«Não são só as pessoas com deficiência motora ou mobilidade reduzida que têm obrigação de se adaptar ao meio envolvente, mas é a sociedade que deve garantir a estas pessoas todas as condições de participação.» Associação Salvador «O contexto do marketing social não é o do mercado, com uma procura solvente e uma oferta a remunerar, embora o tenha em conta, mas sim o das necessidades e potencialidades humanas: no conjunto das necessidades incluem-se as solventes e, prioritariamente, as não solventes; nas potencialidades, incluem-se não só aquela oferta e o seu potencial de desenvolvimento mas também as capacidades humanas e recursos vários que atuam sem remuneração; Caritas Relativamente aos idosos, os resultados das Terapias Assistidas por Animais (TAA) e das Atividades Assistidas por Animais (AAA),têm-se manifestado quer ao nível da saúde física e psíquica quer ao nível da despesa em médicos e medicamentos, quer ainda ao nível da dependência de terceiros para as suas necessidades vitais. Mesmo idosos em depressão profunda, sem interesse pela vida e acamados há muito tempo, passaram a levar uma vida ativa normal, atendendo às suas idades, e deixaram de depender de antidepressivos e de terceiras pessoas. Pravi
ISBN 978-989-768-042-7
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9 789897 680427
MARKETING SOCIAL & RESPONSABILIDADE SOCIAL EM ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS
«Com a missão claramente definida, a APAV rege-se por um plano estratégico de desenvolvimento, regra geral com a mesma duração dos protocolos/contratos com o Estado, e que define de forma clara e objetiva as grandes metas a atingir a quatro ou cinco anos, e que se concretiza em cada plano anual de atividades. Uma das componentes do plano estratégico é do marketing social.» Associação Portuguesa de Apoio à Vítima
Cristina Vaz de Almeida
Os que aderiram e participaram neste Livro:
Cristina Vaz de Almeida
& Responsabilidade Social em Organizações Sem Fins Lucrativos Um caminho para a cidadania
ÍNDICE Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.................................. 11 A importância do Marketing Social........................................ 11 O contributo da Cáritas para uma sociedade mais justa e equilibrada................................................................................ 17 1. Identidade e missão da Cáritas............................................ 17 2. Os atuais contornos das vulnerabilidades sociais em Portugal.. 20 3. O contributo da Cáritas para uma sociedade mais justa..... 22 3.1 Ação realizada e em curso................................................. 22 3.2 Atuações recomendáveis .................................................. 23 4. Marketing social – a visão da Cáritas.................................. 26 Em conclusão.......................................................................... 27 Bibliografia............................................................................. 29 Associação Salvador.................................................................... 31 Ser acessível............................................................................. 31 Quem são os beneficiários das acessibilidades?....................... 31 Porque é cada vez mais importante promover as acessibilidades?. 32 O que deve ser feito para promover as acessibilidades?.......... 32 Quem são os responsáveis pela promoção das acessibilidades?... 33 Qual a vantagem de ser acessível?........................................... 33 Revisão bibliográfica................................................................... 35
Marketing Social & Responsabilidade Social
O que é o marketing................................................................... 39 Valores & tendências nacionais e mundiais no século XXI........ 45 O que é o marketing social e a sua relação com a responsabilidade social................................................................ 47 Determinantes da saúde............................................................... 59 Questões de saúde e a influência do marketing social............. 59 Influência dos determinantes da saúde.................................... 60 O que torna umas pessoas saudáveis e outras não?................. 60 Exemplos de divulgação em meios digitais das ações de intervenção na saúde da população......................................... 62 Descrição dos meios usados para esta ação............................. 63 Guia Prático de Saúde............................................................. 65 Jovens médicos realizam rastreios a idosos do interior.......... 66 Campanha de diagnóstico precoce do cancro de cabeça e pescoço – 2012 ..................................................................... 67 Campanhas de Educação em Saúde........................................ 67 Marketing com causas sociais................................................. 68 Pelo segundo ano, Maçã de Alcobaça de volta às praias ........ 69 Com o marketing social procuram-se..................................... 70 Os objetivos de desenvolvimento do milénio......................... 71 A importância de uma marca forte......................................... 74 Situação em Portugal .................................................................. 77 As questões de cidadania: empoderamento e participação do cidadão.......................................................... 77 Responsabilidade social............................................................... 81 Empoderamento e participação do cidadão............................ 81 Situação em Portugal.............................................................. 82 Identificação dos intervenientes.................................................. 91
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Índice
Quais são os agentes de marketing social?.............................. 91 Exemplos de empresas comerciais com intervenções no marketing social................................................................ 93 O que fazer para se conseguir alterar um comportamento? .. 96 Fatores externos ......................................................................... 99 Fatores externos – Ambiente socioeconómico, cultural, político, tecnológico............................................................. 199 Causas ambientais..................................................................... 101 Metas do milénio – Organização das Nações Unidas........... 101 Segmentação.............................................................................. 105 Exemplos de algumas campanhas segmentadas..................... 108 Causas sociais de acordo com as mudanças pretendidas............ 109 Algumas campanhas............................................................. 111 No Brasil. Campanha contra a hipertensão arterial (cartazes e banners na internet)............................................. 116 Logotipos por associação a áreas da saúde ........................... 126 Logotipos relacionados com o ambiente (formato, cores, associações)................................................. 127 Implementação.......................................................................... 129 Como desenvolver uma campanha de marketing social....... 129 Ferramentas e ações................................................................... 137 Alguns exemplos de projetos de marketing social................ 139 Exemplos de campanhas de marketing social............................ 143 HIV Sida............................................................................... 143 Violência contra crianças...................................................... 149 Violência contra idosos......................................................... 159 Violência contra mulheres.................................................... 162 Toxicodependência............................................................... 178
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Marketing Social & Responsabilidade Social
Segurança rodoviária............................................................. 183 Ambiente.............................................................................. 189 Proteção dos animais e da biodiversidade............................. 194 A PRAVI e a sua aposta nos benefícios da interação homem-animal.......................................................................... 197 Monitorização........................................................................... 207 Conclusões................................................................................ 211 Onde começa a cidadania?......................................................... 215 Bibliografia................................................................................ 217 Dados curriculares..................................................................... 221
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ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE APOIO À VÍTIMA A importância do Marketing Social Marketing Social, Marketing de Cidadania ou Causas Sociais, as designações variam, mas o objetivo é o mesmo: promover a mudança de atitudes e comportamentos de um grupo concreto ou da sociedade em geral. A visibilidade das causas sociais está intimamente ligada ao marketing social. O marketing social é assim fundamental para uma organização como a APAV, que tem por missão apoiar as vítimas de crime, suas famílias e amigos, prestando-lhes serviços de qualidade, gratuitos e confidenciais, e contribuir para o aperfeiçoamento das políticas públicas, sociais e privadas centradas no estatuto da vítima. O marketing social é a venda de ideias; é a criação, o planeamento, a execução e a avaliação de ações e programas de marketing (com utilização de conceitos, técnicas e instrumentos originários do
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Marketing Social & Responsabilidade Social
marketing comercial), com o objetivo de influenciar e promover mudanças sociais, ou seja, de levar uma sociedade ou um determinado grupo social a alterar o seu padrão comportamental ou a adotar uma determinada atitude para benefício geral. Os objetivos do marketing social são ambiciosos (ex: fazer com que as pessoas não tolerem a violência contra as crianças) comparados com os do marketing tradicional – comercial (para estes, basta um modesto ganho na penetração de um mercado ou um ganho percentual num share dum segmento de mercado). Todavia, os recursos de que o marketeer social dispõe são bem escassos para atingir os seus ambiciosos objetivos, contrariamente ao marketeer comercial, que dispõe de milhares, se não de milhões de euros para gastar (ex.: a APAV recebeu um donativo de cerca de 3500 € de uma farmacêutica que representa o seu gasto mensal em merchandising de uma determinada pomada). A consequência inevitável é que as causas sociais necessitam de aguçar a criatividade e de procurar a colaboração de outras entidades – públicas e privadas, ou mesmo do terceiro setor – e também de pessoas para melhor levar a cabo a sua missão. Tem sido este o caminho estratégico seguido pela APAV. Com a missão claramente definida, a APAV rege-se por um plano estratégico de desenvolvimento, regra geral com a mesma duração dos protocolos/contratos com o Estado, e que define de forma clara e objetiva as grandes metas a atingir a quatro ou cinco anos, e que se concretiza em cada plano anual de atividades. Uma das componentes do plano estratégico é do marketing social. Comparativamente com o marketing comercial, o marketing social tem objetivos a mais longo prazo – uma vez que procura promover comportamentos e mudanças sociais, regra geral bem mais difíceis e controversos, sendo o seu processo decisório participativo e baseado na confiança e nas relações humanas. 12
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE APOIO À VÍTIMA
A estratégia seguida pela APAV tenta aliar técnicas e conceitos do marketing e procura essencialmente otimizar o que são os seus pontos fortes: – A sua estrutura organizativa em rede e o âmbito e presença nacional da APAV que permite conjugar um amplo conhecimento e ação nas comunidades locais e regionais, e uma ação mais central e macro – o pensar global para agir local; – O esforço permanente de padronização, monitorização e avaliação de procedimentos nas diversas áreas da atividade; – O voluntariado como filosofia de atuação no apoio ao cidadão vítima e um corpo nacional de voluntariado social; – Uma gestão participada em partes do processo decisório e da informação; – A multidisciplinaridade das equipas de técnicos residentes e dos voluntários; – A “investigação & desenvolvimento” – o melhor conhecer para melhor agir; – O caráter institucional da APAV. Para o conseguir, a APAV procura estabelecer parcerias mecenáticas e alianças de marketing social com empresas, mas também com organizações públicas. Estas alianças sociais têm sido estabelecidas com algum sucesso, todavia com duração mais curta do que desejamos, designadamente com as empresas. A integração nas práticas e políticas empresariais da responsabilidade social das empresas – da cidadania empresarial, não só na vertente interna de adoção de políticas de recrutamento e gestão não discriminatórias, de acesso à formação, equilíbrio família-trabalho, higiene e segurança, etc., mas também na sua vertente externa de cooperação com a comunidade, de responsabilidade ambiental, mecenato, etc. – ainda se encontra a dar os primeiros passos em Portugal. 13
Marketing Social & Responsabilidade Social
A busca do equilíbrio de poderes nestas alianças é sempre difícil e exige uma estrutura profissional da organização não lucrativa. Muito facilmente as vantagens que a empresa retira poderão ser desproporcionais às geradas para a organização não lucrativa e para a causa social. Por outro lado, o rompimento destas alianças e o reduzido tempo de pré-aviso por parte do mais forte – a empresa – prejudica muito mais as organizações não lucrativas do que as empresas. A grande diferença, que se poderá tornar o grande problema, é a dimensão e a sofisticação-profissionalismo das empresas e das organizações do terceiro setor. Devemos também colocar algumas questões: – Será que o sucesso da marketing social não poderá contribuir para a demissão do Estado no financiamento nas causas sociais?; – Ou mesmo para a redução da filantropia e mecenato por parte das empresas?; – O dinheiro gasto pelas empresas na promoção e publicidade no âmbito das ações de marketing social deverá ser superior ao dinheiro reunido para a causa social?; – A questão da utilização da designação da organização e do logo nos produtos e serviços da empresa (regra geral, as organizações não lucrativas defendem que não promovem nenhum produto ou serviço comercial específico mesmo quando a designação e o logo da organização aparece associado); – É ético que a empresa peça à organização para falar em nome da empresa no relacionamento com outras entidades – designadamente públicas – com quem a organização tem especial relação? Para além da utilização do marketing social, procuramos manter uma política de boas e transparentes relações com os órgãos de comunicação social, sem transigir no estrito respeito pelo nosso código 14
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE APOIO À VÍTIMA
ético e pelo respeito dos direitos das vítimas de crime, que muito tem feito pela crescente visibilidade do apoio à vítima. O número crescente e a satisfação dos cidadãos vítimas de crime e de violência apoiados pela APAV em cada ano – cerca de 20 000 entre vítimas de crimes e seus familiares e amigos – constitui igualmente um movimento menos visível para aumentar a visibilidade da nossa causa social. Outro aspeto menos visível mas que também contribuiu para a visibilidade e o reconhecimento social e técnico da missão social da APAV é o esforço de formação interno (cerca de 200 a 300 voluntários por ano) e externo (a profissionais de outras entidades), num universo estimado de cerca de 3700 participantes no ano passado. Todavia, o trabalho ainda mal começou. João Lázaro Presidente da APAV
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O CONTRIBUTO DA CÁRITAS |O contributo da Cáritas para uma PARA UMA SOCIEDADE MAIS sociedade mais justa e equilibrada JUSTA E EQUILIBRADA
1. Identidade e missão da Cáritas
1. Identidade e missão da Cáritas
A Cáritas é uma instituição da Igreja Católica, implantada na maior parte dos paíse A Cáritas é uma instituição da Igreja Católica, implantada na (162 organizações que trabalham em mais de 200 países e territórios). A nível mundia maior parte dos países (162 organizações que trabalham em mais de 200 países e territórios). mundial,em reporta à Santa Sé;à arespetiva nível Conferênci reporta à Santa Sé; A a nível nível nacional, Portugal, reporta nacional, em Portugal, reporta à respetiva Conferência Episcopal; Episcopal; e, a nível diocesano, aos Bispos. e, a nível diocesano, aos bispos.
Os bispos portugueses definiram‐na como “uma instância típica e oficial da Igrej
Os bispos portugueses definiram-na como “uma instância típica para a promoção da sua ação social”, no n.º 31 da Instrução Pastoral sobre “ A Açã e oficial da Igreja para a promoção da sua ação social”, no n.º 31 da Social da Igreja”, publicada pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), em 1997. Instrução Pastoral sobre “A Ação Social da Igreja”, publicada pela nível nacional, a Cáritas é um serviço da CEP e, a nível diocesano, do respetivo Bispo. Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), em 1997. A nível nacional, é umA Cáritas Portuguesa (CP), enquanto União das vinte Cáritas Diocesanas (CD), a Cáritas serviço da CEP e, a nível diocesano, do respetivo bispo.
uma pessoa jurídica pública, de natureza fundacional. Tem sede em Lisboa e abrang A Cáritas Portuguesa (CP), enquanto união das vinte Cáritas todo o território nacional. Diocesanas (CD), é uma pessoa jurídica pública, de natureza fundacional. Tem sede empelo Lisboa e abrange todo o território nacional. Orienta‐se Sagrada Escritura, pela Doutrina Social da Igreja (DSI), pelo
imperativos da justiça e da solidariedade, atribuindo prioridade às situações ma graves de pobreza e exclusão social.
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Visa os seguintes objetivos: i) Cooperar com a CEP, através da Comissã
Marketing Social & Responsabilidade Social
Orienta-se pelo Sagrada Escritura, pela Doutrina Social da Igreja (DSI), pelos imperativos da justiça e da solidariedade, atribuindo prioridade às situações mais graves de pobreza e exclusão social. Visa os seguintes objetivos: i) Cooperar com a CEP, através da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana, e com cada bispo diocesano, na motivação e dinamização das respetivas comunidades para a corresponsabilidade e ação sociais; não existe para substituir ou competir com as demais instituições caritativas. Suscita a diversidade e exerce uma função animadora, procurando comprometer, o mais possível, todas as comunidades cristãs (paróquias) na responsabilidade social decorrente dos compromissos decorrentes da fé; ii) Promover a existência, a qualificação e o desenvolvimento de grupos Cáritas, com esta ou outra designação, nas paróquias, vocacionados para a ação social de proximidade em todas as zonas do respetivo território; iii) Criar e desenvolver os serviços sociais que forem considerados necessários e viáveis; iv) Promover a qualificação de voluntários e profissionais, incluindo a formação teológico-pastoral; v) Articular, onde não exista outra estrutura ou trabalhando como seu executivo, a nível paroquial, diocesano e nacional, com os Centros Paroquiais, as Santas Casas da Misericórdia, a Sociedade de S. Vicente de Paulo e outras instituições, integradas na Igreja, que atuam no domínio social, com vista a: abrangerem todos os problemas sociais, independentemente da capacidade de resposta; abrangerem todos os patamares de solução desses problemas: assistência; promoção e desenvolvimento; evitarem lacunas e duplicações; analisarem os problemas sociais do seu território e procurarem as respetivas soluções, à luz da DSI; nesta procura são tidos em conta os meios próprios da Igreja e de outras entidades, nomeadamente os das Autarquias Locais, dos Governos Regionais e do Estado Central; atuarem, junto de centros de decisão política ou de outra natureza, para a solução de casos pontuais e para a sequência das ações referidas antes; vi) Realizar e difundir 18
O contributo da Cáritas para uma sociedade mais justa e equilibrada
estudos, no âmbito da sua missão, incluindo o tratamento estatístico e a análise das fichas do atendimento social; vii) Promover a partilha de bens; vii) Promover campanhas e outras iniciativas de âmbito nacional; viii) Participar em atividades e organizações, eclesiais ou não, favoráveis ao cumprimento da sua missão; ix) Dialogar com entidades políticas, ou de outra natureza, formulando propostas e recorrendo a outras modalidades de intervenção a favor da solução dos problemas sociais. Procura-se atingir estes objetivos a partir da ação de cada Cáritas que, em articulação com a pastoral diocesana, desenvolvem e sustentam o compromisso da Igreja, atuando na área social. Inicialmente, dedicava-se, fundamentalmente, a atividades de emergência e assistência. Depois evoluiu para outras dimensões, mantendo aquelas duas. A sua missão atual pode sintetizar-se nas palavras animação operativa, promoção do desenvolvimento humano, como via de promoção pessoal e de criação de condições favoráveis a esse objetivo humano, e desenvolvimento sócio-local. Os seus programas e atividades diferem conforme as necessidades e a realidade local, desenvolvendo-se, a nível paroquial e diocesano, as que forem aprovadas pelo respetivo bispo, com base em princípios orientadores que emanam da DSI, a saber: i) promoção e defesa incondicionais da dignidade humana; ii) promoção do bem comum; iii) destino universal dos bens; iv) subsidiariedade; v) participação; vi) solidariedade; vii) opção preferencial pelos mais pobres. Mais concretamente, orienta-se por dois conjuntos de «orientações operacionais»: proximidade e universalidade; radicalidade e gradualidade. É com base nestes princípios que a Cáritas rejeita qualquer forma de discriminação. Apesar da sua natureza confessional, está para toda a gente e para todos os problemas. Ponderando a missão da Cáritas, acabada de sumariar, com as exigências da crise atual, podem realçar-se as seguintes prioridades:
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Marketing Social & Responsabilidade Social
apoio aos grupos paroquiais de ação social; tratamento da informação sobre problemas sociais provenientes desses grupos; e promoção das iniciativas necessárias para a solução dos problemas.
2. Os atuais contornos das vulnerabilidades sociais em Portugal Portugal, no âmbito dos 28 países da União Europeia, é um dos que apresentam maiores desigualdades na distribuição da riqueza produzida e um dos socialmente mais vulneráveis. Tem, por isso, e também pela crise financeira e económica global, uma parte significativa dos seus cidadãos e cidadãs em situação de pobreza e de muitos mais virem a cair nela. Não se consegue saber ao certo o número de pessoas em risco de pobreza existente no nosso país. Infelizmente, os dados estatísticos disponíveis reportam-se a informações recolhidas há, pelo menos, dois anos atrás e não contam com todas as variáveis que permitam dar uma visão objetiva da realidade. Os números mais recentes apresentados em julho passado, pelo INE, referem existir, em Portugal, 2,5 milhões de pessoas em risco de pobreza ou de exclusão social, ou seja, 21,8% vivem em privação de recursos materiais, dos quais 8,6% em situação de pobreza severa, ou seja, sem o mínimo indispensável para sobreviverem com a dignidade que é devida aos seres humanos. Há concidadãos nossos que, hoje, não chegam a ter um euro por dia! Se isto já é revoltante em países designados de “em vias de desenvolvimento”, muito mais nos deve interpelar quando isto acontece “deste lado do mundo”. Há quem, entre nós, não consiga fazer, pelo menos, uma refeição completa por dia e muitas são as crianças que chegam à escola sem comer. Segundo o mesmo estudo do INE, 10% da população portuguesa vive em insuficientes condições habitacionais, mais propriamente:
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O contributo da Cáritas para uma sociedade mais justa e equilibrada
4,3% já se confrontou com más instalações de higiene, luz natural insuficiente ou problemas de humidade e 8,3% vive sobrecarregada com despesas habitacionais. A acrescentar a estes números temos uma outra realidade também muito preocupante. O nosso país ainda tem, em termos europeus, um tipo de pobreza que se pode qualificar de massiva e persistente. Contrariamente ao que se verifica nalguns países do Centro e do Norte da Europa, verifica-se entre nós uma taxa considerável de pobreza de longa duração. Em muitos destes casos, a pobreza transmite-se de gerações para gerações. Um outro aspeto importante da pobreza em Portugal é o de que a maior parte dos representantes das famílias pobres ou estão empregados ou são pensionistas. Quer isto dizer que são pessoas cuja pobreza resulta de baixos salários (se forem empregados por conta d’outrem), de baixos rendimentos (se trabalharem por conta própria) ou de baixas pensões de reforma. Por esta razão a pobreza tende a agravar-se nos grupos etários mais velhos. Além destes, são de considerar, no grupo dos mais vulneráveis, os desempregados, os agregados com níveis de instrução muito baixos, os habitantes em meios rurais e semiurbanos, as famílias numerosas e as monoparentais. A feminização da pobreza – traduzida no facto de as mulheres continuarem a estar sobrerrepresentadas em ocupações com menor reconhecimento social e compensação salarial – é outro dos aspetos relevantes para olharmos com preocupação para a pobreza em Portugal. Há também, no nosso país, um tipo de pobreza designada por recente, que tanto pode manifestar alguma forma de persistência (ao longo de vários anos) ou ser apenas ocasional. É esta forma de pobreza que está a surgir, de maneira galopante, como a principal consequência da crise global de cuja profundidade não há memória 21
Marketing Social & Responsabilidade Social
nos últimos oitenta anos. Muitas e muitos estão a sofrer com as implicações desta crise na economia portuguesa, vivendo já em estado de privação de bens ou em risco de que tal lhes aconteça.
3. O contributo da Cáritas para uma sociedade mais justa 3.1 Ação realizada e em curso Entre os anos 50 e 70, a atividade da Cáritas centrou-se na distribuição de géneros alimentares doados pelos EUA no âmbito do Plano Marshall e na promoção do acolhimento de crianças vindas do centro da Europa durante a Guerra Fria. Foi uma missão muito importante, pois contribuiu para a transformação dos hábitos alimentares da população portuguesa, sobretudo as das camadas mais pobres. Desde 1975 até ao ano 2000, ocorreu a implementação da promoção social através do apoio à criação de postos de trabalho, criação e funcionamento de equipamentos sociais, formação de agentes e preparação para a atuação estrutural nos domínios do desenvolvimento local e intervenção junto de centros de decisão política. Não há problema social existente no nosso país que a Cáritas não acolha e procure dar a resposta que está ao seu alcance. Com a revisão estatutária de 2000 abre-se uma nova etapa na vida da Cáritas, assente na consolidação da autonomia das Cáritas Diocesanas e na promoção da clarificação e atualização dos objetivos da Cáritas no contexto da Igreja e da sociedade portuguesa. Em termos institucionais, ocorreram quatro evoluções significativas: i) Descentralização das diocesanas mediante a criação das respetivas Cáritas com personalidade própria;
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DADOS CURRICULARES CRISTINA VAZ DE ALMEIDA Mestre em Novas Tecnologias Aplicadas à Educação, com especialização em comunicação em e-learning, pela Universidade Autónoma de Barcelona e Universidade Carlos III, Madrid (2007). Pós-Graduada em Marketing pelo Instituto Superior de Gestão (1996). Pós-Graduada em Direito do Ambiente, pela Universidade Católica Portuguesa (1991). Licenciada em Direito pela Universidade Católica Portuguesa (1990). Leciona em várias escolas, universidades e institutos, sendo docente de várias pós-graduações e mestrados, em particular das áreas da saúde. Coordena e leciona cursos à medida dentro das áreas da comunicação e do marketing, sendo convidada para palestras, seminários, mesas-redondas, entre outras, onde se debate o estado da arte na comunicação no marketing, em particular nos domínios da saúde. Tem vocação para projetos novos e desafiantes, que a estimulam a desenvolver as suas competências e a aplicar os conhecimentos que persistentemente visa adquirir nesta caminhada onde alguém disse «cada vez que aprendo um pouco mais, sinto-me com mais ignorância sobre tudo o resto que falta aprender».
«Não são só as pessoas com deficiência motora ou mobilidade reduzida que têm obrigação de se adaptar ao meio envolvente, mas é a sociedade que deve garantir a estas pessoas todas as condições de participação.» Associação Salvador «O contexto do marketing social não é o do mercado, com uma procura solvente e uma oferta a remunerar, embora o tenha em conta, mas sim o das necessidades e potencialidades humanas: no conjunto das necessidades incluem-se as solventes e, prioritariamente, as não solventes; nas potencialidades, incluem-se não só aquela oferta e o seu potencial de desenvolvimento mas também as capacidades humanas e recursos vários que atuam sem remuneração; Caritas Relativamente aos idosos, os resultados das Terapias Assistidas por Animais (TAA) e das Atividades Assistidas por Animais (AAA),têm-se manifestado quer ao nível da saúde física e psíquica quer ao nível da despesa em médicos e medicamentos, quer ainda ao nível da dependência de terceiros para as suas necessidades vitais. Mesmo idosos em depressão profunda, sem interesse pela vida e acamados há muito tempo, passaram a levar uma vida ativa normal, atendendo às suas idades, e deixaram de depender de antidepressivos e de terceiras pessoas. Pravi
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«Com a missão claramente definida, a APAV rege-se por um plano estratégico de desenvolvimento, regra geral com a mesma duração dos protocolos/contratos com o Estado, e que define de forma clara e objetiva as grandes metas a atingir a quatro ou cinco anos, e que se concretiza em cada plano anual de atividades. Uma das componentes do plano estratégico é do marketing social.» Associação Portuguesa de Apoio à Vítima
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