Como sair da crise B

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Jack Soifer Portugal é o melhor país do mundo, tem o melhor vinho, a melhor gastronomia, exuberantes e variadas naturezas, cultura muito rica, com tradições como moura e celta, judia e templária, afro-americana, asiática, indígena e ária. E, sobretudo, o povo mais simpático do mundo! É por isto, pelo amor a este povo, que partilho a minha experiência e aponto caminhos neste momento difícil. Excerto do cap.17

As propostas de Jack Soifer formam um conjunto equilibrado para o reforço da dinâmica social e económica de Portugal. Enriquecem as opções dos agentes sociais, políticos e económicos! Francisco Mendes Palma, Director, Espírito Santo Research Sectorial

Jack Soifer partilha as lições que aprendeu ao longo da vida, em dezenas de países e organizações internacionais. Ele lista boas práticas e potencialidades das PME’s que acrescentam valor na cadeia de produção; ajudam a qualificar recursos humanos; permitem novos investimentos e valorização das marcas; trazem inovação. Mendo Castro Henriques, Presidente, Instituto da Democracia Portuguesa

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COMO SAIR DA CRISE

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COMO SAIR DA CRISE Trilhos para a nova economia de Portugal

Baixo Tejo e Beiras Jack Soifer 11/01/2010 18:46:30


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A: Algarve e Alentejo, Lisboa, Out/09 B: Baixo Tejo e Beiras,Lisboa, Jan/10 C: Centro e Cumes D: D o u r o e D

COMO SAIR DA CRISE, B Trilhos para a nova economia de Portugal

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ÍNDICE

1. Prefácios 2. Executive Summary 3. Introdução: Porquê este Livro; Públicos-alvo; Agradecimentos e Formatação; O meu Contributo; PMEs nos EUA e na Suécia 4. Historial: Economia e Vida; Até a Primeira Guerra Mundial; A Revolução Industrial e as Colônias; A Segunda Guerra; O Plano Marshall; 5. Origens da Crise: Saúde é Riqueza; Onde há Riqueza há Piratas; 6. Alguns Efeitos da Globalização: As Teorias e as Práticas do Descontrolo e da Desregulação; Quem Forçou o Descontrolo; Práticas da Globalização Financeira; Vantagens Perdidas 7. Efeitos em Portugal e o Sistema Eleitoral: Os Amigos do Rei; O Sistema Eleitoral Antes e Após a TV; Governança; Formação de Cartéis; 8. Agricultura e Agroindústria Artesanal: Agrotecnologia; Aves, Carne e Leite; Cultura Biológica; Cultivo de Flores, Plantas; Frutos; Produção Artesanal: Sumo, vinho, queijo, mel, licor 9. Agroindústria Simples: Fumar e Preparar Peixe e Derivados;Óleos e Azeite; Lacticínios e Queijos; Frutos; Cortiça; Biodiesel e Etanol; Vinho; 10. Bom Progresso, Nova Capital: Exemplos; Onde, Quando e Como 11.Distribuição Alimentar, Comércio; Certificação; UE versus Artesão; Comércio; Melhorar o Comércio; Marketing de Nicho; Ajustes legais 12.Essências e Extractos: Cosméticos; Alimentos; Fármacos; Outros; 13. Serviços: Web-design; Artes Gráficas; Carga Aérea; Escolasinternato Internacionais; Spa e saúde; Ortodentia e saúde; Reparos Náuticos de Iates; Recondicionamento e transformação de motor Diesel; 14. Turismo: Sol-Praia; Golf; Actividades no Mar; Actividades em Terra; Actividades no Ar; Estágio; Inverno; Caravanning; Conferências; Terceira e Quarta Idades; Cruzeiros; 15.Indústria: Cerâmica; Olaria; Cimento; Metais; Fotovoltáico; Energias Alternativas; Sabia Que...; Roupa à medida; Naval;

16.Resumo e Conclusões 17.PS – Post Script? 18.Summary of Thoughts 19.Frases Soltas

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12. Essências e Extractos Durante séculos usámos produtos naturais, como sal, açúcar, pectina e o sol, para conservar os alimentos. Depois vieram extractos de produtos naturais, como o vinagre para p.ex. pickles, ácido cítrico p.ex. em geléias ou o sódio láctico, feito do ácido láctico, para alongar a validade das carnes, p.ex. de frango. Com etanol (álcool) embriagava-se até a morte os pobres micro-organismos... Depois veio a pasteurização para queimá-los vivos, curtos impulsos eléctricos para electrocutá-los, etc. Na II Guerra Mundial, para alimentar os soldados em distantes campos de batalha, ampliou-se o uso dos enlatados. Para não haver reacção dentro da lata ou com o metal, não bastava pasteurizar o produto e começaram os aditivos químicos.

Para alimentos Hoje não sobreviveriam as giga-empresas sem uma grande bateria de extractos, com frequência a base para a química fina que pode chegar a 30% do custo dos alimentos industrializados. O da mais conhecida alga é o agar, espessante usado nas indústrias alimentar, cosmética e farmacêutica. Ela é abundante no Norte de Portugal, mas poderia ser plantada em parte da Costa Alentejana. Um dos adoçantes mais caros é extraído da esteva, usado p.ex, para diabéticos. Dela tambem extrai-se um verniz natural, usado em fármacos e cosméticos para alérgicos. Da alfarroba extrai-se um pó usado principalmente como establizador em quase todas as gasosas, e tambem na indústria alimentar em geral e na cosmética. Da casca dos citrinos extrai-se a base para aromáticos e sabores usados p.ex, em gelados, iogurtes, geleias, rebuçados, gasosas. E ainda na indústria cosmética. Do milho, batata e outras leguminosas extrai-se amido, fermentos e similares, usados numa enorme gama de produtos como pão, pastelaria, biscoito, alem de ser a base para parte da química fina. Já vimos que da beterraba faz-se melaço e dele, alem de etanol, pode-se retirar uma centena de conservantes e não só, usados na indústria alimentar. Quase sempre os extractos são feitos por dissolução, p.ex. em água, álcool, ou outro diluente mais específico, e posterior desidratação ou centrifugação, para separar o líquido diluente do extracto desejado. Outro processo é o de picar ou moer o vegetal ou a sua casca e cozinhar em auto-clave, para separar o produto desejado. As nossas bisavós faziam infusões e chás; foram as inventoras dos processos actuais. Mas não havia então patente e os espertinhos do século XX nomearam a panela de pressão auto-clave, patentearam tudo e desde as nossas avós pagamos nós a eles o que eles deveriam pagar à elas, que nos teriam deixado muitos milhares de €€. Em alguns casos a técnica é complexa, com diluentes compostos e separam-se os extractos em colunas de cracking, como em refinarias, a diferentes temperaturas


ou pressões. Só estes exigem equipamentos e superespecialistas. O investimento necessário para obter 70-80% dos extractos potenciais do Sul de Portugal é muito limitado. Mas é um trabalho minucioso, exige atenção e disciplina. Uma técnica intermediária, típica de PME, é a liofilização, onde se prepara o café em auto-claves, resfria-se e depois congela-se para separar os grânulos de café, da água. Este processo mantém o aroma integral, dispensa qualquer aditivo e facilita ao consumidor ao apenas derramar água fervente na xícara, como o questionado Nescafé. Como faz cerca de uma tonelada de cada vez, pode-se a cada dia preparar-se dez mil frascos de cada um dos oito aromasabores mais solicitados, em vez de impingir ao mercado um só padrão. Ou, o que é pior, adicionar químicos em sachés para cada expresso, que encarecem o produto e estragam papeis especiais e ainda desperdiçam os recursos das nossas florestas. A liofilização é usada ainda no preparo de sopas e legumes. Com frequência os extractos são enviados às poucas empresas de química fina ou directamente às cosméticas e farmacêuticas para refino ou sintetização, i.e, do extracto obter outras substâncias. Esta sim, é uma tarefa que exige grandes investimentos. Assim, numa primeira etapa, ou faz-se uma parceria com algum dos grandes compradores, desde o início, ou vai-se à busca dos que estão em países diferentes, como a Hungria, Áustria, Israel, Dinamarca.

Para cosméticos Esta indústria usa muitas substâncias obtidas de extractos. Já mencionamos agar, como base de espessantes, algas para corantes, ervas, frutas e cascas para aromas, etc. Para pessoas com peles sensíveis ou pré-dispostas a alergias ou sítios delicados, como os cílios, estas indústrias voltam-se à substâncias naturais, apenas refinadas. P.ex. muitos batons usam o extracto de uma alga abundante no Algarve, para a cor encarnada. Os bons perfumes usam o extracto refinado de pau-rosa, para fixar a grande gama de aromatizantes nele mesclado. Esteva, rosmaninho, alecrim, murta, alfazema, louro, folha de figo, folha de laranja brava, tudo fornece matériaprima. Quem os aproveita em Portugal são, em geral, estrangeiros ou emigrantes retornados, que não se sentem diminuidos com uma actividade rural simples. E ganham muito bem. Pois estes materiais estão em crescente demanda, mesmo em crise económica – talvez até justamente nela, pois é quando, por tensões geradas pela economia, as alergias e sensibilidades afloram com mais frequência. Como já mencionado, é fácil e barato investir numa unidade para obter extractos. Mas é importante ter bons contactos com ao menos 2 diferentes


compradores, para não ficar na mão de um só, em geral, muito grande. Evitar, a todo custo, trabalhar com intermediários, se bem que é difícil obter as certificações necessárias para tornar-se fornecedor directo das giga-empresas de química fina. O mesmo acima aplica-se ao refino e à sintetização, processos mais complexos.

Alecrim A serra da Arrábida é famosa pelas suas paisagens e flora endémica, mediterrânica. O alecrim é lá profuso, do sopé ao Alto Formosinho. É um arbusto perene e aromático, florido quase todo o ano. É estimado há milénios ¹). O Rosmarinus officinalis é da família das labiadas, com caule lenhoso, ramos flexíveis e folhas lineares e persistentes, cuja face superior é verde e a inferior branco-cinza. Pode atingir 2m. de altura, sobretudo nas zonas abrigadas, p.ex, a face sul da Arrábida; há em todo Portugal. A flor é azul clara, às vezes violácea. Tem cheiro à cânfora e incenso e sabor aromático. A planta dá-se bem em solos alcalinos, pedregosos, secos e soalheiros; e aceita o da horta. Contém 1,5 a 2,5% de óleo, ácidos orgânicos, cânfora, saponósidos e outros compostos. O infuso de alecrim dá uma bebida estimulante, a evitar por quem tem insónia. Usa-se o óleo em aromaterapia, cosméticos e banhos de vapor.

Para fármacos P.ex, da alga vermelha Porphyra Umbilicalis Vermiculosa (nome complicado, será substâncias para fluidificar o sangue e para evitar colesterol. São medicamentos com constante uso, em constante crescimento, pois a população da UE está cada vez mais obesa e com doenças cardio-vasculares. Ela cresce muito bem cá pelo Centro/Sul e Setúbal, onde temos boa salinidade e uma elevada temperatura média na água. Já mencionei o agar e quase todas as ervas da nossa flora. Reitero que o investimento necessário na 1ª fase de produção de fármacos, extractos e, em alguns casos, substâncias básicas, é limitado, com técnica já universal.

por isso nós não a querermos trabalhar?) extrai-se

Erva cidreira ou melissa É uma menta perene, mediterrânica. O caule, quadrado e pubescente, forma tufos ramificados. A folha é larga, ovada ou romboidal, com margens serradas. A flor é pequena, esbranquiçada, hermafrodita, atrai abelhas no Verão. O óleo essencial é um terpeno; ela tem tanino, resina e ácidos e aroma a limão. É usado em perfumaria e cosmética; em salada, confeitaria, molho e licor ¹). A melissa é anti-espasmódica, sedativa, carminativa, digestiva, anti-séptica, sudorífera, tónica, anti-viral, hipotensora, diurética, etc. Serve para insónia, melancolia, palpitação, epilepsia, enjoo, flatulência, problemas biliares, mau hálito taquicardia, cólica. É usada em infusão, suco, cataplasma, compressa, gargarejo, banho, tintura ou xarope.

Para a produção de extractos Em duas franjas litorais crescem as algas, consoante as marés: • Zona inter-mareal (entre marés), entre o nível da maré-cheia e o da baixa. Fica a descoberto na maré baixa, mostrando todas as espécies que se têm adaptado à alternância entre submersas e depois expostas ao ar, e novamente a ser cobertas pelo mar. Aí crescem os Fucus, as Chondrus (Musgo) e a Porphyra (Nori).


• Zona inferior, abaixo da maré baixa com as grandes algas. Aqui vivem as Laminarias (Kombu), Himanthalias (Esparguete), Undarias(Wakame),Palmarias(Dulse)e Gelidium(Agar). Nos vários níveis de profundidade as algas desenvolvem cores para optimizar a função clorofílica; são pigmentos naturais ²). É colher, secar ao sol no inverno, meia-sombra no verão, por 16 a 30h para ficar com 15% de humidade e só. Da esteva, rosmarinho, louro, figo, folha e casca de citrinos, casca de uvas, extrai-se uma larga variedade de substâncias usadas em fármacos. Há ainda o mercado dos produtos naturais. A raiz do crizântemo selvagem tem retenona, que afasta insectos. Os chás de Lucilima e Erva Príncipe são muito populares na Inglaterra e Alemanha. Há muitas outras técnicas.

Alfazema ou lavanda É a mesma labiada, um nome do árabe o outro do latim. Há a Lavandula latifolia (folhas maiores) e a L. stoechas (rosmaninho). Na Provence cultivam a L. Intermedia ou lavandin, um híbrido das duas, pelo maior rendimento na extracção do óleo ¹). A alfazema é talvez a mais apreciada das aromáticas, usada em cosmética e aromaterapia. É das regiões quentes, sendo o rosmaninho espontâneo em Portugal. A flor é azul/lilaz e a folha verde/cinza, longa e fina. Tem óleos voláteis, cumarina, cineol, linalol, eucaliptol, cânfora, taninos, flavonóides, etc. É anti-espasmódica, anti-séptica, estimulante, diurética, cicatrizante, sudorífera, insecticida, desodorizante, anti-reumática e descongestionante. Serve para quase tudo: dor de cabeça, gota, nervosismo, má digestão, acne, bronquite, insónia, picada de insecto, queimadura solar e nevralgias. Com folha, flor, caule e óleo essencial faz-se infusão, tintura (com mercurocromo), cataplasma, compressa, fumigação, massagem. Usa-se em salada, guisado, doce de fruta, gelatina. O azeite e vinagre são exportados da Itália.

Outros A riqueza dos países sem recursos naturais, como a Suíça, Dinamarca e Israel, veio da conservação e transformação de alimentos. Cedo perceberam a tendência de racionalizar a confecção de refeições, seja em casa, restaurantes, cantinas, etc. Há décadas exportam ovo em pó ou líquido pasteurizado. Em 1994,104 avicultores portugueses formaram uma empresa para acrescentar valor ao ovo. Hoje ela exporta ovo líquido, gema e clara pasteurizados, fios e trouxas de ovos ³). O investimento é reduzido, a técnica é simples, mas exige disciplina e constante controlo do processo produtivo. A tagatose, ao contrário do aspartame e ciclamato, perigosos adoçantes, é natural e, em geral, um desperdício do sôro, resíduo na produção de lacticínios4). De fácil fabricação, precisa apenas certificação e autorização para substituir aqueles venenos e exportar para os mercados que já os evitam, como os nórdicos e holandês. Em muitos dos relatórios da SIAL, a maior feira alimentar do mundo, há exemplos de tendências de um dos maiores sectores para a exportação portuguesa. Faz-me impressão o quanto os nossos concorrentes usam da informação dos futuros mercados, investigação que na última década tem correspondido à realidade 5). Nichos como essências e extractos, para a


indústria e para grandes restaurantes, podem mais facilmente serem atendidos pelas PME do que pelas gigas. É muito rentável e nós temos óptimas condições. Há que ler o óptimo trabalho de Miguel Boieiro sobre as Aromáticas e Medicinais! Ele cita p.ex. o Samouco para combater o catarro; a Perpétua-das-areis é dezodorante; a Perpétua-roxa é expectorante. A indústria cosmética aprende com os avós. O chá em pó de boa qualidade é liofilizado, isto é, após preparado em autoclaves, congelado em câmaras báricas, em vácuo, o que resulta em grânulos secos. É um investimento para uns trezentos mil euros, exige muita disciplina e constante controlo, mas de tecnologia simples. Ali pode-se fabricar essências (chá granulado) das ervas mais cobiçadas na EN, como a Lemon Verbena e Erva Príncipe 6). Da esteva extrai-se uma laca usada na indústria cosmética. Da amêndoa, óleos usados nas indústrias cosmética, alimentar, farmacêutica e não só. Do excesso de gordura retirado do porco abatido, faz-se óleo animal para combustível naval. No total, estimo a curto prazo 3 mil empregos nestas indústrias e os seus fornecedores, no campo e no mar. Essências fornecem valor acrescentado à agricultura

Calaminta Do termo, cal do grego boa, ela brota em terrenos pedregosos e ermos. Pequena, só a vemos quando floresce ou pela fragrância ¹). A labiada Calamintha officinalis é aromática e já foi usada contra a lepra. É perene, ramificada, herbácea, lenhosa na base, chega a 30cm. A folha é simples, dentada ou serrada, peciolada e vilosa. A flor é rosa ou púrpura, cálice erecto em cujo lábio inferior tem três lóbulos semicirculares. Ela tem um óleo canforado e volátil, enzimas, ácidos fenólicos e resinas. É tónica, excitante, expectorante e sudorífera. Usada em aerofagia, espasmo, cansaço, dor reumática, bronquite. A essência é usada em perfumes, cosméticos e desodorizantes. Não é pecado o capital privado financiar a Academia em áreas do seu interesse. Mas será ético uma entidade, p.ex. o laboratório da universidade, receber fundos de uma indústria famacêutica e tempos depois aceitar do FDA, Food & Drug Agency nos EUA, a tarefa de analisar os resultados clínicos dum medicamento daquela indústria? Quem permite o uso de algumas substâncias já condenadas por muitos investigadores, médicos e farmacêuticos? Pode isto gerar a enorme burocracia que trava a melhor utilização de substâncias naturais? REFERÊNCIAS ¹) Boieiro, Miguel: Plantas Aromáticas e Medicinais, (no prelo) Poceirão, 2009 ²) Sáa Fernandes, Clemente: Algas do Atlântico, Algamar, Pontevedra, 2002, p.26 ³) Uma Homenagem aos que Fazem Acontecer, in Expresso Economia 30/05/09, p.5 4) A Grande Pequena Empresa – Quem na UE Mata as Nossas Empresas?, in Jornal de Negócios, 03/10/06 5) http://www.sial.fr/ExposiumCms/cms_sites/SITE_508003/ressources508003/sial-news4-fr-ec.pdf 6) Exportação de Produtos Agrícolas in OJE, 10/03/09, p.5


4. Historial Regras éticas escritas existem a 3700 anos, antes mais respeitadas que hoje, apesar da assim chamada democracia representativa. Como saimos da selvageria e chegámos à actual civilização? Como chegámos a UE? Economia e Vida No Código de Hamurabi – talvez o mais antigo conjunto de leis já encontrado, escrito pelos 1700 a.C. e no Velho Testamento, os artesãos, hoje pequenos empresários, responsáveis pela prole e escravos, tinham obrigações com o seu reduto e com o meio ambiente. O Talmud, livro sagrado dos judeus, descreve como o chefe da família deve cuidar das mulheres, filhos, escravos e animais; até das plantas, árvores, terra e água. Pois o chefe recebeu de Deus não a doação desses recursos para enriquecer e desfrutar, mas um empréstimo, para desenvolver e com parcimónia usar só uma parcela dos frutos. Os grãos colhidos não eram só para o pão para a família, mas ainda para os necessitados e parte para voltarem ao solo para a colheita seguinte (Êxodus 2). Ao semear, os melhores grãos íam para o solo. Não seguir este dogma era um crime contra o futuro dos seus filhos e das crias das rezes. E se as fontes da água, vida, não fossem protegidas, os filhos pagariam pelo pecado e ele à Deus¹). Durante séculos o homem pouco sabia sobre o meio-ambiente. Foi Linné e Humbolt que botanizaram o mundo, sucedidos por Academias de Ciências da Europa. Em poucos séculos muitas espécies animais e vegetais foram dizimadas, o deserto do Sara expandiu-se, a desflorestação reduziu a qualidade de vida para todos; o CO², cigarros, o smog do carvão e crude cada vez mais usado em indústria, transporte e casas, os resíduos tóxicos nos rios e lagos, mataram milhões e provocaram asma e outras doenças do século, em muitos milhões. Até a Primeira Guerra Jean-Jacques Rousseau e outros filósofos do século XVIII diziam que o ser humano é em princípio bom e racional ²). Adam Smith teorizou que o homem é racional, compra o melhor, pelo melhor preço, diante de várias alternativas. Na era pré-revolução industrial ou logo após, muitos artesãos ofereciam os seus serviços e produtos; a demanda era de poucos patrões e, presume-se, racionais nas suas escolhas. As teorias económicas baseavam-se no ‘ceteris paribus’(em latim, “em nada mudando”). Nos séculos XVIII e XIX, as alterações em produtos ou serviços eram mínimas. A complexa, ineficiente e lenta caldeira a vapor, p.ex. das primeiras locomotivas, só foi trocada por motor a explosão 60 anos depois. O mesmo ocorreu com os teares movidos por polias e correias. As empresas eram locais; o frete caro e a necessidade de contacto com o cliente raramente as levava além da sua região. A tecnologia era do artesão ou mestre. O cliente confiava no fabricante, que dependia da satisfação daquele (passa-palavra) para vender mais. Assim, a racionalidade na escolha do produto ou serviço e o ceteris paribus funcionou. Daí a teoria do laissez-faire, laissez-passer, onde o governo não governa, só deixa


fazer o que as pessoas querem, deixa passar as mercadorias e pessoas sem nada cobrar. Vale tudo. Apenas o não matar nem roubar era respeitado. No fim do século XIX, inspirado pelos exitosos colonos, garimpeiros e cow-boys do avanço pelo Oeste Americano, muito à custa da vida dos indígenas e pacatos pioneiros antes lá chegados, veio a prática do o que conta é o resultado final e criminoso é só quem é condenado. O vale-tudo era facilitado pela dificuldade das comunicações com distantes localidades onde só o telégrafo às vezes à superava. Em geral os gangs eram mais fortes e melhor armados que os xerifes. A Europa pirateou as Américas e Áfricas os séculos XVII e XVIII. Quando Napoleão invadiu as nações, acabou por levá-las a entre si dividir a África, para unidas vencê-lo. Portugal e Espanha já tinham dividido a América do Sul. O Europeu, ao invés de matar o povo local, fê-lo trabalhar para lhe fornecer matérias-primas e metais. A pirataria passou a escravizar e o saque, do mar, foi para as riquezas ainda em terra. O ideal de Rousseau levou à independência dos EUA em 1776, à queda da Bastilha em 1789 e à liberação dos países Sul-americanos nas décadas seguintes, incluindo a do Brasil em 1822. Todos incluíam Liberdade, Igualdade, Fraternidade e nasceu então o movimento para libertar os escravos. Os filhos das suas elites iam estudar para a Europa e regressavam com ideias reformistas. O British Empire era mantido em África e partes da Ásia sob o controlo de muitos oficiais e empresários enviados pela Rainha. França, Holanda e Alemanha copiaram com sucesso este modelo. Assim veio a teoria económica do Imperialismo, onde o Império oferecia concessões para os amigos da corte explorarem os países dominados com a tecnologia das armas, e pagarem um tributo à coroa. Governar era laissez-faire aos amigos, laissez-passer entre colónias e sede, e entre países amigos.

A Revolução Industrial e as Colónias A libertação dos escravos nos EUA e a Guerra da Secessão dividiu a economia Norte-americana. Caldeiras e locomotivas à lenha, mais tarde a carvão, obrigaram à racional exploração das minas de carvão e metais, siderurgias, serrações e fábricas; surgiram prédios de tijolo e pontes de betão onde já não havia madeira. Isto trouxe uma nova onda de progresso industrial. Entretanto o laissez-passer trouxe para o iluminismo e as ciências exactas do velho mundo milhares de estudantes, que regressaram para as suas terras com habilidades para aproveitar a riqueza de matériasprimas e mão-de-obra lá existente. O início do século XX foi muito rico em invenções e aperfeiçoamentos técnicos, que facilitaram a produção de bens de consumo a preços acessíveis a uma classe média cada vez maior. Os filhos dos comerciantes e proprietários rurais, com os seus conhecimentos implantaram oficinas, onde os artesãos da fundição, mecânica, electricidade, carpintaria, eram desafiados a copiar máquinas vistas nas feiras. A pirataria passou das riquezas minerais e naturais para as intelectuais. A cópia era depois melhorada, a baixa velocidade da produção compensada com mais horas de trabalho. O rápido crescimento da população na Europa, as suas limitadas terras aráveis e a concentração dos meios de produção em poucas mãos reforçou as condições para o aparecimento de ideias e teorias económicas, como o Marxismo. Karl Marx dizia, simplificado, que só existem dois meios de produção – o capital e o trabalho. E o capital é o lucro do trabalho realizado por outrem ³). Marx apregoava o socialismo baseado na declaração francesa do Liberté, Égalité, Fraternité e “de cada um consoante a sua capacidade, para cada um consoante a necessidade”. Isto confron-


tava com ‘o que conta é o resultado’, máxima Americana. Alguns reis crédulos ou tirânicos no início do século XX provocaram caos nos seus países: na Alemanha, Rússia, Espanha, Portugal. O assassinato de um deles em Saraievo, hoje Bósnia, provocou a primeira Guerra Mundial, 1914-18. Milhões de europeus morreram no início do Século XX. Para vencer uma guerra onde as invenções eram testadas com verbas estatais, a Europa deixa o liberalismo e volta a governar. Na Rússia instala-se o comunismo em 1917. Nos EUA o motor a explosão é aperfeiçoado, o que permite melhor explorar as suas riquezas, numa agricultura extensiva em terras férteis, e nas minas. Os Europeus usam essas invenções nas colónias de África. Mas precisa-se por todo o lado de capital para máquinas e instalações e os bancos progridem com o direito comercial mais funcional, bolsas com claras regras e procedimentos e governos mais controladores. Os investimentos eram feitos próximo às fontes de matérias-primas, aos portos importadores ou às cidades prósperas. Havia muita concorrência, mas a demanda maior que a oferta trouxe bons lucros aos empresários. O lado mau da guerra foi que milhares de armas, perdidas na luta foram parar em mãos de homens que tinham visto famílias dizimadas. O não matar perdeu valor para muitos. Na Itália a máfia organizouse e expandiu além fronteiras. Nos EUA os gangsters formaram um poder paralelo. Empresários, com o lucro fácil, pagavam aos gangs para continuar tudo como estava. Outros, usaram-nos para destruir os seus concorrentes, como a Esso nos EUA, que mandava incendiar as bombas de gasolina que não comprassem das suas refinarias. Em cada país formaram-se em cada sector lucrativo, com a ajuda do poder paralelo, cartéis de umas poucas empresas, que eliminavam os concorrentes. O vale-tudo afectou as bolsas, que confiavam nas informações e na ética das empresas cada vez mais mafiosas. Produtos baseados em valores não-materiais apareceram. A grande depressão veio rápida, profunda, longa, em todo o mundo. Quando Krueger se suicidou, ao reconhecer os erros das aplicações, morreu a teoria que ‘os mercados são auto-reguláveis’. A Segunda Grande Guerra Para sair da depressão, Keynes sugeriu investimentos estatais em infra-estruturas para criar emprego para os milhões de desempregados. Houve um grande endividamento público, algo então inusitado. Roosevelt teve a coragem de o fazer. Hitler também. Melhores e mais baratos transportes, maior contacto entre ilhas de progresso, a recuperação social, tudo e algo mais elevou a auto-confiança, que chegou a xenofobia e ao racismo na Alemanha. A era Stalin criou boas condições de vida, educação e saúde para duzentos milhões, integrando povos de distintas culturas, religiões, latitudes e longitudes, num território extenso e diversificado. O que resultou num nacionalismo xenófobo que se confrontou com a expansão alemã. A Europa ocidental acreditava que lá ninguém provocaria nova guerra mundial e enganou-se. Só quando os EUA foram atacados em Pearl-Harbour, é que entrou na luta. A vontade de vencer a guerra acabou por criar ou aplicar tecnologias novas, ou já existentes só em laboratórios ou protótipos. Sem combustível, na Suécia vieram os carros movidos a biogás derivado da lenha; da Alemanha voaram os foguetes de von Braun; da Inglaterra e EUA, a energia atómica. A produção em série, usada por Ford para carros, tornou-se normal na indústria, como em aeronaves, camiões, uniformes e calçados. Para alimentar os soldados no campo de batalha vieram os enlatados; e a concentração de recursos e encomendas às empresas amigas da corte. E os governos apoiavam a indústria da guerra, como estas.


O Plano Marshall Para reerguer a Europa destruída pela guerra, o Plano Marshall ofereceu muitos milhões para infra-estruturas e facilitou a entrada das indústrias americanas neste mercado. Os europeus só podiam comprar matérias-primas como ferro, aço, celulose e cimento na Suécia e nos EUA e alimentos no Brasil e nos EUA. A União Soviética investiu na indústria de base, em detrimento do consumo dos seus povos. Os planos quinquenais não vingavam, pois presumiam que todos eram empenhados, honestos e competentes. Outra vez o modelo Keynesiano foi responsável pela superação do caos e da crise, mas com foco na recuperação das cidades e indústrias destruídas. Pouco capital, muito trabalho, diversidade na oferta e na demanda e concorrência livre, trouxe bem-estar aos cidadãos e progresso onde havia matéria-prima, mão-deobra qualificada ou demanda. Intenso e racional trabalho gerava renda a todos, que queriam produtos, o que gerava mais demanda para as fábricas. O lucro era reinvestido em tecnologias para economizar matéria-prima, tempo de produção ou ambos. O bloco soviético investiu em indústrias de base e ofereceu matéria-prima industrializada, como cimento, ferro, aço, vidro - materiais para a reconstrução, papel, petroquímicos, a preços baixos para permitir o arranque das demais indústrias e atender mercados cada vez mais sedentos de bens de consumo. Nos EUA o capital privado fez o mesmo. Na Europa Ocidental foram os governos a investir, quer em empresas inteiramente estatais, quer com parte do capital privado, em geral disperso por muitos, em bolsa. Grandes estatais fizeram cá o mesmo que as soviéticas. Ambas, sem, ou com limitada concorrência, eram ineficientes, muitas com boys e sindicatos a exigir cada vez mais, com frequentes greves, o que afectava as indústrias à juzante da estatal. A insatisfação com este sistema trouxe ao poder Margareth Thatcher, a dama de ferro, que, em vez de sanar as falhas destas empresas, resolveu privatizá-las. Foi então que se substituiu a ineficácia de monopólios públicos pela dos privados, a preços mais elevados, pois lucro exigido foi maior. Como a UE dependia do Reino Unido para chegar ao sonho dos políticos, uma potência maior do que a dos EUA, Thatcher exigiu alterar o Tratado de Roma, o que tornaria normal uma grande promiscuidade, antes inteiramente proibida p.ex. nos países Nórdicos, entre a banca e as grandes firmas. Assim, formaram-se grandes cartéis de poucas empresas do Reino Unido, Alemanha, França, às vezes Holanda, Espanha ou Itália, países que dominam os corredores da UE, para comprar e fechar concorrentes mais eficientes, menores. Até nos EUA o Congresso é “o instrumento dos interesses económicos especiais, porque os seus componentes foram eleitos em representação directa desses interesses, com campanhas vultuosas” 5). Referências: ¹) Soifer, Jack: A Grande Pequena Empresa, QualityMark, Rio de Janeiro, 2002 ²) Rousseau, J-Jacques: Discourse on Inequality, http://www.constitution.org/jjr/ineq.htm ³) Marx, Karl, Moore, Samuel, Bibbins, Aveling Edward, Engels, Friedrich, Untermann, Ernest: Capital, http://books.google.com/books?id=afUtAAAAIAAJ&printsec=frontcover&dq=capital+marx&pgis=1 4) Reinhart, Carmen and Rogoff, Kenneth: A Panoramic View of Eight Centuries of Financial Crises, http://www.economics.harvard.edu/faculty/rogoff/files/This_Time_Is_Different.pdf 5) Galbraith, John Kenneth: Economics and the Public Purpose, Harvard, 1973

Para reflectir

1. Porquê funcionou o investimento em infra-estruturas na crise dos 1930? 2. Porquê após a 2ª Guerra Mundial focou a reconstrução e modernização? 3. Porquê Tatcher privatizou todas as estatais no Reino Unido? 4. Aquelas empresas tornaram-se mais competitivas? 5. Porquê a UE aceitou as imposições de Tatcher?


Jack Soifer Portugal é o melhor país do mundo, tem o melhor vinho, a melhor gastronomia, exuberantes e variadas naturezas, cultura muito rica, com tradições como moura e celta, judia e templária, afro-americana, asiática, indígena e ária. E, sobretudo, o povo mais simpático do mundo! É por isto, pelo amor a este povo, que partilho a minha experiência e aponto caminhos neste momento difícil. Excerto do cap.17

As propostas de Jack Soifer formam um conjunto equilibrado para o reforço da dinâmica social e económica de Portugal. Enriquecem as opções dos agentes sociais, políticos e económicos! Francisco Mendes Palma, Director, Espírito Santo Research Sectorial

Jack Soifer partilha as lições que aprendeu ao longo da vida, em dezenas de países e organizações internacionais. Ele lista boas práticas e potencialidades das PME’s que acrescentam valor na cadeia de produção; ajudam a qualificar recursos humanos; permitem novos investimentos e valorização das marcas; trazem inovação. Mendo Castro Henriques, Presidente, Instituto da Democracia Portuguesa

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COMO SAIR DA CRISE

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COMO SAIR DA CRISE Trilhos para a nova economia de Portugal

Baixo Tejo e Beiras Jack Soifer 11/01/2010 18:46:30


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