, mora em Contagem com cinco filhos e seu companheiro. COMPLICAÇÕES Sandra conta que, em seu penúltimo parto, ficou em coma durante 15 dias, devido a uma doença rara, a síndrome de Hellp, uma complicação obstétrica, pouco conhecida e de difícil diagnóstico, que acontece durante a gravidez ou no pós-parto, podendo causar a morte da mãe. A patologia parou seu rim e, em seguida, os outros órgãos do corpo. “Fui no médico Igor Batalha

A cozinheira sempre sonhou em ser mãe de muitos filhos

porque me deu vontade, ou seja, um anjo me levou. Chegando lá, pouco antes de ser atendida, fui ao banheiro e já desmaiei. Só lembro do médico me chamando”, diz. “Eu estava entrando em trabalho de parto, mas não sentia contração, não estava sentindo nada. Foram mais de 20 horas pra salvar a vida dele e a minha.” Após ficar internada, ela passou pelo procedimento de laqueadura tubária, ou ligação de trompas. Mas, passados cinco anos, ela descobriu que estava grávida. Aos cinco meses, era uma gestação de risco, o parto seria perigoso, tanto para ela, quanto para o bebê. Sandra relata a cena de ver o feto se mexendo: “Eu vi o bebezinho lá, mexendo, aqueceu meu coração, hoje ele tem 6 anos, e é meu caçula. Apesar das complicações anteriores, o parto correu bem”. O preconceito de ter tantos filhos foi outro obstáculo na vida de Sandra. “As pessoas não me olham com o olhar de mãe, olham como se teve filho foi porque vacilou. Realmente não planejei, mas eles são as coisas mais importantes”. Sandra sempre foi uma mãe trabalhadora, por isso está ausente em alguns momentos familiares. Segundo ela, as pessoas enxergam isso de forma negativa e fazem criticas que a incomodam muito. “Como eu trabalho demais, acabo sendo mais parte ausente do que presente e, com muitos filhos assim, as pessoas me criticam bastante. Me incomoda, claro que incomoda, isso é uma coisa pessoal, mas eu supero também.”

Todavia, a fé sempre guiou a vida de Sandra. Apesar de ter sido criada e batizada na igreja evangélica, Sandra só descobriu o lado espiritualista depois de adulta, a pedido de seu coração. “Eu sigo o

meu coração. O que eu sinto, acho que é o primeiro passo antes de tomar uma atitude. Não faço nada sem sentir antes. Acredito muito que Deus está presente em todos os meus passos. As pessoas não conseguem

conciliar espiritismo com o Criador, mas eu consigo. Concilio as duas coisas, eu tenho minhas crenças espíritas e acredito que Deus é o todo poderoso”, explica ela.

Projeto de extensão faz encontro com militante e socióloga indígena Aline Beatriz Taynara Barbosa 3º e 2º Períodos

Avelin Buniacá é socióloga, indígena e especialista em raça, gênero, ensinos religiosos, fundadora do Comitê Mineiro de Apoio às Causas Indígenas e primeira mulher indígena a ser assessora parlamentar. Ela discutiu sobre identidade étnico-racial, direito à diferença e a intolerância, no campus São Gabriel da PUC, no dia 25 de março. A socióloga disse que as pessoas devem desconstruir a imagem do “índio genérico”. “Somos 305 povos, mais de 180 línguas, mas as pessoas acham que devem ser como o índio “Rede Globo”; o diferente causa medo e, aquilo que temo, quero exterminar”, desabafa. Ela chama atenção para a apropriação cultural e o uso de fantasias indígenas no Carnaval: “Essa apropriação não é legal. Por mais que se fale que é uma homenagem à nossa cultura, não é, pois generaliza o índio”. Avelin não se beneficiou de cotas indígenas, mas defende o sistema: “Na minha época não havia cotas, mas considero de extrema importância, inclusive moral, para um país racista construído sobre o sangue indígena e negro, escravocrata e corrupto. Precisamos rever essa ‘meritocracia’, afinal ter ‘direito’ não significa ter ‘acesso’”. Para lutar pelos direitos indígenas, Avelin ingressou na política e se filiou ao PSOL (Partido Socialismo e Liber-

dade): “Não havia mais formas de levar a voz do nosso povo para outras esferas. As reivindicações em nossa aldeia ou na Praça Sete não eram suficientes”. Ela conheceu o PSOL por meio do amigo antropólogo, Rafael Barros. REALIDADE Para Arthur Santos, que cursa Publicidade e Propaganda, a palestra foi a oportunidade de conhecer outra realidade. “Foi uma forma de conviver com quem sofre discriminação todos os dias. Gostei da forma com que a palestrante interagiu com o público, dividindo o guaraná na cuia”, comenta. A professora Marta Neves, que criou o Projeto Encontro, tem convidado palestrantes para ir à universidade, além de comunidades como as Vilas da Luz e Paz e o Centro Cultural da Regional Nordeste. “A ideia é maravilhosa, pois tem uma aproximação com o aluno diferente das palestras do semestre passado, e proporciona contato com culturas que desconhecemos”, conclui Arthur. A antropóloga Lúnia Dias comentou a crítica que Avelin fez sobre a generalização do índio: “Chamar todos esses povos daqui de índio partiu dos próprios portugueses, é algo que vem de fora. Hoje, a antropologia trabalha com os critérios étnicos e a necessidade da autoatribuição dos povos enquanto afirmação de uma identidade referenciada”, frisou a antropóloga.


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Alexandre Guglielmelli Ana Paula Proença Giulia Staar Raissa Cardoso Silvia Senna 5° Período

Frango com quiabo, leitão, feijão-tropeiro e torresmo são comidas típicas mineiras. Tradicionalmente, a culinária regional está longe do estilo de vida vegano. Contudo, nos últimos anos, esse mercado tem entrado em ascensão, aumentando o número de produtos, lojas e distribuidores na capital. Este ano, em Belo Horizonte, foi aberto, na Venne Mercearia, o primeiro açougue vegano. A mercearia, que, antigamente, também vendia outros produtos destinados ao público vegano, passou a vender ‘carnes’ à base de vegetais, totalmente livres de animais. Fazem cada vez mais sucesso nas ruas food trucks (caminhonetes com comida) vegetarianos e restaurantes especializados para os adeptos dessa filosofia de vida. Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), dois mil brasileiros se convertem ao veganismo toda semana. Uma análise feita pelo Vista-se, portal destinado ao publico vegano, com a ajuda do Google Trends, revela que o interesse da população brasileira pelo veganismo aumentou mais de 500% nos últimos cinco anos. Dados também da SVB mostram um crescimento no mercado vegetariano e vegano: são 230 novos restaurantes, sem contar o aumento

ALIMENTAÇÃO

Estilo de vida vegano cresce em Belo Horizonte Apesar do aumento de adeptos, veganismo ainda traz duvidas em relação aos benefícios com a saúde de pratos e lanches veganos em restaurantes convencionais. Apesar do aumento do interesse, a comunidade vegana ainda é pequena no Brasil. Segundo dados do Instituto Ipsos, apenas 8% da população brasileira nas capitais é vegana. Na capital mineira, esse percentual varia em torno de 9%. A SVB calcula que um terço dos vegetarianos é vegano, pelo menos 5 milhões de pessoas no país. A mesma pesquisa revela que 28% dos brasileiros têm procurado comer menos carne. O termo vegan foi criado em 1944, nos Estados Unidos. O veganismo se define como um estilo de vida que, por razões éticas, exclui todas as formas de exploração e crueldade contra animais, da alimentação ao vestuário. Seus adeptos têm uma dieta baseada em vegetais, livre de todos os alimentos de origem animal. De acordo com a sociedade vegana mais antiga do mundo, a The Vegan Society, da Inglaterra, existem várias versões de veganismo. O que há em comum em todas elas é “uma dieta baseada em vegetais, livre de

todos os alimentos de origem animal, como carnes, ovos, laticínios e mel, bem como produtos de couro e/ ou testados em animais”. SAÚDE Uma dúvida muito frequente entre aqueles que não praticam ou querem começar a praticar o veganismo é sobre a qualidade da alimentação. Surgem questionamentos em relação a como conseguir os nutrientes essenciais em uma dieta considerada restrita pela opinião popular. A nutricionista funcional, Brenda Ribas, explica que a falta de alimentos de origem animal não cria nenhum problema, pois a dieta vegana está associada a muitos benefícios de saúde por incluir mais fibra, ácido fólico, vitaminas C e E, potássio e magnésio, muitos fitoquímicos, bem como menores níveis de gordura saturada. “Além disso, os veganos apresentam menores índices de doenças não transmissíveis, como câncer, obesidade, diabetes e hipertensão.” Ela acrescenta que a maioria dos animais consumidos pela população

recebe rações, hormônios e muito antibiótico, o que reduz a qualidade nutricional da alimentação carnívora. Entretanto, a especialista alerta que é necessário ficar atento a alguns nutrientes que são mais difíceis de se obter em vegetais, como: ômega 3, ferro, zinco e vitamina B12. No caso da vitamina B12, ela merece ainda maior atenção: “Os veganos não consomem a vitamina B12 pois ela apenas está presente em alimentos de origem animal e ovos, por isso normalmente é necessário fazer a suplementação”. Para Brenda, o importante é ter uma alimentação bastante variada: “Os nutrientes não estão concentrados em apenas um alimento, como é o caso da carne, porém estão espalhados em diversos outros”. Ariane Palma, vegana há oito meses, concorda. Ela afirma que a vitamina B12 foi uma das suas principais preocupações ao tornar-se vegana, mas procurou acompanhamento nutricional e nunca precisou tomar suplementos. Para ela, a adaptação mais difícil não foi a relacionada à alimentação, mas

a produtos que não tivessem participação animal em sua produção: “O mercado de alimentos cresceu muito, mas o de roupa, cosmético e sapato não”. MOTIVAÇÃO Ariane diz que a solidariedade e amor aos animais é o que motiva seu estilo de vida: “O veganismo, para a gente, é um estilo de vida e não apenas uma dieta. Muita gente começa pela alimentação, mas depois vão se abrindo”. O estudante de ciências biológicas da UFMG, Marco Túlio, é vegano há três anos e compartilha a visão de Ariane. Segundo ele, o veganismo é “uma filosofia

anti-especista que vai além da igualdade entre as espécies, trata-se do amor”. Túlio conta que, depois que tornou-se vegano, passou a cuidar mais da alimentação: “Comecei a prestar muita atenção nas questões nutritivas dos alimentos e na qualidade dos produtos”. De acordo com ele, a mudança afetou positivamente sua saúde e bem-estar, o que o motivou a continuar adepto ao veganismo. Para Túlio, um dos erros mais comuns é limitar a filosofia vegana ao fato de se deixar de consumir produtos de origem animal. “Essa característica é somente uma fração do que acreditamos. Se trata bastante do repúdio à exploração dos animais.” Marilia Gabrielle, fundadora do restaurante vegano Las Chicas, localizado no centro de BH, acredita que o veganismo não é dieta, é resistência. “Resistência à exploração animal, ao desmatamento, ao elitismo”, comenta. Igor Batalha

O primeiro açougue vegano foi aberto na capital

Alimentos descartados podem ter outro destino além do lixo Amanda Proença 1º Período

Alimentos como frutas, legumes e verduras, antes de chegar às feiras e mercados, são selecionados para que apenas aqueles em melhores condições sejam colocados à venda. Nesse processo, vários alimentos são descartados. Então, surgem as perguntas: para onde vão essas mercadorias? Há desperdício? A Central de Abastecimento de Minas Gerais

(Ceasa) é a principal fonte que os feirantes da maioria dos mercados de Belo Horizonte utilizam para comprar as hortaliças e frutas que são vendidas em suas lojas. De acordo com os comerciantes da Central, alimentos que estiverem estragados ou amassados, devido à forma como foram transportados, são deixados do lado de fora de seus estabelecimentos e, posteriormente, levados por caminhoneiros até o local de descarte mais próximo. Igor Batalha

Pessoas selecionam alimentos descartados na Ceasa

É utilizada uma compactadora, que é responsável por prensar os alimentos, para que depois sejam jogados no Aterro Sanitário de Contagem. Dentre os alimentos que estragam com maior facilidade, são citados o jiló, tomate, caqui, a rúcula e a alface. Orman Salvador, comerciante da Ceasa, afirma que, quando não é possível vender para os grandes mercados, descarta para que outras pessoas possam recolhê-los. Thaís Ferreira, de 19 anos, abriu um sacolão próximo à sua casa em Ribeirão das Neves, com os alimentos que são descartados pelos lojistas da Ceasa. Quando não consegue vender tudo o que coletou na porta do local, limpa as frutas e as leva para casa para uso próprio ou para vender por menor preço no seu sacolão. Além de Thaís, diversas pessoas dependem do que é descartado na Central para sobreviver.

“Isso aqui mata a fome de muita gente. É só a pessoa não ter vergonha e nem preguiça”, afirma Marconi Miranda, que também coleta e seleciona os alimentos que são descartados na Ceasa. Segundo ele, esse trabalho é uma oportunidade que ajuda muitas pessoas. Com a venda desses produtos, eles conseguem arrecadar em média R$300,00 por dia. ALTERNATIVAS Já no Mercado Central, as doações são mais específicas. Os vendedores explicam que, semanalmente, chegam freiras responsáveis por asilos e creches com seus carrinhos recolhendo doações. Além disso, alguns feirantes recebem visitas diárias de pessoas conhecidas, como a de um criador de porcos, que recolhe o que não pode ser aproveitado pelo vendedor de raízes. O que não pode ser vendido por menor preço,

doado ou reaproveitado é jogado na lixeira mais próxima à banca. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), lançou a versão final do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Belo Horizonte (PMGIRS-BH), que coleta os resíduos de estabelecimentos que participam da Coleta Seletiva de Resíduos Orgânicos. O Mercado Central não participa do plano, por não separar o lixo descartado por categorias, que é um pré-requisito para a participação no projeto. Por isso, o Mercado paga uma taxa para que a SLU realize a coleta de lixo e este seja levado até um aterro sanitário. Apesar desse descarte, os vendedores demonstram preocupação com o desperdício de alimentos. Existem diversos programas que têm como finalidade a redução do desperdício de alimentos. A Ceasa

mantém o Prodal (Programa de Distribuição de Alimentos), que conta com a doação pelos comerciantes de alimentos que não apresentam características favoráveis para a venda, mas que ainda têm seu caráter nutritivo, estando apenas amassados. Os alimentos coletados são distribuídos para mais de 150 instituições sociais, encampando mais de 26 mil pessoas por semana. Além das iniciativas coletivas, existem as individuais. Lucas Mourão montou o seu próprio empreendimento Jaca Verde Panc, há um ano. Com alimentos coletados nas ruas da cidade ou provenientes de doações, Lucas prepara alimentos veganos com plantas alimentícias não-convencionais (Panc), através de pedidos, encomendas e, eventualmente, em feiras. Seu empreendimento ainda oferece cursos, oficinas e consultoria.


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Júlia Bahia Lívia Rigueira Maria Laura 1º Período

“Era mais ou menos umas 8h30min. Eu estava descendo a rua e veio um carro que começou a reduzir a marcha, até que parou. Havia dois caras dentro; um saiu e segurou meu braço. Na hora, eu imaginei que ele quisesse me assaltar, então virei para passar a mochila e ele me disse que não, que era pra eu entrar no carro e ficar calada’’, relata J.A, estudante de odontologia da Puc Minas. Ela afirma que só conseguiu escapar com a ajuda de um motorista que passava no local e viu o que estava acontecendo. Segundo ela, ao chegar à universidade foi auxiliada pelos seguranças que a acalmaram. Além disso, foi orientada por sua professora a ligar para a polícia para fazer o boletim de ocorrência. “Quando contei para os policiais o que havia acontecido, eles falaram que como não foi assédio comprovado e nem assalto, eu não poderia fazer o boletim, pegaram meus dados e disseram que tomariam providências’’, relata ela. J.A. é uma das estudantes que sofreram assédio no entorno do campus Coração Eucarístico, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas),

VIOLÊNCIA

Casos de assédio no Coração Eucarístico assustam alunas O Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a Polícia Militar estão se mobilizando para prevenir o problema no entorno da PUC na Região Noroeste de Belo Horizonte, no mês de março. Devido à grande repercussão dentro da universidade e nas redes sociais, a PUC Minas, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a Polícia Militar estão se mobilizando para prevenir outros casos. O tenente Fernando Maximo, do 34° Batalhão da Polícia Militar (PMMG), responsável pela região do Coração Eucarístico, informou que não foram registrados boletins de ocorrência de assédio, na região. Ele reforça a importância da colaboração das vítimas com a rede de informações policiais, procurando detalhar ao máximo os fatos, visando ajudar o trabalho da polícia quanto à segurança das estudantes. Para isto, é de fundamental importância fazer o boletim de ocorrência. MUDANÇAS Em reunião com a PMMG, o pró-reitor de Logística e In-

fraestrutura da PUC Minas, Rômulo Rigueira, relatou que chegou ao conhecimento da universidade somente um caso de assédio, e que após isto, algumas medidas de segurança foram reforçadas. Entre elas, a distribuição de folhetos explicativos para conscientização dos estudantes e o requerimento à Prefeitura Municipal para podar árvores da região com a intenção de melhorar a iluminação ao redor do Campus. “Estamos estudando implantar na Avenida 31 de Março, perto do prédio de odontologia, um posto da Polícia Militar para registro de ocorrências. Além disso, nossos vigias estão ficando nas calçadas e nos passeios para ajudar a identificar pessoas com alguma atitude suspeita”, disse o pró-reitor. Foi criado, também um grupo de mensagens no aplicativo Whatsapp, composto por membros da comunidade acadêmica e a Polícia para facilitar denúncias.

Morador agride e mata estudante da PUC Isabella Martins Ferreira, de 22 anos, estudante de Economia na Puc Minas foi esfaqueada e morta por um vizinho, no apartamento onde morava, no bairro Coração Eucarístico, numa manhã de sábado (29). A família da vítima contou à imprensa que o vizinho já havia assediado a jovem, que por isto, pediu ajuda a unidade da Polícia Militar do bairro. Entretanto, os políciais explicaram não poder fazer nada sem a concretização de alguma ação por parte dele. O autor do crime, Ezequiel Miranda, 41 anos, era obcecado pela jovem e, segundo a PM, teria problemas psiquiátricos. Toda família foi atacada por ele. A menina foi esfaqueada; ao tentar intervir, o pai também. Eles foram socorridos por um taxista que passava pelo local e levados para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Oeste, mas ela não sobreviveu. Ezequiel Miranda da Silva, foi preso em flagrante pela PM. O major Flávio Santiago, chefe da sala de imprensa da PM, lamentou o fato de a PM não ter tido condição de evitar o feminicídio. Observou que um olhar ou uma fala estranha não dão à Polícia base para agir, embora sejam ações fora do pa-

drão de normalidade. Segundo ele, o comportamento do criminoso foi atípico: ele passou de nível zero ao auge da agressão, nível mais grave da sociopatia em tempo recorde. Segundo o major Santiago, crimes de gênero, como feminicídio, podem ser prevenidos com a criação e “forte articulação das redes de vizinhos protegidos. Neste caso, todos devem compartilhar entre si informações que visem alertar a comunidade.” Os fragmentos da observação de cada um podem contribuir para melhor fundamentação, por exemplo, de queixas em B.O. para dar causa à ação da Polícia, inclusive à investigação”, diz o major. Ele acha que essa vigilância intensiva e ostensiva pode inibir a ação do potencial agressor. A PUC Minas cedeu à PM um rádio comunicador para ser utilizado na comunicação direta entre sua equipe de seguranças e a 9ªcia da PMMG, como parte do acordo firmado entre as instituições. Desta forma, os seguranças da universidade vão auxiliar a PM com informações de suspeitos ao redor da universidade, para melhorar a segurança da área e a prevenção da criminalidade.

DEFESA Preocupado em prevenir casos de assédio e em oferecer mais segurança às meninas, o DCE (Diretório Central de Estudantes da PUC) está organizando um curso de defesa pessoal para as alunas da universidade. A responsável, Melanie Leite, disse que ideia surgiu graças a sugestão de algumas alunas. A proposta ficou esquecida por não haver urgência. Porém, agora, por causa dos casos de assédio que chegaram ao conhecimento do DCE foi necessário ativá-la. O curso já conta com 497 alunas inscritas. Outra medida tomada pelo DCE e o conselho dos DAs (Diretórios Acadêmicos) foi de distribuir apitos às estudantes, como medida preventiva. O professor de ciências sociais, Alexandre Teixeira, explica que o assédio das mulheres deve sempre ser colocado em uma perspectiva mais ampla. Para ele, não são casos isolados: eles se

De acordo com a Lei 10224 de 2001, “Art. 216-A, constituí assédio sexual “Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. ”Pena – detenção, de 1

inserem na cultura machista brasileira. Por isto, é preciso “entender o assédio dentro de uma sociedade como a nossa que privilegia os homens e lhes permite assediar mulheres, tanto fisicamente quanto sexualmente e moralmente, em quaisquer espaços e situações”, observa. Thainá Nogueira, presidente do DCE da PUC e líder feminista, disse que as pessoas procuram a Polícia com o intuito de denunciar a violência sexual, porém esquecendo-se da existência da Delegacia da Mulher que é especializada em casos como este. Além disso, ressalta a importância da nomeação correta dos fatos, “que em momento nenhum foi tratado pela mídia como feminicídio.” O crime não tem que ser o protagonista da história; “deve-se denunciar o machismo e misogenia, dando ênfase ao que ocorreu com a vítima e não aliviando ou absolvendo o criminoso”, disse ela.

(um) a 2 (dois) anos.” Desse modo, o assédio é definido como um avanço de caráter sexual não aceitável, embora muito presente na sociedade contemporânea. As autoridades evidenciam a necessidade de discussões sobre o assunto visando à erradicação de sua prática. Ana Luisa Santos

Assédio e violência contra a mulher são realidade para milhares de brasileiras


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Bruna Curi Marina Moregula 3º e 5º Períodos

Casos recentes de violência contra a mulher tiveram grande divulgação na mídia, por envolverem pessoas públicas, como atrizes e cantores. As formas de agressão incluem violência moral, sexual, física, patrimonial e psicológica, até a morte. A violência existe desde sempre, fundamentada em uma cultura historicamente machista. O que há de novo é a maior possibilidade de denúncia devido às novas leis e à visibilidade nas redes sociais; à ação dos movimentos feministas; e ao debate, que está generalizado na sociedade. Até há pouco tempo, prevalecia o dito popular de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. O debate e a luta feminista estão provando que, muito pelo contrário: esse é um problema de toda a sociedade. De acordo com a delegada Danúbia Quadros, os casos mais recorrentes atendidos na Divisão de Polícia Especializada da Mulher são de lesão corporal e ameaça. O atendimento funciona 24 horas por dia, ou seja, em qualquer horário a mulher pode re-

Violência de gênero cresce em BH Leis que punem os agressores, políticas públicas e medidas protetivas contribuem para prevenir e combater o problema Igor Batalha

latar uma possível agressão. Não é preciso esperar a violência física ocorrer para fazer uma denúncia, que pode ser anônima, em sigilo absoluto. A delegada reforça que a vítima deve buscar ajuda imediatamente: “Sempre é interessante procurar a delegacia e, se estiver machucada, fazer um exame e tomar as providências criminais cabíveis”. Ela acredita que a violência contra a mulher está aumentando. Na delegacia, são requeridas, por mês, entre 600 e 700 medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha. São mais de 20 casos de violência doméstica por dia. Apesar desse cenário, a delegada se mostra otimista em relação às medidas protetivas. “Existem várias campanhas educativas que inibem e previnem a violência”. LEGISLAÇÃO A Lei Maria da Penha, nº 11.340, de 2006, define cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a

mulher: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Humberto Leandro de Melo e Sousa é professor de direito penal na Universidade Estadual de Minas Gerais e cientista social. Ele explica que esses tipos de violência já eram considerados crimes antes dessa lei. O que ela fez foi aumentar a gravidade e a pena para eles quando as vítimas são mulheres. A lei também trouxe uma série de medidas protetivas e políticas públicas específicas para mulheres em situação de violência. Essas medidas incluem encaminhar a mulher a um programa de proteção, afastar o agressor do espaço de convivência com a mulher, proibir que ele se aproxime ou entre em contato com ela, entre outras. Sousa acredita que o Brasil tem uma das melhores legislações do mundo sobre a questão da mulher. A Lei Maria da Penha incentivou mulheres a denunciar e provocou uma diminuição dos cri-

mes. Entretanto, há uma dificuldade: “A questão orçamentária, por parte dos governos Federal, Estadual e Municipal.” A dificuldade é percebida na prática pelas mulheres. Depois que a mulher requer uma medida protetiva, o juiz tem até 48 horas para deferi-la. Sousa conta que, em média, levam-se 20 ou 30 dias, já que a quantidade de processos é grande para o número de juízes. É uma questão estrutural e os processos podem durar anos. As delegacias de mulheres, previstas na Lei Maria da Penha, não existem em todos os municípios e não funcionam em todos os horários, apesar de a violência não ter hora para acontecer. A mulher ainda corre o risco de, na delegacia, não receber o tratamento correto. “Ainda vigora a incompreensão da violência. Acham que a mulher gosta de apanhar, não percebem que existe um ciclo vicioso de dependência psicológica”, explica Sousa. A Lei Maria da Penha

Agressores são encaminhados a tratamento psicológico A Lei Maria da Penha prevê, em relação ao agressor, o atendimento psicológico. O projeto Dialogar, realizado pela Coordenação de Direitos Humanos da Polícia Civil de Minas Gerais, reeduca agressores. Regina Pimentel e Reinaldo Pereira são os psicólogos encarregados do Dialogar. O programa surgiu em 2013, numa parceria com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais. O encaminhamento ao Dialogar é uma das medidas que o juiz pode sentenciar ao agressor da mulher. “A gente atende esse homem, escuta a história dele, preenche uma ficha e fala pra ele como funciona aqui”, explica Reinaldo. São oito encontros de duas horas, uma vez por semana, em grupos de dez pessoas. O agressor não pode faltar, pois estaria descumprindo uma medida judicial. São grupos só de homens ou só de mulheres. A lei define que, em casos de

violência contra a mulher, a vítima é sempre, obviamente, a mulher, mas o autor pode ser de ambos os sexos. Mulheres são encaminhadas ao Dialogar quando são agressoras, em casos de casais homoafetivos ou de mães e filhas. O psicólogo ressalta que, para o senso comum, violência contra a mulher acontece só entre casais, mas pode vir de filhos, netos, pais, cunhados, irmãos. “Recebemos casos em que o agressor quebra um celular, uma televisão da mulher, retém o documento dela”, comenta. Desde 2013, apenas 5% dos agressores cometeram novos crimes contra a mulher. Mas o índice de reincidência não comprova que o agressor mudou sua mentalidade machista. Há a possibilidade de o homem ter uma nova companheira e de ela não ter registrado as agressões. Mesmo assim, Reinaldo acre-

dita que os grupos fazem as pessoas pensar: “A gente trabalha relações de gênero, Lei Maria da Penha, comunicação violenta, responsabilidade. É através dessa reflexão que eles vão tomar consciência e se responsabilizar pela conduta que têm em relação às mulheres.” Ele defende que a educação na escola básica e na família é fundamental para desconstruir os estereótipos de mulher e homem, que embasam a violência de gênero. “Até outro dia a lei não fazia parte da vida desses homens. Penso que é como fumar cigarro que, antes das proibições, as pessoas fumavam em qualquer lugar. Vieram as plaquinhas de ‘proibido fumar’ e as pessoas pararam. Hoje, placas não são mais necessárias porque as pessoas já internalizaram isso, é um hábito. Essas leis de gênero só vão ter efeito nas próximas gerações.”

Delegada Danúbia Quadros reforça importância de denunciar acabou com a necessidade da representação por parte da vítima em casos de lesão corporal leve, o caso mais denunciado. Isso significa que, mesmo que a mulher não tenha interesse na instauração do processo criminal, ele vai seguir. Para Sousa, isso tira a pressão sobre a mulher, além de evitar que ela passe pelo desgaste da ação penal. “Ela vai passar por uma via crucis, que exige muita firmeza para não voltar atrás. Em outros crimes, a mulher pode renunciar ao direito de representação e vai sofrer uma pressão para isso. Essa pressão não vem só do agressor, mas também das próprias instituições. Ocorre aí uma violência institucional”, admite. FEMINICÍDIO No Código Penal, o artigo 121 trata dos homicídios. Em 2015, ele foi complementado pela Lei nº 13.104, conhecida como Lei do Feminicídio. Ela determina que homicídios cometidos contra a mulher, por razões da condição de sexo feminino, entram na categoria de homicídios qualificados, com pena de 12 a 30 anos. Há razões de condição de sexo feminino quando envolve violência doméstica e familiar, ou menosprezo e discriminação à condição de mulher. O professor Sousa avalia que esses crimes são Laura Brand

“um reflexo da baixa tolerância e da frustração dos homens, da falta do diálogo e de inteligência emocional.” Eles acontecem principalmente em razão de relacionamentos que não duraram, ou de a excompanheira estar com outro e o homem não aceitar a situação. “A gente chama de crimes passionais, quando envolvem a paixão, mas aí que está: nesses casos não tem nada de amor. É a ideia de posse que pode se dobrar em obsessão”, comenta. REPRESENTAÇÃO Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, de 74 deputados, apenas 6 são mulheres. Elas formam a Comissão Especial Extraordinária das Mulheres, que discute a condição das mulheres no Estado, incluindo a violência. São realizadas audiências públicas para acolher denúncias, dar visibilidade a elas e cobrar que se cumpra a lei. A Comissão organiza protestos na Assembleia, chamando atenção para os direitos das mulheres. Para a deputada Marília Campos (PT), é importante as mulheres se unirem para viabilizar a mobilização: “A sociedade procura sempre culpar a mulher. A gente tem que se unir para não aceitar essa imposição.” Existem projetos em curso na Assembleia que, de forma direta ou indireta, combatem a violência contra a mulher. A PEC 16/15 é um exemplo. Sua aprovação tornou obrigatório que haja pelo menos uma mulher na Mesa Diretora da Assembleia. Marília acredita que isso é importante para garantir a representatividade. É o primeiro passo para que os direitos das mulheres sejam debatidos na Assembleia e projetos que enfrentam a violência de gênero sejam propostos, acolhidos e aprovados.


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9 DIREITOS HUMANOS

e sociedade cria centros de apoio Formas de agressão e os preconceitos que as sustentam estão ligados, historicamente, à cultura machista Bruna Curi Marina Moregula

Ana Luisa Santos

3º e 5º Períodos

Sair de casa e começar nova vida. Este sonho das mulheres em situação de violência muitas vezes não se concretiza ou é adiado por medo de viver na rua. A Casa de Referência da Mulher Tina Martins, mantida pelo Movimento de Mulheres Olga Benário, oferece uma alternativa. A entidade oferece às mulheres abrigamento, encaminhamento psicológico, jurídico, médico e uma roda de conversa para expor problemas e encontrar soluções. Ela está situada na rua Paraíba, número 641, em imóvel cedido temporariamente pelo Governo Estadual. Isso evitou que as mulheres fossem despejadas da Escola de Engenharia da Universidade Federal, que ocupavam desde o Dia da Mulher do ano passado. Mas a negociação para se conseguir uma sede definitiva prossegue porque o espaço é provisório. O atendimento às mulheres era feito na ocupação. Hoje, nesse novo ambiente, além da ajuda já prestada, há planos de se promover uma roda de violão aberta a visitantes. A ideia surgiu com o acolhimento da cantora Madu Carvalho na Casa. O objetivo é discutir o atual cenário musical brasileiro e o lugar da mulher nele, além de ser um espaço para soltar a voz, dançar e tocar, e para Madu não perder a prática enquanto fica na Casa. PRECONCEITO Belo Horizonte ocupa o 19º lugar no ranking da taxa de homicídios de mulheres nas capitais brasileiras, no Mapa da Violência de 2015. Observa-se, também, uma relação direta entre o nível de escolaridade e o grau de vulnerabilidade da mulher. Segundo o

O Movimento de Mulheres Olga Benário complementa a atuação do Centro Benvinda no abrigamento de mulheres Mapa, a taxa de homicídios de mulheres brancas caiu, em Minas Gerais, entre 2003 e 2013. Mas, em relação a mulheres negras, os índices, que ja eram maiores, aumentaram. A violência contra a mulher é ainda mais intensa no caso da população negra e pobre; são violências que se somam. Marcela Eduarda Carvalho, 18 anos, acolhida pela Casa Tina Martins, é um exemplo dessa realidade. A cantora e compositora Madu Carvalho foi presa em fevereiro por um crime que não cometeu. Seu caso motivou uma campanha nas redes sociais em prol da sua soltura. Madu estava em um ônibus no Barreiro que foi abordada por criminosos. Ela correu em direção à comunidade Vila Pinho, mas policiais a abordaram de forma agressiva, acusando-a de envolvimento com o crime. “Quando perguntaram onde eu morava e eu falei ‘Ocupação Eliana Silva’, eles falaram ‘pode passar o grampo na menina’”, conta Madu. Ela foi levada com oito meninos para o Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional, no Barro Preto. Lá o grupo passou a noite sem poder comer. Madu só foi ouvida por uma delegada na tarde do dia seguinte, Ana Luisa Santos

Cantora Madu Carvalho é uma das acolhidas pela Tina Martins

que debochou dela: “Ela ficava perguntando se eu era criança, por que eu estava chorando e o escrivão não quis escrever as coisas importantes que eu disse.” Os meninos foram liberados, mas Madu foi encaminhada para o presídio de São Joaquim de Bicas, acusada de ser a mandante do crime de incêndio do ônibus e de ter dado explosivo para menores. “Me colocaram como líder do tráfico da Eliana Silva, mesmo não tendo tráfico lá”, ela conta.

“Fiquei presa por quatro dias; nos primeiros dois dias sem ninguém saber onde eu estava. Não deixaram ligar pra nenhum parente, não colocaram meu nome no Sistema como presa, então foi como se eu tivesse desaparecido. Passei o número da minha mãe pra uma mulher desconhecida e ela avisou minha família. Minha mãe estava grávida de oito meses, aí eu falei pra ela avisar com calma.” Na prisão, Madu fez

amizade com outras mulheres por causa do seu talento. “Cantei para as mulheres lá dentro e elas começaram a gostar de mim. Fiz letra de música com a história delas e todas as mulheres do presídio já estavam sabendo que tinha uma menina que cantava na cela 1.” Madu ouviu das mulheres que a polícia fez isso com ela só por ser negra. “Se eu fosse branca e morasse em outro bairro, eles tinham me levado na porta de casa.”

Quando foi liberada com tornozeleira eletrônica, Madu não pôde ir à escola por um mês pois o horário da tornozeleira não permitia. Ela foi para a Casa Tina Martins com medo de ser perseguida. “Os policiais estavam me vigiando, tirando foto minha para me amedrontar, mas isso não calou minha boca não. Vim para cá porque aqui a polícia nunca vai armar coisa e falar que fui eu. Não fico trancada dentro de casa sozinha sem ter o que fazer. Em casa me ligavam várias vezes falando que eu estava saindo na rua sendo que não saí pra nada. É pra mexer com o psicológico da gente mesmo”, conta. Depois da investigação de crime, Madu provou sua inocência e a tornozeleira foi retirada. Entretanto, a cantora perdeu um emprego dando oficina de música para crianças nas escolas municipais do Barreiro. Madu conta que a experiência de ficar na Casa Tina Martins possibilitou conhecer muitas pessoas e, além de receber atendimento psicológico, está fazendo um curso de crochê. Ela foi convidada pelas mulheres do Movimento Olga Benário a se juntar à luta: “Fui ajudada e agora posso ajudar também.”

Nova vida para mulheres quase sem esperança Andréa Chelles é analista de Políticas Públicas da Coordenadoria dos Direitos da Mulher, da Secretaria Adjunta dos Direitos da Cidadania da Prefeitura. Para ela, as atuais estratégias de combate à violência contra a mulher são fruto das reivindicações sociais: “Nenhum equipamento surge sem uma pressão social, sem mobilização feminista”. Hoje, há uma Rede Estadual de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, da qual fazem parte mais de 30 órgãos públicos e organizações independentes, como a Polícia Civil, a Polícia Militar, a Defensoria Pública, a Casa Tina Martins, a Coordenadoria dos Direitos da Mulher. A analista conta que o Benvinda (Centro de Atendimento à Mulher) e a Casa Abrigo Sempre-Viva nasceram de uma reivindicação por um espaço de acolhimento para mulheres em BH. O Benvinda foi inaugurado em 1996. Ele faz acolhimento e escuta especializada a mulheres em situação de violência. O centro atende mulheres de oito municípios da Região Metropolitana de BH na Rua Hermilo Alves, Floresta. É mantido por um consórcio público feito entre esses municípios: o Consórcio Mulheres das Gerais. Andréa explica que o atendimento especializado é feito por profissionais de psicologia, assistência social e direito: “É um olhar entendendo o que é a violência de gênero, se prestando a fazer atendi-

mento psicosocial e jurídico”. Como a violência não tem fronteiras, é fundamental que o atendimento seja realizado através da parceria entre os municípios. Andréa relata: “Vem pra gente casos muito graves de mulheres de Contagem, Betim, ou mesmo de outro Estado. Houve uma mulher que fora esposa de um traficante, um arquivo vivo. Ela sofria violência dele e ainda outras violências que se somavam à violência de gênero. Avaliamos que ela precisava reconstruir a vida em outro Estado. A acolhemos aqui em BH, na lógica de solidariedade, da mesma forma que tiveram mulheres daqui que precisaram ir para outras partes do país.” SEMPRE-VIVA A Casa Abrigo Sempre-Viva, inaugurada em 1996, tem esse nome em referência a uma flor do Cerrado que sobrevive à falta de água. “Ela sobrevive às adversidades do tempo, é uma flor muito resistente, então tem esse simbolismo dessa mulher sobrevivente à violência”, afirma Andréa. O endereço da Casa não é divulgado, pensando-se na segurança das mulheres acolhidas. A triagem e o acolhimento são realizados no Centro Benvinda. Lá se trabalha com a lógica da autonomia e da desvitimização, tirando a mulher do lugar de passividade:

A Casa Sempre-Viva oferece 14 vagas em quartos individuais para mulheres com seus filhos, em três modalidades de abrigamento. A primeira é de curto prazo e atende mulheres que precisam de 24 horas para organizar sua estadia em outro lugar, conseguir uma passagem ou contato com a família, e também mulheres que vão à delegacia à noite e só poderão ser atendidas no dia seguinte. Já a de médio prazo atende mulheres que demandam um tempo maior para resolverem uma questão legal, em torno de 20 dias. O abrigamento por risco iminente de morte é de 90 dias e ocorre em situações extremas. Entretanto, o abrigamento só acontece quando é extremamente necessário, já que representa perdas para a mulher. “É para a própria segurança, mas ela fica isolada da comunidade, do convívio da família, dos amigos. O agressor responde ao processo, mas ele segue na vida dele em ritmo normal”, explica Andréa. De um modo geral, a mulher que chega ao Benvinda tem maior vulnerabilidade social. Porém, Andréa conta que, quando trabalhava no abrigo, recebeu mulheres de classe média, professoras, psicólogas.


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AÇÃO SOCIAL

Escolas de samba de BH lutam para sobreviver Agremiações reclamam da falta de apoio da Prefeitura para desfiles e trabalhos sociais nas comunidades Clara Mariz Henrique Perez 1º Período

Pouco se sabe sobre a história das escolas de samba de Belo Horizonte; como se mantêm, o que fazem durante o ano, como agem nas comunidades sede e se recebem algum apoio do poder público. Há 87 anos, com a Escola de Samba Pedreira Unida, surgia aqui a primeira agremiação para alegrar o Carnaval de rua na grande BH. Hoje, entre as mais antigas está a Canto da Alvorada que surgiu em 1979 e tem um galo como símbolo. Mas,esse ano, em crise, a escola não desfilou e reclamou, em nota oficial, da “falta de reconhecimento do poder público”. De acordo com a diretora de Carnaval da Canto da Alvorada, Maria Eliza Abreu, a Belotur (Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte) só li-

berou verba destinada às agremiações uma semana antes do Carnaval. Isto inviabilizou a preparação necessária para o desfile, feita durante o ano. Portanto, como uma forma de protesto por este descaso da Prefeitura, a escola decidiu não participar em 2017. A Prefeitura disse que no Carnaval de 2017 foram investidos R$5 milhões, porém apenas 0,05% desse valor foi para as sete escolas de samba da capital. Segundo Marco Aurélio Gonçalves, carnavalesco e fundador da Acadêmicos de Venda Nova - campeã deste ano com o samba-enredo “Sonhos de Toninho Veterinário, o mestresala dos animais” -, o poder público não trata os desfiles das escolas como um negócio capaz de atrair investidores, nem de produzir receita com vendas de camarote, arquibancadas, direitos para

transmissão de TV etc. Assim, as agremiações têm que manter certa dependência dos recursos públicos reservados para projetos culturais. TRABALHO SOCIAL

Além dos 55 minutos de desfile, as escolas têm trabalho durante o ano todo. A produção de um Carnaval de escolas de samba começa com a escolha e pesquisa de um enredo que, após uma apuração sobre a rentabilidade do desfile, passa para as mãos do carnavalesco e do sambista que transformam o roteiro em fantasias, adereços e música. A comunidade se envolve com a construção dos carros alegóricos, das fantasias além de fazer parte da bateria. Os ensaios, ao contrário do Rio de Janeiro, onde se estendem por uma longa temporada, começam apenas entre o final de dezembro e o início de

janeiro, pois para cada um, segundo Maria Eliza, se gasta em torno de R$1.500,00. Em algumas comunidades como no caso da do bairro São João Batista, sede da Acadêmicos de Venda Nova, há oficinas de percussão, adereçaria e cenografia durante o ano. Mas, para a manutenção dessas atividades entre um Carnaval e outro, é necessária uma verba superior àquela disponibilizada pelo

poder público. Como qualquer outro promotor de espetáculo artístico, as escolas de samba precisam pagar os materiais das vestimentas e revestimento das alegorias, os guinchos de cada carro alegórico, aluguel anual de um ateliê para confecção das fantasias e galpão onde são preparados os carros, equipe musical, aderecistas, costureiros, mecânicos, soldadores, marceneiros, escultores, pintores, além de água e luz. É unânime entre as agremiações a reclamação de que os recursos da Prefeitura são insuficientes para que as escolas possam ir para a avenida e manter algum trabalho social em suas comunidades. Para Maria Eliza a ajuda mínima precisa ser

de pelo menos R$ 100 mil e lhes dê condições de captar alguma verba, ou ainda de abrir espaço para que possam procurar patrocinadores, já que o Carnaval de BH não é comercial. Marco Aurélio diz que acima do prêmio no desfile, “a grande conquista seria obter, junto ao município, justo reconhecimento pela nossa história, relevância e importância sócio-educativa junto às comunidades”. Feitas essas mudanças, eles acreditam ser possível melhorar a festa popular na Capital, de tal maneira, que se chegaria perto de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, que são referências em desfile de escola de samba. Arquivo pessoal

Acadêmicos de Venda Nova foi a escola campeã dos desfiles deste ano

Doutores Palhaços abrem processo seletivo para novos integrantes Gustavo Kinsky 3° Período

Uma disputa acirrada para se tornar um “doutor palhaço” movimenta, mais uma vez, alguns setores jovens da capital mineira. Todas as informações sobre os trabalhos realizados, inclusive sobre o processo seletivo, são divulgadas na página do projeto no Facebook, Doutores Palhaços de Belo Horizonte. O grupo atrai muitos interessados em fazer parte das ações que realiza principalmente em hospitais, como o Sofia Feldman, no Bairro Tupi: uma maternidade que atende gestantes carentes da Região Norte da cidade. O Doutores Palhaços conta também com o apoio do Sated

(Sindicato dos Artistas) na organização de espaços e equipamentos necessários às apresentações. Uma das fundadoras e líderes do grupo, a atriz e diretora de teatro Cidah Viana, 58, fala do perfil e das virtudes necessários para realizar de modo adequado este trabalho tão concorrido: “O objetivo do projeto é amenizar a dor, não importa onde, não importa de quem. Priorizamos as visitas aos hospitais, onde as pessoas estão tristes e sensíveis, mas também vamos aos asilos, abrigos, casas de recuperação, escolas especiais, eventos sociais. Tentamos fazer com que o sofrimento seja esquecido pelo menos naquela

fração do dia, em que a visita dos Doutores Palhaços é recebida com alegria. Os únicos pré-requisitos para fazer parte da equipe é ter idade superior a 18 anos e muito amor no coração”, disse

ela. Existem algumas etapas de capacitação para se tornar um doutor palhaço: 30 horas de aulas presenciais, além de 30 horas extraclasse para a preparação do número Divulgação

Grupo realiza ações voluntárias em hospitais e asilos

artístico a ser apresentado na formatura. De maneira bem objetiva Cidah explica as etapas da preparação: “Oferecemos um curso livre de teatro com todas as técnicas teatrais, porém direcionadas à humanização e voluntariado, como também à criação do personagem palhaço. Ministramos, entre outras atividades, temáticas de apresentação pessoal, estudo do ponto de concentração, expressão corporal, improvisação, atuação, técnica vocal e canto, estudo de texto em dramaturgia e apresentações em público”. Atualmente, os Doutores Palhaços estão presentes em 13 cidades mineiras, contando com cerca de 600 integrantes,

e carregando para todo o canto o lema “levando a sério as brincadeiras, desde 1999”. A jovem artista, Isa Linhares, 20, se orgulha de poder fazer diferença na vida das pessoas: “Em qualquer lugar que nós vamos, tanto em asilos, quanto hospitais, sempre há alguém esperando pela gente e pelo que temos a oferecer. Em cada quarto, em cada paciente, em cada situação, nós aprendemos algo novo e que nos faz refletir sobre a vida. São experiências indescritíveis quando conseguimos arrancar um sorriso, um grito de emoção, um suspiro de esperança destas pessoas. Com certeza, é algo que pretendo fazer por muito mais tempo”.


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SAÚDE

Maconha é alternativa para tratamentos Nos últimos dois anos, triplicam o número de pessoas que entraram com ações na Justiça brasileira solicitando o fornecimento da planta para uso medicinal Lucas Prates / Hoje em Dia

Ana Clara Carvalho Giulia Staar 8° e 5° Períodos

A mineira Juliana Paolinelli fez sua primeira cirurgia aos 18 anos e sua segunda aos 25. Ela entrou andando no hospital e saiu dele com CID de paraplegia 82.1, uma anomalia grave, que envolve problemas sérios, compressão na coluna e uma síndrome que causa dores e espasmos. A paciente neurológica crônica, hoje com 37 anos, tentou todo tipo de remédio no Brasil para acabar com sua dor, e não deu certo, até que, experimentou a cannabis (planta da qual se produz maconha e haxixe) medicinal. Tornou-se a primeira brasileira a conseguir, na Justiça, uma liminar autorizando-a a importar um extrato cannábico, fitoterápico, Sativex. “Eu cheguei ao máximo que uma pessoa pode chegar para tentar livrar-me de uma dor, que foi usar bomba de morfina, implantada por quatro anos, ligada ao sistema nervoso central,” conta. Após lutar contra a síndrome de abstinência, causada pela bomba, ela conseguiu retirá-la. Hoje, Juliana não sente tanta dor, é mãe de duas filhas e vice diretora da AMA+ME, Associação Brasileira de Cannabis Medicinal. Sua qualidade de vida é melhor devido ao uso de remédios à base de cannabis. O medicamento usando por ela, atualmente, é doado: um óleo feito de um extrato rico em Tetraidrocanabinol (THC), princípio ativo da maconha, produzido no sul do Brasil. “Tomo três doses por dia do óleo e fumo nos momentos de de muita dor, pois a absorção é mais rápida pelo pulmão do que via oral.” Segundo uma pesquisa realizada pela Hello Research, públicada pela revista “Exame” em 2016, seis em cada dez brasileiros são a favor da legalização da maconha para fins medicinais. Assim como Juliana, todos os dias, outras pessoas precisam recorrer ao uso da cannabis medicinal para ajudar em seus tratamentos, mas encontram dificuldades por causa do tabu, do preço e da proibição da ‘droga’ no país. S.L é diabética e ano passado foi diagnosticada com fibromialgia, com fortes dores da neuro-

patia diabética. Cabeleireira, de 48 anos, recorreu ao tratamento com remédios convencionais, o que não deu certo. S.L resolveu procurar alternativas e descobriu a cannabis medicinal na forma “in natura”, fumada. Resolveu experimentar e deu certo. EFICÁCIA De acordo com a AMA+ME “o benefício medicinal da cannabis pode ser alcançado na forma ‘in natura’, fumada ou vaporizada; ingerida ou aplicada como óleos ou extratos; ou beneficiada farmacologicamente para isolamento de canabinoides na forma de comprimidos, cápsulas ou sprays de uso oral.” Apesar das possibilidades positivas de uso pesquisadores e pacientes ainda encontram muitos empecilhos para receitar e usar a maconha medicinal. Entre 2015 e 2016, triplicou o número de pessoas que entraram com ações na Justiça contra o Ministério da Saúde, solicitando o fornecimento da cannabis para tratamento: de 17, no primeiro ano, para 46 pessoas, no seguinte. Os números reais são ainda maiores, pois estes dados não incluem pacientes que moveram ações contra as secretarias estaduais de saúde. Para pedir autorização de importação é preciso que o paciente apresente prescrição médica, acompanhada de justificativa da necessidade do uso da cannabis e preencher um formulário. Até a liberação, a espera pode ser longa. Contudo, o maior empecilho continua sendo o preço. Um paciente comum não gasta menos de 300 dólares por mês, (ou seja R$ 928,50). Juliana hoje tem três autorizações para remédios com cannabis, mas diz existir muita burocracia na importação. O principal componente medicinal da cannabis é um óleo rico em Canabidiol (CBD), substância quimica encontrada na cannabis, que é utilizada, especialmente, por crianças epiléticas. No Brasil, há boas evidências da eficacia na área de tratamento, especialmente da epilepsia refrataria, aquela em que, normalmente, não se consegue controle com outros remédios. Segundo o medico Paulo Fleury, especialista em medicina Laura Brand

preventiva e social, com o uso do óleo da cannabis eles alcançaram bons resultados: “O óleo apresenta poucos efeitos colaterais, o que confere segurança a este tratamento canábico”. Dr. Fleury é belo-horizontino, trabalha, há três anos, tratando pessoas com cannabis, de forma voluntária, e realizando palestras em vários estados do Brasil. “São muitas crianças que nascem com essa pré disposição a ter crises convulsivas, logo nos primeiros meses de vida. A crise convulsiva é destruidora para o cérebro; a cannabis consegue conter isso”, comenta. Segundo ele, com o uso da maconha, para certas condições, é possível buscar algo chamado cura, para outras, pode-se buscar o controle da doença, que é muito necessário, por exemplo, no caso dos epilépticos. LEGALIZAÇÃO Ainda não é permitido pela legislação brasileira o plantio da cannabis, com nenhuma finalidade. Segundo a lei, o plantio, mesmo em pequenas quantidades, é crime de tráfico de drogas. A cabeleireira S.L comenta ser este um dos principais desafios no seu tratamento, já que, importar a cannabis é muito caro. O Dr. Paulo Fleury diz que, apesar disso, hoje existem famílias que estão autorizadas legalmente a plantar para produzir o óleo para seus filhos epilépticos, já que eles precisam do óleo frequentemente para conter suas crises. Segundo o Art. 28 da Lei 11.343, quem adquirir, guardar, tiver em depósito, trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização será submetido a penas, mesmo que o uso seja medicinal. As penas podem envolver advertência sobre o efeito da droga, prestação de serviço à comunidade, multa ou medida educativa. O professor de direito da PUC Minas, Pablo Alves, esclarece que “o profissional da saúde que prescrever uma dessas drogas pode ser penalizado igualmente com prisão (de cinco a quinze anos, além de multa) como um traficante de drogas.” No entanto, o uso medicinal pode ser autorizado e regulamentado pelo Poder Público em determinados casos. Atualmente, existem dois projetos de lei para legalização da maconha: o 7.187/2014, de autoria do deputado Federal Eurico Pinheiro Júnior, PMDB, e o 7.270/2014, de autoria do deputado Federal Jean Willys, PSOL. Para o professor Alves, “a legalização das drogas reduziria drasticamente a superpopulação carcerária no Brasil e também representaria uma redução no número de processos, permitindo que, os referentes a crimes graves, como homicídios, latrocínios, estupros, pudessem tramitar mais rapidamente.” O médico psiquiátra, Frederi-

Hoje, devido a utilização da maconha, a dor de Juliana é suportável co Garcia, coordenador do Centro de Referência em Drogas (CRR) da UFMG, acredita que a legalização seria prejudicial para a saúde do brasileiro, pois a maconha pode desencadear doenças. “Um dos fatores de risco é a fumaça aspirada, que aumenta o risco de câncer bucal e do pulmão. A cannabis também aumenta o risco de doenças mentais como depressão e esquizofrenia.” Para B.D, enfermeira de 28 anos, a maconha ainda é proibida por preconceito. Ela tem doença

de Crohr, um mal intestinal inflamatório e crônico que afeta o revestimento do trato digestivo. “Eu não uso mais remédios sintomáticos, não tenho mais dor e não preciso me preocupar por tomar muitos analgésicos que podiam me prejudicar no futuro.”, conta. B.D não tem autorização para importar remédios derivados da cannabis e, por isso, faz seu tratamento por si só, fumando maconha.

Descriminalização da cannabis entra em foco Em novembro de 2016 foi realizada uma audiência pública sobre a legalização da maconha pela Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e outras Drogas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A audiência atendeu o requerimento do deputado Antônio Jorge (PPS-MG) e teve como convidado o jurista uruguaio Santiago Pereira que relatou a experiência da legalização da maconha em seu país. O deputado Antônio Jorge, médico psiquiatra, diz não ser a favor da legalização da maconha, mas da descriminalização do usuário, “em se tratando de uso recreacional como o primeiro passo.” Ele defende que a melhor escolha é a regularização do uso, não uma liberação geral, como foi feita no Uruguai. Antônio Jorge acredita que o Brasil precisa fazer esse debate e atualmente sua meta é realizar o primeiro seminário internacional Brasil e Portugal, sobre a descriminalização. Portugal já dispõe bons resultados com sua política de descriminalização realizada há 12 anos. Porém, quando o assunto é cannabis medicinal sua posição é outra. Junto com as associações, inclusive a AMA+ME, o deputado está lutando pela busca do reconhecimento da importância do uso para algumas famílias, defendendo a regulamentação que facilite o uso medicinal.

O terapeuta ocupacional Ronaldo Viana, também concorda com a legalização somente para uso científico (para pesquisa e como medicamento). Ele considera que existe sensacionalismo em relação à exposição de posições radicalmente contrárias, sem um estudo responsável sobre o tema. Ronaldo Viana é diretor da associação ‘Terra da Sobriedade’ que promove a vida através da prevenção do uso e abuso de drogas e da recuperação de dependentes químicos. Ele conta que na associação eles recebem pacientes com problemas gerados pela maconha, tanto por causa da dependência, quanto por causa de outros transtornos psiquiátricos, como algumas psicoses. Ele considera que qualquer substância psicoativa, quando utilizada para alteração da consciência, pode ser “porta de entrada para outras drogas”. O deputado afirma que não defende o uso, defende o direito das pessoas usarem. “Tratando-se da droga, o ideal é não usar, mas fazer de conta que a sociedade não usa é uma hipocrisia.” A intenção dele é tentar regular o uso e criar medidas que não criminalizem as pessoas. “A sociedade é consciente. Informação é o mais importante, é preciso uma política de esclarecimento. Proibir por proibir não adianta”, conclui.


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12 CAMPUS

Jovens conquistam espaço no Youtube Com “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, estudantes da PUC fazem sucesso usando plataforma digital para discutir sobre temas que eles dominam Larissa Andrade 3 ° Período

Mais de 102 milhões de internautas usam a internet no Brasil. Esse é o número aproximado que corresponde a 58% da população que tem acesso à rede. Os dados são referentes à 11ª edição da pesquisa TIC Domicílios 2015. Devido ao grande acesso à internet, surgem cada vez mais plataformas de entretenimento para o público, como Facebook, Instagram, Youtube, Pinterest e Snapchat. Com o crescimento das redes, os influenciadores digitais também ganham espaço e confiança. Pessoas se tornam influentes com a publicação de posts ou vídeos sobre os diversos assuntos, desde temas técnicos a puro entretenimento, como literatura, filmes, maquiagem, relacionamentos, culinária e viagens. E se engana quem pensa que os in-

fluenciadores estão longe do cotidiano. A maioria deles concilia a vida de blogueiros e youtubers com a universidade e outras tarefas comuns, como trabalho. É o caso da estudante de jornalismo e professora de inglês, Gabrielle Monteiro. Ela mantém um canal e blog voltados para a literatura, principalmente nacional. A jovem conta que criou o seu blog Leio na Rede há três anos. Depois sentiu necessidade de expandir o conteúdo e criar um canal no youtube. “O Youtube ganhou espaço na mídia. Aprendi, cresci e me desenvolvi. O maior desafio foi perder a vergonha e falar de forma clara na frente das câmeras”, conta a jovem. A estudante chama a atenção para o preconceito de associar a imagem de influenciadores digitais a estereótipos. “O problema é que, quando pensamos em alguém que

é produtor de conteúdo, logo imaginamos a Kéfera (que atualmente tem quase 11 milhões de seguidores), mas às vezes, não é só o número deles que traz credibilidade”. “É muita loucura pensar que, mesmo não sendo tão grande, eu consigo influenciar opiniões de outras pessoas ao expor a minha própria nos vídeos. Já aconteceu de leitor falar que comprou um livro X porque eu indiquei e de me reconhecerem em lançamentos de livros. Por isso, ser formador de opinião traz muita responsabilidade; as pessoas confiam em você”, diz Gabrielle. Já a estudante de cinema da PUC, Yara Lima, produz conteúdo para suas redes com temas diversos como literatura, cinema e signos. Ela é conhecida nas redes como “Dear Maidy”(Querida Sereia) e já colhe os frutos financeiros através de seus vídeos e conteúdo no

blog. “Criei ambos por que sempre amei ler e queria compartilhar minha opinião sobre as coisas que eu gostava. Entretanto, minha timidez não me permitia fazer isso no mundo real, então a internet me acolheu. Atualmente o blog e o canal já me dão retorno financeiro. Ainda não posso abandonar tudo pra me dedicar 100% aos vídeos, mas já dá pra me ajudar no final do mês e continuar investindo. Tenho planos de continuar com os vídeos e expandir meu amor pelos livros para um nível profissional, como escritora.”, relata a jovem que acumula mais de 70 mil seguidores em seu canal no youtube. Além do universo literário, outros assuntos também conquistam seu espaço na internet. O estudante de cinema Igor Ludgero, tem um canal de games e prova que o mundo dos jogos também

Intercâmbio é chance de crescimento Gustavo Costa Maia João Pedro Gruppi 1º Período

Conhecer novos paises, pessoas e sistemas sociais. para isto a PUC Minas tem incentivado o intercâmbio estudantil. Pelo programa,tanto os mineiros vão para o exterior, como estrangeiros vêm estudar em Belo Horizonte. Larissa Schwenk, estudante do 7° período de Relações Internacionais, é uma ex-intercambista, que passou seis meses na The Hague University, em Haia, Holanda. Ela disse que escolheu esse local por ser uma cidade com tradição

na sua área de atuação, sendo sede da Organização das Nações e Povos Não Representados (Unpo). A experiência foi positiva pois levou-a a tratar os estudos com mais seriedade. A universidade holandesa dá apoio aos intercambistas e a adaptação não foi tão complicada, visto que a maioria deles morava no mesmo prédio e se ajudava mutuamente. Mas admitiu ter tido alguns problemas burocráticos para conseguir a documentação necessária para ir estudar no País. Lou Verschave, intercambista francesa, é estudante do 6º período de Ciência Política e está na

PUC há aproximadamente sete meses. Ela escolheu o Brasil por já ter experiência com inglês e espanhol e porque, segundo ela, na França as pessoas têm uma “imagem exótica” do Brasil: “por isso fiquei atraída”. A escolha da universidade foi, um tanto quanto, engraçada. “Eu fui num restaurante brasileiro na minha cidade, Nantes. E a chef, uma mulher, estudou na PUC de BH no Coração Eucarístico. A gente conversou e ela parecia apaixonada pela cidade e o ambiente do bairro”, contou. Na universidade francesa onde Lou estuda, o intercâmbio é obrigatório

no terceiro ano. As notas e, sobretudo, as motivações são levadas em conta. “Não foi tão difícil porque não tinha muita competição. As pessoas estavam com medo porque a maioria não fala português” explicou. Lou avalia a experiência: “É uma oportunidade incrível, especialmente aqui no Brasil onde o povo é tão caloroso.” ISENÇÃO DE TAXAS A PUC mantém convênio com 175 universidades de 31 países, como Estados Unidos, Alemanha e França, por exemplo, e oferece cursos em inglês, espanhol, Igor Batalha

é procurado por muitos jovens. “Criei o canal por admirar muito jogadores profissionais do gênero FPS, que são jogos de tiro em primeira pessoa, como Counter-Strike. Eu jogo desde a infância”. Foi assim que surgiu o Canal Tomatiro, onde Igor posta dicas de jogos e algumas cenas engraçadas. O estudante ressalta a

importância da valorização de jovens que vivem a rotina pesada de conciliar estudos, trabalho e hobbies que podem ser lucrativos, como a produção de conteúdo para blogs e canais no youtube. “É difícil conciliar, mas com o esforço ganhamos pessoas que gostam do que estamos fazendo.É prazeroso ter um feedback positivo. Thiago Monteiro

Gabrielle concilia os estudos com seu canal sobre literatura francês e português. A principal vantagem que a universidade oferece é a isenção de taxas escolares no Brasil e no país de destino. O edital é divulgado em setembro todos os anos nos sites da PUC, no Facebook e em seus anúncios espalhados no campi. As inscrições ocorrem em outubro, a entrevista em fevereiro e o resultado é divulgado em março. Para participar do processo seletivo, os alunos devem ter média geral igual ou superior a 70%, conhecimento no mínimo intermediário do idioma escolhido e estar entre o 4° e o 6° períodos no semestre anterior ao intercâmbio, nos cursos de quatro anos. Já quem está matriculado nos cursos de cinco ou seis anos de duração deve estar

entre o 5° e o 8° períodos. As coordenadoras de suportes e projetos, Camila Linhares e de programas acadêmicos, Adriana Libânio, da ARI (Assessoria de Relações Internacionais) afirmaram que o intercâmbio na universidade está se desenvolvendo bastante. O objetivo é a faculdade fornecer mais aulas em inglês. Porém, o receio dos estudantes é o principal motivo que os impedem de participar dessa experiência. Muitos acham que é um processo muito complicado e que não conseguirão ser aprovados. Os cursos que mais enviam estudantes são Relações Internacionais e Psicologia, segundo elas.

Cidades perdem o verde Giulia Staar 5° Período

Cada vez mais prédios, cada vez menos espaço, cada vez menos verde. Com a proposta de provocar a reflexão nos seus visitantes sobre a vida na cidade grande, a exposição Metal Urbano aconteceu no mês de abril, na Galeria de Arte da Biblioteca Padre Alberto Antoniazzi, Campus Coração Eucarístico. Promovida pela Secretaria de Cultura e Assuntos Comunitários (Secac), a mostra foi composta por pinturas e esculturas dos artistitas Carlos Macedo e Humberto Inchaust. Todas elas falam sobre a urgência de se repensar a invasão vertical no contexto de desenvolvimento da cidade.


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Ruth Berbert 3º Período

Você não fotografa com sua máquina. Você fotografa com toda sua cultura - Sebastião Salgado. A sétima edição do Festival Foto em Pauta, O projeto Foto em Pauta, idealizado pelo professor de Fotografia da PUC, Eugênio Sávio, era o retato deste pensamento. Depois de acontecer por muitos anos em Belo Horizonte, desde 2011 sua nova casa tornou-se a cidade

COMUNICAÇÃO

Festival Foto em Pauta estimula a criatividade Sediado em Tiradentes, com atividades voltadas para profissionais, estudantes e leigos, o evento é propício para aos amantes da oitava arte. O encontro contou com personalidades reconhecidas no mundo histórica de Tiradentes. Por lá, as obras estavam espalhadas por todos os lados: ocupavam muros das construções, vazios insuspeitados e, por fim, a cidade tornou-se moldura para as mais

variadas fotos de diferentes inspirações. Havia espaço tanto para as obras da exposição Ficções – A Fotografia Além do Real, que mostravam um universo estético inovador, Yves Alves

Instalação Externa ‘Lugar de Mulher’, curadoria de Beto Eterovick e Madu Dorella

quanto para as imagens de Érico Hiller e João Marcos Rosa, da National Geographic, que denunciavam a luta que os animais travam pela sobrevivência,atualmente. Essa diversidade de temas, segundo especialistas, estimula bastante o processo criativo, o que é fundamental na área da Comunicação. . “Chegar em uma cidade que respira fotografia é algo extremamente estimulante. Eu aproveito para me atualizar enquanto professora e pesquisadora”, conta Adriana Ferreira, professora de fotografia nos cursos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo. “Como comunicólogos, neste mundo regido por imagens, parar um tempo para

pensar sobre a sua influência é extremamente positivo”, acrescenta. ATRAÇÕES

Durante o festival não há tempo para ficar à toa. Além das palestras e exposições, acontecem lançamentos de livros, workshops e projeções noturnas. “É uma troca de experiência enorme e eu aprendi muito aqui, de graça”, conta João Marcus Brito, estudante de Jornalismo da UFSJ (Universidade Federal de São João Del Rei), que participou este ano como voluntário. “aqui aprendi, por exemplo, com um artista que é possivel produzir efeitos de edição com ...vaselina!”. A integração da comunidade local com as vi-

vências proporcionadas pela fotografia, num contexto multicultural, de fato, acontece”, reconhece o estudante. Profissionais de renome como Mauro Restiffe, Elza Lima e Maurício Nahas também apresentaram seus trabalhos em palestras e abriram espaço para perguntas, momento no qual muitas dicas de fotografia e edição foram discutidas. “Eu quis mostrar um pouco da minha trajetória profissional, das minhas preocupações e anseios É fundamental estudar o trabalho de profissionais experientes, ouvir suas histórias. Espicialmente em um festival como esse, com tanta gente bacana. É uma delícia”, observa Nahas, diretor do documentário Do Pó da Terra. A última atração foi a projeção do documentário Profissão Fotógrafo, dirigido e produzido por Rogério Costa Brasil e Vera Godói.

Jornalismo investigativo inspira pesquisa de estudantes Sylvia Amorim 3º Período

O trabalho de conclusão de curso exige dedicação e representa a avaliação final dos alunos. No curso de Jornalismo, dois projetos defendidos ano passado se destacaram: “Narrativas sobre drogas no jornalismo investigativo” e “As rotinas produtivas do jornalismo investigativo e do sensacionalismo em “O abutre” e “Spotlight - segredos revelados”. Ambos abordam o tema do jornalismo investigativo e promovem uma reflexão interessante sobre o assunto. A estudante Luz Esneda, 36 anos, desenvolveu a pesquisa sobre a relação entre o tráfico de drogas e o jornalismo. Ela analisa e compara as narrativas jornalísticas de dois livros-reportagens: “Operação Pablo Escobar”, de German Castro Caycedo e “Abusado” de Caco Barcellos. Nesse sentido, Luz apresenta um histórico do

narcotráfico no Brasil e Colômbia, contextualiza problema e o relaciona com o jornalismo investigativo e os livros-reportagens.Colombiana ela escolheu o tema porque quer ser escritora e abordar este assunto. Durante a pesquisa, ela encontrou várias diferenças entre o tráfico de drogas nos dois países. Enquanto na Colômbia o narcotráfico é visto como um negócio, em que o traficante somente vende o produto, no Brasil ele se torna usuário. Luz compara esses dois cenários por meio dos livros. A estudante afirma que ficou contente com o resultado. “A melhor coisa realizada em todo curso é o TCC, é uma coisa minha. Foi uma forma de trazer meu país para a Universidade”, ela revela. Entretanto, a estudante enfrentou algumas dificuldades durante a construção do projeto. Organizar ideias e definir uma es-

trutura foi um desafio. Ela também teve problemas com erros ortográficos, e contou com a ajuda de seu orientador, o professor Mozahir Salomão, para auxiliá-la nessas questões. Para garantir o sucesso do trabalho, o aluno deve saber superar seus desafios pessoais. Mozahir conta que Luz conseguiu fazer isso com muita dedicação. “Aprendi muito com o trabalho dela. É muito gratificante ajudar um aluno que tem vontade de crescer”, destaca. CINEMA Enquanto Luz relaciona o jornalismo investigativo com a literatura, o projeto da estudante Amanda Mascarenhas, 23 anos, o relaciona com o cinema. O projeto de pesquisa realizado em grupo analisa o sensacionalismo retratado no filme “O abutre” e a investigação de “Spotlight - segredos revelados”. Ela ressalta

a importância de se discutir o sensacionalismo, pois “mostra como a informação é manipulável. Você pode divulgar a informação da forma que quiser se tiver poder para isso”, afirma. O Trabalho, baseado nos filmes, entanto, não o cinema como foco mas sim o fazer jornalístico. A partir disso, a ética dos profissionais, bem como as estratégias utilizadas no sensacionalismo e os métodos do jornalismo investigativo foram estudados. Amanda teve dificuldades com a metodologia. A jovem diz que escrever sobre o método utilizado, a construção do trabalho e o resultado esperado é algo bastante complexo.

gens. Amanda também ressalta que investigar profundamente diferentes assuntos, é uma forma de fazer o indivíduo leitor refletir. Ao longo do desenvolvimento do trabalho, muitas dúvidas e desafios surgem e podem ser um aprendizado para o aluno. Nesse momento, a ajuda de orientadores e professores é fundamental. Além do empenho na realização da pesquisa, é imprescindível que o

aluno se dedique durante o curso. “Quando o professor falava algo sobre jornalismo investigativo, eu anotava e procurava depois”, conta Luz. Amanda afirma que ter paciência foi a maior lição que aprendeu ao concluir a pesquisa. O trabalho de conclusão de curso encerra uma etapa marcante na vida acadêmica dos alunos, e pode ser apenas o início da exploração de outra grande fonte de conhecimento. Ana Luisa Santos

DESTAQUE O jornalismo investigativo, retratado nos dois trabalhos, é assunto que merece destaque. Luz diz que essa vertente do jornalismo permite aprofundar histórias, contextos e persona-

Luz trouxe um pouco do seu país para a Universidade


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COMUNICAÇÃO / ESPORTE

Jornal impresso muda para enfrentar concorrência digital

Luana Dias Luís Gustavo Gurgel 2º Período

O jornal impresso vem perdendo espaço, há tempos, para as mídias digitais. Muitos jornalistas observam que o problema resulta da dificuldade dos jornais em enfrentar os desafios dos novos tempos, deixando de privilegiar a informação factual em favor da interpretação dos fatos, contextualização e aprofundamentos. Renilton Gonçalves é jornalista, formado na Faculdade da Cidade – RJ. Com 35 anos de profissão, é dono, diretor e editor dos jornais “Folha do Povo” das cidades mineiras de Itaúna e Itatiaiuçu. Para ele, o cenário atual indica uma tendência de queda: “O futuro do jornal impresso é desaparecer”, acredita. De acordo com o IVC (Instituto Verificador de Comunicação), a tiragem dos cinco maiores jornais do país caiu significativamente desde o primeiro semestre de 2016. O jornal “Super Notícia”, um dos impressos mais vendidos no Brasil, caiu de uma tiragem de 310.422 exemplares diários em 2015 para 267.234, em 2016. Mas Carlos Marcelo Carvalho, diretor do jornal “Estado de Minas”, formado em Comunicação Social pela Universidade de Brasília (UnB), acredita que o jornalismo nunca esteve tão vivo. E desempenhar seu novo papel é a grande saída para a crise em que alguns veículos se encontram. Segundo Carvalho, este é um momento de

Os veículos impressos vêm sofrendo uma grande transformação. A tendência é de que priorizem as grandes reportagens e análises Ana Luisa Santos

O jornal Metro vive fase positiva e tem crescido amplamente em todo o país

transformação da imprensa do mundo todo o que, no Brasil, é acentuado pela crise econômica. “O impresso não é mais apenas para informar. O impresso tem que analisar a notícia, contextualizá-la. A informação já vem na internet. Então, o que as pessoas querem, cada vez mais, é um jornal mais analítico, que explique mais a notícia, ajudando -as a entender o mundo em que vivem” disse ele. Ângela Carrato, jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG, mestre e doutora em Comunicação, acha que a cri-

se destes veículos se deve, também, à falta de investimentos. “Quando falo em investimento, estou pensando em equipamentos, mas também nos profissionais da área, em nós, jornalistas, para a elaboração de boas reportagens e de matérias exclusivas, contextualizadas e aprofundadas.” Em Curitiba, a partir de junho, todos os jornais serão digitais. Para a professora, a mudança que visa diminuir custos não soluciona o problema. “O jornalismo continuará exigindo investimento e uma postura editorial séria, completamente em falta

na mídia impressa brasileira e na mídia corporativa brasileira como um todo”, afirma. Segundo ela, outro fator de decadência dos jornais, hoje, é o envolvimento político deles e a falta de imparcialidade. Principalmente em Minas: “Por isso, a maior crise na imprensa mineira é a de credibilidade”, aponta a professora. De modo geral, também falta ao País, um grande jornal. “O Brasil não tem um jornal impresso de alcance nacional. Os dois principais jornais de São Paulo, a Folha e o Estado, são, quando muito, jornais da região Sudeste.”

Mas há um jornal que vive uma fase positiva: o jornal “Metro”. Ele foi tema da dissertação de mestrado do professor de Planejamento Gráfico na PUC, José Maria de Morais. Com base em seus estudos, ele afirma que o jornal tem crescido amplamente em todo o país. A situação deve-se ao projeto editorial do veículo. Por ter matérias resumidas e ser gratuito, o jornal é atrativo para as novas gerações. Outros aspectos concorrem para tal sucesso: “O design gráfico do veículo, sua estratégia editorial, notícias curtas, com formas gráficas evidenciadas, fotos grandes, imagens entrando em textos de forma um pouco diferenciada do que a grande imprensa faz. Eles procuram uma forma gráfica igual à dos jornais on line”, observa o professor. FUTURO

O jornal impresso tem um público fiel, um dos motivos de sua sobrevivência, apesar da crise. Renilton Gonçalves acredita que a extinção do impresso, se vier a acontecer, vai demorar, principalmente, nos países subdesenvolvidos. “Inclusive, por causa

do fenômeno, no Brasil especialmente, do perfil da população. Pessoas habituadas ao jornal físico são mais resistentes à mudança de plataforma.” Segundo Carvalho, do “Estado de Minas”, o impresso “vai sobreviver em diferentes patamares e continuará por um bom tempo”. Mesmo assim, o Estado de Minas está “se preparando pra um futuro cada vez mais presente”. O jornal desenvolve um grupo multimídia e, por isso, nenhum jornalista da redação trabalha apenas com o impresso. Apesar da diminuição de tiragem e perda de mercado, o jornal físico ainda tem espaço, de acordo com o prof. José Maria. “Eles vão mudando. Eles vão tentando minimizar os impactos da concorrência do jornal on line.” Já a prof. Angela Carrato concorda com o escritor Umberto Eco, para quem um tipo de mídia não elimina a outra, mas provoca mudanças que, se não forem devidamente enfrentadas, podem torná-la residual. Para ela, os impressos não terão fim imediato. E, alguns, devido à sofisticação e especialização, vão sobreviver apesar do domínio inevitável da forma digital.

Bicicross cresce e ganha novos adeptos na capital Carolina Pontes Lorena Campos 3° Período

O Bicycle Moto Cross (BMX) foi criado na década de 70, nos Estados Unidos. As primeiras manobras foram inventadas por pilotos conhecidos mundialmente, como Bob Haro, Ron Wilkerson e Michael Domingues. O BMX chegou ao Brasil em 1978, quando o bicicross estava popularizado. Em Belo Horizonte, o esporte ganha muitos adeptos a cada dia e já tem pistas para sua prática. O BMX street se caracteriza principalmente pelo radicalismo e adrenalina que ele transmite, pois para executar as manobras é preciso coragem, disciplina para treinar e muita ousadia. Usa-se uma bicicleta pequena de aro 20 e é fundamental equipar-se com tornozeleira, joelheira, caneleira, cotoveleira e capacete, mas a maioria dos praticantes usam apenas o capacete. É essencial respeitar as

exigências de segurança, pois os atletas executam manobras que desafiam a gravidade, com giros e saltos no ar. Segundo o praticante de Belo Horizonte, Felipe Breno, o esporte não tem um local certo para prática e criatividade é algo fundamental. “BMX street se caracteriza pela diversão, liberdade e estilo próprio”, diz ele. O estudante Jônatas Henrique pratica o esporte há sete anos e critica a pouca visibilidade que ele tem na capital, “As pistas são muito mal feitas e dependendo da praça não podemos andar por causa das pedaleiras, que danificam os espaços públicos.” Para ele, as melhores pistas de Belo Horizonte são os Parques Guilherme Laje, das Mangabeiras, Honório Bicalho e pista do Barreiro. Outra dificuldade enfrentada pelos iniciantes no esporte é o alto preço das peças que são utilizadas para montagem da bike, a maioria importadas, pois não

Carolina Pontes

Algumas pessoas se arriscam no esporte sem equipamentos de proteção existem muitas marcas brasileiras. Para Felipe Breno, há 18 anos no esporte, essa não é mais uma dificuldade: ele tem patrocinadores que lhe disponibilizam peças e equipamentos de segurança. “Hoje em dia não tenho dificuldade em ter uma bike boa, pois o patrocínio me proporciona peças. Mas, para muitos que estão

começando, há essa dificuldade, devido ao alto custo dos produtos e poucas pistas de qualidade para poder treinar”, comenta. O BMX street não é um esporte muito praticado pelas mulheres em Belo Horizonte, mas em São Paulo, existem até campeonatos femininos. A estudante Sayane Tanimoto, que pratica o

esporte há dez anos, afirma que passou dificuldades no começo: não tinha companhia feminina e faltavam oportunidades para mulheres. “Desde quando conheci o esporte, a maior dificuldade foi companhia, pois em Belo Horizonte não há outras meninas praticantes de BMX. Conheço várias mulheres, mas todas fora de Belo Horizonte”, comenta. Por isto, faltam campeonatos e patrocinadores. O esporte no Brasil não é muito valorizado e ainda é pouco divulgado. Mas internacionalmente tem bastante destaque, com muitos campeonatos e patrocinadores. A falta de divulgação é crucial nesse processo. São Paulo, o lugar com mais praticantes no Brasil, é o estado mais conhecido internacionalmente. As melhores pistas ficam por lá, onde também acontecem os maiores campeonatos.


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COMPORTAMENTO

Aumenta número de suicídio de jovens Ana Luisa Santos

Segundo Mapa da Violência de 2017, taxa de suicídio sobe 10% desde 2002 entre adolescentes Anabella Mendes Natália Alves 4º Período

A Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgou, em 2012, que cerca de 800 mil pessoas se suicidaram em todo o mundo naquele ano. Ou seja, a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio, e a cada três segundos uma pessoa atenta contra a própria vida. As taxas de suicídio vêm aumentando globalmente. O Brasil é o oitavo país em número absoluto dessas mortes. Em 2012 foram registradas 11.821 óbitos, cerca de 30 por dia, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres. Entre 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% no total de mortes, sendo observado um aumento de mais de 30% entre jovens. São muito complexos os motivos que levam ao suicídio. O médico psiquiatra Renato Silveira, 50, diz que é importante identificá-los para evitar que a pessoa tente de novo ou reduzir as chances. Segundo Renato Silveira, as mulheres tentam mais suicídio do que os homens, mas os homens conseguem mais que as mulheres, pois utilizam métodos mais letais”, afirma Silveira. Relacionamentos afetivos e a solidão podem

estar vinculados ao risco de autoextermínio. Kellen Shiya, estudante, 25, foi morar no Japão com 12 anos, ficando lá por 10. A adaptação de toda a família foi bem difícil. Quando frequentava a escola de japoneses, ela começou a se sentir um “peixe fora d’água” e teve que enfrentar muito preconceito e bullying. Paralelamente, Kellen se sentia um estorvo para a família e começou a se automutilar e apresentar comportamento suicida. “Nesse período nunca procurei ajuda profissional, psicológica, porque também tinha medo de chamarem meus pais e isso acabar desencadeando uma desavença na família”. Aos18 anos Kellen fez sua última tentativa de suicídio. “Foi uma sensação terrível porque uma das coisas que mais me passavam na cabeça era como as pessoas me encontrariam. Caso não tivesse sucesso, novamente, como poderia acabar sendo um fardo pra meus pais. Foi aí que parei de fazer as tentativas. Enquanto morei lá [Japão] só tive apoio de amigos”. Há dois outros casos na família de tentativas de suicídio por causa da depressão. “Mídias e

muitas pessoas romantizam a depressão ou a tratam como uma frescura das pessoas. Não é verdade. Procure ajuda não só da família e dos amigos, mas também profissional.” “O profissional tem que redobrar a atenção com pessoas que têm casos de suicídio na família”, defende Renato Silveira. “A taxa de tentativa de suicídio está vinculada a um transtorno mental, também é alta e por isto a avaliação tem que ser feita por especialistas”. ENTRE JOVENS

Existe uma grande preocupação com o aumento de tentativa de autoextermínio entre jovens. “Alguns estudos mostram uma juventude muito desamparada de ideais, no período pós-moderno que estamos vivendo; existe certa fluidez do mundo, as coisas estão muito sem sentido, consequentemente a vida passa a ser menos valorizada e essas questões influenciam muito no comportamento suicida”, afirma Dr. Silveira. Um estudo realizado pelo Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual

de Campinas, em 2005, mostra que, a cada 100 habitantes, 17% já pensaram em suicídio, 5% já planejaram o ato, 3% cometem o suicídio e apenas 1% chega a receber atendimento no prontosocorro. Todas as vezes que alguém disser que está pensando em se matar, independente de se acreditar ou não, é preciso respeitar e levá-lo a sério. “É errado dizer que ‘quem fala não faz’ ou utilizar provérbios como ‘cachorro que late não morde’. Não se deve tratar a questão de uma maneira leiga e sim dar um tratamento mais técnico. Não se pode subestimar a capacidade da pessoa, pois muitos atos de comportamento suicida têm a ver com impulsividade também”, observa Dr. Silveira. Os psiquiatras alertam para não se criar um pacto de silêncio sobre o comportamento suicida. Edilene Carvalho, 30, desempregada, perdeu a avó aos 16 anos. Elas eram muito próximas, ao mesmo tempo, teve que cuidar da mãe, que passou por uma cirurgia logo depois. Com dois irmãos mais novos e sem a ajuda das duas mulheres que a apoiavam, Edilene enfrentou uma depressão. Ela

Centro de Valorização da Vida oferece ajuda Suicídio, também conhecido como autoextermínio, é o ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma consciente e intencional, usando um meio que ele acredita ser letal. O assunto é um estigma e tabu na sociedade e por isso não recebe tanta atenção como deveria. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) consideram o suicídio e as tentativas de suicídio como uma prioridade na agenda global de saúde e incentiva os países a desenvolver e reforçar estratégias de prevenção. Ordália Soares é uma aposentada de 71 anos que realiza trabalho voluntário na CVV, em

Belo Horizonte, há duas décadas. Ela esteve em contato com o tema desde nova, quando um jovem da sua cidade, interior de Minas Gerais, cometeu suicídio e mais tarde uma amiga e também um parente. Depois de ouvir falar na rádio sobre o trabalho realizado na CVV decidiu se voluntariar. “É um trabalho sem vínculo religioso ou político que oferece apoio emocional a pessoas que estejam passando por momentos difíceis. Ouvimos com respeito, sigilo e aceitação”, afirma. Ordália explica que a CVV tem o objetivo de prestar apoio emocional, voluntário e gratuito para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. O atendimento é

realizado em 18 estados mais o Distrito Federal, pelo telefone 188 24 horas, pessoalmente nos 76 postos de atendimento ou pelo site www.cvv.org.br via chat, Skype ou e-mail. São atendidos mais de um milhão de pessoas por ano e a associação conta com 2.000 voluntários em todo o país. Fundada em São Paulo, em 1962, e reconhecida como entidade Pública Federal em 1973, a CVV assinou um convênio com o Ministério da Saúde, em março deste ano, para operar o telefone 188 em todo o país. É o primeiro número sem custo de ligação para prevenção do suicídio, já implantado, em projetopiloto, no Rio Grande do Sul desde setembro de 2015.

A cada 100 pessoas, 17 já pensaram em suicídio

conta que na época era muito “moleque”, gostava de brincar na rua, jogar bola descalça e soltar papagaio. Até que, a responsabilidade recaiu sobre seus ombros e acabou coincidindo com as brigas que tinha com o pai; o quadro depressivo levou-a ao comportamento de autoextermínio. Sua história pessoal é apenas um dos casos de suicídio com que ela teve contato em sua vida. Ela diz que o que a ajuda a se sentir bem é estar rodeada de pessoas que estão dispostas a ouvi-la. “É uma sensação que não tem jeito; qualquer coisinha me fez pensar nisso [suicídio]. A melhor coisa que tem é ouvir. Tem dias que eu queria ter uma capa da invisibilidade para poder me esconder. Mas é justamente nesses dias que é preciso conversar. Pensam que é preciso deixar a pessoa quieta no mundinho dela, mas é o contrário”. Edilene observa que está sempre em busca de fazer aquilo que lhe faça bem, seja um carinho em animais, brincar com crianças ou fazer tatuagens que representam o que ama na vida. Ela fala que o contato com o candomblé teve um papel importante nesse aspecto. “Eles são muito receptivos em vista de outros lugares que já frequentei. Se você for lá, eles vão chegar e vão lhe tratar como a pessoa que você é. Você pode chegar lá de bermuda, chinelo, saia, o que for, eles vão lhe tratar bem. Ali você acaba se sentindo bem.”

O acolhimento afasta a sensação de solidão e ajuda a vencer a depressão. “Existe muita gente que está deprimida e não sabe que tem a doença ou não a chama de depressão. E tem muita gente que chama de depressão uma tristeza. Depressão é uma palavra muito vaga porque quando não se faz um diagnóstico disso, generaliza-se. Hoje em dia a gente acorda mal humorado e fala: estou deprimido. Isso não está correto, hoje estou triste irritado é uma forma correta. Depressão é uma síndrome, uma doença e um conjunto de sintomas. Não é só um sintoma que faz a depressão”, afirma. “É preciso ter uma ajuda de pronto para alguém que tem comportamento suicida e tem que ser prioridade, porque não há prioridade maior do que ficar vivo, só uma pessoa viva pode se tratar, se aparece isso no serviço público ou privado ligados a isso, esses casos devem ser prioridades em relação a outros”, diz o Dr. Silveira. De acordo com o CVV – Centro de Valorização da Vida, o passo mais importante para a prevenção do suicídio é falar abertamente sobre o tema, o que inclui compartilhar informações sobre o que se chama de comportamento suicida: pensamentos, planos e tentativas.


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BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

ENTREVISTA

Rebeca de Castro, 1º Período

É preciso reinventar nossa democracia Boaventura de Sousa Santos é Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia e Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal);e é Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa. Segundo ele, “vivemos em uma sociedade politicamente democrática e socialmente fascista”. Este foi o fio condutor de sua palestra na PUC Minas, em que alertou sobre a necessidade de se reinventar a democracia, principalmente, neste momento em que ela se mostra tão fragilizada, tanto no Brasil quanto no mundo. político em que os cidadãos tenham mais participação e o dinheiro fale menos alto, como fala atualmente no Brasil: ele fala na escolha dessa gente e na escolha dos candidatos. a

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O que significa democracia em tempos incertos? Algo está acontecendo no mundo que põe em xeque algumas ideias que, nos últimos 45 anos ou 50 anos, pensávamos que eram conquistas civilizacionais e sobre as quais não haveria retrocesso. A democracia é uma delas. Quando eu falo de democracia em tempos incertos quero me referir exatamente à ansiedade que nós temos de refundar a democracia para que ela seja mais forte, tenha mais energia e força para lutar contra os seus inimigos. Infelizmente, a democracia não sabe defender-se dos antidemocráticos. Em 1933 na Alemanha, Hitler não subiu ao poder por um golpe; Hitler subiu ao poder por meio de eleições. Portanto, não é a primeira vez que a democracia elege antidemocratas, não é a primeira vez que a democracia parece cometer suicídio. E, como não é a democracia que comete suicídio, mas nós, que participamos dela, somos também parte do problema antes mesmo de podermos ser parte da solução. Vivemos um momento de inquietação e preocupação, mas sempre um momento de esperança. Como podemos manter uma perspectiva otimista no contexto atual? Nós estamos entrando em um período que, para grande parte da população mundial, as expectativas são negativas, o medo se sobrepõe à esperança. É nesse momento que os governos ditatoriais ou autoritários se aproveitam da fragilidade política para realizar certas ações, com a justificativa de que não há outra alter-

nativa. É preciso lutar contra o medo e, para isso, é preciso ter esperança. Para isso, é preciso ter condições e fazer um diagnóstico radical daquilo que nos ocorre hoje para podermos saber como sairmos das dificuldades fortes, vivos, evitando erros e tentando outras possibilidades que talvez possam nos levar a alguma solução para o que nós vivemos nesse mundo.

Os meios de comunicação de massa se tornaram mais democráticos com o tempo? Como as mídias alternativas têm contribuído para a democracia? As mídias alternativas são a nossa salvação, são a salvação da democracia. As grandes mídias são hoje, na América Latina sobretudo, o grande partido da oposição a qualquer iniciativa emancipatória progressista, mesmo de esquerda moderada. A comunicação pública não é muito amiga desta solução e houve uma grande colonização dos meios de comunicação por grandes interesses econômicos. Os colonizadores da mídia às vezes são ligados aos interesses internacionais de energia, como acontece nitidamente no Brasil e às vezes são ligados ao setor bancário e financeiro.

Há democracia sem revolução? Nós ensinamos aos nossos estudanA democracia no Brasil é difícil, é viável ou tes que há um abismo total entre a é impossível? O senhor vê alguma ameaça revolução e a democracia; não nos às eleições de 2018? damos conta de que eles, realmenO fato de dizer te, eram diferentes, que a democracia é difímas tinham o mescil quer dizer que é posmo objetivo no sésível. Mas, obviamente, culo XX: o socialisisso não impossibilita Não é a primeira mo, e não resistiam nem inviabiliza as posa primeira vez um sem o outro. que a democracia sibilidades democráHoje, é preciso deparece cometer ticas no país; elas são mocratizar a revosuícidio. mais difíceis. Muitos lução e revoluciocidadãos, hoje, estão nar a democracia. extremamente frusHá muita reforma trados, estão, eu diria, política a se fazer, quase em estado de choque, porque se quisermos defender a democraforam 12 ou 13 anos em que se pencia nós temos que defendê-la também na rua, fora das instituições. sou que realmente havia uma política de inclusão no território brasileiro. Milhões de pessoas que saíram do Em que momento essa relação entre baixo nível da pobreza e, portanto, revolução e democracia se quebrou? puderam ter acesso a bens essenciais, E quais foram as consequências disto? Quando o muro de Berlim viram tudo isso ser facilmente descaiu, não foi apenas a revolução ou truído. Então, se isso foi construído o socialismo que caiu, a democracia em uma democracia e nela mesma foi com direitos, na Europa conhecida destruído, a existência democrática como social-democracia, também no Brasil fica um pouco fragilizada. caiu. É a partir desta data que vem Essa situação faz com que ela seja a crise, a crítica de que a democramais difícil agora, é preciso ter pocia dá direitos a mais, que a educalíticos mais credibilizados, tem que ção e a saúde devem ser privatizadas, ter, talvez, alguma forma de sistema

que os direitos laborais dão muitos benefícios aos trabalhadores, entre outros. Neste momento, em que a tensão entre a revolução e a democracia desaparece, o Estado, através da lógica neoliberal, fica proibido de tributar os ricos. Sem tais recursos passa a penalizar os pobres e a endividar-se, pois eram essas tributações que lhe permitiam custear a educação e a saúde públicas. Consequência: reduziu-se o nível de bem-estar social em todas as comunidades. Qual é a grande preocupação, atual, do capitalismo imperialista? Esse imperialismo, muitas vezes, resulta de uma aliança entre os Estados Unidos e a União Europeia. Há interesses em neutralizar, por exemplo o crescimento dos BRICS; neutralizar a influência da Rússia; do Brasil, pois ele é muito forte nos BRICS. É preciso isolar a China, que no momento é o grande inimigo [dessa aliança]. Há uma previsão da CIA de que, em 2050, 50% do comércio mundial estará nas mãos dos chineses, por isso o mar da China, neste momento, está cheio de barcos de guerra dos EUA. Qual é o grande pecado das esquerdas latino-americanas e quais são as soluções práticas para reinventar a democracia no continente? Nós precisamos de uma democracia de alta intensidade, uma luta democrática sempre pacífica mas dentro e fora das instituições. Para sermos realistas, temos que ser utópicos e para sermos utópicos devemos estar unidos. A fatalidade do pensamento crítico da esquerda é o sectarismo e dogmatismo. Enquanto os camponeses estiverem para um lado, as mulheres para outro e os direitos humanos para outro, não vamos alcançar o sucesso, pois a sociedade capitalista, colonialista e patriarcal se une. Não há nenhuma luta feminista que tenha êxito, se não for simultaneamente anticapitalista e anticolonialista. Não há luta quilombola que tenha êxito, se não for feminista e anticapitalista, assim como, não há nenhuma luta anticapitalista, se não for simultaneamente anticolonialista e antipatriarcal.


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