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(Igualdade) Victor Hugo Gonçalez Universidade Estácio de Sá Barra II — Parque das Rosas. Avenida Prefeito Dulcídio Cardoso 2.900 | 22631-052 tel (21) 2432-3800 Graduação Tecnológica em Design Gráfico Projeto Final Professora Paula Pericão Copyright ©2015 Preparação, revisão, projeto gráfico, ilustrações e capa: Victor Hugo Gonçalez www.behance.com/arttorvic
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Gonçalez, Victor Hugo. Rio de Janeiro: Estácio de Sá, 2015. ISBN 987-65-432-1012-3
I. Catálogo. II. Projeto acadêmico III. Feminismo
É assustadora a quantidade de gente que não sabe o que é feminismo. Ninguém tem a obrigação de saber, é claro, mas a partir do momento em que você decide opinar sobre um assunto, é de bom tom saber do que se trata.
POSFÁCIO
Desafio você a ler este questionário e respondê-lo em uma folha de papel separada. Feito isso, guarde-a. Após concluir sua leitura, retorne a ele e refaça. Isso irá te ajudar a observar seus pontos de vista em relação ao debate sobre igualdade de gênero e feminismo, te fazendo perceber o quanto sua opinião pode mudar quando compreende verdadeiramente o propósito do movimento que luta por direitos iguais para mulheres e homens
1. Você concorda que uma mulher deve receber o mesmo valor que um homem para realizar o mesmo trabalho? 2. Você concorda que mulheres devem ter direito a votarem e serem votadas? 3. Você concorda que mulheres devem ser as únicas responsáveis pela escolha da profissão, e que essa decisão não pode ser imposta por ninguém além dela? 4. Você concorda que mulheres devem receber a mesma educação escolar que os homens? 5. Você concorda que cuidar das crianças seja uma obrigação de ambos os pais? 6. Você concorda que mulheres devem ter autonomia para cuidar de seu próprio dinheiro e seus bens? 7. Você concorda que mulheres devem escolher se, e quando, se tornarão mães? 8. Você concorda que uma mulher não pode sofrer violência física ou psicológica por se recusar a obedecer ao pai ou marido, ou a fazer sexo? 9. Você concorda que atividades domésticas são de responsabilidade dos moradores da casa, sejam eles homens ou mulheres? 10. Você concorda que mulheres não podem ser espancadas ou mortas por não simplesmente não quererem continuar em um relacionamento afetivo?
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Sejamos todos feministas. Quando as pessoas perdem o medo de se declararem feministas, a luta das mulheres se fortalece.
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CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE É uma famosa escritora nigeriana, reconhecida como uma das mais importantes jovens autoras da língua inglesa da atualidade. Ela sempre gostou de ler e escrever, e praticamente tudo que escrevia quando criança era baseado inteiramente nos livros (britânicos e americanos) que lia. Mas apesar de amá-los, eles eram distantes de sua realidade, com personagens brancos que brincavam na neve. Felizmente, com o passar dos anos, para sua felicidade, ela descobriu outros escritores em seu país e soube que pessoas como ela – negras e que nunca viram neve – poderiam existir na literatura. Quando era adolescente, por volta dos 14 anos, estava na casa de um amigo quando discutiam opiniões sobre livros que haviam lido. No meio dessa conversa, ele olhou para ela e disse: “Sabe de uma coisa? Você é feminista!”, e pelo tom de voz ela pode perceber que aquilo não era um elogio. Não sabia o que a palavra significava, e não queria que ele soubesse que não sabia. Por isso disfarçou e continuou conversando. Mas a primeira coisa que fez ao chegar em casa foi procurar a palavra no dicionário. Já crescida, com 26 anos, escreveu seu primeiro romance publicado chamado “Hibisco Roxo”, sobre um homem que, entre outras coisas, batia na mulher e com um final não tão feliz. De maneira ilustrada e bem humorada, ela conta que: enquanto eu divulgava o livro em seu país, um jornalista bem-intencionado comentou que as pessoas diziam que seu livro era feminista, e lhe deu um conselho: que ela nunca, de forma alguma se intitulasse como sendo feminista, já que as feministas são mulheres infelizes que não conseguem arranjar marido. Confusa, decidiu então de definir como “feminista feliz”.
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Mais tarde, uma professora universitária nigeriana lhe disse que o feminismo não fazia parte de cultura nigeriana, que era anti africano e que, se ela se considerava feminista, era porque fora corrompida pelos livros ocidentais que lera. Resolveu então se considerar “feminista feliz e africana”. Um pouco depois, uma grande amiga lhe disse que, se ela era feminista, então devia odiar os homens. Decidiu então que seria uma “feminista feliz e africana que não odeia homens – e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, não para os homens”. De uma forma divertida ela nos mostra o quanto a palavra “feminista” ainda tem um peso negativo. Para muitos, feminista odeia os homens, odeia sutiã, e acha que as mulheres devem mandar nos homens; ela não se pinta, não se depila, está sempre zangada, não tem senso de humor, não usa desodorante… Homens e mulheres são diferentes. Ambos possuem hormônios diferentes, órgãos sexuais diferentes e atributos biológicos diferentes – as mulheres podem ter filhos, os homens não. Os homens, de maneira geral, são fisicamente mais fortes que as mulheres. Existem mais mulheres do que homens no mundo – mais da metade da população mundial é feminina. Mas apesar disso, a maior parte dos cargos de poder e prestígio são ocupados pelos homens. Quanto mais perto do topo chegamos, menos mulheres encontramos. Então, de uma forma literal, os homens governam o mundo. Isso fazia sentido há mil anos. Os seres humanos viviam num mundo onde a força física era o atributo mais importante para a sobrevivência. Quanto mais forte alguém era, mais chances tinha de liderar. E os homens, de uma maneira geral, são fisicamente mais fortes. Hoje, vivemos num mundo completamente diferente. A pessoa mais qualificada para liderar não é a fisicamente mais forte. É a mais inteligente, a mais culta, a mais criativa, a mais inovadora. E não existem hormônios para esses atri-
butos. Tanto um homem como uma mulher podem ser inteligentes, inovadores, criativos. Nós evoluímos. Mas nossas ideias de gênero ainda deixam a desejar. Perdemos muito tempo ensinando as meninas a se preocupar com o que os meninos pensam delas. Mas o oposto não acontece. Não ensinamos os meninos a se preocupar em serem aceitos. Se perdemos muito tempo dizendo às meninas que elas não podem sentir raiva ou ser agressivas ou duras, elogiamos ou perdoamos os os meninos pelas mesmas razões. Em todos os lugares do mundo, existem milhares de artigos e livros ensinando o que as mulheres devem fazer, como devem ou não devem ser para atrair e agradar aos homens. Livros sobre como os homens devem agradar às mulheres são poucos. A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que se comece a planejar e a sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos com si próprios. É assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente, assim como precisamos criar nossos filhos de um outro modo. O modo como criamos nossos meninos é nocivo. Nossa definição de masculinidade é muito estreita. Abafamos a humanidade que existe nos meninos, enclausuramo-los numa jaula pequena e resistente. Ensinamos que eles não podem ter medo, não podem ser fracos ou se mostrar vulneráveis, precisam esconder quem realmente são – porque eles precisam ser durões. Ensinamos as meninas a sentir vergonha. “Fecha as pernas, olha o decote.” Nós as fazemos sentir vergonha da condição feminina, elas já nascem culpadas. E crescem e se transformam em mulheres que não podem externar seus desejos. Elas se calam, não podem dizer o que realmente pensam, fazem do fingimento uma arte.
O problema de gênero é prescrever como devemos ser, em vez de reconhecer como somos. Seríamos bem mais felizes, mais livres para ser quem realmente somos, se não tivéssemos o peso das expectativas do gênero.
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MULHER-MARAVILHA A Mulher-Maravilha foi criada por William M. Marston na década de 40 com o intuito de combater a ideia de inferioridade de gêneros. Princesa e Embaixadora das Amazonas da Ilha Paraíso, foi mandada ao “mundo dos homens” para propagar a paz, sendo a defensora da verdade e da vida, além de possui habilidades super-humanas e o Laço da Verdade. Ela é um dos maiores ícones da cultura pop e do sexo feminino, além de ter sido a primeira super-heroína da editora DC Comics. Junto de Batman e Super-Homem, ela é parte da Trindade da DC, os três mais importantes super-heróis dos quadrinhos. No início da década de sua criação, a DC Comics era dominada pelos personagens masculinos com superpoderes tais como Lanterna Verde, Batman, e o principal deles, Super-Homem. William teve a ideia para um tipo novo de super-herói que triunfaria sobretudo com o amor. Ao contar sua ideia para a esposa, Elizabeth, ela sugeriu que ele fizesse uma mulher. E assim ele a fez. Então, a Mulher-Maravilha foi criada para desenvolver um padrão entre as crianças e jovens de uma feminilidade forte, livre e corajosa; para combater a ideia de que as mulheres são inferiores aos homens, e para inspirar as meninas a terem auto confiança e a se realizarem no esporte e nas ocupações e profissões dominadas por homens, porque seu criador acreditava a única esperança para a civilização é a maior liberdade, desenvolvimento e igualdade das mulheres em todos campos da atividade humana. Isso tudo foi pensado em uma época onde as mulheres eram muito mais descriminadas socialmente. Antes, as mulheres nos quadrinhos possuíam sempre um papel secundário, e na maioria das vezes eram colocadas em perigo para que
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o herói, sempre um homem, forte, másculo e corajoso, pudesse cumprir seu papel de salvador. Por se tratar de uma heroína “superior”, sua abordagem para lutar contra criminosos é diferente daquelas de seus colegas masculinos. Estes usam força bruta para derrotar seus vilões, enquanto ela é mais racional e tentar convencê-los a mudar para melhor. Apenas se isso falhar que ela usa força, ou seu Laço, que faz com que a pessoa envolvida por ele se torne incapaz de mentir. Entretanto, como qualquer super-herói, a Mulher-Maravilha possui uma fraqueza: se os seus braceletes forem unidos por um homem, ela perde seus poderes. Em incontáveis histórias, ela é amarrada e algemada por vilões masculinos, com o propósito de que no fim da história, ela consiga se libertar e triunfar. Estes elementos são símbolos do patriarcado e o enredo das histórias é focado sua habilidade de romper com as amarras da dominação masculina que eles simbolizam. Ela também causou muita polêmica, tanto pelos seu jeito de se vestir como pelo fato de suas histórias inverterem o conceito de heroísmo, colocando o homem em posição da “donzela em apuros”. Inclusive, ela serviu de inspiração para a mudança de mentalidade e personalidade de outras personagens como Lois Lane, a namorada do Super-Homem, que era submissa e sempre em perigo, para uma repórter forte e decidida. A partir desse momento, as as meninas também ganharam uma representante que as identificava no mundo dos super-heróis, sem deixar a desejar em nenhum aspecto em relação aos heróis masculinos. As HQ's deixaram de ser “coisa de menino”.
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Agora, você se considera a favor da igualdade de gêneros? Concorda que precisamos respeitar e tratar uns aos outros igualmente , independente do gênero? (vire a página!)
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Então você é feminista.
Universidade Estácio de Sá Rio de Janeiro, 2015
Este livro trata-se de um Trabalho de Conclusão de Curso de Victor Hugo Gonçalez Almeida, como requisito parcial e obrigatório para obtenção do título de Designer Gráfico. Siga @arttorvic no Facebook, Twitter & Instagram.