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Sejam bem-vindos à VERSUS Magazine, a nossa edição da “silly season”, que apesar dos constrangimentos inerentes às férias aqui está de novo com um rol de bandas em entrevista que vale a pena conferir: os Grog, verdadeiros ex-libris do death/grind nacional que acabam de regressar com um novo álbum, os reconhecidos Corpus Christii, que fazem também as honras de capa, e ainda os Nargaroth, Sarah Jezebel Deva, Ghost Brigade, Nomad, entre outros. Os leitores habituais notarão desta vez a ausência da rubrica retroVERSUS, uma falta que lamentamos mas que se justifica pela indisponibilidade do nosso estimado colaborador Dico, a qual motivou também a supressão da prometida segunda parte d’A História esquecida do Metal Português. Podem contar desde já com ambos os conteúdos no próximo número. Para terminar, chamo a vossa atenção para a secção Crítica-Versus (que inclui análise dupla do álbum do mês), agora com um formato mais adequado à leitura online, e para a nossa mega-reportagem do Vagos Open Air. Como sempre, enviem-nos o vosso feedback para versusmagazinept@gmail.com. Ernesto Martins
Paradise Lost
DVD «Draconian Times MMXI»
A banda inglesa Paradise Lost lançará no dia 7 de Novembro um novo DVD, «Draconian Times MMXI», que contém o concerto gravado este ano, em Abril, no Forum, em Londres, em que tocou na íntegra o clássico álbum «Draconian Times», lançado em 1995. Além do concerto, o DVD tem um documentário feito pelo baixista Steve Edmondson e entrevistas com todos os outros integrantes da banda e com o produtor Simon Efemey. Dois clipes do disco mais recente do grupo, «Faith Divides Us – Death Unites Us», também estão disponíveis no DVD.
More Than a Thousand e Before the Torn cabeças de cartaz em Espanha Os portugueses More Than a Thousand e Before The Torn são os cabeças de cartaz do último dia do XVIII REVOLTALLO, que ocorre na localidade de Monte dos Pozos em Espanha. Este festival decorre entre os dias 17 e 21 de Agosto e para além de música ao vivo existe uma noite apenas dedicada a um desfile de moda e outra de DJ’s, para além de outras actividades. Um festival, no minimo, diferente.
Miss Lava ao cuidado de Matt Hyde Os reis nacionais do heavy stoner-rock/metal, Miss Lava, recrutaram
os serviços do famoso produtor Norte-Americano Matt Hyde, vencedor de vários Grammys e que já trabalhou com bandas como Children of Bodom, Hatebreed e Slayer, entre outras, para misturar e masterizar em Los Angeles o sucessor de «Blues For The Dangerous Miles». As gravações de bateria do novo trabalho de Miss Lava, cujo som acústico foi da responsabilidade de Chris Common (These Arms are Snakes, Pelican), tiveram lugar nos Estúdios Panavideo em Lisboa com a supervisão do produtor/ baixista Samuel Rebelo. As vozes do disco foram captadas em Junho passado nos Black Sheep Studios com a orientação de Makoto Yagyu (Paus, If Lucy Fell e Riding Panico).
Dream Theater
Edição especial de «A Dramatic Turn of Events»
«A Dramatic Turn of Events», o esperado álbum dos Dream Theater, que marca a estréia do novo baterista Mike Mangini, será lançado dia 13/09 pela Roadrunner Records. A pré-venda exclusiva da edição deluxe de colecionador inclui: - álbum «A Dramatic Turn of Events»; - Instrumentais de todo o álbum; - DVD «The Spirit Carries On» – filme de 60 minutos que documenta as audições para o baterista; - LP duplo de «A Dramatic Turn of Events» (vinil de 180 gramas); - Impressão em litografia da capa do álbum; - 50 vencedores sortudos ganharão um “ingresso eterno” dos Dream Theater.
Comunicado Gates of Hell Mudança de line-up
“Vimos por este meio anunciar que o nosso line-up está definitivamente escolhido!!! Agradecemos desde já o facto de bastante pessoal ter manifestado interesse em fazer parte do nosso projecto, ficamos bastante motivados e lisonjeados. Antes de mais queriamos dizer-vos que o processo de escolha foi dificil e por isso queremos deixar aqui o nosso muito obrigado pelo tempo, paciência e dedicação dos candidatos durante o processo de selecção dos membros. Sendo assim e sem mais demoras, o vocalista escolhido para integrar a nova formação dos G.O.H. foi o Raça (actualmente também em Revolution Within), e quem fica encarregue do baixo será o Drazil (actualmente também em Damage my God). Mais uma vez, gostavamos de dar os parabéns aos que não foram escolhidos e felicitar o Raça e o Drazil que vão contribuir para formar um grupo coeso e com objectivos definidos.”
Grog
Concurso “Barbie Dolls Grind’em’All”
Numa iniciativa sem precedentes, os Grog convidam todas as mulheres de todo o mundo a participar num concurso de imagem, para que nele possam expressar o seu lado insano / obscuro / non sense em combinação com a temática da banda. Assim, semanalmente, será proposto um tema ao qual as participantes deverão postar uma foto pessoal alusiva à proposta na página do facebook dos Grog. Vencerá a foto que recolher mais “likes”, Haverá uma vencedora a cada 2 semanas. Regras: - Válida apenas para meninas - Duas semanas de validade cada tema Prémio: 1 pack cd Scooping The Cranial Insides, 1 Girlie T shirt (S / M, tamanhos únicos), 1 DVD (Grog no SWR Fest XIV 2011) Temas: - Semana de 16/08 a 31/08 = Odes To The Carnivorous - Semana de 1/09 a 15/09 = In Grog We Grind - Semana de 16/09 a 30/09 = Scooping The Cranial Insides
Symphony X
14/10 no Incrível Almadense; 15/10 no Hard Club
O power metal progressivo é, provavelmente, um dos sub-géneros mais diversos musicalmente e, ao mesmo tempo, acessível no espectro da música pesada. Os norte-americanos Symphony X são um dos porta-estandartes da tendência, um grupo que prova – ao contrário de muitos dos seus competidores mais directos – que técnica não tem obrigatoriamente de ser sinónimo de exibicionismo instrumental. Apesar de serem músicos de excepção, o quinteto também consegue escrever canções muito bem estruturas, com princípio meio e fim e com ganchos que agarram o ouvinte pelo colarinho do primeiro ao último momento. Famosos pelos seus concertos arrebatadores e cheios de garra, é precisamente isso que se espera deles quando apresentarem a novidade «Iconoclast» nos palcos da Incrível Almadense e do Hard Club, nos dias 14 e 15 de Outubro, respectivamente.
Sem medo de apostar
Ghost Brigade é uma banda despretensiosa, que faz música com um sabor alternativo, com um único propósito: celebrar a vida e reflectir sobre ela. Tal é o retrato traçado por Tommi Kiviniemi, um dos guitarristas desta banda finlandesa, em entrevista à Versus Magazine, a propósito do último álbum: «Until Fear No Longer Defines Us». Aproveitou a ocasião para recordar, com entusiasmo, a passagem dos Ghost Brigade pelos Vagos Open Air 2010 e manifestar a intenção de regressar para promover o terceiro álbum desta jovem banda. Ghost Brigade surgiu na cena metal finlandesa em 2005. Como começaram? Tommi Kiviniemi: A banda formou-se em 2005, porque o Wille [Naukkarinen, o outro guitarrista] já tinha composto alguma música muito prometedora. Começámos a ensaiar, a melhorar o material já criado. Foi muito divertido para todos nós. A nossa primeira manifestação pública ocorreu em 2006 e correspondeu ao lançamento de uma demo que tínhamos gravado no Outono de 2005. Acho o nome da banda intrigante. De onde vos
veio a ideia? É um puzzle com duas peças. O nosso baixista, o Janne, disse que gostaria que a palavra ghost figurasse no nome da banda. Juntámos-lhe brigade em homenagem a uma canção pop de que gostamos muito: “Snow Brigade”, de Mew. Identificam-vos como uma banda de metal alternativo. De facto, a vossa música parece combinar elementos muito variados. Que som fazem realmente? Fazemos a nossa música, o nosso som característico.
“(…) fazemos a música que queremos e da forma que queremos e isso é muito… alternativo.”
Não nos preocupamos com estilos, nem categorias musicais. Aliás, parece-me que alternativa é mesmo a palavra a usar para qualificar a nossa música. De facto, fazemos a música que queremos e da forma que queremos e isso é muito… alternativo. Todos estão noutras bandas. Esses projectos paralelos influenciam este? De certo modo, sim. Porque, apesar de sermos uma banda de metal, sente-se na nossa música um sabor a rock e punk e pop que vem de outros lados. Há quem vos compare a Katatonia e Isis. Que pensas disto? São bandas muito boas. Mas não encontro semelhanças nenhumas entre a nossa música e a deles. No entanto, só tenho um álbum de cada uma delas e, por isso, sinto que conheço mal a sua música. Qual é a imagem de marca dos Ghost Brigade? Penso que é o nosso som, a forma como fazemos música. Conseguimos combinar riffs modernos e típicos do metal com um som sujo e algumas pancadas “à carpinteiro”. Hehe! São uma banda prolífica: «Until Fear No Long De-
fines Us» é o vosso terceiro álbum. O título traduz algum conceito subjacente a ele? Não propriamente. No entanto, tal como nos álbuns anteriores («Isolation Songs» e «Guided By Fire»), o título escolhido corresponde a uma espécie de fio condutor de natureza lírica. Como as nossas letras são sempre muito pessoais e actualizadas, todos os nossos álbuns têm um grande conceito de base: a própria vida. Qual o significado do artwork? E quem o fez? O Wille, o nosso segundo guitarrista. Faz tudo nos nossos álbuns: a capa, o design, tudo mesmo. É designer gráfico e um profissional de mão cheia. Para obteres uma resposta inteiramente segura, terias de lhe fazer a pergunta a ele. Mas eu posso ajudar. A fotografia da capa – mostrando um pedaço de montanha e espaço, que dá uma sensação de épico – significa que, quando consegues fazer algo desafiador para ti, perdes uma parte dos teus medos. Isso vai-te ajudando a enfrentar mais e mais desafios e a concretizar progressivamente os teus sonhos. Neste terceiro álbum, as faixas apresentam estilos muito diferentes. A minha favorita é “Clawmaster”. Adoro os vocais e o trabalho de guitarra é fantástico. Achas que esta característica distingue «Until Fear…» dos vossos álbuns anteriores? Ou é só uma versão mais refinada do vosso estilo habitual?
“Adorámos estar aí [em Portugal]. O concerto foi óptimo, passámos momentos maravilhosos no festival [VOA 2010] e as pessoas foram muito simpáticas connosco.” Sabe bem ouvir esses comentários. Mas não se pode propriamente dizer que a nossa música esteja mais refinada. De qualquer modo, este álbum constitui mais um passo natural na evolução da banda, portanto a nossa música está diferente. Mas tenho dificuldade em distinguir o conteúdo deste álbum dos anteriores: é sempre música dos Ghost Brigade. Season of Mist e Ghost Brigade parece ser uma relação de sucesso. Qual é a base da vossa harmonia? Penso que é a confiança mútua que nos une. Eles confiaram em nós desde o início e essa atitude é fundamental para a banda. Pudemos fazer tudo o que queríamos. E isso fez com que nos empenhássemos ao máximo. Por outro lado, essa confiança também nos leva a ser honestos, connosco e com a SOM. E, se fores honesto contigo próprio e com as pessoas com quem estás a trabalhar, nada pode correr mal. Estive no vosso concerto no Vagos Open Air, em Portugal, no ano passado. Como conseguiram vir tocar nesse festival? Fiquei muito bem im-
pressionada com o vosso espectáculo, mas também fiquei um bocado baralhada. Não consegui identificar o vosso estilo, mas gostei muito. Fico contente por saber que gostaste. Fomos convidados para ir a Portugal e tocar. Já não me lembro como foi. Provavelmente, foi mais uma excelente iniciativa do nosso agente. De qualquer modo, foi um sucesso. No ano passado, estavam a promover «Isolation Songs». Tencionam vir a Portugal apresentar «Until fear…»? Estamos a contar fazê-lo. Adorámos estar aí. O concerto foi óptimo, passámos momentos maravilhosos no festival e as pessoas foram muito simpáticas connosco. Fizemos vários amigos. Depois do VOA, levaram-nos a Lisboa, para umas pequenas férias. Fomos embora encantados com Portugal. Sinceramente, gostaríamos de voltar! Entrevista: CSA
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until fear no longer defines us
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No Palco Principal
Depois de ter sido a voz feminina de suporte, durante anos a fio, para algumas das grandes bandas da cena metálica e de ter abortado uma primeira tentativa de carreira a solo, Sarah Jezebel Deva encontrou finalmente o seu espaço, por direito próprio no palco principal do Metal Gótico. «The Corruption of Mercy» é o álbum que traz Sarah Jezebel Deva à conversa com a Versus Magazine.
O primeiro impacto que temos com «The Corruption of Mercy» é a capa. Concordas comigo que é uma capa intensa e provocatória. Tiveste algum problema ou mesmo censura de qualquer ordem com a capa? Sarah Jezebel Deva: Essa imagem é a pequena rapariga Mercy. Aquela imagem é o resultado final da corrupção da qual ela foi alvo. Ela tornou-se feia e desprovida de qualquer moral, quase tal como a sociedade vê um louco. Alias, foi a própria sociedade que a levou àquele ponto. O objectivo não é o ser pornográfico, mas sim transparecer simplesmente um sentimento mais profundo. Queria chamar a atenção para a forma como as crianças estão a ser criadas e como se tornam todas um produto dos pais que têm. Exemplificando, se um pai fuma em frente do filho, é muito provável que a criança ao crescer se torne também um fumador por achar que esta é a postura mais correcta. Muitas das crianças estão a ser criadas nas ruas, nos jogos de vídeo, televisão e não pelos seus pais. Porque é que demoraste quase ou mesmo mais de uma década para veres a tua carreira a solo
“… Ter estado nos Cradle of Filth ensinou-me a abrir a minha mente, pelo que aprender a utilizar a minha imaginação foi a melhor coisa que guardei do passado.” levantar? Lembro-me de ti do tempo do «Vovin» dos Therion e dos primeiros álbuns dos Cradle of Filth na segunda metade da década dos 90. Porque demoraste tanto tempo? Bem, tenho sido ouvida, mas ninguém prestou realmente atenção. Isto tem tudo a ver com as grandes bandas comerciais. Angtoria, a minha outra banda, lançou um álbum em 2006, que funcionou bem, mas como estava demasiada ocupada com os Cradle Of Filth, acabei estupidamente por colocar essa banda em primeiro lugar, em detrimento da minha carreira. Tentei, mas não me esforcei o suficiente e acabei por nunca puxar as coisas suficientemente, ao ponto de conseguir impor algo de mim. Depois, quando voltei a tentar, as pessoas estavam mais na onda do “O que é popular agora?”, mais do que apoiar novas ideias, novas bandas e artistas. Como vês «A Sign of Sublime» hoje – Isto apesar de todas as complicações que houve – em comparação com «The Corruption of Mercy»? Esse é um álbum para esquecer ou será mais um passo intermédio que te levou até este novo álbum? Eu detestei-o e a maior parte de nós também. Adoro as músicas mais orquestrais mas estou decepcionada
com tudo o resto devido a “alguém”, que perdeu ficheiros, sobre editou as faixas, foi rude e pouco profissional comigo. Muita coisa aconteceu que me deixou profundamente desiludida com esse álbum. Pelo meu lado, reconheço que também fiz algumas más escolhas, e sim, ASOS é para esquecer e arrumálo lá no fundo do baú, porque acredito que hoje, temos um bom álbum na rua, algo feito com coração! Tenho de reconhecer que as coisas negativas acabam sempre por gerar coisas positivas. Estou muito orgulhosa de «The Corruption of Mercy». Estás de alguma forma satisfeita com o resultado final de «The Corruption of Mercy»? Que impacto teve Pzy Clone na produção do álbum - ao nível da programação e orquestração? Quantas vezes poderei dizer que estou muito, muito, muito contente! Com ASOS, acho que eu própria ouvi esse álbum umas 2 vezes e foi para rogar pragas pela forma como correu mal, bem… e talvez também para aprender as músicas para fazer uma tournée decente. Com «The Corruption of Mercy», já ouvi pelo menos umas 30 vezes, simplesmente porque estou realmente orgulhosa do resultado. Toda a gente trabalhou arduamente. O Dan [Abela, 1 dos 2 guitar-
“ … E tenho de admitir que estava um bocado com medo, sabes, todos estes anos sempre na retaguarda, mas agora, estar no centro do palco, até é algo estranho, ainda ando a apalpar o terreno e espero que as pessoas compreendam isso.” ristas]e eu escrevemos o álbum há uns 10 meses. Era o nosso “menino”. E devido ao profissionalismo assaz do engenheiro Mr. Smyth e de todos no “Escape Route Studio’s”, a coisa correu muito bem e o álbum saiu como queríamos. Nada de ficheiros perdidos e de misturas instrumentais acima da conta, fizeram uma grande diferença na qualidade musical. E assim chegamos finalmente ao toque do Pzy. Se antes de ele pôr as mãos no álbum já nós gostávamos imenso do álbum, então depois dos toques acrescentados pelo Pzy passamos a gostar ainda mais. O seu contributo elevou ainda mais «The Corruption of Mercy». Nós sabíamos de antemão que ele era bom naquilo que fazia, mas não sabíamos era o quanto bom este homem é. Este homem é um génio! Ele foi “a cereja em cima do bolo”. Ele tornou o álbum muito melhor e ainda adicionou-lhe mais textura. Nós adoramos, nós adoramo-lo, ele é um excelente amigo que temos. E quanto a toda a experiência adquirida em todos estes anos, nas bandas por onde passaste? Tiveram alguma influência na forma como escreveste as músicas e talhaste a tua música, ou nem por isso? Nenhuma. Eu não copio e espero não soar a nada parecido com nenhuma banda. Nós não saltamos para nenhuma caravana em movimento [NR: band wagon] e apanhamos a onda. Escrevemos simplesmente música, da melhor maneira que sabemos e executada da melhor forma que sabemos fazer. Ter estado nos COF [Cradle of Filth] ensinou-me a abrir a minha mente, pelo que, aprender a utilizar a minha imaginação foi a melhor coisa que guardei do passado. O Dani [Filth] é um compositor estupendo e um modelo a seguir no que toca à composição e expressão musical. Ele não tem problemas em arriscar, eu acho que herdei isso dele [Risos]. Já deu para perceber que as letras de «The Corruption of Mercy» são uma parte importante da mensagem que pretendes passar. O que te preza dizer sobre a temática presente em «The Corruption of Mercy»? As minhas letras são baseadas naquilo que me rodeia. Há músicas sobre a negligência, como a música título; «Pretty With Effects» é sobre toda a violência que por vezes acontece numa relação; «The Eyes That Lie» é sobre traição e desconfiança. Cada música tem a sua temática sem que com isto «The Corruption of Mercy» seja um álbum conceptual. Pode ser analisado mais como uma
colecção de experiências pessoais, ou de situações de pessoas próximas; a minha perspectiva das coisas, as minhas paixões ou mesmo os meus desgostos. Porquê fazer uma cover de «Zombie» dos Cramberry? Tem esta música, algum significando especial que queiras partilhar com os leitores da Versus? A música é baseada na guerra e como as coisas continuam na mesma. É sobre os atentados à bomba do IRA em solo Inglês e a morte de duas crianças. Fizemos uma cover porque, simplesmente, eu sou anti-guerra. Desde que existam humanos e religiões, haverá guerra. Depois, esta música teve uma aceitação muito boa no Metal quando saiu e eu sempre adorei-a sempre, pelo que, pareceu-me uma excelente escolha. Uma escolha com um significado verdadeiro. Todos estes anos que passaste a cantar com as grandes bandas (CoF, Therion, Mortiis, the Kovenant, etc...), sempre como segunda voz ou a partilhar o palco com outras cantoras (Therion), como é que te sentes ao seres finalmente a cantora principal da tua banda? Fantástica! Honestamente, eu adoro. E tenho de admitir que estava um bocado com medo, sabes, todos estes anos sempre na retaguarda, mas agora, estar no centro do palco, até é algo estranho, ainda ando a apalpar o terreno e espero que as pessoas compreendam isso. Com a experiência adquirida nos espectáculos, estou a ficar cada vez mais à vontade. Espero vir a ser uma boa front woman, mas isto, só acontece se houver mais espectáculos! Existem alguns planos para passar por Portugal numa tournée de apoio a «The Corruption of Mercy»? Eu espero que sim! Estava planeado tocarmos no ano passado, mas devido a estar ligada a uma má editora, as coisas simplesmente não aconteceram, o que eu lamento. Agora as coisas são diferentes, estamos numa boa editora e com um contrato de 3 álbuns, pelo que esperamos tocar brevemente em Portugal … Esperamos que haja alguém que queira nos trazer a Portugal, porque desta vez não deixaremos ninguém desiludido. Estamos tristes por nunca aí ter tocado. Entrevista: Carlos Filipe
O paradigma da fidelidade Mais uma vez, a polémica banda alemã vem lançar uma acha na fogueira da controvérsia que a sua música tem suscitado desde 2007 (se é que não o fez sempre). Amado por uns e odiado por muitos, que o vêem como um traidor, Ash, o mentor da banda, cuja identidade praticamente se confunde com a sua, vem reafirmar a sua eterna fidelidade ao black metal e a sua séria intenção de continuar a explorar – álbum após álbum – todo o potencial estético que este género encerra em si.
“Sou mesmo polémico. Como todos os humanos são. A diferença é que eu não sou hipócrita, como muitos outros.” És sempre apresentado como controverso, pessoalmente e como artista. Que pensas disto? Ash: Ninguém sabe como eu sou na intimidade, ninguém conhece a minha vida pessoal. Sou mesmo polémico. Como todos os humanos são. A diferença é que eu não sou hipócrita, como muitos outros. Sou o que sou: apenas um homem. Francamente, não me importo nada que os outros pensem mal de mim. Sigo o meu caminho, imperturbável, sem me preocupar com as opiniões alheias. Nestes últimos anos, Nargaroth passou de black metal puro («Semper Fidelis», 2007) para uma combinação de black metal com outras influências («Jahreszeiten», 2009) e agora para um estilo atmosférico/ambiental («Spectral Visions of Mental Warfare», 2011). Estas alterações obedecem a algum plano?
Não. Não há plano nenhum. Aconteceu muito simplesmente. O último álbum não foi minimamente planeado. A ideia de base surgiu, quando estava a gravar as pistas dos teclados para a canção do Outono [do álbum anterior, consagrado às estações do ano]. Sempre gostei das faixas ambientalistas à base de teclados dos primeiros álbuns de black metal. Nos de Nargaroth, houve sempre uma faixa ambiental. Como sou uma pessoa muito impulsiva, senti-me imediatamente impelido a fazer um álbum, que viria a ser o «Spectral Visions of Mental Warfare». E fi-lo compulsivamente. Que tens a dizer sobre algumas críticas francamente negativas feitas a esse último álbum? E desde quando é que eu me preocupo com isso? Palavras vãs levam-nas o vento. Se esses “especialistas”
me criticam por fazer música ambientalista, só revelam quão limitado é o seu conhecimento. Este tipo de música sempre fez parte da arte negra que é o fundamento do black metal. Desde o início dos anos 90 que podes encontrar faixas ambientalistas e até álbuns inteiramente ambientalistas no black metal mais digno desse nome. Basta recordar Burzum, Mortiis, a fase antiga de Setherial ou o primeiro álbum de Impaled Nazarene – como exemplos entre muitos outros. Portanto, limitei-me a seguir uma tradição artística. Este álbum permitiu-me recordar esses tempos gloriosos. Aliás, eu tinha a certeza de que este álbum ia ser muito polémico. Estou a pensar especificamente em faixas como “Journey Through My Cells (The Negation of God)” e “March of the Tyrants”. Mas o facto de as criticarem apenas ajuda a destrinçar entre quem ouve black metal desde a sua origem e quem sabe tanto sobre o assunto como um adolescente desmiolado. Nunca me deixei manietar por críticas, no que diz respeito aos temas sobre os quais faço música, nem ao modo de a fazer. Por outro lado, sempre que crias algo, há os que gostam e os que detestam. Nargaroth não teria a reputação de ser uma banda livre e independente, se eu me preocupasse muito com o que dizem os outros acerca dos meus álbuns. Prefiro gastar a minha energia a escrever música! Acho a tua música verdadeiramente fascinante. O que faz com que ela seja assim? Quero comover as pessoas, tocá-las, fazer com que as almas valorosas se identifiquem com a minha música e as minhas letras. Pelos vistos, contigo funciona. As minhas canções têm sempre algo a ver com a realidade. Não tratam de contos de fadas ou fantasmas. Trato de temas da realidade humana, relacionados com a nossa dualidade intrínseca. Há algum conceito subjacente a «Spectal Visions of Mental Warfare», tal como acontecia no teu álbum anterior? Será que cada um dos estilos musicais nele presentes ilustra uma faceta do tema central? Sim, há um conceito. Este álbum trata dos duros – eu diria
mesmo sangrentos – conflitos emocionais que todos experimentamos e temos de enfrentar, à semelhança de personagens como Fausto. Ocupa-se dos desejos contraditórios do ser humano, que podem conduzir à loucura, esse cancro mental que espreita as nossas permanentes tentativas falhadas para sermos melhores e termos um destino mais luminoso. As canções tratam das nossas tentativas para escaparmos às nossas próprias contradições, refugiando-nos em meandros mentais que nos impedem de ver o que somos realmente e de perceber o que andamos a fazer aqui, quais são as verdadeiras causas da nossa génese. Estas convertem-se em perpétuas cogitações, numa resignação que nos faz perder o gosto de viver, em depressão, em actos de auto-mutilação e as suas risadas de desdém destroem os nossos sonhos, mesmo quando nos sentimos mais tranquilos, e, tal como almas penadas, assombram os labirintos das nossas almas, onde alguns se perdem para sempre. Este álbum nasceu do mais estrito respeito pela ideologia do black metal e pretende revitalizar a tradição estética que este representa, honrando mais uma vez o compromisso que assumi aos 15 anos: manter vivo o seu legado, através do meu trabalho musical. Todas as partes de sintetizador foram tocadas manualmente, como era tradição no black metal, e não programadas no computador, como se faz actualmente, o que cria toda aquela música sem alma. Atmosferas criadas a partir de som sintético como as que se ouvem neste álbum estiveram presentes no black metal desde a sua origem, ao serviço do sagrado e do transcendental. Opondo-se às guitarras – muito mais terra a terra –, completam a paisagem sonora do álbum, gerando um clima místico, semelhante ao que fez do black metal um género musical único. Assim, lego estas canções aos que as ouvem – voluntariamente ou de má vontade – e deixo-os entregues às suas lutas íntimas, em que desempenham simultaneamente os papéis de vítima e carrasco. Voltando ao álbum, termino com as palavras de Peter Lorre: “Será que posso mesmo evitá-lo? Será que posso escapar à maldição que vive dentro de mim? O fogo. A voz. A agonia.” Numa entrevista que li, dizias que não podias tocar a tua música da mesma maneira ao vivo, para uma audiência, ou no estúdio, quando estavas a fazer as gravações. Tencionas dar concertos para promover «Spectral Visions of Mental Warfare»? E, se assim for, que faixas vais tocar? E como o farás? Não vou fazê-lo. Lançaste um álbum intitulado «Semper Fidelis». Diz-nos a que tencionas manter-te sempre fiel, tal como diz essa expressão latina. Serei sempre fiel aos meus ideais, sem cair na cegueira obsessiva. Já não sou nenhum adolescente, mas continuo a amar o black metal. Não o reneguei, como muitos fizeram. Talvez isso aconteça, porque há uma ligação muito forte entre a minha paixão por essa linha estética e a minha maneira de viver. Por isso, continuarei a seguir essa linha, mantendo-me verdadeiramente fiel a ela. Entrevista: CSA
Dissecando o cérebro reptiliano Depois do longo hiato que se sucedeu a «Odes to the Carnivorous», os Grog acabam de regressar com «Scooping the Cranial Insides», uma sova monumental de death/grind que não só os confirma como expoente máximo das sonoridades extremas a nível nacional, como é também a realização mais madura e profissional de sempre do colectivo de Oeiras. No que se segue o simpático vocalista Pedro Pedra, único membro da formação original, elabora sobre a génese e sobre as temáticas e motivações deste novo “assalto sónico às nossas medulas”, começando por resumir o que se passou com a sua banda nos últimos dez anos.
“…queríamos, de uma vez por todas, afirmar os Grog como instituição nacional da música brutal e triturante” Gostava que nos começasses por resumir o que de mais relevante aconteceu com os Grog nestes últimos dez anos. Pedro: Nestes últimos dez anos, a banda teve tempo de crescer como nunca antes e os resultados desse crescimento estão à vista. Uma das ocorrências mais importantes foi a estabilização do line-up, desde o momento que o Alex entrou na banda Aí sentimos que tínhamos preenchido um espaço que até então era um pouco inconstante. Em simultâneo, também voltamos a tentar o formato quinteto, posteriormente com a reentrada do Hugo, mas esta opção acabou por revelar alguma volubilidade pelo que, acabamos por nos manter como um quarteto. Estes quatro elementos são responsáveis pelo período mais produtivo da banda a todos os níveis, já que estiveram envolvidos, na gravação do tema de tributo a Misfits, saído em 2005, na composição e produção dos temas que saíram no 3 way split «In Grog We Grind», no «Gastric Hymns Mummified in Purulency» e no mais recente «Scooping The Cranial Insides», bem como na formação mais duradoura da banda e que ao longo da última década se apresentou nos palcos nacionais e internacionais, porque relembro que fizemos uma tour em Espanha com Dead Infection,
Suhrim e Simbiose, para além de termos feito vários concertos por Portugal. Porque razão é que este 3º álbum demorou tanto tempo a fazer? Demorou porque, acima de tudo, vários acontecimentos atrasaram o processo de composição. Também convém dizer que este processo de composição foi alvo de uma reestruturação fina, a qual motivou o deitar fora de muitas ideias que se demonstraram desajustadas ao que a banda pretendia fazer, não obstante sempre soubemos que este novo disco iria obter na nossa parte um rigor, uma exigência, uma dedicação e um empenho únicos, dado que queríamos, de uma vez por todas, afirmar os Grog como instituição nacional da música brutal e triturante. Creio que de certa forma, fomos discretos e soubemos trabalhar sem pressões. Em resumo, até penso que foram dez anos bastante agitados e produtivos, basta recordar que entre a saída do nosso 3 way split, em Junho de 2010 e a mesma data, em 2011, a banda editou 3 CDs. Para além disso, os Grog sempre têm estado presentes em alguns dos eventos musicais nacionais mais marcantes. Há quem fale em ausência, nós falamos em persistência!
“…este line-up é o mais estável, o mais maduro, o mais responsável, o mais criativo, o mais divertido e o mais cooperante de sempre” É sabido que entre 2006 e 2007, tu, que és o único membro da formação original dos Grog, estiveste afastado da banda. O que se passou na altura? O que se passou foi que havia dificuldades em reunir toda a banda para se trabalhar no processo de composição do novo álbum. Esta situação foi motivada pela combinação de razões profissionais e familiares que, adicionalmente, não ajudavam a que o tempo de banda, que é essencial, para fazer acontecer, criar e experimentar, tivesse lugar. Com tudo isto, pessoalmente, também precisei de me afastar para organizar alguns aspetos da minha vida particular, e foi nessa altura que oficialmente ocorreu o nosso hiato. Porém, uma paragem ilusória porque apesar de estar distanciado, os outros elementos – Ivo, Rolando e Alex – juntaram-se para reestruturar muitos dos temas que agora fazem parte do novo álbum. Reforço que a banda nunca acabou e que esta paragem, mais minha do que deles, foi determinante para todo o percurso que temos feito desde então. «Scooping the Cranial Insides» parece ser, de longe, o melhor álbum de sempre dos Grog em todos os aspectos: composições, produção, artwork, etc. Quais foram os factores principais que levaram a banda a exceder-se desta maneira? Já o disse anteriormente, os Grog, conscientemente, avocaram um objetivo, o qual, por sua vez, sempre foi assumido pela banda, desde o início da sua carreira, o de sermos a banda mais brutal e rápida a nível nacional. Com este mote, como ponto de partida, e tendo a experiência que temos, decidimos que este seria o timing perfeito para o concretizarmos. Acreditamos que não existem coincidências e se durante dez anos fomos confrontados com toda a espécie de desafios, então usamos esse mesmo tempo para, calmamente preparar este novo assalto sónico às vossas medulas, bem como todo o conceito de imagem para o «Scooping the Cranial Insides». Exceptuando tu, toda a formação actual dos Grog é completamente nova em relação àquela que gravou o «Odes to the Carnivorous». Que diferenças é que apontarias entre a maneira de trabalhar deste colectivo, no que toca à composição, e a da formação do álbum anterior? Tenho a corrigir o seguinte, esta formação tem parte
da coluna musical do «Odes to the Carnivorous», nas pessoas do Ivo, como guitarrista, e do Rolando, na posição de baterista. Seja como for, ainda assim, existem diferenças naturais entre todos nós desse registo para o mais recente. Diria que a maior delas, foi a forma como percecionamos a música que queríamos fazer para este novo álbum. A intenção era clara, abrir portas ao extremo das nossas capacidades enquanto músicos. Há também o fator tempo que foi cúmplice na evolução que todos tivemos ao longo do período de composição e que foi determinante para a melhoria das nossas prestações individuais. Aqui também incluo mais um elemento, que veio complementar as nossas fileiras, falo do Alex, uma vez que ele entrou em 2003, altura em que já estávamos a construir material para o novo álbum de originais. Quase que comparo este período ao fascínio das crianças quando encontram um brinquedo pela primeira vez, exploram-no até à exaustão, até, finalmente, dominarem a sua arte! Assim encaramos este trabalho e assim o fizemos! A julgar pelo tempo em que já estão juntos, diria que esta parece ser a formação mais estável de sempre dos Grog. É verdade? Esta tua observação é fulcral e está imbuída da mais pura veracidade. Confirmo e afirmo, pelos restantes elementos de Grog que, este line-up é o mais estável, o mais maduro, o mais responsável, o mais criativo, o mais divertido e o mais cooperante de sempre. Porque decidiram gravar novamente dois temas da demo de ’93? Dado que já tinham incluído esses mesmos dois temas na compilação «Gastric Hymns…» achei a sua inclusão aqui talvez um pouco excessiva…. A decisão de incluir a “Stream of psychopathic devourment” e a “Re-reborn monstrosity” no «Scooping…» deveu-se a uma questão de dar-lhes a oportunidade de serem editadas com uma qualidade sonora superior àquela que até então tinham visto em qualquer um dos anteriores registos. Apesar de serem músicas antigas, que remontam aos primeiros temas compostos pela banda, consideramos que ambos se integram na perfeição no espírito do álbum, dado unificarem evolutivamente a sonoridade da banda. São, definitivamente, temas à Grog. Por outro lado, há, também, que referir que a sua inclusão no «Gastric Hymns…» não deve ser comparada com a
do «Scooping…» porque as versões editadas acabam por ter diferenças significativas tanto ao nível da sua composição, produção e respetiva captação sonora. Os temas podem ser os mesmos, mas no fundo têm enquadramentos completamente diferentes em ambos registos. Neste novo CD soam a temas novos e isso era o que se pretendia alcançar. Numa entrevista anterior disseste que este trabalho é o “mais rápido e brutal que compusemos até hoje” – um tipo de cliché que é muito comum ouvir de bandas extremas quando se referem aos seus novos discos, e que me intriga sempre. É que, normalmente, isso é dito como se o facto de ser hiper-rápido e mega-pesado fosse mais importante do que ser interessante e criativo!... O que pensas disto? Por vezes, as frases são tidas como afirmações fechados, mas não neste caso. Concordo contigo, velocidade e brutalidade não são aspetos exclusivos a ter
em conta numa banda que pratica este tipo de som. Aliás, fazer música rápida e brutal não é assim tão difícil, basta alguma dedicação e motivação e chega-se lá. Mais complicado é conseguir integrar-se diferentes vertentes musicais na composição. Exigente é tentar fugir-se ao cliché, como disseste e bem. O desafio é pegar num estilo musical com as suas características de base e leva-lo para um patamar pessoal onde a tua visão musical se submete ao desconhecido e simultaneamente explora a novidade. Por isso faz todo o sentido a existência de criatividade no processo musical de qualquer banda. No nosso caso recordo que, durante a fase de composição, decidimos deitar temas para o lixo, reformular riffs, criar novas pontes, transformar as sequências, incorporar novas técnicas rítmicas. Fizemos um lifting quase absoluto ao que já tínhamos concluído. Simplesmente, não é possível fazer-se tudo isto sem criatividade. Uma banda tem que ser exigente e rigorosa consigo própria para não cair nas cópias das cópias das cópias
“A exploração desta temática funciona como uma purga do nosso lado sombra”
de qualquer banda de topo. E se isso implicar uma ausência de dez anos, então que seja. Não tem sentido lançar um disco só para cumprir calendário ou para satisfazer necessidades de terceiros. Sabemos hoje em dia que todos querem ou intentam na reinvenção de um estilo, mas também assumimos que não é isso que pretendemos. Como músicos interessa-nos fazer música que nos preencha, que nos motive e que nos traga algo de novo em termos de estímulos, de emoções e de desafios pessoais. É sabido que um dos objectivos principais que a banda traçou para si mesma desde o início foi o de ser “a banda mais extrema a nível nacional”. Volvidos todos estes anos (durante os quais penso que atingiram claramente esse objectivo) qual é a importância de ser a banda mais extrema? A importância é que esta intenção catalisa-nos a impor níveis de exigência ainda mais elevados, a ultrapassar os nossos próprios limites, a criar uma personalidade em que os extremos se unam e a contribuir para a origem de mais-valias musicais. Este objetivo sempre foi acima de tudo pessoal, de todos os elementos da banda, de todos os que passaram pelas várias formações, o que nos sempre interessou e ainda nos interessa é viver esta experiência de forma genuína, quando vemos o nascimento de alguma ideia sentimos a sua vibração a dizer-nos que estamos a honrar a nossa essência. A banda tem sido um dos veículos que permite essa expressão, o reconhecimento que os média nos dão, hoje em dia, é recebido com agrado e retribuído com humildade e muito trabalho. É mais
um sinal de que estamos no caminho certo, no nosso caminho! Dado que os Grog sempre foram fãs das temáticas gore, e dado que há muitas pessoas que não compreendem esta atracção e este divertimento com o macabro e o grotesco (e que vos rotulariam de imediato como pessoas doentias), gostava que me dissesses como explicarias a uma dessas pessoas as razões que vos levam a cultivar estas temáticas? Já alguma vez quiseste ou fizeste mal a alguém, tiveste inveja, medo, ciúmes, desejos alheios, mentiste, já alguma vez enfrentaste os teus traumas, tiveste fantasias desviantes...e poderia continuar…haverá alguém que possa dizer que nunca passou por alguma destas experiências? Acredito que não. Todos estes itens fazem parte do ser humano e resultam de processos familiares, educacionais, sociais e de vivências pessoais. Às vezes creio que as pessoas ainda não acreditam que todos nós somos produto do envolvimento e como tal todos os nossos comportamentos e ações resultam deste binómio. A questão maior é que ninguém se questiona de nada. A grande maioria apenas julga, pensando que são diferentes ou superiores aos acontecimentos mais sórdidos. Hoje em dia liga-se a TV, lê-se uma publicação de imprensa, assiste-se a um debate, assiste-se a uma conversa na via pública e o que é que se ouve com mais frequência? Desgraça, miséria, medo, morte, guerra, roubo…e as pessoas ficam chocadas com o macabro e o grotesco? Não entendo isso quando elas próprias convivem diaria-
mente com esses males. Porque é que há diferença entre uma notícia, em horário nobre, de alguém que é brutalmente espancado, violado e assassinado e uma letra que fala de alguém que mata, tortura e come as suas vítimas? Porque é que as pessoas hão de ficar chocadas com a última situação, assumindo-a como um comportamento aberrante e indigno, e no primeiro caso integram-no como uma vicissitude da vida? Será que alguém se questiona sobre o que está por de trás de tudo isto? Infelizmente poucos. É neste campo que os Grog se movimentam há quase vinte anos. Porquê? Perguntas tu. Porque o ser humano é capaz das coisas mais brutais; porque algumas delas são perfeitamente evitáveis; porque a causa do gore reside no DNA do Homem. Os Grog sempre optaram por viajar no cérebro reptiliano (mais primitivo e por consequência mais antigo) do Ser Humano, como forma de conhecer os seus mecanismos e respetivas consequências, quando este exerce uma atitude de supremacia descompensatória face às restantes estruturas neurológicas contribuindo para a exteriorização de comportamentos violentos. A exploração desta temática funciona como uma purga do nosso lado sombra, porque todos temos um, e fingir de conta que ele não existe não nos ajuda em nada. Assim transmutamos as nossas assombrações, adicionando sempre uma boa dose de humor e non sense, porque até da desgraça há que saber rir. Por outro lado, convém dizer uma coisa muito importante: há um potencial ficcional associado a esta temática que acaba por refletir em muitas situações a realidade. Aqui a mensagem é clara: usa
a ficção para reconheceres os desvios, as tentações, os impulsos, as descompensações, as agressões, entre muitas outras coisas, que são diariamente oferecidas. Ao identificares conscientemente estes elementos estarás em condições para os trabalhares e deixares de estar sobre a sua influência. Lembra-te que o sangue, as tripas, os gritos, a morte, a tortura e outros são acessórios simbólicos de algo mais profundo que é preciso transformar. Este ano a banda completa a segunda década de existência. Há alguma coisa planeada para assinalar este aniversário? Depois do «Gastric Hymns…» falta agora o lançamento de um DVD… Bem, para já estamos concentrados na promoção e distribuição do álbum. Esta é a prioridade de momento. Porém, paralelamente, estamos a solidificar a nossa rede de contactos a fim de podermos tocar ao vivo com maior periodicidade na Europa e andamos a analisar os elementos necessários à consecução de um vídeoclip. Complementarmente, estamos a tentar agendar uma data para Lisboa, em Setembro, mês do nosso aniversário, de forma a fazermos uma celebração ao vivo do mesmo. Relembro que este evento também será festejado no Porto, dia 24 de Setembro, no Hard Club com os Blacksunrise. O DVD passanos pelas nossas ideias, mas com certeza que será algo a explorar mais lá para a frente. Entrevista: Ernesto Martins
ABYSMAL DAWN «Leveling the Plane of Existence» (Relapse Records) Juntar influências de death metal americano (neste caso, Death e Morbid Angel) e europeu (Decapitated, Opeth) está longe de ser um feito inédito, mas este trio Californiano tem o mérito de o fazer com resultados dignos de nota. Os temas deste terceiro registo estão carregados de riffs e melodias irresistíveis e são todos bastante diferentes entre si. A composição é do melhor e a música, não sendo muito técnica, tem ainda assim muito para digerir. Não há temas para encher e os solos virtuosos são um mimo para os ouvidos. Em suma, material de fazer inveja a muitas das ditas bandas com créditos firmados. [8/10] Ernesto Martins
ALCEST «Le Secret» (EP) (Prophecy Productions) «Le Secret»(LS) é a re-edição do primeiro EP do incomparável projecto Francês liderado por Neige. Nesta edição podemos contar com dois temas nas suas versões originais e re-gravadas. Para quem não conhece, LS poderá ser um pouco… diferente. Tem partes que poderemos considerar Indie/Rock/Ambiente para depois “cair” em riffs típicos de Black Metal e voz agressiva mas não demasiado grave – “Elevation” ou então, seguindo a mesma estrutura mas com a voz muito mais suave e melodiosa. LS é muito rápido e agressivo para os fãs Rock/Indie e demasiado “ambientalista” para quem gosta de Black Metal. [7/10] Eduardo Ramalhadeiro ANNOTATIONS OF AN AUTOPSY «Dark Days» (EP) (Siege of Amida Records) Este EP assinala a ponte do último álbum e o próximo que chegará para o ano. Os apreciadores que acompanham a banda inglesa podem esperar peso e demolição a jorrar das colunas – isso é certo. Para todos os outros que fogem do rótulo Deathcore como o diabo foge da cruz, então não se esforcem para ouvirem este punhado de músicas que inclui uma cover do tema “Ten ton hammer” dos Machine Head. Dias negros muito desinteressantes e sem dinâmica. [2/10] Victor Hugo
BEARDFISH «Mammoth» (InsideOut) Quem ouvir Beardfish vai pensar que se trata de mais um grupo de Rock Progressivo Inglês ou Americano. Não podiam estar mais errados! Os Beardfish são um grupo liderado por Rikard Sjöblom oriundos da Suécia e tocam um excelente Rock Progressivo muito ao estilo dos anos 70. Podemos facilmente identificar influências de King Crimson, Genesis e Frank Zappa. Um álbum excelente, grandioso e muito técnico. Todos os temas são fantásticos mas chamo particular atenção para «Akakabotu», um tema jazz soberbamente interpretado fazendo lembrar o grande FZ. Para concluir, um soberbo álbum de rock progressivo Made in 70’s! [9/10] Eduardo Ramalhadeiro
BELIEVER «Transhuman» (Metal Blade Records) Os Believer (B) estão de volta com o seu 5º longa duração – Transhuman – um álbum cujo conceito gira em torno do Transhumanismo ou o estudo dos potenciais riscos da tecnologia (…). Musicalmente os B deram um passo em frente e integraram mais melodia e dinâmica nos temas, assim como harmonias na voz, que não sendo a ideal poderá gerar um pouco de “contestação” (Zach De La Rocha, para terem uma ideia…). Desde já, “Transhuman” não é um álbum fácil de ouvir devido à sua complexidade técnica, pelo ambiente criado em torno dos temas e no fundo, pela própria construção dos temas. No entanto, não deixa de ser o melhor álbum editado pelos B.. [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro GROG «Scooping the Cranial Insides» (Murder Records) Verdadeiro ex-libris nacional na vertente death/grind, acabam de regressar com um dos maiores massacres sónicos que este cantinho malcheiroso à beira-mar plantado alguma vez testemunhou. Neste terceiro registo de originais a banda de Oeiras dispara com uma raiva absolutamente criminosa um total de catorze temas esmagadores, regendo-se muito pelos parâmetros standard do género, mas incorporando, desta vez, uma proeminente faceta mais técnica e aliciante. É sem dúvida o trabalho mais intenso e completo dos Grog até aqui, mas recomenda-se só a fanáticos dos extremismos death. [7/10] Ernesto Martins IPERYT «No State of Grace» (Witching Hour Productions) Se conseguirem imaginar uma versão modernizada de thrash à lá Sepultura depois de acelerado numa centrifugadora industrial bem acima das 250 rotações por minuto, então é possível que fiquem com uma ideia aproximada de como soa este segundo álbum dos Iperyt. Usando ritmos sintéticos e tiradas ultra-rápidas cuspidas por uma percussão maquinal, alguns toques de melodia e samples bem colocados, e acima de tudo uma garra visceral, a formação polaca apresenta aqui a sua própria interpretação – psicótica e perversa – dum terrorcore industrial que até tem os seus momentos. [7/10] Ernesto Martins NEPHROLITH «XulluX» (Haliaetum Records) Não é preciso muito para perceber que estes rapazes eslovenos ficaram marcados pelos Dark Tranquillity da fase «The Gallery»/«The Mind’s I», bem como outros sucedâneos da NWOSDM. Doze composições fiéis aos parâmetros do estilo, com variação q.b. e em andamento rápido, é o que se propõem oferecer neste disco, saindo-se bem sobretudo nas três últimas faixas que sobressaem devido a estruturas e melodias particularmente vistosas. O resto passa mais ou menos sem deixar marca, ou não estivesse a banda a trilhar veredas black/death já muitas vezes calcorreadas. Bom para um álbum de estreia. [7.5/10] Ernesto Martins
SERPENTCULT «Raised by Wolves» (Listenable Records) Ao segundo álbum estes belgas do Doom Metal apresentam uma barreira de peso muito similar ao anterior trabalho «Weight of Light». Riffs lentos e massivos distribuídos em quatro temas que totalizam pouco mais de 30 minutos. Contudo, a grande novidade está na saída da vocalista Michelle Nocon, o que fez com que a banda tomasse uma abordagem diferente. O peso Doom está presente, mas a voz não é a referência principal, estando esta num instrumental interessante e hipnotizante. [6.5/10] Victor Hugo
SOUNDER «Praise Be To Death» (Metal Inquisition) Banda brasileira de thrash metal, lança um bom álbum para os amantes do género. É impossível não comparar os Sounder a bandas como Slayer e Megadeth, tais são as semelhanças de alguns riffs. No entanto temos que reconhecer o esforço da banda em tentar não se colar aos “reis”. Malhas como “Praise be to death”, “A friend to lucifer” (a minha favorita) e a curta “The end (of your life)” são exemplos que nos vão pôr a fazer um headbanging sem parar. [7.5/10] Paulo Eiras
SOURVEIN «Black Fangs» (Candlelight Records) Os Sourvein já têm um estatuto merecido no seio do Sludge/Doom Metal, e provavelmente estão na vanguarda nos EUA. Este terceiro álbum, sem contar com os EP e Splits, é igualmente arrasador, devastador e demolidor – adjectivos que caracterizam verdadeiramente o som deste grupo. Em «Black Fangs» quase tudo é lento e sujo (há alguns temas up-tempo), mas pesado e agressivo – muitas vezes hipnotizante, como o tema “Holy transfusion” que tem como base dois pares de notas. Para ouvir bem alto. [6.5/10] Victor Hugo
THE SKELETAL «The Plague Rituals» (Metal Inquisition) Oriundos da Flórida, estes The Skeletal surgem com um Thrash/Death revivalista, bem ao estilo dos anos 90, com aqueles riffs desmandados que tomam conta do nosso corpo e fazem dele o que quiserem, e com os obrigatórios solos arrasadores com aquele som característico que só aquela época proporcionou. «The Plague Rituals» é isso mesmo, mas na época errada. É uma pena que o mercado esteja saturado, e o público não dê a devida atenção – a mesma que deram às bandas que hoje são de culto. Mesmo assim, sugiro que escutem este «The Plague Rituals». [6.5/10] Victor Hugo
THE SOULLESS «Isolated» (Earache Records) Os antes denominados Ignominious Incarceration mudaram o seu nome para um simples The Soulless, mas a sonoridade mantém-se num cruzamento de guitarras melódicas com um peso brutal à medida. «Isolated» é mais um daqueles trabalhos de Metal do dia-a-dia, que surge sem avisar e que por vezes nem damos por ele. Contudo, há aqui malhas que contribuirão para algum headbanging, como no caso do tema “The path” que até tem um interessante trabalho de guitarras. [5/10] Victor Hugo
THIRDSPHERE «Fire» (Independente) Colectivo de Coimbra já com algum contacto nos palcos nacionais desde 2008, lança por conta própria um EP intitulado de «Fire» carregado de ritmos de Metal moderno, com aquelas estruturas melódicas misturadas com riffs pesados que resultam sempre ao vivo. Ao longo de quatro temas e uma introdução poderemos ouvir alguns detalhes curiosos, acompanhados por uma voz ora berrada ora limpa. Gravado pelo grupo e misturado por Justin Rosander, «Fire» não chateia mas também não favorece a sua audição. Esperamos pelo longa-duração [4/10] Victor Hugo
WITCHGRAVE «The Devils Night» (Metal Inquisition) EP de 4 musicas, com pouco mais de dez minutos de duração desta banda sueca que nada trás de novo ao mundo do metal. Gravação nua e crua (demasiado crua), onde por vezes mal se consegue perceber o que sai da garganta do vocalista da banda. Demasiado fraco e curto, sendo apenas as guitarras e as próprias letras das canções que não são más de todo. Ficamos à espera de um álbum, com uma melhor gravação e edição, para fazer justiça ao que os Witchgrave podem alcançar. [5/10] Paulo Eiras
YGODEH «Dawn of the Technological Singularity» (MDD) Ygodeh é uma banda da Letónia que toca um Death-Metal Progressivo imerso em entoações sombriamente irrequietas. A complexidade estilística dos ritmos e melodias pode ser de difícil compreensão mas não deixam de demonstrar uma grande qualidade. Seguramente uma banda que vale a pena ter em atenção pois ofusca os agrupamentos menos inspirados/originais, aqueles que nada de novo criam. [9/10] Jorge Ribeiro de Castro
De uma vida secreta
Finda a trilogia, com lançamentos entre 2003 e 2007, os Corpus Christii regressam com um quarto álbum, intitulado «Luciferian Frequencies». Passámos, em Vagos, no XI Blindagem Metal Fest, a 25 de Junho, dia em que a banda era cabeça de cartaz. Alexandre Mota (aka Nocturnus Horrendus), o seu mentor, aceitou conversar connosco sobre alguns aspectos interessantes relacionados com este último lançamento e a fase que os Corpus Christii estão a atravessar na sua carreira no âmbito da música extrema, portuguesa e internacional.
Podemos dizer que Corpus Christii é uma banda obcecada pela religião? Nocturnus Horrendus: A religião tem de ser considerada, quer se queira, quer não, porque vivemos numa sociedade em que não podes passar sem pensar na religião, seja de que religião for. Tem sempre a sua influência em ti, mesmo que não sejas religioso. Faz parte do panorama social que molda a tua vida, mesmo que não sejas aficionado dela. Por isso, posso dizer que sou obcecado pela religião. Na tua opinião, o que é faz a ligação entre os álbuns da trilogia? Era para ser mesmo uma trilogia ou é só uma designação dada pela imprensa? Quando comecei a fazer o primeiro álbum, não era para ser uma trilogia, era para ser só um álbum. Mas depois fiz mais um álbum e mais um terceiro álbum e vi que havia ali uma sequência e uma conclusão e, a partir daí, passou a ser uma trilogia, dada a ligação entre os três álbuns. Há uma ligação bem forte. Não foi propositado, aconteceu. E este quarto? É seguimento ou é ruptura? Não é um seguimento, mas também não é uma ruptura. Digamos que procura conciliar tudo o que fiz até hoje. Mais uma vez, foi inconsciente. A meu ver, musicalmente, representa algo que concilia tudo o que fizemos até hoje. Mas, liricamente, sai do âmbito da trilogia. Não é tanto sobre mim, é mais sobre a influência de uma vida secreta, que é condicionada pela política, mas que vai além disso. Fala sobre o facto de certas pessoas estarem predestinadas para serem especiais. Há uma frequência rara neste planeta, que expande a nossa mente. Mas só algumas pessoas conseguem captá-la. É uma situação diferente, especial, mas que eu não desejo a ninguém, porque o pensamento não é só luz, também é morte. Há alguma relação entre as vossas letras e tendências literárias, recentes ou de tempos passados? Não te sei dizer nada de especial sobre isso. Não sou um grande escritor, mas até leio bastante. Não sinto nenhuma influência externa naquilo que escrevo. Isto é, não posso referir nenhum nome. Porque quem escreve é sempre influenciado pelo que o rodeia! Digamos que nunca peguei num livro com a ideia de que ele me ia influenciar. Sou eu o escritor, o criador, mas, tal como eu, qualquer artista desenvolvese a partir do exterior. Mas há obras pelas quais tenhas preferência? Eu leio ficção, mas não leio poesia, por exemplo. E por que foram precisos 3 ou 4 anos para fazeres o teu novo álbum? É acima de tudo uma questão psicológica. Mas também, para fazer um álbum novo, é preciso tempo. Tivemos muitas datas para promover o álbum anterior [«Rising», lançado em 2007], viajámos muito. E este está pronto há um ano, já podia ter saído há um ano. Mas isso não aconteceu, por várias razões. E quanto ao artwork? Por acaso, já entrevistei o autor [Pedro Daniel, aka Phobos Anomaly] e ele declarou que tu é que tinhas determinado o que se ia fazer. Foi algo muito simples. Criei um símbolo e queria que este ficasse no meio, bem em destaque, como se pode ver. E essa ideia deu a capa. De resto, limitámo-nos a tirar fotos, que não têm nada de importante. Fizemo-lo numa fábrica aban-
“A religião tem de ser considerada, quer se queira, quer não [...] Faz parte do panorama social que molda a tua vida, mesmo que não sejas aficionado dela.” donada. A fábrica em si é que é um lugar que nos mostra bem como é a vida. Mostra-nos que somos uma sociedade sem alma. E relativamente à composição da banda? Como tem mudado bastante... É a minha dor de cabeça, no passado, no presente. Já houve momentos em que não conseguia reunir os membros da formação daquela altura, não conseguíamos estar juntos para ensaiar. Agora temos um line up local, nacional e sinto que posso contar com eles, embora estejam noutras bandas portuguesas. O ser um line up local ajuda. Conseguimos reunir, ensaiar. E quem são essas pessoas? Temos o J-Guitar. Temos o Angel-O... O Mist, que toca baixo connosco, mas é membro dos Desire. Temos o baterista, que é o Andrecadente, dos Theriomorphic. Mas eles vão só tocar, ou vão também participar na composição dos álbuns? Serão músicos ou apenas intérpretes? No último álbum, o Angel-O e o J[-Guitar] participaram numa composição, estiveram a ajudar e a dar ideias. E esse factor foi importante no álbum. No caso da bateria, isso não aconteceu, porque gravámos o álbum com o Mentor, que era o nosso baterista da altura. Participou no álbum com a sua alma e a sua dedicação e fazendo aquilo que ele faz bem, que é tocar bateria. E concertos? Estamos agora aqui no Blindagem Metal Fest [em Vagos, a 25 de Junho de 2011], interessados em dar um bom concerto. Mas as pessoas parecem mais preocupadas em estar na praia. Sinceramente, eu iria à praia noutro dia, não no dia do festival. Mas tudo bem! A seguir, vamos tocar no Metal Coura, em Paredes de Coura, a 2 de Setembro. No dia 3 de Setembro, tocamos na Marinha Grande. E depois temos uma tournée vasta pela Europa. Ainda o Willemeen, também em Setembro. Quando voltarmos, logo a seguir, temos também o festival de Guimarães, o Vimaranes Metallium [a 8 de Outubro]. Ainda se está a falar de outra pequena tour, no final de Outubro, nos Balcãs. Já temos muita coisa planeada. Já há algo previsto para o próximo álbum? Sobre isso, nada posso dizer. Tens alguma mensagem a deixar ao nosso público? Bem. É beber, ir aos concertos, tomar droga. E tentar perceber o que andamos aqui a fazer. Entrevista: CSA
Arte holística Detentor de um portfólio multifacetado que regista trabalhos de desenho, pintura, escultura, instalações e multimédia, Nader Sadek acaba de apresentar «In the Flesh», a sua primeira produção a usar o death metal como principal forma de expressão. Não sendo ele próprio um músico, este egípcio radicado em Nova York reuniu sob a sua direcção um conjunto de músicos de craveira – o ex-Morbid Angel Steve Tucker, Rune Eriksen dos Ava Inferi e Flo Mounier dos Cryptopsy – que fielmente deram corpo às suas ideias. Para compreender melhor a filosofia verdadeiramente holística deste projecto que, para além dum álbum e espectáculos ao vivo, envolve também vídeos e esculturas, chegamos à fala com o próprio Sadek. Pelo que sei, tu és um escultor que trabalha fundamentalmente em instalações e decoração de palcos. Sendo assim, porque decidiste formar agora uma banda e gravar um disco? Nader Sadek: O que me interessa é criar coisas, independentemente das categorizações e fronteiras ditadas pela indústria. Já estive envolvido em projectos que tinham música e portanto isto não é propriamente uma novidade para mim. Se analisares o meu trabalho verás que cada projecto se baseia num meio diferente, quer seja a escultura, as instalações, o desenho, o vídeo, o som ou qualquer outra coisa que constitua a melhor maneira de expressar uma ideia. A ideia é sempre a primeira coisa a surgir; depois trato de descobrir a melhor maneira de a transmitir. O teu contributo para a criação do álbum «In the Flesh» parece ter-se limitado aos “conceitos” e à “direcção artística”. Podes explicar-nos em que é que isso consistiu exactamente? Qual é, em concreto, o teu papel na banda?
Na realidade não existe banda nenhuma. Nunca existiu nem existirá. O equívoco ficou a dever-se a um mal-entendido entre a nossa primeira editora e a Season of Mist. Este disco é uma produção que envolveu muita gente para além dos três músicos que o gravaram. O meu envolvimento foi omnipresente. Desenvolvi o conceito, reuni a equipa e tive a mão em praticamente tudo à volta deste disco. Tendo já trabalhado antes com o Steve [Tucker, voz] e estando bem familiarizado com a forma como ele compõem (foi o Steve que escreveu a maior parte do disco, incluindo as letras), foi-me possível imaginar como seria juntar as harmonias de guitarra do Rune [Eriksen] e o ataque de percussão do Flo [Mounier, bateria]. Gosto de descrever este som como o de uma máquina com emoções, um motor que é susceptível de sofrimento. O que eu fiz foi basicamente expressar essa máquina em termos de ritmos e melodias. Nesse sentido acho que me vejo neste projecto mais como um realizador. Mas embora não seja músico, consegui compor dois temas (o “Wakening” e o “Nigredo in necromance”)
“Na realidade não existe banda nenhuma. Nunca existiu nem existirá”
sozinho, outro (“Petrophilia”) em co-autoria com o Rune e o Flo, e uma parte dum dos temas do Steve. Este projecto envolve música e vídeo, bem como as esculturas e os desenhos correspondentes a cada uma das canções. A maior parte do meu envolvimento criativo aconteceu fundamentalmente antes de entrarmos em estúdio. Depois, os ensaios e todo o processo de gravação serviram-me de inspiração para criar o artwork presente no álbum. Assim, posso dizer que o conceito inicial influenciou a música, e a música influenciou os desenhos. Estas duas componentes, por sua vez, influenciaram os vídeos que fizemos depois, e os vídeos inspiraram os shows ao vivo. Para materializar este projecto reuniste um conjunto de músicos de craveira. Fala-me um pouco disto. Por que razão escolheste estes músicos em particular? É uma boa pergunta. Foi muito importante ter encontrado as pessoas certas para este projecto e, na verdade, penso que apenas o Steve, o Rune e o Flo podiam ter feito isto. O trabalho que faço vem sempre na continuação de coisas anteriores e por isso há sempre temas que são recorrentes. Um desses temas são as coisas periféricas nas sociedades e a forma como estas são percepcionadas noutras culturas. O projecto Faceless, no qual trabalhei previamente com o Steve, andava em torno desta questão, tendo abordado, por exemplo, a forma como um fã de metal é compreendido numa cidade como o Cairo, ou a maneira como um niqab é interpretado num local como Nova Iorque. Dado que no álbum «In the Flesh» eu volto a explorar este tema, era importante para mim rodear-me de pessoas que, também elas, foram vistas, de certa maneira, como “periféricas” neste caso na subcultura do metal. Ora o Steve foi uma dessas pessoas: quando entrou para o lugar do David Vincent nos Morbid Angel, muitas pessoas não o consideraram um substituto à altura, tendo sido sempre muito estigmatizado como um outsider na banda. Essa foi pois uma das razões porque quis trabalhar com ele no projecto Faceless e nos Nader Sadek. E foi essa também a razão porque escolhi o Rune e o Flo: ambos
passaram por situações muito semelhantes à do Steve relativamente às suas bandas. Outra razão que me levou a convidar estes músicos é que cada um deles possui a assinatura sónica perfeita para descrever a narrativa do álbum. Os ritmos do Steve são pesados e espessos, ao passo que o Rune é mais melódico. Mas ambos tocam com emoção. Portanto, do meu ponto de vista, formam uma dupla ideal. O ataque do Flo assemelha-se a um tanque, o que remete de certa forma para a ideia duma extracção de petróleo a bombear. Mas o mais importante para mim foi assegurar que as harmonias do Rune eram expressas com o devido ênfase sobre os ritmos do Steve, e o resultado foi exactamente como eu esperava – um híbrido de sons que corresponde bem a uma ideia. Este contraste entre o Rune e o Steve acabou também por influenciar os outros músicos que convidei, no sentido de darem ao álbum um feeling mais cinemático e grandioso. É o caso, por exemplo, dos magníficos solos de guitarra do Mike Lerner que fizeram com que algumas passagens ritmicamente caóticas acabassem por soar muito melódicas. O Travis Ryan deu também um importante contributo a este projecto. A voz dele deu mais dinâmica aos contrastes e, no geral, uma outra dimensão à música. Porque decidiste dar o teu nome à banda? Bem, como já disse antes, isto nunca teve a intenção de ser uma banda. O meu nome aparece neste disco pela mesma razão que aparece numa escultura ou noutro projecto qualquer da minha autoria. Não é uma banda, é uma equipa de produção. Este projecto envolveu mais de vinte pessoas, muitas das quais foram escolhidas pessoalmente por mim. Todas as decisões artísticas passaram por mim, embora os músicos tenham tido todo o espaço para se expressarem livremente. Posso dizer que eu sou o criador e «In the Flesh» é o produto da criação. Peço desculpa se ficaste com a ideia errada, mas de facto eu não dei o meu nome a banda nenhuma. Se fosse uma banda eu chamar-lhe-ia In the Flesh. Mas não é. O que tens é um artista a fazer um álbum de death metal com algo mais. O meu papel aqui foi
“Acho simplesmente extraordinário o facto da humanidade ter encontrado uma maneira de converter coisas mortas em energia”
muito semelhante ao de um realizador a dirigir um filme. Foi pena esta ideia não ter ficado convenientemente explicada pela editora. Este álbum é, pelos vistos, sobre o petróleo e a sua relação com a humanidade. Qual é exactamente a tua perspectiva? Acho simplesmente extraordinário o facto da humanidade ter encontrado uma maneira de converter coisas mortas em energia. Este é um tema presente em todo o meu trabalho, embora esta seja a primeira vez que a música assume um papel preponderante face a todas as outras formas de expressão artística. Dado que os motores funcionam com gasolina e a gasolina é um dos principais derivados do petróleo, pareceu-me apropriado que a música tivesse alguma relação com máquinas. Foi por isso que escolhi o death metal como direcção musical para este álbum. A música deste álbum soa bastante a Morbid Angel, Death e um pouco a Mayhem. O que pensas disto? Bem, trata-se de death metal e os músicos envolvidos são ex-membros das bandas que referiste, o que responde à questão. A verdade é que, assim que estes músicos entraram para as bandas respectivas, foram as próprias bandas que passaram a soar como eles e não o contrário. O Rune não estava a tentar adaptarse aos Mayhem quando entrou para a banda. Em lugar disso, ele compôs com base nas influências dos Mayhem, mas o que ele escreveu vinha dele próprio. O mesmo pode ser dito em relação ao Steve. Os Morbid Angel passaram a soar como o Steve (e não ao contrário) o que é bem evidente no «Gateways of An-
nihilation» que ele escreveu na sua maioria. Poderias explicitar melhor a relação entre este disco e os outros tipos de arte que tens vindo a desenvolver? Embora recorra a diferentes meios de expressão, o trabalho que faço é sempre uma continuação dele próprio. Pode começar por ser um desenho, depois traduzir-se para uma escultura, depois ser um álbum de metal e por fim dar lugar a um vídeo. Para cada uma destas formas o processo é completamente diferente. No caso do desenho as ferramentas usadas são as mãos e o lápis. Para a escultura costumo usar vários tipos de produtos químicos. Já no caso do disco, como sou apenas um fã de metal e não tenho conhecimentos de música, tive de encontrar a combinação de músicos que traduzisse adequadamente as minhas ideias para o formato musical. No fim acabei até por compor alguma música, portanto este foi sem duvida um grande passo para mim como artista. O que podemos esperar mais deste projecto? Os concertos ao vivo são uma parte integral do produto criado por este projecto. Haverão também mais vídeos e cada um virá associado a uma nova escultura. Portanto, ainda há muito de novo para conhecer. Eventualmente será lançado também um DVD com todos os vídeos e um concerto ao vivo. Entrevista: Ernesto Martins
A grande marcha
Em actividade no underground desde 1994 e já com quatro álbuns publicados, acabam de apresentar uma nova proposta de death metal que contém os ingredientes necessários para fazer triunfar – finalmente – o quinteto polaco na cena internacional. Para falar à Versus Magazine sobre este novo trabalho, o ambicioso «Transmigration of Consciousness», contactamos o guitarrista Patrick Bilmorgh Seth. Este novo álbum parece ser bastante diferente do anterior, «The Independence of Observation Choice». Em lugar de ser tão brutal, tem mais atmosfera e é muito catchy. Penso que constitui uma grande progressão para os Nomad. O que nos podes dizer sobre a criação de «Transmigration of Consciousness»? Patrick: Sim, estou de acordo. É uma grande progressão. De facto quisemos que este álbum fosse não só extraordinário como diferente de todos os nossos discos anteriores. Discutimos muito sobre como o álbum devia soar. Sobre os arranjos, sobre o tipo de instrumentos que poderíamos usar, sobre os samples, etc. No fim decidimos apostar mais em andamentos a meio tempo para fazer sobressair a atmosfera. Em resultado
disso penso que as canções resultaram mais penetrantes e coerentes. Ao fim de tantos anos de experiência acho que já manipulamos bem o nosso som de forma a criar uma atmosfera que é muito própria nos Nomad, usando sempre uma abordagem refrescante e algo diferente. No «Transmigration… » cada canção é precedida por um curto intro que faz também a ponte com a canção anterior. Gostava que nos falasses sobre este aspecto do álbum. Os intros são uma parte integrante de cada composição e têm o propósito de preparar o ouvinte para o que vem a seguir. Já há muito que queríamos fazer um álbum com esta estrutura. Desta maneira o trabalho soa mais espacial e tem uma atmosfera muito diferente. Decidimos
analisar melhor as canções e afinar cada pormenor cuidadosamente. Penso que foi a primeira vez que recorreram aos famosos irmãos Wieslawscy (dos Estúdios Hertz) para masterizar um álbum. Porquê esta opção? Sim, com os Nomad foi a primeira vez, embora eu pessoalmente já os conheça de trabalhos de estúdio anteriores com os Behemoth. É espectacular trabalhar com eles! São verdadeiros profissionais. Penso que deram ao nosso álbum uma outra dimensão, tornando o som mais “aberto” o que afectou definitivamente o resultado final. Os irmãos Wieslawscy sabem bem o que é metal, e foi precisamente por essa razão que quisemos colocar o trabalho de masterização nas mãos deles. Mesmo sem ler as letras das canções, pressente-se desde logo que «Transmigration… » carrega algo de grandioso em termos de conceito. Afinal de que se trata? Bem, no que toca às letras e ao título do álbum eu não me quero armar em esperto – quem deveria responder a essas questões devia ser o Bleyzabel, o nosso vocalista. De qualquer modo penso que cada um pode interpretar as letras como achar melhor e eu também não quero facilitar esse trabalho de interpretação com as minhas explicações. Posso apenas dizer que «Transmigration of Consciousness» é sobre a reencarnação da consciência. É um título muito multi-dimensional que se adapta bem à música e ao espírito do álbum.
separar fisicamente os intros das canções propriamente ditas porque achamos que isso seria mais conveniente para o ouvinte – assim, se o desejares, podes saltar os intros. Este disco foi gravado no espaço de um ano: entre Agosto de 2009 e Agosto de 2010. Porque demorou assim tanto tempo? Sim, as gravações ocorreram exactamente durante esse período, e o álbum só ficou pronto no início deste ano. Isso aconteceu porque decidimos gravar em várias etapas, em grande parte por causa dos meus compromissos com os Behemoth cujos espectáculos absorveram uma boa parte do meu tempo. De qualquer forma acho que o muito tempo que dedicamos às gravações nos permitiu
Este disco vem acompanhado com uma das capas mais assombrosas que já vi. Será que podias explicar um pouco o significado deste artwork? A capa é de facto impressionante. Tal como nos nossos lançamentos anteriores, o conceito é da autoria do Belyzabel. O design é da responsabilidade do Xaay, que já fez trabalhos para bandas como os Nile, entre outras. O artwork da capa reflecte bem as letras das canções. O barco simboliza o mundo. Repara na figura que o dirige e para onde o dirige. Os monumentos e cemitérios representados servem para enfatizar a atmosfera de depressão, escuridão e morte que reina na embarcação. Há mais símbolos representados mas o seu significado é, a meu ver, suficientemente claro. Este é o vosso primeiro disco a ter o suporte da Witching Hour Productions. Porquê esta editora? Será que receberam ofertas de outras? Não recebemos propostas de outras editoras porque
“…decidimos apostar mais em andamentos a meio tempo para fazer sobressair a atmosfera” nem sequer entramos em contacto com elas. Já conheço o proprietário da Witching Hour Productions, o Bart, há algum tempo. Quando lhe mostrei alguns fragmentos do álbum ele ficou encantado e disse logo que o gostaria de editar. Foi assim que aconteceu a ligação à editora dele. E foi por termos chegado rapidamente a um acordo que nem pensamos em tentar a nossa sorte com outras editoras. Além disso a Witching Hour é uma das editoras mais sólidas na Polónia que se tem pautado por um trabalho excelente de promoção fora do país. Estamos muito satisfeitos com a nossa cooperação.
todo o esforço e paixão que colocamos no «Transmigration of Consciousness».
Para terminar, o que nos podes dizer quanto a concertos já planeados? Acabamos agora mesmo a segunda parte da digressão Unholy Carnival Tour, que nos levou a algumas cidades da Polónia com os Vesania e os Lost Soul. Mas há mais concertos na calha. Aliás, uma boa promoção de um álbum não passa sem concertos. Está tudo nas mãos da nossa editora. Para já eles estão a fazer chegar o álbum aos sete cantos do mundo e acredito que também nos Com um álbum deste calibre e com o apoio da arranjem alguns concertos. Witching Hour penso que os Nomad têm tudo Saudações infernais!!! para triunfar finalmente na cena internacional. Achas que este álbum pode constituir um ponto de viragem para a banda? Entrevista: Ernesto Martins O tempo o dirá. Embora este álbum seja sem duvida uma grande passo na nossa carreira, não quero embandeirar em arco e ficar sob a ilusão de que agora vamos tornar-nos muito populares e ricos. Esta é a realidade duma banda de metal e eu estou bem consciente disso. De qualquer maneira estou contente por termos conseguido fazer um álbum que reflecte a 100% as nossas ideias e objectivos. Quem aprecia verdadeiramente a música na sua expressão mais elevada, irá compreender
Reflexões sobre a loucura e a morte Depois de um período de reflexão, regressam em força, com um álbum lançado na primeira metade de 2011 e outro previsto para o início de 2012. Em «A Touch of Death», discutem a natureza e as consequências da perfídia humana, combinando as trevas do black metal com a claridade fornecida por elementos progressivos e técnicos. Aproveitámos a disponibilidade de Kristian Moen (baixista e teclista e também um dos fundadores da banda), para aprofundar estas ideias. Lançaram o vosso primeiro álbum em 2002. Por que precisaram de 9 anos para lançarem o Segundo? Kristian Moen: A principal razão foi que pusemos a banda em stand by durante 3 anos, entre 2005 e 2008. Tínhamos previsto o lançamento do nosso segundo álbum para 2005, mas só conseguimos gravar um EP, antes de termos sido praticamente obrigados a fazer uma paragem. Tornou-se muito difícil arranjar tempo para esta banda, quando Keep of Kalessin começou uma digressão e gravações com o nosso antigo baterista, o Vyl [Vegard Larsen]. O Thebon [Torbjorn Schel, antigo vocalista da banda] juntou-se a eles mais ou menos ao mesmo tempo. O Sverre [Bensten], o nosso guitarrista, cada vez tinha mais trabalho com as digressões dos Bloodthorn e eu tinha uma banda de hard rock chamada Bulwark, que também partiu em digressão nessa altura. Afinal, a tal pausa demorou bem mais do que prevíamos. Portanto, de certo modo, tivemos de começar do início, quando nos reunimos novamente em 2008. E, por termos considerado este reencontro como um recomeço, decidimos usar sobretudo material novo com a nova formação da banda, em vez de usarmos músicas antigas. Afinal, isto até acabou por ser positivo para nós, porque agora nos sentimos muito mais criativos do que
há anos atrás. Subliritum é apresentada como uma banda de black metal. No entanto, li algures que pões objecções a essa etiqueta. Como caracterizarias o vosso som em «A Touch of Death»? Gosto particularmente de “Back To Zero” e “Berserk”! Obrigado. Ora bem, nós não temos nada a objectar em relação a essa etiqueta. Mas gostamos de chamar a atenção para o facto de que também usamos outros elementos na nossa música, tais como thrash, heavy e death metal. O nosso problema é que a etiqueta black metal é um bocado vaga. Vai uma grande distância entre bandas primitivas de “true Norwegian black metal” como Darkthrone e o ultimo álbum de Emperor. Nós pretendemos criar uma atmosfera de black metal, mas, ao mesmo tempo, dar à nossa música um estilo mais progressivo e técnico. É uma questão de maturidade. Ao longo destes anos, tornámo-nos melhores músicos, com mais capacidade técnica, e também melhorámos muito a nível de composição. Por isso só pode ser bom para nós enfrentarmos desafios novos e mais exigentes. Portanto, a nossa música está a tornar-se cada vez mais complexa, mas sem perder a atmosfera tenebrosa do black metal.
Lançaram o vosso primeiro álbum em 2002. Por que precisaram de 9 anos para lançarem o Segundo? Kristian Moen: A principal razão foi que pusemos a banda em stand by durante 3 anos, entre 2005 e 2008. Tínhamos previsto o lançamento do nosso segundo álbum para 2005, mas só conseguimos gravar um EP, antes de termos sido praticamente obrigados a fazer uma paragem. Tornou-se muito difícil arranjar tempo para esta banda, quando Keep of Kalessin começou uma digressão e gravações com o nosso antigo baterista, o Vyl [Vegard Larsen]. O Thebon [Torbjorn Schel, antigo vocalista da banda] juntou-se a eles mais ou menos ao mesmo tempo. O Sverre [Bensten], o nosso guitarrista, cada vez tinha mais trabalho com as digressões dos Bloodthorn e eu tinha uma banda de hard rock chamada Bulwark, que também partiu em digressão nessa altura. Afinal, a tal pausa demorou bem mais do que prevíamos. Portanto, de certo modo, tivemos de começar do início, quando nos reunimos novamente em 2008. E, por termos considerado este reencontro como um recomeço, decidimos usar sobretudo material novo com a nova formação da banda, em vez de usarmos músicas antigas. Afinal, isto até acabou por ser positivo para nós, porque agora nos sentimos muito mais criativos do que há anos atrás. Subliritum é apresentada como uma banda de black metal. No entanto, li algures que pões objecções a essa etiqueta. Como caracterizarias o vosso som em «A Touch of Death»? Gosto particularmente de “Back To Zero” e “Berserk”! Obrigado. Ora bem, nós não temos nada a objectar em relação a essa etiqueta. Mas gostamos de chamar a atenção para o facto de que também usamos outros
elementos na nossa música, tais como thrash, heavy e death metal. O nosso problema é que a etiqueta black metal é um bocado vaga. Vai uma grande distância entre bandas primitivas de “true Norwegian black metal” como Darkthrone e o ultimo álbum de Emperor. Nós pretendemos criar uma atmosfera de black metal, mas, ao mesmo tempo, dar à nossa música um estilo mais progressivo e técnico. É uma questão de maturidade. Ao longo destes anos, tornámo-nos melhores músicos, com mais capacidade técnica, e também melhorámos muito a nível de composição. Por isso só pode ser bom para nós enfrentarmos desafios novos e mais exigentes. Portanto, a nossa música está a tornar-se cada vez mais complexa, mas sem perder a atmosfera tenebrosa do black metal. Por que fizeram um desvio pelo rock progressivo na demo e no EP que lançaram entre 2002 e este ano? Numa entrevista recente com a banda que ouvi, tu discutias a vossa evolução musical e isso despertou a minha curiosidade sobre esta parte da vossa carreira. O EP «Dark Side of You» representa o momento da nossa evolução que se seguiu a «Dark Prophecies». Foi o período mais activo de Subliritum, antes de decidirmos fazer a tal pausa. Na realidade, escrevemos um álbum inteiro, mas nunca chegámos a gravá-lo. Ensaiámos muito e fizemos bastantes concertos aqui na Noruega. Essa música não era propriamente black metal, era mais do género metal negro e progressivo com muito groove, ritmos estranhos e sincopados. As canções estavam mais centradas no ritmo e no groove e tinham poucas passagens rápidas com blast beats. O EP está disponível para download grátis em vários sites, entre os quais a nossa página no myspace. Quem estiver interessado,
“(…) pusemos a banda em stand by durante 3 anos. Portanto, de certo modo, tivemos de começar do início, quando nos reunimos novamente (…)” pode aproveitar para o sacar.
que demos ao álbum o nome de «A Touch of Death». Esta imagem simboliza toda a loucura que foi justificaTambém convidaram outros músicos para este ál- da pela religião, quando ela é apenas uma expressão do bum, nomeadamente membros dos Keep of Kales- caos decorrente da tendência humana para a constante sin. Como é que isso aconteceu? procura do poder. Tivemos dificuldade em encontrar um substituto para o Vyl, quando ele decidiu dar prioridade aos Keep of E – já que falamos de curiosidades –, o que sigKalessin. Na parte da Noruega em que vivemos, é quase nifica o nome da banda? impossível encontrar alguém que consiga aguentar o rit- Não tem nenhum sentido em especial. Inventámos essa mo e tenha as competências técnicas necessárias para palavra, que não significa nada em nenhuma língua que tocar nos Subliritum. Experimentámos vários bateristas conheçamos. Assim, temos a certeza de que este nome que são muito bons, mas não conseguiam tocar sufi- se refere exclusivamente a nós, à nossa banda. É muito cientemente rápido para o nosso estilo. Por isso, pedi- prático, quando se trata de fazer pesquisa na internet ou mos ao Vyl para ser o nosso baterista na gravação do ál- em bases de dados. bum. Convidámos o Thebon para fazer algumas partes vocais, porque eu acho que ele é um dos melhores vo- Na entrevista que já mencionei, eras muito vago calistas em toda a cena do metal extremo [na Noruega]. nas referências a digressões para promover o vosso A sua participação dá realmente um tom diferente ao álbum. Já podes dar mais pormenores agora? nosso álbum. A nossa ideia é fazermos digressões e tocarmos em alguns festivais durante o Verão. Pretendemos promover Sei que este vosso álbum trata dos últimos minutos este álbum e o próximo, que, entretanto, também vai ser antes da morte. Qual é a relação entre este tema e lançado. É nisso que estamos a trabalhar agora, mas é a estátua que aparece na capa? Deixou-me baral- algo que requer muita planificação. hada. Não é um álbum conceptual que se ocupe exclusiva- E esse novo álbum vai ser também lançado pela mente dos pensamentos de alguém na agonia. As letras mesma editora australiana? Curiosamente, a vossa tratam sobretudo do lado pérfido da mente humana. banda parece ter tendência para editoras de países Analisam, a partir de várias perspectivas, conceitos que ficam bem longe da Noruega. como violência, assassínio, genocídio, loucura. O que se O que aconteceu foi que, assim que gravámos a primeira passa no espírito de quem vive esses estados? Não res- demo, um amigo nosso enviou-a a uma editora brasileira tam dúvidas de que falhas do cérebro humano podem – a Evil Horde Records –, porque sabia que eles andaconduzir a problemas mentais – como a psicose, a es- vam à procura de bandas novas. Ficaram logo interessaquizofrenia ou a mania da grandeza – e levar o indivíduo dos em nós e quiseram lançar o nosso álbum de estreia. a praticar acções, que a sociedade vê como perversas, Pouco depois, assinámos um contrato com eles. Tudo que correspondem ao mal. Este é o tema principal de aconteceu sem que tivéssemos de nos esforçar muito. canções como “I Am the Beast”, “Berserk” e “Back to Desta vez, empenhámo-nos mais, para encontrarmos Zero”. Contudo, ao longo da História, encontrámos uma editora realmente interessante, e a Battlegod foi a acções malévolas praticadas por indivíduos suposta- que nos ofereceu as melhores condições. Até aqui cormente sãos. Nenhuma sociedade escapou a este rasto de reu tudo muito bem, portanto estamos a prever que o morte e destruição. A Biologia e o Darwinismo dizem- nosso trabalho conjunto continue. Neste momento, esnos que nós, humanos, temos uma tendência instintiva tamos ocupados com a pré-produção do nosso novo para reclamar uma posição superior na hierarquia social álbum, que se está a revelar muito prometedor. Se tudo – no fim de contas, somos apenas animais. Geralmente, correr como queremos, esse álbum será lançado no iníos meios usados para atingir estes fins são cruéis: manip- cio do próximo ano. ulação, violência ou até genocídio. Mas também temos o comportamento dito “normal”, socialmente aceitável, Desejo-vos muito sucesso com «A Touch of Death»! que, muitas vezes, não é compatível com os nossos de- Obrigada por esses votos e pelo vosso tempo. Quem sejos instintivos. Por conseguinte, ao longo da História, estiver interessado, poderá seguir-nos nas nossas págiideologias variadas, entre as quais se contam as religiões, nas no facebook e no myspace. Nelas encontrará inforforam usadas – e continuam a sê-lo – para justificar a mação actualizada relativa a datas, entrevistas e críticas. violência, o genocídio e outras acções condenáveis, que Saudações do Norte! pretendem dar mais poder às igrejas a elas associadas (ou até a governos, como vemos actualmente). Foi por Entrevista: CSA isso que escolhemos para a capa a estátua representando um bispo que transporta cabeças de decapitados e
Versatilidade Oriundos da cidade invicta, os Head:Stoned lançaram, com apenas três anos de existência, o primeiro EP (2009) onde já exibiam técnica, melodia, bem como uma nova abordagem das vocalizações aliada a uma excelente composição das letras, criando assim grandes expectativas quanto ao que se podia aguardar de um trabalho futuro. Volvidos dois anos, e já com o álbum «I Am All» disponível, falamos com o vocalista Vítor Hugo sobre a evolução da banda nortenha desde o lançamento do EP até ao presente álbum de estreia. Boas Vítor! Para começar podes explicar-nos como surgiram os Head:stoned, desde a formação ao próprio nome? Vítor Hugo: Olá! Bem, eu não faço parte da formação original da banda mas sei que esta se formou algures em 2006, e que partiu da vontade do antigo vocalista, Pedro Gouveia (Dove, ex-PitchBlack e ex-Final Mercy), de fazer um projecto thrash metal com o Augusto na bateria (ambos fizeram parte dos extintos Dove). O nome Headstoned também partiu do Pedro. Porquê Headstoned, não sei. Mas o nome manteve-se e, passadas al-
gumas alterações na formação da banda, esta chegou à que temos hoje. Pelo meio e após o lançamento do EP, vimo-nos na necessidade de alterar o nome por uma questão de direitos uma vez que já tínhamos sido abordados por uma banda sueca com o mesmo nome (isto apesar de, na altura, nem na cidade do Porto sermos conhecidos!). No entanto, limitamo-nos a transformar a palavra “headstone” numa brincadeira de duas palavras “HEAD:STONED”. A fonética é praticamente a mesma e a ideia acaba por ter muito mais a ver com o espírito da banda.
“…acho que soamos mais a um heavy metal com laivos de thrash do que o inverso…” Sabendo que todos os elementos, já tinham estado em outras formações, isso foi vantajoso para a construção dos Head:stoned? Sem dúvida! Isso e o facto de todos nós já termos uma certa idade. Temos uma ideia bem formada daquilo que uma música deve ser e talvez por isso os temas soem tão coesos. Sabemos que não estamos a criar nada de novo. Não estamos a inventar a roda, mas sabemos bem como ela funciona, percebes? E depois, por termos todos já muitos anos disto fazemo-lo apenas por gosto, sem nos levarmos demasiado a sério. Fazemos questão de sermos competentes no que fazemos, o resto é carolice. Já não estamos para nos consumir muito com isto e a verdade é que é este espírito que nos tem levado para a frente.
portante para nós. As músicas saem como tiverem que sair, o catálogo vem depois. Em 2009, após três anos da vossa formação, surge «Within the Dark» o primeiro EP, editado em Abril, que surpreendeu o underground Português. Como foi reunir esses quatro temas e que expectativas tinham quando o lançaram? Quisemos entrar em grande e esses quatro temas eram os mais propícios a isso. Mais rápidos, agressivos e liricamente negros, indo de encontro ao título do EP.
No dia 4 de Novembro de 2006 pisaram pela primeira vez um palco. Como foi esse impacto e a reacção do público que vos ouvia? Ora aí está uma boa pergunta visto que eu… nem estava A vossa formação data de 2006. Inicialmente delin- lá! Ainda não fazia parte da banda mas, pelo que sei, a earam planos para o futuro, ou tudo foi um surgir recepção foi boa. de situações/opções? Conotados como thrashdoom metal sentem-se enquadrados neste registo? Dois anos depois do lançamento do EP, e de várias Como te disse, a banda surgiu com o intuito de fazer oportunidades que já tiveram de tocar com outras thrash metal. Mas, a partir de certa altura, começou a ser bandas, como foi decidir produzir um álbum? mais importante que as músicas nos soassem bem do Exactamente por já termos dado alguns concertos e que nos soassem a thrash. O deitar abaixo destas barrei- sentirmos que a banda não só era bem acolhida, como ras não foi consciente, foi acontecendo. Sinceramente, havia o desejo de mais para além do EP, achamos que até acho que soamos mais a um heavy metal com laivos estava na altura de dar o passo seguinte. Começamos a de thrash do que o inverso, mas isso nem é muito im- definir e a consolidar os temas que queríamos gravar e,
“…por termos todos já muitos anos disto, fazemo-lo apenas por gosto…” assim que as condições estavam reunidas, voltamos ao ilusões e tentando sempre divertir-nos com isso. Imporestúdio. tante mesmo é o prazer que esta viagem nos tem dado. «I Am All» é o título do vosso primeiro álbum. Como surgiu a escolha deste título? «I Am All» é o título de um dos temas e, resumidamente, retrata a nossa capacidade de sermos tudo: de bom ou de mau, corajoso ou cobarde, grande ou pequeno. Quando eu meti a letra na música e o pessoal me perguntou pelo título, a reacção foi um pouco “I Am All?... isso dava um bom nome para o álbum!”, e assim foi.
Álbum acabado, iniciaram agora a divulgação do mesmo mas já têm algo em mente para um próximo trabalho? Já temos novos temas na forja e a coisa está a soar muito bem. Inicialmente, abordei a banda para – desta vez, sim – explorarmos um conceito, dividido em cada tema. Mas isso, quanto a mim, para ser bem feito exige que músicas e letras nasçam e cresçam em sintonia, em vez de haver uma música nova e eu lhe “espetar” com uma letra, como é costume. Mas isto é muito difícil de fazer em um ou dois ensaios semanais. É preciso trabalho de casa, não de um, mas de dois ou três elementos em conjunto, e a disponibilidade não é muita. Assim, as novas músicas que estão a surgir, estão a ser feitas pelo processo “tradicional” por isso, a haver um álbum conceptual, não será com certeza o próximo. De qualquer forma, ainda estamos em fase de promoção deste primeiro disco. O resto surgirá a seu tempo.
Relativamente ao conteúdo deste álbum, as composições das letras surgiram ou foi algo planeado inicialmente? As letras surgiram, o processo costuma ser esse. No álbum não há, propriamente, um “conceito”, para lá do facto de todas as letras se basearem em experiências e ideias pessoais que, em última análise, se poderão inserir nessa ideia de “I Am All”. Mas cada tema nasce muito por si e algumas das letras até estão separadas no tempo; algumas já existiam e foram adaptadas, outras vieram mais recentemente. Entrevista: Inumater Quais são as perspectivas para este trabalho? Não são muito diferentes das que tínhamos quando lançamos o EP. Obviamente que a banda tem outra maturação e outra dimensão pelo caminho que fizemos desde então, e temos uma editora (Major Label Industries) a ajudar-nos na divulgação. Mas a conduta da banda não se alterou. Damos um passo de cada vez, sem grandes
Um Projecto Único Projectos de covers, quando bem feitos, são sempre bem vindos, particularmente quando nos oferecem um ponto de vista radicalmente diferente, mesmo que nada tenha a ver com Heavy Metal. É o caso dos Baaba Kulka, projecto polaco de covers dos Iron Maiden, em que cada música abraça um estilo pop/rock/funk/jazz – tudo menos Metal – na perfeição, rompendo claramente com o pré estabelecido. Ou se adora ou se odeia, ponto final. A curta conversa com o guitarrista Bartek Weber pretende aflorar o que está por detrás deste projecto. Antes de mais, são os Baaba Kulka um projecto para ficar? Bartek Weber: Não nos vamos manter como Baaba Kulka. O nosso projecto vai-se chamar simplesmente Baaba e já estamos a trabalhar em novo material, independentemente de Gaba estar bastante ocupada em mil outras coisas diferentes.
«Baaba Kulka» é um projecto de amor/ódio. Quais têm sido as reacções dos fãs de Iron Maiden? As reacções variam muito com a idade do fã. Os da nova geração são mais reticentes e críticos. No entanto, o álbum e as tournées têm sido abraçados com muito entusiasmo.
“… Em 1986, um novo tipo chegou à minha escola preparatória e trazia com ele o «Somewhere In Time» e o «Master of Puppets». Como é que eu não podia apaixonar-me por esta música?” Ouvindo o álbum, consegue-se distinguir em cada tema um estilo de música particular, que em nada tem a ver com Metal. Em algumas canções a coisa funciona melhor – como o caso de «Flight of Icarus» ou «Wrathchild» – outras, nem por isso. Como é que vês esta abordagem e este binómio género/cover? Nós não pensamos realmente muito nisso. Todo o processo de realização destas versões demorou no total uma semana. Trabalhamos como uma banda, toda a gente teve a sua quota-parte no processo criativo. Agora, devido ao facto de as nossas raízes serem bastantes diferentes, senão vejamos, dois dos membros tocam jazz, dois outros cresceram na onda Punk/undergroud e Gaba é a filha de um famoso violonista Polaco. Isto faz com que a nossa música acabe por se tornar muito eclética. Como é que este projecto viu a luz do dia? Com os Baaba, tivemos esta ideia de fazer covers de músicas dos Iron Maiden já faz uns seis anos. Entretanto esquecemos o assunto – apesar de tocarmos regularmente «Losfer Words» na maior parte dos nossos espectáculos – até encontrar-mos a Gaba Kulka. Sabíamos que ela tinha feito uma cover dos Maiden – «Two Minutes to Midnight» – e entretanto, na altura, recebemos uma proposta para tocar no Hard-Rock Café, o qual detestamos a ideia pela abordagem “Mc Donald’s” que eles fazem da música. Então decidimos que seria uma boa ideia tocar algumas covers neste ambiente… o resto é história.
Será «Baaba Kulka» um acontecimento único ou há planos para ir mais além? Baaba é uma banda de trabalho, Gaba Kulka é uma artista muito ocupada e Baaba Kulka é uma vez sem exemplo. Nós temos cooperado num ou noutro álbum – Gaba canta como artista convidada no nosso álbum «Disco Extremo» – e Gaba costuma tocar connosco em várias ocasiões. Mas penso que a natureza da nossa colaboração no futuro será bastante diferente. O que nos podes dizer acerca do background musical da banda? Eu diria que Baaba é como um papagaio, tudo pode acontecer durante os nossos espectáculos. É uma mistura de melodias naïve e improvisos musicais. Tal como já referi, crescemos com o jazz, música electrónica, metal, música clássica e por aí a fora… e com isto, tentamos meter tudo no mesmo saco. De onde veio toda a paixão pelos Iron Maiden? Quais são as bandas de Metal que te influenciaram? As minhas são verdadeiramente simples. Em 1986, um novo tipo chegou à minha escola preparatória e trazia com ele o «Somewhere In Time» e o «Master of Puppets». Como é que eu não podia apaixonar-me por esta música? Como é que hoje posso fazer tributo à música da minha juventude? Entrevista: Carlos Filipe
Camaleónico e Há motivos de sobra para aplicar estes dois adjectivos a André Coelho. É camaleónico, porque assume os mais diversos papéis no mundo das artes gráficas. A atestá-lo, está o facto de, desde Abril, já termos encontrado: numas jornadas consagradas ao horror na arte, organizadas pelo Clube Literário do Porto, em que apresentou ilustrações para cartazes de concertos e álbuns de bandas de metal; num evento organizado pelo Mercado Negro, uma associação cultural de Aveiro, subordinado ao título “Grotesque and Burlesque Show II”, em que apresentou banda desenhada e ilustrações; ainda representado numa exposição de ilustração patente na Bêdêteca de Lisboa. Será também extremista, porque tudo, na sua arte, remete para o mundo do extremo. Estas razões levaram-nos a contactar o artista, para sabermos mais pormenores sobre a sua carreira. Vou começar esta entrevista por uma questão relacionada com um detalhe que me intriga. Por que não tens um nome artístico, tanto mais que o apelido que usas não é de fácil pronúncia para estrangeiros? André Coelho: É o meu nome e não sinto necessidade de usar pseudónimos, nem para “branding”. O meu trabalho terá que falar por si. Se formos por aí, tenho pena do Franciszek Starowieyski.
e… extremista Numa curta biografia tua que li, faz-se referência ao facto de viveres em constante trânsito entre Gaia e o Porto. És dessa zona ou vieste de fora? Que peso te parece que o facto de teres o teu quartel nessa zona tem na tua carreira artística? Pensas que serias capaz de fazer o mesmo ou até melhor se vivesses noutra zona do país ou no estrangeiro? Sou daqui. Nasci em Gaia, fiz a licenciatura no Porto e é entre as duas cidades que me divido entre trabalho, negócios e ócio. No que diz respeito ao meu trabalho, é obvio que o espaço onde estamos inseridos influencia o que fazemos, mas não será o único factor e, no meu caso, penso que nem sequer é um factor assim tão marcante para o resultado final propriamente dito. O Porto é, no entanto, uma cidade que me agrada muito devido à dinâmica de trabalho que proporciona. És um artista multifacetado. Gostava que nos falasses um pouco dos diversos campos que abarcas, em termos gráficos, destacando alguns trabalhos que vês como mais importantes em cada um deles. Bem, acima de tudo o que faço é ilustração. Olhando para o que tenho feito, penso que um dos trabalhos que merece algum destaque será o que fiz para o SWR XIV com as 14 Pragas do Underground. Foi um trabalho que me levou a uma investigação bastante interessante e fez com que eu trabalhasse os elementos de forma muito iconográfica. A minha primeira prancha de skate
para a Witchcraft hardware continua a ser algo que me deixa bastante orgulhoso. No entanto, Seria mais fácil dizerte quais aqueles que detesto ou que abomino, mas julgo que isso não interessa tanto para aqui, nem tão pouco as razões que me levam a odiá-los. não consigo dizer quais os trabalhos que mais gosto. Fiz muita coisa e tenho com todos uma relação de proximidade que me leva a não conseguir valorizar mais uns que outros. Ao nível da banda desenhada, penso que o trabalho recentemente publicado pela Chili Com Carne no livro “Futuro Primitivo” é capaz de ser o melhor que já fiz nesse campo. Também sei que fazes parte da cena underground musical e que és membro de bandas de metal e industrial. Encontrei referências frequentes a duas delas: Sektor 304 (referida como industrial psicadélico) e Profan (apresentada como uma banda de post doom). Que tens a dizer-nos sobre as tuas incursões no mundo da música dita extrema? Sektor 304 é certamente a banda à qual dedico mais tempo. É um projecto de Industrial e música experimental, que teve como ponto de partida a exploração das premissas lançadas por bandas como Test Dept, Swans, E. Neubauten, SPK, entre muitas outras. Basicamente, decidimos partir daquilo de que realmente gostamos no Industrial: a sucata, os sons concretos, as percussões maquinais, ruídos e ferrugem, a exploração dos detritos.
“(…) não consigo dizer quais os trabalhos que mais gosto. Fiz muita coisa e tenho com todos uma relação de proximidade que me leva a não conseguir valorizar mais uns que outros.” Temos mais a ver com o Industrial dos anos 80 que propriamente com linhas de sintetizadores e pistas de dança. Quero destacar o álbum “Soul Cleansing”, que me deixa particularmente orgulhoso. Profan é um projecto já antigo, que me permite explorar algo muito mais próximo do doom metal. A linguagem é a do metal, mas a abordagem é substancialmente diferente. Tem sido um projecto especial, na medida em que não está sujeito a um calendário restrito, nem sequer regular, e tudo o que é feito é sempre encarado com uma abertura imensa e sem restrições estilísticas. Julgo que esta abordagem bastante livre acaba por trazer sempre surpresas e este é um projecto quase catártico. Relativamente a esta banda, quero destacar o álbum “The Bestial Awakening”. Estes dois projectos acabam por ser aqueles que me levam mais tempo e dedicação. Para além disto, tenho colaborado com algumas outras bandas underground, essencialmente com pessoal aqui da zona do Porto. É um meio pequeno, mas bastante produtivo e diversificado. Curiosamente, nunca fiz nada no punk…
música, seja para bandas, promotoras ou editoras. Nos últimos tempos tenho trabalhado em grande parte para o universo do metal e do punk que, como se sabe, são estilos musicais com uma componente iconográfica e estilística bem definida. Parte do desafio está em conseguir dominar esses factores que podem ser castradores, desenvolver o nosso trabalho e, no final, ficarmos satisfeitos com o que fazemos. Em suma, acho que se pode dizer que a música tanto pode ser um facto de inspiração como pode ser o alvo do meu trabalho.
Que relação estabeleces entre o universo gráfico e o universo musical na tua vida, artística e pessoal? Estão sempre relacionados, nem que seja pela mais básica das situações como estar sempre a ouvir música enquanto desenho ou passar a maior parte do tempo a desenhar para a
Tens algumas referências especiais no campo gráfico? E no campo musical? Tal como disse antes, as influências têm vindo a ser construídas ao longo de uma vida inteira. Interesso-me particularmente por pintura barroca, iluminuras medievais, desenho
O que te trouxe aqui? Que factores contribuíram para fazer de ti o que és hoje? Seja pela positiva ou pela negativa, tudo na vida nos leva onde estamos agora e faz de nós o que somos agora. No que diz respeito ao meu trabalho na área da ilustração, sinto que a maior influência que tenho é a informação gráfica que tenho vindo a recolher desde que era miúdo e que continuo a recolher em adulto. É impossível não nos deixarmos influenciar pelo que vemos, ouvimos e sentimos.
“Em suma, acho que se pode dizer que a música tanto pode ser um facto de inspiração como pode ser o alvo do meu trabalho.” científico dos sécs. XVIII/XIX, gravura japonesa, arte dos posters e capas de discos de heavy metal antigo ou rock dos anos 70, o Surrealismo, a arte DIY do punk, os desenhos do Austin Osman Spare, a pintura de William Blake, as pinturas do Mati Klarwein (que fez capas para Santana e Miles Davis), entre muitas outras que levariam demasiado tempo a citar. Musicalmente, ouço muita coisa diferente e são vários os discos que poderia citar como favoritos. A lista desta semana inclui Swans, The Scientist, Blut Aus Nord, Gnaw Their Tongues, Skullflower, Survival Unit e Godflesh. Daqui a uns dias, será outra certamente.
acaba por ser bem interessante, porque nunca sabemos qual será o resultado final. Ele é uma pessoa interessada naquilo que faz e é bastante produtivo. Em termos de colaboração… provavelmente destacaria a minha colaboração com o French na Witchcraft Hardware. Apesar de não ter dividido tarefas directamente com ele, foi muito gratificante poder participar no projecto de skates da sua empresa. Nunca tinha experimentado aquele formato, mas foi muito bom. É um tipo impecável e muito talentoso. No mesmo registo, também gostei imenso de trabalhar com o pessoal do SWR, acima de tudo porque sabem respeitar o meu trabalho e a minha visão, sem nunca terem problemas em dar a sua opinião de forma construtiva, para, no fim, Vi trabalhos teus expostos na Bêdêteca de Lisboa (que, termos um resultado que agrade a ambos e sirva os nossos por acaso, até fica em Olivais, diga-se de passagem) e objectivos. passei pelo Mercado Negro, no dia 18 de Junho, para ver a exposição “Demonomancy”. Reparei que fazes Que expectativas tens em relação ao futuro? Tens plafrequentemente parceria com Rudolfo. O que faz a li- nos definidos ou preferes ir aproveitando as oportunigação entre vocês? Que outras parcerias gostarias de dades, à medida que estas vão surgindo? assinalar como importantes na tua carreira presente? Sem planos, um dia de cada vez. Quando me aparece um As parcerias com o Rudolfo acontecem frequentemente, objectivo pela frente, traço um plano. porque ele deve ser o ilustrador com quem passo mais tempo. Conheço muita gente ligada a essa área, mas a verdade é Se te dessem três palavras para definir a forma como que somos amigos, encontramo-nos frequentemente e isso vês a tua vida neste momento, quais usarias? cria desde logo uma empatia que nos impele a trabalhar jun- É a altura em que deveria dizer algo como “Pure Fucking tos. Curiosamente, acho que até somos pessoas com person- Mayhem”, não é? alidades e referências bastante diferentes, até mesmo opostas. Se calhar, acabo por ser mais cerebral, enquanto que ele é mais “in-your-face” e impulsivo e uma colaboração com ele Entrevista: CSA
IN FLAMES «Sounds Of A Playground Fading» (Century Media) O feedback à volta deste novo trabalho dos In Flames tem sido estrondoso, como é costume a cada lançamento, e provavelmente até tem alimentado preconceitos e, quiçá, algumas surpresas e mudança de opiniões e perspectivas. Mas, “Sounds Of A Playground Fading” mostra-se muito mais diferente do que alguma vez imaginaria. As mudanças são significativas e bastante positivas. Começando pela entrada do guitarrista Niclas Engelin, passando pelo próprio trabalho de guitarras (responsabilidade de Gelotte), até ao trabalho de Anders que mostra mais que nunca uma dinâmica vocal impressionante, passando pelos ambientes catchy e fáceis de interiorizar e trautear. Isto não significa que o trabalho seja simples; está muito bem feito, com detalhes no ritmo que dão uma dinâmica impressionante à música. Todo o álbum é de uma coesão extraordinária já que todos os temas se identificam com todos, nada falhando, havendo até o cuidado da perfeita comunhão do instrumental com as letras – Gelotte foi o próprio a afirmar que várias vezes reestruturaram riffs para que essa comunhão fosse sincronizada. O próprio afirma também que é um trabalho vincado nas guitarras. Há temas rápidos, com solos muito bem aplicados e melodias extraordinárias que dão uma dimensão palpável à música – o tema título abre o espectáculo mostrando logo a nova dimensão que os In Flames criaram; “Deliver Us” é de uma dinâmica impressionante e “The Puzzle” e “Enter Tragedy” são temas pesadões que dão uma piscadela ao passado da banda. No final fica-se de queixo caído ao interiorizarmos este passo de gigante dos In Flames – e fica-se viciado. [9.5/10] Victor Hugo
IN FLAMES «Sounds Of A Playground Fading» De há uns anos para cá que cada lançamento dos In Flames suscita, sempre, uma relação amor-ódio. E porquê? Pela coragem que tiveram em mudar o seu estilo e não se “agarrarem” à mesma fórmula musical – Há até que lhe chame evolução! É verdade que «Whoracle», «Colony» e «Clayman» foram (e são) marcos na história recente dos In Flames, autênticas referências no Death Metal melódico tão típico na Suécia. No entanto, se passados estes anos todos os In Flames fizessem 5 álbuns do mesmo estilo, provavelmente “estaríamos” a discutir a falta de originalidade e versatilidade da banda, blá, blá, blá. (Podem também ler um pouco da história dos Metallica, Heloween ou Pain of Salvation) mas o grupo, como os já referidos em cima, tiveram a coragem de mudar, de evoluir e de experimentar novas sonoridades. Se para melhor ou pior, cabe ao gosto de cada um. Não é de esperar que as ideias e influências musicais se mantenham inalteradas com o passar do tempo e idade – aliás, só conheço duas bandas que mantiveram o mesmo estilo desde o 1º ao último álbum. «Reroute to Remain» (RtR) é o ponto de viragem uma ponte tão clara e óbvia quanto a Ponte Vasco da Gama. Desta nova Era dos In Flames é o que mais se aproxima de «Sounds Of A Playground Fading» (SoaPF). A voz de Anders Fridén – quase sempre um ponto de discórdia – mantem-se equilibrada e está quase no ponto certo (… é, finalmente, atingido em SoaPF). Por falar em RtR é o único desta nova era que suporto ouvir – ainda é aquele álbum que me faz abanar a cabeça desenfreadamente, tocar “air guitar”, “air drums”, fazer cara de mau e ainda me dá vontade de “mochar” contra os móveis e paredes. A voz nos outros álbuns considero-a intragável da mesma forma que a bateria «St. Anger». É esta a minha justificação para não conseguir ouvir uma música do princípio ao fim. Acredito que ao fim destes 3 álbuns a banda percebeu que não era este o caminho a tomar e eis que surge (SoaPF)! Até a este dia o álbum do ano! A voz está, agora sim, no ponto certo, fantástica, Anders Fridén não grita desenfreadamente, canta com uma voz não demasiadamente agressiva, por vezes emotiva quase a roçar o melancólico – ouçam «Liberation» - É rock? É pop? Basicamente, não quero saber! É In Flames. Agora, podem ler a parte que começa “ainda é aquele” e acaba em “móveis e paredes!” As guitarras estão diferentes, potentes e melodiosas, os solos com bastantes harmonias como nunca ouvi nos In Flames – uma mais-valia, assim como a produção… está à altura do álbum, nota 10! Para terminar, chamo a particular atenção para o tema «A New Dawn» e a sua orquestração: simples mas soberba, singela mas majestosa… quase tímida! “A small step for man… a giant step for In Flames”. Dia 13/09 lá estarei no Hard Club. [10/10] Eduardo Ramalhadeiro
BAABA KULKA «Baaba Kulka» (Mystic Production) Baaba Kulka é um projecto polaco de música alternativa da artista Gaba Kulka – bastante famosa lá por aquelas bandas, e que nada tem a ver com o Heavy Metal, a não ser o facto de entrar pelo universo adentro dos Iron Maiden com todo o esplendor e ousadia, contendo «Baaba Kulka» dez excelentes covers dos Iron Maiden. Cada cover tem um estilo pop rock/jazz/funk e afins por si só, desde o excelente pop dos 70 presente em «Wrathchild» até ao Bossa Nova de «Still Life» ou mesmo passando pelo universo da lambada como podemos ouvir na secção central de «The Clairvoyant», tudo apresentado com uma componente Jazz bastante forte e bem presente, não fosse esta as raiz de Gaba Kulka. Não se assustem! É esta diversidade de estilos fora do Metal e a forma brilhante como foram encaixados nas músicas dos Maiden que fazem deste projecto aquilo que é. Também não faltam clássicos como «The Number of The Beast» e «Aces High» ou «Children of the Damned» ou, para mim, a minha preferida e mais bem conseguida das músicas, «Flight of Icarus». Há covers mais bem conseguidas do que outras e cada um terá as suas preferidas consoante a sensibilidade musical que tiver para abraçar ou rejeitar esta ou aquela música. Eu detesto a cover do «Still Life» e tenho pena da lambada no meio de «The Clairvoyant». Alias, o cerne deste álbum é esta dualidade amor-ódio. «Baaba Kulka» é um projecto que para o fã de Metal ou se odeia ou se adora: é preto ou branco. Não há meios-termos, áreas cinzentas ou nem o simples “é porreiro, até se ouve”. Se o(a) leitor(a) chegou aqui, então já tem a sua mente feita e já tomou partido de um dos lados. Se é dos que ficou com a pulga atrás da orelha, corra a descobrir «Baaba Kulka» porque não ficará desiludido(a). Caso contrário, simplesmente esqueça. [8.5/10] Carlos Filipe BLACK SEPTEMBER «The Forbidden Gates Beyond» (Prosthetic Records) E aqui temos mais uma banda dos EUA (Chicago) que desvirtua o bom gosto corriqueiro, aquele “mtvstream” enjoado, criada devido às influências de Dissection, Bathory, Bolt Thrower e outras de gosto ardente. Actualmente, trucidam as ondas sonoras com excruciantes apontamentos que recaem mais num Black/Thrash atmosférico. Desafiadores, o mau gosto na escolha do seu nome surge de uma agreste memória, o do grupo terrorista fundado em 1970 que, dois anos mais tarde, assassinou 11 atletas e membros da delegação israelita aquando dos Jogos Olímpicos em Munique. Pêsames à parte, é de referir que a música deste agrupamento mostra uma altíssima qualidade não fosse o facto de, apesar de surgirem em 2006, já terem editado uma demo, vários EPs e participado em alguns splits. Este «The Forbidden Gates Beyond», contendo uma produção muito superior às suas anteriores edições, é o seu primeiro álbum, inicialmente editado o ano passado em vinil pela Shaman Records mas cuspido este ano, com garra, aço e raiva, pela Prosthetic Records. Contendo seis músicas e um instrumental, ficamos mesmo assim com uma detestável ânsia por mais porque estes quase 35 minutos de agradável tormento não saciam a “fome”. Algo interessante em saber é que a vocalista, Jen McMorrow, tem estudos como cantora de ópera. O estranho é que, ouvindo-a, parecia-me que tinha estudado algures no Inferno juntamente com a Angela Gossow (Arch Enemy) e a Sofia Silva (a gritante-mor dos saudosos Neoplasmah). [9/10] Jorge Ribeiro de Castro BOOK OF BLACK EARTH «The Cold Testament» (Prosthetic Records) Por vezes, passeamos sozinhos por lugares onde já estivemos e, se temos sorte, encontramos algo que antes não estava lá. Ficamos curiosos, ponderamos se devemos nos aproximar e depois, porque nada temos a ver com o felino da vizinha, deixamos o cuidado de lado e nos atiramos a uma atenta pesquisa do que é essa coisa ao certo. No meu caso, descobri através da lista de CDs, disponibilizada por esta portentosa magazine aos seus colaboradores, uma banda que, após os primeiros minutos de audição, me atraiu de tal maneira que ouvi mais
vezes do que normalmente faço quando pretendo escrever uma crítica. Sendo de Seattle, os membros de Book of Black Earth demonstram uma tal doentia inspiração e capacidade instrumental que se pressupõe que conquistarão facilmente a atenção de qualquer adepto de Death/Black-Metal. Ao menos, deste conseguiram. Se existem maneiras apropriadas de passar a alguém qualquer obscuro testemunho, esta banda demonstra ter encontrado uma que é totalmente convincente pois o seu terceiro álbum, «The Cold Testament», despeja agressividade e melancolia como se o ácido e o gelo pudessem moldar diferentes partes da alma. Enquanto ouvia, a espinhosa perturbação conquistando, pus-me a imaginar iníquas personagens calcorreando terrenos onde o flagelo persiste, lutando pelas sobras de qualquer grandioso projecto criado por libertinos, os arautos da sua perdição. Afinal, como é que a luz e a esperança surgiriam ao ouvir algo que ficaria bem numa banda sonora apocalíptica? [8.5/10] Jorge Ribeiro de Castro CORPUS CHRISTII «Luciferian Frequencies» (Candlelight Records) O estatuto que Nocturnos Horrendus ergueu por conta própria é visível, e audível, ao ponto de criar um certo entusiasmo nas vésperas de lançamentos. Corpus Christii tem o merecido reconhecimento, que desde 1998 tem expelido fúria e ódio ao cristianismo ou qualquer outra instituição político-religiosa que manipule o livre pensamento. Inicialmente com um som mais cru, mas bastante aceitável e com características Black Metal muito refrescantes no contexto nacional, Corpus Christii foi evoluindo e limando a sonoridade da sua música ao ponto de deixar o ambiente cru que caracterizou o «Saeculum Domini». Contudo, o contexto da banda continua a ser o mesmo, com uma produção melhorada que consegue optimizar a transmissão da mensagem que N. H. quer espalhar. Neste novo trabalho, a sonoridade está um sonho para qualquer amante do género, mesmo para os mais puristas, já que apesar de estar optimizada não está com aquele tipo de produção limpa, polida e engraxada pronta para vender em massa qual produto de plástico. Nada disso! Temos aqui um trabalho Black Metal, com um ambiente apropriado – ou seja, frio e envolvente. Todos os instrumentos são audíveis e conseguirão escutar detalhes muito interessantes em todos eles, já que durante o álbum existem passagens que dão um dinamismo surpreendente ao movimento dos temas – o que demonstra um trabalho fabuloso de N. H. Já este faz um trabalho genial com a sua voz, ora expelindo a frieza dos seus pensamentos, ora gritando com todo o seu ódio. Destaco a permanência do baterista Menthor que dá um feeling orgânico ao «Luciferian Frequencies». O resultado é a chegada ao ponto mais alto dos Corpus Christii: mais agonizante e terrorífico que nunca. [9/10] Victor Hugo DC4 «Electric Ministry» (Metal Blade Records) Terceiro longa duração deste mega grupo de Heavy Metal/Hard Rock, e que traz onze temas recheados com boas energias Rock bem esgalhado. Os irmãos Duncan e companhia voltam à carga passados 4 anos com um trabalho produzido por Metoyer, que trabalhou com Armored Saint, Fates Warning, W.A.S.P. e Slayer, e está um must para qualquer apreciador de boas guitarradas que tanto nos faz lembrar o feeling dos anos 90 – acreditem que está tudo aqui no «Electric Ministry», onde se pode ouvir ora temas balançados, com riffs fantásticos que nos colocam a mexer o corpo sem o comandar, ora temas mais lentos em jeito de balada. Para além do quarteto de Los Angeles, podemos contar com alguns convidados: Dizzy Reed (Guns ‘n’ Roses) que suporta as teclas nos temas “Dirty hands” e “The ballad of rock and roll”; Gonzo (Armored Saint) toca percussão em algumas músicas; Eric Duncan (primo) faz um apoio à voz no tema “The ballad of rock and roll”; ainda no mesmo tema, Juliette Primrose toca violino. É a primeira vez que a banda convida pessoal para o seu trabalho, e foi uma boa ideia porque dá outro movimento ao «Electric Ministry». Contudo, embora este álbum não seja mau também não é extraordinário. É um fabuloso trabalho de guitarras, com solos que arrasam o ouvinte, como o espectacular que podem ouvir na música “Glitter girl”. Simplesmente isso e chega muito bem. [7.5/10] Victor Hugo
DEATH «Human-Reissue» (Relapse Records) Começando pelo fim: como é óbvio só podia ser “10”. Mais outro lançamento dos magnânimos Death que foi novamente re-misturado e re-masterizado, outro álbum absolutamente fundamental, outro álbum fascinante, outro álbum viciante… “Human” foi originalmente lançado em 1991 e foi (e como é óbvio continua a ser…) aclamado pela crítica. É um álbum complexo tanto ao nível das letras introspectivas como a nível musical revelando uma alteração de estilo, (um gigante passo em frente) demarcando-se, por isso, dos álbuns anteriores. “Human” tornou-se, assim, um dos álbuns que mais influenciaram o Death Metal. Originalmente produzido por Scott Burns e Chuck Schuldiner, este “novo” lançamento é novamente misturado sob o olhar atento de Jim Morris (The Fragile Art Of Existence, The Sound Of Perseverance e Symbolic) e com um segundo CD com mais de 1 hora de novo material e até à data do lançamento demo tracks nunca antes ouvidas. Este segundo CD é constituído maioritariamente pelos temas do álbum gravados em estúdio, todos instrumentais e mais simples do que aparecem no álbum, uma vez que são desprovidos de certos riffs de guitarra, assim como todos os solos. Ainda existem as demos de todos os temas do álbum, estes sim já com voz e as guitarras completas. Escrever sobre a execução dos temas ou a técnica dos executantes acho que não vale a pena, uma vez que os nomes dizem tudos: Steve DiGiorgio (Baixo), Paul Masvidal (Guitar) e Sean Reinert (Drums). “Human” foi o princípio de tudo o que os Death e nomeadamente, Chuck Schuldiner deram à música. Este tudo face à morte precoce de Chuck Schuldiner sabe a pouco… muito pouco. Devemos, por isso, estar agradecidos por tamanho legado que nos foi deixado. Por fim, destaco no meio desta excelência toda o tema «Lack of Comprehension». “Support music, not rumors” – Chuck Schuldiner (13/05/67 – 13/12/01) [6.5/10] Eduardo Ramalhadeiro DYNAHEAD «Youniverse» (MS Metal Records) O primeiro pensamento que me ocorreu quando ouvi os Dynahead: “Epá, estes gajos são bons que se fartam!!! Isto é diferente…”. Caio Duarte produziu (Juntamente com os restante elementos do grupos), misturou e masterizou “Youniverse”, o segundo álbum destes Brasileiros. No entanto, após mais duas ou três audições fiquei com aquele sentimento de que falta aqui qualquer coisa… falta aqui algo que me faça querer ouvir «Youniverse» vezes sem conta. A técnica está lá, existem vários riffs típicos do metal Progressivo, Thrash/Death Metal. “Inception” começa com um riff Thrash, para depois “cair” numa tentativa de imitar Spastic Ink, segunido-se um riff pop/rock, depois um progressivo, Thrash, outra vez tentativa de imitar Spastic Ink… e continua… Tudo isto, e mais, num tema de 6 minutos. Os restantes temas não estão tão exagerados como «Inception» mas nota-se uma ânsia de fazer muito em tão pouco tempo o que prejudica gravemente a fluidez da música. A produção do álbum cumpre o essencial e na minha opinião a bateria podia estar produzida de outra forma ou com outro tipo de sonoridade. Outro aspecto que me chamou, também, à atenção foi a voz. Caio Duarte divide entre a voz limpa – que está no limiar do aceitável, é esforçado mas como escrevi é um dos elementos ao qual falta algo para chegar ao topo - e agressiva que é a que melhor se adapta ao vocalista. «Youniverse» é um álbum esforçado, cuja produção não é “por aí além”, com bons músicos mas cuja estrutura dos temas não favorece nada a audição do álbum. [6.5/10] Eduardo Ramalhadeiro FOR ALL WE KNOW «For All We Know» (Metal Revelation) Para os mais incautos, se disser que For All We Know (FAWK) é o projecto a solo de Ruud Jolie (RJ), provavelmente não irão conhecer o nome e deixar passar este lançamento ao lado. Pois bem, RJ é um dos guitarristas dos Within Temptation (WT). Muitas vezes os músicos de 2º plano, chamemos-lhe assim, vivem na “sombra” e poucas vezes contribuem para a composição dos temas, ora porque a composição está a cargo dos frontman ou porque as suas próprias influências não encaixam na filosofia da banda. Há ainda os que têm de abandonar os
grupos se querem mostrar o seu trabalho e por fim, outros podem-no fazer como um projecto paralelo. FAWK encaixa neste último. RJ fez-se acompanhar de músicos respeitados, tais como: Kristoffer Gildenlöw(KG), baixo fretless (Ex-Pain of Salvation - PoS) ou Léo Margarit, bateria (PoS). As excelentes vocalizações estão a cargo de Wudstik (Ayreon). Com tantos músicos super competentes era de esperar algo sensacional. O que não é de esperar é algo parecido com WT, nem por sombras. FAWK é uma mescla de Rock Progressivo, às vezes atmosférico, melancólico, algo étero, introspectivo, calmo, majestoso mas às vezes pesado o suficiente para ser quase Metal, se é que me entendem. Todas as músicas são excelentes, no entanto, procuro sempre o tema diferente o que sobressai mais… e este é «Keep Breathing». RJ juntou uma autêntica constelação de estrelas - Sharon den Adel (quem mais), Daniel Gildenlöw (PoS), Damian Wilson (Threshold, Star One, Ayreon) ou Ruud Houweling (Cloudmachine). O tema tem 1:55 mas é dos melhores arranjos vocais que já ouvi. Para terminar chamo a atenção para o trabalho de KG no baixo fretless… Soberbo! Imperdível! [10/10] Eduardo Ramalhadeiro ICS VORTEX «Storm Seeker» (Century Media) Se os vossos preconceitos forem como os meus, então irá acontecer algo assim: colocam o CD de ICS Vortex a rodar à espera de encontrarem um Black Metal com sinfonias orquestrais e tempestuosas; de seguida cai-vos o queixo porque não é nada disso que estarão a ouvir. “The blackmobile” abre o «Storm Seeker» com um Rock Stoner bastante vincado, mas também com uns acordes que puxam o lado Black Metal do artista que se apresenta aqui a solo. É verdade, Vortex desafiou-se a si mesmo e criou um álbum com o seu nome, e traz consigo músicos com um currículo interessante e que dão uma preciosa ajuda ao vocalista. Traz, também, duas mãos cheias de influências musicais, já que poderão ouvir por aqui bastante Rock, Metal, e Progressivo vindo directamente dos anos 70 (como a “Godsmacked” ou mesmo o instrumental que fecha o álbum). O resultado é um trabalho com um dinamismo impressionante, já que flui bastante bem através das suas composições orelhudas que nos agarram pelos colarinhos e que nunca mais nos largam. Riffs pesadões e solos rasgados aliados a um Melotron que se apresenta quase sempre lá no fundo, são o cenário ideal para os ouvintes apreciadores de Rock. Quanto à voz: é a de Vortex. Aquela voz melodiosa que tão bem conhecem. Nada de guturais nem berros, o que é uma pena, já que há temas que puxam por alguma agressividade vocal. E é aqui que jaz um ponto negativo na estreia de ICS Vortex: a voz não apresenta qualquer diversidade. Temas como “Odin’s tree” ou “Ace” mereciam uma voz mais arrojada. Mas, como é uma estreia a solo, está perdoado. [8/10] Victor Hugo IRON MAIDEN «From Here To Eternity: The Best Of 1990-2010» (EMI) «From Here To Eternity» (FHtE) abrange umas das épocas mais conturbadas e menos consensuais da vida dos Maiden. FHtE começa onde outro dos Best Of acaba, falo de «Somewhere Back in Time» que cobria a primeira década musical. Verdadeiros pioneiros da NWOBHM, os Maiden (e porque não... o seu símbolo sagrado “Eddie”) sempre conseguiram manter a sua relevância no mundo da música e apesar de todas as mudanças, continuam a ser uma das bandas que mais influenciam novos (e velhos) artistas. O facto mais relevante é mesmo a ausência de temas os quais fazem parte dos álbuns gravados por Blaze Bayley, ou melhor, temas cantados pelo próprio, pois «Signo Of The Cross», «Man On The Edge» e «The Clansman» são interpretados ao vivo por Bruce Dickinson. De resto não há muito mais a acrescentar, a não ser que esta colectânea é excelente ponto de partida para quem não conhece os Maiden dos últimos 20 anos. Apesar de preferir a primeira década, não posso deixar de referir que a partir de «A Brave New World» - álbum que marca o regresso de BD e Adrian Smith à banda, os Maiden mudaram um pouco o seu estilo e os álbuns seguintes têm tanto de excelentes como de incompreendidos. E é interessante observar a evolução dos Maiden à medida que se vão registando as mudanças, tanto a nível de line-up como do estilo musical. FHtE é um excelente complemento para qualquer fã dos Maiden, quer sejam “novos” ou “velhos”. UP THE IRONS! [--/10] Eduardo Ramalhadeiro
KARMAKANIC «In A Perfect World» (Inside Out Music) Digamos que este ano, até à saída desta edição da Versus, o lançamento de excelentes álbuns de Rock/Metal Progressivo tem sido muito profícuo e «In a Perfect World» não foge à regra. O mentor deste projecto é Jonas Reingold que também é membro dos The Flower Kings desde 1999. Este álbum por ser Progressivo não é extremamente técnico – no sentido referido na review de Leprous – mas sim um álbum extremamente sóbrio com algumas parecenças a Ayreon, Fates Warning, Genesis e claro The Flower Kings. Digamos que salta logo ao ouvido um certo ambiente musical muito típico dos anos 70. Apesar disso todos os temas têm a sua identidade própria sem, no entanto, parecerem muito distantes uns dos outros. Desde o tema de abertura, «1969» com pouco mais de 14 minutos, uma fusão de tudo que se pode encontrar nos outros temas, passando pelo excelente «Turn it Up» o mais acessível, digamos que o mais “amigável” das rádios locais, com um coro que realmente fica no ouvido. Para destacar os últimos temas, «Can’t Take It With You» com um começo de fusão entre Jazz e Mambo que se vai tornando mais pesado à medida que o tema se desenvolve e o tema que encerra o álbum «When Fear Came to Town», excelente ambiente Jazz, melódica, calma, perfeita para, por exemplo, ouvir calmamente num qualquer bar à “meia-luz” com a companhia certa. Uma última “palavra” para Göran Edman (Voz), excelente, simplesmente… excelente. «In a Perfect World» é um perfeito exemplo (Outro pode ser o álbum dos Leprous revisto mais à frente…) de que um álbum para ser Progressivo não tem que ser técnico levado ao extremo. Obrigatório! [9/10] Eduardo Ramalhadeiro KLADOVEST «Atmosphere» (No Colours Records) Existe uma cena Black Metal ucraniana: ela é interessante e merece ser escutada – como Hate Forest ou Drudkh. É o caso, também, destes Kladovest que trazem este ano o seu terceiro trabalho intitulado de um modo muito descritivo: «Atmosphere». E de facto, o que podemos ouvir neste «Atmosphere» é um sugestivo Black Metal bastante ambiental e atmosférico. Quatro temas que totalizam pouco mais de 30 minutos de música, que garantidamente agradarão aos apreciadores desta sonoridade. Já esta é facilmente comparada com alguns trabalhos de Burzum, mas que mantém as devidas distâncias – está-se a ouvir Kladovest e não Burzum. Desde a capa, passando pelo título do álbum, o nome das músicas e as letras, somos remetidos para paisagens florestais, frias e pouco solarengas, mas no entanto confortáveis. Toda essa projecção é apoiada, claro está, pelos acordes hipnóticos e ambientais que só a frieza aconchegadora do Black Metal é capaz de sugerir. Riffs ora lentos, ora rápidos (nada de blast-beats), tendo como base um único riff que vai variando ao longo do tema, ajuda a criar o efeito hipnótico que facilmente nos faz imaginar uma verde e vasta floresta – como é o caso do último tema, “Fragments of sky, que é apoiado por meia dúzia de acordes, mas que nem por isso deixa de ser belo e idílico. A música composta por um tal de Dmitriy, e apoiado pela voz de Thurios (Drudkh e ex-Hate Forest) não sugere originalidade, mas sugere algo muito importante – a não mesmidade. Garanto-vos que repetirão estes ambientes várias vezes, mesmo sabendo que poderiam ter ouvido este álbum há 15 anos atrás. [7/10] Victor Hugo LEPROUS «Bilateral» (Inside Out Music) Se há coisas que detesto é quando junto alguns álbuns para fazer as minhas reviews e depois de uma primeira audição “encosto” uma pérola como este «Bilateral» e só muito tarde me apercebo o que tenho perdido ao não escutá-lo. Os Leprous tocam um Rock/Metal Progressivo e quando na produção sonora têm um Sr. chamado Jens Bogren que trabalhou entre outros com, Katatonia, Opeth, James LaBrie, Amon Amarth ou The Devin Townsend Project, o resultado só podia ser soberbo. À medida que o tempo passa começa a ser mais
complicado ouvir bandas deste género que façam algo diferente e que não sejam uma colagem demasiado óbvia a “A”, “B” ou “C”. Pois, os Noruegueses Leprous, comandados por Einar Solberg, cuja voz encaixa na perfeição, têm uma identidade muito forte. Não estamos perante um daqueles álbuns extremamente complexos, progressivos no seu extremo mas para um álbum ser progressivo não tem que ser levado ao extremo da técnica. (falo das incontáveis mudanças de ritmo, compasso complexos, escalas intermináveis, etc. …). «Bilateral» é um álbum sóbrio, no entanto, complexo nas suas harmonias e “camadas” musicais. Podemos encontrar algumas influências de King Crimson, Pink Floyd, Devin Townsend, Porcupine Tree ou mesmo Opeth (nos seus momentos mais calmos) – “Mb. Indifferentia”, “Acquired Taste” e “Mediocrity Wins”. Por outro lado temos “Waste of Air” (puro Death Metal) o tema mais “violento” do álbum com uma voz nunca ouvida no álbum. Para terminar, todo o design é fenomenal. O artista responsável é Jeff Jordan e quem conhece a arte por trás dos The Mars Volta sabe daquilo que falo. Absolutamente obrigatório. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro MACABRE «Grim Scary Tales» (Hammerheart Records) Depois de vinte e sete anos dedicados por inteiro a contar os feitos repugnantes dos mais notáveis assassinos psicopatas da história, os Macabre já mereciam, pelo menos, a atribuição de um doutoramento honoris causa num qualquer ramo da criminologia. Constituídos desde o primeiro dia por Corporate Death (guitarra, voz), Nefarious (baixo) e Dennis the Menace (bateria), o colectivo norte-americano é conhecido pelo seu característico ‘murder metal’, designação cunhada por eles próprios que se traduz numa estranha mescla de death, thrash e grind, com incursões frequentes em territórios estranhos ao metal, mas que funcionam bem e tendem a reforçar o humor negro das rimas jocosas que cantam. Esta é uma descrição particularmente adequada a este quinto registo de originais, um álbum um pouco menos extremo e mais apostado numa grande variedade desses tais elementos inusitados, que passam, por exemplo, pelo corridinho em estilo country de “The bloody Benders”, interpretado com um cómico sotaque sulista, pela trágica mas irresistível melodia de “Mary Ann”, pela lenga-lenga infantil de “Lizzy Borden” e pelos vocais operáticos em “Nero’s inferno”. Incluindo uma brilhante interpretação de “Countess Bathory”, original dos Venom, e especialmente concentrado desta vez nas atrocidades sangrentas de alguns dos mais infames serial killers de finais do séc. XIX, (cuidadosamente tratados na devida ordem cronológica) «Grim Scary Tales» é não só um inequívoco manifesto de talento do trio de Chicago mas, mais importante, um álbum divertido que promete arrancar mais do que alguns sorrisos. [8/10] Ernesto Martins MASTIPHAL «Parvzya» (Witching Hour Productions) São da Polónia e já datam de 1992. Uma demo, um álbum em 1995, outra demo e compilações, separam-se em 1998 e reúnem-se em 2009 com algum pessoal novo no grupo, e em 2011 lançam o segundo álbum de estúdio – «Parvzya». As diferenças do primeiro lançamento para este são muitas, mas o feeling que a banda expele é o mesmo – e até diria que a produção melhorada ajuda a sobressair esse feeling anti-cristão. Em «Parvzya» o Black Metal praticado é bastante mais directo e brutal, deixando de lado as texturas dos teclados o que faz evidenciar ainda mais a força do peso e o ritmo do som destes Mastiphal. Logo a abrir, “The wall of phantom” mostra-nos que os Mastiphal regressaram cheios de energia, com uns blastbeats aceitáveis mas nada que nos faça pensar que são desumanos. Não esperem apenas aquele tipo de Black Metal que se limita a malhar no ouvinte; felizmente os Mastiphal manejam a sua sonoridade de um modo dinâmico, mesmo entendendo que o que apresentam não é nada digno de mestria sobrenatural. É algo bem feito, mas nada surpreendente. Contudo, a cereja no topo deste bolo são os solos de guitarra que dão um toque old school ao trabalho destes polacos – acaba por ser um álbum de Black Metal com mais Metal. Já a voz é a esperada – ora fria como uma tempestade de neve, ora cavernosa e suja. Em suma podem contar com um bom álbum de Black Metal que proporcionará bons momentos de Metal que decerto repetirão. Não são os Behemoth (e ainda bem), são os Mastiphal que vieram provar que não são necessárias grandes complexidades musicais para cativar ouvintes. Os primeiros que se cuidem porque os segundos podem passar-lhes a perna. [7.5/10] Victor Hugo
NADER SADEK «In the Flesh» (Season of Mist) Este é um projecto curioso. O seu mentor, que empresta o nome à banda, não toca nenhum instrumento e, segundo parece, só compôs uma pequena parte da música. Tornou-se conhecido no meio do metal como o arquitecto das impressionantes instalações e efeitos visuais que ornamentaram os palcos de bandas como Mayhem e Sunn O))), sendo este álbum o registo da sua primeira incursão nos domínios da música propriamente dita. E para concretizar da melhor maneira esta sua ambição, o artista em causa pegou nos conceitos e nos esboços musicais que idealizou e depositou-os nas mãos de gente competente: o ex-Morbid Angel Steve Tucker (voz), Rune Eriksen dos Ava Inferi (ex-Mayhem, guitarra) e Flo Mounier dos Cryptopsy (bateria). O que resultou é death metal de inegável qualidade. Todavia, com excepção do intro e de dois curtos interludios (inteiramente redundantes, diga-se), bem como o belo instrumental “Nigredo in necromance”, este é um álbum caracterizado essencialmente por uma sonoridade e estilo perigosamente próximos de... Morbid Angel com rasgos de Death e... Mayhem. É certo que é um mimo sentir Eriksen a exercitar os dedos nas seis cordas com uma rapidez e técnica inéditas desde os tempos de «Ordo ad chao», assim como é delicioso apreciar a criatividade e a precisão com que Mounier castiga o seu kit. Contudo, tratando-se de um trabalho que resultou de uma associação inusitada entre um artista de outras artes e um conjunto de músicos de craveira (já para não falar do rol de convidados ilustres que participaram: Attila Csihar, Tony Norman, etc), seria de esperar daqui nada menos do que alguma inovação. Em lugar disso fica a sensação de muita parra e pouca uva. [7.5/10] Ernesto Martins NARGAROTH «Spectral Visions of Mental Warfare» (No Colours Records) Se o excelente «Jahreszeiten», o álbum anterior dos Nargaroth, já impressionou por soar invulgarmente épico e animado (!) então preparem-se para a autêntica “bomba” que é este novo registo de originais. E digo “bomba” porque mais de metade deste álbum é feito de trechos com estéticas que vão do dark ambient à electrónica, passando até por algo que se assemelha a new age. Além disso, o black metal cru e old school que sempre foi a imagem de marca da banda germânica, surge, desta vez, numa versão bem mais pesarosa e doomy, em três temas notáveis: o introspectivo “An indiferent cold in the womb of Eve”, que se fixa irremediavelmente na memória por via do seu riff de base repetitivo e das notas esparsas de teclados que sugerem como que gotas de uma chuva melancólica a cair; “A whisper underneath the bark of old trees”, que segue numa cadência igualmente lenta, mas é conduzido por uma hipnótica melodia de guitarra ao estilo dos Summoning e contém samples de uma película de Fritz Lang que lhe emprestam um toque ainda mais dramático; e o título-tema do álbum que se baseia também numa bela linha de guitarra, mas segue numa toada ainda mais solene. Ora, se o disco fosse todo assim seria álbum para arriscar até uma nota máxima. O problema é que a enfadonha “Journey through my cosmic cells”, além de ser a terceira faixa ambiental consecutiva, também soa deslocada no contexto; e a tecno/pop “March of the tyrants” constitui o pior fecho que um álbum deste tipo poderia ter. Apesar de tudo, a verdade é que com estes dois últimos álbuns, Ash transformou os até agora genéricos Nargaroth numa entidade singular em que todo o fã de black metal devia investir algum tempo. [7.5/10] Ernesto Martins NERVECELL «Psichogenocide» (Lifeforce Records) Longe está o início deste milénio, um ponto de origem para vários enlaces, um deles sendo Nervecell, um agrupamento dos Emirados Árabes Unidos, mais concretamente Dubai. Deixando de lado qualquer sumptuosidade inerente a esse lugar e inspirando-se em recantos mais funestos à alma desabrigada, Nervecell cedo mostrou que possuía um grande empenho em corroer o underground. Conquistando já uma sólida base de fãs com os diversos EPs, o seu primeiro álbum, «Preaching Venom» demonstrou que a banda subia a fasquia tanto em qualidade como em motivação. Após vários concertos pelo mundo
afora, alguns deles em diversos festivais de renome, Nervecell demonstra com «Psichogenocide» que as areias douradas do deserto reluzem mesmo a ouro, se é que tal pode ser traduzido em inspiração. A sua música, contendo influências de Deicide, Morbid Angel e Nile (Karl Sanders participa na faixa “Shunq (To the despaired… King of darkness)” tal parecendo apenas um desejo da banda do que uma necessidade) demonstra uma tal qualidade instrumental que não há maneira de agarrar uma qualquer tábua de salvação e deixar-se levar pela harmonia… a não ser, claro, que apenas se oiça a primeira faixa, um instrumental preenchido por cativantes melodias arábicas. No entanto, os metaleiros mais aguerridos, ou os que desejam cortar qualquer tédio com lides sanguinárias, de certeza que encontrarão horizontes mais apelativos com a audição deste álbum. Se a sua saúde será a mesma após uns tempos a ouvi-lo, não me importaria de saber… [8.5/10] Jorge Ribeiro de Castro NOMAD «Transmigration of Consciousness» (Witching Hour Productions) Reduzindo uns furos na brutalidade inconsequente e na frequência de lugares comuns que atormentaram o álbum anterior, «The Independence of Observation Choice» (2007), e apostando agora num esforço inaudito de criatividade, os Nomad acabam de apresentar aquele que é talvez o disco mais notável de uma carreira que já se prolonga desde 1994. Menos preocupada com a velocidade, a formação polaca traznos desta vez um death metal com um trabalho rítmico vincadamente solto e inventivo, e muito mais focado na criação de uma atmosfera negra e densa. Como aspecto digno de nota este quinto registo de originais contém uma série de curtos interlúdios/intros de sonoridade sinfónica ou industrial, conduzidos por teclados, que fazem a ponte entre os temas principais, conferindo eficazmente fluência ao álbum e um sentido muito mais grandioso. Podíamos bem destacar o cadenciado “Identity with personification” ou o rodopiante e marcial “Pearl evil” mas a verdade é que a música se mantém fiel a elevados padrões de qualidade em praticamente toda a duração do disco. A única queixa que ocorre é com o vocalista Bleyzabel Balberith: a sua voz mais grave é demasiado flat e desprovida de vida; só se salva mesmo quando aplica o seu registo black metal como acontece no excelente “Raised irony”. Com um artwork verdadeiramente assombroso, «Transmigration of Consciousness» é um trabalho ambicioso e muito bem conseguido, que está cheio de momentos galvanizantes. Um verdadeiro épico para ouvir de fio a pavio de uma só vez, que, estou certo, valerá cada minuto do vosso tempo. [8.5/10] Ernesto Martins POWERWOLF «Blood of the Saints» (Metal Blade Records) Quem for fã destes lobos do Power Metal alemão vai ficar extasiado com o seu novo trabalho, «Blood of the Saints». A começar pelo título, este é uma referência bíblica que gerou controvérsia e que pode ser lida no livro “Revelação”: “Eu vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue dos mártires de Jesus”. Passagem que serviu de ponto de partida para a concepção do novo trabalho dos Powerwolf. Podemos ouvir, então, temas como “We drink your blood” ou “All we need is blood” – o sentido de humor não foi esquecido. Musicalmente esperem um bom trabalho de Power/Heavy Metal, com riffs orelhudos que facilmente trauteamos à segunda audição – ainda por cima são riffs bons! Nada que já não tenham feito nos trabalhos anteriores, o que demonstra que os Powerwolf são iguais a si mesmos e andam nisto por amor. Foi gravado em cinco estúdios diferentes e conseguiram o feito de gravar as passagens do órgão de tubos numa igreja histórica do século XIII, tal como as partes do coro de uma conservatória – o resultado é muito bom; algo que não se consegue fazer em estúdio. Mais uma vez podem contar com momentos à lá Maiden, como na energética “Murder at midnight”, ou na entusiasmante “Night of the werewolfs”. Os Powerwolf conseguiram dar mais um passo em frente, carimbando com autenticidade o seu estilo próprio. Vão, com certeza, esgalhar a gadelha do início ao fim ou a fingir que tocam uma guitarra. Disso tenho a certeza. [8/10] Victor Hugo
SARAH JEZEBEL DEVA «The Corruption of Mercy» (Listenable Records) Sarah Jezebel Deva é uma figura bem conhecida dos fãs de Metal, principalmente pela sua participação como segunda voz, feminina, nos Cradle of Filth, Therion ou Mortiis. Depois de uma tentativa de carreira a solo falhada em 2008 e do projecto Angtoria nunca ter conseguido romper firmemente na cena, SJD tenta mais uma vez a sua sorte numa carreira a solo com «The Corruption of Mercy». Com uma formação sólida que garante uma qualidade acima da média, SJD acrescentou-lhe uma componente sinfónica que faz lembrar aqui ou ali as suas antigas bandas... mas esquecendo-se de incorporar o virtuosíssimo que marca as ditas. «The Corruption of Mercy» tem bons momentos de metal trazidos pelas mãos dos irmãos Abela e de Gian Pyres mas falta-lhe mais qualquer coisa, talvez grandes músicas que fiquem no ouvido. O álbum soa desequilibrado e falta-lhe algum refinamento para que se consiga chegar aquele patamar com o qual já estamos habituados. É o 1º álbum em que a base musical ofusca um bocado tudo o resto. A base é maior do que a música propriamente dita. Depois a performance vocal de Sarah não consegue ser uma mais valia para o álbum – talvez devido ao exposto anteriormente – não conseguindo sair da mera banalidade. Não há nenhuma música num todo que se destaque em especial, nem mesmo a cover dos Cranberries, «Zombie». «The Corruption of Mercy» e SJD tem potencial desde que consigam afinar a música, balanceá-la e aplicar o tom certo. [6.5/10] Carlos Filipe SOL INVICTUS «The Cruellest Month» (Auerbach Tontrager / Prophecy Productions) Com a voz de trovão de um ex-bibliotecário saído da máquina do tempo ferrugenta, espécie de Van Morrison mais louco que um chapeleiro e verve como vento que nem na Cornualha se aguenta (Andrew King), novos rumores ao longe tomam a forma de mais um disco dos ingleses Sol Invictus... Quão distantes os dias egrégios da trilogia inicial («Against the Modern World», «Lex Talionis» e «Trees in Winter»), quão lentos os anos da suave afirmação folk neo-clássica, mais sedutores no final dos 90s, em obras como «In the Rain», «The Blade» ou «In a Garden Green»! Neste século, Tony Wakeford rasgou novos horizontes mas recusou o aburguesamento (e de todos os ex-Death in June, era o que para isso mais trunfos reunia!); «Thrones» e «The Devil’s Steed» soaram triunfais (precedidos dum disco poderoso, «The Hill of Crosses», quase ignorado), cedo estandartes caídos na praça pública da má informação. Outros trabalhos surgiram e não fosse a beleza intrínseca e idiossincrática de «Into the Woods» (2007), das aventuras em uníssono com a Orchestra Noir e os Triple Tree (o divertido «Ghosts»), o nome de Wakeford arriscar-se-ia a cair no esquecimento. «The Cruellest Month» tem por isso vento favorável, porque é uma realização panóptica da multitude de si mesmo, um disco dinâmico e envolvente quanto baste, cheio de acordes acústicos cortantes como outrora, com percussões em zoom (in and out), abóbadas de violinos e sopros que parecem ser mais que ventos nos campanários. As tradicionais temáticas, sabiamente interpretadas em alternância pelas vozes de Tony e de Andrew King, versando a insondável natureza humana, os sórdidos contos de abandono e solidão, a vertigem predadora e assassina, os mistérios que velam pela alma negra no campo ou na cidade, tudo está lá de volta e no sítio certo para um álbum dos Sol Invictus. A queda da WSD foi amarga e catalisadora; os seus principais nomes foram obrigados a reinventarem-se – e todos eles estiveram ligados no passado, dum modo ou de outro. Tony Wakeford, como dissemos, não se aburguesou e perdeu inclusive bastante dinheiro; no entanto, aprendendo com a “crisis” uma vez mais, percebeu que ainda era cedo para deserdar os seguidores e este é um trabalho à “moda antiga. [9/10] João Carlos Silva
STREAM OF PASSION «Darker Days» (Napalm Records) Se no anterior álbum «The Flame Within» já o evidenciava, então nesta nova proposta dos Stream of Passion a prova é irrefutável, eles conseguiram cortar as amarras com o seu mentor de projecto. «Darker Days» é uma clara evolução dos SoP, solidificando a sua música a todos os níveis. Girando tudo à volta da mexicana Marcela Bovio, ela tem aqui mais uma excelente e magnífica performance vocal – não fosse por causa dela que os SoP existem. O Metal Gótico destes Holandeses, é pujante, repleto de riffs marcantes, uma bateria acutilante e poderosa. O toque de midas é feito pelo teclado de Jeffrey Revet e o violino de Marcela que torna tudo consistente, dando a todas as músicas corpo e solidez – Só mesmo ouvindo. Não irei aqui destacar nenhuma música em particular, porque além de não haver nenhuma que se destaque, todas elas têm a sua quota parte de interesse, todas elas apresentam um nível tal que fazem de «Darker Days» um álbum muito homogéneo, de alto nível e bem definido. Tudo aqui é pautado pelo bom gosto e perfeição. A única crítica que deixo é relativamente à falta de emoção, de passione. É tudo demasiado perfeito, cirúrgico e excelente que deixa «Darker Days» – e em geral a música dos SoP – desprovido de emoção, de paixão. Desculpem a analogia, mas é como certos carros super desportivos fantásticos e perfeitos mecanicamente que há por aí, mas que lhes falta algo. Falta-lhes aquela emoção de um Ferrari! «Darker Days» e os SoP, são um destes super desportivos do Metal. [8.5/10] Carlos Filipe THANATOSCHIZO «Origami» (Major Label Industries) É sempre salutar vermos uma banda Portuguesa a crescer. De facto, os Thanatoschizo, que já andam por aí há mais de dez anos, têm nos últimos anos, brindando-nos com álbuns cada vez mais refinados e bem conseguidos. «Origami» não foge à regra e apresenta-se como mais uma evolução segura da banda de Santa Marta de Penaguião. Sem nunca hipotecar a sua sonoridade e textura que a caracterizam, os Thanatoschizo entram imediatamente com o pé direito com “inExistence”, uma espécie de boas vindas, levando-nos para um patamar bem superior com “(Un)bearable certainty”, nunca mais saindo daí até ao final. Tudo parece estar (está) no lugar certo, no tom certo, na nota certa, conseguindo misturar todas as texturas musicais e ambientes de tal forma que somos completamente arrebatados por esta sonoridade mundana e semi-acústica, que faz deste projecto um dos mais interessantes do nosso universo metálico nacional, na obstante de, infelizmente, nem todos conseguirem entrar na onda dos Thanatoschizo e verem aí virtuosismo e magnificência. De “Pervasive healing” até “Pale blue perishes” passando por “Sublime loss” ou “The journey’s shiver” – outra excelente música – tudo nutre uma riqueza musical completamente acolhida pela magnífica voz e performance de Patrícia Rodrigues, acompanhada pela sólida performance dos seus pares. «Origami» é um álbum maduro, calmo quanto baste, singular e simplesmente maravilhoso. [9/10] Carlos Filipe THE BLACK DAHLIA MURDER «Ritual» (Metal Blade Records) Uma introdução em violino abre o novo álbum da banda de Michigan, The Black Dahlia Murder. «Ritua» mostra um quinteto mais maduro musicalmente, mais diverso e com mais habilidade, e tudo na primeira faixa, que após um minuto com um violino a solo explode com toda a brutalidade habitual deste grupo. Nota-se um som bastante coeso e completo, a bateria sem qualquer tipo de falhas, sempre presente, e as guitarras rápidas e objetivas ajudadas por um baixo incessante. Já a voz é, neste registo, a mais trabalhada na história da banda. “Moonlight equilibrium”, a segunda faixa do álbum, é uma ótima faixa de mosh, totalmente energética e fulminante, com variantes em que se dá mais atenção ora à voz, ora às guitarras. Um tema que deve ser visto ao vivo! Outra faixa de destaque é “Conspiring with the damned”, um pouco na linha da anterior “Moonlight equilibrium” mas um pouco mais arrastada, com um ar mais sujo que contrasta perfeitamente com as secções mais melódicas. “Den of the picquerist”
relembra os primórdios do Death Metal e certamente irá agradar aos mais puristas. O conteúdo das letras é bastante fácil de se adivinhar: são diversos rituais, cada um com a sua finalidade, e diga-se que dão um ar ainda mais místico a todo o ambiente deste álbum. É o álbum mais longo até a data (com uma duração total de 45:28 minutos), com uma técnica e diversidade maiores que os seus antecessores, grande destaque para o uso de violinos, é com certeza um dos maiores pontos fortes do metal atual. [8.5/10] Daniel Guerreiro THE DEVIN TOWNSEND PROJECT «Deconstruction» (Inside Out Music) Antes de mais, considero Devin Townsend (DT) um dos poucos génios musicais existentes na actualidade. Tanto «Deconstruction» como «Ghost» são parte integrante de um álbum conceptual dividido em 4 partes: Pt.1 - «Ki», Pt.2 – «Addicted», Pt.3 - «Deconstruction» e Pt.4 - «Ghost». DT fez-se rodear de gente híper-talentosa: Ryan Van Poederooyen (que já trabalhou anteriormente com DT), Mikael Åkerfeldt (Opeth), Tommy Giles Rogers (Between the Buried and Me), Paul Masvidal (ex-Death, Cynic) ou Fredrik Thordendal (Meshuggah), só para citar os mais importantes. Seguindo os álbuns cronologicamente, DT torna a mudar a fórmula. Desta vez “oferece-nos” aquilo porque é mais conhecido: as suas composições genialmente loucas, intensidade, peso, técnica e brutalidade. Digamos que uma aproximação a Strapping young Lad. Chamo a particular atenção para o tema “The Mighty Masturbator” (com a voz de Greg Puciato) onde DT nos presenteia com mais de 16 minutos de toda a sua genial “loucura”! «Deconstruction» é um álbum complexo e sem dúvida o mais perturbado e extremo que DT já fez. Quem gostar do “lado mais negro da Força” vai certamente rejubilar com este lançamento. Nas palavras de DT as quais não resisto a transcrever: “Ghost is a much more risky record on a lot of levels. It’s a really beautiful, folky, acoustic record with flutes and a real peaceful sentiment. I really like subtlety. That’s why I love Ghost so much deconstruction is about as subtle as a boner in sweatpants and that’s great too!” Por fim, destaco a brutalidade de todos os vocalistas e toda a produção que é feita em torno das vozes, que no meio de toda esta excelência musical, para mim, é o que mais se destaca. [10/10] Eduardo Ramalhadeiro THE DEVIN TOWNSEND PROJECT «Ghost» (Inside Out Music) Existem certas e determinadas coisas que nos meus deâmbulos e leituras pela Internet me deixam furioso. No que concerne à música, e no que a este álbum diz respeito, as pessoas são capazes de analisar um álbum tão diferente como «Ghost» comparando-o com tudo o que foi feito pelo artista. Não o analisam como uma obra em si. Se Devin Townsend (DT) fizesse um álbum de Pimba (Com todo o respeito que este tipo de música me merece) e se fosse tão competente, tão bem tocado, como é este «Ghost», eu daria um “10” perfeito, porque tudo aquilo que DT faz… faz de uma maneira absolutamente magistral. E é assim que estes álbuns devem ser analisados. «Ghost» é “delicioso” (uma maneira de o “saborear” será com as luzes desligadas e auscultadores ou então, se for suficientemente afortunado, com um amplificador a válvulas e o som não muito alto…), calmo, “zen” e aparentemente minimalista. Este é daquele tipo de álbuns que podemos “mostrar” às namoradas que detestam Heavy Metal ou passar como música ambiente num bar mais calmo. DT é um génio completamente insano, de extremos, super versátil, imprevisível e só os génios conseguem fazer duas obras-primas situadas nos extremos infinitos da musicalidade. Não nos podemos esquecer que este génio produziu, escreveu todas as músicas, com excepção de duas e é multi-instrumentalista: guitarras, voz, baixo, sintetizadores, programação “ambiente” e banjo. Obra-prima! [10/10] Eduardo Ramalhadeiro
WINTERUS «In Carbon Mysticism» (Lifeforce Records) Já desde há muitos anos que sei que nenhum momento é mais propício para ouvir certas bandas do que a madrugada pois é nessa altura que melhor se sente os arrepios excruciantes que nos afastam da realidade que persiste além do quarto onde estamos. Nesse momento, apenas a música e a melancólica ambiência que transmitem importa, aquela capacidade de enaltecer a solidão e a razão sem que haja qualquer desconforto social. Sendo um agrupamento formado em Dezembro de 2009, a sonoridade dos norte-americanos Winterus neste primeiro álbum é um Black/Death-Metal atmosférico que nos leva a recantos invernais onde qualquer som parece talhado por fantasmagóricas facadas, aquelas que propiciam devoção à estação mais fria e que delapidam a qualidade sonora que actualmente fica bem. Lendo no texto de promoção que têm como influências Immortal, Enslaved, Dawn, Agalloch, Ulver, entre tantos outros agrupamentos, esperava, mesmo assim, algo melhor trabalhado. No entanto, este é um álbum que tem uma qualidade instrumental ligeiramente acima da média e que, devido a conter três músicas com vocais, três instrumentais e três outras músicas gravadas em concerto (uma delas sendo um instrumental), mais parece ter sido compilado à pressa para que a edição não tardasse. Como particularidade, é de enaltecer a descrição do lado emocional e filosófico do ser humano/natureza patente nas letras, o que, infelizmente, não impede que Winterus deixe de ser apenas uma banda da nova vaga de Black-Metal norte-americano à qual se pode dar alguma atenção… [6.5/10] Jorge Ribeiro de Castro
Ano para ano, edição para edição, o Vagos Open Air apresenta um cartaz cada vez melhor, optimizado e arrojado. Logo no primeiro dia os três nomes mais sonantes prometiam incendiar o povo, e se adicionados aos restantes mais sonantes do segundo dia previa-se um evento muito apetecível e bastante pesado. Mas, se lá estiveram perceberam que o festival foi alimentado por todas as bandas que contribuíram para bons momentos de peso, e não foi só um contributo das mais sonantes – as aberturas foram estrondosas e algumas vezes surpreendentes. Para os que não estiveram lá podem ler uma perspectiva da 3ª edição do Vagos Open Air.
Nas três edições do Vagos Open Air nunca houve um aglomerado tão grande de pessoas a assistir à banda de abertura como houve nesta edição de 2011. Os Revolution Within, banda de Santa Maria da Feira, conseguiu o mérito de reunir bastante pessoal, que apesar do sol não conseguiu resistir ao Thrash Metal pesadão que a banda pratica. “Collision” já data de 2009 e mesmo sendo o único trabalho da banda bastou para abrir o mosh pit e aquecer os ânimos com riffs bem rasgados e solos acutilantes. Um excelente começo como nunca houve. Os Crushing Sun mostraram sem reservas o material de que são feitos. A classe metaleira já os conhece, mas a energia expelida não foi tão favorável como a dos Revolution Within, o que favoreceu a uma quebra de ritmo. Contudo, a banda está de parabéns porque tem material bastante interessante, pesado que chegue para fomentar nódoas negras no corpo e músicos bastante performativos (destaque para o baterista que é muito bom). O recinto já estava bastante animado e aquecido, prontinho para receber os Essence, provavelmente uma banda que uma boa parte do público desconhecia, e este deve ter ficado de queixo caído logo após alguns minutos de actuação. Esta jovem banda dinamarquesa conseguiu colocar o recinto todo aos pulos, a esgalhar a gadelha e a fazer air guitar, através de uma máquina de Thrash Metal old school com acordes descaradamente Metallica e Slayer, e onde nem a postura à lá James Hetfield do vocalista/guitarrista passou despercebida. Lá para o final, o jovem colectivo brinda-nos com uma cover da “Raining Blood”, dos Slayer, colocando o pessoal num verdadeiro estado de loucura e surpresa. Os Essence levaram a lição estudada e recebem uma nota bastante positiva, e coloca-a no top das melhores prestações de sempre do Vagos Open Air. A tarde cai e os Anathema apresentam-se em palco com a promessa de um concerto forte e emotivo como eles já nos habituaram. A primeira pergunta
Anthema
Opeth
surge no ar: «Que é feito do teclista Les Smith?»; a resposta surge pouco depois pelo Vincent, que nos apresenta um tal Daniel Cardoso. “Thin air” abre o espectáculo e arrasa o público. Decidem continuar pelo mais recente trabalho, «We’re Here Because We’re Here», mas logo à segunda música a energia falha. Falha, portanto, o feeling da banda mas o público conseguiu traze-los de volta com palmas e gritos, o que mostrou uma grande vontade de ver, ou rever a banda britânica. Não faltaram temas do último trabalho, “Dreaming light”, “Everything”, “A simple mistake” e a “Universal”; mas passaram por outros álbuns dos quais trouxeram temas como «A Natural Disaster», Flying” e a “Empty”. Todo o público acompanhou o Vincent a cantar, e apesar de ter havido mais três cortes de energia (o que causou o abandono do palco sem encore) ficou um bom espectáculo com energias à flor-da-pele. Já pela noite dentro, e após uma grande espera (talvez para garantir que a energia não faltasse mais), os Tiamat encontram um cenário apropriado à sua musicalidade. Os amantes da banda aproximaram-se mais do palco e puderam degustar de temas como “Cain”, Whatever that hurts”, “Vote for love” com muitas palmas, a tão esperada “The sleeping beauty”, a arrepiante “Cold seed” e “Gaia” para fechar. O povo cantou com o pouco comunicativo Johan Edlund, e no fim agradeceu pelo bom concerto de Metal/Rock Gothic. A chuva apareceu com pouca intensidade, mas mesmo assim não foi argumento para arredar pé do recinto. Os Opeth foram a grande espera do primeiro dia do Vagos Open Air 2011 e não seria a chuva o factor de desistência. A banda sueca subiu ao palco com a “The grand conjuration”, começando, assim, o seu ensaio de Metal Progressivo. Logo de seguida a “Face of Melinda” garantiu um ambiente excepcional, para logo de seguida surgir a “The lotus eater”. Mikael Åkerfeldt mostrou ser um verdadeiro frontman e bastante divertido, quase a roçar o stand-up comedy. O concerto pareceu curto e soube a pouco, mas distribuiu pérolas como “In my time of need”, “Master’s apprentices”, “The drappery falls”, “Hex omega” e a “Deliverance” para finalizar. Pelas 02:00 da madrugada fica a certeza de ter sido um dia em cheio, prontinho para receber o próximo que prometeria ser igualmente arrasador.
O segundo dia do festival foi assombrado pela ameaça de chuva, que logo pela manhã despertou o pessoal, mas pela tarde ela não apareceu permanecendo apenas as tão bem-vindas nuvens que acalmavam o calor. Ainda não eram 17h e já os We Are The Damned se lançavam no palco com a sua agressividade e simplicidade pesada. Cada tema era como um par de lambadas bem dadas, tal é a força da música deles. O povo aceitou-os muito bem já que esta banda de Lisboa conseguiu espalhar boas energias pelo recinto. “E quem não gosta, que vá para o caralho!” – vitupérios, entre outros, expelidos pelo comunicativo vocalista apelando à abertura da mente e de
Morbid Angel
Devin Townsend Project
horizontes. De seguida os já conhecidos Malevolence sobem ao palco para pouco mais de meia hora de Thrash Metal pesado e bastante old school, ou os dois álbuns da banda não tivessem mais de dez anos. E desses pudemos ouvir temas como “Hunters of the red moon” e “A shining onslaught of tyranny”. Mesmo com o tempo curto foi possível ouvir um tema do novo álbum que estão a preparar – “Equilibrium In extremis”, tema que nos deu um cheirinho do que se poderá esperar do sucessor do «Martyrialized», de 1999. Os finlandeses Kalmah criaram alguma expectativa, e conseguiram cativar o povo que teve de se habituar a uma sonoridade mais melódica, deixando para trás a agressividade do Thrash Metal. O Death Metal melódico dos Kalmah soou bastante bem no recinto, com solos de guitarra muito bons a picar o teclista que seguia a mesma toada solista, colocando o público em histeria. Abriram com a “Hook the monster”, para de seguida nos dar a “They will return”. O tom tipicamente childrenofbodiano não passou despercebido, mas apesar disso o Vagos gostou, aplaudiu e pediu mais após o tema “Hades” que encerrou a prestação dos Kalmah. O final da tarde surgia e isso significava que Ihsahn estava prestes a subir ao palco do Vagos. O esperado músico norueguês, ex-Emperor, era um nome forte do segundo dia, e não bastou muito tempo para perceber que ele e a sua banda de jovens aprendizes são uma bomba de Metal extremo. “The barren lands” e “A grave inversed” iniciaram o espectáculo, pesado, progressivo e com toda a caracterização do estilo próprio do ex-Emperor. Não faltaram temas como “Unhealer”, que se fosse tocada no primeiro dia teria a participação do Mikael, vocalista dos Opeth, ou mesmo passagens pelo passado dos Emperor, como “Tongue of fire” e “Thus spake the nighspirit” precisamente quando a noite caía. Um concerto brilhante! O sound-check para Devin Townsend Project foi bastante animado e com risota, com projecção de imagens famosas de várias áreas, mas manipuladas ora com o Devin ora com o Ziltoid; e o som não foi Metal mas Pop de topo, daquele que dá na rádio e que todos conhecem. Uma risota e bastante refrescante, já que as pausas por vezes são uma valente seca. Já em palco o músico canadiano mostrou ser um “bicho de palco”, um verdadeiro entertainer e um grande comunicador sempre bem-disposto e raramente no mesmo sítio. O som foi do melhor que já passou pelo Vagos Open Air, com ataques sonoros quase palpáveis, aliados a projecções de imagens – uma comunhão muito boa! Ziltoid foi também um ponto alto do concerto, e ninguém ficou indiferente ao tema “By your command”. Quem já conhecia o novo trabalho do artista, poderia prever a subida de Ihsahn ao palco, já que este foi convidado no «Deconstruction» para cantar no tema “Juular”. No final ficou a sensação de que o Vagos aguentaria com todo o prazer mais um par de horas com a presença deste artista extrovertido. Mas uma outra grande banda estava prestes a subir ao palco para fechar o festival, e ninguém presente quis perder um segundo do concerto dos Morbid Angel. “Immortal rites” abre de uma forma excelente o concerto, surpreendendo quem pensaria que iriam começar pelo novo álbum. Este não ficou esquecido e até acordou as hordas do festival com a “I am morbid” que as estimulou a gritar “morbid”; também marcou presença temas como “Existo vulgoré” e “Nevermore”. O som esteve muito bom, bem pesado e evidente, com especial destaque para a prestação dos guitar-
ristas que enlouqueceram o povo todo com solos do outro mundo que ecoavam pela localidade de Calvão; claro, o baterista é uma verdadeira máquina e aguentou muito bem até ao final; tal como David Vincent que mostrou ser uma grande presença em palco com uma voz poderosa. O set foi extenso e terminou com o tema mais lento dos Morbid Angel, “God of emptiness” e a “World of shit (The promised land)”. Morbid Angel fechou, assim, o festival, garantindo sem qualquer dúvida que mereceu encabeçar o cartaz. Para muitos que lá estiveram, provavelmente foi a única banda que viram – para esses, Morbid Angel foi o Vagos Open Air 2011. Para todos – VENHA O PRÓXIMO! Texto: Victor Hugo Fotos: João Tavares e Victor Hugo
s i a c i s u m s e õ x e l f e r
dico
Um estilo, vários estilos I – As várias faces do Metal Possivelmente o leitor nunca pensou nisso, mas a ausência de classificação das bandas em géneros e subgéneros musicais geraria o caos no mercado, trazendo inúmeros contratempos aos seus agentes. As editoras veriam agravada a comunicação eficaz dos produtos em catálogo, os jornalistas e críticos de música teriam o seu trabalho dificultado quanto à retratação estilística das bandas, os retalhistas enfrentariam significativos entraves na distribuição dos CD’s nas prateleiras e os fãs submergiriam num oceano de música desorganizada, impossibilitados de selecionar os géneros que melhor refletem os seus gostos musicais. A classificação das bandas em géneros e subgéneros revela-se pois determinante para maximizar a eficácia da mensagem transmitida ao mercado e auxiliá-lo nas suas escolhas. É indiscutível e comummente aceite a legitimidade e pioneirismo de subgéneros como o Speed Metal, o Thrash Metal, o Black Metal, o Power Metal (europeu e norte-americano), o Prog Metal, o Death Metal, o Grindcore, o Metal Neoclássico, o Goth Metal, o Metal Industrial, o Metal Alternativo, o Nu Metal ou o Doom Metal. Autónomos dos estilos originais – o Heavy Rock, o Hard Rock e o Heavy metal, inúmeras vezes confundidos –, estes subgéneros foram gerando, por sua vez, outros subgéneros, como o Black Metal Sinfónico, o Death Metal Progressivo, o Swedish Death Metal, o Brutal Death Metal, o Grind / Gore, o Techno Thrash (que nos anos 80 designava bandas cuja estrutura musical se baseava na técnica e no virtuosismo instrumental, em nada se relacionando com a música Techno), etc. O próprio Hard Rock gerou descendência direta por via de estilos como o Hard FM, o Pop Metal e o AOR (Adult Oriented Rock). Por outro lado, dada a natural evolução dos estilos, o tempo encarregou-se de impor a justificada recategorização de alguns subgéneros. É o caso, por exemplo, do Death Metal original,
extremamente pesado, balançado e cadenciado, com produção crua e guturais extremos, agora conhecido por Old School Death Metal. Ou do Glam Metal norte-americano dos anos 80, com os seus músicos carregados de maquilhagem, roupas efeminadas, cabeleiras espampanantes e trejeitos ridículos, agora justa mas depreciativamente apelidado de Hair Metal. Ou do Doom Metal original, pesadíssimo, arrastado, envolto em guturais assombrosos, incidindo em temáticas obscuras e depressivas, atualmente designado Funeral Doom, reservando-se o epíteto Doom a grupos como os Candlemass ou Solitude Aeturnus. Ou do Heavy Rock típico dos anos 70, sujo, direto, pesado, cru e orgânico, obviamente gravado com equipamento analógico (o único disponível na época), hoje conhecido por Stoner Rock ou Stoner Metal. Ou ainda do Speed Metal original de grupos como os Helloween, hoje adequadamente designado Power Metal europeu. Estas modificações, adequadas e corretas face à evolução musical, são comummente aceites pelo mercado, tendo reconfigurado a categorização e, em última instância, a árvore genealógica do Metal. Por outro lado, a fusão de estilos como o Death ‘n’ Roll, o Hard’n’Heavy, o Death / Thrash (conhecido nos anos 80 como Deathrash), o Black / Death, o Deathcore ou o Crossover (fusão Thrash / Hardcore de espírito Punk fundada nos anos 80, agora designada Thrashcore ou, numa vertente mais popular, Metalcore), entre vários outros, veio adensar a confusão instalada. Aliás, a “subjetividade” da classificação dos géneros musicais (que só existe para quem desconhece as características distintivas de cada subgénero) expressa-se de várias formas. Por exemplo, enquanto a generalidade dos fãs (eu incluído) e especialistas inserem corretamente os W.A.S.P., King Diamond, Gwar ou Ozzy Osbourne na “pasta” do Heavy Metal, classificam Alice Copper, Lordi ou Kiss de Hard Rock e atribuem o epíteto de Metal Industrial a Marylin Manson outros colocam-nos indistintamente no “saco” do Shock Rock, reduzindo-os às vertentes estética (principalmente) e lírica, renegando por completo a música! Porquê? Porque o Shock Rock incide unicamente sobre o visual e as letras. Finalmente, um esclarecimento: ao contrário do que alguns pseudo-especialistas defendem, a New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM), a New Wave of Swedish Death Metal (NWOSDM) e a New Wave of American Metal (também conhecida como New Wave of American Heavy Metal - NWOAHM) não constituem subgéneros do som pesado. São, isso sim, movimentos no âmbito dos quais se formam grupos de vários subgéneros. Na próxima edição aprofundarei o tema desta crónica. Dico P.S. – Conhece os subgéneros do Metal? Teste os seus conhecimentos em http://www.sporcle.com/games/archaia/metalsubgenres Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico
Templo dos Jogos O que seria do mundo sem música? O que seria do mundo sem entretenimento? O que seria do mundo sem jogos? E o que seria dos jogos sem música? Falo, claro está, de jogos de vídeo e da importância das suas majestosas bandas sonoras. Atualmente é impensável criar um jogo de vídeo sem uma banda sonora à altura, quer seja ela propositadamente feita para o jogo ou uma coletânea de músicas já existentes, mas nem sempre o resultado final é o melhor ou o mais agradável, ou pura e simplesmente não encaixa no ambiente visual proporcionado pelo jogo. Para uma análise mais cuidada, e até mesmo nostálgica, temos que recuar até aos sistemas de 8 e 16 bits, onde encontramos verdadeiras pérolas da composição. Quem durante a sua infância usufruiu de uma consola de jogos de 8 ou 16 bits, sistemas hoje em dia considerados completamente arcaicos e ultrapassados, e passou horas sufocado pela sede de chegar ao final de todos os jogos que conhecia, decerto que se deparou com pelo menos um par de músicas que o deixou boquiaberto. Quer fossem as que acompanhavam o menu do jogo, ou as que surgiam assim que escolhíamos a opção para jogar, ou até mesmo aquela que, regra geral, seria a mais rápida e feroz: a mítica música do último nível, pois o final do jogo, sendo supostamente o ponto mais difícil, teria que ter uma música à altura. São inúmeras as maravilhas que se descobrem no baú dos 8 e 16 bits, quantidades ilimitadas de sons que se dispõem sob milhões de formas e recriam músicas dos grandes nomes da época clássica. São esses pequenos acompanhamentos em loop que ficam entalados nas nossas cabeças e ainda as grandiosas composições merecedoras de um estatuto de Metal para infantes, em suma, são essas melodias que ao início se podem estranhar mas que eventualmente acabam por se entranhar. Mas o objetivo deste texto é, não só relembrar os anos
passados, mas mais precisamente apontar que o Metal existe em tudo quanto é lugar e é dignificado com toda a pompa e circunstância no que outrora fora considerado “para crianças”. A rapidez, as batidas fortes, as melodias emocionantes, e mais que isso, o conjunto de todos os elementos fazem das bandas sonoras dos jogos de vídeo antigos enormes fontes de inspiração, que são muitas vezes referenciadas em inúmeras obras musicais atuais, e que não hão de cair no esquecimento com tanta facilidade. Com o passar dos anos a tecnologia evoluiu e com ela o mundo dos jogos sofreu mutações gigantescas. Hoje, os aspetos visuais são impressionantes, sendo tão ou mais realistas até que a própria realidade, e os aspetos de som continuam a acompanhá-los. Maioritariamente as bandas sonoras dos jogos de vídeo são instrumentais, de modo a não distrair o jogador com letras e servindo apenas de fundo para que o silêncio não se escute, no entanto há também bandas que se baseiam nos jogos de vídeo para crias as suas músicas, quer em conteúdo lírico, quer em certas passagens instrumentais, as músicas fabricadas com esta ajuda podem ser tanto originais quanto versões de outras, que na altura da sua criação, não se apoiavam nos mesmos instrumentos. São dois mundos que se entrelaçam e que ficam muito bem juntos, o metal e os jogos de vídeo, e é mais que verdade quando dizem “Recordar é Viver!”. Daniel Guerreiro
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