Como sair da crise A

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Jack Soifer Vítor Neto, Presidente da NERA, Associação Empresarial do Algarve

Este livro vem justamente mostrar trilhos para uma nova economia e para a sustentabilidade ambiental e económica. Emílio Rui Vilar, Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian

Soifer é, sem dúvida, nos jornais portugueses, uma das pessoas que mais desafia o «politicamente correcto». Defende as PME e explica porquê. Acha que temos corrido demasiadamente atrás dos cânticos às grandes empresas. Explica porquê e eu concordo. Fazem-nos falta estes escritos simples, directos que às vezes nos parecem ser «evidencias já ditas»... Miguel Anacoreta Correia, Conselheiro de Estado

COMO SAIR DA CRISE - A

O Jack é um trabalhador de mil profissões e infinitas vivências. Isso permite-lhe um olhar diferente sobre negócios e actividades simples que nos passam ao lado, mas que devem merecer a nossa atenção.

COMO SAIR DA CRISE - A Trilhos para a nova economia de Portugal

A AL LG GA AR RV VE E,, A AL LE EN NT TE EJ JO O Jack Soifer


C OM O C OM O C OM O C OM O

S A IR S A IR S A IR S A IR

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C R IS E C R IS E C R IS E C R IS E

A: Algarve e Alentejo B : B a i x o T e j o e B e i r as C: Ce n t r o e Cu m e s D: Douro e Diamante

COMO SAIR DA CRISE, A Trilhos para a nova economia

A AL LG GA AR RV VE E,, A AL LE EN NT TE EJ JO O 0.

ÍNDICE

1. Prefácios 2. Executive Summary 3. Introdução: Porquê este Livro; Públicos-alvo; Agradecimentos e Formatação; O meu Contributo; PMEs nos EUA e na Suécia 4. Historial: Economia e Vida; Até a Primeira Guerra Mundial; A Revolução Industrial e as Colônias; A Segunda Guerra; O Plano Marshall; 5. Origens da Crise: Saúde é Riqueza; Onde há Riqueza há Piratas; 6. Alguns Efeitos da Globalização: As Teorias e as Práticas do Descontrolo e da Desregulação; Quem Forçou o Descontrolo; Práticas da Globalização Financeira; 7. Efeitos em Portugal e o Sistema Eleitoral: Os Amigos do Rei; O Sistema Eleitoral Antes e Após a TV; Governança; Formação de Cartéis; 8. Agricultura e Agroindústria Artesanal: Agrotecnologia; Aves e Leite; Cultura Biológica; Cultivo de Flores; Frutos; Produção artesanal: Sumo, Vinho, Queijo, Mel, Medronho; 9. Pesca e Aquacultura:Pescado; Marisco; Alga; Flor do Sal; Aquacultura 10.Agroindústria Simples: Fumar e Preparar Peixe e Derivados; Óleos e Azeite; Lacticínios e Queijos; Citrinos; Cortiça; Biodiesel e Etanol; Vinho; 11.Distribuição Alimentar(ex.frescos); Certificação; UE versus Artesão; 12.Essências e Extractos: Cosméticos; Alimentos; Fármacos; Outros; 13.Minérios e Recursos naturais:Argilas e Calcários; Granito e Pedras Ornamentais; Metais em Terra e no Mar; Energia nas Ondas; 14.Serviços: Web-design; Artes Gráficas; Carga Aérea; Escolas-internato Internacionais; Spa e saúde; Reparos Navais de Iates; Recondicionamento e transformação de motor Diesel; 15.Indústria: Cerâmica; Olaria; Cimento; Metais; Fotovoltáico; Energias Alternativas; Sabia Que...; Roupa à medida; Overhaul de TIRs; 16.Turismo: Sol-Praia; Golf; Actividades no Mar; Actividades em Terra; Actividades no Ar; Estágio; Inverno; Caravanning; Conferências; Terceira e Quarta Idades; Cruzeiros;

17.Resumo e Conclusões 18.PS – Post Script? 19.Summary of Thoughts

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17. RESUMO E CONCLUSÕES ‘É mais difícil esmagar um só homem do que cilindrar uma multidão anónima’, W.Weilin, o chinês que enfrentou tanques em Pequim, em 1989.

Há ainda muitos nichos a desenvolver no Sul de Portugal para mercados que pouco sofrem com a actual crise. Está nas mãos das PME exigir outras medidas em vez de subsídios. Nesta região há ainda fileiras rentáveis, sobretudo se orientadas para exportações, e se a sociedade civil substituir o pior da burocracia e a falta de actuação de algumas agências reguladoras¹). Os governos centrais têm sido mal informados pelos lóbis. A justiça é muito lenta, excepção à dívidas ao fisco e à banca. Uns poucos chefes no serviço público criam dificuldades para vender facilidades; estas práticas chegam aos ouvidos dos investidores tecnológicos que não podem mais manipular a contabilidade nos seus países de origem e assim não mais vem para Portugal. Falta adequado coaching ou tutering nas PMEs e imprecisa ou parcial informação aos empreendedores. IAPMEIs de outros países compensam parte destes custos lá. Há insuficiente engajamento e até arrogância entre funcionários de algumas entidades públicas que nem entre si mesmos cooperam. Nas empresas há muita gente competente, esforçada e com adequadas características para melhor atender aos anseios dos clientes nos mercados doméstico e externo. Listámos muitos nichos, em vários sectores, mas o rol é maior. Mostrámos que há recursos naturais, minerais, climáticos e humanos aqui desprezados, alguns pouco publicitados. “A modernidade, promovida pelos governos pós 25 de Abril, apoia-se em imagens de betão armado, carros velozes e roupa de marca”²). Dizem que falta vontade política, mas penso que em alguns casos predomina o fatalismo e a cultura do ‘desenrasquese’, que pode passar por esquemas pouco éticos e a longo prazo prejudiciais aos consumidores finais. E a burocracia é terrível. Os empresários têm medo e portanto não vivenciam a real democracia, ideal que devemos procurar. Indicaria clientelismo, abuso de poder entre os que o detêm, desrespeito pelos direitos constitucionais? Assim a maioria das firmas não tem competitividade. Por outro lado, parte do povo mantido calado e ignorante durante décadas, para além do medo de represálias dos doutores que o controlam, ainda confunde progresso e bem-estar social com caridade³). O mau exemplo vem de fora: “Eles confiam em que seremos justos e contidos... estaremos ao lado da decência... faremos o que é certo”, disse Bush 4). Deu nesta crise! Quem descontrolou que seriam justos, contidos, decentes? Por quê? Quem compactuou? Há um grande esforço em marketing de imagem, p.ex. pelo PNACE, Programa Nacional de Acção para o Crescimento e o Emprego. “Reforçar a credibilidade..;


apostar na confiança... melhorando o contexto jurídico e legal...; assumir os desafios da competitividade...; reforçar o emprego e a coesão social...; reforçar a coesão territorial e ambiental...” 5). O resultado foi o inverso! Haverá um “Estado-espectáculo, que dá a imagem da acção pela própria acção e pensa que o problema... está resolvido porque se adoptaram textos e porque foi instituída uma administração?” 6) Portugal diz estar na UE, usou seus fundos para empreitadas e estradas e não fortaleceu a estrutura para poder competir. O enfraquecido tecido empresarial Português foi então parcialmente externalizado e fragilizado pela acção dos lóbis estrangeiros com o amen de alguns portugueses. Na Organização Mundial do Comércio “proibem-se as exigências de conteúdo nacional,... compromissos de exportação,... limites de importações às divisas internalizadas por uma empresa”7). Quem ganha, quem perde com isto?

Agricultura O Sul tem enorme potencial na agricultura biológica, em azeite, oleaginosas, arroz especial, morangos, citrinos, flores, plantas ornamentais, caprinos e ainda em mel, queijos, doces de frutos típicos como o figo e bebidas como a amarguinha de amêndoas. O importante é regulamentar e controlar o uso de alguns agrotóxicos e muitos aditivos alimentares restritos em outros países. Deve-se reduzir a profusão de intermediários entre o produtor e o consumidor; e introduzir o Export-manager for hire para a agroindústria artesanal. É importante melhorar a interactividade em cooperativas e clusters de empresas complementares para facilitar a distribuição e a exportação. Em Israel um kibutz (cooperativa rural) com cerca de 120 adultos exporta grandes ovos e compra, para o seu uso, pequenos ovos de um vizinho. No Sul da Suécia a mais valiosa colecção de arte do último quartel do século XIX está numa herdade que factura 5 milhões por ano, onde só trabalham a família de 4, e uns poucos temporários poucas semanas por ano. Em Dinard, Norte de França, uma só família, 2 empregados e, no verão 2 estagiários, operam o jardim Montmarin, que atrai 300 turistas(pagantes) por tarde, vende mudas de plantas e jovens árvores, e aluga um espaço para festas com mobiliário em estilo antigo; e tem bom lucro. Em Olhão temos o melhor cultivador/exportador de morangos de Portugal, empresa familiar com uns 10 empregados e temporários. A riqueza gerada na agricultura vem do inteligente uso dos recursos locais, de muito trabalho e paciência em esperar resultados em Posto de trabalho na estufa de Montmarrin, França 6 a 8 anos, como é o caso da biológica.

Pesca e Aquacultura O Sul tem extensa orla costeira, águas de variada salinidade e temperatura, o que permite aumentar a captura de pescado, algas, mariscos, e triplicar a aquacultura


on&off-shore. Sardinha, pescada e salmão atlântico têm grande valor, pelo ómega 3, ácidos gordos essenciais para o funcionamento do organismo. P.ex, 100gr de pescada tem a dose diária necessária de ácidos polinsaturados. Com 5 mil voos mensais a sair de Faro e 11 mil de Portela, ambos à 1,5h de camião de muitas vilas piscatórias, temos competitividade para chegar a 50 cidades Europeias. Por um século a Dinamarca e a Noruega viveram de, e acumularam capital, graças à pesca. O Professor Ernâni Lopes estima o efeito no PIB em 2,6 mil milhões e 91 mil empregos, do potencial da pesca, aquacultura e indústria de pescado. O cluster do mar p.ex. na Holanda, tem cerca de 11.850 empresas. Em 2002, o cluster gerava 190 mil empregos, i.e, a média de 16 pessoas por PME. Se o nosso governo simplificar e descentralizar a emissão de alvarás para a exploração de sea-farms pode-se em vinte meses gerar uns 13 mil empregos. Outra vez, a riqueza gerada na pesca e aquacultura vem do inteligente uso dos recursos locais, muito trabalho e algum tempo em esperar resultados. O que seria do mundo sem os Portugueses Magalhães, Vasco da Gama, Cabral e os milhares que os seguiram mar a fora? E os incógnitos astrónomos, construtores navais, carpinteiros? O grupo empresarial Bensaúde começou com um só barco de pescas. Porquê as condições para o êxito de esforçados portugueses não podem voltar, para nos tirar da crise?

Agroindústria simples O tipo de pescado obtido na orla do Algarve e Alentejo é excelente para filetar e congelar ou fumar. É a conserva mais desejada na Europa do Norte(EN), por evitar aditivos. Os de maior valia são os semi-artesanais. A Dinamarca ainda exporta milhões em pescado. Há dezenas destas linhas de congelação recém-abandonadas na EN, que, com limitado capital, podem ser recondicionadas. Ao considerar as nossas 3000 h/ano de sol, deve-se instalar a unidade de frio que usa painel solar e reduz o custo da energia a quase zero. O Alentejo, próximo a Lisboa e ao turismo do Algarve, pode ter pequenos lacticínios a embalar iogurte em litro e bebidas lácteas e leite em 1,5l. Só ao diferenciar concorrerão com o cartel lácteo. O grande potencial são os queijos com mistura dos leites de vaca, ovelha e cabra, com ervas, mas sem sal. E ainda o queijo fumado, o curado com grainha de uvas, etc. Os lacticínios biológicos têm um grande potencial na EN. O painel científico da Food Safety Authority da UE alertou para o uso dos E 400 a 407 e 411 a 418, existentes em metade dos alimentos industrializados. O Sul tem óptimas condições de sol, água e solo para produzir e industrializar alimentos biológicos. O azeite, especialmente o virgem, é um santo alimento. E das sobras faz-se sabonetes vendidos a bons valores na EN. Pequenos lagares são racionais na produção, mas perdem na distribuição. Isto pode ser compensado com uma parceria com uma pequena rede de distribuição. Como nos lácteos, uma boa relação com os mercados próximos pode compensar o minivolume. Na produção pequena ou juntam-se muitos para ter uma central de envase e transporte ou, como no caso dos vinhos, contrata-se por dia, TIRs que têm uma linha movel


de envase que bombeia o azeite do lagar e o devolve envasado, rotulado e embalado. Difícil mas não impossível. Nas packing-house de citrinos, após classificar os melhores para a exportação, depois para os mercados exigentes e locais, aproveita-se os demais para a indústria de sumos, depois a de doces e ainda se faz rações. Da casca obtêm-se extratos ou mesmo, já com tecnologia, mas sem grandes dimensões, refinam-se em essências aromáticas ou substâncias farmacêuticas. Um dos produtores de substâncias para os cosméticos da Dior é uma família do Sotavento algarvio. O motor inventado por R.Diesel usava óleo vegetal natural, OVN. Um kit para o motor diesel usar restos de óleo, de cozinha ou industrial, custa no máximo 600€. A vantagem é que não é inflamável e pode ser comprado em qualquer supermercado. Há 35 anos rodam 98 mil viaturas na Alemanha com OVN. No Brasil uma carrinha já rodou 300 mil km. Kit OVN com OVN. Quem o trava em Portugal? No Brasil, 90% dos novos carros vendidos são flexfuel, na Suécia 55%. A exportação do etanol da cana sacarina rendeu ao Brasil em poucos anos 100 mil milhões de dólares. Com uns 20 mil euros pode-se obter o equipamento para a fabricação de etanol, a partir do melaço. A demanda na EN aumenta muito a cada ano. Falta-nos uma lei como a dos outros países, a retirar deste combustível não-poluente e nacional, os mesmos impostos usados no poluente crude dos sheiques. Entretanto é produzir e tudo exportar. Já há uma centena de adegas com boa qualidade por cá. Há TIRs com linhas de envase. A pequena produção deve focar restaurantes e exportação para pequenos países. Marca, garrafa e rótulos de vinhos devem ser diversificados, consoante o nicho e o mercado.

Distribuição A distribuição de alimentos na maioria dos antigos 15 da UE está na mão de poucos cartéis. A importação dos exóticos, como kiwi e manga, está com giga-empresas cujo capital é americano, alemão, suíço ou anglo-holandês, mesmo que pareçam Portuguesas. A maioria tem a sede contábil em paraíso fiscal, a sede administrativa nos centros financeiros e a operacional em Londres ou Roterdão. É habitual o citrino do Algarve ou o figo do Alentejo ir para as packing-house em Espanha e de lá voltar para os supermercados cá do Sul. O pão-nosso de todos os dias vem com frequência congelado de França ou Espanha e é cozido em 10min. nos fornos dos supermercados. O pão local, preferido por muitos, contem oito vezes mais sal que deveria. A pastelaria ali pode conter 31 produtos químicos, p.ex. estereoactilato de cálcio e hidracetato de sódio, para destacar o sabor, o aroma e a consistência perdidos com os conservantes. Por uns míseros cêntimos de economia, a giga-distribuição matou o produtor, o distribuidor e o comércio local e, com os aditivos que a indústria põe para aumentar a validade, está a matar-nos; não num dia, mas ao longo de 15 a 20 anos,


como o conceituado New England Journal of Medicine semanalmente publica, em resumos de investigações médicas em todo o mundo. Para dinamizar a agro-economia e não só, precisamos: Usar por cá as regras e os controlos sobre aditivos, usados p.ex. na Dinamarca; Informar intensamente à população sobre os males de chips de batatas, algumas gasosas e muitos conservantes; Proibir a publicidade na TV e não só, dos produtos ainda não proibidos pela UE, mas banidos nos países mais evoluídos da EN; Como em tabaco, destilados, etc, e para compensar os custos hospitalares causados por aditivos, introduzir um imposto específico sobre os alimentos que os utilizam e retirar ou reduzir o IVA sobre os que não os usam, para compensar os cêntimos fatais economizados com a prolongada validade; Acabar com a Autoridade de Concorrência, já que ela não é eficaz e delegar esta função, com metade da verba da AdC, na DECO, com a prévia autorização do Tribunal de Contas a qualquer Merger&Aquisition.

As associações empresariais locais podem fazer como no Norte da Europa, através de palestras na rádio e em clubes, cartas ao editor, etc, solicitar do consumidor boicote aos produtos envenenados e com demonstrações nas escolas fazer os jovens influenciarem os seus pais a escolher os bons alimentos locais. E ainda conversar com os proprietários das franquias locais das redes de lojas e restaurantes para escolherem os alimentos sadios. Podem ainda, nas direcções escolares e em hospitais influenciar a escolha. Ganha a economia regional, a saúde dos cidadãos e o país; como outros europeus já fizeram.

Extractos e essências A mais conhecida alga é o agar, espessante usado nas indústrias alimentar, cosmética e farmacêutica. Há muito no Norte de Portugal, mas pode ser plantada em parte da Costa Alentejana. Um dos caros adoçantes é extraído da esteva, usado p.ex, para diabéticos. Dela também extrai-se um verniz, usado em fármacos e cosméticos para alérgicos. Da alfarroba extrai-se o E 410, um estabilizador usado em gasosas, na indústria alimentar e na cosmética. Da casca dos citrinos vem a base para aromáticos e sabores de geleias, gelados, iogurtes, rebuçados, gasosas; e para a indústria cosmética. Do milho, batata e outras leguminosas extrai-se amido, fermentos e similares, usados numa enorme gama de produtos como pão, pastelaria, biscoito, e na química fina. Da beterraba faz-se etanol e uma centena de conservantes naturais, para a indústria alimentar. Enfim, esteva, rosmaninho, alecrim, alfazema, murta, louro, folha de figo, folha de laranja brava, algas, tudo fornece matéria-prima para extractos e essências vitais para as indústrias.

Minérios e recursos naturais Temos óptimas argilas e calcários no Sul. Uma fábrica de cimento e uma de tijolos ainda exportam algo da região. Temos tudo para exportar azulejos e pisos, mas muito é importado. As boas, médias empresas do sector, não conseguem pagar ao lóbi, por cá necessário. Com transparência e celeridade, exportaremos pisos e cerâmica sanitária.


Os granitos de Monchique, Elvas e Alentejo em geral, são lindos. Somos competitivos no Sul para vender pedras ornamentais aos nórdicos, Israel, Marrocos e Cabo Verde, pouco afectados pela crise. Com o preço já a subir e com as novas técnicas de mineração, muitas das minas serão económicas. Fala-se em salgema, pirites, talco, volfrâmio, zinco, cobre, prata, etc. Mas há uma cabala cá e, ao contrário da tendência no resto do mundo a extracção caiu. Em 20 anos 70%, contra os actuais 50% da energia da UE virá de fontes importadas. Algumas autóctones, p.ex. das marés, necessitam apoio para se realizarem. Há anos, com apoio da UE, um instituto holandês fez na orla da Póvoa do Varzim, testes com um protótipo que resultou bem. Há centenas de oficinas mecânicas em Portugal que podem fabricar e montar estes equipamentos; a patente é pública. Quase 100% do investimento ficaria em PMEs Portuguesas. Há um grande potencial na orla costeira alentejana. EMPREGOS POSSÍVEIS DE CRIAR EM 24 MESES*: postos investimento sector / nicho 13.000 9.000 8.000 2.000 3.500 4.500 2.000 3.000 8.000 11.000 6.000 3.000 3.000 4.000 5.000 3.000 1.000 2.000 1.000 2.000 3.000 2.000 4.000 3.000 1.000 3.500 4.000 6.000 3.000 1.000 4.000 7.000 1.500 10.000 147.000

mínimo mínimo mín/médio mínimo mínimo mínimo mínimo mínimo mínimo mín/médio mínimo mínimo médio médio/alto mínimo mínimo mín/médio mínimo médio médio mín/médio mín/médio mínimo médio médio/alto mín/médio médio alto/elevado mínimo mín/médio mínimo mínimo mín/médio mín/médio

Agrotech, agro-biológica, arroz, tomate, beterraba, frutos Aves, leite, enchidos, mel Flores, mudas, sementes, plantas ornamentais Sumos, queijos, vinhos, medronho/licor artesanais Pescado e marisco, aquacultura Algas, flor do sal, iodo, etc Peixe/marisco preparado/fumado Lacticínios e queijos Óleos e azeite Citrinos, geleias, gelados, licores, vinhos e sumos Biogás, biodiesel, etanol Indústria alimentar regional Essências e extractos Minérios e recursos naturais Atendimento a clientes Webdesign e informática Manutenção e reparos navais Manutenção electrónica Pilotar aeronaves Carga aérea Artes gráficas Escolas internato internacionais Spa e saúde Recondicionamento e transformação de motores Olarias e cimentos Cerâmica, granitos e mármores Pirites e metais Painéis fotovoltáicos e Energias renováveis Roupa à medida Indústria naval, Overhaul de TIRs Turismo no mar Turismo em terra Turismo no ar e Outros Especial: 3ª e 4ªidades,caravanning,eventos,saúde,etc TOTAL *Estimativas baseadas em tecnologia simples


Serviços No Algarve e Alentejo temos imigrantes e ex-emigrantes reformados que falam várias línguas. Há muitos que querem trabalhar 3 a 6h por dia, mesmo em horários para nós inusitados. Em Messines, Alcoutim, Almodôvar, Odemira, há quintas que não se consegue vender e já sem produção agrícola. Às vezes com belas vistas, próximas a boas estradas. Uma curta requalificação e milhares de jovens e maduros juntos poderiam servir a muitas call-centres, com limitado investimento. Um dos bons negócios na Índia, Polónia e Nice é criar e melhorar softwares. A diferença do fuso horário faz sempre alguém estar a trabalhar: quando os hindus deixam o trabalho, passam-no aos parceiros polacos que, quando vão dormir, o enviam para a Califórnia. Ganha-se em rapidez e sinergias para um produto globalizado. Temos no Sul tudo para superar Nice e Polónia: bom clima, junto ao mar, com tradição e história, aeroporto a 2,5h de voo a universidades europeias e de carro a Lisboa e Sevilha. Falta o Sagres Park, pólo de inovação, para microempresários, onde se cria sinergia, integração e novas rotas. Basta o governo ceder a algumas associações prédios devolutos na serra, construir um auditório, café e 80 mini-escritórios. Pelas costas do Sul passam milhares de iates e veleiros. Muitos vêm de TIR da EN para d’alguma marina singrar ao Mediterrâneo, Cabo-Verde ou Marrocos. Temos tradição naval e bons técnicos de manutenção. O trabalho exige muita competência e pouco capital. A manutenção electrónica profissional em barcos de pesca e lazer na orla costeira e não só, em radar, sonar, rádio e GPS, devido à salinidade, exige cuidado. Com longos períodos secos no Algarve e Alentejo, a poeira fina penetra nos Multibancos e caixas registradoras, que superaquecem e assim, exigem mais manutenção. Uma das importantes actividades económicas em Flórida e Canárias é ensinar a pilotar. Centenas de escolas oferecem cursos que chegam aos 15 mil euros e duram 10 a 30 dias. Temos óptimas condições para concorrer: 3000 horas de sol, perto de áreas com diversidade de climas, trinómio montanha, terra, mar/lago; e grande diversidade de tipos de pistas de poiso a preços competitivos. O publicitário da multinacional Norte-europeia prefere vir olhar as provas de máquina, antes de autorizar a rodar, se a gráfica fica perto de aeroporto, praia, centro equestre e/ou campo de golfe. Ele chega na 5ªf. à noite, trabalha 6ªf. e relaxa no fim-de-semana. Já tivemos uma pujante indústria gráfica. Talvez tenha-se que transferir máquinas de Beja ou Évora para Grândola ou Reguengos e atrair uns Alfacinhas para o Algarve. Há muitos armazens vazios pelo interior próximo às estradas IP. E gráficos competentes. Em França e Espanha há institutos de pós-graduação, com regime de internato. Aqui, o clima, a simpatia do povo e a fácil ligação à Europa ajudaria a competir. Há imóveis vazios, p.ex. a 20-30km da costa, usados só no auge do verão. Com parcerias, pode-se criar emprego com, p.ex, Institutos internacionais de gestão ou engenharia e atrair docentes e alunos de toda a Europa. Portugal já é um destino popular entre os estudantes do Erasmus.


Há cada vez mais obesos na Europa. Uma pousada para quem quer deixar de fumar, beber, e comer menos e melhor deve ficar próxima a uma natureza bela, que estimule a longas caminhadas, desporto, reflexão e hábitos saudáveis. Spa para saúde, mais que turismo, é um negócio ainda por melhor explorar no Sul, se forem para PMEs. O preço do crude vai aumentar, muitos profissionais terão que converter os motores de carrinhas e não só. Qualquer oficina do interior, com um cluster para vender os serviços aos nórdicos, holandeses e alemães de férias por cá poderá muito lucrar.

Indústria Em Portugal trabalha-se já em diseconomia de escala, pois um dos principais factores na produtividade é o engajamento e a criatividade de 65% dos trolhas e o maior ou menor índice de intrigas entre os chefes intermediários e os superiores. Isto só é compensado pelos privilégios que algumas indústrias recebem, sejam fiscais ou outros. Temos belos granitos. Podemos serrá-los com modernas serras com dentes de diamante industrial e poli-los com as novas pastas, para exportar a chapa directamente aos armazéns de bricolage ou às obras. As zonas de Elvas e Estremoz já são conhecidas entre os construtores da EN. Os mármores verdes de Vila Viçosa têm um grande potencial. O transporte ferroviário, integrado a portos, poderia relançar este sector. Bem organizada, a exploração da falha Massejana enseja muitas fundições, ao usar o cobre e zinco ali existentes. O investimento, de alguns milhões, para multi-fornos de última geração e fundições não-ferrosas à jusante, tornariam a operação rentável. Mina abandonada em Lousal, Alentejo

O maior parque fotovoltáico do mundo veio para o Alentejo. A Alemanha tem um têrço da insolação anual que nós, e três vêzes mais painéis solares. Necessitamos 900 mil painéis/ano, o que justifica 2-3 fábricas, pois temos algumas matérias-primas, cobre e silício, da nova tecnologia, Cobre-Índio-Gálio-Silício. E os painéis para aquecimento devem ser obrigatórios, como na vizinha Espanha. Nos aeroportos de onde vêm os turistas para o Sul de Portugal abrem-se micro-lojas, onde eles escolhem o tecido e modelo de fatos à medida e pagam um terço. O sensor biométrico toma as medidas exactas de cada cliente, que vão pela net ao cluster do destino. Lá há expositores-robô que recriam, por CAD-CAM, o feitio dele, marca e corta o tecido escolhido. O fato é provado no robô e no dia seguinte faz-se a prova final no visitante, no hotel.

Turismo O Sul de Portugal pode, a curto prazo, aumentar a facturação com Turismo, se mudar os vogais nos Conselhos da Entidade Regional de Turismo, de políticos e construtores para PMEs e associações locais que representem todos


os elos da cadeia de serviços, táxi, restaurante, loja de artesanato, guia, etc. Pois a política determinada por aqueles deu nesta brutal quebra de facturação. É preciso acabar com a CCDR-Algarve, já que ela permitiu construir-se aldeamentos hoje vazios e afastou o ‘bom’ turista, que acabou por reduzir a 30,70 euros o que o turista médio gasta por dia cá, além da habitação, em vez dos 127 gastos p.ex. na Bélgica. Ela deve ser substituída por um conselho de arquitectos cá do Sul, não-políticos, conceituados, que apreciarão projectos com mais de mil m²; aos demais, aprovação automática se respeitarem o código de construção e dois pisos. Já que os empresários não querem os seus egressos, é preciso passar as escolas de turismo do Ministério da Economia para um instituto privado de formação, com um conselho integrado por representantes das pequenas asso-ciações locais de PMEs em todos os concelhos da região. E ter muito mais ‘on-the-job-training’. Há dezenas de nichos por melhor explorar, em terra, no mar e no ar. Boas rotas de gastronomia, vinhos, arqueologia, cultura, património, ornitologia, flores, etc.

O que posso fazer? Sou um típico empreendedor e tenho dificuldades em aceitar colegas que esperam por apoios e decisões que venham de cima. Estou convicto que ao mobilizar colegas e concorrentes, pois eles são também colegas em conhecer tecnologias, em compras e interesses sociais comuns, teremos mais força do que a refilar sós. Penso que não basta apresentar soluções para os de cima, há que fazer, mesmo contra a vontade deles e dos que mandam neles. Como antes descrito, podemos influenciar outros. Em alguns casos podemos, com muito trabalho, obter algum resultado ao tomar medidas inusitadas e, sobre-tudo, surpreender o cliente. Ele fala com outros e um dia teremos a força da satisfação de muitos. Já rodei 8h., ida e volta de Albufeira ao Ribatejo, para falar 8 minutos. Uma só pessoa apreciou o meu esforço – foi o suficiente. Já viajei quase um dia todo para ir, e palestrar numa livraria, para apenas 5 ouvintes, dos quais só 3 compraram livros. Um voltou a contactar-me e falou a outros. Penso que democracia, justiça, progresso económico e social não caem dos céus. Têm que ser conquistados. Uma vez um ex-ministro disse-me, após longo debate sobre políticas erróneas, que “o povo não reclama”. Eu apontei todas as críticas em encontros e comentários em jornais. Ele respondeu: “- Só quando partirem vidros, bloquearam as estradas, como fazem os agricultores franceses, sair nas TVs do exterior é que considero como insatisfação da classe. Os refilões não contam”. Infelizmente onde não é permitida a evolução é necessária a revolução. A história assim o prova. Mas sou Darwiano, acredito que podemos evoluir, se nos esforçarmos. SIM, PODEMOS – JUNTOS! REFERÊNCIAS: ¹) Várias afirmativas resumem capítulos anteriores, onde há referência às fontes, aqui abolidas ²) Wolf, John: Portugal Traduzido, Zaina Editores, Chamusca, 2008, p.14 ³) Pires, Bruno, em comentários a este livro 4) Bush, George H.W: Pronunciamento do Estado da União ao Congresso dos EUA, 28/01/92 5) Neves, Arminda, Zorrinho, Carlos, Laranja, Manuel, Grilo, Rui: A Realidade Portuguesa, Sociedade Portuguesa de Inovação, Porto, 2007, p.75 6) Magalhães, Paulo: O Condomínio da Terra, Almedina, Coimbra, 2007, p.31 7) Peixoto, J. e Tussie, Diana: Tomorow Never Dies? in Governança Global, Konrad Adenauer Stiftung, Rio, 2009, p.107


3. Introdução Porquê este livro? A teoria económica do bom capitalismo diz que, ao haver democracia económica e igualdade de oportunidades para qualquer um entrar no mercado, prevalecerá o melhor. Contudo na prática não há esta igualdade, a não ser em parte do comércio e nas indústrias artesanais. Os oligopólios, os cartéis e os lóbis são uma óbvia realidade. Não desdenho as teorias enquanto processo científico. O dito popular ‘na prática a teoria é outra’ tem como base o facto de a economia não ser uma ciência exacta como a física ou a matemática. As teorias ainda hoje aplicadas na economia são antigas. As teorias que não se baseiem em todas as realidades actuais são uma abstração geral e caduca que, para os políticos, são uma boa forma de enganar os parvos. Nalguns casos o Estado deixou de exercer a função que tinha - defender a maioria, permitir as minorias e orientar as empresas tipicamente monopolísticas. Noutros países ainda o faz; cito os EUA, os nórdicos e Israel, e sectores onde o estado ainda não é um mero comité executivo da elite financeira. Longe de mim o discurso profundo. Em poucas páginas não posso nem tenho competência para o fazer. Desejo sim partilhar reflexões que alguns, como você, poderão não gostar porque enquanto estiveram ocupados a ver TV, não leram Marx, Mill, Friedman, Galbraith nem obtiveram as informações e estatísticas que investiguei em journals, doutorados e bases de dados. O mesmo laissez-faire aplica-se à publicidade na TV, que objectiva, dizem, informar e só influenciar. Mas, na prática cria necessidades onde não existem, mesmo de forma enganosa; e difunde como inovação algo que é útil para o vendedor, não ao consumidor. Enfim, estas páginas não são para professores universitários nem mestres em economia. São para você que vê TV, lê um só jornal mais Bola/Record, feito por jornalistas que não têm tempo para estudar causas-efeitos nem para aprofundar-se nos muitos e complexos nichos económicos e nem controlar a relevância ou composição de dados fornecidos por instituições e empresas que aparentam seriedade. Nalguns países, até mesmo em Portugal, estimativas indicam que 85% das PMEs compra 85% de tudo que gastam (excepto impostos e pessoal)a oligopólios e cartéis e vende 95% do que produzem em mercados altamente concorrenciais. Assim, não podem negociar preços nem condições ao comprar, nem ao vender. Estão presos a um sistema injusto, onde a única liberdade é deixá-lo. Públicos-alvo O principal público-alvo são todos os surpreendidos pela crise: - Professores, profissionais de nível superior, habituados a ler; - Comerciantes, técnicos, operários e outros profissionais que não estão habituados a ler e não imaginavam que a curva mudaria;


- Jornalistas, membros da direcção de entidades, instituições, associações e clubes, enfim opinion-leaders; - Administradores, pequenos empresários, contabilistas, profissionais que actuam directamente no tecido empresarial; - Bancários, que até agora não percebiam totalmente a diferença entre a economia real e a monetária; - Funcionários da Administração Pública, a quem ainda não se mostrou esta diferença e o efeito da globalização; - Cidadãos que crêm a crise só poder ser minorada por decisões no exterior. O Conteúdo O capítulo 4 é um resumo de 3.700 anos de história da economia, em apenas 6 páginas. No capítulo 5 descreve-se detalhadamente a origem da crise, já há muito prevista. No 6, alguns efeitos da globalização e até quanto o valor registado de uma transacção económica corresponde ao que o consumidor a valoriza. P.ex. poucos consideram justo o preço de derivados de petróleo, energia, telefonia, taxas bancárias, sectores que deveriam ser controlados pelas agências do estado, mas não têm opção. Quem pode hoje viver sem electricidade, telefone ou conta bancária? No 7, a origem e as actuais práticas da promiscuidade dos poderes legislativo, judiciário e económico, quase sempre desfavorável ao cidadão. A partir do capítulo 8, que descreve o potencial da agricultura e agro-indústria artesanal, descrevo os sectores que ainda se podem desenvolver no Sul do país. Falaremos sobre mercados pouco afectados pela crise, como frutos, flores e plantas ornamentais para exportação e alimentos biológicos. No 9, descrevo o potencial de exportação da aquacultura, algas, flor do sal e pesca nesta zona. No 10 listo nichos da agro-indústria simples, como lacticínios e queijos, pescado, azeite, citrinos, etc. que pouco capital exige. No 11, descrevo como o quase-cartel da distribuição, originado na UE, tem aumentado o uso de aditivos maléficos à saúde e à sobrevivência de empresas locais. No 12 listo o potencial de extractos e essências que poderiam cá ser obtidos para a indústria farmacêutica, alimentar e cosmética e assim gerar muito emprego nelas e à sua montante. No 13 listo os recursos minerais e naturais ainda por explorar melhor, como argila e calcário, granito e mármore, cobre, zinco e prata, a energia das ondas, etc. No 14 enumero alguns serviços ainda por explorar e desenvolver, como os pequenos reparos navais, a manutenção electrónica, o web design, escolas internacionais, etc. No 15 abordo a indústria, como a produção de cimento, exploração de pirites, metais e gráficas. No 16 listo dezenas de nichos de turismo ainda por cá desprezados e o grande potencial de gerar emprego se o foco passar dos hotéis e aldeamentos para a emoção, a experiência em vez do destino. Finalmente no 17 apresento um resumo e conclusões; o que cada um pode fazer, o que fazer com alguns outros, o que podemos influenciar e o que as associações, clubes e a sociedade civil ainda pode fazer. Agradecimentos e formatação Muito obrigado a Bruno Pires do Algarve 123 pelas dicas e óptima editoração! A Miguel Anacoreta e Rui Vilar pelos óptimos prefácios, ao velho amigo Silvando Cardoso, a Bengt Svensson, sueco que se doutorou aos 75 anos. A Ernâni Lopes,


cujos estudos sectoriais motivaram-me, Claudio Esberard, Armindo Jacinto, Dina Gonçalves; à Hulya Aslantas e Hugo Stumpf da Skal Int’l, David Waisman, José Ferraz Alves, José Carlos Lopes, Vitor Neto, Jaime Riba, Reinaldo Teixeira, com os quais troco ideias. À Paula Cardoso pelo design e aos leitores, pelas sugestões. Uso abreviaturas, como p.ex, km, int’l, TV e dígitos como 7 e 9 em vez de sete e nove. Uso siglas, como ASAE, e EN para Europa do Norte. Não sou catedrático e penso que o leitor as compreende. Não domino o luso-português e escrevo para quem deseja conteúdo, mais do que forma. Penso mesmo que o excessivo foco na linguagem e no meio é prejudicial ao pragmatismo necessário para sair da crise. As referências não seguem cânones. Sei que deve-se iniciar um capítulo em página ímpar e não se deve comprimir linhas. Mas sou defensor da natureza e quero economizar papel. Como opinion-leaders têm pouco tempo para ler, comprimi este livro. Mais exemplos e detalhes encontrará no livro B desta série. Acredito que alguns leitores ficarão por alguns capítulos, do seu maior interesse. Assim, repito às vezes conceitos fundamentais, com outras palavras. Alguns deles, como a descrição de alguns nichos, poderão ser encontrados nos meus anteriores ou próximos livros; são dicas práticas que aprendi ao longo dos anos e penso partilhar. Há sim muita diversidade em cada região de Portugal, mas há também potenciais similares. Repetir é também relembrar. Peço as suas reflexões. O meu contributo Comecei a trabalhar aos 11 anos em 1951, quando o meu pai faleceu. Micro e pequenas indústrias e empresas desenvolviam-se nos subúrbios do Rio de Janeiro, em fundos de quintal e pequenas lojas nas ruas secundárias. O pouco capital investido em máquinas tinha que render e laborava-se até aos domingos de manhã, além de serões e horas extras, a que os trabalhadores concordavam para ganhar um adicional. Ao chegar à Suécia, em 1960, fui lavar pratos às noites para poder estagiar naquilo que gostaria de fazer, ao longo dos dias. Trabalhava aos domingos. Tive vários trabalhos part-time quando frequentei a Universidade de Estocolmo, sempre em pequenas empresas ou entidades semi-públicas, com limitadas verbas. Em 1966 fui trabalhar para um estaleiro naval, que produzia ainda camiões todo-terreno para o transporte de minérios e grandes volumes e também máquinas para a indústria florestal. A concorrência com outros estaleiros na Europa e a queda nas vendas de cargueiros e reparos, levou-o a investir em supertanques, que exigiram um enorme investimento numa doca-seca. Mais uma vez, a limitação de capital obrigava-nos a fazer dois turnos e só de 0 a 5h ele encerrava, com um só turno aos sábados. A manutenção era feita aos sábados à tarde, às vezes entrava pelo domingo de manhã. As boas soluções de engenharia naval e produção foram copiadas pelos japoneses e pouco mais tarde encerrou de vez. Fui então consultor de uma empresa de embalagens onde a meta era também elevar a produtividade o mais rápido possível, pois ela era essencial para a PLM, que estava num sector de luta ferrenha para aumentar sequer 2% do volume das vendas. O preço era ditado pelo mercado, às vezes pelo cliente e tínhamos que racionalizar a produção, economizar energia, eliminar desperdícios, elevar o desempenho de cada um, para obter algum lucro, reinvestido em instalações e tecnologia. Os dividendos eram inferiores aos dos fundos, pois era no


aumento do património e das acções em bolsa que estava o ganho do investidor. Ao manter as acções por cinco anos, o investidor tinha uma redução no IRS, de 30%. Era comum o avô transferir ao filho e/ou ao neto as suas ações mantidas por 30 anos. As AG, Assembleias-Geral das firmas, eram a confraternização anual dos accionistas que lá se conheceram, lá investiam cada vez mais, lá sentiam-se como numa grande família. Lá debatiam por horas o presente e o futuro do sector e da firma, para satisfação dos patrões e membros de Conselho de Administração, que assim viam o engajamento dos demais accionistas e recebiam dicas de outros sectores e de possíveis novos clientes. Raramente falavam mais que 30 minutos, mas ouviam por mais 200. E no almoço vinham-nos agradecer e pedir mais dicas. Os fundadores e os seus filhos muitas vezes cumprimentavam cada accionista pessoalmente, indepen-dente do tamanho do investimento, quando entrávamos na AG. Quando fui consultor nos EUA, em 1975/6, a situação era similar. As grandes empresas precisavam aumentar a sua competitividade. A sua publicidade era técnica ou prática, com foco em localização, qualidade e preço. Muito aprendi na Clark, Corvette e Kentucky Fried Chicken. Nesta última fui privilegiado ao cumprimentar o seu fundador e proprietário,The Colonel, quando um dia veio à nossa pequena sala saudar cada um com um caloroso “bem-vindo, a minha casa é sua”, ao bom estilo sulista. Sentíamo-nos todos como numa grande família, onde o cliente realmente era o rei e os colaboradores como artesãos, honrados em servir a clientes que sempre aumentavam. Perder $ num trimestre ou num ano, era visto como o preço que se pagava ao não consumir o leite da vaca, mas sim alimentar bezerros para no ano seguinte ter maior património e ainda mais leite. Mas perder um cliente era tragédia. PME nos EUA e na Suécia Quando voltei a trabalhar só com PME, em 1979, sentia imenso prazer em dialogar com os proprietários, conhecer a origem e a forma como a empresa cresceu. Em ambos também a labuta diária era de 10 a 12 horas, somando-se ao menos 1 a 2 dias por semana de longas viagens a visitar clientes ou fornecedores, presenciar uma reunião nocturna numa associação n’alguma distante cidade e, num sábado, conduzir mercadorias na carrinha da firma. Não esqueço o idoso dono da BEVI, uma PME sueca de motores eléctricos, que se recusava a vendê-la para as gigas ABB ou Siemens. Ele era sempre o primeiro a chegar e o último a sair. Controlava ele mesmo cada motor e assinava com os demais, no controlo da qualidade, o que exigia a sua presença na fábrica pelas 05h45 da manhã. Quando perguntei uma vez por que motivo ele não delegava aquela função, na avançada idade, respondeu: ‘ – O motor leva o meu nome, o cliente confia em mim’. O foco era então Economizar nos custos, Inovar para o cliente, Reinvestir e melhor concorrer. Após o Encontro do Meio-Ambiente em Estocolmo em 1972 o Economizar inclui também seleccionar material sustentável e usar energias alternativas após o referendo de 1980, no qual a Suécia decidiu desmontar as centrais nucleares até 2010.


Isto tudo marcou a minha vida: esforço, probidade, humildade, orgulho profissional. Tive depois o privilégio de trabalhar em doze países, para entidades como UNESCO, BID, World Bank, empresas americanas de consultoria, governos. Muito aprendi com os 297 clientes e assim, antes de deixar este interregno terreno, desejo partilhar com os futuros líderes deste maravilhoso Portugal COMO SAIR DA CRISE. Acredito pois que este simpático e esforçado povo não tem culpa dos erros dos seus antepassados; nem das imoralidades cometidas por cá e ilegalidades em Davos, Bruxelas e EUA e que causaram esta crise. Mas dela vamos sair; se permite o plágio,

YES WE CAN – TOGETHER! Para reflectir 1. Porquê abandonámos a agricultura? Quem ganha e quem perde com isto? 2. Porquê as empresas portuguesas de agro-indústria foram adquiridas por gigas internacionais? Quem e quando este processo foi acelerado? 3. Quais famílias mandavam em Portugal antes do 25 de Abril? E depois? 4. Após o 25 de Abril temos liberdade. Porquê votámos cada vez menos? 5. Porquê a justiça é tão lenta? Quem ganha e quem perde com isto? 6. Temos hoje mais carros, televisões e brinquedos, como telemóveis. Somos mais felizes, temos mais saúde, temos mais tempo para conviver? 7. Porquê, apesar dos alertas da crise que se avizinhava a UE nada fez para se preparar? Quem ganha e quem perde com esta crise? 8. Porquê, apesar de alertado para os nichos que fariam Portugal evitar a crise, o ex-ministro da Economia não os apoiou? 9. Porquê há tanta oposição ao regionalismo em Portugal, forte nas nações com diversificadas culturas, como a Alemanha, Suíça e Itália? Este debate desenvolvo nos volumes B e D.



Jack Soifer Vítor Neto, Presidente da NERA, Associação Empresarial do Algarve

Este livro vem justamente mostrar trilhos para uma nova economia e para a sustentabilidade ambiental e económica. Emílio Rui Vilar, Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian

Soifer é, sem dúvida, nos jornais portugueses, uma das pessoas que mais desafia o «politicamente correcto». Defende as PME e explica porquê. Acha que temos corrido demasiadamente atrás dos cânticos às grandes empresas. Explica porquê e eu concordo. Fazem-nos falta estes escritos simples, directos que às vezes nos parecem ser «evidencias já ditas»... Miguel Anacoreta Correia, Conselheiro de Estado

COMO SAIR DA CRISE - A

O Jack é um trabalhador de mil profissões e infinitas vivências. Isso permite-lhe um olhar diferente sobre negócios e actividades simples que nos passam ao lado, mas que devem merecer a nossa atenção.

COMO SAIR DA CRISE - A Trilhos para a nova economia de Portugal

A AL LG GA AR RV VE E,, A AL LE EN NT TE EJ JO O Jack Soifer


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