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ÍNDICE Capítulo
Página
0. Índice e Obrigado
1
1. Prefácios
3
2. Introdução e Porquê Portugal
5
3. Chegada ao Algarve/Alentejo, 2005
9
4. My Eden and Finding Albufeira
15
5. Lucrar com Turismo Ago-Out/04
19
6. Neve no Deserto, Frio na Política, 2006
23
7. Alertas, 2008
27
8. Pecado Capital: Gula
31
9. Mais Pecados, Mar/06
35
10.Ópio e Playstation Mar/06
39
11.Canto que Encanta Mar/05
45
12. Carpintaria e Maçonaria Ago/04
49
13. Consciência Ambiental Abr/05
53
14.PréPrimavera e Frutos Abr/05
57
15.Intransparência ou Incompetência Apr/12
61
16.Abril Chuvas Mil + Funny Ads in the UK, Abr/05
65
17.Julho Peixes e Mariscos 2005
69
18.Ah - gosto
73
19.Direitos e Deveres
77
20.Luz no Fim do Túnel Jan/05
79
21.Pastor de Ovelhas e de Almas
85
22.A História Repete-se (Democracia?)
89
23.Alentejo Braso-Sueco, Another Letter 2005
93
24.Dar conselhos, 2006
97
25.Vale da Rosa e do Amor, 2012
103
26.Portuguese Consul saved Jews
105
27.Yes, dear Saboia, Odemira, Alentejo
107
PATEO, MY EDEN In my first stay in Albufeira, 1981, I was astonished by the pristine environment, friendly people and a village of the fifties. Orange plantations, big alfarroba-trees, green fields with hundreds of sheep were the first views from an airport-shuttle. Giant, juicy, sun-sweet tomatoes, home-prepared olives on garlic with hot bread, fresh grilled fish and sweet figs followed. The strong espresso with an almond-cake was great. Not to mention a local brandy of medronho. On the central beach not many foreigners and bunch locals enjoyed the warm, salty sea. Easy to ask the fishermen, coming with their small artisan boats, for the Portuguese names of their catch. The fine-sand beaches were shielded by ‘falésias’, rocks falling onto the sea. We visited some of the distant; almost none there. A windy afternoon I found S.Rafael, where the waves hitting the rocks built a multicoloured shower against the sun and a million diamonds fell to my feet. Can you hear the burst accompanied by the strings of the waves kissing the hot, blond sand? I bought a flat on the top floor of the highest street in Páteo, the last barrio of Albufeira, for vacations and later retirement. Now, 30 years later, I realised it was a wise investment. The tiny village became a tourist paradise. My street, then with a few bikes, is now coloured by hundreds of cars. But with good planning, the farms around are still there. When I open my curtains in the morning I see sheep and almond-trees first and the mountains on N, in the background, topped by Monchique 3k feet high, which I reach in 40min. I hear hens, seagulls and a distant dog answering a baritone neighbour. To the S is the Atlantic, with new bluegreenish tones each hour, framing the coloured marina, with fashionable stores and exotic restaurants. On the street next to mine I choose among five excellent restaurants, with varying menus and low prices and three top cafés. All with gorgeous views to the sea. Along my street all say hello in Portuguese, but the chat is on English with John, German with Helga, French with Janette, a sentence in Russian with Bianca and Danish with the café owner. In my Rotary Club I speak those languages, but Portuguese with the Dutch. For decades I left the key with a neighbour, who’d clean and wash before and after vacations. On my almost daily walks along the fields I say hello to the almond-farm violinist Henrique, to sexagenarian farm-owner Maria Cardoso, to sheepraiser Muralha. I enjoy the scents of the leaves of the laurel-trees, oreganos, oranges, figs. Last summer I picked some 40 figs each walk; my wife made jelly which we still eat at breakfast. Authorized by them, we bring wild roses, almonds, oranges, colouring our flat with nature’s all paints and flavours. After living in 33 and visiting 90 cities in 12 countries, as the US, UK, Brazil, Philippines, Sweden, I found my Eden in Páteo, Albufeira.
The Joy of Harvesting I had been invited to visit a small farm and pick tangerines. The low price paid by distributors prevented and bureaucracy required selling only in local markets. Despite the excellent quality of citrus in the Algarve, farmers let fruits rot, because the cost of harvesting and transport are too high. It was a cold winter afternoon. No birds flew, not even hooted. The blood pulsed strong to irrigate our fingertips, cold and colder were touching the fruit. The sun kissed the green leaves and orange fruits, almost the same red color of the sun as the flag of Portugal. The form, of the harvested fruits, resembling the breasts of an algarvian lady, firm and sharp. Firm, but tender and juicy. I enjoyed the visual pleasure, the fine texture and vibrant awakened the desire in my hand. I ate one, two, many juicy fruits in the frenzy of pleasure; once that begins I cannot stop. That sweet juice, the easy separation of the outer peel of the fruit and the flavor (almost a sin), the heady scent that emanated from almost crimson fruit in the green of the grass when pressed to feel the firmness, made me feel in paradise. And when I looked at that tree, with plenty of ripe fruit that mother nature provided, I could not avoid a smile. The smile of the lover who enjoys the enlarged pupils in the enjoyment of the male who sees in the eyes of the female an orgasm they both reach. The joy of love costs nothing, it is just taking what nature gives us, at no cost. In tasting the lemons I recalled the words "if life gives you a lemon, make lemonade." After all, life is sweet, depending on our assessment of the individual. A happy man feels sweetness if he chooses that life is sweet. Just compare with those who have life more bitterly than his. It is normal to wish more and more. But if we look around, we appreciate what we have. In the Algarve and Alentejo we have the Atlantic, citrus, honey, heat, mountains, olives, songs, wine, the best of the alphabet, from a to w. Just pick it, as pressed and mingled they give us the best, juices that mother-nature offers to those who preserve, love and enjoy. Fertile land, wet spring, hot summer, juicy autumn, beautiful and smiling throughout the year. Just enter it with the seed or strain, talk to her, caress her, care for it and she gives us some time later, the joy of reaping. The sweet pleasure to have just enough to be happy; and enjoy all the senses to make someone happy.
Na minha primeira estadia em Albufeira, em 1981, fiquei maravilhado com o ambiente genuíno, as pessoas amigáveis e uma aldeia dos anos cinquenta. Plantações de laranja, grandes alfarrobeiras, campos verdes, com centenas de ovelhas, foram as primeiras observações no caminho do aeroporto. Grandes e suculentos tomates doces, de tanto sol, azeitonas caseiras em alho, com pão quente, peixe fresco grelhado seguido de doces figos. O expresso com bolo de amêndoa, tudo muito saboroso. Para não mencionar a aguardente local de medronho. Na praia central poucos estrangeiros e muitos locais no mar de água morna, salgada. Era fácil perguntar aos pescadores, a chegar nos seus pequenos e multicoloridos barcos artesanais, pelos nomes em Português do seu pescado, para mim desconhecido. As praias de areia fina foram brindadas por falésias, rochas caindo sobre o mar. Visitei algumas das distantes; quase ninguém por lá. Uma tarde ventosa fui à São Rafael, onde as ondas batiam nas pedras e formavam multicoloridas cascatas invertidas contra o sol e deitavam um milhão de diamantes aos meus pés. Eu ouvia a explosão dos tambores da natureza acompanhada pelas cordas das ondas beijando a areia loira e quente, na volúpia quando o amor se transforma em orgasmo. Um crescendo que passava a andante e finalmente a amante. Apaixonei-me por este ambiente bucólico. Comprei um apartamento no último andar da rua mais alta do Páteo, o último bairro de Albufeira, para férias e futura reforma. Hoje, 30 anos depois, sinto que foi um bom investimento. A vila tornou-se um paraíso turístico. A rua, então com algumas motos, está agora colorida e atulhada de carros. Mas com o Natura 21, as quintas ainda estão lá, não sei até quando. Quando abro as cortinas de manhã vejo primeiro ovelhas e amendoeiras, depois o Barrocal e a serra ao norte, coroada ao longe pelo Monchique a 900m, às vezes com um véu pudico de uma respeitável matrona; chego lá em 40min. Acordo a ouvir as galinhas, as gaivotas e o cão de um vizinho distante a responder, barítono, a outro, + perto. Para o sul é o Atlântico, com contínuas novas tonalidades de azul-esverdeado a cada hora, emoldurando a colorida marina, com restaurantes exóticos, lojas elegantes, ostentação dos pobres de espírito e talvez até de património real. Na rua ao lado posso escolher entre cinco bons restaurantes, com cardápios variados e preços baixos e três boas pastelarias; todos com uma deslumbrante vista . Na minha rua todos dizem olá em Português, mas a conversa às vezes é em Inglês, com o John, Alemão com a Helga, Francês com a Janette e alguma frase em Russo com a Bianca e até Dinamarquês com a proprietária do café. Falo essas línguas no Rotary Club, e Português com o holandês. Por anos deixei a chave com a vizinha, que limpava a casa após as férias. Nas caminhadas quase diárias ao longo dos campos, cumprimento o violinista Henrique, na quinta de amêndoas, a sexagenária produtora Maria Cardoso e o pastor Muralha. Gosto dos aromas das folhas das árvores, de orégãos, limões e figos. No verão passado apanhei uns 50 figos a cada dia; a minha esposa fez geleia que fomos comendo durante um ano. Autorizado pelos donos, colhemos rosas selvagens, amêndoas, laranjas, colorindo o
nosso apartamento com as telas e sabores de toda a natureza. Não há prenda melhor - e gratuita! Após viver em 33 cidades e visitar 90, em 12 países, p.ex. Inglaterra, EUA, Suécia, Brasil e Filipinas encontrei um éden no Páteo, Albufeira.
O Prazer de Colher
Fui convidado para conhecer uma quinta e colher tangerinas. O baixo preço pago pelos distribuidores impedia a sua venda e a burocracia exigida para vender nos mercados municipais fazia com que os produtores rurais, apesar da excelente qualidade do citrino algarvio, o deixassem apodrecer, pois o custo da colheita e transporte não compensavam. Era uma fria tarde de inverno. Nenhum pássaro voava, nem sequer trinava. O sangue forte pulsava para irrigar as pontas dos dedos, frias e que mais frias ficavam ao tocar os frutos. O sol beijava as folhas verdes e os frutos laranjas e quase vermelhos, cor do sol e da bandeira de Portugal. Colhidos os frutos, os seus formatos, lembravam os seios da algarvia, cheios de cor, firmes e pontiagudos. Firmes, mas macios, suculentos. Não me pude conter, o prazer visual, a textura fina e vibrante na mão despertou o desejo. Comi, um, dois, vários na volúpia de prazer, daquele que começa e não consegue parar. Aquele sumo doce, a fácil separação da casca externa e o sabor do fruto (quase proibido), o perfume inebriante que emanava dos frutos quase rubros no verde da relva ao serem pressionados para sentir a firmeza, faziam-me sentir no paraíso. E quando olhava para aquela árvore madura, cheia de frutos que a mãe natureza oferecia, não podia deixar de adivinhar um sorriso, o sorriso da amante que desfruta das pupilas dilatadas pelo gozo do macho que vê nos olhos da fêmea o orgasmo que ambos atingem ao desfrutar de algo tão simples, que nada custa, que é saber aproveitar o que a natureza nos dá, sem custos. Ao provar os limões lembrei-me da frase aprendida nos EUA, “se a vida te dá um limão, faz uma limonada”. Afinal o que é doce depen-de da nossa avaliação individual. E um homem feliz sente doçura naquilo que deseja que seja doce. É só se comparar-se com os que têm a vida mais amarga que a dele. É natural que queiramos sempre mais e melhor. Mas há que olhar para os lados, valorizar o que temos. No Algarve e no Alentejo temos mar, montanha, medronho, mel, malícia, canto, calor, citrinos, suculentas azeitonas; são 5 M de melhor e 3 C de certo. É só colher, pois espremidos e concentrados tudo isto nos dá o melhor de si, os sumos que a mãe natureza oferece a quem os sabe colher, amar e desfrutar. Terra fértil, húmida na primavera, quente no verão, suculenta no outono, bela e sorridente o ano todo. É só nela penetrar com a semente ou a cepa, falar-lhe, acarinhá-la, cuidá-la e ela dá-nos, tempos depois, o prazer de colher. O doce prazer de pouco ter e muito ser - ser feliz e saborear os cinco sentidos de fazer alguém feliz.
O PECADO CAPITAL A gula é um pecado capital; rima com Portugal! Fora da capital é a gula que atrai locais e turistas, especialmente os estrangeiros aqui residentes. É frequente ocorrer em sítios ermos, nos limites ou pouco depois das pequenas vilas, onde nem a polícia nem os rigorosos olhares dos mais conservadores podem controlar este pecado. E são muitos milhares destes recônditos esconderijos de senhores com uns quilos a mais e elegantes senhoras às vezes com quilos a menos, ambos a esbanjar sorrisos de prazer. Prazer ao sentarem-se, prazer ao levantarem-se e, imagino, prazer ao deitarem-se. Pois é difícil deixar este pecado sem começar um outro. A primeira vez que descobri estes alternes degustativos não foi pela descrição, em voz baixa, de algum connaisseur, mas à procura de alguma tasca perto da segunda habitação. Nas caminhadas a sair do último bairro, já no limite do rural, encontrei num estreito beco o restaurante do Monteiro. Ele tinha regressado há pouco de Berlim e iniciado esta atividade no rés do chão da sua bela mansão, só com familiares. A um preço competitivo oferecia pão, azeitonas caseiras em azeite e alho, uma jarra de vinho regional e um frango do campo grelhado, com grandes tomates quase doces de tanto sol. Uma delícia! Durante anos foi o local do jantar para um casal estressado que ali vinha relaxar uma semana ou menos - e pecar. Um vizinho desta habitação levou-nos outra vez para o Mato a Vista, no final de uma estreita estrada de terra, algures no meio do nada, na freguesia de Paderne, quase limite entre Albufeira e Silves. Feita a reserva na noite anterior, foi caça escolhida, muito bem preparada. Pouco depois surgia quase vizinho, outro restaurante, também especializado em caça. É assim, um cozinheiro com sucesso ao esmerar-se no preparo do pecado, quase como a corte a uma dama de olhar brilhante, mais brilhante que o anel de diamante do seu dedo ou cravado no peito da sua elegante blusa, acaba por partilhar com aprendizes, orgulhoso, como conquistar e depois manter o desejo dos clientes. E algum dia, algum dos aprendizes acaba por tentar conquistar algum cliente desejoso de uma nova presa. O sabor é quase o mesmo, mas talvez o aroma, o sorriso do “bem-vindo” a temperatura do aperitivo e a doçura do beijo final numa amarguinha ou licor de figo atrai o traidor, em geral traidora, para novas aventuras. É nestes ambientes pecaminosos que se formam novos contatos e amizades, onde o forasteiro é levado a conhecer “o melhor da região”, requintes em diferentes sítios onde o proprietário, com grande brio profissional, quer agradar, partilhar um prazer milenar. Pois desde que o ser humano supera a necessidade animal, vem o prazer dos sentidos; é difícil evitar o pecado capital. E formam-se as confrarias, umas até formais, com vestes tradicionais
a mostrar uma elite que, como antes, dominava o terroir. E, talvez, ainda hoje, em reuniões fechadas, ainda age como um lóbi local. No Algarve e no Alentejo, talvez fruto da multimilenar mescla de culturas, de um frio seco no Inverno e um calor vibrante no verão, talvez fruto da facilidade de colher frutos e legumes beijados pelo sol, pescar e preparar o peixe ainda vivo, com toda a riqueza do sabor natural, talvez fruto das águas mornas do Atlântico a lamber lânguidos corpos seminus deixados a tostar nas areias tépidas, que penetram recônditos cantos de seres ansiosos por emoção e comoção, há um clima próprio para os pecados capitais. Longe das capitais onde domina a racionalização, a tensão, a falta de atenção.
O passa-palavra é o melhor amigo do homem turístico. Lá fomos à cata das pérolas sugeridas pelos gourmets locais. Primeiro, como é natural, no próprio concelho, a curta distância da residência, depois à distância de táxi e finalmente, já de carro, nos distritos de Faro e Beja. Alguns locais com bela vista, outros com excelente atendimento, outros ainda com requintado ambiente e, é claro, sempre à procura de alguma especialidade. Pe(s)cado natural é no Clube do Pescador, Albufeira ou no Lendário em Quarteira. Típico algarvio é no Três Palmeiras e Casa do Avô, em Albufeira ou no Rocha Gralheira na saída de S.Brás do Alportel. Francês é o Couleur France em Almancil ou o Auberge na saída de Loulé. Nórdico é o Rouxinol, em Caldas de Monchique. Mas há mais, muito mais, a lista é imensa, como a paixão pelo prazer do bem-comer. No Alentejo é tasca sim, tasca sim! O Algarve, a UE e as pequenas empresas 11/11/04
A missão da UE era criar livre-trânsito entre os europeus e proximidade entre eles, o que elevaria seu entendimento e evitaria novas guerras. Assim,
poderiam viver onde quisessem na UE. A livre circulação permitiria às empresas oferecer serviços e produtos a todos europeus. O consumidor teria mais empresas a oferecê-los, e a concorrência baixaria o preço e elevaria a qualidade. Um eficaz empresário poderia investir noutro país e levar sua boa técnica para toda a Europa. Mas na prática a teoria é outra. Em muitos setores houve nos últimos anos uma queda da qualidade naquilo que mais afeta os consumidores: os serviços públicos (transporte, energia, água, banca, telecom) formaram cartéis e oligopólios. Elevaram os preços acima da inflação e mostram altos índices de reclamações. Estudos noutros países (aqui só agora iniciados) mostram que 85% das empresas compram 80% dos seus insumos (serviços, peças, matéria-prima), exceto mão de obra e impostos, em monopólios ou cartéis. Ali não podem negociar preço nem condições. Se não comprar numa, não compra, pois o cartel não abre exceções. Alguns setores dão a impressão de concorrência, onde há uma 4a ou 5a empresa que, todavia, não tem reais condições de concorrer, por não dispor de equidade de condições, fruto do lóbi que o cartel exerce na Agência Reguladora ou diretamente nalgum alto funcionário de um ministério ou nalgum político de um dos partidos que alterna no poder. Na prática, muitas multinacionais compram fábricas locais para fechá-las, transferir a produção para o Leste, China e Taiwan e usar a boa marca local para aprisionar clientes, que pensam continuar a consumir o nacional. Em pouco tempo a qualidade que o esmero e o empenho do pequeno industrial criaram ao longo de décadas de muito esforço, é dizimada pela ganância e abuso do poder de distantes fundos de especulin-vento (é mais especulação do que investimento). Aqui há pelo menos12 setores onde isto ocorre. Porque é que o ferro de construção e o cimento subiram tanto, quando a procura caiu? Porque é que o custo de manutenção e peças de equipamentos de cozinha (autoacumulador, frigorífico, máquina de lavar) duplicou, quando os distribuidores das fábricas resolveram conversar e as oficinas em todo o país foram obrigadas a cobrar valores idênticos por peças e trabalhos? Quem não seguir estas normas fica sem peças! E a Autoridade da Concorrência não exerce a sua autoridade - então para que existe? Para criar emprego com elevados salários para os amigos dos políticos? A razão de privatizar, p. ex. telecomunicações, era que ao fazê-lo, o preço caía e a qualidade melhorava. Hoje os jornais publicam que os maiores índices de reclamações de consumidores em Espanha são contra telefónicas. Na Suécia um operador é processado por usar métodos ilegais de captar clientes do ex-monopólio público. E como ficaram os processos na UE contra a Coca-Cola e a MicroSoft? Uma só vende o seu produto para o bar, restaurante ou minimercado que compre todo o seu sortimento, incluindo o que os consumidores não querem (vendas casadas). A outra não permite adaptar os seus aplicativos às necessidades das empresas, vende pacotes com produtos que acabaram por matar os concorrentes de melhor qualidade. E são alvo de uma enorme quantidade de vírus e spam pela internet, que rouba 20% do tempo útil de trabalho de um funcionário no computador.
Há milhares de pequenas e médias empresas portuguesas que estão mal, devido à concorrência desleal das gigaempresas, que usam o lóbi para mudar as regras do jogo ao seu bel-prazer. A laranja algarvia transforma-se em sumo em Espanha e volta para cá, apesar de termos uma fábrica que não consegue pôr seu sumo nos supermercados por razões inexplicáveis. A excelente azeitona do Alentejo vai para lá e é exportado o azeite que concorre com o nosso. Quem está por trás das fábricas de concentrado, que mandou parar a compra de tomates no Alentejo, para obrigar produtores a aceitar seu preço? Quantas fábricas há no país? Quantas havia antes da UE? Então, a concorrência aumentou, o preço caiu, a qualidade melhorou? Quem ganhou? As empresas lusas? As mais eficazes, compradas pelos concorrentes? Como explicar o brutal aumento no custo de construção, quando houve grande redução de juros e da procura e estagnação no custo de materiais? Aqui temos matéria prima, mão de obra barata, boas fábricas. Porque é que a loiça sanitária e o azulejo são mais baratos em Espanha do que aqui? Já dizia Hamlet há 500 anos: “Há algo de podre no Reino da Dinamarca”! Ainda bem que mudaram o governo de lá e hoje é um dos países com uma das mais avançadas legislações da UE, que consegue com muita frequência exceções às regras da UE e não as transpõe, para manter um país com uma Real democracia económica.