Manual Prático de Arte Contemporânea Brasileira para Arte Educadores
Trabalho apresentado à Faculdade de Artes Visuais do Centro Linguagem e Comunicação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, formulado sob a orientação da Prof.a Me. Andréia Cristina Dulianel, para a Conclusão do Curso de Licenciatura em Artes Visuais.
Campinas 2016
“O mundo não é, o mundo está sendo.” (Paulo Freire)
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos a todos que ajudaram direta ou indiretamente durante as fases de escolha, elaboração e produção dos conteúdos do presente trabalho. À fé em algo maior, em nossas múltiplas formas de crença, às nossas famílias pela compreensão e apoio e à grande contribuição e inspiração desempenhadas pela professora e orientadora Andréia Dulianel, mesmo que ela não faça ideia do alcance de sua grande e positiva influência. Somos gratos a todos os pesquisadores, teóricos e arte-educadores que há tantas décadas vêem se preocupando em constribuir para a elaboração de um programa de ensino de arte de qualidade para os alunos brasileiros. Agradecemos por não desistirem, por questionarem, por lutarem por transformações, influenciando, assim esperamos, todo este leque de jovens arte-educadores que despontam, ávidos por serem agentes ativadores da sensibilidade, do pensar crítico e do conhecimento que a Arte, como há muito é fato comprovado, é capaz de construir.
RESUMO
O “Manual prático de arte contemporânea brasileira para arte-educadores” foi desenvolvido para nortear, auxiliar e oferecer ao professor-propositor um leque de temas organizados sobre a Arte Contemporânea Brasileira, apontando alguns dos artistas mais significativos da atualidade. Sua base está na crítica e nos estudos reconhecidos de diversos profissionais e pensadores sobre as falhas e melhorias necessárias na arte-educação atual, sob a luz de teorias da assimilação infantil por meio de imagens e da prática criativa em sala de aula, assim como influências dos conceitos desenvolvimento de conteúdos na prática docente, em especial a Abordagem Triangular no ensino de Artes (Ana Mae Barbosa). Direcionado como ferramenta de apoio em aulas de arte para crianças de 10 a 12 anos do ensino regular, o material apresenta como forma de conscientização e contextualização prévia uma breve trajetória das práticas educacionais em artes no Brasil desde a época colonial. Este projeto apresenta-se ao mestre como um manual prático que objetiva discutir e propor metodologias de ensino diferenciadas na área de artes visuais, em íntima relação com a cultura brasileira e suas particularidades. O objetivo geral consiste em trazer discussões que favoreçam a formação de indivíduos capazes de entender a sí próprio, ao outro e ao mundo, além de praticar a sensibilidade, a indentificação social e a atuação crítica na era contemporânea.
PALAVRAS-CHAVE Arte-educação; interdisciplinaridade; arte contemporânea no Brasil; artes visuais.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO
pg.7
CAPÍTULO 1 - A trajetório do ensino das Artes no Brasil.
pg.9
1.1 - Das origens á Criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1971.
pg.9
1.2 - As alterações na LDB e os Parâmetros Curriculares Nacionais 1997/98.
pg.12
1.3 - Ana Mae Barbosa e sua proposta para uma Abordagem Triangular no ensino da Arte.
pg.15
1.4 - O cenário atual da Arte-educação nas escolas do brasil: conquistas e desafios.
pg.18
CAPÍTULO 2 - Meios Artísticos, Artistas selecionados e propostas de atividades em sala.
pg.23
Desenho - Tiago Hoisel Os riscos e rabiscos que vemos quando olhamos de verdade.
D. I - D. III
Pintura - Beatriz Milhazes Sentir o mundo através das tintas.
P. I - P. V
Gravura - Paulo Cheida Sans Repetir de um jeito diferente.
G. I - G.IV
Escultura - Kimi Nii Amassa, puxa e estica
E. I - E. V
Assemblage - Arthur Bispo do Rosário E se quisermos misturar tudo o que temos? A. I - A. III Fotografia - Sebastião Salgado Congelando aquilo que os olhos sentem
F. I - F. V
Graffiti - Alex Senna Quando os muros das cidades são as telas
GF. I - GF. VII
Performance - Maíra Vaz Valente Nosso corpo também faz poesia
PF. I - PF. V
Audiovisual - Katia Maciel Tem som, imagem e movimento. O que será?
AV. I - AV. V
CAPÍTULO 3 - O Manual Prático de Arte Contemporânea para Arte-Educadores 3.1 - O lúdico na construção de significados
pg.25
pg.25
3.2 - O material didático como ferramenta de apoio no ensino pg.27 de Arte 3.3 - Metodologia utilizada para estruturação das aulas
pg.30
3.4 - Roteiro sugerido para aplicação do Manual em sala de
pg.33
aula 3.5 - Complementações para o arte-educador e possíveis desdobramentos do conteúdo. 3.5.1 - Onde encontrar mais informações
pg.34
pg.34
CONSIDERAÇÕES FINAIS
pg.37
BIBLIGRAFIA
pg.38
ANEXO I: Mídia Digital em formato CD-ROM.
INTRODUÇÃO Caro Arte-educador, O presente material educativo foi desenvolvido para nortear, auxiliar e oferecer um leque de temas organizados sobre a Arte Contemporânea Brasileira e artistas significativos da atualidade, com a finalidade de facilitar a abordagem de conteúdos da área de artes visuais, direcionados para alunos entre 10 e 12 anos de idade. Acreditamos que um dos maiores desafios para a Arte-Educação de nosso tempo é disseminar, principalmente entre os educadores, a clara noção da necessidade de ensinar a arte contemporânea nas escolas do Brasil. E não apenas isso, mas também fazer com que esses mestres possam identificar alguns conteúdos e metodologias elaboradas, como forma de contrinbuir para a criação de suas própiass aulas, possibiliatando, dessa forma, que sejam agentes do desenvolvimento da sensibilidade e do saber crítico dos alunos. Consideramos também as dificuldades com relação à escassez de materiais prático-didáticos de apoio aos professores, voltados para o deselvolvimento de um programa de artes que trabalhe com questões da atualidade, para uma real noção da contemporaneidade. Observamos que os poucos materiais de apoio existentes na abordagem deste tema ainda definem como contemporânea a arte do período das vanguardas, concentrado entre os anos 60 e 70, quando um olhar mais aguçado e interessado facilmente identificaria neste período não a Arte Contemporânea, mas sim, as suas origens. É de suma importância que exista um trabalho neste sentido em nossa época, desde tenra idade, visto que o contato e o conhecimento iniciais sobre a contemporaneidade da arte, concentrando-se em nosso país, faz-se indispensável para a formação de uma sensibilidade e olhar crítico condescendente com a identidade cultural e social brasileira. O trabalho é composto por um conjunto de aulas estruturadas de forma completa, acompanhado por material de mídia digital com áudios e imagens impressas das diversas linguagens artísticas da atualidade. Procuramos unir o lúdico, o teórico e o prático em ampla sintonia com os possíveis ambientes escolares e seus recursos, estendendo-se o conteúdo também para a exterioridade da escola, em relação direta com a vida e o cotidiano dos alunos. Organizado de maneira adaptável em seu formato, fica aqui registrada a total liberdade oferecida ao educador para complementar e ou reordenar as aulas desde material, de acordo com seu próprio plano de ensino, utilizando-o como uma rica ferramenta de apoio ao trabalho pedagógico.
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Espera-se, desta forma, que este volume o auxilie em sua atuação como formador da sensibilidade e transmissor cultural para com os alunos. Desse modo, objetivamos ampliar a percepção sensível da realidade vigente, compatível com a faixa etária supracitada. Desejamos, finalmente, que o aproveitamento do conteúdo preparado por nós seja efetivo para as experiências educativas de interesse artístico, social, cultural e sensível, a partir do trabalho com Arte Contemporânea Brasileira.
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CAPÍTULO 1 A Trajetória do Ensino da Arte no Brasil - Breve 1.1. Das origens à criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1971 Antes de iniciarmos a presente explanação histórica, convém introduzir algumas ressalvas em comum acordo com a pesquisa de Kelly Bianca Clifford, contida em sua tese de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás-UFG, datada de 2015. Clifford nos mostra que, muito embora haja uma tendência de considerarmos o início da educação brasileira como as práticas implantadas pelos jesuítas e a Companhia de Jesus, fundada pelo padre Inácio de Loyola no século XVI, convém lembrar que a educação indígena era praticada antes mesmo da vinda dos portugueses ao Brasil. Porém, a educação indígena se diferenciava da jesuíta com relação ao método, a tencionalidade pedagógica e o fato de não ser oficializada pelas autoridades da época; enquanto que a educação jesuíta possuía tal reconhecimento. Além disto, os objetivos da educação indígena voltavam-se para a vida praticada nas aldeias, o que incluía tornar os membros das tribos aptos para o trabalho da caça, da pesca, da tecelagem, dentre outras atividades que sustentassem a vida comunitária. Já a educação jesuíta apresentava como objetivo primeiro a formação integral do homem cristão, utilizando-se da linguagem como principal meio para se alcançar essa meta. De fato, é de comum acordo entre os estudiosos da área que, a partir da ascensão dos educadores jesuítas, “o ensino da Arte no Brasil foi se construindo através de interesse basicamente políticos. Com isso, a arte acabou ocupando um espaço funcional na Educação e na Sociedade”. (ALVES, 2005, p.3). Com base nesta introdução, esclarecemos então nossa escolha por iniciarmos as explicações sobre a trajetória e os contextos do ensino de Arte no país a partir da entrada dos padres jesuítas. Isso porque aí é que se localiza nosso escopo de trabalho problematizado, pois no decorrer das próximas páginas trataremos dos aspectos negativos que sobreviveram gerações a fio e cujos efeitos colaterais impactam diretamente nas falhas identificadas na forma de ensinar arte nas escolas em nossos dias. Em seu livro Teoria e Prática da Educação Artística (1985), Ana Mae Barbosa traça uma trajetória bastante clara do perfil e atribuições da Arte-Educação no Brasil. Segundo ela, nos primórdios do ensino da Arte, a partir do início do século XIX em nosso país, havia um grande preconceito contra trabalhos manuais, devido a esse tipo de trabalho ser tarefa atribuída aos escravos. Para o homem da aristocracia era reservada a educação “efetiva”. (BARBOSA, Ana Mae, 1985, p.40). 9
Em 1816, porém, D. João VI criou a Missão Francesa, que começaria a funcionar apenas 10 anos mais tarde e que, posteriormente, daria origem à nossa primeira escola de Belas Artes. Neste período, a arte era baseada no culto à beleza e acessível apenas a algumas pessoas, encarada como vocação. O ensino das Artes só começaria a receber mais atenção a partir da década de 1870, pois pretendia-se preparar bons profissionais do desenho técnico, formando mão de obra para que o país pudesse acompanhar a industrialização que se acelerava. Logo na década seguinte, esse perfil da arte seria rapidamente substituído pelo objetivo de desenvolver a racionalidade, visto que, neste momento, a opinião da sociedade foi muito marcada pelo positivismo (atrelado à luta pela queda da Monarquia). De qualquer forma, o desenho geométrico e a cópia continuaram a ser as práticas mais utilizadas para a educação artística das crianças brasileiras. Enquanto isso, no exterior (mais especificamente nos EUA), psicólogos começaram a defender a relação existente entre os processos afetivos e cognitivos, afirmando a arte da criança como um elo vital. Ascendia, então, John Dewey, cujos estudos exerceram uma enorme influência sobre os estudiosos do Brasil. A partir de 1920, reforçada pelos ideais da Escola Nova, iniciou-se a inclusão da Arte na escola primária como uma atividade integradora, que serviria para reforçar a fixação dos conteúdos de outras matérias ensinadas às crianças. Porém, ainda aqui, mantiveram-se os mesmos métodos clássicos, com as crianças copiando imagens na grande maioria dos casos. Tal prática que só seria questionada após 1922, com o advento do Movimento de Arte Moderna que desencadeou no ensino de arte o que chamamos de “livre expressão” (laissez faire). Sob a influência dos movimentos filosóficos predominantes na época e das tendências estéticas modernistas, a livre expressão foi embutida em larga escala nos métodos de ensino das escolas brasileiras e no final da década de 1940 já predominava no país. Acreditava-se que a potencialidade criadora se desenvolvia naturalmente, desde que à criança fosse permitido expressar-se como bem desejasse. Estas novas orientações buscavam valorizar a produção pessoal e espontânea do aluno, sem que a arte adulta interferisse (o processo de como fazer não deveria mais ser demonstrado, tampouco o professor deveria solicitar cópias aos alunos, por exemplo). Porém, ocorreram muitas interpretações deturpadas da ideologia original e as simplificações aplicadas nas escolas, acabaram por ser uma das principais causas da banalização do mero “deixar fazer”, levando o professor a se tornar cada vez mais passivo. A arte-educação brasileira chegou em um ponto em que a função da educação pela arte foi quase totalmente descaracterizada na prática escolar, perdendo sentido principalmente para os alunos. 10
De 1937 a 1945, a ditadura instaurada no Brasil provocou a fixação de muitos clichês em torno da atuação da Arte, entre os quais o que afirma que o papel da Arte na Educação seria liberar emocionalmente. “Somente em 1948, com a criação da Escolinha de Arte do Brasil, novos horizontes se abrem para novas concepções, e o objetivo mais difundido da Arte-Educação passou a ser, entre nós, o desenvolvimento da capacidade criadora em geral” (BARBOSA, 1985, p.40). Foi apenas na década de 1970 que estudos sobre a alfabetização visual se tornaram mais relevantes no ensino de arte, chegando inclusive a serem produzidos livros que abordavam a gramática da imagem como orientação didática para os professores, baseando-se numa tendência denominada como Tecnicista. Presente no Brasil a partir dos anos de 1970, o seu principal objetivo era organizar um sistema técnico de aula, com a utilização de recursos audiovisuais, bastante pontuada na época, devido ao país estar passando por uma fase de modernização também na educação. Em 1971, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação/LDB (n. 5.692/71) foi formulada e modificou a estrutura do ensino. O ensino de arte foi incluído no currículo escolar como atividade educativa, e não como disciplina, sob a denominação Educação Artística, a ser desenvolvida por um professor polivalente (com formação geral nas linguagens musical, plástica e teatral). Porém, a mudança encontrou barreiras na questão da falta de cursos superiores adequados que preparassem o educador para ser, de fato, polivalente, ou seja, capaz de abranger em suas aulas linguagens múltiplas, desde a Música e o Teatro até as Artes Plásticas. Existiam apenas alguns cursos de licenciatura curta (dois anos), de forma que o despreparo teórico-metodológico dos educadores formados nessa licenciatura provocou o exercício de “uma educação estética descartável, um fazer artístico pouco sólido e um apreciador de arte despreparado” (BARBOSA, 1984, p. 88). Ainda seriam necessárias algumas mudanças, o que, graças à ação e às exigências emergentes nos debates com a participação das associações de arteeducadores e artistas, logo a seguir ocorreria. Grandes ondas se formavam em toda a sociedade educacional e, especificamente nas Artes, novas leis implantadas na segunda metade da década de 1990 uniriam forças com os preceitos defendidos por importantes pesquisadores da área, como Paulo Freire, Ana Mae Barbosa e John Dewey, cujas ideias ganharam uma nova e diferente visibilidade no contexto daquele momento.
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1.2. As alterações na LDB e os Parâmetros Curriculares Nacionais 1997/98 Por volta de 1980, a insatisfação gerada pela situação precária do ensino de arte no Brasil mobilizou educadores brasileiros (seguindo os avanços dos outros países) em prol de uma reorganização desse ensino nas escolas. Organizados em diversas associações, reconheceram a necessidade de elaborar novas contextualizações práticas para o ensino de arte. É nesse contexto que Ana Mae Barbosa elabora a Proposta de Abordagem Triangular para o ensino de arte, incluindo a prática pedagógica artística nas escolas não mais centrada no fazer artístico. Neste momento recente, ela se volta à construção de conhecimentos sobre arte e à apreciação artística, com ênfase no estudo do contexto histórico de produção da obra (Contextualizar, Apreciar, e Fazer). Após da década de 1990, outros momentos dessa história nacional se seguiram, como a obrigatoriedade do ensino de arte nas escolas brasileiras nos anos 90, pela lei nº. 9.394/96, e os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1997/98, além dos diversos debates e discussões de pesquisadores da educação e da arte com relação a metodologias usadas por esse tipo de ensino, as quais se estendem até os dias atuais.
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Em 1997, com o intuito de normatizar os diferentes componentes curriculares que então existiam no ensino das artes nas escolas do país, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) lança os Parâmetros Curriculares Nacionais, sendo a norma vigente até a atualidade. Porém, os Parâmetros acabaram recebendo pesadas críticas de educadores, por diferentes motivos, entre os quais a forte tendência à homogeneização da educação, sabendo-se que isso não garante a qualidade do ensino ante a variedade cultural do país. Segundo a pesquisadora brasileira Maura Penna, os PCN foram organizados sem que houvesse ampla participação dos professores; foram construídos com base no modelo espanhol de reforma curricular, orientado por César Coll (Professor e pesquisador espanhol da Universidad de Barcelona na área de psicologia e educação). Contratado como consultor do MEC para a elaboração dos PCN brasileiros, Coll organizou uma equipe de especialistas nas disciplinas das artes, porém sem representação de entidades de classe ou movimentos docentes, pois não tencionava criar um debate sobre o currículo nacional (PENNA, 1997, p. 19) onde começa essa citação?. Esses parâmetros foram criados com o intuito de reforçar a LDB (1996), apoiado em normas legais, com o objetivo de solucionar os problemas que persistiram no ensino básico, com vistas à transformação desse ensino em respostas as necessidades da sociedade brasileira. Os PCN foram criados afirmando possuir como objetivo nortear a prática pedagógica, com um caráter não impositivo, porém é de conhecimento geral entre pesquisadores, educadores e artistas que o documento sequer chega a citar seu claro embasamento na Abordagem Triangular de Ana Mae Barbosa. A própria pesquisadora chegou a declarar:
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Finalmente, e sabendo-se que é no processo e na atenta reflexão que se constrói um currículo eficaz (em função de necessidades e problemas próprios de cada escola), intui-se que não há outra caminho a não ser os próprios arteeducadores interpretarem os parâmetros para os adaptar às necessidades decorrentes de seus alunos. As diferenças étnicas, culturais, de gênero, etárias, religiosas etc., e as desigualdades socioeconômicas, presentes na multiplicidade da realidade brasileira devem ser consideradas no momento de se construir uma metodologia e um programa educacional. É, portanto, a partir deste momento em que a arte se torna conhecimento, deixando de ser apenas “fazer”, isto é, começa-se a conceber a arte não apenas como produção/criação essencialmente humana, mas também, como conhecimento, construção social, histórica e cultural. Porém, para que tudo isso funcione, é necessário possibilitar ao professor, como sujeito, uma reflexão na tentativa de conhecer e compreender o processo histórico, além de abrir portas para a discussão e reflexão na construção de um ensino de Ensino de Arte eficaz, propondo alternativas com o intuito de contribuir na construção de uma metodologia que atenda as expectativas tanto do que ensina como do que aprende, lembrando sempre que, no processo educacional, tais papéis em determinado momento tendem-se a inverter.
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1.3. Ana Mae Barbosa e sua proposta para uma Abordagem Triangular no ensino da arte No Brasil, já se observa desde o final do século XX para o início do século XXI gradativas mudanças metodológicas, no sentido de organizar uma nova maneira de ensinar a arte nas escolas, principalmente para as crianças. A redemocratização do país, iniciada na década de 80, possibilitou a difusão das reflexões sobre o ensino da arte e da necessidade de práticas coerentes com a realidade contemporânea. Segundo Ana Mae Barbosa, a Abordagem Triangular na Arte-Educação foi sistematizada a partir das condições estéticas e culturais da pós-modernidade e caracterizou-se pela entrada da imagem, sua decodificação e interpretações na sala de aula junto com já conquistada expressividade dos alunos, pelos modernistas. A Abordagem Triangular abrange três níveis de processos prático-mentais: o Apreciar, o Refletir/Contextualizar e o Fazer, onde: - Apreciar: desenvolvimento da competência de leitura e desfrute das próprias imagens, das imagens de outros e do universo natural.; - Refletir/Contextualizar: desenvolvimento de teorias próprias a partir da interação com fontes informativas e informantes que refletem sobre arte; - Fazer: desenvolvimento do percurso criador cultivado no aluno em oficinas de fazer artístico (expressão e construção). Segundo a autora, estes eixos são processos que necessitam estabelecer diálogo constante, mantendo uma relação entre si (são inter-relacionados). O educador precisa entender que não se tratam de “fases” da aprendizagem, mas de uma interligação de processos que atuam no teor cognitivo da percepção infantil. A autora afirma com propriedade que o que se pretende com a Abordagem Triangular “é uma educação crítica do conhecimento construído pelo próprio aluno, com a mediação do professor, acerca do mundo visual e não uma ‘educação bancária’” (BARBOSA, 1998, p.40). E ainda:
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É dessas questões que Ana Mae trata na ocasião da criação de sua abordagem para o ensino das artes, muito difundida dos anos de 1980 em diante. Segundo ela, assumindo a postura descrita pelas ideias nela contida, o professor consegue chegar ao desejado equilíbrio entre a centralização da criança nos conteúdos a serem trabalhados e a valorização de sua autonomia e integridade intelectual particular. Barbosa nos mostra, dessa forma, um caminho prolífero para atingirmos uma prática docente sensível e ativa, pautada da abordagem dos conteúdos artísticos de forma não superficial nem padronizadora, importantes na formação do indivíduo como um todo (emocional e mentalmente falando). A fim de se contribuir para a construção de uma abordagem aprofundada e abrangente para elevar a qualidade do ensino da arte nas escolas, muitas pesquisas começaram a ser desenvolvidas. Elliot Eisner, professor de arte e educação na Universidade de Stanford, nos EUA, considera que a arte é uma disciplina como outra qualquer, com seus conteúdos específicos, necessitando de valorização equivalente à que se dedica às demais matérias da educação. Os conceitos defendidos pelo autor, assim como pelo movimento que participou, o Arte- Educação como Disciplina (DBAE- Discipline-Based Arts Education) dos EUA, apontam para a importância do trabalho prático em estúdio, ou seja, a produção artística como base importante para o entendimento do poder expressivo das imagens (detentoras de alguma mensagem), assim como a busca por uma coerência crítica, perfeitamente possível de ser alcançada mesmo através (e inclusive se utilizando) da ingenuidade e espontaneidade da criança. Além da prática artística, faz-se necessário o trabalho com a Estética e a Crítica, desenvolvendo a habilidade de ver e não apenas olhar as características do mundo visual, amplamente expressas nas obras de arte de uma cultura. O autor defende também o trabalho com a história da arte no intuito de fazer com o que o aluno entenda que nenhuma criação artística existe no vácuo: seu significado está ligado ao seu contexto histórico, em determinado tempo e espaço em que estão situadas como expressão da sociedade (EISNER, 1988, Apud. BARBOSA, 2010, p.37).
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Duas tendências no ensino das artes identificadas por Eisner eram denominadas como Contextualista, que defendia que os professores começassem a dar maior relevância a temas psicológicos e sociais, voltados para estudos sobre o processo criativo do aluno e a inserção do mesmo em seu meio social; e a Essencialista, que abordava a arte como essencial para a vida dos indivíduos. A educação dos sentidos passou a ser concebida, também, como forma de desenvolver a fluência, a flexibilidade e a originalidade, tendo como principal bandeira a valorização da criatividade. O ato criador começa, a partir de então, a não ser mais tratado como episódio fortuito: requer relação, ordenação, configuração e significação. “Todo ato de criação é um ato de compreensão que redimensiona o universo humano.” (OSTROWER, 1995, p. 217). As ideias do DBAE, assim como de outros movimentos de arte- educação mundiais, dialogam com a abordagem triangular de Ana Mae Barbosa, conduzindonos a pensar metodologias de ensino de arte mais aprofundadas e levando em consideração diferentes aspectos dessa área do conhecimento.
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1.4. O cenário atual da Arte-educação nas escolas do Brasil: conquistas e desaos No início desse século, o ensino de arte vem se caracterizando como um ensino multi e interculturalista, muito devido aos estudos sobre a diversidade e cultura visual surgidos nos últimos anos, influenciando teórica e metodologicamente a Abordagem Triangular, ou seja, “o compromisso com a diversidade cultural é enfatizado pela arteeducação Pós-moderna” (BARBOSA, 2002, p. 19). Quanto mais o tempo avança, mais o nosso cotidiano torna-se impregnado por uma multiplicidade de imagens, contendo inúmeras informações que se modificam simultaneamente e a todo instante. Neste cenário, a arte contemporânea, ao mesmo tempo em que se fragmenta em múltiplos caminhos, também reflete essas transformações e inquietações por meio de diferentes manifestações estéticas. Com base nisso, revela-se de extrema importância que a educação por meio da arte leve em consideração todo o caleidoscópio de possibilidades que envolvem os sentidos do ser humano e que, percebidos e devidamente interpretados, poderão auxiliar na construção do ser cultural consciente e atuante, auto-conhecedor, localizado tanto em sua própria existência, quanto nos sistemas e seres sociais que o envolvem. Porém, por se tratar de uma arte recente, com conteúdos ainda em fase de elaboração, faz-se necessários que artistas, pesquisadores e educadores busquem criar metodologias a partir de uma postura atualizada, em consonância com as manifestações da contemporaneidade. De acordo com Catherine Millet (1997), o termo arte contemporânea começou a ser utilizado a partir da década de 1980, porém sabe-se que suas raízes estão indiscutivelmente atreladas à movimentação artística de meados da década de 60. Esse fato faz com que muitos livros didáticos confundam ainda mais a construção contemporânea do ensino das artes em sala de aula, enquadrando como produção atual movimentos ligados à Pop Art, Op Art, Minimalismo, Arte Conceitual etc. A não compreensão e aproveitamento de todo o potencial educativo da Arte vem do fato de, na maioria das instituições de ensino do Brasil, sempre serem trabalhadas apenas as produções da primeira metade do século XX, havendo a necessidade de atualização dos currículos no geral. Isso acaba por gerar uma não compreensão da arte ou cultura atual, causando um crescente afastamento, do público diante das obras contemporâneas. Há muito passamos desta fase e, como seres culturais, naturalmente temos a necessidade de combinar a nossa compreensão com o repertório de informações e experiências às quais tivermos acesso durante nossa existência. Anne Cauquelin afirma: 18
O que encontramos atualmente no domínio da arte seria muito mais uma mistura de diversos elementos; os valores da arte moderna e os da arte que chamamos de contemporânea, sem estarem em conflito aberto, estão lado a lado, trocam suas fórmulas, constituindo então, dispositivos complexos, instáveis, maleáveis, sempre em transformação. (CAUQUELIN, 2005, p. 127).
Por conta mesmo desta multiplicidade de influências vindas de um passado tão recente, é que hoje persiste uma pluralidade heterogênea de linguagens, materiais, meios, espaços e temas em ebulição no Brasil, combinada a uma cultura já tão conhecida por seu caráter misto. Esse aspecto gera um potencial poderoso para o ensino da arte de nosso tempo, vinculado às questões sociais, culturais e de sensibilidade do agora, muito necessário para o desenvolvimento desde tenra idade de uma postura diante da vida condizente com nossas realidades. Um ser humano forte, capaz de transformar, visto que a transformação de tudo quanto existe é, sempre foi e sempre será a maior e mais básica necessidade do homem consciente, que verdadeiramente existe. Como seria possível então, desenvolver este assunto tão plural e inconstante na sala de aula, em meio a uma estrutura de ensino que foge amedrontada diante da renovação e nega a necessidade de mudanças e incertezas? Para compreender estas questões, é preciso se abrir para a desconstrução, tendo em mente que nunca mais a partir de nosso tempo, os alunos poderão compreender profundamente a arte sob o peso de um ensino unilateral, distanciado da prática cotidiana (interna e externa à escola) e de uma experiência artística multifacetada e interdisciplinar. Segundo Marina Menezes (2007, p. 1007), trata-se de utilizar das próprias características da arte contemporânea, como sua pluralidade, experimentação e questionamentos, como base para construir uma iniciativa arte-educacional que de fato pode trazer uma evolução positiva ao modo de ensinar e aprender. A arte contemporânea [ ...] como pensamento e princípio, ou seja, como funcionamento, acarretaria novas posturas metodológicas, práticas e propostas; novos pensamentos e visões do professor sobre o ensinar arte - e certamente promoveria interpretações, questões e realizações diferenciadas por parte dos alunos. (MENEZES, 2007, p. 04-05).
Este é o ponto de partida aqui proposto para se pensar e desenvolver uma prática mais significativa e identificada, promovendo uma reflexão profunda sobre a arte e seus processos poéticos e cognitivos. Aceitando que a arte contemporânea não é mais uma arte que traz o que delas esperamos, o previsível, esta transforma-se em um ponto de partida para trazer à tona o pensamento crítico-reflexivo, numa continua discussão sobre o que é arte e o que o futuro nos reserva. 19
Este processo reflexivo de análise crítica cotínua pode ser aplicado também aos projetos, desenvolvimentos teóricos e atividades aplicadas em aula. O professor se deslocaria de único propositor para participante, questionador e desconstrutor da apatia generalizada que se observa na realidade metodológica de nossas escolas. De acordo com Fernando Hernadéz (2000), a minoria dos professores ainda reduz a condução da disciplina de Artes à realização de atividades agradáveis (desligadas de significação e contestação), perseguindo uma forma de beleza vinculada à visualidade formal, sem foco no processo de aprendizagem ou no conhecimento de si, caminho magnífico de construção e entendimento. De forma geral, os alunos estão sob a obrigação de desenvolver por si só habilidades cognitivas e produtivas, ou seja, expressar-se livremente e produzir objetos (restritos a desenhos e imitações devido à falta de material ou espaço adequado para suportar outras atividades). Esta produção é desenvolvida sem qualquer reflexão ou contextualização pré ou pós prática. [ ...] os meninos e meninas são vistos como produtores de objetos, mais do que como construtores ativos de um conhecimento crítico e transferível a outras situações e problemas, não necessariamente artísticos e de maneira especial que lhes ajude a interpretar e agir no mundo em que vivem e em suas próprias vidas. (HERNADÉZ, 2000, p. 88).
O ensino questionador e crítico vem, então, como solução para propiciar a tomada de consciência por parte do aluno dos lugares ocupados por ele na sociedade atual, o que significa que a passagem de conteúdos não deve ser superficial, mas sim despertar criticamente para a realidade do campo artístico e, consequentemente, para a sua própria situação, desejos e potencial diante do mundo. Antes de adentrarmos no quesito materiais educativos, faz-se necessário frisar a necessidade de perceber na disciplina de Artes a mesma importância que possuem as outras disciplinas no consenso geral. E mais ainda, tomar posse de suas potencialidades como interlocutora de conteúdos não artísticos, papel fundamental para potencializar a assimilação de qualquer tema. Afinal, atingir um aluno através de sua mente e de sua sensibilidade muda drásticamente e positivamente o seu crescimento.
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De fato, ainda é comum que parte dos professoras prefiram não utilizar nenhum material didático de apoio para ensinar arte, salvo os oferecidos pelo governo que geralmente são trabalhoados de forma superficial, como uma mera obrigação, sem articulação e criação de novas propostas ou adaptações para o contexto onde será trabalhado. Além do mais, faz parte do senso comum a crença de que não se deve sobrecarregar os alunos com demasiado conteúdo em artes, visto que as outras disciplinas já causam estresse. Porém, queremos afirmar categoricamente que a arte na educação básica não dever ser encarada como descanso das coisas sérias e mais importantes, laser ou meio para distração e ocupação do tempo livre da criança, mas sim propor ações que privilegiam a produção artística, assim como a refelxão e entendimento deste universo. Para tanto, torna-se necessário envolver os alunos no processo de aprendizagem de arte, instigando sua atenção de forma eficaz, ampliando o nível de compreensão do sensível, pois para uma atuação inventiva diferenciada não existe de forma alguma a necessidade de solicitar trabalhos em excesso, ou até mesmo fora da sala de aula e do horário da disciplina. Katia Canton (2013) lança uma interessante possibilidade para sistematizar o ensino da arte segundo nosso tempo, através da separação do conteúdo em Temas. Propositora de uma longa pesquisa em ambientes escolares diversificados (de 1993 até 2010), seu método aceita a mutabilidade das manifestações artísticas contemporâneas como inspiração para a criação de uma nova metodologia de ensino para as artes nas escolas. A partir dos meios artísticos mais utilizados no país nas últimas décadas, Canton se preocupou em definir, além do conceito de arte atual, também um aprofundamento referente a quais seriam as heranças e referências que acompanham os artistas mais recentes e seus trabalhos até o tempo presente. Procura, portanto, situar a arte no contexto de nosso tempo, articulando artistas, tendências e meios de forma clara. Com isso, as reflexões e estudos de Canton podem ilustrar com coerência o que aqui se propõe empreender: a criação de um material didático para crianças capaz de combater a visão comum de que a arte se situa em um mundo à parte, aproximando-a da vida e identificando sua presença no cotidiano dos alunos. Não vamos aqui adentrar na velha discussão sobre a importância de a Arte estar presente no currículo regular escolar, visto que tal ponto já foi mais do que esclarecido por diversos escritores ao longo do desenvolvimento das teorias de arte-educação, preferiremos dar um passo à frente em campo ainda semi-desconhecido, na esperança de desbravar novos territórios dentro do pensamento e da prática. Segundo Ana Mae Barbosa escreve em A Imagem no Ensino da arte: anos 1980 e novos tempos, “mais de 25% das profissões neste país estão ligadas direta ou indiretamente às artes e seu melhor desempenho depende do conhecimento de arte que o indivíduo tem” (BARBOSA, 2010, p.31). 21
A escola no Brasil tem de ser o local onde se promove o acesso democrático à informação e o desenvolvimento estético de todas as classes sociais, utilizando-se da multiculturalidade do país para aproximar os indivíduos de diversos códigos culturais. Porém, infelizmente, ainda identificamos na convivência da realidade o quanto “é paradoxal que ao mesmo tempo em que a sociedade moderna coloca na hierarquia cultural a arte como uma das mais altas realizações do ser humano, [...] despreza a arte na escola”. (BARBOSA, 2010, p.32) O ensino e aprendizagem de Arte não é mera proposição de atividades sem fundamentos, ao aluno bem como a instituição de ensino deve se fazer entender que a disciplina tem objetivos específicos e os conteúdos “sempre se ligam a determinado espaço cultural, tempo histórico e a condições particulares que envolvem aspectos sociais, ambientais, econômicos, culturais, etários.” (BRASIL, 1997, p.49). O professor é o mediador entre as partes: instituição/aluno – disseminação do conhecimento. Concluindo esta pequena esplanação sobre o ensino da arte nas escolas do Brasil ao longo do tempo, identifica-se seus dois principais momentos como: um primeiro, que seria prático e não teórico (Artes é fazer, ou seja, dava-se maior ênfase na produção artística e menos nas teorias); e um segundo momento, em que a arte se torna conhecimento, deixando de ser apenas “fazer”, isto é, passa-se a conceber a arte não apenas como produção/criação essencialmente humana, mas também, como conhecimento, construção social, histórica e cultural. Com base nesta constatação, reafirma-se o compromisso de cada arte-educador de tomar as rédeas da estruturação de sua metodologia de ensino, para que todas as transformações positivas pelas quais tantos pesquisadores e teóricos lutaram para consolidar possam ser realmente ferramentas válidas para as transformações de que o país necessita. Enquanto a aula de artes continuar sendo considerada como mera atividade escolar ou lazer em algumas escolas frente às demais disciplinas do currículo escolar, mesmo que isso venha mudando gradativamente, as concepções metodológicas, atreladas à prática artística não será efetiva para os alunos. Reforçamos, finalmente, o quanto é importante e necessário a disciplina de Artes ter o mesmo reconhecimento e relevância das demais disciplinas da educação escolar, devido a contribuição que a mesma pode trazer para a formação artística, estética e cultural do indivíduo, fomentando cidadãos críticos perante a realidade em que estão inseridos. As reflexões contidas neste texto, então, apresentam-se como base para a estruturação e aplicação desda proposta de material didático que venha de encontro com as múltiplas facetas do Brasil, os princípios propostos pela Abordagem Triangular e a compatibilidade com o nível sensível dos alunos, nessa faixa etária dos 10 aos 12 anos de idade. 22
CAPÍTULO 2 Meios Artísticos, artistas selecionados e propostas de atividades em sala
INTRODUÇÃO Este capítulo trata dos meios artísticos e dos artistas escolhidos para exemplificá-los, bem como apresenta um leque de sugestões para atividades que o educador pode desenvolver na sala de aula, vinculando a fixação de conteúdos e a percepção estética à indispensável prática da produção artística. As linguagens foram escolhidas com base nos conceitos essenciais para a formação sensível da criança. Apresentam-se artistas brasileiros (ou naturalizados) e que, de alguma forma, trazem significativa contribuição para cultura e arte brasileira, bem como artistas inéditos que já estão ativos no campo das artes visuais. Suas produções conversam diretamente com a prática docente que acreditamos ser adequada para a arte contemporânea, livres de amarras, focadas na multiplicidade cultural e social e no respeito aos diversos tipos de indivíduos e seus aspectos sensíveis. Questões como suporte, uso da cor e elementos gráficos também foram critérios considerados na escolha dos artistas, assim como sua tendência a combinar um meio artístico principal com outros para criar uma narrativa visual genuínamente sua. As aulas, por sua vez, foram pensadas com o intuito de explorar diversas técnicas e materiais, tendo como referência principal os princípios da importante Abordagem Triangular, de Ana Mae Barbosa. Além disso, o modelo base de todas as aulas foi estruturado de forma dinâmica para que cada professor possa adaptálas ou até mesmo expandi-las de acordo com a sua didática ou dos recursos disponíveis na escola. Procurou-se, em suma, criar aulas que aumentassem o repertório dos alunos e trouxesse reflexões artísticas desenvolvendo o seu senso crítico a respeito do mundo ao seu redor através de uma nova perspectiva, proporcionando a esse aluno formas diferentes de expressão. A estruturação prática das atividades que se seguem teve como referência a Método Construtivista, baseada nas ideias de Jean Piaget (explicada mais adiante, no item 3.3 deste material) , visto que ela propõe uma nova visão de mundo, de sociedade e de tragetória da construção do conhecimento desde a infância.
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Aplicada no ensino das artes visuais, esta forma de desenvolvimento do aprendizado resolve paradigmas que, de outra forma, poderiam desestimular o aluno no dia-a-dia da matéria de Arte, pois não defende a ideia de que a produção artística é consequência de dons concedidos anteriormente ao sujeito (o famoso e errôneo conceito de talento), e sim através da ação, sem que o resultado final dessa ação tenha uma verdade absoluta ou uma maneira certa de se consumar. Assim sendo, as atividades propostas visam potencializar a poética artística de cada aluno, afim de desenvolver em cada um, uma personalidade artística única, através do estímulo de sua reflexão e criatividade. Lembramos que a numeração vinculada a cada aula (ex: aula 1, aula 2 …) é apenas uma pré-organização, podendo ser alterada a qualquer momento pelo arte-educador, conforme o seu discernimento.
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TIAGO
HOISEL
DESENHO O desenho é uma das ferramentas de comunicação mais antigas. Na PréHistória essa linguagem era utilizada nos muros das cavernas. Com o passar do tempo, o desenho foi entendido com a finalidade de representação do divino, tanto em culturas como Egito e Grécia, que não eram cristãs, quanto em culturas que eram e viraram cristãs posteriormente. Pode- se dizer que o desenho é a base de toda e qualquer forma artística, pois antes de criar qualquer peça de arte fazemos um esboço, ainda que mental, sobre como o projeto será concretizado. Em outras palavras, o desenho pode ser considerado o meio artístico mais antigo e utilizado pelos artistas, independente de quais sejam as suas especializações na arte. De certa forma estamos acostumados com a palavra desenho mas não com o que ela representa. Quando falamos abertamente que o desenho é/foi a nossa primeira forma de comunicação, a reação que obtemos muitas vezes é de espanto. O motivo disso é pela forma como encaramos o desenho no nosso dia-a-dia, pois só lidamos com essas questões quando temos algum parente na fase da infância que ainda não está alfabetizada. O desenho no universo infantil é um dos principais meios de comunicação nãoverbal. O que percebemos é que o processo de escolarização acaba por inibir a expressão artística da criança, a qual passa a utilizar a maior parte do seu tempo para praticar a escrita, o que leva ao abandono do desenho.
Arte Egípcia
Arte Grega
D.I
Tiago Hoisel é um artista digital especializado em criar caricaturas e cartoons. Graduado em Design Gráfico, começou a trabalhar como ilustrador e com o passar do tempo passou a ser reconhecido pelo Brasil todo e também pela Europa através da divulgação de seu blog. Suas ilustrações tem caráter humorístico e infantil, mas além das caricaturas, gosta de desenhar animais e humanizá-los para criar situações engraçadas.
ATIVIDADES Os riscos e rabiscos que vemos quando olhamos de verdade
Caverna de Lascaux, 17.000 anos AP
Garatuja Desordenada
AULA 1 Proposta: Promover discussão sobre o Desenho e as experiências dos alunos, e fazer a análise e reflexão sobre o artista escolhido. Objetivo: Contextualizar a linguagem do desenho a partir do conhecimento e das experiências dos próprios alunos. Duração: 01 aula Execução: O desenho é uma das linguagens que o aluno está mais familiarizado, que tal aproveitar esta proximidade e desenvolver uma aula dinâmica falando um pouco do surgimento do desenho como primeira forma de expressão e comunicação escrita do homem desde os tempos das cavernas? Você pode questioná-los ainda sobre como foram as suas experiências com desenho e fazer uma ligação entre os dois periodos. Depois aproveitando o gancho, você pode trazer o assunto para a atualidade, falando como ao longo dos anos o desenho evoluiu ganhando novas possíveis ferramentas de uso, como os softwares de edição de imagens que possibilitam até mesmo a criação de uma imagem em 3D (é legal pedir para que a classe dê exemplos de filmes e animações em 3D que eles conheçam ou que eles mais gostem). Neste momento a história do artista sugerido em questão, Tiago Hoisel é um excelente exemplo de artista que trabalha com isso. Mostre imagens do seu trabalho, e ouça as observações que eles tem a fazer sobre cada personagem criado, e se for possível mostre também exemplos de algumas de suas animaçõs em vídeo. Materiais: Imagens, independente de serem impressas, online ou através de slides elaborados pelo professor. Projetor ou algum outro recurso onde o professor poderá mostrar os vídeos (opcional). D.II
AULA 2 Nessa aula o aluno aprenderá e exercitará conceitos básicos de desenho, além de estimular sua sensibilidade e criatividade através da atividade proposta e/ou das atividades sugeridas para o professor. Dessa forma, ficam listados os seguintes proveitos que poderão ser tirados pelos alunos: Proposta: Exercitar principios básicos de desenho, traço etc; Estimular a criatividade e a sensibilidade do aluno; Reflexão individual e em conjunto sobre a atividade; Introdução aos conceitos básicos de criação de personagem e desenho em softwares específicos para isso. Objetivo: Estabelecer uma familiarização do aluno com o processo de construção do desenho, do rascunho até a arte final, seja ele no papel ou digital, além de mostrar uma das formas de trabalhar com desenho através do exemplo de um artista da área, jovem e contemporâneo. Duração: 02 ou 03 Aulas Execução: Através da imaginação, os alunos criarão o próprio personagem, primeiro descrevendo na forma escrita. Nesse momento é importante estimular os alunos a incluírem detalhes sobre o cotidiano e comportamentos psicológicos; Para essa atividade, o professor pode fazer uma parceria com a disciplina de Português. Feito isso, é hora de desenhar esse personagem! Peça para que desenhem apenas o personagem nesse primeiro momento, depois é interessante abordar brevemente o conceito de camadas (layers) para a criação de um desenho em algum software livre, e partindo ainda desse conceito, proponha aos alunos para que criem a ambientação desse personagem em outra folha de papel vegetal, em seguida sobreponha esta folha a outra onde o personagem se encontra, Pode-se sobrepor quantas camadas forem necessárias ou que a transparência do material permita. Ao término da atividade, o resultado será um desenho recheado de camadas em papel vegetal, obtendo sempre elementos diferentes em cada camada, que juntas formarão uma única imagem. Materiais: Papel vegetal, lápis coloridos, canetinha. Sugestões: Posteriormente os alunos podem produzir uma história curta e desenhá-la em formato Quadrinhos. Se a escola tiver estrutura, mostrar e deixar que eles manipulem a própria ferramenta digital. O papel vegetal pode ser substituido por outro material transparente, como plástico por exemplo.
Céu Profundo, Tiago Hoisel D.III
Chico Bento, Tiago Hoisel
BEATRIZ
MILHAZES
PINTURA Com o passar do tempo, o desenho foi entendido com a finalidade de representação do divino, tanto em culturas como Egito e Grécia, que não eram cristãs, quanto em culturas que eram e viraram cristãs posteriormente. Pode- se dizer que o desenho é a base de toda e qualquer forma artística, pois antes de criar qualquer peça de arte fazemos um esboço, ainda que mental, sobre como o projeto será concretizado. Em outras palavras, o desenho pode ser considerado o meio artístico mais antigo e utilizado pelos artistas, independente de quais sejam as suas especializações na arte. De certa forma estamos acostumados com a palavra desenho mas não com o que ela representa. Quando falamos abertamente que o desenho é/foi a nossa primeira forma de comunicação, a reação que obtemos muitas vezes é de espanto. O motivo disso é pela forma como encaramos o desenho no nosso dia-a-dia, pois só lidamos com essas questões quando temos algum parente na fase da infância que ainda não está alfabetizada. O desenho no universo infantil é um dos principais meios de comunicação não-verbal. O que percebemos é que o processo de escolarização acaba por inibir a expressão artística da criança, a qual passa a utilizar a maior parte do seu tempo para praticar a escrita, o que leva ao abandono do desenho. No Brasil essa fase da pintura nasceu com os primeiros registros visuais do território, da natureza e dos povos nativos brasileiros, realizados por exploradores e viajantes europeus. Os índios que habitavam o território brasileiro antes dos colonizadores chegarem, já realizavam há algum tempo algumas formas de pintura no corpo, paredes de grutas e em objetos, mas sua arte não influenciou a evolução posterior da pintura brasileira, que passou a depender dos padrões trazidos pelos colonizadores portugueses. No século XVII a pintura no Brasil que já experimentava um desenvolvimento considerável, passou por um progresso ininterrupto e de grande importância e refinamento, sendo o primeiro no apogeu do Barroco, com a pintura decorativa nas igrejas; depois na metade do século XIX, com a atuação da Academia Imperial de Belas Artes, e em 1920 com o movimento modernista que teve sucesso ao introduzir um sentido de genuína brasilidade para a pintura produzida no país. Atualmente com os avanços tecnológicos, podemos também utilizar a pintura de forma digital, usando o computador e um suporte próprio, como mesas digitalizadoras.
P.I
Beatriz Milhazes (1960) é pintora, gravadora, ilustradora e professora, sendo um dos mais destacados nomes da arte contemporânea no Brasil. Em 1980 iniciou-se nas artes plásticas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, onde mais tarde lecionou e coordenou as atividades culturais. Participou da exposição “Como vai você, Geração 80?”, em que artistas de vários lugares do Brasil se reuniram buscando retomar a pintura em contraposição a verdade conceitual dos anos 70, com o uso de novas técnicas e materiais. Suas obras fazem referência ao Barroco, à Tarsila do Amaral, à Burle Marx, aos padrões ornamentais e à Art Déco. Destacou-se em mostras internacionais nos Estados Unidos e Europa, integrando também acervos de museus como o MOMA (Museum of Modern Art), The Metropolitan Museum of Art (Met), entre outros. Em sua pintura podemos observar formas orgânicas repletas de ritmo, movimento, equilíbrio e uma verdadeira explosão de cores. Em meio a essa exuberância cromática, a carioca Beatriz Milhazes mistura referências da arte popular, do carnaval, da flora brasileira e do tropicalismo para criar um universo geométrico,
Sinfonia nordestina, Beatriz Milhazes, 2008
Nazaré das Farinhas, Beatriz Milhazes, 2002 P.II
ATIVIDADES Sentir o mundo através das tintas AULA 1 Proposta: - Desenvolver um trabalho sinestésico proporcionando uma experiência diferente do que o aluno está habituado; - Ensinar a lidar e entender os materiais e técnicas usadas na pintura; - Trabalhar técnicas mistas Abordar a teoria das cores e suas possibilidades de mistura; Objetivo: Proporcionar aos alunos momentos de descoberta, apresentando novas técnicas de pintura, mistura de cores e materiais diversificados. Duração: 1 aula Execução: Prepare a sala para que os alunos fiquem bem a vontade, sem que se preocupem com a sujeira que esta atividade pode causar. Se for necessário você pode levá-los para algum ambiente externo onde isso não seja um problema. Ainda pensando sobre isso, sugira para que tragam roupas velhas ou um avental para que sujar a roupa não seja algo que possa de alguma maneira atrapalhar seu processo criativo.
Operários, Tarsila do Amaral, 1933
Assunção de nossa senhora, Mestre Ataíde
P.III
Para dar início a atividade, o professor pode escolher uma música brasileira que seja ritmada (por exemplo algo instrumental de carnaval, que é uma grande inpiração de Beatriz Milhazes, a artista referência que será abordada posteriormente). Enquanto a música toca, os alunos farão uma pintura, podendo misturar materiais além da tinta como colagem por exemplo, reflita a visualidade da imagem criada a partir do que o aluno sente ao ouvir a música. Que tal repetir a mesma atividade, porém dessa vez colocando uma música com um ritmo diferente da primeira escolha, uma música mais lenta, por exemplo? Materiais: Tintas, tampa de caixa de sapato, pincéis, cola, tesoura, revistas para recorte, embalagens recicladas, materiais descartáveis, retalhos de papéis de diversas texturas Um aparelho de som. Sugestões: - O professor pode propor uma reflexão sobre as diferenças do trabalho realizado com cada estilo musical e como foi a experiência para cada aluno. - Peça para que os alunos criem uma exposição desses trabalhos, de forma que os trabalhos do mesmo aluno artista, fiquem lado a lado; - O material utilizado nessa atividade, pode ser alterado de acordo com os recursos disponíveis em sua escola, os suportes a serem pintados podem variar desde telas, pedaços de papelão, até placas de mdf e papel panamá.
Composição VIII, Wassily Kandinsky, 1923.
Monalisa (La Gioconda), Leonardo Da Vinci, 1503-1506 P.IV
AULA 2 Proposta: Introduzir um pouco da história da pintura, trazendo curiosidades e artistas importantes para este contexto. Objetivo: Ampliar o repertório artístico cultural dos alunos, e aproximá-los de uma arte mais brasileira a partir dos trabalhos da artista escolhida. Duração: 1 aula Execução: Caso você tenha optado por fazer a atividade prática antes conforme sugerimos, neste ponto é possível que os alunos estejam inspirados pela experiência que tiveram, então aproveite isso para falar um pouco sobre a história da pintura, adicionando curiosidades do tipo, como os artistas faziam a sua própria tinta e como o papel da pintura foi se modificando ao longo dos anos até chegar nos dias atuais. É muito importante que nesse momento utilize-se de imagens de obras de alguns artistas para ilustrar o que se está ensinado, potencializando assim o entendimento e absorção do aluno com relação as informações apresentadas. Uma grande referência da pintura brasileira atual é a artista Beatriz Milhazes, suas referências são extremamente brasileiras como a arte popular, o carnaval, da flora brasileira e do tropicalismo. Seria uma boa ideia falar um pouco sobre suas obras e perguntar aos alunos o que acham de seu trabalho, e da maneira como ela traduz isso em forma de pintura, aproveitando também para fazer uma ligação com o trabalho que eles mesmos realizaram, onde a referência foi a música que tocava no momento da execução. Materiais: Imagens, independente de serem impressas, online ou através de slides elaborados pelo professor. Projetor ou algum outro recurso onde o professor poderá mostrar os vídeos (opcional).
O Lavrador de café, Candido Portinari, 1939 P.V
PAULO CHEIDA
SANS
GRAVURA Gravura é a definição que se dá para desenhos feitos em superfícies duras, como madeira, pedra ou metal, usando incisões, corrosões e talhos realizados com materiais especiais para o uso. Uma forma mais didática e fácil de entender a gravura em seu ato de impressão, é relacioná-la com um carimbo, pois após o entalhe (usando a xilogravura como exemplo) na madeira, utiliza-se uma tinta própria e depois essa matriz é prensada na superfície de escolha do artista, carimbando literalmente a imagem. No Brasil a gravura tem um forte peso entre os artistas, e muitos deles são reconhecidos pelos seus trabalhos, porém o interesse deste trabalho é utilizar a obra e os processos de artistas do nosso tempo, como será demonstrado posteriormente. De um modo geral, a gravura atual sofreu perceptíveis transformações em seus padrões e vai de encontro com outros meios de expressão, desde a inclusão dos meios específicos até a utilização do computador. Nesse percurso, a gravura confronta-se com as múltiplas inversões e transformações das regras ,e consequentemente, dos conceitos, características marcantes da contemporaneidade.
Dominantes e Dominados, Paulo Cheida Sans, 1995
Paulo Cheida Sans é um dos artistas brasileiros que atua fortemente na área da gravura desde muito cedo. Iniciou nas exposições em meados da década de 60 e ao todo participou de aproximadamente 400 amostras e já recebeu cerca de 40 prêmios em Salões de Arte no Brasil, e 3 no exterior. Suas obras estão expostas em diversos acervos pelo mundo, como por exemplo Canadá, Santiago, Cuba e outros países. O artista também atua como curador, tendo participado de diversas comissões de seleção e premiação, tanto em território nacional como internacional. Já ministrou diversos cursos sobre desenho e arte infantil para professores, é também autor do livro Pedagogia do Desenho Infantil e Fundamentos para o Ensino das Artes Plásticas e diretor do Museu Olho Latino. Atualmente é professor de plástica, pintura e gravura na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-CAMP). G.I
ATIVIDADES Repetir de um jeito diferente O artista tem um trabalho com uma identidade muito forte que pode ser observado em suas obras, os temas abordados em maioria políticos e fortes, mas sempre muito bem humorados. Entre os artistas que já inspiraram seus trabalhos estão Antonio Henrique do Amaral, Arthur Bispo do Rosário, Luise Weis e Ruben Valentin. Alguns elementos são muito importantes e por vezes até constantes em seu trabalho como o próprio artista cita em seu livro “ Artes e Vicinalidades: entre a gravura, o objeto e a instalação”
Briga da onça com a serpente, J. Borges, matriz (esquerda) xilogravura (direita)
AULA 01 Proposta: Através da aula expositiva, promover análise e reflexão sobre a linguagem e sobre o artista escolhido e apresentar os materiais Objetivo: Levar os alunos a conhecer a gravura e suas técnicas, assim como seus artistas representantes. Duração: 1 aula Execução: Geralmente a gravura tende a ser uma ténica pouco conhecida pelos alunos, então uma maneira interessante de começar esta aula seria pela sua própria definição, passando depois para os diversos materiais utilizados e seu processo de criação e execução. Seria ideal se os alunos pudessem entrar em contato com uma matriz de uma xilogravura para ilustrar melhor a informação, caso não seja possível, a foto de uma matriz e da gravura resultante da mesma ja é o suficiente. A partir dessa técnica é possível dar várias referências de artistas muito bons na área, como é o caso do artista Paulo Cheida Sans. Seu trabalho permite que você explore bem as caracteristicas da xilogravura e pode ser muito interessante abrir para a sala fazer uma observação críitica de algumas obras, observando desde a textura que o material proporciona até alguns elementos que sempre se repetem, trazendo uma personalidade única para seu trabalho. G.II
Materiais: Imagens, independente de serem impressas, online ou através de slides elaborados pelo professor. Projetor ou algum outro recurso onde o professor poderá mostrar os vídeos de algumas entrevistas e documentários sobre o artista disponiveis na internet (opcional)
Na Terra das Bananas, Paulo Cheida Sans, 2001
AULA 02 Proposta: A atividade desenvolverá o conhecimento e domínio da técnica de criação que se aproxima da gravura; Potencialização da criatividade do aluno; Experiência de criação com referência no artista brasileiro em destaque. Objetivo: Fazer com que os alunos explorem as possibilidades de representação de suas ideias. Duração: 2 ou 3 Aulas Execução: A partir da observação da obra acima, você pode propor a seguinte atividade:Os elementos banana e gravata são completamente distintos, porém interagem com frequência nas gravuras do artista Paulo Cheida, como podemos observar na obra “O planeta das Bananavatas”. Será muito divertido propor que façam um desenho em que dois elementos completamente distintos interajam em um planeta imaginário criado por eles. Peça inclusive que criem um nome criativo para esta obra. Após a criação do desenho, eles irão transpor a imagem para uma bandeijinha isopor, para isso você pode ensiná-los um método simples de transposição onde se passa carvão no verso da folha, para que ao contornar o desenho que estará posicionado em cima do isopor, a imagem seja trasferida de forma rápida e eficiente. G.III
Feito isso, eles criarão relevos no isopor utilizando ferramentas como palitos e pazinhas para “cavar”. Prontas as matrizes, eles passarão tinta sobre elas e imprimirão a imagem em um outro papel, de preferência de gramatura maior, como a cartolina por exemplo, que pode ser cortada de acordo com o tamanho da matriz (lembrando sempre de deixar uma margem para que possam numerar e assinar a gravura, oriente-os a forma correta de faze-lo). Materiais: - Bandejas de isopor recicladas, tinta acrílica ou guache, cartolina dividida em várias partes iguais, palitos e pazinhas. Sugestões: - É sempre um exercício interessante pedir para que exponham o seu trabalho, pois além de tratar também desse processo final também compartilha a arte com as outras pessoas do ambiente escolar, o que é sempre uma troca muito rica. - Você pode fazer uma parceria com a professora de português pedindo que ela aprofunde o assunto da gravura em suas aulas mostrando aos alunos por exemplo a literatura de cordel.
O Planeta das Bananavatas, Paulo Cheida Sans
G.IV
KIMI
NII
ESCULTURA A escultura é uma das primeiras linguagens artísticas que existem no mundo, ficando atrás apenas do desenho. Trata-se de representar de forma tridimensional toda e qualquer coisa que o artista desejar esculpir, podendo utilizar para tal diversos materiais como mármore, madeira, argila, gesso, bronze e tantos outros. Embora possamos utilizar dessa linguagem para criar absolutamente qualquer coisa, a tradicionalidade da escultura vem de representar o corpo humano, ou divindades mitológicas, que vem desde o período da Antiguidade Grega e perdurou fortemente até os períodos Renascimento e Barroco. No passado, o papel da escultura era sempre conectado de alguma forma à religião, ainda que o catolicismo tenha sido mais presente, diversos credos foram representados através dessa arte. No Brasil, o artista que se destacou mais foi Antonio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho (1730 - 1814). Sabe-se muito pouco sobre Aleijadinho, por isso, sua trajetória é construída com base nas obras que deixou, ainda que seja duvidoso pois a maior parte das mais de quatrocentas obras que existem que foram associadas à ele na verdade não possuem qualquer documento comprovando, sendo constatada como dele apenas pela semelhança das obras que de fato foram provadas. Hoje ainda produzimos esculturas, mas a poética e os materiais mudaram drasticamente comparados com o passado, pois desde a Arte Moderna, deixa-se de representar divindades e credos através da arte e é a partir dessa época que o mundo das Artes sofre talvez a maior revolução que já existiu até agora, como por exemplo A Fonte, de Duchamp.
Perseu com a cabeça da medusa, Benvenuto Cellini, 1545-1554 (Bronze)
Carregamento da Cruz, Aleijadinho E.I
ATIVIDADES Amassa, puxa, estica Nascida em Hiroshima, no Japão, Kimi Nii mudou-se para o Brasil quando ainda era uma criança, aos 9 anos de idade. Em 1978, apaixonou-se pela cerâmica e, desde então, trabalha com esculturas utilizando altas temperaturas (1300°), na criação de produção de objetos do dia-a-dia e também esculturas. Já realizou diversas exposições individuais e coletivas dentro e fora do Brasil, e possui um portfólio extenso e rico em produção. A técnica de Kimi Nii tem influência da tradição milenar oriental, mas os traços precisos são de influência do modernismo brasileiro. A artista nipo-brasileira não faz somente uma ligação entre duas culturas, ela mostra pela cerâmica que a arte pode ser tanto utilitária quanto contemplativa. É interessante observar como ela se aprofunda no estudo das forças naturais. A observação da maneira como a areia cria figuras piramidais pela simples força gravitacional, por exemplo, inspirou a série ilhas, de 2014. Outras inspirações da natureza são as nuvens, montanhas e vulcões.
Bromélia, Kimi Nii
AULA 1 Proposta: Desenvolver um trabalho sinestésico proporcionando uma experiência diferente do que o aluno está habituado; Ensinar a entender e lidar com os materiais e técnicas usadas na pintura; Trabalhar técnicas mistas; Abordar a teoria das cores e suas possibilidades de mistura; Objetivo: A atividade com modelagem tem como objetivo proporcionar uma reflexão sobre as diferenças entre o bi e o tridimensional em suas especificidades, desenvolvendo a percepção de volumes e texturas. E.II
Duração: 1 aula Execução: O aluno começa fazendo um desenho de observação de um elemento em vários ângulos diferentes (frente, costas, lados, ângulo superior, etc.). Nesse exercício pode ser feita a orientação sobre como serão todos os passos de criação com antecedência, ou não, ficando a critério do educador. Em seguida peça para que modelem o material escolhido, de forma a transformar o elemento bidimensional, o desenho pedido anteriormente, em um objeto tridimensional. Materiais: Biscuit ou argila branca, agua, colheres, barbantes, palitos e recicláveis Sugestão: Essa atividade também pode ser realizada com papel machê
Pietá, Michelangelo, 1499. (Mármore)
AULA 2 Proposta: Introduzir um pouco da história da pintura, trazendo curiosidades e artistas importantes para este contexto. Objetivos: Introduzir a história e os principais artistas escultores de cada época e apresentar aos alunos os diversos materiais e técnicas que podem ser desenvolvidas na criação de uma escultura. Falar um pouco sobre artistas na área da escultura, dando ênfase a artista Kimi Nii, naturalizada brasileira. Duração: 1 aula Execução: Faça um breve embasamento teórico sobre a história da escultura e seus respectivos artistas. E.III
Tente deixar a aula mais dinâmica, uma sugestão é que você pergunte a eles o que eles sabem a respeito da escultura e quais suas principais dúvidas. Dessa forma eles participarão mais ativamente da aula. Você pode apresentar os principais nomes da escultura, dando enfase a artista Kimi Nii, que é um ótimo exemplo contemporâneo da escultura. Materiais: Imagens, independente de serem impressas, online ou através de slides elaborados pelo professor. Sugestões: Se tiver oportunidade, organize uma excurção pela sua cidade. elaborando o roteiro para que visitem as esculturas e monumentos públicos. Você pode propor uma parceria com o professor(a) de história, pois geralmente essas esculturas tem a ver com a história do local. Caso não seja possível, você pode pedir para que pesquisem e/ou tirem fotos dessas esculturas e apresentem aos colegas em sala de aula.
A Fonte, Marcel Duchamp, 1917 E.IV
AULA 3 Proposta: A atividade esculpir trabalha a ideia da talha na escultura, para que os alunos percebam o que é modelar e esculpir, entendendo as diferenças entre essas técnicas escultóricas. O trabalho com a tridimensionalidade desenvolve nos alunos a percepção do objeto como um todo. Além disso, a atividade com a talha desenvolve a coordenação motora fina e abre espaço para a experimentação de um material inusitado. Objetivo: Que os alunos possam explorar o material sem a “cobrança” de fazer com que se torne um objeto figurativo, desenvolvendo assim seu potencial criativo abstrato. Além disso, pretende-se trazer uma reflexão e percepção a respeito de volumes e texturas, e também da observação da natureza ao seu redor. Duração: 1 ou 2 aulas Execução: Leve seus alunos para fora da sala de aula, assim como a artista Kimi Nii, peça para que observem a natureza em cada detalhe. Depois, proponha a eles que explorem despretenciosamente o material apresentado, esculpindo formas orgânicas abstratas, porém com referência na paisagem observada anteriormente. No final da atividade você pode pedir para que apresentem a sua escultura para o resto da sala, explicando qual foi a inspiração para a execução e qual parte eles acharam mais difícil ou mais fácil de fazer e porque. Materiais: Sabão em pedra, lixas, colheres e garfos de metal,palitos e recicláveis. Sugestão: Proponha aos alunos a reciclagem do material descartado durante a execução da atividade.
E.v
ARTHUR BISPO DO
ROSÁRIO
ASSEMBLAGE Assemblage é um termo de origem francesa que foi trazido para o mundo da arte pelo artista Jean Dubuffet em 1953. Esse termo é utilizado para definir colagens e junções feitas a partir de materiais tridimensionais para formar outro objeto tridimensional. Essa linguagem baseia-se do princípio de que qualquer material pode ser incorporado e entendido como obra de arte sem que perca seu sentindo original Basicamente, é a junção de elementos em um conjunto maior, mas que mesmo assim consegue-se identificar cada peça. Por permitir o uso de objetos diversificados e incomuns até então, a assemblage consegue ultrapassar limites de superfície, fazendo com que seja possível ter em uma mesma obra característica da pintura e da escultura ao mesmo tempo. A assemblage visa romper toda e qualquer fronteira entre a arte e a vida cotidiana, justamente por não haver regras em quais materiais utilizar e também, por ter surgido em um período em que o artista poderia lidar com qualquer tipo de tema.
Cheveux de sylvain, Jean Duffet, 1953 Still Life, Pablo Picasso, 1914
A Assemblage no Brasil foi marcada principalmente por um artista chamado Arthur Bispo do Rosário, que embora não se saiba muito sobre ele, é fato que foi internado na Colônia Juliano Moreira, no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, pois foi diagnosticado com esquizofrenia, e é nesse cenário que inicia suas miniaturas, com materiais rudimentares e sucatas oriundas do lixo, de navios de guerra, automóveis e até bordados. Chega a criar por volta de 1.000 peças com objetos do cotidiano. Após a sua descoberta, suas obras foram classificadas como vanguardistas e até mesmo comparadas às obras de Marcel Duchamp. A sua obra mais conhecida é o Manto da Apresentação (sem data), a qual Bispo deveria vestir no dia do Juízo Final. Com eles, Bispo pretendia marcar a passagem de Deus na Terra. A.I
ATIVIDADES E se quisermos misturar tudo o que temos? AULA 1 Proposta: Apresentar a técnica de assemblage, e também o artista escolhido, promovendo a reflexão e a análise sobre a linguagem. Objetivo: Desenvolver nos alunos a percepção da diferença entre uma técnica de modelagem e assemblage Duração: 1 aula Execução: Para que os alunos possam compreender melhor, é de extrema importância que trabalhe a definição de assemblage concomitante com imagens que exemplifiquem. Mostre a eles algumas imagens e peça para analizarem quais materiais foram utilizados, e de que forma eles foram agrupados e fixados (colados, amarrados, pregados, etc). Ao falar sobre o artista em questão, frise o fato dele usar objetos do cotidiano, resignificando-os e transformando-os em peças únicas de arte. Materiais: Imagens, independente de serem impressas, online ou através de slides elaborados pelo professor. Projetor ou algum outro recurso onde o professor poderá mostrar os vídeos de algumas entrevistas e documentários sobre o artista disponiveis na internet (opcional) Sugestões: Algumas das poucas imagens e reportagens feitas com o artista Arthur Bispo do Rosário podem ser encontradas no youtube, entre elas um video de 34:51 minutos onde sua história é narrada. Se for possível, mostre aos seus alunos. (https://www.youtube.com/watch?v=ISt22V1U-hY). Outro artista brasileiro muito interessante a ser apresentado aos alunos é Vik Muniz, e você pode passar algumas partes de seu documentário “Lixo Extraordinário” que está disponível gratuitamente no YouTube, para que os alunos entendam melhor o processo de criação e construção de uma assemblage. confortáveis a respeito. (https://www.youtube.com/watch?v=61eudaWpWb8).
Vinte e um veleiros, Arthur Bispo do Rosário A.II
AULA 2 Proposta: Nesta proposta, assim como o artista Artur Bispo do Rosário fazia com objetos de seu cotidiano, os alunos serão desafiados a criar a partir de materiais descartados em abundância nos dias de hoje, na maioria das vezes de forma errada, poluindo o meio ambiente. O importante, além de toda discussão teórica sobre o meio ambiente (a produção de lixo eletrônico e os impactos ambientais causados a longo prazo), é trabalhar as questões técnicas e de manipulação dos materiais, assim como as soluções possíveis de montagem, como encaixe, amarração e colagem. Objetivo: A atividade tem como objetivo trazer para a sala um debate sobre consumismo, meio ambiente e tecnologia, além de produzir arte a partir de lixos, reutilizando esses objetos fora de suas funções iniciais. Duração: 1 aula Execução: Com esse tipo de material cada vez mais comum de ser encontrado, os alunos irão dispor de sucatas tecnológicas (como mouses, peças de computador e celulares quebrados) para compor uma obra de arte. O educador pode direcioná-los para a discussão de temas transversais, como o meio ambiente, sustentabilidade e capitalismo, por exemplo. Materiais: Tampa de caixa de sapato ou caixas de papelão, sucatas tecnológicas, cola, arame, tesoura, barbante. Sugestões: Uma outra atividade sugerida seria a confecção de Parangolés com estes mesmos materias em uma base de tecido que eles possam vestir posteriormente. Organizar uma campanha de arrecadação de sucatas tecnológicas envolvendo toda a escola. Procurar um local adequado para o descarte dos materiais que não forem utilizados nos trabalhos.
Manto de apresentação, Arthur Bispo do Rosário A.III
SEBASTIÃO
SALGADO
FOTOGRAFIA A Fotografia é a técnica de criar imagens por meio de exposição luminosa, “desenhar com luz e contraste”. Oficialmente, a fotografia chegou ao Brasil em 1839, porém somente em meados 1940 ocorreram mudanças significativas, tornando-se um momento de virada na construção de uma estética moderna na fotografia brasileira. Foi então que ocorreu a aproximação entre a fotografia e a arte, com base em experimentações de uma nova linguagem fotográfica, com trabalhos de exploração de planos e texturas, ângulos inusitados, cenas montadas por recortes e desenhos feitos sobre negativos. Dentro da fotografia existem muitas técnicas, que muitas vezes ficam a critério do fotografo, de acordo com o seu estilo próprio. Mas basicamente, a fotografia se dá na combinação equilibrada de três conceitos. Iso, Obturador e Diafrágma. O ISO é a sensibilidade do sensor à luz. Quanto maior o número, mais sensibilidade. Existem ISOs que vão desde do número 100 até 4000 e tantos, dependendo da câmera.
Exemplo de ISO
O obturador é uma parte da câmera responsável pelo tempo de exposição, do filme ou do sensor digital, à luz. É como se fosse uma cortina que cobre a câmera e quando acionado se abre. Quanto mais tempo aberto, mais entrada de luz é permitida. O diafragma é o dispositivo que regula essa abertura em termos de tamanho, não de duração. Quanto mais fechado está o drafragma, menos quantidade de luz entra, e vice e versa. Importante salientar que quanto maior o número, mais fechada é a abertura, como por exemplo na imagem abaixo, a abertura f/22 corresponde ao diâmetro mais fechado que uma câmera possui. Quando se tem a combinação equilibrada desses três conceitos, temos uma fotografia nítida.
F.I
Exemplo de obturador Exemplo de Diafragma
Porém, muitas vezes para alcançar algum tipo de efeito é preciso mexer um pouco mais em um desses pilares. Por exemplo, se deseja fotografar um céu à noite estrelado, o mais indicado é que você configure seu diafragma para o mais aberto, para captar todo e qualquer foco de luz possível, e que deixe seu obturador com velocidade lenta, para que fique mais tempo exposto, podendo assim captar mais detalhes da paisagem. Nesse caso, é recomendado que se utilize um tripé, pois somente com a nossa respiração nessas configurações é capaz de fazer com que a foto saia tremida. Outra situação interessante é quando queremos captar uma cachoeira por exemplo, mas de uma forma em que dê para notar o movimento da água. Nesse caso, durante o dia, basta apenas configurar seu obturador para um tempo mais lento, podendo captar toda a movimentação da água por um período um pouco mais longo (é bom tambem utilizar um tripé!), e o resultado final será uma foto com todos os elementos estáticos bem nítidos e somente a água (que se movimenta devido às correntes) com o “rastro” de movimento.
Céu estrelado, Ben Canales F.II
Exemplo de Cachoeira
Sebastiao Salgado é um fotografo brasileiro considerado um dos maiores talentos da fotografia mundial pelo teor social em seu trabalho. Nascido na cidade de Aimoré no estado de Minas Gerais, formou-se em economia na Universidade do Espírito Santo em 1968 e doutorou-se pela universidade de Paris. Em 1973 começou sua carreira profissional como fotografo em Paris, onde trabalhou como free-lance para as agências Sygma, Gamma e Magnum até 1994, quando ele e a esposa Léila Wanick Salgado formaram a própria agência "As imagens da Amazônia" criada exclusivamente para seus trabalhos. Salgado publicou livros como "Outras Americas" (1986), "Sahel: o homem em agonia" (1986), "Trabalhadores" (1993), procurando sempre retratar os excluídos como forma de denunciar a miséria e os problemas sociais no mundo. Recebendo também diversos prêmios como o "Fotografia Humanitaria" (EUA,1982) e o "Unesco para iniciativas bem-Sucedidas" (1999).
Êxodos, Sebastião Salgado F.III
ATIVIDADES Congelando aquilo que os olhos sentem
AULA 1 Proposta: Esta aula propõe ao aluno mostrar que fotografar vai além de apenas apertar um botão, mostrando um pouco do processo de construção de uma fotografia profissional. Objetivo: Ensinar alguns conceitos básicos e técnicas da fotografia, alem de um breve resumo de sua história. Duração: 1 ou 2 aulas Execução: Explique noções básicas de fotografia, comece falando um pouco da sua história, sempre dando como referência alguns artistas, em especial Sebastião Salgado que é reconhecido no Brasil e no mundo. Pode introduzir também o conceito de luz e sombra, a evolução das máquinas fotográficas, entre outras curiosidades. Depois, mostre como operar a câmera, como segurar o equipamento, onde posicionar as mãos, quais botões apertar, como regular o foco e como usar o flash. No caso do celular, muitos também possuem os mesmos tipos de ajustes em suas configurações. O próximo passo é ensinar algumas noções básicas de enquadramento, e iluminação. Você pode, por exemplo, testar várias intensidades de luz. Outra dica é brincar com a abertura do diafragma e a velocidade do obturador para ver o efeito que isso causa nas imagens. Após estes passos, deixe-os enfim explorarem o ambiente ao seu redor. A natureza é sempre uma ótima fonte de inspiração para fotos, ou até mesmo o ambiente cotidiano escolar. Reunir os amigos para fotografar ou fazer um concurso de caretas também são formas de tornar a atividade ainda mais divertida. Materiais: Imagens, independente de serem impressas, online ou através de slides elaborados pelo professor. Uma câmera digital ou um celular com câmera Sugestão: Caso haja poucos celulares, ou câmeras disponíveis, a atividade pode ser realizada em grupo.
F.IV
América Latina: Brasil, Sebastião Salgado, 1983
AULA 2 Proposta: O vínculo afetivo de cada um com o seu registro fotográfico, traz para o espaço das aulas uma discussão sobre a realidade pessoal de cada um. Além disso, desenvolve no aluno, o cuidado e planejamento que um evento cultural requer. Objetivo: Fazer com que os alunos entendam o conceito de fotografia como arte, e não somente como registro. Estimular a organização de projetos culturais. Duração: 1 aula Execução: Uma ótima maneira de fazer uma relação com as fotografias do Sebastião Salgado é pedindo que fotografem alguém de mais idade de suas famílias, como os avós, por exemplo. As fotos serão transformadas em preto e branco e impressas em papel sulfite. Os próprios alunos poderão criar uma moldura e organizar uma exposição dessas fotos para que toda escola possa ver. O professor pode sugerir expositores, como varais, mas isso fica de responsabilidade final dos próprios alunos. Materiais: Um celular com câmera, papel sulfite para as impressões. Sugestão: Esta atividade também pode ser realizada usando lugares do cotidiano de cada aluno.
F.V
ALEX
SENNA
GRAFFITI O Homem se expressa através de inscrições e/ou desenhos em rochas, muros e paredes desde o período pré-histórico da civilização, e cada inscrição carrega um significado e objetivos específicos das tribos. Hoje em dia, o que vemos e reconhecemos como graffiti é quase isso. O graffiti se faz presente nos meios urbanos através de mensagens não-verbais ou verbais, muitas vezes codificadas ou com caráter de protesto perante alguma posição política, podendo vir a ser ilegal (sendo conotado como pichação) ou não, utilizando tinta spray, inclusive em lugares privados. Graffiti tem origem italiana, que significa “escritas feitas com carvão”, pois muito antes do spray, utilizava-se o carvão na antiga Roma, onde os romanos tinham o hábito de se manifestar em protesto com palavras proféticas ou divulgações de acontecimentos públicos. O spray só veio a surgir no século XX, no final da década de 60 através de jovens do Bronx, bairro de Nova Iorque. Para muitas pessoas, o graffiti surgiu de forma paralela ao Hip Hop, que é a cultura de periferia que une o RAP e o break, nos guetos americanos e é nesse cenário que as academias passam por uma crise onde jovens artistas sentem-se desesperados por novas linguagens que buscassem a libertação das galerias e museus e as ruas passaram a ser a solução perfeita para o problema. Já na Europa, nos anos 80, artistas de Amsterdã, Berlim, Paris e Londres passaram a utilizar construções abandonadas como ateliês, já que o objetivo era estar independente de espaços fechados. No Brasil, as primeiras manifestações artísticas através do graffiti surgiram em 1985, na XVIII Bienal que lançou os primeiros nomes do graffiti nacional, como por exemplo Zaidler e Alex Vallauri. O graffiti é muito rico em técnicas e estilos diferentes, como por exemplo: Graffiti 3D: Desenhos a partir de idéias visuais de profundidade, sem o uso de contornos.
Crocodilo 3D, Sérgio Odeith
GF.I
Bombing: É considerado qualquer graffiti ilegal, graffiti de rua. Crew: Grupo de graffiteiros que se unem por uma causa e formam coletivos. Um graffiteiro pode pertencer a vários crews. A característica dos crews é a junção de estilos desses integrantes e a harmonização deles em um desenho. Freestyle: Estilo livre, exatamente o significado da palavra traduzida do inglês. Hall-of-fame: Graffiti autorizado ou localizado em muros/paredes pouco expostas. Normalmente é mais trabalhado, tanto no lettering (arte de escrever letras) quanto na criação de personagens e fundos. O Hall-of-fame, quando atinge uma proporção considerável, torna-se um espaço onde vários graffiteiros renomados pintam, fazendo com que o muro seja renovado para a próxima arte em pouco tempo. Stencil: Consiste em um molde recortado utlizando cartolinas, radiografias ou materiais que possibilitam o tal, que são posicionados na superfície e passado spray em cima. Quando esse molde é retirado, ficam as formas que foram recortadas da cartolina, na parede. Trash-train: Esse estilo se dá mais através da superfície utilizada do que em tecnica visual em si, pois utiliza-se de trens que estão fora de circulação e são bem fáceis de pintar.
Bombing exemplo
Freestyle exemplo
Stencil exemplo
Hall-of-fame, Tats Cru, 2014 GF.II
Wild Boys Crew, 2013
Throw-up: O estilo mais difĂcil de se deďŹ nir, consiste em somente utilizar os contornos, sem o preechimento. Normalmente utilizados por artistas que se limitam a assinar paredes somente. WildStyle: uso de letras com formas distorcidas e setas que cobrem quase todo o desenho.
Trash-train exemplo
Thow-up exemplo
Wildstyle, CHEZ
GF.III
Além de ser bem expressivo e conhecido mundialmente, o graffiti brasileiro possui muitos artistas de diversos estilos que estão ativos nas produções, dentre tantos também está o artista Alex Senna, que constrói narrativas lúdicas, poéticas e populares na cidade de São Paulo. Apesar do trabalho de Alex Senna ser marcado pelo uso expressivo de branco e preto, a presença do imaginário infantil - corações, pássaros, notas musicais, balões e etc. - dá aos desenhos um ar colorido, ainda que de forma contraditória, pois o artista é daltônico. A impressão afetiva e calorosa de seus desenhos estabelece uma relação romântica para quem os observa, pois sugerem subjetividade, sonhos, drama e fé.
Street Art, Alex Senna
GF.IV
ATIVIDADES Quando os muros das cidades são as telas AULA 1 Proposta: Propomos com essa aula um melhor entendimento a respeito da história do graffiti e suas vertentes, além de incentivá-los a tratar de assuntos polêmicos que envolve essa técnica, desenvolvendo um senso crítico artístico a respeito do assunto. Objetivo: Embasar os alunos com um pouco de teoria sobre o assunto para que eles sejam capazes de desenvolver a sua própria opinião a respeito de assuntos pertinentes que rodeiam esse tipo de obra de arte. Duração: 1 aula Execução: Esta é uma técnica de arte interessantissima a ser trabalhada, tanto pela sua filosofia de democratização da arte, por se tratar de uma arte disponível para a apreciação do público, independente de sua classe social ou acesso a cultura, além do Brasil ser uma referência nesse estilo pelo mundo. Porém existe também discussões importantes a serem faladas a respeito do graffite, como em muitos lugares ainda é uma arte marginalizada, e nem sempre bem aceita pelas autoridades. Muitos graffites são apagados em prol de uma certa “limpeza visual da cidade”, mas o artista desse movimento resiste e continua a fazer a sua arte apesar de tudo. Por esses e outros muitos motivos, esta aula tem tudo para render ótimas discussões, por isso sugiro que mostrem a eles um pouco sobre a história do graffiti e as suas várias vertentes, além de mostrar muitas imagens e artistas referênciais nesta técnica (entre eles sugerimos Alex Senna) e em seguida, abra uma roda de conversa para que possam debater e expressar sua opinião sobre esse assunto. Materiais: Imagens, independente de serem impressas, online ou através de slides elaborados pelo professor. AULA 2 Proposta: Esta atividade é interessante pelo fato de se desenvolver um trabalho em conjunto, pois o mural será construído coletivamente. Também traz uma nova experiência de criação, pois os alunos trabalharão com uma proporção maior do que estão habituados, além da experimentação de vários objetos, estimulando a criatividade e aumentando o repertório de ferramentas artísticas. Objetivo: Fazer com que os alunos se expressem artisticamente, através da interação com materiais, instrumentos e procedimentos variados, aprendendo a valorizar o trabalho do outro assim como sua própria produção. Duração: 1 aula GF.V
Execução: Esta aula é simples porém muito importante, agora que eles ja entenderam o conceito de graffiti e conheceram vários artistas da área, entre eles Alex Senna, os alunos estão prontos para o próximo desafio! Distribua folhas de sulfite e peça para que assim como o artista citado, entrem em contato com o seu próprio universo imaginativo. Entre várias sugestões de tema que você pode abordar para direcioná-los melhor na criação desse desenho é pedir para que desenhem um sonho, seja no sentido literal ou não da palavra, podendo ser um sonho maluco que tiveram ou um sonho idealizado por eles. Materiais: Papel sulfite, lápis grafite, lápis de cor Sugestão: Tente adaptar ou criar outros temas de acordo com o que você achar melhor, porém tome cuidado para não restringir demais e acabar diminuindo a liberdade de criação dos alunos. AULA 3 Proposta: Esta atividade é interessante pelo fato de se desenvolver um trabalho em conjunto, pois o mural será construído coletivamente. Também traz também uma nova experiência de criação, pois os alunos trabalharão com uma proporção maior do que estão habituados, além da experimentação de vários objetos, estimulando a criatividade e aumentando o repertório de ferramentas artísticas. Objetivo: Fazer com que os alunos se expressem artisticamente, através da interação com materiais, instrumentos e procedimentos variados, apredendo a valorizar o trabalho do outro assim como sua própria produção. Duração: 3 a 5 aulas Execução: A ideia aqui é que, com prévia autorização, os alunos criem uma intervenção com graffitti nas paredes da escola, ocupando o ambiente escolar com arte. Com o desenho feito na aula anterior em mãos como referência, chegou a hora de por a “mão na massa”. Para deixar tudo mais interessante, leve diferentes objetos e recicláveis, como pedaços de plástico, tecidos, esponjas, lixas, borrifadores, etc. para que os alunos possam usá-los como ferramentas para a realização da pintura. Cada aluno poderá ser instigado a usar, além do pincel, no mínimo 3 objetos diferentes da caixa para compor a sua parte do mural. Como uma forma de interiorizar a experiência, o educador pode pedir para que façam um relatório, especificando os objetos que utilizaram e o resultado que conseguiram com cada um.
GF.VI
Materiais: Pincéis, tinta, borrifadores, e diversos materiais que possam ser utilizados para experimentação de novas texturas e formas. Sugestões: Caso não seja possível utilizar as paredes da escola, você pode optar por um material resistente e que possa ser trabalhado em uma escala grande, como papelão, papel panamá e tecidos . Forre uma parede formando um mural, de preferência em local aberto, como o pátio da escola. Se este for o caso, o material pode ser transportado e exposto fora da escola, em algum terreno abandonado ou em algum muro com consentimento do proprietário.
Street Art, Alex Senna, 2015
GF.VII
MAÍRA VAZ
VALENTE
PERFORMANCE A performance arte (também conhecida como performance artística) surgiu por volta da década de 1960 e consiste numa forma de expressão artística que pode incluir várias disciplinas diferentes como a música, poesia, vídeo ou teatro. Devido a sua efemeridade e essa característica de arte hibrida, faz com que seja difícil ou até mesmo impossível para muitos teóricos defini-la, conceituá-la ou classificá-la. No entanto, para os artistas performáticos o que mais importa não são as definições relacionadas a arte de performance, mas a ação em si: o ato de elaborar, exibir, e, sempre que possível “ performar”. Muitas ações performáticas foram realizadas pelos futuristas e dadaístas na década de 1920, no Cabaré Voltaire na cidade de Zurique, além deles também fizeram parte uma série de manifestações e situações artísticas ocorridas entre 1940 e 1960, como o “Action Painting” de Jackson Pollock, “Antropometries” de Yves Klein (1960); “ Escultura Viva” de Piero Manzoni (1961); entre outras.
Anthropometries, Yves Klein, 1960 Action painting, Jackson Pollock
Com o passar dos anos muitos outros artistas que também adotaram o gênero como expressão foram aparecendo, inspirados nos ícones do happening, live art e performance, como John Cage, Allan Kaprow, Gilbert & George e Orlan. Podemos citar grandes nomes do que foram essenciais para o inicio da performance no Brasil, entre eles Flávio de Carvalho e Antonio Manuel. Hélio Oiticica criador dos “Parangolés” (1967), em que propõem ao publico participar da obra, ser a própria obra de arte em movimento, vestindo as capas coloridas e remontáveis. Para Oiticica os “Parangolés” só existiriam enquanto acontecimento, cores em ação e performance. PF.I
O artista também propôs “vivências”, que eram espaços criados pelo artista com diversas referências a cultura nacional, com elementos tipicamente brasileiros, em que os conceitos de ambientação, instalação e performance fossem explorados. Além dele muitos outros artistas que iniciaram suas pesquisas sobre body arte e a performance na contemporaneidade brasileira foram se destacando e ganhando seu espaço, como a artista contemporânea Maíra Vaz Valente. Um exemplo de uma performance mais atual é a “Escuto histórias de amor” da artista Ana Teixeira Na performance, a artista escolhe um lugar de bastante circulação do público e coloca duas cadeiras lado a lado, senta em uma delas e começa a tricotar, próximo a ela lê-se a placa “Escuto histórias de amor”. Pouco a pouco as pessoas param e interagem contando suas histórias. A artista já fez a ação na Alemanha, no Canadá, na França, na Dinamarca e em vários outros países.
Mitos Vadios, Hélio Oiticica, 1978 Escuto Histórias de amor, Ana Teixeira
Artista contemporânea que propõe vivências/experiências partilhadas através de ações, por meio de performances que visam a reunir pessoas, coligar realidades, incorporando indivíduos, o termo “interstício”, utilizado como um intercâmbio que se esquiva de um modelo econômico capitalista – tal qual Karl Marx bem aplicou em suas escritas e Nicolas Bourriaud retomou em sua obra Estética Relacional, é indissociável dos encontros promovidos por essa artista paulistana. PF.II
ATIVIDADES Nosso corpo também faz poesia Maíra desobedece uma lei amparada pela ganância; as relações humanas distintas das vigentes no sistema é que são evocadas nas suas propostas artísticas, as quais não abdicam da relação direta com o público e, sendo assim, sua arte é espaço de uma intensa sociabilidade, é um completo lugar dos encontros.
Inundação, Maíra Vaz Valente, 2015
AULA 1 Proposta: Sensibilizar o aluno para compreensão do uso do corpo como uma ferramenta da arte, propondo um olhar mais voltado para o processo ao invés da própria obra de arte, um exercício de estimulo ao pensamento. Objetivo: Apresentar ao aluno os princípios básicos da performance, e dandolhe como referência onde se originou e alguns artistas importantes para este entendimento no Brasil e no mundo. Duração: 1 aula Execução: A técnica da performance costuma ser um pouco desconhecida pelos alunos, então comece falando um pouco do que se trata, baseando-se em alguns fatos históricos e artistas importantes para este contexto. Feito isso mostre a eles alguns vídeos de performances artísticas para que possam entender melhor os conceitos. No fim abra para perguntas e comentários a respeito do que foi visto.
PF.III
Materiais: Projetor ou algum outro recurso onde o professor poderá mostrar os vídeos de algumas performances disponíveis na internet. Sugestão: Essa introdução teórica também pode acontecer de maneira inversa, mostrando primeiramente os vídeos de performance e depois criando um dialogo com os alunos. Partindo de seus comentários e duvidas, o professor poderá complementar com o contexto histórico e os artistas que foram importantes.
AULA 2 Proposta: O estreitamento das distâncias entre as pessoas como sociedade é uma das principais questões a serem discutidas pelos alunos, pois terão que tomar decisões em conjunto para que possam fazer coisas cotidianas. Objetivo: A atividade tem como objetivo debater como podemos chamar atenção para coisas que gostaríamos de comunicar através da performance, pois gera uma vivência e participação efetiva de público. O debate também pode ser específico com relação à performance realizada na escola, levantando reflexões de como ações e pensamentos coletivos são difíceis, porém de extrema importância para a vida em sociedade e para o exercício de cidadania. Duração: 1 aula Execução: A artista estudada Maíra Vaz, dentre o seu repertório de performances realizadas está “O conector amarelo” e para que os alunos entendam melhor como é feita uma performance artística essa pode facilmente ser realizada por eles. Pois bem, para esta atividade conecte 2 alunos através do TNT. Você pode pedir para que fiquem um tempo assim e sigam normalmente com as suas tarefas cotidianas, como ir para o recreio, se alimentar, caminhar pelo espaço, etc. (o tempo de duração da performance, pode variar de acordo com o tempo que você possui). Enquanto a performance acontece, fica a cargo do professor registrar tudo em forma de vídeo para poder dar uma sequência reflexiva a cerca do trabalho realizado pelos alunos. Materiais: Um pedaço de TNT suficientemente grande para envolver as crianças e dar uma certa distância entre elas. Sugestões: Maíra Vaz possui várias outras performances que podem ser aplicados para esta faixa etária caso queiram que os alunos experimentem um pouco mais a técnica da performance através da prática. Outra possibilidade é pedir que os próprios alunos criem uma performance e apresentem para a classe. Uma dica, nos dias em que as performances ocorrerão, separe o começo da aula para fazer uma dinâmica de relaxamento de corpo e mente, o que trará uma maior concentração e conciência corporal para a realização da atividade.
PF.IV
AULA 3 Proposta: Esta aula propõe que os alunos, através da observação dos próprios trabalhos encontrem novas percepções sobre a performance e reflitam a respeito. Objetivo: Esta atividade tem o intuito de fazer com que o aluno consiga analisar os trabalhos dos colegas, assim como o seu próprio trabalho, levantando reflexões a partir das experiências corporais e de participação vividas ao cumprirem o papel de espectador e ator. Duração: 1 aula Execução: A partir do material em vídeo, que foi previamente registrado pelo professor da atividade realizada pelas crianças, peça para que os alunos analisem de forma crítica a experiência que vivenciaram. Você pode instigá-los com perguntas como: qual foi a sua maior dificuldade? o que você sentiu ao realizar a atividade? Que tipo de reflexão isso te trouxe? O que você acha que a artista queria ao criar esta performance? e etc. Materiais:.Projetor ou algum outro recurso onde o professor poderá mostrar os vídeos gravados da atividade anterior. Sugestão: Esta atividade também pode ser feita escrita, para aqueles alunos que se sentem mais confortáveis em se expressar dessa maneira.
ESCAPE (II), Maíra Vaz Valente, 2014
PF.V
KÁTIA
MACIEL
AUDIOVISUAL O termo “audiovisual” é algo genérico, que foi usado para referir-se e caracterizar o conjunto de todas as tecnologias de sons e imagens em movimento, abrangendo o cinema ficcional e experimental, televisão, vídeo analógico/digital, vídeo arte, animação, etc. Tais meios demandam uma interação contínua que permite mais do que olhar imagens, mas também de interpretá-las visando a criação de novas mensagens e informações, possibilitando assim a veiculação de uma enorme variável de informações sobre os mais diversos contornos e gêneros. A linguagem Audiovisual visa estimular os sentidos da visão e da audição simultaneamente, utiliza sons e imagens a fim de transmitir uma mensagem. Para isso, uma câmera (independente da configuração) é essencial, e o estudo de planos, ângulos e movimentos de câmera é muito importante. Através dos planos, os ângulos e os movimentos de câmera, é possível mostrar diversas sensações à respeito de uma situação, vista de ângulos diferentes. Os planos, de forma básica e simplificada, mostram a cena e os elementos dentro dela. Há diversos tipos de planos, desde os que descrevem cenas de forma panorâmica, tanto na questão da paisagem como na questão dos personagens (plano panorâmico, plano americano, primeiro plano) até os que mostram detalhes (plano detalhe, close, primeirissimo primeiro plano).
Plano americano exemplo
AV.I
Plano detalhe exemplo
Os movimentos de câmera, como o nome já sugere, mostra toda a trajetória feita pelo dispositivo, desde os zoons até movimentos panorâmicos. Os ângulos nada mais são que a “direção” em que se olha determinado objeto ou personagem, podemos ter ângulos de altura baixa, média e alta.
Câmera alta/ Plongê exemplo
Todos esses elementos apresentados a cima são de suma importância para a linguagem de uma forma geral, porém, não podemos esquecer que é necessário comunicar uma mensagem, mesmo que a mensagem seja “não passar nenhuma mensagem”, ainda é necessário uma linha narrativa. Mas o que é narrativa? Narrativa nada mais é do que a exposição de um acontecimento ou uma linha de acontecimentos que podem ser encadeados ou não, reais ou não, utilizando elementos verbais ou não-verbais.
AV.II
No Brasil, o audiovisual surgiu num momento de conflito, gerado por um governo militar ditatorial e promotor de censura política, que se apropriava da televisão como um dos seus circuitos midiáticos. Devido a esse contexto os artistas passaram a utilizar o vídeo como ferramenta crítica na discussão do mundo contemporâneo. Trazendo com isso o foco para o individuo, para a vida cotidiana e os processos de apropriação, e para indústria cultural, que se encontrava em destaque naquela época por conta da inserção da televisão no tecido social. Atualmente ainda existem muitos artistas contemporâneos que escolhem utilizar o vídeo como registro-obra de experimentos performáticos ou mesmo como obras artísticas. Como no caso da artista/ cineasta brasileira Katia Maciel, uma artista/ cineasta brasileira que realiza filmes, vídeos e instalações. Seus trabalhos operaram com a repetição dos códigos amorosos, seus clichês e com desnaturezas, realizando pesquisas que vinculam as relações entre a arte contemporânea e o cinema. Publicou diversos livros, participou de exposições nacionais e internacionais, e recebeu importantes prêmios como o Funarte de Estímulo à Criação Artística em Artes Visuais (2010).
Mar adentro, Katia Maciel, 2014
AV.III
ATIVIDADES Tem som, imagem e movimento. O que será?
AULA 1 Proposta: Esta aula propõe um melhor entendimento da ferramenta audiovisual, além de fazer com que exercitem a observação de uma ponto de vista mais teórico com relação a materiais audiovisuais como filmes por exemplo. Objetivo: Apresentar ao aluno os conceitos básicos do audiovisual, trazendo como referência artistas importantes e fatos históricos, realizando também análises desses materiais para uma melhor compreensão dessa linguagem no Brasil e no mundo. Duração: 1 aula Execução: Contextualize a linguagem audiovisual aos seus alunos, conte a eles brevemente sobre a história e os artistas que mais se destacaram. Faça algumas perguntas como: “ Quais são seus filmes favoritos?” Como eles imaginam que foram feitos alguns efeitos especiais dos filmes de super-heróis ?” Passe alguns trechos de filmes e peça para que comentem cada detalhe como a trilha sonora escolhida, o cenário, etc. Finalize fazendo um link entre o audiovisual e a sua conexão com a video-arte, citando alguns artistas e passando alguns vídeos nesse estilo para que possam entender melhor. Materiais: Projetor ou algum outro recurso onde o professor poderá mostrar os vídeos e trechos de filmes Sugestão: Peça para que eles sugerirem os filmes que serão observados, dessa maneira eles se envolverão mais na atividade e prestarão mais atenção.
Rodopio, Katia Maciel, 2012
AV.IV
AULA 2 Proposta: É importante que o aluno entenda os conceitos básicos de edição e filmagem, como por exemplo planos de câmera. O elemento audiovisual é uma possibilidade de expressão artística que dialoga diretamente com o interesse dos alunos da atualidade. Objetivo: Despertar no aluno a percepção do espaço ao seu redor de uma maneira diferente, através da linguagem audiovisual. A partir disso, propor alguns questionamentos a respeito, além de desenvolver uma sensibilidade artística ao cotidiano diferente do olhar viciado. Duração: 1 aula Execução: É sempre bom proporcionar um estreitamento entre a arte e o cotidiano do aluno, pensando nisso peça para que filmem algumas cenas de seu próprio cotidiano, fazendo uma espécie de edição de vídeo simultânea, utilizando para isso o botão de pause e play da câmera de vídeo. O resultado deverá ser projetado pela escola em um local ou objeto que o aluno irá escolher com orientação do professor. Materiais: Projetor ou algum outro recurso onde o professor poderá mostrar os vídeos e trexos de filmes Sugestões: Este trabalho pode ser feito em grupo, e o professor pode passar alguns vídeos do artista para que o aluno tenha uma referência. A quantidade de integrantes em cada grupo poderá variar conforme a disponibilidade de câmeras.
AV.V
CAPÍTULO 3 O Manual Prático de Arte Contemporânea para Arte-Educadores 3.1. O lúdico na construção de signicados
As atividades do Manual e as sugestões de aplicação reservam profunda ligação com a pesquisa e o estudo teórico e de observação que considera a questão do teor lúdico como essencial para a fixação prolífera dos conteúdos em Artes. Intenciona-se aqui, inicialmente, despertar no arte-educador a profunda noção da necessidade de se desenvolver o hábito da pesquisa-ação, através da qual a teoria alcança a prática e vice-versa. Quando o educador leva para a sala de aula uma proposta de atividade com intuito de gerar estímulos direcionados (com embasamento teórico latente) e abertos (capazes de interação com o universo particular do aluno para geração de sentido pessoal sobre o assunto), espera-se que haja uma atenta observação dos rumos que a produção da turma assume. Em outras palavras, isso significa unir a pesquisa à ação, desenvolvendo o conhecimento e a compreensão como parte da prática. A sala de aula deve se tornar o objeto principal de pesquisa do professor. Compreender que as situaçõesproblema apresentadas aos alunos são suscetíveis de mudanças em seu trajeto, trazendo fatos inesperados, não planejados e, por isso mesmo, significativos, permite o exercício do raciocínio adaptável, trazendo benefícios para o próprio processo, da prática docente. Para que este ensino se torne prazeroso, produtivo e dinâmico, compreendemos o grande benefício que uma abordagem lúdica na aplicação dos conteúdos proporciona. Com a utilização de jogos ou dinâmicas atrelados aos conteúdos de arte, passa-se, então para a criação de intervenções mais “descontraídas” em sala de aula, possibilitando o envolvimento das crianças. Essas afirmações fincam suas bases nos aspectos relevantes a partir do referencial teórico utilizado e apresentado por ocasião da elaboração deste projeto, da construção do material didático físico e, também, das pesquisas e experiências ocorridas em sala de aula antes e durante a elaboração dos conteúdos e atividades propostas. O lúdico apresenta uma grande versatilidade que possibilita inovar sempre, fazendo com que o educador seja realmente um facilitador da aprendizagem e garantindo a participação ativa dos alunos. Usá-lo para ensinar arte é considerado como uma estratégia metodológica, para conseguir que esse aluno olhe para o professor, ouça o que ele diz, se concentre e, assim, a aprendizagem se concretize. O discurso do professor, em uma atividade lúdica, passa a ser mais atrativo do que tudo que se encontra a volta do aluno naquele momento.
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Observa-se, claramente, que nas gincanas, dinâmicas, jogos e outras atividades lúdicas, estabelecem-se vínculos com os estudantes porque eles tem a impressão (embora seja apenas impressão), de que estão apenas brincando e isso, psicologicamente falando, elimina possíveis resistências que possam ser demonstradas por eles. Atividades educativas que se utilizam do lúdico também resolvem por muitas vezes problemas de convivência e socialização, maximizando vínculos interpessoais e autoconfiança, ao mesmo tempo em que se minimizam os problemas de relacionamento tão comuns nessa fase escolar. Porém, é importante lembrar que a aplicação lúdica dos conteúdos não podem ser confundidas com brincadeiras para ocupar o tempo na escola, ou mero entretenimento da criança. Seu uso deve ter o intuito de desenvolver pontos de vista, assimilação e problematização pessoal. Segundo FERRAZ e FUSARI (1993), considera-se importante a inclusão do brinquedo e da brincadeira como parte integrante dos métodos e procedimentos, incorporadas às aulas de Arte, pois as experiências com brincadeiras, quando estruturadas adequadamente, podem motivar processos construtivos e expressivos dentro dos conteúdos da disciplina. Os benefícios que a utilização de jogos e brincadeiras pode acrescentar à educação foram abordados e defendidos por diferentes educadores em diferentes épocas, destacando-se Jean Piaget (já mencionado), Lev Vigotsky, Mélaine Klein, Ana Marta Meira, Ferraz e Fuzari, Walter Benjamin, entre tantos outros. Abordam o assunto sob vários aspectos, de forma que contribuem para o aprofundamento de questões de suma importância até a atualidade e podem ser também pesquisados pelo educador, para aprofundamento. Sugestões de títulos vide consulta ao item Bibliografia.
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3.2. O Material Didático como ferramenta de apoio no ensino de arte Embora, teoricamente, as diretrizes dos PCN para os conteúdos do ensino de arte são satisfatórias, na prática quase sempre se termina por aceitar o que é proposto nas instituições de ensino, fragmentando o perfil do ensino de Arte no Brasil. Aliada à necessidade de uma discussão, seriedade e discernimento por parte de professores de arte, gestores e governantes, no sentido de encontrar alternativas para definição de objetivos específicos ao ensino de arte, surge também a construção de materiais didáticos de apoio à prática docente diária. Um bom material educativo vem de encontro às necessidades específicas do grupo ao qual se propõe, não apenas apresenta conteúdos ultrapassados ou meramente reúne textos teóricos e instruções engessadas que não conduzam a uma assimilação eficiente por parte dos estudantes. Ele apresenta-se como um guia para que o educador seja sujeito de sua atuação, podendo também ampliar seu conhecimento e exercer reflexão sobre o processo histórico, teórico e prático do conteúdo que deve apresentar em sala de aula. Além disso, um conjunto bem estruturado de atividades e conteúdos abre portas para a discussão e reflexão na própria construção do processo de ensino, propondo alternativas para uma metodologia que atenda as expectativas tanto do que ensina como do que aprende. Ou seja, o livro norteador da prática docente é também um instrumento que potencializa a formação continuada do professor e sua atualização, pela presença de referências bibliográficas, sites, vídeos, sítios complementares e pela promoção da reflexão sobre a prática docente. O livro didático deve explicitar a estruturação de conceitos e teorias pertinentes a cada campo artístico, apresentando orientações objetivas para experiências artísticas significativas em cada um deles. Unida a uma forma de abordagem interligada às características da arte contemporânea, esta ferramenta se potencializa, pois adquire corpo multifacetado, adaptável, aberto a adaptações, não rígido, acolhedor, para todos os perfis de personalidade, multilinguístico, interdisciplinar, atual e próximo à vida do aluno. A produção artística e a reflexão propiciadas pelo livro didático devem possibilitar a historicidade e o diálogo com o tempo presente. Para tanto, devem ser apresentados os pressupostos metodológicos que orientam o conteúdo e os que desencadeiam a produção, assim como indicar caminhos e práticas para a fruição e recepção artística.
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Dessa forma, para a faixa etária abrangida pelo Manual, há um aprofundamento maior em relação aos conteúdos de cada área que, além de preparar o estudante para as práticas sociais, compõem a base para conteúdos mais complexos nos anos seguintes. Ainda assim, as crianças ainda devem ser estimuladas por meio de atividades lúdicas, jogos, leituras, imagens, sons e experimentações práticas com os diversos os materiais e técnicas. As reformulações sofridas pelo ensino fundamental, a partir da LDB e dos PCNs, exigem, além de tudo, uma reformulação do espaço educativo, bem como da utilização dos materiais e dos equipamentos didáticos. Acompanhando as novas proposições para esta fase da escolarização das crianças e dos jovens, os recursos didáticos precisam ser repensados e seu emprego dinamizado. E é exatamente isso o que o arte-educador vai ajudar a fazer, utilizando-se dos materiais de apoio. Dessa forma, empregando seu repertório de novos conhecimentos, eventualmente junto aos outros professores, alunos e demais ligações pessoais ou externas, ele pode redimensionar as suas estratégias de ensino, a partir da otimização dos materiais e dos equipamentos disponíveis em sua escola. Um material didático bem estruturado consegue, pela natureza de sua apresentação, reunir de forma sistematizada os saberes que se pretende ensinar e aprender, indicando até mesmo os rumos a serem tomados na sala de aula, o que salienta as vantagens de seu uso. É de suma importância que se tenha em mente que o material deve ser utilizado de forma crítica, de modo que atue como apoio do programa educacional (e não como condutor de todo o processo de ensinoaprendizagem), fazendo-o interagir com outros possíveis recursos e equipamentos relacionados aos temas em curso. A partir dessa fase e das experiências de comparação, dentre outras, a criança vai assimilando os saberes, que passam a ter significado, tornando-se autônoma e desenvolvendo senso crítico. Elas precisam ver, tocar, sentir, cheirar, manipular os objetos, para que por meio de suas percepções possam fazer representações mentais e pensar sobre eles.(BRASÍLIA, 2009, p. 91).
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Esse é o período em que a constante busca pelas experiências e pelos conhecimentos prévios dos alunos também deve tornar parte das práticas educativas, pois, ao estabelecer relações entre o que já se sabe e o conhecimento novo – por meio da análise, da comparação e da manipulação – a criança consegue atribuir significado ao conteúdo que lhe está sendo apresentado. Dos 10 aos 12 anos de idade (podendo ser considerada uma extensão até os 14 anos), os alunos avançam, gradativamente, do estágio operatório-concreto para o pensamento formal (abstração). Já estão aptos a desenvolver conhecimento em aulas que utilizem recursos tecnológicos, bibliotecas, laboratórios etc, de acordo com a estrutura de cada instituição. Se houver possibilidade, esta fase da crianças já permite a utilização de toda a gama de estímulos do intelecto e do sensível, desde imagens impressas ou projetadas, visitas a museus, galerias, teatros, cinemas, passando por interligações com o universo virtual e a tecnologia, mediados sempre pelo professor-propositor. Assim, torna-se possível formar cidadãos críticos e capacitados o bastante para serem agentes transformadores de sua própria vida e da realidade que os cerca.
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3.3. Metodologia utilizada e Plano de Estruturação das aulas Para a estruturação das aulas, verificamos que Katia Canton lança uma possibilidade muito pertinente para sistematizar o ensino da arte em nosso tempo, através da separação dos conteúdos em Temas, que aqui nos permitimos a extensão e adaptação para uma organização em meios artísticos e artistas significativos na atualidade do Brasil. Resultado de uma longa pesquisa acadêmica (de 1993 a 2010), seu método aceita a mutabilidade das manifestações artísticas contemporâneas e se organiza a partir dos suportes mais utilizados na prática, como pintura, gravura, instalação e entre outros. Canton se preocupou em definir, além dos novos conceitos atuais de arte, também quais seriam as heranças e referências que trouxeram os artistas e seus trabalhos até aqui. Situar, portanto, a arte no contexto de nosso tempo, articulando artistas, influências, tendências e meios, de forma clara e organizada, é a nossa busca para conseguir criar um metarial de apoio na prática educacional capaz de transformações. Buscamos, com isso, combater a visão disseminada, mesmo que de forma invonluntária e automática por parte da maioria das pessoas, de que a arte se situa “em um mundo à parte”, aproximando-a da vida dos alunos para que estes a carreguem e semeiem. Inicialmente, definiremos um roteiro de duração aproximada para aplicação das atividades contidas no Manual, buscando auxiliar na distribuição do conteúdo dentro de um possível plano pessoal que o arte-educador possa já ter definido para sua ação. Em seguida, detalharemos o conteúdo de cada aula, preocupando-nos sempre em criar ligações externas opcionais para um maior aprofundamento em determinado tema, se o educador assim o desejar. Algumas aulas apresentam caminhos alternativos para sua aplicação, de forma a contemplar qualquer escola, independente de sua infraestrutura. Como fator facilitador para ilustrar o conteúdo, traremos entao uma visão geral das páginas do material físico, consistindo em um volume em formato fichário, justificando a organização visual escolhida. Finalmente, serão apresentadas algumas sugestões e indagações sobre os possíveis desdobramentos que o arte-educador possa identificar como necessárias, assim como indicações de fontes de estudos e pesquisas complementares, para aprofundamento dos temas, caso o educador desejar.
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É importante contextualizar a criança a qual estamos nos referindo, pois sabemos que dentro do ensino da arte-educação em nosso país existem variáveis sociais, culturais, geográficas, etárias, políticas, assim como problemas com escassez de recursos e qualificações para atender às inúmeras exigências feitas ao arte-educador. Por isso, este material foi pensado para que possa ser adaptado e utilizado nas diversas situações do contexto escolar, trazendo caminhos, contextualizações teóricas aplicadas à arte e subsídios para que o professor utilize seu próprio potencial e seja agente de transformações efetivas na vida dos alunos. As atividades propostas neste material estão além da prerrogativa de conceber futuros artistas, preferindo focar no desenvolvimento do pensamento crítico, do raciocinio lógico e do conhecimento pessoal através do processo criativo e produção de arte. No que diz respeito aos métodos de aplicação do conteúdo deste Manual, Dick Field, em seu livro Change in Art Education, afirma: “A verdadeira educação não deverá meramente capacitar a criança para pensar em direção a um (único) tema dado.” (FIELD, 1971, pág. 21 apud BARBOSA, 1985, pág. 49). Em livre interpretação, no sentido de sua forma de aplicação, é necessário que os estímulos causados por cada atividade em sala de aula levem em consideração o modo como são recebidos por determinado grupo de alunos, com suas particularidades. A sensibilidade e as adaptações por parte do educador se fazem indispensáveis neste ponto, substituindo a prática pedagógica da imposição de temas e o “desenho livre” pela geração de situações de estímulo aberto. Isso quer dizer que as crianças podem ser envolvidas de forma lúdica e em novas experiências que trabalhem tanto a prática quanto o significado e tanto a criatividade quanto o potencial cognitivo, se a forma como o educador direcionar os conteúdos se relacionar com a vida, o nível de intelecto, a idade, a cultura e as influências do cotidiano daquele grupo de crianças. Procuramos, assim, encontrar um equilíbrio entre um tipo de metodologia que defina os temas que o aluno deve utilizar para compor suas atividades de artes e uma outra prática escolar, também muito difundida em nossos dias dias, que deixa o aluno livre para escolher os temas e os materiais que desejar para fazer os trabalhos. Não é indicado que o educador adote nenhum dos dois modelos, pois nenhum deles irá falar ao interior do aluno.
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No primeiro caso, acaba-se por condicionar aquela criança a pensar que fazer arte é apenas uma atividade da escola, a qual ele apenas tem que cumprir como os adultos esperam, criando imagens e objetos reconhecíveis, engessados dentro de padrões com pouca significação, até que complete o ensino médio e conclua a educação básica. No segundo caso, ainda, a maioria das crianças acaba recebendo tanta liberdade da escola como falta de necessidade de ação/produção, e a interrelação forma-conteúdo perde seu potencial. Aqui, também se sobressai a ausência de significado. O ideal é que o arte-educador crie caminhos, apresente diversas opções e gere debates, questionamentos críticos e visuais, instigando o interesse de seus alunos por realizar determinada atividade e descobrir o que ela esconde ou tem a dizer, o que ela guarda entre seus aspectos práticos e de significado. Indicamos, como já citado anteriormente, uma atuação em sala de aula que siga os preceitos da Metodologia Construtivista para o ensino infantil. Inspirado nas idéias do pesquisador suíço Jean Piaget (1896- 1980), o método procura instigar a curiosidade, já que o aluno é levado a encontrar as respostas a partir de seus próprios conhecimentos e de sua interação com a realidade e com os colegas. Mais do que uma linha pedagógica, o Construtivismo é uma teoria psicológica que busca explicar como se modificam as estratégias de conhecimento do individuo no decorrer de sua vida e, por essa amplitude e ligação com o desenvolvimento psicológico da criança é que se apresenta como método adequado para a aplicação do Manual de Arte Contemporânea Brasileira em sala de aula. O objetivo é que o aluno participe ativamente do próprio aprendizado, mediante a experimentação, a pesquisa em grupo, o estimulo à dúvida e o desenvolvimento do raciocínio, entre outros procedimentos. A partir de sua própria ação, ele vai reconhecer as propriedades dos objetos e construir a noção das características do mundo. O método ainda enfatiza a importância do erro não como um tropeço, mas como um trampolim na rota da aprendizagem, condenando a rigidez nos procedimentos de ensino, as avaliações padronizadas e a utilização de material didático demasiadamente estranho ao universo pessoal e cultural do aluno de cada faixa etária. Para mais informações sobre o assunto, o educador pode procurar por publicações de Piaget disponíveis em português, tais como: “O Nascimento da Inteligência na Criança”, “A construção do real na criança”, “A formação do símbolo na criança”, devidamente indicados no item Bibliografia, e entre outros.
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3.4. Roteiro sugerido para a aplicação do Manual em sala de aula O Manual Prático de Arte Contemporânea Barsileira para ArteEducadores é composto por um conjunto de sugestões de atividades, com relações teóricas pertinentes à realidade atual da arte-educação no país. A estas sugestões se unem uma seleção de artistas contemporêneos cuja produção se faz pertinente e compatível com o ensino dos diversos meios artísticos às crianças. Sua estruta consiste no seguinte programa de aulas: Parte1-Os riscos e rabiscos que vemos quando olhamos de verdade (Desenho) Parte 2 - Sentir o mundo através das tintas (Pintura) Parte 3 - Repetir de um jeito diferente (Gravura) Parte 4 - Amassa, puxa, estica (Escultura) Parte 5 - E se a quisermos misturar tudo que temos? (Assemblage) Parte 6 - Congelando aquilo que os olhos sentem (Fotografia) Parte 7 - Quando os muros das cidades são as telas (Grafitti) Parte 8 - Nosso corpo também faz poesia (Performance) Parte 9 - Tem som, imagem e movimento. O que será? (Audiovisual)
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3.5. Complementações pelo arte-educador e possíveis desdobramentos do conteúdo É importante enfatizar que ainda que o Manual Prático de Arte Contemporânea Brasileira para Arte-Educadores seja um material didático desenvolvido para abordar em sala de aula uma faixa etária específica e que foi planejado em formato fichário para possibilitar possíveis alterações do professor, o mesmo não pode deixar de consultá-lo, a fim de poder preparar a sua aula de acordo com a infraestrutura da escola e também com a dinâmica da turma em que será trabalhada. Como arte educador, o profissional não pode continuar passando a mesma ideia que foi propagada no passado, de que Artes faz parte de um universo diferente e que não se correlaciona com a vida do aluno, portanto o quesito contextualização deve se fazer presente nas aulas, pois cada aula do material foi elaborada em cima de um artista e um tema específico, e dessa forma foi elaborada uma atividade para alcançar os objetivos da aula. É importante que o educador tenha em mente que o material irá de fato servir como apoio, porém de nada servirá se o professor não se reciclar constantemente e manter um compromisso com os alunos de trazer atividades inovadoras, complementando o material que tem em mãos. O conteúdo do fichario é amplo e possibilita que o educador elabore e ministre aulas completas, proporcionando aulas de forma clara para os alunos e também obtendo retorno dos mesmos através das atividades elaboradas para cada aula.
3.5.1 Onde encontrar mais informações Selecionamos algumas fontes complementares, em plataformas diversas, para que o arte-educador possa pesquisar mais sobre as aulas e assuntos que sentir necessidade. CAPÍTULO 1: Site da pesquisadora, arte-educadora, curadora e crítica de arte Kátia Canton: http://www.katiacanton.com.br/ Entrevista com Ana Mae Barbosa sobre a recente obrigatoriedade do ensino de Teatro, Artes Visuais e Dança no currículo do ensino básico brasileiro, aprovada em Maio de 2016 (Revista Época): http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2016/05/importancia-do-ensino-das-artes-naescola.html 34
CAPÍTULO 2 Desenho “Desvendando os Quadrinhos”, Scott McCloud: https://goo.gl/Q8AHVU Site de Quadrinhos Brasileiros: http://petisco.org Animações de Tiago Hoisel: https://vimeo.com/71740656 https://vimeo.com/85564976 Site animado contando a tragetória de Alan Moore nas Hq’s: http://goo.gl/1UUuBM Pintura Entrevista com Beatriz Milhazes (Youtube): https://goo.gl/ZqvTXy Ideias e técnicas para atividades de Pintura em sala: http://goo.gl/i2AHCr Gravura Entrevista com J. Borges sobre xilogravura e literatura de cordel (Youtube): https://goo.gl/E4cB63 Entrevista com Paulo Cheida Sans (Youtube): https://goo.gl/jhd38u Escultura Entrevista com Kimi Nii (Youtube): https://goo.gl/HKptlc Sobre a exposição “ Nas Nuvens” de Kimi Nii (Youtube): https://goo.gl/t40o0r Assemblage: Sobre a historia de Arthur Bispo do Rosário (Youtube): https://goo.gl/IIOdkF Documentário “Lixo extraordinário” de Vik Muniz (Youtube): https://goo.gl/cCGCuk 35
Fotografia: Documentário de Sebastião Salgado (Vimeo): https://vimeo.com/128242266 Livro Geração 00: A Nova Fotografia Brasileira, de Eder Chiodett. Edições Sesc São Paulo, 2013. (Contém amplo mapeamento da fotografia contemporânea brasileira). Graffiti: Sobre a exposição “Tempo” de Alex Senna (Youtube): https://goo.gl/IEO0QF Site dos Gêmeos: http://www.osgemeos.com.br/pt Performance: Filme sobre Jackson Pollock (Youtube): https://goo.gl/c4pmuX Sobre a performance de Ana Teixeira (Youtube): https://goo.gl/4e3MZI Audiovisual Registro da obra “Mar adentro” de Katia Maciel: https://vimeo.com/110267058 Linguagem cinematográfica http://goo.gl/JXvsK4 CAPÍTULO 3: Site da Secretaria da Educação do Governo do Estado do Paraná, disponibilizando diversos recursos didáticos para auxiliar em sala de aula, incluindo animações, áudios, galerias virtuais, imagens e jogos, entre outros: http://goo.gl/BgcCg7
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CONSIDERAÇÕES FINAIS Com este sucinto trabalho, afirmamos que um material didático voltado para o ensino prático e profundo de Artes no ensino regular não deve se limitar a passar apenas a informação correta, despejar conteúdo indiscriminadamente. Sem o objetivo de aguçar a construção de um censo crítico particular justificável, produto de uma consciência autônoma e formadora de opinião, caímos na apatia de nada significar, como arte-educadores, na trajetória de construção do aluno. O papel do educador que também é artista (em sua essência) faz-se de extrema importância para a ativação dos processos cognitivos na aprendizagem para a vida, o que exige que valorizemos o Fazer em sala de aula, não somente com materiais e ideias, mas também com processos mentais eficientes. Anna Mae Barbosa já há muito vem afirmando que um ambiente criativo de ensino deve prover à criança com experiências, testando suas próprias ideias e sentimentos contra os fatos do mundo (BARBOSA, Anna Mae, 1985, p.60). Incluindo, então, no ensino da disciplina, exercícios que envolvam os critérios do pensamento criativo-reflexivo, em lugar de objetivar apenas valores estéticos enraizados, afirmamos a Arte Contemporânea como meio efetivo para o desenvolvimento dos processos criativos em geral, ou seja, em todas as áreas e momentos da existência pessoal que virá. As novas maneiras de relação social e os novos hábitos culturais passam a exigir mudanças na forma de ensinar as crianças e os jovens, pois eles estão crescendo inseridos num mundo de realidade virtual e sendo educados num mundo de acelerado movimento, porém indiferente às transformações culturais. A escola é a principal instituição para a preparação desse aluno para enfrentar a vida adulta. Sabe-se que o professor não é um mero transmissor, mas está diante de um desafio principal e crucial: fazer com que crianças e adolescentes se disponham a aprender. Acreditamos que uma caminho possível para a resolução deste problema seja a disposição do arte-educador em combater a falta de sentido para o estudo da arte por parte dos alunos. A Arte Contemporânea, aliada ao método construtivista e à aplicação dos conteúdos de forma lúdica no caso das crianças, oferece desdobramentos e multiplicidades compatíveis com a grande variedade de personalidades, condições sociais e culturais, além de outras, existentes o Brasil atualmente, sendo, portanto, instrumento poderoso indicado para ajudar na luta que aqi assumimos: Tornar possível que a arte-educação assuma seu verdadeiro lugar e valor no ensino regular em nossas escolas. 37
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