Vilas Magazine | Ed 250 | Novembro de 2019 | 30 mil exemplares

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A Revista de Lauro de Freitas e Região

Ano 21 Edição 250 | Novembro 2019

DESASTRE AMBIENTAL PETRÓLEO ATINGE VILAS DO ATLÂNTICO, IPITANGA E O RIO JOANES



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VAI BEM SILVA JUNIOR

Oficinas terapêuticas com mosaico devolvem saúde e autoestima a pacientes

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as mãos habilidosas de dona Maria José* as pedrinhas, plásticos, areia, vidros ou azulejos com cores e formatos diferentes se unem e dão forma a quadros com imagens decorativas seguindo as técnicas milenares da arte do mosaico. A dona de casa de 62 anos é assistida do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS - AD),

A revista de Lauro de Freitas & Região

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localizado no Caji, e assídua nas Oficinas de Arterapia. Segundo a arteterapeuta Ione Silva, as oficinas estão dentro da oferta estruturada do CAPS AD e buscam fortalecer a integração, promovendo conversas, aconselhamentos e gerando renda para o usuário. “É um momento que promove a troca de saberes, estimula a interação social e dá mais independência às pessoas que necessitam da nossa assistência. Fazemos todas as peças aqui, de forma manual e, através da comercialização dos produtos, conseguimos gerar lucro e renda, o que também proporciona autonomia aos nossos usuários”. O CAPS AD atende mensalmente cerca de 400 pessoas que são acompanhadas por uma equipe multidisciplinar composta por médicos psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêutico, educador físico, arteterapeuta e assistente social. Ao lado do prédio da unidade, uma pequena horta promove o estímulo sensorial – tato e olfato e a integração entre os assistidos. Os vegetais, hortelã, salsa e coentro, são utilizados no tempero das refeições servidas no equipamento. O CAPS AD é um dispositivo da saúde mental que acolhe e trata usuários do SUS e seus familiares com prejuízos decorrentes do uso abusivo e dependente de substâncias psicoativas. A unidade está localizada na Rua Chile, 198, no Caji. Interessados nos atendimentos podem procurar a unidade, de segunda a sexta-feira, das 7h às 16h, ou entrar em contato pelos tels.: 71 3288-7407 / 3288-7306. *Os nomes dos personagens são fictícios para resguardar a identidade dos assistidos.

Publicação mensal de propriedade da EDITAR - Editora Accioli Ramos Ltda. Rua Praia do Quebra Coco, 33. Vilas do Atlântico. Lauro de Freitas. Bahia. CEP 42708-790. Tels.: 0xx71/3379-2439 / 3379-2206 / 3379-4377. Diretor-Editor: Carlos Accioli Ramos (diretoria@vilasmagazine.com.br). Dire­to­ra: Tânia Ga­zi­neo Accioli Ramos. Gerente de Negócios: Álvaro Accioli Ramos (comercial@vilasmagazine.com.br). Assistentes: Leandra Almeida e Vanessa Silva (comercial@ vilasmagazine.com.br). Gerente de Produção: Thiago Accioli Ramos. Assistente de Produção: Bruno Bizarri (freelancer). Administrativo/Financeiro: Miriã Morais Gazineo (financeiro@vilasmagazine.com.br). Distribuição: Álvaro Cézar Gazineo (responsável). Tratamento de imagens e CTP: Diego Machado. Redação: Thiara Reges (jornalista freelancer). Colaboradores: Jaime de Moura Ferreira e Raymundo Dantas (articulistas), . Tiragem desta edição: 30 mil exemplares. Im­pressão: Log & Print Gráfica e Logística S. A. (Vinhedo/SP).

Para anunciar: comercial@vilasmagazine.com.br Tels.: 0xx71 3379-2439 / 3379-2206 / 3379-4377. Contatos com a Redação: redacao@vilasmagazine.com.br Vilas Magazine é uma revista mensal de serviços e facilidades, distribuída gra­tuitamente em todos os domicílios de Vilas do Atlântico e condomínios residenciais de Lauro de Freitas e região (Abran­tes, Ja­uá, Stella Maris, Pra­ia do Flamengo e parte de Itapuã). Disponível também em pontos de distribuição criteriosamente selecionados na região. As opiniões expressas nos artigos publicados são de responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, as da Edi­tora. É proibida a reprodução total ou parcial de matérias, gráficos e fotos publi­cadas nesta edição, por qualquer me­io, sem autorização expressa, por escrito da Editora, de acordo com o que dispõe a Lei Nº 9.610, de 19/2/1998, sobre Di­reitos Autorais. A revista Vilas Magazine não tem qualquer responsabilidade pelos serviços e produtos das empresas anunciados em suas edições, nem assegura que promessas divulgadas como publicidade serão cumpridas. Cabe ao leitor avaliar e buscar informações sobre os produtos e serviços anunciados, que estão sujeitos às normas do mercado, do Código de Defesa do Consumidor e do CO­NAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. A revista não se enquadra no conceito de fornecedor, nos termos do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor e não pode ser responsabilizada pelos produtos e serviços oferecidos pelos anunciantes, pela impossibilidade de se deduzir qualquer ilegalidade no ato da leitura de um anúncio. No entanto, com o objetivo de zelar pela integridade e cre­di­bilidade das mensagens publicitárias publicadas em suas edições, a Editora se reserva ao direito de recusar ou suspender a vei­culação de anúncios que se mostrem enganosos ou abusivos, por constrangimentos causados ao consumidor ou empresas. A revista Vilas Magazine também u­ti­liza conteúdos edi­to­ri­ais licenciados pela Agência Fo­lhapress (SP) e Agência A Tarde (BA). Os títulos Vilas Ma­­gazine e Boa Dica – Facilidades e Serviços, constantes desta edição, são marcas regis­tradas no INPI, de propriedade da EDITAR – Editora Accioli Ramos Ltda.

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Um novo caminho, uma nova visão, uma nova direção TEOBALDO COSTA Especial para a Vilas Magazine

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s organizações brasileiras vêm se conscientizando da importância da atualização dos seus modelos de gestão para se ajustarem aos avanços tecnológicos e ao que acontece no mundo competitivo. Nas empresas privadas isso se dá por sobrevivência. No caso das organizações públicas, ainda falta coragem para enfrentar esse desafio, pois o setor público tem evoluído muito lentamente, tentando preservar, em último suspiro, seu modelo centralizado e concentrador. Diante desse cenário, precisamos transformar as estruturas burocratizadas e ultrapassadas dos governos em organizações flexíveis e empreendedoras. De um lado é necessário ter soluções inovadoras, sendo indispensável que a administração pública atue com tecnologia, foco nos resultados, e satisfação dos cidadãos. De outro lado, é importante a preservação e o fortalecimento dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, que constituem os alicerces do estado democrático de direito. Esse desafio já se mostrou possível mundo afora. São inúmeros casos, em diversas cidades, para servir de benchmarks e comprovar que a gestão baseada em planejamento com resultados pode contribuir significativamente para a melhoria do serviço público municipal. Em Salvador, por exemplo, desde o primeiro mandato, o prefeito ACM Neto implantou

o planejamento estratégico baseado em metas e resultados, inicialmente sob a orientação da Mckinsey, consultoria internacional com experiências similares, como na prefeitura de Londres. E todos nós sabemos que os resultados vieram, não por acaso, e Salvador hoje é referência nacional. Podemos desejar, portanto, a implantação da gestão estratégica por resultados na prefeitura de Lauro de Freitas, e com isso promover uma renovação permanente da gestão municipal, através do planejamento, com monitoramento e avaliação do desempenho, com padrões, indicadores, metas e objetivos. A gestão estratégica, como atividade criativa e colaborativa, pode definir em Lauro de Freitas, de maneira participativa, o rumo que se pretende dar à cidade, formulando missão, visão e valores, promovendo a modernização da máquina pública e o desenvolvimento sustentável. Com ela podemos pactuar e revisar os planos municipais, sobretudo de habitação, saneamento, mobilidade, cultura, saúde e educação, estabelecendo os objetivos de cada um deles em curto, médio e longo prazos, com impacto direto, quando atingidas as metas, na remuneração dos servidores de todos os escalões e setores, como em uma empresa privada. O prefeito, sabendo o que, com quem e como vai realizar, e quais os objetivos, planos de ação e prazos, pode estabelecer parâmetros mais éticos no seu processo decisório, que passa a se dar com bases planejadas e critérios estabelecidos, revalorizando o trabalho e a eficiência e honestidade no uso dos recursos, e não apenas pela politicagem, troca de favores, ou do exercício da autoridade, muitas vezes preocupada apenas com o poder e a reeleição. Acredito em tudo isso, nessa transformação possível, nessa renovação de métodos, nessa saída do atraso, e com a mesma energia, sonho e trabalho por uma Lauro de Freitas melhor para se viver, mais organizada e urbanizada, mais moderna e mais humana. Por isso estou há mais de um ano conversando com as pessoas, caminhando em cada rua, em cada bairro, vendo e ouvindo de perto a realidade de cada um, cumprindo o meu papel cidadão, buscando um novo caminho, uma nova visão e uma nova direção.

Teobaldo Costa é empresário.

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Registros & Notas Procon Municipal de Lauro de Freitas completa um ano de funcionamento com 85% das reclamações solucionadas

A fofíssima Belinha, com os pais, Pablo e Roberta Davi Passinho (dir.) entrou em campo no jogo em que o Internacional enfrentou, em outubro, o Bahia, na Fonte Nova. Tricolor, como o pai, Davi foi convidado do amigo Marcelo Lomba (exBahia) hoje defendendo o time gaúcho. Davi é aluno da Escola Casa do Sol, onde cursa o 2º ano

A unidade de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON) de Lauro de Freitas completou um ano de funcionamento, em 4 de outubro, com mais de 1.400 atendimentos realizados. Do total de 884 reclamações recebidas, mais de 85% dos casos tiveram resolutividade imediata. Apenas 14,37% tornaram-se processo administrativo. O coordenador da instituição, Gleydson Faleiro (foto), esclarece que o desempenho do órgão é acompanhado periodicamente através de dados do Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec). Lauro de Freitas foi o primeiro município da Região Metropolitana (RMS) a municipalizar o serviço de proteção e defesa do consumidor. A instituição realizou uma pesquisa de satisfação com os consumidores atendidos entre maio e setembro deste ano. Sobre como avalia o atendimento do órgão, 92,68% dos entrevistados responderam a opção “ótimo” e 7,32% consideram o atendimento “bom”. Para o tempo de espera, 73,33% (ótimo), 23,33% (bom) e 3,33% (regular).

JOGANDO LIMPO COM A PRAIA

Com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre o descarte irregular de resíduos na orla, mais de 60 voluntários participaram da 4ª edição do projeto Jogando Limpo com a Praia, realizado dia 29 de setembro, na praia de Vilas do Atlântico. A iniciativa, realizada pelo Salvador Norte Shopping, celebrou também os 40 anos do loteamento, contou com a participação do Projeto Tamar e culminou com uma palestra sobre preservação das Praias, ministrada pela Associação dos Surfistas de Ipitanga – ASPI. O evento contou com apoio do Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social (IJCPM) e Prefeitura de Lauro de Freitas/Secretaria de Meio Ambiente, Saneamento e Recursos Hídricos (Semarh)

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Mangue afetado por petróleo em Imbassaí: litoral norte tem maiores área de impacto

Desastre ambiental afeta praias e mangues em Lauro de Freitas

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identificação de manchas de petróleo em área de mangue no estuário do rio Joanes, anunciada em meados de outubro, é mais um dos indicativos do desastre ambiental que está em curso na costa de todo o Nordeste. De acordo com a prefeitura de Lauro de Freitas, os vestígios foram encontrados nas proximidades da rua Ismar R. Prates e Alameda Violetas, já cerca de 1,5 Km rio acima. De acordo com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), o óleo viaja principalmente abaixo da superfície da água, pelo que todo o percurso da foz do Joanes até o ponto em que foram identificadas as manchas pode estar já contaminado. O rio Sapato, que desagua na foz do Joanes, pode também ter sido afetado. O esforço popular para limpar as praias, em cenas a que todo o país assiste desde o início de setembro, repetiu-se no mês passado em Vilas do Atlântico e Ipitanga, durante os mutirões organizados pela comunidade. A prefeitura de Lauro de Freitas também investe na remoção das pelotas de petróleo, com equipes dedicadas à função e orientando os

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ELÓI CORRÊA

voluntários na coleta de manchas. Banhistas também receberam informações do que fazer caso entrem em contato com o óleo, que é tóxico. A própria atividade de remoção das manchas precisa ser executada com equipamento de proteção individual. Tonéis para descarte dos resíduos foram instalados em alguns pontos das praias de Lauro de Freitas. SEM FIM O problema, contudo, não tem fim à vista. Mas se não há previsão para o fim do desastre, também não há garantia de que vá prosseguir. Durante audiência pública na Comissão de Minas e Energia Voluntária mostra pelota de petróleo recolhida na praia de Vilas do Atlântico

da Câmara dos Deputados, em 22 de outubro, o presidente do Ibama Eduardo Bim deixou claro que o governo não tem ideia do que virá. “A origem dessa fonte de óleo é fundamental para o trabalho de emergência, porque não sabemos se está num ascendente ou numa descendente do óleo”, afirmou. As “manifestações de ‘tá acabando’ ou ‘está apenas começando’ não são fundadas em base técnica”, sublinhou. Apesar do prognóstico incerto, até o fechamento desta edição da Vilas Magazine nenhuma barreira de contenção do petróleo havia sido instalada na foz do rio Joanes. O governo do Estado vem mantendo reuniões com representantes do governo federal em busca de soluções. Para o secretário estadual do Meio do Ambiente, João Carlos Oliveira, além das ações de limpeza e retirada do produto nas praias, as atenções estão voltadas para a proteção dos estuários. “Queremos uma posição e uma resposta de como os nossos estuários e manguezais serão protegidos”, disse – “Estamos falando de uma região onde o turismo se configura como base econômica, com milhares de pessoas que dependem direta e indiretamente desse ambiente marinho, seja para alimentação ou para geração de renda”. Oliveira garante que “continuaremos cobrando medidas efetivas para manter o óleo afastado destes locais” e conclui: “Não podemos nos ater apenas ao trabalho de limpeza das praias, é preciso mais. De acordo com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que esteve em Salvador para tratar do assunto com o governo do Estado, a operação liderada pela Marinha está dividida em três pontos. “Temos a parte das investigações, para saber a origem desse desastre, a contenção do óleo, para evitar o avanço em outras áreas e a parte de controle


de danos das praias afetadas”, explicou o ministro, garantindo que 15 navios da Marinha estão focados na operação, com a atuação de 1,5 mil homens. As primeiras manchas de óleo foram vistas na Paraíba, no dia 30 de agosto. Em seguida o petróleo atingiu Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia e demais estados da região Nordeste. O que mais preocupa os cientistas que estudam o problema é que os estados anteriormente atingidos continuam a receber cargas da poluição de forma imprevisível. COBRANÇA A média diária de óleo recolhido pelo Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBMBA) nas praias de Lauro de Freitas e do Litoral Norte, até o dia 23 de outubro era de três toneladas. Os trechos mais afetados, de acordo com o governo da Bahia, são Imbassaí, Porto de Sauípe,

Subaúma e Conde, onde grupos de 85 bombeiros vêm trabalhando. O Inema e a Defesa Civil do Estado também estão atuando na limpeza das praias. Em reunião com os prefeitos dos municípios atingidos, o governador Rui Costa destacou que “a grande preocupação do Estado e dos municípios é a falta de informações por parte das autoridades federais competentes”, lembrando que “a responsabilidade por águas oceânicas, tanto ambiental quanto a segurança, pertence ao governo federal”. Mas “até agora nem os municípios nem os estados têm qualquer informação sobre o que foi feito e o que está sendo feito para descobrir a forte primária do vazamento e qual a situação no mar”, cobrou o governador. Rui Costa lembrou que “o óleo continua chegando diariamente” e por isso “reforçamos o pedido para que as autoridades federais tomem providências

Vice-Governador João Leão se reúne com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, no Comando do 2º Distrito Naval em relação à descoberta do que está acontecendo ou, pelo menos, informem aos estados e municípios o que estão fazendo até agora”. O Estado da Bahia aderiu a uma ação civil pública do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público da Bahia (MPBA) que solicita que o governo federal e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente | Continua na página 10 u

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BARREIRAS INEFICAZES Segundo o Ibama, as barreiras de contenção instaladas em parte do litoral do Nordeste brasileiro para tentar conter o avanço da mancha de óleo não são eficazes para este fim. A consultora ambiental da Petrobras Margareth Bilhalva explicou, em audiência na Câmara dos Deputados, que as boias cedidas pela empresa não são adequadas para evitar que o produto continue se espalhando. As barreiras de contenção pertencentes à Petrobras foram adquiridas para uso em eventuais derramamentos de óleo da própria empresa. “Importante frisar que esse óleo é muito diferente do que é produzido no país”, disse ela. “As nossas barreiras existem para proteção em caso de acidente com óleo nacional, que tem característica muito diversa deste que está sendo encontrado, que é muito pesado e não [viaja] sobre a superfície, mas sim sob a superfície”, afirmou Bilhalva – “O fato é que, muitas vezes, esse óleo pode passar por baixo das barreiras”.

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LUCAS NELLI

(Ibama) adotem medidas efetivas de proteção do litoral baiano.

Voluntários posam para foto durante mutirão de limpeza na praia de Ipitanga “Sei que há uma certa ansiedade para uma estratégia, mas não dá para barrar esta expansão do óleo”, disse o presidente do Ibama na mesma ocasião. “Tecnicamente, as barreiras não são as recomendáveis para uso com este tipo de óleo”, corroborou. “Estamos usando barreiras? Usamos, mas não existe uma solução de embarreiramento massiva. Tecnicamente, esta solução não se sustenta”, afirmou. Ele defendeu o monitoramento e a coleta do material já no litoral como o método mais efetivo para recolher toda a substância poluente. “Com o passar do tempo, ficou claro que a melhor maneira de lidar com uma mancha errática, não rastreável, e cujo comportamento é totalmente aleatório, é o monitoramento contínuo e tomar as medidas de prevenção que podemos adotar”, acrescentou. As autoridades trabalham com três hi-

póteses para explicar como a mancha de petróleo cru chegou ao litoral brasileiro: o produto vazou quando era transferido de uma embarcação para outra, por algum motivo desconhecido, ou um navio que transportava o óleo naufragou sem deixar registros, levantando a possibilidade de se tratar de um “navio fantasma”, não registrado, que navega com o sinalizador desligado para não ser identificado. Também não está descartada a hipótese de um derramamento de óleo. Segundo o governo, mais de 900 toneladas de material contaminado já tinham sido recolhidas ao longo do litoral nordestino até o dia 22 de outubro. Como um petroleiro pode transportar até 500 mil toneladas de petróleo, se ficar confirmada a hipótese de um naufrágio o litoral nordestino poderá receber petróleo por muito tempo ainda. Certezas, contudo, não há.


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Estações elevatórias do Sistema de Esgotamento Sanitário devem ser construídas a partir de janeiro

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Embasa reiterou, no mês passado, durante apresentação no Vilas Tênis Clube, as informações publicadas pela Vilas Magazine na edição de julho sobre o andamento das obras do Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) da cidade. A novidade é que, de acordo com a prefeitura de Lauro de Freitas, já em janeiro de 2020 serão iniciadas as obras de 12 estações elevatórias de um total de 26 nas três bacias da cidade. De acordo com o engenheiro Gustavo Mayor, da Embasa, a linha de recalque de Lauro de Freitas para Jaguaribe, que levará os efluentes para o emissário submarino, deve estar concluída em maio do ano que vem – se tudo correr conforme previsto. A estação elevatória de Patamares, embargada por iniciativa dos moradores daquela área, em Salvador, continua a ser um obstáculo. Já havia a previsão de ser definida uma nova área para a elevatória até o fim deste ano, mas agora a Embasa precisa de nova autorização da Caixa para licitar uma nova obra. A nova licitação, prevista para janeiro, inclui pontos de dificuldade que não estavam previstos no local anterior, como trechos com fibra ótica, segundo explicou o engenheiro. A área anteriormente prevista, cedida pela prefeitura de Salvador na região da rua Rio Trobogi, junto ao próprio curso d’água, foi objeto de questionamento junto ao Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA),

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em abril de 2017, por parte de um condomínio vizinho que se opôs à construção. Engenheiros da Embasa contaram, em fevereiro, que houve uma reunião com a participação de 18 advogados dos condomínios que se opunham à obra e, depois de dezenas de procedimentos no âmbito do inquérito civil aberto pelo MPBA, a Embasa desistiu do projeto. A linha de recalque está quase toda pronta porque foi necessário antecipar essa etapa, que seria a segunda a partir de 2014, a fim de não interferir com a obra do metrô, explicaram os engenheiros no início do ano. Uma parte da linha acompanha o trecho hoje ocupado pelos trilhos. Com 17,4 Km totais, a tubulação EDGARD COPQUE

percorre a distância entre a estação elevatória principal de Lauro de Freitas, nas imediações do ginásio municipal de esportes e o emissário submarino de Jaguaribe. Segundo os engenheiros da Embasa, falta executar apenas 1,2 Km, ou 7% do total, incluindo a estação elevatória de Patamares. Além de terminar o duto para Jaguaribe, ainda é necessário assentar 39 quilômetros de rede de coleta de esgoto na cidade. Anos atrás, quando a obra foi iniciada, cerca de 34 quilômetros de rede foram assentados. Estima-se que essa rede continue em condições de utilização. A licitação para o assentamento da rede que falta deve ser feita em janeiro. Em Lauro de Freitas, apenas uma parte de Vilas do Atlântico, Ipitanga, Centro e Recreio Ipitanga já têm a rede de esgoto construída, embora sem funcionalidade. Segundo a prefeitura, a cidade tem hoje 35% de cobertura de esgotamento sanitário funcional, com “mais de 49 estações de tratamento”, além das redes individuais de condomínios. A Embasa garante que a tubulação instalada até 2012 será aproveitada. Tudo isso faz prever o final da obra total para 2023, mas algumas etapas podem ser colocadas em funcionamento à medida que forem sendo executadas – de acordo com a Embasa. Iniciadas em 2011, as obras foram paralisadas um ano depois, quando o governo rompeu contrato com a empreiteira responsável, numa questão judicial que se arrastou até 2016. Gustavo Mayor, da Embasa: a batalha pelo SES continua


Parque Shopping Bahia abre as portas em março/20

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suários da Estrada do Coco, moradores de Lauro de Freitas ou visitantes em passagem para Salvador ou para o litoral norte, já estão acostumados a acompanhar as obras do maior complexo multiuso em desenvolvimento no Brasil: o Parque Shopping Bahia. A cada momento que se passa pela frente do empreendimento, um novo detalhe é notado, o visual é modificado para melhor, com mais beleza e arrojo nas suas linhas arquitetônicas. Sentimentos se misturam: de ansiedade, pela inauguração e orgulho em poder usufruir de uma mega estrutura de lazer, compras e serviços, com segurança e comodidade, para clientes lojistas e consumidores. Segundo Eduardo Soraggi, gerente Comercial do complexo, o ponto forte

do Parque Shopping Bahia é a localização, no principal vetor de crescimento econômico da Bahia. “Fazendo um paralelo com que já existe e que deu muito certo, Lauro de Freitas está para Salvador, como a Barra da Tijuca está para a zona sul do Rio de Janeiro”, esclarece o profissional. Outro ponto importante é que o empreendimento já nasce com o que o mercado aponta como tendência: além das melhores operações do varejo nacional, o Parque Shopping Bahia terá forte foco em lazer, serviços e conveniência. Reforçando esse novo perfil de shopping centers, o complexo vai contar com o maior parque de diversão em shopping do Brasil (com uma área aproximada de 7.500 m²), com um complexo esportivo e ainda com a maior casa de eventos do estado. Eduardo destaca também que o projeto total vai muito além do shopping. Implantado em uma área com 260 mil metros quadrados, ele viabiliza a entrada de outras operações que vão mudar ainda mais a rotina dos moradores de Lauro de Freitas, criando praticamente o novo centro da cidade. Além do novo centro administrativo da Prefeitura, já em uso, poderão ser

Eduardo Soraggi gerente de Vendas do Parque Shopping Bahia

construídos um hospital, um hotel e uma faculdade, por exemplo. Já estão confirmadas no Parque Shopping Bahia algumas das principais marcas do Brasil, como Pão de Açúcar (com mais de 2.000 m² será a maior loja da Bahia), Renner, Camicado, Riachuelo, C&A, Lojas Americanas, Preçolândia, Le Biscuit, Kalunga, Smart Fit, Cinépolis (com nove salas de cinema já na inauguração, sendo três salas VIP´s), Centauro (com o novo modelo de loja – Geração 5 – sendo a primeira fora do eixo Rio-SP), além de renomadas marcas de franquias do país.


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Lauro de Freitas proíbe distribuição e venda de sacolas plásticas

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stá proibido o uso de sacolas plásticas para acondicionamento de mercadorias em estabelecimentos comerciais de Lauro de Freitas. Projeto de lei nesse sentido foi aprovado em outubro pela Câmara Municipal. A vereadora Mirian Martinez (PSD) que assina a proposta, destaca que “retirar as sacolas plásticas de circulação traz como principal vantagem a preservação do meio ambiente, a despoluição, porque essas sacolas formam uma camada plástica de impermeabilização no solo, além de causar também efeitos de gases poluentes na atmosfera”. De acordo com o Banco Mundial, o Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas por ano, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. Do

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total gerado, cerca de 91% são coletados, mas pouco mais de 1% são efetivamente reciclados, percentual bastante inferior à média global de 9%. Em junho, a lei de autoria do vereador Isaac de Belchior (PPL) que proíbe o fornecimento de canudos de plástico aos clientes de bares e assmelhados, foi alvo de críticas da Associação Comercial e Empresarial de Lauro de Freitas (ACELF). A entidade emitiu nota mencionando “a possibilidade de serem [os associados] autuados pela prefeitura por fornecer a seus clientes os canudos de plástico que já possuem em estoque”. A multa prevista, no caso das sacolas plásticas, é de R$ 500 – e o dobro disso em caso de reincidência. A nova lei proíbe não só a distribuição gratuita, mas também a venda de sacolas plásticas aos consumidores. Os estabele-

cimentos comerciais ficam obrigados a afixar placas informativas sobre o assunto junto aos locais de embalagem de produtos e caixas registradoras. O texto diz ainda que os estabelecimentos devem estimular o uso de sacolas reutilizáveis, confeccionadas em material resistente para o condicionamento e transporte de produtos e mercadorias em geral. Diversos supermercados já oferecem essas sacolas para compra. E quase todos disponibilizam caixas de papelão que os consumidores podem usar em vez de sacolas plásticas. O banimento dos plásticos, que está na ordem do dia em todo o mundo, coleciona iniciativas também no Brasil. Na cidade de São Paulo, desde 2012 os estabelecimentos comerciais estão proibidos de ceder ou vender sacolas plásticas. Uma lei estadual do Rio de Janeiro, que está em vigor desde junho, não chegou a proibir, mas restringiu o uso de sacolas plásticas e estimulou a redução progressiva do seu uso. A proposta é ceder as duas primeiras sacolas plásticas, mas cobrar a partir da terceira. De acordo com a Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), o consumo de sacolas de plástico caiu 39% pouco mais de um mês depois da lei ter entrado em vigor. Em compensação, a Asserj registrou forte aumento na venda das sacolas reutilizáveis de ráfia, em alguns casos de 150% a 200%. A duração estimada dessas sacolas é de até cinco anos. BANIMENTO NACIONAL Mas as sacolas plásticas podem acabar definitivamente banidas em todo o país, se o Congresso Nacional aprovar um | Continua na página 16 u


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projeto de lei de autoria da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa que já chegou ao plenário do Senado. A lei que o Senado vai votar visa proibir não só a distribuição de canudos e sacolas plásticas em estabelecimentos comerciais, mas também a produção de produtos de higiene pessoal e cosméticos esfoliantes, tais como sabão, sabonete e pasta de dente, entre outros, que usem microplásticos como componentes. Pelo texto, ficam proibidos a fabricação, a importação, a distribuição e a venda de sacolas plásticas para guardar e transportar mercadorias, além de utensílios plásticos descartáveis para consumo de alimentos e bebidas, como é o caso dos canudos. A exceção é para as sacolas e utensílios descartáveis feitos com material integralmente biodegradável. No caso dos cosméticos com micropartículas de plástico, valem as mesmas proibições das sacolas e utensílios plásticos, além da proibição de registro. Essas micropartículas são usadas em vários produtos, como maquiagens, protetores solares e esfoliantes e podem se acumular nas águas de oceanos e rios. Além de demorar para se degradar, esses componentes podem entrar na cadeia alimentar de peixes, por exemplo, por isso já há ações para a proibição deles em vários países. A proposta nasceu de um projeto de Ideia Legislativa no portal e-Cidadania, uma iniciativa do Senado. As ideias legislativas podem ser propostas por qualquer cidadão cadastrado no e-Cidadania, sendo necessário o apoio de pelo menos 20 mil

outros cidadãos, em até 120 dias, Vereadora Mirian período em que fica aberta a voMartinez: ideia é tação popular. Quando atingirem “retirar as sacolas esse patamar são transformadas plásticas de circulação” em sugestão legislativa e passam a ser analisadas pela Comissão de Direitos Humanos. Quando aprovadas, passam a tramitar como projeto de lei. As ideias que não atingem o número mínimo de apoios no período de disponibilidade estabelecido são automaticamente encerradas. SACO É UM SACO A batalha contra as sacolas plásticas no país data de, pelo menos, 2009, quando a campanha “Saco é um saco” foi idealizada pelo Ministério do Meio Ambiente. O intuito era levar a população a reduzir o consumo de sacolas plásticas. O ministério contava que as sacolas plásticas foram introduzidas no Brasil no final da década de 1970, para substituir os sacos de papel kraft usados no comércio. A distribuição gratuita das sacolas causou uma revolução na limpeza urbana porque as sacolas passaram a ser usadas como sacos de lixo pela população, que antes dispunha o lixo diretamente na rua ou em latões. De acordo com a campanha, esse costume se estendeu por toda a sociedade, e foi um dos motivos do aumento no consumo das sacolas plásticas. Outra razão teria sido a gradual redução da espessura das sacolas, o que reduziu o custo para os estabelecimentos comerciais, mas obrigou o consumidor a usar duas ou mais para carregar compras mais pesadas. Já então havia a avaliação de que a gratuidade das sacolas desestimula seu uso moderado, fazendo crescer muito além do necessário o descarte do material plástico.

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Acesso prático e rápido à Justiça chega a Lauro de Freitas

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aplicativo “Queixa Cidadã” (veja tela), do Tribunal de Justiça da Bahia, passou a ficar disponível também em Lauro de Freitas, ampliado e disponibilizado também para outros municípios do interior – distritos, comarcas agregadas e comarcas sedes que possuem Varas do Sistema dos Juizados Especiais. O “Queixa Cidadã”, uma ação da Coordenação dos Juizados Especiais, desenvolvida em parceria com a Secretaria de Tecnologia da Informação e Modernização, representa um acesso rápido e prático à Justiça para registro de queixas nos Juizados Especiais. Os usuários podem acessar o aplicativo nas plataformas Android e IOS. O cidadão já pode contar com tecnologias para a área de defesa do consumidor, incluindo o fornecimento de água e serviços de energia elétrica. O sistema utiliza uma assistente virtual que conduz os usuários, passo a passo, até a conclusão da petição, da queixa ao processo formal, sem intermediários. São dois modelos de atendimento: o simplificado, para reparo de danos materiais; e o detalhado, para reparos de danos morais e pedidos de liminar. O “Queixa Cidadã” permite a autenticação do usuário por meio de reconhecimento facial, a partir da gravação de um curto

vídeo comparado ao documento de identificação. O usuário pode comprovar o endereço de residência por meio de fotos de contas de água ou luz. A petição é gerada depois do preenchimento das informações e a queixa torna-se um processo legal, com número, data e local da primeira audiência. O documento final pode ser conferido pelo usuário com todas as informações alimentadas no cadastramento. O usuário pode acompanhar toda a movimentação do processo pelo próprio aplicativo, recebendo notificação e lembretes.

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q CIDADE

Audiência na Câmara discute serviços públicos em Lauro de Freitas

Associação comercial aprova resultado de audiência sobre eficiência e celeridade

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o “primeiro de uma série de encontros produtivos que ainda realizaremos em parceria com os poderes públicos”, a Associação Comercial e Empresarial de Lauro de Freitas (ACELF) foi protagonista de uma audiência especial para debater “eficiência e celeridade” no serviço público, no mês passado. De acordo com Coriolano Oliveira Filho, presidente da ACELF, “se inicia um novo tempo, de interlocução e parceria independente entre os poderes constituídos e a classe empresarial neste momento, e comprova que é possível manter o diálogo incessante em prol das causas públicas, e o segmento empresarial precisa participar e emitir suas experiências e dificuldades, para juntos, buscarmos soluções”. Moema Gramacho, prefeita de Lauro de Freitas, que participou da audiência, corroborou o clima de concórdia comemorado pela associação comercial, ressaltando que parte das questões colocadas pelo segmento já foram atendidas em ações desenvolvidas pela gestão municipal. Entre elas, a criação da Central Geral de Apoio à Micro, Pequena e Média Empresa (CGAE), vinculada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação Tecnológica. 18 | Vilas Magazine | Novembro de 2019

Cristiano Magarão, secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação Tecnológica do município, apresentou os números da Central de atendimento a empresários como sinal de que algo está sendo feito. Em funcionamento há pouco mais de dois meses, a Central já realizou 600 atendimentos e mais de 75 empresas foram efetivadas. Moema Gramacho afirma que ela e o empresariado, “comungamos do mesmo objetivo” e garantiu que “eu não estaria na função que estou se não fosse para o desenvolvimento sustentável desta cidade”. E defendeu o desempenho econômico das suas administrações: “É inegável o crescimento da nossa cidade no período de 2005 a 2012, não só sob o ponto de vista econômico, mas do ponto de vista social, disse. “Temos interesses comuns também na questão social, que tem a ver com a atração de empregos para o nosso município”, garantiu a prefeita. Mas “nós estamos atravessando a pior crise que eu já vivenciei no país como gestora e como cidadã, que é o desemprego”. Mesmo assim, mais de quatro mil pedidos de instalação de empresas foram deferidos no ano passado, de acordo

com a prefeita – cerca de 88% do total de pedidos. Além disso, mais de cinco mil Micro-Empresários Individuais (MEI) foram registrados em 2019. Além da criação do CGAE, a prefeitura, com o apoio da Câmara Municipal, promoveu alterações em leis visando facilitar a implantação e o funcionamento de empresas no município, promovendo a redução de 30% no valor das contrapartidas sociais e a possibilidade da renovação temporária de alvarás de funcionamento para estabelecimentos comerciais com pendências, dando aos proprietários o prazo de 60 dias, prorrogáveis por igual período, para que pudessem regularizar a sua situação perante a prefeitura. Durante o debate, que teve como objetivo estabelecer uma interlocução direta entre profissionais liberais, empresários e comerciantes com o poder público, foram discutidas propostas da ACELF para dar maior celeridade na prestação de serviços por parte da gestão municipal, além de projeto de lei de autoria do legislativo que estabelece normas para o atendimento preferencial aos profissionais contabilistas, contadores e técnicos de contabilidade, nos órgãos públicos do município. Marcus Vinicius Bispo, vice-presidente da ACELF, lembrou que o pacote de sugestões entregue à prefeita Moema GramaAntônio Rosalvo: prioridade para advoga­dos e contabilistas no atendimento da prefeitura


cho identifica a obtenção de um alvará de construção entre as dificuldades que o setor empresarial enfrenta. Pela proposta da entidade, o processo deixaria de ser linear para passar a ser paralelo entre as diversas secretarias envolvidas, com prazo estabelecido para atendimento. PRIORIDADES O presidente da Câmara Antônio Rosalvo fez referência ao projeto de lei que tramita na Casa “para dar prioridade no atendimento a advogados e contabilistas” nos serviços públicos da prefeitura. De acordo com Rosalvo, a justificativa para a prioridade é que ambos “desenvolvem um papel importante junto ao serviço público, quando representam empresários ou alguém do povo para solucionar problemas junto ao poder público”. Para Coriolano Oliveira, presidente da ACELF, “quando a gente crê o milagre acontece”. Estimular diálogos é a principal intenção da entidade. De acordo com ele, “este primeiro encontro é para identificar pontos que possamos juntos desenvolver ideias e projetos” porque “temos aproximadamente 15 mil empresas na cidade, com 9,6 mil, estima-se, micro e empresas”, disse. “Temos na cidade hoje uma urgente necessidade de melhor qualificar a mão de obra, da mesma maneira que precisamos cada vez mais melhorar a qualidade do serviço público”.

André, contador, verifica problemas nos prazos de concessão de alvarás

PROBLEMAS E SOLUÇÕES Para o contabilista André, de Itinga, “por mais que existam esforços do poder público, é preciso sistematizar um pouco os procedimentos” porque “estamos tendo sérias dificuldades operacionais para trazer empresas para Lauro de Freitas”, disse. Segundo ele, “estamos perdendo espaço para os demais municípios da Região Metropolitana”. Moema Gramacho pediu “desculpas antecipadas” se em algum momento dificuldades foram impostas a empresários de forma a impedir que uma empresa se instalasse na cidade. “Mas também quero que me digam que empresas foram essas para saber o que de fato a levou a sair e se ainda dá tempo de trazê-la de volta”, disse. A prefeita afirmou que todas as dificuldades que chegam ao conhecimento dela são resolvidas e as empresas não deixam o município por isso. O contador também considera “inadmissível uma empresa se estabelecer em um endereço virtual e ter que passar pela vigilância sanitária, mas isso está acontecendo em Lauro de Freitas”. Afinal, o endereço virtual já passa por todas as vistorias para funcionar como endereço virtual. Segundo ele, a vigilância sanitária não tem estrutura para atender a demanda de vistorias, que tem enfrentado uma

Moema Gramacho: a questão social, que tem a ver com a atração de empregos, cria in­teresses em comum com o empresariado

Couto, contabilista, lembra o transtorno que foi a alteração do CEP

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Edmilson Pereira dos Santos: “quando se chega ao poder público as coisas entravam”, mas não há milagres

Coriolano Oliveira Filho, presidente da ACELF: “um novo tempo, de interlocução e par­ce­ria independente entre os po­ deres cons­tituídos” Novembro de 2019 | Vilas Magazine | 19


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Cristiano Magarão: números da Central Geral de Apoio à Micro, Pequena e Média Empresa espera de 30 dias “de um negócio parado”. Para Aderbal Lemos Júnior, corretor de imóveis, “existe uma distância muito grande entre o poder público e o contribuinte”, que está “completamente largado no município”. As pessoas “reclamam dos mesmos problemas sempre, dos entraves, das secretarias”. “Não é possível que um alvará de construção, seguindo todas as normas, demore seis, oito meses para ser liberado”, disse. Já Couto, contabilista, lembrou o “transtorno” que foi a alteração do CEP na cidade, que gerou demandas das empresas para atualização dos cadastros. “Tudo depende da sua equipe”, disse à prefeita. Edmilson Pereira dos Santos, que também participou da audiência, verifica que “quando se chega ao poder público as coisas entravam”, mas elogia a iniciativa da audiência: “há várias dificuldades, a cidade passa por grandes transformações e este momento aqui mostra grande maturidade”. Ele lembrou que “não há uma fórmula mágica de apertar um botão e acontecer a mudança no outro dia” – “Está com o Executivo a forma de resolver o problema, mas não tem como fazer isso da noite para o dia”. Ele apoia a formação de uma comissão para tratar das propostas entregues pela ACELF à prefeitura.

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Caminhada da Paz referencia Santa Dulce dos Pobres

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iéis católicos de Lauro de Freitas participaram da quarta edição da Caminhada da Paz com a relíquia de LUCAS LINS Irmã Dulce dos Pobres – canonizada em outubro A caminhada percorreu como Santa Dulce dos Pobres. O fragmento de um sete quilômetros entre osso do “anjo bom da Bahia” saiu da Igreja Matriz Portão e Itinga de Santo Antônio de Portão em direção a Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no bairro de Itinga, onde permaneceu por 14 dias. Os mais de sete quilômetros da caminhada atravessaram a cidade, de Portão a Itinga, pela devoção e fé à Santa baiana. Antes de iniciar a jornada com pedido de paz e celebração à canonização da Beata Dulce, o público se reuniu no interior da Paróquia Santo Antônio de Portão para o momento de benção com intercessão de São Miguel Arcanjo. Durante a caminhada, a maior parte dela pela Estrada do Coco, fiéis entoaram canções para a que viria a ser a primeira santa baiana. Uma missa foi celebrada na quadra da Igreja Nossa Senhora Aparecida, em Itinga, ao fim da Caminhada da Paz. O pároco de Portão, Rogério da Silva, relatou durante seu sermão a alegria de caminhar em nome da religiosa católica que fez muitas ações de caridade para quem mais precisava. “Devemos mergulhar na mesma misericórdia de Irmã Dulce”, disse – “fazer o bem, sem olhar a quem”. Também no púlpito montado na quadra, o pároco de Itinga Tiago Kern, ressaltou “a união entre os fiéis de cada bairro, como sinal de demonstração de amor puro ao próximo”.

Homenagem a Santa Dulce dos Pobres lota Fonte Nova e fortalece o turismo religioso

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as camisas, nos olhos, nos corações. A fé em Irmã Dulce, agora Santa Dulce dos Pobres, canonizada no domingo, 13 de outubro, atraiu milhares de fiéis à Arena Fonte Nova, em missa celebrada pelo arcebispo primaz do Brasil, dom Murilo Krieger, no domingo seguinte. O governador Rui Costa participou da celebração, acompanhado da primeira-dama e presidente das Voluntárias Sociais da Bahia (VSBA), Aline Peixoto, e de José Maurício Moreira e Cláudia Araújo, que receberam a graça


da cura, reconhecida pelo Vaticano. Para Rui, Santa Dulce dos Pobres está acima das religiões pela generosidade, história e cuidado com o próximo. “Com a canonização de Santa Dulce dos Pobres, a Bahia torna-se uma referência ainda maior do que já é da fé, com suas mais de 300 igrejas, como a do Bonfim, de Nossa Senhora da Conceição da Praia, do Rosário dos Pretos e de São Francisco. Isso vai ser muito bom também para reforçar o destino religioso que é a nossa capital”, afirmou o governador. O turismo da Bahia, lembrou o secretário de Turismo, Fausto Franco, é plural e o turismo religioso faz parte desse conjunto. “Este é um turismo independente da alta estação, de estar chovendo ou fazendo sol. E as pessoas que fazem turismo religioso têm como característica retornar outras vezes ao destino. A Bahia é muito rica na cultura religiosa. É um mix que a Bahia oferece e faz com que sejamos um estado muito especial”, acrescentou. A superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) e sobrinha de Santa Dulce dos Pobres, Maria Rita Lopes Pontes, disse que a canonização fortalece a obra e permite que a missão de Irmã Dulce seja ampliada. “Não é somente o atendimento de saúde. A gente tem que acolher bem as pessoas que chegam para conhecer a história de Irmã Dulce e o seu memorial”. A instituição realiza 2,2 milhões de atendimentos ambulatoriais por ano e 12 mil cirurgias. SANTA DULCE DOS POBRES Irmã Dulce nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador. Aos 7 anos, perdeu a mãe e, aos 13 anos, já acolhia mendigos e doentes na casa onde morava com o pai e os irmãos, no bairro de Nazaré, na capital baiana. A vida religiosa começou aos 18 anos, quando, após se formar como professora primária, ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus Somente aos 19 anos, em 13 de agosto de 1933, recebeu o hábito de freira e adotou o nome de Irmã Dulce em homenagem à mãe, que se chamava Dulce Maria. Naquele mesmo ano, ela viveu seis meses em São Cristovão (SE) e depois voltou para Salvador. Em 1935, iniciou a assistência à comunidade carente, sobretudo nos Alagados, conjunto de palafitas que foi formado no bairro de Itapagipe, na capital baiana Em 1939, Irmã Dulce invadiu cinco casas, em um local de Salvador conhecido como Ilha dos Ratos. Nos imóveis, acolheu enfermos e desabrigados. Ainda na década de 30, ajudou operários do | Continua na página 22 u

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bairro de Itapagipe, em Salvador, a formarem a União Operária São Francisco. Logo depois, juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup, fundou o Círculo Operário da Bahia Junto aos trabalhadores, ela inaugurou um colégio para os filhos dos operários e ainda ajudou a fundar os cinemas Plataforma e São Caetano, além do Cine Teatro Roma; a renda obtida nos cinemas contribuía para a manutenção do Círculo Operário. Na década de 60 transformou um galinheiro do Convento de Santo Antônio em albergue. Mais tarde, o lugar deu origem ao Hospital Santo Antônio, no Largo de Roma, em Salvador, e às obras sociais que levam o nome dela Em 13 de março de 1992, faleceu em Salvador. Em 2011, foi nomeada beata. Em 13 de outubro de 2019 foi canonizada e se tornou santa com o nome Santa Dulce dos Pobres. BEATIFICAÇÃO Irmã Dulce foi beatificada em 2011, após ter o primeiro milagre reconhecido. A graça alcançada foi a recuperação de Cláudia Araujo, que teve uma grave hemorragia pós-parto e cujo sangramento subitamente parou, sem intervenção médica. Após beatificada, Dulce Lopes Pontes passou a ser chamada ‘Bem-aventurada Dulce dos Pobres’. Para ser considerada santa, Irmã Dulce precisaria ter um segundo milagre reconhecido, o que ocorreu em maio deste ano. O miraculado, o maestro soteropolitano José Maurício Moreira, voltou a enxergar após fazer uma oração para a então beata. Ele teve glaucoma e começou a perder a visão em 1999. Em 2000, ele já estava cego, mas voltou a enxergar em 2014.

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Transporte irregular de passageiros passa a ser infração gravíssima

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ntrou em vigor em outubro a Lei nº 13.855, que considera infração gravíssima o transporte clandestino de passageiros. Publicada no Diário Oficial da União de 8 de julho, a norma altera o Código de Trânsito Brasileiro, tornando mais rigorosas as penalidades aplicadas aos motoristas flagrados transportando passageiros mediante remuneração, sem terem a autorização para fazê-lo. Ao ser classificado de infração gravíssima, o transporte irregular passa a ser punido com multa de R$ 293,47 multiplicado pelo fator 5, totalizando R$ 1.467,35, além da remoção do veículo a um depósito. Já o transporte remunerado de pessoas ou bens, quando não licenciado, passa de infração média a gravíssima, punida com multa e remoção do veículo. Nos dois casos, o motorista também perde sete pontos na carteira de habilitação, como estabelece o Código de Trânsito Brasileiro. Ele só não será punido em “casos de força maior ou com permissão da autoridade competente” – o que abre uma brecha para que os municípios com gestão própria do trânsito possam admitir exceções. Só em 2018, a Agerba (Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia) autuou 5.597 veículos irregulares e 1.292 no sistema regular de transporte rodoviário metropolitano e intermunicipal. O objetivo das ações de fiscalização é reduzir o transporte não regulamentado praticado normalmente em carros de passeio e vans sem licenças, documento e seguro que, de acordo com a Agerba, colocam em risco a vida dos passageiros.

Embasa descobre gato em 18 estabelecimentos comerciais de Itinga

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m operação realizada no mês passado para identificar fraudes na rede de abastecimento, técnicos da Embasa localizaram ligações clandestinas de água em Itinga, abastecendo 18 estabelecimentos comerciais. O valor total do débito corrigido das ligações inativas é de aproximadamente

ALBERTO COUTINHO


R$ 292 mil. A operação contou com apoio das polícias militar, civil e técnica. O alvo inicial da operação eram dois estabelecimentos comerciais que estavam com ligação cortada devido a falta de pagamento: um prédio onde funciona um restaurante, com 70 faturas em atraso, no valor total em torno de R$ 19 mil e um supermercado, com sete faturas em atraso, com débito no valor aproximado de R$ 6 mil. Após escavação para identificação de fraude, técnicos localizaram mais dois estabelecimentos comerciais com “gato” próximo ao supermercado e foi identificada ainda outra tubulação clandestina abastecendo irregularmente mais 14 estabelecimentos comerciais. Entre eles, lojas de variedades, de material de construção, vidraçaria, bar e supermercado. Todos os ramais foram suprimidos e as ligações foram deixadas sem abastecimento. Para regularizar a situação, além de quitar os débitos, os responsáveis pelos estabelecimentos terão que ressarcir à Embasa o valor correspondente ao desvio de água realizado nos últimos doze meses, que ainda será calculado. A Embasa esclarece que qualquer intervenção no hidrômetro e na rede da Embasa com o intuito de furtar água é crime e o infrator está sujeito ao cumprimento das penalidades previstas na legislação vigente. O usuário que estiver nessa situação deve procurar um ponto de atendimento da empresa e regularizar sua ligação, evitando problemas legais e multas. A população também pode denunciar sigilosamente as situações de fraude p e l o n ú m e ro gratuito 0800 0555 195.

Os muros da fachada do Cine Teatro com o grafismo ndebele: “afroamericanidade”

q CULTURA

Cine Teatro inaugura painéis de artistas sul-africanos na fachada

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Cine Teatro de Lauro de Freitas já tem na fachada, desde o mês passado, os painéis pintados por artistas sul-africanos que vieram ao Brasil para participar da 14ª Bienal Internacional de Arte Contemporânea. A ação foi uma iniciativa da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia em parceria com o Ministério de Artes e Cultura da África do Sul. A inauguração dos painéis, no princípio de outubro, reuniu os secretários de Cultura do Estado, Arany Santana e da Justiça, Direitos Humanos Desenvolvimento Social, Carlos Martins, além de representantes da embaixada da África do Sul e do Itamaraty. Arany Santana destacou a parceria entre a Bahia e país africano. “Nós estamos saindo das nossas caixinhas e fazendo intercâmbio com o mundo”, avalia. Para ela, “esse trabalho é fruto de uma articulação muito antiga entre Brasil e África que vem acontecendo desde o advento dos blocos afros e afoxés”. O trabalho dos sul| Continua na página 24 u

Amintas Cardoso: Artistas escolheram vir à Bahia entregar o presente

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africanos ficou registrado também no Colégio Edvaldo Brandão, de Cajazeiras, em Salvador. De acordo com o subchefe do Escritório Regional do Itamaraty na Bahia, Amintas Angel Cardoso, “os artistas escolheram vir à Bahia e entregar esse presente”. Angel explica que se trata de um trabalho de arte da etnia ndebele, da África do Sul e arte contemporânea baseada na tradição do grafite. Os ndebele são famosos pela arte em cores fortes, que estão no artesanato e até nas habitações. “Esse é um reconhecimento da África Sul ao amor, carinho, amizade e irmandade que a Bahia tem com este país africano”, disse. Os artistas “escolheram a Bahia para esta atividade cultural por reconhecem a Bahia como grande centro da ‘afroamericanidade’”, completou. Durante a execução do trabalho nos muros do Colégio Estadual Edvaldo Brandão Correia, o artista visual Khaya Witbooi conversou com os estudantes e exibiu sua produção durante aula da disciplina de Artes. “É um prazer estar aqui com esses jovens, mostrando para eles que é possível chegar longe com o nosso trabalho”, anotou. “Os adolescentes são como esponjas que absorvem tudo – mostrar para eles bons exemplos e a como usar a arte para construir um futuro é um momento único para mim”, disse o sul-africano.

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GTO Bahia – Grupo de Teatro da/o Oprimida/o da Bahia, realiza em Lauro de Freitas, entre os dias 9 e 29 de novembro, a sua segunda Jornada de Teatro, com curadoria de Armindo Rodrigues Pinto (foto). O evento conta com apresentações teatrais, leitura dramática, oficinas formativas, rodas de conversa, intervenções artísticas e sarau poético, entre outras atividades. De acordo com o curador, na jornada deste ano “não serão trabalhadas somente técnicas teatrais, mas também a reflexão, o debate e a formação de pensamento tão necessários no mundo vigente, uma forma lúdica de aprender a vida”. A abertura da Jornada acontece no domingo, nove de novembro, às 16h na Praça da Matriz. Estão previstas uma leitura dramática e a apresentação de dois espetáculos teatrais até depois das 20h. Nos demais dias da Jornada haverá espetáculos e outras atividades em diversas escolas da rede municipal de ensino. Para o dia 23, a partir das 19h, estão previstas duas apresentações na Praça José Ramos, em Itinga. 24 | Vilas Magazine | Novembro de 2019

FOTOS: EDGARD COPQUE

Jornada de Teatro ocupa praças e escolas em novembro

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felicidade como experiência da busca identitária de crianças negras. Esta é a essência do Centro Municipal de Educação Infantil Dr. Djalma Ramos (CMEI) para desenvolver projetos pedagógicos na unidade escolar. Na manhã do dia 18 de outubro, em Vida Nova, o Centro recebeu a visita de mulheres do grupo As Ganhadeiras de Itapuã, que conheceram as salas de aula e outros espaços que retratam suas histórias. Neste ano, o corpo docente do Djalma Ramos desenvolve um projeto intitulado “Um Amor Chamado... As Ganhadeiras”. O trabalho feito com crianças de zero a cinco anos promove, ao longo do ano letivo, atividades com narrativas das histórias de resistência e ancestralidade, por meio de uma concepção de educação decolonial e antirracista, com o intuito de aproximar os pequenos estudantes das personalidades que compõem o grupo


História das Ganhadeiras de Itapuã inspira projeto pedagógico do Centro de Educação Djalma Ramos Ganhadeiras de Itapuã, formado por mulheres. Segundo a coordenadora pedagógica do CMEI, Fátima Santos, a ideia não é somente trabalhar a perspectiva antirracista, inclusive porque o ensino de cultura e história afro e indígena já está no currículo da rede municipal de Educação de Lauro de Freitas. “A partir desse projeto, as crianças têm produzido escrevivências que se referem a obra das Ganhadeiras de Itapuã. Elas fortalecem as marcas identitária como elementos explicativos de suas raízes”, afirma. O Projeto contribui na formação dos alunos de forma lúdica para o resgate e enriquecimento da cultura afro-brasileira na contemporaneidade. As salas de aulas do Djalma Ramos foram ornamentadas na perspectiva da identidade territorial, da presença de mulheres negras e das questões de gênero, da afetividade e ancestralidade. Um espaço da unidade foi produzido para ser o museu das Ganhadeiras de Itapuã, com imagens,

textos e artefatos que contam a história viva dessas mulheres. No olhar das Ganhadeiras, a emoção foi transmitida por lágrimas de alegria, ao conheceram cada detalhe da decoração na unidade escolar em homenagem ao grupo. “Assim que botei o pé aqui já me emocionei. É um sentimento grande que vem de dentro. As professoras são muito caprichosas e com isso as crianças vão crescer sabendo o que é uma ganhadeira. Este projeto já superou todos os trabalhos que já participamos. Estou orgulhosa e grata”, descreveu a ganhadeira Tereza Conceição. O sentimento de valorização ainda continuou com o grupo de Itapuã quando estudantes do Djalma Ramos fizeram apresentações. O grupo do Reino Wakanda, composto por crianças de cinco anos (G5), referenciaram a cor do cabelo com a negritude e história das ganhadeiras. O Quilombo do Quingoma (G4) retratou a resistência do trabalho de lavagem de roupas. Com | Continua na página 26 u

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uma música do Ilê Aiyê, o Quilombo dos Palmares (G3) ressaltou a itinerância de pertencimento da beleza da mulher negra. No Centro de Educação, as salas dos grupos de alunos recebem um nome de acordo com a temática do projeto anual. Para Maria Dias, presidente da Associação das Ganhadeiras de Itapuã, a unidade escolar superou suas expectativas. “É uma felicidade ver crianças tão pequenas envolvidas em um projeto que resgata parte da história da Bahia. As professoras, para mim também são ganhadeiras, porque trabalham com amor para ganhar o seu dinheiro, são maravilhosas com esse projeto”, destacou. GANHADEIRAS As Ganhadeiras de Itapuã relatam suas experiências de vida através do canto e samba. Elas representam a própria história contemporânea e de outras mulheres do século 19 que construíram a economia do país por meio do trabalho de vendas de água, coco, acarajé entre outros produtos, além do ganho da lavagem de roupas, para a compra de cartas de alforria na época. Atualmente o grupo

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é composto por 45 pessoas de várias gerações e será tema do samba-enredo da escola Unidos do Viradouro no Carnaval do Rio de Janeiro de 2020. Maria Pinheiro, pesquisadora da Presença e Participação das Mulheres no Samba da USP, destaca que o projeto trata a civilidade e o protagonismo da mulher negra no universo da cultura popular. “A história das ganhadeiras traz para dentro da escola uma riqueza cultural, no sentido da música e dança, da culinária e vestimentas. Esta escola é muito referenciada em outros estados, principalmente São Paulo, por sua atuação dentro de sua perspectiva antirracista” comentou sobre o projeto pedagógico do Djalma Ramos. TRAJETÓRIA E PRÊMIOS O Centro Municipal de Educação Infantil Dr. Djalma Ramos iniciou em 2013 o desenvolvimento de projetos que valorizam a diversidade, o respeito à diferença e o direito de ser e existir de crianças. Após trabalhar a história do sambista Riachão, em 2014, a unidade escolar passou a produzir projetos somente com personalidades femininas negras. Mariene de Castro, Conceição Evaristo e Carolina Maria de Jesus, já foram homenageadas. Foi a partir da construção de projetos que ressaltam o patrimônio civilizatório afro-brasileiro que o Djalma Ramos adquiriu notoriedade. Em 2014, o Centro ganhou o prêmio “Escola: Lugar de Brincadeira, Cultura e Diversidade” concedido pela Universidade Federal do Ceará. Em 2015, o 16º Prêmio Arte na Escola Cidadã reconheceu o projeto “Dr. Djalma Ramos e Seu Amor por Riachão” como vencedor. Com o Projeto “Mariene: A Flor que Desabrochou da Nossa Gente”, a unidade escolar foi campeã em 2015, do prêmio Professores do Brasil. Também é reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) como um espaço educacional que tem como base político-pedagógica a inovação e criatividade. Em 2016, o Centro foi vencedor estadual do Concurso de Vídeo Pesquisar e Conhecer para Combater o Aedes Aegypti (MEC). Em 2018 a unidade foi premiada nacionalmente pelo projeto “Meu Cabelo, Minha Raiz”.


q MEMÓRIAS

IPITANGUENSES

Contos, crônicas e histórias da freguesia de Santo Amaro de Ipitanga

Capítulo 7:

Seu Domingos: Um balaio de histórias! THIARA REGES Freelance para a Vilas Magazine

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e longe já dava para ver que estava acontecendo uma prosa boa na porta de casa. Ele, um negro bem vistoso, tomando um banho de sol nas primeiras horas da manhã, para garantir a vitamina D, logo mexia com quem parasse para lhe comprimentar. Muito bem humorado, rolava até uma cantoria. “Bem ti vi avoou para pegar uma barbuleta Santo Amaro de Ipitanga Passou a Lauro de Freitas” “Hoje minha voz está assim, mas na época das festa debaixo do pé de Oiti, chamava atenção. Era eu, Norberto, João, Viturino, Domingão, Zé Grande. Era uma frota ‘desgraçada de homi (rsrsrs). Badinha? Essa, era o cão. E Caú também. Juntava todo mundo e a gente sambava a noite toda”. Quem relembra é Domingos Ferreira da Cruz, 81 anos. Sua história começa lá em Ilha de Maré, mas ganha vida na saudosa Santo Amaro de Ipitanga. Se você vai com frequência ao centro comercial de Lauro de Freitas, ali pelas imediações da praça da igreja matriz, com certeza já deve ter visto

Entre muitas risadas, seu Domingos Balaieiro conta suas histórias e faz muitos versos o seu Domingos, conhecido pelo apelido conquistado pelo seu ofício: balaieiro. Seus pais levavam uma vida simples na Ilha de Maré. Ao todo, somados os dois relacionamentos do pai, que ficou viúvo cedo, Balaieiro tem 18 irmãos. Menino, por volta dos 10 anos, quando saia para brincar, o pai logo o chamava, brabo: “Ei, vorta, e venha aprender. Mais tarde você vai ter uma mulher, que você não vai ficar só, e se tiver um trabalho ou não, você sempre vai ter um balaio para vender que é para comprar o pirão, que você não vai deixar sua mulher com fome”. O pai era o balaieiro da Ilha de Maré,

mas apenas Domingos e um irmão (já falecido) aprenderam o ofício. Após a morte da mãe, Domingos decidiu vir morar na capital, pois tinha uma tia que morava no bairro da Liberdade. Um conhecido dela ajudou a tirar seus documentos, pois até então só possuia a certidão de nascimento. “Meus irmãos e eu somos assim, todos pretos, mas uns pretos que sabem tratar as pessoas e quase todos os brancos gostam. Você não sabe assim, como eu e o senhor é?! (se referindo a sua amizade com professor Cláudio). Com os documentos em mãos foi tra| Continua na página 28 u

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q CIDADE

q MEMÓRIAS IPITANGUENSES u Continuação da página 27

balhar no exército, no 19 BC, já morando em Santo Amaro de Ipitanga. Como o pai lhe ensinou, conciliava o trabalho com os balaios. “Fiz tanto balaio para dentro do exército; fazia balaio para a Base Aérea, para a Marinha, e para as padarias todas. Minha vida foi fazer balaio”, conta. Mais ou menos por volta de 1960, ‘botou reparo’ em uma mocinha da cidade. Antônia. “Ela ficava espiando eu jogar bola (rsrsrsrs). O campo era ali na entrada da rua São Jorge, onde hoje tem um hotel. Eu passando, vi, gostei e ‘buli’ com ela, mas ela não gostou muito não. Pensei, será que sou tão feio assim? Voltei para falar com ela, e ela então sacramentou: só falando com a mãe dela, se a mãe deixasse ela aceitava”. “De noite fui para falar com a mãe dela. Ela estava na janela e vi ela falando: ‘olha mamãe, é o rapaz que veio para falar com a senhora para namorar comigo’. Eu entrei”. Depois de me apresentar para a mãe de Antônia, falar de sua família, parentes mais próximos, ela questionou se Antonia estaria realmente interessada, e eis que a moça confirmou que sim, caso a mãe permitisse. Foi a hora então de chamar o pai. “Naquele tempo era o diacho (rsrsrsrsrsrsrs), um povo brabo”. A prosa não demorou muito, logo Domingos reconheceu o seu Pedro, pai de

Fotos de arquivo, quando seu Domingos ainda fazia seus balaios

Antônia. Alguns dias antes, fardado com o uniforme do exército, passando pela feira das Sete Portas, em Salvador, avistou um moleque mexendo com um dos vendedores de frutas, já um senhor. Ele chegou, perguntou o que estava acontecendo. “Hoje não, hoje eu sou uma droga, mas naquela época eu era bem malcriado. O moleque veio pra cima, ‘piquei a mão’ nele, e botei ele para correr (rsrsrsrsrs); e avisei para o outro vendedor, de apelido 27, que se o moleque voltasse era para mandar me chamar”. O vendedor de frutas que Domingos defendeu era justamente o pai de Antônia. Com isso, ter a aprovação para namorar com moça ficou mais fácil. “Ele perguntou: ‘você tem mulher?’ Respon-

Com o professor Antonio Cláudio e o estudante Caíque Barbosa

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di: ‘tenho não, perdi minha mãe agora, então eu preciso de uma pessoa que se desvelasse por mim e eu me desvelasse por aquela pessoa. Vi sua filha, gostei dela e vim falar. Vontade de casar eu tenho, e precisão também. Como diz que a precisão é o abrigo do ladrão (rsrsrsrsrsrs’)”. O casamento não foi na igreja, foi com Chiquito (escrivão na época), no cartório, e lembra até hoje do valor: 900 mil réis. Com Antônia, Domingos teve 15 filhos, todos criados com o seu ofício de balaieiro. Para fazer os balaios achava a matéria prima aqui mesmo na margem do rio, próximo a ponte. Preferia a cana-brava, que tem uma massa na parte interna, mais macia. “Qualquer coisa serve para fazer o balaio, dendê, bambu, mas a canabrava tem mais carne e não fura muito. Aqui em todo lugar se achava cana-brava, até na beira do asfalto. Ia com meu facão, tirava uma quantidade, botava no ombro e vinha embora”. A casa dele sempre foi no mesmo lugar, na rua Romualdo de Brito. As pessoas passavam, perguntavam o valor, pediam para ver. “Um dia chegou um rapaz, dei o preço: 50 o balaio; eu tinha um pronto, ele desceu do carro e veio olhar o balaio. Aí eu disse: ‘suba em cima’ (rsrsrsrsrsrs). O povo sentava no balaio, e ele firme, nem se mexia”. Ele lembra até do primeiro balaio que vendeu quando firmou moradia em Santo Amaro de Ipitanga. “Foi para um senhor de nome Manoel, ele não era brasileiro.


Seu Domingos não esconde a estima pela prefeita Moema Gramacho

Depois dele, fui enchendo a cidade. Botei balaio nesta cidade como o ‘diacho’. Ave Maria, não podia sentar ali que já aparecia alguém querendo balaio”, lembra. Certa feita, chegando com um feixe de cana-brava no ombro, percebeu um carro parado, próximo, parecia estar lhe observando, mas ele seguiu com a sua rotina diária: colocou o feixe no chão, raspou a casca, lascou no meio para tirar a bucha, e foi trabalhando até extrair a palha e trançar mais um balaio. O carro saiu, não demorou muito chegaram dois rapazes com umas ferramentas no ombro. “Perguntaram: ‘O senhor trabalha aqui exatamente onde?’ Mostrei o lugar e ele completou: ‘Mas hoje o senhor não vai trabalhar. Viu que tinha um carro aqui parado? Então. Era a prefeita (Moema Gramacho). Ela mandou que a gente viesse construir um banco para o senhor trabalhar. De tarde já vai estar pronto”. Estava nascendo naquele momento uma relação de amizade e muita admiração. Hoje seu Domingos não faz mais os balaios, tem uns dois anos, e o que lhe parou foi uma queda, bateu a coluna. Mas mesmo assim ainda existia a procura por balaio, mas ninguém na família se interessou em seguir com a tradição. O fato de não poder mais fazer os balaios, que com o tempo se tornaram também uma distração para a mente, por vezes deixava seu Domingos muito agitado. Hoje ele gosta de fazer versos,

que manda para os netos, e de falar com a prefeita Moema, de quem ele não esconde a estima. Sua filha, Rosane Santiago, conta que por vezes pega um telefone, coloca um pano para abafar a voz e finge ser a prefeita. “Ela tem um carinho muito grande por ele, e até me passou seu número pessoal para falar com ela quando precisar, mas não posso ligar para a prefeita todas as vezes que ele fica agitado, então faço isso. Só assim ele se acalma. Outra opção é ligar a TV e colocar algum discurso dela no Youtube. Ele se senta e fica quietinho, prestando atenção”, conta. E o carinho não parte apenas do seu Domingos Balaieiro: “Todo mundo se lembra dele, ali sentado, fazendo os balaios, e se você perguntar quem é Moema Gramacho ele vai responder: minha filha. E sem dúvidas o sentimento é recíproco, é um pai que ganhei em Lauro de Freitas, e me emociono quando a filha dele conta que o que deixa ele calmo é ver meus vídeos, inclusive que ele conversa com a TV enquanto isso. Peço licença e desculpas aos filhos de sangue para dizer: ‘Seu Balaieiro, o senhor é um pai para mim e eu te amo”, se declara a prefeita Moema Gramacho, emocionada. Nossa prosa seguiria por toda manhã, histórias ele tem várias, mas estava na hora de deixar ele descansar. Não antes de ouvir mais alguns versos, que saiam às vezes embolados entre boas risadas.

“Eu nunca achei um cantador Que suba no meu cupim E se subir não descamba Se descambar eu dou fim” NOTA DA REPÓRTER Um homem conhecido por seu ofício, e que com uma vida de muito trabalho entrou para o legado de Santo Amaro de Ipitanga. Seu Domingos, ou melhor, Balaieiro, é isso: simplicidade e sabedoria juntos. Por mim, tinha passado a manhã toda escutando ele contar, com riqueza de detalhes, as importantes passagens de sua vida, dos ensinamentos que aprendeu do pai, do pedido para namorar e casar com Antônia, da amizade com a prefreita Moema Gramacho e dos muitos balaios que fez e vendeu. Quer saber mais? Aponte a câmera do seu smartphone para o código abaixo e confira mais detalhes dessa história.

NOTA DO EDITOR Com a história de Balaieiro a coluna Memórias Ipitanguenses se despende, ou como prefiro dizer, ‘dá um até logo’. Foram sete capítulos de muitas lembranças, boas descobertas, e novas amizades que nasceram. Sabemos que ainda não contamos todas as histórias da saudosa Santo Amaro de Ipitanga, mas esperamos ter mostrado um pouco das características do nosso povo. A coluna “Memórias Ipitanguenses: con­ tos, crônicas e histórias da freguesia de Santo Amaro de Ipitanga”, surgiu da parceria entre a revista Vilas Magazine e a Escola Municipal Ana Lúcia Magalhães, através da Secretaria Municipal de Educação. Participaram da produção deste capítulo: Domingos Ferreira da Cruz, Rosane Santiago, Moema Gramacho, Mara Campos, Antonio Cláudio, Caíque Barbosa e Thiara Reges.

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q PLANTAS & JARDINS

Natureza em vidros THIARA REGES Freelance para a Vilas Magazine

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m pequeno pedaço de natureza para chamar de seu, mesmo se for na loucura das grandes cidades e seus arranha-céus. Essa pode ser uma das definições para os terrários, cultivos de plantas dentro de potes de vidro, que além de fácil manutenção, trazem vida para pequenos espaços com uma estética singular. E não é difícil de se apaixonar. Com Viviane dos Santos, 35 anos, e Deise Monique, 32 anos, por exemplo, foi amor à primeira vista. Elas conheceram os terrários através de uma amiga que mora em São Paulo. “Eu sempre gostei de plantas, e quando ela viu o terrário tirou uma foto e me mandou. Eu me apaixonei na hora; foi um sentimento tão forte que eu entendia que precisava ter um terrário”, conta Viviane. Naquele primeiro momento empreender nem passou pela cabeça de nenhuma das duas. Viviane trabalhava em uma agência bancária e Deise trabalhava com supervisão de vendas. Em maio deste ano elas pesquisaram sobre os terrários e tentaram fazer um. “Quando vejo a foto do primeiro terrário observo várias coisas que poderiam ser feitas diferentes, mas o mais importante foi o que eu senti quando vi o terrário pronto; foi uma satisfação tão grande, aquele brilho nos olhos, que eu não tive nenhuma dúvida: é isso que quero fazer, pois isso me deixa

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feliz”, lembra. A saída dos respectivos trabalhos foi planejada. As duas se organizaram, buscaram literaturas sobre o assunto e capacitação em São Paulo; foram atrás também de fornecedores e inspirações, para que pudessem entregar uma proposta diferenciada de terrários. “Gostar de planta não significa saber cuidar, então fomos atrás da capacitação e mesmo assim no início perdemos muitas plantas. Hoje nossa proposta é de trazer representatividade para os terrários fazendo peças personalizadas que tenham significado para as pessoas que estão adquirindo”, frisa Deise. MINI ECOSSISTEMA Ter um terrário na verdade não é algo exatamente novo, nos anos de 1980, por exemplo, eles viraram febre. O que mudou foi forma de fazer associado às novidades tecnológicas, com direito a miniaturas personalizadas, elementos que simulam água e até luzes de led, e hoje os terrários são os queridinhos da decor. O cultivo surgiu através de uma experiência do médico inglês Nathaniel Ward, entre os séculos XVIII e XIX. Conta-se que ele era um apaixonado por botânica e seu herbário possuia mais de 25 mil espécies. Certa feita ele resolveu observar o desenvolvimento das borboletas. Em um vidro fechado ele colocou pupas e um pouco de terra, para observar o processo de metamorfose. Para sua surpresa, um pedaço de raíz de samambaia, que estava misturada a terra, germinou, sem a necessidade de qualquer tipo de cuidado ou rega. Ele então fez o mesmo teste com outras plantas e notou que seria possível o transporte de espécies e microsistemas em longas viagens de navio pelos continentes em caixas de vidro fechadas. A descoberta ganhou o nome de caixa de Ward, que é ao mesmo tempo a inspiração dos terrários modernos e dos aquários de peixes. Sobre terrários é importante destacar que existem cultivos abertos, sem tampa, e os fechados. | Continua na página 32 u

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q PLANTAS & JARDINS

u Continuação da página 31

“Quando é um cultivo sem tampa, é um mini jardim, feitos em recipiente aberto que pode receber espécies como cactos e suculentas. Já nos terrários, que são cultivos fechados, serão utilizadas plantas que precisam de umidade, como musgos, orquídeas e samambaias”. Os modernos terrários são encontrados nos mais criativos recipientes, de pingentes em forma de garrafas à lâmpadas incandescentes sem uso; caixas no modelo vitoriano ou modernas formas geométricas; até garrafas em formato de carro. “Quando possível gostamos de usar um pote do próprio cliente, às vezes algo que estava até sem uso. Um dos desafios até agora foi uma garrafa que tinha o formato de uma Kombi”, frisam. Outro desafio na confecção dos terrários é a falta de fornecedores locais. A matéria prima vem de outros estados, em especial São Paulo. “Nossa criatividade empaca muitas vezes na dificuldade de encontrar a matéria prima em Salvador. Hoje só conseguimos fazer terrários de no máximo 30 cm, por não encontrar outras opções de vasos ou opções de tampas. Agora estamos, por exemplo, com uma encomenda de um terrário com orixás, e neste caso precisamos tanto das miniaturas como de um vaso que tenha a proporção adequada para um cenário equilibrado”.

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PEQUENOS CUIDADOS Deise e Viviane se Um terrário, com correta maapaixonaram pelos nutenção, pode durar por anos. De terrários e decidiram fácil manutenção, um dos pontos empreender principais é não deixar o terrário exposto a luz solar direta, pois isso aumenta a temperatura criando um ambiente de estufa, o que mataria as plantas. Como é um ecossistema as plantas vão crescer, e o próprio usuário, a depender do vaso, pode fazer a poda. Já as regas devem acontecer uma vez por mês, em potes com tampas de vidro, e uma vez a cada três, em potes


Rotary Club Lauro de Freitas mobiliza ações nas comunidades com outras tampas, como a cortiça, borrifando pouca quantidade de água na parede do vidro, e não diretamente nas plantas. Depois é só fechar o terrário novamente. “Um terrário pode durar por anos, mas como é composto por seres vivos, eu gosto sempre de destacar para os clientes que a energia presente no lugar será determinante no tempo de vida”, afirma Deise. Hoje a empresa funciona no apartamento das meninas, com as vendas através do Instagram @ vivaefloresca_, com valores que variam de R$49 a R$229. “Até fomos em algumas feiras onde acontece o encantamento do público, mas a logística é muito complicada, os terrários são muito sensíveis,

Um dos desafios da dupla, no momento, é uma garrafa em formato de Kombi não são peças coladas. Então qualquer descuido no transporte acaba com todo o trabalho”. “Não tem como determinar o tempo necessário para montar cada terrário, depende do vaso, tamanho, bem como do ritmo da pessoa. Para mim é um exercício de prazer, coloco uma música, me conecto com a natureza, e vou no meu tempo. Hoje nosso trabalho está focado em levar a satisfação e alegria, através de pequenas doses de natureza”, conclui Viviane.

O consultor Edmilson Pereira dos Santos, especialista em formação, treinamento e desenvolvimento humano, visitou, a convite, o Rotary Club Lauro de Freitas, oportunidade em que proferiu palestra com o tema “O Voluntariado e a Filantropia no 3º Milênio”.

Crianças alunas da Escola Rotary de Quingoma homenagearam o Núcleo de Senhoras do Rotary, em agradecimento pelos dedicados serviços e apoio Crianças da Escola Rotary de Quingoma, foram convidadas para comemorarem o Dia das Crianças, em outubro,nos espaços de lazer do Castelo Encantado e Casa de Palha, tradicionais parceiros do Rotary Club.

Os clubes de Rotaract, Aratu e Lauro de Freitas promoveram conjuntamente, em outubro, uma ação de saúde, beneficiando a comunidade de Quingoma.


q GASTRONOMIA

guns estudiosos defendem que o acarajé foi inspirado no falafel, um bolinho feito de grão-de-bico muito apreciado pelos árabes. Seu característico tom vermelho acobreado é adquirido no momento da fritura, em azeite de dendê bem quente. Num primeiro momento o acarajé aparece no candomblé, em obrigações para os orixás Iansã e Xangô, feitos da mesma forma que se fazia o akara na África, apenas feijão-fradinho triturado, temperos e a fritura em dendê. No século 20, quando passou a ser vendido nas ruas, feito por negras libertas ou de ganho, o acarajé ganhou complementos. Cortado ao meio, o bolinho é recheado com vatapá, caruru e camarão seco, que também têm origem africana; e vinagrete, de origem portuguesa.

Patrimônio nacional, acarajé aquece o paladar de turistas e baianos

PROFISSÃO: BAIANA DE ACARAJÉ Muitos mais que uma delícia, o acarajé abraça uma representação histórica e traduz a luta de um povo. Não é à toa que as baianas de acarajé são patrimônio cultural e imaterial da Bahia e a profissão

THIARA REGES Freelance para a Vilas Magazine

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CARAJÉ. Termo iorubá que significa àkàrà, “bola de fogo”, + je, “comer”. Uma mistura de três ingredientes, feijão-fradinho, cebola e sal, que resulta em uma explosão de sabor única. Quem visita a Bahia logo procura um lugar onde possa comer a iguaria, e para quem vive aqui, passar no tabuleiro da baiana, ao menos de quando em vez, ou seja, toda a semana, é quase que um ritual. O acarajé não é uma comida originalmente brasileira. Ele chega à Bahia em meados do século 18, trazido pelos escravos vindos de países da África. Al34 | Vilas Magazine | Novembro de 2019

Vatapá, caruru e a salada são acompanhamentos opcionais. O camarão é sagrado


é reconhecida por lei. Segundo Rita Santos, coordenadora nacional da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, fundada em 1992, até 2017 já estavam registradas cerca de seis mil baianas de acarajé no Brasil e em alguns outros países. Esse registro era feito através da plataforma Oyá Digital, do Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico, que deve voltar a operar em fevereiro de 2020, quando acontecerá uma atualização destes dados. A Bahia concentra aproximadamente 3.500 mil baianas de acarajé, e apenas 10% são do sexo masculino. “Trata-se de uma profissão historicamente matriarcal. Os homens chegam a partir do momento em que a baiana só tem filhos homens. Outra fatia são homens que perderam o emprego, grande maioria oriundos do polo industrial, que se juntam às suas mães ou esposas que já fazem o acarajé”, frisa. Mas Rita frisa que apesar de regulamentada como profissão, as políticas públicas que deveriam se somar a isto, seja para fiscalizar ou para fortalecer e desenvolver, não existem. “Da parte do contexto cultural e da preservação do ofício, que é o patrimônio, está ainda mais complicado. Precisamos destacar que para ser patrimônio, como está descrito no decreto, em Brasília, é preciso atender critérios que vão desde a vestimenta, saia, bata e torço, até o tabuleiro; não se trata simplesmente de vender o acarajé. Além disso, complementos como o caruru, por exemplo, são opcionais, mas não se pode modificar a receita, incluindo outros elementos. Se pegarmos como exemplo a cidade de Lauro de Freitas, vamos encontrar no máximo 20 baianas que realmente respeitam o patrimônio.” Em Lauro de Freitas tem o decreto, n° 2.514, de 18 de setembro de 2006, que trata do funcionamento das baianas de acarajé na cidade.

Natanael aprendeu a fazer os bolinhos com a mãe. No ponto que mantém há 28 anos, nos fundos do Vilas Tênis Club, ele ensina o preparo para as duas filhas

O SEGREDO NO AMOR Em um volta rápida pelas ruas de Vilas do Atlântico, em Lauro de Freitas, por exemplo, não é difícil encontrar um tabuleiro. Olga Pereira é um exemplo. Baiana de Acarajé há 26 anos, ela aprendeu os segredos da receita com Regina, sua comadre. “Comecei como ajudante de cozinha, fui aprendendo aos poucos, e cada vez mais me apaixonando pelo ofício”, conta. Tem apenas dois anos que está em Vilas do Atlântico, veio a convite da diretoria do mercado Dia a Dia, e logo fez uma clientela cativa. Alguns metros adiante, em direção a praia, o cheiro do bolinho sendo frito nos leva até a barraca da Buba (ausente quando da produção da matéria, por motivos de saúde) estava, ao lado do mercado Pão Expresso. De relação com o acarajé já são cerca de 40 anos. José Raimundo, conhecido como Cabeludo,

já tinha uma barraca de acarajé quando Eva Pereira (Buba) se casa com ele. De lá, muitos bolinhos e histórias divertidas com os clientes. “Certa vez, um americano, comeu três acarajés e acabou com toda a pimenta do tabuleiro. Quando acabou o terceiro acarajé, ele estava vermelho, e eu preocupada, mas ele, sorrindo, disse que estava muito feliz”, lembra João Sousa, um dos assistentes de Buba. Quem também está com Buba aprendendo o ofício é Luciene Trindade. “O acarajé é tão gostoso que não dá para enjoar: se deixar, comemos todos os dias. O segredo? O acarajé é feito com amor, gostamos de estar aqui, em contato com os clientes. Tem alguns que às vezes nem comem, já estão tão acostumados a vir na baiana, que chegam só para bater papo”. No caso de Natanael Evangelista, a paixão pelo acarajé nasceu dentro de casa: sua mãe, Vera Lúcia, era baiana de acarajé, com tabuleiro montado em frente ao Vilas Tênis Clube. Agora é ele quem segue fazendo os bolinhos, e mantém ponto nos fundos do clube, há 28 anos, com ajuda das filhas Marina e Mariana. “Não podemos tirar a raíz, criamos nossos filhos, já temos netos, e seguimos na profissão, fazendo o acarajé. Aqui atendo quem está indo ou voltando da praia. Temos clientes que esperam a se| Continua na página 36 u

Luciene, aprendendo as lições de Buba

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q CIDADE

Eva Pereira (Buba) e José Raimundo (Cabeludo): 40 anos de relação com o acarajé. Após a morte dele, ela mantem a tradição

Acarajés sendo fritos no dendê

u Continuação da página 35

mana inteira pelos nossos produtos (ele atende apenas aos sábados e domingos) para vir comer de novo”, conta. Assim como ele está ensinando as filhas, muitos de seus clientes levam os filhos para comer o acarajé e a cultura vai sendo passada entre as gerações. Segundo ele, seus clientes mais antigos e fiéis não deixam de comprar o acarajé, mesmo se o dia for de chuva. “O ex-prefeito Marcelo Abreu, o deputado Benito Gama e até o seu diretor, Carlos Accioli Ramos (se referindo ao diretor-editor da revista Vilas Magazine), volta e meia estão por aqui. É que não trabalho apenas pelo dinheiro, tenho amor pelo que faço e muito respeito no atendimento aos clientes; foi assim que aprendi com minha mãe e é o que estou ensinando aos meus filhos”, concluiu. O preço médio do acarajé em Vilas do Atlântico é R$ 10, sem camarão e R$ 12, com camarão. Nas barracas encontramos também o abará, que é o bolinho de feijão-fradinho embrulhado em palha de bananeira e cozido em banho-maria, passarinha (baço do boi), cocadas e o bolinho de estudante, feito a base e tapioca granulada e leite de coco.

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Bolinho de estudante


Camarão seco e defumado

Cocadas

As baianas e seus muitos ofícios * VILSON CAETANO

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hamo aqui baianas, mulheres que ainda hoje sobrevivem da venda de comidas nas ruas da cidade de Salvador e aqui temos hoje obrigatoriamente que incorporar também os baianos, homens que tem contribuído não apenas para a divulgação, mas conservação e recriação de pratos afro-brasileiros. Diga-se de passagem, que a cozinha baiana, entendida como a cozinha de azeite da cidade de Salvador, se formou a partir da junção de tradições islâmicas, judaicas, portuguesas, galegas, indígenas, africanas e muitas outras. Na colônia, o comércio de gêneros alimentícios no varejo era concedido exclusivamente às mulheres brancas, aos poucos, as mulheres negras, vestidas à maneira africana, com turbantes, camisas de algodão, saia estampada, pano da costa e algumas até com joias, foram ocupando este lugar. Um estudo minucioso sobre o cotidiano destas mulheres foi realizado pela professora Cecília Conceição Moreira Soares e publicado sob a forma de livro intitulado “Mulher Negra na Bahia no século XIX”. Ganhadeiras e quitandeiras vendiam todos os gêneros alimentícios. Saiam cedo apregoando seus produtos levados na cabeça, dentro de gamelas, cestos ou tabuleiros. Quando na cidade foram estabelecidos pontos para o comércio de alimentos específicos, como carnes, peixes e frutas, lá estavam estas mulheres

ditando regras nas suas quitandas, “estruturas de madeiras permanentes”. Com o passar do tempo, o ganho, espécie de acordo entre senhores e escravos, foi se tornando uma maneira através da qual se podia acumular recursos para a compra da alforria, verdade que a duras custas. Outro trabalho sobre o assunto que merece destaque é o de Richard Graham intitulado “Alimentar a Cidade”. O autor lembra que a venda na rua exigia disposição para se deslocar, habilidade e iniciativa, em resumo: “ter cabeça de venda.” Comercializar alimentos permitia mais do que relações econômicas, pois a comida serve para ampliar e estabelecer vários vínculos. Ideia semelhante vamos encontrar no texto de Pierre Verger e Bastide sobre os mercados nagôs no Golfo de Benin. Esta arte de mercar teria sido transmitida pelos africanos e africanas a seus descentes. Isso resulta, como sugere o professor Vivaldo da Costa Lima, no fato de que ainda hoje, encontramos os mesmos tabuleiros de duzentos anos, talvez com poucas modificações a fim de adequar-se a algumas medidas normativas. E sobre as comidas? Muitas se mantiveram a exemplo do acarajé, do abará e da cocada, dos mingaus, da passarinha, do mocotó nas primeiras horas da manhã, do peixe frito, do churrasquinho, da pamonha, do cuscuz, dos bolos, do lelê, do beiju, etc. Outras desapareceram e algumas tornaram-se molhos, espécie de complemento, ou acompanhamento como o brasileiríssimo vatapá, o caruru e a pimenta frita no azeite de dendê. O acarajé, iguaria africana mais popular nas ruas do Brasil, por exemplo, teve seu tamanho

aumentado e uma das explicações seria para concorrer com outras comidas que passaram a circular na rua, a exemplo do cachorro quente e hambúrguer. Se nos últimos anos, o tamanho do bolinho feito de feijão precisou diminuir para circular entre canapés nas mesas granfinas, recentemente teve seu tamanho mais uma vez modificado para enfrentar a crise econômica e retornar a 1 real. É bem certo que os acarajés a este preço, que vem se multiplicando pela cidade, mais do que enfrentar a recessão, demonstram a capacidade que a comida possui de sobrepor-se a fronteiras econômicas, sociais, culturais, políticas e até mesmo religiosas. O acarajé de 1 real tem deixado para trás o “bolinho de Jesus”, “o acarajé das irmãs”, “o acarajé gospel”, o “acarajéburguer”, o “mac acarajé”, o acarajé de 1kg, e tantos outros. Embora a concorrência venha reagindo, o seu preparo tem se baseado nas mesmas técnicas e nos mesmos ofícios que em 2004 garantiram ao acarajé ser tombado como patrimônio do Brasil. Nas mesmas histórias e motivações que alcançaram as ruas quando estes homens e mulheres negras saíram para mercar seus produtos e fizeram da venda de comida um dos principais motivos de sua existência”. VILSON CAETANO, antropólogo com pósdoutorado em Antropologia, professor da Escola de Nutrição e do Programa de pós graduação em Antropologia da UFBA. vilsonjr@uol.com.br *Artigo adaptado, publicado originalmente em nov/2015 no Jornal A Tarde.

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q MODA & BELEZA

Creme para a área dos olhos faz diferença na saúde da pele? Veja benefícios

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ma rotina de cuidados faciais inclui limpar, tonificar, esfoliar e hidratar. Porém, muita gente se esquece da região dos olhos ou acaba passando o mesmo hidratante que usa no rosto – um erro bastante comum. Cuidar da área dos olhos é importante e isso significa usar também produtos específicos. “A pele dessa região tem apenas 0,5 milímetro de espessura. É bastante delicada, sujeita a movimentos repetitivos da ação muscular, o que dá origem às chamadas ‘marcas de expressão’,

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IMAGE SOURCE / FOLHAPRESS

responsáveis pela origem das linhas estáticas. Com o processo natural de envelhecimento, ocorre também a perda de colágeno, o que resulta em flacidez”, explica a dermatologista Carla Albuquerque. Veja na outra página as respostas para as principais dúvidas sobre o cuidado com a pele área dos olhos.


Quais hábitos ter para cuidar da região dos olhos? Cremes são fundamentais, mas só são eficientes se combinados com outros hábitos diários. Tirar a maquiagem com demaquilante, limpar e hidratar a região evita que os poros fiquem obstruídos. Além disso, é preciso usar filtro solar mesmo nos dias nublados, já que os raios ultravioleta não são bloqueados pelas nuvens típicas dos meses frios. “O sol em excesso, e fora do horário recomendado, causa não só doenças como estimula o ressecamento e o envelhecimento da pele”, diz o especialista em dermatologia Newton Morais). Outro hábito fundamental, ressalta Carla Albuquerque, inclui o uso de óculos escuros em áreas externas, pois protegem a região da ação dos raios nocivos. “A automassagem também deve ser introduzida na rotina de cuidados. Use colheres geladas, que causam vasoconstrição na região das olheiras, melhorando seu aspecto”, conta a esteticista e cosmetóloga Suellen Campanhola Por que usar cremes específicos é tão importante? Este tipo de produto vai hidratar, clarear, manter a elasticidade e combater os sinais precoces. “Os hidratantes ajudam a manter o equilíbrio cutâneo e o nível de água”, diz Suellen. E não é só isso: a hidratação pode ajudar a estimular a formação de colágeno e a renovar a pele. A partir de quando preciso usar cremes? Geralmente, é a partir dos 25 anos que a pele começa a mostrar os primeiros sinais. “Os telômeros e células de colágeno começam a perder a estabilidade e a diminuir sua produção. Por isso, é importante começar a usar cremes anti-idade ou de prevenção”, conta Suellen. Mas é possível começar a cuidar da região dos olhos já com 16 anos – neste caso, é bom manter a área hidratada com cremes leves e protetor solar, afirma Newton Morais.

Qual a frequência de uso? Os cremes hidratantes devem ser usados duas vezes ao dia: pela manhã, após a higienização e antes do protetor solar, e à noite, logo depois do banho – quando a pele fica longe das agressões externas e, por isso, mais propensa a absorver os ativos do produto. “O creme deve ser aplicado com movimentos leves, em forma de massagem, trazendo a pele para cima e tracionando-a. Isso ajuda a manter a elasticidade do tecido”, indica Suellen. Atenção: cremes para olheiras devem ser usados sempre à noite pois, normalmente, contêm ativos antioxidantes que, em contato com a luz solar, podem causar hiperpigmentação. Devo passar o creme para os olhos antes ou depois do facial? Na verdade, é um erro aplicar cremes faciais na região dos olhos, já que se tratam de tipos diferentes de pele. “Ela é fina, sensível, o tipo de depósito de pigmento é diferente e a circulação sanguínea é menos intensa”, explica Newton Morais. “O creme facial é mais denso e gorduroso. Ou seja, não tem compatibilidade com o tecido delicado dos olhos”, explica Suellen. Além disso, a pele desta área é mais sensível e suscetível a alergias e reações adversas. “Nessa região, precisamos usar versões mais fluidas e leves para que os ativos não fiquem só na superfície e consigam penetrar”, conta. Em tempo: o produto para a área dos olhos não costuma variar de acordo com o tipo de pele. Ele sempre terá textura mais leve, o que acaba sendo adaptável para todos os casos. Quais texturas são mais indicadas para a área os olhos? A textura varia de acordo com a necessidade da região. No tratamento inicial, ou seja, quando a pele ainda não tem ressecamento intenso, o ideal são os hidratantes mais leves, como os séruns, explica Carla. À medida que o tempo passa, é preciso usar produtos com maior

poder de permeabilidade e hidratação, já que a tendência é o ressecamento da área. Ou seja, são indicados cremes e emulsões. Os ativos têm finalidades diferentes? Sim, cada um deles ajuda a resolver e a prevenir diversos problemas que a pele dos olhos pode apresentar. Para hidratação diária, Carla indica ácido hialurônico – que hidrata profundamente, auxiliando na suavização de rugas –, ceramidas e aquaporinas, que reforçam a hidratação e melhoram o efeito craquelado da pele. Para linhas finas e de expressão, a dermatologista recomenda retinol, que atua como renovador celular e estimula a produção de colágeno, suavizando as linhas finas, e a vitamina C – que tem ação antioxidante, responsável por neutralizar os radicais livres que danificam as células da pele e aceleram o envelhecimento precoce. Também é benéfica por ter efeito clareador, que atenua olheiras. Atenção: as linhas de expressão já existentes não melhoram com cremes, por melhores que sejam os ativos. Nesse caso é necessário associá-los com a aplicação customizada de toxina botulínica em pontos estratégicos, conta a dermatologista. Para olheiras, Carla recomenda vitamina K (para as de origem vascular), cafeína, que tem ação drenante e alivia a retenção de líquidos em bolsas, e o ginkgo biloba, que ajuda a ativar a circulação local, minimizando áreas escurecidas e auxiliando na renovação celular. Rolo de jade ajuda? Sim. O acessório pode ser usado logo após a aplicação do creme, em movimentos ascendentes, para melhor permeabilidade dos produtos na pele dos olhos, já que trabalha a circulação da região, segundo Newton. “Nas olheiras ela irá ajudar a diminuir o inchaço, uma vez que sua temperatura naturalmente gelada fará vasoconstrição local”, diz Suellen. Novembro de 2019 | Vilas Magazine | 39


q SAÚDE & BEM-ESTAR

A vacina contra a gripe pode causar reações?

A

resposta é não, a vacina não causa gripe nem diminui a imunidade da pessoa. Não caia na história de que a vacina contra a gripe pode derrubar a imunidade ou causar gripe. A vacina contra a gripe é segura e bem tolerada. Ela é inativada e contém vírus mortos, fracionados ou em subunidades, e, portanto, não pode causar a doença. Em poucos casos podem ocorrer manifestações de dor no local da injeção ou endurecimento da região da aplicação, o que pode ser associado a erro técnico de aplicação. Também pode ocorrer, raramente, mal-estar ou febre, mas os sintomas tendem a desaparecer em 48 horas. Quadros respiratórios simultâneos podem ocorrer sem relação de causa e efeito com a vacina. A vacina só não é recomendada para quem tem alergia à proteína do ovo – usada na sua fabricação, segundo o Ministério da Saúde. Todas as pessoas acima de seis meses de idade devem se vacinar contra a gripe. O grupo prioritário inclui crianças entre seis meses e cinco anos, idosos, professores e profissionais de saúde, grávidas, mulheres que tiveram filhos há até 45 dias, presidiários, funcionários do sistema prisional, indígenas e pessoas com doenças crônicas ou condições clínicas especiais (respiratórias, cardíacas, renais, hepáticas, neurológicas, diabéticos, obesos, imunodeprimidos, transplantados).

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Na primavera aumenta o risco de doenças respiratórias Estação mais florida do ano, além de sol e árvores verdes, a primavera também tem particularidades, como tempo seco e baixa umidade. Por conta desses fatores, médicos especializados em otorrinolaringologia explicam que partículas de ácaro, poeira, pólen e vírus ficam mais tempo em suspensão no ar, aumentando o risco de doenças alérgica e infecciosas, atingindo principalmente crianças, idosos e pessoas com rinite e asma. Dentre as doenças que se transmitem com mais facilidade nessa época, as mais comuns são resfriado, gripe, catapora, sarampo, caxumba. Também é comum que, por conta das doenças, as pessoas tenham complicações bacterianas como amigdalite. Segundo o infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, além de todas as recomendações de higiene, a forma mais efetiva de se proteger de doenças infecciosas é a vacinação. “Todas essas doenças fazem parte do calendário nacional de vacinação”. Ele ressalta que assim que forem verificados os sintomas, o paciente deve procurar imediatamente por um médico. “É importante observar todo mal estar, coriza, mancha, dor, febre e até perda de apetite”, diz.


TIRE SUAS DÚVIDAS Vou ficar gripado por causa da vacina? Não, porque a vacina tem vírus mortos e fracionados. Desse modo, eles não podem causar a doença. Alguém não pode tomar a vacina? Bebês menores de seis meses e quem já teve reações anafiláticas em aplicações anteriores. Pessoas que tiveram a síndrome de Guillain-Barré ou reações alérgicas graves a ovo – a vacina contém traços de proteínas do alimento – também devem ter mais cuidado. Preciso tomar a vacina todo ano? É recomendado que se tome anualmente, considerando que as cepas do vírus mudam constantemente. As crianças de seis meses a nove anos que recebem a vacina pela primeira vez precisam tomar outra dose, com intervalo de 30 dias. A vacina começa a fazer efeito na hora? Não, ela leva de duas a três semanas para começar a proteger adultos saudáveis – e a proteção dura de seis a 12 meses. A vacina vai me proteger contra resfriados? Não. O resfriado é uma inflamação das vias aéreas, com obstrução nasal e tosse. Já a gripe causa febre alta, tosse, dor de garganta, dor muscular, dor de cabeça, coriza, irritação nos olhos e ouvidos, e dura mais tempo (em torno de cinco dias). Como se pega gripe? A forma de contágio é pelo contato com secreções (tosse ou espirros acabam ajudando na disseminação) de pessoas doentes. Como posso me prevenir? Tome a vacina, que é o método mais eficaz; Lave sempre as mãos com água e sabão; Evite o contato das mãos com olhos, nariz e boca; Cubra a boca ao tossir e espirrar Como me trato se eu ficar doente? Repouso e muito líquido. Medicamentos também podem ser indicados, mas vale consultar um médico. Estou com um sintoma, devo ir para o hospital? Não necessariamente, porque pode ser só um resfriado. Quando se está com a imunidade baixa, ir a hospitais pode aumentar a exposição a micro-organismos e facilitar a contração de gripe ou outras doenças.

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ESPAÇO ABERTO

A ‘disrupção’não bate na porta. A revolução tecnológica que não prescinde a companhia do homem Edmilson Pereira dos Santos

E

stamos vivendo a quarta revolução: a revolução tecnológica. Mas quando uma revolução não foi tecnológica? Tudo que fazemos é tecnologia, o legado da humanidade é de tecnologia. Entendendo-se por tecnologia a técnica usada para realizar qualquer coisa, desde a construção da bomba atômica ao ato de escovar os dentes, lembrando que os humanos descobriram o ato da escovação a pouco tempo. A escova de dentes pode ser considerada uma revolução tecnológica. Contudo, as revoluções até então, sempre levaram o homem junto consigo. Desta vez o homem não foi convidado. Seria normal que o homem construísse algo que prescinda dele mesmo ou da maioria quase absoluta dos seres humanos. Na sua trajetória, o ser humano sempre lançou mão de inventos ou descobertas para tornar sua vida menos sofrida ou trabalhosa. Com a descoberta do fogo, tornou-se o homem o ser (animal) mais poderoso da terra. Abandonou sua condição de nômade, quando descobriu a agricultura, com a máquina a vapor saiu da condição de artesão para a produção em massa e assim por diante. Nunca parou de evoluir. Agora, contudo, parece que seus esforços suplantaram suas carências e se colocaram muito além dele mesmo. Esta ‘disruptura’* é o signo do terceiro milênio. Intervenções do mundo digital que surgem do dia para a noite e

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podem aniquilar empresas e setores produtivos inteiros. Revestida com o nome de futuro, avanço ou desenvolvimento, tem como vítima o próprio homem. As revoluções anteriores eram encubadas em longos períodos de maturação e implantação das ‘coisas novas’. O atual cenário tecnológico, digital, de realidade aumentada, inteligência artificial, nos lançou numa virtualidade do, até então, real e paupável. O mundo material que dominávamos flui na poeira da conectividade. Num passado recente, os mais velhos eram detentores da tecnologia. Se um jovem desejasse plantar, teria necessariamente que recorrer ao saber do ancião, detentor das informações validadas por décadas. Hoje este saber é efêmero e até pouco crível. Para fazer algo, o jovem não consulta mais o passado e sim o futuro. A forma rudimentar da agricultura do passado pouco tem a acrescentar ao modelo produtivo do presente e este também se torna passado da noite para o dia, graças a disrupção promovida pelas plataformas tecnológicas atuais. As revoluções do passado sempre levaram os homens no seu bojo. O carro carregava o homem, o avião da mesma forma, o conhecimento morava na cabeça dos notáveis e em bibliotecas. Com a disrupção tecnológica hodierna, cada vez menos o homem é convidado a estar junto. Profissões, como advogado, médico e professor, dependem, cada dia menos, dos seus, até então, protagonistas e operadores. Seus sucessores digitais, tornam-se cada dia mais confiáveis e

eficazes. Sites de consulta nas áreas de medicina e direito recebem mais visitas que médicos e advogados em seus consultórios e escritórios. Cabe neste momento um questionamento prático: se nestas áreas tão singulares e importantes, o homem está sendo substituído, o que dizer das outras ocupações, menos relevantes? Motoristas, atendentes, pedreiros, pintores, cozinheiros, entre tantos, como atualizar estes indivíduos que já passaram dos cinquenta anos e carecem de uma instrução formal mínima? Previsões para ontem, afirmam que 50% das profissões de hoje, desaparecerão a curto prazo. Especialistas afirmam que conheceremos de fato o que é exclusão social e econômica. Poucos são os sinais que apontam para solução deste grave e emergente problema sóciohumano. O profissional do futuro ainda não foi forjado e dificilmente contará com mentes analógicas. Em que lugar você se vê neste cenário? *Disruptura: palavra que não consta dos dicionários de português. Deriva de “disruption” (disrupção) do inglês aplicado ao mundo das inovações digitais, negócios “disruptivos” surgem da noite para o dia e podem aniquilar empresas e setores inteiros. É o caso do Airbnb, Uber e whatsapp.

EDMILSON PEREIRA DOS SANTOS é especialista em formação, treinamento e desenvolvimento humano, em gestão de pessoas, orientação profissional, dinâmicas de grupo e trabalho em equipe, consultor em Marketing Pessoal e Empresarial, palestrante, coach em empreendedorismo e propósito.


Nosso futuro Adenáuer Novaes

É

a vida um curto espaço de tempo entre o nascer e o morrer, cujo objetivo é a obtenção de sucesso? Este sucesso significa aprender, obter um bom emprego, ter dinheiro e patrimônio e depois, ou concomitantemente, pelo trabalho digno usufruir do que conquistou? Talvez não seja apenas isto. Mesmo sabendo que a maioria das pessoas deseja este sucesso, creio que isto é muito pobre, repetitivo, quase beirando a mediocridade. Por que então vemos pessoas bem sucedidas com depressão, infelizes ou desestimuladas para viver, algumas, inclusive, dando péssimo exemplo de ética? Deveria haver uma política pública para o envelhecimento, isto é, uma preparação para o viver visando a aposentadoria. O que deixaria o ser humano plenamente feliz e satisfeito com a vida senão o sentimento do dever cumprido, de ter ele mesmo realizado o próprio destino? Portanto, há que haver um futuro diferente e melhor para o ser humano além daquele sucesso minúsculo. O adulto e o idoso de hoje precisam de uma educação que lhes faltaram na infância. Não se trata tão somente de educar para uma morte digna, mas de ensinar a dar continuidade ao viver com um sentido maior. Quem já envelheceu necessita ser estimulado a voltar a se interessar por aprender para que ainda alcance o sentido da vida. Deve-se aproveitar a experiência do idoso, educando-o a devolver à sociedade

o que dela recebeu. Dando sua cota de serviços necessários à sua própria satisfação. Com isto ele aprenderá que a morte é um destino digno quando se deixa um legado social. Certamente saber que reconhecidamente contribuiu e contribui diretamente para a construção de uma sociedade melhor, que alcançou o sentido de sua vida e que a morte lhe é compreensivelmente uma experiência para a qual adequadamente se preparou o deixará, a qualquer tempo, feliz e realizado. Tal não ocorre por que não trabalha conscientemente e diretamente para um mundo melhor, não alcança o significado de sua existência nem se contenta com a morte como destino final de sua vida no corpo. Falta-lhe educação, conscientização, propriedade de seu destino sem terceirização de responsabilidades e, sobretudo, uma noção superior e transcendente para a própria vida. Por conta disto há inegavelmente um vazio existencial em cada ser humano. Ou a noção de responsabilidade coletiva, de solidariedade para a cidadania e de metas existenciais alcançáveis são exaustivamente disseminadas e internalizadas por cada ser humano ou o vazio da vida permanecerá. É este vazio o sintoma de uma sociedade constituída de autômatos, indivíduos sem norte e sem filosofia que o prepare para o agora e que inclua sua morte. Não se trata de uma preparação para o Além, mas para as experiências da vida presente em todas as suas etapas. O vazio desaparecerá quando o indivíduo compreender que deve sua cota de serviços voluntários e gratuitos ao mundo para que o mundo seja seu melhor legado.

ADENÁUER NOVAES é psicólogo, escritor, filósofo e engenheiro.

Arremedo em oração

Santa Dulce dos Pobres Zé Cláudio Maria Rita, Irmã Dulce, Santa Dulce, frágil e forte: doce Dulce! Gestos suaves, semblante gentil, coração abrasado de amor e paixão... Paixão pelos pobres expressa no olhar; dor pela dor do outro; sempre vigilante, coração ardente para prover o carente. Sempre atenta ao sofrimento do enfermo; colo de mãe para os pequenos órfãos! Humilde para pedir: nunca para si! Obstinada, perseverante, despojada de vaidade! Irmã Dulce, missionária de Deus, símbolo de caridade, Santa Dulce, santa de verdade!

JOSÉ CLÁUDIO CRUZ VIEIRA assina seus “Arremedos poéticos” como Zé Cláudio. Morador de Vilas do Atlântico há mais de 15 anos, é advogado trabalhista militante há mais de 35 anos, sócio-fundador do escritório Cruz Vieira Advogados Associados S/C. Atuou na OAB-BA junto ao Tribunal de Ética como membro efetivo nas gestões de Thomas Bacelar e Saul Quadros.

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q EMPRESAS & NEGÓCIOS

O que você precisa saber antes de abrir sua empresa - Parte 3 Cinco dúvidas sobre o capital social da empresa. Estimar corretamente esse investimento e o valor necessário para manter sua empresa funcionando nos primeiros meses de vida é essencial para a continuidade da operação. O que é o capital social? É o patrimônio líquido do negócio, que precisa ser definido já no momento de sua abertura, e que deve ser levantado pelos proprietários. Estamos falando não apenas de dinheiro em espécie, mas de equipamentos, ferramentas e até tecnologia que possam ser trazidos e/ou implementados por um ou mais sócios. Esses recursos vão ajudar a sustentar a empresa até que ela tenha uma carteira de clientes sólida e consiga atingir o ponto de equilíbrio (quando as entradas se igualam às saídas de capital). Quando há vários sócios, cada um deles pode injetar valores desiguais na empresa. No entanto, o recebimento do pró-labore e da distribuição de lucros também ocorre de forma proporcional, considerando as cotas de cada um. Da mesma forma, os ônus ou as responsabilidades dos sócios poderão variar proporcionalmente. O importante é que tudo o que foi acordado conste, explicado em detalhes, do contrato social.

que seja estimado de acordo com dados objetivos, considerando o cálculo prévio dos custos operacionais e o capital de giro necessário para manter a empresa aberta, mesmo que ela não registre nenhuma entrada nos primeiros meses. Também é importante estudar o mercado e o segmento, utilizando as experiências de outras empresas para aproximar essa projeção da realidade o máximo que for possível. Em alguns casos, há um valor mínimo de capital social, fixado por lei, de acordo com a qualificação jurídica da empresa. Para abrir uma Eireli, por exemplo, é preciso ter pelo menos 100 salários mínimos disponíveis.

Como chegar ao valor ideal? A definição desse montante é uma das etapas mais importantes do desenvolvimento do plano de negócios. E é imprescindível

Capital social e capital de giro são a mesma coisa? O capital social compreende o capital de giro, mas também outros investimentos

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Qual deve ser a fonte desse capital? Ele pode ser levantado pelos sócios, a partir da transferência para a empresa de parte de seus patrimônios. Mas também é possível conseguir recursos com investidores ou via empréstimo, junto a instituições financeiras.

necessários ao funcionamento da empresa, como os pré-operacionais – que precisam estar disponíveis para serem aplicados em reformas do imóvel, despesas com a legalização e o registro da organização, etc. O capital de giro é composto pelos recursos alocados no estoque, no caixa ou mesmo na conta bancária da empresa e precisa ser suficiente para cobrir os custos diários da operação enquanto não ocorrerem entradas – vendas de produtos e serviços. Mesmo depois das primeiras vendas de produtos e serviços, é preciso manter um capital de giro mínimo, pois o prazo de pagamento dos clientes pode ser diferente do prazo de pagamento a fornecedores e outras despesas necessárias à manutenção da estrutura e da operação. Nesse possível intervalo entre a entrega ao cliente e o recebimento do valor devido, a empresa precisa se sustentar com seus próprios recursos para manter o equilíbrio financeiro. Assim, quanto mais prazo seu cliente tiver para pagar e quanto maior a representatividade das vendas parceladas no seu faturamento, mais recursos financeiros a empresa precisa ter para sobreviver. Afinal, se o dinheiro não estiver disponível quando ocorrerem os débitos referentes às despesas do negócio, será preciso pagar juros ou tomar empréstimos para cobrir esses valores. Qual é a melhor forma de ampliar o capital de giro? O primeiro passo é manter um controle detalhado do fluxo de caixa – acompanhar, dia a dia, as despesas e os pagamentos recebidos. Também é importante saber qual é o lucro da empresa – o que realmente fica e pode ser direcionado a investimentos. Reduzir custos e despesas, otimizar o estoque, negociar prazos mais estendidos de pagamento com fornecedores e incentivar os clientes a pagarem à vista são outras estratégias eficientes para alcançar esse propósito. Colaboração da Objetiva Consultoria Empresarial.


Raymundo Dantas

Escritor e palestrante, especializado em Marketing no Varejo, com Mestrado na Espanha. raymundo_dantas@uol.com.br

Supermercados e autosserviço

O

supermercado, na sua forma atual, é o resultado de uma rápida evolução, dos antigos estabelecimentos de comércio varejista de alimentos, havida nos últimos cinquenta anos. E o grande motor desse salto qualitativo, do armazém tradicional para o supermercado, foi a introdução do autosserviço. Conta-se que tudo começou quando um certo varejista de alimentos de LongIsland, EUA, chamado Michael Cullen, foi obrigado a fechar seu armazém de secos e molhados, em meio à grave recessão dos anos 30. Tendo demitido já todos os empregados, resolveu liquidar então seu estoque. Não tendo quem o ajudasse a atender, com venda pessoal, todos os clientes, resolveu tirar os balcões, encostálos nas paredes, e distribuir a mercadoria pelos espaços disponíveis, de modo a que estivesse ao alcance dos consumidores, para que eles próprios se servissem. Depois se colocou à porta e ficou lá, apenas fazendo as contas e recebendo o pagamento. No mesmo dia liquidou todo o estoque e descobriu então que ali estava um bom negócio. Nascia assim o supermercado, a partir do autosserviço. Com essa liberdade oferecida ao cliente para escolher e pegar nas prateleiras o produto que desejasse, introduziu-se, no varejo de alimentos, o fenômeno da venda por impulso. A venda por impulso, por sua vez, motivou uma revolução no ramo alimentar, pois transformou as prateleiras em vitrines, valorizando extremamente as embalagens, a arrumação das mercadorias e o desenvolvimento de novos produtos. Os layouts passaram a ser melhor estudados, de modo a permitirem um fluxo adequado à exposição e as vendas. Os displays, a publicidade interna, o uso do espaço aéreo das lojas, e uma infinidade de outras técnicas mercadológicas se desenvolveram muito rapidamente com vistas à otimização desse novo e maravilhoso canal de distribuição. Os primeiros supermercados surgiram da transformação de mercearias em autosserviço. No Brasil, o ramo nasceu na cidade de São Paulo, em 1953, com o Supermercado Americano e o Sirva-se. Em 1954 nascia o Peg-Pag, que foi a primeira grande experiência vitoriosa no país. Em 1956, surgia no Rio de Janeiro o Supermercado Disco. Na Bahia, a primeira loja de supermercado foi aberta em 1958. Não conseguiu, porém, fazer bons negócios e, no ano seguinte, a loja foi comprada pelo atacadista Mamede Paes Mendonça, que a partir dela, construiu um império de 150 super e hipermercados, e chegou a ser a maior empresa do ranking nacional. No mesmo ano de 1959 nascia também o primeiro supermercado Pão de Açúcar, em São Paulo, de uma padaria transformada em autosserviço. O resto da história vocês já sabem. O que de importante eu gostaria de lembrar aqui é a inteira ligação do supermercado com o autosserviço. Supermercado é autosserviço, nasceu dele, por causa dele. Se hoje cha-

mamos de supermercado esse tipo de negócio, é porque esse foi, na época, o nome mais fácil, mais mercadológico, mais interessante que se encontrou. Na verdade, o que o diferencia de uma mercearia comum é o fato de ser “autosserviço de alimentos”, e esse é o verdadeiro nome do negócio.

Digo tudo isso porque o tempo foi inchando o supermercado com pessoal e serviços diretos, ao ponto de torná-lo um negócio de mão de obra intensiva, sendo paradoxalmente o negócio do autosserviço. Bem sei que as exigências do cliente, a própria evolução do desejo de qualidade, etc., ‘forçaram’ a chegada a essa situação. Mas nunca é fora de tempo uma parada para reflexão. Será que não poderíamos voltar ao autosserviço em muitas coisas? Será que precisamos mesmo de tantos funcionários ‘se batendo’ nas áreas de venda, às vezes até atrapalhando os clientes? Será que com tanta tecnologia, tantos equipamentos sofisticados, não poderíamos crescer mais em autosserviço? Deixo as interrogações com vocês, lembrando o velho amigo Michael Cullen, que inventou esse ramo num dia em que, trabalhando sozinho no primeiro checkout do mundo, vendeu seu estoque inteiro, deixando o cliente trabalhar por ele!

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