Macho - A Desconstrução da Masculinidade Tóxica

Pesquisa, Preparação, Projeto Gráfico, Diagramação e Capa e colagens do miolo Victor Kichler Revisão Lua Borges Konrad Orientação Andrea Capra Qualificação Luis Carlos Fetter Impressão Gráfica D21

Copyright © 2019 Victor Kichler Todos os direitos desta edição são reservados à Nemesis Editora.

Rua Praia de Belas, 2095 - Sala 19 Rio Grande do Sul, RS - CEP 90110001 Telefone: (51) 3012-1160 Site: www.nemesis.editora E-mail: contato@nemesis.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Raquel Santana CRB-8/7057 Kichler, Victor

Macho: A Desconstrução da Masculinidade Tóxica / Victor Kichler. - Porto Alegre: Nemesis Editora, 2018.

144 p.

Bibliografia ISBN 999-19-523-0329-1

1. Sociologia 2. Psicologia 3. Politica 4. Comportamento I. Título II. Kichler, Victor 19-0091

CDD 751 Índices para catálogo sistemático: 1. Sociologia 751

Dedico este livro a meus pais, Nauder e Helena que sempre me apoiaram em minha jornada e também a meu avô, Breno, que sempre esteve tão próximo de mim, mas que agora, onde quer que esteja, espero que saiba que o neto dele está feliz. A minha parceira de vida, Lua, que não poderia de forma alguma ser esquecida. E, por fim, dedico este livro àqueles que não se encaixam em um padrão criado há centenas de anos, àqueles que não se curvam e que sabem que existe uma maneira melhor de ser e de agir.

Victor Kichler

Durante o decorrer deste livro você terá acesso a vídeos e podcasts complementares ao texto apresentado. Para acessá-los, basta utilizar o QR Code* ou o link apresentado nas laterais de certas páginas para assistir ou ouvir à entrevistas, trailers, propagandas e bate papos sobre a masculinidade tóxica e como ela afeta tudo e todos a nossa volta.

Nesse primeiro QR Code você tera acesso a versão digital do livro que pode ser acessado e baixado através do issuu.

Para acessar bit.ly/2EWrP7L

*Para ler este código, é muito fácil! Baixe em seu smartphone ou tablet um aplicativo para leitura de QR Codes. Toda vez que encontrar um símbolo semelhante a este durante a leitura, abra o aplicativo, aponte a câmera do seu aparelho para a imagem e acesse o vídeo.

Meninos e a violência de seus pais - 12 Masculinities as Relational - 16 The Social construct of boys masculinity - 22 Atitudes que moldam os homens - 28

A internet está ensinando jovens a odiar mulheres - 54 Fraternities - 58 What is toxic Masculinity? Masculinity as a Construct - 66 Como a masculinidade tóxica está nos destruindo - 76

Men, toxic masculinities and violence - 96 Masculinidade negra, das emoções ao autocuidado - 108 The long way toward equality - 116 What brings men to terapy? - 126

Abert Cola

tura I agem

Abertura I Colagem

Quando crianças é sempre dificil para os meninos entender exatamente o que é ser homem e quais são os limites de sua própria masculinidade. “Meninos brigam e jogam bola, meninas são fofas e brincam de casinha”. Comentários como esses e muitos outros vão moldando e podando aos poucos a mente de um menino que poderia muito bem gostar de brincar com bonecas, elaborando histórias diversas com elas, que poderia ser carinhoso e afetuoso com sua famiia e amigos, até que em um determinado momento ele pensa.

- Se meninas são fofas e meninos são briguentos, então o que eu sou?

Alguns, já nessa idade tentam se encaixar no que é esperado deles. Evitam ao máximo as lagrimas pois, meninos não choram, competem à todo instante, já que meninos são assim mesmo. Outros simplesmente seguem sua infância, juventudo e talvez toda sua vida, ainda se questionando, o que são e a que lugar eles pertencem. Se vocês, assim como eu, sabem que se sentiram assim ou se ainda se sentem assim e querem quebrar esse ciclo, com seus filhos, sobrinhos, netos ou sejá lá quem for. Continue a leitura e vá além, pois cabe a nós homens e mulheres que acreditam que os meninos podem ser muito mais do que apenas”fortes”.

12

Meninos e a violência de seus pais Sou uma pessoa cética, relativamente fria e desconfiada dos outros. Sou incapaz de confiar em alguém pela quantidade de vezes que me dei mal com isso”, desabafa Miguel** sobre sua vida adulta. O homem passou a adolescência sofrendo bullying e guarda consigo o rancor daquela época. Por mais que já tenham se passado dez anos, ele diz sentir “um misto horrível de pensamentos” quando lembra das humilhações que viveu nas mãos dos primos e colegas de classe. “Já prejudiquei quem fez isso comigo quando tive a oportunidade, tanto na vida pessoal quanto na profissional. É uma sensação agridoce: azeda, porque normalmente é algo ruim, e doce porque eu reconquisto o controle e a autoconfiança que perdi há muito tempo [agredindo quem me fez mal]”, explica. O ódio e a vingança de Miguel não estão muito longe da realidade de outros homens que descontaram suas dores massacres vistos em março deste ano. Um atirador abriu fogo em uma mesquita na Nova Zelândia, e dois jovens atiraram contra alunos e funcionários de uma escola em Suzano, na região metropolitana de São Paulo. Ambos acreditavam que “sete mulheres virgens” estariam esperando por eles no céu. Segundo a psicóloga e especialista em saúde mental Janaína Leslão, um dos motivos que tornam os homens mais violentos que as mulheres é a forma tóxica como é construída a masculinidade dos meninos na sociedade.

Há pais que não abraçam o filho, não o deixam beijar o irmão ou demonstrar amor. Se eles não podem entrar em contato com as emoções, não vão aprender a demonstrar afeto e amar sem

serem tóxicos e obsessivos”, afirma. “Hora ou outra isso pode explodir de forma cruel, inclusive contra as mulheres e pessoas próximas”. A especialista diz ainda que muitas famílias têm medo do filho não responder ao padrão do que é masculino e feminino na sociedade. “Sempre tem que ter demonstração de humilhação na forma de brincadeira, como dizer ao menino que ele é mais fraco porque faz algo considerado de mulherzinha”, diz.

A ONG australiana White Ribbon demonstrou essa violência presente na vida de muitos meninos na campanha Meninos Não Choram. O vídeo do projeto mostra um garoto constrangido diante da valentia e masculinidade do pai. Assista.

“Meninos não podem ter medo, não podem chorar, não podem ser tímidos, não podem se sentir machucados, ser sensíveis e impotentes, porque meninos não choram”, diz o narrador enquanto crianças se agridem com socos e um adolescente induz uma jovem bêbada a ter relações sexuais com ele.

‘Cheguei a andar com facas na escola para me defender’ Miguel relata que sempre foi um jovem tranquilo e esforçado.

Sempre apoiava os pais nas dificuldades financeiras. “Passei perrengues com a minha família para poder me manter na

13

14

escola particular. Eu não merecia os xingamentos, armações e ridicularizações [que faziam contra mim]”, relata.

A sede por justiça fazia Miguel responder à altura as agressões dos outros meninos. Ele recorda que já quebrou os braços e o nariz do primo e foi enquadrado pela polícia ao ser visto brigando fora da escola. “Até hoje sinto raiva, asco, ódio e vontade de vingança”, revela. O jovem Pedro** passou por momentos ainda mais drásticos que Miguel. Ele recorda que alunos roubavam itens da escola para jogar embaixo de sua mesa para incriminálo, até que um dia surtou e perdeu o controle. “Derrubei aquele desgraçado no chão e soquei a cara dele até quebrar o nariz dele.

Mesmo assim, nada mudou. Cheguei a andar com facas na escola para me defender e tentei me suicidar uma vez quando tinha 11 anos”, relata. Pedro acredita que cometeria um atentado se tivesse uma arma ou acesso à internet da forma facilitada que existe hoje. “Eu seria um desses perturbados que decidem se matar e levar mais gente junto, porque eu tinha vontade de matar meus agressores todos os dias. Desejava que algo acontecesse com eles para ver se aquilo parasse”, revela.

Os professores dos colégios também têm culpa disso quando reproduzem discursos machistas.

Para pensar bit.ly/2ECJnpw

“Nos meninos é estimulado o exercício da coragem e de correr riscos, enquanto que nas meninas constroem a ideia de submissão”, explica. O especialista alerta ainda que “a falta de contato com as próprias emoções leva muitos homens a se tornarem silenciosos, frios e insensíveis, capazes de cometer atos violentos, porque a única emoção que lhe sobra é a raiva”.

‘A masculinidade do homem está centrada no pênis’ A psicóloga Janaína Leslão analisa que os ambientes de violência entre homens são marcados desde a infância por xingamentos que associam o pênisa agressão. Isso porque expressões como “pau”, “cacete” e “porrada” fazem alusão ao órgão masculino e ao sêmen. “Os nomes dados ou relacionados a essa parte do corpo são sempre usados para coisas que podem machucar”, afirma.

Por outro lado, diz ela, o agressor só se sente ameaçado por esse vínculo entre o sexo e as palavras quando está em um ambiente marginalizado como as prisões, onde teme o estupro assim como as mulheres. “O maior medo de um homem é entrar na cadeia e ser estuprado, virar o que chamam de ‘mulherzinha’, definição que muitos deles desprezam e dizem aos outros todos os dias”, explica. Diante dessa relação tóxica que muitos rapazes criam com a masculinidade, o psicólogo e sociólogo Flávio Urra começou a coordenar o programa de discussões entre homens “E Agora, José? pelo fim da violência contra a mulher”, na capital de São Paulo. Nas atividades, os integrantes compartilham experiências, frustrações e formas de se tornarem pessoas melhores.

É triste, mas os avanços acabam esbarrando nos diversos retrocessos.

Urra afirma que o grupo é positivo para a saúde mental dos participantes. Ele lembra de um homem que parou de forçar a mulher a fazer sexo e de outro que confessou que já teria matado a companheira se não tivesse entrado para o grupo. Num outro momento, um policial disse que passou a evitar matar durante o trabalho depois que conheceu o coletivo, passando a atirar para imobilizar e não mais para tirar vidas.

De forma independente, Miguel e Pedro também buscam se tornar pessoas melhores a cada dia. O primeiro faz terapia psicológica e o outro diz ter parado de remoer o passado com o passar do tempo. No entanto, os avanços ainda não definem a realidade no Brasil: seis mulheres são estupradas por hora, mais de 4,5 mil foram assassinadas em 2017 e homens ainda recorrem aos fóruns de ódio da dark web para, assim como Miguel, alimentar o sentimento de “ódio, nojo e vontade de vingança” que sentem.

15

16

Masculinities as Relational Masculinities do not constitute a stable object of knowledge, but are historical projects that function as part of a gender order; masculinities are always defined in relation to femininities, and dominant masculinities are also defined in relation to subordinated masculinities (Connell 2005). These relations mean that women’s social existence is affected by the place of men and masculinities in society. Thinking intersectionally, for example, racialized ideas about masculinity also impinge on women’s lives: when Black boys are defined as “pathological,” “troublemakers” and “bad boys,” Black women are consequently blamed and pathologized as inadequate mothers (Ferguson 2000).

Understanding gender as relational emphasizes the importance of inter-group relationships and illustrates how we can better understand the experiences of oppressed groups by drawing on knowledge about their oppressors: “when we think about gender in terms of power relations, it becomes necessary to study the powerful (men)” (Messerschmidt, 2000, p. 2–3). If masculinities are defined in part by their difference from and purported superiority to femininities, then the inter- personal interactions that reproduce and reify masculine norms form a significant part of the oppression and subordination women experience.

Adrienne Rich’s “Compulsory Heterosexuality and Lesbian Existence” (1980) is an early but thorough example of the project of understanding how men’s power over women is maintained.

She argues that the socially enforced system of het- erosexuality invalidates women’s existence for themselves, valuing them only for their ability to produce or give pleasure to men. Empirical investigation shows how masculinities defined in relation to

femininity and subordinated masculinities cause anxiety and lead young men to perpetrate sexual violence (Messerschmidt 2000). Using life histories from interviews with five sexually violent boys, five boys who engage in assaultive but non-sexual violence, and five non-violent boys, Messerschmidt finds that the violent boys all viewed violence as a crucial charac- teristic of masculinity, and used it as a “masculine resource” when their masculinity is challenged and other avenues to reaffirm it are denied. In both cases, we gain a more complete knowledge about women’s experiences of sexuality and sexual violence through the addition of knowledge gained by studying up, because the definition of masculinity as opposed to and superior to femininity drives men’s negative treatment of women and women’s negative self perceptions.

Masculinities are socially constructed, from the moment we are born.

17

18

Perhaps the most frequently confirmed tenet of masculinities research is that masculinities are socially constructed. Tracing this process and drawing attention to the substantial changes in masculine ideals over time highlights the manufactured, powerembedded character of both the superordinate group and of the hierarchy they dominate, thus undermining claims to naturalness.

Similar analyti- cal strategies have been very effective in research around other social hierarchies. Critical race theorists have had significant success in deconstructing whiteness (i.e.

Frankenberg 1993; Harris 1993; Jacobson 1999; Lipsitz 1998). An especially effective example in studies of sexuality is Katz’s “The Invention of Heterosexuality” (1995), which not only shows that heterosexuality is a relatively recent social con- struct, but that bounding it and defining it as “normal” required significant effort over time by doctors, sexologists, and journalists.

Early research on men and masculinities aimed “to understand that the con- struction of masculinity contains a political dynamic, a dynamic of power, by which ‘the other’ is created and subordinated,” (Kimmel 1990, p. 96) and many resulting publications focused on the construction of masculinities and their links to power. Messner’s “Power at Play” (1995) shows how masculinity is constructed by power relationships in institutionalized sport, and the effects this has on men’s bodies, lives and relationships. Pascoe’s “Dude, You’re a Fag: Masculinity and Sexuality in High School” (2007) exposes the construction of heterosexual, dominance-based masculinity in American high schools through sexual boasting, harassment, the rejection of the abject “fag” identity, and the disparagement of girls and women.

Schilt’s research on transgender men and employment (2006, 2010) illustrates how power and privilege comes to men in interactions, even in cases where an individual was previously known as a woman. By showing that these benefits accrue to individuals as they move through across genders, Schilt convincingly argues that they originate from the socially constructed category “men,” not from anything about the individuals themselves.

These examples offer effective rejoinders to the com- mon claim that gender inequality is inevitable because of some natural differences between the sexes by challenging the naturalization.

19

There are inumerous contradictions in masculine power over women.

Men’s power and privilege in society is far from complete; indeed, the very exist- ence of feminism evinces both the vulnerability of masculine power and the ef- fectiveness of women’s challenges to date. A better understanding of men’s power can provide scholars and liberatory movements with valuable information on how to best direct future efforts, by pointing out the places where such efforts will be most effective. Much research on men and masculinities has taken this as its goal. Goode’s “Why Men Resist” (1982), for example, not only describes the reasons and cases in which men resist gender-egalitarian social change, but also gives hints as to how, why, and when men might be more open to such progress, and which men might be less inclined to defend gendered hierarchies and male dominance. Kimmel’s (1987) description of the three ways men react to women’s calls for equality can help us predict both many men’s regressive reactions in defense of the status quo and some men’s profeminist impulses.

Knowledge about men who work for gender justice provides important information about possible feminist strategies, and this project has accordingly been undertaken (Christian 1994;

20

Kimmel and Mosmiller 1992; Messner 1997; Messner, Greenberg, and Peretz 2015; Stansell 2010; White 2008; White and Peretz 2010). Investigating the reasons for men’s engagement improves the possibility of en- couraging more men to support social change. Kaufman concludes that although men’s social power provides privilege, it also becomes “the source of the individ- ual experience of pain and alienation. That pain can become the impetus for the individual reproduction of men’s individual and collective power. Alternatively, it can be an impetus for change” (1994, p. 142–143). Empirical research has used interviews to map the longitudinal process of men’s engagement with gender jus- tice work, which involves sensitizing experiences, multiple opportunities to get in- volved, and the creation of new ways of making meaning about gender, violence, and efficacy around the issue (Casey and Smith 2010). Intersectional identity is important here, as men who are marginalized due to some other intersectional identity (Black, Jewish, Gay, etc.) may be more likely to have a critical view of hier- archy and dominance systems and to support gender justice (Brod 1988; Messner, Greenberg, and Peretz 2015; Shiffman 1987; White 2008; White and Peretz 2010).

Connell’s work is especially useful in understanding where men’s power within the gender order is vulnerable to change (1987; 2000; 2002; 2005). She argues that “There are some cases where patterns of masculinity are tough and resistant to change.

There are other situations where they are unstable, or where commit- ment to a gender position is negotiable … Investigating the circumstances where gender patterns are less or more open to change seems an important task for re- search” (2002, p.

23). Paying attention to the divisions within masculinity reveals multiple masculinities, including subordinated, marginalized, and complicit mas- culinities; this is a key site for intersectional analysis, and has been elaborated by many other researchers This area of research also helps us under- stand why so many men (and women) support the hegemonic ideals even though the idealized form does “not correspond at all closely to the actual personalities of the majority of men.

Black boys are defined as troublemakers and bad boys, Black women are consequently blamed and pathologized as inadequate mothers

21

22

The Social construct of boys masculinity Toby gave his Aunt a big hug before he rounded the bend of the cement dug out and joined his teammates of eight-year old boys.

The paved and dusty floor was littered with pleather gloves, each decorated with athletic insignia or super heroes, strewn along with caps, all black and yellow, each one indistinguishable from the others, apart from the initials marking the tags on the inside to ensure that each cap corresponds to one particular player. The boys stirred in the shade, scuffling about, pushing, jabbing, laughing. They craned their heads upwards, squinting into the sun to see the faces of the coaches, all men with stubble shading their faces just below the imprints of crows feet around the eyes, and light wisps of sil- ver sprouting from their temples.

The men talked sternly about nothing in particu- lar, breaking the monotony of their poker faces with periodic and abrupt sounds that registered as something seeming like amusement. Most of the boys kept their distance, but maintained their attention on the menfolk. They feigned interest in their conversations about work, the renovations on Main Street, and the recent political scandal, but actually none of them understood the significance of any of this. Not the boys, nor the men who uttered these trivialities. The only strand of fascination that the young ones gleaned from this meaningless exchange of words was that this was guy talk. This is the stuff about which men converse. Performing comprehension

equates to a kind of currency, and so if one acquires the currency, deploys the proper cues, one might be able to buy one’s way into manhood. To talk with the big boys is to be one of the big boys.

Toby kept to the corner in the shade, where he would not be assaulted by roughhousing, or lose his cap.

23

From this huddle, one of the coaches turned his head in the direction of the boys. Facing them, but not looking at them, he formed a small shriveled opening with his mouth and spit a streaming arch of filth that hit the cement of the dugout with a splat, congealed in an instant, and made of itself a point of convergence for the gaze of every lad looking for cues to compose their own identities in the image of the father. The pool of spit soon grew as each uniformed youth attempted to demonstrate the precision of his own expulsion of spittle. Some stood directly over the bubbled gob, as clear streams ran down their chins and dribbled with patters that sounded like footsteps creeping closer to their mark. It was something more than a demonstration of personal corporeal control, or the ability to aim and move matter in accordance with one’s will. For some, it seemed, that by combining his own bodily fluid with that of the father’s was like concocting an elixir. If his spit mixed with his spit, then they were one and the same. Toby watched nervously, and swallowed the lump in his throat. Later, well enough into the game’s innings that the spectators had forgotten how many were left, parents exchanged small talk, compared teachers, and took regular breaks to shout the name of their particular child whenever he took to home plate for an opportunity to crack the ball. Toby played shortstop when it was his turn in the field. He enjoyed this position because after the thrill of the game wore off in the first three innings, he was able to turn his attention to the soft dirt between first and second base. It was smooth, running through his fingers, and he thought to himself that if the granules were only a bit smaller this dirt would be more like liquid, a burntorange pool on which they could barely stand.

He liked these moments of peace in which he could be alone in spite of the clamor and structured play around him where he could feel the breeze and enjoy the simplicity of the clear sky and

Para pensar bit.ly/2CkZRQX

24

the soft dirt. Just then, an abrupt wind broke his self-indulgent solitude, and he realized that it was the game ball that had soared by his head. The shouting of teammates and parents pressed in on him. From the opposite direction another body moved quickly by him. It was a runner. Toby missed the ball aimed at him, and the runner gained second base. “Get your head in the game!” his mother shouted from behind a chain-link fence on the sidelines.

“Man up,” the coach said from the central location of the pitcher’s mound, like an authority bearing down on him, both of them playing their part in some play ground panopticon. Toby felt ashamed and afraid, like he had failed. The social order saw his flaws. He was a dreamer, and there was no time or exceptions made for a young man who could not engage the other fellows in their assigned tasks. Between first base and second base.

He wanted that soft dirt to become liquid and permit him to sink and hide.

Toby averted his eyes from the father on the mound and strained to suppress his tears. Avoiding the feeling of emptiness opening in place of his guts, he focused all of his attention on the next play.

The coach softly pitched the ball at the next batter who swung awkwardly, relying of chance to connect his bat with the baseball.

It did. With a sharp peel, the ball arched upward into the air, culling the attention of all those young men in uniform to squint past the oversized brim of their baseball caps, and calculate the trajectory of the plummeting mass. It came down in the outfield just before the batter made contact with first base. Toby intently watched his teammates scuttling to retrieve the ball as one boy in left field picked it up, looked deliberately in his direction, aimed and threw. The ball hit Toby’s glove with a satisfying thud as the runner jogged past him towards second base. Coerced by the command to “man up,” Toby put all of his strength behind his throw. He centered on his target with feigned but hopeful precision and hit his mark perfectly. The ball held Toby’s shame and regret, but the dull thump that it made on impact resounded in his mind and echoed over the feelings of dread that he had only

recently experienced. The runner went down into the dirt, instead of Toby, just after the ball took his breath from him by striking just between his shoulder blades. Toby was overjoyed. The runner was overcome. He was lifted by Toby’s coach – just like a baby, Toby thought. The coach delivered the downed runner, gasping for breath and stained by tears mixed with fine burnt-orange dirt, to his mother on the other side of the chain-link fence.

The rest of the game passed quickly as Toby soaked in the exhilaration of accomplishment. He felt like he had earned his rank as a team member, as one of the other boys, but special. His mark was not composed of a pool of collective spit that would evaporate from the cement. His mark was made on the skin of the opposing team. He was accepted by them, as one of the boys.

His claim to manhood was announced to every witness on and around the baseball diamond with the gasps and cries of that fallen runner.

Toby’s peers congratulated him after the game. The coaches had very little to say beyond announcing the next time and place for their next practice session. With an orange slice in one hand and a juice box in the other, Toby trundled over to his Mom, and Aunt, and Grandmother. He asked if they could go out for a spe- cial treat, to celebrate his achievement like the coaches who met up at the tavern across the street for beers after the boys’ game.

His Aunt took him to a local fast food chain where he got an ice cream cone for wearing his uniform in the restaurant and all of the meals from the kids’ menu came with a little toy. This week the toys were either miniature automobiles or pocket dolls with freely moving strands of hair and fluorescent wings. Toby told his aunt that he wanted the fairy. They looked so pretty and fun. In his mind, the idea of pushing a piece of plastic across the floor while supplying revving sounds seemed so boring. Where was the toy car to go? How much fun is it to pretend to be seeking out a destination? And, should the toy ever arrive, would it not then be rendered obsolete. No, the fairy was more appropriate for him.

Fairies represented possibility. Their wings were transportation, and once they arrived they had the means by which to facilitate imaginary dialogue, action – an entire narrative po- tential was embodied by the fairies.

25

26

Toby’s Aunt let him order his own food. He enjoyed this responsibility. He even got to hold the money so that he could pay for everything. He felt smart and special as he informed the clerk that he wanted a kids’ meal with a fairy. The young man behind the counter looked puzzled, like he hadn’t quite heard the request. Toby felt self-conscious again, like maybe he wasn’t ready to order his own food, like he was unintelligible or deficient. The clerk’s eyes moved toward Toby’s Aunt for comprehension. She nodded her head in affirmation and the young man processed their order. Toby not only paid for their meal, he also received the change, and counted it back to his Aunt as they waited for their food to be placed on the counter before them.

They sat together at the table and Toby parceled out their food while his Aunt asked him what he thought about today’s game.

She seemed concerned, but he was not. He was proud, and he was excited to unwrap his new toy before he started eating. With his Aunt, the rule was always that the toy was to be placed on the table, and only after he had made his best effort to eat everything would they then go outside and play with whatever the latest plastic loot happened to be that promotional season. So Toby pulled out the bag and was excited to see the bulbous shadowy eyes of a human face looking at him through the plastic.

He was anxious to stretch that bag to point of tearing so that he could free the glittering wings that were hastily crammed into the packaging. With the toy set aside he removed the other contents of the box, including a burger, some fries, and something else.

Something wrapped in plastic at the bottom of the box.

It was another toy. Toby was thrilled! In an instant his mind leapt to the possibility of fairy friends. Now that he had two, they would each have someone with whom they could speak. They could fly around the room, singing songs to which only Toby new the lyrics.

At night they would sleep together just above Toby’s pillow on the headboard of his bed, so that he could look up at them before following their glittering wings into dreams.The clerk called over to them from the other side of the counter. He explained that he wanted Toby to have both toys because he assumed that when Toby got home he would feel bad because he had picked the wrong toy. Toby didn’t understand. bad about himself.

27

What is it to be a man?

28

Atitudes que moldam os homens Criticar masculinidades tóxicas é bem diferente de criticar todos os homens ou o masculino como um todo. Artigos com conceitos abstratos logo no título dão sono, eu sei. Vou tentar escapar dessa reza. Escrevo no calor do bom diálogo surgido nos comentários do texto “Homens estão morrendo porque não conseguem falar”. Vamos lá. Briga de torcidas organizadas em 2013. Ano no qual elas provocaram um recorde de 30 mortes no Brasil Jogo da primeira divisão do Brasileiro, um dia desses.

Das arquibancadas, um pai xinga o bandeirinha diante de um impedimento bem marcado, mas que prejudica seu time: – Seu corno-filho-da-puta-arrombado-viadinho, vai apitar jogo de várzea! Os dois filhos pequenos observam atentos ao pai, são provavelmente muito novos pra saber usar palavrões – um faz cara feia e agita os braços, apoiando o patriarca; o outro se encolhe entre as pernas da mãe, puxando a saia dela pra ver se já era hora de mais um cachorro quente. Já o filho adolescente engrossa o coro, tomando como alvo o próprio time, que aparentemente não está correspondendo às expectativas, “vai tudo dar o cu, seus bando de frouxo!”. Num bar, na mesa atrás de mim.

Empresário passa por dificuldades, adquire divídas que colocam todo seu patrimônio em risco. Mas não abre para a família, nem pede ajuda – por medo de expor sua fragilidade e perder seu posto de homem provedor. No churrasco, pergunto a um amigo de vinte e tantos anos que estava cursando graduação,

trabalhando em uma grande construtora e, pra completar, montou empresa própria: – Mas como você está? Digo, de verdade, como fica sua saúde emocional em meio a uma rotina tão pesada? – Então (ele abaixa a voz, me puxa meio de canto), você não vai acreditar. Tive um princípio de infarto semana passada. Estava em casa, com meus pais, comecei a sentir uma dor estranha, foi ficando forte, forte… até que me levaram correndo no hospital e era um infarto. Sorte que o médico conseguiu me tratar na hora. Mas não vou esquecer mais do que ele me disse depois, “se você seguir nesse ritmo, não passa dos trinta”. – Caramba! E você vinha conversando com alguém sobre a carga estar muito pesada pra você?

– Na verdade não, estava só aguentando o tranco mesmo, sabe como é. Pai vê o filho nascer no dia 24 de maio. No cartório, muda o nascimento pra vinte e cinco, “24 é número de viado”.

Macho de verdade não chora e quer sexo sempre que possível.

Nunca nega uma trepada.

Se não transa, é um bosta.

Agrada mulheres pra, no final das contas, transar. Se pudesse ter sexo à vontade sem um relacionamento estável e comprometido, soltaria fogos. Não entende sinais, não entende isso de emoções também, deixa essas coisas pras mulheres. É agressivo e usa a força com quem ultrapassa seus limites. É controlado, mas impulsivo quando ofendido. Ambicioso, desdenha de quem não deseja mais da vida. Despreza comportamentos que indiquem fraqueza, vindos de outros homens. Ele mesmo agir assim?

Intolerável. As histórias são reais. Nelas, vemos traços comuns em muitos homens: agressividade excessiva, medo de ser gay, medo de ser fraco, medo de ser feminino, busca por ser percebido como altamente sexual, fechamento emocional (evitar vulnerabilidade), obsessividade com poder e dinheiro (expressadas de modo comum em relações auto-destrutivas com o trabalho). Tomo a liberdade de usar a palavra “medo”.

29

30

Se não há medo é difícil haver raiva!

Uma materialização dessa loucura é o absurdo argumento de defesa “gay panic” (pânico de gays), que pode ser usado nos tribunais dos EUA para atenuar as penas em casos de assassinato. A “gay panic defense” diz que avanços indesejáveis de homossexuais podem levar a “violenta insanidade temporária”.

Em 2014, a Califórnia foi o primeiro estado a banir o uso desse argumento. Ser homem, em larga medida, é essa construção de identidade baseada no medo. A imagem foi originalmente concebida pelo professor, psicólogo e pesquisador Jim O’Neil.

Não à toa desfilamos nossa força a todo instante, no melhor de nossa capacidade. Os musculosos malham, brigam, exibem os bicéps e tricéps. Os inteligentes articulam, comandam, estudam, dominam temas complexos e exibem seu conhecimento. Os bons em games acumulam mortes, pontos, rankings, medalhas e os exibem nas comunidades online, notórias pela presença massiva de outros homens. Os ricos gastam, acumulam, vivem experiências de riqueza, se gabam sobre como o que importa não é o que você tem, mas o que você é, e em seguida ostentam

o que possuem. Clichês e generalizações à parte, o ponto é ressaltar o narcisismo tão comum a nós. O desmedido senso de auto-importância, talvez só equivalente ao pânico de sermos desimportantes, fracassados, fracotes. Essa situação prende os homens no que é conhecido como “The Man Box” (A Caixa do Homem): Dentro da caixa, os comportamentos esperados: forte, durão, intimidador, sob controle, respeitado, atlético, poderoso, rústico, assustador, não mostra fraqueza, provedor, macho, grande, não responde a ninguém, jogador, rico, sexual. Fora da caixa, como será julgado caso se comporte fora do esperado: bicha, viado, fresco, fraco, menininho da mamãe, trouxa, afeminado. O resultado são homens com emocionalidade restrita, sufocados, que acabam por adoecer e morrer, ou se autodestruir, mais cedo. No Brasil, a nossa expectativa de vida está sete anos abaixo das mulheres.

A Associação Norte Americana de Psicologia estima que 80% dos homens nos EUA sofrem de “Alexitimia”, uma condição caracterizada pela dificuldade em identificar e expressar os próprios sentimentos. Há pessoas que se sentem confortáveis sendo desse modo, mas outras tantas, não. É como se a gente passasse tanto tempo temendo se associar a qualquer coisa vista como emocional demais – ou seja, supostamente “mulherzinha demais” – que, quando precisamos dessa habilidade, nem sabemos como usar. E não por má vontade, mas pela mais pura e simples falta de treino. No limite, isso leva à depressão, até mesmo ao suicídio. Homens não são mais simples do que as mulheres. São seres tão complexos quanto, apenas condicionados de outros modos. Essa masculinidade baseada no medo, que busca se provar “macho” a todo momento – estimulando violência, fechamento emocional, homofobia e obsessão com dinheiro, sexo e poder – é tóxica.

Ela perpassa homens hétero, homo, trans, pretos, pardos e brancos, deficientes e não-deficientes. Não obriga ninguém a sair falando dos sentimentos ao acordar. Atacar a masculinidade tóxica é buscar liberdade. É permitir um leque maior de escolhas sobre como deseja ser, sem que isso coloque em risco o quão homem ele é. Só. Ninguém vai te proibir ou obrigar a nada. “Se eu tivesse que dizer qual a principal emoção da masculinidade

31

Para pensar bit.ly/2WRRR66

32

norte-americana, seria ansiedade. Por que? Porque você precisa provar sua masculinidade o tempo inteiro.” – trecho do excelente documentário “The Mask You Live In” Em comentário recente nesse texto aqui, escutamos de uma psicóloga:

A queixa número um de meus pacientes homens é: Não sentir que estão cumprindo seu papel masculino.

Não ganho dinheiro pra manter minha família e ser o homem da casa. Mas só vim porque meu chefe mandou, homem não precisa dessas frescuras não.” Homem é GENTE. E gente SOFRE. Ponto.”

Escuto relatos similares de outros amigos psicólogos. Estamos falando de algo que efetivamente impõe dor e sinucas emocionais à grande maioria dos homens, cedo ou tarde. Então como separar a masculinidade tóxica do restante, sem jogar tudo fora? Penso que toda mudança começa com a tomada de consciência.

Porém, aqui cabe um parênteses, essa não é uma conversa fácil.

Eu mesmo me debati anos até entender o que agora compartilho nesse texto. É importante termos paciência e acolher quem pensa diferente de nós. Não dá pra mudarmos a mente de outra pessoa como quem atualiza um software. Sendo bem sincero, é algo que corre tão fundo dentro de nós e na sociedade, que ainda sofro com isso e não sei se é algo que um dia “vou resolver”. Há muitas tensões envolvidas na experiência de ser homem. Longe de ser vitimização ou comparação com a dor das mulheres, é apenas reconhecer ser duro. E como em qualquer tarefa árdua, a ajuda é bem-vinda. Cena de encontro nacional da extinta Cabana PapodeHomem – um espaço de crescimento coletivo –, conduzido por um Eduardo Amuri ainda não barbado.

Eu preciso de ajuda pra ser um homem melhor. Mesmo. Não é uma frase bonitinha, é a própria origem do PdH. Preciso de parcerias reais, de pessoas amigas me acolhendo e lembrando o que fazer e o que não fazer, com seus exemplos positivos e apoio constante. E talvez essa ajuda também possa ser útil a você. Pois há traços que podem ter sido passados pra nós por

corajosos bisavôs, através de impetuosos avôs, por admirados pais, que simplesmente não funcionam mais. Não precisamos ser os homens que eles foram. E há beleza, creio, em honrar nossas famílias e linhagens tendo a coragem de não seguir seus passos quando não fazem mais sentido. Proponho uma reflexão: pensar o que significa ser um homem para você. Em seguida, pensar quais dessas características você não precisa ou não deseja mais ter. Experimente conversar sobre numa roda de amigos, em um momento em que isso não seja levado como piada. Antes de recusar o exercício por alguma premissa do texto com a qual não concorde, sugiro apenas dar cinco minutos. Dê cinco minutos para digerir quais dificuldades tem enfrentado como homem, antes de pensar que “contigo o lance é matar tudo no peito, sem reclamar”.

33

34

Não precisamos ser homens do passado. Não precisamos ser novos homens. Podemos, pouco a pouco, estraçalhar as paredes dessa caixinha limitante para que ninguém questione sermos mais ou menos homem por algo que fizemos – ou deixamos de fazer. Coisa de macho, não?

Os homens estão morrendo porque não conseguem falar!

O suicídio é a principal causa de morte entre os homens na Inglaterra e País de Gales nas idades entre 20 e 34 anos As taxas de suicídio entre homens são as maiores no Reino Unido desde 2001. O escritório de Estatísticas Nacionais mostra que nos últimos trinta anos, o equilíbrio dos gêneros em relação ao suicídio mudou de 63% de suicídios de homens em 1981 para 78% em 2013. Os homens estão se matando numa taxa que supera bastante a das mulheres, e essa é uma questão que não está sendo tratada. O suicídio é a principal causa de morte entre os homens na Inglaterra e País de Gales nas idades entre 20 e 34 anos. Isso é efetivamente assustador – não deveria haver um escritório de estatísticas divulgando a informação de que a causa principal de morte numa faixa demográfica é o suicídio – que mais frequentemente ocorre por enforcamento.

O problema do silêncio. Há mais risco de suicídio entre homens, diz o professor do Grupo de Aconselhamento Nacional para Prevenção do Suicídio na Inglaterra, Louis Appleby, porque eles “relutam em buscar ajuda”, além de serem mais propensos a beber muito e a impulsos de autodestruição. O problema não vai diminuir tão cedo, e mesmo internacionalmente – cada um dos países do mundo se depara com suicídios de homens superando os de mulheres, e isso ocorre porque os homens não falam. Ou, mais do que isso, porque eles são treinados para não falar.

A socialização dos homens, é importante compreender, é baseada em homofobia, sexismo e uma incrível pressão da mídia e dos outros homens para apoiar estas mentalidades. Desde o nascimento, nos é ensinado para sermos fortes, inabaláveis perante a adversidade, e nunca mostrar qualquer tipo de

sensibilidade ou fraqueza, já que receberá o rótulo de “gay”, “triste” que nem uma mulher”. Em resumo, os homens estão sendo sistematicamente ensinados a pensar que a abertura quanto às próprias emoções e saúde mental é equivalente a seguir na direção de se identificar com o outro gênero – e homens não fazem isso. Apenas mulheres fazem.

É por isso que feministas muitas vezes se deparam com a questão de ensinar aos homens que o patriarcado é tão prejudicial para os homens quanto para as mulheres – e que isso cria uma prisão para as duas identidades de gênero, enquanto que, além disso, prejudica muitas outras identidades e demográficos. O patriarcado não é apenas um clube exclusivo e privilegiado para gurizões – trata-se de um conceito regimentado e estritamente controlado de identidade masculina, que força sobre os homens a ideia de que seu silêncio estoico é uma parte tão inerente de quem são que abandoná-la significaria a rejeição perante os círculos sociais masculinos.

Há, porém, expressões de identidade masculina que são aceitáveis por nossa sociedade patriarcal, por exemplo a raiva, o ódio e o desprezo pelas mulheres, a homofobia e a cultura dos manos. É fácil reconhecer estas coisas por todo lado – até

35

36

mesmo outros homens feministas que conheço tem o hábito de se dirigir para uma audiência predominantemente masculina com “rapazes” ou “camaradas”, e assim excluindo completamente as mulheres da discussão sem nem perceber que é isso que está acontecendo. Porém estas expressões de identidade masculina são, quando muito comuns, tóxicas e autodestrutivas. Não há nisso nada de positivo – só aumenta um problema que já existe. É ensinado aos homens que eles têm um Ponto de Ruptura, e que esse Ponto de Ruptura envolve qualquer coisa, de uma briga de bar até violência doméstica. A mídia problemática nos ensina que, como homens, devemos aceitar a ideia de que para sermos Homens Fortes isso significa que algumas vezes nosso temperamento não vai estar à altura do problema em questão, e de alguma forma iremos externalizar isso – sempre justificados por conceitos como Mulher Provocante ou Aquele Cara que Passou dos Limites. Aos homens é ensinado que a violência é uma solução para conflitos, e que se permitir a expressão e abrir a válvula de pressão é o que acontece quando algo não pode ser parado, não quando pode. O maior desafio da saúde mental é fazer com que as pessoas falem – parar com o silêncio. O silêncio é autodestrutivo. O silêncio sorri enquanto você sofre, e no Reino Unido é um problema enorme – nosso Stiff Upper Lip (N. do T.: “lábio superior teso”, enfrentar a dificuldade com simples força de vontade, sem esmorecer ou reclamar, um valor inglês) se integrou no livro de regras do patriarcado de tal forma que a masculinidade ficou quase irreparavelmente ligada, dentro de nossos crânios, com questões de saúde mental ligadas ao alto risco de suicídio. Ficamos em silêncio, e, assim, morremos.

Os recursos tóxicos precisam ser abandonados

Para pensar bit.ly/2t39230

A maior questão que encaramos enquanto homens é ir além do medo da autoexpressão até um nível que nos permita conversar de forma saudável sobre nossos estresses, medos e traumas. Tenho a boa fortuna de não me identificar como hétero – abandonei essa identidade e assim sou menos apegado ao conceito tóxico da identidade masculina do que o homem

hétero médio. Mas são os héteros, creio eu, que encontram mais esse problema – estereótipos homofóbicos quanto a homens LGBTQ+ são forçados sobre os jovens héteros até um ponto tal que se expressar/aliviar pressão saudavelmente com moda, gêneros musicais ou mesmo cores que eles pessoalmente e instintivamente apreciem é visto como um abandono ou uma distorção de suas identidades. Não são apenas os homens gays que tem motivos para temer outra notícia de surra fatal na TV – é ensinado aos héteros que isso ocorre quando nos desviamos do modelo que o patriarcado determinou. Se você olhar o conselho sobre sinais de sobreaviso quanto ao suicídio fornecido pela Fundação Americana de Prevenção ao Suicídio, você perceberá que ele começa com a análise de alguém discutindo suicídio ou expressando pensamentos suicidas.

E esse é o problema principal, no que diz respeito aos homens suicidas – somos treinados a não falar, e assim uma fonte crucial de sinais de sobreaviso para aqueles que se importam conosco é completamente inútil. Assim precisamos tratar dessa questão – o problema de não haver conversa – em vez de tentar tapar buracos com meras adivinhações e o apontar de dedos.

Já tive amigos, amigos homens, que conseguiam falar sobre um histórico de ideação suicida. Já tive amigos homens que, francamente, preferiam não falar sobre o assunto, mesmo que houvesse sinais muito óbvios, ao ponto de ser difícil não entrar em pânico mesmo que eles não manifestassem obsessão pela morte em público duas da madrugada. Então como derrubamos essa parede? O primeiro passo é apagar o mito destrutivo de que as diferenças mentais entre homens e mulheres, inclusive a masculinidade tóxica que impede os homens de se expressarem adequadamente, é algo a ser celebrado. Essa coisa de pensar que ‘homens são de Marte’ precisa ser erradicada para que possamos capacitar os homens para falar sobre sua saúde mental.

Mas é a sociedade e a mídia que reforça esses conceitos, e são essas duas áreas que precisamos cobrir. Precisamos falar dos benefícios para a saúde mental e da masculinidade positiva dos homens que se expressam, seja numa discussão de mídia social ou na narrativa de um show de TV.

37

38

O que não ajuda são postagens tóxicas como esse conselho postado no eHarmony que sugere que os homens tem simplesmente outra configuração cerebral, e que as mulheres devem infindavelmente cuidar das deficiências emocionais dos homens para evitar conflito. Isso não é produtivo – está se tratando os sintomas, e não a própria doença, e fico chocado e desapontado que um site de encontros propague visões tão antiquadas sobre relacionamentos entre homens e mulheres.

Isso e a falta de pensamento “fora da caixa” no site da ASFP está piorando as coisas – as pessoas estão recebendo conselhos sobre suicídio que não se aplicam a situação tóxica em que os homens suicidas se encontram.

Se você está lendo isso e é homem, por favor, me ouça – eu salvei minha vida ao finalmente me permitir conversar sobre as coisas.

Passei de um estado em que internalizava tudo, incluindo minha própria ansiedade social, depressão e um TOC muito forte, ao ponto da total instabilidade, para um estado de maior calma, maior saúde e mais estabilidade. Mas isso não foi uma questão apenas de ser capaz de falar sobre a saúde mental com os amigos no pub – há recursos efetivos, profissionais e gratuitos no sistema nacional de saúde que se pode utilizar. Se você preferir usar um convênio privado, tudo bem também – apenas entenda que

profissionais da área da saúde são pessoas que podem ajudar melhor, e que tudo é confidencial. Você pode se curar dando pequenos passos na direção da maior abertura sobre como se sente fora do consultório do terapeuta. Abaixo uma ilustração do meu progresso ao fazer terapia cognitivo-comportamental de alta intensidade, ao longo de seis meses. Estava sendo tratado devido a um TOC bastante grave e depressão moderada. Tenho um histórico de ideação suicida e de comportamento compulsivo com perda de qualidade de vida. E estou dizendo isso para você em frente à internet inteira, e sou homem. Agora permita-me mostrar meu progresso. As colunas são diversos testes que fiz antes de cada sessão para quantificar coisas quanto níveis de depressão. Viu os números caindo? E isso não ocorreu porque eu estava falando com amigos, ou com minha namorada – isso aconteceu porque estava falando com um terapeuta que foi capaz de sugerir e incentivar o engajamento em comportamentos construtivos para melhorar minha situação.

Abra o cadeado e sobreviva!

Minha depressão não foi tratada com o mesmo grau de sucesso do meu TOC, mas isso ocorreu porque eu estava me focando em meu OCD durante esse período – embora minha depressão, após esse primeiro tratamento, também tenha ficado mais fácil de lidar. É importante que os homens compreendam que há lugares seguros onde eles podem se expressar e onde podem receber ajuda. Enquanto que os homens são encorajados pela sociedade para jamais demonstrar fraqueza, mesmo diante do prospecto de dano físico, o homem médio não terá problemas em ir para um hospital fazer uma cirurgia, ou para resolver uma perna quebrada. Mas a sociedade construiu uma imagem da saúde mental como algo imaterial por tanto tempo que não tratamos a questão da mesma forma – não vemos a depressão como algo com o mesmo valor do tratamento médico de qualquer outra doença. Quando uma doença não é tratada, pode passar de algo que incomoda até a fatalidade numa questão de meses, e não é diferente com saúde mental. Os homens não buscam ajuda para

39

40

suas cabeças, mesmo que estejam como que, metaforicamente, com uma hemorragia. Sua espada é para lutar, não para se amparar. Uma das preocupações principais que vejo em homens engajados em conceitos tóxicos de masculinidade, é a ideia de que de alguma forma são mais corajosos porque não falam sobre sua depressão. Sua indisposição de se expressar, mesmo quando potencialmente pode salvar suas vidas, é quase o sinal de um herói, um homem que devemos seguir como exemplo, já que nem começou.

Não estamos lutando em uma trincheira da Segunda Guerra Mundial. Temos de falar sobre a doença depressão.

Essas duas coisas não são iguais, e me frustra ter que dizer de novo. Silêncio não é coragem, no que diz respeito à saúde mental.

O silêncio nos isola. Quando as pessoas perguntam o que está errado com você, sim, há um risco de que sua resposta honesta desencadeie uma série de comentários tóxicos como “mais alegria, rapaz!”, “deixa isso pra lá” ou “não seja tão dramático.”

Esses comentários acontecem, já estou avisando.

Mas há pessoas que ouvirão, e que não são da área da saúde.

Espaços seguros em seus grupos de amigos podem ser bastante cultivados – pessoas com quem você se importa e que se engajam em pensamento progressivo e positivo quanto à saúde mental o ouvirão, e se você precisar priorizar o encontro com esse grupo em detrimento daqueles que estoicamente seguem o oposto, então faça isso. E se você fizer terapia, ou se expressar com os amigos, do jeito que for, você vai descobrir que acontece o que descrevo a seguir. O clube secreto de entusiastas da autoajuda masculina Descobri que os homens me procuram bastante em busca de conselhos de saúde mental. Costumo conceder muitas palestras focadas em minhas experiências no assunto, e sou um defensor público da educação e apoio para a saúde mental. Muitas vezes essas conversas começam muito cautelosamente, de forma parecida com aquela forma sorrateira

na qual as pessoas na televisão compram drogas. “Eu estava me perguntando, sabe, se você saberia o que fazer nessa situação.”

Estas conversas são comuns e importantes. Os homens falam uns com os outros sobre questões ligadas a seu próprio gênero, e o mesmo pode ser dito das mulheres. Mas com os homens, uma dessas questões específicas de gênero parece ser a forma peculiar com que tratam com problemas de saúde mental. Ser aberto a essas discussões e encontrar recursos e conselhos pode fazer uma enorme diferença, e uma vez que alguém os encontre, mais adiante no caminho de seu próprio processo de cura, outros homens podem encontrar apoio nessas pessoas. A coisa se espalha. A situação melhora.

Alguns homens tem o hábito de discutir questões ligadas a seus paus com amigos que tem genitais do mesmo tipo. Isso é interessante, não é? É um assunto tão pessoal, e ainda assim, não parecem se importar de falar sobre isso: seja alguma infestação de chatos, hábitos de limpeza ou simplesmente o cheiro de saco. Mas eles não discutem saúde mental. Novamente, isso é culpa da sociedade em que vivemos – paus são celebrados mais do que qualquer outra parte do corpo na história da espécie humana. Construímos enormes paus com janelas que as pessoas usam para fazer escritórios. A mídia fala de paus e de seu direito (não existente) de entrar em Coisas que Não São Paus. Temos macarrão em formato de pau. Pirulito-pau. Muitos paus.Paus.

Mas o que não temos é algo equivalente para uma coisa tão pessoal quanto nossas emoções e saúde mental. Não há piadas positivas sobre saúde mental. Há poucas representações positivas de saúde mental na mídia voltadas para homens que precisam de ajuda. Breaking Bad é um ótimo programa, mas é sobre homens completamente incapazes de discutir suas fraquezas, ao ponto de que um homem cria um império de metanfetamina em vez de pedir aos amigos que paguem por seu tratamento de câncer. O mito do Homem Forte Que Está Morrendo está por toda parte, e não estamos o contrabalançando bem o suficiente. Mas homens conversam discretamente sobre seus paus, sobre suas namoradas, e sobre qual é o melhor jeito de fazer um pedido de casamento. São pequenas janelas

41

42

para os corações justificadamente frágeis desses homens, e precisamos as escancarar e abrir mais janelas para lidar com suas depressões. Para concluir esse texto, me preocupa que homens estejam cometendo suicídio em massa, muito frequentemente por motivos completamente evitáveis. Preocupa-me que vivemos em uma sociedade em que as pessoas misturam a ideia de “deixeme aqui com alguma munição e fuja você” dos filmes de ação com alguém se recusando a discutir a depressão por mero medo ao ponto de serem encontrados duas semanas depois largados no chão de um banheiro.

Você tem uma boca, por favor peça ajuda!

Alguns homens tem o hábito de discutir questões ligadas a seus paus com amigos que tem genitais do mesmo tipo. Isso é interessante, não é? É um assunto tão pessoal, e ainda assim, não parecem se importar de falar sobre isso: seja alguma infestação de chatos, hábitos de limpeza ou simplesmente o cheiro de saco.

Mas eles não discutem saúde mental. Novamente, isso é culpa da sociedade em que vivemos – paus são celebrados mais do que qualquer outra parte do corpo na história da espécie humana.

Construímos enormes paus com janelas que as pessoas usam para fazer escritórios. A mídia fala de paus e de seu direito (não existente) de entrar em Coisas que Não São Paus.

Mas o que não temos é algo equivalente para uma coisa tão pessoal quanto nossas emoções e saúde mental. Não há piadas positivas sobre saúde mental. Há poucas representações positivas de saúde mental na mídia voltadas para homens que precisam de ajuda. Breaking Bad é um ótimo programa, mas é sobre homens completamente incapazes de discutir suas fraquezas, ao ponto de que um homem cria um império de metanfetamina em vez de pedir aos amigos que paguem por seu tratamento de câncer. O mito do Homem Forte Que Está Morrendo está por toda parte, e não estamos o contrabalançando bem o suficiente. Mas homens conversam discretamente sobre seus paus, sobre suas namoradas, e sobre qual é o melhor jeito de fazer um pedido de casamento. São pequenas janelas

para os corações justificadamente frágeis desses homens, e precisamos as escancarar e abrir mais janelas para lidar com suas depressões. É fácil reconhecer estas coisas por todo lado – até mesmo outros homens feministas que conheço tem o hábito de se dirigir para uma audiência predominantemente masculina com “rapazes” ou “camaradas”, e assim excluindo completamente as mulheres da discussão sem nem perceber que é isso que está acontecendo. Porém estas expressões de identidade masculina são, quando muito comuns, tóxicas e autodestrutivas. Não há nisso nada de positivo – só aumenta um problema que já existe. É ensinado aos homens que eles têm um Ponto de Ruptura, e que esse Ponto de Ruptura envolve qualquer coisa, de uma briga de bar até violência doméstica. A mídia problemática nos ensina que, como homens, devemos aceitar a ideia de que para sermos Homens Fortes isso significa que algumas vezes nosso temperamento não vai estar à altura do problema em questão, e de alguma forma iremos externalizar isso – sempre justificados por conceitos como Mulher Provocante ou Aquele Cara que Passou dos Limites.

43

Há, porém, expressões de identidade masculina que são aceitáveis por nossa sociedade patriarcal, por exemplo a raiva, o ódio e o desprezo pelas mulheres Aos homens é ensinado que a violência é uma solução para conflitos, e que se permitir a expressão e abrir a válvula de pressão é o que acontece quando algo não pode ser parado, não quando pode. O maior desafio da saúde mental é fazer com que as pessoas falem – parar com o silêncio. O silêncio é autodestrutivo. O silêncio sorri enquanto você sofre, e no Reino Unido é um problema enorme – nosso Stiff Upper Lip (N. do T.: “lábio superior teso”, enfrentar a dificuldade com simples força de vontade, sem esmorecer ou reclamar, um valor inglês) se

Para pensar bit.ly/2HZzlAN

44

Criticar masculinidades tĂłxicas ĂŠ diferente de criticar todos os homens ou o masculino como um todo.

integrou no livro de regras do patriarcado de tal forma que a masculinidade ficou quase irreparavelmente ligada, dentro de nossos crânios, com questões de saúde mental ligadas ao alto risco de suicídio. Ficamos em silêncio, e, assim, morremos. Não ganho dinheiro pra manter minha família e ser o homem da casa.

Mas só vim porque meu chefe mandou, homem não precisa dessas frescuras não.” Homem é GENTE. E gente SOFRE. Ponto.”

Escuto relatos similares de outros amigos psicólogos. Estamos falando de algo que efetivamente impõe dor e sinucas emocionais à grande maioria dos homens, cedo ou tarde. Então como separar a masculinidade tóxica do restante, sem jogar tudo fora? Penso que toda mudança começa com a tomada de consciência.

Porém, aqui cabe um parênteses, essa não é uma conversa fácil.

Eu mesmo me debati anos até entender o que agora compartilho nesse texto. É importante termos paciência e acolher quem pensa diferente de nós. Não dá pra mudarmos a mente de outra pessoa como quem atualiza um software. Sendo bem sincero, é algo que corre tão fundo dentro de nós e na sociedade, que ainda sofro com isso e não sei se é algo que um dia “vou resolver”.

Há muitas tensões envolvidas na experiência de ser homem.

Longe de ser vitimização ou comparação com a dor das mulheres, é apenas reconhecer ser duro. E como em qualquer tarefa árdua, a ajuda é bem-vinda. Cena de encontro nacional da extinta Cabana PapodeHomem – um espaço de crescimento coletivo –, conduzido por um Eduardo Amuri ainda não barbado. Eu preciso de ajuda pra ser um homem melhor. Mesmo. Não é uma frase bonitinha, é a própria origem do PdH. Preciso de parcerias reais, de pessoas amigas me acolhendo e lembrando o que fazer e o que não fazer, com seus exemplos positivos e apoio constante. E talvez essa ajuda também possa ser útil a você. Pois há traços que podem ter sido passados pra nós por corajosos bisavôs, através de impetuosos avôs, por admirados pais, que simplesmente não funcionam mais. Não precisamos ser os homens que eles foram.

E há beleza, creio, em honrar nossas famílias e linhagens tendo a coragem de não seguir seus passos.

45

46

Para concluir esse texto, me preocupa que homens estejam cometendo suicídio em massa, muito frequentemente por motivos completamente evitáveis.

Preocupa-me que vivemos em uma sociedade em que as pessoas misturam a ideia de “deixe-me aqui com alguma munição e fuja você” dos filmes de ação com alguém se recusando a discutir a depressão por mero medo ao ponto de serem encontrados duas semanas depois largados no chão de um banheiro.

Os homens são criaturas assustadoras com um hábito cada vez mais documentado de matar mulheres, homens gays, animais e outros homens de quem não gostam. Porém, precisamos também começar a documentar o fato de que há uma chance de 24% de que um jovem na Inglaterra ou no País de Gales perca a vida por suas próprias mãos.

Ser deprimido, ser até mesmo suicida, não é uma força, e nem é uma fraqueza. É apenas o que é, da mesma forma que fica frio no inverno. Os homens fazem o que fazem porque querem ser fortes. Não morrer. Viver. Então conversem. O câncer não é o que mais mata os homens, mas comparado ele com o suicídio, vemos que há muito mais campanhas de caridade focadas em vencer tumores. Podemos consertar essa disparidade. Podemos derrubar o patriarcado e salvar o máximo de homens e mulheres.

Homens: amem a si próprios. Esse dia nublado e escuro não é a realidade inteira. Eu os amo.

“É triste, mas os avanços acabam esbarrando nos diversos retrocessos.”

“Os recursos tóxicos precisam ser abandonados” “Há muitas tensões envolvidas na experiência de ser homem.”

“Criticar a masculinidade tóxica é bem diferente de criticar o masculino como um todo.”

Abertu Cola

ura II agem

Abertura II Colagem

Quando se é um adolescente ou jovem adulto poucas coisas importam mais do que sua imagem perante todos aqueles que o rodeiam. Ainda estamos tentando ser aceitos pelo mundo, pelo grupo e por nos mesmos, o que faz com que muitas decisões que tomamos nessa idade acabem sendo muito mais em razão da aceitação do que da vontade real. É a idade da experimentação. Sexo, bebida e drogas são as três principais experiencias com as quais a grande maioria dos jovens irá se deparar. “Se você não fez sexo ainda é por que deve ser uma bichinha”, “Se você não beber até vomitar é por que é um fraco”, “Todo macho tem de experimentar ao menos uma vez na vida as mais variadas drogas”. É nessa idade onde a agressividade fica mais aflorada, onde agressões podem se tornar corriqueiras e onde o homem jovem é testado constantemente em relação a sua masculinidade e sua sexualidade.

54

Como a internet está ensinando os jovens a odiar mulheres

Para pensar bit.ly/2Ioa6qC

O grupo de “celibato involuntário” do Reddit foi tirado do ar no começo do mês, depois que um debate antimulher se tornou violento. Mas o problema é muito maior que apenas um subreddit. Entre a discussão global sobre ataques sexuais, um grupo de homens reclamando de seu “celibato involuntário” perdeu sua principal plataforma. No subreddit r/incels, homens jovens escreviam sobre como não conseguiam arranjar uma mulher para transar com eles. O subreddit, que tinha 40 mil usuários uma semana atrás, era um fórum de misoginia casual que comparavamulheres a nazistas e os Incels a judeus, propunha que estupro é “só sexo” e argumentava que era preciso incluir “estupro reverso” – não transar com alguém – na conversa em torno da hastag MeToo. Logo depois que um homem foi até o fórum para falar sobre seu colega de apartamento, que ele chamava de “combustível de suicídio”, o subreddit foi tirado do ar por conteúdo violento. O usuário dizia que era doloroso ver seu colega, um “ser humano melhor”, tendo uma namorada e

falando sobre sua família unida. Outros membros começaram a dar conselhos sobre o que o cara deveria fazer com seu colega, um “Chad” na linguagem dos incels. Eles encorajaram e instruíram o autor da postagem a castrar seu colega. Como outros subreddits antimulher, o r/incels vem fervendo faz um tempo. Ele até gerou sua própria comunidade de observadores, o r/inceltears, que continua na internet para registrar extremismo incel. O Reddit não disse qual comentário exatamente levou o site a derrubar o subreddit por incitar violência. “Comunidades focadas nesse conteúdo e os usuários que postam conteúdo assim serão banidos do site”, dizia a declaração da plataforma.

“Em 7 de novembro, o r/Incels foi banido por violar essa política.”

O Reddit anunciou recentemente seus planos para perfeiçoar suas políticas em se tratando de conteúdo violento, depois de um financiamento de US$ 200 milhões de um fundo de capital.

Eles começaram esse trabalho tirando do ar grupos nazistas e de supremacia branca, incluindo o r/Nazi, r/DylannRoofInnocent e r/ farright. Mas muitos subreddits misóginos, como r/MensRights, continuam prosperando.

A primeira regra é tentar chegar aos mais jovens.

Essa não é a primeira tentativa do Reddit de limpar a casa: a primeira rodada veio depois da renúncia do CEO Yishan Wong em 2014, resultado da polêmica causada por uma matéria do Gawker sobre um Redditor altamente envolvido em subreddits como r/jailbait e r/creepshots. A CEO interina Ellen Pao, famosa por processar Kleiner Perkins por sexismo, instigou a primeira grande limpeza usando revolt: muitos Redditors não queriam desistir de nenhum subreddit, incluindo os devotados a odiar gordos ou vazar nudes de celebridades. Pao, claramente vilipendiada durante seu tempo no cargo, não durou um ano como interina, deixando o posto depois de oito meses. (Pao mais tarde descreveu como a exclusão está enraizada na indústria da tecnologia.) A cola de comunidades como o r/incels é óbvia: homens se sentem prejudicados por mulheres que “têm tudo fácil”. E como a maioria das comunidades abertas para qualquer

55

um com internet, não é difícil perceber a doutrinação de fora.

(Mas em circunstâncias especiais, subreddits públicos podem passar para o underground: o r/incels passou para privado recentemente depois que um membro se fingiu de mulher.

A maioria dos Redditors são homens jovens, e o Reddit oferece a eles a chance de formar e se envolver com “bases misóginas” – comunidades antimulher que compartilham DNA, mas têm personalidades e crenças distintas. R/incels é um primo de outros grupos misóginos no Reddit, incluindo o r/MensRights, r/MGTOW (Men Going Their Own Way – caras que escolhem ficar de fora da “dança do acasalamento”) e o r/TheRedPill.

A ideologia funciona criando um inimigo: As mulheres.

56

Mulheres não podem ser incels – elas são reduzidas a “femoids” ou “robôs que só querem transar com os Chads”. O inimigo muitas vezes é descrito como o feminismo em si, que essa base vê como uma “doutrina de classe, ódio e violência” – querendo dizer que as mulheres usam o feminismo para se fazerem de vítimas e extorquirem ganhos econômicos. Linguagem é outro aspecto da doutrinação. Para esse fim, essas bases misóginas criaram glossários para seus termos, resumos e têm seus próprios padrões de linguagem. O jargão da misoginia inclui “hamster” (uma “fêmea” que pula sobre obstáculos mentais para evitar dissonância cognitiva), “AWALT” (“all women are like that” - todas as mulheres são assim), “roastie” (uma palavra repulsiva comparando a genitália feminina com bife), “pussy pass” (não ter que enfrentar consequências para comportamento criminoso por ser mulher), as distinções entre alfa e beta em nível de atração, e assim por diante. A doutrinação depois é cimentada por reforço positivo e punição com likes e dislikes.

Obviamente, o problema real com a ideologia é que ela não é só conversa jogada fora, e não fica só na tela do computador.

A ligação entre violência e misoginia é forte – atiradores como Elliot Rodger, que matou seis pessoas e se identificava como incel, geralmente são homens brancos jovens, e têm um histórico

de violência sexual e achar que têm direito sobre mulheres. O atirador da Virginia Tech assediava mulheres no campus. Adam Lanza, que escreveu sobre como as mulheres são “inerentemente egoístas”, matou a mãe antes de atirar contra crianças em Sandy Hook. O atirador da igreja no Texas foi dispensado desonrosamente do exército por abusar da esposa e do filho. Em geral, nos EUA, 40% das mulheres assassinadas são mortas pelos parceiros. Quando as pessoas tentam culpar doenças mentais em vez da misoginia para esse padrão, elas estão subestimando e diminuindo a violência da misoginia, minando assim a segurança das mulheres. Não há um diagnóstico único para todos os atiradores. Achar que tem direito sobre as mulheres não está no DSM – mas está em um monte de comunidades online. A doutrinação depois é cimentada por reforço positivo e punição.

A radicalização de homens jovens online é algo que pode ser reduzido: funciona empurrar essas bases misóginas cada vez mais fundo na internet, onde elas são menos acessíveis.

57

Fraternities

58

Owen Rapaport pledged Delta Sigma Phi in 2014 at Dickinson College, a liberal arts college in Pennsylvania. Rapaport recalls that at another fraternity’s event during rush week, not Delta Sigma Phi’s, current fraternity members asked his group of freshmen, “What’s your dream threesome?”

To Rapaport, this echoed the kind of behavior fraternities are notorious for encouraging, in movies like Animal House and Neighbors. Rapaport thought it was the weirdest question to ask freshmen, and immediately knew he didn’t want to join that fraternity. Johnathan Jones had a similar experience. He pledged Kappa Sigma in 2012, also at Dickinson College. By the time he graduated in 2015, he said these negative masculine norms pervaded his fraternity experience. (Both Jones and Rapaport were also people of color at predominantly white fraternities.)

“There was such a presence in terms of who has sexual prowess, who’s hooking up with who, who can drink the most, and then who’s partying the most and whatnot,” Jones told Quartz.

Jones admits that he acted this way in college, too, but soon realized it was out of character. “Without a doubt, you fall into those things and do those things, and don’t really think about it until way later,” he said.

For impressionable college-age men looking for a place to belong, fraternities can offer a strong sense of kinship or community.

Rapaport made meaningful connections at Delta Sigma Phi and considers some fraternity brothers lifelong friends.

“That entire [fraternity] culture itself is just kind of steeped in this white male masculinity stereotype.”

But there’s a growing sense that this pervasive, narrow definition of masculinity doesn’t always fit the men in these fraternities.

Jones said many of his fraternity brothers are starkly different now, with some also involved in women’s and equality rights,

making him think there was something about the fraternity environment that forced people to act a certain way. (This article uses “fraternities” primarily to refer to formerly all-white men’s social fraternities, not other, newer types such as professional, multicultural, or religious fraternities.)

Rapaport agreed. “That entire [fraternity] culture itself is just kind of steeped in this white male masculinity stereotype,” Rapaport said. In recent years, there have been situations far worse than those Jones or Rapaport detailed, including a slew of high-profile hazing deathsand sexual assault cases. Just this month, two fraternities at Swarthmore College, Pennsylvania voluntarily disbanded after leaked documents, allegedly written by Phi Si fraternity members active between 2013 and 2016, showed racist and homophobic jokes, as well as references to another fraternity’s “rape tunnel.”

Fraternities are going through a kind of real identity crisis.

Many critics argue that Greek life should be banned altogether.

But there’s a growing feeling among fraternity experts and current students that the problematic gender norms that fraternities enable need to—and can—change. While college administrations, larger Greek organizations, and even courts are pushing for reform within fraternities, it seems to be the leaders of individual chapters themselves who can make the most progress. “Fraternities are going through a kind of real crisis,” John Hechinger, senior editor at Bloomberg News and author of True Gentleman: The Broken Pledge of America’s Fraternities, told Quartz. “The behavior that they’re exhibiting, from hazing to offensive racial episodes to sexual assault, is really out of step with what a lot of the rest of the culture on campus is promoting.”

Not all fraternities are toxic, even if consistent news of alarming behavior makes it feel that way. In a 2015 report published inSociology Compass, Kait Boyle, a professor of sociology at Virginia Polytechnic Institute and State University, distinguishes between low-risk fraternities—those less likely to exhibit

59

60

problematic behavior like binge drinking and misogynistic attitudes—and high-risk fraternities, where that behavior flourishes. High-risk fraternities often have underlying qualities that allow or normalize such behavior.

“When we talk about high-risk fraternities, there are a number of different working pieces related to partying behaviors, masculinity, and aggression,” Boyle told Quartz. Members of these fraternities may have restrictive views of masculinity that value behaviors like excessive partying and sexual dominance, for instance. There’s a growing sense that fraternities with high-risk cultures may be on the decline. Alexandra Robbins spent more than two years researching her book Fraternity: An Inside Look at a Year of College Boys Becoming Men, and found that there are fraternity members striving for change. The widespread view of fraternities as “bastions of toxic masculinity” overlooks chapters challenging hyper-masculine standards, she argues in a recent opinion piece for The New York Times. Within fraternities, there are plenty of “nice guys” who are challenging gender norms and trying to foster an inclusive culture, Robbins argues in another editorial for The Atlantic and in an interview on CNN. Change, at least on the surface, seems to be gaining momentum.

Numerous fraternities across North America have also introduced educational programming to set new standards of masculinity.

For example, in January this year, the University of British Columbia required all fraternities to take workshops on sexual consent and healthy masculinity. In February, the Interfraternity Council at California Polytechnic State University ran its second annual “Healthy Masculinities Week” with events and workshops dedicated to “redefining the bro code.”

There’s no question that things are changing, Gentry McCreary, managing partner and CEO of Dyad Strategies, a Greek life research and advisory firm, told Quartz. “You’re seeing conversations about alcohol-free housing, around eliminating the pledging period… A lot of that has to do with the increase in media scrutiny and some pretty high-profile hazing deaths.” McCreary said it’s reasonable to suspect a counter culture to these changes in some pockets of fraternities, “but on a whole, frats are taking a lead in terms of providing education.”

To get a sense of the kinds of initiatives that some fraternities at universities are trying, look at the efforts around alcohol.

Alcohol is a good place to start because it plays a role in some of fraternities’ most toxic behaviors. There have been more than 60 fraternity-related deaths in the US since 2005, many of which involved dangerous alcohol consumption. A study published in the Psychology of Men & Masculinity also found a strong link between fraternity members who subscribe to hyper-masculine norms and binge-drinking. Excessive alcohol consumption has also been linked to increased sexual aggression, and a recent study found that consuming alcohol at “drinking venues,” such as bars and fraternity parties, made sexual aggression more likely regardless of how much someone drinks. Focusing on alcohol can make a difference—Rapaport, maybe surprisingly, had a dry hazing thanks to strict campus rules, and since the university strongly enforced this no-alcohol policy on freshmen, Rapaport said parties felt safer. National organizations of fraternities can have an outsized impact on student life. For example, the North American Interfraternity Conference (NIC) introduced a policy last

61

year to ban alcohol above 15% ABV (most types of hard liquor), unless sold by a licensed third-party vendor, at the 6,100 chapters across its 66 member organizations. This means fraternities must spend more money hiring external vendors, and the licensed third party—not the fraternity—is in charge of ID-ing partygoers, which makes it harder for underage students to drink to excess. Campus administrators and fraternity leaders enforce such policies, which puts pressure on chapters to be constantly accountable in a way that educational workshops cannot. Judson Horras, CEO and president of the NIC, said his organization’s research showed a hard liquor ban keeps students safe while maintaining their buyin, which makes it more effective than a complete alcohol ban.

“It was very clear that this would make the biggest change and [have] the most buy-in” from undergraduate students and college administrations, Horras said. The NIC works directly with local interfraternity councils on campuses to adopt these guidelines.

Horras said that by giving students a say in these policies, they’re more likely to be effective.

62

The goal is to change the definition of what a fraternity is.

“The best advice I got from a college student is, ‘Mr. Horras, don’t talk at me. Talk with me. Help me solve this problem, give me the chance and ownership,’” Horras said. But there’s a gap between what fraternities seem to be doing and what the lived reality of a fraternity member really is, especially since fraternities often observe codes of silence and secrecy when it comes to their rituals and behaviors. Jones points out, “there’s a difference between public relations actions and the actions to actually elicit change.” Most universities and fraternities have programs related to alcohol abuse and sexual assault, for instance, and fraternity members are sure to show up. “But you could be at those events and still exhibit the opposite attitude,” Jones said. That is, just because you attend a workshop doesn’t guarantee your behavior improves. Perhaps some of the toxicity that often comes with high-risk fraternities would be reduced if the definition of fraternity changed altogether. Some university students believe

that making fraternities co-ed might do the trick. In February, three female Yale students filed a class-action lawsuit against the university alleging they were groped at a fraternity party. The lawsuit argues women should be allowed into fraternities, in part to mitigate a sexually predatory culture, and also to give women the social capital—including powerful alumni networks—that fraternities have. Some universities have already started to make this change. For instance,

Inevitably there’ll be fewer, but perhaps better fraternities.

Wesleyan University decreed in 2014 that fraternities must allow women to join, mainly as a way to create safer fraternity spaces and change fraternity culture. A different way to hold fraternities accountable when there is problematic behaviour, whether or not they’re co-ed, is to make conduct records easily accessible to the public. Doug Fierberg, a school violence attorney with extensive experience working on fraternity-related cases, suggested to Slate that schools should be forced to list all the hazing and sexual assault claims against a fraternity so that parents and prospective pledges can make informed decision about which fraternity to join, if any. Penn State is one of the first institutions making this happen: The university publishes a scorecard for each fraternity and sorority chapter, which lists the organization’s collective track record related to everything from alcohol infractions to hours of community service. For larger Greek organizations, regular and comprehensive scorecards are an effective way to monitor whether programs and policies to improve fraternity culture are actually working. Some pundits have suggested abolishing fraternities altogether, which liberal arts colleges like Middlebury and Williams did years ago, and some students protesters— such as those at Swarthmore College angered over the recent scandal—also demand a fraternity ban. But Hechinger says that fraternities are simply too powerful and too popular to ban completely, especially at public universities, which makes strict monitoring even more important. “You have to move away from the idea of a ban toward the idea of reform and closing chapters,

63

Para pensar bit.ly/2dnPHos

chapter by chapter, [and enforcing] regulation and policing that shuts down [harmful chapters] for years,” Hechinger said. “If there are in fact fraternities that are safe and providing a valuable service, they shouldn’t be afraid of regulation because they’ll survive this. There’ll be fewer, but perhaps better fraternities.” By strictly regulating and policing bad fraternity behavior, as well as enforcing punishments where necessary, college administrators can essentially ensure high-risk fraternities that cause harm are aptly penalized while the low-risk fraternities, or those that are actively trying to change their culture, continue to act as a social avenue for students.

64

Para pensar bit.ly/2wEBaMY

Since hyper-masculine stereotypes often take hold before college, discussions about masculinity and bad behavior are a critical part of this process. “A lot of these conversations really need to start much, much earlier,” Boyle said. “Kids need to learn about consent. Kids need to learn about bodily autonomy and how to respect other people and that sex isn’t something you take… that’s why so many people push for comprehensive sex education, which is not prevalent in the US.” Comprehensive sex education, Boyle said, includes information about sexual assault, healthy relationships, and non-heterosexual relationships.

But the true onus of reform still falls on fraternity brothers.

They are the ones who can most effectively start and maintain these conversations, as well as intervene when their brothers participate in behavior that’s not acceptable “The hardest part of fighting these types of battles is that the people resisting you are your brothers, and people you’ve shared intimate experiences with,” Rapaport said. “It’s hard because you have to change people that you’re close to and that’s not always easy and it doesn’t always feel good.”

In 2016, we published The Annual Bullying Survey 2016 The report was notable because it was the first piece of mainstream research to uncover the reasons why people bully others The survey enabled us to build complex profiles of those who perpetrate bullying, which in turn has allowed us to increase the amount of support we provide to prevent bullying from happening in the first place Interestingly, in this research we

found that those who identify as being male or having grown up in a male-dominated household were more likely to bully than those who identify as female or who have greater female influences at home We know that males are the least likely to report bullying and to talk about issues affecting them as a direct result of social conditioning Suicide is the biggest killer of young men, often that’s because males are taught from an early age that it isn’t okay to talk about their emotions.

Masculinity and misogyny walk side by side in our society.

65

Young men are told to, “man up” and to, “stop being a girl” whenever they show vulnerability, and some learn to respond with aggressive behaviours such as violence, crime and bullying.

It is through this learning that we have become increasingly interested in understanding toxic masculinities.

What is toxic Masculinity?

Masculinity as a Construct 66

A random sample of mentions were manually categorised to help define the masculinity construct according to online opinion These are grouped into four facets of masculinity: preferences, personality, behaviour and appearance Identity preferences span sexuality as well as tastes for food groups, products and music Appearance, the largest of the four groups, contains visible, physical attributes such as facial hair, grooming and physique Personality and behaviour have been segmented with the former containing internal qualities and the latter comprising demonstrable actions These are explored in greater depth on the following pages How People Feel about Masculinity ‘Masculine’ Preferences are Being Challenged The chart below shows common attitudes to each facet of the masculinity construct 54% of authors either defined masculinity in neutral or in humorous terms, with the majority of authors being accepting of the masculinity construct in some contexts However, there was evidence of authors questioning the construct, particularly for ‘masculine’ preferences This questioning came from male authors explicitly defying what they perceived to be ‘masculine’ traits, as well as female commentary on masculine constructs as ‘fragile’ Frustration was most prominent for personality and some authors were irked by the stereotype of ‘tough’ role models Female authors shared concerns that leadership was still

considered by some a positive masculine trait but in women a ‘massive red flag’ Who Conforms to the Masculinity Narrative?

Males posting content that does not fit into the constructed idea of masculinity are 7% more likely to be artists, than those complying with these constructs. They are also more likely to be students Over 50% of the authors are likely to either be an artist or a student Both these professions are more likely to talk outside of the constructs of masculinity than journalists or sports persons When it comes to interests, authors not complying with masculinity constructs are more likely to be interested in music than those complying with these constructs On the other hand, sports and parenting are bigger interest drivers within those posting content that fits into the constructed idea of masculinity In summary, authors not complying with masculinity constructs are more likely to be artists or students and also more likely to be interested in music

Homophobia is pretty much an pre-requisite for being an toxic male.

The chart breaks down the tone of replies to mentions by male authors expressing non-conformity to the masculinity construct explored in section The majority of responses either expressed indifference or varying degrees of support and humour, suggesting that authors not conforming to the constructed idea of masculinity were not typically the targets of online bullying Indifference was mostly expressed around authors stating they wanted to cry about relatively minor things, such as seeing spoilers or online services not working While there was a trend of authors being teased when they posted such content, this teasing was six times more likely to be in jest than out of spite Unpleasant comments stemmed from.

The word cloud below shows us key topics within the discussion of fragile masculinity Retweets have been removed to give us a clearer view of the variety of themes emerging from this discussion. Homophobia was a strong theme and was

67

68

Violence is a direct result of the internal fight of the male mind.

mentioned in 9% of fragile masculinity conversation. While some authors mentioned both terms concurrently, others saw fragile masculinity as backing up homophobia. There was also discussion around usage of the word ‘gay’; authors mentioned how men avoid behaviours that are traditionally seen as feminine to not seem ‘gay’ and also directly call such behaviours gay Inversely, fragile masculinity is also increasingly seen as a problem within gay communities. The #masculinitysofragile hashtag was used 207 times within this conversation, BuzzFeed using it six times to post content.

The word cloud shows key topics within the discussion of toxic masculinity Retweets have been removed to give a clearer view of the variety of themes emerging from this discussion Orlando was a key topic around toxic masculinity due to the mass shooting at a gay nightclub in the city News around a Dartmouth study attributing the attack in Orlando to toxic masculinity was shared and gained some agreement, though others angrily contested that a ‘Muslim terror attack’ was being blamed on toxic masculinity The Orlando attacks drove 4% of all toxic masculinity conversation Violence was seen as a product of toxic masculinity, and was mentioned in approximately 7% of this discussion Discussion was around gun violence, domestic violence, sexual violence as well as broader mentions of violence Rape specifically was also discussed Similar to the other topics, rape and rape culture were discussed concurrently with toxic masculinity in many cases, but was also seen to be fuelled by linked with toxic masculinity. Discussion was dominated by authors emphasising a connection between gun violence and masculinity However, there were also authors contesting that gun violence and mass shootings were not a result of toxic/unhealthy masculinity Authors frequently stated that ‘toxic masculinity’ needed to be addressed/discussed to combat the issue of mass shootings and gun violence, however there was little conversation around tactical steps. The largest theme within the discussion was encouraging others to join conversation around how toxic masculinity may play a role in gun violence Most articles followed this theme, either recommending the need for such discussion or delving deeper into the connection Some articles briefly

69

70

mentioned how the issue may be resolved, however the majority of content did not land on tangible solutions. The past six months have seen a rise in conversation about masculinity. Thus, the data shows the daily volumes for such conversation from February 1 through July 30 2016, offering a view of the key peaks in the discussion. The largest peak in conversation occurred on April 21 and had 15,385 mentions 82% of the day’s mentions were discussing the musician Prince, who passed away the same day Authors discussed how Prince’s masculinity wasn’t fragile, and how he was able to show the world how “diverse and complex” masculinity could be This discussion insinuated that masculinity is usually seen as a static construct; Prince’s fluid masculinity was more a defiance than the norm. Conversation around the fragility of masculinity continued throughout the six month period causing the second peak in conversation On July 16, an author shared a meme that said, “I’m a man, I hunt deer” along with his own response, “Imagine having masculinity this fragile” The response was retweeted over 10,000 times. Mentions of fragile masculinity also drove smaller peaks in mentions. For example on June 8th the term was used to call out criticism of the Fader Magazine cover which featured Rae Sremmurd, a hip hop brother duo, leaning on each other The table below shows the top stories within the discussion of masculinity. Fragility of masculinity was mentioned/insinuated in four of the five top stories, indicating that this issue attracts the most attention and is frequently seen as a key source of the negativity that stems from constructs of masculinity.

While the top story brought attention to a joke that portrayed a stereotypical definition of masculinity, the other two humourrelated stories (a tweet directed at musician Kanye West and comedian Rich Chigga’s tweet) aimed to make a joke out of those who have fragile masculinity. Only one story around toxic masculinity made it to the top five list This story talked about the connection between toxic masculinity and sexual assault, indicating that sexual assault is seen as a product of toxic masculinity In the overall toxic masculinity discussion, rape and sexual violence drove 10% of the discussion. There was also evidence challenging and redefining masculinity constructs.

Misogyny is the hate towards what the male individual can’t possess.

71

72

These were commonly shared via individual artistic expression and brand movements away from gender norms (see Axe and Anastasia, below) Authors also shared journalist content pointing to aspects of traditional masculinity and ‘hypermasculinity’ as damaging to health Hypermasculinity was also identified by some as ‘toxic for black men’ specifically. The need for healthier masculine stereotypes has gained ground among media sources One 2016 article in The Economist named the search for healthier masculinities ‘urgent’ and even some brands traditionally associated with masculinity are making efforts to redefine However, authors were also eager to highlight that masculinity is not inherently violent or toxic, often used in conjunction with the controversial hashtag #NotAllMen. This broke the trend seen across other constructs, wherein male authors were more highly engaged in insulting discussion. This might suggest that misogynistic language has transcended into the vocabulary of both men and women within their social engagements.

Neutral misogynistic discussion was around two times more visible than misogynistic insults Seen across time, negative conversation followed a steady trend across the four years while neutral discussion of the topic grew considerably, surpassing average weekly volumes in negative conversation in September 2014. Neutral conversation spiked around August 3rd 2015, during the run-up to the US election, due to the GOP Debate and Donald Trump controversy, with ‘Megan Kelly’ and ‘sexist comments’ emerging as sub-topics The politician’s elevated ‘sexist attacks’ towards the Fox TV news moderator were noted by Mashable,

Suicide continues to be the biggest killer of young men. demonstrating broader interest in political standpoints with regards to discrimination. The issue also raised awareness of other issues beyond misogyny, with influential authors noting conflicting Republican opinion towards Trump’s comments on Obama and Mexicans This highlights the extent to which highly visible issues bring to the fore other concerns around discrimination, suggesting a sense of community and alignment among active individuals seeking to raise awareness following high-profile cases. Females were slightly more engaged than males across both constructive and pejorative conversation.

This broke the trend seen across other constructs, wherein male authors were more highly engaged in insulting discussion.

This might suggest that misogynistic language has transcended into the vocabulary of both men and women within their social engagements. The finding may seem to reflect a more ingrained, and at times implicit, discrimination present regardless of gender.

It may also reflect a normalising of misogynistic language and that authors (including female authors) no longer consciously consider the terms offensive Such a finding is supported by the casual and common usage of insults such as ‘lil bitch’ by female authors, with self-reference also common However, a common theme of derision, references to promiscuity and the body, as well as lack of male/’masculine’ equivalent terms supports

73

a view of the language as nevertheless misogynistic. Authors engaging in insulting discussion were twice as likely to be students compared with authors driving neutral conversation (25% and 14% respectively), and also twice as likely to be interested in sports and music (16% and 17% respectively compared with 8% and 9%) Women as Perpetrators of Misogyny. The following charts break down misogynistic language into Categories: ‘animal’ (bitch, cow, mare), attributes (‘appearance’ and ‘intelligence’) and sexual aspects (‘anatomy’, ‘orientation’ and ‘promiscuity’) Many of these terms have expanded beyond their original meanings, but etymologies can provide a useful framework for understanding implicit attitudes Overall, animal-derived terms and those relating to sexual promiscuity were the most common (84% combined).

74

Misogyny was the only area in the study for which females were more likely than males to use pejorative language Females were most likely to use language relating to animals, promiscuity and appearance Male authors, by contrast, contributed the majority of language relating to orientation, intelligence and anatomy Insults relating to female anatomy were also significantly more likely to come from the UK. The data suggests that misogynistic language, including derogatory terms surrounding promiscuity and appearance, are used in mostly female-to-female exchanges and that efforts to challenge these norms should target both male and female authors. The examples here show a range of misogynistic language use, segmented by literal use (featuring standard term definitions), generic negativity (in which terms have broader negative connotations) and appropriated use, suggesting terms that have become normalised among some female authors Examples of conscious appropriation were relatively rare in the data, with the majority of authors using misogynistic terms either to intentionally offend individuals or make generalisations based on gender. Another subset of authors appeared to not intend offence but did reinforce negative connotations for the terms, using them either to personify (“divorce is a bitch”) or in selfdeprecation (“I need to stop being such an emotional bitch”).

And our research shows that males are more likely to bully and less likely to report bullying when they have been subjected to

it It is therefore evident that in its current format, masculinity is causing a lot of problems This research highlights the pressures that men are under to conform to an ideal set of standards surrounding their appearance, personality, preferences and behaviours. In order to reduce the rates of bullying and to increase reporting from males, it is therefore crucial that we challenge and redefine the constructs of masculinity We are not all the same and any pressures to encourage conformity should be challenged.

The constructs of gender continues to create issues, not only for men but for women too Women still do not have equal representation within traditionally male-dominated industries; such as within politics, corporations and sports Women who are notable within such industries, are often reported to be subjected to misogynistic language online - often reducing them to sexual objects This research shows that women are, contrary to popular belief, slightly more likely to use misogynistic language than men We must not only challenge how men view and treat women, but also how women view and treat one another This research presents a unique observation to the digital constructs of masculinity and rates of misogynistic language used online.

It warrants further research, but provides a comprehensive framework which will help organisations like ours to better support young people and to campaign for a world that is fair, equal and free from all types of bullying. As an independent charity with no public funding, we are reliant upon the support of likeminded individuals and organisations. Trend Analysis/ Masculinity Insults around masculinity were consistently more visible than neutral conversation The most prominent talking point across the four years was a tweet telling men not to “be a pussy� in respect to their alcohol tolerance, suggesting that heavy drinking was considered by some a common attribute of masculinity. Within neutral conversation, a peak emerged around concerns about the masculine style in which celebrity daughters Blue Ivy and North were dressed The data indicates that online audiences expected celebrities - viewed as role models - to adhere to societal gender norms Commentators suggested that behaviour that strays from these norms may be damaging.

75

Para pensar bit.ly/2InikiL

Como a masculinidade tóxica está nos destruindo 76

Há uma série de barreiras sociais, culturais e históricas que impedem ou inibem que homens falem sobre aquilo que os aflinge, numa busca impossível por uma “masculinidade perfeita”. Busca essa que traz consequências negativas para todos, principalmente mulheres, que acabam recebendo boa parte dessa violência. A própria Lei Maria da Penha propõe, além do suporte emocional para as mulheres vítimas de violência doméstica, grupos reflexivos de gênero para homens, afim de reduzir (e tendo êxito) os índices de reincidência dessa violência.

Mais do que nunca, essas iniciativas precisam partir de homens.

Um exercício honesto de autocrítica sobre a maneira que estamos exercendo nossa masculinidade desde que nascemos. Um exercício de busca por humanizar nossas relações sociais, nossos corpos e nossas emoções, e de que maneiras estamos colocando isso no mundo. Quebrar todas as barreiras que impedem de nos comunicar. Homens, precisamos falar.

Embora grande parte da indústria do entretenimento concentre nas realizações e na evolução do caráter dos homens, poucos prestaram atenção às maneiras pelas quais as masculinidades afetam negativamente homens, mulheres e a sociedade. No entanto, ao longo dos últimos meses, filmes como “American Male” e Goat enfatizaram os perigos das expectativas patriarcais.

Ambas as produções se concentram em assuntos semelhantes: homens brancos jovens e hiper-masculinos que ocupam posições de poder na sociedade. O sociólogo Dr. Michael Kimmel acredita que, ao analisar a masculinidade, devemos primeiro considerar que existem muitos tipos diferentes de masculinidade e que os valores hegemônicos são ainda mais complicados pela raça, a sexualidade e a posição social. Em setembro de 2016, a MTV lançou o curta-metragem “American Male”,dirigido por Michael Rohrbaugh para o Look Different Creator Competition.

O filme, que dura pouco mais de seis minutos, apresenta um protagonista masculino que discute vários papéis de gênero e expõe a vulnerabilidade que vem com a tentativa de obter o ideal hegemônico. De acordo com o sociólogo Raewyn Connell, a masculinidade hegemônica, que pode ser definida como o seu tropo da essência masculina, é um dos quatro tipos distintos de masculinidade, no entanto, todos os tipos de masculinidade (incluindo subordinados, cúmplices e marginais) estão se esforçando para alcançar o alto nível hegemônico. Embora muitas culturas diferentes tenham uma compreensão diferente do que é o “homem ideal”,

O homem ideal é visto como atlético, poderoso, resistente, dominante, e assertivo.

E não se esqueça de branco e heterossexual. Vemos valores de hegemonia em todos os lugares, desde equipes esportivas até políticos, e como “American Male” ilustra: o campus da faculdade.

Pouco tempo depois, que a MTV estreou “American Male”, a Paramount Pictures entregou ao público o longa-metragem Goat , que protagonizam Nick Jonas e James Franco. O filme é baseado nas memórias do mesmo nome de Brad Land, que participaram da Universidade Clemson durante a década de 1990 e assumiu a fraternidade Kappa Sigma. Também toma emprestado do caso de assassinato em 2014 de Tucker Hipps, que assumiu a Fraternidade Sigma Phi Epsilon em Clemson. Ambos “American Male” e “Goat” concentram-se na masculinidade através da lente dos homens de fraternidade universitária — expondo as armadilhas

77

que entram em uma arena que prospera em intimidação, dominação e humilhação. Eles levam os telespectadores através da vida de homens que renunciam ao seu orgulho, dignidade e moralidade para serem valorizados dentro de um cenário hiper masculino — no entanto, é importante reconhecer que nem todos os que são afetados pela masculinidade “tóxica” pertencem a uma fraternidade.”

78

Embora a indústria do entretenimento e a mídia tenham apresentado a masculinidade como um problema que decorre principalmente dos homens brancos em posições de poder, é importante reconhecer que os danos da masculinidade podem afetar todos os homens em uma determinada sociedade. Embora vejamos principalmente o lado feio da masculinidade através de figuras políticas como Donald Trump e Bill Clinton, pesos pesados de Hollywood como Bill Cosby, Woody Allen e Chris Brown, e os casos de Brock Turner e Steubenville — tendemos a esquecer dos traços de “masculinidade “tóxica” pode serem vistos por homens de todos os tipos, não apenas aqueles que são ricos e poderosos”.

O Dr. Kimmel é um estimado professor de sociologia da Universidade Stony Brook e um dos principais especialistas mundiais em homens e masculinidades. Kimmel escreveu vários livros abordando a importância da masculinidade no campo dos estudos de gênero, incluindo Angry White Men(2013), The Guy’s Guide to Feminism(2011), Guyland: O mundo perigoso onde os meninos se tornam homens (2008) e Manhood in América: uma história cultural (1996). Kimmel estudou diferentes traços de masculinidade por anos e ele acredita que a questão da masculinidade negativa pode ser reduzida a uma característica que foi exibida nos homens em geral. Isso mesmo, estamos falando sobre o direito. Kimmel discutiu que o direito é um traço que é arraigado através da socialização em homens de diversas características demográficas desde o início dos tempos através de sua extensa pesquisa sobre masculinidades e ele acredita que tem desempenhado um papel crucial em muitas agressões sexuais, violência doméstica e casos de tiroteio em massa que encontramos em uma base aparentemente diária. Kimmel argumenta que “Os homens que têm status muito alto acreditam que eles têm o direito de fazer o que quiserem e que eles vão

fugir disso. E você sabe que, na maioria das vezes, eles estão certos.”De casos de agressão sexual, como o caso Brock Turner e Steubenville, para os escândalos que se centraram em figuras públicas como Bill Clinton e Clarence Thomas”. No entanto, Kimmel também deixa claro que, como sociedade, estamos cometendo um enorme erro reservando o direito a homens de alto status.

É hora de os homens saírem do patriarcado.”

“Como se isso não estivesse acontecendo nos dormitórios, como se isso não estivesse acontecendo com estudantes de engenharia, estudantes de informática e os autoridades em filosofia”. Em seu livro, Angry White Men , Kimmel detalha a forma como os homens de todos os níveis de poder agiram por causa do direito, explicando que o direito se manifesta de maneira diferente, dependendo do indivíduo. Embora possamos ver direito em termos de “conversa de vestiário” e delito político, o direito também afeta os homens que vivem na parte inferior da cadeia

79

alimentar social. Os homens de todas as origens são afetados pela imagem da sociedade do “homem real”, incluindo aqueles que não conhecem o “padrão”, mas que afirmam serem vítimas das expectativas estritas estabelecidas nos homens e usam seus direito como homens para se vingar da cultura masculina alfa e em alguns casos, do feminismo.

Tome, por exemplo, Elliot Rodger, ou como ele era mais conhecido, o atirador Isla Vista (Santa Barbara). Em um vídeo publicado logo antes de um ataque de matança perto do campus da Universidade da Califórnia, Rodger explica que ele havia sido vítima da sociedade e que buscou vingança contra a hierarquia social “cruel” que o impediu de ter uma linda namorada. “Há tantas garotas bonitas aqui, mas nenhuma delas me dá uma chance”, afirma Rodger no vídeo, explicando que não entendeu “por que as meninas se afastam de mim”. Ele explica que tinha feito tudo o que pôde para parecer atraente para as mulheres, vestir roupas de grife , dirigir um BMW caro, mas as mulheres

80

não conseguiram apreciar o quão “sofisticado” e “magnífico” ele era. Rodger era um indivíduo que, como os personagens de “American Male” e “Goat”, estava se esforçando para encontrar os ideais por excelência da masculinidade. No vídeo, ele explica que ele “trabalhou muito” para comprar roupas de grife e um carro designer para obter o ideal masculino, no entanto, apesar de seus

esforços, ele ainda não tinha a atenção das mulheres que ele acreditava que ele tinha direito, então ele tirou sua frustração em civis inocentes através de um horrível tiroteio em massa. É importante reconhecer que os valores da masculinidade que vemos através dos “machos alfa”, aqueles que imitam os totens da masculinidade, estão presentes entre todos os homens, independentemente da raça, classe ou status social — portanto, para abordar essas questões de masculinidade, devemos reconhecer que o direito e os aspectos da identidade masculina tóxica afetam todos os homens.

Para esclarecer, é importante para nós como feministas reconhecer os efeitos que a masculinidade e o direito tóxicos têm sobre os homens como um todo. Não estamos falando apenas dos irmãos da fraternidade ou dos Trumps do mundo quando se trata dos efeitos nocivos da masculinidade tóxica. O direito deriva a hierarquia e afeta homens de todos os tipos dentro da nossa sociedade, e o feminismo é uma ótima maneira de ensinar os homens sobre o privilégio, o direito e como eles podem se beneficiar de enfrentar as expectativas nocivas de masculinidade que nossa sociedade coloca sobre eles. As feministas têm lutado há anos para mudar a imagem das mulheres e para aliviar algumas das expectativas prejudiciais que a sociedade coloca sobre nós — por que os homens não podem fazer o mesmo por si Como Michael Kimmel disse uma vez: “O feminismo espera que um homem seja ético, emocionalmente presente e responsável por seus valores em suas ações com as mulheres, assim como com outros homens.

A gente costuma dizer que o homem é o grande protagonista da violência, em todos os aspectos.

A fala é de Caio César, professor de geografia, escritor e pesquisador no campo da masculinidade. Caio também é youtuber e, nos últimos meses, fez sucesso na rede com seu canal homônimo, onde aborda temas como racismo, machismo e a concepção convencional do que é ser homem. O trecho da

81

82

conversa que Caio teve com a nossa reportagem que separamos acima, reflete alguns dos números recentes de pesquisas de violência, tanto no Brasil, quanto no mundo. Por aqui, homens são os principais atores em praticamente todas as estatísticas de violência existentes. Eles se suicidam quatro vezes mais do que mulheres, segundo o Mapa da Violência da Flacso de 2017.

Também morrem 10 vezes mais vítimas da violência cotidiana do que elas, de acordo com o Atlas da Violência de 2017. São, ainda, maioria entre jovens de 15 a 19 anos que perderam a vida, entre presos, no crime, tráfico e outros conflitos urbanos. Os homens só não aparecem na liderança entre as vítimas quando o responsável pelo crime é ele e a motivação é a misoginia. O Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídio no mundo, que é quando a mulher é assassinada pelo simples fato de ser mulher.

Entre 1980 e 2013, 106.093 mulheres morreram vítimas desse crime. “Boa parte da nossa construção de masculinidade é baseada na demonstração de força e superioridade física sobre outras pessoas, principalmente outros homens. Então sempre escutamos que se a gente ‘apanhar na rua, vai apanhar em casa também’. Essas concepções fazem a gente enxergar a violência como algo naturalizado”, afirma Caio. Esse modelo de criação do homem é o que hoje se entende por masculinidade tóxica.

O termo ganhou popularidade pegando carona com a primavera feminista que tomou o Brasil e o mundo nos últimos anos. As discussões por igualdade de gênero levaram alguns homens a questionarem como os efeitos da sociedade patriarcal impediram que eles tivessem um desenvolvimento mais saudável, tanto do ponto de vista psicológico, quanto do físico. A pesquisa Google Consumer Surveys, divulgada no primeiro semestre desse ano, mostrou, entre outros números, que mais da metade dos homens que demonstrou alguma fragilidade ou expressou algum sentimento foi chamado de “gay” ou “afeminado”, de forma pejorativa, por outro homem. Na outra ponta, a maioria dos caras também prefere caçoar ou até mesmo não comentar quando um amigo, mesmo que próximo, muda de aparência. “É sufocante porque, com essa barreira do diálogo, não conseguimos estabelecer vínculos afetivos fortes. Como já mencionado, homens tendem a manter mais laços de amizade

com outros homens, mas essas relações acabam sendo mais mecânicas, menos aprofundadas e afetuosas”, diz Caio.

Tá doendo? Imagina para as mulheres. Não dá para falar sobre masculinidade tóxica sem levantar como isso afeta as mulheres.

A falta de igualdade de gênero historicamente se colocou como uma enorme barreira para o desenvolvimento pessoal e profissional delas. Sem contar o lado violento disso tudo. Além do feminicídio, as mulheres são constantemente sensualizadas em excesso e exploradas sexualmente pela sociedade patriarcal.

O levante delas em busca de interromper essa realidade exploratória levou à construção de diversos movimentos feministas poderosos, como o #MeToo, que destruiu reputações de agressores a torto e a direito no cinema hollywoodiano nos últimos dois anos. “Acredito que a gente precisa entender que nossas práticas são nocivas não só a nós mesmos, mas a todos”, explica Caio. “As mulheres são a vanguarda, inclusive, no próprio

Para pensar bit.ly/2WoxFcR

83

debate sobre masculinidade. A escritora norte americana Bell Hooks, por exemplo, tem trabalhos excelentes sobre homens e suas relações com mulheres. Acredito também que o feminismo veio para deixar ainda mais evidente uma série de questões e atitudes problemáticas causadas pelos homens e isso certamente estimulou muitos caras a refletir e buscar mudanças”, diz ele.

Abandono parental e a masculinidade tóxica como “herança” Já dizia Mano Brown no começo do século que, no Brasil, família brasileira é “dois contra o mundo”. Uma mãe e um filho. Quando esse número varia, é sempre na quantidade de primogênitos, 83% das crianças de até 4 anos no Brasil possuem como primeira responsável uma mulher, seja mãe, madrasta, avó ou tia, segundo pesquisa do IBGE de 2017.

Vivemos em um país que mata um homem negro a cada 25 minutos.

84

Quando presente, o pai se torna o primeiro referencial de masculinidade da criança e, portanto, o mais decisivo. “Um dos assuntos que a gente mais discute dentro das masculinidades é o abandono parental. E como a falta de uma figura paterna, seja total ou parcial, afeta nossa construção enquanto homens”, opina Caio. O campo das masculinidades tem debatido com certa frequência o desenvolvimento de uma nova masculinidade. A ideia é que o homem seja criado com a mentalidade proposta pela igualdade de gênero, e que, aos poucos, o viés machista seja eliminado de novas gerações. O processo é longo e lento, uma vez que, no Brasil, 75% dos homens entre 25 e 44 anos nunca sequer ouviu falar em masculinidade tóxica. Mas precisa começar logo. “Estou em processo de desapego da masculinidade tradicional. Parafraseando Mano Brown, sou machista por ser homem”, diz o jornalista e comunicador Amauri Eugênio Jr. “A nova masculinidade está pautada na igualdade: ouvir e agir de modo que a equidade seja a premissa na relação entre mulheres e homens. E isso passa por jogar no lixo o pressuposto de que devemos ganhar no grito e na agressividade para sermos o que se entende por homem.” “É muito fácil falar de cima de um sistema que reflete basicamente o patriarcado em todos os meios.

Não acho também que esta discussão deva ser feita de maneira radical, pois pensamos sempre na bolha que estamos.

Para efeito amplo, tudo deve ser didático”, acredita o jornalista Marco Bezzi. Ele tem 44 anos e já trabalhou no antigo Jornal da Tarde, Estadão e na Editora Abril. Atualmente, é mais conhecido por ser um dos fundadores da página e canal no Youtube Galãs Feios, ao lado de Helder Maldonado. Além disso, a crítica se volta para dar uma prova ao homem do sentimento de ser tratado como uma mera mercadoria pelas publicações. Elas representam 75% do público no Facebook, onde a Galãs tem quase 600 mil seguidores, e estão na faixa de 25 a 35 anos. “As pessoas se sentem acolhidas na página. É claro que às vezes saltam héteros alfas tentando rebater nossos argumentos da maneira mais peculiar possível: mostrando força, xingando, mas é raro”, garante ele. Como isso afeta o homem negro? Historicamente, o homem negro foi colocado pela sociedade em uma posição onde lhe é negado o direito de desenvolver sensibilidade, intelectualidade

85

e ter qualquer tipo de preocupação psicológica. Naturalmente, pouco se considera o preto como parte do debate sobre uma nova masculinidade. Ou assim seria se não existisse Terry Crews.

O ator e ex-jogador da NFL, liga de futebol americano dos Estados Unidos, tem um currículo em Hollywood com grande holofote sob seus músculos e potencial físico no geral. Tem sido ele, no entanto, o principal puxador deste debate no país em que vive. Uma das atitudes que demonstrou a vontade do ator de se distanciar da masculinidade tóxica foi o fato dele, no ano passado, acusar em público um executivo do cinema norte-americano de abuso sexual. “Essa coisa toda com Harvey Weinstein está me dando stress pós-traumático.

Por quê? Porque eu passei por algo assim! Minha esposa e eu estávamos em uma festa em Hollywood no ano passado quando um executivo veio e simplesmente agarrou meus órgãos sexuais”, declarou ele na ocasião.

86

A afirmação de Crews fez com que ele fosse elogiado por mulheres integrantes de movimentos contra a exploração sexual no mundo do entretenimento, mas provocou atitudes típicas dos efeitos da masculinidade tradicional. O rapper 50 Cent, por exemplo, tirou sarro e fez pouco caso da fala do ator, dando a entender que ele, pelo porte físico que possui e por ser homem, não deveria “morrer de medo” de um abusador. “Nossas pressões As discussões sobre igualdade de gênero extrapolam os gritos em manifestações populares e conversas entre grupos de ativistas e apoiadores. Ela chegou no mais alto cenário da política eleitoral brasileira. O principal candidato à Presidência da República hoje, sem considerar o ex-presidente Lula, é Jair Bolsonaro (PSL). O capitão da reserva do Exército tem 24% das intenções de voto no primeiro segundo pesquisa Datafolha. Seu crescimento, porém, esbarra principalmente na rejeição do público feminino.

O deputado federal pelo Rio de Janeiro tem sua crescente brecada por 43% de eleitoras que não votariam nele “de jeito nenhum”. As mulheres representam mais de 52% dos 147,3 milhões de pessoas eleitoras no Brasil. Delas, apenas 13% declaram voto no candidato.

A exploração do corpo negro é um dos mais expressivos legados da escravidão.

87

88

As discussões sobre igualdade de gênero extrapolam os gritos em manifestações populares e conversas entre grupos de ativistas e apoiadores. O machismo tóxico está cada vez mais isolado em espectro social que flerta com o fundamentalismo e o autoritarismo, que inclusive vê mulheres como agentes passivos, elas que têm rejeitado cada vez mais o candidato que é a epítome da masculinidade tóxica”, garante. “Vamos levar em conta que o pressuposto do ‘pulso firme’ está diretamente conectado à masculinidade [tóxica].

Logo, esse conceito está interligado ao autoritarismo, o que tem adesão popular, em especial na parcela conservadora, ainda mais porque estamos começando a discutir e colocar em xeque o machismo e a estrutura patriarcal. Logo, o debate de ideias e de pautas sociais, inclusive relacionadas à igualdade de gêneros e à onda de relatos de tentativas de estupro, o que está relacionado ao poder que homem acha ter sobre mulher e não tem relação alguma com sexo, são escanteados”, opina Amauri. Para ele, a masculinidade tóxica, por mais que não seja um termo conhecido dentro da sociedade brasileira, está ativamente ditando os caminhos do debate eleitoral.

Jair Bolsonaro é marcado por frases consideradas racistas, machistas e homofóbicas.

“A ideologia funciona criando um inimigo: As mulheres.”

“Masculinity and misogyny walk side by side in our society.”

“Suicide continues to be the biggest killer of young men.” ”Já é hora de os homens saírem do patriarcado.”

“Vivemos em um país que estupra uma mulher a cada 11 minutos.”

Abertu Cola

ura III agem

Abertura III Colagem

Ser um homem adulto e não se encaixar nos padrões impostos já foi mais dificil, eu sei. Durante toda minha vida lutei uma batalha interna por aceitação e perdi. Somente agora depois de quase três decadas de vida é que comecei a me deparar com a certeza que o “ser homem” é muito mais do que apenas estar dentro do padrão que a sociedade acredita ser um homem.

Esta sob nossa responsabilidade moldar o futuro em que vamos envelhecer e onde nossos filhos e filhas irão viver. O futuro onde quero viver daqui alguns anos é um onde qualquer mulher pode se sentir segura ao sair na rua, sem pensar na possibilidade de ser assediada, é um futuro onde homens e mulheres recebem o mesmo salario e a mesma valorização, é um futuro onde meninos são ensinados a demonstrarem afeto e onde meninas não são ensinadas e incentivadas a serem “gentis”.

Esse futuro pode parecer distante, mas com certeza ele permanecerá lá longe, se nós, homens, ficarmos apenas parados esperando que, a mudança que tanto queremos, chegue até nós.

Men, toxic masculinities, and violence

96

The link between masculinities and violence is not unexplored.

Many social sci- ence scholars, particularly in the last 25 years, have focused on studying and ex- posing the connections between masculinities and different forms of violence. Why, then, did we choose ‘Men, Masculinities, and Violence’ as the theme for this issue? The answer is simple: because we don’t live in a post-patriarchal world yet. Men’s violence, whether directed at women, people with diverse sexual orienta- tions and gender identities, or other men, is inextricably linked to hegemonic and toxic masculinity. It is with the intention of contributing to the existing body of aca- demic knowledge on masculinities and violence, especially by younger and early- career scholars, that we had issued our call for papers and artwork on this subject.

Addressing gender and gender-based violence is structural work wherein fo- cussing on one aspect of the structure would not help if the other aspects were left unattended. It is important to recognise and address all different dimensions of the structure for interventions to be comprehensive and sustainable.

Working with men, masculinities and violence is therefore not a substitute for working with women on preventing violence, but complementary. For too long work on gender- based violence has been initiated by women working with other women on recognising and addressing violence through a variety of strategies.

It is important therefore to recognise the multi-faceted nature of working on gender and gender- based violence by also focusing on men, their roles, their own and society’s ideas of masculinity,

the relationships they share with themselves and others including While on the other hand, there is also a growing body of criticism of such efforts, for example diverting limited funds for these campaigns especially when the women’s rights sector is already under-funded, and the effec- tiveness of such campaigns towards the difficult work of reducing gender inequali- ties and addressing structural basis of oppression. Against such a background, it becomes increasingly important to examine some of the concepts around work on men, masculinities and violence. This thematic issue is an attempt to contribute to a nuanced and critical understanding of the interconnectedness of men, masculinities and violence, espe- cially by younger and early-career scholars. We are glad and excited to present this collection of eight peer-reviewed academic papers, one invited article, one crea- tive writing piece, and two photo essays. We are also proud of the geographic and sociocultural diversity reflected in the papers and artworks in this issue; scholars and artists represented in this collection are based in seven countries, and their contributions relate to a wide variety of geographic regions and social contexts.

There’s a growing need to get more men involved in working on gender equality.

We open the issue with an invited article by Michael Flood, who is a renowned scholar and activist in the field of masculinities and gender-based violence. In this piece, Flood explores the need for involving men in ending violence against women. He highlights the intrinsic ways in which men’s violence against women is linked to gender inequalities and posits gender equality as a solution, and em- phasises the need to focus on structural inequalities as integral to meaningfully addressing violence against women.

Peretz discusses the idea of studying men and masculinities as a process of ‘studying up,’ and as a form of resistance. Although he acknowledges the implicit ways in which men are part of all knowledge production except those labelled explicitly feminist, he argues for the need to study men and masculinities because men as superordinate categories often go unmarked; and

97

emphasises the need to study men, as they form a definite part of the gender relational structure, in order to be truly inclusive and intersectional, and to dispute the naturalness and hierarchy of these social structures. Peretz further mentions that social structures that stall gender equality have more to do with masculinity than femininity, and thus the study of men and masculinities is an important one for feminist projects.

Eriksson explores the experience and ethics of doing research on violence fo cusing on the affective relationship between the researcher and the research ma- terial, the ethical implications of such research and the politics of reading; and the methodology of writing. This is especially interesting as men and masculinity has also been associated with the lack of emotion or affect and this article makes an important contribution in looking at a researcher’s own experience of doing work on masculinity and violence, and using ‘emotional data’ and ‘text as felt’ as part of the research experience.

98

Almost as a gender-neutral and agentless problem with diffusion of responsibility, and a problem of ‘the other’. He does this by examining the policy approaches of the UK and Finland governments vis-à-vis men’s violence against women. This study is also interesting as it talks about two regions diverse in contexts and with different histories in women’s movement building.

Two papers in this collection highlight the different ways in which the idea of masculinity is constructed, and how it manifests in two different contexts in In- dia. Kohli discusses the idea of the ‘dominant’, ‘brave’ and ‘martial’ Sikh masculine identity and explores how the historical construction of masculinity intersects with contemporary discourses on Sikh identity and masculinity within the diaspora in the UK. Kohli explores how the conceptualisation of the Sikh Khalsa identity has its origins during colonial times when the performance of the Sikh identity was in projecting an image as warriors in order to seek legitimacy from military in the war effort. Kohli discusses the complex ways in which not only the Sikh identity has been privileged in its representation as warriors over other communities during colonial times, but also that the Khalsa identity has been privileged as ‘the Sikh’ identity.

Violence against women is viewed as a problem without perpetrators or context.

Kohli problematises this by discussing the social construction of the Sikh identity by the British due to ideas of the ‘ideal’ soldier as loyal, obedient and therefore subservient. This paper is especially interesting as it juxtaposes the iden- tities of being a military warrior and being obedient and loyal. In another paper, Krishnan discusses the idea of the ‘loving conqueror’ and the psychologisation of masculinity in contemporary Kerala.

The author explores ‘aadyarathri’ or the ‘first night’ as a distinct vantage point when the masculinity of the male partner in a heterosexual marital context becomes a point of surveillance and is constitutive in the making of a gendered male within the Indian context.

99

Para pensar bit.ly/2HXsgAx

100

This paper is an interesting contribution to how ideas and conceptualisations around masculinity manifest themselves.

Two papers within this issue explore counselling as a strategy to address men’s violence against women in two disparate geographical and sociopolitical contexts. Loncarevic and Reisewitz focus on the psychosocial counselling of perpetrators and perpetrator treatment programs in Western Balkan countries including Bos- nia-Herzegovina and Albania. The authors discuss the culture of silence around violence of war and how that impacts men and their masculinities in different ways such as men being unable to regain positions as bread-winners and heads of families in post-war situations. They highlight the need for perpetrator programs in such scenarios to adopt a gender transformative approach and provide alter- nate forms of masculinity, focusing not only on their lived masculinity, but also paying attention to their vulnerabilities thus creating a space for a deeper under- standing of masculinity. In another paper, Rousseau-Jemwa, Hendricks and Rehse explore counselling as an intervention strategy within the South African context. The authors work with the idea of violence as a manner in which a man responds when his masculinity is threatened or challenged and therefore originates from a place of ‘frustrated expressions’ with men struggling to deal with and manage their anger.

Besides the academic papers and personal narratives in this issue, we are very happy to present the two photo series by photographer Damien Schumann in- cluded in this issue. The first photo series, titled ‘Man-Kind’, reflects Schumann’s interest in social construction of masculinity, and explores the notion of ‘alpha male’ by studying men’s performances to attain and sustain their idea of mascu- linity. The second photo series, ‘Making Men’, studies the relationship between fa- thers and sons and invites the readers to contemplate the influence fathers have.

We are grateful to several individuals who have helped and supported us in bringing out this issue. We are very thankful to all the peer-reviewers for their will- ingness to review papers for this issue and for their generous feedback to the au- thors. We are thankful to Dr. Michael Flood for giving us permission to include his keynote address from a recent conference, as an invited

article in this issue. We would also like to thank Devon Endsley for letting us use her excellent photograph for the title cover of this issue. Finally, this issue would not have been possible without contributions and support from members of the GJSS editorial team, namely Nadia Hai, Michael En, and Boka En. A special word of thanks for Nadia Hai as this issue marks the end of her tenure as the GJSS copy editor; on behalf of the GJSS editorial team we thank Nadia for her contribution to the journal.

We hope you enjoy reading these papers and artwork as much as we enjoyed editing and putting together this issue. Happy reading!

Involving men in ending vio­lence against women: Facing Increasing men isolation and inability to deal with their emotions.

The author therefore argues for the need for counselling services with inculcating a context of trust, providing counselling to men as ‘clients’ and not as ’perpetrators’, pushing men to accept responsibility for the violence and acknowledging the violence that emerges from conventional social constructions of masculinities. Qambela presents an autoethnographic account of rape and discusses that it is not just women who are victims of violence, but also men who are raped and assaulted by other men. Qambela discusses men’s dominance over other men in a post-conflict setting drawing upon his own experiences of fear and vulnerability. In his creative writing piece, Pavlinich presents a narrative of the social construction of boys’ masculinity .

101

I will focus on three key points: Men’s violence against women is fundamentally linked to gender inequalities. Men’s involvements in violence prevention are shaped by these same gender inequalities. Putting this another way, these same gender inequalities pose challenges for engaging men in change. Gender inequality is the problem, and gender equality is the solution.

First, I will look outwards – outside the White Ribbon Campaign and other violence prevention efforts, towards Australian society in general. After this, I will look in- wards, at the field of violence prevention itself. Men’s violence against women is fundamentally linked to gender inequalities. Besides the academic papers and personal narratives in this issue, we are very happy to present the two photo series by photographer Damien Schumann in- cluded in this issue. The first photo series, titled ‘Man-Kind’, reflects Schumann’s interest in social construction of masculinity.

Ideas around masculinity act as a barrier to seek support.

Let’s start with the most basic point, that there is a crucial link between violence and power. Men’s violence both maintains, and is the expression of, men’s power over women and children.

Men’s violence is an important element in the organisa- tion and maintenance of gender inequality. In fact, rape and other forms of vio- lence have been seen as paradigmatic expressions of the operation of male power over women (Miller & Biele, 1993).

Violence is targeted at and inflicted on women as a gender. Men’s violence serves a political function, of subordination. There are ways in which all men benefit from some men’s violence against women. And many men collude or are complicit in men’s violence.

102

Men perpetrate violence against women because they believe in gender in- equality. Men assault and control their wives and partners because they believe that men should have status and authority over women, that they have a right to punish ‘their’ women; and that violence is a legitimate form of punishment (Adler, 1992). Men pressure and coerce women into sex because they believe in gender inequality:

Men’s violence against women both expresses and maintains men’s power over women.

103

Common explanations of men’s violence against women show both an indi- vidualist and a culturalist bias. They focus above on attitudes held by individuals. These same biases then are visible in prevention strategies, again focused largely on shifting individual attitudes. There are two issues here. First, the problem is not only individual attitudes, but social and cultural norms and ideologies.

When it comes to sexual violence and sexual harassment for example, the problem is, in part, the social norms and ideologies through which male aggression is expected, girls and women are seen only as sexual objects, males’ sexually coercive behaviour is normalised, and girls and women are compelled to accommodate male ‘needs’ and desires. These so- cial norms means that sexual coercion actually becomes ‘normal’, working through common heterosexual norms and relations (Flood & Pease, 2009).men’s violence against women beyond individual vio- lence, we will misdiagnose the problem and thus misprescribe the cure for all the sickness in her.

Men’s violence against women has deep roots.

104

In scholarship on violence against women, one contemporary trend is an in- creasing critique of approaches focused on individual and particularly psychologi- cal determinants of men’s violence against women, and an emphasis instead on the social and structural foundations of this violence. There has been in recent years a resurgence of perspectives highlighting how structures of gender inequal- ity shape violence perpetration and victimisation, both at the level of entire socie- ties or communities and at the levels of relationships and families. If we do not understand men’s violence against women beyond individual violence, we will misdiagnose the problem and thus misprescribe the cure. We will fail to understand the true character of men’s violence against women, we will fail to address its real causes and foundations, and we will fail in our efforts to reduce and prevent it. I want now to extend these points, in several ways. Individual men’s use of violence is enabled by wider gender inequalities.

When an individual man hits an individual woman, or pressures

her into sex, or sexually harasses her, his actions are only made possible because of a wider web of collective or structural conditions: patterns of gender inequality, structured inequalities in power, the social relations of peer groups, collective ideologies and discourses of gender and sexuality, organisational cultures, and institutional conditions. When a man sexually coerces his girlfriend, he does so in part because his male friends think that this is okay, and some of them are doing it too. He’s got close ties to abusive peers.

Para pensar bit.ly/2NdVefh

Men’s violence itself may be practised collectively.

And they’re supportive of his dominating and coercive relations.

He has what the research literature calls rape-supportive social relationships. When a man sexually harasses a woman at his workplace, he does so in part because his colleagues and superiors turn a blind eye to harassment, there is no strong formal or informal commitment to a respectful workplace, and whistle- blowers and victims are ignored or punished. Recent work by Evan Stark and others brings us back to two key insights of early feminist work: First, men’s violence against women in relationships and fami- lies should be understood particularly in terms of dynamics of power and control, what Stark calls ‘coercive control’. He highlights that the abuse many women suf- fer “typically [involves] frequent, even routine, but generally low-level assault; and [includes] a range of tactics in addition to threats or physical force” (Stark, 2010). Often, Second, this coercive control is made possible because of wider gender inequalities.

Evan Stark emphasises that men’s use of coercive control against women exploits persistent gender inequalities, and that this control both expresses and maintains gender inequality. This means that women’s use of controlling behaviours against men is unlikely to work in the same way, with the same meanings or impact, as men’s controlling behaviours against women. Men’s use of coercive control against female partners is enabled by persistent gender inequalities (Stark, 2010). A man is more able to control his wife or partner because he can exploit her roles

105

as a housekeeper, wife, and mother. Because she does most of the unpaid work in the house, while he is free to advance his career. Because she has been socialised to feel responsible for his emotional wellbeing, his sexual interests, and so on. And make no mistake, a man using coercive control and abuse against his wife or partner may gain benefits from this. His abuse of her has a payoff for him, in terms of the emotional and material resources he gains, personal service, sexual exclusivity and access, and the reinforcement of a gender identity built on entitlement.

Not only does MVAW have collective or structural roots, but this violence itself may be practised or perpetrated collectively. Think for example of group or gang rape, of street sexual harassment, or other forms of violence against women, practised by groups of men acting together or colluding in their violence. For example, rape sometimes is practised as a means to and an expression of male bonding, as inter- views among convicted rapists document.

Men’s violence against women has an impact not just on individual women, but on women as a group. Men’s violence is a threat to women’s mobility, self-esteem and everyday safety.

This violence imposes a curfew on women. Sexual violence and other forms of violence act as a form of social control on women, limiting their au- tonomy, freedom and safety, and their access to paid work and political decision- making. Men’s violence thus has the general social consequence of reproducing forms of men’s authority over women. Men’s violence against women also thus has an impact on men as a group, in that it sustains the power and authority of men as a group. Men’s violence against women is fundamentally collective and structural in its causes, its workings, and its impact. This has some obvious implications for pre- vention. To stop violence against women, we must address collective causes. We must address ‘the structural conditions thatperpetuate violence at the interpersonal and even societal level. Violence prevention efforts among men and boys do make a difference. There are other positive trends I’ve noticed. There is increased regional and global networking. You already know this about the White Ribbon Campaign.

106

Men’s violence has a self impact.

107

Masculinidade negra, das emoções ao autocuidado Sim. Homem negro sente dor. Homem negro sente medo.

Homem negro sente apreensão. Homem negro sente dúvida.

Homem negro sente insegurança. Homem negro sente incerteza.

Homem negro sente tristeza. Homem negro sente saudade.

Homem negro sente desesperança. Homem negro sente falta de autoestima. Homem negro sente solidão. Homem negro sente vergonha. Homem negro sente dificuldade. Homem negro sente isso tudo porque homem negro é uma pessoa humana em primeiro lugar.

108

Só que o mundo quis que você esquecesse disso. O mundo quis que o próprio homem negro esquecesse disso. O mundo quis que não se refletisse sobre isso. O mundo quis que a própria militância negra por vezes se esquecesse: o homem negro sente dor. Esse texto tem a intenção de tencionar nossas préconcepções para que a gente consiga repensar nosso cotidiano e, inclusive, nossa militância. Mas a intenção primeira é que essa discussão ajude a libertar os sentimentos que se prendem e nos aprisionam em nós mesmos. A ideia de pensar sobre isso tudo vem de muito tempo de militância, estudos e de muitos diálogos com pessoas negras e brancas e das minhas próprias sessões da terapia, que se revelaram como algo que fundamental para eu me entender e, pela primeira vez na vida, me aceitar como pessoa.

Existem algumas discussões urgentes que a militância negra têm avançado brilhantemente em denunciar para a sociedade e expor em relação aos homens negros, sendo que duas se destacam, ao meu ver. Em primeiro lugar o genocídio da juventude negra e pobre e em segundo lugar a hiperssexualização do homem negro, revelada brilhantemente na obra Pele Negra Máscaras Brancas de Franz Fanon. Mas não é sobre isso que quero falar aqui. Quero expor a insuficiência de se tratar somente essa temáticas, porque a vida de homens negros tem MUITOS outros aspectos muito mais cotidianos que o racismo toca, machuca, fere, do que a violência policial direta e a hiperssexualização.

Sendo assim, busco aqui ir além. Caminhar para um lugar que em tempos e tempos de militância, ainda não tive acesso. O lugar dos sentimentos, das emoções, das dores e angústias dos homens negros. Em suma, não quero falar sobre o genocídio da juventude negra por parte da polícia, mas do MEDO que o homem negro tem de andar na rua e sofrer uma abordagem policial violenta.

Não quero falar sobre a hiperssexualização dos CORPOS de homens negros. Não quero falar disso porque somos muito mais que corpos. Quero falar sobre a INSEGURANÇA, a VERGONHA, a APREENSÃO dos homens negros por serem hiperssexualizados

109

Muitas vezes aquilo que nos afeta, são traumas advindos de cotidianos complicados desde a primeira infância.

110

e da consequência disso para seus relacionamentos amorosos.

Precisamos libertar, mais do que nossos corpos, nossas mentes e corações para que consigamos viver mais seguros de nós.

Nos afeta o fato de que desde criança a gente é visto como os mais feios no grupo de amigos. A nossa pele é vista como suja.

Nosso cabelo não serve para os cortes de cabelo da moda. Nosso corpo não agrada a nenhuma das meninas, nenhum dos colegas, e, consequentemente, o que somos não agrada a nós mesmos.

O que nos afeta é a tristeza, porque nós somos vistos pelos professores como bagunceiros por mais que não estejamos envolvidos em brincadeiras na sala durante a infância. O que nos afeta é a dor de termos que aceitar as “zoações” que falam sobre a gente e sobre o nosso corpo para sermos legais. Também nos dói muito quando nós entramos no ônibus e muitas vezes ninguém quer sentar do nosso lado mesmo com o ônibus cheio.

A gente anda na rua e, por vezes, pessoas escondem a bolsa, se assustam conosco, nós temos insegurança sobre o que podemos fazer ou não nos lugares. e isso também nos machucadurante o dia todo. Essas situações são só exemplo de que: sentimos dor.

Sentimos medos cotidianos. Sentimos inseguranças, por vezes, pavor. Carregamos muitas vezes uma baixa auto-estima e não acreditamos que possamos de fato sermos bons, por mais que tenhamos companhias afetivas que reiterem isso e por mais que recebamos elogios constantes, inclusive a beleza física ou intelectualidade. Nossa autoestima fica despedaçada com tantos danos cotidianos ao longo do tempo. Fica difícil, quase que impossível, de acreditarmos de fato em nós mesmos. Falar de homem negro é falar desses machucados que se fazem presentes em quase todas as relações sociais. É falar de inseguranças que nos cortam internamente Um dos piores fatores é o fato de que a consciência racial não nos liberta desses constrangimentos.

Sim, nós tomamos consciência de que muito do que sofremos advém do racismo, encontramos um porquê que explica as coisas que passamos e começamos a questionar e enfrentar essa realidade. O enfrentamento, entretanto, não é necessariamente libertador. Vejo que nossas vidas se tornam gatilhos cotidianos.

111

Temos medos, apreensões do que pode nos acontecer desde quando planejamos nossos dias ao sair de casa, desde quando escolhemos a roupa para sair. Andamos na rua com medo das pessoas se assustarem, preparados para o enfrentamentos e esse sentimento existe com as pessoas se assustando ou não.

Isso se repete para quando entramos nos ônibus, entramos na sala de aula, no local de serviço, com nossas companhias afetivas, no próprio cotidiano familiar. É como se nós, tal como nossos antepassados, ainda andássemos com correntes, mas correntes mentais, que nos aprisionam, dificultam nossa caminhada, pesam nosso corpo, nos estressam, nos deixam mal. Questionamos todos os lugares como se lugar nenhum fosse lugar para nós porque temos sempre medo de algo acontecer.

Assim, ao meu ver, a maior parte dos homens negros militantes não se sentem livres, nem mesmo seguros de si. Em pergunta bem direta, quantos desses, de fato, já desconstruíram para si a ideia de ter um pau grande? Talvez o militante negro tenha descoberto formas de sobreviver e conseguir se firmar, mas dificilmente se encontra negros militantes que ainda não se prendem a expectativa construída de ser um homem negro, permanecendo fechado sentimentalmente ou carregando ainda uma autoestima muito aquém do que deveria ser.

Homens negros precisam chorar e aceitar o lugar do afeto dentro de si e para os outros.

112

A construção social é para que homem não chore. A expectativa sobre homem negro é que não haja nem mesmo espaço para isso. Nos apresentamos como pessoas firmes, seguras do que são, invioláveis, inquebráveis, que aguentam o mundo sem mudar a feição. Quantos homens negros “cabulosos” no seu entorno que carregam uma cara fechada? Sempre uma cara fechada? É como se, por conta dos machucados cotidianos do racismo, nos houvesse sobrado apenas a raiva, a revolta, a violência. Os homens negros não refletem sobre suas dores, e esse é o fato.

São fechados para si e para os outros. Se fecham para outros homens negros também, como se tudo fosse quase que uma

concorrência. Buscamos ser melhor que os homens brancos e que os colegas negros também. Não quero impor regras, cada um faz o que quiser de sua vida, mas Isso nos mata diariamente.

Claro que muitas vezes conseguimos conquistar muito, mas a qual custo emocional? A qual custo psicológico? Ninguém se pergunta porque os homens negros não choram. Aliás, acredito que na militância, nós, homens e mulheres negras, choramos cada vez menos. Afirmamos o tempo todo que estamos tomando

tapas na cara diários da sociedade, mas não refletimos sobre nosso emocional. Precisamos falar sobre o não-cuidado de si do homem negro. De um isolamente emocional. De uma autoexclusão. A gente agiu assim na vida o tempo todo como modo de defesa e até de ataque, mas não é pra ser assim. Não que seja impossível de um homem negro ser uma pessoa sorridente, isso acontece e em nosso entorno temos vários e vários exemplos dessas pessoas, inclusive artistas. A reflexão aqui é para que pensemos o que talvez esteja atrás de muitos desses sorrisos?

O lugar do homem negro que sorri, que brinca o tempo todo também é um estereótipo socialmente construído. O sorriso não quer dizer uma felicidade completa. Quantos sorrisos amarelos as pessoas negras usualmente não dão em suas vidas por não

113

saber como se portar em situações de racismo? Quem não cuida de si emocionalmente não consegue cuidar do outro de verdade.

Quem ainda não conseguiu dedicar amor a si mesmo acaba por ter naturais dificuldades em ter segurança para amar outra pessoa. Isso significa que os relacionamentos amorosos dos homens negros já costumam ser, consequentemente, distorcidos, seja com pessoas negras ou brancas. É necessário que o homem negro encontre completude e amor em si para que um relacionamento mais estável de fato aconteça. Muito se indaga sobre homens negros que permanecem em relações muito danosas à eles emocionalmente, mas pouco se responde de maneira empática sobre os processos que o tornam dependentes de algum tipo de amor.

Existe uma enorme importância nos grupos reflexivos para homens.

114

Precisamos falar sim sobre o amor para o homem negro.

Refletir sobre o amor dele para ele mesmo e dele para com os outros e outras. A discussão sobre os relacionamentos intra ou interraciais de homens negros precisam carregar uma reflexão muito mais honesta pensando o homem negro como uma pessoa machucada, carente de um lugar do afeto, que tem sim suas construções, controvérsias e angústias. Pensar o amor tendo como dado essa realidade nos ajuda a entender vários outros fenômenos e problemáticas sociais que temos estudado há mais tempo — sem dispensa-los, é claro, da responsabilidade sobre suas atitudes. É urgente que haja lugares para que os homens negros se abram, falem, entreguem as emoções que engoliram e não expuseram por toda a vida, aprendendo assim com as feministas negras da importância disso. Que a militância possibilite esses lugares de compartilhamento de vivências até mesmo para sabermos que são vivências comuns. Mas, o fundamental, é que encontremos esses lugares em nós mesmos, nas pessoas ao nosso lado, nas nossas famílias. É importante que os homens negros consigam compartilhar principalmente com outros homens negros, sobre suas vivências e sentimentos.

Uma coisa é fato: o medo não pode se prender em nós. As

emoções têm de encontrar para onde ir. Falar sobre as emoções dos homens negros e buscar melhores caminhos para isso é conseguirmos abrir um espaço muito mais firme para se pensar sobre temáticas como: violência, paternidade, relacionamentos amorosos sem contar sobre a própria hiperssexualização e genocídio. Acredito que assim a gente consiga caminhar de modo muito mais leve, sem carregar as dores de tantos anos de solidão nas nossas costas. Precisamos saber admirar a grandeza do que somos. Por mais que o mundo diga o contrário, somos humanos em primeiro lugar, e o sentir faz parte do que a gente é. Homens precisam falar. É essa a constatação que esse texto busca passar. E eu sei, homens falam. Desde sempre. Falam sobre tudo. O privilégio de gênero nos dá essa oportunidade, principalmente a homens brancos. Mas precisamos falar sobre nós e entre nós. Sobre emoções, medos, fraquezas e atitudes erradas. Principalmente atitudes erradas. O debate sobre masculinidades, cada vez mais em pauta, trouxe aos homens (seja branco, negro, hétero, gay, cis, trans) a possibilidade de revelar seus medos, inseguranças, questionamentos e propostas sobre novas maneiras de “ser homem” e as múltiplas possibilidades de exercer, de forma saudável, essas masculinidades. Toda construção tóxica do que se entende como ser um “homem de verdade” envolve, além de inúmeras outras questões, não falar sobre seus sentimentos. E é nesse sentido que entra a importância dos grupos reflexivos.

Quantas vezes, você, homem, se sentiu confortável para falar, entre seus amigos, os problemas emocionais, sexuais e/ou sentimentais que vinha passando? Quantos de nós mentimos sobre sermos ou não virgens ou sobre nossas performances sexuais? Quantos de nós apenas brigamos em algum momento somente pela pressão de não parecermos fracos perante outras pessoas? Quantos de nós já nos sentimos culpados inúmeras vezes por não sermos bons em qualquer esporte? Quantos de nós não falamos sobre o medo de sermos pais e não saber se vamos dar conta das responsabilidades? E quantos de nós, ao acumular Há inúmeras pesquisas que comprovam que homens são os principais atores da violência: os que mais cometem, os que mais sofrem e os que mais praticam o ato contra si próprios.

Para pensar bit.ly/2GCzuWL

115

The long way toward equality Efforts to prevent men’s violence against women or more generally to build gender equality receive more support from women than men. Again, it should not surprise you that fewer men than women turn up or sign up, and it’s harder to educate and inspire them than women if they do. There is no doubt that there has been a groundswell of support among men for violence against women, and this is demonstrated for example by men’s sup- port for and involvement in the White Ribbon Campaign.

There were over 460 events and 250,000 ribbons distributed in the 2012 Australian campaign. But I would like to know the answers to three questions. First, how many of the ribbons were worn by men? Second, in how many of these events did men play a signifi- cant organising role? And third, how many of the 250,000 ribbons were worn by men (a) who freely chose to wear them rather than being ordered to by a superior, and (b) whose wearing of the ribbon symbolised a substantive rather than token commitment to addressing violence against women?

116

Many men feel blamed and defensive about the issue of men’s violence against women (Berkowitz, 2004). Some men perceive anti-violence campaigns as ‘anti- male’, and for many this reflects a wider perception of feminism as hostile to and blaming of men (Flood, 2010). Male audiences may react to educational efforts with hos­tility or defensiveness. So not many men turn up. And when we do actually get men in the room, for ex- ample running a violence prevention program in a school or university, male au

diences may react with hostility or defensiveness. Many react with hostility and defensiveness in response to violence prevention efforts, even those which em- phasise the positive roles men can play in ending violence against women. Many men see violence against women as exclusively a women’s issue, one in which men have no place. Such notions produce ‘cultural inoculation’, in which men are immune to programs designed to engage them (Crooks, Goodall, Hughes, Jaffe, & Baker, 2007).

Now there is some good experience and insight on how to limit men’s defensive reactions, which I won’t go into, but this will be an ongoing challenge. And if your efforts are not producing any discomfort among the men in the room, then you’re probably not making a difference.

Men in general are hostile to involvement in violence pre­vention efforts.

Some groups of men actively campaign in defence of gen­der inequalities: men’s rights and fathers’ rights groups.

Indeed, some groups of men actively campaign in defence of gender inequalities. Men’s rights and fathers’ rights groups take up anti-feminist agendas, campaigning against the White Ribbon Campaign and other efforts focused on men’s violence against women. To summarise so far, men start in a worse place, and they’re more resistant to change. And when men do get involved, they may be complicit in gender inequalities. Those men who are involved also may be complicit in pa­triarchal masculinities.

There is a growing body of research on men’s involvement in violence prevention advocacy – research among male activists and educators for example in campus anti-rape groups or in international violence prevention and gender equality initiatives. It documents that, on the one hand, these men undergo important pro- cesses of positive personal change. Several studies document that men who be- come involved in anti-violence work become strong allies to women (Mohan & Schultz, 2001) and reject dominant masculinities (Hong, 2000).

117

On the other hand, some men involved in this work also are complicit in pa- triarchal masculinities. This should not surprise us. Men in general carry an ‘invis ible backpack’ of privilege, a taken-for-granted set of unearned benefits and assets (McIntosh, 1989), and gender norms and inequalities shape patterns of malefe- male interaction. Men involved in violence prevention are not immune from these. To give some examples: Men in a campus-based Men Against Violence network showed defensive homophobic responses to others’ perceptions of gayness and effeminacy and espoused chivalric notions of themselves as protectors and defenders of women (Hong, 2000).

In an American women’s network that recruited male volunteers as anti-vio- lence educators, some men showed sexism, lack of empathy for survivors and ste- reotypical expectations of women’s roles (Mohan & Schultz, 2001).

So of course, in doing this work, we must look at our own privilege and work to undermine it. (See the White Ribbon report Men Speak Up (2011) for ideas on how to do this.)

Gender is not the only story, and the only problem.

118

Gender inequality is the problem, but it is not the only problem.

Gender inter- sects with other forms of social difference, such as race and ethnicity, class, and sexuality. In turn, gender inequalities intersect with other forms of inequality associated with race and ethnicity, class and sexuality. We are only just beginning to think about how to engage men from diverse cultural backgrounds, men from vastly different social and economic positions and communities, in preventing men’s violence against women.

I gave a paper at a conference two weeks ago on DV in culturally and linguistically diverse or ‘CaLD’ communities, on engaging men from diverse backgrounds in prevention. Just to highlight some points from that talk, I noted that women in immigrant and CaLD communities and refugees face a heightened vulnerability to violence. Men’s violence-supportive attitudes are shaped by gender, but also by ethnicity, class, and other factors. Experiences of immigration and resettlement shape men’s uses of violence.

119

Para pensar bit.ly/2KtZkSl

120

And I emphasised that male perpetrators are more likely to be held accountable and criminalized, and their crimes are more likely to be seen as linked to their ethnicity, if they are from minority ethnic backgrounds (Flood, 2013). I’ve said that the problem is gender inequality, but there is also a sense in which gender itself is the problem. Men’s violence against women is sustained by rigid gender codes, the policing of manhood, and by rigid constructions of a gender bi- nary between masculinity and femininity, men and women, and male and female. Social marketing efforts engaging men in violence prevention often rely on ‘real men’ who are good at performing some of the dominant codes of masculinity, e.g. as sporting heroes or corporate leaders.

But we also need to affirm and promote men who don’t fit dominant codes of masculinity: girly men, gay men, sissy men, and transgender men. In other words, part of our work should be to break down narrow constructions of manhood and powerful gender binaries. I’ve said that gender inequality is the problem, and gender equality is the solution. This poses some practical challenges. I don’t have the space to explore them in depth here, but I want to at least pose some questions. If gender inequality is the problem, how do we work or engage with organisa- tions which themselves are characterised by gender inequality? How do we en- gage with male-dominated organisations – in the business and corporate worlds, for example? How do we work with

institutions which historically have been any- thing but advocates for gender equality, such as the institutions of organised religion? Indeed, in our efforts to end violence against women, how should we work with institutions such as the military which are defined by their use of violence not the everyday intimate violence which many women face, but the organised, governmentsanctioned use of violence.

Conservative political agendas have an impact on gender, and thus on violence.

If gender equality is the solution, what do we do about governments which are not very supportive of gender equality?

At this conference on Monday morning, Michael Kaufman said that the White Ribbon Campaign is “politically non-parti san”, that these issues “have to transcend our political differences”.

He urged a ‘big tent approach’, saying that “We will speak with one voice.” Later on Monday, Coali- tion Senator Michaelia Cash echoed this, stating that addressing violence against women is “above politics”. I disagree. A Coalition government may come in in September, and I’m not sure if what I’m about to say will make it impossible for me ever to work for them. It will depend on whether they want what Australia’s public service used to call ‘frank and fearless advice’, or just advice which makes them ‘comfortable and happy’. If saying that ending men’s violence against women is ‘above politics’ means that the two main political parties both will support efforts to reduce and prevent this violence, then all well and good. So perhaps saying that this issue is non-parti- san, above politics, is strategically useful. But at a more substantive level, the issue is not at all above politics.

In general, the political agendas of the Coalition are more likely than those of the Labor Party to maintain women’s eco- nomic dependence on men, to limit women’s access to political decisionmaking, to put children of divorced and separated parents in the hands of violent fathers, to limit women’s sexual autonomy, to support narrow constructions of gender and to refrain from

121

educational and media efforts to change them, and to entrench various forms of social disadvantage. And these then feed into a greater likelihood of men’s violence against women. Equally, it’s broadly true that there is greater support for gender equality among the parties to the left of the Labor Party, those more progressive political parties and groups which contest the margins of parlia- mentary politics. I’m not saying something stupid here, that a vote for Tony Abbott is a vote for violence against women. That’s too simple. But it is undeniable that a party which fails to address gender inequalities is a party which also risks failing to address violence against women. Our efforts have to focus on ending gender inequalities, as these are so central to men’s violence against women.

As well as providing services for victims and responding to perpetrators, we must shift the social and structural inequalities which create victims and perpetrators in the first place. We must embed our efforts to end men’s violence against women in wider agendas of gender justice. In short, we have to build a world of gender equality. Why Study Men and Masculinities? Feminist scholars have long made the important and valid critique that nearly all knowledge production not explicitly labeled feminist has implic- itly studied men. Nonetheless, feminist scholars and activists are increasingly recognizing the importance of explicitly investigating men as gendered beings. This paper argues that gender-aware studies of men and masculinities are in fact necessary for an intersectional analysis of gender relations.

122

It provides five mutually reliant reasons why studies of men and masculinities are necessary for understanding gender relations and beneficial for feminist projects for gender justice: that superordinate categories tend to go unmarked and thereby uncritiqued; that gender is relational; that investigating the social construction of masculinity calls men’s superordinate status into question; that masculinity is one of the primary social forces currently stalling egalitarian social change; and that investigating masculinity highlights contradictions and cleavages where masculinity can be most effectively attacked. Superordinate categories like men and masculinities tend to go unmarked (Butler

A better understanding of masculinity is necessary to reduce men’s perpetration of violence.

123

1990; De Beauvoir 1975; Kimmel 1997; Kimmel and Messner 2009; Salzinger 2004), and correcting this oversight by making men and masculinities objects of study is crucial in making change possible.

Secondly, gender is a relational social structure embedded in an intersectional matrix of domination, and therefore in- formation about one part of the structure informs our knowledge about the rest of it: even a feminism that is totally and completely about women’s experiences should investigate “how men gain, maintain, and use power to subordinate women” (Collins 1990, 2004; Hanmer 1990, p. 37; Salzinger 2004; Stansell 2010; Thorne 1993).

Masculinity is taken for granted in social institutions, thus reinforcing men’s power and privilege.

Thirdly, investigating the social construction of masculinity denaturalizes both its form and its superiority, calling men’s superordinate social status into question, disputing the naturalness of hierarchical and dominance-based social structures, and illuminating the possibility of change. Fourth, recent research sug- gests that the social forces currently stalling gender-egalitarian social change have more to do with ideas about masculinity than femininity (England 2010; Messner 2009; Risman 2004). Finally, investigating masculinity provides valuable information for feminist projects, advancing “the goal of revealing and demystifying the mechanisms of power, identifying their internal contradictions and cleavages so as to inform movements for change”. Therefore, investiga- tions of superordinates, their interests, and their access to power are effective and necessary ways for research to reveal the places where social change can most effectively be encouraged. A key finding in early studies of men and masculinity was “the initial insight that masculinity, too, is a gender neutral specimen.

124

Therefore that men as well as women have under- gone historical and cultural processes of gender formation that distribute power and privilege unevenly” (Gardiner, 2002, p. 11). Previous to this, masculinity tended to go unmarked and assumed, as is most

easily evidenced in the ways the English language uses masculine pronouns for all groups, thus making women’s presence in these groups invisible (Butler 1990; De Beauvoir 1975). Puri’s recent account of sexual violence in India found that masculinity is “unmarked precisely as a factor of its privilege,” and that the unmarked nature of masculinity (in this case, upper-class Hindu masculinity) facilitates sexual assault against women. By becoming simultaneously universal and invisible, masculinity is no longer open for challenge; femininity becomes the Other, questioned and marginalized.

125

What brings men to terapy?

126

Counsellors believe that during counselling a focus should be on unlearning negative behaviour learned in childhood and replacing these with positive behaviours and tools along with developing a personal value system. Attribution of responsibility is a major issue and can be a driving force of the self- justifications and self-rationalisations of the behaviour of men who use violence.

Also the male clients’ belief that IPV is normal behaviour in their culture or that their partners elicit the violence from them. Some male participants normalised their behaviour by introducing it as an act of self-defence. … but I just need her to stop pushing me to the point and she knows she is doing it, she knows the outcome and she doesn’t care about the outcome and when it happen then all fingers get pointed at me. (Max, male client) In this context, some of the men still appeared to not see the significance of the violent behaviour between partners. This was most evident in one of the male cli- ent’s narrative of abusing his wife in the viewpoint of the strong love he feels to- wards her and how his wife knows the consequences of her behaviour towards him: And I love my wife very much … if I didn’t love her I wouldn’t act the way I do but I just need her to stop pushing me to the point and she knows she is doing it, she knows the outcome and she doesn’t care about the outcome and when it happens then all fingers get pointed at me … (Max, male client) The narrative throughout this study exposed violence in intimate relationship as an interplay between personal and relational factors, making the conceptualisa- tion of perpetrator versus victim, and the onset of abuse difficult. Both counsellors and male clients highlighted the increasing amount of men self-reporting abuse by their female partners and how this appears to be ignored by relevant stakeholders. Counsellors

believe that because IPV often arises in relationships as a result of power, and violence being perceived as physical abuse, men are seen as physically stronger than women, the blame is most often shifted on men. All the male partici- pants articulated a sense of injustice associated with the lack of interventions for them; along with them believing that they were either also abused or that the vio- lence was a general relational problem that needed intervention with both men and women. It is in light of this that counsellors resolutely stated that:

Para pensar bit.ly/2UFLpdQ

It’s no use trying to help one person and leaving one party out because that person will still continue with his or her abusive ways. Our role is to teach them both that there are other ways of resolving problems without the use of vio- lence. (Miriam, counsellor) Several themes regarding men’s help-seeking behaviour emerged from the results including the role of masculinity in help-seeking; numerous accounts of missed opportunities; and the critical need for awareness of and access to services for men. It’s a personal decision to do counselling A number of the participants stated that it is only through a man’s personal deci- sion that they want or need counselling that is able to bring them to a place of optimally accessing services.

Male clients shared their stories of realising that they needed help, combined with becoming aware of services available to men that brought them to counselling. Counsellors reiterated the importance of IPV aware- ness campaigns in attracting male clients. Men start to see themselves in the pictures. I once had a pamphlet in my office which read ‘are you an abuser, do you feel that you are violating other people’s rights’ and this man came into my office immediately after reading that and ad- mitted that he was an abuser and he needed help.

Some participants did admit that it took a court order for them to realise that violence in their lives were getting out of hand and that they needed to seek services available to them to work to change their current situation. I don’t think it is easy, because men don’t realise they have a problem man. Its yourself also, if you admit you have a problem you will come, if you don’t admit you have a problem then you won’t come. (Leonard, male client)

127

The role of social support during stressful life events. Men did not generally access services from a personal decision, as they believe they have to keep their challenges hidden. Male clients voiced the lack of support they receive from their peers, family and other support networks.

Men experience isolation in not being able to share about the violence used in their relationships, their struggles to express their emotions and also the per- ceived belief from society that it is only men who use violence in relationships: the perception that men are the sole perpetrators in violent situations and not also potential victims in a relationship of reciprocal abuse. I think more men should come forward basically because a lot of men I know where I live, in the area, uhm, that needs this support and men don’t really speak out. Pride they have too much pride and so a lot of them just turn to alco- hol and drugs and suicide or respond in a violent manner and a lot those men aren’t violent men, but they tend to keep it in them. They keep in and in and there comes a time when you explode so I think they do approach more men.

(Leonard, male client) Counselling is risky behaviour:

128

A counsellor expressed that ‘being a man in a community means you don’t seek help, you keep quiet, you suffer inside, you don’t talk’. I think it’s that sense of thinking if you come for counselling you are not man enough, you are weak you can’t handle your issues so you need help. It’s like the stigma they afraid to get it’s exactly like when you come for counselling it’s like you are weak for which that is not the case sometimes you need to speak to someone about any other issue. (Jabu, male counselor) Several participants felt that emotional difficulty and violence in their relation- ships are amplified as they perceive support services weighing their masculinity in times of help-seeking.

You need to open up spaces where men can share feelings and there would be less abuse.

I’ve been several times to the police station where I went to report that my wife is abusive and several stab me and then they would laugh at me and say I’m a moffie (gay), why don’t I hit her back.

Then I’d walk away and cry and don’t know where to turn to.

(Leonard, male client) In this way participants perceived helpseeking as a risky behaviour often stigma- tised by society and their peers. As a result, men usually only access services when there was a greater risk than social acceptance threatening them, for example when they are court mandated to go for counselling.

Participants felt that there was not sufficient awareness of the services available to men who use violence in their intimate relationships. There needs to be more communication available on where men can go to access help. Partici- pants raised the perception that primarily women’s rights and community-based support services for victims are promoted in South Africa, with the needs of men who use violence remain unmet. Men feel that they need services where they can access support: If I could have dealt with this then, then I would not have abused my wife … but nobody is looking at that, nobody is taking into consideration for the man. (Douglas, male client). Male clients’ first responses were often to question why they were “summoned” for counselling and often reacted with distrust when speaking to a female

129

counsellor whom they believed will side with the female partner.

Consequently, the first stages of counselling men needs to focus on establishing rapport and trust with the client and assuring men that the counselling programme is for them, as a cli ent, and not as a “perpetrator”.

The social construction of masculinity is often an obstacle to men seeking help and support.

Counsellors revealed that a principal goal of counselling is to help the male client accept responsibility for the violence that occurred in their intimate rela- tionships and demonstrate a willingness to change their interactions with their partners. It is a significant step for a man to enter counselling, and most of the counsellors shared the importance of acknowledging men for this precursor of commitment to change their own behaviour.

Education was highlighted as a vital part of counselling, steering men towards recognising that no form of abuse is acceptable under any conditions. It is believed that frequently male clients are not aware that their behavior constitutes abuse as some practices are deeply ingrained in the culture as normal intimate relationship behaviour. Most of the time when you get a male client he is like lost and confused ‘why am I here because I paid lobola [dowry] for this wife and why I cannot say no, why I cannot rule because it’s how we do things we rule, we control the women’ so if now there’s not an understanding of domestic violence he is likely to continue thinking that’s it’s a normal thing. (Sandra, counsellor) Attitudes of counsellors towards men who use violence in their intimate relationships

130

In the light of these personal, societal and institutional barriers to help-seeking, men indicated factors that enable access to available counselling services. Both male clients and counsellors stated that men hold the preconception that they need to be assisted by a male counsellor. However, after the first session, when they have experienced the nature of the counselling session as facilitated by the female counsellor as non-judgemental and

client-centred, their perceptions are altered and are thereafter more at ease to return to the female counsellor.

The counsellors and clients alike highlighted the attitude of the counsellor as the most essential component in counselling men.

The following were some of the attributes highlighted: nonjudgemental and non-biased, sensitive towards men’s issues, inspire trust, ensure confidentiality, and be able to communicate respect- fully towards all cultures. Counselors believe that the benefits of counseling for men are many but highlighted some

of the benefits to include: awareness raising of what abusive behavior looks like and aiding in establishing a positive masculine identity of a good partner and father. In addition, counselling provides men with the opportunity and space to deal with various emotional, psychological and relational challenges. Exploring male counselling for behavioural change with regards to intimate partner violence, in a low income community, with high levels of violence and crime and low levels of help seeking behaviour, has provided insight into the understanding and experiences of male perpetrators of violence.

131

132

Men who accessed counselling in this study did not access services voluntarily, however, the majority of men believed in the benefits of counselling. Paradigm shifts regarding masculinity and violence are necessary to affect change.

In the light of these personal, societal and institutional barriers to help-seeking, men indicated factors that enable access to available counselling services. Both male clients and counsellors stated that men hold the preconception that they need to be assisted by a male counsellor.

However, after the first session, when they have experienced the nature of the counselling session as facilitated by the female counsellor as non-judgemental and client-centred, their perceptions are altered and are thereafter more at ease to return to the female counsellor.

The counsellors and clients alike highlighted the attitude of the counsellor as the most essential component in counselling men. The following were some of the attributes highlighted: nonjudgemental and non-biased, sensitive towards men’s issues, inspire trust, ensure confidentiality, and be able to communicate respect- fully towards all cultures. Counselors believe that the benefits of counseling for men are many but highlight- ed some of the benefits to include: awareness raising of what abusive behavior looks like and aiding in establishing a positive masculine identity of a good partner and father. In addition, counselling provides men with the opportunity and space to deal with various emotional challenges.

“Violence against women is viewed as a problem without perpetrators or context.”

“O que nos afeta, muitas vezes, são traumas advindos de cotidianos complicados desde a primeira infância.”

“Conservative political agendas have an impact on gender, and thus on violence.”

“You need to open up spaces where men can show feelings and there would be less abuse.”

Final III Colagem

Cola

agem

Este livro ĂŠ para que home como a mascul os desuman perpetuando

ĂŠ essencial mens entendam linidade tĂłxica niza e acaba o machismo.

Lua Borges Konrad

O que l Az Mina - Você já é feminista!

Para conhecer o básico dos termos e das ondas(fases) do feminismo.

ler Angela Davis - Mulheres, cultura e política Para se aprofundar sobre o feminismo em relação à sociedade e às questões raciais.

Corpo de texto - Open Sans Regular Títulos - Playfair Display Black Papel - Offset 90g/m² Impresso na Gráfica D21 em Junho de 2019