As vozes de Neif Aduan (f), da Rodoviária, e Pollyanna Andrade, da Ademg, acompanham a vida de quem mora em BH. Página 13
DANIELA REZENDE
RAPHAEL VIEIRA PIRES
MARIA CLARA MANCILHA
O educador e antropólogo Tião Rocha explica a maneira peculiar de ensinar e aprender, por meio da ‘pedagogia da roda’. Página 16
Renato Coelho (f) garante a alegria de crianças de todas as idades ao consertar brinquedos que resistem ao tempo. Página 14
marco jornal
Ano 39 • Edição 287 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas Dezembro • 2011
FOTOS: LETÍCIA GLOOR
MEMÓRIA PRESERVA A HISTÓRIA Voluntários, que integram o grupo Cestas da Memória, ajudam Arquivo Público de Belo Horizonte a identificar fotos antigas, que representam diferentes momentos na vida da capital mineira. Páginas 8 e 9
ANA PAULA CASTRO
Dirigir pode se tornar uma tarefa árdua para motoristas DANIELA REZENDE
Para pessoas traumatizadas pelo trânsito, o medo de pegar o volante de um automóvel pode se tornar complicador para tarefas consideradas rotineiras. Clínicas de Psicologia e Autoescolas especializadas prestam o serviço de reabilitar esses condutores e a vencer a fobia de dirigir. Páginas 10 e 11 LETÍCIA GLOOR
Leishmaniose é questão de saúde pública Considerada uma endemia em Belo Horizonte, a Leishmaniose Visceral é uma preocupação para donos de cães, veterinários e Governo. Entre as medidas de combate utilizadas pela Prefeitura, está a eutanásia dos cães, iniciativa que gera opiniões divergentes na sociedade. Página 3
Comida hospitalar torna-se mais apetitosa para pacientes O Hospital Vera Cruz, em Belo Horizonte, adere à moda do confort food, modifica o cardápio e passa a servir aos pacientes internados uma alimentação mais leve e saborosa, sem abrir mão da qualidade e dos valores nutricionais das refeições e sobremesas, que auxiliam na reabilitação dos internos. Nutricionistas do estabelecimento trabalharam nas refeições oferecidas para que elas se aproximem da comida caseira, tirando os aspectos negativos que fazia da alimentação hospitalar um sinônimo de gosto ruim. Página 5
A dificuldade de ser um jogador profissional Página 15
2 Cultura/Comportamento
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Dezembro • 2011
EDITORIAL
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MARCO comemora 40 anos de ensino, serviço e informação n PIERO MORAIS, 5º PERÍODO
Neste ano que se inicia, o MARCO comemora 40 anos, dedicados à formação de futuros jornalistas e à prestação de serviço à sociedade, em especial à comunidade que vive próxima ao campus da PUC Minas no Bairro Coração Eucarístico e, mais recentemente, à vizinhança da unidade São Gabriel. Prezando pela boa informação e o compromisso de trazer assuntos de interesse social, há quatro décadas o Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) da PUC Minas retrata em suas páginas vocês, nossos leitores, que junto com todas as equipes formadas por professores, monitores e alunos que por aqui passaram, ajudaram a construir essa trajetória. Criado em 1972, pela primeira turma de estudantes de jornalismo dessa faculdade, o MARCO surgiu em um contexto turbulento por causa da Ditadura Militar que havia sido instalada oito anos anos antes no país. A proposta era a construção de um jornal de linha editorial libertária e ética. Os idealizadores entendiam, que o melhor meio de colocar isso em prática seria dar voz e vez à sociedade. Localizado no Campus da PUC Minas no Coração Eucarístico, a redação do jornal fez da região a sua casa, em que a sociedade é o foco dos assuntos abordados nas páginas, e a participação comunitária na composição das matérias sempre esteve presente, tornando-se marca do veículo informativo, que além de Laboratório e formador de bons profissionais, se tornou comunitário. Hoje, o MARCO está presente e atuante em toda a Regional Noroeste e conta com uma sucursal na Regional Nordeste, na PUC do Bairro São Gabriel. Os alunos, repórteres voluntários, saem em busca de assuntos que retratam o interesse do público. E para comemorar essa data importante, nada melhor para nós do MARCO do que informar. Nessa edição abordaremos a preservação da história de Belo Horizonte realizada pelo Arquivo Público do município, que conta com o auxílio do serviço voluntariado de homens e mulheres que testemunharam as mudanças ocorridas na cidade com o passar dos anos. Com a valiosa colaboração, o Arquivo Público consegue datar e catalogar fotografias que descrevem o cenário da capital mineira em épocas diferentes. A Leishmaniose Visceral, uma zoonose urbana que atinge cães e humanos, e representa grande risco à saúde pública, é um assunto controverso entre comunidade científica, veterinários, proprietários de cães e órgãos governamentais. O MARCO foi atrás das diversas partes envolvidas no polêmico tema e elaborou um diagnóstico da atual situação da doença em Belo Horizonte. Conversamos com Sebastião Rocha, antropólogo e educador, fundador do Centro de Cultura Popular e Desenvolvimento (CPCD), que fala sobre a ideia de levar aos quatro cantos do Brasil cultura e educação, por meio da 'pedagogia de roda'. Cultura, educação e saúde. Tudo o que é de interesse público e serviço para a sociedade, se encontra nas páginas do MARCO, que há 40 anos, se orgulha em informar você leitor.
EXPEDIENTE
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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª.Glória Gomide Chefe de Departamento: Profª. Maria Líbia Araújo Barbosa Coordenador do Curso de Jornalismo(Coreu): Prof. José Francisco Braga Coordenadora do Curso de Comunicação (São Gabriel): Profª. Alessandra Girardi Coordenador do Curso de Jornalismo (São Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditores: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa e Prof. Mário Viggiano Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Isabela Cordeiro, Isabela Jocoe, Keneth Borges, Natalia Leão Bassi, Piero Morais, Raphael Pires, Raquel Andretto e Tamara Fontes. Monitores de Fotografia: Letícia Gloor e Maria Clara Mancilha Monitor de Diagramação: Nathan Godinho Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares
FILME MINEIRO PREMIADO O primeiro longa-metragem do diretor mineiro Sérgio Borges, “O Céu sobre os Ombros”, ganha diversos prêmios em festival LETÍCIA GLOOR
n RAPHAEL VIEIRA PIRES 7º PERÍODO
O diretor de cinema mineiro, Sérgio Borges, 36 anos, colocou o primeiro longa-metragem em circuito comercial no último dia 18 de novembro. Mesclando documentário com ficção, o filme "O céu sobre os ombros" ganhou os prêmios de melhor filme, melhor direção, prêmio especial do júri, melhor roteiro e melhor montagem no 43º Festival de Brasília. Sérgio esteve na PUC Minas um dia antes do lançamento do longa, mostrou um pouco dos trabalhos e comentou sobre as dificuldades de se fazer cinema em Belo Horizonte. De acordo com o cineasta, existe uma cultura elitista relacionada ao cinema, o que reverbera em ingressos caros e dificuldade de filmes independentes conseguirem um público grande. "O cinema brasileiro vive uma situação complexa. Ao passo que há uma produção grande, nova e revigorante, feita com equipes menores e com coletivos, esses filmes não têm espaço no circuito oficial
O 1º longa-metragem do diretor mescla ficção com documentário porque não tem tanto público", relata Sérgio, criticando a cultura audiovisual brasileira. Segundo ele, é arraigada na teledramaturgia e nos filmes norte-americanos. "É preciso urgentemente dar mais visibilidade para filmes
brasileiros que têm narrativas diferentes, que conseguem mostrar o Brasil com olhares mais sensíveis", afirma. Para quem está começando ou querendo se iniciar na produção cinematográfica, Sérgio salien-
ta a necessidade de se ter em mente uma produção que condiz com verbas e equipamentos disponíveis, além do estudo das linguagens próprias do cinema. "No princípio é preciso fazer com o que se tem em mãos. A partir daí, o trabalho vai ganhando visibilidade e você vai conseguindo respaldo para ser premiado em editais. É preciso persistência. Eu estou há 14 anos nessa e lancei meu primeiro longa-metragem agora", revela. Ele ainda acrescenta a importância de se ver filmes e de experimentar para os iniciantes no meio. A primeira produção cinematográfica de Sérgio foi em 1998, quando estudava Publicidade e Propaganda na PUC Minas, intitulada "Sonhos". A partir de então, produziu mais sete filmes antes de "O céu sobre os ombros", entre curtas, médiasmetragens e documentários. Ele participa de um coletivo chamado "Teia", um centro de pesquisa e produção audiovisual composto por seis integrantes, contando com Sérgio.
A importância de se ter amigos n AIMÉE NERY GABRIEL PAZINI PETERSON MOREIRA MARA MARQUES MICHELLE KARINE 2º PERÍODO
A psicóloga Marcela Marques da Silva Damasceno considera que o indivíduo se constitui a partir da relação com o outro, e estabelece crenças, valores e medos. A amizade pressupõe uma relação mais próxima, uma convivência mais intensa, um estreitamento de laços afetivos que proporciona uma troca de experiências, de conhecimentos e vivências. Este estreitamento de laços afetivos possibilita uma relação de confiança entre as partes e muitas vezes, um se torna o porto seguro do outro. E a amizade pode abrir portas também no campo profissional. É o caso do jornalista Igor Assunção, integrante do programa de rádio 98 Futebol Clube, relata sua experiência. Ele acredita que o que seu caso não deva ser tratado como uma exceção, mas sim como tendência da atualidade. "Nunca me vi trabalhando como repórter. Por conta da amizade com o Mário Alaska e
com o Dudu do Graffite, é que estou hoje no 98FC. Eles me conheciam, e acharam que eu me encaixaria no perfil do programa e da rádio", conta. O jornalista ainda destaca a importância dos amigos para se realizar um bom trabalho. "Seu amigo é seu principal divulgador. Se você faz um bom trabalho e tem amigos que o acompanham, acredito ser esse o principal caminho para ser indicado para outros trabalhos", afirma Assunção. Ao ser questionado sobre os atritos no ambiente profissional, o jornalista salientou. "A amizade é fundamental, para um bom ambiente de trabalho, tem que ir trabalhar feliz. Atrito sempre é chato, seja na família ou no trabalho. Não é bom trabalhar com clima pesado, mas dia ou menos dia, vai existir, e saber contornar a situação é o mais importante. O que acontece dentro do ambiente de trabalho não pode ser levado para fora e viceversa. Tem que saber diferenciar as duas coisas", afirma. Também existe o outro lado, quando uma grande amizade é rompida
por uma série de fatores, como foi o caso de Maicon Mendes, 30 anos, repórter da Rede Record. Mendes, que tinha uma amizade sadia e respeitosa, com momentos especiais vividos ao lado do amigo, embora hoje se sinta normal e entenda que foi algo da vida, sentiu o rompimento. "Há cinco anos. Acabou por causa da distância. Com o tempo, a amizade foi ficando em segundo plano por causa dos estudos e trabalho", conta. Já com a estudante Ana Júlia Goulart, 19 anos, a amizade que tinha laços saguíneos também, era muito forte em relação às outras pessoas que possuíam o mesmo grau de parentesco e idade. "A confiança era total, conversávamos sobre tudo. Era um companheirismo muito forte", conta a estudante. No entanto, a amizade se rompeu exatamente pela quebra de um dos seus pilares, a confiança, e Ana Júlia sente muita falta da amiga, mas também entende a situação. "Sinto falta, é óbvio. Mas não tem como voltar a ser como era antes, tentamos, mas não deu
certo. No entanto, foi melhor assim, antes que todas as boas lembranças que temos, sejam destruídas pelas desavenças atuais", diz. Para manter uma boa amizade, a psicóloga Marcela Damasceno deixa dicas, como respeitar as diferenças e a individualidade do outro, além de privilegiar a transparência, a cumplicidade e a honestidade entre as partes. Outra dica importante é ter discernimento para elogiar as virtudes e apontar os aspectos que podem ser melhorados pelo outro. Como a amizade é tão importante para o ser humano, o rompimento desses laços também pode trazer consequências graves. Marcela salienta que a maneira como as pessoas se relacionam, a intensidade dos sentimentos e investimentos dedicado à outra pessoa é muito subjetivo. Para determinadas pessoas, o fim de uma amizade pode significar fracasso no convívio social, enquanto para outras, apenas mais uma pessoa que passou e se foi. O fato é que o que foi importante numa amizade permanece, seja por meio de lembranças e pensamentos.
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Saúde Dezembro • 2011
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LEISHMANIOSE REPRESENTA AMEAÇA n BRUNA GUEDES
Problema de saúde pública, a Leishmaniose Visceral é motivo de preocupação para comunidade científica, donos de cães e Governo. Medidas de controle como a eutanásia de cães diagnosticados causam polêmica
3º PERÍODO
LETÍCIA GLOOR
Pela quarta vez, Marina Sotéria da Silva, 62 anos, moradora do Bairro Santa Efigênia, teve o cão levado por agentes de Controle de Zoonozes com um diagnóstico positivo para a Leishmaniose Visceral. A positividade do exame sorológico para esse parasita leva a cidade de Belo Horizonte a ter, em média, 10 mil sacrifícios caninos anualmente. A empregada doméstica explica que a Prefeitura da capital não deu maiores detalhes do procedimento e visita regularmente a região em que mora, de uma a duas vezes no ano. Discordando da metodologia adotada, Marina acha desnecessária a eutanásia de cães. "Se há tratamento, não há motivos para sacrificar. Além disso, se você tem um cão na sua casa, ele é seu amigo. Se você deixa sacrificar um cão a perda é equivalente a de uma pessoa", afirma. Apesar de ter acionado previamente a Prefeitura Municipal, assim como seus vizinhos, Marina Sotéria culpa a negligência das autoridades pelos cães doentes soltos nas ruas que se tornam intermediários da leishmaniose. "Já ligamos para a Prefeitura, mas eles falam que não é responsabilidade deles pegarem os cães que estão na rua. Inclusive já fizemos essa pergunta para os agentes que foram lá em casa. Eles responderam que a responsabilidade é dos antigos donos dos cachorros", diz. A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte,
Marina Sotéria da Silva já teve quatro cães diagnosticados com Leishmaniose Visceral que foram recolhidos pela Prefeitura responsável por enviar os agentes de Controle de Zoonozes nas nove regionais da cidade, em contrapartida, possui em seus panfletos informativos, além de informações sobre a Leishmaniose Visceral, ações propostas, que incluem a comunicação da população à prefeitura em casos de cães soltos nas vias públicas. De acordo com a bióloga e representante da Secretaria de Saúde, Vanessa Pires Fiuza, o município de Belo Horizonte é endêmico. Porém, houve uma redução de 51% de casos de Leishmaniose Visceral humana em relação ao ano passado. Por causa das medidas sistemáticas e sem interrupções, a bióloga afirma adotar trabalhos de identifi-
cação e eutanásia de cães positivos, controle do vetor através de borrifação de imóveis e inseticidas de efeito residual além de trabalhos com a população de manejo ambiental. "Ao longo dos anos temos conseguido manter os níveis de transmissão de modo que não ocorra nenhuma situação imprevista, ou de surto, ou de epidemias. Por isso, é realizado um trabalho extenso de educação e saúde", explica. O trabalho de conscientização estabelecido pelo Ministério da Saúde encontra mais resistência junto à população de maior poder aquisitivo. Há relutância dos proprietários em entregar seus cães para os agentes de Controle de Zoonozes. "A Secretaria de Saúde tem con-
Eutanásia canina é colocada no centro da polêmcia em BH Parceira da Secretaria de Saúde, o Centro de Pesquisa René Rachou, especializado em estudos da Leishmaniose Visceral, ajuda a desenvolver projetos de melhorias na saúde pública. Há três vertentes sendo estudadas e algumas já estão, inclusive, sendo implantadas. Visando a melhoria do diagnóstico no tratamento dos casos humanos, a parceria criou o diagnóstico rápido. O diagnóstico laboratorial da leishmaniose é demorado, então fezse possível padronizar um exame que é mais ágil, onde no leito que o paciente está internado é coletado uma pequena amostra do sangue e o diagnóstico é feito na hora. Outros trabalhos promovidos junto à Prefeitura são no âmbito de controle da zoonose, onde grupos de pesquisa do instituto acompanham o processo e tentam agilizá-lo. Há também trabalhos no controle da população canina que avaliam a eficácia dos diagnósticos nos
cães, a eficiência da medida de eutanásia dos cães. De acordo com Patrícia Quaresma, pós doutoranda pelo Centro de Pesquisa, as medidas adotadas pela Prefeitura de Belo Horizonte estão corretas e seguem as recomendações do Ministério da Saúde. "A eutanásia é uma medida que tenta diminuir o número de reservatórios, o número de hospedeiros vertebrados da doença, para tentar diminuir a transmissão por vetores e consequentemente diminuir o número de contágio humano da doença", diz a especialista. Segundo ela, o cão é uma grande fonte de infecção, por isso eles se tornam reservatórios que ajudam na transmissão da doença para o homem. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde, em relação ao total de cães examinados anualmente, nos últimos anos obtêm-se uma média de 8% de positividade em Belo
Horizonte. Assim como os casos humanos vem diminuindo ao longo dos anos, a soroprevalência canina também vem decrescendo. A eutanásia, defendida como forma de combate à doença, usada de forma isolada é pouco impactante. Para o veterinário Leonardo Maciel, esse método mostrou-se ineficaz em todos os países onde foi utilizada e foi abolida. "É ineficaz no Brasil também. Se pratica essa matança há várias décadas e isso não contribuiu nada para a diminuição da doença, nem humana, nem canina", ressalta. "Estudos desenvolvidos tem mostrado que se a eutanásia dos cães for integrada a outras medidas de controle como combate do vetor e manejo ambiental, se não se mostra impactante na diminuição de casos, tem sido capaz de fazer uma manutenção da doença sem a ocorrência de surtos e epidemias", afirma a boóloga Vanessa Pires Fiuza, da Secretaria de Saúde.
seguido fazer um bom trabalho apesar dessa questão, e, levando em conta o total de cães que examinados em domicílio, temos conseguido retirar cerca de 90% dos que estão contaminados", afirma Vanessa Pires. A educação da sociedade inclui também medidas referentes ao ambiente em que se vive. Portanto, são incentivadas medidas como retirada de entulho, limpeza de quintais, especialmente da matéria orgânica em decomposição no solo (incluindo troncos, frutos, fezes animais e lixo orgânico). Esses elementos, somados a um solo úmido e sombreado, é o que mantém o foco do vetor, o mosquito-palha e mantém alta sua capacidade de reprodução.
O médico veterinário especialista em Leishmaniose Visceral canina, Leonardo Maciel explica que o combate ao mosquito da leishmaniose é particularmente difícil, porque ele se adaptou bem aos centros urbanos. "Como o mosquito se reproduz na terra, dedetizá-la é mais complicado, já que os produtos terão efeito residual muito baixo. Além disso, o mosquito se multiplica rapidamente, e em lugares que você julga estarem muito limpos. E não existe verba, mão de obra e muitas vezes vontade política para se borrifar tantos domicílios quanto seria necessário para um controle eficiente, então ainda não foi descoberta uma maneira bombástica de controle. Há como controlar, mas não se consegue fazê-lo", lamenta. Projetos da Secretaria Municipal de Saúde e do Ministério da Saúde com participação da UFMG e Centro de Pesquisa René Rachou, buscam desenvolver um mapa de risco diferenciado de Leishmaniose para imóveis críticos no município. Em 2012 já serão implantadas novas técnicas de combate. "Iniciaremos um monitoramento do vetor, através de armadilhas luminosas nas várias regionais para que possamos ter um melhor direcionamento das medidas de controle", revela a bióloga. Além das novas técnicas, as medidas de prevenção que já vigoram permanecerão efetivase os exames realizados para diagnosticar o quadro de leishmaniose nos cães deverão serão substituídos pela Secretaria Municipal de Saúde.
Homeopatia é usada no tratamento, mas especialista receita cautela Auxiliado por Inez Alves Dias, terapeuta naturalista formada em Homeopatia na Agricultura pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), o coordenador regional do projeto "Mova Brasil", Luiz Felipe Lopes Cunha, 31 anos, adotou a homeopatia como tratamento primário no cão Zé, da raça cocker spaniel, de 3 anos, que há um mês teve diagnóstico positivo para leishmaniose. "Decidi investir na homeopatia, um tratamento não-evasivo que joga na corrente sanguínea dele informações energéticas da doença que visa tratar, em proporções mínimas, de modo que não deixa resíduos químicos que possam prejudicar a saúde do animal", diz. Quando o cão teve seu quadro agravado, Luiz Felipe decidiu administrar a Staphizagria, medicamento homeopático produzido com plantas medicinais provenientes da Europa, cujo princípio ativo é aumentar a resistência do animal à doença. A intenção é tornar o cão forte o suficiente para coletar informações energéticas da doença viva no seu organismo para que possa produzir anticorpos e ficar livre dos sintomas e do risco de contágio, assim
mentos visam aumentar ao máximo a vida do cão, dentro da condição de que ele não apresente mais riscos à sociedade. Após o tratamento, esses cães deixam de ser considerado um perigo para a saúde pública, e são monitorados o resto da vida. O tratamento é todo feito com embasamento científico e há vários protocolos, via oral ou injetável e, por vezes, uma mistura dos dois. Todos esses protocolos podem ter efeitos colaterais, por isso além do tratamento básico, com leishmanicida, é necessário realizar um tratamento suporte, para evitar que o paciente sofra efeitos colaterais. L G A Leishmaniose Visceral, segundo Patrícia Quaresma, acomete os cães de forma gradual. O protozoário, depois de infectar o cão através do inseto, vai se alojar no fígado, baço, ou na medula óssea e, após esse processo, a leishmaniose começa a se multiplicar e causar alguns danos. Os sintomas em cães a princípio seriam o mal estar geral e a fadiga. Com a evolução da doença, o cão passa a apresentar sintomas mais característicos: crescimento das unhas, dermatites na pele, retina opaca e emaLuiz Felipe trata seu cão com homeopatia grecimento. como funciona o Alopurinol. Sobre a homeopatia, Patrícia Quaresma, do Centro de Pesquisa René Rachou, afirma que o estudo ainda é empírico. "Muitos veterinários tratam os cães com medicamentos homeopáticos, mas não há nada cientificamente comprovado. Até mesmo o tratamento com medicamentos alopáticos, tem que ser feito com restrição", informa. Segundo ela, medicamentos, como o Alopurinol, podem ser utilizado, porém, com cautela. Há alguns tratamentos que já são concretizados e que são definidos na literatura internacional. Esses trata-
ETÍCIA
LOOR
4 Cidade
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MORADORES AJUDAM IAPI A RESISTIR O Conjunto Residendial São Cristóvão, que é o nome oficial, passa por mudanças proporcionadas pelos próprios residentes, que têm como meta fazer do conjunto um lugar seguro para viver VERÔNICA FERREIRA
n ARKYSSOM GONÇALVES HELLEN BARROS THIAGO DE BARROS VERÔNICA FERREIRA 7º PERÍODO
"Hoje nós somos um grupo de 16 pessoas nascidas e criadas no Conjunto Residencial São Cristóvão (IAPI). Nós fizemos a Associação Comunitária para lutar e tentar retomar o nosso lar ao que era na nossa infância". É assim que o presidente da entidade, Carlos Alberto Pinheiro, mais conhecido como Juninho, traduz as memórias afetivas em trabalho para melhoria do dia a dia na comunidade que habita essa conhecida área, na Região Nordeste de Belo Horizonte. Entre os avanos obtidos nos dois anos de vida da Associação, os intregrantes apontam a melhoria na segurança para o moradores, principalmente com a nova iluminação e o policiamento reforçado, afastando os usuários de drogas de dentro do IAPI. "Antes as pessoas vinham para o conjunto usar drogas até mais tarde, mas como a iluminação foi trocada e dois policiais fazem a ronda até 1h da manhã, isso já não ocorre mais",
diz Juninho. Para Ápia Maria Andrada, 65 anos, moradora do IAPI desde os 6, a decadência do condomínio ocorreu com o tráfico. "Quando sofremos com o problema das drogas e das duas facções da favela, muitos apartamentos foram vendidos a um valor irrisório, com isso muita gente estranha veio morar aqui, relata. Ela tentou se afastar do Conjunto por duas vezes, mas as memórias e as amizades cultivadas a trouxeram de volta. "Fui criada aqui, casei na Igreja São Cristóvão e estudei no Colégio Municipal. Morei em Sabará e no bairro Jaraguá, mas voltei. Aqui construí uma grande família, os vizinhos eram como se fossem meus parentes", conta. É comum encontrar entre os moradores essa sensação de pertencimento, como ocorre com o casal de aposentados Terezinha Ribeiro Zanone, 86 anos, e Ferrucio Zanone, 94. Eles casaram-se em 1948, mudaram-se para o Conjunto em 1952 e vivem no local desde então, sendo os habitantes mais antigos do IAPI. "Foi aqui que criamos nossos quatro filhos, é aqui
que vivemos toda a nossa vida", explica Ferrucio Zanone. Questionados sobre as condições de habitação, o casal relembra da beleza dos prédios que eram modernos para a época e prezavam pela tranquilidade. "Era o melhor lugar para se viver, eu e a Terezinha tivemos muitos momentos felizes aqui", salienta Ferrucio. Terezinha descreve o Conjunto como um presente dado por JK e compara a tranquilidade encontrada no IAPI com Lavras, no SUL de Minas, onde ela vivia antes de mudar-se para a capital. "O bom daqui é a vizinhança. Eu gosto muito de conversar com os outros idosos, sorrir e sair para fazer ginástica". As memórias dos moradores também remetem ao descaso público com o local. "O IAPI estava completamente abandonado, antes do trabalho da Associação não era o IAPI de quando me casei", diz Ápia. "A revitalização é muito importante para os moradores, pois traz melhorias em todos os sentidos". Mas a reforma do conjunto anunciada em abril deste ano está parada desde setembro. Dos nove prédios do IAPI apenas quatro foram pintados e um está pela
Revitalização do Conjunto IAPI ainda não contemplou todos os prédios metade, além disso, a reforma das fachadas parou no sexto prédio. Embora tenha divulgado amplamente a revitalização, associando-a a própria imagem, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), informou por meio da sua assessoria, que apenas mediou o convênio, sendo que, a associação assumiu parte dos custos. A obra completa está orçada em cerca de R$ 700
mil, valor dividido em um convênio entre nove empresas, que em contrapartida instalariam banners de propaganda na frente do conjunto, e a comunidade. Existe um documento que homologa o convênio, no qual está especificado que a Associação de Moradores é responsável por arcar com a mão de obra da pintura, que foi avaliada em R$ 193 mil, dos quais um banco já patrocinou R$ 40 mil.
Desde agosto, os moradores do conjunto habitacional estão cientes de que os R$ 153 mil restantes sairiam dos próprios bolsos. A proposta da entidade é dividir a quantia em prestações de R$18 por apartamento. Como não foram devidamente comunicados, os moradores se sentiram indignados e não aceitaram a sugestão. Isso acarretou a paralisação das obras.
Uma história que faz parte de Belo Horizonte Com a necessidade de transformar Belo Horizonte em uma metrópole, a partir da década de 40, o então prefeito Juscelino Kubitschek realizou diversas alterações, sobretudo no que refere-se a arquitetura e urbanismo. Praças foram remodeladas, bairros foram construídos, novas avenidas foram abertas, enquanto o comércio e a indústria cresciam consideravelmente. O responsável por uma das novidades da época é o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI). Criado em 1936, pelo Governo Vargas, o Instituto expandiu-se após 1945 e passou a financiar conjuntos de habitação popular nas grandes cidades, como é o caso do empreendimento realizado em Belo Horizonte no Conjunto Residencial São Cristóvão, chamado de IAPI. Uma iniciativa da prefeitura da cidade, do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários e da Companhia Auxiliar de Serviços de Administração (Casa) do Rio de Janeiro, o Bairro Popular, como era conhecido o conjunto IAPI, foi levantado onde ficava a maior favela da cidade na época, a Pedreira Prado Lopes. Segundo o atual presidente da Associação de
Moradores do Conjunto Residencial IAPI, Carlos Alberto Pinheiro de Mendonça Júnior, o Juninho, os prédios foram construídos em uma localização estratégica para esconder a favela. "Com o projeto da Lagoa da Pampulha e, consequentemente, a abertura da Avenida Pampulha, hoje conhecida como Antônio Carlos, o Juscelino percebeu que deveria fazer algo para tampar a favela", explica. Moderno, o conjunto habitacional tinha capacidade para abrigar 5.000 moradores, sendo que o projeto era formado por 11 blocos verticais, apartamentos mobiliados, comércio e uma área central para lazer e esportes. A construção começou em 1944 e o conjunto foi inaugurado duas vezes, a primeira em 1947 e a segunda em 1948, sempre no dia do trabalhador (01.05). Apesar disso, somente em 1951 que o local ofereceu condições de habitação e que os primeiros moradores puderam se instalar nos apartamentos. Em 1952, a família de Ápia Maria Andrada, 65, mudou-se para o conjunto. Ela conta que o conjunto ainda não estava totalmente terminado e fala da burocracia para conseguir a residência na
época. "O IAPI era dos industriários e dos rodoviários, nós tínhamos que preencher uma ficha e entrar na fila, como é feito hoje com as casas populares". A história de vida de dona Ápia é contada junto ao concreto destas edificações. "Eu fui criada
no edifício 10, no apartamento, 102, lá meu pai criou 8 filhos. Foi na igreja daqui que me casei e batizei meus filhos, foi por aqui que meus três filhos estudaram, aqui eu estou em casa". O projeto, segundo afirma Juninho, foi idealizado
pelo arquiteto White Lírio Martins e distinguiu-se por ser o primeiro a usar blocos verticais em Belo Horizonte. Além disso, outra característica peculiar do condomínio é que existem pontes flutuantes que ligam todos os prédios e permitem aos moradores
transitarem livremente entre os mesmos. O Conjunto faz parte do Patrimônio Histórico de Belo Horizonte pela lei orçamentária municipal 9.668, capítulo XIII, tornando-se parte dos bens tombados pelo patrimônio histórico municipal.
Criminalidade é motivo de insegurança VERÔNICA FERREIRA
lizadas pela polícia militar Localizado na região da no local. Ele ainda salienPedreira Prado Lopes, uma ta que durante sua gestão, das mais perigosas favelas a Associação Comunitária de Belo Horizonte, o conseguiu retirar um Conjunto IAPI ostenta o albergue que ficava do rótulo de lugar perigoso. lado dos prédios e que Apesar das tentativas da contribuía para a violênassociação comunitária de cia. "As pessoas ficavam o acabar com essa situação, os dia todo no Conjunto moradores ainda reclamam usando drogas e iam para dos marginais, como é o lá só pra dormir. Mas concaso de Antônia Rosa seguimos tirar o albergue, Neves, residente do comque agora está localizado plexo há anos. "Muitas vezes a gente sai para dar em um outro lugar", expliÁpia Andrada e Juninho querem mais segurança para o IAPI uma volta na praça de lazer ca. e encontra moleques que Ápia Andrada, se emoficam pedindo dinheiro. Além ciona com o saudoso IAPI dios. Por isso, vendi meu apartadisso, já furtaram meu celular. Não de sua época, em que não eram mento baratíssimo e procurei um dá para ter segurança", afirma a necessários muros para manter a bairro mais tranquilo. Vários dona de casa. segurança. "Esse IAPI era tudo abermoradores fizeram isso", relata a Tânia Alves Barros, ex-moradora to, não tinha fechamento de ponte, aposentada. do conjunto, conta que vendeu seu não tinha muro em volta, não tinha O presidente da Associação apartamento por causa da violênchave de portão, nem nada. Não Comunitária do Conjunto Resicia. "Entre 2004 e 2005 estava tinha essa segurança que temos dencial IAPI, Carlos Alberto ocorrendo uma briga entre duas hoje, mas não tinha os problemas Pinheiro de Mendonça Júnior, facções para controlar o tráfico na que temos atualmente. Nós favela. Aconteciam vários tiroteios, podíamos andar até as 23:00 que explica que a situação melhorou inclusive alguns acertavam os prénão tinha problema", afirma. bastante após as intervenções rea-
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Hospital em Belo Horizonte troca cardápio e propõe uma nova culinária para os internos. Com o nome de ‘confort food’, a nova gastronomia deixa a comida hospitalar mais saborosa para o paciente
COMIDA DE HOSPITAL GANHA ATRATIVOS E MAIS SABORES ANA FLÁVIA CASTRO
Dedicação dos funcionários da cozinha é importante para mudar a visão dos pacientes sobre a alimentação servida n ANA FLÁVIA CASTRO FLORA MINARDI RAQUEL REZENDE 7º PERÍODO
A Nutricionista do Hospital Vera Cruz, no Barro Preto, na Regional Centro-Sul de Belo Horizonte, Maria Imaculada Siqueira considera que comida de estabelecimentos hospitalares pode e deve ser saborosa. Baseada nessa perspectiva, e após o recebimento de reclamações, a administração da instituição decidiu modificar o cardápio dos pacientes. O esforço feito é para que os pratos relembrem as refeições preparadas nas casas dos internos. Esta preocupação com uma aproximação da comida caseira, tem um
nome: confort food, como é chamado pelos profissionais da gastronomia. Este é um conceito que surgiu em 2002 e trabalha com comidas que despertam sensações agradáveis. Nos hospitais além de deixar a comida com um sabor melhor, as refeições fazem com que o paciente sintase mais confortável durante a internação. O hospital faz todo mês uma pesquisa para saber o que deve ou não melhorar, atingindo com este serviço o índice de 90% de aprovação dos pacientes. A cozinheira Margareth Nascimento conta que o prazer de cozinhar é maior por saber que os pacientes estão aprovando. Segundo ela, um dos pratos preferidos pelos internados é o purê
de batata. Os alimentos são organizados com todo cuidado e higiene. Na cozinha as refeições são preparadas de acordo com a necessidade do paciente e as bandejas são etiquetadas, com informações sobre a patologia, como portadores de diabetes e hipertensos. Ao todo são produzidos três diferentes tipos de refeições: para pessoas que estão internadas, para os acompanhantes e para os médicos plantonistas. Apesar das mudanças do cardápio o arroz é um prato que não sai da dieta da grande maioria das refeições. O chefe de cozinha, Nonato Souza, já perdeu a conta de quantos quilos do alimento faz por
ANA FLÁVIA CASTRO
Ebalorar cardápio variado, nutritivo e saboroso é preocupação do setor de nutrição do Hospital Vera Cruz dia. "Nós nos preocupamos com o sabor e com a qualidade. Por isso nada é reaproveitado, tudo novinho para preservar o gostinho", afirma. O trabalho das nutricionistas dentro dos hospitais requer toda atenção. É por meio de uma alimentação adequada que os pacientes poderão suprir a carência de vitaminas causada pelos medicamentos ou até mesmo pela falta de paladar que os mesmos provocam. O trabalho é de resgatar o apetite destas pessoas com alimentos mais atrativos e saborosos. Muitos acreditam que comida apetitosa tem que ter sal. Imaculada explica que este é um conceito
errado, já que o importante é ter gosto e ser nutritivo. "Hoje, tentamos fazer pratos diversificados ao longo da semana. Temos a preocupação também de trabalhar as cores nos pratos com verduras diferentes. O sabor pode vir não do sal, mas sim do alho, cebola e outros temperos", conta. O setor de nutrição do Hospital Vera Cruz sempre procura fazer um agrado ou outro para os pacientes como é o caso da sobremesa. A famosa gelatina de hospital pode ser facilmente substituída por um flan ou pudim. Esta mudança do cardápio divide opiniões. Algumas pessoas ainda acreditam que este é um problema frequente den-
tro dos hospitais. Para o clínico geral Luís Eduardo a comida hospitalar peca na estética e no sabor. Mesmo assim concorda que determinado tipo de alimentação é indicado para diferentes casos clínicos. Alexandre Cassimiro, estudante de engenharia, que já ficou internado no hospital que modificou o cardápio, discorda do médico dizendo que nunca achou que a famosa comida de hospital fosse ruim. "é necessário para a recuperação ter uma alimentação mais leve. A questão do gosto vária de pessoa para pessoa". Ele completa dizendo que nunca achou que a comida fosse ruim. ANA FLÁVIA CASTRO
Alimentação complementa um tratamento bem-sucedido O conceito de confort food não é só utilizado dentro dos hospitais para ajudar na alimentação dos pacientes, até mesmo em casa os pais devem diversificar na hora de fazer as crianças se alimentarem corretamente. E a comida caseira ajuda muito na hora de estimular os pequenos a comerem verduras e legumes. E nada é mais gostosa do que a comida feita em casa pela mãe. Mas quando bate aquele resfriado ou alguma dor no corpo ou na cabeça, não há prato preferido que faça aumentar o apetite. Quando adultos é
necessário uma forcinha para ingerir todos aqueles nutrientes como forma de remédio para um bom resultado do tratamento, mas quando falamos de crianças é preciso maior dedicação e muita paciência dos pais. Uma coisa é certa: cuidar da alimentação das crianças dentro de casa é muito mais fácil e quando falamos em recuperação da saúde esse cuidado deve ser redobrado. Além da qualidade dos alimentos preparados os pais devem cuidar dos horários e da quantidade consumidas
diariamente pelos filhos. Cenoura, brócolis, couve e outros alimentos são indispensáveis para o organismo e podem não agradar o paladar das crianças, mas há sempre um 'jeitinho' de não deixá-los de fora das refeições diárias. Mãe de Lucas, 5 anos, e Maria Clara, 3, Michelle Dias usa algumas táticas para que os filhos não deixem de comer alimentos tão importantes e saudáveis. "Existem as historinhas: 'o Popeye é forte porque come espinafre', 'a cenoura vai deixar seu cabelo bonito'. Outra dica é quando for fazer
um suco de laranja, por exemplo, colocar uma beterraba, couve ou outro alimento no meio. O sabor não será alterado e ainda fica colorido", conta a mãe. Para estimular os filhos a se alimentarem bem e nos horários corretos, nada melhor do que se tornar o próprio exemplo para eles. Michelle e o marido Alexandre sentam à mesa durante todas as refeições e mostram aos filhos que estão se alimentando de coisas boas e saudáveis, fato que levará as crianças a se comportar da mesma forma.
Nutricionista Maria Imaculada Siqueira: comida saudável e com sabor
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PIERO MORAIS
ATENDIMENTO DE QUALIDADE Trabalho desenvolvido pelas Clínicas da Universidade possibilita que pessoas tenham tratamentos gratuitos nas áreas de fisiotorerapia, odontologia, fonoaudiologia e psicologia n PIERO MORAIS 5º PERÍODO
Há dois anos, Guilherme Augusto Laguna, 14 anos, caiu de skate enquanto brincava na rua de casa no Bairro Carlos Prates. O pai, Alexandre Laguna Silva, 40 anos, a princípio se preocupou com o corte no queixo do filho ocasionado pela queda e o levou prontamente a um hospital, mas não atentou ao fato de que o tombo poderia ter causado danos à dentição do garoto. Orientado por professores e amigos a procurar auxílio para o filho na Clínica do Curso de Odontologia da PUC Minas, instalada no Coração Eucarístico, Região Noroeste da capital, onde o próprio Alexandre já fez tratamento de canal gratuitamente, ele descobriu que o local prestava não somente atendimentos clínicos gerais, mas também oferecia tratamentos de ortodontia, implantes de próteses e aparelhos. Hoje, há um ano fazendo tratamento dentário na clínica, Guilherme instalou o aparelho fixo e teve os dentes de baixo salvos a tempo pelo diagnóstico de urgência feito pelos estagiários, estudantes da graduação e pós-graduação do curso que fazem em média 3300 atendi-
mentos mensais. A Clínica de Odontologia é uma das quatro clínicas-escola da PUC que oferecem tratamentos gratuitos à população e a resposta a isso é a crescente demanda popular por atendimentos. "Além do dentista, aqui dentro da PUC você encontra assessoria jurídica, a clínica de psicologia, a clínica de fisioterapia, aqui é muito completo", enumera Alexandre, que se mostra satisfeito com o tratamento recebido pelo filho nas consultas periódicas mensais para fazer a manutenção do aparelho. "Não tive dificuldades para conseguir atendimento para ele, foi tudo rápido. Nunca tive decepção", opina. Completando a lista de clínicas que Alexandre tem conhecimento, a PUC ainda dispõe da clínica de Fonoaudiologia na Avenida Brasil, 2023, 2º andar, no bairro Savassi e, além da clínica de Fisioterapia instalada no Campus da Universidade no Coreu, existe uma instalada na Rua do Rosário, 1081, em Betim. Cada clínica organiza a demanda popular de forma diferenciada, de acordo com o currículo pedagógico. ODONTOLOGIA Para o Professor Rubens de Menezes Santos, 57 anos,
coordenador das Clínicas de Odontologia, o quadro composto por 72 estagiários, sendo 60 da graduação e 12 da pós-graduação e os 11 professores orientadores, oito para os graduandos e três para a especialização, é o suficiente para realizar o objetivo maior da clínica. "A clínica existe para formar profissionais capacitados a atender", salienta. Segundo Rubens Menezes, a demanda, sempre crescente, dá a oportunidade aos alunos a se prepararem para a profissão em todas as áreas, e a estrutura que a clínica oferece permite aos estagiários uma preparação completa. "Atendemos não só clínica geral, mas casos de ortodontia, cirurgia. A clínica tem estrutura para atender todo o tipo de caso e a demanda grande oferece todos esses tipos de pacientes", afirma. Para encarar a demanda crescente, a clínica enfrenta desafios de flutuação no número de estagiários, recorrente ao número de alunos que varia de um período a outro, o que modifica a grade de atendimentos e os tratamentos oferecidos a cada semestre. "Existe fila sim, e o crescimento é devido à necessidade da população. Não é nosso compromisso
Guilherme faz tratamento odontológico e o pai Alexandre gosta do trabalho fornecido acabar com ela. Nosso compromisso maior é formar profissionais, o dever de atender toda a população é do Estado", afirma o coordenador. Alexandre Laguna procurou a clínica pela primeira vez para conseguir fazer um tratamento de canal, de forma espontânea. "Me recomendaram aqui e via através de anúncios", relembra. Ao passar por uma triagem, foi marcado o dia do atendimento, realizado na clínica geral, onde também leva o filho Guilherme para fazer recorrentes consultas. "De seis em seis meses eles deixam a disposição uma lista para pessoas interessadas a fazer limpeza, toda
vez que fico sabendo eu venho aqui trazer o Guilherme e me inscrevo", Alexandre, usuário periódico da clínica, gosta do atendimento prestado pelos estagiários. "Há comprometimento, os professores sempre orientam os alunos nos tratamentos, nunca me ocorreu atrasos", elogia. Alexandre também se inscreveu para conseguir o aparelho, mas já está na fila há oito anos. "A triagem determina quem é de maior urgência e eu já estou já oito anos na fila. Já até perguntei se eles não sumiram com meu papel", brinca o vendedor de móveis, que, ao contrário de próprio caso, não encontrou bar-
reiras no tratamento do filho. Além de atender a demanda espontânea, como no caso de Alexandre, a clínica, em sua maioria, atende encaminhamentos do SUS (Sistema Único de Saúde) através do Sistema de Regulação do SUS, o SISREG. "A pessoa procura o Posto de Saúde, que a encaminha até uma Central de marcação de atendimentos e daí é feito o atendimento aqui", explica o coordenador Rubens. O paciente, depois de marcada a consulta na Central de marcação, passa por uma triagem que determina a urgência do caso.
Desafio na fisioterapia é atender à demanada cada vez maior Sob a coordenação da professora Cláudia Silva Dias, 43 anos, a Unidade da Clínica de Fisioterapia no Coração Eucarístico enfrenta os mesmos desafios que a Odontologia: enquadrar a crescente procura por atendimentos na flutuação do número de alunos por período. De acordo com a coordenadora, para conseguir atender de forma eficaz e formar bons profissionais, exige que as clínicas obedeçam um planejamento semestral bem traçado. "É preciso planejar a distribuição dos estagiários em cada campo de atendimento oferecido pela clínica e enquadrar melhor toda a demanda para conseguirmos atender mais", afirma. Dados desse semestre mostram que a clínica atende 140 pacientes por dia, distribuidos em
2500 atendimentos por mês. Desses, 90% são realizados por convênio do SUS, onde o paciente procura o posto de saúde que o encaminha à clínica-escola mais próxima de sua residência. "Atendemos na maioria dos casos moradores do bairro e do entorno, como por exemplo, temos muitos pacientes do bairro Padre Eustáquio se tratando aqui", afirma a professora. A clínica atende quatro tipos clínicos de fisioterapia: ortopedia, cuja a demanda é maior, fisioterapia cardiovascular, obstetrícia e fisioterapia neurológica. A equipe de 46 alunos em estágio supervisionado são divididos em dois turnos, de manhã com 30 e a tarde com 16, fazem rodízio de atendimentos nas quatro áreas. Os restantes 10% de
demanda da clínica representa a procura espontânea e é oferecida à professores, funcionários e alunos da PUC. O técnico contábil Deornes Garcia da Silveira, 62 anos, é um dos pacientes da clínica de fisioterapia. Após ser vitimado em um acidente de trânsito, quando foi atropelado por um motociclista em 8 de julho desse ano, Deornes passou por cirurgias no ombro, perna e braço direito e teve os movimentos dos membros comprometidos. Sempre acompanhado pela esposa, Jane Elizabeth Pereira Silveira, o idoso conta que depois do acidente a vida mudou abruptamente, tendo de ter parado com os serviços autônomos de contabilidade que prestava e agora correr atrás da
recuperação. "As coisas se tornaram complicadas, é difícil conseguir resgatar o INSS, quero voltar a trabalhar", lamenta o contador. Com os filhos ajudando nas despesas, Deornes é satisfeito com o atendimento da clínica e comemora o fato de ser gratuito. "Se fossemos pagar, não teríamos condição", afirma a esposa Elizabeth. Sem burocracia, após ter passado por encaminhamento médico e pela triagem no Pronto Atendimento Médico, PAM, do Bairro Sagrada Família, Deornes demorou três semanas, desde a procura até a primeira consulta, para iniciar o tratamento. "O atendimento aqui é atencioso e rápido", afirma. Deornes faz atividades uma vez por semana na PUC para reabilitar o movimento
da perna, além de fazer consultas semanais na Clínica da UFMG com o ombro e o braço. O tratamento é por tempo indeterminado. Segundo Cláudia Dias, quando o paciente vem através do convênio pelo SUS, o sistema libera 20 sessões para reabilitação. Havendo necessidade, o paciente pode renovar o número de sessões e continuar o tratamento normalmente. Apesar da flutuação no número de estagiários por mês e o aumento da demanda, o maior problema para a clínica, na visão de Cláudia Dias, é o absenteísmo dos pacientes. "Muitos são debilitados de locomoção e a clínica é de difícil acesso, ou não têm condições financeiras de vir sempre. Há
poucas linhas de transportes públicos que atendem a região e os pacientes passam a faltar nas sessões, o que compromete em muito sua reabilitação. Nós já procuramos a Secretária de Saúde do município para entrar conosco numa parceria por uma melhoria no atendimento de transporte público na região", assinala a coordenadora. A professora acredita que com a mudança curricular da qual o curso passará no próximo ano, no início do semestre aumentará a proposta de vagas, com mais 15 alunos estagiando por campo. "Acredito que assim poderemos atender um maior número de pessoas", afirma.
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Dezembro • 2011
TRATAMENTO DE DORES CRÔNICAS O diagnóstico médico de uma doença e a compreensão dos sintomas é fundamental para a identificação dos cuidados necessários para o tratamento de pacientes com dores crônicas LETÍCIA GLOOR
n FELIPE AUGUSTO VIEIRA 3º PERÍODO
Resultado de uma parceria entre as escolas de Psicologia e Odontologia da PUC Minas, a Clínica da Dor (Projeto Interclínicas de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial) tem conseguido levar alívio a seus pacientes. É o caso da autônoma Patrícia Aparecida Dias Gomes, 41 anos,que4 faz tratamento de dor crônica no maxilar do lado esquerdo devido a um desgaste muscular. Ela chegou à Clínica da Dor, após se consultar com vários especialistas, inclusive otorrinolaringologista e fisioterapeuta. A dor dela é localizada no maxilar, mas pode se alastrar a outras áreas da face. "A dor incomoda muito, e tem dias que eu não consigo nem conversar direito, tenho dificuldade até para bocejar", conta. Patrícia, em consulta coordenada pela cirurgiã dentista e doutora em prótese dentária, Lylian Vieira de Paula, 45 anos, foi diagnosticada com um desgaste muscular, e um prognóstico de uma cirurgia para readequação do maxilar. A dor orofacial geralmente é muscular, podendo ocorrer também nas articulações e nos tendões. "A mais prevalente das dores orofaciais são as dores musculares", explica Lylian. Com uma dor graduada entre 8 e 9, sendo 10 uma dor máxima, segundo classificação da Escala Visual Análoga (EVA), Patrícia tem feito também um acompanhamento psicológico, coordenado pela mestre em clínica psicanalítica, Heloísa Cançado Lasmar, onde além de um reforço no tratamento da dor fisiológica, pode-se melhor compreender e diagnosticar as dores crônicas e seus efeitos psicológicos, como fase complementar ao tratamento. Esse processo de classificação da dor é feito por meio do depoimento do paciente que a quantifica segundo essa escala, e que, segundo Lylian, é muito importante numa consulta. "A pessoa mesmo vai quantificar a dor dela, porque não tem como uma pessoa avaliar o quanto a outra está sofrendo ou não, e assim, fica mais fácil para se saber se há melhora e se o tratamento dá o
A Clínica de Odontologia da PUC Minas realiza procedimentos relacionados a dores crônicas no maxilar resultado esperado", explica, onde também pode ser avaliado o grau de tolerância à dor. "É interessante que na área médica, a medida da dor é sempre subjetiva, pois não há nenhum aparelho objetivo que meça a dor, a dor é sempre a dor particular do sujeito", afirma Heloísa Lasmar. O fator psicológico atribuído ao agravamento ou à diminuição da dor foi problematizado por Lylian após um período de três anos em que houve outro trabalho interdisciplinar que envolvia além das clínicas de odontologia e psicologia, as clínicas de fisioterapia e fonoaudiologia. "Após a retomada do projeto, no segundo semestre deste ano, os resultados têm sido muito bons, há um acréscimo didático para os alunos e os pacientes têm sido bem melhor atendidos, porque eles estão sendo atendidos não só em uma área, principalmente quando se trata da dor", conta. Ela ressalta a importância da interdisciplinaridade e o apoio da psicologia por haver aspectos que não estão ao alcance das áreas médicas isoladamente. Para Heloísa Lasmar, o estado psicológico pode afetar nos caso de dor crônica e descreve a dor psicossomática, sendo esta potencial anuladora de um tratamento ou evolução que seja focada no fisiológico, ou seja, através
estar ali. Então o que é um circuito neurológico, um anatomofisiológico, não tem nada que justifique o que é a dimensão forte daquela dor. Nas fibromialgias, se observa o que é a força do psiquismo operando no corpo, porque o corpo fica lesado mesmo", explica Heloísa. Heloísa descreve casos onde pacientes em que há dificuldades de se fazer o acompanhamento psicológico, se apegam ao diagnóstico físico em detrimento ao psicológico por algum bloqueio ou dificuldade em expor questões pessoais. "Nós já tivemos casos de a pessoa dizer: 'Eu fico rezando para que isso seja muito ruim no meu corpo mesmo, porque se isso tiver alguma coisa comigo vai ser pior'. Aí percebe-se a dificuldade em encarar uma adversidade, em mensurar o que é pior mesmo", conta. O tratamento particular, individualizado nos casos de fibromialgia deve estar em acordo com a parceria médica, pois o tratamento psicológico, subjetivo, não é suficiente sem o suporte da área médica, assim como a área médica sem o suporte fármaco não é suficiente sem o auxílio da psicologia, segundo Heloísa. "A cada caso, pode ser que não funcione, a um tempo funciona, depois dá um efeito colateral ou dá um efeito reverso, então o tratamento possível é onde há essa parceria", diz. Heloísa ressalta que, havendo a compreensão e a pesquisa quanto à questão da dor, desde o trabalho interdisciplinar, apesar de não haver ainda resultados absolutos, mas os efeitos já são observados, e em sua maioria, dos casos estudados em conjunto, tem havido efeito.
da administração de fármacos e como forma de anestesiar as difiintervenções cirúrgicas. "Tem culdades que estão ali diariaalguma coisa que afeta mesmo o mente", complementa. corpo, que é o que podemos chamar de psicossomática. FIBROMIALGIA Uma patoloQuando a área médica vai traba- gia que tem fatores psicológicos lhar o quanto ao que implica o como fiel da balança em seu tratamento, a possibilidade, a tratamento ou insucesso é a evolução e alguma coisa que fibromialgia, que causa dores seria simplesmente fisiológica, localizadas em 18 pontos identinão tem efeito. Aí se observa o ficáveis do corpo no diagnóstico, forte componente psíquico", diz. dentre eles a cabeça, o maxilar, Sobre as dificuldades do trataou seja, podendo ser associada à mento, Heloísa explica que a dor orofacial, e as articulações atribuição à dor estritamente dos membros. O tratamento para física, ou seja, o que o corpo a fibromialgia é paliativo, não sente, geralmente o paciente não tem cura, mas pode ser amenizaassocia a dor a um estado psida. "O que é a solução do caso, é cológico, como a depressão ou ansiedade. "Ninguém nunca uma solução que não existe pensa em atrelar isso, ou que isso porque muitas vezes não dá para tenha alguma coisa a ver com o explicar o porque de aquela dor que é a situação ou a angústia do sujeito. É uma forma que a nossa subjetividade arranja para tratar o que é que podemos dizer Cacilda da Con- não associá-la como como a dor de existir, porque ceição Caldeira Ro- origem da dor, já que ao invés de se drigues, 51, sofre com foram diagnosticadas concentrar na a fibromialgia há 14 juntas, Cacilda não dor de existir, anos, em conjunto abre mão do medicaconcentra-se na com uma depressão mento, mesmo fazendor do corpo,
Fatores psicológicos influenciam diretamente os problemas físicos
LETÍCIA GLOOR
A doutora Lylian Vieira de Paula diz que somente os pacientes podem quantificar a dor que eles estão sentindo
também diagnosticada na mesma época. Apesar de não ter procurado um psicólogo, Cacilda toma antidepressivos, receitados por seu reumatologista como medida para amenizar a dor. "Passei por vários remédios antidepressivos, muitas vezes não davam certo, uns davam efeitos colaterais, outros não faziam efeito. Há uns seis anos tenho tomado Certralina, que é o único que deu uma controlada boa", afirma. Fazendo associação da dor à depressão, apesar de
do caminhadas, quando a dor torna possível a realização de uma atividade física. "O que mais me ajuda mesmo é o medicamento, pois se eu fico sem ele, a dor volta completamente, e volta tudo, volta aquela rotina toda que eu tinha anteriormente, e aí tem que começar tudo de novo. Então tudo ajuda, a caminhada, controlar o dia a dia, os problemas da vida, as preocupações, mas eu acho que é o antidepressivo que me ajuda mais", conta. Avaliar as causas e efeitos tanto da dor
crônica quanto da fibromialgia na correlação com os fatores psicológicos, pode ser analisado tanto no viés de a depressão, a angústia ou a ansiedade serem os agravantes das crises de dor, quanto a dor ser a causadora destes. "Isso está dentro do que chamamos de sintomas contemporâneos, e que chama a nossa atenção por ser um fenômeno observável nos últimos dez anos. Há dez anos não nos chegava esse tipo de queixa, e há cinco anos é impressionante o número de queixas com esses componentes diretamente no corpo", conclui Heloísa Lasmar.
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MEMÓRIA DE VOLUNTÁRIOS É TRUNFO n RAPHAEL VIEIRA PIRES 7º PERÍODO
Por meio de arquivos de fotos as pessoas buscam lembrar os momentos marcantes da história da capital mineira. Isso ocorre como um exercício natural para aqueles que gostam de contar casos do passado LETÍCIA GLOOR
O ano é 1958 e Belo Horizonte começava a viver a construção de um sistema de saneamento e esgoto, feita a partir da intervenção no Rio das Velhas. Máquinas retirando montes de terra, valas profundas e muitas pessoas trabalhando, comandadas por engenheiros fizeram parte do cenário da cidade no momento em que as obras tomavam parte. Quem relembra das cenas é um dos engenheiroschefe responsáveis pelas obras no Rio das Velhas, Newton Santos Vianna, 89 anos. Ele faz parte, atualmente, de um grupo de voluntários chamado Cestas da Memória, que ajuda o Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH) a identificar pessoas, lugares e eventos em fotos antigas relacionadas à história da capital. Inevitáveis, as memórias como as que Newton tem sobre a sua participação na implantação do saneamento em BH, surgem em meio às fotos, e histórias de vida e momentos importantes são contados por estas pessoas. "Foi o tempo que nós sofre-
Voluntários usam antigas memórias para identificar por meio de fotos as pessoas, os lugares e os eventos. Eles se reunem uma vez por mês
mos", brinca Newton, ao recordar como era a vida na capital nos tempos de obras no Rio das Velhas. O primo de Newton, Dalmo Cruz Vianna, 83 anos, engenheiro e também participante do grupo do Arquivo Público, lembra de momentos engraçados envolvendo o manobreiro, profissional responsável por administrar quantas horas seriam gastas na perfuração de algum poço. Isso tudo na época da
gestão do prefeito Jorge Carone Filho, entre janeiro de 1963 até 1965. "Tinha o manobreiro, que era uma pessoa muito visada. O pessoal achava que ele desviava dinheiro de um lugar para poder usar em outro poço. E as mulheres vinham de cabo de vassoura nele", diz Dalmo. A imprensa da época batizou a obra, satiricamente, de "a novela da adutora do Rio das Velhas". Isso porque a pre-
visão de término das obras seria de três a quatro anos, ou seja, terminaria entre 1961 e 1962. Porém, a "novela" se prolongou até 1º de julho de 1973. Desafios e grandes problemas encontrados pela frente na construção dos túneis agravaram a situação e o atraso de mais de dez anos foi inevitável. Um dos empecilhos encontrados no caminho por Newton, Dalmo e todos que
trabalharam nas obras foi no túnel do Taquaril. Na perfuração, o pessoal encontrou um material mole, que invadiu todo o túnel e impediu o prosseguimento das obras. A solução foi solidificar o material para poderem cortá-lo, mas o tempo despendido adiou a finalização da adutora. A falta de água causada pela interrupção da água foi um agravante. Dalmo conta como resolveram. "O prefeito Luís Gonzaga de Sousa Lima conseguiu na época com a Cedae uma sonda para podermos fazer um furo e mandar a água por cima do morro enquanto ela não dava pra vir pelo túnel. Era uma falta d'água terrível", relembra. A água saía onde é hoje a Avenida Country Clube de Belo Horizonte. A falta d'água rendeu boas histórias. À uma hora da manhã, Dalmo recebia ligações de moradores da capital, reclamando. "Ligavam para mim e falavam na maior cara-de-pau 'ô, seu Dalmo, você estava dormindo? Você me desculpa, mas é que eu estou esperando ver se a água chega aqui na porta, para poder colher aqui, porque ela não tem pressão para ir na
Episódios são relembrados por meio das fotos Quem vê as fotos no Arquivo Público e também recorda de momentos passados é Maria Beatriz Hauck Magalhães Miranda, 55 anos. Formada em Educação Física, ela era chefe de Promoções Educativas e Esportivas em 1978, na Secretaria de Cultura, Turismo e Esporte de Belo Horizonte. Como ela trabalhava na Prefeitura, ela se identificar em fotos oficiais da cidade há décadas atrás é recorrente. Em uma foto do Forró de Belô entre 1979 e 1982, lá estava ela com colegas de trabalho. Eram quatro dias de festa, de acordo com Maria. Na quinta e na sextafeira acontecia a primeira eliminação das quadrilhas, e no domingo ocorria a apresentação final. Ela adorava trabalhar no evento e que apesar da "ralação", como ela mesma disse, ver a felicidade estampada no rosto das pessoas valia qualquer esforço. Emocionada, Maria lembra dos momentos que passou com os colegas de trabalho no Forró de Belô. "Pelas fotos eu vejo meus colegas felizes ali, porque eles iam e aproveitavam pra tomar um caldinho de feijão. No
final do 3º ano de gestão do prefeito Maurício Campos o carnaval já tinha melhorado muito nessa cidade. As pessoas já queriam desfilar em Belo Horizonte. A nossa ideia era difundir a máxima: pratique lazer", conta Maria. A partir da revisão de fotos do arquivo público, a ex-funcionária recordou a história de como conheceu seu marido. Ele era corredor de kart e ela trabalhava cronometrando as corridas. Maria, à época, achava que seu futuro marido paquerava a amiga que morava com ela, mas não era bem assim. Um dia, após assistirem à peça de teatro "Um inimigo do povo", do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, ele a presenteou. “Ali começou tudo", recorda, com um sorriso no rosto.
HOBBIE Para o médico geriatra de 56 anos Marcos de Lima Horta, participar do Cestas da Memória é como um hobbie, assim como tirar fotografias. "Tenho mania de tirar fotografia, de guardar fotos de lugares que não existem mais em BH", afirma. Ele conta que essa mania o LETÍCIA GLOOR
Raimundo do Espírito Santo é ex-funcionário público e participa das sessões todo mês
ajuda na hora de identificar fotos de lugares que não existem mais ou que sofreram mudanças e que o macete está em ter alguma referência na foto, como uma esquina, uma torre de igreja etc. Memórias vêm à mente de Marcos ao ver as fotos do Arquivo. "Agora mesmo eu estava vendo ali umas fotos da Feira de Artesanato, que era na Praça da Liberdade. Nessa época eu estava terminando o científico, que equivale ao segundo grau e lembro quando eu ia à feira", conta o médico. Indo mais longe, Marcos lembra dos tempos de menino, de reunir a turma na rua para jogar finca e bola de gude. Sua infância aconteceu toda aos arredores da Assembleia, onde morava. Ele
conta que antigamente a disposição das ruas Rodrigues Caldas e Martins de Carvalho e da avenida Álvares Cabral era bem diferente de como é hoje. Ali brincava com seus colegas. "De vez em quando você vê algum terreno vazio que virou casa e agora é um prédio. E eu brincava nesses terrenos, com todos os meus amigos", lembra. Outro ex-funcionário público que também participa das sessões é Raimundo do Espírito Santo, que se diz jovem e "não quer pensar em idade". Ele trabalhou na parte administrativa, na sessão de classificação de cargos, entre 1955 e 1985. Limpando o rosto das lágrimas, Raimundo conta emocionado das fotos em que grandes amigos
já falecidos aparecem. Uma em especial foi com o prefeito Oswaldo Pieruccetti. "Vi uma foto hoje aqui em que eu e muitos colegas estávamos comemorando o aniversário do Pieruccetti em um almoço. Ele era uma pessoa que sabia formar amizades sinceras", comenta. Antigos colegas acabam se encontrando mais tarde na vida. Assim foi com Raimundo e com Albes Pereira Cláudio, 88 anos, voluntário do Cestas da Memória. Albes era chefe de Raimundo na Prefeitura, entre 1955 e 1966, em que Albes era chefe de registro municipal. Por ter este cargo, ele aparece recorrentemente em várias fotos. "Era eu quem lia os deveres de cada secretário no momento da posse”, conta.
Jornalista usa arquivos para lembrar Mas não é só de engenheiros, médico e funcionários públicos que é feito o grupo de voluntários. De jornalista também. Theódulo Amaury da Motta, 66 anos, trabalhou no Estado de Minas de 1963 até 1996. Nascido em Diamantina, sua família mudou-se para Belo Horizonte em janeiro de 1962 e em abril seguinte entraria para o jornal. Ele começou lá identificando fotos publicadas e não-publicadas das edições, pois após uma reforma no edifício, todos os arquivos desde 1928 foram perdidos. Nos
anos 70 foi para a redação, nas editorias de agropecuária e economia, mas depois voltou a trabalhar no arquivo do jornal. "Aqui no Arquivo fico com a parte de política porque sei mais dessa área. De tanto identificar, acabo guardando nomes desde a década de 60", salienta Theódulo. Um fato esquecido pelas pessoas vem junto com as fotos que passaram pelos olhos do jornalista. Em setembro de 1964, um expresidente da Síria, o general Mohamed Abid Chichakli, foi assassinado em Goiás. Ele foi morto por
um rapaz de óculos escuros e cicatriz entre os olhos, chamado Nawal Ben Youssef Ghazal, pertencente à religião Drusi, cujos seguidores tinham sido perseguidos e suas aldeias bombardeadas pelo General quando Presidente da Síria. Os jornais da época disseram que este rapaz saiu de Brasília no dia 24 de setembro de 1964, com destino a Ceres e despediu de seus amigos, como se nunca mais fosse voltar. "Nawal morreu em Belo Horizonte há poucos anos e foi enterrado na Síria com honras de herói", relata.
Especial Memória
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Dezembro • 2011
PARA PRESERVAR HISTÓRIA DA CAPITAL LETÍCIA GLOOR
caixa'", conta o engenheiro. Na mesma época, moradores do Bairro Sagrada Família chegaram a perfurar, por conta própria, um poço artesiano em um lote onde hoje é a Avenida Petrolina também por conta da escassez de água. De acordo com Newton, Belo Horizonte sofreu com falta de abastecimento antes e durante a intervenção no Rio das Velhas por diversos fatores. Os poucos reservatórios de distribuição, a falta de redes adequadas e o rompimento de adutoras eram responsáveis por deixar as torneiras das casas da capital secas. O desperdício, tanto no caminho quanto já dentro das residências agravava a situação. Porém, independente dos outros problemas, o volume de água disponível para a cidade, em constante crescimento, era insuficiente com o sistema de abastecimento até então. O novo sistema seria capaz de resolver o problema: a adutora do Rio das Velhas teria a capacidade de abastecer 1.840.000 pessoas. Recordar um trabalho tão grande como esse, faz trazer à mente momentos anteriores, aqueles vividos na universi-
dade. Na época de gestão do prefeito Celso Mello de Azevedo, entre 1957 e 1959, os dois primos, já formados em engenharia civil, frequentaram o primeiro curso de especialização em engenharia sanitária em Minas Gerais. O curso fazia parte de uma parceria da escola de engenharia com o Ponto IV, programa de cooperação norteamericano. Professores dos Estados Unidos vieram ao Brasil para lecionar e cursos foram criados. Newton lembra de um professor que possuía livros sobre tratamento de esgotos e outro que era engenheiro construtor. Durante 15 dias, eles revezavam a estada em Belo Horizonte para das as aulas no curso de Newton e Dalmo. "O diretor desse curso era o professor Lincoln Continentino, que foi o incentivador e batalhador para conseguir viabilizar sua realização. Ele era professor de saneamento, higiene e urbanismo", conta Dalmo. Na época, livros em português eram raríssimos, e a única saída para os estudantes era ler autores franceses e italianos, grande parte deles manuscritos com "uma letra boa", como conta Newton. Uma curiosidade acompanha a formação acadêmica do
pesquisador", explica. De olho nas fotos do livro, Newton relembra a data da inauguração dos fios da estação de tratamento da rua Carangola, onde atualmente é a Copasa. O lugar mudou muito desde a foto. "Desmancharam isso tudo e construíram aquele prédio. Só o reservatório que continua lá". Outras fotos relembram outros momentos e lugares. "Essa aqui é da época do Curral Del Rey e essa é a rua Sabará. E essa é de Belo Horizonte, mais ou menos na época da construção da adutora", recorda.
Newton Santos Viana participa do grupo voluntário chamado Cestas da Memória
engenheiro Newton. Ele fez um curso de urbanismo logo após ter se especializado em engenharia sanitária. O curso era da Escola de Arquitetura, com dois anos de duração, facultado a engenheiros civis e arquitetos. De uma turma de 15 pessoas, Newton era o único engenheiro civil. Sobre o número um, da folha um e do livro um está o diploma de urbanista de Newton, registrado pelo Ministério da Educação. "Com isso, eu posso dizer que eu sou o
urbanista número um do Brasil", constata. O engenheiro-urbanista tem um livro. O nome é "Belo Horizonte: seu abastecimento de água e sistema de esgotos" e conta com detalhes como era a situação da água na capital mineira antes e durante os trabalhos realizados por Newton, Dalmo e toda a equipe. "Esse livro me deu muito trabalho, porque pesquisar os relatórios todos e ir atrás de prefeitura por informações exige muito do
De acordo com Yuri Melo Mesquita, coordenador das sessões, o trabalho realizado é importante por dois motivos. "Primeiro identificar as fotos para preservar e manter a memória da cidade. Segundo preservar o acervo pela comunidade, valorizar a memória e o trabalho do cidadão de BH", explica. São identificadas minuciosamente pessoas, lugares e eventos em 30 a 35 fotos diárias por convidado. Boas histórias e a memória que envolve todos esses personagens de Belo Horizonte merecem ser preservadas para o futuro, e esses voluntários, tão empenhados na identificação destas fotos, conseguem cuidar muito bem deste trabalho.
A procura pela restauração de imagens sacras LETÍCIA GLOOR
n IGOR MARQUES JÉSSICA GOMES FILIPE MARQUES 3º PERÍODO
Quando fez 13 anos de idade, Weber Oliveira Neto, de 73 anos, começou a trabalhar com o pai restaurando imagens sacras na Casa São Roberto, localizada no Bairro Padre Eustáquio. Hoje, seis décadas depois, Weber continua a exercer o ofício que herdou do pai, no mesmo local. A restauração é
um trabalho complicado e melindroso, já que as peças devem ficar tão parecidas com seu estado original quanto possível. "Na restauração, a gente dá uma média de 80 a 90% de originalidade", afirma Weber. Ele conta que, antes de começar um trabalho, fotografa as peças, para que o cliente tenha certeza da similaridade das novas cores usadas nas imagens com as cores anteriores. "É um LETÍCIA GLOOR
Imagem de São Fransciso de Assis recém restaurada por Weber Oliveira
processo genuinamente artístico", diz Weber, que vez ou outra tem que recriar partes quebradas das imagens. Estas novas partes devem ser esculpidas com o material original das imagens, o qual muitas vezes não é usado há décadas. É o caso do mármore e gesso provenientes de Carrara, na Itália, muito utilizados no passado, mas que foram substituídos por materiais como a resina e lâmina de vidro, mais resistentes e baratos. Sobre o valor do trabalho que realiza, Weber afirma que está diretamente relacionado à história das peças. Isso porque, muitas vezes, as peças fazem parte dos momentos nos quais comunidades professam sua fé, e tem uma ligação sentimental com os membros das comunidades. São eles que, freqüentemente, se unem e assumem a iniciativa para enviar as imagens para a restauração. E algumas das imagens são verdadeiros memoriais da arte brasileira. Quando indagado sobre um trabalho que o marcou, o restaurador se lembra de uma estátua de um anjo adorador, que veio do interior de Minas Gerais. "Foi uma peça de uns 60 cm. Eu fiquei maravilhado com a peça e depois de restaurá-la, mais ainda, por que ficou perfeito. 100% de perfeição".
Weber Neto Oliveira começou a restaura imagens com o pai aos 13 anos de idade
É possível que o trabalho passado a Weber por seu pai não seja continuado pela geração seguinte. A Casa São Roberto vem sofrendo com a escassez de trabalho. Segundo Weber "Os padres idosos foram falecendo, os novos não tem interesse em restauração. Como fica mais barato comprar uma imagem nova, eles preferem comprar que restaurar. Geralmente só
imagens com história, ou de artistas importantes, são restauradas", justifica. Além disso, a Casa só faz serviços particulares. "Quando são peças de igrejas históricas, a incumbência é do Patrimônio Histórico (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN), que tem seus restauradores contratados", conta o artista.
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MEDO DE DIRIGIR É PROBLEMA PARA QUEM TEM CARTEIRA DE HABILITAÇÃO A falta de segurança no trânsito é a principal causa da fobia do volante, para solucionar o medo pessoas estão buscando ajuda em clínicas especializadas para fazer o tratamento n DANIELA REZENDE DENISE NIFFINEGGER LÍVIA ARCANJO SARA SOUZA SÍLVIA VOLPINI 7º PERÍODO
Carro pode ser sinônimo de independência, praticidade e mobilidade para uns. Para outros, pode significar insegurança, perigo e até mesmo um mal para o meio ambiente. A aposentada Evânia Pires Pereira, de 56 anos, convive com o medo de dirigir por cerca de três décadas. A primeira experiência ao volante nas aulas de direção, quando tinha 26 anos, já deixou claro para ela que passear sobre quatro rodas não era algo fácil e logo abandonou as tentativas. Mas a necessidade fez com que insistisse e retomasse as aulas mais de 10 anos depois. Em 1994, aos 38 anos, Evânia tirou a carteira de habilitação, o que facilitou a rotina de viajar de Guanhães para a pequena cidade de Santa Maria do Suaçuí, na Região Leste de Minas Gerais. O treinamento diário não diminuiu a aversão ao automóvel. "Eu sempre entrava no carro receosa e saía com as pernas tremendo desde que eu comecei até depois de tirar a carteira. Eu nunca tive calma para dirigir. Às vezes eu saía de carro e ficava doida para achar alguém lá de casa na rua para voltar dirigindo pra mim ou tinha vontade de deixar o carro onde eu estivesse e voltar a pé mesmo", desabafa. Assumir a direção do carro não é o único receio da aposentada, o trânsito caótico e a presença de outros veículos aumentam a insegurança. "Quando eu entro, eu tenho medo de não dar conta, de não dominar o carro e acabar
prejudicando alguém", conta Evânia. Apesar de nunca ter sofrido nenhum acidente automobilístico, o medo chega a perseguir a aposentada até mesmo quando ela está de olhos fechados. "Eu já sonhei várias vezes que estou dirigindo e não consigo fazer o carro andar, subir o morro, mas nunca aconteceu nada disso", afirma. A psiquiatra e hipnoterapeuta Sofia Bauer explica que a ansiedade de Evânia não está necessariamente ligada a algum trauma e sim à sensação de incompetência. Além disso, ela explica que a fobia de dirigir pode se originar de situações que nada têm a ver com o carro. "Uma criança, por exemplo, que recebeu chacotas dos colegas e agora tem medo de 'dar vexames', transfere esse medo para os pequenos vexames de um motorista, como deixar o carro morrer, dar uma batidinha, não conseguir fazer uma baliza", explica. A dificuldade para dirigir se tornou um incômodo para Evânia, que passou a depender dos filhos para conseguir carona e sair de casa. E esse não é o único aborrecimento. "Eu vejo o pessoal daqui de casa com tanta facilidade e fico me perguntando: por que eu não consigo?", conta a aposentada. Para vencer o medo, ela chegou a ter aulas de reforço com um instrutor de direção e pensou em se consultar com um psicólogo, mas logo abandonou as alternativas. Evânia já procurou uma autoescola especializada, conversou com a secretária e decidiu que marcaria algumas aulas em novembro, só que até o momento a coragem de retomar o controle do volante ainda não apareceu.
Ao contrário de Evânia, que é temerosa assumida, Ana Lúcia de Carvalho decidiu enfrentar o pânico para voltar a dirigir. Segundo ela, seu histórico com trânsito e autoescola foi uma verdadeira batalha. Três exames de legislação, sete exames de rua, cinco instrutores diferentes e a administradora de 41 anos não sabe nem mesmo precisar quanto gastou para ter a carteira de habilitação em mãos. Até que ela resolveu encarar o problema e procurar a ajuda de uma psicóloga que chegou a acompanhála nas aulas de direção. "O meu sexto exame (de rua) foi como se fosse o primeiro. Eu não passei, mas pelo menos consegui concluí-lo. Fui reprovada porque errei, normal, não porque abandonei a prova", conta Ana Lúcia que, nas outras vezes, havia largado o carro nas mãos dos examinadores. Mesmo depois de conquistar a carteira e comprar o primeiro carro, uma batida leve fez com que a administradora permanecesse insegura e por isso, decidiu continuar se encontrando com a terapeuta. Cinco meses depois, ela já estava de volta ao banco do motorista. Hoje, com dez anos de habilitação, ela diz que dirige tranquilamente. "Virou uma coisa natural para mim. Quando eu passo muitos dias sem pegar o carro eu até sinto falta", revela com ar de serenidade. Medo não é o caso da irmã de Ana Lúcia, a professora Maria da Conceição, de 47 anos. Da família de 12 filhos, ela conta que nenhum deles é fissurado por carro, os que dirigem o fazem por necessidade. Entre os outros, alguns têm medo ou simLIVIA ARCANJO
Camila Lenoir chegou a parar de dirigir, mas começou a enfrentar o medo do volante há pouco tempo
plesmente não gostam, como ela. Casada com um deficiente visual, a professora que nunca teve vontade de tirar a carteira de motorista sucumbiu à cobrança do marido. Passou no terceiro exame, comprou um carro, mas nunca quis retirá-lo da concessionária. A aversão ao trânsito, como explica, se deve à violência e ao estresse. "O trânsito é muito estressante. A vida
da gente já é tão atribulada, pra quê uma chateação a mais?", indaga. Nem mesmo a carteira de habilitação, que só veio aos 43 anos, aproximou Maria da Conceição do volante. Para ela, o fator da idade já pesa porque acredita que, com o passar dos anos, vai se perdendo alguns reflexos e as iniciativas já não são mais as mesmas. "As pessoas mais jovens são mais ousadas. Talvez se eu
tivesse tirado a carteira antes, mais nova, não teria tanta resistência", afirma. Maria da Conceição não acredita que tenha fobia de dirigir e se diz acomodada com o fato de trabalhar a apenas alguns quarteirões de sua casa. Mas sabe que, pelo marido e também pelos dois filhos, terá que deixar o desgosto de lado para atender às necessidades da família. "É uma atitude que tem que partir de mim”, diz. DENISE NIFFINEGGER
Fernanda Costa Fernandes ficou fascinada com a independência proporcionada pelo carro
Saber a hora de parar Os carros confortáveis e bonitos estacionados na garagem de casa já não despertam vontade na empresária Leda de Almeida, de 56 anos. Há cinco anos ela deixou de lado a direção e hoje vive como passageira nos passeios de automóvel em Pará de Minas, cidade a 80 km da capital mineira, Belo Horizonte. "Eu acho o trânsito muito perigoso, não que eu tenha medo. É opção, eu prefiro andar com alguém dirigindo, assim eu fico mais tranquila", explica. O efeito contrário ocorreu com a bacharel em direito e servidora pública Camila Lenoir, de 29 anos. Os carros do pai e da irmã estacionados em casa estão despertando a curiosidade e a vontade da jovem. Quando Leda aposentava o volante, Camila tirava a carteira de habilitação, na terceira tentativa. Porém, o medo que a consumia era tão grande que, depois de algumas voltas pelas ruas de Belo Horizonte, desistiu da direção. Hoje, ela reacen-
deu o desejo e decidiu vencer o medo do trânsito. Agora, a vontade é ter seu próprio carro. "Estou planejando comprar um e com ele eu vou ter mais segurança", acredita. Os motivos que as levaram ao volante são muitos. Levar as crianças na escola, não depender de táxi ou ônibus, ter independência para ir onde quiser e, principalmente, por necessidade. A empresária Leda abriu mão da praticidade, mas diz que um dia, provavelmente, terá que retornar ao volante. Ela, que vive com dois filhos adultos, acredita em uma breve saída deles de casa e na consequente perda da valiosa carona. "Meus filhos podem mudar e, caso eu queira sair sozinha, vou ter que dar um jeito. É porque ainda não tive necessidade, hoje eu nem penso em dirigir", explica. A pressão dos pais levou Camila às aulas de legislação e direção. Se dependesse dela, e também de Leda, a carteira seria um projeto futuro, ano após ano. "Eu tirei
carteira de motorista na quinta tentativa, acho que tinha medo. Se eu tivesse um motorista particular, com certeza não teria tirado", brinca Leda, dando risadas. Após realizar a vontade dos pais, Camila tirou a carteira de habilitação, dirigia, mas ficava muito nervosa. "Era pressão para eu tirar carteira, fazer aula, entrar na autoescola. Hoje eu pego táxi e tenho uma linha de ônibus que me atende muito bem, da minha casa ao meu trabalho, por isso não sinto muita falta. Porém, resolvi voltar mesmo para vencer esse medo", ressalta. Para perder o temor dos carros, pedestres e do trânsito, Camila renovou sua carteira e comprou dez aulas de direção na autoescola. "Eu continuo com medo, mas as aulas ajudaram bastante. Eu dirijo o carro do meu pai e da minha irmã e estou vencendo a insegurança aos poucos”, observa.
Especial Trânsito
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A responsabilidade dos motoristas nas avenidas O medo não é o único motivo que afasta muitas pessoas do desejo de estar à frente do volante. A estudante de Arquitetura e Urbanismo Fernanda Costa Fernandes, de 24 anos, se sentiu atraída pela independência de poder dirigir. "Passar de primeira, entrar na faculdade e ir de carro sempre, poder sair sem o pai ter que buscar", conta. O anseio, no entanto, foi fortalecido pela falta de confiança na capacidade das mulheres de se darem bem no trânsito pois, na família dela existem muitas pessoas que acreditam que dirigir é coisa de homem. Desde que passou no exame de direção em 2009, a estudante "pilotou" o carro apenas oito vezes. Ela explica que o fato de não dirigir mais está também relacionado à responsabilidade exigida pela tarefa. "Eu não sei como eu reagiria em um acidente, não em relação a mim, mas em relação a machucar ou causar algum dano ao outro. O medo não é da morte, percebe? É mais na responsabilidade pelo meu carro, pelos meus atos e pelos carros ao redor", explica. Mas, para Fernanda, ainda existe um terceiro fator que foi decisivo na hora de largar as chaves do carro na gaveta. A causa ambiental e a preocupação com o planejamento urbano vinda, sobretudo, com a profissão, fazem parte da ideologia da estudante. "O impacto que o carro causa na cidade é muito grande e
acho que isso todo mundo sente todos os dias", diz. Engajada, a jovem ainda questiona a viabilidade em relação aos outros meios de transporte. "Acho que tudo é uma questão de costume. Será que custa tanto assim pegar um ônibus ou andar a pé? Essas alternativas também ajudam a melhorar a cidade", afirma ela sob o argumento de que se as pessoas andam mais a pé as ruas ficam mais movimentadas, podendo gerar uma sensação maior de segurança. Mas Fernanda reconhece que, além dos meios alternativos irem, muitas vezes, na contramão da acessibilidade e do conforto, não dirigir também acaba se tornando uma limitação. Ela ainda pretende voltar às ruas no comando do seu próprio automóvel, principalmente, quando o tempo for curto para resolver "as coisas de casa". Enquanto essa hora não chega, a universitária defende que existem opções para amenizar os engarrafamentos e o impacto dos veículos na cidade. "Deixar o filho ir de escolar com os colegas, ir a pé aos lugares mais próximos, dar carona para o vizinho, pegar ônibus de vez em quando e deixar o carro em casa. Acho essencial usarmos melhor o espaço da cidade e respeitar o espaço do outro que vive nela também", acrescenta.
Pessoas buscam clínica para perder o medo do volante Em Belo Horizonte, há oito anos, a Clínica Cecília Bellina ajuda pessoas a perderem o medo da direção. Apsicóloga e coordenadora das unidades de BH e Contagem, Elisângela Oliveira, estima que cerca de mil pessoas já foram ajudadas por meio do método implantado pela clínica. Atualmente, o atendimento é feito a aproximadamente 70 pessoas. Desse número, cerca de 85% são mulheres, de acordo com os cálculos da psicóloga. Motoristas de 30 a 45 anos são maioria no quadro de pacientes, mas também há espaço para os recém habilitados e para os que não dirigem há mais tempo. "Tenho uma cliente de 70 anos que ficou com a carteira de habilitação guardada por 40 anos. Agora, ela precisa dirigir. Na unidade da clínica do Rio de Janeiro já teve gente com 80 anos. Então, depende muito da necessidade", conta Elisângela. As idades podem ser distintas, mas os motoristas que procuram a Clínica Cecília Bellina têm alguns pontos em comum. Segundo a psicóloga, são pessoas muito exigentes consigo mesmas, que querem fazer o correto e são perfeccionistas. O medo de dirigir, portanto, às vezes nem é decorrente de um trauma, mas de um perfil pessoal. "Dirigir é um ato complexo que exige um aprendizado gradativo. Muitas vezes as
pessoas não têm paciência ou disposição para enfrentar esse aprendizado por causa de um alto grau de exigência, e até por um mau aprendizado. Nós vamos para a autoescola e aprendemos a tirar a carteira. E dirigir no dia a dia fica uma lacuna", explica a coordenadora. Foi o que aconteceu com a estudante Camila Silva, de 23 anos. Passados cinco anos desde que tirou a carteira de habilitação, ela conta que se saía muito bem nas aulas de direção, ainda que existisse a insegurança natural dos iniciantes. A situação mudou quando ela passou no exame de direção e iniciou as saídas com o carro da mãe. "Acho que perdi a pouca segurança que tinha por causa da pressão de quem me acompanhava no lado do carona". "Dirigir implica em um ensaio e erro. Eu tenho que aprender através desse erro, porque preciso do treino. Não dá para aprender tudo numa salinha fechada. É necessário aprender na rua também, que tem o agravante da exposição", observa Elisângela. Para enfrentar o medo da exposição, o receio de não dominar o carro e até mesmo por fim aos sintomas fisiológicos decorrentes do pânico - como sudorese e taquicardia - os alunos da Clínica Cecília Bellina passam por uma série de etapas até que o medo seja vencido.
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Semáforos sem reflexo são problemas para motoristas n PAULO SALVADOR RAPHAEL VIEIRA PIRES 1º E 7º PERÍODO
Em setembro deste ano, a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) terminou o serviço de troca das lâmpadas dos semáforos da capital pela tecnologia de LEDs, pois as que estavam em operação atrapalhavam a visibilidade dos motoristas em dias de sol, podendo assim provocar acidentes. No entanto, todo tipo de tecnologia não é a prova de falhas, e, de acordo com Luiz Henrique de Oliveira, 34 anos, engenheiro elétrico da BHTrans, qualquer avanço tecnológico possui mais sensibilidade, fazendo com que, no caso, vários semáforos se apaguem com muita facilidade. Para o motoqueiro Alexandre Silva, realmente a visibilidade com as novas lâmpadas é incomparável, mas a manutenção com os sinais com defeito ainda têm falhas. "A questão de visibilidade melhorou, mas em questão de manutenção ela é muito lenta quando os semáforos se apagam. A BHTrans não se adequa a nova tecnologia, trazendo muitos transtornos". Já para o motorista Luís Carlos, os semáforos com lâmpadas de LEDs é bem melhor. "Com os semáforos antigos, as lâmpadas queimavam muito, pois eram lâmpadas convencionais". O manobrista Wesley Henrique também concorda que os semáforos sofreram sim uma melhora. "Os semáforos da capital melhoraram sim com a nova tecnologia. Estas lâmpadas trazem mais segurança aos motoristas". Por meio de nota assinada, a Assessoria de Comunicação e Marketing da BHTrans esclarece várias dúvidas com relação aos LEDs. Segundo a empresa responsável pelo trânsito, além de dar mais segurança para motoristas e
pedestres, a substituição das lâmpadas comuns dos semáforos por LED representa uma redução de 86% no consumo de energia, se comparado aos gastos com os semáforos convencionais. "Além da redução de energia, as lâmpadas dos novos semáforos são mais duradouras", de acordo com a BHTrans. Outra vantagem é a diminuição do número de lâmpadas trocadas, já que a vida útil dos LEDs é superior a 50 mil horas, de 25 a 30 vezes maior que das lâmpadas convencionais. Com os semáforos convencionais aconteciam trocas frequentes de lâmpadas por serem convencionais, trazendo assim uma economia além da questão ambiental. "O projeto é um exemplo de responsabilidade ambiental, em virtude da eliminação do descarte médio mensal de 18 mil lâmpadas queimadas (dos semáforos comuns) no meio ambiente e redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE) produzidos pelos veículos responsáveis pela troca das lâmpadas queimadas", revela a BHTrans por meio de sua nota. Luiz Henrique de Oliveira afirma que em Belo Horizonte existem cerca de 900 semáforos e a manutenção destes é feita regularmente. "Fazemos a manutenção preventiva dos semáforos na cidade, mas falhas podem acontecer sempre. Porém, quando uma intersecção apresenta problemas recorrentes, ela deve ser tratada com um atendimento diferenciado, mais constante", relata o engenheiro, que antecipa a instalação de Nobreaks na maior parte dos semáforos, como medida de diminuição dos casos de desligamento em dias de chuva, por conta de piques de luz. LETÍCIA GLOOR
Após a chuva o semáfaro para de funcionar e causa transtorno para motoristas e pedestres
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Dezembro • 2011
GRUPO INCENTIVA DOAÇÃO DE SANGUE Vontade de ajudar um amigo leva pessoas a se unir em torno de uma causa, que ganha corpo a partir do surgimento do site na internet “Eu Sou BH”, que produziu campanha específica LETÍCIA GLOOR
n RAQUEL ANDRETTO
3º PERÍODO
Com o objetivo de ajudar um amigo que eles conheceram em um show da banda Teatro Mágico em Belo Horizonte, quatro pessoas se uniram e começaram a fazer por conta própria campanha para incentivar a doação de sangue e o cadastramento de medula óssea. "Nós tínhamos um amigo que faleceu com leucemia e foi por causa dele que começamos com a campanha", explica Nicole Marinho, 27 anos, uma das fundadoras do Sangue Raro. Essa iniciativa começou há quase cinco anos. A primeira campanha teve a participação de 15 pessoas. Apesar de ter tido um começo pequeno o grupo começou a ganhar força nas redes sociais e na segunda campanha, eles conseguiram reunir mais de 100 pessoas e ganharam parceiros importantes para a difusão das ideias, como os grupos musicais Manitu, Teatro Mágico que levaram o Sangue Raro para outros estados.
Nicole Marinho é uma das fundadoras do Sangue Raro, grupo que incentiva a doação de sangue e médula óssea em Belo Horizonte e região Em Belo Horizonte, um dos grandes incentivadores do projeto foi o site "Eu Sou BH" que produziu a campanha "Eu sou BH solidário" com a criação de um clipe, e difundiram essa ideia entre 300 estabelecimentos da capital. Apesar de ter ganho parceiros os integrantes do Sangue Raro continu-
avam pagando as despesas do próprio bolso. "Não buscamos patrocínio porque não temos CNPJ, então ficava faltando estrutura para conseguirmos angariar patrocínio. Hoje, quando uma pessoa, ou alguma empresar quer nos ajudar, eu peço para ir na gráfica e mandar fazer os panfletos, por exemplo", obser-
va Nicole. A campanha é voltada para os jovens, pois eles não possuem o hábito de doar e cada vez mais o estoque do banco de sangue vem diminuindo, e fazer o cadastro para medula óssea é essencial, pois as chances de conseguir são muito pequenas, mas existem. "Uma amiga minha
havia comentado comigo sobre o Sangue Raro, mas só depois de ver na internet que eu me interessei. Então, eu comecei a participar, fui nas duas últimas campanhas. O trabalho deles é essencial para todos, pois nós não sabemos quando iremos precisar", relata Priscila Aleite Silva, 27 anos, estudante de enfer-
magem. Ela também conta que vive convidando os amigos, porém muitos deles ainda têm medo. Oracina Ferreira Silva, 56 anos, costureira começou a participar da campanha após a morte do seu filho que foi quando tomou conhecimento do Sangue Raro. “Ele estava com leucemia, chegou a conseguir um doador de medula óssea, mas a doença não amenizou, então não teve como fazer o transplante. Apesar de não ter dado tempo para o Felipe, eu acredito que outras pessoas vão conseguir, por isso nós temos que continuar incentivando a população a doar", afirma. Atualmente o Sangue Raro fez uma parceria com mais dois grupos o Hércules e o Doe Sangue Brasil, expandindo a campanha no mês de dezembro para vários lugares do país, como Fortaleza, Betim, Contagem, Maringá, entre outras cidades.
Acidentes podem estragar as férias das famílias n RAFAEL GOULART 4º PERÍODO
"Foi no verão de 1991. Estava grávida do meu segundo filho e com um bebê de colo. Eu e minha família fomos passar as férias em um sítio com amigos. Meu marido (Alberico Goulart) já havia bebido bastante quando decidiu dar um mergulho na piscina. A caminho da água, ele escorregou, e bateu fortemente com a cabeça no chão. Desmaiou na hora. Eu presenciei toda aquela cena. Fiquei chocada! Achei até que meu marido havia falecido, porém tudo acabou bem. Ainda bem que meu irmão estava lá, e prestou os primeiros socorros". Esse é o depoimento de Rosa Maria Goulart, 51 anos, que relatou um acidente ocorrido durante as férias. Este não é um fato isolado, esta situação acontece com frequência. Segundo registros do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, o número de ocorrências aumenta bastante durante o fim e início do ano. O 2º tenente Leonardo Pierkarz afirma que sua equipe costuma atender por dia cerca de 100 a 120 chamadas nessa época. "Minha equipe é formada por 85 bombeiros. Eles são responsáveis pelo atendimento na região central de BH. Tem dia que eles
chegam a atender 125 ocorrências, uma vez que o tempo, durante as férias, é muito instável, ao mesmo tempo em que há grandes pancadas de chuvas, as temperaturas também ficam muito altas. Enchentes, batidas de veículos, queda de árvores, são acidentes freqüentes nessa época", afirma. Segundo o tenente Pierkarz, durante o período das férias também aumenta-se muito a quantidade de acidentes domésticos. Muito deve-se à ociosidade da população, e a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas. "Durante as férias as pessoas ficam mais dentro de casa, porém ficam muito ociosas, fazendo com que aumente consideravelmente o número de acidentes domésticos. É comum recebermos ligações de vizinhos alegando princípio de incêndio. Mas quando chegamos na ocorrência costuma ser sempre uma panela que foi esquecida no fogo, ou um gás que esqueceu aberto", afirma o tenente. Quanto às ingestão de bebidas alcoólicas, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais está realizando um trabalho preventivo no interior de Minas Gerais, que tem por finalidade diminuir a quantidade de acidentes na região dos lagos, em
cachoeiras. "Durante as férias os mineiros costumam ir para o interior para desfrutar das cachoeiras, dos lagos, das belezas naturais de Minas. Porém esta atitude aliada às bebidas alcoólicas tem trazido tristes índices de acidentes no estado. Diante disso estamos separando equipes para ficarem em locais estratégicos, a fim de conscientizar a população, além de fazer o atendimento primário caso afogamento ou acidentes do tipo, venham a acontecer", conclui o tenente Pierkarz. No caso do marido de Rosa Maria, tudo terminou bem, porém a empresária afirma que se o esposo não estivesse alcoolizado o incidente não teria acontecido. "Meu marido não precisava ter passado por isso. Depois que ele caiu com a cabeça no chão tivermos que encaminhá-lo rapidamente para um hospital, e fazer uma série de exames. Foi necessário ficar um tempo em observação, uma vez que sua cabeça ficou muito inchada. Por fim, acabou tudo bem, porém tenho certeza que o álcool foi o provocador de tudo", conclui Rosa.
Para se resguardar dos possíveis acidentes no período das férias, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais forneceu algumas dicas de como se comportar em determinadas situações, evitando riscos: FOGOS DE ARTIFÍCIO: Sempre leia e siga as instruções na embalagem; Sempre use fogos em locais abertos; Armazene os fogos em local frio e seco; Sempre solte fogos sob a supervisão de adultos e de acordo com a sua idade; Nunca tente reutilizar os fogos que tenham falhado; Nunca atire fogos na direção de outras pessoas; Nunca atire fogos de lugares fechados, como carros ou residências; Nunca faça experiências, modifique ou tente fazer seus próprios fogos de artifício; Nunca utilize fogos após ingerir bebidas alcoólicas. Não desmonte os fogos; Não fumar dentro dos estabelecimentos que vendem fogos. Antes de usar um produto, ler cuidadosamente as instruções impressas nas embalagens e ter cuidado ao segurar os fogos para evitar acidentes. VEÍCULOS: Equipamentos de segurança (extintor, triângulo, cintos de segurança); Freios (nível de óleo, pastilhas, lonas, regulagem, nível de fluido, possíveis vazamentos e freio de mão); Sistema elétrico (faróis, lanternas, setas, luz de freio, luz de ré, luzes de emergência e buzina); Pneus, estepe, alinhamento da direção, balanceamento das todas, amortecedores); Motor (nível de óleo do motor, correias, mangueiras, ruídos anormais, regulagem, velas e cabos); Limpadores de pára-brisa (borracha em bom estado); retrovisores externos e internos; Cinto de segurança dos bancos da frente e de trás; Marcador de combustível, velocímetro, encosto de cabeça; Radiador (nível de água com o carro desligado). AFOGAMENTO: Procure um local conhecido por você ou por outra pessoa, desde que ela o acompanhe. Não ultrapasse faixas e placas de avisos. Não entre em locai onde há aviso de perigo de morte ou em águas poluídas. Procure sempre local onde existe a presença de Guarda-Vidas, ou o Corpo de Bombeiros. Evite nadar sozinho. Não tome bebida alcoólica antes de entra na água; Não se afaste da margem; Não salte de locais elevados para dentro da água; Não tente salvar pessoa em afogamento sem estar devidamente habilitado; Prefira lançar flutuadores para salvar pessoa em afogamento sem estar devidamente nas proximidades a existência de salva-vidas e permaneça próximo a ele; Evite brincadeira de mau gosto ("caldos", "trotes", "saltos"); Acate as orientações dos Bombeiros ou dos Salva-Vidas; Não abuse se aventurando perigosamente; Não deixe as crianças sozinhas; Evite navegar com carga em excesso; Só deixe entrar na embarcação pessoas usando coletes salva-vidas; Somente conduza embarcações se for habilitado para tal.
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LETÍCIA GLOOR
O ROSTO POR TRÁS DA VOZ DO ALTO-FALANTE Para quem vai na Rodoviária de Belo Horizonte comprar passagem ou embarcar em um ônibus, a voz que alerta viagens e dá avisos de segurança acompanha quem usa o local n ALEXANDRE ALMEIDA JEFFERSON UBIRATAN JOSÉ CÂNDIDO PEREIRA LUÍSA MELO RAPHAEL VIEIRA PIRES 7º PERÍODO
Todos os dias, quarenta mil passageiros circulam pelo Terminal Rodoviário de Belo Horizonte, localizada na Região Central da cidade. Os destinos de viagem são variados, mas há algo em comum neste ambiente: todos os usuários ouvem sempre a mesma voz. Nas mais de duzentas caixas de som espalhadas pela Rodoviária de Belo Horizonte, é possível ouvir as orientações sobre embarques e desembarques. "Senhores passageiros, ao embarcar, utilizem, por favor, as áreas externas de tribunal", "Atenção, senhores passageiros!" e "Faltam cinco minutos para a próxima partida. Ocupem seus lugares!". As frases fazem parte do cotidiano de quem passa pela Rodoviária da capital. Os usuários, que em sua maioria não conhecem a pessoa que fala ao microfone durante os embarques e desembarques, imaginam como deve ser fisicamente o locutor. Entre as mulheres, a voz faz sucesso. Maria Clara Bosco, 68 anos, acredita que o locutor da Rodoviária seja um homem bonito, alto e bem apessoado. Ela viaja quinzenalmente para Divinópolis e gosta de ouvir a voz do locutor. "Mesmo que ele não seja bonito, assim como eu imagino, tenho certeza de que ele tem uma linda voz", afirma. Mesmo não utilizando a Rodoviária com frequên-
cia, a arquiteta Andressa Nascimento, 35 anos, se diz admirada com a voz do locutor e arrisca definir sua personalidade. "Pela voz, imagino que ele deve ser do tipo galanteador", brinca. Já o estudante de Agronomia Marco Túlio, de 23 anos, acredita que o locutor da Rodoviária seja uma voz produzida por computadores. "É muito perfeita para ser de homem mesmo", comenta. O dono da famosa voz é Neif Aduan, 56 anos. Descendente de libaneses, ele nasceu em Belo Horizonte e é formado em Jornalismo. Na década de 1970, trabalhou como radialista, tendo passado pelas rádios Itatiaia e Inconfidência. Anos mais tarde, trabalhou também na TV Alterosa e em algumas emissoras de São Paulo, Brasília e Espírito Santo. No Rio de Janeiro, trabalhou como dublador, emprestando sua voz a alguns personagens do cinema. Nesse tempo, Neif dublou personagens secundários do filme A Branca de Neve e os Sete Anões e alguns coadjuvantes dos filmes de Sylvester Stallone. Ele fez mais dublagens, porém não se lembra dos personagens e nunca viu essas obras serem exibidas. Atualmente, Neif não desenvolve nenhum trabalho ligado ao jornalismo, mas foi em seu antigo emprego que encontrou sua paixão de momento: a informática. Trabalhando como assessor de imprensa do Procon, Neif começou
a ajudar no Setor de Informática, dando manutenção aos computadores. A paixão pela área de processamento de dados e informática fez com que Neif tivesse a oportunidade de trabalhar como analista de sistemas na Rodoviária, cargo que ocupa até hoje.
GRAVAÇÃO Por já ter trabalho em rádio e com dublagem, Neif, até então analista de sistemas do Terminal Rodoviário, começou a fazer narrações para informar os passageiros. A prática foi se tornando um hábito, até que Neif se efetivou como locutor oficial da Rodoviária. Porém, o que poucos sabem é que, atualmente, as narrações não são feitas ao vivo. Em 2004, Neif gravou mais de 30 vinhetas e as programou em um computador. Quando o sistema dá a hora exata, automaticamente, a vinheta é liberada. Em casos de emergência ou quando o sistema apresenta falhas, Neif faz a narração ao vivo. Ele diz que gravar a própria voz em um sistema computadorizado tornou mais cômodo o cotidiano na Rodoviária. "Ficou mais fácil, sim. Com as vinhetas todas gravadas, eu não preciso mais ficar correndo atrás do tempo para dar a informação correta", diz. A cada 12 minutos, se ouve a voz de Neif dando novas informações aos passageiros. Toda essa comodidade no trabalho fez com que o locutor reaLETÍCIA GLOOR
Pollyana Andrade começou a fazer locução com apenas 18 anos e estava no segundo período da faculdade
Neif Aduan,a voz da Rodoviária, já foi radialista e dublou alguns personagens da Disney no Rio de Janeiro lizasse um sonho antigo. Em 2008, ao terminar de ler um livro, Neif decidiu organizar uma biblioteca dentro do Terminal Rodoviário. Todas as obras que, hoje, estão na biblioteca da Rodoviária já foram lidas por Neif. Atualmente, de acordo com suas contas, o acervo conta com mais de quinhentos livros, aproximadamente. "Eu leio muito. Tenho verdadeira paixão por literatura. Acho legal demonstrar um pouco dessa minha paixão em um espaço tão famoso de Belo Horizonte". A biblioteca da Rodoviária se localiza no segundo andar do prédio e apenas os fun-
cionários do terminal são cadastrados e podem fazer empréstimos dos livros. "Infelizmente, não posso cadastrar os passageiros. Seria muito difícil controlar os livros que saem", lamentam. Apesar dos dez anos como locutor da Rodoviária, Neif diz que é muito raro as pessoas reconhecerem sua voz. Apenas alguns passageiros, que sempre utilizam o Terminal, têm curiosidade de saber quem é o dono da voz que ecoa pelos altofalantes. Quando isso acontece, Neif faz questão de apresentar a Central de Operações aos passageiros. O locutor é famoso entre os funcionários do termi-
nal rodoviário. Quando começou o processo de gravação das vinhetas, Neif passava mais tempo dentro da Central de Operações. Isso fez com que surgissem boatos de que ele estivesse morto. "Essa situação foi muito engraçada. Como eu ficava a maioria do tempo na cabine, pois as vinhetas estavam gravadas, o pessoal aqui da Rodoviária começou a espalhar um boato de que eu havia morrido. Eles pensaram que eu havia gravado as vinhetas antes de morrer. Quando eu apareci para uma senhora que serve café, ela quase desmaiou ao ver que eu estava vivo. Tudo não passava de uma grande bobagem", lembra.
Jornalista informa torcedores nos estádios de futebol "Ademg informa..." A frase já é velha conhecida de qualquer torcedor que já tenha frequentado o Mineirão, agora em reformas, ou mesmo de quem ainda assiste aos jogos na Arena do Jacaré. Há 12 anos, as informações da Administração dos Estádios do Estado de Minas Gerais (Ademg) ao público por uma mesma voz. Pollyanna Andrade tinha apenas 18 anos quando começou a fazer a locução dos informativos da Ademg. Ela ainda cursava o 2º período da faculdade de Jornalismo. Foi em 1999, quando o na época presidente da instituição, Isnard Daltério, decidiu inovar e levar uma voz feminina para os estádios. Até então, o trabalho tinha sido feito apenas por homens. Ele convidou então, Isabel de Andrade, também jornalista e irmã de Pollyanna para enfrentar o desafio. Ela, no entanto, trabalhava à noite e teria problemas para cobrir muitos
jogos. Foi então que Isabel indicou a irmã para o teste e ela foi aprovada. A jornalista, que assumiu o posto de "voz do estádio", faz questão de enfatizar o prazer pelo ofício que desempenha. "Sempre gostei muito de futebol, então foi como juntar o útil e o agradável. Faço o meu trabalho e, ao mesmo tempo, posso assistir aos jogos". A dona da voz mais famosa dos estádios mineiros, porém, é mais conhecida do que se imagina. Pollyanna também é apresentadora do Aqui Esportes, na TV Horizonte. Além disso, para quem tem boa memória, houve uma época em que os boletins da Ademg eram anunciados em um telão no Mineirão e, em função disso, muita gente se lembra do rosto da jornalista. No entanto, ela garante que gosta mesmo é de exibir a voz. "Não gostava de ter que me preocupar com a minha imagem no estádio. No programa já é diferente, porque eu faço maquiagem e tudo mais".
Segundo Pollyanna, apesar de estar no ar, ela é mais conhecida por ser locutora da Ademg. A frase com que ela inicia as informações durante os jogos já se tornou um bordão. "Até mesmo no programa, as pessoas brincam. Quando eu passo tem sempre alguém que diz 'Ademg informa...'". Ainda que o rosto de Pollyanna Andrade não seja anônimo, ela considera que a sua voz é, sem dúvida, o diferencial. Ela conta que até mesmo pessoas que nunca assistiram o seu programa, ou a tenham visto no telão, a reconhecem pela voz. "Uma vez eu estava conversando em uma loja num shopping e me perguntaram: é você a moça da Ademg, não é?". A jornalista afirma ainda que se sente orgulhosa por isso. "Me sinto muito honrada de ser 'a voz do Mineirão', de poder informar ao torcedor aquilo que é do interesse dele", salienta.
14Cidade
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Dezembro • 2011
BRINQUEDOS RESISTEM AO MODISMO Importantes para pais e avós em décadas passadas, bonecas e carrinhos antigos ainda têm valor e fazem muito sucesso com a criançada, apesar de viverem em meio à muita tecnologia DANIELA REZENDE
DANIELA REZENDE
DANIELA REZENDE
DANIELA REZENDE
Maria Aparecida Veado presenteou sua filha com a boneca Bate Palminha n DANIELA REZENDE DENISE NIFFINEGGER LÍVIA ARCANJO SARA SOUZA SÍLVIA VOLPINI 7º PERÍODO
Foi na década de 1980. A boneca Bate Palminha, da Estrela, foi o presente tão esperado por Amanda, filha da professora aposentada e artesã Maria Aparecida Veado, de 68 anos. A filha caçula tinha apenas quatro anos quando em todos os aniversários não parava de chorar ao escutar a tradicional música "Parabéns pra você...". A solução foi comprar o brinquedo. Recentemente Amanda revelou à mãe que ficava emocionada e, com a boneca, "a choradeira acabou". Vinte e cinco anos depois o brinquedo ainda está conservado, mas o mecanismo que a fazia cantar e bater palma já não funcionava mais. A Bate Palminha, que fez a alegria da filha, agora será a alegria da neta Maria, de um ano e três meses, filha de Amanda, que vai recebê-la consertada. O menino Alexandre era pequeno quando recebeu do pai o brinquedo chamado Maxi Cargo. Na década de 80 também era uma sensação, já que aquele super transporte automático de carga levava pequenos objetos, como pedrinhas, de um lado para o outro. Hoje, não como filho, mas pai, aos 35 anos, o educador físico Alexandre Assis presenteou o filho Pedro, que completa quatro anos no próximo mês, com o brinquedo de sua infância. O Maxi Cargo, que também ficou em desuso por muito tempo, foi consertado e já está nas mãos do pequeno. Há quase 30 anos Alexandre era filho, enquanto Maria Aparecida já era mãe de três crianças. O que eles têm em comum, e conservam até hoje, é o valor dos brinquedos. Antigamente, presentear ou ganhar brinquedos ocorria apenas em ocasiões especiais, como natal e aniversário. No século XXI a facilidade para adquirir essas tentações é muito maior, mas eles ainda conservam os valores da época que eles eram os pequenos. "Hoje, a criançada está muito voltada para o eletrônico, para os jogos, computador e videogame. Eu prefiro priorizar a bicicleta e o carrinho. Eu acho que não dá para brincar na rua igual eu brinquei, mas eu acho legal incentivar essa parte e deixá-lo aproveitar bem essa infância, como eu aproveitei a minha", explica Alexandre. Além de conservarem os mesmos valores, eles têm outro ponto em comum. Todos esses brinquedos valiosos foram parar no
Há 30 anos, o hospital do brinquedo atua em Belo Horizonte
Hospital dos Brinquedos, uma loja especializada em consertar bonecas, carrinhos e vários outros objetos, que são ou já foram importantes para alguém. Esse Hospital de brincadeira é conhecido por muitos belo-horizontinos, que o frequentam há mais de 30 anos. Fundado por Renato Ribeiro Sales, quando ele não tinha nem ideia que o Hospital chegaria ao que é atualmente, a loja já teve três endereços e hoje está na Avenida do Contorno. O proprietário acredita que o trabalho que desenvolve faz parte do resgate e dos valores destes brinquedos, assim como Maria Aparecida e Alexandre, em relação ao ato de consertar. "É o carinho que você tem por aquilo que te deu uma satisfação um dia. Deu uma satisfação para mãe da minha neta, agora vai dar uma satisfação para ela. Através de um brinquedo você ensina várias outras coisas para uma criança", explica Maria. O valor da conservação dos brinquedos antigos se une ao incentivo as brincadeiras de antigamente, como jogar bola na rua e andar de bicicleta. Alexandre acredita que o incentivo às brincadeiras ao ar livre é uma forma fácil e divertida de cuidar da saúde dos pequenos. Ele ressalta o desenvolvimento do lado motor, o contato com a natureza e a queima de energia, evitando assim, o sedentarismo infantil, como pontos importantes que devem ser observados e incentivados pelos pais. Para ele, o hábito comum a essa geração de crianças de passar horas em frente à TV e ao computador deve ser controlado com mais rigor pelos pais. "Eu acho que essa geração perde um pouco em relação à infância", opina. No rico imaginário das crianças, tudo vira brincadeira. Uma tampa de panela, de repente, pode se transformar em um volante e qualquer latinha, caixa ou papel pode se tornar um motivo de diversão. Maria Aparecida conta, que apesar das várias bonecas que sua neta tem, Maria gosta mesmo é de brincar com vasilhas e tampas. "Ensinamos a brincar de várias maneiras. E não a ter o brinquedo lá e ficar guardado. Tem que ensinar a brincar e a ter cuidado com o brinquedo", diz. Alexandre, que reduziu sua carga de trabalho para passar mais tempo com o filho, afirma que não tem dinheiro que pague por isso. "Você vira criança de novo", conta.
EMPRESA INCOMUM Há cerca de 30 anos, o mineiro Renato Ribeiro Sales Coelho deu
início a uma empresa incomum, um hospital destinado a socorrer brinquedos danificados. A vontade surgiu por acaso, nem mesmo ele sabe dizer o que o levou a fundar o estabelecimento, que, durante essas três décadas, lhe rendeu diversas alegrias e situações inusitadas. O trabalho começou exclusivamente com brinquedos, mas a necessidade e a curiosidade fizeram com que Coelho se dedicasse ao conserto de diversos equipamentos eletrônicos. Atualmente, o empresário reforma até mesmo bonecos anatômicos, usados no curso de Medicina, e chega a cobrar R$ 2 mil pelo serviço. O diferencial é motivo de orgulho para o proprietário. "Ligou na tomada ou pôs pilha é com a gente mesmo. Pode ser do brinquedo à panela elétrica", afirma. Renato conta que não tem concorrentes diretos, desde que passou a se dedicar aos diferentes tipos de brinquedos eletrônicos. Em Belo Horizonte, outras pessoas trabalham de forma especializada, como o conserto exclusivo de bonecas ou carrinhos, e recebem tantas demandas quando o empresário. Sem a ajuda dos manuais e esquemas eletrônicos, que a maioria das fábricas não divulga, a insistência se tornou a principal ferramenta do dia a dia. Ele explica que muitos clientes descobrem sobre o Hospital dos Brinquedos por meio de outras
Alexandre sempre estimula seu filho Pedro a fazer trabalhos manuais
lojas de materiais eletrônicos, cujos comerciantes afirmam não serem capazes de realizar certos consertos e recomendam que as pessoas procurem o serviço realizado por Coelho. Após receber um trabalho, a curiosidade não permite que ele desista da tarefa. "Depois que eu te dou meu preço não estou fazendo favor. É minha obrigação trabalhar para você", diz. Antes da fundação do hospital, o empresário trabalhou em multinacionais, mas nunca havia tido aulas de eletrônica. Todo o conhecimento foi adquirido na rotina de consertos e reformas. "Tudo que eu sei, eu aprendi aqui dentro. A minha curiosidade que me ensinou", conta. Renato explica que na época em que começou a "dar tiro para todo o lado" muitas pessoas se queixavam do aumento do desemprego. O medo de não ser capaz de sustentar a família fez com que ele, então com aproximadamente 30 anos, aceitasse todos os tipos de serviços envolvendo equipamentos eletrônicos. "A minha ideia inicial era fundar um hospital só para os brinquedos, mas a minha clientela me obrigou a ampliar a oferta de serviços. Eles chegavam aqui e falavam 'você vai consertar para mim, você é curioso, mexe aí'. Aí eu fui consertando", relembra. Segundo Coelho, muitos clientes que viajavam ao exterior voltavam com brinquedos "baratinhos" que logo queimavam quando colocados em uso. Depois de várias
tentativas de conserto em assistências e outras casas especializadas, o brinquedo acabava nas mãos do empresário, já conhecido pela sua habilidade. Foi assim, segundo ele, que o nome Hospital dos Brinquedos foi surgindo na sua principal ferramenta de divulgação: o boca a boca. Só até o mês de setembro, já foram 2.250 ordens de serviço realizadas. De acordo com os cálculos de Renato, a média são 3 mil por ano. Depois de passar por três endereços, a casa de dois andares na Avenida do Contorno, no Bairro Gutierrez, é onde o dono do Hospital e seus cinco funcionários recuperam brinquedos e diversos equipamentos eletrônicos. Nas estantes abarrotadas de coisas, o que não faltam são histórias para contar. "Já tive aqui uma carroça que relinchava e andava", conta. "Tem também cachorrinho elétrico que você tem que ter o maior cuidado para não sujar o pelo branco", complementa. Num canto do cômodo que funciona como oficina, um carrinho de U$ 1.800 chama a atenção. "Este aqui é movido somente à gasolina importada", diz. O conserto dos brinquedos pode variar de R$ 25 a R$ 2 mil, segundo Renato. Mas todos têm mais valor do que os recémadquiridos. "A criança dá mais valor ao brinquedo que retorna do conserto do que um próprio novo. Ela pensa que não vai funcionar nunca mais e quando isso acontece é o maior sucesso" observa.
O consumismo infantil preocupa "O carrinho que ele viu na televisão, a boneca que a amiguinha da sala também tem, a bola que veio em troca da chupeta. No final, o que resta é um armário cheinho de brinquedos e um filho que vai sempre querer mais", é a opinião da psicóloga especialista em família Tatiane Pereira. Ela acredita que a relação entre a criança e o brinquedo não deve ser construída na concessão dos pais a todas as vontades do filho. "Uma criança que tem todos os brinquedos que quer e na hora que quer pode não conseguir lidar, no futuro próximo, com a dimensão da falta", explica. Na casa de Maria Aparecida os pequenos aprenderam, desde cedo, que existe hora para ganhar um presente. Segundo ela, isso ajudou que seus filhos entendessem a importância de dar valor ao brinquedo que têm. "Lá em casa eu não dava brinquedo fora de época. Os meninos entravam na loja comigo e não tinha reclamação. O máximo que eles diziam é que gostariam de ganhar aquele brinquedo no próximo aniversário", conta. Para ela, a publicidade é a grande vilã da história, porque é pela propaganda que as crianças descobrem os brinquedos da moda. "Minha filha não deixa minha neta ver muita publicidade de brinquedo para ela não ficar querendo. Os brinquedos que ela tem são os que ela ganha", relata.
Na casa de Alexandre, qualquer moeda vai para o cofrinho do Pedro. Esta é a forma que ele encontrou para educar o filho quanto às inúmeras vontades que as crianças têm de ganhar o brinquedo da moda. Quando o cofre está cheio, eles utilizam o valor para comprar um presente. O próximo investimento será uma bicicleta. "Ele vê (o brinquedo) na televisão e fala 'pai, quero isso'. Aí eu falo 'vai guardando suas moedinhas que a gente compra'", explica Alexandre. Um exemplo disso é que presentes só são dados somente nas datas comemorativas: aniversário, dia das crianças e Natal. "Não é toda hora que compra brinquedo. Nesse aspecto, a gente é pé no chão", diz Alexandre, que pretende repassar este valor ao filho. Para a especialista, a exposição à propaganda é inevitável nos dias de hoje. Por isso, é importante o papel dos pais na educação dos filhos para que eles consigam entender que não podem ter tudo. "Na verdade, os pais podem acabar sendo os grandes culpados pelo excesso", explica. Ela também acrescenta que vivemos em uma cultura em que o fator tempo ficou atravessado pelo imediatismo da satisfação. "O ideal do 'não posso agora, mas que sabe no Natal', quase não existe para esta geração", comenta.
Esporte Dezembro • 2011
15
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DESAFIOS PARA SER UM PROFISSIONAL Atletas do time de base dos clubes de futebol vivem longe da família, passam por testes e dificuldades para terem o reconhecimento de serem selecionados para jogar no time profissional GABRIELA GÁRCIA
RAÍSSA TORRES
n GABRIELA GARCIA RAISSA TORRES 2º PERÍODO
Para se tornar jogador profissional de futebol os jovens postulantes se acostumam desde cedo a enfrentarem pressões. A busca por resultados imediatos, o drama de ficar longe da família e morar com pessoas desconhecidas. "No começo são muitas dificuldades. Primeiro você fica na dúvida se vai dar certo ou não, enquanto muitas pessoas dizem que você não vai conseguir porque tem gente muito melhor do que você", afirma o volante da base do Cruzeiro Eurico Nicolau de Lima Neto, 17 anos. Os atletas que são de outras cidades e jogam nas categorias de base moram nas dependências do clube. O clube é o responsável por manter o atleta na cidade. "Os jogadores que tem contrato profissional recebem para morar aqui. A gente paga tudo para eles, a comida, o médico, o dentista, o psicólogo, o pedagogo, paga todo mundo para que se formem atletas aqui", observa André Figueiredo, 40 anos, gerente geral do departamento de base do Atlético. As dificuldades que os jogadores de futebol enfrentam durante a sua carreira surgem já a partir das categorias de base. "Eu sempre fui muito apegado à minha irmã, ao meu pai e à minha mãe. Eu acho que a distância machuca. Largar tudo com 14 anos e sair de
Goleiro Fábio, do Cruzeiro, saiu da categoria de base e hoje é veterano casa, para mim é uma novidade", conta o goleiro titular do Atlético Mineiro, Renan Ribeiro, 21 anos. A peneira pode ser, muitas vezes, a única chance de o jogador mostrar o seu futebol e tentar impressionar os responsáveis por analisar os atletas. "Você se sente igual a muita gente porque em uma peneira você entra em contato com cerca de 200 jogadores que estão querendo a mesma coisa. Acaba que você se sente dividido por ver que seu sonho não é apenas seu, nem de poucos, mas de muita gente que precisa muito mais do que você", afirma Lucas Libânio, 17 anos. De acordo com o
jogador, o tempo é curto para que o jogador mostre o seu verdadeiro futebol e, geralmente, pela quantidade de meninos que se apresentam nas peneiras, o jogador não é devidamente examinado pelos técnicos e dirigentes das categorias de base, que são os encarregados por selecionar os novos atletas. Os empresários hoje possuem um papel importante no futebol. Muitos atletas entram nos clubes por indicação ou por influência desses profissionais que, por meio de um bom relacionamento com os dirigentes dos times, garantem que o jogador o qual ele representa seja observado pela comissão técnica da
‘Sobe e desce’ prejudica o rendimento dos jogadores Para Enderson Moreira, 40 anos, técnico do Goiás, o que determina o momento de se promover um jogador da base ao elenco profissional é a necessidade da equipe principal em contar com um atleta com determinadas características. "Na verdade quem decide é a necessidade do time no momento", observa. Essa atitude dos clubes pode afetar o rendimento e a carreira de um jovem atleta. Enderson Moreira expõe que isso dificulta a adaptação desses jogadores ao grupo e ao estilo de jogar no profissional e, por isso, os garotos que regressam às categorias de base se desmotivam. "Grande parte dos atletas que sobem, em um curto espaço de tempo retornam às categorias de base e ficam muito desmotivados, por não terem permanecido na equipe profissional", conta o técnico. Segundo o treinador, o correto seria os times analisarem, primeiramente, se os jogadores estão preparados para atuarem no profissional, e caso não estejam, eles devem permanecer na base independente da necessidade dos clubes. Ele afirma ser diferente treinar a categoria de base e a equipe profissional. Na base é mais difícil porque os trabalhos são constantemente voltados para corrigir os aspectos técnicos e táticos do grupo, enquanto no profissional a dificuldade está apenas na pressão por resultados e
por ter pouco tempo de treinamento, devido à grande quantidade de jogos durante o ano. "De maneira geral, na base você joga para treinar e no profissional você treina para jogar", diz Enderson Moreira. Ao ser questionado sobre as dificuldades enfrentadas por um técnico, Enderson Moreira aponta a pressão feita por dirigentes e torcedores para que o time obtenha bons resultados.
Renan Ribeiro, que começou na base, atuou no time principal pelo 2º ano base. "Esse empresário geralmente já trabalha com os jogadores, já analisa antes de trazer para o clube. Quando ele traz o jogador, já estão totalmente descritas as características, como é o jogador e a sua principal qualidade. Facilita bastante", afirma o goleiro Fábio, 31 anos, titular do Cruzeiro. O empresário encaminha o atleta ao clube e caso o mesmo seja aprovado é negociado um percentual nos direitos econômicos do jogador. "O empresário acompanha o atleta de perto, em seu dia a dia no clube, além de ser responsável pelas negociações de salários, patrocínios e pela assessoria de imprensa", explica o empresário e
gestor de esportes Gustavo Lara Barbosa, 46 anos. Ele afirma que a estrutura e o seu relacionamento com o time têm um grande peso no momento da escolha para qual equipe ele irá indicar um atleta. Ao serem questionados se a carreira se torna mais fácil com a ajuda de um empresário, os jogadores apresentaram pontos de vista divergentes. Alguns concordam, enquanto outros acham que a carreira depende exclusivamente do jogador. "Eu acho que hoje, para você entrar nas categorias de base do clube através de um empresário, é um meio mais complicado. Porque o empresário pode até te colocar dentro do clube,
mas se você não tiver uma boa condição técnica, você não vai conseguir se manter dentro do time. Não é o empresário que mantém o menino no clube, é o próprio jogador", afirma o goleiro Gabriel Vasconcellos, 19 anos, titular dos juniores e reserva do profissional do Cruzeiro. Atualmente, para o garoto que cobiça se tornar um jogador de futebol, não basta ter habilidade e uma característica técnica diferenciada, é necessário ter um bom preparo físico para suportar a pesada rotina de treinos. "Tudo na minha vida era direcionado ao América, porque você fica praticamente metade do seu dia no CT (Centro de Treinamento). Às vezes você tinha que se sacrificar muito para ir treinar todo dia para tentar se manter lá dentro", afirma Lucas Libânio. A profissão de jogador exige muita dedicação. "A palavra certa é trabalho. Trabalhar para conseguir o objetivo e treinar bastante para conseguir o que quer", conta Renan Ribeiro. "Primeiro a pessoa deve ter a consciência de que ela pode receber um sim e pode receber um não. Isso vai facilitar muito para que ele possa buscar esse sonho da melhor forma possível, pois ele vai ter mais tranquilidade para desenvolver a função que ele deseja, que é ser jogador, com aquela responsabilidade de que se não der certo vai continuar os estudos, vai fazer outra coisa", concorda o goleiro Fábio.
Existem outras alternativas O futebol não é a única opção de vida para alguns garotos. Lucas Libânio atuou nas categorias de base do América Mineiro por seis meses, mas acabou desistindo do futebol de campo. "Eu parei porque eu tive uma conversa com o treinador e ele abriu o jogo falando que eu não teria as mesmas oportunidades que os outros jogadores porque eu cheguei tarde ao clube", revela. Mas esse não foi o único
motivo da desistência, o atleta nunca quis deixar os estudos por saber que se o futebol não desse certo, ele poderia optar em investir em outros setores. Apesar da desistência, Lucas Libânio participa da equipe Gol Brasil, que utiliza o campo de futebol da faculdade UNI-BH (unidade do bairro Buritis) para treinar. "É claro que o sonho nunca acaba, às vezes você pode ser chamado por alguém”, observa.
Legislação só permite contrato após os 16 anos GABRIELA GÁRCIA
No momento de analisar um jogador para ingressar ao time da base, alguns prérequisitos são definidos pelo clube. O gerente geral do departamento de base do Atlético Mineiro, André Figueiredo, 40 anos, afirma que a qualidade técnica do jogador é o primeiro fator a ser examinado. "Analisamos se ele tem boa técnica, se ele conhece o jogo e se, taticamente, ele entende o que tem que ser feito na posição em que ele se propôs a fazer a observação", diz. Ele também conta que depois será observado se o
jogador é veloz e se possui um biótipo favorável para jogar futebol. A lei só permite que os jogadores atuem na equipe profissional após firmarem contrato com o clube, o que só pode ser feito depois que os atletas completarem 16 anos. "Negociamos, assinamos e estão prontos (os atletas) para jogar no profissional, em relação ao contrato. Aí vai depender da maturidade, da evolução, da experiência deles para ver se eles têm condições de jogar no profissional", afirma André Figueiredo.
Rotina no profissional é bem diferente da base
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Tião Rocha
Entrevista
EDUCADOR
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MARIA CLARA MANCILHA
MARIA CLARA MANCILHA
EDUCAÇÃO CRIA NOVA REALIDADE n RAPHAEL VIEIRA PIRES RAQUEL ANDRETTO 7º E 3º PERÍODO
“Educação só acontece no plural. Não existe no singular, pois para que haja educação, são necessárias no mínimo duas pessoas”. Essa é uma das ideias principais da proposta do mineiro Sebastião Rocha, mais conhecido como Tião Rocha, fundador do Centro de Cultura Popular e Desenvolvimento (CPCD). O projeto, aplicado inicialmente na cidade de Curvelo, situada na Região Central de Minas, foi levada depois para Araçuaí, cidade do Vale do Jequitinhonha. Ali, o trabalho começou a ser implantado em 1998 e continua vigoroso até hoje. “Estamos construindo em Araçuaí uma cidade mais sustentável, que é outro paradigma que nós estamos rompendo, pois não é mais um projetinho, nem programa, nem rede, é uma plataforma de transformação social. É uma experiência riquíssima. É o Araçuaí sustentável. O Araçusa, que a gente fala”, afirma. O educador foi eleito como Empreendedor Social em 2007 por meio da promoção de educação popular e desenvolvimento comunitário com o uso de brinquedos, criação de produtos, e cursos realizados pelo CPCD. Antes de fundar essa organização, Tião Rocha formou-se em antropologia e já foi professor da PUC Minas e Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), presidente da comissão Mineira de Folclore, entre outras atividades já desenvolvidas. A chamada ‘pedagogia da roda’, que foi criada pelo educador, chegou a sete estados brasileiros e também atravessou o mar, desembarcando em Moçambique e em Guiné-Bissau, na África. O projeto deve ser levado para o estado do Maranhão e para o Peru na América do Sul. “Na roda você não tem um centro, na roda as pessoas se olham. Não tem uma pessoa que coordena, quem coordena são os temas”, diz.
n Quais suas críticas em relação ao modo como aprendemos e ensinamos? Eu fui professor durante muitos anos, em todos os níveis do 1º, 2º e 3º graus, na pós-graduação, mestrado e no doutorado. Em certo momento, quando era professor da UFOP, tive uma coisa que os americanos chamam de insight, mas nós mineiros chamamos de clarão mesmo. Então eu cheguei na escola e falei 'a partir de hoje eu não quero ser mais professor, agora eu vou ser educador'. Eles falaram que é tudo a mesma coisa, ganha o mesmo salário, são sinônimos. Então eu falei que não, pois são coisas completamente diferentes. O professor é aquele que ensina, o educador é aquele que aprende. Eu preciso sair urgentemente desse lugar de ensinamento e ir para o da aprendizagem. A universidade precisa disso mais rápido do que eu ainda, porque ela se fecha dentro de quatro paredes e o único assunto que escutamos é 'eu te cito, tu me citas' e no final do ano vai sair mais uma tese que ninguém lê obviamente, porque ninguém mais tem paciência de ler tese. E nós levamos isso aqui na galega. n Conte sobre o seu jeito de ensinar e aprender? Chamos de não-objetivos educacionais, ou seja, o que as pessoas não gostariam que acontecesse com o filho dos outros. Resolvi montar uma experiência de aprendizado a partir dos não-objetivos educacionais. Por exemplo, em Ouro Preto ouvi uma diretora numa aula inaugural começando a palestra dela assim: 'As crianças são como uma página em branco onde devemos escrever um belo livro'. Eu falei que ela estava de brincadeira. Uma diretora de escola que considera um menino de sete anos uma página em branco não entende nada de menino. Então, isso virou um não-objetivo. Outro nãoobjetivo é achar que os nossos conhecimentos são os únicos e verdadeiros. Outro é se pensar que a escola é um lugar que se entra, mas não se aprende. É um listado de cuidados para a gente se policiar e aí eu fui trabalhar nessa turma. Nós fomos para comunidade, juntamos as pessoas e começamos a entrar em rodas debaixo de árvores e começamos a conversar. n Qual é a diferença da sua pedagogia? A gente percebeu que nós não podíamos perder as crianças e as pessoas nas rodas, então a gente tinha que estudar tudo. O que a gente tinha que fazer era organizar o jeito de estudar. Então, começamos a pegar tudo para não perder ninguém. Se tínhamos 15 assuntos, vamos organizar por prioridades. O que a roda produziu é que ela não faz seleção, ela não perde ninguém, então ela organiza um jeito de estudar, ela estabelece uma pauta. Pauta o
trabalho, o faz e depois volta para a a análise e a reflexão a partir das roda e o avalia. Então, nós coisas. começamos a fazer uma ação, reflexão, ação. Ao fazer isso, a gente n Para quais locais via que na roda você não tem um cen- o senhor levou essa proposta? tro, na roda as pessoas se olham. Então, não tem uma pessoa que coor- O primeiro foi Curvelo. Há 28 anos dena, quem coordena são os temas. nós começamos lá, a cidade é consiQuem propôs o tema vai coordenar a derada a cidade capital da literatura discussão do processo de aprendiza- de Guimarães Rosa. O Vale do do. Aí sim nós saímos dos não-obje- Jequitinhonha entrou há 13 anos, em tivos e caímos nos objetivos. No 1998, pela cidade de Araçuaí. entanto, fazer um objetivo é muito simples, qualquer pessoa faz. É só você pegar um verbo, colocar no n O que são os infinitivo e encher de linguiça depois. conceitos da TIC e da TAC? Promover o desenvolvimento integral, garantir o acesso, isso é mais TIC é uma expressão muito usual difícil. Em geral você faz isso e hoje, são as chamadas Tecnologias de engaveta, só que nós tínhamos o Informação e Comunicação, é tudo compromisso de não cair na vala, de isso que está ligado às mídias e às linnão produzir a mesmice. Então, nós guagens. Hoje, existem muitos semicriamos o objetivo, pegamos um nários de TIC's, curso pra TIC inforverbo, só que não fica no infinitivo e mação para TIC. Mas a Tecnologia de nós não o conjugamos. Esse verbo é o Informação e Comunicação só faz Paulo Freirar, que só se conjuga no sentido se ela se transformar em uma presente do indicativo, Eu Paulo TAC, que é a Tecnologia de Freiro, Tu Paulo Freiras, Ele Paulo Aprendizagem e de Convivência, por Freiras, Nós Paulo isso tem que haver Freiramos, Vos Paulo um equilíbrio entre Freirais. Então assim TIC e TAC. o que é Paulo Freirar? Informação você “O PROFESSOR É É pensar. tem, mas você precisa Educação é um fim, e ter aprendizado e AQUELE QUE ENSINA, escola é só um meio. convivência, por isso O EDUCADOR É E a gente aprendeu tem que haver um que para que haja entendimento. Se AQUELE QUE qualquer processo não houver esse equiAPRENDE”. educativo é nelíbrio, não adianta ter cessário no mínimo essa quantidade de duas pessoas. Então, informação se as peseducação é uma coisa que só acon- soas não puderem construir processos tece no plural, porque tem que ter o de aprendizado. Quanto mais as peseu e o outro. E educação não é o que soas aprenderem a construir pensaeu tenho e nem o que o outro tem e mentos próprios a partir de inforsim o que a gente troca. Educação é mações, eu estou gerando o processo pluralidade, é aprendizado, porque a de TAC. gente troca o que tem pelo o que não tem. Então essa lógica dos saberes, n Como aconteceria essa mudança dos fazeres e dos quereres de uma em uma escola com o aprendizado pessoa, de uma comunidade, de um padronizado? grupo que é o nosso alvo. Como isso gera o processo de pluralidade e de Como os conteúdos são apropriados, troca, com o viés da educação, você só faz sentido se você compreender o olha os mesmos saberes, e fazeres das outro lado. Não adianta ficar falando pessoas e pensa no que é desenvolvi- e propondo se o outro lado está com do, criando oportunidade. outra linguagem. A busca neste equilíbrio é aprender o outro, entender o outro, que é diferente, mas não é n O senhor falou que o educador desigual. Como isso é um negócio também aprende, então educador ensi- que implica eu querer aprender e o na e aprende, e o professor só ensina? outro ouvir mais do que falar, então você pensa numa escola pública que Educador para mim é um aprendiz tem um currículo que já está pronto. permanente, porque o professor não O que os meninos que entrarem na precisa aprender nada não, basta escola no início do ano que vem em citar. Um bom citador de pé de pági- Belo Horizonte vão aprender já está na, um bom citador de ideias dos ou- pronto, o livro e o método já estão tros, repetidor de ideias alheias, pode escolhidos, a aula já está preparada, ser um professor. O educador só con- já está tudo pronto. Não importa segue ensinar aquilo que ele apren- quem é que vem, importa quem é que deu, ou seja, educador tem que cons- vai. Se esse menino não se adaptar, o truir o jeito próprio, uma pedagogia problema é dele, porque o que já tem própria, não é aquilo que ele leu nos não vai mudar, as TICs já estão livros que ele fica repassando. Isso o prontas. Quem as aplica não quer Google faz. Conhecimento e infor- saber se o outro vai conviver ou mação o Google tem, o que ele não aprender ali, então, fica essa perda. Aí tem é entendimento, a produção de ficam os equívocos, porque esse outro conhecimento é do educador, porque lado é tão prepotente tão fechado em é na troca e na compreensão que está si mesmo que ele acredita em deter-
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minados conteúdos como se aquilo fosse verdade absoluta. Se você parar para pensar você percebe que metade destas coisas são inúteis, o conhecimento está fechado em si mesmo, é cômodo repassar assim. Agora se você olhar para a realidade deste menino você vai ver que é tão diversa, tão rica que eu tenho que todo dia criar, não dá para ter uma grade curricular fechada, eu tenho que criar. Aí está o nó da questão, que acontece nesse desencontro que existe entre o ensinamento e a aprendizagem. n Como uma comunidade pode ajudar e iniciar esse tipo de mudança em uma escola? É muito complicado, porque eles não são chamados pra discutir educação, e sim para discutir escola. E aí que está a questão: educação é um fim, escola é um meio. Por exemplo, o projeto Amigos da Escola, aquilo é uma bobagem, porque junta um bando de gente que vai lá no final de semana para pintar a escola, fazer a quadra, plantar árvore. Mas ninguém chama a comunidade para sentar numa roda com os meninos e mostrar para eles como são as coisas. Quando você percebe isso, você vê que existe um buraco. Tem um evento nas escolas públicas que chama-se o 'dia da família na escola'. Uma vez por ano tem um dia que é uma festa. Então, é possível sim fazer educação sem escola, é possível sim fazer educação debaixo de um pé de manga, mas é impossível fazer boa educação se você não tiver bons educadores. Só bons educadores fazem uma boa educação, e o contrário também é verdadeiro, os maus educadores fazem uma educação ruim. n E aonde estão os bons educadores? Não estão vindo nem sendo formados na quantidade nem na qualidade que nós precisamos para transformar este país. Em vez de esperar que as Universidades nos forneçam bons educadores, nós resolvemos criar, formar os educadores que a gente precisa. No lugar aonde eu vou trabalhar, nós vamos formar os educadores que nós precisamos naquela comunidade. Isso eu aprendi em Moçambique, na época que eu trabalhei com a formação de educadores que trabalhavam com meninos e meninas que viviam no campo de refugiados de guerra. Para educar uma criança é necessário toda uma aldeia, então o que a gente faz hoje é convocar a aldeia para educar melhor. Se eu for trabalhar no Maranhão eu vou convocar pessoas que saibam trabalhar com a mortalidade infantil, porque é contra isso que eu vou lutar lá. Eu convoco todo mundo para uma causa, para tirar o menino do analfabetismo ou evitar a mortalidade neonatal. A gente convoca as pessoas para fazerem o que sabem e querem e transformamos isso em ensino, força e capital social.
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