Manifesto para uma cidade concentrada

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Victor Neves

A Cidade Núcleo Manifesto para uma cidade concentrada

Universidade Lusíada Editora Colecção ENSAIOS Lisboa • 2010



Victor Neves

A Cidade Núcleo Manifesto para uma cidade concentrada

Universidade Lusíada Editora Colecção ENSAIOS Lisboa • 2010


Biblioteca Nacional de Portugal – Catalogação na Publicação NEVES, Vítor Manuel Canedo, 1956A cidade n úcleo : manifesto para uma cidade c oncentrada. (Ensaios) ISBN 978-989-640-072-9 CDU

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Ficha Técnica Autor

Vítor Manuel Canedo Neves

Título

A cidade núcleo: manifesto para uma cidade concentrada

Colecção Depósito Legal ISBN Local Ano

Ensaios 318856/10 978-989-640-072-9 Lisboa 2010

Editora

Universidade Lusíada Editora Rua da Junqueira, 188-198 1349-001 Lisboa Tel.: +351 213611500 / +351 213611568 Fax: +351 213638307 URL: http://editora.lis.ulusiada.pt E-mail: editora@lis.ulusiada.pt

Revisão

Humberto Nuno de Oliveira

Capa

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Fotocomposição

Alfredo Quingue

Impressão e Acabamentos Tiragem

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© 2010, Universidade Lusíada de Lisboa

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A Cidade Núcleo - Manifesto para uma cidade concentrada

Índice <1.Cidade ..................................... 7 <2. As cidades do futuro ...................... 8 >3. Os centros urbanos e as periferias ........ 13 >4.A paisagem. Territórios peri – urbanos ..... 15 >5.A cidade contemporânea. A ausência de limites ....................................... 23 >6. A cidade núcleo ........................... 27 >7.Bibliografia ................................ 33

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<1.Cidade A cidade é um tema incontornável do universo arquitectónico. No geral, define a intervenção da arquitectura no meio urbano, mas também define, em parte, um conceito: o da regra, de uma ordem que a arquitectura institui no território colonizado pelo Homem. E define também, uma escala – supraedificatória. A cidade é, tem sido também, um tema de estudo incontornável nos diferentes cursos de arquitectura, muito embora alguns tenham, em determinado momento, negligenciado a sua importância na tentativa de uma fortuita e vã “especialização”, que ensaiou a segmentação da arquitectura em diferentes disciplinas, sendo a cidade apenas uma dessas disciplinas. Neste contexto, Alexandre Alves Costa (entrevista ao jornal “Arquitecturas”, nº35 de Abril 2008 pp19) afirmou um dia que “Há muitos urbanistas e arquitectos que têm sentido uma certa desesperança, parece que o desenho da cidade nos é completamente alheio, que não podemos intervir. A única forma de intervenção que temos é através da qualificação

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da própria arquitectura. Parece que houve uma espécie de transposição das questões do desenho da cidade, que foram até agora temas importantes para os arquitectos, para os próprios edifícios, que tendem a condensar muitas das valências que, dantes, estavam distribuídas pelas cidades”.E acrescentava: “Não penso que seja uma questão irreversível. Os arquitectos têm de recuperar uma certa esperança de continuarem a poder ter alguma intervenção no desenho da cidade e que possam colaborar nesse esforço de luta contra a perda de identidade das cidades”. Na prática, o arquitecto tem vindo a ser solicitado, de forma crescente, a intervir nas escalas da cidade e do território e a dar o seu contributo para a planificação e gestão desse território, com a vantagem de o saber entender como entidade formal. O arquitecto é dos técnicos mais qualificados para lidar com toda a complexidade que envolve a cidade e o território, e é o único que tem a percepção estética e uma visão multidisciplinar e integradora das diferentes realidades que os compõem. <2. As cidades do futuro: No entanto, o fenómeno urbano, que envolve toda a problemática da intervenção do arquitecto na cidade e no território, tem mudado muito nas últimas décadas e irá mudar muito mais e rapidamente num futuro próximo, a avaliar pelos sinais que a contemporaneidade nos vai dando. Muito provavelmente, as cidades do futuro funcionarão em rede e as populações terão uma

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mobilidade de comunicação nunca antes vista. Comunicação física e comunicação de informação. Ao contrário do que seria de esperar, é muito possível que essas enormes redes de comunicação emergentes, permitam uma maior permanência das populações na sua área de residência, porque o tele-trabalho é uma realidade em franco desenvolvimento. A recente epidemia da gripe A, que forçou muitas pessoas a permanecer em casa de quarentena a efectuar alguns trabalhos a partir das suas Fig. 1 - Tele-trabalho. residências, veio provar que o tele-trabalho é já encarado como uma alternativa viável ao actual e universalizado modelo de trabalho que, em regra, separa os locais de residência e de trabalho. A revolução digital irá, com certeza, inverter o princípio da separação entre casa e trabalho e a ideia de zonamento da cidade que o séc. XX nos legou e que foi consagrado na carta de Atenas. As cidades mostram uma crescente tendência para se ligarem a grandes centrais de comunicação de informação, conhecidas como “pops-points of presence on giga pops”, mediante cablagem de fibra óptica, micro-ondas ou satélite. Funcionarão à velocidade de gigabits e por “telepontos” ou seja, a partir de núcleos de provedor de serviços eficientes com custo/benefício de alta performance, que asseguram os contactos inter-cidades. Com o desenvolvimento do tele-trabalho e a das tecnologias de informação e de transmissão de dados,

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poderão ocorrer várias e significativas alterações ao nível de funcionamentos das redes: 1- Diminuição dos movimentos pendulares da população entre o centro da cidade e as suas periferias e consequente diminuição de tráfego automóvel. A vantagem dessa diminuição está, desde logo, na redução significativa da poluição atmosférica que tem origem nos veículos particulares e públicos. Em Lisboa entram diariamente 450.000 veículos e cerca de 600.000 pessoas (dados de 2008). 2- Alteração dos modelos de habitação e das tipologias mais correntes, com a necessidade de introduzir espaços de trabalho nos fogos habitacionais e espaços de apoio comum de carácter empresarial/tecnológico nos edifícios de habitação. Por um lado, vai ser necessária mais área disponível, com circuitos separativos, para áreas técnicas. Por outro lado, vai ser necessário gastar mais energia para climatizar os equipamentos necessários ao tele-trabalho, pelo que se torna mais evidente e premente a utilização de energias renováveis não poluentes.

Fig. 2 - Novas tipologias, novas morfologias: trabalho académico FAA-Universidade Lusíada de Lisboa, Projecto II, ano 2006/200708. Autor: Víctor Ribeiro

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E isso também irá trazer alterações na morfologia dos edifícios de habitação, nomeadamente ao nível das coberturas dos edifícios. 3- Aumento de procura de espaços de lazer nas imediações dos espaços habitacionais. É possível que o tele-trabalho e a economia de tempo resultante da significativa redução das viagens casa/trabalho leve a um aumento dos tempos livres e a uma maior procura de espaços públicos e das actividades ligadas ao lazer. Mas também irá trazer uma maior exigência no número e qualidade desses espaços. Mas, por outro lado, ainda, as grandes empresas deixarão de ter necessidade de construírem grandes edifícios nos centros das cidades porque os seus funcionários poderão trabalhar em casa, ligadas em rede com a sede. E os seus clientes também comunicarão via net, beneficiando de uma rede de agentes/funcionários que estarão localizados na sua área de residência. Esta revolução significará que qualquer pessoa possa trabalhar, pelo menos algumas horas por dia, em sua casa, para uma empresa, ou trabalhar para si próprio, promovendo e vendendo o produto do seu trabalho via net ou através de grandes redes sociais de comunicação, requisitando aí outros serviços subsidiários - por exemplo transportes. É pois provável que, num futuro próximo, a maioria de nós procure viver em pequenos grupos, em “clusters” pois o sucesso dos negócios não estará tanto em estar no lugar certo, na altura certa, mas sim em estar no lugar certo, rodeado de pessoas certas. Aí se fixarão as elites de excelência, elites

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que serão criadores e não executores, como acontece na maioria das elites actuais. Diversificar, inventar, surpreender, inovar, investigar, serão desígnios fundamentais que orientarão estas elites e os seus colaboradores. As empresas tentarão atrair estas elites de tele-trabalhadores criadores e é provável que a moeda de troca para os atrair e manter, seja a qualidade urbana e paisagística dos seus locais de habitação/trabalho. Consequências deste novo posicionamento sóciourbano? Pode haver o risco de se gerar um novo tipo de marginais sociais, os info-excluídos, porque o processo que gera sinergias produtivas e intelectuais tem como base a cultura digital e informática. Os que não tiverem oportunidade de se formarem dentro dessa cultura, ou aqueles que não tenham condições económicas para nela evoluir, ficarão excluídos à partida e ficarão relegados para espaços sociais e urbanos marginais. E será esta nova info-sociedade compatível com a necessidade humana de pertencer a um lugar? A um locus ao qual se remete a nossa cultura sedentária urbana e arquitectónica que herdámos da 2ª metade do séc. XX? As respostas a estas perguntas são incógnitas, que dependem, fundamentalmente, das relações contratuais na área do trabalho. Sobressairá o trabalho precário e a rotatividade do emprego com a consequente deslocalização de empresas e trabalhadores? - Ou pelo contrário assistir-se-á a uma maior estabilização e especialização do emprego? De uma forma ou outra, é de esperar que as cidades as mais atractivas, pelo seu clima, pelo

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seu enquadramento paisagístico, pela qualidade dos seus espaços e equipamentos públicos, pelo seu nível de sofisticação tecnológico, sejam mais procuradas e também as mais caras e mais inacessíveis, tal como acontece agora. A atractividade pela qualidade será cada vez mais premente, tal como já acontece hoje. As populações urbanas (e sub-urbanas) já não se contentam com o indispensável - infra-estruturas básicas, equipamentos, espaços públicos – exigem também qualidade. E essa qualidade envolverá também a eco-sustentabilidade e o respeito pelo ambiente, - tema fundamental e transversal da arquitectura do séc. XXI. E é essa qualidade que ditará a diferença entre as cidades, no futuro. >3. Os centros urbanos e as periferias O que acontecerá aos velhos centros urbanos e às actuais zonas peri-urbanas? Será que tudo o que se disse atrás, significará o esvaziamento dos centros urbanos? Não necessariamente. Porque os centros terão uma nova apetência para espaços culturais, comerciais e espaços públicos, o que significará, uma nova renovação desses centros, susceptível de permitir a tão ansiada re-introdução da função habitacional nesses mesmos centros urbanos. Nesse novo ciclo de renovação é possível que venham a ser demolidos alguns edifícios de serviços para dar lugar a edifícios mais auto-suficientes e mais polivalentes. Assim, os centros antigos continuarão a ser atractivos pela sua história, pela sua beleza, pelo seu significado

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cultural, mas também pela sua renovada oferta de espaço público e de habitação com qualidade. E as outras zonas centrais – os centros administrativos, as áreas comerciais; as zonas étnicas, as zonas universitárias, etc.- terão necessariamente de se requalificarem e provavelmente assistiremos a um novo processo de renovação do tecido urbano e ao surgimento de novos vazios urbanos. Mais em vez, o espaço público e a sustentabilidade das construções serão temas centrais de um processo de renovação/reabilitação urbana que coincidem com temas transversais da arquitectura do nosso século XXI. Edifícios mais económicos, menos exigentes em termos energéticos e de manutenção, mais eco-sustentáveis, serão os que terão mais viabilidade construtiva. A arquitectura enquanto disciplina polarizadora destes processos, deixará de ser o jogo de volumes sob o efeito de luz proclamado pelo purismo Corbusiano, ou a resposta artística a exigências funcionais do habitar, proclamado pelo racionalismo do séc. XX, ou mesmo o formalismo cosmopolita da arquitecturas “matéricas” ou “high-tech” que emergiram, no final do séc. XX e princípio do séc. XXI; mas sim a um jogo de informação no espaço que gere formas construídas, mais ou menos influenciadas pelos desafios da ecosustentabilidade e onde o homem habita, trabalha, mas sobretudo comunica. Na era pré-industrial, um edifício era, essencialmente, uma massa inerte, com uma pele. A partir da revolução industrial, transformou-se num esqueleto com uma pele, que pouco a pouco foi evoluindo até se constituir numa sofisticada máquina de habitar, incorporando sistemas de aquecimento, ventila-

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ção, de águas, esgotos, rede de dados, etc. Actualmente, os edifícios estão sendo dotados de sistemas nervosos centrais, sensores e detectores, que os autonomizem. Já começam a ser simples “chassis”que recebem sistemas cada vez mais sofisticados, auto-suficientes e com linguagens padronizadas, que requerem ainda grandes quantidades de energia. No futuro próximo o que serão? – A arquitectura será apenas um jogo tecnológico, com o simples objectivo de optimizar as performances destes “sistemas-chassis”? Ou evoluirá para o tal (desejável) padrão de sustentabilidade aplicada à defesa do Ambiente que submeterá a tecnologia a uma visão ética da economia e de preservação eco-ambiental? É difícil dizer, mas uma coisa parece certa:as novas tecnologias irão determinar novas formas de habitar, novas tipologias e novos modelos morfológicos da arquitectura, adaptados à presença dessas novas tecnologias. E, como consequência disso, a imagem das nossas cidades ou de partes dessas cidades, irá, novamente, modificar-se. É provável e desejável que a qualidade das actuais periferias melhore. E é provável, também, que, apesar de todas as alterações previsíveis, os nossos centros urbanos sejam ainda mais qualificados. >4.A paisagem. Territórios peri – urbanos O que acontecerá, com as áreas peri-urbanas, sujeitas a contínua pressão urbana, mas que mantêm

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Fig. 3 - A-daBeja, concelho da Amadora. O que acontecerá às áreas peri-urbanas sujeitas a contínua pressão urbana e à especulação imobiliária?

ainda características de ruralidade e um alto potencial ecológico e paisagístico? O valor da paisagem, já influencia hoje os parâmetros qualitativos da arquitectura e, por via indirecta, passou a influenciar os mecanismos da especulação imobiliária. Ter boas “vistas” sobre uma paisagem “natural”, é já um valor quantificável, que a indústria de construção utiliza nos seus processos de “sedução” comercial. Ou seja, de um lado termos a pressão, cada vez mais exigente e sofisticada, de um mercado de segmento superior, que incluirá as elites da info-sociedade e que exigirá espaços livres e paisagens “naturais” ou “naturalizadas” para permitir actividades lúdicas e de lazer. E que reivindicará, ainda, o direito às áreas ainda não construídas de maior potencial paisagístico. Do outro lado, teremos os segmentos da sociedade que não ambicionando chegar a níveis sofisticados do habitar, reivindicarão (já o fazem) o direito à construção em terrenos seus ou de familiares, que são actualmente terrenos agrícolas (ou classificados

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como tal) e que pretendem desafectar para construção, utilizando como argumentos o direito à habitação ou a falta de rentabilidade e viabilidade da actividade agrícola. Este último cenário é, aliás, um cenário cada vez mais recorrente na sociedade portuguesa e nas discussões que envolvem os processos de revisão de Planos Directores Municipais. Está, assim em causa um modelo de “cidade”, que questiona os conceitos de limites urbanos e de dispersão/concentração urbanos. Está também em causa um conceito de “paisagem” e a intervenção do arquitecto nessa paisagem.

Fig. 4 - Pinhal Novo, concelho de Palmela. Exemplo de dispersão urbana “urban sprawl” numa área de grande potencial agrícola.

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O tele-trabalho e a info-sociedade, poderão viabilizar um novo modelo de concentração urbana? Ou, pelo contrário, irão agravar a dispersão da construção no território “urban-sprawl”? No que diz respeito às grandes cidades, elas já atingiram (ou atingirão muito em breve) os seus limites físico-administrativos. Lisboa é um caso típico. O território que define o concelho de Lisboa já está ocupado em 89% da sua área. Não tem já possibilidade de expansão. Para isso, resta-lhe o preenchimento de alguns espaços vazios. Ao contrário, os concelhos limítrofes, têm ainda território para se expandirem. E estão a fazê-lo de forma dispersa e aleatória, à custa, muitas vezes, da desafectação de solos agrícolas ou florestais e, em alguns casos de forma clandestina. A consequência deste processo traduz-se, como é sabido, na degradação visual e física da paisagem, dita rural e numa expansão urbana em forma de “mancha de óleo” que determina grandes custos em infraestruturas e grandes impactos no ambiente, sobretudo na impermeabilização dos solos, na contaminação de cursos de água, etc. A pressão sobre a paisagem não construída é, neste momento, o principal problema que afecta a gestão e o planeamento do território, seja ele urbano, natural ou misto. A resolução do problema é muito difícil e complexa, sem dúvida, pois envolve contornos políticos, de fiscalidade, de justiça social e de economia regional. Criar novas centralidades nas áreas peri-urba-

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nas, com limites urbanos bem definidos, criar elementos físicos e administrativos que estabilizem e consolidem no tempo, esses limites, é, na nossa opinião, a chave para resolver o problema. Até porque os instrumentos de planeamento clássicos - os planos directores, os planos de urbanização e de pormenor revelaram-se ineficazes, por serem frequentemente ultrapassados pela dinâmica e pressão especulativa, pelos interesses políticos/partidários, pelos interesses económicos. Os chamados PIN (Projectos de Interesse Nacional) são um bom exemplo de como

Fig. 5 - Concentrar as estruturas urbanas, criando novas centralidades nas áreas peri-urbanas, com limites bem definidos, tendencialmente auto-suficientes do ponto de vista energético e na gestão dos resíduos, parece ser a solução para reequacionar a gestão e ordenamento das áreas urbanas em Portugal.

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Fig. 6 Lisboa -1ª fase de desenvolvimento da cidade pré-industrial dentro de muralhas. 2ª Fase de desenvolvimento: radial a partir do centro, definindo sucessivos limites. A distinção entre cidade e campo é ainda perceptível.

Fig. 7 - Lisboa. A cidade gera várias centralidades. A cidade quebra os limites e invade a periferia rural. A expansão urbana é contínua.

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Fig. 8 - Lisboa. A cidade liga-se às periferias urbanas, ultrapassa o rio. Alarga-se e liga-se, transforma-se em metrópole, integrando novos núcleos urbanos que geram novas dinâmicas de crescimento interno.

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Fig. 9 - Lisboa. A grande região metropolitana – mega cidade encontra, de novo áreas rurais, estendendo os seus limites nos interstícios das áreas não classificadas.

Lisboa. A grande cidade atinge os seus limites máximos por via administrativo. Formam-se novas áreas urbanas de uma segunda coroa de expansão urbana. Cidades satélite, sem limites definidos.

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é possível estabelecer normas que, sobrepondo-se a outras por via administrativa, viciam a correcta gestão e planeamento do território. >5.A cidade contemporânea. A ausência de limites Aumento da população mundial, migração de populações para as cidades; especulação imobiliária, são estas, talvez, as principais causas, dos problemas da cidade contemporânea. Tokyo - tem 32 milhões de habitantes, incluindo Yokohama, Kawasaki e Saitama Cidade do México – 18 milhões, incluindo Nezahualcóyotl, Ecatepec e Naucalpan Deli - 22 milhões, incluindo Faridabad, e Ghaziabad Nova Iorque: 22 mihões, incluindo Newark, Paterson Xangai - 18 milhões Pequim -11 milhões Rio de Janeiro - 12 milhões Londres - 12 milhões Paris - 10 milhões Lisboa - cerca de 2,5 milhões Estas são algumas das megacidades que actualmente existem em todo o mundo, nos dois hemisférios A crescente aglomeração de pessoas nas cidades; a crescente terciarização da população que actualmente se verifica, sobretudo no mundo ocidental, faz prever que em 2030 as cidades do mundo acolherão 75% da população mundial, que entretanto, crescerá a um ritmo de 2 a 5% ao ano

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Fig. 11 - Musseque em Luanda. Cerca de 1000 milhões de pessoas (1/3 da população mundial) vivem na periferia de cidades, em bairros de lata.

Na América Latina, 44% da população vive em favelas. As chamadas “shanty-towns” estão a crescer exponencialmente. Cerca de 1000 milhões de pessoas (1/3 da população urbana mundial) vivem na periferia das cidades, em bairros de lata ou favelas. Essa população que deixou as zonas rurais para procurar trabalho e novas oportunidades na cidade, deu origem ao que se chama “urbanização da pobreza”. Nas regiões desenvolvidas, o problema dos bairros de lata é a excepção que afecta 6% dos habitantes. Mas no mundo em desenvolvimento ou no chamado terceiro mundo, afecta amplas camadas da população. A percentagem da população urbana que vive em bairros de lata era em 2008,de 71,9% na África Sub-Sariana; 28,2% no Norte de África; 31,9% na América Latina; 36,4% no Este Asiático e 58% na Ásia do Sul e Central. Que soluções se podem perspectivar para este problema? O fenómeno endémico dos desalojados, as migrações de populações, a emigração clandestina,

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demonstraram que não existe uma solução à vista nos países em desenvolvimento. De facto, a única solução até agora seguida, não é mais do que deslocar o problema de umas zonas para outras. Por isso a solução passará, cada vez mais, por criar condições para fixar as populações num determinado local, pelo

Fig. 12 - A floresta como elemento de contenção urbana.

período de pelo menos uma geração através de oferta de emprego. Concentrar e empregar será a solução. A cidade pode e deve ter neste processo um novo fôlego. Cidades mais pequenas e concentradas que criem possibilidade de emprego seja através de emprego local ou longínquo, usando as redes de comunicação digital, terão impactos positivos ao nível social, económico e urbanístico, pois concentrando as áreas urbanas, libertar-se-ão outras áreas para agricultura, para a pecuária, para a floresta, ou para campos de centrais foto-voltáicas, ou seja para um melhor futuro, eco-sustentável. Será uma utopia? Limitar o crescimento das nossas cidades, preenchendo e requalificando vazios urbanos, parece ser

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a solução para reposicionar a cidade enquanto entidade social, cultural e arquitectónica, detentora de forma e ordem ou seja, enquanto como “obra de arte”. Detroit é um caso recente que prova ser possível essa solução. Na primeira metade do século XX a população de Detroit passou de 300.000 para 1,8 milhões,em 1950. Esse aumento de população correspondeu a um aumento brutal da área urbana, sobretudo na periferia. Hoje a cidade tem cerca de 900.000 habitantes e grande parte dessas periferias estão abandonadas ou degradadas. Actualmene, Detroit tenta enfrentar este problema através de projectos que alguns classificam como “estratégias de recorte” ou “crescimento criativo”. No essencial, procura-se concentrar serviços e infra-estruturas nas áreas de alta densidade e eliminá-los nas áreas menos povoadas, adoptando, ainda uma selectiva política de demolição de edifícios, essencialmente dirigiada aos que já estão parcial ou totalmente abandonados. Nos lotes abandonados pelos proprietários e também naqueles que vão sendo libertos através de demolições, propõe-se espaços verdes ou o seu reparcelamento através de adição a outros lotes vizinhos. Paul Virilio em “Cibermundos: a Política do Pior” diz que “…perdendo a cidade, ter-se-á perdido tudo. Reencontrando a cidade ter-se-á ganho tudo”. Na situação actual, a cidade perdeu-se - perdeu-se a noção de limites, a noção de centro, a noção de cidadania, de imagem urbana, de lugar social. Situação que talvez justifique uma nova utopia urbana: uma cidade limitada, auto-suficiente ou pelo menos amiga do ambiente, uma cidade que assegure habitação,

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empregos, espaços públicos de qualidade, uma cidade que tenha fronteiras físicas reconhecidas (porque a cidade do futuro não tem fronteiras temporais nem espaciais - é a cidade da informação), que tenha forma, que construa uma ideia de lugar e um corpo social de comunidade. >6. A cidade - núcleo

Fig. 13 - A cidade tradicional começa por ser centrípeta(1). Quando a cidade inicia o seu ciclo de crescimento centrífugo(2) transforma-se em região urbana - metrópole de vários núcleos urbanos que, no todo, são uma entidade de dinâmica fortemente centrífuga(3). A cidade actual atingiu os seus limites administrativos, só lhe resta preencher os seus vazios. Volta a ser centrípeta(4). A cidade do futuro será(?) centrípeta e policêntrica. As cidades satélite da grande cidade/região, também atingirão os seus limites administrativos e voltarão a ser centrípetas. A grande cidade/região ficará à mercê da sua dimensão desmesurada e da magnitude dos problemas que gera(5).

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Fig. 13 - A nova cidade solicitará uma centralidade; limites físicos, uma dimensão ideal. Mas a nova cidade fará parte de um sistema global, onde a “comunicação” será um processo cada vez mais rápido e aglutinador(6).

Fig. 14 - A nova cidade terá nas comunicações via satélite o seu elo de relacionamento e de crescimento(7).

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Fig. 15 - A nova cidade serĂĄ uma parte indivisĂ­vel de um todo info-global(8).

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A CIDADE NÚCLEO-MANIFESTO PARA UMA CIDADE CONCENTRADA 1-A cidade-núcleo alimenta-se da força atractiva de um núcleo. Mas pode-se desdobrar em sub-núcleos, atraídas sempre pela forma vital do núcleo. 2-A cidade-núcleo tem limites, procura a concentração o preenchimento de todos os vazios, dentro de um limite. Rejeita a dispersão. 3-A cidade-núcleo tem dimensão e tem forma. A cidade núcleo ocupa só e apenas solo urbanizável. A cidade núcleo coexiste com o solo agrícola; com a floresta; com as hortas comunitárias; com os parques verdes; com as reservas ecológicas. A cidade núcleo promove a eco-sustentabilidade. 4- A cidade-núcleo proclama a concentração urbana e a regeneração do solo agrícola e da floresta enquanto meios de criação de riqueza, de valorização económica e social. Mas a cidade núcleo baseiase na dispersão ilimitada das redes de informação. 30


5-A cidade-núcleo não precisa de governo. Só necessita de ser governada a partir da existência de um limite. 6-A cidade-núcleo é reaccionária? Não. A cidade núcleo é profundamente democrática, porque desenha-se na ilimitada liberdade de comunicar e informar. Lisboa,Maio de 2010

Fig. 16 - Trabalho académico, Projecto II, ano 2001/2002 (Alcochete). Autor: Sérgio Antunes.

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“ Member States and regional authorities should pursue the concept of the “compact city” (the city of short distances) in order to have better control over further expansion of the cities. This includes, for example, minimization of expansion within the framework of a careful locational and settlement policy, as in the suburbs and in many coastal regions. It will only be possible to stem the expansion of towns and city and the surrounding countryside must be intensified and new forma of reconciling interests on a partnership basis must be found”. Recomendação da European Spatial Development Perspective (CEC, 1999, para 84)

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>7.Bibliografia: Costa, Alexandre Alves - entrevista ao jornal “Arquitectura”, n.º 35, Abril, 2008, p. 19. Michell, J. William, E. Topia, Barcelona, GG, 2001. Neves, Víctor - Globalização, in Sebentas d’Arquitectura, n.º 3, Universidade Lusíada Editora, 2001. Viríllio, Paul - A Inércia Polar, Lisboa, D. Quixote, 1993. Viríllio, Paulo - Cibermundo: A Política do Pior, Lisboa, Teorema, 2000.

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LABURB - Laborat贸rio de Formas Urbanas


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