Suplemento Especial. Edição 206. Março de 2016
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SUPLEMENTO ESPECIAL: Zika Vírus l Dengue l Febre Chikungunya
Prefeitura de Lauro de Freitas apresenta Plano Emergencial de Combate ao Aedes aegypti e Atenção à Tríplice Endemia
Prefeito Márcio Paiva: só “não pode faltar fé”
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epois de participar de mobilização contra o mosquito aedes aegypti no Rio de Janeiro, em fevereiro, a presidente Dilma Roussef (PT) voltou a Brasília e foi direto para a “Sala Nacional de Coordenação e Controle para Enfrentamento da Dengue, Zika e Chikungunya” – “a ação foi um sucesso, mas foi só o início”, disse ela. No mesmo dia, um pouco por todo o país, ministros de áreas como energia, comunicação e esporte participaram de eventos “de combate ao mosquito”. A tríplice epidemia, que não é novidade nem em Lauro de Freitas, nem na Bahia, nem no Brasil, ganhou atenção das autoridades quando o aumento de casos de microcefalia em recém-nascidos foi associado à infecção pelo vírus da Zika – conhecido pela medicina desde o fim dos anos 40. A emergência foi plenamente reconhecida depois que o vírus chegou aos países desenvolvidos, levando a Organização Mundial da Saúde (OMS), órgão das Nações Unidas, a declarar emergência internacional.
A estimativa da OMS é que quatro milhões de pessoas sejam infectadas pelo Zika no continente americano em 2016. Outras formas de transmissão, além de por meio do mosquito, estão sendo pesquisadas. Entre elas, a via sexual. “Precisamos de uma ação coordenada”, disse Marcos Quito, coordenador da “sala” que reúne representantes de todos os ministérios envolvidos no combate ao mosquito, vetor das três doenças, para uma ação já supostamente coordenada entre governo federal, estados e municípios. Cada estado teria uma sala semelhante, que se comunica uma vez por semana com os representantes nacionais para tirar dúvidas, resolver dificuldades e repassar dados. Na esfera municipal, a prefeitura de Lauro de Freitas também realizou evento público para apresentar um “Plano Emergencial Municipal de Combate ao Aedes aegypti e Atenção à Tríplice Endemia“, no Cine Teatro. O plano da prefeitura resumese em cinco tópicos: combate ao mosquito,
atenção especial nas emergências, “alerta vermelho” nas unidades básicas de saúde, cuidado especial às gestantes, cuidado especial às crianças com microcefalia e capacitação dos agentes de saúde. Continua desconhecido o índice de infestação pelo mosquito na cidade, mas o próprio prefeito Márcio Paiva (PP), que é médico, contabilizou durante o evento 19 casos de microcefalia confirmados em Lauro de Freitas. Para ele, pode faltar “muita coisa” para o combate ao mosquito, “mas não pode faltar fé”. “Passamos o mês de janeiro elaborando um plano que abrangesse todos os campos, desde a capacitação dos agentes de saúde à assistência as gestantes e crianças com microcefalia”, disse o secretário de Saúde de Lauro de Freitas Emanoel Carvalho. “Já montamos uma equipe de trabalho voltada para execução do plano emergencial”, completou. “Estamos todos nessa luta e vamos vencer essa guerra”, declarou Carvalho. Antes da apresentação, o médico infectologista Antônio Carlos Bandeira ministrou palestra para a plateia, composta de soldados da aeronáutica e funcionários públicos em geral – além de agentes comunitárias de saúde e de combate a endemias. Uma delas apresentou-se para, aos prantos, lamentar que a população culpe os agentes de saúde pela crise que a cidade vive. De acordo com ela, a prefeitura está com “desfalque grande de agentes”. O secretário de Saúde disse que vai “contratar gente”, mesmo sem recursos federais. Segundo o secretário, o vice-governador João Leão (PP) foi abordado em busca de apoio. O estado e a união precisam comparecer com verba “porque sem dinheiro não se faz combate ao mosquito”, disse Carvalho. Quem também reivindicou
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financiamento, agora para pesquisa, foi o infectologista Bandeira. Ele defende que a verba não vá apenas para alguns centros. Emanoel Carvalho reconhece que espera no máximo controlar o mosquito, não elimina-lo, já que é possível encontrar larvas até mesmo em folhas de árvores. Para controlar a infestação pelos mosquitos, além de manter os índices atualizados, seria necessário, por exemplo, maior apoio da limpeza pública. Essa é a opinião de uma ex-agente de saúde presente ao evento. De acordo com ela, há criadouros do mosquito no lixo acumulado nas ruas. “Os bueiros estão cheios de lixo”, disse. O prefeito destacou que 85% dos focos do mosquito estão dentro das residências e pediu que a população dedique algum tempo todas as semanas para identificar e eliminar esses focos. Terrenos baldios tomados pelo mato e entulho, apesar da legislação que pune os proprietários, por falta de fiscalização continuam a propiciar locais para a reprodução do mosquito até mesmo em Vilas do Atlântico, onde se supõe haver maior ordem urbana. Exemplo disso, várias vezes exibido às autoridades pela revista Vilas Magazine, é o lote da rua Praia de Tambaú ao lado do Condomínio Vivendas do Atlântico. Ali, em meio ao mato, persiste inclusive um barracão em ruínas. Vacina Solução mesmo poderá vir do Instituto Butantan, em São Paulo, que está estudando uma vacina e um soro contra o vírus Zika. A revelação coube ao secretário estadual de saúde de São Paulo, David Uip, que falou à imprensa depois de garantir um repasse de R$ 100 milhões do Ministério da Saúde para o instituto. A verba vai ajudar a financiar uma fase de testes da vacina que está sendo desenvolvida contra a dengue. Dois tipos de vacina contra o vírus Zika estão sendo estudados também. O primeiro deles consistiria em transformar a vacina tetravalente (porque combate os quatro tipos de vírus) contra a dengue em uma vacina pentavalente, incluindo o vírus Zika. O segundo seria uma vacina específica ou isolada contra a doença. “Além disso, o instituto estuda a fase terapêutica do vírus Zika [um tipo de tra-
O secretário Emanoel Carvalho apresenta “plano municipal”: cinco tópicos tamento ou um soro] e também começa a estudar o protocolo de uma droga [ou remédio] que mata o vírus da Zika, semelhante ao que aconteceu ao vírus da Aids”, disse o secretário. Segundo ele, o Butantan já recebeu 29 propostas de colaboração, principalmente de instituições norteamericanas, para estudar maneiras para combater o Zika. “Existem muitas perguntas sobre como é o comportamento do vírus [Zika]. Não sabemos se uma vacina de vírus atenuado, que é como fizemos para a dengue, vai funcionar da mesma forma para o Zika. Estamos fazendo vários tipos alternativos de vacina. O que sabemos é que com os estudos que temos com a dengue, e dengue sendo muito parecida com zika, achamos que iremos mais rápido nos estudos”, disse Jorge Kalil, diretor do Instituto Butantan. A fase dois dos testes da vacina contra a dengue envolveu 300 voluntários de São Paulo e mostrou uma efetividade superior a 80%, conferindo proteção, por meio de anticorpos, contra os quatro sorotipos da dengue. A terceira fase repete a fase dois, mas com 17 mil voluntários em 14 centros
do país. Segundo David Uip, ainda não é possível estimar quando a vacina estará disponível para toda a população. De acordo com o diretor do Instituto Butantan, a data pode ser 2018. Kalil disse que o instituto já deu início à construção de uma unidade onde será “possível produzir doses suficientes para começar o programa de vacinação no país”. Microcefalia A relação entre o vírus Zika e a microcefalia foi comprovada, em fevereiro, por um grupo de pesquisadores eslovenos que pesquisou o caso de uma mulher eslovena, grávida, infectada no Brasil. O anúncio foi feito por Mara Popovic, do Instituto de Patologia da Faculdade de Medicina de Liubliana: o vírus foi encontrado nos neurônios do cérebro do embrião. A descoberta demonstra que o Zika ataca sobretudo as células nervosas do feto, segundo Popovic , confirmando as suspeitas dos especialistas sobre a relação entre a microcefalia e o vírus. Tatjana Avsic Zupanc, do Instituto estoniano, indicou que o feto pode ser contagiado com o vírus em qualquer fase u Março de 2016 | Vilas Magazine | 3
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Barracão em ruínas dentro de lote tomado pelo mato em Vilas do Atlântico
da gestação, mas os danos mais graves ocorreriam no primeiro trimestre da gravidez. Os pesquisadores eslovenos garantem ter comprovado que os danos no sistema nervoso central, relacionados com o contá-
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gio durante a gestação, são consequência da reprodução do vírus no cérebro do feto. A pesquisa que prova que o vírus pode passar da mãe para o cérebro do feto e causar microcefalia foi publicada na revista médica
DILEMAS DA GRAVIDEZ
om o aumento de casos de microcefalia em recém-nascidos no Brasil, governos de quatro países da América Latina e do Caribe (Colômbia, El Salvador, Equador e Jamaica), onde o vírus da zika já circula, passaram a recomendar que se evite engravidar. O Brasil, no entanto, não adota a mesma orientação. Em novembro, Cláudio Maierovitch, diretor do departamento de vigilância de doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, chegou a aconselhar as mulheres a não engravidar, mas o ministério divulgou nota logo depois negando a recomendação. A pasta diz que “a gravidez é uma decisão pessoal” e que não adotará nenhuma medida de controle de natalidade. Engravidar ou não é só uma das questões que enfrentam mulheres atualmente diante do avanço do vírus da zika (veja qua-
dro com perguntas e respostas na pág. 6). A posição do governo divide especialistas. “É um absurdo. Já passou da hora de o ministério fazer essa recomendação [não engravidar]. As mulheres que estão engravidando neste momento estão desesperadas”, diz o médico Artur Timerman. Infectologista, ele conta que, em uma semana, atendeu no consultório 14 gestantes preocupadas com a zika. “Vão ficar com esse fantasma rondando até o sexto mês de gravidez [quando a microcefalia aparece no ultrassom].” Já o também infectologista Esper Kallas, professor da USP, afirma que não cabe ao governo decidir se a mulher deve ou não engravidar. “É preciso fornecer informações para que ela tome a decisão.” Ele pondera, por exemplo, que não adianta recomendar ou não a gravidez
The New England Journal of Medicine. A pesquisa teve origem no último trimestre da gravidez, em outubro passado, quando foram detectadas, por ecografia, diversas irregularidades no desenvolvimento do feto e da placenta – embora então não houvesse ainda qualquer suspeita de que se tratava do Zika. O prognóstico negativo dos danos ao cérebro do feto levaram a estoniana a interromper a gravidez, ocasionando uma autópsia. Ficou confirmado que os problemas no desenvolvimento do cérebro do feto se deviam à infecção pelo vírus transmitido ao embrião através da placenta. Já pesquisadores dos Estados Unidos e do Brasil querem saber se o vírus Zika provoca sozinho a microcefalia ou se a malformação ocorre quando o agente está combinado com outros fatores. A pesquisa está sendo desenvolvida na Paraíba, numa parceria entre técnicos do governo local e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Transmissíveis (CDC) dos Estados Unidos.
com base nos casos atuais de microcefalia, já que, quando aparecem, eles são uma fotografia do que ocorreu meses antes. “É mais útil mapear a circulação do vírus em tempo real e alertar a população para os cuidados”, diz ele. A tendência entre os especialistas, porém, é orientar mulheres jovens a adiar a gravidez. “Para quem tem até 30 anos, não vai mudar esperar dois ou três meses até sabermos como vão evoluir esses casos de microcefalia”, diz o obstetra Renato Kalil, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. “Se não precisa engravidar agora, é melhor esperar um pouco”, reforça o ginecologista César Fernandes, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. “Mas é complicado dizer isso às que estão no fim da vida reprodutiva.” Para as já grávidas, as principais recomendações são evitar áreas de infestação do Aedes, usar repelente, roupas leves e u
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compridas, e instalar telas em portas e janelas. “Todo o cuidado tem que ser tomado para evitar a exposição ao mosquito e a infecção pelo zika. Como a maioria dos casos [80%] é assintomática, muitas mulheres nem saberão se foram ou não infectadas‘, diz o obstetra Adolfo Liao, coordenador materno-infantil do Einstein. As que manifestam sintomas podem recorrer a testes. O mais acessível, de biologia molecular, só funciona nos primeiros dias de infecção. O outro, que busca anticorpos do zika, custa R$ 900 em média e só está disponível em alguns laboratórios privados. Após confirmada a zika, porém, não há o que fazer. Além de não existir remédio para curar a infecção, ainda não se sabe qual o risco real de o bebê desenvolver microcefalia.
No Nordeste, as alterações cerebrais dos fetos têm aparecido só por volta da
28ª semana de gestação. “Fazendo um acompanhamento [com ultrassom] mais frequente, podemos identificar alterações mais cedo”, afirma o obstetra Thomaz Gollop, professor da USP. Já o obstetra Manoel Sarno, especialista em medicina fetal e que já acompanhou 80 casos de microcefalia associados à zika na Bahia, diz que será “improvável” o diagnóstico antes da 20ª semana. Por isso, mulheres com diagnóstico de zika no início da gravidez têm recorrido ao aborto ilegal antes de saber se o feto tem microcefalia. Nessa fase há poucos riscos para a mulher.Quando a microcefalia é detectada, é mais difícil interromper a gravidez: é preciso causar a morte do feto, por meio de uma injeção no coração, para, depois, induzir o parto. Claudia Collucci / Folhaspress.
Mas saiba que o Aedes tem se adaptado a temperaturas mais baixas.
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O que é o vírus zika? É um vírus da família dos flavivirus, a mesma da dengue e da febre amarela.
e do abdome em adultos e da face em crianças. O mosquito voa geralmente a até 1,5 metro de altura.
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Como é transmitido? Nas cidades, principalmente por meio do Aedes aegypti, que também transmite a dengue e a chikungunya.
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O Aedes pode transmitir mais de um tipo de vírus na mesma picada? Em tese sim, mas isso ainda não foi observado. Por outro lado, já houve o relato de uma coinfecção em um paciente de zika com dengue.
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Onde o mosquito pica, geralmente? Especialmente na região dos braços
Como saber se fui picado pelo Aedes? É difícil saber. Apicada do mosquito geralmente não coça nem provoca reações alérgicas. O período de maior risco é das 9h às 13h.
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Como se proteger? Elimine criadouros de mosquito e use calça e camisa de manga comprida, além de repelentes.
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Adianta eu me mudar para um lugar mais frio? O risco diminui um pouco porque, em tese, há menos circulação de mosquitos.
Como descubro se estou com zika? A maioria dos casos é assintomática, mas, às vezes, o vírus pode causar dor de cabeça e nas articulações, vermelhidão e dor atrás dos olhos, febre baixa por três a sete dias, vômitos, manchas vermelhas e coceira. O teste mais usado, o de biologia molecular, só funciona nos cinco ou seis primeiros dias de infecção, quando o vírus ainda circula no sangue. Depois é indicado um exame que busca anticorpos de zika. Disponível na rede privada, custa em média R$ 900.
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Posso ter zika uma segunda vez? É pouco provável, pois o organismo já teria repertório para lidar com uma nova infecção.
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O Aedes pode transmitir mais de um tipo de vírus na mesma picada? Em tese sim, mas isso ainda não foi observado. Por outro lado, já houve o relato de uma coinfecção em um paciente u de zika com dengue.
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Há vacina contra o zika? Não, e isso pode levar mais de uma década. O desenvolvimento seria mais fácil, porém, que o de uma vacina contra a dengue – já que há apenas um tipo de vírus zika, e quatro de dengue.
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Quantos casos foram notificados em 2015? Segundo o Ministério da Saúde, já são 1.248 casos suspeitos no país (dados de 8/12/15), quase 10 vezes mais que em anos anteriores.
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O vírus zika também pode causar outros sintomas mais graves? Em adultos, é possível que o zika cause a síndrome de Guillain-Barré, doença neurológica rara e paralisante. Há relato de casos após o contato com o vírus, mas a relação ainda não foi comprovada.
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A infecção por zika pode ser letal? Há registro de três mortes ligadas ao vírus no Brasil em 2015, sendo uma de um bebê com microcefalia. As outras são de uma jovem de 16 anos e de um homem com lúpus – uma doença autoimune.
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O que é a microcefalia? Máformação cerebral que faz com que bebês nasçam com a circunferência da cabeça menor que 32cm. Ela pode afetar o desenvolvimento e causar dificuldades cognitivas, motoras e de aprendizado, entre outras.
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Estou grávida, e agora? Procure um obstetra e faça um pré-natal com ao menos seis consultas. Para evitar o Aedes, elimine criadouros, vista roupas compridas e meias, instale telas em portas e janelas e use repelente. O mais indicado é o que tem icaridina (Exposis), pois dura até 10 horas.
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Se eu contrair o zika, qual é o risco de o bebê ter microcefalia? inda não se sabe qual o percentual de gestantes com zika que acabam por ter filhos com microcefalia
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Como o vírus afeta o cérebro do bebê? O zika tem uma tendência natural a atacar células nervosas. Uma vez que ele atinge o feto, se o cérebro ainda estiver em formação, há risco de as células não se desenvolverem nem migrarem, fazendo com que o órgão e a cabeça fiquem pequenos.
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Essa relação já era conhecida? Não. A situação é inédita na pesquisa científica mundial. Após os casos no Brasil, a Polinésia Francesa passou a investigar a relação, uma vez que um surto de zika atingiu seu território em 2013
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Qual é o período da gravidez com maior risco? A suspeita é que o risco de microcefalia seja maior nos primeiros três meses. A possibilidade parece existir também, em menor grau, quando a zika é adquirida no segundo trimestre. A partir do terceiro trimestre, o risco é baixo, pois o feto está formado.
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Se eu tiver zika antes da gravidez, também corro o risco? Se ela já estiver curada (geralmente de forma espontânea), o risco é baixíssimo, mas ainda não se sabe se as mulheres que tiveram zika antes da gravidez adquirem imunidade e, portanto, não têm risco de passar o vírus para o feto. Mais estudos terão que ser feitos para se definir o intervalo seguro entre a infecção e a gravidez.
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Qual exame devo fazer para detectar a má-formação no bebê? A microcefalia é diagnosticada na gravidez pelo ultrassom morfológico, exame que serve para medir o tamanho do crânio e avaliar as estruturas cerebrais e outros órgãos.
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Quando é possível saber se o bebê tem ou não microcefalia? Não há consenso sobre o prazo. Segundo os médicos, é recomendável que se faça o exame morfológico por volta da 22ª semana de gravidez. Se a mulher apresenta sintomas de zika, no entanto, o ideal é que se faça o ultrassom já a partir da 12ª semana, mensalmente.
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Que características aparecem no exame? Há uma diminuição dos giros cerebrais, deixando o cérebro com aspecto liso. Calcificações também podem surgir.
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Por que eu não consigo saber mais cedo, no primeiro trimestre de gestação? Entre outros motivos, porque leva tempo entre a gestante ser infectada pelo vírus e ele causar danos no cérebro do bebê.
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Planos de saúde cobrem exames e teste? O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor diz que o plano não pode se negar. Se o cliente tiver dificuldades, pode reclamar à AgênciaNacional de Saúde Suplementar.
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Deve-se evitar gravidez neste momento? Alguns especialistas afirmam que sim. O Ministério da Saúde diz que a gravidez deve ser acompanhada desde cedo.
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Se estiver carregando um feto com microcefalia, a mulher pode abortar? Por não estar previsto em lei, o aborto de fetos com microcefalia e que simultaneamente carreguem má-formações incompatíveis com a vida deve ser autorizado previamente pela Justiça.
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Encontrarei juízes dispostos a autorizar o aborto legal ou o chamado ‘terapêutico‘? Provavelmente, não. A vasta maioria dos casos de microcefalia não é incompatível com a vida, mesmo com as graves lesões cerebrais. Para autorizar o aborto, é preciso que três médicos atestem a impossibilidade de o bebê viver fora do útero.
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Até quando posso abortar sem risco para a minha saúde? Até a 14ª semana há menos risco de sangramento, embora nessa fase não seja possível saber se o feto tem ou não microcefalia. Mas a prática é ilegal.
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aliva; ministério sugere ‘cautela’
ar de estudo não esclarecer possibilidade de contágio, Fiocruz faz recomendações a grávidas
rienta gestante r aglomerações, rtilhar copos e ar pessoas com a da doença
TTORAZZO
studo da Fundação Cruz, órgão vincuMinistério da Saúde, a presença do vírus ativo (com potencial usar infecções) em s de saliva e urina. coberta, divulgada xta-feira (5), levou a a recomendar que evitem circular em es com aglomerampartilhar talheres e até beijar pessoas peita da doença. do não esclarece, posse vírus é contagioar de a presença da zido detectada na salia, não é possível dise ele pode ser transor fluídos corporais. istério da Saúde dinota em que sugere ” e “prevenção” dianva possibilidade de são. A orientação, diz para“evitarcomparjetos de uso pessoal de dente e copos, por ) e lavar as mãos”. aiores cuidados deomados pelas grávia pasta. O cuidado o nesse grupo se deeitadeligaçãodosurrocefalia (má-formaérebro de bebês) aos zika em gestantes. stério diz que “serão ios outros estudos” nálise, por exemplo, o de sobrevivência do pós passar pelos suicos, se ele tem capae infectar as pessoas. cipal vetor de contárus é pelo mosquito egypti, que também e a dengue e a chabre chikungunya. ainda a suspeita de a possa ser transmisexo. Um caso foi reo Estado americano nesta semana.
rovação
há comprovação aine há possibilidade de imediata de outras [por meio do contaaliva e urina de pesctadas]. Para deterhá possibilidade de , tanto individual istêmica, é preciso, o de vista epidemioVM 206.indd de saúde pública,
FORMAS DE TRANSMISSÃO DA ZIKA Fundação Oswaldo Cruz encontra vírus em urina e saliva
CONFIRMADAS Por evidências científicas > Picada do mosquito Aedes aegypti > Intrauterina, de mãe para filho
PROVÁVEIS Casos relatados e com evidências de transmissão > Relação sexual > Transfusão de sangue
SUSPEITAS Vírus encontrado, mas sem evidências de transmissão > Amamentação > Urina e saliva
Exame em feto que sofreu aborto espontâneo no NE constatou o vírus da zika na placenta, comprovando a transmissão
Nos EUA, duas pessoas pegaram zika em áreas sem o Aedes após relações com infectados. Em Campinas (SP), paciente ficou doente após transfusão
A Fundação Oswaldo Cruz detectou a presença do vírus da zika ativo na urina e saliva, mas não esclarece se há risco de contágio
RAMIFICAÇÕES DO AEDES Mosquito transmite três doenças no Brasil ligadas a novos males
Doenças transmitidas pelo Aedes
Chikungunya** 20.661 Total de casos
N 118
NE 3.396
7.823 Confirmados 10.420 Em investigação 3.657 Casos em 2014 Causa febre alta, dor muscular e nas articulações, cefaleia e manchas no corpo. Os primeiros casos contraídos no Brasil aparecem em 2014. Apenas um subtipo do vírus causa a doença
Miosite > Doença que acomete os músculos do paciente e pode causar além de fortes dores, convulsões, paralisia. Pode levar à morte > Pode ser tratada
partir da apresentação de sintomas compatíveis com o vírus da zika, já que não há até agora um teste laboratorial que comprove a doença. “A possibilidade de contá125 gio ainda deve ser esclareci-
Dengue**
Zika*
4.074
Total de casos de microcefalia ligado ao zika***
CO 186 SE 372 S 2
O vírus da zika foi isolado pela primeira vez em 1947, em Uganda. A doença é endêmica na África e em algumas áreas da Ásia. O primeiro caso registrado no Brasil foi em 2014
N 34.110
1.654.008
NE 316.519
CO 220.966
Total de casos
SE 1.026.226
S 56.187
Causa febre e dores no corpo. Originário da África, após ser erradicado no Brasil o Aedes aegypti reapareceu nos anos 1980 e desde então o país convive com casos de dengue
DE SÃO PAULO
Em meio a uma mia de zika, o alto sário das Nações U para Direitos Hum Zeid Ra’ad Al Husse fendeu nesta sexta-f em Genebra a descr lização do aborto e o to das mulheres a romper a gravidez decidir engravidar. Defender os direit manos das mulhere sencial, afirmou Hu “Isso requer que vernos assegurem lheres, homens e a centes o acesso às in ções e serviços de saú xual e reprodutiva d lidade, integrais e a veis, sem discrimin disse o chefe de d humanos da ONU (O zações das Naçõe das), em um comun Os países deveria recer medidas para c cepção e contracep emergência, como viços de aborto segu de acordo com a lei Ainda segundo Hu “as leis e políticas q tringem seu acesso a serviços devem ser das com urgência, c me as obrigações de tos humanos, visan rantir na prática o à saúde para todas” Em 1999, a ONU já recomendado que o ses discriminalizas aborto. Em 2014, o para Direitos Hum elaborou document posição semelhante O aborto só é per no Brasil nos casos tupro, risco de vida d e anencefalia do fet via sexual
O CDC, Centro d trole de Doenças do divulgou nesta sex “orientações provis para evitar a propa do vírus da zika por xual, uma das form contaminação da d (outras são por meio cada de mosquitos Síndrome de Guillan-Barré Outras deficiências Microcefalia nero Aedes e por tr são de sangue). > Má-formação cerebral. > Doença neurológica > Mães que tiveram zika no Para homens q Pode causar deficiência rara, gera fraqueza fim da gravidez deram luz nham viajado para mental, limitação na fala, a bebês com deficiências muscular e até paralisia onde há transmissã audição e movimentos total e permanente auditivas e visuais, mas de zika, é recome > Não tem cura. Pode > Pode ser tratada. Casos sem microcefalia. Os casos evitar atividade sexu levar à morte graves são fatais no PE são investigados xo vaginal, anal e com suas parceiras das enquanto o beb *Até 30.jan **De 4.jan.2015 a 2.jan.2016 ***Casos suspeitos e confirmados Fontes: Ministério da Saúde e Fundação Oswaldo Cruz nasce. A outra opção a camisinha “semp Avener Prado - 30.jan.2016/Folhapress forma correta”. andamento. Segundo ele, não Março de 2016 | Vilas Magazine | 9Para casais cuja m há como estabelecer prazo não esteja grávida e para se chegar ao resultado. homens estejam na ma condição, é su microcefalia “considerar” a absti como uma opção o A Fiocruz busca também 29/02/2016 14:17:16 tar a camisinha. esclarecer a relação do vírus
ZIKA E MICROCEFALIA
tudo o que você precisa saber Como o vírus é transmitido para o feto? Em que período do dia o Aedes pica mais? Como se prevenir? Confira essas e outras questões sobre o surto
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Repelente contra o aedes deve ser escolhido por faixa etária
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Aedes aegypti está por todo lado e, para evitar a picada que pode trazer dengue, zika ou chikungunya, vale a pena se proteger com o uso de repelentes. Porém, é preciso saber qual o melhor tipo para cada faixa etária e fazer a escolha certa de acordo com o princípio ativo. São três tipos os mais comuns, feitos à base de DEET, IR3535 ou Icaridina. “Todos os produtos registrados tiveram sua eficácia comprovada para ação em mosquitos da espécie Aedes aegypti. É importante observar
que o efeito de cada produto tem duração diferente e que as instruções de uso contidas no rótulo devem ser seguidas”, afirma a dermatologista Luciana Maluf. Para quem frequenta praias, rios ou lagos, vale a pena redobrar a atenção. “Os fatores que influenciam a eficácia dos repelentes são umidade, temperatura e o vento. O clima quente e úmido e os ventos reduzem o tempo de eficácia dos repelentes. Neste caso, pode usar o produto com mais frequência‘“ diz a médica sanitarista Ana Freitas Ribeiro.
De forma geral, os repelentes impedem que o mosquito chegue até a pele ao formar uma camada protetora. “O mosquito pode até estar próximo da pele, mas ele não consegue picar, em função dessa nuvem de proteção. Por isso, a nuvem deve ser homogênea e por toda a pele, da mesma forma que você passa, por exemplo, um hidratante ou protetor solar”, afirma o dermatologista Claudio Wulkan. Mitos Soluções caseiras sem comprovação científica, como vitamina B, comer alho, entre outras medidas improvisadas, estão mais próximos de crendices do que da eficácia. Até mesmo a citronela é posta em xeque. “As velas à base da planta citronela podem espantar o Aedes aegypti, mas funcionam apenas num raio pequeno”, diz Ana.
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Cuidados Muita gente se atrapalha ao usar repelentes. Especialistas dizem que se deve passar hidrante ou protetor solar primeiro e, só depois, aplicar o produto
sobre a pele, quando for usá-los juntos. “O ideal é aplicar primeiro o protetor solar sem perfume, aguardar 15 minutos e, aí sim, passar o repelente”, diz a dermatologista Luciana Maluf.
Outra recomendação é nunca usar repelente sob a roupa. William Cardoso / Folhapress.
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“É impossível acabar com o mosquito” Para o infectologista Artur Timerman, a capacidade de adaptação do Aedes aegypti é tão grande que erradicá-lo é estratégia inútil. O bom caminho para diminuir o pânico com os casos de zika associados à microcefalia é o investimento pesado em estudos para o desenvolvimento de uma vacina ADRIANA DIAS LOPES
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á pelo menos três décadas o infectologista paulistano Artur Timerman, de 62 anos, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, lida com os vírus transmitidos pelo Aedes aegypti. Desde outubro do ano passado, com o início do aumento de casos de infecção por zika, ele tornou-se nome inescapável para entender como um mosquito foi capaz de assustar a sociedade moderna do século 21. Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou os casos de microcefalia e doenças neurológicas em áreas com o zika vírus como “emergência internacional”. Não proibiu viagens, mas sugeriu imediata aceleração das pesquisas em busca de compreensão total da malformação de fetos e de uma vacina. Timerman é o profissional mais adequado a medir claramente o alcance da epidemia, identificar onde houve erro e apontar os pontos de inépcia do governo federal. E, para não deixar dúvida de que o vírus é realmente preocupante para as mulheres grávidas, ele revela ter pedido à própria filha que não engravidasse. A emergência mundial declarada pela OMS não é exagerada? É natural que o ineditismo da situação estimule o alarde. Nunca na história da medicina houve uma doença transmitida por um vetor associada à malformação fetal. E esse alvoroço não é em vão. Ele é útil, fundamentalmente, para acelerar o interesse das autoridades políticas e médicas em investir em pesquisas consistentes sobre o assunto. Sabemos que, em decorrência natural da evolução da espécie, a ação de um vírus
tende a ser amenizada com o passar do tempo. Essa constatação não é tranquilizadora? Em termos. Ao longo dos anos, tanto o organismo adquire formas de se proteger do vírus como o próprio agente se torna menos agressivo. Isso aconteceu até mesmo com o terrível e mortal HIV, por exemplo, causador da aids. Independentemente dos medicamentos, o sistema imunológico do doente hoje convive melhor com o vírus. No entanto, e aí está o problema, essa mudança leva décadas para acontecer. Não dá para correr nenhum risco com um vírus associado
a uma doença de malformação em crianças. Ao se traçarem as curvas de aumento de infecção por zika e de crescimento de microcefalia, elas são, de fato, coincidentes. Mas não há, até agora, evidências definitivas de causalidade na relação entre o vírus e a doença. Não seria cedo para defender essa associação com tanta certeza? As pesquisas já indicam fortemente essa ligação. No início da década de 50, estudos desenvolvidos pelo Instituto Pasteur, na França, comprovaram a afinidade do zika com o tecido nervoso de camundongos. Neste ano, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, nos Estados Unidos, encontrou pedaços do vírus em fetos abortados e em amostras de líquido amniótico. É claro, porém, que temos de ter estudos que sigam as regras básicas da boa ciência. Os achados só se tornam irrefutáveis quando são provenientes de estudos clínicos controlados, envolvendo milhares de voluntários infectados e sadios. Uma pesquisa de tal magnitude dificilmente trará bons resultados se os governos federal e estaduais continuarem a empregar critérios díspares para o diagnóstico de microcefalia associada ao vírus... É uma falha inaceitável. Vivemos um caos nesse campo. Há regiões que contabilizam todos os casos suspeitos da doença. Outras, porém, registram a doença somente quando a mãe afirmou ter sofrido os sintomas durante a gestação – o que ocorre em apenas 20% dos casos de infecção por zika. O fato é: não há um padrão nas notificações, e isso impossibilita qualquer trabalho científico. Como deve ser o registro dos casos de microcefalia? Defendo um protocolo único. Todo e qualquer caso de microcefalia deve ser notificado, eliminando-se, claro, as causas já conhecidas – mesmo que não se tenha certeza de que ele possa estar relacionado ao zika. Foi assim com a aids. Na década de 80, durante três anos, notificávamos todos os casos de pessoas acometidas por pneumonia, gânglios inchados e alteração imunológica, apenas suspeitando de uma associação com o vírus HIV. A medida era protocolar. Por termos pecado pelo excesso, pessoas que nem imaginávamos pertencer ao grupo de risco do HIV foram identificadas,
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como os heterossexuais. A microcefalia só se tornou uma doença de registro compulsório em novembro do ano passado, no Brasil. Com base nisso, não seria lógico imaginar uma subnotificação de casos até então? Muito dificilmente. Os casos notificados hoje estão dissociados de outras causas da doença, como toxoplasmose, citomegalovírus, herpes e rubéola. Ao menos essa é a recomendação do Ministério da Saúde. A cada dia, recebo relatos de profissionais das mais variadas áreas da saúde, sobretudo do Nordeste do país, afirmando ver cinco, dez bebês com microcefalia por dia. Essa situação seria inimaginável há um ano. Por que não há ainda um teste eficaz para ser usado em larga escala na detecção do zika? Por incompetência do governo federal. Nossos virologistas são muito bons. Mas não recebem a verba necessária para pesquisa. Não há investimento porque ciência básica não dá voto. Há cientistas de universidades federais no Nordeste que têm de pedir reagentes emprestados para trabalhar. E sem um teste em larga escala não conseguimos decifrar o comportamento do vírus no organismo. É o que chamamos de fisiopatogenia, na linguagem médica. Precisamos de um teste que identifique os anticorpos no sangue, produzidos pela infecção. Os anticorpos permanecem para o resto da vida no sangue. Só assim conseguiremos rastrear a doença, independentemente de quando ela ocorreu. Sem esse tipo de exame, não será possível dar um passo em direção ao desenvolvimento de uma vacina eficaz. Hoje, diagnosticamos a infecção por zika por meio de um exame genético, que rastreia a doença somente durante a fase aguda da infecção. Ou seja, cerca de uma semana após a picada, ao longo de cinco dias. Já estava mais do que na hora de termos um teste de anticorpos. No caso da dengue, foram necessários dois anos para a criação desse tipo de teste. Mas isso foi lá nos anos 80, tempos em que os conhecimentos científicos eram limitados. Hoje, um teste desse tipo não levaria mais de seis meses para ser desenvolvido. Não é inconcebível que um mosquito cujo potencial de transmitir doenças se conhece há pelo menos 100 anos ainda desafie a ciência?
O papel da ciência não é acabar com o Aedes. É impossível acabar com o mosquito. O Aedes tem uma capacidade de adaptação biológica sofisticada, superior à de qualquer inseto. Há menos de dez anos, ele se reproduzia apenas em poças grandes, de meio litro, constituídas de água limpa. Hoje, basta uma quantidade equivalente a uma tampinha de água – limpa ou suja. O Aedes sempre teve um comportamento diurno, atraído pela luz do sol, e já o vemos durante a noite, em torno de luz artificial. Suas larvas sobreviviam por três meses. Agora, o tempo é quatro vezes maior. Seu voo atingia a distância de 10 metros. São 50 metros atualmente. Essa capacidade extraordinária de sobrevivência sempre driblará qualquer tecnologia. É impossível, portanto, eliminar o Aedes aegypti? Não costumo ser pessimista, mas nesse caso terei de dizer: é praticamente impossível eliminá-lo. O problema está lá atrás, com a urbanização caótica das grandes cidades, sobretudo nos países da América Latina, erguidas sobre asfaltos impermeáveis, com pouquíssima vegetação e repletas de lixo e esgoto a céu aberto. O papel da ciência é importante, mas paliativo. Ela servirá para eliminar ou evitar as consequências trazidas pelo mosquito. As medidas podem ser válidas, mas apenas reduzirão os danos. Na semana passada, a fim de eliminar eventuais focos de reprodução do Aedes, foi autorizada a entrada forçada de agentes de saúde em imóveis públicos e particulares em caso de abandono ou na ausência de pessoa que possa permiti-la. Não é uma postura autoritária? O governo tem mostrado total despreparo para lidar com o Aedes. Imagine um mundo ideal, em que todas as residências estejam livres do mosquito. Agora, imagine as pessoas saindo de sua casa. Por quantos focos de infecção vão passar? Cerca de 70% dos focos das larvas do Aedes estão ao redor das casas. Era possível atacar esses focos espalhados, sem controle, em cidades menores. Foi assim há quase um século, no combate à febre amarela, também transmitida pelo Aedes. Não há comparação possível, agora. Nosso ministro da Saúde, Marcelo Castro, é uma autoridade política, mas está longe de ser uma autoridade científica. Outra medida
absurda há pouco tomada pelas autoridades é o espetáculo proporcionado pelo tal “fumacê”. Ou seja, agentes vestidos com máscara e equipamento de segurança dedetizando as cidades. Isso não funciona com o Aedes, inseto capaz de se adaptar com rapidez. Esses produtos agem entrando em um túbulo embaixo da asa do mosquito e matando-o por paralisia. O Aedes sente o cheiro do DEET, o principal composto dessas substâncias, e deixa de voar. Sem abrir as asas, ele não morre. Os cuidados devem ser redobrados no Carnaval? Não há dúvida. É um período de calor, em que as pessoas estão supostamente menos vestidas e suam mais. Os repelentes devem ser repostos a cada hora, portanto. Esse é um tipo de recomendação que não está na bula dos produtos. O senhor prevê uma epidemia mundial? Dificilmente isso vai acontecer. O aumento de casos deverá ficar restrito a países do Hemisfério Sul. Algumas regiões do Norte serão acometidas, mas não haverá grandes surtos. O clima frio dificulta a proliferação do Aedes. Haverá aumento de registros, mas eles estarão limitados à América Latina e ao Caribe. O que o senhor tem dito para suas pacientes sobre o zika? Quais medidas elas devem tomar? Há muitos anos, desde os tempos da aids, eu não vivia uma situação tão angustiante no meu dia a dia profissional. A cada semana, recebo em meu consultório pelo menos uma dezena de mulheres angustiadas. Infelizmente, só posso responder às questões delas de forma monossilábica. “Se eu engravidar agora, corro o risco de ter zika?” Sim. “Corro o risco de transmitir o vírus para o feto?” Sim. “Se isso acontecer, ele pode ter microcefalia?” Sim. Desaconselho veementemente uma gestação, até que consigamos conhecer um pouco mais esse vírus. Fiz isso em minha própria casa. Minha filha mais nova queria engravidar agora de seu primeiro filho. Desaconselhei. E fui ouvido. Entrevista publicada na seção Páginas Amarelas, da edição 2464 da revista Veja, com data de capa 10 de fevereiro de 2016. Material licenciado com exclusividade para a revista Vilas Magazine pela Abril Comunicações S/A.
Projeto especial da revista Vilas Magazine. Apoio editorial: Leandro Fahel Assessoria Esportiva Ltda. Apoio institucional: Prefeitura de Lauro de Freitas. Tiragem: 50 mil exemplares (32 mil encartados na edição de março/16 da revista Vilas Magazine e 18 mil doados à Secretaria Municipal de Saúde de Lauro de Freitas, para distribuição pública)
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