Versus Magazine #24 Fevereiro/Março 2013

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VERSUS MAGAZINE VERSUS Magazine c/o Ernesto Martins Rua da Barranha, 573 - 2D 4460 - 253 - Senhora da Hora Portugal Telem.: 918 481 127 E-Mail: versusmagazinept@gmail.com Web: /versus-magazine.com MySpace: /versusmagazine Facebook: Versus Magazine - Official Facebook Group: Versus Magazine PUBLICAÇÃO BiMESTRAL Download Gratuito DIRECÇÃO Ernesto Martins André Monteiro GRAFISMO A.Monteiro - Design & Multimédia www.amonteiro.net ILUSTRAÇÃO Eyeless Illustrator facebook.com/eyeless.illustrator EQUIPA André Monteiro Adriano Godinho Carlos Filipe Cristina Sá Daniel Guerreiro Dico Eduardo Ramalhadeiro Emanuel R. Marques Ernesto Martins Jorge Castro Joey Luís Jesus Patricia Marques Paulo Eiras Paulo Martins Sérgio Pires Sérgio Teixeira Susana Cardoso Victor Hugo FOTOGRAFIA Créditos nas Páginas PUBLICIDADE geral@versus-magazine.com

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Com os mestres helénicos do dark metal a agraciarem-nos o novo visual de capa, aqui estamos de novo com mais uma dose massiva de Metal que dá pano para mangas. Além das muitas bandas em entrevista, de entre as quais salientamos os New Keepers of the Water Towers, uma das grandes revelações deste inicio de ano, os Defeated Sanity, que se excederam uma vez mais na sua demanda pelos territórios doentios do death brutal, e os Omnium Gatherum, que distinguimos aqui há dois meses atrás, este número #24 da VERSUS Magazine conta ainda com algumas surpresas. Uma delas é a entrevista com o lendário Christophe Szpajdel, o mais conceituado desenhador de logótipos de bandas de que há memória, que criou inclusivamente a imagem que conhecemos de muitas bandas nacionais. Outra é a conversa com Dico, ilustre ex-colaborador da VERSUS, acerca da sua “Breve História do Metal Português”, livro cuja génese passou pelas páginas desta revista. A propósito, temos duas cópias desta obra para oferecer nesta edição. E finalmente, inauguramos uma nova rubrica relacionada com covers, que irá funcionar de forma articulada com a nossa página do facebook. Portanto, não percam mais tempo com esta conversa e desfrutem o que preparamos nas páginas seguintes. Todo o feedback dirigido para versusmagazinept@gmail.com é sempre bem-vindo. Ernesto Martins


Da alvorada do Homem e mais além

Estamos habituados a receber, e a ouvir, trabalhos relevantes da Suécia, quase todos dignos de cinco estrelas. Somos surpreendidos pela negativa raras vezes, mas não foi o caso do «The Cosmic Child», dos New Keepers of The Water Towers. Este trabalho é, aliás, uma verdadeira surpresa, uma pedra no charco, um acontecimento de que não se esperava. Quer dizer, não é de estranhar que a banda mande cá para fora um álbum novo; o que não se contava era com a música que se ouviria e com a qualidade da mesma. Se ouviram o trabalho anterior e pegarem agora neste saberão do que estou a falar. Foi o espanto, o entusiasmo e o estado calmo e alucinado, que nos fez querer explicações da banda. Victor Berg veio depor à VERSUS Magazine.


Já que é a primeira vez que a VERSUS Magazine vos está a entrevistar, conta-nos, por favor, um pouco do vosso percurso até aos nossos dias. Creio que a vossa banda teve outro nome, New Keepers, correcto? E, em 2006, vocês eram um duo. Victor Berg: Olá. O meu nome é Victor e toco guitarra, e tenho vindo a tocar com os New Keepers desde 2007. Eu e o Rasmus (NR: Rasmus Booberg), o vocalista e também guitarrista, conhecemonos em 2005 quando me tornei baixista na banda Enraged, na qual ele era o baterista. Isso foi quando a nossa colaboração musical ini-

ciou e que se mantém actualmente. Eventualmente, Enraged tornouse no grupo hoje conhecido como Grass-Eating Man, a única banda de de Rock Brutal do mundo! Mas foi em 2007 que conheci o Tor (NR: Tor Sjödén), o baterista de New Keepers. Ele e Rasmus foram colegas de escola no passado, e rapidamente se encontraram pela paixão que partilham pela música Heavy Rock. O rockduo formouse e gravaram uma jam conhecida como «Chronicles of the Massive Boar». Nessa altura eu tinha largado os meus deveres como baixista nos Enraged (já eramos conhecidos como Vexation), para me

concentrar como guitarrista e vocalista na banda de Thrash Metal Divider. Eventualmente regressei aos Vexation, mas dessa vez eu juntei-me como guitarrista. O duo que assumiu, entretanto, o nome New Keepers Of The Water Towers, estavam à procura de um terceiro elemento para recrutar, para sweet music making and live show extravaganza. Rasmus convidoume, eu disse que sim, e foi assim que me juntei à banda. Eles tinham simplesmente terminado de gravar o segundo EP, «The Chronicles of Iceman», e também tinham recrutado o baixista Edward. Nós eramos, então, quatro

elementos e preparamo-nos para tocar em todos os bares e caves da cidade. Mas faltava-nos um contracto discográfico naquele momento, e tínhamos esperança que o álbum que se seguiria, «The Calydonian Hunt», que naquela altura estávamos a trabalhar, nos iria dar esse tão esperado contracto. Mas brevemente estaria garantido, quando a MeteorCity Records contactou-nos dizendo que tinha ouvido o nosso segundo EP, e estava interessada em colaborar connosco. Futura-

mente eles editaram os dois EP numa compilação simplesmente chamada de «Chronicles», e mais tarde também editaram o álbum «The Calydonian Hunt». Durante aquele tempo permanecemos uma banda com quatro elementos, com baixistas a saírem e a entrarem. Quando o baixista Robin (NR: Robin Holmberg) decidiu desistir, estávamos mesmo a iniciar a gravação do «The Cosmic Child». A gravação do álbum demorou uns duros dois anos, e durante esse tempo não recrutámos ninguém já

que estávamos preocupados com as gravações. Os poucos concertos que fizemos foram no formato de power-trio, inicialmente com Rasmus a tocar baixo e depois eu. Entretanto o álbum estava terminado quando fizemos o nosso último recrutamento para tocar baixo, o Björn. Voltámos a ser quatro novamente, e isso é como estamos actualmente. Espero que os nomes das bandas e todas estas merdas não sejam confusos. Nós chamamo-nos New Keepers por pouco tempo. A banda começou


como New Keepers of the Water Towers. Agora uma curiosidade. O nome actual da vossa banda é bastante curioso. O que está por detrás de tal nome? Eu acho que o Rasmus e o Tor tinham planos para começar uma manutenção de uma companhia de torres de água. Mas depois tudo mudou para se tornar numa banda de Rock. Acerca do «The Cosmic Child». Antes de pedir detalhes, deixame dizer-te que a primeira coisa que me veio à cabeça quando vi a capa do álbum foi o livro «2001: A Space Odyssey», do Arthur C. Clark. Creio que isso nada tem a ver com o álbum. Por isso, o que representa aquele embrião e o mundo como cérebro? O que tem o «The Cosmic Child» para nos dizer? Essa é uma observação interessante. Embora seja uma grande obra de arte, «2001: A Space Odyssey» não inspirou directamente este álbum. «The Cosmic Child» é acerca da exploração do espectro da expansão cósmica. Seja ele infinitamente grande ou pequeno, todos os fenómenos cósmicos têm igual valor e impacto nas nossas vidas. A ideia do universo auto consciente é um tema que afectou profundamente este álbum. É fas-

cinante pensar que nós, que compreendemos coisas que costumam estar no centro de uma estrela ardente, conseguimos contemplar e meditar o espaço e o tempo, quando começa e quando termina. Tal como pensamos acerca da nossa própria vida; para onde nos levará e como terminará. Quero crer que o Arthur C. Clark e o Stanley Kubrick (NR: realizador do filme «2001: A Space Odyssey», baseado no livro, cujo argumento foi escrito a par com o Arthur C. Clarke) estavam sintonizados com as mesmas ideias quando escreveram o argumento do filme. Neste álbum as palavras não tentam dizer-te alguma coisa. Elas estão simplesmente a lidar com assuntos que foram pensados desde a alvorada do Homem. Por isso, agarra no álbum, de preferência a edição vinil, lê as letras e olha para o belíssimo artwork apresentado por Jesse Pepper. Depois, acho que descobrirás o que se trata no álbum e o que significa para ti. Agora, acerca da música. Neste novo trabalho parece que vocês comeram cogumelos e começaram a compor todo o álbum (eh eh). Estão mais progressivos, frescos, limpos e psicadélicos do que nunca! Porquê esta direcção? Foi uma evolução natural? Oh, não me parece que tivéssemos tido a menor hipótese de tocar

estas canções enquanto estivéssemos sob o efeito alucinogénio dos cogumelos. Yeah! Tem sido uma evolução natural ao encontro desta nossa nova sonoridade. Uma combinação do nosso crescimento como músicos, amadurecimento individual e exploração musical, foi o que nos guiou por este caminho. Drogas também estiveram envolvidas. De hoje em diante podes dizer que a vossa banda vai deixar no passado as influências Doom e Stoner, e explorar ainda mais o percurso do estilo progressivo à 70’s? Penso que definitivamente deixámos as influências Stoner. Esse é um rótulo que nenhum de nós sentiu que faria parte da banda. Os elementos progressivos, Doom e psicadélicos da nossa música, são todos os aspectos que continuaremos a seguir. Não estamos a tentar pensar muito dentro dos limites do estilo ou género musical. Enquanto sentirmos que está certo não iremos excluir nada. Os 70’s é uma verdadeira evidência na vossa música. Penso que ouves mais Pink Floyd, Genesis e Camel do que qualquer outra banda da cena Metal. Quando ouço essas bandas penso sempre que nasci na década errada (nasci em 1981). Quando fizeram a


vossa música, sentiram que foi um modo de trazer de volta essa velha e boa música e torna-la contemporânea? Enquanto achar que é bom para mim e que me diz alguma coisa, posso degustar boa música de qualquer década. Aconteceu gostar da música desse género e dessa época específica. É feita de um modo que nos faz sentir que nos deixou muito por explorar. Viajando pela discografia dessas bandas, podes claramente ouvir isso. E isso é algo que eu acho que se aplica à nossa música também. E sim, eu nasci em 1988 e daria qualquer coisa para ver essas bandas em acção. Mas continuo a descobrir a música dessas bandas do mesmo modo que as pessoas fizeram no passado. Apenas já sei como a sua história musical de desdobrou, em vez de ter de esperar pela edição do álbum seguinte. Nós não tencionamos copiar algo que já tenha sido feito. Simplesmente arrastamos as nossas influências até onde agrada os nossos ouvidos, e tentamos interpreta-las à nossa maneira. Como é que trabalham na banda? Creio que deverão estar todos sintonizados na mesma frequência. Todos contribuem com ideias e composições? Todos colocam alguma coisa, de uma maneira ou de outra. Sejam riffs, ideias sobre arranjos ou

melodias, letras ou apenas um feeling no qual podemos trabalhar. Rasmus, vocalista e guitarrista, tem imensa influência na composição e no som, já que ele é também o nosso produtor. Conhecemo-nos há muito tempo, e temos tocado música todo esse tempo. Há diferenças entre nós, e por vezes temos de ser verdadeiros um para o outro, apesar de poder ser desagradável e arruinar um compromisso. Mas as diferenças entre nós tendem a contribuir mais do que a igualdade. Mas mais uma vez, estamos todos na mesma página, por assim dizer, no que toca a música. De outro modo não estaríamos juntos numa banda. O álbum «The Cosmic Child» flui pelos nossos ouvidos de um modo muito leve e agradável. Quer dizer, não é difícil de ouvilo, e creio que quando comprar o meu exemplar irei ouvi-lo nos próximos 10 anos, pelo menos. Por isso, quero saber se após terem terminado o álbum alguma vez deram conta de que faltava alguma coisa nele. Um som ali, alguns detalhes acolá. Sentiste que tinhas de mudar alguma coisa? Pergunto, porque para mim este trabalho é de mestre! Isso que dizes é muito simpático! Fizemos um trabalho muito meticuloso em unir as partes deste álbum, por isso estamos muito sat-

isfeitos com isso. Claro que há coisas que desejaríamos que tivessem sido diferentes, mas os “erros” que ouvimos são simplesmente coisas que levaremos connosco quando trabalharmos nas músicas do próximo álbum. Eu acho que Rasmus teria mais informação para dar acerca de algumas partes da produção. Ele passou momentos horríveis ao misturar e masterizar as mais de 100 faixas das canções em duas semanas. Como vão promover o álbum? Concertos, digressões? Podemos esperar por um concerto dos New Keepers of the Water Towers em Portugal? Fazendo esta entrevista é uma maneira de promover esse concerto. Listenable Records está a trabalhar arduamente em ligar-nos a este tipo de conversa, e até ao momento mantivemo-nos em contacto com pessoas de toda a Europa. Esperamos fazer tanto concertos como digressões por todo o mundo, e esperemos que passemos por Portugal. Mas primeiro aguardaremos pelas reacções ao álbum após o lançamento a 13 de Março! Obrigado pela conversa, e estou contente por teres gostado da música que fazemos. Cheers! Entrevista: Victor Hugo


Eternament

Depois do sucesso de «New World Shadows» os Omnium Gatherum tiveram de puxar dos galões e fazer uso de toda a sua arte e engenho para que as expectativas não saíssem defraudadas. «Beyond» é seguramente, um marco no Death Melódico dos Omnium. Markus Vanhala e Jukka Pelkonen desvendaram-nos mais um pouco sobre este lançamento... e não só!


World Shadows» as coisas têm vindo a crescer. Antes de mais, li algures que têm um novo baixista, Erkki Silvennoinen. Ele juntou-se aos OG depois da gravação de «Beyond». Porque é que não o contrataram para gravar? Jukka Pelkonen (JP): Na altura da gravação não estávamos ainda decididos quanto ao novo baixista, por isso o nosso grande amigo e colega Eerik arranjou tempo para nos ajudar e gravar as linhas de baixo. O Eerik é excelente e podia ter facilmente gravado, mas nessa altura não foi possível. Estamos realmente muito satisfeitos com o baixo... Está muito bom mesmo! MV: Houve mais problemas com os anteriores baixistas, muito antes de ambos os E’s estarem envolvidos em «Beyond»... :-D - O Eerik já tinha feito a tournée de suporte ao álbum «Redshift» e é um grande amigo nosso mas esteve sempre demasiado ocupado para se juntar a nós nos concertos como músico definitivo, pelo que, amavelmente nos tem ajudado ao longo destes anos

te melódicos

Olá Markus! Parabéns por este tremendo lançamento. Na edição anterior da VERSUS «Beyond» foi o álbum do mês – 10/10. Comentários!? Markus Vanhala (MV): Olá e obrigado pelas boas notícias, parece que foi uma excelente review! Até agora a resposta ao álbum tem sido fantástica, logo, não nos podemos queixar. Estamos muito contentes com isso e por tudo que nos tem acontecido. Parece que após o lançamento de «New

Na minha opinião, desde «The Redshift» vocês têm vindo a crescer de uma forma sustentada. Cada álbum é sempre (ainda) melhor que o anterior. Penso que não se pode dissociar a presença de Teemu Aalto e Dan Swanö. JP: Claro que não. Apesar de não estarem envolvidos na atual composição das músicas eles sempre tiveram um papel preponderante na criação das sonoridades destes álbuns. Ambos são profissionais e estiveram muito empenhados nas suas tarefas. Eu acho que a nossa colaboração foi tremendamente eficaz. MV: Desde o «The Redshift» que passou a existir uma química, tanto ao nível musical como pessoal e conseguimos encontrar o caminho que queríamos seguir bem como a nossa identidade. É uma aproximação ao lado mais melódico e progressivo do Death Metal. Death metal orientado a adultos, quer dizer AOR DM. Em relação a estes dois lançamentos, eu acho que «The New World Shadows» e «Beyond» são álbuns diferentes em relação, por exemplo, ao estado de espírito para os ouvir. «The New World Shadows» é mais pesado, não tão melódico quanto «Beyond». No entanto, penso que este último é mais melancólico e triste. MV: «Beyond» é certamente o nosso álbum mais melódico até à data, mas também há lá muita esperança, logo não é assim tão melancólico, liricamente e melodicamente falando. «Beyond» é certamente uma excelente continuação de «The


New World Shadows», segue as mesmas linhas musicais mas é claro que com novos pormenores adicionados ao seu todo. Pensando melhor, «The New World Shadows» foi composto principalmente na primavera e verão. Por outro lado, «Beyond» foi composto durante um sombrio inverno em dezembro/janeiro, então, é capaz de ter contribuído com alguns momentos relaxantes mas melancólicos dos dias de inverno para a magia do álbum. Três coisas chamaram-me a atenção em «Beyond»: Uma foi a semelhança entre os segundos temas: “New Dynamic” and “Ego”. Os temas mais melódicos são os segundos... coincidência? A outra é que não inclui nenhum instrumental, porquê? (Não, não me esqueci da terceira...) MV: Bem, o primeiro tema “Luoto” É realmente um instrumental, logo, há um em «Beyond». :-D Depois da introdução épica e sinistra é bom soltar a fúria com temas rápidos como estes e são bons temas também para tocar ao vivo. Mas nunca pensámos em manter esta ordem nos álbuns, já que «Beyond» começa com um curto instrumental e «NWS» com um épico de 10 minutos. … a Terceira é o tema “Who Could Say” – (o meu favorito do álbum, já agora). Para mim é aquele que procuro em todos os álbuns, o tema diferente mas que nem sempre aparece. A primeira vez que ouvi os primeiros segundos foi como: “Wow, o

Sting canta nesta musica” mas... “Não, afinal é o Ville Valo dos Him” e lembro-me de pensar “Yeah, os OG fizeram uma balada!” mas no coro ali estava: a voz poderosa, mais cavernosa e profunda do que nunca, no entanto, melancólica e triste. Falanos um pouco sobre ela... JP: Sim, este é diferente quando comparado com os outros. “Who could say” é o tema que, na minha opinião, representa as duas principais características que definem os OG: Melodia e agressividade, misturadas de forma a podermos obter o melhor das duas. É um grande elogio quando comparas a minha voz com a do Sting. Obrigado! Pessoalmente, não ouço o som do Sting mas mesmo assim... WOW! Eu soou como eu, acho eu. Claro que as pessoas podem fazer as comparações com quem quiserem e eu não me importo com isso. Este tema tem, definitivamente, uma tristeza que é contrabalançada na letra, cheia de vida e entusiasmo. No que diz respeito ao coro nós só tivemos que adicionar a voz profunda e cavernosa porque, realmente, aumenta a sensação final da música. MV: Sting é o Rei! :-D “Who Could Say” é o ponto de viragem do álbum, assim como “Greeneyes” o foi em «The Redshift» e “An Infinite Mind” em «New World Shadows». Um tema pop death metal para manter as coisas interessantes e variadas. Eu gosto destes extremos como os versos pop e os coros poderosos e cavernosos, tudo junto de uma forma coerente.


““Who could say” (...) representa as duas principais características que definem os OG: Melodia e agressividade, misturadas de forma a podermos obter o melhor das duas” Liricamente falando, este é um álbum conceptual, também, com ligações à capa. Quem escreveu as letras? Qual o conceito por detrás das palavras? JP: O álbum é conceptual mas não da forma tão linear que deveria ser. O conceito é, basicamente, a ideia de compreender a dualidade da existência na unicidade. Este tema é abordado de diferentes formas, por exemplo, através das relações humanas ou a mística interior de nós mesmos, etc. Há uma ligação entre os temas mas cada uma funciona de forma independente e possuem elas próprias uma história. As letras escrevi-as todas. Vocês têm uma amostra no Youtube do tema “New Dynamic”. Irá haver um vídeo? É este o primeiro single? MV: “New Dynamic” foi a primeira amostra ou se lhe quiseres chamar o “single Youtube” e foi mais por ser um tema mais típico dos OG. O primeiro vídeo será mesmo “The Unknowing” que é mais rápido e melancólico. O vídeo é uma agradável visão dualista, entre bonitas imagens de natureza e obscuras mas intimistas imagens da banda a tocar. Dois mundos em contraste. Tivemos uma ideia para fazer um vídeo mais old school e não ter um vídeo todo bonito da banda a tocar numa fábrica como 90% de todos os vídeos que se fazem hoje em dia. É um vídeo calmo e relaxante. No que diz respeito à tournée, em 2013 vocês vão tocar pela primeira vez no Japão com uma banda Japonesa. O que vocês esperam destes concertos? Na Europa podemos esperar uma visita a Portugal? MV: Vamos começar o ciclo de concertos de apoio a “Beyond” com a tournée no Japão e Finlândia e mais tarde haverá uma tournée europeia na primavera. Esperamos tocar em Portugal, uma vez que já tocámos em 2007 com os Caliban. Tocámos no Porto, Almada e Faro e os concertos foram loucos. Especialmente o de Almada que me ficou na memória pelo moshpit e crowdsurfings, realmente bons tempos e boas pessoas. Estou realmente ansioso pelos concertos no Japão, uma vez que é a primeira vez que os OG vão tocar fora da Europa. Estive uma vez em Tokyo com a minha outra banda, os Insomnium e foi um dos melhores concertos de sempre. O público era maluco, as pessoas eram simpáticas e educadas, TODOS

os pormenores da tournée funcionaram na perfeição, as miúdas são bonitas e todo o país é fantásticos com todas aquelas coisas malucas como os WC’s tecnológicos. É realmente um país diferente o que o torna exótico. É muito raro no Japão uma banda fazer uma tournée com duas semanas de duração, normalmente são 1-3 concertos, por isso estamos muito felizes por poder fazer isto. O Martin dos Dark Tranquillity, também um admirador do Japão, enviou-me uma mensagem a perguntar como conseguimos arranjar uma tournée tão longa no Japão e se eramos uma espécie de Arch Enemy! hahaha Uma vez que o álbum só está disponível em fevereiro, suponho que já tocaram alguns temas ao vivo. Como está a ser a receção aos novos temas? JP: Na realidade só tocámos um dos novos temas ao vivo. Isto foi intencional porque só tínhamos marcado alguns concertos, visto o novo álbum ainda estar em produção. Iremos começar com a força dos novos temas quando começarmos a tournée na Finlândia, em Fevereiro/Março e Abril. O tema novo que tocámos, “In The Rim”, foi muito bem recebido pelo público. Algo que achei interessante foi a inclusão de uma pen drive juntamente com alguns extras dos OG (Os nossos leitores podem verificar em http:// www.omniumgatherum.org/) mas penso que todas as 100 unidades já foram vendidas. Foi uma ótima ideia e nunca tinha visto antes. Obrigado pela entrevista e parabéns mais uma vez por «Beyond». Espero muito sinceramente vervos em Portugal! MV: Yeah, a edição limitada foi uma estranha mas boa ideia. Por exemplo, foi incluído um tema extra, foi uma versão Omnium Gatherumized de um tema dos Rush – “Subdivisions” um dos meus temas favoritos e foi uma excelente versão e temos também o Dan Swanö nas vozes limpas. Estou bastante orgulhoso sendo eu um fã dos Rush. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro


O exorcismo para sanidade Os Defeated Sanity, apesar de terem surgido na Alemanha, baseiam o seu som num Death-Metal tipicamente Americano. Em 2013 e com Konstantin Lühring nas vocalizações o poder desta banda não perdeu força. Curiosamente o único membro fundador ainda na banda – Lille Gruber – é também baterista mas tem um papel fundamental e mais vasto na definição da personalidade da banda. Lille respondeu a algumas questões.


Não é muito habitual ver o único membro fundador da banda como sendo o baterista. Como comentas sobre este fato que acontece aos Defeated Sanity (DS)? Lille Gruber: Bem, eu não posso dizer que ser o baterista desta banda é meu papel principal. Eu vejo-me como um compositor / diretor musical e força motriz nos DS! Como comparas o line-up atual aos membros anteriores, tanto em palco como na composição? Konstantin parece confirmar que foi a aposta perfeita para as vocalizações, correto? LG: O line-up principal da banda desde «Psalms of the Moribund» - Jacob, Chris e eu - tem crescido muito em todos estes aspetos. Vivemos muitos altos e baixos e mantivemo-nos fiéis com a nossa abordagem intransigente ao Death Metal e

mostramos muita consistência ao longo dos anos. Konni é de fato a escolha perfeita e integrou-se mais e mais nesta onda. Eu acho que há grandes coisas que ainda estão por surgir, tais como concertos ao vivo, assim como novos discos. O vosso último álbum «Passages Into Deformity» vem com um DVD bónus. Olhas para os Defeated Sanity como uma banda que finalmente conseguiu algum grau de estrelato? LG: Hahaha eu acho que, olhando para o DVD vais ver quanto estamos no patamar de “estrelas” :-)) A minha convicção era de que as pessoas realmente estariam interessadas em algumas das coisas que tínhamos para dizer embora tivéssemos nossas dúvidas. No final este DVD acabou por ser quase como um mini documentário. Inclui performances de estúdio de duas faixas inteiras, uma pequena


“Eu vejo-me como um compositor / diretor musical e força motriz nos DS!” lição de bateria, muitas coisas idiotas protagonizadas por nós no estúdio e sala de ensaios, muitas entrevistas, explicação do conceito lírico, e explicação sobre o processo de composição para uma música inteira e e e e ..... Será que podemos saber o que é que o tipo está a comer no fim da canção “Lusting for transcendence”? Ou o que é que essa parte específica pretende representar? LG: Na verdade trata-se da introdução da música “The purging”, queríamos ter as introduções para cada canção no final da música anterior, de modo que as pessoas pudessem saltar as introduções se quisessem ir direto para a música seguinte. A música “The purging” é sobre um trabalhador numa linha de produção de frangos que tem que matar os animais todos os dias e experimentar a loucura no matadouro para que outras pessoas podem ter as suas refeições todos os dias. Ele, então, entra em estado de coma e tem que lidar com o Karma e vai experienciar visões infernais... Eu

acho que representa a minha posição acerca da nossa relação doentia com a morte, e como estamos sempre a tentar ignorá-la. Mesmo assim 80% da humanidade desfruta dos sabores da carne morta todos os dias, 3 vezes ao dia... é a minha versão muito própria do Death-Metal suponho. O Jacob parece fazer um trabalho muito bom com os seus arranjos de baixo indo desde os sons pesados e riffs profundos até segmentos inspirados em Jazz, mas o resto da banda parece ficar alinhas mais pelo Death Metal clássico. Sendo a vossa sonoridade baseada num estilo muito pesado, é um pouco curioso ouvir toda esta diversidade. Como comentarias esta constatação? LG: Concordo que Jacob faz um ótimo trabalho na banda. Os segmentos mais progressivos ou “jazzy” são criadas por toda a banda e não só através de um membro. Até mesmo as vocalizações têm alguns desses padrões, às vezes, que não é tão comum em Death Metal clássico, eu acho. O nosso estilo é influenciado por muitas abordagens


“Acho que representa a minha posição acerca da nossa relação doentia com a morte…” diferentes dentro do mundo da música, J.S. Bach, Mahavishnu Orchestra, Miles Davis, Messiaen, Watchtower, Spastik Ink, Rush, mesmo a música gospel, drum’n’base ou hip hop poderiam constar da nossa lista. Simplesmente preferimos pesquisar em toda a largura de banda de toda a história da música e o resultado acaba por ser o descobrir que tudo tem uma mesma origem. «Passages Into Deformity» realmente eleva os limites em termos de padrões rítmicos intrincados e domínio técnico de todos na banda. Estão todos os membros dedicados a 100% ao projeto, de modo a alcançar estes resultados? LG: Wow, obrigado pelo elogio. Sim, toda a gente na banda dedica pelo menos 1-2 horas de cada dia a música dos Defeated Sanity. É um trabalho duro e se alguém não tivesse esta abordagem não seria capaz de sobreviver nos Defeated Sanity. Poderias descrever aos nossos leitores como é o vosso processo de composição? LG: Assunto pesado. Se comprarem o novo CD, vão levar também o DVD bónus onde nós aproveitamos o tempo para “explicar” a criação da música “Lusting for transcendence”. A maioria das coisas são coladas por mim, como eu disse eu sou uma espécie de diretor musical na banda, mas cada membro tem arranjos, riffs, até mesmo ideias para padrões de bateria, etc... portanto trabalhamos muito juntos para criar música. Essa parte do DVD ilustra bem como uma canção é construída nos DS, todos devem ver! Numa entrevista tua de 2010, dizes que “as letras nascem de nossa fascinação com crueldade, sofrimento, morte, sentimentos obscuros”. Que parte dessa ideia é devido à personalidade da banda e qual a parte que é puramente arte / estética? LG: Eu acho que todos nós estamos apenas infetados com Death Metal. Não é de admirar que te vás interessando por filmes de terror em que se lida com assassinos em série, a morte, o mal no homem e todas as coisas que eu mencionei. Por outro lado, talvez o nosso fascínio com a morte é a razão pela qual fui sugado pelo Death Metal em primeiro lugar? Na verdade, todos nós somos muito diplomáticos, pessoas pacíficas do “primeiro mundo”, com vidas normais, namoradas, ani-

mais de estimação, hobbies normais, etc… mas cada indivíduo tem um certo fascínio com os lados mórbidos de vida e muitas pessoas estão a ignorar ou menosprezar esses aspetos, como podes ver testemunhar na cultura pop. Qual dos artistas presentes nos tops de vendas fala sobre alguém como Elizabeth Bathory ou Jeffrey Dahmer? Tudo o que ouves nas letras são temas acerca de relacionamentos infantis, etc... Portanto acho que se tornou uma espécie de «nosso trabalho» cobrir o lado negro, pois a arte é um reflexo do que vai acontecendo neste mundo, em que há e haverá sempre violência, crueldade e injustiça. Vocês já fizeram bastantes tours na Europa e EUA. Isso seria o próximo plano após o lançamento de «Passages Into Deformity»? LG: Sim, há uma série de planos. Rússia está nos planos, EUA está nos planos, a Europa está nos planos... o mais complicado é que tudo isto ainda é totalmente «faz por ti próprio» após 4 álbuns, então somos confrontados com uma série de problemas e somos confrontados com eles diretamente. Mas fiquem sintonizados. Realmente gostamos da última vez que passamos por Portugal e nós queremos voltar! Algumas palavras adicionais para os nossos leitores? LG: Fiquem mal e comprem o nosso álbum/DVD. O que nos facilita a vida para tocarmos para vocês e transformarmos as vossas caras em polpa! Obrigado pela entrevista e esperamos ver-vos ao vivo! Lille/DS Entrevista: Sérgio Teixeira




SĂŞ tudo o que dese jares


Um quarto de século pode nem ser o tempo de existência de alguns dos nossos leitores mas, como sabem, muita coisa pode ser feita no tempo de existência dos Rotting Christ, uma banda que firmou de forma bravia o Black Metal em terras helénicas e depois pelo mundo afora. Discorrendo sobre a banda e diversos valores intemporais, aqui ficam as palavras de Sakis Tolis. Saudações! O vosso novo álbum é soberbo já que vagueia por diversas paisagens sonoras que agarram a atenção do ouvinte de maneira tão firme, providenciando também um grande conhecimento sobre os mitos e segredos das civilizações antigas. Após 25 anos desde a génese da banda, depois de vários lançamentos influenciadas por diversos géneros musicais e debruçando-se sobre temas como a Religião a História e a Psicologia, parece que a palavra “cansado” não faz parte do vosso vocabulário. Qual é, na tua opinião, o melhor “elixir” para essa vitalidade? Sakis Tolis: Antes de tudo, gostaria de expressar a minha satisfação pelo facto de que o nosso novo álbum “falou” à tua alma e te fez viajar até ao mistério e ao ocultismo de outros tempos. Este tem sido o meu objectivo como músico todos estes anos, um objectivo que me mantém vivo e sem cansaço, criar música que fascine as pessoas. O processo de composição é um assunto sério para mim e nunca o faço só por fazer. Estou a dar o meu melhor e consideroo a parte mais importante da minha vida. É esta a razão que as pessoas (apesar do facto de gostarem ou não da música) acreditam que a banda sempre se refresca. Assim, orgulho-me de que gostes do nosso novo álbum, meu amigo. Como é que descreves este novo álbum em relação aos dois anteriores? Tem uma atmosfera mais sombria e oculta do que os dois álbuns anteriores. Realmente, não posso



dizer qual é o melhor álbum mas sinto que Rotting Christ nunca mais editou um álbum tão sombrio quanto este desde «Thy Mighty Contract». Posso dizer que este é um passo acima a nível sintético, musical e técnico. Actualmente, vocês são uma banda com apenas dois membros. O que aconteceu para haver a mudança de line-up? Como é que as coisas se processaram durante a gravação? Tudo tem o seu início e fim nesta vida, apenas tinha chegado o momento dos membros mais antigos da banda seguirem a ideia inicial. Assim, eu e o meu irmão mantivemos o espírito vivo e criamos todo o álbum. Themis [Tolis] tocou a bateria e eu toquei o resto dos instrumentos tal como tratei da produção. Nada mudou desde o álbum anterior pois já estava a fazer mais ou menos a mesma

Como te disse antes, a composição é muito importante para mim e eu passo imenso tempo pensando e imaginando uma nova música, uma nova ideia. No entanto, como se concentra no nosso objectivo quando se vê tanta miséria à nossa volta? Como se concentra quando se tem de lidar com tantas matérias prosaicas que te derrubam quando precisas de voar além deste mundo? Essa foi a aposta com este álbum e, apesar das muitas dificuldades que encontrei, consegui completá-lo… Apenas acredito na ideia… Não sei se a ideia é forte para multidão mas, para mim, o Metal é algo sério e assim devo dar-me ao campo de batalha. Pensas que fazer o que se quer nunca deverá pôr de parte uma certa melancolia (sinto-o mais neste álbum em relação à composição) ou que significa apenas a total repulsão de qualquer

vidas aqui e ali. Tudo isso preenche um puzzle multicultural que caracteriza este álbum. Todos temos opiniões, dilemas e curiosidades em relação ao mundo através dos séculos. Como tu, não tenho religião mas estou sempre interessado em conhecer e compreender. Achas que Rotting Christ tem o direito e o dever de abrir as mentes não importando os preconceitos que enfrentaram ao longo de todos estes anos? Quero acreditar que sim e esta é uma razão pela qual ainda estou a lutar. Luto pelo direito de acreditar no que se quer acreditar mesmo que isso perturbe alguém. Peço desculpa por dizer mas, por vezes, as pessoas com ideias pantanosas precisam de um ousado estremecer para acordarem. Bem, agradeço-te pelas respos-

“Luto pelo direito de acreditar no que se quer mesmo que isso perturbe alguém.”

coisa, mas, desta vez, mostra-se mais paixão do que antes e julgo que o resultado recompensou-me. O processo de gravação foi realmente longo, com mais de quatro meses e duas semanas misturando nos estúdios Fascination Street na Suécia. Tivemos alguns músicos da área como convidados em algumas músicas, também um coro. O resultado final, na minha opinião, soa como a melhor produção que Rotting Christ alguma vez teve. De que maneira está a tua vida de músico a ser afectada pela crise económica no teu país? É a banda a tua única ocupação? Nos últimos anos comecei a viver da banda tocando em digressão imensas vezes. Infelizmente, a actual crise financeira que existe no meu país fez com que a vida se tornasse mais difícil e isso não é uma queixa MAS uma realidade.

moral? Como se devêssemos ser super-humanos sem consciência do que é direito ou errado… Direito ou errado é algo subjectivo, algo pelo qual cada individuo deve lutar. Não existem superhumanos, existem apenas super ideias pelas quais devemos caçar mesmo que saibamos que isso é uma vaidade. Podes falar-nos um pouco acerca das letras? É um escape para a realidade ou meramente uma maneira de “ensinar” aqueles que ainda não tomaram conhecimento de certas ideias associadas a algumas antigas civilizações? Este álbum é uma viagem ao conhecimento de antigas civilizações, ao ocultismo que emerge do lado negro de cada uma delas. Existem referências aos mitos de Incas, Maias, antigos Gregos e Eslavos, línguas antigas que podem ser ou-

tas e desejo-te tudo de bom, esperando que haja este ano um concerto agendado para Portugal. Cough… Keep the spirit inflamed!!! Também o espero, irmãos. Espero visitar a vossa terra, que sofre mais ou menos o mesmo devido a esses conquistadores tecnocratas. Paciência… cedo farão parte do passado. Até lá…KEEP THE SPIRIT ALIVE e que viajem até ao vosso mundo, aquele que desejam criar e sonhar com a música METAL. NON SERVIAM Entrevista: Jorge Ribeiro de Castro


O principio de tudo Tenho a dizer que poucos álbuns de estreia me surpreenderam pela maturidade revelada. Apesar da bateria ser programada digitalmente, este álbum soa... orgânico. The Omega Experiment surgiu da necessidade de relatar experiências de vida, transmitir esperança e fazer a diferença. Será, certamente, um dos melhores álbuns progressivos do ano. Não é por acaso que Devin Townsend lhes teceu rasgados elogios. E o melhor é que em 2014 temos novo álbum. Espero que seja o principio de tudo.


Olá Daniel! Primeiro que tudo, que fabuloso álbum de estreia. Surpreende-me a maturidade do vosso trabalho. Há quantos anos vocês andam a tocar? Daniel: Obrigado pelas amáveis palavras. Tenho 35 anos e toco guitarra desde os 8 mas só se tornou mais sério por volta dos 11 anos. Ando por bandas desde os 13. Vocês são um novo grupo para os nossos leitores: como é que se definem e em termos musicais? Somos só uma banda que quer trazer aquele sentimento familiar e edificante para a música progressiva. Quando penso na minha infância as melhores recordações parecem estar sempre rodeadas de rock clássico melódico, bandas como Styx, Boston ou Rush. Nós quisemos trazer isso para um nível mais pesado e profundo. Eu diria que o objetivo final será a perfeita simbiose entre o rock clássico, metal progressivo, bandas sonoras muito ao estilo de John Williams, pop dos anos 80 e outras coisas... Vejo no facebook (https://www.facebook.com/ theomegaexperiment/) que fazes a maior parte do trabalho. Como baterista, algo me chamou a atenção: tu fazes a programação da bateria. Como é que fazes isso? Tens alguma experiência? Consigo tocar bateria a um nível básico mas acho que o conhecimento que tenho é mais ao nível da intuição. Durante anos fiz air drums ao som do «Human» dos Death e do «Retribution» dos Malevolent Creation, portanto, também acho que aprendi alguma coisa com isso Como é que consegues fazer soar a música tão orgânica? Em comparação com outras programações feitas por outras bandas, ao nível da bateria, penso que o nosso som até é bem digital e transparente. Mas para o que vale a pena, o uso eficaz de compressão e equalização fazem milagres, bem como mexer com as velocidades Já reparei que têm agora a banda completa. No que diz respeito às questões anteriores: Quando programas a bateria tens em conta de que alguém vai, na realidade, tocar isso? Quero dizer, tu pensas algo do género: “Bem, este riff é muito porreiro mas muito difícil de tocar ao vivo”, por exemplo. Na realidade não temos a banda completa. Tínhamos na última tournée quando convidámos alguns amigos para tocar e conseguimos manter o Matt (Baixista), portanto, estamos muito satisfeitos. Quando programo a bateria não penso como será ao vivo ou melhor, quando componho música (ponto) não penso em como vai ficar ao vivo. Não quero colocar

qualquer tipo de restrições. Eu penso que para uma banda como nós, estraga a magia. Só nos preocupamos com as partes ao vivo mais tarde. ahahah Já disse que o álbum é excelente? Devin Townsend deu-vos um grande elogio (Inteiramente merecido, já agora) e então, como é que se sentiram com este reconhecimento público? Isto foi uma grande ajuda à vossa promoção e The Omega Experiment tem, também, algumas influências do próprio Devin. Yeah, foi realmente extraordinário. Ele não é propriamente conhecido por publicitar as bandas – grande ou pequenas – por isso, o que aconteceu foi mesmo extraordinário e um sonho tornado realidade. E sim, nós adoramos a música dele e somos fortemente influenciados, mas acho que nos moldámos a algo que é nosso e será ainda mais assim no próximo álbum. Na edição anterior da VERSUS entrevistei o Ben Sharp/Cloudkicker e, como ele, não te importas de usar a tecnologia. No entanto, ao contrário dele vocês têm agora uma formação completa – perguntei-lhe se estaria nos planos dele tocar a música dele com uma banda mas, infelizmente, não está nos planos dele. Não tens receio que algures por aí existam pessoas que pensem que a vossa música está de alguma forma deturpada? Eu sei que há pessoas que pensam isso, ahahah por esse motivo é que não leio os comentários no Youtube. É muito difícil reproduzir ao vivo aquilo que fazemos no álbum. Uma coisa que aprendi das poucas vezes que tocámos ao vivo é que preciso de ter algum tipo de “ambiente” na minha voz. Revi alguns vídeos e a música soa muito boa mas a voz é muito “seca”. “Vivendo e aprendendo”. Também, se tivermos sempre uma pessoa diferente a tratar do som que não conheça a nossa música, não nos vais saber a maneira mais correta de nos representar. Todos os responsáveis de som que já tivemos tiveram sempre os “samples” muito baixos. Esses “samples” para a voz ou os outros instrumentos têm de estar altos para surtir o efeito do álbum. Espero um dia podermos ter o nosso próprio técnico de som, ahahah. Mas se essa é a opinião do Ben Sharp, eu sinceramente, não o culpo. (Estou com um pouco de receio de fazer esta pergunta. Logo, se não te sentires à vontade para responder avançamos para a próxima). Tu passaste tempos muito difíceis no que diz respeito ao uso de drogas (Felizmente, agora estás livre) e gostaria de saber se os TOE começaram porque precisavas de seguir em frente e fazer algo diferente e inspirador. Foi essa a exata razão porque os TOE nasceram. Eu queria pegar nesta má experiência que tive na vida


e usá-la como algo positivo, contar a história, por assim dizer. Muitas pessoas preocupam-se com estas perguntas, mas eu vivo para elas. Se eu puder ajudar uma pessoa que seja a mudar de vida só por ter lido esta entrevista, então, isto é absolutamente extraordinário. É um dado adquirido: eu gosto de aproveitar estas oportunidades para isto. Esses anos negros são refletidos na música, letras ou ambos? Eu diria ambos. Penso que é muito difícil dizer com precisão de onde vem a inspiração. Posso dizer-te que o Devin ou os Pain of Salvation são uma grande inspiração mas seguramente toda a música e experiên-

cias que ouvi/tive na minha vida têm/tiveram um grande impacto também. Logo, os anos mais negros têm, definitivamente, um grande peso na música e letras, assim como os bons tempos. No fim de tudo acho que a melhor arte é inspirada pela dor. Muitas bandas são como os TOE: tremenda qualidade, um álbum ou EP mas sem editora. Li que assinaram recentemente pela Listenable Records. Vou mencionar outra vez o Ben Sharp porque não precisa de nenhuma editora para se promover. Agora, tenho algumas questões e podes responder da maneira que quiseres: Como é que vocês se promovem? A vossa ideia era


“Durante anos fiz air drums ao som do «Human» dos Death e do «Retribution» dos Malevolent Creation” sempre arranjar uma editora ou não se importavam com isso? Como é que a Listenable vos encontrou? Visto existirem muitas bandas como os TOE que conselhos lhes dão? Quando começámos não antecipámos nada disto. Só queríamos fazer este álbum épico. Quando nos apercebemos que tínhamos feito algo especial decidimos lançar três temas do álbum que formaram o EP «Karma», gratuito, que foi muito bem recebido. Basicamente, usámos o Facebook como a ferramenta principal de promoção mas o James (Monteith) dos TesseracT trabalha em Relações Públicas e ajudounos arranjando-nos algumas reviews... Quando o álbum se aproximava do fim estava no trabalho à procura de editoras mas todas elas recusaram. Lançámos o álbum digitalmente e em nome próprio e usámos isso para mostrar à imprensa. Em Setembro último a Listenable abordou-nos e quanto mais falávamos com eles mais nos pareciam os mais adequados. Estamos ainda na escola e não nos podemos dar ao luxo de desistir e dedicarmo-nos a tempo inteiro a isto, andar em tournée durante 10 meses e estas coisas todas. Definitivamente, podíamos ter continuado sem editora mas a promoção, contactos e fundos não estavam lá. A Listenable ficou mesmo a fim e também nos ajudou. Muitas editoras assinam com bandas por razões estúpidas mas sei que estas pessoas gostam mesmo da música e isso é de longe o mais importante. Tendo uma editora realmente ajuda-nos a libertar para outras coisas que precisamos de fazer como concentrarmo-nos na música e nos estudos. Sentimos que foi como um grande trampolim para

uma carreira sólida e para nos levar ao próximo nível. Vocês têm lançado material desde 2010. Porque não lançaram “February 1 & 2” com este álbum? Ou então, um EP com este dois (longos) temas? Estas foram somente umas jams muito ambientais que fiz com o Ryan. Temos um monte delas. hahaha O que podemos esperar de vocês no futuro? O próximo álbum vai ser com uma banda completa? Bem, podem esperar a estreia pela Listenable em Fevereiro e o segundo álbum lá para 2014. Nós voltaremos aos concertos no verão, esperemos. Fomos convidados para a Europa e estamos a tentar fazer com que as coisas resultem. Sim, o próximo trabalho será com músicos a sério. haha Tu tens uma participação especial no último álbum dos Encircle. Como foi essa experiência? Eu conheço o Anthony há alguns anos e foi muito divertido escrever e gravar aquele solo para ele. É dos meus favoritos que alguma vez fiz. Obrigado pelo teu tempo. The Omega Experiment é extraordinário. Seguramente e sem dúvida o melhor álbum progressivo do ano. Muito obrigado. Ficámos realmente espantados com a recepção e vamos dar o nosso melhor para não desapontar no futuro Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro


Espelhando

Com uma música progressiva de boa qualidade, os polacos Disper intitulado «Living Mirrors» que denota desde logo uma clara evolu maiores. A VERSUS magazine esteve à conversa com eles, e apesar das respos dentro.


o vivacidade

rse apresentam-se em 2013 com o segundo e mais recente trabalho ução em relação ao seu passado, e que os pode projectar para voos

stas curtas e directas deu para conhecer a banda um pouco mais por


Olá, Podes dizer-nos quem são os Disperse e a vossa história? Bem, nós somos oriundos da Polónia e tocamos música progressiva e experimental. A banda foi formada em 2007 e em Abril de 2010 lançamos o nosso primeiro álbum que dá pelo nome de «Journey the Hidden Gardens». Actualmente estamos a editar o nosso segundo trabalho. Quais são as vossas expectativas para este segundo álbum intitulado «Living Mirrors»? Esperamos conquistar novos fãs e tournées se for possível. Nós tivemos poucos concertos fora da Polónia, mas todos eles foram fantásticos. Seria bom sair fora do nosso país novamente e tocar muito mais vezes. Na vossa opinião quais são as maiores diferenças e similaridades entre o novo álbum e o anterior? As maiores diferenças poderão ser o som mais pesado, a atmosfera e as emoções. Houve algumas trocas entre os elementos que participaram na gravação dos instrumentos neste novo álbum e aqueles que actualmente pertencem à banda. Quais são as razões para estas mudanças e porque razão aconteceram apenas antes do lançamento de «Living Mirrors»? Nós apenas pretendíamos refrescar a banda por isso decidimos recrutar novos membros. Isso aconteceu antes do novo álbum sair porque nós pensamos que era a

melhor altura para essa troca. Basicamente, uma nova jornada com o novo álbum e com novas pessoas. A Polónia é especialmente conhecida por bandas de metal mais extremas: os Behemoth, Decapitated e os Vader são algumas das mais conhecidas. Contudo a vossa banda é marcadamente mais progressiva e melódica e com vozes limpas. Quais são as vossas inspirações para o vosso som? Alguma vez vos sentistes seduzidos por som mais extremo? Obviamente que nós gostamos de som mais extremo. Nós gostamos de muitos estilos musicais. A inspiração adveio principalmente dos Dream Theater, Periphery, Allan Holdsworth, de bandas do estilo electrónico como Trifonic, Celdweller ou da música pop em que alguns exemplos são Coldplay e 30 Seconds To Mars. Olhando para as vossas letras, quem as escreve e qual o principal tema que podemos escutar nelas? Muitas das nossas letras foram escritas pelo nosso baixista anterior, Marcin Kicyk e algumas delas pelo guitarrista Jakub. Os tópicos são bastante transcendentais e giram em torno da temática do amor e sobre o que nós acreditamos como os caminhos da evolução humana. Podes encontrar as nossas letras no nosso web site brevemente. Pensas que a vossa nova editora (Season of Mist) vos pode abrir a porta para palcos

maiores e ajudar na vossa afirmação noutros países? A vossa agenda de concertos está muito preenchida? Quais as vossas metas para 2013 a este nível? É fantástico. A Season of Mist é uma grande editora e nós estamos muito satisfeitos por trabalhar com eles e espero que eles também estejam satisfeitos por trabalhar connosco! Por enquanto a nossa agenda de concertos ainda não está muito ocupada mas esperamos que isso mude brevemente. Visto que estamos a começar um novo ano, quais são as vossas resoluções para o novo ano. Evoluirmos como músicos, compositores, produtores e seres humanos! E Portugal? Quando é que estão a planear visitar o nosso país? Com que banda portuguesa gostáveis de partilhar o palco? Infelizmente não conhecemos nenhuma banda portuguesa, mas vamos tratar de conhecer. Não sabemos exactamente quando vamos tocar ai mas amaríamos visitar o vosso país o mais rápido possível. Obrigado pela entrevista. Queres deixar alguma palavra aos vossos fãs em Portugal? Muito obrigado. Esperamos que gostem da nossa música e esperamos ver-vos em breve. Entrevista: Sérgio Pires



BLOCKHEADS «This World is Dead» (Relapse Records) Já cá andam há mais de vinte anos a debitar enxurradas letais de um grind quebra-ossos, e este é o seu sexto petardo de terror sónico. Com excepção de “Trail of the dead” e de alguns outros momentos onde se evidenciam riffs de inclinação death ou mesmo thrash metal, «This World is Dead» é cuspido ferozmente e sem cerimónias ao ritmo caracteristicamente brutal e alucinante do grindcore/crust. Speedfreaks e incondicionais de bandas como Napalm Death, Nasum e Rotten Sound não irão ficar decerto decepcionados com semelhante descarga explosiva. Os restantes ficam desde já avisados. [6/10] Ernesto Martins

CALL OF THE VOID «Dragged Down a Dead End Path» (Relapse Records) “Este é um álbum de estreia?” – pergunto eu embasbacado, ao ouvir os 3 minutos da primeira música, “Failure”. É, de facto, o primeiro álbum destes norte-americanos que nos apresentam uma proposta carregada de Grind Core e Crust. Andando no mesmo trilho que os lendários Pig Destroyer e Converge, as dez faixas deste álbum podem surpreender, levantando a duvidar se é realmente o primeiro álbum, perante tamanha pancadaria; mas também podem desiludir, levando-nos a pensar que nada de especial se passa aqui. A verdade é que podem encontrar aqui momentos porreiros e bem esgalhados, que por vezes se irão repetir. [6/10] Victor Hugo DARKSPACE «Dark Space -I» (Avantgarde Music) Os suíços Darkspace lançaram já em Junho de 2012 a reedição da sua primeira demo com 10 anos de idade. Mas é fácil perceber porque já nessa altura se apresentaram no mundo do Black-Metal de um modo bastante peculiar. Estes alienígenas do Black-Metal de cada vez que editam um disco fazem-no regressando de um qualquer Universo Paralelo para trazer as paisagens musicais inóspitas marcadas pelo pulsar de buracos negros, nebulosas e galáxias de milhões de anos-luz de extensão e vazios sem fim. Foi no mínimo um prazer ouvir agora em formato EP os dois temas que constituem o arranque desta excelente banda. [9.5/10] Sérgio Teixeira DEVOURMENT «Conceived in Sewage» (Relapse Records) “Legalize Homicide” até é capaz de nos apanhar de surpresa perante tamanha brutalidade e porcaria a querer-nos devorar, mas ao longo das oito musicas que se seguem, «Conceived in Sewage» pode tornarse aborrecido pela mesmidade. Há aqui dinamismo muito graças ao trabalho da bateria (a salvação deste álbum) que não se limita aos blast-beats nem a ser a mais rápida da América; já as guitarras, essas limitam-se a expelir riffs Death Metal (só riffs); o baixo e a voz são ultra podres. Mas há momentos realmente entusiasmantes, como a música que dá o nome ao álbum. Os fanáticos encontrarão aqui, contudo, momentos de bom headbanging. [5.5/10] Victor Hugo


EVIL SHEPHERD «Evil Through Darkness... And Darkness Through Death» (Empire Records) São mais uma banda a cavalgar a popular onda do revivalismo thrash, embora eles próprios pensem que são mais do que isso. Ingenuidades à parte, não restam dúvidas quanto à extrema naturalidade e convicção com que estes putos se expressam na linguagem do thrash metal, reproduzindo competentemente o melhor do legado deixado por nomes ilustres como Vio-Lence, Atrophy e Sadus. Embora não haja nada de novo aqui, a grande qualidade do material em oferta, a par dum excelente vocalista que podia substituir Schmier nos Destruction, são razões suficientes para recomendar este disco. [8/10] Ernesto Martins

INTER ARMA «Sky Burial» (Relapse Records) Os Inter Arma (IA) são uma banda que vagueia algures entre registos sludge, doom, com um down tempo notório, e algum black metal ao barulho também. Sim a palavra “barulho” foi escolhida intencionalmente visto que o novo álbum dos IA, intitulado «Sky Burial», não passa muito além. A voz ouve-se muito mais baixo que o resto dos instrumentos, as guitarras são confusas não dando para perceber o que se pretendia. Não desprezando este tipo de bandas, mas este álbum soa completamente a banda de garagem, uma espécie de trabalho amador com uma péssima masterização. Tornou-se quase uma tortura psicológica ouvir o álbum até ao fim. [3/10] Sérgio Pires ORCHID «Wizard of War - EP» (Nuclear Blast) Os Rock-doomers de São Francisco – EUA – preparam-se para lançar «The Mouths Of Madness» e para “abrir o apetite” lançaram este EP com três temas. “Wizard Of War” será o único que aparecerá no álbum. “Demon’s eye” só foi lançado numa compilação e “Albatross” fez/faz parte do seu álbum de estreia «Capricorn». Não sendo muito fã deste género musical, este EP despertou-me a atenção e curiosidade. Vou aguardar pelo longa-duração mas, entretanto, vou descobrindo um pouco mais deste EP e dos Orchid. [--/10] Eduardo Ramalhadeiro

RAVEN BLACK NIGHT «Barbarian Winter» (Metal Blade) Se conseguirem imaginar o que resultaria dum cruzamento entre Trouble, Count Raven e Candlemass, ficam com uma ideia aproximada do conteúdo deste disco. Trata-se, pois, de uma pretensa recriação do doom tradicional, que apesar de exibir alguns solos notáveis, soa, no geral, algo enfadonha, redundando num revivalismo de segunda categoria muito por conta de uma composição excessivamente colada aos ícones de tempos passados e a linhas vocais demasiado idiossincráticas e até ridículas. A má produção desfere-lhe a estocada final. [5.5/10] Ernesto Martins


A queda, as trevas ou ambos? Provenientes do país epicentro da crise europeia, os Gregos Nightfall são uma das mais conceituadas bandas da terra dos filósofos e dos criadores dos famosos personagens da mitologia moderna. Nesta entrevista não se fugiu aos temas que atormentam o país fundador da civilização ocidental moderna e cada vez mais o resto do mundo. As motivações da banda foram abordadas e o vocalista/baixista Efthimis Karadimas enquadrou a situação da banda na conjuntura atual. Como classificarias a música que ouvimos no vosso mais recente trabalho, «“Cassiopeia»»? O vosso som evoluiu muito desde os primeiros dias, certo? Efthimis Karadimas: É Heavy Metal Brutal. Isto é devido a um equilíbrio muito delicado entre as melodias de guitarra e as vocalizações brutais que criam atmosferas semelhantes às de Mercyful Fate nos seus primeiros trabalhos, mas é claro com um cunho es-

pecífico dos Nightfall de hoje. A julgar pelos vários comentários até agora, muitos acreditam que «“Cassiopeia»» está na mesma linha comparativamente com «Athenian Echoes» (1995) que agora é considerada uma versão de culto. De uma forma ou de outra, o som e estilo de “Cassiopeia» é uma mistura perfeita de melodia e brutalidade.…


“De uma forma ou de outra, o som e estilo de «Cassiopeia» é uma mistura perfeita de melodia e brutalidade...” A agitação social desde 2008 na Grécia desempenhou um papel de relevo na criação do álbum? E: Na verdade, é a crise global que tem desempenhado um papel na inspiração que alimentou a criação de “Cassiopeia». Agitações sociais acontecem aqui e ali, em todo o mundo, mas nem sempre com o propósito certo. Para aqueles que entendem como funcionam as economias, essa situação é frustrante, porque a única maneira de sair como sociedades é através de mudanças dolorosas. Tais mudanças não se referem aos rendimentos apenas, mas principalmente ao estilo de vida adotado nas últimas três décadas ou mais nas sociedades ocidentais. A União Europeia foi criada com o propósito de proteger as nações e povos das guerras devastadoras do passado através de prosperidade. Essa foi uma decisão política e a economia seguiu sem problemas para promover a prosperidade com base no modelo testado pelos EUA. No entanto, devido a falhas e omissões no processo e, principalmente, devido a fatores imprevisíveis todo o sistema acabou por se revelar mal testado. E como de costume, nestas situações, as pessoas começam a

preocupar-se e têm tendência a seguir qualquer um, até mesmo malucos, que lhes prometam os gloriosos tempos antigos. Ou muito simplesmente, dinheiro. A lição do mito “Cassiopeia» aplica-se a toda a gente. Para aqueles que acreditavam que poderiam fazer todas as pessoas viver em grande através de crédito barato (empréstimos), bem como a todas as pessoas que graças a esses empréstimos acreditavam que poderiam viver como reis e rainhas para sempre. É uma lição para todos nós caro Sérgio! Apesar destes tempos difíceis, boas bandas gregas foram capazes de lançar álbuns novos recentemente. Isto foi por acaso ou houve outros fatores envolvidos? E: O Metal é uma subcultura e, como tal, não deve preocupar-se com o mainstream. Quer dizer, no passado, um músico de metal tinha de aparecer com ideias originais, a fim de produzir e comunicar corretamente o seu material e também para encontrar maneiras inteligentes de fazer isso sem as quantidades loucas de dinheiro gasto em equipamentos,


“Estamos felizes de poder marcar presença depois de tantos anos sem fazer qualquer tipo de compromisso”

em promoção, e tudo o que está envolvido na edição de material novo. No entanto, o dinheiro barato que referi afetou também estas subculturas e de repente todos nós vimos bandas começarem a seguir os padrões convencionais de gastar enormes quantidades de dinheiro nos seus lançamentos como se fossem bandas de pop ou algo assim. Segundo o meu ponto de vista, pareceu-me que isto era uma anomalia. Anomalia esta que irá terminar em breve graças à recessão em que todos esses “profissionais” que entraram em cena pelo lucro irão migrar para outros destinos “mainstream”. Muitos membros de bandas conhecidas internacionalmente começaram nos Nightfall. Isso pode ter um impacto positivo, mas também um lado negativo. Qual é a tua opinião? E: Totalmente positivo, é claro! Esta banda não foi criada numa perspetiva de lucro ou seguir uma carreira comercial. Nightfall tem a ver com o perscrutar das partes mais profundas de nossa alma para encontrar os nossos demónios e arrastá-los para a luz os queimar. Este é o nosso propósito. Então, há músicos que querem participar nesta banda, fazer o seu melhor e, em seguida, deixar os Nightfall de modo a prosseguir uma carreira rock’n’roll cheia de viagens, promoção comercial e compromissos em que, em primeiro lugar os Nightfall não estão interessados. Desculpem, mas não estamos aqui para

vender as nossas almas. Estamos nisto para curar as nossas almas e isso, por assim dizer, é em si mesmo uma missão. Os Nightfall foram uma das primeiras bandas de metal grego a tornar-se conhecida internacionalmente. Será que se encontram hoje onde deveriam estar? E: Sim. Nightfall, Rotting Christ e Septic Flesh são a Santíssima Trindade da cena grega. No entanto, para aqueles que contabilizam sucesso em função de meios tradicionais, como o número de tours de uma banda, quantas cópias vende, quantas t-shirts vende, como muitos “gostos” recebe no facebook, etc, acho que não estão lá. Nós não somos uma máquina de dinheiro, tanto quanto nós não somos uma jukebox para tocar música que outros entendem deve ser tocada. Tens «receio» que os Nightfall sejam caracterizados simplesmente como «a banda que exporta talentos»? E: Estamos felizes de poder marcar presença depois de tantos anos sem fazer qualquer tipo de compromisso. Esta é uma pequena vitória que celebramos de cada vez que nos sentimos preparados para produzir um novo álbum. Quanto aos talentos a que te referes, todos esses músicos que pela primeira vez tocaram nos Nightfall, depois tocaram noutras ban-


das. Esta é mais uma prova dos rigorosos padrões de qualidade que esta banda define ;-) “Cassiopeia» é um álbum que tem um bastante conteúdo mitológico, mas questiona ao mesmo tempo as voltas e reviravoltas da sociedade hoje em dia. Poderias explicar um pouco aos nossos leitores? E: Refere-se a arrogância como uma característica intrínseca da natureza humana. A mitologia grega está cheia de alegorias e metáforas que ilustram os padrões de comportamento dos seres humanos ao longo dos séculos. “Cassiopeia» e a sua filha Andrómeda não foram punidas por causa da sua beleza, mas por causa de sua crença de tal beleza ser igual ou maior que as das ninfas de Nereidas. Esta superioridade errada é baseada na arrogância, isto é na própria crença do sujeito de que este é perfeito. Mas a natureza humana é imperfeita e, mais cedo ou mais tarde, surge a punição de se agir de maneiras que não são sustentáveis. Esta história usa o fator “beleza”, mas, na verdade, refere-se a qualquer tipo de poder que uma pessoa tem num período na vida. Vejamos o que acontece agora na Europa. Há nações e pessoas que acreditam que são superiores a outros que agora sofrem situações problemáticas, e os primeiros exigem que os últimos a obedeçam. Isto aconteceu como sabemos no passado e levou a guerras. As pessoas esquecem, mas a história está sempre

lá para nos lembrar. Em 2010, a banda reuniu-se após um hiato de quatro anos. São os laços entre os membros da banda agora mais fortes do que nunca? E: O alinhamento dos Nightfall está sempre empenhado no respetivo trabalho. Quando quebras esse compromisso, o alinhamento da banda muda também. Estamos agora muito bem e acredito que podemos evoluir mais após “Cassiopeia». O tempo o dirá. Quais são os próximos passos para a banda? E: Agora estamos a pensar em fazer um ou dois vídeos e uma digressão. Algumas palavras finais para os nossos leitores? E: Sérgio, muito obrigado pelo teu tempo e apoio aos Nightfall. É apreciado! Muito obrigado Portugal :)

Entrevista: Sérgio Teixeira


Metal, humor., e muita arte

Apresentam-se como autores de um metal cómico e têm realmente uma forma humorística de se expressar sobre o que fazem. Mas quem ouve o seu trabalho reconhece certamente a sua grande competência em termos musicais e eles próprios admitem que, mesmo a brincar, vão deixando algumas mensagens sobre a sociedade atual. Assim se apresentam aos leitores os Workshop, uma banda indiana. Demonstealer, vocalista e guitarrista da banda, e Hamza Kazi, o seu baterista, mobilizaram-se para satisfazer a curiosidade da VERSUS Magazine, nomeadamente sobre como é possível combinar humor e música extrema. Como tiveram a ideia de formar uma banda de heavy metal de pendor humorístico? Demonstealer: Em 2007, a empresa Furtados Music (para a qual eu trabalho) lançou na Índia as guitarras ESP e eu fiz alguns workshops para promover a marca. Nessas atividades, fui acompanhado pelo Hamza Kazi e pelo Riju Dasgupta e escrevi algumas músicas originais para demonstrar a qualidade dessas guitarras. Como resultaram muito bem, o Hamza começou a perseguir-me para formarmos uma banda e acabámos por fazer um concerto de improviso numa universidade local, que me obrigou a escrever letras para as músicas que tinha composto durante os workshops. O concerto foi um sucesso e deu a conhecer ao público uma faceta

minha bem diferente do ar muito sério que assumo quando atuo com Demonic Resurrection. Por conseguinte, decidimos dar seguimento ao projeto musical que tínhamos esboçado e, como a banda tinha nascido num workshop de guitarra, demos-lhe esse nome. Como tudo nela era divertido, decidimos escrever letras cómicas e fazer música adequada a essa faceta. A este estilo musical demos o nome de Comedy Rock ou Heavy Mental. Hamza Kazi: Francamente, para mim, esta banda é um escape para o lado mais alegre das nossas personalidades. Somos um grupo de alegres companheiros, que encontra algum humor em todos os aspetos da vida. E, quando não o encontramos… inventámo-lo. Se houver freiras entre o público,


não podemos atuar, porque podem achar as nossas letras ofensivas. Foram influenciados por outras bandas de metal cómicas? DS: Sim, deixámo-nos influenciar por bandas verdadeiramente cómicas como Freak Kitchen ou Primus. Mas também somos influenciados por música muito séria. Por exemplo, o Hamza consome regularmente música de bandas como Meshuggah, Procupine Tree e Tool. Eu “alimento-me” de tudo, desde Blind Guardian a Dimmu Borgir, Behemoth, Origin, Nightwish, etc. HK: Além disso, por vezes, há bandas que são tãooooooooo más que acabam por se tornar cómicas. Penso que essas bandas ignoradas exerceram uma excelente influência nos Workshop. O nosso primeiro concerto (antes de começarmos a usar disfarces) consistiu numa palhaçada no palco. Portámo-nos muito, muito mal. Portanto, tecnicamente, influenciámo-nos a nós próprios. E agora quero confessar que sou um grande fã dos Primus, apesar dos outros elementos da banda não os suportarem [irónico].

vindos de gente que vê o metal de uma forma muito rígida. O metal é certamente uma forma de música muito séria, mas os metaleiros são gente normal, que gosta de contar umas piadas aos amigos, só para rir. A nossa banda é uma manifestação artística dessa tendência. O metal está-me na massa do sangue, logo não consigo compor outro tipo de música. Tudo o que escrevo tem um cunho metaleiro, até o que é cómico. HK: Haha! De facto, algumas bandas old school eram tãooooo metal que até se tornavam cómicas! Eu ainda não consegui compreender se os Manowar são uma banda sarcástica, ou se se veem mesmo como os salvadores do metal. Aliás, não vejo nenhum paradoxo na combinação do metal com o humor. É como pensar que não pode haver partes sérias nas comédias. Como reagem as pessoas à vossa música? DS: Os miúdos deliram, os adultos adoram e os cotas acham o máximo. Se fores uma pessoa de mente aberta, vais certamente gostar do que fazemos. É claro que há muitos metaleiros elitistas que nunca irão apreciar a nossa música e estão no seu direito. Mas nós gostamos de nos divertir com o que faze-

“Não havia lugar para nós… por isso fizemos como as senhoras gordas quando tentam encaixar-se num grupo de quatro pessoas, sentadas num lugar que só dá para duas” Que lugar tem o humor na cultura indiana? DS: Por acaso, nunca pensei nisso. Mas vemos comédias no cinema e na TV desde que me lembro de ser gente. No entanto, convém salientar que eu sempre vivi num ambiente muito ocidentalizado. A minha família não é muito religiosa, nem ortodoxa. Somos Sindhis, ou seja, vimos de Sindh, que fica no Paquistão. Além disso, a Índia não tem uma só cultura. É um país vasto e complexo, em que cada região tem a sua própria língua e cultura. HK: Russell Peters poderia responder à tua pergunta. A cultura indiana é percorrida pelo humor, mas os indianos levam tudo muito a peito. Até são capazes de ficar na fila para irem ver um filme cómico, mas têm muita dificuldade em brincar com os seus próprios pontos fracos. Experimenta dizer ao teu amigo indiano “Não era a tua mulher que estava a dançar num bar ontem à noite?” a ver o que te acontece.

Nâo é paradoxal criar uma banda de metal cómica? DS: Realmente é. Pelo menos, não é algo muito comum. E, realmente, já recolhemos alguns ódios,

mos e as reações que recolhemos nos nossos concertos mostram-nos que o público os acha fantásticos. HK: Há os que nos adoram e os que nos detestam. Temos alguns fãs que dão tudo por nós e que não perdem por nada um concerto dos Workshop. Estão quase sempre presentes nas nossas atuações ao vivo, porque ver-nos dar vazão à nossa estupidez e trapalhice é uma experiência verdadeiramente original. Mas também há muitos metaleiros que nos detestam. São os que pensam que o seu pénis vai encolher, se ouvirem algo que não seja metal duro e puro. Tenho a certeza de que, quando regressam a casa, vão ouvir um álbum de Justin Bieber para compensar. Hehe! Como é a cena metal Indiana? E qual é o lugar dos Workshop nesse contexto? DS: Como não somos propriamente uma banda pesada, parece-nos que tanto nos podem integrar no universo do metal como na cena indie. A cena metal indiana está a evoluir de forma muito rápida. Há muitas bandas que vêm cá em digressão. As bandas indianas também estão a começar a levar


a sério o que fazem e a tentar fazer digressões fora do país e lançar álbuns com alguma regularidade. Mas precisamos de mais espaços para concertos, mais festivais, melhor organização. Felizmente, estamos no bom caminho, para sermos cada vez melhores. Quanto aos Workshop, só queremos ter a oportunidade de tocar para gente que queira ouvir a nossa música e divertir-se com ela. É tão simples como isto! HK: Não havia lugar para nós… por isso tivemos de o arranjar. Fizemos como as senhoras gordas, quando tentam encaixar-se num grupo de quatro pessoas, sentadas num lugar que só dá para duas. Isto acontece frequentemente na Índia. Como fazem a música pesada, melódica e divertida dos Workshop? Quais são os principais ingredientes da vossa arte? DS: Na minha opinião, limitamo-nos a ser espontâneos e inventar permanentemente ideias novas. Muitas das nossas canções resultam de ideias que temos, quando estamos a conversar ou a tocar juntos. Em termos musicais, esforço-me por ser simples, divertido e por criar um produto atrativo, enquanto o Hamza prefere fazer tudo muito elaborado, porque gosta de coisas complicadas. Eu obrigo-o a tocar música simples, mas, como isso o faz sentir-se infeliz, ele faz de conta que está a ser simples, mas, na realidade, complica tudo. E assim tudo se torna muito divertido. O Devesh e o Aditya são novos na banda e mais sóbrios e calmos do que nós. Ainda estão a habituar-se ao nosso estilo. Mas penso que, no próximo álbum, já estarão aptos para dar o seu contributo para a loucura geral, partici-

pando mais no esforço de composição. HK: Frequentemente, pegamos em canções dos Iron Maiden e tocamo-las de trás para a frente. Geralmente, usamos nas nossas letras os nossos discursos políticos ridículos. Também introduzimos nas canções gritos de animais selvagens e ruídos da selva para lhes dar um ar autêntico, porque, para o resto do mundo, a Índia é uma selva cheia de elefantes e os encantadores de serpentes vagueiam nas ruas. Pelo menos, é o que aparece na TV. Haha! Qual é o conceito de base deste segundo álbum dos Workshop? DS: O álbum não se apoia em nenhum conceito. Mas podemos dizer que o seu tema principal é o humor, no qual encaixámos subtilmente algumas mensagens de pendor social. Demoramos algum tempo a compor as faixas, usando todos os temas que iam surgindo nas nossas cabeças. Muitas frases musicais criadas ao acaso acabaram por se converter em canções e eu inventei as letras depois. HK: O álbum não tem nada a ver com fazer amor com um dragão. Aliás, tecnicamente, isso é impossível, mesmo na cultura japonesa. Geralmente, as nossas canções nascem de coisas que dizemos ou fazemos. Por exemplo, 40% das ideias que deram origem às faixas deste álbum vieram de um blogue associado ao nosso último álbum, onde foram gravados riffs de guitarra: http://www.youtube.com/ watch?v=Xk0D8ylFbp0. Pode parecer mentira, mas é assim que fazemos as nossas canções. O dragão tem algum significado especial na cultura Indiana?


“[…] A cultura indiana é percorrida pelo humor, mas os indianos levam tudo muito a peito. […] têm muita dificuldade” DS: Não, a nossa cultura não atribui qualquer valor simbólico ao dragão, essa figura nem sequer faz parte dela. Trata-se de uma piada nossa sobre o power metal: uma vez, por acaso, a ironizar acerca desse género musical, inventei a letra da música “Made love to the dragon”. Usamos este título para o álbum, porque nos pareceu cómico e escrevemos música adequada, no estilo do power metal, portanto o álbum é uma espécie de paródia deste género musical. HK: De facto, 93,85% da populaça indiana provavelmente nem sabe o que é um dragão. Tendo em conta o facto de que a comida indiana é sempre muito condimentada, o dragão pode simbolizar comida muito, muito, muito condimentada, o que evoca o fogo típico deste animal. Aliás, corremos o risco de as pessoas pensarem que o nosso álbum é um áudio-livro de culinária, que ensina a fazer comida condimentada na cama com quatro outros gajos. O logo da banda e a capa do álbum têm um aspeto cómico. Qual é a relação entre estes elementos gráficos e a música que este contém? DS: Quando decidimos que o nosso álbum se chamaria «Made love to the dragon», começámos a pensar numa imagem que o pudesse representar. Tinha de ser cómica, mas, ao mesmo tempo, “inofensiva”. Não queríamos que o visual do álbum chocasse as pessoas. A ideia era fazê-las rir, não propriamente ser grosseiro. Portanto, pareceu-nos que apresentar a banda na cama com um dragão servia os nossos propósitos. Quando tudo isto começou, o nosso baixista era The Rijunator. Mas ele decidiu passar a chamar-se Dr. Hex, deixar a nossa banda e dedicar-se inteiramente à sua: Albatross. Como já o tínhamos incluído no desenho para a capa do álbum, tirámos-lhe o uniforme, pusemos-lhe a máscara de Dr. Hex e mantivemo-lo na imagem. E foi assim que surgiu a capa do nosso álbum. Para o logo, queríamos algo verdadeiramente especial e o nosso designer apresentou-nos este, que foi logo aprovado. HK: Obrigado. Se achaste a capa engraçada, é porque tens sentido de humor. Caso contrário, estarias a pensar o que faria uma girafa numa cama com quatro trolhas e uma criança e teríamos de te recomendar uma terapia qualquer.

Quem é o autor desses elementos gráficos? DS: Ambos são da autoria de Gaurav Basu da banda Inner Sanctum. É um designer fantástico. Também fez o artwork do último trabalho dos Demonic Resurrection. Sempre soube que ele seria capaz de fazer este trabalho. E com muita qualidade! Quais são os vossos planos para promover este álbum? DS: Completamente insanos. Queremos fazer imensos concertos aqui na Índia e dois vídeos musicais, que sairão em breve. Também fizemos um blogue com imagens da nossa passagem pelo estúdio, com vídeos relativos às partes de guitarra, bateria e baixo de algumas das canções. Assim, vai haver muito material para permitir às pessoas mergulharem no mundo louco dos Workshop. HK: Aliás, tencionamos usar este álbum para controlar o mundo. Não sabemos bem como, mas estamos a trabalhar para isso. Provavelmente, vamos inserir alguns samples hipnóticos no CD, que nos permitirão dominar as mentes de todos os presidentes e ministros do mundo. Repara que não falámos de reis e rainhas, porque usar coroas de ouro protege-te das emanações dos Workshop. Se não queres que te roubemos a tua mente… põe uma coroa de ouro na cabeça. E contrata-nos para uma digressão no teu país. Obrigado pela entrevista. Esperamos que não nos tenhas levado muito a sério, porque senão teremos de enfrentar um pelotão de execução cultural. Haha! Entrevista: CSA


Telos dentro dum paralax Há 13 anos no activo e já com sete álbuns em carteira, os americanos Between The Buried And Me perfilamse como uma das bandas charneira do panorama da música mais técnica. Estivemos à conversa com Tommy Giles Rogers, vocalista e teclista da banda, e inevitavelmente veio ao assunto o novo álbum chamado «The Parallax II: Future Sequence» - que contém a genial “Telos” - e que foi considerado pela VERSUS Magazine com um dos melhores álbuns de 2012.


Olá! O nome Between The Buried And Me (BTBAM) é sugestivo. Podem explicar-nos como surgiu? Tommy Rogers: Foi há muito tempo. Certa noite, o Paul e eu estávamos a passar os olhos por uns CDs que tínhamos. Procurávamos uma frase ou qualquer coisa que, de certa forma, se destacasse e ao Paul surgeriu a frase “Between The Buried And Me” de um álbum dos Counting Crows. E foi algo que nos ficou na mente e que pensámos que se adequava bem à nossa banda. Agora que sou mais velho, olho para trás e penso que este nome se ajusta verdadeiramente a nós porque, segundo a minha interpretação, significa o que alcançamos entre o presente e quando morremos. Nós damos o nosso coração e a alma pela nossa música. “Between The Buried And Me” (entre o presente e a morte) faz grande parte da música, grande parte das nossas vidas e o que escolhemos fazer com elas. «The Parallax II: Future Sequence» é o nome do vosso novo álbum. Podem falar-nos sobre o processo de gravação. É a segunda parte do conceito, a ideia de onde a história pode ir. Liricamente foi um pouco diferente para mim porque tive que “puxar pelos pulmões” o disco todo. Depois, tivemos muitas coisas para planear, verificar se a história estava como nós gostamos, pensar muito bem na música em geral. O meu grande objectivo neste álbum foi garantir que tudo soava bem e se estava tudo correcto na forma como a música te faz sentir. Este foi o processo base na gravação. Também demos algumas voltas à cabeça porque queríamos alcançar uma música robusta por um lado mas por outro lado foi um processo

bastante orgânico em que cada um de nós se esforçou para chegarmos a uma ideia conjunta para a transformarmos em músicas. “Parallax” é um termo vindo da astronomia. Vocês interessam-se por este tema? Como é que incluem esta temática nas vossas músicas? Foi um tema que não me fascinava totalmente porque nunca aprendi muita ciência na escola, mas entrei mais dentro desta temática procurando em livros, filmes, músicas, etc. A razão de termos ido por esta via é o facto das inúmeras possibilidades que o espaço nos oferece para passar bem a nossa música, isto é, falar/encarar diferentes lugares. Em 2011 assinastes pela Metal Blade e lançastes um EP intitulado «The Parallax: Hypersleep Dialogues». Porquê um EP de apenas 3 músicas? Convêm referir que cada música tinha em média 10 minutos. Nós sabíamos que era outro conceito, no fim de contas era um novo recomeço para a banda quando nos juntamos à Metal Blade, por isso o lançamento do EP foi a forma que encontramos para, mais rapidamente, editar um álbum visto que os fãs estão sempre curiosos por novos trabalhos. Em relação à questão das três músicas não foi nada planeado, surgiu naturalmente. Normalmente os EP têm cerca de 20 minutos, mas neste caso as músicas tornaramse mais longas e foi assim que ficou feito. Qual o paralelo que é possível estabelecer entre os vossos dois lançamentos na Metal Blade? E entre os lançamentos pelo Metal Blade e a vossa anterior editora?


Penso que o início da história começa na música “Swim to the moon”, por isso sim, há uma conexão e este foi o verdadeiro começo que originou o EP e o «The Parallax II: Future Sequence». Na realidade foi dar força a momentos da nossa história. Não podemos deixar essas histórias de fantasias fechadas. Como surgiu a ideia de fazer uma mistura de várias sonoridades que por vez anda em torno de death metal, outras em sons mais limpos e sempre carregados de uma sonoridade marcadamente progressiva? Não há realmente nenhuma ideia por trás do nosso som, aliás nunca pensamos em fazer música que encarcera vários estilos. Simplesmente vamos trabalhando em conjunto na criação de cada música e esta vai aparecendo naturalmente. Actualmente sois considerados como uma banda de referência da música progressiva. Como interpretas este elogio? E quais as vossas principais referências? Não sei bem. Este tipo de elogios é estranho para mim. Acho que de facto somos uma banda progressiva mas é difícil colocar os pontos nesses termos porque esse tipo de elogios não estão presentes na minha mente. Música para mim é algo que gosto e não tem que ser rotulada pelo tipo de música que é. Efectivamente é óptimo que as pessoas conheçam música progressiva, mas em relação a sermos uma referência não é algo pelo que batalhamos. Há várias bandas que criam música desta natureza e também são bastante criativas. Como está a agenda dos BTBAM? Os vossos concertos ten-

dem a ter poucas músicas devido à extensão das mesmas, mesmo assim não vos inibistes de tocar uma cover dos Queen (“Bohemian Rhapsody”). Como surgiu a ideia e como foi recebida pelo público? Estivemos de férias durante a época natalícia e voltamos à estrada em Janeiro em Coheed and Cambria nos Estados Unidos da América e estaremos presentes em alguns festivais de Verão na Europa. Ainda não temos notícias sobre uma tournée mundial que estamos a tentar marca com os Animals as Leaders na Europa, Japão e Austrália. Em relação ao tema dos Queen, foi uma ideia muito bem recebida. Quando estivemos em Nova Iorque e esse tema dos Queen estava a tocar antes de começarmos o nosso concerto, notamos que todas as pessoas da audiência sabiam a letra do “Bohemian rhapsody”. Então achamos que seria interessante incorporar esse tema no nosso set. O que fazemos é usar esse tema no encore: colocamos o original dos Queen em reprodução enquanto estamos fora do palco, e depois entramos a tocar exactamente na parte em que o tema entra na fase final mais rock. A ideia foi fazer algo diferente que tivesse algum efeito surpresa. Queres deixar uma palavra aos vossos fãs em Portugal? Obrigado pelo vosso apoio e por ouvirem a nossa música, esperamos voltar em breve. Entrevista: Sérgio Pires


Foram poucos os álbuns de estreia que me surpreenderam tanto ou mais como os The Omega Experiment. Só isto já dá para ficar com uma ideia de quão excelente é (irá ser) este lançamento. Esta review ganha outro significado se primeiro lerem a entrevista concedida à VERSUS por Dan Wieten. Aqui ficamos a conhecer, não só, parte da história da sua vida mas também os alicerces sobre os quais assentam os motivos da criação deste projeto. Peculiar, experimental, épico, direto, pesado, sintetizadores eufóricos, técnico e harmonias vocais... tudo isto junto forma um exuberante álbum de rock/metal progressivo. Disse-o na entrevista e volto a afirmar: certamente um dos melhores álbuns no universo progressivo. Os The Omega Experiment ganharam (ainda) mais reconhecimento quando o Mago Devin Townsend lhes concedeu rasgados elogios, permitindo dar o salto rumo à Listenable Records. Aquilo que parecia ser um proje-

to destinado a ser promovido de uma forma “amadora”, via Bandcamp, passou rapidamente a um dos grande álbuns do ano – sim, ainda estamos em Fevereiro, mas para mim já o é. Quem ouve os The Omega – o álbum não tem título – é impossível ficar indiferente ao tipo de sonoridade e influências: algumas reminiscências de D r e a m Theater no que diz respeito aos sintetizadores e tal como diz Dan na entrevista muitas h a r m onias bem ao jeito de D. Townsend (e Mike Patton). Um aspeto que pode não ser do agrado de todos é a bateria programada digitalmente. Pode parecer que a música sai desvirtuada mas... não. Antes pelo contrário, soa “organicamente digital”. Quase que não nos apercebemos que é tudo digital. No entanto, este facto não belisca em nada a qualidade e continuo a recomendá-lo e é por isso que é o álbum do mês para a Versus! [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro


Black metal e g

Dedicam-se ao black metal e consideram-se herdeiros da variante norueguesa surgida nos anos 90. Mas não se sentem fechados num som démodé, já que a sua experiência noutras bandas os levou a um conhecimento da música extrema que lhes permite jogar com várias influências, mantendo-se fiéis à sua matriz. Kvass (guitarrista) e Mannevond (vocalista e guitarrista) juntaram-se para satisfazer a insaciável curiosidade da VERSUS Magazine e deram o seu melhor, numa entrevista que vai certamente levar os apreciadores deste subgénero do metal a procurar o seu «Vertigo».


groove a rodos

O vosso black metal é mesmo duro e cru, mas tem uma bela base melódica, tal como é referido no texto de promoção da Season of Mist. Este tipo de som é a imagem de marca da banda? Kvass: Provavelmente, a resposta a essa pergunta vai depender do membro a quem a dirigires. Penso que a nossa música se carateriza por uma certa melodia, mas não a considero muito melódica. Na minha opinião, os nossos pontos fortes são a voz poderosa e áspera do Mannevond e o facto de a fazermos sobressair através do requinte, da variedade e do groove que caracterizam as nossas composições.

Algumas das nossas canções têm origem no punk, outras constroem uma atmosfera mais negra e tenebrosa, outras ainda apresentam até alguns elementos progressivos. Apesar de sermos conhecidos pela crueza do nosso som, gostamos de recorrer a elementos menos ortodoxos para fazer a nossa música, quando tal nos parece necessário. Por exemplo, no «Vertigo», o nosso novo álbum, introduzimos em algumas canções sons provenientes de sintetizadores analógicos, para criarmos a atmosfera que nos parecia adequada a elas. No texto informativo já referido associam-vos a célebres bandas

de black metal (tais como 1349, Marduk, Urgehal, Watain). Que relação existe entre Koldbrann e estas bandas? Mannevond: Os 1349 inspiraramnos muito, quando começámos. Archaon (o guitarrista) é da nossa cidade e Seidemann (com o nome de Kjøttring) até tocou baixo na nossa demo e em algumas faixas do nosso álbum de estreia. O som do álbum deles intitulado «Liberation» exerceu uma grande influência no nosso «Nekrotisk Inkvisition» (o primeiro álbum da banda, lançado em 2003). Sempre fomos fãs dos Urgehal, mas penso que contactámos com eles pela primeira vez, quando


tocámos juntos em 2004. Desde essa altura, temos mantido uma relação de amizade com Hønefoss Militsen, que valorizamos tanto a nível pessoal, como artístico, já que as nossas bandas colaboram em concertos, digressões, etc. Além disso, eu toquei com eles de 2006 a 2011. Aliás, «Vertigo» é dedicado ao Trondr Nefas (19772012). Marduk é uma banda com a qual fizemos uma digressão. São excelentes pessoas e músicos extraordinários, com grandes álbuns, embora com um percurso feito de altos e baixos. Quanto a Watain, referi-los a par de Koldbrann foi uma escolha da editora. Não mantemos quaisquer relações com eles e nunca nos influenciaram em nada. De qualquer modo, se gostas dessas bandas, é natural que te interesses pelo «Vertigo»!

Por que razão precisaram de seis anos para lançar o vosso terceiro álbum? De qualquer modo, parece-me que valeu a pena esperar por ele. Kvass: Obrigado. O nosso álbum anterior – «Moribund» – foi lançado em 2006 e, daí até 2009, a banda manteve-se muito ativa, em termos de digressões. Nesse mesmo período, lançámos um mini-álbum – «Stigma – På Kant Med Livet» – e um single em vinil – «Russian Vodka». Depois disso, alguns membros saíram da banda e tivemos de recrutar dois novos músicos: o baterista Folkedal e o guitarrista Voidar. Em suma, tivemos de começar do nada, com o propósito de criarmos um som renovado, e passámos o ano de 2010 e parte de 2011 a compor novo material, antes de entrarmos em estúdio, onde passámos muito tempo, para que tudo saísse bem,

até aos mais ínfimos pormenores. Queríamos que este álbum fosse o melhor de todos os que fizemos até agora. Terminámos o «Vertigo» em 2012 e, por motivos de ordem administrativa, o lançamento ficou adiado e, finalmente, terá lugar em janeiro deste ano. Donde vem o vosso «Vertigo»? E onde é que essa “vertigem” vos vai levar? Kvass: Para mim, «Vertigo» simboliza os poderes invisíveis que procuram subjugar-nos, diminuirnos. Geram confusão e impotência. Correspondem a tudo o que faz parte da tua vida e que tu não consegues controlar, que pretende controlar-te a ti. Esses poderes estão presentes no mundo atual, sob a forma de ideias políticas opressivas e de ideologias religiosas antigas. Fazem parte da sociedade em que vivemos e, se


queremos respeitar as regras, temos de coexistir com elas. Mas, pela minha parte, prefiro trilhar o caminho que eu próprio tracei, que é certamente muito mais interessante do que estes caminhos pré fabricados. As minhas vertigens pessoais, os meus demónios, levaram-me a lugares muito diferentes, que eu gostei de conhecer. Mas é muito difícil prever onde me levarão no futuro. «Vertigo» tem um som militar, ritual. Há alguma relação entre ele e o conceito subjacente ao álbum? Kvass: Como já disse, «Vertigo» refere-se aos poderes invisíveis que controlam a nossa vida e às reações que provocam na alma humana. As suas faixas procuram captar diversas formas de os encarar. Algumas canções (como “IntroVertigo” e “Inertia Corridors”) são angustiadas e claustrofóbicas, tratando temas como os limites da sanidade mental e o pensamento doentio. Outras (como “Totalt Sjelelig Bankerott” e “Stolichnaya Smert”), marcadamente mais punk, são muito niilistas. Há ainda canções como “Goat Lodge” e “Phantom Kosmonaut”, que falam da solidão e incluem partes muito sombrias, adequadas à sua expressão. E como é que as vossas letras exprimem essas ideias? Lamento, mas não tive acesso a elas. Kvass: Esforçámo-nos por fazer com que as letras refletissem os sentimentos expressos pela música, tanto quanto possível. Logo, todas elas estão associadas ao grande tema deste álbum. Vão ser impressas no álbum e tencionamos disponibilizá-las online. Metade delas está escrita em norueguês, por isso vamos ter de pensar em como vamos torná-las compreensíveis para quem não conhece a nossa língua materna. Consultem a nossa página no facebook (www. facebook.com/koldbrannofficial). A capa do álbum é assaz surpreendente. Não se parece nada com uma capa típica de um álbum de black metal. Parece feita de aço, logo é mais facilmente associada a heavy metal. Foi uma escolha da banda, ou do artista, ou uma combinação dos gostos

dos dois? Mannevond: Obrigado. Vejo esse comentário como um elogio. Estou farto das bandas que fazem exatamente o que se espera delas, quer em termos musicais, quer visuais. Com «Vertigo», sentimos que estamos a explorar novas fronteiras e pareceu-nos que a capa do álbum e o seu grafismo deviam refletir essa ideia. Para este álbum, procurávamos algo com um ar autoritário e ameaçador, com linhas retas e arestas afiadas. Por isso, procurámos o estúdio Trine+Kim (conhecido pelo seu trabalho com os Mayhem, Virus etc.), que também já tinha trabalhado para nós antes. Estamos mais do que satisfeitos com o resultado final. A vossa música é coerente e coesa. Será por que todos os membros da banda participam na composição? Kvass: Se bem te percebo, pretendes dizer que as diferentes partes da música e todos os instrumentos encaixam perfeitamente na nossa música. Se assim é, estou inteiramente de acordo contigo. Experimentámos várias abordagens, quando estávamos a compor as faixas para este álbum. Umas vezes, combinávamos os instrumentos, recorrendo a um programa de computador, outras vezes tocávamos juntos, na sala de ensaios, e assim íamos construindo partes das canções. Para cada música, há um compositor principal e, por vezes, mais do que um. A melhor forma de criar um bom som é trabalhar duramente e aperfeiçoar ao máximo os detalhes das canções, mesmo antes de se entrar no estúdio. E não te esqueças de ser escrupuloso, quando se trata de avaliar a qualidade do que criaste. Além disso, todos os membros dos Koldbrann se conhecem há largos anos. Estamos habituados à forma como cada um usa o seu instrumento. Por esta altura, estamos muito conscientes da forma como conseguimos trabalhar juntos e como queremos que a nossa música soe. A Season of Mist apresenta-vos como bons músicos para festivais. Conhecem algum festival português? Já tocaram em Por-

tugal? Mannevond: Só toquei uma vez em Portugal: com os Urgehal, no SWR Festival, em Barroselas, em 2009, creio eu. Fomos muitíssimo bem recebidos pela multidão e o ambiente do festival era fantástico. Gostava muito de tocar novamente no teu país. Sei que também fazes parte dos Nettlecarrier (que entrevistei entretanto). O que significam para ti as outras bandas de que fazes (ou fizeste) parte? Mannevond: Permitem-me explorar outros temas, sons e atmosferas, que não estão tão presentes em Koldbrann. As três bandas (incluindo Urgehal) estão todas relacionadas com o black metal de origem norueguesa, que surgiu nos anos 90, mas todas o vivem de maneira diferente. Nettlecarrier é a mais primitiva, com temas líricos mais obscuros e ocultos. Urgehal tem uma atitude mais misantrópica, combinando uma velocidade satânica com o groove infernal do rock n’ roll. Koldbrann tem um som mais moderno, porque está mais aberta a outras influências e incorpora estilos mais variados na sua música. Além disso, desempenho papéis diferentes nas três bandas. Koldbrann é a minha maior prioridade, enquanto nas outras sou apenas um dos elementos. Nos Urgehal, limitava-me a tocar baixo, já que o Enzifer e o Trondr Nefas eram responsáveis pela música e pelas letras. Em Nettlecarrier, asseguro os vocais e o baixo, mas o T. Ciekals é o autor da música e das letras. Já estamos em 2013. Quais são os vossos planos para este ano, que ainda está no seu início? Mannevond: O lançamento do álbum está iminente: na Europa, sai a 25 de janeiro. Estamos ansiosos por ver como vai ser recebido e onde nos levará. Para já, parece muito prometedor, em todos os aspetos. Já estamos convidados para ir tocar numa série de festivais e estamos a preparar uma digressão na Europa. Estamos prontos para atacar! Entrevista: CSA


Revivalismo

Formaram-se em 2008 mas o que gravaram até agora é indistinguível da ge entanto, da avalanche actual de bandas retro-thrash, não só pela qualidade q acima de tudo, pela extrema convicção que debitam. Para perceber o que move uma banda constituída por músicos tão jovens a ab segundo registo, «Evil Through Darkness... and Darkness Through Death», p


involuntário

eneralidade da produção thrash do fim da década de 80. Demarcam-se, no que demonstram na combinação dos melhores ingredientes do género, mas,

braçar os sons mais extremos de tempos idos, aproveitamos o lançamento do para chegar à fala com o vocalista da formação, Jonah.


Parabéns pelo novo álbum. Penso que conseguiram capturar na perfeição aquele feeling selvagem old school das bandas thrash mais influentes. Foi esta a vossa intenção? Jonah: Obrigado, Ernesto, mas esse não foi o nosso objectivo. Sei que muitos músicos vão buscar inspiração às bandas que eles próprios veneram. No entanto, acho que já lá vão os tempos em que thrashavamos ao som dos Kreator e não nos cansávamos disso. Não é que eu tenha alguma coisa contra isso; só acho é que as nossas influências de hoje vão muito além deste género de metal. Depois de ouvir os vossos riffs criativos e saber que são belgas, lembrei-me imediatamente de uma banda da vossa terra, minha preferida mas altamente subestimada: os Cyclone. Vocês são demasiado jovens para os terem visto ao vivo, mas suponho que devem conhecer os discos. Que

acham deles? Sim, somos muito novos; nunca os vimos a tocar. No entanto temos o privilégio de sermos amigos pessoais do vocalista deles, o Guido Gevels. É um tipo espectacular que está sempre pronto para contar histórias do tempo dos Cyclone. Temos o hábito de beber uns copos no bar dele. Quanto à música, penso eram muito intensos e coesos, especialmente no que toca à voz. Foram a melhor banda belga do seu tempo. O som que faziam era cortante, como uma faca a passar através de manteiga. Segundo o press release da vossa editora, este álbum “é o produto de uma banda farta de nostalgia e de cópias baratas de álbuns dos Exodus”. No entanto, paradoxalmente, este disco emana… nostalgia por todos os lados! Sim, eu compreendo, mas isto é tudo material composto em 2012. Nunca foi nossa intenção que este álbum soasse como se fosse um

disco dos 80s. Contudo, se é essa a sensação do ouvinte, tudo bem. Para nós até é um elogio dado que foi nos 80s que se criaram os melhores discos do género. De qualquer das maneiras, sublinho que não foi esse o nosso objectivo. Então o que é que os Evil Shepherd trazem que as muitas bandas desta recente onda revivalista de thrash metal já não tenham apresentado? Bem, esperamos ter conseguido injectar muito variedade nas nossas canções, a par de riffs originais, mudanças de velocidade, etc. Os temas que já compusemos a seguir à publicação deste álbum são mais arrojados. Continuam a ter como base o thrash metal, mas incluem agora um leque mais alargado de influências. Sei que há por aí muito boas bandas (por exemplo os Hatchet, que são uma das minhas favoritas dentro dessa onda revivalista que referes) mas, caramba, também há muita merda!


De entre as várias influências dos Evil Shepherd, os Destruction são os que mais sobressaem por causa do teu timbre vocal muito semelhante ao do Schmier. Que outros nomes apontarias como influência? Não te posso dar uma resposta directa e definitiva porque nós não pensamos muito no que compomos. Se nos soa bem, nós trabalhamos a canção. Quanto à minha voz, eu não a posso manipular de forma a não soar com soa. Se ouves algo parecido com Destruction então eu recebo isso como um elogio. Todas as pessoas são livres para detectar as influências que quiserem. Os membros da banda tem as suas próprias preferências que vão desde o black metal, ao death, thrash, doom, sludge, crust, etc. De onde extraíste aqueles samples espectaculares que estão no inicio de dois dos temas: um em “Christ denier” e outro no “Evil through darkness”?

Eu, o Tommy e o Mu (o tipo que fez o layout do álbum e mais outras coisas) somos todos grandes fãs de filmes de terror antigos. O intro do “Christ denier” foi retirado do filme “Bride of Re-Animator. A introdução do “Evil through darkness” é um excerto do filme “The Devil’s Rain”. Para ser honesto, devo dizer-te que gosto de tudo no vosso disco excepto a capa. Não poderiam ter escolhido algo menos cliché? Lamento se te desapontei no tocante à capa (é um trabalho do Andrei Bouzikov), mas a verdade é que retrata fielmente os temas subjacentes a este álbum. Representa um ritual antigo do género dos que se realizavam com a intenção de troçar dos rituais cristãos. ‘Evil through darkness’… - é a missa, e ‘darkness through death’ – é a morte da religião. Por falar nas letras: de que tratam? Presumo que sejam predominantemente anti-religiosas.

Todas as letras foram escritas por mim e pelo Tommy, excepto a de “Darkness through death (Black mass)” que foi escrita pelo Mu. Todas elas lidam com assuntos religiosos, conjugados a maior parte das vezes com elementos do oculto, da magia negra, do além-túmulo, etc. Seria difícil não incluir estes tópicos dado que estes são os assuntos que ocupam a maior parte do meu tempo livre. Obrigado pela entrevista. Deixa por favor algumas palavras finais para os nossos leitores. Obrigado. Espero encontrar-vos brevemente à frente dum palco! Entretanto ouçam estas bandas belgas que são absolutamente excepcionais: Slaughter Messiah, Evil Invaders, Goat Perversor, Gae Bolga, Spermafrost e Maleficence. E continuem a apoiar o underground!! Entrevista: Ernesto Martins


Acrobatas galรกcticos


Com uma media de idades a rondar apenas os 20 anos, estes meninos são uns autênticos sobre-dotados na nobre arte de esfarrapar guitarras e de maltratar kits de bateria a golpes de precisão cirúrgica. Para tentar perceber como se faz um disco de death metal tão complexo como «Dingir», o segundo álbum da formação norteamericana, metemos conversa com o guitarrista Lucas Mann que acabou também por nos esclarecer sobre a polémica que circula na net em torno do anterior baterista da banda. Caramba, tens de me dizer o que é que vocês tomam para tocar dessa maneira absolutamente desumana!... Qual é o segredo? Lucas Mann: Obrigado!... Somos alienígenas, e no nosso planeta a música que fazemos é considerada soft rock, portanto não é nada de especial E o que é mais impressionante é que vocês são todos tão jovens!... Como é que arranjaram tempo nas vossas curtas vidas para atingir este domínio notável dos instrumentos? Passaram toda a infância a aprender? Sim, de facto a média das nossas idades ronda os 20 anos, e cada um de nós já toca há cerca de 10. As nossas infâncias foram todas diferentes entre si já que os membros da banda foram criados em localidades distintas dos Estados Unidos. Mas duma forma geral tivemos infâncias normais, exceptuando o facto de termos sido todos raptados por extraterrestres e conduzidos a uma nave espacial onde os Rings of Saturn se formaram. Que tipo de técnicas é que vocês utilizam em estúdio para obter esta coordenação cirúrgica entre todos os instrumentos? Precisaram de muitos “takes” durante as gravações para obter o resultado que ouvimos no disco? Em estúdio usamos click tracks para assegurar o sincronismo entre os diferentes instrumentos. As gravações de «Dingir» decorreram tranquilamente e não foram necessários muitos takes para completar cada uma das canções. No que toca aos vocais, a maioria dos temas foi gravado num único take, tendo sido necessários alguns takes apenas para partes específicos dos instrumentos. No caso das guitarras e do baixo o processo de gravação foi resumidamente o seguinte: Com a ajuda da ferramenta Pro Tools, gravamos o som directo das guitarras juntamente com uma scratch track que tem basicamente o tom que pretendemos. Esta scratch track é apenas um referência que é retirada

no fim da gravação. Nessa altura o som da guitarra é passado pelo Axe-Fx Ultra, uma ferramenta de processamento específica para este instrumento que nos permite alterar o tom da guitarra em qualquer ponto de uma canção, mesmo em fases já adiantadas do processo de mistura. Permite também uniformizar o tom da guitarra ao longo de todo o álbum, algo que é difícil de conseguir pelos meios tradicionais, especialmente quando as gravações se prolongam ao longo de vários dias. Usamos também o Axe-Fx nos concertos. Na gravação da bateria usamos uma técnica que mistura a captação acústica directa com a substituição de alguns sons pré-gravados. É assim: começamos por registar uma série de amostras de som do bombo, timbalão e tarola. Em seguida gravamos a performance do nosso baterista a tocar cada uma das canções. Durante esta gravação costumamos usar triggers no bombo e no timbalão. O som da tarola e dos pratos é captado por microfones. Depois de tudo gravado, substituímos, na gravação, os marcadores de trigger ou os sons respectivos com as amostras pré-gravadas mais adequadas. O que resulta daqui é finalmente misturado com a gravação acústica da bateria, e está pronto. A utilização de amostras pré-gravadas resulta num som mais abrasivo mas também mais poderoso. Por outro lado, a gravação directa tem sempre um tom mais humano. A mistura das duas resulta numa sonoridade global óptima para a nossa música. Com toda esta tecnologia disponível nos estúdios modernos, fica-se com a sensação de que, actualmente, não é preciso ser um músico muito dotado para apresentar um disco tecnicamente espectacular. Será que é mesmo assim? Com as ferramentas actualmente existentes é possível, de facto, produzir ao nível dos padrões de qualidade da indústria, mesmo com um orçamento de estúdio reduzido, ou mesmo num estúdio caseiro. Isto é cada vez mais uma realidade, não só devido


aos avanços da tecnologia mas também devido aos custos decrescentes das ferramentas, as quais passaram a estar acessíveis directamente aos músicos e não apenas aos grandes estúdios. Assim, não é verdade que as ferramentas actuais permitam que um músico consiga fazer música incrivelmente complexa que ultrapasse as suas capacidades técnicas. Permitem, no entanto, que músicos relativamente bons consigam produzir, com custos moderados, uma gravação ao nível dos padrões de qualidade habituais na indústria musical. Além disso não faria muito sentido gravar música que não se é capaz de reproduzir ao vivo. A música muito técnica torna-se um pau de dois bicos quando a sua complexidade é levado ao extremo de a tornar difícil de acompanhar ou mesmo ininteligível. Neste ponto, ou se adora ou se odeia. Será que existe um limite para a complexidade?

O que dizes é verdade do ponto de vista da opinião de quem ouve música. No entanto, penso que a criatividade não deve ter limites. A música é uma forma de expressão, pelo que se sentes a necessidade de te exprimires através de passagens altamente técnicas, então não vejo porque não o hás-de fazer. É a tua música! Ainda não percebi se esta recente edição de «Dingir» é uma reedição dum original lançado em Outubro de 2012. Pelo que li, o álbum também já esteve disponível para streaming e depois para download grátis. Será que podes clarificar estes aspectos? É de facto um pouco complicado. Este álbum esteve para ser publicado no dia 12 de Novembro de 2012, mas por causa de uma batalha legal em que nos envolvemos para evitar que alguém nos roubasse a designação Rings of Saturn, o disco acabou por sair só a 5 de Fevereiro de 2013. Enquanto o processo legal estava em curso alguém pirateou uma versão de pré-produção do disco e colocou-o na Internet. Em face disto, e dado que o adiamento da edição do álbum era já uma realidade, decidimos disponibilizar para streaming uma versão de melhor qualidade


do disco. Logo a seguir o álbum esteve disponível na totalidade para download grátis durante algum tempo. Na tua opinião, quais são os aspectos da vossa música que diferenciam os Rings of Saturn de outras bandas de death metal técnico? Eu diria que são os temas alienígenas das nossas letras, as harmonias de guitarra e toda a parte instrumental altamente exagerada. Enfim, toda a atmosfera que emana da nossa música. Do primeiro para este segundo álbum a banda passou por alterações significativas no line-up. Quais foram as principais razões que motivaram estas mudanças? A maior parte dos músicos antigos nunca foram membros permanentes dos Rings of Saturn; colaboraram apenas como músicos convidados em digressões. Os line-ups oficiais são aqueles que aparecem no primeiro e no segundo disco. O nosso vocalista original [Peter Pawlak] abandonou a banda porque quis voltar à escola, e o primeiro baterista [Brent Silletto] foi despedido porque fumava muito, um hábito que tinha consequências negativas ao nível do tempo que ele dedicava para ensaiar e também ao nível da sua prestação técnica. Inicialmente não tínhamos baixista nem um segundo guitarrista na formação oficial (éramos apenas três). Foi só por altura das gravações de «Dingir» que adicionamos esses dois elementos.

Sei que houve alguma polémica em torno de declarações do vosso antigo baterista, que vos acusou de gravar o álbum a metade da velocidade. O que é que aconteceu ao certo? Bem, aqui vai então um resumo dessa longa estória. Como já referi, tivemos alguns problemas com o nosso baterista anterior, o Brent Silletto, por causa dos seus vícios, os quais se reflectiam desastrosamente na sua fraca performance como músico. As gravações do primeiro álbum, «Embryonic Anomaly», foram financeiramente arruinadas por causa dos inúmeros takes de bateria que foram necessários. Mesmo assim, em algumas partes tivemos que usar uma bateria programada. Depois estivemos quase para cancelar a digressão de promoção a esse disco porque o Brent esteve para ser preso por violência doméstica. Depois disse-nos que não participaria na digressão a menos que a namorada o acompanhasse na carrinha. Felizmente a policia interveio e levou a rapariga para casa. Foram todos estes acontecimentos que levaram os restantes membros da banda a mandá-lo embora. Mais tarde, assim que disponibilizamos «Dingir» em streaming e começamos a ganhar alguma popularidade, parece que ele ficou todo invejoso do sucesso da banda e começou a fazer acusações sem fundamento sobre a maneira como gravamos o álbum. Foi tudo só para nos prejudicar pois ele nem sequer esteve presente no estúdio durante as gravações deste disco. Estas declarações foram enviadas para o site Metalsucks.net, que as colocou online gerando este enorme rumor. Em resposta à notícia publicada nesse site, o nosso produtor emitiu um comunicado a refutar todas as acusações e a declarar que a gravação de «Dingir» tinha sido perfeitamente normal. O único álbum em que as coisas não tinham corrido bem teria sido o anterior, «Embryonic Anomaly», onde o trabalho desastroso do baterista teve de ser quase todo substituído por bateria programada. Como o material presente neste disco já foi composto há algum tempo, presumo que estejam já a trabalhar em novos temas. Como é que está a sair? Quão diferentes são de «Dingir»? Definitivamente estamos a manter-nos fiéis às nossas raízes de brutalidade esmagadora e tecnicismo tempestuoso. No entanto, desta vez, estamos a pensar introduzir mais melodia na linha daquilo que podes ouvir em “Immaculate order” e “Utopia”, no álbum «Dingir». Vamos usar também guitarras de 8 cordas em algumas partes. Entrevista: Ernesto Martins


Alegremente solitários Estão sós, mas não se sentem abandonados. São jovens, mas não imaturos, a ter em conta as palavras de Henrik Palm, o membro dos In Solitude que respondeu às questões da VERSUS Magazine. Autores de um heavy metal bem misturado com rock clássico, estes suecos, que se juntaram em 2002, apresentam agora uma reedição do seu primeiro álbum, certamente para abrir o apetite para o seu terceiro longa duração. Estes são os grandes temas da interessante conversa que tivemos com o jovem e irreverente guitarrista.


Vocês fazem heavy metal misturado com rock muito clássico. Jovens como são, não têm medo que vos acusem de serem antiquados? Henrik Palm – Tenho vinte e cinco anos, logo não sou assim tão novo. Mas é claro que ainda sou novo. Não nos sentimos nada antiquados. Pelo contrário, sinto que estamos muito atualizados e tenho a certeza de que vamos surpreender muita gente, no futuro, com o que conseguimos tirar da carcaça do rock n’ roll. Quais são as vossas influências? Temos montes de influências. E NÃO apenas na área do metal! Tudo desde Riot a Throbbing Gristle. Pessoalmente, gosto muito de hardcore punk: Discharge, Poison Idea, Wretched, GISM, Anti Cimex e outro material cru dessa natureza. Mas o que mais influencia os In Solitude somos nós próprios e tudo o que nos perturba. Porque não estamos aqui para copiar as ideias dos outros. Onde e quando aprenderam a tocar assim? Ao ouvir-vos recordo bandas da minha juventude. De que bandas gostavas nessa altura? Talvez Mercyful Fate. Todos nós gostamos dessa banda veterana, mas NÃO temos a mínima pretensão de sermos os “próximos Mercyful Fate”, como alguém disse. É claro que essa comparação é muito lisonjeira para nós, mas, na realidade, só queremos ser In Solitude. O que ouviste é a nossa essência, não uma cópia de outra banda. Não temos a mínima intenção de copiar ninguém, mas não nego que Mercyful Fate é mesmo uma das minhas bandas favoritas de sempre e que, por conseguinte, é natural que o nosso trabalho seja influenciado pela música deles. Mas sentimos o mesmo relativamente a Birthday Party e Black Sabbath! Pessoalmente, gostava mais que fôssemos comparados a Black Flag. Mas é só uma ameaça. No que diz respeito a tocar e cantar o segredo é: praticar, praticar, praticar e praticar.

Antes de mais, penso que este álbum é muito bom e realmente importante. Parece que vêem algo de especial em nós e que nos destacamos da maioria das bandas. Este é o vosso primeiro álbum, numa nova edição da responsabilidade da Season of Mist. Por que tomaram esta decisão? Porque queremos que seja uma boa reedição, com uma distribuição mais alargada, para que mais pessoas possam ouvir o nosso álbum. Como já disse, é um álbum importante na nossa carreira. Foi com ele que tudo começou. A capa do vosso álbum faz-me pensar mais em death metal. Podes explicar-nos que relação existe entre ela e as faixas do álbum? Mantemos uma relação muito forte com a morte, o metal e o death metal. Penso que isso explica tudo. Suponho que estão a preparar um novo álbum. Como vai soar? Uma ameaça à vida, como sempre. Como encaram a ideia de tocar num festival português? Conhecem algum? Só ouvi falar do SWR Barroselas Metalfest e fiquei muito bem impressionado. Adorava tocar lá. E agora, por pura curiosidade, gostava de saber por que escolheram In Solitude como nome para a vossa banda. Parece mais um nome de banda de doom metal. Bem, talvez seja porque ouvimos demasiadas vezes o primeiro álbum de Candlemass. Mas, atualmente, essa “solidão” é algo de belo que nos une aos cinco de uma forma que dificilmente poderás imaginar. Entrevista: CSA

Conheço bem a Season of Mist e sei que não escolhem as suas bandas ao acaso. Que razões os levaram a apostar nos In Solitude?

“[…] tenho a certeza de que vamos surpreender muita gente, no futuro […]”


ANCIENT VVISDOM «Deathlike» (Prosthetic Records) Esta banda originária de Austin, Texas editou já um álbum «A Godlike Inferno» e regressa então em 2013 para nos brindar com um semiacústico denominado «Deathlike». A originalidade deste álbum está em ser praticamente todo ele acústico tirando algumas bases melódicas de guitarra elétrica que pontificam por entre as brumas desenhadas pelo enredo quase sempre melancólico. Obviamente com temas intitulados como “Deathlike”, “Waiting to die”, “Never live again” ou “Here is the grave”, não se pode abraçar o conteúdo lírico como quem bebe um copo com os amigos. Somado à atmosfera sonora bastante intimista é feito um convite ao ouvinte para mergulhar em espaços psíquicos propícios à desolação e à desesperança. Portanto não sendo esse o propósito estou certo da maioria dos amantes da música extrema, diria que o ponto forte é então a qualidade instrumental com as suas múltiplas vertentes nos instrumentos de cordas, rítmicos, vocalizações e nas composições bastante homogéneas. No final a impressão com que se fica é que a ideia é conceber um disco acústico – fazendo lembrar os unplugged que foram mais do que populares nos anos 90 – mas sem ter por base edições prévias de estúdio. Resta saber se na ideia destes Texanos está programado fazer o percurso inverso e mais tarde gravar todos estes temas em versão 100% elétrica com bateria e guitarras distorcidas. Para já não sabemos o que planeiam os Ancient VVisdom mas o resultado de «Deathlike» e o antecessor «A Godlike Inferno» é surpreendente e original tendo já granjeado bastantes elogios na imprensa da especialidade. [8.5/10] Sérgio Teixeira AUDREY HORNE «Youngblood» (Napalm Records) Estes senhores chegam-nos de Bergen, Noruega, o que só por si já é um bom prenúncio, já que o norte da Europa é prolífico em belíssimas bandas de metal. Sob a alçada da Napalm Records, os Audrey Horne surgem com uma sonoridade muito reminiscente do heavy e hard rock dos anos 70 e 80. Se se sentirem nostálgicos e estiverem à procura de uma viagem no tempo, ouçam esta sequência de faixas e irão certamente lembrar-se da sonoridade de Alice in Chains, e encontrarão no álbum solos de guitarra arrepiantes, muito ao estilo de Thin Lizzy. É estranho que esta banda surja com uma sonoridade tão melodiosa e mais mainstream, já que alguns dos membros surgem de bandas com sonoridades mais extremas e obscuras, como o Black Metal – como é o caso dos guitarristas Arve Isdal (Enslaved) e Thomas Tofthagen (Sahg). O tema de abertura, e também single, “Redemption blues”, lança o mote para todo o álbum, com riffs impressionantes e com um refrão que fica no ouvido. Ao longo do álbum também é possível encontrar elementos característicos do grunge, como no caso das faixas “Youngblood” ou “Show and tell”. Na minha opinião, este é um álbum bastante coeso que demonstra grande crescimento e melhoria de qualidade relativamente a trabalhos anteriores, como «No Hay Banda» e «LeFol», que deixaram bastante a desejar. As estrelas deste trabalho são, sem margem para dúvida, os guitarristas que conseguem arrepiar com os seus solos, bem patentes em músicas como “Youngblood”, “Pretty little sunshine” ou “This ends here”. [8.5/10] Susana Cardoso BISON B.C. «Lovelessness» (Metal Blade Records) Após os aclamados primeiros trabalhos desta banda canadiana, que foram bem recebidos pela crítica, vem este «Lovelessness» consolidar uma discografia assente num rock sujo, bruto e inconformado. Com uma forte componente instrumental (o primeiro trabalho foi gravado sem voz), o conceito inerente a este álbum é um grito contra a felicidade e o prazer; o desejo de mais e sempre mais. Os gritos de uma voz sofrida nos momentos certos, levada pelo instrumental a pontos onde é dado o sentido a todo o intuito da música, mostra-nos bem o que a banda pretende revelar. Sim, porque este álbum é uma mensagem onde nos podemos reconhecer e identificar. Os ambientes aqui criados são mesmo para nos transportar e levar o espírito para algures onde sem estes, não conseguiríamos chegar. Se apesar da primeira faixa começar com um ritmo e melodia mais calmo, é bem apreciada a energia do início do tema “Anxiety Puke / Lovelessness” levando o ouvinte para outro “lugar”, e dar sentido ao que se segue. Faixas como “Last and first things” e “Blood music” mostram-nos do que são capazes estes rapazes para criar ambientes. “Clozapine dream” repõe os níveis do quer-que-seja que tenha sido perdido pelo caminho. E assim chegamos


à minha faixa favorita, “Finally asleep”. Sem estar ainda bem adormecido pelo cansaço, é-nos oferecido um ritmo brando, uma melodia suave, que nos embala. Após 4 minutos temos um break-down e uma ameaça paira no ar; o ritmo acelera e toca a acordar! O álbum termina entre melodia e ritmo. Adoro terminar assim. [8/10] Adriano Godinho CENTURIAN «Contra Rationem» (Listenable Records) Em 2002, após o lançamento do destacado «Liber Zar Zax», a banda holandesa, que se manteve na frente da segunda vaga de Death Metal a par de Krisiun e Angelcorpse, ficou no silêncio para dar lugar aos Nox, banda paralela também de Death Metal que causou algum burburinho. Quase dez anos depois, os Centurian são ressuscitados com concertos na Europa e no Brasil. Em 2012 iniciaram a gravação do terceiro álbum, «Contra Rationem», agora lançado pela Listenable Records. E parece que mesmo passados tantos anos, os Centurian não perderam o jeito – claro, os músicos nunca pararam de tocar Death Metal, pois tinham a banda Nox. Curiosamente, estes holandeses trouxeram consigo o feeling old school que caracterizou o Death Metal da segunda metade dos anos 90. Devo dizer que entretanto o line-up da banda foi alterando, mas a génese da banda mantém-se no seu lugar e é a garantia da boa sonoridade que podemos ouvir em «Contra Rationem». Aqui o Death Metal espalha-se a cada segundo; não há como parar a máquina depois de ser iniciada. “Feast of the cross”, “Antinomian” e “Sin upon man” são alguns dos momentos – não são destaques, porque o álbum é bastante coeso e bastante igual, por assim dizer, não havendo um high moment no decorrer dos seus quase 30 minutos. Talvez aqui seja o ponto fraco deste trabalho – a mesmidade. Mas, há factos mais felizes, ou não houvesse solos ríspidos e cortantes, uma certa dinâmica no ritmo Death Metal, muito graças aos breaks da bateria – não estamos perante, portanto, de um must have, mas os apreciadores do género encontrarão aqui um outro ar que não é o ar destes tempos - e isso é revigorante para a cena Death Metal, cujas cinco estrelas ainda permanecem nos clássicos dos finais dos anos 80 e em diante. [6/10] Victor Hugo COMPLETE FAILURE «The Art Gospel of Aggravated Assault» (Season Of Mist) Há sensivelmente um ano os Complete Failure lançaram o «The Art Gospel of Aggravated Assault» por sua própria conta e risco. A Season of Mist pegou nesse trabalhou, e a banda de Petersburgo teve, por isso, a oportunidade de refazer o seu terceiro disco. Os atentos saberão que os Complete Failure praticam um Grindcore, com remates de Punk, e de certeza que acham que este lançamento é mais que justo e já devia ter sido feito há um ano. Mas para os que desconhecem a banda, será que validarão a importância promovida pela velhinha Season of Mist? Após colocar o disco no leitor surge o primeiro tema e logo percebi a importância. “Mas que poder!” – pensei eu. “Mind compf” abre o disco à bruta, após uma linha de baixo introdutória, sem deixar o ouvinte respirar. A verdade é que só vamos inspirando e expirando algum ar nalguns momentos mais calminhos – um eufemismo – e arriscaria a dizer que só darão por isso ao quinto momento do álbum, “Drag migrator”, um tema mais lento. Mas até lá podem preparar os ouvidos, e o corpo, para descargas brutais e desenfreadas como a música que dá título ao álbum e a “Head hanger to be”. No seu todo são 10 temas que totalizam 21 minutos – por isso, os que apreciarem podem ter a certeza que repetirão o álbum várias vezes, o que lhe dá uma longevidade bastante considerável – característica muito própria dos melhores álbuns de Grindcore. Mas nem tudo é favorável ao «The Art Gospel of Aggravated Assault». Vejamos: apesar do álbum assentar inteiramente em riffs, quase todos muito bons e muito bem conjugados uns com os outros, não passa disso – de uma descarga de riffs. Felizmente são bastante bons e interessantes, ao ponto de interrogarmos “Como é que eles fizeram aquilo?” e fazermos rewind e voltamos a ouvir aquela malha. Isto acontecerá várias vezes, acreditem. E, para finalizar, o que ouvimos aqui já ouvimos há muito tempo – os Lock Up já fizeram algo bastante similar, e quem conhece esta banda saberá detectar as semelhanças. [6.5/10] Victor Hugo


à minha faixa favorita, “Finally asleep”. Sem estar ainda bem adormecido pelo cansaço, é-nos oferecido um ritmo brando, uma melodia suave, que nos embala. Após 4 minutos temos um break-down e uma ameaça paira no ar; o ritmo acelera e toca a acordar! O álbum termina entre melodia e ritmo. Adoro terminar assim. [8/10] Adriano Godinho CENTURIAN «Contra Rationem» (Listenable Records) Em 2002, após o lançamento do destacado «Liber Zar Zax», a banda holandesa, que se manteve na frente da segunda vaga de Death Metal a par de Krisiun e Angelcorpse, ficou no silêncio para dar lugar aos Nox, banda paralela também de Death Metal que causou algum burburinho. Quase dez anos depois, os Centurian são ressuscitados com concertos na Europa e no Brasil. Em 2012 iniciaram a gravação do terceiro álbum, «Contra Rationem», agora lançado pela Listenable Records. E parece que mesmo passados tantos anos, os Centurian não perderam o jeito – claro, os músicos nunca pararam de tocar Death Metal, pois tinham a banda Nox. Curiosamente, estes holandeses trouxeram consigo o feeling old school que caracterizou o Death Metal da segunda metade dos anos 90. Devo dizer que entretanto o line-up da banda foi alterando, mas a génese da banda mantém-se no seu lugar e é a garantia da boa sonoridade que podemos ouvir em «Contra Rationem». Aqui o Death Metal espalha-se a cada segundo; não há como parar a máquina depois de ser iniciada. “Feast of the cross”, “Antinomian” e “Sin upon man” são alguns dos momentos – não são destaques, porque o álbum é bastante coeso e bastante igual, por assim dizer, não havendo um high moment no decorrer dos seus quase 30 minutos. Talvez aqui seja o ponto fraco deste trabalho – a mesmidade. Mas, há factos mais felizes, ou não houvesse solos ríspidos e cortantes, uma certa dinâmica no ritmo Death Metal, muito graças aos breaks da bateria – não estamos perante, portanto, de um must have, mas os apreciadores do género encontrarão aqui um outro ar que não é o ar destes tempos - e isso é revigorante para a cena Death Metal, cujas cinco estrelas ainda permanecem nos clássicos dos finais dos anos 80 e em diante. [6/10] Victor Hugo COMPLETE FAILURE «The Art Gospel of Aggravated Assault» (Season Of Mist) Há sensivelmente um ano os Complete Failure lançaram o «The Art Gospel of Aggravated Assault» por sua própria conta e risco. A Season of Mist pegou nesse trabalhou, e a banda de Petersburgo teve, por isso, a oportunidade de refazer o seu terceiro disco. Os atentos saberão que os Complete Failure praticam um Grindcore, com remates de Punk, e de certeza que acham que este lançamento é mais que justo e já devia ter sido feito há um ano. Mas para os que desconhecem a banda, será que validarão a importância promovida pela velhinha Season of Mist? Após colocar o disco no leitor surge o primeiro tema e logo percebi a importância. “Mas que poder!” – pensei eu. “Mind compf” abre o disco à bruta, após uma linha de baixo introdutória, sem deixar o ouvinte respirar. A verdade é que só vamos inspirando e expirando algum ar nalguns momentos mais calminhos – um eufemismo – e arriscaria a dizer que só darão por isso ao quinto momento do álbum, “Drag migrator”, um tema mais lento. Mas até lá podem preparar os ouvidos, e o corpo, para descargas brutais e desenfreadas como a música que dá título ao álbum e a “Head hanger to be”. No seu todo são 10 temas que totalizam 21 minutos – por isso, os que apreciarem podem ter a certeza que repetirão o álbum várias vezes, o que lhe dá uma longevidade bastante considerável – característica muito própria dos melhores álbuns de Grindcore. Mas nem tudo é favorável ao «The Art Gospel of Aggravated Assault». Vejamos: apesar do álbum assentar inteiramente em riffs, quase todos muito bons e muito bem conjugados uns com os outros, não passa disso – de uma descarga de riffs. Felizmente são bastante bons e interessantes, ao ponto de interrogarmos “Como é que eles fizeram aquilo?” e fazermos rewind e voltamos a ouvir aquela malha. Isto acontecerá várias vezes, acreditem. E, para finalizar, o que ouvimos aqui já ouvimos há muito tempo – os Lock Up já fizeram algo bastante similar, e quem conhece esta banda saberá detectar as semelhanças. [6.5/10] Victor Hugo


DEATH TYRANT «Opus De Tyranis» (Non Serviam Records) E há quem tema que o novo rei não seja tão grandioso quanto o anterior. E há quem diga que nada há a temer pois haverá tanta grandeza e eloquência quanto vileza e agressividade. Bem, tendo em conta que Death Tyrant tem membros dos extintos Lord Belial bem como de Trident, Decameron e Sadistic Grimness, esta afirmação não fere sequer os que tinham dúvidas. Após a aclamada demo de 2010, «The Dark Abyss», este seu debut, «Opus De Tyranis» demonstra que esta é uma banda que mantém acesa a chama do Death/Black dos anos 90, não tivessem eles influências de Lord Belial, Dissection, Dark Fortress, Necrophobic, Dawn e outras. Não direi que esta banda é completamente original mas surge com uma tal qualidade e empenho que não deixa ninguém impávido, tendo todos os instrumentistas a técnica necessária para vir com músicas memoráveis, quer seja pela frieza e encanto das melodias, pelos ritmos pujantes e batalhadores e pelos vocais, tão ríspidos quanto facas perfurando a carne, e sombrios quanto a mais escura noite, as letras sendo os usuais dilemas mortíferos. Quem gosta de vaguear por recantos que transcendem a mediocridade, vivenciando horizontes de uma gélida malvadez, sendo tocado por uma funesta atmosfera que nunca deixa de acariciar a alma, uma estridente semelhança com o Inverno infligindo um longo arrepio, que se deixe ficar a ouvir este portentoso álbum. Por vezes, não há qualquer dúvida sobre o que o novo rei irá dar a conhecer. [8/10] Jorge Ribeiro de Castro DEFEATED SANITY «Passages Into Deformity» (Hammerheart Records) E da Alemanha chega-nos um dos discos de Death Metal Brutal mais brutais dos últimos tempos. Desta feita os Defeated Sanity aparecem munidos de um novo vocalista - Konstantin Lühring - que não deixa os seus créditos por mãos alheias e consegue atingir neste «Passages into Deformity» um poderosíssimo registo de guturais. Mas este conjunto de nove temas acaba por ser a afirmação de uma banda tecnicamente excecional no universo do Death Metal Brutal. Apesar de ser um denominador comum na banda a procura de espaços rítmicos com assinaturas temporais atípicas e elementos com influências jazzísticas, julgo que o desempenho do baixista Jacob Schmidt é de destacar (desde os seus tappings passando por riffs muitas vezes divergentes da linha base dos temas). Obviamente que não é um disco facilmente digerível aos menos calejados no mundo do Death Brutal. Mas é sem dúvida um disco que é marcadamente denso e que espelha a destreza técnica dos quatro membros da banda. Não estarei muito longe da verdade se disser que é um dos álbuns mais pesados dos últimos meses e só por isso mereceria um destaque especial. Mas os Defeated Sanity não se limitam a despejar riffs em cima de blast beats e, como disse, a técnica presente na execução dos instrumentos é de facto a cereja no topo do bolo. Um comentário final para dizer que os dois pontos que separam a classificação do álbum da nota máxima tem a ver unicamente com o género e estilo que não é possivelmente tão abrangente – confesso que mesmo para mim – como é o Death-Metal Brutal. Tirando este aspeto, quem for amante deste estilo musical tem aqui uma aquisição obrigatória para colocar em rotação inúmeras vezes. [8/10] Sérgio Teixeira DISPERSE «Living Mirrors» (Season of Mist) Mesmo sem serem considerados uma potência da música pesada a nível mundial, é interessante constatar a quantidade de bandas de qualidade deste género que surgem na Polónia. Os Disperse são um bom exemplo, uma jovem banda polaca que começa 2013 com o seu segundo álbum de originais intitulado «Living Mirrors», com a assinatura da Season of Mist. O rock/metal progressivo que patenteia todo o álbum apresenta incursões por sons mais jazz e ambientais. Uma mistura bem conseguida que nos transporta por vezes para as partes limpas de Textures e outras para o som mais ambiental dos Cynic. Como progressivo que é progressivo, é banhado de muitas partes apenas instrumentais sendo que este álbum nos oferece cinco músicas sem recurso à voz do Rafał Biernacki, que também toca (e bem) os teclados, de um total de treze temas sempre com arranjos interessantes que misturam uma guitarra distorcida com bons solos, um óptimo suporte de baixo e uma bateria marcada mas bem desenhada. É interessante notar que da formação que gravou o álbum para o line-up que o editou apenas se mantiveram o vocalista e o guitarrista Jakub


Żytecki. O baixista e o baterista são novos, e será interessante acompanhar como vai ser a adaptação desta nova equipa. É sempre bom começar o ano com música de qualidade e para quem gosta de música progressiva tem aqui uma boa proposta para passar uns bons momentos. [8/10] Sérgio Pires ENSHADOWED «Magic Chaos Psychedelia» (Pulverised Records) Ao terceiro longa-duração continuamos a ter uma simples descarga de Black Metal frio e brutal, com uma carga de niilismo nas letras – nada de extraordinário, portanto. Coloco o CD a rolar, olho para a capa do mesmo e sinto curiosidade. A capa chama-nos pela sua beleza artística. Fico a saber que foi desenhada por um artista grego, Rea Pediaditaki, e foi retocada com pinturas manuais feitas por Miguel Angel Castro Salinas – o resultado é realmente belo. À medida que ouço este «Magic Chaos Psychedelia», dos gregos Enshadowed, faço o paralelo entre a sonoridade e a capa – e concluo que a primeira está em desarmonia com a segunda. Quer dizer, a segunda impressiona mais que a primeira. Significa que musicalmente este terceiro trabalho dos Enshadowed deixa muito a desejar? Sim. Este álbum foi gravado, misturado e masterizado por Fotis Bernardo, colega também dos SepticFlesh. Para além dessas tarefas, Fotis Bernardo também contribuiu com percussão; já que a banda não tinha um baterista fixo, esta ficou à responsabilidade do Impaler (baterista mercenário que já devaneou em várias bandas) de a gravar para este álbum. Começando pela bateria, 90% são blastbeats e pouco mais há a registar de significativo na performance de Impaler. Os riffs de guitarra ora são rasgados ora são lentos, com uma sonoridade bastante limpa, com poucos highlights a registar. A voz é o que se pode esperar num trabalho deste género – fria e cavernosa. Confesso que esperava muito mais deste trabalho, mas a verdade é que não encontro um único argumento que me faça pegar nele novamente. Nem aquele momento de piano no final da música “Inner psy-trip” convence. A este tipo de trabalho costumo dizer que falta um certo feeling para que ele seja apelativo e que nos agarre – um simples debitar de brutalidade não chega para convencer. Contudo, os adeptos da brutalidade desmesurada poderão encontrar aqui uma proposta recheada; outros acharão aborrecida. [4.5/10] Victor Hugo GULAGGH «Vorkuta» (Coma Section) Gulaggh é a continuação de um outro projeto denominado Stalaggh. Stalag era a denominação dos campos de concentração Nazi, e Gulag campos de trabalhos forçados Soviéticos. A terminação em gh quer dizer «global holocaust». O pendor provocatório deste projeto não acaba nos respetivos nomes. Pelo contrário e «Vorkuta» é o primeiro álbum de uma trilogia enquanto Gulaggh reeditado este ano em 3 sets diferentes em formato vinil. Confesso que não conhecia este projeto, mas Vorkuta é uma obra que, penso eu, merece obrigatoriamente reflexão. O que se pode ouvir ao longo dos 45 minutos é um somatório de sons com o propósito de transportar o ouvinte até aos mais extremos sentimentos humanos: medo, sofrimento, dor. O objetivo de materializar em sons a desolação do sofrimento humano irremediavelmente presentes nos campos de concentração, foi um desafio para os músicos e é um desafio para os ouvintes. Neste disco que pode ser classificado de tudo menos de música, a primeira metade é composta por paisagens sonoras abstratas, assentes em múltiplos sons de instrumentos clássicos - violinos, trompetes, violoncelos, piano, saxofone, etc. Todos eles tocados de forma perfeitamente atípica, praticamente aleatória mas com uma orgânica, uma vida e uma vibração muito próprias. E ao minuto 23 os infernos descem sobre a terra com o surgir do primeiro de muitos gritos e manifestações reais de insanidade. Para «Vorkuta» foram recolhidas amostras de gritos de indivíduos em instituições psiquiátricas que colaboraram da maneira mais macabra que até hoje pude constatar na conceção de um álbum. Ao longo dos cerca de 20 minutos finais somos pura e simplesmente inundados com os gritos de pessoas com problemas psíquicos e que complementam a base não-musical da primeira metade do álbum para recriar os campos de concentração e os respetivos ambientes pelos quais lutamos nunca passarmos durante as nossas vidas. Há em todo este projeto um desafio claro do ponto de vista estético e ético, mas sem dúvida que o reavivar e trazer para o século XXI em disco a insanidade do Holocausto é em si um propósito nobre. A História repete-se mas há capítulos que não devem a todo o custo repetir-se. «Vorkuta» lembra-nos disso de uma maneira tão assombrosa como soberba. Uma obra-prima cerebral que exige abertura de espírito e resiliência mas que resulta de um equilíbrio delicado entre ética, estética e insanidade num resultado único. [9/10] Sérgio Teixeira


HELLOWEEN «Straight Out Of Hell» (The End Records) Chegou a altura de fazer uma review de uma das bandas do meu TOP 3. E havia tanto para contar sobre os Helloween. Aliás, desde que Michael Kiske saiu da banda que há sempre muito para contar, isto só de cada vez que sai um álbum. O motivo é sempre os mesmo Kiske Vs Deris. Apesar de considerar Kiske um dos 3 melhores vocalistas no mundo do Heavy Metal, não considero Deris um mau vocalista. Muito antes pelo contrário: extremamente competente e detentor de um timbre de voz... diferente. Isto para dizer que em «Straight Out Of Hell» assina um dos seus melhores registos desde que chegou aos Helloween. O fãs anseiam – sempre – por um novo Keeper mas não, apesar de haver um... The Legacy, os Helloween jamais lançaram outro Keeper, mais que não seja, por três razões: Não há Kiske, não há Hansen e convenhamos, os tempos são outros. De qualquer forma, a sonoridade e qualidade mantém-se ao nível que os Helloween já nos habituaram. Aliás, retirando “The Dark Ride” este é álbum que mais prazer me dá ouvir e nele temos incluídos o que de melhor os Helloween sabem fazer: “Live Now” é um mid-tempo típico, nada de novo mas que encaixa perfeitamente na sequência dos temas. Os primeiros momentos mais calmos vêm com “Waiting For The Thunder” e “Hold Me In Your Arms” – o primeiro uma “meia balada” o segundo, como não poderia deixar de ser a pura balada. “Straight Out Of Hell” é o “Dr. Stein/Future World” deste álbum e este não ficaria mais pobre se não incluísse “Asshole”. O resto dos temas é puro power, speed chamem-lhe o que quiser. Puro prazer Helloween. YEAH! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro IMPERIUM DEKADENZ «Meadows of Nostalgia» (Underground Activists/Season of Mist) Imperium Dekadenz é um duo alemão, constituído por Vespasian e Horaz. Este alinhamento diminuto é, por si só, aspecto a valorizar já que compuseram um álbum completo, recorrendo a diversos elementos o que é notório ao longo do álbum. O alinhamento da banda, contudo, sofre alterações para actuações em palco, como é óbvio. Apesar desta nota positiva, na minha opinião o álbum deixa a desejar já que não traz grande novidade no círculo do Black Metal. A sonoridade deste duo é muito semelhante a outras bandas dentro do panorama, como por exemplo Dornenreich, Nocte Obducta ou Nagelfar, não havendo grandes aspectos diferenciadores a realçar. O álbum é coeso como é habitual na banda, mas não alcança a magnitude do aclamado trabalho anterior, «Procella Vadens». As faixas que realmente se destacam são: “Ave danuvi”, onde se destaca o ritmo mais lento, mas intenso, guturais poderosos e coros magnânimos, conferindo a melancolia a que a capa do álbum remete, e “Der unweg”, onde retomam a atmosfera mais sombria com belas sequências instrumentais. Contudo, falta coesão no álbum; faixas com ritmo acelerado são sucedidas por faixas mais lentas, para voltar a um ritmo novamente rápido. O alinhamento parece, em certos momentos, descabido. A sucessão de “Memoria” a “Ave danuvi”, entrevia uma melhoria na progressão do álbum, para dar lugar a “Aura silvae” e deitar o ambiente melancólico por terra. Ritmo esse que é retomado em “Der unweg”. No geral, é um álbum satisfatório, mas que deixa a desejar. [6/10]Susana Cardoso HOLY GRAIL «Ride The Void» (Prosthetic Records) Faz algum tempo que não ouço um bom álbum de Metal Tradicional. Os Holy Grail lançam em 2013, somente, o seu segundo registo. «Ride The Void» é “fresco”, entra no ouvido logo à primeira... sem complicações. Som muito direto, coeso, melódico, riffs potentes, bem rasgados e a voz no tom ideal para este género – nas notas mais altas a fazer lembrar Rob Halford. As guitarras em geral e os solos em particular são um primor. Apesar de serem uma banda nova – formaram-se em 2008 – já contam no seu curriculum suporte a pesos pesados como Amon Amarth, Blind Guardian, Exodus e participações em Festivais como: Wacken, Loud Park ou Hammerfest. «RtV» foi produzido, misturado e masterizado por gente que já trabalhou com Slayer, Children of Bodom ou Trivium. Destacando os temas que podem provocar fortes dores de cabeça e pescoço “The Great Artifice”, “Bestian Triumphans”, excelentes variações entre o Speed e o mid-tempo intercalados com arpejos de guitarra (Melhor tema do álbum, sem dúvida), o single “Dark Passenger” dominado por um riff “cavalgante” – cuidado a ouvir isto em lugares públicos – e “Crosswinds”. O resto dos temas são igualmente excelentes mas estes despertaram-me um “nadinha” mais a minha atenção. [8/10]Eduardo Ramalhadeiro


JORN «Symphonic» (Frontiers Records) Jorn Lande não precisa de apresentações. Dono de uma voz sem igual e um timbre impar, este deve ser dos poucos artistas que basta, somente, ter lá o nome para a qualidade estar garantida. No entanto, o “reverso da medalha” é que me abstraio, quase por completo, de tudo o que o rodeia e foco-me na voz. É inevitável. «Symphonic» não é um típico “best of”. Os temas selecionados não foram aqueles mais típicos ou conhecidos (os singles, por assim dizer) mas aqueles que muitas vezes saem como bónus ou ficam “esquecidos” mas que são igualmente grandes temas. Jorn decidiu dar-lhes uma nova oportunidade mas desta vez com a inclusão de arranjos clássicos. O resultado foi dos álbuns melhores orquestrados que jamais passaram pelas minhas mãos. Pela primeira vez, consegui-me abstrair da voz e focar-me um pouco mais neste novo fator – a orquestra. Os temas não foram gravados de novo. Os arranjos foram adicionados ao material previamente gravado, no entanto, alguns temas foram novamente misturados de modo a que a orquestra pudesse “encaixar” na música. Tudo isto é feito de uma forma... perfeita! Realmente, alguns dos temas que estavam esquecidos são absolutamente extraordinários: “I Came To Rock”, “The World I See”, “Time To Be King” – a fazer lembrar os Rainbow – “Black Morning” que excelente balada ou “War Of The World”! Este são só cinco temas que destaco, porque bem vistas as coisas tive que me conter para não os enumerar a todos. «Symphonic» é realmente diferente, único e exclusivo na discografia de Jorn Lande. [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro KEN Mode «Entrench» (Season of Mist) Dez anos festejam-se assim. Apesar da banda existir desde 1999 (e daí trazer muito da influência do que foi a música nos 90’s) o primeiro trabalho de longa duração apenas surgiu em 2003. Hoje, em 2013 somos abençoados com este «Entrench» que chega sobre a nova alçada da Season of Mist, editora esta que nos enriquece com bandas como Kylesa, Cynic, Solstafir ou Rotten Sound. Com KEN (Kill Everyone Now) Mode temos das melhores expressões de noise post-hardcore do momento. “I’m in control”, ouve-se gritar, e é verdade que nos sentimos na presença de uma banda que demonstra características de leader and not a follower. A dinâmica deste trabalho é muito perspicaz talvez dos melhores conseguidos pela banda, demonstrando mais tempo-para-o-detalhe em mensagens como “The terror pulse”, onde sofremos oscilações ao ritmo das palavras cruas “it doesn’t matter anymore...” e um baixo de mau humor, sempre a ranger lá no fundo. Ou como no tema mais lá à frente no trabalho com o título “Romeo must never know” que tem uma perspectiva completamente diferente; ambiental e melódico; sussurrado e sentido. O outro lado KEN é o mais presente no álbum, mais energético, gritado e sofrido; sem nunca deixar de ser musicalmente forte. Aí temos como porte-estandarte o tema de abertura “Counter culture complex” que me causa alguma trepidação no corpo. Mágico. Momentos de destaque: “Your heartwarming story makes me sick” com o arrepiante “(…)This is your fairytale(…)”. Mas também “The promises of god” ou “No; I’m in control”. Faixa que estranhamente me deixa fora de controlo. Irónico. [8.5/10] Adriano Godinho LUGNASAD «Smell of a Grey Sore» (Art of Propaganda) Formada em 2010 com um objectivo comum (alguns sacrifícios humanos, muito sangue espalhado pelas ruas…), vieram, no final desse ano, com o nome que melhor descrevia a sua demanda musical. Sendo Lugnasad a referência a um feriado gaélico celebrado em Agosto e originado no panteísmo Indo-Europeu, enaltecendo assim a colheita e a fertilidade, possui também um significado esotérico, referindo-se igualmente ao que infecta a vida com elementos perniciosos e enfatiza a entropia. Esta banda francesa deixa-se levar pelo Black Metal mais funesto com alguns elementos escandinavos, melodias um tanto doce/amargas e uns trejeitos melancólicos. Ao que parece, não gostam de ser comparados com outras bandas do mesmo género, mas isso não quer dizer que não se pode abrir algumas janelas e vir com referências como Dissection e Shining. Afinal, até que a música tem alguma da envolvência própria dessas mesmas bandas… As letras são baseadas nos livros de Ezra Pound, Julius Evola, René Guenon e Raymond Abbelio, escritores do iní-


cio do século XX que preconizavam a civilização como estando sujeita à queda e à regressão devido a não estar desperta para agir, apenas para seguir. Se desejam uma empreitada que não esteja em consonância com as asneiras de um mundo em desenvolvimento, então oiçam este álbum. Pode ser que a vossa mente nunca mais esteja aberta a redundâncias, ou pode ser que apenas façam um bom headbanging. Escolham. [8/10] Jorge Ribeiro de Castro NEW KEEPERS OF THE WATER TOWERS «The Cosmic Child» (Listenable Records) É sempre com grande cepticismo que recebo qualquer menção do nome Pink Floyd sempre que este é usado para caracterizar a música de alguma banda actual. Cheira sempre a golpe de marketing e, na maior parte das vezes, é mesmo. Felizmente, não é o caso deste disco que alguém já intitulou apropriadamente de “Dark side of the doom”, numa alusão óbvia a um dos mais incontornáveis registos do citado grupo de Cambridge. «The Cosmic Child» é, na verdade, um disco pautado por teclados espaciais, espantosas linhas de guitarra que ecoam longamente e toda uma atmosfera de psicadelismo negro que remete fortemente para o art/prog rock dos anos 70 (reparem como o título e a capa do álbum são também reminiscentes dessa vertente do rock). As referências aos elementos tipicamente Pink Floyd são particularmente evidentes em “Pyre of the red sage” – aquele interlúdio psicadélico aos 5 mins faz lembrar «Animals», bem como o curto solo arrancado logo a seguir. No entanto a banda sueca também adiciona algo da sua própria mão, como é exemplo o fantástico riff catchy, muito metal, que surge a seguir, e que entra ali como uma luva. “Cosmosis” está contaminado do espírito hippie de «Meddle» e o timbre das vozes de Rasmus Booberg, Tor Sjoden e Victor Berg aproxima-se do de Gilmour, reforçando a alusão à lendária banda inglesa. Há também muitos segmentos acústicos e alguns efeitos de voz, ambos evocativos de Camel, outro baluarte do prog dos 70s. Suave e tranquilo em alguns momentos, pulsante de tensão noutros, este terceiro registo da banda de Estocolmo é, sem dúvida, um trabalho épico que se recomenda vivamente, e um dos primeiros grandes álbuns a salientar neste início de 2013. [9.5/10] Ernesto Martins NIGHTFALL «Cassiopeia» (Metal Blade Records) Os Nightfall são uma das bandas Gregas com maior projeção e que mais marcaram uma época que permitiu o romper de outras bandas deste país até paragens mais longínquas. Neste «Cassiopeia» lançado em Janeiro de 2013 a banda continua a não comprometer. Se há algo que podemos encontrar neste novo registo é sobretudo uma preocupação com a componente melódica muitas vezes determinada pelos teclados que são presença quase constante ao longo do disco. Onde as nuances vão surgindo é em grande parte com as variações nos riffs das guitarras com influências de Black Metal mas estando longe de ser um álbum de Black Metal. Por vezes estas variações nas guitarras somam-se à tonalidade dos teclados, noutros momentos atalham por ambientes que divergem da base dos temas mas sem criar roturas desconcertantes. Mas quando estes momentos de divergência surgem, os espaços criados chegam a ser inesperados. E variam entre momentos algo tenebrosos ou agressivos, noutros mais vivos, noutros claramente mais ritmados e eletrizantes. Apesar destas variações que são presença inequívoca fica por dar aquele salto que permite construir um álbum claramente inovador ou original. O que pode então ilustrar este álbum penso ser uma base consistente de linhas melódicas, apimentada aqui e ali com algumas variações inesperadas e até originais, mas quando analisado na globalidade fica um pouco aquém no que diz respeito a originalidade tendo em conta as nuances que referi. Portanto diria que «Cassiopeia» agradará mais a quem é fã de Heavy Metal clássico adornado com uma percentagem comedida de momentos originais. [7.5/10] Sérgio Teixeira


OCTOBER FALLS «The Plague of a Coming Age» (Debemur Morti Productions) Aqui apresentamos a última proposta desta banda finlandesa, que tem sempre mostrado uma evolução, ou pelo menos uma variação, em relação aos seus trabalhos prévios. Podemos dizer que sempre navegou pelos sons mais atmosféricos, de um estilo que poderá ser designado por dark folk, numa vertente mais obscura e melancólica. Se nos inícios incluíam arranjos de flauta e piano, em músicas maioritariamente compostas com guitarra acústica e apenas instrumental, sentiram que conseguiriam mais, incluindo vozes nas composições. A voz que se ouve nos trabalhos desde então é uma voz ora distante, quase imperceptível, rouca e sofrida, ora melodiosa e bela como no tema homónimo “The plague of a coming age” ou em “Boiling heart of the north”. Se nos inícios estaríamos perto de um som a lembrar Ulver, hoje a componente black metal está mais presente (mas não na total extensão do trabalho) e possui temas que são mais irados e mais curtos. Nunca deixando a volúpia da componente ambiental e contendo muitos momentos melódicos e recuperações/variações na música. Este álbum mostra-nos uma banda mais concisa, a construir um trabalho mais maduro, apesar do anterior álbum «A Collapse of Faith», de 2010, não ter sido tão bem recebido pelos fãs como o prévio «The Womb of Primordial Nature», de 2008. A minha opinião é que o que temos em mãos é um álbum mais inspirado em momentos com maior presença e determinação, quando comparado com os seus trabalhos dos inícios. [6/10] Adriano Godinho RINGS OF SATURN «Dingir» (Unique Leader Records) Apreciadores de tudo o que envolve acrobacias mirabolantes de cordas e percussão conjugadas numa sonoridade brutal capaz de pôr em perigo as fundações lá do prédio, atentem nesta jovem formação californiana. Neste que é o segundo registo de longa duração, a banda apresenta um death metal muito técnico, do género que é cada vez mais prevalente nos dias que correm, e que poderia ser vagamente descrito como algo entre The Faceless, Brain Drill e Obscura. O termo deathcore tem surgido associado a eles, mas justifica-se mais pelas raízes estéticas do colectivo do que pelo sonoridade actual. Aliás, se isto tem alguma coisa de deathcore, então é deathcore elevado à décima potência da exuberância técnica, tal é o esfarrapanço de guitarras e o virtuosismo digno de verdadeiros guitar-heroes. Os padrões tresloucados da bateria são absolutamente aditivos (embora talvez demasiado maquinais) e as malhas acrobáticas, a par das cacofonias sacadas freneticamente das seis cordas a uma velocidade impressionante, deixam claro que estamos perante um grupo de músicos de excepção que até custa a crer que tenham idades que rondam os vinte e poucos anos apenas. No meio de todo este contorcionismo caótico só faltam mais riffs apelativos e passagens realmente memoráveis, como acontece em “Objective to harvest”, “Fruitless existence” e “Utopia”, os quais tornariam os temas bem mais atractivos. Sem estes elementos o disco acaba por ser bastante difícil de digerir. Mesmo assim não podemos deixar de reconhecer o arrojo do grupo em fazer algo desafiante. E se tivermos em atenção a considerável evolução registada desde o álbum anterior, «Embryonic Anomaly», então só se pode esperar muito para o próximo disco. [8/10] Ernesto Martins RIVERSIDE «Shrine Of New Generation Slaves» (Insideout Records) Sou tremendamente suspeito no que diz respeito aos Riverside. Considero-os uns “mini-Porcupine Tree”. É dizer pouco? Antes pelo contrário... é dizer muito! Sendo a banda de Steven Wilson um GIGANTE, diria, então, que os Riverside são Gigantes! Descobri-os há cerca de dois anos através do magnifico “Rapid Eye Movement” (e posteriormente “Second Life Syndrome) e não mais os larguei. Curiosamente, «Anno Domini High Definition» foi aquele que mais sucesso comercial obteve, chegando a número um na sua terra natal – Polónia. Então, o que nos trás de novo «Shrine Of New Generation Slaves» (SONGS)? À primeira vista, os Riverside abandonaram os ambientes um pouco mais “negros” para se dedicarem mais à melodia e ao groove, sempre com a qualidade musical que tão bem os caracteriza. Conceptualmente falando, é um álbum intenso e muito introspetivo. O tema subjacente é o facto de as pessoas hoje em dia serem escravas das suas próprias vidas e do seu modo de vida. Mariusz Duda aproveitou este facto e decidiu escrever sobre este tipo de infelicidade e, por conseguinte, sobre a “nova geração de escravos”. Não


vou destacar qualquer tema, porque será (quase) como escolher de “1 entre 9 filhos”, no entanto, não posso deixar de destacar o interlúdio no tema “Deprived (Irretrievably Lost Imagination)”, genial! O solo de baixo a fazer lembrar a introdução de “Bastard Nation” dos Overkill e depois quando menos se espera, a música acaba com um solo de saxofone! Soberbo! Esta é daquelas bandas que só me apetece “dizer”: não conhecem? Então, descubram-nos! [9/10] Eduardo Ramalhadeiro ROTTING CHRIST «Kata Ton Daimona Eaytoy» (Season of Mist) O duo Helénico Rotting Christ está de volta. Com mais de duas décadas de experiência a sonoridade destes irmãos veteranos está cada vez mais vincada sem deixar de parte a excelência sonora. Num dos álbuns melhor produzidos dos últimos tempos de nada servia a excelência sonora se não fossem as consistentes sequências melódicas que dão corpo ao disco. A variedade de estilos é neste «Kata Ton Daimona Eaytoy» algo vincada, sendo difícil enquadrar num género específico dentro do Metal. Não faltam os solos de guitarra, segmentos vocais com coros quase ritualistas/tribais e as vocalizações habituais de Sakis, claro as guitarras pesadas, o pedal duplo e um ou outro blast-beat. Mas qualitativamente onde se situa o ponto de equilíbrio que pode determinar a melhor ou pior recetividade deste álbum é talvez a componente algo imediatista de «Kata Ton Daimona Eaytoy». As composições são, diria eu, demasiado fáceis de absorver e o álbum acaba por se esgotar rapidamente sem ter pelo menos um par de temas que colem aos ouvidos e nos façam repetir viciadamente a dose. Por oposto já estou a ver estes temas tocados ao vivo com as assistências aos pulos, headbanging em todos os temas, mosh e entoação de alguns coros em uníssono. O melhor tema do álbum parece-me ser «Kata Ton Demona Eaftou» mas também peca algo pelo uso extensivo de palm-mutes. Diria então que para quem já ouviu tudo dentro do Metal não vai ter aqui grandes surpresas, e pode até achar este um registo algo comercial. [8/10] Sérgio Teixeira SACRAMENTUM «Far Away From The Sun» (Century Media) Os Sacramentum são uma banda sueca de Black Metal Melódico, que pautaram os anos 90 e conseguiram um certo renome no seio da cena BM da altura, lançando 3 álbuns de originais e 3 álbuns de tributo (Sepultura, Mercyfull Fate e Bathory). Passados estes anos todos, o magistral álbum de estreia é alvo de um relançamento por parte da CM, dando a possibilidade às novas (e antigas) gerações do Metal descobrirem (ou redescobrirem) esta pérola do Black Metal. Acho que a redescoberta é mais do que louvável e bem merecida! «Far Away From The Sun» foi originalmente lançado em 1996, e então, considerado uma obra de arte no circulo da comunidade Black Metal. Hoje, o presente lançamento foi alvo de uma re-masterização do som por parte do mago da produção e engenharia do som, Dan Swanö, e de um novo artwork, continuando a capa tal como o original de Kristian Wahlin (Dissection, Bathory, Edge Of Sanity). «Far Away From The Sun» é igualmente pela primeira vez, objecto de edição de vinil. Quanto à música, o que foi feito em 96, fica nos anos 90, no que respeita à crítica, deixando-me somente espaço para reafirmar a nobreza puritana e acutilante deste álbum de estreia dos Sacramentum, que volvidos 16 anos, ainda continua a funcionar com a mesma magia da altura em que saiu. Os clássicos de qualquer género ou banda são por definição intemporais. [--/10] Carlos Filipe SHAI HULUD «Reach Beyond The Sun» (Metal Blade) «Reach Beyond The Sun» é o quarto álbum que os Shai Hulud lançam, e promete fazer furor nos apreciadores de Hardcore. Ao contrário dos outros trabalhos, este álbum foi trabalhado e limado durante muito mais tempo antes de ir para o estúdio de gravação. Com toques ora de Punk, ora toques melódicos que assentam que nem uma luva na agressividade do Hardcore, as músicas aqui apresentadas soam bastante bem, com uma dinâmica bem-vinda nos ritmos; as guitarras puxam pelo ouvinte, num misto de power chords com linhas de melodia, por vezes manifestamente evidentes, noutras vezes num segundo plano de som. Mas é certinho que encontrarão por aqui a agressividade afiada do Hardcore, bastante assertiva, tanto instrumentalmente como liricamente. As letras vão ao âmago dos pensamentos e sentimentos humanos, expondo, de-


sta feita, a verdadeira cara dos Shai Hulud. E isso é a afirmação do optimismo face ao negativismo e opressão que o mundo vive, e que muitas vezes nem dá conta do quanto sofre e do quanto é silenciado. Esse silêncio é quebrado pela voz de Chad Gilbert, também produtor, juntamente com uma série de convidados em vários temas. Em suma, como já disse, os apreciadores do género poderão encontrar neste álbum excelentes temas de Hardcore, cativantes e bastante expressivos. Os curiosos não ficarão desiludidos. E os que não gostam, não o ouçam porque é realmente muito bom. Contudo, os Shai Hulud não re-inventaram o estilo; que é o mesmo que dizer que nada de novo foi feito. Mas, o que ouvimos é bom. [7/10] Victor Hugo SUPURATION «Cube 3» (Listenable Records) Já andam nestas andanças há mais de 20 anos e trazem consigo uma longa discografia quase toda de demos e compilações, sendo que os 3 LP andam à volta de uma história acerca de um tal cubo (não irei falar aqui da banda paralela S.U.P.). «The Cube», «Incubation» e «Cube 3» estão separados entre si em 10 anos, mas parece que nada se perdeu nesta mais recente aparição. Aliás, parece que «Cube 3» está muito bem posicionado no tempo, o que faz com que esta carga de 9 temas seja um tónico para os ouvintes. O que poderemos ouvir neste trabalho é de uma firmeza e de uma qualidade impressionantes, e que há muito não ouvia num álbum deste género. Posicionar a sonoridade destes Supuration não é fácil, mas facilmente faremos paralelos com uma sonoridade muito própria do final dos anos 80 e inícios dos anos 90, no que respeita do Gothic/Doom Metal com toques de Death Metal – é por aqui que estes franceses se movem, evocando, claro, os seus contemporâneos Paradise Lost e o seu «Gothic». Mas, a verdade é que há mais neste «Cube 3» do que uma mera comparação com a sua génese: a receita está, por assim dizer, optimizada; e apesar de existir este estigma da reminiscência, «Cube 3» não fica oculto perante a história do Metal. Muito pelo contrário, ficará registado nessa história devido à sua importância em tornar mais rico e sóbrio o espectro do Metal nos nossos tempos. Se não acreditam, ou estão cépticos com este texto, então dêem uma simples oportunidade, e verão muito rapidamente que não me enganei quando digo que há excelência e qualidade nestes 9 temas. Nenhum deles é aborrecido, e parece terem sido meticulosamente trabalhados. Não são longos nem demasiado curtos, e por isso invadem directamente a atenção do ouvinte com riffs de guitarra viciantes e belos, com um ritmo muito balançado e dinâmico, a roçar a veia progressiva, e a voz não se limita ao gutural, dando lugar, também, a uma tonalidade limpa e melódica. 100%, portanto. [10/10] Victor Hugo THE EYE «Supremacy» (Debemur Morti Productions) O lançamento de «Supremacy», dos franceses The Eye, data de 1997, pela Velvet Music International, editora francesa muito underground. Afirmar que The Eye era uma banda é errado. É, sim, uma one-man-band, cujo jovem responsável por tudo em que podemos ouvir, ver e ler em The Eye, é nada mais nada menos que Vindsvald, a mente por detrás dos Blut Aus Nord. Sensivelmente 16 anos depois, a Debemur Morti Productions, que também alberga Blut Aus Nord, decidiu fazer uma reedição do «Supremacy», único álbum de The Eye, com um renovado artwork de encher a alma, e com uma confiança de que passados tantos anos o álbum ainda conseguirá surpreender. A verdade é que consegue mesmo. Um álbum que para alguns quase caiu no esquecimento, para outros perdeu-se e para muitos nunca fora descoberto, «Supremacy» ouvido agora sabe a clássico, sabe a uma outra década, a um outro tempo em que o Black Metal sombrio e com contornos majestosos estava a ganhar uma voz muito forte, com o lançamento de alguns álbuns desse género na Noruega, e mesmo um pouco por toda a Europa, principalmente, sendo que o «Enthone Darkness Triumphant», dos Dimmu Borgir, talvez tenha sido a voz mais alta, sem esquecer outros que tiveram muita importância, como o «La Masquerade Infernale», dos Arcturus. É caso para afirmar, sem reservas, que esta reedição pela Debemur Morti é muito sagaz e bastante pertinente. Diria até que é uma lufada de ar fresco dentro do panorama do Black Metal, já que esta reminiscência vai recuperar um feeling primitivo dentro do género que foi evoluindo, ou divergindo, noutras direcções, como o sinfónico, o épico ou o pagão. Portanto, caros leitores, podem apreciar nesta reedição do «Supremacy» um exemplar de uma raiz do Black Metal que nos dias de hoje já pouco é lembrada e trabalhada. [8.5/10] Victor Hugo


THE FALL OF EVERY SEASON «Amends» (Grau Records) Trondheim, Noruega. Projecto de um homem só. Majestoso e intenso. Parece improvável que todas estas características se refiram a um só projecto, mas é esse o caso. Marius Strand é o homem por detrás desta ambiciosa abordagem a um doom progressivo com notas de death metal. Seria de prever que o álbum fosse mais direccionado para um elemento em detrimento dos outros; onde prevalecesse o elemento para o qual Marius é mais vocacionado, mas todo o álbum é muito coeso, e há um grande equilíbrio entre todos os instrumentos, entre guturais e vocais limpos, o que demonstra a multiplicidade deste músico. O contraste entre trechos soturnos, pesados, em que predominam ritmos mais lentos, contrasta com trechos mais melodiosos e harmónicos com uma sonoridade que me relembra Katatonia e Anathema, principalmente nas faixas “Sole passenger” e “Aurelia”. A faixa “A portrayal” constitui, para mim, o momento mais melancólico do disco, onde a acústica confere um ambiente envolvente e calmante. O clímax, e que posso até arriscar a dizer que serviu de inspiração à capa do álbum, é Aurelia, concentrando em pouco mais de onze minutos todos os elementos constituintes do álbum, desde a sonoridade ambiental, progressiva e melódica, a trechos mais negros e obscuros, voltando à sonoridade mais lenta e controlada, instiga uma montanha de emoções que apenas com a música de consegue transmitir. «Amends» sucede a «From Below», cinco anos depois do lançamento deste, e a espera valeu muito a pena. É um álbum que apetece ouvir em loop consecutivamente. [9/10] Susana Cardoso THE GODSPEED SOCIETY «Killing Tale» (Raging Planet Records) Acho incrível como uma banda deste calibre e com um álbum de estreia desta envergadura não obtém o reconhecimento merecido. Sendo um ouvinte mais ou menos assíduo de programas de rádio, principalmente, aqueles com mais audiência, sou assolado por um sentimento de admiração, revolta e choque por não ver o trabalho deste grupo reconhecido. Ooops... Peço desculpa! Passo a apresentar os The Godspeed Society: São Portugueses, são originais e têm TONELADAS de qualidade. «Killing Tale» não é só música. A banda foi muito mais além e desenvolveu uma história em torno de um assassinato, numa cidade chamada Bloody City. Curioso é o facto dos elementos da banda serem, também, apresentados como as personagens da história: Baby, NoFace, Jack, etc. Musicalmente «Killing Tale» é muito diversificado, multi-instrumental, fugindo ao que é normal: Acordeão, clarinete, saxofone e flauta. Tudo isto é misturado de forma soberba criando uma variedade de estilos - Blues, Jazz ou rock-gótico - e ambientes musicais. A voz da Sílvia é quente e sedutora, contrastando com os riffs de guitarra e o ambiente criado pelos instrumentos de sopro. Uma palavra final para todo o design em volta do álbum... até neste aspeto os The Godspeed Society demonstram uma originalidade e qualidade sem precedentes.Face a tanta mediocridade na música Portuguesa e à falta de algo (verdadeiramente) original é incrível e tremendamente injusto como os The Godspeed Society não obtêm o reconhecimento merecido. Sílvia Guerreiro concedeu-nos uma EXCELENTE entrevista que sairá na próxima edição da Versus. [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro THE MOANING «Blood from Stone» (Century Media) Dos tempos áureos e ainda formativos do death metal melódico cheganos esta pérola originalmente publicada em 1997 pela defunta No Fashion Records e agora reciclado pela Century Media. Confesso que nunca ouvi falar antes dos The Moaning, mas pelo que vejo, parece que perdi algo significativo. «Blood from Stone», o único registo que a banda sueca deixou para a posteridade, é um trabalho de death/black rápido e intenso, com uma atmosfera tipicamente gelada ao estilo Dissection, e reminiscente também de uns In Flames na fase «Lunar Strain» ou de uns Dark Tranquillity» do tempo de «The Mind’s I». Além dos solos decentes e do festival de riffs melódicos que dotam todas as canções sem excepção com algo de muito atractivo, o que torna este disco de 16 anos de idade ainda extremamente refrescante para os padrões actuais, é a variedade rítmica das composições. São exactamente as alternâncias rítmicas que nos deixam grudados aos temas desde o início até ao fim, e basta ouvir faixas como “Darkness I breed” ou “Dying internal embers” para perceber que estes rapazes teriam talento em dose suficiente para os levar tão


longe numa carreira de sucesso a par de muitos dos seus contemporâneos. Embora mantenha o artwork original de Necrolord, esta reedição vem com um layout renovado e com as habituais faixas bónus (quatro ao todo), de entre as quais se destaca o inédito (?) “Blackened by death”, sendo as restantes versões demo de temas já presentes no álbum. Ignorem por momentos os sucedâneos actuais do estilo de Gotemburgo e dêem uma oportunidade a esta raridade tão injustamente ignorada que é, ao fim e ao cabo, o produto genuíno não adulterado. [8/10] Ernesto Martins WEAPON «Embers and Revelations» (Relapse Records) O passo dado após «From the Devil’s Tomb» (2010) poderá não ser acompanhado facilmente por todos. Aqui o frio canadiano supera as especiarias do Bangladesh, indo directamente ao assunto e dando sempre a impressão de saber para onde vão. Os primeiros acordes são fúnebres, a voz ríspida, marcada por um tom eclesiástico que nos põe logo em sentido, atentos à música. Não há tempo para deixar vaguear a mente, as guitarras aceleram o ritmo, apenas interrompidas por melodias que surgem do nevoeiro distante mas que nos apanham de surpresa, contendo criaturas que nos vem reclamar o que é deles por direito de morte. Não gostando eu assim tanto de etiquetas, este blackened death metal é servido com diferença de carácter e indiferença no que toca ao mundo exterior. O que temos nas mãos é um som frio e de contornos incisivos, que em faixas como “The first witnesses of Lucifer” nos dita como viver a partir de agora. Apenas acordamos ao chegar ao tema “Crepuscular swamp” onde ouvimos “(...)Deus Malum, Deus Mortem; Deus Infernum;\\I applaud and rejoice as this sphere concaves in flames.”. É-nos dado uma segunda oportunidade à vida com “Grotesque carven portal”, faixa melódica e instrumental que nos prepara para “Embers and revelations”, dando a perceber que chegamos ao âmago do álbum. O término da viagem chega com “Shahenshah”, faixa mais reservada e intimista que nos deixa alguma esperança de que o mundo, afinal, não chegou a um fim. [7.5/10] Adriano Godinho

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“O Senhor dos Logos”


O primeiro logo que o celebrizou foi o da banda norueguesa Emperor. Associa à sua glória como artista gráfico, o primeiro logo dos nacionais Moonspell. Apaixonado pela entomologia, pela natureza, pela banda desenhada, pela arquitetura e pelas artes gráficas e capaz de falar várias línguas (entre as quais o Português), com muita proficiência, Christophe Szpajdel é o nosso entrevistado deste número. Numa conversa face a face (durante umas férias em Portugal), tentámos desvendar alguns dos segredos daquele a quem chamam “O Senhor dos Logos”. Diz-nos por que te chamam o “Senhor dos Logos”. Christophe Szpajdel: O “Senhor dos Logos” foi uma denominação que me foi atribuída pelos meus fãs. Uma das primeiras pessoas a chamar-me “Lord of the Logos” foi Herlaka Rose [NR: a sua agente]. Em breve este nome chegou ao conhecimento da cena metal, nomeadamente das bandas para quem fui fazendo logótipos. Portanto, limitei-me a adotar o nome que me foi dado pelos meus fãs. Entretanto, em 2009, a editora alemã Gestalten contactou-me. Tive um primeiro encontro, em Berlim, com um dos responsáveis. Conversamos, mostrei-lhe os numerosos logótipos que tinha levado comigo e ele gravou muitos deles em CD, em formato JPEG. Após um ano de conversações, já havia um título: “Designing the underground”. Mas eu achei-o pouco original e propus que o livro se chamasse muito simplesmente “Lord of the Logos”. Pareceu-me que este título era mais fácil de reter, chamava mais a atenção. Entre agosto e setembro, fiz a revisão do livro e elaborei vários logótipos para decorar a capa do livro. Em outubro, foi anunciada a futura publicação e, em novembro, o livro foi para a gráfica. Saiu em janeiro de 2010. Foi um livro muito esperado. Recebi muitas cartas e mails e fui contactado por muita gente, para saber quando sairia um livro com os meus logótipos. Este livro é como um filho para mim. Por que escolheste os logótipos como objeto artístico? Experimentei muitos tipos de desenho até descobrir que tinha mais afinidades com os logótipos. É com eles que obtenho os melhores resultados. No início, além dos logótipos, fazia outros tipos de desenhos para as bandas. Frequentemente, gostavam dos logos, mas não dos outros desenhos, porque continham erros anatómicos. Isso aconteceu quan-

do tentei fazer ilustrações para capas de demo tapes: escolhiam sempre o trabalho de outro artista, porque os meus personagens (humanos, guerreiros, demónios) saíam tortos. Então, descobri que o meu forte era trabalhar com logos e tipografia. Através deles, conseguia interpretar a música de uma banda e sintetizar as suas principais características. Para uma banda, o logótipo é algo que faz parte da sua história musical. É verdade que trabalhei com bandas que mudaram várias vezes de logo. Posso referir, como exemplo, Manslaughter (uma banda dos EUA) e os portugueses Moonspell. A mudança de logótipo acompanha a alteração do estilo musical da banda. Eu fiz o primeiro logótipo dos Moonspell, que foi usado na demo «Anno Satanae» e no primeiro álbum «Under the Moonspell», que é para mim um dos melhores álbuns de black metal oriental. Foi um álbum pioneiro, que precedeu todo um movimento de metal oriental. Por exemplo, os Melechesh foram muito influenciados pela música dos Moonspell dos primeiros tempos. Espe-


cialmente o álbum «Under the Moonspell» exerceu uma forte influência sobre o metal oriental. Esta banda também foi muito influente no domínio do metal gótico. Dos logótipos que fiz, os que me parecem mais carregados de significado são os de Emperor e o de Moonspell. Influenciaram muitas bandas e muitos músicos e trouxeram muitos fãs. Normalmente, começo por fazer um esboço a lápis, numa folha A4. Esta técnica permite-me trabalhar em qualquer lugar, o que me dá uma grande liberdade. Permite-me também fazer pequenos thumbnails e depois trabalhar na escala adotada para a versão definitiva. Como consegues exprimir-te através dos logos, quando, na descrição que fazes da sua produção, outras pessoas desempenham um papel de relevo no processo? Um logótipo é como uma marca. É a representação de um produto, de um serviço, de uma banda, de um projeto musical, de uma empresa, de um negócio. Por exemplo, estamos daqui a ver os logótipos da CocaCola e do café Buondi. O logótipo de uma banda tem de refletir o que esta faz. Por isso, eu

penso que um logótipo tem de atrair sempre a atenção. Por exemplo, até o logótipo dos CTT, que podemos ver daqui, tem essa propriedade. O mesmo acontece com os logótipos de bandas como Slayer e Helloween. Os logótipos atraem-me muito. Logo, nos meados dos anos 80, especialmente devido à minha paixão por bandas como Venom e Possessed, comecei a ter vontade de criar logótipos. Atraem-me por serem uma forma de arte que usa letras, que podem surgir sozinhas ou acompanhadas por ornamentos, com forma de insetos, de plantas, de aves. Para mim, o logótipo permite explorar palavras através de formas de arte: por exemplo, logótipos que assumem a forma de árvores. Pode-se também utilizar tipografia, como acontece na t-shirt de Arquétipo 120 [que envergava], cujo logótipo foi inspirado pelo alfabeto da Geórgia. Nutro uma grande paixão pela música folclórica desta região. Fazer logótipos permite-me exprimir os meus interesses sob a forma de palavras. Tudo o que me interessa pode ser usado para criar uma forma visual que dê origem a uma palavra, a essência de um logótipo. Alguns dos teus logos lembram-me centopeias. Que te parece esta ideia? Sempre tive uma grande paixão por insetos e, por isso, alguns dos logótipos que produzi são em forma de centopeia (por exemplo o de Transient, que talvez esteja no meu livro). Há também logótipos da forma de borboletas noturnas. Outros têm a forma de aracnídeos, de escolopendras, de árvores. Uso frequentemente formas da natureza. A minha arte surge como uma continuação, uma excrescência da Arte Nova, que se caracterizava pelo culto da natureza. Trata-se de uma extrapolação que vai mais longe do que o original. Artistas como René Lalique ou Louis Comfort Tiffany fizeram o mesmo, no fim do século XIX. A minha interpretação vai além do movimento dito Art Nouveau. Logótipos como os que eu fiz para bandas como Northumbria ou Starless Nights têm a forma de uma árvore, em que as letras constituem os respetivos ramos. Combino elementos da Arte Nova (como os motivos vegetais) com elementos Art Déco (usando,


por exemplo, elementos que parecem pedaços de pedra). Umas vezes são as letras que se convertem nos elementos da Natureza que eu quero representar, outras vezes adiciono-lhes esses elementos, para as decorar. Tudo depende a minha inspiração, mas também dos desejos do cliente. Tens alguns conhecimentos de heráldica? Há logos, como o que fizeste para Nargaroth, que se assemelham a verdadeiros brasões. Sempre me interessei muito pela heráldica. É uma disciplina muito difícil. Neste momento, estou a fazer um brasão para uma banda brasileira que se chama Midwinter Wind, que nele quer incluir vários elementos da cultura das pampas. É muito difícil compor um brasão, porque requer que reagrupes elementos que o cliente pretende incluir nele. Nestes casos, a banda envia-me um exemplo de um brasão já existente, em que me irei basear. É mais difícil fazer um brasão do que um logótipo. Para o logótipo de Nargaroth, fui contactado por Kanwulf em 1996. Enviou-me logo vários exemplos de elementos de heráldica, como a acha de armas e o escudo. Eu usei esses elementos, inserindo no logótipo achas de armas e bolas com espinhos. O logótipo de Abigail Williams também é inspirado

na heráldica. Quando recorro à heráldica, tenho muito trabalho. Tenho de ver livros, à procura de exemplos, para poder fazer um trabalho o mais próximo possível dos desejos do cliente. Muitas vezes, mandei esboços, que foram recusados. Como aprendeste a desenhar? Não sou uma especialista em design, mas percebo o suficiente para me dar conta de como é difícil desenhar um logo. Os meus primeiros desenhos datam dos 3 anos de idade. Representavam o louva-a-deus. Logo nessa altura, os meus pais repararam que eu tinha um grande gosto pelo desenho. Esse momento marcou, de forma inconsciente, o meu começo como desenhador. Desenhava insetos, anfíbios, pássaros, animais, árvores, elementos da natureza. E continuo a trilhar esse caminho até agora. Uso frequentemente motivos associados a formas naturais, como plantas, ervas, árvores, aracnídeos, insetos, etc. Para mim, o desenho associado à natureza é uma paixão. Na escola, fui muito discriminado, porque tinha interesses diferentes dos das outras crianças. Os outros meninos gostavam de desporto, de carros, de mecânica, e eu interessava-me sobretudo pela natureza. Por isso, passava muito tempo sozinho, isolado. Mantenho esse interesse. Como viste, adoro fotografar insetos, aranhas e tudo o que se move. Sendo belga e o teu país conhecido pela banda desenhada, nunca te sentiste atraído pela nona arte? Sempre me interessei muito pela banda desenhada, especialmente pelas séries lançadas pela Glénat [uma editora belga], como, por exemplo, “Ballade au bout du monde”, publicada nos anos 80, que me inspirou muito. Também gostava muito das séries de Rosinski e Van Hamme, como, por exemplo, “Thorgal”. Apreciava igualmente algumas séries publicadas por Dupuis, particularmente “Gaston Lagaffe”, com o seu “gafófono” [um instrumento musical imaginário, cujas vibrações eram tão fortes que faziam ruir tudo em redor], o seu laboratório, Prunelle [o patrão irascível]. Identifico-me com


A propósito, Neil Armstrong, quando pisou a Lua, disse: “Um pequeno passo para um homem, mas um grande passo para a Humanidade!” Também eu, no ano passado, quando cheguei ao Walker Art Center, em Minneapolis (EUA), e vi 40 dos meus logótipos, que aí estão expostos, disse: “Um pequeno passo para um artista, mas um grande passo para o mundo da Arte, que aproximou as belas artes da arte gráfica.” Sinto que a banda desenhada, de forma indireta, alimentou a minha criatividade.

Gaston, que passa o tempo a sonhar acordado e a inventar coisas nos seus sonhos, a dar de comer ao seu gato e à sua gaivota [a Mouette Rieuse]. Partilho a sua paixão pelas rãs. Hás de reparar que, na minha página do facebook, tenho muitas fotos de rãs. O meu interesse pela banda desenhada levou-me a tentar esse género, mas, na escola, combateram esse meu interesse. Acabei por me sentir mais confortável a fazer logótipos. Mas continuo a apreciar a banda desenhada. A banda desenhada mais conhecida da Bélgica é Tintin. Não sei como é em Portugal, mas, na Bélgica, Tintin é uma verdadeira instituição. Tintin e Milou [o seu cão] percorreram os quatro cantos do mundo e chegaram mesmo à Lua. O próprio Hergé [o autor das “Aventuras de Tintim”] é um verdadeiro herói.

Há alguma relação entre o teu Depressiv’ Modern Style e a atual crise mundial? É verdade. Nos anos 30, a Art Déco simplificou-se a e passou a chamar-se Depression Style, por oposição à opulência dos anos 20 e reagindo à grande depressão económica. Um exemplo de “arte depressiva” dos anos 30 é o edifício da igreja metodista da Boston Avenue (Tulsa – Oklahoma – EUA), construído por Bruce Goff, que me influenciou muito. Em 2008, quando chegou a crise da Europa, deu-se o colapso da sociedade americana Lehman & Lehman. Nessa altura, surgiram bandas com um som muito hipnótico, como I Shall Become, Aparitia, Penitentia, Ars Diaboli, Lantlös, Alcest e Les Discrets. São bandas de pós-rock e pós- black metal, que criam um ambiente muito monolítico. No meu livro, poderás encontrar logótipos que adotam este estilo, como o de The Grey Room. São muito altos e estreitos, procurando acompanhar a natureza hipnótica da música, que faz lembrar um gigante a andar muito devagar. É uma música lenta, fria, austera. É a continuação do Streamline Modern, Jazz Modern e Art Déco, usando sobretudo linhas direitas e verticais ou com ângulos, em zigzag, formas geométricas, quase sem elementos redondos, dripping, shading. Assim, obténs um estilo depurado, austero, simplificado, depressivo, mas incluindo ainda alguns elementos da Art Déco. Na arquitetura contemporânea, este estilo faz pensar em construções abandonadas, porque não havia dinheiro para fazer a respetiva manutenção. Já tiveste algum discípulo? Já ensinaste alguém a fazer logótipos? Embora indiretamente, sinto que influenciei alguns artistas, que se juntaram a mim e me ajudam a encontrar ideias. Formamos uma equipa e ajudamonos uns aos outros. Alguns dão-me ideias para esboços, quando tenho falta de inspiração: Dennis Hughes, do Colorado (EUA), que também desenha logótipos; Eugene Royce, do Oregon; Raul Gozerrial, que é italiano e vive em Nova Iorque; Roger Van


Steen, do Brasil, que também toca numa banda. Outros ajudam-me na digitalização (porque eu tenho muita dificuldade em trabalhar com computadores) e são peritos no uso do Photoshop: Joseph Holo, da Roménia; também o Peter Night, um artista de Exeter, a cidade inglesa onde eu vivo. Hellyn Goodwin, de Plymouth, que criou a Purposeful Art e faz esculturas. De Moore, de Bruxelas, que criou o célebre Inspetor Pi 3,14 (uma personagem em forma de faca). São vários artistas, na sua maioria a viver nos EUA, autodidatas, que se juntaram a mim, embora não possa dizer que são meus discípulos. Trabalhamos via internet, trocando fotos ou ficheiros em JPEG ou digitalizados. Quando estou a fazer um logótipo e o cliente quer que eu faça alterações, muitas vezes delego num outro artista, que trata daquele assunto, enquanto eu vou trabalhando noutro logotipo, o que evita perdas de tempo desnecessárias. Sei que querias expor em Portugal. Como gostarias que fosse essa exposição? Gostaria muito de expor em Portugal. Um dos meus sonhos de artista é fazer uma exposição com o André Coelho. No ano passado, organizei uma exposição no Devon Open Studios (em Exeter), que podes ver na minha página no facebook, e convidei o André Coelho para fazer parte do meu grupo. Assim, dei-lhe a oportunidade de expor no estrangeiro, em Inglaterra. Pareceu-me interessante ter comigo um grupo internacional. Aliás, o meu grupo era o único internacional, compreendendo cinco artistas locais e regionais e cinco estrangeiros (entre os quais se contavam André Coelho e Claudine Rodrigues, de Portugal, Alexander Binder, da Alemanha, e Jeremy McCurdy, um americano, do Regnum Art Studio). O meu grupo conferiu à exposição uma nota de originalidade, de exotismo. Já fiz várias exposições. Uma delas intitulava-se “Black thorns in the white cube” e teve lugar em duas cidades americanas (Kansas City e Chicago), no início deste ano. Estou agora uma exposição itinerante, intitulada “Graphic Design: Now in Production!”, que vai demorar três anos. Começou em Minneapolis (no Walker Art Center, onde eu estive, para assistir à abertura, como podes ver na minha página no facebook), depois foi para Nova Iorque e agora está em Los Angeles. Vai percorrer oito das maiores cidades americanas (incluindo Austin e Chicago, por exemplo). Para a exposição em Portugal, interessava-me um lugar muito visitado: por exemplo, Porto, Lisboa ou talvez Guimarães. Poderia expor tipografia, pois

interessa-me fazer uma exposição mais ligada à arte do que à música. Já falei com muitas pessoas, mas, até hoje, ninguém pegou nessa ideia para lhe dar seguimento. Gostava de ser contactado por pessoas interessadas em organizar uma exposição da minha arte em Portugal. É um país muito importante para mim, porque teve uma forte influência na minha criatividade. Nele coabitam, por exemplo, muitos estilos arquitetónicos, como podemos ver nesta praça onde estamos. Também é um país que tem um grande interesse pela arte e eu tenho acompanhado de perto a cena metal portuguesa. Obrigada pela entrevista e pelo tempo. Quero agradecer-te esta oportunidade. Quero também saudar o público português. Também gostaria de dizer que o meu trabalho tem sido inspirado por bandas portuguesas, nomeadamente: Before The Rain, Process Of Guilt, Sonneillon, Corpus Christii, Ars Diavoli, Penitentia, Daemogorgon, Arquétipo 120, Genocide, Grog, Decayed (que é a minha banda portuguesa favorita), Storm Legion, Coldness, Agonizing Terror, Scarificare, Pestifer, Desire, Ciborium. Nos Açores, gosto muito de Morbid Death e, na Madeira, Requiem Laus. Quero também destacar InThyFlesh, pela sua originalidade. Sinto-me muito honrado por ver que a minha arte é tão conhecida em Portugal. Espero poder voltar a viver em Portugal, como aconteceu entre 1998 e 2001. Estou consciente da crise económica e isso entristece-me muito. Mando a todos um grande abraço. Entrevista: CSA


DICO A saga do Metal português em livro Começou por ser um artigo de fundo que publicamos em quatro partes nas páginas desta revista, expandiuse depois dando origem a um e-book, e culmina agora num magnífico livro cuja edição está já disponível. Estou a referir-me, é claro, à obra “Breve História do Metal Português”, trabalho que nos transporta numa fascinante viagem no tempo até às origens do rock luso mais pesado, e sobre o qual tivemos a oportunidade de conversar com Dico, o seu autor, que nos falou sobre a génese deste projecto e de toda a experiência que foi escrever este livro, um documento que vem colmatar uma grave lacuna nesta área especifica do jornalismo musical e que nenhum metalómano verdadeiramente interessado na história portuguesa do som eterno poderá dispensar.


Para começar gostaria de te felicitar por este magnifico trabalho que é a “Breve História do Metal Português”. Pelo que percebi, assim que disponibilizaste a edição em formato e-book no fim de 2012, surgiu logo a seguir a oportunidade de uma edição em suporte de papel. Parece que aconteceu tudo muito depressa. Como é que foi? Dico: Foi uma feliz coincidência. Pouco mais de uma semana após ter disponibilizado o e-book para download conheci a associação cultural A Causa das Regras por indicação de uma aluna da minha mulher, que nos pôs em contacto com eles. A primeira reunião correu bem, logo ali decidimos avançar com o projeto. Eu nem queria acreditar que finalmente esta obra seria editada em papel. É um sonho tornado realidade. Infelizmente, ao contrário do que julgava, o processo não correu segundo as minhas expectativas, pelo que me dissociei da editora. A partir de agora vou ser eu a tratar de tudo. A primeira tiragem do livro ainda vai ter a chancela A Causa das Regras, mas as próximas vão ser em edição de autor. Dado que ainda dever ser cedo para inquirir sobre o feedback

relativo à edição em papel, pergunto-te antes sobre as reacções ao e-book. Que tipo de reacções colheste? Ficaste satisfeito com a resposta da imprensa especializada? Sim, fiquei muito satisfeito com a reação da imprensa Underground em geral e não só, quer no âm-

bito do e-book quer do livro. Em ambos os casos foram publicadas várias notícias, inclusive no site do Centro Nacional de Cultura (uma quando o e-book ficou disponível e outra na altura em que a edição impressa foi anunciada). No que

diz respeito ao livro físico, também a imprensa brasileira especializada se revelou bastante recetiva, tendo sido publicadas várias notícias, inclusive em sites importantes como o Whiplash e o da revista Roadiecrew. Entretanto, a segunda fase promocional dar-se-á uma vez que o livro esteja impresso. Há diversas ações já pensadas mas que ainda não posso divulgar. No momento em que respondo a esta entrevista, em pouco mais de uma semana já se fizeram 110 pré-encomendas e reservas, portanto os fãs estão a reagir muito bem. No que diz respeito ao e-book, em cinco semanas foram 944 os leitores que o descarregaram da Net. Recebi diversos mails de incentivo e agradecimento pela iniciativa. Chegaramme ainda outros fazendo sugestões e correções, que muito agradeço e que a edição em papel contempla. Recorda-nos como é que surgiu a ideia de escrever a história do metal português? Era algo que já vinha muito de trás, foi um conceito evolutivo. Em 2000 pensei compilar em livros os URLs de todos os sites do nosso Underground metálico. Ainda iniciei o projeto, que cedo ficou ultrapassado dado o rápido surgimento de novos conceitos e


plataformas. Mais tarde, quando os blogues já eram extremamente populares, criei a enciclopédia online A a Z do Metal Português, em que publicava biografias de bandas nacionais. Eliminei o blogue quando verifiquei que alguns energúmenos usavam os meus textos na Internet como se fossem seus. Mais tarde, os dois volumes de Memórias do Rock Português, do Aristides Duarte, foram determinantes para me decidir a realizar este trabalho. Inicialmente o objetivo era apenas escrever um artigo de fundo, dividido em quatro partes, publicadas no site Soundzone. Em simultâneo, a meio do processo, publiquei os resumos desses textos aqui mesmo na VERSUS Magazine. No entanto, a dada altura percebi que todo o material recolhido poderia resultar num livro. No final do ano passado consegui dedicar um mês e meio inteiro ao livro, 10 horas por dia. De outra forma, quem sabe quando poderia terminá-lo? Foi então que editei a versão em e-book. O resto é história. Realizar este projecto, começando com a obtenção de toda a informação até à escrita do livro propriamente dito, deve ter sido uma tarefa hercúlea. Em retrospectiva, quais foram os maiores desafios que tiveste de enfrentar para chegar a este resultado? O que mais me surpreendeu foi a rapidez e a facilidade com que cheguei à maior parte dos músicos entrevistados. Nalguns casos tive alguma dificuldade em obter feedback mas todos foram extremamente humildes e prestáveis. São figuras importantes na história do Rock nacional mas sem quaisquer maneirismos de estrela. A maior dificuldade foi compilar e tratar toda a informação que fui recolhendo. Também me deparei com a recusa de alguns académicos em me fornecerem informação, mas não foi por isso que deixei de a obter. Ainda vivemos num país mesquinho, em que as pessoas guardam tudo para si, não gostam de partilhar. E sobre que período é que te deu mais gozo pesquisar e escrever? Fizeste descobertas que te surpreenderam? Por uma questão afetiva, o perío-

do sobre o qual mais gostei de escrever foram os anos 80 e 90, mas os que me trouxeram novos conhecimentos e realmente me surpreenderam foram as décadas de 60 e 70. Nunca pensara que figuras como o Júlio Pereira, o José Cid, o Fernando Girão ou o maestro Miguel Graça Moura tivessem desempenhado um papel importante, embora fugaz e não consciente, na época, quanto aos primórdios do Heavy Metal nacional. Conheci muitas bandas, como os The Playboys, os Objectivo, os Hosana, os Renovação, os Xharanga, os Pentágono ou os Hobnob. Foi incrível montar a “árvore genealógica” destes grupos e saber como os executantes transitavam entre bandas. Além disso, houve declarações surpreendentes de alguns músicos, mas não vou revelá-las. Para as conhecerem os leitores da Versus terão que comprar o livro. Qual foi a parte da “Breve História…” que se revelou mais difícil de redigir? Sem dúvida, os anos 70. Essa década foi uma verdadeira dor de cabeça, nunca mais parava de encontrar informação. As biografias dos Hosanna e dos Arte & Ofício foram especialmente trabalhosas. Refi-las diversas vezes, ao longo de muito tempo. Encontrei inúmeras contradições entre algumas fontes e só através das entrevistas com os músicos foi possível tirar dúvidas, destruir mitos e chegar à verdade. O mesmo se aplicou à biografia dos Psico. Como foi chegar à fala com personalidades chave dos primórdios do rock pesado nacional como Júlio Pereira, Filipe Mendes, Sérgio Castro e António Garcez? Falaste com eles presencialmente? Mostraram-se entusiasmados com o teu livro? Todas as entrevistas foram realizadas via e-mail, não houve possibilidade de o fazer presencialmente. O Garcez vive nos Estados Unidos, o Sérgio Castro (Rocka, Psico, Psicágono, Arte & Ofício) reside a maior parte do ano em Espanha (nessa altura encontravase lá) e para os restantes músicos foi muito mais prático enviarem as respostas eletronicamente. Ainda

me desloquei para uma entrevista presencial com o Filipe Mendes (Heavy Band, Psico, Roxigénio) mas que veio a ser adiada devido à antecipação do soundcheck de um concerto que ele realizava nessa noite. Todos os músicos entrevistados ficaram bastante entusiasmados com o livro. Estes artistas devem ter com certeza uma boa noção da sua relevância na história do rock em Portugal, mas será que se vêm a eles próprios como percursores de algo tão específico como o heavy metal, em terras lusas? Na altura, em Portugal não existia a noção de Heavy Metal enquanto género musical. Para designar o Rock mais pesado empregavamse termos como simplesmente “rock”, rock da pesada”, “heavy music” ou mesmo “hard rock”. Habitualmente os músicos da época dizem ter praticado Rock, numa aceção mais genérica, pois essa foi a sua escola. Mas esses grupos sabiam bem que o que distinguia a sua música era uma abordagem mais agreste. Aliás, cultivavam essas características, numa tentativa de fugir à Pop, embora alternassem com frequência entre géneros musicais, o que refletia não só a busca por uma identidade artística própria mas também a necessidade de ir ao encontro das necessidades do público. O Zé Povinho esperava, na maior parte das vezes, a interpretação de covers dos grandes êxitos internacionais. Temas dos Uriah Heep, Black Sabbath, Deep Purple, Cream ou Grandfunk Railroad eram interpretados lado a lado com músicas dos Bee Gees, Genesis, etc. Progressivamente as bandas foram introduzindo originais nos sets, mas percorreram um árduo caminho até a mentalidade do público da época mudar realmente. Tens alguma história engraçada, ocorrida por ocasião destes contactos, que queiras partilhar com os leitores? Houve duas situações, quando andava há imenso tempo atrás de dois músicos para os entrevistar. Mandava mails e, ou não recebia resposta, ou diziam para enviar as perguntas, o que eu fazia de imediato mas os músicos não respondi-


“O que mais me surpreendeu foi a rapidez e a facilidade com que cheguei à maior parte dos músicos entrevistados” am. Cheguei a enviar as entrevistas 3 vezes. A dada altura tive que lhes dizer que se não quisessem dar a entrevista que o assumissem definitivamente, para que ambas as partes não andassem a perder tempo. Após esses mails recebi as entrevistas logo no dia seguinte. LOL. Obviamente que os músicos não fizeram por mal, mas têm o tempo muito ocupado e acabam por se esquecer. Há outras prioridades, compreendo perfeitamente. De resto, foram extremamente prestáveis.

Percebi que tiveste também os teus desapontamentos com a recusa de algumas pessoas em participar deste teu projecto. Sentes que o livro perdeu algo de substancial em resultado da falta de colaboração dessas pessoas? Não, porque quer elas quisessem quer não acabei por chegar aos dados pretendidos. Foi mais difícil, levou mais tempo e tive que investigar mais, apenas isso. Para além das ilustrações que a edição em papel contém, que outras diferenças há entre a edição actual e a edição anterior em e-book? Incluí mais biografias, corrigi informação, acrescentei muito mais texto e dados, tendo ainda refeito o modelo de citações. No geral, a obra ficou muito mais completa e apelativa. Relativamente ao layout e produção do livro, ficou tudo a cargo da Causa das Regras? Foram eles também que idealizaram e produziram a capa? A Causa das Regras idealizou e concretizou a capa. O layout e paginação do livro ficaram a cargo da Finepaper, curiosamente a empresa que trabalha com a Loud! Como é que o livro está a ser promovido? De todas as maneiras possíveis. Enviei press-releases para inúmeros órgãos de comunicação social, desde os mais underground até aos mais mainstream, desde blogues,

sites, jornais revistas, rádios e televisões, quer especializados quer generalistas. Abrangi tudo, sem fazer distinções. A informação que enviei para o blogue mais obscuro foi exatamente a mesma que enviei para as rádios ou canais televisivos. Como disse, uma vez que o livro esteja impresso darei início à segunda fase promocional, em que irei enviar livros para os órgãos mais representativos (aí sim, terei que selecionar, pois não é possível enviar livros para todo o lado) e levar a cabo outras ações promocionais, que na altura própria serão divulgadas.

Penso que estavas a considerar a possibilidade de fazer apresentações do livro em alguns locais. Já tens algo de concreto que possas anunciar? Por enquanto não, mas atempadamente serão conhecidos todos os detalhes. O objetivo é fazer o maior número de apresentações possível. Pelo que sei, o livro está a ser impresso no regime de print-on-demand. Isto deve ter alguns inconvenientes, um dos quais deve ser a reduzida visibilidade do livro pelo facto de não estar disponível fisicamente em muitos locais. É assim que a Causa das Regras trata todas as suas edições, ou simplesmente não quiseram arriscar neste livro específico fazendo uma edição de muitos exemplares? Esta é a forma de A Causa das Regras trabalhar e não tenho dúvidas de que é a melhor opção, independentemente de já não estar a trabalhar com eles. Para mim, enquanto autor independente a partir de agora, também vai ser a melhor opção. Atualmente, no contexto em que vivemos, as empresas e as organizações têm que poupar em tudo, principalmente se não tiverem grandes dimensões. Nos dias que correm não faz qualquer sentido um particular ou uma pequena editora mandar imprimir 500 exemplares de um livro sem ter noção se os venderá todos. Caso

venda apenas metade, o que fará aos restantes? Fica com dinheiro e livros empatados. Isso é prejuízo. Por outro lado, a distribuição pela generalidade das livrarias constitui um investimento avultado, além das elevadas comissões cobradas pelas principais lojas. Por todas estas razões, o sistema de print-ondemand é o mais económico, justo e o que faz mais sentido. Cada vez mais usado por inúmeros autores, este sistema constitui uma das principais tendências do futuro da edição. Mandas imprimir o número de exemplares encomendados e mais alguns para divulgação. Para quê mais se podes mandar fazer o número de reimpressões que se revelarem necessárias, em função das encomendas que te forem chegando? Onde podemos encontrar o livro à venda? Será que vai estar disponível em discotecas especializadas em metal, como por exemplo, a Piranha, no Porto? Sim a Piranha vai ter o livro à venda, assim como a livraria Mensagem Aberta, em Vila Franca de Xira; a Rastilho Records e a Sociedade Alternada, na Amadora. De resto, estamos em negociações com diversas outras lojas.

Para terminar, continuas a acompanhar com interesse o metal que se faz em Portugal? Do que ouviste, achas que se vai fazendo por cá algo de distintivo, ou andamos simplesmente atrás das modas que nos chegam de fora? Tenho que dar a mão à palmatória e concluir finalmente que a originalidade será, quem sabe, uma utopia, especialmente nos dias atuais, em que já quase tudo foi feito. Mais do que propriamente originais as bandas portuguesas tendem a hoje a desenvolver um som próprio, distintivo, que resume as suas influências e lhes acrescenta algo novo. E fazem-no de uma forma extremamente profissional, diga-se. Entrevista: Ernesto Martins


“The Sun Always Shines On T.V.” Os mais atentos deverão ter espreitado o evento na página oficial da VERSUS, lido a introdução a esta rúbrica, e participado na mesma. A verdade é que muitos apareceram por lá, mas poucos participaram. Mas nem por isso ela ficou esquecida, e faz a sua estreia nas páginas da VERSUS. O propósito desta rúbrica é bastante simples, e seria mais engraçada se os leitores tivessem participado mais, e basicamente pretende ser uma espécie de duelo entre uma versão original de uma música e a cover dessa mesma música. Os leitores votariam na sua favorita, e comentariam na que quisessem, sendo alguns desses comentários seleccionados para figurar nesta página. Bem-vindos ao Versus vs. susreV Após ter ouvido na rádio o hit single “The sun always shines on T.V.”, dos A-ha, decidi que esta seria a primeira canção a figurar nesta rúbrica. São poucas as pessoas que não conhecem esta banda norueguesa, que na segunda metade dos

anos 80 espantou o público com o seu synthpop, e disparou para o #1 em várias tabelas. «Hunting High And Low», de 1985, foi o primeiro álbum da banda e atingiu um sucesso enorme em todo o mundo, ao ponto da banda ter sido nomeada nos Grammy Awards de 1986. Foi a primeira banda norueguesa a ser nomeada para um Grammy. Dos vários singles destacam-se “Take on me” e “The sun always shines on T.V.”. O vídeo da primeira foi um sucesso, e o vídeo da segunda inicia onde o outro termina; mas Harket (vocalista) corre para a sua banda, que está numa igreja

local, Saint Albans em Teddington. A canção é tocada para um público feito de manequins. Nesta rúbrica a canção não teve nenhum


voto dos leitores. Mas deixo aqui a minha simpatia e preferência pela versão original do que pela cover dos Atrocity.

Os Atrocity, banda alemã que nasceu nos finais dos anos 80, lançaram dois álbuns inteiramente dedicados a covers. O primeiro, «Werk 80», data de 1997, e o segundo, «Werk 80 II», data de 2008. Ambos tiveram o seu impacto no público-alvo, mas verdade seja dita não fomentou os resultados esperados. A banda é famosa por variar a sua agressividade e peso, por assim dizer, de álbum para álbum. O que antes era Death Metal, agora é Gothic/Industrial Metal, não

esquecendo o Folk lá pelo meio. Os álbuns de covers até poderiam ter funcionado, e a ideia é interessante, mas vejamos o exemplo deste “The sun always shines on T.V.” – o vídeo não peca, e está completamente normal, havendo, claro, uma alusão à mensagem da canção. Liv Kristine, convidada pelo marido Alexander Krull, dá a sua voz – mas não acham que poderia ser melhor? E mesmo a voz limpa de Krull parece vazia. Sobra, portanto, o instrumental – pesado, limpo e com o toque sinfónico a lembrar aquelas bandas de Metal melódico com ladies a cantar. De destacar a presença do baterista Nicholas Barker, uma referência na cultura do Metal.

Os leitores da VERSUS seleccionaram a cover dos Atrocity como favorita. Foi uma pena não terem comentado, porque o objectivo seria construir esta rúbrica também com esses comentários. Na próxima edição haverá mais um Versus vs. susreV, e já tenho uma pequena ideia. Podem, também, deixar as vossas sugestões na página oficial da VERSUS Magazine – quem sabe não serão as músicas escolhidas? Até à próxima edição. Stay always with good vibes! Victor Hugo


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Infantilidades O mercado que tem como alvo o público infantil há muito que é tido como um meio de transporte para valores e ideais mas, acima de tudo, invejas e estereótipos. Cresceu a noção de que o público infantil não questiona o produto e assim não tem uma razão fundamentada para o rejeitar; se o faz é simplesmente por vontade própria ou por vontade dos seus guardiões. No entanto desde que a criança esteja entretida a ver televisão a maioria dos pais não a vão incomodar; é uma forma de saber que está calma e não a partir metade da mobília da casa. Com isto é permitida a absorção de todo e qualquer conteúdo que passe na televisão naquele momento, e quem diz televisão diz a moderna internet ou até o velhinho rádio. O ponto é que através destes órgãos é feito o tal transporte de informação que define o certo do errado, segundo os padrões da sociedade, como por exemplo: “o azul é para meninos, o rosa para meninas e o preto para funerais”. Da mesma forma que é embutido o que vestir, também são injetados os modos de agir, de ser e de estar, assim como o que ouvir e até mesmo o que dizer, dando-se uma formatação das mentes infantis que ocorre cada vez mais cedo. Nos dias de hoje é comum encontrar crianças a entrar na pré-adolescência mas a comportar-se como os “adultos” que são mostrados quer nas revistas, quer na televisão e Internet. O que acontece é que esses “adultos” não o são, mas sim crianças em corpos mais velhos, o que faz com que as verdadeiras crianças queiram fazer o mesmo com os seus corpos frágeis. Assim é relativamente fácil depararmo-nos com meninas a utilizar fortes maquiagens complementadas com vestimentas que fazem lembrar as ditas “meninas de rua”, e o mesmo acontece com os meninos, de quem facilmente se encontra fotografias em tronco nu a querer mostrar a fantástica musculatura por todas as redes sociais fora. Mas para não desviar demasiado do foco principal, ao jun-

tar todos os pontos anteriores obtemos o que é “cool” e “fixe” e “in” (palavras que, ao que parece, já não o são) e chegamos ao nosso produto, totalmente fabricado nos nossos lares e bem debaixo dos nossos narizes, pura e simplesmente seguindo os estereótipos de quem têm de ser e a inveja de não ter o que lhes é mostrado. O maior problema aparece quando se atua com o desprezo por quem não é igual, ou seja, por quem “anda todos os dias vestido para ir a um funeral” e “ouve música saída do fosso demoníaco”. Por sorte, ou por persistência, os “demónios dos funerais” conseguem ter o poder de ser quem realmente são e não se deixar levar tanto pelas modas e, ao fim ao cabo, não se tornarem “maria-vaicom-as-outras”. Musicalmente falando, este mesmo público-alvo absorve o espectro mais popular da música, tendo em conta o meio em que está, no nosso caso, o pop. O pop tanto pode ser o nacional como o estrangeiro - afinal a ideia principal é tão-somente chegar às massas, e deixar-se levar pelo que nelas é descrito sonoramente. Com isto não quero dizer que as crianças devam ser expostas somente a Metal, simplesmente que não lhes seja negado o acesso ao que de mais pesado se faz, pois decerto que mais violento captam elas. Numa espécie de apanhado geral, remato dizendo que o importante é deixar as mentalidades abertas, e isto não é válido só para as crianças, mas como é de pequenino que se torce o pepino… Há que haver um certo controlo sobre o que os nossos rebentos absorvem do exterior, mas quando há demasiada proteção deixa de haver perigo e quando não encontramos perigo é porque o perigo somos nós. Daniel Guerreiro


Do Homem e dos deuses


Da Grécia (mas sem tempo para crises), chegam-nos os Enshadowed, com um novo álbum, depois de nove anos consagrados a lançamentos de menor duração. Golgotha, baixista da banda, falou à VERSUS Magazine do seu passado e do seu presente, augurando um futuro, que valerá a pena acompanhar. Esperamos que o seu discurso claro e conciso desperte a atenção dos nossos leitores para esta banda de black metal. O que andaram a fazer nos últimos nove anos? Golgotha: Olá, Cristina. Nos últimos nove anos, os Enshadowed tiveram alguns momentos fantásticos e outros menos agradáveis. Antes de mais, houve alterações na formação da banda, de tal modo que o N.e.c.r.o é o único que resta do line up original. Mas agora temos uma formação forte, não só porque todos somos músicos, como também porque somos amigos. Neste momento, Enshadowed conta com Serpent, na voz, N.e.c.r.o, na guitarra, I.K., na bateria, e eu próprio – Golgotha –, no baixo. Além disso, gastamos alguns anos a cumprir o serviço militar. O que fizeram para manter o interesse dos vossos fãs durante estes longos anos em que não lançaram nenhum álbum? Em 2005, lançámos uma gravação ao vivo, intitulada «Dressed in Blood», relativa a um concerto integrado numa digressão dos Arkhon Infaustus. Em 2006, lançámos um split, num vinil de sete polegadas, com os Mantak, da Malásia, e um outro split em CD, intitulado «6 Black Candles 6 Rotting Hearts 6 Sacrifices for Satan», com os norte americanos Thornspawn. Em 2009, lançámos outro split, num vinil de sete polegadas, intitulado «The Epitome of Neverending Evil», com os brasileiros Vulturine. Em 2010, lançámos um split com três outras bandas gre-

gas, intitulado «Secta Nova», para o qual cada banda contribuiu com duas faixas. Finalmente, em 2012, lançámos um split, num vinil de sete polegadas, com os Burial Hordes da Razorbleed Productions. Além disso, participámos em vários festivais no estrangeiro e demos concertos, na Grécia, integrados em digressões de bandas como Mayhem, Dodheimsgard e Dark Funeral. Que lugar reclamam para a vossa banda na cena metal grega? Nenhum lugar em especial. Somos apenas quatro rapazes que gostam de fazer música e temos prazer em fazer parte dos Enshadowed. Não queremos ser a banda favorita de todos os metalheads. Só pretendemos fazer o que for melhor para a banda e, se gostarem do que fazemos, tanto melhor. Por que vos pareceu que este era o melhor momento para lançar um novo álbum? Para além do facto de não termos lançado nenhum durante nove anos, também nos pareceu que as canções que escrevemos tinham uma mensagem a transmitir. Nunca faremos música só para ocupar espaço num álbum que temos em mãos. Antes de mais, pretendemos que o que fazemos nos agrade a nós próprios. Aliás, este álbum já estava pronto em maio de 2011, mas tivemos alguns problemas com a Pulverised Records. Neste momento, o lançamento está pre-

visto para 18 de fevereiro de 2013. O álbum conta com nove faixas curtas, mas incisivas. Por que razão este formato vos parece o mais adequado para abordar o conceito subjacente a este? Não temos nenhum formato padronizado para trabalhar as nossas canções. Antes de mais, queremos sentir-nos satisfeitos com o resultado do nosso trabalho e não ficamos preocupados por uma faixa ser mais longa do que as restantes. Em termos líricos, este álbum não é concetual, mas pensamos que o título escolhido está adequado a todas as canções que nele figuram e ao seu lay out. Que sombras convocam em «Magic Chaos Psychedelia»? Em termos líricos, este álbum trata a forma como o Homem se integra no universo e como reage a esta ideia. Renegamos qualquer religião, porque acreditamos que elas exterminam qualquer forma de espiritualidade que exista no ser humano. O Homem é o seu próprio deus e pode alcançar tudo o que pretender, se o quiser verdadeiramente. As letras das faixas de «Magic Chaos Psychedelia» foram escritas com base nestas ideias. Há alguma relação entre Prometeu e a figura masculina representada na capa do vosso álbum? Para nós, essa figura representa Lúcifer, o anjo caído, o único que pode trazer a luz à humanidade.


“[…] Não queremos ser a banda favorita de todos os metalheads. Só pretendemos fazer o que for melhor para a banda e, se gostarem do que fazemos, tanto melhor.” Mas cada um pode ver nela o que quiser. Afinal, a magia da arte reside no facto de cada um poder ver nela um reflexo dos seus próprios pensamentos. Pediram a colaboração de Fotis Benardo porque Septicflesh é uma das bandas que tem influência sobre a vossa música?

Gostamos muito do trabalho dos Septicflesh, mas não os vemos como uma influência. Escolhemos Fotis e o Devasound Studio, porque ele é um baterista fantástico e acreditamos que a sua grande experiência neste domínio lhe permite saber exatamente como deve soar a bateria num álbum de música extrema. Depois, ele

deu-nos a honra de contribuir na percussão para a faixa que tem o mesmo título que o álbum. Por que quiseram associar-se à Pulverised Records? Primeiro, porque é conhecida pelos excelentes lançamentos feitos ao longo dos seus anos de existência e assegura uma boa dis-


“[…]O Homem é o seu próprio deus e pode alcançar tudo o que pretender, se o quiser verdadeiramente” tribuição através da Plastichead. Além disso, o N.e.c.r.o já mantinha boas relações com a Pulverised e Burial Hordes. Por conseguinte, pareceu-nos que uma aliança com esta editora seria vantajosa para ambas as partes. Podes dar aos nossos leitores três boas razões para seguirem aten-

tamente a carreira dos Enshadowed? Em primeiro lugar, temos o lançamento deste novo álbum: «Magic Chaos Psychedelia». Penso que ninguém que se interesse por black metal ficará indiferente a este trabalho. Além disso, queremos fazer tantos concertos quanto possível para o promover e, francamente,

as atuações ao vivo são um ponto forte da nossa banda. Por último, já estamos a compor novo material. Entrevista: CSA




Os bastidores da realidade


São italianos, mas fãs da cultura árabe e do oculto a ela associado. Usam a sua música para explorar diversas camadas da realidade. Assinam este seu álbum com uma imagem que o liga à crença de que só deus (neste caso, Alá) é realidade, tudo o resto é ilusão. À estranheza do pensamento associam o exotismo da música, com recurso pontual a instrumentos caraterísticos de culturas orientais. Estes ingredientes irão certamente “abrir o apetite” dos leitores da VERSUS Magazine. Esperemos que a entrevista a Niccolò Tricarico, um dos fundadores da banda, aguçe a sua curiosidade. Como veem a música italiana em geral? E qual é a vossa perceção sobre a cena metal italiana em particular? Sou uma grande fã de Forgotten Tomb. Niccolò Tricarico: Em Itália, temos uma cena underground muito boa, em vários géneros musicais. O problema é que a grande falta de interesse pela música local nova. Esta tendência xenófila dos italianos em geral prejudica gravemente a nossa realidade underground. Frequentemente, os álbuns dos artistas locais têm mais sucesso no estrangeiro do que no seu próprio país (tal como está a acontecer connosco). É lamentável, mas parece não haver nada a fazer, para que o público italiano mude de mentalidade. A cena metal italiana foi sempre muito boa e ativa e certamente não fica atrás de outros países, do ponto de vista artístico. Apenas tem menos visibilidade nos media, o que traz muitos problemas às bandas italianas, especialmente quando tentam chamar a atenção de editoras que possam apoiar os seus projetos. Por que escolheram para o vosso álbum uma capa que evoca a cultura árabe? Será porque há pormenores em algumas das faixas que fazem pensar na música árabe (a segunda, por exemplo)?

De facto, apreciamos muito a cultura e a música árabes e isso reflete-se na nossa música. Mas escolhemos essa imagem, sobretudo porque representa a essência da ideologia da banda, não apenas por motivos de ordem estética ou gráfica. De onde vem esta imagem? É uma inscrição árabe que figura na capa do livro sagrado dos Sufis. Significa Al-Batin/O Escondido, um dos 99 nomes de Alá, e representa o Oculto. É um atributo que se refere à face íntima de tudo. O atributo de Batin designa tudo o que está escondido, oculto, em tudo o que nos rodeia. O vosso álbum é negro… contudo não é black metal puro. Como constroem essa atmosfera extremamente angustiante e obsessiva? E que sentido lhe dão? A nossa música é construída essencialmente a partir do baixo e da bateria. Essa estrutura de base é enriquecida com os contributos do sintetizador e das vozes. Não há nada de especialmente intrincado. Criar este tipo de atmosfera é para nós um processo natural e espontâneo, que fornece a matéria de que brotam as canções. Tem a ver com as nossas personalidades. Estas atmosferas constituem o cenário ideal para um “rito de passagem” das contingências quotidi-

anas para uma realidade mística e transcendental. É este o conceito lírico do nosso álbum. Qual foi o contributo de cada membro da banda para o produto final? Geralmente sou eu que me ocupo da composição geral da música e do conceito lírico. Depois, cada um de nós dá o seu contributo para os arranjos finais das faixas e as duas cantoras ocupam-se das letras. Que artistas/bandas vos têm influenciado na conceção do vosso estilo de música bem original? Da nossa base musical fazem parte estilos muito variados. Eu poderia passar horas a falar das bandas que nos influenciaram: por exemplo, Om, Dead Can Dance, Electric Wizard ou Emperor, Enslaved e Darkthrone, sem esquecer outras tais como Pink Floyd, Hawkwind, Black Sabbath e Coven. Penso que o objetivo de qualquer artista é sempre criar algo de original (mesmo que isso nem sempre aconteça). Portanto, para criar a nossa música, preferimos ser inspirados pelo ocultismo, mais do que por quaisquer outros artistas de destaque. Por que não têm guitarras? E por que optaram pelo bouzouki? No início, a banda resumia-se a


um duo, que tocava baixo e bateria. Nunca pensei em incluir guitarras, porque tal me pareceu desnecessário, já que o som que produzíamos era muito pesado e rico em efeitos. O bouzouki é um instrumento que toco há anos. Além disso, pareceu-me que traduzia na perfeição a essência da faixa em que o incluí. O vosso segundo álbum será do mesmo género deste? A nossa imagem de marca está definida, mas introduzimos nela algumas alterações, que, pelo menos na nossa opinião, melhoraram o som da banda. De momento, apenas posso dizer-te que o nosso próximo álbum será mais pesado, mais ritualista e mais hipnótico do que este.

A vossa música combinaria maravilhosamente com a linguagem cinematográfica. Nunca pensaram em fazer bandas sonoras para filmes? Alegra-me que tenhas notado esse pormenor. Se nos pedissem para fazer uma banda sonora, aceitaríamos imediatamente. Seria uma experiência artística muito agradável e excitante, porque todos somos fãs de cinema e damos particular atenção às bandas sonoras dos filmes. Para já, apenas fizemos o nosso primeiro vídeo oficial, dirigido por Alessandro Pontillo. Está associado à faixa intitulada “Alcyone” e será lançado na net antes do Natal. A vossa editora afirma que estão a dar concertos para promover este álbum. Onde e quando?

Nos últimos meses, desde que o álbum foi lançado, em maio, tivemos a oportunidade de o apresentar em alguns concertos ao vivo em Itália. Temos um concerto marcado para o dia 24 de novembro, em Roma. Depois desse evento, tencionamos fazer um curto intervalo, para nos concentrarmos no nosso novo álbum, que queremos começar a gravar na primavera. Gostariam de tocar em Portugal? Considerando que é um grande país e que o nosso álbum está bem na linha dos vossos interesses culturais, seria um prazer e uma honra aceitar um convite para fazer um concerto em Portugal. Obrigado pela entrevista! Entrevista: CSA



True norwegian black metal forever! É esta a mensagem com que Trånn Ciekals, guitarrista e mentor da banda, encerra esta entrevista que concedeu à VERSUS Magazine, a propósito do lançamento do primeiro álbum de Nettlecarrier. Sem fronteiras e sem limites, o músico norueguês fala-nos da sua capacidade de gerir várias bandas em simultâneo, partilhada pelos seus companheiros de projeto, e de como Nettlecarrier é um escape para os seus pensamentos mais negros. Também o ouvinte pode beneficiar do lado catártico da música destes noruegueses.


brann. Mas, para mim, é diferente, porque não faço parte delas. Parece-te que a vossa formação atual é estável? Que influência pode ter essa estabilidade no desempenho da banda? A nossa formação atual é muito, muito forte. Se algo a comprometer, a banda desaparece. Conheço o Dirge Rep desde 1991. Juntamente com o Mannevond é um dos meus maiores aliados. Os nossos pensamentos estão em tal consonância que nunca preciso de lhes “explicar” nada. Obviamente, esta coerência cria uma forte união. Como nunca ensaiamos, as sessões de estúdio são muito intensas, um tanto imprevisíveis e cheias de energia negra. O vosso black metal é muito feroz. Porquê tanta ferocidade? Nettlecarrier representa o meu lado mais negro, uso esta banda para exprimir os meus pensamentos mais sinistros. Tanto eu como o Dirge Rep temos famílias e empregos estáveis, o que é difícil de conjugar com o que Nettlecarrier e Djevel representam. Por isso, quando nos sentimos possessos, concentramo-nos a 100% nas nossas bandas. Sou uma pessoa muito complexa e nunca consegui focar-me numa só banda. Preciso de me concentrar em coisas diferentes. E posso assegurar-te que o facto de, paralelamente, ter uma família, faz com que o meu lado tenebroso seja muito forte, quando se manifesta. A quem pretendem levar a morte, como o nome da banda anuncia? Odd K Reme [NR: pintor norueguês contemporâneo].

Os três elementos da banda estiveram (ou ainda estão) em bandas de metal famosas. O que podem fazer em Nettlecarrier que não conseguem fazer nas outras bandas? Trånn Ciekals: Componho toda a música para Djevel, mas mesmo assim Nettlecarrier representa algo mais para mim. Em Djevel, foco-me no antigo culto norueguês do diabo e não saio desse tema. Se ouvires temas da banda, constatarás que são muito diferentes do que faço para Nettlecarrier. Esta banda está mais associada ao culto universal do oculto, que não conhece fronteiras, nem limites. Também me parecer que Nettlecarrier está mais próxima de algumas das nossas outras bandas, tais como Orcustus e Kold-

Por que escolheram a Indie Recordings para o vosso primeiro lançamento? Ou foram eles que vos escolheram? Não houve nenhuma razão especial para nos associarmos a essa editora. Aconteceu! Já conheço o pessoal da Indie há muito tempo e também já há muito tempo que falávamos de fazermos algo juntos. Houve um momento que nos pareceu a ocasião ideal para passarmos à ação. Além disso, gosto de trabalhar com editoras norueguesas. É menos complicado para as minhas bandas. A bateria tem um papel de relevo neste vosso álbum. Que efeito pretendem produzir? Dirge Rep é, provavelmente, um dos meus bateristas preferidos e seria uma pena não lhe dar o devido destaque no álbum. Ele tem uma capacidade inédita para trazer a violência à música e cada batida está carregada de intensidade e de uma grande vontade de destruir. Por que combinam canções em inglês com canções na vossa língua materna? Há alguma razão especial para o fazer? Não. Como já referi, não há limites em Nettlecarrier, no que se refere ao uso da linguagem. Nunca foi


“Como nunca ensaiamos, as sessões de estúdio são muito intensas, um tanto imprevisíveis e cheias de energia negra.” nossa ideia escrever as letras só em norueguês. Aliás, começamos por escrever em inglês. Foi o Dirge Rep que teve primeiro a ideia de escrevermos algumas em norueguês. Aliás, “Paa vaare paler deres hoder” era uma letra para uma canção de Orcustus, que eles nunca chegaram a usar. A capa do álbum é muito interessante. O que significa? Quando fiz o logo da banda, apercebi-me de que tinha de estar presente na capa deste primeiro álbum. Representa exatamente o sentido do nome da banda: aquele que traz a morte. Dá-me uma sen-

sação de completa devastação e total perda da esperança. Que planos têm para o futuro? Vamos gravar o novo álbum de Djevel em fevereiro e depois daremos início ao próximo álbum de Nettlecarrier. Obrigado pelo apoio. Apoiem o verdadeiro metal underground. Evitem o falso! Abaixo King of Hell! Entrevista: CSA



Doces e endiabrados

Apesar do nome inglês, trata-se de uma banda francesa, que está a dar os primeiros passos no metal. Através do facebook, contactaram a Versus Magazine e chegou-se a um acordo para fazer uma entrevista. Fazem uma música que apresenta componentes de death metal e, como muitos outros jovens, andam à procura do seu lugar numa cena metal, que atualmente conta com alguns nomes sonantes.


Como tiveram a ideia de formar uma banda? Jean-François: Penso que todos os jovens que querem formar uma banda o fazem, porque querem imitar os seus heróis. Passas os dias a ouvir as tuas bandas favoritas, acha-las o máximo e queres fazer o mesmo. Depois também queremos fazer música, criar as nossas próprias canções, em suma, encontrar um meio de expressão. Que tipo de música ouvem os membros da banda? Quais são as vossas “raízes” musicais? Eu ouço de tudo. Gosto de ouvir todo o tipo de metal, desde Mötley Crüe até ao black metal, passando pelo death metal. Mas também ouço rap, compositores clássicos como Olivier Messiaen, George Gershwin, etc., jazz… A mistura franco-russa de que falam no texto de apresentação de Sweetest Devilry é importante para a música que fazem? Não me parece. Mencionei esse facto, porque é o caso para mim e o meu irmão. Mas ele agora nem faz parte da banda. Logo, Sweetest Devilry é uma banda francesa. Usam o inglês na vossa música, porque consideram que o francês não é uma língua adequada para o metal? Não propriamente. Há muitas bandas que cantam em francês. É mais uma questão de hábito, porque as bandas que ouvimos cantam em inglês. Por outro lado, sentimos que, ao cantar nessa língua, chegamos a mais pessoas. Há muitos fãs de metal entre os jovens da vossa idade, em França? Ou parece-vos que a música extrema é mais popular noutros países? O metal é universal, está em todo o lado. Ouvi o vosso EP e pareceu-me muito interessante. Que título lhe deram?

Chamamos-lhe «Funny Human Race». Por que razão pessoas tão jovens como vocês fazem música tão furiosa? Será porque são verdadeiramente “endiabrados”? Na realidade, não sou nada assim. Até sou um sujeito calmo e gentil. Esse lado da banda vem das experiências que nos impressionam e a partir das quais fazemos a nossa música, que está associada às nossas vivências. Este EP é o vosso primeiro registo? Sim. Quem fez as canções? Há algum artista gráfico entre os membros da banda? Fui eu que escrevi os textos. Quanto ao grafismo, pedimos ajuda a um amigo. Sei que fazem concertos. Têm uma grande experiência nessa área? De momento, nem por isso. Somos uma banda muito recente e, infelizmente, temos tido alguns problemas, que nos têm dificultado a vida. Mas contamos resolvê-los em breve. Quais são os vossos planos para o futuro? Contam conseguir contrato com uma editora? Têm preferências nesse campo? Queremos fazer longas digressões, continuar a trabalhar intensamente. Pela parte que me toca, gostaria de melhorar como músico, compor material para um álbum. Quanto a uma editora que queira contratar-nos, o futuro o dirá. O nosso sonho era assinar contrato com uma editora como a Nuclear Blast ou a Metal Blade, mas é isso mesmo: um sonho. Entrevista: CSA


Pela esfera de um certo Metal


Já tiveram honras nas nossas páginas, numa review ao EP «Sphere of Morality», e quase um ano depois ainda fomos a tempo para uma merecida entrevista que o Pedro Matos, guitarrista, nos concedeu. Desta feita a edição do Garage Power é especial, já que os Venial Sin se encontram num patamar muito satisfatório, quer no nosso território quer lá fora no estrangeiro. Foi assim, portanto, que tive o prazer de conhecer um pouco mais uma esfera, muito especial, de um certo Metal que é nosso. Abram portas, caros leitores, a Venial Sin, e espantem-se com «Sphere of Morality». Apesar de a vossa banda não ser totalmente desconhecida do público mais atento, podem contar um pouco da vossa história e do vosso percurso? Os Venial Sin nasceram em Vila Real no final de 2008. Nesse ano, eu, Hélder Guedes, Vítor Ferreira, Nelson Rodrigues e Óscar Rodrigues compusemos a primeira gravação desta banda, a demo World Reset. Esta foi gravada com métodos caseiros e não teve nenhum tratamento musical aprofundado e é composta por 4 temas originais que a banda disponibilizou on-line. De uma variedade constante a música dos Venial Sin aceita influências de diferentes âmbitos e géneros musicais tendo, no entanto, mostrado lealdade ao Black/Death metal e ao Rock progressivo nas suas composições. Dando sempre primazia à melodia o resultado é a criação de uma atmosfera obscura e cativante. Em 2010 iniciámos a nossa actividade em palco, no Porto e em Bragança, com a aclamada banda Altar of Plagues, e não parámos desde então. Com um apoio constante da audiência vencemos o primeiro prémio no concurso de Bandas de Garagem em 2010 e o segundo prémio no concurso Rock On, que decorreu no Side B, em Benavente em 2011. No início de 2011 começámos também o processo de criação do nosso EP de estreia, que está agora disponível ao público. Este EP, intitulado «Sphere Of Morality», foi captado entre Janeiro e Junho de 2011 nos Blind & Lost Studios, em Stª Marta de Penaguião, tendo sido misturado e masterizado por Guilhermino Martins. «Sphere of Morality» teve o seu lançamento em 25 de Fevereiro de 2012 com o selo da editora independente portuguesa Infektion Records. Paralelamente e no decorrer do ano de 2012 os Venial Sin continuaram a promover o seu EP nos vários festivais do género, percorrendo palcos por Portugal, Espanha e mais recentemente Inglaterra.

Actualmente somos um quarteto constituído por Renato Sousa na voz, eu na guitarra, voz e synths, Paulo Padrão no baixo e Hélder Guedes na bateria. Esta é a vossa primeira banda, ou já tiveram outras? De facto não, já todos os membros dos Venial Sin tiveram projectos em várias áreas musicais. O Renato Sousa mantém a banda de origem Arcanum Woods, eu já tive vários projectos musicais dos quais se destaca a banda Thee Orakle, da qual foi membro fundador e músico durante os anos que antecederam a formação dos Venial Sin. No caso do Hélder, foi baterista dos “Infernal Kingdom” e o Paulo Padrão mantém também alguns dos seus projectos musicais. A música é algo que caminha connosco de forma constante nas nossas vidas! Ouvindo o vosso EP de estreia, nota-se uma sonoridade muito forte e envolvente. Não querendo ter o papel de colocar um rótulo na vossa música, como é que a descreverias? A ideia consistiu sempre em conseguir uma linha de composição sonora que se desmarcasse de formatos e preconceitos musicais, portanto livres de rótulos, contudo havendo abordagens claras aos sub-géneros associados num amplo espectro de sonoridades. Desde pitadas de rock progressivo, com um deathmetal bem definido que se vai moldando em atmosferas obscuras e cativantes, mas nem sempre sombrias. O essencial é mesmo o facto de este trabalho estar munido de uma grande mistura de elementos contrastantes, onde na progressividade e evolução das composições estão sempre patentes diversas divergências estilísticas, neste caso bem conseguidas da nossa parte. Todos os temas são diferentes, o que nos dá, a nós como banda, uma grande sensação de missão cumprida com «Sphere Of Morality». Resumidamente: compomos conforme vamos sentindo.


O resultado acaba por ser um som experimental e estranho como dizem, com uma abordagem diferente ao metal.

tos em uníssono, quer em termos musicais que em termos de auto-dedicação, não fosse a música aquilo que nos move sempre mais além!

As vossas influências deverão ser várias. Queres mencionar alguns nomes da música que vocês mais ouvem? São infindáveis e muito variadas, pois felizmente todos temos influências distintas. Mas talvez Dimmu Borguir, Death, Opeth, Hypocrisy, Arcturus, Emperor, Amorphis, Katatonia, Tantra, Pink Floyd, Camel, Gentle Giant, Soft Machine, Porcupine Tree, Anathema, entre muitas, mesmo muitas outras que passam também pela música electrónica e até de cariz tradicional.

Como foi a produção do vosso EP? Quem trabalhou nas vossas músicas? «Sphere Of Morality» foi captado e tratado nos Blind & Lost Studios em Santa Marta de Penaguião, com a supervisão de Guilhermino Martins. Pudemos contar com todo tipo de apoio por parte do Guilhermino, até porque o facto de nos conhecermos há muito o permitiu. Foi sem dúvida uma boa e enriquecedora experiência, onde tanto a banda como o Guilhermino foram maturando, a par, todos os processos da materialização do EP, sem grandes pressões. Falo, quer da parte técnica como também de pormenores que se revelaram uma mais-valia no produto final. Sabíamos que se fizéssemos as coisas da forma como foram feitas, poderíamos ter mais gozo e aproveitar ao máximo todos os momentos dos processos envolvidos na concepção de «Sphere Of Morality». Aproveitámos também para crescer como banda vivendo experiências enriquecedoras que permanecem intactas. Não creio que fosse o facto de os temas serem mais ou menos curtos ou mesmo a complexidade dos mesmos que tivesse contribuído para tal, pois como disse sempre soubemos o que queríamos quando entramos em estúdio. Pudemos contar com a conhecida experiência im-

Chegar a este tipo de música complexo e progressivo, com várias vertentes e camadas, por assim dizer, foi um consenso de todos? Como decidiram a sonoridade do «Sphere of Morality»? Ou foi um trabalho de composição naturalíssimo? Sim, de facto foi bastante natural, onde nunca existiu a tendência para nos aproximarmos mais deste ou daquele tipo de sonoridade. Eu, juntamente com Hélder Guedes, o pilar das composições da banda, chegamos a pontos em que estivemos quase 2 anos em dueto, o que logicamente nos deu mais azo para poder compor e repensar todo o esboço musical do nosso actual repertório com bastante liberdade. Cremos que uma banda são todos os seus elemen-


“Fazemos o que fazemos pelo puro gozo da criação musical” primida nos Blind & Lost Studios, em Santa Marta de Penaguião, estúdio que recomendamos vivamente! O título do vosso EP deixa adivinhar um tema conceptual comum a todas as músicas. Isso é verdade? O que contam as vossas músicas? Certamente que sim. Com «Sphere Of Morality» tivemos sempre a ideia de abordar aspectos, quer de nós quer do mundo que nos rodeia. Todo o EP faz sentido quando juntamos as “peças”, o que promove uma continuidade válida por partes. Desta forma tentamos expressar sentimentos num espectro variado, visando e focando a mensagem principal que queremos passar com toda a “esfera da moralidade” patente nos dias de hoje, bem como do que dela podemos extrair, reflectir, alterar...Cada um deve ir de encontro à sua própria moratória! Faço questão de referir que fazem parte do EP «Sphere Of Morality« os temas “Real End”, e “Sphere Of Morality – Parte 2 “ que compus especialmente em memória do meu pai! Vocês conseguiram um contracto com a Infektion Records. Haverá mais lançamentos através dessa editora? Para quando? De momento não poderemos afirmar que haja ou não continuidade com a Infektion records, pois assinamos um contrato válido por um ano, o que nos proporcionou bastante notoriedade e visibilidade, quer em Portugal, quer no estrangeiro. Estamos plenamente satisfeitos com todo o processo, mas ainda é cedo para poder adiantar algo que somente o futuro aguarda. Vamos sempre tentar fazer mais e melhor, sempre a nosso tempo e sem pressões. É a nossa promessa! Decerto que o vosso historial de concertos já é extenso. Têm algum concerto em especial que gostem de recordar? Como referi, desde que começamos as nossas apresentações em público, não mais parámos e já lá vão três anos de concertos a uma média de um por mês, o que para nós se revela muito enriquecedor, sob todos os aspectos! Alguns concertos como é óbvio ficaram marcados por coisas menos positivas como prémios ganhos que ficaram por mãos alheias, pagamentos, etc. Felizmente casos raros, só o suficiente para crescermos e mudarmos a nossa abordagem face a questões que consideramos fulcrais na gestão duma banda. Nunca guardamos rancor por ninguém e consideramo-nos boa gente.

Temos por outro lado, a enaltecer todas as nossas deslocações a Espanha, marcadas por uma enorme adesão do público e calorosas recepções das entidades organizadoras. Mais recentemente do nosso último concerto, que nos levou a Londres, ao abrigo do “Bloodstock Open Air”, podemos afirmar que foi uma experiência única no seio de banda e a repetir. Grande concerto, grande público, pois éramos para tocar apenas 30 minutos mas por força do público acabamos por tocar o set completo! De resto, em solo português, tirando um ou outro local estamos muito gratos por todo o caminho feito e pelas boas pessoas que temos vindo a estreitar laços de amizade! Fazemos o que fazemos pelo puro gozo da criação musical, divertimento que obtemos da música e camaradagem associadas, nunca para potenciar más ondas e energias negativas. Bem hajam todos sem excepção! Certamente vão continuar a produzir. Já tem planos par o futuro? Sintam-se à vontade para uma última palavra para os leitores da Versus Magazine. Futuramente teremos um concerto agendado para o verão, com bandas como os internacionais Masterplan e os conterrâneos Mão Morta, Moonspell, Ramp, Bizarra Locomotiva, entre outras. Será no Festival de Verão NortFest 2013, a 3 de Agosto, por isso não faltem! Volvido um ano da edição de «Sphere Of Morality», no passado dia 25 de Fevereiro, disponibilizámos o nosso EP na integra para o público. Seguidamente entraremos calmamente num processo de composição do nosso longa-duração, mas para já podemos adiantar que algumas surpresas estão a caminho e paralelamente a isso tentaremos apresentar o nosso trabalho fora de Portugal, sempre que possível. Fiquem atentos e visitem as nossas plataformas cibernéticas, pois necessitamos de todo o vosso apoio para ir mais além. Resta dar um grande abraço a ti, Victor Hugo, bem como para toda a equipa da Versus Magazine, por toda a atenção e oportunidade que nos deram de poder trazer a público um pouco mais dos Venial Sin. Em nome da banda um grande abraço para todos! Entrevista: Victor Hugo


Blindagem Metal Show & Berkana Dolentia + Xérion

Ass. Cultural Mercado Negro – Aveiro 12.01.2013 “Pelas Névoas do Black Metal” Pouco faltava para a meia-noite quando os galegos Xérion apresentaram o seu Black Metal pagão na sala da Associação Cultural Mercado Negro. Apesar da chuva e do frio o público apareceu para acolher as duas bandas de Black Metal que iriam enegrecer a noite de Aveiro. Nocturno na guitarra e na voz; Daga aos comandos do teclado e caixa de ritmos; foi este duo (sem O Rei Celta no Exílio, ausente, responsável pela gaita de foles) que encantou os presentes no auditório do Mercado Negro. Sem rodeios e clara-

Dolentia

mente verdadeiros na sua música e nas suas crenças, com evidentes traços pagãos, assombraram os espíritos presentes. Nocturno ora vociferava, ora gritava, e ao mesmo tempo mostrava uma certa simpatia com o público, comunicando pouco, mas agarrando a atenção. Guitarras ríspidas, mas também melódicas, solos acutilantes e certinhos, sem fugir ao tempo da sempre certa caixa de ritmos. Esta controlada pela Daga, teclista de serviço, que mostrou uma mestria e sensibilidade ímpar. Sons melódicos, texturas aveludadas, mas também órgãos de tubos e flautas a evocarem o lado mais religioso e pagão. Curiosamente a música que fechou o set dos Xérion, “Alén das Néboas da Transmontana” foi dedicado ao público português. Os Dolentia tiveram a honra de fechar a noite negra em Aveiro, e posso afirmar que estiveram muitíssimo bem nessa tarefa. Para quem nunca os viu, os quatro elementos da banda do Porto apresentam-se com um hábito, e

Dolentia

pouco se viu do corpse paint nas suas caras. A figura combinou muito bem com a música que tocaram, evocando, dessa feita, uma aura mística e negra. Para tal também ajudou a ausência de comunicação entre a banda e o público, ao ponto de não sabermos, após a última música, se o concerto teria terminado ou se haveria mais música. O concerto dos Dolentia foi interessante, e conseguiu encher um pouco mais a sala, embora não estivesse cheia. De destacar a prestação do baterista que foi incansável e que justificou o rótulo de Black Metal Ritualista. Por último, resta dar os merecidos parabéns ao Blindagem Metal Show e à Berkana pela oportunidade que nos deu de ver e degustar mais um concerto deste género. Encontrar-nos-emos em Março para mais! Reportagem e fotografia por: Victor Hugo


Xérion

STEVE HARRIS

Hard Club – Porto 21.01.2013 “O regresso do velho guerreiro” Tendo em conta a recetividade ao disco «British Lion» foi com alguma curiosidade que pude presenciar a performance ao vivo de Steve Harris e a sua banda. Excetuando as publicações da imprensa escrita internacional de maior tiragem, as classificações do álbum não têm sido as melhores. Quando entrei na sala 1 do Hard-Club confesso que não tinha escutado o álbum, mas a impressão com que fiquei durante o concerto é que a sonoridade global dos vários temas interpretados é pura e simplesmente o bom velho Heavy-Metal Britânico. À medida que o primeiro par de temas ia sendo tocado, pude reparar que os técnicos de som foram corrigindo os desequilíbrios entre os vários instrumentos (trabalho aliás que ao longo do concerto foi de certo modo constante). Portanto, de falta de meios

Xérion

Steve Harris não se pode queixar, julgo eu, e a qualidade sonora na tournée está garantida. O que me deixou um pouco surpreendido foi o músico ter escolhido Portugal para ter iniciado a sua digressão e o público nortenho não ter correspondido com maior expressividade na assistência. Estava apenas cerca de meia casa presente, o que não aconteceu em Faro onde pelo que descobri a casa estaria cheia. Após ouvir o álbum, o que se pode dizer é que por comparação com o que ouvi no concerto no Hard Club, os temas ao vivo ganham uma dimensão muito diferente. As guitarras e respetivos solos continuam lá, mas tanto o baixo de Steve ganha uma outra dimensão com o som mais sujo do que no CD e a voz de Richard Taylor é muito mais incisiva e menos melódica do que no álbum. Especialmente no tema “Us against the world”, esta mutação ganha uma dimensão mais vincada. Os temas “Father lucifer”, “The chosen ones”, “Us against the world”, “Judas” e “Eyes of the young” foram especialmente bem recebidos pelo público. No cômputo geral a banda agarrou a atenção da assistência des-

de o primeiro segundo de espetáculo até ao final com o Encore. De notar que o vocalista Richard não deixou de pegar na guitarra acústica por 2 vezes para se juntar aos acordes do resto da banda. Julgo que no entanto em “Let it roll” houve um problema em que a guitarra não tinha som, no entanto Grahame Leslie compensou a falha que praticamente não se teria notado não fosse o técnico de palco ter surgido para tentar colmatar a situação. Foi essencialmente um bom concerto de Heavy-Metal em que, a banda cortou com a componente declaradamente melódica do álbum com um resultado bastante bom. Reportagem: Sérgio Teixeira


Vincent & Danny Cavanagh - An evening of ANATHEMA acoustic Music Box – Lisboa 12.02.2013

Anathema - acusticamente falando Fevereiro de 2013 foi data marcada por mais uma aparição dos “Anathema” em solo nacional. Sim, Anathema com aspas, visto que desta feita o evento (organizado pela Prime Artists) mostrou algo diferente, isto é, foi um concerto versão acústica e apenas com os irmãos Vicent e Danny Cavanagh em cima de palco, mostrando uma vez mais que os tempos de “Serenades” são passados. Por volta das 21h40 a VERSUS Magazine chegou ao Cais do Sodré, mais precisamente ao Music Box, e era impressionante a fila que já estava a espera para entrar, (dava a volta ao Viking) fazendo prever uma lotação que se veio a verificar esgotadíssima (nem o facto de ser dia de Carnaval afastou o público) mostrando uma vez mais o carinho que os portugueses têm pela banda natural de Liverpool. Finalmente abrem-se as portas e deparamo-nos logo com um episódio caricato que foi o Danny a pedir ao segurança para entrar no Music Box e este com todo o brio profissional, que se exige neste tipo de eventos, apontou-lhe o fim da fila como caminho mais rápido para entrar (!). Resolvido o problema, foi tempo de ir enchendo a casa esperando pela subida ao palco dos artistas. Chegou a altura da aparição dos ingleses em palco, com um ar condicionado de lhes fazer (literalmente)

levantar os cabelos, saudaram imediatamente o público com um “Olá! Como ‘estam’ e começou a ouvir-se o dedilhado do tema de abertura do novo álbum, “Untouchable Pt 1”, acompanhada com as palmas do público que faziam as vezes da bateria. A voz angelical de Vincent foi surgindo nas colunas e era interessante ver como Danny ia criando ritmos, gravando-os e colocando-os em loop para dar mais corpo às músicas. Continuaram com o novo álbum desta vez tocando a Pt 2 do tema, com o público a mostrar que conhece bem o novo álbum visto que acompanhavam o irmão mais novo dos Cavanagh em uníssono. Seguiram-se “Thin air” e “Dreaming light” na qual foi chamado ao palco o teclista português Daniel Cardoso que é também o teclista da banda. O quinto tema foi “Deep”, do álbum «Judgement», que originou uma grande explosão de alegria quando se ouviu o dedilhado inicial da música. Meio a brincar, meio a sério, continuavam as queixas ao ar-condicionado “barulhento”, que estava a provocar feedback nas gravações do Danny, visto que além da voz o Vincent tinha a seu cargo a guitarra que criava mais ambiente. Com o microfone virado para o público, os ingleses pediram ajuda do público para cantar a “The beginning and the end”. Na pausa entre músicas Vincent perguntou ao público se estava a gostar da música, recebendo resposta positiva, ao que acrescentou “It’s a happy music (risos)! It’s a happy music about mortality”. De referir o profissionalismo e o cuidado dos músicos em afinar as guitarras entre cada tema, profissionalismo este que valeu uma corda partida ao irmão mais velho. Mas este episódio não os atrapalhou e enquanto Vincent saiu de palco com a guitarra “aleijada”,

Danny saltou para o piano e começou a tocar e a cantar a “Wasted years” dos Iron Maiden e “Are you there?”, mostrando os seus bons dotes musicais. Com o problema da guitarra resolvido e já em versão dueto novamente, estavam reunidas as condições para um dos momentos altos da noite que foi a cover dos Pink Floyd, “Another brick in the wall”, precedida pela “To build a home”, original dos The Cinematic Orchestra. Com os copos erguidos os Cavanagh dizem “’Saú”, “Saú”, até que alguém lhe diz a forma correcta de dizer “Saúde” e Vincent aproveita a deixa para agradecer aos portugueses por terem uma das melhores cervejas do mundo. E passam para “Flying” que precedeu o encore. Com o público a gritar o nome deles, com mais de duas horas de concerto já passado mas ainda sedentos de mais, ressurgem em palco, onde afirmam que Portugal é, atrás de Inglaterra, o seu país de eleição na Europa e finalizam com a “Fragile dreams”, deixando a promessa que estão a preparar o novo álbum e que os iremos encontrar pelas ruas lisboetas, já que vão entrar em estúdio brevemente, aqui “neste país à beira-mar plantado”. Desta noite fica a boa disposição e as recordações de uma noite bem passada, numa sala repleta e com artistas que não tinham pressa de ir embora e brindaram quem pagou o bilhete com mais de 2h30min de concerto num contexto diferente, mas de qualidade assinalável dando a certeza que o dinheiro pago por aquela noite valeu a pena. Reportagem: Sérgio Pires Fotos: Luís Custódio


SETLIST Untouchable, Part 1 Untouchable, Part 2 Thin Air Dreaming Light Deep Forgotten Hopes Destiny Is Dead One Last Goodbye Lost Control Wasted Years (Iron Maiden cover) Easy (apenas primeiros acordes) Are You There? To Build A Home (The Cinematic Orchestra cover) Another Brick in the Wall Part 2 (Pink Floyd cover) Angelica Hope Flying Fragile Dreams


HARD AS HELL Hills Have Eyes, For The Glory, We Ride (Esp), Ash Is Robot, Motim, Destruction Eve Bar Estudante (BE) - Aveiro 01.03.2013

“FOI DURO! MUITO DURO!” Foi duro. Muito duro. Foi com prazer que a VERSUS Magazine esteve neste evento para assistir e cobrir um dos melhores acontecimentos deste género em Aveiro. Os que lá estiveram sabem do que estou a referir. Aos que não foram reparem nas seguintes linhas: nunca o HardCore teve tanta força como na noite de 1 de Março. E foi duro. Muito duro. Com um ligeiro atraso, a noite do Hard As Hell teve início com os Destruction Eve, banda do Porto que pratica um som Punk com rasgos bem presentes de Thrash old school, a fazer lembrar alguns momentos do Speed Metal dos Motörhead. Bateria, guitarra e voz, baixo – foi a simplicidade e a sujidade que surpreendeu e agarrou o ainda pouco público presente, mesmo notando-se a frequência dos pregos, e a natural despreocupação dos jovens músicos perante as suas “falhas”. De destacar que os miúdos não teriam mais de 16 anos. Uma surpresa. Os Motim, a banda da casa, já bem conhecidos do público aveirense, fez um set normal Hills Have Eyes

baseado no seu mais recente álbum, «Them Killing Wolves». O mosh pit foi inaugurado muito rapidamente, e Zion fez vibrar a plateia com os seus grito e grunhidos bem conhecidos. Houve também tempo para subir ao palco dois convidados em duas músicas: Cláudio Aníbal, dos Ash Is A Robot, no tema “Social Disease”, e JT Cardoso, dos Shallow Injury, no tema “Powerless”. “A Sunny Day” foi um tema novo que os Motim apresentaram ao povo – e caiu muito bem. De seguida, a terminar a primeira parte da noite, os Ash Is A Robot deram um show do outro mundo. Todos os músicos são transversais a outras bandas, como Beautiful Venom e Monogono, e mostraram uma garra forte e um à vontade muito verdadeiro. Cláudio Aníbal mostrou ser o grande frontmen da banda, com tiques e manias muito peculiares, percorrendo o recinto, deste a plateia até o topo da torre das colunas, e sempre puxando pelo povo. Se esta já estava bem desperta, então com o som psicadélico e forte do Hardcore desta banda, ela ficou verdadeiramente possuída. Ninguém ficou indiferente à prestação da banda de Setúbal. A segunda parte do Hard As Hell teve inicio com We Ride, banda de Vigo, que começou bastante bem. Mostraram ser bastante influentes em cada momento do seu concerto, colocando o público em verdadeira euforia e, por vezes, num descontrolado mosh pit. Mimi Telmo, a mulher de serviço que dá voz, e berros, lá na banda mostrou ser a verda-

deira sensação da banda. Apesar de pequena, ela dominou a sala durante a actuação dos We Ride. For The Glory tomou a onda do Hardcore com bastante peso, e manteve a euforia e descontrolo da plateia. A banda já está nestas andanças há uns 10 anos, e por isso soube muito bem agarrar nos colarinhos do povo e faze-lo mexer. O som da banda é realmente pesado, e a performance vocal de Ricardo foi impressionante – também bastante bem disposto e comunicativo, a apelar à boa disposição, sorrisos e peace & love. A toada manteve-se com a banda que fechou o Hard As Hell – os Hills Have Eyes. Não só se manteve, como conseguiu a proeza de triplicar a energia e a euforia. Foi duro para a plateia. Muito duro! A banda de Setúbal também anda nesta vida há alguns anos, mas conseguir manter a energia nas já longas horas da noite foi uma proeza. O publico ficou verdadeiramente descontrolado e a sala pareceu mais cheia que nunca. Os Hills Have Eyes tiveram lá um grande concerto. Pesado e agressivo, como se esperava! A noite terminou com a sensação de missão cumprida, e com o corpo bem marcado. Sabemos que haverá mais noites destas. Mas, conseguirão ser assim? Foi arrojada a proposta da associação cultural a(c) tua aveiro. E os que lá estiveram agradeceram. Foi duro, não foi? Reportagem e fotos: Victor Hugo

Hills Have Eyes


For The Glory

For The Glory

We Ride

Ash Is A Robot We Ride

Destruction Eve

Motim


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