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TREZE INFORMA 04 Informativo dos Colegiados dos cursos de Comunicação Social, Jornalismo e Relações Públicas do Prédio 13 | 18 de março a 24 de março
Os Abutres de Eloá e a espetacularização da mídia Tragédia de "Quem Matou Eloá?" foi discutida durante aula inaugural
A
Foto: Raphael Calixto/SECOM
mídia brasileira possui um grande histórico de sensacionalismo e espetacularização de eventos dramá-
ticos. Inserida em uma sociedade genericamente disfuncional e apoiada por um sistema estrutural machista, a tragédia relatada no documentário Quem Matou Eloá foi amplamen-
te divulgada e debatida pela mídia em 2008. Dirigido por Lívia Perez, o filme foi exibido na aula inaugural dos cursos de Jornalismo e Publicidade na última terça-feira, 14, com acalourado debate entre alunos e professores.
A diretora Lívia Perez promoveu debate sobre a violência contra a mulher na mídia
Na ocasião, a cineasta trouxe discussões sobre
a forma com que a violência contra a mulher é cinco dias, e desfrutando de uma cobertura bre o uso de palavras e expressões que romanretratada na mídia e como abordar semantica- midiática intensiva sobre o caso, ele assassinou tizam e relativizam situações como agressões, mente os crimes de gênero e a passividade mas- a menina, aos olhos de todo o Brasil. culina em veículos de comunicação.
estupros e, no caso de Eloá, cárcere privado.
MÍDIA E FEMINICÍDIO. Didática e instruti- “Estupro não é sexo. Então, no momento de
Como abutres vigiando a morte, de forma va, Lívia exemplificou casos em que a forma fazer a manchete, utilize "estupro", já que foi invasiva e cruel, a imprensa acompanhou Eloá, como a mídia tratou o feminicídio foi não ape- realmente um", afirmou. mantida em cárcere privado pelo ex-namora- nas equivocada, mas também desumana. Ela
O reconhecimento de que a mulher está em
do, Lindemberg Alves. Depois de exaustivos explicou que a ideia do documentário nasceu segundo plano na sociedade, e de que sua voz da necessidade de discutir o im- se perde em meio à comum culpabilidade da
SAIBA MAIS
pacto que a cobertura midiáti- vítima é o principal problema observado pela ca tem na sociedade, a partir do diretora, que criticou a maneira como a socie-
FEMINICÍDIO: Assassinato de uma mulher
caso da morte de Eloá Cristina. dade encarou a tragédia.
pela condição de ser mulher, muitas vezes
“Na época do crime em nenhum
motivado pelo ódio ou sentimento de perda
momento se usou a expressão do que aquilo se tratava de um crime de gêne-
de controle sobre as mulheres.
violência contra a mulher. Ne- ro, a sociedade poderia ter entendido de outra
MANSPLAINING: Quando um homem expli-
nhum veiculo de comunicação, forma. Quem ali torceu pelo amor de Lin-
ca algo a uma mulher, em uma maneira con-
nenhum apresentador, nenhum demberg e Eloá, também ajudou nesse tipo
siderada condescendente e paternalista.
jornal foi capaz de dizer violência de pensamento de uma mulher submissa que
GASLIGHTNING: Violência emocional por
contra mulher, palavras simples fica com um homem agressor, que permanece
meio de manipulação psicológica, que leva a
que dariam uma outra perspecti- nesse relacionamento. Então, é como se a so-
mulher e todos ao seu redor a acharem que
va para o caso", contou.
ela enlouqueceu ou que é incapaz.
“Se na época da Eloá tivéssemos reconheci-
ciedade que torceu por esse amor tivesse aju-
A diretora também alertou so- dado nessa narrativa, junto à polícia”, finalizou.