Portfolio Manoela Afonso

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portfolio manoela dos anjos afonso setembro/2010


brasília gravada 2003 - 2009

arqueologia de afetos 1997/2010 (em aberto)

auto-retratos de viagem 2008 (em aberto) c[atar]se 2009 (em aberto)

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bsbcwb 2009 (em aberto)

Lendo agora: BLIXEN, Karen. Anedotas do destino. 3ª Ed. São Paulo: Cosac Naify, 2007. BOURRIAUD, Nicolas. Estética relacional. São Paulo: Martins, 2009. BRETT, Guy. Brasil experimental: arte/vida, proposições e paradoxos. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2005. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. _________________ . A invenção do cotidiano: morar, cozinhar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996. ESPAÇOCORINGA; FERNANDES, Pedro Palhares. Palavra e imagem na cidade. São Paulo: Espaço Coringa, 2006. GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. 2ª ed. Porto Alegre: L&PM, 2007. GUATARRI, Félix. Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo: Ed. 34, 2006. HENDRICKS, Jon. O que é Fluxus? O que não é! O porquê. Rio de Janeiro: CCBB, 2002. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1997. MUNROE, Alexandra; HENDRICKS, Jon. Yes Yoko Ono. New York: Japan Society - Abrams, 2000. PEIXOTO, Nelson Brissac. Paisagens urbanas. 3ª ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004. TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: Difel, 1980.

Contato: Manoela dos Anjos Afonso telefone: (62)8492 3030

manoanjosafonso@gmail.com


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Observar em algumas imagens gráficas os vestígios do gesto “gravador” é algo que sempre me emocionou, desde que conheci o universo da gravura, nos anos iniciais da minha graduação na Faculdade de Artes do Paraná (FAP/ PR) e também como freqüentadora da Oficina Permanente de Gravura da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Assim, aprofundei meus estudos sobre conteúdos referentes à história e à tradição das artes gráficas, além de algumas técnicas de gravura em relevo, encavo e permeação. Gravei algumas matrizes, dominei alguns processos e produzi algumas tiragens e, felizmente, também pude estar em contato constante com boas mostras que aconteciam com freqüência em Curitiba – cidade com bons gravadores e centros de gravura e, conseqüentemente, com uma produção gráfica relevante. Aos poucos percebi que as práticas em artes poderiam ir além do domínio técnico aprendido em ateliê. O artista deveria ser um inteligente propositor de projetos poéticos. Ao cursar a disciplina optativa Estudos da Percepção em Geografia (UFPR), tive a oportunidade de conhecer interessantes abordagens sobre a cidade, não só como um tema a ser discutido em diversas áreas do conhecimento (sob o olhar da Geografia), mas também como um suporte para experiências e manifestações individuais e/ ou coletivas diversas. Desde então, a minha relação com as cidades se transformou: passei a perceber melhor os seus espaços, a querer identificar os seus elementos, a ligá-la às minhas experiências cotidianas, a desenhar meus mapas mentais, a procurar uma melhor compreensão sobre como diferentes níveis de percepção da cidade podem atribuir-lhe sentidos diversos, transformando seus espaços em lugares de afeto e pertencimento. Passei a me interessar por manifestações artísticas que envolviam a cidade de alguma forma, fosse como tema ou suporte para ações, intervenções e/ou ocupações. Até esse momento eu lidava, então, com duas questões relevantes: a gravura e as experiências ligadas ao ser/estar na cidade. Em 2003, quando me mudei para Brasília, pude colocar em prática, de forma mais efetiva, o


Figura 1. Matrizes de borracha nas dimens천es 3,5 x 5,5 cm. 2005. Figura 2. Carimbando. 2005.


que eu havia estudado até o momento: o fato de entrar num estado de deslocamento constante (de Curitiba para Brasília, e vice-versa) fez com que meus referenciais (tão estáveis) de cidade-natal se fragmentassem. Experimentei um profícuo jogo de memória pela recombinação desses fragmentos e, além disso, usufruí de novas sensações e percepções provocadas pelo exercício de um “olhar estrangeiro” até então inexistente. Foi dessa forma que os estudos da percepção em geografia adquiriram uma maior importância na realização dos meus projetos artísticos. Tal fato ficou evidente em 2005, quando a série de gravuras Brasília Gravada adquiriu um corpo mais visível. Iniciei, pela ação burocrática de carimbar pequenos módulos gravados sobre uma superfície, a produção de uma espécie de mapa mental gráfico constituído por diversas percepções – estética, espacial, histórica – dessa nova experiência de cidade com a qual eu me deparara, no Plano Piloto de Brasília. Horizontalidade, repetição e módulo foram os principais dados que passaram a compor as gravuras da série, extraídos principalmente da arquitetura e da história da construção dessa cidade, assim como da poesia de Nicolas Behr. Nos anos de 2005 e 2006 produzi os vídeos Trem Concreto e Cigarra, respectivamente, sob influências visuais e teóricas adquiridas durante essa pesquisa poética. Em 2006 ingressei no Programa de Pós-graduação em Cultura Visual/Mestrado, na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (FAV/UFG), na linha de pesquisa “Poéticas Visuais e Processos de Criação”. Pude, então, aprofundar minhas investigações práticas e teóricas sobre o projeto Brasília Gravada e, além disso, iniciar reflexões sobre a importância da produção poética na Universidade, como produção artística e, também, acadêmica. ∎

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Figura 3. S贸 2 Candangos? Carimbo de borracha sobre papel Torchon, Van Gelder Zonen 190g/m2, nas dimens玫es 38 x 55,5 cm. 2006.


observar os vestígios do gesto “gravador” é algo que sempre me emocionou

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Figura 4. ...e o Plano bateu Asas e voou. Carimbo de borracha sobre papel Torchon, Van Gelder Zonen 190g/m2, nas dimens천es 38 x 54 cm. 2006.


O artista deve ser um inteligente propositor de projetos poĂŠticos.

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Figura 5. qual ĂŠ o Plano, Piloto? Carimbo de borracha sobre papel Torchon, Van Gelder Zonen 190g, nas dimensĂľes 38 x 55,5 cm. 2008.


12 se transformou

a minha relação com as cidades


Figura 6. Construção. Carimbo de borracha sobre papel Torchon, Van Gelder Zonen 190g, nas dimensões 55,5 x 76 cm. 2008.


14 a gravura e as experiĂŞncias ligadas ao ser/estar na cidade.


Figura 7. A primeira matriz. Borracha nas dimens천es 3,5 x 5,5 cm. 2004.

Figura 8. A segunda matriz. Borracha nas dimens천es 3,5 x 5,5 cm. 2004.


de num de

o fato entrar estado

deslocamento constante.

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Figura 9. vitrais (detalhe). Carimbo de borracha sobre papel Fabriano 300g, nas dimens천es 50 x 70 cm. 2008.


a produção de uma espécie de mapa mental gráfico

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Figura 10. pi찾o candango. Carimbo de borracha sobre papel Fabriano 300g, nas dimens천es 50 x 70 cm. 2008.


20 Horizontalidade, repetição e módulo


Figura 11. Ritmo Brasiliense IV. Carimbo de borracha sobre papel Fabriano 300g, nas dimens천es 50 x 70 cm. 2008.


Aos poucos percebi que as práticas em artes poderiam ir além do domínio técnico aprendido em ateliê

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Figura 12. Ritmo Brasiliense VII. Carimbo de borracha sobre papel Fabriano 300g, nas dimens천es 50 x 70 cm. 2008.


24 a desenhar meus mapas mentais


Figura 13.

Figura 15.

Figura 13. Exposição Brasília Gravada – Galeria da FAV/UFG, 2008. Gravuras presentes nesta imagem, da esquerda para a direita: Só 2 Candangos?; qual é o Plano, Piloto?; ...e o Plano bateu Asas e voou; Construção. Vídeo: Trem concreto, 2005. Figura 14. Exposição Brasília Gravada – Galeria da FAV/UFG. 2008. Vídeo: Cigarra, 2006. Gravuras presentes nesta imagem, da esquerda para a direita: blocos, blocos, blocos 1; blocos, blocos, blocos 2; catedral 1. Figura 15. Exposição Brasília Gravada – Galeria da FAV/UFG. 2008. Conjunto de gravuras chamado Pedacinhos de Brasília exposto junto com as matrizes da série Brasília Gravada.

Figura 14.


fez com que meus referenciais (tĂŁo estĂĄveis) de cidade-natal se fragmentassem.

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28 A palavra, o carimbo e as relações entre cidade e deslocamento passaram a ser elementos cada vez mais importantes no meu percurso artístico. Em 2008, ano em que defendi minha dissertação sobre a série de gravuras Brasília Gravada, iniciei pesquisas para a proposta Auto-retratos de viagem: o corpo da palavra passou a compor tipograficamente meus auto-retratos em fases distintas de fragmentação e deslocamento. Antes, em Brasília Gravada, os estudos sobre a poesia de Nicolas Behr contaminaram o jogo criado entre os títulos das gravuras e as imagens gráficas produzidas. Aqui, neste projeto em desdobramento, a palavra “saltou” para dentro da imagem multiplicando ambos os sentidos (o do texto e o da imagem). Num texto visual ou numa imagem textual, as palavras PARTIR, CHEGAR, FICAR e RE-PARTIR compõem vários estágios de deslocamentos realizados entre cidades pelas quais passei. Rostos que se fazem ou desfazem à medida que constroem narrativas e/ou poemas visuais contam algo sobre os caminhos afetivos percorridos nesses lugares. A cada ida, partida, chegada ou ficada, reparto-me e adiciono pontos que, futuramente unidos, desenharão um mapa revelador desse lugar composto pela existência e pelas relações estabelecidas com cada espaço citadino transformado e ressemantizado. Este projeto está em processo e possui desdobramentos, ainda em estudo, para a fotografia. ∎


Figura 1. Partir, da sĂŠrie Auto-retratos de viagem. ImpressĂŁo com molde vazado e carimbo sobre papel filtro, 21 x 15 cm, 2008.


A palavra, o carimbo e as relaçþes entre cidade e deslocamento

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Figura 2. Chegar, da sĂŠrie Auto-retratos de viagem. ImpressĂŁo com molde vazado e carimbo sobre papel filtro, 21 x 15 cm, 2008.


o corpo da palavra passou a compor tipograficamente meus auto-retratos em fases distintas de fragmentação e deslocamento.

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Figura 3. Ficar, da sĂŠrie Auto-retratos de viagem. ImpressĂŁo com molde vazado e carimbo sobre papel filtro, 21x15 cm, 2008.


34 a palavra “saltou� para dentro da imagem multiplicando ambos os sentidos


Figura 4. Re-partir, da sĂŠrie Auto-retratos de viagem. ImpressĂŁo com molde vazado e carimbo sobre papel filtro, 21x15 cm, 2008.


36 Rostos que se fazem ou desfazem


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“O trabalho apresentado para o projeto Habitação-Ocupação do MAC-Jataí nasceu a partir da busca por documentos/vestígios gerados durante as minhas três passagens por essa cidade entre os anos de 2007 e 2008. Durante esse garimpo as sobras ficaram evidentes e, a partir dos guardados, classifiquei os dejetos. Rasguei lembranças (CATARSE) e as transformei (CATAR-SE) numa correspondência ativadora de novos processos, sonhos, parcerias, vínculos, re-afetos (ATAR-SE). Ao morar no museu - mesmo que por um breve período - e ao lidar com esse trabalho artístico, compreendi que não nos livramos assim tão facilmente das máculas provocadas por uma experiência. Pontos finais são importantes, pois determinam os novos começos. Mas nos novos começos ressoam, ainda, os ecos das vivências passadas. Vídeos, fotografias, impressos e anotações contendo informações sobre pessoas, lugares, projetos, renúncias e escolhas ligados de alguma forma a Jataí foram os geradores dessa proposta artística. Móveis, vídeo, carimbos, arte-postal, fotografia distribuídos no tempo e no espaço constituem o verbo multifacetado com o qual escolhi falar dessa habitAção”. No ano de 2009 fui convidada pelo curador Marcio Pizarro Noronha para participar da Habitação/Ocupação coletiva do Museu de Arte Contemporânea da cidade de Jataí, no Estado de Goiás. A realização desse trabalho foi determinante em meu percurso como artista, pois foi a partir dele que percebi que as ações passaram a ser mais importantes do que a produção dos próprios objetos físicos, palpáveis. Senti, aos poucos, a necessidade de deslocar tais objetos para o estado de documentos de processo, sem deixar de produzi-los com certa preocupação formal e/ou conceitual. Simplesmente percebi que o encantamento que um trabalho de arte deve proporcionar a partir das estratégias criadas pelo artista pudesse, talvez, estar mais nas ações que eu vinha propondo do que nos objetos produzidos. Outro aspecto importante e novo em meu trabalho é o envolvimento direto de algumas pessoas para que a proposta pudesse ser concretizada. Esses são dois problemas que venho, atualmente, investigando

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Figuras 1. Frames do vídeo produzido para a exposição Habitação/Ocupação do MAC-Jataí/GO. Duração: 40’23”. 2009.


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em meus projetos poéticos: as ações como propostas artísticas (com o deslocamento dos objetos físicos para o estado de documentos de processo) e a dimensão relacional das novas pesquisas artísticas que venho realizando. Na vídeo-instalação c[atar]se, apresentei a seguinte estrutura: um móvel de madeira contendo fones de ouvido e uma pequena tela de LCD em seu interior, na qual foi projetada o vídeo; um móvel com gaveta para despachar os postais escritos todos os dias, no período em que habitei o museu; e uma fotografia emoldurada. O vídeo trata, em tempo alterado (lento), do ato de rasgar documentos referentes às minhas passagens por Jataí. O que eu guardei no móvel, então, foi o “jogar fora”, foi o registro desse “livrar-me” dos papéis-dejetos referentes a sonhos e experiências vividos, antes, nessa cidade e que, naquele momento, encontravam-se perdidos no tempo e ocupantes de espaços físico e emocional deslocados. Transformei os fragmentos em novos encaminhamentos, os quais foram despachados, via correio, para pessoas que fizeram parte da minha breve história nessa cidade. Enviei os pedaços de passado para pessoas-chave, via correio. Algumas mandaram-me respostas, reativando e atualizando minha relação com Jataí. A fotografia, no tamanho 30x40, trata-se também de uma imagem do passado, produzida numa de minhas passagens anteriores pela cidade. Ela mostra uma folha de papel em branco flutuando numa poça d’água barrenta. A moldura rebuscada cumpre um papel de recortar acentuadamente o espaço, reservando um tempo também lento – como no vídeo – de contemplação. Até aqui, creio que posso dizer que, a partir da gravura, do carimbo, dos deslocamentos e das relações afetivas com as cidades, o que eu tenho agora são os seguintes elementos-chave: relações de afeto adquiridas nos deslocamentos geográficos; o convívio como proposição artística; mapas mentais; auto-briografia e auto-etonografia como metodologias de pesquisa e produção artística contemporânea.∎


Figuras 2. Imagens da vídeo-instalação c[atar]se e da ação de Habitação/Ocupação do MAC-Jataí/GO. 2009.


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Rasguei lembranças (CATARSE) e as transformei (CATAR-SE) numa correspondêcia ativadora de novos processos, sonhos, parcerias, vínculos, re-afetos (ATAR-SE).



44 Pontos finais são importantes, pois determinam os novos começos

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Móveis, vídeo, carimbos, arte-postal, fotografia distribuídos no tempo e no espaço constituem o verbo multifacetado com o qual escolhi falar dessa habitAção.

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Figuras 3. Imagens de visitantes, da ação-educativa e da mesa de “bate-papo com o curador e com o artista” durante a exposição Habitação/Ocupação do MAC-Jataí/GO. 2009.


48 relações de afeto adquiridas nos deslocamentos geográficos


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Em 2009 comecei uma parceria com a professora e artista Tânia Bloomfield (DeArtes/UFPR). Nossa primeira aproximação aconteceu no II Seminário Nacional de Pesquisa em Cultura Visual da FAV/ UFG, em Goiânia, nesse mesmo ano. Esse encontro fortuito foi o marco inicial da nossa produção artística conjunta – um momento de reconhecimento de afinidades e sincronicidades não só em nossas propostas de pesquisa em artes, na Universidade e fora dela, mas também em nossos modos de vida. O principal dado motivador do início do nosso projeto artístico é o fato de Tânia ter nascido em Brasília e se mudado para Curitiba e eu ter nascido em Curitiba e me mudado para Brasília, cada uma a seu tempo e ambas com 27 anos de idade. Além disso, pesquisas em artes visuais que envolvem temas como a cidade, seus espaços, lugares, mapas, cartografias e territórios subjetivados, têm sido objetos de estudo de nosso interesse muito antes de termos nos conhecido. A partir desse primeiro ponto de encontro, em Goiânia, passamos a trocar

50 correspondências, objetos, vídeos, sons, textos, cartas, e-mails, planos/projetos, lembranças, coordenadas geográficas e afetivas, constituindo, assim, um arquivo repleto de documentos de processo. Essa troca contínua foi regida, até agora, por uma proposta-base: devemos, no decorrer do projeto artístico batizado como BSBCWB, gerar documentos que re/apresentem a cidade-natal de uma de nós para a outra. Tânia me re/velará Curitibas e eu lhe re/velarei Brasílias. Por enquanto compreendemos que todos os documentos de processo gerados neste projeto funcionarão como ativadores (start) de deslocamentos e/ou transposições poéticas de espaços/lugares existentes em cada uma das duas cidades:


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Brasília (BSB) e Curitiba (CWB). Outra “regra do jogo” de nosso projeto artístico é: a produção e a troca desses documentos devem culminar sempre num Ponto de Encontro (PE). Consideramos o PE a ação artística em si, que pode ou não contar com a participação de mais pessoas. Em cada um dos PE devemos produzir registros-resíduos das ações ocorridas nesta ocasião, os quais serão propulsores da produção de novos documentos de processo. As novas trocas nos levarão a novos PE, e é ao alimentar esse ciclo de produção-troca-encontro-resíduo que procuraremos, continuamente, uma aproximação artística das Brasílias (BSB) e Curitibas (CWB) fragmentadas pela nossa experiência nos espaços dessas cidades. Utilizando as estratégias de encontro e convívio como ação artística, passamos a dar novos sentidos e a reinventar nossas cidades (tanto a cidade-natal quanto a cidade-morada) constituindo, aos poucos, esse novo lugar: BSBCWB. Esse trabalho tem uma dimensão efêmera, pois só existe como proposta artística durante o nosso convívio, num determinado local e durante algum tempo. Nosso desafio é produzir dados/documentos relevantes para uma construção partilhada do mapa afetivo desse novo lugar: BSBCWB. A troca, o ponto de encontro e o convívio são as chaves para que nossas ações artísticas aconteçam. Esse trabalho (em processo) faz parte do projeto de pesquisa “A prática relacional nas artes visuais: comunicação, interação, convívio e proximidade como elementos constitutivos das proposições artísticas contemporâneas”, cadastrado no Sistema de Acompanhamento de Pesquisa da Universidade Federal de Goiás (SAP/UFG).∎



cada uma a seu tempo e ambas com 27 anos de idade



dar novos sentidos e a reinventar nossas cidades



comunicação, interação, convívio e proximidade como elementos constitutivos das proposições artísticas contemporâneas



o nosso convĂ­vio, num determinado local e durante algum tempo



61 Esse trabalho tem uma dimensĂŁo efĂŞmera


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de circundar a esfera das relações humanas - seja no seu contexto artístico, político e/ou social. O objetivo é encontrar pontos de convergência entre as propostas artísticas e os trabalhos de outros artistas selecionados para estudo, de forma a enriquecer as reflexões sobre nossos próprios processos, contextualizando-os perante a produção atual de cunho relacional.∎

Em 1997 fiz uma viagem à Vilarinho dos Galegos, no norte de Portugal, em busca das memórias de meu pai. Fiz alguns registros fotográficos e em vídeo de memórias preciosas, os quais ficaram guardados por todos esses anos, fermentando. Em julho de 2010 voltei a este lugar na companhia de meus irmãos e com diversos objetivos, sendo um deles a concretização de algumas ações artísticas. Esse trabalho está em pleno andamento, portanto apresento aqui apenas o registro de sua existência e algumas imagens do que já realizei. Da mesma forma que a maioria dos trabalhos anteriores, Arqueologia de Afetos nasce das relações afetivas com um lugar, com a memória que dele emana e com as pessoas encontradas nos deslocamentos. Atualmente elaboro meu projeto de doutorado em torno dessas questões. Um dos aspectos determinantes da dimensão relacional nas artes visuais é o “ponto de encontro” (Bourriaud, 2009). Uma obra e até mesmo um processo de criação podem ser provocadores de encontros individuais e/ ou coletivos, casuais ou não, constitutivos de proposições artísticas sob a ótica relacional. Em alguns casos o objeto artístico pode ser um provocador de sociabilidades, mas em outros o próprio encontro pode ser o objeto - ou o produto artístico - almejado. Meu projeto de pesquisa tem como principal objetivo o desenvolvimento de trabalhos artísticos que culminem em processos de produção e reflexões poéticas ligadas à arte relacional, inicialmente a partir das definições propostas por Nicolas Bourriaud, mas certamente com outros desdobramentos teóricos posteriores. A pesquisa teórica, pautada por textos críticos, históricos e/ou escritos de artistas, tem seu preâmbulo nos anos 60, 70 e 80, mas o o foco de interesse situa-se dos anos 1990 em diante, com destaque aos trabalhos artísticos capazes


com a mem贸ria que dele emana e com as pessoas encontradas nos deslocamentos

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Em alguns casos o objeto artĂ­stico pode ser um provocador de sociabilidades

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de forma a enriquecer as reflex玫es sobre nossos pr贸prios processos

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70 Arqueologia de Afetos nasce das relaçþes afetivas com um lugar



72 trabalhos artísticos capazes de circundar a esfera das relaçþes humanas


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