Agroparque em Goiabeiras - Vicente Gewehr

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Universidade Federal do Espírito Santo

AGROPARQUE

EM GOIABEIRAS

Vitória, 2018 Vicente Gonçalves Gewehr


Capa: figura adaptada pelo autor,

do desenho de Darci Seles.

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Federal do Espírito Santo, como parte das exigências para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista Orientador: Prof. Dr. Homero Marconi Penteado Coavaliadora: Profª Karla do Carmo Kaser

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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


FOLHA DE APROVAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO APROVADO EM

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/

.

ata de avaliação da banca

avaliação da banca examinadora Nota:

Data:

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Prof. Dr. Homero Marconi Penteado

Nota:

Data:

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Profa. Dra. Karla do Carmo Kaser

Nota:

Data:

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Examinador externo

Vicente Gonçalves Gewehr



A imersão no processo de elaboração de traba-

Aos professores de paisagismo Jonas Bellingrodt e Udo Wei-

lho foi uma jornada de profunda extração do que eu entendia por

lacher da TUM (Technische Universität München) na Alemanha.

zona de conforto: pela dificuldade em projetar em uma área tão

Homero Penteado pela orientação e Karla Kaser pela coorientação

grande, pela ausência de referências projetuais, pela superação ao

deste TCC.

usar com sucesso a plataforma BIM (Archicad) para um projeto de

Ao programa Ciência sem Fronteiras e todos envolvidos neste

paisagismo, pela inexperiência em escrever trabalhos científicos

programa, por proporcionarem essa experiência única e revolu-

e por ter que continuar o projeto com apenas uma mão, durante

cionária na minha vida acadêmica e pessoal, aproveitei cada cen-

três meses, após quebrar o braço. Todos esses fatores demanda-

tavo investido!

ram muito tempo de trabalho e isolamento para reflexão e auto-

A Elaine de Azevedo, Tatiana Tenorio Matuk e Luciane Cris-

conhecimento. Por isso agradeço a todos que compreenderam (ou

tina Ferrareto pelos excelentes trabalhos acadêmicos realizados

tentaram) minha ausência durante o processo.

que foram fundamentais na construção do entendimento sobre o

Em especial agradeço a todo o universo pela oportunidade de poder estar compartilhando tantas vivências na terra. Não é fácil, porém está sendo uma honra!

Sistema Agroalimentar e Agricultura Urbana. A Leandra Postay por ter me auxiliado com a revisão sintática e gramatical de maneira voluntariamente sensacional.

Agradeço à toda minha família pelo apoio, para um estudante

Aos amigos (Júlia Pedruzzi, Leonardo Valbão, Luayza Perim,

se graduar no Brasil ainda é muito difícil, sem vocês eu não conse-

Matheus Bonjour e Tayna Moreschi) que me ajudaram em um

guiria. Vocês são demais!

mutirão quando eu estava desesperado com as finalizações.

Não poderia deixar de homenagear meu avô João Gonçalves in

Às bibliotecárias Cynthia de Andrade Bachir da biblioteca seto-

memoriam e minha avó Olga Dalbem Gonçalves, muito obrigado

rial de artes e Merielem Frassom do incaper que foram excelentes

por tanto carinho e pelo amor mais sincero e lindo que já vi na

profissionais e o auxílio delas contribuiu muito para a realização

vida. Amo vocês eternamente!

deste trabalho.

Os 5 heróis que me ajudaram nos dois meses de recuperação da fratura no Úmero. Mãe, Sú, Guel, vovó e Tia Lene. Muito obrigado mais uma vez! Às professoras de Urbanismo Eneida Mendonça e Daniela Bonatto que revolucionaram o meu entendimento sobre as cidades. A dedicação, responsabilidade e compromisso de vocês está certamente formando um mundo melhor. As Universidades públicas precisam de mais profissionais como vocês!

AGRADE CIMENTOS



SU MÁ RIO

1 2 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6

introdução campo teórico

SISTEMA AGROALIMENTAR CONVENCIONAL  21 A ALIMENTAÇÃO DE VERDADE  24 ABORDAGENS DISTINTAS SOBRE A AGRICULTURA URBANA  27 ESTUDOS DE CASO DA AGRICULTURA URBANA  30 REPERTÓRIO DE AGRICULTURA URBANA  38 PARQUES URBANOS  44

3

o projeto

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA  54 CONCEITUAÇÃO PROJETUAL  64 PROGRAMA 65 PARTIDO  66 MACROPROPOSTA  68

ÁREA DE AGRICULTURA URBANA  71

PARQUE LINEAR  82

3.6 GERENCIAMENTO DO PARQUE  108

CONSIDERAÇÕES FINAIS  111 REFERÊNCIAS  115 ANEXOS  120



IN TRO DU ÇÃO



“ 11

Vicente Gonçalves Gewehr

Produzir alimentos é uma das tarefas mais perigosas da existência Humana, perigosa porque você corre o risco que se tornar Livre. [ Dervaes, Jules ]


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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


A alimentação da maioria da população segue um mo-

de ameaça à soberania alimentar, gerando impactos culturais e

delo ditado pelos veículos de comunicação, e a produção desses

socioambientais significativos. Desse modo, a globalização pode

alimentos é realizada de acordo com as premissas de um siste-

ser compreendida sob a ótica da alimentação e também influencia

ma agroalimentar global, dominado pelas grandes corporações

a mobilidade das pessoas e suas ideias sobre culinária, gosto e nu-

interessadas no lucro máximo. Esse modelo atual de alimentação

trição (GREW, 2011 apud AZEVEDO, 2016).

1

regido pelo interesse do capital torna a prática cotidiana de ali-

A urbanização também influenciou os estudos da alimenta-

mentar-se uma ação insustentável e danosa à saúde dessa maioria.

ção. O processo descrito por Verthein e Vázques-Medina (2015

Esses mesmos efeitos negativos são percebidos na produção des-

apud Azevedo, 2016) como desritualização da comida evidencia-

ses alimentos (AZEVEDO, 2016).

-se com a flexibilização de horários, locais e ritmos alimentares

Atualmente, existe uma efervescência de debates sobre a ação

das cidades (mas não restritos ao meio urbano). Também promo-

diária de alimentar-se que transcende os estudos da nutrição, ciên-

veu uma transformação da relação das pessoas com a produção

cias agrárias e ambientais. A alimentação também se configura

de alimentos realizada pelas indústrias do agrobiopoder, concen-

como um legítimo objeto de estudo de análise sociocultural que

trando uma produção monocultora e mecanizada desprovida

possibilita a compreensão do viver em sociedade. Entre muitos pa-

muitas vezes do contato do homem com o plantar (MOREIRA,

péis que a alimentação desenvolve, nota-se o de meio de análise de

2000). Porém, o homem nunca deixou de praticar a agricultu-

fenômenos como a globalização e o poder; pilar de organização so-

ra, mesmo com grande parte da população vivendo em centros

cial; a construção de identidades; os gêneros e as etnias; o estímulo

urbanos onde espaços para a produção alimentar parecem insu-

ao prazer e a lubrificação de interações sociais; as controvérsias

ficientes ou inadequados à chamada de agricultura urbana (AU),

científicas; os questionamentos étnicos; o surgimento de angústias;

prática que sempre esteve presente, todavia geralmente no ano-

a aparição de riscos ambientais; entre outros (AZEVEDO, 2016).

nimato das cidades (FERRARETO, 2015).

Apesar das suas claras relações com a cultura local, a religião,

Segundo Garcia et al (2003), era inevitável que a alimentação se

o gosto, a tradição, o simbolismo e a identidade, a comida tem sido

modificasse com as transformações da sociedade. Como exemplo

produzida como uma mercadoria sob as premissas de um merca-

dessas transformações das relações com o alimento, serão apresen-

do e de uma política agroalimentar de caráter global, dominada

tadas três realidades alimentares no decorrer da história brasileira.

na maioria das vezes por corporações agroalimentares transna-

Segundo Araújo (2010) os índios tinham como alicerce a mandio-

cionais, o que envolve uma forma legitimada de agrobiopoder e

ca, na forma de farinha e de beijus, mas também, frutas, palmito,

1  Neste trabalho usaremos a expressão sistema agroalimentar e sistema alimentar indistintamente, o qual foi profundamente modificado por dois eventos, sendo estes a Revolução Agrícola, ocorrida durante a Revolução Industrial no final do século XVIII, e a Revolução Verde, na segunda metade do século XX.

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Vicente Gonçalves Gewehr

pescado, caça, milho, batata e pirões. Uma típica refeição indígena era carne de paca assada em uma panela de barro sobre três pedras (trempe), em um forno subterrâneo (biaribi), era salgada com sal obtido a partir da cinza de vegetais pilado juntamente com pimenta e como acompanhamento tinham a farinha de mandioca.


No que concerne ao Brasil colônia, Cascudo (1989) comparti-

Assim podemos perceber que a alimentação se transformou

lha em seu livro História da alimentação no Brasil o Relato de João

muito desde o Brasil colônia até a atualidade. Mesmo hoje, com

Brígido (1829-1921), capixaba vivendo no Ceará desde 1831, escre-

uma grande variedade de alimentos, as refeições atuais possuem,

veu “Um almoço de rico, nos sertões, era antes das 7 horas da manhã, o

em geral, 5 alimentos como base, sendo eles trigo e açúcar refi-

jantar às 12, a ceia ao cair da noite. O primeiro consistia principalmente

nados, milho transgênico, gordura saturada e derivados animais

em carne com pirão, o segundo idem, o terceiro idem, com esta diferen-

oriundos de confinamento/pecuária extensiva. Vivemos também

ça que no jantar havia de ordinário, um assado com molho chamado

uma era de modismos alimentares extremamente insustentáveis

de ferrugem, e vinha por último, para cada um, a sua tigela de caldo

ditados pelos veículos de comunicação. O acesso à alimentos sau-

da mesma panela. Seguia-se a sobremesa, que era melaço com farinha,

dáveis está cada vez mais restrito a uma parcela limitada da po-

ou doce de frutas da terra em mel de rapadura, ou queijo com a dita,

pulação e alimentos refinados e cheios de conservantes à maioria

melancia, melão, etc. Uma coisa bem entendia: as mulheres não vinham

menos abastada (MATUK, 2015).

à mesa no copiar. Comiam no fundo da casa, em companhia da dona.”

As práticas agroalimentares devem objetivar, ao invés do lucro,

Na atualidade, temos a dieta moderna da maioria dos adoles-

o bem estar da população em geral, sendo a comida produzida da

centes caracterizada pela preferência por alimentos com elevado

maneira mais sustentável possível, abrangendo os pilares ambien-

teor de gordura saturada, colesterol, sódio e carboidratos refina-

tal, social e econômico. Uma etapa fundamental para um sistema

dos, representados muitas vezes pela ingestão de refrigerantes e

alimentar sustentável é a relação dos consumidores com o alimen-

sucos; balas; chicletes e pirulitos; salgadinhos empacotados (à base

to. Estes que devem se importar com o que estão comendo, sua

de milho e batata); salgados fritos ou assados (coxinha, pastel); bis-

origem e a forma como foi produzido.

coitos recheados; doces em geral; bolos; sorvetes e chocolates. Esse

Da mesma forma que o sistema alimentar segue as demandas

padrão alimentar está associado a comportamentos inadequados

do capital, grande parte dos espaços urbanos são concebidos nas

relacionados a dietas monótonas, modismos alimentares e omissão

cidades. Esses espaços deveriam ser pensados de maneira a aten-

das refeições, principalmente o café da manhã. Infelizmente, parte

der as necessidades da população proporcionando melhorias na

significativa da população adere de forma inconsciente à maneira

qualidade de vida das pessoas, bem estar social, espaços recreati-

de se alimentar semelhante às dietas modernas dos adolescentes,

vos e convidativos que contemplassem usuários em diversidade e

muito distinta da maneira tradicional, com alimentos oriundos

fossem pensados de acordo com a escala humana.

dos vários lugares deste mundo globalizado. Era inevitável que a

O presente trabalho consiste no desenvolvimento de uma cate-

alimentação se modificasse com as transformações da sociedade

goria de parque inédita denominada Agroparque que visa implan-

(GARCIA et al. 2003; OCHSENHOFER et al., 2006; WEICHA et al.,

tar ideais agroalimentares sustentáveis e atender demandas sociais

2006 ROLIM et al., 2007; KOURLABA, 2008).

nos espaços urbanos. Para isso, utiliza a Agricultura Urbana, cria

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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


espaços recreativos e educacionais relacionados com a temática da alimentação, como um restaurante-escola que permite que as pessoas aprendam maneiras de utilizar alimentos locais e sustentáveis e um parquinho infantil que diverte as crianças utilizando alimentos. A estruturação deste trabalho conta com um fragmento teórico, que funciona como base, para o desenvolvimento da etapa prática: que consiste na elaboração de um projeto apresentado em nível de estudo preliminar para uma área subutilizada de aproximadamente 330.000m² no bairro de Goiabeiras, em Vitória, Espírito Santo. Será apresentado como esse parque influenciaria positivamente as práticas agroalimentares da população e como transformaria a realidade dos espaços livres públicos no entorno e na região metropolitana de Vitória.

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Vicente Gonçalves Gewehr



CAMPO TEÓ RICO



Não vamos deixar de acreditar que a revolução pode começar no prato, mas para isso não podemos esperar passivamente que as mudanças venham de fora. [ Elaine de Azevedo ]

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Vicente Gonçalves Gewehr


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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


Neste capítulo, exibiremos a base teórica que serviu como fundamento para a concepção do Agroparque. Inicialmente será abordada uma caracterização da realidade agroalimentar atual, mostrando como a agricultura acontece de maneira insustentável e em decorrência de uma alimentação globalizada

2.1

SISTEMA AGROALIMENTAR CONVENCIONAL

que vem sendo produzida em função do lucro máximo ao invés

A Revolução Industrial transformou o sistema de cultivo e, como

de atender as necessidades da população.

consequência, intensificou a industrialização, aumentando sua pro-

Como resultado da reflexão, objetiva-se mostrar uma alimenta-

dutividade, produzindo mais alimentos com menos terra e menos

ção alternativa às convencionais, que seja mais sustentável, local,

mão-de-obra, ocasionando o êxodo rural e um aceleramento da

saudável e nutritiva, chamada de alimentação de verdade: conceito

urbanização das cidades, que passaram a depender do meio rural

que destaca ações capazes de mudar a situação alimentar atual, a

para garantir suas necessidades alimentares (AZEVEDO e RIGON,

partir do entendimento de que comer é um ato político relaciona-

2016). Por sua vez, a Revolução Verde teve início no Brasil durante

do a consequências sociais, ecológicas e ambientais.

a década de 1960, tendo como principais características uma pro-

Em seguida, as maneiras de melhorar a problemática agroa-

dução marcada pela tecnização, a difusão do uso de sementes hí-

limentar vão ser trabalhadas com mais afinco com um estudo

bridas, o uso de fertilizantes sintéticos, agrotóxicos e drogas vete-

teórico sobre a Agricultura Urbana (AU) e como essa atividade

rinárias, como também o confinamento de animais (MATUK, 2015).

possui capacidade de promover benefícios diversos à sociedade.

A Revolução supracitada resultou em muitos impactos nega-

Para complementar o entendimento da AU, foi efetuada uma pes-

tivos, como a contaminação de recursos naturais, a dependência

quisa de exemplos bem-sucedidos da aplicação dessa prática em

dos agricultores de insumos químicos e de maquinário importado

diferentes realidades na esfera urbana, como jardins de residências

com preço elevado, concentração fundiária e emigração do cam-

e espaços públicos, que apontam a produção de alimentos nos es-

po para as cidades. Também houve a inserção de monoculturas,

paços urbanos como um instrumento que traz consigo diversos

objetivando potencializar o lucro, e espécies exógenas altamente

benefícios para as pessoas que a praticam e para a dinâmica das

produtivas foram adaptadas, substituindo espécies locais e preju-

cidades. A compreensão da AU será finalizada com a elaboração de

dicando assim a diversidade ambiental (ALVES; GIUVANT, 2010;

um repertório que expõe maneiras distintas de aplicá-la na cidade.

AZEVEDO; RIGON 2014).

O campo teórico será finalizado com um estudo que objetiva

Atualmente, o sistema alimentar é marcado pelo distanciamen-

ampliar o entendimento sobre parques urbanos seguido pela expo-

to entre produtores e consumidores, devido ao sistema econômico

sição de dois exemplos de parques que serviram como referência

que demanda mais etapas, como: produção, colheita, armazena-

projetual.

mento, comercialização, processamento, distribuição, venda e consumo, aumentando consequentemente o número de atores envolvidos no sistema alimentar (FAO, 2013 apud MATUK, 2015).

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Vicente Gonçalves Gewehr


Até meados do século XX, a produção de hortaliças estava pre-

Azevedo (2016) aponta que os agrotóxicos causam, segundo

sente nos denominados cinturões verdes, ao redor das cidades,

muitos estudos 1, diversos efeitos à saúde humana, como: alguns

distanciados algumas dezenas de quilômetros. No fim do século

tipos de câncer; imunodepressão; doença de Parkinson; depressão

XX, a urbanização desordenada estendeu o perímetro dos cen-

e outras desordens neurológicas; aborto e problemas congênitos;

tros urbanos e, consequentemente, a produção de alimentos se

tipos de câncer dependentes de hormônio; infertilidade; malfor-

distanciou mais que o dobro da distância original. Os alimentos

mação congênita; sintomas respiratórios e esterilidade em adultos.

passaram a ser transportados por grandes distâncias e com isso

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2018), o Brasil é o

aconteceu a deterioração da matéria-prima, resultando em perdas

maior consumidor de agrotóxicos do mundo, com aumento de

econômicas consideráveis e doenças transmitidas por alimentos.

127% entre os anos de 2003 e 2008, o que representa 19% do mer-

Como solução, foram criadas tecnologias para preservar a quali-

cado mundial. Entre os anos de 2000 e 2010, o aumento no consu-

dade dos alimentos e garantir maior tempo de vida aos produtos

mo de agrotóxicos no país foi de 190% em relação ao crescimento

(GERMANO e GERMANO, 2014 apud MATUK, 2015).

de 93% no consumo do mercado internacional. Esse aumento é

Esses avanços tecnológicos, principalmente os agrotóxicos, in-

percebido pelos dados divulgados pelo Conselho Nacional de Se-

sumos químicos, transgênicos, trouxeram inúmeros benefícios e

gurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), que registra a evolu-

malefícios. De positivo, aconteceu um atendimento às demandas

ção da taxa de consumo de agrotóxicos no Brasil de 7,5 quilos por

da sociedade moderna, aumentando a capacidade de produção

hectare em 2005 para 15,8 quilos por hectare em 2010. O maior

de alimentos, com o aumento da expectativa de vida e de saúde

percentual foi verificado nas propriedades rurais com mais de 100

da população, devido ao melhor perfil nutricional, refrigeração,

hectares, das quais cerca de 80% fazem uso dos biocidas.

transporte e abertura de mercados, medidas que facilitaram o

A produção de alimentos atual tem sido bastante prejudicial ao

acesso a alimentos durante todo o ano por diversas populações

meio ambiente, pois demanda alto consumo de água e de energia

(McMICHAEL et al, 2007).

proveniente de combustíveis fósseis e promove também a degra-

Por outro lado, surgiram novos riscos ambientais e à saúde

dação do solo, contaminação dos rios e lagos, poluição aérea, per-

dos seres vivos, devido principalmente aos resíduos de agrotóxi-

da da diversidade genética e do habitat selvagem, dentre outros

cos, antibióticos e dioxinas (GERMANO e GERMANO, 2014 apud

(McMIchAEL, 2005 apud MATUK, 2015).

MATUK, 2015). Verificou-se também o agravamento do quadro da

Azevedo e Rigon (2016) destacam o mais importante estudo

pobreza rural, da poluição e do esgotamento dos recursos natu-

sobre transgênicos realizado por um grupo de pesquisadores in-

rais, do mesmo modo como a acentuação do padrão alimentar

dependentes do Committee for Independent Research and Informa-

pouco equilibrado e do comprometimento da diversidade cultural

tion on Genetic Engineering (CRIIGEN). A pesquisa, publicada em

(MALUF e REIS, 2013 apud MATUK, 2015; AZEVEDO e RIGON 2016)

2012, envolveu 200 cobaias alimentadas com milho transgênico 1  Estes estudos possuem as referências listadas em anexo ao fim do volume.

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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


e o herbicida Roundup (utilizado nas culturas transgênicas) du-

esses valores os mesmos nos últimos 20 anos, de acordo com uma

rante 24 meses. O resultado mostrou que o primeiro rato macho

comparação entre os censos agropecuários de 1985, 1995 e 2006

alimentado com o milho transgênico morreu um ano antes do rato

(AZEVEDO e RIGON, 2016).

não alimentado com organismo geneticamente modificado (OGM),

Segundo Azevedo e Rigon (2016), a agricultura familiar pro-

enquanto a primeira fêmea alimentada com o milho transgênico

duz 80% do que é consumido no país, mesmo ocupando apenas

morreu oito meses antes. No 17º mês, foram observados cinco ve-

24,3% da área agrícola brasileira. A agricultura familiar, mesmo

zes mais machos mortos alimentados com milho transgênico do

alimentando quase toda a população brasileira, conta com menos

que os ratos alimentados com a dieta convencional. As fêmeas

recurso público. Tomando por exemplo o ano de 2014, enquanto o

apresentaram macro tumores mamários e problemas hipofisários

agronegócio recebeu das políticas públicas mais de 156 bilhões de

e renais, enquanto os machos, graves deficiências crônicas hepa-

reais, os agricultores receberam cerca de 21 bilhões de reais.

torrenais. O estudo provocou polêmicos debates que envolviam

A produção de alimentos hoje é dependente das grandes em-

as poderosas empresas detentoras da tecnologia transgênica e os

presas, porque estas são as portadoras da tecnologia e dos insumos

especialistas pró e contra liberação dos transgênicos de todo o

necessários à manutenção do modo de produzir contemporâneo.

mundo. Embora nenhuma conclusão tenha sido encontrada, o mi-

Como resultado dessa dependência, temos grandes lucros às gran-

lho foi liberado em alguns países, inclusive no Brasil, e proibido em

des companhias alimentares e diminuição da renda dos agriculto-

outros, como na Rússia e no Quênia.

res, estes remunerados com valores que não condizem com seus

Na agricultura, espécies vegetais foram transportadas e o seu

esforços e necessidades. Também é frequente no ambiente rural

cultivo adaptado em novos ambientes. Boa parte das hortaliças

migração para as cidades e famílias com dificuldade de inserção em

tem sido comercializada ao longo de todo o ano independente da

novos postos de trabalho, devido aos baixos índices de escolariza-

sazonalidade. A produção de alimentos fora da estação e provindos

ção observados no meio rural (ALVES e GILVAN, 2010; AZEVEDO

de outros países aumenta a necessidade de insumos e as emissões

e RIGON, 2014 apud MATUK, 2015).

de gases na atmosfera por meio de longas distâncias percorridas

Os desdobramentos do sistema agroalimentar quanto à ali-

entre uma região e outra e entre um continente e outros (PREUSS,

mentação atual é um resultado de diversas transformações que

2009 AZEVEDO e RIGON, 2014 apud MATUK, 2015).

aconteceram na nossa sociedade. Como principais influências se

O sistema alimentar, mesmo sendo essencial à vida humana,

destacam a globalização da economia e o estilo de vida urbano,

atualmente baseia-se no lucro e na produtividade máxima. É ainda

responsáveis pelo aumento do consumo de alimentos industriali-

dependente de investimentos em tecnologia e favoreceu a grande

zados e por uma alimentação frequentemente fora do lar. Tal pa-

propriedade rural. Segundo informações dos últimos censos agro-

drão alimentar é caracterizado pelo excesso de alimentos muito

pecuários, as propriedades menores de 10 hectares ocupam 2,7%

energéticos, ricos em gordura, açúcar refinado e sal e pobres em

da área total dos estabelecimentos rurais, e as propriedades com

fibras (GARCIA, 2003; DIEZ-GARCIA, 2011 apud MATUK, 2015).

mais de 1.000 hectares ocupam mais de 43% da área total, sendo 23

Vicente Gonçalves Gewehr


Os alimentos muito valorizados pela praticidade passam a ser vistos como mercadoria, enquanto alimentos considerados como

opta-se por refeições rápidas ou prontas para o consumo (GARCIA, 2003 apud MATUK, 2015).

“alimento natural” ou “alimento saudável” são comercializados

É possível concluir que o sistema agroalimentar atual, que teve

com maior preço. Consequentemente, o seu acesso está restrito à

como justificativa erradicar a fome para a criação da revolução

população de maior poder aquisitivo. Em contrapartida, alimen-

verde, não realizou o que se propôs. Da mesma maneira, é nítido

tos nutricionalmente desequilibrados são consumidos por preços

que não objetiva a promoção da SAN e nem a inclusão social dos

acessíveis e consequentemente pela maior parte da população

agricultores. As grandes corporações agroalimentares objetivam

(AZEVEDO e RIGON, 2014 apud MATUK, 2015).

a manutenção das relações de controle econômico que resulta em

A pesquisa de doutorado realizada pela Christiane Costa no

uma concentração de capital pelas grandes oligarquias transnacio-

bairro Embu das Artes, São Paulo, em 2014, identificou nos bairros

nais desse setor. Estas promovem cada vez mais um controle da

de perfil de baixa renda que os estabelecimentos comercializavam

área de alimentos, o monopólio de sementes, interferem na sobe-

em grande maioria apenas produtos industrializados e de baixa

rania alimentar dos povos e promovem erosão da agrobiodiversi-

qualidade. Também mostra que nesses locais era raro encontrar

dade, obtendo assim o lucro máximo em detrimento da sociedade.

frutas e verduras e quando encontradas eram de baixíssima qualidade, ficando a população dessas áreas restrita a pouca diversidade de alimentos e alimentos pouco nutritivos. Tem-se como resultado uma população urbana supernutrida, devido ao aumento da obesidade e das doenças crônicas não transmissíveis. A produção de alimento triplicou enquanto a população mundial dobrou, todavia o aumento da produção de alimentos não

2.2

A ALIMENTAÇÃO DE VERDADE

Esta seção se apresenta ao leitor em forma de manifesto e busca

está ligado ao aumento do crescimento demográfico, em vez disso,

reunir ações alimentares para a construção de um sistema agroa-

é resultado de um apelo mercadológico, em que os cidadãos são

limentar mais sustentável. É um resumo do manifesto da comida

incentivados ao consumo excessivo (GARCIA, 2003; McMICHAEL,

de verdade (AZEVEDO, 2016), que segue a mesma estruturação de

2005 apud MATUK, 2015).

ideias, exemplificações e dados. Também se apropria do valioso

No modelo contemporâneo de alimentação, o preparo de pra-

termo “Comida de Verdade”, cunhado dentro do CONSEA, e lema

tos típicos ou tradicionais são transferidos para os restaurantes,

da “V Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional: Co-

e o preparo caseiro torna-se restrito às ocasiões especiais, como

mida de Verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimen-

celebrações e festividades, sendo os pratos adaptados ou simplifi-

tar”, realizada em 2015.

cados, como a feijoada, que passa a ser light, e a moqueca de peixe,

Partimos do entendimento de que cada tipo de alimento pode

que passa a ser feita com leite de coco industrializado. No dia a dia,

causar mais ou menos consequências ao planeta de acordo com o

24

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


ciclo de vida de cada um desses tipos. Essas consequências podem

povo brasileiro que passa a ganhar. Adquirimos independência e

variar quanto à origem (animal ou vegetal), grau de processamen-

soberania alimentar, passamos a ser donos das nossas sementes e

to, local de origem, respeito à sazonalidade, técnicas utilizadas

florestas, da nossa própria água e nossas ervas medicinais, nossa

(que envolvem o consumo de energia, o uso da terra e da água,

flora e nossa fauna.

a toxicidade dos pesticidas), os meios de transporte, a distância

Uma alimentação de verdade está atenta às relações do sistema

percorrida e o empacotamento. O consumidor final também está

agroalimentar atual, este que é o maior responsável pelos impactos

inserido nesse processo, uma vez que o transporte do alimento

ambientais (ao considerar que ele acolhe a indústria alimentar).

até o lar, o acondicionamento, a preparação e o descarte das so-

Então é preciso que este sistema se volte para formas de agrope-

bras também fazem parte do ciclo de vida. Dessa maneira, será

cuária sustentáveis, que não poluam as águas, o ar, o solo e os ali-

apresentada a alimentação como uma forma diferente de fazer

mentos, que contribuam para o equilíbrio do clima e que respeitem

política, é uma ação que pode ser colocada a serviço do planeta

a biodiversidade, a vida e o meio ambiente.

e da humanidade; nos retira dessa inércia social e nos fortalece

Uma alimentação de verdade não ignora a qualidade de vida

como atores individuais e coletivos. Então, o ato de alimentar-se

e os direitos dos animais, o consumo de carne deve ser preferen-

pode ser visto como ação de ativismo ou de compactuação com o

cialmente eliminado. Caso não seja possível, diminuído significa-

sistema agroalimentar atual.

tivamente. Deve-se entender que o consumo de carne extrapola

Uma alimentação de verdade se preocupa com a vida de quem

a vida dos animais, gera o impacto dos frigoríficos e abatedouros

produz essa comida. No caso do Brasil, temos os indígenas, qui-

que consomem muita água. O consumo excessivo de carne cria

lombolas, ribeirinhos, neoruralistas, agrofloresteiros, pescadores,

impactos consideráveis, como as florestas sendo destruídas para

campesinos e agricultores familiares que produzem comida e segu-

a criação de pastagens, além de esses animais produzirem mui-

rança alimentar e nutricional ao mesmo tempo. São responsáveis

tos gases que promovem o efeito estufa, desequilibrando o clima.

pela produção de 70% do que comemos com 25% do orçamento

Ainda, dietas hiperproteicas estão ligadas a doenças metabólicas,

destinado à agricultura. Ao comprarmos comida deles, ajudamos

renais e reumáticas.

a manter os filhos dos agricultores familiares na escola, o indígena

Uma alimentação de verdade promove a vida saudável dos

e o agrofloresteiro na floresta, o quilombola protegendo o rio. As-

produtores: crianças sem autismo, homens e mulheres férteis e

sim eles não precisam migrar para as periferias urbanas e viver as

lúcidos, indivíduos sem Alzheimer, depressão e outros problemas

mazelas sociais nas grandes cidades.

neurológicos e dermatológicos, alergias e tumores relacionados

Uma alimentação de verdade é locavórica (baseada em produ-

aos diferentes venenos na agricultura convencional. Devemos es-

tos locais). Devemos procurar alimentos produzidos próximos às

tar atentos a produtos além dos agrotóxicos, como drogas veteri-

nossas residências, evitando assim quilômetros de energia à base

nárias, antibióticos e hormônios, fertilizantes e aditivos sintéticos,

de petróleo implicados na sua produção. O dinheiro investido é revertido para o desenvolvimento local, rural e urbano. Assim, o 25

Vicente Gonçalves Gewehr


produtos da irradiação e sementes manipuladas e transgênicas, prezando pela vida, e não pela morte.

Uma alimentação de verdade precisa da ação individual, parando de consumir alimentos industrializados e colocando pro-

Uma alimentação de verdade está constantemente ligada à cul-

dutos frescos à mesa. Ao invés de desembrulhar, abrir latas, gar-

tura, não esquecendo da manutenção do patrimônio alimentar, da

rafas plásticas e embalagens tetra park, devemos comprar mais

territorialidade dos hábitos alimentares e das práticas agrícolas. A

produtos a granel e em vidros e menos produtos embalados em

cultura pode ser pensada no sentido de promover a alimentação

plástico, isopor e alumínio. Devemos preferir alimentos locais que

saudável, pois é a legitimadora deste conceito, com base nas dietas

estragam, mofam e não duram muito tempo porque estão vivos,

saudáveis dos povos pré-modernos caracterizadas por alimentos

como nós seres humanos. O tempo de vida na prateleira é um

apoiados na sazonalidade, na geografia, nos hábitos e práticas lo-

apelo estratégico que favorece a indústria alimentar.

cais. Como exemplo, queremos o azeite de oliva para o mediter-

Uma alimentação de verdade necessita de dedicação e inves-

râneo, o óleo de palma e coco para os trópicos, manteiga e banha

timento de tempo, com o equacionamento do que fazemos com

para os locais frios.

o tempo livre. Devemos incluir tempo para ir à feira, além do su-

Uma alimentação de verdade está relacionada à retomada do

permercado, tempo para ir à loja de produtos naturais e agroeco-

campo, pautada na distribuição mais igualitária da população para

lógicos, como também à cooperativa de agricultores familiares.

o meio rural e para as cidades pequenas. Mudar o ritmo de vida,

Estimular a família a voltar para o fogão, ensinando os filhos a

ser dono do tempo, rever o conceito de produtividade e qualida-

cozinhar, a apreciar a culinária e os rituais da mesa. Devemos in-

de de vida. Ocupar o território de maneira menos concentrada,

vestir o nosso tempo para passear com a família na feira e para

tomando os campos novamente, cuidando das nascentes e enten-

fazer turismo rural, ensinar os nossos filhos a respeitar o agri-

dendo que “água se planta”, como fala o mestre das Agroflorestas

cultor e a natureza, para se encantar com uma árvore carregada

Ernest Götsch. Assim como devemos produzir e ensinar a produ-

de frutas e o cheiro de uma flor. Tempo para se relacionar com o

zir o próprio alimento.

alimento, aprendendo de onde vêm as abóboras, tempo para lavar

Caso você não se encaixe nesta retomada do campo, produza

sua salada, descascar sua fruta, se encantar com o cheiro do pão

seu alimento em hortas urbanas, nos parques, nos espaços de la-

e do bolo saindo do forno e tempo para comer juntos. Todo esse

zer, na varanda e na janela do seu apartamento. Soberania alimen-

tempo investido vai se reverter em aproximação e qualidade de

tar e independência significam muito em tempos de crise. Quem

vida, satisfação, saúde, socialização, segurança alimentar e nutri-

não deseja plantar seu alimento, não se esqueça do seu poder de

cional, não é tempo perdido. Uma alimentação de verdade implica

compra de alimentos da agricultura familiar sustentável, que é um

em mudanças no estilo de vida urbano industrial.

poderoso ato político. Capaz de ocasionar o equilíbrio dos preços

Uma alimentação de verdade também está vinculada a um re-

e garantir acesso a quem não pode comprar alimentos orgânicos

pensar das prioridades: trabalha-se muito para gastos com plano

e ecológicos.

de saúde, seguro de vida e de automóvel, roupas e medicamentos,

26

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


enquanto economizamos na comida. Gastar com comida de ver-

(SAN), pelo fato de promover acesso a alimentos em quantidade

dade é investimento no futuro, na segurança, na saúde e no meio

e qualidade, a sua relação com a saúde dos seus participantes, já

ambiente. Isso não significa que essa comida deve ser cara e ina-

que estamos tratando de alimentos produzidos sem uso de agro-

cessível. Esses gastos podem ser revertidos em bons hábitos que

tóxicos e insumos químicos, que também promovem a realização

resultem em um corpo saudável, satisfação pessoal, afetividade e

de atividades físicas e saúde psicológica dos participantes; por fim,

tudo mais que contribua para um estilo de vida mais equilibrado.

a sua relação com a capacidade de superar as dicotomias entre

O conceito Agroparque engloba os princípios descritos nesta

cidade e campo.

seção, sendo que todos estes foram levados em consideração na

Os temas mencionados anteriormente serão expostos com

elaboração do projeto. Desta forma o espaço se apresenta muito

uma abordagem sobre SAN e a relação da pobreza com o acesso

mais do que uma área produtora de alimentos e recreativa, existe

aos alimentos. Depois, vamos ver como o abastecimento alimentar

com importância política e representa atitudes alimentares que

garante a SAN. Sequencialmente, como a alimentação pode reper-

buscam promover a vida, é uma forma de agir emancipatória, im-

cutir em saúde ou doença. Então, veremos como a inserção da AU

pactante, pacifista, altruísta, ambientalista, comprometida, cons-

no planejamento urbano pode potencializar a prática. Por fim, será

ciente e sem partido construindo um mundo melhor.

abordado como a AU pode realizar uma aproximação da relação entre o campo e a cidade.

2.3

ABORDAGENS DISTINTAS SOBRE A AGRICULTURA URBANA

A definição de SAN reformulada em 2004, na II conferência Nacional de SAN em 2004, e aprovada em 2006, diz: Segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitam a

Neste momento do trabalho, serão apresentadas algumas ações,

diversidade cultural e que seja ambiental, cultural, econômica e

temas e conceitos relacionados às práticas de AU, que nos permi-

socialmente sustentáveis. A SAN também está ligada ao princípio

tem relacionar o cultivo de alimentos na esfera urbana com temas

da soberania alimentar, que consiste na definição pelos povos:

como o abastecimento alimentar das pessoas que a praticam e os

suas estratégias de produção e consumo dos alimentos que

que se beneficiam indiretamente, e como a AU está ligada ao pla-

necessitam.

nejamento urbano, já que estamos nos referindo à produção de alimentos nas cidades. Outros três aspectos que são significativos

O autor Josué de Castro (1984) apresenta a fome como um

sobre a AU é a sua relação com a Segurança Alimentar Nutricional

problema socioeconômico e político, e não de insuficiência de ali-

27

Vicente Gonçalves Gewehr


mentos. Como exemplo disso, temos o Brasil, que, segundo Can-

em formas alternativas de abastecimento, como a produção de

çado (2009 apud Ferrareto, 2015) é um potencial exportador de

alimentos em áreas urbanas e periurbanas (FERRARETO, 2015).

alimentos em escala global, que possui significativa parcela de sua

Maluf (1999) aponta que a relação do abastecimento alimentar

população sem acesso ou com acesso de maneira dificultada aos

com a SAN pode contribuir na produção e distribuição de alimen-

alimentos básicos necessários. As pessoas vivem em locais com

tos sob formas mais igualitárias. O que significa promover ativi-

quantidade suficiente de alimentos, mas o que lhes falta é o acesso

dades econômicas geradoras de trabalho e de renda sob formas

a eles. ROCHA (2013 apud FERRARETO, 2015).

que, simultaneamente, diminuam a diferença social e possibilitem

Maluf (2007 apud Ferrareto, 2015) aponta que o padrão de

ampliar a disponibilidade de alimentos de qualidade de uma ma-

consumo alimentar atual deve ser repensado e que a SAN deve

neira menos custosa, valorizando e explorando a multiplicidade

ser um eixo ordenador das medidas políticas de um país. O autor

nos hábitos de consumo.

também aponta que a produção de alimentos doméstica (nacio-

Uma maneira, de acordo com Maluf (1999), de realizar as me-

nal) seria responsável por fazer os países atingirem a soberania

lhorias supracitadas é aproximar o produtor do consumidor: ação

alimentar e a SAN.

chamada de circuito curto de produção, distribuição e consumo,

Um agente que garante a SAN é o abastecimento alimentar.

tratando-se de circuitos que vinculam a produção a uma maior

Este que não é garantido, como entendido geralmente, com a es-

proximidade dos consumidores. Esses circuitos se mostram im-

coação da safra e ampliação de espaços de comercialização. Os

portantes pelo fato de que a comercialização de produtos oriundos

autores Linhares e Silva (1979 apud Ferrareto, 2015) apontam que

de mercados externos tem prejudicado a população e o mercado

ele envolve também uma série de questões, como a produção, a

local devido aos custos ambientais provocados pelas distâncias

circulação e o consumo dos alimentos, cabendo ao Estado a fun-

percorridas entre países, pela perda de oportunidades na esfera

ção de garantir que as questões citadas aconteçam corretamente.

global da economia, pela extinção de variedades tradicionais e pe-

Infelizmente, muitas políticas de abastecimento alimentar

las alterações na dieta alimentar (FERRARETO, 2015).

atuam de maneira distinta, desconsiderando toda sua complexi-

Segundo Viljoen e Bohn (2007 apud Ferrareto, 2015), os gran-

dade, que envolve o processo desde a produção até a comercializa-

des deslocamentos que os produtos percorrem no seu transpor-

ção. A prática vem acontecendo com a produção alimentar ligada

te provocam impactos significativos e crescentes no aumento da

às áreas rurais e a distribuição ligada às áreas urbanas (MALUF,

temperatura, poluição atmosférica e sonora devido aos custos

2001 apud FERRARETO, 2015).

ambientais provocados pelas longas distâncias percorridas entre

Assim, acontece no campo o incentivo à produção no local, en-

zonas de produção e zonas de consumo. Os autores ainda con-

quanto a instalação de equipamentos se realiza nas áreas urbanas,

cluíram que os consumidores se deslocam em média 1.500 quilô-

da mesma dforma que a maior parte da distribuição e comercialização, sem frequente preocupação com o circuito do alimento ou em reduzir o trajeto da produção até o consumo, ou ainda pensar 28

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


metros por ano para a compra dos alimentos que consomem, com base em uma realidade urbana inglesa analisada .  2

Agricultura urbana como promotora da aproximação cidade e campo

Diferente dessa realidade descrita anteriormente, o autor

Com a Revolução Industrial, aconteceu, segundo Mougeot (2000

Friedman (1993 apud Ferrareto, 2015) acredita que uma política

apud Ferrareto, 2015), um divórcio entre a agricultura e a cidade,

alimentar democrática deve dar valor à proximidade na produção

a produção de alimentos e a economia urbana. O autor acredita

e no consumo dos alimentos. Friedman e MCMichel (1989 apud

que tal fato se deu pela visão filosófica predominante na Europa

Ferrareto, 2015) propõem reconectar a produção e o consumo

Ocidental caracterizada pela oposição entre natural e artificial,

local. Para isso, seriam viáveis a implementação de ações como

natureza e civilização, homem natural e homem urbano. Mas essa

educação política dos consumidores e a organização cooperativa

divisão, que surgiu com a revolução industrial, ainda é adequada

de produtores e empreendimentos locais, vinculando-os aos con-

nos dias atuais? Não é possível ser uma pessoa urbana que vive

sumidores.

no território rural?

A AU pode ser associada ao conceito de civic agriculture, criado

Da mesma forma, se nota uma contradição em relação à AU,

por Thomas Lyson (2004), que segundo o autor (apud Ferrareto,

vista muitas vezes como um resgate do rural, mas outros a veem

2015), pode ser entendido como uma estratégia de promoção da

apenas como um trabalho igual a qualquer outro em perímetro

agricultura sustentável e um sistema alimentar alternativo, cen-

urbano. Levanta-se o questionamento de se existe uma atividade

trado em diferentes práticas agrícolas e no estabelecimentos de

apenas rural ou uma atividade apenas urbana, visto que o rural

laços comunitários, (re)conectando o lugar às pessoas. O autor

e o urbano estão mais atrelados a modo de vida do que à delimi-

aponta que diversos casos de civic agriculture existem e vão con-

tação territorial.

tra o processo produtivo em larga escala industrial. São capazes

Até mesmo o conceito “agricultura urbana” já separa a atividade

de resignificar os espaços sociais e econômicos e se articulam a

pelo espaço geográfico. Em vez disso, podemos pensar a agricultura

consumidores que demandam alimentos frescos, agroecológicos

como uma atividade que pode ser desenvolvida em qualquer loca-

e produzidos localmente. Sendo uma reorganização da produção

lidade (dependendo da escala) e, dessa maneira, podendo receber

agroalimentar, sendo a agricultura vista como parte integrante da

incentivos tanto de políticas públicas voltadas para o desenvolvi-

comunidade e não apenas como mercadoria.

mento rural quanto para o desenvolvimento urbano. Nesse sentido, a cidade não pode mais ser entendida como o local onde se desen-

2  Com base no artigo “Paisagens urbanas produtivas contínuas: a agricultura

volvem atividades industriais e de serviços e o campo como o local

urbana como infra-estrutura essencial”, na Revista de Agricultura Urbana

onde se desenvolvem atividades agrícolas. Mais do que nunca, as

n.º 15, um estudo encomendado pelo Departamento de Meio Ambiente, Agricultura e Assuntos Rurais do Reino Unido.

cidades estão desafiadas a unir essas realidades (urbano e rural), integrando as políticas de planejamento no território dos municípios como um todo.

29

Vicente Gonçalves Gewehr


Podemos enxergar a AU como uma entre outras ferramentas capazes de superar a dicotomia entre rural e urbano, superando o modelo imposto de industrialização e urbanização para as cidades e o da atividade agrícola como definidora dos espaços rurais. A cidade deve ser vista como um lugar de solo fértil que pode

2.4

ESTUDOS DE CASO DA AGRICULTURA URBANA

ser cultivado, sem a visão de que se trataria da tranferência de

Serão expostos exemplos bem sucedidos da AU que mostram de

uma prática do campo para a cidade, ou seja, não se trata apenas

maneira prática as abordagens teóricas vistas anteriormente. Fo-

de uma transposição de um saber fazer, de um modo de ser, do

ram escolhidos exemplos distintos quanto à função da utilização

campo para as cidades ou um resquício indesejado que resulta da

da agricultura urbana, assim como às dimensões do espaço de

urbanização incompleta. A agricultura deve ser vista como uma

produção. O primeiro exemplo é a produção em um espaço pe-

prática que faz parte da dinâmica da cidade e, por isso, parece

queno e privado, caracterizado pelo quintal da família Dervaes

equivocado considerá-la uma anomalia dentro do espaço urbano.

nos Estados Unidos; em seguida veremos o projeto Incredible Edi-

O rural e o urbano extrapolam os limites espaciais tradicionais

ble, na cidade de Todmorden, na Inglaterra, que cultiva alimentos

e tanto os atores que se aproximam do urbano quanto os que se

por toda a cidade em espaços públicos; o terceiro é o projeto

aproximam do rural tendem a adquirir características específicas

Lavoura, na cidade de Curitiba, que é um exemplo bem-sucedido

de cada espaço, porém, nem sempre essas características levam o

no Brasil a partir de uma parceria entre sociedade e prefeitura.

indivíduo a se urbanizar ou ruralizar. Podemos ter espaços, atividades e pessoas que carregam consigo o rural e o urbano, seja no

2.4.1 Familia Dervaes

campo ou na cidade. A AU e seus praticantes são prova de que o

Segundo Florios (2017), a família Dervaes, composta pelo pai

rural e o urbano extrapolam os limites espaciais tradicionais.

e três filhos, vive a cerca de 15 minutos de Los Angeles em um

Ao fragilizarmos o pensamento disciplinar e dicotômico que

terreno retangular de 20 por 40 metros, cuja residência teve seu

segrega o rural e o urbano, podemos abrir possibilidades inter-

entorno transformado em uma fazenda urbana (original: urban

pretativas capazes de convencer quanto à existência de diversas

homestead). Este exemplo busca mostrar um aplicação da AU em

formas de viver e de se organizar coletivamente, seja na cidade ou

espaços privados e mostra que não é necessário grandes espaços

no campo, pois suas áreas estão conectadas em vários aspectos.

para produção de alimentos.

Manejos do solo, em torno dos ciclos naturais, estão presentes

Os Dervaes transformaram o cultivo de alimentos em uma pe-

tanto no campo quanto na cidade, cujos limites são abstrações

quena horta na parte de trás do quintal de maneira despretensiosa.

conceituais que precisam ser revistos para que novos conceitos,

Inconformados com a falta de identificação dos alimentos trans-

geradores de novas ideias e realidades, possam ser construídos.

gênicos no mercado, decidiram trocar a grama do jardim frontal, que gastava muita água e nunca promovia uma satisfação estética,

30

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


e as outras áreas permeáveis do terreno por espécies com utilidade

transformação do solo seco e improdutivo em um solo úmido e

alimentícia.

rico em minerais. Destacam também a satisfação com a própria saúde física e mental e a relacionam com um estilo de vida simples e ativo.

2.4.2 Cidade de Todmorden Uma relação diferente com alimentação e com a Agricultura Urbana pode ser notada com as ações do grupo voluntário de nome Comestível Incrível (original: Incredible Edible). Os ativistas da alimentação buscaram disseminar a prática de consumir alimentos locais na cidade de Todmorden, no Reino Unido, para mostrar que é possível consumir alimentos locais e que não compactuem com a poluição ao serem transportados por longas distâncias. Começaram a cultivar frutas, ervas e vegetais por toda a cidade em espaços públicos, sendo a colheita da produção realizada por qualquer FIGURA 1 Quintal da Família Dervaes. Fonte: melhorviver.com.br. Acesso em 27

de março de 2018

pessoa, mudando a relação da cidade com os alimentos. Segundo Hay (2012), o projeto teve início de maneira espon-

Com muito trabalho, após 15 anos de dedicação à agricultura

tânea por parte da população. Os cidadãos organizaram-se pro-

urbana, aproveitando ao máximo o espaço de 400m² de maneira

curando ações que viessem a contribuir para uma vida mais sus-

horizontal e vertical, atingiram a produção anual de aproxima-

tentável. Entendeu-se que atitudes para um mundo melhor aos

damente 2.700 kg de alimento por ano, produção que no verão

futuros habitantes do planeta não devem depender unicamente

representa 80% e no inverno 55% da dieta da família.

do governo e das grandes empresas.

Os excedentes são comercializados sem intermediários com

O principal objetivo é disseminar a utilização de alimentos lo-

restaurantes e o material residual das áreas de plantio serve de

cais, prática a qual não é muito frequente nos países de clima frio

alimento às galinhas, patos e cabras, dos quais retiram composto

e desenvolvidos. No Reino Unido, 50% do alimento consumido é

utilizado na fertilização do solo.

importado. Nos Estados Unidos, os alimentos viajam em média

A família não se arrepende por ter se arriscado na árdua tarefa

mais de 2.400km para chegar à mesa do consumidor, tornando

de produzir seu próprio alimento, que demanda muito trabalho,

o ato cotidiano de alimentar-se extremamente insustentável. Por

tempo e dedicação. Em vez disso, seus membrosficam satisfeitos

exemplo, para consumir uma caloria de salada, pré-lavada e se-

com o privilégio de se alimentarem de gêneros sazonais e de ori-

lecionada em Nova Iorque, oriunda da Califórnia, são gastas 56

gem conhecida. Entre os muitos benefícios dessa prática, citam a 31

Vicente Gonçalves Gewehr


calorias com derivados do petróleo utilizado no transporte (NATIONAL FARMERS UNION, 2015; POLLAIN, 2010).

Os envolvidos afirmam que uma das vantagens de plantar em locais públicos é reconectar e conectar as pessoas com o solo, com

Os voluntários mostram com os canteiros públicos, distribuídos

as alterações climáticas, com o crescimento do alimento e princi-

pela cidade, diversas possibilidades de alimentação, disseminam e

palmente com as relações de gentileza e bondade, criando possi-

resgatam tradições alimentares perdidas ou desconhecidas, que

bilidades de das pessoas confiarem umas nas outras, pelo lema do

são mais sustentáveis. Além dos canteiros que ficam, por exemplo,

projeto “se você precisa disso, é só pegar”, encorajando assim as

em todas as escolas, postos policiais, estações de transporte públi-

pessoas a ajudarem a si mesmas.

co e do prédio do corpo de bombeiros, os voluntários organizam eventos e festas disseminando a alimentação de verdade. O projeto conta com 200 voluntários que promoveram em 2017, com o intuito de disseminar os saberes sobre alternativas alimentares, as seguintes atividades: »»

60 tours pela cidade, mostrando a mais de 1000 pessoas

»»

demonstrações culinárias e degustações gratuitas de receitas

onde comprar alimentos locais; com ingredientes locais; »»

palestras e oficinas;

»»

um evento chamado de tenda das famílias agricultoras, promovendo a aproximação das famílias produtoras com os consumidores;

»»

organização e recepção do Encontro de Segurança Alimentar do Reino Unido (original: United Kingdom Food Sovereignty Gathering).

FIGURA 2 Os policiais em frente à estação policial orgulhosos do desenvolvimento dos vegetais cultivados no local. Fonte: usbeketrica.com. Acesso em 27 de março de 2018.

32

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


2.4.3 Cidade de Curitiba

facilitar o acesso ao alimento e reduzir custos com alimentação;

Neste estágio será exposto o programa Lavoura, que promove a

promover a educação alimentar através do consumo de

AU na cidade de Curitiba. O cultivo de alimentos acontece pela

hortaliças e frutas sem uso de agrotóxicos; servir como

população organizada pela prefeitura. O conteúdo foi apresentado

atividade física e terapêutica; servir como ferramenta

a partir de estudo da dissertação de mestrado de Ferrateto (2015),

pedagógica nas unidades educacionais; gerar renda com a

que aborda a experiência de AU na cidade e adota como metodo-

comercialização da produção; conscientizar as pessoas para

logia: entrevistas com produtores, coordenadores, representantes

a preservação ambiental das áreas urbanas com recuperação

da prefeitura e empresas.

de áreas degradadas; proteção ambiental com a redução

Em 1986, a prefeitura de Curitiba criou o programa Lavoura,

da impermeabilização do solo urbano; estimular ações

objetivando possibilitar aos moradores, principalmente os mais ca-

comunitárias e de inclusão social; resgate da cultura rural

rentes, o acesso aos alimentos. O programa destinava-se principal-

no espaço urbano, aproveitando a experiência agrícola dos

mente à criação de hortas em áreas abaixo de fiações, que vinham

moradores locais.

sendo ocupadas ilegalmente por populações carentes, transformadas em lixões ou em locais de práticas ilícitas (FERRARETO, 2015).

Esses objetivos, que são os mesmos desde a criação do progra-

A prefeitura realizou o mapeamento dessas áreas públicas li-

ma, demonstram que o conceito de Segurança Alimentar Nutricio-

vres. Grande parte correspondia a espaços das empresas Eletrosul

nal (SAN) não estava incluído nas pautas, mas na prática sim, ou

e Capel abaixo de fiações. O projeto era apresentado à comunidade

seja, previa-se o acesso aos alimentos e ainda educação alimentar

pelos técnicos da SMAB, que realizavam as inscrições. Então, os

(FERRARETO, 2015).

espaços eram distribuídos, juntamente com ferramentas, mudas

A maioria dos participantes do programa são idosos aposenta-

e sementes, além da permissão para produção de alimentos no

dos ou desempregados organizados em associações de bairro ou

espaço indicado (FERRARETO, 2015).

por lideranças locais, havendo uma produção anual em média de 2

Antes de o programa ser criado pela prefeitura, muitos moradores já produziam nas áreas da Eletrosul e Capel. A prefeitura,

mil toneladas de alimento (esse volume já chegou a 5 mil toneladas no início dos anos 2000) (FERRARETO, 2015).

em certos casos, só organizava e distribuía insumos. Optaram pela

As hortas são espaços de produção individuais, os canteiros

distribuição de espaços individuais ao invés de coletivos e conta-

(Figura 3) de tamanho padrão são distribuídos e o cultivador re-

vam com o apoio da empresa de assistência técnica e extensão

cebe o canteiro pronto, ou seja, adubado e com kit de sementes,

Rural e o curso de agronomia da Universidade Federal do Paraná,

mudas e acessórios. Desistências são muito raras, os canteiros va-

que prestava assistência técnica às famílias (FERRARETO, 2015).

gos são resultados de falecimento ou quando o cultivador que ti-

Segundo a prefeitura de Curitiba (apud Ferrareto, 2015, p. 72), os objetivos do programa são:

33

Vicente Gonçalves Gewehr

nha horta como alternativa ao desemprego consegue um trabalho (FERRARETO, 2015).


FIGURA 3 Trecho das Hortas do bairro Tatuquara. Fonte: Ferrareto, 2015.

Cada bairro que participa do programa Lavoura possui um coor-

está se alimentando de forma diversificada e ainda disponibilizan-

denador, eleito pelos próprios cultivadores, responsáveis por con-

do (por meio de vendas ou doações) alimentos para terceiros de-

tatar a prefeitura em situações de emergência, fazer o cadastro de

vido ao grande volume de produção (FERRARETO, 2015).

novos interessados e realocar canteiros vagos (FERRARETO, 2015).

As famílias também realizam uma economia ao produzir seu

O programa beneficia diretamente 773 pessoas, que cultivam

próprio alimento. Segundo dados disponibilizados pela unidade

em uma área total de aproximadamente 670. 000 m² dividida em

de agricultura urbana (apud Ferrareto, 2015), as famílias partici-

762 espaços de produção individuais. Segundo dados apresenta-

pantes do projeto gastam em média 100 reais a menos mensal-

dos pela unidade de agricultura urbana (apud Ferrareto, 2015),

mente nas compras de supermercado, e para os que vendem a

cada cultivador produz em média 3 kg de alimento por dia, capazes

renda gira em torno de 300 reais por mês, valor geralmente des-

de alimentar cerca de seis pessoas, variando entre 15 e 18 espécies

tinado à compra de outros itens da alimentação não produzidos

diferentes. Dessa forma, a população, em grande maioria carente,

nas hortas.

34

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


A produção dos alimentos nas hortas acontece com ausência

“Eu sempre quis plantar, queria morar num sítio... Então, quando

de utilização de pesticidas e herbicidas, resultando em alimentos

vi isso aqui, eu quis. Gosto de mexer com a terra, aqui tem

mais saudáveis aos produtores, sua família e para terceiros que

verdura, tem milho... Minha horta é linda e eu já estou comendo

recebem ou compram esses alimentos (FERRARETO, 2015).

o feijão que plantei” (p. 90).

Com objetivo de mostrar a perspectiva da agricultura urbana através de quem a pratica foram selecionados relatos dos partici-

É perceptível que não são apenas pessoas que vieram do cam-

pantes do programa Lavoura, destacados do trabalho da Ferrareto

po que plantam e, portanto, a AU se apresenta como experiência

(2015, p. 90). As falas desses cultivadores confirmam as múltiplas

urbana e não apenas como uma atividade de resgate do passado.

funções da agricultura urbana anteriormente apresentadas. Quanto ao motivo de querer a horta, o mais retratado é o apego à terra e a prática de plantar seu alimento:

O segundo ponto mais destacado pelos cultivadores em relação ao motivo que os fazem querer as hortas é ter mais alimentos em casa. Alguns citam apenas isso, ou seja, ter mais alimento (acesso) e com isso economizar com as compras em supermercados, ou-

“Eu quis a horta porque acho bom plantar... Mais agora

tros destacam a questão do alimento saudável, dando muita ênfase

como estou com problema no coração e meu marido está

ao fato de serem orgânicos. A seguir as falas que elucidam essa

desempregado é ele que cuida, mas eu ainda venho, nem que

questão:

seja só para ficar olhando” (p. 90). “Eu me interessei em ter a horta para ter economia com gastos “Eu morava na roça e sempre quis ter uma horta na cidade, só

na alimentação” (p. 90).

não tinha espaço, quando vi isso aqui, quis na hora” (p. 90). “Eu me interessei por causa da verdura ser melhor, essa aqui é “Eu quis porque está no sangue... Quem trabalhou com roça quer

sem veneno. O gosto é tão diferente, minha filha... Fora que no

plantar” (p. 90).

mercado não tem muita variedade” (p. 91).

É possível perceber nas falas a relação que seus enunciadores

Nas falas destacadas, podemos notar que a questão do acesso

ainda mantêm com o campo, com as suas origens e com a atividade

é muito presente e, portanto, o autoconsumo como ferramenta

da agricultura. Entretanto, a relação com a terra não se dá apenas

de abastecimento se faz muito importante. Esse fator é marcante

com originados do campo, há casos de pessoas mais jovens que

principalmente para os cultivadores mais novos, que ao contrário

nunca haviam plantado, que aprenderam a criar essa aproxima-

dos mais idosos não possuem uma forte relação com a terra, pre-

ção nas hortas, e ainda assim destacam como principal motivo a

valecendo para eles a questão do acesso. Ferrareto (2015) relata

relação com a terra.

que a produção da horta abastece a casa do próprio cultivador e

35

Vicente Gonçalves Gewehr


também de seus filhos e vizinhos, através das doações. Em média, a

“Eu quis porque tenho problema de saúde e quero viver mais.

horta de um cultivador gera alimentos para dez, até doze pessoas.

Isso é terapia, faço exercício vindo aqui. Eu tenho mal de

Outro ponto bastante destacado é o fato de os produtos serem

Parkinson e me exercitando, melhora” (p. 92).

orgânicos, ou seja, não há nenhum tipo de insumo químico na produção. Podemos observar nos relatos que o discurso do ali-

“Eu trabalhava, daí fiquei doente e a Ivonete que ajudou abrir

mento orgânico está muito presente, talvez por ter sido colocado

tudo aqui, me chamou para ajudar ela até eu conseguir um

como tema forte pela prefeitura, resultando em sua apropriação

espacinho para mim. Eu estava com depressão e a horta até

por parte dos cultivadores.

diminuiu minha medicação” (p. 92).

O terceiro ponto mais destacado pelos cultivadores sobre os motivos que os levam a querer a horta é ter uma atividade. Esta

Outra pergunta do roteiro que pode ser associada à questão da

pode ter caráter físico, já que muitos alegam não quererem estag-

saúde era: “você mudou seus hábitos alimentares depois da hor-

nação doméstica, e também ter caráter emocional já que muitos

ta?” Muito embora alguns cultivadores tenham respondido que

dizem que ter essa atividade os relaxa e acalma, não raro sendo

não, pois sempre comeram muita verdura, alguns deles reconhe-

utilizada a palavra “terapia”. Outros ainda veem essa atividade

ceram que agora a alimentação estava melhor pelo fato de estarem

como uma opção de lazer, ou seja, a horta como um espaço onde

ingerindo produtos orgânicos ou por estarem fazendo uma dieta

podem fazer amigos e conversar. Dessa forma, pode-se destacar

mais diversificada.

que, sendo a maioria dos cultivadores aposentados, os trabalhos na horta os fazem, por fim, se sentir “úteis”. Abaixo algumas das

“Não mudou não, sempre comi muita verdura, só que agora está

respostas que elucidam essa questão:

mais acessível e tem mais variedades. Tem verdura aqui que a gente nem acha no mercado. Lá só tem alface, repolho. Aqui tem

“Eu quis para ter alguma coisa para fazer, isso é terapia para

almeirão, escarola, abobrinha, até morango plantamos” (p. 92).

minha cabeça, venho aqui para não matar meu marido” (p. 91).

Outro ponto importante diz respeito aos hábitos de alguns que, “Para mim o principal motivo foi para o stress, a horta descansa

embora não tenham mudado, reconhecem que para os familiares

a mente e também para bater papo, fazer amizade” (p. 91).

mudaram, inclusive para as crianças:

O quarto motivo mais citado pelos cultivadores, sobre o por-

“A minha alimentação continua a mesma, mas para o resto da

quê de eles quererem as hortas, é a questão da saúde. Alguns, in-

família mudou sim. Eles comiam pouca verdura e, quando

clusive, mencionam que, com o trabalho nas hortas e com a inges-

comiam, era só alface, agora tem opções” (p. 92).

tão de mais verduras, os medicamentos foram diminuídos. Abaixo algumas das respostas referentes a essa questão: 36

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


No entanto, a grande maioria respondeu que a horta mudou

“Gosto porque é fisioterapia e terapia também...Entretém a gente.

seus hábitos alimentares, interferindo inclusive na melhoria da

Eu não vejo a hora de dar cinco horas para eu ir na horta. Se

saúde. Abaixo algumas respostas que elucidam isso:

meus filhos vão em casa e eu não estou lá, eles já sabem que eu estou na horta” (p. 93).

“Mudou muito, para meu marido que era ressecado, melhorou muito, minha pressão ficou mais regulada, tomava dois

Outra questão importante de apontar, é que, muito embora

comprimidos para pressão alta e agora tomo só um. Como muito

alguns tenham se interessado em ter a horta por indicação médica,

mais verdura depois da horta porque o gosto é diferente” (p. 93).

quando questionado se gostam da atividade, eles afirmam que sim e complementam com algo mais, como ter acesso ao alimento, por

Outro ponto de destaque é que a inclusão das verduras na die-

exemplo.

ta, fez com que deixassem ou diminuíssem o consumo de carne, ou ainda que o consumo de verduras tenha passado a se dar em

"Agora acostumei e gosto de vir, ver o alimento crescer. É lindo”

grande quantidade. Os entrevistadores passaram a considerá-las

(p. 94).

como comida o que não faziam antes, quando o consumo era restrito a uma ou duas espécies.

“Gosto de tudo. Ajudei abrir valeta e tudo. Gosto de ajudar, me sentir parte, eu me envolvo mesmo e assim me sinto dona de

“Sim, muito bastante. Agora como muito mais verdura, às vezes

fato. Eu estou sempre envolvida, ajudo a coordenadora no que

nem como comida, só verdura. Escarola mesmo, eu como uma

precisa. É comunitária, né!! então acho que todos devem cuidar

bacia. Agora é almoço e jantar salada, e antes eu comia bem

e ajudar também, não ficar só na mão dela. Eu doo bastante

pouca. Agora faço salada americana, misturo tudo, todas as

para a creche as mudas que sobram. Antes eu dava as verduras,

folhas” (p. 93).

agora dou as mudas para que eles mesmos plantem com os alunos, porque tem espaço na escola para isso” (p. 94).

“Como mais e também estudo sobre os alimentos. Tem alguns que eu não comia e agora que eu sei que faz bem e para o que ele é bom, eu como” (p. 93).

Como última questão do roteiro foi perguntando aos cultivadores se a horta havia mudado algo em suas vidas para além do que já haviam dito. As respostas mais marcantes foram:

Uma das perguntas do roteiro era: “você gosta de trabalhar na horta? por quê?”. Aqui, a maioria dos cultivadores citaram nova-

“Mudou toda a minha vida. Se eu tivesse parado estava morto já.

mente a palavra “terapia”:

Eu vivia doente e hoje não tenho dor, não tomo remédio e até ando de bicicleta”.

37

Vicente Gonçalves Gewehr


“Agora parece que tenho mais ânimo e saúde. Ainda mais depois

Também é possível concluir que a AU praticada nestes bairros

da operação do útero, muita gente me ajudou, fiz muita amizade.

caracteriza um circuito curto de produção-consumo e apresen-

O povo aqui é muito unido, é bonito, sabe.... A família também

tam-se em outra lógica de abastecimento e consumo, porque inse-

fica orgulhosa da gente em ver a horta tão bonita. Eu estou até

rem na alimentação dos envolvidos produtos frescos em diversida-

famosa no tal do face...Tem foto minha lá com meus repolhos”.

de, quantidade e em qualidade, apresentando-se como uma prática que pode ser inserida em qualquer cidade e que promove muitas

A partir da compreensão dos relatos expostos pelos cultivado-

melhoras sociais econômicas e ambientais.

res de Curitiba, ficam claras as potencialidades da AU e como essa

2.5

prática pode trazer diversas melhorias à população. A prática pode promover o abastecimento alimentar das pessoas envolvidas assim como dos seus vizinhos e parentes. Consegue promover o acesso aos alimentos mais saudáveis e diversificados para os moradores dos bairros carentes, seja pelo autoconsumo ou por doações. Além de promover a redução dos custos da população com alimenta-

REPERTÓRIO DE AGRICULTURA URBANA

ção. Da mesma forma, a agricultura urbana promove a educação

Após o entendimento das múltiplas vantagens da inserção da AU

alimentar e resulta em um aumento do consumo de vegetais mais

nas cidades foi desenvolvido um repertório de possibilidades de

diversificados e sem agrotóxico.

aplicações da agricultura, que fosse adequado à realidade da área

As práticas da agricultura urbana funcionam como atividade

de inserção do Agroparque. Esses espaços produtores de alimen-

física e terapêutica e também fortalecem os laços de amizade e

tos são horta urbana, pomar urbano, jardim PANC, floresta de

convívio social. Os relatos de melhorias em casos de depressão

bolso e sistemas agroflorestais urbanos e serão expostos em se-

e ansiedade mostram como promovem o bem estar social. A AU

guida.

gera renda com a comercialização da produção e conscientiza a população quanto à preservação ambiental das áreas urbanas. Da

2.5.1 Horta

mesma forma as atividades de produção de alimentos promovem

Espaço de aplicação da agricultura urbana mais usual por sua

inclusão social através do convívio nas hortas e fortalecem os laços

versatilidade e multifuncionalidade. Do latim hortus, horta é um

de amizade. Da mesma maneira que promove um resgate da cul-

lugar onde se cultivam hortaliças e legumes. A existência de hor-

tura rural no espaço urbano, os cultivadores possuem um modo

tas urbanas pode acontecer em diversas situações com diferentes

de vida rural que se adaptou ao modo de vida urbano, inclusive

objetivos. Variam quanto ao local de implantação, tamanho, pro-

adaptando os seus conhecimentos agrícolas. O programa mostra

jeto, produção de alimentos, espaço de aprendizado, entre outros.

que a dicotomia campo-cidade fica cada vez menos marcante nos espaços urbanos. 38

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS

A versatilidade das hortas pode ser percebida pelo local de cultivo variável em espaços privados, como pequenos quintais ou


grandes terrenos, estes localizados principalmente na esfera pe-

2.5.2 Pomar Urbano

riurbana. As hortas também acontecem em espaços públicos da

A palavra pomar vem do latim pomum que significa fruta e com-

cidade, como parques e espaços residuais urbanos, sendo exem-

preende um terreno dotado de árvores frutíferas localizado em

plos canteiros e terrenos baldios. Como não possuem delimita-

área urbana. A presença de pomares urbanos e verifica em muitas

ção de tamanho, a aplicação em diversas escalas é possível assim

cidades na implantação de árvore frutíferas em proximidade (Fi-

como uma diversidade de design. Muitas não recebem projeto de

gura 4). Como em Brasília, que das 5 milhões de árvores planta-

implantação, os canteiros caracterizam-se como amontoados de

das, tem 2 milhões são frutíferas (FARIAS, 2016).

terra, tendo assim a produção como foco, todavia as hortas também podem receber uma preocupação estética associada à funcionalidade, explorando materiais distintos, recipientes e combinação de espécies. Hortas urbanas também possuem uma variedade de objetivos, podendo ser um espaço que pode garantir a segurança alimentar, educativo, recreacional e de interação urbana. Muitas hortas educativas são aplicadas em escolas e proporcionam educação alimentar, ambiental e conhecimento a respeito do crescimento e desenvolvimento de vegetais. A produção das hortas também é variável. A autora Florios relata o caso da família Dervaes que possui uma produção anual de 7,29 kg/ m² no quintal da sua residência , valor muito superior, por exemplo, quando comparado à produção monocultora de milho que produz 0,32 kg/m² de alimento (EMBRAPA, 2017).

FIGURA 4 Avenida das jaqueiras em Brasília, 2016, constituindo assim um

pomar urbano. Fonte: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/cidadepomar-brasilia-tem-cerca-de-900-mil-arvores-frutiferas-em-area-publica/

39

Vicente Gonçalves Gewehr


2.5.3 Jardim PANC PANC significa Plantas Alimentícias Não Convencionais, categoria

veitamento depende de diversos fatores como aproveitamento da

que se deve ao seu desconhecimento pela maioria da população.

matéria prima (de produção, cultivo, manejo ou extrativismo),

Plantas as quais são nativas no Brasil e têm o seu uso muitas vezes

tecnologia de aproveitamento (criação de derivados e processados

negligenciado. Frequentemente, por ocorrerem entre as plantas

destas plantas) e mercado consumidor. Esse potencial permanece

cultivadas, são denominadas ‘daninhas’, ‘invasoras’, ‘matos’ e ‘in-

ainda subutilizado e muitas vezes desconhecido em razão dos pa-

festantes’. No entanto, muitas dessas espécies massacradas pelo

drões culturais fortemente arraigados que privilegiam produtos e

pisoteamento, enxadas e herbicidas são importantes espécies ali-

cultivos exóticos.

mentícias, que podem garantir a segurança alimentar e são fontes

Os jardins PANC são espaços que utilizam as PANC como ins-

de alimentos nutritivos e possibilitam diversos usos culinários (KI-

trumentos agregadores de valor estético, volumes e formas, maxi-

NUPP e LORENZI, 2017).

mizando a multifuncionalidade de espaços de agricultura urbana,

Segundo Kinupp e Lorenzi (2017), vivemos em uma sociedade

tornando os espaços mais atrativos à população e aos animais e

de analfabetos botânicos que não conseguem ler o que nos rodeia

ampliando as possibilidades paisagísticas, ainda promovendo uma

e assim não usamos dos benefícios que as plantas poderiam acres-

produção de alimentos urbana. Esses jardins podem inserir uma

centar à nossa rotina corriqueira e básica do dia a dia, sendo as

maior diversidade de cores, texturas diversificadas, árvores colo-

PANC uma viável alternativa à alimentação atual: muito básica, ex-

ridas, cactos, flores, palmeiras e coqueiros.

tremamente homogênea, monótona, pouco nutritiva e globalizada. Muitas PANC também são espécies convencionais, entretanto possuem partes, porções ou produtos alimentícios não convencionais, por exemplo, a bananeira e o mamoeiro presentes em quase todos os estados brasileiros. Da bananeira é possível a utilização do coração e do palmito e, do mamoeiro, a utilização da medula, dos frutos verdes, sementes e flores é viável. Esse conhecimento possui também uma viabilidade econômica: no caso do mamoeiro, as grandes culturas após o ciclo economicamente viável, em vez de descartados, os pés poderiam ser cortados, manipulados e processados em doces em calda, farinha ou adicionados à outros doces. As PANC variam de espécies extremamente conhecidas a espécies totalmente desconhecidas e totalizam mais de 3.000 espécies de plantas com potencial alimentício. Também possuem um potencial de aproveitamento muito grande. Infelizmente, o seu apro40

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS

FIGURA 5 Nesta imagem,

vemos a PANC de nome popular jasmimmanga (Plumeria rubra) amplamente utilizada no paisagismo das cidades que possui as suas flores comestíveis, exemplificando uma das diversas possibilidades de uso das PANC.


2.5.4 Floresta de Bolso

2.5.5 Sistemas Agroflorestais Urbanos

Floresta de bolso é uma técnica de restauração da mata atlântica

O Ministério do Meio Ambiente, por meio da Instrução Normati-

desenvolvida pelo paisagista Ricardo Cadim, baseada no plantio

va nº 05 de 2009, define Sistema Agroflorestal (SAF) como:

de espécies originais do bioma de acordo com a dinâmica original das florestas, exemplificado na Figura 6. Com tamanho adaptado

Sistemas de uso e ocupação do solo em que plantas lenhosas

à dinâmica das cidades, a aplicação é possível em áreas a partir

perenes são manejadas em associação com plantas herbáceas,

de 15m² e tem como objetivo a restauração da biodiversidade ori-

arbustivas, arbóreas, culturas agrícolas, forrageiras em uma

ginal, inclusive oferecendo um ambiente favorável à fauna e pos-

mesma unidade de manejo, de acordo com arranjo espacial e

sibilitando o contato da população ao patrimônio nativo e suas

temporal, com alta diversidade de espécies e interações entre

formas, texturas e sabores resgatando a biodiversidade original

estes componentes;

no cotidiano. Tais sistemas se destacam pela produção de alimentos que simula a dinâmica de uma floresta: para Götsch (2002), a sucessão das espécies é uma das forças motrizes da vida no planeta. Nos SAF’s, em um primeiro momento, espécies pioneiras ocupam clareiras na mata, em um segundo momento, são substituídas por espécies secundárias e, por fim, em um terceiro momento, o sistema entra em um equilíbrio com a dominância de espécies primárias. Em Sistemas Agroflorestais, essa sequência é imitada, promovendo e acelerando a sucessão natural, cultivando plantas de ciclo curto, médio e longo, pensando desde o início as espécies do futuro. Garantindo uma colheita diversificada ao mesmo tempo mais atrativa para a fauna pela biodiversidade presente. O manejo do sistema pode ser realizado na sombra, por meio das podas seletivas, para possibilitar o desenvolvimento de plantas FIGURA 6 Implantação de uma floresta de bolso no Parque Cândido Portinari

em São Paulo. Acervo pessoal.

novas e adquirir biomassa de determinadas espécies. Tal biomassa é espalhada nos arredores de onde foi retirada e é utilizada como serapilheira, ação fundamental na fertilização do solo e na manutenção do mesmo sempre fértil, mostrando-se um sistema muito eficiente na recuperação de solos inférteis. As raízes da diversidade de espécies presentes nos SAF’s espalham-se no solo

41

Vicente Gonçalves Gewehr


de maneira diversificada envolvendo um maior volume de solo,

III – a limitação do uso de insumos agroquímicos, priorizando-se

quando comparado à monocultura, sendo muito viável também

o uso de adubação verde;

na recuperação de solos degradados pela erosão 3.

IV – a não utilização e controle de espécies ruderais e exóticas

Desde 2011, o CONAMA, por meio da Resolução nº 429 permi-

invasoras;

te que as atividades de manejo agroflorestal sustentável (SAFs),

V – a restrição do uso da área para pastejo de animais

praticadas na pequena propriedade ou posse rural familiar, sejam

domésticos, ressalvado o disposto no art. 11 da Resolução

aplicadas na recuperação de APPs. Sendo as três metodologias to-

CONAMA Nº 369/06;

leradas:

VI – a consorciação com espécies agrícolas de cultivos anuais; VII – a consorciação de espécies perenes, nativas ou exóticas

I - condução da regeneração natural de espécies nativas;

não invasoras, destinadas à produção e coleta de produtos

II - plantio de espécies nativas; e

não madeireiros, como por exemplo fibras, folhas, frutos ou

III - plantio de espécies nativas conjugado com a condução da

sementes;

regeneração natural de espécies nativas”

VIII – a manutenção das mudas estabelecidas, plantadas e/ ou germinadas, mediante coroamento, controle de fatores de

E no capítulo IV o código florestal estabelece requisitos para a inserção de SAF’s em APP’s: “Art. 6º As atividades de manejo agroflorestal sustentável

perturbação como espécies competidoras, insetos, fogo ou outros e cercamento ou isolamento da área, quando necessário”.

Além disso a Lei 12.651 de maio de 2012 menciona algumas me-

praticadas na pequena propriedade ou posse rural familiar,

todologias possíveis de serem usadas na recuperação de APPs con-

conforme previsto no Código Florestal, poderão ser aplicadas na

solidadas a saber: o plantio de espécies nativas e/ou a condução

recuperação de APPs, desde que observados:

de regeneração natural de espécies nativas e o plantio intercalado

I – o preparo do solo e controle da erosão quando necessário;

de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo. Tolera também a

II – a recomposição e manutenção da fisionomia vegetal nativa,

inserção de espécies exóticas com nativas de ocorrência regional,

mantendo permanentemente a cobertura do solo;

em até 50% da área total a ser recomposta.

2.5.1.1 Agrofloresta na esfera urbana 3  É sugerido aos leitores mais interessados no entendimento sobre os Sistemas Agroflorestais a leitura do trabalho chamado de Sistemas agroflorestais em espaços protegidos dos autores CALDEIRA P., CHAVES produzido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo em 2011. Disponível em: http:// www.sigam.ambiente.sp.gov.br/sigam3/Repositorio/222/Documentos/SAF_ Digital_2011.pdf. Acesso em 09 dez. 2017.

42

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS

As áreas centrais geralmente são bastante urbanizadas e com poucos espaços não edificados, além dos terrenos muito valorizados, caracterizando um ambiente pouco favorável à implantação de SAF’s. Desse modo, a implantação desses sistemas é muitas vezes mais apropriada na esfera periurbana da cidade.


Todavia, a implantação de SAF’s em APP’s e corredores ecológicos se mostra muito apropriada por conciliar a preservação de áreas verdes urbanas e dos corredores ecológicos com a produção alimentar (KABASHIBA et al., 2009). A sua inserção em contexto urbano pode gerar certa estranheza quanto à sua estética para aqueles que não estão culturalmente acostumados com esse tipo de sistema, mas sempre que possível, pode-se considerar cuidados paisagísticos principalmente em áreas intensamente urbanizadas Segundo o Manual agroflorestal para a Mata Atlântica de 2007, a distribuição das espécies em SAF’s pode acontecer de diversificadas maneiras 4. Iremos destacar a distribuição espacial em faixas pelo fato de ter sido utilizada na concepção do projeto: é a implantação de espécies por faixas com cultivos de ciclo curto ou cultivos de baixo porte, entre as quais estão dispostas faixas de espécies de porte mais alto como espécies florestais altas; fruteiras perenes e espécies de porte bastante alto.

FIGURA 7

Esquema de SAF com a distribuição espacial em faixas (Manual agroflorestal para a Mata Atlântica, 2007). 4  Para a compreensão de todas as maneiras de distribuição dos SAF se recomenda a leitura da Apostila Sistemas Agroflorestais, dos autores NARDELE, M., CONDE I. 2010. Disponível em: https://biowit.files.wordpress.com/2010/11/ apostila-agroflorest.pdf. Acesso em 09 de abril de 2018

43

Vicente Gonçalves Gewehr

FIGURA 8 Como exemplo de Sistema agroflorestal urbano, temos o Parque Ecológico Sitiê, o qual surgiu pela transformação de um lixão pelos moradores. Passaram 6 anos retirando 16 toneladas de resíduos do local e viram na implementação de vegetação uma forma de conter o depósito de resíduos. Então passaram a praticar a agricultura urbana e a criar infraestrutura como escadas e taludes nos 8,5mil m² de área. Em 2012 o parque do Sitiê foi reconhecido como a primeira agrofloresta do Rio de Janeiro pela Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal. Fonte: http://misturaurbana.com/2016/02/ moradores-de-favela-alto-vidigal-rj-transformam-deposito-de-lixo-em-parqueecologico/. Acesso em 14/06/2018.


PARQUES URBANOS

2.6

O autor Jan Gehl entende parques como instrumentos que possibilitam a permanência em áreas públicas e são responsáveis por aumentar as relações sociais entre as pessoas. O autor diz que cidades vivas devem proporcionar espaços públicos de qualidade, onde as pessoas se desloquem a pé ou de bicicleta, criando nos

Esta seção trata da importância de parques urbanos, o papel des-

bairros mais oportunidades de convívio e caminhos onde as pes-

tes espaços na dinâmica das cidades e as características que ga-

soas se desloquem mais lentamente e se envolvam com o entorno.

rantem o sucesso dessas extensões.

Jane Jacobs em Morte e Vida das Grandes Cidades (2011) cita al-

Segundo Cavaleiro (1992), os parques são compreendidos por

guns motivos que podem fazer um parque populoso ou não. A au-

áreas verdes com mais de 100.000 m² destinados ao lazer ativo

tora mostra que a localização e a maneira que esses espaços se rela-

ou passivo, à preservação da flora e da fauna ou dos atributos

cionam com a vizinhança são fundamentais, ao mesmo tempo, um

naturais que possam caracterizar a unidade de paisagem na qual

entorno com usos variados possui usuários entrando e saindo em

o espaço está inserido, bem como promover a melhoria das con-

distintos horários do dia, contribuindo para a utilização do espaço.

dições de conforto ambiental nas cidades. Quanto à preservação

Cavalheiro (1992) aponta que para garantir o sucesso de uti-

da flora, Scanavaca (2012) diz que com a inserção de áreas verdes

lização dessas áreas públicas os espaços nos parques de uso in-

os parques podem promover a recuperação de ambientes degra-

tensivo devem possuir uma variedade de atividades, como esta-

dados, e em relação à fauna no meio urbano, mostra que as aves e

cionamentos, áreas de esportes, restaurantes, museus, áreas para

abelhas em geral dependem da arborização para sobrevivência. O

espetáculos culturais, entre outros. Enquanto os espaços de uso

autor conclui dizendo que a existência desses espaços possibilita a

semi-intensivo devem possuir áreas para piqueniques, passeios,

vida desses animais e consequentemente promove uma melhoria

caminhadas, trilhas, apresentando-se como espaços de menor in-

na qualidade do ar.

terferência humana.

Martins e Araújo (2014) apontam que os parques também

Corti et al. (1997 apud Szeremeta e Zannin), mencionam que os

possuem funções estéticas e sociais. A função estética aconte-

parques provavelmente estimulariam a atividade física por fatores

ce principalmente pela exuberância das espécies vegetais e pela

relacionados à motivação, uma vez que as pessoas estariam mais

harmonização das distintas construções nas cidades realizada pe-

satisfeitas com os caminhos compostos de vegetação arbórea do

los espaços propostos. A função social é a democratização dos

que com os espaços vazios. Sendo necessária a presença de uma

espaços públicos destinados ao lazer e à recreação, melhoras na

infra-estrutura apropriada, programação de atividades, ambientes

qualidade de vida da população com benefícios físicos, aumento

agradáveis, salubres e facilidade de acesso, entre outros, para que

das interações sociais experiências psicológicas relevantes para a

com isso as pessoas se sintam atraídas e motivadas a frequentar

melhoria da saúde mental.

tais localidades. Esses ambientes com qualidades sócio-ecológicas

44

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


promovem transformações sociais positivas, por exemplo, com

dor unificador. Interligando os espaços do parque ao eixo central

uma política de saúde pública eficaz, de modo a reduzir a pre-

foram dispostos caminhos secundários (perceptível na Figura 10).

valência de sedentários, a aumentar os níveis de atividade física

O primeiro setor inclui instalações esportivas, como pista de

e, por consequência, melhorar a qualidade de vida da população

skate, dez quadras (oito poliesportivas e duas de tênis), áreas de

(STOKOLS, 1992; SALLIS et al., 2006).

descanso vestiário e pista para caminhada.

Cassou (2009) realizou um estudo que mostrou associação

O segundo, denominado Parque Central, possui 95 mil m² que

entre a frequência de usuários de parques e praças e a qualidade

incluem um conjunto de atrativos para os visitantes na imensa área

do ambiente. Na medida em que o potencial de qualidade do am-

verde com alamedas, jardins, bosques e árvores frutíferas. As pas-

biente aumenta, maior é proporção de mulheres, pessoas mais ve-

sarelas do tempo do antigo presídio foram preservadas e funcio-

lhas e frequência de utilização. A respeito dos motivos para o uso:

nam como atração aos usuários.

a maioria dos usuários de parques indicou ser a beleza e presença

O terceiro setor inclui os prédios institucionais e se encontra

de estacionamento os fatores essenciais, todavia a localização do

próximo à estação de metrô Carandiru facilitando o acesso da po-

parque, beleza geográfica e das estruturas, pista de caminhada/

pulação da Capital.

corrida, estacionamentos, comportamento dos usuários, apoio/ incentivo dos amigos e a regulamentação do trânsito nos arredores foram percebidos como fatores de estímulo, independente das pessoas praticarem ou não atividade física regularmente. A seguir serão apresentados dois projetos que serviram de referência projetual. O primeiro é o Parque da Juventude em São Paulo e o segundo é o Jardin del Turia, na cidade de Valência, na Espanha.

2.6.1 Parque da juventude - São Paulo Brasil O Parque da Juventude (Figura 9) foi criado no lugar da penitenciária Carandiru após sua desativação. Ele mudou a paisagem da Zona Norte de São Paulo, criando um marco cultural e de lazer, renovando a paisagem urbana metropolitana da cidade. O projeto do parque foi feito pela arquiteta Rosa Kliass e compreende 240 mil m², espaço dividido em três setores: Parque Esportivo, Central e Institucional, extensões organizadas por uma alameda central de pedestres que funciona como eixo estrutura45

Vicente Gonçalves Gewehr

FIGURA 9 Imagem das

antigas passarelas de vigia. Fonte: https://www. archdaily.com.br/br/763644/ arquitetas-invisiveisapresentam-48-mulheresna-arquitetura-paisagismo/ 55007abae58ecee4f10000e7. Aceso em 14/06/2018


Implantação definitiva A. Parque Esportivo B Parque Central C. Parque Institucional D. Área de preservação permanente E. Muralha

FIGURA 10 Esquema de implantação e planta do parque, sem escala. A

figura possibilita observar o grande eixo que conecta todas as áreas do parque. Fonte: https://teoriacritica13ufu.wordpress.com/page/2/. Aceso em 14/06/2018.

2.6.2 Espaços livres públicos de Valência

reproduzindo o antigo leito do rio Turia, que foi desviado para

O Jardin del Turia (Figura 11) é um dos grandes parques naturais

evitar as contínuas inundações que a cidade sofreu.

urbanos da Espanha, um espaço verde de mais de nove quilôme-

Existem espaços distribuídos ao longo do Jardin del Turia que se

tros transitáveis que ​​ atravessa a cidade com áreas recreativas, es-

destacam por uma releitura e inovação de espaços convencionais

portivas, edificações com atrações distintas e espaços de perma-

como o Bioparc y Parque de Cabecera. Essa zona é uma releitura

nência variados. Esse parque, inaugurado em 1986, foi construído

dos tradicionais Zoológicos, baseada na implantação do conceito

46

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


de zoo-imersão que leva os visitantes ao habitat dos animais e

FIGURA 12

Interação entre pessoas e animais no Bioparc y Parque de Cabecera >>

não o contrário, como acontece comumente. Podemos entender a ambiência do espaço na Figura 12. Outro espaço marcado pelo conceito de criar um complexo de lazer científico, tecnológico e cultural é a Cidade das Artes e das Ciências, composta por edifícios coerentes com a temática. Como exemplo, destacam-se o Cinema 3D (nome original: El Hemisferic) e o museu de ciência (nome original: Museo de las Ciencias Príncipe Felipe). Assim como a arquitetura destas edificações dialogam a proposta conceitual da área.

El Hemisfèric FIGURA 11 Vista aérea do Jardin del

VISTA

47

Vicente Gonçalves Gewehr

VISTA

Turia, destaque para Hemisferic e Museo <<

Museo de las Ciencias Príncipe Felipe



O PRO JETO



a produção de alimentos o estar o lazer o permanecer a recreação a contemplação o exercício físico a educação alimentar a interação entre a comunidade o acesso à alimentos mais sustentáveis o contato e experimentação da produção de alimentos.

51

Vicente Gonçalves Gewehr


52

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


O presente projeto, idealizado para o bairro de Goiabeiras, se trata de um Agroparque. Essa categoria de parque foi desenvolvida neste trabalho e é definida como um espaço produtor de alimentos, recreativo e educacional, que visa, além do lazer, transformar a relação das pessoas com a alimentação. O espaço escolhido para o projeto foi uma área ociosa de 330.000 m², destacada em vermelho na Figura 13, entre uma via arterial e o manguezal, próximo ao aeroporto de Vitória e à Universidade Federal do Espírito Santo. A via denominada Fernando Ferrari é uma das principais da Região Metropolitana de Vitória, representando uma importante ligação entre Vitória e o município da Serra. ra r

i

Goiabeiras e os bairros do entorno são áreas de

Fe r

população economicamente desfavorecida e com

local busca proporcionar aos moradores da área os benefícios da agricultura urbana (abastecimento alimentar, auxílio na SAN, desenvolvimento da

nd na

AEROPORTO

Av .F er

xos. Dessa maneira, a inserção do Agroparque no

o

espaços livres públicos pouco utilizados e descone-

UFES

economia local, melhora no meio ambiente, maior convívio social entre outros), assim como também visa a democratizar o acesso ao espaço público de qualidade em bairros carentes e, ao mesmo tempo, atender a população da Região Metropolitana. A Figura de número 13 destaca em vermelho a localização da área de projeto em Vitória e nos bairros de Goiabeiras e entorno, sendo possível notar quão significativas são as proporções da área em Vitória.

53

Vicente Gonçalves Gewehr

FIGURA 13 Posicionamento da área projetual na cidade de Vitória e ampliação do entorno, estando a área do projeto destacada em vermelho em ambas. Fonte: adaptado de googleearth. com.


3.1

VENTO DOMINANTE

MARIA ORTIZ

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

O bairro de Goiabeiras está localizado na zona continental de Vi-

JABOUR

tória, ao norte da cidade. Segundo o IBGE (2002), possui clima tropical super úmido, vento predominante nordeste e relevo plaÁR

no, com exceção da elevação no interior do bairro, denominada I LIM

de Morro do Sales (destacados na Figura 14). É cortado pelas via

DE

DA N Ç Ã E RV TE IN

TE

veis por proporcionar ruídos oriundos do tráfego automobilístico

O

INO AN

A área de intervenção, contornada em vermelho na Figura 14,

VER

possui uma conexão direta com diversas vias gerando assim mui-

ET

MORRO DO SALES

nordeste e norte. Ao oeste, a presença do manguezal proporciona

V LO

tas possibilidades de acessos, distribuídos ao sul, sudeste, leste,

MULTIVIX

RR

AR

I

o visual característico e, ocasionalmente, odor peculiar. Esse ecos-

FE

sistema deve ser preservado pelo seu valor ambiental, além de, na AN

DO

área, funcionar como uma barreira física.

FE

RN

No morro do Sales existe uma área classificada como reserID

A

va ecológica pela Prefeitura Municipal de Vitória (PMV), que é

município vizinho, e da baía noroeste de Vitória, marcada pela exuberância da preservação do manguezal e do Rio Santa Maria. Existe uma predominância de área com solo descoberto, esta com

BAIRRO REPÚBLICA

AV

EN

uma mata de tabuleiro preservada. Do alto, há ampla visualização da marcante elevação denominada Mestre Álvaro, localizada no

SEGURANÇA DO LAR

NID

SUBESTAÇÃO DE ENERGIA

e também dos principais acessos.

ANTÔNIO HONORÁRIO

VIX TRANSPORTADORA

AV E

arterial Fernando Ferrari e coletora Jerônimo Vervloet, responsá-

EA

FIGURA 14

Características da área. Fonte: googleearth. com (adaptado).

vegetação de crescimento espontâneo.

MORADA DE CAMBURI UFES

Ao redor da área de intervenção, existem quatro áreas de espaços livres públicos e três grandes empreendimentos se destacam

LEGENDAS

pelas grandes proporções, sendo eles a VIX Transportadora, a Uni-

Acessos

versidade Multivix e a subestação de energia.

Mangue Áreas de Lazer

54

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS

Área com predominância de solo descoberto Mata de tabuleiro

Ruídos Via arterial Via coletora


Ao leste e ao sul da área de intervenção estão as maiores con-

Tribuna em 2010 dizem que o bairro foi batizado como Goiabeiras

centrações populacionais compreendidas pelos bairros: Goiabei-

pela grande quantidade de árvores homônimas presente na região.

ras, Antônio Honório, Segurança do Lar e Maria Ortiz. Toda a re-

A ocupação foi acontecendo de maneira desacelerada nos anos

gião ao redor do bairro ao norte da Avenida Fernando Ferrari são

iniciais, e o primeiro registro do número de moradores é de 1950,

áreas classificadas pela PMV (2010) como bairros com baixo ren-

quando o bairro contava com 642 habitantes (A TRIBUNA, 2010).

dimento nominal médio mensal e elevada densidade habitacional.

3.1.1 Aspectos urbanos, de evolução urbana, sociais e culturais

Segundo Vieira (2015), com a ocorrência da Segunda Guerra Mundial, o campo de aviação, existente desde 1930, é adaptado para receber aviões de porte maior. A inauguração do Aeroporto Eurico Salles, em 1946, foi o primeiro empreendimento que possi-

Como método para o desenvolvimento desta subseção foram uti-

bilitou a expansão do bairro, pois a estrada que ligava o aeroporto

lizadas reportagens históricas, sendo assim possível entender mu-

ao centro urbano passou a ter maior fluxo. Na década de 1950 a

danças importantes no bairro e compreendê-las pelo ângulo dos

instalação de empreendimentos ao norte da cidade como a Univer-

habitantes da área.

sidade Federal do Espírito Santo e o Porto de Tubarão influenciou

Segundo o jornal A Tribuna, de 2010, a ocupação do atual bairro

nos anos posteriores a construção de conjuntos habitacionais na

de Goiabeiras iniciou-se na década de 1930. Era uma vila carac-

região da Grande Goiabeiras entregues pela COHAB-ES originando

terizada pela aglomeração de casas de pau a pique e barro em

os bairros Antônio Honório, Sólon Borges e Bairro República.

uma baixada cercada por manguezais, mata atlântica e fazendas de gado.

A partir da década de 1970, com o aumento da industrialização com a instalação do Parque Industrial de Carapina e, consequen-

Segundo relato dos moradores para o jornal A Tribuna (2010),

temente, o aumento populacional devido ao êxodo rural, surgiram

os primeiros habitantes do local tinham uma vida autossuficiente

zonas de ocupação irregulares na Grande Goiabeiras caracteriza-

em relação à produção de alimentos e pouco conectada com o cen-

das pela instalação de barracos e palafitas sobre uma área original-

tro da cidade. Nas décadas de 1940 e 1950, para acessar o centro

mente de mangue, todavia, sujeitada ao depósito de resíduos da

da cidade, era necessário andar mais de três quilômetros a pé até

prefeitura. Sobre essa área de “lixão” acontecia a inserção das habi-

chegar ao bairro Santa Lúcia, onde era possível pegar o bonde. A

tações. É perceptível a partir da comparação entre as Figuras 15 e

escola mais próxima era a Irmã Maria Horta, localizada na Praia do

16, a rápida ocupação dos arredores da área destacada (PMV, 2017).

Canto, e os moradores de Goiabeiras sobreviviam da pesca artesa-

Entre as décadas de 1980 e 1990, visando conter a ocupação do

nal de peixes e mariscos, gado leiteiro, frutas tropicais, silvestres,

bairro sobre o manguezal promovendo assim a proteção ambien-

verduras e legumes oriundos da agricultura de subsistência e da

tal, a prefeitura criou a via de contorno no mangue e, em 1997, o

tradicional produção artesanal da panela de barro.

morro do Salles foi transformado na Reserva Ecológica Municipal

O bairro foi fundado em 1944, ao ser desmembrado do município da Serra. Os moradores mais antigos, em entrevista ao jornal A 55

Vicente Gonçalves Gewehr

Mata de Goiabeiras, visando à preservação da mata nativa na região (PMV, 2017).


Segundo o jornal A Tribuna (2010), em 2003, uma valorização em 30% no valor dos imóveis no bairro foi perceptível, devido à

lar sobre um “lixão”, e Goiabeiras foi parcelada a partir de terrenos privados (A TRIBUNA, 2003).

instalação da faculdade brasileira Univix (atualmente Multivix), ao

O espaço da proposição prática deste trabalho compreende

projeto da ampliação do aeroporto e às obras na Avenida Fernan-

áreas livres ou subutilizadas ideais para a inserção dos espaços

do Ferrari. A Multivix começou a funcionar no bairro em 2002 e

lúdicos e de produção de alimentos. O terreno se divide em três

estimulou sua ocupação por moradores de classe média. O aero-

núcleos de acordo com o PDU de Vitória: áreas inseridas na zona

porto Eurico Salles passa a tomar dimensões cada vez maiores e

de parque tecnológico (ZPT), áreas inseridas na zona de proteção

receber projetos de ampliação. A Avenida Fernando Ferrari, por

ambiental 1 e 2 (ZPA 1 e ZPA 2), identificados na Figura 18.

sua vez, concentrava comércios que eram voltados à avenida e não ao interior do bairro.

As áreas localizadas em ZPT pertencem a proprietários privados e à União e são áreas, segundo o Plano Diretor Urbano de Vi-

De acordo com a comparação entre as Figuras 15, 16 e 17, é pos-

tória, destinadas a instalações industriais e de serviço de base tec-

sível entender uma evolução da ocupação marcada pela inexistên-

nológica com objetivo de preservar o meio ambiente e paisagens. A

cia de edificações na área da intervenção. Muitos vazios urbanos

zona localizada em ZPA 2 compreende espaços de conservação do

foram mantidos até 2017, uma realidade diferente do bairro vizinho

ecossistema e recursos naturais, podendo ser usada para estudos,

Maria Ortiz, o qual conta com uma ocupação quase completa. O fato

turismo, recreação e esportes, desde que não prejudiquem o meio

pode ser explicado pois Maria Ortiz se edificou de maneira irregu-

ambiente.

FIGURA 15 Goiabeiras e arredores em 1970. Destaque em vermelho para a área de intervenção. Fonte: veracidade.com. br (adaptado). FIGURA 16 Goiabeiras e arredores em 1978. Destaque em vermelho para a área de intervenção. É perceptível a grande expansão urbana identificada em oito anos quando

56

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS

comparado à vista aérea de 1970 (Imagem 15) urbana no >> atual bairro Maria Ortiz, onde residências foram construídas sobre depósito de resíduos. Assim como a ampliação do aeroporto e novas instalações da Universidade Federal do Espírito Santo. Fonte: veracidade.com.br (adaptado).

FIGURA 17 Goiabeiras e arredores em 2017. Destaque em

vermelho para a área de intervenção. Fonte googleearth.com


Zona de Proteção Ambiental (ZPA 2) Zona de Proteção Ambiental (ZPA 1)

Zona de Parque Tecnológico (ZPT) Zona de Ocupação Limitada (ZOL)

Zona Especial de Interesse Social (ZEIS 2) Zona de Equimpamentos Especiais (ZEE 3)

FIGURA 18 Zoneamento da área de intervenção. Fonte PMV (2006).

Segundo o censo do IBGE (2010), o bairro conta com 2.633

terial registrado pelo IPHAN. A banda de congo Panela de Barro

habitantes. Enfrenta problemas ambientais, um exemplo foi retra-

reúne parte dos moradores nos ensaios e eventos, sendo uma das

tado na reportagem do jornal A Tribuna (2010), que mostrava que

bandas de congo mais representativas do Espírito Santo. Toda-

o esgoto lançado no mangue proveniente das residências dos bair-

via a relação com a natureza foi insustentável, moradores antigos

ros fronteiros à região de manguezal foi o fator que inviabilizou a

relataram, em entrevista, que no passado era um ato frequente

atividade de coleta das ostras comercialmente.

banhar-se nas águas limpas do manguezal, ação hoje impossível

Atualmente, o bairro de Goiabeiras possui grande importância

pela poluição oriunda principalmente das residências não conec-

na região de Vitória, pelos aspectos culturais preservados, como a

tadas ao sistema de tratamento de águas de Vitória e dos detritos

tradição da produção de panelas de barro e o congo. As panelas e

lançados no curso do rio Santa Maria. Muitas residências foram

acessórios são produzidas de maneira artesanal pelas paneleiras,

construídas em locais destinados à preservação do mangue, o qual,

prática repassada das mães para as filhas, netas e vizinhas, preser-

mesmo afetado pela poluição, ainda é muito importante na biodi-

vando esse saber, da cultura indígena local, que é patrimônio ima-

versidade da região metropolitana de Vitória.

57

Vicente Gonçalves Gewehr


área interditada

3.1.2 Levantamento de espaços livres do entorno Objetivando o entendimento da oferta atual de espaços livres públicos no entorno da área de inserção do Agroparque foram desenvolvidos dois esquemas apresentados nas Figuras 19 e 20. No primeiro, foi destacada em vermelho a área de intervenção e nas demais cores os espaços livres públicos existentes atualmente em Goiabeiras e nos bairros vizinhos ao norte da Avenida Fernando Ferrari. O esquema representado na Figura 20 destaca a área de intervenção em vermelho e os espaços livres presentes no entorno imediato. Os ícones representam as atividades presentes nesses espaços e abaixo o público alvo de cada área recreativa.

FIGURA 19 Espaços livres do entorno da área de intervenção, esta destacada em vermelho. Fonte: adaptado de googleearth.com (2018) FIGURA 20 Perspectiva com destaque para os espaços livres (em colorido) ao redor da área de intervenção (em vermelho) e ícones representando o público alvo e atividades ofertadas. Fonte: adaptado de googleearth.com (2018).

58

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS

em fase de construção


As Figuras de número 21, 22, 23 e 24 são fotografias que complementam o entendimento desses espaços, mostrando a situação deles. A identificação destes espaços nos mapas possibilitou concluir que são espaços isolados e desprovidos de conexão, não representando um sistema de espaços livres integrados. Nas visitas, quanto à utilização, foi possível perceber que esses espaços são pouco utilizados pelos moradores das proximidades e não se apresentam muitos atrativos à população. Quanto ao público alvo, as ofertas lúdicas são voltadas ao atendimento da comunidade que reside próximo ao local, sendo um entretenimento não convidativo a usuários de bairros mais distantes ou outras cidades. Também foi notado que a maioria dos espaços recreativos são destinados ao entretenimento de usuários do sexo masculino, adultos e não portadores de necessidades especiais, perceptível pela presença de 2 campos de futebol e uma quadra poliesportiva.

FIGURA 21 Fotografia do espaço livre destacado

FIGURA 22 Fotografia da praça mostrando a

em azul na imagem 20 representa o galpão das paneleiras a direita e deck em construção a esquerda. O galpão das paneleiras é um ponto turístico de Vitória, pois preserva o ofício da criação de panelas de barro de maneira artesanal, sendo esta atividade um patrimônio imaterial reconhecido pela UNESCO Fonte: acervo pessoal (maio 2018).

academia popular e a ao fundo um campo de futebol retratando a área em laranja na figura 20. No campo de futebol acontecem eventos esportivos, na academia do idoso a ausência de sombra impossibilita a utilização do espaço durante o dia Fonte: acervo pessoal (maio 2018).

FIGURA 23 Fotografia do espaço público destacado em amarelo na figura 20, no local existe uma diversidade de oferta recreacional como academia do idoso, boxa, quadra e palco.

FIGURA 24 Fotografia do espaço público representado

Existem duas academias do idosos, desprovidas de sombreamento e possibilidades de assento, o que torna esses espaços pouco utilizados. Outras características desses espaços estão descritas nas legendas das Figuras 21, 22, 23 e 24.

59

Vicente Gonçalves Gewehr

em roxo na figura 20. É possível perceber o campo de futebol society ao fundo e o depósito de resíduos (lixeira) no local, assim como árvores exuberantes e espaços de permanência pouco convidativos.


DIAGRAMA FOTOGRÁFICO DE PERCEPÇÕES Para somar ao entendimento sobre a área, foi realizado um diagrama fotográfico de percepções apresentado nas páginas seguintes, nas Figuras 25 e 26. Este mostra a realidade atual da área de intervenção e do seu entorno.


F3 Vista do Deck em construção (junho 2018) em frente ao galpão das paneleiras

F13 Quem olha este muro não imagina que há um campo de futebol, uma quadra e um parquinho do outro lado

F2 Panelas de barro sendo produzidas e o mangue ao fundo

F6 Urbano ou Rural? Dicotomia?

F15 Lateral norte da empresa Vix Transportadora

F5 Condições de habitação

FIGURA 25 Diagrama de percepções sobre Goiabeiras (1/2).


F8 Toda forma de plantar é valida

F9 Simples e bonito como sinônimo

F11 Cidades para pessoas automóveis

F10 Natureza resiste

F10 Circuito curto de produção e comércio

F4 Muro que segrega.

FIGURA 26 Diagrama de percepções sobre Goiabeiras (2/2).

F14 Lateral sul da empresa Vix Transportadora


F7 (esquerda) Protesto vegetal pelo seu espaço

F12 Vista leste do Morro do Sales e a erosão oriunda da modificação planimétrica

F8 (direita) Imagina o responsável por esse jardim plantando nos 330 mil m² do Agroparque!

F17 Ruínas de uma fábrica. Ao fundo está o mangue

F1 Raízes exuberantes do mangue

F16 "No passado sempre tomávamos banho no mangue", disse um morador na captura desta imagem


CONCEITUAÇÃO PROJETUAL

3.2

A partir das considerações apresentadas sobre os temas observa-

Um Agroparque concilia diferentes conjuntos tipológicos de

dos como alicerces para o desenvolvimento do projeto em ques-

produção de alimentos, estes adequados à cada área de inserção

tão. Através de contextualizações teóricas e elaboração de aná-

na esfera urbana. Como a agricultura está diretamente ligada à ali-

lises da área, segue-se para a exposição da proposta que busca a

mentação, esta tipologia de parque também deve existir de forma

conciliação da áreas funcionais de agricultura urbana com áreas

educacional, apropriando-se, informando e difundindo os princí-

recreativas.

pios da alimentação de verdade (trabalhados no segundo capítulo).

Vislumbrando as necessidades e potencialidades, tanto na re-

Assim como apresenta características de parques convencionais,

gião do entorno quanto da região determinada para a proposta,

como áreas de recreação e alimentação, todavia adaptando esses

estabeleceu-se um programa com funções, atividades e usos con-

espaços ao conceito agroalimentar.

siderados adequados para serem desenvolvidos na área de inter-

O presente projeto é uma releitura do Plano Diretor Urbano

venção. Seguindo as definições postas em questão e visando uma

de Vitória (PDU), que estabelece o espaço como Zona de Parque

prévia organização espacial das pontuações a serem projetadas,

Tecnológico, a proposta do Agroparque é que seja um espaço de

organizou-se o partido projetual, a partir do qual se apresenta a

transformação, seja esta social: pelo acesso ao alimento saudável,

espacialização do programa, que direcionará, em sequência, o de-

pelas melhoras alimentares e pelo acesso ao espaço público de

senvolvimento do projeto.

qualidade e democrático; seja econômica: por incentivar um co-

3.2.1 Conceito

mércio mais humano, local e sustentável e seja ambiental: pela preservação e respeito dos ecossistemas existentes, pela utilização de

O conceito deste projeto foi a elaboração da categoria de parque

práticas que não degradam o solo, ampliam a diversidade vegetal

inédita denominada Agroparque. O nome surge a partir da união

e que atraem a diversidade de fauna.

da palavra Agro, definida como campo cultivado ou cultivável

Um Agroparque pode ser entendido não só como uma relei-

(PRIBERAM, 2018) com a palavra Parque, entendida como espa-

tura do PDU, mas também como um espaço de releitura do estilo

ço dentro de uma região urbana, geralmente com abundância de

de vida urbano, das práticas agroalimentares atuais, das relações

vegetação e áreas não pavimentadas, que propicia o lazer e a re-

insustentáveis, incoerentes e incorretas presentes no nosso coti-

creação dos habitantes da cidade, possibilitando uma apropriação

diano com o meio ambiente, com o tempo, com as relações sociais

lúdica do espaço público (ZANNIN, 2016).

e com as prioridades inventadas.

64

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


PROGRAMA

3.3

A elaboração do programa surge visando a indicar os possíveis

Assim, para compor esses espaços e atender às expectativas a

modos de utilização para a área do Agroparque em Goiabeiras,

eles direcionadas, foram vislumbradas diferentes configurações,

baseando-se nos anseios projetuais e nas necessidades e poten-

tais como: três hortas comunitárias, três diferentes tipos de sis-

cialidades identificadas no contexto de intervenção. Assim, são

temas agroflorestais, uma área de Floresta de Bolso e um pomar,

estipulados os espaços apontados, tipos de agricultura urbana, ati-

estes sendo mais voltados à produção alimentar. Quanto às ati-

vidades, e usos a serem desenvolvidos, estimulando formas de vi-

vidades de caráter educacional, foram pensados: dois auditórios,

vência, percepção e interação entre usuários e o espaço planejado.

uma biblioteca com acervo destinado à temática agroalimentar,

Buscando iniciar a elaboração do projeto, definiu-se como pri-

salas de planejamento dos espaços de produção e de atendimento

meiro item do programa a determinação das áreas destinadas à

à população.

implantação da agricultura urbana mais adequadas a cada espaço.

Quanto às atividades de caráter mais recreacional foram pro-

Assim, para compor esses espaços, foram distribuídas áreas mais

postos um restaurante conceitual, um mercado conceito de ali-

voltadas à produção de alimentos e uma área mais recreativa, cha-

mentos sustentáveis e produzidos no agroparque, três trilhas, dois

mada de parque linear.

mirantes, uma academia popular, um espaço recreativo boêmio,

Todas as áreas do Agroparque são relacionadas com a temática

uma pista de skate/patins volumétrica e uma plana. Quanto à pos-

da alimentação, existindo áreas mais voltadas à produção alimen-

sibilidade de acesso e circulação, é importante salientar que, de

tar, outras mais educativas ou mais recreativas, gerando espaços

modo geral, o programa prevê uma reorganização da área de inter-

que incitam à produção de alimentos, ao estar, ao lazer, ao perma-

venção, visando a possibilitar uma conexão entre os espaços livres

necer, à recreação, à contemplação, ao exercício físico, à educação

já existentes no entorno com o Agroparque proposto, este que

alimentar, à interação entre a comunidade, ao acesso a alimentos

também se relaciona com as vias e acessos existentes no entorno

mais sustentáveis, ao contato e à experimentação da produção de

e cria novas alternativas de circulação no bairro, sendo dispostas

alimentos.

duas vias que proporcionam o tráfego seguro de ciclistas, caminhos para pedestres dentro do parque alternativos às vias existentes, caminhos voltados à contemplação do Agroparque e uma área de estacionamento, sendo todas as atividades criadas relacionadas com a temática agroalimentar de alguma forma.

65

Vicente Gonçalves Gewehr


PARTIDO

3.4

A partir das definições estabelecidas pelo programa, foi elabora-

Entre o mangue e o SAF de inclusão foi desenvolvida uma

da a proposta de partido para o projeto. Objetiva-se nesta etapa

tipologia de SAF denominada Agrorestinga, que adequa o modo

proporcionar uma noção da ocupação da área, usos, localização

de produção de uma agrofloresta tradicional, criando assim uma

das atividades, e formas de apropriações previstas, em função das

floresta adequada ao espaço de inserção e diversificando as espé-

características do local.

cies em número. A floresta de bolso (em vermelho) foi inserida de

Para a representação do partido, foi desenvolvida uma pers-

forma a criar uma barreira no entorno da subestação de energia.

pectiva axonométrica explodida (Figura 27) que apresenta a área

O Parque Linear foi projetado aproveitando a ampla área dis-

em camadas. A camada mais abaixo é a representação da setori-

posta no sentido norte sul e representou o espaço de concentração

zação das superfícies que representam as diferentes atividades,

das atividades recreativas, apresentadas na perspectiva explodida

na camada superior estão elementos pontuais que representam

como elementos pontuais. Distribuídas ao norte, estão as ativida-

as atrações e na camada do topo as linhas que representam os

des de caráter mais esportivo, ao sul, atividades de aspecto mais

caminhos. O partido é então apresentado de modo a destacar as

recreativo e de maneira central as atividades mais educacionais.

estratégias que configurarão o projeto.

Ao norte do parque, estão a Academia Popular (1) e as pistas

No nível das superfícies, foi realizada uma setorização entre

de skate e patins (2), ao sul estão o Espaço Recreativo Boêmio

as áreas voltadas à recreação (em roxo), esta chamada de Par-

(3), o parquinho dos vegetais (4), o restaurante (5), o mercado

que Linear, e as áreas de agricultura urbana (nas demais cores).

(6) e os dois mirantes (8). Na área central está o Prédio principal

Objetivando uma interação entre os transeuntes e moradores do

(7) com dois auditórios, uma biblioteca, salas de planejamento da

entorno com a produção de alimentos e colheita, foram dispostas

agricultura, de atendimento à população, administração do parque

três áreas de horta comunitária (verde) e um pomar (amarelo) no

e um café.

limite entre o parque e o bairro.

Todas essas atividades apontadas anteriormente foram inseri-

Foram inseridos diferentes tipos de Sistemas Agroflorestais (em

das no local levando em consideração a área, aproveitando suas

tons de azul) na área do Morro do Sales e entorno, com objetivo

características morfológicas e naturais, assim como proporcionan-

de conciliar a produção de alimentos com a preservação da mata

do um espaço público, funcional, democrático, inclusivo, acessível

de tabuleiro existente. Nesta área, foi criada uma Agrofloresta de

e transformador.

inclusão margeada por dois SAF de transição, estes realizando a transição da área de preservação com áreas mais frequentadas.

66

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


1

2

7

8

6 5

3 4

67

Vicente Gonçalves Gewehr

FIGURA 27 Projeto representado

em perspectiva axonométrica explodida.


MACROPROPOSTA

3.5

Será apresentado o projeto do Agroparque em Goiabeiras, com

Estas foram planejadas de maneiras distintas, visando atender aos

base na teoria trabalhada no capítulo dois, concebido diante das

moradores pela proximidade das residências ou pela afinidade com

intensões projetuais definidas anteriormente. A prancha denomi-

as características de cada horta. Em relação à localização, as hor-

nada Macroproposta, presente na página ao lado, representa as

tas visam a atender às populações mais próximas. A horta ao sul

decisões projetuais em toda a área de intervenção. O projeto con-

visa a atender principalmente a população de Goiabeiras. A horta

ta com um parcelamento da área entre parque linear (em roxo no

a leste (mais ao sul) visa ao atendimento dos bairros vizinhos, An-

diagrama denominado síntese projetual) e as áreas mais voltadas

tônio Honório e Segurança do Lar, e a horta mais ao norte objetiva

à agricultura urbana (nas demais cores), apresentado na Figura

o atendimento da população de Maria Ortiz.

28. Esse zoneamento considerou a adequação de cada sistema de produção alimentar e levou em consideração as características da área e seu entorno. A explicação do projeto vai acontecer inicialmente com uma explicação das parcelas mais voltadas à produção de alimento, seguida das extensões mais voltadas à recreação. Observou-se que a região delimitada à inserção do projeto poderia ser seccionada em quatro fragmentos: áreas próximas à comunidade (leste), local de acesso mais facilitado e rápido pelos habitantes; a fração a extremo oeste entre o Morro do Sales e o mangue; a região ao entorno da subestação de energia, pela qual a entrada de pessoas não é recomendada, bem como a circulação por sua área; por fim, uma extensão linear central disposta no sentido norte sul, atualmente fragmentada e desprovida de contato direto com a concentração habitacional. Objetivou-se promover, primordialmente, o contato dos moradores e usuários do parque com a produção alimentar, aproxi-

FIGURA 28

mando os espaços de produção das habitações. Para atender esse

Síntese projetual, adaptado de googleearth. com.

objetivo, foram desenvolvidos os espaços Horta Pro Nobis nas áreas próximas à comunidade, que se caracterizam por três hortas comunitárias (em verde) de aproximadamente 7.000 m² cada. 68

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


MACROPROPOSTA AGROPARQUE

69

Vicente Gonรงalves Gewehr


A leste, próximo às residências e frontal à rua Jerônimo Ver-

segue o conceito agroalimentar e explora o universo da alimenta-

vloet, foram identificadas algumas árvores frutíferas, todavia, estas

ção alternativa e mais sustentável. A produção de alimentos des-

não eram acessíveis devido à quantidade de resíduos descartados

sa área acontece com a combinação das plantas alimentícias não

pela população sobre o solo, se tornando uma área inutilizada pela

convencionais (PANC) com espécies alimentícias convencionais.

população. Objetivando potencializar essa área, foi implantado um

Em suma, essa região diverge do restante do Agroparque pelo seu

pomar urbano (em amarelo), sendo um espaço produtor de ali-

caráter mais voltado ao lazer e à educação.

mentos próximo às residências e aberto ao entorno.

No Agroparque, as possibilidades de deslocamento foram am-

Os SAF’s (representados na síntese projetual em tons de azul)

pliadas para ciclistas e pedestres com a criação da via Cacauí, da via

foram implantados ao redor da área de preservação ambiental per-

Catajé e da Alameda das Cores, responsáveis por fundir o caráter

manente (presente no Morro do Sales), e objetivam uma transição

funcional (mobilidade urbana) com o recreativo e conectar toda a

da floresta com o entorno e também uma conexão da vegetação

extensão do Agroparque. A Alameda das Cores, na área do Parque

desta com o mangue. Na área da floresta existente e protegida, foi

Linear, funciona como um eixo de caráter estruturador do traçado

implantado o SAF de inclusão (azul mais claro), sendo que este não

e ordenador das atrações e canteiros, enquanto as duas vias citadas

interfere na dinâmica dos sistemas remanescentes. Ao redor da

proporcionam alternativas de trajeto mais rápidas e seguras.

área de preservação ambiental, seria inserido o SAF de transição

As atrações inseridas no parque linear foram pensadas após

(tom de azul mais vibrante), responsável pela transição da área de

estudos de atividades que se relacionassem com a temática da ali-

preservação com o parque linear (à leste) e a Agrorestinga (à oes-

mentação, com o conceito de Agroparque e também estivessem de

te), acontecendo o SAF de transição com uma agrofloresta conven-

acordo com as necessidades das diversas faixas etárias e públicos.

cional. A Agrorestinga desenvolvida (azul escuro) foi implantada

Tais atrações foram divididas em três grupos: edificações, atrações

a extremo oeste do Agroparque, ao lado do mangue, e permite

ao ar livre e canteiros PANC.

uma adequação da agrofloresta à realidade botânica das cidades

As edificações são: o prédio principal, o restaurante-escola

litorâneas, representando as espécies da restinga no Agroparque.

(Nastúrcio Culinária PANC), o Espaço Recreativo Boêmio Sete Co-

Na área ao entorno da subestação de energia, foi inserida a

pas e o espaço comercial (Mapati Mercado Conceito). Enquanto

floresta de bolso (em vermelho), com objetivo de impedir a aproxi-

as atrações ao ar livre são o Parquinho dos Vegetais, as pistas de

mação de pessoas devido a riscos e também proporcionando uma

skate e patins (Pajurá) e a academia popular (Mutamba).

restauração da diversidade da flora original, sendo caracterizada

No parque linear entre as áreas de produção de alimentos, edi-

por uma área de maior concentração vegetal e menos propícia ao

ficações e atrações ao ar livre, estão os canteiros PANC, compostos

acesso humano.

por espécies alimentícias pensadas de forma a atrair os usuários

Disposta de maneira central e no sentido norte sul, está a área

pela exuberância das diversificadas espécies vegetais, com desta-

de Parque Linear (em roxo), com aproximadamente 600m entre

que para as frutificações e florescimentos. O diferencial desses

as extremidades. Essa área, que concentra as atrações recreativas, 70

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


espaços é que foram planejados de maneira a distribuir as frutifi-

outros. Esses espaços podem ser módulos individuais ou podem

cações ao longo do ano, assim, apresentam-se como uma atração

acontecer juntamente a outras edificações, por exemplo, utilizan-

mutável que estimula os usuários ao desbravamento do parque,

do de um espaço coberto no espaço do prédio principal.

descobrindo diversas frutificações, florescimentos, aromas, sabo-

Assim, constituiu-se a proposta do Agroparque para Goiabei-

res, texturas e cores. Para o deslocamento no parque foram de-

ras, que combinou a implantação da produção alimentar na esfera

senvolvidos além da Alameda das Cores, caminhos com função de

urbana, esta responsável por impulsionar a criação do presente

conectar acessos e aproximar os usuários das espécies vegetais.

projeto, com a área do Parque Linear de caráter mais recreativo.

Tal como o Circuito Contemplativo, este responsável por oferecer

Como resultado, foi criada essa atração inédita e inovadora.

um trajeto que intersecta as principais atrações e percorre todo espaço do parque linear.

3.5.1  Áreas de agricultura urbana

As três trilhas (Grumixama, Juçara e Cambucí) promovem o

Serão apresentadas as áreas de agricultura urbana de maneira

acesso das pessoas à Mata de Tabuleiro localizada no morro do

mais detalhada de maneira a proporcionar a compreensão sobre

Sales (área de preservação), cada uma possui cerca de 800m e

a dinâmica das áreas produtoras de alimento na esfera urbana e

termina em dois mirantes no alto do morro. O Mirante Inharé,

posteriormente será retratado o parque linear.

com vista para o Mestre Álvaro, e o Mirante Umarí, com vista para a Baía Noroeste de Vitória.

Sistema agroflorestal (SAF)

Para criar um espaço público integrado e contínuo, duas edi-

Após o estudo sobre o sistema de produção de alimentos em

ficações foram desapropriadas e realocadas (representadas em

Agroflorestas, percebeu-se uma necessidade de adaptação desses

laranja) para uma área disponível, distante 50 metros das antigas

sistemas à realidade da área de inserção do Agroparque e como

habitações. A via Desembargador Cassiano Castelo foi prolongada

resultado foram desenvolvidos três sistemas sendo eles: SAF de

ao lado do pomar, buscando proporcionar um maior contato das

inclusão, SAF de transição e Agrorestinga.

pessoas com essa área de produção. Também foi criado um programa de gestão dos resíduos, que realiza a coleta do lixo orgânico

SAF de inclusão

das residências interessadas e deposita na área de compostagem,

Este sistema de produção é caracterizado pela inserção de espé-

transformando-o em composto orgânico, este utilizado nas áreas

cies com interesse alimentício na área de mata existente. Com ob-

produtoras de alimento do Agroparque e/ou comercializado.

jetivo de interferir o mínimo na dinâmica da mata de tabuleiro em

Pensando na visitação e utilização do espaço público criado,

preservação, foi escolhida apenas uma espécie: o palmito-juçara

foram popostos 10 pontos de apoio (representados por pontos em

(Euterpe edulis, ARECACEAE). A implantação foi feita de forma des-

azul escuro), caracterizados por espaços com cobertura que ser-

contínua e circundada por vegetação natural por toda a área da

vem para informação dos usuários e/ou para a realização ativida-

mata de tabuleiro no Morro do Sales, sem a retirada de qualquer

des práticas, como treinamentos sobre agricultura, oficinas, entre

espécie pré-existente. Esta palmeira é nativa da área, pode atingir

71

Vicente Gonçalves Gewehr


JUÇARA

CORTICEIRA SERRANA

JUÇARA

até 12m de altura, possui folhagem exuberante, palmito saboroso e frutos globosos de cor roxo escuro. A escolha da espécie de palmito juçara deu-se porque extração do palmito juçara, segundo o biólogo Mauro Galetti, é ilegal e é uma das maiores ameaças da Mata Atlântica. Os frutos do palmito correspondem a 80% da biomassa de frutos em todo bioma. Apesar da juçara ser parecida com o açaí da Amazônia, que quando cortado rebrota, o palmito juçara não rebrota e cada palmito comido significa que uma palmeira de 10 metros foi cortada para aproveitamento de menos de 30 centímetros. O palmito juçara leva pelo menos sete anos para produzir frutos e alimenta cerca de 60 espécies de aves e mamíferos na Mata Atlântica. Sem os frutos do palmito, muitos desses animais podem desaparecer da mata. Sem eles para fazerem a dispersão das sementes, outras plantas não conseguem mais ter regeneração natural. Optou-se então pelas diversas formas de utilização dos frutos do Juçara, estes que são similares ao açaí-do-pará (Euterpe oleracea, ARECACEAE), todavia mais rica em antocianinas e compostos

CORTE C10

antioxidantes (KINUPP; LORENZI, 2017) e o os usos culinários também muito diversificados. Através da extração da polpa dos frutos é possível fazer sucos, geléias, sorvetes, cremes, entre outros atingindo assim um equilíbrio entre a utilização dos frutos e a oferta de alimentos à fauna. O mestre francês Cézane diz que conhecer os apoios geológicos é essencial para que se possa pintar, fotografar, conhecer, respeitar e amar uma paisagem. Assim, foram criados os Mirantes Inharé e Umarí que estão no alto do Morro do Sales e possibilitam

72

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


a visualização do relevo da região noroeste de Vitória, é possível entender um desses espaços no corte C10. É importante salientar

LISTA DE ESPÉCIES

que a implantação dos mirantes deve acontecer gerando o menor

1 Adubos verdes Feijão de porco, mucuna preta, mucuna anã, mucuna cinza, feijão guandú, leucina, crotalária jucea, crotalária espectabilis, feijão guandu anão, amendoim forrageiro, pueraria, estilozantes mineirão, estilozante campo grande, trevo branco, tremoço branco, ervilhaca, soja perene, capologonio,

impacto possível na área da floresta de tabuleiro em preservação. SAF de transição O sistema agroflorestal de transição margeia a floresta à leste e à oeste, ambas implantações utilizaram a distribuição espacial das espécies em faixas, objetivando proporcionar um grande contato visual dos usuários com a produção alimentar no interior do SAF. A seleção de espécies aconteceu de acordo com um estudo que priorizou as culturas predominantes no estado do Espírito Santo, a partir do boletim da conjuntura agropecuária capixaba realizado pelo INCAPER em 2016, este que lista os principais produtos alimentares produzidos no estado. Também foram inseridas espécies essenciais à dinâmica da agrofloresta e algumas espécies menos populares. Em resumo os espaços de SAF de transição estão de acordo com a cultura alimentar local e ao mesmo tempo inserem espécies menos conhecidas proporcionando uma maior diversidade de alimentos, experiências e nutrientes. Abaixo foram listadas espécies que são utilizadas frequentemente em SAFs e estas foram dividas em grupos de acordo com suas características produtivas e participação na dinâmica agroflorestal. Por exemplo o grupo de adubos verdes são responsáveis por fixar nitrogênio no solo, adubando naturalmente o solo e ao mesmo tempo servindo como alimento. Outro exemplo relevante é o grupo das espécies arbóreas de adubação e massa verde, estas espécies de crescimento rápido servem como produtoras de biomassa que são utilizadas como serapilheira.

73

Vicente Gonçalves Gewehr

2 Culturas agrícolas Abacaxi, abóbora, algodão, araruta, arroz, banana, bucha, cacau, café, cana de açúcar, cará, cará-moela, côco, chuchu, cúrcuma, dendê, fumo, gergelim, girassol, inhame, mamão, mamona, mandioca, maracujá, melancia, melão, milho, moranga, pepino, piaçava, quiabo, soja, sisal, etc. 3 Plantas medicinais e aromáticas Alecrim, alfavaca, anis, arnica, arruda, assa-peixe, manjericão, mussambê, tansagem, mastruz, confrei, Boldo, Erva-macaé, Saião, Erva-de-bicho, Terramicina, Cinco folhas, Melão-de-São-Caetano, Carobinha, Sabugueiro, Alfazema, Calêndula, Cana-do-brejo, Hortelã, Hortelã-Pimenta, Erva-grossa, Capim-limão, Erva-cidreira, Guaco, Mirra, Ervagambá, Guiné, erva-de-passarinho, Orégano, Vick, Poejo, Babosa, Jurubeba, etc. 4 Hortícolas Agrião, alface, almeirão, batata, batata-baroa, batata-doce, beldroega, berinjela, bertalha, beterraba, brócolis, caruru, cebolinha, cenoura, chicória, coentro, couve, couvechinesa, couve-flor, espinafre, flores, gengibre, inhame, jiló, maxixe, mostarda, nabo, nirá, ora-pró-nóbis, pimenta, pimentão, rabanete, repolho, rúcula, salsa, serralha, taioba, tomate, trapoeraba, trevo, vagem, etc. 5 Arbóreas madeira, sementes e produtos Acácia, andiroba, angico, araticum, araucária, aroeira, bracatinga, camboatá, cambuci, canafístula, candiúva, canela, casca-de-mata, cássia, caxeta, cedro, cerejeira, copaíba, embaúba, eucalipto, figueira, grumixama, guabiroba, guapuruvu, imburana, ingá, ingá- cipó, ipê, jacarandá, jacatirão, jatobá, louro, mamica, mogno, munguba, orelha-demacaco, paineira, palmeiras (açai, jussara, palmeira-real, pupunha), pau-ferro, pauBrasil, pau-mulato, pau-jacaré, pau-cigarra, pau-d’alho, pinus, sombreiro, taiúva, teca, sabugueiro, uvaia, vassourão, etc. 6 Arbóreas frutíferas Abacate, acerola, amora, araçá, atemóia, cajá, caju, caqui, carambola, condessa, cupuaçu, figo, fruta-do-conde, fruta-pão, goiaba, graviola, jabuticaba, jaca, jambo, jamelão, jenipapo, laranja, limão, lixia, manga, mangaba, pitanga, pitomba, sapoti, siriguela, tamarindo, tangerina, romã, umbu, etc. 7 Arbóreas adubaçao verde e massa verde Albízia, gliricídia, eritrina, leucena, samanéia, ingá, urucum, etc.


SAF (Agrorestinga) A agrorestinga foi uma ideia pensada no desenvolver do projeto inserindo entre o Morro do Sales e o mangue uma diversidade vegetal muito presente no litoral do Espírito Santo e explorando sua capacidade de produção alimentar. A forma da implantação dessa massa vegetal aconteceu sem ordenamento lógico, o acesso e utilização da área aconteceria por meio de trilhas. O trabalho denominado Plantas úteis da restinga da região de Arraial do Cabo (2006) é baseado nos saberes dos pescadores, que dependeram por muitos anos desse ecossistema para alimentação e confecção de utensílios. Eles relatam no estudo que seus descendentes caminhavam de Arraial do cabo até Saquarema (aproximadamente 40 km) pela restinga para pescar, durante as longas caminhadas através da restinga, reconheciam muitos frutos comestíveis que saciam a fome e tinham um conhecimento em geral muito amplo das espécies alimentares da restinga. As plantas alimentícias da restinga, hoje pouco exploradas, representam muitas possibilidades alimentares alternativas e complementares às convencionais. Destaca-se o Bajirú a espécies mais lembrada pelos pescadores que chamam o fruto de maçã da praia, que é consumido maduro e cru e também é muito citado como espécie medicinal (KRUEL et al, 2006).

74

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS

FIGURA 29 Bajirú com frutos maduros. Imagem de Catarina de Sá. Fonte: KRUEL 2006.


LISTA DE ESPÉCIES

1 Angelim, FABACEAE Andira legalis 2 Aperta boca, MYRTACEAE Myrcia guianensis 3 Araçá da praia, MYRTACEAE Psidium cattleianum 4 Articum, ANNONACEAE Annona glabra 5 Bacupari, CLUSIACEAE Garcinia brasiliensis 6 Bajiru, CHRYSOBALANACEAE Chrysobalanus icaco 7 Aroeira, ANACARDIACEAE Schinus terebinthifolius 8 Guapebão, SAPOTACEAE Pouteria grandiflora 9 Bapuana, MYRTACEAE Eugenia copacabanensis 10 Caju, ANACARDIACEAE Anacardium occidentale 11 Cambui, MYRTACEAE Eugenia arenaria 12 Canela, LAURACEAE Ocotea notata 13 Maracujá, PASSIFLORACEAE Passiflora alata

75

Vicente Gonçalves Gewehr

14 Pitanga, MYRTACEAE Eugenia uniflora 15 Pitangubaia, MYRTACEAE Eugenia selloi 16 Saputiquiaba, SAPOTACEAE Sideroxylon obtusifolium 17 Arumbeba, CACTACEAS Opuntia monacanta 18 Gravatá, BROMELIACEAE Neoregelia cruenta 19 Guriri, ARACACEAE Allogoptera arenaria 20 Ingá mirim, FABACEA Inga subnuda 21 Murici, MALPIGHIACEAE Byrsorima sericea 22 Abacaxi-da-campina, BROMELICEAE Ananas ananassoides 23 Ananá, BROMELICEAE Ananas bracteatus 24 Bananinha-do-mato, BROMELICEAE Bromelia antiacantha


CORTE C2

ARAÇA DA PRAIA

Figura adaptada pelo

autor do desenho de Daci Seles.

ARUMBEBA

MANDACARU mangue

GURIRI

GRAVATÁ

PIMENTA ROSA

AGRORESTINGA

CICLOVIA CATAJÉ ANANÁ

VIA DE PEDESTRES

CACAU

MADEIRA DE LEI JUÇARA

SAF DE TRANSIÇÃO

Morro do Sales


No corte C2 se percebe dois Sistemas Agroflorestais de Pro-

espaços de plantio norteou a concepção de projeto dos canteiros,

dução, à direita está o SAF de transição enquanto à esquerda a

que originaram-se a partir do modelo buraco de fechadura. Este

Agrorestinga entre as duas áreas produtoras de alimentos passa a

modo de produção de alimentos foi apontado pelo núcleo de con-

via Catajé, dotada de ciclovia e caminho para pedestres. É impor-

servação da fauna do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (2016)

tante salientar que os SAF possuem produção variada ao decorrer

como um modelo de produção eficiente e adequado às dimensões

do tempo, o corte mostra esse sistema já desenvolvido e algumas

humanas, pelo fato de possibilitar uma manutenção do espaço de

espécies em produção estão representadas.

forma contínua, acessível ao alcance humano e proporcionar bons

Também pode ser notado que como essa opção de cultivo, além

resultados quanto a produção de alimentos.

da produção de alimentos: adiciona diversidade vegetal, não empo-

Na Figura 30 é possível perceber a forma original canteiro bu-

brece o solo, é um espaço favorável ao habitat de animais e pode

raco de fechadura e as adaptações criadas. O espaço destacado em

proporcionar resultados estéticos encantadores.

vermelho é onde as pessoas acessam o interior de cada canteiro e possuem larguras semelhantes representadas pelo x nos 4 canteiros.

Horta pro nobis

Todas as hortas concentraram o espaço de comercialização

O programa chamado de Horta pro Nobis teve nome inspirado na

e socialização no interior do seu espaço, objetivando proporcio-

PANC popularmente conhecida como Ora pro Nobis (Pereskia

nar o contato dos clientes e dos produtores com a produção de

aculeata) que significa do latim ‘ora por nós’ e desta forma o nome

alimentos.

FIGURA 30: Esquema de

concepção do formato dos canteiros das hortas.

do programa pode ser entendido como Horta para nós. Com o intuito de: proporcionar a possibilidade da produção do alimento pelos moradores do bairro, promover o maior acesso ao alimento,

Canteiro da horta buraco de fechadura

Canteiro desenvolvido para a horta das panelas

contribuir para a SAN e estimular relações sociais foram desenvolvidas três hortas comunitárias. Cada uma destas hortas foram idealizadas a partir de conceitos distintos de acordo com a especificidade do local de inserção e do público alvo, sendo o funcionamento independente do restante do parque e das outras hortas. Possuem espaços de plantio, armazenamento de materiais, comercialização dos produtos, recreação dos usuários, como também espaços que possibilitem a permanência como banheiros, armários e vestiários. Seguindo as experiências bem sucedidas do programa Lavoura de agricultura urbana em Curitiba, os canteiros serão parcelados e cedidos de maneira individual aos moradores. Esta divisão dos 77

Vicente Gonçalves Gewehr

Canteiro desenvolvido para a horta campo de futebol

Canteiro desenvolvido para a horta das casacas


Horta das Panelas Este espaço de produção alimentar foi inserida na parte mais

à permanência e interações sociais (entre a horta e a via), assim

tradicional e carente do bairro de Goiabeiras, teve a forma mais

como os canteiros redondos podem ser associados à forma das

próxima ao exemplo original da horta buraco de fechadura. O

panelas de Barro.

formato foi projetado para que, de qualquer lado que esteja você

No interior da horta há um espaço para a comercialização dos

consiga alcançar o outro lado sem a necessidade de pisar nas es-

alimentos produzidos no local, este espaço de venda seria respon-

pécies cultivadas.

sável por concentrar a comercialização diretamente com o consu-

Os canteiros em forma circular que proporcionam continui-

midor, fortalecer o comércio das paneleiras pela atração de pes-

dade do fluxo de trabalho e ainda Possuem inclinação que apro-

soas à área e consequentemente a cultura capixaba. A metodologia

veitam de maneira inteligente a água da chuva. A água que cai na

de vendas sugerida busca um atendimento ao conceito do parque,

parte de cima da espiral vai descendo, isto é sendo absorvida pelos

podendo o consumidor colher e pagar tendo assim contato com o

solos abaixo, e assim levando mais nutrientes. Por isso as ervas que

alimento e a agricultura.

demandam de mais nutrientes são plantadas em baixo e as que necessitam de menos, em cima.

Nesta representação percebemos a Horta das Panelas e sua relação com o espaço das paneleiras. Observa-se, da esquerda

A horta das panelas fica em frente ao galpão das paneleiras

para a direita, os canteiros de produção de alimentos, uma área

(como observado no corte C1), cooperativa que concentra e or-

de passeio e permanência com bancos sombreados por árvores

ganiza a produção de panelas de barro. Com objetivo de dialo-

(propostos) e após a via das paneleiras o Galpão de produção e

gar com esse espaço de comercialização foi destinado um espaço

comercialização das panelas de barro. O espaço proposto dialoga e soma ao existente.

78

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


CORTE C1

HORTA DAS PANELAS

CERCAMENTO EM TELA

CALÇADAS COM POSSIBILIDADE DE PERMANÊNCIA

RUA DAS PANELEIRAS

PASSEIO

GALPÃO DAS PANELEIRAS


Horta das casacas O nome foi escolhido de forma a fazer uma referência ao Congo, símbolo cultural do Espírito Santo e se caracteriza por uma manifestação artística que possui uma representação muito forte no bairro de Goiabeiras, representada pela tradicional banda de Congo panela de barro. Essa horta foi projetada visando atender um público que dispunha de menos tempo e dedicação à horticultura, caracterizado geralmente por jovens e adultos com uma ocupação principal. Os canteiros foram projetados em módulos ortogonais em forma de E, que dispostos lado a lado facilitam a introdução de uma irrigação mecanizada. Ainda pensando nos hortelões, os canteiros são elevados 80 centímetros do solo facilitando o manuseio, perceptível no corte C5. Os canteiros mais próximos ao Parque Linear são voltados ao exterior possibilitando assim uma maior visualização tanto de quem está no parque quanto aos usuários que estão passando para estacionar e no centro foi criada a área de convívio, com ferramentas, banheiro, depósito entre outros. No corte C5 percebemos no primeiro plano a horta das casacas, com a produção de alimentos acontecendo nos canteiros elevados e pessoas utilizando o espaço. Ao lado, pode se perceber a área de estacionamento com espaço para o estacionamento de ônibus e automóveis. Também é possível perceber que a área de circulação de automóveis foi dimensionada com proporções adequadas de maneira a proporcionar um estacionamento fluido e descomplicado. Assim como a ambientação, marcadas por muitas árvores, constitui um espaço sombreado e agradável.

80

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


CORTE C5

CALÇADA

HORTA DAS CASACAS

ESTACIONAMENTO DE ÔNIBUS

ESTACIONAMENTO DE AUTOMÓVEIS

VIX TRANSPORTADORA


Horta campo de futebol

Floresta de bolso

Esta horta está situada próxima ao campo de futebol, um espaço

A área de floresta de bolso visa conter o acesso das pessoas à su-

público já consolidado. A área escolhida para a implantação da

bestação de energia, então o espaço se caracteriza por espécies

horta, situa-se em um fragmento não levado em consideração

vegetais plantadas de maneira espontânea, pouco espaçadas, inse-

no projeto do entorno do campo. Atualmente, caracterizado por

ridas por mudas e semeadura direta. A área está conectada com a

um espaço inutilizado com chão em solo batido e resíduos de

mata em preservação no morro do Sales e funciona produzindo

construções.

alimentos da mesma forma que restaura a biodiversidade original

Os limites norte e sul da horta são muito distintos, ao sul existe

da mata de tabuleiro (com foco nas espécies alimentícias).

a via Catajé, ciclovia de formato mais linear que visa o atendimento funcional das pessoas realizando deslocamentos mais rápidos. Já

Pomar

na face norte da horta foram criadas reentrâncias no trajeto com

A área do pomar é compreendida pelo plantio de espécies frutí-

opções de permanência e espaços sombreados.

feras convencionais espaçadas de forma a proporcionar o acesso

Segundo Mascaró (2008) a sinuosidade do caminhar estimula

das pessoas às árvores. Neste espaço será possível encontrar fru-

as pessoas a um caminhar mais lento e contemplativo, objetivando

tas distintas durante todo o ano. O espaço também visa promover

uma maior interação das pessoas com a horta. Assim foram defi-

interações sociais e uma permanência das pessoas, por isso foram

nidas as reentrâncias, pensadas estrategicamente de forma a pro-

implantados mobiliários e iluminação urbana. É possível entender

porcionar um visual que valorizasse o plantio no interior da horta.

o funcionamento do pomar no corte C6.

Os canteiros dessa horta também são elevados como na horta das casacas e visam atender o público em diversidade, sendo o espaço dotado de áreas de suporte ao usuário como banheiro,

3.5.2 Parque linear

vestiário e área de comercialização.

Já foram expostas as parcelas mais voltadas à produção alimentar. Neste momento do trabalho será retratado de maneira mais aprofundada o parque linear (mais voltado à recreação). A apresentação vai iniciar com o traçado desenvolvido para o parque e a escolha da vegetação para a área, essas decisões projetuais foram fundamentais para o desenvolvimento da proposta. Em seguida serão abordadas as atrações recreativas presentes na extensão do parque linear.

82

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


CORTE C6

EDIFICAÇÃO

PASSEIO

VIA

PASSEIO

POMAR


Traçado

jardins PANC, como manga espada no verão, laranja natal no inverno e pitanga na primavera.

A concepção do traçado do Agroparque foi a etapa mais desafia-

Vai cruzar o mangue e poder observar as incríveis raízes cheias de ritmo e beleza, também

dora do desenvolvimento do projeto, pelas dimensões do espaço,

acompanhar a mudança deste ecossistema com as mudanças de maré e ver vários crustáceos

por tentar integrar o parque ao máximo com o entorno e propor-

saindo dos seus abrigos. Em seguida, essa pessoa vai estar entre dois sistemas de produção de

cionar alternativas de deslocamento mais eficientes para pedestres

alimentos completamente distintos. A Agrofloresta e no seu lado oposto encontrará grande

e ciclistas.

parte da flora da restinga, esta de menor altura e com espécies como cactos e bromélias.

Na Macroproposta é visualmente contrastante, as linhas retas

Seguindo o caminho passará pela horta das panelas, vendo as pessoas cultivando alimentos

(presentes na área do parque linear)e a sinuosidade da via Catajé,

e finalizaria sua experiência com a observação do galpão das paneleiras e o deck atualmente

esta que se adequa a topografia da área oeste e se apresenta na

em construção (junho de 2018).

área mais plana da região. Essa via estabelece a conexão leste e sul,

O traçado acontece na porção do parque linear, de maneira distinta. É perceptível um de-

sua curvatura tênue cria uma margem no limite entre o mangue e

senho desenvolvido a partir de uma lógica geométrica, que forma um traçado constituído por

a agrorestinga estas à oeste e noroeste. Assim como proporciona

retas, com larguras regulares que se interceptam de forma desprovida de ordem resultando

uma diversidade incrível de sensações. Uma pessoa oriunda do

em uma trama irregular que gera vazios de ordens triangulares e trapezoidais.

bairro Antônio Honório à leste passando pela via Catajé vai ter

A Alameda das Cores, apresentada no corte C9, e o circuito contemplativo possuem

contato com a área da horta do campo de futebol, quando en-

funções muito importantes na dinâmica do parque e na relação dos usuários com as ofertas

trar no parque linear terá contato com muitas frutificações dos

SAPUCAIA

Lecythis pisonis. Florescimento: dez-maio. Cor rosa.

84

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS

FLAMBOYANZINHO

Caesalpina pulcherrima. Florescimento: set-fev. Cor: vermelho.

PAINEIRA ROSA

Ceiba speciosa. Florescimento: jul-nov. Cor: rosa.


recreativas. A Alameda possui largura constante de 4 metros, tem início na extremidade sudeste do parque e acaba na extremidade

No corte C9 podemos notar as espécies escolhidas para as laterais da Alameda das Cores, suas cores e o período do ano em que elas florescem.

oposta. Foi o traço inicial na concepção da proposta e foi respon-

Objetivando o lazer e desfrute do parque, foi criado o circuito contemplativo que se difere

sável por potencializar e fortalecer o interior do parque. A ala-

dos demais por proporcionar uma opção mais voltada à recreação e desbravamento da área do

meda das cores é um espaço singular no parque, funciona como

parque. O traçado foi concebido como uma sequência de linhas que se articulam dançando por

um elemento ordenador, tanto pela sua continuidade como pela

toda a extensão do parque linear, passando por todas as ofertas recreativas do parque e possi-

implantação da vegetação, esta disposta de maneira alinhada. Seu

bilitando uma diversidade de experiências sensoriais. Segundo Mascaró (2010), cada mudança

exuberante florescimento distribui cores e aromas pelo caminho

de sentido no trajeto muda o ponto focal do observador, e assim foi concebido este traço, cada

durante vários momentos do ano. As espécies de tamanho dife-

interrupção na linearidade do trajeto foi posicionada de forma a estimular a observação do

rentes proporcionam sensações surpreendentes, como a sensação

entorno e assim o contato com cores, aromas, texturas entre outros.

de andar por debaixo das copas das sapucaias, experimentar uma

O circuito contemplativo é caracterizado por uma fragmentação em seis circuitos que

sensação mais aberta passando entre os flamboyanzinhos e passar

levam o nome de espécies marcantes em cada trecho de deslocamento, placas e opções de

entre as paineiras rosas quando caducas e se encantar com o ritmo

permanência no encontro de cada circuito foram pensadas, objetivando marcar o fim e um

dos galhos.

novo início enquanto educa e informa. Os demais caminhos constituintes do traçado são conexões, estas são responsáveis pela comunicação entre os acessos, espaços recreativos e edificações. Possuem uma frequência de uso menos significante, todavia desenvolvem ligações muito importantes como a via criada com o alinhamento com a via desembargador Cassiano de Melo que torna o prédio principal como ponto focal, estimulando sua observação.

IPÊ AMARELO

Handronthus chrysotrichus. Florescimento: set-out. Cor: amarelo.

85

Vicente Gonçalves Gewehr

CORTE C9

JASMIN MANGA

Plumeira rubra. Florescimento jul-nov. Cores: rosa amarelo, branco e laranja.


Vegetação A escolha da vegetação para a área do parque linear teve como

GRUPO I:

objetivo funcionar como atrativo aos usuários e realizar coerência

ornamental, as espécies selecionadas atingem diferentes tamanhos

As cactáceas possuem aparência encantadora e rico valor

com o conceito Agroparque, a partir da implantação de apenas

e possuem diferentes formas, compondo canteiros muito dinâmi-

espécies alimentares. Os visitantes seriam impulsionados a des-

cos e atrativos com destaque para a verticalidade do Mandacaru e

bravar a área do parque para observar a diversidade dos canteiros

o belíssimo florescimento da Dama da Noite.

pensados, tal como os florescimentos e as frutificações. A sazonalidade das frutificações foi o que norteou a divisão das

GRUPO J:

As espécies rasteiras foram inseridas de maneira a pos-

espécies em grupos. Assim, os grupos A, B, C, D, E, F e G compõem

sibilitar a contemplação do Morro do Sales e do Mestre Álvaro.

mais de 70% dos canteiros PANC e neles foram inseridas árvores

»»

J1 - ABÓBORA: O

canteiro com diversas espécies de

dispostas alinhadas, de maneira a proporcionar a visualização das es-

abóboras Possui produção durante todo o ano, com os

pécies que estão no interior dos canteiros pelos usuários do parque.

frutos chamativos pelos tamanhos, formas e colorações diversificadas.

GRUPO A, B E C: composto

por espécies de médio e grande porte com

»»

J2 - CAPUCHINHAS: O

canteiro das capuchinhas destaca-se pela

bela folhagem, resistência da espécie às variações de clima e

florescimento e frutificação em períodos do ano distintos.

principalmente pela encantadora e deliciosa floração amarela GRUPO D, E, F E G:

e vermelha.

composto por espécies de médio e grande porte

com florescimento e frutificação em períodos do ano distintos.

»»

J3 – RADITE PELUDO:

O canteiro de radite peludo destaca-se pela

aparência de campo com o amarelo da floração combinado com as palmeiras (escolher) alinhadas ao lado do caminho

Os grupos H, I, J, K, L, M e N são canteiros também alimentares, todavia uma finalidade estética e/ou funcional específica. Por

marcando o caminho e com alinhamento seguindo o das

exemplo, o Grupo I composto por cactáceas. Em seguida serão

árvores localizadas na academia popular.

apresentados estes grupos de espécies. GRUPO K: Caracterizado GRUPO H:

Grupo de espécies vegetais nativas de regiões tropicais

por espécies que foram implantadas de ma-

neira individual por alguma peculiaridade ou em grupos da mes-

que encantam pela sua exuberância, a combinação destas espécies

ma espécie para ressaltar alguma característica Marcante.

resulta em uma diversidade de folhagens texturas e frutificações.

»»

K1 - SAMAÚMA:

dois canteiros, cada um com uma árvore

Três Canteiros com espécies desse grupo foram distribuídos pelo

no seu interior, localizados próximos ao parquinho dos

Agroparque, um próximo ao parquinho dos vegetais, outro próxi-

vegetais objetivam oferecer uma opção lúdica as crianças

mo ao Nastúrcio restaurante-escola e o último próximo ao prédio

pelo formato singular do tronco e pela altura e beleza das

principal. 86

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


»»

»»

raízes aparentes. A espécie escolhida também visa criar

rísticas, com textura plástica e leveza, incrementando o parque

um marco visual marcado pela altura que varia de 30-

com canteiros muito atrativos. Estão localizados ao lado do Espa-

40m, sendo um marco visível de vários pontos do Bairro

ço Recreativo Boêmio Sete Copas, ao norte do restaurante escola

(KINUPP, LORENZI 2014).

e à nordeste da biblioteca.

K2 - CÁSSIA E IPÊ AMARELO:

Espécies que se destacam pelo

GRUPO N:

espécie escolhida objetivando possibilitar uma permanên-

vibrante amarelo no florescimento tiveram a implantação de

cia confortável aos usuários da academia Mutamba e interferir o

um canteiro localizado próximo ao parquinho dos vegetais

mínimo possível na visualização do Mirante Inharé, pelos usuá-

objetivando além da ornamentação um atrativo às crianças

rios na extensão da academia. Justificando a escolha da espécie

que podem brincar com as flores caídas ao solo.

baru com fuste de aproximadamente 6m de altura e copa globosa.

K3 - BAMBU MOSSÔ: os

canteiros de bambu conectam o

Segundo Abbud (2010), o emprego de agrupamento de árvores

restaurante ao parquinho, a ideia foi criar um caminho Com

me maneira heterogênea atrai uma fauna diversificada de pássa-

uma visualização restrita à estética ornamental do bambu

ros, pequenos animais e borboletas assim como enriquece a com-

e dos pontos focais no fim do Caminho. Indo em direção

posição plástica paisagística pela variedade de espécies.

ao restaurante é possível a visualização do Mestre Álvaro e

»»

indo em direção ao parquinho é possível a visualização da

Atrações recreativas

escultura dos vegetais.

O restaurante-escola, Nastúrcio Culinária PANC, é o espaço res-

K4 – CORTICEIRA SERRANA: Espécie

que apresenta um

ponsável por colocar em prática as ideias agroalimentares mais

florescimento em vermelho encantados, estas espécies foram

sustentáveis e a alimentação de verdade trabalhadas no segundo

implantadas nos mirantes Inharé e Umarí proporcionando

capítulo. O espaço apresentaria soluções alimentares baseadas em

uma sensação incrível.

alimentos locais, das Agroflorestas, do Projeto Horta pra Nobis e do imenso universo PANC, resultando em receitas saborosas, nu-

GRUPO L: As

espécies plantadas ao redor do Biergarten foram esco-

tritivas e com possibilidades de preço acessíveis. Além de difundir

lhidas de forma a proporcionar uma permanência agradável aos

a experimentação, o restaurante funcionaria como escola, capaci-

usuários, por isso foram selecionadas árvores com fuste variando

tando a população interessada, que teria a oportunidade de parti-

de 5 a 10 m, evitando uma sensação de sufocamento provocada

cipar do processo da produção. Seria então um elemento difusor e

pelas copas muito próximas das pessoas. Outro requisito foi a se-

promoveria o fortalecimento dessa alternativa alimentar.

leção de árvores com as copas cheias, objetivando assim sombras agradáveis aos usuários.

A área de comercialização chamada de Mapati Mercado Conceito foi desenvolvida de forma a distribuir a produção gerada na área do Agroparque e também comercializar alimentos sus-

GRUPO M:

estas espécies selecionadas possui um caráter estético

característico muito encantador, pelas folhas alongadas caracte87

Vicente Gonçalves Gewehr

tentáveis. O mercado teria também uma produção de alimentos congelados, padaria etc., oferecendo produtos por preços justos.


O Espaço Recreativo Boêmio Sete Copas foi inspirado nas am-

A academia popular Mutamba, localizada a extremo norte do

biências dos Biergartens tão presentes na cultura do estado da

parque, foi pensada de maneira a atender principalmente o públi-

Bavária no sul da Alemanha. São espaços sombreados geralmente

co de jovens e adultos, visto que já existem duas academias para

por Kastanien (espécie geralmente utilizada – Aesculus carnea) ao

idosos nos arredores do Agroparque. É uma atividade rotineira,

ar livre com mesas compridas, onde as pessoas se sentam para

contribuindo assim com a frequência da população no espaço

conversar, beber e comer. A atmosfera desses espaços é o grande

e, em geral, promotora do bem-estar da população. As pistas de

diferencial, as pessoas que vão até o espaço geralmente estão dis-

skate e patins Pajurá estão ao lado da academia e buscam atender

postas a interagir com as outras pessoas, sendo muito frequente

principalmente jovens e adultos de ambos os sexos, proporcio-

sentar-se com desconhecidos e iniciar conversas, como é possível

nando uma opção lúdica para os interessados nestes frequentes

perceber na Figura 31.

esportes urbanos.

Nesses espaços os usuários são livres para trazer sua própria comida, porém a bebida deve ser adquirida no local, e as pessoas se direcionam até onde são servidas as bebidas. Eles existem há mais de 200 anos e o maior deles é o Hirschgarten em Munique, Alemanha, com capacidade para 8.000 pessoas sentadas. Também é muito comum a existência de apresentações musicais. O espaço pensado foi representado de maneira esquemática na Figura 32 e busca recriar essa ambiência sob árvores nacionais de estrutura semelhante, oferecendo como principal bebida a cerveja produzida e armazenada no local, uma vez que a produção desta poderá ser observada pelos usuários do parque. O espaço contribuirá para o aumento da diversidade dos usuários no Agroparque e proporcionará entretenimento às famílias, possibilitando uma permanência mais prolongada.

FIGURA 31 Biergarten in Munique.

Fonte: https://br.pinterest.com/ pin/566468459353150228/. Acesso em 10/06/2018

88

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


PERSPECTIVA 01 FIGURA 32 Croqui que representa os anseios para a รกrea de mesas do Espaรงo Recreativo Sete Copas.

89

Vicente Gonรงalves Gewehr


No corte C3 percebemos da direita para a esquerda a Ciclovia

o desenvolvimento muscular e ganho de força) e uma área de levantamento de peso. O corte

Cacauí, a pista de skate e patins Pajurá, seguido da academia popu-

termina com uma via de circulação de pedestres (acesso ao parque), seguida pelo cercamento

lar Mutamba, esta fragmentada em exercícios calistênicos (exercí-

em gradil, a rua Ouro Preto e as edificações presentes.

cios de força física que utilizam o peso do corpo dos atletas para

RUA OURO PRETO EDIFICAÇÃO

CIRCULAÇÃO

LEVANTAMENTO DE PESO

ÁREA DE EXERCÍCIOS CALISTÊNICOS

ACADEMIA POPULAR MUTAMBA


CORTE C3

CICLOVIA CACAUÍ

PISTA DE SKATE E PATINS PAJURÁ


AMPLIAÇÕES Objetivando mostrar mais detalhadamente as a proposta do Agro-

As árvores de dentro do parque realizam o sombreamento na

parque para Goiabeiras foram elaboradas três ampliações que

área principalmente no período após o meio dia, momento que

mostram espaços de grande relevância no parque. A Ampliação

apresenta desconforto maior devido ao calor oriundo dos raios

01 mostra acesso de pedestres mais importante do parque, em se-

solares. O corte C8 complementa o entendimento da área mos-

guida será apresentada a Ampliação 02: que retrata o parquinho

trando a relação de alturas, como a faixa elevada mantém o nível

dos vegetais e arredores e por fim a Ampliação 03 esclarecendo

da calçada e o cercamento do parque em gradil que possibilita uma

sobre o prédio principal e entorno.

permeabilidade visual entre interior e exterior.

AMPLIAÇÃO 01 A escolha de realizar a ampliação do principal acesso de pedestres ao parque, mais especificamente à Alameda das Cores, busca mostrar com mais detalhes como aconteceria essa área. Uma vez que este acesso é o mais próximo da Avenida Fernando Ferrari, via que contempla grande fluxo de transporte público. A intenção projetual no local foi criar um espaço de transição entre a via Dr. Cassiano Castelo e o Agroparque, este espaço é um ambiente agradável aos usuários, mostra que no local acontece uma entrada e prioriza os pedestres em detrimento dos automóveis. Desta forma foi desenvolvido um espaço à frente da entrada que funciona como uma pequena praça: no local foram dispostos bancos que possibilitam a permanência dos usuários, um bicicletário, iluminação pública e lixeiras. O acesso se destaca devido à um portal com o nome do parque, pela presença da faixa elevada criada e pelas dimensões das sapucaias, que sazonalmente se tornam rosa com muita exuberância (perceptível no corte C8).

92

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


PLANTA BAIXA AMPLIAÇÃO 01


CORTE C8

VIA DES. CASSIANO CASTELO (COMPARTILHADA)

CIRCUITO SAPUCAIA

94

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS

SAPUCAIA

ALAMEDA DAS CORES


AMPLIAÇÃO 02 A Ampliação 02 retrata o parquinho dos vegetais e entorno. Está localizado entre a alameda das cores e a via Desembargador Cassiano Castelo e entre o Circuito Samaúma. No centro da imagem está a área de recreação infantil, esta foi idealizada de maneira a promover simultaneamente opções de lazer e um contato com a temática da alimentação pelas crianças. Inspirado no parque Gulliver em Valença, representado nas Figuras 33 e 34, a área recreativa desenvolvida seria formada por esculturas de vegetais de dimensões muito grandes, combinados e manipulados de forma a possibilitarem escaladas, subidas, descidas, entre outros, atingindo aproximadamente 4 metros de altura e com 15 metros de comprimento. O parquinho infantil está à um nível mais baixo do passeio, cria então um espaço mais reservado para as crianças incentivando assim a independência e autonomia delas. Os espaços de permanência ao redor do parquinho destina-se aos responsáveis e demais usuários do parque. Esses espaços possibilitam um estar muito diversificado com bancos lineares, bancos em U, bancos semi sombreados por pergolados, área gramada e também a possibilidade de se sentar nas mesas do Espaço Recreativo Sete Copas. Entre o parquinho dos vegetais e o restaurante Nastúrcio foi projetado uma via diferente das demais do parque: caracteriza-se por um espaço com pouca visualização do céu e pouca amplitude visual lateral, devido à implantação do bambu-mossô nas bordas, este responsável por criar um ponto focal no fim do trecho e encantar com a beleza característica da espécie. Esse caminho foi inspirado no Templo Tenryu-ji em Arashiyama, Kyoto, Japão representado pela Figura 35 que ilustra como o espaço aconteceria.

95

Vicente Gonçalves Gewehr

FIGURAS 33 (acima) Parque Guliver em Valença. Fonte: https://br.pinterest.com/ pin/380554237246578718/. Acesso em 10/06/2018.

FIGURA 34 (abaixo) Parque Guliver em Valença. Fonte: reddit.com/r/architecture/comments/7qoss4/the_parque_ gulliver_of_valenciaphoto_from_2013misc/. Acesso em 10/06/2018.


Além do bambu mossô se inseriu uma vegetação muito diversificada no local: as duas Samaúmas se destacam pelas proporções e pelas raízes parcialmente aparentes, estas encantam pela exuberância e realizam o divertimento de crianças e adultos, como é possível perceber na Figura 36.

FIGURA 35 (acima) Templo Tenryu-ji, Arashiyama,

Kyoto, Japão. Fonte: www.insidekyoto.com/ arashiyama. Acesso em 12/06/2018. FIGURA 36 (abaixo) raízes da Samaúma. Fonte: caliandradocerrado.com.br/2009/05/rainha-dafloresta.html. Acesso em 12/06/2018.

96

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


PLANTA BAIXA AMPLIAÇÃO 02

97

Vicente Gonçalves Gewehr


Ao norte do parquinho dos vegetais estão os canteiros E, F e G dotados de árvores de pequeno porte. Esses três espaços totalizam 42 espécies alimentícias diferentes, entre elas graviola, pitanga, romã e laranja. Entre esses canteiros existe um espaço com árvores marcadas pelo florescimento amarelo das Cássias e dos Ipês, estes que pelas dimensões proporcionam uma sombra agradável nos bancos em U (perceptível no corte C7). A oeste do parquinho dos vegetais está o canteiros de abóbora (vegetação forrageira), seguido dos flamboyanzinhos (arbustos) enfileirados entre a Alameda das Cores, que possibilitam, devido às pequenas dimensões, a visualização do Morro do Sales e também inserem cores ao espaço: com o laranja das Abóboras e o vermelho do florescimento dos arbustos. As três palmeiras Babaçu inseridas de modo igualmente espaçado, inserem um ritmo na composição

ALAMEDA DAS CORES

FLANBOYANZINHO

Caesalpina pulcherrima.

ABÓBORA

ÁREA DE CIRCULAÇÂO DE PESSOAS

BABAÇU

Attalea speciosa.


morfológica do espaço ao mesmo tempo que diversificam as texturas e volumetrias existentes. Ao sul temos o grupo B caracterizado por um canteiro com gramado aberto dotado de árvores de grande porte ao redor, dentre as espécies se destacam manga, abacate, jaca e ingá. O espaço aberto mencionado anteriormente se mostra como ideal para interações como jogos e competições.

CORTE C7

PARQUINHO DOS VEGETAIS

RUA DR. CASSIANO CASTELO

SAMAÚMA

Ceiba pentandra.


PERSPECTIVA 02

ANTES

100

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


PERSPECTIVA 02

DEPOIS

101

Vicente Gonรงalves Gewehr


AMPLIAÇÃO 03 O Prédio Principal está no centro da extensão do parque, localiza-

O prédio principal possui dois pavimentos, sendo no térreo a

do entre a via Cacauí e a Alameda das Cores e dentro do circuito

recepção, os dois auditórios, o Café Uricuri e um vestíbulo. O aces-

Copaíba. À frente das faces oeste, norte e sul encontram-se zonas

so ao segundo pavimento acontece por uma escada ou elevador,

mais destinadas à produção de alimentos como o SAF de transição

garantindo assim o acesso dos portadores de necessidades espe-

e a Floresta de bolso. Enquanto a leste do prédio existe um espaço

ciais em toda área pavimentada do parque. Nesse pavimento está

mais voltado à interação humana e a permanência dos usuários.

a Sala Integrada de Planejamento Cambucí e a Biblioteca Camélia.

A edificação é o centro de suporte teórico sobre as questões

O espaço, que funciona como uma praça, a frente do prédio

agroalimentares, responsável pela propagação dos saberes agroa-

principal é uma extensão pensada de maneira a proporcionar di-

limentares e agroecológicos. Ali estão a Biblioteca Camélia, com

versificadas ações como atividades temáticas e permanência de

acervo sobre alimentação, agricultura entre outros, e os Auditó-

usuários. No espaço estão o Café Uricuri com mesas e comercia-

rios Jenipapo e Nogueira, responsáveis por abrigar apresentações,

lização de alimentos, bancos sombreados, gramados e banheiros.

seminários, palestras entre outros. Tantas áreas de agricultura ne-

A vegetação escolhida para a área é marcada pelo amarelo

cessitam de planejamento, sendo assim criada a Sala Integrada de

oriundo dos Ipês (na alameda das cores) e das forrações de nome

Planejamento Cambucí, setorizada de acordo com as aplicações

Tupinambor e Rosmarina. Canteiros diversificados fornecem fru-

de agricultura, realizando, além do planejamento, o controle da

tos como Jabuticaba, manga e caju ao mesmo tempo que propor-

produção, treinando e atendendo a população em geral.

cionam espaços para piqueniques e recreações diversas.

102

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


PLANTA BAIXA AMPLIAÇÃO 03

103

Vicente Gonçalves Gewehr


SALA DE REUNIÃO

SALA DE TREINAMENTO SALA DE ATENDIMENTO À POPULAÇÃO

AUDITÓRIO JENIPAPO

VARANDA

VESTÍBULO


IPÊ AMARELO

BIBLIOTECA BACUPARI

PAINEIRA ROSA

ACERVO

CAFÉ URICURI

RECEPÇÃO E ADMINISTRAÇÃO

CORTE C4


PERSPECTIVA 03

ANTES

106

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


PERSPECTIVA 03

DEPOIS

107

Vicente Gonรงalves Gewehr


GERENCIAMENTO DO PARQUE

3.6

dos espaços, cercando as áreas, criando os canteiros, fornecendo ferramentas, insumos e treinamento. Então seriam selecionados os cultivadores (com priorização das pessoas de baixa renda) e os espaços para cultivo individuais distribuídos. Cada produtor de alimentos receberia um espaço de

Esta seção é destinada a explicar o gerenciamento do Agropar-

cerca de 100m² e cada horta contaria com um coordenador. Pessoa

que e as atividades nele realizadas, as ideias foram inspiradas em

que organizaria o espaço e os cultivadores, assim como fiscaliza-

experiências urbanas bem sucedidas e visam o sucesso do espaço

ria as atividades evitando canteiros ociosos, organizaria reparos

planejado.

entre outras atividades. Seria cobrado um valor mensal simbólico

O Agroparque é um espaço público projetado de forma a promover uma integração com o entorno, por isso realiza um conti-

e acessível de acordo com as demandas de cada espaço, que varia de R$ 0,25 à R$10,00.

nuísmo de muitas vias no entorno imediato, assim conta com 16

Em cada horta seria incentivado a comercialização de maneira

portões de acesso. Estes fundamentais para garantir a interação

direta com o produtor, sendo possível a este colher os alimentos

com os espaços públicos já existentes, promover uma mobilidade

que deseja, possibilitando uma relação com o alimento diferente

urbana mais eficiente e incentivar o uso do espaço livre público

da forma predominante na esfera urbana. Cabendo a cada hortelão

pela população. Assim, o fechamento não diminui a utilização, pro-

a decisão de como comercializar ou não sua produção. As hortas

move a proteção da área do parque e possibilita uma permeabili-

seriam espaços que ficariam abertos durante o dia e a visitação não

dade visual. As entradas estão marcadas com uma seta que indica

seria desestimulada sob nenhuma hipótese. Cada horta teria um

o modo de fechamento na prancha da Macroproposta e é possível

banheiro seco, espaço para armazenagem das ferramentas e um

o entendimento de como seriam as entradas no corte C8.

espaço coberto para eventos sociais, fortalecendo os laços entre

Buscando atender os usuários em diversidade indo realizar

os participantes e convidados.

atividades laborais ou físicas, foi estipulado um amplo horário de

Nas áreas compreendidas pelos Sistemas Agroflorestais o ge-

abertura dos portões de 5:00 às 23:00 horas e o funcionamento

renciamento acontece de acordo com o zoneamento pensado. O

dos espaços administrativos, auditórios entre outros seria o horá-

SAF de inserção seria de responsabilidade do Estado, este encarre-

rio comercial padrão.

gado do plantio das mudas de Juçara e pela preservação da Mata

Quanto às áreas de AU, foram pensadas maneiras de produção adequadas a cada espaço. Para o programa Horta Pro Nobis se

de Tabuleiro. Os frutos do Juçara nesta área, seriam principalmente destinados à alimentação da fauna.

desenvolveu uma dinâmica inspirada na experiência bem sucedida

As extensões de SAF de transição e Agrorestinga seriam arren-

do programa Lavoura em Curitiba. O primeiro momento seria de

dadas a interessados, estes deveriam seguir os princípios agroali-

responsabilidade do Estado, responsável pela preparação inicial

mentares que servem de conceito para o parque.

108

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


A parcela destinada à Floresta de Bolso e o pomar seriam de

famílias envolvidas. Assim como promoveu a autoestima da comu-

responsabilidade do Estado, são espaços que não demandam ma-

nidade com os espaços mais limpos e resgatou jovens envolvidos

nutenção frequente e a implantação é simples. A criação Flores-

em atividades ilícitas com a oferta de empregos (CEPAGRO, 2014).

ta de Bolso acontece com o plantio de algumas mudas e muitas

Da mesma maneira foi idealizado o esquema de compostagem

espécies por semeadura direta e o Pomar com plantio de mudas

para Goiabeiras e arredores. Com a produção de composto acon-

de árvores frutíferas espaçadas. A colheita da produção desses

tecendo à norte da Horta das Panelas e o produto servindo como

espaços seria destinada à usuários do parque e à comunidade, não

adubo nas áreas do Agroparque e/ou comercializado, promovendo

objetivando a comercialização.

a conscientização ambiental na comunidade e escolas ao mesmo

O Estado seria responsável pela realização de um investimento

tempo que transforma a relação da comunidade com os resíduos.

inicial, preparando a área, fornecendo ferramentas adequadas e

Os espaços de caráter comercial do Agroparque como o merca-

auxílio teórico aos produtores, assim como seria responsável pela

do, o restaurante e o espaço recreativo boêmio seriam arrendados

fiscalização das atividades. Ampliando as possibilidades de sucesso

à interessados e os espaços de aspecto educacional como auditó-

das áreas de Agricultura Urbana.

rios, biblioteca e salas de planejamento seriam de responsabilidade

Foi pensada uma maneira de produção de composto orgânico

pública.

para o Agroparque. Com inspiração na experiência bem sucedida

Conclui-se o capítulo de gerenciamento do parque com o en-

do programa chamado de Revolução dos Baldinhos, este respon-

tendimento de que os espaços projetados são destinados à socie-

sável pela realização da gestão dos resíduos orgânicos com en-

dade, esta que está se transformando constantemente. Por isso

volvimento comunitário para a realização da agricultura urbana

se entende que muitas atividades propostas podem obter sucesso

na periferia de Florianópolis em Santa Catarina. Na comunidade,

assim como fracasso, mesmo que tenham surgido a partir de mui-

a população sofria com surtos de leptospirose devido a grande

tos estudos, análises e comparações.

quantidade de lixo presente nas ruas dos bairros (responsáveis por alimentar os ratos), então foi criado o programa de coleta e compostagem que retirou das ruas os resíduos orgânicos que alimentavam os ratos. Cada morador participante recebeu um balde onde depositam o lixo orgânico, e então depositam esse resíduo nos Pontos de Entrega Voluntário (PEV) de onde são recolhidos e destinados à compostagem no pátio de uma escola no bairro (CEPAGRO, 2014). O composto produzido é distribuído entre a comunidade e também comercializado. Os resultados da Revolução dos Baldinhos foram: melhoria da saúde pública, o estímulo ao cultivo de alimentos, a contribuição com a SAN e diminuição de custos das 109

Vicente Gonçalves Gewehr


110

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


CONSIDERAÇÕES FINAIS

AGROPARQUES EM DADOS

A proposta do Agroparque para Goiabeiras foi realizada numa

área de 330.000m², espaço que representa 0,35% da extensão de Vitória. A implantação desta área aumentaria em 11% o espaço de

parques na cidade. Também significa um ganho ambiental: Llan-

ganho mensal de aproximadamente R$ 450,00 de cada cultiva-

derte (1982) calculou que 1hectare de área de floresta é responsá-

dor. Economia anual de mais de 5.000 reais por pessoa. Quanto

vel pela remoção de 50t de pó e partículas residuais no ar, os 9,7

a produção, em cada espaço de 100m² das hortas é estimado, de

há de área de floresta adicionados eliminariam quase 500t de pó e

acordo com a experiência de Curitiba, uma produção diária de 3kg

partículas residuais do ar.

de alimento. Sendo assim 13,5 toneladas de alimentos produzidos

Quanto à capacidade de alimentação temos toda a extensão

mensamente e 170 toneladas anualmente

de 330.000m² servindo de área produtora de alimentos, sendo

Segundo Silveira (2016 apud Ribeiro, 2017) uma pessoa con-

alguns espaços mais voltados à produção alimentar (SAF de tran-

sume 3kg de alimentos diariamente entre sólidos e líquidos, se

sição e Hortas) e outros mais recreativos. Segundo a organização

considerarmos que 1/3 dessa quantidade seria oriunda do Agro-

agrofloresta do futuro (2018) os 43.688,35m² de SAF de transição

parque o espaço do SAF de transição seria capaz de alimentar

produziriam aproximadamente 350 t de alimento por ano.

960 pessoas por ano. As hortas teriam a capacidade de alimentar

O programa Horta Pro Nobis concederia a mais de 150 pessoas espaços de cultivo, todavia o número de pessoas que se beneficiariam seria maior, pois consumidores, parentes e vizinhos tam-

467 pessoas por ano. Resultando na possibilidade de alimentar 1.427 pessoas anualmente.

A partir dos dados apresentados é possível compreender a

bém se beneficiariam consumindo alimentos saudáveis. Ferrareto

capacidade de abastecimento alimentar que o espaço possui. Esses

(2015) aponta que em Curitiba cada cultivador fornece alimentos

dados não consideram os espaços onde acontecem a Agrorestin-

para até 12 pessoas, desta forma estima-se que 1.800 pessoas te-

ga, canteiros PANC (na área do parque linear), Floresta de Bolso,

riam acesso aos alimentos produzidos nas 3 hortas. Considerando

Pomar Urbano e SAF de inclusão, uma vez que não foi encontra-

a economia com compras em mercados e vendas é estimado um

do na literatura parâmetros que apresentassem sua capacidade

1

1  De acordo com os relatos dos participantes do programa Lavoura em Curitiba

111

Vicente Gonçalves Gewehr


de alimentação. Da mesma forma, não é possível apresentar em

me interessar pela produção de alimentos agroecológicos e pelo

números como a qualidade de vida da população do entorno me-

campo. A partir do interesse em entender mais sobre a produção

lhoraria, como seriam as interações sociais entre a vizinhança, a

de alimentos e buscar respostas às incompreensões mencionadas

relação com a alimentação, os ganhos na saúde, como seria a SAN

anteriormente tive contato com a agricultura de distintas manei-

das pessoas que teriam acesso ao cultivo de alimentos e como esse

ras: na produção de alimentos em fazendas orgânicas, em uma

espaço superaria a dicotomia entre campo e cidade. Todavia a par-

ecovila, em visitas à hortas urbanas, em diálogos com pessoas que

tir dos estudos de casos da AU da família Dervaes, da cidade de

cultivavam alimentos nos quintais, visitando a família no interior

Todmorden e principalmente do programa Lavoura da prefeitura

entre outros. Desta forma, realizava comparações e questiona-

de Curitiba (que mais se assemelha ao Agroparque) foram notadas

mentos frequentemente sobre a vida em centros urbanos e em

melhorias nos aspectos mencionados, desta forma consideramos

espaços rurais.

que todos esses pontos levantados seriam melhorados e a população em geral seria a principal beneficiada.

O desenvolvimento do projeto do Agroparque é um resultado de buscas próprias somadas ao aprendizado dos seis anos e meio na graduação de Arquitetura e Urbanismo, onde também se aprende

CONCLUSÕES

paisagismo realizada na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e na Universidade Técnica de Munique (TUM). O intercâm-

Este trabalho surgiu a partir de três incompreensões sobre a vida

bio na Alemanha me mostrou que as cidades podem ser diferentes,

em sociedade:

principalmente quanto a relação com os espaços livres, uma vez que o país apresenta em geral cidades com muitos parques, praças

»» Por que não estamos cultivando alimentos em todo lugar na cidade, já que existem pessoas passando fome? »» Por que o espaço urbano tem que ser tão caótica, ao mesmo

e ciclovias em bairros mais afastados e nas áreas mais centrais. A experiência na UFES, entre tantos aprendizados, me mostrou como as cidades deveriam valorizar as pessoas, os espaços públicos serem

tempo que é espaço das oportunidades, e o campo tão

atrativos e confortáveis, a arquitetura deveria levar em considera-

monótono e sem oportunidades de “crescimento” ?

ção o entorno, para quem ela é feita, qual o seu papel no todo. Da

»» Por que a lógica do sistema atual que mata, envenena, polui,

mesma maneira aprendi que as ruas deveriam atrair pedestres, o

destrói, prejudica a saúde mental e física por dinheiro, ainda

transporte individual motorizado (geralmente carros) deveriam ser

não foi substituída por uma que valorize coisas importantes?

desestimulados enquanto ciclovias, calçadas e uma diversidade de transportes públicos deveriam ser valorizados.

Uma das respostas encontradas pelo autor foi a produção de

E esse presente trabalho é a conclusão de um marcante ciclo, o

alimentos agroecológicos oriundos da agricultura familiar, em um

projeto possibilita enxergar o espaço, destinado pela legislação de

evento na Universidade sobre alimentos orgânicos em 2011. Desde então passei a ver as práticas agroalimentares de outra forma e 112

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


Vitória à se tornar uma zona de parque tecnológico, de outra forma. O campo teórico promove uma ampliação sobre os entendimentos do sistema agroalimentar, os muitos benefícios e formas da produção de alimentos em extensões urbanas e um entendimento sobre o papel dos parques urbanos. Entendimento fundamental para o desenvolvimento do Agroparque em Goiabeiras. Este espaço é voltados às pessoas, a partir das múltiplas funções que a Agricultura Urbana a área promoveria o acesso à alimentos em diversidade, quantidade e qualidade, contribuindo para a Segurança Alimentar Nutricional dos envolvidos. Da mesma forma ampliaria as relações sociais, promoveria a educação, saúde e ao mesmo tempo potencializaria o entorno pela conexão entre os espaços livres públicos e pela transformação da paisagem. Seria um espaço que comprova que a distinção entre cidade e campo não faz sentido e mostra que a agricultura pode acontecer em centros urbanos e inclusive estar atrelada à recreação populacional. Tornando-se uma significativa atração na Região Metropolitana de Vitória e uma inovação paisagística em todo o mundo.

113

Vicente Gonçalves Gewehr


114

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


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ANEXOS REFERÊNCIAS DE ESTUDOS QUE ASSOCIAM A CAUSA DE DOENÇAS À UTILIAÇÃO DE AGROTÓXICOS

alguns tipos de câncer 1  2  3; imunodepressão  4; doença de Parkinson 5 ; depressão e outras desordens neurológicas 7  8; aborto e problemas

6

17  18

alguns tipos de câncer; imunodepressão; doença de Parkinson; depressão e outras desordens neurológicas; aborto e problemas congênitos; tipos de câncer dependentes de hormônio, infertilidade e malformação congênita; sintomas respiratórios e esterilidade em adultos. 9  Pires DX, Caldas ED, Recena MCP. Uso de agrotóxicos e suicídios no Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública 2005; 21 (2):598-605. 10  Baatrup E, Junge M. An Exploratory analysis of the effect of pesticide

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congênitos 9  10  11  12  13; tipos de câncer dependentes de hormônio, infertilidade e malformação congênita 14; sintomas respiratórios 15;esterilidade em adultos 16

AGROPARQUE EM GOIABEIRAS

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GRUPO A (ESPÉCIES DE MÉDIO E GRANDE PORTE):

Manga Espada, ANACARDIACEAE Mangifera indica - PF: nov. – mar. Abacate, LAURACEAE Persea americana – PF: mar. - set. Nespereira, MALOIDEAE Eriobotrya japônica – PF: ago.-nov. Tamarindo, Fabacea Tamarindus - – PF: ago.-out. PANCS: Umari, CACINACEA Poraqueiba sericea Monguba, MALVACEA Pachira aquática Jaca-africana, MORACEA Treculia africana Decne. Camararuana, FABACEAE-FABOIDEAE Dipteryx odorata Uva-do-Japão, RHAMNACEAE Hovenia dulcis Pajurá-da-mata, CHRYSOBALANACEAE Parinari montana Ingá de metro, FABACEAE-MIMOSOIDEAE Inga edulis Mutamba, MALVACEA Guazuma ulmifolia Cacauí, MALVACEA Theobroma speciosum GRUPO B (ESPÉCIES DE MÉDIO E GRANDE PORTE):

Manga Ubá, ANACARDIACEAE Mangifera indica - PF: nov. – mar. Manga Palmer, ANACARDIACEAE Mangifera indica - PF: nov. – mar. Cajá manga, ANACARDIÁCEAS Spondias dulcis- PF: jan. – jun. Fruta pão, MORACEAE Artocarpus communis – PF: ago.-mar. PANCS: Mamão-do-mato, CARICACEAE Vasconcellea quercifolia Nogueira, EUPHORBIACEAE Aleurites moluccana Sapota, MALVACEA Matisia cordata Inharé, MORACEA Helicostylis scabra Guariroba-rugosa, MYRTACEAE Campomanesia schlechtendaliana Mapati, URTICACEAE Pourouma cecropiifolia Taberebá, ANACARDIACEAE Spondias mombin Jacaratiá CARICACEAE Jacaratia spinosa GRUPO C (ESPÉCIES DE MÉDIO E GRANDE PORTE):

Jaca, MORACEAE Artocarpus heterophyllus - PF: nov. - mar. Caju, ANACARDIACEAE Anacardium occidentale – PF: jun. – dez. Jaboticaba, MYRTACEAE Myrciaria cauliflora – PF: set. – out. Caramboleira, OXALIDACEAE Averrhoa carambola - PF: nov. – jan. Manga Tommy, ANACARDIACEAE Mangifera indica - PF: set. – jan. Jambo, MYRTACEAE Syzygium jambos – PF: jan. – mai.

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Vicente Gonçalves Gewehr

PANCS: Moringa, MORINGACEAE Moringa oleifera Chal-chal, SAPINDACEAE Allophylus edulis Guanandi, CALOPHYLLACEAE Calophyllum brasiliense Maça-de-elefante, DILLENIACEAE Dillenia indica Uxi-coroa, UMIRIACEAE Duckesia verrucosa Cupuaçu, MALVACEAE Theobroma drandiflorum Preciosa, LAURACEAE Aniba canelilla Minifigo, MORACEA Ficus subapiculata Cambuci, MYRTACEAE Campomanesia phaea Rambutã, SAPINDACEAE Nephelium lappaceum GRUPO D (ESPÉCIES DE PEQUENO PORTE):

Mamão, CARICACEAE Carica papaya – PF: o ano todo Goiabeira branca, MYRTACEAE Psidium guajava – PF: jan. – abr. Laranja Natal, RUTACEAE Citrus sinensis – PF: jul. – nov. Tangerinas, RUTACEAE Citrus reticulata – PF:: abr. – jul. Lichia, SAPINDACEAE Litchi chinensis– PF: dez. Amora, MORACEA Morus nigra L. – PF: out. –fev. Seriguela, Anacardiaceae Spondias purpurea– PF: fev. – mar. PANCS: Cacau-de-leite, APOCYNACEAE Ambelania acida Espinafre-arbóreo, EUPHORBIACEAE Cnidoscolus aconitifolius Hibisco, MALVACEAE Hibiscus rosa-sinensis Jaca-de-macaco, MORACEAE Artocarpus lakoocha Araçá-piranga, MYRTACEAE Psidium acutangulum Apuruí, RUBIACEAE Alibertia sorbilis GRUPO E (ESPÉCIES DE PEQUENO PORTE):

Figueira, MORACEAE Ficus lyrata – PF:dez. – abr. Laranja Bahia e Serra d’água, RUTACEAE Citrus sinensis – PF: mar. – jul. Laranja Valência, RUTACEAE Citrus sinensis – PF: set. – jan. Pitanga, MYRTACEAE Eugenia uniflora – PF: out. – jan. Graviola, ANNONACEAE Annona muricata – PF: mar.-abr. e nov. - dez. Abiu, SAPOTACEAE Pouteria caimito– PF: jan. – out. PANCS: Limão-doce, RUTACEAE Citrus limetta Curry Leaves, RUTACEAE Murraya koenigii

LISTA DE ESPÉCIES


Groselia-do-Ceilão, SALICACEAE Dovyalis hebecarpa Erva mate, AQUIFOLIACEAE Ilex paraguariensis Mari mari, FABACEAE-CAESALPINIOIDEAE Cassia leiandra Cacau azul, MALVACEAE Theobroma sylvestre GRUPO F (Espécies de pequeno porte): Ameixeira, ‎ROSACEAE Prunus domestica – PF: nov. – jan. Coqueiro, Arecaceae Cocos nucifera – PF: ago. – mar. Laranja Pera, RUTACEAE Citrus sinensis – PF: mai. – fev. Laranja Sanguínea, RUTACEAE Citrus sinensis – PF: mar. a jun. Laranja Itaboraí, RUTACEAE Citrus sinensis – PF: jul. – set. Tangerineiras, Murcotte, RUTACEAE Citrus reticulata – PF: jul. – out. PANCS: Araça-boi, MYRTACEAE Eugenia stipitata Limão-caieno, OXALIDACEAE Averrhoa bilimbi Jenipapo, RUBIACEAE Genipa americana Murta, RUTACEAE Murraya paniculata Marianeira, SOLANACEAE Acnistus arborescens Bacupari, CLUSIACEAE Garcinia brasiliensis Teca, LAMIACEAE Tectona grandis GRUPO G (ESPÉCIES DE PEQUENO PORTE):

Tangerineiras Poncã, RUTACEAE Citrus reticulata – PF: abr. – set.; Laranja Piralima, Lima e Campista: RUTACEAE Citrus sinensis – PF: mar. a jun.; Pequi, CARYOCARACEAE Caryocar brasiliense – PF: nov. – jan. Romã, LYTHRACEAE Punica granatum– PF: dez. – jan. Acerola, MALPIGHIACEAE Malpighia emarginata – PF: set. – mar. Fruta do conde, ANNONACEAE Annona squamosa – PF: : jan. – mai. PANCS: Goiaba-de-anta, MELASTOMACEAE Bellucia dichotoma Camu camu, MYRTACEAE Myrciaria dubia Borrorô, RUBIACEAE Alibertia patinoi Noni, RUBIACEAE Morinda citrifolia Limoncillo, RUTACEAE Triphasia trifolia Camélia, THEACEAE Camellia japonica GRUPO H (PALMEIRAS):

Macaúva, ARECACEAE Acrocomia aculeata Uricuri, ARECACEAE Attalea phalerata

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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS

Rabo-de-peixe, ARECACEAE Aiphanes aculeata Babaçu, ARECACEAE Attalea speciosa Pupunha, ARECACEAE Bactris gasipaes Butiá, ARECACEAE Butia odorata Butiá do Cerrado, ARECACEAE Butia paraguayensis Juçara, ARECACEAE Euterpe edulis Buritis, ARECACEAE Mauritia flexuosa Guariroba, ARECACEAE Syagrus oleracea Jerivá, ARECACEAE Syagrus romanzoffiana Pata de elefante, ASPARAGACEAE Yucca guatemalensis GRUPO I (CACTOS):

Figo da índia, CACTACEAE Opuntia ficus-indica Pitaya, CACTACEAE Hylocereus undatus Mandacaru, CACTACEAE Cereus jamacaru Dama da noite, CACTACEAE Hylocerus undatus Palma Forrageira, CACTACEAE Napalea cochenillifera GRUPO J (RASTEIRAS):

Abóbora, CUCURBITACEAE Cucurbita moschata, Cucurbita maxima, Cucurbita pepo Capuchinha, TROPAEOLACEAE Tropaeolum majus Radite peludo, ASTERACEAE Hypochaeris radicata GRUPO K (ÁRVORES COM FUNÇÃO MAIS ORNAMENTAL):

Samaúma, MALVACEAE Ceiba petandra Chuva-de-ouro, FABACEAE-CAESALPINIOIDEAE Cassia fistula Corticeira-serrana, FABACEAE-FABOIDEAE Erythrina falcata Bambu mossô, POACEAE Phyllostachys edulis GRUPO L (UTILIZADAS NO ESPAÇO RECREATIVO SETE COPAS):

Pequi, CARYOCARACEAE Caryocar brasiliense Jatobá, FABACEAE-CAESALPINIOIDEAE Hymenaea courbaril 398 Baru, FABACEAE-FABOIDEAE Dipteryx alata Monguba-preta, MALVACEAE Pachira insignis Sete-capotes MYRTACEAE Campomanesia guazumifolia Pitomba SAPINDACEAE Talisia esculenta

GRUPO M (FAMÍLIA MUSACEAE):

Bananeirade-abissínia, MUSACEAE Ensete ventricosum Bananeira de jardim, MUSACEAE Musa velutina Bananeira, MUSACEAE Musa X paradisiaca Sororoca, STRELITZIACEAE Phenakospermum guyannense Bastão-do-imperador, MUSACEAE Etlingera elatior Pacua, ZINGIBERACEAE Renealmia aromática GRUPO N (UTILIZADO NA ACADEMIA MUTAMBA):

Baru, FABACEAE-FABOIDEAE Dipteryx alata


FIGURA 1: Quintal da Família Dervaes, fonte: melhorviver.com.br. Acesso em 27 de março de 2018 FIGURA 2: os policiais em frente à estação policial orgulhosos do desenvolvimento dos vegetais cultivados no local. Fonte: usbeketrica.com. Acesso em 27 de março de 2018. FIGURA 3: Trecho das Hortas do bairro Tatuquara, Fonte: Ferrareto, 2015. FIGURA 4: Avenida das jaqueiras em Brasília 2016, constituindo assim um

figura possibilita observar o grande eixo que conecta todas as áreas do parque. Fonte: https://teoriacritica13ufu.wordpress.com/page/2/. Aceso em 14/06/2018 FIGURA 11: Vista aérea do jardin del turia, destaque para hemisferic e museo FIGURA 12: zoológico. Fonte: www.visitvalencia.com/que-ver-valencia/ jardines-del-turia. Acesso em 14/06/2018.

pomar urbano. Fonte:http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/cidadepomar-brasilia-tem-cerca-de-900-mil-arvores-frutiferas-em-area-publica/

FIGURA 13: Posicionamento da área projetual na cidade de Vitória e ampliação do entorno, estando a área do projeto destacada em vermelho em ambas. Fonte: adaptado de googleearth.com (adaptado).

FIGURA 5: Nesta imagem podemos percebemos a PANC de nome popular

FIGURA 14: Características da área. Fonte: googleearth.com (adaptado).

jasmim-manga (Plumeria rubra) amplamente utilizada no paisagismo das cidades que possui as suas flores comestíveis, exemplificando uma das diversas possibilidades de uso das PANC.

FIGURA 15: Goiabeiras e arredores em 1970. Destaque em vermelho para a área de intervenção. Fonte: veracidade.com.br (adaptado).

FIGURA 6: Implantação de uma floresta de bolso no Parque Cândido Portinari

em São Paulo. Acervo pessoal. FIGURA 7: Esquema de SAF com a distribuição espacial em faixas. (Manual

agroflorestal para a Mata Atlântica, 2007) FIGURA 8: Como exemplo de Sistema agroflorestal urbano, temos o Parque Ecológico Sitiê, o qual surgiu pela transformação de um lixão pelos moradores. Passaram 6 anos retirando 16 toneladas de resíduos do local e viram na implementação de vegetação uma forma de conter o depósito de resíduos. Então passaram a praticar a agricultura urbana e a criar infra estrutura como escadas e taludes nos 8,5mil m² de área.Em 2012 o parque do Sitiê foi reconhecido como a primeira agrofloresta do Rio de Janeiro pela Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal. Fonte: http://misturaurbana.com/2016/02/moradores-de-favela-alto-vidigalrj-transformam-deposito-de-lixo-em-parque-ecologico/. Acesso em 14/06/2018. FIGURA 9: Imagem das antigas passarelas de vigia. Fonte: https://www.

archdaily.com.br/br/763644/arquitetas-invisiveis-apresentam-48-mulheresna-arquitetura-paisagismo/55007abae58ecee4f10000e7. Aceso em 14/06/2018 FIGURA 10: esquema de implantação e planta do parque, sem escala. A

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Vicente Gonçalves Gewehr

FIGURA 16: Goiabeiras e arredores em 1978. Destaque em vermelho para a área de intervenção. É perceptível a grande expansão urbana identificada em oito anos quando comparado à vista aérea de 1970 (Imagem 15) urbana no atual bairro Maria Ortiz, onde residências foram construídas sobre depósito de resíduos. Assim como a ampliação do aeroporto e novas instalações da Universidade Federal do Espírito Santo. Fonte: veracidade.com.br (adaptado). FIGURA 17: Goiabeiras e arredores em 2017. Destaque em vermelho para a área de intervenção. Fonte googleearth.com(adaptado) FIGURA 18: Zoneamento da área de intervenção. Fonte PMV (2006). FIGURA 19: Espaços livres do entorno da área de intervenção, esta destacada em vermelho. Fonte: adaptado de googleearth.com (2018) FIGURA 20: Perspectiva com destaque para os espaços livres (em colorido) ao redor da área de intervenção (em vermelho) e ícones representando o público alvo e atividades ofertadas. Fonte: adaptado de googleearth.com (2018). FIGURA 21: Fotografia do espaço livre destacado em azul na imagem 20 representa o galpão das paneleiras a direita e deck em construção a esquerda. O galpão das paneleiras é um ponto turístico de Vitória, pois preserva o ofício da criação de panelas de barro de maneira artesanal, sendo esta atividade um patrimônio imaterial reconhecido pela UNESCO Fonte: acervo pessoal (maio 2018).

LISTA DE FIGURAS


FIGURA 22: Fotografia da praça mostrando a academia popular e a ao fundo

um campo de futebol retratando a área em laranja na figura 20. No campo de futebol acontecem eventos esportivos, na academia do idoso a ausência de sombra impossibilita a utilização do espaço durante o dia Fonte: acervo pessoal (maio 2018). FIGURA 23: Fotografia do espaço público destacado em amarelo na figura 20,

no local existe uma diversidade de oferta recreacional como academia do idoso, boxa, quadra e palco.

APA: área de proteção ambiental APP: área de proteção permanente AU: Agricultura Urbana AUP: Agricultura Periurbana COHAB-ES: Companhia de Habitação do Espírito Santo

FIGURA 24: Fotografia do espaço público representado em roxo na figura 20.

CONAMA: conselho nacional do meio ambiente

É possível perceber o campo de futebol society ao fundo e o depósito de resíduos (lixeira) no local, assim como árvores exuberantes e espaços de permanência pouco convidativos.

CONSEA: Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

FIGURA 25: Diagrama de percepções sobre Goiabeiras (1/2). FIGURA 26: Diagrama de percepções sobre Goiabeiras (2/2). FIGURA 27: Perspectiva axonométrica explodida da área. FIGURA 28: Síntese projetual, adaptado de googleearth.com. FIGURA 29: Bajirú com frutos maduros. Imagem de Catarina de Sá. Fonte:

KRUEL 2006. FIGURA 30: Esquema de concepção do formato dos canteiros das hortas. FIGURA 31: Biergarten in Munique. Fonte: https://br.pinterest.com/

pin/566468459353150228/. Acesso em 10/06/2018. FIGURA 32: Croqui que representa os anseios para a área de mesas do Espaço Recreativo Sete Copas. FIGURAS 33: Figura 29: Parque Guliver em Valença. Fonte: https://br.pinterest. com/pin/380554237246578718/. Acesso em 10/06/2018. FIGURA 34: Parque Guliver em Valença. Fonte: reddit.com/r/architecture/ comments/7qoss4/the_parque_gulliver_of_valenciaphoto_from_2013misc/ . Acesso em 10/06/2018. FIGURA 35: Templo Tenryu-ji, Arashiyama, Kyoto, Japão. Fonte: www. insidekyoto.com/arashiyama. Acesso em 12/06/2018. FIGURA 36: Raízes da Samaúma. Fonte: caliandradocerrado.com.br/2009/05/

rainha-da-floresta.html. Acesso em 12/06/2018.

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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS

IPHAN: Instituto do Patrimônio artístico e Nacional MDS: Ministério do Desenvolvimento Social PANC: Plantas alimentícias não convencionais PMV: Prefeitura Municipal de Vitória SAF: Sistema agroflorestal SMAB: Secretaria Municipal de Abastecimento FAAC: Fundo de Abastecimento Alimentar de Curitiba INCAPER: Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural

LISTA DE SIGLAS



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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS


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