Vilas Magazine | Ed 225 | Outubro de 2017 | 32 mil exemplares

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Sistema cicloviário de Lauro de Freitas pode enfim sair do papel R

A Revista de Lauro de Freitas e Região

Ano 19 Edição 225 | Outubro de 2017 32.000 exemplares

NINHOS NA PRAIA TARTARUGAS MARINHAS AGORA NASCEM NAS PRAIAS DE LAURO DE FREITAS



EDITORIAL CIVILIZAÇÃO O sistema cicloviário chega a ser um avanço civilizatório numa cidade vítima do inchaço urbano e da selvageria do trânsito motorizado como é Lauro de Freitas. Representa uma retomada do espaço pelas pessoas, que precisam ser levadas em conta. E representa um choque de realidade para quem ainda acredita que as ruas pertencem aos carros. A julgar pelo mapa do projeto Cidade Bicicleta, da Conder para Lauro de Freitas, a que a Vilas Magazine teve acesso, a imensa maioria da rede cicloviária local será composta por ciclofaixas compartilhadas – basicamente rotas marcadas na margem das mesmas faixas onde já circulam e continuarão circulando os carros. Fundamental desta­ car que os ciclistas já estão nas ruas, todos os dias, a caminho do trabalho, das escolas e de casa, compartilhando exatamente as mesmas faixas com os carros. Os dados são do IBGE, não de uma enquete qualquer. O brasileiro, o nordestino, o baiano pedala principalmente para se locomover no dia a dia – não por esporte ou lazer. Os números alcançam um terço da população, incluindo uma imensa maioria de desprivilegiados que, efetivamente, têm direito às ruas. A única diferença que o sistema cicloviário fará em relação à realidade existente é que a ciclofaixa demarcada requer maior cara de pau dos motoristas que insistirem em ignorar, constranger e ameaçar a segurança dos ciclis­ tas, como se estes não tivessem o direito de circular nas ruas. A diferença é que os ciclistas estarão mais seguros. O ideal, claro, são as ciclovias segregadas, onde a bicicleta está completamente a salvo do trânsito. E o projeto prevê o melhor aproveitamento de cada pequeno espaço longe do asfalto. Para não comprometer o espaço de circulação de veículos, o projeto da Conder opta até pela solução intermediária – as ciclofaixas exclusivas, como as previstas para Vilas do Atlântico. Mas as ruas são para todos e o Código Brasileiro de Trânsito diz que as bicicletas têm prioridade.

REVÉILLON RESPONSÁVEL A presença de ninhos de tartaruga marinha nas praias de Lauro de Freitas a partir desta temporada tem impacto civilizatório semelhante à do sistema cicloviário. Não porque a po­ pulação subitamente vá se envolver no esforço de preservação de espécies ameaçadas de extinção. Até porque as leis ambientais seriam desnecessárias se a maioria de nós cultivasse um mínimo de senso comum. O impacto virá de uma noção que para muitos é revolucionária: a praia é um espaço de todos em vez de pertencer a ninguém. Os excessos que alguns praticam com desenvoltura em área pública poderão agora ser contidos pela mão pesada da lei ambiental. É perfeitamente possível usufruir das praias sem destruir ninhos de tartaruga, até mesmo na noite de revéillon. Nada impede que cidadãos avisados – e se necessário supervisionados Carlos Accioli Ramos Diretor-editor pela autoridade policial – comemorem o ano novo sem pisotear ninhos ou filhotes a caminho do mar. As tartarugas adultas, com certeza, não subirão às praias naquela noite. Elas têm um juízo que muitos de nós ainda precisamos adquirir.

METRÔ NO KM 3,5 Por falar em civilização, um terceiro marco do tipo estará mais perto da realidade de Lauro de Freitas em de­ zembro, para quando está prometida a estação Aeroporto do metrô. Ainda faltam uns 3.500 metros de trilhos até o Km 3,5 da Estrada do Coco e outros tantos até Portão. Ficou combinado que a cidade vai esperar, paciente. Mas ninguém baixou a guarda nem vai aceitar corredores de ônibus em vez do metrô, mesmo que usem o termo em inglês: o BRT. Dito isso, é preciso reconhecer que os 29 quilômetros já existentes representam uma transformação urbana de primeira qualidade para a capital baiana e, vivendo a paredes-meias, para a população de Lauro de Freitas. O mérito dessa conquista reside na gestão objetiva do governo estadual, focada em obter resultados. O governador Rui Costa, que passou três anos mais cuidando de trabalhar do que de falar, entregou o prometido. Por isso a cidade confia que o Km 3,5 também será entregue.

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NESTA EDIÇÃO A revista de Lauro de Freitas & Região

www.vilasmagazine.com.br Publicação mensal de propriedade da EDITAR - Editora Accioli Ramos Ltda. Rua Praia do Quebra Coco, 33. Vilas do Atlântico. Lauro de Freitas. Bahia. CEP 42700-000. Tels.: 0xx71/3379-2439 / 3379-2206 / 3379-4377 Diretor-Editor: Carlos Accioli Ramos (accioliramos@vilasmagazine.com.br) Dire­to­ra: Tânia Ga­zi­neo Accioli Ramos Gerente de Negócios: Álvaro Accioli Ramos (alvaro@vilasmagazine.com.br). Assistentes: Leandra Almeida e Vanessa Silva (comercial@vilasmagazine.com.br) Gerente de Produção: Thiago Accioli Ramos. Assistente: Bruno Bizarri Administrativo/Financeiro: Miriã Morais Gazineo (financeiro@vilasmagazine.com.br). Assistente: Leda Beatriz Gazineo (comercial@vilasmagazine.com.br) Distribuição: Álvaro Cézar Gazineo (responsável) Tratamento de imagens e CTP: Diego Machado Redação: Rogério Borges (DRT 6851/MG), coordenador Colaboradores: Jaime Ferreira (articulista), Thiara Reges (fre­ elancer), Raymundo Dantas. PARA ANUNCIAR: comercial@vilasmagazine.com.br Tels.: 0xx71 3379-2439 / 3379-2206 / 3379-4377 CONTATO COM A REDAÇÃO: redacao@vilasmagazine.com.br TIRAGEM: 32 MIL EXEMPLARES. Im­pressão: Log & Print Gráfica e Logística S. A. (Vinhedo/SP)

Revista mensal de serviços e facilidades, distribuída gra­ tuitamente em todos os domicílios de Vilas do Atlântico e condomínios residenciais de Lauro de Freitas, Es­trada do Coco e região (Busca Vida, Abran­tes, Ja­uá, Ja­cuí­pe, Gua­ra­juba, Stella Maris, Pra­ia do Flamengo e parte de Itapuã). Disponível também em pontos de distribuição criteriosamente selecionados na região. As opiniões expressas nos artigos publicados são de respon­ sabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, as da Edi­tora. É proibida a reprodução total ou parcial de ma­ térias, gráficos e fotos publi­cadas nesta edição, por qualquer me­io, sem autorização expressa, por escrito da Editora, de acordo com o que dispõe a Lei Nº 9.610, de 19/2/1998, sobre Di­reitos Autorais. A revista Vilas Magazine não tem qualquer responsabilidade pelos serviços e produtos das empresas anunciados em suas edi­ ções, nem assegura que promessas divulgadas como publicidade serão cumpridas. Cabe ao leitor avaliar e buscar informações sobre os produtos e serviços anunciados, que estão sujeitos às normas do mercado, do Código de Defesa do Consumidor e do CO­NAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publici­ tária. A revista não se enquadra no conceito de fornecedor, nos termos do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor e não pode ser responsabilizada pelos produtos e serviços oferecidos pelos anunciantes, pela impossibilidade de se deduzir qualquer ilegalidade no ato da leitura de um anúncio. No entanto, com o objetivo de zelar pela integridade e cre­di­bilidade das mensagens publicitárias publicadas em suas edições, a Editora se reserva o direito de recusar ou suspender a vei­culação de anúncios que se mostrem enganosos ou abusivos, por constrangimentos causados ao consumidor ou empresas. A revista Vilas Magazine u­ti­liza conteúdo edi­to­ri­al forne­ cido pela Agência Fo­lhapress (SP). Os títulos Vilas Ma­­gazine e Boa Dica – Facilidades e Serviços, constantes desta edição, são marcas regis­tradas no INPI, de propriedade da EDITAR – Editora Accioli Ramos Ltda.

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REGISTROS & NOTAS...Págs.: 6 a 11 CIDADE...Págs.: 12 a 25 Metrô: Antes do Km 3,5 só falta a estação Aeroporto l Sistema cicloviário de Lauro de Freitas pode enfim sair do papel l Mortes no trânsito continuam motivando campanhas de conscientização l Parque Ecológico de Vilas do Atlântico recebe projeto Trilha das Artes l Justiça nomeia comissão para avaliar projeto da orla de Ipitanga l Salva reivindica à prefeitura ações para o Verão de Vilas do Atlântico l

MEIO AMBIENTE...Págs.: 26 e 31 l Ninhos de tartaruga marinha serão mantidos pelo Tamar, nas praias em Lauro de Freitas ARTESANATO...Págs.: 32 e 33 l A milenar arte da pintura em porcelana, sob as mãos e a alma de uma professora ‘amiga’ COMUNIDADES...Págs.: 34 e 35 l Projeto educacional de escola municipal incentiva jovens a exercerem noções de cidadania, integração e sociabilidade TURISMO & LAZER...Págs.: 36 a 41 l Cervejarias da região de Blumenau, capital nacional da bebida e terra da Oktoberfest, abrem as portas aos turistas com passeios guiados por fábricas, lojas e bares SAÚDE & BEM-ESTAR...Págs.: 42 a 49 l Todas contra o câncer de mama l Depoimento: “Praticar exercícios físicos foi o que me deu motivação para conseguir vencer o câncer” Para paliativistas, é crucial haver honestidade com paciente grave. Morte l do apresentador Marcelo Rezende suscitou debate sobre tratamentos alternativos para o câncer Uso incorreto de colírios pode provocar glaucoma e até cegar l

VIDA SAUDÁVEL...Págs.: 50 a 55 A obsessão por comer alimentos saudáveis pode acabar virando uma l doença de nome esquisito, a ortorexia, e levar a outras desordens ali­ mentares ainda mais graves BELEZA & ESTÉTICA...Págs.: 56 e 57 Adotada inicialmente por atletas, a trança boxeadora conquista o mundo l da moda e vira queridinha das famosas; veja como fazer CLASSIFICADOS BOA DICA...Págs.: 60 a 124 Seção de facilidades e serviços disponibilizando profissionais nos segmentos l Saúde & Bem-Estar, Gastronomia, Festas, Educação, Casa & Decoração, Serviços Gerais e Auto & Cia. Consulte índice geral por segmento na página 59. Tribuna do Leitor....Págs. 125 e 126 Tábua das Marés / Telefones Úteis....Pág. 127


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REGISTROS & NOTAS NOB comemora 25 anos de atividades, celebrando certificação internacional A trajetória do NOB (Núcleo de Oncologia da Bahia) completou 25 anos em setembro. O projeto audacioso das médicas oncologistas Gildete Lessa, Maria Lucia M. Batista e Clarissa Mathias tomou forma em setembro de 1992 e hoje faz parte do Grupo Onco­ clínicas, o maior grupo de tratamento do câncer da América Latina. A instituição é composta por três unidades na Bahia: nos bairros de Ondina, Pituba e uma parceria com o Hospital Português; uma unidade em Lauro de Freitas; e uma filial em Sergipe: o NOS. Todas as unidades seguem padrões internacionais visan­ do garantir o melhor tratamento e a segurança de seus pacientes. Além disso, os preceitos da excelência em gestão e a preocupação com o atendimento humanizado guiam todas as atividades da instituição e são seguidos à risca por todos colaboradores, médicos e gestores. Complementando as comemo­ rações de 25 anos, em agosto, a instituição recebeu o selo de acredi­ tação internacional para assistência ambulatorial da Joint Commission International (JCI), líder mundial em certificação de organizações da área de saúde. Com isso, o NOB tornou-se a primeira clínica de tratamento onco­ lógico do Norte e Nordeste a receber tal reconhecimento, que é conferido às instituições que são aprovadas após rigoroso processo de avaliação. “A conquista da acreditação interna­ cional é resultado do compromisso do NOB e do empenho diário da nossa equipe com a segurança e a qualidade da assistência ao paciente oncológi­ co,” afirma a sócia fundadora, Gildete

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Os médicos Erico Strapasson, Clarissa Mathias, Gildete Lessa, Ivana Nascimento e Eduardo Moraes, diretores do NOB, recepcionaram convidados numa noite esplendorosa, no teatro Castro Alves. Abaixo, apresentação do coral Amigos do Bem, formado por pacientes da instituição

Lessa. A clínica já é também reconhecida com o selo ONA 3 de acreditação hospi­ talar, título concedido pela Organização Nacional de Acreditação (ONA). Durante toda a sua história, o NOB sempre esteve atento aos avanços tecnológicos e científicos, tanto para a atualização e educação continuada da sua equipe quanto para modernização de processos e estrutura. Junto ao Grupo Oncoclínicas, a clínica uniu forças com outras 50 unidades ao redor do país e beneficiou-se de parcerias exclusivas, como, por exemplo, com o Dana-Farber

Cancer Institute, instituição afiliada à Harvard Medical School e auto­ ridade em oncologia reconhecida mundialmente, e a Microsoft, a partir de acordo de cunho tecnológico que promoverá avanços no tratamento. O NOB ainda dispõe de máquina de crioterapia, técnica que reduz a alopecia, ou queda de cabelo, du­ rante o tratamento quimioterápico, com foco em pacientes com câncer de mama. Por isso e muito mais, a insti­ tuição tornou-se referência para o mercado de saúde baiano e nacional, sendo vencedora por seis anos consecutivos do Prêmio Benchmarking Saúde Bahia. “É gratifi­ cante saber que ao longo destes anos nos mantivemos com a credibilidade reconhecida por nossos colegas do mercado de saúde e que temos um crescimento sustentável, pautado na ética. Conseguimos manter uma equipe com o olhar atento e focada no acolhimento para cada paciente e familiar que precisa dos nossos servi­ ços”, conclui o diretor Técnico do NOB Lauro de Freitas, o médico oncologista Eduardo Moraes.


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REGISTROS & NOTAS t Sandro Duques di­ versifica sua atuação empresarial na região e assume a gestão do restaurante Camarão Vilas, e sua chegada vem recheada de propostas inovadoras para o lugar, um dos mais qualificados endereços gastronômi­ cos da região. Oferecendo um am­ biente sofisticado, con­ fortável e aconchegante, o espaço é um porto seguro para reunião de famílias, happy hours e eventos corporativos. Com cardápio variado, com pratos da culinária brasileira, baiana e cosmopolita, servidos em ge­ nerosas porções, sem carregar no sal nos preços, a casa também se revela competente nas opções de pizzas e na vasta carta de vinhos nacionais e internacionais. Em homenagem às crianças, durante o mês de outubro, as lojas do Viva o Grão - uma em Vilas do Atlântico - promovem uma programação especial voltada para elas, com distribuição de mudas de árvores nativas e frutíferas. uO mestre Márcio Mascarenhas, 5º dan do Centro de Artes Marciais AKTKD, de Vilas do Atlântico, participou da 9ª edi­ ção do evento Home­ nagem Esportiva, na Assembleia Legislati­ va de São Paulo, que distingue atletas e treinadores de artes marciais, como judô, capoeira e taekwon­ do, de todos os es­ tados do Brasil. Na ocasião aconteceu também o lançamento da 9ª edição do livro Grandes Mestres das Artes Marciais do Brasil, de Fábio Amador Bueno e José Augusto Maciel Torres, que destaca em suas páginas, o trabalho do mestre Márcio.

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Elza Soares é tema de musical no Cine Teatro de Lauro de Freitas FÁBIO BOUZAS

Elza Soares e suas muitas facetas: musical envolvente

pMusical em homenagem a Elza Soares, Se Acaso Você Chegasse, estará em cartaz no dia 7, sábado, às 20h, no Cine Teatro Lauro de Freitas. Com texto de Elísio Lopes e direção de Antônio Marques, o espetáculo mostra as diversas facetas que a cantora teve que assumir ao longo da sua trajetória e presta homenagem à artista, hoje reconhecida como uma grande intérprete da Música Popular Brasileira. O espetáculo, construído de maneira envolvente, leva o nome da música de Lupicínio Rodrigues, gravada em 1965 por Elza Soares. Entre­ cortado por canções do repertório da cantora, a peça leva quatro atrizes ao palco: Denise Correia, Lívia França, Josi Varjão e Clara Paixão, que vivem diversos momentos da biografia da artista. Para a apresentação a produção traz como convidada a cantora Gabriela Oliveira. Filha de um operário e uma lavadeira, a cantora desde cedo traçou seu caminho e enfrentou as adversidades com muita propriedade e co­ ragem. Entre uma infância marcada pela gravidez, casamentos precoces e até mesmo a perda de um filho, dentre os nove que criou, Elza teve a necessidade de desempenhar diversos papéis no percurso da vida. A peça recria justamente a época em que a ‘Elza’ no singular não existia e, a partir daí, vai construindo uma narrativa que se baseia na trajetória da estrela. O resultado é uma obra rica em detalhes que leva o espec­ tador a se colocar no lugar da cantora e a refletir sobre certas atitudes tomadas ao longo da vida. O autor, inspirado pela biografia da cantora, retrata acontecimentos de grande relevância para conceber no palco a essência dessa grande mulher, ícone de força e sobrevivência. O espetá­ culo leva ao palco a discussão sobre a valorização e o empoderamento feminino, o resgate da autoestima e a desconstrução dos estereótipos sociais impostos às mulheres. Os ingressos (R$ 20 a inteira, com meia entrada disponível) estão à venda na bilheteria do teatro ou na Loja Aquarela Baby, no Centro de Lauro de Freitas.


Núcleo de Senhoras do Rotary promove feira de livros Pode parecer cena do século passado, mas um bom livro tem o poder de levar qualquer pessoa para um universo de conhecimento ímpar. E foi pensando no fomento à cultura que o Núcleo de Senhoras do Rotary, constituído por esposas de rotarianos do Rotary Club Lauro de Freitas realizou em setembro, uma feira de livros, com exemplares de diver­ sos gêneros vendidos por no máximo R$ 5 o exemplar. O Shopping Estrada do Coco, a Unime e o Colégio Apoio receberam o evento que despertou, sobretudo, a curiosidade dos jovens leitores. Mariana Ramos Mateus, coordenadora do Núcleo de Senhoras do Rotary, destaca que a meta e os objetivos foram alcançados. “Lançamos a Feira de Livros com quatro mil exemplares disponíveis para o público, todos fruto de doações. O valor arrecadado será usado integralmente nas ações sociais do Núcleo. Livros que antes estavam esquecidos em alguma prateleira agora trazem conhecimentos para mais pessoas”.

E a mobilização do Núcleo de Senhoras do Rotary continua. Este mês a Feira do Livro faz uma pausa e o grupo promove o BRECHÓ BENEFICENTE, com peças novas e seminovas de vestuário, calçados e acessórios, que acontece dias 25 à 28, das 8h às 13h, na secretaria do Rotary Club Lauro de Freitas, na Rua Praia de Suape, anexo à entrada do Colégio Mendel, em Vilas do Atlântico.

param do evento cívico. Além do RC Lauro de Freitas, estiveram presentes: RC Lauro de Freitas Centro, RC Itapuã, RC Bahia, RC Bahia Leste, RC Salvador Pituba, RC Itaigara, RC Nazaré, RC Santo Antonio, RC Barra, RC Itapagipe, RC Aratu, RC São Felix, RC Cachoeira e RC Cruz das Almas, além de 80 alunos do Colégio e Escola Rotary.

u Obras de fo­ tógrafos de diver­ sas regiões do Brasil estão reunidas na exposição do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger e podem ser visitadas até 12 de novembro, na Sala Contemporânea Mario Cravo Jr., no Palacete das Artes, bairro da Graça, em Salvador. Além dos premiados nas três categorias: Paulo Luiz Coqueiro Andrade (Bahia), Gilvan Caldas de Sá Barreto Filho (Rio de Janeiro) e Ilana Bar Nissin Wirgues (São Paulo), a 6ª edição da premiação conta com trabalhos de mais 12 selecionados. Informações: tel.: 71 3324-8519 / www. fundacaocultural.ba.gov.br

uO Rotary Club Lauro de Freitas integrou, com cinco participantes, liderados pelo presidente Joaquim Ramos, a delegação de clubes rotá­ rios que participou do desfile de 7 de setembro em Salvador, celebrando o Dia da Independência do Brasil. Aproximadamente 100 rotarianos de diversos clubes da Bahia, partici­

BRECHÓ BENEFICENTE

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REGISTROS & NOTAS um ponto permanente de vacinação, com aten­ dimento de segunda à sexta-feira, das 8h às 14h. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 3288-8912.

POSTOS DE VACINAÇÃO

Vacinação antirrábica imuniza cães e gatos Vinte e um pontos de vacinação, entre fixos e volantes, estão disponí­ veis até o dia 14, das 9h às 16h, dando prosseguimento à Campanha de Vacinação Contra a Raiva em cães e gatos em Lauro de Freitas, iniciada em 30 de setembro. Devem ser imunizados os animais com mais de três meses de idade, incluindo as fêmeas no cio ou amamentando e animais idosos. O Departamento de Vigilâncias em Saúde esclarece que não serão fornecidas doses de vacina para serem aplicadas em casa. A sede do Centro de Controle de Zoonoses, na Quinta do Picuaia, é

Vilas do Atlântico: Primeira portaria, Parque Ecológico. Loteamento Miragem: Colégio Sartre COC. Centro: PA Nelson Barros, Colégio Vila Praiana, Largo de Arcanja. Portão: Praça e Centro Social Urbano (CSU). Itinga: Largo do Caranguejo, Praça da Pérola Negra, Largo de Isaac, Escola Municipal Jardim Talismã, Largo da Igreja Católica (Parque Santa Rita), final de Linha (Parque São Paulo). Vida Nova: Colégio Estadual Hermano Gou­ veia, Jardim Ipitanga, Praça Jones Kiss. Caji: Praça da Caixa D’água. Areia Branca: Módulo Policial Capelão: Unidade de Saúde Manoel José Pereira Jambeiro: Praça.

Paratleta baiana conquista medalha de ouro em Campeonato Mundial de Canoagem na África do Sul A paratleta baiana, de 32 anos, Nayara Falcão conquistou medalha de ouro no Campeonato Mundial de Canoagem Maratona 2017 (o mais importante do calendário para a modalidade) realizado na África do Sul, na cidade de Pietermartizburg, em setembro. O mundial aconteceu dentro do Canal Camps Drift, um cir­ cuito onde as disputas duram entre duas e seis voltas e teve a participação de mais seis atletas brasileiros nas categorias master e paracanoagem. Nascida no bairro do Costa Azul, em Salvador, Nayara que está no es­ porte desde criança e sempre sonhou em se tornar uma atleta profissional de alta performance, participou da disputa com a ajuda do projeto Oxente que teve a ideia de criar uma

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‘vaquinha virtual’ no final de julho deste ano nas redes sociais para arrecadação de dinheiro. No total, foram mais de 12 mil reais recebidos e investidos na viagem.

Integrada ao projeto desde junho, ainda contou com apoio psicológico e de resgate a auto-estima devido ao seu pro­ blema de saúde. “Acreditamos que seria possível. Construímos um caminho com poucos recursos financeiros, mas repleto de parceiros e gente do bem que acredita que sempre existe tempo de reinventar, reescrever e fazer história num país reple­ to de potenciais invisíveis”, destaca Laiz Lima Costa, idealizadora e coordenadora geral do Projeto Oxente. O Projeto Oxente surgiu há dois anos de forma itinerante, prestando serviço de apoio social para crianças e adolescentes, incentivando-as na música, na arte, na saúde e no esporte. Na sua lista de apoia­ dores, constam profissionais em diversas áreas como educador físico, cozinheiro, psicólogo, dentista, médico, dentre ou­ tros e voluntários dispostos a ajudar e contribuir com a corrente do bem. Projeto Oxente: Facebook: Projeto Oxente e Oxente Gente. Instagram: @projetooxente


Galeria Acbeu anuncia abertura das inscrições para seleção de pautas 2018 A Galeria Acbeu aceita até o dia 31, inscrições para o Edital de Seleção de Pautas 2018, podendo ser feitas exclusivamente através de formulário eletrônico. Interessados devem preencher e enviar o formulário, que está disponível no site da Acbeu, www.acbeu.org.br, no link https://goo.gl/forms/o0jOdxBgpirZEvVA2. A proposta deve apresentar, obrigatoriamente, uma atividade complementar à exposição – visita guiada, workshop, conversa com artista e/ou curador, entre outras – e deve incluir até, no máximo, cinco imagens das obras que serão expostas e/ ou esboço do que será realizado. A Galeria disponibilizará as pautas para exposições individu­ ais e coletivas, com duração de três a quatro semanas. Podem concorrer nesta seleção artistas brasileiros e estrangeiros de diferentes tendências artísticas, nas seguintes modalidades: desenhos, pinturas, gravuras (litogravuras, xilogravuras, serigra­ fia, gravura em metal), monotipia, técnicas mistas, fotografia, escultura, instalação (videoinstalação, áudio-instalação), grafitti, cerâmica, objetos, design gráfico (ilustração, humor gráfico e quadrinhos). Todos os projetos devem ter classificação ‘Livre’, para todos os públicos. As propostas serão avaliadas por uma comissão de seleção composta por especialistas na área cultural, escolhidos pela Acbeu, que seguirão os seguintes critérios para a avaliação: criatividade, inovação e singularidade; estímulo à diversidade cultural; diálogos interculturais; planejamento e exequibilidade qO Outlet Premium Salvador prossegue, por tempo indeterminado, com a Feira Agroecológica, que a partir de agora fica em cartaz exclusivamen­ te aos sábados, a partir das 9h. Perfeita para os adeptos de uma alimentação saudável, a feira é realizada em parceria com a Secretaria de Desen­ volvimento da Agricultura e Pesca da Prefeitura Municipal de Camaçari. O Outlet Premium está localizado no km 12,5 da Estrada do Coco (um retorno antes do pedágio), e dispõe de amplo e gratuito estacionamento com mais de 1.500 vagas, incluindo vagas rosa, exclu­ sivas para gestantes.

do projeto; qualidade técnica e artística; compromisso com processos educativos; adequação ao espaço físico disponível. Criada em 1975, a Galeria Acbeu tem se notabilizado por ser um espaço democrático para a arte em geral, dan­ do oportunidade para a exposição de trabalhos de artistas emergentes ou já estabelecidos no meio artístico, de qualquer nacionalidade, naturalidade ou tendência artística, concen­ trando-se, preferencialmente, na divulgação de trabalhos de arte contemporânea. É também utilizada para exibição de vídeos, palestras ou workshops e lançamentos de livros. Dentre as técnicas de arte e meios aceitos para exposição na galeria estão desenhos, pinturas, gravuras (litogravuras, xilo­ gravuras, serigrafia, gravura em metal), monotipia, técnicas mistas, fotografia, escultura, instalação (video-instalação, áudio-instalação) e objetos. A depender da proposta, serão aceitos ainda trabalhos em artes gráficas e humor. Informações na Galeria Acbeu – Av. Sete de Setembro, 1883, Corredor da Vitória, de 2ª à 6ª-feira, das 14h às 18h, no site www.acbeubahia.org.br ou pelo telefone (71) 3444-4411.

qEvento realizado no Centro Pan-americano de Judô, na Praia de Ipitanga, em setembro, reuniu cerca de 750 crianças para um encontro com o judoca brasileiro, Rafael Silva, o Baby, medalha de bronze nas olimpíadas de Londres (2012) e Rio (2016). O encontro integra ação do Governo da Bahia em parceria com o Pro­ grama de Educação Integral, realizado pela Prefeitura de Lauro de Freitas no âmbito da Secretaria de Educação, e iniciativa da Confederação Brasi­ leira de Judô e da Máquina do Esporte. A proposta é que esses encontros aconteçam mensalmente com diferentes atletas medalhistas do país.

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q CIDADE

Obras do novo viaduto de acesso a Lauro de Freitas sobre a linha do metrô devem ficar prontas até dezembro

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METRÔ: Antes do Km 3,5 só falta a estação Aeroporto

á é possível ir de Mussurunga à Lapa em cerca de 30 minutos. Com o iní­ cio da operação de mais quatro es­ tações do metrô de Salvador, Flamboyant, Tamburugy, Bairro da Paz e Mussurunga, em setembro, agora são 29 quilômetros de trilhos passando por 19 estações entre as linhas 1 e 2, sendo 7,5 quilômetros no trecho mais recente. De acordo com o governador Rui Costa, Salvador terá a terceira maior malha metroviária em extensão no país. O terminal de ônibus de Mussurunga foi reformado e ampliado, com melhorias no acesso e a integração das 21 locali­ dades de Salvador e Lauro de Freitas ao sistema de metrô. Falta entregar apenas a estação Aeroporto, prevista para dezem­ bro – e a estação do Km 3,5 da Estrada do Coco, em Lauro de Freitas, que poderá ser viável no ano que vem, mas ainda não tem data prevista. Rui Costa garante que “além do ae­ roporto, teremos o trecho que vai sair de Pirajá até Águas Claras-Cajazeiras”. Com isso, “são mais cinco quilômetros de metrô que nós vamos iniciar, e por­ tanto, chegaremos a 42 quilômetros de metrô”, afirmou o governador. Até o Km 3,5 da Estrada do Coco, onde está sendo 12 | Vilas Magazine | Outubro de 2017

construído um shopping Center (no espa­ ço do lojão Insinuante), a extensão será ainda maior. Com as novas quatro estações en­ tregues, a expectativa é aumentar o número de passageiros em cerca de 60%, chegando a transportar 200 mil pessoas por dia, com capacidade para até 400 mil embarques diários. Com a chegada do metrô até a es­ tação de Mussurunga, cerca de 200 mil pessoas deixam de usar carro ou pegar ônibus todos os dias, de acordo com a CCR Metrô Bahia. A avenida Paralela, por onde chegam a passar 20 mil veí­

culos por hora nos horários de pico, é uma das principais artérias beneficiadas, retomando sua vocação de via expressa com a retirada dos retornos pelo canteiro central e dos semáforos. O presidente da Companhia de Trans­ portes da Bahia, Eduardo Copello, lembra que para as pessoas deixarem os veículos em casa, é preciso um transporte público, coletivo, de massa e de qualidade, com rapidez e conforto. “O governo do Estado planejou uma série de investimentos, no qual o metrô é o principal deles, que oferece essa condição e propicia que as pessoas possam deixar seus transportes individuais”, disse. Segundo ele, esses investimentos já têm trazido uma melhoria real para Sal­ vador. “Ainda temos mais alguns projetos, a exemplo do VLT, que vai proporcionar rapidez, pontualidade, segurança e qua­ lidade para os passageiros do subúrbio para o Comércio”. Com a reforma, o terminal de ônibus de Mussurunga passa a atender até 12 mil usuários por hora, circulando em três plataformas ampliadas de embarque e desembarque, com fluxo de até 180 ônibus por hora. Atualmente, operam no Terminal de Ônibus Mussurunga 30 linhas urbanas e oito metropolitanas. FOTOS: PEDRO MORAES

Estação Aeroporto em obras: penúltima da linha 2, antes do Km 3,5 da Estrada do Coco


A

primeira etapa do Sistema Cicloviário de Lauro de Freitas, projetado em 2014 pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), pode finalmente sair do papel. A prefeita Moema Gramacho (PT) vem prometendo a implantação de pelo menos 20 Km de ciclofaixas e ciclovias com recursos da própria prefeitura. De acordo com a prefeita, essa primeira etapa já estará integra­ da à estação Aeroporto do metrô – implicando na modificação do projeto de três anos atrás, descrito no infográfico das páginas xx e xx. Os primeiros 22,14 Km do “Cidade Bicicleta” não foram pensa­ dos para incluir a estação que começa a funcionar em dezembro. A segunda etapa, com 12,61 Km, já inclui toda a Estrada do Coco, a avenida Jaime Vieira Lima e a rua Dejanira Maria Bastos – em

ALEXANDRE CARVALHO

Sistema cicloviário de Lauro de Freitas pode enfim sair do papel

Ciclofaixa segregada por tachão é o modelo projetado para as avenidas Praia de Copacabana e Praia de Itapoã direção a Vida Nova – e a Amarílio Thiago dos Santos até Ipitanga. De acordo com a arquiteta e urbanista Adriana Trinchão, diretora de Planejamento e Projetos da secretaria de Planeja­ mento de Lauro de Freitas, o sistema ainda será revisto para levar em conta a nova realidade do metrô. Trinchão, que era responsável pelo “Cidade Bicicleta” na própria Conder, trouxe para Lauro de Freitas todo o know-how do projeto. Ainda não há prazos conhecidos – nem a prefeitura revelou o volume de recursos envolvido na empreitada – mas Trinchão u

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q CIDADE

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Ciclofaixa compartilhada, no Rio de Janeiro: solução pensada para as avenidas Fortaleza e São Cristóvão

TÂNIA RÊGO / ABR

garante que, se dependesse só da von­ tade da prefeita, as obras já teriam sido iniciadas. Em julho, Moema Gramacho disse que havia “solicitado também o apoio do governador para a implantação de uma ciclovia” – projeto que faz parte do Plano Plurianual da prefeitura. A obra deverá beneficiar majoritaria­ mente os trabalhadores de baixa renda que têm na bicicleta o seu principal meio de locomoção – e às vezes o único. Ainda há setores da cidade que não são servi­ dos por transporte público. De acordo com pesquisa da Conder realizada há três anos, 28% dos ciclistas em Lauro de Freitas são empregados do comércio, 24% são operários, da construção civil e de outros setores e 10% são estudantes. Como a quantidade de ciclistas não foi aferida, a pesquisa, feita por amos­ tragem, vale mais como enquete. Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Esta­ tística (IBGE) constatou, em 2008, que no Nordeste quase 44% das pessoas vão trabalhar a pé ou de bicicleta – percentual bem superior ao do Sudeste (27%). Os dados do IBGE são relativos à mobilidade física e fatores de proteção à saúde. No Brasil, quanto menor a renda familiar, maior o uso da bicicleta. De fato, a estratificação por faixa de renda revela que 60% dos ciclistas da cidade ganham até um salário mínimo por mês. Outros 36% ganham entre um e três salários mínimos (R$ 2.811). Acima disso, passa a vigorar a lógica da motorização. Apenas 3% deles ganham entre três e cinco salários mínimos. Só 1% dos ciclistas está na faixa acima de cinco salários (R$ 4.685). Em função de uma infraestrutura cicloviária rudimentar, a bicicleta é vista “como um bem inferior, especialmente a de menor valor agregado, tradicional”, diz um estudo da Rosenberg Associados para uma associação do setor. No Brasil, que “a qualquer mínimo ganho de renda o consumidor busca uma alternativa” motorizada, o que levaria a menos inves­ timentos na estrutura cicloviária – o que

perpetua o círculo. Nem tudo a faixa de renda explica. Na região Sul, por exemplo, onde 35% iam trabalhar a pé ou de bicicleta, a lógica econômica é menos relevante do que no Norte e Nordeste. Na faixa de renda supe­ rior a um salário mínimo, é no Sul que as pessoas mais optam por esse modal para ir trabalhar. Ali, a ascensão social também implica uma migração para os veículos motorizados, mas em menor grau. Na faixa entre três e cinco salários mínimos, por exemplo, os sulistas que continuam a andar a pé ou de bicicleta são quase 22%, contra 15% no Nordeste, 14% no Norte e no Sudeste e 13% no Centro-Oeste. A frota brasileira é hoje estimada em cerca de 60 milhões de bicicletas para uma população calculada em 206 milhões no ano passado: apenas 30% da população brasileira usa o modal, numa participação equivalente à dos Estados Unidos, país muito mais motorizado. Se extrapolarmos o número para a popula­ ção projetada para Lauro de Freitas em 2017 (197 mil habitantes) a cidade teria uma frota de 60 mil bicicletas. Boa parte dessa frota poderá ganhar as ruas a partir do momento em que a infraestrutura estiver presente. Mas o percurso diariamente cumprido pelos ciclistas em Lauro de Freitas ainda tem que melhorar muito para ser considera­ do rudimentar. A Conder o caracterizou principalmente como perigoso (80%) e de pavimento inadequado (9%) nos estudos do Cidade Bicicleta.

ROTAS SEGURAS As rotas cicloviárias previstas pelo projeto da Conder tendem a mudar essa realidade, mas será necessário fazer mais que construir a infraestrutura. Trinchão prevê a necessidade de educar a popu­ lação de motoristas para o respeito ao ciclista, por exemplo. Há décadas vítima do crescimento acelerado e desordenado, Lauro de Frei­ tas é uma cidade que nem para os carros foi pensada, quanto mais para a bicicleta. Ruas exíguas passaram a ser ocupadas por cada vez mais veículos em trânsito para os condomínios que surgiram no boom imobiliário da década passada. Quem anda a pé não tem sorte melhor: são raras as calçadas em condições de trânsito para pedestres. Nesse cenário, a Conder projetou como pode as ciclofaixas e ciclovias da cidade. Mesmo em Vilas do Atlântico, um loteamento projetado com ruas mais largas, não há espaço para ciclovias, mas será possível implantar uma ciclofaixa ao longo das avenidas Praia de Copacabana e Praia de Itapoã, deixando um dos lados da via para o estacionamento de veículos. Já na avenida Luiz Tarquínio, apenas um trecho de 200 metros poderá receber uma ciclovia segregada, no canteiro lateral da via. Nas avenidas Fortaleza e São Cris­ tóvão, em Itinga, onde até as calçadas são diminutas, haverá ciclofaixas nos dois la­ dos da via, compartilhadas com o trânsito motorizado. Não é o melhor dos mundos, mas a esta altura é o mundo possível.


Propiciar algum nível de segurança aos ciclistas que diariamente percorrem a cidade é o maior benefício que a infra­ estrutura cicloviária vai trazer. Convencer mais gente a deixar o carro em casa para ir de bicicleta até o seu destino é um ganho adicional. Para isso, Adriana Trin­ chão prevê instalar também para-ciclos – estruturas em que as bicicletas podem ser acorrentadas. A economia de tempo, escapando dos crônicos congestionamentos de Lauro de Freitas, é outro fator importante para atrair novos ciclistas. Se a primeira etapa do projeto for implantada como está projetado, será possível pedalar com alguma segurança da península de Vilas do Atlântico, na esquina da Praia de Tambaú com Copacabana, até o Parque Santa Rita, em Itinga – um percurso de 10,2 Km – em menos tempo que levaria o transporte público.

Se pelo menos uma parte da segun­ da etapa for executada imediatamente, para ligar a cidade ao metrô, pedalar do Parque Santa Rita à estação Aeroporto levará oito minutos ao longo de 2,3 Km. Do Centro ao metrô de bicicleta seriam 19 minutos ao longo de 3,1 Km. RECURSOS DE MULTAS Os recursos para a obra devem vir da ar­ recadação de multas de trânsito. Em pouco mais de um mês, no final do ano passado, a prefeitura autuou motoristas em mais de R$ 1,2 milhão – ou mais de R$ 30 mil por dia, em média. Ao final de um ano, mantido o mesmo ritmo, a arrecadação com multas de trânsito poderia representar mais de R$ 14 milhões de receita para o municí­ pio – quase 10% do total da arrecadação tributária prevista para 2017. Agora que o incentivo ao uso de bi­ cicletas pode até virar lei, por meio do

Programa Bicicleta Brasil, verba para a infraestrutura cicloviária é que não vai faltar. A ideia foi aprovada na Câmara dos Deputados em junho e seguiu para o Senado: 15% do valor arrecadado com multas de trânsito no país serão destinados à integração de bicicletas ao transporte público coletivo, instalação de bicicletários públicos e construção de ciclovias e ciclofaixas, além da promoção de campanhas de divulgação dos benefí­ cios do uso da bicicleta. Uma parcela dos recursos da Cide-Combustíveis, contribui­ ção arrecadada pelo governo federal para a infraestrutura de transportes, também poderá ser destinada à bicicleta. De acordo com o Registro Nacional de Infrações de Trânsito (Renainf), da­ dos relativos a 19,3 milhões de multas aplicadas revelam que os órgãos fede­ rais arrecadaram quase R$ 900 milhões no ano passado. A arrecadação federal u

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Ciclovia completa, segregada, está prevista para trecho de 200m na av. Luiz Tarquínio CRIS CASTELLO BRANCO

sozinha poderia garantir R$ 135 milhões para apoiar o uso de bicicletas no país. A isso ainda seria somada a arrecadação de multas dos estados e municípios. O custo de ciclovias e ciclofaixas varia muito entre cidades e de acordo com o porte da insfraestrutura. Em São Paulo elas custavam um mínimo de R$ 200 mil por quilômetro em 2015, de acordo com a prefeitura. Em Rio Branco, capital do Acre, o governo estima que o custo por quilômetro ficaria em R$ 100 mil. Já

no Rio de Janeiro, segundo a Associação Transporte Ativo, os valores variam de R$ 50 mil a R$ 1,1 milhão por quilômetro. Os dados foram coletados pelo relatório da Rosenberg Associados. Ao custo de R$ 200 mil por quilômetro, só os 15% da arrecadação federal com multas de trânsito em 2016 seriam suficientes para implantar 675 Km de ciclovias no país. Em Lauro de Freitas, R$ 14 milhões poderiam construir 70 quilômetros.

Mortes no trânsito continuam motivando campanhas de conscientização

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Código de Trânsito Brasileiro (CTB) completou 20 anos em setembro, colecionando 688 resoluções anexadas aos seus 341 artigos, sempre na tentativa de aperfeiçoar um sistema que continua matando em escala de guerra civil. Os dados oficiais mais recentes do Ministério da Saúde são de 2015, quando 38.651 pessoas morreram em acidentes de trânsito. O número é 11% inferior a 2014, mas continua elevado e vem sendo reduzido em ritmo demasiado lento. O Brasil continua ocupando o quarto lugar no ranking mundial de mortes no trânsito, depois da China, Índia e Nigéria, todos países muito populosos. A Bahia conseguiu reduzir o número de vítimas em 472 vidas, passando de 2.737 para

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2.265 entre 2014 e 2015. Ainda assim, uma enormidade. Em números absolutos, foi a terceira maior diminuição de mortes entre os estados, logo após São Paulo (menos

Blitz educativa na Estrada do Coco envolveu agentes municipais, da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal

1.169) e Rio de Janeiro (menos 709). Já proporcionalmente à frota de veículos do estado – 3,8 milhões de veículos em 2016 – a Bahia está em situação bem pior que os vizinhos do sul. São Paulo tem 27,3 milhões de veículos e registrou 6.134 mortes no trânsito em 2015. Já o Rio de Janeiro, com quase 6,4 milhões de veículos, matou menos que o trânsito baiano. Apesar da redução de mortes, ainda foram hospitalizadas 158,7 mil pessoas em decorrência de acidentes de trânsito, com um aumento em relação aos acidentados com motocicletas e com bicicletas. Acreditando que a solução passa pela educação dos motoristas, as autoridades marcaram a Semana Nacional de Trânsito e Mobilidade no país, em setembro, com o tema “Minha escolha faz a diferença no trânsito”. Em Lauro de Freitas como no resto do país, a prefeitura buscou mobilizar a população e conscientizar para “a importância de manter um comportamento cidadão nas ruas da nossa cidade, sobretudo respeitando as Leis de Trânsito e o espaço de cada um nas vias”. No posto da secretaria de Trânsito e Transporte na Estrada do Coco, Guarda Municipal e Polícia Militar fizeram uma blitz educativa que contou com o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Todos os motoristas parados para fiscalização foram convidados a assistir uma palestra de cinco minutos dentro de um ônibus da PRF com ar refrigerado enquanto a documentação era conferida. O inspetor Davi Santos, chefe do Gru-


po de Educação para o Trânsito da PRF na Bahia comandou a atividade, envolvendo os motoristas com uma apresentação dinâmica e atraente – sem dispensar a letra da lei. De acordo com ele, a PRF leva o ônibus-auditório a diversos pontos nas cidades e estradas durante as blitzen educativas. O uso do celular ao volante – uma escolha, como diz o mote da campanha – foi destaque na palestra. A insistência de alguns motoristas em dirigir alcoolizados também mereceu comentários do inspetor. Para o Ministério da Saúde, a redução no número de mortes “pode estar relacionada à efetividade das ações de fiscalização após a lei seca”, implantada há nove anos. A pasta destaca que, além de mudar os hábitos dos brasileiros, “a lei trouxe um maior rigor na punição e no bolso de quem a desobedece”. O condutor flagrado dirigindo sob

O inspetor da PRF Davi Santos fala a motoristas durante blitz educativa na Estrada do Coco: infringir a lei de trânsito é uma escolha efeito de qualquer quantidade de bebida alcoólica está sujeito a multa de R$ 2.934,70, além da suspensão do direito de dirigir por 12 meses. Na reincidência, o valor é dobrado. Uma outra explicação é o desaquecimento no mercado interno de veículos e a

integração dos municípios ao Sistema Nacional de Trânsito (SNT). De acordo com o ministério, nas cidades onde foram criados órgãos executivos de trânsito houve um recuo médio de 12,8% no registro de mortes provocados por acidentes, enquanto nos demais ocorreu queda de 8,9%.

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Público assiste sarau na concha acústica do parque. O ator Jackson Costa (abaixo): olhar mais leve.

Parque Ecológico de Vilas recebe projeto Trilha das Artes

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niciado em setembro, o projeto “Trilha das Artes” leva programação especial ao Parque Ecológico nos fins de semana, das 10h às 16h30, até 15 de outubro. A expectativa da prefeitura é ver um aumento de 30% no público, que já estaria em cerca de duas mil pessoas por dia nos fins de semana. O espaço conta com horta orgânica, parque infantil, tirolesa, estufas, borboletário, espaço zen, trilha na mata e uma concha acústica onde acontecem os espetáculos. Em setembro, o espetáculo Sarau do Poeta levou Jorge Amado, Castro Alves, Gregório de Mattos e Dorival Caymmi ao parque. Em 7 de outubro acontece o espetáculo teatral Limousine. No dia 8 quem se apresenta é Adelmo Casé. Para o dia 14 está programado o espetáculo Palhaçal Horto de Contos e os Brincantes Cadeiradebrim. No dia 15, para o encerramento, haverá espetáculo com Ju Moraes. Nesses fins de semana haverá também poetas cordelistas, acrobacia em tecido e de solo, grupo de capoeira, palhaço, pintura facial e conta-

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ção de histórias. O projeto é dirigido pelo ator Jackson Costa, convidado para levar um olhar mais leve, alegre e interativo ao parque. “Sem dúvidas a população desfrutará de uma oportunidade única de assistir e participar de intervenções artísticas de forma livre e em contato com a natureza”, disse. O secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos Alexandre Marques explica que o projeto “Trilha das Artes” foi pensado e planejado para agregar ao Parque Ecológico uma programação lúdica e artística que se integrasse à natureza local.

EDGARD COPQUE


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juiz federal Carlos D’ Ávila Teixeira, da 13ª Vara Cível, formou no mês passado uma comissão de notáveis, composta por profissionais de renome em diversas áreas do conhecimento, para avaliar o projeto proposto pela prefeitura de Lauro de Freitas para a orla de Ipitanga, propondo a relocação de barracas para fora da faixa de areia. A comissão deve verificar inclusive se o projeto respeita o período de desova das tartarugas marinhas, explicou o juiz. O prazo para apresentação do primeiro relatório é de 60 dias após a primeira reunião, que estava programada para acontecer em meados de setembro. Em mais uma audiência pública, realizada no auditório da Justiça Federal, Carlos D’ Ávila Teixeira voltou a ouvir os barraqueiros, que pediram “mais um pouco de paciência”. Simone Oliveira, de Ipitanga, disse que “não é fácil para nós, barraqueiros, pensar na derrubada como aconteceu em Salvador”. Victor Lemos, da Araruama, em Vilas do Atlântico, voltou a destacar o aspecto econômico da exploração das barracas de praia em relação aos empregos gerados e pediu ao juiz um “voto de confiança” na prefeita Moema Gramacho. A prefeitura de Lauro de Freitas quer executar um projeto com quiosques no calçadão de Ipitanga para substituir as barracas de praia antes que a demolição seja determinada. O juiz garantiu que “o que está na areia da praia não vai continuar”. De acordo com Moema Gramacho, o projeto de Ipitanga seria replicado em Buraquinho e em Vilas do Atlântico. Se-

Justiça nomeia comissão para avaliar projeto da orla de Ipitanga Faixa de areia na orla de Lauro de Freitas será desocupada, seja ou não aprovado o projeto de relocação de barracas em Ipitanga riam oito barracas em Vilas do Atlântico, onze em Ipitanga e 39 em Buraquinho. As construções propostas são em madeira e alumínio com frente e interior padronizados, contando com banheiro, balcões e pia. A cada dez conjuntos de barraca, seriam construídas estações com seis chuveiros e sanitário para banhistas. Além das estruturas comerciais, o plano propõe a criação de mais cinco quiosques para venda do artesanato local, orientações a turistas. Um outro quiosque poderia ser ocupado pelo Projeto Tamar, de proteção às tartarugas marinhas. Parques de lazer infantil, quadra poliesportiva, pista de skate e um mirante com acessibilidade para cadeirantes também foram descritos, de acordo com a prefeitura. Os projetos não foram ainda

publicamente revelados. A desocupação das praias de Lauro de Freitas foi solicitada em ação proposta pelo Ministério Público Federal e pela União em 2011 contra a prefeitura, na sequência da demolição das barracas na faixa de Ipitanga que pertence a Salvador. A construção de barracas em concreto e alvenaria contraria normas legais que proíbem edificações fixas sobre a faixa de praia. Desde então a Justiça Federal vem ouvindo propostas da prefeitura para relocação das barracas de praia e recebendo pareceres de órgãos ambientais. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) acompanham o processo por ordem judicial.

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Salva reivindica à prefeitura ações para o Verão de Vilas do Atlântico

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creditando que Vilas do Atlântico “não vem recebendo nos últimos anos o tratamento que a sua comunidade precisa e merece”, a Sociedade de Amigos do Loteamento de Vilas do Atlântico (Salva) encaminhou no mês passado à prefeitura de Lauro de Freitas uma lista de reivindicações agrupadas num “Projeto Verão Vilas do Atlântico – 2017/2018”. O elenco de medidas começa pela requalificação do calçadão da praia: piso, iluminação, sinalização, acessibilidade. O calçamento em pedra portuguesa há anos pede uma reforma completa, embora não viva os seus piores dias atualmente. Já a iluminação deverá mesmo ser revista para atender as normas legais de proteção às tartarugas marinhas, princi-

palmente porque a partir deste ano elas vão nascer na praia de Vilas do Atlântico e não mais em Busca Vida, para onde antes eram transportados os ovos (leia reportagem às páginas 26 a 31). Antes dos atuais postes de luz, o calçadão de Vilas do Atlântico tinha pequenas torres de iluminação do piso, projetadas com o auxílio do Projeto Tamar, que diminuíam o impacto da luz artificial tanto na desova das tartarugas como na eclosão dos ovos, quando as recémnascidas correm para o ponto mais claro que conseguem ver – normalmente, o mar. Se o ponto mais luminoso for a luz no calçadão, as tartarugas arriscam ver o dia nascer em torno de um poste, apenas para morrer em seguida.

A praia de Vilas do Atlântico e Buraquinho: neste verão haverá dezenas de ninhos de tartaruga que estão sob proteção legal na areia Com os nascimentos previstos para ocorrer a partir de novembro e até março do ano que vem, a festa de réveillon este ano será um desafio para as autoridades locais, responsáveis e envolvidas na proteção à desova e aos ninhos de tartaruga na praia. Sem medidas adequadas, o dia

O rio Sapato, há meses tomado pelo mato e baronesas, precisa ser limpo, pelo menos para viabilizar a “Avenida Verão” proposta pela Salva

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1º de janeiro será forte candidato a fazer manchetes nacionais por crime ambiental em larga escala, com dezenas de ninhos pisoteados em Vilas do Atlântico. A Salva pede “um réveillon de paz e amor, como o povo merece” e o envolvimento de todas as secretarias e órgãos estaduais – listando a Coelba, a Embasa, a Polícia Militar e Civil – “para adotar medidas necessárias de maneira que o réveillon seja realizado da forma mais ordenada possível”. Em função dos ninhos de tartaruga, a presença de largo efetivo da Companhia de Polícia de Proteção Ambiental (COPPA), da Polícia Militar da Bahia, é medida igualmente recomendável. A praia continua a ser uma das principais preocupações da Salva no bairro, que pede banheiros químicos por lá neste verão. Uma coleta seletiva de lixo foi também sugerida e a segurança de moradores e visitantes voltou a ser mencionada. A Salva quer mais operações de fiscalização do trânsito em Vilas do Atlântico, além de radares de velocidade nas avenidas Praia de Itapoã e Copacabana. A fiscalização da prefeitura, sugere a Salva, deve estar atenta à “utilização de facões, churrasqueiras, chapas, espetinhos, botijão de gás, garrafas de vidro e

utensílios afins ao longo do calçadão” – problemas que se tornaram comuns nas praias de Lauro de Freitas. As “barracas clandestinas que se instalam no gramado do calçadão”, além de quiosques variados na praia, destinados ao comércio de aluguel de cadeiras, tendas e sombreiros fazem parte do cenário. Proibir a realização de “eventos comerciais e lucrativos” em residências da orla de Vilas do Atlântico e fiscalizar “os sons elevados nas residências e barracas formalizadas” são medidas obrigatórias para o poder público, mas também fazem parte da lista de reivindicações. A entidade quer ainda “disciplinar a entrada de veículos de grande porte”, como ônibus, vans e caminhões em Vilas do Atlântico – a exemplo do que foi feito no verão 2015-2016 pela gestão anterior, para evitar que excursões de banhistas cheguem à praia. O estacionamento nas alamedas de acesso à praia também pode ser proibido, se a reivindicação da Salva for atendida. Adicionalmente, a entidade

pede a implantação de um sistema de estacionamento pago na avenida Praia de Copacabana. Fiscalizar festas, barracas, ambulantes clandestinos, guardadores de carros e controlar animais são outras medidas sugeridas à prefeitura. Equipar e melhorar os serviços de salva-vidas e “requalificar os serviços prestados” também faz parte da lista. A Salva menciona barraqueiros, baianas e ambulantes cadastrados. Além de estender o horário de trabalho dos salva-vidas até as 19 horas, a Salva pede que eles sejam equipados com stand-up paddle, pranchas de surf, pés de pato, coletes salva-vidas – e jet-ski. Há ainda a proposta de transformar a avenida Praia de Copacabana numa “Avenida Verão”, como as ruas de lazer. Para isso, o rio Sapato precisa pelo menos ser mantido sem mato e baronesas. A Salva quer introduzir alevinos – peixes recém-nascidos – “para melhoria da despoluição do rio”.

O calçadão de Vilas do Atlântico, sempre objeto de reclamações pela conservação deficiente, volta a ser pauta da Salva

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Lauro de Freitas desiste do Flamengo e centra esforços em Itinga e Areia Branca

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Câmara Municipal de Salvador aprovou por unanimidade, em setembro, o projeto de lei que lista Itinga e Areia Branca como bairros da capital, mantendo larga faixa a leste da BA-526 (CIA-Aeroporto) no território da cidade vizinha. As propostas de revisão de limites territoriais que estão em discussão na Assembleia Legislativa preveem a incorporação oficial de pelo menos parte dessa área a Lauro de Freitas. De fato, elas sempre foram administradas por Lauro de Freitas. O parecer técnico da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) e do IBGE, que baliza os trabalhos da Comissão Especial de Divisão Territorial da Assembleia Legislativa, reflete o acordo anunciado em dezembro de 2014 pelo diretor-geral da SEI, Geraldo Reis. O documento final, entretanto, nunca teria sido apresentado. Entretanto, a prefeitura de Lauro de Freitas fez nova proposta, ampliando a reivindicação territorial até a margem da BA-526 (CIA-Aeroporto) e incluindo Ipitanga, a praia do Flamengo e todo o entorno da estação de metrô Aeroporto e do respectivo terminal de ônibus. No mês passado a prefeitura excluiu o Flamengo da proposta, mas manteve as demais áreas. Não há proposta conhecida de Salvador para a revisão de limites. A reportagem da Vilas Magazine solicitou posicionamento do prefeito ACM Neto a respeito, mas não obteve resposta. Para a deputada Mirela Macedo (PSD), membro da comissão, o mapa mais atual apresentado a ela pela prefeitura – já sem a praia do Flamengo – atende os princípios de pertencimento da população ao incluir Itinga, Areia Branca, Capelão, Ipitanga e o loteamento Marisol. “Concordo que as áreas historicamente administradas por Lauro de Freitas e cujos cidadãos se sentem pertencentes [à cidade] devem permanecer como Lauro de Freitas – e vice-versa”, disse a deputada à Vilas Magazine. A Comissão Especial da Assembleia marcou audiência pública para o princípio de outubro para discutir as novas propostas. A tendência é que

o mapa pretendido pela prefeitura de Lauro de Freitas acabe formalizado em Projeto de Lei. Em reunião no gabinete do deputado Zó (PCdoB), com os deputados Rosemberg Pinto e Bira Coroa (PT) e com a própria deputada Mirela Macedo (PSD), além de outros integrantes da comissão, a prefeita Moema Gramacho (PT) pediu apoio às reivindicações de Lauro de Freitas. Para ela, a Assembleia deve votar, sim, o Projeto de Lei com os limites que vierem a ser definidos pela Comissão Especial e acusou a prefeitura de Salvador de agora tentar entrar no território em disputa – como aconteceu em Ipitanga logo após Lauro de Freitas ter desistido de disputar o território no acordo que não chegou a ser formalizado. A prefeita disse que Lauro de Freitas “busca o consenso”, mas que, na ausência deste, a Assembleia é que deve decidir. Em agosto, durante entrevista à Vilas Magazine, o deputado Ângelo Coronel (PSD), presidente da Assembleia Legislativa, disse que nenhuma proposta irá a plenário até que haja acordo entre as duas prefeituras. De acordo com Coronel, é “uma praxe da Casa” tratar de limites sempre por acordo entre as partes. “Nós só vamos colocar para votar se houver acordo entre os gestores dos dois municípios”, garantiu – se não houver acordo, “o projeto fica engavetado”. A disputa territorial entre Lauro de Freitas e Salvador foi iniciada em 2007, quando a prefeita Moema Gramacho solicitou uma verificação de limites, levando à realização de uma audiência pública. Ancorado na Lei Estadual 12.057/2011, o projeto de Atualização dos Limites Intermunicipais da Bahia é fruto de parceria entre a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), representante do poder Executivo e responsável pela coordenação do trabalho, com o IBGE e a Comissão Especial de Assuntos Territoriais e Emancipação da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA). O Território de Identidade Metropolitano de Salvador foi o último a ser tratado. Reunião no gabinete do deputado Zó (dir) com Moema Gramacho, Rosemberg Pinto e Mirela Macedo (esq) discutem condução dos trabalhos na comissão de assuntos territoriais

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Bruno Santos em palestra no “simpósio de segurança”: guarda enaltecida

Guarda Municipal reivindica papel ampliado

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“Guarda Municipal frente ao volume da criminalidade”, de acordo com a prefeitura de Lauro de Freitas, foi tema de uma palestra de Bruno Leonardo Santos, coordenador da Guarda Municipal, no encerramento de um “simpósio de segurança pública”. Sem reivindicar o porte de armas, o coordenador afirmou que a guarda pode colaborar ativamente para a segurança do município. Santos enalteceu o papel da Guarda Municipal, destacando ações desempenhadas até em eventos públicos, junto à população. Exibindo uma foto do Parque Ecológico de Vilas do Atlântico, defendeu ser mais importante cuidar das crianças do que do escorregador em que elas brincavam. Na foto, observando o parque de diversões, via-se um Guarda Municipal de boina e colete aparentemente à prova de balas. Regulamentada por lei municipal em 2007, à Guarda Municipal de Lauro de Freitas (GMLF) compete proteger o patrimônio público. A lei descreve as competências do departamento em cinco itens: o primeiro deles é “prevenir atos que atentem contra os bens, instalações e

serviços municipais”. Os guardas também prestam “serviços de vigilância e de portaria nos prédios e instalações do município”. Eles atuam como força complementar dos órgãos e entidades da administração em instalações internas, equipamentos urbanos, monumentos, vias públicas, parques, jardins, praças e áreas de proteção ambiental. É também competência da guarda “desenvolver ações comunitárias voltadas para o apoio, proteção e valorização do cidadão”, além de “proteger o patrimônio ecológico, cultural, arquitetônico e ambiental do município”. Por fim, a Guarda Municipal pode atuar em parceria com outros municípios e órgãos estaduais e da União “para garantir a proteção e preservação do patrimônio público”. Ao contrário do que ocorre em outros países, o poder de polícia no Brasil é privativo da União e dos Estados, permanecendo fora da alçada dos municípios. Como a crescente criminalidade leva à ideia de que as cidades precisam de mais polícia – em vez de menos violência – as Guardas Municipais vêm sendo somadas à linha de tiro. No Rio de Janeiro, por exemplo, a

Guarda Municipal faz patrulhamento urbano desde agosto, em uma atuação “complementar à da Polícia Militar”. Os 7.500 guardas cariocas teriam sido capacitados para uma “atuação humanizada” que ganhou destaque na comunicação das autoridades administrativas do município. Mas já houve casos em que guardas municipais do Rio de Janeiro fizeram “prisões” de pessoas e “apreensões” de menores. Em 2015 o próprio Supremo Tribunal Federal decidiu que as guardas municipais do país podem aplicar multas de trânsito – uma vertente do poder de polícia – apesar de não estar expresso na Constituição Federal. Organizado pela Superintendência de Segurança Municipal, o simpósio teve ainda as palestras com o coronel PM Antônio Jorge Ferreira Melo, sobre Segurança Pública e Comunidades em Desenvolvimento; do especialista em trânsito, Laurentino Silva Neto sobre o Acidente de trânsito sob efeito de álcool e droga, e da psicóloga Carla Galo, sobre a Violência contra a mulher. A Estrutura da Violência foi tema da pedagoga Silvana Ferreira e Desigualdade Social da advogada Rina Nunes. Outubro de 2017 | Vilas Magazine | 25


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Ninhos de tartaruga marinha serão mantidos nas praias em Lauro de Freitas

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Tartarugas recém-nascidas buscam o mar

SHUNDRA MOORE

partir deste Verão todos os ninhos de tartaruga marinha serão mantidos nas praias, incluindo Ipitanga, Vilas do Atlântico e Buraquinho, em vez de transferidos para Busca Vida, como anteriormente. Uma equipe do Tamar continuará percorrendo as praias em busca de rastros de tartaruga que indiquem um ninho novo, mas apenas para cercar o local. Os próprios rastros serão mantidos para habituar as pessoas à presença das tartarugas, que começaram a subir às praias no mês passado para a temporada de desova que vai até março no litoral norte baiano. As fêmeas fazem entre duas e nove desovas cada, a depender da espécie, preferencialmente à noite. Os filhotes levarão de 45 a 60 dias para nascer, a partir de novembro, nas praias em que as tartarugas tiverem desovado e não mais em Busca Vida ou na Praia do Forte, para onde os ovos eram transferidos até o ano passado. De cada mil filhotes, somente um ou dois conseguirão atingir a maturidade, tantos são os obstáculos naturais para uma espécie que sobreviveu à extinção dos dinossauros só para enfrentar as pragas da ocupação humana. Os ninhos sob risco de fatores naturais, como erosão em função da ação da maré, serão transferidos pelo Tamar para um ponto mais seguro da praia. Todos os outros serão apenas marcados e cercados no próprio local da desova – entregues aos cuidados das autoridades ambientais do município e da população. Apenas no trecho de sete quilômetros entre o Flamengo e a foz do rio Joanes, chamado de Buraquinho pelo Projeto Tamar, dezenas de tartarugas são esperadas nesta temporada. Entre setembro de 2016 e março deste ano foram 69 desovas nas praias de Ipitanga, Vilas do Atlântico e Buraquinho. O número vem diminuindo pelo menos desde a temporada 2012-2013, quando o Tamar registrou 109 desovas no trecho. No ano seguinte foram 107 e depois 102. Em 2015-2016 as desovas na área caíram para 78. Melhorar o desempenho nesta temporada dependerá muito dos moradores e turistas. Em termos nacionais a desova de cabeçudas, comuns no litoral norte, também mostraram redução em relação à temporada anterior: 15%. O oceanógrafo Guy Marcovaldi, coordenador nacional


do Tamar, explica que a oscilação “normalmente acontece a cada dois ou três anos”, seja por razões naturais ou causadas pelo ser humano. Mesmo assim, os resultados ainda são positivos. Em contrapartida, a desova de tartarugas-oliva, que também ocorre no litoral norte baiano, aumentou 31%. A temporada de 2016-2017 ultrapassou os 25 milhões de filhotes protegidos e o Tamar aguarda para o final deste ano o “filhote 35 milhões”. ILUMINAÇÃO Um dos fatores que influenciam a diminuição das desovas é a presença de luz no calçadão de Vilas do Atlântico – o que afasta as tartarugas em busca de lugar seguro para desovar. A luz artificial também desorienta as recém-nascidas, que em vez de correr para o mar ao sair do ninho, seguem em direção à fonte de luz mais forte: um poste. O primeiro sistema de iluminação do calçadão, projetado com o auxílio do Projeto Tamar, cerca de 20 anos atrás, dirigia o foco de luz apenas ao piso. Os atuais postes, instalados há quase 15 anos, apesar do anteparo não cumprem a mesma função por estarem a menos de 50 metros da faixa de maré de sizígia (a altura das marés alta e baixa - relativa Tartaruga sobe ao ponto mais distante da praia para desovar

ao nível do mar médio - também varia com o ciclo lunar. Nas luas nova e cheia, as forças gravitacionais do Sol estão na mesma direcção das da Lua, produzindo marés mais altas e mais baixas, chamadas marés de sizígia). Além disso, várias das luminárias foram substituídas por outras que nem o anteparo têm, apesar da prefeitura, responsável pela iluminação pública, ser obrigada a seguir os critérios técnicos estabelecidos. Além disso, há residências da orla que iluminam diretamente a praia. A fiscalização, obrigatória por meio de lei específica, é inexistente. A legislação ambiental da Bahia proíbe a iluminação das praias para proteção das tartarugas marinhas por meio da Lei 7.034, de 13 de fevereiro de 1997 e da Portaria nº 11, de 30 de janeiro de 1995. E a Resolução nº 10, de 24 de outubro de 1996, do Conselho Nacional do Meio Ambiente estabelece que o licenciamento de empreendimentos em praias com ocorrência de tartarugas marinhas deve contar a avaliação do Tamar. De acordo com a lei, não pode haver iluminação numa faixa de 50 metros contados a partir da linha estabelecida pela maré de sizígia – a maior preamar verificada no ano. A lei diz ainda que compete à Coelba, em conjunto com o Tamar, a identificação das áreas que necessitam de adequação e o estabelecimento de u US NATIONAL PARK SERVICE

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q CIDADE

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q MEIO AMBIENTE

Quadriciclos e mesmo automóveis prejudicam ninhos e filhotes e atropelam ou afugentam fêmeas prestes a desovar. Outro problema de grande porte é a interferência de cadeiras e barracas de praia nos locais dos ninhos. O lixo que os banhistas deixam na areia torna-se obstáculo tanto para fêmeas que vão fazer seus ninhos como para os filhotes a caminho da água. No mar, o lixo confunde as tartarugas e pode ser engolido por engano, levando à morte.

critérios técnicos para essa adequação quando a iluminação já existe, emitindo pareceres prévios. A fiscalização dessas áreas e o acompanhamento dos projetos, inclusive de adequação da iluminação, também são responsabilidade da Coelba e do Tamar. Já a prefeitura municipal, responsável pela iluminação pública, é obrigada a seguir os critérios estabelecidos. Num esforço para fazer valer a lei, o Tamar produziu uma cartilha que visa convencer os condomínios costeiros a adequar a iluminação, fornecendo orientações básicas. Dos 45 condomínios existentes nas praias de Barra do Jacuípe, Guarajuba e Itacimirim, no litoral norte, 38 já adequaram a iluminação para proteger as desovas e os ninhos. As ações de educação ambiental nesse sentido acontecem desde 2009. “No começo foi difícil, eles eram relutantes”, conta Nathalia Berchieri, 32 anos, bióloga responsável pelo monitoramento das praias numa área de 47 quilômetros a partir da base de Arembepe. “Eles hoje Ninho de tartaruga marinha em praia: os ovos serão chocados por 45 a 60 dias na mesma praia em que foram colocados

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Nathalia Berchieri e Renata Buffa marcam e cercam ninho de tartaruga em frente ao Vilas Village, em Vilas do Atlântico: no calçadão, o poste de luz com anteparo ainda representa perigo

cuidam da praia e têm orgulho pelo quintal da casa deles” – verifica. Com Renata Figueiredo Buffa, 27, ecóloga do Tamar, Berchieri supervisiona as desovas e acompanha os ninhos em oito trechos de praia desde a Boca do Rio, em Salvador até a foz do Jacuípe, em Camaçari. Trata-se da mais importante área de desova de tartarugas em todo o litoral brasileiro. Elas reconhecem que “será muito trabalhoso, pelas ameaças de iluminação”, cuidar das praias de Vilas do Atlântico e Ipitanga este ano. O trânsito de veículos na areia, le­ ga­l ­m ente proibido, é outro desafio. HILLEBRAND STEVE

NOSSA PRAIA A manutenção dos ninhos nas praias é resultado do esforço do Tamar, ao longo de oito temporadas reprodutivas consecutivas, na execução do programa Nossa Praia é a Vida no litoral norte da Bahia. Fundamental para o programa é a participação dos usuários das praias, inquilinos, proprietários das casas dos condomínios, funcionários de hotéis e pousadas, donos de comércio e barracas. A adequação da iluminação nos condomínios litorâneos é um destaque. “Quase não precisamos mais remover os ninhos para protegê-los, apenas aqueles em risco iminente”, conta a bióloga do Tamar Luciana Veríssimo. “As pessoas são os nossos olhos, nos avisam sempre que há alguma tartaruga na praia ou filhotes desorientados”, garante. Busca Vida, que com Interlagos é a praia mais protegida de todo o litoral norte em função das restrições de acesso, continua campeã de desovas: 842 na última temporada, mais de quatro mil nas últimas cinco. O trecho de Santa Maria, que vai de Interlagos a Arembepe, recebeu 705 desovas em 2015-2016, mais de três mil em cinco temporadas. De acordo com a oceanógrafa Neca Marcovaldi, coordenadora de conservação e pesquisa do Tamar, atualmente 99% dos ninhos permanecem em seu local original do norte do Rio de Janeiro ao norte do Rio Grande do Norte. Ela credita isso “ao trabalho de sensibilização, educação ambiental e de inclusão social junto às


RONALDO GUILLEN

comunidades locais e turistas”. Este ano será a vez de Lauro de Freitas provar que respeita as leis e as tartarugas marinhas. Desde 1998 uma lei federal impõe detenção de seis meses a um ano e multa a quem impede a procriação da fauna, modifica, danifica ou destrói ninho. As penalidades são aplicáveis a pessoas físicas e jurídicas. Mas até a década de 80 era um hábito comum, nas comunidades litorâneas, matar tartarugas marinhas para consumir a carne. Os ovos eram coletados nos ninhos para vender como tira-gosto em bares praianos. O casco servia para fabricar armações de óculos, pentes, pulseiras, anéis. As fêmeas eram capturadas quando subiam à praia para desovar. Quando o Tamar lançou ao mar a primeira ninhada nascida sob sua proteção, havia praticamente uma geração de crianças e jovens daquelas comunidades que nunca tinham visto um filhote de tartaruga. As práticas predatórias raramente acontecem atualmente nas áreas protegidas, mas o descaso com o meio ambiente e a ideia de que as praias são de ninguém em vez de serem de todos ainda levam perigo aos ninhos. A aglomeração de pessoas na noite de réveillon em Vilas do Atlântico, em pleno pico da temporada de desovas e nascimentos, é uma das ameaças em perspectiva. Na tentativa de envolver mais os responsáveis pelo cumprimento das leis, Berchieri vem fazendo um trabalho de educação ambiental. Agentes da Guarda Municipal de Lauro de Freitas também passaram por um curso de capacitação do Tamar. O esforço de educação do Tamar inclui abordagens aos banhistas e as populares solturas de filhotes e tartarugas reabilitadas. A instalação de placas informativas e cartazes em bares e barracas de praia é outro recurso. No fim, é o comportamento da população em geral que mais impacto terá na preservação ou depredação dos ninhos. Nesse sentido, o passado fornece uma perspectiva positiva de futuro. A base do Tamar em Arembepe,

Tartaruga marinha em pleno mar: ciclo de vida depende de uma desova segura nas praias

criada em 1983, quando a legislação de proteção ambiental praticamente não existia, foi inicialmente a “base de Interlagos” porque as ações de proteção às tartarugas marinhas na região começaram por iniciativa dos moradores do condomínio de Interlagos. Só em 1992 a base foi transferida para o povoado de Arembepe, em Camaçari, onde atualmente conta com infraestrutura de serviços e um centro de visitantes. AREMBEPE Hoje a base de Arembepe monitora a região que concentra o maior número de desovas do litoral continental do país – 2.674 na temporada anterior – gerando cerca de 180 mil filhotes a cada temporada, principalmente das espécies cabeçuda e de pente. A base da Praia do Forte cobre mais 30 quilômetros entre a foz do Jacuípe e a foz do Imbassaí, incluindo as praias de Barra de Jacuípe (3 km), Guarajuba (8 km), Itacimirim (5 km) e Praia do Forte (14 km). Nesses trechos são registradas mais de 2.100 desovas a cada temporada – apesar da grande pressão da presença humana, pela alta concentração de condomínios. O litoral norte baiano é reconhecido internacionalmente, pelo Comitê Executivo da Convenção Interamericana para a Proteção e Conservação das Tartarugas Marinhas, como a principal área

de nidificação da América Latina para as tartarugas marinhas cabeçudas e do Atlântico Sul para as tartarugas de pente. A preservação das praias em condições adequadas é essencial porque as tartarugas marinhas desovam nas praias em que nasceram, completando um ciclo de vida que remonta à época dos dinossauros. O Projeto Tamar começou a proteger as tartarugas marinhas no Brasil em 1980. Com o patrocínio da Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental, hoje o Projeto é uma soma de esforços entre a Fundação Pró-Tamar e o Centro Tamar/ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). O Tamar trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartarugacabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-depente (Eretmochelys imbricata), tartarugaverde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-decouro (Dermochelys coriacea). As equipes protegem cerca de 1.100 quilômetros de praias e estão presentes em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Outubro de 2017 | Vilas Magazine | 31


q ARTESANATO

A arte milenar sob as mãos e a alma de uma professora ‘amiga’

T

raços finos e delicados traduzem umas das expressões artísticas mais refinadas da história da humanidade. As evidências apontam que a pintura em porcelana teria nascido na China entre os séculos 6 e 7, mas ganhado destaque internacional a partir do século 8, quando o explorador Marco Polo levou algumas peças da China para a Europa. Ainda hoje a arte impressiona pela riqueza de detalhes, e apesar da grande força da indústria de massa, não perdeu seu valor e espaço na decoração. Há 23 anos se dedicando a arte da pintura em porcelana, a artesã Lúcia Margarida de Barros Fontoura, 71 anos, além de criar peças únicas, decidiu compartilhar seu conhecimento, ensinando a técnica e transmitindo toda paixão pelas porcelanas. O início foi difícil e só aconteceu após muita insistência de uma amiga. Lúcia viu sua vida mudar de ponta cabeça quando perdeu um dos seus três filhos em um acidente, e o acalanto ao seu coração veio justamente através da

união do requinte das porcelanas, a leveza dos traços e a força do fogo. Sua mestra é Carmem Nagao, artista plástica com nível superior em desenho. Na época em que se conheceram, Carmem estava chegando do Rio de Janeiro para abrir o seu ateliê em Salvador, e Lúcia foi uma das suas primeiras alunas. Ela já possuía uma relação com as artes, através dos cursos de extensão que participava quando trabalhava na Universidade Federal da Bahia, mas nunca havia pensado em se dedicar de forma tão intensa. “Vejo a pintura em porcelana como uma terapia, algo renovador, que recomendo para qualquer pessoa”, frisa. Ao longo de todos esses anos Lúcia foi se aprimorando. Compartilha sua rotina de casa, cuidados ao marido, amor dos filhos e netos, com as suas criações, que já participaram de diversas exposições, algumas internacionais. Mas ainda havia um novo passo a dar, e há três anos Lúcia abriu o seu ateliê, em Lauro de Freitas, para compartilhar conhecimentos e experiências. A técnica desenvolvida por Lúcia é o canetado com óleo de co­paíba. Traços finos e de­licados riscados na porcelana

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“As amigas”, como Lúcia se refere às suas alunas, se encontram uma vez por semana. A tarde se passa numa velocidade que, sem nem perceber, já está de noite. Cada novo amigo que chega ao grupo possui características específicas, os traços seguem estilos por vezes bem opostos, mas as experiências e a vontade de ver a peça finalizada superam as diferenças e criam laços que perduram para fora do ateliê. “Recordo que meu primeiro aluno tinha Mal de Parkinson. Ele vinha para as aulas com a esposa. O trabalho dele era de um detalhismo impressionante. Quanto mais minucioso, mais ele se empenhava, e o resultado final era incrível. Tenho hoje alunas mais conservadoras, mais tradicionais em seus traços, como tenho as contemporâneas, cujo os desenhos fogem completamente da tendência que geralmente vemos em porcelanas, mas ambas se esmeram e tudo fica lindo”, completa. A pintura em porcelana é uma arte


cer o ateliê e me apaixonei”. Maria Luci Dantas Moraes Torreão de Sá, 67 anos.

Alunas Amigas do curso de pintura em porcelana (a partir da esq.): Tânia Accioli, Maria Luci de Sá e Edmildes Carmo bem delicada, e que desde a China, por cada continente que passou, foi adquirindo novas técnicas. Lúcia trabalha com o canetado e óleo de copaíba. As peças são riscadas e passam por processos de pintura e queima no forno, em temperaturas que chegam a 1.300°C. Sobre a relação da pintura em porcelana, tão manual e detalhista, com a evolução tecnológica que a sociedade vem passando, Lúcia acredita que a arte não se perderá, pois ao comparar uma peça pintada manualmente e uma peça fruto da indústria, a diferença é facilmente encontrada e os amantes da arte valorizam um bom trabalho. Mas ela frisa que o incentivo para atuais e novos artesãos e artistas é inexistente. “Temos vontade de desenvolver algo voltado para crianças e jovens, mas emperramos na falta de apoio, sobretudo governamental. Não temos a atenção do poder público nem quando a nossa associação, a União Baiana de Pintores em Porcelana e Faiança, que promove uma exposição, em que eles são convidados para o coquetel. Ninguém aparece. Por parte das pessoas existe sim o reconhecimento do valor do artesanal, de todo empenho que o artesão e o artista transmitiram para a confecção de uma peça”, ressalta. Em seu ateliê, Lúcia tenta fazer ao menos um pouco para que a arte não se perca no tempo. O amor pela pintura está sendo transmitido para a netinha de quatro anos, que ao final das aulas exclama: “Vovó, a senhora é muito exigente!”.

DEPOIMENTOS “Sempre gostei de arte, sabia que queria fazer atividades neste ramo mas a vida vai encaminhando nosso destino. Sou contadora por formação, trabalhei anos na área, mas sei que nunca é tarde para aprender algo novo. Foi folheando as páginas da Vilas Magazine que avistei, no cantinho de uma página, um anúncio sobre aulas de pintura em porcelana. Pensei: é isso! Liguei pelo menos umas cinco vezes, cheguei até a acreditar que o anúncio era falso. Mas não desisti. E quando deu certo, vim logo conhe-

“Sou artesã, trabalho com diversas técnicas e matérias-primas, e não acreditava que me adaptaria ao curso, por não gostar de florzinhas, miudinhas e delicadas, com o são a maioria dos produtos de porcelana que geralmente encontramos. Mas logo na primeira aula quebrei todos os meu paradigmas e percebi que não há limites para a nossa criatividade. Minhas peças são as mais diferentes aqui do ateliê, gosto de retratar o dia-a-dia, o povo baiano, e estou apaixonada em poder fazer isso em porcelanas. Além disso conviver com Lúcia é uma grande satisfação, é uma troca de conhecimentos e um aprendizado de vida constante”. Tânia Accioli, 61 anos. “Também descobri Lúcia pelo anúncio na revista Vilas Magazine. Na verdade, desde que iniciou o processo de minha aposentadoria que venho buscando alguma atividade que me completasse. Me incomodava muito o rótulo “aula para a terceira idade”. Não queria nada excludente, nada que restringisse os meus contatos. Queria algo que qualquer pessoa, de qualquer idade, pudesse fazer. Quando vi o anúncio foi meio que a união do útil ao agradável. Além de ser uma arte linda, o ateliê fica pertinho de casa”. Edmildes (Mimi) Carmo, 61 anos.

As aulas acontecem uma vez por semana no ateliê de Lúcia

Thiara Reges / Freelance para a Vilas Magazine

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q CIDADE COMUNIDADES

Projeto educacional incentiva jovens a exercerem noções de cidadania, integração e sociabilidade

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Cine Teatro de Lauro de Freitas recebeu dia 30 de agosto o espetáculo “I Had a Dream”, musical que conta a história dos sonhos de um adolescente. Passeando pelos principais clássicos do cinema internacional, os atores, estudantes do 6º ao 9º ano do Centro Educacional Municipal Fênix, uniram o aprendizado de um novo idioma a noções de integração e sociabilidade, de forma divertida. A ideia do musical foi da professora Leila Patrícia Bispo França, que leciona Inglês para os 8º e 9º anos, desenvolvida em parceria com a professora Ana Beatriz do Espírito Santo Mattos, que também leciona o idioma, mas para os 6º e 7º anos. A recente notícia sobre a morte de um ex-aluno por envolvimento com drogas mexeu com toda a instituição e foi o estopim para o início do projeto. “Infelizmente entrar para o mundo das drogas é

fácil. Os meninos se tornam ‘aviãozinhos’, e conseguem ter fácil acesso a roupas de marca, tênis da moda, e vão se perdendo. Tem se tornado frequente ler na mídia que jovens foram mortos em Lauro de Freitas. Fiquei pensando: como seria bom abrir o jornal, uma revista, e ver uma notícia onde os jovens fossem protagonistas de uma história bonita e feliz”, destaca Ana Beatriz. A escola está localizada no Centro de Lauro de Freitas, e como toda a cidade, tem sofrido com os índices de violência e criminalidade. Segundo dados do Mapa da Violência, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Aplicada - IPEA, e divulgado em junho deste ano, Lauro de Freitas é a segunda cidade mais violenta do Brasil, em cidades acima de 100 mil habitantes. Toda a instituição se envolveu com o musical, principalmente os estudantes, que ficaram responsáveis por elaborar toda a coreografia. “Todos os alunos se

Professoras Ana Beatriz e Leila Patrícia, gestoras do projeto

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No musical, estudantes reproduziram cenas de clássicos do cinema, como a Bela e a Fera (esq.) e O Mágico de Oz envolveram. Eles criaram as coreografias, Leila e eu criamos os figurinos, que foram todos costurados pela mãe de Leila. Nos empenhamos, unidas, realizamos aulas extras na quadra, em turnos opostos. No final foi maravilhoso perceber a interação entre alunos e professores, auto estima dos alunos elevada e melhor rendimento escolar. É muita alegria”, conta Ana Beatriz. Com o auditório cheio, os estudantes subiram ao palco e reproduziram cenas de clássicos como Frozen, Grease, Dirty Dancing, Mágico de

Oz, num espetáculo merecedor de aplausos. Com o sucesso do musical, as professoras já planejam novos projetos de cidadania e interação, que colaborem diretamente com a formação de novos cidadãos. “Acreditamos que conseguimos dar um primeiro passo. Agora que percebemos que é possível, faremos muitas outras atividades para ajudar nossos estudantes”, finaliza. Thiara Reges / Freelance para a Vilas Magazine.

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q CIDADE & LAZER TURISMO

DE GOLE EM GOLE Cervejarias da região de Blumenau, capital nacional da bebida e terra da Oktoberfest, abrem as portas aos turistas com passeios guiados por fábricas, lojas e bares

A

s cidades catarinenses de Blumenau e Pomerode são vizinhas no Vale do Itajaí, distantes pouco mais de 30 quilômetros uma da outra. Além da proximidade geográfica, as duas também se assemelham na preservação da cultura germânica, resultado da imigração alemã para a região no início do século 19. Marcado pelas casas de arquitetura enxaimel, com vigas de madeira enviesadas aparentes na fachada, uma profusão de cabeças loiras, roupas e comidas típicas (os embutidos, o joelho de porco e o marreco recheado reinam), o cenário remete a lugarejos europeus. Essas não são, porém, as únicas heranças dos imigrantes: o gosto pela cerveja também é mantido há séculos – em Blumenau, a primeira fábrica da bebida foi aberta em 1860.

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DIVULGAÇÃO

De lá para cá, o apreço se manteve, mas com algumas mudanças embaladas pela onda das bebidas artesanais. Cervejarias da região vêm se estruturando para receber turistas, com lojas, bares e passeios guiados pela produção, que podem terminar com degustação da bebida. O Museu da Cerveja, no centro de Blumenau, abriga chopeiras e canecos usados nas primeiras edições daOktoberfest brasileira, realizada desde 1984. Inspirado na festa de Muni- u

Vila Germânica, no centro de Blumenau, onde acontece a Oktoberfest

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q CIDADE

Bier Vila, bar com mais de 400 rótulos de cerveja DIVULGAÇÃO

que, na Alemanha, o evento é o maior no calendário da cidade – o de 2016 ultrapassou a marca de 500 mil visitantes, que consumiram mais de 660 mil litros de chope. A edição deste ano acontece entre 4 e22 deste mês (ingressos à venda em oktoberfestblumenau.com.br). Em março, Blumenau, que recebeu o título de capital nacional da cerveja neste ano, também é palco do Festival Brasileiro da Cerveja. O evento chegará à sua 10ª edição em 2018, abrindo espaço a pequenos produtores. Endereço da Oktoberfest, a Vila Germânica funciona durante o ano inteiro.

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Fica ali o bar Bier Vila, que reúne mais de 400 rótulos de cerveja. Uma parede com 30 torneiras exibe a seleção de bebidas servidas sob pressão. A variedade pode confundir os leigos,mas a equipe local ajuda na decisão e, depois do brinde (em alemão: prost!), dá para bebericar nas mesinhas ao ar livre. O estabelecimento da Escola Superior de Cerveja e Malte na cidade, que oferece graduação em engenharia de produção cervejeira e, em 2016, recebeu mais de mil alunos, também reforçou a profissionalização do setor. Entre as cervejarias veteranas da

cidade, a Eisenbahn, de 2002, cresceu e opera sob o comando da Brasil Kirin (comprada pela Heineken), mas não deixou sua terra natal. No bar Estação Eisenbahn, as bebidas são produzidas em fábrica anexa – dá para agendar visitas (R$ 10 por pessoa). Ficam disponíveis ao menos 12 rótulos, alguns menos comuns, em outras prateleiras por serem edições especiais, caso da Eisenbahn Altbier (R$ 10,50; 500 ml). Outra tradicional marca da cidade, a Bierland, aberta em 2003, volta a partir deste mês a receber turistas com um novo bar de fábrica e capacidade de


BÊ-Á-BÁ DO CERVEJEIRO Brassagem Etapa de produção da cerveja, em que se hidrata o malte, se filtra o líquido e se leva à fervura

Malte Pode ser composto de trigo, cevada, centeio ou de outros grãos germinados e torrados. É a matéria-prima para a bebida

Lúpulo Flor aromática usada para agregar amargor na produção da cerveja. É muito perceptível nas bebidas de estilo americano, caso da IPA Lei da Pureza Foi instituída na Alemanha em 1516, determinando que as cervejas deveriam ser elaboradas com apenas três ingredientes: água, malte e lúpulo (posteriormente, passou a ser admitido o acréscimo de levedura) Growler Garrafão de vidro ou de cerâmica próprio para armazenamento e transporte de cerveja. Alguns bares enchem os recipientes com desconto no preço do litro

Régua de degustação Oferecida nos bares de fábrica, enfileira copos pequenos com diferentes cervejas. Ideal para quem quer comparar bebidas e aprender sobre estilos

produção dobrada, chegando aos 280 mil litros de cerveja por mês. Da mais nova leva, a Container começou em 2014 e segue a escola inglesa. A influência britânica é notada ainda na decoração do pub, ao lado da fábrica. No barde luz baixa e rock na trilha sonora, dápara provar as cinco receitas – a régua de degustação, com três estilos, custa R$ 16. O RENATA HELENA RODRIGUES / FOLHAPRESS

trio de bebidas também encerra o passeio pelas instalações da produção (R$ 32). Ainda mais recente, a Cerveja Blumenau nasceu como uma marca cigana (sem endereço fixo) e, desde setembro de 2016, está em um espaço amplo, no bairro de Itoupavazinha. Ali são fabricadas as 11 bebidas – entre elas, a Capivara Little IPA, premiada em um festival na Bélgica –, que podem ser degustadas no bar anexo. É preciso agendar a visita guiada, que termina com degustação e custa R$ 20 por pessoa. Para experimentar o marreco recheado servido há mais de 30 anos no restaurante Abendbrothaus também é necessário reservar com antecedência. O único prato da casa, que só funciona aos domingos e fica na Vila Itoupava, a 25 quilômetros do centro, custa R$ 75 por pessoa, com oito acompanhamentos entre eles salada de batata, chucrute e u purê de maçã). A régua de degustação do bar Estação Eisenbahn, com informação sobre as bebidas Outubro de 2017 | Vilas Magazine | 39


q TURISMO & LAZER

Rota da cerveja vai até a ‘alemã’ Pomerode Vizinha de Blumenau preserva língua e arquitetura germânicas e é sede de fábricas de bebida e de porcelana

P

omerode, vizinha de Blumenau, faz jus Degustação ao apelido de “cidade mais alemã do Bracom sommelier sil” – não é raro ver gente conversando continua na nesse idioma pelas ruas cercadas por casas de pequena Gaspar; telhados pontiagudos e jardins bem cuidados. diversão O município catarinense preserva mais de 200 inclui pesca e construções em estilo enxaimel. A cidade é também a terra natal de uma gastronomia das principais cervejarias da região, a Schornstein, e das porcelanas Schmidt, que tem loja de fábrica (itens com pequenos defeitos têm desconto) e um museu próprio. Aberta em 2006, a fábrica de bebidas nasceu pequena, ocupando uma edificação tombada que abrigava a casa de caldeiras das indústrias da família Weege, importante na formação econômica do lugar. A grande chaminé (schornstein, em alemão), de 1940, continua ali. Hoje, o imóvel é endereço do bar de fábrica, onde a régua de degustação, com sete copos de 50 mililitros, custa R$ 20 e pode ser acompanhada da porção de linguiça na chapa e pão de cerveja (R$ 44). As bebidas são servidas em uma sequência que vai das mais suaves para as mais encorpadas e de sabor pronunciado. O ideal é seguir a ordem proposta para que nenhuma seja ofuscada. No galpão ao lado, desde junho de 2016 funciona uma nova fábrica da Schornstein, que produziu por um tempo em Holambra, no interior paulista. Além de visitar a loja, dá para fazer um tour guiado pelos tanques (R$ 30 por pessoa). O passeio, agendado por telefone, começa com um vídeo de apresentação e é orientado por um sommelier, que também acompanha a degustação no final. Na cidade de Gaspar, que tem pouco mais de 66 milhabitantes, fica a Das Bier, cervejaria instalada numa propriedade onde também funciona um pesqueiro. De lá sai a tilápia, carro-chefe do restaurante no local e servida em cubos empanados (R$ 53 a porção). Na seleção etílica, há 11 cervejas, também oferecidas na régua com oito chopes de 50 mililitros (R$ 12,50). Para a visita à produção (R$ 15 por pessoa), é preciso agendar com antecedência. Renata Helena Rodrigues / Folhapress.

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PATRICK RODRIGUES / AGÊNCIA RBS / FOLHAPRESS

Pomerode, conhecida como a “cidade mais alemã do Brasil”

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q SAÚDE & BEM-ESTAR

Todas

contra o

CÂNCER DE MAMA

WAVEBREAKMEDIA

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O alto índice de morte por nódulos malignos está ligado à desigualdade social. No serviço privado, 90% são detectados em estágio inicial, com 95% de chance de recuperação. No SUS, a demora no diagnóstico reduz a cura para menos de 30% Texto: Cristina Nabuco / Licenciado pela Abril Comunicações S/A

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diagnóstico e o tratamento precoces mudaram a imagem do câncer de mama, que deixou de ser uma sentença de morte. Mas ele continua sendo o tumor que mais mata mulheres no Brasil e o segundo mais frequente – só perde para o câncer de pele não melanoma. As estimativas de 2016, ainda não confirmadas, eram de 57 960 novos casos e 14 388 mortes. Infelizmente, com maior prejuízo para a mulher pobre, a quem as atenções chegam por último. A desigualdade no acesso ao atendimento médico e aos exames produz a gritante diferença: enquanto nos serviços privados 90% dos nódulos malignos são detectados em estágios iniciais, quando as chances de cura alcançam 95%, no sistema público 60% das pacientes recebem a notícia com a doença já avançando. Para elas, as possibilidades de se livrar do tumor não chegam a 30%. O tamanho do nódulo pode ser também indicativo dessa triste realidade. Onde existem bons recursos para a investigação, a descoberta de tumores muito pequenos se torna mais fácil. O médico Antônio Luiz Frasson, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, cita o Hospital Albert Einstein, em São Paulo. “Ali, a média de diâmetro dos tumores identificados equivale à dos melhores centros da Europa e dos Estados Unidos, 1,5 centímetro”, afirma. Já no sistema público, a metade dos tumores é descoberta quando eles atingiram 5 centímetros. A conclusão é dos pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). O maior responsável por esse problema é a demora para dar o diagnóstico diferencial, segundo a mastologista Maira Caleffi, presidente voluntária da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama). “As mulheres conseguem fazer a mamografia, mas o gargalo aparece depois, na hora da biópsia, que permitirá confirmar se o nódulo é benigno ou maligno.” Segundo a médica, elas têm de esperar em uma longa fila ou correr para um laboratório particular. “Para isso, terão de gastar de 500 a mil reais”, diz. Há um projeto de lei no Congresso Nacional para estipular o tempo até o diagnóstico final em torno de 30

dias depois da ida ao médico – a exemplo do que ocorre com o tratamento de todos os tipos de câncer. A lei determina que a etapa terapêutica seja iniciada em até 60 dias após o resultado positivo da biópsia. “Se aprovada, a nova medida reduzirá o diagnóstico tardio, a mortalidade e os gastos com câncer de mama”, afirma Maira, que chefia o Serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. NO SUS, AS DROGAS CHEGAM DEPOIS Também contribui para a mortalidade a demora na inclusão de remédios de última geração no Sistema Único de Saúde (SUS). Em agosto, a Femama comemorou a incorporação de uma droga que faz parte de uma nova classe de medicamentos chamada de terapia-alvo. O trastuzumabe é utilizado no mundo inteiro há 15 anos em pacientes com um tipo específico e agressivo de câncer de mama, o HER2 positivo. “Na lista da Organização Mundial da Saúde, essa droga faz parte das opções terapêuticas básicas de combate à doença”, explica Maira. “Mas, no Brasil, só estava disponível no sistema público para tumores iniciais. Era uma tristeza”, conta. Como a maioria chega ao SUS com a doença avançada, não se podia usar esse medicamento. Adotavam-se somente quimioterápicos, que são mais antigos e menos eficazes. “Sou coautora de um artigo mostrando que esse procedimento ocasionou 800 mortes por câncer de mama em dois anos”, comenta. Publicada em 2 de agosto, a portaria que determina a inclusão do trastuzumabe prevê o prazo de seis meses para os hospitais públicos passarem a oferecê-lo a pacientes com câncer u

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metastático. Assim, o acesso à droga só será possível a partir de fevereiro de 2018. O maior desejo da comunidade médica é dar um passo além: intervir ainda mais precocemente, de modo a impedir o surgimento do tumor. Cientistas do Fundo Mundial para Pesquisa do Câncer (WCRF, na sigla em inglês) e do Instituto Americano para Pesquisa do Câncer (AICR) calculam que pelo menos 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados. As duas instituições mantêm um grupo de experts que periodicamente revisa estudos sobre a relação do estilo de vida com o desenvolvimento de um nódulo maligno no seio. Em 2010, o grupo publicou o primeiro relatório com foco na prevenção do câncer de mama. Em maio deste ano, foi lançado o segundo, que avaliou 119 estudos, abrangendo 12 milhões de mulheres ao redor do mundo. “Não há garantias quando o assunto é câncer”, disse a nutricionista Alice Bender, do AICR, no evento. “Mas é empoderador saber que se pode fazer algo para a proteção.” A conclusão aponta quatro estratégias principais para diminuir o risco. AS ESTRATÉGIAS DE OURO Intensificar o treino Ser fisicamente ativo já reduz o perigo. O relatório destaca que caminhar depressa, correr ou pedalar rápido na bicicleta diminui em 17% o risco de ter a doença antes da menopausa e em 10% depois. A caminhada moderada e a hidroginástica leve são benéficas, sobretudo após a menopausa, quando a maioria dos tumores de mama aparece. “Uma vez tratado o câncer, as que aderem a um programa bem planejado ficam menos sujeitas ao retorno da doença”, afirma o oncologista Max Mano, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ele lembra que quem nunca treinou deve procurar a ajuda de um educador físico. Manter um peso saudável Evitar a obesidade ao longo da vida e espe44 | Vilas Magazine | Outubro de 2017

cialmente na pós-menopausa é essencial. O excesso de peso aumenta o risco de vários tipos de câncer e também de diabetes e problemas cardíacos. “Os depósitos de gordura produzem estrogênio, que favorece o crescimento dos tumores”, explica o mastologista Frasson. Esse cuidado é ainda mais relevante para quem já teve a doença. Uma forma rápida de checar se o seu peso está de acordo é medir a circunferência da cintura. Ela deve ficar abaixo de 88 centímetros. Limitar o álcool Apesar de ser considerado bom para o coração, beber meia taça de vinho por dia eleva o risco na pós-menopausa e possivelmente na pré-menopausa. O drinque-padrão fornece 14 gramas de álcool em 100 mililitros. E bastam 10 gramas de álcool diários para causar proble-

mas. “Ele é metabolizado no fígado e também na mama”, afirma Max Mano. “O consumo rotineiro produz danos ao DNA e pode desencadear a sequência de eventos que conduzem ao câncer.” Há evidências claras de que a bebida esteja ligada a diversos tumores e seja ainda mais nociva para as mulheres. Melhorar a dieta Vários estudos analisados mostravam que alimentos ricos em carotenoides (espinafre, couve, brócolis, cenoura, damasco), fibras (frutas, verduras e grãos) e cálcio (laticínios) abaixam o risco de ter câncer de mama. O relatório afirma, porém, que as conclusões desses trabalhos não são definitivas. Portanto, essa recomendação tem peso menor do que as outras três. Mas Frasson faz uma ressalva: vale a pena consumir mais


DEPOIMENTO:

“Praticar exercícios físicos foi o que me deu motivação para conseguir vencer o câncer”

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fisioterapeuta Roberta Perez, 28, afirma que o exercício físico e a adoção de hábitos alimentares saudáveis foram cruciais no tratamento e na recuperação após descobrir um câncer de mama, no ano passado. No depoimento abaixo, produzido especialmente para o blog Cadê a Cura?, Roberta relata que os médicos oncologistas ainda se esquecem de recomendar que seus pacientes pratiquem atividades físicas. No caso dela, valeu a pena ser “desobediente” e, de corrida em corrida, chegar mais perto do objetivo de se curar. Ela compartilha outras experiências e pensamentos em sua conta do Instagram @vai.por.mim_. Boa leitura! Gabriel Alves / Folhapress

frutas e vegetais pelos benefícios gerais à saúde e pelo auxílio no controle de peso. Ele orienta, ainda, a limitar a ingestão de carne vermelha e de processados, como bacon e presunto. A revisão dos 119 estudos reafirma não ser possível modificar algumas características que representam risco, como a tendência familiar, o fato de menstruar mais cedo, de entrar mais tarde na menopausa ou de ter mamas muito densas (que se mostram mais suscetíveis ao estímulo hormonal). Mas Frasson aponta que, teoricamente, dois outros fatores poderiam ser alterados para favorecer as mulheres – embora eles estejam na contramão da vida contemporânea. “Ter filhos antes dos 30 anos e amamentar, no mínimo, por seis meses protege contra o tumor nas mamas”, diz. Para complicar, o câncer é uma doença multifatorial – os elementos de risco interagem entre si e um potencializa o outro. u

“Quando recebi o diagnóstico do câncer, fui bombardeada com inúmeras informações sobre a doença, o prognóstico, o tratamento e seus efeitos colaterais. Como uma boa paciente, segui todas as recomendações à risca. No início do segundo protocolo de quimioterapia, fui alertada pela minha oncologista sobre as fortes dores musculares que eu poderia sentir e recebi uma prescrição de analgésicos e relaxantes musculares, já que a intensidade do desconforto poderia progredir ao longo dos 12 ciclos de aplicações. Comecei a sentir muita dor logo após a primeira sessão, mas me recusei a tomar os remédios (eu já estava usando muitos medicamentos e não gostava da ideia ter que adicionar mais um à lista). Para tentar esquecer aquela sensação, fui caminhar no parque com meu marido – para nossa surpresa, as dores cessarem. Comecei, então, a caminhar todos os dias, o que me deixava mais disposta e menos cansada, até que um dia eu arrisquei uma corridinha… e só cansei após dois quilômetros! Contei tudo para a oncologista na consulta seguinte. Ela ficou admirada e me explicou que a prática de atividade física, na verdade, é recomendada, só que os médicos normalmente não orientam seus pacientes a se mexerem – diante de uma realidade tão debilitante como a do câncer, os exercícios não são bem aceitos. Foi assim que descobri que eu poderia fazer alguma coisa pela minha saúde, e o exercício, que antes do câncer era somente para emagrecer, passou a integrar o tratamento. Os resultados foram incríveis, tanto os físicos quanto os psicológicos. Fiquei mais alegre, animada, aceitei melhor minha imagem e recuperei a autoestima. Enfim, essa prática me deu mais motivação para vencer a doença e viver bem. Outro aspecto importante foi o controle do peso. Logo no início do tratamento somos informados sobre o inchaço causado pelos corticoides e o grande risco de ganhar alguns quilos no processo. O problema é que os médicos normalmente só dizem o que não podemos comer – por causa da possível interferência no tratamento – e não nos orientam no sentido de minimizar o ganho de peso. Aprendi que boa parte do peso extra vem por descuido das pacientes, que consideram os excessos justificáveis diante de um tratamento tão debilitante. Sabendo disso, procurei uma nutricionista. Ela elaborou um ótimo plano para suprir as demandas metabólicas e nutricionais do meu corpo, respeitando minhas restrições (como alguns alimentos que me deixam enjoada) e meu paladar, além de indicar alimentos mais naturais, sem conservantes. Não sei se o meu caso pode servir de exemplo para todos os pacientes que têm ou que tiveram câncer, mas acho importante que todos saibam que, sim, existem medidas que nós podemos adotar e que têm um grande impacto na qualidade de vida e no prognóstico – seja comer melhor ou se esforçar para sair da cadeira e dar uma volta no parque”. Outubro de 2017 | Vilas Magazine | 45


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MAMOGRAFIA VALIDADA A principal aliada continua sendo a mamografia, que detecta tumores antes mesmo de serem palpáveis. Há, no entanto, divergências na indicação do exame. Entidades como a Sociedade Brasileira de Mastologia defendem que a radiografia das mamas seja realizada anualmente a partir dos 40 anos. Já o Instituto Nacional do Câncer e órgãos públicos recomendam incluir o exame na rotina a partir dos 50 anos, e a cada dois anos. Se houver histórico da doença em mãe, irmã ou em pelo menos dois familiares de primeiro grau, o rastreamento começa mais cedo. Dez anos antes da idade em que o tumor apareceu no parente próximo. Mediante suspeita de predisposição hereditária, aconselham-se também testes genéticos. Hoje mais simples, custando, porém, cerca de 1,5 mil reais, eles avaliam 81 genes. Os mais conhecidos são o BRCA 1 e o BRCA 2. “Esses genes funcionam como guardiões na destruição de células defeituosas”, explica Mano. “Quando há mutação em um deles, o mecanismo de proteção falha e o risco de câncer chega a 80%.” A partir da constatação de problemas, três providências podem ser tomadas: acompanhamento mais rigoroso, por meio de mamografia e ultrassom das mamas anuais e de ressonância magnética a cada dois anos; uso de fármacos para bloquear a ação do estrogênio, como o tamoxifeno; e a mastectomia preventiva, que remove o núcleo da mama, preservando a pele e o mamilo, com reconstrução do seio no mesmo procedimento. “O mais eficiente é essa cirurgia, que derruba em 95% o risco de câncer”, esclarece o oncologista. O bloqueio hormonal ajuda parcialmente, mas na colateralidade traz ondas de calor e maior risco de trombose. 46 | Vilas Magazine | Outubro de 2017

Para paliativistas, é crucial haver honestidade com paciente grave Para profissionais, é essencial que o doente seja esclarecido e que tenha liberdade para decidir o que fazer

EDUARDO ANIZELLI / FOLHAPRESS

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consenso entre profissionais de saúde é que nos últimos meses de vida de um paciente, esgotadas as alternativas de tratamento, o melhor é garantir que ele receba cuidados paliativos para amenizar a dor e melhorar a qualidade de vida. O problema é quando o tratamento médico convencional – que incluem os cuidado paliativos – acabam sendo substituídos por supostas alternativas, modalidades sem qualquer comprovação mensurável de benefícios quando o assunto é a cura da doença ou sobrevida. Foi mais ou menos essa discussão que surgiu após a morte do jornalista e apresentador de TV, Marcelo Rezende, em setembro, em decorrência de um câncer de pâncreas em estágio avançado. Ele estava com 65 anos. Nos últimos meses, Marcelo Rezende publicou periodicamente em suas redes sociais vídeos em que dizia estar buscando a cura por meio da fé. O fato de ele ter abandonado o tratamento convencional acabou fomentando a discussão sobre sua saúde. “É uma questão ética. Qualquer paciente tem o direito de aceitar ou recusar qualquer tipo de tratamento. É um princípio básico”, diz a médica paliativista Maria Goretti Maciel, diretora do Instituto Paliar, em São Paulo. Mesmo assim, diz a especialista, o papel do médico é tentar esclarecer o panorama do tratamento e fazer um exercício de empatia, de modo a entrar no universo do paciente e tentar, sob

Morte de Marcelo Rezende suscitou debate sobre tratamentos alternativos para o câncer o ponto de vista dele, ajudar a fazer as melhores escolhas. “O que não pode acontecer é culpar um homem pela própria morte, como se ele tivesse morrido porque não quis se tratar. Ele morreu em decorrência de uma doença grave, a chance de um tratamento curativo era muito pequena. Talvez o tratamento postergasse a morte, talvez ele tenha escolhido viver bem ou talvez ele tivesse um grande medo. A gente não pode julgar”, diz Goretti Maciel. Para o geriatra André Filipe dos Santos, da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, é fundamental deixar claro para o paciente por quais procedimentos ele passará e para quê. “Existe a modalidade de quimioterapia paliativa, para melhorar os sintomas do câncer e a qualidade de vida, e não para curar. Curiosamente, 70% dos pacientes que recebem esse tratamento acham que estão curados. FILOSOFIA Segundo o filósofo e professor Rafael


Nogueira, é comum haver uma espécie de despreparo, ou “falta de treino filosófico” quando o assunto é a morte. “Muitas vezes a mensagem é dura e a pessoa não aceita, já que aquilo que a medicina promete é muito pouco. Aí ela sai em busca de tratamentos que sejam mais afins à sua teimosia”, diz. Segundo Nogueira, há ao menos outras duas maneiras mais maduras de lidar com o tema. Uma é esgotar os recursos oferecidos pela medicina e pela ciência “e só aí partir para a pseudomedicina/tratamentos alternativos”, como chás e cirurgias espirituais. E o jeito mais “cristão e comum” é seguir o tratamento convencional e, ao mesmo tempo rezar e pedir orações para os amigos familiares, por exempo. “Se a medicina não funcionar, Deus é chamado para prestar um auxílio”. Gabriel Alves / Folhapress.

Pesquisa aponta que tratamento alternativo é letal

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m estudo publicado recentemente no periódico científico “Journal of the National Cancer Institute” reuniu dados de pessoas que seguiram tratamentos alternativos no lugar da medicina convencional e mostrou que elas têm uma chance de morrer 150% maior, em média, considerando os quatro tipos mais comuns de câncer: de mama, de próstata, colorretal e de pulmão. O estudo teve repercussão global, diz a autora Skyler Johnson, da Universidade Yale, que comandou a iniciativa. Segundo ela, o interesse no tema é um indício da falta de dados confiáveis para a avaliação da eficácia de terapias alternativas (por não ter sido possível uma segmentação no estudo, acabaram todas entrando no mesmo balaio). “A questão para pacientes com cânceres curáveis foi respondida: eles não devem escolher a medicina alternativa. Infelizmente muitos continuarão escolhendo métodos alternativos e mais pesquisa é necessária para entender por que essa decisão é tomada”, disse Johnson. “Apesar de as terapias alternativas muitas vezes aparentarem ser a única saída – como no caso de um câncer de pâncreas, após o uso das convencionais –, elas são um tiro no escuro, uma roleta russa”, diz Mauro Zukim, do Americas Oncologia. O oncologista lembra do caso da fosfoetanolamina, que foi em pílulas no interior paulista para supostamente tratar o câncer. Após a realização de estudos ficou claro que ela “não servia pra nada”. A aposta de Zukim e de outros oncologistas é que mesmo no caso do câncer de pâncreas (cuja fração de pacientes vivos após cinco anos é de cerca de 8%) é possível apostar as fichas em tratamentos recentes e naqueles que a ciência ainda está testando. Gabriel Alves / Folhapress.

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Uso incorreto de colírios pode provocar glaucoma e até cegar

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uso incorreto ou demasiado de colírios à base de corticoide pode causar o aumento da pressão dentro dos olhos e, com isso, desenvolver uma doença silenciosa, que pode demorar anos a mostrar os sintomas, e até levar à cegueira: o glaucoma. Os maus hábitos ao cuidar dos olhos vão ter consequências no futuro, e o problema pode ser irreversível, já que o glaucoma não tem cura. Por essa razão, destacam os especialistas, a importância de pingar os remédios nos olhos no horário indicado e quantas vezes forem solicitadas pelos médicos. Nem mais, nem menos. “Colírios à base de corticoide, quando usados cronicamente e sem acompanhamento médico, podem causar aumento

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da pressão intra- ocular que é um dos fatores que causam glaucoma”, afirma Lísia Aoki, oftalmologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Os sinais do glaucoma, segundo ela, são aumento da pressão ocular, perda de campo visual (vê adiante, mas não laterais) e perda da visão (sintoma tardio). “Dor pode aparecer em casos específicos de glaucoma, como o agudo”, explica Lísia. A oftalmologista revela os erros mais comuns no uso de colírios. “O paciente esquece de usar o remédio na dose adequada. Às vezes pinga uma vez ao dia ou nenhuma. Outros, ainda, pingam mais do que deveriam”, afirma. A facilidade para comprar esses colírios nas farmácias, sem receita, é criticada pelo oftalmologista Marcelo Pereira de

Pingar em excesso prejudica a visão. Médicos recomendam que tratamento seja seguido com rigor

Macedo. “Antibióticos que às vezes causam menos danos que colírios à base de corticoides precisam da receita médica. Um remédio que, se usado de forma errada, pode levar à cegueira, é livremente comercializado. Ele explica que o corticóide nos colírios pode se tornar um vilão. “Se usado indiscriminadamente, danifica a estrutura do olho. O aumento da pressão intraocular provocado pelo glaucoma, que causa lesões no nervo ótico, compromete a função visual.” Tatiana Cavalcanti / Folhapress.


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Comida COMIDA PURA PURA

A obsessão por comer alimentos saudáveis Texto ERON REZENDE eronrezende@gmail.com Ilustrações TÚLIO CARAPIÁ tuliocarapia@gmail.com pode acabar virando uma doença de nome A obsessãoa porortorexia, comer alimentosesaudáveis esquisito, levar a outras pode acabar virando uma doença de nome desordens alimentares ainda mais graves esquisito, a ortorexia, e levar a outras desordens alimentares ainda mais graves

Texto: Eron Rezende. Ilustrações: Túlio Carapiá. Conteúdo licenciado pela Agência ATarde

u SALVADOR Outubro de 2017 | Vilas Magazine | 51DOMINGO

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ocê já parou para pensar o quanto você pensa sobre o que come? Você já pensou sobre a virtude do prato ocê já parou o quanto você à frente – o quanto colorido elepara é, opensar quanto saudável pensa sobre o que ele come? Você ficar? já penele parece ser, o quanto “instagramável” deve sou sobre a virtude do prato à frente – o E como estamos no assunto, o que a sua comida diz quanto colorido ele é, o quanto saudásobre você? Diz ao mundo vel que limpo e virtuoso? elevocê pareceéser, o quanto “instagraEssa fatia de pizza gelada namável” manhã de um é um ele deve ficar?domingo E como estamos assunto, o que a sua diz sobre você?recado Diz ao lembrete gentil denoque você sabe secomida divertir ou um mundoquevocêélimpoevirtuoso?Essafatiadepizza de que você não sabe se controlar? Há quem pense sobre geladanamanhãdeumdomingoéumlembretegentudo isso extensivamente – e faça da vida uma cruzada til de que você sabe se divertir ou um recado de que regada a filé de frango e brócolis ao vapor. você não sabe se controlar? Há quem pense sobre tuQuando completou 17 anos, Kévia Martins começou do isso extensivamente – e faça da vida uma cruzada a sentir coceira em regada todo oa filé corpo, que veio acompanhada de de frango e brócolis ao vapor. Quando completou 17 anos, Kévia Martins comemanchas vermelhas. O diagnóstico, uma alergia desenvolçouseu a sentir coceira emos todo o corpo,dos que veio acomvida à soja, acendeu olhar para rótulos produtos. panhada de manchas vermelhas. O diagnóstico, uma Kévia levou a leitura de tabelas nutricionais e ingredientes alergia desenvolvida à soja, acendeu seu olhar para a sério. Decidiu ficar saudável cortando sojaa leitura e – porque os rótulos dos produtos. Kévia a levou de tanão? – a gordura excessiva e o eaçúcar. Ao afinal um ficar ano, belas nutricionais ingredientes sério.de Decidiu saudável cortando soja e – por que não? – a gordura dez quilos a menos e elogios de aamigos e familiares a mais, e o açúcar. Ao final de um ano, dez quilos a enveredou para oexcessiva vegetarianismo. menos e elogios de amigos e familiares a mais, enKévia lembra de ter ido a um encontro com um rapaz, veredou para o vegetarianismo. que a levou a um Kévialembradeiraumencontrocomumrapazque restaurante e depois, ao cinema. Ela comeu, como uma concessão, um spaghetti à carbonara a levou a um restaurante e, depois, ao cinema. Ela e passou todo o filme se concentrar noà carbopalco, comeu,incapaz como umade concessão, um spaghetti e passou todo o filme incapaz de se concentrar no ruminando sobrenara como “impuro” era comer aquele mapalco, ruminando sobre como “impuro” era comer carrão com bacon. Evitou que o rapaz a beijasse por se aquele macarrão com bacon. Evitou que o rapaz a beisentir “indigna”. Ao fim do encontro, teve um ataque de jasse por se sentir “indigna”. Ao fim do encontro, teve pânico, correu a um umataque drive-thru comprou um enorme de pânico,ecorreu a um drive-thru e comhambúrguer – forçou-se a comer o que não queria como prou um enorme hambúrguer – forçou-se a comer o que não queria como castigo pela impureza. castigo pela impureza. Demorou trêsKévia, anos para 20, buscar a ajuda Demorou três anos para 20,Kévia, buscar a ajuda de de terapeuta e nutricionista. O escrutínio exagerado terapeuta e nutricionista. O escrutínio exagerado de rótude rótulos e os crescentes cortes arbitrários de grupos los e os crescentesalimentares cortes arbitrários de grupos a tinham deixado esbelta,alimentares mas pálida; a tinham deixadocom esbelta, mas pálida; com fotos curtidas, fotos curtidas, e queda de cabelo. “É complicado perceber que há um problema quando todo a e queda de cabelo. “É complicado perceber quemundo há um voltamundo parece desejar o seu corpo”, diz ela àdesejar Muito. problema quandosua todo a sua volta parece Por conselho do nutricionista, reintroduziu a carne na o seu corpo”, diz ela. dieta. A pedido do terapeuta, deixou de seguir perfis Aconselhada pelo nutricionista, reintroduziu a carne que propagam uma alimentação saudável. “Estava na dieta. A pedido terapeuta, deixou de seguir perfis tãodo obcecada em nutrição que atravessei a linha que que propagam uma saudável. “Estava tão separaalimentação a consciência saudável da paranoia”. obcecada em nutrição que atravessei a linha que separa MENOS MEDO E CULPA a consciência saudável da paranoia”.

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Não é uma linha complicada de atravessar, ainda que a paranoia em questão tenha muitos matizes. MENOS MEDO E CULPA Desde que existe, o homem pensa em comida. NosNão é uma linha complicada de atravessar, ainda um que sos antepassados pensavam em como derrubar pássaro, nossos avós pensavam em como oferecer diparanoia em questão tenha muitos matizes. Desde que

a existe, o homem pensa em comida. Nossos antepassados pensavam em como derrubar um pássaro, nossos avós 18 SALVADOR DOMINGO 10/9/2017 pensavam em como oferecer diversidade e fartura. E nós pensamos em comidas funcionais e dietas restritivas. A 52 | Vilas Magazine | Outubro de 2017


racionalização sobre aquilo que comemos – que se revela no agitado mercado editorial de livros sobre alimentação versidadeem e fartura. E nós pensamos comidas funcionais e dietas restritivas. saudável, programas de TVem com receitas saudáveis, em A racionalização sobre aquilo que comemos – que se revela noem agitado mercado conversas de trabalho sobre marmitas saudáveis, papos de livros sobre alimentação saudável, em programas de TV com receitas de editorial academia sobre um pré e pós-treino saudável e em pratesaudáveis, em conversas de trabalho sobre marmitas saudáveis, em papos de acaleiras de mercado com produtos saudáveis – é uma resposta demia sobre um pré e pós-treino saudável e em prateleiras de mercado com proà potente industrialização dosàalimentos. Mas até dos quealimentos. ponto Mas dutos saudáveis – é uma resposta potente industrialização a preocupação em ser saudável, que nos promete reino até que ponto a preocupação em ser saudável, que nos prometeum um reino distante dos conservantes e das toxinas e modernas, tem nos deixado comtem menos distante dos conservantes das toxinas modernas, nosmedo e menos culpa? deixado com menos medo e menos culpa? “O princípio fundador dos modernos regimes de bem-estar é que nosso modo “O princípio fundador dos modernos regimes de bematual de comer está nos envenenando lentamente”, diz a terapeuta nutricional estar é que nosso modo atual sobre de comer está nos enveRegina Vicentini, autora de um estudo a crescente “medicalização da cominenando lentamente”, diz a terapeuta nutricional da”. Ela cita como exemplo o número de cursos de nutrição no BrasilRegina (mais de 80 mil nutricionistas formados hoje no país, quaseaduas vezes mais“medido que no início Vicentini, autora de atuam um estudo sobre crescente deste século), que tem colocado no mercado profissionais moldados ao discurso calização da comida”. Ela cita como exemplo o número de da “limpeza alimentar”. “Comer de forma ‘limpa’ é uma resposta disfuncional a um cursos de nutrição no Brasil (mais de 80 mil nutricionistas fornecimento de alimentos ainda mais disfuncional: é como se fosse um sonho de formados atuam hoje no país, quase duas vezes mais do pureza em um mundo tóxico”. que no início deste século),que tem colocado no mercado profissionais moldados CORREDOR POLONÊSao discurso da “limpeza alimentar”. Caminhar em um supermercado moderno é como passar por um corredor “Comer de forma ‘limpa’ é uma resposta disfuncional a pode lanches salgados e oleosos, de cereais açucarados, de bebidas baratas e umlonês fornecimento de alimentos ainda mais disfuncional: é adoçadas e de carnes de animais mantidos em condições cruéis. Mas é também como se fosse um sonho de pureza em um mundo tóxico”. caminhar no onírico universo dos produtos “free”, livres de tudo aquilo que acreditamos nos fazer mal. O movimento em frente a prateleiras sem glúten e sem CORREDOR POLONÊS lactose tem ar de religião e publicidade – de 2009 a 2015, por exemplo, o número de americanos que o glúten em suas dietas, apesar deénão sofrerem de Caminhar emevitavam um supermercado moderno como intolerância substância, mais do que triplicou. passar por àum corredor polonês de lanches salgados e NumgrandeescritóriodeadvocacianobairrodeOndina,AndreiaRodrigues,29, oleosos, de cereais açucarados, de bebidas baratas e é uma espécie de celebridade. Sua alimentação é uma amostra do que pode ser adoçadas e de denovidade carnesnas deprateleiras animais“livres” mantidos em condições encontrado dos mercados. Para os colegas de cruéis. Mas é também caminhar no onírico universosuperior. dos “Zetrabalho, suas marmitas repercutem como um universo moralmente ro glúten, “free”, zero leite, zero açúcar, conservantes, zero soja, 100% óleo de coco, produtos livres de zero tudo aquilo que acreditamos rosa”, descreve que possui nove mil seguidores no Instagram, nossalfazer mal. OAndreia, movimento em frente a prateleiras semgrande parte deles consumidores das marmitas congeladas que a advogada passou a coglúten e sem lactose tem ar de religião e publicidade – de mercializar há seis meses. 2009Oacaminho 2015, percorrido por exemplo, o número de americanos que por Andreia, do “descontrole alimentar à moderação”, evitavam o glúten em suas dietas, apesar não sofrerem como ela define, foi tortuoso. Uma refeição fora dede casa, onde as condições de de temperatura intolerância à substância, mais do gerava que triplicou. e pressão fugiam ao seu controle, culpa e ansiedade. No dia em que saiu com osescritório minutos examinando sucos naturais amigos e passou Num grande de vinte advocacia no bairroosde Ondisponíveis no supermercado, semRodrigues, decidir qual levar, apresentada ao termo dina, em Salvador, Andreia 29, foi é uma espécie ortorexia nervosa, o distúrbio que caracteriza a obsessão por comer de forma corde celebridade. Sua alimentação é uma amostra do que reta. “Um amigo me mandou artigos e histórias sobre o assunto. Fui lendo e me pode ser encontrado deo novidade naseuprateleiras “livres” identificando, a ponto de ver quanto neurótica estava ficando”, diz ela. “Mandostenho mercados. os colegas depermito trabalho, suas marmitas uma dieta Para controlada, mas já me experimentar de tudo”. A obsessão por consumir apenas alimentos puros e superior. perfeitos foi“Zero descrita pela repercutem como um universo moralmente primeira vez leite, como um distúrbio alimentar pelo médico norte-americano glúten, zero zero açúcar, zero conservantes, zero soja,Steven Bratman,nolivroViciadosemcomidasaudável(1997).Aocontráriodaanorexiaou 100% óleo de coco, sal rosa”, descreve Andreia, que posda bulimia, que visam exclusivamente à relação com o peso, a ortorexia tem como suifoco nove mil seguidores no Instagram, grande parte deles a saúde. Aliando a palavra “correto” – do grego orthos – com “apetite” – orexis consumidores das marmitas congeladas a advogada –, Bratman deu nome a uma disfunção que leva atéque as últimas consequências a passou comercializar há remédio”, seis meses. filosofiaado “meu alimento, meu propagada em hashtags como #clean,

O caminho percorrido por Andreia, do “descontrole alimentar à moderação”, como ela define, foi tortuoso. SALVADOR DOMINGO 10/9/2017 19 Uma refeição fora de casa, onde as condições de temperatura e pressão fugiam ao seu controle, gerava culpa e u Outubro de 2017 | Vilas Magazine | 53


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ansiedade. No dia em que saiu com os amigos e passou vinte minutos examinando os sucos naturais disponíveis no supermercado, sem decidir qual levar, foi apresentada ao termo ortorexia nervosa, o distúrbio que caracteriza a obsessão por comer de forma correta. “Um amigo me mandou artigos e histórias sobre o assunto. Fui lendo e me identificando, a ponto de ver o quanto neurótica eu estava ficando”, diz ela. “Mantenho uma dieta controlada, mas já me permito experimentar de tudo”. A obsessão por consumir apenas alimentos puros e perfeitos foi descrita pela primeira vez como um distúrbio alimentar pelo médico norte-americano Steven Bratman, no livro “Viciados em comida saudável” (1997). Ao contrário da anorexia ou da bulimia, que visam exclusivamente à relação com o peso, a ortorexia tem como foco a saúde. Aliando a palavra “correto”– do grego orthos – com “apetite”– orexis –, Bratman deu nome a uma disfunção que leva até as últimas consequências a filosofia do “meu alimento, meu remédio”, propagada em hashtags como #clean,- #orgânico, #foco , #vidasaudável. “Não há como pensar que alguém está saudável quando está evitando lugares, pessoas e eventos simplesmente porque não tem o controle sobre a procedência e o preparo da comida. O problema é que essas mesmas pessoas são vistas como corretas e viram alvo de admiração”, diz a nutricionista Carla Rodrigues, integrante do Genta, grupo especializado em nutrição e transtornos alimentares, com sede em São Paulo. “Para confundir ainda mais, estudos sobre a alimentação levam muito tempo, e resultados que exigiriam interpretações cuidadosas e confirmação em pesquisas mais elaboradas ganham destaque na imprensa e nas redes sociais como se apresentassem sentenças definitivas”. LOBBY No ramo das pesquisas alimentares, há casos emblemáticos de como a precipitação e o lobby da indústria alimentícia pesam nas dietas de todos nós. Quase toda semana, por exemplo, saem novas pesquisas sobre o efeito nocivo que o açúcar produz no corpo humano. Trata-se de uma mudança radical: ao longo das três últimas décadas, o papel de arquivilão foi atribuído à gordura, não ao açúcar – os nutricionistas recomendaram reduzir gordura e colesterol, e, em vez de ficarmos mais saudáveis, ficamos mais gordos e doentes. A demonização completa da gordura, portanto, soou como um grande equívoco. Como já soa, também, o endeusamento do óleo de coco – embora vendido como milagroso, ainda não há evidência científica de seus benefícios. Páginas do Facebook e do Instagram são termômetros de como a ideia de fugir da indústria alimentícia tradicional é, em si, uma indústria. Musas fitness tomam chá de hibisco, marcas de alimentos funcionais vendem novos pratos. Hoje, a maioria de nós provavelmente conhece pelo menos uma pessoa que, em um esforço para ser saudável, passou a uma dieta diária, cortou grupos de alimentos inteiros ou os substituiu por algum tipo de suco por alguns dias. Supermercados são abastecidos com produtos sem glúten, enquanto restaurantes com opções vegetarianas brotam todos os meses em uma grande cidade. Comer de forma “limpa” parece mais do que uma simples dieta, e sim um sistema vigoroso de crença, que propaga a ideia de que a maneira como a maioria das pessoas come não é simplesmente gorda, mas também impura. “A forma como a patrulha e o radicalismo em torno da alimentação crescem confirma o quão vulnerável as pessoas se sentem em relação a suas dietas – o que realmente significao quão perdido nos sentimos em relação a nossos próprios corpos”, diz Carla. “Estamos tão desanimados que colocamos nossa fé em qualquer mestre que nos prometa que nós também podemos nos tornar puros e bons”. 54 | Vilas Magazine | Outubro de 2017

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#orgânico, #foco, #vidasaudável.

DRAMA ALIMENTAR “Não há como pensar que alguém está saudável O drama alimentar moderno é que as dietas que pregam uma forma de comer quando está evitando lugares, pessoas e eventos simlimpa e segura não são totalmente falsas. Elas contêm “um núcleo de verdade”, como plesmente porque não tem o controle sobre a procecoloca Gilberto Cavalcanti, da Unidade Metabólica do Centro de Pesquisa Fima Lifshitz, dência e o preparo da comida. O problema é que essas da Ufba. “Quando você tira todo o pseudomessianismo que há nesse discurso, se está mesmaspessoassãovistascomocorretaseviramalvo absolutamente certo propagarCarla queRodrigues, devemos de admiração”, diz aao nutricionista in-comer mais vegetais, menos açúcar refinado e menos carne”, diz ele, tomando um café preto (sem açúcar) em sua sala tegrante do Genta, grupo especializado em nutrição e no Complexo Hospitalar Universitário Professor transtornos alimentares, com sede em São Paulo.Edgard Santos, onde passa seus dias investigando doenças “Para confundir aindametabólicas. mais, estudos sobre a alimenPara Gilberto, não há dúvida de que alimentos baratos e abundantes na societação levam muito tempo, e resultados queos exigiriam dadeinterpretações moderna são açucarados e gordurosos e que essa é uma receita para diabetes cuidadosas e confirmação em pesquitipo 2, obesidade e doenças cardiovasculares. Oeproblema surge quando é quase imsas mais elaboradas ganham destaque na imprensa possível abraçar de forma sensata – e não espartana – o discurso da comida saudável nas redes sociais como se apresentassem sentenças sem escapar do universo de alimentos tóxicos ao redor. definitivas”. “Quando a alimentação mainstream começa a adoecer pessoas, não é surpreenLOBBY dente que muitos de nós procuremos outras maneiras de comer para nos proteger de ramoansiedade das pesquisas alimentares, há casos danos. No Nossa coletiva em torno do emque comemos foi exacerbada por uma blemáticos de de como a precipitação e o lobby indúsimpressão geral que os alimentos nãoda são confiáveis”, diz Gilberto. “Mas a busca tria alimentícia pesam nas dietas de todos nós. que Quase por uma alimentação limpa e pura faz com o ato de comer bem e de forma sausemana, por exemplo, saem novasde pesquisas so- O conselho de nossas avós – coma dáveltoda se torne caro, exclusivo e difícil alcançar. bre o–efeito nocivo que o açúcar no corpo hu-de tudo implica consumir produtos de tudo já não se aplica mais,produz porque comer mano.Trata-sedeumamudançaradical:aolongodas que, hoje, estão abarrotados de substâncias nocivas a nossa saúde”. três últimas décadas, o papel de arquivilão foi atribuído à gordura, não ao açúcar – os nutricionistas recoDILEMA mendaram gordura e colesterol, e, em vez Fima de No início dereduzir agosto, o Centro de Pesquisa Lifshitz promoveu uma série de ficarmosmaissaudáveis,ficamosmaisgordosedoenpalestras sobre o que é comer bem neste século. A julgar pelo que foi exposto, uma tes. A demonização completa da gordura, portanto, preocupação que a medicina precisará encarar é: como lutar contra o absolutismo da soou como um grande equívoco. Como já soa, tamdieta hipercontrolada sem que isso tenha como consequência o retorno a uma celebém, o endeusamento do óleo de coco – embora venbração sem sentido do ambiente alimentar moderno, frequentemente marcado por dido como milagroso, ainda não há evidência cientíalimentos que têm falhado na tarefa básica de nos nutrir? Na falta de uma resposta fica de seus benefícios. clara, médicos continuam a receitar o equilíbrio e pequenas mudanças de hábito. Páginas do Facebook e do Instagram são termô“Há evidências, comprovadas por meio de pesquisas epidemiológicas, que metros de como a ideia de fugir da indústria alimenaumentar a ingestão de frutas e legumes de zero para uma ou duas porções por tícia tradicional é, em si, uma indústria. Musas fitness semana já é o suficiente para retardar o avanço de uma série de doenças”, explica a tomam chá de hibisco, marcas de alimentos funcioendocrinologista Lilian Sampaio,a maioria uma das palestrantes do evento. “Há uma selva de nais vendem novos pratos.Hoje, de nós proinformações desencontradas, então permanece o conselho: coma frutas, saladas e vavelmenteconhecepelomenosumapessoaque,em verduras. Mas com liberdade”. um esforço para ser saudável, passou a uma dieta diáHá anos, de movido porinteiros uma conversa ria,quatro cortou grupos alimentos ou os subs-com um amigo, o personal trainer André Trigueiro, 33, cortou leite da dieta, tituiu por algum tipo de sucoopor alguns dias. trocando-o por bebidas à base de arroz e amêndoas. Reduziusão drasticamente, também, o consumo de carne. Há oito meses, Supermercados abastecidos com produtos apóssem quase desmaiar norestaurantes trabalho, recebeu umvegepuxão de orelha do nutricionista. André glúten, enquanto com opções estava desenvolvendo quadro anemia, tarianas brotam todosum os meses emde uma grande eci-o remédio era voltar a consumir os alimentos cortados da dieta. dade. Comer de forma “limpa” parece mais do que “O nosso sistema alimentar está precisando desesperadamente de uma reforma”, umasimplesdieta,esimumsistemavigorosodecrença, que que propaga ideia que arestrita maneiratatuou como aem um dos braços a máxima “você é diz ele, no augeade suadedieta maioria das pessoas come não é simplesmente o que você come”. “Estamos gastando a nossagorenergia na descoberta da novidade da da,semana mas também última sem impura. olhar para o que de fato interessa, que é a produção de alimentos forma acomo a patrulha e o radicalismo em torno básicos,“Acomo carne e o leite, feita de forma honesta, não processada e verdadeirada alimentação crescem confirma o quão vulnerável mente saudável”. Na academia na qual é umdos sócios, André tratou de pichar uma pessoasaprendida: se sentem em“Sem relação a suas dietas – o detox: que novaas máxima obsessão, sem a dieta não é a resposta”.

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q BELEZA & ESTÉTICA

FOTOS: RIVALDO GOMES / FOLHAPRESS.

PASSO 1

TRANÇA ESTILOSA Adotada inicialmente por atletas, a trança boxeadora conquista o mundo da moda e vira queridinha das famosas; veja como fazer.

O

penteado garante um visual moderno e despojado e pode ser usado em diversas ocasiões, seja para a prática de atividades físicas, para eventos casuais ou até mesmo para festas formais. Elas ficaram populares no ano passado, após a socialite americana Kim Kardashian adotá-las. Brasileiras, como a apresentadora Sabrina Sato e a blogueira Julia Faria, também são adeptas do visual. Segundo a’designer’de tranças Adriana Ribeiro, o penteado pode ser feito por qualquer mulher. “Para quem tem cabelo crespo ou cacheado, o truque é fazer com os fios úmidos”, explica. Ela garante que é possível formar as tranças sozinha. “Basta um pouco de treino”. A profissional afirma que para deixar o penteado ainda mais descontraído e moderno a dica é deixar as tranças mais ‘folgadas’ e até soltar alguns fios na parte da frente do cabelo. “É legal que ela fique mais desconstruída”, opina. Para festas e eventos mais informais, Adriana cita outras formas de usar o penteado. “É possível unir as duas pontas e fazer um coque. Também dá para colocar acessórios, como pontos de luz, ou amarrar as pontas com fitas, formando laços.” Veja o passo a passo ao lado e faça a sua! Karina Matias / Folhapress.

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PASSO 2


PASSO 3

PASSO 1 - Divida todo o cabelo ao meio (da testa até a nuca) e prenda um dos lados PASSO 2 - Na metade que ficou solta, separe uma mecha da parte da frente do cabelo e a divida em três PASSO 3 - Comece a trançar os fios, passando a primeira mecha por baixo da mecha do meio. A terceira mecha deve ser passada por baixo da nova central

PASSO 4

PASSO 4 - Conforme for trançando, acrescente novas mechas ao penteado, tanto a partir da frente (perto da testa) quanto no sentido da nuca. Todas devem ser passadas por baixo da mecha central. PASSO 5 - Ao chegar à nuca, continue trançando normalmente até o fim. Prenda as pontas com um elástico. Depois, é só repetir os passos na outra metade do cabelo. RESULTADO FINAL

PASSO 5

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Jaime de Moura Ferreira Ad­mi­nistrador, consultor organizacional, professor universitário, escritor, ambientalista, sócio fundador do Rotary Club Lauro de Freitas. E-mail: jamoufer@atarde.com.br

Vazio

N

a longa batalha da vida, os seres humanos sempre estarão sentindo um vazio, no seu interior, pois a luta pela existência tem a ver com sua satisfação. Alguns estudiosos dizem: “os trabalhos dos indivíduos, mesmo que sejam destinados à família, aos amigos, aos carentes, às instituições religiosas e sociais e tantos outros, no fundo, buscam satisfazer seu ego”. Mas, como acontece o vazio humano? Nada mais do que a preocupação com a sua vaidade. Os seres humanos deveriam modificar suas consciências, para abraçar esse processo e entender, inicialmente, que tudo se transforma. Na realidade, deveriam se preocupar com a felicidade dos outros, o desejo de viver, sem ilusões de vida eterna, elevar o princípio do ser, desligando-se do ter e viver o presente, pois isso é a grande sabedoria, instituída pelo Criador. Porém, o vazio da vida nunca deve se confundir com sua existência real. Deve-se compreender que as mudanças são permanentes. Nada é estável nem tem longa duração. Conscientizar-se e deixar de lado as eternas ilusões e a prática de futilidades seria a vivência ideal. Somente assim, os seres humanos conseguiriam a sonhada felicidade e buscariam a eternidade da vida renovada. Pelo que ocorre na sociedade, de

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modo geral, chega-se à conclusão que as pessoas alimentam seus vazios, com o tédio, lembranças descabidas e conquistas avantajadas. Porém, o que mais insufla o vazio é o fato das pessoas não buscarem a compreensão das outras. Se o ser humano, ao invés da nostalgia, insatisfação e carências, pensasse em como superar o vazio que queira se instalar em sua alma, não perderia tempo com suas falhas e lamentações. Falhar no lar, na cama, com seus filhos, companheiros e convívios, são situações que fazem parte da existência dos humanos. Isso é muito normal. O principal desassossego dos humanos deveria ser com o vazio intelectual, o não avanço na espiritualidade, a exposição negativa de seus valores morais e éticos, pois a falta desses lhes colocam em má situação com a sabedoria e a evolução. A falta dessa busca implicará na oportunidade de sua alma ficar vazia. Nem sempre será possível alcançar o que se deseja. Então se deve acostumar, também, com o vazio, desde que essa situação não seja eterna.

Outras vezes os seres humanos constroem muito no seu passado, para alegria e gasto no presente. No entanto, devem se lembrar que, sempre haverá um futuro. Felizes daqueles que têm um passado honrado e podem mostrá-lo no presente. Ou seja, olhar pelo retrovisor da vida e verificar a boa estrada que ficou para trás. Mesmo que isso não tenha acontecido, só depende de cada um começar agora, “pois o passado será esquecido pelos outros, desde que se construa um futuro promissor e honrado”. Alguns, na jornada da vida, se sentem desmotivados ou frágeis para atingir seus objetivos. Isso é uma demonstração de alma vazia. Deve-se procurar o aprendizado e orientação de terceiros, sem, contudo, apenas sugar-lhe seus conhecimentos e valores. Conforme Winston Churchill, estadista britânico (30/11/1874 – 24/1/1965), “o pessimista vê dificuldade em cada oportunidade; e o otimista vê oportunidade em cada dificuldade”. Finalizando, o ser humano deve entender a distinção entre o querer e a necessidade. Assim, durante sua existência, buscará o alcance da necessidade. Dessa forma, não lutará pela riqueza desmedida, nem se consolará com a pobreza causticante, mas às condições confortáveis de vida, juntamente com sua família, amigos e agregados. Brigar pelo querer é jogar fora a centelha, que existe no espírito.


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