Orlando Lima Rua Juliana Santos Pinto
Empreendedorismo e Plano de Neg贸cio no Setor Agr铆cola
AGRADECIMENTOS A publicação deste livro não fica somente a dever-se aos autores. Agradecem o trabalho de revisão dos colegas do ISCAP professores Duarte Mercier e Luís Gomes, bem como a todos aqueles que, direta ou indirectamente, contribuíram para a concretização da presente obra. Sem as preciosas contribuições destes tal empreendimento não seria possível. Agradecem, ainda, o apoio incondicional das respetivas famílias pelo tempo subtraído à sua companhia e convívio. A todos um bem-haja.
À minha mãe, aos meus irmãos e sobrinhos. À minha mulher Branca. Orlando Lima Rua
Aos meus pais e irmão. Juliana Santos Pinto
ÍNDICE Índice de figuras........................................................................... 11 Índice de tabelas........................................................................... 13 Abreviaturas e siglas..................................................................... 15 Prefácio........................................................................................ 17 Introdução.................................................................................... 21 CAPÍTULO I - AGRICULTURA 1.1 Introdução.............................................................................. 25 1.2 Contextualização.................................................................... 27 1.2.1 União Europeia............................................................... 27 1.2.2 Portugal........................................................................... 35 1.2.3 Entre Douro e Minho..................................................... 44 1.3 Metodologia de cultivo de espécies hortofrutícolas................ 46 CAPÍTULO II – EMPREENDEDORISMO 2.1 Evolução do conceito............................................................. 49 2.2 Empreendedorismo, crescimento económico e criação de empresas............................................................................. 53
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empreendedorismo e plano de negócio no setor agrícola
CAPÍTULO III - PLANO DE NEGÓCIOS 3.1 Sumário executivo.................................................................. 65 3.1.1 Visão............................................................................... 66 3.1.2 Missão............................................................................. 66 3.1.3 Objetivos......................................................................... 67 a) Objetivos financeiros...................................................... 67 b) Objetivos não financeiros............................................... 67 3.1.4 Fatores-chave de sucesso................................................. 68 3.2 Empresa.................................................................................. 68 3.2.1 Localização...................................................................... 68 3.2.2 Produto........................................................................... 70 3.3 Análise de mercado................................................................. 72 3.3.1 Introdução........................................................................ 72 3.3.2 Estratégia de segmento de mercado.................................. 73 3.4 Análise estratégica.................................................................. 75 3.4.1 Introdução....................................................................... 75 3.4.1 Análise PEST.................................................................. 76 a) Político-legais.................................................................. 77 b) Económicos.................................................................... 77 c) Sócio-culturais................................................................. 78 d) Tecnológicos................................................................... 78 3.4.2 Análise SWOT................................................................ 79 a) Oportunidades................................................................ 80 b) Ameaças.......................................................................... 80 c) Pontos fortes................................................................... 81 d) Pontos fracos................................................................... 81 3.5 Estratégia de marketing.......................................................... 82 3.5.1. Estratégia de preço......................................................... 83 3.5.2. Estratégia promocional.................................................. 84 3.5.3. Estratégia de vendas....................................................... 87
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capítulo i - agricultura
CAPÍTULO IV - ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÓMICA E FINANCEIRA 4.1 Introdução.............................................................................. 88 4.2 Pressupostos........................................................................... 89 4.2.1 De mercado..................................................................... 89 a) Taxa de inflação............................................................... 89 b) Imposto sobre o valor acrescentado................................ 89 4.2.2 De exploração................................................................. 90 a) Número de meses de exploração..................................... 90 b) Ano-cruzeiro................................................................... 90 c) Prazos médios do circulante............................................ 90 d) Volume de negócios........................................................ 90 e) Fornecimentos e serviços externos.................................. 91 f) Gastos com pessoal.......................................................... 91 g) Depreciações e amortizações........................................... 91 h) Perdas por imparidade.................................................... 91 i) Aplicação dos resultados líquidos.................................... 92 4.2.3 De financiamento............................................................ 92 a) Capitais próprios............................................................. 92 b) Capitais alheios............................................................... 92 c) Taxa de juro ativa............................................................ 92 4.3 Plano de Exploração Previsional............................................ 93 4.3.1 Vendas............................................................................. 93 4.3.2 Custo das matérias consumidas....................................... 94 4.3.3 Fornecimentos e serviços externos.................................. 95 4.3.4 Gastos com pessoal......................................................... 96 4.4 Investimento........................................................................... 97 4.4.1 Descrição......................................................................... 97 4.4.2 Plano de investimento..................................................... 99 4.4.3 Plano de financiamento................................................. 100 4.4.4 Plano financeiro............................................................ 101 9
empreendedorismo e plano de negócio no setor agrícola
4.4.5 Serviço da dívida........................................................... 102 4.4.6 Depreciações e amortizações......................................... 104 4.5 Análise económica e financeira............................................ 105 4.5.1 Análise económica........................................................ 105 a) Volume de vendas......................................................... 105 b) Autofinanciamento....................................................... 105 c) Resultados líquidos........................................................ 106 d) Rendibilidade................................................................ 106 4.5.2 Análise financeira.......................................................... 106 a) Fundo de maneio........................................................... 106 b) Autonomia financeira................................................... 108 c) Liquidez......................................................................... 109 4.5.3 Indicadores económico-financeiros............................... 109 4.5.4 Necessidades de fundo de maneio................................. 110 4.5.5 Análise de viabilidade do negócio................................. 111 a) Cash-flows...................................................................... 111 b) Valor atual líquido........................................................ 111 c) Taxa interna de rendibilidade........................................ 111 d) Período de recuperação do capital................................ 112 4.5.6 Análise de sensibilidade................................................. 113 a) Simulação 1................................................................... 113 b) Simulação 2................................................................... 113 4.6 Demonstrações da conta Estado e outros entes públicos previsionais........................................................................... 114 4.7 Demonstrações de resultados previsionais............................ 115 4.8 Balanços previsionais............................................................ 116 CONCLUSÕES........................................................................ 117 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................... 119
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ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Logótipos de certificação de qualidade.......................... 32 Figura 2. Logótipo de certificação em agricultura biológica........ 33 Figura 3. Agricultura nas diferentes regiões em Portugal............ 38 Figura 4. Distribuição dos espaços florestais na região do Norte (1985-2000).................................................... 45 Figura 5. Taxa de atividade empreendedora early-stage (TEA) (2007-2010)......................................................... 60 Figura 6. Taxa de empreendedorismo nascente e de novos negócios (2007-2010)..................................................... 61 Figura 7. Vista geral de estufa de germinação de plantas.............. 69 Figura 8. Espécies hortícolas nos tabuleiros de germinação......... 70 Figura 9. Grupo de bombagem do sistema de rega...................... 71 Figura 10. Plano de produção das culturas da empresa................ 72 Figura 11. Análise dos fatores externos que influenciam as organizações............................................................ 76 Figura 12. Análise PEST.............................................................. 79 Figura 13. Matriz SWOT............................................................. 82
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ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Principais culturas/produtos agrícolas produzidos na UE (2005)................................................................. 29 Tabela 2. Principais exportações agrícolas da UE (2005).............. 34 Tabela 3. Principais importações agrícolas da UE (2005)............. 34 Tabela 4. Explorações e definição das áreas-base com culturas hortícolas...................................................................... 37 Tabela 5. Tipos de rega utilizados nas culturas hortícolas nas diferentes regiões de Portugal................................. 41 Tabela 6. Mão de obra afeta às culturas hortícolas....................... 42 Tabela 7. Formas de escoamento da produção hortícola............. 43 Tabela 8. Distribuição dos usos de solo no espaço rural (Portugal Continental vs. Região do Norte) ................ 44 Tabela 9. Unidades económicas e empresas em Portugal segundo o WBGES (2008)........................................................... 55 Tabela 10. Consumo anual de produtos hortícolas em Portugal (1999-2004)............................................. 73 Tabela 11. Explorações agrícolas e superfície agrícola utilizada... 74 Tabela 12. Previsão da taxa de inflação ....................................... 89 Tabela 13. Prazos médios do circulante....................................... 90 Tabela 14. Perdas por imparidade................................................ 91
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empreendedorismo e plano de negócio no setor agrícola
Tabela 15. Aplicação dos resultados líquidos............................... 92 Tabela 16. Previsão das vendas..................................................... 93 Tabela 17. Previsão do custo das matérias consumidas................ 94 Tabela 18. Previsão dos fornecimentos e serviços externos......... 95 Tabela 19. Previsão dos gastos com pessoal.................................. 96 Tabela 20. Investimentos em ativos fixos tangíveis e intangíveis.97 Tabela 21. Plano de investimento................................................ 99 Tabela 22. Plano de financiamento............................................ 100 Tabela 23. Plano financeiro........................................................ 101 Tabela 24. Serviço da dívida....................................................... 102 Tabela 25. Previsão das depreciações e amortizações................. 104 Tabela 26. Previsão do volume de negócios............................... 105 Tabela 27. Previsão do autofinanciamento................................. 105 Tabela 28. Previsão dos resultados líquidos............................... 106 Tabela 29. Previsão da rendibilidade das vendas, do ativo total e dos capitais próprios.............................................. 106 Tabela 30. Previsão do fundo de maneio.................................... 108 Tabela 31. Previsão da autonomia financeira............................. 108 Tabela 32. Previsão da liquidez.................................................. 109 Tabela 33. Previsão dos indicadores económico-financeiros...... 110 Tabela 34. Previsão das necessidades de fundo de maneio.......... 110 Tabela 35. Previsão dos cash-flows.............................................. 111 Tabela 36. Mapa dos fluxos financeiros...................................... 112 Tabela 37. Demonstração da conta Estado e outros entes públicos............................................................ 114 Tabela 38. Demonstração de resultados previsionais................. 115 Tabela 39. Balanços previsionais................................................ 116
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ABREVIATURAS E SIGLAS AB
Agricultura biológica
AJAP
Associação de Jovens Agricultores de Portugal
APDR
Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Rural
CCDRN Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região do Norte CE
Comissão Europeia
CEE
Comunidade Económica Europeia
DOP
Denominação de Origem Protegida
EDM
Entre Douro e Minho
ETG
Especialidade Tradicional Garantida
FAO
Food and Agriculture Organization
FSE
Fornecimento de serviços externos
GCI
Growth Competitiveness Index
GEM
Global Entrepreneurship Monitor
IAPMEI Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e Inovação IGP
Indicação Geográfica Protegida
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empreendedorismo e plano de negócio no setor agrícola
INE
Instituto Nacional de Estatística
IRC
Imposto sobre o rendimento de pessoas coletivas
IRS
Imposto sobre o rendimento de pessoas singulares
IVA
Imposto sobre o valor acrescentado
MAP
Mercado Abastecedor do Porto
MARL
Mercado Abastecedor da Região de Lisboa
MPB
Modo de Produção Biológica
OMC
Organização Mundial do Comércio
PAC
Política Agrícola Comum
PAM
Produção e Distribuição Hortícola do Litoral, Lda.
PEST
Políticos, Económicos, Sociais e Tecnológicos
PIB
Produto Interno Bruto
PME
Pequenas e médias empresas
PRC
Período de recuperação de capital
SAL
Superfície agrícola útil
SANU
Superfície agrícola não utilizada
SWOT
Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats
TIR
Taxa interna de rendibilidade
UE
União Europeia
VAL
Valor atual líquido
WBGES World Bank Entrepreneurship Survey
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PREFÁCIO O setor agrícola e agro-industrial representa, hoje, um vasto universo de oportunidades para Portugal e muitos portugueses. Não se trata de um “regresso ao passado”, no sentido do regresso ao campo e à vida difícil que normalmente lhe está associada, mas, antes, do aproveitamento do potencial que o setor apresenta, seja pela via da substituição de importações, seja pela via da exportação. Uma atitude empreendedora é, hoje, característica de muitos novos agricultores (não necessariamente jovens, ainda que estes tenham trazido ao setor sangue novo e uma nova mentalidade). Esta nova atitude tem de levar em conta as condicionantes da envolvente, nomeadamente tudo o que respeita às regras da União Europeia (UE), em especial a legislação relativa à Política Agrícola Comum (PAC) e às ajudas do Estado. Partindo de uma descrição das condicionantes da envolvente e de uma caraterização do setor, com estatísticas e informação relevante, e descrevendo várias noções de agricultura e tipologias de produção, os autores passam em seguida à análise de diferentes noções de empreendedorismo e da atitude nova a ter para gerar inovação e criar valor de forma distintiva. O conceito de empreendedorismo tem vindo a sofrer uma evolução, em grande medida ligado à própria evolução do conceito de inovação, refletindo-se nas diferentes defini-
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empreendedorismo e plano de negócio no setor agrícola
ções propostas por vários autores e académicos reputados. Ao mesmo tempo, reconhece-se que as chamadas políticas públicas podem influenciar de modo significativo os “níveis” de empreendedorismo e de criação de novos negócios e oportunidades, nomeadamente as políticas económicas que visam a redução da carga tributária e o acesso ao financiamento e garantias, assegurando crédito por prazo e preço adequados aos ciclos de investimento e exploração das empresas, ou a existência de um ecossistema de capital de risco e de apoio aos business angels. Políticas certas contribuem para a melhoria no ambiente de negócios, favorecendo o empreendedorismo. Em seguida, os autores descrevem-nos as diferentes fases por que deve passar a criação de uma empresa e a elaboração de um plano de negócios, da missão à estratégia, da análise do mercado potencial ao marketing do produto e pricing, sem esquecer o investimento e seu financiamento, tendo em vista assegurar que são cobertos todos os aspetos críticos para o sucesso de um empreendimento. Terminam com uma aplicação prática a uma empresa imaginária, no setor dos hortícolas, na região litoral norte do país, mas tal poderia passar-se no Oeste, no Alentejo ou em Trás-os-Montes. Como diz a Comissão Europeia, e referem os autores, “a contribuição da agricultura para a sustentabilidade económica das zonas rurais continua a ter um importante papel. Os agricultores desempenham funções diversificadas: produção de produtos alimentares e não alimentares, gestão do espaço natural, preservação da natureza e desenvolvimento de turismo em espaço rural”. Ao mesmo tempo, procura-se, hoje, cada vez mais, que estas atividades se desenvolvam criando valor e sustentabilidade a longo prazo. Por tudo isto, a obra agora apresentada constitui um apoio adicional para todos os que pretendam lançar-se nesta atividade nobre que é a criação de riqueza e emprego em Portugal, não apenas os que, como no exemplo dado neste livro, queiram ser empresários do 18
prefácio
subsetor hortícola, mas todos os que entendam ser o setor agrícola e agro-industrial, como um todo, um campo de oportunidades. Trata-se de uma obra de leitura fácil e acessível, com uma linguagem que vai, seguramente, permitir ajudar muitos dos que estão, hoje, a pensar novos investimentos. José Fernando Figueiredo Presidente do Sistema Português de Garantia Mútua Presidente da Associação Europeia de Garantias Presidente da 2BPartner SCR
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INTRODUÇÃO O nível de investimento na agricultura está positivamente correlacionado com o crescimento da produção, redução da pobreza e segurança alimentar. Infelizmente, as evidências mostram uma tendência decrescente, nas últimas décadas, dos níveis de investimento agrícola nos países em desenvolvimento, gastos públicos, nomeadamente a ajuda ao desenvolvimento no exterior. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação estima que são necessários 83 biliões de dólares por ano de investimentos adicionais em alimentação, agricultura e desenvolvimento rural para alimentar a crescente população mundial em 2050, por outras palavras, o investimento deverá aumentar em 50% (FAO, 2011). Neste contexto, o empreendedorismo assume uma importância vital no desenvolvimento económico e social das nações (Choy, Kuppusamy & Jusoh, 2005; Anderson, Dana & Dana, 2006; Acs, Desai & Hessels, 2008), assumindo-se como a força motriz do crescimento e progresso económico (Kreft & Sobel, 2005). Morris (2001) refere o papel incontornável que o empreendedorismo assume na prossecução do desenvolvimento económico sustentável, por via do aumento do produto interno bruto, riqueza social e qualidade de vida, consubstanciando-se, entre outros, como a chave para a resolução de problemas de pobreza, criminalidade, doenças e lutas políticas e sociais.
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empreendedorismo e plano de negócio no setor agrícola
Samouco (1998) definiu empresa agrícola como a unidade económica onde se associam ativamente os fatores de produção trabalho, capital e empresarialismo, para produzirem bens agrícolas, com o objetivo de obter um resultado económico positivo. Um dos critérios de classificação de empresa agrícola está diretamente relacionado com a natureza dos objetivos empresariais visados e com o tipo de resultados económicos que melhor sejam capazes de exprimir tais objetivos. Nesta perspetiva, devem ser consideradas as explorações agrícolas de tipo familiar e as explorações agrícolas de tipo empresarial (Silva, 2007). Este autor refere ainda que as explorações de tipo familiar têm como objetivo principal a manutenção e melhoria das condições de vida do agregado familiar, cujos membros asseguram o normal funcionamento da exploração agrícola. Assim sendo, os resultados económicos a levar em consideração na análise do seu desempenho num dado período de tempo deverão ser escolhidos em função da sua capacidade para medir a remuneração dos fatores de produção que são pertença da família (recursos próprios), com especial relevo para os fatores terra e trabalho. As explorações de tipo empresarial têm como objetivo prioritário assegurar uma maximização dos resultados líquidos da empresa, devendo os seus resultados económicos estar relacionados, no essencial, com a remuneração quer dos capitais próprios investidos quer da capacidade empresarial demonstrada. A grande maioria do tecido empresarial em Portugal carateriza-se por empresas familiares e o setor da agricultura não é exceção. Por um lado, uma das dificuldades das empresas familiares está relacionada com o nível de envolvimento/ laços familiares existente entre os membros da família. Por outro lado, o número de gerações que intervêm nas empresas poderá ser um fator importante para compreender a organização estratégica das mesmas (Astrachan, Klein & Smyrnios, 2002). Para qualquer empresa ter sucesso na concretização dos seus objetivos é fundamental identificar qual(ais) a(s) estratégia(s) a adotar. 22
Introdução
O presente trabalho convenciona uma tentativa de identificar as melhores abordagens estratégicas para a criação de uma empresa de sucesso, no setor agrícola, com vista à produção de produtos hortícolas, designadamente para empresas situadas na região de Entre Douro e Minho. É, portanto, fundamental encarar a empresa como um sistema aberto, onde o ambiente externo (eg. concorrentes, clientes, fornecedores, sociedade, etc.) e o ambiente interno (eg. políticas de gestão, recursos humanos, fatores de produção, tecnologia, qualidade dos produtos, processos e procedimentos, etc.) são variáveis preponderantes para definir a estratégia para alcançar os seus objetivos e ir de encontro às expetativas criadas pelos stakeholders. A hostilidade da envolvente empresarial condiciona sobremaneira a atividade das empresas. Covin & Slevin (1989) referem que um ambiente hostil é caraterizado, fundamentalmente, por trabalho precário e competição entre empresas concorrentes, o que provoca uma ameaça à viabilidade e ou crescimento das pequenas empresas. Estas, por norma, têm menores recursos financeiros e por essa razão têm de adotar formas de gestão capazes de não colocar em risco a sua existência. Neste âmbito, é importante referir que grande parte do tecido empresarial em Portugal é constituído por pequenas e médias empresas, mais vulneráveis a mudanças na referida envolvente. Lumpkin & Dess (1996) referem, assim, que o comportamento empreendedor é vital para as empresas de todas as dimensões que pretendem prosperar em ambientes competitivos. O empreendedorismo não ajudará certamente a resolver todos os problemas com os quais Portugal se depara atualmente por via de uma conjuntura económica e financeira adversa, mas contribuirá certamente, de forma decisiva, para a resolução de parte substancial dos mesmos. Por último, o presente trabalho apresenta um caso prático de criação de uma empresa que contribua, por um lado, para a efe23
empreendedorismo e plano de negócio no setor agrícola
tivação da dinâmica empreendedora e, por outro, para o reforço da competitividade do setor agrícola português, promovendo a alteração do paradigma de desenvolvimento do mesmo, através da criação de riqueza, empresas e emprego, bem como fomentando a responsabilidade social, muitas vezes esquecida.
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CAPÍTULO I – AGRICULTURA 1.1 INTRODUÇÃO Os países terão de repensar a sua política de produção agrícola para fazer face ao aumento sucessivo dos fatores de produção dos bens alimentares, consequência da crise económica e financeira que o mundo enfrenta na atualidade, com vista a aumentar a sua autossuficiência e potenciar o decréscimo das suas importações alimentares. Portugal não é exceção, sendo que as principais mudanças deram-se com a entrada na União Europeia (UE), obrigando o país a cumprir toda a legislação relativa à Política Agrícola Comum (PAC). Criada em 1962, a PAC tinha como principais objetivos assegurar o abastecimento de géneros alimentícios, manter um equilíbrio entre o campo e a cidade, valorizar os recursos naturais e garantir aos agricultores um rendimento em conformidade com os seus desempenhos (Marques, s/d). Tendo em consideração que Portugal possui uma grande variedade de produtos genuínos com caraterísticas organolépticas únicas, bem como condições edafoclimáticas ótimas para produção, o impulsionamento da produção agrícola e o escoamento/exportação dos seus produtos poderá ser umas das soluções para o combate à crise que o país atravessa. Para que se possam rentabilizar os recursos humanos e naturais e tornar o país, desta forma, autossuficiente na produção agrícola é 25
empreendedorismo e plano de negócio no setor agrícola
necessária uma atitude empreendedora. Com o aumento da produção será necessária a criação ou melhoramento das empresas existentes no mercado, o que irá criar vantagens para os consumidores portugueses, pois poderão ter acesso a produtos hortícolas com preços mais acessíveis. O conceito de empreendedorismo tem vindo a sofrer uma evolução consubstanciada nas várias alterações que vão ocorrendo no seio da economia. Atualmente, é visto como um processo dinâmico e não como um acontecimento único, o qual se desenvolve ao longo do tempo em fases distintas que se iniciam com a criação de um novo produto/serviço, a conjugação dos recursos necessários para o início do negócio e, por fim, a gestão e crescimento do negócio que culmina com o esperado sucesso da empresa (Fontelene, 2010). Drucker (1993) refere que o empreendedorismo é, em simultâneo, uma prática e uma disciplina, não é uma personalidade e não se restringe à elaboração de planos de negócios, que nem sempre são viáveis, consiste na ação em concreto, nomeadamente a abertura de um novo negócio ou nova organização. Apesar de o empreendedorismo poder existir, independentemente das políticas específicas dos governos, reconhece-se que estas podem influenciar o seu nível de desenvolvimento, direta ou indiretamente (Duarte, 2008), designadamente através de políticas relacionadas com a regulamentação para a criação de empresas e com incentivos fiscais. Políticas económicas que visam a redução da carga tributária e da taxa de juros contribuem para a melhoria no ambiente de negócios, favorecendo o empreendedorismo. Estas políticas podem vir a ter impacto social substantivo numa economia que tem sido fraca na geração de emprego. As iniciativas municipais de criação de incubadoras de empresas e de cooperativas de produtores estão na direção certa do incentivo ao empreendedorismo e à criação de oportunidades de trabalho (Barros & Pereira, 2008). 26
CONCLUSÕES Na atual conjuntura do país, o setor primário ganhou protagonismo, com o crescente aumento do preço dos bens alimentares e com a necessidade de diminuição da dependência externa neste âmbito. Além disso, o desemprego e as escassas oportunidades existentes em outros setores de atividade têm contribuído para criação de emprego no setor agrícola. Portugal, apesar de ter uma área geográfica relativamente pequena, comparando com outros parceiros da UE, possui uma apreciável capacidade de produção de bens alimentares diferenciados, devido às suas condições edafoclimáticas de excelência. Acresce a este cenário o crescente interesse pelos temas do empreendedorismo e da inovação como parte integrante da solução para o combate da crise em que Portugal submergiu. Neste contexto, o papel do empreendedor assume particular importância para a sociedade, sendo o seu contributo fundamental para ajudar a inverter a tendência negativa de crescimento do tecido empresarial. O Governo português tem apostado em políticas de incentivo ao empreendedorismo e à inovação. Por outro lado, os impostos e a carga tributária das empresas são ainda entraves ao seu crescimento. No entanto, as empresas que apostam na qualidade dos seus produtos/serviços conseguem obter bons resultados, apesar da recessão económica e financeira. 117
empreendedorismo e plano de negócio no setor agrícola
No que concerne à agricultura em Portugal, trata-se de um setor de atividade que ainda requer uma aposta maior por parte quer dos empreendedores e empresários quer do Governo, em virtude de o país não ser autossuficiente na produção de bens alimentares, o que, conjugado com a atual conjuntura, torna decisiva e essencial a diminuição das importações. Muitos destes produtos podem, perfeitamente, ser produzidos internamente devido às condições edafoclimáticas, à capacidade técnica e à mão-de-obra abundante. A conjuntura económica e financeira adversa, que vem degradando a competitividade da economia portuguesa, permitirá aos empreendedores identificarem oportunidades de negócio que levarão à criação de empresas no setor da agricultura, o qual, em contraciclo, vem demonstrando uma nova pujança e um novo vigor. Tais iniciativas empresariais contribuirão para o desiderato “patriótico” de inverter a dependência da nossa balança comercial, no que respeita à exploração de bens alimentares de primeira necessidade. A presente obra pretende, assim, servir de estímulo e de referência aos empreendedores para concretizarem ideias de negócio que se enquadrem nos objetivos de criação de empresas competitivas. Este apoio salienta a elaboração de um plano de negócios plenamente satisfatório em termos de viabilidade técnica, económica e financeira, que contribua para a dinamização e desenvolvimento regionais, designadamente através da criação de riqueza e de emprego, e, ainda, para o alargamento da oferta e preenchimento das lacunas sentidas no segmento específico de atividade onde essas empresas desenvolverão a sua atividade.
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O setor agrícola e agro-industrial representa, hoje, um vasto universo de oportunidades para Portugal e muitos portugueses.
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Não se trata de um “regresso ao passado”, no sentido do regresso ao campo e à vida difícil que normalmente lhe está associada, mas, antes, do aproveitamento do potencial que o setor apresenta, seja pela via da substituição de importações, seja pela via da exportação. Uma atitude empreendedora é, hoje, característica de muitos novos agricultores (não necessariamente jovens, ainda que estes tenham trazido ao setor sangue novo e uma nova mentalidade). Esta nova atitude tem de levar em conta as condicionantes da envolvente, nomeadamente tudo o que respeita às regras da União Europeia (UE), em especial a legislação relativa à Política Agrícola Comum (PAC) e às ajudas do Estado.
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