Versus#66

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EDITORIAL

Na edição anterior da VERSUS o meu colega Adriano Godinho fez aqui referência à espantosa quantidade de música que, a no após ano, chega à nossa redacção. Vale a pena olhar mais em detalhe para este fenómeno. É um facto que o número de lançamentos não pára de crescer. Na década passada recebemos cerca de 600 novos discos por ano. Em 2023 este número atingiu os 900 e já é certo que no final de 2024 vamos contabilizar muitos mais. Como é óbvio, isto é apenas o reflexo de uma tendência generalizada no mundo do Metal. Uma contagem dos discos registados no Metal Archives revelou um total de 2200 álbuns lançados em 2000, 5600 em 2010 e 8500 publicados em 2020. De onde vem tanto disco novo? A julgar pela amostra que nos chega, não é difícil concluir que são as pequenas editoras independentes, em conjunto, as responsáveis por este boom. Se nos anos 90 o peso das in dies no mercado discográfico era apenas residual, hoje o panorama é outro devido às mais de 20000 etiquetas independentes em actividade (números ainda do Metal Archives). O facto de se tratarem de editoras maioritariamente focadas em nichos do underground, explica talvez o crescente número de lançamentos dedicados às correntes mais extremas: em 2020, cerca de 20% de todas as edições foram de death metal e 30% foram de black metal. Portanto, é um facto que temos e teremos mais música para ouvir. Mas… e a qualidade? O grande número de indies low budget em operação e a quantidade descomunal de discos lançados no mercado é, em última análise, consequência da redução dos custos de gravação (fruto das actuais tecnologias digitais), de fabrico de CDs e vinil, e das despesas com promoção, tarefa muito facilitada actualm ente pelas redes sociais. Portanto, gravar um disco, publicá-lo (muitas vezes só em formato digital) e promovê-lo nunca esteve tão ao alcance de uma jovem banda. Quando a este cenário se juntam indies movidas apenas por paixões retro e sem qualquer visão, o resultado só pode ser a proliferação de discos de qualidade duvidosa. O panorama chega a ser tão confrangedor que somos obrigados a dar razão ao celebrado Miguel Esteves Cardoso quando, jocosamente, declarou no seu Escrítica Pop que “89.6 por cento de todos os discos editados no mundo são inteiramente hediondos”. No Metal a percentagem não deve andar muito longe desse número. Não é que não exista música boa. O problema é que, actualmente, ela surge soterrada numa montanha de lixo que tende a aumentar de ano para ano. Para encontrar música boa é preciso – ainda no espírito do MEC – usar uma pá e uma mola de roupa nas narinas: é preciso ouvir muita merda para encontrar música simultanea mente nova e boa. A música boa de agora está mais escondida do que nunca. Só precisa de ser encontrada, e o lado bom da coisa é que a sua descoberta, apesar de nos obrigar a limpar várias vezes as mãos à parede, ainda é um dos aspectos mais aliciantes do nosso trabalho. Boas leituras e bom ano de 2025 cheio de muita e boa música Ernesto Martins

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D IR E C Ç Ã O Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O Eduardo Ramalhadeiro & JP Madaleno

COLABORADORES Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Elsa Mota, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Gabriel Sousa, Gabriela Teixeira, Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, João Paulo Madaleno, Nuno Lopes, Victor Hugo e Victor Alves

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40 THY CATAFALQUE

C O N T E ÚDO Nº66

0 4 3 M ESTR E E M RE VISTA

16 HORN A

5 8 G A B R IE L A T E IX E IR A M E TA L B R A S I L

0 6 ME L HO R E S 20 2 4

18 SUIDA K R A

6 0 WE B

0 7 T R I A L B Y FIR E

20 AORL H A C

6 4 C O R P U S D IAV O L IS

0 8 L O UD B L AS T

24 CRÍTIC A S V E R S U S

68 KESYS

1 0 J O UR S PÂ L ES

40 ECLIP S E

7 2 L IM B O N IC A RT

1 4 G A B R IE LA T EIX E IRA TH E G I R L W I TH TH E

44 EM ANU E L R O R IZ A C U L PA É D O C E M I T É R I O

7 4 PA L E T E S D E M E TA L

K A L E ID O S C O P E E Y E S

50 ALBUM V E R S U S B L O O D I N C A N TAT I O N

9 8 C A R L O S F IL IP E D O D I C I C I L I N D R I

1 5 P L AY L IST VE RS U S

52 SERRA B U L H O

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mestre em revista

Pink Floyd, uma Era

Foi com grande reverberação que saiu o comunicado por parte dos Pink Floyd relativo à venda dos direitos de exploração musical à Sony Music pelo valor de 400 milhões de dólares. Do pacote de venda faz parte o nome da banda, todo o material gravado, merchandise, etc. Essencialmente tudo exceto os direitos de autor que continuarão a pertencer aos ex-elementos destes artistas britânicos. Ficou assim concluído um dos processos financeiros mais relevantes e também arrastados no tempo (vários anos), relativos a alienação de direitos musicais da história recente da indústria. Nada de surpreendente se somarmos o impacto musical deixado por este coletivo único, um legado singular e os atritos essencialmente entre David Guilmour e Roger Waters. As posições políticas (controversas) de Roger Waters, por si só geraram entropia suficiente para arrastar ainda mais esta conclusão. No final, alegadamente, Guilmour terá dito que no final, já não se tratava de uma questão de números mas sim de acabar com os atritos e detalhes que perturbavam o desenlace de todo o processo.

Aerosmith põe fim às digressões

2024 fica marcado pelo abandono dos palcos de um dos nomes maiores do rock mundial, os Aerosmith. A voz de Steven Tyler já não é a mesma de outrora e, após algumas cirurgias, os médicos chegaram à conclusão que o eterno frontman da banda de Boston não mais poderia usar o seu instrumento vocal na amplitude e esplendor que nos habituou. Cinco décadas volvidas, quinze discos de originais, cinco álbuns ao vivo e 68 singles (dos quais muitos se tornaram clássicos), o grupo formado pelos restantes elementos Joe Perry e Brad Whitford nas guitarras, Tom Hamilton no baixo, Joe Kramer na bateria, viu-se assim forçado a cancelar aquela que seria a sua tour de despedida - Peace Out! A banda agradeceu aos fãs todo o carinho ao longo destas décadas e pediu para que continuassem a ouvir a música dos Aerosmith bem alto. Donos de um legado incontornável e liderados por uma das vozes mais icónicas que o mundo do rock alguma vez conheceu, os Aerosmith são uma referência para todos nós e, como tal, retribuímos o agradecimento aos cinco bad boys from Boston por nos terem sempre encorajado a “Dream on/ Dream until the dreams come true”.

SonicBlast apresenta os primeiros nomes da edição de 2025

O festival SonicBlast nunca deixa os seus créditos por mãos alheias e já apresentou um punhado de bons motivos para visitarmos a Praia da Duna dos Caldeirões, em Âncora, entre os dias 7 e 9 de agosto, nomeadamente Fu Manchu, Amenra, Circle Jerks, Earthless, My Sleeping Karma ou Dopethrone. Para mais informações, consultem as redes sociais do festival.

Teclista abandona Within Temptation

Martijn Spierenburg, o teclista dos Within Temptation, sai da banda após 24 anos de actividade conjunta. A decisão foi amigável e os restantes elementos da banda holandesa de metal sinfónico desejam ao ex-companheiro toda a sorte para a sua nova etapa. Por sua vez, o músico mostrou, através de um comunicado nas redes sociais, vontade de abraçar outros projectos que o façam crescer.

Comendatio confirma data para 2025

Os fãs nacionais de prog/djent e seus derivados têm data marcada para rumar ao Paço da Comenda, em Tomar - o Comendatio Music Fest irá decorrer entre os dias 21 e 22 de Junho e as primeiras confirmações prometem um excelente cartaz - VOLA, The Cost e The Broken Horizon e o prodigioso Ihsahn.

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Iron Maiden - Nicko McBrain de saída…

Na próxima visita dos Iron Maiden ao nosso país, a 6 de Julho, já não será Nicko McBrain que estará sentado por detrás da bateria dos britânicos. No passado dia 7 de Dezembro, no Allianz Parque, em São Paulo, aconteceu a última aparição em concerto do carismático baterista Nicko McBrain. Ele que ingressou nos Iron Maiden há 42 anos, para substituir Clive Burr, participando já nas gravações do clássico “Piece of Mind”, lançado em 1983. Para o lugar de Nicko foi já anunciado o músico Simon Dawson, baterista actual do grupo British Lion.

Tour Europa Rigor Mortis - Carcass e Cª…

Carcass, os lendários grinders têm visita marcada a Portugal já no primeiro mês de 2025. Não vêm sós e juntam à lista os sempre misteriosos Brujeria e os brutais Rotten Sound, vindos da Suécia. Esta digressão europeia tem duas datas assinaladas no nosso território. No dia 27 de Janeiro estarão pelo Music Station, em Lisboa, e no dia seguinte, a 28 de Janeiro, têm paragem anunciada no Bourbon Room no Porto.

SWR Barroselas Metalfest 25

A 25ª edição do saudoso festival do Alto Minho, já tem datas e primeiros nomes anunciados. A romaria à Vila de Barroselas, em Viana do Castelo acontece entre os dias 23 e 26 de Abril de 2025 e no lote do primeiro anúncio de bandas figuram nomes como Repulsion, Unleashed, Dodheimsgard, Hellripper, Corpus Christii, Sacred Sin ou Phenocryst. Os bilhetes já estão à venda.

King Diamond pela Europa em 2025

O rei está finalmente de volta! Ao todo são já 24 datas, espalhadas por toda a Europa, que anunciam o regresso aos palcos pelo nosso continente durante o Verão de 2025. Esta digressão anuncia também o próximo lançamento do grupo que será intitulado de “The Institute” e que poderá chegar às nossas casas mais para o final de 2025. Em algumas das datas desta digressão, King Diamond estará acompanhado pelos Paradise Lost, Angel With ou Unto Others. Myrkur será a voz feminina que irá subir a palco juntamente com King Diamond para assegurar as vozes femininas.

COMPLEXO N - Nova publicação sobre cultura alternativa açoriana

Complexo N é uma publicação periódica e independente, concebida com o objectivo maior de promover os músicos e a cultura alternativa açorianos. Num formato misto de livro de bolso, almanaque e fanzine, Complexo N é um manifesto de expressão criativa livre, que tenta fomentar o gosto pela leitura e a ligação com os artistas. O Complexo N representa ainda um esforço no estreitamento de relações entre músicos açorianos e a sua comunidade, procurando derrubar barreiras entre o que são culturas de massas e culturas alternativas. Entendendo que a pluralidade artística é um veículo essencial para uma sociedade democrática, tolerante e agregadora, esta publicação mobiliza meios para dar voz aos artistas, à sua história, à sua mensagem e à sua opinião sobre os temas que marcam a actualidade. Tudo numa roupagem fresca e independente.

Ampola: projeto de Paulo Martins já pode ser ouvido

O projeto Ampola, formado em 2018 por Paulo Martins (cuja longa carreira tem deixado marcas profundas em grupos como RAMP, Noidz, A Naifa ou Corvos) encontra-se em busca por uma editora tendo em vista o lançamento do EP de estreia, “O Corvo”, gravado entre 2022 e 2023. Martins assume em Ampola o papel de vocalista, compositor e produtor, mas foi “coadjuvado pelo talentoso David Trindade nestas duas últimas funções”, declarou à Versus Magazine. Constituído pelos temas “Corvo, “”Wica”, “Cruxificada” e “Saudade” (cover dos Heróis do Mar), que já podem ser ouvidos no canal do Youtube /www.youtube.com/@ProjetoAmpola o EP apresenta do projeto, acessível em https://www.youtube.com/@ProjetoAmpola, uma sonoridade rock/metal crua, agressiva, algo industrial. No canal do Youtube pode também visualizar-se o videoclip do tema-título.

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Melhores 2024 Adriano Godinho

Gabriel Sousa

Carlos Filipe

Gabriela Teixeira

Cristina Sá

Helder Mendes

Emanuel Roriz

Filii Nigrantium Infernalium - Pérfida Contracção do Aço

Internacional Avatar - Make it Rain / On the other side of Tonight Bear McCreary - Singularity Crippled Black Phoenix - The Wolf Changes Its Fur But Not Its Nature Iotunn - Kinship Nacional Gaerea - Coma Sinistro - Vertice Internacional Funeral - Gospel Of Bones My Dying Bride - A Mortal Binding Five The Hierophant - Apeiron Valfreya - Dawn Of Reckoning Fulci - Duck Face Killings Nacional Alkimista - Viagem Sinistro - Vertice Internacional A.Oratos – Eclesia Gnostica Horna - Nyx The Vision Bleak - Weird Tales Tribulation - Sub Rosa Wintersun - Time II Internacional Iotunn - Kinship Ulcerate - Cutting the throat of god Blood Incantation - Absolute Elsewhere Nile - The Underworld Waits Us All Grand Magus - Sunraven Nacional Gaerea - Coma Toxikull - Under The Southern Light

Ernesto Martins

Internacional Blood Incantation - Absolute Elsewhere Ulcerate - Cutting the throat of god Ottone Pesante - Scrolls of War Sear Bliss - Heavenly Down Officium Triste - Hortus Venenum Nacional Phenocryst - Cremation Pyre Gaerea - Coma 6 / VERSUS MAGAZINE

Internacional Symphony Of Sweden - Haunted Cobrakill - Serpent’s Kiss Stryper - When We Were Kings Fighter V - Heart Of The Young Russel & Guns - Medusa Nacional Earth Drive - Light Codes Toxikull - Under The Southern Light Internacional Blood Incantation - Absolute Elsewhere Officum Triste - Hortus Venenum Blues Pills - Birthday Alcest - Les Chants de L’Aurore The Cure - Songs of a Lost World Nacional Sinistro - Vertice Gaerea - Coma Internacional Malconfort - Humanism Opeth - The last will and testament Mòr - Hear the Hour Nearing! Blood Incantation - Absolute Elsewhere Krallice - Inorganic Rites Nacional

Phenocryst - Cremation Pyre

João Paulo Madaleno

Internacional Fleshgod Apocalypse - Opera Iotunn - Kinship Livløs - The Crescent King Anubis - The Unforgivable Fractal Gates - One With Dawn Nacional Gaerea - Coma Phenocryst - Cremation Pyre


Trial by Fire Obra - Prima

5

Excelente

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Esforçado

3

Esperado

2

Básico

1

Adriano Godinho

Carlos Filipe

Eduardo Ramalhadeiro

Emanuel Roriz

Ernesto Martins

Gabriel Sousa

Gabriela Te i x e i r a

Helder Mendes

JP Madaleno

Sérgio Te i x e i r a

MÉDIA

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2,9

EXUVIAL

T h e H i ve Mi n d C h ro n i c l e s P ar t I P ar as i t i ca (Silent Pendulum Records)

G AE RE A Coma

(Season of Mist)

IO TU N N

K in sh ip

(Metal Blade)

OFFI CIUM TRI S TE

H o r t u s Ven e n u m (Transcending Obscurity Records)

SI N I STR O

Ver ti c e (Alma Mater Records)

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Stéphane Buriez respondeu com entusiasmo a toda a nossa curiosidade sobre esta instituição do death metal francês, que para além do lançamento recentemente o disco “Altering Fates and Destinies”, está também a preparar uma celebração digna dos 40 anos de carreira e aproveitou ainda para levantar véu sobre várias surpresas que chegarão em breve. Entrevista: Emanuel Roriz | Foto: Anthony Dubois

Stéphane, os Loudblast estão praticamente a atingir o marco dos 40 anos de carreira. Estás a planear algo para os celebrar? Alguma edição especial, re-edição ou algum evento ao vivo? Stéphane - Estou a trabalhar num evento realmente especial desde o início deste ano. Iremos celebrar este quadragésimo aniversário em

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Abril, na nossa cidade natal, em Lille. Iremos dar cinco concertos diferentes nos dias 17, 18, 19 e 20 de Abril. Iremos apresentar a carreira inteira dos Loudblast e tocar músicas que já não tocamos em palco há imenso tempo, ou que nunca chegamos a tocar. Estamos a dar ao cabedal para preparar 70 músicas [risos]. Um dos concertos

será mais festivo, com a presença de vários convidados, será algo lendário! Falando de re-edições, já re-editamos a maior parto do nosso catálogo associado à Listenable Records, mas posso dizer-vos que os 5 concertos planeados para o 40º aniversário, serão gravados em audio e vídeo. Haverá mais novidades!


O novo álbum “Altering Fates and Destinies” saiu em Outubro. O que podes dizer aos nossos leitores sobre a fórmula deste álbum? O que podemos ouvir e ler nele? Eu admitiria que o “Altering Fates and Destinies” é um álbum bastante pessoal. É um disco composto por mim na sua totalidade. Não perguntei a mim mesmo sobre quantas partes lentas ou mais rápidas iria compor. Deixei que as ideias se fossem revelando com o passar dos meses e quando tive de finalizar o disco percebi que tinha um maior número de partes pesadas e mid-tempo do que no nosso disco anterior “Manifesto”. Ao ouvir este álbum podem encontrar o que realmente caracteriza os Loudblast, mas tentei explorar facetas da nossa música que muito provavelmente ainda não me tinha aventurado a explorar anteriormente. É talvez a primeira vez na minha vida em que não coloquei barreiras a mim próprio. Diria que este “Altering Fates and Destinies” é um álbum melhor conseguido do que o “Manifesto”. É um álbum que vai surpreender, mas mais uma vez eu não coloquei este tipo de questões a mim próprio. Compus muitas partes e selecionei aquelas que a mim me pareciam contar a história que eu queria imprimir neste disco. O Fred Leclercq, para além de tocar baixo, tratou da maioria das guitarras principais do álbum. Isto trouxe ainda um maior sentido de profundidade a estas músicas.

Já tive oportunidade de deitar o ouvido a estas dez novas músicas e posso dizer que há muita diversidade dentro de cada uma. Encontramos partes lentas e pesadas, assim como partes rápidas e melodiosas. Pessoalmente, fiquei especialmente agarrado a temas como “Miserable Failure” ou “He Who Slumbers”. Consegues identificar momentos mais clássicos, próximos do material mais antigo dos Loudblast, ou outros momentos que sejam como um novo caminho? Como disse anteriormente, para este álbum compus imensas canções. Queria que o disco fosse mais curto, algumas músicas como “Fortress” ou “Dark Allegiance” são um pouco densas, enquanto outras como “From Beyond” or “Cursed and Veiled” são músicas que vão mais directas ao assunto. Adoro a “Son of Nameless Mist”, foi a primeira que compus para este álbum. Músicas como a “Fortress” ou “He who Slumbers” não vão de encontro a alguns dos padrões clássicos dos Loudblast. No novo disco há também três músicas identificadas como faixas bónus. Onde estarão disponíveis estes temas? O disco estará disponível em diferentes tipos de formatos e edições? E já agora, estas faixas bónus foram retiradas das sessões de gravação do presente álbum “Altering Fates and Destinies”? Estes três bónus não são realmente um bónus. Primeiramente, era suposto que integrassem a edição normal do disco, portanto, sim, fazem parte das sessões de gravação do “Altering Fates and Destinies”. Mas eu queria que o álbum fosse realmente mais curto. 44 minutos era suficiente para contar a história que eu pretendia mostrar ao ouvinte e assim escolhi incluir essas três canções bónus, que eu gosto bastante, na edição em CD. Também fiz questão de incluir a cover do tema “Forbidden Pleasure” dos Necrophagia, que

faz parte do álbum “Season Of The Dead”. Este é um dos meus discos favoritos. Já chegou a hora de falar sobre novo material para um próximo disco ou isso é algo que ainda pertence ao futuro? [risos] Devo confessar-te que estou actualmente a trabalhar em 2 EPs. O primeiro será lançado na altura do 40º aniversário - quatro novos temas e uma cover. Para além disso gravamos também um outro EP de 6 músicas que são 6 covers de clássicos do heavy metal. Será uma surpresa para vocês em 2025. Voltando ao presente, quais são os planos de divulgação para este novo álbum? Onde vão andar a tocar ao vivo? vamos começar com uma primeira tour com os Disbelief em Março/ Abril de 2025. Depois disso iremos celebrar o 40º aniversário dos Loudblast, para de seguida entrar na época de festivais de verão. Temos também já planos para uma outra tour com os Seth em Setembro/Outubro de 2025. Queremos tocar em todas as cidades que pudermos visitar! Quase 40 anos de carreira e tu és o único que permanece desde a formação original. O que é que te guia por toda esta história e até onde te irá levar? Sim, eu penso que alcançar os 40 anos de carreira é algo muito estranho por um lado, porque é mesmo um carreira muito longa. Mas por outro lado também sinto que não senti o tempo a passar. Parece que começamos isto ainda ontem [risos]. Continuamos realmente apaixonados pela música que temos vindo a tocar e devotos à cena Metal. Como te disse antes, temos muitos planos para 2025 e depois vem 2026…

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Melancolia fascinante De Aorlhac a Asphodèle e depois a Jours Pâles, Florian (aka Spellbound) vai cultivando uma melancolia feita de experiências de vida e de reflexão sobre a realidade. E daqui resultaram três álbuns em quatro anos, sendo o último «Dissolution». Entrevista: CSA | Helder Mendes | Fotos: Christophe Mielot

CSA/Hélder – Saudações, Spellbound! Esperamos que estejam todos bem! CSA – Quais são os momentos mais importantes da história da banda? Spellbound – Saudações e obrigado pela entrevista. Penso que houve muitos momentoschave desde o nascimento (bastante recente) de Jours Pâles. Para começar, é claro que o lançamento de cada álbum é sempre algo intenso e especial. Por outro lado, continuando a pensar nos álbuns, o facto de ter podido trabalhar com artistas que respeito muito como James Sloan, Christian Larsson, Ondine Dupont, Natalie Koskinen, Niklas Sundin ou Graf foi uma experiência que me marcou muito pela positiva. Depois, posso referir a digressão que pudemos fazer graças à nossa agência (Eclosion Booking) dirigida

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por Simon Roussel. Tocar em doze datas seguidas foi uma estreia para muitos de nós. Há muito tempo que fazemos concertos, com as nossas bandas respetivas, mas nunca tantos seguidos! É claro que nem tudo foi fácil, mas temos boas recordações dessa digressão. No conjunto, estou muito grato pela forma como a história da banda se tem desenrolado. As reações da imprensa especializada são excelentes desde o início, damos entrevistas a gente de todo o mundo, estamos a construir uma fanbase bem sólida e temos uma editora forte, que nos apoia realmente. Helder – Uma faceta notável de Jours Pâles é a produtividade, visto que já têm três álbuns na vossa discografia. Contam manter esta frequência de lançamento? Três álbuns em quatro anos não é muito habitual. Não penso

que, nestes últimos anos, haja muitas bandas a manter este ritmo. Não é algo que tenha sido planeado, mas irá acontecendo enquanto a inspiração, a vontade e a energia não me faltarem. É algo inconsciente e não é de certeza a minha maior motivação, mas também me vem à cabeça a ideia de que, dada a velocidade a que a indústria discográfica funciona atualmente, tendo em conta o número de álbuns que saem diariamente hoje em dia, se queres permanecer visível, tens de publicar material. De qualquer modo, não me sinto obrigado a lançar um álbum todos os anos, componho e escrevo os álbuns, quando sinto a necessidade de o fazer. A longo prazo, não sei se conseguirei continuar a lançar um álbum todos os anos ou de dois em dois anos como atualmente, porque não estou disposto a sacrificar a qualidade musical no


altar da quantidade, mas fiquem a saber que dei início ao processo de composição e que o quarto álbum de Jours Pâles já está a caminho. CSA – A vossa banda faz Black Metal muito original. Que ingredientes podemos encontrar no vosso som? Têm influências específicas que queiras mencionar? Penso que Jours Pâles é uma amálgama singular e pessoal de vários estilos. De qualquer modo, basicamente não aceito nenhumas restrições. Creio que as minhas influências foram digeridas e peneiradas e daí resulta uma entidade muito pessoal, pelo menos é assim que eu a vejo. Mas não tenho a pretensão de reinventar o que quer que seja. Encontrarás passagens acústicas ou claras, momentos mais galopantes ou agressivos, vocais mais ásperos ou cantados, mas a essência disso tudo é que o nosso som está embebido numa atmosfera melancólica e melódica. Quanto às influências, posso referir Apati, Lifelover, Shape of Despair, Psychonaut 4 e mais ou menos todo o tipo de música que evoque a contemplação, a depressão ou a melancolia (o que corresponde a um vasto universo). CSA – Li as letras das canções. Foste tu que as escreveste? Lembra-me poesia francesa do fim do século XIX/início do século XX. Alguma relação entre as duas coisas… ou é só a minha imaginação? A música triste e tenebrosa combina muito bem com as letras, não é? Sim, sou eu que escrevo todas as letras de Jours Pâles. No que diz respeito às influências que referiste, parece-me que é mais ideia tua. Estudei pouco e também não leio muito, portanto qualquer relação só pode ser fortuita. Também me parece que as letras desempenham um papel importante na atmosfera e na ambiência do projeto. Procuro profundidade, usar palavras inusitadas, cultivar um certo tipo

de poesia ou de prosa poética. É algo significativo. Hélder – As letras das canções exalam desencanto e pessimismo, tanto do ponto de vista pessoal como de uma perspetiva global. Crês que nos esperam tempos sombrios? Tudo o que é sombrio faz parte do ser humano desde o início, não é? Cada época com os seus problemas. Nunca se aprende nada. São sempre os mesmos círculos. Apenas me parece que estamos a convergir para o fim de qualquer coisa. Estamos numa era de desinformação permanente, da liberdade-repressão da expressão,

A longo prazo, não sei se conseguirei continuar a lançar um álbum todos os anos ou de dois em dois anos […] porque não estou disposto a sacrificar a qualidade musical no altar da quantidade […]”

do individualismo generalizado, dos problemas demográficos, da sobrepopulação, com várias guerras em curso, das relações confusas entre homens e mulheres, da deificação da mulher, da hipersexualização, etc., etc. Estamos de certeza a chegar ao fim de algo. É claro que Jours Pâles só trata de ideias pessoais, da minha maneira de ver o que me rodeia e isso reflete-se nas letras e no “conceito” em que assenta a banda. E, realmente, não me sinto muito otimista em relação à época atual. CSA – Também reparei nos títulos dos álbuns: «Éclosion» (2021) | «Tensions» (2022) | «Dissolution» (2024). A sequência faz-me pensar no ciclo da vida. É assim? É curioso, porque essa ideia aparece frequentemente na imprensa especializada. Mas

não é nada premeditado, da minha parte. Mas é claro que a eclosão, a tensão e a dissolução constituem uma dança existencial inevitável. Faz sentido, mas não foi planeado como linha para a minha discografia. É verdade que as coisas nascem, entram em conflito e depois extinguemse. Perpetuamente. Mas o que podemos ver nessa extinção? Pode ser o fim de tudo, a morte inevitável para todas as coisas, pode ser uma espécie de renovação que acontece quando algo ou alguém desaparece. Quando vier o próximo álbum, logo veremos onde está o cursor. Ainda não tenho a resposta. É claro que o pior seria estagnar numa lassidão total, sem esperança. Seria como flutuar no meio de espessas brumas distímicas, que provocam erosão, que fatigam o corpo e o espírito. Quanto tudo se resume a hipersensibilidade, se torna permanentemente frágil e moralmente esgotante, assume uma nova dimensão. Quando vejo tantos dos meus congéneres tornarem-se individualistas, sem capacidade de pensar por si próprios, alimentados em cadeia como gado pela BFMTV ou a CNEWS. Vejo a pseudoliberdade de expressão converter-se numa prisão moral. Para me manter dentro das temáticas do meu último álbum, também podemos falar das separações e das fraturas familiares. Isso pode ser muito complicado de gerir, põe tudo em causa de forma muito profunda, quando a ideia de um lar é verdadeiramente importante para nós e este desaparece. O que acontece aos filhos depois de uma rutura, é muito difícil. É uma espécie de morte. Uma morte que se instala nas profundezas, longínqua, difusa, mas que continua lá, sempre em plano de fundo. Por experiência pessoal ou porque testemunhei a situação indiretamente, tive muitas oportunidades de ver pessoas que nunca recuperaram de uma dada situação. Independentemente de se tratar da separação de um

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casal, da perda de um amigo ou de um familiar, de um animal. É algo que sabes que existe, mas quando és tu que és atingido, é algo muito diferente. A rampa que leva perniciosamente ao fundo do abismo por vezes é tão difícil de subir que nem consegues entrever qualquer superfície, seja ela qual for. Todos temos em nós a resiliência ou a abnegação, esse instinto de sobrevivência fenomenal que, infelizmente, muitas vezes só aparece quando já é demasiado tarde. É assim! Acontece que há momentos na vida que te separam definitivamente do possível e do impossível. Do sucesso e do fracasso. Há tantas possibilidades de estares no bom momento no bom lugar como no mau momento no mau lugar, CSA – Neste álbum, a banda tem uma canção instrumental. Por que fizeram esta opção? Como

decidiram em que parte do álbum iam pô-la? A bem dizer, já tínhamos incluído uma faixa instrumental no primeiro álbum: “C2H60”. Isso não aconteceu no segundo álbum, porque não me pareceu necessário fazê-lo, mas pareceume oportuno repetir a experiência em «Dissolution». Esta canção foi composta num estado de espírito terrivelmente nostálgico e é muito importante para mim. Faz alusão às desuniões, num espírito geograficamente muito marinho, já que, para mim, o mar é um lugar onde podemos facilmente deixar-nos ir levados pela fantasia, pelo pesar, pelo arrependimento, pela reflexão e onde eu vivi pessoalmente muitas coisas fortes. Na altura, compus esta faixa na esperança de restabelecer a ligação com a minha ex-companheira e a minha filha, mas infelizmente isso nunca aconteceu. A canção desembarca no meio do álbum e

[…] Jours Pâles é uma amálgama singular e pessoal de vários estilos. […] as minhas influências foram digeridas e peneiradas e daí resulta uma entidade muito pessoal, pelo menos é assim que eu a vejo. […] o nosso som está embebido numa atmosfera melancólica e melódica.

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permite uma breve acalmia antes de se entrar na segunda parte do disco, que é bem pesada em termos musicais e emocionais. Hélder – “Dissolution” e, sobretudo, “Les lueurs d’autoroutes” dão uma nota suplementar de melancolia ao álbum. Além disso, não é bem o tipo de voz que temos em mente quando pensamos neste género musical. O que te levou a introduzir essa nota contrastante na música de Jours Pâles? As vozes femininas fazem parte integrante do universo da banda e mesmo do que aconteceu antes dela existir. Recordo-te que criei um projeto chamado Asphodèle com Audrey Sylvain, que, no fundo, representava a primeira encarnação de Jours Pâles. Por razões alheias à minha vontade, Asphodèle desfez-se, o que deu origem a Jours Pâles. A minha ideia era trabalhar sozinho e ser


senhor de mim mesmo, sem que isso me impedisse de colaborar regularmente com músicos – masculinos ou femininos. Mas, até agora, cada álbum de Jours Pâles tem, pelo menos, uma canção com vozes femininas. Provavelmente, não será algo que aconteça de forma sistemática no futuro, mas, até agora, trouxe sempre esse famoso contraste a que fazes alusão e eu gosto muito de incluir esse tipo de passagens nos álbuns, quando a ocasião de o fazer se apresenta. CSA – Também reparei nas capas dos álbuns. Andei a pesquisar na Metallum e descobri que a do primeiro álbum foi feita por uma artista (Onodrim) e a do segundo por Niclas Sundin (ex-Dark Tranquillity, que já entrevistei como artista gráfico). Quem fez a capa deste álbum? Apresentaste sugestões ao artista? Como relacionas esta capa com o título do álbum? Sim, estou orgulhoso de todos os artistas que contribuíram – cada um à sua maneira – para desenvolver a imagem da banda. Desta vez, a artista é Manon, da cervejaria Ouroboros, situada no Haute-Loire, um departamento de Auvergne, a minha principal região. Dei-lhe algumas indicações vagas sobre a ideia que eu tinha e a forma como via o álbum a nível visual, mas, de um modo geral, ela trabalhou de forma bastante autónoma. Gosto que as pessoas que dominam uma área que não

é a minha possam exprimir-se em total liberdade e apresentar uma visão pessoal da coisa. A capa deste álbum representa a desunião, o tema principal do álbum. As três caras (criança, homem, mulher) correspondem bem à ideia de fim de percurso, de dissolução do lar e era exatamente isso que eu queria. Algo que salta à vista sem que precisemos de fazer muitas perguntas. CSA – E como vai a LADLO fazer a promoção do álbum? A LADLO faz o que sabe fazer. Gérald, o patrão, tem experiência de sobra para que tudo corra sobre rodas. A editora tem o seu polo consagrado à promoção, tem artistas gráficos, mas, tanto quanto sei, também trabalha com um prestador de serviços externo, chamado Solstice Productions. A organização tem muitos membros, que desempenham papéis bem definidos. Isso dá às bandas uma exposição concreta e bastante forte. Muitas entrevistas com a imprensa especializada, na net ou em papel. Os álbuns têm críticas no mundo inteiro. E, embora a editora não seja uma agência organizadora de concertos, de vez em quando, organiza alguns para as suas bandas, o que é muito interessante. É claro que nem sempre estamos de acordo, mas eu e o Gérald temos uma boa relação, que ultrapassa o âmbito musical, e mesmo que haja alguma fricção, enfrentamos o problema juntos e procuramos soluções que

sejam convenientes para todos, na medida do possível. CSA – Uma última pergunta! Como anda Aorlhac, a tua outra banda? Como tenho dito sistematicamente, Aorlhac e Jours Pâles têm maneiras muito diferentes de trabalhar. Jours Pâles caracteriza-se por uma certa urgência e tem-me como único titular e responsável em termos de composição, logo de lançamentos. Aorlhac não tem nada a provar, logo demora o tempo que lhe parecer necessário para fazer o que quiser. Existimos desde 2007 e atingimos um nível que nunca esperámos alcançar. De qualquer modo, em Aorlhac, eu não controlo a parte musical. Essa responsabilidade cabe a NKS, o compositor e guitarrista da banda. Eu estou encarregado de escrever as letras, de escolher os temas e da voz. Na realidade, a banda funciona como um duo, em que cada um encontrou o seu lugar ideal durante o percurso. Atualmente, estamos a trabalhar num novo álbum, temos alguns concertos previstos até ao fim deste ano e outras surpresas que iremos revelar oportunamente. Portanto, respondendo diretamente à tua pergunta, Aorlhac está bem de saúde e ainda não dissemos as nossas últimas palavras!

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The girl with the kaleidoscope eyes Por: Gabriela Teixeira - mixcloud.com/Submundo

Histórias com músicas Descobri recentemente o podcast “A história da música” do Miguel Esteves Cardoso, onde cada convidado traz um tema que lhe é muito querido por lhe ter marcado uma altura da vida. São episódios pautados por óptimas conversas (com o MEC nunca poderia ser de outra forma!) que me têm feito companhia na hora de deitar. Os meus episódios favoritos são, até agora, com o Herman José, que me deu a conhecer “Alfie”, uma música de 1967, daquelas que parecem intemporais, pela voz de Dionne Warwick, e com Valter Hugo Mãe, onde o escritor provou que, para além de bordar tão bem a língua portuguesa, na sua obra literária, é detentor de óptimo gosto musical ao escolher “Oub’Lá” dos Mão Morta para nos contar um pouco da sua vida aquando dos tempos de adolescente. Uma noite dessas questionei-me - e se me pedissem para escolher uma música com significado, entre tantas e tantas que são “só minhas”, qual escolheria eu? Pois bem, lembreime de duas em particular que me marcaram bastante e que são também representativas da evolução do meu gosto musical. Estávamos em 1994 quando saiu o best of dos Bon Jovi «Cross Road». Eu era uma miúda de 12 anos e, quando vi o videoclip da “Always” no Top+, apaixonei-me pelo Jon Bon Jovi (esse grande escultor da minha heterossexualidade!) e, por conseguinte, por power ballads. A partir daí comecei a gostar muito da banda que, juntamente com Guns N’ Roses e Aerosmith, formaram a Santíssima Trindade que me despertou para um universo rockeiro e, um pouco mais tarde, metaleiro. A música que quero destacar deste disco, cuja cassete recebi no Natal de 94 e ainda hoje imaculadamente possuo, é a “Someday I’ll be Saturday night’ que narra a história do Jim e da Billie Jean que ligam com situações de vida difíceis mas sob uma perspectiva positiva. O tom de esperança que permeia este tema é marcado pela suavidade e leveza instrumental e pela resiliência demonstrada logo nos primeiros versos (“Hey man I’m alive I’m takin’ each day and night at the time/ I’m feeling like a Monday but someday I’ll be Saturday night”). Desde muito jovem que eu lido com depressão e sempre recorri à metáfora da manhã de segunda-feira para descrever a doença e, ainda hoje, 30 anos depois, é frequente cantarolar para mim mesma o refrão, no intuito de colorir os meus dias cinzentos com pinceladas verdes de superação. Com a ida para a universidade, no início dos anos 2000, todo um universo musical se abriu aos meus ouvidos. Nesta fase, comecei a explorar bandas oriundas da Alemanha,

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nomeadamente dentro do thrash e do power metal, e foi aí que me cruzei com os Blind Guardian, apesar de, (pasmemse!) inicialmente, me ter interessado mais pelos Edguy. Entretanto ganhei juízo e comecei a explorar devidamente a discografia dos Blind Guardian para assim me aperceber que estava perante uma das melhores bandas de metal e cujo vocalista, rapidamente subira na minha lista de vozeirões favoritos. A vontade de os ver ao vivo aumentava a cada disco que ouvia, mas oportunidades foi coisa que faltou, até que 2023 trouxe o anúncio da vinda do Sr. Hansi Kursch e seus feiticeiros ao Vagos do ano seguinte. Tomei um ecstasy invisível mal vi naquele ecrã gigante o nome Blind Guardian anunciado. Que felicidade! 20 anos de espera seriam recompensados! Só que não… A saúde trocou-me as voltas e eu não pude ir a Vagos. Quando o festival aconteceu, eu estava a viver um pós operatório muito delicado que me obrigou a um longo período de resguardo. Valeu-me a companhia dos streams dos grandes festivais europeus para preencher um bocadinho do vazio que ia cá dentro. Diz o ditado que quando se fecha uma porta, se abre uma janela, ou neste caso, se liga o ecrã do computador para ver em directo o fabuloso concerto (com mais de 2h) que os Blind Guardian deram em Wacken, com uma setlist excelente que me despertou uma dualidade de sentimentos - se, por um lado, estava grata à tecnologia que do longe fazia perto aquele acontecimento, por outro uma tristeza por saber que não iria estar, como tanto desejei, no concerto seguinte, no Vagos Metal Fest, tomava conta de mim. A altura em que a voz daquela imensidão de gente silenciou o Hansi, cantando na totalidade a “The Bard’s Song (In the Forest)” foi de tal maneira poderosa e esmagadora para mim que as lágrimas me começaram a cair pelo rosto. A “The Bard’s Song” é um dos incontornáveis hinos do heavy metal, representa a força, a união e a perseverança da nossa comunidade e só de imaginar cantá-la, a plenos pulmões, na companhia de milhares de pessoas que sentem o metal como eu o sinto, arrepia-me. Correram-me lágrimas porque a fragilidade física me coibiu de regressar ao meu lar estival, prolongando, assim, a espera para me encontrar com os maiores do metal teutónico, mas não me dissuadiu de continuar a sonhar com o dia em que comungarei da solenidade de tal momento, em solo nacional: de olhos cerrados e punho levantado, entoarei com todo o coração, “Let’s sing the bard’s song”! Que a espera não se prolongue por muito mais anos! E tu, que música escolherias para partilhar a tua história?


Playlist Adriano Godinho

Gabriel Sousa

Carlos Filipe

Gabriela Teixeira

Avatar - Make it Rain / On the other side of Tonight Bear McCreary - Singularity Crippled Black Phoenix - The Wolf Changes Its Fur But Not Its Nature Iotunn - Kinship Helvetets - Port Warlords Funeral - Gospel of Bones Five The Hierophant - Apeiron Thy Catafalque - Xii - A Gyönyörű Álmok Ezután Jönnek Master Boot Record - Hardwarez

Cristina Sá

Avantasia - Moonglow Insomnium - Anno 1696 + Winter’s Gate LImbonic Art - Moon in the Scorpio + Opus Daemoniacal Tryglav - The Ritual Eclipse - Megalomanium II

Eduardo Ramalhadeiro

Harem Scarem - Moodswings Helloween - Live at Budokan Judas Priest - Painkiller Earth Drive - Light Codes The Halo Effect - March of the Unheard

Emanuel Roriz

Gaerea - Coma Grand Magus - Sunraven Iotunn - Kinship Paganizer - Flesh Requiem Ulcerate - Cutting The Throat of God

Fighter V - Heart Of The Young Stryper - When We Were Kings The Dead Daisies - Burn It Down Eclipse - Megalomanium II The HU - Rumble Of Thunder Blues Pills - Birthday TEMIC - Terror Management Teory Blood Incantation - Absolute Elsewhere The Cure - Bloodflowers Air - Moon Safari

Helder Mendes

Esoteric - The Maniacal Vale Sepultura - Chaos A.D. Forgotten Tomb - Nihilistic Estrangement Oak - Disintegrate Dire Straits - On Every Street

Ivo Broncas

Testament: Brotherhood of the Snake Devil Driver: The Last Kind Words Lamb of god: sacrament Hatebreed: The Concrete Confessional

João Paulo Madaleno

Iotunn - Kinship Panzerfaust - The Suns of Perdition IV Ulcerate - Cutting The Throat of God Scald - Ancient Doom Metal The Omega Swarm - Crimson Demise

Sérgio Teixeira

Faith No More - discografia

Ernesto Martins

Blood Incantation - Absolute Elsewhere Wizrd - Elements Monolithe - Black Hole District David Gilmour - Luck and Strange Thormenthor - Abstract Divinity

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horna

É o tema do novo álbum – «Nyx» – e algo particularmente significativo para a banda dada a sua associação às trevas. Entrevista: CSA

Saudações, Shatraug! Espero que estejam todos bem na banda! Horna é uma lenda na cena Black Metal internacional. Como descreverias a vossa contribuição para a glória deste subgénero? Shatraug – Hail hail! Horna manteve-se no seu caminho desde o início, sempre devota e persistente e a segurar o facho do verdadeiro Black Metal. Isto é particularmente significativo atualmente, quando há cada vez mais bandas a emergir com o mero propósito de servirem os seus interesses musicais quase sem sentido espiritual. O ano de 2024 marca 30 anos de existência de Horna. Tu viveste essa longa história da banda.

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Quais foram os momentos mais memoráveis nesta jornada do teu ponto de vista? Diria que nunca poderá haver momento mais importante do que aquele em que o sonho da juventude se concretiza e tu consegues formar a tua banda com a esperança de um dia lançar um álbum. Nessa altura, não tínhamos garantia nenhuma de que isso iria acontecer e nunca me passou pela cabeça que ainda estaria aqui a pregar o evangelho satânico tão tenaz como sempre. A vossa editora considera que Horna teve três eras, cada uma delas marcada por um vocalista diferente. O que pensas desta afirmação?

Pode-se ver a coisa dessa maneira, se assim o quisermos fazer. No entanto, eu vejo todo o percurso da banda como uma longa jornada nas trevas sem fim à vista. Este é o décimo segundo álbum de Horna. Como se sente uma banda que criou uma nova obra precedida por outros onze álbuns? O que vos mantém motivados? Faço sempre a mesma coisa, nunca paro de compor e estou sempre a criar. Por vezes, a diferença é minúscula, porque Horna não se deixa prender por nenhuma certeza. Como decorreu o processo de criação de «Nyx»? O que foi semelhante às outras vezes? O


que foi diferente das experiências anteriores? «Nyx» é diferente de tudo o que fiz com Horna até agora, visto que é o único álbum que demorou anos a ser feito. Eu tinha as letras escritas e traduzidas alguns anos antes de termos feito o álbum anterior («Kuoleman Kirjo», 2020) e a maior parte da música também já estava pronta. O facto de eu ter mais material pronto antes de um álbum ser gravado não é nada fora do comum. «Nyx» precisou de amadurecer e demorou muito mais tempo do que o previsto. A capa é fantástica. Adoro-a. Se eu visse o vosso «Nyx» no meio de muitos outros CD, tenho a certeza de que esta capa atrairia a minha atenção. [Não sei explicar porquê, mas lembra-me aqueles leões alados que podemos ver nas muralhas da Mesopotâmia. Talvez tenha a ver com o uso do azul.] - Supostamente, representa a noite (já que o título do álbum significa algo como “hinos à noite”). Podes explicar-nos onde é que a banda vê essa entidade nesta ilustração? «Nyx» – assumida como a Noite concreta e a Noite espiritual – é a amante passiva do Homem, sempre presente, sempre a abraçar-nos, mas que só se funde connosco quando exalamos o último suspiro. - Foi imaginada pela banda? Criada pela Dhomth? Uma combinação das duas perspetivas? Este álbum é um poema completo baseado na obra maravilhosa de Novalis intitulada “Hymnen an die Nacht” [“Hinos à noite”], que eu traduzi e adaptei. Foi daí que veio a inspiração para a figura na capa do álbum, que cristaliza a forma como o poema inspirou tanto a banda como a artista. Fiquei surpreendida por constatar que só a última canção tem um título que a diferencia das outras: “Kuoleva Lupaus” [a tradução deu “uma promessa moribunda”]. Esta canção é mesmo especial. Por que a escolheram para fechar o álbum?

É uma versão acústica de uma velha canção de Horna, que muitos veem como um “clássico” da banda. Quando o Hex Inferi nos apresentou esta versão, foi como se a própria canção tivesse decidido que lhe cabia a honra de fechar «Nyx», lembrando-nos que as promessas mais significativas do ser humano só deviam morrer com o seu portador.

anos e álbuns que partilhamos com os antigos vocalistas e o atual. O evento foi todo gravado e – a título excecional na carreira da banda – será lançado no próximo ano com uma produção profissional sob a forma de um DVD acompanhado por um álbum ao vivo.

[…] Horna manteve-se no seu caminho desde o início, sempre devota e persistente e a segurar o facho do verdadeiro Black Metal.

Que andou a banda a fazer durante o verão passado? Tocaram em alguns festivais? À parte o concerto especial para celebrar os 30 anos no Steelfest, não fizemos nada de especial. Limitamo-nos a continuar a celebrar tocando material que fomos criando ao longo dos anos e incorporando «Nyx» no nosso portefólio. Que planos traçaram com a vossa editora para promover este álbum? Nada de especial. Horna é uma banda conhecida e não sentimos a necessidade de fazer nada diferente, para ser franco. Nunca adotámos a rotina típica das bandas de Metal que consiste em lançar um álbum para de seguir ir fazer uma digressão, embora talvez até fosse bom. Vão fazer algo especial para celebrar o 30.º aniversário (à parte lançar este excelente álbum, é claro)? Já fizemos: foram as três noites de concertos no Steelfest no mês de maio, cada um deles dedicado aos

Por falar de editoras: quais são as vantagens de trabalhar com uma que não é mainstream? Sermos ouvidos, respeitarem os nossos desejos, atenderem os nossos pedidos nos seus mais ínfimos detalhes e serem incansáveis. Também não te podemos dizer nada sobre vantagens ou desvantagens de trabalhar com uma editora mais mainstream, porque Horna nunca fez parte do catálogo duma editora dessa natureza e provavelmente nunca fará. Uma última pergunta: para este número da Versus, já entrevistei Limbonic Arte e estava a pensar em entrevistar também Barathrum. Como situas Horna em relação a essas bandas? Falando em termos pessoais, diria que ambas as bandas eram fantásticas em tempos idos, mas que agora apenas restam sombras dessa glória passada.

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Suidakra Fim e princípio

O recente lançamento de «Darkanakrad», o décimo quinto álbum de Suidakra, marca o fim da saga de Odorico e das primeiras três décadas de vida da banda, mas também o início de uma nova era antecipado com esperança. Foi assim que Sebastian Jensen apresentou à Versus o último álbum da banda. Entrevista: CSA

Saudações, Sebastian! Espero que estejam todos bem na banda! Já entrevistei Suidakra sobre o vosso último álbum e por uma reedição de um dos anteriores. - Como foi esse álbum recebido pelos fãs e pelos críticos? Sebastian – Obrigada por mais esta entrevista. Vai ser um prazer responder detalhadamente às tuas perguntas. Posso já dizer-te que os comentários principais são “até aqui correu tudo bem” e “fantástico”! De um modo geral, recebemos críticas mais do que positivas dos nossos fãs e da imprensa. Parece que os fãs de longa data o acharam muito apelativo e que o mesmo aconteceu com os fãs mais recentes. Em suma, estamos muito felizes com o retorno extremamente positivo e lisonjeiro que recebemos até agora. - Já tiveram oportunidade de apresentar o vosso álbum ao vivo?

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Como correu? Ainda não, mas estamos a fazer planos para que isso aconteça. Temos alguns concertos na calha para 2025, em que iremos de certeza apresentar algumas canções do novo álbum. Agora têm este – o vosso décimo quinto álbum – intitulado «Darkanakrad». - Como foi fazer este álbum? Seguiram o habitual modus operandi da banda? Ou aconteceu algo diferente de que nos queiras falar? Basicamente, usámos a mesma abordagem que nos outros lançamentos. Mesmo assim implicou alguns elementos habituais no que diz respeito à composição e alguns novos. Fizemos experiências com novos sons e arranjos, a fim de realçarmos o lado atmosférico da nossa música e darmos mais realce

ao conceito subjacente às letras. No fim do processo, seguimos por um caminho diferente, porque foi o Arkadius que fez a mistura. Isso deu-nos ainda mais possibilidades de trabalhar a nossa música até aos detalhes mais ínfimos e fazer evoluir o nosso som. Confiámos a tarefa de masterizar o álbum ao fidedigno Dan Swanö. - Tentaram dar um cunho especial a este álbum? Queremos que cada um dos nossos álbuns seja especial e se destaque, logo todos têm algo de especial. Deve ser excitante para os ouvintes, mas também tem de ser interessante para nós trabalhar nele e torna-lo melhor. Só para referir alguns pormenores, experimentamos usar certos instrumentos, incorporar elementos Folk nas raízes Metal e assim criar uma paleta sonora variada. Também queríamos uma produção mais polida, que


melhorasse a qualidade geral do som e captasse as nuances características do nosso som e da nossa música. Uma ideia que contribuiu para isso foi termonos encarregados nós mesmos de fazer a mistura, em vez de darmos esse trabalho a alguém externo à banda. Assim, tivemos muitas oportunidades de melhorar a composição, de tirar mais proveito dos instrumentos e de pensarmos na produção. - Podes explicar-nos o que fizeram para sublinhar o lado Folk e celta do álbum? Mais uma vez, incorporámos instrumentos folclóricos tradicionais como flautas, violinos e a gaita de foles escocesa entre outros, ao mesmo tempo que usávamos escalas celtas e melodias que façam pensar nessa base cultural. Para fazer sobressair ainda mais o lado Folk e celta, também recorremos a diferentes estilos vocais incluindo voz limpa e coros e assim criámos uma atmosfera mais autêntica. Não posso concordar mais com uma afirmação da vossa editora incluída no material promocional: “The album […] sounds as fresh and powerful as if the band had sprung from a fountain of youth […]”. Queres comentar esta apreciação? Ficamos muito gratos à nossa editora por esse comentário, que nos deixa muito lisonjeados, como não podia deixar de ser. A MDD também afirma o seguinte: “The album, whose title translates as “Armageddon”, […] concludes the “Realms of Odoric” trilogy, which began in 2016 with the album of the same name.” - Podes falar um pouco desta trilogia para elucidar os nossos leitores? A trilogia “Realms of Odoric” corresponde a uma série de álbuns que exploram uma narrativa coesa situada num mundo fictício inspirado por vários elementos mitológicos e folclóricos e «Darkanakrad» corresponde ao seu

pináculo. Foi escrita e desenvolvida – tanto a nível gráfico como lírico – pelo Kris Verwimp, nosso amigo de longa data. Toda a trilogia se baseia num projeto que envolve artwork e banda sonora que o Kris e o Arkadius lançaram em maio de 2013. - Podes explicar-nos por que razão este álbum encerra a trilogia? Funciona como uma espécie de ápice da história e da personagem desenvolvidas desde 2016 pela mão do Kris Verwimp, que – a propósito – também é o autor do fantástico artwork e das letras da banda de há uns largos anos para cá. Cada álbum desta trilogia junta mais cambiantes à narrativa, combinando mitologia e emoções. Este lançamento alcança o topo e põe fim à jornada dos protagonistas. «Darkanakrad» combina a sua luta e a sua evolução e reflete sobre as consequências das suas opções, ao mesmo tempo que sublinha a vertente de redenção e transformação. - Podemos ver cada canção neste álbum como mais um capítulo da saga de Odorico? Sem sombra de dúvida. Cada faixa contribui à sua maneira para a narrativa global, tal como os capítulos de um livro, e ajuda a desenvolver a história e os temas da trilogia. Quando leio o título “Realms of Odoric”, penso logo no Kris Verwimp (embora o Arkadius seja coautor da série). - Como trabalharam com ele para criar a magnífica capa deste álbum? Já há muitos anos que trabalhamos com o Kris, sempre com muito sucesso e satisfação. Integrase sempre a cem por cento no processo de criação do álbum, do início ao fim, desde a primeira demo até às versões finais das canções. Desta forma, o conceito lírico e as primeiras ideias para o artwork acabam sempre por se coadunar na perfeição com a música e as letras também fazem parte da sua participação no

processo. Foi assim que surgiu o artwork para «Darkanakrad», que mais uma vez é uma obra e arte, na minha humilde opinião. Adorei! - Em que sentido a figura humana que aparece na capa do álbum se relaciona com o fim do mundo eminente? E com a saga de Odorico? Globalmente, pode-se dizer que a figura humana simboliza as lutas pessoais e coletivas a que a narrativa faz alusão, jogando com temas como o destino, o sacrifício e a perenidade, que é a pedra de toque de «Darkanakrad» e da saga de Odorico, como não podia deixar de ser. Este é o vosso décimo quinto álbum – como já foi referido – e marca o trigésimo aniversário da banda. - Como se sentem perante estes dois factos? É uma loucura, não é? Quem poderia imaginar tal coisa, quando a banda começou há muitos anos atrás! Atingir os 30 anos da banda é algo incrível e um tanto surreal. Sentimos um misto de nostalgia, de orgulho e de excitação ao pensar no futuro. Com o lançamento de «Darkanakrad», sentimos que estamos a celebrar a nossa jornada ao mesmo tempo que avançamos em direção ao futuro. - Têm a intenção de fazer algo especial até ao fim de 2024 (relacionado ou não com este álbum)? Neste momento, estamos totalmente focados no lançamento e em tudo o que se relaciona com ele. Isso inclui toda a fase de promoção e de marketing até à previsão de concertos para um futuro próximo. Já temos alguns confirmados para o próximo ano, mas virão mais. Estamos a melhorar o lado do merchandising e a pensar num formato especial. Vamos ver – mas podem já começar a entusiasmar-se, enquanto esperam para ver o que o futuro nos reserva.

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U

ma banda de contrastes

Entrevista: CSA e Helder Mendes

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À conversa com Aorlhac acerca da reedição da sua trilogia dos ventos pela LADLO, descobrimos uma banda feita de contrastes, que combina uma identidade moderna com a preservação de memórias culturais do passado da região de onde são oriundos os seus membros.


CSA/Helder – Saudações! Esperamos que estejam todos bem. CSA – Encerrei a entrevista a Jours Pâles pedindo ao Spellbound notícias de Aorlhac e cá estamos a entrevistar-vos também para a Versus Magazine. O que andam a fazer desde 2021, o ano em que lançaram «Pierres Brûlées» - o vosso último e veemente álbum? [É excelente!!!] Spellbound – O álbum saiu numa altura complicada em que ainda imperava a pandemia. Isso significa que, à exceção de alguns concertos em sítios fantásticos e das habituais entrevistas promocionais ligadas ao lançamento de álbuns, tudo ficou um tanto estagnado para nós depois da saída de «Pierres Brûlées». É claro que com esta maravilhosa reedição dos três primeiros álbuns da banda e o facto de termos um novo na calha e uma formação renovada, vamos poder voltar à ação e pensar em participar em alguns festivais

durante o verão de 2025, o que nos deixa muito entusiasmados. CSA – Como apresentariam este álbum a alguém que ainda não o tivesse ouvido? Spellbound – Penso que posso dizer que segue a linha do anterior, embora talvez seja um pouco mais agressivo e cru em algumas partes, mas sempre muito melódico, reivindicativo e violento. Em suma, tem a marca de Aorlhac. Este álbum assinala vários momentos de evolução, até porque se apresenta como uma rutura. É o primeiro que não faz parte da trilogia dos ventos, já que os nossos três primeiros álbuns estavam ligados por temas e assuntos bem definidos. Por outro lado, optámos por uma nova fórmula de produção, dado que, pela primeira vez na nossa carreira, confiámos a produção a um engenheiro de som que não faz da banda, mais concretamente a Fred Gervais do Henosis Studio. De facto, desde o início, a nossa banda funciona em

circuito fechado, porque o NKD se ocupava de tudo o que dizia respeito à gravação e à produção sonora, além da composição de toda a música. «Pierres Brûlées» rompeu com alguns dos nossos hábitos. As temáticas também evoluíram, porque agora as letras centram-se mais em Cantal, a região vulcânica de onde vem a maior parte dos membros da banda, que assim foi promovida a principal foco dos temas abordados. CSA – E agora a LADLO apresenta-nos as reedições de dos vossos três primeiros lançamentos: «À la Croisée des Vents» (2008), «La Cité des Vents» (2010) e «L’Esprit des Vents» (2018). O que é que cada um deles trouxe à vossa carreira? Spellbound – Estes três lançamentos moldaram a identidade sonora e visual do grupo, nem mais. Fomos evoluindo como músicos e seres humanos à medida que íamos criando estes

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álbuns. «À la Croisée des Vents» (2008) e «La Cité des Vents» (2010) representam uma faceta bastante artesanal e juvenil do projeto, enquanto que «L’Esprit des Vents» (2018) – que chega muito mais tarde – é o álbum da maturidade, com uma melhor produção sonora e um nível técnico globalmente mais elevado em relação aos discos anteriores. Este último permitiunos ultrapassar muitas etapas importantes como banda, foi um verdadeiro cartão de visita que nos deu a possibilidade de tocar em lugares melhores, em França e em bastantes países da Europa. Também foi o álbum que nos permitiu assinar contrato com essa editora fantástica: Les Acteurs de l’Ombre. Penso que a evolução entre os três álbuns é visível, já que cada um deles viu a banda avançar em todos os níveis e, por essa razão, creio que é difícil separálos uns dos outros. É preciso ver a discografia da banda como um todo em que cada peça tem a sua importância, desempenha o seu papel. No que diz respeito às reedições, há muito tempo que a editora e a banda andavam a pensar que tinha chegado a altura de relançar estes álbuns, sobretudo porque já não estão disponíveis no mercado, logo chegou a altura de os promover e de os pôr novamente à disposição dos fãs. Helder – E por que razão «Pierres Brûlées» não foi incluído nessa iniciativa da vossa editora? Spellbound – Muito simplesmente porque não faz parte da trilogia dos ventos e – tanto quanto eu sei – ainda está disponível no mercado, portanto não faz sentido pensar numa reedição, pelo menos para já.

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grande oponente dos poderosos romanos, que lhes infligiu muitos revezes numa guerra que decorreu entre 111 e 105 AC. Foi precisamente o contraste entre a natureza medieval desta gravura, o lado brutal da execução que retrata e o seu lado etéreo dado pelas cores e pela representação da natureza que chamou a nossa atenção. Essa ilustração pareceu-nos uma representação fiel da natureza de Aorlhac.

Num mundo ultra conectado, em que tudo anda depressa demais, parece-nos mesmo primordial promover o nosso património local e as nossas tradições, a nossa história e as nossas raízes.

CSA – Em «À la Croisée des Vents», a canção relativa à gesta do “Charroi de Nîmes” tem um início muito Rock. A que se deve esta opção musical? Spellbound – Já não me lembro como é que isso aconteceu. Talvez tenha sido obra do Ash, o nosso antigo baixista, ou do NKS?!!! De qualquer modo, é a prova cabal do nosso ecletismo em matéria musical, haha! É claro que rompe com o espírito do Metal extremo que domina na banda, mas todos sentimos que um pequeno desvio musical traria alguma frescura ao álbum! Vais encontrar o mesmo efeito em “1693-1694: Famine et anthropophagie”, uma canção do mesmo álbum. NKS – Tenho a impressão de que criei esse riff durante o período em que estive a compor a música para «À la Croisée des Vents» entre 2006 e 2007. Embora inicialmente não tivesse sido feito para Aorlhac, de acordo com o Ash, decidimos integrá-lo nesse álbum. Como disse o Spellbound, essa ideia permitiunos depois apresentar marcas de outros estilos musicais e evitar ficarmos encerrados num Black Metal castrador. CSA – E onde encontraram a ilustração para a capa do álbum? [É muito medieval!] NKS – Trata-se de uma gravura de Boccaccio tirada da sua coletânea “De casibus virorum illustrium”, que data do século XIV. Representa a morte de Jugurtha,

CSA – Calculo que a atenção que dão ao vento tem algo a ver com a região francesa de onde os membros da banda são oriundos, não é assim? Spellbound – Digamos que, no imaginário popular, o vento surge como um mensageiro ou como um elemento destruidor. E, de facto, Saint-Flour, uma cidade situada no nosso departamento, está muito ligada ao soprar do vento, devido à sua situação geográfica e à sua história global. Camille Gandilhon, crítico literário e poeta, já falava desta cidade nos anos 30. Alguns dos textos de «Pierres Brûlèes» inspiravam-se na sua obra ou retomavam alguns dos seus aspetos. Portanto, pareceu-nos que fazia sentido definir a trilogia a partir desse elemento. CSA – Por que razão fazem referência a “pedras queimadas” no título do vosso último álbum? Spellbound – Muito simplesmente porque a Auvérnia é uma região vulcânica, o que confere a certas partes do território um ar particularmente frio, austero e pouco acolhedor. Pareceu-nos que essa expressão resumia bem o álbum e dava um bom título para este. Em suma, «Pierres Brûlées» evoca a Auvérnia e o Cantal.


“ Helder – E por que razão, num mundo globalizado e mais ou menos uniforme, vos parece importante apresentar a vossa perspetiva local? Por que é tão importante para a banda dar a conhecer a Occitânia? Spellbound – Num mundo ultra conectado, em que tudo anda depressa demais, parece-nos mesmo primordial promover o nosso património local e as nossas tradições, a nossa história e as nossas raízes. É um trabalho de memória que é importante fazer e é inegavelmente o objetivo e marca da identidade do projeto, que pretende relembrar a nossa cultura, desconhecida da maior parte das pessoas ou simplesmente esquecida. Fazemolo sobretudo por nós, mas se assim conseguirmos fazer descobrir a nossa região, tanto melhor! CSA – Como reagem os vossos conterrâneos ao verem a história da sua região divulgada por uma banda de Black Metal? [Eu ficaria encantada!!!] Spellbound – Não faço ideia nenhuma, mas creio que é inevitável que os temas abordados pela banda chamem a atenção de pessoas que se sentem igualmente atraídas pela preservação da sua história, algo de muito telúrico e

carregado de referências mais ou menos comuns. Helder – Que características do Black Metal vos parecem fazer deste subgénero o meio ideal para transmitir a vossa mensagem? Spellbound – Não sei se é o vetor ideal para transmitir a nossa mensagem, mas é aquele que dominamos melhor. O Metal extremo continua a ser um nicho e algo essencialmente confidencial. Logo, não será propriamente o melhor aliado para divulgar algo. De qualquer modo, não estou certo de que seja esse o nosso grande objetivo. Mas essa energia que ressalta dos títulos dos nossos álbuns e a que as pessoas aderem – ou não –, essa atmosfera ultrapassa os textos e os temas que estes evocam. Helder – Aorlhac e Jours Pâles partilham músicos e a editora. Como fazem a gestão do vosso tempo? Ainda por cima 2024 parece estar a ser um ano muito intenso. Spellbound – Felizmente, nem todos os membros fazem parte das duas bandas e até agora não temos tido problemas de organização. Temos conseguido gerir as várias etapas das vidas das duas bandas de tal forma que uma não intercete

[«Pierres Brûlées] assinala vários momentos de evolução, até porque se apresenta como uma rutura […]

a outra. Às vezes, é preciso fazer um pouco de malabarismo, mas, de um modo geral, se nos organizarmos bem, tudo funciona na perfeição. Enquanto Jours Pâles atravessa um período de hiperatividade lançando um álbum por ano ou, na pior das hipóteses, de dois em dois anos, Aorlhac adotou uma maneira de proceder mais calma. Além disso, em Aorlhac, é o NKS que se encarrega de quase todo – se não mesmo todo – o trabalho de composição enquanto eu trato “apenas” das letras e da voz. Isso deixa-me uma boa margem de tempo para me ocupar de Jours Pâles. Hélder – Aorlhac é uma entidade bem distinta a nível musical e lírico. Quais são os vossos projetos para o futuro? Spellbound – Continuar a fazer evoluir a banda para que esta atinja o seu potencial máximo! Neste momento, estamos focados no sucessor de «Pierres Brûlées». Deverá ser lançado em 2026. Também estamos a trabalhar com a Eclosion Booking de Simon Roussel para desencantar concertos para o ano de 2025.

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CRITICAS VERSUS A M E N C O R NE R

«Written By The Devil» (Hammerheart Records) Os brasileiros Amen Corner aguentam já com 32 anos de carreira, são uma das lendas da Cogumelo Records e têm-se movimentado no underground de forma bastante regular. Em termos de estatuto há quem os coloque perto de uns Sarcófago, sempre com a etiqueta do black metal à vista. «Written By The Devil» é o seu sétimo filho, e sobre ele é importante ilustrar o tipo de black metal que aqui se encontra. Munindo-me de rótulos, passo a explicar que o que encontramos neste conjunto de 9 canções será mais algo a que se chame de dark metal do que black. Os temas são na sua maioria lentos, sem espaço para ataques de fúria vertiginosa. É um disco de heavy metal com uma aura bastante obscura, tenebrosa e com riffs e leads de guitarra a apontar para o doom. Toda a imagem que adorna este disco, assim como os nomes escolhidos para os temas que o compõem constroem uma união de trejeitos demoníacos, mas que ao contrário do que o rótulo do black metal pudesse fazer antever, somos antes guiados por cenários onde há mais contemplação cénica do que propriamente agressividade. De boas ideias está o inferno cheio e este álbum é mais uma delas. Tudo parece muito bem pensado para caber numa determinada prateleira da música extrema, mas faz falta a surpresa que salta do escuro e que nos atormenta verdadeiramente. [6,5/10] EMANUEL RORIZ

ANCIIENTS

«Beyond the Reach of the Sun» (Season of Mist) Quem tem saudades dos primórdios dos Opeth terá aqui uma boa opção para ir buscar um pouco de inspiração para umas boas audições. É sempre um risco estabelecer comparações pois nos dias de hoje há sempre alguém a fazer algo que outros, mais ou menos conhecidos, já terão feito ou perto disso. Portanto fiquemos por aqui então em termos de comparações. O que estes Anciients fazem, fazem-no bem. E apresentam-nos um conjunto de 10 temas que são um convite a múltiplas audições. Uma excelente combinação de Rock e Death Metal claramente no espaço progressivo, que é um espaço já preenchido por outros mas que, provam estes Canadianos, é sempre possível ser ocupado por mais uns quantos desde que o resultado final o justifique. Para quem é fã e perito em Rock/Metal progressivo já terá uma ideia do que há neste «Beyond the Reach of the Sun». Claro que seria sempre possível ir mais longe. Penso que o álbum poderia estar mais sujo por solos mais assertivos, menos melódicos e com mais personalidade. Há no entanto que notar que este é um trabalho que fica algures entre a transição de um Rock mais pesado e o Metal. Como tal fica uma certa falta de vinco para se perceber se o resultado final, esteticamente falando, seria o que se ouve, ou se, por outro lado, terá a ver com uma certa limitação, não necessariamente de talento, mas que obrigue a banda a ter sido menos acutilante e a optar pelo certo e seguro. O facto de estarem ligados à Season of Mist diz também que a aposta atinge os requisitos mínimos de qualidade. Arrisco para terminar, a ideia de que é um álbum perfeitamente candidato a ficar na playlist de alguns dos leitores que o ouçam. [8/10] SERGIO TEIXEIRA

ARÐ

«Untouched by Fire» (Prophecy Productions) Depois dum excelente primeiro disco que suscitou as melhores reacções um pouco por todo o mundo («Take Up My Bones» foi álbum do mês na VERSUS Magazine #60, em 2022, com 9.5/10), Mark Deeks (dos Winterfylleth) está de regresso com este seu projecto a solo para nos propor nova viagem no tempo à Bretanha medieval, uma vez mais ao som da sua versão peculiar de doom metal, já cunhada como ‘Monastic Doom’ por causa do predominio dos cânticos monásticos responsáveis pela atmosfera de solenidade que envolve toda a música. Sendo uma evidente continuação do disco de estreia, este segundo álbum decalca com precisão o mesmo modelo de composição baseado em linhas contemplativas

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de piano, arranjos nostálgicos de violoncelo (desta vez executado por Robina Huy) e belos riffs melódicos (da guitarra de Dan Capp, dos Wolcensmen) em linha com a melhor tradição do doom britânico celebrizado por nomes como My Dying Bride e Paradise Lost. Os primeiros quatro temas do alinhamento, particularmente “Name bestowed” e “He saw nine winters”, reunem o melhor de todos estes elementos redundando em peças que ombreiam com o material de «Take Up My Bones». Já os dois últimos numeros acusam alguma repetição de ideias e a ausência daquela magia única que tem o dom de nos tocar lá no fundo da alma. Conceptualmente focado numa outra personagem histórica da ancestral Northumbria (no primeiro disco o herói foi o eremita São Cutiberto), desta vez a figura mitica do rei Oswald (604 – 642), o monarca guerreiro a quem se atribui a unificação dos territórios do norte da Grã Bretanha, «Untouched by Fire» é um trabalho notável e que se recomenda vivamente, mas de avaliação algo ingrata face ao elevado nível da fasquia fixado pelo disco anterior. [8/10] ERNESTO MARTINS

AVESSO

«Desassossego» (Raging Planet / Roma Inversa) A norte o quarteto Avesso encontra na mesma podridão social a sua musa, embora o quarteto seja filosofal e, consequentemente, mais um “falso light”. Compostos por elementos vindos de áreas tão díspares como o Jazz ou o Grind, o quarteto é mais do que uma banda um projecto artístico, sem amarras e encontra nos escritos de Pessoa e Omar Khayyan algumas das maiores influências. Com música cerebral e pensada, o quarteto faz da sua estreia um, quase, manifesto social onde o pensamento e a razão contrastam com a condição humana e tudo o que a corrói por estes dias, sem que isso magoe, embora magoando quando se observa o estado “podre” de um Mundo em modo destrutivo. “Desassossego” é um disco feito de urgência, um disco que pretende despertar a consciência (cada vez mais) adormecida e incapaz de reagir perante a sua própria degradação. Ao longo dos 14 temas a banda traz a luz e a esperança intercalada com o negrume e uma, quase, mendigação social numa total ausência de agregação que contrasta com um desfasamento que começa no indivíduo e extravasa para a sociedade cosmopolita. “Desassossego” é um lançamento conjunto Raging Planet e Roma Inversa. [8.5/10] NUNO C. LOPES

BLACK TU S K

The Way Forward (Season of Mist) O nome deste novo disco dos Black Tusk, que é já o seu sétimo, não esconde nada sobre qual é a mensagem incrustada nas suas canções. «The Way Forward» fala precisamente sobre colocar a vida de volta nos eixos, baixar a cabeça, canalizar energias, utilizar os acontecimentos actuais como fonte de criatividade e seguir em frente. É uma temática que lhes veste muito bem, olhando a todos os adornos de hardcore, punk, sludge, que levam bordados na camisola. Ao todo são 11 os novos temas, muito pessoais, todos eles carregados com uma energia muito semelhante, forte, intensa, muito bem amplificada pelo uso de vocalizações simultâneas, onde por vezes, podemos ter três a quatro elementos do grupo a emprestar a voz a uma das canções. Aqui, todos têm direito ao micro, contribuindo para um sentimento de espontaneidade palpável, já que para alguns do elementos, ficou aqui registada a primeira experiência como vocalistas. «The Way Forward» fica também marcado por uma renovação profunda na formação do grupo, sendo também o primeiro disco dos Black Tusk em que temos uma dupla de guitarristas ao serviço da fúria. Neste disco, é assim notório a existência de um trabalho mais dinâmico e aprofundado em termos de composição baseada na guitarra. Sem que tenha canções orelhudas ou faixas que se destaquem mais do que outras, este é um disco com aquela linha que o liga de início ao fim e que podemos seguir sem grande esforço mas com uma boa dose de prazer. [7.5/10] EMANUEL RORIZ

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B L E E D SK IN

«Homicidal Therapy» (Independente) Há mudanças que vêm para o bem e a alteração dramática de formação por que passaram os Bleedskin parece confirmar esse adágio popular. É pelo menos essa a impressão que fica depois de se escutar, em sequência, o álbum de estreia «Blood Reign», que a banda registou ainda como quinteto em 2020, e este novo, «Homicidal Therapy», composto e gravado pelo line-up dos três membros fundadores a que banda belga ficou reduzida recentemente. Embora o death metal subjacente a ambos os discos se mantenha fiel a uma mesma fórmula com referências em Cannibal Corpse, Dying Fetus e Benighted, as diferenças de abordagem são notórias. Enquanto que o primeiro álbum é muito caótico, com todos os temas permanentemente disparados à máxima velocidade, a música no novo disco inclui também trechos a meio tempo com influências thrash, e malhas apelativas que conferem uma identidade distinta a cada tema. A música não deixa de ser death brutal reduzido ao essencial do género, sem mostras de virtuosismo nas seis cordas e com ênfase na proverbial metralha cirúrgica mas impiedosa que parece levar tudo à frente. No entanto vê-se que a banda fez das tripas coração com o reduzido vocabulário sónico de que dispõem, criando, numa escassa meia hora, o suficiente em termos de riffs apelativos e padrões rítmicos memoráveis capazes de assegurar um permanente estado de alerta. “Deadly chase”, “Murderous madness” e a irresistível “From hunted to hunter”, com o seus riffs à Slayer, são alguns dos excertos mais notáveis. O duplo ataque vocal portentoso da guitarrista Céline Mazay e do baixista Rémy Adam fazem o resto para tornar este «Homicidal Therapy» num tratamento que os fãs do género vão querer experimentar. [6,5/10] ERNESTO MARTINS

CORPUS DIAV O L IS

«Elixiria Ekstasis» (Les Acteurs de l’Ombre) Os Corpus Diavolis já andam nisto há tempo suficiente para perceberem o que é necessário para entregar um produto black metal sólido. Para os menos familiarizados com a carreira destes gauleses, basta a introdução em latim para “His wine be death”, uma missa negra em torno do chifrudo, para explicar e resumir com que linhas se cose «Elixiria Ekstasis»: black metal de temáticas satânicas e sexuais, pois é a isto que os Corpus Diavolis se dedicam de corpo (e alma) diabólicos desde o início (temas, aliás, tão bem reflectidos na capa criada para «Elixiria Ekstasis»). Deixando de lado a parte conceptual, o que se apresenta, embora nada tenha de “fora-deste-mundo”, é suficientemente intrigante pelo modo como concilia vertentes distintas: embora este seja um black metal atmosférico na sua essência, maioritariamente exibindo riffs rápidos capazes de recordar uns Mayhem (“Vessel of abysmal luxury”), não hesita ainda assim em intrometer outras valências, como passagens mais lentas e quase post em “Cyclopean adoration”, dissonâncias e vozes limpas (mas não menos negras) em “The golden chamber”, ou motivos orientais na final “Chalice of fornication”. Uma palavra apenas para a produção de «Elixiria Ekstasis»: não pondo de lado a crueza – afinal, estamos a falar de black metal –, é cristalina e cheia o suficiente, por exemplo no que à captação do baixo diz respeito, para elevar este conjunto de temas a outro nível. [8/10] HELDER MENDES

D-A-D

«Speed of Darkness» (AFM Records) Com 40 anos de existência os dinamarqueses D-A-D continuam numa overdose de criatividade que, aliada a uma colaboração inabalável entre os músicos da banda, faz com que consigam trazer mais um álbum. Não tendo um tema que seja arrebatador, o trabalho beneficia de uma produção estratosférica, onde cada nota, cada acorde, cada toque da baqueta seja na tarola, num prato, onde a voz de Jesper Binzer se fazem ouvir, todos em simultâneo com uma definição verdadeiramente estonteante. Porém este trabalho, luta contra outros trabalhos da própria banda. Por comparação com o mítico «No Fuel Left for the Pilgrims», ou até com o mais pesado «Helpyourselfish» este é um trabalho menos vincado, menos diferenciado. Resulta de uma seleção de 14 temas de um conjunto de 40 canções que os músicos criaram desde 2019, mas que não revolucionam o mundo do Rock. Boas canções, bons temas mas não se elevam para um patamar

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que marque a história deste género musical. Poderá ou não marcar a história da banda? Depende. Lançar um trabalho em 40 anos de carreira é por si só um marco, mas em termos musicais é difícil de antecipar se irá para limiares de popularidade que permitam invadir as rádios e festivais de verão até à loucura. No último concerto que deram no Hard-Club, em 2019, puseram toda a gente a cantar “Sleeping my day away”. Prevejo que os temas novos não colham o mesmo entusiasmo na próxima tournée europeia da banda. Se tivesse de apostar, as fichas iriam todas para o tema “Automatic survival”. Uma coisa é certa: faz todo o sentido recomendar este «Speed of Darkness» a quem for apreciador de Hard Rock. [8/10] SERGIO TEIXEIRA

DESTRO

«Night of Vengeance» (Avantgarde Music) Foi com algum espanto e entusiasmo que encontrei na esfera de discos que chegam à Versus, um artista da área do Synthwave. Julgo ser um estilo com uma progressão considerável pela frente e atualmente os melhores ou mais conceituados artistas dentro deste género ficam-se por uma projeção mediática residual fora do submundo Synth/Retro/Cyber. Poderia este «Night of Vengeance» ser apenas um álbum que tivesse tido, quiçá, uma ajudazita, se calhar não merecedora da editora, porém é um trabalho que espelha bem todo o conceito Synthwave. Está muito longe de ser um dos álbuns mais “pesados” do género musical cuja filosofia passa por muitas abordagens estéticas, mas a dureza do metal encontra raramente acolhimento nas composições. Um aparte aqui para mencionar o projeto Volkor X que, dentro do que conheço, é um porta-estandarte e referência, e que nos seus trabalhos alia alguns elementos um pouco mais musculados, mas, lá está, sem entrar em patamares ligados a música extrema. Mas relativamente este «Night of Vengeance» do projeto Destro (criado pelo Finlandês Ville “V-KhaoZ” Pallonen), escutamos o conceito com música integralmente assente em digital e programação, não se ouve sequer vislumbre de uma guitarra elétrica. Onde pode falhar rotundamente um álbum Synthwave é ao limitar-se a ser um punhado de temas desligados. Ora, neste trabalho existe um fio condutor, uma história, uma narrativa quase cinemática. Todos os temas estão muito equilibrados e não há quebras nem roturas face ao fio condutor que nos transporta do primeiro ao último minuto. [8.5/10] SERGIO TEIXEIRA

F E B R U US

«Surveillance Orgy» (Transcending Obscurity Records) Basta o primeiro minuto da faixa de abertura, “Gentrification of the soul”, para percebermos que estamos perante um daqueles petardos de death metal vertiginoso pejado de piruetas técnicas capazes de nos dar a volta ao miolo. Uma audição mais prolongada revela, no entanto, um trabalho ambicioso, assente num estilo muito próprio que se destaca dos extremismos técnicos habituais por se expandir vagamente para o lado progressivo e até vanguardista. O disco em causa é o álbum de estreia dum projecto a solo do multi-instrumentista sueco Andreas Karlsson que começou a desenvolver esta abordagem há pouco mais de três anos, tendo gravado as primeiras ideias numa demo homónima em 2021 à qual se sucedeu um EP em 2022. «Surveillance Orgy» consegue demarcar-se do trivial do death metal chegando, pontualmente, a aproximarse da genial insanidade que caracterizou o estilo dos lendários Disharmonic Orchestra ou mesmo os Pan-Thy-Monium. Fique claro, contudo, que estamos a falar de música assente numa base esmagadora com frequentes cavalgadas alucinantes a mil à hora e vocalizações que variam entre o profundamente cavernoso e os berros desesperados. A parte emocionante, e aquela que nos deixa mesmo de queixo caído, são as barragens caleidoscópicas de riffs complexos pouco ortodoxos, as progressões tresloucadas, o virtuosismo melódico, a constante imprevisibilidade, e até mesmo a longa e inesperada passagem psicadelicamente doomy que integra parte do épico de catorze minutos “Resignation syndrome” que fecha o álbum. «Surveillance Orgy» é um trabalho bem conseguido, que vicia à medida que o vamos descodificando. É também mais um excelente lançamento com o cunho de uma editora que raramente desilude. [8/10] ERNESTO MARTINS 2 7 / VERSUS MAGAZINE


FÖHN

«Condescending» (These Hands Melt/Hypaethral Records) Se em meteorologia o efeito föhn corresponde à produção de calor (ao aumento de temperatura que uma corrente de ar sofre ao transitar do barlavento para o sotavento de uma montanha), na música Föhn é sinónimo de frio e desolação. Neste álbum de estreia, a formação de Atenas mostra dominar com competência toda a retórica do funeral doom celebrizado por autoridades do género como Esoteric, Mournful Congregation e Ahab. Estamos portanto a falar de um trabalho feito de riffs de megatoneladas, toadas sombrias e rastejantes e melodias pungentes capazes de arrancar lágrimas a corpos sem vida. Mas o que encanta de imediato em «Condescending» são os 14 minutos do tema de abertura, “Bereft”, pontuado por contundentes riffs dissonantes que marcam o compasso inexorável de uma marcha fúnebre dominada pela atmosfera doentia que as notas caóticas free jazz dos saxofones de Dimitris Pantelias e Viktor Karamanis conseguem induzir. Uma inédita abordagem vanguardista que, infelizmente, não mais se repete no disco, embora estes músicos convidados voltem a intervir mais adiante, em “Persona”, faixa que inclui samples do testemunho na primeira pessoa de uma vítima real de tráfico humano. “A day after” pauta-se por uma composição mais tradicional, fazendo sobressair uma fantástica divagação melódica, forte em teclados, nos três minutos finais. “The weight of nothing” segue fórmula idêntica, com longos fraseados de guitarra a serpentear por entre riffs esmagadores, e todos os demais condimentos do doom mais vagaroso do espectro. Com quase uma hora de duração, «Condescending» é um trabalho que chafurda em desespero existencial, recomendando-se só a quem não se cansa da miséria e autocomiseração tão características do estilo. [7/10] ERNESTO MARTINS

H Ä X E N ZIJ R K E LL

«Portal» (Amor Fati) O nome desta editora pode até ter o vocábulo “Amor”, um sentimento que em Português quer dizer o mais belo dos sentimentos (estou aqui a excluir correntes filosóficas antagónicas ao que acabo de escrever), porém este trabalho é um autêntico «Portal» para as manifestações de tudo o que são inspirações vindas das profundezas do inferno, e que colocam toda a possibilidade do vislumbre de bondade, a anos-luz de distância, para não dizer num universo paralelo inalcançável. Esta conotação com uma génese vil e sulfurosa vem sobretudo de escolhas na produção e da sonoridade, uma mistura de Black Metal com Doom que confesso não me ser particularmente familiar. O resultado é o que interessa e este terceiro álbum dos Häxenzijrkell traz algo que pode ser considerado original. Por vezes a escolha de linha melódica parece-me demasiado óbvia, noutras surpreende. Talvez a abordagem analítica a este trabalho não seja a melhor, mais vale quem o escutar, deixar-se levar para o universo ao qual ele nos quer levar e ficar por lá, a flutuar entre segmentos existenciais obscuros sem resistir. E aí este álbum, na minha opinião destaca-se. Não se trata de uma obra-prima, longe disso. É no entanto suficientemente estranho e desafiante para se ficar indiferente. E é quase impossível não sermos capturados pelos mensageiros dos demónios que nos deixam entre a repulsa, ou a sedução por um espectro maléfico. Não é possível fechar esta crítica sem mencionar que a sonoridade é o grande ponto que pode dividir para um lado o desprezo, por outro a adoração por este trabalho. [7.5/10] SERGIO TEIXEIRA

J O U R S PAL ES

«Dissolution» (Les Acteurs de l’Ombre) “Taciturne”, a faixa que abre este «Dissolution», já o terceiro longa-duração destes gauleses, resume bem o estado de espírito que paira sobre este disco: melancolia, desencanto, niilismo. A dupla Spellbound e Stéphane mostra-se claramente agastada com o estado de coisas caracterizado por este ser-no-mundo e, como já sabemos pelo menos

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desde Schopenhauer e Nietzsche, o modo mais eficaz de fazer algo dessas sensações é através da criação artística. É assim que devem ser lidas e escutadas “Noire impériale”, “Dissolution”, “Terminal nocturne”: tratam-se de tentativas de sublimação do desencanto e sua subsequente catarse via black metal. E, neste plano, «Dissolution» é um álbum que cumpre, apoiado na proficiência técnica de Stéphane na guitarra, muitas vezes com apontamentos que vão buscar inspiração no heavy metal tradicional, nomeadamente no que aos solos diz respeito. Outro destaque dos Jours Pâles encontra-se na voz feminina que colabora em “Les Lueurs d’Autoroutes” e “Dissolution”, a qual foge ao habitual registo operático/sinfónico, estando mais próximo de um acrescento étnico/world. Um mero pormenor que confere um certo carácter original à proposta global dos Jours Pâles que, não sendo propriamente inovadora nem state of the art, não deixa ainda assim de cativar. [7.5/10] HELDER MENDES

M ALCONF O RT

«Humanism» (Transcending Obscurity Records) Não é fácil falar sobre este álbum, quanto mais defini-lo. Porque nada neste «Humanism» é simples. Caracterizando-se como black metal experimental, os Malconfort bebem obviamente dos Deathspell Omega, mas não podem, apesar disso, ser comparados aos vanguardistas gauleses. As influências dos Malconfort são mais extensas e daí a mistura soar realmente experimental, um pouco como se Ihsahn se juntasse aos Imperial Triumphant e aos Oranssi Pazuzu e alguém no meio desta salganhada colocasse a disparatada pergunta: “malta, e se fizéssemos prog rock?”. E assim se criou «Humanism»: parte metal, parte prog, parte jazz, parte trip-hop, parte tudoemaisalgumacoisa, como se realmente nada do que é humano fosse estranho aos Malconfort. Tendo em conta estas munições, é muito provável que não acerte em todos os ouvidos, especialmente os menos habituados a sonoridades pouco convencionais. E é uma pena se isso suceder, pois «Humanism» é de tal modo inventivo e bem executado que merece chegar ao maior número de pessoas possível. Tratando-se de uma aposta da Transcending Obscurity, uma label que procura precisamente transcender os limites do metal, o vaticínio é o de esta ser uma aposta claramente vencedora. Para já, uma das grandes revelações de 2024 e só se lamenta a sua duração, cerca de 30 minutos. [9/10] HELDER MENDES

MA S S DISO R D E R

«Hupokrisis» (EP) (Independente) Depois de um período de silêncio, que coincidiu com mudanças de formação, onde o quinteto viu sair o seu vocalista (e membro fundador) Bruno Evangelista, os Mass Disorder voltam a dar sinais de vida através destes quatro temas que, muito mais que sinal de vida, servem para apresentar o novo frontman, Sandro Martins (Veinless). Nestes quatro temas de “Hupokrisis” o que fica é a sensação de uma banda que sabe o que quer e como quer! Abrindo com “Sem Ossos” (estreia em português) fica logo a sensação de que se respira bem nos Mass Disorder. A fusão de Thrash Oldschool e Modern Oldschool, com a identidade lirica e conceptual fica desde logo bem vincada, com os restantes temas a mostrarem que estes desordeiros estão atentos ao que os rodeia. “Burning Seasons”; “Prophets of Hypocrisy” são retratos actuais de uma sociedade que se desmorona a passos largos perante o olhar de todos. Enquanto que “The Blessing” quase parece uma (verdadeira) extrema unção, tal a pujança que apresenta. Em suma, em “Hupokrisis” os Mass Disorder apontam em todas as direções mas, o único problema é que sabe a pouco... venha o LP! [7/10] NUNO C. LOPES

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M ÒR

«Hear the Hour Nearing!» (Les Acteurs de l’Ombre) Pegando na típica receita norueguesa, os gauleses Mòr lançam para o mercado o seu primeiro longa-duração de originais e o que se pode desde já dizer é que é muito bem vindo. Se “Cave of Shadows” é um instrumental melódico/atmosférico de natureza compassada, a maior parte das faixas em «Hear the Hour Nearing!» reveste-se de riffs crus e/ou rápidos e/ou abrasivos (“Sulfur” e “Smaragdina” sendo os casos mais bem conseguidos), aqui e ali intercalados com passagens em que o tempo muda para apontamentos mais lentos (ouça-se “Letter of loss”). Mas é “Third path” a faixa que caracteriza, de modo distinto, essa natureza dual dos Mòr, ao amalgamar na perfeição as virtudes cruas e melódicas, bem como técnicas, além de contar com um baixo audível e “encorpado”. É também a partir daqui que «Hear the Hour Nearing!» começa verdadeiramente a cativar, uma vez que as duas primeiras músicas “The vanishing of matter” e “Eden” são provavelmente as menos interessantes, não querendo isto dizer que sejam fracas ou dispensáveis. Terminando, e sem cairmos em exageros, limitamo-nos a afirmar que os Mòr são mais uma boa adição ao catálogo da LADLO e a defender que «Hear the Hour Nearing!» é dos melhores lançamentos black metal da primeira metade de 2024. [8.5/10] HELDER MENDES

MU R R O

«Dissertações de um cidadão comum desesperado, prestes a cometer um atentado» (Raging Planet) Três anos (e algumas mudanças) depois de “Misantropo” os setubalenses Murro regressam com “Dissertações de um Cidadão Comum Desesperado, Prestes a Cometer um Atentado” (Raging Planet). O, agora trio, agarra nos destroços alcançados com a estreia e com a entrada de Gonçalo Ventoinha (bateria) não baralham mas voltam a dar (essencialmente) umas valentes “castanhadas” numa sociedade adormecida mas que, sem qualquer dúvida, se encontra prestes a explodir. Ao longo dos 11 temas do disco o trio abana os alicerces e atira uma realidade, tantas vezes cruel e desconcertante, com letras simples, rebeldes mas, acima de tudo feitas de histórias que podem, muito bem, ser as de cada um de nós. O trio encontra na realidade do cidadão comum o rastilho para fazer “soar os alarmes” sociais e os problemas de uma sociedade que se perde pelos motivos errados e que, a passos largos, se desagrega de si mesma. Os Murro são a verdade e realidade em estado bruto feitas à bruta e a palavra continua a ser uma arma que o trio não deixa calar. O trio está mais violento, ou talvez não, porque a vida real assim o é, violenta, cruel, explosiva. [7.5/10] NUNO C. LOPES

M Y DYING B R ID E

«A Mortal Binding» (Nuclear Blast) Confesso que já faz tempo que não oiço os My Dying Bride, mas sempre que sai um álbum novo, fico com imenso interesse em ouvir o que os ingleses trazem de novo. A descoberta e audição de «A Mortal Binding», o décimo quarto álbum de estúdio da banda que reafirma a sua posição como um dos pilares do doom metal gótico, traz a sensação de terem ficado fiéis ao seu legado, não perdendo nada daquilo que os caracteriza de forma singular na cena metálica até aos dias de hoje. Aaron Stainthorpe dá o corpo e a alma às músicas, entregando uma performance vocal visceral e emotiva. A melancolia característica dos MDB é intensificada pelos belos arranjos de violino de Neil Blanchett, que evocam uma atmosfera de sentimento pesaroso e introspecção. A bateria sólida de Jeff Singer e as guitarras e baixo pesadas completam a

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sonoridade densa e atmosférica do álbum, marcando o ritmo que define o cunho MDB. «A Mortal Binding» é uma mostra extraordinária da música dos MDB, um compêndio musical da banda. Todas as sete músicas que o compõem são de alto nível e bastantes homogéneas, mas a faixa “The apocalyptist”, com seus onze minutos de duração, destaca-se como um ponto alto do álbum, demonstrando a maestria com que a banda compõe e executa suas músicas. É notável como os My Dying Bride conseguem manter a sua identidade sonora ao longo dos anos, sem se render a modismos ou concessões. Não sei se cativará as novas gerações, mas de certeza deixará os fãs de longa e curta data musicalmente satisfeitos. [9/10] CARLOS FILIPE

NACHTM Y S T IU M

«Blight Privilege» (Prophecy Productions) É sempre com curiosidade que no meio das inúmeras polémicas, muitas a transgredir para o limite do espectro criminal, que ao surgir um novo trabalho de Blake Judd se pode esperar pelo trambolhão (musical) a todo o comprimento. Ainda não foi desta. Uma das características deste álbum é o uso da criatividade, não como um alicerce que vai desde a base dos fundamentos das composições até à forma final dos temas, mas muitas vezes como ferramenta para complementar a forma que o tema adotou e que, deixado à sua própria ‘autorregulação’, o resultado seria uma série de riffs deixados ao acaso, sem tempero. Por outras palavras, onde parece que os temas têm tudo para descambar para a insignificância, eis que surge uma mudança de riff, uma transfiguração, um solo ou uma camada adicional de guitarra rítmica ou teclados que salva à última hora a honra do convento. Esta é a perspectiva analítica com que melhor consigo descrever «Blight Privilege». Mas surge então a questão, será este um álbum puramente analítico onde estamos condenados a levar com uma sapatada que safa o tema A ou o tema B em vez de ser uma obra coesa digna de ser simplesmente escutada? A resposta, óbvia, é que é um trabalho merecedor de ser escutado. Não é possível confundir a sonoridade (Black Metal) dos trabalhos destes Nachtmystium com outra banda ou artista. E isso deve-se à criatividade de Blake Judd. O talento está lá. Um ponto que seria de melhorar, a secção rítmica, limita o resultado final. Mas Blake Judd quanto à bateria é adepto do “less is more”. È uma opção. [8.5/10] SERGIO TEIXEIRA

N O C T U R NU S AD

«Unicursal» (Profound Lore Records) Precursores (a par dos Atheist) do chamado death metal técnico, os Nocturnus são hoje recordados pela introdução pioneira de teclados, efeitos sci-fi e temáticas a condizer nas sonoridades mais brutais, fusão que registaram para a posteridade no histórico álbum «The Key», de 1990. Infelizmente, divergências criativas ditaram o rápido afastamento de um dos principais mentores do colectivo, o baterista e vocalista Mike Browning, que viria, contudo, já em 1999, a dar um segundo folgo à banda, com novo line-up e a adição de “AD” à designação original. O primeiro registo desta nova encarnação viria a surgir em 2019 na forma do álbum «Paradox», que recuperou com sucesso, quase 30 anos depois, a mística e o estilo do lendário disco de estreia. O novo «Unicursal» é contudo um disco bastante diferente. Não soando tão esmagador, é um trabalho mais progressivo e esteticamente mais rico. A composição pauta-se por parâmetros distintos, exibindo alguma da diversidade sónica explorada no álbum de 1992, «Thresholds». Com uma forte presença de teclados e percussões tribais, “Mesolitic” é talvez o tema que melhor tira partido destes elementos. “Organism 46B” e “Mission Malkuth” incluem algumas das malhas mais bem sacadas, debitadas em ritmos prodigiosos e com emaranhados de leads complexos que não dão à nossa atenção um momento de descanso. Como já é seu apanágio, Browning consegue afastar-se dos clichés do death metal – sendo esta a grande mais valia do disco – embora seja inevitável não detectar, nos quase 60 minutos de música, alguma repetição na estrutura das composições, sensação que é exacerbada pelo estilo insistentemente pontuado do vocalista. É mais um capítulo na saga interestelar do Dr. Magus, para lá das esferas místicas de Malkuth e Yesod, que esperamos se prolongue até ao infinito e mais além. [8/10] ERNESTO MARTINS

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O F F I C I UM TR IS TE

«Hortus Venenum» (Transcending Obscurity Records) Estriaram-se em 1997 com o promissor «Ne Vivam», fortemente influenciado por Paradise Lost e My Dying Bride, e este ano completam três décadas de existência, acabando de demonstrar com este novo álbum que ainda dominam a fina arte de deixar com pele de galinha os fãs mais exigentes de doom/ death. Estamos a falar daquele estilo de doom de contornos góticos, assente em poderosos riffs arrastados e melodias desarmantes de guitarra (Draconian ou os compatriotas Celestial Season saltam à memória), ao qual esta formação holandesa se dedicou desde o início, sempre com uma criatividade surpreendente. Se o álbum anterior «The Death of Gaia» foi já um dos mais notáveis do género a surgir em 2019, este sétimo registo de originais não lhe fica atrás. A grande diferença é que em «Hortus Venenum» as composições são mais directas e os arranjos relativamente mais simples, preterindo das vozes femininas e da maioria das cordas. Mas o resultado não é menos brilhante. É um disco que cativa ao primeiro contacto, com seis temas que não se prolongam para além do estritamente necessário, acabando com uma duração bem abaixo do que é costume no género. O ronco vocal imponente de Pim Blankenstein, de tão invulgarmente inteligível que é, permite perceber um trabalho lírico cuidado. As declamações em off de personagens da trama amplificam a carga emotiva (e.g. “Walk in shadows”), e além de transbordar dos habituais sentimentos de abandono e angústia a música desdobra-se por vezes em rasgos inesperados de luz ou mesmo em conclusões francamente gloriosas, como acontece em “Behind closed doors” ou, de forma mais evidente, na arrepiante “Anna’s woe”. Uma delicia para indefectíveis de doom melódico e atmosférico. [8/10] ERNESTO MARTINS

OTTONE P E S A N T E

«Scrolls of War» (Aural Music) A utilização de instrumentos de sopro em bandas de Metal já não é propriamente uma novidade. A não ser que, além da bateria, esses sejam os únicos instrumentos. É esse o caso dos Ottone Pesante (literalmente “metal pesado”), um trio italiano que se apresenta com uma sonoridade muito original baseada no processamento electrónico do som do trombone e do trompete e que, desta forma, explora uma estética singular que vai da música de charanga ao jazz extremo e até ao grindcore. É claramente uma fusão experimental inusitada, muito além de tudo o que é convenção no Metal, mas que ainda assim transborda extremidade por todos os poros. Nos sete temas que compõem este variadíssimo quarto registo de originais da banda de Francesco Bucci e Paolo Raineri é possível ouvir algo que passa bem por riffs crossover à lá Prong, sequências cacofónicas de noise, erupções frenéticas com vociferações a plenos pulmões (embora apenas três das sete faixas tenham vozes) e uma combinação fascinante de jazz vanguardista e brass music. Pelo meio destaca-se o assombroso “Men kill, children die”, uma peça orquestral de atmosfera solene e cinemática, “Late bronze age collapse” que traz o contributo de Shane Embury (Napalm Death) nos sintetizadores e “Battle of Qadesh” que culmina com a soberba prestação vocal da conceituada Lili Refrain (que marcou presença no Extramuralhas de Leiria, em 2023). Boa prestação é também a do novo baterista Beppe Mondini, que adiciona decisivamente valor à textura da música. «Scrolls of War» é um disco que se estranha à partida mas que depois não é fácil de largar. Não sei o que dizer dele no âmbito do jazz, no entanto, no contexto da música extrema, esta é sem dúvida uma das propostas mais estimulantes que ouvi recentemente. [9/10] ERNESTO MARTINS

PA R A G NO S IS

«Paragnosis» (independente) De entre a crescente amálgama de lançamentos medíocres que nos chegam, semana após semana, à redacção da VERSUS magazine, por vezes emergem trabalhos notáveis como é o caso desta edição independente dos Paragnosis. Trata-se de um EP com apenas 30 minutos, mas onde se condensa mais substancia musical do que em muitos álbuns

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recentes. A banda em causa é constituída por três jovens músicos acabados de sair da New School For Jazz And Contemporary Music de Nova York, que demonstram ter não só as competências mas também o talento para criar atractivas peças instrumentais de contornos progressivos, ao jeito duns Animal as Leaders ou mesmo até Caligula’s Horse, recorrendo aqui apenas aos três instrumentos básicos do rock. A química e o entrosamento perfeitos entre a bateria solta de Moïse Scott, o baixo criativo de Thomas Salyer e a guitarra prodigiosa de Christian Realmuto são, aliás, aspectos omnipresentes ao longo dos seis temas em oferta em que a música segue num permanente zig zag irrequieto de curvas e contra-curvas, ora enveredando por passagens mais coesas ou descontraídas, ora perdendo-se em assinaturas rítmicas imprevisíveis e variadas, sempre em busca de algo diferente, mas sem colocar em risco a coerência dos temas. Bastante mais ambicioso que o trabalho de estreia, «Clarity in Three», de 2017, e a pôr em evidência uma notável evolução técnica dos três músicos, este homónimo só peca pela produção e mistura que, apesar de trazer a chancela de Jamie Uertz dos estúdios Silver Cord (co-propriedade de Joe Duplantier dos Gojira), não é propriamente imaculada. Já a banda, essa sim é mais do que promissora, o que nos deixa com expectativas altas para um próximo trabalho. [7.5/10] ERNESTO MARTINS

P H E N O CRYS T

«Cremation Pyre» (Blood Harvest) Este já foi apelidado de disco-sensação de 2024 no que diz respeito ao death metal nacional, titulo mais do que merecido até porque assinala um salto qualitativo considerável relativamente ao auspicioso EP de apresentação, «Explosions», que os Phenocryst publicaram em 2021, também através do selo independente sueco Blood Harvest. Se o death de velha guarda (com laivos de black) do trabalho de estreia remetia para o som de bandas como Incantation ou Dead Congregation, a sonoridade sísmica, suja e down-tuned do novo «Cremation Pyre» alinha-se mais com os parâmetros dos lendários Bolt Thrower. Influência que é desde logo evidente na negritude dos riffs esmagadores do tema de abertura, “Pinnacle of death”, no arrasto doom de várias outras passagens e, já agora, também no vozeirão atroador de D.S., que lembra bem o velho Karl Willets. Mas a banda não melhorou apenas a sonoridade. As composições são aqui bem mais variadas e ricas, baseandose em texturas rítmicas elaboradas e até linhas melódicas arrepiantes, como as que se ouvem em “Volcanic winter”, chegando mesmo a surpreender na inesperada divagação psicadélica que surge nos minutos finais de “Embers of an ancient fire”. Interessante também pela malha rítmica, “Fogo nas entranhas” destaca-se por ser o primeiro original da banda na língua de Camões, embora se debruce sobre algo tão estrangeiro como os rituais associados ao vulcão Monte Bromo da ilha de Java. A vulcanologia continua a ser, de resto, o conceito lírico preferido dos Phenocryst, embora este trabalho inclua pelo menos dois temas com temáticas que se afastam das diatribes catastróficas sobre torrentes de lava, explosões freáticas e projecções piroclásticas. [8/10] ERNESTO MARTINS

P I A H MATE R

«Under the Shadow of a Foreign Sun» (Code666) São discos assim que nos fazem dar por bem empregue o tempo dispendido com lucubrações deste género. «Under the Shadow...» até pode acusar influências mais que óbvias de Opeth, no entanto fá-lo de uma forma tão criativa e com tamanha competência que somos forçados a tolerar a evidente colagem. Além disso os truques de Akerfeldt estão longe de resumir esta eclética proposta de metal extremo e progressivo, facto que se deve, em boa medida, ao variado número de músicos convidados que a banda brasileira resolveu convidar para a gravação deste terceiro registo. Aos riffs inspirados e às belíssimas linhas melódicas ondulantes de guitarra que emanam a todo o momento

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das guitarras de Luiz Felipe Netto e Igor Meira soma-se o saxofone de Jørgen Munkeby que transforma o final de “Fallow garden” numa fenomenal desbunda free jazz. O doomy “In fringes” intensifica o carácter introspectivo e melancólico que permeia todo o disco ao passo que “Canicula”, interpretado em português, parcialmente pela voz de Isadora Melo, surpreende como o número mais experimental e étnico de todo o reportório da banda. Embora Netto aplique os seus guturais com frequência (a par do seu fabuloso registo limpo) este é um álbum comparativamente menos agressivo que os anteriores «The Wandering Daughter» e «Memories of Inexistence». Curiosamente nestes dois as referências a Opeth não são tão gritantes (as influências inclinam-se para Enslaved e Ihsahn) e a música é mais vanguardista, o que nos deixa algo perplexos quanto ao rumo potencialmente menos original por que a banda enveredou. Fora isto, se avaliado como um acto criativo isolado, «Under the Shadow… » não deixa de ser um trabalho genial, que tem tudo para deslumbrar os fãs mais exigentes… de Opeth e não só. [8/10] ERNESTO MARTINS

SEAR BLISS

«Heavenly Down» (Hammerheart Records) Já contam com três décadas de actividade e são, a par dos Thy Catafalque, uma das melhores exportações do metal húngaro. E se houver justiça no mundo este oitavo longa duração deverá catapultá-los para o topo da liga de honra do black metal sinfónico. É que em «Heavenly Down» os Sear Bliss conseguiram produzir algo que finalmente consubstancia todo o potencial criativo que a banda sempre demonstrou, mas que nunca concretizou na sua plenitude. Para isso bastou apostarem forte no elemento que sempre diferenciou a sua imagem sonora: os metais de sopro como o trompete, o trombone e o barítono (saxotrompa), instrumentos que surgem, desta vez, em pé de igualdade com os teclados e as guitarras, e não como meros adornos esporádicos. Todo o vocabulário sónico do black metal seminal da banda, incluindo as melodias em tremolo, continua intacto e bem presente – manifestando-se, provavelmente, de forma até mais extrema do que no álbum anterior, «Letters from the Edge», de 2018 – mas a forte presença dos instrumentos de sopro reveste a música de uma aura majestosa de misticismo e grandiosidade que não se encontra em nenhum dos discos anteriores do quinteto magiar. É claro que toda esta opulência sónica de nada valeria sem uma dose generosa de inspiração e criatividade, valores que estão bem patentes nas oito composições do disco, começando logo nos riffs gordos e orelhudos da faixa de abertura “Infinite grey”, passando pela melodia memorável de “Watershed”, pelo instrumental “Forgotten deities”, que chega a pairar sobre o universo fantasioso dos Summoning, e por muitas outras passagens memoráveis. Quem procura black metal com um toque especial deverá encontrar em «Heavenly Down» uma experiência refrescante e única em muitos aspectos. [8.5/10] ERNESTO MARTINS

S I N I S T RO

«Vértice» (Alma Mater Records) Depois de dois discos, lançados pela Season of Mist, os lisboetas Sinistro estreiam-se pela Alma Mater Records, editora de Fernando Ribeiro (Moonspell) com este “Vértice”, disco que marca, igualmente a estreia de Priscila Da Costa na voz! “Vértice” é um conjunto de temas que “agarra” em toda a poeira que os anteriores deixaram para trás e dá um passo seguinte no trajeto do quinteto. Priscila é menos performer do que a sua antecessora, mas compensa isso com uma voz que se enterra na carne até se prender nos ossos. O Fado Doom da banda alimenta-se de uma saudade “lusitana”, feito de uma urgência (quase) palpável e de uma profundeza sem igual. Apaixonado e apaixonante, distante e próximo, por entre as dores da vida, do amor, da saudade, da perda e da chegada. “Vértice” é (mais) um grande momento de uma banda que, há muito, soltou as amarras e se deixou guiar pela força da maré que assola a alma mortal. Um regresso em grande forma! [8/10] NUNO C. LOPES

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S Y G : A R :T YR

«Citadel of Stars» (Hammerheart Records) Há álbuns que exigem zero vírgula zero de esforço para escrever a respetiva crítica. Este é um deles. Um autêntico deleite de sonoridades que concentram no mesmo espaço musical o extremo e o delicado, o épico e o banal, o transcendente e o mundano. Daemonskald, o mentor e único músico deste projeto em que revela todas as suas capacidades que vão desde a composição até à execução de todos os instrumentos. Tantas valências não são para qualquer um e obviamente este é um músico que se aproxima da genialidade. Estilisticamente, falar apenas em Black Metal seria redutor, dada a riqueza que ocupa os vários espaços sonoros deste disco. Durante os mais de 50 minutos de audição temos de tudo mas há um detalhe que acho curioso. Apesar do talento óbvio nota-se que a atenção dada aos teclados é algo limitada, muitas vezes temos por longos segmentos (por vezes chega a ultrapassar 1 minuto) tão só e apenas a nota fundamental a ser tocada nos teclados. Seria melhor para o resultado final um pouco mais de arrojo neste ponto? É difícil de dizer. O que parece é que Daemonskald acertou em apostar na velha máxima “menos é mais”. No resultado final, onde não faltam solos de guitarra que chegam a ter uma assinatura de grande complexidade e destreza, a realidade é que não faz falta adicionar mais detalhes complexos e elaborados. Por falar em solos e que marcam quase todos os temas, destaco “From the land of the North”, onde a partir dos 3m37s é a largada para bem mais de 1 minuto seguido sempre a dar-lhe, sem apelo nem agravo, na guitarra e todo o solo é extremamente bem conseguido. Haveria muitos outros pontos de interesse a destacar mas o essencial está dito. [9/10] SERGIO TEIXEIRA

TOTENGOTT

«Beyond the Veil» (Hammerheart Records) Na enciclopédia online Metal Archives são apresentados como um projecto que nasceu como uma cover band dos Celtic Frost e que começou a criar os seus próprios originais a partir de 2015. O que falta acrescentar à descrição é que, em 2024, a banda continua a soar como se fosse uma continuação do lendário grupo de Tom G. Warrior ou mesmo uma versão paralela dos Triptykon. Ou seja, nos últimos nove anos esta formação originária das Astúrias (que até se identifica colectivamente com um titulo pertencente ao álbum «Monotheist» “Totengott”) podia ter descoberto o seu próprio nicho. Mas não. Neste segundo álbum é impossível não reconhecer na crueza dos riffs arrastados e em toda a atmosfera, o negrume e a morbidez que definiram univocamente uma estética que ficará para sempre associada a Warrior e companhia. Todos os elementos essenciais estão aqui presentes e o melhor de tudo é que a aproximação ao estilo original da banda Suiça fica muito perto da perfeição, incluindo mesmo a prestação vocal impressionante de José Enrique Saavedra. Fica-se mesmo com a sensação que o objectivo foi reproduzir o mais fielmente possível uma fórmula e sonoridade algures entre Triptykon e Celtic Frost. Não falta aqui nada, nem mesmo as vozes femininas, os arranjos sinfónicos e a aura de ocultismo que permite descobrir paralelismos entre “The golden crest” e o “Requiem” dos Triptykon. Ao contrário do álbum de 2019, «The Abyss», mais doom e psicadélico, que não pareceu tão apostado em decalcar com igual precisão o estilo dos mentores da banda espanhola, «Beyond the Veil» permite encarar os Totengott como dignos portadores do testemunho sónico original criado pela mente de Tom Warrior. Um disco excelente para apaziguar a nostalgia dos fãs de Celtic Frost.… [8/10] ERNESTO MARTINS

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T Z O M PA NTL I

«Beating the Drums of Ancestral Force» (20 Buck Spin) Death metal enxertado de doom e com referências à cultura azteca, incluindo a utilização de instrumentos nativos, é a proposta original dos Tzompantli, que têm em «Beating the Drums of Ancestral Force» o seu segundo álbum de longa duração. E é um upgrade relativamente à estreia «Tlazcaltiliztli», embora continue a precisar de algumas limadelas. “Chichimecatl”, “Tetzahuitl”, “Tetzaviztli” têm aquela densidade apelativa, o som é cheio e os motivos indígenas acrescentam realmente algo ao ambiente das canções, quase como se fossem uma espécie de Nile aztecas. As “drums” também batem bem em «Beating the Drums of Ancestral Force», beneficiando o lado opressivo dos Tzompantli. Porém, e inexplicavelmente, a receita dos Tzompantli só funciona até certo ponto; é curioso verificar como as músicas começam por soar intrigantes mas acabam por abandonar esse factor surpresa no ouvinte ao fim de algum tempo. E o mesmo acontece com o álbum no seu todo. À medida que nos aproximamos do seu termo, os Tzompantli mostram sinais de fadiga e repetição, mesmo considerando que “Otlica Mictlan” e “Icnocuicatl”, que fecham este disco, não são más per se. Mas há sem dúvida margem para progressão naquilo que é oferecido pelos Tzompantli e espera-se que um futuro terceiro álbum possa elevá-los a outro patamar. Por ora, o seu valor deve-se mais ao exotismo do que à execução. [7/10] HELDER MENDES

ULCERATE

«Cutting the Throat of God» (Debemur Morti Productions) Quem aprecia Metal extremo e desafiante já percebeu que é cada vez mais difícil ficar indiferente a cada novo lançamento dos Ulcerate. Em 2002 estes neozelandeses começaram a cruzar o melhor death metal técnico com a dissonância característica do post black de última geração, desenvolvendo, de lá para cá, uma interpretação superlativa de extremismo sónico que é já uma imagem de marca, e que surge agora apurada quase ao limite da perfeição neste sétimo registo de originais. «Cutting the Throat of God» praticamente define um novo paradigma para o death metal, feito que só podia resultar do talento de músicos prodigiosos como Jamie Saint Merat e Michael Hoggard. A composição parece caótica, mas com o tempo a ordem emerge do caos. Nada é previsível e nem um segundo soa genérico, mas do intenso e complexo diálogo entre guitarra e bateria irrompem as construções mais incríveis alguma vez registadas num disco de Metal extremo. Os riffs de Hoggard são densos e esmagadores, revertendo para fraseados desolados nas muitas passagens vagarosas e claustrofóbicas. Já a performance alucinante de Saint Merat na bateria, feita de texturas obscenamente torcidas e de espasmos repentinos é, só por si, motivo de espanto permanente. A expressividade de Paul Kelland é visceral e as suas diatribes sobre temas obscuros estão sempre carregadas dum penetrante sentimento de consternação e angustia. Mais do que a brutalidade inerente ao estilo, o que sobressai sempre é a intrincada arquitectura de precisão que cada passagem da música sugere. Com laivos de melodia aqui e ali e o melhor equilíbrio possível no binómio agressão/atmosfera, este é um disco muito à frente, que contém, para já, o melhor death metal de 2024. [9.5/10] ERNESTO MARTINS

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VA L F R EYA

«Dawn of Reckoning» (Independente) O que sobressai de imediato com a primeira música de «Dawn of Reckoning», “Rise” é a sonoridade distinta dos Valfreya, um Black Metal vincadamente sinfónico com uma vaipe Folk que nos faz lembrar Cradle of Filth dos tempos áureos, em especial, devido à tonalidade e forma de cantar da vocalista Corinne Cardinal. As comparações param aqui. Corinne é provavelmente o elemento mais fantástico dos Valfreya, o qual quando comecei a ouvir o álbum só me apercebi que é uma vocalista e não um, quando vi o nome na pressrelease. Uhau!! Esta banda canadiana tem tudo para singrar: Sinfonia com a presença de uma violinista , uma voz ímpar e distinta, um Black Metal de nível, um cheirinho a Folk e uma música bem conseguida e interessante. Os Valfreya parece terem conseguido extrair a essência dos Cradle of Filth (pelo Black Metal), Dimmu Borgir (pela sinfonia) e My Dying Bride (pelo violino) e magicar uma banda interessante. Todo o álbum vibra pelo mesmo diapasão e todos os instrumentos fazem-se sentir. Inspirado na raiva da deusa Hel, «Dawn of Reckoning» é um álbum conceptual que tece um conto de justiça fatal sobre a humanidade. As músicas são maioritariamente cantadas em inglês mas há pelo menos duas com as letras em francês, “Equilibrium”, “Le périple”. Cada música é uma obra de arte. Este é o terceiro LP da banda de Montréal, um que solidifica e refina o som dos Valfreya. Estamos na presença de um álbum conceptual à volta da raiva da deusa Hel que joga um papel metafórico da justiça fatal sobre a humanidade. Todas as músicas estão bem conseguidas e constituem uma lufada de ar fresco no panorama mais negro do Metal com a presença de sinfonias pesadas, coros épicos, versatilidade vocal a par de tumultuosos riffs de guitarra e violino. [9/10] CARLOS FILIPE

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CURTAS ΔII/ XIII «ABYSM IN A L »

(Raging Planet) Curiosa esta abordagem improvisada dos ΔII/XIII, num registo ao vivo gravado no Out.Fest 2023. «Abysminal» envolve-nos numa densa sonoridade drone com elementos ambientais, onde a negritude desesperada e aparentemente caótica paira no ar. Cinco temas em que precisamos de estar preparados espiritualmente para a loucura de uma queda mais que certa no “Abismo” escuro, o caos da revolta e a “Chuva Ácida” que nos unta a mente e o espírito. Preparem-se! [7.5/10]EDUARDO RAMALHADEIRO

BISM ARCK

«Vourokasha» (Dark Essence Records) Os Bismarck são um quinteto oriundo da cidade de Bergen, na Noruega, e «Vourokasha» é o seu terceiro álbum. Assumindo a influência que o folclore e o black metal norueguês imprime nas suas criações, é sobretudo o sludge que mais paralelismo estabelece com a sua música, por ser a característica dominante. Ao longo de 6 temas mostram como procuram criar diferentes ambientes e variações inesperadas, onde alternam a intensidade das vozes e guitarras sujas com secções mais limpas, com exploração de percussões e cantos tribais. Neste disco exploram variados relevos musicais e temáticas ligadas ao esoterismo, a diferentes estados de consciência, a uma espécie de apocalipse. Mas falta explorar a criação musical para que o conjunto seja memorável. [6/10] EMANUEL RORIZ

EARTH DRIVE «LIGHT CO D E S »

(Raging Planet) Categoria de disco! Os Earth Drive lançam «Light Codes» quatro anos após o lançamento de «Helix Nebula» num dos discos mais refinados, elegantes e expressivos que já nos passou pela mãos. Uma verdadeira viagem pelos cosmos da experimentação rítmica, com alguns laivos psicadélicos, baseados em temáticas conceptuais, profundamente interligadas com os riffs e padrões ritmicos pesadões - assim como que a acenar ao stoner. Maravilhosa voz doce de Sara Antuens e um extraordinário som de baixo. “Não há mal que sempre dure...” mas este «Light Codes» passou-me inicialmente ao lado. Um dos discos do ano... e os vizinhos concordam. Ou isso ou estão prestes a chamar a polícia! [9/10]EDUARDO RAMALHADEIRO

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FILII NIGR A N T IU M IN F E R N A L IU M

«Pérfida Contração do Aço» (Osmose Productions ) Cada lançamento destes Senhores poderia ser apenas isso mesmo, um acontecimento, no entanto os Mestres do Black Thrash lusitano conseguem sempre surpreender e transformar cada disco numa experiência catatónica de satanismo e devoção à orde obscura do Diabo, onde a blasfémia é cuspida (em bom português) e as sombras se abatem sobre quem se arrisque a vender a sua alma ao Deus Negro. Sim, os FNI são ainda (e sempre) mestres na sua arte de compor hinos oldschool sem que isso signifique, exactamente, que a banda tenha estagnado no tempo, muito pelo contrário, os FIN aprimoram a sua identidade, elevando o seu estatuto muito além do culto. Novamente lançado pela Osmose Productions “Pérfida Contração do Aço” encontra os Filii em grande forma e estilo! [8.5/10] NUNO C. LOPES

OBSCENE

«Agony & Wounds» (Nameless Grave Records) Não sendo um marco do Death Metal contemporâneo, este «Agony & Wounds» ainda assim consegue pontuar com destaque num punhado de apontamentos. Com destaque para a consistência desde o primeiro minuto. As composições são suficientemente dinâmicas e arrematadas com vocalizações suficientemente contundentes para não deixar de captar o mínimo de atenção, deixando o ouvinte na expectativa do que virá a seguir. Nota-se claramente a destreza e talento de execução dos instrumentos. E é isso que complementa o facto de a originalidade e a capacidade de surpreender ficarem perdidas no meio da estrada. [7.5/10] SERGIO TEIXEIRA

ONEIRONAU T

«Alien Gnosis» (Avantgarde Music) Mais uma proposta da Avantgarde que assenta sobretudo em música eletrónica e sintetizadores a darem corpo a quase toda a sonoridade. Vale a pena escutar esta proposta, que está no oposto da música extrema, mas que traz um espaço de contemplação e um universo estético multidimensional. Uma viagem onde o espaço e o tempo ganham formas simultaneamente estranhas e familiares. Para descortinar estes desafios sonoros propostos, há que dar lugar a múltiplas audições. [8/10] SERGIO TEIXEIRA

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A importância de fazer boas canções Nova entrevista a Eclipse, mais uma conversa simpática e muito interessante. Como ter sucesso no mundo da música? Segundo Erik Mårtensson, só uma coisa resulta: escrever boas canções, que agradem a quem as faz e cativem o público. Entrevista: Cristina Sá | Eduardo Ramalhadeiro Foto: Jakob Dahlstrom

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Eduardo e CSA – Olá, Erik! Cá estamos a fazer nova entrevista a Eclipse para a Versus Magazine. Eduardo – Tenho a impressão de que o “I” no título do outro «Megalomanium» passou despercebido… Já tinham isto previsto? Erik – Só uma pessoa reparou. As canções já estavam todas escritas no ano passado. Mas o álbum ficaria longo demais. Tínhamos vinte e duas canções, portanto decidimos dividi-las em duas partes. É o mesmo álbum, todas as canções já estavam escritas, apenas as dividimos em duas partes. Eduardo – Portanto, quando te entrevistei há um ano atrás aqui em Portugal, «Megalomanium» I e II estavam prontos? Sim. Todas. Eduardo – Então por que não fizeram um álbum duplo em vez de lançarem dois álbuns? Dividimos as canções em duas partes, porque seria muito difícil ouvi-las de uma vez só – especialmente em streaming. Mesmo em tempos idos, álbuns

duplos eram difíceis de ouvir. Ouvias o #1 e nunca chegavas ao fim do segundo. Por conseguinte, pareceu-nos que devíamos poupar os fãs. CSA – Tens algumas canções favoritas entre essas vinte e duas que aparecem nos dois álbuns? Sim, é claro que tenho os meus favoritos. Penso que temos aqui dois álbuns sólidos, mas como sempre algumas canções saem melhor do que outras. Gosto muito de “The Hardest Part Is Losing You”, no primeiro álbum, adoro essa canção. Também há muitas canções boas no novo álbum, mas eu tenho preferência por “Still My Hero”, a que escrevi em memória do meu pai. Também gosto muito de “All I Want”. São muitas canções, mas são todas boas, pelo menos para nós. Se não fossem suficientemente boas, não estariam nos álbuns. Mas sabíamos que tínhamos uma mão cheia de canções boas. O lado bom de fazer um álbum duplo é que isso ajuda a resolver alguns problemas. Se fizeres só um álbum, tens de te manter na linha de Eclipse, para o tornares credível. Mas se tiveres vinte e

duas canções, podes desviar-te um pouco para a esquerda, um pouco para a direita, experimentar coisas novas. Aquelas canções todas não cabiam num álbum só. E depois algumas acabaram por sair melhor. Até poderão estar a abrir a porta para um novo som para a banda. Precisas de experimentar um pouco e um álbum duplo dáte realmente a oportunidade de o fazeres. CSA – Parece-te que o interesse dos fãs por este álbum poderá ser afetado pela relação que mantém com o seu predecessor? De uma forma negativa ou positiva? Talvez quando as pessoas perceberem que se trata de um álbum duplo comecem a gostar. Talvez percecionem os dois álbuns de formas diferentes. Para nós, é natural, porque estamos a par disso desde o início. Talvez as pessoas se apercebam do facto de que algumas canções não são típicas de Eclipse e também gostem desse aspeto. Mas de facto não sei que dizer. Depende de cada um. É uma questão de opinião. Tivemos pessoas a dizerem-nos que algumas canções do primeiro álbum não eram suficientemente

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Eclipse e esses fãs parecem gostar mais do segundo. Mas pode ser só uma coincidência. No entanto, parece-me que o segundo tem mais a sonoridade clássica de Eclipse.

[…] O lado bom de fazer um álbum duplo é que […] Se fizeres só um álbum, tens de te manter na linha de Eclipse, para o tornares credível. Mas se tiveres vinte e duas canções, podes […] experimentar coisas novas.

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Eduardo – “You’re Still My Hero” é uma canção sobre o teu pai. Foram precisos dez anos para escreveres sobre isso. É difícil para ti manteres a tua vida pessoal afastada de Eclipse? Parece-me que estou a ficar melhor a escrever letra e isso permiteme fazer esse género de coisas. Quando és novo, não te preocupas muito com as letras. Mas com a idade, as letras começam a tornarse mais importantes. Sempre tentei escrever letras poderosas, que algumas pelo menos tivessem um significado mais profundo. Não costumamos falar muito de mulheres e de cerveja e da farra. As nossas canções focam-se em assuntos da vida quotidiana como relações e em problemas que podem afetar a vida das pessoas. No que toca a essa canção, quando comecei a escrevê-la não tinha a intenção de falar do meu pai. Mas tinha essas palavras: “You’re still my hero!”. E o único herói que alguma vez tive na minha vida foi provavelmente o meu pai. Logo, resolvi escrever uma canção sobre ele. Eduardo – “All I Want Is You” tem um vídeo peculiar, mas interessante. As pinturas nas vossas caras são uma homenagem a King Diamond ou uma referência às bandas suecas de Black Metal? Costumas ouvir esse tipo de música extrema? Sim. Toda a banda esteve a assistir ao concerto de Mercyful Fate no Summerbreaze no Brasil. Adoramos! Cresci a ouvir muita música desse género. A região da Suécia de onde sou oriundo tinha uma grande cena de Black Metal. Nunca fiz parte dela, mas tenho muitos amigos que ouvem música desse género e alguns até tocam Black Metal. Começámos a falar acerca do vídeo e concluímos que

temos feito muitos de Rock ao longo destes anos – alguns bons, outros nem por isso. Eu ia a guiar entre o aeroporto e a minha casa – são quatro horas de viagem – e ia a falar com o Victor… quanto mais falávamos, mais louca a ideia ficava! Portanto, passamos à ação fizemo-lo mesmo num estilo old school como no fim dos anos 80 ou no início da década de 90: uma câmara, um gerador elétrico no meio da floresta, uma máquina de fazer fumo e uma fonte luminosa – era tudo o que tínhamos! Foi esse o equipamento que usámos. O orçamento era baixo, mas o vídeo ficou fantástico! É uma canção Pop Rock e o vídeo não tem nada a ver com isso… mas isso só o tornou mais divertido! CSA – Têm trabalhado intensivamente para promover «Megalomanium». Vão fazer o mesmo para promover o novo álbum? E haverá concertos em Portugal? Não sei. Temos de estar em Espanha em dezembro: penso que vamos tocar nos dias 12, 13 e 15. Neste momento, estamos a fazer uma curta pausa. Temos andado a tocar há dois anos, são muitos concertos. Tocámos em festivais, fizemos digressões… é muito tempo. Precisamos de uma pausa de dois meses, para recuperar o fôlego… para ver se a mulher e os filhos ainda lá estão. Tenho dois filhos, de 15 e 18 anos. CSA – O próximo álbum será o décimo segundo. Pretendem que este assinale uma mudança no percurso da banda? Na vida, fazes planos. Mas quando fazes planos para um álbum, as coisas nunca saem como tinhas previsto. Quando começas a compor canções, a inspiração leva-te a algum lado. Escreves as canções que queres, mas aquelas que não te parecem boas não vão ser incluídas no álbum. Mesmo que afirmes que vais fazer o álbum mais Pop de sempre, pode acontecer que saia Heavy Metal. Nunca sabes o que vai acontecer! Portanto, cada


vez que começamos a escrever, dedicamo-nos a isso e logo vemos o que sai desse esforço. Se for bom, vai para o álbum. Não temos uma imagem a defender, não somos rapazes bonitos, somos apenas uma banda que gosta de tocar música. As canções são a pedra de toque da banda e a sua composição, a chave do sucesso da banda. Portanto, elas são a parte mais importante da banda. Eduardo – Que influências vos moldaram ao longo dos anos? Conheci o Magnus em Estocolmo no início dos anos 2000 ou no fim da década de 90. Temos o mesmo background musical, embora sejamos de regiões do país completamente diferentes. Quando nos conhecemos, começámos logo a falar de música e descobrimos que tínhamos os mesmos gostos: The Shadows, música dos anos 60, ambos adoramos AC/DC… ele gosta de todas as bandas de que eu gosto. Penso que Eclipse é uma amálgama de tudo, é Rock N’ Roll clássico misturado com o som moderno de que gostávamos à medida que íamos crescendo. Portanto, podes ouvir música dos anos 60 combinada com a dos 80… É uma confusão, mas funciona! Eduardo – Entrevistei-vos no Milagre Metaleiro há um ano. Sobre W.E.T., o Magnus disse que todas as partes de voz (da responsabilidade do Jeff Scott Soto, não é assim?) e guitarra estavam prontas. Em que ponto está o novo álbum dessa banda? Ficou pronto em março, incluindo a mistura e a masterização… está totalmente pronto. Deve sair no início de 2025, nos finais de janeiro ou fevereiro, mas não tenho a data precisa. Se gostas de W.E.T., vais adorar este álbum. Penso que está mesmo muito bom. É um dos meus favoritos até agora. CSA – E como vai Nordic Union? De momento, não temos planos para fazer um novo álbum. Falei com o Ronnie e creio que ele também gostaria de fazer mais

um, mas anda ocupado com a sua carreira a solo e agora a fazer concertos com Pretty Maids e eu atarefado com Eclipse! Adoro escrever para essa banda, os álbuns que fiz com o Ronnie, estão fantásticos, portanto adorava fazer mais um. Eduardo – Fui espreitar a tua página no Facebook e a tua coleção de vinil prendeu-me a atenção, até porque eu também tenho uns poucos. Vi lá um pouco de tudo, desde bandas mais extremas como Venom até música mais melódica de Europe, Neil Young, Black Sabbath. E também lá estava um dos meus cinco álbuns favoritos – «No Fuel Left for the Pilgrims» de D.A.D. – que tenho em vinil e CD. Portanto do teu ponto de vista pessoal – como ouvinte, não como profissional – o que me tens a dizer-me sobre este álbum? É especial para ti? A minha coleção não é assim tão grande. Sou fã de D.A.D. e adoro todos esses álbuns. Esse foi o primeiro dos álbuns deles que era realmente bom. Antes dele, eram uma banda humorística, com esse álbum chegaram a um patamar diferente. «Riskin’ It All» também é muito, muito bom. Ouvi o novo álbum por inteiro e creio que também tem canções muito boas. Adoro aquela canção que se chama “The Ghost”, tem umas guitarras fantásticas! É a terceira canção e é formidável. Tudo brilha nesse álbum. Vou vê-los no início de novembro em Estocolmo, com a minha mulher. É uma das minhas bandas favoritas, tenho ouvido imenso a sua música. São sempre formidáveis ao vivo. Eduardo – Uma última pergunta: pensas que Eclipse poderia fazer um álbum acústico? Nos concertos, incluímos sempre algumas canções acústicas, principalmente durante esta última digressão. Temos três canções na set list. Acho que isso resulta bem ao vivo, é algo especial. Mas não tenho a certeza de que resultaria bem num disco. Se lhe tirares a

parte de estares diante de um público, fica algo sem interesse. Se eu pegasse na minha guitarra e me pusesse a cantar, penso que seria algo muito aborrecido. Desaparece toda a atmosfera e interesse. Não tenho a certeza, mas não me parece que venhamos alguma vez a fazer um álbum acústico. No máximo, poderemos incluir algumas canções acústicas! Eduardo e CSA – Esperamos vervos em Portugal no próximo ano. Estamos a fazer planos para ir aí… temos muitos lugares onde queremos ir!

[…] Não temos uma imagem a defender, não somos rapazes bonitos, somos apenas uma banda que gosta de tocar música.

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A culpa é do cemitério… Por: Emanuel Roriz

#12 Sinto-me inspirado a fazer um parêntesis na rubrica “A culpa é do cemitério…” e aproveito a deixa, para desta vez não falar de um disco apenas, mas sim de um artista que está muito intimamente ligado à origem deste espaço de crónica. O assunto são as novidades sobre o continuamente polémico Marilyn Manson. Estava já a ser previsível que alguma novidade estaria para surgir a qualquer momento, pois as redes sociais do músico norte-americano começavam a dar sinal de agitação. Com o anúncio do regresso aos palcos, surgiram também novos temas para audição, primeiro “As Sick As The Secrets Within”, depois “Raise The Red Flag” e por último “Sacriligious”. No entretanto, foi até anunciado o título do novo álbum: “One Assassination Under God - Chapter I”. É assim que depois de ter sido acusado por actos de violência sobre uma das ex-companheiras - Evan Rachel Wood -, Marylin Manson volta a mostrar que a sua criatividade

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se mantém pulsante, ao apresentar este novo trabalho discográfico, videoclipes e uma direcção de arte que parece ter muito dedo do músico. Que o senhor não é flor que se cheire, já se sabe, pois há a história a esclarecer-nos rapidamente sobre isso. As polémicas, a falta de papas na língua, as mentiras e as verdades. Facto é que este processo judicial deitou por terra a promoção e a divulgação do seu último trabalho “WE ARE CHAOS”. Tours canceladas e a desvinculação total por parte da sua editora na altura, levaram a uma interrupção abrupta na sua carreira. À justiça o que é da justiça e se assim teve de ser, é porque teve de ser. Com tudo isto, ficou perdida no tempo uma certa esperança de que o génio de Manson (do músico e artista) estaria de volta, a provocar um nível de interesse que já não despertava desde “The Golden Age Of Grotesque”. Estamos de acordo? Ou dá pano para mangas? Não será uma opinião unânime, mas para além de uma opinião pessoal, sei que havia também a crítica especializada a tender maioritariamente para esta ideia, de que “WE ARE CHAOS” traçava uma curva ascendente na carreira de Marilyn Manson. Voltando ao presente e à data do lançamento do primeiro single, assim que o ouvi pela primeira vez, sei

que fiquei bastante agradado, positivamente surpreendido. Contente por saber que Marilyn Manson, o músico e artista, mantém vivo a sua identidade criativa, que lhe é muito própria e que por isso merece ser apreciada. A sua imagem, as suas palavras e diferentes formas de expressão, continuam a ter o seu lugar no mundo da música rock. Dou por mim a desejar que os processos criminais estejam resolvidos, de forma justa, mas acima de tudo, que Brian Warner se tenha andado a portar bem e que efectivamente não tenha mais pontas soltas, a não ser aquelas que vão ter à sua visão fracionária sobre os Estados Unidos da América. Sobre o Mundo…

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Um homem tranquilo

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Mais uma vez, a Versus esteve à conversa com Tamás Katai, a alma de Thy Catafalque, em videoconferência. Deparamo-nos com um homem tranquilo, analítico, reflexivo. Fomos seguindo os meandros do caminho que vai de «Alföld», o álbum de 2023, até «XII», o que irá ser lançado a 15 de novembro, revisitando alguns momentos do passado. Foi uma viagem tranquila, mas nem por isso menos interessante. Entrevista: CSA / Fotos: Orsolya Karancz

Saudações, Tamás! Já é a nona vez que te entrevisto, uma vez que comecei com «Rengteg» em 2011. Como foi recebido o teu último álbum («Alföld», 2023) pela crítica e pelos fãs? Tamás – Algumas pessoas não gostaram muito do álbum, porque seguia uma direção diferente, tinha uma atmosfera diferente. Era um pouco mais tenebroso, um pouco mais pesado do que os anteriores. Teve boas críticas, mas, por vezes, eram um tanto mitigadas, provavelmente porque o álbum não correspondeu às expetativas de algumas pessoas. Eu gosto realmente desse álbum. Senti que tinha de o fazer assim nessa altura e não mudaria absolutamente nada agora. Mas sei que algumas pessoas ficaram um tanto desapontadas, porque queriam mais vozes, mais coros, música mais cativante… Mas não era nada disso, era mais tenebroso, tal como eu me sentia no ano passado. Se conheces e aprecias Thy Catafalque dos primórdios, provavelmente o álbum será do teu agrado, porque se assemelha aos dos velhos tempos. A partir dos posts na internet, apercebi-me de que tens andado a fazer muitos concertos. - Fala-nos um pouco do que tens

andado a fazer ao vivo. Não foram assim tantos espetáculos. Fizemos uma digressão europeia com dez concertos, penso eu. E depois mais outros quatro concertos. E depois disso mais quatro. Portanto, este ano foram aí dezoito concertos. Mas é claro que é muito mais do que o habitual: zero. - E como te sentiste? Gostaste dessa experiência? Sim, gostei. É por isso que faço concertos agora. No início, não queria fazê-lo. Durante vinte anos, nunca me interessei por tocar ao vivo com Thy Catafalque. E depois isso aconteceu! Foram outras pessoas que organizaram tudo para mim. Tinha de me envolver, portanto toquei baixo em algumas canções do primeiro espetáculo e gostei imenso. Portanto, disse para mim mesmo: isto é divertido, vou continuar a fazer! Desde essa altura, eu e os meus músicos de sessão tocamos ao vivo e divertimo-nos muito a fazê-lo juntos. Agora temos aqui «XII» para nos encantar. O que eu vou dizer é uma espécie de “déjà vu”, mas não posso deixar de comentar que, mais uma vez, criaste algo diferente dos teus outros álbuns. - A tua editora afirma que este

álbum resume tudo o que Thy Catafalque lançou até agora. És da mesma opinião? Bem, o texto é deles. Têm de impressionar, porque precisam de vender o álbum. Penso que eles veem o álbum dessa maneira. É muito mais colorido do que o anterior, tem atmosferas diferentes. Limito-me a fazer as coisas como as sinto! De certo modo, faz sentido. «Alföld» era mais homogéneo e as canções estavam mais relacionadas umas com as outras, tinham raízes comuns. Neste álbum, as canções são muito diferentes umas das outras. No entanto, fazer coexistir estilos diferentes no mesmo álbum é uma das características habituais de Thy Catafalque. Portanto, isso não tem nada de especial! Como decorreu o processo de criação deste álbum? Limitei-me a compor e gravar todas as canções. A única coisa nova e muito radical foi o facto de o ter enviado a um estúdio para ser misturado e masterizado por alguém que sabia o que estava a fazer, ao contrário de mim. Sempre fiz todo o trabalho de estúdio sozinho para todos os álbuns, mas desta vez decidi trabalhar com um profissional. Queria uma abordagem diferente no que dizia

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respeito à produção, porque sentia que tinha atingido o limite da minha capacidade nesse domínio. Sentia-me incapaz de fazer melhor, logo fui ter com um amigo meu. Já tinha trabalhado com ele antes e sei que é um engenheiro de som fantástico. Queria algo novo, diferente! Queríamos que este álbum incluísse alguns dos elementos originais: o som da guitarra, por exemplo. Ficou como é sempre. Mas tudo o resto ficou ligeiramente diferente: a bateria, o baixo, a voz… era isso mesmo que eu queria: algo novo e algo antigo. Desta vez, tens uma enorme quantidade de convidados. O que podes dizer-nos sobre isto? Todos os instrumentos foram gravados ao vivo para a internet. A minha abordagem neste álbum foi a seguinte: se queria algo de um dado instrumento, tinha de ser gravado ao vivo, nem que fossem só dez segundos de som. Não queria produzir o som usando teclados. Podia fazê-lo,

mas, se tivesse a oportunidade de encontrar alguém que pudesse gravar o som tocando o instrumento em questão, ia aproveitá-la. É por isso que há tantos instrumentos com trechos muito curtos. Queria que o álbum tivesse um som mais orgânico! A bateria continua a ser programada, mas, para contrabalançar, queria um som mais orgânico para os outros instrumentos. No que toca à voz, também há muitos vocalistas. Conheço a maioria deles pessoalmente e são pessoas próximas de mim. Gosto de trabalhar com vocalistas em quem confio. Por isso, escolho sempre vocalistas que são meus amigos. Como vais fazer quando for preciso tocar canções deste álbum em concertos? Temos quatro vocalistas de sessão! Portanto, entre os quatro, conseguimos fazer quase tudo. E não quero replicar as versões de estúdio das canções no palco. É uma situação completamente

diferente. Fizemos arranjos nas canções para as podermos tocar ao vivo. É claro que perdemos algumas nuances no som, mas não me importo com isso, porque a música ao vivo é sempre diferente da música produzida no estúdio. Somos oito pessoas em palco, mais seria excessivo. E também temos de pensar nos custos. Não podemos ter uma orquestra sinfónica no palco! E, de qualquer modo, haverá sempre pessoas descontentes. Não tenciono preocupar-me a sério com isso, desde que nós – a banda – estejamos satisfeitos com o nosso desempenho. Se nós estamos contentes, então o concerto deve ter sido bom. Mais uma vez, tive de ir ao Google procurar o significado do título do álbum em Inglês e saiu “The blissful dreams come next”. - Por que sentes que tens de esperar pelos sonhos bemaventurados? Isso tem a ver com a última canção

[…] fazer coexistir estilos diferentes no mesmo álbum é uma das características habituais de Thy Catafalque. […]

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do álbum, é o título da canção que encerra o álbum. Fala da escuridão e da noite. Diz que, neste momento, estamos imersos nas trevas, no mundo da noite. Não é um lugar agradável. Mas temos esperança no futuro. É por isso que os sonhos bem-aventurados ainda estão para vir. Hão de chegar um dia de manhã, mas para já ainda estamos na escuridão. Mas há esperança! É mais ou menos este o sentido da canção. - Como é que as canções do álbum se relacionam com este tópico misterioso? Não se trata de um álbum concetual. São só dez canções sem nenhuma relação em particular entre si. Mas tinha de escolher um título para o álbum e o título dessa canção pareceu-me bastante adequado. Por que razão na capa do álbum aparece uma mulher que parece estar à espera de algo? É uma imagem do vídeo que fizemos para a canção que deu o título ao álbum. Escolhi-a, porque gostei muito das cores e da atmosfera dessa imagem, da pureza da mulher no campo. Toda a imagem retrata a espera por algo… não se sabe bem o quê… está-se no outono e a natureza mostra as suas cores moribundas, mas, no meio daquilo tudo, aparece uma mulher jovem, pura e inocente. É uma bela imagem simbólica! Portanto, escolhi-a para a capa. Nos créditos esta capa é atribuída a duas pessoas, uma das quais és tu mesmo. O que fez cada um? A mulher que aparece na fotografia na capa do álbum é a artista gráfica que criou todos os desenhos e quadros que ilustram as 52 páginas do livro que acompanha o CD e também a minha namorada. Fizemos tudo aqui em casa, portanto até foi um trabalho fácil. Ela sabia o que eu queria. Fizemos o trabalho juntos. Ela é uma pintora muito talentosa, portanto eu sinto-me muito afortunado por poder trabalhar

com ela. De um modo geral, gosto do minimalismo na arte e na música também. Fiz algumas capas minimalistas para os meus álbuns. «Sgùrr», por exemplo, tinha uma capa muito simples. mas algumas nem por isso são muito simples, penso eu. Quanto tempo demoraste a fazer todo o trabalho para este álbum? Mais ou menos um ano. Fui rápido a compor e gravar as canções, mas a mistura demorou muito tempo, porque não foi feita por mim. Logo, desta vez tive de ter outras coisas em consideração: o estúdio não tinha muito tempo disponível e era mesmo muito trabalho. Por conseguinte, o processo foi mais demorado do que de costume. Mas sinto que valeu a pena, porque a produção do álbum é muito boa. Portanto, correu tudo bem. As outras pessoas têm outros compromissos e temos de aceitar isso, se quisermos trabalhar com elas. Por outro lado, eu também costumo ser demasiado rápido e, desta vez, desaceleraram-me um pouco, o que até me parece bom. Como te sentes quando terminas um álbum? Aliviado? Deprimido? É uma coisa estranha. Como é natural, acabar um álbum é sempre um momento de depressão: quando acabo de gravar as canções, sinto que terminei. Mas depois vem a mistura, e depois a masterização, e depois… há sempre mais alguma coisa para fazer! A arte, depois entregar tudo e, no fim, só te queres ver livre daquilo. E é assim! Na verdade, não tenho a perceção de quando um álbum acabou. É só mais um dia e depois começo logo a pensar no álbum que virá a seguir. O melhor momento é quando o álbum é lançado, porque nessa altura toda a gente o pode ouvir. Isso parece-me mais excitante do que terminar o álbum.

mudas algo aqui, algo acolá… Depois de lançado, não podes mexer em nada. Foi divulgado em CD, em vinil, já não podes fazer nada. Não gosto de alterar o meu trabalho. Ponho-me logo a pensar no álbum seguinte. Tens boas expetativas relativamente a este álbum? Na realidade, nunca tenho boas expetativas relativamente a nada. É um problema meu, com certeza. Nunca nada é suficientemente bom. Limito-me a esperar para ver o que dá. Mas também não é uma questão de vida e de morte. Não importa, se não for um sucesso. Gostei de o fazer e isso é que é importante para mim. Gosto de fazer música e isso chega para mim. Sentes-te num mundo diferente quando estás a compor a tua música? Ou és alguém com os pés bem assentes na terra? Boa pergunta. Não me vejo como um visionário. Vejo-me mais como alguém que gosta de ter os pés bem assentes em terra firme. Provavelmente, não parece bem dizer isto, já que supostamente os artistas não são pessoas pragmáticas. Mas eu sou! Geralmente, gosto de saber o que se passa, o que está a acontecer e de ter os pés bem assentes na terra firme. O mesmo acontece quando estou a escrever a minha música. Gostava de ser mais imaginativo! Por vezes, sinto que consigo ser criativo. Mas gostava de ser mais criativo! Este é o décimo segundo álbum de Thy Catafalque. És supersticioso? Não tens medo do #13? Mesmo nada. É só o próximo álbum. Nunca vi o 13 como algo aziago, para mim é só um número como outro qualquer. E já tenho uma canção do próximo álbum gravada. Mas é só uma canção.

Mas mesmo depois de lançado, não está bem acabado, não te parece? Quando fazes concertos, tens de ensaiar e, nessa altura,

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ÁLBUM VERSUS

Foto: Julian Weigand

BLOOD INCANTATION «Absolute Elsewhere» (Century Media Records)

Objecto recente de elogios rasgados e de críticas amargas em partes iguais, «Absolute Elsewhere» é, antes de mais, algo que já se previa no percurso dos Blood Incantation. A estreia «Starspawn» (2016) e, em particular, «Hidden History of the Human Race» (2019) já tinham dado conta de uma banda insatisfeita com as regras limitadas do death metal old school que abraçaram no início. Mas foi o inesperado «Timewave Zero» (2022), todo moldado segundo o krautrock dos Tangerine Dream, a par do EP «Luminescent Bridge» (2023), com a sua dose extra de melodia, que claramente sinalizaram a abertura radical do colectivo norte-americano ao caldeirão de influências que o novo álbum tão bem incorpora. Feito de dois temas com cerca de 20 minutos cada, ambos divididos em três movimentos, «Absolute Elsewhere» é nada menos que um cocktail alucinado de death metal cósmico aumentado com ousadas incursões nos domínios do dark ambient, da música electrónica e do rock progressivo vintage. Mas descansem os puristas pois o death metal continua a ser a linguagem central, havendo blast beats com fartura e malhas irresistíveis capazes de induzir o mais furioso headbanging. No entanto a fúria sónica é servida desta vez com riffs infeciosos que remetem para Nocturnus, Mithras ou Death, leads melódicos altaneiros de tom quase triunfante e uma penetrante vibe progressiva protagonizada pelo mellotron do convidado Nicklas Malmqvist (dos suecos Hällas) que executa aqui tudo o que envolve teclas, excepto no que concerne ao instrumental “The Stargate [Tablet II]” que saiu dos dedos mágicos de Thorsten Quaeschning, dos Tangerine Dream (nem mais!). A composição é também a mais experimental e desafiante de sempre, com ataques contagiantes de speed metal sem dó nem piedade a ser integrados com fluência em segmentos ambientais ou acústicos. A voz de Paul Riedl já não aparece sempre soterrada na mistura como antes, chegando a aparecer no seu registo limpo numa passagem exótica em “The Stargate [Tablet III]”, e depois em “The Message [Tablet II]”, faixa com distintas reminiscências de Pink Floyd. Sem cerimónias quanto às suas fontes de inspiração – Absolute Elsewhere é o nome do colectivo de meados dos 70 celebrizado por ter integrado o ex-King Crimson Bill Bruford – os Blood Incantation acabaram de definir com este trabalho de fusão uma identidade única, criando um disco aventureiro e acessível sem deixar de ser potente e esmagador. Vejamos agora o que a veia criativa do quarteto de Denver nos reserva para o futuro. [9.5/10] - Ernesto Martins

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Chuva dourada, com amor Os Serrabulho mantêm-se imparáveis na sua trajetória ascendente, consolidando um estatuto já de si inabalável. Sem tempo para respirar após o álbum anterior, “PornTugal”, a banda gravou o novo “Piss & Love” entre digressões e com a pandemia pelo meio. Motivos suficientes para entrevistarmos Guilhermino Martins, baixista e fundador, numa conversa em que abordámos também os desafios recentemente ultrapassados e os interessantíssimos projetos que se perfilam a médio prazo na carreira deste agrupamento cada vez mais saudavelmente louco.

Entrevista: Dico

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A digressão de apoio ao “PornTugal” foi interrompida pelos confinamentos resultantes da pandemia de Covid. Quando as restrições foram levantadas o grupo começou a receber numerosos convites para atuar ao vivo, tendo chegado às 75 datas na Europa. Estando as pessoas ansiosas por regressar à vida normal, como é que vocês percecionaram os primeiros espetáculos após o fim do último confinamento? Guilhermino: As pessoas estavam, de facto, sedentas de concertos e de celebrar a vida, que é no fundo aquilo a que esta banda se propõe. Depois daqueles dois anos com amarras, a perceção foi de que o público reagia às nossas apresentações ao vivo de uma forma ainda mais visceral. Algo que, na verdade, se intensifica de ano para ano, o que é louvável, uma vez que, em cima do palco, devolvemos ao público a energia transmitida por este. É algo intangível, muito difícil de explicar – só vivenciando. Que espetáculos destacarias das tours promocionais ao “PornTugal” e porquê? Destaco o primeiro concerto no festival romeno Rockstadt, as duas atuações no Resurrection Fest (Viveiro, Espanha) e a nossa viagem até Cabo Verde para tocar no festival Grito Rock, na cidade da Praia, com tudo o que isso envolveu. Foram estes os pontos mais memoráveis de toda essa tournée. É impossível esquecer a forma como os romenos nos acarinharam e nos fizeram sentir verdadeiras rock stars. De certa forma, foi o que experimentámos na primeira visita ao Resurrection: até aí apenas havíamos tocado em pequenos bares e festivais no país vizinho, ou seja, éramos – efetivamente – uma banda desconhecida para aquele público mais, digamos, mainstream; mas ocorreu ali uma simbiose imediata, a partir do momento em que começou a intro do nosso concerto

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que é, de certa forma, irrepetível. Ao ponto de, na nossa segunda atuação no festival, já termos sido encarados como um “nome consagrado”. Já Cabo Verde foi…mágico. Atuar num novo continente, testemunhar in loco toda aquela cultura, a gastronomia, as praias, as paisagens de perder o fôlego; visitar e sentir o Tarrafal, viajar até às montanhas para ouvir as batucadeiras no seu meio natural e guardar os sorrisos de um povo que, apesar das condições humildes, vive feliz! A acrescentar a isso, a reação que obtivemos ao nosso concerto, com o palco cheio de crianças a divertir-se, aos saltos, foi a cereja no topo do bolo. Dada a natureza dos vossos concertos, julgo poder dizer-se que os festivais são os palcos dos Serrabulho por excelência, e ainda mais quando ocupam posições destacadas nos cartazes. No entanto, pelo que julgo saber, já gostaram mais de serem cabeçasde-cartaz. O que mudou? Nem é bem a questão de sermos cabeças-de-cartaz, para ser franco. Com o tempo fomos percebendo, em especial quando tocamos no centro da Europa, que, independentemente da nossa posição no cartaz, os nossos concertos resultam muito melhor ao final da tarde, porque a luz do dia adensa toda aquela barafunda que se passa em palco e por entre o público. No fundo, torna o caos ainda mais… real, à falta de melhor termo. É nesse horário pré-luscofusco que, cada vez mais, nos sentimos melhor a atuar. Entretanto, quando regressaram às atuações já se encontravam a gravar o novo álbum, “Piss & Love”, pelo que tiveram de intercalar as sessões com as tours. Foi um processo complicado de gerir? Foi um bocadinho, porque os convites para atuar não paravam de chegar e, por muita vontade que tivéssemos de finalizar o novo álbum, havia propostas realmente

difíceis de recusar. Até porque, efetivamente, a banda estava a tornar-se mais conhecida e as condições a melhorar. Chegámos a marcar sessões de gravação que, entretanto, tiveram de ser adiadas porque lá chegava mais uma proposta para um concerto. Mas, com algum discernimento, lográmos concentrar-nos para terminar o álbum, porque acreditávamos ter em mãos um grande disco. E é, de facto, um álbum muitíssimo bom. Entretanto, o Paulo foi substituído pelo João, que já vos tinha ajudado em alguns espetáculos nos quais o Paulo não pôde atuar. Como descreverias a adaptação mútua? A adaptação foi praticamente imediata. O João ensaiou connosco uma (!) vez antes do seu primeiro concerto ― na altura, ainda como membro de sessão, a substituir o Paulo ―, em Castelo Branco e a sua prestação foi imaculada. Depois, além de ser tecnicamente exímio, tem uma personalidade que encaixou perfeitamente na dinâmica da banda. Até agora, foram lançados três singles e respetivos vídeos: "Piss or Love", "Rest in Piss" e "I'm Proud to be a Cow". Que critérios presidiram à escolha destes temas para estes efeitos? A “Piss or Love” partiu da ideia do Carlos em ter um tema “sexy” no álbum, com saxofone, e ficou logo subentendido que teria de ter um vídeo oficial. A “Rest in Piss” acabou por ser uma escolha óbvia por se tratar da abertura do álbum e por funcionar tão bem ao vivo, uma vez que já andávamos a tocá-la há alguns meses. Ambos os clips foram realizados pelo Flávio Almeida e pela Soraia Martins, que foram excelsos na forma como apreenderam perfeitamente o que desejávamos e se deixaram envolver em toda a tresloucada estética dos Serrabulho. No caso da “I’m Proud to be a Cow”, o rumo das coisas foi ligeiramente diferente. Um pouco


[...] os nossos concertos resultam muito melhor ao final da tarde, porque a luz do dia adensa toda aquela barafunda que se passa em palco e por entre o público. No fundo, torna o caos ainda mais… real [...] 5 5 / VERSUS MAGAZINE


antes do início das misturas do álbum, dei a ouvir alguns temas “em bruto” ao Carlos Guimarães (Caminhos Metálicos), que demostrou logo uma predileção por essa canção. Lembro-me que disse tratar-se de uma evolução para algo mais musical, mas sem perder a identidade do grupo. Assim que concluí as misturas, enviei-lhe o tema final para ele idealizar o videoclip. O resultado foi um projeto tecnicamente arrojado, que resultou naquela psicadelia visual que o Carlos conseguiu criar com tamanho brio! Os vossos clips são sempre bastante criativos e divertidos, como seria de esperar, mas desta vez a banda superou-se, também nesse aspeto. Queres destacar alguns momentos curiosos da conceção e gravação dos vídeos? A ideia passava por criar algo realmente especial, que adicionasse essa componente visual mais delirante à nossa música. As filmagens tiveram vários momentos dignos de registo. Lembro-me que há um momento na “Rest in Piss”, em que o Ivan está a tocar numa bateria de crianças e ela, literalmente, se desfaz. Infelizmente, esses frames não ficaram registados, mas, naquele momento, tiveram imensa piada, ainda mais na situação desconfortável em que estávamos: no cimo da Serra da Freita, com pinturas na cara, nas horas de maior exposição solar. Aliás, toda aquela comitiva ficou com escaldões. Mais uma marca de guerra, no fundo. [risos] Neste álbum, a utilização de instrumentos musicais tradicionais portugueses é levada a um novo patamar, mas a incorporação do saxofone em “Piss or Love” (que enforma o tema à sua volta) traz-me à memória a música tradicional dos Balcãs, em especial do Emir Kusturica. Esta comparação faz-te sentido? Faz todo o sentido! Há em nós essa constante vontade de criar algo

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único, irrepetível, que descenda diretamente das nossas influências, mas com um cunho muito próprio. E acho que temos conseguido incorporar esses elementos tradicionais Portugueses ou mesmo toda a inegável influência mediterrânica de uma forma natural nos nossos temas. No fundo, tenho ideia que as pessoas já se habituaram a associar a nossa música a alguma ruralidade, ou não fizéssemos nós questão de trazer toda a nossa transmontaneidade bem para a frente. Por outro lado, esse saxofone da “Piss or Love” – cuja melodia foi composta pelo Carlos e executada pelo help? – acrescenta uma nova faceta ao nosso som. Nele consigo ver, por exemplo, os Naked City do John Zorn ou, como bem referes, o Kusturica. No fundo são mais algumas avenidas que abrimos e podemos voltar a explorar. O tema “Break for Pee” foi outro passo arrojado e muito bem conseguido, no qual o pianista Fernando Tordo atua sozinho, encarnando um pianista bêbado num concurso de karaoke. Como surgiu a ideia para este tema? Foi mais uma ideia do Carlos! Grande parte dos temas nasce assim, de ideias e, só depois, surge a música. O tema tem uma vibração muito lounge music, misturada com o som de um karaoke ébrio num qualquer casino e acaba por funcionar como separador entre as duas partes do álbum. No fundo, como uma intermission, em que é permitido respirar fundo, antes de mais um desfilar de blast beats e guturais. De que forma funcionam as colaborações de outros artistas convosco? Durante o processo de composição identificam partes das canções onde funcionaria bem um dado instrumento ou decidem à partida incorporar o instrumento “X” no tema “Y”, partindo então em busca do executante ideal para tocar esse instrumento? Regra geral há, como disse, um conceito que dá origem a tudo. E,

a partir daí, seja por composição individual ou jams, na sala de ensaios, é criado o esqueleto da canção. Depois, tudo o resto, seja a possível intro, os instrumentos mais exóticos ou os samples, vai sendo adicionado em função desse conceito e do que, efetivamente, nos soa bem. Quando identificamos uma parte que julgamos ser perfeita para outro músico executar, acabamos por lhe entregar um esboço já bem avançado daquilo que pretendemos, embora deixemos margem para algum improviso. Lembro-me que, por exemplo, no caso da “Piss or Love”, pedimos ao help? para – ipsis verbis – desbundar com o saxofone naquela introdução e, claro, na parte central do tema, num registo quasinoise. E que montanha-russa ele conseguiu criar! O Carlos magoou-se no joelho no Grind Over Sofia na Bulgária, pelo que o Sandro Ferreira (Capitão Adega) o substituiu nos últimos três concertos antes do lançamento do novo álbum. Como correram esses espetáculos? Efetivamente, a lesão do Carlos acabou por limitá-lo por algumas semanas. Algo que parecia banal acabou por se tornar num problema físico mais sério, obrigando-o a fazer múltiplos exames e a iniciar fisioterapia específica para debelar o problema. Assim, ele foi aconselhado a fazer o mínimo de movimentos possível durante algumas semanas. Tivemos, pois, de repensar as coisas nesse período. Cancelar o Nada Fest estava fora de questão, até pelo respeito que temos pelo Paixão e por sabermos o quanto isso iria stressar a organização, dado que faltavam 24h para a nossa atuação. Assim sendo, com o aval do Carlos, convidámos o Sandro, que encarou este desafio com garra e não nos deixou ficar mal, decorando letras e ouvindo, inclusivamente, temas novos num tão curto espaço de tempo. Foi, como é óbvio, um concerto diferente, mas tudo


A “Piss or Love” partiu da ideia do Carlos em ter um tema “sexy” no álbum, com saxofone, e ficou logo subentendido que teria de ter um vídeo oficial.

faz parte da grande experiência que é pertencer a este grupo. Nos dois dias seguintes, como a margem para cancelar era maior, optámos por adiar essas atuações. Felizmente a condição do Carlos melhorou e, embora (ainda) com algumas dores, já lhe é possível atuar em pleno. O Capitão Adega ocupa também o lugar de “bailarino” nos vossos concertos e sempre que vejo vídeos desses momentos acho que ele se encaixa perfeitamente nas atuações. O que é que, na tua perspetiva, ele trouxe aos Serrabulho que eles ainda não tinham? Bailarino, MC, humorista, ator – ele é tudo e mais alguma coisa. É um verdadeiro orgulho tê-lo do nosso lado e vê-lo sempre motivado para subir ao palco. É exatamente por este tipo de pessoas que queremos estar rodeados, cheias de boa disposição e a puxar-nos para cima. O Capitão Adega acaba por acrescentar um lado ainda mais cénico às nossas atuações, incorporando um super-herói adequadamente “Português”, que encaixa muito bem na Por(n) tugalidade de que fazemos bandeira. Ele, as duas bailarinas Pipa (Cátia Silvano), Pinga (Vanda Esteves) e o gaiteiro Ricardo Santos (Trasga, Velha Gaiteira, Curinga) são quem, por estes dias,

mais nos têm acompanhado em palco. A banda tem agenda ao vivo até dezembro de 2025. Entre as atuações marcadas conta-se uma digressão espanhola em abril, além de vários festivais. Queres adiantar algo acerca disso? O álbum foi muito bem recebido e as pessoas comentam que as nossas atuações estão cada vez mais insanas. Por isso, felizmente, os convites não cessam de chegar. A digressão espanhola teve a sua génese em abril passado, no Tondela Rocks quando conhecemos os Absalem, um grupo de Salamanca, que nos vai acompanhar nessas datas. Em finais de maio de 2025 teremos outra tour na Europa Central e ao longo de 2025 já temos a nossa presença confirmada em vários festivais na Alemanha (Ranger Rock, Grabbenacht), Suíça (Züri Gmätzlets IV), Holanda e Bélgica – estes ainda não anunciados. Além das tours, têm como objetivo para 2025 realizar projetos arrojados como fusões com orquestras clássicas e grupos tradicionais. Em que moldes estão a ponderar fazê-lo e com que entidades? Há várias ideias em cima da mesa e já fomos abordados por duas entidades díspares – uma mais

tradicional e outra ligada à música clássica – no sentido de criarmos um projeto artisticamente arrojado que fundisse o lado extremo dos Serrabulho com outras linguagens musicais. No caso da Música Tradicional Portuguesa seria uma fusão quase natural, uma espécie de Banda do Casaco do Século XXI, perdoandose-me o exagero, dada a genialidade desse grupo. Por outro lado, explorar um potencial lado sinfónico/orquestral nos nossos temas seria algo que nos daria, igualmente, imenso prazer. Mas, lá está, tudo isto são – por ora – meras ideias, uma vez que para se concretizarem implicam tempo, dedicação e, acima de tudo, condições que nos permitam dedicar a esses projetos. A ideia subjacente aos mesmos seria efetuar uma grandiosa atuação ou gravar canções dos vossos álbuns, com novos arranjos, em estúdio? Ou, quem sabe, registar um espetáculo em vídeo? Honestamente, penso que ambas as ideias resultariam tanto em estúdio, como ao vivo. Veremos o que 2025 nos trará, mas nós gostamos é de desafios!

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Metal Brasil! Por: Gabriela Teixeira

Esta é a página da Versus Magazine dedicada ao metal brasileiro. Apesar de falarmos a mesma língua e ouvirmos os mesmos sons, a verdade é que o oceano que nos separa parece ainda ser imenso. Convidamos as bandas mais underground, que queiram ver o seu trabalho divulgado nas próximas edições da nossa revista, a contactar-nos via redes sociais.

Formados em 2021 em Curitiba, os Fohatt são uma banda de atmospheric doom/gothic metal constituída pelos seguintes elementos: - Tony Fontana- guitarra - Gustavo Grando- voz e letras - Ana Paula Paz -voz - Edgar Mol- baixo - Fernando Nahtaivel- teclas - Eduardo Müller- guitarra - Teja Penso- bateria Apesar de serem uma banda jovem, a verdade é que os seus elementos têm experiência e isso nota-se na qualidade da sua (ainda curta) discografia: o EP «Ancient Ritual of the Season» de 2023 e a longa duração, lançada este ano, «Reflections of Emptiness». O doom metal que os Fohatt nos propõem é bastante melódico, lúgubre e introspectivo com temáticas que, segundo o vocalista Gustavo, versam sobre “a libertação das limitações psicológicas, políticas, religiosas e dogmas da sociedade humana”. Musicalmente falando, esta é uma banda que irá agradar bastante aos fãs de My Dying Bride, Novembers Doom ou aos Anathema (na sua fase inicial com Darren White na voz). Falando sobre «Reflections of Emptiness»: é um disco que cresce com as audições e as melodias agarram-se a nós. Os sete temas que o compõem têm todos mais

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de cinco minutos e não há um que eu considere longo demais. Em termos vocais, o gutural do Gustavo e a doçura da Ana Paula ligam muito bem. Como disse acima, a sonoridade dos Fohatt é essencialmente melódica e atmosférica, para a qual os teclados e os momentos acústicos da guitarra muito contribuem, em contraste com os solos mais pesados e desolados da guitarra electrica.


Os meus temas favoritos são os cantados em português. Aliás, enquanto portuguesa, achei muito interessante ouvir, pela primeira vez, o sotaque brasileiro em contexto de doom metal. De início posso dizer que estranhei, contudo, a cada audição, fui apreciando mais. Uma nota final em relação à estética visual do logo da banda e da capa do álbum, ambos belíssimos! Se tivesse que dar uma nota, daria um 7.5/10 pelo talento dos músicos, beleza das músicas e qualidade da produção. Podem encontrar os Fohatt nos seguintes links: - https://www.youtube.com/@Fohatt666 - https://fohatt.bandcamp.com/ - https://www.instagram.com/fohatt.official/ Quem adquirir o álbum em vinil, pode dirigir-se ou encomendar nas seguintes lojas da zona de Lisboa: - https://www.carbonoamadora.net/ - https://horario-loja.pt/lisboa/loja-de-discos/21-vinil-experience.html#google_vignette - https://www.groovierecords.com/ - https://www.lisbonrecordshops.com/2020/07/neat-records.html

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Fardo de Peso Estão aí à porta os 40 anos de existência deste nome histórico do thrash metal português! Os Web continuam o seu caminho, cheios de força e com material novo a surgir. Em Junho deste ano editaram o disco “Burden Of Destiny” e prometem que 2025 trará novidades e surpresas, para que possamos testemunhar o legado que têm vindo a construir. O Victor Matos e o Filipe Ferreira foram os nossos correspondentes nesta conversa sobre a história, presente e futuro dos Web. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro | Emanuel Roriz | Foto: André Henriques (Ah!Photo)

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Emanuel: Após as primeiras audições de “Burden Of Destiny” fico com a sensação de que este novo disco tem músicas mais directas e mais agressivas do que as que ouvimos no anterior “Everything Ends” (2015). O que vos leva nesse sentido? Filipe: Precisamente o facto de gostarmos de fazer coisas diferentes. Após o “Everything Ends” onde temos uma música de 17 minutos (a música Everything Ends que dá o título ao álbum, é uma única música que foi dividida em duas no track listing para tornar a audição mais fácil) e um running time de 62 minutos, optamos por um álbum com músicas mais curtas e um running time 20 minutos inferior (42 minutos). A explicação é simplesmente deixarmo-nos levar para onde a inspiração nos leva, não deixando de pensar em oferecer ao ouvinte um sabor diferente daquilo que fizemos até agora. Emanuel: Passaram-se quase 10 anos entre a edição dos 2 últimos álbuns. Nesse intervalo foram sempre trabalhando nas novas músicas, ou o trabalho para este “Burden Of Destiny” aconteceu de forma mais concentrada nos últimos tempos? Filipe: Uma boa parte das músicas que compõem o álbum foram escritas entre 2018 e 2019. Até foi esse o motivo pelo qual optamos por parar de tocar ao vivo algures em 2019. Já tínhamos boa parte do álbum composta e já estávamos em contacto com produtores e estúdios para o começarmos a ultimar e gravar. Entretanto a vida meteu-se pelo meio. No meu caso houve um outro enorme projecto na minha vida pessoal, que reduziu enormemente a minha disponibilidade para o trabalho no álbum. Dois anos de pandemia (e diga-se que o álbum começou a ser gravado precisamente em Maio-Junho de 2020 no meu estúdio). Houve também bastante dificuldade da nossa parte em encontrar um produtor/estúdio que se adequasse às nossas

necessidades e visão para este trabalho. A partir do momento em que eu assumi esse papel, essa parte melhorou (com o senão de a minha disponibilidade continuar muito afectada). Mas depois também tivemos dificuldade em encontrar um engenheiro que nos fizesse um mix/master na direcção que queríamos. Nestas coisas perderam-se meses, que se tornaram anos. Por isso, respondendo à tua pergunta, fomos sempre trabalhando no “Burden of Destiny”. A maioria das músicas foram compostas pré-pandemia. A única música que compus pouco antes de lançarmos o álbum foi a “Tears of Ash”, que neste caso é um interlúdio orquestral. Eduardo: Dez anos é muito tempo… mudaram algo no vosso processo de composição e criação das músicas? Filipe: Desde 2015 até agora? Diria que não. Gostamos de compor durante os ensaios. Há sempre uma parte das músicas que saem de jam sessions que vamos estruturando juntos durante os ensaios. Muitas vezes, eu depois vou para casa a pensar nesses esboços e começo a definir mais, faço a notação musical e partilho com a restante banda para estarmos todos alinhados no próximo ensaio. O Fernando depois (ou durante) vai escrevendo as letras e uma linha vocal. E vamos juntando tudo. E também há temas que eu componho sozinho e apresento aos outros 3. Nesse caso fazemos alterações se acharmos que há necessidade de fazer…senão trabalhamos mais uma vez na parte vocal, nos pequenos detalhes e temos o tema composto. Eduardo: Quem é a cabecinha pensadora que está por detrás dos riffs? Filipe: Essa cabecinha pensadora será a minha [risos]. Mas como disse, quando compomos em ensaio, os outros 3 podem por vezes sugerir uma direcção, ou

ideia, e eu tento tornar aquilo que eles estão a pensar em algo sonoro. Eduardo: Quais são as influências musicais que ajudaram a cimentar a vossa sonoridade? Filipe: Muito thrash [risos]. Achei piada, pois acho que a banda mais mencionada nas reviews deste album foram os Kreator e de facto em 2017-18 andei (e andámos todos) a ouvir muito o “Gods of Violence” [risos]. Mas as nossas influências são muito extensas. Temos influências não só do metal mas de outros estilos. Temos a agressividade do thrash, mas também o “peso” do doom, a dimensão do progressivo, a simplicidade viciante do groove. É uma amálgama. E essa amálgama pode ser mais expansiva como no “Everything Ends”, ou mais focada, como no “Burden of Destiny”. Eduardo: A imagem da capa é interessante – (parece-me um campo de concentração, é isso?) De que forma é que se relaciona com o conceito do álbum? Filipe: A imagem é uma foto tirada em Auschwitz, e foi tirada pelo Fernando numa viagem que ele fez a Cracóvia. A temática geral do álbum fala de medo, de guerra, de opressão, da luta e resistência contra essa mesma opressão. Nesse sentido diria que se complementam muito bem a imagem do álbum com a lírica e a sonoridade. Emanuel: Infelizmente, as guerras e a opressão continuam a proliferar em diferentes zonas

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“autobiográfica”, ou sentiu-se […] deixarmo-nos levar tocado no âmago? Eu para onde a inspiração costumo dizer nos leva, não deixando que os festivais de metal são de pensar em oferecer dos festivais ao ouvinte um sabor onde temos as pessoas mais diferente daquilo que camaradas e “paz de alma” fizemos até agora. que há no mundo da música. E eu acho que isso é precisamente devido à agressividade patente na música que se celebra. Depois de debitar tanta agressividade e frustração, quem não fica mais calmo? Entre estes existem uma infinidade de exemplos. Por isso se me perguntas se do globo. Acreditam no poder a arte pode da arte, nas suas mais variadas influenciar esses acontecimentos: formas, para conseguir influenciar não tenho dúvidas! ou mudar o rumo destes acontecimentos? Emanuel: Pouco falta para Filipe: Existe um sample na música atingirem os 40 anos desde “Under it All” do Steve Vai em a fundação dos WEB! Um que alguém diz “God gave the verdadeiro exemplo de gift of artist to the world so that perseverança. Poderemos ver people can dream while they are novo material em breve, ou awake”. Sempre achei o sentimento há planos para alguma edição dessa frase muito acertado. A especial comemorativa? arte (seja ela a música ou outra), Filipe: Ainda é segredo [risos]. é uma forma de expressão, é uma forma de catarse, de libertação e Eduardo: Se não estou em erro, extravasamento. Nem todos temos em 2005 lançaram o vosso a capacidade de nos exprimirmos primeiro álbum de originais, se e e “deitar cá para fora” o que não contarmos com compilações sentimos com a mesma eloquência e demos. O que mudou na vossa ou perspicácia de outros. Muitas forma de fazer música e como vezes o trabalho de um artista mudaram (se é que mudaram) ajuda-nos a pôr por palavras, como músicos? imagens e sons, aquilo que Victor: A maior mudança foi que sentimos mas não conseguimos no princípio tudo era feito e exprimir. Quem nunca ouviu uma composto nos ensaios. Atualmente música e sentiu que era quase já se faz muita composição em

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casa e muitas vezes mesmo antes de ensaiar já todos tiveram a oportunidade de ouvir, opinar ou mesmo alterar algo e voltar a apresentar aos restantes. Depois nos ensaios só temos de “acertar as agulhas”. Como músicos e com o passar dos anos tivemos todos uma evolução em termos técnicos e diria mesmo em termos “táticos” na escolha dos concertos, local, material que levamos, ou seja, toda a experiência que se vai assimilando com o passar dos anos e a acumulação de concertos. Eduardo: Quase 10 anos separam a participação na primeira compilação e o lançamento do primeiro álbum de originais. Acham que se tivessem começado hoje teria sido mais fácil? Victor: Sim, além do maior número de locais e festivais para tocar, há mais consumidores deste género musical. As facilidades que as novas tecnologias nos proporcionam com certeza que iriam contribuir para isso. Claro que fatores como a doença, falta de vontade, ou de tempo, de continuar de alguns dos exmembros seriam na mesma um fator impeditivo, mas penso que o tempo que mediou entre uma coisa e outra teria sido mais curto. Eduardo: Como é que vêm o panorama do Metal em Portugal e como é tentar viver da música? Filipe: O panorama está saudável, mas já esteve mais. As grandes bandas que tivemos ainda são as mesmas e não surgiram outras que se equiparassem em termos de dimensão. Gostaria de ver mais bandas portuguesas a atingirem a dimensão de uns Moonspell (e idealmente ultrapassarem). Vamos tendo um ou outro grupo que se destaca mais, mas já merecíamos uma nova grande banda portuguesa de Metal. Como é tentar viver da música? Apenas posso especular porque nunca tentei [gargalhada]. Diria que viver de ser músico de Metal será muito complicado e vai requerer alargar horizontes. Ser músico de sessão,


dar aulas, talvez integrar outras bandas, outros estilos que possam tocar em eventos com orçamento, pensar em criar um canal de YouTube, etc…Mas ter unicamente uma banda (de metal) e vender álbuns, merchandise e bilhetes de concertos, vai ser difícil. Não quero desincentivar ninguém, antes pelo contrário!, mas vai ser necessário muita perserverança. E também muita qualidade! Eu acho que a qualidade mais tarde ou mais cedo vem ao de cima. É trabalhar nesse sentido. Emanuel: O quinto álbum de originais é já algo que veem no horizonte? Filipe: Quando compusemos o esboço do “Burden of Destiny” é verdade que compusemos material para um outro álbum. Prende-se mais em sentirmos que queremos trabalhar nesse material ou querermos seguir uma outra direcção. Este álbum saiu em Junho deste ano. Acho que ainda tem muito “sumo” para dar. Mas sem dúvida que não queremos esperar tanto tempo para lançar novos trabalhos.

Eduardo & Emanuel: Vi-vos nos Milagre Metaleiro a rebentar tudo, como sempre… como correram os concertos/festivais de verão e o que poderemos esperar de WEB ao vivo para 2025? Filipe: Obrigado Eduardo! Antes de mais quero agradecer teres lá estado e espero que te tenhamos dado um concerto ao nível das tuas expectativas. Quanto a 2025, ainda estamos a reunir as tropas nesse sentido. São os 20 anos do “World Wild Web” (e da minha entrada para os Web). Vamos ver o que nos reserva o próximo ano. Eduardo: Já agora, como curiosidade, aqui há muitos anos toquei com vocês num bar do Porto, num concerto de aniversário (acho eu!!!), não sei a que propósito, não me lembro do nome do bar…a malta era de Ovar e a banda chamava-se Grinder. No entanto, para ser mais correcto, vocês abriram para nós e depois foram embora. O bar ficou com meia dúzia de manos! Mas foi épico [gargalhada]. Filipe: Eish! Assim fica difícil saber!!

Emanuel: Olhando novamente à história dos WEB, que comparação fazem entre a experiência de tocar ao vivo nos anos 80 ou 90, e hoje em dia? Victor: Tudo é mais fácil e eficaz, a logística dos concertos não tem comparação possível, sobretudo nos anos 80 e até meados dos 90 só para transportar o material mínimo para podermos dar um concerto condigno com o que pretendíamos era complicado, muitas das vezes tínhamos de arranjar um PA, nem que fosse só para as vozes, técnico de som, tirando o Rock Rendez-Vous e mais duas ou três salas, não tinham. Hoje em dia, já praticamente todos os bares/casa de espetáculos possuem essas condições, assim como na maior parte dos casos, técnico de som. Outro fator, por exemplo, é a mobilidade de quem queria assistir a um concerto, não era tão fácil como o é agora, por exemplo, do Porto a Viseu hoje demoramos cerca de uma hora, além de termos mais malta nova com carros. Mas tudo isto é normal, não seria se não fosse assim, tudo está em evolução constante e ainda bem que assim o é.

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Satanismo

multicultural

Trata-se de uma banda francesa, mas inclui várias nacionalidades. O que os une? O amor pelo Black Metal old school e o culto de Satã. Entrevista: CSA | Helder Mendes

CSA/Hélder – Saudações! Esperamos que estejam todos bem! CSA – Para começar, gostaria de conhecer a história de Corpus Diavolis. Daemonicreator – Saudações! Corpus Diavolis surgiu em 2008. Com o único objetivo que sempre nos motivou: glorificar o Príncipe deste mundo – Satã.

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Corpus Diavolis não é apenas uma banda. É uma embarcação, que propõe uma viagem iniciática por meio de uma abordagem cerimonial da iluminação e da consciência espiritual satânica. O Black Metal sempre foi um excelente instrumento para difundir e descobrir os conceitos filosóficos e esotéricos. A maior parte das pessoas contenta-se com ouvir a música, mas alguns

– como eu – são suficientemente curiosos para irem mais longe e pesquisar sobre os temas tratados: comprar livros, associar-se a outros praticantes, fundar o seu próprio culto… É espantoso ver até que ponto a cena esotérica tem florescido e verificar que cada vez mais pessoas tomam consciência de ensinamentos que podem melhorar a sua vida. Aconselho-vos a interessarem-se


Corpus Diavolis não se interessa por modas. Procuramos sublimar a tradição através do prisma da nossa loucura.

Atualmente, Corpus Diavolis traça o seu próprio caminho: old school ou contemporâneo, cabe a cada um decidir. Não temos influências, apenas inspiradores. A nossa maior inspiração vem de Satã, do sexo e dos elixires. Por esta ordem.

de se converterem em fórmulas científicas. Uma ciência a que dei o nome de Esoterismo Carnal Satânico. Essa ciência será ainda mais aprofundada no futuro. Tal como os orifícios que serão explorados.

CSA – É fácil perceber quais são os temas que vos interessam. Não receiam parecerem antiquados? Corpus Diavolis não se interessa por modas. Procuramos sublimar a tradição através do prisma da nossa loucura.

também pela Alliance Mystique de Satan Glorifié e pela nossa revista – La Voix de Satan – indo além do álbum.

Hélder – No que diz respeito às letras das canções, podemos referir temas satânicos e sexuais que são a marca de Corpus Diavolis. Pretendem continuar a abordar estes temas? Esses temas estão gravados no nosso nome e não temos nenhuma intenção de nos afastarmos neles. Corpus Diavolis significa o Corpo do Diabo, o nosso vaso carnal, a nossa ligação com o prazer através da Magia Negra Sexual. As letras são muito profundas ao ponto

CSA – Pode-se dizer que apostam numa imagem religiosa? Aliás este álbum assemelha-se a uma missa. A nossa música é concebida como uma cerimónia ou um ritual. O lado ritual é indissociável das imagens religiosas. Penso que a dimensão xamânica e religiosa faz parte do Black Metal – os ritmos repetitivos, a voz possessa ou com ressonância litúrgica… São instrumentos para nos porem em transe, que sempre existiram no Black Metal tal como eu o entendo. Em termos musicais, «Elixiria Extasis» é um álbum muito brutal com verdadeiros riffs ricos em melodias tenebrosas e dissonantes. Algo que tem o perfume do fim dos anos 90, início de 2000, mas sublimado pela aura das ambiências litúrgicas

CSA – O vosso som é bastante old school, mas apresenta pormenores que revelam que estamos perante uma banda moderna. Têm algumas influências específicas? Seguimos a senda do Black Metal desde os anos 90. Trata-se de uma época que se reflete muito em nós.

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e cerimoniais. São tempestades de blasts seguidas por passagens líquefeitas e quase imersivas, quase psicadélicas. Hélder – «Elixiria Ekstasis» não é um álbum de Black Metal convencional. Onde foram buscar a inspiração para os detalhes menos comuns como as passagens mais lentas em “Cyclopean Adoration” ou as influências orientais em “Chalice of Fornication”? Como já referi, as nossas fontes de inspiração são Satã, o sexo e os elixires. Cada faixa é uma história verdadeira, contada de forma poética através do prisma filosófico. Mas continua a ser uma experiência autêntica e vivida com diferentes elixires, diferentes lugares, diferentes rituais, etc. Curiosamente, “Cyclopean Adoration” é uma das raras canções concebidas na solidão, no isolamento e na introspeção. Uma espécie de canalização do subtil sopro interior. Quanto a “Chalice of Fornication”

[…] a dimensão xamânica e religiosa faz parte do Black Metal – os ritmos repetitivos, a voz possessa ou com ressonância litúrgica… São instrumentos para nos porem em transe, que sempre existiram no Black Metal tal como eu o entendo.

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é uma canção à parte, dedicado ao autossacrifício. A canção consagrada à morte e também a última do álbum. Nessa canção, Funeral, o nosso baixista, toca um instrumento exótico – a cítara – para recriar este ambiente de piras funerárias que se encontra na Índia, o grande centro dos sacrifícios espirituais e corporais. Vou traduzir-vos algumas linhas da letra: O meu corpo está pronto para ser morto Para conhecer a morte bem-aventurada dos Ágapes Num último sacrifício ao Todo Poderoso Retalho a minha garganta com a lâmina E a minha alma entoa o Seu nome no seu último suspiro.

CSA – Fui ver quem é Kerbcrawlerghost, o artista gráfico que fez a capa do álbum. Descobri que se trata de Cristóbal Lopez, um artista gráfico chileno. O que pensam da ilustração que ele criou para o vosso álbum? Participaram de alguma forma na sua conceção? Ou afastaram-se para não perturbarem o artista? Já há três nacionalidades em Corpus Diavolis, logo o facto de o Kerbcrawler ser chileno não tem a mínima importância para nós. Já tinha trabalhado com ele para a revista La Voix de Satan e correu tudo muito bem. Isto é muito importante, porque trabalhámos em estreita colaboração. Para nós, a arte é uma parte importante do álbum e deve ser criado como uma obra musical. Está fora de questão pegarmos em algo que já tenha sido feito, temos de participar na sua criação. É um luxo ter um bom artista capaz de materializar as ideias que nos passam pela cabeça. O estilo do Kerbcrawlerghost é refinado, sensual e, ao mesmo tempo, brutal e blasfemo. Representa, de forma perfeita, a essência do álbum: brutal e atmosférico, ao mesmo tempo. Como uma tempestade ou um ato sexual. A beleza entre dois dilúvios de paixão. O visual é frontal e sincero. Tem tomates… literalmente… apesar do

destaque dado aos seios e cona Não nos deixa indiferentes. A imagem mostra uma mulher nua levada por uma multidão. Pessoas que a veneram, mas que estão veladas e, na sua hipocrisia, se recusam a admitir o poder da sua nudez. Esta mulher representa o poder da sexualidade feminina. Ela olha-nos nos olhos e eleva o seu cálice cheio do veneno da sabedoria e do sangue do êxtase, enquanto o bode do desejo a contempla. Provavelmente, eu mesmo! CSA – Reproduzo aqui alguns comentários que eu encontrei no YouTube quando fui ouvir o vosso álbum: Very Black Metal and kinda spooky! | Morbid Black Metal is Beautiful!!! | French Black Metal = some of the best Black Metal! Como foi o álbum recebido pelos fãs (de Black Metal em geral e de Corpus Diavolis em particular? Como o nosso melhor álbum, penso eu. As encomendas aumentaram muito e os comentários são todos positivos. E é normal que assim seja, porque «Elixiria Ekstasis» é um álbum absolutamente fantástico. Não é possível descrevê-lo com palavras, é preciso ouvi-lo para o compreender. E não pode ser ouvido de forma superficial, é preciso fazer um estudo aprofundado das letras e da música. Se o escutarem quando estiverem drogados com “erva” ou cogumelos mágicos, ainda é melhor. Hélder – «Elixiria Ekstasis» é o segundo álbum que a banda lança com a LADLO. Continuam a sentir que é a editora ideal para Corpus Diavolis? Fomos adotados pela família da Sombra e, para já, satisfazem todas as nossas necessidades: basicamente, dar a conhecer ao mundo a mensagem Satânica que temos para transmitir.


Corpus Diavolis não é apenas uma banda. É uma embarcação, que propõe uma viagem iniciática por meio de uma abordagem cerimonial da iluminação e da consciência espiritual satânica.

CSA – Como vai a LADLO fazer a promoção do álbum? Pelos meios habituais: redes sociais, entrevistas, sampler/ compilação… Hélder – Uma última pergunta! A cena Black Metal francesa está a atravessar uma fase de grande atividade e apresenta algumas das melhores bandas neste género. Na vossa opinião, como vai o Black Metal gaulês atualmente? O Black Metal já não é assim tão negro atualmente e isso começou há um bom tempo atrás… No

início, a essência do género era criar algo de diferente e único, cada banda tinha a sua identidade musical própria. Pouco a pouco, cada vez mais bandas começaram a imitar as outras e a fazer clones de Burzum, de Darkthrone… A música ficou assética e a ideologia “negra”, mística e satânica desapareceu, a tal ponto que, hoje em dia, há quem ache que o Black Metal deve ser “seguro”, politicamente correto e inofensivo. Isso enoja-me. E depois ainda há a cena “post-Black Metal”. Não tenho nada contra a ideia de cada um fazer a música de

que gostar, mas deem-lhe outra designação, quando de “negra” só tem o nome! Alguns apoderaramse de alguns modelos de riffs e fizeram do Black Metal uma marca. Felizmente, ainda há bandas de qualidade e os que procuram bem sabem onde as encontrar. Se gostam do esoterismo satânico ou do zen-satanismo tântrico, tomem uma dose dos vossos elixires favoritos e deixem absorver pelo êxtase. Estamos na Terra apenas para uma curta viagem, logo há que aproveitar. Glória a Satã!

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esys K

Ritmos enfeitiçantes Jeff Grimal, músico e artista gráfico, convidou a Versus Magazine para mais uma conversa sobre um dos seus inúmeros – e maravilhosos – projetos musicais. E assim os fãs portugueses ficam a conhecer mais uma banda, cuja música é, no mínimo, fascinante. Entrevista: CSA

Saudações, Jeff! Espero que estejas bem. Não é a primeira vez que és entrevistado para a Versus Magazine, mas nunca falamos de Kesys. Portanto, está na hora de darmos a conhecer este projeto. Para começar, gostarias que nos contasses a história da banda. Jeff – Saudações! Criei Kesys em 2019, depois de um período difícil na minha vida. Nessa altura, tinha vontade de abandonar tudo e de me dedicar a coisas mais sãs. A ideia de lançar um projeto a solo, inteiramente pessoal, pareceu-me interessante. Compus um primeiro EP com o nome de «Kesys», que saiu nesse mesmo ano. Esse EP apresentava sonoridades Folk e Neo Folk e inspira-se em bandas como Empyrium, adicionando-lhes um sabor Post-Rock e dandolhe uma dimensão repetitiva. Depois, lancei um álbum em 2020,

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intitulado «Ascent-Fall». Também gravei uma sessão em minha casa, intitulada «Rehearsal Number 1 in My Living Room», a 14 de fevereiro de 2024. E agora tenho um novo EP, que deverá sair em outubro e que será o primeiro de uma trilogia. E – por falar de elementos – o que podemos encontrar no som de Kesys? Como já referi, o primeiro EP (2019) tem um estilo Folk/Neo Folk com elementos de Pós-Rock. O álbum «Ascent-Fall» (2020) dá continuidade a este EP, com um lado ainda mais repetitivo, talvez mais sombrio e mais místico. O novo EP de 2024 assume uma direção ligeiramente diferente. Inclui bateria e baixo, o que lhe confere uma índole quase progressiva, gerando uma espécie de mistura de Folk e de Post-Rock

com uma ligeira influência da música dos anos 70. Quem se encarregou da composição? Fui eu que compus quase tudo, exceto a parte do baixo no último EP, tocado pelo meu amigo Benoît Gateuil (Ænimals, ex-Citadel). Quanto à bateria, criei uma base rítmica e depois pedi ajuda ao Simon Renault, um baterista de Jazz. Há ainda partes de flauta tocadas por Thomas Boissier (Wegferend). Tens algumas referências especiais, outras bandas que te inspirem? Inspiro-me em tantas coisas que é difícil fazer uma lista completa. Ouço uma grande variedade de estilos, desde Black Metal a Jazz, passando pelo Hip-Hop.


Realmente, não tenho barreiras musicais. Posso mencionar Swans, devido ao lado repetitivo da sua música. Apesar de o estilo de Kesys não ter nada a ver com eles, assemelhamo-nos em termos de energia e de visão musical, temos uma verdadeira proximidade. Também poderia evocar Godspeed You! Black Emperor, que ouço muito, devido à sua abordagem Post-Rock. Ou ainda Wovenhand, num registo de Folk americano. Como podes ver, é mesmo difícil para mim referir uma banda em especial, um estilo preciso, tantas são as maravilhas que encontro na cena. És muito talentoso. Estudaste música? Sou autodidata. Tive algumas aulas de guitarra e bateria durante algum tempo, mas 90% do que sei aprendi sozinho. A que se refere o nome da banda? Tem uma sonoridade muito misteriosa. Inicialmente, queria chamar “Hermit” ao meu projeto, mas já havia várias bandas com esse nome. Com a ajuda de um amigo, comecei a procurar traduções da palavra “sorcier” (“feiticeiro”) em várias línguas. Foi assim que dei com a palavra “Kesis” em Turco. Esta palavra chamou logo a minha atenção, porque captava a essência do meu projeto. Para lhe dar uma índole singular, limitei-me a substituir o “i” por um “y”. Este nome exala um certo mistério e evoca uma ligação a temas mágicos, o que reflete a minha abordagem pessoal da música. “Kesys” encarna a ideia de explorar forças invisíveis e emoções profundas, o cerne da minha criação artística. Como apresentarias este EP a alguém que ainda não o tivesse escutado? Se procuras um disco para relaxar e sonhar, este foi feito para ti! E como é que tu e os teus companheiros se organizaram

para criar esta obra? Eu compus e gravei todas as partes de guitarra em minha casa. O Benoît trabalhou em casa dele antes de me vir trazer o seu material artístico. Fez um trabalho fantástico no baixo: quase não tive de lhe pedir para tirar partes, porque estava tudo muito bem pensado. No que toca à bateria, mandei as maquetes ao Simon, que também fez um trabalho excecional gravando tudo no seu estúdio. Foi-me enviando as suas ideias para validação, à medida que ia avançando com o trabalho, e a sua criatividade enriqueceu muito o som final. Para as partes de flauta, o Thomas começou por vir a minha casa para fazer uma primeira versão e depois apresentoume uma versão final muito mais conseguida e expressiva. Gostei particularmente da guitarra, que é o teu instrumento. Podes fazer-nos uma visita guiada do teu trabalho neste EP? “It Will Be Night Soon” destacase pela sua guitarra a lembrar os blues. Optei por uma abordagem repetitiva, que gera um ambiente imersivo. A canção está toda articulada em torno de uma melodia de guitarra principal, que vai evoluindo e é enriquecida por um solo melódico. Este último elemento associa-se harmoniosamente a um final PostRock, que convida à reflexão. Trata-se de uma verdadeira viagem musical e espero que agrade tanto aos que a escutarem como me comoveu a mim quando a criei. “You and I Can Reach the Stars” abre com guitarras que deslizam para um registo ainda mais Post-Rock e acabam por evocar melodias características do PostBlack Metal (não consigo escaparlhe, haha). No meio da canção, a guitarra sozinha apresenta um som típico dos blues e bem americano que faz lembrar o guitarrista Estas Tonne. O final oferece uma verdadeira explosão de Folk atmosférico realçado por teclados. “Au Delà” é uma canção Folk repetitiva, que evoca os outros

Inspiro-me em tantas coisas que é difícil fazer uma lista completa. Ouço uma grande variedade de estilos, desde Black Metal a Jazz, passando pelo HipHop. Realmente, não tenho barreiras musicais.

discos. As linhas de guitarra criam um ambiente nostálgico, lembrando as minhas origens. Este tipo de canção fará sempre parte dos meus próximos álbuns, porque me permite homenagear as minhas raízes musicais, ao mesmo tempo que explora novas sonoridades. “Merci la Lune” é a faixa mais diferente deste EP. No que toca à guitarra, inspira-se simultaneamente no Folk e no Math Rock. Como é a última canção do EP, serve para mostrar em que direção vai o projeto seguir, apresentando partes de guitarra mais elaboradas. Abre o caminho a sonoridades mais complexas. Reparei que a terceira canção é muito Folk. A que se deve essa mudança de estilo? Apenas queria relembrar as influências mais Folk dos meus discos anteriores. Essa canção tem alguma coisa a ver com a paisagem do lugar onde vives? Faz-me pensar na beleza solitária das montanhas. Apesar de eu não viver perto de montanhas, a minha região tem belas paisagens campestres

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[…] “Kesys” encarna a ideia de explorar forças invisíveis e emoções profundas, o cerne da minha criação artística.

e marítimas. Esses elementos naturais exercem uma grande influência sobre a minha música e podem evocar uma certa beleza solitária, tal como as montanhas. Creio que a tranquilidade da natureza que nos rodeia se reflete nesta composição. Não há letras, mas mesmo assim as canções têm títulos. Reparei que estão todos relacionados com o espaço sideral. Porquê? É verdade que me sinto fascinado pelo espaço sideral, mas cada canção tem um significado diferente. “It Will Be Night Soon” evoca os momentos difíceis da vida em que esperamos ansiosamente pelo repouso para recuperarmos e recomeçarmos. “You And I Can Reach The Stars” fala de relações harmoniosas, seja amor ou amizade, esse dueto que nos faz sentir que somos únicos e preciosos. Apesar desses momentos serem raros, são essenciais e temos de saber apreciá-los. “Au Delà” aborda a introspeção e a viagem interior, explorando em simultâneo o nosso lado sombrio e o luminoso. Por fim, “Merci la lune” lembra as fases de dúvida e caos. Decidi falar da Lua, porque ela exerce uma força gravitacional sobre a Terra, que

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influencia as marés. Uma vez que o nosso corpo inclui 60% de água, essa influência simbólica pode levar-nos a desistir ou a perseverar em certos aspetos da nossa vida. Todas as canções são instrumentais. É uma característica da banda? Neste EP, não há voz, mas não é esse o caso em «Ascent-Fall». Tenciono incluir alguns vocais nos próximos discos. Sei que a capa é uma pintura da tua autoria. Podes explicar-nos o que querias exprimir através desta obra plástica e de que forma este trabalho artístico se relaciona com o tema do EP? O quadro representa um caminho ladeado por uma paisagem luminosa. Depois da tempestade e da dúvida, o sol aparece e as nuvens dissipam-se. A vida é uma luta constante entre a sombra e a luz e é essencial encontrar um equilíbrio para avançar em segurança. É isso que representa a capa: uma caminhada em direção à claridade depois de momentos tumultuosos. Tens uma editora? Se não, como fazes para dar a conhecer a tua música? O álbum vai ser lançado por mim,

mas tenho o apoio da Duality Records e da Araki Records para a promoção. A estratégia que uso é simples: fazer muitos concertos e recorrer às redes sociais, tais como Bandcamp, Spotify, Facebook e Instagram. Vais fazer concertos? Estou a ver este EP tocado em locais como clubes ou no espaço cultural de uma livraria ou mesmo de uma biblioteca ou num centro cultural. Desde o início do projeto que faço concertos, sempre a solo. De futuro, tenciono tocar com três ou quatro músicos. Mas atenção: este projeto não tem barreiras. Se me apetecer fazer um concerto sozinho, faço-o. Mas, se me der na real gana, toco com outros músicos. Nada de limites! E posso apresentar versões diferentes, de acordo com o que pretenderem. Queres deixar uma mensagem aos futuros fãs portugueses? [Tenho a certeza que vai haver.] Espero sinceramente que a minha música vos agradará e que um dia terei a oportunidade de tocar no vosso belo país! Obrigada pela entrevista!


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empos Antigos De regresso a este mundo, Daemon traz-nos um vislumbre de outras paragens e outros tempos em «Opus Daemoniacal». À conversa com a Versus, discorre sobre Limbonic Art e a evolução do Metal, sem esquecer de narrar a criação do seu último contributo para a glória do Black Metal.

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Entrevista: CSA | Fotos: Sean Fulton


Foto editada por Esther Villela

Saudações, Daemon! Espero que estejas bem! Limbonic Art é uma verdadeira lenda. De que forma os anos e a mudança de lineup afetaram a banda? Daemon – É óbvio que, quando Limbonic Art era um duo, muitas vezes fazíamos reuniões cerimoniais na floresta mais próxima, antes e depois dos ensaios e partilhávamos ideias sobre música, que depois integrávamos nas nossas sinfonias. Por muito estranho que isso pareça, tínhamos um acordo tácito, que implicava usarmos todas as ideias. E isto resume os primeiros tempos da banda. E foi algo incrivelmente mágico durante bastante tempo. E aconteceu há muito tempo também. Ainda

é completamente impossível manterse original. Há demasiado bandas e artistas ávidos de fama, por isso continuam a copiar as suas bandas favoritas. Mesmo que eu, como artista, quisesse manter-me fiel às minhas origens, continuaria a soar como algo já ouvido. É por isso que Limbonic Art foi sempre mais longe e mais além, fosse lá como fosse, sempre a experimentar coisas novas. Já houve fãs e até editoras que me perguntaram se eu conseguiria fazer outro álbum como «Moon in the Scorpio». É claro que sim, mas, como artista, não reajo bem a encomendas. Nunca fiz música para ser famoso ou ganhar muito dinheiro. Isso é contra os meus princípios de

[…] Os vizinhos começaram a enviar mensagens ao dono do estúdio para manifestarem a sua preocupação, porque parecia que estava a decorrer um exorcismo e que estavam a matar gente. Provavelmente, foi o melhor feedback que eu tive na minha vida […] estávamos nos primórdios da primeira vaga de Black Metal, parecia que tínhamos o mundo todo à nossa frente. Ao fim de algum tempo, começaram a chegar à cena cada vez mais bandas, que nos imitavam ou a bandas similares, por isso tornou-se cada vez mais difícil evitar ser sugado por esse vórtice. A minha única intuição, no que toca à música, diz-me que a partir de certa altura

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artista underground. A música é apenas uma forma indispensável de me libertar do demónio extremo que me atormenta. Trabalhar sozinho em Limbonic Art não mudou grande coisa, exceto no que toca a ter de fazer tudo sozinho. A única ajuda que tive veio de alguém que domina a parte técnica melhor do que eu. Como sou um artista old school, estou anos luz abaixo de todos em matéria de competências digitais. Não é algo que me desperte interesse, mas já percebi que pode ser útil. Pode permitir-te criar um álbum completamente sozinho. Em álbuns anteriores – «Phantasmagoria» (2010) e «Spectre Abysm» (2017) – tive menos apoio durante a gravação. Compus em minha casa, num ambiente íntimo, e ia ao estúdio de vez em quando para gravar as minhas ideias novas. Quando estava a compor «Spectre Abysm», passei muito tempo sozinho no estúdio, a compor as orquestrações sinfónicas. Eram camadas e camadas de material extraordinário. Soava como uma orquestra sinfónica completa. O dono do estúdio tinha sido pai há pouco tempo e cuidar do filho era a sua maior ocupação. De vez em quando aparecia e dizia que a música começava a soar como Limbonic Art dos primórdios da banda. E eu estava de acordo, era

esse o objetivo que me levava a dedicar tanto tempo a esse trabalho. Infelizmente, tivemos de enfrentar inúmeras adversidades durante a gravação. De repente, o disco rígido do computador avariou por completo e ele teve de instalar tudo do zero. Depois houve um incêndio no estúdio provocado por um curto circuito, o que o obrigou a chamar um eletricista. Isto tudo e adversidades pessoais que ambos tivemos atrasou muito o trabalho. A certa altura, eu tinha um atraso de dois anos em relação ao prazo estipulado e a minha editora dessa altura (a Candlelight) começou a interrogar-se sobre se eu seria capaz de o acabar. Para salvar os ficheiros, tive de tomar uma decisão difícil: recorrer a outro estúdio e tentar acabar rapidamente. Mas parecia que a “maldição” me tinha seguido e, ao transferir os ficheiros do meu disco externo para o novo computador, aquilo ficou tudo desformatado. Apenas conseguimos salvar as partes de bateria. Todas as horas de orquestração sinfónica fantástica ficaram completamente dessincronizadas, portanto tive de tomar a dura decisão de apagar todos os ficheiros. Devido à falta de tempo e para satisfazer as exigências da editora, tive de me concentrar em acabar as partes de Metal e a voz. No fim

[…] Cada álbum que faço é uma obra de arte musical, quer tu aceites, quer não! Para mim, a música sempre foi um meio de escapar à realidade criando um mundo de fantasia.

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de tudo, consegui adicionar umas passagens de sintetizador, mas foi algo minimalista. Há mais algumas coisas interessantes que eu poderia acrescentar a esta história. Estava a fazer experiências com algumas encantações ferozes em Latim durante a gravação da voz para «Spectre Abysm». Em poucos minutos, o tempo passou de quente e ensolarado a enevoado e ameaçador. Abri a porta do estúdio para arejar e vi o céu ficar tenebroso a meio do dia. Logo de seguida, soou um trovão aterrador e caiu-nos o inferno em cima. Foi fantástico! Depois de mais alguns anos de problemas pessoais e de um terrível bloqueio criativo no meu apartamento, um dia fiz a minha mala e fui para o local de ensaios de um amigo para gravar. Era o mesmo estúdio a que recorri durante a gravação de «Spectre Abysm». Não tinha novas ideias musicais, portanto limitei-me a passar tempo numa altura de adversidade. Sentiame como se a minha vida tivesse chegado ao fim, mas pelos vistos o inferno tinha planos para mim. Durante esse tipo fumei imensa “erva” para me estabilizar e abrir os meus canais. Comecei a tocar com “Drumkit from Hell”, apenas para matar tempo, mas aquilo foi evoluindo e ficando fantástico. Trabalhava todo o dia desde manhã cedo, porque o estúdio estava deserto, e dormia no meu carro durante a noite com temperaturas baixíssimas. Também passava muito tempo na floresta a visitar ruínas antigas sob a cúpula escura do céu noturno. Contemplava as estrelas e a lua, pedindo orientação durante estes tempos difíceis. E parecia que tinha resultado. Em dois meses, compus as bases de 10 canções novas para Limbonic Art. E, embora me focasse no programa de bateria, também já tinha as principais linhas de guitarra gravadas. Tudo parecia estar muito bem até a maldição atacar novamente. O teto do estúdio foi danificado por uma enorme infiltração de água proveniente do telhado e todo o equipamento


teve de ser removido e renovado. Parecia tratar-se de um trabalho demorado, logo eu gravei os meus ficheiros e contactei um estúdio mais profissional para continuar a trabalhar. Mais uma vez, tive dificuldade em transferir os ficheiros, porque o sistema era ligeiramente diferente. Mas o proprietário do estúdio era um técnico experiente, que rapidamente encontrava soluções. Pela primeira vez, dei início a um projeto sem um orçamento para o estúdio, logo estava tudo a meu cargo. Portanto, para me ajudar a poupar dinheiro, o dono do estúdio deu-me um curso intensivo sobre como gravar usando o seu sistema ligeiramente diferente, portanto eu pude continuar a trabalhar sozinho sem ser incomodado de forma alguma. Não conhecia o gajo de lado nenhum, mas era um fulano muito simpático e, quando eu tinha dificuldades técnicas, aparecia logo para resolver o problema e depois deixava-me sozinho para eu continuar a fazer o meu trabalho. Foi uma experiência maravilhosa. Pela primeira vez na minha vida, tive tempo para fazer experiências com diferentes guitarras para obter diversos sons. Mas, devido a alguns pequenos problemas de tom, acabei por usar uma só guitarra – uma BC RICH Pro X – que era maravilhosa. Comprei-a especialmente para esta produção. Como o estúdio ficava num bairro antigo, com casas por todo o lado, tive uma experiência muito fixe quando estava a gravar a voz para o álbum. Os vizinhos começaram a enviar mensagens ao dono do estúdio para manifestarem a sua preocupação, porque parecia que estava a decorrer um exorcismo e que estavam a matar gente. Provavelmente, foi o melhor feedback que eu tive na minha vida, porque me senti muito satisfeito com aqueles comentários. Sentes falta do tempo em que a banda tinha outros membros? Continua a ser um excelente Black Metal, bem old school, algo que

eu adoro! Quando ouço este tipo de som sinto-me como se me tivesse evadido deste mundo. Espera despertar este tipo de sentimentos nos teus fãs? No início, houve alturas em que senti mesmo a falta de um lineup composto de gente dedicada. Mas eu sou de uma parte da Noruega que tinha poucos músicos de Metal com experiência (ou nenhum) e os que se dedicavam ao Metal clássico não adoravam o Metal extremo como eu. Lembro-me que alguns músicos já velhos até fizeram pouco de mim dizendo que o Metal extremo é só barulho produzido por indivíduos que não sabem tocar. Falaram de Venom como um exemplo da coisa. Mas, mais tarde, quando perceberam quão profundamente envolvido eu estava nos aspetos mais tenebrosos da vida usando cruzes invertidas, pentagramas, etc., começaram literalmente a ter medo de mim. No início dos anos 90, a polícia da minha cidade natal até pôs um sistema de defesa à volta das igrejas e patrulhavaas com medo de fogo posto ou outras atividades satânicas. Era mesmo fixe que um só indivíduo causasse tanta agitação por ser obviamente membro de uma comunidade clandestina de Black Metal, como eles pensavam. Até recebi telefonema dos media locais a pedirem-me entrevistas sobre satanismo e incêndios em igrejas. Foi um tempo glorioso e talvez isso tenha suscitado a curiosidade de alguns indivíduos levando-os a ir ver o que era realmente o Black Metal. Lembro-me que os tais músicos já velhos reapareceram anos depois a dizer que não toleravam nenhum dos meus atos criminosos relacionados com esse género musical, mas que o facto de eu ter lançado vários álbuns e até ter feito digressões na Europa e visitado os Estados Unidos por causa do Milwaukee Metal Fest, era algo que ultrapassava todas as suas expetativas e que se sentiam obrigados a aceitar-me como um verdadeiro artista. Antes de mais, eu crio a música DE QUE EU

GOSTO e se outros acharem que vale a pena ouvi-la, tanto melhor. Mas nunca estive interessado em ser famoso ou algo desse género. Cada álbum que faço é uma obra de arte musical, quer tu aceites, quer não! Para mim, a música sempre foi um meio de escapar à realidade criando um mundo de fantasia. Fui ver o site de Esther Villela para observar as fotos que ela fez para este álbum e constatei que ela te fez parecer um rei antigo. Associas esta imagem ao teu álbum mais recente? Todas as fotos e o vídeo foram feitos por Sean Fulton, um artista experiente que me foi apresentado por um metaleiro meu amigo. Passou imensas horas a tirar fotos e a fazer vdeoclips para Limbonic Art apenas pelo prazer de o fazer. Pelo menos no início, não se importou minimamente que não houvesse financiamento para este projeto e fez um trabalho espetacular. Tenho o máximo respeito por ele e pela sua arte e nunca poderei agradecer-lhe o suficiente. Esther Villela tinha uma relação pessoal com Sean Fulton e ele pediu-lhe para apurar algumas fotos usando o Photoshop. E os resultados eram realmente fantásticos. Tenho de referir que, para as fotos e o vídeo, Sean Fulton construiu um cenário digno da série VIKINGS. Apanhou lenha e recolheu ossos de animais e fez um muro com esses materiais e, no meio, pôs um trono para eu me sentar. Estava tudo rodeado de neve que ia derretendo, à medida que incendiávamos o solo. Era fantástico e eu senti-me como um rei Viking sentado naquele trono. Na verdade, eu sou um Norueguês puro, corre-me nas veias o sangue dos Vikings. Os meus antepassados foram conquistando a terra e os mares durante gerações. Sendo seu descendente, tenho a mesma mentalidade que eles, por isso não é estranho ser retratado como um Rei dos tempos antigos. O lugar onde estávamos era muito isolado e a única coisa que lá havia, para

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além deste cenário, era a cúpula estrelada do céu da noite. Quando fizemos o vídeo, estávamos na estação das auroras boreais. Mas, infelizmente, não houve nenhuma, enquanto estivemos a trabalhar ali. Eu e o Sean Fulton internámonos nas montanhas e encontrámos uma área desolada onde filmámos usando um drone, enquanto eu caminhava por ali horas a fio suportando temperaturas glaciais. Era difícil ver o que estava debaixo dos meus pés por causa de toda aquela neve e, a certa altura, quebrei o gelo e afundei-me em água gelada. Consegui escapar e continuei a caminhar durante horas para não morrer de frio. De facto, sacrifiquei-me e pus a minha vida em risco nesta aventura. Segui as pegadas de um lobo na neve e, a dada altura, vi uma águia nos céus. Nessa altura, tinha poucas ou nenhumas possibilidades de comunicar com o Sean Fulton e o único sinal da sua “presença” era o zumbido do drone perto de mim e circulando à minha volta. Caminhei e caminhei em direção ao horizonte desolado durante horas, sem nada para ver senão montanhas cobertas de neve a perder de vista em todas as direções. Isto não é nada de novo para mim, mas era a primeira vez que me encontrava nesta situação sem os meus fiéis companheiros de viagem: os meus cães. No entanto, era assim que os antigos Vikings viviam, sobretudo a gente mágica, os xamãs. Vagueavam pela terra sozinhos, observando, esperando e procurando inspiração nos reinos dos antigos deuses. Não era minha intenção dar este toque Viking ao conceito central do álbum. Mas fiquei mesmo inspirado e, de certo modo, isso faz parte de mim, de quem eu sou e serei sempre. Sou um caminhante, neste mundo e entre mundos. Sou guiado por algo que não pertence a este mundo! Penso que Esther Villela capturou este fenómeno, quando trabalhou as suas ideias. Nunca a conheci pessoalmente, mas estou muito grato tanto a ela como ao Sean Fulton pelo seu trabalho. Nunca

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me cobraram um cêntimo pelo seu tempo, certamente porque são pessoas talentosas que queriam ajudar. Pessoas destas são raras! Por falar de imagens, quem fez a ilustração para a capa do álbum? Não consegui encontrar essa informação. Foi a Esther que a criou? A Esther criou as primeiras ideias para o contexto cósmico que rodeia a minha foto, mas foi o Lukasz, o designer da editora, que pegou na ideia e a aprofundou chegando a um resultado final espetacular com dragões demoníacos e desenvolveu ainda mais o universo cósmico. Um amigo meu do Metal norueguês uma vez apelidoume de “comandante dos cães do inferno”, porque eu trabalho com cães agressivos e eles são muitas vezes a força que me anima e me faz avançar na vida. Tenho a impressão de que isso não escapou à Rayshele Teige, a gerente da editora, com quem me entendi bem desde o início. Talvez ela tenha dito algo sobre isso ao Lukasz, porque ambos concordamos que os dragões têm uma expressão semelhante à dos cães ou dos lobos e são eles que puxam a minha carruagem. Podemos dizer que este álbum é uma reflexão sobre o mundo atual? Eu diria que toda a minha música é uma reflexão sobre o mundo antigo, mas tem laivos do mundo moderno, sobretudo no que toca à produção do som. Contudo, preservou alguma da história antiga. Apesar de o computador ser um recurso valioso, penso que muitas vezes a produção deste novo milénio é demasiado digitalizada e maçadora. É como se a digitalização estivesse a matar a música de certa forma. É claro que eu compreendo que o conceito de bom som é algo muito abstrato, mas deve haver muitas opiniões sobre este tema. Francamente, prefiro a produção dos anos 70, 80 e 90 e penso que o novo

milénio tem sobretudo produzido lixo e coisas desinteressantes. Ouço os mesmos riffs e melodias – copiados centenas de vezes, mas com efeitos modernos – e os simplórios creem que reinventaram um género musical…?! Até certo ponto compreendo que se possa pensar que a produção antiga era um pouco “fraca”, mas pelo menos a crueza no som é idêntica à da banda a tocar ao vivo. Na minha opinião, isso é muito importante! Já nos anos 90 se achava curioso que as bandas de Metal que usavam o mesmo estúdio “profissional” soassem exatamente da mesma maneira. Os Suecos produziram o seu tão célebre Death Metal e o mesmo aconteceu com os americanos que usavam o Morrisound Studios e Scott Burns, um técnico talentoso e brilhante que todos queriam. E assim muitas bandas começaram a soar da mesma maneira. Os Noruegueses criaram o som do seu Black Metal em Grieghallen, o que eu consigo compreender, porque é espetacular. Ajudei os membros de Emperor a transportarem o seu equipamento de Notodden para Bergen antes de gravarem «Anthem». Estive lá e conheci Pyten, que era o engenheiro do estúdio e que esteve na origem de todas as produções famosas dos anos 90. Era muito profissional, com um conhecimento único do que os artistas queriam para a sua música. Creio que muitas produções são um reflexo do tempo em que foram feitas. Mas mesmo assim ainda houve algumas produções deste milénio que soavam como se pertencessem a outra era. Isso é algo que me ocupa como artista e me dá um grande prazer. Como sou um grande fã de Metal old school, penso que é inacreditavelmente excitante que alguém consiga recriar o som antigo nos tempos modernos. É tão fácil perder-se em todas aquelas paisagens digitalizadas! Nem que fosse gravado com a tecnologia dos tempos modernos, eu queria ter um som old school no meu novo «Opus Daemoniacal».


Como estão a imprensa e os fãs a reagir a este novo álbum? Tal como era de esperar, há várias opiniões. Alguns pacóvios ainda não engoliram o facto de o Morfeus já não fazer parte da banda e isso já aconteceu há duas décadas. Ouço muitas queixas de pessoas que sentem a falta dos velhos tempos em que o som da banda comportava mais teclados e sintetizador. E outros rejubilam porque Limbonic Art se tornou mais agressiva e está mais próxima do Black Metal puro. É impossível agradar a todos, portanto mantenho a minha afirmação inicial: eu crio e componho música sobretudo para mim, de que eu gosto. Os outros podem gostar ou não! Adorem-na ou odeiem-na! Não sigo atentamente as redes sociais, portanto não sei o que por lá anda. Do lado da imprensa geralmente surgem profissionais que dão a sua opinião, mas com respeito pelo artista e é claro que é assim que deve ser. Mas tem havido alguns trolls a fazer comentários merdosos online, mas é assim que esses idiotas funcionam. Escondem-se atrás dos seus malditos teclados a largar o seu veneno ofensivo. A dizer coisas que nunca ousariam dizer na minha cara. Foi nisto que a sociedade se converteu. Adoraria poder enviar cascatas de raios mortíferos para aniquilar esses indivíduos e as suas famílias instantaneamente. Gostaria de ver a sua descendência gaseada e queimada em incineradores, enquanto a sombra ominosa do demónio pairaria por cima do cenário. Esta banda é um exemplo de multiculturalismo: tu és norueguês, a tua editora é grega, a artista gráfica é mexicana. Uma verdadeira imagem do mundo moderno, não é? É impossível escapar ao facto de que o mundo se está a ser cada vez mais afetado pelo multiculturalismo. Realmente, eu sou norueguês; o Sean Fulton (que fez todas as fotos e o vídeo) é britânico, provavelmente escocês;

[…] Não era minha intenção dar este toque Viking ao conceito central do álbum. Mas fiquei mesmo inspirado e, de certo modo, isso faz parte de mim, de quem eu sou e serei sempre. Sou um caminhante, neste mundo e entre mundos. Sou guiado por algo que não pertence a este mundo!

a Esther (a companheira dele) é mexicana; o Lukasz, o deigner da editora, é polaco, penso eu. A editora inicialmente era grega e era dirigida pelo meu amigo Iannis Mantzoros, mas recentemente foi vendida a Martin Koller o CEO da SPKR Media, que é uma companhia com escritórios na Alemanha e nos EUA. A gerente da minha editora – a querida Rayshele Teige – vive em Los Angeles, mas é meio norueguesa, meio brasileira. O meu promotor – o Gunnar – é alemão (penso eu), mas viveu na Noruega durante algum tempo a trabalhar e, ocasionalmente, a pescar com nomes famosos do Black Metal, chegando mesmo a estar na TV nacional (NRK). Aí tens! Uma imagem do mundo moderno? Penso que sim! Vais fazer alguns concertos? Se sim, quem estará contigo no palco? Não, nem pensar nisso, esses dias já passaram há muito tempo. Embora tivesse sido muito interessante viajar e tocar para a audiência sofisticada e os fãs que nos ouviam! Era muito stressante e frequentemente tínhamos problemas com o som, tanto no palco como na arena. Havia fãs fiéis que vinham ter connosco depois dos concertos para nos dizerem que tinha sido fantástico ouvir-nos ao vivo, mas o som era tão caótico que era difícil reconhecer o material do álbum. Também não tínhamos pensado em fazer concertos com Limbonic Art, porque éramos só dois a tocar e havia a minha voz, é claro.

Mas acabámos por experimentar isso para promover a banda. Atualmente e mesmo com a idade que eu tenho, houve músicos proeminentes a oferecerem-se para me acompanhar onde quer que eu quisesse levar Limbonic Art para fazer concertos novamente. Mas, infelizmente, perdi todo o interesse e gosto em tocar ao vivo. Como é que a tua editora vai promover o álbum? A minha nova editora é extraordinária em todos os aspetos. Finalmente, tenho uma editora que realmente trabalha para mim e faz uma promoção fantástica! Já tocaste em Portugal ou estiveste no meu país? Temos uma comunidade Black Metal pequena, mas fiel. Não, infelizmente nunca estive em Portugal. Não sei quase nada sobre o vosso país a não ser que a vossa língua é única, até é falada no Brasil. Tive o prazer de conhecer os Sirius, quando gravaram um álbum aqui na Noruega, e de me juntar a eles no estúdio para contribuir com alguns gritos e voz. Uma banda muito talentosa, que cria música muito boa. Penso que chegamos ao fim desta interessante entrevista. As minhas últimas palavras vão para a vossa pequena, mas fiel comunidade de Black Metal. Obrigado pelo vosso apoio ao longo destes anos. Radix Firmus!

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PALETES Por: Carlos Filipe

Witch Vomit - «Funeral Sanctum» (EUA-Oregon, Death Metal) | Os dois lançamentos anteriores do WITCH VOMIT, «Abhorrent Rapture» e «Buried Deep In A Bottomless Grave», solidificaram os Witch Vomit como uma das fontes mais potentes e directas do Death Metal dos EUA. Com um fervor metodicamente implacável e uma agressividade impiedosa, eles esculpiram uma formidável reputação de barbárie com ganchos tão cativantes que arrancam carne de osso. «Funeral Sanctum» expande as melodias sombrias enterrado na carnificina de lançamentos passados, fundindo-a com a brutalidade característica da banda. (20 Buck Spin) Vøidwomb - «Spiritual Apotheosis» (Portugal, Black/Death Metal) | Nas costas de Portugal, nas profundezas do norte do país, uma criatura espreita na sombra. Vøidwomb é um quinteto de black metal nascido em 2019, que até agora lançou um EP. Depois de três anos nas sombras, a banda radicada em Viana do Castelo está de volta à luz com o seu primeiro álbum. «Spiritual Apotheosis» é uma experiência imersiva de black metal que irá guiá-lo através da escuridão total inerente da condição humana e a busca catártica da iluminação. (Avantgarde Music) Tarot - «Glimpse Of The Dawn» (Austrália, Heavy Metal/Hard Rock) | Hard rock vintage, terroso dos anos 1970 feito diretamente do Land Down Under! O aguardado segundo álbum dos australianos TAROT, imagina o hard rock pesado de órgão Hammond B3 para uma nova geração! Enquanto «Spectre», assumiu anteriormente a carga de composição, o álbum apresenta contribuições de todos os membros do TAROT. (Cruz del Sur Music) Tonnerre - «La Nuit Sauvage» (Canadá, Hard Rock) | Rock pesado e baseado em blues que se pode dançar! Os roqueiros de Quebec, TONNERRE emergem com «La nuit sauvage», um rock pesado inspirado nos anos 70 que leva pistas de AC/DC e Blue Öyster Cult - completo com letras cantadas em francês! O álbum de estreia da banda, «La nuit sauvage», é tal como a própria noite, um álbum que vai ficando mais sombrio e misterioso à medida que se desenrola. (Cruz del Sur Music) Waidelotte - «Celestial Shrine» (Ucrânia, Progressive Balck/Death Metal) | WAIDELOTTE é uma nova banda de Extreme Metal da Ucrânia que combina Black Metal, Death Metal melódico e Metal Progressivo com canto e instrumentação tradicionais de Folk. O apaixonado e viciante álbum de estreia, «Celestial Shrine» equilibra riffs violentos, ritmos de condução, linhas de baixo fluidas e vocais furiosos com uma sensação pungente de melancolia através de harmonias rurais simples e exultantes e o uso de instrumentos nativos, incluindo o duduk, bandura, tsymbaly e hurdy-gurdy. (Debemur Morti Productions) Iota - «Pentasomnia» (EUA-Utah, Stoner/Sludge Metal) | O trio de rock pesado de culto psicadélico IOTA lançou o seu aguardado LP «Pentasomnia». Este é um álbum de cinco sonhos, que marca o regresso de um projeto iniciado por Toscano em 2001, uma banda que tem sido intermitentemente vivida, engavetada, empurrada, puxada, esticada e torcida, mas cujo som brilha com a atmosfera emocional, ressonante e bluesy dos vocais de Toscano. «Pentasomnia» é coeso, e inesperado como um regresso inesperado. (Earsplit) Martin Howth - «Distant Dissonance» (EUA-New Jersey, A Capella) | MARTIN HOWTH é o projeto solo de looping da vocalista de jazz Audra Mariel baseado em Atlantic Highlands, Nova Jersey. A música tem sido descrita como etérea, meditativa, mas também apresenta ganchos cativantes e letras pensativas. MARTIN HOWTH faz loops e camadas vocais para tecer tapeçarias harmónicas e líricas. (Earsplit) Sarcasm - «Mourninghoul» (Suécia, Melodic/Blackened Death Metal) | Sarcasm entrega uma viagem furiosa e enérgica para os primeiros dias! Entretenimento multifacetado para aberrações sofisticadas de Death Metal! «Mourninghoul» é o quinto álbum. Mixado e masterizado por Lawrence Mackrory no Rorysound, conta com o novo baterista Jesper Ojala, a banda gravou o seu álbum mais dinâmico e inovador até à data. A essência da banda é o Death Metal, mas ouvindo o álbum de perto e de mente aberta, muitas dimensões se desdobram, e de facto, o álbum parece uma jornada pelas emoções do metal extremo. (Hammerheart Records)

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Blutgott - «Dragongods» (Alemanha, Epic Metal) | Ao longo de 20 anos, o cantor e guitarrista Thomas Gurrath criou todo um universo de bandas composto por Debauchery, Blood God e Balgeroth, e recentemente uniu esta «Trinity of Blood Gods» sob o nome BLUTGOTT. Cobrindo diferentes géneros musicais, há death metal, heavy metal clássico e hard rock groovy. Cada uma das 10 músicas é incluída em CDs individuais pela primeira vez na versão alemã Balgeroth, na versão Blood God Heavy Metal e numa versão alternativa Debauchery, tornando-se uma coleção dos favoritos pessoais de Gurrath numa versão diferente. (Massacre Records) Fatal Fire - «Arson» (Alemanha, Power Metal) | Power Metal com frente feminina! Com Fatal Fire, um dos recém-chegados mais promissores do power metal da Alemanha, deixa uma marca clara no cenário do metal com uma estreia extremamente bem-sucedida. Este álbum está repleto de entusiasmo. As 8 canções de power metal, com algum thrash e muitas inclinações de speed metal, são instrumentalmente dominadas por pistas a duas vozes e solos distintos com tons melódicos e rochosos. (MDD Records) Stormhunter - «Best Before: Death» (Alemanha, Power Metal) | Heavy Metal alemão! Os Stormhunter têm deixado a sua marca na cena metal alemã desde 1998 e, após dois EPs, lançam agora o seu tão esperado quarto LP, «Best Before: Death». A banda continua a sua tradição de clássico “German Heavy Metal”, dispensando teclados e aumentando a proporção de coros, o que dá às canções ainda mais o caráter de hino. São 48 minutos de um sofisticado trabalho de guitarra e uma variedade de melodias. (MDD Records) Adon - «Self-Titled» (EUA-California, Black Metal) | Na totalidade, este álbum representa sonhos para toda a vida. A busca de que nos escapou como pessoas mais jovens, mas encontrou uma base criativa adequada à medida que vamos amadurecendo. O álbum explora temas variados da actualidade através das lentes de imagens da antiga era viking/saxã e posiciona o seu núcleo no black metal. (Independente) Coffin Curse - «The Continuous Nothing» (Chile, Death Metal) | Na sua busca interminável para impulsionar e apoiar actos underground atuais que perpetuam o odor do death metal vintage, COFFIN CURSE surgiu em 2012 como um projeto paralelo de Max Neira, não demorou muito para a banda afirmar a sua própria identidade. COFFIN CURSE regressa com «The Continuous Nothing», uma continuação lógica dessa estreia não desprezível: composições atemporais, tensas e aterrorizantes são levadas à tona com riffs incessantemente cativantes e uma abundância de pistas assombrando a capela. (Memento Mori) Magistraal - «Fantoom Van De Deemsterburcht» (Países Baixos, Black Metal) | Uma mistura de jet-black brotou das profundezas das Montanhas das Sombras, moldada na visão horrenda dos oito olhos odiosos de Shelob e embelezada pelos dedos encantadores de Fëanor, maestro da arquitetura. A dupla não quer revelar muito sobre si mesma, comparando uma presença em cena a uma existência enigmática e mística do black metal nos anos 90. MAGISTRAAL é uma expressão de fantasia, paisagens oníricas, o poder da imaginação, emoção e parentesco, audível em letras escondidas sustentadas por uma abordagem atmosférica crua. (Independente) Nuclear Tomb - «Labyrinthian Terror» (EUA-Maryland, Progressive Thrash/Death Metal) | Os Nuclear Tomb passaram a última década a afiar o seu ataque singular e a preparam-se para se rebelarem com riffs e explodirem como um Molotov, com o seu álbum de estreia «Terror Labyrinthian»! Inspirando-se no thrash tecnológico da velha escola e no death metal progressivo, Nuclear Tomb parece determinado a provar que o metal ainda se esforça no underground e que estas estruturas ainda têm ambição e profundidade para dar! (Everlasting Spew Records) Ornamentos Del Miedo - «Escapando A Traves De La Tierra» (Espanha, Atmospheric Funeral Doom Metal) | ORNAMENTOS DEL MIEDO é um projeto death-doom metal criado em 2017 em Burgos (Espanha). O projeto nasceu das cinzas de Graveyard of Souls pela mão de Angel Chicote e sempre teve uma base atmosférica como sinal de identidade, acompanhada por guitarras que transitam melancolia e desespero, navegando sobre ritmos extremamente lentos. «Escapando a Través de la Tierra» é o quinto álbum onde a atmosfera, a melancolia e o peso dominam em toda a linha. (Meuse Music Records) Scarefield - «A Quiet Country» (Internacional, Power/Heavy/Thrash/Groove Metal) | SCAREFIELD, a força eletrizante e infundida de horror no mundo do thrash metal, lançou o seu álbum de estreia, «A QUIET COUNTRY».

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Este álbum contém 11 canções de pura loucura melódica, veloz e thrash que nos deixa atónitos. Contada através das canções enérgicas, pesadas e melódicas, «A Quiet Country» contém uma grande variedade de estilos musicais, do thrash ao speed/power metal. Os vocais são uma mistura de melodia limpa e poder. (Independente) The Last Of Lucy - «Godform» (EUA-Califórnia, Technical Death Metal) | Dois anos depois do seu devastador álbum «Moksha», The Last of Lucy afinam o seu som misturando elementos de death metal técnico, mathcore e um pouco de death metal brutal, trazendo de volta aspetos da sua estreia, no seu mais recente álbum «Godform». Sem perder o seu temível e convincente poder e motivação, a música é mais simplificada e coesa. (Transcending Obscurity Records) Atrae Bilis - «Aumicide» (Canadá, Death Metal) | Como todas as bandas que fundem as inúmeras encarnações díspares do metal, ATRÆ BILIS não é facilmente confundido. Death Metal, dissonância atmosférica, brutalidade tecnológica. No novo álbum «Aumicide», ATRÆ BILIS dão passos axiomáticos ao expandir o alcance da sua elegante e desconcertante mélange de invocações incineradoras. (20 Buck Spin) Terminal Nation - «Echoes Of The Devil’S Den» (EUA-Arkansas, Death Metal/ Hardcore) | O incendiário novo álbum da banda, «Echoes Of The Devil’s Den», sintetiza uma raiva fervente, aparecendo mais uma vez na véspera de um ciclo eleitoral de pesadelo recorrente de relíquias fossilizadas do século XX. TERMINAL NATION tem o seu cerne em riffs escandalosamente pesados e quebras de bulldozing, levados a novos níveis de extrema brutalidade, sobre os quais o veneno vocal de Stan Liszewski irradia a raiva fervilhante de uma população no fim. (20 Buck Spin) World Dream Conspiracy - «Sexy Jazz Night» (EUA-Colorado, Experimental Industrial-Electronic ) | World Dream Conspiracy nasceu em 2023 por um grupo de amigos de uma pequena cidade no Colorado, EUA. A sua música é uma colagem sonora, com diferentes atmosferas e mudanças de humor, intensidade, pausas e secções mais silenciosas alternadas com partes de pura experimentação, desprovidas de lógica aparente, numa verdadeira emoção para os ouvidos. O clima é sempre bastante escuro, doente, desorientado e cheio de ideias reflexivas. (All Noir) Tomorrow’S Rain - «Ovdan» (Israel, Death/Doom/Gothic Metal) | TOMORROW’S RAIN de Tel Aviv regressa com o seu segundo álbum de estúdio «Ovdan». “Ovdan” é a palavra hebraica para “Perda”, foi quase o fim de tudo... «Ovdan» é o segundo capítulo da jornada única de TOMORROW’S RAIN, o material ultrapassa os limites, mas mantém o espírito da banda. (AOP Records) Attacker - «The God Particle» (EUA-New Jersey, Heavy/Power Metal) | As lendas do heavy metal dos EUA regressam com o seu primeiro álbum de estúdio em oito anos! Um dos primeiros bastiões do verdadeiro metal dos EUA, ATTACKER voltou para comemorar o seu 40º aniversário em «The God Particle», uma oferta triunfante de metal clássico em oito músicas! A banda existe para honrar o seu legado histórico. (Cruz del Sur Music) Vestindien - «Verdande» (Noruega, Black Metal) | Vestindien, grupo de Hard Rock de Bergen, lança o seu segundo LP «Verdande». Em mar aberto, a música ganhou mais ar e espaço, sem perder as suas raízes claustrofóbicas e caóticas do subsolo. A banda só responde aos seus padrões e expectativas, entregando oito faixas de proto-metal psicadélico com um toque sombrio. (Dark Essence Records) Selbst - «Despondency Chord Progressions» (Venezuela, Black Metal) | «Despondency Chord Progressions», o terceiro álbum dos SELBST, apropriadamente intitulado e comovente, encontra a banda latino-americana de Black Metal aprofundando, esclarecendo e canalizando com confiança as águas escuras do seu som já elaborado. Após a inquietação da estreia dos DMP, a banda avança com um verdadeiro senso de propósito - equilibrando introspeção e raiva por meio de arranjos fluidos repletos de melodias apaixonadas. (Debemur Morti Productions) Darkness Everywhere - «To Conquer Eternal Damnation» (EUA-California, Melodic Death Metal) | «To Conquer Eternal Damnation», o incinerador álbum de estreia da banda de death metal melódico DARKNESS EVERYWHERE, de Oakland, Califórnia. Escrevem canções fortemente influenciadas pelo som clássico do death metal melódico sueco de meados dos anos 1990. A banda não perde tempo em chegar ao ponto de riffs melódicos de death metal e condução de ritmos. (Earsplit)

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Six By Six - «Beyond Shadowland» (Internacional, Hard Rock) | O segundo álbum dos Six By Six, «Beyond Shadowland», é o resultado de os membros comprometerem-se a 110% com a banda e esforçarem-se para alcançar o tipo de arte digna. Sonoramente, o álbum representa um esforço consciente para transmitir o lado mais duro, sem deixar para trás as subtilezas do primeiro álbum. (InsideOut Music) ACOD - «Versets Noirs» (França, Melodic Black/Death Metal) | Algumas histórias devem ser reveladas, é hora de desvendar: «Versets Noirs»! Escondida de todos, uma irmandade de bruxas precisa encontrar a escolhida na vida após a morte. Encontraram-no, mas só um pode mudar o curso da história. A descoberta por meio de quatro faixas de metal oculto Black/Death que compõem o maldito sexto álbum dos ACOD. (Hammerheart Records) Battlecreek - «Maze Of The Mind» (Alemanha, Thrash Metal) | Com o seu terceiro álbum «Maze of the Mind», os quatro thrashers do Battlecreek combinam o som inconfundível do thrash metal alemão com as suas raízes da Bay Area e transportam-no poderosamente para o presente. Os quatro bávaros destacam-se no incansável cenário do metal alemão por inúmeras atividades ao vivo. (MDD Records) Atrexial - «The Serpent Abomination» (Espanha, Black/Death Metal) | Os black metallers espanhóis ATREXIAL lançam o seu terceiro álbum «The Serpent Abomination». Inicialmente concebido como uma one-man-band por Naga S. Maelström em 2014. A Abominação da Serpente é a declaração do regresso de ATREXIAL, uma banda de black metal com muitos anos de experiência, e com um álbum sólido. (Non Serviam Records) Crucifier - «Led Astray» (EUA-Pennsylvania, Death/Black Metal) | Uma das entidades mais antigas do underground americano, CRUCIFIER formado em 1990 pelo vocalista/baterista Cazz Grant. Com o seu estilo blasfemo e enegrecido de death metal, mergulhado nas formas verdadeiramente antigas e mais subterrâneas. Agora, dois anos depois, lançam o seu terceiro álbum, «Led Astray». Levando a composição errante, mas totalmente fechada, «Led Astray» é uma masterclass em riffs memoráveis, METAL e impulso rítmico distorcido. (Iron Bonehead Productions) Lvme - «Of Sinful Nature» (Internacional, Black Metal) | LVME defende firmemente a essência do black metal tradicional, ao mesmo tempo que alarga corajosamente o seu âmbito musical. «Of Sinful Nature» apresenta cinco faixas habilmente trabalhadas que desafiam convenções. Este álbum é um sermão intenso de black metal, marcado por uma fusão fluida de riffs complexos e reviravoltas surpreendentes – uma poderosa expressão de energia crua, desenfreada e rebelde. Black metal num espírito conquistador. (Norma Evangelium Diaboli) Rope Sect - «Enstrangement» (Alemanha, Post-punk/death rock) | Simplesmente, poder e pujança vêm de muitas formas, e ROPE SECT garantiu o seu com um som idiossincrático que continua a encontrar novos ouvintes num amplo espectro de experiências. Seguindo as texturas mais eletrónicas encontradas em «Proskynesis», ROPE SECT regressa para refinar ainda mais o seu som com «Estrangement». Um trabalho completo composto por oito canções, estruturado para a máxima imersão. (Iron Bonehead Productions) Thalia - «The River Of Books» (França, Progressive Heavy Metal) | THALIA parte numa aventura sonora com «The River Of Books», com o retorno do quarteto de culto francês. Um novo álbum infundido com vibrações de hard rock progressivo. A mais recente obra de Thalia é o culminar de duas décadas de maturidade e evolução musical. «The River Of Books» é um compêndio único de emoções e groove, misturando perfeitamente o poder do hard rock com uma vibe progressiva. (Brennus Music) Acxdc - «G.O.A.T.» (EUA-California, Power Violence) | Mergulhando mais fundo nas profundezas da depressão do que o seu antecessor, G.O.A.T. mergulha num reino mais emocional do que os conceitos absurdos. Abraçando grind, hardcore, punk, death metal, ACxDC subverte o som tradicional de “powerviolence”, destacando-se sonoramente por conta própria, como o seu nome Demon-Core indica. (Prosthetic Records) Mons Veneris - «Ascent Into Draconian Abyss» (Portugal, Black Metal) | Para aqueles que conhecem e entendem realmente o black metal subterrâneo real, MONS VENERIS dispensa apresentações. Há mais de 20 anos que esta sombria e insanamente prolífica cabala portuguesa persegue uma visão excepcionalmente vil com uma sede

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inextinguível. Do primitivismo martelando à melancolia medieval, do drone vulcânico ao esquecimento caótico, dos acenos às Legiões Negras francesas a frequências muito fora do metal, nunca há qualquer garantia de como a visão de MONS Veneris se manifestará. (Signal Rex) Zombeast - «Heart Of Darkness» (EUA-Arizona, Horror Punk) | Os ZOMBEAST voltaram com o seu material mais pesado, sombrio e feroz, «Heart Of Darkness»! Influenciado por punk, death rock e thrash metal dos anos 80, ZOMBEAST criou uma mistura perfeita de dark punk e thrash. A letra explora tudo, desde os verdadeiros horrores da vida até o oculto e a licantropia. (Massacre Records) Of Darkness - «Missa Tridentina» (Espanha, Funeral Doom Metal) | Os abismais negros de Of Darkness de Barcelona, trazem-nos finalmente a sua abominação devoradora de luz, num dilúvio colossal, subsónico de miséria agonizante. «Missa Tridentina» ergue-se da régia e com elementos atípicos de composição neoclássica, música de câmara, ambiente escuro e eletrónica ritualística. (Sentient Ruin) High Desert Queen - «Palm Reader» (EUA-Texas, Stoner/Desert Rock ) | «Palm Reader» está repleto de energia bruta e irradia a sensação de 666 cavalos diesel trovejando alto. HIGH DESERT QUEEN teve o que é preciso para engrenar a cena novamente. Os seus hinos estrondosos e repletos de fuzz são entregues com uma dose saudável de groove e melodias cativantes que recebem um enorme impulso de inteligência emocional. (Prophecy Productions) Exist - «Hijacking The Zeitgeist» (EUA-, Progressive/Death Metal ) | A banda norteamericana de metal progressivo EXIST regressa com o seu quarto álbum, «Hijacking the Zeitgeist». Este novo LP vê o grupo expandir a sua dicotomia de tecnicidade de metal extremo e atmosfera sangrenta, com uma abordagem mais concisa para compor, resultando no álbum mais direto e enfático. (Prosthetic Records) Four Stroke Baron - «Data Diamond» (EUA-Nevada, New Wave Progressive Rock) | «Data Diamond» é o som de FOUR STROKE BARON no seu mais confiante desdobramento. Originalmente concebido como dois EPs separados, que depois se fundiram num lançamento único, este foi fortemente inspirado pelo trabalho antecessor, começando a trabalhar numa forma mais potente e concentrada de FOUR STROKE BARON possível. (Prosthetic Records) Moon Shot - «The Power» (Finlândia, Rock’N’Roll) | Entre no mundo de Moon Shot, onde a visão e a experiência substituem o caos juvenil como a coisa que leva ao grande rock’n’roll. Esta é uma música intemporal que fica em casa nos tempos em que vivemos. Sinta a energia desses músicos que já estiveram ao redor do bloco vezes suficientes para lhe entregar «The Power!» (Reaper Entertainment) Satanic North - «Satanic North» (Finlândia, Black Metal) | Um novo pânico satânico está sobre nós! Satanic North é o que acontece quando você deixa dois artistas de metal finlandeses olharem para o abismo por muito tempo. Entram Petri Lindroos e Janne Parviainen, músicos viajados e versados que têm olhado para o dito abismo tempo suficiente para que o abismo olhe para trás. Eis a irmandade do black metal Satanic North, os filhos da nova escuridão do norte, entregando uma estreia autointitulada, banhando-se numa severidade arrebatadora. Esqueça o norte magnético. Todos saúdam o Norte satânico. (Reaper Entertainment) The Omega Swarm - «Crimson Demise» (Alemanha, Atmospheric Death Metal ) | THE OMEGA SWARM é um grupo de death metal atmosférico da Alemanha, muito humilde, muito isolado. Conceitualmente, o grupo abandona os horrores lovecraftianos, em favor de temas apocalípticos directos. Antes que o relógio apocalíptico bata pela última vez, experimente uma peça de metal diversificada, intensa e hipnotizante. (Ván Records) Diabolic Oath - «Oracular Hexations» (EUA-Oregon, Black/Death Metal) | Os abismais alquimistas das abominações lisérgicas Black/Death dos Diabolic Oath, estão de volta com o seu trabalho mais deformado e devastador até à data. «Oracular Hexations» é uma abordagem básica da banda na utilização de instrumentos de cordas completamente sem trastes e um ataque vocal triplo simultâneo para depredar a psique do ouvinte, atinge formas verdadeiramente majestosas e catastróficas. Uma realidade alternativa de black metal bestial. (Sentient Ruin)

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Kawir - «Kydoimos» (Grécia, Pagan/Black Metal) | “Kydoimos” (.. d..μ..), o novíssimo e nono álbum de estúdio dos grego KAWIR! Formados no início da cena grega de black metal dos anos 90, nenhuma outra banda captura a essência da mesma maneira, numa exploração beligerante e agressiva da guerra antiga. «Kydoimos» é um álbum que vê KAWIR alcançar novos patamares tanto no peso implacável quanto na atmosfera épica. (Soulseller Records) Swelling Repulsion - «Fatally Misguided» (EUA-Colorado, Progressive/Melodic Death Metal) | Swelling Repulsion criou o seu estilo de death metal, absorvendo elementos de vários estilos dentro do género e dando-lhe uma expressão refrescante. É técnico, progressivo, até psicadélico e dissonante em partes e como o montaram não só, são notavelmente coerentes, mas também extremamente cativante. «Fatally Misguided» é um lançamento delicioso com uma qualidade própria que obriga o ouvinte a revisitar várias vezes sem causar cansaço. (Transcending Obscurity Records) Fluisteraars - «Manifestaties Van De Ontworteling» (Países Baixos, Black Metal) | Embarque numa odisseia sonora com o mais recente lançamento dos Fluisteraars, «Manifestaties van de Ontworteling», encontrará um álbum ousado com paisagens sonoras experimentais. Este é um álbum experimental que experiência uma sonoridade analógica, espontaneamente gravada ao vivo, que investiga a justaposição da influência humana. (Eisenwald) The Good The Bad And The Zugly - «Decade Od Regression» (Noruega, Punk Rock) | Não vimos tanta calúnia da modesta região de Hadeland desde que o rei viking Halvdan Svarte caminhou pelo gelo no Randsfjorden em 840. Ao longo de 15 anos, serviram canções agressivas, condenatórias e mal-humoradas, comentando o estado terrível de si e do reino da Noruega - completamente desprovido de autoconsciência e dignidade. (Indie Recordings) Cobra The Impaler - «Karmacollision» (Bélgica, Heavy Metal) | COBRA THE IMPALER regressa com «Karma Collision», um álbum forjado na agitação moderna e amarrado pelas correntes da fúria clássica do metal. Os titãs do metal belga mantêm-se inabaláveis, com os vocais de Manuel Remmerie a impressionarem com a precisão de um martelo de guerra, a investida de guitarra dupla de James Falck e Tace a esculpir riffs nos anais da história do metal, e as linhas de baixo de Mike Def a tecerem-se como uma serpente venenosa. (Listenable Records) Red Rot - «Borders Of Mania» (Internacional, Experimental Death Metal) | «Borders of Mania» é um implacável opus de metal extremo de beleza técnica e graça arrebatadora! Red Rot é a banda de metal extremo de Luciano Lorusso George e Davide Tiso que nos leva numa descida punitiva à psicose humana. Guitarras a rugir, tambores extremos com som natural, um baixo arredondado e pesado e uma voz que dá sermão louco. (Hammerheart Records) My Diligence - «Death.Horses.Black» (Bélgica, Progressive Stoner Rock) | Originário de Bruxelas, My Diligence lança o seu quarto álbum, «DEATH. HORSES. BLACK.», marcando um novo passo ousado na evolução da banda. Este promete cativar corações e ouvidos ávidos por inovação musical. My Diligence continua a sua exploração musical, empurrando os limites da sua criatividade para além. O álbum mistura habilmente vários géneros, como post-metal, psych-metal, doom e shoegaze, de modo a criar um som original distinto. (Listenable Records) Mütiilation - «Black Metal Cult» (França, Black Metal) | Mais de 30 anos depois da sua infame criação, o coração negro de MÜTIILATION ainda bombea o seu veneno. Ressuscitado das cinzas, inesperado há décadas... Meyhnach, na sua sabedoria imprevisível, ressuscitou a lenda e trouxe de volta MÜTIILATION ao plano terreno para entregar a sua sétima desova. Uma obra-prima sombria do black metal que supera as esperanças dos mortais, Black Metal Cult é certamente o culminar que pontua a carreira de MÜTIILATION. (Osmose Productions) Flamekeeper - «Flamekeeper» (Internacional, Epic Heavy/Power/Black Metal) | O FLAMEKEEPER foi fundado pelo músico/agitador espiritual italiano Marco S. Vermiglio em 2018. Após 10 anos de militância na cena europeia do black metal como vocalista da banda romana DEMONOMANCY, Marco mudou drasticamente o seu percurso artístico, impulsionado pela sua decisão de viver a sua vida com o único propósito de se tornar uma mensagem viva de resiliência, força interior e fé. (Invictus Productions)

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Full Of Hell - «Coagulated Bliss» (EUA-Pennsylvania, Powerviolence/Grindcore/ Death Metal, Noise) | Full of Hell irrompeu com uma força incrível da pequena cidade em forma de adaga de Ocean City, Maryland, há 15 anos. Eles evoluíram a uma velocidade extraordinária, tornando a sua música mais complicada e técnica sem nunca abrandar ou perder a alma. Full of Hell atingiu agora a velocidade terminal, com o seu novo álbum «Coagulated Bliss» (Closed Casket Activities) Kati Rán - «Sála» (Países Baixos, Dark Folk ) | Se os tesouros mais profundos são muitas vezes os mais profundamente enterrados, a jornada para descobri-los é um processo vital de descoberta. A artista nórdica de folk escuro Kati Rán expandiu o seu tema oceânico para o seu aguardado LP, «SÁLA». Embarcando num percurso musical e pessoal de longo alcance, este é um despertar das narrativas femininas submersas e fragmentadas dentro da mitologia nórdica. (Svart Records) Limbonic Art - «Opus Daemoniacal» (Noruega, Symphonic Black Metal) | LIMBONIC ART voltou! O seu nono «Opus Daemoniacal» é negro como um corvo, feroz como um lobo, majestoso como uma águia e poderoso como os lendários pioneiros noruegueses do black metal que o idealizador, vocalista e multi-instrumentista Vidar “Daemon” Jensen fundou em 1993. «Opus Daemoniacal» continua o caminho mais direto do black metal, mas este álbum remete à densa atmosfera e sensação cinematográfica dos primeiros trabalhos inovadores. (Kyrck Productions & Armour) Pokaz Trio - «Voices» (Ucrânia, Jazz) | Fundada em 2016 em Odessa pelo pianista e compositor académico Andrii Pokaz, a banda deu início a uma nova onda de jazz contemporâneo na Ucrânia. O trio combina com sucesso jazz, música clássica e étnica com adições eletrónicas. O novo álbum «Voices» é um trabalho de longo prazo sobre imersão nos próprios sentimentos. (Howling Jazz!) Seasons Of The Wolf - «Orna Verum» (EUA-Florida, Progressive/Heavy Metal) | SEASONS OF THE WOLF, fundada na Flórida em 1988, há muito se tornou um nome entre os conhecedores do Metal Underground. Este metal americano, um tanto sombrio e excêntrico, é cheio de camadas de teclado atmosféricas e um senso apurado para evocar melodias emocionais. É a marca registada da banda desde o início. (Iron Shield Records) Shakai - «Fragments» (Noruega, Jazz) | O nome Shakai vem da palavra japonesa para sociedade, que se reflete na abordagem da banda à música. Um pouco como uma sociedade composta por indivíduos com diferentes perspectivas e histórias de vida, as diversas origens dos membros da banda criam um som único e variado. A música é bonita e crua, brincalhona e estranha. Shakai oferece constantemente novas surpresas e elementos inesperados. (It is Jazz? Records) Tyran - «Tyran’S Oath» (Alemanha, Heavy Metal) | Fundada a meio da pandemia global, TYRAN propõem-se a trazer aço glorioso para os headbangers do mundo. Eles voltaram para liberar a fúria do heavy metal da sua estreia «Tyran’s Oath». 9 faixas de heavy metal implacável e teutônico, forjadas em fogo de heavy metal para convertê-lo a juntar-se ao culto dos bandidos do heavy metal. (Iron Shield Records) Eivør - «Enn» (Ilhas Faroé, Nordik Folf Metal) | Eivør chama a sua casa nórdica nas remotas Ilhas Faroé de uma paisagem de extremos. O processo da ENN baseou-se na recente imersão de Eivør na produção e beat-making, mas começou com um regresso à música clássica. Embora as suas composições estejam fora de qualquer género, ela está feliz por ser abraçada pela comunidade do metal. (Season of Mist) Kratti - «Matka Kohti Kosmista» (Finlândia, Black Metal) | Apesar da sua aparente novidade, os KRATTI são inegavelmente almas velhas no que diz respeito ao black metal, e eles afirmam plenamente a sua antiguidade com a estreia, «Matka Kohti Kosmista». Este não é um álbum para ouvidos da moda, e sem remorso chicota uma maldade atravessada pela melancolia - riffs hipnoticamente humildes em espiral até ao delírio, mas construídos sobre uma base estoica de composição linear, enganosamente épica. (Signal Rex) Construct Of Lethe - «A Kindness Dealt In Venom» (EUA-Virginia, Death Metal) | Construct of Lethe criou um álbum conceitual profundamente pessoal e autobiográfico que lida com a depressão suicida. Eles transcenderam

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os limites do death metal para alcançar o tipo de expressão que engloba uma ampla gama de emoções e, pegando influências de outros estilos como industrial, black metal, doom metal, ambient, etc. (Transcending Obscurity Records) Bythos - «Chthonic Gates Unveiled» (Finlândia, Black Metal) | Eis a revelação da mais recente obra de Bythos, «Chthonic Gates Unveiled»! Este álbum baseia-se nas bases lançadas pelo seu antecessor, mas num tom mais rápido, feroz e mais fundo nos mistérios abissais. Através de melodias arcanas e motivos esotéricos, os caminhos sombrios descem aos santuários das divindades ctônicas. (Ván Records) Gothminister - «Pandemonium Ii The Battle Of The Underworlds» (Noruega, Gothic Industrial Metal) | No mundo dos sons duros e pesados e dos impressionantes espetáculos teatrais ao vivo, os Gothminister ganharam a reputação de serem “um dos mais icónicos atos de gothic/industrial metal”. Não só o seu metal gótico/industrial carregado de poder, com a sua notável densidade atmosférica, inspirou o seu público desde 1999. (AFM Records) Lamentari - «Ex Umbra In Lucem» (Dinamarca, Symphonic/Blackened Death Metal) | Os metaleiros extremos LAMENTARI, de Copenhaga, lançam o seu álbum de estreia «Ex Umbra In Lucem». O sexteto dinamarquês é uma força a ter em conta no domínio do black metal sinfónico, misturando perfeitamente a escuridão do metal com o randeur do rugido orquestral. LAMENTARI cria uma tapeçaria sonora sombria e majestosa. (All Noir) Sig:Ar:Tyr - «Citadel Of Stars» (Canadá, Folk/Black Metal) | «Citadel of Stars» é um álbum marcante. Uma mistura única de metal pagão épico e metal tradicional enegrecido, um vislumbre esperançoso num renascimento entre as estrelas. SIG:AR:TYR está de volta às atmosferas sombrias de trabalhos anteriores, tecendo o passado, presente e futuro em um lançamento histórico que ecoa os temas épicos. (Hammerheart Records) Glass Farm Ensemble - «Nieuw Amsterdam New York» (Países Baixos, Jazz) | O trampolim para este álbum foram os 400 anos de ligações entre duas cidades vibrantes. Quando os holandeses fundaram Nieuw Amsterdam no século XVII, forneceram o impulso para o crescimento de uma cidade. A multiplicidade de línguas, etnias e nacionalidades, bem como uma atmosfera de tolerância religiosa, criaram uma surpreendente singularidade do lugar que mais tarde se tornaria a cidade de Nova Iorque. (Neuma Records) Oberst - «Toil» (Noruega, hardcore/metal) | Com um estilo musical que desafia a categorização fácil, Oberst continua a ultrapassar limites e redefinir o género metal com a sua mistura única de riffs atmosféricos, vocais intensos e letras instigantes. «Toil» promete entregar uma experiência musical única, oferecendo um vislumbre cru e não filtrado das complexidades da psique humana. (Indie Recordings) Cloven Hoof - «Heathen Cross» (Inglaterra, Old School Heavy Metal) | O grupo dos Midlands é uma das bandas mais lendárias de todo o movimento New Wave Of British Heavy Metal. As origens do grupo remontam ao ano de 1979, quando se formaram pela primeira vez sob o nome de Nightstalker. «Heathen Cross» é o álbum mais sombrio e pesado de sempre dos Cloven Hoof! (High Roller Records) Fractal Generator - «Convergence» (Canadá, atmospheric tech death ) | «Convergência» é a mais recente odisseia de ficção científica do trio canadiano FRACTAL GENERATOR! Mergulhe num universo onde riffs distorcidos, implacáveis e sinistros são infundidos com intensidade futurista e colidem com precisão desumana! Este é um álbum que capta a essência da convulsão cósmica, explorando novos planetas em viagens de caos, canção a canção. Eles criaram um tipo de som de death metal sombrio e atmosférico. (Everlasting Spew Records) Robert Carl - «Infinity Avenue» (EUA-Connecticut, Acoustic Noise) | Utilizando andaimes harmónicos construídos sobre Just Intonation com a ajuda da programação Max, estas obras acústicas revelam um conceito tão futurista quanto antigo: a harmonia das esferas. A Inevitável Wave(B) adiciona ruído à mistura. Aqui, uma gravação, com dez segundos de duração, é ampliada para quase dez minutos. Um conjunto de percussão prepara o palco para a chegada da onda, que começa no limiar da audibilidade. Cresce lentamente, incansavelmente, inexoravelmente, até um clímax destruidor. É um tsunami de som. (Neuma Records) Camerata Mediolanense - «Atalanta Fugiens» (Itália, Darkwave/Neoclassical) | Com o sexto álbum de estúdio «Atalanta Fugiens» (“Atalanta Fugieing”), CAMERATA MEDIOLANENSE regressa ao seu “estilo clássico”, o que significa um forte conjunto de percussão da secção rítmica com toques leves dos teclados alcançando um

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equilíbrio perfeito com as melodias elevadas, executadas por todas as vocalistas compostos pelas maravilhosas sopranos Carmen, Chiara, e Desirée na liderança, bem como coros harmoniosos. Dois cravos, viola baixo e a presença recorrente de sons perturbadores, visam criar um som que toque tanto o celestial quanto o infernal. (Prophecy Productions) Moisson Livide - «Sent Empèri Gascon» (França, Black/Folk/Heavy Metal) | Moisson Livide é um projeto musical da Gasconha (sudoeste da França), misturando Black, Folk, Heavy e Power Metal, criado em 2022 por Darkagnan, Baptiste Labenne da banda Boisson Divine. A sua descoberta da cena melódica francesa do Black Metal com as suas tendências medievais acabou por virá-lo completamente do avesso. As faixas longas e épicas nunca estão muito dispersas, graças a estruturas sólidas e a um culto para grandes refrões. (Solstice PR) Rossometile - «Gehenna» (Itália, Symphonic/Gothic Metal) | Com uma mistura assombrosa de melodias sinfónicas, tons góticos e vocais operáticos poderosos, o conjunto italiano de metal gótico/sinfónico Rossometile emerge como uma força formidável no reino da música sombria e atmosférica. Com as suas paisagens sonoras etéreas e presença cativante, Rossometile continua a encantar o público gótico e sinfónico. (Independente) Vuur & Zijde - «Boezem» (Países Baixos, Atmospheric Black Metal) | Amor e heavy metal sempre tiveram uma relação um tanto tensa. Torna-se ainda mais complicado quando o black metal está envolvido, um género em que o ódio é um ingrediente importante, tanto quanto os músicos de blues devem ter sentido uma tristeza total. Esta observação torna «Boezem», a estreia do quinteto holandês VUUR & ZIJDE (“Fire & Silk”) mais notável, uma vez que o álbum gira em torno de temas de amor condicional e incondicional. (Prophecy Productions) Worshipper - «One Way Trip» (EUA-Massachusetts, Heavy Metal) | Com o seu terceiro LP, «One Way Trip», Boston, MA hard rockers psicadélicos WORSHIPPER aperfeiçoaram o seu grande acto de equilíbrio entre o hard rock clássico e o heavy metal old school, capacitado para voar alto com a injeção de uma dose saudável de psicadélica. Rock e metal têm tudo a ver com ganchos e riffs. (Prophecy Productions) Bloodorn - «Let The Fury Rise» (Internacional, Power Metal) | BLOODORN, é uma nova banda de power metal liderada pelo guitarrista Nils Courbaron. Mike Livas, vocalista do SILENT WINTER, Francesco Saverio Ferraro, baixista do FREEDOM CALL, e Michael Brush, baterista do SIRENIA, juntaram-se à banda após ouvirem as primeiras demos do álbum. A música do BLOODORN é muito rápida e técnica, às vezes até brutal, mas também muito melódica e cativante: Extreme Power Metal! (Reaper Entertainment) Cainites - «Revenant» (Itália, Melodic Death Metal) | Ícones das trevas e do sangue. Dois sacerdotes vampiros ergueram-se da mais profunda negritude: através do seu sombrio death metal melódico, os CAINITES criam a sua própria mística, retratando a marca sangrenta que carregam. «Revenant» é um álbum conceitual sobre um velho padre ortodoxo que se tornou um vampiro contra a sua vontade. (Scarlet Records) Nadsvest - «Slovo Meseca I Krvi» (Sérvia, Black Metal) | O álbum de estreia da entidade sérvia de Black Metal NADSVEST, «Slovo meseca i krvi», é composto pelo sérvio “S” (Gorgoroth) e neozelandês “A” (Barshesketh), numa combinação infernal da primeira onda e bestial cenas de black metal, com doses insalubres de heavy metal e acenos à música folclórica sérvia. Aqui, evoca-se o barulho da alma torturada. (Soulseller Records) Borer - «Bag Seeker» (Nova Zelândia, Sludge/Stoner Metal) | Adorando os tons de Electric Wizard, Iron Monkey e afins, eles lançaram o seu EP de duas faixas, «Priest Thrower», em outubro de 2021, que criou um burburinho na cena da lama/desgraça. Agora, a equipa da BORER está a trabalhar no seu LP de estreia, «Bag Seeker». Os sulcos revestidos de resina do álbum entregam cinco faixas, a maioria das quais ultrapassa a marca de dez minutos, arrastando o ouvinte numa cerveja angustiante, bongwater e morna. (Earsplit) Naxen - «Descending Into A Deeper Darkness» (Alemanha, Black Metal) | NAXEN tornou-se uma das bandas mais promissoras e prolíficas na cena underground contemporânea do black metal. Em «Descending Into A Deeper Darkness», a NAXEN desenvolve ainda mais a sua abordagem violenta e implacável ao black metal depressivo. Em termos sonoros, NAXEN é uma mistura de black metal tradicional com influências contemporâneas que resultam na sua própria interpretação do black metal depressivo. (All Noir)

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Whoredom Rife - «Den Vrede Makt» (Noruega, Black Metal) | A 4.ª plenitude dos tradicionalistas de Whoredom Rife chegou! São 6 novos hinos de destruição total, escuridão, onde a beleza melancólica do ódio e do desespero é lei, algo que nós, estamos a sentir diariamente. Nunca se afastando da sua abordagem original, celebra-se o Black Metal norueguês ao som das batidas estrondosas do tradicional BM. (Ván Records) Machukha - «Mochari» (Ucrânia, Post-Black Metal) | MACHUKHA, cujo nome se traduz como “madrasta” em ucraniano, infunde elementos de pós-black metal, dark hardcore e punk nas suas músicas, criando um som que é tão cru quanto poderoso. Com diversas origens musicais, sociais e culturais e através da compreensão mútua e colaboração. (All Noir) The Troops Of Doom - «A Mass To The Grotesque» (Brasil, Death/Thrash Metal) | Os TROOPS OF DOOM foram formados em 2020, durante a pandemia, pelo guitarrista original do Sepultura Jairo “Tormentor” Guedz. Aclamado pela média especializada como um super-grupo, The Troops of Doom surgiu para reviver o clássico Death Metal dos anos 80, inspirado no início do Sepultura com Jairo. Um verdadeiro clássico do metal global! (All Noir) Inherits The Void - «Scars Of Yesteryears» (França, Atmospheric Black Metal) | A banda francesa de black metal melódico Inherits The Void voltou com o seu terceiro álbum de estúdio em quatro anos. Quinze meses depois do aclamado «The Impending Fall Of The Stars», o multi-instrumentista A, está de volta. «Scars Of Yesteryears» é um álbum melódico de black metal que incorpora as escolhas artísticas iniciadas anteriormente. (Avantgarde Music) Nel Buio - «Nel Buio» (Itália, Technical Brutal Death Metal) | Nel Buio, italiano para In the Dark, é um projeto de onda negra nascido por Clod “the Ripper” De para combinar black metal e darkwave dos anos 80. Através de um olhar feminino, a nossa “onda negra italiana pura” é um manifesto para aqueles que encontram a beleza na decadência e a verdade nas sombras, um conforto na escuridão para as almas perdidas dentro dela. (Avantgarde Music) Olim - «Because» (Canadá, Atmospheric/Post-Black Metal) | Preparem-se para uma odisseia auditiva que transcende fronteiras, enquanto OLIM, a visionária entidade canadiana do pós-black metal, revela a sua terceira obra completa, «Because». Esta obra-prima promete ser uma exploração intensa e introspetiva da psique humana. Joe Caswell, a força por trás de OLIM, criou um caleidoscópio de emoções contrastantes, onde melodias edificantes e passagens frias e melancólicas se entrelaçam-se numa dança catártica. Esta jornada épica e altamente atmosférica pós-black metal levará os ouvintes a uma montanha-russa emocional. (Avantgarde Music) Azketem - «Azketem» (Alemanha, Black Metal) | Devotos do black metal com uma propensão para atmosferas etéreas e melancólicas, tomem cuidado. Vindo da Alemanha e fundado pelo único membro da banda, Azken, em 2018, este autointitulado segundo LP de AZKETEM apresenta oito canções notavelmente bem escritas e encharcadas de desolação agridoce. Uma demonstração de puro talento, estas faixas predominantemente de ritmo médio - calmamente introspetivas, encantadora e sobrenatural - tomam os lugares de ouvinte atento. (Darkness Shall Rise) Insect Ark - «Raw Blood Singing» (Alemanha, Experimental Cinematic Noise) | O quarto LP de INSECT ARK é o resultado cativante de um ano passado a escrever. Partilhando uma obsessão pela inovação e destilação, a dupla fundiu-se para criar uma paisagem sonora que oscila entre a sobrecarga sensorial e o isolamento num vazio fervilhante. Os reinos externos do avant-metal, psych-Doom e gótico experimental cruzam-se aqui, mas recusando ferozmente as armadilhas da simples categorização. A banda tece uma paisagem exuberante, sombria, vasta e expansiva enquanto se move de sussurros de sintetizadores para uma parede de som monstruosa através do lap steel de Schechter, do trabalho diabólico de baixo e do poder gigantesco e escaldante da bateria de Wyskida. (Debemur Morti Productions) Noroth - «Sacrificial Solace» (EUA-Washington, D.C, Death Metal) | It Dwells Among Us foi imediatamente sucedido pelo seu LP Harbinger mais experimental. O disco continuou no espírito da sua estreia com uma sensação sutil de heavy metal clássico, adicionando uma natureza selvagem. «Sacrificial Solace» continua a tradição dando origem a algo ainda mais intenso para prepará-lo para uma nova pilha de escuridão podre. (Earsplit) Fellwarden - «Legend» (Inglaterra, Atmospheric Black/Folk Metal) | «Legend» não é apenas um álbum; É uma experiência, que nos transporta para paisagens imensas que ecoam histórias de honra, sacrifício e sabedoria atemporal. FELLWARDEN aventura-se em novos territórios, tanto musicalmente como tematicamente. O álbum tece uma narrativa de resiliência e dever. (Eisenwald)

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Trog - «Horrors Beyond» (EUA-New Jersey, Death Metal) | A equipa de death metal de Nova Jersey TROG lança o seu LP de estreia, «Horrors Beyond». O álbum expande a mistura orientada para o groove de death metal distorcido e thrash implacável exibido anteriormente, onde a banda dobra o riff de quebrar o pescoço enquanto incorpora floreios de melodia gelada de black metal. (Earsplit) Vredehammer - «God Slayer» (Noruega, Black/Death Metal) | A força imparável do Norte mais profundo volta a reacender as chamas do metal extremo norueguês com «God Slayer». Vredehammer prepara-se para desencadear uma investida de excelência que promete cativar e cativar os fãs de metal extremo em todo o mundo. Eles continuam a manter o seu legado de excelência, empurrando os limites do género para novos e emocionantes patamares. “God Slayer”, de Vredehammer, mergulha fundo no abismo, pintando uma paisagem sonora arrepiante que captura a essência do black metal norueguês. (Indie Recordings) Ira Tenax - «Dark Awakening» (Alemanha, Death/Heavy Metal) | A banda de death melódico IRA TENAX deixado a sua marca na cena metal alemã desde 1999. Agora, o quarteto não só celebra o seu 25.º aniversário, como lança um novo álbum 10 anos depois. «Dark Awakening», é onde riffs melódicos se encontram com bateria bruta e vocais versáteis para criar um som geral que diferencia agradavelmente a banda neste género, sem ter que reinventar a roda. (MDD Records) Ad Patres - «Unbreathable» (França, Death Metal) | A banda francesa de death metal AD PATRES lança o seu novo álbum «Unbreathable». A visão clara do compositor e guitarrista Olivier Bousquet moldou o álbum, promovendo uma atmosfera sufocante e claustrofóbica, integrando perfeitamente novos horizontes técnicos com o som característico da banda. (Non Serviam Records) 2 Wolves - «Not Worth It» (Finlândia, Gothic/Doom/Melodic Death Metal) | Formados em 2011, os 2 WOLVES são um dos segredos mais bem guardados do metal finlandês. A banda lançou quatro LPs desde o seu ano de formação, com um som gótico clássico de doom-death. Sem qualquer pitada de ironia, 2 WOLVES evocam uma rica nostalgia dos anos 90. (Inverse Records) Black Hole Deity - «Profane Geometry» (EUA-Alabama, Death Metal) | O quarteto de death metal baseado no Alabama BLACK HOLE DEITY voltou com a tão esperada estreia «Profane Geometry». Ataques sonoros aguçados de batidas explosivas intermináveis misturadas com uma sensibilidade melódica e solos de guitarra que lembram os Shrapnel, entregam o derradeiro álbum de death metal. A banda trabalhou arduamente para trazer uma evolução progressiva, mas sombria e brutal da sua música. (Everlasting Spew Records) Darkened - «Defilers Of The Light» (Internacional, Death Metal) | «Defilers Of The Light» torna o death metal clássico relevante e emocionante novamente. A pegada dos ganchos e a precisão clínica dos riffs, combinada com o peso extremo é difícil, se não impossível, de marginalizar. (Edged Circle Productions) Derelict - «Versus Entropy» (Canadá, Technical Death Metal) | Derelict tocam death metal técnico com muita melodia e vocais que são mais claros no lado inteligível (para o death metal). Originalmente vindo de Montreal, Derelict ganhou destaque com uma série de lançamentos. O seu som característico mistura elementos do extremo quebeque com influências de artistas americanos e europeus. (Independente) Vhäldemar - «Sanctuary Of Death» (Espanha, Power Metal) | Pronto para a batalha! Com «Sanctuary Of Death», a maior banda de heavy metal da Espanha está prestes a lançar o seu sétimo LP. Onze faixas que farão o coração de cada fã de heavy metal e power metal bater mais rápido! O quinteto tem hasteado a bandeira do metal tradicional desde o final dos anos 90 com melodias cativantes e hinos verdadeiros. (MDD Records) Derelict - «Versus Entropy» (Canadá, Technical Death Metal) | Derelict tocam death metal técnico com muita melodia e vocais que são mais claros no lado inteligível (para o death metal). Originalmente vindo de Montreal, Derelict ganhou destaque com uma série de lançamentos. O seu som característico mistura elementos do extremo quebeque com influências de artistas americanos e europeus. (Independente)

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Les Chants Du Hasard - «Livre Quart» (França, Symphonic Black Metal) | Tendo vivido por mais de 15 anos na cena do Black Metal, Hazard afastou-se em 2017 com o primeiro álbum de LES CHANTS DU HASARD. Ele lançou as bases da sua própria tomada de música escura e definiu um novo género “Extreme Opera”, uma música orquestral sinistra com elementos de Black Metal. LES CHANTS DU HASARD voltou com um novo álbum, «Livre Quart», um álbum definitivamente mais sombrio e vicioso do que os álbuns anteriores. (Other) Lifvsleda - «Evangelii Härold» (Suécia, Black Metal) | Tal como os seus antecessores, Evangelii härold combina riffs afiados com um sentido apurado de melodia e estruturas memoráveis. O seu estilo de percussão distinto diferencia o álbum – uma mistura sofisticada de black metal tradicional e uma abordagem marcial imponente, fortalecendo os acúmulos imersivos. O uso adepto do reverb amplifica esse efeito, criando uma paisagem sonora densa e atmosférica. A entrega vocal de Lifvsleda permanece incomparavelmente desumana, num timbre excepcionalmente expressivo, realçando ainda mais a aura distintiva da música. (Norma Evangelium Diaboli) Shumaun - «Opposing Mirrors» (EUA-Washington, D.C, Progressive Rock) | O álbum destina-se a ser ouvido sequencialmente, embora haja singles de destaque dispersos por toda a parte. Há um fluxo natural entre as músicas, e as letras contribuem para uma sensação conceitual. Em essência, o álbum é meio-conceitual, e o título, «Opposing Mirrors», encapsula perfeitamente esse tema. (Independente) Wormed - «Omegon» (Espanha, Sci-Fi Tech Death Metal) | Espaço – a fronteira final. No entanto, quando WORMED alcança o vazio, os resultados soam muito mais, como uma ópera espacial sombria habitada por alienígenas bizarros, meta-humanos geneticos e tecnicamente evoluídos lutando por poder e sobrevivência em impérios galácticos. Assinaturas de tempo ímpar, avalanches de pausas e padrões rítmicos e melódicos complexos excitarão todos os aficionados de extrema tecnicidade, enquanto cordas afinadas e ataques de contrabaixo mais do que satisfarão os apreciadores de metal extremo. (Season of Mist) Parfaxitas - «Weaver Of The Black Moon» (Internacional, Black Metal) | Aventurandose no mundo de Nightbringer, Abigor e Sinmara, com pitadas de grandeza imperadora, Parfaxitas é um novo projeto de rostos conhecidos; K.R de Whoredom Rife, B.Einarsson de Sinmara/Slidhr, Azlum de Merihem/Oculus, e YhA de Suffering Hour. É uma grande declaração de guerra, um feito monumental de caos organizado, um álbum cheio de intrincado Black Metal. Mergulhe no álbum de estreia de Parfaxitas e deixe que o poder de Satanás o obrigue. (Ván Records) Kryptos - «Decimator» (Índia, Heavy/Thrash Metal) | Kryptos foi formada em 1998 em Bangalore, Índia e tem sido considerada uma das pontas de lança da revolução do heavy metal indiano. Com o ímpeto firmemente do seu lado, Kryptos estão prontos para lançar o seu estrondoso sétimo álbum, «DECIMATOR». Esteja preparado para o ataque do heavy metal que vem no seu caminho! (AFM Records) Hail Spirit Noir - «Fossil Gardens» (Grécia, Psychedelic Progressive Black Metal ) | Os experimentalistas gregos de prog/black metal psicodélico HAIL SPIRIT NOIR regressam com o seu aguardado quinto álbum de estúdio «Fossil Gardens», que é uma experiência intensa que eleva a alma; uma viagem musical ao mundo inconfundível de HAIL SPIRIT NOIR, e o seu esforço mais extremo até à data. O som característico da banda, definido por melodias sobrenaturais, sintetizadores vintage e experimentação composicional, está mais uma vez presente. (Agonia Records) Ernte - «Weltenzerstörer» (Suiça, Black Metal) | Depois de quase 20 anos a criar música ambiente escura, fotografia, pintura e arte gráfica, Häxär decidiu que era altura de regressar às raízes: em 2020 a sua paixão de longa data pelo Black Metal encontrou uma forma de expressão na ERNTE. Em Askahex (vocal, baixo, violino) ele encontrou um co-músico apropriado e experiente. Original e tradicional ao mesmo tempo, ERNTE captura o ódio e a frustração do mundo real enquanto chama de volta a um passado distante com uma invocação de velhas energias e espíritos. (All Noir) Akhlys - «House Of The Black Geminus» (EUA-Colorado, Black Metal) | AKHLYS, os principais canalizadores do pesadelo abissal do mundo, regressam triunfantes com seis elaboradas e emocionantes novas faixas de puro terror Black Metal. Inspirando-se em tradições esotéricas e míticas, onde a terra dos sonhos é colocada na escuridão do submundo, surge «House of the Black Geminus». Uma demonstração de domínio assustador. Combinando Black Metal intenso com elementos de Dark Ambient e Death Industrial. (Debemur Morti Productions)

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Monument Of Misanthropy - «Vile Postmortem Irrumatio» (Austria, Brutal Death Metal) | Os brutais titãs do death metal Monument of Misanthropy regressam mais uma vez com um álbum conceptual doentio baseado num serial killer, neste caso em torno de Ed Kemper. A banda mergulha em aspetos da sua vida, usando música violenta para adicionar significado a ela; a sua música visceral e incisiva com vocais altamente expressivos capturando perfeitamente a aura aterrorizante em torno da figura. A música compreende uma enxurrada de explosões e riffs frenéticos, pontuada pela ênfase no groove e na estruturação. (Transcending Obscurity Records) Forgotten Tomb - «Nightfloating» (Italia, Black/Doom/Sludge Metal ) | «Nightfloating» é o 11.º álbum de estúdio dos FORGOTTEN TOMB e vem depois de quatro anos do aclamado «Nihilistic Estrangement» e é uma imagem precisa de onde a banda está actualmente, artisticamente; reinterpretando as suas raízes Depressive Black Metal - género que a banda ajudou a definir no início dos anos 2000 com os seus três primeiros discos clássicos. FORGOTTEN TOMB revigora-se com um disco que mistura passado e presente. (Agonia Records) Grain Of Pain - «The Moon Lights The Way» (Finlândia, Melodic Gothic/Doom Metal) | Os finlandeses Grain of Pain oferecem uma poderosa mistura de doom/death metal, sombrio e emocional. A destreza musical é orquestrada por Timo Solonen, que não só compõe, mas também contribui com grunhidos e guitarras. O álbum de estreia é «The Moon Lights The Way», e tem um som único caracterizado pela sua intensa profundidade emocional. (All Noir) Coldcell - «Age Of Unreason» (Suiça, Black Metal) | Os ColdCell estão enraizados na cena underground suíça de black metal e sempre estiveram ansiosos para oferecer shows ao vivo sombrios e atmosféricos. Eles apresentam a sua própria abordagem única que funde antigas e novas escolas de black metal, criando uma expressão altamente pessoal atemporal e moderna, sombrio, assustador e extremo. (AOP Records) Uprising - «IIII» (Alemanha, Black Metal) | O terceiro disco de Defacement é desafiador e conflituoso, invocando forças primárias adormecidas no submundo. Inspirado nos cantos insondáveis e sombrios da existência humana, Defacement desencadeia uma viagem sonora penetrante, imprevisível na sua própria forma dinâmica e em constante mudança. Riffs intrincados e complexos servem de base para melodias habilidosas, tornando Duality a mais completa e madura entre as produções da banda. (AOP Records) Ulvehunger - «Retaliation» (Noruega, Death/Black Metal) | Quando veteranos merecidos do Death / black metal norueguês conspiram para dar vida a uma nova entidade, sabemos que estámos defrente a um verdadeiro deleite. ULVEHUNGER conseguiu criar uma adição digna à interminável lista de obras-primas da Noruega que nenhum adepto do género pode perder. (Darkness Shall Rise) Ironflame - «Kingdom Torn Asunder» (EUA-Ohio, Heavy/Power Metal) | Desde os anos oitenta, Cleveland sempre foi um hotspot para a grande música heavy metal. Andrew D’Cagna, continua essa tradição num verdadeiro estilo. Nos últimos anos, o multi-instrumentista tem estado ativo em mais de meia dúzia de bandas, mas a sua principal prioridade, é o seu projeto IRONFLAME. (High Roller Records) Meer - «Wheels Within Wheels» (Noruega, Progressive Rock) | Liderado pela cativante dupla de irmãos Knut e Johanne Nesdal, MEER regressa com o seu terceiro álbum, «Wheels Within Wheels», uma masterclass na mistura de prog sinfónico e pop inteligente, mostrando a musicalidade excecional da banda, harmonias vocais intrincadas e melodias grandiosas. O álbum apresenta faixas que atingem alturas elevadas e momentos de reflexão íntima, resultando num trabalho dinâmico e imersivo. (Karisma Records) Paradise In Flames - «Blindness» (Brasil, Black Metal) | Com a intenção de desafiar ideias pré-estabelecidas, a banda PARADISE IN FLAMES foi formada em 2002 na cidade de Santa Luzia, Minas Gerais, inspirada no bom e velho Death/Black Metal forjado no fogo de uma das cenas mais brutais do mundo. Toda a estrutura musical cria um cenário operático, onde os personagens interagem numa composição sinfónica caracterizada por ritmo acelerado e temas melodiosos. (Independente)

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Ritual - «The Story Of Mr Bogd -Part 1» (Suécia, Progressive Rock) | Uma das bandas mais lendárias da cena progressiva sueca dos anos 90 está finalmente de volta com um novo álbum, 17 anos desde o último álbum completo. Ritual tem sido muitas vezes uma banda com um conceito, e a sua a música tem sido muitas vezes inspirada nos romances de Tove Jansson sobre os Moomins. (Karisma Records) Imperia - «Dark Paradise» (Internacional, Symphonic Metal) | «Dark Paradise» dos IMPERIA é uma continuação do estilo musical estabelecido anterior. O núcleo do álbum gira em torno de canções de rock mid-tempo, algumas inclinando-se para um som mais pesado, enquanto outras adotam uma abordagem poppier. Além disso, duas baladas poderosas estão incluídas no álbum, adicionando profundidade à composição geral. O álbum é caracterizado por sua ênfase em guitarras e elementos orquestrais. Os vocais de Helena brilham enquanto ela transita sem esforço entre altos operáticos e grunhidos brutais, mostrando a sua versatilidade como vocalista. «Dark Paradise» é um corpo coeso, misturando perfeitamente elementos sinfónicos e rock. (Massacre Records) Commander - «Angstridden» (Alemanha, Death Metal) | Os veteranos do death metal sul-alemão, que existem desde 1999, lançam um novo peso-pesado. O agora 4.º LP «Angstridden» mais uma vez impressiona com uma estrutura de death metal áspera e bruta, onde a banda enfatiza cada vez mais as suas raízes nos estilos mais extremos. (MDD Records) Tsatthoggua - «We Are God» (Alemanha, Black/Thrash Metal) | «We Are God», o terceiro LP da banda alemã TSATTHOGGUA, é dirigido a todos os sado-loucos Black por aí. No verdadeiro amor Black, oferecendo nove faixas de terror negro brutalmente infernais e blasfemas em 40 minutos. TSATTHOGGUA caminha novo com a sua arte bizarra emparelhada com o estilo caótico inimitável. (Osmose Productions) Auro Control - «The Harp» (Brasil, Progressive Power Metal) | «The Harp» é um álbum ambicioso, unindo a grandeza do Power Metal com a profundidade do Prog Metal e a riqueza da percussão baiana-brasileira, resultando numa sonoridade única e surpreendente. Auro Control é uma banda brasileira de Prog/Power Metal liderada pelo vocalista Lucas de Ouro. O nome refere-se a “Auro” (“dourado” em latim) e soa como “fora de controle”. (Rockshots Records) Isle Of The Cross - «Faustus The Musical» (EUA-California, Avant-garde/Symphonic/Technical Death Metal) | Isle of the Cross, a potência do metal progressivo liderada pelo multifacetado Je Schneider, está entusiasmada com o lançamento do segundo álbum, «Faustus The Musical». Este álbum inovador é uma ópera de metal que se inspira na saga épica do século XVI, ‘Doctor Faustus’ de Christopher Marlowe. Lideradas pelo visionário Je Schneider, as composições tecem uma narrativa envolvente, acompanhada por uma poderosa entrega vocal de um elenco estelar. (Rockshots Records) Okular - «Regenerate» (Noruega, Melodic Progressive Death Metal) | O grupo norueguês de death-metal Okular lança o seu terceiro álbum, «Regenerate». Este interrompe um hiato de onze anos. Além da esperada mestria do prog death metal da banda, «Regenerate» vê Okular recapturar a abordagem melódica escandinava presente no seu primeiro álbum «Probiotic». (Regenerative Productions) Mister Misery - «Self Titled» (Suécia, Horror Metal) | Os líderes suecos do metal moderno, MISTER MISERY, são uma banda de metal inovadora e moderna. Misturando vocais limpos e corajosos, juntamente com riffs de alta tensão e refrãos de hino, eles desenvolveram um som e estilo únicos, que captura a essência de todos os subgéneros da música pesada moderna. (AFM Records) Alkimista - «Viagem» (Portugal, Doom/Death Metal) | Este é o terceiro álbum do projecto “Alkimista” - “Viagem”. Segundo o modelo proposto por Elizabeth KüblerRoss uma pessoa passa por cinco estados quando confrontada por uma grande perda ou dor: Negação, Raiva, Negociação, Depressão que podem revelar-se de várias formas e alternadamente até chegar, por fim, à Aceitação. Esta “Viagem” é a aplicação inconsciente destes princípios após a Perda ocorrida no álbum anterior “Cinzas”. (Independente) Skyeye - «New Horizons» (Eslovénia, Heavy Metal) | Algumas bandas tocam heavy metal, outras são de heavy metal. Entre na potência eslovena, SkyEye, o melhor exemplo de categoria dois que se poderia desejar. Com o seu 3.º disco, «New Horizons», a

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irmandade está candidata oficialmente ao papel dos mais recentes e corajosos defensores da fé do heavy metal, uma força de aço que fervilhava desde que começou, em 2014. (Reaper Entertainment) Horned Almighty - «Contagion Zero» (Dinamarca, Black Metal) | Testemunhe o renascimento de HORNED ALMIGHTY - uma nova era de miséria musical! Ressurgindo das cinzas do passado, os HORNED ALMIGHTY regressam com o seu sétimo álbum, o mais forte até à data! Revisitando os fogos da escuridão, «Contagion Zero» é Black Metal imaculado! Da escuridão dissonante iminente, surge a agressividade frenética. (Soulseller Records) Steinras - «Steinras» (Noruega, Black Metal) | Este é o álbum de estreia autointitulado da banda norueguesa STEINRAS! Com muitos anos de existência, o projeto Black Metal de Steinar Aven e Arne Gandrud materializouse em pedra. Uma viagem incrível e única através do som e paisagens da Noruega. Com apoio vocal de nada além de lendas da cena, isso transformou-se num diamante negro. (Soulseller Records) Evilyn - «Mondestrunken» (Internacional, Avant-garde Death Metal) | Evilyn criou um álbum de death metal atípico que é ao mesmo tempo, monolítico, alienígena e formidável. Anthony Lipari, do Thoren, montou uma formação para a estreia da banda, que foi fundamental para arranjar, mixar e criar a hipnotizante capa do álbum. A música que inventaram é insuportavelmente pesada, com riffs como obeliscos de lajes de betão impermeáveis a rasgar a crosta terrestre, erguendo-se com um padrão apenas decifrável depois de várias audições. (Transcending Obscurity Records) Laceration - «I Erode» (EUA-California, Death/Thrash Metal) | Absolutamente carregado de marcas da era de pico do Death Metal dos EUA, «I Erode» explode veementemente com riffs impiedosos, tempos selvagens, solos carnívoros de bom gosto e as correntes malévolas da perfeição agressiva do Death Thrash. «I Erode» oferece uma dose puramente viciante de adrenalina real do Death Metal. (20 Buck Spin) Show Me A Dinosaur - «Plantgazer» (Rússia, Black/Post-Metal, Post-Rock/Shoegaze) | Show Me a Dinosaur é uma banda de post-rock / blackgaze de São Petersburgo, Federação Russa. Esta banda que desafia o género formou-se em 2010. «Plantgazer» é um álbum nascido de alguém fechado dentro da sua casa. Um álbum que nasce da esperança de romper uma ansiedade crescente. (AOP Records) Fulci - «Duck Face Killings» (Itália, Brutal Death Metal) | O infame diretor italiano Lucio Fulci criou muitas das visões mais memoráveis e vívidas do cinema de terror e exploração do sobrenatural. A banda italiana de Death Metal FULCI estava tão possuída pelo trabalho do seu conterrâneo que batizou a banda com o nome dele, com cada álbum sendo um conceito e tributo baseado num dos seus filmes. (20 Buck Spin) Koldbrann - «Ingen Skånsel» (Noruega, Black Metal) | Depois de um período de quase uma década a viver nas sombras, Koldbrann regressa com o seu 4.º álbum «Ingen Skånsel». Soa mais cru, mais duro e melhor do que nunca. Embora profundamente enraizado na tradição do Black Metal norueguês, Koldbrann esculpiu o seu próprio som dentro dos limites do género. Há um nervo feroz que atravessa o álbum, onde as músicas destacam-se dos sons típicos do black metal de hoje. (Dark Essence Records) Ancient Entities - «Echoes Of Annihilation» (EUA-Wisconsin, Death Metal) | Ancient Entities, é um conjunto poderoso de músicos experientes, Alex Rausa, Bernardo Mendia, Jake Falk, Luke Veranth e Brian Gulliford, que agora anunciam orgulhosamente o lançamento do seu aguardado álbum de estreia de death metal, «Echoes of Annihilation». O estilo da banda consiste em poderosos riffs técnicos de death metal, misturados com secções rítmicas cativantes e titânicas. (WormHoleDeath) Gloria Perpetua - «The Darkside We Wanna Hide» (Brasil, Power/Heavy Metal) | Gloria Perpetua lança seu o álbum de estreia, «The Darkside We Wanna Hide». Definido para fazer ondas na cena do heavy metal, este primeiro LP apresenta dez faixas poderosas. Gloria Perpetua vem da região da floresta amazónica no Brasil, uma área muitas vezes negligenciada no circuito de metais pesados. Apesar dos desafios, a banda está determinada a se destacar e causar impacto. O seu som é melhor descrito como pesado, rápido e épico. O álbum mistura diversas influências, apelando tanto para os fãs de metal tradicional quanto para os entusiastas do power metal com um final de thrash metal assassino que certamente será do agrado de todos. (Shinigami Records)

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Scald - «Ancient Doom Metal» (Rússia, Epic Doom Metal) | SCALD de Yarsoslavl, na Rússia, foram formados pelo baixista Velignor no segundo semestre de 1993. A ligação entre o álbum de estreia original «Will Of The Gods Is Great Power» e este são o manter dos mesmo estilos. Ambos os álbuns estão repletos da mesma atmosfera – a do norte, da antiga Escandinávia e da Rússia. (High Roller Records) Dimbild - «Dunkelglöd» (Suécia, Rock / Semi Acoustic Folk) | Dimbild: uma viagem semiacústica de Vintersorg! Dimbild surgiu como um projeto paralelo semiacústico do renomeado músico Vintersorg em 2022, abraçando o lado folclórico em todo o seu contexto e mantendo as intensas composições de metal associadas ao ato principal do lado de fora. Partindo da energia implacável do metal, Dimbild tem uma abordagem mais moderada e introspetiva da música. O projeto permite que Vintersorg explore uma faceta diferente da sua expressão artística, aprofundando os domínios da música folk e acústica com uma pitada de melancolia. (Hammerheart Records) Pneuma Hagion - «From Beyond» (EUA-Texas, Black/Death Metal) | A investida auditiva vinda do Texas e conhecida como PNEUMA HAGION lança o seu terceiro álbum! Uma enxurrada implacável de brutalidade desafinada ressoará profundamente com os acordes mais sombrios da sua alma. Isto é grosso, isto é cru, isto é agressão esmagadora sem filtros! «From Beyond» explora as ideias lovecraftianas universais. (Everlasting Spew Records) Krilloan - «Return Of The Heralds» (Suécia, Power/Heavy Metal) | Eternos campeões do power metal. Após o sucesso do brilhante álbum de estreia «Emperor Rising», «Return Of The Heralds» entrega ainda mais músicas melódicas rápidas que vivem e prosperam no reino do power speed metal tradicional. O novo disco de Krilloan é, mais uma vez, uma sentida homenagem aos “bons e velhos tempos” do heavy metal clássico e do entretenimento de espada e feitiçaria. (Scarlet Records) The Other Sun - «Daimon, Devil, Dawn» (Suécia, Occult Rock) | “Dark rock” é como THE OTHER SUN define o seu som. “Rock oculto” também seria apropriado. O comportamento profundo do ocultismo enraizado, evoca o nascer do pôr do sol e tudo o que isso implica quando estudado através do indivíduo. Os sonhos partem da escuridão e transformam-se naquela luz invisível do Homem prometeico. (Invictus Productions) Trelldom - «By The Shadows» (Noruega, Black Metal) | TRELLDOM é uma criação de Kristian Eivind Espedal, que é mais conhecido sob o nome do seu artista Gaahl. O norueguês tornou-se uma das principais figuras da cena nórdica do black metal. Espedal mudou aspetos de TRELLDOM que criaram efeitos fascinantes. A inclusão dos sons heterodoxos do saxofone de Møster já pode ser tomada como uma indicação de que os TRELLDOM não estão mais presos pela definição mais restrita de black metal. (Prophecy Productions) Summoning The Lich - «Under The Reviled Throne» (EUA-Missouri, Melodic Death Metal/Deathcore) | SUMMONING THE LICH regressa com o mais recente capítulo do seu universo de fantasia de death metal técnico. O segundo álbum da banda de St. Louis, Missouri, «Under the Reviled Throne», vê Lich ganhar vida por meio de histórias de reinos isolacionistas, magos malévolos, rainhas bruxas e exércitos canibais empenhados na destruição. (Prosthetic Records) Svartelder - «Trenches» (Noruega, Black Metal) | SVARTELDER da Noruega apresenta uma nova obra-prima com a sua visão única do Black Metal da velha escola. Bombástico, atmosférico, mas debulhando e razorsharp! SVARTELDER permaneceu adormecido até que o fundador e vocalista Doedsadmiral, decidiu reativar o projeto da velha escola norueguesa de Black Metal. (Soulseller Records) Eihwar - «Viking War Trance» (França, Pagan neo-Vicking Metal) | Muitas bandas têm explorado os mundos pagão e nórdico ao longo dos últimos 15 anos, procurando sons atmosféricos, acústicos e rituais com grande seriedade. Não foi este o caminho que EIHWAR escolheu. Eles apresentam uma música neo-viking festiva e furiosa, cuja força primordial é baseada em máquinas tecnoides, vocais de trance, bateria xamânica e sons nórdicos tradicionais. A eletrónica é um “novo aço” para aqueles guerreiros modernos, frios e poderosos. (Season of Mist) Endless Chain - «Agony» (Finlândia, Progressive Gothic Metal) | Encapsulando o delicado equilíbrio entre sonho e realidade, escapismo, luz e sombra, e as emoções intrínsecas da solidão e do isolamento, «Agony» mergulha fundo em dez composições

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comoventes. Musicalmente, tem uma direção mais sombria, misturando melodias atmosféricas com riffs pesados e agressivos para criar um som cativante e único. (All Noir) Ellende - «Todbringerin» (Austria, Ambient Post-Black Metal) | ELLENDE, referindose à palavra alemã para “estar fora do país”, retrata a visão do multi-instrumentista austríaco L.G. As suas ambições em black metal atmosférico expressam o fracasso humano, a pura emoção e a beleza. Por meio de uma incorporação subtil de instrumentação clássica, como cordas, metais e piano, ELLENDE ultrapassa os limites do black metal. (AOP Records) Firtan - «Ethos» (Alemanha, Pagan/Black Metal) | Há quase 15 anos que Firtan tem sido uma força implacável na cena alemã do metal extremo. Inspirados pela energia crua da cena black metal dos anos 90, o seu som evoluiu para uma entidade única e mais progressista, libertando influências ecléticas para uma abordagem multifacetada e inovadora, caracterizado por guitarras poderosas e vocais intensos e viscerais. A presença do violino acústico e eléctrico tece composições com tons melancólicos e experimentais. (AOP Records) Servant - «Death Devil Magick» (Alemanha, Black Metal) | A banda alemã de black metal Servant celebra o seu black metal melódico e furioso no underground desde 2021. Agora, Servant lança o seu terceiro LP, «Death Devil Magick». Guitarras melódicas combinadas com baterias furiosas, e linhas de baixo poderosas, que combinam com teclas e grooves poderosos. Uma paisagem sonora poderosa, agressiva e dinâmica. (AOP Records) Typhonian - «The Gate Of The Veiled Beyond» (Alemanha, Death Metal) | Enquanto a maioria das bandas se contenta com o som dos dias de glória do death metal do início dos anos 90, a banda alemã Typhonian, reinterpretou com elementos enegrecidos entrelaçados com as clássicas melodias suecas/finlandesas. Typhonian está a ir mais longe, adicionando elementos mais progressivos e atmosféricos. É uma jornada fenomenal da música que está evidentemente enraizada no som do death metal da velha escola que se metamorfose gradualmente. (Transcending Obscurity Records) Sur Austru - «Datura Străhiarelor» (Roménia, atmospheric folk/black metal) | Três anos após o aclamado «Obâr.ie», a banda romena de folk/black metal progressivo Sur Austru voltou com o seu terceiro álbum de estúdio, «Datura Strahiarelor». Sur Austru nasceu das cinzas do falecido Negura Bunget, mantendo viva a sua intenção de trazer a tradição romena para a música. Este é o projeto mais complexo e ambicioso onde a música é fortemente apoiada no lado progressivo e folclórico, ainda mais do que antes. (Avantgarde Music) Grendel’S Sÿster - «Katabasis into the Abaton / Abstieg in die Traumkammer» (Alemanha, Heavy/Folk Metal) | O primeiro LP dos expansivos e brilhantes metaleiros épicos alemães dos anos 70! Uma mistura gloriosa de metal épico, epic doom, folk e Krautrock. Música de estilo justo renascentista e rock dos anos 70, os alemães GRENDEL’S SŸSTER podem não ter uma etiqueta de género identificável e conveniente, mas no seu primeiro álbum, «Katabasis into the Abaton», tecem um feitiço dinâmico e potente, sem amarras a qualquer coisa além dos seus próprios caprichos criativos. (Cruz del Sur Music) Modern Rites - «Endless» (Suiça, Melodic Black Metal) | O novo álbum «Endless» unifica, eleva e aperfeiçoa a visão da banda, oscilando entre o isolamento opressivo e o otimismo furioso numa exploração intensa da condição humana. MODERN RITES conduz poderosas lajes de música industrial sombria dos anos 90 por uma estrutura baixa de Black Metal melódico agitado e gutural. (Debemur Morti Productions) Other World - «Tenebrous» (EUA-Califórnia, Atmospheric Black Metal) | OTHER WORLD é uma banda de Black Metal e contemporânea baseada na Califórnia, onde ex-membros de BLACK SALVATION, PILLORIAN e BOREWORM exploram a beleza no caos e na escuridão. A banda expande e consolida a sua visão através do novo álbum «Tenebrous»: uma representação intensamente emotiva e contundente longe da luz. (Debemur Morti Productions) The Stabbing Jabs - «The Stabbing Jabs» (EUA-Ohio, Punk/Noise Rock) | THE STABBING JABS dão vida de fogo ao tipo de rock ‘n’ roll duro, intemporal que uma geração deixou para morrer. Temos um arsenal de músicas duras e de marteladas, construídas em guitarras grossas e cinder-block. Gritos ensanguentados. Sujo, confuso, low-end. Riffs, riffs e mais riffs. O LP de estreia é um face-blaster de alta octana. (Earsplit)

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Vile Rites - «Senescence» (EUA-Califórnia, Progressive Death Metal) | Vile Rites é uma entidade de death metal progressivo que usa uma amálgama hipnótica de riffs agressivos, ritmos giratórios, ampla faixa dinâmica e ambiente psicadélico escuro para levar ao ouvinte, numa jornada cerebral ao esotérico. Vile Rites cria uma experiência visceral e caleidoscópica que parece vagar sozinho na floresta à noite. “Senescence” é uma jornada de 40 minutos de death metal psicadélico que leva o ouvinte para a escuridão cavernosa até o êxtase etéreo. (Earsplit) Helvetets Port - «Warlords» (Suécia, Heavy Metal) | Os HELVETETS PORT de Gotemburgo lançaram o seu álbum de estreia »Exodus To Hell«. Records em 2009. »Warlords«, o que é uma clara progressão em comparação com os dois primeiros álbuns dos suecos, define o estilo de ELVETETS PORT intemporal, mantendo o paradigma estrito do heavy metal tradicional. (High Roller Records) Lusca - «Blood Promises» (Alemanha, Industrial Doom Rock ) | O doom metal industrial é um nicho, mas aqueles que habitam nesse nicho aderem a ele com paixão. Assim como a alemã LUSCA, vê a conclusão do seu quarto álbum «Blood & Promises». LUSCA dedica-se ao metal industrial da velha escola desde 2002, tornando-se um dos representantes mais antigos do género na Alemanha. (MT Records) Maitreya - «Auxesis» (Canadá, Progressive Metalcore/Djent) | Maitreya encarna a catarse na expressão musical, projetada para explorar as emoções turbulentas da condição humana. Fundada em 2016 em Whitby, Ontário, Maitreya (may-trey-ah) faz música de metal progressivo com base em sons pesados, com coração aberto a texturas elevadas etéreas. (Independente) Mourners Lament - «A Grey Farewell» (Chile, Rock / Metal / Doom Metal) | MOURNERS LAMENT é uma banda de doom-death metal de Viña del Mar, Chile. A emoção crua, mas rica, dos primeiros dias dos Três Peaceville Paradise Lost, My Dying Bride e Anathema, em conjunto O eterno modelo para o doom-death metal - ainda pode ser um campo fértil para inspiração. Não seria hipérbole sugerir que A Grey Farewell é talvez um dos melhores exemplos modernos de puro Doom que transmite a sua própria personalidade. (Personal Records) Jupiter Cyclops - «Age Of The Ufonaut» (EUA-Arizona, Stoner/Heavy Metal/Hard Rock) | JUPITER CYCLOPS está pronto para incendiar o mundo do rock! O seu álbum de estreia «Age Of The UFOnaut» é uma mistura eletrizante de energia, riffs rockin, melodias vocais poderosas e cativantes e grooves contagiantes. Influenciado pelo rock clássico e NWOBHM, este álbum é para fãs de Deep Purple, Black Sabbath, Iron Maiden e muito mais. (Independente) Rome - «World In Flames» (Luxemburgo, Neo-Folk) | A implacável poética da divisão de ROMA! Sons industriais brutais encontram composições cuidadosamente trabalhadas dotadas de uma qualidade lírica que se tornou a marca registada de ROMA. O que distingue a alma artística de Roma de outros escritores contemporâneos é a implacável implacabilidade da sua própria poética da divisão. (Trisol Music) Void Witch - «Horripilating Presence» (EUA-Texas, Death/Doom Metal) | Esmagador e sufocante, o pesado quarteto texano Death Doom VOID WITCH está finalmente de volta com o novo álbum «Horripilating Presence», num mosaico de inspirações que desliza por todo o espectro do género e não tem medo de explorar mais além! A bruxa está pronta para sufocá-lo novamente nas bobinas do seu manto. Sucumbam! (Everlasting Spew Records) Psychlona - «Warped Vision» (Inglaterra, Stoner Metal/Rock) | Barkeeps musicais com o conjunto necessário de habilidades para criar tal iguaria não são fáceis de encontrar, mas PSYCHLONA são especialistas neste seu campo. O quarto álbum «Warped Vision» é um exercício exemplar de veteranos criando uma obra-prima. As bases do álbum são estabelecidas pelo peso focado em riffs e fugas combinadas com uma infinidade de vibrações geladas. PSYCHLONA desenvolveu uma marca particularmente britânica de rocha do deserto. (Prophecy Productions) Soror Dolorosa - «Mond» (França, Gothic/Death Rock) | O erotismo subtil, a excitação elétrica e o prazer musical sombrio, tudo se foi, muitos roncadores noturnos suspiram – tanto os que viveram este passado e o anseiam como os que nasceram demasiado

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tarde e desejam regressar a uma era nostálgica. Não temas! SOROR DOLOROSA vem a voar para o resgate em asas pretas. O seu quarto álbum «Mond» tem presas musicais que extraem delicioso sangue sónico na primeira experiência de audição. (Prophecy Productions) Whispering Void - «At The Sound Of The Heart» (Noruega, Nordic Ambient Rock) | Era bem conhecido nas tradições nórdicas que a voz detém poder mágico. Com o seu álbum de estreia «At the Sound of the Heart», um coletivo de músicos de renome da costa oeste da Noruega explora e personifica estes caminhos antigos. A ascendência de WHISPERING VOID obviamente remonta à cena do metal norueguês que tem sido altamente produtiva desde que a chamada segunda onda do black metal começou a sua marcha triunfal da vitória ao redor do mundo nos 90. (Prophecy Productions) Thotcrime - «Connection Anxiety» (Inglaterra, cybergrind ) | A banda de cybergrind THOTCRIME lança o seu terceiro LP, «CONNECTION ANXIETY». Fechando velhas feridas e abrindo a pista de dança, eles são um ato desafiador de júbilo e autocelebração num mundo que muitas vezes pode-se sentir em desacordo com a alegria. (Prosthetic Records) Robse - «Harlekin Krieger» (Alemanha, Melodic Death Metal) | O vocalista de longa data e fiador da banda épica de metal Equilibrium voltou com uma nova banda e uma exibição de fogos de artifício verdadeiramente poderosa de energia e músicas bombásticas. A banda “ROBSE” apresenta o seu álbum de estreia «Harlekin und Krieger» (inglês. “Harlequin and Warrior”). (Reaper Entertainment) Voodoo Kiss - «Feel The Curse» (Alemanha, Heavy/Power Metal) | Uma coisa você pode contar no acampamento Voodoo Kiss: Os ingredientes básicos do som não serão mexidos. Este é o Voodoo Kiss, e onde o nome desta banda está no disco, o heavy metal ágil, cativante e melódico aguarda. Com verve, vigor, garra punk e o seu típico senso de peso melódico, Voodoo Kiss explode e groove o seu caminho por meio de oito exemplos poderosos de como esta gloriosa música dos anos oitenta ainda pode soar emocionante e original. (Reaper Entertainment)

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CURIOSIDADESPALETES Género Black Metal Death Metal Black/Death Metal Heavy/Power Metal Progressive Rock Power Metal Heavy Metal Progressive Metal Atmospheric Black Metal Technical Death Metal Thrash Metal Heavy Rock Hard Rock Black/Thrash Metal Death/Doom Metal Brutal Death Metal Progressive Death Metal Jazz Death/Thrash Metal Progressive Heavy Metal Rock N’ Roll Atmospheric Death Metal Doom Metal Symphonic Black Metal Power/Heavy Metal Stoner/Rock Doom/Stoner Metal Thrash/Death Metal Symphonic Metal Rock Death/Black Metal Punk Rock Speed/Thrash Metal Deathcore Old School Heavy Metal

#LPs 53 42 13 12 11 9 9 8 8 7 7 5 5 4 4 4 4 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2

Álbuns por Países

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Alemanha Noruega Suécia EUA-Califórnia França Canadá Internacional Itália Finlândia Países Baixos Inglaterra Espanha EUA-New York Austria EUA-Florida Brasil Portugal Austrália EUA-Arizona EUA-New Jersey Suiça Dinamarca EUA-Texas

48 29 22 21 18 16 14 13 13 12 11 7 7 6 6 6 6 5 5 5 4 4 4

EUA-Illinois Ucrânia EUA EUA-Virginia Nova Zelândia Grécia Bélgica EUA-Colorado EUA-Georgia EUA-Ohio EUA-Massachusetts EUA-Oregon EUA-Indiana Rússia EUA-Washington, D.C Chile Hungria EUA-Pennsylvania Ilhas Faroé Polónia

3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2

Outros países excepto EUA Estados dos EUA

13 11

Avaliamos 358 álbuns entre as nossas edições versus, continuando persistentemente com os três primeiros lugares ocupados pelos géneros dominantes. A surpresa foi o posicionamento no quarto lugar do Heavy/ Power Metal e a ascensão do Power Metal. Curioso termos recebido 3 trabalhos no âmbito do Jazz – aqui aplicado ao metal – e a queda do Thrash Metal do 7.ª para 11.ª. De notar a disparidade de todos os estilos e subgéneros só com um álbum, 114, o que indica a grande proliferação de crossovrers entre os diferentes estilos, indo num caminho de um certo individualismo musical das bandas. Nesta edição houve um tombo monumental do grande estado americano, que é a Califórnia. Caiu de 1.ª para 4.º lugar, regressando em força à liderança a Alemanha. Surpreendente é o 2.º lugar da Noruega, país que nunca abandona o TOP10 mas, penso que é a primeira vez que está em 2.º lugar. Curioso constatar que os três países escandinavos somam 64 álbuns!

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Dodici Cilindri

(porque o barulhos dos motores também é música)

Por: Carlos Filipe

Alfa Romeo Giulietta Quadrifoglio Verde 1.7 Turbo Benzina A Alfa Romeo é uma marca centenária, que teve a sua origem na junção da A.L.F.A., acrónimo para Anonima Lombarda Fabbrica Automobili e o engenheiro Nicola Romeo. A Alfa Romeo desenvolveu o seu pedigree automobilístico nas competições da primeira metade do século XX. Uma das suas maiores figuras, que esteve à frente da competição dos Alfa Romeo, foi um tal de Enzo Ferrari, que fazia correr os Alfas na então já denominada Scuderia Ferrari. Foi na Targa Florio de 1923 que surgiu o icónico símbolo da desportividade dos Alfas e da sorte, o trevo verde de quatro folhas ou quadrifoglio verde. Quando a marca se tornou mainstream na segunda década do século XX – Só passou para a FIAT em 1986, passou a marcar todos os seus carros desportivos, de gama ou de competição, como o magnífico Stradale P33, com o icónico trevo verde. O nome “Giulietta”, tal como a “sua irmã” “Giulia”, são dos nomes mais marcantes da Alfa Romeo, e surgiram respectivamente na década de 50 e 60. A utilização da palavra Giulietta vem da famosa obra de Shakespeare – ou como dizia Herman José, o “Abana a Pera” – Romeo e Julieta, ou como se dirá em italiano “Romeo e Giulietta”, que como se está mesmo a ver, combina o nome do fabricante Alfa Romeo com o nome da protagonista, Giulietta. Uma combinação mesmo em frente dos olhos! A primeira geração apareceu em 1954 e prolongou-se até 1965. Teve três variantes de carroçaria, berlina, coupé e descapotável, conhecido na gíria Alfa como “spider”. Tirando os Sprint Zagato, a versão mais icónica é o spider. A segunda geração apareceu em 1977 com uma variante única de um sedan, que se manteve até 1985. Foi projectado para ser um carro de produção em massa, não tendo nenhuma versão em especial, apenas tendo sido produzido pela casa Autodelta, o raro Giulietta Turbodelta (361 exemplares), a expressão máxima de desportividade da segunda série. O nome Giulietta mais uma vez ficou na gaveta, até a terceira geração surgir em 2010, em formato “hatchback”, ou como dizemos por cá, “compacto”, estando no catálogo até se eclipsar em 2020. Teve 2 facelifts, um no final de 2013 e outro em 2016. Apenas vendeu 440.000 unidades em 10 anos, o que corresponde a um sucesso algo mitigado. O Giulietta “3” nasceu numa época de recuperação do grupo FIAT, liderada pelo falecido Sérgio Marchionne, um “contabilista” que liderou o grupo FIAT de 2009 até à sua prematura morte em 2018, com firme determinação e os números na cabeça. Conseguiu recuperar o grupo FIAT com o sucesso estrondoso do FIAT 500 e lançou a Ferrari em bolsa, separando-se

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assim do mesmo, mas, não antes sem pegar nos engenheiros da Alfa e Ferrari e desenvolver o Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio em 2 anos e meio, antes do carve-out da Ferrari. É-lhe que devemos hoje os dois extravagantes e já icónicos modelos da ALFA, o Giulia e Stelvio 2.9L Quadrifoglio de 510 CV. O facto de terem de vender carros com bom lucro, para assim garantir a sobrevivência do grupo, fez com que a qualidade e montagem dos seus produtos prejudicasse a imagem de algumas das marcas. Se nos Fiat e Jeeps a coisa podia passar mais ou menos, nos ALFAs e Maseratis, de outras gamas e a competir com os alemães, a coisa já não caía bem. A percepção geral é boa, mas depois quando começamos a ver melhor e tocar nos materiais, ficam um bocado a deseja. A variante mais “apimentada” do Giulietta de terceira geração foi o 1.7 Quadrifoglio Verde ou QV, que teve dois motores. Até o terceiro trimestre de 2013, teve o motor derivado do 1750 TBi, que podíamos encontrar no 159 TI, agora revisto e com 235 CV às 5500 rotações e caixa manual de 6 velocidades. Em 2014, surgiu renovado com um motor igualmente de 1.7 litros, mas, com o bloco todo em alumínio e derivado diretamente do roadster desportivo Alfa Romeo 4C, ganhando 5 CV suplementares que vinham 250 rotações mais tarde, e que, pesava menos 20 quilos. Quilos estes que foram imediatamente anulados pela utilização da caixa automática TCT – Twin Clutch Transmission – que se tornou a única opção, tendo a caixa manual de 6 velocidades nos Giuliettas terminado em dezembro de 2013. O que também terminou com o segundo facelift de 2016, foi a designação Quadrifoglio Verde, e, respectivo brasão nos guarda-lamas laterais, passando o carro a chamar-se simplesmente “Giulietta Veloce”. Eu penso que isto tem a ver com o surgimento dos majestosos Giulia e Stelvio Quadrifoglio, que para si reservaram a designação mais desportiva dos Alfa Romeo. O Giulietta QV que tenho a experiência e privilégio de utilizar, é uma variante rara. É um modelo do facelift de 2013, mas ainda com o motor da fase um e caixa manual de 6. Segundo a informação que me chegou, em Portugal, só foram vendidos três exemplares, todos entregues em dezembro de 2013. O Giulietta é um carro esteticamente bemnascido, correspondendo a provavelmente 90% da razão por que se escolhe este carro. É um carro compacto, com uma boa habitabilidade interior e mala, aonde vamos bem sentados e bem baixinhos, num lugar agradável de se estar. É um carro engraçado de se conduzir, em especial, nesta versão mais desportiva, que apresenta um conforto q.b. para um desportivo. Sentimos bem a estrada e sentimo-nos bem colado à estrada, seguindo a suspensão os altos e baixos das estradas. Acelera muito bem e de forma marcante em dynamic e trava ainda melhor com os seus travões Brembo, com um tacto progressivos à força aplicada na travagem, o que me faz pensar o que será conduzir um carro ainda mais desportivo e com o dobro da potência. A qualidade geral é boa, mas aqui e ali, deixa um bocado a desejar, os bancos têm um bom suporte lateral e no meu, um mix de pele e alcantara com o símbolo da Alfa desenhado nos estofos, que lhe fica muito bem, mas, há demasiados plásticos que em nada dignificam o carro. Basta ver o punho interior do foro da porta que basta apertar com a mão para “esguichar” barulhos parasitas. Um dos pontos menos positivos é o som de escape, que não é por aí além, e que nunca evoluiu para fazer “pipocas” como os seus rivais. A direcção é precisa e rápida, bastando um quarto de volante para fazer uma curva a 90 graus. Mas o mais estrondoso é a capacidade de aceleração, em particular no modo dynamic. Na consola central podemos encontrar o já famoso e distintivo manipulo dos ALFAs desportivos, o selector DNA, de Dynamic-Natural-. All weathers. Quando me coloquei ao volante pela primeira vez e saí do stand – após terem retirado da frente um Aston Martin Vanquish – o carro estava em Natural, e assim ficou durante um mês, o que deu para ver o potencial de aceleração, mal entrei na A1 à saída de Lisboa, pois em Lisboa e na 2.ª circular, é impossível andar “bem” com o trânsito quase ininterrupto. Nesse dia de primeiro contacto, deu para um pequeno 200

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momentâneo e aferir do carácter e potencial da máquina. De facto, é necessário dosear bem o pedal de aceleração, pois rapidamente chegamos os 140 sem grande esforço e os 200, se continuarmos na senda, aparecem num ápice. A capacidade de ultrapassar os 200 é estonteante. Mais tarde lá mexi no comando do DNA para dynamic… E o carro transfigurou-se. Se o poder de aceleração era grande em Natural, em dynamic é ainda mais estonteante. Que vivacidade tem este motor! Nota-se bem na dinâmica do carro os diferentes modos de condução e é o que dá caracter a esta máquina e jus ao lema da marca “La meccanica delle emozioni”. Se quiserem “sentir as mesmas emoções”, vejam este vídeo do YouTube, do canal do JMReviews: Alfa Romeo Giulietta Quadrifoglio (235cv) - Não SONHAVA Com O POTENCIAL DISTO!! A concorrência nos “pocket rockets” ao longo desta década do Giulietta foi feroz. O clássico sentimento nos carros italianos é sempre o mesmo: Sim, mas eu vou comprar alemão. E assim, é natural que por cada Giulietta vendido se tenha vendido milhentos VW Golf GTi, o primeiro rival do Giulietta com 245 CV. A seguir, vem outro clássico do mercado, o Honda Civic Type-R com os seus 320 CV, que esteve sempre numa categoria à parte, tal como o Mercedes-Benz A45 AMG e ainda mais o BMW serie1 M135i, pela potência superior e preço extra que custam. Mais na faixa de potência e preço do Giulietta, há o Renault Megane RS, o Ford Focus RS e mais recentemente o Peugeot 308 GTi e o Hyundai i30N com os seus 275 CV. Esta é uma concorrência que soube evoluir, ao contrário do Giulietta QV, que pelo caminho até perdeu o trevo verde de quatro folhas e a designação. Com isto, e baseando nos dados estatísticos do automóvel de 2011 a 2020 - 2010 é-me desconhecido, apenas foram matriculados 35 carros em Portugal ao longo de praticamente uma década. Se extrapolarmos os dados de 2011 para 2010, eu diria que não mais de 45 carros destes são nacionais. Há é um valente naipe de importados por aí que vão aparecendo nas plataformas de Marketplace online. O que leva à seguinte questão: estamos na presença de um futuro clássico? Absolutamente! Este e todos os rivais mencionados em cima. Ainda por cima, com o advento da mobilidade eléctrica e anunciado fim do motor a combustão, ainda mais importância irão ter estas máquinas especiais. Só não sei se o factor caixa manual vai ter alguma importância em Portugal e mesmo na Europa. Nos Estados Unidos andam todos malucos com os carros com caixa manual. A valorização sobe logo em flecha comparativamente a um com caixa auto, com o facto de tornar o mesmo mais colecionável, é imediatamente reforçada. Eu, para já, vejo que o valor do meu carro, no mínimo, mantém-se e com os quilómetros que tem, até está algo valorizado relativo ao que vou vendo no mercado de usados. Interprete-o como um carro de colecção para saídas de fim de semana ou simplesmente ir acelerar nas estradas secundárias das redondezas, porque para o que os “Yankees” chamam “Dumb Miles”, “quilómetros parvos”, tenho outros carros para isso. E para terminar, nada como trazer uma frase tornada celebre e “lei” dos petrolheads, por um tal jornalista do mundo automóvel, Jeremy Clarkson (top gear, Gran Tour, Clarkson’s Farm): “you can’t be a true petrolhead until you’ve owned an Alfa!”. Bem… eu tenho dois!

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