Versus #64

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EDITORIAL ... e lá acabou ma i s um a n o! Como sempre, sen do e s t a e ul t i m a edi ção do ano, pode m ve r qua i s os álbuns do an o pa ra o s t aff da Versus Magazi ne . O i nver no ai nda n ã o a ca bou e j á os fest i vai s apre s e nt a m os s e us melhores argum e ntos . De s t a ca se uma surpresa que é o Be l av i s t a Open Ai r, que s e i rá re a l i z a r e m São Pedro do Sul . O car t az é tod o v i ra do pa ra o Ro c k , co m e sp e ci al dest aque Angra, Ca n dl e m a s s , Bi z a rra Lo co motiva , DAD e... Pret t y Mai ds, que fa ze m a s ua e s tre ia e m Po rtu gal. Po r fala r na b a nda Di namarquesa, Ron n i e At ki n s é te m a ce ntral d esta e d i ção, comemorando 40 a n os de ca rre i ra . Po r ta nto , tu d o a bater certo! O Mi l ag re Metalei ro e o Vagos Met al Fe s t j á tê m gra n de p a r te d o s ca b eç as de car t az defi ni dos . Se o pe s s oa l da s e r ra a p o sta no s regressos dos Amorph i s e Ka me l ot (. . . e a o q u e tu d o apont a... Sodom), a m a l t a “à be i ra m a r p l a ntad a” ap resentou um nome de pes o: Bl i n d Gua rdi a n (fa lta m aind a d o i s c abeças de car t az). Nã o p o d e ria d e ixar de dest acar as entrev i s t a s a o Má ri o L i n o e Nu no Co st a, dedi cadas ao Met al Açori a n o

V E R S U S M A G A Z IN E Rua José Rodrigues Migueis 11 C

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D IR E C Ç Ã O Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O Eduardo Ramalhadeiro & JP Madaleno

COLABORADORES Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Elsa Mota, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Gabriel Sousa, Gabriela Teixeira, Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, João Paulo Madaleno, Nuno Lopes, Victor Hugo e Victor Alves

Es ta ed iç ã o co nta com mai s de 120 pági n a s , como você s le i to re s mere ce m ... ou i sso, ou somos m a s oqui s t a s e n ã o te m o s mais nad a que fazer.

F O T O G R A F IA

Bo a s l eitu ras e bom ano de 2024 chei o de mui t a e boa m ús i c a

Foto: Tallee Savage

Eduardo Ramalhadeiro

Créditos nas Páginas

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2 / VERSUS MAGAZINE


48 RONNIE ATKINSON

C O N T E ÚDO Nº64

0 4 ME L HO R E S 20 2 3

28 APOTH E U S

7 0 K R IE G

0 5 T R I A L B Y FIR E

32 CRITIC A S V E R S U S

7 4 V O C IF E R IA N

0 6 3 M ES TR E E M RE VISTA

44 ETERN A L E V IL

7 6 MUSEU DO HEAVY METAL AÇORIANO

0 8 R Ü YY N

46 ALBUM V E R S U S S A R L I C B L I S S

8 0 N U N O C O S TA Q U I M E R A S D E L AVA

1 2 G R AND CA D AVE R

58 GABR IE L A T E IX E IR A T H E G I R L W I T H T H E

86 REMEDY

1 4 MOO NL IGH T SO R CERY

KALEIDOSCOPE EYES

9 0 A N T R O D E F O L IA ENSAIO SO B R E A LO N G EV I D A D E

2 0 E MA NU E L RO R IZ A C U L PA É D O C E M I TÉ R I O

60 CURTA S V E R S U S

9 6 PA L E T E S D E M E TA L

2 2 A P OS TO L ICA

62 BERZE R K E R L E G IO N

1 1 4 C A R A M U L O M O T O R FESTI VAL 2 0 2 3

2 4 W ELL S VA L LE Y

64 FORTÍÐ

2 6 D O PE LO R D

69 PLAYL IS T

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Melhores 2023 Adriano Godinho

Internacionais: Berzerker Legion - Chaos will Reign Haken - Fauna Solstein - Solstein Exocrine - Legend Eunoia - Psyop Of The Year Nacionais: Wells Valley - Achamoth Thragedium - Lisboa Depois De Morta Oak - Disintegrate

Carlos Filipe

Internacionais: Sarlic Bliss - Brægn Hæft Maladie - For We Are The Plague Ocean Of Grief - Pale Existence Death Of Giants - Ventesorg Dymna Lotva - The Land Under The Black Wings Blood Nacionais: Carma - Ossadas Enchantya - Cerberus Thragedium - Lisboa Depois De Morta

Cristina Sá

Internacionais: Tsjuder - Helvegr Cadaver - Age of the Offended Tryglav - The Ritual Nattehimmel - Mourningstar Deviser - Evil Summons Evil

Eduardo Ramalhadeiro Internacionais: Soen - Memorial Riverside - id.entity Eclipse - Megalomanium Asinhell - Impii Hora Haken - Fauna

Emanuel Roriz

Internacionais: Obituary - Dying Of Everything Haken - Fauna Horrendous - Ontological Mysterium Cannibal Corpse - Chaos Horrific Metallica - 72 Seasons Nacionais: Thragedium - Lisboa Depois De Morta Vai-te Foder - Cansado Bizarra Locomotiva - Volutabro

4 / VERSUS MAGAZINE

Ernesto Martins

Internacionais: Primordial - How It Ends Moonlight Sorcery - Horned Lord of the Thorned Castle Arditi - Emblem of Victory Fvnerals - Let the Earth Be Silent Linus Klausenitzer - Tulpa Nacionais: Wells Valley - Achamoth Apotheus - Ergo Atlas Thragedium - Lisboa Depois De Morta

Gabriel Sousa

Internacionais: Jelusick – Follow The Blind Man Ronnie Atkins – Trinity The Defiants – Drive Nacionais: Tocsin – The Calm, the Chaos Rage & Fire - The Last Wolf

Helder Mendes

Internacionais: Fvnerals - Let the Earth Be Silent Thy Catafalque - Alföld Dopelord - Songs For Satan Tomb Mold - The Enduring Spirit Enslaved - Heimdal Nacionais: Oak - Disintegrate Besta - Terra em Desapego Carma - Ossadas

João Paulo Madaleno

Internacionais: Ocean of Grief - Pale Existence Wayfarer - American Gothic Berzerker Legion - Chaos will Reign Kaunis Kuolematon - Mielenvalta Vinsta - Freiweitn Nacionais: Apotheus - Ergo Atlas Wells Valley - Achamoth Oak - Disintegrate


Trial by Fire Obra - Prima

5

Excelente

4

Esforçado

3

Esperado

2

Básico

1

Adriano Godinho

Carlos Filipe

Eduardo Ramalhadeiro

Emanuel Roriz

Ernesto Martins

Gabriel Sousa

Gabriela Te i x e i r a

Helder Mendes

JP Madaleno

Hugo Melo

MÉDIA

3,0

3,0

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2,5

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3,5

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3,5

3,8

BLUT AUS NORD

D i s h a r m on i um - N ah a b (Debemur Morti Productions)

CANNI BAL CORPSE Chao s Horrific (Metal Blade)

M A RDUK

Memento Mori (Century Media)

OCTO BE R TI DE

T h e C a n c e r P l ed g e Fa l se (Agonia records)

THRA G E D I U M

L i s b o a D e p oi s D e M o r ta (Alma Mater Records)

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3

mestre em revista

SWR Barroselas Metalfest 24

Foi revelado o alinhamento completo para o mítico festival do Alto Minho. Entre os dias 24 e 27 de Abril de 2024, subirão ao palco do festival nomes como os clássicos do black metal canadianos BLASPHEMY, os thrashers germânicos TANKARD e o death metal dos britânicos CANCER. Em posição de destaque estão David Vincent e Pete Sandoval, que se apresentarão com os I AM MORBID, onde interpretarão os clássicos dos Morbid Angel, e também com os incontornáveis TERRORIZER. Por lá vão passar também nomes como LIK, BELLWITCH, SKITSYSTEM, FREDAG DEN 13E ou SCHIZOPHRENIA. O contingente de bandas nacionais está também bem visível, e pode ser já antecipada a participação de nomes como COBRAFUMA, MORTE INCANDESCENTE, ANALEPSY, TOXIKULL, e muitos outros.

Men Eater lançam novo disco

Os portugueses Men Eater estão de volta aos lançamentos discográficos com um álbum auto-intitulado, depois de o último disco «GOLD» ter sido lançado em 2011. O disco foi lançado a 8 de Dezembro, encontrando-se já disponível nas plataformas digitais. Entre os 10 temas que o compõem encontram-se participantes como os músicos Frankie Chavez, André Henriques [Linda Martini] e de Sara Badalo.

Milagre Metaleiro Open air 2024

Depois do sucesso que foi a edição de 2023, o festival de São Pedro do Sul, em Pindelo dos Milagres, anunciou já as datas e principais nomes para a edição de 2024. Entre os dias 23 e 25 de Agosto vão desfilar pelos dois palcos do festival os finlandeses AMORPHIS, a par do folk dos KORPIKLAANI, do death metal sinfónico dos FLESHGOD APOCALYPSE e dos gregos ROTTING CHRIST. Os nomes sonantes não ficam por aqui e é de saudar a aposta em propostas mais raras como os nomes FREEDOM CALL, METALIUM ou AXXIS. Neste festival assinala-se ainda a estreia em solo nacional do projecto TROOPS OF DOOM, o regresso a Portugal dos ONSLAUGHT e mais uma cerimónia festiva ao encargo dos portugueses SERRABULHO.

Laurus Nobilis 2024

No Louro, em Famalicão, começa-se também a edificar mais uma edição do festival Laurus Nobilis. Entre os dias 19 e 21 de Julho já é sabido que iremos ter o regresso dos gregos SEPTICFLESH, dos mestres do death metal polaco VADER, de nuestros hermanos VITA IMANA ou dos nacionais BLEEDING DISPLAY. Estão também já confirmadas as presenças de nomes como Human vivvisection, Grande Fox, Iron Will, Exit, Three of Me e Faemine.

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Vagos Metalfest 2014

O cartaz da edição de 2024 do Vagos Metal Fest teve recentemente uma nova ronda de confirmações. Aos já confirmados BLIND GUARDIAN, SAMAEL, SUFFOCATION, PRIMORDIAL ou UADA, para citar alguns dos nomes mais sonantes, juntam-se também os finlandeses INSOMNIUM e os suecos DYNAZTY. Este é um cartaz que aposta na diversidade de estilos e tem ainda por anunciar dois dos cabeças de cartaz do evento. Há já vários lugares reservados para as bandas nacionais, entre as quais podemos destacar a estreia em Vagos dos MÃO MORTA e a presença de nomes como GROG, GWYDION, TOXIKULL ou QUINTETO EXPLOSIVO.

Digressão Decapitated Nihility

A banda de death metal polaca está a celebrar a passagem dos 20 anos após a edição do seu disco clássico “Nihility”, com várias datas onde o vão tocar por inteiro. Depois de terem andado ente Novembro e Dezembro pelo Reino Unido e Irlanda, durante o mês de Março de 2024 estarão a percorrer a Europa. O nosso país terá direito a duas datas, 23 e 25 de Março, no Porto e em Lisboa, respectivamente. Na cidade do Porto o concerto terá lugar no Bourbon Room e em Lisboa no RCA Club. Em ambas as datas os Decapitated irão ser acompanhados pelos INCANTATION, pelas NERVOSA e pelos KASSOGTHA.

Sepultura - A despedida

“O Sepultura vai parar. Vai morrer. Uma morte consciente e planeada“…é assim que os brasileiros iniciam o anúncio da sua saída de cena. Ao completar os 40 anos de existência, a banda anuncia que irá pôr um ponto final definitivo nas suas actividades. Para que este final seja assinalado em grande, têm previsto uma tour com a duração de 18 meses, que se inicia no Brasil em Março de 2024 e que deverá terminar em São Paulo com um noite muito especial. Já se encontram anunciadas as datas para o Reino Unido e Europa, de momento ainda sem passagem por Portugal, nas quais se irão fazer acompanhar dos OBITUARY, JINJER e JESUS PIECE. Ao longo desta tour de despedida serão gravadas 40 músicas em 40 cidades diferentes para posterior edição.

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Renascendo 8 / VERSUS MAGAZINE


Regressando de uma incursão por outros domínios musicais, RxN apresenta ao mundo o álbum de estreia do seu mais recente projeto: RüYYn. Uma recomendação simples: indicado para quem é louco por Black Metal. Entrevista: CSA

Saudações, RxN! Espero que estejas bem. Sou grande fã das bandas promovidas pela LADLO. E RüYYn não constitui exceção. Como tiveste a ideia de criar este projeto musical? RxN – Entre a época em que comecei a tocar e compor – em bandas de Black Metal que nunca tiveram saída ou para mim mesmo – estive muito tempo sem nenhum projeto. Retomei a atividade em 2015 com uma grande vontade de fazer algo que não fosse Black Metal. Fiz o que tinha a fazer, mas depois o que me é inerente regressou a alta velocidade no fim de 2019-2020. Assim, surgiram as primeiras composições do projeto atual: RüYYn. Queria voltar ao que mais gosto de fazer, ao que me anima, ao que é mais catártico para mim. Adoro o logo de Rüyyn. Quem o fez? A pessoa com quem já trabalhei no EP e que se ocupa de tudo o que seja arranjos/layout visual de um álbum: Sauge Noire. Este álbum intitula-se «Chapter II», mas é o teu primeiro álbum. - De onde vem este título? Trata-se do mesmo universo que aparece nos textos do EP. Eu queria um título que pudesse referir-se a ele de algum modo, abrir um novo capítulo da história de RüYYn. A ideia de começar o título do álbum por «Chapter II» pareceu-me muito pertinente.

- Tens algum «Chapter I» escondido numa gaveta em tua casa? Talvez. Mas, para começar, tenho de me deixar impregnar pelo atual. E por que razão não deste títulos específicos às canções? Concebo este álbum como um todo. Um livro com as suas páginas e os seus capítulos. Não há diferença – a não ser musical – entre as faixas, estão todas ligadas entre si e constituem um todo. Por conseguinte, o título que abrange todo o álbum – dividido em seis partes – é «Chapter II: The Flames, the Fallen, the Fury». Então trata-se de um álbum concetual. E qual é o conceito subjacente a ele? É um conceito que também aparece no EP. Um todo dividido em várias partes. Mas é algo que faço de modo natural. Penso sempre o álbum no seu todo e não como um patchwork de composições justapostas umas às outras a que vamos dar títulos absurdos, ridículos ou pomposos. Neste álbum, encontramos a mesma personagem que no EP, que é uma extensão de mim mesmo, dos meus sentimentos negativos. Estamos na fase em que essa personagem assiste impotente à aniquilação do seu mundo, ao espetáculo grotesco de uma sociedade antropófaga. Uma loucura em massa. À medida que o álbum avança, o que começa por ser uma luta desesperada

transforma-se em contemplação. Nada é poupado, muito menos o nosso protagonista Tu és francês, mas os teus textos são escritos em Inglês. Contudo, há muitas bandas de Black Metal francesas que escrevem na vossa língua materna. Fazes isso porque te parece que essa língua é mais adequada para este género musical? Também há muitas bandas francesas que escrevem em Inglês. A resposta é simples. Estou mais à vontade para “cantar” em Inglês. No entanto, não excluo a possibilidade de algum dia escrever na minha língua. Gosto muito do estilo das tuas canções. É bastante sombrio… mas também tem um certo groove. Parece-te que descrevi bem a tua música? Não considero a música de RüYYn como verdadeiramente “sombria”. Há algumas passagens dessa natureza, mas não são todas assim. Encontro nela momentos épicos, quase oníricos ou ainda ritualistas. Gosto que a música seja viva, que conte qualquer coisa e que esteja de acordo com o artwork e a intenção subjacente. Enquanto o EP era monolítico e pretendia mergulhar o ouvinte num blizzard sem fim que lhe lacera a pele, esta álbum tem um lado feroz, contemplativo, niilista. Não tenho vontade de fazer seis vezes o mesmo álbum. Tenho necessidade de diversificar, de procurar combinar mantendo a coerência. Um dos artistas fora do universo Black Metal que mais admiro é Devin Townsend. A sua discografia é incrivelmente diversificada, mas reconhecemos sempre a sua marca. Consultei a Metallum (porque não tenho nenhuma informação sobre RüYYn) e vi que foste tu mesmo que gravaste e produziste o álbum. - Podes explicar-nos como te organizaste para fazer esse trabalho? Foi mesmo assim. É um trabalho

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que consome muito tempo e energia. Uma vez terminada a etapa de criação, arranjos, escrita das letras, passo à pré-produção. Testo diferentes sons de guitarra, de bateria (que eu programo), de baixo, etc., para encontrar o que se aproxima mais do que tenho em mente. Com o tempo e a prática, hoje em dia descubro mais depressa que material devo usar de acordo com o que quero obter, mas há sempre uma espécie de químico em mim que quer testar coisas diferentes. Às vezes, corre bem. Quando está tudo definido, entro na fase da gravação final. Depois deixo tudo em banho maria durante uma boa semana e, de seguida, ataco a fase de mistura e de masterização. Baseio-me apenas na minha análise crítica do meu trabalho e sozinho enfrento as minhas dúvidas, embora, no caso deste álbum, AzH, o meu baterista, se tenha encarregado de arranjar as pistas de bateria, para que ficassem adequadas à sua maneira de tocar. E, de facto, ele melhorou muito todas as canções. - É a tua profissão? Ou fazes esse trabalho só na tua música? Não é propriamente o meu trabalho, mas já ajudei a produzir alguns álbuns de bandas recentes. Aliás, estou a pensar em retomar essa atividade em 2024. O universo do som, da gravação apaixona-me há muito tempo. Dedico-me regularmente a aperfeiçoar as minhas técnicas de mistura, de gravação. Leio sobre o assunto e escuto os que fizeram dessa atividade a sua profissão. A capa do álbum é fantástica. Deste algumas indicações à Joanna Maeyens? Ou saiu tudo da cabeça dela? Tal como fizemos para o artwork do EP, partimos de uma foto, de uma pintura que já existia, que me inspirava e que correspondia ao modo como vejo o álbum. Sou um péssimo desenhador. Uma criança de 5 anos desenha melhor do que eu, de certeza. Faço esboços muito grosseiros relativos à forma como imagino este ou aquele elemento

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da capa. Mas com a Joanna não preciso de fazer quase nada, porque ela compreende logo o que eu quero. É um verdadeiro prazer trabalhar assim, por isso a contrato sempre. Além disso, ela tem uma enorme sensibilidade artística. E o resultado é excecional, mais uma vez.

[… ]Queria voltar ao que mais gosto de fazer, ao que me anima, ao que é mais catártico para mim.

Dás concertos? Se sim, quem levas contigo? Não podes fazer tudo sozinho. Sim. Inicialmente, estava previsto que RüYYn seria apenas um projeto de estúdio, mas, devido a tocar tanto noutras bandas como Natremia e, sobretudo, Lunar Tombfields, acabei por ficar com vontade de levar o meu projeto para o palco. Tenho comigo os membros de Natremia e Azh, o baterista, também toca em Lunar Tombfields. Temos uma verdadeira alquimia: é como se já tocássemos juntos há 10 anos. Contudo, por causa das atividades de cada um de nós, sabemos que não poderemos estar juntos em todos os concertos. Portanto, pode acontecer que o line up mude. Não há problema, porque RüYYn só tem um membro: eu. Mas espero que isso aconteça o menos possível. Como vai a LADLO promover o álbum? Da mesma forma que faz para todas as suas bandas: imprensa, várias formas de divulgação, apoio

de qualidade, stand em vários festivais. É uma equipa de gente apaixonada pela música, que investe verdadeiramente nas suas bandas. Queres deixar uma mensagem aos metaleiros portugueses? Conheço bem Portugal. Já fui tocar aí umas seis ou sete vezes. Talvez alguns leitores me tenham visto no Milagre Metaleiro 2023, onde toquei com Bliss of Flesh. Agradoume muito a forma calorosa como o público nos recebeu e estou pronto para propagar a chama de RüYYn no vosso território.

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LUNAR TOMBFIELDS

PENITENCE ONIRIQUE

An Arrow to the Sun

Nature Morte

LUNAR TOMBFIELDS DELIVER TO US HERE THE ANSWER OF A COMBATIVE HUMANITY WHICH HAS NOTHING MORE TO LOSE IN A MORE VIOLENT AND EPIC FORM THAN THEIR 1ST ALBUM, WHILE PRESERVING SOME ATMOSPHERIC ELEMENTS.

THIS NEW ALBUM HAS AS ITS CONCEPT A ROMANTICIZED INTERPRETATION OF RENÉ GIRARD’S WORK ON MIMETIC DESIRE, THE SCAPEGOAT AND RITUAL SACRIFICE. THE ALBUM WANTS TO BE MORE RADICAL AND SIGNS AN EVOLUTION FOR THE GROUP.

OUT NOW!

OUT NOW!

For fans of Wolves in the Throne Room, Bölzer & Misthyrming

For fans of Der Weg Einer Freiheit, Dawn, Sacramentum & Unfold

RÜYYN Chapter II : the flames , the fallen , the fury THIS ALBUM EXPLORES DECADENCE, MADNESS, AND THE DOWNFALL OF THE WORLD. IT’S MORE AGGRESSIVE AND RICHER THAN THE FIRST BAND EP, OF WHICH IT IS THE PREQUEL, AND OFFERS DARK ATMOSPHERES SOMETIMES INSPIRED BY 70’S ROCK.

OUT NOW! For fans of Gorgoroth, Mgła, Blut Aus Nord & Emperor

A/ORATOS Ecclesia Gnostica THIS ALBUM IS BORN OF A TRANSCENDENCE FOR GNOSIS AND ITS MYSTERIES. THROUGH ASCETICISM AND WISDOM, WE ELEVATE OUR MUSIC TO THE SUPREME AEONS, TOWARDS LIGHT AND ETERNITY.

OUT 19TH JANUARY For fans of Emperor, Dissection, MGLA & Arcturus

GRIFFON

CORPUS DIAVOLIS

De Republica

Elixiria Ekstasis

THIS ALBUM IS INTENDED TO BE AN ODE TO THE REPUBLIC, WHICH DEFENDS THE RULE OF LAW, EGALITARIANISM AND FREEDOM, SANCTIFYING THE REVOLUTION AS A POPULAR EXPRESSION IN ITS FIGHT AGAINST DESPOTISM AND THE ACCESSION TO FREEDOM.

THE QUINTESSENCE OF THIS WORK IS DRAWN FROM THE FEMININE SEXUAL DRIVE, THE LIBERATED WOMAN IN MYSTICAL UNION WITH CHAOS. SHE RAISES HIGH HER CHALICE AND OFFERS HER BLOOD, THE ELIXIR OF ECSTASY.

OUT 16TH FEBRUARY

OUT 15TH MARCH

For fans of de Ferriterium, Lorna Shore, Veiled in Scarlet & J.S Bach

For fans of de Nightbringer, Abigor & Acherontas

Distributed by WWW.LESACTEURSDELOMBRE.NET

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grand cadaver Um grupo de velhos amigos junta-se para tocar Death Metal e beber umas cervejas e os lançamentos vão surgindo! Em suma, é esta a história de Grand Cadaver, uma banda sueca formada por veteranos, que assim revivem a sua paixão por um género da música extrema Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro

Saudações, Alex! Aqui estamos para a nossa primeira entrevista com Grand Cadaver (uma vez que esperamos vir a fazer mais). CSA – Vou começar com uma questão retrospetiva. Como te tornaste membro de Grand Cadaver? Alex Stjernfeldt – Eu conheço o Stefan [Lagergren], o Daniel [Liljekvist], o Christian [Jansson] e o Mikael [Stanne] de diferentes lugares. E, quando eu e o Daniel começámos a falar de formar uma banda de Death Metal, pareceu-me logo boa ideia convidar os outros para se juntarem a nós. Contacteios e eles aceitaram. E a primeira

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vez que nos juntámos os cinco foi no estúdio para gravar «Madness Comes». E desde aí Grand Cadaver somos nós os cinco. Portanto, somos todos membros fundadores. Eduardo – Supostamente esta banda nem sequer iria lançar um álbum. Como evolui este projeto até chegar ao seu segundo álbum? Nunca falámos sobre o que queríamos fazer de Grand Cadaver, apenas nos deixamos levar pela maré. Todos gostamos muito de Death Metal e de tocar juntos e, portanto, enquanto nos divertirmos, Grand Cadaver continuará a existir. Tanto «Into

the Maw of Death» como «Deities of Deathlike Sleep» surgiram sem grande planeamento prévio. Basicamente resultaram da nossa vontade de criar música usando os nossos “necroversos”, haha. CSA – Quais são as vossas expetativas para esta banda? Como já referi acima, só queremos tocar juntos, divertirmo-nos e criar algumas canções de Death Metal. Se isso nos levar a gravar álbuns e a fazer concertos, é um bónus. Nesta banda, sentimo-nos como quando éramos adolescentes: nada de stresses, apenas a necessidade de tocar música bem barulhenta


e distorcida, enquanto bebemos umas cervejas.

e alguém com quem é fantástico trabalhar.

Eduardo – O segundo álbum é sempre visto como um dos mais importantes na discografia de qualquer banda. Concordas? Essa é complicada… «Deities» nem foi um álbum difícil de fazer. Além disso, já tínhamos feito «Into the Maw…». Portanto, tratava-se de ver o que é Grand Cadaver e o que Grand Cadaver pode ser sem perder de vista as suas origens. Assim, explorámos novas influências, tanto na composição como na gravação. Todos os álbuns têm a mesma importância.

CSA – Como vês este álbum em comparação com o vosso primeiro? Penso que este é mais tenebroso e pesado. Queríamos expandir o nosso som, torna-lo mais tenebroso e acolher influências de outros géneros. Não é tão direto como «Into The Maw…», portanto é preciso ouvi-lo mais vezes para entrar no seu espírito.

CSA – De que tipo de deuses trata «Deities of Deathlike Sleep»? Dos antigos, dos cósmicos, dos profundos. CSA – Isto é Death Metal (sem o adjetivo Melodic, embora não falte melodia na sua crueza). Concordas comigo? Sim, se essa é a tua opinião! Para mim, é só Death Metal.

CSA – Por que há chamas na ilustração que aparece na capa do álbum? Quem a fez? Quando gravámos o álbum, o Albin Sköld (Illusive) estava no estúdio para apreender bem as características da nossa música e fazer alguns esboços. Nós também tínhamos ideias para a capa. Alguns dias depois, perguntou-nos se confiávamos nele – o que acontece – e dissenos que já tinha uma ideia para a capa. Pouco depois, mostrounos uma versão provisória da capa, que nós adorámos, porque representava a nossa música de forma perfeita. Não faço a mínima ideia do que a capa significa para ele. O Albin fez as capas para todos os nossos lançamentos. É um artista brilhante, um gajo porreiro

Estamos com essa editora desde o início e tem sido uma excelente colaboração. Eles apoiam-nos mesmo e ajudam-nos a concretizar as nossas ideias. Portanto, continuar a trabalhar com eles é a opção mais óbvia para nós. CSA – Quais são os vossos planos para promover esse álbum? Tencionam fazer concertos (nomeadamente em Portugal)? De momento, temos muito poucas coisas planeadas. Se tudo correr bem, faremos alguns concertos na Europa para promover o álbum, mas temos de ir com calma. Como todos temos outras bandas para além de Grand Cadaver, não é fácil fazer planos.

Nunca falámos sobre o que queríamos fazer de Grand Cadaver, apenas nos deixamos levar pela maré. Todos gostamos muito de Death Metal e de tocar juntos […] Eduardo – Como pensas que será acolhido pelo público em geral, pelos fãs e pelos críticos? Não pensei muito nisso. Só sei dizer que estou realmente muito orgulhoso deste álbum e que espero que as pessoas gostem dele! Queríamos explorar melhor o som de Grand Cadaver e, na minha opinião, resultou mesmo. CSA/Eduardo – Por que razão Grand Cadaver decidiu trabalhar com a Majestic Mountain Records?

Eduardo – O que constará da set list? Tencionam apresentar canções novas aos fãs? Terá canções de todos os nossos lançamentos. Estamos a tentar criar uma set list em que todos os nossos lançamentos estejam representados de igual forma. Isso significa que se vão sentir atropelados por um bulldozer!

CSA – Já estão a preparar o terceiro álbum? Não. Não só não temos planos, como nem sequer ainda falamos disso. Vamos ver o que acontece no futuro. Enquanto nos divertirmos juntos, é provável que continuem a ter mais música de Grand Cadaver. CSA – E agora por uma questão de pura curiosidade: por que decidiram dar à banda o nome de Grand Cadaver? O que pode haver de mais Death Metal que o maior e mais putrefacto cadáver que tu possas imaginar? Por isso, nós somos os Grand Cadaver. Facebook Youtube

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Moonlight Sorcery Metal & fantasy Era uma vez um músico finlandês que queria criar um projeto para explorar uma amálgama de géneros variados. Com este fim em vista, juntou-se a dois outros músicos. Assim, nasceu Moonlight Sorcery, que – com o apoio da Avantgarde – nos vem encantar com o seu Melodic Black Metal baseado em Heavy Metal e influenciado por outros ritmos. Entrevista: CSA & Ernesto Martins

CSA e Ernesto – Saudações! CSA – Moonlight Sorcery tem cinco anos e este é o vosso primeiro álbum, embora já contem com vários lançamentos. Decidiram começar com singles e EP para se prepararem para a criação de um álbum? Loitsumestari Taikakallo (adiante referido como LT) – Não tínhamos nenhuns grandes planos, quando nos lançámos nesta aventura. Eu queria criar canções em que Black Metal e Heavy Metal old school se combinassem. Escrevi 6 canções 4 das quais deram origem ao primeiro EP tendo as 2 outras sido publicadas no segundo EP. Queríamos tentar lançar algo para vermos se alguém gostaria da nossa arte e decidimos fazer um EP. Ruttomieli – O nosso plano original era lançar uma demo, mas

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a gravação ficou melhor do que esperávamos pelo que decidimos lança-la como um EP. Mas, desde o início, pretendíamos lançar algo mais curto que um álbum para atrair a atenção de potenciais editoras. Haaska – Concordo plenamente com o que disseram o LT e o Ruttomieli. Há uns tempos que tínhamos esse material pronto e, portanto, decidimos lançar um EP para ver se alguém se interessava por nós e, pelos vistos, tivemos uma boa ideia. CSA – Reparei na banda, porque ouvi o vosso EP intitulado «Piercing Through the Frozen Eternity» e depois o que se chama «Nightwind: The Conqueror from the Stars», ambos lançados em 2022. - Vêem-se como uma banda

de Melodic Black Metal (a designação que a Metallum aplicou ao vosso estilo)? [De facto, as vossas guitarras são bastante melódicas, enquanto a bateria tende para os blast beats e a voz é rouca.] LT – A melodia sempre foi um element importante da música para mim, por isso identificome inteiramente com a ideia de sermos uma banda que faz Melodic Black Metal. Ruttomieli – A nossa ideia original era explorar o que eu e o Loitsumestari criamos quando nos juntamos para fazer Black Metal. O background musical do LT não tem nada a ver com Black Metal, ao contrário do meu. Quando juntámos o Haaska à nossa equipa ficámos mais focados em fazer algo real. Moonlight Sorcery é o resultado desta junção. A receita


“ manteve-se, apenas evoluiu de forma natural. Pensando bem, parece-me que nos assemelhamos a bandas como Fall of the Leafe ou Arthemesia, que se situam na confluência entre Melodic, Black e Death Metal. No entanto, a nossa imagem e os nossos temas líricos estão mais alinhados com o universo do Black Metal. Haaska: Penso que o nosso Melodic Black Metal é muito autêntico, mas também que soubemos apimentá-lo à nossa maneira. Há centenas de bandas a fazerem a mesma coisa e a tentarem copiar álbuns como «Storm of the Light’s Bane» e afins. Não há nada de mal em seguir nessa direção, porque essa música é boa, mas misturar-lhe algo mais pessoal fá-la evoluir. As pessoas ficaram surpreendidas com o nosso toque Power Metal

A composição está muito relacionada com a cultura dos videojogos. […] podes encontrar influências da literatura popular e dos contos populares nas nossas letras.

clássico em algumas partes, mas não me parece que esse efeito seja muito diferente do que podemos encontrar, por exemplo, em álbuns antigos de Old Man’s Child. - De que tratam as canções dos dois EP?? Ruttomieli – Respondo a isso depressa. As letras que escrevi para esses miniálbuns abordam temas como o confronto entre a natureza e o Homem moderno – usando a ira como recurso espiritual – e a misantropia ou a glorificação das trevas e da sua infinita beleza, um certo tipo de despertar espiritual, etc. Algumas das minhas letras decorrem da transformação da emoção em palavras. Uso muitas vezes uma linguagem romântica e fantasista para comunicar uma certa forma de magia. Sinto que as minhas letras são uma espécie de porta de acesso a um outro

mundo e que nelas não há lugar para nada que seja frívolo, embora a inspiração que as gera possa vir da vida quotidiana. Haaska – Penso que as letras das canções têm temas muito semelhantes, mas como o Ruttomieli escreveu a maioria delas é natural que tenham a ver com aspetos da sua personalidade. - Podem referir bandas que vos influenciaram? LT – No universo do Metal, as minhas maiores influências vêm de bandas de Heavy Metal como Judas Priest, Dio, Iron Maiden e Helloween, mas também de bandas do séc. XXI como 3 Inches of Blood, Trivium, Shadows Fall e Bullet for My Valentine. Não tenho grandes influências da área do Black Metal, porque não ouço música desse género, mas há duas bandas que me influenciaram:

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Enslavement of Beauty e Cradle of Filth. Haaska – Penso que tudo o que componho tem as suas raízes na cena sueca dos anos 90. Outros bons exemplos seriam material dos primeiros tempos de Dimmu Borgir, Cradle of Filth ou até In Flames, mas afinal muitas ideias acabam por vir de Iron Maiden. Atualmente, o LT é a minha maior influência e ele tem feito de mim um melhor guitarrista e um melhor músico e estou-lhe muito grato por isso. Ruttomieli – Parece-me que tenho sido sobretudo influenciado pela cena Black Metal dos anos 90 com destaque para bandas como Dimmu Borgir, Ulver, Tenhi, Darkthrone, etc. - Como reagiram os críticos e os fãs a estes lançamentos? LT – O feedback tem sido sobretudo positivo. Estava à espera de mais comentários do género “isto é demasiado melódico para ser Black Metal”, mas pelos vistos as pessoas gostam mesmo do lado melódico que nós conferimos ao Black Metal. Ruttomieli – O feedback tem sido surpreendentemente positivo! Francamente, não estava à espera disto. Haaska – É verdade, o feedback tem sido extraordinário. Não estávamos à espera de nada disto: apenas queríamos fazer música de que nós próprios gostássemos e divertirmo-nos um bocado. CSA – No fim de setembro, a Avantgarde vai lançar oficialmente o vosso primeiro álbum «Horned Lord of the Thorned Castle». - O título é muito fantasista evocando jogos de vídeo como Dungeons and Dragons ou World of Warcraft e também contos populares e de fadas. O álbum assenta de alguma forma neste tipo de cultura? LT – A composição está muito relacionada com a cultura dos videojogos. Jogos como as Castlevania, Mega Man e Ninja Gaiden influenciaram muito o lado melódico da nossa música.

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Ruttomieli – Sim, podes encontrar influências da literatura popular e dos contos populares nas nossas letras. Haaska – Penso que o lado da fantasia teve realmente uma grande influência no lado visual, uma vez que eu sou um grande fã de J. R. R. Tolkien, por exemplo, e os seus desenhos, que podemos encontrar na edição ilustrada do Hobbit, têm uma estética muito Black Metal. - Pode-se dizer que as diferentes canções constituem uma espécie de narrativa? Ou são completamente independentes umas das outras? LT – Sim. De facto, as canções contam uma longa história de tal modo que podiam ser fundidas numa só longa canção. Mas isso apenas diz respeito ao lado da composição. As letras são todas independentes umas das outras. Haaska – Penso que tudo o que fazemos e organizamos segue o mesmo caminho e é importante para nós que cada fim estabeleça alguma ligação com o que vai começar a seguir, para que nada fique descoordenado. - A capa está maravilhosamente adaptada ao título do álbum. Como conseguiram que a Forestrolli a criasse para vocês? [Andei a ver outros trabalhos dela e verifiquei que parece ser muito influenciada pelas ilustrações usadas para os contos populares e de fadas.] Haaska – Vi alguns dos trabalhos dela no Facebook ou algo do género e limitei-me a contactála diretamente e apresentar-lhe a nossa visão. Fomos discutindo o assunto e assim ela conseguiu concretizar a minha ideia. CSA – Por falar de criação… - Quem trouxe as primeiras ideias para o álbum? LT – Eu já tinha as primeiras canções prontas antes de ter convidado o Ruttomieli para ser o vocalista do projeto. Mais tarde pedi ao Haaska para se encarregar da secção rítmica da banda. Haaska – Sim! Lembro-me de o

LT me mostrar as demos das duas primeiras canções e de eu ter ficado muito entusiasmado com elas. Depois foi fácil decidir como iríamos fazer. - Como compuseram a música? LT – Sentei-me ao computador com a minha guitarra e a intenção de criar algo novo, que nunca tivesse feito antes. É claro que tinha um objetivo Black Metal no horizonte, quando comecei a compor as canções para Moonlight Sorcery, mas, por fim, as fortes raízes de okd school Heavy Metal sobrepuseram-se ao Black Metal e este só é visível numa pequena parte das canções que criei. - Quem escreveu as letras? Ruttomieli – Eu escrevi todas as letras. Algumas palavras e secções foram retocadas por todos os membros da banda, quando gravámos a voz. Ernesto – Parece-me que há diferenças notórias entre a músca do álbum e a dos EP. E não se restringem à produção. O álbum tem muito mais pontos melódicos e trabalho de guitarra. Por que razão este material saiu assim? LT – Alguns riffs e partes deste álbum já tinham sido compostos na época de «Piercing…», portanto eu tenho dificuldade em ver diferenças relevantes entre o material do álbum e o dos EP. Mas penso que, quando comecei a trabalhar no álbum, queria melhorar como compositor e músico e adicionar ainda mais aspetos técnicos e melodias às canções. No que toca à produção, o material soa agora exatamente como eu queria que soasse, quando comecei a criá-lo. Haaska – Não vejo grande diferença em nenhum do material, exceto o facto de haver tempos diferentes. Mas as estrururas e os acordes são os mesmos. Talvez o facto de a produção ser mais limpa destaque mais os pontos altos na música, já que, no material mais antigo, havia detalhes interessantes que ficaram um tanto perdidos na mistura. Mas era assim que víamos as coisas na altura e


Ernesto – Kudos para o Loitsumestari Taikakallo!... És um guitarrista incrível. A faixa instrumental acima referida – ‘’The Moonlit Dance of...’’ – poderia facilmente fazer parte de um álbum de Marty Friedmann! - Tens formação em música clássica? LT – Obrigado pelo elogio! Ernesto – Eu diria que o álbum Comecei a minha carreira musical yem menos Black Metal e mais pelo piano clássico, mas nunca Heavy Metal (se nos abstrairmos gostei disso, porque pontos negros da voz). Canções como ‘’Yönsilmä’’ num papel não me motivavam e ‘’The Moonlit nada. Comecei a Dance of...’’ guitarra aos […] O background musical tocar mostram que 12-13 anos. Tinha do LT não tem nada a ver com um professor que tenho razão. O que pensam ensinou os Black Metal, ao contrário do me disto? acordes básicos LT – Bem, meu. Quando juntámos o Haaska e a improvisar parece-me que na área do Rock’ à nossa equipa ficámos mais N’ Roll, mas sou os elementos de Black Metal um focados em fazer algo real. Moonlight sobretudo sempre serviram autodidata. No Sorcery é o resultado desta junção. apenas para entanto, sem o apimentar os riffs meu professor de de Heavy Metal. guitarra não teria estamos muito orgulhosos desse produto. Depois deste tempo de convívio com o LT e de ouvir a música que faz para todos os seus projetos, consigo percecionar o modo como as fronteiras entre os géneros são ultrapassadas e posso dizer que ele influenciou a minha forma de compor.

O que realmente dá às canções o lado Black Metal é a fantástica voz crua do Ruttomieli. Ruttomieli – Acrescento ao que o LT disse que o lado Black Metal também decorre da imagem e das letras. Haaska – Posso estar a ser repetitive, mas não podemos esquecer que muito do Black Metal melódico mais antigo foi mesmo muito influenciado pelo Heavy Metal clássico.

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chegado aqui, portanto estou em dívida para com ele por me ter ensinado as bases necessárias para tocar guitarra. - Que guitarristas consideras que te infuenciaram? LT – Daria uma lista que iria encher todo o espaço destinado a esta entrevista. Os 5 mais importantes para mim são: Buckethead, Paul Gilbert, Eric Johnson, Glen Tipton e Hank Marvin. Ernesto – Outro trunfo para a banda é o Antti Mikkolainen. Os seus gritos contribuem em muito para criar uma atmosfera do outro mindo. - Como consegues cantar assim? Ruttomieli – Bem, são gritos típicos do Black Metal clássico. Na minha opinião, há demasiados vocalistas no Black Metal moderno que não são suficientemente brutais. Vocalistas como Torog da antiga formação de Behexen ou Werwolf de Satanic Warmaster andam por aqui para mostrar como é que se faz. - O que se ouve no álbum é a tua voz natural ou foi usado algum processamento de voz? Ruttomieli – Nada além de elementos básicos de mistura como reverb e delay. - Vais conseguir manter a voz assim durante um concerto de uma hora? Ruttomieli – Nunca experimentei fazer isso até agora. Logo verei, quando começarmos a ensaiar. Ernesto – Como foi trabalhar no estúdio com um profissional de renome como Dan Swanö? LT – Na realidade, só trabalhámos com o Dan Swanö à distância. Ele misturou e masterizou o album, mas é claro que percebeu perfeitamente que tipo de som nós queríamos ter e trabalhou-o na perfeição. Haaska – Foi muito fácil trabalhar com o Dan. Ele é uma pessoa extraordinária e acompanhou-nos bem, apesar de não lhe termos facilitado a vida. A única coisa que mudaria era substituir o trabalho à distância pela interação direta

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no estúdio, porque há coisas que é muito difícil explicar por mail. Sabíamos que ele ia rapidamente entrar na nossa onda, já que muitos dos álbuns em que ele trabalhou antes do nosso são verdadeiras lendas. Ernesto – Fiquei surpreendido por ter descoberto que em junho lançaram uma cover da “Brun” dos Deep Purple verdadeiramente fantástica, que figurava no lado B do vosso single intitulado “Burning Embrace”. Por que escolheram os Deep Purple? LT – Os riffs de guitara dos Deep Purple fazem parte dos primeiros que aprendi a tocar na minha guitarra. Mas decidimos fazer uma cover de “Burn” sobretudo por causa do solo de teclados do Jon Lord. Tentei transderir a sua forma de tocar os teclados para a minha forma de tocar guitarra. O solo de ‘’Fireball’’ é outro que toco há muitos anos. Haaska – Estávamos a discutir a ideia de lançar um single num vinil de 7 polegadas, porque sabemos que o mercado de que fazemos parte procura muito esse tipo de produtos e queríamos mesmo fazer algo desse género. Então, o LT disse que fazer uma cover de “Burn” era uma espécie de sonho para ele. Eu achei que era realmente uma boa escolha e tomei a liberdade de fazer um pequeno jogo de palavras em torno do título da canção e isso deu-me ideias para a capa deste lançamento. CSA – Como entraram em contacto com a Avantgarde? Ruttomieli – A Avantgarde fazia parte de um grupo de editoras que mostraram interesse por nós quando saiu o single de «Piercing…». Ou terá sido por causa do kit promocional que enviámos… já não me lembro! Haaska – Algumas editoras contactaram-nos diretamente depois de termos lançado “Iceveiled Spell” como single, mas já não me lembro se a Avantgarde era uma delas ou se responderam

depois de termos começado a enviar kits promocionais. Só sei dizer que era mesmo a melhor opção para nós e que estamos muito contentes por estarmos a trabalhar com eles. CSA – Como é que eles promovem os vossos lançamentos? LT – Essa parte do processo passame ao lado. Eles fazem a sua magia e nós a nossa. E tem funcionado muito bem. Nós focamo-nos em escrever música e eles tratam do resto. Ruttomieli – Calculo que a Avantgarde tema sua rede promocional estabelecida. CSA – Vão fazer algo especial para comemorar o vosso primeiro álbum? LT – No dia do lançamento, vai haver uma festa de audição do álbum no Bodom Bar em Espoo. CSA – Gostariam de vir tocar a Portugal? Querem deixar uma mensagem aos vossos fãs portugueses? LT – Claro! Gostaríamos de ir tocar a Portugal, mas muito provavelmente só vamos começar a dar concertos a partir de 2025. Agadecemos a todos os fãs portugueses e esperamos que gostem do nosso álbum! Ruttomieli – De certeza que gostaríamos de ir tocar em Portugal! Infelizmente, as nossas vidas neste momento não nos permitem fazer concertos. Mas, se tudo correr bem, mais tarde ou mais cedo iremos tocar ao vivo! Haaska – Temos recebido reações fantásticas dos fãs portugueses e seria um grande prazer podermos ir tocar aí um dia. Obrigado pelo vosso apoio.

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Mais informações: quimerasdelava@gmail.com 19 / VERSUS MAGAZINE


A culpa é do cemitério… Por: Emanuel Roriz

Stone Sour

No início de 2003, sem máscaras, ainda era algo bastante impensável, nem tínhamos a certeza acerca de quem era quem. Os Stone Sour eram um projecto paralelo de dois dos membros dos gigantes Slipknot, que tinham lançado há pouco mais de 1 ano o bombástico “Iowa”. Nas fotos de promoção do primeiro disco dos Stone Sour, Corey Taylor e Jim Root apareciam sem as máscaras ou as indumentárias que usavam no grupo original. Não eram fotos muito elucidativas, mas era a primeira vez que víamos algum membro dos 9 magníficos de Des Moines desmascarados. Quando foi anunciada a passagem dos Stone Sour pelo antigo Hard Club, o clássico, o autêntico, ainda em Vila Nova de Gaia, entre amigos tivemos de assegurar que marcaríamos presença. Autorizações parentais concedidas, era hora de perceber como adquirir os bilhetes, que viriam a ser físicos, personalizados, e mais tarde, autografados…mas já lá vamos. No dia 1 de Fevereiro de 2003 teríamos a oportunidade de ouro para estar frente a frente com aquele que, à data, seria o maior ídolo de muitos de nós. Corey Taylor, o vocalista dos Slipknot e dos Stone Sour, cujo berro impressionava e em quem reconhecíamos uma capacidade implacável de inserir melodias altamente cativantes sempre que faziam sentido. Pouco faltava para as 18h, a fila crescia pela rua de Santa Catarina e eis que de dentro de um mini-bus de vidros escuros saem os músicos da banda, liderados pelo empolgante Corey (#8) que nos berrou a uns escassos metros, horns uuuup, a resposta da fila foi no mínimo barulhenta e efusiva. Depois de longos minutos na fila, lá chegou a nossa vez, já dentro da FNAC, de máquina fotográfica em punho pedimos que nos fotografassem ao lado do Corey e abraçados ao Jim Root (#4), a quem tivemos de perguntar directamente se era mesmo ele. Sem máscara

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e frente a frente não tínhamos a certeza. Saímos da fila com o CD autografado e com as pernas a tremer. A felicidade tinha um lugar para existir nesta tarde. Nas nossas caras. Ainda antes do concerto daquela noite, em pela Avenida dos Aliados, cruzamo-nos por acaso com o mini-bus que tínhamos conhecido durante a tarde, corremos até ele e seguimo-lo de perto até à outra margem, até às portas do Hard Club. Assim que os Stone Sour entraram em palco a agitação foi instantânea ao som de “Get Inside”. Um concerto suado e emotivo, com uma comunicação muito próxima do público presente.

No final tudo se tornou ainda mais próximo ao termos a possibilidade de conversar com cada um dos músicos. Tentar sacar informações sobre o próximo disco dos Slipknot, pedir um favor muito especial ao Corey (give me a scream Corey…”yaaaaaahhhhh”) e receber elogios rasgados por uma t-shirt do Master Of Puppets. Abraçados, acompanhei o Corey até à entrada do tour bus onde nos esperava o Jim Root e a quem pedimos algo para beber, estávamos desidratados de tanta acção e excitação. A resposta do #4 foi muito clara…I got here Vodka. Sorry, I don’t drink water man. Tinha-a guardada na caixa de primeiros socorros do autocarro.

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Apostolica Subversão musical São italianos e têm como tema central a heresia, que abordam tocando uma combinação de Power Metal e música religiosa. É esta a proposta dos Apostolica, que a discutiram com a Versus Magazine. Entrevista: CSA

Saudações! Espero que estejam todos bem. Como tiveram conhecimento da existência dos Apostólicos liderados por Gherardo Segarelli? Durante os meus estudos de Antropologia Cultural, explorei o tema das seitas cristãs, incluindo os Apostólicos. O que nos podes dizer sobre esta seita italiana? O ideal que os Apostólicos queriam concretizar era ter uma vida de perfeita santidade, na maior pobreza, sem morada fixa, sem qualquer preocupação com o futuro e sem tomar votos. Era um protesto contra o excesso de mundanidade na hierarquia da Igreja e a incapacidade manifestada pelas ordens religiosas no que tocava a respeitar os seus votos, sobretudo os de pobreza. Os pontos centrais da sua filosofia eram os seguintes: contacto direto com Deus, sem a intercessão de prelados; necessidade de conhecer e praticar o pecado, como uma forma de contactar com a vida terrena e depois usufruir da catarse do arrependimento; comércio carnal entre os membros da comunidade dos Apostólicos. Gherardo Segarelli é uma personagem intrigante. Será que ele alguma vez teve consciência do poder do seu movimento religioso? No total, o movimento só envolvia

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cerca de 150 pessoas. Tratava-se de uma pequena comunidade que visivelmente incomodou o bispado. Porque vos pareceu que este seria um bom tema para um álbum de Power Metal? Queríamos contar a história dos Apostólicos e de evocar as experiências que eles viveram. Daí termos feito do seu movimento o conceito central deste álbum. A banda chama-se Apostolica, mas vocês usam nomes de profetas. Porquê? Porque nos vemos como profetas tenebrosos. Isso tornase particularmente evidente no primeiro álbum em que apresentamos uma descrição moderna do apocalipse. O vosso estilo musical é muito curioso. Como tiveram a ideia de combinar Power Metal com elementos de música de igreja? A ideia surgiu-nos no seminário e pareceu-nos ser mesmo muito boa. Calculo que a ilustração na capa do álbum representa pessoas a assistirem à execução de Gherardo Segarelli. É verdade? Exatamente. Destaca-se a figura de Frei Dolcino, um dos sobreviventes da seita dos Apostólicos, que depois fundou a ordem Dulcínia. Reparei que o estilo desta capa é muito semelhante ao da capa do

vosso primeiro álbum. Também é uma criação do Andrea Falaschi? Sim. Tanto a parte gráfica do álbum como os video clips são da autoria do Andrea Falaschi. Vi que ele também é o autor das letras do álbum inteiramente focadas na religião e na heresia. Tencionam continuar a abordar esse tema em álbuns futuros? [De facto, é um tema muito complexo.] Sem dúvida, porque é a nossa maneira de nos expressarmos. «Animae Haeretica» foi lançado a 22 de setembro. - A banda e a editora têm alguns planos especiais para esta ocasião? Estamos a preparar o lançamento de um segundo vídeo (para a canção intitulada “Glória”). - Vão fazer concertos ou alguma digressão para promover este álbum? Poderá acontecer, se as condições forem favoráveis. Entretanto, já devem ter tido algumas reações da imprensa e dos fãs. Foram ao encontro das vossas expetativas? Continuamos à espera da reação do papa. Esperamos que venha em breve. Facebook Youtube


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Wells Valley O carnal e o espiritual exposto no som dos Wells Valley Estivemos à conversa com o Filipe Correia dos Wells Valley, o trio lança o seu terceiro longa-duração “Achamoth”. Carregado de significado e profunda reflexão, tentamos apanhar as ieias que morderam neste trabalho para o tornar num tao complexo emaranhado de sensações. Entrevista: Adriano Godinho

Como foi criar as musicas e sons para este trabalho? é um processo longo e custoso ou é algo muito breve? Filipe Correia - É sempre um processo gratificante, o nosso método de criação/composição resulta das várias improvisações que vamos fazendo ao longo do curso de ensaios. Poderei dizer que é um processo bastante fluido e não muito moroso, maior parte dos nossos temas são compostos em apenas dois/três no máximo quatro ensaios. Qual o tema ou direção deste novo trabalho? Todas as faixas

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comportam elementos desse caminho? Do ponto de vista lírico contempla vários aspetos místicos e a música serve a palavra, nada está desajustado e tudo acaba por convergir no mesmo caminho. No entanto damos liberdade total ao ouvinte, porque a arte é tudo o que o apreciador obtém por si e não a influencia criada pelo ponto de vista do artista. Ouvir Wells Valley é um pouco mergulhar em reflexões desconfortáveis da mente de outra pessoa. Mentes desconfortáveis criam

música desconfortável, nenhum de nós vive este percurso terreno de uma forma fácil e isso sem dúvida que se reflete muito na nossa música. Como é compor com os outros elementos da banda? Sao 3 pessoas diferentes que juntam ideias distintas para produzir Wells Valley ou 3 mentes idênticas que partilha a mesma visão? É muito desafiante compor com outras pessoas, opiniões e visões diferentes fazem-me apreender imenso, sou grato por esse efeito. Obviamente que não partilhamos das mesmas


ideias e até mesmo direções, mas acabamos sempre por afluir as águas na mesma direção, o que é magnífico. Há alguma musica que tenha um significado mais especial para ti? O “Law of Tutelary Spirits” é o meu tema elegido. Tenho uma forte ligação emocional/pessoal com esta música. Tratou-se de uma experiência profunda, espiritual e física que vivenciei há uns anos atrás, poderei revelar que não foi brincadeira nenhuma e esse tema serve a imortalização desse período. Optaram por compor musicas longas, foi prepositado ou desafiam-se a isso? Ja tentaram compor musicas de menos de 3 minutos? (risos) Nunca forçamos isso, os temas vão-se desenvolvendo naturalmente e acabam por ter estas durações de tempo, pois deixamos sempre que seja o próprio tema a ditar a sua própria longevidade e não nós. Preferes compor musica, gravar/ trabalhar em estudio ou tocar ao vivo? Pergunta curiosa, factualmente, posso dizer que um bom músico deverá aceitar esses três feitos e executa-los na perfeição, nenhum deles é igual ao outro e nenhum deles é mais simples que o outro. Confesso que não tenho preferências, na minha opinião ambos os feitos são fundamentais, porque no fundo são ciclos de evolução uns dos outros. O processo em estudio levou muito trabalho extra ou preferiram algo mais directo/ simples? O processo de estúdio leva sempre muito tempo e dedicação especialmente no que concerne à parte do Mau, visto ser a pessoa que gere e direciona esse processo. Desde a gravação, mistura, masterização e grande parte da produção, sei que são horas de dedicação que se convertem em

[...] a música serve a palavra (...) porque a arte é tudo o que o apreciador obtém por si.

dias, semanas e por vezes meses. Sem dúvida que lhe tiro o chapéu pela abnegação que tem injetado ao longo dos anos. A questão de ser mais direto ou indireto para nós é indiferente, mais uma vez é a sensibilidade da canção que vai impor regras, para nós o que ficou está perfeito. Podes nos dizer mais sobre a parte grafica deste trabalho? Da mesma forma que o Mau depositou suor, sangue e lagrimas na parte de produção o André acabou por fazer o mesmo ao desenvolver a capa do disco. Poderei dizer que foram pintados imensos quadros (nem sei o número ao certo) todos muito interessantes, depois de uma longa escolha chegou o mútuo acordo e acabamos por eleger o quadro que compôs a frente de capa do disco. A parte de design e montagem foi elaborada pelo Mau e pelo Jan da Lavadome. Ainda ha tempo para ouvir musica de outras bandas? Qual é a tua relacao com a musica hoje em dia? Sempre, temos cada vez mais bandas novas e com sonoridades muito bem conseguidas das quais gosto muito, no entanto eu comecei a ouvir Metal no final dos anos 80 e nessa altura havia uma magia muito diferente (não digo que é melhor ou pior) mas o contacto com a música era diferente, exigia dedicação e conhecimento na busca de novas bandas, a minha relação com a música nesse tempo era mais obstinada, se calhar por existirem uma serie de rituais ligados ao ato de ouvir um disco? Não era volátil

ou efémero e devido à escassez de lançamentos distribuídos em solo nacional muitas vezes um disco era copiado em condições precárias mas ouvido durante meses até ao ponto de se conhecer o trabalho como a palma das nossas mãos. É difícil para mim nao falar dos Concealment, peço desculpa, há algum plano ou novidade nesse campo? Sem problema algum, faz parte do meu percurso musical e do qual me orgulho muito. Concealment está em estado criogénico (em hiatus), as razões são diversas, mas a principal é mesmo a da falta de tempo para conseguir meter o projeto “oleado”, o nível de exigência é enorme e sem disponibilidades de tempo decidimos suspender (a período indefinido) as atividades da banda. Há alguma digressao planeada para promover este trabalho no pais ou estrangeiro? De momento não estamos a planear promoção para fora de território nacional. Quais sao os planos para os Wells Valley num futuro breve? Simplesmente promover “Achamoth”, esse é o nosso focoe dedicação. Muito obrigado pelo teu tempo. Tudo de bom para os Wells Valley, que têm aqui um excelente trabalho. Muito grato Adriano, gostei muito de responder às tuas questões, um bem haja para ti e para a Versus. Facebook Youtube

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DOPELORD Canções da liberdade Os polacos Dopelord são cada vez mais uns senhores do doom. Acabaram de lançar o seu quinto álbum de originais, com o fortíssimo título “Songs For Satan”. Fortes são também os riffs, solos e as melodias que mais uma vez nos atiram aos ouvidos. Piotrek Zin, o baixista e vocalista, foi o nosso interlocutor numa conversa sobre arte, opiniões e liberdade. Entrevista: Emanuel Roriz | Fotos: Micha Sobocinski

Parabéns! O vosso novo álbum acabou de sair, é o vosso quinto disco, e a vossa sonoridade está perfeitamente definida! Quando ouvimos música nova dos Dopelord sabemos que iremos encontrar riffs muito característicos e melodias vocais com muito impacto. É esta é a vossa motivação, ou principal objectivo, compor música com estas características? Piotrek Zin - É aceitável dizer-se que nós perseguimos a criação de algo que fique no ouvido enquanto vamos experimentando novos riffs durante uma jam e enquanto vamos adicionando os primeiros esboços das melodias. Um grande riff com um refrão orelhudo é uma ligação perfeita. A canção “Night Of The Witch” é extremamente poderosa, com uma linha vocal no refrão que merece ser cantada em uníssono por um grande coro de verdadeiros maníacos do rock/

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metal. No final do disco decidiram voltar à mesma melodia, qual é a razão por trás dessa escolha? Nós apenas quisemos usar aquele instrumental com o mellotron. Quando estávamos a escolher a ordem das músicas no álbum, pareceu-nos uma ideia interessante a de fechar o disco com uma melodia mais suave. Com um disco chamado “Songs For Satan”, ajuda a tornar clara a vossa oposição ao domínio cultural da Igreja, certo? Esta visão é baseada por algo que vêem no vosso país [Polónia], ou é algo que abordam de uma forma mais expandida, ao olharem para outros países e civilizações? Eu posso falar sobre a minha situação. Mesmo após revelações horrorosas, repugnantes, perturbadoras e nojentas, de factos sobre os abusos sexuais de padres católicos ao longo dos anos, eles continuam a tentar influenciar as pessoas sobre como elas devem viver as suas vidas. Eles pregam às

mulheres sobre coisas que apenas as próprias mulheres deveriam tomar decisões. Bando de velhos retrógrados de vestido, frustrados sexuais, parasitas económicos, que não deveriam ter opinião sobre esses tópicos. Reconheço que a religião institucionalizada funciona da mesma forma em diferentes países. É muito difícil para as pessoas virarem as costas a este pensamento uma vez são ensinadas assim desde o nascimento. É um caso muito triste do síndrome de Estocolmo, quando acreditas que deves defender o teu opressor. Alguma vez foram sujeitos a algum tipo de censura? Acham que a abordagem de tópicos mais sensíveis é mais restritiva hoje em dia, ou a liberdade de expressão está a fazer o seu bom caminho? Nós nunca fomos alvo de censura na Polónia. Curiosamente, uma vez fomos alvo de censura na Alemanha, num dos nossos espetáculos. O promotor avisou-


nos que tínhamos de tapar os seios de uma mulher nua que existe na capa de um dos nossos álbuns. Apenas numa das capas, enquanto nós temos mulheres despidas em capas de vários dos nossos discos. Ele também não pôde utilizar a palavra “bastards” na promoção do espetáculo, apesar de ele já ter impresso os cartazes com essa inscrição. Tudo porque as mulheres e outras pessoas poderiam sentir-se ofendidas. Mas bem, este espetáculo era numa sala de espetáculo que pertencia a uma qualquer associação. Eles consideraram que a nudez poderia ofender mais as mulheres do que o facto de apenas haver uma rapariga a trabalhar ali, na cozinha, e que era responsável por cozinhar para todos aqueles rapazes que por lá andavam a correr, a não fazer nada, ou olhar para outros que apenas enrolavam cabos xlr. Os tempos andam um pouco estranhos. Existe um conceito comum nas letras do novo disco ou podemos encontrar uma exploração de diferentes conceitos e visões? A letras falam sobre encontrares o teu caminho para longe da opressão, vivendo a tua vida da forma que desejas…Não havia nenhum conceito pré-determinado. Mas há sempre alguns assuntos pelos quais nos vamos sentido inspirados. Nada de novo aqui. O trabalho gráfico do novo álbum está impressionante, capturou a minha atenção no imediato. Quem é o artista por trás disto?

O autor é o Maarten Donders e aconselho-vos a dar uma olhada em outros dos seus trabalhos. Ele é brilhante. A banda participou na sua concepção? Podes fazer uma interpretação do que ali vemos, ou é algo que pertence ao desenhador? Nós participamos um pouco. A ideia principal partiu do Maarten. Na verdade, esta é a forma mais usual no nosso caso. Quando nós gostamos da ideia inicial, participamos com algumas ideias de pormenor e isso é suficiente para o Maarten levar o processe avante. A primeira vez que estive num espetáculo dos Dopelord foi no SWR Barroselas Metalfest em 2019. Lembras-te desse dia? Sim, lembro-me desse concerto. Estávamos numa tour como banda de suporte aos Saint Vitus. Lembro-me que éramos uma das poucas bandas fora do estilo geral do cartaz. Fiquei com a ideia que alguns metalheads ,que por lá estava, apreciaram o momento e que puderam relaxar um pouco durante o nosso espetáculo.

Quais são os planos para a promoção deste novo disco? Onde é que vai ser possível ver-vos em concerto? Nós estamos em tour neste momento [entrevista feita em Outubro]. 17 concertos em 17 dias. É apenas um começo pois em 2024 continuaremos a promover este álbum. Por último, pedia-te que descrevesses nalgumas palavras, o que é que pensas que as pessoas podem experienciar enquanto escutam o vosso novo disco “Songs For Satan”? Vocês podem experienciar um conjunto de canções doom que soam grandiosamente e apelativas ao ouvido, com solos de guitarra esmagadores. Facebook bandcamp

Nos últimos anos têm tocado também noutros festivais portugueses. Sentem que a vossa base de seguidores tem aumentado por cá? Não sei dizer se a nossa audiência em Portugal tem crescido. Temos alguns pedidos de merchandise e recebemos convites para tocar aí, por isso espero que sim.

As letras falam sobre encontrares o teu caminho para longe da opressão, vivendo a tua vida da forma que desejas(…) 2 7 / VERSUS MAGAZINE


Apotheus Universos com densidade progressiva

A Versus esteve à conversa com Miguel Andrade, o vocalista, letrista e criador das histórias dos Apotheus, para falar um pouco sobre o mais recente «Ergo Atlas», o disco mais maduro da banda de Paços de Ferreira, que conta já com 15 anos de carreira. Entrevista: Gabriela Teixeira

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Olá Miguel! Obrigada por teres aceite o convite da Versus. Miguel Andrade - Eu é que agradeço a oportunidade. Ora vamos então começar. Segundo a minha pesquisa, vocês formaram-se em 2008 e entre 2013 e 2023 lançaram três álbuns e, no entanto, eu só os conheci este ano. Para que as pessoas, que tal como eu vivem debaixo de uma pedra, possam conhecer-vos melhor, fala-me um bocadinho do vosso percurso enquanto banda. Miguel - Com certeza. Apotheus foi um projeto que tal como disseste surgiu em 2008 e, na altura, todos nós éramos mais jovens e rebeldes e tínhamos uma vontade muito grande de criar. Demos bastantes concertos pelo país, principalmente na altura do «When Hope and Despair Collide»

Aquilo que dizes vai ao encontro do que senti ao ouvir a vossa discografia. O primeiro disco é manifestamente mais pesado, ao passo que este novo «Ergo Atlas» é mais denso, mais intenso no que respeita ao experimentalismo. Pessoalmente acho que a nível instrumental vocês perderam em peso mas ganharam em interesse pelo facto de se abrirem ao espectro progressivo. Como é que olhas para a vossa evolução sonora? E, já agora, fala-me um pouco das vossas influências musicais. Ao ouvir «Ergo Atlas», confesso que em algumas partes senti bastante a presença dos Pain of Salvation. Concordas comigo? É, sem dúvida, uma das bandas que está no nosso coração e não me admiraria nada que soasse a tal, ainda que, durante o processo

enredo; e a música gravitou em torno dessa história. O que muito provavelmente contribuiu para uma sonoridade mais progressiva foi essa mesma abordagem de composição. Nós gostamos tanto desta experiência que a trouxemos para o «Ergo Atlas» e vamos continuá-la, em termos conceptuais, no próximo disco (no qual já estamos a trabalhar). Relativamente ao género onde nos enquadramos… essa questão é um pouco polémica entre os membros. Sempre sentimos que nenhum estilo era suficiente para nos abranger por isso nos inícios denominavamo-nos uma banda de melodic metal porque não éramos suficientemente pesados para encaixar no melodic death, mas também não éramos tão progressivos como agora. Penso

[...] o ponto de viragem da banda foi a composição do «The Far Star» (...) aí encontrámos finalmente a nossa verdadeira sonoridade e identidade (...)

de 2013. O grande salto deu-se quando decidimos fazer algo mais imponente e sério em 2019. O que caracteriza o nosso percurso é a constante evolução, estamos sempre a desafiar-nos ao ponto de sermos muito diferentes do início. Somos mais maduros, mas estamos sempre a arranjar “lenha para nos queimar” (risos). O nosso início como banda é um pouco cliché - grupo de amigos que se juntou para fazer música, mas é um início que nos é muito querido e do qual temos muito boas memórias e que, no fundo, é a fundação de tudo aquilo que somos como artistas. Ganhamos muita experiência, tocamos em muitos sítios, conhecemos e bebemos de muitos artistas pelo país fora.

de composição dos álbuns não tenhamos pensado em nenhuma banda em concreto, mas, como é óbvio, somos feitos daquilo que consumimos. As nossas influências vão desde o que ouvimos até experiências do dia a dia. Mas, respondendo mais directamente à tua pergunta, eu creio que o ponto de viragem da banda foi a composição do «The Far Star» em meados de 2017. Acho que aí encontrámos finalmente a nossa verdadeira sonoridade e identidade, e acima de tudo, encontramos um universo onde nós existimos e onde nós criámos. No «The Far Star», nós criamos um conceito que é uma história no verdadeiro sentido da palavra, com eventos e com um

que progressive melodic metal poderá ser mais consensual. Julgo que respondi à tua pergunta… Sim, completamente. E que bandas tiveram influências na vossa sonoridade? Os nossos elementos têm um background musical muito eclético que vai desde Tool, a Sade, passando por música clássica, mas consigo identificar algumas das coisas que ouvimos e que mais contribuíram para a criação dos Apotheus, nomeadamente TesseracT, Pain of Salvation, Leprous, Soen, Opeth, Katatonia… tudo nomes com os quais nos identificamos muito e com quem os fãs nos identificam, mas claro que queremos fazer o nosso

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próprio caminho e um dia figurar ao lado daqueles que hoje são mais gigantes do que nós. E como falaste na criação de um universo, vamos focar-nos um pouco na temática das letras. De onde vem esta vontade de explorar o universo mais sci-fi? És tu o mastermind por detrás desta história? Posso contar muito brevemente como é que tudo começou. No «The Far Star», decidimos fazer um retiro em que nos isolamos completamente durante uma semana para deixar fluir a criatividade. Nessa altura, eu estava a consumir muita literatura do Isaac Asimov, um dos meus ídolos literários, e apaixonei-me de tal modo por aquele universo que ele criou que me inspirou a criar também o meu. Entretanto, fiz essa proposta à banda e todos acederam. Ficção científica é quase um pormenor, na medida em que a história tem tanto de drama como de terror, por vezes… mas sim, a ficção científica é o género que tipicamente encaixa este tipo de histórias com Naves espaciais, jornadas por colonização… Decidimos então que este filme que tínhamos na nossa cabeça era bom demais para que as pessoas fossem privadas do seu esplendor e então pusemos mãos à obra e decidimos não só escrever a história, como fizemos também um audiobook. Para nós, «The Far Star» e «Ergo Atlas» são o álbum e a história em conjunto. É assim que nós trabalhamos e pensamos até agora. Posso adiantar que a história no «The Far Star» é sobre uma colonização, uma busca por algo melhor, numa luta pela sobrevivência e o «Ergo Atlas» continua essa luta, de uma forma mais negra. E a história há-de continuar… Bem, acabaste de responder às duas questões que eu tinha preparadas (risos). Ia perguntar se essa história iria continuar em formato trilogia, mas se calhar até pode ir para além disso…

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Sim, posso adiantar que já estamos a trabalhar no próximo e será uma sequela. Portanto, pelo menos a trilogia acontecerá. Se vai ser mais do que a trilogia… já não sei.

são ao vivo e depois as pessoas vão para casa absorver o nosso conteúdo e depois lá nos irão explorar quer em disco, como no audiobook…

Porque sentiram a necessidade de fazer acompanhar os discos com os respectivos audiobooks? Acharam que assim os fãs compreenderiam melhor os vossos temas? Isso é estritamente opcional e quem quiser aprofundar melhor o nosso universo pode fazê-lo, mas também pode não fazêlo. Pode simplesmente ouvir o álbum que vale perfeitamente por si só. Eu diria que não é necessário um livro para usufruir do disco. Por outro lado, a história e o livro são uma espécie de “retroactivo”. Ou seja, no futuro, quem nos descobrir, como tu nos descobriste recentemente, terá à sua disposição esta história e julgo que poderemos “ganhar pontos” com isso. Julgo que será uma boa surpresa e penso que revela muita intencionalidade naquilo que estamos a criar. Simplesmente é algo que nós não queríamos deitar fora. A mensagem que queremos passar é maior do que as letras das músicas, portanto faz sentido acompanhar com o livro, do mesmo modo que a música dá outra dimensão ao livro, por isso é que eu digo que ambos os formatos se complementam. Cada capítulo do livro corresponde a uma música. Esta complementaridade contribuiu muito para a progressividade do som dos discos.

Vamos agora falar um pouco da vossa editora. Vocês já trabalharam com a Black Lion Records no álbum anterior e, actualmente, fazem parte do catálogo da editora que apresenta uma oferta de bandas emergentes com muita qualidade. Pergunto como está a ser esta experiência de trabalhar com a Editora sueca, desde o processo de criação até à promoção do disco? Em termos criativos, a Black Lion não interferiu em nada e acho que é assim que deve ser. Nós compusemos o álbum sem contactar ninguém e, quando terminamos, decidimos procurar algum parceiro para publicar este trabalho e a escolha óbvia seria a Black Lion Records. São pessoas com quem já estávamos habituados a trabalhar desde o álbum anterior e são pessoas que conseguem ver potencial em nós. Acho que conseguimos passarlhes a nossa visão e eles acreditam em nós, nessa mesma visão e isso é crucial para uma boa parceria, para além de serem pessoas afáveis e boas de trabalhar. Tanto a Black Lion, como nós, evoluímos muito desde o último disco, e isso acabou por torná-los na escolha óbvia. Agora com o lançamento do «Ergo Atlas» é que vamos ver o resultado do trabalho dos últimos meses com estes lançamentos dos singles de avanço e todo trabalho de promoção, mas até agora está a correr bem e está a ser uma óptima parceria.

E a receptividade dos fãs? Não é uma maioria, mas quem mergulha na história, gosta destes formatos e fica com uma imagem diferente do nosso trabalho. O nosso feedback é mais nos espectáculos ao vivo, para onde tentamos transportar todo este conceito, tentamos materializálo nos concertos de uma forma impactante, com luzes, lasers e televisões… tudo sincronizado. A maioria dos contactos connosco

Ainda bem! A minha questão seguinte é se essa parceria com uma editora estrangeira, se poderá manifestar em concertos internacionais? A Black Lion é uma editora independente, cujo modelo de negócio é a compra e venda de discos e merchandising, portanto não funciona como agência


de eventos. No que respeita a concertos internacionais, estamos a trabalhar nesse sentido tanto que já temos agendado um concerto em Madrid, mas claro, a ideia é expandir pela Europa fora. Há muito que temos esse objectivo e eu diria que as coisas nunca estiveram tão próximas de acontecer. Ainda não posso precisar quando, mas acho inevitável darmos concertos lá fora. Esteve para acontecer em 2019, no entanto, surgiu a pandemia e os planos foram por água abaixo. Estão lentamente a reunirse as condições para que isso aconteça… Estamos em contacto com várias agências que trabalham com diferentes partes da Europa e temos o nosso parceiro The Vector Sound Productions aqui em Portugal. Estamos a trabalhar com o Marco Anastácio que acaba por também ser a nossa ponte com essas outras agências estrangeiras. Para terminar, todos sabemos que o caminho, no universo da música em geral, e do metal em particular, é duro, então em Portugal… as dificuldades multiplicam-se… No entanto, até onde é que vocês os quatro sentem que podem chegar enquanto Apotheus? Sinto que podemos dar momentos memoráveis a quem gosta da nossa música, ainda que seja difícil marcar concertos em Portugal. Só sei que queremos continuar a dar música e histórias às pessoas… Muito obrigada! Tudo de bom para a promoção do novíssimo «Ergo Atlas» e muito em breve espero ver-vos ao vivo! Obrigada pela simpatia e continuem a fazer o que gostam porque os Apotheus têm muito talento e já está mais do que na hora de olharmos para as bandas nacionais e saber reconhecer-lhes a qualidade. Em nome dos Apotheus, muito obrigado pelas palavras e obrigado à Versus Magazine por esta oportunidade para divulgarmos o nosso trabalho.

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Cada capítulo do livro corresponde a uma música. Esta complementaridade contribuiu muito para a progressividade do som dos discos.

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CRITICAS VERSUS ABHORRENCY

«Climax of Disgusting Impurities» (Sentient Ruin) Este álbum fede… no bom sentido, que fique claro. «Climax of Disgusting Impurities» é a estreia destes norte-americanos, datada de 2022, e relançada, em 2023, em vinil pela Sentient Ruin. Os Abhorrency fazem um death misturado de black metal algo semelhante ao dos finlandeses Archgoat, com a guitarra rápida e furiosa no ataque e com aquela sonoridade “motosserra” que devasta tudo à sua passagem. Sem dar tempo para respirar, «Climax of Disgusting Impurities» enche-nos de canções tipicamente blasfemas e demoníacas (“Cathedral of fornication”, “Perverse serpentine invocation”, “Choked upon the pentagram”, etc…), quase sempre com as batidas por minuto lá bem no alto, havendo ainda oportunidade para experimentalismos em “Edging on disgusting impurities”, um corpo estranho que, embora dispensável, tem a virtude de deixar o álbum e, por arrasto, o ouvinte, respirar. O trio Upheavor, Ejaculator e Sexslayer consegue além do mais um som particularmente cheio que assenta bem na versão em vinil, ajudando a que os fãs do género não deixem escapar este lançamento. Por ter sido publicado originalmente em 2022, é óbvio que não fará parte das listas dos melhores discos de 2023, mas nem por isso deixará de ser das coisinhas mais bem feitas que se poderão escutar este ano dentro do espectro death/black metal. [8.5/10] HELDER MENDES

ANGELUS APATRIDA

«Aftermath» (Century Media Records) Nuestros hermanos Angelus Apatrida são um nome cada vez maior no panorama do thrash metal! Fruto de uma produtividade ininterrupta, muitas tours e uma criatividade perspicaz, chegam com a edição de «Aftermath» ao seu oitavo álbum de originais. Disco após disco foram cinzelando uma capacidade de criarem temas memoráveis e também mais ponderados. A par de canções ou momentos mais pausados, introspectivos, foram aparecendo também as melodias fortes, seja num solo de guitarra ou num refrão próprio para entoar em coro. Neste novo disco há alguns desses momentos, em que “Cold” ou a longa “To whom it may concearn” são dois belíssimos exemplos. No entanto, deve também ficar aqui escrito que os refrães fortes ganham uma outra dimensão com a participação de Jamey Jasta dos Hatebreed em “Snob”. A lista de convidados ainda se estende mais um pouco, para nos surpreender, com um dueto entre Guillermo Izquierdo e Todd La Torre (Queensrÿche), ou pela prestação um tanto ou quanto furiosa do rapper espanhol Sho-Hai. Apesar de todos estes destaques, este não é um disco sobre o qual se deve cair no erro de procurar pelos seus momentos altos. Sem ser uma caixa de surpresas, este é um disco muito coerente e que é mais do que suficiente para manter por perto os apreciadores do thrash metal feito de acordo com as regras clássicas dos titãs germânicos, da Bay Area, e com um cheirinho a Sepultura logo a abrir. Depois de uma noite a ouvir «Aftermath» o amanhecer não será fácil. Mas por bons motivos. [8/10] EMANUEL RORIZ

APOTHEUS

«Ergo Atlas» (Black Lion Records) A saga começou em 2019 com o lançamento de «The Far Star» e tem continuidade em 2023 com «Ergo Atlas». Os Apotheus mostram-se neste terceiro disco muito mais maduros e conscientes do caminho que pretendem galgar, rumo a uma sonoridade onde melodia e experimentalismo se entrelaçam para nos oferecer um belíssimo disco de melodic progressive metal, despido de complexidades pretensiosas. O timbre agradável de Miguel Andrade, que ora me lembra Mikael Akerfeldt, ora me lembra Jonas Renske, é convidativo à audição de cada um dos tema que, no seu conjunto, tornam este disco uma obra forte, sólida e cheia de emoção, ao ponto de ser comovente (estou a lembrar-me da “Alphae’s sons”). O disco vem acompanhado com um livro que fará as delícias dos fãs, não só do estilo musical, mas, acima de tudo, da temática asimoviana das letras que, sublinho, estão muito bem escritas. Aliás, acho que «Ergo Atlas» faz parte dos discos que pedem para acompanharmos a audição com as letras, para que a história faça sentido no mais íntimo do ouvinte. O tema de abertura “Shape and geometry” é demonstrativo da qualidade do álbum. É um tema pujante que nos suga de imediato a atenção. Também me merece destaque a hipnótica “Cogito” ou o caos explosivo de “Ergo bellum”, apenas por mero gosto pessoal, isto porque não encontro nenhuma música que me pareça menos inspirada ou conseguida. «Ergo Atlas» é um dos melhores discos de metal nacional de 2023 e, a continuarem com esta criatividade, acredito que estes quatro músicos irão levar o nome Apotheus bem além fronteiras. [8.5/10] GABRIELA TEIXEIRA 3 2 / VERSUS MAGAZINE


ASET

«Astral Rape» (Les Acteurs de L’Ombre Productions) Projecto envolto numa aura obscura (sabe-se apenas que é uma colaboração entre integrantes dos Seth e dos Oranssi Pazuzu), os Aset têm em «Astral Rape» um aproximado reflexo em forma de música. E aproximado porque ao black metal mais convencional dos Seth esperarse-ia juntar-se uma abordagem menos convencional, típica dos finlandeses Oranssi Pazuzu, mas não é o que acontece, pois não temos aqui os elementos psicadélicos e algo tresloucados que encontramos naquele colectivo. Os Aset optam por canalizar a sua proposta recorrendo a letras esotéricas que fazem referência às divindades das tradições egípcia e judaico-cristã (Osíris, Set, Cristo…) e a conceitos como os de força astral ou serpente primordial; poder-se-ia quase falar em black metal new age, e a terminologia não é de todo desajustada ao contexto de uma música precisamente intitulada “A new man for a new age”. Porém, isto nem seria sequer necessário, pois instrumentalmente a sonoridade dos Aset exibe uma atmosfera negra quanto baste (tome-se, como amostra, “Serpent concordat”), podendo prescindir de uma lírica a reforçá-la. Resumindo a experiência, «Astral Rape», longe de ser indispensável (entre outros pormenores, perde um pouco de fulgor em “Astral dominancy”), não deixa de ser um álbum interessante, sobretudo para quem apreciar imiscuir-se nas narrativas esotéricas que o grupo veicula. [7.5/10] HELDER MENDES

BLUT AUS NORD

«Disharmonium - Nahab» (Debemur Morti Productions) Lançado em Agosto, este novo disco dos Blut Aus Nord não traz praticamente nada de novo, isto não significa que esta banda não surpreenda a cada lançamento. Primeiro, as sonoridades são originais desde a génese deste projeto e praticamente mais ninguém usa as mesmas linhas estéticas. Resumidamente Blut Aus Nord há só um, os Blut Aus Nord e mais nenhum. Depois não é apenas a sonoridade única desta banda que a define. O que surpreende neste trio é a capacidade de se regenerar a cada álbum, a cada tema, a cada riff. Sendo impossível conhecer tudo dentro do universo Black Metal, podemos dizer que esta é a banda que mais criatividade e genialidade consegue extrair, sem ter de recorrer a desfigurações ou roturas sonoras e estéticas. E assim temos mais um álbum cheio de trilhos tenebrosos, onde a luta entre as sombras e a luz se faz numa tensão permanente para no final, obviamente, a obscuridade e os sentimentos menos benévolos se sobreporem a qualquer flash de otimismo ou alegria. A nota atribuída a esta sequela da saga Disharmonium é o que menos interessa. Quem já conhece esta banda sabe com o que pode contar, quem não conhece obviamente deverá escutar este álbum e porventura ir à procura de outros trabalhos que fazem parte da história e discografia desta banda singular no universo Black Metal. [8.5/10] SERGIO TEIXEIRA

CANNIBAL CORPSE

«Chaos Horrific» (Metal Blade Records) Este caríssimo amigo celebra os seus 35 anos de carreira e assinala-os com o lançamento de mais um disco. Paul Mazurkiewicz chamou-lhe de «Chaos Horrific». Assenta-lhe que nem uma luva e enquadra-se de forma bem justa na discografia do grupo. Sendo o trabalho gráfico um dos primeiros impactos que sofremos a cada disco dos Cannibal Corpse, facilmente percebemos que a tradição é mantida, e deparamo-nos aqui com mais uma obra do artista Vince Locke, pronto a deglutir. Voltemos ao velho amigo. Podemos olhar para este disco como sendo mais um. É tudo muito familiar para quem conhece um pouco da história do grupo. Mas podemos olhar para este «Chaos Horrific» como sendo aquele velho amigo, de longa data, com quem nos encontramos de tempos em tempos. E quando nos encontramos, é como se não tivessem passado já uns dois anos. O à vontade é imediato, sentimo-nos bem por estar na presença dele, e sentimos imenso prazer em ver que ele continua fiel a si próprio, a ser exactamente como sempre o conhecemos. Por isso o adoramos, mesmo agora que os cabelos grisalhos já são bem mais vistosos. Admiramos-lhe a frescura, a forma como nos surpreende ao mostrar que está em excelente forma, que parece ter sempre mais a dar e novas histórias para contar, ora oiçam como fecham o disco com “Drain you empty”. Durante a conversa ouvem-se estórias sobre reiniciar a raça humana através de um grande massacre, os típicos contos sobre zombies que bem nos querem, claro que o desmembramento também é assunto, ou até uma estória mais “nobre”, tal e qual é “Vengeful invasion”, onde documentam uma vingança das vítimas de tráfico humano. No fim da conversa fica-se de tal forma satisfeito que só apetece repetir a dose. Tendemos para o caos. [9/10] EMANUEL RORIZ

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DISM AL AUREA

«Imperium Mortalia» (Avantgarde Music) Do Canadá chegou-nos o 2º album dos Dismal Aurea, onde a espinha dorsal assenta sobretudo em Black Metal que não é deixado em total solidão pois vem polvilhado com toques de outras conceitos (punk, grind) a adornar os trilhos melódicos. O ponto menos abonatório prende-se mais com a duração destes 8 temas que se fica pelos 30 minutos de audição. Mas a curta duração não implica uma menor densidade ou pertinência sonora/estética. Do ponto de vista lírico estes Dismal Aurea são tudo menos apolíticos. Neste álbum o palco lírico é atribuído a conceitos como a interligação do indivíduo com as múltiplas dimensões de poder, do Estado como instituição que promove equilíbrios ou desequilíbrios sociais, a submissão dos seres humanos em situações de opressão, etc. O que mais interessa é a música propriamente dita. E neste «Imperium Mortalia» temos alguma originalidade, inconformismo, segmentos dinâmicos intercalados com alguns segundos de cadências contemplativas, momentos que preparam os ouvidos para o que vem a seguir. Sendo apenas o 2ª registo destes Canadianos, a personalidade musical acaba por não estar ainda bem definida até porque se nota uma evolução naquilo que se pode chamar a “qualidade sonora” face ao primeiro álbum «Praesagia Tristia», i.e., uma produção mais detalhada com os sons dos instrumentos muito melhor segmentados e segregados. É certo que nenhuma banda é obrigada a cristalizar os seus conceitos estéticos mas será preciso mais um ou dois álbuns para se perceber qual o rumo que irão dar à respetiva música. Para já não arriscam ir para território desconhecido e de algum modo conseguem uma música quase sempre a transbordar para o extremo, em simultâneo com espaços de contemplação. [8.5/10] SERGIO TEIXEIRA

DYSSEBEIA

«Garden of Stillborn Idols» (Transcending Obscurity Records) Este é o primeiro disco dos suíços Dyssebeia e apesar de o press-release informar que estamos perante um disco de death metal progressivo, o som está mais próximo do death melódico ou mesmo do metalcore. Isso por si não constituiria um problema caso os Dyssebeia não fossem tão genéricos e enfadonhos, o que infelizmente sucede. Dados estes sinais de alerta, suficientes para afastar os mais incautos, aprofundemos um pouco mais as ideias contidas em «Garden of Stillborn Idols». Que, na verdade, não são muitas. A voz urrada de Alexandre Sotirov é não poucas vezes posta em diálogo com a guitarra de Merlin Bogado, seja nos riffs seja nos apontamentos melódicos, pormenor onde mais se destaca, embora nem sempre pelas melhores razões. Quando a banda atina e procura fazer mais qualquer coisa, como em “Moon bearer” e “Hatch”, graças às suas conseguidas metamorfoses (pese o dispensável coro no caso do primeiro destes exemplos), paira no ar a sensação de que os Dyssebeia poderiam ser melhores do que aquilo que efectivamente são. Porém, são não mais do que raras as ocasiões em que «Garden of Stillborn Idols» foge à mediania e à saturação. Para primeira descendência, estes suíços limitaram-se a gerar um nado-morto. [5.5/10] HELDER MENDES

ETERNAL STORM

«A Giant Bound to Fall» (Transcending Obscurity Records) Numa cena cada vez mais saturada de artistas que se limitam a reproduzir (quase sempre sem sucesso) os seus ídolos, bandas criativas como os Eternal Storm são uma raridade. Este colectivo espanhol já tinha deixado uma pegada indelével na arena do death metal melódico, em 2019, com o surpreendente «Come the Tide», no entanto este segundo álbum vê a banda alargar horizontes na sua abordagem progressiva, provavelmente fruto de mudanças no line-up que passaram pela adição do talentoso vocalista/guitarrista Daniel Rodríguez Flys, que também integra os Persefone. «A Giant Bound to Fall» transborda de sofisticação e musicalidade sem nunca comprometer a agressividade natural do estilo, um aspecto que ressalta desde logo na diversidade do mastodonte de 13 minutos, “An abyss of unreason”, que abre o disco. No que se segue, Flys, Jaime Torres e Daniel Maganto surpreendem-nos a cada reviravolta com a sua criatividade invulgar como guitarristas, ora desferindo ataques devastadores memoráveis ora de forma mais subtil com construções matizadas e musicalmente multifacetadas. Partindo dum riff à In Flames, “Lone tree domain” evolui para um segmento atmosférico com magníficos arranjos vocais evocativos (em registo limpo, recorrentes noutros temas), terminando num grande finale arrepiante. “The sleepers” inclui mais dessas melodias notáveis – conta com a participação de Dan Swanö – sendo outra faixa inovadora bastante distante de convenções. Em 70 minutos não é difícil detectar influências de Dark Tranquillity, Opeth, e mesmo Metallica, no entanto a maneira como estes Madrilenos compõem jogando como essas referências é um segredo só deles. Um dos primeiros grandes lançamentos a marcar o novo ano de 2024. [8.5/10] ERNESTO MARTINS

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FINSTERFROST

«Jenseits» (AOP Records) Os Finsterfrost são um colectivo alemão com data de fundação no ano de 2004. Quem os acompanhou desde os primeiros tempos pôde comprovar a evolução estilística e da mestria da composição. Se no início de carreira estavam intimamente ligados ao popular movimento folk metal, com o avançar dos tempos foram-se deslocando até alcançarem um lugar a que decidiram chamar de black forest metal, sendo também uma alusão à raíz geográfica destes músicos. Em tempo de pandemia os Finsterforst desafiaram os seus seguidores, pedindo ajuda para custear um mini-álbum, tendo informado desde logo, que seria composto por uma única música e com 40 minutos de duração. O prometido é devido e o resultado aqui está, bem palpável, ao longo deste tema épico divido em 4 partes. «Jenseits» é uma autêntica jornada cinematográfica e os próprios Finsterfrost afirmam que este foi um passo deliberado nessa direcção. Por aqui, confirma-se que o objectivo foi alcançado com glória. As melodias poderosas soam como hinos, e os elementos folk, mais primordiais, estão muito bem ligados com os diversos instrumentos que vão sobressaindo com destaque. São variados os momentos em que divergem pela veia do heavy metal, ou então, pelas escarpas do black metal de inspiração pagã. O encadeamento que é dado a cada uma das ideias desenvolvidas para este trabalho segue uma linha muito bem definida, com estrutura sólida, altamente surpreendente, de uma riqueza e maturidade musical que fazem estes quase 40 minutos parecerem muito menos do que isso. [8/10] EMANUEL RORIZ

FORTÍÐ

«Narkissos» (Lupus Lounge) Mantendo-se fiel ao nicho sónico em que sempre operou – o do black metal melódico fortemente condimentado com estéticas viking/pagan, na linha de Enslaved – Einar “Eldur” Guðmundsson conseguiu criar desta vez aquele que é, provavelmente, o trabalho mais sólido e bem sucedido da carreira de vinte anos dos seus Fortíð. Dir-se-ia que o período de relativa instabilidade por que o multi-instrumentista islandês passou, motivado pela rutura com os músicos que o acompanhavam há mais de dez anos neste projecto (durante a sua estadia longa na Noruega) e o regresso ao seu país natal, lhe trouxeram a inspiração de tempos idos. Para trabalhar neste sétimo registo de originais Eldur convidou o baterista Kristján Guðmundsson – o Fimbultyr dos tempos da trilogia «Völuspá» (2003 – 2010) – e o baixista Kári Pálsson, criando um disco cheio de grandes malhas, que nos mantêm agarrados desde as típicas rajadas abrasivas a toda a velocidade de “Vefurinn sem eg spin”, passando pelas riffalhadas thrash de “Rotinn arfur” até às viciantes linhas melódicas de “Thusund þthaninga smidur”, onde é mesmo impossível não sacar da air guitar para acompanhar o frenesim da música. Eldur volta a usar aqui, ocasionalmente, o seu fantástico registo vocal limpo, com letras inteiramente no idioma materno (e não em inglês), conferindo a faixas como “Uppskera”, entre outras, uma mística naturista ainda mais genuína. Como sempre, os teclados desempenham um papel chave no aveludar da sonoridade, adquirindo proeminência especial no pomposo “Vid daudans dyr”, o tema de fecho que se destaca pelos sofisticados arranjos clássicos. Mais refinado que o anterior «World Serpent» (2020), mas sobretudo mais excitante, «Narkissos» é um disco que não se esquece facilmente. [8/10] ERNESTO MARTINS GODTHRYMM «Distortions» (Profound Lore Records) O histórico de grupos por onde os membros dos Godthrymm já passaram, é um selo de garantia, que não sai quebrado e que, surpreendentemente, os eleva a um patamar de certa igualdade para com essas referências. Os músicos integrantes neste projecto passaram em tempos por colectivos como My Dying Bride, Anathema, Vallenfyre ou Solstice, portanto, será perfeitamente legítima a familiaridade que se encontra no doom metal que criam. Nisso, o primeiro tema - “As titans” - é um perfeito esclarecimento. Um tema longo, arrastado, e que se inicia com o típico riff que dita toda uma sentença. É um arranque onde demonstram todo o seu esplendor. Sem pedir perdão, lançam-nos no embalo de “Devils”, que é de ouvir e ficar de joelhos a pedir por mais. Assim é a performance dos Godthrymm neste disco: cativante, surpreendente. Este é um trabalho muito variado, onde se encontram passagens de enorme densidade, que se cruzam com outras bem mais serenas, onde exploram o poder das melodias, em oposição à devassidão de uma distorção bem adornada. As canções de «Distortions» vão serpenteando desta forma, brindando-nos aqui e ali com solos de guitarra, feitos de coração e emoção. É também merecido um destaque às aparições da voz de Catherine Glencross, em temas como “Obsess and regress” ou “Pictures remain”, onde transporta o ouvinte para o que será um outro espaço na sonoridade do grupo.

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Após a primeira audição de «Distortions» fica-se com uma ideia muito clara e muito bem definida, sobre a qualidade deste disco, mas também sobre a carreira deste grupo que se juntou corria o ano de 2018. [8/10] EMANUEL RORIZ

GREEN LUNG

«This Heathen Land» (Nuclear Blast) Os Green Lung estão de regresso com o seu terceiro disco e que disco, meus amigos! Mal ouvi o single “Mountain throne” soube logo que era música para os meus ouvidos. Estes londrinos, em 6 anos de existência, têm vindo a superar-se a cada lançamento e a sua capacidade de criar músicas que se colam durante semanas ao nosso cérebro é espantosa, o que faz deles um dos grandes talentos da actualidade da cena stoner/doom/occult rock. «This Heathen Land» explora ainda mais o folclore das suas raízes pagãs, do que já acontecia nos trabalhos antecessores, mas a nível musical a influência do occult rock dos anos 70 é mais marcante, nomeadamente em “Song of the stones”. Os riffs pesadões, como o inicial de “The ancient ways” não estão esquecidos, assim como a vertente mais doom está presente num dos meus temas favoritos: “One for sorrow” e “Maxine (Witch queen) é das coisas mais catchy que ouvi ultimamente, com tremendo potencial para se tornar num sucesso ao vivo. Se esta banda criar um culto, eu garanto que me junto a eles porque há algo que me compele pela voz de Tom Templar. Para mim, os Green Lung incorporam uma dose de sexyness na sua música e o timbre do seu vocalista é em parte responsável. Li algures que Green Lung podem seguir as pisadas dos Ghost, mas não aspirar à sua popularidade, pois digo que, musicalmente, são muito mais cativantes e, terem os rostos destapados, assenta-lhes melhor ainda. Entrada directa para o meu Top 10 de discos de 2023! [8.5/10] GABRIELA TEIXEIRA

IN VULTATION

«Feral Legion» (Sentient Ruin) Neste segundo álbum intitulado «Feral Legion», os norte-americanos Invultation trazem uma proposta de Black e Death Metal que acerta no que se exige quando se pretende fazer algo de interessante. A crueldade dos riffs de guitarras associadas a blast beats delapidados com vocalizações guturais diz logo ao que vêm estes Invultation. Não há qualquer espaço de manobra para se tentar fugir para os lados da empatia, da candura ou para eventualmente implorar por uma hipotética clemência auditiva. Nada disso. Nestes 10 temas que totalizam 37 minutos o denominador comum é a crueza primitiva. Onde este álbum marca pontos é pelo facto de pouco ou nada se aventurar a fazer pontes para influências estranhas ao Death/Black e a sensação que fica é que também não era preciso. O resultado é portanto um álbum que não arrisca atravessar fronteiras estéticas mas que tem lá os dedos de intervenientes com qualidades de execução e composição ao nível do doutoramento em sonoridades extremas. Sendo assim, não há muito mais que possa ser acrescentado em palavras que possa ilustrar com maior clareza o que espera os ouvintes neste «Feral Legion». Apenas deixar o repto aos mais corajosos para se atreverem a carregar no botãozinho do “play” e serem arrebatados por um trabalho bem, bem, bem pesado. [8.5/10] SERGIO TEIXEIRA

LINUS KLAUSENITZER

«Tulpa» (AOP Records) Apesar das várias formações em que se encontra envolvido – Noneuclid, Obsidious e Alkaloid – o baixista germânico Linus Klausenitzer ainda arranjou o tempo e a motivação para se lançar num projecto em nome próprio onde dá largas à sua visão pessoal de metal extremo e progressivo. Uma visão plasmada neste álbum de estreia que se estende para lá dos traços sónicos death característicos das bandas supra-referidas, entrando em territórios sónicos mais variados e progressivos. Desafio, sofisticação e acrobacias técnicas não faltam aqui, mas as construções, todas da pena de Klausenitzer, são mais acessíveis do que é comum na generalidade do death metal técnico. Gravado com a ajuda de vários amigos, onde se contam Javi Perera (voz, Obsidious), Ian Waye (guitarra, Soreption), Hannes Grossmann (bateria, Alkaloid, Triptykon), este é um álbum pejado de melodias infecciosas e de riffs de fazer levantar da cadeira. Uma constelação de guitarristas convidados contribuiu com leads para todos os gostos. “King of hearts” conta com um solo arrepiante de Roland Grapow (Masterplan). Phil Tougas (First Fragment) brilha com uma desbunda desenfreada em “Axiom architect” enquanto um frenético Vic Santura brinda “Sword swallower” com um alucinante tratamento black metal. Sendo o trabalho a solo de um baixista virtuoso não será de admirar que os fraseados de cair o queixo do fretless de seis cordas de Klausenitzer surjam na boca de cena com uma frequência invulgar e mesmo que, além das guitarras, seja o baixo que conduz muitas das melodias de base.

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Este é, aliás, o aspecto mais distintivo e genial de «Tulpa», o que, conjugado com os restantes atributos, fez deste um dos álbuns mais interessantes do ano. [9/10] ERNESTO MARTINS LUNAR TOMBFIELDS «An Arrow to the Sun» (Les Acteurs de L’Ombre Productions) Os primeiros minutos de “An elegy to the fog dancer” e da sua sequência “Solar charioteer” estabelecem desde logo as ondas em que os Lunar Tombfields navegam: black metal melódico e atmosférico, com uma produção límpida em que todos os instrumentos se encontram bem audíveis. Como já sabíamos graças ao disco de estreia «The Eternal Harvest», estes gauleses são adeptos de composições extensas, o que intensifica o factor “viajante” da sua proposta atmosférica ao fazer passar cada faixa por vários estados de espírito, máxime em “As iron calls, so pile the dreams”. A principal diferença de um para outro disco é que agora os Lunar Tombfields parecem mais focados, além de ligeiramente mais amadurecidos, embora se sinta a falta de uma certa abordagem mais bruta e crua que estava presente no primeiro longa duração. Outra diferença é os Lunar Tombfields apostarem agora nas letras em língua francesa (“Représailles” e “Le chant des tombes”, que fecha o álbum). «An Arrow to the Sun» é a sequência natural de «The Eternal Harvest» e constituise num disco recomendável de black metal atmosférico, revelando uma vez mais a vitalidade por que passa a cena black metal francesa. [7.5/10] HELDER MENDES

MALADIE

«For We Are The Plague» (Apostasy Records) Após ouvir os Maladie com atenção, posso afirmar que: “Isto não é bom, é excelente!” Confesso que a primeira música “Antimundane” não me chamou muito à atenção, mas lá segui com uma primeira audição deste álbum dos Maladie. No entanto, nesta primeira música ouve aqui algo que me pareceu interessante e peculiar, e na caracterização da banda, havia a palavra mágica que me é cara: avant-garde. Depois de um bom par de músicas ouvidas “na diagonal”, mais adiante, voltei ao início e fez-se luz. O aspecto avant-garde é-nos trazido pela inclusão do saxofone ou de uma flauta, que confere à música dos Maladie um “je ne sais quoi”, dando-lhe carácter e definição, a este progressive black metal. Isto é black metal para os meus ouvidos. Cada música em «For We Are The Plague» tem a sua característica intrínseca que a distingue das restantes, num progressismo musical levado aos extremos. Vejo isto como uma espécie de uns Dream Theater do black metal com um toque avant-garde, com a inclusão de instrumentos não convencionais do Metal, em particular, nas secções em que ouvimos a erupção do saxofone. Não há aqui músicas mal conseguidas, tudo é composto com mestria, só há mesmo heterogeneidade musical. O leque é vasto, desde o som mais progressivo ao black, dos vocais limpos aos guturais, bem vincados na sonoridade black, do piano ao saxofone, das batidas rápidas e poderosas às progressivas. Como estes alemães conseguiram “triturar” isto tudo em 12 músicas de cortar à faca, e oferecer-nos uma miscelânea de estilos numa palete de sonoridades, onde o Jazz encontra o rock gótico, black metal encontra os interlúdios das bandas sonoras, e as batidas eletrónicas que combinam com o hard rock. [9.5/10] CARLOS FILIPE MARDUK «Memento Mori» (Century Media Records) Escrever sobre um novo lançamento de uma banda como os Marduk, com créditos mais do que firmados, é sempre uma responsabilidade mais acrescida. Segundo as notas que nos chegaram, neste «Memento Mori», a banda Sueca afirma ter tido o tempo e espaço necessários à conceção e gravação deste 15º álbum. Isso quer dizer que, em teoria, tudo o que é suposto ser bem feito foi bem feito e o que era preciso limar foi limado até à perfeição. Na prática provavelmente não é isso que carateriza estes 10 temas, pois a génese híper agressiva das composições sobressaem sobre tudo o resto. Não há praticamente espaço para respirar ou deixar a música fluir. Somos pura e simplesmente trucidados por uma sequência indomável de riffs, durinhos q.b., que apelam aos instintos mais impuros da raça humana. Nem Abraão escapa à fúria demoníaca dos Marduk, antes pelo contrário, pois é alvo de um conjunto de riffs e palavreado (letras) em “Charlatan” que faz deste tema só por si um passaporte para o inferno. De resto conceitos como a morte, pautam quase todas as letras. Para resumir, este «Memento Mori» é um álbum extremo, bem delimitado dentro da esfera sonora caraterística dos Marduk e é impossível dizer quem vai ficar mais seduzido por este 15º álbum. Provavelmente quem procura assertividade sonora sem dó nem piedade, este álbum seria até melhor pontuado, quem

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procura algo mais do que o expectável daria quase certamente uma classificação inferior. Fica no entanto aqui o (merecido) destaque. [8/10] SERGIO TEIXEIRA

MOONLIGHT SORCERY

«Horned Lord of the Thorned Castle» (Avantgarde Music) Ficaram debaixo de olho desde o início de 2022 por causa de um par de promissores EP que deram a conhecer um black metal fortemente enraizado nos grandes clássicos dos 90s (em particular, «In the Nightside Eclipse» dos Emperor, e «At the Heart of Winter» dos Immortal), mas feito com invulgares mostras de virtuosismo mais próprias do heavy tradicional. Neste que é o primeiro longa duração da jovem formação finlandesa, a música continua a ser disparada a velocidades hipersónicas e o estridente registo vocal de Antti Mikkolainen soa mais gélido e aterrador que nunca. Os temas evocam ainda velhos castelos, espadas e magia negra, mas, musicalmente, tudo o resto parece arredado das formulações mais convencionais do black metal. Uma boa parte dos 44 minutos do álbum inclui construções altamente melódicas fortemente inspiradas no Heavy Metal dos 80s e com influências neoclássicas comuns a algum power metal. É toda uma escola trazida para o seio da banda por um mestre das seis cordas chamado Loitsumestari Taikakallo, que mostra aqui uma exibição digna de um guitar hero. Interessante também é que há muito pouco de sinistro e sombrio nas composições. Ao contrário, os riffs poderosos e os leads elegantes assumem sempre um tom épico e quase triunfal, a ponto de lembrar os velhinhos Bal-Sagoth. Os teclados fazem o resto, elevando a música a níveis quase esplendorosos. Com uma sonoridade cristalina resultante da mistura sábia de Dan Swano, «Horned Lord of the Thorned Castle» é um testemunho explosivo do génio criativo de um trio de músicos de excepção, que assim demonstram não ser necessário redescobrir a roda para criar Metal fascinante. Acima de tudo, é música com M maiúsculo. [9/10] ERNESTO MARTINS MORNE «Engraved With Pain» (Metal Blade Records) Impressionaram em 2018 com o esmagador «To the night unknown», uma interpretação sludge, muito pessoal, de doom clássico ao estilo de Candlemass ou Solitude Aeturnus. «Engraved with Pain» vê agora o quarteto de Boston mover-se na direcção de territórios sónicos menos ameaçadores e mais próximos daquilo que fizeram, em 2013, no álbum «Shadows». Cada um dos quatro novos temas que compõem este quinto registo estende-se até aos doze minutos de duração, baseando-se em riffs lentos e repetitivos como mantras, o que só por si exige do ouvinte uma disposição particular para ser apreciado. Com efeitos electrónicos e elementos industriais, a faixa homónima que abre o disco arrasta-se ao ritmo tribal da bateria de Billy Knockenhauer, salientando as hipnóticas linhas da guitarra de Paul Rajpal, enquanto Milosz Gassan debita diatribes sombrias sobre crises internas e externas. A coisa fica mais interessante em “Memories like stone”, muito por causa dum riff principal cativante, mas também fruto das derivações que vão surgindo, ora tipicamente doom, ora com texturas mais envolvidas com longos e planantes solos de guitarra. Estes leads extensos têm o condão de enfatizar uma certa tensão em momentos chave da música – soam particularmente brilhantes em “Wretched empire” –, sendo, no geral, a característica mais notável do disco. Na verdade é este talento particular dos Morne que salva a desinspirada “Fire and dust” de cair no tédio total. Ainda assim, «Engraved with Pain» tem muito para agradar aos aficionados dos híbridos doom/sludge/post-metal, o que é dizer muito de música dependente de estruturas repetitivas que, não raras vezes, redunda em resultados fastidiosos. [7/10] ERNESTO MARTINS PENUMBRA «Eden» (Les Acteurs de L’Ombre Productions) Atenção fãs de Within Temptation e Lacuna Coil, este disco é para vossas mercês! A banda francesa Penumbra está de regresso com a sua quinta longa duração e digo-vos que está aqui um lançamento bem catita! A sonoridade do grupo assenta na dicotomia voz feminina angelical (e por vezes operática) e vozes masculinas limpas, guturais e pujantes. Este disco marca a estreia de Valérie Chantraine como vocalista e as semelhanças com Sharon Den Adel são inegáveis (ouçam “Neverdream”), apesar dos Penumbra combinarem mais elementos de modern metal (sintam a vibe à la Cristina Scabbia em “Empty space”), com laivos electrónicos (na batida synth de “Sorrow” que nos põe a cantar ad aeternum “it should last forever” ), na sua abordagem ao symphonic gothic metal, quando comparados com os colossos holandeses. «Eden» é um disco curto e interessante, bastante pesado quando as vozes de Jarlaath

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e Agone dominam e muito melódico quando ouvimos Valérie. O aspecto diferenciador dos Penumbra é a integração do oboé em praticamente todas as músicas, o que lhes confere uma delicadeza contrastante com os momentos mais agressivos, mas fora isso, a cada tema, vamos sendo relembrados das notórias influências da banda. É impossível não ouvir os coros e a apoteose presente em “Underworld” e não pensar de imediato em Therion. Posto isto, apraz-me dizer que «Eden» é um disco agradável de ouvir, não traz nada de novo, mas também não é aborrecido, logo, tenho a certeza que não irá defraudar os fãs do género. [7/10] GABRIELA TEIXEIRA

PRIM ORDIAL

«How It Ends» (Metal Blade Records) Depois dum álbum morno como foi «Exile Amongst the Ruins»(2018), é óptimo voltar a ouvir os Primordial no seu melhor. Parece que três décadas no activo não esgotaram ainda a criatividade da formação irlandesa e a prova disso está neste décimo registo de originais, que não só recupera a mística de clássicos como «To the Nameless Dead”(2007), como até vai mais além. Deixando cair as já escassas tiradas black metal de discos anteriores, «How it Ends» é um trabalho mais negro e doomy, repleto de passagens que não se esquecem facilmente. Desta vez as letras de Nemtheanga falam-nos apaixonadamente e com a expressividade que lhe é característica dos resistentes. Dos proscritos que ousaram enfrentar impérios. Os rebeldes que se sacrificaram pela liberdade. E qualquer relação com o estado actual do mundo não é mera coincidência. A interpretação do vocalista é particularmente arrepiante em “Pilgrimage to the world’s end” e em “Ploughs to rust, swords to dust” que se faz conduzir por uma memorável malha ondulante. As influências do folk celta voltaram de forma mais vivida no instrumental “Traidisiúnta” (o primeiro em 16 anos), de maneira mais genial ainda no dançante “Call to Cernunnos” e na última faixa cujo riff de abertura parece uma homenagem aos compatriotas Thin Lizzy. Intrigante, mas, ao mesmo tempo, um testemunho de versatilidade, é o tema “All against all” por causa das guitarras invulgarmente dissonantes e os efeitos vocais fantasmagóricos, ambos inéditos no reportório da banda. Numa cena cada vez mais infestada de bandas sem um módico de talento, os Primordial permanecem como uma singularidade artística, um exemplo de integridade e uma tábua de salvação para quem procura Metal com alma. [9/10] ERNESTO MARTINS PSYGNOSIS «Mercury» (Season of Mist) Fusão de sonoridades brutais, tipicamente death metal, com elementos atmosféricos, electrónica, samples e um estilo de composição experimental muito para lá das ortodoxias de qualquer género, é a descrição possível para a música que Rémi Vanhove tem vindo a criar através do projecto Psygnosis. Sem o suporte de uma editora o multi-instrumentista francês gravou nada menos que cinco álbuns, o primeiro a solo em 2009, «Phrases», os restantes já com a colaboração de outros músicos, tendo decidido em 2015 enveredar por uma abordagem inteiramente instrumental, visão que concretizou pela primeira vez no fantástico álbum de 2017, «Neptune». Seis anos depois «Mercury» segue de perto o mesmo formato e, na verdade, pouco acrescenta ao que se ouviu no disco anterior – o que não é necessariamente mau – apesar do line-up completamente renovado que o gravou, que inclui, pela primeira vez, um baterista humano, Thomas Crémier. Entre as descargas demolidoras de blast-beats e as passagens minimalistas de calmaria trance o violoncelo de Raphaël Verguin (In Cauda Venenum) continua a desempenhar papel fundamental nos cinco longos temas (9 a 15mins) que compõem «Mercury». O mesmo é válido para os elementos electrónicos, mais salientes em “Eclipse”, o tema onde o peso avassalador dos riffs dissonantes à lá Meshuggah melhor se conjuga com a melodia do violoncelo numa composição rica em motivos de interesse que até conta com as palavras de Jacques Brel (“La bêtise”) em spoken word. A mesma dicotomia de intensidade e emoção funciona com primor no dinamismo de “Uranometria” e em “ÖpikOort”, e muito embora os restantes temas incluam passagens menos felizes, «Mercury» deixa a impressão duradoura dum trabalho bem conseguido no contexto dum modelo sónico muito arrojado. [8/10] ERNESTO MARTINS

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RÜYYN «Chapter II: The Flames, The Fallen, The Fury» (Les Acteurs de L’Ombre Productions) O projecto RüYYn é idealizado e composto apenas por Romain Paulet. Certo é que se nos abstrairmos dessa informação é possível ouvir uma banda coesa e muito bem entrosada. O multi-instrumentista francês rodeia-se das melhores influências que a vaga de black metal mais melódico, de meados dos anos 90, teve para oferecer, sem ingressar pela vertente sinfónica ou orquestral, e socorre-se das guitarras para criar uma tapeçaria de padrão bem definido e bem tricotado. Neste que é o seu primeiro trabalho de longa duração, dá continuidade à narrativa iniciada no EP de estreia, onde se conta a história de uma mente dominada pelo ódio do mundo moderno e que contempla o declínio da sociedade. Neste disco encontramos um black metal de certa forma datado, onde temos maioritariamente riffs de caracter épico, frios, em canções que vão oscilando entre momentos mais furiosos e passagens mais lentas, em que o riff se aproxima de uma filosofia mais heavy metal. Apesar de não ser um disco que fascina, em muito pela falta de um rasgo de originalidade ou por não arriscar fora do que já é conhecido, este é um trabalho muito bem edificado de início ao fim, e que para um trabalho de um homem só, demonstra uma boa visão de jogo por parte de Romain. [7.5/10] EMANUEL RORIZ S.L.O.W. «Abîmes I» (Code666 Records) Há muitas maneiras de tocar Doom. Só na minha lista tenho 198 referências para 421 bandas! No fundo, para mim, o verdeiro Doom é aquele que é lento, pesaroso e melancólico. Onde as guitarras se arrastam até mais não, a bateria marca o lento passo e os vocais esvanecem-se guturalmente na lentidão musical, trazendo à tona um sentimento de desespero e sofrimento. Os S.L.O.W., um acrónimo para “Silence Lives Out/Over Whirlpool”, tal como indicam, praticam em grande parte de um Atmospheric Funeral Doom Metal, lento e gutural e de guitarras arrastadas de que tanto gosto. Desire para sempre! Ao invés dos portugueses Desire, os S.L.O.W. não têm esta componente melancólica do sofrimento e dor inclusa na sua música. Talvez seja mesmo assim que os SLOW se querem definir, mas eu particularmente, adoraria ver esta magnifica música, e bem composta, com esta parte mais dorial amplamente vincada. Apesar de estar só agora a tomar conhecimento desta banda belga, «Abîmes I» constitui já o sétimo álbum da banda. Impressionante este novo mundo do metal onde pérolas destas gravitam à nossa volta sem darmos por elas, numa espécie de planeta distante que só por acaso nos cruzamos com ele. «Abîmes I» é composto por 4 singelas longas músicas que podem atingir os 14 minutos e meio, apresentando uma textura musical homogénea. «Abîmes I» é um álbum curto (43 minutos) mas sólido, com uma sonoridade a condizer com a caracterização da banda, bem conseguido, mas com um sentimento (ou falta dele) que podiam ir mais além. [8.5/10] CARLOS FILIPE SULPHUR AEON «Seven Crowns and Seven Seals» (Ván Records) Em 2018, o talento patente no álbum «Scythe of Cosmic Chaos» elevou este colectivo alemão à liga das bandas mais promissoras no espectro death/black metal. Cinco anos depois as expectativas não saíram defraudadas. A primeira impressão é que o novo «Seven Crowns and Seven Seals» é feito da mesma amálgama sónica atroadora e enegrecida, com paralelos em Morbid Angel, Behemoth e Nile, que fez sucesso no disco anterior. No entanto, uma audição mais atenta mostra que pelo meio de riffs portentosos e ferozes torrentes de blast beats, as guitarras de T. (Torsten Horstmann) surgem agora com linhas mais melódicas, ora a soar desoladas, ora a puxar ao exótico, a acompanhar a perturbadora performance vocal de M. (Martin Hellion) que continua, obsessivamente, a invocar Nyarlathotep, Azathoth, Shub-Niggurath e todas as demais entidades abissais do terrível cosmos imaginado por H. P. Lovecraft. Este aspecto, a par de alguns refrães memoráveis, torna a música bastante mais apelativa, sendo evidentes nos primeiros quatro temas do alinhamento. Destes, “Usurper of the earth and sea” (que foi objecto de video) destaca-se como o momento alto do disco. Mais surpreendente ainda é o título-tema, onde a banda explora terreno sónico ainda não palmilhado, a roçar o gótico (pelo menos parcialmente), numa peça escrita em parceria com Laurent Teubl (Chapel of Disease) e Michael Zech (ex-Secrets of the Moon). Ornamentado por uma fabulosa arte de capa da mão do artista italiano Paolo Girardi – bem sugestiva do horror poético que lhe subjaz – «Seven Crowns and Seven Seals» é um trabalho vibrante e profundo, mas que exige tempo para revelar todo o seu poder encantatório. Depois disso já não há fuga possível à maldição de Cthulhu. [8.5/10] ERNESTO MARTINS

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THE ANSWER LIES IN THE BLACK VOID «Thou Shalt» (Burning World Records) Criado há menos de três anos, este é um projecto que reune Martina Horváth, a voz feminina dos Thy Catafalque, e o multi-instrumentista holandês Jason Köhnen, conhecido dos Celestial Season, The Lovecraft Sextet e vários outros colectivos. Na verdade a colaboração entre os dois músicos remonta já aos místicos Mansur, mas este terreno em particular é onde a dupla dá largas à sua paixão pelo doom metal. E aqui o doom vai desde o mais funerariamente arrastado de entre as sonoridades contemporâneas até ao doom épico ou clássico. O enfoque, no entanto, não está no peso esmagador dos riffs como é costume no género, mas sim na fabulosa voz de Horváth e nas sublimes linhas vocais que conduzem a maioria dos nove temas do álbum. O seu registo, que ora traz a mente a nossa Cármen Simões ora relembra a ex-Draconian Heike Langhans, transmite um sentimento de melancolia pacificada na forma como canta ou como usa a voz apenas como um instrumento. A música, ornamentada aqui e ali com teclados atmosféricos e arranjos de cordas de Gábor Drótos (Thy Catafalque), tem sempre um tom contemplativo e só a meio do álbum dá sinais de alguma catarse agressiva, em particular com as intervenções estridentes de Chelsea Murphy (Dawn of Ouroboros) no título-tema ou na esquizofrenia patente em “Jhieronymus”. Bastante diferente do disco de estreia «Forlorn»(2021), «Thou Shalt» dá a impressão de um trabalho mais focado, longe das influências break-core de Köhnen e sem o experimentalismo dos Mansur. Acaba por não se afastar muito da fórmula tradicional do doom encabeçado por voz feminina, mas as boas composições e a prestação talentosa da vocalista húngara confere-lhe um quê de especial que os fãs das sonoridades mais lentas não vão querer perder. [8/10] ERNESTO MARTINS THIRD STORM «The Locust Mantra» (Chaos Records) Este segundo álbum dos suecos Third Storm correria o risco de ser apenas mais no panorama atual do Black/Death Metal, porém será merecedor de uma referência. Trata-se de um álbum relativamente completo que não se limita ao óbvio e que percorre aqui e ali caminhos que podem parecer já identificados ou batidos mas que têm o seu carimbo criativo bem evidente. Onde por vezes se poderia estar à espera de mais um pouco de crueza surge uma camada acústica, onde se poderia estar à espera de um riff repetido eis que surge um segmento contraintuitivo que agarra a atenção e apela ao inconformismo musical do ouvinte. A sonoridade é particularmente aberta, explorando bem o espaço tridimensional que as guitarras e a bateria podem percorrer e isso favorece dinâmicas que impedem o álbum de cair na saturação e/ou repetição. Não sendo uma ode à perfeição épica, este «The Locust Mantra» traz uma maturidade considerável onde um qualquer elemento sonoro típico e expectável se transforma em algo de novo, e se não atinge a tal perfeição épica, nota-se que o trabalho foi no sentido de lá chegar tanto quanto possível. Esta consistência estará relacionada com o facto de esta banda estar apostada em criar uma trilogia, onde este «The Locust Mantra» se posiciona a meio desse percurso. Será interessante perceber para onde vão progredir estes Third Storm num próximo álbum que completará a trilogia em que se lançaram. Neste caminho de progressão e natural evolução, poderão não chegar a entrar num nível que lhes permita ser uma referência mundial, para já a bola de cristal aponta para que poderão vir a ser com alguma consistência uma banda de algum destaque. [8/10] SERGIO TEIXEIRA THRAGEDIUM «Lisboa Depois De Morta» (Alma Mater Records) Felizmente há manifestações criativas que perduram no tempo, mesmo que tenham passado por um estado de hibernação durante vários anos, cerca de vinte. Depois de «Isolationist», editado em 2003, os Thragedium voltam a ser um nome badalado com o lançamento deste novo disco. Na sua essência conservam os seus elementos clássicos do doom metal e também do neo-folk, ao incorporarem as sonoridades típicas de muitos instrumentos tradicionais da música de raíz portuguesa e não só. Existe uma abundância de instrumentos e respectivas musicalidades que vão surgindo e sendo experimentadas ao longo de todo o disco. Este adorna-se ainda de uma maior interculturalidade por apresentar poemas, ou ritos, em português e inglês. É com a base dada por estas duas línguas e por toda a riqueza instrumental que compõem os seus temas de característica ritualesca. Por ser diferente, especialmente no que à produção nacional diz respeito, primeiro pode-se estranhar estes cânticos arrastados, ou as melodias que tendem a ter efeito hipnótico. Mas estes rituais têm a capacidade de nos envolver e cativar à medida que vamos passando pelas canções, sendo o ouvinte guiado em direcção ao clímax luzidio que é a conclusão do último tema “The old oak and the mandrake root”. Esta é uma obra que merece um destaque pautado pelo detalhe que encerra, e que poderá seguramente levar a portugalidade dos Thragedium bem longe. [8.5/10] EMANUEL RORIZ 4 1 / VERSUS MAGAZINE


UADA

«Crepuscle Natura» (Eisenwald) Os Uada entraram com o pé direito no mundo da música extrema quando editaram o seu primeiro álbum «Devoid of Light» em 2016 e torna-se interessante fazer uma comparação, ainda que superficial, com este «Crepuscle Natura». Essencialmente a matriz de ambos os álbuns mantém-se muito semelhante e quem ouve música destes Norte-Americanos percebe quem são. Nem sempre é fácil dentro do universo do Black Metal conceber uma sonoridade que fique claramente associada a uma banda específica (tendo em conta o universo atual quase infinito propostas extremas). Os Uada conseguem esse feito, sendo por isso de registar a personalidade vincada e muito própria do respetivo som. E sendo que essa personalidade vincada existe, permite-lhes de modo inerente, obter um destaque que de outra maneira não aconteceria. Neste álbum não trazem nada de claramente novo, mas o que trazem é essencialmente boa música. Um disco em que imperam segmentos assertivos, que aparecem com naturalidade e apelam ao sincronismo automático das nossas redes neuronais auditivas, solos pertinentes embora um pouco escassos, partes de bateria que alternam entre blast beats e segmentos mais cerebrais, atributos condimentados em 5 temas com a dose certa de componente melódica. É um disco que se presta a várias audições, embora lhe falte alguma ligação, um nexo entre temas que todos juntos sejam mais que a soma das partes individuais. Esse seria possivelmente o nível máximo de excelência, o que temos é suficiente para uma classificação bem acima da média. É extremamente difícil a uma banda de metal extremo chegar à nota máxima e não esperava que fosse este álbum dos Uada a chegar lá. Mas que tem o mérito devido, isso tem e o destaque será completamente merecido. [9/10] SERGIO TEIXEIRA VOID «Jadjow» (Brucia Records) Excêntrico, experimental e desafiador são apenas eufemismos quando usados para descrever a parafernália sónica contida neste quarto registo dos Void. Black metal é apenas o vocabulário de base porque o que realmente sobressai é a qualidade imprevisível da música que explode freneticamente em todas as direcções, em retóricas indescritíveis, mas, ainda assim, bastante atraentes, que remetem para lendas do avant-garde como Dødheimsgard (ou DHG). E a referência a estes noruegueses vem a propósito, não só porque a banda foi co-fundada por um antigo membro do Dødheimsgard (Kvohst) e alistou momentaneamente Carl-Michael Eide, mas principalmente porque os primeiros contornos de «Jadsow» surgiram no período em que o guitarrista Matt Jarman (outro membro fundador) integrou a formação ao vivo dos Dødheimsgard, em 2019. Mas apesar das ligações promíscuas aos arquitectos do lendário «666 International», as suas influências não parecem ser exageradas, sendo apenas óbvias no tema de abertura “Fables from a post-truth era”. O melhor, contudo, vem depois com os riffs angulares, as linhas de baixo errantes, a bateria hipertécnica e os vocais dementes do caótico “Interdaementional”, do progressivo “Oduduwa’s chain” e ainda em “When Lucifer dies”, esta muito ao estilo dos Arcturus. A composição trilha arriscadamente a proverbial linha ténue que separa a inteligibilidade do absurdo, mas a música acaba por soar sempre razoavelmente discernível. Apesar da formação renovada que o produziu, «Jadsow» partilha ainda dos traços principais dos discos anteriores da formação britânica, reposicionando os Void como um dos melhores antídotos para nos salvar do tédio em que o mundo do Metal se transformou. [8.5/10] ERNESTO MARTINS WOLF PRAYER «Spell of The Crimson Eye» (Barhil Records)

Ao iniciar a audição deste «Spell of The Crimson Eye», que é o segundo disco de originais dos germânicos Wolf Prayer, experimentei uma estranheza inicial, que se desenvolveu ao longo da abertura com o instrumental “Interludium Nebulae” e do tema procedente que é “Desire”. O som das guitarras carregado de um fuzz típico de bandas de stoner/desert rock; a voz de Jan Sprengard que parece desprovida de manobras de processamento ou grandes artifícios, surgindo então muito autêntica e sincera; o som de orgão/sintetizador que surge por vezes de forma inesperada, serão seguramente os motivos para este espanto. O que veio tornar esta audição uma experiência agradável e com desejos de a voltar repetir, foi a maior conexão com esta sonoridade, a qual fui experimentando à medida que ia avançando no disco. Este não é um disco conceptual e os ambientes criados são bastante diversos, servindo de pano de fundo para histórias sobre uma missão lunar, sobre amor, sobre perda. O novo disco dos Wolf Prayer conta com uma produção que coloca ênfase, de forma notória, na performance “ao vivo” do colectivo, envolvendo-o numa cápsula sonora que evoca o rock dos anos 70. Por vezes parecem acontecer algumas imperfeições, ou talvez seja uma vulnerabilidade bastante real, mas é esta autenticidade que estará a servir de gancho e que nos deixa presos a algo tão orgânico e sub-“produzido”.

[8/10] EMANUEL RORIZ 42 / VERSUS MAGAZINE


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ÀS PORTAS DO MAL O ano de 2020 já parece longínquo, mas a pandemia que por lá rebentou ainda nos faz encontrar estilhaços por aqui por ali. Desde o surgimento dos suecos Eternal Evil em 2019, este é o primeiro momento em que vão poder finalmente mostrar-se em pleno, agora que chegam já ao segundo álbum de originais «The Gates Beyond Mortality». A conversa com Adrian Tobar [guitarra e vozes] trilha o caminho cheio de buracos dos últimos 3/4 anos, enquanto percebemos a força que têm para seguir em frente. Entrevista: Emanuel Roriz Fotos: Scott Bradshaw

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Logo após o lançamento da vossa bem-aclamada primeira demo, em 2019, intitulada «Rise Of Death», fomos atingidos pela pandemia. O que vos passou pela cabeça nesse momento, enquanto pensavam no futuro do projecto? Adrian Tobar - Bem, eu não sei bem como explicar isso. Quando a pandemia rebentou aqui na Suécia, só tínhamos apenas 4 músicas no total, que componham a demo e, portanto, não tínhamos ainda material suficiente para darmos um concerto completo, por isso estávamos nas tintas para isso. Só nos isolamos na nossa sala de ensaios e começamos a escrever canções para o nosso álbum de estreia. Obviamente vocês seguiram pela estrada certa e dois anos depois tinham pronto a lançar aquele que foi o vosso primeiro longa-duração, com o título «The Warriors Awakening...Brings The Unholy Slaughter». Como foi trabalhar nele e depois promovêlo tendo em conta as limitações impostas durante este período? Fluiu de forma tranquila, tendo em conta a situação em que a Suécia se encontrava, mas muitos dos planos e concertos agendados tiveram de ser cancelados devido à pandemia. O maior problema é que o lançamento do disco teve um

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Quando o primeiro disco saiu queríamos fazer uma digressão pela Suécia e Europa para o promover, mas não foi possível. atraso grande devido à situação. O álbum foi lançado oficialmente em Novembro de 2021, mas o vinil só ficou disponível em Abril de 2022, e isso não foi algo de positivo. Encontrar um estúdio para registar o álbum também não foi tarefa fácil, uma vez que praticamente todos os estúdios de Estocolmo tiveram de ser fechados devido às restrições. Mas nós acabamos por ter contacto com o Robert Perhsson, que tem um estúdio chamado “Studio Hambucker”, e decidimos gravar com ele.

durante o próximo ano se tivermos essa oportunidade.

E agora aqui estão com o novíssimo «The Gates Beyond Mortality», o vosso segundo disco. Podemos dizer que é a primeira vez na vossa carreira em que vão poder promover um lançamento e vivenciar o processo de lançamento de novo material da forma como deve ser? Sim, o que dizes é muito correcto. Quando o primeiro disco saiu queríamos fazer uma digressão pela Suécia e Europa para o promover, mas não foi possível. Agora que o mundo já saiu da lavagem cerebral e não está tão fodido, como esteve nos tempos da pandemia, vamos poder ser capazes de promover o disco com toda a força. Uma digressão escandinava está a ser trabalhada e talvez andemos pela Europa

Quão perto se sentem da ideia que tinham em mente quando a banda foi criada? Neste momento, a banda encontrase muito distante daquilo que foi a ideia original. Esta primeira ideia era ter uma banda de black/thrash que iria soar como os Deathammer e os Nifelheim, e nunca mudaria o seu tipo de som ou estilo. Mas rapidamente fomos mudando a nossa sonoridade para algo melhor.

Pelo que tenho estado a ler, há um claro caminho de evolução que é perceptível lançamento após lançamento. Como descreves esta evolução? Bem, nós evoluímos bastante, quer tenha sido pessoalmente ou musicalmente, desde que lançamos o primeiro trabalho. É algo muito natural para nós, amadurecemos e tornamo-nos mais profissionais em tudo o que temos feito.

A vossa música surge associada a descrições como black, thrash metal and mayhem. Era o que vocês pretendiam criar? É uma reflexão do que vocês mais ouvem e que vos serve de inspiração? O som do nosso segundo disco representa-nos a nós os 4 como músicos. Todas as inspirações,


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experiências e objectivos que atingimos. É uma receita muito completa daquilo que somos como músicos.

espiritualidade musical dos novos elementos brilha ao longo do disco. Sem o Niklas e o Adam, este álbum não iria soar da forma como soa.

Adrian, tu és o único membro que resta da formação inicial. Isso continua a fazer de ti o responsável principal pela composição (letras, música…)? Como se estão a integrar os novos membros que chegam aos Eternal Evil? Para este álbum sim, eu sou o principal compositor e letrista, mas isso foi porque o novo disco teve de começar a ser escrito quando o último grupo de membros da banda foi despedido. Eu não podia esperar por encontrar novos elementos para começar a escrever o álbum, porque o tempo que sobrava começava a escassear. Mas, ainda que o disco tenha sido escrito completamente por mim (exceptuando o tema “Signs Of Ancient Sin”), acho que a

Que tipo de tópicos podemos encontrar nas letras do novo trabalho? De tudo um pouco desde guerra até às práticas do oculto.

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Até agora, quais são as vossas maiores memórias tendo em conta a vida na estrada, concertos, participações em festivais? Até agora ainda não passamos pela experiência de “vida de estrada”. A única digressão em que estivemos foi muito curta. Oito concertos para ser exacto, já que dois concertos foram cancelados, pois o promotor era um anormal, mas passamos por muitos bons momentos também. Estávamos em digressão com uma banda chilena chamada Dekapited e tudo correu muito bem, até que após cinco

concertos, se juntou à digressão uma outra banda chamada Svpremacist, de Israel, que eram os maiores anormais existentes no planeta, não prestavam. Ok, o baterista era o único tipo porreiro naquela banda. Quais são os vossos planos para os próximos meses? Alguma digressão a ser preparada? Se estiverem para passar por Portugal façam-nos saber! Como disse atrás, estamos a planear uma digressão pela Escandinávia e essa é a nossa principal prioridade. Há também planos para um digressão europeia, mas ainda não temos nada agendado. Adoraríamos tocar em Portugal!

[…] acho que a espiritualidade musical dos novos elementos brilha ao longo do disco.

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ÁLBUM VERSUS

SARLIC BLISS

«Brægn Hæft» (MDD Records) A definição dada aos alemães Sarlic Bliss é um mix de géneros metálicos que há primeira vista não augura nada de bom, tendo ainda por cima, a palavra “Melodic”: Melodic doom/death Post-black Metal. Juntar Doom e Death/Black Metal não é assim tão invulgar no mundo do Metal, mas associar as palavras Melodic e Post, já constitui uma raridade e miscelânea musical que à partida logo desconfiamos. Mas, os Sarlic Bliss conseguiram agarrar nestes ingredientes todos e cozinhar um som Doom Dark Metal – caracterização oficial da banda, numa sonoridade única melódicaagressiva, e dar-lhe uma textura intrínseca com a ampla incorporação de piano em momentos mais melódicos e limpos, e o violino em andamentos bem ancorados nas músicas que compõem o álbum, quer na melodia limpa, quer, e principalmente, na guturalidade doom ou postblack, o que faz deste um álbum surpreendente a todos os níveis, quer musicalmente, quer liricamente, com a utilização da antiga linguagem inglesa. Os Sarlic Bliss são aqui uns verdadeiros mestres deste estilo melodic-post muito peculiar. Cada uma das 6 músicas que compõem este trabalho tem a sua essência musical própria, com as diferentes secções bem delineadas. A presença do violino, numa linha musical em segundo plano, dá um corpo melódico-doom marcante em contraponto com os solos bem vincados de guitarra que conferem uma característica mais pesada e obscura. “Flotlan swefn” é talvez a música do álbum que resume melhor a musicalidade destes alemães. Todas as músicas são conduzidas pela estupenda voz de Jochen Thurn que define o som com uma tonalidade por vezes doom, por vezes postblack - e mesmo roçando o death, intercambiando os growls com vocais limpos. Sarlic Bliss é uma banda que aparece do nada com um álbum estrondoso, que classificaria de um dos melhores (senão o melhor) que me passou pelas “mãos” este ano. Ah! E quase esquecia-me de dizer que isto tudo é parte integrante do seu álbum de estreia, «Brægn Hæft». [10/10] CARLOS FILIPE

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Personalidade multifacetada 5 2 / VERSUS MAGAZINE


[…] tenho cancro, é incurável […] Esta é a razão pela qual atualmente escrevo letras tristes. Por outro lado, sempre escrevi canções e letras sobre o que se passa no mundo, porque sou um “fanático das notícias”!

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Pretty Maids, Avantasia, Nordic Union, a solo… Temas pessoais ou da atualidade… Álbuns, digressões, concertos… Parcerias com diversos músicos… Há mais de quarenta anos que Ronnie Atkins não para de agitar o mundo da música. Conseguimos fazê-lo parar um pouco para conversar connosco sobre o que tem andado a fazer. Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro| Fotos: Tallee Savage

Saudações, Ronnie! Começamos por agadecer a oportunidade de te entrevistar. Já ouvimos «Trinity», que está prestes a sair. Um grande álbum como sempre! Eduardo – És um dos meus músicos/vocalistas favoritos. Conheço o teu trabalho desde «Jump the Gun» dos Pretty Maids lançado há bem 30 anos atrás e tenho sido teu fã desde essa altura. Depois destes anos todos e de tantos álbuns ainda ficas nervoso na altura de lançar um novo álbum? RA – Não usaria o termo “nervoso”, porque não estou nervoso. Se lanço alguma coisa, é porque estou satisfeito com o meu trabalho. Caso contrário, não o teria lançado. Sei à partida que pelo menos é razoavelmente bom. Mas fica-se sempre um tanto excitado. Queres saber como vão reagir os fãs e a crítica. Mas sinto-me confiante acerca deste, sinto que é tão bom como os anteriores. Penso que este álbum é um pouco mais pesado que os meus dois primeiros álbuns a solo. As canções parecem-me boas. É Melodic Rock, mas algumas das canções são mais Metal. É como vocês gostam, é como eu gosto. Aliás, o mais importante é agradar a mim próprio. Quando faço algo que posso defender, quando lanço um álbum e sei que as canções são bastante boas, sinto-me muito confiante! Mas é claro que é sempre excitante ver como as pessoas reagem. Ninguém quer fazer um flop! Em suma, sinto-me

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muito confiante em relação a este, porque eu próprio gosto do álbum. Eduardo – Fazes música para ti ou para as pessoas? É uma combinação das duas coisas. Quando começas uma carreira como vocalista, músico, fá-lo por amor à música, ao Rock N’ Roll. É por aí que começas! A primeira coisa que queres fazer é lançar um álbum de que as pessoas gostem para poderes tocar a tua música em público. Se só fizer música para agradar aos outros, serei uma espécie de prostituto musical. Tenho muita sorte e sinto-me muito feliz, porque há 40 anos que as pessoas gostam da música que faço. Mesmo assim, não vejo nada como garantido à partida! Tudo começa, porque queres fazê-lo por amor à música e sentes-te feliz quando as pessoas concordam com a tua perspetiva. É claro que também quero agradar aos fãs, mas faço-o sempre à minha maneira. É este o meu estilo, isto é o que sempre fiz. Sou um compositor tradicional, old school, baseio-me no Rock dos anos 70 e 80. Não tento modernizar-me, nem ajustar o meu estilo ao de cada época. Basicamente, continuo a fazer o que fazia há 30 ou 40 anos atrás! Pretendo manter-me fiel a mim próprio, honrar as minhas raízes e penso que as pessoas sabem o que podem esperar de mim. Escrevo à minha maneira! A coisa passa-se assim: quando queres escrever uma canção, usas o piano ou a guitarra. Desta vez, escrevi as canções usando uma guitarra

elétrica ou uma guitarra acústica. O mais importante para mim é encontrar uma boa melodia, um bom riff, um refrão “orelhudo”. Quando compões a canção usando uma guitarra acústica e consegues lembrar-te da melodia, ficas a saber que tens em mãos algo bom. Depois, tudo depende da forma como envolves esse material, como o produzes e isso pode fazer-te seguir inúmeras direções. Penso que ter feito este álbum com o meu amigo Chris Laney – que produziu os meus últimos dois álbuns e tem as mesmas ideias sobre música que eu – foi muito bom, porque foi uma colaboração fácil. Eduardo – Será que o facto de teres usado a guitarra para compor este álbum o tornou mais pesado? Sim. Canções como “Godless” e “Ode to a Madman”, “Shine” e “Raining Fire” resultaram de riffs que me vieram à mente. Não sou nem um grande guitarrista, nem um grande pianista, sou um vocalista. Mas toco esses instrumentos suficientemente bem para poder usá-los para compor as minhas canções. A maioria das minhas ideias começa na minha mente. Tenho um I-phone e, sempre que me surge uma boa ideia, gravo-a logo. Assim, quando estou a escrever uma canção usando a minha guitarra ou outra coisa qualquer e preciso de um elemento para a canção, vou ver as ideias que gravei no I-phone e, às vezes, encontro algo que


[…] quando lanço um álbum e sei que as canções são bastante boas, sintome muito confiante! Mas é claro que é sempre excitante ver como as pessoas reagem. Ninguém quer fazer um flop!

serve para o que eu queria. Mas as melhores canções que crias são, sem dúvida, aquelas que escreves de uma assentada, em meia hora. Não estou a referir-me às letras, apenas à música. Mas, para mim, tudo começa com uma boa ideia que surge na minha mente. Às vezes, também fico inspirado quando estou a tocar uns acordes no piano ou na guitarra. Mas geralmente a ideia surge-me de repente, do nada, e tenho de ir a correr gravá-la. Às vezes, estou a receber amigos e digo-lhes: “Desculpem! Tenho de ir lá acima gravar uma coisa!” Eduardo – Os títulos de algumas faixas levam-nos a pensar que as letras são tenebrosas. É assim? E por que escreveste letras tristes? Algumas das minhas letras neste álbum a solo e nos outros dois são mais pessoais do que o que quer que seja que eu tenha escrito antes. Como devem saber, tenho cancro, é incurável e o meu diagnóstico continua a ser o mesmo. Descobrires que tens cancro num pulmão que alastou

para a medula óssea é algo que te afeta mesmo. Começas a pensar no que te espera depois disto e outros assuntos da mesma natureza. Ao mesmo tempo, estou a tentar encontrar o lado positivo da coisa, para que não seja só desgosto, tristeza, coisas negativas. A vida é como é e, quando tiveres de partir, vais mesmo. Quando começas a ver o fim tão perto, tu e a tua família passam a encarar a vida de modo diferente. Deixas de sentir que tudo está garantido. Esta é a razão pela qual atualmente escrevo letras tristes. Por outro lado, sempre escrevi canções e letras sobre o que se passa no mundo, porque sou um “fanático das notícias”! Portanto, algumas das canções falam de déspotas como Putin, o que é lógico, e de muitas outras coisas que estão a acontecer. Hoje em dia, quando vês as notícias, não encontras muitas coisas positivas: ou é a guerra, ou são as alterações climáticas e ambas as coisas são aterradoras para mim e para a humanidade. Sempre escrevi letras e música sobre temas que interessam a

pessoas comuns como eu e tu. Não estou a tentar fazer política, só estou a abordar essas questões de uma forma que possa interessar às pessoas. Não posso salvar o mundo, mas sempre me pareceu mais interessante escrever acerca de problemas da atualidade do que de masmorras e dragões ou assuntos dessa natureza. Mas não tenho nada contra isso! Também escrevia canções assim para Pretty Maids, como sabes. CSA – Há algo muito curioso acerca de duas das tuas canções de que gosto muito. Uma é “Future World”, que saiu em 1987, em que cantas: “There’s nothing left to save/They blew it all away”. A outra é “Picture Yourself”, em que cantas: “And our commitment is crucial/Indisputable in the end/ And everything will be beautiful/ So beautiful again”. Tornaste-te otimista? “Future World” foi escrita durante a “guerra fria”. Já nessa altura era um “fanático das notícias”. Mas, quando és novo, és mais ingénuo na forma como escreves as letras.

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Sou um compositor tradicional, old school, baseio-me no Rock dos anos 70 e 80. Não tento modernizar-me, nem ajustar o meu estilo ao de cada época.

Na altura, tudo o que via pareciame assustador. Logo escrevi: “They blow it all away”! “Picture you” foi escrita durante o verão de 2020, quando havia todos aqueles motins nos EUA, a pandemia, etc. Ambas as canções espelham a época em que foram escritas. Hoje em dia, as pessoas têm tendência para serem pessimistas, porque só há más notícias, más notícias, más notícias. Isso afeta os jovens. Em 2022, estava eu a fazer uma caminhada com a minha mulher, a minha filha, que estava grávida, e o namorado dela. Enquanto caminhávamos na floresta, ficamos a saber que Putin tinha invadido a Ucrânia e falámos sobre isso. Quando chegámos a casa e e estávamos a ver televisão, no noticiário disseram que Putin tinha posto as suas forças estratégicas em estado de grande alerta. Começámos logo a falar sobre armas nucleares e a interrogarmonos sobre se Putin iria realmente dar início a uma guerra nuclear. Eu cresci durante a “guerra fria” – e tu também – e ambos sabemos que nas décadas de 60, 70 e 80 as pessoas costumavam falar de bombas atómicas, de guerra nuclear e outros assuntos desse género. Quando a União Soviética se afundou, em 1991, todos pensaram que o pesadelo tinha acabado e sentiram um grande alívio. Pensámos que, finalmente, íamos poder levar uma vida normal. Nunca pensei que os meus filhos ou a geração a seguir teriam de se preocupar com a guerra nuclear. Mas, atualmente, os jovens têm de pensar nisso, porque a guerra nuclear é uma ameaça real. E, ainda

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por cima, temos as alterações climáticas, que ainda são uma ameaça maior. Parece que está tudo lixado no mundo inteiro. CSA – Também fazes parte de Nordic Union, que é uma banda de Hard Rock. Ouvi os três álbuns e achei-os diferentes. Parece-me que o último (o meu favorito) é mais pesado. Concordas? Pode-se dizer que houve uma evolução? Sim. Nordic Union foi um projeto que o Serafino me propôs. Eu não estava interessado, porque tinha Pretty Maids, que era mais do que suficiente para mim. Inicialmente, ele sugeriu um outro produtor/ compositor, mas as canções eram uma merda e eu recusei fazer parte de tal projeto, porque estava abaixo do meu nível. Depois, ele propôs o Erik Martensson, que eu já conhecia dos festivais em que participava com Pretty Maids, e apresentou-nos um ao outro. Em breve, recebi duas canções que saíram no primeiro álbum: “Hypocrisy” e “When Death Is Calling”. São duas canções realmente boas. E o resto é história! Começámos a trabalhar como um projeto de estúdio e o primeiro álbum saiu muito, muito bom. Também gosto do segundo álbum. Mas o terceiro álbum saiu mais pesado, porque nos pareceu que tinha chegado a altura de fazer um que também fosse melódico, mas um pouco mais pesado. E assim apareceu «Animalistic». Penso que está de acordo com o estilo da banda. Já não ouço há uns tempos, mas acredito que é um bom álbum.

CSA – Algo de que gosto muito em Nordic Union é a alternância entre momentos extremos e momentos mais suaves – por vezes com cada estilo correspondendo a uma canção inteira (mais suave em “Riot” e mais pesado em “This Means War”) ou combinados na mesma canção (por exemplo, em “In Every Waking Hour”, uma canção de que gosto muito). E também reparei que, no terceiro álbum, o Erik já não canta – ou quase não canta. Foi necessária uma negociação ou foi uma transição natural? Basicamente, eu canto em todos os álbuns. O Erik assegura os back vocals. À partida, ficou decidido que eu cantaria todas as canções. Ele também é um vocalista fantástico, mas, em Nordic Union, eu sou o vocalista principal. Mas não me importo que ele cante de vez em quando e até podemos fazer um dueto ocasional. Ele é um compositor extraordinário, uma verdadeira “máquina de escrever canções”, mas também é uma pessoa muito ocupada, porque está envolvido em muitos projetos, faz produção, faz mistura. Fiquei literalmente apaixonado pela sua maneira de compor desde o primeiro dia. Foi por isso que aceitei fazer parte de Nordic Union. Eu escrevo as letras e acrescento uma melodia aqui e ali, para deixar a minha marca nas canções. Ele compreende e aceita. Eduardo – De volta aos Pretty Maids! 35 anos depois de «Red Hot and Heavy», como vês a evolução da banda e a tua como músicos até 2019?


Acho que evoluímos naturalmente. Algo que me deixa muito orgulhoso é que, nos 10 anos até 2019, conseguimos provar que ainda somos relevantes em termos musicais. Desde «Pandemonium», lançámos «Motherland», «Kingmaker» e o último álbum – «Undress Your Madness» – é realmente bom. Mudámos de produtor, contactámos Jacob Hansen e fizemos algumas alterações na produção. Esse álbum tem muitas canções boas. É claro que álbuns como Future World» ou «Jump the Gun» são marcos para a banda. Foram lançados nos anos 80 ou no início dos anos 90, era uma época diferente. Mas penso que nos adaptámos bem às circunstâncias nos últimos 10 a 15 anos sem perdermos a nossa identidade, nem nos afastarmos do caminho que tínhamos traçado. Apostámos sempre em boas canções de Melodic Hard Rock Heavy Metal. Gostamos de material pesado, mas também de material melódico. E a chave da nossa música é saber combinar de forma equilibrada bons riffs e boas melodias. Acho que nunca fizemos nada mau, mas é claro que alguns álbuns são melhores do que outros. Penso que um álbum como «Spooked», lançado em 1997, era bastante bom, mas, na altura em que saiu, a cena tinha mudado e toda a gente andava a ouvir outros estilos: Nu Metal, Grunge… Por vezes, é preciso sacudir as coisas, é importante que surja uma banda nova que mude as coisas. Eduardo – Vamos ter um novo álbum de Pretty Maids em 2023/2024? Se não for esse o caso, a que se deve este hiato? Basicamente, quando eu fiquei doente e durante a pandemia e mesmo antes, havia problemas entre nós. É essa a razão pela qual ainda não fizemos nada desde essa altura. A banda ainda existe, eu e o Kenny ainda falamos, mas não temos planos para novo álbum agora. Podemos vir a fazer alguns concertos no próximo ano. Vamos

ver! Andamos a conversar sobre esse assunto. Eduardo – Há duas canções que gostaria de conhecer melhor, que são talvez as mais emocionais que escreveste: “One Shot” e “Will You Still Kiss Me (If I See You in Heaven)”. As letras tocam o coração e a alma (gostaria que essas palavras fossem minhas e penso que a minha mãe anda quereria dar-me um beijo). As letras dessas canções são muito pessoais. Essa canção fala sobre a minha sogra, que tem Alzheimer. Foi escrita em 2019 e ela ainda está viva. Escrevi-a, porque me apercebi do sofrimento da minha mulher, que perdeu o contacto com a mãe, à medida que ela se vai afundando na doença. Escrevi-a adotando a perspetiva da minha mulher. Ficas a ver a pessoa a desaparecer lentamente. Sei o que tem custado à minha mulher. Eu sei como é, relembrando oque senti quando perdi a minha mãe há 35 anos. Portanto, esta canção fala do desgosto de perder uma pessoa que ainda cá está. Ainda é a tua mãe, mas já não age como tua mãe. Não consegues comunicar com ela. Está aqui fisicamente, mas já cá não está a nível mental. É triste, mas é assim. Eduardo – Quem são os cinco vocalistas que mais te infuenciaram? É muito difícil responder a essa pergunta, porque tenho muitos vocalistas favoritos. Se me tivesses feito essa pergunta há 40 anos, teria referido Ronny James Dio. Gosto de cantores que são praticamente únicos como Freddie Mercury, Robert Plant nos velhos tempos, Steve Marriott de Humble Pie, Ozzy Osborne (porque conhece a sua arte a fundo, embora não seja um vocalista muito técnico), Paul McCartney. CSA – Por que razão escolheste Ronnie Atkins como nome artístico? Foi para homenagear alguém? A nossa editora da altura – uma

pequena companhia inglesa – quis que alterássemos os nossos nomes, porque eram dinamarqueses. Nós tínhamos 17 anos. Éramos uns miúdos. Portanto, mudámos os nossos nomes. De facto, o meu até é inglês: o meu verdadeiro nome é Paul Christensen. Escolhi Ronnie – por causa de Dio. E acrescentei Atkins, mas não me consigo lembrar de onde veio esse nome. CSA – Não te sentes um tanto desconfortável com dois nomes? Não tens a impressão de teres duas personalidades? Mas eu tenho uma personalidade com múltiplas facetas. E o facto de ter um segundo nome assenta bem no meu alter ego. Se tivesse sido mais sensato há uns anos atrás, não teria feito isso. CSA – Falando agora de Avantasia, como é que um cantor Rock se sente numa banda que se dedica sobretudo ao Power Metal? Sinto-me sempre maravilhosamente bem com eles, adoro-os a todos. Há 10 anos que faço digressões com eles e somos uma grande família. Todos os vocalistas de Avantasia são ídolos do Tobi: Bob Catley de Magnum, Geoff Tate de Queensrÿche, Eric Martin dos Mr. Big, eu dos Pretty Maids… é esse o conceito que deu origem à banda e é por isso que eu faço parte dela. O Tobi é o regente do coro, o cheer leader. Ele escreve as canções – e é diabolicamente bom como compositor. Ele próprio é um excelente vocalista, embora na área do Power Metal. E consegue escrever todo o tipo de canções. Até baladas. É um compositor melódico como eu próprio gostaria de ser. Eduardo e CSA – Ficamos por aqui. Obrigados pelo teu tempo. Fiquem bem.

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The girl with the kaleidoscope eyes Por: Gabriela Teixeira - mixcloud.com/Submundo

2023 em revista 2023 está prestes a acabar e apercebo-me de que foi o ano em que mais música vi ao vivo! Fiz 41 anos em Setembro e estou agradavelmente pasmada, mas acima de tudo, orgulhosa com a quantidade (e qualidade!) de bandas, cujos concertos assisti. Vou então partilhar alguns desses momentos convosco. Em Fevereiro, dei por mim a realizar um sonho, aparentemente inacessível à miúda adolescente, natural da cidadezinha de Amarante - entrar no Hard Club com um passe de imprensa! Aconteceu com os Leprous e não podia ter tido uma melhor estreia, afinal estava a ver uma das melhores bandas dentro do modern prog e iria assinar um artigo de opinião. Não senti vaidade, senti antes responsabilidade porque teria de escrever algo à altura daquele espectáculo onde talento e elegância deram as mãos. Em Março rumei a Lisboa para aquele que seria o meu 2º concerto na capital. O 1º havia sido no longínquo ano de 2004 ou 2005 para ver Judas Priest no então Pavilhão Atlântico e agora, 19 anos volvidos, estava de regresso para ver uma banda deveras aguerrida e espampanante chamada Avatar. Testemunhei da primeira fila o memorável freak show que aqueles artistas, mais do que músicos, deram em palco. Não sei quem teria o maior sorriso naquela sala, se eu ou o palhacito mais endiabrado e sexy que já vi - Johannes. Nessa noite vi como se pode ir além do heavy metal, sem nunca perder a essência do heavy metal. No calendário metaleiro, Abril é mês de Barroselas e, finalmente, pus os pézinhos no solo mais sagrado do underground mais extremo nacional. Ainda que só tenha ido um único dia, serviu para perceber o porquê de tanta gente fazer daquela uma tradição. Senti-me bem acolhida, apesar de saber que aquela nunca será a minha casa. A “menina do prog” é demasiado frágil para doses tão concentradas de brutal death metal, não o posso negar. Foram os Esoteric que me levaram ao SWR e, apesar de tocarem sem baterista, proporcionaram-me uma magnífica viagem dentro da viagem e, por isso, já valeu a pena. A cereja no topo do bolo foi ter visto, pela primeira vez, o lendário Tom G. Warrior a debitar a crueza dos tempos dos Hellhammer. Em Julho, o meu irmão ofereceu-me um dos últimos bilhetes disponíveis para Melvins. Ele é que é o grande fã e, através dele, fui conhecendo muitas músicas da banda. Foi uma curiosa coincidência estarmos a entrar por uma das laterais do Hard Club e vermos de imediato o Dale Crover, muito descontraído, ao telemóvel, mas optámos por não o abordar. O concerto foi uma dose de puro rock, despido e despretensioso. A plateia estava hipnotizada com a presença distante do King Buzzo que só no fim do concerto disse duas palavras, “thank you”. 40 anos de carreira e só agora vinham a Portugal em nome próprio, o momento foi de celebração naquela sala esgotada do Hard Club. Agosto é o mês dos festivais por excelência e, este ano, fui arrastada à última hora para ser novamente adolescente com Ugly Kid Joe no Vagos e saí de lá a gostar da atitudezinha petulante dos Tara Perdida. Próxima paragem: Sonic Blast, e foi amor à primeira audição, apesar de alguns aspectos logísticos menos positivos. Fui só um dia para apalpar terreno e não podia ter escolhido melhor cartaz para fazer a minha estreia: Green Leaf, Bombino, Thurston Moore e Elder deram grandes espectáculos! O espaço é pequeno e acolhedor, a variedade de tribos que se unem em torno das sonoridades mais stoner/psychedelic dão um colorido simpático ao ambiente e os concertos foram de uma boa onda contagiante. A vontade de regressar é muita, mas da próxima será para viver os três dias. Contrariamente ao SWR, o Sonic Blast tem tudo para ser a minha segunda casa metaleira. Este ano, contudo, foi o cartaz do Milagre Metaleiro (e o preço, não nego!) a falar mais alto e que me levou a rumar ao Pindelo dos Milagres, pela primeira vez. Gostei particularmente de ter visto Therion, Eclipse,

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Blame Zeus, Hadadanza e Moonspell, adorei as pessoas que conheci e com quem partilhei boas risadas. Ficou a promessa de nos voltarmos a encontrar num próximo festival, seja ele qual for. Quero sublinhar que, ainda que eu tenha Vagos como meu lar estival, a verdade é que é a qualidade do cartaz que me faz pegar na tenda e fazer-me à estrada. Setembro começa já a ser, para mim, sinónimo de Riverstone. Pela terceira vez fui até Rio de Moinhos e encontro sempre algum aspecto melhorado face à edição passada. O espaço é bonito, as caras começam a ser bastante familiares e o pão com chouriço é divinal! O cartaz, maioritariamente, de bandas nacionais permiteme sentir o pulso do nosso underground. Não conheço ninguém da organização portanto o que escrevo aqui é verdadeiro e desinteressado - simpatizo genuinamente com este festival e espero que se mantenha por muitos anos, pois já não imagino outra forma de me despedir do verão que não implique fugir de um fardo de palha. Desde o dia do lançamento de «ID.Entity» dos Riverside que eu ansiava pelo momento de os ver subir a palco. O mais desejado concerto do ano aconteceu no Hard Club, no dia 10 de Outubro e superou as já elevadas expectativas. Para ser perfeito, só faltou uma fotografia com a banda e apertar a mão a Mariusz Duda em modo de agradecimento por fazer música que me diz tanto. Fiquei, todavia, desiludida ao perceber que a sala não estava esgotada. Como é possível que a melhor banda de prog rock (não podemos dizer metal porque o Mariusz não concorda) da actualidade não tenha tido mais público a admirar as qualidades técnicas daqueles quatro seres? Quem lá esteve saiu rendido, vos garanto! E, por fim, se tudo correr bem, espero terminar o ano com a visceralidade dos Bizarra Locomotiva. Será a quinta ou sexta vez que irei ver esta máquina de vociferar o mais negro da essência humana, que parece trabalhar sempre a todo o vapor. A minha vida nunca me permitiu ver as grandes bandas, os grandes concertos nos estádios em Lisboa, mas ao fazer esta retrospectiva, é impossível não me sentir uma privilegiada por ter estado presente em momentos tão especiais, onde a música foi o elemento agregador. É, aliás, de Kobi Farhi - vocalista dos Orphaned Land, uma frase que repito em várias ocasiões: “A música é a única religião que une as pessoas”. Desafio alguém a refutar este pensamento. Musicalmente falando, espero que o vosso ano de 2023 também tenha sido tão prazeroso e satisfatório e que em 2024 possamos estar presentes em mais momentos de união em torno desta estranha forma de vida que é o heavy metal.

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CURTAS AEGRUS

«Invoking the Absymal Night» (Osmose Productions)

Tudo o que possa contribuir para a caracterização menos abonatória dos espíritos malignos encontra-se aqui neste 4º trabalho destes Finlandeses. Um álbum de Black Metal que tem uma tonalidade de certo modo “old school” por via da sonoridade e que em quase tudo acerta na mouche. Temos elementos e referencias tais como o diabo, a obscuridade ou a morte a perfumar o ambiente sonoro destes 7 temas. É possível que este seja um álbum que saia injustamente camuflado e ignorado até porque as bandas de Black Metal finlandesas não são as que mais créditos têm na praça. Uma coisa é certa, os temas têm estruturas bem definidas, riffs implacáveis e apelativos e onde quase tudo que se ouve em «Invoking the Abymal Night» pede bem mais do que apenas um ligeiro abanar de cabeça. [8/10] SERGIO TEIXEIRA

C RYSTAL COFFIN

«The Curse of Immortality» (A Beast in the Field)

Este trio de Canadianos vem com o seu terceiro álbum enriquecer as fileiras de álbuns de Black Metal – neste caso melódico – deste ano com um trabalho bastante bem conseguido. Os teclados aparecem só mesmo para dar uma tonalidade básica e um certo ambiente a tudo o resto que acontece ao longo dos 42 minutos de audição. Fica muito pouco para apontar a este trabalho que tem tudo o que é essencial (riffs assertivos, estrutura rítmica das composições, produção) para tornar uma audição apelativa. A inovação não é o elemento primordial neste trabalho, ficando com uma personalidade que se confunde no meio da floresta. Mas para aquecer uns dias frios de Outono, é uma proposta que não desilude de modo algum. [8.5/10] SERGIO TEIXEIRA

E FRAAH ENHSIKAAH

«One Thousand Vultures Waiting to Be Fed» (Osmose Productions)

Mais uma proposta da Osmose Productions que merece destaque. Aqui trata-se de um trabalho a solo, onde o multi-instrumentalista Efraaah Enhsikaah é o “one man show” que apenas precisa de uma ajudazita na parte das vocalizações, ficando tudo o resto a seu cargo. E nestas coisas da música, os trabalhos que são feitos a solo, podendo perder riqueza ou heterogeneidade (isso seria uma discussão infindável), ficam a ganhar quase sempre em consistência e coerência. E neste trabalho essa consistência e rumo bem definidos permitem obter um trabalho com cabeça tronco e membros. Não fica a faltar nenhum dos ingredientes essenciais a um trabalho interessante de Black Metal. [7.5/10] SERGIO TEIXEIRA

G OATKRAFT

«Prophet of Eternal Damnation» (Iron Bonehead Productions) Segundo álbum deste trio norueguês, essencialmente é um trabalho de Black/Death Metal que entra a pés juntos, percorre-se a pés juntos e acaba – adivinharam – a pés juntos. Não há misericórdia, a respiração pode até ficar suspensa durante alguns segundos e ficarmos no limiar da perda de conhecimento. Música extrema onde as composições são de tal maneira incisivas e cruas que os títulos refletem o que aqui se passa do ponto de vista auditivo: “Portal to annihilation”, “Barbaric hatred and doom”, “Thermonuclear genocide” são exemplos do que realmente esperam os ouvintes. Tenham medo, tenham muito medo, mas sendo apenas 30 minutos haverá uma pequena possibilidade de sobrevivência. [9/10] SERGIO TEIXEIRA

M ETIDE

«Erebos» (Black Lion Records)

O novo disco dos italianos Metide é um exercício de profundidade, muito característico, quando é de post-metal que se fala. Este é um trabalho que começa num artwork que tanto tem de original como de enigmático, e que deve funcionar como ponte para o misticismo dos temas do disco, claramente inspirados na mitologia helênica. «Erebos» tem uma linha muito coesa,

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traçada com sabedoria por quem parece chegar facilmente ao que pretende criar. Contudo, fica no ar a divisão entre os momentos onde o cunho próprio é bastante acentuado, tal como a melodia doentia, mas cativante, que vamos ouvindo em “Styx”, e os momentos onde somos assolados pela referência, muito próxima, aos mestres Cult of Luna. Não chegando a ser verdadeiramente deslumbrante, há aqui passagens que fazem valer a pena a voltinha. [7/10] EMANUEL RORIZ

R ESTLESS SPIRIT «Afterimage»

(Agonia Records)

Naturais de Long Island, os Restless Spirit apresentam no seu terceiro disco um conjunto de oito músicas na onda stoner/sludge que, a meu ver, poderiam ser mais cativantes não fosse uma produção demasiado caótica e “suja” (ou então, sou eu que não gosto de sludge?). A música não respira, à excepção da voz de Paul Aloisio, que por vezes me faz lembrar “Wino” Weinrich. O disco anterior, «Blood of the Old Gods», que marca a transição do stoner/doom para o sludge, é muito mais audível. Tenho pena, mas não consigo ouvir Restless Spirit em 2023 e não é pela banda não ter talento! [6/10] GABRIELA TEIXEIRA

S LEEPWALKER

«Skopofoboexoskelett» (Sentient Ruin)

Sleepwalker são uma banda que resiste à catalogação e aos carimbos clássicos identitários dos géneros musicais. Para dar uma ilustração do que se pode ouvir neste «Skopofoboexoskelett» comecemos por recorrer à definição que nos é facultada pela editora: Black Metal experimental/ psicadélico. Na prática, as sonoridades e composições propostas quando saem do domínio psicadélico são tudo menos expectáveis, daí o atributo experimental. Com dissonâncias, segmentos atípicos, sobreposições de elementos aparentemente desconexos em camadas provocatórias e dentro de uma lógica crua e abstrata, resultam numa complexidade de elementos que confluem, aparentemente, para o irracional. Temos apenas 4 temas totalizando 24 minutos de audição, teria sido interessante mais um par de temas para dar um pouco mais de personalidade e estrutura a este «Skopofoboexoskelett». [8/10] SERGIO TEIXEIRA

THE HOLY GHOST

«Ignore Alien Orders» (Lövely Records)

Porque o universo da música está muito longe de se esgotar nos domínios mais extremos, por vezes surgem-nos também propostas mais ligadas ao bom velho rock. E que melhor sugestão para desligar por momentos o cérebro das andanças mais extremas do que estes The Holy Ghost. Estes suecos trazem neste 3º álbum uma sugestão de Punk Indie Rock polvilhada com conteúdo lírico à volta de temas sociais, progressistas e espiritualidade. São apenas 23 minutos para 7 temas mas o suficiente para podermos dar por nós a entoar alguns temas, por exemplo “Robot creeps” que se presta a uma familiarização e ligação quase imediata ao ouvinte. É um disco de rock clássico, algo ligeiro sem elevada densidade sonora. [7.5/10] SERGIO TEIXEIRA

V/A

«Azores & Metal: Volume III» (Museu do Heavy Metal Açoriano)

Esta é, até agora, a compilação mais completa e ecléctica que o Museu do Heavy Metal Açoriano já nos proporcionou. Um belo equilíbrio entre bandas com nome firmado, como Morbid Death ou A Dream of Poe, e jovens talentos como Dark Age of Ruin ou After the Rain. A qualidade dos temas e da sua gravação esgrima com quaisquer outras bandas estrangeiras, daí a relevância deste projecto que visa mostrar ao mundo que há, num pequeno arquipélago no meio do Atlântico, um autêntico viveiro de óptimas bandas de heavy metal. Do Death metal ao Stoner; do Gothic ao mais sinfónico… há muito para descobrir nas 15 faixas que compõem este disco. Aguarda-se um quarto volume. [8/10] GABRIELA TEIXEIRA

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Caos sob controlo Alwin dos Berzeker Legion é um fã incotornavél do metal melódico escandinavo, que agora no seu projecto pretende quer ter a mesma energia e melodia, coisa que transparece e soa a vitória garantida. Entre inspiração e trabalho árduo, este proecto lança agora o “Chaos Will Reign” para mostrar que as dificuldades e peripécias que tiveram até então são combatidas a golpe de riffs pesados. Entrevista: Adriano Godinho| Fotos: Nera K.

Ouvir a música de abertura faz-me notar todos os detalhes que colocaram nesta faixa. A primeira música de um álbum é diferente para vocês ou está lá por coincidência e não é importante? Alwin - A música de abertura “Chaos Will Reign”, que é também o título do álbum, é uma canção bastante variada com muitos elementos, exatamente como queríamos. Uma música forte com todas as características que queremos expressar em Berzerker Legion. É uma das músicas que eu (Alwin) escrevi para o álbum. Pessoalmente, acho que a faixa de abertura é uma das coisas mais importantes para chamar a atenção do ouvinte. Deve começar poderosamente, acordar o ouvinte imediatamente e deixá-lo curioso sobre o que vem no álbum. Para isso, escolhemos a música de abertura e a sequência das músicas com muito cuidado, para que o álbum permaneça dinâmico, diversificado e interessante até ao último segundo. A melodia desempenha um papel importante nas vossas músicas; porque tem alguns refrões muito poderosos ao longo deste álbum.

Isso é algo que procuram, ou acontece naturalmente? Eu sou um grande fã sempre do antigo estilo melódico sueco e infelizmente, nos dias de hoje, esse estilo quase que se tornou uma raridade. Ainda assim, para mim, esta é como eu escrevo música. Adoro combinar melodias e harmonias com algumas partes brutais. O estilo de escrita e visão do metal do Tomas é ligeiramente diferente do meu, mas encaixa perfeitamente nas minhas ideias. Para ambos, a composição das músicas é muito natural, os nossos estilos de escrita diferentes tornam o álbum muito dinâmico e diversificado. Não forçamos nada. Todas as músicas que criamos com a Berzerker Legion até agora são apenas uma consequência lógica da nossa visão musical. O que vos levou a começar a trabalhar neste álbum? Foi apenas a necessidade de escrever música ou um tema ou tópico específico? Depois de lançarmos o nosso álbum de estreia “Obliterate The Weak”, só conseguimos fazer um espetáculo antes da COVID chegar e trazer o confinamento. A partir daí, tudo ficou calmo em torno

dos Berzerker Legion. No entanto, no meu tempo livre, continuei a escrever música apenas porque adoro fazê-lo. Quando tínhamos material suficiente, começamos a falar sobre um sucessor, depois achamos que o novo material era realmente forte e merecia ser lançado. Então, acho que a paixão pela música nos fez seguir em frente, o que resultou no lançamento de “Chaos Will Reign”. O que é diferente ou semelhante neste álbum, em comparação com o anterior “Obliterate the Weak”? Com “Chaos Will Reign”, acho que demos um grande passo em frente. Ainda sou a Berzerker Legion da maneira como queremos que soe, mas parece que evoluímos mais como banda. As músicas parecem mais completas, com um equilíbrio perfeito entre melodia, harmonia e brutalidade. Em geral, acho que o álbum também é um pouco mais rápido. Uma grande diferença em comparação com o primeiro álbum é que escolhemos o Jonas Kjellgren, do Black Lounge Studio, para cuidar da mistura e masterização. Ele é um mestre na mistura. Há muitas melodias e pequenos detalhes na nossa

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Todas as músicas que criamos com a Berzerker Legion até agora são apenas uma consequência lógica da nossa visão musical.

música, e ele simplesmente acertou em conseguir colocar todos esses pequenos detalhes na mistura tão bem sem perder potência e brutalidade. A produção do álbum tornou-se muito massiva, mas ainda assim dinâmica. Como está a funcionar para vocês como banda? Sentem-se mais produtivos a escrever material sozinhos ou tudo acontece durante os ensaios misturando ideias? Em Berzerker Legion, Tomas e eu somos os compositores. Tomas escreve as suas próprias músicas e eu faço o mesmo. Podemos dizer que escrevemos as músicas sozinhos. Se olharmos para as minhas músicas, eu escrevo todas as guitarras e baixo e até programo as baterias nessas músicas. Tomas faz exatamente o mesmo com as suas músicas e é assim que escrevemos o álbum. No estúdio, James dá o seu toque às músicas quando grava as baterias. Seria bom ensaiar com os rapazes, mas isso não é realmente possível, já que todos vivemos em países diferentes, escrever em casa é a única opção. Como vocês veem a pandemia passada? Foi um problema encontrar-se com os amigos ou viram-no como uma oportunidade para ter mais tempo? Agora que tudo acabou (ou não?), como trabalham juntos? Alguma coisa mudou para vocês? Como mencionei antes, a COVID realmente atrapalhou a promoção do nosso álbum de estreia. Estávamos totalmente preparados para tocar essas músicas ao vivo e fizemos um show no House of Metal em Umea (Suécia) antes do mundo entrar em confinamento. Com o confinamento, foi impossível tocar

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ao vivo. Naquela época, escrevi muitas músicas apenas porque tinha bastante tempo. Naquela época, não foi especialmente para um novo álbum, mas apenas para passar o tempo. Muitas das músicas encontraram um lugar no novo álbum. Mas, quanto à escrita e gravação, não nos vimos. Todos nós escrevemos e gravamos em casa. Fizemos assim em ambos os álbuns e realmente funciona bem. O que geralmente começa primeiro: o riff, a letra ou uma ideia? O riff vem primeiro. Para mim, começo com um riff (improviso), e quando acho que é bom o suficiente, gravo esse riff e penso em um segundo riff ou harmonia sobre esse riff. Com riffs suficientes, começo a organizar os vários riffs e transformá-los em uma música que envio para o Jonny. Ele então começa a pensar nas letras. Como e onde cantar. Que tipo de refrão etc. Fizemos isso no primeiro álbum e deu certo, então escolhemos a mesma estratégia no próximo álbum. Vocês acham que este álbum reflete as ideias que tinham antes da banda começar, ou vocês evoluíram para algo não esperado? Quando Tomas e eu começamos a fazer algo juntos, nunca falamos sobre estilos ou ideias. Ambos temos nosso próprio estilo de escrita. Um processo natural. Após a ideia de começar algo juntos, enviei algumas das minhas músicas para o Tomas, e ele fez o mesmo para mim. Gostamos muito das músicas um do outro e chegamos à conclusão de que valia absolutamente a pena gravar e lançar essas músicas. Então, acho que podemos dizer que nossa música é uma consequência lógica

das nossas preferências musicais e poderia ser esperado que soasse da maneira como soamos agora. Existe alguma música que se destaque das outras? As preferências de músicas sempre serão uma questão de gosto pessoal. Não posso falar por todos os membros, para mim uma das melhores músicas é “Chaos Will Reign”. Talvez até uma das melhores coisas que eu escrevi na minha carreira musical. É uma música com um começo brutal, mas também contém muitas melodias e um refrão forte. A música de abertura perfeita num álbum. Mas para mim, não há uma única música fraca no álbum. Musicalmente, vocalmente e produção, este álbum tem tudo e reflete totalmente nossa visão na música. Quando olham para “Obliterate the Weak”, vocês veem de maneira diferente de antes? Se sim, porquê? Já se passaram 3 anos desde que lançamos nosso álbum de estreia, e ainda estou muito orgulhoso dele. Todos nós estamos. Como eu disse antes, não forçamos nada na escrita, simplesmente acontece naturalmente e, tanto as músicas quanto a produção, são ótimas nesse álbum. Eu não teria mudado nada em “Obliterate The Weak”. Assim como o novo álbum, “Obliterate the Weak” tem um equilíbrio perfeito entre melodia e brutalidade. Com o novo disco “Chaos Will Reign”, simplesmente continuamos o que começamos. Isso é o que somos e o que fazemos. Estabelecemos o nosso curso desde o primeiro dia. Nós somos Berzerker Legion. Facebook Youtube


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Fortíð

Em torno do narcisismo Tal como Narciso se enamorou do seu reflexo na água, Eldur está legitimamente apaixonado pelo último fruto da sua arte musical – «Narkissos» - cujo tema central é o narcisismo. Entrevista: CSA & Ernesto Martins | Fotos: Laura Diamond

CSA e EVM – Saudações, Eldur! EVM – O EP de 2022 intitulado «Dómur um dauðan hvern» é o primeiro lançamento depois do vosso regresso à Islândia após uma estadia de uma década na Noruega. O que nos podem dizer sobre a decisão de regressar ao vosso país de origem? Não estavam contentes com a forma como as coisas estavam a correr para a banda na Noruega com a formação anterior? Eldur – Isso não é bem assim. A segunda parte do nosso álbum anterior «World Serpent» foi escrita e gravada na Islândia. A

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minha decisão de regressar teve a ver com questões financeiras e familiares. A banda não teve nada a ver com isso, mas eu também não estava a sentir grande dedicação da parte dos outros membros nessa altura. Depois de ter voltado para a Islândia, continuei a trabalhar com eles online e ainda fui passar duas semanas à Noruega para ensaiar e gravar com eles a primeira parte de «World Serpent». Alguns meses depois contactei-os e disse-lhes que pretendia pôr de parte essa formação. Eles foram muito compreensivos, visto que trabalhar à distância não parecia a melhor solução para nós.

EVM – Qual foi o objetivo de lançar dois EP antes do novo álbum? A principal razão tem a ver com a Covid 19. Pretendíamos lançar «Narkissos» no ano passado, mas foi impossível fazê-lo devido a atrasos na produção. O EP intitulado «Dómur um dauðan hvern» provém da mesma sessão de gravação e, inicialmente, estava destinado a ser material bónus. Mas, tendo em conta que o grande atraso era inevitável, decidimos converter estas duas canções num EP para fazer a ponte entre os dois álbuns.


EVM – Este EP assinala o regresso do baterista Kristján Guðmundsson (aka Fimbultyr), que tocou na trilogia épica «Völuspá». Portanto, parece que estamos de regresso à formação clássica de Fortíð, não é assim? Na realidade, não há nada a que se possa chamar “formação clássica de Fortíð”. O Kristján era baterista de sessão, quando gravámos o nosso primeiro álbum, e voltou a tocar connosco em «World Serpent». Não fará mais álbuns com Fortíð. CSA – O mito de Narciso é um tópico inesperado para um álbum de uma banda nórdica. Por que razão o escolheram para ser o tema central deste álbum? Há algum equivalente deste mito na cultura nórdica? [Todos sabemos que estes mitos existem em várias culturas.] As razões pelas quais escolhi esse tema são de índole pessoal e também têm a ver com a forma como vejo a sociedade atual. Antes de continuar, deixa-me dizer-te que não tenho qualquer formação em Psicologia. Sou apenas um artista que foi muito afetado (e, por conseguinte, influenciado) por algo que apelidarei de comportamento narcisista. Não estou a mergulhar na mitologia grega, como o título do álbum sugere. Estou a explorar a personalidade narcisista focando-me no tipo maligno, que considero como um traço psicopático. Mas, como já declarei, não sou especialista no assunto. Estou apenas a explorar o que vi, investiguei e experienciei. Pode ser que na mitologia nórdica tenhamos alguma figura que represente a mente narcisista: por exemplo, Loki. É um deus que apresentava frequentemente um comportamento autocentrado e manipulador. Até há uma canção sobre Loki no álbum intitulada “Illt skal með illu gjalda”. Foi escrita anos antes de eu ter tido a ideia de base para este álbum e aparece na nossa demo de compilação que foi lançada em 2016. Pareceu-me que combinava muito bem com a linha

que atravessa «Narkissos». Por seu lado, Narciso só é culpado de se ter apaixonado pelo seu próprio reflexo tanto quanto eu sei. No meu livro, isso não é de certeza a coisa pior que se pode fazer. CSA – De facto, a vossa editora afirma que associaram este mito à “personalidade narcisista”. Por que te pareceu importante abordar este tópico? Como já referi, convivi de perto com narcisistas. Afetaram-nos e feriram-nos profundamente, a mim e à minha família. Mas não direi mais nada sobre este assunto. É uma questão muito pessoal. Senti a necessidade de aprofundar o meu conhecimento sobre este tipo de personalidade, para conhecer melhor o meu inimigo. É esse o caminho que leva à vitória e posso garantir-te que foi uma grande batalha. Também funcionou como uma forma de autoterapia, algo que a música sempre foi para mim. Por outro lado, também temos aqui uma reflexão sobre a sociedade. Vês a humanidade e a sua atividade diária nas redes sociais. Tento afastar-me o mais possível dessas pessoas. Se fazes o mesmo e não tens ideia do que estou a falar, observa um indivíduo chamado Joey B. Esse sujeito coleciona os aspetos mais repugnantes dessa personalidade e faz umas compilações horrendas que te fazem perder a fé na humanidade (se ainda não a perdeste). CSA – Podemos considerar este álbum como uma narrativa uma vez que se foca numa personalidade narcisista? Sim, de certo modo sim. Pensa no filme “American Psycho” em que o narrador entra na mente de Patrick Bateman. Não é bem a mesma coisa, mas é a comparação mais próxima que consigo encontrar. EVM – Não me lembro de em «World Serpent» haver voz limpa como ouvimos em «Narkissos». Penso que dá um lado místico às canções. O que nos podes dizer sobre isto?

«World Serpent» tem muitas partes com voz limpa. Tens de ouvir o álbum novamente. Geralmente, tomo decisões sobre esses aspetos depois de ter escrito a canção toda. Algumas partes parecem ficar melhor com voz limpa e outras não. É algo intuitivo. Logo, é difícil de explicar. CSA – Por que convidaram o Niilo de Insomnium para cantar na faixa que tem o mesmo título que o álbum? Ele é amigo do Teemu Aalto, que estava a fazer a mistura do álbum. Passou pelo estúdio, enquanto ele estava a fazer isso. Portanto, foi uma ideia do Temuu. Não tínhamos tempo para lições de Islandês, por conseguinte ficou decidido que o Niilo rosnaria a palavra Narkissos três vezes. Foi só uma brincadeira. Não tínhamos planeado nada. CSA – A vossa editora salienta o facto de que o vosso som combina muitas referências no universo do Metal e sente-se isso a ouvir este álbum. Que géneros podemos encontrar neste álbum? Como escolheste o estilo adequado a cada canção? Nunca penso em termos de géneros, portanto não posso dizerte que género uso mais. Faço o que me vem à cabeça. O meu instinto puxa-me para o Death, Thrash e Black Metal combinados com música cinemática. São estes os meus estilos musicais favoritos. As canções ficam como calha. Por vezes, sinto-me mais um transmissor do que alguém que está a dirigir o processo. CSA – Quem escreveu as letras deste álbum? Até ver, sou eu o único letrista da banda. EVM – No EP e também no novo álbum, voltaste a apostar em letras escritas em Islandês em vez de Inglês. Porquê? Sou fluente em ambas as línguas. Mas não sou grande adepto de as misturar no mesmo álbum. Só fiz isso em «Pagan Prophecies».

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Geralmente, prefiro usar uma só língua em cada álbum. CSA – Laura Diamond – a tua mulher – ficou encarregada do lado gráfico do álbum. Recebeu indicações de ti ou de algum outro membro da banda para fazer a capa? Acho-a muito interessante, mas também muito enigmática. Como relacionam a ilustração na capa do álbum com o seu tema central? Falámos muito sobre isso. Eu tinha uma ideia muito específica sobre o assunto, o que lhe dificultou o trabalho, porque ela gosta de trabalhar com mais liberdade. Chegámos a um compromisso entre as nossas duas perspetivas, o que levou muito tempo, mas nos deixou a ambos contentes com o resultado final. A ideia original era desenhar um espelho com uma moldura decorada. Mas depois começaram a acontecer coisas. Os ratos, as serpentes, as facas são todos símbolos de traição, enquanto os corvos tenebrosos representam um mau presságio e os lobos representam a força necessário para nos mantermos afastados de tudo isto. As flores que aparecem na capa chamam-se narcisos. O símbolo semelhante a uma serpente que aparece no meio da capa foi desenhado por mim e foi inspirado pela teia do destino (wyrd), agora embaraçada pela traição. O título «Narkissos» tem um I maiúsculo para representar o narcisismo autocentrado. Há muita energia em conflito nesta capa. EVM – Como vês o novo álbum comparando-o com «World Serpent». Penso que capta a atenção do ouvinte muito mais depressa do que o anterior devido a ter mais passagens memoráveis. Que te parece? Penso que alguns ouvintes acham este álbum melhor do que «World Serpent» e outros o inverso. Uma coisa é certa: são álbuns diferentes, mas gosto de ambos. No entanto, parece-me que «Narkissos» é talvez mais aventureiro, mais livre.

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CSA – Que expetativas tens para este álbum? Que Fortíð se afirme mais e seja mais reconhecida, já que é a mais antiga banda de Metal da Islândia: agora 21 anos. CSA – E que planos traçaram com a vossa editora para promover «Narkissos»? Eles têm os seus planos e eu tenho os meus. Ainda vamos ter de esperar mais um pouco para fazermos um concerto, mas mais tarde ou mais cedo estaremos novamente no palco. Entretanto, vamos chamando a atenção das pessoas nas redes sociais. Basta seguirem alguns links. E temos uma grande variedade de merchandising disponível online (ehp.is).

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As razões pelas quais escolhi esse tema são de índole pessoal e também têm a ver com a forma como vejo a sociedade atual. […] Não estou a mergulhar na mitologia grega, como o título do álbum sugere. Estou a explorar a personalidade narcisista […]


Playlist Adriano Godinho

Gabriel Sousa

Carlos Filipe

Gabriela Teixeira

Cristina Sá

Helder Mendes

Wells Valley - Achamoth Wayfarer - American Gothic Masterplan – Masterplan Go Ahead And Die - Unhealthy Mechanisms Exocrine - Legend Kaunis Kuolematon - Mielenvalta Thragedium - Lisboa Depois De Morta Sarlic Bliss - Brægn Hæft S.L.O.W. - Abimes I The Answer Lies In The Black Void - Thou Shalt Grand Cadaver – Deities of Deathlike Sleep Moonlight Sorcery – Horned Lord of the Thorned Castle Paradise Lost – Obsidian Ronnie Atkins – Trinity

Eduardo Ramalhadeiro

Black Sabbath - Heaven and Hell Dio - The Last in Line Dio - Holy Diver Remedy - Something that your eyes won’t see Cinderella - Long Cold Winter

Emanuel Roriz

Bizarra Locomotiva - Volutabro Mão Morta - Tricot Cannibal Corpse - Chaos Horrific Dopelord - Songs For Satan Thragedium - Lisboa Depois de Morta

Ernesto Martins

The Jimi Hendrix Experience - Electric Ladyland Eternal Storm - A Giant Bound to Fall ZZ Top - Chrome, Smoke & Bbq Sgàile - Traverse The Bealach Avkrvst - The Approbation

H.E.A.T. - Force Majeure Eclipse - Monumentum Gotthard - Bang Jelusick - Follow The Blind Man Desmond Child - Discipline Bizarra Locomotiva - Volutabro Apotheus - Ergo Atlas Moonspell - 1975 Blame Zeus - Laudanum Thragedium - Lisboa Depois De Morta Orphanage - By Time Alone Dopelord - Songs For Satan Bloodbath - Grand Morbid Funeral Count Raven - The Sixth Storm Evoken - Hypnagogia

Hugo Melo

Thragedium - Lisboa Depois De Morta Children of Bodom - Hatebreeder Bizarra Locomotiva - Volutabro Die in Fire - Live in Hell - Watain Conqueress - Forever Strong and Proud - Doro

Ivo Broncas

Megadeth - Rust in peace Lamb of God - Sacrement Gojira- From Mars to Sirius Testament- Brotherhood of the snake Pantera - Cowboys from hell

João Paulo Madaleno

Swansong - Awakening Winterhorde - Neptunian Abyss of Hel - Into the Abyss Frakasm - And So the Blood Was Shed Frostbite Orckings - The Orcish Eclipse

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Uma vida de Metal O Metal e KRIEG são o centro a vida de Neill Jameson, o seu reflexo e o seu escape. A vida da banda vai acompanhando a do seu fundador e frontman. Neste momento, ambos atravessam uma fase boa com o lançamento do nono álbum: «Ruiner». Entrevista: CSA | Fotos: Kassandra Carmona

Saudações, Neill! Espero que estejas bem, assim como os outros membros da banda! Neill – Só posso falar por mim, mas acho que está tudo bem! Ando muito ocupado, especialmente com o fim do ano a chegar e com muitas coisas para escrever e planear. Podes resumir para os nossos leitores os momentos mais importantes da história de Krieg. Já se passaram cerca de 30 anos, logo é difícil fazer esse resumo, não só por causa de ser uma história longa, mas também porque estou velho e a minha memória está uma merda. Mas posso fazer-vos uma visita guiada tendo em conta os momentos mais

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importantes: 1995 – Krieg é criada como um projeto a solo com o nome de Imperial. Era algo muito primitivo. Nessa altura, eu ouvia muito Gorgoroth, Ancient, Behemoth dos primeiros tempos, Darkthrone, etc. Queria combinar Black Metal cru com música ambiental e samples de chuva, tempestades, etc. para dar ao projeto uma espécie de sensação sónica e visual. Era um cliché, reconheço. Muito do que me motivava era criar algo que eu gostasse de ouvir, algo que fosse vital para mim. Esse sentimento desapareceu ao fim de algum tempo, para reaparecer mais tarde. 2002: Depois de sete anos a gravar Black Metal predominantemente caótico e cáustico com forte influência de Profanatica, Beherit, Archgoat, Demoncy e outros do mesmo género, decidi pôr de parte esse lado de Krieg e focar-me menos no exterior e mais no interior. Gravámos o EP intitulado «Patrick Bateman» para pôr fim à primeira época de Krieg e, logo a seguir, comecei a gravar «The Black House», que era muito mais pessoal e representa mais ou menos o que tenho feito desde essa altura. 2005: Krieg gravou aquele que supostamente seria o meu álbum “final” – «Blue Miasma» – resultado de uma depressão que durou anos. Nesse mesmo ano, mas mais tarde, Krieg acabou depois de um concerto desastroso com “Under the Black Sun”. Ainda nesse mesmo ano, levei à falência a minha editora – Blood Fire Death Records – e juntei-me a Nachtmystium para fazer duas digressões e gravar «Instinct Decay». 2008: Depois de uma tentativa de suicídio (overdose intencional) e de dois projetos em que me tinha envolvido (March into the Sea and N.i.l.) terem acabado, decidi ressuscitar Krieg e fiz dois splits com Caina e Gravecode Nebula. 2014: Agora Krieg é uma banda a tempo inteiro, com muitas digressões e concertos no seu historial com esta formação. Gravámos splits com Ramlord, Moloch, Wolvhammer e Leviathan e um 7 polegadas e ainda o álbum «Transient». No fim do ano, já tínhamos gravado o nosso material para o split com Integrity, que só saiu quatro anos mais tarde. E assim chegamos ao momento presente. Estou certo de que teremos mais conversas como esta. No que diz respeito a lançamentos, a vossa discografia é enorme. Este é o vosso nono álbum (mas a lista parece infinita tantos são os outros tipos de lançamentos). Entre o primeiro álbum (lançado em 1998) e este, podemos dizer que houve uma evolução? E quais são as suas marcas? Acredito que o tempo acumulado representa sempre um crescimento. Vejo a história de Krieg dividida em eras: primeira era – desde as demo de Imperial até «Patrick Bateman»; segunda era – entre «Black House« e «The Isolationist”; terceira era – agora. Estas eras distinguem-se entre si em termos de mudanças de estilo, de estética e pessoais.


Escrevo o que gostaria de ouvir e de acordo com o que sinto, logo a minha música reflete a minha vida.

Contudo, eu diria que tu fazes old shool Metal, não é? Sim podes dizer isso. Escrevo o que gostaria de ouvir e de acordo com o que sinto, logo a minha música reflete a minha vida. Há bandas que tenham tido uma influência particular em Krieg? Para este álbum, ouvi muito Gorgoroth, Emperor dos primeiros tempos, Forgotten Woods – sobretudo material da segunda vaga nórdica. Falando agora do novo álbum («Ruiner», lançado há uma semana). - Por que lhe deram esse título? É a terceira face da trilogia que começou com «The Isolationist» e é um reflexo de um aspeto da minha pessoa. - Este álbum é concetual? Provavelmente, sim. - Como começou o processo de criação? Foi acidental. Íamos gravar três canções para o split com Withdrawal (“Bulwark”, “Red Rooms” and “No Gardens Grow Here”) e as coisas começaram a mudar de rumo quando acabámos de as gravar. Decidimos regressar alguns meses mais tarde e acabar as outras cinco canções.

- E como se organizaram para o gravar? Gravámo-lo durante um ensaio num estúdio em Filadélfia, enquanto nos faziam a mistura e overdubs. - É do meu ouvido ou a produção neste álbum não é muito limpa? [Gosto disso.] Nenhum dos nossos álbuns tem uma produção limpa. Quem escreve as letras da banda? Sou sempre eu que faço isso. De vez em quando, convido alguém para me ajudar. A capa que o Rob Sheyder fez para o álbum é fantástica, mas muito intrigante. - O que representa essa imagem? Detalhes de uma imagem subconsciente, o terceiro aspeto. - Como se relaciona com o álbum? Cada detalhe refere-se a aspetos das letras e do tema do álbum. - A banda participou de alguma forma na sua criação? Dei ao Rob instruções pormenorizadas sobre o que queria, relativas às partes que eram muito importantes: as lanternas, os halos vermelhos, a face com espinhos.

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Há muito tempo que deixei de ter expetativas no que diz respeito a Krieg. O mais importante é que eu me sinta satisfeito com o que fiz e é esse o caso.”

Procurei o Rob na Metallum e pelos vistos esta capa é o seu primeiro trabalho (pelo menos no universo do Metal). É verdade? Quem é ele? Como o encontraste? Rob é um tatuador da Virgínia. Uma pessoa que trabalha para mim foi ao salão dele e disse-me para eu ver a sua arte, porque temos interesses e estéticas semelhantes, caso quisesse que ele me fizesse uma tatuagem. A arte dele impressionou-me tanto que decidi contactá-lo para fazer a capa para o álbum. Ele também tem um projeto de Black/Harsh Noise chamado Isolated Path que é genial.

Vamos fazer um muito especial em Chicago em 2024. Não há mais nada planeado. - Gostariam de vir tocar a Portugal? A nossa cena Black Metal é muito entusiástica. Gostaríamos muito, mas a possibilidade de virmos a tocar na Europa é muito remota, infelizmente.

A vossa editora incluiu no promo kit alguma publicidade sobre concertos que estão a preparar. - Podes falar-nos um pouco desses concertos? Vão ser os nossos primeiros concertos depois de uma paragem de seis anos. Os alinhamentos para os três foram escolhidos a dedo, portanto cada noite será especial. - Entretanto já previram mais algum espetáculo?

Essas reações foram ao Encontro das vossas expetativas? Há muito tempo que deixei de ter expetativas no que diz respeito a Krieg. O mais importante é que eu me sinta satisfeito com o que fiz e é esse o caso.

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Que retorno sobre o novo álbum já receberam da imprensa e dos fãs? Até ao momento, a reação foi muito forte. Parece que as pessoas estão a encontrar algo de valor no álbum, o que me deixa muito contente.

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Vociferian Uma questão de resiliência

Após seis anos de silêncio, Vociferian regressa com um novo álbum – «L’Os Qui Germe» – lançado pela Adipocere Records, que marca um novo rumo no seu percurso. Principal propósito: reforçar a resiliência de Adrien Weber, o único elemento desta banda francesa de Black Metal, ativa deste 1998. Entrevista: CSA

Saudações, Adrien! Espero que esteja tudo bem contigo e a tua família.

convidado em “Who But Night”, algo exclusivo e que será sempre singular.

Vociferian estava parada há alguns anos. - O que aconteceu que te levou a tomar esta decisão? Adrien Weber – Senti que já tinha feito tudo o que queria com Vociferian e, de um modo geral, na cena do Metal extremo. Estava cansado e farto da repetição, da falta de iniciativas interessantes ou das escolhas erradas. - Podes recordar-nos os momentos mais relevantes da história da banda? A primeira vez que Vociferian lançou algo em formato profissional pela Autistiartili Records no início da década de 2000. Momentos como trabalhar com um artista como Chris Moyen, que se tornou meu amigo ao longo dos anos. A assinatura do contrato de Vociferian com a Adipocere Records para a reedição de «Beredsamkeit» em vinil. Também a altura em que Dwid Hellion – da banda harcore Integrity – participou como vocalista

Trata-se de uma one man band. - Como te organizas para compor e gravar a tua música? E quando dás concertos (se isso acontece com esta banda)? Antes de mais, eu não faço concertos e é uma escolha que fiz logo desde o início, no final dos anos 90. Geralmente, começa quando me sinto inspirado por um momento, um filme, conversas com os meus familiares, um lugar que visito. Depois, vêm as palavras, que vou reunindo durante meses, e riffs que componho. Essas notas surgem inesperadamente, quando menos espero. Sou literalmente compelido pela música que componho, nos meus sonhos, na estrada durante uma viagem. Registo-as e, de forma lenta, mas segura, as canções vãose formando através de trabalho na guitarra. No que diz respeito à gravação, sempre usei o estúdio que tenho em casa. Não planeio quando vou fazer, é uma necessidade

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imperiosa. Tenho de gravar, tenho de acabar o trabalho. É uma questão de saúde mental para mim nessa altura do processo criativo. Agora decidiste fazer reviver esta banda. - Por que aconteceu isso? Por que aconteceu neste momento? Não decido, as coisas acontecem durante a minha viagem criativa. Como já referi, Vociferian parecia extinta, mas foram-me surgindo ideias para música e tornou-se impossível resistir à necessidade de compor este álbum. Estava num momento muito mau, todas as minhas certezas se estavam a desvanecer, eu estava a mergulhar numa depressão profunda. Tenho a sensação de que fazer reviver Vociferian através do álbum «L’Os Qui Germe» contribuiu para a minha cura, funcionou como um passo importante na minha longa jornada para a recuperação. - Como te organizaste para fazer este álbum? [Calculo que escreveste toda a música e as letras. Mas ainda é preciso tocar, fazer os arranjos, etc.] - Quem esteve contigo nesta


- Quais são as tuas maiores influências? Seria difícil referir todas as minhas influências, mas posso dizer-te que, por exemplo, Burzum contribuiu muito para que eu quisesse criar a banda.

viagem? Deixaste esses músicos mexer nas suas partes do teu álbum? Sou um multi-instrumentalista, portanto toco eu mesmo todos os instrumentos. A percussão era um problema, porque não tenho a minha bateria aqui na Bélgica. Tive a sorte de encontrar um baterista de sessão, que tocou o que eu compus e fez exatamente tudo como eu queria. Trabalho sobretudo comigo próprio, o que por vezes é muito difícil. Gosto de ser autossuficiente, é algo que é fundamental na música. Perceciono a tua música como Black Metal old school. - Concordas comigo? É verdade que desde o início a banda pretendia encontrar a verdadeira essência do género. Por isso, é possível vê-la dessa maneira, apesar de eu estar sempre disposto a integrar elementos singulares e pessoais que ajudem a música de Vociferian e a diferenciem de milhares de bandas genéricas.

O que diferencia o sétimo álbum de Vociferian dos seus predecessores? Este novo álbum nem pode ser considerado como Black Metal, Todos os outros eram: muito diferentes uns dos outros, mas todos mantendo os traços característicos do género. «L’Os Qui Germe» abre realmente novas perspetivas, que ultrapassam todas as fronteiras musicais. Era esse o objetivo que pretendia atingir quando estava a trabalhar nesse álbum. O álbum é composto por duas faixas longas e uma curta. - Por que fizeste esta opção? - Que fatores tiveste em conta para tomar decisões sobre a extensão das composições? Não decidi nada. Aconteceu assim. Eu obedeço, quando me dão ordens. E depois tens de ter em conta o fator externo representado pela vida quotidiana, que determina como e quando podemos trabalhar. Qual é o tema principal deste álbum? A necessidade de recuperar, de sair do poço passo a passo. É uma luta difícil, uma batalha penosa contra ti próprio, quando tudo parece perdido ou fora do teu alcance.

Por que razão as duas primeiras canções têm um título em Francês e numa outra língua? E que língua é essa? Os subtítulos estão escritos em Valão, que era uma língua falada na parte francófona da Bélgica há 50 anos. Está associada a várias crenças populares. O subtítulo da primeira canção significa “A galinha negra” e esta trata de rituais de bruxaria daquela região. O da segunda significa “Febre baixa” e fala de pessoas que estão votadas a entrar em depressão na infância de acordo com essas mesmas crenças. Gosto muito da capa da tua obraprima. Quem ta fez? Fui eu que fiz toda a arte e as fotos do álbum. A capa é um fragmento de um documentário sobre a bruxaria de que já falei. Nesta região, chamamos-lhes “macrales”. As mãos com os dedos entrelaçados simbolizam a evocação e o joelho simboliza a devoção, uma vez que se dobra os joelhos para rezar. Vociferian tem contrato com alguma editora? Depois de assinar com a Adipocere Records, para fazer este álbum, tive a sorte de poder assinar contrato com uma editora da Valónia, o que é importante para mim, dado que o meu tema agora se prende com as superstições locais. Que planos fizeste para o futuro da tua banda (com ou sem o apoio de uma editora)? Nunca faço planos, porque estou sempre a pensar que cada trabalho é o último que vou fazer. Portanto, é impossível para mim saber o que vai acontecer. Limito-me a fazer o que posso para a dar a conhecer através da música e sustentá-la a partir da venda dessa mesma música, de merchandising…

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Preservar o passado e impulsionar o presente Colecionadora dos volumes Azores & Metal, Gabriela Teixeira esteve em amena cavaqueira, via Zoom, com o Mário Lino, onde falaram um pouco das idiossincrasias da cena underground dos Açores e do papel preponderante que o criador do Museu do Heavy Metal Açoriano tem na actual divulgação do talento e criatividade das bandas insulares. Entrevista: Gabriela Teixeira

Olá, Mário Lino! Muito obrigada por teres aceite o nosso convite! Mário Lino - Eu é que agradeço! Este é o terceiro volume do Azores & Metal e, na minha óptica, que tenho todas as compilações, acho que é o melhor e o mais ecléctico. Explica-me, por favor, como é que os Açores são um autêntico viveiro de bandas de heavy metal. Não te sei explicar, só sei que há nos Açores muitos músicos, não só de metal, o que terá a ver com a paisagem inspiradora ou com o isolamento da insularidade. Aqui, toda a gente quer ir mais além, basta olhar para nós como povo emigrante na América. Isso acaba por ser transportado para a música. Os músicos absorvem muitas influências que acabam por dar origem a estilos musicais muito variados. Eu não sou músico, mas pelo meu convívio com músicos, é o que me parece.

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Então fala-me um bocadinho da cena metaleira aí nos Açores. Já sabemos que bandas há bastantes, mas como é em termos de concertos, bares, festivais…? Acho que há 2 fases completamente diferentes, o que também nos faz ser ligeiramente rebeldes e persistentes. No início dos anos 90 havia muito apoio das câmaras que permitiu a criação de festivais, concertos, concursos de música… o que impulsionou o crescimento do movimento heavy metal aqui na região entre os anos 90 e 2000. Ao longo da década seguinte, os apoios foram sendo progressivamente reduzidos e muitas bandas extinguiram-se enquanto outras reduziram-se à sala de ensaio, mas os músicos nunca perderam o gosto pela música. Eu também estive 15 anos longe da música, mas regressei com o propósito desta busca e propus o desafio às bandas locais, para regressarem. Nestes últimos

2 anos, há cada vez mais bandas a (re)surgirem e, com a ajuda das plataformas digitais, estão a mostrar as suas músicas, os seus singles, o seu som. Em termos de concertos, não temos bares dedicados à música, logo não há muitos concertos. Os Açores estão a crescer em termos turísticos e os bares querem o lucro do turismo, como deves compreender. Não temos nada comparado com um RCA para acolher bandas underground. Em S. Miguel deve haver uns 4 barzinhos pequeninos onde, de vez em quando, se pode fazer um concerto, mas nada mais. As nossas casas de espectáculos estão reservadas para outros artistas de renome. Só para veres bem, no ano passado não tivemos um único concerto de heavy metal e este ano consegui, a custo, organizar um concerto com os Morbid Death e os Holocausto Canibal (que, por acaso, estavam nos Açores para outro festival).


estas bandas. Sei que não é fácil, mas olho para o Inverno como uma oportunidade. Não havendo tanto turismo, quero acreditar que as casas estarão mais disponíveis a aceitar concertos. Vou tentar lançar o isco a alguns bares. (risos)

Tivemos a sorte do festival Monteverde ter aberto as portas aos Torn Fabriks e aos The Mighty Mister Shame, que são bandas do continente com elementos açorianos nas suas formações, o que talvez tenha ajudado ao convite, embora aquilo fosse uma salgalhada de estilos, e tivemos também os In Peccatvm e os Drake a tocar num clube motard, aquando do aniversário de uma rádio de heavy metal, mas, uma vez mais, o local não era exclusivo para música ao vivo. É essa a nossa luta. Achas que a criação do Museu do Heavy Metal Açoriano pode ajudar a mudar um pouco essa realidade? Sim, é essa a ideia! Eu comecei com o intuito de compilar a informação toda do passado para não se perder, mas uma coisa leva à outra, e acabei por fazer o primeiro cd para apostar nas bandas que estavam no activo, ainda que dispersas e escondidas e que, por isso, ninguém as conhecia. Com isto as bandas estão a evidenciarse e eu ando na luta, atrás dos bares e até de festas populares, em busca de uma oportunidade para que possam tocar. Eu estou a tentar reavivar o interesse por

Sim, até porque se existem essas bandas todas, seguramente há malta metaleira sedenta de uns espectáculos ao

vivo… Estamos a sondar quem é a malta que está interessada em frequentar eventos desta natureza. Em Holocausto Canibal, enchemos um bar pequenino com 200 pessoas. O engraçado é que o pessoal mais novo que aparece só para ver como é, mesmo sem conhecer a banda, entra no espírito da euforia e do mosh, por isso acredito que, se houver mais oportunidades de concertos, aparecerão mais pessoas e, numa próxima, já seremos umas 250. Desejo-te muito boa sorte nessa estratégia que me parece que poderá surtir efeitos muito positivos. Obrigado, até porque os concertos dão pica aos músicos, dão-lhes vontade de sair da toca… Exacto! É aí que o Underground se desenvolve e que as pessoas se conhecem e os projetos florescem e, portanto, daí a grande necessidade de haver um espaço onde o pessoal se possa encontrar e tocar… Falando deste terceiro volume do Azores & Metal, vejo que há aqui alguns nomes dos quais eu nunca tinha

ouvido falar, e, por conseguinte, queria saber se todas estas bandas estão no activo ou se são bandas mais recentes que se empolgaram com com os 2 volumes anteriores e decidiram mostrar que também têm valor. Só para perceberes, a essência e a vontade dessas bandas marcarem a sua presença, posso começar, por exemplo, pelos Morbid Death que, embora tenham lançado um álbum, há coisa de 2 anos, fizeram questão de gravar um tema inédito para participar no terceiro volume. São a nossa maior banda local, com 30 anos e, mesmo assim, quiseram mostrar que continuam a criar. No que respeita a bandas novas, temos por exemplo os Dust project que é um projecto a solo já com dois singles lançados este ano. Os Mournolith Abyss são o projecto a solo do Andre dos Drvska, os Dark Age of Ruin partticiparam em todos os volumes e já têm um disco lançado… E com boas críticas! Acredito que a participação nos três volumes ajudou à sua valorização, que culminou no disco. Infelizmente não conseguem tocar ao vivo, mas continuam a trabalhar persistentemente. Outros nomes como After the Rain, M1ke ou Crossfaith são todas bandas que já existiam. Acho que a minha música favorita do disco é dos Crossfaith… Ai é? É uma malha brutal! Bela rockalhada! Eles estão a gravar o videoclip da música, não tarda muito está cá fora. Temos também os A Dream of Poe que são uma banda com alguma história que já tocaram fora de Portugal, inclusivamente. Isto só para dar alguns exemplos… O importante é o que este CD representa, isto é, um incentivo e um contributo para que as bandas se sintam valorizadas e, de onde, possa surgir uma alavanca na sua carreira, como é o caso dos Dark Age of Ruin, que já lançaram um

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disco, e dos Drvska que estão em processo de gravação. Achas que estas complicações estão a estreitar as ligações entre os Açores e o continente? É que acredito que muita gente desconhecia a maioria das bandas daí… Eu cheguei à conclusão que há muito interesse por parte dos fãs do underground nacional pelas bandas açorianas. A partir do momento que descobriram nestas compilações, bandas com tanta qualidade, começam a colecionar os volumes e até já me perguntam se haverá um quarto disco, portanto a resposta é claramente positiva. E há contactos para possíveis concertos cá ao continente ou logisticamente não é tão fácil? Logisticamente é um problema, o que faz com que os convites fiquem em banho-maria. Já contactei alguns festivais para ver se estariam interessados em ter no seu cartaz alguma banda dos Açores e interesse houve, só que se esbarrou nas despesas de deslocação que são muito caras. Os nossos festivais não têm

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fundos para poder pagar valores exorbitantes às bandas, por isso entendes que, comparativamente a bandas do continente, não haja muita margem para as bandas insulares. Havendo mesmo interesse por parte de alguma organização, a questão de custos e cachês teria de ser bem pensada e discutida. Não é fácil, infelizmente… mas também tem de haver um investimento da parte das bandas de cá, tentar plantar a semente, a ver se têm algum retorno num futuro próximo. Eu gostaria imenso que fosse mais barato para as bandas e os fãs da Madeira e dos Açores virem cá mais vezes e sentirem o que nós temos oportunidade de viver aqui…. E só uma última pergunta, qual a tua ligação com a música? Sei que tens um programa de rádio e gostaria de saber se também tiveste alguma banda. Eu sou amigo do Ricardo dos Morbid Death, acompanhei o surgimento e crescimento da banda, fundei o fan club deles e uma fanzine, a Thrash Publishing, que foi uma ponte de ligação com

o resto do underground nacional e internacional, que durou 12 anos. Depois afastei-me um pouco e agora estou de volta a um lugar mais activo com o Museu do Heavy Metal Açoriano e daí surgiu uma bola de neve com o primeiro CD e, entretanto, fui convidado para fazer um programa de rádio, que ainda faço actualmente, apesar de não me achar um grande comunicador, e acabo também por ser um pouco PR de algumas bandas. Faço um conjunto de actividades que eu nunca pensei que estaria a fazer, mas é com muito gosto! E estás a fazer um óptimo trabalho! Obrigada por esta conversa tão simpática! Aguardamos um quarto volume do Azores & Metal e que se criem, o mais breve possível, condições para as bandas açorianas puderem tocar na sua própria terra. Um forte abraço! Eu é que agradeço! Um abraço dos Açores para toda a malta da Versus!

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ERUPÇÃO VULCÂNICA “Quimeras de lava ― uma história do metal açoriano 1985-2000” é o primeiro livro do baterista e jornalista nuno costa. Nele, o agora escritor relata em pormenor o fascinante trajeto da música pesada forjado a lava incandescente no arquipélago dos açores. Numa entrevista de generosa dimensão, costa explicou à versus todo o processo de planeamento e desenvolvimento da obra, analisando ainda, sem papas na língua, o estado atual do aço sonoro produzido naquelas ilhas. E ainda deixou uma porta entreaberta para a escrita de um possível sucessor desta obra. Entrevista: Dico

Aquando da nossa última (e longa) entrevista, publicada na edição #34 da Versus (março/maio de 2015), e na qual tiveste honras de capa, fizeste uma retrospetiva completíssima sobre a história do Metal nos Açores. Parecia que já estavas a antever a publicação de “Quimeras de Lava – Uma História do Metal Açoriano 1985-2000”, o teu primeiro livro, editado em setembro. Foi mesmo assim? Nessa época já planeavas concretizar este projeto ou a ideia surgiu mais tarde? Nuno Costa - Tinha um sonho muito vago de concretizar algo deste género, mas não tinha a mínima ideia se seria capaz de o fazer. Muito menos sabia em quanto tempo poderia realizar um projeto assim e com que meios financeiros. Naquela altura, estava no pleno exercício do SoundZone, com uma boa rotina de escrita, mas ao mesmo tempo

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mais “amarrado”. O certo é que a data em que começo a estruturar a ideia e a reunir material para investigação remonta ao início de 2011. Foi por aquela data que comecei a preparar gigantescas entrevistas às bandas mais antigas do metal açoriano. Havia uma entrevista dirigida aos Morbid Death com mais de 90 questões. Nessa sequência, comecei também a preparar entrevistas aos Stormwind e Wrek Age, que acabei por publicar no SoundZone, em 2015, já com a ideia do livro no horizonte. Portanto, começava a ter já uma perspetiva mais clara sobre as origens do metal açoriano, que acabaram por se refletir na referida entrevista à Versus. Entretanto, a minha vida deu uma volta muito grande e decidi deixar quase todos os afazeres ligados à música de lado. Em 2020, com a paragem forçada pela Covid-19, tive uma oportunidade única de

recuperar um sonho e colocá-lo em prática, num momento em que, e diga-se em abono da justiça, se instalou um espírito nostálgico e revivalista na sociedade em geral, e no metal açoriano em particular. Fala-me do desenvolvimento de todo o processo, desde a ideia original, passando pela investigação e redação, até à publicação. O processo decorreu quase como um rio que se dirige vigorosamente para o mar. Quero com isto dizer que, embora alguma esquematização que foi realizada ― nomeadamente cronológica ―, o grosso do processo traduziu-se numa forma muito natural e prazerosa de escrita. Era fundamental eu divertir-me. Posso dizer que a ideia original, recuando a 2011, não era clara, nomeadamente a nível de estrutura. Tudo foi ganhando


a trazer novas perspetivas. Quanto à investigação, naturalmente que me vi forçado a basear grande parte do meu trabalho nos inúmeros documentos de imprensa que recolhi, no próprio espólio que fui criando e em muitas questões que CLASSIC RAGE (esquerda p. direita) - Paulo Melo, Nelson Neto, fui colocando Dinis Costa, Sílvio Ferreira, Mário Cabral aos músicos durante esse forma e tornando-se nítido no processo, meu imaginário à medida que fui sempre que se exigia um intensificando os meus hábitos de esclarecimento profundo e leitura nos últimos anos. fidedigno dos factos. Toda a escrita Quando me “aposentei” do foi sendo consumada à medida que SoundZone, reuni finalmente eu próprio ia revivendo a história. tempo para dedicar a outros Por outro lado, tentei tipos de literatura que adoro, seguir sempre o processo nomeadamente História, Ciência, cronologicamente e ir entrando Física, Filosofia e Sociologia. no espírito daquela época, que Embora “nada” tenham a ver com foi realmente o maior prazer música, estes géneros ajudaramque tirei desta experiência. Por me bastante a ter uma abordagem uma questão de controlo da diferente, sem ser inédita, mas narrativa e eficácia, avançava que me conferiu de algum modo por “blocos”, evitando deixar confiança, “estofo”, conhecimento, pontas soltas que se revelassem segurança, coragem e inspiração um enorme transtorno caso para abraçar um projeto como o alguma peça não batesse com “Quimeras de Lava”. a outra. É preciso lembrar que Até certo ponto forcei o as principais ferramentas desta distanciamento à literatura musical obra são as datas e os nomes para não me sentir “baralhado”, dos intervenientes... Tirando um mais do que influenciado. O último ou outro calafrio, consegui ter o livro de música que li terá sido a processo controlado. Consegui biografia dos Metallica [“Justice for viver muitas coisas que não vivi, e All: The Truth About Metallica”], revivi outras que estavam muito do Joel McIver, que também me esquecidas. Acima de tudo, tirei foi útil, mas sobretudo os livros um prazer enorme da escrita. de História e Ciências foram fundamentais para espicaçar o Pode então dizer-se que o meu dissimulado ou pretenso lado processo de redação da obra foi de historiador. Portanto, este livro escorreito? é, essencialmente, o resultado de Sim, não “travei” muito na escrita. 20 anos ― ou nem tanto ― ligado Perdi mesmo a vergonha e fui ao jornalismo musical. O princípio escrevendo como um puto da de escrita e reportagem utilizado primária. O processo mais pesado no SoundZone transpôs-se para de revisão e correção ficou para este livro, como era inevitável, mais tarde, pois quis separar agora talvez com o peso da idade bem cada etapa. No processo

“criativo” deixei mesmo fluir, sem sobreavaliar frases e parágrafos. Daí ter gostado imenso da experiência. Quanto à publicação, como perguntas, também foi deixada para o seu devido tempo. Ou seja, planeamentos financeiros, orçamentos, etc., só foram tratados quando a fase criativa terminou. Não quis que nada interferisse ou condicionasse o meu estado de espírito positivo para escrever e contar uma história. É verdade que aqui e ali pude ir avançando com outras questões, nomeadamente o design da capa, mas tudo foi sendo feito com calma e na altura certa. Sei por experiência própria que, para este género de obras, nem sempre é fácil chegar à fala com alguns antigos protagonistas, seja por terem na atualidade responsabilidades profissionais e familiares acrescidas, refletidas numa falta de tempo asfixiante; seja por já não se reverem minimamente no género musical que praticavam. Viste-te a braços com situações deste género? Inevitavelmente, sim. Não o digo de ânimo leve, mas mal seria se já não estivesse prevenido. Compreendo algumas situações, outras nem tanto, mas comprometi-me a jogar com deadlines apertados e alternativas para desbloquear certas questões, com ou sem o testemunho de algumas pessoas chave. Creio que consegui chegar sempre ao que pretendia, daí os jornais terem sido fundamentais, e diga-se que entre evocar memórias com 30 anos e apoiar-me em depoimentos e artigos “sacados” no momento, há uma grande probabilidade de estes últimos serem mais fiáveis. Fui dessa forma percorrendo o meu caminho, seguro do que estava a dizer e, quando assim não era, fui solicitando novos depoimentos e cruzando opiniões até à derradeira verdade dos factos. Houve nomes que fosse essencial entrevistar, mas que se tivessem mostrado indisponíveis? Houve alguns, de facto, mas

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caminho... No entanto, o que me deixa mais feliz é que todas essas contrariedades não comprometem a veracidade da história. Por oposição, como foi a recetividade dos entrevistados que figuram MORBID DEATH - Pedro Rodrigues (em baixo), Veríssimo Pereira no livro, bem (em cima, à esquerda), Dinis Costa (meio), Ricardo Santos (direita) como de todos quantos te não impediram o desenrolar forneceram do processo. Algumas pessoas acesso às mais variadas fontes podiam ter enriquecido ainda mais e recursos? Sentiste o apoio o trabalho, mas foi impossível das pessoas à medida que as chegar-lhes. “Persegui” algumas o contactavas? mais que pude, outras julgo que Senti um apoio incondicional de se esconderam propositadamente, quase todos. A uns, tiro-lhes o outras ainda disponibilizaramchapéu ―, estavam sempre “atrás se para entrevistas mas depois da porta” para me responder a ignoraram-me. Houve também tudo e mais alguma coisa, com o outras que, mostrando-se maior dos entusiasmos ― o que disponíveis, a memória não lhes resultava em lindos depoimentos trazia nada de claro ou substancial. e memórias. Outros tinham o É perfeitamente compreensível. seu tempo mais condicionado, Também compreendo o desgaste mas também acabavam por que recordar momentos antigos ser superatenciosos. Era o seu iria causar a algumas pessoas entusiasmo que duplicava ou pelo intenso escrutínio a que este triplicava o meu entusiasmo e me trabalho obriga. Não bastava uma fazia acreditar que conseguiria simples entrevista para esclarecer terminar o livro. Também é claro e uma infinidade de questões. Nas óbvio que uns têm mais jeito para entrevistas que realizei as dúvidas contadores de histórias do que iam surgindo a qualquer altura e eu outros, são mais comunicativos ou não as quis ignorar, porque eram têm melhor memória e atenção aos fundamentais para desbloquear detalhes, mas a maioria conseguiu acontecimentos importantíssimos. deu-me o seu apoio e revelou Este processo exigia, portanto, que acreditar em mim. algumas pessoas estivessem quase Diga-se também que tentei realizar sempre contactáveis. este trabalho da forma mais No contexto das bandas, o normal “silenciosa” possível. Como referi, era ter um ou dois interlocutores, era penoso para os entrevistados mas houve vezes (muito poucas) sujeitarem-se a tanta inquirição da em que não tive nenhum. Uma vez minha parte. Tentei consultá-los no por outra, ignoraram-me porque essencial, mas nem sempre isso era creio que não levaram o meu suficiente. Um pormenor, por mais projeto muito a sério, o que até absurdo que pudesse parecer, era compreendo, pois ainda não fora essencial para desbloquear toda escrita uma obra deste género e uma engrenagem de sequências muitas vezes as ideias ficam pelo históricas. Às vezes uma “não-

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resposta”, um “não sei”, era o detalhe de que eu precisava. Por vezes uns respondiam-me, mas depois ficavam indisponíveis, obrigando-me a ir procurar informação noutras fontes, nomeadamente jornais. Mas essas situações fazem parte do processo, não me queixo. Não podia exigir a todos que compreendessem a dimensão do detalhe a que desejava chegar. Sei que só a fase de redação da obra demorou um ano. Como era o teu dia a dia durante este processo? Estabeleceste um deadline e uma rotina a priori ou foste-te adaptando àquilo que entendias serem as necessidades do livro, à medida que ias obtendo mais informação relevante que não podias deixar de incluir? Tive a felicidade de poder ser dono do meu tempo durante a redação deste livro. Não sei se tal acabou por se revelar uma vantagem, pois teve custos, mas só assim conseguiria terminar o livro em tempo aceitável, ou sequer terminá-lo. Posto isto, evitei a todo o custo viver naquela urgência editorial asfixiante, como nos tempos do SoundZone. Desta feita, o estado de espírito tinha de ser diferente, e o prazer do escritor tinha de passar para o leitor. Não me impunha, por isso, grandes jornadas à frente do computador, embora praticamente todos os dias escrevesse, sobretudo de manhã (o que para mim é curioso). Naturalmente, quando se justificava, as jornadas de escrita eram maiores para concluir questões mais melindrosas e/ou em que não se aconselhasse uma quebra de raciocínio. Só raríssimas vezes fiquei com questões pendentes ou fiz uma pausa para aguardar a chegada de mais dados ou a realização de uma entrevista. Quase todo o processo foi efetuado digitalmente ou por telefone, o que em época de pandemia foi normal, fora as vezes (essenciais para arejar) que passava as manhãs na Biblioteca e Arquivo de Ponta Delgada a folhear jornais.


foi uma grande descoberta para mim. Tinha noções, já tinha obviamente lido sobre as bandas e o que se tinha passado, mas frequentemente a informação era inexistente ou estava dispersa, confusa e era pouco fiável, nomeadamente OBSCENUS (esquerda p. direita) - Marco Martins, Tiago Dias, em biografias. O Ruben Correia, Marco Sousa, Pedro Agrelos, Miguel Ramos meu papel neste (foto Rui Correia) processo foi discernir com Referiste-te a “blocos”. Ias a maior clareza avançando na narrativa à possível, e de uma vez por todas, medida que os ias fechando, a sequência histórica e detalhada sequencialmente, ou por vezes daquilo que ficou para trás, para viste-te obrigado a voltar atrás? que tanto eu quanto os que Nem sempre consegui fechar os viveram naquela época tivessem tais “blocos” ou capítulos de uma uma noção clara e inequívoca dos assentada. Ia conseguindo aditar acontecimentos (gosto de evitar a preciosa informação que fui mitos). encontrando ao longo do processo, Até determinado ponto, o que nomeadamente aquela que fiz foi abrir arquivos e lidar surgiu de jornais profundamente com eles de uma perspetiva “escondidos”, sem prejudicar a quase antropológica, que ainda ordem cronológica da narrativa. não fora abordada. Resulta daí Arrepiava-me, por vezes, a um olhar que julgo ser justo e possibilidade de ter de reestruturar rigoroso sobre o movimento, e grandes partes do livro em função que, inevitavelmente, será uma de uma nova descoberta, mas tal surpresa para muitos e nem acabou por não acontecer. O que tanto para outros. No meu caso, aconteceu foi que, à medida que tinha já uma perspetiva geral dos avançava, precisava de obter mais acontecimentos, mas sem dúvida datas, nomes e curiosidades. que nunca tinha ido tão fundo nos detalhes, nem ninguém mos era “Quimeras de Lava – Uma História capaz de fornecer, precisamente do Metal Açoriano 1985-2000” porque a informação era difusa relata com enorme detalhe o ou muito antiga. A documentação percurso da música pesada que existe da altura encontra-se no arquipélago dos Açores no sobretudo em jornais, fanzines período referido. Certamente terá ou rubricas, que só são obtidos, a havido histórias surpreendentes, muito custo, por bibliotecas ou por que desconhecias. Queres colecionadores. destacar algumas? Aquela não era uma época digital, Antes de mais, relembro que nasci lembremo-nos também. Por isso, em 1983. Portanto, e sem qualquer necessitei de inquirir muita gente complexo ― quando, muito pena para me certificar dos factos e ―, começo a ter recordações recolher passagens de forma a vívidas do movimento a partir de evitar uma abordagem muito 1996. Assim sendo, grande parte estatística e obtusa da história. do que se passou anteriormente Tentei gerar uma leitura leve.

Para mim, a maior surpresa foi conferir a ordem temporal dos acontecimentos. Consegui assim criar uma imagem mental da história que julgo facilitar ao leitor o regresso àquele tempo. Assim se explica a estrutura do livro por anos. Tive naturalmente enorme gosto de saber com detalhe os nomes e os feitos de toda aquela malta, de descobrir melhor uma ou outra banda, algumas muito underground, todo o estrondo que foi o Açores Pop Rock, recuperar os cartazes de muitos dos eventos que se realizaram, e uma ou outra curiosidade que só com este livro foi desvendada ― nomeadamente, nomes de temas que estavam trocados há 30 anos. Também me toca, com um sentimento muito especial, o facto de alguns músicos terem aproveitado as entrevistas para assumirem em público algumas “culpas” ou “fazerem as pazes” ao fim de tantos anos. Foi uma das partes mais bonitas deste trabalho. Lançaste o livro em regime de edição de autor, uma opção que cada vez mais escritores abraçam, pela possibilidade de terem controlo sobre todo o processo e obterem bons níveis de vendas sem a necessidade de vinculação a uma editora. Esta foi a tua única opção ou chegaste a equacionar o lançamento do livro através de uma editora? Não, nunca cheguei a equacionar o lançamento através de uma editora. Também não equacionei solicitar qualquer apoio governamental. Não fiz visitas a gabinetes de ninguém, e isto nada tem de presunçoso. Limitei-me a escrever, a divertirme com a experiência e a olhar para o estado atual da minha vida pessoal. Claro que nada disto foi feito “à maluca”. Calculei o momento certo para poder ser autónomo neste processo e assim foi. Também já não tenho grandes utopias, a idade vai passando, e acho que assim estou melhor. Não posso afirmar que fecho

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Delgada. Podes dar-me pormenores? Tencionas fazer apresentações noutros locais, quem sabe até no continente? Não tenho como certa a apresentação pública do livro. Deixo, obviamente, a porta STORMWIND (esquerda p. direita) - João Pimentel, Fernando entreaberta Monteiro, Rui Batista, Pedro Resendes, António Monteiro para quaisquer ações as portas a outros métodos de promocionais, trabalho, mas, sinceramente, mas até ao momento não tenho cansei-me de noutros tempos estar nada de concreto. Tudo parece um mais dependente da vontade de bocado absurdo, quase kafkiano, terceiros, e de andar numa luta mas este é o meu estado de inglória para convencer pessoas espírito neste momento. Nunca fui daquilo em que elas nunca vão uma pessoa de se expor, embora a acreditar. apresentação de um livro não seja uma questão de exposição, mas Como tem sido a recetividade sinceramente muitas vezes penso a esta obra? Daquilo que que, no meu caso, é prescindível tenho visto nas redes sociais, o ou que não combina com a minha entusiasmo é grande. personalidade. Penso muitas vezes Conforme referi, creio não ter que o que tinha a dizer, disse-o no gerado grandes expectativas livro ― desculpem-me a estupidez. com esta obra, ou nenhumas. É Todavia, e repito, se me invadir um facto que tenho sentido o qualquer impulso ou ideia especial carinho sincero de muita gente, que me faça entusiasmar para mas talvez ainda seja cedo para apresentar o livro em público, perceber a recetividade ao deixar-vos-ei saber. No entanto, livro. À data a que respondo a vejo-me muito mais num churrasco esta entrevista [um mês após o com um monte de metaleiros lançamento de “Quimeras de Lava], numa qualquer estância de lazer e basicamente sem promoção, açoriana do que propriamente num estou plenamente satisfeito com auditório a apresentar o livro. o feedback e com as vendas (sendo este último fator talvez o O livro pode ser adquirido na La que menos interesse). Sem falsas Bamba Bazar Store, em Ponta modéstias: eu fiz isto para mim, já Delgada, ou através do e-mail não penso em voos de qualquer quimerasdelava@gmail.com. espécie. Claro que entrego este Prevês a possibilidade de poder trabalho ao povo açoriano com ser adquirido em outras lojas, quer o maior dos orgulhos, esperando dos Açores quer do continente? contribuir para a sua história, mas Neste momento, também não. sinceramente não quero pensar Pelas razões que aduziste, o em mais nada a não ser agradecer carácter independente desta obra àqueles que já compraram o livro e permite-me ter o controlo de todo me encheram de mimos. o processo. Envolver terceiros não me parece que traga qualquer Sei que planeias uma problema, antes pelo contrário, apresentação do livro em Ponta mas neste momento vou seguindo

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a minha vida normalmente, quase como se nada se tivesse passado. Adorei fazer o livro, isso é o principal, e agora a vida segue normalmente. Dentro de dez anos devo estar ainda a vender algumas unidades, mas sem problema. Já não tenho sonhos de menino, sem ofensa para quem os tenha e os deve ter. Apesar de tudo isto, não fecho as portas a nada nem a ninguém. Embora tendo sofrido durante alguns anos um revés significativo, em que a cena do arquipélago praticamente se obliterou, de há uns anos para cá surgiram projetos fundamentais, que vieram dinamizar o meio. O Museu do Heavy Metal Açoriano, do Mário Lino, e as compilações em cassete e CD, também do Lino, bem como o surgimento de podcasts, são bons exemplos. Sentes que o Metal nos Açores está a apaziguar-se consigo próprio e a passar ao nível seguinte, traduzindo-se num novo impulso, com mais bandas e outro género de projetos a surgirem, ou ainda não recuperámos o estado anterior? Não, não recuperámos nada, apenas se passou um penso rápido, mas muito honroso, naquilo que é a vida recente do metal açoriano. Não admitir os problemas de fundo é o primeiro passo para todo este recente e muito bonito revivalismo se desvanecer em meia dúzia de anos ― e estou a ser generoso. Não desmerecendo o trabalho do Lino, do José Andrade, do pessoal do Malta da Pesada, ou outros que me escapam (ah, e o meu já agora), as bandas precisam é de palco! Como se pode almejar a recuperar outros tempos, quando nesses tempos havia festivais com bandas internacionais, continentais e regionais com bastante frequência, fanzines, sites, bandas em quantidade absurda, com uma atividade regular até mesmo ao nível de lançamentos, apenas com as reedições de cassetes, edições de compilações ou edições de livros?


que o objetivo não fosse enriquecer com isto. Agora, com a profunda mudança dos tempos e das mentalidades, só muito dificilmente se consegue cativar novas gerações para esta “causa”, pelo menos WREK AGE (esquerda p. direita) - José Medeiros, Paulo Jacob, sem uma Danny Brasil, Paulo Melo, João Medeiros sofisticadíssima e onerosa Esta afirmação parece ser o maior máquina “tiro nos pés” que alguém pode de promoção. Os interesses dar, e que me perdoe quem se são outros. Enquanto produto sentir ofendido ou visado, mas vendável, aparentemente o metal não há como iludir as pessoas. O esgotou a sua fórmula para os movimento ainda existe e está grandes média, o que não é culpa latente, mas só regressará com a nossa, apenas de uma sociedade mesma força se estiverem reunidas capitalista ― sem dramas. Quando as mesmas condições psicossociais muito, resta-nos fazer uma e económicas de outrora. É melhor autocrítica e ver onde podemos ter essas atividades do que não continuar a inovar ― sim, há que ter, sem sombra de dúvida, até olhar para dentro ―, mas nunca porque os últimos dez anos foram assumindo tudo como uma verdadeiramente parcos, mas questão de vida ou de morte, ou de no fim de contas os resultados sucesso ou fracasso ― é o que é. práticos são basicamente nenhuns. Acho que estamos ótimos E isto apesar de estarmos aqui como estamos, até certo ponto. todos pelas bandas, pela cultura, Continua-se a criar, mesmo que pela arte. só em estúdio, mas o ímpeto da criação não desapareceu. ViveNão existem apoios? se com menos urgência, mas de As bandas não têm espaços nos forma mais racional. Para que Açores para tocar, não há qualquer dúvidas não restem, sou apologista recetividade das organizações, dos de que continuem as ações de governos, dos promotores, dos promoção ao metal açoriano, caso bares. Uma produção em nome contrário estaria a ser ignorante, próprio envolve custos muito mas é contraproducente acharmos elevados. O público é restrito, que estamos perto de recuperar mas sempre foi. A questão é que, hábitos e cenários antigos ― a agora, ninguém coloca a cabeça questão é muito mais complexa e a prémio como colocava, com não exclusiva sequer da música. O investimentos de altíssimo risco. “rei vai nu”, mas cheio de orgulho. As secretarias terão investido Não esqueçamos, todavia, que quando tinham perspetivas tudo é muito volátil e sujeito a económicas ou políticas, talvez, grandes reviravoltas. A qualquer mas esqueçamo-nos disso. Os momento pode haver surpresas tempos mudaram. Quando o positivas. Nunca deixem de tentar, metal grassava nos maiores meios mas sejamos sempre realistas. de comunicação, parecia fazer sentido economicamente, mesmo

Por fim, a pergunta que se impõe e certamente já te terão feito: tencionas escrever um segundo volume da obra, que cubra o período temporal a partir de 2001? Mais do que a intenção, sinto que faria todo o sentido. Mas como fico se alimentar expectativas? Neste momento, não é de todo razoável fazer planos. O “Quimeras de Lava” foi feito em circunstâncias muito específicas da minha vida pessoal e mesmo mental. Seja eu ou outra pessoa, é fundamental que alguém narre a história que falta, mas, pelo menos no que me toca, não faço a mínima ideia de quando será oportuno. Soará sempre a desculpa esfarrapada se disser que “ainda venho de um processo ‘doloroso’”, que estou “escaldado”, “cansado”, “a vida profissional não mo permite” ou até mesmo que estou “falido”, mas o mais importante é encontrar o estado de espírito certo e a inspiração para abraçar outro projeto deste género. Não tenho como disfarçar: adoraria fazê-lo, tal como adorei fazer o “Quimeras de Lava”, o que acho que transparece para o leitor. Contudo, gosto de ser ponderado. Neste momento, não faço a mínima ideia de quando seria possível ― talvez daqui a uns largos anos, ou talvez até de um momento para o outro. Quem sabe?

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Foto: Långa Sidan

It’s Only Rock ‘n Roll (But I Like It) ... já diziam os Rolling Stones no álbum lançado em 74. Os Remedy têm pouco mais de um ano e esperam singrar neste mundo cão. Se o Rock está morto? Nop! Se os Remedy trazem algo de absoultamento novo ou uma lufada de ar fresco ao género? Nop! Trazem, sim, um excelente álbum do mais puro Rock melódico. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

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Olá de um (Estrangeiro)/”Stranger”em Portugal, (Como está a ser o teu dia e como está a correr a tua vida)/”How is your day and how is your life”? Olá, estrangeiro! Saudações da fria e chuvosa Estocolmo, Suécia. Esta manhã finalizei uma nova música dos Remedy, acabei de chegar a casa do ginásio e agora estou a ter esta grande entrevista contigo. Portanto, a vida é bastante boa neste momento! Tenho de ser sincero contigo: a razão pela qual tenho estado a ouvir Remedy foi porque o Elio me disse que “Something that your eyes won’t see” tem as mãos de Erik Martensson - que entrevistei recentemente. Tu produziste o álbum e o Erik misturou e masterizou? Como é que surgiu a oportunidade de trabalhar com o Erik e como foi trabalhar com ele? Sim! Sou amigo do Erik há quase vinte anos. Por isso, quando tive a ideia de gravar um disco e formar uma banda, o Erik foi o meu primeiro contacto. Isto porque, na minha opinião, ele é um dos melhores no ramo. Adoro o som dele e quase tudo o que ele faz. Trabalhar com o Erik é extremamente fácil. Raramente precisamos de falar. Ele sabe exatamente o que eu procuro em cada canção. Para o som dos Remedy, Erik Mårtensson é uma combinação perfeita! Como é que as pessoas estão a reagir a «Something that your eyes won’t see» - Como um (trovão no escuro)/“Thunder in the dark”? Para ser sincero. Eu só fiz um disco e algumas músicas do jeito que eu queria. Por isso, estou verdadeiramente impressionado com a receção que temos tido. Quer dizer, esgotámos duas vezes... Chegámos ao “Top Charts Sueco”. A certa altura, estávamos apenas atrás dos Ghost no primeiro lugar. Tem sido realmente incrível e eu estou tão feliz por que as pessoas parecem gostar da nossa música!

Isso significa muito para mim. Mais uma vez a minha honestidade está a falar “Something that your eyes won’t see” é um álbum de Rock extraordinariamente bem trabalhado - está agora na minha playlist e, juntamente com o último dos Eclipse, é um dos melhores álbuns de Rock deste ano. - Como é que defines os Remedy como banda? De onde vieram, para onde vão e o que esperam alcançar com os Remedy? Obrigado Eduardo! Bem, Remedy é formada por um grupo de bons amigos que são todos músicos bem estabelecidos aqui na

Haha. Posso partilhar. Não faz mal. Brincadeiras à parte, como te disse, os Remedy são o meu foco principal e estamos apenas a começar. E também não estou nisto por dinheiro, fama ou fortuna. Só quero fazer música num estilo que adoro e espero inspirar mais alguém a fazer o mesmo no futuro. Os Remedy têm agora dois anos e houve grandes mudanças na vossa vida. Estão agora a (viver no limite)“Livin on the edge” com os Remedy ou isto foi uma... fuga para remover o vosso (demónio interior)“Devil within” causado pela Covid e pela perda dos vossos

Fui escolhido pelo Brian May e pelo Roger Taylor para tocar guitarra no musical dos QUEEN, “We Will Rock You”. Foi uma experiência incrível [...]

Escandinávia. Sei que um fator chave é que uma banda se dê bem e seja capaz de atuar tão bem ao vivo como em estúdio. Tenho trabalhado toda a minha vida como “hired gun” para diferentes actuações pop e musicais aqui na Suécia. Por isso, sempre fiz digressões e agora pretendo fazê-las com os Remedy! E muito! Portanto, este é apenas o início da nossa viagem, estamos a apontar para o alto! - (Tu queres ter tudo)/“Wanna Have it All”??

empregos? De facto, os Remedy têm apenas um ano(!). Acabámos de fazer o nosso primeiro aniversário! Estou habituado a fazer digressões e a viver a vida como músico, por isso estou habituado a “viver no limite” e a lidar com o meu “Diabo Interior” em certas ocasiões. Haha. Mas há uma diferença enorme. Agora, quando estou no palco, as pessoas estão a cantar e a aplaudir as músicas dos Remedy. Posso dizer-vos que isso afasta o “meu diabo interior” e cura todas as minhas necessidades de “viver no

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partido do Rob quando estava no estúdio! Thomas Vikström co-escreveu “Sinners and Saints” comigo e com Sören Kronqvist, ele também faz a voz de apoio nessa música. É realmente incrível ter estas duas grandes vozes a apoiar a nossa música.

“ Foto: korta sidan

[…] a coisa mais importante para todas as bandas: encontrar a nossa própria identidade musical. [...] A coisa que TE separa do resto. Acredito que é a chave para o sucesso, se a combinarmos com trabalho árduo.

limite”. É fantástico dar alegria a outras pessoas através da música! Como é que esperam destacarse entre este número (quase) incomensurável de bandas de Rock que existem por aí? Temos uma boa presença ao vivo. Isso é um fator importante. Mas a tua pergunta é realmente relevante e a coisa mais importante para todas as bandas: encontrar a nossa própria identidade musical. Tu sabes. A coisa que TE separa do resto. Acredito que é a chave para o sucesso, se a combinarmos com trabalho árduo. Uma coisa que eu sei que nos separa do resto é a minha guitarra. Não sou um guitarrista de metal.

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Apenas toco guitarra da maneira que sei. E o mesmo se aplica à minha composição dos temas, apenas escrevo música da forma que gosto. E espero que as pessoas gostem! ...Mas também estamos a experimentar alguns instrumentos para o próximo álbum. Por isso, fiquem atentos ao que aí vem! Tens um grupo de convidados especiais, incluindo o Erik, o Lars dos Work of Art ou o Thomas Vikström dos Therion. Qual é o papel deles no álbum? Temos o Lars Säfsund como nosso vocalista de apoio e treinador vocal do Rob (Robert Van der Zwan). Isto é uma loucura! O Lars é fantástico e conseguiu sempre tirar o máximo

(Ainda, o Covid...) Os Remedy foram formados em 2020, mesmo a meio do Covid, quando vocês perderam os vossos empregos. Mais estranho foi, penso eu... para ti que como podemos ver, és um grande compositor - foste responsável pelo musical dos Queen “We Will Rock You” (É verdade? Não consegui encontrar qualquer tipo de informação online). Foi difícil para si viver a pandemia ao mesmo tempo que perdia os seus empregos – Tu (gritaste em silêncio)”Scream in Silence”? Obrigada! Na verdade, comecei a escrever música há pouco tempo, embora trabalhe como músico há mais de vinte anos. Por isso, esta é uma coisa totalmente nova para mim. E sinto-me verdadeiramente humilde pelo facto de as pessoas parecerem gostar da minha música. Quando perdi o meu emprego, devido à pandemia, perdi também a minha paixão pela música. Não toquei guitarra durante cerca de três meses. Mas quando chegou o verão, telefonei ao meu amigo Sören Kronqvist e perguntei-lhe se podíamos escrever alguma música juntos. Eu precisava de continuar com a música e com a minha guitarra. E se avançarmos rapidamente, de repente tinha um monte de canções, um contrato discográfico e uma banda minha. E, apenas alguns meses depois, estávamos em digressão e no topo das tabelas. É incrível como as coisas podem acontecer! Obviamente, tenho de perguntar, como foi (e como te sentiste) quando o Roger Taylor e o Brian


May te pediram para fazeres parte desse musical? Mal pude acreditar que isso realmente aconteceu. Fui escolhido pelo Brian May e pelo Roger Taylor para tocar guitarra no musical dos QUEEN, “We Will Rock You”. Foi uma experiência incrível para mim, pois sou um grande fã e cresci a ouvir a música deles! E o Brian May era uma pessoa tão simpática. Vou guardar esse encontro para o resto da minha vida! Agora... de volta à banda. Porquê Remedy? O nome tem a ver com a letra de “Lifeline”? É o contrário. Eu coloquei a palavra na letra na fase final da música, achei que seria uma boa frase na última música do álbum. Remedy foi realmente o nosso remédio num período de tempo difícil. Como te disse, eu tinha perdido todos os meus empregos por causa das restrições e o Rob estava, na mesma altura, a lutar contra o cancro. Por isso, Remedy era o nome certo para a banda. O Rob, já agora, está bem e livre de cancro! Tens um enorme talento como compositor, por isso vou assumir que escreveste todas as canções. É mesmo assim? Como é que o resto da banda contribuiu? Uau, obrigado pelas tuas palavras simpáticas! Sim, mas a maior parte escrevi em conjunto com o Sören Kronqvist, um excelente compositor. Mas claro, escrevi algumas por minha conta. Eu sou um “fazedor”, por isso se uma canção precisa de ser feita, eu trato de a fazer. A banda está envolvida na gravação de instrumentos. E amanhã vamos para o estúdio gravar a bateria para o nosso próximo álbum! Quantos desses temas foram escritos (domingo às 9)/”Sundays at Nine”? Nenhuma. Hahaha. Tenho

tendência para trabalhar melhor durante a noite. Por isso, a maior parte das vezes são tardes e noites! Este é um álbum de puro rock melódico, com duas belas baladas. O que é mais difícil: fazer uma boa canção melódica e cativante ou uma balada sentimental? Obrigado! As baladas neste género são difíceis. Podem facilmente tornar-se “foleiras” e clichés... tanto no que diz respeito à letra como à música. Mas esforcei-me muito por estas duas e estou muito contente com o resultado! Tens muitas influências neste álbum - por exemplo, Pretty Maids - Ronnie Atkins aparece na capa uma das minhas bandas favoritas. Como é que as influências se manifestam na música dos Remedy? É algo que surge por acaso ou é premeditado antes de compor? Às vezes. Se eu preciso de mais uma música, digamos uma música rápida de hard rock como “Sinners and Saints”,. Vou ouvir músicas desse estilo. Só para me inspirar. Mas fora isso, não. Eu só escrevo música. Tudo o que me aparece à frente. A vida é a minha principal inspiração. Sabes, tudo... Amor, mágoas, música, família, tristeza, felicidade... tudo o que já vivi sai através da música. Mas as minhas influências musicais são muitas. Pretty Maids, Europe, Survivor, Journey, Yngwie Malmsteen, Eclipse, Bon Jovi, Queen, Jeff Lynne... é uma lista muito longa. Por isso, acredito que Remedy são uma grande mashup destes gigantes musicais e da minha vida.

atual. Para terminar a nossa entrevista: - És um (pecador ou um santo)/”Sinners and Saints”? Todos nós somos pecadores. Isso também se aplica a mim. Mas gosto de acreditar que sou um bocadinho de ambos. - Quem é a “Marilyn”? Essa canção foi escrita sobre a Marilyn Monroe! - Como guitarrista, quem mais te influenciou? Brian May, com a sua forma melódica de fazer a guitarra cantar. Yngwie Malmsteen, com a sua técnica e harmonias clássicas. John Sykes, pelo facto de ser John Sykes. Gary Moore & John Norum, pela sua mistura de blues e rock nos seus solos. E Lasse Welander, o nosso herói sueco da guitarra dos ABBA e de “Chess”, entre muitos outros. Tive o privilégio de fazer uma digressão com ele há alguns anos. A sua forma de tocar música orquestral com uma Orquestra Sinfónica foi uma grande inspiração. E conhecêlo e perceber a sua forma de tocar guitarra foi fantástico. R.I.P. Obrigado Eduardo por esta entrevista! E para todos os vossos leitores, por favor sigam-nos nas redes sociais, @ remedymusicsweden , se gostam da nossa música. Não vos custará um cêntimo, mas certamente que nos ajudará muito a prosseguir na nossa missão de fazer uma digressão pelo mundo com a nossa música!

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A dicotomia entre o rock retro e o moderno é um dos meus aspectos favoritos da música. Como é que é juntar estes dois aspectos? Para mim é totalmente natural. Eu cresci nos anos 80 e adoro essa era da música. Mas tenho estado na indústria pop moderna toda a minha vida e sei que é preciso mantermo-nos “actualizados” para ter sucesso na indústria musical

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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

“Mas quando é que este pessoal se reforma?” - É o que me questiono, quando assisto à perpetuação das grandes bandas que todos nós conhecemos, quer seja de metal, quer seja de qualquer natureza. Fiquei estupefacto no outro dia, com o lançamento de um novo disco dos Rolling Stones. WFT? Mas… para quê? O que “Hackney Diamonds” acrescenta de novo a estes tipos? Aos seus fãs? Eu nunca fui fã, apesar de reconhecer a sua música como culturalmente importante, mas este álbum, pode-se afirmar que acrescenta nulla, nothing, niente, rien, nada. Puro exercício de marketing contabilístico para manter a “pedra a rolar”. O guito deve ter secado e agora é necessário ir dar corpo ao manifesto. Agora foi lançado o álbum e o videoclip – que atualmente não faz grande sentido – e lá virá a tournée mundial. Sim, porque é aí que as grandes e médias bandas capitalizam o seu sucesso musical em sucesso financeiro. E nem quero falar da música perdida numa cassete – que nostálgico – dos The Beatles lançada como “a última canção dos Beatles”. Sim, é a última... Este tipo de procedimento não é exclusivo do mainstream ou da pop. O Metal está cheio do mesmo. Eu pergunto. O que os 3 últimos álbuns dos Metallica acrescentaram à discografia da banda? Não andam os Judas Priest a arrastar-se de álbum para álbum, todos os 3 últimos de trazer por casa, obras que vão acabar insignificantes no final do dia. E os Maiden? Sim, o «Senjutsu» e o «The Book of Souls» são bons álbuns, mas depois de 40 anos, o que acrescentaram aos Maiden? Pouco ou nada. É daqueles trabalhos que passado a novidade nunca mais vamos ouvir. E se pegarmos das grandes bandas do passado que hoje continuam com o vigor todo e não moribundas, todas sem excepção apresentam novos álbuns que em nada vão contribuir para o sucesso da banda – há muito conquistado – a não ser, o trigger para novas rondas de receita. E, nem vale a pena mencionar as reedições em caixas de luxo que custam um braço. Música à parte, isto é tudo economia 1:1. O pessoal que aqui anda há décadas não para devido a duas razões: uma, não sabem fazer mais nada após meio século a compor e lançar música e fazer concertos. Duas, há que capitalizar o sucesso adquirido e acumulado todo o longo destas décadas e alimentar a máquina,

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Ensaio Sobre a Longevidade das bandas

entretanto criada. Muitas destas bandas, criaram uma máquina pesada, que necessita de grande alavancagem financeira. Do nosso lado, dizemos quase sempre presentes, na ânsia que não seja a última vez que os vamos ver, pois nunca se sabe quando uma banda vai arrumar as cordas e baguetes, mas eles cá continuam ano após ano. Só não nos mandem areia para os olhos com as “tournées de despedida”. Ainda se lembram da tournée dos Judas Priest Epitath que é, e passo a citar, a ”noite de sua última tournée mundial em maio de 2012”. Tirando os artistas que infelizmente, a Morte com a sua grande ceifa bateu-lhes à porta e com isso levaram todo o sucesso com eles, só conheço uma banda que “reformou-se” verdadeiramente quando ainda em plena actividade, os Slayers. Os restantes cá vão a andar de álbum em álbum, que não acrescentam nada de novo e digressões para encher os cofres de soldos e manter a roda a girar. Uma conclusão óbvia, é que isto só se aplica a bandas com capital musical acumulado de anos, tornando-se uma mais-valia que as bandas colocam em cima da mesa a qualquer momento sem hesitar. É um valor seguro. Uma tournée dos Metallica, AC/DC, Iron Maiden, Rammstein ou Dream Theater é milhares em caixa. Não se pode parar o círculo comercial! Apenas menciono o universo do Metal, mas isto é válido para todos os artistas. O Charles Aznavour ainda cá veio a Portugal dar um grande concerto com 92 anos de idade. Só parou quando nos deixou. Impressionante.

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ANTRO DE FOLIA O mesmo não se pode dizer das bandas mais recentes, eu diria de todas as que aparecerem já no século XXI. Intrinsecamente, por serem mais novas, é-lhes impossível actualmente, e, definitivamente, no futuro, atingir o mesmo patamar que as bandas supramencionadas. Épocas diferentes criaram experiências diferentes e bem mais dolorosas na caminhada pelas estradas que levam ao sucesso estratosférico – não o mais terra a terra. A vida de uma banda é hoje bem mais difícil, apesar de em muitos casos terem muito mais qualidades do que as que andam por aí há décadas. É algo que, de um certo ponto de vista, injusto. As bandas que surgiram no desabrochar do Metal nos anos 80, foram as pioneiras de um movimento que iniciou o cimentar de toda a música que hoje conhecemos como Metal. Tiveram o condão de ousar e apresentar uma qualidade que as levou às grandes editoras da época, conseguindo que estas apostassem nessas poucas bandas. Este é um dos paradigmas temporais. Enquanto no passado, uma editora preferia ter uma banda que vendesse um milhão de álbuns, hoje as editoras preferem ter 100 bandas que no total vendem um milhão de discos ou fazem 10 milhões de streams. Assim, hoje, é extremamente difícil para não dizer impossível uma banda sobressair do naipe e capitalizar um sucesso como as bandas que surgiram há 40 anos. Essas então eram poucas, o que significa que quem gostasse de ouvir “Heavy Metal”, não tinha muita escolha. Assim, por circunstâncias históricas, acabaram por cimentar o caminho do sucesso de uma forma exponencial. Eu sou da opinião, que hoje, a maioria das grandes bandas que surgiram nos 70 e 80, não teria qualquer hipótese. Se olharmos para trás, se calhar, uma lista com 50 nomes incluía todas as principais e secundárias bandas de uma década. O resto era underground. E os 10 dedos da mão bastariam para enumerar as 10 maiores dos 80. Ora vamos lá fazer este exercício rápido: Judas Priest, Iron Maiden, King Diamond, Slayer, Metallica, Testament, Megadeth, Dream Theater, Pantera, Manowar. Juntamos mais uns nomes da década anterior e posterior aos 80, que tiveram grande peso e com pouco mais de 50 nomes conseguimos ter praticamente o panorama todo de peso de 3 décadas.

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Hoje, só do material recebido pela versus desde 2016, consegui criar uma lista de bandas que já tem mais de 3500 nomes. Como é que esta gente toda consegue “viver” da música, com um mercado tão estreito? Não consegue, ou então vão ser necessários muitos anos e persistência - provavelmente nunca o conseguirão - porque não estão a competir com as mesmas “armas” que os seus antecessores competiram, apesar do advento da Internet e do streaming, num campo de batalha inundado de bandas. É que cada banda teve a sua época e cada década é diferente. E há medida que avançamos, é cada vez mais difícil de ser irreverente e trazer algo completamente fora da caixa, o que nos tempos idos dos 70 e 80, estas bandas fizeram-no. Foram os pioneiros que formataram o som e conduziu-nos até hoje. O Blues do 50 levou ao aparecimento do Rock dos 60, que por seu lado aprimorou-se no progressismo e dureza (hard) dos 70, para assim nascer o Heavy Metal dos 80 - aqui no sentido lato da palavra, que quase extinto nos 90 com o surgimento do Nu-metal na primeira metade da década, conseguiu renascer na segunda parte dos 90 com o surgimento de novos players, que se tornaram

importantes, mas numa escala mais restringida. E, é tudo, pois nos últimos 20 anos, não ouve mais nenhuma pedrada no charco do nosso género de eleição, sugando todas as novas bandas do legado criado e deixado por estas bandas que conseguiram atravessar cinco décadas. Hoje, há muitas sonoridades interessantes. Misturas de estilos que produzem um som ímpar e único, geralmente bem-feito, bem-composto e virtuosamente produzido, mas falta a verdadeira pedrada no charco que faça mesmo mexer as águas e trazer à tona uma nova sonoridade acutilante que vá cativar de forma exuberante os jovens adolescentes de hoje, como os “velhotes” fizeram outrora nas nossas adolescências. Não podia deixar de partilhar um sentimento que tenho quando vou ver o site web de metal Blabbermonth. Parece-que entrei num lar da terceira idade do metal. Só vejo notícias sobre gajos já bem na casa dos 60 a caminho dos 70 anos, sobre as ditas bandas que cá andam há décadas. É caso para dizer: “Estes tipos estão mesmo velhos, pá!”

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ANTRO DE FOLIA Evidentemente, todos são livres de fazer o que quiserem com a sua carreira, e seria contraproducente não capitalizar sobre a base que desenvolveram durante décadas, e, se todos nós estamos dispostos a entrar na onda e dizer presente, porque não? Não vejo mal nenhum nisto, mas também não subscrevo, porque, isto é feito às custas daqueles que nunca conseguirão nos nossos dias, talvez daqui a 10 anos será diferente, o mesmo sucesso de outrora e evoluir como banda presentemente e conseguir atingir o mesmo nível destas bandas. Porque a luta é desigual. O negócio da música mudou muito nestas últimas décadas, tornando muito mais difícil o sucesso, e, a perpetuação das nossas bandas do coração no topo da cadeia musical, só vão agonizar ainda mais o desabrochar de novas e excelentes bandas, independentemente doestilo que toque, para o topo da sua essência.

Anos 70

Led Zeppelin | Deep Purple | Black Sabbath | The Who | The Eagles | The Doors | Pink Floyd | The Rolling Stones | King Crimson | Queen | Lynyrd Skynyrd | Yes | AC/DC | Rush | Thin Lizzy | Kiss | Uriah Heep | ZZ Top | Gong | The Ramones | Alice Cooper | The Sex Pistols | Camel | The Velvet Underground | UFO | Scorpions

Anos 80

Metallica | Iron Maiden | Judas Priest | Motorhead | Megadeth | Slayer | Anthrax | Twisted Sister | Dio | Van Halen | W.A.S.P. | Venom | Accept | Sepultura | Manowar | Anvil | Savatage | Helloween | Mercyful Fate | Testament | Celtic Frost | Skid Row | Diamond Head | Saxon | White Zombie | Exodus | Metal Church | Kreator | Destruction | Death Angel | Overkill | Warlock | Pentagram | Voivod | Riot | Tankard | Saint Vitus | Coroner | Carcass | Nuclear Assault | Virgin Steele | Running Wild | Grave Digger | Manilla Road | Bathory | Sodom | Possessed | Candlemass | King Diamond

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Anos 90

Pantera | Death | Opeth | Type O Negative | Dream Theater | Napalm Death | Obituary | Slipknot | Nine Inch Nails | Cannibal Corpse | Machine Head | Rage Against the Machine | Queensryche | Deicide | Fear Factory | Morbid Angel | System of a Down | Korn | Meshuggah | Immortal | Marilyn Manson | Annihilator | Rammstein | At the Gates | Kamelot | Iced Earth | Dimmu Borgir | Carcass | Symphony X | Children of Bodom | Samael | Behemoth | Therion | Stratovarius | Darkthrone | Suicidal Tendencies | Candlemass | Angra | Cradle of Filth | Nightwish | Paradise Lost | Katatonia | In Flames | My Dying Bride | Tiamat | Cathedral | Theatre of Tragedy | Blind Guardian | Biohazard | Emperor | Anathema | Dark Tranquility | Corrosion of Conformity | Entombed | Tristania

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PALETES Por: Carlos Filipe

Rise To Fall - «The Fifth Dimension» (Espanha, Melodic Groove Metal) | Os Rise To Fall estabeleceram o seu merecido lugar na cena metal ao longo dos últimos dezassete anos. Com uma produção constante, Rise To Fall tornaram-se conhecido por entregar música devastadora ao mais alto nível. (All Noir) Snorlax - «The Necrotrophic Abyss» (Austrália, Blackened Death Metal) | Snorlax lança o seu terceiro LP, misteriosamente intitulada «The Necrotrophy Abyss». Muito parecido com «II», este dura pouco menos de 30 minutos, proporcionando uma exibição concisa e implacável de violência sonora e desespero. (Avantgarde Music) Grebbeberg - «Sammath» (Países Baixos, Raw Black Metal) | “Grebbeberg”: uma batalha travada no inferno do áudio por Sammath, onde o Metal extremo se torna mais épico do que antes! 30 anos de experiência em composição unem-se numa tempestade perfeita. Um retorno glorioso e dinâmico ao Black Metal dos anos 90. (Hammerheart Records) Ashtar - «Wandering Through Time» (Suiça, Black/Doom Metal) | Fogo e água colidem novamente com «Wandering Through Time»; a feiticeira suíça ASHTAR abre um mundo ameaçador, porém etéreo, de forças opostas, onde o Blackened Doom Metal deveriam entrar de boa vontade. Agora, com «Wandering Through Time», a vocalista Witch N. assume o comando como uma banda de uma mulher só, levando os limites da sua expressão criativa a novos patamares. (Eisenwald) Vinsta - «Freiweitn» (Austria, Progressive Death Metal) | Acima do pico mais alto, abre-se um horizonte sem fim. É a sensação edificante de estar acima dos palavrões mundanos que caracterizam a visão única do VINSTA de Death Metal Progressivo com tema alpino. No seu terceiro álbum «Freiweitn», apresenta uma mistura aventureira de estilos de dark metal, melodias delicadas e folclore austríaco. (Eisenwald) Tumulation - «Haunted Funeral Creations» (EUA-Califórnia, Death/Doom Metal) | Tumulation é a banda perfeita de Death/Doom Metal! Eis a força profana de Tumulation, os fornecedores californianos de Death/ Doom que invocam uma enorme parede de sujeira afinada. «Haunted Funeral Creations» exala uma aura malévola de agressão e raiva, saturando cada poro com esta atmosfera infernal. (Hammerheart Records) Parity Boot - «Fast Forward» (Alemanha, Industrial Metal) | «Fast Forward» é uma mistura de industrial, thrash metal e uma pitada de loucura escrita nele. Em mais de 40 minutos de reprodução, Parity Boot mostra-nos no seu novo álbum o quão diversificado, pesado e, ao mesmo tempo, atmosférico. (MDD Records) Demonized - «Abyss Vanguard» (México, Black/Death Metal) | Os Demónios da Luz Negra regressam furiosos! Após 20 anos de hiato rebelde, DEMONIZED voltou com «Abyss Vanguard», 21 minutos de pura morte/caos negro, iluminado pelas artes supremas de Jenglot Hitam, Flux of Death, Jan Pysander, Decay Art e Blacky Winter. DEMONIZED está-se a unir para a destruição sonora e a adoração do diabo. (Osmose Productions) Adversvm - «Vama Marga» (Alemanha, Funeral Doom Metal) | A banda alemã de Doom Metal ADVERSVM foi fundada por Sascha B. em 2015. Agora, ADVERSVM retorna com o seu terceiro LP, «Vama Marga» – o seu álbum híbrido mais dinâmico de Doom e Death Metal até agora. (Moribund Records) Bell Witch - «Future’S Shadow Part 1 The Clandestine Gate» (EUA-Washington, Funeral Doom Metal) | Por mais de uma década, a banda de doom metal do Noroeste do Pacífico enviou marés sobre os paredões da forma musical, desfazendo as expectativas convencionais sobre como a música se transmite a tempo de absorver a atenção do ouvinte. Bell Witch cultiva uma sensação de tempo fora do tempo, um oásis na cultura mediática frenética. (Independente)

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Coffin Mulch - «Spectral Intercession» (Escócia, Death Metal) | COFFIN MULCH começou por tocar death metal old-school, pesado e poderoso, influenciado pelo final dos anos 80/início. No entanto, eles são todos punks de coração, e a ética e estética DIY são tão importantes para eles quanto as músicas. Não faltam discos de death metal da “velha escola” hoje em dia, mas é raro encontrar um com tal personalidade que seja inconsciente e não elaborado. COFFIN MULCH encontre aquele ponto ideal com «Spectral Intercession»! (Memento Mori) Gabriele Bellini - «Motus» (Itália, Guitar Hero) | «Motus» é o álbum do conhecido guitarrista e professor Gabriele Bellini. Até a procura de um determinado tipo de sonoridade para dar todo o álbum é fruto de uma infinidade de sons e cores, num novo contexto harmónico e melódico, impulsionado pelos elementos básicos (guitarra-bumbo). Tudo é executado com a mais pura e crua naturalidade, mantendo viva aquela essência dinâmica, expressiva e comunicativa que caracteriza toda a obra. (Temple of Mystery) Death Of Giants - «Ventesorg» (Noruega, Death/Doom/Gothic Metal) | Extraindo influências das suas experiências brutais, com o doom metal gótico, funerário e melancólico, o projeto Death of Giants de Morten Søbyskogen lança um álbum de estreia extremamente poderoso e atmosférico, “Ventesorg”, em homenagem à sua falecida esposa. Este é um álbum conceitual. (Independente) Ekrom - «Uten Nådigst Formildelse» (Noruega, Black Metal) | Uma nova formação vinda da mais escura e fria Noruega, EKROM soa excepcionalmente antiga, repleta de um fogo que alimentou (e literalmente queimou) o país durante o início dos anos 90. Talvez não seja surpreendente que a banda, seja o trabalho de duas almas antigas: o baterista Thomas Ødegaard e o vocalista/multi-instrumentista Kharon. (Edged Circle) Ethereal Void - «Gods Of A Dead World» (Canadá, Death Metal) | A banda foi originalmente projetada para ser uma válvula de escape para riffs dissonantes, cromáticos e mais brutais. TDA tornou-se mais adequado aos riffs tradicionais do death metal, e Ethereal Void é uma banda de death metal de Ontário. Incorporando grooves e elementos progressivos, criando sons sombrios e rítmicos de adoração ao vazio. (Abstrakted Records) Serpent Corpse - «Blood Sabbath» (Canadá, Death Metal/Punk) | Vindo da crescente cena death metal de Montreal, os SERPENT CORPSE são ao mesmo tempo, estranho e familiar. «Blood Sabbath», o seu álbum de estreia, à primeira vista parece resolutamente old school: composição direta, produção analógica, pouco brilho, mas fogo total. SERPENT CORPSE mostra influência nobre desde o início dos anos 90. O quarteto canadiano prova que a ideia do tradicional DEATH METAL em letras maiúsculas é imortal e infinita. (Independente) Sunbeam Overdrive - «Diama» (França, Progressive Metal) | Este disco é sobre elevação, viagens, aventura e energia. Embora não tenha sido concebido como um álbum conceptual, «Diama» acaba por ser atravessado implicitamente por uma linha coerente. Mistura metal progressivo e rock alternativo dos anos 90. (Tentacles Industries) Temple Of Dread - «Beyond Acheron» (Alemanha, Death Metal) | A ilha de Spiekeroog, na Frísia Oriental, é habitada por uma população resistente. As duras tempestades de inverno e o clima rigoroso do Mar do Norte produziram um povo implacável, conhecido por preferir a ação à conversa e difícil de se afastar das suas convicções. Isso também é verdade para a única banda de death metal da ilha, TEMPLE OF DREAD, e o seu quarto álbum «Beyond Acheron», que segue no bem estabelecido curso da velha escola do trio. (Testimony Records) Vortex - «The Future Remains In Oblivion» (Canadá, Melodic Death Metal/Metalcore) | Vortex começa primeiro com a história, onde cada música vira um capítulo e a música começa a formar-se com base no sentimento da história. Vortex tem uma abordagem melódica forte e muitas orquestrações combinadas com vocais guturais e de black metal, e guitarras diversas que alternam entre fragmentos uivantes e riffs lindos e emocionais. (Independente) Wooden Veins - «Imploding Waves» (Chile, Avant-Garde Metal) | WOODEN VEINS, formado por músicos chilenos, envolve-se no doom metal melódico clássico, combinando-o com elementos progressivos e góticos, explorando ainda mais à medida que trazem mais peso e até um pouco de sabor latino ao seu som. «Imploding Waves», é um trabalho mais complexo e requintado, adoptando uma abordagem mais progressiva, misturando passagens mais sombrias, pesadas e rápidas nos elementos melódicos e atmosféricos distintos. (Ardua Music)

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Dymna Lotva - «The Land Under The Black Wings Blood» (Bielorrússia, Doom/Post-Metal) | O metal sempre teve uma tendência rebelde. DYMNA LOTVA tem muitos motivos para carregar a tocha da rebelião. DYMNA LOTVA baseiam as suas letras em contos verdadeiros da Bielorrússia. (Prophecy Productions) Elder Devil - «Everything Worth Loving» (EUA-Califórnia, Grindcore) | A fusão dos aspectos insulares e universais de tal luto é exemplificada na ponderação do próprio amor da faixa-título, enquanto Muir questiona: “Por que amamos e por que esse amor vai embora?”. As respostas do ELDER DEVIL para essas perguntas não são fáceis de digerir, mas sob a superfície de seu ruído áspero existe um conforto dentro da cacofonia. (Prosthetic Records) Pupil Slicer - «Blossom» (Inglaterra, Mathcore) | A velocidade vertiginosa com que o Pupil Slicer não só foi aceite, mas também celebrado pela cena metal - tanto nacional quanto internacionalmente - pegou a banda de surpresa. Chamar isso de batismo de fogo pode parecer extremo. «Blossom» é um álbum conceitual de ópera rock de ficção científica/horror cósmico com temas centrais de desespero. (Prosthetic Records) Vile Ritual - «Caverns Of Occultic Hatred» (EUA-Maryland, Blackened Death Metal) | A força de death metal psicadélico bestial de um homem só, Vile Ritual, finalmente emerge das entranhas do hades com o seu arrasador álbum de estreia, «Caverns of Occultic Hatred». Na abominação mortal de quarenta minutos e oito faixas, Vile Ritual funde a violência primitiva com a imprevisibilidade técnica e composicional de death metal progressivo e atmosférico. Uma alucinação devoradora de mentes de carnificina de death metal mutante, sombrio e oculto. (Sentient Ruin) Geist Of Ouachita - «Imprisoned In The Graven Wood» (EUA-Oklahoma, Black Metal) | GEIST OF OUACHITA chega com o seu álbum de estreia, «Imprisoned in the Graven Wood». Uma autoconfiança medonha e fantasmagórica, onde Roanoke colhe um turbilhão de horror de masmorra temperado com uma melodicidade distorcida que torna o disco de seis músicas/33 minutos estranhamente humilde. (Signal Rex) Eternity - «Mundicide» (Noruega, Black Metal) | ETERNITY é o fogo que queima na noite mais negra, uma porta de entrada para a iluminação através da iluminação de luz negra: o verdadeiro black metal norueguês atemporal para todos os tempos… O início remonta aos anos 90 e à era de ouro do black metal, quando as chamas das igrejas iluminavam o céu do norte. Quando Blasphemer foi chamado para se juntar ao Mayhem, Evighet pegou os seus riffs e ideias e criou a sua própria banda - ETERNITY. (Soulseller Records) Haradrim - «Death Of Idols» (Suécia, Black Metal/Crust) | “Death of Idols”, o álbum de estreia da banda de blackened death metal HARADRIM. Vindos do extremo norte da Suécia, eles são baseados na dupla principal de Anton Palmborg e Dennis Sjögren. Sendo uma banda fortemente inspirada na cena crust e hardcore. «Death of Idols» oferece uma mistura dinâmica e implacável de tons massivos. (All Noir) Loather - «Eis» (EUA-South Carolina, Atmospheric Black Metal) | O primeiro álbum da banda mostra o crescimento de LOATHER de várias maneiras. LOATHER tem confundido os limites do underground metal europeu e a evolução criativa contínua da banda foi finalmente cristalizada no seu trabalho mais desenvolvido. Um álbum conceitual com temas de perda e luta interpessoal espalhados pela paisagem gelada. (All Noir) Nathanael Larochette - «Old Growth» (Canadá, Guitar Hero) | NATHANAEL LAROCHETTE, regressa com o seu segundo álbum, «Old Growth», uma comovente coleção de composições acústicas a solo gravadas ao vivo à luz de velas numa cabana na floresta às margens de White Lake, Ontário. Saindo das exigentes produções de The Night Watch, a ideia de «Old Growth» era bastante simples: gravar cada uma das peças do álbum ao vivo num único take, capturando a atmosfera do momento em toda a sua delicada glória. (Earsplit) Bio-Cancer - «Revengeance» (Grécia, Thrash Metal) | Ataque Ultimate Extreme Metal do Bio-Cancer, de volta com «Revengeance» e vindo para aniquilar todos os palcos do Metal em todo o mundo! Bio-Cancer é uma banda de thrash metal extremo com sede em Atenas, Grécia, formada em 2010, e foi uma das principais bandas da emergente cena Thrash Metal do início dos anos 10 na Grécia. (Hammerheart Records)

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Sculforge - «Intergalactic Battle Tunes...Stories from Behind the Dark Side of the Moon to the Milky Way and Beyond» (Alemanha, Speed/Power Metal) | Um mundo em que não há progresso, excepto no campo de batalha, parecia-lhe o cenário perfeito para músicas de power metal de alta velocidade! Então, nesta estreia intitulada «Intergalactic Battle Tunes (Stories from Behind The Dark Side Of The Moon To The Milky Way And Beyond)», não há apenas Metal Hymns entre Power e Thrash, mas também uma história completa com interlúdios de rádio que complete o conceito. O resultado é uma obra-prima nova e virtuosa! (MDD Records) Calico Jack - «Isla De La Muerte» (Itália, Folk Metal) | Batizada com o nome do capitão John Rackham, o capitão pirata inglês que atuou nas Bahamas e em Cuba durante o início do século XVIII, Calico Jack foi fundada em 2011 pelos irmãos Toto e Caps visando fundir o lendário heavy metal dos anos 80 com o moderno. Folk metal escandinavo, envolvendo tudo numa atmosfera marítima, inspirada em canções folclóricas e cantigas marítimas da tradição anglo-saxónica. (Rockshots Records) Onheil - «In Black Ashes» (Países Baixos, Blackened/Melodic Thrash/Death Metal) | A banda de blackened death metal ONHEIL traz o seu melhor jogo com o seu novo álbum «In Black Ashes». Utilizando plenamente as possibilidades oferecidas por ter uma banda de três guitarristas, cada riff é um exemplo de construção melódica bem estruturada, com tons thrash/black. A banda entrega um álbum bem executado e escrito, que se esforça a ser contundente, pesado e agressivo, mas melódico e encantador. (Black Lion Records) Phaeton - «Between Two Worlds» (Canadá, Instrumental Progressive Metal) | «Between Two Worlds» foi um avanço para nós no Phaeton. Como uma banda de prog-metal estritamente instrumental, precisamos ser perspicazes e inteligentes para atrair os ouvidos das pessoas quando não há ninguém cantando, e as linhas melódicas das guitarras gémeas são o que atraem o foco do ouvinte e os levam a uma jornada emocional - o que é o objetivo clássico de todo rock instrumental. (INB Music) Phantom Corporation - «Fallout» (Alemanha, Death Metal/Crust) | Death Crust de maneira brutal: PHANTOM CORPORATION lançará o seu primeiro álbum «Fallout», combinando crust d-beat, um pouco de death metal punitivo, bem como o bom thrash/punk da velha escola num intenso resultado de crossover. Death Crust da maneira brutal! (Supreme Chaos Records) Runespell - «Shores Of Nastrond» (Austrália, Black Metal) | Até agora, RUNESPELL deve exigir pouca introdução. O quinto álbum é o primeiro com uma formação completa. Simplificando, esta é a perfeição do black metal pagão, de uma entidade que aparentemente já o aperfeiçoou. (Iron Bonehead Productions) The Rite - «The Astral Gloom» (Internacional, Black/Doom Metal) | THE RITE foi formado quando A.th e Ustumallagam uniram forças para criar uma banda que toca exclusivamente black metal mórbido, elogiando a escuridão total e extrema. A música caminha sobre uma linha ténue entre partes lentas e sombrias e ataques rápidos e impiedosos, mas, em geral, cai na categoria black/doom. (Iron Bonehead Productions) Witchskull - «The Serpent Tide» (Austrália, Heavy/Stoner Metal) | O quarto álbum de estúdio monstruosamente pesado e melódico de Canberra Doom Beasts, WITCHSKULL, é lançado mundialmente. Se você não está familiarizado com os sons majestosos desta banda incrível, agora é a hora de corrigir isso! (Rise Above Records) Bees Made Honey In The Vein Tree - «Aion» (Alemanha, Psychedelic Doom Metal) | A água é o tema elementar perfeito para «Aion», o terceiro álbum dos contendores alemães do psicadélico doom, BEES MADE HONEY IN THE VEIN TREE. É hora de zarpar e deslizar sobre os mares intermináveis do tempo que BEES MADE HONEY IN THE VEIN TREE cria em «Aion» para um vislumbre de estrelas sonoras cintilantes e da beleza da eternidade. (Prophecy Productions) Calligram - «Position Momentum» (Inglaterra, Black Metal/Hardcore) | A alegria pode ser encontrada nos lugares mais improváveis. Ouvir o mais recente CALLIGRAM pode não evocar imediatamente sentimentos de alegria imediata, mas tenha certeza – entre os uivos escaldantes e os riffs enegrecidos, há muito para comemorar. O trabalho mais difícil para Rizzardo foi feito por um caminho de aceitação e autoanálise. (Prosthetic Records) Mystfall - «Celestial Vision» (Grécia, Symphonic Metal) | O elegante metal sinfónico celestial «Celestial Vision» é a introdução do Mystfall à cena do metal internacional, combinando o som e as atmosferas do metal sinfónico tradicional com uma abordagem melodramática fascinante. Todo o álbum é influenciado pela música

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de batalha, cinematográfica, celta e clássica também. A voz soberba e comovente da vocalista Marialena Trikoglou é a cereja do bolo de uma série de composições incríveis. (Scarlet Records) Winterage - «Nekyia» (Itália, Symphonic Power Metal) | O power metal cinematográfico triunfante «Nekyia» apresenta um novo lado de Winterage, graças a uma sensação ainda mais bombástica e teatral. De notas agudas a vocais de ópera dramáticos, de instrumentos folclóricos ao poderoso som orquestral, de batidas furiosas a riffs e solos de guitarra extremamente rápidos, com a sensacional evolução Winterage. (Scarlet Records) Disimperium - «Grand Insurgence Upon Despotic Altars» (EUA-Oregon, Black/Death Metal/Grindcore) | A aniquilação sonora pura atinge o seu auge e sublimação inevitável no álbum de estreia dos Disimperium, «Grand Insurgence Upon Despotic Altars». Em nove faixas e trinta e dois minutos de puro terror concentrado, IT descarrega uma carga mortal inevitável que impacta o ouvinte com a força e a velocidade de uma onda de choque apocalíptica. (Sentient Ruin) Lucifixion - «Trisect Joy Of Pierced Hearts» (EUA-, Raw Black Metal) | O álbum de estreia devastado pelo caos da desencarnação do black metal americano. Lucifxion criou um trabalho ambivalente envolto em crueza gangrenada e grandeza composicional, onde sete faixas longas, imprevisíveis e mutáveis, formando um gigante de quase cinquenta minutos. (Sentient Ruin) Miserere Luminis - «Ordalie» (Canadá, Atmospheric Black Metal) | Apesar do longo tempo entre álbuns, o que tornou o primeiro trabalho tão marcante continua presente: guitarras dissonantes e atmosféricas, estruturas musicais complexas e vocais torturados, dramáticos! Sombrio e bonito ao mesmo tempo, Ordalie é uma jornada diferente de qualquer outra, criada por lendas da cena black metal atmosférico do Quebec. (Sepulchral Productions) Sacrenoir - «Comme Des Revenants Parmi Les Ruines» (Canadá, Black Metal) | Dois pioneiros da cena black metal quebequense, Athros e Monarque revisitam os primórdios do black metal no furioso álbum de estreia dos Sacrenoir. «Comme des Revenants Parmi les Ruines» é um black metal frio, cru e clássico, algo que foi raramente ouvido na cena quebequense. (Sepulchral Productions) Thurnin - «Útiseta» (Países Baixos, Acoustic Dark folk ) | A palavra ‘Útiseta’ é um antigo termo islandês que se refere à feitiçaria, que já não é usado, mas compreendido literalmente na língua moderna. Significa a prática de sentar-se ao ar livre, possivelmente num local significativo com um propósito mágico. «Útiseta» é uma coleção de poesia que acompanha o álbum. (Prophecy Productions) Trépas - «Les Ombres Malades» (Canadá, Atmospheric Black Metal) | Depois do lançamento de um primeiro álbum muito bem recebido em 2020, Trépas regressa com «Les Ombres Malades», uma obra que mostra uma banda que adquiriu muita maturidade. Trépas ainda alterna entre o black metal incisivo e um lado mais taciturno, a banda conseguiu enriquecer as suas composições com partes acústicas e atmosféricas. (Sepulchral Productions) Izrod - «Sarajevski Odisej» ( Bósnia e Herzegovina, Black Metal) | Enfim, chega o primeiro LP da banda, «Sarajevski Odisej». Melodias serpentinas entram e saem de uma dissonância realmente melodiosa e a violência crescente surge com fogo triunfante, ao mesmo tempo, em que interlúdios quase jazzísticos pontilham a paisagem com classe - e ameaça. (Signal Rex) Porta Nigra - «Weltende» (Alemanha, Avant-garde Black Metal) | Trazendo o passado para o presente com traços ousados e beligerantes, os PORTA NIGRA regressam com «Weltende», reformulando a expressão eclética dos seus dois primeiros álbuns sob uma luz nova e brilhante. Imediatamente, o som mutante, mas característico da banda é estabelecido - austero, mas inquieto, espaçoso, mas sufocante - e o vocalista André Meyrink, uma garganta incrivelmente dinâmica, lidera o ataque com um toque estrondoso. (Soulseller Records) Thorn - «Evergloom» (EUA-Arizona e Vários, Death/Doom Metal OU Outros) | Os heróis do death metal underground, Thorn, evocam o seu terceiro álbum, que é um mais maduro e envolvente. Eles elevaram o seu estilo único de death metal bárbaro da velha escola, misturando partes atmosféricas carregadas de emoção, a música oscila instintivamente entre partes raivosas e contundentes e melodias comoventes e melancólicas.

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(Transcending Obscurity Records) Blackning - «Awakening Rage» (Brasil, Thrash Metal) | Awakening Rage’ traz o Thrash Metal brasileiro ao seu auge! Há raiva, riffs rápidos, grooves lentos e pesados e toda a química que a banda aprendeu ao vivo. Sim, isso é Thrash Metal. Toda essa fúria é canalizada mediante vocais raivosos, riffs selvagens, tons de baixo massivos e bateria que vão bater no seu peito, e BAM! (All Noir) Mizmor - «Prosaic» (EUA-Oregon, Black/Drone/Doom Metal) | MIZMOR, é uma exploração musical pesada de um homem. O conteúdo por trás do projeto é o das reflexões existenciais - primordiais e inatas sobre causa, propósito, eu e Deus. MIZMOR é a manifestação de uma depressão de longa data. A ideia por trás de «Prosaic» é fazer um disco intencionalmente menos conceitual e mais realista. (All Noir) Roots Of The Old Oak - «The Devil And His Wicked Ways» (Inglaterra, Doom/Death Metal) | Roots of the Old Oak são três Death/Doomsters da “Old School” que seguem os velhos hábitos e dão voz a suas divindades pagãs/pagãs por meio de música pesada e atmosférica. Embora «The Devil and His Wicked Ways» não seja estritamente um álbum conceitual, a estrutura e a lista de faixas seguem uma narrativa pré-planeada. (Hammerheart Records) Demoniac - «Nube Negra» (Chile, Blackened Thrash Metal) | DEMONIAC continua a viajar pelo caminho do selvagem e estranho com «Nube Negra». Apresentando uma abordagem mais incisiva de oito músicas em 42 minutos, o terceiro álbum continua a loucura do seu antecessor e torna o aço ainda mais brilhante e os ganchos ainda mais hipnotizantes e melódicos. «Nube Negra» é inegavelmente o mais denegrido. (Edge Circle Productions) Grand Cadaver - «Deities Of Deathlike Sleep» (Suécia, Death Metal) | Cinco amigos de longa data de Gotemburgo e Estocolmo e com um amor mútuo pelo som clássico do death metal sueco do HM-2 criaram os Grand Cadaver. Desta vez ficou um pouco mais dinâmico, com a fúria violenta intercalada com alguma desgraça, melancolia e escuridão. Mas ainda assim, são apenas dez faixas de Swedish Fucking Death Metal. (Majestic Mountain Records) Luring - «Triumphant Fall Of The Malignant Christ» (EUA-Pennsylvania, Atmospheric Black Metal) | Mística e de fato maligna, a «Triumphant Fall Of The Malignant Christ» tece um feitiço de magia negra repleto de fiscalidade ondulante, bem como de textura sobrenatural. LURING tornou-se lenta, mas seguramente um dos desenvolvimentos mais emocionantes do black metal americano dos últimos anos. (Iron Bonehead Productions) Sektarism - «Et Facta Est Lux» (França, Funeral Doom Metal) | Neste contexto, repleto de obstáculos e desafios, é dentro de nós que encontramos a energia e a inspiração para compor e apresentar-lhe esta nova oferta, «Et Facta Est Lux». Este quarto álbum marca o fim de uma era, tanto pessoal quanto artisticamente. A paleta sonora de SEKTARISM evoluiu assim, com o peso ainda no centro da orquestração. (EAL Productions) Solstein - «Solstein» (Noruega, Jazz Funk Prog Metal) | Solstein não é o típico caso de fusão dos anos 2020. Muita inspiração foi tirada do final mais funk e melódico do espectro, e dada a experiência de alguns dos membros no prog, também há ecos do lado jazzístico do prog. O resultado é um álbum acessível, mas aventureiro, colorido, descolado e envolvente. (Is it Jazz? Records) Somniate - «We Have Proved Death» (Chéquia, Black Metal) | Existem álbuns neste mundo inspirados em livros, ou seja, nas palavras e pensamentos dos seus escritores. «We Have Proved Death» capta a essência do que permaneceu não dito. O implacável e sofisticado espetáculo de black metal tcheco SOMNIATE retorna com o seu segundo álbum completo. O realismo mágico funde-se com a arte negra. (Lavadome Productions) Stygian Fair - «Aradia» (Suécia, Heavy Metal/Hard Rock) | «Aradia» é um monumento de metal honesto. A banda não tem ambição de embarcar em nenhuma moda musical atual, mas faz o que gosta e sente que funciona quando tocam juntos. Existem músicas mais suaves e músicas mais pesadas, mas todas elas transmitirão algo aos fãs. Apresentando 10 faixas de metal melódico AOR variado. (Rockshots Records) Tar Pond - «Petrol» (Suiça, Doom/Post-Metal) | A lenda do blues afirma que o diabo espera por aqueles que querem vender as suas almas nas encruzilhadas. «PETROL», o segundo LP dos visionários suíços da destruição,

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TAR POND, nasceu dessa convergência - mas onde mais de três dimensões se encontram. TAR POND cumpre a promessa original: este álbum é ‘Doom’n’Gloom’ de escuridão e tristeza. (Prophecy Productions) Astralborne - «Across The Aeons» (EUA, Melodic Death Metal) | O trio de death metal melódico ASTRALBORNE está pronto para lançar o seu segundo álbum, o grupo expandiu as passagens mais grandiosas das suas bases sonoras, incorporando as contribuições do violoncelista e compositor Kakophonix. (Prosthetic Records) Werewolves - «My Enemies Look And Sound Like Me» (Austrália, Technical Black/Death Metal) | WEREWOLVES anuncia ainda mais death metal com o quarto álbum, «My Enemies Look and Sound Like Me». A banda realiza um ato de peristaltismo criativo. Um esforço maduro de uma banda que se aproxima do ponto médio da sua carreira e das suas vidas, ajustando a violência do áudio e desesperada para não deixar nada na mesa. (Prosthetic Records) Warmen - «Here For None» (Finlândia, Neoclassical/Melodic Power Metal) | «HERE FOR NONE» anuncia uma nova era - fiel ao lema “O rei está morto, viva o rei”, onde WARMEN não está apenas partindo musicalmente para terras novas e mais pesadas, mas assumindo o legado musical da antiga banda de Janne de uma forma espetacular. A nova reivindicação da banda e a nova orientação musical são claras. (Reaper Entertainment) Sinheresy - «Event Horizon» (Itália, Symphonic/Melodic Heavy Metal) | O novo esforço dos SinHeresy, «Event Horizon», aprimora ainda mais o seu som único, feito de vibrações modernas e vigorosas, riffs poderosos, atmosferas cativantes e melodias inesquecíveis. Cada música é perfeitamente trabalhada em torno da voz cristalina de Cecilia Petrini e dos vocais fortes de Stefano Sain, que se misturam e duelam enquanto a sessão rítmica é mais pesada e dinâmica, mostrando toques de influências melódicas do metalcore. (Scarlet Records) Decoherence - «Order» (Inglaterra, Black Metal) | Os futuristas mecanizados de black metal do Reino Unido, Decoherence, reaparecem do desconhecido mais sombrio com «Order», uma imponente paisagem vazia que consagra uma visão auditiva incomparável na escuridão e no vazio absolutos. Black metal experimental, frio, sintético e mecânico para inferir numa realidade futura. (Sentient Ruin) Ghosts Of Atlantis - «Riddles Of The Sycophants» (Inglaterra, Symphonic/Melodic Death Metal) | Uma masterclass em Symphonic Extreme Metal, mitologia e narrativa! Após as ações heroicas do povo Atlante em 3.6.2.4, aqueles que tiveram a sorte de escapar das grandes inundações, agora chegam à costa numa nova terra. (Hammerheart Records) Salacious Gods - «Oalevluuk» (Países Baixos, Black Metal) | Rei do Black Metal holandês, Salacious Gods, antes considerados perdidos e esquecidos, regressam com «Oalevluuk»! Black Metal como foi planeado: puro, rápido, intenso e cheio de ódio! Captura o conflito e a resistência com os quais a banda teve que lidar para completar esta peça de escuridão pura e ritualística. (Hammerheart Records) Augurium - «Unearthly Will» (Canadá, Death Metal) | Augurium baseia-se em expressões de referências antigas e novas do mundo do heavy metal. «Unearthly Will» é o terceiro álbum e eles continuam a desafiar as fronteiras do género para criar um som original death metal. (Independente) Imperial Crystalline Entombment - «Ancient Glacial Resurgence» (EUA-Maryland, Black Metal) | O inimitável IMPERIAL CRYSTALLINE ENTOMBMENT regressa com «Ancient Glacial Resurgence», um tão aguardado segundo ataque da devastadora mania do Black Metal. Uma explosão abaixo de zero de selvagaria viciante e descontrolada, com uma barragem de riffs intensos, músicas cortantes, frieza severa e impulso do Death Metal thrashy. (Debemur Morti Productions) Baxaxaxa - «De Vermis Mysteriis» (Alemanha, Black Metal) | As sete faixas cheiram a morte e obscuridade com vocais cruéis vindos diretamente do além-túmulo, mas parecem genuinamente frescas. Desde a suas passagens pesadas até as mais agitadas, Ancient Black Metal de Baxaxaxa é impregnado de mistérios, magia e posse máxima. O velho mal está presente em cada nota. (The Sinister Flame) Blood Oath - «Lost In An Eternal Silence» (Chile, Death Metal) | Como evidência de «Lost in an Eternal

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Silence», BLOOD OATH é uma revelação para aqueles que estão nos fins mais cult da morte tecnológica. Maníacos dos Sadus e Cenotáfio, conheçam os seus novos deuses! (Caligari Records / Raise the Dead Records) Dead Fields Of Woolwich - «Dead Fields Of Woolwich» (Canadá, Gothic Metal) | Dead Fields Of Woolwich teve o seu início no outono de 2020 em North Bay, Ontário, quando o multi-instrumentista Kye Bell criou um projeto inspirado em bandas com o seu som carregado de gótico e letras sombrias. Considerado um projeto a solo, tem uma entidade individual para uma dupla obscura. (Independente) Dehiscence - «Colony» (EUA-Oregon, Death Metal/Grindcore) | DEHISCENCE prepara-se para infectar o mundo com o seu tipo de death metal e grindcore ultra denso, cheio de doenças e irritações. Extraindo influência de clássicos da velha escola, bem como de joias esquecidas e desequilibradas, o trio oferece uma surra auditiva que esmagada-nos tal uma marreta enferrujada. (Blood Harvest Records) Formless Oedon - «Streams Of Rot» (Filipinas, Death Metal) | FORMLESS OEDON deve conquistar o underground com o referido álbum de estreia, «Streams of Rot». Do conteúdo da reunião, «Streams of Rot» é uma ferida purulenta de sujeira da velha escola na tradição finlandesa: pesado, mas volátil, com um vaio de Sludge, mas executado com precisão, e totalmente devorador do mundo, não importa o ritmo. (Memento Mori) Of Darkness - «Missa Tridentina» (Espanha, Funeral Doom Metal) | OF DARKNESS é uma banda experimental de funeral doom de Barcelona. Os espanhóis olham além do mero metal para a implantação idiossincrática de outras músicas como ambiente, industrial e especialmente clássica. Intensamente atmosférico e mais profundo que o abismo, o seu som é o cenário perfeito para crenças niilistas extremas dos membros. (Personal Records) Tideless - «Eye Of Water» (EUA-Califórnia, Death/Doom Metal, Shoegaze) | O Cenote, caminhos subterrâneos ocultos de água que levam ao submundo, ou o que alguns acreditam ser a vida após a morte compartilhada... um eco angustiado abaixo da superfície, mas nunca esquecido no coração... no meio disso, temos Tideless, com o seu segundo LP «Eye of Water». Uma paisagem ondulada e incandescente de tristeza majestosa e morte. (Chaos Records) Triskelyon - «Artificial Insanity» (Canadá, Thrash Metal) | Os novos deuses do power thrash metal canadiano, Triskelyon, regressam para entregar aço inoxidável no seu aguardado segundo álbum «Artificial Insanity». É o regresso a um clássico de thrash/power metal variado, mas vibrante, trazendo de volta os dias de glória dos anos 1980, enquanto mantém um som fresco e moderno. (Moribund Records) Valravn - «The Awakening» (Finlândia, Black Metal) | Evidenciando uma mestria além do seu curto período como banda, Prey sem dúvida exibiu características do agora mundialmente conhecido som black metal da Finlândia - melodia criogénica, execução crua e robusta, uma afirmação sem remorso de tradicionalismo, VALRAVN afirmou a sua própria identidade contrariando um paradigma predominante. (Primitive Reaction) Laster - «Andermans Mijne» (Países Baixos, Atmospheric Black Metal) | LASTER é estilisticamente um jack-inthe-box e o mesmo vale para o quarto álbum do trio holandês. Em «Andermans Mijne», LASTER continua o seu trabalho subversivo para experimentar e constantemente distorcer e ampliar a estrutura do metal extremo com elementos de indie e jazz rock, shoegaze e art pop, bem como pós-black metal. (Prophecy Productions) Creak - «Depth Perception» (Inglaterra, Death/Thrash/Black) | CREAK lança o seu primeiro álbum, «Depth Perception». Este é uma mistura volátil de nu-metal, hardcore e metalcore que fará com que o CREAK chegue rapidamente aos escalões superiores do underground do Reino Unido. (Prosthetic Records) Nixil - «From The Wound Spilled Forth Fire» (EUA-Maryland, Black Metal) | NIXIL está embarcou no seu próximo capítulo da sua existência com o seu segundo álbum, «From the Wound Spilled Forth Fire». Um caminho espiritual em direção à libertação através da exploração abissal, do microcósmico ao macro cósmico. A abordagem de terra arrasada de NIXIL às extremidades sonoras do black metal. (Prosthetic Records) Milking The Goatmachine - «Neue Platte» (Alemanha, Death Metal/Grindcore) | A humanidade sempre foi fascinada pelo perigo extraterrestre. Mas o verdadeiro perigo vem das cabras do planeta GoatEborg! Os inventores do Goatgrind voltam para lembrar à humanidade que estão em estado permanente de subjugação. «MILKING THE GOATMACHINE» é um álbum conceitual convulsivo. (Reaper Entertainment)

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Rebaelliun - «Under The Sign Of Rebellion» (Brasil, Death Metal) | A banda brasileira de death metal REBAELLIUN ressurge com seu primeiro álbum em sete anos, o terceiro neste milénio e o quarto desde a formação da banda em 1998. «Under The Sign Of Rebellion» é um manifesto de death metal de raiva e desafio, fúria e resistência. O canhão intenso de riffs brutais e ritmos intensos. (Agonia Records) Vanishing Kids - «Miracle Of Death» (EUA-Wisconsin, Psychedelic Metal Shoegaze) | Muitas vezes descrito como “épico, sonhador e mágico”, eles criaram a sua própria mistura gloriosa de shoegaze metal que tem uma propensão para ganchos, soul, composições devotadas e musicalidade. (Code666) Dwaal - «Never Enough» (Noruega, Sludge/Post-Metal) | Dwaal é um sexteto de Oslo, Noruega, que toca heavy, sludge atmosférico, doom, post-metal ou como se quiser chamar. A densa parede sonora oscila entre agressivo, sufocante, melancólico e hipnotizante. (Dark Essence Records) Uada - «Crepuscule Natura» (EUA-Oregon, Melodic Black Metal) | 5 vasos sonoros formam o núcleo de «Crepuscule Natura» e, em nos seus 41 minutos, o disco cria uma ponte sonora e estética entre a estreia da banda e seu segundo esforço, apenas para seguir em frente no caminho implacável estabelecido. UADA fornece os seus ganchos memoráveis, leads de bom gosto e explosões que definem o seu estilo distinto, equilibrando melodias épicas com poderosos surtos de agressão. (Eisenwald) Vak - «The Islands» (SUécia, Progressive Sludge Metal) | Com um som bem produzido, a banda sueca de metal VAK foi elogiada por seus álbuns anteriores! VAK está de volta com seu terceiro álbum «The Islands». A banda é conhecida por sua paisagem sonora estimulante e dinâmica, onde elementos de sludge, metal progressivo e sintetizadores são perfeitamente misturados. (Indie Recordings) Jordsjø - «Salighet» (Noruega, Symphonic Prog / Progressive Rock ) | Jordsjø é uma dupla de Oslo, Noruega, inspirada em Olivier Messiaen, Popol Vuh e Anthony Braxton, passando pelo folclore escandinavo e jazz até o início do prog britânico. Seguindo a tradição de alguns dos melhores rock nórdicos, Jordsjø consegue fundir o rock progressivo com melodias fantásticas e um toque folk. (Karisma Records) Blessed Curse - «Pray For Armageddon» (EUA-Califórnia, Thrash Metal) | Este é o segundo álbum dos thrashers americanos BLESSED CURSE, uma nova geração do thrash clássico dos anos 80. Seis anos após a última gravação, os fãs podem esperar mais de seu thrash com um toque mortal. (M-Theory Audio) Cruel Force - «Dawn Of The Axe» (Alemanha, Black/Thrash Metal) | O mais verdadeiro da verdade, CRUEL FORCE da Alemanha entrou em cena em 2008 e embora muitos tenham tentado imitar o antigo som thrash alemão (black), CRUEL FORCE transbordava de uma autenticidade que não podia ser negada, bem como composições que acrescentavam a essa nobre tradição. (Shadow Kingdom Records) Hands Of Orlac - «Hebetudo Mentis» (Suécia, Doom Metal) | «Hebetudo Mentis» conta com sete faixas de Doom Metal inusitado mescladas com melodias progressivas e psicodélica que podem ser melhor categorizadas como Italian Dark Sound, influenciado por Biglietto Per L’inferno ou Goblin. HANDS OF ORLAC nasceu em 2009 da mente de The Sorceress (vocal/flauta) e The Templar (baixo) em Roma, Itália. A criação da banda foi pautada por temas de terror, heavy doom e o que está além do visível na tradição do Dark Sound italiano com inevitáveis nuances de Rock Progressivo Italiano. (Terror From Hell Records) Miserere Luminis - «Ordalie» (Canadá, Atmospheric Black Metal) | Quase 15 anos após o lançamento do álbum de estreia, Miserere Luminis estão de volta com um tão aguardado segundo álbum! Apesar do longo tempo entre os dois álbuns, os fãs da banda encontrarão lá tudo o que tornou o primeiro trabalho tão marcante: guitarras dissonantes e atmosféricas, estruturas musicais complexas, vocais torturados e aquele talento sempre presente para o dramático! (Sepulchral Productions) Hallucinate - «From The Bowels Of The Earth» (Alemanha, Death Metal) | «From the Bowels of the Earth» vê HALLUCINATE mover-se a muitas velocidades, incutindo sensações ao longo do caminho - a principal delas, conforto na dissonância e misticismo da natureza por meio de liberação suspensa - mas sempre com a paixão estrondosa do clássico death metal dos anos 90. (Caligari Records)

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Sielunvihollinen - «Helvetinkone» (Finlândia, Black Metal) | o ataque é diretamente BLACK METAL - áspero e turbulento no coração, “cativante” na tradição pós-milenar finlandesa - mas esses oito ANTHEMS são ridiculamente compactos e contornados.SIELUNVIHOLLINEN mantém-se firme nos escalões superiores do black metal internacional com «Helvetinkone»! (Hammer of Hate) My Lament - «The Season Came Undone» (Bélgica, Doom/Death Metal) | Revigorada por novas influências e uma formação estável, My Lament desde então aprimorou suas raízes underground em um som mais acessível, com ênfase em composições concisas e melodias memoráveis. (Independente) Suffer Yourself - «Axis Of Tortures» (Polónia, Funeral Doom/Death Metal) | «Rip Tide» dos SUFFER YOURSELF provoca e desenvolve o toque death metal de caracteriza a sua música. Uma abordagem mais agressiva e ideias composicionais aplicadas, incorporando o death metal no som. (Aesthetic Death) Third Storm - «The Locust Mantra» (Suécia, Black Metal) | THIRD STORM foi formado em 1986, por quatro pessoas que compartilhavam a mesma paixão pela música underground extrema. Atemporal e fora de moda, eles provam com The Locust Mantra que o death metal enegrecido sueco está longe de desaparecer. (Chaos Records) Howling Giant - «Glass Future» (EUA-Tennessee, Stoner/Doom/Psychedelic Rock/Metal) | Cada música do segundo álbum dos HOWLING GIANT conta a sua própria história. «Glass Future» inspira um livro ou história de BD, enquanto explode com energia furiosa e acrobacias estrondosas. HOWLING GIANT atrai o metal clássico e o hard rock para interagir dinamicamente com passagens espaçadas e progressivas, momentos de metal psicadélico e desértico. (Prophecy Productions) Blind Equation - «Death Awaits» (EUA-Illinois, Cybergrind) | A visão de mundo fatalista de Death Awaits é capturada em rosa neon borrado e preto granulado pelo artista visual Angel Gasm, com efeitos de vazamento de luz na flor simbólica como um farol de esperança entre os feridos. Apesar de toda a angústia que BLIND EQUATION traz para o último álbum, certamente haverá aqueles que encontrarão consolo e conforto aqui, e Death Awaits pode muito bem provar ser não apenas um momento divisor de águas no cybergrind moderno, mas também o início de um mundo ilimitado. (Prosthetic Records) Outergods - «A Kingdom Built Upon The Wreckage Of Heaven» (Inglaterra, Black Metal/Grindcore) | Diante da turbulência interna e de um mundo incerto, a dupla encontrou consolo em seu amor pelo metal extremo - em particular pelo death metal dos anos 90 - e começou a criar um álbum que recriava a adrenalina e a desestabilidade dos álbuns que ajudaram a moldar seus próprios gostos. (Prosthetic Records) Solus Grief - «What If This Was Everything» (Noruega, Atmospheric Black Metal) | Foi no final do ano passado que o recém-chegado norueguês SOLUS GRIEF surgiu do vazio com o seu álbum de estreia, «With a Last Exhale». Composições robustas e fisicalidade tangível, SOLUS GRIEF acenou para a melódica dos anos 90, death metal, doom metal dos anos 80 e até mesmo o próprio heavy metal. (Purity Through Fire) Wooden Throne - «Eternal Wanderer Of The Night Sky» (Finlândia, Atmospheric Doom/ Black Metal) | O segundo álbum do WOODEN THRONE não é tanto um disco estritamente de “black metal”, mas sim um disco de metal atmosférico. Um guia superlativo sob qualquer nome, uma imersão máxima aguarda o explorador! (Purity Through Fire) Necrotted - «Imperium» (Alemanha, Death Metal/Deathcore) | Melodias que ficam no ouvido, velocidade e brutalidade impiedosa, é isso que a banda de death metal moderna NECROTTED representa há mais de 15 anos! A sua receita comprovada de riffs de guitarra melódicos, batidas estrondosas e opressivas é acompanhada por cada vez mais elementos de black metal. (Reaper Entertainment) Morta - «La España negra» (Espanha, Black Metal) | Um dos segredos mais bem guardados do black metal underground, são os MORTA. Finalmente, o álbum de estreia que borbulha da sujeira primordial com muita brutalidade: «La España negra». Puro e orgulhoso BLACK METAL dos climas do sul. (Signal Rex)

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Plague Rider - «Intensities» (Inglaterra, Technical Death Meta) | Membros da banda britânica Plague Rider, que ganharam notoriedade em outras bandas, misturam música death metal vil, repulsiva e desafiadora, cujas influências originais estão agora distorcidas e decompostas de forma irreconhecível. No geral a música dos Plague Rider está longe demais para qualquer comparação óbvia. (Transcending Obscurity Records) Sepulchral Curse - «Abhorrent Dimensions» (Finlândia, Blackened Death Metal) | A banda finlandesa de death metal Sepulchral Curse vem expandindo o seu som desde o seu início, adicionando mais influências para tornálo mais rico e diversificado, e com o seu segundo álbum, eles podem-se orgulhar mais do que nunca de terem um som poderoso e identificável que podem chamar de seu. (Transcending Obscurity Records) Warcrab - «The Howling Silence» (Inglaterra, Death/Sludge Metal) | Justamente quando tudo indicava que o som dos titãs do death metal/sludge do Reino Unido, WarCrab, estava a ficar mais lento, fazem o esperado e trazem influências do death metal de uma forma enorme e previsível. (Transcending Obscurity Records) Ruin Lust - «Dissimulant» (EUA, Black/Death Metal) | Na fase final da podridão imperialista, RUIN LUST declara guerra contra as ilusões purulentas de uma espécie em evolução. Os aspectos mais fulminantes do Death Metal moderno, do Grinding War Metal e das tendências mais bestiais do Black Metal obrigam a este exorcismo auditivo. (20 Buck Spin) Hagatiz - «Cursed To The Night» (Alemanha, Black Metal) | O álbum de estreia dos HAGATIZ compreende um BLACK METAL puro e intransigente, impregnado de antiguidade. A questão não é “ser” outra coisa senão o black metal autenticamente old-school na melhor tradição dos anos 90, desde a Escandinávia até à Germânia. Cru sem ser ineficaz, sombrio e assustador, mas repleto de melodia suficiente, «Cursed to the Night» é um trabalho de total paixão e espírito. (Amor Fati) Iskandr - «Spiritus Sylvestris» (Países Baixos, Black Metal) | A última oferta de Iskandr, «Spiritus Sylvestris», parece ser uma declaração radical tanto no conteúdo quanto na forma. Significando um afastamento das raízes do black metal, o folk psicodélico doom do novo álbum segue essas direções. «Spiritus Sylvestris» tem um alcance cinematográfico: majestoso e ameaçador. (Eisenwald) Akouphenom - «Death Chaos Void» (Espanha, Black/Death Metal) | Akouphenom é uma banda de Blackened Death Metal que incorpora diferentes influências, do Doom ao Noise, com a ambição de refletir o mal absoluto em suas criações. A palavra Akouphenom vem de uma variação da palavra zumbido, uma consequência real das prolíficas atividades ao vivo da banda. (Avantgarde Music) Amalekim - «Avodah Zarah» (Internacional, Black Metal) | O longo trabalho está chegando ao fim: a banda ítalo-polonesa de black metal Amalekim, está pronta para revelar os seu mais recente trabalho, «Avodah Zarah», que contém muitas influências e muitas experiências diferentes, procurando apresentar-se como algo novo na mais pura tradição do género. (Avantgarde Music) Bolt Gun - «The Warren + The Tower» (Austrália, Ambient/Doom Metal) | A banda australiana de metal experimental Bolt Gun regressa com o seu terceiro álbum, «The Tower». Os Bolt Gun continuaram a ultrapassar os limites da música pesada, adoptando um estilo semi-improvisado que combina elementos de black metal, post-metal, noise e dark ambient. (Avantgarde Music) Dismal Aura - «Imperium Mortalia» (Canadá, Black Metal) | O trio mistura black metal de segunda onda com elementos de crust punk e grind, criando um som sombrio e arrepiante, mas ao mesmo tempo melódico e apaixonado. Dismal Aura explora os temas sócio-políticos como o colonialismo, o terrorismo de Estado e a destruição ambiental. (Avantgarde Music) Diabolic Night - «Beneath The Crimson Prophecy» (Alemanha, Black/Speed Metal) | No décimo ano de existência dos DIABOLIC NIGHT, o principal movimento Heavy Steeler lança um segundo álbum que não apenas define o seu projeto solo, mas também, ultrapassa os limites do que os criadores declararam ser a pura doutrina do speed metal enegrecido. (High Roller Records) Morax - «Rites And Curses» (Noruega, Heavy Metal) | MORAX de Bergen, da Noruega, é ideia de Remi Andre Nygård, que manuseia todos os instrumentos e escreve todas as músicas. O mini-álbum «Rites And Curses» é o primeiro lançamento do MORAX. (High Roller Records)

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Eradikated - «Descendants» (Suécia, Thrash Metal) | Os jovens Thrashers suecos ERADIKATED finalmente lança o seu álbum de estreia «Descendants». A fera é libertada em toda a sua glória e esperamos que o mundo esteja pronto para este ataque sónico de thrash da Bay Area dos anos 80. ERADIKATED não deve ser visto como algo retro. (Indie Recordings) Berzerker Legion - «Chaos Will Reign» (Internacional, Death Metal) | Com «Chaos Will Reign» os BERZERKER LEGION desenvolveram ainda mais a sua típica mistura musical de melodia e brutalidade. O álbum soa mais profissional, completo, massivo e poderoso graças à produção de Jonas Kjellgren. Dizer que as músicas do álbum transparecem um heavy death metal revigorante produzido em massa é um eufemismo. BERZERKER LEGION arrasa harmonias guerreiras, triunfantes e poderosamente. (Listenable Records) Eternal Evil - «The Gates Beyond Mortality» (Suécia, Black/Thrash Metal) | Com a brutalidade do thrash metal de meados dos anos 80 combinada com o sentimento e a essência dos verdadeiros dias do black metal escandinavo, «The Gates Beyond Mortality» oferece um Black Thrash Mayhem verdadeiramente explosivo. ETERNAL EVIL está destinado a fazer aquele headbang para sempre! (Listenable Records) Skull & Crossbones - «Sungazer» (Alemanha, Heavy Metal) | SKULL & CROSSBONES dedicaram-se ao heavy metal tradicional. Riffs poderosos e belas melodias encontram vocais claros e agudos e terminam em refrões grandes e cativantes. (Massacre Records) Verderbnis - «Paria» (Alemanha, Melodic Black Metal) | Os black metallers melódicos VERDERBNIS já tocaram em alguns palcos consagrados na sua jovem carreira. Com «Paria», eles convencem com melodias fortes, riffs inesquecíveis, trabalho de guitarra melodicamente soulful e, ao mesmo tempo, brutalidade musical crua e descomprometida. (MDD Records) Aegrus - «Invoking The Abysmal Night» (Finlândia, Black Metal) | «Invoking the Abysmal Night», o quarto LP dos AEGRUS, é um dos destaques deste ano. O álbum contém sete faixas infernais da supremacia do black metal em nome de Satanás, Lúcifer e Morte. (Osmose Productions) Efraah Enhsikaah - «One Thousand Vultures Waiting To Be Fed» (França, Black Metal) | O enigmático músico EFRAAH ENHSIKAAH apresenta uma primeira obra feita de energia primordial gelada e atmosferas assustadoras. «One Thousand Vultures Waiting To Be Fed» leva-o numa viagem musical implacável ao abismo mais profundo. (Osmose Productions) Cabrakaän - «Aztlán» (Canadá, Folk/Death Metal) | Marko Cipäktli e Pat Cuikani formaram Cabrakaän em 2011 em Toluca, México, com o conceito inicial de criar música que refletisse e reforçasse as suas raízes culturais. Com o tempo, eles desenvolveram um som baseado nos seus interesses musicais comuns: death metal, música clássica e ópera, e música tradicional mexicana, com um forte desejo de expressar e compartilhar o folclore do seu país através da música pesada. (Indenpdentes) Cemetery Urn - «Suffer The Fallen» (Austrália, Death Metal) | Pilares da agora lendária cena do metal extremo da Austrália, por quase 20 anos esses bárbaros death metallers perseguiram a sua visão estrita e firme de ultra violência absoluta. URN DE CEMITÉRIO exalam o seu equilíbrio característico, pulverizando e operando velocidades inseguras. (Hells Headbangers) Adversvm - «Vama Marga» (Alemanha, Funeral Doom Metal) | A monumental banda moderna de Doom/ Death ADVERSVM regressou com o seu novo álbum «Vama Marga»! Os ADVERSVM surgiram com uma missão que claramente cumpriram: criar uma arte mais sinistra que o black metal e o death metal, e manifestar este som com versos apocalípticos. Este é o terceiro álbum dos tenebrosos titãs. «Vama Marga» é uma viagem atmosférica das profundezas lentas aos incêndios violentos e a abismo gelado da alma. (Moribund Records) Mourning Mist - «Amen» (Itália, Doom Metal) | 2.º álbum dos Mestres Italianos do Doom Metal clássico, dark e épico!!! Os ícones italianos do Doom Metal MOURNING MIST foram formados em 2013 por Ecnerual, um violinista clássico graduado. Musicalmente inspirado no som dark italiano dos anos 80 e nas bandas inglesas de death/doom do início dos anos 90, MOURNING MIST apresenta uma visão única e original do Doom Metal. Viajando por territórios vanguardistas e progressistas, eles empregam tristeza infundida com violino para entregar Doom Metal de primeira qualidade. «Amen», um álbum robusto e atraente. (Moribund Records)

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Dictator Ship - «Electric Jihad» (Suécia, Rock’N’Roll) | O quarteto sueco voltou com o segundo álbum «Electric Jihad». Combinando rock’n’roll energético e cru com harmonias vocais requintadas em várias camadas e melodias inspiradas no soul e doo-wop dos anos 60, a banda conquistou o seu próprio nicho no cenário do rock. O álbum é a progressão natural da sua estreia. (The Sign Records) Ecocide - «Metamorphosis» (Países Baixos, Death/Thrash Metal) | Na sua busca incessante para impulsionar e apoiar as atuais bandas underground que perpetuam o odor do death metal ‘vintage’, MEMENTO MORI lança o segundo álbum «Metamorphosis». A banda manteve-se firme à sua transformação do death metal old-school por excelência. (Memento Mori) Eunomia - «The Chronicles Of Eunomia Part 2» (Noruega, Symphonic Power Metal) | Os power metallers noruegueses de aventura EUNOMIA voltaram com o seu segundo álbum «The Chronicles of Eunomia Part II». Apresentando fantasia épica, bombástica, rápida e poderosa através das suas composições, este segundo disco é um esforço de grupo, ao invés do primeiro álbum. (Rockshots Records) Shrapnel Storm - «Silo» (Finlândia, Death Metal) | O terceiro álbum dos SHRAPNEL STORM, intitulado «Silo», continua com um death metal mid-tempo esmagador, misturado com componentes thrash implacáveis de velocidade e groove. (Great Dane Records) Vlk - «Solastalgia I» (Alemanha, Progressive/Post-Black Metal) | Vlk (pronúncia: vilk) foi fundado em 2021 como um projeto solo do multi-instrumentista e musicólogo Wolf-Georg Zaddach e combina o seu amor pelo black e metal progressivo, jazz e música contemporânea. (Grrrow! Records) Martyrdoom - «As Torment Prevails» (Polónia, Death/Doom Metal) | Sedentos de sangue e repletos de ameaças, MARTYRDOOM está armado com um conhecimento profundo do death metal antigo, regressando para criar algo vil e sobrenatural com o segundo álbum «As Torment Prevails». Esses Polacos continuam exatamente onde pararam: evitando todas as tendências, caminhando desafiadoramente e explodindo a sua mistura nociva de death metal e doom. (Memento Mori) Nebelkrähe - «Ephemer» (Alemanha, Black Metal) | Os meios estilísticos do black metal clássico são assim combinados com elementos estranhos ao género: uma abordagem que NEBELKRÄHE também segue em termos de composição. Riffs raivosos com gritos ásperos caracterizam melodias efémeras e também doces, para as quais violoncelo, gaita, acordeão ou instrumentos de sopro são ocasionalmente usados. NEBELKRÄHE segue as convenções – ou as quebra. Black Metal interessante. (Crawling Chaos Records) Sodomisery - «Mazzaroth» (Suécia, Melodic Death/Black Metal) | Em «Mazzaroth», SODOMISERY teceu uma história lírica sombria sobre doenças mentais na sociedade, na religião e na luta do indivíduo. O quarteto sueco de melodic Death sublinha a sua abordagem vagamente conceptual com uma evolução musical notável. SODOMISERY expande o seu som original que combina o poder e a precisão do death metal com a agressão frenética e fria do black metal. (Testimony Records) Iron Savior - «Firestar» (Alemanha, Speed/Power Metal) | Às vezes, pura coincidência ou detalhes aparentemente impercetíveis podem transformar um álbum muito bom num lançamento excepcional. No caso de «Firestar», foi uma verdadeira surpresa que as novas músicas superassem o material do impressionante álbum antecessor. (AFM Records) Chaines - «Les Litanies Des Chaines» (França, Black Metal) | CHAÎNES é a fénix que ressuscitou das cinzas do agora extinto Merda Mundi, que foi declarado morto em 2023. Formado pelo insanamente prolífico Déhà em despeito, CHAÎNES é uma verdadeira entidade de black metal cujas influências vêm do francês. Com CHAÎNES, Déhà entrega uma arte negra fria e sombria, dedicada apenas a Satanás, trazendo de volta outro lado do que é o black metal: devoção, paixão, integridade. (Amor Fati) Dyssebeia - «Garden Of Stillborn Idols» (Suiça, Progressive Blackened Death Metal) | A banda suíça Dyssebeia apresentou uma estreia emocionante de música death metal progressivo e enegrecido que combina os elementos perfeitamente e os reinterpreta elegantemente com ênfase na entrega limpa,

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na estruturação desimpedida e no tratamento correto das melodias emotivas. É difícil acompanhar as infinitas variações - as belas melodias, os riffs entrelaçados entre géneros e os vocais e padrões de bateria. (Transcending Obscurity Records) Netherdom - «Forsaking, Forseeking» ((Internacional), Black Metal) | Uma estreia inesperada de um veterano do black metal underground, NETHERDOM, é um projecto inteiramente solo, com um som bastante vasto. Apresentando um estilo único de produção - plano, cru, mas refinado - NETHERDOM produz um estilo espaçoso e espectral de black metal que remete aos antigos e ao final palatável da modernidade. A entidade sombria, explora as suas próprias visões, firmemente dentro do panteão do black metal. (Amor Fati) Sühnopfer - «Nous Sommes Dhier» (França, Melodic Black Metal) | SÜHNOPFER, vindos da região francesa de Auvergne-Rhône-Alpes, regressam com o seu novo LP de Black Metal, barroco explosivo, emotivo e de ponta. «Nous sommes d’Hier», o quarto álbum, encontra o único membro e multi-instrumentista Ardraos continuando a explorar um universo medieval na busca para restaurar a glória manchada dos Bourbons. (Debemur Morti Productions) The Amenta - «Plague Of Locus» (Austrália, Death Metal) | THE AMENTA sempre foi uma amálgama estranha e inquieta de música extrema. O novo lançamento, «Plague of Locus», dá um primeiro vislumbre por trás da cortina e mostra algumas das variadas fontes de inspiração para a grotesca mudança de forma da banda. Em torno dessa explosão feia estão covers de artistas que inspiraram THE AMENTA. (Debemur Morti Productions) Sadism - «Obscurans» (Chile, Death Metal) | O sadismo começou em 1988 em Santiago, Chile. Fundada pelos atuais integrantes Juan Pablo Donoso e Ricardo Roberts, visando formar uma banda verdadeira e apaixonada influenciada pelas tendências Thrash e Death metal da época, Sadism consideram um marco na sua carreira alcançar o 10.º álbum, intitulado «Obscurans». (Hammerheart Records) Moonreich - «Amer» (França, Black Metal) | Formados em 2008 nos subúrbios de Paris e com 4 álbuns e 3 EPs no seu currículo, Moonreich voltou com «Amer», a continuação direta de «Fugue», lançado há 5 anos. Atmosferas pesadas, sinistras e experimentais são esperadas. A banda voltou mais afiada do que nunca e convida-o a juntar-se a eles nesta descida ao inferno. (LADLO) Patriarchs In Black - «My Veneration» (EUA-New York, Southern/Doom Metal) | Pouco mais de um ano após a estreia furiosa de «Reach For The Scars», a máquina de riffs Dan Lorenzo mais uma vez prova que não pode deixar isso de lado e, com o baterista Johnny Kelly, apresenta o segundo álbum do projeto PATRIARCHS IN BLACK. Mais uma vez, a dupla conta com um ilustre grupo de músicos convidados. (MDD Records) Goatkraft - «Prophet Of Eternal Damnation» (Noruega, Black/Death Metal) | Já decorreram quatro anos desde o célebre álbum de estreia dos GOATKRAFT, «Sulphurous Northern Bestiality», e nada mudou para o power-trio norueguês: a sua musa monocromática está tão fechada e lasciva como sempre. GOATKRAFT é superlativo para o estilo bestial do metal, e prova isso nos 30 minutos estrondosos de «Prophet of Eternal Damnation». (Iron Bonehead) One Of Nine - «Eternal Sorcery» (, Black Metal) | Oito hinos violentos de majestade sombria, com cada nota ecoando o fardo da piedade ao Inimigo Negro do Mundo. Nenhum remorso será encontrado nos vocais lamentosos, com o intrincado trabalho de guitarra – repleto de melodias e linhas acústicas cativantes, porém sombrias. E nenhum descanso será sentido no ataque rítmico e de percussão – num turbilhão simbiótico de música e feitiçaria. (Wolves of Hades) Pathos Trio - «Polarity» (EUA-New York, Electronic Instrumental Ambient) | O compromisso do grupo em trazer o seu amor por sons sombrios, densos e pesados para uma estrutura clássica contemporânea está presente em todo o álbum, assim como a paixão do grupo pela colaboração. «Polarity» segue o lançamento de estreia, ampliando ainda mais os limites do grupo através do uso de elementos electrónicos. (Imaginary Animals) Rorcal - «Silence» (Suiça, Sludge/Doom Metal/Post-Hardcore) | Desde a sua criação em 2006, Rorcal sempre procurou a escuridão total. Os meios para alcançá-lo têm sido diversos, mas partilham uma constante: o extremo. Do peso insano das suas estreias à malevolência explosiva e dissonante que exibem nos seus álbuns

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recentes, a sua abordagem sobre doom, black metal, paisagens sonoras industriais assombrosas, drone e noise mostraram uma identidade musical forte e única. (Hummus Records) The Holy Ghost - «Ignore Alien Orders» (Suécia, Punk / Rock / Post-hardcore) | «Ignore Alien Orders» é o terceiro álbum dos suecos The Holy Ghost. Inspirado na cena underground americana dos anos 80/90, este lançamento de 7 faixas tem uma mistura única de punk, rock e post-hardcore. «Ignore Alien Orders» tem um som mais maduro que os discos anteriores, a composição da música ficou mais nítida e há uma grande variação de estilos. (Lövely Records) Tomb Mold - «The Enduring Spirit» (Canadá, Death Metal) | TOMB MOLD renasceu no quarto álbum «The Enduring Spirit», num passo completamente descarado em vastos novos territórios. No entanto, apesar de toda a sua exploração frenética e ousada, «The Enduring Spirit» nunca é outra coisa senão o inconfundível som TOMB MOLD. (20 Buck Spin) Xorsist - «At The Somber Steps To Serenity» (Suécia, Death Metal) | XORSIST da Suécia lança o seu segundo álbum, «At the Somber Steps to Serenity». XORSIST chamou a atenção pela sua abordagem old school e afinidade com o legado e a história do death metal sueco. O som central é enraizado na profunda reverência pelas raízes do género, tanto quanto é uma progressão espirituosa do som cru e intransigente de Estocolmo. (Prosthetic Records) Ash Prison - «Future Torn» (Indonésia, Technical Death Metal) | Os conspiradores americanos de metal industrial Ash Prison surgem com o seu pulverizante álbum de estreia «Future Torn», uma usurpação colaborativa e cruzada de eletrónica industrial pesada, dark hardcore punk e black/heavy metal unidos sob a bandeira negra da anarquia total, do caos e da retaliação absoluta. (Sentient Ruin) Cardinals Folly - «Live By The Sword» (Finlândia, Doom Metal) | O Último Bastião do Doom. Aqueles caçadores de bruxas finlandeses. Aqueles que não vão desistir. O mais verdadeiro do verdadeiro. O mais teimoso dos teimosos. Cardinals Folly é um trio descolado cujo nome vem a ecoar distantemente no underground do metal há mais de uma década. Uma força selvagem e incontrolável que avançando com riffs implacáveis, gritos de heavy metal, atitude de montar ou morrer e amor verdadeiro pelo doom e metal da velha escola. (Soulseller Records) Ershetu - «Xibalba» (Noruega, Folk Instrumentation Atmospheric Metal) | ERSHETU foi formada em 2021 pelo conceptualista/letrista Void e pelo compositor Sacr para criar música cinematográfica que mescla Metal épico, obscuro e atmosférico com o dramatismo comovente das bandas sonoras. O evocativo álbum de estreia «Xibalba» utiliza uma interpretação de ideias do texto sagrado do Popol Vuh. Um mundo sonoro exclusivamente expressivo, forjado a partir da cultura antiga, da criatividade moderna e da composição musical idiossincrática. (Debemur Morti Productions) Slidhr - «White Hart!» (Irlanda, Black Metal) | O tão aguardado terceiro álbum dos SLIDHR é a oferta mais triunfantemente destrutiva da banda até hoje, cheia de paixão, ódio e veneno. «White Hart!» evolui de uma base imersiva de Black Metal maliciosamente misantrópico e furioso para uma fera mais profunda e dinâmica, temperada com atmosferas terríveis para iluminar serpentes escondidas. (Debemur Morti Productions) Kvelgeyst - «Blut, Milch Und Thr Ä Nen» (Suiça, Black Metal) | O álbum é composto por duas músicas, cada uma dividida em três níveis, inspiradas na Escada Cabalística. A abordagem criativa é um ato de equilíbrio no processo de escrita, que representa uma forma solta de alquimia. Este é um processo constante de atrito, complementação, compromisso e sacrifício que impulsiona KVELGEYST na criação de nova arte. (Eisenwald) Oro - «Vid Vägs Ände» (Suécia, Sludge Metal) | ORO nasceu sob as montanhas de Kilsbergen, nas sombras das florestas profundas e nos breves anos da sua existência forjaram um som como nenhum outro. O quinteto sueco Post Metal/Sludge voltou com um novo álbum arrasador infundido com uma dinâmica incrível; contrastes hábeis e poéticos entre passagens de beleza suave e peso de granito. (Hammerheart Records) Helgrindur - «Helgrindur» (Alemanha, Pagan Metal) | Nova Onda de Metal Pagão! Os Pagan/Black/Death Metallers de Helgrindur causaram agitação na cena local nos últimos anos, especialmente através da sua presença ao vivo. Com o autointitulado “Helgrindur”, o tão esperado sucessor já está disponível, no qual a

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banda continua consistentemente o caminho escolhido. (MDD Records) Wells Valley - «Achamoth» (Portugal, Post Death Metal) | A Odisséia inexplorada de «Achamoth». No seu terceiro álbum, Wells Valley embarca na essência pulsante da criação, mergulhando nas suas complexidades, tanto musicalmente quanto tematicamente. «Achamoth» é um álbum diferente. Ele incorpora o espírito desenfreado da criação inexplorada na música extrema. (Lavadome Productions) Asmodean - «By A Thread» (Noruega, Progressive Metal/Hard Rock) | Asmodean é uma banda de hard rock progressivo formada em Inglaterra, agora sediada na Noruega. Prontos para apresentar o seu álbum de estreia «By a Thread». O álbum consiste em riffs com curadoria, arranjos experimentais e letras contempladas. Resumido como um rock contundente com grandes refrões e um som ambicioso. (Rob Mules Records) Display Of Decay - «Vitriol» (Canadá, Brutal Death Metal) | Display of Decay é amplamente conhecido por trazer uma mistura única de death metal old-school, com toques de thrash e doom metal. A banda espalhou a infecção por todo o Canadá. «Vitriol» nasceu da raiva e do rancor alimentados ainda mais pelo caos e pela incerteza sentidos em todo o mundo nos últimos anos. (Gore House Productions) Furia - «Huta Luna» (Polónia, Black Metal) | Embora tenha começado com o “típico black metal norueguês”, Furia levou o black metal polaco a regiões inteiramente novas com elementos únicos de folk e temas poéticos abstratos. Influenciados pela beleza sombria da sua província natal, a Silésia, a sua música é apimentada com letras escritas por Nihil, um dos artistas polacos mais talentosos da década. (Pagan Records) Gnaw Their Tongues - «The Cessation Of Suffering» (Países Baixos, Black Metal/Noise/Experimental) | GNAW THEIR TONGUES tem criado música experimental que odeia a humanidade desde 2004. Mas um disfarce criativo do insanamente prolífico louco Mories, GNAW THEIR TONGUES tornou-se o veículo de expressão mais renomeado do homem, abrangendo uma vasta gama de estilos e lançamentos; ainda mais exclusivo, Mories expandiu este veículo para além do estúdio e fez shows ao vivo em todo o mundo. (Consouling Sounds) Kambodsja - «Resilient» (Noruega, Indie Prog-punk-metal ) | Kambodsja de Drammen na Noruega é uma das bandas underground mais respeitadas da Noruega. A banda só se preocupa em fazer a música que lhes é mais natural naquele momento, sem quaisquer diretrizes, dogmas ou regras de género específicas. Isso resulta no que alguns descreveram como uma mistura de metal distorcido, punk energético e rock indie progressivo. Para Kambodsja, a música não é apenas um género, mas uma atitude e método de trabalho. (Mas-Kina Recordings) Le Morte - «Midnight In The Garden Of Tragedy» (EUA-Virginia, Death/Doom Metal) | Álbum de estreia de Le Morte, intitulado «Midnight In The Garden Of Tragedy». LE MORTE é uma banda com dois integrantes de Richmond, Virgínia (EUA). LE MORTE combina o heavy Doom Metal com a intensidade do Industrial. (Darkness Shall Rise Productions) The Answer Lies In The Black Void - «Thou Shalt» (Hungria, Atmospheric Doom Metal) | The Answer Lies In The Black Void é uma colaboração entre Martina Horváth do projeto de metal de vanguarda Thy Catafalque e Jason Köhnen dos Celestial Season. Horváth e Köhnen uniram forças através da sua paixão por todas as coisas doom, apresentando a sua visão pessoal sobre o género com toda a sua bela escuridão e de todos os ângulos possíveis. Trazendo a sua própria mistura de vanguarda atmosférica carregada. (Burning World Records) The Magus - «Βυσσοδομώντας (Vissodomontas)» (Grécia, Black/Heavy Metal) | A música do grupo grego de black metal Necromantia é caracterizada por uma mistura de black metal e death metal, com elementos da música folclórica grega e da música clássica. Necromantia passou por diversas mudanças de formação, continuando a lançar álbuns, tornando-se numa das bandas de black metal mais respeitadas e influentes da Grécia! (Independente) Trenchant - «Commandoccult» (EUA-Texas, Blackened Death Metal) | A marca de Blackened Death Metal dos TRENCHANT não deve ser considerada simplesmente por «War Metal», com temas marciais revelados por meio de canais metafísicos mortais. «Commandoccult» é uma incursão fascinante no combate musical. É um trabalho cruel e hino, e despertará até o ouvinte mais estoico a pegar em armas. (Darkness Shall Rise Productions)

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Valdrin - «Throne Of The Lunar Soul» (EUA-Ohio, Melodic Black Metal) | Não sendo mais um dos segredos mais bem guardados do metal underground, VALDRIN começou a ganhar impulso com o lançamento do segundo álbum, «Two Carrion Talismans» - um blackened death épico e mutável que era ao mesmo tempo, atemporal e fresco. Agora, na continuidade está o disco mais épico de VALDRIN: «Throne of the Lunar Soul» (Blood Harvest Records) Body Void - «Atrocity Machine» (EUA-Califórnia, Sludge/Drone/Doom Metal) | BODY VOID retorna com o seu quarto álbum, «Atrocity Machine», um gigante de seis faixas. Embora ainda seja uma banda doom na sua essência, BODY VOID expandiu-se para incorporar camadas hábeis de sintetizadores, samples e ruído que tornam as suas emissões sonoras de Industrial Sludge tão asfixiantes quanto nomes como Wolf Eyes e Pharmakon. (Prosthetic Records) Neck Cemetery - «Bring Us The Head» (Alemanha, Heavy Metal) | NECK CEMETERY recusa-se a seguir qualquer tendência: os cinco tocam o seu Heavy Metal do jeito que amam - às vezes lento, às vezes rápido, às vezes sério e às vezes com um piscar de olhos, mas sempre com uma boa porção de coração e alma. «Bring us the Head» é a uma carta de amor ao cinema dos anos oitenta e noventa, com o qual crescemos. (Reaper Entertainment) Dwelling Below - «Self-Titled» (EUA-Califórnia, Post-Hardcore) | Dwelling Below dá-nos uma interpretação mais sombria, suja e feia do death/doom metal. A música contínua, intuitiva e reconhecidamente improvisada, mantém-no agarrado ao seu ritmo lento, mas constante, as suas melodias hipnóticas. (Transcending Obscurity Records)

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CURIOSIDADESPALETES Género Black Metal Death Metal Black/Death Metal Heavy Metal Doom Metal Thrash Metal Hard Rock Rock Doom/Death Metal Atmospheric Black Metal Progressive Metal Progressive Rock Technical Death Metal Thrash/Death Metal Power Metal Stoner/Doom Metal Progressive Death Metal Hard N´Heavy Progressive Rock Black/Doom Metal Sludge Metal Electro-Rock Folk Death Metal/Grindcore Sludge/Doom Metal Progressive Black Metal Psychedelic Metal Symphonic Black Metal Funeral Doom Metal Post-Hardcore Metalcore Stoner Rock Symphonic Power Metal Black Metal/Grindcore Black/Thrash Metal Punk Progressive Metal/Rock Pagan Metal Rock’N’Roll Death/Sludge Metal Symphonic Metal Hardcore Dark Folk Dark Metal Atmospheric Folk/Doom Metal Avant-garde Metal Extreme Metal Guitar Hero Gothic Rock Cybergrind

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Género Instrumental Gothic Metal Indie Prog-punk-metal Stoner Metal Industrial Metal Groove/Alternative Metal Dark Ambient

#LPs 1 1 1 1 1 1 1

Os lugares de topo continuam sólidos com Black Metal e Death Metal, e com o Heavy Metal a querer intrometer-se. Há a realçar o facto da vasta proliferação consistente dos mesmos géneros no topo da lista. Será que há tanto mercado para tantas bandas do mesmo estilo? Do lado dos países, é de realçar o aparecimento de uma banda africana, da África do Sul, e do domínio da Europa sobre o resto do mundo. Nos Estados Unidos, os estados maiores continuam a dominar, e é de realçar na correspondente sul as duas bandas argentinas. realçar o aparecimento de uma banda africana, da África do Sul, e do domínio da Europa sobre o resto do mundo. Nos Estados Unidos, os estados maiores continuam a dominar, e é de realçar na correspondente sul as duas bandas argentinas.

Álbuns por Países País

#LPs

Alemanha Suécia Inglaterra EUA-Califórnia Noruega Canadá Finlândia França Itália Países Baixos Internacional EUA-Illinois EUA-New York Bélgica Espanha Polónia Portugal Austrália Suiça EUA-Oregon EUA-Ohio EUA-Washington EUA-Massachusetts EUA-Maryland Rússia Chile Islândia Dinamarca Grécia EUAHungria EUA-Wisconsin Argentina Brasil EUA-Tennessee EUA-Virginia EUA-Louisiana Irlanda EUA-Florida EUA-Texas

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Nesta edição, chegaram-nos à redação um total de 338 álbuns para ouvir, analisar e criticar.

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Dodici Cilindri

(porque o barulhos dos motores também é música)

Por: Carlos Filipe

Caramulo Motor Festival 2023 Este ano fui, pela primeira vez, ao Caramulo Motor Festival (caramulo-motorfestival.com). Um evento obrigatório para todos os amantes dos automóveis, quer sejam de clássicos, quer de contemporâneos ou de competição. A quantidade de carros exóticos e que raramente se vê ao vivo, é de um elevado “carro por metro quadrado” de rua, estrada ou avenida. O evento, como sempre, é organizado pelo Museu do Caramulo(museudocaramulo.pt) e conta com inúmeras atividades, da qual, a rampa do Caramulo é a atração principal. Como tem sido apanágio nos últimos anos, o festival coincide com uma exposição temática à cerca de uma marca. Este ano, foram os 60 anos da Lamborghini, “a cortar o vento”. A chegada ao Caramulo é fácil. Encontrar lugar para estacionar fora do recinto do evento é que é mais complicado. Este ano disponibilizaram uns parques fora da vila do Caramulo e um minibus para levar e recolher as pessoas, minibus este que me fez lembrar os meus bons velhos tempos de guarda-redes da equipa aqui da terra, era tal e qual o minibus que levava a equipa aos jogos. Apesar de a ideia ser boa e de tudo estar bem sinalizado, praticamente ninguém os utilizou e a frequência de passagem era aperiódica. Mas, para quem tem um carro interessante, o melhor é mesmo adquirir o pack que inclui estacionamento e dois bilhetes para a exposição e garante assim lugar reservado de estacionamento dentro do recinto. Caso contrário, ou é andar às voltas até se ter sorte ou ficamos dependentes do dito minibus. A caminhada da entrada do recinto até o cerne do mesmo, junto ao museu do Caramulo, é uma delícia para qualquer “petrolhead” ou “bagnolar”, que aqui no burgo nunca teve uma palavra propriamente dita. Há máquinas para todos os gostos, na obstante, há poucos supercars ou hypercars, sendo estes praticamente inexistentes. Esperava mais Ferraris, Lamborghinis ou McLarens estacionados nas ruas, mas não. Um par de Testarossas, um 328 e 348 em combo tipo leve dois pague um e dos mais recentes só mesmo um 458 Italia. Lambos, só mesmo na exposição e McLarens, nem vê-los. Muitos Lotus Elises de todas as cores e alguns Porsches 911 de várias épocas. Infelizmente não tive oportunidade de investigar todas as ruas do Caramulo, apenas vi à distância um Mercedes SLR e um Maserati 4200 GT. A realçar desta caminha até ao recinto, um Lancia Fluvia Zagato – tal como o do Harry Metcalf do Harry’s Garage e o carro que mais me impressionou ao vivo, pela pequinês que apresenta, o Alpine A110 original. De facto, nada como ver um carro ao vivo para lhe tirar as curvas e proporções. Já vi o Alpine muitas vezes em revista, mas nunca me tinha dado conta de tão minúsculo o carro é, comparado com outros da mesma época. Outro local imperdível de se visitar, é o paddok, onde estão arrumados os diferentes carros que entram em competição à subida da rampa do Caramulo. Muitos destes veículos são de diferentes tipos de competição de estrada ou pista, mas também há os carros “normais do dia-à-dia”. Destes, tenho a destacar

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uma visão única de alinhamento de carros que só se consegue vislumbrar nestes acontecimentos, que é o de ver no mesmo ângulo de visão um Porsche 918 Spyder, um Porche Carrera GT e um Mercedes-Benz 300 SL Gullwing. Tudo somado estão ali mais de 4 Milhões de euros. Melhor ainda é vê-los a acelerar rampa acima! Já habitual nos últimos anos com este certame único em Portugal e considerado o nosso “Goodwood Festival of Speed”, que foi nomeado para os Historic Motoring Awards 2023 na categoria “MOTORING EVENT OF THE YEAR” (historicmotoringawards2023), é o evento de uma exposição principal de celebração de uma dada marca, que faça aniversário de um número redondo. Este ano foram os Lamborghini: 60 anos a cortar o vento, que decorreu, como habitual, no edifício principal do Museu do Caramulo. Estiveram assim expostos um trator – Como todos já devem saber por esta altura, Ferrucio Lamborghini antes de ser motorista era tractorista; Urraco P250; um Espada serie II – Num verde-claro e interior verde espectacular, mas não para todos os gostos, muito anos 70, muito Lamborghini; Jarama 400 GTS; Miura P400 S – pertencente ao treinador e “wanabee” a presidente do FCP, André Villas-Boas; Lamborghini Diablo - num Azul com interior creme que lhe assenta que nem uma luva; Aventador SVJ Roadster num verde bastante lambo - que com a panóplia de Lamborghinis clássicos que acabei de ver, fez com que este mais recente e os 2 seguintes perdessem um bocado do brilho; Murciélago preto e por fim um Gallardo LP550-2 Balboni edition. Nesta exposição à Lamborghini, além dos primeiros 350GT/400GT/400GT2+2 de extrema raridade, para mim só faltavam dois carros, ou melhor, um carro e um jeep que partilham o mesmo motor V12: O Countach! e um LM002. De resto, estava perfeito. Os carros estavam perfeitos, o espaço é perfeito, o ambiente é de uma exposição de alto nível. Seguindo o percurso habitual, entrei no verdadeiro espaço que é o Museu do Automóvel do Caramulo. Aqui nada de “muito novo”, a não ser a presença de um Ferrari 400i que nem placa descritiva do modelo tinha e um Maserati Merak e a falta da presença do Ferrai F40 e do Miura SV que o museu possui. O espaço do museu, vistas as coisas de forma mais contundente, um enorme barracão, está completamente ultrapassado, não se podendo apreciar os carros de todos os ângulos de tão em cima uns dos outros que estão. Eu não digo criar um Petersen Automotive Museum (www.petersen.org), mas este já merecia um espaço novo e mais amplo. O espaço é o mesmo desde que lá fui a primeira vez num já distante ano de 1984. Além dos clássicos e carros de competição, este evento é também uma oportunidade para se ver as últimas novidades da indústria automóvel mais desportiva. Para mim foi uma oportunidade única para ver ao vivo pela primeira vez, não um, mas sim dois Maserati MC20. Um na cor regular “Rosso Vincente” e o outro na cor fuoriserie algo discutível de “Rose Gold Liquid Metal” e um GranTurismo Trofeo, que ao vivo é bem mais espectacular que nas fotos, para além de um Grecale estacionado junto do lounge da Maserati. Continuando nos italianos, não podia faltar a Alfa Romeo - para o qual havia um passeio de comemoração - e a Abarth, os primeiros com um fabuloso Stelvio Quadrifoglio Verde Montreal e os segundos com um Abarth eléctrico na cor nada aberrante de Verde Acid – mas que lhe fica que nem uma luva - que mandava cá para fora um som de escape akrapovic do 695 a combustão, via um emulador de som e umas colunas no lugar onde costuma ficar o escape. O efeito tem tanto de estrondoso como de incongruente!

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Igualmente presente estava a Aston Martin, com um Aston Martin DBS Superleggera e um DB5 que me impressionou pela volumetria do carro. Para um carro dos anos 60, este é enorme! Está explicado porque é o carro do James “Sean Connery” Bond de 1,88 m. Só um carro tal maneira volumoso consegui esconder tantos gadgets e ejectar um Bond de 1,90m pelo tejadilho. Igualmente interessante de se ver ao vivo, pelo que representa como veículo automóvel de uma marca centenária, estava o Morgan Three Wheeler. Magistral! O resto, Porsche, Jaguar e outros mais genéricos, peço desculpa aos adeptos destas marcas, é um “don’t care”. A adrenalina, a velocidade, o barulho ensurdecedor, o cheiro a gasolina queimada no ar, são a verdadeira essência do motor festival do Caramulo. Qualquer vídeo ou transmissão em directo não consegue fazer jus ao ambiente que se vive no primeiro fim de semana na vila do Caramulo, Tondela, Portugal. Para usufruir desta experiência sensorial, só mesmo brindarmo-nos com a nossa presença. Para podermos ver tudo e ter uma verdadeira experiência completa, o melhor é pelo menos vir dois dias. Vim um só dia acabei por não ter tempo de desfrutar de tudo o que o festival tinha para oferecer. Não vos falei da exposição dos 30 anos do Renault Twingo, exposição Jeep Attack!, ArtCar, a rampa histórica ou a motorlândia, simplesmente, porque não vi. Se tiverem um carro interessante, clássico ou youngtimer, tragamno e comprem o Motor Pack (que custava 25 € este ano), dá acesso a um lugar fixo de estacionamento na vila – Onde os visitantes o poderão apreciar - mais duas entradas para o museu, além de após as 17h00, poderem ir “esticar os cavalos” da máquina na rampa do Caramulo, ao bom velho estilo da cereja no topo do bolo. Se lá for para o ano, é o que irei fazer.

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