Tipologia dos Riscos - uma introdução

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3 Este caderno trata da tipologia de riscos financeiros e não financeiros. Numa primeira parte, faz-se a introdução ao conceito de risco e indicam-se sumariamente os vários riscos que uma entidade enfrenta. Depois faz-se uma apresentação mais pormenorizada de cada risco, recorrendo a dois diplomas: • Modelo de Avaliação dos Riscos (MAR) – Banco de Portugal;

CADERNOS CONTABILIDADE E GESTÃO

TIPOLOGIA DOS RISCOS UMA INTRODUÇÃO

• IFRS 7 – Instrumentos Financeiros: Divulgação de Informações.

Cadernos Contabilidade e Gestão 1. O Balanced Scorecard (BSC) e os Indicadores de Gestão 2. IFRS9 – Instrumentos Financeiros - Introdução às regras de reconhecimento e mensuração

EDUARDO SÁ SILVA

3. Tipologia dos Riscos – uma introdução 4. Derivados e Produtos Complexos – aspetos essenciais 5. A Prova em Auditoria e as Metodologias de Amostragem 6. Capital, Reservas e Resultados Transitados 7. Prestação de Contas e Relatório de Gestão

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9 789897 683732


Índice Agradecimentos.................................................................... 7 Nota de apresentação........................................................... 9 Introdução.......................................................................... 11 Noção sobre o conceito de risco........................................ 14 Risco de crédito.................................................................. 33 Risco de mercado............................................................... 47 Risco de taxa de juro.......................................................... 54 Risco de taxa de câmbio..................................................... 58 Risco de liquidez................................................................ 61 Risco operacional............................................................... 69 Risco dos sistemas de informação...................................... 75 Risco de estratégia.............................................................. 78 Risco de compliance............................................................ 82 Risco de reputação............................................................. 86 Controlos específicos dos riscos......................................... 87 Bibliografia......................................................................... 97

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Agradecimentos Agradeço a revisão pelo colega Doutor Adalmiro Pereira.

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Nota de apresentação Este caderno trata da tipologia de riscos financeiros e não financeiros. Numa primeira parte, faz-se a introdução ao conceito de risco e indicam-se sumariamente os vários riscos que uma entidade enfrenta. Depois faz-se uma apresentação mais pormenorizada de cada risco, recorrendo a dois diplomas: • Modelo de Avaliação dos Riscos (MAR) – Banco de Portugal; • IFRS 7 – Instrumentos Financeiros: Divulgação de Informações. Está prevista a publicação, nos próximos meses, de cadernos específicos sobre metodologias de medição associadas a cada risco.

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Introdução No mundo atual, caraterizado por constantes e significativas correntes de inovação e por uma globalização dos fluxos financeiros e económicos como nunca antes registada, a competitividade das empresas não se mede somente pelo preço a que conseguem disponibilizar os seus bens e serviços; antes releva fortemente de outros fatores, associados à qualidade e diferenciação, consubstanciados na eficiência da gestão financeira. Deste modo, esta liga-se cada mais ao sucesso conseguido na gestão dos variados riscos provenientes da atividade económica: risco de crédito, riscos de mercado, risco de reputação, etc… O conhecimento destes tipos de risco e dos efeitos que deles normalmente decorrem surge, assim, como vantagem competitiva do desempenho das empresas. Deste modo, pode-se afirmar que as empresas, hoje em dia, gerem essencialmente riscos. A gestão dos riscos não implica a sua eliminação. Em todo o caso, os mais capazes têm sucesso, outros falham. Enquanto algumas empresas aceitam passivamente os riscos financeiros, outras procuram criar uma vantagem competitiva através de uma exposição judiciosa ao risco. Mas o que é o risco? O risco pode ser definido como a volatilidade relativamente a resultados ou retornos não esperados. A palavra tem origem latina em que simbolizava o perigo que os marinheiros tinham quando navegavam no meio de perigosas e afiadas rochas. Esta simbologia pode ser trazido para o ambiente

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empresarial em que o meio envolvente comporta uma série de “rochas”, em que a navegação (ou seja, a gestão) tem que ser capaz de as evitar. A informação/quantificação sobre os vários riscos é importante por diferentes ordens de razões, a saber: • Os órgãos de gestão precisam de estar informados sobre a evolução dos vários tipos de riscos, de forma a darem instruções claras sobre esta matéria; • O conhecimento do grau de risco de um cliente, quer na vertente ativa, quer na vertente passiva, é hoje decisivo para a sua captação/vinculação/retenção; • A análise prévia de risco de crédito efetuada a empresas (rating) e a particulares (scoring) é uma condição essencial para a abertura de linhas e para a negociação de condições de trabalho com qualquer cliente; • A segurança das instalações, clientes e empregados obriga a que existam sofisticados sistemas de controlo (físicos e tenológicos) que dêem segurança e que ao mesmo tempo sejam dissuasores face a intrusos; • A concentração e a definição de cúmulos de riscos (crédito, taxa de juro, câmbio, setor, país, etc..) é decisiva para o estabelecimento de condições de trabalho com a contraparte, seja ela institucional/empresa/particular. Aos riscos tradicionais que as instituições estavam habituadas a gerir (crédito, taxa de juro, liquidez, etc..) veio juntar-se um vasto conjunto de riscos, provenientes da complexidade e sofisticação dos mercados. Estes riscos incrementaram-se, devido à necessidade

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de as instituições procurarem fontes alternativas de rendimentos e de alargamento da sua base de clientes. A maior parte dos riscos têm a sua origem em desajustamentos que podem ser de natureza distinta: liquidez (quando a maturidade dos ativos maior do que a dos passivos); taxa de juro (quando a estrutura das taxas de juro é diferente); taxa de câmbio (sempre que a denominação dos ativos seja diferente da dos passivos). O principal objetivo das instituições passa por fazer uma boa gestão dos vários tipos de risco, de acordo com a estratégia de negócio definida e sempre no pressuposto da otimização dos resultados. As fontes de surgimento dos riscos podem ser diversas, mas basicamente os aspetos que interessa relevar são os seguintes: • Macroeconómicos, que advêm de alterações da economia ou da envolvência política. Os riscos provenientes destas alterações são difíceis de cobrir (hedge); • Estratégicos, que comprometem a capacidade da organização para atingir os seus objetivos e o seu sucesso no futuro. Os riscos daqui provenientes são os que a instituição assume para criar uma vantagem competitiva e acrescentar valor para os detentores das participações sociais; • Comerciais, que constituem a forma como a instituição interage com o seu mercado, clientes e demais parceiros; • Operacionais e tenológicos, que compreendem os aspetos relacionados com a eficácia e eficiência dos processos, organização interna e fiabilidade dos sistemas de gestão (nomeadamente, informáticos e de controlo interno);

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• Concessão de crédito, que se encontra ligada à originação, avaliação, aceitação e tarifação dos riscos, concentração, diversificação e cúmulos de risco; • Liquidez, quando não se dispõe de ativos líquidos suficientes para cobrir pagamentos; • Mercado, que se encontra ligado aos riscos que advêm da volatilidade dos preços de mercado, resultantes da exposição aos preços das ações, taxa de juro, taxa de câmbio, concentração de ativos num setor ou zona geográfica; • Financeiro-contabilísticos, que se encontram ligados a riscos de conformidade, associados ao processo de recolha de informação e registo e à qualidade da informação financeira reportada; • Outros, que se encontram ligados a aspetos legais, regulamentares, reputação, imagem, políticas, desastres e catástrofes. Neste âmbito, o Sistema de Gestão de Riscos deve ser caraterizado por um conjunto de princípios que abarquem: solidez, eficácia, abrangência e proporcionalidade.

Noção sobre o conceito de risco O risco está associado à possibilidade de ocorrência de acontecimentos incertos ou aleatórios que definem estados de natureza. É determinado pela variabilidade do valor esperado, em função da ocorrência desses acontecimentos.

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Deste modo, risco é a probabilidade de perda, ou seja, o risco pode ser tudo o que tem impacto no valor de uma instituição, que pode ser oriundo de eventos esperados ou não. No entanto, é importante diferenciar risco de incerteza: é que o primeiro permite a estimativa objetiva das probabilidade dos acontecimentos, enquanto, no caso da incerteza, não são possíveis tais estimativas, tendo-se de recorrer a probabilidades subjetivas. No conceito mais básico, o risco pode ser definido como a possibilidade da perda, ou, noutro sentido, como o grau de incerteza a respeito de um acontecimento. Tem-se assim a ligação entre a possibilidade e grau de incerteza que está na base do conceito de probabilidade. Esta ligação fica mais clara se for referido que, no cálculo da probabilidade, ao evento certo corresponde a probabilidade unitária. Ao evento não certo, que apresenta um grau de incerteza, corresponde uma probabilidade. No limite, quando não se têm elementos para calcular a probabilidade, está-se perante a incerteza na sua plenitude. O processo de decisão tem como principal tarefa atingir um objetivo préfixado. Os eventos podem dividir-se em dois tipos: • Sucessos: são os eventos que permitem atingir os objetivos; • Fracassos: são os eventos que não permitem atingir os objetivos Então, o risco será a probabilidade de ocorrerem fracassos. Sendo R o conjunto de resultados, S o conjunto de sucessos e F o dos fracassos, com F ∪ S =R e F ∩ S = 0, então, a definição formal de risco será dada pela igualdade Risco = P (F).

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Como a soma das probabilidades de sucessos e fracassos é 1, ou seja, P(F) + P(S) = 1, também se pode escrever: Risco = 1 – P(S). Exemplo de risco Considere-se uma operação de crédito em que o cliente deverá pagar 1000 unidades de conta, após 90 dias. O objetivo é receber esta quantia na data fixada, a fim de ser realizada a margem financeira desejada. De acordo com a experiência em relação a este tipo de cliente, os possíveis eventos que podem ocorrer na data de vencimento são os seguintes: Eventos possíveis

Valor a receber

Probabilidade

1000

98%

2 – prorrogação do prazo (perda de 3%)

970

1%

3 – contencioso judicial (perda de 10%)

900

0,5%

4 – acordo de credores (perda de 75%)

250

0,25%

0

0,25%

1 – pagamento pontual

5 – falência (perda total)

Na hipótese de se considerar que o sucesso só se verifica com o pagamento pontual, então o risco da operação será: Risco = 1 – P(S) = 1 – P(evento 1) = 100% – 98% = 2% Ou seja, têm-se 2% de não se atingir o objetivo.

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Nesta hipótese, admite-se que o evento 1 seria um sucesso e os demais um fracasso. No entanto, se o juro cobrir as perdas de 3% e 10% dos eventos 2 e 3, respetivamente, então o risco é: P(S) = P(eventos 1, 2 e 3) = 98% + 1% + 0,5%= 99,5% P(F) = risco = P(evento 4 e 5) = 0,25% + 0,25% = 0,5% Assim, num contexto de incerteza, todo o agente económico movido pela aversão ao risco vai procurar maximizar a rendibilidade das suas aplicações, minimizando o risco. Deste modo, A incerteza existe sempre que não se sabe ao certo o que vai ocorrer no futuro. O risco é a incerteza que importa, porque afeta o bem-estar das pessoas. Assim, a incerteza é uma condição necessária, mas não suficiente, para o risco. Toda a situação de risco é incerta, mas pode haver incerteza sem risco.

Para efeito de remuneração, o risco pode decompor-se em: Risco Total = Risco específico ou único + Risco Sistemático ou de mercado

O risco específico é o risco de se verificar uma variação desfavorável (perda) no preço do instrumento devido a fatores associados ao seu emitente. Este risco específico pode ser reduzido quando o investimento é combinado com outros, isto é, diversificado. O risco sistemático ou de mercado (também designado por geral) é o risco de se verificar uma variação desfavorável (perda) no preço do instrumento devido a uma variação, por exemplo, no nível das taxas de juro ou a um movimento global no mercado de títulos de capital. Este risco de mercado não pode ser eliminado pela estratégia de diversificação e, como tal, deverá ser remunerado por um prémio de risco.

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O risco de mercado pode advir do: • Risco de negócio ou económico – trata-se de um risco que deriva, por um lado, das possíveis alterações do ambiente (conjuntura, tecnologia, concorrência, etc); por outro lado, de erros humanos (sobrestimação das vendas ou subestimação dos custos de fabrico, por exemplo). Acaba por afetar a gestão de exploração da empresa, influenciando a variabilidade dos fluxos monetários operacionais decorrentes da atividade, ou seja, sem consideração de encargos financeiros e impostos; • Risco financeiro que se encontra associado à estrutura financeira. O facto de uma empresa se endividar, assumindo encargos financeiros, cria um risco adicional, que se reflete necessariamente no seu resultado de exploração. Eventualmente, ainda se podem considerar outros riscos, nomeadamente, o risco sistémico, que tem a ver com um forte desequilíbrio para todo o sistema financeiro, quer nacional, quer global. Assim, ter-se-ia basicamente dois grandes grupos:

1. Riscos Financeiros

- Risco de Crédito - Risco de Mercado - Risco de Taxa de Juro - Risco Cambial - Risco de Cotações e Índice de Ações - Risco de Liquidez

2. Riscos Operacionais

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Bibliografia Amaral, Marcos (2015), “Tipos de riscos na atividade bancária”, Revisores e Auditores, nº 69, abril-junho 2015, p. 37-42 Banco de Portugal (2007), Modelo de Avaliação de Riscos (MAR) Banco de Portugal (2008), Aviso 5/2008 Decreto-Lei nº 104/2007 e instrução do Banco de Portugal nº 15/2007 Caetledge, Peter (1996), A Handbook of Financial Mathematics, New York: Euromoney Books Jorion, Philippe (1997), Value at Risk, New York: Mc Graw Hill Kramer, Gerald (1995), Active Bank Risk Management, New York: Globecon Group Matten, Crhis (1996) Managing Bank Capital, New York, Wiley Morgan, J.P. (1996), RiskMetrics - Tecnical Document, 4ª Edição, New York: Morgan Guaranty Trust Company Pinho, Manuel (1996), Riscos na Actividade Bancária – in Risco de Mercado, Revista da Banca, 37, 1996, pp. 5 - 36 Silva, Eduardo e Martins, Carlos (2011), Classe 1 – Meios Financeiros Líquidos: abordagem contabilística, fiscal e auditoria, Vida Económica

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Eduardo Sá Silva

Silva, Eduardo (2015), Mercados a Prazo – 2ª parte – Opções, Vida Económica

Sites consultados: • sobre instruções e avisos do Banco de Portugal www.bportugal.pt/sibap/ O Sistema de Instruções do Banco de Portugal (SIBAP) é uma base de dados permanentemente atualizada que contém os atos regulamentares emanados do Banco de Portugal. • sobre Normas Internacionais de Contabilidade www.cnc.min-financas.pt

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3 Este caderno trata da tipologia de riscos financeiros e não financeiros. Numa primeira parte, faz-se a introdução ao conceito de risco e indicam-se sumariamente os vários riscos que uma entidade enfrenta. Depois faz-se uma apresentação mais pormenorizada de cada risco, recorrendo a dois diplomas: • Modelo de Avaliação dos Riscos (MAR) – Banco de Portugal;

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• IFRS 7 – Instrumentos Financeiros: Divulgação de Informações.

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3. Tipologia dos Riscos – uma introdução 4. Derivados e Produtos Complexos – aspetos essenciais 5. A Prova em Auditoria e as Metodologias de Amostragem 6. Capital, Reservas e Resultados Transitados 7. Prestação de Contas e Relatório de Gestão

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