SE ESSA RUA FOSSE MINHA novembro 2016
GRAFITI - A VOZ DE UMA CIDADE CINZA
APRENDA A FAZER SUA PRÓPRIA DECORAÇÃO NATALINA
M O C E SKAT SITO O P O R P
índice
04
EDITORIAL
05
OPINIÃO
MOVIMENTE-SE 7
SKATE COM PROPÓSITO
10 MÚSICA 13 PARKOUR
16
CAPA
NA RUA 23 NOVA TENDÊNCIA: OS FOOD TRUCKS 24 A VERDADE POR TRÁS DO FIU-FIU 26 CONHECENDO O DIA A DIA DE UM ARTISTA DE RUA
28
PERFIL
30
ARTESANATO
31
AGENDA
SE ESSA RUA FOSSE MINHA | 03
editorial
ARTE QUE SE TRANSFORMA
D
esde a antiguidade, a arte já estava presente na vida das pessoas. A arte surgiu até mesmo antes de Jesus Cristo, os primeiros rastros da arte no mundo foram encontrados na era pré-histórica, através de desenhos, esculturas e fatos inexplicáveis como o Stonehenge no Reino Unido. Logo depois surgiu a arte antiga, com as pirâmides do Egito, tumbas e objetos desenhados. Passando pela arte clássica da Grécia e Roma antiga com lindos templos, estátuas e esculturas. Chegando até a arte medieval, Idade Moderna e por fim a arte contemporânea, que é a que vivemos hoje. O universo da arte vive em continua transformação, um mundo inexplorado por inúmeras possibilidades e ideias, que tentam transformar não somente o emissor e sim também o receptor. Esta edição da Se Essa Rua Fosse Minha traz um pouco dessa nova arte contemporânea focada em trabalhos na rua, o mix de coisas e ideias que abrangem boa parte da sociedade com shows, músicas, teatro, circo, artesanato e arte visual. Você leitor ficará por dentro dos melhores eventos e locais para frequentar na rua, totalmente de graça, terá dicas de bons sons, dicas de como fazer um artesanato, irá conhecer parte da vida de um artista de rua e também o seu perfil. Além disso a edição número 1 da revista Se Essa Rua Fosse Minha traz como matéria de capa um evento que aconteceu no Bexiga para comemorar o Dia Internacional do Grafite. Nela contém entrevista com o grafiteiro Vitor Gomes, que explica sua trajetória no mundo artístico e ainda uma incrível galeria de fotos que expressam a cor e a originalidade da cidade de São Paulo, como a arte deixou mais colorida a cidade cinza. Uma ótima leitura!
04 | SE ESSA RUA FOSSE MINHA
Editor Eduardo Suguiyama
eduardo_suguiyama@hotmail.com
Repórteres Carol Almeida carolaalmeida4@gmail.com Eduardo Suguiyama
eduardo_suguiyama@hotmail.com
Josiane Almeida persan.josi@gmail.com Maria Alyce Oliveira mariaalyce.aos@gmail.com Diagramação Victória Bernardes victtoriabernardes@gmail.com
opinião “Adorei a revista, mas poderia nos trazer um pouco mais de informações cobre como é empreender nas ruas.” Erika Oliveira, São Paulo.
“Ótima revista, nos dá a oportunidade de conhecer melhor sobre a arte urbana.”
“Gostaria de ver mais matérias sobre skate nas próximas edições”
Rosangela Mota São Paulo.
Gabriela Cordeiro Caieiras,
São Paulo.
“Poderiam fazer algo com vários tipos de música diferentes, temos muitos estilos nas ruas que precisam ser explorados.” Alef Silva, São Paulo. “Sou artista de rua e para mim é uma honra ter uma revista que valoriza tanto o nosso trabalho.” Luiza Veisflog, São Paulo.
“Conheci a revista Se Essa Rua Fosse Minha há pouco tempo, mas já estou curiosa para a próxima edição. Temas muito interessantes.” Uilian Almeida São Paulo.
SE ESSA RUA FOSSE MINHA | 05
SKATE COM PROPÓSITO
movimente-se
“
Carol Almeida
Sempre tive uma imagem do skate bem deturpada. Coisa de vagabundo, de gente que não tem o que fazer, vive 24 horas na rua, drogado e irresponsável. Sim, essa era minha visão. Mas, enfim limpei os meus olhos através de alguém apaixonado pelo skate, não só como esporte, mas como estilo de vida.” Kauê Diacov, 23, é skatista apenas por hobby e além de andar, filma as manobras dos skatistas de rua para colocar em seu canal do YouTube, Vivendo na Gringa, que tem esse nome pois nasceu em Los Angeles, Estados Unidos, que foi quando ele decidiu fazer um intercâmbio para aprender inglês. Ele conta que os skatistas ainda sofrem muito preconceito, mas para ele, é o melhor esporte que existe. “O bom do skate é que você não precisa de ninguém pra praticá-lo, e às vezes, a
08 | SE ESSA RUA FOSSE MINHA
única coisa que você quer, é dar um role por aí.” Ele costuma encontrar alguns skatistas iniciantes e filma suas manobras. Além de tudo, Kauê conta que em qualquer lugar que você estiver e encontrar um skatista, ainda que vocês não se conheçam, irão conversar como se fossem irmãos, porque é isso que o skate faz, une as pessoas. Skate com Propósito
Outro exemplo disso é Thales Grulha, 32, auxiliar de escritório. Ele é skatista há alguns anos e também evangélico, e teve a ideia de unir o skate com a propagação da palavra de Deus nas ruas. O seu projeto se chama Skate com Propósito, existe há 1 ano e tem como objetivo falar do amor de Deus através do skate, formar bons atletas, mas também, bons amigos, filhos, cidadãos e servos, ensinando-os a amar mais o próximo. Os encontros do projeto acontecem todas as segundas-feiras, às 20:00hs no bairro do Itaim Paulista, zona leste de São Paulo. São feitos na rua mesmo, juntando a galera para andar de skate, depois param alguns minutos, tiram os obstáculos, se juntam e oram a Deus, por gratidão, após isso, Thales compartilha algum versículo bíblico com os que ali estão e, às vezes, faz uma dinâmica envolvendo o tema discuti-
movimente-se
do e depois, voltam a andar de skate juntos. Além disso, esporadicamente, se reúnem para assistir algum filme ou simplesmente sair para comer algo, apenas para estarem juntos. O projeto não recebe ajudas financeiras sempre. Ele conta que a comunidade religiosa em que participa uma vez ofertou um valor para o projeto e com isso, ele investiu em shapes, camisetas e agora, ele vende esses materiais para arrecadar dinheiro para o projeto, porém, são feitas mais doações do que vendas. Ele complementa dizendo “muitas vezes precisamos ajudar alguma criança ou adolescente que está necessitado de coisas básicas, e não temos dinheiro do projeto, mas ainda assim, não reclamo de tirar do meu próprio bolso, porque assim, nós ganhamos também”. O público que normalmente frequenta são meninos e meninas de 9 a 18 anos, porém, Thales comenta que varia muito. Ao mesmo tempo em que aparecem crianças de 7 anos, já apareceu um adul-
to de 40. Thales concorda com o Kauê no ponto em que o skate é um esporte diferente porque a união sempre vence, “ainda que seu adversário seja melhor que você, nós skatistas sempre iremos aplaudi-lo, é apenas questão de respeito”, diz Thales. Um esporte que alcança pessoas das comunidades é maravilhoso, ele relata que em uma noite, algumas pessoas pararam para
observá-los e estão com eles até hoje. Em resposta à minha pergunta sobre preconceito, Thales diz que vê sim preconceito sim com quem gosta de andar de skate, mas ele justifica isso com o comportamento de algumas pessoas, não todas. “Lembro, por exemplo, que muitos jogadores de futebol também não dão exemplo, alguns lutadores também não, e nem por isso são mal vistos como os skatistas”, diz Thales. Além disso, ele comenta que hoje o esporte já virou profissão para muitos, ainda que seja difícil alcançar uma boa estabilidade financeira com o skate, é possível. Com isso, Thales mostra que o skate é extremamente benéfico e inclusivo, cria amizades, companheirismo e também traz benefícios para a saúde, como ele mesmo prova ao falar da sua diabetes. “Eu sou diabético e sabia que precisava de exercícios físicos, então, encontrei no skate uma forma de me exercitar e me divertir também e posso dizer que me faz muito bem em todos os aspectos da minha vida.”
SE ESSA RUA FOSSE MINHA | 09
movimente-se
MÚSICA Projeto Música no Vão
O projeto Música no vão no MASP (Museu de Arte de São Paulo) tem como objetivo ocupá-lo como lugar de lazer e convivência. O evento ocorre sempre na última quinta-feira do mês e os trabalhos e participações já estão fechados até o fim do ano.
Como funciona
Os músicos, cantores, atores e outros talentos, procuram o MASP para se inscrever para as apresentações no evento. Os shows têm entrada gratuita e contam com mobiliário urbano e food bikes com comidinhas e bebidas a partir das 18h. Enquanto o show não começa, o público pode visitar* o MASP, que, às quintas-feiras, está aberto até às 20h. Conhecemos a equipe do MASP e a Marina Santiago, 23 anos, disse que para o ano que vem o evento já esta sendo planejado, mas ainda não há nada fechado. O projeto Música no Vão conta com a parceria de Adidas e Colorado.
Música no Vão em novembro
O cantor Zé Ed traz o estilo de MPB. O disco do cantor traz como trilha sonora diferentes situações do dia-a-dia, das ruas da cidade, passeio com amigos, trânsito e amores passados. Estudou durante três anos musicoterapia já liderou oficinas de canto em escolas da prefeitura e logo em seguida se descobriu compositor logo aos 16. As 15 anos aprendeu sobre repertorio e canto com Gabriel Levy, aordista e regente do grupo Mawaca. Desde 2003 está ingressado profissionalmente no mundo da música.
PROJETO MÚSICA NO VÃO Av. Paulista, 1578 - Bela Vista, São Paulo - SP Segunda à Sexta-feira 10:00–18:00 (11) 3251-5644
10 | SE ESSA RUA FOSSE MINHA
Integrante do grupo musical “Coro de lá” formado por sete mulheres, Johanna Jaumont, fala de como tudo começou e conta detalhes sobre shows e repertório. “O Coro de Lá busca priorizar o respeito pela tradição e canta desde os sambas mais clássicos até aqueles menos conhecidos” Como surgiu a ideia do grupo? - Coro de Lá é fruto de um encontro que ocorreu no ano de 2013, algumas mulheres passaram a fazer coro no samba no bar que frequentavam, chamado bar da Tia Ivani, em São Paulo. E a partir daí, esses encontros começaram a acontecer mais vezes e fomos gostando da idéia. Qual era a ideia principal dessas mulheres após decidirem se tornar um grupo? - A idéia era e continua sendo, através do canto, reafirmar a importância e a potência da voz feminina nas rodas de samba, especialmente quando cantada em coro, já que víamos tão poucas mulheres com essa liberdade. Sobre o repertório, como são feitas as escolhas das músicas? - O Coro de Lá busca priorizar o respeito pela tradição e canta desde os
sambas mais clássicos até aqueles menos conhecidos, valorizando a essência que este gênero de essência popular tem. Onde são feitos os shows? - Geralmente são feitos na rua e em eventos públicos. O que o grupo e a música representam para você? - Representa minha liberdade, minha voz na sociedade e automaticamente nas rodas de samba. É onde eu melhor me expresso e recupero minhas energias. O grupo é algo essencial na minha vida, me faz ver o mundo de outra maneira. E cantar ao lado das minhas amigas é algo que me dá ainda mais prazer. Além do grupo, você tem alguma outra profissão? - Sim, sou atriz. O que me fez sentir ainda mais atraída pelo mundo da música. Para mim a união dos dois é essencial e me faz soltar a voz com mais coragem. Quais são os planos futuros para o Coro de Lá? - Não verdade não almejamos grandes coisas, buscamos apenas nosso espaço na música e nas rodas de samba, que é prioridade para nós.
mundo
SE ESSA RUA FOSSE MINHA | 1
mundo
12 | SE ESSA RUA FOSSE MINHA
movimente-se
PARKOUR Q
Eduardo Suguiyama
uem já passou por grandes centros da cidade de São Paulo, com certeza já viu alguns jovens pulando paredes, objetos, monumentos, escadas e todo o tipo de obstáculo. No começo pode parecer assustador ou até mesmo sem sentido algum para quem acompanha pela primeira vez, mas enganasse quem pensa desta forma. Aliás, também está errado que o Parkour é apenas um esporte a ser praticado, como futebol, por exemplo, é muito mais do que isso, o Parkour envolve diversas filosofias como diria o seu criador David Belle “É ser autômono em sua vida, ser capaz de fazer as coisas por si mesmo”. Mas como assim? O que o Parkour tem a ver com filosofia? David explica em uma entrevista a uma canal no Youtube que você pode não conseguir pela primeira vez (pular de um ponto a outro), mas treinará exaustivamente até conseguir, dias e noites, irá estabelecer seu objetivo e
MAIS DO QUE ESPORTE, UM ESTILO DE VIDA!
Você sabia? O Parkour surgiu na década de 80, na França. David Belle, usou inspirações no seu pai, um dos combatentes na Guerra do Vietnã, que usava alguma das técnicas do Parkour (que naquela época não possuía este nome) na guerra. David Belle então adaptou essas técnicas e as batizou “Le Parkour”. Fonte: Lepartanos
alcança-los. Para ele com um objetivo traçado, você não será apenas uma folha vazia, um ser vazio, você encontrará um foco e uma razão e ganhará auto conhecimento quando chegar no objetivo final. Etimologicamente, o significado de Parkour é mover-se de um ponto para o outro com rapidez e eficácia, e é isso que todos os praticantes procuram. No Brasil o Parkour pode ser considerado recente. Os primeiros passos
começou por volta de 2004, atravez de vídeos da internet. A partir daí não parou de crescer e ganhar adeptos. Prova disso é que em São Paulo temos pelo menos cinco grandes escolas de cursos que ensinam a modalidade. O mais conhecido é o Parkour Team Brazil (Os Lepartanos), que já tem oito anos de existência, com quase mais de 5 mil pessoas inscritas nas aulas e apoio de 40 grandes empresas. O curso não tem um lugar especifico na cidade e pode variar, grandes centros com corrimãos e obstáculos são os preferidos, como por exemplo: os metrôs Vergueiro, Liberdade, Ana Rosa, Praça Roosevelt, Parque do Ibirapuera, mas assim como a arte, os praticantes sempre mudam sua rotina e buscam novos desafios. Para Vitor Queiroz, 23, estudante de publicidade na Anhembi Morumbi e frequentador das aulas, o Parkour é um estimulo, uma quebra de paradigma. “O Parkour serve para desafiar a sociedade e o próprio corpo, você desafia a sociedade, usando muitas vezes objetos que não foram feitos com
SE ESSA RUA FOSSE MINHA | 13
movimente-se o propósito de pular, saltar.” O estudante também disse que pratica o Parkour pelo desafio “É extremamente gratificante quando você encontra um caminho para superar os diversos obstáculos urbanos”. Mas Parkour é um esporte? Existem diversas opiniões sobre o tema, causando controversas, alguns acreditam que o Parkour pode ser considerado um esporte, mas diferentemente dos outros, nesse caso não há um vencedor ou até mesmo uma competição, para muitos o Parkour se encaixaria como um esporte radical, que envolve arte, filosofia e movimentação do corpo. Na entrevista ao canal do Youtube, Belle assemelha o Parkour com as artes marciais “Você sabe que em algum momento irá se machucar, mas treina e continua. Olhar para um oponente e diz esse cara é maior que eu, então preciso atacar por baixo, criar alternativas”. Por outro lado existe um grupo que não acredita que o Parkour seja um esporte, como o instrutor do Parkour Brazil Team, Leonard Akira. “O Parkour está mais considerado como estilo de vida e não como esporte, porque a prática desde o início foi elaborada para não haver competições. É mais como estilo de vida mesmo, porque 90% dos praticantes do Parkour não treinam para competir com ninguém, mas sim competir contra suas próprias limitações”. Qualquer um pode praticar o Parkour? Sim, mas o ideal é praticar com supervisão de um profissional, já que cada pessoa tem a sua necessidade. O Parkour tem como grande principio a saúde e integridade física. Akira diz que existem diversos níveis de cursos com o mais variados tipos de idades e pessoas, então qualquer um aceito e os instrutores trabalharão em cima da condição física do aluno, analisarão se esta pessoa necessita de algum treino adaptado ou individual, tudo depende do peso, idade, limitação física, onde nesse treino é respei-
14 | SE ESSA RUA FOSSE MINHA
tada a velocidade do aluno. O instrutor afirmou também que existe uma modalidade exclusiva para crianças de 7 a 11 anos, o Leparkinhos. 5 motivos para praticar o Parkour A Se Essa Rua Fosse Minha não poderia deixar de listar 5 motivos para nossos leitores praticarem o Parkour, elencamos os principais fatos que podem fazer desta atividade o seu novo hobby: 1 - Praticar uma atividade física Na correria do dia a dia quem não deseja praticar uma atividade física? Diferentemente de academias o Parkour não é praticado em lugares fechados e sim em ambientes abertos. 2 - Precisa apenas do seu corpo Quem já não deixou de ir para a academia por ter que carregar aquela mala com vários pertences o dia todo? Pois é, no Parkour não existe esse problema, você não precisa carregar nada, precisa apenas do seu corpo e de sua vontade. 3 - Diversos playground Na cidade, nesta imensa selva de pe-
dra em que vivemos qualquer parte da rua pode ser o seu playground, seja um corrimão, uma escada, uma estátua, muros e etc. Além do mais pode reviver uma nostalgia da época da infância, onde havia diversas brincadeiras que exigia o pulo improvisado. 4 - Mudança de rotina Já imaginou praticar o Parkour em diversos ambientes diferentes, não ter um ponto fixo para o exercício? Pois é, o Parkour te permite essa possibilidade, treinos em lugares diferentes. 5 - Superar desafios Talvez a maior de todas, o Parkour permite que você supere seus limites, seus desafios e até mesmo o seu medo inicial de começar, engana-se quem pensa que a prática é perigosa, que necessita de cuidados e que não irá conseguir. Ao invés de ficar com esses pensamentos já pensou em se desafiar? Quer se aventura e desafiar o seu corpo? Então, não perca tempo e agende uma aula com alguma escola credenciada.
movimente-se
SE ESSA RUA FOSSE MINHA | 15
GRAFITI - A VOZ DE UMA CIDADE CINZA
capa
O
Josiane Almeida
grafite, considerado uma arte urbana, tem como característica principal o desenho em locais públicos. Ao chegar no Brasil na década de 70, foi considerada como uma arte marginalizada e violenta, por ser usada como forma de protesto com as inconformidades de uma geração contra valores estabelecidos. A cultura do grafite é a arte preferida e mais procurado por aqueles que seguem um estilo de vida mais livre. Como forma de expressão, os grafiteiros entregam suas vidas no momento em que estão colorindo as paredes do mundo a fora e se apropriam dos muros públicos a fim de transmitir mensagens culturais, humanitárias, artísticas e até mesmo políticas. Quando falamos sobre o grafite, rapidamente nos remete a algo com muita cor e vida. É diferente a forma destes artistas verem o mundo, e é isso que eles tentam transmitir para seus trabalhos, juntamente com uma energia muito característica. Considerado como um veículo de comunicação, ele vem dominando tuneis e prédios da cidade e com isso ganha o respeito e a admiração de todos, pois trata-se de uma arte que não tem nível social de público e possibilita o diálogo com toda a população. Aqueles que exercem a arte, seja como profissão ou como hobby, sentem paixão pelo que fazem e declaram esse amor em cada desenho expressado. Principalmente por terem a oportunidade de refletir a realidade vivida nas ruas.
18 | SE ESSA RUA FOSSE MINHA
O jovem Vitor Gomes, de 23 anos, diz ter começado de repente, no ano de 2012, estimulado por um amigo, viu que a cidade tinha cor e resolveu tentar. Para ele, o grafite é uma forma de expressão e a resolução para uma cidade preta e branca. “Ele é o grito de liberdade que muitas pessoas de diversas classes sociais não têm a oportunidade de dar. É a saída para o problema da cor, nos tirando dessa po-
lítica monocromática em que vivemos por muito tempo.” Fala ele orgulhoso do que faz. Sem nunca ter se aperfeiçoado com cursos ou algo do tipo, ele começou do zero e sem saber muito se tinha ou não o dom para a coisa. Com o pouco que sabia, ele foi levando sua arte para os muros de São Paulo e ganhando paredes com sua marca registrada. Vitones, como é conhecido profissio-
capa nalmente e pelos amigos, diz que tem muitos tipos de inspirações para os seus trabalhos, e une as necessidades do local ao que está sentindo no momento. “Tem diversos caminhos para me inspirar. Além de querer expressar meus sentimentos no muro, tem o que a cidade está dizendo e o que o local está manifestando. Para mim as coisas falam, e eu tento ouvir isso e integrar ao que eu sinto e no que eu quero fazer.” Diz ele. O grafite já até gerou alguns lucros a ele, mas não o considera como sua profissão, para ele é algo prazeroso de se fazer e faria todos os dias de sua vida. Vitor tem uma ligação muito forte à arte e já estudou dança e teatro anteriormente, que foi onde conheceu seus “parceiros” do grafite, e quando descobriu seu dom, mudou totalmente seu estilo de vida para segui-lo. Seu nome está em muros de muitos estados do Brasil, como: Rio de Janeiro, Brasília, Goiânia e São Paulo,
onde está localizado seus principais e maiores trabalhos, feitos em parceria com os projetos “Art in Home” e “Criança fala” no bairro do Glicério e também na escola Duque de Caxias. Muitas de suas artes já foram destruídas por outras pessoas, algumas queimadas, outros desenharam por cima, mas Vitones diz ser desapegado, e declara que seu trabalho é para a cidade. Apesar de tudo, o grafite também sofre muito preconceito e é considerado por algumas pessoas como vandalismo e poluição visual. As vezes até mesmo confundido com pichação, que é caracterizada pela escrita nos muros. O também grafiteiro e companheiro de Vitor, Rafael Moreira, de 26 anos, diz que já teve artes muito desprezadas antes de conquistar seu espaço, foi confundido com pichador e quase pego pela polícia algumas vezes. “Até você chegar em um nível que sua arte é valorizada não só por seus companheiros de trabalho, mas também pela população, você tem que ralar um
pouco, mas o prazer em ver um trabalho seu finalizado compensa tudo isso!” nos conta. Para ambos, a única preocupação que têm é com a saúde, já que utilizam materiais tóxicos. Mas levam o grafite como uma das certezas da vida e buscam somente por seu crescimento na arte. Recentemente um grupo de grafiteiros chamado Graffiti Research Lab, resolveu inovar e criou um novo método, conhecido por “Light Grafite”. A idéia é ter algo mais atual mas que não deixe de lado a contestação. Esse novo método surgiu dos conceitos de luz e fotografia sendo baseado na técnica para capturar as imagens. No light grafite, o artista utiliza projeções de luz e registra as imagens em fotografia, formando assim um grafite de luzes. Porém, isso ainda é considerado algo fora da realidade para grande parte dos amantes da arte. Pois além de ser de um custo muito alto, não é fiel às suas origens.
SE ESSA RUA FOSSE MINHA | 19
capa
capa
na rua Estados Unidos e então ele decidiu trazer essa ideia para o Brasil e deixar mais acessível e com o custo menor. Hoje, um prato no restaurante chega a ser quase 40% mais caro que no food truck. Falamos com a Vanessa Silva, 28, gerente dessa novidade que fica ao lado do Pátio Paulista. “Nosso público é bem diversificado, a galera procura para conhecer e acaba se surpreendendo. A rentabilidade é boa, até por causa do lugar onde estamos e é A CIDADE DE SÃO PAULO TORNOU-SE A PIONEIRA NESSE SETOR, COPIANDO O muito fácil à movimentação do traiMODELO DE SUCESSO EM NOVA YORK E EM OUTRAS CIDADES AMERICANAS. ler.” O SUCESSO DOS FOOD TRUCKS TAMBÉM SE REPETE EM OUTROS ESTADOS DO
UMA NOVA TENDÊNCIA:
OS FOOD TRUCKS
PAÍS, COMO RIO DE JANEIRO, PARANÁ, RIO GRANDE DO SUL, BAHIA, BRASÍLIA E MINAS GERAIS.
V
Maria Alyce Oliveira
endedor de comida de rua é uma das profissões mais populares em países em desenvolvimento. Essa modalidade é antiga, mas começou a ser conhecida como Food Truck a partir da primeira década do século 21. No Brasil, muitos empresários viram a possibilidade de expandir seus negócios ou abrir um primeiro restaurante, só que em um modelo diferente, de baixo custo, acesso fácil ao público e sem necessidade de adquirir um ponto comercial ou outros encargos. Para ter um Food Truck é preciso atender as necessidades de comercialização de alimentos, segundo as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) municipal e estadual, da Prefeitura de Departamento Nacional de Trânsito (DETRAN) e do Instituto Nacional Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Os Food Trucks são cheios de estilo e variedades de sabores e pode ajudar na hora de economizar.
Food Trailer de Comida Tailandesa Uma comida que vem ganhando pessoas do mundo inteiro, por causa do sabor e diversidade de ingredientes é a comida tailandesa. Para você que ainda não conhece e nunca provou o se essa rua fosse minha traz uma super dica de um Food Truck de comida tailandesa que é o primeiro food de comida tailandesa no país, o Thaitai Brasil. A ideia surgiu por que um dos sócios do Thaitai já trabalhou em um restaurante de comida tailandesa nos
Decoração Evidenciando as imagens de Buda em sua decoração, tudo é muito colorido e harmonioso. O ambiente é agradável e o cheiro nem se fala não é mesmo. o Food Truck é bem iluminado e logo a frente dele é possível identificar em imagens alguns dos pratos mais pedidos pelos clientes.
Thaitai Brasil
Rua Treze de Maio, 197 - Bela Vista - São Paulo/SP (11) 98543-6390 contato@thaitaibrasil.com.br http://thaitaibrasil.com.br
SE ESSA RUA FOSSE MINHA | 23
na rua
C
Carol Almeida
erca de 99, 6 mulheres já sofreram algum tipo de assédio sexual em algum momento de suas vidas, é o que diz o resultado de uma pesquisa feita em setembro de 2013, com 7762 mulheres, pelo movimento feminista Think Olga, atrelado à campanha “Chega de Fiu fiu”, que tem como objetivo conscientizar a população de que assédios sexuais sãos mais comuns do que as pessoas imaginam e mapear a cidade de São Paulo com os lugares onde ocorrem mais assédios. O feminismo é um movimento político de esquerda que existe há muitos anos, porém, começou a ganhar mais força na década de 60, na Europa e Estados Unidos, e na década de 70, ganhou mais força no Brasil, durante a ditadura militar, quando mulheres de diferentes partidos políticos, idade e classe social se juntaram para construir uma militância contra o regime militar. A pesquisa realizada pelo movimento Think Olga tem como objetivo mostrar o quão opressora é a nossa sociedade atual e mapear lugares da cidade de São Paulo onde são mais propensos a ocorrem os assédios. Um dos pontos que achei interessante foi o fato da pesquisa não expor a faixa etária das entrevistadas, por algum motivo pelo qual desconheço. Elas mostram que a maioria das mulheres foi assediada na rua (98%), por exemplo, mas também em transportes públicos (64%), no trabalho (33%), na balada (77%) e em lugares públicos como shoppings e parques (80%). O que me intriga é que, pode-se dizer que 100% das mulheres que responderam à pesquisa, já foram cantadas na rua, mostrando que é praticamente impossível sair de casa sem receber alguma cantada ou passada de mão, por exemplo. Alguma das perguntas feitas na pesquisa questiona se as mulheres acham legal ouvir cantadas, e obviamente a resposta é não, se as mulheres respondem aos assédios que ouvem na rua,
24 | SE ESSA RUA FOSSE MINHA
A VERDADE POR TRÁS DO FIU-FIU
quais os tipos de cantadas que elas já ouviram, e algumas das respostas mais escolhidas citavam palavras como “linda”, “gostosa”, “delícia”, “princesa” e o famoso “fiu fiu”. No decorrer da pesquisa, as mulheres foram questionadas se já haviam respondido às cantadas e se eram insultadas por isso, e 68% das mulheres disse ter recebido algum xingamento por ter retrucado. A ideia de que a mulher não tem independência e autonomia formou uma avalanche de mulheres revoltadas com as supostas ordens impostas pela sociedade. Mulher está sempre submetida a um sistema ou a um homem, não tem pensamento próprio e não pode realizar tudo o que deseja, criando a ideia de que, você só será feliz dentro de um suposto movimento denominado “feminismo”. A feminista e administradora da página “Chega de Fiu fiu”, Giovanna Roxa, 19, diz que “nós feministas buscamos igualdade por algumas razões como: estupro, assédio sexual, assassinatos, violência doméstica, degradação da imagem da mulher em várias verten-
tes da sociedade e regras impostas somente às mulheres e etc”. Ela diz que já sofreu sim assédio de várias formas, sejam eles morais e até mesmo sexuais. Giovanna cita que o surgimento de grandes movimentos feministas, como o Think Olga, ajuda as mulheres contra o assédio através de campanhas como a “Chega de Fiu fiu”, que foi divulgado em grandes veículos jornalísticos e também um projeto de um mapa para alertar as mulheres sobre lugares perigosos e que são propensos à assédios sexuais á mulheres. Ela diz ser eficaz sim, pois traz às mulheres informação, orientação de como agir em casos como esses, um aprendizado de como se aceitar e também aprender a não se calar. Aline Castro, 20, estudante de Relações Internacionais e contra o movimento feminista diz não precisar do movimento para viver. “Eu não preciso do feminismo quando observo o que o feminismo é”. Ela também cita o fato de conhecer a existência do machismo e complementa “sei que o machismo existe sim, mas não me permito vitimizar ou generalizar os homens
na rua como todos os seres horripilantes e estupradores e sei que se algum dia for injustiçada por alguma questão de gênero, a minha gana e força de mulher irão me equiparar através da educação e capacitação”. Quando questionada sobre ter recebido cantadas na rua, Aline diz: “Primeiro precisamos definir assédio e diferencia-lo da cantada do pedreiro. Assédio no dicionário significa “insistência impertinente, perseguição, sugestão ou pretensão constantes em relação a alguém”. Então, não. Assédio, nunca sofri. E acho importante todos entenderem essa definição, tanto em âmbito moral como em âmbito sexual (ou assédio psicológico também, por exemplo). Uma coisa é o “nossa, que princesa” do caminhoneiro, e outra coisa totalmente diferente é a diminuição da mulher por ser mulher, xingamentos, a realização de atos a força e contra a vontade e a insistência em algo que a mulher nunca desejou. Precisamos entender que o “fiu fiu” não pode ser equiparado a violência sexual, de fato”. Penso que, a grande motivação dessa pesquisa e movimento é o fato de as feministas buscarem certa igualdade ao sexo masculino. Igualdade essa que é uma farsa. Vejo mais uma busca por exclusividade de ir e vir, de direitos e também querer chamar atenção para algo que não leva a lugar nenhum. O movimento feminista se declara como um movimento que luta contra todas as formas de opressão exercida sobre as mulheres e também pela suposta igualdade de gênero. A página “Think Olga”, dona da campanha, “Chega de fiu fiu” conta com 145.589 curtidas (dados contabilizados em Novembro/2016). O movimento existe desde abril de 2014 tem como missão empoderar mulheres por meio da informação e retratar as ações delas em locais onde a voz dominante não acredita existir nenhuma mulher. Sua luta é para que as mulheres possam ter mais escolhas. Bem como garantir que elas façam suas escolhas de maneira informada e consentida, sem que nunca tenham que pedir desculpas
por tais decisões. E o que realmente levou as mulheres a crer que participando de um movimento como esse, mudaria a suposta situação das mesmas na sociedade? A luta contra o estupro, por exemplo, não é algo segregado a mulheres apenas. Estupros acontecem não somente contra mulheres, mas também com crianças e até alguns homens. Não é necessário levantar a bandeira do feminismo para lutar contra esse crime. A questão é: a luta é por todas ou só pelas colegas de esquerda? E, aliás, que luta é essa, não é mesmo? Uma luta para usar shortinho na faculdade e ter uma vida promíscua ou uma luta que realmente beneficie mulheres em péssimas condições de vida? Quanto aos projetos, creio que eu não tenha visto nenhum ainda que tenha sido complemente plausível na sua totalidade. As pautas que tive contato até agora foram pautas abortistas, pautas que afirmam uma “cultura do estupro” (como se toda a população aprovasse tal ato de violação) e manifestações de mulheres enlouquecidas pelas ruas com cartazes e seios de fora. Não é porque eu já ouvi uma cantada na rua ou até mesmo em um shopping que eu me sinto inferior ou desvalorizada pela sociedade, não são esses motivos nem os outros levantados pelo movimento que criam a necessidade da mulher precisar do mesmo. A mulher no Brasil é mais livre do que em qualquer outro país. Direito ao voto, trabalho remunerado em qualquer cargo escolhido, estar em qualquer lugar e a qualquer hora do
dia, recentemente a aprovação da lei que garante o desembarque fora do ponto de ônibus para mulheres em São Paulo, vemos mulheres na política, mulheres na engenharia, mulheres na medicina, não vivemos em uma sociedade cujas mulheres são forçadas a casar-se com homens mais velhos, até mesmo sem conhecê-los e vários outros motivos que eu poderia listar infinitamente aqui. As feministas diriam que eu não conheço o movimento ou nunca precisei dele, por isso não me declaro nem ergo a bandeira feminista, mas acho que antes de resolver seguir um movimento, ou alguém, é preciso entender a essência da coisa, tal qual na sua teoria e prática. A teoria do movimento feminista pode até ser convincente e bonita, mas na prática se vê totalmente o contrário. Comecei a pesquisar sobre Feminismo quando ele começou a ser estampado em todas as mídias sociais, eu vi que algo não estava certo. Porque clamar por liberdade se eu já me sentia livre? Porque desmoralizar uma mãe que não quer trabalhar e sim ficar em casa com os filhos? Porque a problemática do “recatada e do lar”? Porque clamar por salários iguais independente do sexo ou cor, se a lei já garante isso? Essas e outras perguntas que guiaram a minha curiosidade pelo movimento, e suas respostas que me fizeram não ser feminista. Mas é importante ressaltar que se houvesse um movimento feminista no Oriente Médio, por exemplo, eu o defenderia, visto que as mulheres lá são realmente oprimidas por uma suposta “cultura”.
SE ESSA RUA FOSSE MINHA | 25
na rua
A
Eduardo Suguiyama
Se Essa Rua Fosse Minha teve a oportunidade de conhecer de perto o dia de uma artista de rua. Acompanhamos desde a preparação, maquiagem, ensaio e exercícios para a performance, que por sinal foi repetida inúmeras vezes durante o dia. Engana-se quem acha que a vida de artista é fácil, pelo contrário, assim como na vida de um trabalhador comum, o artista também sofre com horários e começa a trabalhar bem mais cedo do que o imaginado. O horário marcado para começar os trabalhos no farol era às 14h, mas acabou atrasando cerca de 1h, devido a preparação. Em outubro, tivemos a oportunidade de acompanhar Bruno Souza (26) e Daniel Costa (25) em uma de suas apresentações, que aconteceu no bairro de Santana, na Zona Norte de São Paulo. O local escolhido não foi ao acaso e sim porque é próximo a casa de Daniel e lá os dois amigos podem se preparem para entrarem em ação em suas apresentações de palhaço. Além disso, próximo a casa existe um ótimo ponto, um farol que fecha em menos de trinta segundos e demora cerca de um minuto para abrir, ou seja, maior tempo de apresentação. Preparação Para se transformarem em palhaços os amigos demoram cerca de 30 minutos
26 | SE ESSA RUA FOSSE MINHA
CONHECENDO
e precisam das roupas características (não pode faltar o nariz), meiões e suspensório. Além disso os dois se maquiam, passam base, pó no rosto e rímel no olho. Após toda a preparação física, começam os pequenos ensaios, eles passam a “coreografia” e a define detalhadamente para que não haja nenhum erro. Normalmente são os mesmos passos, mas Bruno diz que pode haver sim alteração. “Tem dias que resolvemos inovar em nossa coreografia, não nos sentimos bem fazendo o mesmo número inúmeras vezes”. Após os ensaios e a confirmação que tudo está OK, os parceiros andam em direção a Avenida Brás Leme, que por sinal é em um cruzamento dela
ARTISTA
que eles ficarão, da casa de Daniel até o local demora cerca de 5 minutos caminhando. Apresentação Bruno e Daniel são amigos há quase dois anos, ambos se conheceram no Galpão do Circo, escola que oferece cursos regulares voltados a apresentações circenses. De lá para cá criaram uma intimidade incrível e uma grande amizade, levando para suas apresentações o entrosamento. Para desenvolver o número cada um tem que segurar três bastões e gira-los continuamente, jogando um bastão para o outro continuamente. A apresentação é tão movimentada que até quem passa na rua ou nos carros do sentido contrário ficam engajados. A velocidade é tanta que em algumas
na rua
O O DIA A DIA DE UM
TA DE RUA
certeza, pelo menos uma moeda os jovens irão receber de sua platéia. Assim os dois vão enchendo uma mochila que usam para guardar todo dinheiro e assim no fim do dia dividir em quantia igual. Atualmente, os dois vivem apenas dessa ocupação e também de pequenos trabalhos que fazem, seja como ator, professor ou instrutor. Preconceito Como tudo na vida, existe um lado ruim no trabalho dos amigos, muitas vezes os motoristas com medo ou por preconceito fecham os vidros de seus carros. “Isso acaba acontecendo com maior frequência quando é uma mulher e ela está sozinha. É complicado, não queremos causar uma impressão ruim, muito pelo contrário, mas consigo entender o medo, tamanha falta de segurança que vivemos hoje em dia”, diz Bruno. Os jovens se dizem vítimas da marginalização que os artistas de ruas sofrem, principalmente aqueles que se apresentam em faróis, em que muitas vezes são confundidos por pedintes.
oportunidades o bastão de um dos componentes cai no chão, mas nem por isso o número perde em elegância e beleza, com um singelo pedido de desculpas os palhaços seguem sua demonstração de alegria normalmente, como se o erro estivesse no plano. Quem principalmente se encanta com o número são as crianças, estas chegam até parar e chamar seus pais para verem e quem ainda diz que crianças tem medo de palhaços? Os mesmos ainda conquistam essas criaturas doces dando balas.
no e Daniel. Dificilmente os amigos voltam sem uma moeda após a apresentação, todo momento em que o farol fecha é uma
Apesar do atraso em relação ao horário previsto para começar o trabalho, Bruno e Daniel demonstraram-se felizes com o dia, principalmente por ter levado a magia da arte a alguns motoristas da cidade de São Paulo.
Dinheiro Sabemos também que além de querer levar a arte ao público, expor seu talento, os artistas de rua também procuram em suas apresentações o seu ganha pão e não é diferente com Bru-
SE ESSA RUA FOSSE MINHA | 27
perfil
“EU PODERIA TER CARRO, CASA, O QUE EU QUISESSE, MAS EU NÃO QUERO, ISSO PARA MIM NÃO TRAZ FELICIDADE” A HISTÓRIA DE UM JOVEM QUE LARGOU TODA A COMODIDADE E PADRÕES DA SOCIEDADE PARA FAZER AQUILO O QUE REALMENTE GOSTA, TRABALHAR COM ARTE. ENGANA-SE QUEM ACHA QUE FOI FÁCIL, MAS BRUNO NÃO DEU OUVIDOS AO PRECONCEITO E SEGUIU SUA JORNADA. HOJE É FELIZ E LIVRE DOS BENS MATERIAIS.
28 | SE ESSA RUA FOSSE MINHA
B
Eduardo Suguiyama
runo Souza, 26 anos, seria apenas mais um jovem normal de classe média da cidade de Guarulhos, São Paulo, daqueles que seguem a regra, que possuem carro, casa, viagens internacionais, mas não, preferiu abrir mão de seu emprego estável na Microsoft para se aventurar na arte, se aventurar no circo e na vida. O rapaz relata que sempre foi diferente desde a época da escola, que não entendia o porque passava tanto tempo em um ambiente fechado, estudando coisas que talvez nunca usaria na vida, mas que por pressão da mãe acabou se formando. Como quase todo garoto, Bruno era fissurado por jogos, computador e consequentemente por programação. Seu primeiro emprego foi nesta área,
começou a sua jornada de trabalho já na adolescência, aos 16 anos, foi selecionado em curso da Microsoft, bastante concorrido na época. Entrou em uma multinacional bem cedo, mostrando todo seu potencial e conhecimento, mesmo se esforçando para que isso não acontecesse. Subiu na empresa, se estabilizou, ganhava um ótimo salário para um jovem, mas não era feliz, faltava alguma coisa, não se sentia completo. “Eu realmente não era feliz, nenhum dinheiro e nem a maior posição dentro da empresa poderia me dar a total felicidade. Foi um tempo jogadora fora”, disse. Ele não entendia o que poderia estar faltando, muitos queriam estar em seu lugar, queriam poder entrar em uma multinacional, em uma empresa renomada no mundo, mas não conseguiam.
perfil Quanto mais tempo passava dentro da empresa, mais se decepcionava, propunhas metas e datas para não pedir demissão, até que dois anos depois que adentrou na Microsoft pediu demissão. Não aguentou a pressão, não a pressão do trabalho, das metas, dos relatórios que eram impostos e sim a pressão de estar vivendo apenas por viver. No começo, não entendeu muito bem essa mudança, a transição em que sua vida passará, foi de jovem exemplo para sociedade para apenas mais um desempregado, virou número no meio a multidão. Nesse intervalo de tempo solitário, um amigo lhe falou sobre aulas de teatro, eis que Bruno se interessou e começou a se arriscar nas aulas. Iniciou em uma das melhores escolas, no Macunaíma, em São Paulo e a partir daí sentiu o verdadeiro prazer, a grande atração pela arte, que o fez enxergar o mundo com novos olhos.
A arte fez o jovem mudar completamente de visão sobre a vida, abriu sua mente, o que antes era trabalho, agora virava prazer, de atuar em peças, trabalhar com o corpo, interpretar e surpreender o público. Bruno era um novo garoto, que no auge de seus 22 anos, mudava totalmente sua vida, abandonando qualquer escritório, anos de presos dentro da escola para fazer aquilo que realmente gostava. Viver e trabalhar com o corpo. Como o universo da arte é grande, ele não parou apenas no teatro. Em 2014, o jovem conheceu o circo através do teatro e se apaixonou: foi amor a primeira vista. Se já era encantado pela arte, agora ficou extasiado com o circo. Tanto que não perdeu tempo e logo se matriculou em uma escola, o Galpão do Circo da Vila Madalena. “É uma sensação única, um aprendizado, não me arrependo de nada. Trabalhar com o corpo, com a arte é algo incrível. Hoje faço meu horário, tenho independência e não fico com um chefe traçando metas e enchendo o saco todo dia”. Porém, nem tudo foi fácil, ele relatou que sofreu com preconceitos de todos os lados, que começou vindo de dentro da própria casa. Sua mãe não entendeu
logo de principio a sua escolha, achou que ele estava ficando louco e rebelde, largando um bom emprego, estabilidade para fazer malabares na rua. Até mesmo seus amigos mais próximos olhavam para ele com um ar de deboche, seus vizinhos zombavam de suas apresentações na rua. Era uma história que parecia que não ia dar certo, tinha tudo para dar errado, críticas aos ventos e nenhum elogio, porém, o jovem foi perspicaz e não desistiu de seu sonho e continuou lutando, buscou forças em seus colegas de teatro e conselhos com os mais experientes artistas que conhecia. “As pessoas pensavam que estava desperdiçando meu tempo. Hoje eu poderia ter um carro, uma casa, o que você quisesse, mas cara, eu não quero nada disso, isso pra mim não traz felicidade. O circo e a arte é que o me traz felicidade”. Hoje, Bruno mantém sua vida apenas de suas apresentações e trabalhos artísticos, não tem horários e nem chefe para obedecer. A única coisa que precisa é motivação e alegria para passar ao público que lhe assiste. Em um futuro próximo, Bruno pretende ingressar na Escola Internacional de Circo do Rio de Janeiro e se mudar para a capital Carioca, para aprimorar e crescer ainda mais na arte circense.
SE ESSA RUA FOSSE MINHA | 29
artesanato
FAÇA VOCÊ MESMO! Decoração de rua para dentro de casa – Globo de neve Globos são muito tradicionais nos Estados Unidos e Europa. São vendidos como lembrança de algum lugar para recordar bons momentos e é muitas vezes usado para presente. Saiba que você pode fazer o seu com o desenho e tamanho que quiser.
esteja acima do topo da figura, com um pouco espaço de sobra no topo
Materiais que você vai precisar • Um pote de papinha ou de conserva; • Cola quente ou instantânea; • Miniaturas de natal, enfeites; • Pó Glitter; • Água. Passo a Passo Passo 1: Você vai colar a miniatura de natal no centro da tampa do pote Dica: Lembre-se que a miniatura deve ser pequena o suficiente para caber dentro do pote.
Passo 2: Se for preciso coloque isopor embaixo da miniatura para servir de base, que vai levantá-lo um pouco e assim aparecer acima da tampa Passo 3: Encha o pote de vidro com água fria quase até o topo Dica: Coloque a tampa com o boneco dentro do pote com água, feche e vire a cabeça para baixo para testar o nível da água. Assegure que o nível da água
30 | SE ESSA RUA FOSSE MINHA
Feito isso, retire a tampa, coloque o Glitter e mexa Dica: Se você preferir, pode inserir um pouco de óleo de bebê, detergente líquido incolor ou glicerina (encontrada nas farmácias) para que o Glitter mexa-se com mais lentidão
Feche a tampa e aperte bem para colar Dica: Utilize potes de papinha, geleias ou conservas, pois eles têm um selo dentro da tampa que vai ficar mais bem vedado, evitando vazamentos
IMPORTANTE: O globo é feito com pote de vidro e para crianças pequenas pode ser perigoso cair e quebrar, então você pode optar por fazer com pote de plástico também Passo 4: Para finalizar: com uma pistola de cola quente faça um anel de cola em volta do interior da tampa e a feche rapidamente (antes que a cola endureça) Dica: Você também pode usar cola de cano já que terá contato com água
E então, gostou? Conte pra nós como ficou seu globo! Tire uma foto e envie para nós através das redes sociais com a hashtag: #seessaruafosseminha Fonte: www.revistaartesanato.com.br
agenda
Espaço Cultural Puxadinha da Praça O Próximo festival organizado pelo espaço é o Puxadinho Móvel, o espaço cultural voltou e de forma diferente, em forma de trailer retrátil com um som bem equipado. Nesta edição estão confirmados shows de Marina Melo, que apresenta o “Soft Apocalipse”, lançado neste ano; Rafael Castro, com sua mistura de ritmos e sabores de “Um Chopp e um Sundae” e outras composições; além do power trio O Terno, que recentemente jogou no mundão seu terceiro álbum, “Melhor do que Parece”. O evento ocorre no dia 27 de novembro, das 15h às 22h em Pinheiros, na Rua Cunha Gago, 799. O evento tem custo de R$ 15 através do site: https://www.sympla.com.br/puxadinho-da-praca-movel ou pode ser adquirido na hora do evento, mas pelo valor de R$ 30.
Casa das Rosas Jardins recheados de rosas, espaço verde e uma linda arquitetura, assim podemos definir a Casa das Rosas. Aproveite para tomar um chá debaixo das árvores, em meio à selva de pedras, e nós garantimos nada lembra a correria de São Paulo e a entrada é gratuita todos os dias. Como chegar: Metrô Estação Brigadeiro - Linha 2 Verde. Av. Paulista, 37, Jardim Paulista, São Paulo - SP - CEP: 01418-000 Telefone: +55 11 3285-6986 Site: http://www.casadasrosas.org. br/ Horário: De terça a sábado, das 10h às 22h. Domingos e feriados, das 10h às 18h.
Centro Cultural Fiesp - Ruth Cardoso O Centro Cultural Fiesp é bem variado em sua programação, além da decoração que chama atenção principalmente a noite. O centro oferece três espaços principais: Galeria de Arte do Sesi-SP, o Teatro do Sesi-São Paulo e o Espaço Mezanino. Os espetáculos de música e dança tem entrada gratuita e os ingressos são bem concorridos e devem ser retirados com antecedência na bilheteria. Como chegar: Metrô Trianon – Masp – Linha Verde 2. Av. Paulista, 1313, São Paulo - SP - CEP: 01311-923 Telefone: +55 11 3146-7405 Site: http://www.fiesp.com.br/centro-cultural-fiesp-ruth-cardoso/ Horário: A galeria de arte abre diariamente das 10h às 20h. As salas de espetáculo de acordo com o horário das apresentações.
SE ESSA RUA FOSSE MINHA | 31