Versus Magazine #22 Outubro/Novembro 2012

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HELL MILITIA

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V E R A

C R U Z

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VERSUS MAGAZINE VERSUS Magazine c/o Ernesto Martins Rua da Barranha, 573 - 2D 4460 - 253 - Senhora da Hora Portugal Telem.: 918 481 127 E-Mail: versusmagazinept@gmail.com Web: /versus-magazine.com MySpace: /versusmagazine Facebook: Versus Magazine - Official Facebook Group: Versus Magazine PUBLICAÇÃO BiMESTRAL Download Gratuito DIRECÇÃO Ernesto Martins André Monteiro GRAFISMO A.Monteiro - Design & Multimédia www.amonteiro.net ILUSTRAÇÃO Eyeless Illustrator facebook.com/eyeless.illustrator EQUIPA André Monteiro Carlos Filipe Cristina Sá Daniel Guerreiro Dico Eduardo Ramalhadeiro Eliana Neves Emanuel R. Marques Ernesto Martins Jorge Castro Joey Luís Jesus Patricia Marques Paulo Eiras Paulo Martins Sérgio Pires Sérgio Teixeira Victor Hugo FOTOGRAFIA Créditos nas Páginas PUBLICIDADE geral@versus-magazine.com

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Sejam bem-vindos a mais uma rodada maciça de entrevistas, como sempre com bandas para todos os gostos dentro do espectro da música extrema, desde o tech metal dos The Contortionist, passando pelo prog dos Circus Maximus, o viking dos King of Asgard, o thrash old school dos Undercroft, até chegar ao ultra-brutal dos Malignancy e finalmente ao black da nossa banda de capa, os Hell Militia. Para além das entrevistas, esta edição da VERSUS Magazine retoma duas secções que estiveram ausentes no número anterior: o espaço de divulgação dos artistas gráficos ligados ao metal, que regressa com dois artistas em entrevista, e a rubrica Garage Power que revela mais uma banda nacional em franca ascensão. Chamo a vossa atenção também para as reportagens sobre alguns dos concertos mais notáveis dos últimos dois meses, e por fim para a nossa humilde homenagem ao inesquecível Cliff Burton, que nos deixou tragicamente há 26 anos. Como sempre, estamos sempre receptivos às vossas criticas, queixas ou mesmo elogios. Escrevam-nos para versusmagazinept@gmail.com e… desabafem! Ernesto Martins


Naturais do estado americano de Indiana, são uma banda de death metal progressivo com toques ambientais na sua música e apesar da tenra idade já dão passos firmes em direcção da afirmação musical. A VERSUS Magazine esteve à conversa com eles para saber mais sobre o passado, o presente e em especial o futuro já que acabaram de apresentar o seu mais recente trabalho, que dá pelo nome de «Intrinsic».

Olá! Podes fa sic» e sobre a Depois de a escrevemos o levar cada in mantendo el trabalho. O n po cresceram arranjos com Foi um pouc dúzia de mes nar as música começar a gr

O death me neste segund bos os álbun entes especia maiores sur ouvidas? Vocalmente mais harmon al para os riff aprendi muit quais são os entusiasmado próximo álbu


Intrinsecamente progressivos

alar-nos um pouco sobre o «Intrinas suas gravações? alguns anos ocupados em tournées o nosso segundo álbum. Queríamos nstrumento para um novo nível, mas lementos que usamos no primeiro nosso senso de composição e de temm mas continuamos a gostar de criar mplexos para surpreender as pessoas. co apressado ter 10 músicas em meia ses porque ainda estávamos a termias quando entramos em estudo para ravar as linhas de bateria.

etal progressivo continua presente do álbum. Mas após se ouvirem amns é evidente que eles são algo diferalmente a nível vocal. Quais são as rpresas/diferenças que podem ser

Uma coisa que eu reparei neste novo álbum é que é mais atmosférico. Tem mais teclados e não é tão pesado na generalidade do álbum quando comparado com o «Exoplanet». Qual é a tua opinião? Oh! Claramente que os teclados foram escritos para se destacarem mais no álbum e quando tocamos ao vivo. O Cameron Maynard interessase por momentos chave juntamente com os riffs. Assim houve vários arranjos que foram surgindo naturalmente e outros que eu peguei nas rédeas da composição.

eu tinha definido que queria criar nia e atmosfera deixando a voz guturffs mais pesados. Durante a gravação, to sobre a minha extensão vocal e meus pontos fortes. Até já me sinto o para ver como me posso recriar no um.

Depois de ler as reviews sobre o vosso álbum de estreia é fácil notar que foi muito bem recebido e elogiado pela crítica. Quais são as vossas expectativas em relação a este novo álbum? Sim, é bom ler bons comentários e boas reviews aos álbuns, passa a respirar-se nova vida nas músicas e nos seus significados quando ouvimos alguém a


“(…) continuamos a gostar de criar arranjos complexos para surpreender as pessoas” analisá-lo. As minhas expectativas são bastante elevadas. Todos nós temos um longo percurso a percorrer como músicos e eu sei que da próxima vez que entrarmos em estúdio estaremos prontos para esse passo novamente. Pensas que o facto de a banda manter os mesmos elementos desde a sua génese ajudou a criar músicas tão sólidas e tão bem ligadas? Sim, é sempre o mesmo núcleo de criadores por detrás das músicas por isso há uma coerência na forma de como tudo acontece. Todos nós temos um especial cuidado na forma de como a música irá soar ao vivo, tentamos caminhar em cima de uma linha entre a extravagância e o bom gosto. Temos uma base de fãs vasta e variada e

eles apreciam a forma como nos focamos em fazer cada e todas as partes da música destacarem-se. O artwork deste álbum tem três imagens centrais que representam um cérebro, quatro faces e uma cadeia de ADN que estão dentro de um mundo criado por uma espécie de laser. Este álbum representa na plenitude o vosso ADN musical? Mostra tudo o que vos é intrínseco? Explica-nos como surgiu a ideia para a capa deste álbum. Quando estamos a trabalhar com o nosso artista na criação do artwork do álbum nos gravitamos através de algo simples ao invés de uma foto ou desenho complexo. Os três símbolos representam neurologia, biotecnologia e os rostos representam as facetas descon-

hecidas da experiência quotidiana. “Holomovimento” (que é a natureza básica da realidade: um processo dinâmico da totalidade) é um bom exemplo disso. Os temas das vossas letras giram em torno do universo e do abstracto. Na vossa opinião quais são os sentimentos transmitidos para alguém que ouve o vosso álbum pode extrair do «Intrinsic»? Como em todas as ciências especulativas, a curiosidade é o que as move. A linguagem que é usada em ambos os nossos álbuns é influenciada por ambos os temas. Temas de ficção científica e revistas cientificas oferecem uma terminologia sofisticada. No entanto no «Intrinsic» há várias músicas que são uma perspectiva mais pessoal.


“(…)tentamos caminhar em cima de uma linha entre a extravagância e o bom gosto.” Quais as bandas que mais vos marcaram e influenciaram o vosso som? Há alguma em particular com quem gostáveis de partilhar o palco? Porquê? Algumas respostas obvias são os Between the Buried and Me (BTBAM), Dream Theater, Meshuggah, Karnivool e os Porcupine Tree. Felizmente já fizemos alguns espectáculos com o BTBAM e esperamos voltar para a estrada com eles num futuro próximo. De resto…seria absolutamente um sonho tocar pelo menos uma vez com as outras bandas referidas. Como está a vossa agenda de espectáculos para os próximos tempos? Como são os The Contortionist ao vivo? Quando é que vos poderemos ver em Portugal?

Para Já temos a nossa agenda cheia. Algumas pequenas tournées com os After The Burial and then Veil of Maya seguindo-se uma grande tour encabeçada pelos Unearth e pelos Born of Osiris. Para já não temos nenhuma data para Portugal ainda, mas tenho a certeza que iremos tocar aí brevemente. Mudando um pouco de assunto e visto que os The Intrinsic são uns fãs de tópicos relacionados com o universo qual a vossa opinião sobre o recente falecimento do Neil Armstrong e as suas famosas palavras: “É um pequeno para passo para o homem mas um grande salto para a humanidade”. Andar no espaço, especialmente na lua, é o sonho de qualquer um. Quanto a citação eu acho que seria mais eficaz ele ap-

enas ter dito como realmente se sentia ou seja “Saindo agora…. WEEEEEEEEEE!!!!” (“Stepping out now…..WEEEEEEEEEE!!!!”) . Entrevista: Sérgio Pires


Na demanda do Norte King of Asgard é uma banda nova e “velha” ao mesmo tempo. Acabam de lançar o seu segundo longa duração, mas os seus membros fazem parte da cena metal há pelo menos 20 anos e mantêmse fiéis ao black/death metal clássico dos anos 90. Nesta conversa com Jonas Albrektsson (o baixista), procurámos saber que rumo pretende seguir a banda que, em 2012, se dirige… «… to North»!

Li uma entrevista à vossa banda na LOUD!, o que me deu vontade de vos entrevistar também. Espero que gostem das minhas perguntas como eu gosto da vossa música. Jonas Albrektsson: Obrigado pela atenção dada a King of Asgard. Vamos a isso. Apresentam-vos como uma banda de folk metal, mas, na vossa música, sobressaem características de black e death metal. O que pensas disto? Estou completamente de acordo contigo. Na realidade, somos influenciados sobretudo pelo movimento clássico de black e death metal, que data dos anos 90. Temos tocado em muitas bandas durante os últimos 20 anos, sempre com especial ligação ao black e ao death metal e é claro que esses géneros estão profundamente enraizados nos membros da banda e, por conseguinte, são a essência do nosso som. Essa é a música que gostamos de ouvir e que desejamos criar e divulgar. Nem nos passa pela cabeça esconder este propósito. É por essa razão que


soamos francamente a black/death metal tradicionais. Pode não ser uma tendência muito inovadora, mas é assim mesmo. Depois misturamos esse estilo com alguns toques de folk metal. As canções de «… to North», por exemplo, foram construídas a partir de uma base sólida ligada a estas nossas convicções musicais. Basicamente, criamos as canções e depois levámo-las em diversas direções, clássicas ou não. Quando escrevemos as nossas canções, também nos preocupamos muito com a forma como elas vão soar ao vivo. Queremos que estejam o mais próximo possível do que se pode ouvir nos álbuns, por isso fazemos música muito direta. Somos muito fiéis às nossas fontes de inspiração e, para dizer a verdade, nunca nos preocupámos muito com rótulos. Não há nada de errado na nossa música, logo também não há nada para corrigir ou alterar. Podemos dizer que, em termos musicais, vivemos no passado. É claro que também ouvimos música recente, mas sem nos preocuparmos em saber se é pagan, viking, black, folk metal ou qualquer outra coisa. Acho que deve ter sido sempre assim. As bandas fazem a sua música e as pessoas dão-lhe esta ou aquela designação e nós, músicos, não nos preocupamos nada com isso. Mas repito que a música que enche as medidas dos King of Asgard é mesmo o black, death metal dos anos 90. O que nos vale a designação de viking metal é o conceito de base da banda, também traduzido pelo seu nome, e a de folk metal é o facto de o nosso som apresentar traços de canções folclóricas típicas dos países do Norte da Europa.

“[…] somos influenciados sobretudo pelo movimento clássico de black e death metal, que data dos anos 90.”

Por que substituíram Mithothyn (a vossa banda anterior) por King of Asgard? King of Asgard não veio substituir Mithotyn e passaram-se muitos anos entre o momento em que a primeira banda se dissolveu e demos início à segunda. O fim de Mithotyn derivou do cansaço, do aborrecimento, da falta de interesse pelo projeto que atingiu todos os seus membros. São coisas tristes, mas que acontecem. O certo é que, mesmo assim, a banda deixou uma marca na história do


metal. Não podemos (nem queremos) negar que há semelhanças entre as duas bandas. As pessoas associam-nas com base nos conceitos que as fundamentam, na orientação musical seguida. Sempre compararam as duas bandas e não vemos nenhum problema nisso. Mithotyn era uma grande banda, sem dúvida. Mas também há muitas diferenças entre elas. É claro que são mais evidentes para quem fez parte das duas do que para o público em geral. King of Asgard representa um novo capítulo na nossa carreira e ainda tem muito para dar. O que torna especial a abordagem do folk metal feita por King of Asgard? Por que devemos ouvir a vossa música e comprar os vossos álbuns? Isso és tu que nos vais dizer, haha… Bem, penso que somos bastante originais na nossa abordagem, fazemos a música em que acreditamos, captamos o espírito da nossa época. No que se refere ao lado viking, procuramos dar a conhecer, na nossa música, a melancolia e a dureza que deviam caracterizar a sua vida. Misturamos esse lado com referências a canções folclóricas. Pode não se notar muito, mas está lá. Muitas bandas de viking metal fazem uma música alegre, de festa, etc., que não tem nada a ver com a atmosfera que nós procuramos recriar nas nossas canções. Por isso, sentimos que, apesar de nos terem atribuído esse rótulo, somos mais do que uma banda de viking metal. É claro que alguns concordarão connosco e outros discordarão. Pela nossa parte, fazemos o que nos parece melhor e não estamos preocupados com a categoria em que nos incluem. O que esperam encontrar no norte para onde vão neste álbum? Sabemos bem o que nos espera no norte: a nossa pátria e a nossa herança ancestral. Este título [«… to North»] leva-nos a refletir sobre a nossa herança nórdica e o principal conceito que fundamenta a nossa inspiração lírica. É um conceito ambíguo e um tanto vago e, por isso, deixamos a cada um o trabalho de construir a sua própria interpretação do mesmo. Pela parte que nos toca, constitui um tributo ao Norte e à sua herança cultural e evoca o amor que temos à nossa terra. Pareceu-nos um título adequado ao álbum, porque pode ser associado a todas as canções. É claro que essa ligação é mais evidente na faixa instrumental «…to North», com a qual o álbum encerra.

“No que se refere ao lado vik hecer, na nossa música, a me viam caracterizar a sua vida.”

Por que razão o Norte tem de ser tão tenebroso? Adoro os países nórdicos, embora seja oriunda do Sul da Europa, e não me parecem assim tão sombrios, apesar do clima. Mas nós amamos a escuridão do Norte! É uma pergunta a que é difícil responder, porque esses sentimentos variam de pessoa para pessoa. Antes de mais, tem algo a ver com o clima, que também afeta as pessoas, as suas reações, as suas criações – no nosso caso, a música. Mas é claro que o clima não nos torna forçosamente melancólicos. De vez em quando, nós – os do Norte – também sorrimos e até rimos. Haha! Também acredito que há elementos do nosso ambiente que nos afetam desde a infância. Portanto, tencionamos fazer com que a nossa música continue a ser negra ou, pelo menos, muito cinzenta, sombria. E qual é o significado da bela capa do vosso álbum? Vejo nela uma floresta, mas também me faz pensar numa catedral gótica. E não posso deixar de te perguntar quem a fez. Foi pintada por um amigo próximo, o grande artista Mattias Frisk. É uma pintura a óleo sobre tela, o que não é nada comum nos dias de hoje, e também apresenta alguma manipulação digital, mas


king, procuramos dar a conelancolia e a dureza que de”

ligeira. A ideia foi desenvolvida em articulação com a banda. Trabalhámos juntos na criação desta imagem, para que ela possa transmitir a sensação que pretendemos que a nossa música dê. Na realidade, inspirámo-nos num grande artista sueco: John Bauer. Admiramo-lo profundamente e achamos que King of Asgard se identifica muito com a sua perspetiva. Mattias fez a capa do álbum e também é responsável pelo seu lay out, para as edições em CD e em vinil. Ficou tudo assombroso. A imagem da capa está aberta às mais variadas interpretações, não queríamos que fosse demasiado óbvia, tal como o título do álbum. Assim, quem a vir pode criar a sua própria ideia e forjar a sua opinião. O Mattias sempre colaborou connosco desde o início, em coisas como o logo e outros objetos artísticos relacionados com a banda. Além disso, é vocalista e guitarrista de Vanhelgd, uma banda sueca de death metal! Ocorrer-vos-ia a ideia de convidar Heléne Blad para ser um membro permanente da banda num futuro próximo? Ela tem uma voz maravilhosa, que combina na perfeição com a aspereza do vosso vocalista. Além disso, por ser uma es-

pecialista de folclore, poderia colaborar na composição da música e da letra das vossas canções. Talvez até funcionasse, mas não é nossa intenção fazê-lo, muito simplesmente porque alteraria a essência de King of Asgard de uma forma que não nos agrada. À parte isso, Heléne é uma vocalista incrível e poderia ajudar-nos imenso por ser também muito profissional e ter um profundo conhecimento do folclore tradicional. Além da participação no álbum, também esteve presente na festa de lançamento de «…to North», interpretando “The nine worlds burn” e ”The last journey”. Estamos orgulhosos de termos podido contar com a sua voz nos dois álbuns da banda e esta é a nossa homenagem a ela como artista. Já tivemos uma interessante conversa com ela, relativa a uma colaboração futura, mas ainda é muito cedo para revelar o que ficou combinado. Se essa ideia se concretizar, será certamente espetacular. E a participação de Jimmy Hedlund também constitui um bom momento do álbum, embora os King of Asgard façam um trabalho maravilhoso por si só. Por que escolheram essa canção para a sua colaboração? Quando escrevemos “Gap of Ginnungs” e a tocámos no ensaio, pareceu-nos que precisava de algo extra, que não fazia falta nas outras faixas do álbum. Experimentámos algumas soluções por nós engendradas, mas nenhuma resultou e, assim, surgiu a ideia de contactarmos o Jimmy. Apresentámos-lhe a nossa ideia e ele fez uma primeira gravação associada a uma das nossas pré-gravações. O resultado era fantástico e tinha a atmosfera que desejávamos associar aos vocais. Escolhemos o Jimmy, porque é um guitarrista talentoso e faz parte do nosso círculo de amigos. A canção exigia a sua participação, ele acedeu e nós estamos-lhe eternamente gratos por essa colaboração! E que grandes feitos vai cumprir a banda até ao fim de 2012? Bem, esperamos fazer alguns concertos, estar com os nossos fãs e oxalá o álbum receba a atenção que merece, na nossa opinião. Agradecemos-te a ti, à Versus Magazine, aos vossos leitores e aos nossos fãs o apoio dado a King of Asgard!!!

Entrevista: CSA


Contorcionismo extremo Apesar de contarem apenas com três álbuns publicados, são já uma das bandas veneradas pelos apreciadores mais exigentes de death metal técnico. Usando como pretexto o lançamento do último registo, «Eugenics», chegámos à fala com Danny Nelson, vocalista e membro fundador deste colectivo de Nova York, que nos explicou o que o move a criar a amálgama brutal e quase indecifrável que é a música dos Malignancy.


Porquê um disco sobre a eugenia? Será que nos devemos preocupar com o eventual re-aparecimento desta crença? Danny: Porque não? Pessoalmente, penso que esta ideologia não desapareceu completamente. Foi algo que aconteceu durante a 2ª Guerra Mundial e que chegou aqui aos Estados Unidos. O que é preocupante é que nós não sabemos nada sobre os planos mestres dos nossos governantes. Não quero parecer um obcecado por conspirações, mas a verdade é que há várias coisas que os governos ocultam com o pretexto de que estão a proteger segredos de estado. Foi por isso que pensei que este seria um tema interessante para considerar como algo que pudesse acontecer no futuro. Este álbum continua de facto na tradição de temas de ficção científica que já são característicos nos Malignancy. O que te leva a escrever sobre este tipo de coisas? Fazes muita pesquisa? Gosto de escrever sobre coisas que podem de facto vir a acontecer. E costumo fazer sim alguma pesquisa sobre os temas que trato. Neste álbum a tarefa foi maior porque o tema é basicamente o mesmo em todas as canções. O «Eugenics» é, assim, a minha primeira tentativa de álbum conceptual e estou bastante contente com o resultado. Em geral sinto-me motivado para escrever canções inteligentes sobre temas que dão que pensar. Gosto de abordar temas inéditos. Acho que este género musical está inundado de temas gastos. Não quero dizer com isto dizer que considero original tudo o que escrevo. No entanto tento manter-me afastado de tudo o que já foi feito um milhão de vezes. Musicalmente o que vocês fazem é um verdadeiro desafio para quem ouve. É tudo muito complexo e difícil de acompanhar. É apenas a fórmula de sempre dos Malignancy. Gostamos de música e letras que desafiem o ouvinte. Claro que pode ser difícil de ouvir e esse é um comentário que ouvimos com frequência. A maior parte dos nossos fãs são músicos eles próprios. De qualquer maneira penso que este álbum não é tão complicado como os anteriores. Tem muitos grooves e partes catchy. O tema “Global systemic collapse” é um exemplo disso. Muitos artistas justificam o estilo de música que fazem dizendo que é a música que gostariam de ouvir. Será que é este também o vosso caso? Sim, os Malignancy foram sempre o tipo de banda que fazem a música que querem ouvir. Temos a noção de que é muito mais fácil seguir uma moda. No entanto, como banda, sentimo-nos muito mais

realizados a fazer algo invulgar. Afinal, o grande objectivo de uma banda deve ser explorar e derrubar fronteiras. É exactamente isso que tentamos fazer, ao mesmo tempo que mantemos a nossa assinatura própria. Ser original é difícil porque quase tudo já foi feito antes. Penso que é tanto a execução do artista com a maneira como a música é construída que, no fim de contas, faz uma canção soar fresca. Eu diria que a maior parte das bandas precisa de algo como sete minutos para empacotar o mesmo volume de riffs e mudanças de ritmo que vocês comprimem num tema de dois minutos e meio. Que achas? Penso que é uma grande verdade. Não é que isso seja um objectivo deliberado quando compomos, mas os temas simplesmente acabam por ficar assim. Pessoalmente sempre tentei evitar temas longos e repetitivos – a última coisa que queremos é música aborrecida. Não é que canções longas sejam necessariamente aborrecidas; simplesmente não são o nosso estilo. Se os temas dos Malignancy fossem mais longos isso era capaz de induzir vómitos ou ataques epilépticos nos nossos ouvintes. Quais são, então, os aspectos que diferenciam a música dos Malignancy da de outras bandas de death metal? Para responder a isso o melhor é basear-me no que dizem os nossos fãs: quando ouves um tema de Malignancy sabes instantaneamente que é Malignancy…. É uma resposta de que gosto porque significa que temos mesmo um som característico. Não há muitas bandas que se possam gabar desse facto. Levamos algum tempo a desenvolver o nosso estilo de death metal técnico e nunca fomos banda de ir atrás do que é moda no momento. É provável que a nossa idade também ajude. Somos mais velhos e o que nos inspira, para além do velho thrash metal, é também rock e jazz. Para além de algum refinamento musical e de uma produção melhorada, não descobri diferenças substanciais entre o novo álbum e o «Inhuman Grotesqueries». Será que me está a falhar algo? A sério? Penso que este álbum revela uma progressão considerável. Embora seja algo semelhante ao «Inhuman….», o «Eugenics» é, na nossa opinião, um disco mais refinado e maduro. Usamos basicamente todos os trunfos que possuíamos. Existem mais influências de jazz do que em qualquer lançamento anterior, juntamente com toda a melodia, groove e brutalidade. Mas, claro


“Se os temas dos Malignancy fossem mais longos isso era capaz de induzir vómitos ou ataques epilépticos nos ouvintes” que a minha opinião não é imparcial. A produção é sem dúvida melhor do que no «Inhuman….». Desta vez usamos clicks para gravar as partes mais intrincadas de guitarra e bateria. Quisemos ter um som cristalino e penso que o conseguimos. Já dei conta que os Malignancy têm uma base de fãs muito leal e que os vossos álbuns anteriores gozaram de excelente feedback. O que esperas então conseguir com este novo álbum? O «Eugenics» é o álbum que todos queríamos fazer. Acho que com este disco nos excedemos mais um pouco. Podemos de facto ser elogiados em muitos círculos de fãs mas seria interessante que o nosso som chegasse a uma audiência mais vasta. Estamos orgulhosos deste disco e queremos que ele seja ouvido massivamente. As reviews sobre o «Eugenics que nos chegaram até agora têm sido boas, e a resposta dos fãs aos novos temas tocados

ao vivo tem sido também estupenda. Com este álbum vocês terminam o contrato que vos unia à Willowtip Records. O que se vai passar a seguir com os Malignancy em termos de editora? Nesse capítulo o futuro está ainda por escrever. Para já os planos passam por começar uma digressão de suporte a este novo álbum e depois começar a compor um novo disco. O que quer que aconteça, faremos sempre o que for preciso para a banda a cada momento. A Willowtip fez um bom trabalho com este álbum; veremos o que o futuro nos reserva. Obrigado pela entrevista. Entrevista: Ernesto Martins



BORDEL MILITAIRE «Bordel Militaire» (Neuropa Records) Quando peguei no CD dos australianos Bordel Militaire pu-lo logo a tocar na aparelhagem a contar com algo soft que poderia servir de banda sonora para um jantar entre amigos. Mas depressa cheguei a conclusão que era calmo de mais e ia correr o risco de por os meus amigos a dormir antes mesmo da sobremesa. O tipo de som que podemos ouvir neste digipack é uma atmosfera algures entre lounge/electrónico com alguns sons ambientes engraçados e tocado por apenas três multi-instrumentistas: Ben Taylor, David Tonkin e Cameron T. Brew. Bom para por a tocar antes de adormecer. [6/10] Sérgio Pires

DESTROYER 666 «Phoenix Rising» (Season of Mist) O álbum Phoenix Rising dos Destroyer 666 acaba de ser re-masterizado e reeditado; tendo sido originalmente lançado nos escaparates em 2000 é ressuscitado pela Season of Mist com o pretexto de ter sido um dos mais aclamados lançamentos dos Destroyer 666. E não é difícil encontrar críticas de topo a aclamar este álbum. Acho que se pode dizer que aqui encontramos um subespaço de onde se pode extrapolar todo um conjunto de vertentes dentro do Metal. Apesar de os anos passarem, e neste disco isso nota-se, o interesse por esta reedição poderá ir além dos fãs da banda. [7.5/10] Sérgio Teixeira FORTID «Pagan Prophecies» (Schwarzdorn Production) Depois da magistral trilogia «Völuspá» que Einar “Eldur” Thorberg (Curse, Potentiam) concluiu em 2010 como um projecto a solo, aqui está o disco que apresenta, pela primeira vez, os Fortid com uma formação completa de quatro elementos. Apesar desta mudança, o black metal da formação apresenta-se tão aprimorado como antes, com alguns devaneios criativos interessantes a juntar-se às já características passagens de espírito viking, muito embora o que sobressaia desta vez seja o black/death gelado e melódico à lá Dissection que a banda resolveu abraçar. [8/10] Ernesto Martins HELL:ON «Age of Oblivion» (Total Metal Records) Na Ucrânia, de onde são originários, são reis e senhores do thrash/ groove metal, e, pelo que se pode constatar deste terceiro registo de originais, a admiração dos fãs é totalmente merecida. Com a excepção dos dois temas que fecham o álbum, «Age of Oblivion» tresanda a influências de Testament, Kreator e congéneres, embora o faça com uma categoria que só é possível graças à competência técnica e ao talento comprovado dos quatro instrumentistas da formação. Do vocalista, com o seu monótono registo de Max Cavalera em dia não, é que já não se pode dizer o mesmo. [7.5/10] Ernesto Martins


NOISEAR «Turbulent Resurgence» (Hammerheart Records) É porreiro escutar um álbum com temas ultra rápidos, carregados de blastbeats, e cuja duração raramente passa os 60 segundos. Os Noisear apresentam uma coleção devastadora desses temas, que soam com uma produção orgânica, simples e ao mesmo tempo rápida. Cada tema consegue fecundar no ouvinte o mínimo de interesse, ao ponto de o fazer carregar no botão backward e interrogar com espanto: “como é que o baterista fez aquilo?”. Se gostam deste género, não se arrependerão de perder pouco mais de 20 minutos da vossa vida – várias vezes ao dia. [7/10] Victor Hugo

OVER YOUR THRESHOLD «Facticity» (Metal Blade) Raios! Estes jovens Alemães lançam o seu álbum de estreia «Facticity». Death Metal, técnico e Progressivo com musicalidade muito acima da média. O que poderei destacar acima de tudo? Christian Siegmund! Não vou cometer nenhuma asneira se disser que poderemos estar perante uma reencarnação do Mestre Steve DiGiorgio. Esta é uma banda a seguir pois auguro um grande futuro. No entanto, a voz de Ludwig Walter poderia ser um pouco mais “encorpada”, falta-lhe talvez, um pouquinho de mais agressividade. Ah… já vos falei de Christian Siegmund? E que será um dos dignos sucessores do legado de Steve DiGiorgio!? Então, ouçam! [8/10] Eduardo Ramalhadeiro PRIDE OF LIONS «Immortal» (Frontiers Records) Mais um álbum dos Pride Of Lions significa um regresso ao Rock Melódico/AOR dos anos 80, ou não estivesse por aqui o Jim Peterik (Survivor, Ides Of March) e um jovem talento Toby Hitchcock. Podem esperar bons momentos de Rock/AOR, ora calmos, ora enérgicos, sempre com aquela aura 80’s. As composições são interessantes e mesmo soando a antigo, acaba por ser um refresco agradável. Ideal para ouvir nos dias solarengos do Inverno que se avizinha e sorrir desalmadamente. [7/10] Victor Hugo

THIS OR THE APOCALYPSE «Dead Years» (Lifeforce Records) Dos E.U.A. chega o 3º álbum dos This Or The Apocalypse. E o enquadramento deste disco é essencialmente Metal/Melodic Hardcore. Sem sombra para dúvidas que neste registo está mais do que consolidado um conjunto de competências técnicas e de composição que tiram a banda da mediania. Desde métricas por vezes complexas na bateria até riffs de guitarra que oscilam entre o ataque indiscriminado, quase mecânico, e o relaxamento melódico. O menos positivo é a voz, confesso que o registo com gritos em high-pitch não me convence. Porém quem conseguir encaixar este tipo de voz tem aqui um excelente álbum. [8/10] Sérgio Teixeira


MOONLOOP Deeply From The Earth (Listenable Records) Vindos directamente de terra de nuestros hermanos, os Moonloop oferecemnos um álbum de Death Metal progressivo que não é de maneira alguma levada ao extremo. A voz é gutural adaptando-se perfeitamente à música… está mesmo no ponto. O instrumental tem laivos de Opeth, havendo riffs muito potentes e algumas passagens “atmosféricas”. A música é muito técnica e o conjunto soa muito coeso fruto da formação se manter original desde a sua fundação em 2001. Agradou-me imenso e já agora, têm uma das melhores capas que já tive oportunidade de ver. [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

MY SLEEPING KARMA «Soma» (Napalm Records) É já o quarto lançamento destes alemães, e pouco mudou desde o primeiro. Desde a capa a sugerir um ambiente psicadélico, passando pelos títulos dos temas a sugerir o mesmo, até à música Rock instrumental, ambiental e psicadélica, «Soma» não tem nada de relevante para oferecer a não ser alguns momentos singulares em alguns temas; momentos esses que, mesmo assim, não são nada excecionais. Mesmo assim, se gostaram dos álbuns anteriores não se desiludirão com este. [4.5/10] Victor Hugo

NETTLECARRIER «NettleCarrier» (Indie Records) Basta observar as vedetas do Black Metal que constam no line-up desta banda para se perceber que poderemos estar perante um bom álbum de Black Metal. Ex-elementos ora dos Enslaved, ora dos Koldbran, ora dos Djevel, decidiram unir esforços e o resultado é negro, frio e… NEGRO. Esta estreia tem potencial para agradar os fãs do estilo, pois apesar de ser feito segundo mandam as leis, jaz neste álbum argumentos que nos agarram a alma e que nos faz ouvi-lo como se fosse a primeira vez que ouvíssemos Black Metal – espantoso! [8/10] Victor Hugo

VERA CRUZ «Skinandteethandnails» (Season Of Mist) O álbum de estreia destes franceses é lançado pela Season Of Mist, num período high para o Metal e o Hard Core aliados à melodia. A primeira pergunta é rápida: “O que faz uma banda destas num catálogo da Season Of Mist?”A resposta não sabemos, mas alguma qualidade há-de ter. Existe, sim, principalmente na produção toda moderna e na dinâmica do ritmo das músicas. De resto, é Hard Core com todos os seus clichés e adereços e sem nada relevante a destacar. [5.5/10] Victor Hugo



Mistérios e revelações

Coube a Persecutor T, como frontman da banda, a tarefa de levantar um pouco o véu relativamente à essência do black metal francês, aos mistérios de Hell Militia e ao significado de «Jacob’s Ladder», o último longa duração da banda, que já passou por terras portuguesas. Mais uma vez, confrontámonos com um discurso pleno de inteligência e humor, que nos faz sentir que não perdemos o nosso tempo, nem o fazemos perder ao leitor.

Por que trataram um tema tão religioso neste álbum? E como relacionam os tópicos tratados nas diversas faixas com este tema central? Persecutor T: Somos crentes. A nossa música é diretamente inspirada pelos nossos sentimentos e experiências, pelo que tem uma forte componente religiosa. Nem todas as nossas letras se referem à Bíblia, embora a ligação entre esse livro religioso e este álbum seja muito forte. Sou um leitor compulsivo e ocupo-me de numerosos temas, entre os quais teologia. Quando comecei a trabalhar com o Meyhna’ch nas letras deste álbum, acabámos por seguir mais nessa direção. A Bíblia é uma grande metáfora e o mesmo acontece com o nosso álbum. Assim, por exemplo, “Jericho” não fala da queda da cidade, decorrente da ira de Deus. É preciso saber ler nas entrelinhas, para compreender. Nada é tão fácil como parece à primeira vista. De qualquer modo, a canção trata do sentido do nome


Jericó. É como o nome Satã. Usámo-lo, porque é a sua faceta mais conhecida, mas o nosso Senhor é muito mais do que essa palavra. Há alguma reminiscência de “Stairway to heaven” dos Led Zeppelin? Essa canção faz-me sempre pensar no episódio bíblico da Escada de Jacó. Não há qualquer influência de Led Zeppelin na nossa visão desse tema.

acontece com as canções, quando estou a ocupar-me da parte gráfica, sei do que preciso e o que quero usar para me exprimir e limito-me a seguir essa intuição. Não me preocupo em seguir qualquer regra. Penso que muitas pessoas não gostarão desta capa. Mas isso não me preocupa nada, porque, para mim, ela ilustra perfeitamente o conceito do álbum. Aliás, todos os meus trabalhos assentam no estudo do simbolismo e esta capa tem um significado muito forte.

E por que razão o álbum apresenta uma capa tão colorida, quando se trata de black metal? Foi escolha da banda ou do artista? Não temos quaisquer limites na escolha de cores para essa finalidade, nem nos sentimos comprometidos com o preto e branco. Para mim, tudo depende do significado, do sentimento que queremos transmitir. E a escolha foi mesmo minha, porque eu fiz toda a arte para o álbum. Tal como

Por que incluíram a menção “Terceira Missa” na capa deste álbum? É só por ser o terceiro longa duração da banda? As letras de todas as canções da banda sempre funcionaram como livros de orações, agrupando-se segundo os nossos álbuns. Há sempre um padrão a percecionar, para quem tem uma visão superior: a Visão. Desta vez, incluímos as letras, porque muita gente manifestou o desejo de ter


acesso a elas. Mas o que escrevemos decorre naturalmente da música e, ao longo dos anos, verifiquei que as pessoas compreendiam do que tratavam as canções, apenas por ouvirem a música e lerem o respetivo título. Portanto, mesmo sem as letras, algumas pessoas conseguem explicar-me do que tratam as canções, os sentimentos que estas lhes inspiram. Além disso, este álbum trata o tema do “terceiro olho”, como compreenderás, quando vires toda a arte do mesmo. Que relação existe entre esta terceira missa e as outras duas? Trata-se da evolução natural de Hell Militia. Primeiro, temos a morte e o nascimento do Porco, contados aos discípulos. Depois, temos a peregrinação. O terceiro é sobre as paredes que caem em torno do hierofante.

A SoM dá relevo ao facto de que já tocaram com bandas como Aosoth, Blacklodge e Behexen. Embora eu as conheça e consiga discernir as semelhanças que as ligam a Hell Militia, gostava de ter a tua opinião sobre esta ideia. No que diz respeito aos Aosoth e Blacklodge, conhecemo-los bem, porque os convidámos para irem em digressão connosco, há alguns anos atrás. São amigos próximos e, por isso, nos acompanharam várias vezes. Bexehen é uma grande banda e foi fantástico participarmos numa digressão com eles e os Archgoat, há quase dez anos. Quanto a essa afirmação, já sabes que é costume as editoras fazerem aproximações, porque acham que isso ajuda o fã a ver o tipo de bandas com as quais nos relacionamos. Eu não associaria Hell Militia a Blut aus Nord, por

“Somos crentes. A nossa música é diretamente inspirada pelos nossos sentimentos e experiências, pelo que tem uma forte componente religiosa.” Este terceiro álbum aparece dois anos depois do Segundo. Deixaram as outras bandas em que estavam para se concentrarem apenas em Hell Militia? Agora só trabalho para Hell Militia. Isolei-me para compor este álbum. Escrevi sozinho todas as canções e só as enviei aos outros, quando me senti completamente satisfeito com o meu trabalho. Estão muito próximas das ideias que eu tinha na cabeça, quando as escrevi. O facto de os outros tocarem noutras bandas não muda nada. Eu escrevo tudo e todos juntos somos os Hell Militia. Há alguma relação entre o vosso som e o facto de serem franceses (como sugere a Season of Mist (SoM) na informação que acompanha o álbum)? Sempre fiz parte da cena black metal francesa. Há algo especial em nós [black metal francês], alguma dissonância. Ainda me lembro de quando ninguém acreditava na cena francesa. Nessa altura, eu costumava dizer, nas entrevistas que dava, que era importante, porque preservava a cena geral de compromissos e influências estúpidas. Agora tenho a certeza de que tinha razão. As pessoas ouvem o black metal francês e constatam que não tem nada a ver com a imagem habitual da França. Quando vêm a Paris como turistas, só falam da Cidade do Amor. Mas basta entrarem no metro, para verem que não é nada disso. Serão confrontados com a revolta que grassa nas ruas, depressa aprenderão a odiar o povo francês.

exemplo, não tanto pelo facto de eles não terem vocalista, mais porque estes têm um som muito menos agressivo do que o vosso. Que pensas disto? É difícil para mim fazer essas comparações. Digote que até ficaria embaraçado, se me pedisses para comparar Hell Militia de agora com o que fomos nos primeiros tempos. Nós soamos a uma combinação de ira e contemplação, que associamos à abertura do terceiro olho. Essas comparações só interessam à editora e eles é que sabem por que as fizeram. Já estive num concerto de Aosoth: verdadeiramente impressionante, apesar de ter ficado com a sensação de que eles não ligam a mínima ao público. Segui o de Hell Militia pela net, quando vieram ao Barroselas Metal Fest há dois anos (não pude estar lá em pessoa) e não vi nada desse género. Concordas? É difícil para mim dar uma opinião. Já assisti a inúmeras atuações de Aosoth e eles são uma das minhas bandas de black metal francesas favoritas, quer nas gravações, quer ao vivo. Além disso, somos muito próximos pessoalmente. Hell Militia faz um black metal sujo e mesclado com punk. O deles é mais frio. Estivemos juntos em Itália, há algum tempo, e dois dos membros de Aosoth tocaram para nós como músicos de sessão e correu muito bem. Ocorreu uma perfeita osmose entre os elementos das duas bandas.


“As pessoas ouvem o black metal francês e constatam que não tem nada a ver com a imagem habitual da França. Serão confrontados com a revolta que grassa nas ruas […]” E, a propósito de festivais e concertos, será que Portugal faz parte da lista de países que tencionam visitar durante a promoção de «Jacob’s Ladder»? Não tenho nenhuns planos. Preocupo-me apenas com a minha música. Se houver planos para irmos a Portugal, lá estaremos de certeza, quando chegar a hora. Adorámos esse primeiro concerto no SWR Fest e os fãs portugueses. Mas, da próxima vez, terei o cuidado de beber menos ginjinha. Entrevista: CSA


Orgulhosamente sós… ou quase! Black metal e Finlândia são “etiquetas” que raramente aparecem juntas. Mas os Behexen vêm desse país e fazem um black metal duro e cru. «Nightside Emanations», o quarto álbum da banda, serviu-nos de pretexto para chegarmos à fala com um dos membros da banda e compreendermos que forças a movem.


Como se enquadram os Behexen na cena metal finlandesa? Wraath: Não me sinto como parte da cena metal finlandesa. No que concerne à banda, penso que posso dizer que estamos orgulhosamente sós. Quem são os vossos pares na cena black metal? Suponho que pretendes que mencione nomes de músicos e bandas com quem sinto/sentimos afinidades. Não estou em contacto com muita gente, mas respeito os nossos irmãos na Finlândia e aqui em Nidrosia e mais alguns músicos, mas poucos. As pessoas que respeito são visionários com ambições que os vão fazer vencer. O que significa o satanismo para os membros da banda? O satanismo é a essência de Behexen, logo muito importante para a banda. Mas, como somos quatro e todos muito diferentes uns dos outros, temos diversos modos de o conceber e praticar. Apesar de seguirmos as regras da

O que mudou na banda durante os três anos durante os quais estiveram à espera desta oportunidade? Um dos membros que estão na banda desde o início saberia responder melhor. Mas a mim parece-me que o que mudou mais foram as guitarras. E não me parece que Behexen tenha tido de esperar por nenhuma oportunidade. Limitaram-se a trabalhar juntos para atingir um objetivo comum e tudo aconteceu como previsto. Também não tinham pressa em chegar lá.

da Crimson Wine, mas o layout vem assinado por Helgorth, da Babalon Graphics. Por que precisaram de dois artistas para este quarto longa duração? E em que medida o seu trabalho satisfez as exigências de Behexen? Na realidade, não precisávamos de dois artistas. Mas K. Lehto fez um belo quadro para a capa, sob a supervisão do nosso vocalista Hoath Torog, e Helgorth ocupouse do layout e fez os símbolos e um desenho, que estavam prontos mesmo antes de o álbum existir. São ambos artistas maravilhosos, que têm uma noção perfeita da essência da banda. Cada um tem o seu estilo pessoal, mas com eles estamos sempre certos de que o resultado final irá ao encontro dos nossos desejos.

Como se manifesta a maturidade na vossa banda? Já a devem ter atingido, uma vez que existem desde os anos 90, não é assim? Está patente no novo material. Mas não penso que as gravações mais antigas revelem imaturidade.

Onde e quando vão apresentar o álbum aos fãs e ao público em geral? E, a propósito, já alguma vez tocaram em Portugal? Penso que vamos fazer a promoção do álbum tocando concertos ao vivo, que serão verdadeiros

Acontece que, à medida que vais ficando mais velho, começas a abrandar ou então chegas à conclusão de que já não podes recuar. No nosso caso, decidimos seguir em frente e continuar a espalhar as Trevas, sem abrandar. Cada vez estamos mais dedicados à causa, mais empenhados no Mal, não há limites para a nossa música. Ardemos no Fogo da Serpente!

rituais. Contamos fazer uma digressão em 2013, mas, até agora, ainda só temos um concerto marcado: na Nidrosian Black Mass, em fevereiro. Mas, em breve, teremos certamente outros concertos a anunciar. E, infelizmente, ainda não fomos a Portugal… para já. Morte à falsa devoção! Salve, Satã!

Passando ao nosso tema principal – «Nightside Emanations» –, não há nada de bom que possa emanar da noite? Sim. Inspiração e o brilho da Lua.

Entrevista: CSA

pessoas atualizadas e reconhece a força das Trevas no mundo da música. Muitos responsáveis por outras editoras deviam aprender com ele.

“[…]juntámo-nos para criar esta força que deu origem a Behexen e, através dela, espalharmos o Mal no mundo” Mão Esquerda de formas diferentes, juntámo-nos para criar esta força que deu origem a Behexen e, através dela, espalharmos o Mal no mundo. Li algures que tiveram muitos problemas com a vossa editora anterior. Mas a Debemur Morti nunca falha uma jogada. Já entrevistei muitas das suas bandas. Como se encontraram? Como têm corrido as coisas com eles? Há muitos anos que a banda mantém contacto com Void (o responsável pela editora). Sabemos que é um indivíduo que trabalha arduamente e respeita os compromissos que assumiu. Faz um trabalho com muita qualidade, mantém as

Este álbum tem uma capa soberba, da autoria de K. Lehto,


Tempo para

Ao quarto andamento, Azlum con um pouco mais no globo, aprese ental, ao estilo de uns Chaos M quase no faz duvidar que «Tim Unidos da América. O entusia Magazine quis falar com Azlum este pedaço de arte, que apesar de todo, catalisador de raiva, m flexão.


purificação

nseguiu projetar os Manetheren entando um Black Metal ambiMoon, com uma qualidade que me» tenha nascido nos Estados asmo foi tanto que a VERSUS m para descobrir como nasceu r de se apresentar negro não é, mas antes de contemplação e re-


Olá, Azlum. É o teu quarto álbum! Como tem sido a tua jornada desde o «The Seven Realms of Manetheren»? Azlum: Bem, tem sido um bocado longa e bastante difícil. Estive perto de desistir de Manetheren várias vezes, mas por último surgi com este álbum. Se não fosse o apoio de Thorns [NR: baterista desde 2011, membro de dezenas de bandas], Manetheren já teria deixado de existir, e eu nunca mais teria tido a oportunidade de fazer uma coisa como esta. No teu álbum «Time» tens a inspiração e as referências aos livros da série “Wheel of Time”, escritos por Robert Jordan? O nome vem desses livros, mas apenas existe um linha muito fina e pequena entre nós e a fon-

e sonoridades Post-Metal apanharam-te a sério? Não tenho verdadeira certeza do que é que apanhou a minha atenção. Apenas sei que apreciei essa corrente do Metal. Também fui tentado, recentemente, a ligarme mais às sonoridades shoegaze. A verdade é que tencionava incorporar mais estes elementos no próximo álbum. Contudo, nem o Thorns nem eu gostamos de rótulos colados à nossa música. Por isso, apenas tocamos o que gostamos, com algumas dessas influências.

Como é que isso aconteceu. Sentes-te confortável com o trabalho deles? Bom, nessa matéria dou todos os créditos ao Thorns. Antes de assinarmos com eles, não tinha qualquer contato com a editora. Mas adoro-a. E partilhar com algumas grandes bandas, como Behexen, Blut Aus Nord e Krohm, é muito bom. Até agora estou muito satisfeito com o que eles fizeram pelos Manetheren.

Toda a música foi escrita por ti, correto? Tiveste algum músico de sessão para te ajudar nas gravações? Não, não tive nenhum músico de sessão. Escrevi e gravei tudo

Poderemos esperar concerto e atuações ao vivo? Podemos ver os Manetheren em Portugal? Temos uma grande sala de concertos no Porto, o Hard Club. Honestamente não faço a menor ideia. Tudo dependerá do fator financeiro. O que posso afirmar, contudo, é que SE FIZERMOS

sozinho. Teria sido porreiro se o Thorns estivesse por perto enquanto gravava, tal como o processo de composição que teria sido mais unido.

uma tour será, provavelmente, na Europa em vez dos EUA. Não prevejo grandes espetáculos pelo nosso país. Nem sequer sei com que bandas poderemos tocar.

“«Time» é (…) um álbum concetual, acerca de um homem que viaja através de um estado mental purgativo” te. Para além do nome nada nos liga a esses livros nem a qualquer universo de fantasia. Então, que conceito poderemos esperar de «Time»? «Time» é, de facto, um álbum concetual, acerca de um homem que viaja através de um estado mental purgativo. Ele vai abrindo porta atrás de porta, apenas para revelar-se que a sua vida foi um monte de porcaria. E à medida que vai tomando consciência dessas revelações, ele sofre imenso. Mas pelo final ele encontra alguma paz de espirito, ou mental, após concluir e acordar com o facto de que ele foi um ser humano terrível. Tal como muitos seres humanos são neste mundo – egoístas, apenas concentrados no poder e no dinheiro, etc. Admito que, musicalmente, o teu novo trabalho soa fresco e agarra a minha atenção. Os ambientes

Parece-me a mim que o Black Metal americano tem ganho mais voz que nunca – com bandas como a tua, Wolves In The Throne Room, Chaos Moon, entre outras. O que nos podes dizer sobre a evolução da estética desse género musical no teu país? Honestamente não sei. Mas sei que a cena na minha cidade é terrível. Há um punhado de bandas daquelas mesmo, mesmo mas mesmo muito chatas, de Black Metal genérico, vestindo-se num corpse paint TERRÍVEL e saudando satanás. Movimento que acho bastante humorístico. Deixei de prestar atenção às cenas. Assinaste contrato com a francesa Debemur Morti Productions.

Entrevista: Victor Hugo


anuncia aqui




A força dos so Tal como refere o conceito na base do seu último álbum, «Ruins of Gomorrah», os Undercroft viveram para superar todas as dificuldades que tiveram de enfrentar, desde os seus primórdios, no Chile dos anos 90. Pablo Cortés, baterista da banda, fala-nos sentidamente do percurso vivido desde a América do Sul até Hamburgo, passando pela Suécia e pelo contacto com grandes nomes da cena metal europeia. Mais do que a apresentação de um álbum, esta entrevista dá-nos a imagem do que é ser metalhead, num país cuja cultura se revela pouco predisposta a aceitar tais “desvios”!

Como era ser uma banda de death metal no Chile, quando começaram a vossa carreira? Pablo Cortés: Undercroft formou-se no início da década de 90 do século passado, mas só lançámos a primeira demo tape em 1992. Fazer parte da cena metal chilena foi sempre muito complicado. Tínhamos de estar constantemente em luta com a “sociedade” e os agentes da repressão associados à ditadura militar. Esta situação afetou-nos em muitos aspetos. Tivemos de fazer diferentes escolhas, todas elas orientadas no sentido de criarmos condições para desenvolver a nossa música e poder tocá-la. Nessa altura, éramos marginalizados por muitas “regras” que imperavam nas universidades, nas escolas de música e nos mais variados meios profissionais. Até nos trabalhos ditos “sujos” nos criticavam por causa do cabelo e das tatuagens... Tivemos de lutar para conseguir construir, alugar ou partilhar uma sala de ensaios, onde fizemos contactos que nos permitiram começar a fazer concertos ao vivo. Assim, fomos conhecendo mais músicos, outras bandas de estilos muito variados


obreviventes continuam a existir muitas barreiras económicas, que é preciso enfrentar com determinação. Como em qualquer lado, também há muitas coisas que não valem nada e pessoas repugnantes. No Chile, ainda encontras metalheads que que vão aos concertos pela animação, que compram os álbuns e que seguem as suas bandas favoritas com lealdade, fiéis à verdadeira “fé metaleira”. Mostram muito respeito pelos que fazem o verdadeiro metal. O Chile é um país brutal. Pergunta a qualquer um ou vai lá ver pessoalmente.

e fazendo o que nos agradava, sempre à procura de melhorar a nossa qualidade musical e a das nossas gravações, apesar de todas as dificuldades, sempre atentos ao que se passava no Chile e nos outros países onde havia uma cena metal. Foram tempos difíceis, porque, nessa altura, os olhos dos metalhead estavam todos voltados para as bandas estrangeiras, os fãs não davam grande atenção às bandas nacionais, mesmo que fizessem boa música e fossem conhecidas. Muitas dessas bandas foram esquecidas, outras eram constituídas por poseurs que manipulavam a cena e continuam a fazê-lo atualmente. A inveja, a desorganização, a falta de crença no que faziam, o capitalismo e muitos outros fatores deram cabo da maioria dessas bandas… Fazer parte de uma banda de metal não é fácil, se fores honesto, honrado, determinado, verdadeiro. Como descreverias a cena metal no teu país? Sempre crua, muitos músicos duros de roer, muitas bandas que querem fazer algo que valha a pena. Penso que a qualidade está sempre a melhorar. Mas

Que parte dos Undercroft é europeia, depois de tantos anos a viverem neste continente e a trabalharem com os músicos de cá? Bem, nós continuamos a ser chilenos. Acho que a única coisa europeia na banda é a nossa editora: a Season of Mist (SoM). Estivemos a ouvir «Ruins of Gomorrah» no último convívio da VERSUS Magazine. Mesmo antes de eu dizer que banda tinha escolhido, os outros membros reconheceram logo a vossa música como sendo death metal da América do Sul, com um saborzinho a Sepultura dos primeiros tempos. Que dizes a isto? Curiosamente, é assim que a SoM vos apresenta. Não temos nada contra sermos associados a Sepultura ou a qualquer outra banda de qualidade dentro da cena. Mas o que fazemos é Undercroft e é isso que nós somos. Pessoalmente, gosto muito do trabalho dos Sepultura dos tempos do Max Cavalera. De um modo geral, a banda vê com bons olhos que nos comparem a essa era de Sepultura, tomamos o comentário como um cumprimento.


“Fazer parte da cena metal chilena Até nos trabalhos ditos “sujos” nos c tatuagens...”

A linha thrash é muito evidente neste vosso álbum, especialmente no som das guitarras. Que qualidade confere este som à vossa música? Neste álbum, abandonámos muitos dos parâmetros e das formas de trabalhar a música da atualidade. Estávamos fartos da excessiva manipulação digital e edição do som. Portanto, decidimos recuar no tempo, pôr de parte muitas dessas ferramentas e apostar em elementos como bateria acústica, amplificadores poderosos (em vez de processadores) e o recurso a uma equipa de profissionais pouco numerosa, mas muito determinada. Gravámos em três estúdios diferentes (bateria, guitarras e voz) e a mixagem e masterização finais foram feitas num quarto local: Dug Out Prod, em Uppsala, na Suécia, com o Daniel Bergstrand, que deixou uma importante marca neste trabalho. Demos um passo em frente na nossa afinação e apostámos em guitarras com 7 cordas, para produzir frequências mais baixas e criar uma atmosfera diferente. Procurámos fazer tudo com muito cuidado, para não trairmos o que somos. Por isso, sentimos que este álbum é diferente, em muitos aspetos, todos eles positivos. Por que escolheram um tema tão clássico como as ruínas de Gomorra? O título original do álbum era “El Triunfo de la

Muerte”, mas, entre a altura em que decorreram as gravações e o momento em que este foi lançado, aconteceram muitas coisas, que nos fizeram mudar de ideia. Inclusive, descobrimos que tínhamos uma capa demasiado parecida com a de um álbum de outra banda, portanto tivemos de desistir dela. No meio desta confusão, acabámos por escolher para título «Ruins of Gomorrah», apesar de até gostarmos mais do anterior. Este título representa muito para nós. Por exemplo, faz-nos lembrar a “Operação Gomorra”, que deixou a cidade de Hamburgo em ruínas, durante a Segunda Guerra Mundial, e o esforço e tempo que foi necessário gastar para a reconstruir. A faixa título apresenta a forma como eu vejo os Undercoft. Para que compreendam o nosso interesse por este tema, basta dizer que o quartel-general da banda fica em Hamburgo. A capa do álbum faz pensar nas ilustrações de Gustave Doré para a “Divina Comédia”, de Dante. Onde a encontraram? O que podes dizer sobre a relação entre essa imagem e a música e letras do álbum? Foi desenhada por Jumali Katani, da Malásia. Entrámos em contacto com ele, porque esta ilustração nos parecia dar uma imagem adequada dos aspetos focados pelo nome do álbum. A relação é


foi sempre muito complicado. […] criticavam por causa do cabelo e das

fácil de estabelecer: mostra-nos um mundo desolado, onde vemos alguns sobreviventes à procura de vingança. Como é trabalhar com a SoM? Como aconteceu essa colaboração? Só começámos a trabalhar com eles no lançamento deste álbum. Até agora, a relação tem sido excelente. Tem-nos dado ideias novas, planos novos, formas de trabalhar renovadas. É sempre bom ter uma editora sólida a apoiar o nosso trabalho, portanto estamos certos de que a SoM será o sócio ideal para levar o nosso projeto musical a bom porto. Se os Undercroft tivessem carta branca para preparar um digressão, que bandas convidariam? Bandas? Há umas poucas delas com as quais gostaria de fazer uma digressão. Algumas delas estão com a SoM, o que é fantástico. De qualquer modo, neste momento, estamos preocupados em promover este álbum tanto quanto possível, fazendo digressões com outras bandas, sejam elas pequenas ou grandes. Queremos mostrar o nosso potencial ao vivo, dar a conhecer o espírito do metal da América do Sul, que sempre viveu em nós, através dos tempos e dos sacrifícios que vivemos orgulhosamente.

E quais são os vossos planos para a promoção de «Ruins of Gomorrah»? Fazer as coisas da forma correta, evitando erros cometidos no passado. Contamos com a colaboração da nossa editora para atingir um nível que vá ao encontro das nossas ambições. A promoção é sempre um aspeto importante e, neste momento, já contamos com um vídeo para a faixa “El Triunfo de la Muerte” e, em breve, iremos filmar um segundo. Estamos também a trabalhar numa boa digressão, a ter lugar depois do lançamento do álbum. Gostaríamos de destacar ainda o facto de que “Ruins of Gomorrah” conta com a participação de ilustres convidados: L. G. Petrov (dos Entombed), Matti Karki (dos Dismember), Erik Danielsson (de Watain) e Tobias Sidegård (de Necrophobic). A sua participação confere ao álbum um sabor muito especial, que faz com que nos sintamos muito orgulhosos desta nossa obra. Como vês, Undercroft é uma banda conhecida pelo trabalho sério. Assim sendo, estamos certos de que doravante tudo será cada vez melhor. Entrevista: CSA


Em busca do limite


Over Your Threshold são mais uma banda Germânica que germinou nos últimos tempos e neste ano se revela com o disco de estreia. Sendo um primeiro disco assente em Death Metal não foi tarefa fácil conceber esta obra como nos explicaram; alterações de line-up, conciliação com uma vida académica intensa, tornam o desígnio de construir uma identidade própria enquanto banda um desafio. Se essa identidade própria ainda não está bem vincada, potencial não falta para que se concretize nos próximos tempos. O EP «Progress in Disbelief» surgiu em 2008 e o álbum de estreia «Facticity» está agora em 2012 a ser lançado. A banda esteve este tempo todo dedicada apenas a «Facticity» ou tem sido apenas um projeto part-time? Lukas: Nós estamos a estudar e a trabalhar, portanto Over your Threshold é para nós um trabalho part-time e penso que será sempre pois atualmente é quase impossível ganhar dinheiro com este estilo de música. No entanto, despendemos muito tempo com a banda e é um hobby que obriga a gastar muito tempo se quisermos chegar a algum lado. Devido ao facto de que o nosso anterior vocalista está a estudar noutro país, fez com que a gravação de «Facticity» demorasse ainda mais. No início de 2012 Leonhard saiu da banda, o que coincidiu com a edição do álbum. Queres comentar sobre essa alteração específica? Julian: De certo modo já esperávamos a decisão do Leo de sair da banda. Ele vive e trabalha noutro país e portanto tornou-se cada vez mais difícil para ele preencher os requisitos mínimos que seriam necessários para uma banda profissional poder evoluir. Esta foi uma das razões que levaram à demora na criação de «Facticity» e aos poucos concertos que conseguimos. Foi uma decisão apenas dele, ele não queria abrandar o progresso da banda durante mais tempo e ao mesmo tempo ele tinha planos musicais dele próprio. Para nós como uma banda e especialmente como amigos foi realmente um mau período. Estivemos perto de desistir do projeto Over Your Thresh-

old. Mas continuamos, e finalmente acabou por resultar bastante melhor do que o esperado. Nós e o Leo separamo-nos num ambiente de grande amizade e ele ainda vai estando connosco e a darnos apoio... portanto temos 5 membros mais 1 invisível haha. O Steffen e o Jonas ambos contribuíram para o álbum. De que modo exatamente é que eles participaram? Julian: Basicamente na 7ª canção chamada “Abticaded”. Nós tínhamos esta ideia há já algum tempo, para convida-los para o nosso LP. Conhecemo-nos desde há bastante tempos e sempre os respeitamos tanto pela sua técnica como pelas suas personalidades. Portanto pensamos: “Hey, seria tão porreiro termos solos instrumentais combinados numa canção...”. Primeiro temos o Jonas a tocar um solo de baixo numa parte bastante ‘jazzy’; depois o Steffen segue-nos e finalmente o Lukas termina a secção do solo. Tudo isto encaixa brilhantemente e elevou a tensão neste tema para um nível totalmente diferente. Sendo uma banda recentemente formada assentando numa base dentro do Death Metal, esperam contribuir para algum tipo de evolução neste género musical? Lukas: Espero que sim, mas talvez não neste primeiro álbum. Não inventámos nada de radicalmente novo em «Facticity» mas acho que leva sempre tempo para encontramos o nosso próprio estilo.


“É realmente bastante divertido tocar as canções de «Facticity»” O Christian toca baixo fretless. Ele sempre tocou fretless ou decidiu evoluir especificamente para este álbum? Julian: Não para este álbum especificamente. Mas quando ele se juntou à banda ele não tocava baixo fretless, está certo. Nós sempre admiramos bandas onde o baixo assume um papel importante na sonoridade, p.ex. Hokum, Obscura, Death, Pestilence e por aí fora. Nós sempre admiramos quando um baixista é inovador e com isso consegue enriquecer o som de uma banda. Quando o Christian se juntou a nós, sempre o forçamos a experimentar um baixo fretless e sempre lhe dizíamos como gostaríamos de o ver a tocar riffs malucos... ele levou uma lavagem ao cérebro, haha. Não, piadas à parte... ele tinha precisamente a mesma filosofia de tocar baixo

que nós tínhamos, portanto tornou-se bastante natural quando tentamos tocar com baixo fretless. O álbum também inclui 2 canções com um baixo com trastos, porque os elementos assentes em slapping/popping são para nós igualmente fascinantes. Terei eu uma má perceção ou a Alemanha é neste momento especialmente ativa na criação de novos projetos na área do Metal? Lukas: Sim, claramente há novas bandas a surgir bastante boas e algumas ainda bandas underground que provavelmente nunca ouviste falar. Tanto quanto pude investigar, tocaste maioritariamente na Alemanha com uma boa recetividade correto?


“Não inventámos nada de radicalmente novo em «Facticity» mas acho que leva sempre tempo para encontramos o nosso próprio estilo” Lukas: É correto, tocamos sobretudo na Alemanha até agora. Recentemente fizemos alguns shows com o nosso line-up mais recente e as reações foram bastante boas. É realmente bastante divertido tocar as canções de «Facticity».

também esperamos tocar em Portugal um dia destes também, tenho a certeza que há por aí excelentes assistências. Obrigado.

Estão a pensar estender concertos ao vivo para os EUA e/ou restantes países da Europa? Julian: Neste momento nós estamos a trabalhar com bastante pressão para confirmar datas para concertos. Mas neste momento não temos ainda nada mais relevante agendado, lamentamos. Por favor sejam pacientes!

Entrevista: Sérgio Teixeira

Obrigado pelo vosso tempo para a entrevista. Espero ver-vos atuar em Portugal em breve. Lukas: Obrigado pelas questões e pelo apoio. Nós


Exige-se a continuidade Virtualmente desconhecidos do público em geral enquanto Kontinuum, os elementos desta nova formação Islandesa já têm bastante experiência noutras formações. Potentiam e Changer são o projectos que mais peso têm na vida musical destes Islandeses. Mas foi como Kontinuum e o seu disco de estreia «Earth Blood Magic» que estão a arrebatar um sem número de reviews com classificações invejáveis e claro, aqui na VERSUS Magazine estas coisas não passam ao lado. Foi com uma especial atenção que coloquei algumas questões às quais o vocalista Biggi respondeu. Decorreram 10 anos desde os primeiros riffs para o projecto e a presente edição do álbum de estreia «Earth Blood Magic». Qual foi a razão para este longo interregno? Biggi: O trabalho que fizemos há 10 anos foi mais um exercício para nós próprios enquanto músicos. Ambos (Biggi e Kristján) estávamos em bandas na altura e queríamos experimentar jogando com estilos e conceitos. Nós nunca quisemos que na altura fosse uma banda. Estivemos ambos ocupados com outras bandas durante os anos seguintes. Um outro conjunto de gravações experimentais foram efectuadas em 2006 e nunca editadas. Algumas das ideias que daí surgiram estão neste álbum, embora muitas delas foram refeitas. Foi apenas em 2010 altura em que regressei à Islândia depois de alguns anos fora do

país, que decidimos unir-nos e focar-nos neste novo projecto. Eu já andava a trabalhar em ideias e a explorar o terreno em que iria assentar o conceito Kontinuum. Portanto Kontinuum é uma banda muito recente e um conceito novo. No entanto tratou-se de um processo que amadureceu ao longo de alguns anos. Embora haja presença de vários estilos e influências tudo isto se congrega numa única entidade bem homogénea em «Earth Blood Magic». Isto aconteceu simplesmente por acaso ou houve uma trabalho consciente nesse sentido? Biggi: Pessoalmente sou apreciador de vários estilos musicais como qualquer pessoa com um correcto e genuíno gosto por música. Eu também gosto de álbuns que me surpreendam, que


me mostrem algo de novo, que me desafiem e que me deixem a questionar as minhas próprias convicções. Portanto a diversidade de ideias era um pressuposto que já tínhamos delineado. É algo que apreciamos bastante nos álbuns. Temos de realmente respeitar cada canção no álbum, tentar concebê-la de modo único e com a sua própria identidade. O álbum é muito honesto, não tenta simplesmente ser algo. Foi feito numa atmosfera de ausência de expectativas, em total autoindulgência e numa estranha mas muito humana procura espiritual. Sabíamos que este álbum seria arriscado pois com todos os diferentes estilos não é um álbum de metal típico. E sobre uma certa perspetiva nem chega a ser um álbum de metal. As expectativas eram apenas atrair alguma notoriedade, nós não esperávamos de maneira alguma atrair a atenção que surgiu por parte das editoras. Eu achava que era demasiado não convencional para o panorama metaleiro. Senti que ficou a meio-termo do estilo que conheço e nunca esperava que as pessoas o tomassem como um todo. Este álbum é desafiante do ponto de vista de estilo, eu encaro-o como tendo um como tendo uma atitude algo punk e rebelde direcionada ao metal. Eu acho que poucos serão suficientemente corajosos para inovarem e com isso desafiaremme como ouvinte ou até transportar-me para um universo único. Nós apenas tentamos ser honestos e fazer a música que sentimos como sendo verdadeira a cada momento. Talvez o nosso próximo álbum venha a ser menos diversificado, não sei, apenas seguiremos a nossa própria voz. Temos um alinhamento em que todos gostamos de coi-

sas diferentes. Nós não notamos verdadeiramente esta mistura de estilos que os críticos tanto falam até ao momento em que eles nos começaram a referir esse aspeto. Apenas surge naturalmente como ouvimos no resultado final para o bem ou para o mal. O meu tema favorito – “Lightbearer” – aparece exatamente no meio do disco; e dá-lhe um especial ímpeto. Este é um tema especial também para vocês e se sim em que sentido? Se não qual o tema que votarias como sendo o tema central deste álbum? Biggi: Acho que cada canção tem um significado especial para nós. “Lightbearer” para mim está repleto de elementos ligados ao Black Metal. Eu queria conceber uma canção que não fosse demasiado trabalhada, mas que fosse bem ritmada e uma certa dose da boa velha negritude que tanto aprecio. Tocaremos esta ao vivo de certeza. Quanto a um tema nuclear, isso é um pouco difícil de responder. Não sei o que o futuro nos irá trazer. Apenas posso falar sobre o que temos neste momento feito. Essencialmente são ideias conceptuais portanto as canções focam-se em ser uma representação dessas ideias. Mas eu aqui provavelmente remeteria para o EP «Steinrunninn Skógur» que talvez seja um dos temas mais sombrios. Acho que o nosso estilo pode estar espal-


hado por todo o lado mas a nossa voz interior é a mesma, é algo que não posso realmente definir com precisão. O nosso próximo disco será algo de diferente. Vamos explorar coisas diferentes, espero descobrir algo de novo e no final surpreendermo-nos e surpreendermos quem ouvir. Em que medida é que a recente crise económica e política que foi especialmente gravosa na Islândia influencio o nascimento de «Earth Black Magic»? Que outros fatores vos inspiraram? Biggi: Essa é uma excelente questão pois acho que influenciou tanto direta como indiretamente. É claro que diretamente porque me fez sair da Islândia em 2006 no auge dos anos críticos. Não suportava como as coisas se estavam a passar em relação ao dinheiro e não conseguias falar com uma pessoa normal sem que alguém abordasse temas como dinheiro, ações, carros, ou outra porcaria qualquer que não precisavam. Todo o crash na Islândia fez-te pensar acerca dos valores com

os quais cresceste, o teu papel e a importância das coisas à tua volta. Eu acho que estes pensamentos foram importantes no trabalho que gerou o conceito Kontinuum. Esta não é, suponho eu, uma história única, todas as pessoas deveriam pensar sobre o estado das economias e sociedades e no consumo que se faz no mundo atual. O papel dos bens materiais realmente diminuiu na minha cabeça e isso foi saudável. Não que eu fosse materialista, mas crescemos todos numa sociedade ocidental. Tal como um peixe que nunca tomou consciência do mar até que alguém lho apontasse. Claro que somos filhos da nossa própria história, com crash ou sem crash teríamos criado a nossa música mas provavelmente não da mesma maneira, não com a mesma convicção. Eu sempre fui muito curioso na vida em relação a artes, ciência, filosofia, pessoas e natureza. O crash ajudou-me a reorganizar a minha mente em relação ao que é realmente importante, a colocar novas questões, a posicionar-me e consequentemente a posicio-

nar a nossa música num determinado enquadramento. Eu centrei a minha pesquisa na área onde eu julgo que o projeto Kontinuum deve assentar, é daí que partiremos para novos trabalhos. Eu não diria que foi por causa do crash mas uma profunda convicção em relação à música dos Kontinuum respondeu a muitas das questões e ajudou-me a focalizar. Houve tantas pedras a rolar e pensamentos provocados que estão indiretamente ligados ao crash na Islândia e a crise económica e social internacional que julgo ter sido uma chamada de atenção para toda a gente. O imperador afinal vai nu. Apesar disso eu acho que iremos assistir a este cenário repetidamente no futuro, os humanos não têm uma boa mecânica para lidar com perigos que surgem no horizonte, apenas lidam com ameaças iminentes e necessidades imediatas. Mas essa é uma outras discussão… O crash foi duro para muitos mas uma experiência dolorosa necessária. O que nos inspira é difícil de determinar. Somos inspirados por grandes

questões, as coisas que afectam as pessoas, tudo o que é obscuro, cruel e o belo no nosso mundo e nas nossas vidas. Porque decidiram escrever algumas letras em Islandês e outras em Inglês? Alguns criticam o facto de terem optado por ambas (pessoalmente sou da opinião de que é perfeitamente aceitável ter um álbum plurilingue). Como comentas estas críticas? Biggi: Apena que as compreendo. Talvez me irritasse enquanto ouvinte, não sei. Para nós cada canção tem um mundo próprio e não têm de ser limitadas pelas restantes canções do álbum. Não há regras, não deveria haver regras mas admito que possa ser algo desconfortável para alguns. As pessoas podem perder o foco na música porque podem estar a pensar na alteração da língua. As canções são diferentes, assim como as letras. A estética de cada canção teve preferência sobre a estética do álbum como um todo. As letras seguiram


um processo criativo completamente independente. Algumas foram criadas em cima do joelho, não exatamente pensadas; uma improvisação e uma interpretação honesta do que eu julgo seria o significado aquando das vocalizações e da tentativa de as colar nas músicas. Não discutirei com os críticos, é a opinião deles e eu respeito-a. Em relação aos restantes projetos como Potentiam ou Changer? Estes irão ser deixados de lado durante os próximos meses? Biggi: Bem, estes têm ficado em background desde há uns tempos. Embora um novo álbum dos

Potentiam esteja a ser preparado. Planeamos gravar ainda este ano, vamos ver. Acho que será um excelente álbum. O nosso focus é o projecto Kontinuum durante os próximos tempos, pois deixamos tanta coisa por transmitir e por explorar no que respeita a este universo Kontinuum. Estamos a discutir ideias para um vídeo para o álbum e posteriormente um EP entre os dois discos. Este seria em princípio um EP conceptual. Há tanta coisa ainda por fazer e Kontinuum terá a prioridade sobre tudo. Como é que «Earth Black Magic» está a ser recebido na Islândia? Biggi: Haha, muito poucos conhecem o projeto. Não estivemos muito ativos na promoção do álbum aqui. A Candlelight ainda não distribui aqui ainda. Esta banda tem uma história ainda tão curta. Suspeito que muitos tipos da linha dura do metal que estão à espera de blast-beasts e padrões de dupla batida nos bombos vão ficar desaponta-

dos mas aquilo que ouvimos é positivo. Iremos ter ainda assim bastante exposição nos media e na imprensa. Estão a começar a notar a nossa presença nestes dias. Pessoalmente devo dizer que tenho um especial desprezo pela imprensa Islandesa desde há vários anos. Quando lançávamos álbuns fora do mercado Islandês, ninguém se mostrava interessado, e a música obscura e o metal não eram levados em consideração, ninguém se interessava. Talvez ainda tenha um desprezo algo infantil pela imprensa Islandesa. O metal é agora mais aceite e toda a imprensa está a dar cobertura. Eu aviso-te quando a grande imprensa publi-

car as respetivas reviews. A Islândia é uma nação com pouca população, estão a pensar promover o álbum fora do país? Biggi: Eu espero que sim. Como estamos bastante isolados numa ilha no meio do nada precisamos de algum dinheiro para sairmos e realizarmos concertos e promovermos o álbum. Estamos neste momento a tentar tratar da agenda e preparar viagens. Tens algumas palavras finais para os nossos leitores? Biggi: Tentem encontrar mais informação sobre nós, liguem-se através do Facebook se tiverem e espero encontra-los em breve. Entrevista: Sérgio Teixeira


9...

...razões para ouvir «Nine»: Progressivo, melódico, técnico, pesado, emotivo, viciante, rock, grande som , ou simplesmente, porque sim! Após um hiato de 5 anos eis que os Circus Maximus voltam à carga com mais álbum que, certamente, será um dos grandes álbuns de heavy/rock progressivo de 2012. Com uma carreira até agora bastante sólida e coerente, «Nine» é somente o terceiro álbum da carreira, fazendo deles uma referência neste género musical. Auguro um grande futuro para estes Noruegueses!


Antes de mais, parabéns por «Nine»! Vou ser honesto: Na última década foi um dos álbuns por que mais esperei. A minha primeira questão é... porquê cinco anos? Li no vosso site que tiveram alguns problemas no que diz respeito à produção... Muito obrigado, significa muito ouvir-te dizer isso. Durante as gravações de «Nine» encontrámos vários “obstáculos”. Pessoalmente, tive alguns problemas com as min-

has cordas vocais o que atrasou a gravação. Truls teve alguns problemas com os joelhos e ainda espera pela cirurgia. Para completar tudo isto, o nosso principal compositor, Mats, teve alguns problemas de braços, forçando-o a largar a guitarra e computadores por mais de 6 meses. Acho que tudo acontece por uma razão, certo? (Risos) Agora que alguns de vocês têm filhos, como é que organizam a

vossa vida entre concertos? Deve ser complicado, certo? Eu até acho que se tornou mais “fácil” agora que a maior parte de nós tem filhos. Teria sido mais “difícil” do outro modo: três de nós sem filhos e um só sem nenhum. É mais fácil para todos entenderem essa situação. Claro que este facto também muda as coisas, na medida em que antes podíamos simplesmente entrar em estúdio e tocar, enquanto que agora temos


(...) o principal, quando toca a escrever canções, é a INSPIRAÇÃO. Sem isto ficas sem “nada”. que planear cada ensaio. Aposto que muitas pessoas te fazem esta pergunta e eu não vou ser diferente: Porquê «Nine»? Algum significado especial? Se tirares a introdução ficam com 9 temas. Então, não há nada mais simples que isso. No entanto, se tentarem perceber mais a fundo as letras, irão entender que há uma linha muito ténue entre elas... (risos) Uma rápida pesquisa no youtube e podemos ver que fizeste alguns concertos com os Kamelot. Em algum momento pudeste pensar sair dos Circus Maximus e seres o próximo vocalista dos Kamelot? Isto foi algo que aconteceu muito depressa. Recebi um telefonema do Thomas Youngblood a contar a situação de que o Roy Khan tinha cancelado uma tournée Norte Americana que estaria prestes a começar. Uma semana depois estava no Estados Unidos a cantar com os Kamelot. Os Circus Maxi-

mus e os Kamelot já andam juntos há muito tempo, portanto, isto foi um amigo a ajudar os amigos. A maior parte dos temas em «Nine» foram escritos pelo Mats. Como foi o processo de composição? Quero dizer, o Mats aparece com um riff e trabalham todos a partir daí ou ele já traz os temas completamente estruturados? Desde muito cedo que ficou decidido que Mats seria o responsável no que diz respeito à composição do novo álbum. Ele tem muitas ideias, então, durante os três anos que o álbum demorou a ser feito muitos desses riffs apareceram em diferentes temas. Mats faz a pré-produção e apresenta-nos para podermos dar algum feedback. Também me junto com ele para trabalharmos as ideias para a voz. Eu e ele sempre tivemos essa química no que toca às melodias. Há que gostar disso. (risos) Vocês têm vindo a construir uma

sólida carreira e desde o «1st Chapter» até «Nine» que sempre cresceram de uma forma sólida e coerente. O álbum seguinte acrescentou sempre algo de novo e foi sempre um passo à frente. Tudo isto foi planeado? Como músicos queremos sempre desenvolver e aprender coisas novas. Se ouvires algo porreiro na rádio podes dizer para ti: “raios, isto foi mesmo bom! Quero fazer algo parecido nos meus temas”. Eu acho que o principal, quando toca a escrever canções, é a INSPIRAÇÃO. Sem isto ficas sem “nada”. Eu acho que todas as bandas querem sempre soar melhor do que o álbum anterior, mas obrigado, Eduardo, por essa observação e sim, «Nine» é um excelente álbum, estamos muitos orgulhosos do resultado final. ;) Com «Nine» vocês alcançaram um nível muito alto, tão alto que as pessoas começaram a comparar-vos com os Dream Theater. O que poderemos esperar a seguir?


“The Game of Life” (...) representa tudo o que são os Circus Maximus: Melódicos, pesados, solos de guitarra do caraças e é também um bom tema para cantarmos ao mesmo tempo. Vão manter-se no mesmo estilo ou há planos para mudarem? Nós nunca sabemos onde o próximo álbum nos vais levar. Para nós ainda é muito cedo para dizer alguma coisa. Tudo o que posso prometer que vai ser melódico, pesado, progressivo e com gosto. Por falar nessa comparação, será que ficam aborrecidos com isso? (Li que os Dream Theater até “roubaram” parte da capa de «1st Chapter» – Na minha opinião, apesar de possuir ambas as discografias, prefiro ouvir «Isolate» ou «Nine» do que os mais recentes trabalhos dos DT) Não, nem por isso. DT é a melhor banda neste género, então, é com todo o respeito que ouvimos as pessoas a fazer esse tipo de comparação. Todos nós crescemos a ouvi-los e sim, eles foram uma grande inspiração para nós. Temos que gostar do homem no monociclo, ele vai numa viagem épica, disso podemos ter a certeza..;) Define «Nine» em nove palavras? O ALBUM DO ANO DE 2012! VÃO COMPRAR AGORA! Esta questão está dividida em 3 partes. No youtube vocês têm uma pré-estreia de «Nine», onde cada um de vocês fala do álbum... Parte 1: Qual é a tua canção favorita? Parte 2: O meu tema favorito é “Game of Life”, algum significado especial que devêssemos saber? Por último, mas não menos importante, a minha filha de 6 anos prefere o tema “Used”, e é bom (?) vê-la a fazer um pouco de “headbanging”. Então, “usado” em que aspecto?

Hey, eu quero ver o vídeo dela a fazer “headbanging” ao som desse tema!!! ;) O meu tema favorito é também, “The Game of Life”. Acho que representa tudo o que são os Circus Maximus: Melódicos, pesados, solos de guitarra do caraças e é também um bom tema para cantarmos ao mesmo tempo. Liricamente, gosto desta parte: “ so close your eyes for the second round”. Nesta vida às vezes temos uma segunda oportunidade para fazer as coisas certas e quando esse tempo chegar é fechar os olhos e abraçála em todo o seu esplendor. Uma coisa que me deixou a pensar foi a frase que Lasse Finbraten disse no fim desse vídeo, quando se referia ao tema “Last Goodbye”: ... is not the last goodbye from us” – “... não é o nosso último adeus”. O que é que ele quis dizer com isso? Nos últimos cinco anos houve a possibilidade de acabarem? Haha, nada disso. Nós sabíamos se não adicionássemos esta última frase que o Lasse disse, ENTÃO, as pessoas iam pensar que poderia ser o nosso último álbum, sabendo que o último tema se chamava “The last goodbye”. Tomámos as nossas precauções no que diz respeito a isso. (risos) Por falar no Youtube, vocês não têm lá nenhum vídeo. Porquê? Não consideram esta uma forma de promoção? Claro, o Youtube é fundamental para promover a nossa música. Haverão vídeos para «Nine», isso posso prometer. Porque é que isto não aconteceu em álbuns anteriores, isso já não posso dizer. O que

sei é que conhecíamos uma “pessoa” que disse que nos gravava um vídeo para nós mas nunca mais o chegámos a ver. Sim, neste meio conhecemos muitas pessoas estranhas. Uma última palavra para os nossos leitores – Podes usá-la para promover o álbum, a banda, tudo o que quiseres! Obrigado por perderem tempo a ler esta entrevista e espero que tenham achado interessante. Se ainda não compraram «Nine», então, sintam-se à vontade para o ouvir. No que diz respeito aos nossos fãs em Portugal, continuem a espalhar e divulgar os Circus Maximus, nós sabemos que andam por aí. ;) Em 2009 estiveram em cá. Alguma hipótese de vos ver ao vivo outra vez? Nós gostávamos de voltar e tocar outra vez. Na realidade demos o nosso último concerto da tournée de «Isolate» em Portugal, antes de começarmos a concentrar-nos neste novo álbum. Passamos um bom tempo aí e lembro-me de tocarmos com os Italianos DGM que são uma grande banda e uns tipos porreiros. Obrigado pelo teu tempo Muito obrigado, Eduardo, espero ver-vos por aí Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro


Depois de ouvir (talvez) um dos melhores álbuns de estreia, a entrevista era inevitável. Há todo um mundo conceptual para conhecer, ou melhor, toda uma viagem espacial. Astronautas e fim do mundo. Ehsan Kalantarpour descrevenos um mundo à parte: o mundo dos AtomA. E o melhor é que vai ter continuação!

Mundo à parte! Primeiro que tudo, parabéns pelo álbum de estreia! Li a vossa biografia, ouvi «Skylight» algumas vezes e encontrei uma grande variedade de estilos e influências. Como defines AtomA e, claro, “Skylight»? Concordas com o rótulo/estilo apocalíptico Post-Rock / Metal? Obrigado. Realmente, não faço a mínima ideia e não penso mais nisso em termos de rotular a nossa música. Géneros e estilos, para mim, são apenas palavras. As pessoas colocam rótulos nas coisas para compreendê-las e classificálas. No entanto, algumas coisas, simplesmente, não podem ser rotuladas. Vão para além das pa-

lavras e nunca podem ser completamente explicadas em curtos termos que designamos por “géneros”. Algumas emoções não podem, simplesmente, ser colocadas em palavras. Vivemos num mundo em que tudo precisa de um rótulo para ser rapidamente embalado e facilmente vendido. Nós criamos música porque existe um conjunto colossal de emoções que TÊM de sair cá para fora. Com o nosso som, criámos um reino imaginário para nós, onde a música pode viajar livremente e levarnos para onde quiser ou para onde sentir que ela tem de ir. Quaisquer que sejam os abismos mais escuros e infernais ou eufóricas montan-


sar fome enquanto a outra metade passa a vida a tentar imitar o visual e estilo de vida de uma qualquer celebridade de merda! Enquanto milhões vivem na pobreza, uma nação como o Reino Unido gasta 40 Milhões a desenvolver a Trident 2, uma bomba 8 vezes mais potente que a de Hirsohima. Vivemos numa época em que a corrupção assola a Humanidade e transformamos, a grande velocidade, o planeta Terra numa fábrica de exploração e roubo. Devido a estes sentimentos muito fortes, os AtomA nasceram como um refúgio para nós, um lugar onde podemos, realmente, ser humanos, ser livres para explorar e onde ditamos as nossas “leis” e fronteiras. Um lugar onde não existem estilos e géneros artificiais... um sítio onde podemos, realmente, respirar.

has verdes, nós estaremos lá como músicos para servir a sua necessidade e contar a sua história.

para explorar o nome que já tínhamos criado. Não é assim que fazemos as coisas.

Vocês nasceram das cinzas dos Slumber e somente lançaram o tremendo «Fallout». Porque é que a banda se separou? Com um álbum de estreia tão bom porque não mantiveram o nome e mudaram somente o estilo musical? Os Slumber tinham um estilo único e muito particular. Não encaixava nas ideias que tínhamos de modo a implementar a nossa música. Nós queríamos um estilo musical que fosse mais livre e desenfreado em vez de ser algo criado num ambiente controlado que é no que estes álbuns acabam por se tornar. Deixámos o nome porque AtomA foi o início de uma nova jornada. Para manter os Slumber seria só uma jogada estratégica

Conta-nos um pouco da história de «Skylight». É um álbum conceptual? De quem foi a ideia de colocar astronautas perdidos a viajar por planetas e escrever sobre os seus pensamentos e emoções? És um desses astronautas que deseja dizer adeus ao planeta Terra? Nós imaginámos a nossa situação e completa alienação neste planeta e criámos o conceito de «Skylight». Tentamos viver uma vida normal mas o “cheiro” destas sociedades podres é DEMASIADO pesado para suportar. Corrupção, mentiras, escravidão mental, engano... tudo em nome do negócio, isto é normal neste mundo. Metade do planeta está, basicamente, a pas-

De entre todos os temas houve um que me chamou à atenção. “Solaris” é diferente das outras todas e faz-me lembrar Massive Attack ou Enigma. Porque é que este tema é diferentes dos outros todos? Presumo que foste o responsável por este, certo? Eu penso que todos os temas diferem entre eles de muitas maneiras. O álbum foi escrito continuamente, em vez de ser tema-atema. “Solaris” catapulta o álbum para um estilo sonoro ambiental, sonhador e é constituído por duas partes, sendo a primeira mais “negra” e distópica, tornando-se em algo belo e exuberante. A partir desse momento o álbum continua com a mesma veia sonhadora até ao fim. Outra coisa que tenho curiosidade em saber é sobre o texto Persa no tema «Skylight». Como apareceu e quem é a menina que o cita? A propósito, grande tema. É o meu favorito e talvez o melhor do álbum? O nome da menina é Ava, tem 8



“Nós imaginámos a nossa situação e completa alienação neste planeta e criámos o conceito de «Skylight»” anos e é minha sobrinha. Ela veio visitar-me e por acaso descobriu o filme “I Am Legend”. Vimo-lo juntos e no fim chorou. Ela estava devastada e procurou obter respostas para o facto de o mundo no filme estar completamente abandonado e destruído. Então, dei-lhe uma caneta e ajudei-a a escrever o que seria o fim do mundo para ela e o que significava. Fiquei comovido por esta menina estar a tentar compreender o vasto conceito do fim do mundo. Fiquei com o texto e decidi cantá-lo em «Skylight». Partilhas dos mesmos pensamentos sobre o fim do mundo? Ela ainda está no início da vida. Ainda vai descobrir quão incrível e horrível é este planeta, o quanto PODIA ser belo mas no horrível que se está a tornar. Penso que vai aprender a seu tempo. Espero que demore o mais tempo possível a entender isso. Não é fácil viver uma vida “normal” quando há “tempestades” na cabeça despoletadas até por eventos de menor importância. Um anúncio comercial nojento para algum produto depravado, sorrisos falsos, políticos, revistas “despejando” mentiras constantemente... tudo pode fazer “disparar” a “tempestade”. Espero que a minha sobrinha possa viver, de alguma maneira, uma vida feliz e não se tornar como eu. A dor que vejo na vida eu levo-a comigo numa mochila invisível. Não posso deixar para trás. Vi alguns videos no youtube... e... são espetaculares! “Bermuda Riviera”, “Rainmen” – espantosa animação – e por fim “Cloud Nine”. O que vi foi uma referência a “Nuit Blanche” e entretanto, li no facebook que foi um vídeo

feito por um fã. São muito poucas as bandas que têm vídeos como estes...! Presumo que o youtube seja uma forma de promover os AtomA? “Bermuda Riviera” e “Rainmen” são vídeos oficiais. Os outros são feitos pelos nossos fãs. Realmente, fiquei muito contente quando vi o vídeo de “Cloud Nine”. Não vivi a mais confortáveis das vidas e o ‘amor’ sempre foi algo estranho para mim. Vendo o vídeo e o facto de ver, também, aquele homem fazer a ligação do nosso tema ao conceito ‘amor’ foi único para mim. Eu gostaria que as pessoas soubessem o impacto que têm os vídeos que fazem sobre seus artistas. É uma forma muito espiritual de comunicar com uma banda. Vendo este vídeo feito por um fã dos AtomA é profundamente inspirador para mim e tem aberto caminho para muitas novas ideias e emoções. Espero que continuem a criar estes tipos de vídeos. Estão agora a trabalhar no novo álbum. O que poderemos esperar de «Nova» e dos AtomA? Podesnos desvendar um pouco para os leitores da VERSUS? O mesmo estilo musical? A continuação da viagem do astronauta? Estamos a trabalhar neste álbum diariamente. Nós demoramos muito tempo a escrever. Como damos grande importância aos pormenores, às complexas estruturas, o processo de unir tudo espiritualmente e desafiar-nos constantemente em procurar novas formas de expressão, etc, este processo é muito moroso. Não posso adiantar muito relativamente ao novo álbum, a não ser que estamos muito focados nele e que será a continuação de «Skylight». Vamos numa

espetacular viagem ao Sol. Vocês fazem todo o processo de composição e gravação do álbum no estúdio? Como é o vosso método para construir «Nova» Nós temos o nosso próprio estúdio onde escrevemos tudo. Quando este processo está concluído e o álbum se encontra completo, vamos para uma cidade algures na Suécia (Panic Room Studios) para gravarmos tudo profissionalmente. «Nova» é a história de um homem que “atira” a sua nave numa rota que o levará à colisão com o Sol. Então, eu vivo, constantemente, com esta ideia misteriosa e imaginativa dentro da minha cabeça, às vezes acabo por me tornar nele. Tento perceber todas as suas emoções e transporto-as para o dia-a-dia. Lentamente começo a perceber que não estou a escrever «Nova»... estou a tornar-me nela. Quando podemos esperar este lançamento? Quando estiver pronto. Uma última palavra para os nossos leitores – podes usá-la para promover o álbum, a banda, o que quiseres! Ponham os vossos auscultadores, primam play e desapareçam connosco por um bocado. Tenham uma boa viagem. Obrigado pelo teu tempo, Ehsan. Obrigado eu. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro


Cliff Burton

“To Live Is (Not) To Die” When a man lies he murders Some part of the world These are the pale deaths which Men miscall their lives All this I cannot bear To witness any longer Cannot the kingdom of salvation Take me home “To Live Is To Die” - «…And Justice for All»


É inegável o contributo e influência que os Metallica têm em toda esta tribo a que chamamos de “Metaleiros”. É, também, inegável o quão influentes eles foram na minha vida musical, pois, cresci a devorar e a estudar todo e qualquer pormenor que estivesse relacionado com letras, música, etc.. «Master Of Puppets» e «… And Justice For All» serão dos raros álbuns dos quais ainda sei todas as letras. No entanto, não é sobre os Metallica que me propus escrever. Fez no dia 27 de Setembro 26 anos que a história da música conheceu um dos seus dias mais negros. A história já deve ser conhecida mas, vou conta-la na mesma: Durante tournée europeia de Damage Inc., que promovia o álbum «Master of Puppets», Cliff e Kirk discutiam sobre quem dormia no melhor sítio do autocarro. Como solução, os dois decidiram que quem tirasse a carta mais alta escolheria o melhor sítio. Cliff tirou o ás de espadas e ficou no lugar que era habitualmente de Kirk. Esta foi a sua última conversa. Mais tarde nessa noite, em Ljungby, perto de Dörarp, numa região rural do sul da Suécia, o autocarro despistou-se devido ao gelo – segundo palavras do motorista. Cliff, que ficou no beliche de cima, foi projetado e na sequência ficou debaixo da parte lateral autocarro. James Hetfield disse mais tarde que achou que o motorista estivesse bêbado ou que tivesse sido negligente. No entanto, a embriaguez do motorista nunca foi provada e este foi ilibado. Durante a cerimónia fúnebre foi tocado o tema “Orion”, tema esse que Cliff nunca chegou a tocar ao vivo e só foi novamente tocado pela banda no dia 3 de junho de 2006, no festival Rock Am Ring, em Nurburgring, aquando dos 20 anos do seu lançamento. Quando comecei a escrever veio-me à ideia uma curiosidade: Cliff Burton é o único elo comum nos três álbuns mais consensuais da banda: «Kill ‘em All», «Ride The Lightning» e «Master Of Puppets». (Mas isto pode ser somente a minha “teoria da conspiração”) Penso que a esta altura, os fãs dos Metallica já deverão estar a pensar: Então, e o «…And Justice For All»? Pois, um dia destes farei uma retro-versus dedicada somente a este… Um olhar um pouco mais atento à evolução da discografia, verificamos que os Metallica começam a ser reconhecidos quando Cliff começa de facto a contribuir para a música. No «Kill ‘em All» não lhe é feita qualquer referência ao contributo. Se bem que como disse Ray Burton (Pai), este álbum não foi produzido… foi tocado. No «Ride The Lightning» é quase óbvio que


os temas mais fracos são precisamente os que não têm os créditos a Cliff: “Trapped Under Ice” e “Escape”. No entanto, se olharmos para o «Master Of Puppets» Cliff só tem créditos em 3… talvez das mais emblemáticas de todos os tempos: “Master Of Puppets”, “Orion” e “Damage Inc.” De qualquer maneira, tanto num como noutro se nota, perfeitamente, a influência de Burton. Se me pedissem um tema que melhor o define, eu escolheria “Orion”, sem a menor ponta de dúvida! Este tema representa a abordagem de Cliff ao baixo com sendo uma guitarra, num papel mais proeminente e melódico. O que muita gente não sabe é que este tema tem dois solos de baixo que são confundidos com guitarras. Calma! Eu não me esqueci da “maluqueira”, da arte genial que é o tema “(Anesthesia) Pulling Teeth”. Este tema está para o baixo assim como o “Eruption” dos Van Halen está para a guitarra. (O antes e o depois) “To Live Is To Die” foi a homenagem dos Metallica. O tema consiste em alguns riffs da autoria de Cliff e, erradamente, o trecho com que abri este artigo é-lhe atribuído. De facto, a letra pertence ao poeta Alemão Paul Gerhardt e foi popularizado no filme Excalibur. Devemos estar todos de acordo que é o tema mais emocional alguma vez escrito pelos Metallica. Cliff era o único membro com formação musical e desde tenra idade que começou a ter aulas de piano, muito por influência do Pai que o introduziu à música clássica. Nos tempos de juventude interessou-se por rock, música clássica e eventualmente heavy metal. As influências de Cliff iam muito para além destas e variavam desde o Southern rock até ao Country passando pelo blues e jazz. Citado pelo próprio Cliff, as suas influências em termos de estilo musical passavam por Geezer Butler ( Black Sabbath, Misfits), Phil Lynott (Thin Lizzy) e Geddy Lee (Rush) Pergunta para a história: Como teria evoluído a carreira dos Metallica? Cliff Burton era assim o pêndulo, o equilíbrio e a harmonia nos Metallica. Tanto ao nível musical como técnico. Quando ainda não se falava em Headbanging já Cliff o fazia. E como disse J. Hetfileld numa das entrevistas que circulam pelo Youtube: Não só de cabeça mas de corpo inteiro! Aquando da morte do irmão, Cliff disse: “Vou ser o maior baixista para o meu irmão”. Não foi só para ele… foi para mim e muito mais gente! E se algum dia tiver oportunidade, arte e engenho para tocar baixo, Cliff Burton será a minha influência principal e o baixo escolhido será um Rickenbacker.


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Das trevas e da luz Provavelmente, é mais conhecido como o vocalista da banda australiana Ne Obliviscaris. Mas quem tiver reparado na capa do álbum de estreia da banda, que saiu em maio, e tiver tido curiosidade em ver quem era o respetivo autor, chegou certamente ao site da Svartwerk e descobriu o artista gráfico Marc Campbell (aka Xenoyr). Assim, depois de a banda ter sido capa da VERSUS Magazine, voltámos a contactá-la, desta vez para conversarmos um pouco com Xen sobre a sua arte e o rumo que pretende dar-lhe. E acreditem que vale a pena ler o resultado dessa conversa!


Descobri-te como artista gráfico por ter adorado a capa de álbum dos Ne Obliviscaris e ter lido, numa entrevista, que tu eras o seu autor. O que querias dizer aos fãs da banda, quando criaste essa capa? Xenoyr: Obrigado. Apraz-me que tenhas gostado! Através da capa de «Portal of I», eu queria dar a conhecer a maior parte dos elementos que é possível encontrar na nossa música: a luz e a escuridão, a complexidade, diferentes imagens e referências líricas simbólicas e também as cores. A nossa música está cheia de vida, portanto a nossa arte também tem de ser assim. Quando comecei a criar essa capa, senti-me francamente angustiado pela ideia de ter de usar a minha arte para representar simbolicamente a nossa música. Senti uma imensa pressão e quase desisti de o fazer, mas, à medida que a nossa música ia progredindo, comecei a ver melhor como ia fazê-lo e, afinal, todas as peças do puzzle acabaram por ocupar os seus devidos lugares. Li algures que também tinhas feito o logo para a banda. O que é que significa? Parece uma espécie de coroa de espinhos. Ou é uma coroa de louros? Seja como for, é fascinante. Não fui eu que fiz o logo. Foi criado, em 2003, por um artista que dava pelo nome de Feanor. Nessa altura, eu ainda não desenhava logos. No entanto, a banda participou no seu processo de criação.

O “O” que figura no logo tem um forte simbolismo: representa o ciclo da vida, a harmonia universal com a mãe Terra, a necessidade que as pessoas têm de estabelecer pontes entre si. É um símbolo francamente positivo. Está adequado à banda, porque, na nossa música, referimos frequentemente essas ideias. Por que usas o nome de Xenoyr? E parto do princípio de que o nome da tua empresa gráfica [Svartwerk] também tem algo a ver com algo tenebroso, não é assim? Haha! Pois, é tudo realmente muito tenebroso! Adotei o pseudónimo de Xenoyr (ou Xen) por vários motivos. Mas a razão principal tem a ver com o facto de representar o que eu sinto quando estou a criar, seja música, letras ou arte... Para mim, esse nome significa muito simplesmente “e s t r a n h a e s c u r i d ã o”. Mas acredito que sou uma pessoa muito positiva, apesar dos meus pensamentos e emoções tenebrosos. Felizmente, o meu processo de cri-

ação funciona como um escape para os meus demónios íntimos e converte-os em algo positivo. Eu penso que as coisas tenebrosas e deformadas, perversas, são belas e fascinantes à sua maneira. Suponho que, pelo menos em parte, esta minha perspetiva decorre do facto de eu me sentir em sintonia com essas coisas. Tenho tido muito pouco tempo para me dedicar à minha arte, mas ando a “cozinhar” algumas ideias que darão uma nova dimensão às trevas. Por isso, mantenhamse atentos… A profundidade das trevas ultrapassa qualquer ideia que a nossa imaginação possa produzir, logo por que não havemos de ir cada vez mais fundo na sua exploração?


mente simétrico e fluido.

Dei uma boa vista de olhos ao teu portefólio e adorei o que vi. Quais são as principais tendências da tua arte? Reparei que jogas com formas sobrepostas, cores (mas também com combinações de preto e branco e diversos matizes de cinzento), bordas cortantes misturadas com formas redondas (nos logos, por exemplo). É muito “misturada”, complexa. A minha arte tem um pouco de tudo, porque eu ainda estou a construir o meu estilo pessoal e as minhas influências são muito amplas. Daí tudo o que eu faço ser muito eclético. Geralmente, gosto muito de trabalhar com contrastes: embora use muito a cor, prefiro recorrer ao preto e branco… Se conseguir fazer algo cheio de vida sem recorrer à cor, opto por esse caminho. Os logos têm características diferentes. Normalmente, obedecem a regras relativamente rígidas, ao contrário do que acontece com as capas dos álbuns. Não dão tanta liberdade ao artista, são menos flexíveis. Mas eu dilato o meu espaço artístico ao máximo, procurando criar algo simultanea-

És um homem muito novo, mas já tens uma carreira prometedora. Quais são os momentos mais interessantes do teu percurso até agora? E que peças do teu portefólio ilustram melhor esse percurso? De momento, parece-me que o logo dos Nekros Manteia é uma das obras que me tornaram conhecido no mundo da arte ligada ao black metal, o que é muito importante para mim, porque cresci a ouvir esse tipo de música. Outra peça importante é a capa do álbum de Ne Obliviscaris, sobretudo porque tenho estou muito ligado a ela afetivamente, já que me levou a descobrir algumas coisas curiosas sobre mim próprio, obrigando-me a sair da mina zona de conforto. Gostaria também de mencionar a capa do álbum «Scorn Aesthetics», da banda francesa de death metal Ad Patres. É uma obra bastante tenebrosa e bizarra, bem à minha

moda, exprimindo a essência do meu ser. Qual seria a maior consagração da tua obra neste momento? O meu envolvimento com Ne Obliviscaris, como vocalista, let-

rista e artista gráfico deu-me tudo aquilo de que preciso nesse campo. Vale para mim mais do que tudo o resto e teve um impacto mais positivo no público do que todo o resto do meu trabalho. Não estou sedento de reconhecimento público, preocupo-me mais com a possibilidade de poder exprimir o que sou e revelar-me a pessoas que se sintam de algum modo inspiradas pelo que eu faço. Há algum artista que queiras emular? O polaco Zdzisław Beksiński. A sua arte caracteriza-se por um simbolismo verdadeiramente sofisticado e a sua atenção aos detalhes não tem igual. Os seus quadros são absolutamente cruéis e verdadeiramente horríveis, declaradamente feios, mas, ao mesmo tempo, tão enigmáticos e belos… Mas não quero imitar ninguém, quero criar o meu próprio estilo. Ainda estou a construí-lo, mas talvez daqui a alguns anos tenha conseguido afirmar a minha identidade perante o mundo. Ainda tenho um longo caminho a percorrer para chegar onde quero, mas a minha visão está a clarear. Uma grande parte das minhas obras é feita em computador, embora também recorra muito à fotografia. De vez em quando, faço estudos em papel, para ter uma ideia geral do que pretendo criar. Sinto a falta da pintura a óleo, a que também já me dediquei, e pretendo melhorar a minha técnica nesse domínio. Há qualquer coisa de infinitamente pessoal, de artesanal, no recurso à pintura feita à mão, com tinta e pincel. Faz-me pensar em como Beksiński se deveria perder no seu


“Ambas [arte e música] constituem escapes criativos e, por vezes, há coisas que tu exprimes com uma que não consegues libertar através da outra.” celência. Sou quase desconhecido no mundo da arte, porque o frequento há pouco tempo. Atualmente, está inundado por artistas que procuram fazer nome. Acho que preciso de melhorar o meu portefólio para me afirmar como alguém “diferente”. O tempo o dirá, mas acredito que há um lugar na arte para mim. Website: www.facebook.com/svartwerk Entrevista: CSA

próprio trabalho. Cada vez há mais músicos da cena metal que também são artistas gráficos. Na tua opinião, a que se deve uma tal dualidade, quase cumplicidade? Penso que a arte e a música andam sempre de mãos dadas. Ambas constituem escapes criativos e, por vezes, há coisas que tu exprimes com uma que não consegues libertar através da outra. Deve ser por isso que os músicos procuram outras vias artísticas. Os artistas vivem para criar e acredito que, se os impedissem de o fazer, teríamos muitas baixas. Pessoalmente, não conseguiria existir sem arte, nem música. Alguns deles até fizeram nome no mundo das Belas Artes. Estou a pensar, por exemplo, em Seth Spiros Antoniou, que entrevistei este ano. Qual te parece ser a tua posição nesse mundo?

Adoro o trabalho do Seth. Deve estar constantemente absorvido pela criação, tendo em conta também a sua participação em Septicflesh. Mas acho que ainda tenho de crescer muito para atingir o seu nível de ex-



Que há de comum entre um desenho representando uma bizarra sardinha e ilustrações destinadas aos fãs de música extrema? É o que o leitor pode descobrir, nesta entrevista a André Fernandes Trindade, um artista gráfico nacional que vale a pena conhecer. Ao folhear a brochura relativa às festas populares de Lisboa e contemplar os desenhos alusivos à sardinha, descobri que um dos mais conseguidos (que associa este peixe típico das festas populares ao brasão da cidade de Lisboa) era da tua autoria. Foi uma grata surpresa. Como te veio a ideia de fazer essa feliz associação? André Fernandes Trindade: Quando vi o concurso das festas de Lisboa, veio-me logo à cabeça o brasão da cidade. Como tinha ideia de não ter visto ninguém a desenhar corvos nos concursos anteriores, resolvi criar uma sardinha inspirada nos corvos presentes na caravela do brasão de Lisboa. Como reagiram as pessoas a esta tua criação? Houve opiniões bastante diversificadas. Algumas pessoas identificaram logo o simbolismo dos corvos, o que foi bastante positivo, mas outras nem tanto, o que as levou a considerar a ilustração como demasiado “pesada” para a celebração das Festas de Lisboa. Imagino que este não é o tipo de trabalho mais representado no teu portefólio. Ao analisá-lo, con-


anos, fui adquirindo uma cultura visual bastante vasta, que me inspirou e ajudou a definir um estilo de desenho bem marcado que pratico até hoje. Já agora, quem são os teus ídolos, no mundo das artes gráficas? A minha maior influência é, sem dúvida, Alphonse Mucha. O que constituiu o pontapé de saída para a tua carreira? Eu comecei a fazer ilustração nesta área quase por brincadeira, principalmente ajudando bandas de amigos. Depois o gosto passou a vontade de fazer algo mais e comecei a praticar diariamente para ganhar portefólio. O meu nome foi passando de boca em boca e com isso fui ganhando clientes até hoje. Tens alguma formação em especial para trabalhar nesta área, ou és um self made man? Eu sou licenciado em Escultura e em Multimédia, mas a experiência que tenho na área de ilustração foi adquirida única e exclusivamente por vontade própria.

“[…] ao longo dos anos, fui adquirindo uma cultura visual bastante vasta, que me inspirou e ajudou a definir um estilo de desenho bem marcado que pratico até hoje.”

statei que nele figuram muitos desenhos para t-shirts e sweats, relacionados com a cena metal, mas não forçosamente com nenhuma banda em particular. Por que razão optaste por essa via? É decisão tua? Foi ditada pelas encomendas que vais recebendo? Eu sou adepto de motivos que tenham origem no oculto e no fantástico, mas, basicamente, o meu trabalho é traçado pelas encomendas

que recebo. Como a maior parte das bandas com quem trabalho é da cena metal, a minha arte tem tendência a virar para um lado mais gore e sombrio. O que é que nesses desenhos vem pura e simplesmente da tua inspiração e o que é derivado de outros autores que te inspiram? Tudo o que desenho vem da minha imaginação, mas, ao longo dos

Se tivesses de usar apenas três palavras para caraterizar o teu estilo gráfico, de modo a salientar a sua originalidade, quais usarias? E por quê? Meticuloso, paciente e misterioso. Meticuloso, porque sou bastante cuidadoso com o estilo de desenho que pratico. Paciente, porque tenho paciência de chinês para dar tanto detalhe aos meus trabalhos. Misterioso, porque gosto que o meu trabalho tenha sempre algo que questione quem assimila a sua mensagem. És ainda jovem e tens, certamente, muito para dar ao mundo das artes gráficas associadas à cena metal. Em que direções gostarias de expandir a tua arte? Estou sempre à procura de novas experiências, mas o que eu gostava


“Eu sou adepto de motivos que tenham origem no oculto e no fantástico, mas, basicamente, o meu trabalho é traçado pelas encomendas que recebo.” de realizar brevemente era ligar o meu estilo de ilustração com escultura, visto já ter experiência nessa área. Penso que seria interessante ver o resultado da passagem do desenho bidimensional para as três dimensões. Dedicas-te a alguma atividade musical (como muito dos teus colegas que eu já entrevistei) ou tens planos para o fazer? Já estive em algumas bandas, entre 2005 e 2009. Mas depois nunca mais tive disponibilidade para me manter ativo nessa área. Que afinidades vês entre o mundo das artes gráficas e a cena metal? Penso que se influenciam de várias maneiras e cada vez mais dependem um do outro. Ambos podem transmitir o mesmo sentimento, mensagem ou até a mesma resposta perante algo, usando meios diferentes, mas atingindo o mesmo fim.

Site: www.andrefernandestrindade. com mail: artatrindade@gmail.com

Entrevista: CSA


Pelos trilhos da esperanรงa


Esta jovem banda promete. Não tirando o mérito, claro, a tantas outras bandas que tocam o tão popular Metalcore; mas estando o público rodeado de tanta mesmidade, há que saber filtrar através de critérios que resultem num merecido destaque. Fatores como a atitude, a postura em palco, o recheio da música e, claro, a música propriamente dita. Os First Class Tragedy (FCT) foram filtrados através destes critérios, entre outros, e por isso a VERSUS Magazine não hesitou em procura-los para uma conversa.

A minha primeira questão é uma curiosidade. Como surgiu o nome da vossa banda, «First Class Tragedy»? Podes desvendar o significado por detrás desse nome? FCT: O nome da banda não tem grande história nem um significado em concreto, simplesmente tínhamos uma lista com vários nomes e este foi o que mais nos agradou na altura. Vocês reuniram-se como banda em 2009. Vocês mesmo sendo novos já tiveram alguma experiência com música antes dos First Class Tragedy? Sim, todos nós antes de formar-mos os FCT já tínhamos tido experiências na música e alguns de nós atualmente ainda têm mas nenhuma igual ao género que tocamos nos FCT. Antes de formarmos a banda alguns tocavam na filarmónica da sua terra, outros em bandas de covers, outros davam os primeiros passos a compor em casa mas independentemente disso a vontade de cada um sempre foi de fazer uma banda onde pudéssemos mostrar às pessoas algo próprio, pessoal e único. Em 2011 lançaram o vosso primeiro EP, «Reaching Hope». Para breve irão lançar o vosso primeiro longa-duração. Desta vez vão ter apoio de alguma editora, ou será novamente um investimento 100% da banda? Novamente não vamos ter apoio por parte de alguma editora. Este álbum que vamos lançar no próximo ano tal, como o EP, vai ser um investimento que vai sair completamente do nosso bolso. Como é do conhecimento de todos a cultura em Portugal, neste caso a música e principalmente a música que vem do chamado “underground”, não recebe o devido apoio, obrigando, assim, às bandas a investirem nelas próprias se pretendem crescer e ter mais visibilidade. Nós sentimos que é complicado ter uma banda “em crescimento” nos dias de hoje, pois com a já referida falta de apoios que se faz

sentir e com os problemas económicos que o país atravessa, para se gravar um álbum, fazer-se um vídeo-clip, ter merchandise de qualidade ou mesmo andar na estrada a dar concertos, é necessário a banda ter um grande controlo nas “contas” de forma a tentar tornar a banda auto-sustentável se querem que ela continue a crescer e durar. Como se sentem com um EP e um álbum quase a sair, tendo apenas 3 anos de atividade? Suponho que bastante motivados, não? Sim, sem dúvida alguma. Quando começámos com a banda há 3 anos estávamos longe de imaginar que em tão pouco tempo de existência íamos chegar a este patamar em que estamos hoje, e ainda mais dificilmente iriamos imaginar ter um número tão grande de pessoas interessadas e seguidoras do nosso trabalho, quer em Portugal quer lá fora. É mesmo uma honra! Fruto dessa motivação será, também, os concertos que dão. Já tive a oportunidade de assistir a alguns e gostei particularmente das vossas atuações. Em geral, o feedback que têm é positivo? Antes de mais obrigado pela tua opinião, é sempre bom ouvir que as pessoas gostam de nos ver ao vivo e recordam-se de nós. Quando vamos para palco tentamos sempre levar muita energia, e de alguma forma queremos passar essa energia e puxar sempre por quem está a ver-nos - mas também não vamos estar aqui a dizer que nunca tivemos um público que de certa forma envolvia-se menos no concerto, ou que nunca ouvimos algumas críticas menos boas sobre a nossa postura e presença em palco. Mas de uma forma geral o feedback que temos obtido ao longo da existência da banda é bastante positivo, e isso faz-nos querer continuar a tocar ao vivo cada vez mais. Ao mesmo tempo para nós, obter este envolvimento das pessoas obriga-nos, no bom sentido da palavra, a crescer e a pensar no que pudemos


fazer para melhorar sempre mais, de forma a que o concerto seguinte seja sempre melhor que o anterior. Olhando para o título do vosso EP e para a música que escolheram para vídeo-clip, a “Hope”, tudo aponta que querem transmitir alguma mensagem de esperança. Que tipos de mensagens pretendem espalhar aos vossos ouvintes? Que temas trabalham na vossa música? Quem nos conhece sabe que somos pessoas pacíficas, com uma visão positiva da vida e do que ela nos dá, mas não somos tapados e sabemos que infelizmente a maldade das pessoas é grande e está sempre pronta a vir ao de cima, e isso acaba por se refletir nas nossas músicas. Do nosso ponto de vista, e agora falando na música de uma forma geral, a música é uma forma de expressão livre, muito poderosa, sobre os pontos de vista de cada um, experiências pessoais ou mesmo situações imaginárias, e nem sempre é bem aproveitada por quem tem a hipótese de o fazer. Cada um é livre de escrever música sobre o que quiser e dar-lhe o sentimento e significado que bem entender - e não queremos aqui entrar, de forma alguma, em polémicas e dizer que a nossa música é melhor que a daquela outra banda só porque nós tentamos transmitir uma mensagem e eles não. Mas só para mostrar o poder da música,

por exemplo: ouviste uma música numa altura em que estavas com um problema, e de alguma forma aquela música ajudou-te a ter força, ou a ultrapassar esse momento menos bom; vais acabar por recordar essa música para sempre, mesmo que não a oiças durante anos; mas quando a voltares a ouvir vais-te lembrar dela e de que um dia ela ajudou-te. Para nós o objetivo das nossas músicas é isso - é fazer algo que possa ajudar alguém, mesmo que essa pessoa nunca nos tenha visto ao vivo, ou nem faça a mais pequena ideia de quem somos. O importante é ajudar-nos uns aos outros! Por último, o que poderemos esperar do vosso álbum a sair em breve? Estilisticamente mantém a força do Hardcore com a melodia? Algumas novidades? Convidados? Podemos garantir que neste álbum irão ter mais uma vez o que são os First Class Tragedy - uma banda que quer transmitir uma mensagem com a música que faz, mas desta vez terá também um lado mais pessoal; e sim, terá, como no EP, uma grande melodia com partes bem ‘pesadas’. Em relação a convidados, já temos alguns em mente mas não podemos revelar para já. Entrevista: Victor Hugo

“… o objetivo das nossas músicas é isso - é fazer algo que possa ajudar alguém, mesmo que essa pessoa nunca nos tenha visto ao vivo …”


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BLUT AUS NORD «777 – Cosmosophy» (Debemur Morti Productions) Poderia ser sem grande surpresa o acolhimento da terceira parte da trilogia «777», dos Blut Aus Nord, já que neste derradeiro capitulo nada nos poderia surpreender. Mas a verdade é que «777 – Cosmosophy» vai surpreender e muito! Musicalmente este terceiro capitulo aproxima-se mais do «777 – Desantification» do que do «777 – Sect(s)». Por isso, poderão ouvir alguma maquinaria, claro, pouco Black Metal desarmonioso, e momentos verdadeiramente épicos e majestosos, dignos de uns Emperor sem distorção – como na épica, lá está, “Epitome XV”. A referência a Emperor não é descabida de sentido, porque para além de poderem ouvir as já referidas passagens épicas, poderão ouvir uma voz igualmente épica, que nos remete, logo, para a voz do Ihsahn. Talvez por estar intimamente ligado ao conceito desta terceira parte, ouvimos, por isso, uma sonoridade bastante calma, até; com

momentos verdadeiramente contemplativos, como na “Epitome XVI”; e momentos verdadeiramente belos, como na “Epitome XVII”. Nesta contemplativa terceira parte encontramos o “movimento” do Nada para a plenitude, para além da compreensão do significado do Tempo e do significado Humano. O plano existencial é o mundo das ideias, ou a mente, em comunhão e expansão com o Cosmos. Aqui tudo está cheio. Aqui reside um sentido outro que não o da Lógica Racional ou o mundano. Aqui encontra-se, mesmo à frente da compreensão, a fragilidade do Inicio e do Fim. É esta comunhão da música com o conteúdo concetual a cereja no topo do bolo, a barra mestra de todo este trabalho inteiramente concebido por Vindsval, a causa de todo o brilhantismo desta trilogia. E é por essa totalidade artística que «777 – Cosmosophy» está nesta secção privilegiada da VERSUS Magazine, não por si mesmo, mas pela já referida totalidade. [10/10] Victor Hugo


BEARDFISH «The Void» (InsideOut) Os Beardfish são um coletivo oriundo da Suécia e desde 2001 que vêm construindo uma carreira muito sólida. Com influências nítidas de Frank Zappa, Yes, Genesis e, sobretudo, King Crimson. Este facto não é de todo negado pelo mentor da banda vocalista/teclista Rikard Sjöblom, tendo afirmado que os King Crimson foram um dos fatores que levaram à sua criação. Outro fator inegável é que os Beardfish não conseguem, simplesmente, fazer um álbum menos bom. «The Void» é (mais um) álbum excelente, talvez o mais pesado da discografia. Quando a maior parte das bandas procura uma sonoridade o mais moderna possível, caindo muitas vezes na tendência de sobre produzir os álbuns, os Beardfish preferem manter uma sonoridade retro ou se quiserem, rock progressivo dos anos 70. No meio de todas estas influências os Beardfish não deixam de ter um estilo muito próprio. Ouça-se, por exemplo, “Voluntary Slavery”. Dei por mim a confirmar várias vezes se realmente estaria a ouvir os Beardfish. Quase que podíamos dividir este álbum em duas partes: Os 4 primeiros temas revelam uma faceta mais pesada, rock/heavy duro e os restantes temas são um pouco mais característicos e já deixam transparecer as influências progressivas tão típicas dos 70. Se já tinha gostado dos Beardfish (Review na edição #19) «The Void» surpreendeu-me. Destaque para os temas “Seventeen Again”, ambiente jazz com o tema a ser “levado” pelo piano e um magnifico solo de guitarra, o épico de quase 16 minutos, “Note”, dividido em 4 partes e por fim, “Where The Lights Are Low” um tema que “respira” Blues por todos os poros. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro BEHEXEN «Nightside Emanations» (Debemur Morti Productions) Quando se fala em black metal cru e primitivo, daquele explicitamente malévolo que teima em manter-se fielmente ancorado na escola mais ortodoxa do género, um dos nomes mais relevantes que vem à baila é exactamente o desta corja de adoradores do Diabo do norte da Europa. Depois de «My Soul for his Glory», o álbum de 2008 que viu a infame formação liderada por Horns e Hoath Torog a afastar-se um pouco da estridência dilacerante dos dois discos anteriores (mas que foi, pelo menos para este servil escriba, o melhor de sempre do grupo), «Nightside Emanations», que surge após o abandono dos guitarristas Gargantum e Reaper – este último um dos membros fundadores –, assume-se como um retorno a uma abordagem mais thrashy, que irá com certeza reacender o interesse dos fãs mais antigos. E, já agora, não só os fãs de Behexen como também os apreciadores de Watain e Marduk, visto que a sonoridade e o estilo furioso de black metal dos primeiros não está nada longe do que conhecemos dos suecos. Para constatar essas semelhanças basta ouvir, logo no início do disco, “Wrathful Dragon-Haura” (onde até o registo áspero de Torog faz lembrar Mortuus) e depois a irresistível “Death’s black light” que tem tudo para se tornar um clássico da banda. Elementos mais característicos do colectivo finlandês, como efeitos vocais (cruciais no resultado de “Circle me”), cantos litúrgicos e deprecações diabólicas dirigidas com reverência a Belzebu, Satanás, Tiamat e a outras divindades menores (com grande efeito em “Kiss of the dark mother”), e alguns magníficos solos de guitarra (“We burn with serpent fire”) surgem pelo meio da sempre assombrosa torrente de riffs que nos fustiga sem misericórdia durante perto de 50 minutos. A compassada “Shining death” fica na memória com um dos momentos mais profanamente galvanizantes deste quarto registo de originais. Como já devem ter percebido, não há aqui nada de revolucionário mas também não era de esperar que houvesse. É apenas black metal (do bom) para quem nunca está satisfeito com o que já tem. [8/10] Ernesto Martins CANDLEMASS «Psalms For The Dead» (Napalm Records) Com uma longevidade impressionante, os suecos magos do Doom estão de volta em 2012,com uma proposta que reúne tudo aquilo que fez dos Candlemass aquilo que são hoje. Como grande apanágio das bandas que sobreviveram aos últimos 30 anos, não podemos esperar que venham hoje presentear-nos com algo de novo e diferente, mas sim um caminhar na segurança musical. Infelizmente, o caminho dos Candlemass parece ter chegado ao fim porque os membros da banda anunciaram que este é o último álbum da banda – claro, até ao próximo… – e igualmente dado


como certo o último com o excelente Robert Lowe na voz. «Psalms For The Dead» não foge à regra daquilo que os Candlemass fizeram nestes últimos anos, limitando-se – e bem! - simplesmente marcar para sempre o legado Candlemass nesta nova década. Quanto à música, a entrada “Prophet” dá o mote para o que vem a seguir, concluindo com uma música revivalista do Doom dos setenta, “Black as time”. Ouvindo «Psalms For The Dead» com alguma regularidade, sobressai de imediato a sensação destas músicas serem talhadas para os espectáculos ao vivo, mais do que ouvi-las em casa, tornandose o álbum aborrecido de ouvir logo à 3ª e mais audições. As repetições da sonoridade Candlemass aliada ao seu doom catatónico levam-nos ao limite da nossa paciência musical passada a fase inicial. Valha-nos o feeling e sabedoria musical dos Candlemass. [7.5/10] Carlos Filipe CAULDRON «Tomorrow’s Lost» (Earache Records) Já aqui escrevi sobre algumas bandas cuja sonoridade (ou produção) é crua e nada moderna. Sonoridade essa que era típica dos anos 80, sem a tecnologia que está hoje à disposição e muito provavelmente, gravações analógicas. Não quero com isto dizer que este tipo de som não me agrada, antes pelo contrário. Com exceção de um caso, sempre me pareceram bandas cuja produção era pobre e nada coerente. No que diz respeito aos Cauldron, a sonoridade retro e a produção crua parecem-me bastante coerentes. Melodia, técnica e voz muito competente fazem-nos transportar para os anos 80, muito ao estilo da NWOBHM. Os Cauldron mantêm-se fieis às suas raízes, tanto a nível musical como do próprio visual. Quando ouvi o tema de abertura “End of Time” a primeira banda que me lembrei foram os Metallica dos tempos do “Kill em All”. No entanto, o estilo não é puro Thrash mas mais Heavy Metal clássico – “Burning Fortune” é o melhor exemplo disso. Talvez a melhor definição será uma mescla de Metallica com Motorhead. Coros vocais bem produzidos, excelentes solos de guitarra em conjugação com um grande som de baixo e uma bateria retro muito competente. Com «Tomorrow’s Lost» os Cauldron provam que o Heavy Metal clássico, tal como aqui o apresentam, não é um movimento musical que tende a desaparecer mas sim, um modo de vida. Se com os outros álbuns deste género rapidamente caíram no esquecimento, este vai estar certamente, muito tempo na minha playlist. [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro DESTINITY «Resolve in Crimson» (Lifeforce) Os Destinity eram até esta altura uma banda desconhecida. Apesar de não serem 100% originais são bons naquilo que fazem. Nem só da região da Escandinávia se faz bom Death/Thrash Metal melódico. Estes Franceses conseguiram chamar-me a atenção com «Resolve in Crimson», um álbum bem melódico, duro e muito agressivo. Quem decidir dar uma oportunidade, o que desde já aconselho vivamente, irá encontrar uma mescla de In Flames (ou Dark Traquility) com Amon Amarth. A voz de Mick é a parte que se aproxima mais do Death Metal muito parecida com a de Johan Hegg. A parte instrumental, a mais melódica, aproxima-se mais dos In Flames/Dark Traquility. Tecnicamente são excelentes e contam com um dos produtores mais conceituados neste meio: Jacob Hansen. Baterista muito rápido e vocais muito bem produzidos. De facto, «Resolve in Crimson» conta com a participação de Stephane Buriez, dos também Franceses Loudblast e os coros são excelentes, com a conjugação entre a voz “limpa” e agressiva de Mick, adornada com a de Stephane Buriez. (De realçar o sotaque francês de Mick, principalmente nas partes “limpas”...). Solos de guitarra bem “sacados” e secção rítmica competente completam a caracterização dos Destinity. «Resolve in Crimson» tem passado bastante tempo na playlist e de tudo o que referi atrás, “Black Sun Rising” (O melhor tema do álbum, sem dúvida), “Aiming a Fist in Emnity” (Bom solo de guitarra – “curto e grosso”) e “The Hatred” (O tema mais Death Metal) são os que mais se destacam no álbum. Para quem gostar de Death/Thrash Metal melódico tem aqui uma boa escolha. [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro


DEVIN TOWNSEND PROJECT «Epicloud» (InsideOut) Eu devo dizer que tenho uma ideia pré-concebida no que concerne ao Devin Townsend. Já o afirmei que o considero um génio musical, um mestre eclético e um exímio guitarrista. Tudo o que faz é genial e bem feito. Portanto, muitas vezes surpreendem-me as críticas. A maior parte das pessoas têm a ideia (deles) pré-concebida que Devin Townsend só é bom quando faz álbuns como «Deconstruction» ou do género de Strapping Young Lad. E é por isso que álbuns como «Ghost» ou «Epicloud» são, por muitos, postos de parte como algo que não deveria pertencer à discografia de Heavy Devy. Pois, considero precisamente o contrário. «Epicloud» é diferente, da mesma maneira que «Ghost» também o é. Devin consegue ir do extremo mais pesado ao extremo mais melodioso e belo num abrir e fechar de olhos e é isto que me faz admirá-lo. Este álbum é ainda mais enriquecido com a voz feminina de Anneke Van Giersbergen e esses extremos estão presentes (embora não tão pronunciados) em temas mais pesados como: “More!” ou “Kingdom” e os mais celestiais, introspectivos e calmos como: “Where We Belong”, “Divine” ou “Lessons”. Poderemos considerar uma continuação do já referido «Ghost»... Qualquer que seja o projeto ou género em que Heavy Devy esteja envolvido é já um pronuncio de excelente qualidade. Eu não consigo não gostar da música feita por ele mas aí está, poderá ser a minha ideia pré-concebida. Qualquer coisa que este Sr. faça... eu gosto. Dia 18 e 19 de Novembro Devin Townsend visitará Porto e Lisboa incluído na EPIC INDUSTRIALIST TOUR. A VERSUS lá estará, como sempre, no Hard Club. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro DOKKEN «Broken Bones» (Frontiers Records) «Broken Bones» é o 11ª álbum de originais da banda e o 7º desde o regresso em «Dysfunctional» de 1995. É um disco que não renega a herança que tornou os Dokken numa das maiores fortalezas do Hard Rock americano, resvalando amiúde para o Hard’n’Heavy, a saber: melodia sempre omnipresente, mas bem temperada com um bom peso na guitarra, a voz suave de Don Dokken, ocasionalmente com um ou outro apontamento mais “rude”, solos de guitarra viscerais bem timbrados, bom balanço rítmico e baladas bem apelativas aos corações femininos (e masculinos). Bem, tudo isso está presente em «Broken Bones». O início é bem dinâmico e pesado com “Tonight” e “Empire”. “Broken Bones” é mais mid-tempo, mas bastante apelativa, sem ser balada, assim como “Best Of Me”. As inevitáveis baladas marcam naturalmente presença em “Today”, “Fade away” e, em parte em “Victim Of The Crime”, esta última, adornada com ritmos orientais e com um ambiente mais “pesado”. Jon Levin é um digno sucessor do grande George Lynch e confere as doses certas de peso e melodia a estes Dokken mais velhos, mais maduros, mas bem seguros de si. Os membros de sempre da banda, Don Dokken e Mick Brown seguram bem o legado da banda, mas estão bem complementados pelos “novos” Jon Levin e Sean Mcnabb numa formação sólida. Um bom disco, a conhecer. [7.5/10] Joey DORO «Raise Your Fist» (Nuclear Blast) Bem, o que dizer? A minha diva Heavy Metal favorita está de volta. Doro Pesch, após uma carreira intensa e bem sucedida com mais de 30 anos de Hard Rock e Heavy Metal em cima dos ombros, tem em “Raise Your Fist” mais um opus de 13 temas que variam entre o Heavy tradicional, como o tema-título, “Coldhearted lover”, “Rock till death”, “Victory” ou “Grab the bull by the horns” com a participação de Gus G sob a forma de um fantástico solo; as baladas, “Free my heart”, “It still hurts”, (com o inevitável Lemmy) ou “Engel”; os temas em alemão, “Freiheit” (e de novo, “Engel”); O Heavy mais musculado e com Speed, como “Little headbanger” e, principalmente “Revenge”. Vocalmente falando, a mistura de doçura e rispidez mantém-se, assim como a profusão de solos de guitarra bem lançados. A banda que a acompanha é competente e sólida, sendo a produção igualmente sóbria e clara. Ouvir um disco da Doro deve ser um prazer para quem gosta das características próprias deste Heavy Metal teutónico no feminino, temperado com algum Hard Rock. Não se espere daqui muitas novidades ou inovações: a fórmula foi encontrada à muito e possui os seus adeptos (entre os quais este vosso humilde escriba). O que todos desejamos é que


assim continue com saúde e vigor para continuar a levantar bem alto a bandeira do Som Eterno e a inspirar mais mulheres e homens nesta causa comum. [7.5/10] Joey ENSLAVED «RIITIIR» (Nuclear Blast) Chegar ao álbum número doze com a criatividade e a frescura manifesta em «Riitiir», sem renegar neste longo processo evolutivo a sua origem como percursores da segunda vaga de black metal escandinavo, é algo que diz muito sobre o carácter e o talento dos Enslaved. Neste novo trabalho a banda abre dramaticamente o leque de influências já patente nos últimos discos, e eleva a sua música a um patamar de sofisticação sem precedentes na sua carreira de vinte anos. Os temas são, desta vez, em média, ainda mais longos de forma a acomodar uma composição rica, expansiva, e mais progressiva no sentido tradicional do termo. As composições são mais variadas em dinâmica, textura e sonoridades, sem que com isso o cunho distintivo da dupla Bjornson/Kjellson saia ferido. Fiquem desde já avisados que a estranha abertura intitulada “Thoughts like hammers” não reflecte com fidelidade a qualidade do material muito melhor que se segue. O tema seguinte, “Death in the eyes of dawn”, destaca-se logo pelo refrão memorável e pelo equilibrado jogo de vozes limpa/áspera (recorrente, aliás, em todo o disco) de Larsen/Kjellson. Mas o primeiro momento verdadeiramente alto do álbum surge em “Roots of the mountain”. Depois da batida demolidora dos primeiros segundos, a canção alterna entre toadas melódicas e linhas vocais lindíssimas, acabando em apoteose numa melodia fantástica com o refrão cantado a duas vozes. Só mesmo ouvindo. As três últimas faixas são – arrisco-me a dizê-lo – nada menos que as melhores peças de sempre do colectivo. “Materal”, apesar de conduzida a um ritmo invulgarmente compassado, inclui algum do riffing mais típico do black metal. O baixo é mais saliente e aqui a prestação vocal de Larsen é de cortar a respiração. “Storm of memories” inclui os três minutos iniciais mais inusitados de sempre dos noruegueses e é prog extremo de primeira categoria. Finalmente, “Forsaken” tem todos os condimentos dum épico progressivo. Sem complexos de cruzar fronteiras estéticas, «Riitiir» é um álbum onde cada tema quase que encerra um universo em si próprio. Será recordado como um marco na carreira dos Enslaved. [9.5/10] Ernesto Martins FOCUS «X» (Eastworld) Às vezes, por razões que só a própria razão desconhece, deixamos escapar bandas que deveriam fazer parte da nossa cultura musical. Tendo eu os Led Zeppelin como minha banda favorita, dou sempre especial atenção a outras bandas do mesmo espaço temporal – Fins dos anos 60, 70 e primeira metade de 80 - principalmente, as que cultivam o rock progressivo. Pink Floyd, Jethro Tull, King Crimson ou Frank Zappa, só para citar alguns exemplos. E é com manifesto pesar e vontade de chicotear-me que só recentemente descobri os Focus. O primeiro contacto foi com o tema “Hocus Pocus” por intermédio dos Helloween. No entanto, quando os temas captam a minha atenção, costumo procurar sempre os originais, de modo a fazer as minha comparações... não foi o caso. Os Focus tiveram uma hiato temporal entre 1978 e 2002, tendo reaparecido com os álbuns «Focus 8» e «Focus 9» mas com algumas edições ao vivo pelo meio. Thijs van Leer é o membro fundador e o génio por trás dos Focus. «X» soa... intemporal e pouco moderno! Faz-nos regressar aos anos 70. Começa com “Father Bachus” é o tema que apresenta os elementos da banda... literalmente. Pierre van der Linden é um monstro da bateria. 4 minutos de solos! “Focus 10” revela a veia mais jazz dos Focus. “Victoria” é melódica, mudanças de ritmos e interlúdios perfeitamente encadeados. “Amok in Kindergarten” é uma perfeita simbiose entre os Jazz e o Blues. “Hall Hens On Deck” tem um ritmo empolgante, sempre marcado pelo baixo e uma imagem de marca dos Focus ou de Pierre van der Linden, que é a habilidade para cantar/falar por cima das notas do Orgão Hammond (Outro exímio executante a par de Jon Lord). “Le Tango” é isso mesmo, o nome diz tudo – toca a dançar. “Hoeratio” é um tema algo esquizofrénico que nos faz sentir perdidos no “meio do nada”- “Talk Of The Clown” é alegre, muito alegre. Magnífico dialogo músical entre flauta, baixo e guitarra acústica. “Message Magic” é o tema mais simples do álbum, digamos que uma balada celestial. Por fim, “X Roads”... Temos samba! Base rítmica com os ritmos brasileiros e depois o habitual... genialidade! Está feita a introdução a «X» e aos Focus. IMPRESCENDÍVEL! Nota máxima pelo tempo perdido! [10/10] Eduardo Ramalhadeiro


FREEDOM CALL «Land of the Crimson Dawn» (SPV Steamhammer) No início dos anos 2000, o Power Melódico estava em alta e surgiram dezenas de bandas do género por toda a Europa. Especialmente em Itália, o fenómeno revestiu-se de contornos particularmente enjoativos. Como é natural, o tempo encarregou-se de reduzir tanto o interesse pelo género, quanto o número de bandas, tal a saturação. Os Freedom Call tiveram o seu momento de maior exposição nesta altura, através dos ábuns «Crystal Empire» e «Eternity» e do EP «Taragon». O tempo passou, assim como a agitação à volta da banda. Depois de alguns discos menos bem conseguidos, surge agora «Land of the Crimson Dawn», que reúne muitos dos ingredientes que fizeram a delícia dos fãs: Heavy Metal “boa onda” com aceleração melódica, a voz bem destacada de Chris Bay e bons solos. De destacar a menor preominância dos teclados em detrimento das guitarras. Começa com “Age of the Phoenix”, bem acelerado e que será certamente um favorito ao vivo. “Rock stars”, um tema com muito humor e ironia, que inclui um riff mais “negro”. “Crimson dawn”, mid-tempo, coros com teclado no meio do tema e voz com distorção. Um tema um pouco diferente. Em “66 warriors”, a batida étnica com um cantar indígena dá um travo diferente, sendo uma pena que o tema se torne repetitivo até ao fim. “Sun in the dark” faz lembrar um pouco os Helloween da fase “The dark ride”, com a afinação das guitarras mais grave, sendo as vocalizações um pouco “spoken word”. Da mesma forma, “Hero on video” faz lembrar o “Hello America” dos Def Leppard. Um tema bem comercial e para o qual se fez um clip promocional. Mantendo o registo mais comercial, temos “Rockin’ radio” a evocar as bandas americanas mais Hard. Voltando à tradição mais Freedom Call, “Terra liberty” e “Space legends”, voltam a colocar o comboio F.C. Nos eixos da melodia “speedada”. Se procurarmos um pouco de Heavy Metal mais tradicional, encontramos em “Killer gear” e “Power+glory” uma outra dimensão da banda. Um álbum com todas as características que fizeram a fama dos Freedom Call à uma década, mas com toques de diversidade que permitem manter o interesse sobre a banda e sobre as suas próximas iniciativas. [8.5/10] Joey GLOWSUN «Eternal Season» (Napalm Records) Do norte de França, mais concretamente de Lille, chega-nos uma proposta de Stoner Metal personificada pelos Glowsun. Diria que nada melhor do que uma boa dose de Metal quente e analógico com um q,b. de psicadélico para nos compensarmos mentalmente do frio Outonal que em teoria se deverá fazer sentir aquando da publicação desta review. Não sendo este género particularmente dotado de frequentes edições por comparação com outros mais populares, não deixou de ser interessante escutar estes 8 temas e aqui assinalar esta edição. As guitarras distorcidas à la Stoner / Sludge Meal dão logo de início a pedra de toque e a identidade do que ouvimos. Obviamente que neste género musical conta menos a capacidade de execução milimétrica ou grandes malabarismos rítmicos do que a criação de paisagens sonoras hipnótico-eletrizantes. Portanto este «Eternal Season» cumpre na perfeição este requisito. As melodias seguras e fluidas vão surgindo apoiadas tanto em doses de sons de guitarra simplesmente dopados de algum delay e reverberação como em consideráveis descargas de sons distorcidos quase a rasgar o cone dos altifalantes. A voz de Johan Jaccob surge esporadicamente a dar o toque de sal e pimenta apenas para que a mistura final não pareça insossa. Assim este álbum não traz muito de novo mas consegue os mínimos para se colocar a tocar e repetir a dose. Quantas vezes pode ser repetida dependerá de quem vai escutar este disco mas estou certo de que os apreciadores de Stoner Metal, e não só, poderão encontrar aqui momentos de arte auditiva bastante interessantes. [8/10] Sérgio Teixeira


GRAVE DIGGER «Clash of the Gods» (Napalm Records) Os Grave Digger, como é sabido têm apostado desde à 16 anos em álbuns conceptuais ou maioritáriamente subordinados a um tema. História da Escócia, queda dos Templários, contos de Edgar Allan Poe, Lenda Arturiana, rebelião e escravidão judaica de 66-70 D.C., vida de Jesus, etc. Este «Clash of the Gods» não é excepção e versa sobre a mitologia grega, nomeadamente sobre as mais negras personagens como Hades, Cérbero, Medusa e sobre a Odisseia de Ulisses. Aliás, esta forma de fazer discos continua a ser um dos grandes pontos de interesse sobre cada novo trabalho da banda. Em termos musicais, continua o Heavy-Power com a voz quasi-Death Metal do carismático Chris Boltendhal, assim como o peso da guitarra com distorção ligeiramente “suja” (neste disco, um pouco “suja” demais), os coros bem Heavy Metal, próprios para cantar em uníssono nos concertos, assim como a secção rítmica maquinal, mas bem orgânica. A intro “Charon” é cantada em alemão e cria um ambiente bem Rammstein, o que é curioso. Em “Helldog”, “God of terror” e “Medusa”, os ritmos e solos de guitarra fazem lembrar os do anterior guitarrista Manni Schmidt quando estava nos Rage. “Death angel and the grave digger” e “Walls of sorrow” são outros bons temas. A identidade dos Grave Digger continua vincada neste disco, alternando entre os temas mais acelerados e outros mais mid-tempo ou a roçar o Doom, como “Clash of the gods”. Não sendo uma obra de referência como «The Reaper» ou marcante como foram «Heart of Darkness» ou «Tunes of War», «Clash of the gods» é um álbum com vida própria que nos grita alto e bom som com a sua sinistra voz rouca, que o cavador de sepulturas nos vai continuar a assombrar. Heavy Metal Breakdown, pessoal! [8/10] Joey GRAVE «Endless Procession of Souls» (Century Media) Com o sétimo álbum de originais chegam os Grave ao ano de 2012. Já com uma considerável história dentro do Death-Metal «old school» os Grave são um dos dinossauros vivos dentro deste género musical e transportam tudo aquilo que é genuíno em termos de sonoridades. Assim o que era expectável deste «Endless Processions of Souls» é o que sai precisamente do CD. Death-Metal “old school” sem dó nem piedade. Os temas que mais me chamaram à atenção foram “Disembodied steps”, “Encountering the divine” e “Epos” com riffs completamente encaixados dentro do Death-Metal mas com um misterioso toque de originalidade. Eu julgava que todos os riffs dentro deste género musical tinham já sido inventados e reinventados mas estes Grave continuam a desencantar maneiras de fazer renascer o Death-Metal. Talvez o facto de Ola Lindgren ter de certo modo delegado uma parte do trabalho de composição no baterista Ronnie e no baixista Tobias tenha contribuído para algum sangue fresco vir ao de cima nas dinâmicas melódicas deste álbum. A coerência da execução instrumental e das sonoridades pesadas apesar do line-up relativamente rejuvenescido está bem patente. No entanto não deixamos de estar perante um género musical já com bastante história pelo meio e portanto o que de novo surge não deixa de estar enquadrado na previsibilidade dos que acompanham esta vertente do metal. Resumidamente os que sabem o que são os Grave e o que representam dentro da cena metaleira não podem deixar passar ao lado este «Endless Procession of Souls». [8.5/10] Sérgio Teixeira GROAN «The Divine Right of Kings» (Soulseller Records) E eis que, de vez em quando, surgem autênticas pérolas que ressuscitam o todo-poderoso género musical, pai de todas as influências (ok… aqui posso estar a exagerar) e normalmente bem acolhido por todos os adeptos das guitarras chamado Rock-and-Roll. E os Groan não deixaram por mãos alheias esta tarefa nobre de tratar o Rock muito bem, vestindo-o de umas roupagens bem interessantes. Antes de mais para quem não conhece, o estilo da banda assenta em Stoner Hard-Rock. Ora sendo o estilo Stoner já bem delimitado e bem caracterizado, onde está a chave mágica é na capacidade de fazer composições que respiram métricas, ritmos, melodias bem integradas e que sobretudo renovam o espírito Rock de um modo claro e inequívoco. Bom, parte dessa renovação é devido a energéticas e abertas tonalidades nas vocalizações


de Mazzereth que fazem de cada tema um festival de vitalidade e presença. As guitarras bem presentes são responsáveis pelo resto da eletrização impiedosa à qual é difícil ficar indiferente. Por vezes dei por mim transportado para o ambiente de “Live like suicide” dos Guns’n’Roses. Embora o campeonato seja diferente o mesmo espírito está bem presente em «The Divine Right of Kings». Deduzo que será por esta filosofia puramente Rock-and-Roll que o 2º álbum da banda tenha sido precisamente uma gravação ao vivo: «Live in London». Para quem quer começar por provar um cheirinho desta obra e claro ficar colado é ouvir o tema “Magic man” e depois desesperar pelo facto de a canção acabar aos 4:15. É que vai ser necessário carregar no botão de rewind e play muitas vezes. Louvado seja o Rock-and-Roll! [8.5/10] Sérgio Teixeira HELL MILITIA «Jacob’s Ladder» (Underground Activists/Season of Mist) Este chega-nos da proverbial cidade do amor mas é, como não poderia deixar de ser, mais um cruel flagelo sónico envolto na habitual aura de extrema depravação já característica da banda gaulesa em questão. Com um título subordinado ao célebre episódio bíblico protagonizado pelo neto de Abraão - essa semente pestilenta de todas as epidemias monoteístas! - «Jacob’s Ladder» agrega em partes iguais a crueza seminal e a agressão imediata do black metal, com elementos atmosféricos e sinistros – os quais surgem agora mais enfatizados do que foi possível ouvir no álbum anterior, «Last Station on the Road to Death» –, e até alguma da dissonância característica das interpretações mais modernas do género. A composição está agora bem mais aperfeiçoada e interessante, e os arranjos finais foram aditados com samples – excertos de declarações ou diálogos, talvez retirados de filmes – que enriquecem em muito a dinâmica e a carga dramática dos temas. “Sternenfall” e “The black projector” – em particular o segmento depressivo que surge a meio, com um sample excelente e uma guitarra a desfiar uma melodia desolada a lembrar os Shining – são os exemplos onde estes arranjos surtem o melhor dos efeitos. Mas há também temas mais directos, como é o caso do bombástico “Deus irae”, com os seus riffs eficazes e infecciosos à lá Immortal, ou o lento e pontuado “Death worship” que tem tudo a ver com Morbid Angel. “Jericho” é demasiado longo para tanta repetição, fechando o álbum num tom algo entediante. Não sendo propriamente um trabalho deslumbrante nem muito menos um disco imprescindível, esta terceira missa dos Hell Militia contém os seus momentos redentores e por isso vale a pena a incursão. [7.5/10] Ernesto Martins INKILINA SAZABRA «Almas Envenenadas» (Infektion Records) “A viagem vai começar”, são os primeiros versos que dão o mote para o novo álbum dos Inkilina Sazabra intitulado «Almas Envenenadas» que tem pela primeira vez o selo da Infektion Records. Com um rock Industrial literário que é vocalizado e poetizado pelo Pedro Sazabra e preenchido instrumentalmente pelo multifacetado Carlos Sobral (bateria, voz secundária e programações), César Palma na guitarra e pelo Paulo Dimal nos teclados, o novo trabalho continua o trilho começado pelo registo do álbum anterior («A Divina Maldade») . Este álbum conta com a participação do Rui Sidónio (Bizarra Locomotiva), Nuno Flores (The Crow) e Irina Miller (SMOFOG) e tem uma tracklist de 13 músicas que deambulam entre músicas mais rápidas e mais pesadas como a “Sangue ferve” e “Caverna dos malditos” e músicas mais calmas e introspectivas como “Depressivo - Ódio” e “Predador mental” a segunda música “Abismo” é a junção perfeita destas duas antíteses. Conforme se vai avançando na audição / leitura do álbum os Inkilina Sazabra mostram-nos quão malditas podem ser as nossas almas quando estão envenenadas, para dar uma ideia, frases como “Pobre do homem em que o abismo olha desconfiado”, “Corpos embelezados / o públicos manietado / a alma envenenada / pela lágrima da fama”. Tal como disse na review ao primeiro álbum a ideia que advém das audições são as semelhanças com o álbum «Maldoror» dos Mão Morta, mas não retira nenhum mérito a este excelente projecto que espero ver ao vivo brevemente. Finalizando e parafraseando as últimas palavras ditas: “cabe-te a ti decidir se entras ou não, mas se entrares os Inkilina Sazabra saúdam-te” [8.5/10] Sérgio Pires


KHONSU «Anomalia» (Season of Mist) Nascidos nas terras frias de Trondhein (Noruega) com ascendente no antigo Egipto, na reencarnação do antigo Deus da lua egípcio com cabeça de falcão, Khonsu; S. Gronbech conseguiu proporcionar-nos uma agradável e fresca abordagem do tão afamado Black Metal Norueguês, numa vertente muito moderna e revigorante. Com a ajuda de Thebon na voz, S. Gronbech assina tudo o resto na banda, posicionando-se assim preliminarmente no mesmo patamar de um Quarthon, Dan Swano ou Blackheim. O resultado da nova abordagem black-metaliana de Khonsu é: «Anomalia»; um primeiro trabalho que funciona como um todo, com cada música a protagonizar a sua própria textura musical, ritmo e tom. A riqueza musical é grande e transversal a todo o álbum, balanceada por grandes momentos melódicos que contrastam com partes mais obscuras e de puro Black Metal, onde a voz gritante de Thebon se faz marcar. S. Gronbech revela com «Anomalia» a sua grande riqueza musical, quer na composição, quer na execução de todos os instrumentos, desde os teclados à bateria, conseguindo de forma brilhante entrelaçar os diferentes instrumentos nos pontos certos. Não há uma música que se possa destacar, já que todas estão no mesmo nível, todas apresentam vários pontos de interesse e tonalidades inerentes. Não quero com isto dizer que as músicas se destoam entre si; não, pelo contrário, a magnitude de «Anomalia» é conseguir ser diferente nas sete músicas que o compõem ao mesmo tempo providenciando uma característica e identidade musical comum. Para aqueles que julgam que isto é mais uma banda a invocar os sons do antigo Egipto, estão redondamente enganados, o tom aqui é mesmo puro moderno Black Metal. [9.5/10] Carlos Filipe KING OF ASGARD «...to North» (Metal Blade Records) A mais recente aquisição no mundo do Viking Metal foram os suecos King of Asgard que, em 2010, deram seguimento à demo de estreia «Prince of Marings». Agora em 2012, chegou a hora de dar corpo ao projecto, tendo lançando «… to North» na fé pagã de alcançar bom porto viking e, assim se estabelecerem como uma mais-valia da cena Viking Metal. Depois de descoberto o álbum com uma mão cheia de audições, posso dizer que os King of Asgard ficaram a meio caminho do objectivo inicial, permanecendo o sentimento que podiam ter feito melhor em termos do género, e nem o facto de ter Andy LaRoque como engenheiro de som ajudou à solidificação dos King of Asgard. O grande problema de «…To North» é a falta de consistência na sonoridade Viking, fazendo-se este género bem presente e plenamente audível numa música completa somente em “Up on the mountain”, a faixa nº 7! Até aqui temos uns “cheirinhos” de Viking Metal amainados com uma espécie black/death metal – típico das bandas da Metal Blade – relegando o que pode ser a mais-valia desta banda para segundo plano, som este sempre bem agarrado pelo vocalista mentor da banda Karl Beckman. Se analisarmos musicalmente «… To North» colocando de lado o Viking Metal, cada música tem algo de interessante e de bem conseguido, cheio de força e solos acutilantes, a fazer lembrar aqui e ali a mão do mestre Andy. É pena chegarmos à conclusão que os King of Asgard falharam completamente o alvo com «… To North». Está lá a verdadeira essência e característica musical: Viking Metal. Agora só falta mesmo trazer isso para a frente como na música referida e não deixá-lo para segundo plano como no resto do álbum. [7/10] Carlos Filipe KROH «Kroh» (Devizes Records) Talvez não sejam raras as vezes em que a noite, a solidão, o álcool e a droga provocam num artista as mais inspiradas loucuras, aquela vontade de desbravar fronteiras ainda mais alucinadas do que o dia poderá dar a conhecer. Talvez não sejam raras as músicas que encantam tudo o que somos, ao menos aquelas que esta banda possa criar. Formada na Grã-Bretanha em Abril de 2011 por Paul Keeney (ex-Mistress e membro actual dos Fukpig) e pelo excelente vocalista Francis Anthony (Shebrew, Tumor e The Sickneing), Kroh vagueia alucinadamente pelo Doom-Metal, Hard-Rock e Experimentalismo. Conjugando melodia, ritmos e vocais que fazem o corpo tremer, tem-se a oportunidade de deixarmo-nos levar sem querer alguma vez voltar ao ponto de partida tal é a ebriedade que nos ilumina e nos confunde. Para os entusiastas, Kroh editou


este mesmo álbum em vynil o ano passado através da Devizes Records, seguindo-se Maio deste ano um split também em vynil com os grindster Fukpig e posteriormente, em Julho, um 7” com os psychdoomsters Ice Dragon. Este ano, reeditarão «Kroh» no dia 31 de Outubro, através da InfektionPR, com mais duas faixas em vynil púrpura. Para quem procura algo mais do que trejeitos pálidos que muita da música feita actualmente contém, nada melhor do que ouvir este álbum. Se não o puder comprar, então que vá ao You Tube ou ao bandcamp de modo a conhecer pois de certeza que Kroh não perdurará de modo efémero na sua vida. [9/10] Jorge Ribeiro de Castro KYLESA «From The Vaults Vol. I» (Season of Mist) Os Kylesa estiveram este ano no Porto, mais precisamente em Janeiro para presentear os fãs de Stoner Rock/Sludge Metal Portugueses com um espetáculo de grande nível e em que percorreram vários temas do seu reportório. Mas tinha sido já em 2010 que lançaram o último de originais «Spiral Shadows». E desde essa altura conciliaram uma longa digressão com a produção de mais um trabalho. Neste caso não se trata de material 100% original, sendo então uma compilação em que a maior parte das canções foram recuperadas de sessões de gravações não editadas, versões raras, demos, ou mesmo versões alteradas de alguns temas já mais consagrados. Houve espaço no entanto para um tema de originais intitulado “End truth” que acaba por dar mais uns pontos ao todo deste disco. Sons atmosféricos, distorções por todo o lado, dois percussionistas, as vocalizações inconfundíveis de Phillip Cope e Laura Pleasants, enfim tudo aquilo que os Kylesa representam está bem vincado. O tema mais apelativo é na minha opinião precisamente o original “End truth” numa toada atmosférica e pausada mas que capta durante os quase 5 minutos a atenção de quem o escuta; houve também um maior cuidado no único original desta compilação ao nível da sonoridade destacando-se também nesta vertente. Tendo em conta que há alguma dose de sons e paisagens que vêm do baú da banda, e o facto de não ter composições todas originais julgo que se poderá dizer que este é um álbum talhado quase exclusivamente para os fãs em que poderão encontrar aqui um suplemento enquanto não chega o próximo de originais dos Kylesa. [7.5/10] Sérgio Teixeira MALIGNANCY «Eugenics» (Willowtip Records) Cinco anos depois do álbum «Inhuman Grotesqueries» aí estão novamente os norte-americanos Malignancy com uma nova descarga de brutalidade vertiginosa capaz de deixar abananados os mais incautos. Salvo algum polimento aqui e acolá e de uma produção melhorada que muito faz pela clareza dos instrumentos, «Eugenics» traz-nos basicamente a mesma fórmula de death metal ultra-técnico e impenetrável que já conhecíamos do citado segundo registo da formação de Nova York, e a experiência proporcionada tem tanto de fascinante como de frustrante. A enorme complexidade da música e o contorcionismo quase circence que Mike Heller (bateria, Fear Factory), Roger Beaujard (baixo, Mortician) e Ron Kachnic (guitarra, ex-Mortician) exibem nestes pouco mais de 30 minutos de insanidade, enquanto desfiam, em perfeita sincronia, um complexo emaranhado de riffs e de espasmos rítmicos bizarros, são, em resumo, os aspectos que cativam. Mas não por muito tempo. Ao fim de duas ou três audições torna-se claro que tudo é demasiado caótico e difícil de acompanhar mentalmente. Sequências sofisticadas mas inteligíveis dão rapidamente lugar a bestas de complexidade inexpugnável. Com excepção de faixas como“Global systemic collapse” e muito em particular “Cataclysmic euphoria”, que sobressai como a melhor do álbum, a composição parece evitar a todo o custo a repetição de segmentos. Ora, sem elementos distintos e memoráveis, o álbum acaba por soar muito pouco variado. Estes americanos serão os meus heróis se conseguirem, de facto, executar este material ao vivo, tal e qual como no disco. Será que o fazem? [7.5/10] Ernesto Martins


MANETHEREN «Time» (Debemur Morti Productions) Parece haver um estilo muito próprio de Black Metal nos Estados Unidos da América. Os atentos vão-se apercebendo que a grande qualidade da música que surge de lá é embrenhada num manto negro de ambientes quase palpáveis e que dá uma grande consistência ao seu Black Metal. Black Metal ambiental, como se costuma dizer, e que nos faz sempre duvidar que tal banda não é americana. Mas a verdade é que este Manetheren, tal como os Chaos Moon e mesmo os Wolves In The Throne Room, entre outras, são um exemplo de como se faz esta arte, quiçá, de um modo mais interessante que algumas obras do velho continente. Azlum pode provar esta última premissa com o seu quarto longa duração, «Time», quatro anos após a reedição e regravação do «Solitary Remnants» pela Funeral Moonlight Productions. Um pouco diferente sonoramente, «Time» mantém a essência negra, fria e melancólica por detrás dos seis momentos que o constituem. As diferenças nem são assim tantas - mas parece que Azlum ficou fascinado com essa onda recente de aliar o Black Metal às texturas aveludadas do Post-Metal. O resultado revela-se muito interessante, mas não pensem que ouvirão uns Alcest, ou uns Fen. A base é inteiramente Black Metal trabalhado, cujas texturas ambientais vão sendo cosidas de um modo cativante, como se a própria música ganhasse vida orgânica e nos tocasse num afago de puro sentimento. Momentos rápidos, momentos lentos e melancólicos, interlúdios ambientais e longas passagens instrumentais assombradas, por vezes, pela gélida voz de Azlum – é assim que de um modo insípido tento descrever em palavras a música de «Time»; não são suficientes, e é por isso que se torna num álbum obrigatório para qualquer fã de Black Metal envolvente; já que «Time» apresenta-se bastante apelativo, desde o seu grafismo que representa muito bem os ambientes evocados pela música, até à música propriamente dita. [9/10] Victor Hugo PERIPHERY «Periphery II» (Century Media) Os Periphery são mais uma banda de Hard-Rock/Metal Progressivo com origens em 2005 nos E.U.A. e apresentam-se em 2012 com um registo editado com a chancela da Century Media que tem o selo de qualidade garantida. Pois então temos assim talvez um dos melhores discos de metal progressivo deste ano. Com 14 temas este álbum vem equipado com uma quantidade de riffs, ritmos, vocalizações que dão pano para mangas em contexto de concertos ao vivo. Mas então vamos por partes. Em termos de bateria não sentimos uma excessiva presença ou notória ausência do trabalho da secção rítmica pese embora a densidade dos riffs que tem de ajudar a marcar com métricas elaboradas que por vezes elevam bem alto o grau de dificuldade de execução. Sem grandes malabarismos rítmicos a excelência é notória. Quanto a vocalizações, Spencer Sotelo revela uma extensão vocal impressionante, conseguindo ir das vozes limpas e sempre bem puxadas, passando por alguns grunhidos mais pujantes e mantendo a energia e ligando de modo incólume as secções em que entra em ação. Alguma crítica negativa dirigida à voz seria sempre subjetiva, pois a parte técnica é irrepreensível. Ao nível das guitarras e baixo temos um álbum suficientemente diversificado, com um vasto leque de técnicas de execução nas guitarras presente que ao longo dos 14 temas; no entanto por vezes sente-se que poderiam descolar um pouco do som um tanto monotónico e entrelaçar com (mais) alguns efeitos. No entanto julgo ser um álbum que é capaz de agradar a um vasto conjunto de seguidores da VERSUS. [9/10] Sérgio Teixeira RAGE NUCLÉAIRE «Unrelenting Fucking Hatred» (Underground Activists/Season of Mist) Aguardados com alguma expectativa por incluírem o infame Lord Worm (ex-Cryptopsy) nas suas hostes, os canadianos Rage Nucléaire fazem jus ao nome apresentando-se com um álbum de estreia que é um autêntico massacre sónico de proporções apocalípticas. Espesso e imundo na sonoridade, com barragens incessantes de blast beats maquinais, guitarras no limite da distorção que soam como serras eléctricas dilacerantes, e rugidos de raiva homicida capazes de eriçar todos os pelos do corpo, «Unrelenting Fucking Hatred» é um monumento erigido ao ódio no seu


estado mais virulento. A princípio, durante os poucos minutos da faixa de abertura, “Violence is golden”, fica-se como que deslumbrado com a impressão de estarmos perante algo na linha necro-terrorista dos Mysticum ou Anaal Nathrakh. Contudo, essa ideia desaparece à medida que vamos avançando no alinhamento do disco e nos damos conta de algo que subtrai a todo o peso, transformando o que poderia ser um bomba nuclear num bem menos letal cartucho de C4. Mais em concreto, o que encontramos em demasia são riffs genéricos e monótonos (e.g. “The gift of the furnace” ou “Fields of the crucified”), temas longos demais para tão pouca substância, e linhas melódicas que parecem colidir com o espírito venenoso e perverso que supostamente se pretende veicular, como é o caso de “30 seconds in the killhouse”, com a sua idiota melodia de guitarra que parece ter saído dum qualquer disco de Falkenbach ou Amon Amarth. O mesmo pode ser dito da melodia de base da faixa-título do álbum, que arruína totalmente a atmosfera pretensamente niilista. Segundo parece a banda de Montreal já começou a trabalhar no sucessor deste primeiro registo. Fazemos votos de que seja, pelo menos, diferente. [6.5/10] Ernesto Martins REPUGNANT «Hecatomb» (Hammerheart Records) Antes de mais gostaria de chamar a atenção para o facto de «Hecatomb» ser uma reedição de um EP já editado em 1999. Agora a questão é o porquê do destaque para esta reedição aqui no espaço da VERSUS. Sendo um EP de apenas 6 temas incluindo Intro e Outro, um punhado de músicas dentro do Death-Metal old school não é de facto algo que possa ser considerado o lançamento do ano. No entanto uma reedição não se faz se não houver algo que o justifique. Acho que a justificação é que encontramos neste «Hecatomb» o máximo de concentração Death-Metal old school por minuto decorrido e com uma excelente mistura de riffs de guitarra, percussões com alguns pormenores brilhantes e vocalizações bem demoníacas. Em cada um dos quatro temas principais há algum pormenor que os torna de certo modo únicos. Para quem não conhece este trabalho dos Repugnant, destacaria em especial o tema “Rapturous genocide” com um divinal pormenor na percussão no encadeamento do prato de choques, isto claro após uma abertura num registo bem vincado por puro Death-Metal proporcionada pelas guitarras. O tema “The usurper” também destaco sobretudo pelos riffs de guitarra bem demolidores que criam uma atmosfera 100% made in Death-Metal. Bom, resumindo se houvesse que preservar uma amostra de música que servisse de raiz comum para ser usada para definir todo um estilo e neste caso o Death-Metal old school, eu destacaria este EP pois congrega num punhado de temas e em boa medida as bases de todo este estilo musical. [7.5/10] Sérgio Teixeira SATAN’S WRATH «Galloping Blasphemy» (Metal Blade Records) Os Satans’s Wrath são uma banda formada em 2011 pelo multi-instrumentalista Tas Danazoglou, responsável pelas vozes, bateria e baixo. Stamos K complementa nas guitarras o trabalho necessário para criar este disco proveniente do território Grego. Ora tendo sido um álbum composto integralmente por Danazoglou seria de esperar homogeneidade na sucessão dos vários temas que nos são propostos. De certo modo esta homogeneidade revela-se particularmente no estilo HeavyMetal quase puro que impregna os cerca de 40 minutos do disco. Assim é inevitável alguma comparação com bandas consagradas no meio. Basicamente temos riffs com uma estrutura e sonoridade bem definidas, basta concentramo-nos apenas num instrumento, seja ele baixo ou uma das linhas de guitarra e podemos confortavelmente seguir as progressões melódicas sem sobreposição do princípio ao fim de cada tema. Está tudo lá, é tudo claro e nítido. Também não faltam os solos a assentar como uma cereja no topo do bolo; mas onde surge o corte do cordão umbilical com o Heavy-Metal clássico é nas vocalizações e nas letras, muito mais coladas ao Black-Metal. E aqui é uma mistura no mínimo original só que a originalidade acaba neste detalhe, pois ressuscitar todo um género tão trilhado sem cair em comparações é quase impossível. Há no entanto temas como “Hail tritone, tail Lúcifer”, “Galloping blasphemy”, “Death to life” ou “Satan’s wrath” que encaixam nos ouvidos e colam. Portanto quem estiver curioso em saber como resulta uma voz Black-Metal no meio de uma sonoridade essencialmente Heavy-Metal vai encontrar neste disco o espaço sonoro indicado. [8/10] Sérgio Teixeira


SYBREED «God is an Automaton» (Listenable Records) É sempre um risco quando se tenta inovar dentro do metal ultrapassando limites e tentando entrar em novos terrenos. Todos sabemos o grau de dificuldade que é surgir um género novo dentro do metal que perdure durante mais do que um punhado de anos. Os Sybreed, banda Suiça formada em 2003, tentam isso mesmo. E sendo eu particular apreciador do que de novo possa surgir, ouvi este álbum e não tive grandes dúvidas quanto à qualidade deste disco. No entanto o que me deixou a indagar e claro a ter de ouvir mais vezes este «God is an Automaton» era se estaria perante apenas um álbum de Nu-Metal… bom de facto há algumas coisas que me parece já foram inventadas. Com riffs curtos cadenciados e batidas em sincronismo, há de facto o risco de se poder colar este álbum aos conceitos usados pelas bandas de Nu-Metal. Investigando um pouco mais vi que a banda classifica-se como estando numa nova arena chamada “Death Wave Metal”. Não sei dizer se estaremos de facto perante um género dentro do metal que vingará; fica o benefício da dúvida. Em suma temos bastantes sintetizadores com guitarras invariavelmente numa tonalidade mega-pesada a dar um toque industrial, composições dinâmicas e o vocalista Benjamin à altura do desafio de colocar o cunho de aço pesado e ao mesmo tempo mantendo vocalizações limpas. Esqueçam é os solos de guitarra altamente elaborados. É sobretudo um disco que cria ambientes sem preocupação com técnicas de execução apuradíssimas; mas tendo em conta a experiência destes Suíços, não é difícil de concluir que são excelentes executantes e este álbum não fica longe da excelência. [9/10] Sérgio Teixeira SYLOSIS «Monolith» (Nuclear Blast) Hoje em dia para se fazer um bom álbum de Thrash, daqueles que sobressaem e não caiem no esquecimento é preciso ser-se muito bom. É preciso fazer algo que seja de alguma maneira diferente, que fique no ouvido e que não soe a mais do mesmo. Convenhamos que nos tempos que correm é difícil. No entanto, os Sylosis – quarteto oriundo de Reading, UK – não só conseguiram fazer um álbum que fica no ouvido, Thrash moderno, duro e bem tocado como o tornaram um álbum conceptual. De facto, o conceito de «Monolith» é inspirado na Mitologia Grega e representa bem o que são como banda: diversas influências que vão desde uma mistura de Thrash com uns riffs bem ao estilo doom, criando um ambiente atmosférico e negro. Não do meu agrado mas isto reflete, somente, o meu gosto musical, estão alguns pormenores de MetalCore, tanto no instrumental como na voz. No entanto, estão bem “diluídos” e não será por isto que o deixarei de ouvir. Apesar de não representar uma mudança de 180º no seu estilo, «Monolith» é diferente, até pelo trabalho que envolveu a sua concepção. A fusão destes géneros está muito bem feita, dando ao álbum uma coesão e maturidade muito acima do normal, tratando-se este o terceiro álbum da banda. Os Sylosis obtiveram o reconhecimento com «Edge Of The Earth» e apesar de «Monolith» estar ligeiramente abaixo (perfeitamente discutível) é a continuação da afirmação. A ter muito em conta! O único ponto negativo é mesmo o abandono da banda da EPIC INDUSTRIALIST TOUR, que passará por Portugal nos dias 18 e 19 de Novembro. Que PENA! [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro THE BOURBONS «Best Amazing Reasons» (Rockstarmagic) Hoje em dia para se fazer um bom álbum de Thrash, daqueles que soNascidos da vontade de criarem um grupo de Rock como deve ser, eis que em 2011 dá-se forma aos The Bourbons. São portugueses, e o nome da banda é, realmente, inspirado “num bom velho whiskey”, como eles afirmam. Depois de trabalharem algumas músicas, rapidamente começaram a tocar em algumas salas, para depois começarem a escrever o longa-duração que chegou à VERSUS Magazine há pouco tempo. Depois de um olhar cético à capa, acabo por me render à audição do álbum. Logo a abrir, «B.A.R.» apresenta-nos uma sonoridade simpática e esgalhada, de um Rock com pitadas de clássicos, mas também com contornos “modernos”, por assim dizer. Podemos evocar imensos nomes do grande Rock, como AC/DC, The Rolling Stones, The Cult,


entre outras nesta onda, só para tentar situar por onde os The Bourbons devaneiam sonoramente. A verdade é que há ritmos que nos fazem lembrar um pouco as bandas referidas; e a voz de Nelson Fonte faz lembrar a voz de Ian Astbury. Mas, comparações à parte, podem encontrar aqui, seguramente, um Rock bem porreiro, principalmente na primeira metade do álbum. Solos interessantes; um baixo ritmado e muito presente; por vezes pedal duplo; e boa disposição com temáticas que variam entre mulheres e álcool. Para além de grandes momentos rockalhados como a “Undress my eyes”, ou a “Brand new taste”, poderão encontrar momentos calmos e acústicos, como a “Lady queen”, tema que é um marco na banda; a versão acústica de “Shining away”; ou mesmo o tema final, “Blend”. Na sua totalidade, «Best Amazing Reasons» tem argumentos para tonificar a sua longevidade, principalmente num carro. A produção do disco não é má, tendo em conta que é o primeiro álbum, mas poderia ser melhorada. Resta esperar pela segunda rodada. [6.5/10] Victor Hugo THE CONTORTIONIST «Intrinsic» (Season of Mist) Apesar do muito que já se fez no que toca a combinar diferentes estéticas ou sub-géneros dentro do Metal, esta é seguramente uma das mais surpreendentes e bem sucedidas fusões entre a selvajaria do deathcore, a complexidade do progressivo e o virtuosismo do jazz. Trata-se duma fórmula que o jovem quinteto norte-americano já vem a desenvolver desde o primeiro registo, o EP «Shapeshifter», lançado em 2008, mas que só agora atinge o nível de requinte e aprimoramento audível neste segundo longa duração. Complexo nas malhas rítmicas e nos riffs pontuados – derivados do djent, que remetem para o trabalho de bandas como Meshuggah ou Between The Buried And Me –, mas ao mesmo tempo naíve e sedutor, este é um trabalho na generalidade menos pesado que o anterior «Exoplanet» (2010), e mais apostado em atmosferas post-rock providenciadas pelas etéreas melodias de teclados, pelos acordes de guitarra acústica e pela magnifica voz limpa (ocasionalmente filtrada pelo vocoder, a remeter para os Cynic) de Jonathan Carpenter, que por vezes faz lembrar Steven Wilson dos Porcupine Tree, e que ele intercala com o seu registo mais brutal. De salientar também são as deliciosas digressões jazzy ao estilo de Pat Metheny, e toda uma série de surpresas que são o resultado duma composição desafiante e dum corte substancial com o deathcore de manual. Resta dizer que «Intrinsic» é um trabalho de qualidade muito uniforme ao longo dos seus quarenta e cinco minutos, e que requer tempo para revelar todos os seus segredos. [9/10] Ernesto Martins THE GATHERING «Disclosure» (Psychonaut Records) Os The Gathering são um exemplo de sucesso e de coerência, sem grandes alaridos nem “novelas” à volta dos músicos que saem e que entram. Apesar da saída da Anneke, em 2007, a voz da sua substituta, Silje Wergeland, não criou qualquer controvérsia digna de imprensa, até que os timbres são bastante similares. «The West Pole», de 2009, foi um álbum interessante, com a tal voz parecida, mas não foi um trabalho que nos tenha deixado de queixo caído, ou catatónicos, como o “Hope”, ou mesmo o “Souvenirs”. Mas falar dos The Gathering não se pode resumir à performance da vocalista (que por sinal, neste trabalho apresenta uma excelente performance vocal); falar de The Gathering é falar de um grandioso trabalho de grupo, onde todos trabalham para criar algo de excecionalmente bom – e foi precisamente isso que aconteceu neste «Disclosure». Esta recente proposta dos The Gathering apresenta uma música muito própria, digna de um best of what The Gathering do better – a verdade é que está aqui um trabalho muito superior ao seu antecessor. Se o «The West Pole» poder-se-ia mostrar desenxabido para alguns, este «Disclosure» está muito bem temperado, com ambientes eletrónicos a comungarem muito bem com o já característico Rock psicadélico destes holandeses. A prova disso está logo no tema de abertura, “Paper waves”, que mostra uma certa continuidade com a sonoridade do «The West Pole»; mas já na “Meltdown” se poderá ouvir o selo de coesão e qualidade do «Disclosure» - a grande fusão de Rock com ambientes eletrónicos, evocando, também, alguns momentos mais contemplativos, como na grandiosa “Heroes for ghosts”, ou mesmo momentos mais psicadélicos e bem mexidos, como na segunda metade da música “I can see four miles”. Esta mais recente proposta dos The Gathering é muito bem-vinda, e marca um ponto importante na qualidade da banda. [8.5/10] Victor Hugo


THE SORROW «Misery Escape» (Napalm Records) Formados em 2005 e emergindo da Áustria com o seu primeiro álbum em 2007, «Blessings From a Blackened Sky», The Sorrow cedo fascinou várias revistas e apreciadores do género com os seus ritmos intricados e melodias um tanto ou quanto convincentes, aperaltadas por um vocal por vezes rasgado, por vezes limpo. Com o passar dos anos, editaram dois outros álbuns (Origin of the Storm; The Storm) que lhes granjearam uma certa legião de fãs, foram os vencedores do “Amadeus Award” e convidados a participar em vários festivais europeus. Chegamos assim a este ano e a «Misery Escape», o seu quarto álbum. Uma vez mais, há aquela particular preferência pelo Metalcore, o que não lhes retira qualquer préstimo embora possa parecer saliva mastigada demasiadas vezes. Ao ouvir este álbum pude apreciar a qualidade e versatilidade das músicas, mas a motivação para o ouvir peca, não da forma mais abrasiva e inconsequente, mas pelo facto de que, por vezes, a ambiência não é assim tão apaixonante. Enfim, já são muitos anos passados de forma ainda mais perversa (leia-se - ouvindo géneros muito mais obscuros). Bem, este álbum pode não definir a banda e as suas capacidades mas pode engrandecer o estilo em que está inserido pois demonstra boas ideias. Se o próximo trará mais originalidade ao seu trabalho, pois quedar-se num mesmo prisma nunca é bom, é algo que estou curioso em saber. [7.5/10] Jorge Ribeiro de Castro THRESHOLD «March Of Progress» (Nuclear Blast) Estaremos nós perante um sério candidato a álbum do ano? Assim escrito é capaz de ser, naturalmente, muito discutível. Mas se reduzirmos os Threshold à (sua) categoria de Rock/Metal Progressivo estamos, realmente, perante um sério candidato… sem discussão possível! Desde «Dead Reckoning» até este «March of Progress» passaram 5 anos e duas mudanças muito importantes. Este é o primeiro álbum pela Nuclear Blast mas o mais triste foi o desaparecimento de Andrew McDermott. (Saberemos mais alguns pormenores acerca deste e outros assuntos em entrevista no próximo número) Face a este triste desfecho, Damian Wilson foi a escolha óbvia para substituir Andrew. Com um total de quase 70 minutos que representa o mais longo na história dos Threshold e também o mais diversificado, «Marcho of Progress» representa isso mesmo… um passo em frente na carreira. Melodia, técnica, voz melhor que nunca e excelente produção de Karl Groom (guitarrista) e Richard West (Teclista). Muitas vezes chegam-nos álbuns em que se percebe, claramente, que existem uns temas melhores que outros ou músicos que sobressaem – (Christian Siegmund dos Over Your Threshold) mas nesta banda, não. Não consigo destacar um tema que seja, tamanha é a coesão entre eles. O mesmo tenho de dizer dos músicos…! Enfim, mesmo com a crise e a facilidade em piratear tudo e mais alguma coisa, «March Of Progress» é uma compra obrigatória. Tem de ser. (Toda a discografia dos Threshold está a ser novamente lançada pela Nuclear Blast, senão chegasse, eis mais uma oportunidade para (Re)descobrir os Threshold) [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro UNDERCROFT «Ruins of Gomorrah» (Season of Mist) A banda sul americana Undecroft está aí para mais uma boa dose de Death/Thrash a respirar influências especialmente nos ritmos provenientes do sul da América. Em traços gerais, «Ruins of Gomorrah» é um álbum bem estruturado, mantendo uma linha de rumo bem definida à volta da qual surgem pormenores que introduzem uma componente interessante de originalidade sem no entanto levarem os temas a perder o carácter pesado e banhados de Death-Metal. A intersecção com secções thrashadas é ainda uma característica notória do álbum desde o primeiro tema. As vocalizações de Alvaro Lillo guturalmente abagaçadas não deixam tréguas durante os 11 temas que se vão sucedendo. Excetuando precisamente nos primeiros 2 minutos do tema “Ruins of Gomorrah” que dá nome ao álbum. São 2 minutos preenchidos simplesmente por uma excelente secção instrumental de guitarra acústica para ao terminar darem lugar no resto do tema novamente às sonoridades pesadas. Há ainda riffs que estão bastante próximo de pequenos ovos de colombo e que são o que acabam por dar a este «Ruins of Gomorrah» o toque especial. Sendo cada vez mais desafiante conquistar espaço próprio nos meandros mais do que trilhados do


Death-Metal, é aqui que os Undercroft conseguem ser uma banda de certo modo diferente. Os ritmos e influências sul americanas não serão totalmente alheias a esta constatação e poderão ser o que ajuda esta banda a sobressair da mediania. Não sendo um álbum para marcar o ano de 2012 acabará por ser do agrado dos amantes do Death-Metal que se faz na atualidade. [6.5/10] Victor Hugo ZOMBIFIED «Carnage Slaughter and Death» (Cyclone Empire) O nome da banda já nos dá a conhecer o que nos espera. Privilegiando os mais terríficos momentos em que a coragem é rasgada pela brutalidade e onde qualquer choro é logo dissipado por gritos e tempestades, Zombified remete-nos aos gloriosos momentos do Death-Metal old school, fazendo sorrir qualquer fã do género pela dissoluta qualidade com que distorcem a patética harmonia. Formados por dois elementos (P. Myrén e P. Fransson) no Inverno de 2006 por uma aparente necessidade de criação induzida pelo álcool, este agrupamento sueco editou uma demo com três músicas mas logo depois decidiu compor um álbum. Dando azo a essa ideia, convidaram dois músicos para gravar o seu debut: «Zombified Slaughtermachine». Sem querer descansar nas blasfémias e atrocidades perpetradas por um primeiro álbum, quiseram amaldiçoar ainda mais o mundo com um outro, «Carnage Slaugher and Death», que foi gravado após a inclusão de dois outros carrascos. Destes, só o vocalista e baixista, R. Karlsson, ficou, tendo depois entrado um outro baterista, J. Johansson. Nenhum deles é um principiante no género pois os membros deste grupo já estiveram ou estão em Facebreaker, Blodsrit, Paganizer, Tormented, Scar Symmetry e outros bastiões do Metal actual. Se a vossa preferência em termos de entidades dissolutas e corruptos mananciais de noites mal dormidas recai num som que corrói qualquer riso inocente e fascina todas as tempestades a ocorrer num só lugar, não se afastem. Este álbum ainda não foi editado e Zombified já está a compor mais músicas. Para agrado de guerreiros e dementes! [9/10] Jorge Ribeiro de Castro

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pARADISE LOST + SOEN Hard Club – Porto 04.10.2012

O regresso dos ídolos Na noite de 5ª-feira, dia 04 de Outubro e véspera do feriado de comemoração da Implantação da República, o espaço da Sala 1 do Hard-Club recebeu a visita de importantes e distintas figuras da cena metaleira Europeia. Mas ao contrário do feriado que será suprimido a partir do próximo ano, espera-se que o Hard-Club esteja de pedra e cal para continuar a proporcionar os bons momentos de música que continuamos a disfrutar. E o dia 04/10/2012 foi mais uma excelente noite para quem se deslocou e assistiu ao espetáculo dos Paradise Lost. Mas os primeiros a entrar em palco, cerca das 21h30 foram os Soen para trazer em cerca de 40 minutos um pouco da música que editaram no álbum de estreia «Cognitive». Ainda com pouca história enquanto Soen, o coletivo tem como nomes mais sonantes o baterista Martin Lopez (ex-Opeth) e Steve DiGiorgio (ex-Death, Testament). De início a plateia ainda estava a entrar na sala, mas os primeiros acordes dos Soen já se faziam ouvir. Durante os primeiros minutos de atuação rapidamente o público acabou de entrar preenchendo grande parte da área disponível para a assistência. Enquanto estiveram em palco foi notório o profissionalismo e competência destes senhores; impressionaram do ponto de vista de presença em palco especialmente com o guitarrista Kim Platbarzdis que, com rastas quase até aos tornozelos e com o seu head-banging

Paradise Lost

colocava em risco a integridade física dos microfones que a banda dispunha à sua frente. Quanto à música propriamente dita não surpreenderam, isto é, tendo em conta o que mostraram ser capazes em disco, conseguiram transportar para o palco tudo o que era expectável. Temas como “Oscillation” e “Slithering” foram muito bem recebidos pelo público. No final toda a gente aplaudiu e certamente que Soen e Hard-Club são uma combinação a repetir. A grande maioria dos espectadores que preencheram cerca de 80% da lotação da sala estavam claramente à espera de ver, alguns novamente, outros pela primeira vez a atuação dos Paradise Lost. Ora estes interpretaram 15 temas do seu reportório desde alguns clássicos mas colocando ênfase no conteúdo de «Tragic Idol». Temas como “The enemy”, “Pity the sadness”, “As I die” e mesmo “One second” foram especialmente acarinhados pelos adeptos dos Paradise Lost. Especialmente, em “The enemy” foram audíveis e notórias a participação do público a entoar secções do tema e a sincronizar-se com os riffs compassados e pesados deste tema. A técnica destes músicos Ingleses foi possível comprovar ser visivelmente sólida com especial ênfase em Greg Mackintosh que trata a guitarra por tu. Em “Embers fire” com os seus tappings aveludados deixou a magia respirar em palco. Poderei apenas apontar que não teria sido pior se a guitarra Aaron Aedy tivesse tido direito a mais 1 ou 2 decibéis de presença sonora, mas esse detalhe não comprometeu de maneira alguma a simbiose banda-público. Uma nota neste aspeto para a comunicação por vezes com algum humor do vocalista Nick Holmes que não se intimidou com a

massa humana de devotos aos Paradise Lost e nunca perdeu a resposta positiva do público. Claro que o mais do que popular e icónico tema “Say just words” esteve presente, e aí sim foi fechar a noite com chave de ouro. Nunca é demais ouvir este tema do álbum «One Second» em que a banda abraçou definitivamente a sonoridade Gótica que a trouxe de pedra e cal até ao ano de 2012. O repórter da Versus não conseguiu evitar neste tema mergulhar na pele de público fervoroso para disfrutar dos cerca de 4 minutos de puro êxtase que “Say just words” proporciona. Reportagem: Sérgio Teixeira Fotos: Eduardo Ramalhadeiro

SETLIST: Paradise Lost 1. Widow 2. Honesty in Death 3. Erased 4. Enchantment 5. Soul Courageous 6. In This We Dwell 7. Praise Lamented Shade 8. Pity the Sadness 9. As I Die 10. One Second 11. Tragic Idol 12. The Enemy 13. Embers Fire 14. Fear of Impending Hell 15. Faith Divides Us - Death Unites Us 16. Say Just Words


Paradise Lost Soen


SABATON + ELUVEITIE + WISDOM Hard Club – Porto 06.10.2012

Eletricidade por todo o lado Passados dois dias da presença dos Paradise Lost, foi a vez de os Sabaton serem os cabeça de cartaz no Hard-Club. O espetáculo teve início cerca das 21h00 na Sala 2 da catedral da música pesada do norte do país, em que os Wisdom, provenientes da Hungria, deram início às hostilidades com um punhado de canções onde durante os cerca de 30 minutos que estiveram em palco agarraram o público. Ficou demonstrado que têm técnica e presença em palco suficientes para algo mais do que banda de abertura. Porém o estilo musical em que assenta a sonoridade (Power Metal) exigirá porventura um pouco mais do ponto de vista de composição para estes Húngaros não serem apenas mais um coletivo dentro deste género. No entanto no final da atuação com a sala bem composta foram bastantes os aplausos que inundaram o recinto e confirmaram que ao vivo estes Wisdom estão ao nível dos melhores. Mais inovadores poder-se-á dizer são os Eluveitie provenientes da Suíça. Com o seu estilo Folk Metal e fazendo uso dos seus instrumentos, desde a guitarra elétrica até aos instrumentos acústicos a lembrar a idade média e o folclore medieval, foi com eles que a festa realmente atingiu um pico considerável de adrenalina. De facto foi por várias vezes que o mosh apareceu ao longo da atuação dos suíços; aplausos não faltaram e a ligação ao público nunca esmoreceu. O vocalista Chrigel Glanzmann esteve no seu melhor a dar tudo o que tinha do ponto de vista de vocalizações e na comunicação com o público, tendo neste aspeto aberto um espaço especial para aplausos para acolher o novo guitarrista Rafael. Tudo isto, claro, não teria sido possível se não fossem as condições sonoras proporcionadas pela Sala 2 permitindo que todos os instrumentos em simultâneo estivessem numa harmonia bem equilibrada. Para fechar a noite, os cabeça de cartaz Sabaton explodiram no palco

perto das 23h00. A impressionante energia e boa disposição que o vocalista Joakim Brodén emana não tem praticamente paralelo em nenhuma outra banda que eu pude presenciar até hoje. É caso para dizer que estando estes Suecos alinhados do ponto de vista lírico com conceitos militares, se este Joakim Brodén fosse o general de uma batalha qualquer era mais provável que a batalha degenerasse numa patuscada monumental com anedotas, música e festividades pelo meio. E foi de facto num clima de festa e participação do público que todo o concerto decorreu. Houve bastante comunicação da banda, inclusivamente com Joakim Brodén, quem mais poderia ser, a trocar os óculos de sol com um elemento na assistência ou elogiar um fã que embora de braço engessado estava na linha da frente junto ao palco. Ainda houve espaço para a banda dar à escolha, por duas ocasiões, quais os temas a ouvir por parte do público. Os temas que melhor recetividade tiveram foram Cliffs of Gallipoli, The Lion From The North e Primo Victoria. Neste último proliferaram os saltos desde a zona junto ao palco até ao fundo da sala em sincronismo com a banda. Fantástico! O som esteve também a um excelente nível sendo percetível os solos de Thobbe Englund e de Chris Rörland no meio da intensidade sonora do conjunto dos instrumentos. Houve uma nota também da parte de Joakim Brodén durante o concerto para dar as boas vindas a estes dois novos guitarristas e ao baterista Robban Bäck que deram entrada em 2012 nesta banda Sueca. Em suma, fica demonstrado quando se fala em Hard-Club, ao entrar na Sala 2 para ver concertos menos concorridos significa muitas vezes que os espetáculos não são do ponto de vista qualitativo em nada inferiores comparativamente aos que arrastam maior assistência. Os Sabaton e companhia no dia 06 de Outubro foram mais um caso que ajuda a confirmar esta ideia em mais uma noite de excelente música.

SETLIST: Eluveitie 1. Intro 2. Helvetios 3. Luxtos 4. Neverland 5. Uxellodunon 6. A Rose for Epona 7. Divico 8. Inis Mona 9. The Uprising 10. Havoc 11. Outro Sabaton 1. Ghost Division 2. Gott mit uns 3. Poltava 4. The White Death 5. Carolus Rex 6. 40:1 7. Cliffs of Gallipoli 8. Uprising 9. The Lion From The North 10. The Hammer has Fallen 11. Attero Dominatus 12. The Art of War 13. Primo Victoria 14. Metal Crüe

Reportagem: Sérgio Teixeira Fotos: Eduardo Ramalhadeiro

Sabaton


Sabaton Eluveitie

Wisdom


MARTY FRIEDMAN+YOSSI SASSI+STEPHAN FORTÉ Side B, Benavente 19.10.2012

Ao vivo é que se toca guitarra! Foi com grande privilégio que, no passado dia 19 de Outubro recebemos em Portugal, mais precisamente no Side B em Benavente, a Guitar Universe Tour 2012, e assisti a escassos metros à atuação de três distintos e virtuosos representantes da guitarra, o francês Stephan Forté dos Adagio e o seu estilo neo-clássico, o Israelita Yossi Sassi dos Orphanage Land e o seu Metal/Rock progressivo com sonoridades do Médio Oriente e o Americano radicado em Tokyo Japão, Marty Friedman, o qual não necessita de qualquer apresentação dada a sua enorme carreira como músico. À excepção de Marty, os outros dois guitarristas estão neste momento a divulgar os seus trabalhos de estreia a solo, pelo que, devido a esse facto e a restrições de tempo, uma vez que se tratam de bandas de suporte, os seus setlists limitaram-se a tocar o álbum de estreia quase na íntegra. Tendo o Side B sido uma estreia para mim, já há muito que tinha ouvido falar deste espaço de concertos, e pelo que me deram a entender parece que escolhi o concerto certo para assistir, por duas razões: primeiro, e pelo que dizem os habitués do Side B, esta deve ter sido - senão mesmo - a maior enchente do Side B e em segundo os mesmos entendidos deram-me conta que o som estava excelente para o que é o normal por estas bandas. Isto posso assinar por baixo, já que foi uma constante positiva nos três actos da noite. Com uma plateia praticamente composta e ao som de música clássica, pouco depois das 21h30 entrava Stephan Forté e os seus “potes” [Calão francês para amigos verdadeiros] Kévin Codfert nas teclas, Franck Hermanny no baixo e um convidado/ amigo na bateria igualmente das mesmas paragens. Alias, à parte de ver ao vivo este talentoso guitarrista, o outro ponto de interesse para mim era ou-

vir o «The Shadows Compendium» com um baterista verdadeiro, já que a bateria do álbum foi programada - já agora pelo Kévin. Ao som da guitarra acústica da entrada de «Sorrowful Centruroide», Stephan deu o mote para o que foi a sua passagem por Benavente. Sem nunca denotar muita efectividade em palco, Stephan & amigos souberam agarrar a audiência com uma performance segura e marcada, fazendo jus ao que produziram em estúdio. Estava lá toda a magia do álbum, mesmo na bateria, onde não se sentiu diferença de espécie alguma. É verdade que o palco do Side B não dá para grandes euforias e muito menos correrias de um lado para outro, mas mesmo assim, deu para o teclista vir desafiar para um duelo Stephan Forté em «The Shadows Compendium» com um teclado móvel em semi-circulo. Depois de esgotadas todas as músicas do álbum - à excepção de «Improvisation on Sonata no. 14, c # minor - Op. 27 no 2», Stephan saiu de cena e deu lugar ao senhor que se seguia, deixando no ar um excelente momento de metal neo-clássico. E o senhor que se seguiu foi Yossi Sassi, que entrou em palco com a sua guitarra de dois braços e toda a sua garra em palco, balanceando-se para trás e para a frente, repleto de virtuosidade ao som da sua música. O concerto de Yossi foi uma agradabilíssima surpresa, pois aquando da audição do álbum não tinha ficado lá muito convencido com o Israelita. O espectáculo de Benavente mudou a minha percepção das coisas relativamente à sua música, já que foram 45 minutos de excelente metal/rock progressivo que funcionou na plenitude ao vivo, deixando no ar esse facto que Yossi Sassi é para se ver e ouvir ao vivo, seja puro instrumental ou cantado (pelo próprio). Sempre falador entre músicas, Yossi lá ia indicando sempre aos presentes onde podiam encontrar… «Melting Clocks», tornando-se até ponto de humor á medida que as músicas iam desfilando, já que como todo o setlist era deste álbum, ele estava sempre a apontar esse facto. Independentemente da música, Yossi aplicava a mesma atitude e destreza em cada música, presenteando-nos com um igualmente excelente e irrepreensível concerto, numa noite até então já

memorável. Passados uns minutos da meia-noite, os músicos de Marty Friedman começaram a entrar em palco e a tomaram os seus devidos lugares. Para grande surpresa, o guitarrista e baixista eram os mesmos Israelitas do concerto do Yossi, e na bateria, tomou o lugar - um ser do outro mundo, que só podia ser Japonês-. Sentou-se na bateria, ou melhor, tentou sem sucesso estar sentado na referida o concerto todo mas a sua exuberância e loucura não o permitiram, dando um espectáculo dentro do próprio espectáculo que foi o concerto do Marty. Não estando a divulgar nenhum trabalho recente, o concerto de Marty Friedman foi tal como a sua música muito eclético e abrangeu toda a sua carreira, desde os Cacophony até ao seus últimos trabalhos da carreira a solo, não deixando de nos presentear com um cheirinho de “tornados d’alma”. De facto, a música de Marty tem tanto de fantástica como de complexa e experimental. Acho que a sua mestria nas cordas aliadas à cultura do sol nascente que abraçou já lá vai quase uma década, transformaram para sempre este soberbo guitarrista. Muito profissional, muito expressivo com o seu instrumento, Marty deu um verdadeiro show de música, conseguindo conjugar mundos metálicos e não só, tão díspares, num concerto de grande nível, o qual não se esqueceu de referir que era a primeira vez que estava a tocar ao vivo em Portugal… a solo claro está. Foram mais de hora e meia de grande graciosidade e domínio da técnica, sempre com o frenético baterista a “querer roubar” os louros. Depois de 20 e tal músicas foi tempo de Marty se despedir com a cover de Andrea Bocelli «Time to Say Goodbye» e concluir o setlist com o encore habitual, « Thunder March». A grande mais-valia que ressalva desta noite especial de guitarristas é a capacidade de execução e composição de três grandes figuras da guitarra. Evidentemente que os três concertos não são comparáveis, pois são três distintos universos musicais e três distintas personalidades de três distintos continentes. Cada concerto teve a sua magia inerente, tendo o tom e a magnificência, vindo em crescente desde Stephan até Marty passando por Yos-


si, numa noite que ficará para sempre na memória daqueles que se deslocaram a Benavente.

Marty Friedman

Reportagem: Carlos Filipe Fotos: Sérgio Santos

Marty Friedman

Yossi Sassi

Yossi Sassi

Stephan Forté

Stephan Forté


ASTRA+ANATHEMA Hard Club – Porto 20.10.2012

“Há dias de manhã que de tarde não se devia sair à noite. Ou talvez não…” Este concerto dos Anathema, com os Astra como banda de suporte, foi por questões supostamente casuísticas mas que podem indiciar quiçá as práticas de Voodoo, Macumba ou Magia-Negra, uma autêntica luta contra as forças do mal por parte do repórter e fotógrafo desta reportagem. Começo o texto desta reportagem por dar esta nota pois no final deste texto irão perceber o porquê de termos assistido apenas à atuação dos Anathema a partir do tema “Dreaming light”. E na altura em que este tema estava a rolar na Sala 1 do HardClub cerca de 600 pessoas estariam presentes; até ao final da atuação a sala manteve-se coesa a deliciar-se com os sons divinais proporcionados por esta banda de Liverpool. Tendose originalmente dedicado a Doom/ Death-Metal, foi provavelmente uma das melhores decisões terem-se focado no Rock Atmosférico. Tradicionalmente o Reino-Unido é um berço de músicos talentosos dedicados a sons atmosféricos não sendo difícil encontrar bandas que na arena psicadélica e sons atmosféricos sejam das melhores do mundo. E neste lote restrito estão certamente os Anathema. Desta atuação ficou patente o trabalho milimétrico na execução instrumental e nas vocalizações mas foi especialmente marcante a produção sonora do melhor que alguma vez ouvi. Julgo que até hoje apenas comparável às atuações dos Porcupine Tree que também pude testemunhar no Porto. O som estava simplesmente soberbo, quer na definição dos solos das guitarras de Vincent Cavanagh, nas vozes de Danny Cavanagh (com e sem efeitos) e Lee Douglas sempre natural, quer em todos os componentes da bateria de John Douglas, ou no baixo de Jamie Cavanagh. É obviamente essencial realçar a contribuição do músico luso Daniel Cardoso, que está aos

comandos dos teclados desde 2011 nas performances ao vivo e que teve também direito a tratamento VIP no que diz respeito à qualidade sonora do seu teclado. Não estarei muito longe da verdade se disser que foi uma das melhores produções sonoras que até hoje passaram pelo Hard-Club. Tendo em conta a sonoridade baseada em contextos atmosféricos abraçada hoje pelos Anathema, as manifestações radicais da parte do público não eram expectáveis mas quando e sempre que houve espaço para aplausos, headbanging e até alguns passos ainda que tímidos de dança, tudo isso apareceu ao longo da atuação. Os temas mais marcantes e que melhor recetividade tiveram da parte do público foram “Deep”, “Winter” ou “A natural disaster”. Porém o auge foi atingido com “Closer” em que o público esteve completamente rendido à paisagem sonora proporcionada por este tema. No encore constituído por “Internal landscapes”, “One last goodbye” (pedido pelo público) e “Fragile dreams” houve um especial momento de simbiose banda-público a adivinhar que a despedida do palco não iria ser um simples adeus, mas sim um até breve. Espero sinceramente voltar a ver estes Anathema em Portugal e com mais tempo para testemunhar a atuação desde o primeiro segundo sem nenhum azar pelo caminho. E agora sim, passaria a explicar o porquê do atraso na nossa entrada para a reportagem no Hard-Club. Ora, todos sabemos que apesar de os transportes públicos serem uma grande ajuda para cortar custos com deslocações, mesmo assim os automóveis dão jeito. Isto quando as coisas funcionam. Foi precisamente isso que não aconteceu na noite de sexta-feira: o meu carro deixou de funcionar ao regressar do trabalho para casa. Já andava eu desconfiado das velas do motor mas não fui a tempo de evitar ficar parado por 2 vezes na estrada nacional e com isso obrigar o trânsito de fim de dia a contornar a viatura que eu vinha a conduzir. Fantástico. Ora quando o trânsito decidiu dar tréguas pude finalmente empurrar o carro sem correr risco de atropelamento, até uma ligeira descida e meter finalmente o carro a trabalhar. Já sem trânsito tipo “pára-arranca” lá pude eu embalar a máquina e evitar ao máximo parar nos semáforos man-

tendo o carro em elevadas rotações para o motor não morrer. Como já tinha percebido o atraso, vai daí avisei o responsável pela fotografia no concerto, Eduardo Ramalhadeiro, e ele estando por perto decide vir dar uma ajuda. A dada altura vínhamos cada um no seu carro pela estrada nacional quase colados, não fosse o diabo tecêlas. Bom e não é que o diabo as teceu mesmo? O carro do Eduardo é abalroado por um condutor que não hesitou em galgar passeios e mesmo com as peças do carro partidas pôr-se em fuga. Apesar do azar, o carro sofreu danos menores por isso deu para continuar viagem. Porém ficamos com a matrícula do abalroador; menos mau. Assim decidimos deixar a viatura que eu trazia e que estava decidida em apagar-se em trânsito pára-arranca (a viatura é de um familiar meu) e levar eu a minha viatura própria. E lá íamos nós já atrasados para o concerto dos Anathema, mas convencidos que mesmo assim o atraso seria recompensado por excelente concerto. E o concerto foi excelente, sem margem para dúvidas, só que não adivinhávamos é que ainda seria necessário substituir um pneu dianteiro que já vinha a dar de si na Ponte-Arrábida. Sim, o meu carro furou na ida para o concerto! Sim, 3 carros, 3 problemas, na mesma noite! Já com a jante a rasgar o pneu, estacionamos perto do HardClub e só tivemos tempo de ir a em passo apressado para o evento. A substituição do pneu teve de esperar pelo fim do concerto. Fica então, julgo eu, espelhado o zelo da parte dos repórteres da VERSUS Magazine para cumprir a missão essencial de trazer para o espaço cibernético um pouco do espírito dos bons concertos no Porto. Desta vez foi mais complicado mas podem ter a certeza, enquanto a estrada o permitir, nem que tenhamos de ir de triciclo (ok aqui posso estar a exagerar), teremos sempre orgulho em trazer até aos nossos leitores o essencial da boa música pesada que vai sendo cada vez mais presença habitual na noite Portuense. Reportagem: Sérgio Teixeira Fotos: Eduardo Ramalhadeiro


SETLIST: Anathema 1. Untouchable 1 2. Untouchable 2 3. Thin Air 4. Dreaming Light 5. Everything 6. Deep 7. Winter 8. Wings 9. A Simple Mistake 10. Lightning Song 11. Storm Before The Calm 12. The Beginning And The End 13. Universal 14. Closer 15. A Natural Disaster 16. Flying 17. Internal Landscapes 18. One Last Goodbye 19. Fragile Dreams


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