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Ficha Técnica Título: Villa da Feira - Terra de Santa Maria 4
Propriedade: LAF - Liga dos Amigos da Feira ® Director: Celestino Portela Director Adjunto: Fernando Sampaio Maia Colectivo Editorial - Fundadores LAF: Alberto Rodrigues Camboa; António Luís Carneiro; Carlos Gomes Maia; Celestino Augusto Portela; Joaquim Carneiro Processamento de Imagem e Design: Joaquim Carneiro Coordenação Científica: J. M. Costa e Silva Supervisão Editorial e Gráfica: Anthero Monteiro Colaboração do TOC, Belmiro da Silva Resende Periodicidade: Quadrimestral Assinatura anual: 30 euros Assinatura auxiliar: 50 euros Este número: 15 euros Pagamentos por: Transferência bancária NIB 007900001127152910124 Cheque à ordem de LAF - Liga dos Amigos da Feira Capa: São Jorge, Escultura de António A. Mota. (Pormenor). Foto de J. M. Costa e Silva. Fotografias: Óscar Maia, J. M. Costa e Silva, Filipe Pinto, Biblioteca Municipal, Arquivos particulares, LAF e Fotos Web por António Madureira Redacção e Administração: Apartado 230 • 4524-909 Feira
Publicidade: Telef.: 965 310 162 | 256 379 604 Fax: 256 379 607 Tiragem: 500 exemplares Edição: N.º 32 - Outubro de 2012 Pré-impressão, Impressão e Acabamento: Empresa Gráfica Feirense, S. A. Apartado 4 - 4524-909 Santa Maria da Feira Sede Social: Edifício Clube Feirense - Associação Cultural Vila Boa - 4520-283 Santa Maria da Feira Email: villadafeira@gmail.com http://www.villadafeira.blogspot.pt/ Depósito Legal: 180748/02 ISSN: 1645-4480 Reg. ICS: 124038 Depositária: Livraria Vício das Letras Rua Dr. José Correia e Sá, 59 4520-208 Santa Maria da Feira Apoios:
Câmara Municipal Santa Maria da Feira Irmãos Cavaco, S.A. E. Leclerc Termas das Caldas de S. Jorge Sociedade de Turismo de Santa Maria da Feira Patrícios, S.A.
Foto Anaas
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PÓRTICO Anthero Monteiro* Agradeço a honra que me foi dada e a consequente responsabilidade de estar aqui no pórtico a convidar-vos a entrar, como se fora o anfitrião deste edifício. Um edifício fidalgo, com o seu quê de sagrado, porque, como ensinam os dicionários, um pórtico é uma entrada imponente de um edifíco nobre ou de um templo. E esta revista, não tenhamos dúvidas, é de facto uma construção distinta, porquanto nasceu animada do propósito digno e generoso de privilegiar a causa e as causas da terra e da região que identifica no seu título. E é também uma edificação com um certo caráter de sagrado, uma vez que a memória dos nossos e das nossas coisas, que permanentemente transparece nestas páginas, é para nós algo que sentimos como augusto, venerando e inviolável. A nossa terra, porém, não é um espaço fechado (“Minha aldeia é todo o mundo, todo o mundo me pertence” – escreve Gedeão) e a nossa história, a nossa cultura, as nossas memórias fazem parte de um todo, razão pela qual também esta revista não se confina aos temas locais nem apenas à colaboração dos autores da área nem merece apenas uma atenção regional. *Escritor e poeta natural de S. Paio de Oleiros. É autor de vários livros de poesia e de ensaio.
O edifício é mais imponente e oferece-se à vista de horizontes mais amplos. A nossa revista é já um valor imprescindível e precioso, sobretudo para os locais. Se desaparecesse, sentiríamos aquele fundo desgosto de uma perda irreparável. Estamos certos, porém, de que ela é muito mais do que isso: um repositório cada vez mais indispensável para todos os amigos do saber que não tem fronteiras, para os estudiosos e para os investigadores em geral. Como anfitrião indigitado por um dia, se quiserem por um quadrimestre, convidar-vos-ia a entrar e a deliciarem-se com o que encontrarão no interior deste número da revista. Sem menosprezar os demais, remeto-vos para alguns textos que são exemplos do quanto aqui dissemos sobre ela, como algo nobilíssimo e sacro para todos nós: os vários trabalhos sobre as Caldas de S. Jorge e o seu orago; o bem documentado estudo de um sábio historiador sobre as visitações de Pigeiros; as histórias de um especialista aquiliniano acerca da Casa Grande de Romarigães; a última fração do dicionário biográfico de personalidades feirenses, que se vem publicando; a análise literária de alguém bem experiente nesse domínio e que muito tem enriquecido esta publicação. Mas há mais. Há muito mais neste edifício de papel e sabedoria. Façam o favor de entrar.
SUMÁRIO
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Pórtico Anthero Monteiro Mensagem Francisco de Azevedo Brandão Poesia Anthero Monteiro São Jorge na história e no mundo. Missa Festiva em memória de São Jorge Homilia São Jorge 22 de abril de 2012 Dom Carlos Moreira Azevedo Apresentação - Explicação do Monumento Pedro Castro e Silva Bailarina Joaquim Carneiro Discurso de Boas Vindas Jorge Santos Poesia Maria Gracinda Coelho de Sousa Discurso de abertura do evento Joaquim Santos Quinta do Castelo Germano Santos S. Jorge na História e no Mundo = Ao Encontro das Origens = Eugénio dos Santos Poesia Ilda Maria São Jorge, Santo Global Dom Carlos Moreira Azevedo Poesia H. Veiga de Macedo “Que culpa tem ele de ser tão belo e ecumênico?”: notas em torno do culto de São Jorge no Brasil Caio César Boschi Discurso de encerramento António Santos Casa da Vila da Feira em Festa Casa da Vila da Feira Comemorou 59 Anos Sérgio Viana Sessão Solene do 59º aniversário Ernesto Pires de Boaventura O Senhor Dr. Gomes da Costa fez a Apresentação do Orador, Serafim Guimarães Rio de Janeiro, 12 de Julho de 2012 Serafim Guimarães Missa e Almoço Especial de Aniversário Grupo Folclórico Almeida Garrett fez 50 Anos Homenagem ao Senhor Sérgio Viana - LAF - Liga dos Amigos da Feira Poesia Anthero Monteiro A Grande Muralha da China Jorge Augusto Pais de Amaral Dicionário Biográfico de Personalidades Feirenses Francisco de Azevedo Brandão Poesia Noé Oliveira Bernardes Capítulo Primeiro - A Casa Grande de Romarigães - Apresenta-se Manuel de Lima Bastos Poesia Maria Mar A Leitura Maria do Carmo Vieira Poesia António Madureira Texto do II Livro de Visitações de Pigeiros (1850-1873) Domingos Azevedo Moreira Poesia Manuela Correia As duas «Cantigas Medievais” de Manuel Bandeira Maria da Conceição Vilhena Poesia Anaas Reforma antecipada, velhice dobrada Frei Acaribe Postais do Concelho da Feira Ceomar Tranquilo Poesia Manuel de Lima Bastos Os artigos publicados são da responsabilidade científica e ética dos seus autores.
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MENSAGEM Francisco de Azevedo Brandão *
A Feira é um concelho rico em património social, económico e cultural, alicerçado em modelares instituições de solidariedade social, variadas empresas industriais e comerciais, e um vasto manancial de infraestruturas e organismos culturais oficiais e particulares (Feira Viva, viagem medieval, museus, associações de recreio e cultura, sítios históricos e arqueológicos, gastronomia secular e requintada) que deve ser defendido, valorizado e divulgado.
«Villa da Feira - Terra de Santa Maria» ficará nos Anais da História do concelho da Feira como um testemunho fiel e dedicado a tudo quanto de nobre se tem feito ao longo dos séculos neste rincão, banhado pelo Douro e pelo Uíma e tutelado pelo vetusto castelo que, altaneiro, nos lembra o esplendor do passado e nos aponta a alvorada do futuro. Da sua continuidade têm a palavra as entidades oficiais e todos aqueles se orgulham da terra onde nasceram.
Deste valioso e multifacetado património tem sido reportório importante esta revista «Villa da Feira - Terra de Santa Maria», constituindo-se, ela própria, um monumento cultural que deve orgulhar todos os Feirenses que gostam e amam a sua terra e o seu concelho. É no esforço colectivo de todos e de cada um, com o seu contributo como leitor, apoiante e colaborador que esta revista cultural poderá continuar a ser legítimo portavoz de um concelho e de uma região na divulgação da sua História, dos Homens e das Mulheres, seus protagonistas, enfim, de todo um património que legitimamente nos pertence e deve ser preservado. * Licenciado em História pela Universidade do Porto e Bacharel em Filologia Românica pela Universidade de Coimbra. Historiador local, é autor de Anais da História de Espinho, O Associativismo em Espinho, Joaquim Pinto Coelho, um Político de Espinho, O Campo de Aviação de Espinho, O Culto de Nª Sª da Ajuda em Espinho e Manuel Laranjeira, por ele mesmo.
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encontro e desencontro Anthero Monteiro*
certo dia que lhes pareceu perfeito ele veio do lado esquerdo ela apareceu do lado direito depois desse encontro levam-se ainda pela mão um ao outro e nenhum deles suspeita porque nem temem a mútua perda que chegará o dia em que ele sairá pela direita e ela desaparecerá pela esquerda
*Escritor e poeta natural de S. Paio de Oleiros. É autor de vários livros de 15/10/2011
poesia e de ensaio.
São Jorge na história e no mundo. Caldas de S. Jorge, 22 de abril de 2012
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Foto J. M. Costa e Silva
Escultura de António A. Mota. Arquitectura de Pedro Castro e Silva Material Electromecânico de Almerindo Silva Coordenação dos trabalhos de Eng. José Mário Costa Execução da obra de Patrícios, SA Organização de VáLá VáLá Podia Ser Pior, clube de tertúlia com sede em Caldas de S. Jorge
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MISSA FESTIVA EM MEMÓRIA DE SÃO JORGE HOMILIA SÃO JORGE 22 de abril de 2012 Dom Carlos Moreira Azevedo* Vós sois testemunhas de todas estas coisas Somos testemunhas da passagem do medo para o anúncio, somos testemunhas da passagem de uma fé sem saber porquê a uma consciência pessoal. Somos testemunhas da passagem das mãos e pés cravados à liberdade da Ressurreição. Somos testemunhas da leitura unida dos factos desde Moisés, Profetas e salmos aos dias de hoje, como acção do mesmo Deus. Somos testemunhas do arrependimento e do perdão dos pecados. De todas estas coisas e muitas outras somos testemunhas, como São Jorge, mártir do seculo IV. O cristianismo não é uma religião individualista. Convida-nos à celebração comunitária, à manifestação humilde da nossa fé, a um amor mandado por Deus. Sigamos São João para ver três caracteristicas deste modo novo de amar pelo qual São Jorge deu a vida.“Aquele que diz conhecer Deus e não guarda os seus mandamentos é mentiroso” (I Jo.2,4)! A unidade entre conhecer e amar é fundamental. O conhecimento de Deus une-se ao amor. * Delegado-Pontifício Conselho da Cultura.
Não se trata de um conhecimento superior, para iluminados, que necessita de fugir do mundo. Nós, cristãos, ao conhecer Deus, ficamos implicados no testemunho de um amor que abre horizontes na relação com todas as criaturas que Deus ama. Conhecimento e amor ficam claros: «Todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece-O. Aquele que não ama, não conhece a Deus, porque Deus é Amor” (I Jo.4,7-8). Uma segunda característica é que este amor a Deus, não é apenas uma questão de «sentimento»! «Meus filhinhos, não amemos com as palavras e com a língua, mas por obras e em verdade” (I Jo.3,18). O amor é também um acto de vontade! Os sentimentos são volúveis. Num momento sentimos uma coisa, passado uns momentos sentimos outra. O sentimento pode ser uma trampolim inicial, mas não é a totalidade do amor. O amor une o pensamento, o sentimento e a vontade. Em terceiro lugar, o amor não só não é apenas conhecimento, ou sentimento; é um mandamento. Há, por assim dizer, um dever de amar: «Aquele que diz que está em Deus, deve andar como Ele andou» (Jo.2,6); «Jesus deu a vida por nós, e nós devemos dar a nossa Vida, pelos nossos irmãos» (I Jo.3,16); “Aquele que diz conhecer Deus e não guarda os seus mandamentos é mentiroso” (I Jo.2,4)! Somos testemunhas deste mandamento cumprido até ao fim na entrega de Cristo. A este amor se unem especialmente os mártires. Conscientes deste mandamento, obedecem ao dever de
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amar. Isto pode parecer uma afirmação dura de roer, numa cultura que exalta o amor, como um impulso espontâneo, momentâneo quando não instantâneo?! Daí a importância, de nos vincularmos a um dever que dê confiança e estabilidade. Quando se conhece a Deus como apaixonados pelo seu amor não separamos o prazer do dever. Permanecer e resistir, não obstante as adversidades é fonte de alegria. A cultura actual, ao exaltar a liberdade de mudar e a espontaneidade do momento, fragmenta as vidas e desfaz relações. Vejamos, agora, como na vida de São Jorge vence a estabilidade do amor. São Jorge goza de um culto na Palestina como santo António na Europa. O megalo-mártir, como lhe chamam no Oriente foi uma testemunha firme de Cristo. Mostrou-se firme em tantos suplícios e aflições pela graça de Deus que nele habitava, pelo espaço a Deus que consagrava nas suas decisões. A fortaleza da sua vontade arrumava com qualquer medo e nele crescia a esperança. Não era uma esperança baseada no ar das palavras, mas concretizada na caridade criativa e na audácia das atitudes. Tantos como vós, caríssimos irmãos e irmãs das Caldas de S. Jorge, por todo o mundo, como veremos esta tarde, desde o século V recorrem a São Jorge como exemplo de lutador, que não se deixa abater pelas adversidades, trava as batalhas contra a injustiça e a maldade, representadas no dragão, e vai até dar a vida pelos valores que defende.
Igreja Paroquial de Caldas de S. Jorge
Continuemos a ver em São Jorge um modelo de cavaleiro defensor dos débeis, nesta hora difícil que vive Portugal e a humanidade. O nosso país e a nossa Igreja andam tão necessitados de militância firme, tão carentes de audácia para encontrar uma via para um humanismo global, uma consideração planetária da humanidade que vença os autoconsiderados donos do mundo, novos monstros-dragões a sugar as vidas dos pobres, de olhar tacanho para um horizonte com sereno futuro. Anda já no ar a lança para vencer a maldade dos mercados, a incapacidade dos líderes das nações motivarem para um novo estilo de vida, neste momento de grande mudança do planeta. Agarremos, com ambas as mãos, esse instrumento de vitória e unamos esforços para, animados por Cristo Ressuscitado, que fortaleceu S. Jorge, deixarmos a indolência e não permitirmos mais decisões imperialistas, usurpadoras do futuro, venham elas donde vierem. Este exemplo vivo e incansável de realização do dever de amar aos outros faça cada um de nós ir mais longe, ser mais estável, não reduzir à espontaneidade, ao sentimento o mandato de Cristo. Cada um descubra as formas concretas que o amor tem de lhe rasgar as mãos e os pés, de lhe abrir o coração. Porque é nos sinais da entrega de Cristo que reconhecemos hoje o Cristo vivo, Ressuscitado. A paz que nos deseja tem a medida do seu amor.
APRESENTAÇÃO - EXPLICAÇÃO DO MONUMENTO** Pedro Castro e Silva* Ex.mo Sr. Vice-Presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Dr. Emídio Sousa Ex.mo(s) Sr.(s) Vereadores Dr. Celestino Portela e Dr.ª Teresa Vieira Ex.mo Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Caldas de S. Jorge Ex.mo Sr. Bispo D. Carlos Azevedo Ex.mo Sr. Padre António Machado Ex.mo(s) conferencistas Ex.mo Sr. Presidente do Grupo Vá Lá Vá Lá Podia Ser Pior, Jorge Santos Amigos do Grupo VáLá VáLá Podia Ser Pior Minhas Senhoras, Meus Senhores, Foi com enorme satisfação e orgulho que assumi o desafio de esboçar o enquadramento e o desenho geral da renovação e qualificação desta Praça que agora recebe o nome de Praça de S. Jorge. Trata-se de uma estrutura que assinalará, para a * Arquitecto. Câmara Municipal de Santa Maria da Feira. ** Intervenção na Cerimónia de Inauguração do Monumento.
posteridade, a atribuição do nome do santo padroeiro desta terra ao espaço mais central da freguesia. Importa por isso tecer umas simples e breves palavras que consubstanciem a solução encontrada e consolidada por um vasto conjunto de pessoas, empresas e instituições, numa simbiose perfeita daquilo que deve ser o espírito cívico e comunitário ao serviço do desenvolvimento das nossas terras. Trata-se, pois, antes de mais, de uma homenagem a todas as pessoas, a todas as famílias, a todo o povo desta imensa terra que é Caldas de S. Jorge. Formas no espaço. Volumes ao ar livre, linhas rectas e curvas e o ambiente circundante. Cresci contemplando estes cenários. Cenários criados pelo engenho e arte dos homens desta terra e as produzidas pela natureza que nos foi legada. Humberto Eco discutiu, à exaustão, se a Natureza cria ou não objectos de arte. Independentemente da conclusão a que tenha chegado, é lícito reconhecer que é o homem, na sua dimensão contemplativa, que os identifica e enaltece. Antes do acto humano, são apenas matéria inconsciente. Um tal raciocínio antropocêntrico tem a sua explicação virtual: a arte só existe para o homem e para a mulher, e os homens e mulheres não a captam de forma absoluta nem integral, muito menos homogénea, por mais que se oriente a compreensão
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do objecto artístico através de enquadramentos teóricos e históricos. Em certa medida, a contemplação da arte é a edificação de objectos discriminados e o artista alguém que vai erguendo totens à apreciação humana, fazendo transcendentes materiais iniludivelmente efémeros, sublimando matérias essencialmente banais. Porque, em última análise, um objecto de arte, enquanto tal, é apenas material circunstanciado, trazido da sua realidade própria para a realidade alheia, fantasiadora de sentidos, orientadora de novas apreensões, transgressora da imediaticidade das acções comuns. É isso que se pretende. Que este novo espaço seja um local para a apreensão de novos sentidos, de novas formas de comunicação. Um espaço de estar, de reunião. Um local que convida à reflexão. Um local de união… 14
Uma pedra é uma pedra, é uma pedra; uma rosa é uma rosa, apenas uma rosa, como nos ensina Fernando Pessoa. Que outras conotações e significados são possíveis e imagináveis? Todas! Todos! As esculturas são transfigurações alucinadas, tridimensionais, concretas, da criação artística. Nenhuma arte é bela, nenhuma arte é feia, sendo bela ou feia pela nossa capacidade de criá-la e, sobretudo, de contemplá-la, posto que não a fazemos para nós mesmos. Por isso, aquilo que agora aqui apresentamos não é mais do que uma simples e natural reinterpretação de alguém que aqui sempre viveu. Trata-se de um conjunto escultórico de generosas proporções, revestido pela simplicidade e nobreza do granito, composto por uma base rectangular sobre a qual, perpendicularmente, se desenvolve uma outra base, mais pequena, adoçada ao terreno natural, a partir da qual um sistema de repuxos e de iluminação promoverão a animação de todo aquele espaço central da Vila de Caldas de S. Jorge. Trata-se de um desenho simples, de pureza extrema, despretensioso, que pretende apenas realçar a naturalidade e a centralidade daquele local e do objecto primeiro desta iniciativa. Fazer daquela praça, a “porta” de entrada desta
belíssima área envolvente ao Parque das Termas. A partir dessa base, erguem-se duas colunas em pedra onde se apoia a figura central de S. Jorge montado no seu cavalo, celebrizado no célebre combate em que derrota o dragão. As duas colunas, direccionadas ao infinito, simbolizam a firmeza das mãos do homem, numa unidade perfeita com os valores essenciais que podem e devem unir os povos, os novos e velhos, os homens e as mulheres. E a água, essa maravilhosa dádiva da mãe natureza, que nos contemplou particularmente aqui, em Caldas de S. Jorge, como presença constante na celebração da vida. Um conjunto que promove a relação com a terra, de acesso fácil, imediato. Que nos permite a contemplação de S. Jorge de forma directa, numa proximidade real. Conforme poderão verificar num dos extremos do conjunto, esta obra é dedicada “AO POVO DE S. JORGE”.
Meus Senhores, Minhas Senhoras… Um agradecimento a todos quantos confiaram no meu trabalho, nomeadamente ao grupo Vá Lá Vá Podia Ser Pior, a que também me orgulho de pertencer, pelo desafio lançado e por terem tornado possível este dia. Uma palavra especial ao António Santos, pela persistência e dedicação. Ao presidente do Grupo, Jorge Santos, pela sua incansável preocupação para a reunião de consensos e pelo seu gosto e apego à terra que nos viu nascer. Agradeço ainda aos empresários que tornaram possível a execução desta obra, com referência especial aos meus amigos Valdemar Patrício e Almerindo Silva. Ao meu amigo José Mário Costa pela coordenação dos trabalhos. A todos os trabalhadores que nas últimas semanas foram incansáveis, mesmo com condições climatéricas adversas. Às Termas de S. Jorge. Agradeço ainda ao Sr. Presidente da Junta, José Martins, pelo empenho, dedicação e apoio que concedeu à consubstanciação desta obra. E à Câmara Municipal, na pessoa do Sr. Presidente, que desde a primeira hora acreditou no projecto, pela cedência do espaço e por todo o apoio prestado à freguesia de Caldas de S. Jorge.
Deixo-vos com um pequeníssimo excerto do livro “As cidades invisíveis”, de Italo Calvino. Marco Pólo descreve uma ponte, pedra a pedra. - Mas qual é a pedra que sustém a ponte? – pergunta Kublai Kan. - A ponte não é sustida por esta ou por aquela pedra – responde Marco, - mas sim pela linha do arco que elas formam.
Kublai Kan permanece silencioso, reflectindo. Depois acrescenta: - Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa. Pólo responde: - Sem pedras não há arco.
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Grupo Organizador, convidados e a representação simbólica de S. Jorge.
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Bailarina - Aguarela, 2002, por Joaquim Carneiro
DISCURSO DE BOAS VINDAS
Obrigado a todos e aproveitem este dia único em terras de S. Jorge, bem no coração das terras de Santa Maria.
Jorge Santos* Na qualidade de presidente executivo do grupo VáLá VáLá Podia Ser Pior, dou as boas-vindas e agradeço a presença e o apoio de todos para a realização da primeira conferência sobre S. Jorge, subordinada ao tema, S. Jorge na história e no mundo. Em particular agradeço aos nossos ilustres conferencistas, Sua Eminência Reverendíssima, D. Carlos Azevedo, príncipe da igreja católica portuguesa; Prof. Dr. Caio César Boschi, Comendador da Ordem do Infante D. Henrique; Prof. Dr. Eugénio Santos, o nosso mais ilustre conterrâneo e alto comissário para esta conferência. O nosso muito obrigado. Cito Fernando Pessoa quando escreveu: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. E Deus quis, o homem sonhou, nós sonhamos com ele e a obra nasceu! E nasceu bela! magnifica!! espectacular!!! para dignificar S. Jorge santo, S. Jorge povo e S. Jorge terra. Para terminar cito novamente pessoa dizendo: ...e tudo valeu a pena porque a nossa alma não é pequena. *Presidente Executivo do VÁLÁ VÁLÁ PODIA SER PIOR
Caldas S. Jorge, 22 de abril de 2012-08
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AMARRAS Maria Gracinda Coelho de Sousa*
Bebo o silêncio da tarde que se esgota perdida no oceano dos pequenos nadas das coisas não realizadas. Desejos, projectos, fronteiras, entusiasmos, tudo com peso e medida. (Por que não quebrar amarras, em certos momentos da vida?)
Do livro Poesia meu Amor
*Poeta. Escritora. Autora de vários livros, em especial para a infância.
DISCURSO DE ABERTURA DO EVENTO Joaquim Santos* Boa tarde Ilustres conferencistas Ilustres convidados Ilustres mecenas Minhas senhoras e meus senhores Na qualidade de presidente honorário do grupo VáLá VáLá Podia Ser Pior, dou por aberta a 1ª conferência internacional sobre S. Jorge, subordinada ao tema: S. Jorge na história e no mundo Esta é mais uma pequena contribuição que o grupo de que, com muita vaidade e honra, sou presidente honorário, leva a efeito com vista ao engrandecimento e projecção de Caldas de Jorge, a nossa estimada e adorada terra. Desejo a todos uma óptima conferência. Caldas S. Jorge, 22 de abril de 2012
*Presidente Honorário do grupo VáLá VáLá Podia Ser Pior
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QUINTA DO CASTELO
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Ă“leo sobre tela de Germano Santos
S. JORGE NA HISTÓRIA E NO MUNDO = AO ENCONTRO DAS ORIGENS = Eugénio dos Santos* “Não há história sem documentos”, clamavam, em altos brados, os positivistas dos finais do século XIX, insurgindo-se contra todos aqueles que, mesmo sem eles, urdiam narrativas pretensiosas às quais chamavam HISTÓRIA. Em geral, subordinavam os textos aos seus interesses, fossem eles pessoais, locais, nacionais, ou outros. Cerca de 50 anos mais tarde, os próceres da chamada NOVA HISTÓRIA, por meados do século passado, repetiam a mesma afirmação, lembrando que, se ela pretende ser considerada uma ciência, tem que apoiar-se em bases indiscutíveis, criticando os seus próprios fundamentos. Entre esses dois momentos decisivos da consideração, em concreto do conceito de HISTÓRIA como ciência, detectavase uma nuance: Os primeiros entendiam que o documento deveria consistir, basicamente, em textos escritos, embora alargando o seu âmbito a algumas ciências auxiliares, como a arqueologia, a numismática, a paleografia e algumas mais. Os segundos entendiam, e bem, que a noção de documento se alarga a tudo o que tiver a marca do homem, ou que repercuta uma evolução compreensível da natureza. Esta constatação *Professor Catedrático da Faculdade de Letras do Porto. Jubilado. Alto Comissário para a Conferência.
colocar-nos-á de sobreaviso relativamente ao discurso que irá seguir-se sobre S. JORGE. Recorreremos aqui a documentos, claro, mas tomá-los-emos no seu sentido mais amplo. Nada do que puder ser aduzido para respaldar os nossos pontos de vista será desvalorizado ou rejeitado. O leitor perceberá facilmente o nosso fio condutor, quer quando pararmos apenas ao nível dos dados firmes hauridos nas várias áreas do saber, quer quando deles partimos para explicações mais vastas, plausíveis, ou até para sugestões e hipóteses que abrirão caminho à ciência, no futuro. O primeiro documento escrito e conhecido sobre esta terra remonta a 1097, portanto, ao século XI. Será sintomático recordar, desde já, que no ano anterior, isto é, em 1095/1096, o Rei D. Afonso VI, de Leão e Castela, entregara ao seu genro, D. Henrique de Borgonha, pai do nosso primeiro rei, como dote de casamento com sua filha natural, D. Teresa, o Condado Portucalense, núcleo da nossa nacionalidade. Nesse escrito de 1097 se fala de uma vila Caldelas com uma Igreja de S. Jorge. Portanto, mesmo antes da declaração e do reconhecimento da independência de Portugal, já os nossos antepassados sabiam que aqui havia sido erigida uma igreja na qual se venerava o Santo Mártir da Capadócia como seu patrono e que existiam águas quentes (ou Caldelas) à superfície. Ficavam, desse modo, identificados para sempre os seus símbolos maiores, a saber, o Santo Soldado Cavaleiro, de lança em riste, acometendo o terrível dragão, ou o militar de capacete, apeado, de lança e botas, como ainda hoje está
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representado no altar-mor da Igreja Matriz, e as águas quentes, ou termais. A partir de então, estavam colocados no terreno os elementos constitutivos da futura paróquia, aparecendo na documentação Caldelas de São Jorge, São Jorge de Caldelas, ou, a partir de 1985, Caldas de S. Jorge, como hoje de diz. Desde então e até aos nossos dias, trilhou-se um percurso longo de cerca de dez séculos, algo nebuloso, que, na medida do possível e em função dos dados disponíveis, procuraremos evocar, recorrendo às principais achegas provindas de várias áreas do saber, convergindo todas elas numa história mais global, tal como hodiernamente designamos esta ciência. Gostaria de prevenir quem me ouve agora (ou vier a ler no futuro), que me limitarei ao período das origens, o menos conhecido e o mais complexo do ponto de vista documental. Há uma monografia manuscrita, de que é autor o Padre José Inácio da Costa e Silva, de Pigeiros, que paroquiou S. Jorge durante 40 anos, levantando todos os dados que julgou relevantes. Merece ser publicada e, a partir dela, muito se virá a conhecer melhor sobre a terra e as suas gentes. Mas ele quase se não debruça sobre as origens. É por essa razão que eu me limito só a essa problemática e também porque não quero abusar da paciência de quem aqui se deslocou para me ouvir. Geograficamente, esta terra situa-se na província da Beira Baixa, entre a cidade de Aveiro, a cujo distrito pertence, e a do Porto, que é cabeça da sua diocese. Dista cerca de 15 Km do mar e a via principal que une as duas maiores cidades, de Lisboa e do Porto, percorre o seu território na parte poente mais elevada. É constituída por um vale fértil, banhado pelas duas margens do Rio Uíma, no qual outrora se construíram bastantes moinhos e pontes, embora o seu curso não se revele muito acidentado, nem demasiado caudaloso. O seu espaço encontra-se contido entre duas encostas, respectivamente a nascente e a poente, entremeadas por pequenos vales nos seus pontos de habitação mais concentrada, como Arcozelo, Azevedo, Caldelas e Casaldoído, inclinando-se em anfiteatro para a parte mais baixa e apelativa, que é o lugar da Sé, o mais densamente povoado. Abundam as águas, seja pela proximidade do rio, seja pela escorrência das elevações circundantes. Aliás, o nome do rio assumiu, ao longo dos séculos, várias grafias, as quais atestam a sua importância documental e a antiguidade do povoamento das terras adjacentes. O aproveitamento da sua torrente, além
de moinhos em elevado número, proporcionou também a construção de levadas e açudes para rega e, igualmente, para a fabricação de papel, no lugar do Lago. Para unir os interesses de ambas as margens construíram-se várias pontes, sendo a dos Candeídos a mais emblemática1. Apenas uma palavra sobre o seu clima e solo. Como bem anotou o Reverendo Padre Costa e Silva na monografia que, pacientemente, escreveu e para a qual carreou todos os elementos que pôde alcançar, a freguesia apresenta-se frigidíssima no inverno e ardentíssima no verão, por se situar num vale propenso a nevoeiro, a geada e a ventanias. E o Padre Velho, como era conhecido, que aqui viveu mais de quarenta anos (nasceu em 1872, faleceu em 1947 e entrou na freguesia em 1906), afirmava que o seu terreno é fértil e produtivo e, a nosso ver, com razão. Outrora cobria a região uma densa vegetação, sobretudo de carvalhos e castanheiros, modernamente substituídos, em boa parte, por pinheiros, eucaliptos, austrálias, choupos e mimosas. Nos pomares, além das árvores tradicionais, como macieiras, pereiras, laranjeiras, cerejeiras, figueiras, adicionaram-se hodiernamente, os kiwis e uma ou outra planta exótica, como o abacateiro, por exemplo. Em alguns lugares, realce-se o regresso do castanheiro e do carvalho, mas de espécies mais imponentes do que as primitivas. Ninguém conseguiu até hoje apontar os passos mais relevantes para a formação da freguesia (e da paróquia), delimitando-lhe o espaço próprio, isto é, os limites e a época da concretização. Como tantas outras incógnitas do nosso passado colectivo, esta continua um desafio permanente para o qual, geração após geração, iremos sugerindo elementos de resposta. É o que nos ocupará agora. O território de São Jorge foi ocupado, como o das demais freguesias adjacentes, desde tempos imemoriais. Situado num vale fértil, húmido, propício à pastorícia e à agricultura, atraiu, desde muito cedo, seguramente, populações variadas, que as vicissitudes da guerra e da obediência política para aqui foram conduzindo. O espaço compreendido entre o Rio Douro, a norte, e o Vouga, a sul, era habitado por povos ibéricos remotos, que os latinos, quando com eles contactaram, designaram
1 Candeídos, lugar da freguesia de S. Jorge. O topónimo tem todos os aspectos de um nome celta… Bem pode ser que o nosso Candeídos seja um antigo deus ou génio local e que o seu santuário fosse no monte que tem hoje essa designação. Cf. Arlindo de Sousa, Antiguidades do Concelho da Feira, Lancóbriga. Coimbra, 1968, p. 40
por Túrdulos Antigos, Estes, por sua vez, contactaram com os Talabrigenses, cujo epicentro se situaria na zona de Albergaria-A-Velha. Ora, a povoação mais importante desses Túrdulos seria Lancóbriga, um município que exigiu albergar uma força militar romana para garantir a paz na região2. Ela situar-se-ia no Castro de Fiães, adjacente ao limite norte de São Jorge. Deles, contudo, não sabemos praticamente nada. A organização administrativa, fiscal e militar do colonizador romano tê-los-á diluído e absorvido no tecido imperial. Aliás, a presença regular de homens que obedeciam às ordens de Roma marcou fortemente este território, deixando dela traços permanentes. O primeiro e mais aglutinador foi a abertura de uma estrada militar na espinha mais saliente do território que unia Emerita e Conimbriga a Portucale, seguindo para Bracara e Lucus no sentido Sul-Norte. Esta, conhecida como Itinerário de Antonino ligava-se à maior rede de comunicações do Ocidente peninsular, estabelecendo uma ponte entre as províncias da Galécia, um território densamente povoado a norte do Douro e a da Lusitânia, a sul desse rio. Por essa via circulavam os produtos comerciais do norte em direcção aos mercados mediterrânicos que os faziam chegar ao coração do império. As trocas entre o sul e o norte difundiram-se a partir desse eixo viário central e suas derivações, tanto na direcção do mar, como da serra. Essa malha viária permitiu o domínio das populações nativas, tradicionalmente irredutíveis ao domínio alheio e propiciou meios para demarcar circunscrições militares, administrativas e fiscais. O poder romano fez-se sentir fortemente na região e deixou marcas profundas, nos alvores da cristianização das populações. A terra em que se implantaria São Jorge situa-se no tal vale do Rio Uíma, num cruzamento de vários castros da região, como os de Guisande, Romariz, Lobão e Fiães, os quais constituíam também pontos estratégicos de defesa militar. A Via Romana de Antonino permitia ligações ao anterior, como, por exemplo, ao Porto Novo (Canedo), o qual assegurava a ligação por barca à outra margem do Douro, para Guimarães e Braga. Encontrava-se, pois, enquadrada e vigiada por dois marcos fortes do poder imperial, os conhecidos castros romanizados de Fiães e de Romariz. O primeiro, cujos fundamentos antecedem a datação cristã, forneceu moedas que circularam no povoado durante a última metade do século
2 Mattoso, Krus, Andrade (1989) O Castelo e a Feira, p. 118 e segs.
I a.C. e grande número e variedade de outras dos séculos IV e V da nossa era” 3. Isso atesta a força e a centralidade deste núcleo da presença romana no contexto do oeste peninsular, mesmo tendo em conta apenas a quantidade de moedas aí recolhidas (quase um milhar). Em Romariz apareceram igualmente, além das casas do antigo povoado castrejo organizado, várias dezenas de numismas, tanto do período da república, como do império. Elas foram recolhidas nos restos desse Castro, muito antigo, mas que foi romanizado “provavelmente durante o reinado de Augusto”4 e onde as marcas dos seus novos donos abundam. Parece que a maioria dos seus habitantes, contudo, logo que pôde, foi descendo progressivamente do alto cabeço do monte para as zonas mais baixas da planura, onde dispunha de água abundante e de melhores aptidões agrícolas e de pastoreio. Também aí as forças que garantiam a presença romana permaneceram “até finais do século IV, ou, mais provavelmente, até ao colapso do domínio romano na Hispânia5. Mas as marcas antigas que nos atestam as sucessivas etapas da ocupação humana ajudar-nos-ão a perceber idêntico fenómeno de continuidade aqui nesta terra próxima, São Jorge, banhada pelo rio que, aliás, nasce em Duas Igrejas, na Fontuma, ou Fintuma, isto é, fonte do Uima. Ora elas “testemunham uma ocupação contínua do povoado desde, pelo menos, o século VIII a.C.”, ou seja, desde o tempo de produção de “cerâmica de tradição do Bronze Final”. De acordo com o especialista que vimos seguindo, “também foi possível constatar que, praticamente desde os primeiros tempos, este núcleo populacional foi abastecido com bastante regularidade de recipientes cerâmicos de provável origem grega ou púnica, trazidos por comerciantes vindos do sul, ou …por intermediários regionais, sendo aceitável que as ânforas transportariam azeite ou mesmo vinho de origem grega”6. Quer dizer, os arcos de influências a que pertenceram São Jorge e as várias freguesias vizinhas, enquadradas pelos antiquíssimos Castros de Fiães e de Romariz, profundamente romanizados, atestam uma continuidade da presença e da permanência humanas e uma participação nas formas de vida típicas desta região. Isso nos ajudará a melhor entender a vigência
3 Rui Centeno, Moedas Romanas do Castro de Fiães … p. 10/11 4 Idem, O Castro de Romariz … p 15 5 Idem, p. 16 6 Rui Centeno, O Castro de Romariz … p. 35
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de algumas das marcas deixadas pelo poderio organizativo e civilizacional dos colonizadores latinos, sobretudo nas divisões administrativas e fiscais do território, que haverão de sobreviver à queda do seu império. No fim da presença dos agentes do poder romano seguiu-se a destruição e a devastação e ficará outra marca deixada pelas sucessivas passagens e ocupação dos povos germânicos que, do norte, em vagas sucessivas, se foram dirigindo para sul: vândalos, suevos, alanos, visigodos! Ficou, de quase todos eles, a memória e a imagem de salteadores e de saqueadores, de destruidores ferozes, de agentes de atrocidades e de barbárie. Com uma excepção: a ocupação e a notável obra civilizadora dos suevos, cuja capital se situou em Braga. Convertidos ao Cristianismo em meados do século VI e guiados por S. Martinho, depois Bispo de Dume alargaram o seu poder à Galécia e à Lusitânia, chegando a Coimbra e a Lisboa. Os embates frequentes com os seus contemporâneos godos obrigaram-nos a ir vagueando pelo território desta região até se fixarem na antiga Bracara. Destes grupos humanos, oriundos do centro e do norte do continente, poucas marcas chegaram até nós. Há, contudo, alguns dados da época suévica (sécs. V e VI). Sabe-se que nesta região entre Douro e Vouga se situava uma das sete paróquias compreendidas pela diocese de Coimbra (Antunane ou Antuã). A norte situava-se o Portucale Castrum Antiquum, isto é, Gaia7. Alguns traços da influência desses povos persistiram. Percebeu-os e estudou-os o sábio e meticuloso filólogo Padre Domingos Azevedo Moreira, conhecido como o Abade de Pigeiros, falecido em Janeiro de 2011, a quem presto aqui sentida homenagem de admiração e reconhecimento. Das suas eruditíssimas pesquisas resultou sabermos hoje que esses povos do norte deixaram aqui alguns dos seus nomes a marcarem territórios, origem de futuras freguesias. Citarei apenas dois casos emblemáticos, por serem nossos vizinhos: Fiães e Casaldoído, dois topónimos que reflectem a passagem e a estadia dos povos germânicos por aqui. Através dos nomes Fiães conhecidos no país (e no estrangeiro) e após minuciosas análises e comparações, o Pe. Domingos afirma: “Assim um nome pessoal ‘OFFILA’ identificar-se-ia com uma forma toponímica OFIAES (e OUFIAES), depois Fianes / Fiaes.
7 José Mattoso, A Terra de Santa Maria … p. 40
Trata-se duma forma familiar do nome pessoal (W)OFFILA, variante de (V)ULFILA. A forma ULFILA (sem W), mais própria do germânico nórdico, deve ter sido conhecida do vizinho germânico oriental que é o (visi) Godo”. Além disso, a forma WULF que significa lobo, do germânico ULFILANIS, aplicada a Fiães da Feira é paralela com LUPUS (lobo), donde derivou o topónimo Lobão, freguesia também contígua a Fiães e a São Jorge. Isto é, ambas as formas derivam do nome de povoados pertencentes a famílias LOBO. Num, a derivação provém da língua germânica; no outro, da língua latina. Portanto, conclui o nosso filólogo, “Fiães e Lobão não significam ‘Terras de Lobos’, mas terras de pessoas chamadas ‘OFFILA e LOPONE”8. E o mesmo sucedeu com Casaldoído. Depois de enumerar múltiplos casos aduzidos como idênticos, o nosso perito na onomástica portuguesa inclinou-se para a tese de que se trate de um nome pessoal, também germânico (Casal de VLIDI / OLIDI ou HOLITI), isto é, terra da família HOLITI, nome que terá sido transmitido pelos árabes e depois por moçárabes e mudéjares e que foi mantido posteriormente pelos cristãos, como sucedeu na zona feirense, no norte de Portugal e na Galiza”9. Que poderemos nós retirar destes escritos do sapientíssimo filólogo, perito em onomástica? Que estas terras da zona da Feira conservaram algumas marcas fortes dos períodos anteriores à formação da nacionalidade, as quais não terão sido ignoradas na posterior delimitação do território das várias freguesias. Consideremos agora alguns dados mais seguros da história local e nacional. São Jorge integra o aro da Terra de Santa Maria. Segundo José Mattoso, a criação desta deveuse, provavelmente ao rei Afonso III de Leão (866 – 910), num cenário da guerra de reconquista contra os muçulmanos que, vindos do norte de África, entraram na Península Ibérica a partir de 711. Estes, aproveitando fraquezas e conivências de grupos germânicos cristãos, foram conquistando tudo o que se lhes deparava. Esbarraram, porém, no noroeste peninsular, nas Astúrias, donde arrancou a reconquista, através da monarquia asturo-leonesa. É ponto assente entre os autores especializados nesta temática, que este espaço em que nos
8 Pe. Domingos Azevedo Moreira, Ulfilanis Villa, nº. 4, 1998-2002 pp 19 a 47 9 A este propósito, apraz-me recordar que os meus maiores (avô e pai) recordavam que a casa velha e antiga onde eles moravam e eu e os meus irmãos nascemos e outra ao lado, de familiares seus, era conhecida como a Casa dos Mouros.
encontramos, outrora dos antigos TÚRDULOS, se localizava numa zona de fronteira entre cristãos, a norte, e muçulmanos (inimigos da sua fé), a sul. Conviveram eles com alguma tolerância mútua, e até havia conversões de um credo para o outro. Isso, porém, não excluía choques e confrontos de interesses. E os dois campos, de quando em quando, exibiam os seus argumentos: a força das armas e também das suas convicções religiosas e ético-morais. É, pois, muito possível que, neste contexto, os cristãos da terra em que muitos de nós nascemos e nos encontramos, cujos limites podem remontar, como circunscrição civil ou religiosa, ao período romano ou germânico,10 tenham decidido escolher para seu intercessor e protector junto do Deus dos exércitos em que acreditavam, um valentíssimo soldado romano, canonizado no século V, ou seja, ainda recentemente. São Jorge guiálos-ia pelos caminhos da vitória contra os inimigos da fé pela qual ele renunciara às honras e sacrificara a sua vida. Desde quando será possível garantir a sombra desse Santo da Capadócia sobre as gentes desta terra? Ninguém jamais o saberá com rigor. Datará, talvez, desse período da reconquista que, entre os anos de 800 e 900, se tornou mais agressiva e belicista ou, eventualmente, dos tempos imediatamente a seguir, coincidindo com o início das cruzadas. Desde 1070 começaram também a afluir à Península Ibérica os francos, cavaleiros e clérigos, vindos de além Pirinéus, que podem ter trazido o seu culto para cá, ou ajudado a intensificá-lo. No século XI é que é certo que São Jorge era já o patrono desta terra, o que indicia que a devoção e a escolha são anteriores, como é óbvio. Em 1064, Fernando I, o Magno, conquistou Coimbra aos Mouros e pouco depois assistiu-se ao choque entre os representantes do poder eclesiástico por causa dos limites da diocese dessa cidade e da do Porto. O Papa reconheceu a divisão das dioceses em 1115. Porém, o bispo de Coimbra protestou. Ela consumar-se-ia em 1120, a despeito dos continuados protestos do bispo de Coimbra. Ora, a partir de então, o bispo do Porto lançou mão da jurisdição da Terra de Santa Maria que antes pertencia a Coimbra.11 Encontramonos, pois, em pleno século XII, ou seja, no chamado período da territorialização das paróquias, com seus limites estabelecidos e respectivos patronos. Passara-se da fase da paróquia de
10 A monografia de Pigeiros parece prová-lo. 11 José Mattoso, A Terra de Santa Maria – p. 30
filiação, isto é, onde se recebiam os sacramentos, para a da paróquia territorial, ou seja, daquela em que se reside. E, no geral, os seus limites assentam nas antigas divisões romanas, ou, menos provavelmente, germânicas.12 Esses povos do norte, designadamente os godos, ao converteremse ao cristianismo, juntamente com os seus chefes (reis e poderosos), passaram a identificar e a assimilar autoridade civil e religiosa. A simbiose trono / altar remonta a esse período histórico e partiu da iniciativa do poder civil. Por isso mesmo, a reconquista do território peninsular aos mouros incumbia, primeiramente, ao poder civil, mas era também dever dos clérigos. Tornara-se, pois, obrigação dos dois poderes, merecendo, por isso mesmo, a cumplicidade e a bênção do Papa. Ora é do período imediatamente anterior ao desmembramento da diocese de Coimbra que surge o primeiro documento escrito e conhecido sobre São Jorge que, como já referimos, remonta a 1097. Eis o seu conteúdo, em tradução livre: “Cristo. Em nome de Deus, eu PATRINA, da Família ERIZ, decidi por minha livre vontade fazer a Vós CRESCÓNIO, Bispo da Sé de Coimbra, carta de testamento da minha propriedade que tenho na Vila de CALDELAS, aqui em SÃO JORGE, dando-vos daquela igreja duas partes da metade. Ela está implantada sob a sombra defensiva do monte Souto Redondo, no terreno onde corre o rio UMIA (UIMA), no Território Portucalense perto da cividade (castelo) de Santa Maria (da Feira). Damos-vo-la para a Sé de Santa Maria de Coimbra como remédio para a minha alma e do meu marido e filhos, para que a possuais com toda a força e legitimidade e dela possais tirar todo o proveito possível, tanto em relação ao serviço dos homens, como à utilização das águas para rega, moinhos, terras trabalhadas e incultas, com direitos de entrada e de regresso dos montes. Também para que de hoje em diante saiba a própria igreja e herança minha oferecida de direito e para que ela entre no vosso domínio por direito e seja confirmada.
12 Durante o período da reconquista (séc. IX a XII) ordena-se que as terras se mantenham divididas “ per suos terminos antiquos”, ou seja, demarcados como estavam antigamente e o Código Visigótico (séc. VI-VII) diz o mesmo pelas palavras “antiquos terminos et limites sic stare jubemos” (mandamos que os limites se mantenham como estavam). Pe Domingos Azevedo Moreira, Monografia de Pigeiros, p. 14
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Se por acaso alguém disser ou fizer o contrário, não acrediteis, tanto da nossa parte como da nossa família em qualquer coisa que vá contra esta carta e testamento. Não podemos nem queremos que o que decidimos seja posto em causa, mas que aquela igreja herdada e por vós melhorada vos pertença perpetuamente. Feita esta carta de testamento em Maio de 1097. PATRINA ERIZ juntamente com o abade Pedro Anes ruborou o documento. Confirmaram Nuno, Oueko e Rodrigo. Viram (testemunharam) o abade Godinho, Rodrigo Eriz, Erro, Garcia Arcediago. Mendo escreveu.”13 Este documento reveste-se de uma importância crucial para apurarmos algo daquilo que desejamos saber. Este remeterá para o seguinte: está o seu conteúdo directamente ligado ao surgimento da freguesia / paróquia de São Jorge? Claro que sim. Eis as razões principais, resumidamente: 1 – Fala-se da Vila de CALDELAS, o que equivale a afirmarse que se estava em presença de uma aldeia, ou seja, de um espaço delimitado de dimensões mais reduzidas do que uma grande propriedade. Vila, nesse sentido, pode corresponder, grosso modo, àquilo que hoje consideramos uma freguesia (ou parte dela). Consistia numa grande extensão agrícola, delimitada por marcos e onde, em regra, morava o seu dono, ou o seu representante14. 2 – Identifica-se uma Igreja, limitando-a num espaço concreto, situando-a sob o monte Souto Redondo, em território portucalense, perto do Castelo de Santa Maria (da Feira) e no vale do rio Uíma. Será fundamental frisar aqui que a senhora PATRINA ERIZ cede ao bispo de Coimbra, de sua livre vontade, uma igreja dedicada a São Jorge, que é propriedade sua, portanto, privada. Foi ela ou a sua família que a ergueu e, portanto, a igreja é um bem patrimonial que ela doa a um bispo. 3 – Esse bispo CRESCÓNIO não é uma pessoa qualquer. Trata-se de um ex-monge beneditino, que foi Abade de S. Bartolomeu de Tui e que foi designado pelo rei (de Castela e Leão) para dirigir a diocese de Coimbra.
13 Portugaliae Monumenta Historica (D.C.), p.505, n 851. 14 A villa nesse tempo não significava, como hoje, a sede dum concelho…, mas designava uma grande extensão agrícola, uma espécie de fazenda ou colónia agrícola, cujo dono ou senhor morava no seu palatium (mais tarde paaço, hoje paço). Cf. Domingos Moreira, Santa Maria de Pigeiros… p. 13
Mais: o facto de o rei o designar para lá indicia o poder que o norte (antiga Galécia) detinha sobre a região que se encontra a sul do Douro (antiga Lusitânia). Contudo, refira-se ainda um aspecto maior desta problemática. É que o ocidente cristão vivia, precisamente nessa época, a chamada Reforma Gregoriana. Esta consistia em: 1 – Propor uma total separação entre o poder temporal (até agora dominante, desde a conversão dos povos germânicos) e o poder espiritual, emanando este, a partir de então, de Roma. 2 – Afirmar a total autoridade dos bispos no território das suas dioceses sobre todas as estruturas eclesiásticas, o que antes não sucedia. Os bispos e clérigos obedeciam ao poder civil, reis, nobres ou poderosos. Por isso começam os antístites a tentar pôr em marcha instrumentos de poder e de controle sobre as estruturas eclesiásticas anteriormente criadas e que, até aí, lhes escapavam. Cada comunidade geria os seus bens e meios como entendia, sem que o bispo pudesse intervir. Agora, não. Coincidiu isto com um momento de crescimento das estruturas habitacionais, portanto de aumento demográfico e igualmente de estruturas de culto. A criação de uma igreja denota, pois, desenvolvimento e iniciativa. Garante, por si mesma, que uma comunidade pôde ir além dos meios de sobrevivência. Desviou uma parte dos seus recursos para a construção e manutenção de um templo. Tornou-se importante. Por isso mesmo, o bispo agora quer intervir. Além disso, e por causa disso, a igreja condicionou sempre a organização posterior do território. Possuir igreja própria era, portanto, sinal de força e de organização. Mas a Senhora PATRINA afirma que a sua vila de CALDELAS e a Igreja de São Jorge se situam em território portucalense. Na verdade, entre 1064 e 1092, durante o consulado do governador SESNANDO DAVIDES, de Coimbra, este território pertencia à sua diocese. Contudo, em 1095 / 1096 passou a integrar o território do Condado Portucalense. Ou seja, um ou dois anos antes, este território em que se encontram as futuras freguesia e paróquia de São Jorge, que a Senhora PATRINA ERIZ doou a CRESCÓNIO, deixou definitivamente de ligar-se a Coimbra e integrou-se no núcleo do Condado Portucalense.15 15 Queremos agradecer aqui publicamente ao nosso colega da Faculdade de Letras Luís Carlos Amaral, reputadíssimo medievalista, muitos destes dados essenciais.
Convirá referirmo-nos também aqui ao culto de São Jorge nesta terra, muito referido, mas sobre o qual pouco se sabe, com segurança. Nesta matéria seguiremos o pensamento do Pe. Domingos Moreira que, sobre o assunto, e a propósito do topónimo JORGIM, publicou um interessantíssimo estudo, no início de 1962. Parece-nos que os seus pontos de vista se encontram documentadíssimos e, portanto, merecem atenção e o nosso acordo. Segundo ele, na sua estrutura onomástica GEORGIO, (do grego - georgius – lavrador) antecedente de JORGE, é um nome greco-latino, que assumiu entre nós o final ge por influência provençal. Parece-lhe também ser um nome visigodo atribuído a pessoas. Verifica-se igualmente que o culto a São Jorge em Portugal é anterior ao período da reconquista propriamente dita, remontando aos séculos X e XI. Pierre David verificara que ele começara a tornar-se mais alargado no século XI. Porém, já aparece S. Jorge como padroeiro secundário no Mosteiro de Lorvão em 946, e numa abadia da região do rio Dão, em 974. E assim concluiu o erudito Pe. Pierre David, citado pelo Pe. Domingos: “Disto se há-de concluir que vários mártires orientais (e S. Jorge é um deles), apesar de não entrarem no santoral comum, tiveram cedo culto isolado entre Douro e Mondego” Posteriormente, a sua devoção espalhou-se muito. Há, pelo menos, 18 localidades em Portugal e 16, ou mais, em Espanha, que o veneram. E Pierre David concluía ainda que os santos orientais não foram muito bem acolhidos pelas autoridades religiosas (posteriores à reforma gregoriana), mas sim pelos devotos particulares. E o certo é que esse culto de São Jorge aparece mais ligado aos mosteiros, aos núcleos privados de piedade, do que aos bispados. Por outras palavras, o culto a S. Jorge assumia-se mais como uma invocação de escolha local do que indicada, ou proposta, pela autoridade religiosa episcopal. E a razão principal para isso fundamentar-se-ia no carácter bastante lendário da vida do Santo, de que as autoridades eclesiásticas não gostavam muito, mas que agradava ao povo inculto e sedento do maravilhoso, que os próprios mosteiros fomentavam. A partir do século XII e do avanço da reconquista para sul, verifica-se um esbatimento do culto a S. Jorge, que não acompanha a conquista dos territórios para lá do rio Tejo. Em resumo, o culto de São Jorge está difundido sobretudo no norte e também no centro, apresenta características arcaicas, predominantemente populares, o que indicia a sua vetustez. No nosso caso concreto, casa-se perfeitamente com
a ruralidade e a antiguidade desta Vila de que é patrono16. Em conclusão, a partir do conteúdo deste documento, é lícito afirmar que estamos em presença de todos os elementos característicos de uma comunidade organizada, pronta a constituir-se em freguesia ou paróquia, a qualquer momento. Os mais visíveis a destacar podem enumerar-se assim: Uma Vila, ou seja, um espaço relativamente considerável, destacado de uma grande propriedade, isto é, de uma terra como a da Feira. Uma igreja com um Padroeiro, propriedades identificadas através do acto de doação, com cursos de água, onde se podem instalar moinhos e de onde se podem regar os campos, terras lavradas e incultas, entradas e saídas identificadas. Além disso, esta Vila inscrevia-se num território balizado, guardado por pontos fortificados, como o monte Souto Redondo e o castelo (civitas) de Santa Maria, integrando-se tudo no recém-formado Condado Portucalense17. Estes serão os elementos essenciais para o surgimento de uma freguesia civil, inscrita frequentemente nos limites administrativos antigos, deixados pelos romanos e retomados pelos povos germânicos e seus sucessores. No plano religioso, constatou-se que a reforma gregoriana aconselhava (exigia) que os bispos interferissem e controlassem a actividade de todas as igrejas. Do controle destas se passou à de toda a vida religiosa da comunidade, à da paróquia e dos seus executores, isto é, dos clérigos. Estes passaram a assumir um papel cada vez mais preponderante. E as terras a dividirem-se cada vez mais em freguesias, isto é, lugares onde moram os filhos da igreja, e não já em vilas, que eram divisões agrário – administrativas. A reconquista redundou numa guerra em que se combate pela fé cristã contra a fé do Corão. A freguesia surge, assim, como a célula base dessa fé, que se implanta no terreno recuperado do Islão.
16 Pe. Domingos Azevedo Moreira “Jorgim” em O Gaiense de 1 de Fevereiro e 1 de Março de 1962. A este propósito, Arlindo de Sousa escreveu: “Vários factos levam a crer que a freguesia de S. Jorge foi muito habitada em tempos remotos, principalmente pelos romanos, que devem ter utilizado as águas minerais. Diz Justino que os povos da península aprenderam dos romanos o uso dos banhos quentes” Antiguidades do Concelho da Feira, Lancóbriga. Coimbra, 1968, p. 39. O mesmo autor escreveu também: “No seu reinado (de Afonso III, das Astúrias, 860-910) fundaram-se, na região a que se chamou de Santa Maria, os mosteiros de Azevedo e de Sanguedo…”. Cf. P. 34 17 “A villa tinha os seus marcos”. Domingos A. Moreira, Santa Maria de Pigeiros…, p. 14
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São Jorge dispunha, pois, de todos estes instrumentos desde, pelo menos, 1097. Quando se terá tornado paróquia? Ninguém poderá responder com exactidão, por faltarem documentos apodícticos. Tudo indica, porém, que ainda antes da proclamação da independência de Portugal, São Jorge de Caldelas, ou Caldelas de São Jorge já era freguesia e paróquia. Contamo-nos, portanto, entre as mais velhas do reino, com mais de dez séculos de existência efectiva. EUGÉNIO DOS SANTOS (Prof. Cat. Jub. da Univ. do Porto) (Natural de São Jorge – 1937)
Notas Finais 28
Na zona noroeste da Península, nomeadamente, do Tejo e Vouga ao norte da Galiza, aparecem ainda hoje, nos altos de montes, antigas povoações (hoje chamadas Castros) desses povos não apenas romanos, mas sobretudo povos anteriores. Domingos A. Moreira, Santa Maria de Pigeiros da Terra da Feira. Porto, 1968, pág. 9 A este propósito, apraz-me recordar que os meus maiores (avô paterno e pai) recordavam que a casa velha e antiga onde eles moravam e eu e meus irmãos nascemos e outra ao lado, de familiares seus, era conhecida como a Casa dos Mouros.
A monografia de Pigeiros parece prová-lo. Durante o período da reconquista (séc. IX a XII) ordenase que as terras se mantenham divididas “ per suos terminos antiquos”, ou seja, demarcados como estavam antigamente e o Código Visigótico (séc. VI-VII) diz o mesmo pelas palavras “antiquos terminos et limites sic stare jubemos” (mandamos que os limites se mantenham como estavam). Cf. Pe. Domingos A. Moreira, Santa Maria de Pigeiros … 7. 14
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Roteiro do Museu. Convento dos Lóios. Santa Maria da Feira. Roteiro Geral. C.M. Feira, 2008, coord. Rui S. Centeno e Ana José Oliveira.
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Mesa da Conferência: Doutor Caio César Boschi, Dom Carlos Azevedo, Doutor Eugénio Santos, Joaquim Santos e Jorge Santos.
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“PARADA NÃO” Ilda Maria*
Ai esta ansiedade Não me deixa sossegar um só instante! Esta vontade de ir não sei aonde, De andar, de não parar! Não! acorrentada, não. Eu não suporto! Minhas ânsias, meu frémito De ir de porto em porto, De lugar em lugar… Oh não, nunca parar Que minh’alma não quer! Meu coração é grande, é ansioso De jovem, de mulher, é caprichoso E de mãe sobretudo… Ficar aqui parada, Não! Deus não permita, Não posso, eu não suporto, Tenho dentro de mim Um novo porto, Um novo rumo a achar!... 3 – 4 – 81
*Poeta Faleceu em 20/07/1981
SÃO JORGE, SANTO GLOBAL
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Dom Carlos Moreira Azevedo*
São Jorge, como símbolo do bem resultante de uma opção livre na luta contra a maldade, enquanto permanente experiência humana, percorre uma aventura que as lendas envolvem em autêntico romance. São Jorge como São Miguel são emblemas da bondade de quem luta contra os males da humanidade e a liberta da opressão2. Por vezes o nome do santo mártir aponta uma virtude. Neste caso a origem do nome, já discutida na Legenda áurea3, significa: “trabalhador da terra”.
1 DESCHAMPS, P. - La légende de St. G. et les combats des Croisés dans les peintures murales du Moyen-age, in Monuments et memoires. 44 (1950), pp. 109-123, tavv. 12-15; PILLA, Eugénio – São Jorge na sua maravilhosa lenda. Lisboa : Paulistas, 1962; S JORGE e o dragão: lenda popular. Ilustr. por Horacio Elena. 2 ed. Porto: ASA, 1997 (1ª 1994). Mais importante: SAN GIORGIO e il Mediterraneo. Atti del II Colloquio internazionale per il XVII Centenario. Roma, 28-30 novembre 2003. Città del Vaticano, P. I. Acc. Virtuosi al Pantheon, 2004. 2 Cf. DELEHAYE, H. - Les légendes grecques des saints militaires, Paris 1909, p. 45-76. CUMONT, F. - Les plus anciennes légendes de saint Georges. Revue de l’histoire des religions. 114 (1936). 3 Geos (terra) e orge (cultivar), o que significa o que cultiva a terra; gerar (sagrado) e gyon (combate), por ter lutado com o dragão; gerar e gion (areia); gero (peregrino), gir (exactidão) e us (conselheiro). * Delegado-Pontifício Conselho da Cultura.
1. Da passio primitiva às narrativas do século XIII A sua legenda primitiva foi denunciada como apócrifa no século V porque do seu martírio não havia narração autêntica. A passio Georgii é considerada como obra apócrifa pelo Decretum gelasianum (496). No século V, o culto de São Jorge tinha chegado ao Império Romano do Ocidente. Em 494, Jorge foi adotado como santo pelo Papa Gelásio I, considerado entre aqueles “cujos nomes são justamente reverenciados entre os homens, mas cujos atos só são conhecidos para [Deus]”. A passio legendária tem como mais antiga redação o palimpsesto grego 954 da Biblioteca Nacional de Vienna, publicada por Detlefsen em 1858 e por ele datada dos inícios do séc. V, e talvez seja a elencada no referido Decretum gelasianum. É graças a testemunhos estranhos à Passio, com novas redações e outras narrações a acrescentar sucessivos detalhes à lenda, que encontramos dados biográficos fantasiosos. Homilias, sermões e laudationes fazem eco das passiones gregas e depois latinas desde o período das cruzadas.4 A passio 4 Cf. elencos em BHG , vol. 1, p.212-213, n.669-691, ed. In BHL, vol. 1, p. 502-507. Supll 143-146. A estes devem acrescentar-se textos sucessivamente encontrados, tais como: Miracula S. Georgii. Ed. B. Aufhauser. Lipsia 1913; Passio em dois cod. da Ambrosiana ( sec. XI e XII, ed. A. Saba. Aevum 7 (1933) 3-22; ACTA S. Georgii, contidas no cod. Papiraceo Grego do sec. VII-VIII, Ed. L. CASSON; E. L. HETTICH – Excavations at Nessana, vol. 2, Literary papyri. Princeton, 1950, p. 123-142. Ver LADANZA, Mario – San Giorgio nell’agiografia latina. In San Giorgio e il Mediterraneo. Atti del II Colloquio internazionale per il XVII Centenario. Roma, 28-30 novembre 2003. Città del Vaticano, 2004, p. 77-96.
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é traduzida do grego em latim, copta, arménio, etiópico, árabe. Aí se recolhem dados sem qualquer fundamento sólido. Uma das passio mais antigas à qual recorreram vários autores é a contida no cod. Vat. Gr. 1660, de 916, conhecida como relato de Pasicrato, traduzida em latim por Lippomano. Desta dependem o panegirico de André de Creta (+767) e o Menológio de Metafraste (ca 964), o sermão de S. Pedro Damião, do século XI (PL 144, col. 567-572). Outras redações paralelas e interligadas segundo os nomes referidos por Delahaye (p. 45) foram estudados por K. Krumbacher e A. Ehrhard, em 19115. Material notável publicado desde 1675 nas Acta SS.6 Sem pretensão histórica, a narrativa hagiográfica mostra fantasia sobretudo nas torturas, nas três ressurreições, na descrição detalhada dos suplícios. Estes contos populares reforçavam a fé na ressurreição dos corpos, atestavam a força da providência divina, o carácter intercessor dos santos mártires, taumaturgos fecundos. Alguns autores consideram como segunda legenda a que data ainda do século X e na qual São Jorge aparece como tribuno do exército imperial, nobre e rico, natural da Capadócia e martirizado no tempo de Diocleciano.7 A terceira variante do mito de São Jorge encontra-se na Legenda áurea, coletânea de Jacopo da Varazze (12361298), com o acrescento do dragão e da princesa. Opera uma tentativa de colocar bases para a historicidade, mas conduzido pelo sincretismo medieval ainda aumenta com novas interpolações as versões anteriores. O imaginário das cruzadas concedeu a São Jorge um papel essencial na animação da luta contra o mal, em visão claramente maniqueísta, mas apta a suscitar energia nas peregrinações armadas. 2. Construção biográfica Apresento uma biografia resultante das diversas versões, tomando uma opção quando são divergentes.
5 KRUMBACHER, K.; EHRHARD, A. - Der heilige Georg in der griechischen Uberlieterung, Monaco 1911, BHL, Suppl., nn. 3363-401d, Comm. Martyr. Hieron. pp. 205-209. 6 Acta SS Aprilis Vol. 3, 1738, p. 101-165. 7 SANTOS, Georgina Silva dos - Oficio e sangue: a Irmandade de S. Jorge e a Inquisição na Lisboa moderna. Lisboa: Colibri, 2005,p.39.
São Jorge nasceu de uma família cristã nobre no final do século terceiro, entre cerca de 275 e 285, na Lídia (Palestina), conhecida até ao século XIII como cidade de São Jorge.8 O pai Gerôncio era um oficial do exército romano da Capadócia e a mãe Policronia era da Palestina. Jorge foi criado no ambiente cristão. Com 14 anos perdeu o pai, alguns anos mais tarde, a mãe. Decidiu, então, ir para Nicomédia, a cidade imperial da época, e apresentar-se ao Imperador Diocleciano9 para uma carreira militar. Diocleciano que conhecia o excelente soldado que tinha sido o seu pai, integrou-o no exército. Jorge foi promovido ao posto de Tribunus e colocado ao serviço da guarda imperial em Nicomédia. Diocleciano emitiu um édito segundo o qual cada soldado cristão no exército devia ser preso e todos os outros soldados deviam oferecer um sacrifício aos deuses. Jorge opôs-se com coragem, desgostando o Imperador que perdia um bom soldado. Frente aos seus colegas soldados e tribunos ele manifestou-se cristão e declarou sua adoração a Cristo. Diocleciano tentou oferecer-lhe dinheiro, terra e escravos. Jorge nada aceitou como troca da sua fé. A confusão com o tribuno que rasgou o édito de Galério contra os cristãos da Nicomédia, segundo a narração de Eusébio (Hist. Eccl. 8,5: PG 20, col. 749-752), é impossível ainda que referida nas hagiografias. Antes da execução, Jorge deu a sua riqueza aos pobres e preparou-se. A fantasia dos hagiógrafos insere episódios espantosos e inacreditáveis. Aquando da perseguição movida pelo imperador Diocleciano e Maximiano, Jorge, ao ver alguns cristãos a ceder à pressão, proclama corajosamente: “todos os deuses dos gentios são demónios. Só o Senhor fez os céus”. É então torturado: rasgam-lhe o corpo com garras de ferro, acendem tochas nas costas ou penduram-no de cabeça para baixo sobre braseiro, e esfregam as feridas com sal. De noite aparece-lhe Cristo para o confortar. A visão de Cristo, referida por algumas fontes, promete-lhe sete anos de tormentos, três vezes a morte e a respetiva ressurreição.
8 Ver AQUILINA, Giorgio – San Giorgio, il santo della Palestina. In SAN GIORGIO e il Mediterraneo. Città del Vaticano: P. I. Accademia B. A. L. dei Virtuosi al Pantheon, 2004, p. 21-40. 9 Para algumas fontes, consideradas menos atendíveis, seria perante Daciano, imperador da Pérsia, e situado em época anterior, 284 (cf. RUINART, seguindo o Chronicon alexandinum seu paschale : PG 96, col.680). A interpretação de Daciano por Diocleciano, e por isso em 303, deve-se a um feroz Daciano, perseguidor implacável dos cristãos, com nome muito difundido no Oriente, no século V.
Como resiste, o perseguidor opta por dar-lhe veneno preparado por um feiticeiro ou mago Atanásio. Jorge faz o sinal da cruz sobre a mistela e bebe-a toda sem se sentir mal. O feiticeiro vai piorando a droga, mas sem produzir efeito. O juiz manda o feiticeiro ser decapitado por incompetência. Noutra versão o Mago converte-se e é martirizado. No dia seguinte, é submetido a uma roda com espadas de dois gumes e pregos a toda a volta. Mas o aparelho desfazse e Jorge escapa ileso. Acrescentam alguns que Jorge, por três vezes, ressuscita deste suplício. A versão de Diocleciano informa que o magister militum Anatólio com todos os soldados se converte e todos são executados. Daciano manda então lançá-lo numa frigideira de chumbo derretido. Feito o sinal da cruz entra no banho a não é afetado. A pedido do rei Tranquilino ressuscita dezassete pessoas mortas há 467 anos, batiza-as a fá-las desaparecer. O governador muda de estratégia e resolve optar pela lisonja e propõe-lhe sacrificar aos deuses. Jorge parece aceitar. Animado finalmente Daciano convoca toda a cidade para assinalar esta “conversão” exemplar. Jorge concentrase em oração e pede a Deus que destrua o templo de modo que o povo se convertesse. Dizem algumas narrações que dá um sopro e abate os ídolos. Desesperado, Daciano manda-o chamar e insulta-o. Diz a sua mulher Alexandra que vai morrer de desgosto. Esta repreende o marido e anuncia-lhe que se vai fazer cristã. Daciano manda-a dependurar pelos cabelos e flagelar. Morre com batismo de sangue. Finalmente, Jorge é atado à garupa de um cavalo a arrastado pela cidade para ser decapitado.10 Para prolongar ainda mais a luta quando Daciano regressava ao palácio, vindo do lugar à execução, um raio atingiu-o e consumiu-o, com setenta e dois reis. Jorge foi executado por decapitação, em Nicomédia, em 23 de Abril de 303. Promete proteção a quem venerar as suas relíquias e deixa-se decapitar. Seu corpo foi levado para Lida, onde os cristãos logo o honraram como um mártir.11
10 Ocorre o ano 287, segundo Legenda áurea, 249. Também Vicente de Beauvais – Speculum historiale, cita o episódio como a Legenda Aurea. 11 O calendário de Beda aponta como lugar do padecimento a Pérsia, na cidade de Diospolis, antes Leda, próximo de Jope. Outros referem que padeceu no tempo de Diocleciano e Maximiano, outros no tempo de Diocleciano, quando Daciano era governador dos persas.
O episódio de São Jorge e o Dragão aparece na Idade média e é divulgado no tempo dos cruzados.12 Já o trovador Wace (1170 ca) e sobretudo Jacopo da Varazze (+1293) fixam a figura do Cavaleiro heróico inspirador da arte e alimento da fantasia popular.13 A lenda surgiu, ao que parece quando uma imagem de Constantino, calcando um dragão, foi encontrada em Jerusalém pelos cruzados.14 O dragão representava o “inimigo do género humano”. As ligações com mitos gregos de Perseu elevaram o heróico mártir a símbolo de Cristo, que vence o mal. Robertson15 sugeriu que o motivo do dragão foi transferido para a lenda de Jorge de seu santo soldado companheiro, São Teodoro Tiro,16 trazido pelos cruzados, incluído no género de Romance (Loomis17; Whatley). Os cruzados lançaram a ideia do santo guerreiro, querendo simbolizar na morte do dragão a vitória sobre o Islão. Com Ricardo Coração de Leão (1157-1199), São Jorge torna-se protetor dos cavaleiros. Com os normandos o culto adquire difusão na Inglaterra e, mais tarde, Eduardo III instituía a Ordem da Jarreteira, Ordem dos Cavaleiros de São Jorge. Que conta o romance? A Legenda áurea18 apresenta o desenrolar da estória em forma de diálogo. Na cidade de Silene (talvez moderna Cirene, na Líbia ou cidade de Lida, para outros) havia um lago habitado por enorme dragão, com sopro nauseabundo que empestava a localidade. Constituía verdadeiro terror dos habitantes que para acalmar a sua fúria se viam obrigados a, todos os dias, lhe darem como alimento as suas ovelhas. Quando esgotaram
12 WHATLEY, E. Gordon; Thompson, Anne B.; Upchurch, Robert K., editor - St. George and the Dragon in the South English Legendary (East Midland Revision, c. 1400) Originally published in Saints’ Lives in Middle English Collections, 2004; ANTONUCCI, G. - La leggenda di S. Giorgio e del drago. Emporium. 76 (1932) 79-89. 13 O mais antigo texto narrativo conhecido sobrevivente é um texto georgiano do século XI (Whatley). 14 Referida por Eusébio – Vita Constantini, 3,3: PG 20, col. 1058: “ salutare signum capiti suo superpositum imperator draconem (inimicum generis humani) telis per medium ventris confixum sub suis pedibus … depingi voluit”. Também por André de Creta ( PG 97, col. 1189) no XVII panegirico a S. Jorge: “Beneditus Dominus qui non dedit nos in praedam dentibus eorum” (Salmo 123,6). 15 Vida dos santos medievais, pp 51-52. 16 Cf. GIANELLI, C. - Epigrammi di Teodoro Prodromo in onore dei santi megalomartiri Teodoro, Giorgio e Demetrio. In Studi in onore di Luigi Castiglioni. Firenze 1960, p. 333-371. 17 LOOMIS, C. Grant - White Magic, An Introduction to the Folklore of Christian Legend. Cambridge: Medieval Society of America, 1948. 18 JACOPO DA VORAGINE – Legenda Aurea. Porto: Civilização, 2004, vol.1, 244-249.
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os animais, começaram a entregar-lhe os rapazes e raparigas da terra, tirados à sorte. Um dia calhou a vez à filha do Rei. Este ofereceu até metade do reino, pedindo à cidade que lhe livrasse a filha a tal fim. O povo reagiu mal, porque estava dorido pela perda de tantos filhos e filhas. O Rei pediu oito dias para chorar a filha. Terminado o tempo solicitado ao Rei despediu-se da filha com grande lamento e pranto. Mas eis que passou pela cidade o cavaleiro Jorge, que viu a jovem a chorar. Indagou da razão do seu sofrimento e compadecido promete ajudá-la, em nome de Cristo. Jorge montou o cavalo e quando o dragão levantou a cabeça atirou-lhe uma lança de modo a feri-lo gravemente. Pediu à filha do Rei, a princesa, que amarrasse o seu cinto ao pescoço da perigosa besta e começou a puxá-lo, como se de um cão se tratasse. Quatro juntas de bois arrastaram o dragão para fora da cidade. Jorge distribui pelos pobres a recompensa prometida pelo Rei, mas pede o batismo aos habitantes. O Rei comprometiase a cuidar das Igrejas, honrar os sacerdotes, ouvir o ofício divino e atender os pobres. Após ato tão heróico, vem uma sofrida paixão e martírio em 30319, com os suplícios espantosos, segundo os esquemas literários habituais. O motivo do dragão foi combinado com o padronizado na Passio Georgii por Vicente de Beauvais, no enciclopédico Speculum historale e, em seguida, Jacobus de Voragine, que garantiu sua popularidade, no final da Idade Média, como um assunto literário e pictórico. Há aqui uma fonte de inspiração nos feitos de São Marcelo de Paris, que também enfrenta o dragão, como narra Venâncio Fortunato em 576.20 Nos romances medievais, a lança com que São Jorge matou o dragão foi chamada de Ascalon, em homenagem à cidade de Ashkelon, em Israel . Estas histórias fabulosas podem comparar-se com as de Perseu e Andrómeda, que por sua vez se inspira no Horus egípcio, representado a cavalo, a vencer um crocodilo. Afirma Réau que S. Jorge “é a réplica cristã de Horus, vencedor de Set”.21 A história tem raízes que antecedem o cristianismo. Exemplos como Sabazios, o pai do céu, que geralmente era representado cavalgando a
19 RÉAU, L. – Iconografia de los santos, vol.2/4, p. 153-162. 20 Cf. SANTOS – Oficio e sangue, p. 43. 21 Há no Museu do Louvre uma cena do deus Horus, purificador do Nilo, cavaleiro, com cabeça de falco e vestido em uniforme romano, a esmagar um crocodilo entre as patas do cavalo.
cavalo, e Zeus na derrota de Tifão o Titan na mitologia grega, juntamente com exemplos de tradições germânicas e védica, levaram uma série de historiadores a sugerir que Jorge é uma versão cristianizada de divindades mais antigas na cultura indo-europeia. As lutas dos cristãos na Capadócia encontram em S. Jorge um símbolo. A princesa salva do dragão era a Igreja, arrancada da perseguição por Constantino. Também se pode considerar o dragão uma personificação do mar e por isso o matam junto à água. Santo Ambrósio louva as atitudes de São Jorge, a partir da legenda do seu martírio. Finalmente uma breve referencia às relíquias22. Narra São Gregório de Tours (m. 594)23 que quando as relíquias de São Jorge eram levadas, foram hospedadas numa capela. Mas quando queriam partir na manhã tiveram de deixar ali parte dessas relíquias. Recorda a trasladação a Limoges e a Le Mans. Em Roma existe o crânio desde o século VIII24. Pedro da Marca hispânica refere a trasladação a Hispânia das relíquias de São Jorge e São Aurélio.25 O conde Roberto de Flandres, em 1110 levou a Ferrara um braço de São Jorge, doando-o à condessa Matilde, que o entregou à catedral dedicada ao santo em 1135.26 Em 1462, um outro braço de São Jorge foi acolhido com pompa em Veneza.27 3. Expansão do culto A Igreja oriental considera-o “megalomártir”, o grande mártir.28 Atingiu uma veneração popular enorme, como veremos. Em Lydda (Diospoli), na Palestina, era venerado o seu túmulo, como é descrito pelo diácono Teodosio Perigeta (ca. 530)29; ou por Antonino da Piacenza (ca. 570)30; e por
22 Ver VALLE, L. - Le reliquie di s. Giorgio, Pavia 1903. 23 Miracolorum liber, I, CI (ed. T. Ruinart, in PL 71, coll. 792-93). 24 Em 1600 foi transferida uma parte a Ferrara 25 Marca Hispanica, Paris 1688, col. 357 26 BERTONI, G.- La fondazione della cattedrale di Ferrara e l’iscrizione del 1135. In La cattedrale di Ferrara, Verona 1937, pp. 129-137. 27 DAMERINI, G. - L’isola e il cenobio di S. Giorgio Maggiore, Venezia 1956, pp. 95 sgg., 136 28 Cf. BORELLI, S. - II Megalomartire S. Giorgio, Napoli 1902 (sem crítica histórica, mas com recolha de abundante material). 29 De situ terrae sanctae, in Itinera Hierosolimitana: CSEL, 39, Vienna 1898, p. 139: «in Diospolim, ubi sanctus Georgius martyrizatus est, ibi et corpus eius est et multa mirabilia fiunt» 30 Itinerarium, ibid., p. 176.
Adamnano (ca.670).31 Os restos da basílica cemiterial são ainda hoje visíveis32 e são atribuídos por alguns a uma construção constantiniana ou mais provavelmente justinianeia, mas de qualquer modo com datação próxima da data da morte do santo. Além disso, uma epígrafe grega, encontrada em Eraclea de Bataneia e datada por Delehaye de 368, fala de uma “casa dos santos e triunfantes Jorge e companheiros”, ou seja uma igreja dedicada ao santo, algum decénio após a sua morte. A história de Eusébio de Cesareia menciona uma igreja construída em Lida durante o reinado de Constantino I (306337), consagrada a “um homem da mais alta distinção”. O nome do patrono não foi divulgado, mas, mais tarde, foi atribuída a São Jorge. A igreja foi destruída em 1010, mas foi reconstruída e dedicada a São Jorge pelos cruzados. Conquistada Jafa e a vizinha Lydda, os cruzados vão reconstruir uma basílica cemiterial incendiada pelo califa Hakom, oitenta anos antes. Em 1191, e durante a Terceira Cruzada (11891192), a igreja foi novamente destruída pelas forças do sultão Saladino. Uma nova igreja foi erguida em 1872 e ainda está de pé. Durante o século IV a veneração de Jorge espalhou-se da Palestina através do Líbano para o resto do Império Romano do Oriente, embora o mártir não seja mencionado no Breviarium siríaco33. Em Jerusalém existia no século VI um mosteiro com igreja dedicada a São Jorge, como atesta epígrafe coeva.34 Em Jericó, foi dedicado um mosteiro a São Jorge, no século VI.35 Em Zorava, na Traconitide, uma inscrição de 515 narra a aparição de S. Jorge a João, filho de Diomede.36 A Festa de São Jorge é celebrada pelos cristãos palestinos, e mesmo por muitos muçulmanos, especialmente nas áreas em torno a Belém, onde se acredita ter vivido em sua infância. Casas de cristãos podem ser identificadas com uma imagem de pedra gravada do santo (conhecido como Jiries Mar) na frente de suas casas para sua proteção. Na cidade de Beit Jala, a oeste de Belém está, na praça principal da cidade, uma estátua de São Jorge esculpida em pedra representando o santo em seu cavalo, enquanto luta contra o dragão. Há também uma cidade chamada al31 De Locis sanctis, III, 4, ibid., pp. 288-94. 32 BALDI, D. - Guida di Terra Santa. Gerusalemme 1953, pp. 332-33 33 BUTLER, Alban - Butler’s Lives of the Saints. Liturgical Press, 2003. vol. 2, pp. 148–150. 34 Cf. PERROT, J. – Syria. 27(1950) 194-196.. 35 Cf. ABEL, P. – Revue Biblique. 8 (1911) 286-289. 36 Cf. DELEHAYE, H. – Les Origines du culte des martyrs. Paris, 1912, p. 86.
Khader em sua honra, onde existe um mosteiro do século XVI conhecido como o Mosteiro de São Jorge. No Qelt Wadi perto de Jericó fica o Mosteiro de São Jorge. Da Palestina passou a Constantinopla, onde era venerado num orfanotrófio. Em Beirute adquire grande devoção após a vitória dos cruzados. São Jorge é o santo padroeiro de Beirute, Líbano. Muitas baías em todo o Líbano são chamadas de São Jorge, em especial a de Beirute. Aí se acredita ser o local onde o dragão morava e onde ele foi morto.37 Um antigo ícone de São Jorge na Catedral Ortodoxa Grega em Beirute é uma grande atração para os crentes: ortodoxos gregos, coptas, católicos, maronitas e muçulmanos, há muitos séculos.38 Também no Iraque eram abundantes as igrejas dedicadas a São Jorge.39 Através do Egito, chega à Etiópia o conhecimento dos seus milagres.40 Na Itália o culto a São Jorge é difundido largamente.41 Em Nápoles, nos inícios do século V, o bispo Severo fundou a basílica de S. Jorge Maior. Em Roma, Belisário (ca 527) entrega à proteção do santo a porta de S. Sebastião e aos dois santos é dedicada a Igreja de S. Jorge do Velabro, onde é transferido o crânio encontrado pelo Papa Zacarias (Lib. Pont., vol.1, p.434). Em Ravena desde o século VI existia uma igreja junto do túmulo de Teodorico, como atesta a biografia do bispo Agnello (m.570): “similiter et ecclesiam beati Georgii reconciliavit temporibus Basilii juniores”42. Outra igreja dedicada ao mártir, “S. Georgii de porticibus”, encontrase na Regio Caesarum. O culto também chega a Ferrara (ca. 657) sendo escolhido como padroeiro da cidade. As relíquias serão transportadas para a nova catedral em 1110-1135. Em Cornate (Milão) o rei Cuniberto (678-688) dedicou a S. Jorge uma igreja43. 37 No Líbano, São Jorge é cultuado por ter limpo a sua lança numa caverna com enorme rochedo correndo na encosta e com vista para a bela baía de Jounieh. Outros argumentam que é na Baía de Tabarja. As águas de ambas as cavernas se acredita terem poderes miraculosos para a cura de crianças doentes. 38 Cf. ASTRUC, C. – Saint Georges à Beyrouth. Analecta Bollandiana. 77 (1959) 54-62. 39 Cf. FIEY, J.-M. – Moussoul chrétienne. Beiruth 1959, p. 105. 40 Cf. ARRAS, V. – Miraculorum S. Gregorii megalomartyris collectio altera. CSChO 138.139. Louvain 1953. IDEM – La Collectio éthiopienne des miracles de S. Georges. In ATTI del Convegno internazionale di Studi Etiopici. Roma: Acad. Naz. Dei Lincei, 1960, p. 273-284. 41 Cf. FUSCO, Roberto – Il culto di San Giorgio nella tradizione liturgica romana dell’Italia Medioevale. In San Giorgio e il Mediterraneo. Atti del II Colloquio internazionale per il XVII Centenario. Roma, 28-30 novembre 2003. Città del Vaticano, 2004, p. 61-75. 42 Codez pontificalis Ecclesiae Ravennatis. In RIS, vol.2, 3, p.217 43 Cf. MARCORA, C. – Il messale di Civate. Civate 1958, p.38
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Clodoveu, rei dos francos nos inícios do século VI, dedicou um mosteiro a São Jorge e S. Germano de Paris (m. 576) difundiu o seu culto. Em Mogúncia, segundo testemunho de Venâncio Fortunato (m.ca. 600), que canta o mártir em cinco dísticos, já lhe era dedicada uma basílica no século VI.44 Entra, antes ainda do século XII, como defensor em Limburgo, em Praga. A Alemanha já no século XI, graças a Henrique II, lhe dedica igrejas (Bamberg). Seria o padroeiro dos cavaleiros da Ordem teutónica. Na Inglaterra, a devoção ao mártir palestinense data da época anglo-saxã, mas o culto atinge desenvolvimento com a conquista normanda (séc. XI), quando as igrejas dedicadas ao santo se multiplicam. O maior sucesso e expansão no Ocidente viriam pela adoção dos cruzados da Terra Santa. Os cristãos estavam para ser derrotados em 1089. Diz a Legenda áurea que “Na história de Antioquia lê-se que quando os cristãos iam cercar Jerusalém, um jovem belíssimo apareceu a um sacerdote. Disse que era São Jorge, chefe dos cristãos, aconselhou que levassem as suas relíquias consigo para Jerusalém a fim de que estivesse com eles”. (p. 249) A tomada de Jerusalém seria acompanhada pela figura de São Jorge, armado de branco, tendo por distintivo uma cruz vermelha. Seria esta ligação a integrar São Jorge na vida religiosa e medieval. A partir das cruzadas São Jorge foi considerado o paladino e modelo dos cavaleiros virtuosos. As novelas de cavalaria divulgaram a sua legenda. Não podemos deixar de ver o episódios de São Jorge a da princesa libertada projetada no Orlando Furioso de Ludovico Ariosto, nas personagens de Ruggiero e Angelica. A Itália45 adota-o como protetor das cidades marítimas como Veneza e Génova.46 Igualmente Barcelona. No século XV o teatro litúrgico inclui nos seus dramas ou mistérios o tema de São Jorge (Ludus draconis). Nessas encenações com grande impacto popular, um anjo entregava um escudo a São Jorge. Ordens militares de cavalaria de São Jorge foram estabelecidas em Aragão (1201), Ordem de Calatrava, Génova, Hungria, e por Frederico III.47 44 Cf VENANCIO FORTUNATO – Carm. 2,16: PL 88, col.107. 45 GROSSO, O. - San Giorgio nell’arte e nel cuore dei popoli. Milano 1962; TOSCHI, P. - La leggenda di s. Giorgio nei canti popolari italiani. Firenze 1964. 46 Também Verona e Roma o escolhem. 47 FOX, David Scott - Saint George: the saint with three faces. Kensal Press,
A popularidade de São Jorge no Ocidente e a conquista de largo espaço na imaginação medieval conduziu à elevação oficial de sua festa para um duplex festum no Conselho da igreja em 1415, na data associada ao seu martírio, 23 de abril. O sacramentário Leonino48, com fontes que chegam ao século V, contém textos da missa de S. Jorge mártir, lidas na estação que ocorria no Velabro. O mais tardio Sacramentário gregoriano, dos séculos VII-VIII,49 já parece ser influenciado pelas passiones cheias de imaginação. Hoje a festa foi reduzida de grau por falta de elementos históricos fidedignos.50 Houve ampla liberdade na escolha do dia da comemoração, através da época medieval e início da Inglaterra moderna. É claro testemunho do carácter popular e local do culto de São Jorge. Criaram-se confrarias sob a proteção de Jorge, e procedeu-se à dedicação de uma igreja local. Quando a Reforma na Inglaterra restringe severamente os dias dos santos no calendário, o Dia de São Jorge foi um dos feriados que continuou a ser observado. Outros recorriam à sua proteção como os lavradores, pela significação do nome grego: trabalhador da terra. Também os tratadores de cavalos. Há igualmente invocação de São Jorge contra serpentes venenosas, contra a lepra, a peste, a sífilis. Nos países eslavos também defende das bruxas. A partir do século XVI o seu culto decaiu, porque o espírito de cavalaria medieval se extinguia. 4. Culto em Portugal As primeiras notícias, que nos chegaram, são anteriores à nacionalidade. Só para a diocese do Porto encontrámos três referências do século XI: 1059: para Várzea que passou de Braga para o Porto em 1882; 1077 para Moreira da Maia e 1097 para Caldas de S. Jorge51. Há 18 freguesias que o escolheram como orago. Influenciado pelos soldados ingleses da Reconquista, Afonso Henriques entregou à proteção de São Jorge a igreja erguida em 1149, junto da Sé, entre a futura Rua do Limoeiro
1983, 59-63 e 98-123. Mais recentemente: VASCONCELOS, Frazão de – A ordem contantiniana de S. Jorge, 1996. 48 Ed. L. C. Mohlberg, p. 16. 49 Ed. H. A. Wilson, p. 27. 50 AAS, 52 [1960], pp. 690, 706 51 MOREIRA, Domingos Azevedo – Freguesias da Diocese do Porto. Vol. 1, p. 149, vol. 2 fasc R-V, p. 54, 96. Também cita para S. Jorge de Vizela, com documento de 1214 ( p. 116).
e a Rua do Barão, que seria paróquia no tempo do Bispo de Lisboa, D. Gilberto.52 A devoção enraizou-se porque D. Sancho I legou ao santo em testamento o próprio cavalo e D. Afonso IV adotava-o para grito de guerra contra os mouros.53 Em Aljubarrota o monarca português sentiu-se “protegido por um laudel bordado com palavras verdes cercando escudos de S. Jorge, enquanto Nun’Alvares […] prometendo à virgem um templo ao pé de Ourém e a S. Jorge outro, ali mesmo no lugar onde tinha os joelhos”54. Os castelhanos avançaram invocando Castela e Santiago. Aos berros os portugueses respondiam “avante, S. Jorge, S. Jorge, avante, que eu sou rei de Portugal! E os portugueses venceram a dragão castelhano! Santiago perdeu o seu posto de intercessor para os litígios de Aljubarrota. Marcou-se uma identidade divergente na mudança de protetor. A nova dinastia de Avis daria largo espaço a São Jorge fazendo-o “Defensor e Protetor do Reino”. A partir do século XIV (1387), a imagem dos santos adquiriu destaque na procissão do Corpus Christi. A imagem montada a cavalo conquistou lugar saliente em muitas terras portuguesas integrando o séquito de devoção eucarística.55 O nome de São Jorge é associado a mosteiros56 e castelos. O Castelo de São Jorge em Lisboa e Castelo de São Jorge da Mina ligam-se à toponímia de entrepostos marítimos portugueses. No próprio arquipélago dos Açores, conquistado entre 1427-1432, se dá o nome a uma das ilhas. D. Afonso V e D. João II prosseguiram a favorecer a devoção. Na Batalha do Toro (1476) lá se implora São Jorge. Vi menção a festas de S. Jorge em: Cercal, BrunhósSoure57, Valdeira (Pombal)58, Escapães59, Riba de Aves, S. Jorge de Arróios60, Porto Godinho, Casal de Bacelos, Eira Pedrinha – Mealhada (Coimbra)61
52 Ver ANACLETO, Pedro Garcia – A freguesia de São Jorge de Arroios da Cidade de Lisboa. Revista Municipal 85 (1960) 15-42. 53 Ver COSTA. Rodrigo Dias – A Paróquia de São Jorge da cidade de Lisboa. Lisboa 1939, p. 18-20. 54 Cf. SANTOS – Oficio e sangue, p. 63-64. 55 Cf. SANTOS – Oficio e sangue, p. 78-100. 56 Ver SARAIVA, Tania Andrada e – O mosteiro de São Jorge. Coimbra 2000. Policopiado. 57 Que se venera na sua capela em Brunhós (Registos, liv. 1,186). 58 Que se venera na capela de Valdeira, freguesia de Pombal ( Registos, liv.1, 186). 59 Que se venera na sua capela em Escapães Dores f. 1860 (Registos, Vol. 1,101) 60 POVOAS, H. Godinho C.; VAZ, Luis – Historia do património escultórico em Arroios. Lisboa: Junta de Freguesia, 1992. 61 Liv. 1,101 (CHAVES - Registos de santos, p. 78-79, est. V). O registo ins-
O Agilogio lusitano refere festa a São Jorge em Povos de Samil.62 Na Biblioteca Nacional conservam-se dois sermões dedicados ao santo: um de 1638 de Tomás Aranha e outro de 1698 de Manuel Pires Dourado. 5. Culto de São Jorge pelo mundo63 Depois do que ficou dito sobre as origens do culto na Palestina e da primeira expansão, percorramos o que se passa ainda até à atualidade. Seria a Inglaterra64 a projetar São Jorge no máximo culto. A mais antiga referência ao mártir palestino deve-se a Beda (ca. 672 ou 673 - 27 de maio de 735). Aparece entre os mártires, com uma igreja em Fordington, Dorset, que é mencionada no testamento de Alfredo, o Grande. Ricardo I durante a terceira Cruzada diz ter visto o santo com brilhante armadura guiar a armada cristã. Com Henrique III, a partir de 1222 no Sínodo de Oxford o santo é nacionalizado. Dia de São Jorge será festa no reino da Inglaterra. Teria desembarcado, no estreito do mar da Irlanda, e entrado ao serviço de Ricardo I. Eduardo III introduz o grito de guerra. Tornou-se o patrono da Ordem da Jarreteira, instituída por Eduardo III em 1349. É orago de quase duas centenas de Igrejas. O cronista Froissart narra a invocação inglesa de São Jorge como um grito de guerra em várias ocasiões durante a Guerra dos Cem Anos. Na sua ascensão como um santo nacional, Jorge foi ajudado a partir de Thomas Becket, em Canterbury: “Por isso, numerosos santuários foram estabelecidos durante o século XV”. Muriel C. McClendon65 escreveu “não se tornou intimamente identificado com uma determinada profissão ou com a cura de uma doença específica”. Ainda hoje os anglicanos conservam a festa e a bandeira da Inglaterra mostra a cruz vermelha em campo branco. Os vestígios do culto de São Jorge antecedem a conquista normanda, no século IX, tal como é testemunhado pela liturgia utilizada na Catedral de Durham, no século X, no martirológio anglo-saxão, e nas igrejas dedicadas a São Jorge em Fordingham, Dorset, Thetford, Southwark e Doncaster.
creve: Milagrosa imagem de S. Jorge M. que se venera na sua capella em Eira Pedrinha) Lith A. Costa. 62 CARDOSO, Jorge - Agiologio lusitano. vol.2, p. 691. 63 Ver http://www.newworldencyclopedia.org/entry/Saint_George. 64 GOOD, Jonathan - The Cult of Saint George in Medieval England. Woodbridge, Suffolk: The Boydell Press. 2009. 65 McCLENDON, Muriel C. - A Moveable Feast: Saint George’s Day Celebrations and Religious Change in Early Modern England. The Journal of British Studies 38 (1)(January 1999) 6-10.
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No século XVI, William Shakespeare coloca São Jorge na consciência nacional, na sua peça Henrique V, em que as tropas inglesas se reuniram com o grito de “Deus por Harry, Inglaterra e São Jorge”, e Edmund Spenser incluí São Jorge (Cavaleiro da Cruz Vermelha) como uma figura central, no seu poema épico A Rainha das Fadas. Com o renascimento do nacionalismo escocês e galês, tem havido um interesse renovado na Inglaterra por São Jorge, cuja memória havia sido suspensa durante muitos anos. O Dia de São Jorge é celebrado cada ano em Londres com uma celebração gerida pela Greater London Authority e pelo prefeito de Londres. A cidade de Salisbury mantém um concurso anual do Dia de São Jorge, cujas origens podem remontar ao século XIII. São Jorge é também um dos santos padroeiros das ilhas mediterrâneas de Malta e Gozo. Em batalha entre malteses e mouros, São Jorge foi visto com São Paulo e Santa Ágata, protegendo o povo maltês. Duas paróquias são dedicadas a São Jorge. Além de ser o patrono de Vitória, onde existe uma esplêndida basílica dedicada a ele, São Jorge é o protetor da ilha de Gozo. Ele também é o santo padroeiro da aldeia de Qormi. Muitas igrejas nas ilhas maltesas, têm também altares dedicados a este santo. A Cruz de São Jorge foi concedida a toda a ilha de Malta em virtude da coragem e resistência durante a Segunda Guerra Mundial. Desde aquela época (15 de abril de 1942), a cruz de Jorge apareceu na bandeira de Malta. São Jorge é padroeiro da Geórgia e o santo mais venerado.66 Um geógrafo do século XVIII, georgiano e historiador, Vakhushti Bagrationi contou 365 igrejas ortodoxas na Geórgia com o nome de São Jorge. De facto, há muitas igrejas na Geórgia com o nome do Mosteiro de São Alaverdi que é um dos maiores. A Igreja Ortodoxa Georgiana comemora o dia de São Jorge duas vezes por ano, em 6 de maio (23 de abril) e a 23 de novembro. Na Geórgia, a festa em 23 de novembro é unida a São Nino da Capadócia, que na hagiografia da Geórgia é um parente de São Jorge, por trazer o cristianismo para os georgianos no século IV. Esta festa é exclusiva para a Geórgia e é o dia do martírio de São Jorge. Há também muitas tradições folclóricas, iconográficas e literárias em contos populares. Ele é um dos mais importantes santos cristãos nas igrejas
66 GABIDZASHVILI, Enriko - Saint George: In Ancient Georgian Literature. Armazi – 89: Tbilisi, Georgia. 1991.
ortodoxas. Moscovo tem, provavelmente, mais esculturas de São Jorge matando o dragão que qualquer outra cidade. A iconografia aparece no brasão de armas de Moscovo. Os russos modernos interpretam-no como ícone da luta contra nós mesmos e entre nós. O dragão nunca morre, mas o santo persistiu com seu cavalo (vontade e apoio das pessoas) e sua lança (meios técnicos). Este é um símbolo útil para tecnocratas modernos. O dia de São Jorge é um feriado religioso sérvio, celebrado em 23 de abril pelo calendário juliano (6 de maio pelo calendário gregoriano). Este feriado está ligado à tradição de celebrar o início da primavera. O dia é comemorado em toda a diáspora sérvia, mas principalmente na Sérvia, Montenegro e Bósnia e Herzegovina. São Jorge é considerado desde há séculos pelos búlgaros como “libertador dos cativos, e defensor do médico, do pobre, do doente.” Há feriado público no Dia de São Jorge, em 6 de maio. Um ritual comum é o de preparar e comer um cordeiro inteiro. São Jorge é o santo padroeiro dos agricultores e pastores.67 Em Mons, na Bélgica, São Jorge é homenageado na primavera, no domingo da Santíssima Trindade. No centro da cidade, é representado por 46 atores uma reconstituição da luta entre São Jorge e o dragão. Segundo a tradição, os moradores de Mons tentam obter um pedaço do dragão durante a luta, porque dá sorte durante um ano. Este evento faz parte do Ducasse anual e é frequentado por milhares de pessoas. Em Espanha, São Jorge também passou a ser considerado como o santo patrono da Coroa de Aragão medieval. Hoje, São Jorge é o santo padroeiro de Aragão e da Catalunha, bem como o santo padroeiro das historicamente importantes cidades espanholas, como Cáceres ou Alcoy. A 23 de abril ocorre um dos feriados mais respeitados da Catalunha, onde é tradicional dar um presente à pessoa amada; rosas vermelhas, para as mulheres, e livros para os homens. Em Aragão, é um feriado nacional. É também feriado em Castela e Leão, onde o dia comemora a derrota na Revolta dos Comuneros. Se quisermos ainda referir dois locais com ligações a Portugal, mencionamos Índia e Brasil. Igrejas e santuários 67 Dia de São Jorge é também o “Dia do Exército Búlgaro” (oficializada com o decreto de Knyaz Alexander da Bulgária em 9 de janeiro de 1880), e os desfiles são organizados na capital Sofia para apresentar o melhor do equipamento do exército.
dedicados a São Jorge encontram-se em toda a Índia, especialmente entre os cristãos indianos que praticam a Ortodoxia e o catolicismo Orientais. Particularmente na região de Kerala, nas margens do rio Kodoor, no distrito de Kottayam, na cidade de Puthupally é famoso desde o século XVII o São Jorge da Igreja Ortodoxa síria. A festa, no mês de maio, atrai peregrinos da região de Kerala. É um dos centros de mais famosa peregrinação a São Jorge, na Índia. Nas tradições religiosas, exportadas por Portugal, do candomblé afro-brasileiro e da Umbanda, Ogum é frequentemente identificado com São Jorge, em muitas regiões do Brasil, sendo amplamente comemorado pelos seguidores de ambas as religiões. A devoção popular a São Jorge é muito forte no Rio de Janeiro, onde rivaliza em popularidade com o padroeiro São Sebastião. Tanto num caso como em outro são feriados locais. Detalhadamente nos falará o Prof. Caio
Boschi. Concluindo São Jorge, exemplo global de coragem no empenhamento pelas boas causas, no desejo de escolher as vias mais claras e comunitárias de partilha e de paixão que vencem o individualismo. A luta hoje está em discernir entre necessário e supérfluo, entre ídolos que cortam a liberdade e um ser transcendente que quer homens e mulheres livres. Parabéns pela iniciativa ao Grupo Vá lá vá lá: melhor não pude fazer!
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MENSAGEM E LEI H. Veiga de Macedo*
És vagido na trova medieval, Voo incerto na prosa do Cronista; Cresces na Descoberta quinhentista, E és fulgor na Epopeia triunfal. Em Vieira, és veemência, és caudal, Que arrasta, que convence, que conquista; Graça subtil no Mestre romancista, E, em “Os Sertões”, pujança tropical. És ternura e amor em mil poemas, E, nas horas históricas supremas, A clara voz, a imperativa Lei. És Mensagem de vida e de beleza, És Evangelho, Língua Portuguesa, - Ó Verbo feito comunhão, e Grei! Praia de Barequeçaba - São Sebastião 17 de Janeiro de 1981
* Poeta. Foi Ministro de Portugal. Faleceu em 25-01-2005
“QUE CULPA TEM ELE DE SER TÃO BELO E ECUMÊNICO?”: notas em torno do culto de São Jorge no Brasil Caio César Boschi*
Para se compreender a disseminação e as formas de culto a São Jorge no Brasil Colonial é necessário reter que a missionação naquela realidade se concretizou por meio da atuação de bispos, de clérigos seculares e de congregações religiosas. Em paralelo e complementarmente, pela (atu)ação de confrarias, irmandades e ordens terceiras. Nos primórdios da colonização portuguesa, alguns indícios poderiam fazer supor que o culto ao santo guerreiro viria a se disseminar. Aponte-se que o povoamento e a exploração econômica do litoral de São Paulo se inauguraram, dentre outros empreendimentos, pelo mais importante deles, o engenho dos Erasmos, ou melhor, engenho de São Jorge, cuja criação, em 1533, fora determinada por Martim Afonso de Sousa. No ano seguinte, o escrivão da Corte, Jorge de Figueiredo Corrêa, recebia carta régia de doação da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. A denominação se atribuiu também à localidade que, muito tempo depois, se consagraria como espaço nuclear da produção cacaueira e cenário onde se revelaram personagens dos mais expressivos da literatura ficcional brasileira, frutos
da pena criativa de um Jorge, Amado, autor merecidamente festejado neste ano de centenário de seu nascimento.1 Ao longo do período colonial brasileiro, o número de igrejas ou de altares devotados a São Jorge foi diminuto, contrastando com o destaque e a proeminência sócio-política que o santo guerreiro evidenciava nas procissões de Corpus Christi. Mesmo aí, cumpre salientar, desde logo, forte marca racial: a reverência ao santo era expressão de brancos, aos quais se somavam, muito secundariamente, mulatos. Equivale dizer: do ponto de vista étnico, compunha cenário oposto àquele que hoje se observa no Brasil. A primeira procissão de Corpus Christi acontecida no território português da América teve lugar em Salvador da Bahia, à época da criação da cidade, conforme noticiou o célebre Manuel da Nóbrega ao provincial jesuíta, em Lisboa. No dia 20 de junho de 1549, diz ele, uma “procissão se fez (...), mui solene, em que jogou toda a artilharia que estava na cerca, as ruas muito enramadas, houve danças e invenções à maneira de Portugal”.2
1 Dentre as obras de Jorge Amado que têm a atual cidade de São Jorge de Ilhéus como ambiente, recordem-se: Cacau (1922), Suor (1934), Terras do Sem Fim (1943), São Jorge dos Ilhéus (1944) e Gabriela, cravo e canela (1958). 2 Cf. NÓBREGA, Manuel da. Cartas do Brasil e mais escritos. Anot. e pref. de Serafim Leite. Coimbra: Por ordem da Universidade, 1955. p. 41.
* Professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas. Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
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Assim, grosso modo, a devoção a São Jorge no contexto do Brasil Colonial deve ser analisada a partir de dois parâmetros: o culto àquele santo efetuado pelas entidades que congregavam oficiais mecânicos ferreiros e sangradores, isto é, os praticantes de “ofícios de ferro e fogo”; e a reverência que a ele se exprimia nas procissões anuais de Corpus Christi, cerimônia oficial por excelência, preparada e financiada pelos senados das câmaras locais. Nessas ocasiões, momentos essencialmente festivos, espetaculares, musicais e lúdicos, a imagem de São Jorge, geralmente em madeira, conduzida por garbosos cavalos, ocupava lugar primordial nos séquitos, ou seja, se situava logo na frente do cortejo, imediatamente a seguir ao Santíssimo Sacramento. Para tais solenidades, eram esmerados os cuidados e os preparativos. No século XVIII, por exemplo, no Rio de Janeiro, a despeito do seu corpo social participar das celebrações alusivas ao Corpo de Deus, a Irmandade de São Jorge indicava ao senado da câmara irmãos oficiais mecânicos que escolhera especialmente para, usando trajes apropriados, qual guarda de honra, ladearem e acompanharem a imagem do santo no cortejo processional. Na América portuguesa, essas cerimônias, desde sempre, se constituíram em “ritualização da representação real”. Consistiam-se em oportunidades para a divinização do monarca. O corpo de Deus era o corpo do rei, este emblemado pelo santo guerreiro, a simbolizar o domínio da coroa portuguesa extensivamente àquele território do continente americano. Por isso, o caráter obrigatório com que a população, em geral, e a Irmandade de São Jorge, em particular - se houvesse na localidade -, eram instadas a participar do evento. São Jorge, patrono e protetor do reino lusitano, se impunha, pois, como símbolo do poder real ao universo dos súditos. A evocação do santo se mesclava e se fundia com a memorização do patriotismo português. A festa religiosa simultaneamente se configurava como fator de integração social, de instrumento simbólico de submissão dos colonos, em última análise, de afirmação da monarquia portuguesa.3
3 Cf. SANTOS, Beatriz Catão Cruz. O Corpo de Deus na América; a festa de Corpus Christi nas cidades da América portuguesa, século XVIII. São Paulo: Annablume, 2005. Veja-se também: MORAIS FILHO, Mello. Corpus Christi: a procissão do Rio de Janeiro. Festas e tradições populares do Brasil. Belo Horizonte-Rio de Janeiro: Itatiaia, 1999. p. 160-164.
Excluídas essas oportunidades e espaços, poder-se-ia dizer que o preito a São Jorge no Brasil Colonial se mostrou rarefeito. Não foi promovido pelas ordens religiosas que ali atuaram. Pouco inspirou os colonos no que respeita à formação de associações leigas que tinham o santo como orago. Naquele contexto, a divindade guerreira não apadrinhou os militares. Estes, no geral, optaram por ter Santo Antônio, o Senhor dos Passos ou Santa Efigênia como protetores. Se em nossos dias e desde o Dezenove, a veneração a São Jorge no Brasil se faz presente principalmente junto à população negra, no período colonial as santidades evocadas pelos negros eram, fundamentalmente, Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, São Elesbão. Pouco ou quase nenhum São Jorge. Praticamente, inexistiu freguesia, nas mais diversas capitanias, na qual São Jorge era o patrono. Mesmo na Bahia, onde um dos primitivos povoados, Ilhéus, absorveu-o à sua denominação no momento em que foi guindada à condição de vila. A freguesia local, porém, esteve sob a égide da Vera Cruz.4 À época da emancipação política do Brasil, a concomitância de diferentes perspectivas referentemente ao culto de São Jorge, ou seja, aquele praticado pelos senhores brancos e o vivido pela população negra escrava era realidade flagrante. Jacques Arago, nos relatos de sua viagem de circunavegação, publicados em Paris, em 1822, surpreendeu-se ao ver a procissão de São Jorge sair do palácio real do Rio de Janeiro, em simbólica representação da manutenção da ordem social, culto religioso praticado pelos poderosos senhores brancos contraditoriamente à devoção ao santo cometida em cabanas de escravos e por malungos de confrarias vinculadas à cultura religiosa africana.5 4 “Se Ogum se identifica com Santo Antônio em Salvador é porque essa cidade foi a capital do Brasil durante o período colonial e porque esse santo, que defendeu vigorosamente a cidade quando das invasões estrangeiras e que depois foi recompensado pela outorga do título de tenente, estava bem apto a simbolizar o espírito da guerra. Em compensação, no Rio de Janeiro, onde o ressentimento do negro contra o branco sempre foi mais forte e onde São Jorge colocado sobre um cavalo de verdade participava das procissões de Corpus Christi em meio ao entusiasmo da multidão, os negros quiseram ver seu São Jorge negro patrono dos assassinos e dos capoeiras, dos defensores da causa negra, donde a ligação de Ogum mais a São Jorge que a Santo Antônio”. Cf. BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil; contribuição a uma sociologia das interpenetrações de civilizações. Trad. de M. E. Capellato e O. Krähenbühl. São Paulo: Pioneira; Edusp, 1971. v. 2, p. 371. 5 Cf. FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos, decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. 4 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968. v. 2, p. 509.
Fosse como fosse, no correr do tempo, verifica-se que a popularidade e a difusão do culto de São Jorge no Brasil não são obras das instâncias institucionais da Igreja Católica ou das associações leigas a ela adstritas. Introduzido por estes meios, gradativamente ele se sincretiza, desse modo se expande e fortemente se incorpora à cultura popular. Porém, não se deduza daí que tenha havido ou que haja originalidade ou exclusividade de sincretismo no espaço brasileiro. Anteriormente ao tráfico negreiro da Época Moderna, as formas sincretistas já se faziam notar em África.6 Com efeito, nos dias atuais, nas procissões que homenageiam São Jorge no Brasil são notórias as diferenças e discrepâncias, de toda natureza, existentes entre os que delas participam. Encontro dos diferentes, mas em harmonia. Eventos que se pautam pela simbiose do catolicismo transplantado pelo colonizador europeu com os valores culturais portados pelo negro escravo africano. Todavia, anote-se que, se a assimilação do negro africano à religião católica do branco se fez notar desde as primeiras levas de africanos recambiados para a América, as formas sincréticas que o culto de São Jorge assumiu no Brasil não retroagem à fase colonial. Quando nada porque não caberia a explicação equivocada de qualificá-las como historicamente finalistas. A comprovar a assertiva está a escassez de confrarias e irmandades que, naquela altura, tinham o santo guerreiro como patrono ou orago. Demais, ao se investigar o momento da emergência dos candomblés e terreiros de umbanda, o recuo temporal se situa já no século XIX, excluindo, pois, as três centúrias do domínio colonial português. Nesse sentido, esclareça-se que a reverência a São Jorge no Brasil, em perspectiva sincrética, é realidade assinalada no século XIX, sobretudo quando as práticas umbandistas passaram a se incorporar, de maneira não velada, à paisagem social do país, em especial no interior das grandes cidades nas quais a população africana derramou mais fortemente suas raízes e seus valores culturais. Em outros termos, porquanto
6 “[...] os deuses, sejam voduns ou orixás, acham-se em estreita correspondência com os santos católicos. A máscara colonial ficou pregada no deus negro, mesmo onde não existe identificação entre um e outro. Esse fenômeno, aliás, chamado de sincretismo, nada tem de genuinamente brasileiro e é mesmo anterior ao tráfico negreiro. A evangelização dos negros principiara na África um século ou dois antes do povoamento do Brasil, e alguns espíritos daomeanos ou de negros do Congo já tinham sido identificados com santos católicos.” Cf. BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil, v. 2, p. 361.
sincrético, tal culto relaciona-se diretamente com o processo de urbanização brasileiro, em especial o que se manifesta a partir do início do século XX. Em visão panorâmica e superficial da hagiografia brasileira de nossos dias, encontramos São Jorge a possuir galardões oficiais, sendo reverenciado formalmente em alguns estados da federação ou, ainda, integrando o que há de especialmente típico nas transgressões legais perpetradas pela população. Desse modo, São Jorge foi instituído patrono da arma da cavalaria do exército brasileiro. No Rio de Janeiro, apesar de o santo e padroeiro oficial da cidade ser São Sebastião, presente inclusive no nome da urbe, o 23 de abril, devotado a São Jorge, desde o ano de 2001, é feriado municipal, condição que, por decreto governamental, em 2008, se ampliou a todo o território do Estado do Rio de Janeiro. Ademais, ali, São Jorge é o protetor dos bombeiros e dos policiais. Curiosamente, o santo, de forma indireta, se insere na contravenção. No popularíssimo e democrático jogo do bicho, os seus promotores, no dia 23 de abril, recusam fezinhas, ou seja, apostas no cavalo! Não fosse São Jorge o padroeiro dos bicheiros. Na Bahia, ele é o protetor oficial do estado. No Rio de Janeiro, a veneração a São Jorge é fenômeno religioso singular e de destaque, que integra as mais expressivas heterogeneidades e antagonismos, que não distingue e nem se identifica com nenhuma raça, cor ou classe social. É culto que, para certo olhar, resvala para a carnavalização.7 Em São Paulo, o santo é padroeiro do Sport Club Corinthians Paulista, agremiação desportiva mais popular e com o maior número de adeptos, cujo estádio de futebol, não por acaso, se localiza no Parque de São Jorge. Clube que tem como torcida organizada mais expressiva os chamados Gaviões da Fiel, de onde provêm os integrantes de escola de samba que anima os carnavais paulistanos. Todavia, no âmbito formal da Igreja Católica a realidade é distinta. Na Arquidiocese de Belo Horizonte, por exemplo, que abrange 28 cidades e é composta por cerca de 270 paróquias, apenas uma tem São Jorge como padroeiro. Na cidadesede da instituição, São Jorge recebe loas em determinado
7 Sobre este último aspecto, recorra-se, dentre outros, a: SAHR, Wolf Dietrich. O mundo de São Jorge e Ogum: contribuição para uma geografia da religiosidade sincrética. In: ROSENDAHL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato, orgs. Religião, identidade e território. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2011.
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templo, a igreja do Sagrado Coração de Jesus dos siríacos católicos, chamada igreja dos turcos, posto que praticante do rito siríaco. Diga-se: catolicismo ortodoxo. Refira-se ainda e en passant que, em Minas Gerais, ao contrário do que se observa em Portugal e na Bahia, Jorge é onomástico quase que exclusivamente identificado com descendentes de sírios, turcos e libaneses. A constatação parece não se limitar àquele estado, pois, segundo pesquisa recente, Jorge não se inclui na lista dos 30 nomes próprios (de pessoas) mais comuns no Brasil.8 Já no tocante à toponímia brasileira, embora o país possua mais de 5.500 municípios, apenas quatro têm São Jorge como patrono: no Paraná, São Jorge do Oeste, São Jorge do Ivaí e São Jorge do Patrocínio; no Rio Grande do Sul, São Jorge, tout court. Como se vê, todas elas se localizam na região Sul do país, conquanto São Jorge seja mais fortemente reverenciado no Rio de Janeiro, na Bahia e em Recife.9 Sendo, como referido, escassas as paróquias brasileiras que têm São Jorge como santo protetor por excelência, ele, no entanto, angaria forte popularidade. Suas imagens, quadros ou estátuas proliferam e se acham presentes em lugares completamente díspares, de nichos em domicílios a armários de estabelecimentos comerciais. A salientar também que o culto a São Jorge no Brasil, fenômeno essencialmente urbano, predomina em regiões onde houve ou há forte concentração dos denominados afrodescendentes. Significa, assim, que, apesar de pertencente aos quadros da hagiografia católica, a devoção ao santo guerreiro se vincula muito mais às religiões afro-brasileiras. Aliás, sobretudo na modernidade, a percepção deste culto torna-se incompreensível se dissociada da percepção da natureza fundadora do negro africano na cultura do país. Em bom rigor, pode-se dizer que São Jorge é cultuado por todos os segmentos sociais, pese embora sua considerável predominância entre as camadas mais pobres e populares. Daí, sua acentuada capilaridade, em especial, nas cidades do Rio de Janeiro e de Salvador (Bahia) e áreas que lhes são
8 Cf. Cartórios associados website. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/ Nomes e sobrenomes portugueses>. Acesso em : 20 abr. 2012 9 A não esquecer que, na cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, a despeito da grande maioria da população ser branca, há expressiva presença negra, de origem africana. Basta assinalar que a festa em homenagem a São Jorge é a segunda maior festa religiosa local. A notar que as mencionadas quatro municipalidades foram criadas no século XX e são de pequeno porte, para as dimensões brasileiras. Nenhuma delas alcança 10.000 habitantes.
adjacentes. Seu estudo não pode ser realizado exclusivamente à luz dos parâmetros interpretativos da História do Cristianismo ou da ritualística, da doutrina e da liturgia católicas. Porque envolve outras crenças, nomeadamente a umbanda e o candomblé, não pode prescindir de análise interdisciplinar. De resto, o estudo da reverência em questão deve se pautar tanto na etnologia e, no âmbito dela, nas análises das formas de aculturação e dos sincretismos religiosos, bem assim na apreensão e na prática das formas híbridas da religiosidade. O tema, como se vê, é vasto e complexo. Para restringir estas curtas anotações a um único aspecto, mencione-se que boa parte dos brasileiros entende que santo é sinônimo de orixá. Em outras palavras, “o santo católico é um orixá para os umbandistas. Por isso, um católico ao rezar na igreja a um santo está rezando a um orixá! Esta conexão do orixá com o santo correspondente começa a se estender a tudo que se relacionou com o santo em vida”.11 Dessa maneira, no Brasil, as santidades e os deuses negros, de origem africana, se adaptaram, se justapuseram, ou melhor, se dissimularam em santos católicos. Essa integração se construiu “pela desafricanização do negro no novo meio em que ia viver, como também, por uma africanização do branco, esta menos intensa que a primeira. Em todo caso, temos desde a época colonial, os dois sistemas em atuação: o do enquistamento de raças diferentes e o da integração de indivíduos numa única comunidade. Esses dois fenômenos encontram-se sempre em cena na trama das relações interpessoais ou inter-raciais brasileiras”.12 Por decorrência, não causa espanto constatar-se que a alta hierarquia do candomblé, as mães de santos e os frequentadores destes cultos sejam católicos e, no mínimo, integrem a Irmandade de São Jorge. O mesmo se dá em relação à presença de membros desta associação em instituições espíritas de umbanda que têm o santo como patrono. Com efeito, na ótica dos praticantes, não há contradição entre 11 Cf. COSTA, Valdeli Carvalho da. Umbanda; os “seres superiores” e os orixás/santos (um estudo sobre a fenomenologia do sincretismo umbandístico na perspectiva da teologia católica). São Paulo: Loyola, 1983. v. 2, p. 392. Na perspectiva de Arthur Ramos, “na África, os orixás eram ‘a expressão de forças da natureza’, cultuados após terem sido elevadas a um escalão preternatural, devido à impregnação de uma ‘força mágica’ ou ‘potência sagrada’ (...). No sistema religioso nagô, o axé é a ‘força que permite às coisas terem existência e devir. É o princípio de realização que dinamiza a existência e permite que ela advenha, se realize. ‘Tudo o que existe, para poder realizar-se, deve merecer axé. (...) O orixá permanece imaterial. É uma força, mas uma força assisada, domesticada’”. Cf. COSTA, v. 2, p. 366-367. 12 Cf. BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. v. 2, p. 389.
as religiões. Impera, na realidade, o sincretismo, em suas variadas formas. Trata-se de fenômeno de contiguidade, de justaposição. Foi assim e nessa perspectiva que, no Brasil, com os novos rumos da Igreja Católica determinados pelo Concílio Vaticano II, o catolicismo se abriu para diálogo com os cultos afro-espíritas. O preito aos deuses africanos no Brasil varia de acordo com o tempo, com as regiões e os meios sociais em que se realiza. Nas religiões afro-brasileiras praticadas no Rio de Janeiro, São Jorge se identifica com Ogum, divindade nagô, filho de Iemanjá, orixá guerreiro do reino de Ifé, na Nigéria. Ogum é um orixá guerreiro e protetor, ligado aos caminhos, às guerras, à tecnologia e aos conflitos; era ainda o conhecedor do segredo da forja e do ferro, com o qual produzia ferramentas para a agricultura, a caça e a guerra. Sua popularidade ali excede à que se encontra em outras partes do país, sobretudo porque, no Rio de Janeiro, conforme salienta Bastide, ele se apresenta mais ligado à magia negra do que é adorado religiosamente.13 De acordo com Carneiro, a partir da análise do fenômeno na Cidade Maravilhosa, “essa composição sincrética formada a partir de São Jorge-Ogum tornou-os nos mais populares ídolos religiosos no Rio de Janeiro, a ponto de se tornarem os patronos da maior parte dos times de futebol e das escolas de samba da cidade. O culto a São Jorge é maior que o culto a São Sebastião – santo padroeiro da cidade – ou a Nossa Senhora. Essa popularidade não pode ser entendida afastada do sincretismo a Ogum, justamente em ‘clássicos’ ambientes onde predominam a raça e a cultura negra no Rio de Janeiro – no samba e no futebol. Esse modelo sincrético possui, ao menos, quatro possibilidades ritualísticas que podem aparecer mescladas entre si: (1) o culto a São Jorge praticado por algumas igrejas católicas espalhadas pela cidade; (2) o culto a Ogum nos terreiros de umbanda, onde é venerada a imagem de São Jorge e onde lhe são endereçadas orações; (3) o culto a Ogum nos barracões de candomblé, onde não aparecem referências ao santo católico; (4)
13 Cf. BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil, v. 2, p. 352.
o culto sincrético que ocorre, por exemplo, no dia 23 de abril, na Igreja de São Jorge, do Campo de Santana e em suas redondezas, onde e quando as três manifestações anteriormente apontadas ocorrem no mesmo tempo e no mesmo espaço”.14 Considere-se, ainda, que “o catolicismo e a religião africana coincidem (...) na afirmação comum de que cada um dentre nós tem seu anjo da guarda; mas, enquanto o católico não tem mais que o conhecimento desse fato, o africano sabe o nome de seu anjo – o orixá, protetor de sua cabeça”.15 Nessa dimensão, no Brasil de agora, São Jorge é menos o defensor da fé do que o cavaleiro, “o herói cívico”. A variante do mito que ali se apresenta é, essencialmente, a do santo guerreiro, não a do mártir. A face cultuada é a do santo combatente do dragão da maldade. São Jorge evocado para espantar o mal ou aplacar os riscos do cotidiano. Aos que recorrem a São Jorge no Brasil, não há maior interesse no conhecimento da sua biografia ou das versões sobre o seu mito e sua inclusão no conjunto das santidades da Igreja Católica. A fé no santo não advém do conhecimento de sua vida ou de seus valores morais. Roga-se a ele com forte dose de pragmatismo, em rito de trocas, para consumo imediato. Mais para proteger e obrar vontades e desejos e menos para interceder e intermediar pedidos de graças junto de Deus. A propósito, no que respeita à intercessão, São Jorge afigura-se tanto na qualidade de intermediário, quanto na de concessor ou atendente da súplica. É amuleto, é protetor, é, em simultâneo, caminho para Deus, como se expressa nesta música popular:
14 Cf. CARNEIRO, Leonardo. A festa de São Jorge/Ogum no Rio de Janeiro: guerreiros que desconhecem limites fundam um lugar de encontro em meio à paisagem urbana. Comunicação apresentada no XI Congresso Luso-AfroBrasileiro de Ciências Sociais, realizado em Salvador (Bahia, entre 7 e 10 de agosto de 2011. Disponível em: <http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/ resources/anais/3/1306075932_ARQUIVO_SaoJorgeOgum.pdf >. Acesso em: 20 abr. 2012. 15 Cf. BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil, v. 2, p. 360.
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Pra São Jorge
Canto pra Ogum
(Autor e intérprete: Zeca Pagodinho)
(Autor e intérprete: Zeca Pagodinho, com participação de Jorge Ben Jor)
Vou acender velas para São Jorge A ele eu quero agradecer E vou plantar comigo-ninguém-pode Para que o mal não possa então vencer Olho grande em mim não pega Não pega não Não pega em quem tem fé No coração Ogum com sua espada Sua capa encarnada Me dá sempre proteção Quem vai pela boa estrada No fim dessa caminhada Encontra em Deus perdão.16
Consigne-se, além disso, que a devoção a São Jorge no Brasil não se limita ao plano religioso. Extrapola-a. Em muito. Atente-se na presença e no simbolismo do santo na música popular, no futebol, nas chamadas simpatias. Quanto a estas, esclareça-se que são forma mental ou instrumento pelo qual, segundo a tradição popular brasileira, as pessoas atraem bons fluidos para si ou, pela fé, invocando determinada santidade, almejam realizar certo plano ou desejo. Há simpatias de São Jorge para proteger pessoas queridas, para curar doenças, para espantar o azar, para se ter sorte e, sobretudo, para se obter uma graça ou proteção, “para fechar o corpo contra o mal”.
Eu sou descendente zulu Sou um soldado de Ogum Um devoto dessa imensa legião de Jorge Eu sincretizado na fé Sou carregado de axé E protegido por um cavaleiro nobre Sim, vou à igreja festejar meu protetor E agradecer por eu ser mais um vencedor Nas lutas, nas batalhas Sim, vou ao terreiro pra bater o meu tambor Bato cabeça, firmo ponto, sim senhor Eu canto pra Ogum Ogum, Um guerreiro valente que cuida da gente que sofre demais Ogum, Ele vem de aruanda, ele vence demanda de gente que faz Ogum, Cavaleiro do céu escudeiro, fiel mensageiro da paz Ogum Ele nunca balança, ele pega na lança, ele mata o dragão Ogum É quem dá confiança pra uma criança virar um leão Ogum É um mar de esperança que traz a bonança pro meu coração Ogum Ooogum (Jorge Ben Jor)
A evocação denotativa se dissemina igualmente – e não só - por meio da música popular. No exemplo abaixo, ela se faz explícita, ao interpolar e fundir os versos laudatórios com uma oração popular (a segunda parte) endereçada ao santo guerreiro. Ogum fazendo-se reconhecer em São Jorge. E viceversa.
16 Disponível em: < http://letras.mus.br/zeca-pagodinho/132573/>. Acesso em: 20 abr. 2012.
Deus adiante paz e guia Encomendo-me a Deus e à Virgem Maria, minha mãe .. Os doze apóstolos, meus irmãos Andarei neste dia, nesta noite Com meu corpo cercado, vigiado e protegido Pelas armas de São Jorge São Jorge sentou praça na cavalaria Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge Para que meus inimigos, tendo pés, não me alcancem
Tendo mãos, não me peguem, não me toquem Tendo olhos, não me enxerguem E nem em pensamento eles possam ter para me fazerem mal Armas de fogo o meu corpo não alcançará Facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar Cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar Pois, eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge Jorge é da Capadócia. Salve Jorge!17
É isso: São Jorge nas manchas lunares protegendo àqueles que o evocam. São influências da cultura africana, como se constata no candomblé baiano, onde é patente tal associação, representada pelo orixá Oxóssi, divindade da caça, equivalente ao santo católico naquela religião. Associação enaltecida também na música popular local, onde a onipresente lua de São Jorge se faz inspiração para a vida e para a celebração da vida, como se nota a seguir:
Quando, em tempos recentes, a Igreja Católica reviu o culto de São Jorge, dada a incerteza dos dados históricos e do acúmulo de elementos alegóricos na vida do santo, no Brasil, a decisão “teve enorme repercussão popular. Os umbandistas, como a maioria da população católica, consideraram a decisão da Igreja uma ‘cassação’ do santo, sua destituição do status de ‘santo’, provocando a reação de muitos umbandistas, que chegaram a afirmar: Se ele deixou de ser ‘santo’ para a Igreja, para a Umbanda, continua sendo ‘santo’.! A incompreensão, que gerou a revolta, denota ter sido atingido, com esta decisão eclesial, um ponto sensível da piedade popular católica e, em decorrência, da umbandística, caudatária da católica. O povo sentiu-se como que defraudado do poderoso protetor, contra as investidas do mal, simbolizado no dragão”.18
(autor e intérprete: Caetano Veloso)
Em resumo, como afirma Laura de Mello e Souza, São Jorge, é “santo forte, impregnado no cotidiano e no imaginário brasileiro”, que “cruza fronteiras religiosas, étnicas, sociais; carrega tradições múltiplas, move-se no mapa da terra e do céu, atende a esfera temporal e espiritual. Não deve ser à toa que está na lua, visível a olho nu, misturando justamente o reino deste mundo com o do outro”.19
17 Disponível em: <http://letras.mus.br/zeca-pagodinho/1347974/>. Acesso em: 20 abr. 2012. 18 Cf. COSTA, Valdeli Carvalho da. Umbanda. v. 1, p. 209. 19 Cf. MELLO E SOUZA, Laura de. Prefácio. In: SANTOS, Georgina Silva dos. Ofício e sangue; a Irmandade de São Jorge e a Inquisição na Lisboa Moderna. Lisboa: Colibri; Portimão: Instituto de Cultura Ibero-Atlântica, 2005. p. 11. 20 Disponível em: <http://letras.mus.br/caetano-veloso/43876/>. Acesso em: 20 abr. 2012.
Lua de São Jorge
Lua de São Jorge Lua deslumbrante Azul verdejante Cauda de pavão Lua de São Jorge Cheia branca inteira Oh! Minha bandeira Solta na amplidão Lua de São Jorge Lua brasileira Lua do meu coração Lua de São Jorge Lua maravilha Mãe, irmã e filha De todo esplendor Lua de São Jorge Brilha nos altares Brilha nos lugares Onde estou e vou Lua de São Jorge Brilha sobre os mares Brilha sobre o meu amor Lua de São Jorge Lua soberana Nobre porcelana Sobre a seda azul Lua de São Jorge Lua da alegria Não se vê o dia Claro como tu Lua de São Jorge Serás minha guia No Brasil de norte a sul.20
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Por tudo isso, então, a análise do culto de São Jorge no Brasil é desafio aliciante. Ficam aqui expostos tão somente meros e desalinhavados apontamentos. Que outro propósito não têm senão o de conclamar-nos, a todos, para melhor
conhecimento do instigante tema-objeto desta palestra. Afinal, como proclama, com apropriado fair play, o poeta Mário Quintana, “que culpa tem ele [São Jorge] de ser tão belo e ecumênico?“
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Reprodução do Quadro de Raphael (1483 – 1520)– “St. George and the Dragon” 1506 - Da National Gallery of Art – Washington DC.
DISCURSO DE ENCERRAMENTO António Santos *
Boa Noite!!!
disse: “Nenhum dever é mais importante que a gratidão “ Séculos mais tarde o Padre António Vieira, grande vulto da cultura portuguesa, nas suas inúmeras travessias transatlânticas, entre Portugal e o Brasil e vice-versa, escreveu: “A melhor forma de pedir é agradecer“.
A minha família, nomeadamente o meu pai Domingos e o meu avô Joaquim, desde tenra idade me ensinaram que, nos grandes momentos de festa e reuniões especiais, deveriamos lembrar aqueles que por este ou aquele motivo não podiam estar presentes, depois de muito terem contribuido para o tal momento.
Hoje, véspera do dia de S. Jorge, já muita coisa foi concretizada e quase tudo foi dito, pelo que só me resta agradecer a todos, em nome do vlvlpsp, pelo apoio, pela ajuda, pelo conforto e pela presença, independentemente da quantidade com que o quiseram fazer.
Fiel a esse ensinamento, quero evocar a memória de dois elementos do grupo que já partiram e que foram o cimento, a bússula e o vento que nos projectou para o futuro que hoje somos.
Aristóteles, filósofo grego e professor de Alexandre, o Grande, disse: “A grandeza de um homem não consiste em receber honras, mas sim em merecê-las“.
Refiro-me concretamente ao meu tio José (Zeca para os amigos) e ao Dr. Pinho, que, neste mesmo local, numa das nossas primeiras reuniões, pediu a palavra e disse: “meus amigos isto é uma força”. O futuro veio, anos mais tarde, darlhe toda a razão. Cicero, filosofo romano e um dos maiores da Roma antiga
Não levarão a mal se neste agradecimento individualizar algumas pessoas e instituições, pelo seu mérito.
*Médico. Membro do Grupo Válá Válá Podia Ser Pior. Coordenador do Evento.
Começo pelo nosso caro membro, ilustre conterrâneo e Alto Comissário para a Conferência, Prof. Dr. Eugénio Santos, a quem agradeço toda a disponibilidade e todo o empenho neste evento e a sua memorável conferência.
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A Sua Eminência Reverendíssima, D. Carlos Azevedo, a quem agradeço o facto de se ter dignado vir de RomaVaticano e prestigiar-nos com a sua notável conferência. Ao Prof. Dr. Caio César Boschi, a quem agradeço pelo facto de não se ter importado de fazer uma viagem transatlântica entre o Brasil e Portugal e premiar-nos com a sua admirável conferência. Ao Arq. Pedro Silva, nosso caro membro e ilustre amigo a quem agradeço pelo projecto arquitectónico de rara beleza e forte impacto visual.
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Ao Sr. Valdemar Patrício, presidente do grupo Patrícios e Irmãos, a quem estaremos para sempre em divída, tão grande foi o seu gesto. O Sr. Valdemar é um grande homem de honra e palavra. Deu-nos o sim em tempos de vacas gordas e manteve o seu sim em tempos difíceis em que era fácil uma desculpa. Ao Eng, José Mário, grande amigo e conselheiro das horas difíceis, ao Eng. Granja, gestores do gabinete de Estudos-Gatec, e ao Eng. Pimentel a quem mais uma vez tive que recorrer e mais uma vez fui atendido. Ao Sr Almerindo Silva, presidente da Empresa Electrosanjo, a quem só a amizade nos unia, mas mesmo assim não deixou de ser solidário e um bom amigo, permitindo que a fonte tivesse vida e luz. Ao Eng. Luis Filipe, a quem nada nos ligava, mas uma vez ouvida a nossa prece e por intermédio do Zé Mário, não deixou de colaborar, de modo a que a fonte de S. Jorge fosse bela tanto de dia como de noite. Ao Escultor António Mota, a quem estamos gratos por nos ter presenteado com uma escultura de autor e ao nível da grandeza do santo que hoje homenageamos. À Igreja de C. S. Jorge, na pessoa do seu pároco, Padre António Machado, a quem agradecemos o modo como nos recebeu e os actos hoje por Vª. Exª. realizados, que muito honram a paróquia, o seu líder e todos os paroquianos.
À Junta de C. S. Jorge, na pessoa do seu presidente, José Martins, que nos disse sim desde o primeiro momento, quando este evento era apenas um sonho. Não foi nunca uma força de bloqueio, mas sim um verdadeiro e grande mecenas. Às Termas de CSJorge, na pessoa da sua administradora, Dra Teresa, a quem agradecemos todo o apoio e toda a logistica dispensadas, permitindo-nos o privilégio de ter como cenário a instituição centenária e cheia de história do ex- libris da nossa Vila Termal, que são as termas de C.S. Jorge. À Câmara de Santa Maria da Feira, na pessoa do seu Vice-Presidente, Emídio de Sousa e dos seus vereadores, Teresa Vieira, Celestino Portela, aqui presentes, a quem agradecemos a participação neste evento, o espaço, as licenças e autorizações que desbloquearam este monumento magnifico. A todos os patronos, ou seja, um grupo de 50 personalidades de C. S. Jorge ou com forte ligação à terra, a quem nós solicitamos apoio para a nossa aventura e que com esse apoio, que surgiu sem hesitação, pudemos cumprir Miguel Torga, quando diz: “em qualquer aventura o mais importante não é chegar mas sim partir “. E nós partimos!!! Um agradecimento afectuoso, porque justo, ao José Pinho, pelo som, música e luzes, ao Fotógrafo Manuel, pelas fotos e video, ao Trio Animator, pela beleza da sua música e à Banda Juvenil do Vale, pela espetacularidade do seu som. A todos os elementos do Vlvlpsp, sem excepção, realçando o Álvaro pela apresentação; o Neca, o Ílidio e o Paulo, pelos fundos e dádivas; o José Pinto, o Alcino e o Germano, pela divulgação e média; o Castro e Melo e o Jorge Miranda, pelo mecenato; o André, o Manuel e o Miguel, pela decoração e cenários; o Zé Rodrigo, o Américo e o Vasco, pela resenha e arquivo; o Augusto, o Sérgio e o Flávio, pelos contactos e pela logistica; o Fernando e o Armindo, pela poesia e pelos registos; o Xico, pela oração; finalmente, o Joaquim Santos e o Jorge Santos, pela persistência, solidez e liderança.
A todas as pessoas anónimas que nos ajudaram e a todos os trabalhadores incansáveis , que tudo fizeram para que o monumento a S. Jorge fosse uma realidade, a nossa sentida homenagem e profuda gratidão.
Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro Tudo é disperso, nada é inteiro Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
Ao Cavaleiro José Carlos, a quem agradecemos a dedicação, competência e autenticidade com que representou simbólicamente S. Jorge. Camões , escreveu que: “um rei fraco faz fraca a forte gente“ mas eu hoje posso dizer: “um lider forte faz forte a já forte gente“ porque no nosso caso tivemos um presidente forte, determinado e audaz e que nos conduzuiu a todos ao sucesso, ou seja, o Jorge Santos. Estamos no ano de 2012, ano de inúmeros problemas, imensas desilusões e de terríveis e catastrofistas profecias como as dos Maias, que prevêem o fim do mundo para 22/12/2012, com as quais não concordo e em que não acredito! Deixo-vos, antes em alternativa, uma palavra de optimismo, com as messiânicas profecias de Fernando Pessoa, ligadas a outras do mesmo teor e elaboradas pelo padre António Vieira, dois monstros da cultura portuguesa, e que nos falam do 5º império, onde Portugal terá um papel crucial e de liderança. Este Império não será militar, nem económico-financeiro, mas simplesmente espiritual, cultural, civilizacional e universalista. Estamos no dealbar, estamos no limiar desses tempos e os sinais estão aí e para quem ainda não se apercebeu, deixovos uma mensagem com cerca de 80 anos de F. Pessoa e que é o último poema, ou seja o 5º da última parte da Mensagem e que se intitula de Nevoeiro e que reza assim: Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, Define com perfil e ser Este fulgor baço de terra Que é Portugal a entristecer Brilho sem luz e sem arder, Como o que o fogo-fátuo encerra.
É a hora! Concluindo, e de acordo com o poeta, que escreveu que: “a alma portuguesa está grávida de divino“, está na hora de mudar Portugal! está na hora de iniciar a construção do 5º Império. Termino com as mesmas palavras, que um dos maiores guerreiros de Portugal, que venceu todas as batalhas em que entrou, disse, e estou a referir-me, a D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável, hoje santo, o mais novo santo de Portugal, santificado em 2010 pelo Papa Bento XVI. Mas dizia eu que D. Nuno, depois de se recolher em oração e para estimular os seus soldados a enfrentarem sem vacilar, na maior batalha jamais travada e vencida por Portugal, Aljubarrota, um poderoso exército, quatro vezes mais numeroso, composto por espanhóis e franceses, gritou estas mágicas palavras: Por S. Jorge! Por Portugal!! Termino, propondo-vos um brinde e com os copos cheios de alegria eu quero gritar também: Por S. Jorge! Por Portugal!! Viva S. Jorge!!! Viva C. S. Jorge!!!! Caldas de S. Jorge, 22 de abril de 2012
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Grupo VáLá VáLá Podia Ser Pior, promotor do Evento.
A vivência espectacular da primeira noite.
CASA DA VILA DA FEIRA COMEMOROU 59 ANOS
Patrimônio do Real Gabinete Português de Leitura; Vereador Dr. Roberto Monteiro Soares, Sr. Agostinho da Rocha Ferreira dos Santos, Presidente da Obra Portuguesa de Assistência; Vereador Reimont Luiz Otoni Santa Bárbara; Vereadora Tereza Bergher.
Foi uma noite de glamour, no dia 12 de Julho próximo passado. Uma linda Sessão Solene foi realizada. A mesa de honra foi assim constituída: Presidente da Casa da Vila da Feira, Sr. Ernesto Pires de Boaventura; Excelentíssimo Embaixador Dr. Nuno de Mello Bello, Cônsul Geral de Portugal no Rio de Janeiro, Dr. Antonio Gomes da Costa, Presidente da Federação das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras; Professor Dr. Serafim Correia Pinto Guimarães, representante da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, que foi o orador da noite; Dr. Albano da Rocha Ferreira, Presidente do Conselho Deliberativo da C.V.F.T.S.M. e Vice-Presidente da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Caixa de Socorros D. Pedro V; Presidente da Comissão Fiscal da C.V.F.T.S.M.; Os Ex-Presidentes: Sr. Adão Ribeiro dos Santos, atual Presidente da Assembleia Geral da C.V. T.S.M; Sr. Hermenegildo Martins dos Santos, Vice-Presidente do Conselho Deliberativo da C.V.F.T.S.M; Sr. Antonio Simões da Conceição, Vice-Presidente da Assembleia Geral da C.V.F.T.S.M.; Sr. António da Silva Correia, Vice-Presidente de
O cerimonial foi apresentado pela dupla: senhorita Margarete de Fátima, a mais antiga componente do Grupo Folclórico Almeida Garrett, que agradeceu e enunciou diversas mensagens recebidas e pelo apresentador dos grandes eventos Pedro Paulo Japhet Gonçalves. O Presidente da mesa de honra foi o Excelentíssimo Embaixador, Cônsul Geral de Portugal no Rio de Janeiro, Dr. Nuno de Mello Bello. Após a execução dos hinos nacionais de Portugal e do Brasil, o Presidente Ernesto Pires de Boaventura proferiu o tradicional discurso fazendo desta feita um alerta ao futuro das nossas Associações. O Presidente da Mesa convidou o Dr. Antonio Gomes da Costa para que fizesse a apresentação do Professor Dr. Serafim Correia Pinto Guimarães, representante da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, orador da noite. Tivemos em seguida a entrega pelo Presidente Ernesto Pires de Boaventura, do Título de Sócio Honorário da C.V.F.T.S.M. ao Excelentíssimo Embaixador, Dr. Nuno de Mello Bello, bem como ao Professor Dr. Serafim Correia Pinto Guimarães.
CASA DA VILA DA FEIRA EM FESTA Sérgio Viana*
* Director da cultura da casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria
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Neste momento o Professor Serafim fez a entrega ao Sr. Sérgio Viana da Silva do Título de Mérito de Santa Maria da Feira, como prova do reconhecimento da valiosa colaboração que tem dado à Casa da Vila da Feira. O Senhor Orador entregou ao Presidente da C.V.F.T.S.M. algumas prendas enviadas pelo Dr. Alfredo de Oliveira Henriques, Presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira – Portugal. Seguindo o Protocolo, no dia do Aniversário da Casa, houve a entrega de “Títulos Honoríficos” a aqueles que se distinguiram por seu trabalho e colaboração a C.V.F.T.S.M. – Eméritas: Estela Romão Pereira da Silva; Georgina Margarido de Almeida Braga – Eméritos: Rafael Paes da Mota e Albuquerque Henriques, Ruy de Almeida Soares – Beneméritas: Florbela Roçado Fernandes; Geralda Amaral Rio, Maria de Fátima da Costa Horta Vieira; Maria da Glória Esteves de Souza; Rosa de Oliveira Silva – Grandes Beneméritos: Afonso Bernardo Fernandes, Camilo Vieira Rio, João do Carmo Monteiro Martins; José Fernando Horta de Souza Vieira e Luiz Augusto Lima de Sousa. Não poderia faltar a homenagem a algumas senhoras: A Primeira-dama Roselene Boaventura ofereceu flores à senhora Maria de Fátima de Sousa Pinto Guimarães, Esposa do Professor Dr. Serafim Correia Pinto Guimarães, orador da
Mesa da Presidência.
noite; a senhora Maria do Carmo Pinto Silva, esposa do nosso 1º Vice-Presidente Administrativo, Sr. António Rodrigues Silva, ofereceu flores a Vereadora Teresa Bergher, esposa do Deputado Gerson Bergher; a Senhora Nilda de Paula, Esposa do Ex-Presidente, Senhor Hermenegildo Martins dos Santos, atual Vice-Presidente do Conselho Deliberativo desta Casa, recebeu flores da senhora Belmira da Silva e Sousa, esposa do nosso 2º Vice-Presidente Administrativo, Sr. Joaquim da Silva Almeida e Sousa; também recebeu flores das mãos da senhora Maria do Carmo Pinto Silva, a Senhora Marilene Simões, Esposa do Ex-Presidente Senhor Antonio Simões da Conceição, atual Vice-Presidente da Assembleia Geral desta Casa. Este ano em que, se comemora os 50 anos de fundação do Grupo Folclórico Almeida Garrett, foi convidada a senhorita Margarete de Fátima, a mais antiga componente do grupo para oferecer flores a Senhorita Roselene Boaventura, diretora, folclorista e Primeira-Dama desta Casa. Finalizando a sessão solene, o Excelentíssimo Embaixador, Presidente da Mesa de Honra, proferiu algumas palavras alusivas à data, agradeceu a presença de todos e em nome do Presidente Ernesto Pires de Boaventura convidou a todos para um COQUETEL.
SESSÃO SOLENE DO 59º ANIVERSÁRIO Discurso de Ernesto Pires de Boaventura* Excelentíssimo Sr. Embaixador Nuno de Mello Bello, Cônsul Geral de Portugal no Rio de Janeiro; Excelentíssimo Professor Dr. Serafim Correia Pinto Guimarães – Representante da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira; Excelentíssimo Sr. Dr. Antonio Gomes da Costa, Presidente da Federação das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras. Demais Membros da Mesa; Minhas Senhoras e Meus Senhores. Hoje completamos 59 anos de fundação da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria. É costume, nesta ocasião, falar da própria história, da terra que lhe deu origem e de suas tradições. Contudo quero aproveitar a oportunidade e levantar uma bandeira de alerta: Como será amanhã? * Presidente da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria
Revendo nossa história, não podemos esquecer Manoel Lopes Valente, feirense de Sanfins, que chegando de uma viagem ao Concelho da Feira, reuniu alguns amigos para fundar uma Casa com a finalidade de unir as famílias da sua região, de manter as mesmas tradições, de celebrar as mesmas festas onde as moças e os rapazes usariam os trajes típicos, as tocatas lembrariam os despiques dos arraiais e as procissões religiosas, como a das “Fogaceiras”, repetir a mesma gastronomia: as “Fogaças” e o Cabrito Assado Com Arroz pela páscoa. Que os fizessem recordar suas tradições de Além-Mar. Os portugueses que aqui chegaram eram mulheres e homens das aldeias, gente humilde que vinha para o Brasil e atirava-se ao trabalho. Criaram indústrias como: a primeira fábrica a produzir cigarros já enrolados em papel. A fábrica de conservas e muitas outras, como a de chita na Praça Sáens Peña, a de Tecidos Maracanã. O Século Vinte retrata bem a presença de trabalhadores portugueses espalhados pela cidade que prestavam serviços variados: Estivadores, Carroceiros, Vendedores Ambulantes, Sapateiros, Carvoeiros e Pedreiros. Tudo isso serve para mostrar que não foi só de construções a presença portuguesa na cidade do Rio de Janeiro, e que ela é muito vasta em vários setores como: Jornais, Programas de Rádio, Revistas, Bibliotecas, Casas Regionais, Hospitais e Igrejas.
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A primeira grande presença portuguesa, especificamente Não posso deixar de enaltecer a juventude que através da dança tem a certeza da sua importância dentro das nossas na Tijuca, é representada pelos Jesuítas fundadores da Igreja Associações. São Francisco Xavier do Engenho Velho. Termino com um excerto da apresentação do livro “Atlas Por isso, quando se pensa em imigrantes portugueses, de Santa Maria da Feira”, feita pelo Dr. Alfredo de Oliveira “A Tijuca” é facilmente associada à grande quantidade de Henriques: “Casas Regionais Portuguesas” que aí existem, bem como ao “Se o passado nos conforta pela riqueza que representa “Hospital da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da e que, como herdeiros responsáveis, sabemos preservar e Penitência”. valorizar, é, também, na conquista do futuro, que devemos, Embora não se possa voltar atrás e fazer um novo começo, incessantemente continuar”. qualquer um pode começar agora e fazer um diferente fim. Agradeço a Deus, aos meus companheiros de Diretoria, É valido lembrar que todos nós, independentes de aos membros do Conselho Deliberativo, da Assembleia geração, precisamos continuar investindo para acompanhar Geral, do Conselho Fiscal, ao Departamento Feminino, as mudanças do mundo moderno. aos Componentes do Grupo Folclórico Almeida Garrett e Os Portugueses realizaram no Brasil a maior obra do Rancho Folclórico Infanto-Juvenil Danças e Cantares associativa do mundo, em dimensão e em significado. das Terras da Feira, aos Funcionários, aos Associados, aos No Mundo de hoje em que se destroem facilmente os Amigos, à Imprensa escrita e falada e, não poderia esquecer, princípios morais, é preciso fazer reformas e adaptações toda minha família e todos que fazem com que esta Casa seja nos “Estatutos”, para que essas entidades continuem um marco Santamariano no Brasil. sobrevivendo. Creio que no futuro os mais jovens terão fibra, coragem e determinação para vencer desafios, que nos lembrarão Bem-haja! aqueles timoneiros que saíam para o mar sem medo das tempestades e dos ventos, para além da linha da conquista. Espero que assumam o leme dessas associações e não as deixem naufragar, mas que lhes deem alma, grandeza, prestígio e tenham orgulho do velho português, que hoje se perpetua pelo sangue das novas gerações. Cabe-nos fazer um pequeno retrospecto. Fomos a primeira Casa a ir a Portugal em 1981, levando um grupo folclórico representativo. Deixamos de ser para muitos um simples escritório, com uma mesa, um telefone, e tornamo-nos uma “Embaixada Santamariana” no Rio de Janeiro. Voltamos à Terra-Mãe em 1988 e 1994, honrando nossas Tradições. Este Ano o Grupo Folclórico Almeida Garrett completa 50 Anos de Fundação, nada melhor que comemorar seu “Jubileu de Ouro” em terras de Além-Mar. Foram nove meses de dedicação, empenho de todos os componentes, bem como da direção do grupo e da Casa, para realizar mais Uma viagem a Portugal e lá apresentar um show inesquecível de folclore português e samba do Brasil, de Ernesto Boaventura entrega a Serafim Guimarães o diploma de sócio 20 de Julho a 22 de Agosto. honorário da Casa de Vila da Feira e Terras de Santa Maria.
O SENHOR DR. GOMES DA COSTA FEZ A APRESENTAÇÃO DO ORADOR, SERAFIM GUIMARÃES Como já é costume nos aniversários da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria, temos hoje o privilégio de receber, vindo de Portugal, convidado pela Diretoria e com o apoio da Câmara Municipal, uma ilustre personalidade. Esta prática de receber oradores feirenses tem-nos permitido não só ouvir pronunciamentos de excelência, com múltiplas temáticas e abordagens, da História à Geografia, da Literatura à Economia, mas também tem-nos dado a oportunidade de conhecer figuras que se destacam na vida política, econômica e cultural do município – e mesmo figuras cimeiras no plano nacional. Neste ano não foi diferente. E, por isso, está entre nós, como convidado especial para ser o orador da sessão solene comemorativa dos 59 anos de fundação desta Casa, o Exmo. Sr. Dr. Serafim Correia Pinto Guimarães, cuja apresentação o Senhor Presidente Ernesto Boaventura, incumbiu-nos de fazer, mas que, na verdade, por ser uma biografia tão rica de trabalhos realizados, tão consagradora por cargos exercidos e desdobrada em tantas dimensões, que mais do que uma apresentação de praxe, faremos a síntese da trajetória profissional e técnica do orador, de seu magistério, de sua investigação científica e ainda de seu vasto labor literário.
Doutorado em Medicina com 19 valores, foi desde o início dos anos 60, quando se licenciou, até hoje, como Professor Emérito da Faculdade de Medicina do Porto, que o Dr. Serafim Correia Pinto Guimarães desenvolveu um trabalho extenso e admirável – na cátedra da Universidade e nos Laboratórios do Instituto de Farmacologia; na investigação e na pesquisa; no País e no exterior; como professor visitante e como professor convidado em conferências e congressos, na Sociedade Internacional de Hidrologia ou, por vários anos, nas Universidades de Freiburg e de Wurzburg, na Alemanha; de Odense, na Dinamarca; de São Paulo, no Brasil. Isso para já não citarmos as lições proferidas em vários centros médicos e universitários – como Santiago de Compostela, na Espanha; como Bonn, na Alemanha; como Praga, na República Tcheca; como Glasgow, na Escócia e como Jerusalém. Se na área médica e em artigos publicados em revistas técnicas, das mais prestigiadas do mundo, os seus trabalhos científicos ganharam sempre grande realce, não se pode deixar de destacar ainda a sua participação em quase duas centenas de Congressos realizados em Portugal e em vários países. Do mesmo modo, é de se salientar a sua participação no corpo editorial de revistas de prestígio como a Arch. Int. Pharmacodyn, de Bruxelas; a Pharmacologial Research, de Milão; a Arquivos de Medicina, do Porto; a JAMA – Editora de Lisboa e a Medicina Física e de Reabilitação, também de Lisboa.
* Presidente da Federação das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras e do Real Gabinete Português de Leitura.
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A coroar toda essa produção, temos ainda de referir a edição do livro “Terapêutica Medicamentosa e suas bases farmacológicas”, que Sua Excelência supervisionou e do qual 8 capítulos são de sua autoria. Por toda esta azáfama de trabalhos científicos – três dos quais são considerados clássicos pelo “Institute for Scientific Information” – o Dr. Serafim Correia Pinto Guimarães recebeu, por duas vezes, o “Prémio Pfizer” e o Prêmio UCB de Farmacologia. Outra dimensão importante da sua vida diz respeito ao trabalho universitário e técnico. E nesse quadrante para mostrar o brilho da sua carreira vamos referir apenas alguns dos cargos que exerceu: Vice-Reitor da Universidade do Porto; Presidente do Conselho Diretivo da Faculdade de Medicina do Porto; Presidente do Colégio da Especialidade
de Farmacologia Clínica, representante de Portugal junto à Sociedade Internacional de Hidrologia e vários outros. Sem mencionar as demais vertentes do trabalho poliédrico do nosso orador; como as exposições de seus desenhos; como as teses de doutoramento que orientou; como a participação nas serenatas do Orfeão Universitário do Porto, podemos concluir, como um fecho de ouro, dizendo que Sua Excelência é o autor do livro “Castelo de Santa Maria da Feira”, editado em 2008. É portanto, com muito orgulho que temos entre nós, na Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria em festa, o Dr. Serafim Correia Pinto Guimarães. Vamos ouvi-lo como Mestre e como um “grande senhor” da Vila da Feira. Obrigado de todos por ter vindo.
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O Sr. Dr. Gomes da Costa cumprimenta o orador, Serafim Guimarães, na presença do Sr. Embaixador, Dr. Nuno de Mello Bello.
RIO DE JANEIRO, 12 DE JULHO DE 2012 Serafim Guimarães*
Excelentíssimo Senhor Dr. Nuno Bello, ilustre Embaixador de Portugal no Rio de Janeiro: É com todo o meu sentir de Pátria que dirijo a V. Exa os meus primeiros e mais significativos cumprimentos e manifesto a grande honra de o ver presidir a esta sessão. Excelentíssimo Senhor Dr. António Gomes da Costa, digno presidente da Federação das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras e do Real Gabinete Português de Leitura: Na pessoa de V. Exa saúdo, fraternalmente, todos os portugueses e luso-descendentes e todos os brasileiros que se sentem membros vivos de uma portugalidade que não tem horas no tempo, nem limites no espaço. Excelentíssimo Senhor presidente da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria Senhor Ernesto Pires de Boaventura que, há dias, tive enorme gosto de conhecer como feirense que, não o sendo por nascimento, tanto como nós o é pelo coração. Em V. Exa cumprimento, também, todos os sócios desta agremiação e seus familiares e todos os que, no passado, fundaram este centro santamariano e os que continuam a dar-lhe vida. * Professor Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Neste momento e a cumprir esta honrosa missão, não posso esquecer o meu muito estimado presidente Alfredo Henriques que me beneficiou com o convite para representar o Município nesta celebração. Quero lembrar-lhe que a grande distância a que nos encontramos não consegue atenuar o meu intenso desejo de lhe agradecer. Queridos Amigos aqui presentes: para todos a expressão do meu afecto português!
Os homens transitam do norte para o sul, do leste para o oeste, de país para país, atravessam desertos e oceanos em busca de pão e de futuro. E, como o pão tem muitas formas e o futuro não tem limites, a emigração será um fenómeno de todos os tempos. A emigração é um fenómeno que me penetra até muito fundo. O meu pai foi emigrante e eu vivi, desde criança e sem entender razões, a dolorosa amargura de ver partir, para as lonjuras do outro lado dos mares ou dos desertos, tantos familiares, vizinhos, amigos que tinham sido construtores do meu mundo, desse mundo semeado e radicado na infância, tão verdadeiro, tão seguro e tão feliz. E lá partiam, deixando as mulheres numa viuvez de choro calado e de roupa escura.
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Muitíssimos foram, muitos vieram, alguns por lá ficaram e nunca mais os vi. Lembro-me de tantos com quem andei na escola, com quem fiz a primeira comunhão, com quem joguei o peão, com quem andei aos ninhos, com quem me zanguei, com quem me ri, com quem me relacionei pensando partilhar aventuras e alegrias até ao fim da vida, mas assim não foi!
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Da grande maioria dos que emigravam era, depois, a minha mãe quem lhes lia as cartas, sem esmeros gramaticais, sem pontos nem vírgulas, que de lá chegavam, e escrevia as respostas que de cá partiam. Eram relatos minuciosos dos acontecimentos da terra, dos casamentos, das mortes, do estado do tempo e das culturas, dando informações pormenorizadas sobre as pequenas coisas de pessoas pobres, dos vizinhos do lado, das vicissitudes mais prosaicas de tantas vidas simples. Cartas que terminavam, sempre, recheadas de bons conselhos e com recomendações impregnadas da mais profunda ternura: que fulano e beltrano tinham perguntado por eles, que tivessem cuidado com a saúde, que dessem notícias amiúdo, e sempre, sempre, na insatisfeita pressa do regresso e na esperança de uma vida mais desafogada e mais feliz. Não raras vezes, com o passar dos meses, as notícias, a princípio frequentes, iam rareando, rareando, até acabarem por deixar de chegar, dando lugar a um sofrido silêncio, início do esquecimento. Era, depois, por inconfidências de amigos, que as informações, às vezes intencionalmente contraditórias, iam chegando aos poucos, alimentando as suspeitas que outras, mais tardias e provenientes de fontes mais seguras, confirmavam. E o escuro da roupa ia sendo aliviado, como se uma morte estivesse já a entrar no esquecimento. Por alturas das festas do verão, havia os que regressavam para uma pausa de algumas semanas e era, então, também, a altura de eu ver, entrar pela casa dentro, as prendas que a minha mãe recebia: latas de preciosa goiabada e as caixas de perfumado abacaxi; para mim, que coleccionava selos do correio, era a felicidade de receber molhos de envelopes vazios, carregados de preciosos exemplares que eram, depois,
descolados em água morna, para irem preencher espaços vazios de grandes álbuns que ainda guardo, religiosamente. Aos domingos, com que alvoraçada satisfação eu os via passar em grupos, estrada acima, estrada abaixo, a anunciar, com orgulho, o seu triunfo. Em barulhenta algazarra de cornetas e campainhas, lá passavam, num autêntico desfile de bicicletas novas a espelhar. De Espargo, a minha aldeia, e de Arada, a aldeia vizinha, foram sempre muitos os que procuraram nesse Brasil da fartura uma oportunidade para abanar a árvore. Empurrados pelas necessidades de uma pobreza sem outro remédio e aliciados por sonhos de gerações e pela atracção do desconhecido e da distância, tudo isto reforçado pela informação altruísta de um ou outro amigo, lá partiam para o Brasil cheios de expectativa e de esperança. Nem sempre o destino foi este. Mais tarde foi a Venezuela e, mais tarde, ainda, a França e outros países europeus. Mas o Brasil será, sempre o destino dos destinos, o destino emblemático, o destino simbólico! Nesses tempos da minha meninice, era de tal modo importante, para o brio da rapaziada dessas aldeias feirenses, mostrar que se era capaz de atravessar o Atlântico e saltar para a sua outra margem, que, quem não o fizesse, dificilmente encontrava, na sua terra e nas redondezas, noiva que o aceitasse. Os tímidos ou incapazes tinham de ir procurar a parceira longe, onde não chegassem os rumores dessa sua fraqueza. Não sei se não foi por essa razão que o mais remoto dos meus familiares de que tenho conhecimento, um dos meus tios-trisavô, nos primeiros anos do século dezanove para cá emigrou. António José Pinto Guimarães, natural de S. João de Ver, de quem herdei os dois últimos nomes, uma fotografia e, talvez, diz-se lá por casa, algumas libras, rumou ao Brasil, por volta de 1815. Aqui viria a construir um verdadeiro império económico para depois poder vir a ser um dos maiores beneméritos da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Aqui viveu e trabalhou, arduamente, até à morte, em 1868 e aqui ficou sepultado no jazigo da ordem de S. Francisco de
Paula, como ele próprio ordenou no seu testamento. Não sei se por excesso de zelo caritativo ou se minado por alguns remorsos, quase nada deixou à família e quase tudo doou àquela Santa Casa, que hoje o honra num pedaço amplo das suas paredes, onde o acolhe num enorme retrato a óleo. Com um notável faro para o negócio e uma extrema capacidade de trabalho, partiu do zero para construir uma das maiores sociedades comerciais desses tempos, no ramo do café. A partir do nº 51 da rua da Praia dos Mineiros, onde teve a sua sede - que eu não sei se ainda existe – a empresa foi-se estendendo ao ritmo do querer do seu dono, chegando a ocupar uma rua inteira e a ser posto de comando de uma poderosa máquina produtiva, com incontestável significado na produção económica brasileira desses tempos. O querer humano, quando não se confunde com o seu vizinho, a teimosia, e se orienta no sentido do bem, é o grande motor virtuoso do progresso. Muitos outros meus familiares vieram depois. Muitos primos, muitos primos vieram mais tarde e, alguns, ainda por cá andam dispersos por este imenso País, a criar gado no Pará ou a atender clientes em algum botequim. Toda esta minha gente foi estimulando a minha fantasia fazendo surgir, cá, bem dentro de mim, a imagem que sempre tive e tenho do Brasil, um Brasil que talvez seja só meu, mas que é muito meu. É tão íntimo e tão naturalmente meu este Brasil que eu não compreendo certas dúvidas, hesitações, receios, contradições, avanços, recuos, interpretações ou assumpções que frequentemente me chegam através do que vejo, oiço ou leio, e que vêm de pessoas que tinham a obrigação de não esquecer a história. Uma história que já tem mais de quinhentos anos e que nos pode ensinar tanto! Como é possível admitir o vaivém das relações entre os nossos dois países que, apesar dos repetidos anúncios de aproximação política, económica, cultural, humana, de facto, ainda não estão tão próximos como, senão todos, quase todos nós desejamos? Há desconfianças que eu não entendo. Ou será que se trata de dois irmãos cuja consanguinidade só se realiza quando estão longe um do outro? É que pode ser-nos, hoje, exigido apresentar um passaporte para que nos abram a porta, pode haver uma
cor ou um som diferente na expressão de certos símbolos, pode ser-se objecto de uma discriminação proveniente de um qualquer regulamento. Pode! Mas, tudo isso é secundário; tudo isso fica do lado de fora da verdade que está em jogo. Nada disso pode fazer tropeçar a aproximação que é desejável que se faça. Tudo isso são episódios superficiais que passam ao lado e que não correspondem ao cerne daquilo que é fundamental. Tudo isso é periferia de uma verdade nuclear que nos faz ser quem somos: Temos raízes a absorver seiva de um mesmo chão, partilhamos séculos de vida numa mesma casa, fomos educados de acordo com os mesmos princípios, pertencemos ao mundo de uma mesma língua e à fé de uma mesma religião. Somos um só e o mesmo povo e isso ainda não se vê! Por isso, estar aqui, hoje, na Casa de Santa Maria da Feira, no Rio de Janeiro, em representação do concelho de Santa Maria da Feira é muito mais do que estar aqui com essa missão: é estar em casa de irmãos, a quem se vem trazer um caloroso abraço, numa festa de anos. Estar na Casa de Santa Maria da Feira, no Rio, como ponto de chegada, ou estar no Castelo de Santa Maria da Feira, como ponto de partida, são passos de um percurso circular que só se sabe onde começou. Foi há muito e quando nem Portugal existia. Foi há muito que de lá partiu, segundo rezam documentos consagrados, um desejo forte da liberdade que só a independência dá. Esse esforço, que não foi obra de um só homem, que não foi operado num só sítio, nem realizado num só tempo, passou intensamente, durante séculos pela terra de todos nós, a Terra de Santa Maria. E, a cavalo ou a pé, foi dessa nossa terra que se arrancou para a missão que criou uma Pátria, a nossa Pátria. Quatro séculos mais tarde, foi de barco que se veio; nos grandes barcos aos olhos daqueles tempos, pequenas canoas aos nossos de hoje. As pessoas foram outras, as tarefas foram outras e as dificuldades foram diferentes. Mas a essência do processo foi a mesma.
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O grito que se deu em 1143 foi o mesmo que aqui se ouviu sete séculos depois, pela voz de um dos seus filhos mais ilustres e amados. Zamora e Ipiranga são troncos com a mesma raiz. Mas a família não se desfaz por mais alto que seja um grito esporádico de algum dos seus membros ou mais fundamentado e sincero o motivo que o provoca. Mais importante é o que se passou alguns anos depois. E aí eu vejo, claramente, como imagem, mais que simbólica, a reforçar esses laços de família que nos aproximam, o casamento de D. Duarte Nuno de Bragança neto do nosso Rei D. Miguel I com a Senhora D. Maria Francisca, trisneta de D. Pedro IV de Portugal e D. Pedro Primeiro do Brasil! A vida curta do D. Pedro não deu tempo para que a paz entre os dois irmãos se manifestasse publicamente. 62
Mas a união dos netos sanou, visível e organicamente, as desavenças. E esse espírito de união que é muito mais que paz, que nunca deixou de existir, e que continua bem vivo, vê-se bem, aqui e agora: uma Casa, na mais representativa cidade deste grande país, com um nome que não deixa dúvidas, que dá abrigo a objectivos que não mentem e que se serve dos meios mais profundamente portugueses e humanos para os atingir. Fernando Pessoa, esse expoente de humanismo e lusitanidade escreveu, num dos seus mais belos e conhecidos poemas, que nada há como a poesia, a música, as danças e o riso das crianças. E o que é que nós vemos, como obras salientes das actividades da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria da Feira no Rio de Janeiro? Algumas das realizações são concretas, objectivas, palpáveis e a sua presença vê-se e sentese: um grupo folclórico que, sob o patrocínio do nome imortal de Almeida Garrett e sob a direcção erudita e entusiasta de Roseline Boaventura, consagra a forma mais visível e sentida da poesia, do canto e das danças deixando, aquilo que sobra nesse enunciado do grande poeta, que é o riso das crianças, para ser interpretado pela geração mais nova, que lembra o grande feirense Manuel Laranjeira, o desventurado médico e
poeta que, em Espinho, há cem anos, num dia triste em que não entendeu a vida, nos deixou. Mas a outra parte grande da obra, a que se não vê, e, por isso, não se pode medir nem pesar, é a alma portuguesa que aqui se vive, se sente e se transmite, essa força espiritual iluminada pela Fé e caldeada com o trabalho, o sacrifício, a coragem, a abnegação, o amor e esse doce amargo de infelizes que é a saudade. Esse fenómeno de contornos antropológicos e culturais, esta interpenetração natural, sem convencionalismos nem regras, que é a marca portuguesa na Geografia, na História, na Sociologia, que honra a espécie humana e distingue um povo, aqui está viva e visível. Rendo-me, finalmente, ao papel exemplar desempenhado pelo jornal Feirense, verdadeira montra e porta-voz de uma Pátria distante, que, nas suas páginas, para cá transporta, com todos os jeitos e defeitos, o nosso modo de ser e de estar. Agente distinto de uma penetrabilidade sem esforço, desta portugalidade sem fronteiras, desta maneira de ser nação peregrina em terra alheia, é o ramalhete perfumado que definitivamente contribui para que a Terra de Santa Maria seja, aqui, reproduzida da forma mais linda e expressiva. Aos seus mais diretos responsáveis, a Roseline e o Sr. Sérgio Viana aqui fica, também o meu mais entusiástico aplauso. Em 1982, pisei solo brasileiro pela primeira vez. Realizavase em Caxambu a reunião da Sociedade das Ciências Biológicas e o Prof. Sérgio Ferreira, seu organizador, convidou-me para proferir uma conferência. Logo que cumpri a minha função dirigi-me ao Rio, com o grande objectivo de ajustar a verdade imaginada pelo sonho, à realidade contemplada pelos olhos. Então, à procura dos sítios que há muito inquietavam a minha memória, palmilhei, durante dias, desalmadamente, esta maravilhosa cidade, aquela que Deus quis que fosse, logo à nascença, a de maior grandiosidade e beleza do Mundo. É que, certas palavras, que davam nome a sítios, eu sentia-as, tão impregnadas de recordações criadas desde menino, que quase lhes adivinhava uma cor e um recorte e lhes atribuía um gosto e uma alma: Botafogo, Tijuca, Niterói, Petrópolis, Copacabana, Jacaré Paguá, andavam gravados na parte mais sensível e recôndita da minha consciência e,
por isso, me pertenciam, registadas como estavam a partir de uma imaginação inicial pura, e guardadas em espaços do espírito, com história e geografia, e com pessoas dentro! Há anos, uma revista, que é, justamente, a mais difundida, mais ricamente ilustrada e mais objectivamente reconhecida do Mundo, a National Geographic Magazine, procurou saber junto das suas centenas de milhar de leitores, quais eram as vistas panorâmicas mais ricas do planeta. Com espanto de muita gente, mas sem nenhum meu, entre as dez primeiras escolhidas figuravam três, com marca lusófona: A vista do morro do Corcovado no Rio de Janeiro, a de Santa Luzia em Viana do Castelo e a do Curral das Freiras na Madeira! Três, entre tantas do Mundo inteiro. Não é só sorte. É porque Deus já sabia aquilo que nos ia calhar! Não tem, por isso, nada de extraordinariamente novo nem de particularmente original, a minha entranhada paixão por esta indescritível cidade que alia, na mais feliz das harmonias, aquilo que a Natureza lhe deu - uma beleza única, vista de cima ou de baixo, uma incomparável fartura de água,
de verdura, de luz, de cor e de perfume – vista de todos os lados, àquilo que, com o decorrer dos séculos o Homem lhe tem dado, de bom e de mau, desde os elementos que dão consistência ao que há de mais sublime na nobreza, aos mais típicos ingredientes que contribuem para um fado triste e para o vício. Por isso, seis anos depois da entrada por Caxambu, outra vez, pela mesma via, iniciei por Águas de Lindóia o meu percurso. Dado o recado científico que me pediram, segui o curso indomável do pensamento e aqui vim ter, de novo, forçado por essa corrente de desejo que tem a sua foz, aqui, no Rio. De novo tudo procurei ver a correr, mas sem pressa, à procura da poesia de nomes, de histórias, de factos, de vidas, de lugares onde, outrora, familiares e amigos escreveram cartas que a minha mãe lia e a que respondia e eu, criança atenta, ouvia, para agora vos contar! Santa Maria da Feira e Rio de Janeiro, Julho de 2012.
Da esquerda para a direita: Ernesto Boaventura, Maria de Fátima Guimarães, Serafim Guimarães, Roseline Boaventura e Camilo.
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Mesa da presidência.
Maria de Fátima Guimarães e Roseline Boaventura.
MISSA E ALMOÇO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO
Domingo, 15 de julho de 2012, foi realizada missa em Ação de Graças pela passagem do 59º aniversário de Fundação da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria, com início às 11:30 horas, na Igreja dos Capuchinhos, celebrada pelo Frei Arles. Igreja lotada com a presença de muitos amigos, associados, diretores, ex-presidentes e representante de outras Associações que prestigiaram o evento.
Em nossa sede, no salão social tivemos a realização do almoço especial, com música ao vivo, com o conjunto “Os Navegantes” e a apresentação do G.F.Almeida Garrett e do Rancho Folclórico Infanto-Juvenil Danças e Cantares das Terras da Feira. Tivemos a presença do representante da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Dr. Serafim Correia Pinto Guimarães, Professor Emérito da Faculdade de Medicina do Porto, bem como de sua esposa a senhora Dona Maria de Fátima de Souza Pinto Guimarães. Ao cair da tarde tivemos o tradicional parabéns, foi cortado um belíssimo bolo comemorativo aos 59 anos de fundação da nossa associação.
Ernesto Boaventura, Roseline Boaventura, Serafim Gumarães e Maria de Fátima Guimarães.
Momento da Homilia durante a Missa de Acção de Graças na Igreja dos Capuchinhos.
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No fim da Missa, o Grupo Folclórico Almeida Garrett, foi chamado à Capela Mor em virtude da celebração do seu 50º aniversário.
Rancho Folclórico Infanto-Juvenil Danças e cantares das Terras da Feira, que subiu, também, à Capela Mor, no fim da Missa.
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No fim da Missa, o Celebrante, Frei Arles chamou à Capela Mor, todos os fieis que, como o Rancho Folclórico Almeida Garrett, tinham o seu aniversário natalício no mês de Julho.
Bolo dos 59 anos da Fundação da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria.
Ernesto, Roseline, Maria de Fátima e Serafim Guimarães atrás do bolo dos 59 anos da Fundação da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria. 67
Serafim Guimarães, Ernesto Boaventura e Maria de Fátima Guimarães, Ernesto e Roseline atrás do bolo dos 59 anos da Fundação da Casa da tendo, como fundo, os elementos do Rancho Almeida Garrett. Vila da Feira e Terras de Santa Maria.
GRUPO FOLCLÓRICO ALMEIDA GARRETT FEZ 50 ANOS O Grupo Folclórico Almeida Garrett preparou uma festa apoteótica, de tirar o fôlego, para mostrar o que fará na sua digressão a Portugal. Salão social lotado de ex-componentes, amigos, diretores, ex-presidentes da Casa da Vila da Feira e folcloristas de outras associações, compareceram para homenagear o grupo. O grupo brindou a todos com uma ornamentação especial; mesas com toalhas azul pavão e amarelo ouro, as cores da nossa bandeira do grupo; sobre ela encontrava-se um enfeite que representava uma estrela, que levava ao centro as bandeiras de Portugal e do Brasil, com os brasões da Casa da Vila da Feira e da cidade de Santa Maria da Feira. Sobre as mesas foi colocado o Feirense Especial contando a história dos 50 anos de glórias do grupo. O evento foi dividido em duas partes distintas – a primeira parte foi apresentado o folclore – a segunda parte tivemos o samba (folclore do Brasil). Lindas fantasias, uma bem ensaiada coreografia e com uma contagiante bateria o Grupo Folclórico Almeida Garrett mostrou que parte para além-mar com a vontade de brilhar novamente em terras lusas.
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O bolo dos 50 anos do Rancho Folclórico Almeida Garrett e Roseline Boaventura a acender as velas.
HOMENAGEM AO SENHOR SÉRGIO VIANA de Santa Maria da Feira, com a sugestiva mensagem “Entrelaçando História”. Nessa colectânea Santa Maria da Feira é revisitada num passeio através das raízes, o foral, o passado com história, a nova centralidade regional, o futuro com esperança, a perspectiva do concelho, o seu castelo, o património municipal, as termas das Caldas de S. Jorge, o monumento ao Espírito Feirense, lendas e superstições, ditados populares, associações e clubes, com a conclusão de que “Santa Maria da Feira, onde vale a pena viver”, cuja divulgação junto dos feirenses se impõe, pois este profeta merece ser lido e ouvido. Na história da Casa de Vila da Feira tem uma página a recordar a recolha de terra no castelo, em 1959, na presença dos Presidentes da Câmara Municipal e da Casa da Vila da Feira, e sua colocação num cofre de prata, encimado por uma miniatura do castelo e que se encontra entre as relíquias da Casa. Esta personagem, por tanto amor e dedicação, é bem merecedora dos mais altos galardões feirenses, homenagem que agora lhe foi prestada e a que a LAF - Liga dos Amigos da Feira se associa com todo júbilo.
A Câmara Municipal de Santa Maria da Feira atribuiu ao Senhor Sérgio Viana da Silva a Distinção Honorifica de Mérito Municipal, fazendo-o por Diploma assinado em 12 de Julho de 2012 pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal Alfredo Oliveira Henriques. O Diploma foi entregue pelo Senhor Prof. Doutor Serafim Guimarães, ilustre representante do Município Feirense nas Comemorações do 59º aniversário da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria. O Senhor Sérgio Viana é um dedicado membro da CVFTSM onde tem desempenhado relevantes serviços. Exerce actualmente as funções de Redactor de “O FEIRENSE” – Boletim Informativo Trimestral da CVFTSM. Apaixonado por Santa Maria da Feira, cuja história bem conhece, é o autor da “Colectânea Feirense”, um estudo da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria e do Concelho
Capa do livro organizado por Sérgio Viana.
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A lembrar tanto carinho apetecemos aqui recordar Sérgio Viana no castelo e o poema de Lola de Oliveira que recolhemos do seu livro. Bocadinho de terra portuguesa Que estás no meu Brasil Nesse escrínto de prata trabalhada Que é um mimo de Arte e de beleza! Quando daquele solo hospitaleiro Lá do Castelo foste retirada Foi minha Pátria à tua entrelaçada Nos hinos português e brasileiro.
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Terra de Portugal – Vila da Feira! Tu tens alma e de certo estás contente De estar aqui, na terra brasileira Que descobriu a lusitana gente. Tens de teus filhos a veneração. A Pátria portuguesa em ti se encerra. Recebe, agora, a minha saudação Terra de Portugal na minha terra !
Sérgio Viana no Castelo da Feira.
Com ternura Sérgio Viana dedica o livro “à Dénise, com reconhecimento ao seu apoio e estímulo, apesar das horas roubadas ao seu trabalho e, aos filhos, Ana Paula, André Luís, e Guilherme, por não lhes deixar nenhuma herança, mas apenas o exemplo de lutar até ao fim por um ideal”. LAF - Liga dos Amigos da Feira
Sérgio Viana e a esposa Dona Dénise.
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Entrega do Diploma pelo Prof. Doutor Serafim Guimarães.
Sérgio Viana exibe o Diploma recebido.
Foto Marta Ferreira
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O FUTURO O FUTURO O FUTURO (poema escrito para a foto de Marta Ferreira)
Anthero Monteiro* terá o futuro a cor rósea dos meus braços ou do mar promissor dos meus olhos ou a suavidade da minha pele jovem ou o sabor de sonho que alguém já descobriu nos meus lábios apalpo a escuridão e só encontro paredes negras e escorregadias portas lacradas e janelas que o não são porque dão para o vazio e só abrem para deixar entrar a fuligem e o desespero ventos incontroláveis varrem os labirintos íntimos desta cabeça que estreito entre as mãos e nem o vento nem o entendimento nem os sonhos encontram um rumo um remo um arrimo uma nuvem que sirva de leme uma ideia que sirva de lema o futuro o futuro o futuro como será o futuro que o futuro nos oferece haverá futuro para além desta masmorra haverá futuro com este presente envenenado (e todavia o futuro pulsa obsessivo nas têmporas)
*Escritor e poeta natural de S. Paio de Oleiros. É autor de vários livros de poesia e de ensaio.
A GRANDE MURALHA DA CHINA Jorge Augusto Pais de Amaral*
Numa época em que tanto se fala da força da economia chinesa face à fraqueza das nações europeias, a braços com as suas dívidas soberanas, e se prevê que a China possa vir a ser a maior economia do Mundo em 2020, lembro-me que, quando visitei esse País, há cerca de duas dezenas de anos, tudo era muito diferente. Não é meu propósito abordar o problema económico, pois atualmente são vários os economistas que todos os dias o fazem. Farei apenas uma breve referência a um monumento que é o símbolo do País e uma das grandes atrações turísticas. A propósito lembrarei o nome de um português que nele trabalhou forçadamente, no século XVII. Esse monumento é a Muralha da China. Para a visitar há necessidade de percorrer a pé o acesso que nos conduz a uma das diversas torres. Os degraus são geralmente muito irregulares, com altura variável, sendo o piso também muito deficiente. Tudo isto não é para estranhar numa obra feita ao longo de dois milénios, com materiais de diversas qualidades. Espraiando o olhar, pode contemplar-se o seu serpentear por muitos e muitos quilómetros, tantos quantos a nossa vista alcança. *Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, Jubilado.
É considerada a maior estrutura feita pelo Homem. É Património Mundial da Unesco desde 1987. Em 2007, após um concurso internacional informal, foi considerada uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo. A sua construção teria começado antes da nossa era, por volta do ano 221 a. C., por determinação do imperador chinês QIN SHIHUANG. Até então existiam sete reinos que se combatiam uns aos outros e, para se defenderem, tinham construído as suas próprias muralhas. O imperador de um deles, QUIN, conquistou os restantes seis, unificou a China e ordenou a construção de uma única muralha, unindo as já existentes. A partir daí a obra foi crescendo, embora com algumas interrupções, tendo alcançado o seu esplendor na dinastia MING, quando atingiu as atuais feições e uma extensão de cerca de 7.000 quilómetros. Cientistas chineses calcularam, em Abril de 2009, que o comprimento total da muralha será de 8.850 quilómetros, portanto, maior do que o anteriormente previsto. Os materiais de que é feita variam de região para região. Se perto de Beijing, por exemplo, os muros foram construídos com calcário, noutros locais foi aproveitado o granito ou mesmo tijolos e, nas regiões ocidentais de desertos, onde escasseiam os materiais, tudo foi aproveitado para a construção incluindo faxina (feixes de ramos ou de paus). Para ligação dos materiais utilizados serviram-se de argamassa feita de barro e pasta de farinha de arroz com cal hidratada.
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Tem dezenas de milhares de torres que permitiam observar a aproximação e movimentação do inimigo. As sentinelas serviam-se do sistema de comunicações possível para a época: bandeiras coloridas, sinais de fumaça e fogos. As torres serviam ainda para alojamento de soldados, estábulo para animais e depósito de armas e mantimentos. Calcula-se que o material utilizado na construção da Grande Muralha daria para erguer um muro de 2 metros de altura à volta da linha do Equador. A muralha, com uma altura média de 7,5 metros, tinha largura suficiente para 5 soldados a cavalo, uns ao lado dos outros. Servia, portanto, como via elevada, não só para a deslocação dos soldados, mas também para a dos comerciantes, fazendo parte da Rota da Seda. A construção da muralha empregou milhares de camponeses que, em troca do trabalho, eram libertados do pagamento de impostos. Devido à má alimentação e ao frio morria uma grande percentagem. Acredita-se que nela tenham trabalhado cerca de um milhão de homens, de entre os quais teriam falecido perto de 250.000, entre soldados, camponeses e cativos.
Chegou o momento de referir o nome do português que ajudou na construção de tão grande monumento. Aliás, é um nome familiar à generalidade dos portugueses. Trata-se de Fernão Mendes Pinto, cujas façanhas no Oriente publicou num livro intitulado “Peregrinação”, no qual relata as suas estranhas aventuras. Tão estranhas, ou mesmo quase inverosímeis, que no meu tempo de jovem estudante costumávamos parodiar com o seu nome dizendo Fernão, Mentes? Minto. Este livro foi escrito na mesma época em que foi publicado o “Dom Quixote”, de Cervantes. “Os dois livros tiveram igual êxito”. No decurso de poucos anos o livro de Fernão Mendes Pinto “foi traduzido do português para seis línguas europeias, tendo conhecido sete edições em espanhol, duas em alemão e holandês e três em inglês e francês”. Fernão Mendes Pinto, “tendo naufragado ao largo da costa da China, foi preso, acusado de vagabundagem e condenado a um ano de trabalhos forçados, ajudando na construção da Muralha da China. Antes de ter completado a pena, no entanto, uma horda de tártaros invadiu a China e capturou-o. Mendes Pinto ensinou-lhes como tomar de assalto um forte feito de pedra e, em paga, foi libertado” – cfr. Martin Page, in A Primeira Aldeia Global, p. 163.
DICIONÁRIO BIOGRÁFICO DE PERSONALIDADES FEIRENSES (conclusão) Francisco de Azevedo Brandão * SÁ, Américo Pereira dos Reis e (? – 1988). Nasceu na freguesia do Vale, Feira. Foi autarca, ajudante do Registo Civil da Feira e membro dos órgãos directivos da Banda Marcial do Vale. Foi ainda um assíduo colaborador do «Correio da Feira», sob o pseudónimo de «Zé da Serra». Era casado com D. Maria Celeste de Paiva de quem teve os seguintes filhos: Fernando, Maurício, Fausto, José, Maria e Marinho Paiva. Faleceu a 24 de Maio de 1988. Bibliografia Correio da Feira, 3.6.1988 SÁ, Dr. Bernardo José Correia de (? – ?). Era presidente da Câmara da Vila da Feira em 1841. Nesta data oficiou ao Bispo do Porto no sentido «de se conservar as paróquias na forma em que se acham, sem alteração alguma», petição que foi atendida pelo Prelado. Bibliografia Padre Manuel F. de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Porto, 1939 – 1940
SÁ, João Correia de (? – 1984). Natural da freguesia de Sanfins, onde nasceu na Casa das Mestras em 1895. Licenciado em medicina, foi director do Dispensário Anti-tuberculoso da Vila da Feira. «Foi um ilustre e devotado sanfinense», tendo dado o seu contributo para a reparação da igreja, para a Assistência Social e para a construção do Salão Paroquial. Faleceu a 9 de Março de 1984. Um dos seus filhos é o médico Dr. Correia de Sá. Bibliografia Correio da Feira, 30.3.1984. SÁ, João Luís de Pinho Corrêa de (1912 – 1973). Nasceu na freguesia de Sanfins (Feira) em 11 de Agosto de 1912. Era filho de Hermenegildo Correia de Sá e de D. Minervina Amélia Tavares de Pinho e Sá, moradores na Quinta das Mestras, neto paterno de João Corrêa de Sá e de D. Maria Amélia Corrêa de Sá e materno de Constantino Tavares e de D. Maria Amélia Tavares de Pinho. «Foi um apaixonado profundo das coisas históricas e etnográficas sobre as quais escreveu largamente na imprensa periódica, nomeadamente no «Correio da Feira». Fundou e dirigiu o semanário «Notícias da Feira». Foi gerente cerca de 20 anos do Grémio da Lavoura da Feira e S. João da Madeira, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Feira e director da BibliotecaMuseu da Feira. Era casado com D. Maria Teresa Cardoso Peres Corrêa de Sá de quem teve 4 filhos: Hermenegildo
* Licenciado em História pela Universidade do Porto e Bacharel em Filologia Românica pela Universidade de Coimbra. Historiador local, é autor de Anais da História de Espinho, O Associativismo em Espinho, Joaquim Pinto Coelho, um Político de Espinho, O Campo de Aviação de Espinho, O Culto de Nª Sª da Ajuda em Espinho e Manuel Laranjeira, por ele mesmo.
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José, Severino Rodrigo, Maria Teresa e Ana Maria. Faleceu em Espinho a 24 de Fevereiro de 1973. Bibliografia Correio da Feira, 3.3.1973; 10.3.1973 e 23.2.19; Francisco Neves, Do Alto da Piedade. Edição da LAF - Liga dos Amigos da Feira, 2003 SÁ, João de (? – ?). Natural e morador em Rio Meão, vivia em 1622. Era eclesiástico. Há uma inscrição gravada numa pedra que se encontra numa das paredes exteriores da capela de Stº. António que diz o seguinte: «Ave Ma(ria) Pela Alm do P João de Sá, 1723».
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Bibliografia David Simões Rodrigues, Rio Meão - A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001 SÁ, João Rodrigues de (? – ?). Foi nomeado alcaide do Castelo da Feira após o anterior, Martins Correia, ter levantado voz por Castela na crise de 1383-85. Bibliografia João Corrêa de Sá, «Correio da Feira», 22.4.1972 SÁ, José Caetano de Pinho Corrêa de (1909 – 1983). Nasceu na casa das Mestras, freguesia de Sanfins (Feira) em 9 de Março de 27 de Outubro de 1909. Era formado em Medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, tendose especializado em doenças pulmonares. Fixou residência na Vila da Feira e abriu consultório na cidade do Porto. Mais tarde foi director do Sanatório do Caramulo até 1950. Fundou na Vila da Feira o Dispensário Anti-Tuberculoso de que foi o 1.º orientador, tendo prescindido dos respectivos honorários a favor do Hospital da Feira. Abandonou a clínica em 1964, retirando-se para Estremoz onde tinha família e onde se dedicou à administração da sua casa agrícola, tendo sido ainda vereador da cultura da Câmara Municipal de Estremoz, Provedor da Santa Casa da Misericórdia e presidente da Secção local da Cruz Vermelha Portuguesa. Não esquecendo a sua terra, foi o principal benemérito da igreja de Sanfins com cedência de terrenos seus junto à mesma. Casou,
em 1910, com D. Maria da Conceição Teles de Sousa de quem teve 4 filhos: Maria de Assunção (farmacêutica); José Filipe (economista); Eduardo (regente agrícola) e Ana Isabel (engenheira química). Faleceu, em Estremoz, em 9 de Março de 1983, com 73 anos de idade. Bibliografia Correio da Feira, 18.3.1983 SÁ, José Correia de (? – 1993). Natural da freguesia de Escapães. Serviu a Junta de Freguesia em vários cargos: tesoureiro de 1.1.1933 a 12.2.1937; vice-presidente de 1.1.1937 a 1.8.1937; presidente de 1.8.1937 a 2.1.1946 e de 2.1.1951 a 13.1.1964. Faleceu a 19 de Abril de 1993, já viúvo e era pai de António Correia Alves e de Maria Alda Alves de Sá. Bibliografia Correio da Feira, 3º.4.1993 SÁ, José Soares de (? – 1964). Nasceu no lugar do Cavaco, Vila da Feira. Era filho de José Marcelino Soares de Sá e de D. Teresa Joaquina de Sá. Muito novo ainda começou a colaborar no jornal local «O Feirense», que teve a sua sede no largo das Eiras, do qual era proprietário João Ferreira. Em 1898, com apenas 25 anos de idade, foi convidado para director e administrador do «Correio da Feira», pelos seus fundadores e dirigentes do partido regenerador local, Dr. António de Castro CorteReal, Camossa Mendes (Visconde de Albergaria de Souto Redondo), Dr. Vitorino Correia de Sá e Joaquim Pinto Valente. Logo a seguir, foi a expensas suas que o «Correio da Feira», começou a ser composto e impresso no largo das Eiras e em tipografia própria. José Soares de Sá manter-se-ia à frente do jornal durante 68 anos, à excepção de um lapso de tempo que confiou a Joaquim Pinto Valente, período que precedeu a fundação de um outro jornal, Gazeta Feirense», do qual foram fundadores o Dr. Henrique Vaz Ferreira e Joaquim Pinto Valente. No seu jornal «sustentou vária polémicas que, por vezes, lhe criaram problemas difíceis que só o seu grande amor à terra o permitiu poder resolvê-los sem desânimos ou quebra de dignidade» Em 1905 exerceu o cargo de Juiz de Paz da Vila da Feira. Foi vereador da Câmara Municipal da Feira, e membro da Mesa da Santa Casa da Misericórdia da Feira.
Na sua juventude foi destacado elemento de agrupamentos artísticos, especialmente como executor em diversas TunasOrquestras. Era casado com D. Clotilde Ferreira de Monte Santos e Sá, filha de Manuel Ferreira e de Marta Santos, do lugar das Eiras, na casa do chafariz. Deste casamento houve os seguintes filhos: José Manuel, Brízida e Maria Luísa. Faleceu a 8 de Novembro de 1964. Bibliografia Correio da Feira, 14.11.1964; Francisco Neves, Do Alto da Piedade. Edição da LAF - Liga dos Amigos da Feira, 2003 SÁ, Luis Corrêa de (1904.1981). Natural da freguesia de Sanfins (Feira), era licenciado em engenharia civil, electrotécnica e mecânica pela Universidade do Porto. Foi director das Estradas do Distrito de Aveiro, director do aeródromo Gonçalves Lobato, de Viseu, pois possuía o brevet de piloto civil, fundador e presidente do Rotary Clube de Aveiro e presidente da Cruz Vermelha Portuguesa. Era casado com D. Maria Isabel Cerqueira Martins Corrêa de Sá de quem teve dois filhos: Luís António Corrêa de Sá e Isabel Maria Corrêa de Sá Lacim. Faleceu, na sua casa das Mestras, em Janeiro de 1981. Bibliografia Correio da Feira, 16.1.1981 SÁ, Manuel Coelho de (? – ?). Vivia em 1735 segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «natural da freg. de Santiago de Lourosa, Feira, e morador em Lisboa na rua da Misericórdia; filho de Francisco Coelho, natural de Lourosa, e de Maria de Sá, natural da freg. de Santa Maria de Lamas, Feira, moradores em Lourosa; neto paterno de Manuel Coelho, e de Maria de Resende, igualmente naturais e moradores em Lourosa, e materno de João de Sá, natural da freg. de Santiago de Rio Meão, Feira, e de Cecília Jorge, natural da freg. de S. Cipriano de Paços de Brandão, Feira; casado com Mariana Ferreira, natural da freg. de Santiago de Almada, filha de António Ferreira, natural de Almada, e de Luísa Ribeira, natural de Corroios, Almada, neta paterna de António Gonçalves, natural de Cerquinha, freg. de Ronfe, Guimarães, e de Maria Ferreira, natural de Almada,
e materna de Manuel João, natural de Corroios, e de Maria Soares, natural de Almada. Carta de Familiar de 24 de Maio de 1735. Manuel - m. 108, n.º 1992». Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º155 (Julho, Agosto e Setembro), 1973 ´
SÁ. Manuel de (? – 1561). Arcediago da Sé do Porto, foi nomeado pároco da Freguesia de Guisande em 3 de Junho de 1555, tendo falecido em 1561. Bibliografia António Ferreira Pinto, Defendei Vossas Terras – Monografia de Guisande. Edição da Junta de Freguesia de Guisande, 1999 SÁ, Manuel Francisco de (1883 – ?). Nasceu no lugar da Costa Velha, Duas Igrejas, Romariz, em 7 de Outubro de 1883. Era filho de Francisco José de Sá e de Maria de Oliveira, Foi ordenado presbítero a 27 de Outubro de 1907 e cantou a sua primeira missa na sua terra no dia 3 de Novembro desse ano. Foi capelão de Romariz durante três meses e coadjutor da freguesia de Paramos, Espinho, por três anos. Foi depois pároco de Fiães durante 12 anos (de 10 de Julho de 1920 a 20 de Setembro de 1931) e de Paramos até 1938, data em que, por motivos de saúde, pediu e obteve em Setembro dispensa do múnus paroquial, vindo residir para a sua casa dos Valos, em Fiães. Foi historiador regional, tendo publicado os seguintes livros: «Monografia de Paramos», «Breve Monografia de Duas Igrejas do termo da Feira» e «Santa Maria de Fiães da Terra da Feira». Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Breve Monografia de Duas Igrejas do termo da Feira. Casa de Nun´Álvares, Porto, 1936 SÁ, Paulo Correia de (1891 – 1952). Nasceu no lugar da Lavandeira, Vila da Feira em 5 de Fevereiro de 1891. Era filho de Manuel Maria Correia da Silva,
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chefe da Secretaria Judicial da Feira. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra em 1914 e foi nomeado Delegado do Procurador da República na comarca de Mondim de Basto, mas, por doença de seu pai, teve de abandonar aquele cargo para ocupar o lugar de escrivão notário da Vila da Feira. Fez parte do Orfeão Académico de Coimbra no tempo em que era dirigido pelo Dr. António Joyce e foi ao Brasil integrado na Tuna Académica de Coimbra. Mais tarde fez parte do Orfeão da Feira. «Tinha um sentido artístico apreciável» e nos seus tempos de estudante em Coimbra frequentou aulas de música e daí o seu grande prestígio como compositor e executor. «Foi um exímio guitarrista» e autor de um célebre fado intitulado «Fado da Saudade», com letra do Doutor Fernando Martins. Foi director do semanário local «Povo Feirense», onde escreveu numerosos artigos com grande espírito crítico. Foi ainda presidente da Assembleia Geral do Grupo Desportivo Feirense. Esteve suspenso durante dois anos (1919/1921) por motivos relacionados com os acontecimentos monárquicos de 1919, reassumindo em Maio de 1921 o seu lugar de escrivão notário do 5º. Ofício da Feira. Era casado com D. Isabel Mesquita de Sá. Faleceu em 26 de Março de 1952, quando era chefe da Secretaria do 4º. Juízo Cível da comarca do Porto. Bibliografia Correio da Feira, 28.12.1914; 18.9.1915: 20.1.1917; 14.5.1921;3.3.1952. Povo Feirense, 4.3.1952. SÁ, Rodrigo Anes de (? – ?). Era filho de João Afonso de Sá, cavaleiro e senhor da Quinta de Gemunde, alcaide-mor do Porto em 1338, e de Maria Martins. Rodrigo Anes de Sá foi alcaide-mor de Gaia. Casou com D. Beringeira Anes, «era um homem dado a violências», vivia em Valadares, era um dos padroeiros do Mosteiro de Grijó e tinha propriedades no Paço Velho, na freguesia de Anta (hoje do concelho de Espinho) e outras no julgado da Feira. Bibliografia António de Souza Brandão, Moutinhos de S. João da Madeira e Pinhos de Arrifana de Santa Maria. Revista «Armas e Troféus», 1980
Sá, Teodósio Tomás Correia de (1723 – 1769). Natural da freguesia de Vera Cruz, Aveiro, era filho do Capitão-Mor Francisco Correia de Sá e de D. Marcela da Costa e neto de Manuel Gomes dos Santos e de Madalena Correia, da Rua do Carmo, freguesia de Vera Cruz, Aveiro. Casou com D. Maria Angélica Correia de Sá em 6 de Junho de 1740. Foi tabelião da Feira e viveu temporariamente na Casa das Regadas. Consta que faleceu repentinamente em 3 de Março de 1769. Deixou pelo menos um filho com o mesmo nome e lhe sucedeu no cargo notarial. Bibliografia Padre José Alves de Pinho, A Capela de Campos. Revista Villa da Feira - Terra de Santa Maria, n.º4, ano II, Junho, 2003 SÁ, Teodósio Tomás Correia de (1755 – 1833). Nasceu em 1755. Era filho de Teodósio Tomás Correia de Sá, que foi tabelião da Feira e neto do Capitão-Mor Francisco Correia de Sá e de D. Marcela da Costa, naturais da freguesia de Vera Cruz, Aveiro. À morte de seu pai, sucedeu-lhe no cargo de tabelião da Feira. Era casado com D. Josefa Teresa da Encarnação e terá vivido na sua casa dos Moinhos, Sanfins. Faleceu ali em 4 de Dezembro de 1833 com 78 anos de idade. Bibliografia Padre José Alves de Pinho, A Capela de Campos. Revista Villa da Feira, n.º 4, ano II, Junho, 2003 SÁ, Vitorino Joaquim Correia de (1854 – 1934). Nasceu na Casa da Quinta do Passal, na freguesia de Sanfins, concelho da Feira, em 25 de Outubro de 1854. Era filho de António Joaquim Correia de Sá e de D. Margarida Máxima Correia da Correia da Costa. Era licenciado em Direito. «Ocupou lugares de distinção neste concelho, mercê dos seus grandes merecimentos e «inconcussa probidade.». Na vigência da monarquia pertenceu ao Partido Regenerador e quando foi proclamada a República filiou-se no Partido Democrático. Exerceu o cargo de vereador da Câmara Municipal da Feira em 1887-1888, de vice-presidente de 1912 a 1919 e de presidente de 1914 a 1917. Foi administrador do concelho e juiz substituto da comarca e em 1903, por proposta do Governador Civil de Aveiro, foi agraciado com a Ordem de
Cristo que, por modéstia, recusou. Foi ainda director do jornal «O Democrata Feirense a partir de 29 de Dezembro de 1917. Faleceu solteiro em 21 de Maio de 1934. Bibliografia Correio da Feira, 26.5.1934; Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica na Vila e Concelho da Feira. Revista «Aveiro e o seu Distrito», n.º 8, 1969 SACRAMENTO, Domingos Coelho do (1686 – 1769). Nasceu em Rio Meão em 1686, foi baptizado em 11 de Agosto desse ano por Frei Brás de Sousa, Reitor de Rio Meão. Era filho de Domingos Coelho e de Maria Jorge, natural de Rio Meão; neto paterno de Ambrósio Rodrigues, natural Rio Meão, e de Maria Ferreira, natural de Santa Maria de Lamas; neto materno de Manuel Jorge, de Fornos e de Ana Gomes, de Rio Meão. O processo para a recepção das suas ordens menores foi organizado pelo abade Francisco Correia de Sequeira de Paços de Brandão. Em 6 de Junho de 1711 foi ordenado subdiácono a «título de património», e em 20 de Fevereiro de 1712 passou a diácono. Foi coadjutor em Esmoriz por mais de 40 anos, residindo no lugar de Matosinhos. Faleceu naquela freguesia em 4 de Janeiro de 1769. Bibliografia David Simões Rodrigues, Rio Meão - A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001 SANTIAGO, Jaime Filipe de (? – ?). Capitão-médico, natural da freguesia de S. Miguel do Souto, concelho da Feira. Aquando da Grande Guerra e no antigo Regimento de Infantaria n.º18 prestara relevantes serviços que mereceu dos seus superiores «rasgados elogios». Bibliografia Jacob da Azenha, S. Miguel do Souto. «Correio da feira», 24.9 1962 SANTIAGO, Joaquim Alves (1890 – 1958). Nasceu na freguesia de Guisande, Feira em 25 de Novembro de 1890 Era filho de Joaquim Alves Santiago e de D. Maria Joaquina da Conceição. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, foi advogado na Vila da Feira e professor na Escola Académica. Foi casado pela primeira vez
com D. Margarida Augusta da Conceição Valente Baldaia e pela segunda com D. Inocência da Silva Santos. Foi também director do jornal «Democrata Feirense». Faleceu na Vila da Feira em 12 de Setembro de 1958. Bibliografia Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira. Revista «Aveiro e o seu Distrito», n.º 8, 1969 SANTOS, Alberto Ferreira de Monte (1894 – 1968). Nasceu na Vila da Feira em 29 de Fevereiro de 1894. Foi colaborador assíduo dos jornais da Vila da Feira, «O Informador», o «Brinco» e «Correio da Feira». Era tio das antigas directoras deste último jornal. Exerceu as funções de 1.º Ofício Encarregado da Delegação do Comissariado do Desemprego no Distrito do Porto. Faleceu no Porto, em 8 de Novembro de 1968. Bibliografia Correio da Feira, 16.11.1968 SANTOS, Alcino Vieira dos (1913 – 1996). Nasceu na freguesia de Argoncilhe, concelho da Feira em 26 de Maio de 1913. Em 1923 ingressou no Seminário de Vilar, tendo terminado o seu curso eclesiástico no Seminário Maior da Sé do Porto em 1936. Em 1945 foi nomeado pároco de Leça de Palmeira, onde permaneceu até 1978. Nesta freguesia desenvolveu um trabalho de apoio às famílias mais carenciadas, que culminou com a construção de 32 casas divididas pelos bairros do Ródão e de Gonçalves. Em 2004, a paróquia de Leça de Palmeira prestou-lhe uma homenagem, com a colocação do seu busto, em frente ao salão paroquial, «para pagar a dívida que tinha com o pároco, pelo trabalho que desenvolveu ao longo dos 33 anos em que esteve à frente dos destinos religiosos da freguesia». Bibliografia Pedro Miguel Rodrigues – O Primeiro de Janeiro, 07.07.04 SANTOS, António Alves dos (? – ?) Foi cura e depois pároco encomendado de Rio Meão em 1848.
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Bibliografia David Simões Rodrigues, Rio Meão - A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão SANTOS, Caetano Fernandes dos (? – ?). Vivia em 1751, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «proprietário; natural da Presa, freg. de S. Martinho de Escapães, Feira, e morador em Espartidouras, freg. de Santa Maria de Válega, Ovar; filho de José Fernandes, natural de Caldelas, freg. de S. Jorge, Feira; neto paterno de Filipe Jorge, de S. Martinho de natural de Espartidouras, filha de Ventura Rodrigues do Reis e de Susana da Silva, de Espartidouras.
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da VII Legislatura, como representante dos trabalhadores e na qualidade de presidente da União dos Sindicatos Operários da Indústria de Mercenária, Carpintaria Mecânica e Serração de Madeiras, tendo assento na V Secção (Indústria), 2.ª Subsecção (Construção, Vidro e Cerâmica). Nestas secções não subscreveu ou relatou qualquer parecer». Bibliografia Manuel Braga da Cruz e António Costa Pinto, Dicionário Biográfico Parlamentar, 1935-1974, Vol. II, (M – Z), 2005
Carta de Familiar de 25 de Janeiro de 1751. – A.N.T.T. – Caetano - m.5, n. 56»
SANTOS, João Francisco dos (1891 – ?). Natural das Caldas de S. Jorge, onde nasceu em 1891. Ordenou-se sacerdote em 1914 e em 1923 concluiu a formatura na Universidade Gregoriana, em Roma. Foi professor no Seminário e pároco da Sé do Porto. Foi nomeado cónego em 15 de Junho de 1927.
Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º105 Janeiro, Fevereiro e Março), 1961
Bibliografia Padre António Ferreira Pinto, Cónegos e Beneficiados da Sé do Porto, naturais do Distrito de Aveiro. «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º 19, 1939
SANTOS, Domingos Oliveira dos (1909 – ?). Nasceu, na freguesia de Lourosa, em 7 de Junho de 1909. Era filho de Agostinho de Oliveira Santos e de D. Emília Ferreira da Silva. Fez a 4.ª classe e mais tarde foi encarregado geral na indústria de serração de madeira. Foi secretário da Comissão Administrativa do Sindicato Nacional dos Operários da Indústria de Serração de Madeiras e Ofícios correlativos do Distrito de Aveiro (1941 a 1943), vogal efectivo do Conselho Geral da Caixa de Previdência do Pessoal das Indústrias de Marcenaria Carpintaria e Serração de Madeiras, membro do Conselho da Corporação da Indústria, presidente do Sindicato Nacional dos Operários da Indústria de Serração de Madeiras e Ofícios Correlativos do Distrito de Aveiro (1948-1950, 1951-1953, 1954-1956 e 1957-1959) e presidente da União dos Sindicatos Operários das Indústrias de Marcenaria, Carpintaria Mecânica e Serração de Madeiras 81957-1959). Vem mencionado no «Dicionário Biográfico Parlamentar da direcção de Manuel Braga da Crus e António Costa Oito, 1935-1974, Vol. II (M-Z)», com verbete assinado por Ana Filipa Silva e que diz o seguinte; «Em 21 de Novembro de 1961, foi admitido como procurador à 4.ª sessão legislativa
SANTOS, Joaquim Ferreira dos (1884 – 1966). Natural de S. Vicente de Louredo, Feira. Exerceu, no regime republicano, cargos políticos como Regedor e membro da Junta de Freguesia de Louredo, «tendo sido um leal e dedicado democrata». Era comerciante e proprietário, casado com D. Rosa Augusta de Paiva, da qual teve os seguintes filhos: Guilherme Ferreira, Margarida Ferreira, José Ferreira e Amélia Ferreira. Faleceu em Janeiro de 1967, com 82 anos de idade. Bibliografia Correio da Feira, 14.1.1966 SANTOS, José Beleza dos (1885 – ?). Nasceu na freguesia de Arrifana, concelho da Feira a 5 de Setembro de 1885. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra em 1905. Doutorou-se em 1921 com a classificação de 19 valores na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, foi nomeado assistente do 4º. Grupo em 1923 e professor catedrático em 1924. De 1925 a 1935 foi Juiz da Tutoria da Infância de Coimbra, Director do
Instituto de Criminologia de Coimbra e Presidente da Comissão das Construções Prisionais. Foi ainda vogal da Junta Central da Legião Portuguesa, do Conselho Supremo dos Serviços Criminais e do Conselho Médico-legal de Coimbra. Em 1939 elaborou o projecto do novo Código Penal. Foi um dos mais distintos criminalistas portugueses, tendo tido intervenção em alguns diplomas referentes ao Código do Processo Penal e na Reforma dos Serviços Prisionais, cujos projectos elaborou. Foi agraciado com a Ordem Militar de Santiago. Bibliografia Povo Feirense, 9.7.1939 SANTOS, José (1913 – 1993). Nasceu na Vila da Feira em 19 de Junho de 1913. Foi mais uma memória muito longa e viva de pessoas, lugares e acontecimentos que foram marcantes na vida da cidade, do concelho e até do país». Foi membro de várias instituições e associações da Feira como o Clube Feirense, Comissão Fabriqueira, Bombeiros Voluntários da Feira, Casa do Povo, Orfeão da Feira, Santa Casa da Misericórdia e Associação das freguesias de Santa Maria da Feira, tendo dedicado a todas elas o seu esforço e boa vontade. Foi também membro da Intendência Geral da Caixa Geral de Depósitos. Participou na Revolta dos Marinheiros em 8 de Setembro de 1936. Era casado com D. Cremilde Santos de quem teve dois filhos: Orlando Santos e Margarida Maria dos Santos. Faleceu na sua casa na Rua Dr. Roberto Alves, a 7 de Agosto de 1993 com 80 anos de idade. Bibliografia Correio da Feira, 10.9.1993 SANTOS, João Ferreira dos (1882 – 1943). Nasceu em Fiães, Vila da Feira em 28 de Fevereiro de 1882. Fez os seus estudos na cidade de Guimarães Em 1895 entrou como candidato ao sacerdócio na Companhia de Jesus em Barro, Torres Vedras. Em 1907 começa a leccionar em vários colégios que os jesuítas tinham em Portalegre, Porto, S. Fiel (Beira Baixa), Campolide, etc. As perseguições em 1910 levam-no à prisão e para o exílio. Percorreu várias nações europeias e em 1922 fixa-se em Espanha. Regressado a Portugal foi para Braga, onde se dedicou ao ensino. O Dr. João Ferreira dos Santos faleceu a 5 de Janeiro de 1943.
Bibliografia Jornal «Tradição», 13.2.1943 SANTOS, Joaquim Sousa (1953 – 2012). Nasceu a 13 Outubro de 1953, em S.Bento, São João de Ver e faleceu a 17 Agosto de 2012. Filho de outro grande ciclista – Joaquim Sousa Santos. Vencedor, em 1979, da Volta a Portugal em Bicicleta, representando o F.C.Porto. Nessa altura era estudante de Medicina, em Coimbra. Abandonou o ciclismo poucos anos mais tarde. Foi médico e exerceu o cargo de vereador, eleito pelo, PS na Câmara Municipal de Santa Maria da Feira. Do seu palmarés, destacam-se entre outras: 1974 -Vitória na 3ª e 5ª etapa da 37ª volta a Portugal em bicicleta. 1976 - Alcança a 5ª posição da geral na 38ª volta a Portugal em bicicleta. 1977 - Alcançou o 2 º lugar na volta a Portugal, que terminou no Restelo, em Lisboa. 1978 - Foi o 10º classificado da geral final da volta a Portugal. 1979 - Vence a volta a Portugal, conseguindo ao mesmo tempo ser estudante em medicina em Coimbra, onde se viria a tornar médico. Bibliografia http://www.ciclismosjver.host.sk/irmaos_sousa_santos.htm http://memoriaporto.blogspot.pt/2012/08/artigo-d-oporto-em-homenagem-joaquim.html
SANTOS, José Joaquim Corrêa Brandão dos (? – ?). Foi um dos fundadores da Sociedade Recreativa Soutense, em 1875 e edificou com João António de Rezende, também naquela data, a Capela das Almas, aproveitando material da capela-mor da antiga igreja. Ambos tinham sido comerciantes no Rio de Janeiro e eram naturais de Souto. Bibliografia Resenha Histórica das Freguesias de Souto, S. Vicente de Pereira e S. Martinho da Gandra. Jornal «Tradição», 4.5.1935 e 7.11.1936 Jornal Tradição, 7.11.1936
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SANTOS, Justino Soares dos (1887 – 1968). Natural de Travanca da Feira, foi pároco de Alfena e professor do Colégio de Ermesinde. Paroquiou Fiães de 1931 a 1935, onde levou a cabo alguns melhoramentos na igreja matriz e na Capela do Adro Velho. Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940
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SANTOS, Manuel Álvares dos (? – ?). Vivia em 1764, segundo Carta de Familiar que lhe foi concedida nessa data e que a seguir s transcreve: «natural de Lobel, freg. de S. Mamede de Vila Maior, Feira, e morador em Além, freg. de Santiago de Lourosa, Feira; filho de João Pais, natural de Lobel, e de Catarina Álvares, natural da freg. de Santa Maria de Lamas, Feira, moradores em Lobel; neto paterno de Domingos André, natural de Lobel, e de Jacinta André, natural de Cedofeita, Vila Maior, e materno de Domingos Álvares, natural de Vila Nova, freg. de Santo Isidoro de Romariz, Feira, e de Maria Francisca, natural de Salgueiro, Lamas; casado com Ana Álvares da Costa, natural de Além, filha de Luís Álvares Carneiro, natural de Além, e de Ana Josefa da Costa, natural de Gacinho, freg. de S. Martinho de Cortegaça, Ovar, moradores em Além, neta paterna de António Álvares, natural de Aldriz, freg. de S. Martinho de Argoncilhe, Feira, e de Francisca Coelho, natural de Além, e materna de Manuel da Costa Lopes, natural de Gavinho, e de Antónia Marques, natural de Remolha, freg. de S. Nicolau da Vila da Feira Carta de Familiar de 6 de Julho de 1764. A.N.T.T. Manuel - m. 196, n.º 1079»
Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira (subsídios para a sua história. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940 SANTOS, João Francisco dos (1891 – 1941). Natural das Caldas de S. Jorge, onde nasceu em 1891. Ordenou-se em 1914 e em 1923 concluiu a sua formatura na Universidade Gregoriana de Roma, Foi professor no Seminário, pároco da catedral e tomou posse do canonicato em 15 de Junho de 1927. Foi depois para Moçambique como secretário do bispo D. Teodósio. Bibliografia Cónego A. Ferreira Pinto, Cónegos e Beneficiados da Sé do Porto. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º 19, 1939 SANTOS, Manuel de Oliveira (1847- 1945). Nasceu em Paços de Brandão em 1847. Foi industrial papeleiro, tendo comprado uma fábrica de papel em Rio Maior, na década de 90 do século XIX a José do Custódio. Conhecido por Manuel, «o Marinheiro», já antes, por volta de 1880/85, tinha tomado de arrendamento a fábrica de papel de Arada, mas é em Rio Maior, Paços de Brandão «que cria as raízes de uma família que desde então e até aos nossos dias, sempre permaneceu ligada ao papel». Manuel de Oliveira Santos, desde muito cedo teve a ajuda de seu filho, Luís de Oliveira Santos, conhecido por «Luís do Marinheiro». Foi com Luís de Oliveira Santos que a fábrica deixou de produzir o papel folha a folha, também chamado papel de forma, instalando-se uma máquina contínua, de forma redonda. Em 1945 foi herdada por dois dos seus filhos, Luís de Oliveira Santos e Ramiro de Oliveira Santos que se mantiveram em sociedade até 1956, data em que Luís de Oliveira Santos assume a sua exclusiva propriedade.
Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º 153 (Janeiro, Fevereiro e Março), 1973
Bibliografia Maria José Ferreira dos Santos, A Indústria do Papel em Paços de Brandão e Terras de Santa Maria. Edição da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, 1997
SANTOS, M. Fernandes dos (? – ?). Foi abade de Romariz e Duas Igrejas. Escreveu um livro intitulado «A Minha Terra».
SANTOS, Manuel Ferreira do Monte (1839 – 1904). Nasceu na freguesia de Travanca, Feira em 1839. Partiu muito novo para o Brasil, onde angariou meios consideráveis
de fortuna. Regressando a Portugal fixou residência no Largo das Eiras, Feira. Militante do Partido Regenerador, foi vereador da Câmara Municipal da Feira na presidência do Dr. António de Castro Corte Real e provedor da Santa Casa da Misericórdia da mesma vila. Era avô das antigas directoras do «Correio da Feira», D. Brízida Soares Alão e D. Maria Luísa Soares. Faleceu em Outubro de 1904. Bibliografia» Correio da Feira, 18.10.1969 SANTOS, Manuel Ferreira dos (? _ 1962). Foi pároco da freguesia de Romariz do concelho da Feira durante longos anos. Era também «um importante proprietário e capitalista» e faleceu a 11 de Novembro de 1962. Bibliografia Correio da Feira, 17.11.1962 SANTOS, Orlando Ferreira dos (1924 – 1989). Nasceu na Vila da Feira em 1824, Era filho de Albino Ferreira dos Santos e de D. Maria da Conceição de Jesus. Ordenado sacerdote, foi pároco das freguesias de Troviscal e Mamarrosa, na Diocese de Aveiro, cerca de 25 anos. Faleceu em 31 de Março de 1989, tendo sido sepultado no cemitério de Troviscal. Bibliografia Correio da Feira, 7.4.1989 SANTOS, Teodósio José Ferreira dos (?– ?). Assegurava o serviço paroquial de Rio Meão em 1849, «no impedimento do Encomendado António Alves dos Santos». Em 1851 já estava como cura em S. João de Ver. Bibliografia David Simões Rodrigues, Rio Meão - A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001 SÃO PAULO. Jorge de (? – 1662). O Padre Jorge de S. Paulo nasceu em Lisboa e chamava-se no século Jorge de Carvalho. Era filho de Feliciano Rodrigues e de D. Catarina de Carvalho. Entrou para os Cónegos Seculares de S. João Evangelista, tendo recebido a Murça no convento
de Vilar de Frades, em 20 de Junho de 1609. Foi mestre de Teologia e, por duas vezes, secretário da Congregação, reitor do convento do Porto e da Feira e provedor das Caldas da Rainha. Foi reitor do convento dos Lóios da Vila da Feira, de 1636 a 1638, com o título de administrador. Foi um dos mais cuidadosos e dedicados reitores e cronistas da sua congregação. Aplicou-se com grande desvelo na investigação, consultando nos cartórios das casas da sua congregação, os seus privilégios «e antiguidades, cujo resultado foram sete tomos que escreveu, nos quais narra as fundações do convento de Vilar de Frades de Santo Elói do Porto, outro do convento da Feira, outro do Hospital das Caldas e no sétimo reduziu e compendiou os factos mais relevantes que continham os outros tomos. Estes tomos serviram, mais tarde, de importantes fontes para o livro «Céu Aberto na Terra», do seu confrade Padre Francisco de Santa Maria. Bibliografia Henrique Vaz Ferreira, O Convento da Feira, pelo padre Jorge de S. Paulo. Revista Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º 63 (Julho, Agosto e Setembro), 1950 SARDINHA, Frei Pedro ou Pêro Rodrigues (? – ?). Julga-se que já em 1600 era vigário de Rio Meão. Em 26 de Março de 1628 e 1630 testemunha a aceitação de reconhecimento da apresentação do Abade de Paços de Brandão, Ambrósio Godinho Barbosa, por parte do Comendador, Frei Bernardo Pereira. Bibliografia David Simões Rodrigues, Rio Meão - a Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001, Padre Joaquim Correia da Rocha, Recordar 900 Anos de Paços de Brandão. Edição da Junta de Freguesia de Paços de Brandão, 1995 SEABRA, Mem Rodrigues de (? – ?). Foi nomeado senhor da «Villa da Feira» pelo rei D. Fernando por carta datada de Santarém de 20 de Junho 1371 de juro (jurisdição cível e crime, reservando as apelações). Bibliografia João Corrêa de Sá, Correio da Feira, 22.4.1972
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SENHORA, Luíz José de Nossa (? – ?). Nasceu em Rio Meão em 3 de Junho de 1769. Era filho de António José, enjeitado do Porto, natural da freguesia da Sé, e de Domingas Teresa, dos Casais de Baixo; neto materno de Domingos Fernandes e de Isabel Fernandes Em 22 de Setembro de 1786, com perto de 18 anos, pediu ordens, declarando que Rio Meão tinha «indigência de clérigos». Em 22 de Fevereiro de 1790, o pároco de S. João de Ver, Manuel Alves de Sousa, faz o inquérito para ordens menores pedidas por aquele. Nesta data era acólito e exorcista. Em 19 de Março de 1792 era subdiácono. Um ano mais tarde, em 26 de Fevereiro de 1793, era diácono e em 14 de Agosto de 1793, recebe o rescrito para presbítero, recebendo em 10 de Setembro desse ano, beneplácito régio para a Ordem de Presbíteros.
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Bibliografia David Simões Rodrigues, Rio Meão - A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001 SEQUEIRA, João (? – ?). João Sequeira ou Cerqueira faleceu como pároco da Freguesia de Guisande em 28 de Setembro de 1693. Bibliografia António Ferreira Pinto, Defendei Vossas Terras – Monografia de Guisande. Edição da Junta de Freguesia de Guisande, 1999 SILVA, Abílio Gomes da (1888 – ?). Nasceu no lugar do Chão do Rio, Fiães a 9 de Abril de 1888. Ordenou-se sacerdote em 1915. Foi pároco de Rebordelo, Canadelo (Amarante), S, Miguel de Lousada, Escapães (Feira), Tabuado, Rio de Galinhas (Marco de Canaveses), Urro (Arouca), Santa Cruz do Bispo (Matosinhos) e Macinhata da Seixa (Oliveira de Azeméis).
castelhano nas suas pretensões ao trono português., tendo os seus bens sido doado pelo mesmo rei a Martim Afonso e depois a Gomes Freire. Bibliografia Padre Domingos Moreira, Nótulas Históricas Sobre Pigeiros (Feira). Separata do «Arquivo do Distrito de Aveiro», vol. XXXVIII, 1972 SILVA, António Borges da (1698 – 1779). Natural de Milheirós de Poiares, foi ordenado sacerdote em 1723. Foi assistente em Gaiate e foi seu herdeiro e testamenteiro Manuel Borges de Lima. O padre António Borges da Silva era irmão do padre Manuel Borges da Silva, sacerdote do Cabido de S. Pedro. Faleceu em Março de 1779 com 81 anos de idade. Bibliografia Manuel Joaquim Santos Conceição, Milheirós de Poiares (Século XVI A XVIII). Revista Villa da Feira, n.º 13, 2006 SILVA, António Ferreira da (1891 – 1932). Natural de Paços de Brandão, foi ele que, com Manuel Leite, projectou, calculou e construiu o edifício para cinema, que foi inaugurado no dia 1 de Agosto de 1926, com o filme «Miguel Strogoff». A máquina de projecção tinha vindo de França, (uma Pathé) onde os dois tinham sido emigrantes. Com o falecimento de António Ferreira da Silva em 7 de Agosto de 1932, com 41 anos de idade, o novo empresário foi seu irmão Eduardo Ferreira da Silva que continuou a exploração do cinema. Em 1939 passa a dar filmes sonoros e em 1949, Joaquim de Sá Rosas e Ramiro Relvas melhoraram as instalações e permitiu ao novo Salão-cine, assim se começou a chamar, uma nova era de prosperidade que durou até 1972.
Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940
Bibliografia Jornal «Tradição», 20.8.1932; Ramiro Relvas, «O Cinema de Paços de Brandão». Revista «Paços de Brandão - Um Modo de Ser», 1982
SILVA, Afonso Gomes da (? – ?). Era senhor de Pigeiros no tempo de D. João I. Perdeu os seus direitos e haveres por se ter oposto ao lado do rei
SILVA, António Ferreira da (1913 - ?). Nasceu na freguesia de Lobão, Feira, em 28 de Maio de 1913. Licenciou-se em medicina e era industrial de laticínios.
Vem mencionado no «Dicionário Biográfico Parlamentar da direcção de Manuel Braga da Cruz e António Costa Pinto, 1935-1974. Vol. II (M - Z), com verbete assinado por Marta Duarte e que diz o seguinte: «Foi na qualidade de industrial de laticínios que seria nomeado para a Câmara Corporativa na VI Legislatura, onde viria a integrar a III Secção (Agricultura e Pecuária) e a sua Subsecção (Cereais e Pecuária). Durante os quatro anos da legislatura apenas assinou um parecer, o n.º 3/VI, acerca da proposta de lei isentando de contribuição predial o aumento de determinados rendimentos dos prédios rústicos» Bibliografia Manuel Braga da Cruz e António Costa Pinto, Dicionário Biográfico Parlamentar, 1935-1974, Vol. II (M – Z), 2005 SILVA, António Ferreira da (1920 - 1969). Nasceu no lugar da Aldeia Nova, freguesia de Lourosa em 1920. Ordenado padre embarcou, em 1948, para Angola onde foi colocado na Missão de Mupa (Cuamato), indo depois para Nova Lisboa. Aqui fundou em 1955 as Obras da Rua de que foi director e desempenhou o cargo de secretário do Bispado. A ele se deveu também a fundação da Banda de Música da Casa dos Rapazes, tendo impulsionado o desporto, restaurando o Futebol Clube de Huambo, de que foi director. Faleceu em 1969 com 48 anos de idade, ficando sepultado em Nova Lisboa. Bibliografia Correio da Feira, 8.2.1969 SILVA, António Gomes Soares Teixeira da (? – 1858). Era natural da Freguesia de Fajões, Oliveira de Azeméis e foi ordenado em Braga em 1 de Maio de 1825. Foi egresso da extinta ordem de S. João Evangelista de Vilar de Frades e foi apresentado como pároco da Freguesia de Guisande por decreto de D. Maria II, em 31 de Agosto de 1852 e colado em 13 de Outubro do mesmo ano. Faleceu a 12 de Agosto de 1858. Bibliografia António Ferreira Pinto, Defendei Vossa Terras – Monografia de Guisande. Edição da Junta de Freguesia de Guisande, 1999
SILVA, António Inácio da Costa e (1864 - 1947). Nasceu na freguesia de Pigeiros (Feira) em 17 de Julho de 1864. Cursou a célebre escola do padre-mestre abade António Caetano Osório Gandim, tendo ido completar os estudos primários a S. João da Madeira, tendo concluído em 1879. Nesse mesmo ano matricula-se no Seminário do Porto, onde cursou preparatórios e teologia que completou em 1885. A seguir foi nomeado fâmulo do Cardeal D. Américo, secretário do seminário e professor primário interino de S. Jorge, em 26 de Outubro de 1885. Foi presbítero a 18 de Dezembro de 1886, tendo cantado missa nova a 2 de Janeiro de 1887, assumindo também a capelania de Duas Igrejas. Com o falecimento do padre Viana, de Pigeiros, foi colocado ali como pároco a 29 de Abril de 1889. A 16 de Dezembro foi nomeado Vigário da Vara do Distrito da Vila da Feira. Paroquiou a freguesia de Santa Maria do Vale durante 45 anos, passando depois a residir no Porto. Faleceu na casa paterna, em Pigeiros, onde estava de visita, em 28 de Julho de 1982 com 83 anos de idade. Bibliografia Correio da Feira, 6.8.1982; Jornal Tradição, 9.1.1937; P.e José Inácio da Costa e Silva, Santa Maria de Pigeiros, jornal Tradição, número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro. 1940 SILVA, António Sá e (Jerónimos) (883 – 1971). Nasceu em Paços de Brandão em 1883. Era filho de Augusto de Sá e de D. Margarida Ferreira Alves. Foi poeta, músico, actor de teatro, industrial de madeira, industrial de papel e construtor dos maiores Arcos da Festa de Agosto, em honra do padroeiro de Paços de Brandão, S. Cipriano. Foi um dos fundadores da Tuna Nova e era o compositor das letras das marchas do maestro Joaquim Alves da Rocha. Como trazia sempre uma flor à lapela, tinha a alcunha de «António da Flor». Tocou na Tuna com seus irmãos Luís, Augusto e Francisco, constituindo um dos melhores «clãs» musicais de Paços de Brandão. Em 1911, numa das idas a Lisboa para a compra de papel, evitou que o Passal de Paços de Brandão caísse noutras mãos, comprando por 30 mil reis, em hasta pública, no Tribunal da Boa Hora. Faleceu em 1971
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Bibliografia Informação fornecida pelo Sr. Eduardo Rocha, actual correspondente do «Correio da Feira», em Paços de Brandão SILVA, António Tavares da (1716 – 1781). Era natural de Fiães onde residia no lugar de Redondo. Ordenado em Janeiro de 1751, foi pároco da sua terra de 1767 a 1769. Faleceu a 23 de Outubro de 1781 com 65 anos de idade e foi sepultado na igreja. Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá. Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940
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SILVA, Bartolomeu Álvares da (? – ?). Vivia em 1731, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «natural de S. Vicente de Louredo, Feira, e morador nas Minas Gerais do Ouro Preto, bairro do Curralinho, freg. de N.ª Sr.ª da Nazaré da Cachoeira, termo de Vola Rica; filho de Manuel Alvo e de Antónia da Mota, de S. Vicente de Louredo; neto paterno de Gonçalo Manuel de Santa Maria de Sandim, Feira (hoje Gaia), e de Águeda Manuel, de S. Vicente de Louredo, e materno de Pedro da Mota e de Maria Antónia, do lugar da Mota, freg. de S. Pedro de Canedo, Feira. Carta de Familiar de 30 de Janeiro de 1731. A.N.T.T. – Bartolomeu – m. 4, n.º82» Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro» (Janeiro, Fevereiro e Março), 1960 SILVA, Bento Tinoco da (? – ?). Foi pároco da freguesia de S. Jorge, de 1657 a 1680. Bibliografia P.e José Inácio da Costa e Silva. «A Freguesia de S. Jorge», jornal «Tradição», número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940
SILVA, Diamantino Gomes da (? – 1979). Foi funcionário do Tribunal da Comarca da Feira e proprietário da «Pensão Avenida». «Foi sempre um dedicado feirense, tendo dado a sua colaboração a algumas iniciativas locais que tiveram por fim o bem da nossa terra». Era casado com D. Isabel Leite da Silva de quem teve um filho: Vasco Leite da Silva. Faleceu em 5 de Agosto se 1979. Bibliografia Correio da Feira, 10.8.1979 SILVA, Domingos António d (1862 – 1910). Nasceu na casa da Cerejeira, Fiães em 16 de Outubro de 1862. Ordenou-se presbítero em 1885, foi coadjutor na sua freguesia, conferencista e professor no Colégio da Formiga, em Ermesinde. Faleceu em 3 de Janeiro de 1910. Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940 SILVA, Domingos da (1637 – 1707). Natural do lugar de Fundo de Vila, Duas Igrejas, freguesia de Romariz, onde nasceu em 1637. Foi durante sete anos pároco de Duas Igrejas. Faleceu a 9 de Setembro de 1707 com 70 anos de idade. Foi sepultado na igreja. Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Breve Monografia de Duas Igrejas do termo da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1936 SILVA, Domingos da Costa e (1911 – ?). Nasceu na freguesia de Fiães, Feira em 9 de Março de 1911. Era filho de António da Silva e de D. Maria Rodrigues da Costa, tendo fixado mais tarde residência na cidade do Poro. Era casado com D. Margarida Teixeira da Costa e Silva. Frequentou o curso comercial, dedicando-se depois à indústria têxtil, onde desempenhou as funções de encarregado de armazém, de conferidor de tecidos, tendo chegado a ocupar o cargo de gerente de empresa. Foi membro da Comissão do Patronato da Escola Industrial Infante D. Henrique, membro da comissão corporativa emergente do acordo colectivo de trabalho para
a indústria têxtil, membro do Conselho Geral da Corporação da Indústria e secretário da 4.ª Secção da Corporação da Indústria, teve notável actividade sindical, primeiro como presidente da direcção do Sindicato nacional dos Operários das Indústrias Têxteis do Distrito do Porto e da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operários Industriais Têxteis e tesoureiro da direcção da Caixa Sindical da Previdência do pessoal das Indústrias Têxteis. Vem mencionado no «Dicionário Biográfico Parlamentar, 1935-1974, Vol. II, (M-Z)», da direcção de Manuel Braga da Cruz e António Costa Pinto, com verbete assinado por João Carlos Oliveira e que diz o seguinte: «Foi na condição de presidente do Sindicato Nacional dos Operários das Indústrias têxteis do Distrito do Porto que, em 26 de Novembro de 1949 (DS, n.º 1, Sul., 28.11.1953), foi nomeado procurador à Câmara Corporativa na V Legislatura (1949-1953), integrando a Secção de Indústrias Têxteis, pelo trabalho industrial. Tendo cumprido as quatro sessões legislativas, não relatou ou subscreveu qualquer parecer. Voltou a ser nomeado procuradora Câmara Corporativa na VI Legislatura (1953-1957) em 26 de Novembro de 1953, integrando na mesma qualidade e em representação do mesmo sindicato nacional, a VII Secção (Indústrias Transformadoras), 3.ª Subsecção (Indústrias Têxteis). Integrou ainda o elenco da Câmara Corporativa nas VII (1957-1961), VIII (19611965) e IX (1965-1969) Legislaturas, pertencendo à mesma secção, mas já em representação da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operários das Indústrias Têxteis. Subscreveu então os seguintes pareceres: na VI Legislatura, o parecer n.º 41/VI, sobre a proposta de lei n.º 38 (plano de formação social e corporativa) (ACC, n.º89, 14.5.1956), e o parecer n.º 42/VI, sobre a proposta de lei n.º 37 (corporações) (ACC, n.º91, 7.6.1956); na VII Legislatura, o parecer n.º 10/VII, sobre a proposta de lei n.º 18, o n.º 13/VII, sobre o projecto de lei n.º 19, o n.º 14/VII, sobre o projecto de lei n.º 20, o n.º15/VII, sobre o projecto de lei n.º 21, o n.º 16/VII, sobre o projecto de lei n.º 22, o n.º 17/VII, sobre o projecto de lei n.º 23, n.º 18/VII, sobre o projecto de lei n.º 24, o n.º 19/VII, sobre o projecto de lei n.º 25 e o n.º 20/VII, sobre o projecto de lei n.º 26, todos sobre alterações da Constituição Política (ACC, n.ºs 49 e 58, 10.4 e 12.5.1959); na IX Legislatura, o parecer subsidiário das Subsecções de Indústrias Extractivas, de Têxteis e Vestuário, de Indústrias Químicas e de Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânica da Secção da Indústria sobre o capítulo II industrias extractivas e transformadoras), do título
II (programas sectoriais), do parecer n.º 8 (IX, parte referente ao continente e ilhas) do projecto de proposta de lei do III Plano de Fomento para 1968-1973 (ACC, n.º 77, 2.11.1967). Na IX Legislatura não relatou qualquer parecer». Bibliografia Manuel Braga da Cruz e António Costa Pinto, Dicionário Biográfico Parlamentar, 1935-1974, Vol. II. (M – Z), 2005 SILVA, Domingos Ferreira da (? – ?). Vivia em 1701, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «homem de negócio na Baía; natural de Santa Eulália de Sanguedo, Feira, filho de Francisco António e de Maria João, naturais de Sanguedo; neto paterno de Francisco Jorge e de Francisca Antónia, e materno de João António e de Maria Gonçalves todos moradores em Sanguedo. Carta de Familiar de 23 de Fevereiro de 1701 Domingos - m.13. n.º 306» Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º 113, 1963 SILVA, Eduardo Ferreira da (Pombalinda) (1893 – 1952). Nasceu em Paços de Brandão em 1893. Era filho de D. Rosa da Pombalinha e irmão de António Ferreira da Silva (1884-1935), casado com D. Adozinda Rosas, está ligado ao aparecimento do cinema sonoro em Paços de Brandão, que durante mais de duas dezenas de anos tornou-se, com Joaquim Sá Rosas, o maior dinamizador da sétima arte na região. Foi seu irmão António quem fundou o cine-teatro em Paços de Brandão, juntamente com Manuel leite em 1926. Como o cinema mudo não deu as receitas que pensaram usufruir, fecharam as portas e em 1928. Ele e o Eduardo regressaram de França em 1932 com uma máquina de cinema sonoro. Que aos poucos foi renovada por acção de Joaquim Rosas e do maquinista Porfírio. Eduardo Ferreira da Silva esteve ligado às duas tunas. Era um excelente tocador de violeta, esteve de 1910 a 1922 na Tuna Nova e de 1923 a 1930 na Tuna Velha. Anos depois esteve também ligado `fundação da Tuna Musical Brandoense de 1938 a 1952. Faleceu em 1952.
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Bibliografia Informação fornecida pelo Sr. Eduardo Rocha, actual correspondente do «Correio da Feira» em Paços de Brandão SILVA, Elísio António da (1892 – 1925). Nasceu na casa da Bica, em Fiães a 16 de Dezembro de 1892. Ordenou-se sacerdote em 1916 e foi pároco de S. Cristóvão Barrosa (Lousada), tendo sido dispensado do múnus paroquial em 1920. Foi capelão e faleceu a 10 de Outubro de 1925. Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940
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SILVA, Fernando Forjaz Pereira Pimentel de Meneses e (? – ?). Vivia em 1675, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «8.º Conde da Feira, morador em Lisboa; filho de D. Manuel Pimentel, Mestre de Campo, General de Flandres e Governador de Antuérpia, e de Joana Forjaz Pereira de Meneses e Silva, 6.ª Condessa da Feira, naturais de Castela; neto paterno de D. João Afonso Pimentel, 8.º Conde de Benavente e Maiorga, e de D. Maria de Zuniga, castelhana, e materno de D. João Forjaz Pereira, 5,º Conde da Feira, e de D. Maria de Gusmão; casado com Vicência Henriques, filha de Pedro Ceia de Meneses e de D. Guiomar Henriques. Carta de Familiar de 23 de Janeiro de 1675. A.N.T.T. Fernando - m.5, n.º95» Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º117 (Janeiro, Fevereiro e Março), 1964 SILVA, Florentino de Andrade e (1915 – 1989). Nasceu na freguesia de Mosteirô, concelho da Feira, a 9 de Abril de 1915. Era filho de Josefino da Silva Bento e de D. Maria Andrade de Jesus. Foi baptizado no dia 12 de Agosto do mesmo ano, sendo padrinhos dois irmãos mais velhos, Manuel de Andrade e Silva e Luciana de Andrade e Silva. Frequentou a escola primária da sua terra aprendendo
também com seu irmão Manuel que era padre e chegou a paroquiar a Vila de Gondomar, onde um outro irmão, Porfírio, licenciado em Medicina, foi presidente da Câmara Municipal. Em 1927 entra no Seminário de Vilar onde faz os estudos preparatórios e filosóficos, seguindo depois, em 1934, para o Seminário Maior, à Sé, onde foi ordenado sacerdote em 31 de Outubro de 1937. A partir desta data exerceu a actividade docente no Colégio dos Carvalhos, onde esteve pouco tempo, pois o bispo do Porto, D. António Augusto de Castro Meireles, transferiu-o para o Seminário de Vilar, para exercer os cargos de professor e de prefeito. «A vida contemplativa exerceu sobre ele uma enorme atracção», daí ter contactado, em 16 de Julho de 1941, com a Abadia cisterciense de San Isidro de Dueñas, em Venda de Baños, Palência, Espanha para entrar naquela instituição. Teve resposta afirmativa, mas os seus superiores nunca o deixaram ir. Em 1944 foi nomeado director espiritual do Seminário de Vilar. Desempenhou ainda os cargos de assistente diocesano da JEC, de professor de Religião e Moral no Liceu D. Manuel II e de director nacional da Associação dos Padres Adoradores. A 5 de Janeiro de 1955 foi nomeado pelo Papa Bispo Titular de Heliosebaste e Auxiliar do Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes. O novo bispo escolheu como armas de fé o seguinte brasão: Escudo - de azul, um arco-íris de oiro, vermelho, verde e prata em faixa, acompanhado de um meio sol de oiro, movente de chefe, carregado de tetragrama de negro, e, em ponta, de um globo de prata arqueado e cruzado de vermelho, rematado por um crisma de oiro brocante. Ornatos externos – Cruz de oiro ladeada de uma mitra de prata ornada de pedras de cor e de um báculo de oiro. Chapéu eclesiástico de negro, forrado de verde, com seis borlas pendentes a cada lado. Listel de prata forrado de azul com a divisa «Clarifica nomen tuum». A partir dessa data foi viver para a «Torre da Marca» (Porto). «Em virtude da grave conjuntura eclesiástica-política então criada e vivida na diocese do Porto, (exílio do Bispo D. António Ferreira Gomes por ordem de Oliveira Salazar), o bispo D. Florentino de Andrade e Silva foi nomeado, em 12 de Outubro de 1959, pela Sagrada Congregação Consistorial como Administrador Apostólico do Porto. De 1959 a 1969 fez grandes realizações: procedeu à construção do Seminário do Bom Pastor, em Ermesinde, cujo decreto foi assinado em meados de Setembro de 1968, instituiu a Fraternidade Sacerdotal, para formação de candidatos ao sacerdócio e do clero, foram
criadas comissões do clero diocesano, desenvolveu actividade pastoral, com relevância para a Missão Diocesana provida em toda a diocese, incentivou os movimentos de Apostolado, introduziu os Cursos de Cristandade e as Equipas de Nossa Senhora e o Movimento para um Mundo Melhor, instituiu o Secretariado Diocesano de Acção Social e a Obra Diocesana de Promoção Social nos Bairros Camarários do Porto «para ir em socorro dos mais carenciados, e aplicou as directrizes do Concílio Vaticano II, do Papa João XXII. A convite da Conferência Episcopal de Angola e da Acção Católica da arquidiocese de Luanda, deslocou-se ali e percorreu algumas das dioceses, de 6 a 31 de Maio de 1968, onde visitou missões e contactou com o clero e religiosos apreciando o trabalho pastoral ali desenvolvido. Foi um acérrimo defensor da criação da Diocese de Viana do Castelo. No dia 6 de Julho de 1972 foi nomeado Bispo de Faro ao mesmo tempo que era designado Assistente ao Solio Pontifício. Esteve aqui até 1977, ano em que pede a sua resignação por motivos de saúde. De regresso ao Porto, em 23 de Maio de 1977, com 62 anos de idade e doente, estabeleceu a sua morada na Quinta de S. José, Fontiscos, Santo Tirso, casa religiosa do Noviciado das Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, onde veio a falecer em 7 de Dezembro de 1989.
casamento houve 5 filhos: Pedro Marta Peixoto Coelho Pinto da Fonseca Pereira da Silva, 13.º senhor de Fermedo, moço fidalgo em exercício no Paço, que faleceu solteiro; D. Maria da Madre de Deus que morreu moça; António Peixoto Pinto Coelho Pereira da Silva,, 14.º senhor de Fermedo; D. Maria da Conceição e D. Maria Doroteia Peixoto Coelho Hancourt de Sousa Padilha, casada com João Pereira Coutinho de Sousa Pacheco, filho dos marqueses de Soydos.
Bibliografia António Teixeira Fernandes, Dom Florentino de Andrade e Silva - Contemplação, Pensamento e Acção. Contraponto, Edições e António Teixeira Fernandes, 2005
SILVA, Inácio António Gomes da (1908 – 1988). Nasceu na freguesia do Souto, em 7 de Julho de 1908. Estudou no Seminário e foi ordenado sacerdote no mosteiro de Singeverga em 27 de Dezembro de 1936. Celebrou missa, pela primeira vez, em 1 de Janeiro de 1937, em Nogueira da Regedoura. Foi professor no Colégio de Ermesinde durante dois anos. Em seguida paroquiou a freguesia de Real, concelho de Castelo de Paiva. Durante dois anos, tendo ido depois para a freguesia de Vila Maior, Feira, onde se manteve durante onze anos, no fim dos quais foi colocado em Fiães onde esteve vinte e oito anos até à sua aposentação, tendo regressado à sua terra. Foi sócio fundador do Colégio Pio XII e realizou os seguintes empreendimentos: escadaria de acesso à Igreja e arranjos laterais, revestimento com material cerâmico do frontispício da Igreja com a colocação de um amplo painel representado Santa Maria, padroeira de Fiães, sanitários públicos no adro da Igreja, implantação de um novo altar-mor e arranjo circundante.
SILVA, Francisco Peixoto Pinto Coelho Pereira da (1790 – ?). Foi senhor de Fermedo, Vieira, Felgueiras, e das vilas de Cabeçais, Préstimo das Marinhas, dos morgados de Retiães, Calvilhe, e das Casas da Rede, etc. Era filho de Francisco António Peixoto Pinto Coelho Pereira da Silva, capitão-mor de Fermedo, moço fidalgo de Sua Majestade, padroeiro da igreja de Santa Maria de Fermedo e administrador perpétuo do hospital de Alfena, e de D. Maria do Carmo Pinto de Sousa e Melo, da Casa do Eido em Mesão Frio. Foi baptizado a 19 de Setembro de 1790. Foi moço fidalgo com exercício no Paço e coronel das milícias da Vila da Feira. Casou com D. Maria da Madre de Deus Rita de Hancourt de Sousa Padilha, com licença régia por alvará de 11 de Junho de 1820. Deste
Bibliografia Alfredo Gonçalves de Azevedo, Os Senhores de Fermedo e Cabeçais. Arquivo do Distrito de Aveiro, n,º148, 1971 SILVA, Gonçalo da (? – ?). Foi pároco da Freguesia de Guisande substituindo o padre João Sequeira ou Cerqueira, falecido em 28 de Setembro de 1693 e mais tarde substituiu também o padre Valério Alves Pereira. Bibliografia António Ferreira Pinto, Defendei Vossas Terras – Monografia de Guisande. Edição da Junta de Freguesia de Guisande, 1999
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Bibliografia Correio da Feira, 29.1.1988 Domingos da Silva Coelho, Dois Párocos de Fiães - Saudosa e Grata Devoção. Revista Ulfilanis Villa, n.º 3 1993-1997. Edição da Comissão de Defesa do Património e Acção Cultural (CDPAC), Fiães. SILVA, João Maciel e (? – ?). Era pároco da freguesia de Argoncilhe quando respondeu ao inquérito para o Dicionário Geográfico do Padre Luís Cardoso em 1755. Bibliografia Jornal Tradição, 24.11. 1934
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SILVA, João Moreira da (? – ?). Era pároco da freguesia de Paços de Brandão em 1833. Foi ele «que teve a difícil missão de enterrar o «Santo Soldado», em 1834. Quem foi este Santo Soldado? A história é a seguinte: No tempo das lutas liberais (1828-32), um tal José Joaquim Soares Ferreira, oficial ajudante do Brigadeiro Paulo Maurite, comandante de tropas miguelistas, quando vinha do Porto a caminho de Oliveira de Azeméis com uma mensagem para aquele brigadeiro que estava ali estacionado, ao passar a cavalo no lugar da Barroca em Paços de Brandão, foi emboscado por alguns soldados liberais que lhe atiraram dois tiros de espingarda. Como não o tivessem matado logo, «o valoroso soldado» pediu um sacerdote para se confessar, ao que lhe respondeu um dos soldados com um tiro no ouvido, fazendo-lhe saltar os miolos. Nesse dia, uma mulher do povo, chamada Maria Crespa, recolheu no seu lenço de cabeça os miolos do infeliz. Foi sepultado no dia 9 de Abril de 1834 em Paços de Brandão, acompanhado de quatro padres, como diz o pároco João Moreira da Silva no Livro de Assentos da referida Paróquia. A partir daí, o povo de Paços de Brandão e arredores logo o «canonizou», afluindo ao seu túmulo inúmeros romeiros devotos, chamando-lhe o «Santo Soldado». O povo fez-lhe naquele local uma ermidinha (alminhas) «alumiada dia e noite por uma lâmpada, e era voz geral que sua alma era santa». Mais tarde, Manuel Pinto de Almeida, da Casa da Portela mandou construir uma pequena capela no lugar da Barroca, junto à sua casa, que foi o sítio onde o infeliz mancebo foi barbaramente assassinado. Em 1876, Pinho Leal, no seu livro «Portugal Antigo e Moderno», disse: «Hoje (Fevereiro de 1876) está a capela quase concluída, e em breve serão recolhidos
os restos mortais deste mártir, objecto de respeito e devoção, de todo o povo da freguesia e imediatas». Nesse mesmo ano, a 17 de Fevereiro, foi celebrada missa na igreja de Paços de Brandão, por alma do falecido José Joaquim, pelo seu irmão Padre António Joaquim Soares Ferreira. Depois da capela construída, um estrangeiro residente em Lisboa, ofereceu um «belo Quadro «representando esta morte, que se colocou dentro da capela e onde se lê a seguinte inscrição: «Esta pintura representa a trágica morte do doutor José Joaquim Soares Ferreira, natural de Angeja, ajudante do Brigadeiro Paulo Maurite, perpetrada no dia 8 de Abril de 1834. Nos últimos tempos da sua vida deu evidentes sinais de contrição, que é de fé estar sua alma bem «com Deus», e por isso lhe dedicamos esta piedosa e sincera devoção». Com a nova urbanização da freguesia, a capela teve de ser removida e reconstruída «pedra por pedra», nos terrenos da Casa da Portela, tendo sido solenemente inaugurada no dia 14 de Setembro de 1979. «A capela é ainda hoje muito venerada». José Joaquim Soares Ferreira era natural de uma importante família de Angeja. Foi o 8.º filho de Joaquim Soares e neto de Manuel Dias e de D. Maria de Almeida Dias. Seguiu a carreira das armas e formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, tendo-se logo alistado nas fileiras miguelistas e nelas desempenhou altas missões de confiança e grandes serviços à causa, sendo escolhida para ajudante do Brigadeiro Paulo Maurite. Bibliografia Padre Antero, Gomes da Silva, Apontamentos sobre Paços de Brandão SILVA, Joaquim Francisco da (? – 1968). Conhecido por «Joaquim do Merouço», foi «um magnânimo coração de exemplar democrata e um acérrimo defensor da sagrada causa da justiça», tendo-se sempre preocupado com os mais desfavorecidos. Para socorrer a miséria de muitos seus conterrâneos, chegou mesmo a sacrificar os seus próprios haveres. Pelo seu espírito filantrópico e homem bom, tem sido recordado, ao longo dos anos, pelo «Correio da Feira», que no dia do aniversário da sua morte lhe dedica palavras de reconhecimento, respeito e saudade. Faleceu em 23 de Março de 1968. Bibliografia Correio da Feira, 27.3.1992
SILVA, Joaquim José Vasconcelos Vargas. (1770 – 1841). Foi pároco da freguesia de S. Jorge, de 1825 a 1841. Nasceu na freguesia da Sé, Porto, em 29 de Março de 1970. Era filho do Dr. João Monteiro Vargas e Silva e de Dona Maria Clara de Vasconcelos. Ordenou-se no Porto e o recebeu presbiterado em Braga no dia 21 de Setembro de 1793 das mãos do Arcebispo D. Frei Caetano Brandão. Faleceu em 25 de Outubro de 1841 e foi sepultado no adro, onde se conserva a campa com um epitáfio. Bibliografia P.e José Inácio da Costa e Silva, «A Freguesia de S. Jorge», jornal Tradição, número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940 SILVA, José Henrique da (1833 – 1889). Nasceu na casa da Pauta, freguesia de Pigeiros em 1833. Tendo seguido a carreira eclesiástica, cantou a sua primeira missa em 24 de Janeiro de 1858. Foi coadjutor de várias freguesias e abade de Paços de Brandão, que começou a paroquiar em 1 de Agosto de 1870 e ali esteve até à sua morte. É do seu tempo a capela da Póvoa (1877), a inauguração da capela da Barroca (1876) e da aquisição de várias alfaias litúrgicas, como consta nas Deliberações Camarárias. Foi vigário da Vara em Agosto de 1879. Era «muito lido, muito culto», tendo colaborado em vários jornais e tendo deixado uma boa biblioteca. Foi agraciado pelo Governo com uma Comenda. Faleceu a 5 de Maio de 1889. Bibliografia Padre Antero, Apontamentos sobre Paços de Brandão P.e José Inácio da Costa e Silva, Santa Maria de Pigeiros. Jornal Tradição, número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940 SILVA, José Inácio da Costa e (1872– 1944). Nasceu em Pigeiros a 21 de Junho de 1872. Era filho de Manuel Inácio da Costa e Silva e de Margarida Henriques de Jesus. Estudou no colégio da Formiga e nos Seminários dos Carvalhos e do Porto. Recebeu o presbiterado das mãos do Cardeal D. Américo em 9 de Março de 1895 e rezou a primeira missa em 19 do mesmo mês.
Foi capelão em Duas Igrejas. Nomeado pároco de Fermedo em 11 de Junho de 1896, tomou conta da paróquia em 18 de Julho do mesmo ano, onde se cola em fins de 1802. Em 4 de Fevereiro de 1903 colocou-se na mesma freguesia. Apresentado pároco de S. Jorge em 27 de Maio de 1905 e nela colocado em 2 de Maio de 1906, tomou posse em 7 do mesmo mês e ano. Foi aposentado por despacho de 24 de janeiro de 1936. Todos o conhecerem como padre bondoso e amigo dos pobres. Era amigo da cultura histórica e de conhecer terras. Deixou vários escritos sobre Pigeiros. Deixou uma monografia inédita sobre S. Jorge. Escreveu o resumo monográfico publicado na Tradição da Feira de 1940. Renunciou ao beneficio em 26 de Setembro de 1939 e foi substítuido em 28 do mesmo mês pelo P. Delfim Augusto Guedes, de Guisande, que por sua vez veio para a freguesia de Sanguedo. Faleceu às 8 horas de 12 de Março de 1944, com 74 anos de idade, vitima de pneumonia, sendo sepultado em Pigeiros. Bibliografia P.e José Inácio da Costa e Silva, «A Freguesia de S. Jorge», jornal Tradição, número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940. SILVA, José Nunes da (? – ?). A única referência encontrada sobre esta personalidade é dada pelo Dr. Roberto Vaz de Oliveira. Foi redactor principal de um jornal da Vila da Feira intitulado «O Charéu», número único que saiu em 31 de Janeiro de 1917 tendo como administrador Henrique Pinto. Bibliografia Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira. Revista «Aveiro e o seu Distrito», n.º10, 1970. SILVA, Luís Correia da (? – ?). Vivia em 1758, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «natural de Moinhos, freguesia de S. Martinho de Argoncilhe, Feira, morador na cidade do Rio de Janeiro, filho de Manuel Correia, natural de Serzedelo, Argoncilhe, e de Catarina Francisca, natural de Moinhos, e aí moradores; neto paterno de Francisco Álvares e de Madalena Correia, naturais
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e moradores em Serzedelo, e materno de Gonçalo Francisco, natural de Roçadas, Argoncilhe, e de Catarina Jorge, solteira, natural de Moinhos, e aí moradora.
Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940.
Carta Familiar de 24 de Janeiro de 1758 Luís - m. 28, n.º 513
SILVA, Manuel de Sousa e (1872 – 1921). Nasceu no lugar dos Valos, em Fiães a 31 de Dezembro de 1872. Foi ordenado presbítero em 1899. Matriculou-se em Letras e foi professor de alemão e inglês nos Liceus de Vila Real, Faro, Lisboa e Porto. Faleceu em 20 de Abril de 1921.
Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º150, 1972.
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SILVA, Manuel Borges da (1694 – 1771). Natural de Milheirós de Poiares do lugar das Relvas. Foi ordenado e aprovado para confessor em 1718. Foi sacerdote do Cabido de S. Pedro e em 1743 foi-lhe feito um prazo de um casal dos Casais. Faleceu na Quinta das Relvas em 8 de Fevereiro de 1771, sem testamento. Seu sobrinho o Licenciado José Jacinto da Costa Reis mandou-lhe fazer os três ofícios de vinte padres cada um. Bibliografia Manuel Joaquim Santos Conceição, Milheirós de Poiares (Século XVI A XVIII). Revista Villa da Feira, n.º 13, 2006. SILVA, Manuel de Pinho da (? – 1744). Sacerdote natural de Milheirós de Poiares, era filho de Manuel de Pinho. Era irmão de João de Pinho a quem deixou os seus bens de prazo, como consta do livro de óbitos. Faleceu a 5 de Outubro de 1744. Bibliografia Manuel Joaquim Santos Conceição, Milheirós de Poiares (Século XVI A XVIII). Revista Villa da Feira - Terra de Santa Maria, n.º 13, 2006. SILVA, Manuel Dias da (1891 – 1933). Nasceu no lugar dos Valos, Fiães a 10 de Junho de 1891. Matriculou-se no Colégio da Formiga, em Ermesinde no Escolasticado Menor dos Padres do Espírito Santo em 16 de Setembro de 1908. Era professor em Chevilly (França) em 13 de Novembro de 1911. Fez consagração ao Apostolado a 9 de Julho de 1916 e no ano seguinte, em 1917, partiu para o Rio de Janeiro para as missões de Tefé, Amazonas, onde foi professor. Em 1930 regressou à Europa, mas um ano depois regressou a Tefé onde faleceu a 10 de Julho de 1933.
Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940. SILVA, Manuel Alves da (1936 – 1992). Natural de S. Paio de Oleiros, foi proprietário da «Electro Rádio Oleiros». Foi presidente da Junta de 1983 a 1989, tendo desempenhado também o cargo de membro da Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira e presidente da direcção da MASSPO (Movimento de Apoio Social a S. Paio de Oleiros) e membro do Conselho Fiscal da Fundação Sá Couto. Era casado com D. Maria Madalena Oliveira Cruz de quem teve três filhos: Manuel, Joaquim e Carlos Alberto de Oliveira e Silva. Faleceu em Outubro de 1992 com 56 anos de idade. Bibliografia Correio da Feira, 23.10.1992 SILVA, Manuel Correia da (? – ?) Natural de Tarei, era conhecido pelo «Padre Manuel do Casal». Foi pároco da freguesia do Souto. Foi o homem mais valente e destemido do seu tempo na região. Para testemunhar a sua coragem contava-se o seguinte: «Entre as proezas que lhe criaram fama, aponta-se a tremenda bofetada em que espapaçou as ventas do célebre «Tarrinca», de Pardilhó, o terror daqueles sítios. O padre Manuel, que fazia parte da música da terra, encontrou-se naquela freguesia em serviços de Semana Santa. Estando a jantar com os companheiros no apartado de uma mercearia, entrou ali o «Tarrinca», lobrigando-o do balcão, começou a discretear sobre padres e religião num tom mais agressivo do que doutoral. O Padre levantou-se, caminhou para ele e pergunta-lhe: Olhe lá, os padres já lhe fizeram algum mal? - Ah!, isso não, mas não passou do «mas». O braço do reverendo, ergue-se, rodopia no
ar e cai, pesado, como o montante dum guerreiro medieval, na foceira do «Tarrinca», que se vai abaixo das pernas, dando no pavimento duas voltas de cilindro. O padre esperou a réplica. De seus olhos, como duas mãos de Júpiter, saltavam raios. Porém, o Hércules pardilhoense, levantando-se com pouca pressa, limitou-se a resmungar uns monossílabos ininteligíveis e a sacudir o pó dos joelhos. O padre, voltando ao seu lugar, pôde concluir a refeição sem os comentários impertinentes que o obrigou a interrompê-la». Bibliografia Jornal Tradição, 8.8.1936 SILVA, Manuel Ferreira da (? – ?). Vivia em 1753, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «lavrador; natural e morador em Vilarinha, freguesia de S. Martinho de Aldoar, Porto; filho de José Ferreira de Sousa, natural da freguesia de Santiago de Lobão, Feira e de Luísa da Silva, natural de Vilarinha e aí moradores; neto paterno de Domingos Gomes, natural de Sub-Outeiro; Lobão, e de Isabel Francisca, natural da freguesia de S. Mamede de Vila Maior, Feira, e materno de André da Silva, natural de Aldoar, e de Catarina Fernandes, natural de Vila Cova, freguesia de S. Cristóvão de Rio Tinto; ajustado para casar, em 1766, com Josefa Maria, natural da freguesia de S. Salvador de Ramalde, filha de António Gonçalves e de Maria Antónia, naturais de Ramalde e então moradores em Matosinhos, neta paterna de Clemente Gonçalves e de Catarina Francisca, naturais e moradores em Ramalde, e materna de Domingos Alves, natural da freguesia de S. Paio de Oleiros, Feira, e de Isabel João, também natural de Ramalde e aí moradores.
Bibliografia Padre Manuel F. de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira, Porto, 1939-1940. SILVA, Manuel Rodrigues da (? – . 1790). Pelo Arquivo de S. Bento, a resignação do padre Manuel da Carvalho a favor do Dr. Manuel Rodrigues da Silva para pároco da Freguesia de Guisande teve lugar em 1746, mas o registo do seu nome aparece só em 1750. Era natural da freguesia de Santo Ildefonso, no Porto, formado em cânones pela Universidade de Coimbra. O visitador de 1769 escreveu a seu respeito o seguinte: «É um bom pároco, letrado, com limpeza e asseio na sua igreja. Advogou no Porto e o faz ainda hoje». A torre da igreja foi construída por este pároco em 1764. Faleceu em 12 de Abril de 1790. Bibliografia António Ferreira Pinto, Defendei as Vossas Terras – Monografia de Guisande. Edição da Junta de Freguesia de Guisande, 1999.
Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º155, 1973.
SILVA, Frei Paulo da (? – ?). Vivia em 1737, segundo Provisão de Qualificador do santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «religioso dos Eremitas de santo Agostinho. Provincial da Congregação da Índia Oriental, natural da freguesia de S. Vítor de Braga; filho de Pascoal Fernandes, mestre pedreiro, natural de Ribas, freguesia de Santiago de Lobão, Feira, e de Catarina Fernandes, natural de Maceda, freguesia de Santa Maria da Campanha, Porto, moradores em Braga; neto paterno de António Francisco, lavrador, natural de Espinheiro, freguesia de S. Pedro de Canedo, Feira, e de Maria Fernandes, natural de Ribas, e aí moradores, e materno de Francisco Gonçalves, natural de Maceda, e de Ana Fernandes, natural de Póvoa de Baixo, freguesia de Santo Ildefonso do Porto, moradores em Maceda. Provisão de Qualificador de 19 de Fevereiro de 1737. Paulo - m. 61, n.º105
SILVA, Manuel Pinto Ferreira da (? – 1912). Foi o primeiro professor da escola masculina de Fiães «Era um mestre-escola incansável e foi um benemérito da instrução popular e um bom educador».
Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º 166, 1976.
Carta Familiar de 21 de Dezembro de 1753 Manuel - m.157, n.º1631
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SILVA, Porfírio de Andrade e (? – 1971). Natural da freguesia de Mosteirô, Feira. Licenciado em Medicina, foi delegado de Saúde em Gondomar onde também foi presidente da Câmara Municipal. Era casado com D. Arminda Godinho de Seabra Andrade e Silva, da qual teve dois filhos: Maria Margarida e Fernando Seabra. Faleceu em Gondomar em Março de 1971. Bibliografia Correio da Feira, 13.3.1971 SILVA, Raimundo de Sousa e (? – ?). Natural da Quinta da Macieira, ordenou-se padre nos princípios do século XIX. Foi pároco da freguesia do Souto. «Nesta freguesia não há tradição deste padre, talvez por viver fora dela». 94
Bibliografia Jornal Tradição, 8.8.1936 SILVA, Rodrigo Brandão da (? – 1753). Era natural da freguesia de Ancede, concelho de Baião, da ilustre família de Vale da Cunha. Foi pároco da freguesia de Fornos de 17 de Junho de 1726 a 19 de Março de 1753. A actual igreja foi construída no seu tempo, de 1736 a 1739, devendo-se-lhe a ele a Capela Maior, que foi feita às suas custas. Faleceu em 19 de Março de 1753, tendo sido sepultado na igreja no jazigo dos Abades. Bibliografia Padre José Alves de Pinho, Outrora…Fornos. Edição da LAF - Liga dos Amigos da Feira, 2005 SOARES, António Carlos de Carvalho Ferreira (1903 – 1942). Nasceu em Viana do Castelo em 5 de Fevereiro de 1903. Era filho do Dr. António Ferreira Soares que foi durante muitos anos Conservador do Registo Predial da Feira e de D. Inês de Carvalho Ferreira Soares, natural de Nogueira da Regedoura, concelho da Feira. Licenciou-se em medicina na Universidade do Porto, tendo exercido clínica em Nogueira da Regedoura e na Associação Fúnebre de Socorros Mútuos de Grijó. «O Dr. Carlos ou o Dr. Prata, como era frequentemente conhecido em Nogueira, tinha da vida um conceito de missão onde o menos
importante parecia ser ele mesmo», Em 1936 tornou-se membro do Comité Regional do Douro, do Partido Comunista Português e daí começou a ser perseguido pela PVD, polícia política do Estado. Em Nogueira e arredores este homem bom, desprendido dos bens materiais, alegre como uma criança, aliava o seu trabalho clínico à tentativa da consciencialização social e política do povo. Com o povo convivia cantando e tocando viola nas romarias; auxiliava os mais pobres, aos quais dava dinheiro para comprar os medicamentos de que necessitavam». A ele se deveu a construção, em 1931, da sede definitiva do Ateneu Recreativo e de Instrução Social, em Nogueira da Regedoura. Ali funcionou uma sala onde se davam aulas de alfabetização para adultos e realizaram-se muitas actividades culturais e recreativas, como palestras, serões musicais, bailes, projecção de filmes e peças de teatro, apresentadas pelo seu «Grupo Cénico». A direcção do Ateneu ainda fundou uma escola de música e publicou o jornal «A Charrua», «pequeno boletim de 6 páginas que dava conta, em cada mês, de tudo quanto ao Ateneu dissesse respeito, como notícias locais de interesse e colaboração de leitores». O Dr. Carlos Ferreira Soares era um assíduo colaborador do boletim e ali se via claramente «o seu carácter, o temperamento e mesmo a sua filosofia de vida, para além de um atrevimento perigoso e desusado para uma época em que o conformismo e aceitação da situação política e social eram mais que seguro para eventuais incomodidades». Foi colaborador da «Seara Nova», onde assinava os seus artigos simplesmente com o nome António Carlos. A partir de 1936 entrou na clandestinidade e a polícia política do Estado começou a fazerlhe o cerco e no dia 4 de Julho de 1942, por volta das 11 horas da manhã, foi barbaramente assassinado por agentes da PVDE. Bibliografia Armando de Sousa e Silva e Alberto de Oliveira e Silva, Nogueira da Regedoura – A Terra e a Gente. Edição Junta de Freguesia de Nogueira da Regedoura, 2004. SOARES, António Augusto de Castro (1861 – 1938). Nasceu em S. Paio de Oleiros, concelho da Feira, a 23 de Outubro de 1861. Licenciado em medicina, radicou-se em Espinho onde exerceu as funções de Delegado de Saúde. No campo político, foi o 1º. Presidente da Câmara Municipal de Espinho (1899), depois de ter pertencido à Comissão
Promotora da Criação do Conselho de Espinho. Em 1908 volta a presidir à mesma Câmara até à implantação da República. Foi presidente do Senado Municipal de Espinho (1916-1919) e em 1925 aceitou integrar uma lista do Partido Democrático. Foi designado para Presidente da Comissão Administrativa da Câmara de Espinho, após o golpe militar de 1926, tendo sido substituído pouco depois. Foi presidente de Assembleias Gerais de várias colectividades de Espinho até à sua morte, ocorrida em 1938. Bibliografia Carlos Morais Gaio, A Génese de Espinho - História e Postais. Ed. Campo da Letras, 1999; Francisco Azevedo Brandão, Anais da História de Espinho (985 -1926), Ed. C.M.E., 1º. Volume, 1991 SOARES, António Ferreira (? – 1945). Nasceu na freguesia de Grijó. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra em 1899. Foi conservador do Registo Predial da Vila da Feira até 1944, data da sua aposentação, Foi professor do Liceu e colaborador dos jornais «Correio da Feira», «onde deixou vincada a sua burilada pena em artigos e contos de merecimento», em «A Voz Pública» e nas revistas Luza» «Portucale» com artigos literários e doutrinários. Foi director de «O Povo de Viana do Castelo», durante alguns anos que precedeu a implantação da República. Foi Governador Civil de Viana do Castelo. «Escritor de sólida cultura», escreveu o romance de carácter regional «Casa Abatida», que dedicou à memória de seu malogrado filho, o médico António Carlos Soares, abatido a tiro pela polícia política em 1942. Era casado com D. Inês de Carvalho Ferreira Soares, natural de Nogueira da Regedoura, concelho da Feira. Deste casamento houve 4 filhos: Armando Jaime de Carvalho Ferreira Soares (médico), António Carlos Ferreira Soares (médico), Fernando António Carvalho Ferreira Soares (advogado) e D. Inês Cândida de Carvalho Ferreira Soares (educadora de infância). Faleceu em Nogueira da Regedoura, concelho da Feira, em 9 de Janeiro de 1945. Bibliografia Correio da Feira, 20.1.1945 SOARES, Benjamim (1888 – 1968). Nasceu em Fiães a 22 de Agosto de 1888. Ordenou-se
presbítero a 3 de Agosto de 1912 e foi pároco de Fornos e Nogueira da Regedoura (Feira), Lagares (Penafiel), Foz do Sousa (Gondomar), Louredo (Paredes) e S. Vicente de Louredo (Feira) e Lourosa, Feira. Bibliografia Padre José Alves de Pinho, Outrora…Fornos. Edição da LAF - Liga dos Amigos da Feira, 2005 Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940 SOARES, Chamoa, ou Flâmula Suariz (? – ?). Fez a doação do padroado íntegro da igreja de Fiães ao mosteiro de Pedroso em 1079. O seu testamento encontra-se nos «Diplomata et Chartae», sob o n.º 507 Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Subsídios para a História de Fiães, «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º 18, 1939 SOARES, Diogo (? – ?). Seu irmão e sua imã venderam a Elvira Nunes, em 31 de Dezembro de 1109, as suas partes e diversa terras situadas em Ramil, Ordonhe e Casl de Alvella, por um boi no valor de 10 «modios». Bibliografia Robert Durand, Le Cartulaire Baio Ferrado du Monastère de Grijó (XI-XIII Siècles). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1971 SOARES, Domingos Homem (? – ?). Vivia em 1648 segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi passada nessa data e que a seguir se transcreve: «natural e morador na Vila da Feira; filho de Lopo Soares Homem e de D. Isabel Coelho, do lugar de Arrifana, Feira; neto paterno de Domingos Homem e de Joana de Meireles, moradores em Arrifana, e materno do Dr. Manuel de Arzila Monteiro, Provedor da Comarca da Feira, e de D. Maria de Vasconcelos; casado com Maria de Andrade Freire, filha de Estêvão Leitão Coelho e de Inês Godinha, naturais e moradores
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na Vila da Feira, neta paterna de António Soares Coelho e de Beatriz de Viveiros da Costa, e materna de Pascoal de Andrade Freire e de Genebra de Pinho Godinha, todos moradores na Feira. Carta Familiar de 15 de Maio de 1648. Domingos - m. 3, nº. 11º» Bibliografia. Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», nº. 113 Janeiro, Fevereiro e Março), 1963.
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SOARES, Elvira (? – ?). e seu marido Soeiro Odoriz comprometem-se, em 10 de Julho de 1135, eles e os seus descendentes, a não alienar uma propriedade situada entre Mozelos e Rio Meão, a qual será para o Mosteiro de S. Salvador de Grijó quando se extinguir a descendência de Elvira. Bibliografia Robert Durand, Le Cartulaire Baio Ferrado du Monastère de Grijó (XI-XIII Siècles). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1971 SOARES, Fernão (?– ?). Foi pároco da freguesia de S. Jorge, de 1588 a 1590. Bibliografia P.e José Inácio da Costa e Silva, «Freguesia de S. Jorge», jornal «Tradição» número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940 SOARES, Francisco de Matos (? – 1748). Foi pároco da freguesia de Pigeiros, apresentado, em 1700 e 1730, pelos «Rochas», continuadores dos antigos Pereiras da Quinta do Paço de Pigeiros. Era tio de Manuel Alberto da Rocha Tavares. Faleceu a 5 de Julho de 1748. Bibliografia P.e José Inácio da Costa e Silva, «Santa Maria de Pigeiros», jornal Tradição, número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940:
Padre Domingos Moreira, Documentos sobre Pigeiros. Revista «Aveiro e o seu Distrito», n.º 31 SOARES, Luís Ribeiro (1884 – 1971). Oriundo de uma família de lavradores do lugar de Ordonhe, freguesia de Mozelos (Feira), o padre Luís Ribeiro, foi pároco de Paços de Brandão de 1915 a 1918, onde no espaço de poucos anos edificou uma residência paroquial. «Foi um sacerdote exemplaríssimo, estudioso, erudito e abalizado orador sagrado, considerado o melhor orador do norte na época de 1920 – 1940». Faleceu, na Foz do Douro, em 30 de Dezembro de 1971, com 87 anos de idade. Bibliografia Correio da Feira, 15.1.1971 SOARES, João de Matos (? – ?). Vivia em 1691, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «natural e morador na vila de Ovar. Filho de Salvador de Matos Soares, Familiar do Santo Oficio, natural da freguesia de Santiago de Rio Meão, e de Mariana da Fonseca, natural de Ovar e aí moradores, havendo primeiramente residido na Feira. Sobrinho do Prior de Roge de Cambra, Padre João Soares Coelho. Neto paterno de Teodósio de Matos, este filho de Salvador de Matos e de Isabel Soares, naturais e moradores em Rio Meão, na antiga Quinta da Feira, hoje dos Dourados; e de Beatriz ou Brites de Almeida, filha de Nunes Cardoso e de Antónia Soares, naturais e moradores em São João da Madeira: E neto paterno de Francisco Botelho, filho de Manuel Pais de Abreu e de Maria Soares, naturais e moradores em Contumil, freguesia de São João Baptista de Loureiro, Oliveira de Azeméis, e de Beatriz Aranha, filha de João de Pinho e de Maria da Fonseca, naturais e moradores na vila de Ovar. Carta Familiar de 2 d Abril de 1691. A.N.T.T. - João m.25, n.º 598». Bibliografia David Simão Rodrigues, Rio Meão, a Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001
SOARES, João (1753 – 1829). Nasceu no lugar da Idanha em Fiães. Foi sacerdote e faleceu a 11 de Maio de 1829 com 76 anos de idade. Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940 SOARES, Maria (? – ?), sua irmã Godinha Soares e sua filha Maria Peres, venderam a Elvira Nunes, em 2 de Dezembro de 1122, por 10 «modios», uma parte de uma terra situada em Aldriz. Bibliografia Robert Duran, Le Cartulaire Baio Ferrado du Monastère de Grijó (XI-XIII Siècles). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Oaris, 1971 SOARES, Ouroana (? – ?) e seu filho, Nuno Gonçaves, de acordo com os monges do Mosteiro de S. Salvador de Grijó, trocaram, em Dezembro de 1151, com Paio Tructesendes, uma parte dos seus bens de Argoncilhe, Gontaldi e Atequi, contra uma terra situada em Sanguedo. Bibliografia Robert Durand, Le Cartulaire Baio Ferrado du Monastère de Grijó (XI-XIII Siècles). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1871 SOARES, Pedro (? – ?) comprometeu-se, em 22 de Janeiro de 1136, em nome de seus filhos, em ceder, à sua morte, ao Mosteiro de S. Salvador de Grijó, uma das suas propriedades de Murraceses, contra outra do mesmo valor situada em Travanca. Bibliografia Robert Durand, Le Cartulaire Baio Ferrado du Monastère de Grijó (XI-XIII Siècles). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1971 SOARES, Pedro (? – ?). Frei Pedro Soares era prior da igreja de S. Nicolau da Feira nos princípios de 1550, quando foi persuadido pelo
Conde da Feira, D. Diogo Forjaz Pereira, para renunciar àquela igreja e juntamente com o direito que tinha na sua anexa de Travanca, em favor da Congregação de S. João Evangelista: Frei Pedro Soares renunciou-a e depôs nas mãos do Cardeal João Spontino, que era, naquela época, núncio de Portugal com poderes de delegado a later. O cardeal «alevantou em igreja colegiada a dita igreja de S. Nicolau e sua anexa de S. Mamede de Travanca e concedeu-lhe todas as graças e privilégios de que os demais colégios da congregação usavam jure, vel consuetudine e que pudessem tomar logo posse das ditas duas igrejas e pudessem curar sem dependência ou licença alguma do ordinário. Estas graças foram concedidas por uma bula apostólica de 3.7.1550 e confirmada pelo Papa Júlio III a 16.11.1550, instituindo as duas igrejas em mosteiro colegiada dos Cónegos Seculares de S. João Evangelista e que «se pudessem curar por religiosos idóneos». Bibliografia Padre Jorge de S. Paulo, O Convento da Feira. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º 63 (Julho, Agosto e Setembro), 1950 SOBRINHO, Domingos António Cardoso (1901 – 1979). Nasceu em Santa Maria de Frende, Concelho de Baião, em 25 de Agosto de 1901. Era filho de Joaquim António Cardoso, lavrador, natural de Fiães, e sobrinho do padre Domingos António Cardoso que foi pároco em Vila Maior, Travanca, Sanfins. Domingos António Sobrinho foi ordenado sacerdote em 17 de Outubro de 1925, tendo sido nomeado logo no ano seguinte pároco de Escapães, Feira, onde se manteve até 1933. Desde esta data até 1938 foi Vigário Cooperador em S. Cosme e em meados de Outubro de 1938, foi para Fermedo como Vigário Ecónomo. Testemunhos dos seus pares davamno como um «homem privilegiado, sobressaindo a bondade, a mansidão, a humildade e sobretudo o espírito de pobreza em grau eminente. Manso e humilde nunca o vi exaltar-se ou zangar-se com alguém. Com uma doçura inigualável, atendia sempre a todos». Homem simples, calcorreou montes e vales a pé para celebra missas e ministrar a confissão nas capelas mais longínquas de Fermedo, tendo-se perdido algumas vezes no meio dos montes. Possuía uma grande biblioteca, sobretudo de livros religiosos «e na catequese era uma espécie de S. João Bosco: explicava muito mas não obrigava a decorar tudo, dava muitos exemplos da vida diária para
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ilustrar a doutrina que expunha». Quando sabia de qualquer problema de divisão ou de rixas, procurava ir ao encontro das pessoas para fazer a paz. Foi, enfim, «um sacerdote santo, homem simples, humilde, calado, orante, reflexivo, assíduo aos retiros e confessionário e sobretudo não escondia aquela pobre batina». Faleceu a 21 de Dezembro de 1979, com ares de santidade. O seu túmulo começou então a ser local de romagem. Chamam-lhe o Padre Santo. Bibliografia Padre Januário dos Santos, Padre Domingos António Cardoso Sobrinho - Um Padre e que Padre… Um Santo Revista «Ulfilanis Villa», n.º 3 -1993-1997. Edição da Comissão de Defesa do Património e Acção Cultural, n.º 3 - 1993-1997, Fiães
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SOBRINHO, Domingos Cardoso (1911 – ?). Nasceu em Fiães em 25 de Julho de 1911. Ordenouse sacerdote em 1926, Era filho de José António Cardoso. Foi coadjutor de S. Cosme (Gondomar) e pároco de Escapães (Feira) e Fermedo (Arouca). Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940 SOEIRO, Manuel Gabrial (? – ?). Foi pároco de Fiães durante 23 anos (1684-1707), no reinado de D. Pedro II. Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940 SOUSA, Aires de Almeida e (1905 – 2007). Nasceu em Paços de Brandão em 6 de Janeiro de 2007. Era filho de António de Almeida e Sousa e de D. Margarida da Rola. Tendo desempenhado vários ofícios, dedicou-se desde tenra idade à música, arte que abraçou durante toda a sua vida como exímio executor de violão e violino, e como professor. Este gosto pela música, veio-lhe de seu pai, que tinha tocado violoncelo nas tunas «Estudantina» e Nova, de Paços de Brandão e de sua mãe que foi uma «admirável cantadeira de
desfolhadas», cujas canções foram recuperadas por Joaquim Ferreira Alves e sua filha Joana Carvalho que as incluíram no reportório do seu grupo «Como Elas Cantam e Dançam em Paços de Brandão» Aires de Almeida fez parte de várias Tunas: de Paços de Brandão, Anta, S. Paio de Oleiros, Mozelos, Grijó e Fiães e ainda de conjuntos musicais como os de António Manuel, de Ovar e de «Os Tekos». Esteve na fundação do grupo «Como Elas Cantam e Dançam em Paços de Brandão», fazendo parte do grupo musical. A música, para ele, segundo confessou um dia, era «a maior essência da vida. Não é preciso ser um grande músico para exprimir o lado mais belo que a música nos faz sentir». Senhor de uma eterna juventude, mestre Aires de Almeida, viveu sempre com viva intensidade a vida, sobretudo quando se dediva à música, fosse seu executante ou seu professor. Faleceu, em Paços de Brandão, em 25 de Janeiro de 2007, com 102 anos. Bibliografia Correio da Feira, 29.01.2007; «Notícias de Paços de Brandão», 31.01.2007; «Terras da Feira», 29.01.2007 SOUSA, António Francisco de (1823 – 1902). Nasceu no lugar da Presa, em Fiães, em 1823. Foi sacerdote, passou a residir em Vilar e faleceu a 1 de Janeiro de 1902. Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940 ´
SOUSA, António Joaquim de (? – ?). Era Capitão de Ordenanças da Feira, em 13.05.1808, por morte de Domingos Fernandes Valente da Beira. Bibliografia Nuno Gonçalo Pereira Borrego, As Ordenanças e as Milícias em Portugal, Subsídios para o seu estudo, vol. I. Edição Guarda-Mor, edição de Publicações Multimédia, Lisboa, 2006 SOUSA, Arlindo Francisco de (1916 – ?). Conhecido na vida literária por Arlindo de Sousa, nasceu
no Rio de Janeiro (Brasil) em 1916. Descendente de uma família, natural da freguesia de Canedo (Feira), fez a sua primeira viagem a Portugal em companhia de sua mãe, aos quatro anos. Dois anos depois, sua mãe faleceu. Seu pai, desgostoso, veio, em 1924, para Portugal, em companhia de quatro filhos, um deles com menos de dois anos, sendo Arlindo o mais velho, com oito anos e foi viver para as suas propriedades de Canedo. Aqui, uma doença gravíssima reteve-o no leito vários anos, impedindo-o de prosseguir os seus estudos que tinha iniciado no Brasil. Saído do leito, mas ainda doente, recomeça os seus estudos primários, ingressa no ensino médio e durante esse tempo (1935-1940) escreve e edita alguns trabalhos de literatura e filologia: «Júlio Dinis. O Centenário do seu Nascimento»; «Um Alvitre» (Lisboa, 1939); «Éclogas de Bernardim Ribeiro»; «Jano e Franco» (Porto, 1940); «Obras de Gil Vicente» (Porto, 1940); «Respigos de Toponímia Feirense», no jornal «Tradição, da Vila da Feira; «Feira, Terra de Sanctae Mariae» (Porto, 1940). E continuou a estudar, ensinar, escrever e editar livros de investigação arqueológica, etnológica, folclórica, histórica e linguística «Antiguidades do Concelho da Feira - Lancobriga» (Coimbra,1942); «Lusitânia» (Lisboa, 1942); «Da Criação de Institutos de Cultura Regional, Museus e Bibliotecas em todos os Concelhos de Portugal», comunicação apresentada ao «XVIII Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências», realizado em Córdoba (Lisboa, 1945); «Cancioneiro de Entre Douro e Mondego», comunicação ao mesmo Congresso (Lisboa, 1945); «O Concelho da Feira, História, Etnografia, Arte, Paisagem», (Espinho, 1947); «2.ª edição «Espinho», 1948; «O Nome Lisboa» (Lisboa, 1948, publicação da Câmara Municipal de Lisboa); «Origem de Lisboa» (Lisboa, 1948, publicação da Câmara Municipal de Lisboa) «Umica, Região do Município da Feira», comunicação apresentada ao XIX Congresso LusoEspanhol para o Progresso das Ciências, realizado na cidade de S. Sebastian, Espanha, em 1947 (Aveiro, 1954); «Estudos de Língua Portuguesa - As Designações «Santa Maria» e «Feira» (Rio de Janeiro, 1956); «Estudos de Arqueologia, Etnologia e História»; «Antiguidades do Município de Gaia»; «Civilizações Pré-Romana, Romana e Romano-Portuguesa» (Rio de Janeiro, 1957); «O Nome Portugal», separata da Revista do Livro, n. 8 - Ministério da Educação e Cultura (Rio de Janeiro, 1957); «Antiqua Lusitana», edição melhorada de «Lusitânia», Lisboa, 1942 (Rio de Janeiro, 1958); «O Povo e a Origem Histórica e Filológica de Algumas Povoações», separata da Revista
«Letras», n.º 10, da Faculdade de Letras da Universidade do Paraná, Curitiba, 1956; «Pequena Nota a «Canthus», de Martialis, separata da Revista de Portugal, vol. XXIV, Lisboa, 1959; «Marcial e os Falares da Hispânia», separata da revista de Filologia Clássica», «Eyphrosyne», vol. II, Lisboa, 1959; «A Língua Portuguesa no Brasil» / Rio de Janeiro, 1960); De 1960 são ainda: «Estudos de Língua Portuguesa, Toponímia, Arqueologia, Etnologia» (S. Paulo, Brasil); «Toponímia e Arqueologia de Entre Douro e Vouga» (Distrito de Aveiro), separata da revista Letras, n.º 11 da Faculdade Letras da Universidade do Paraná, Curitiba; e «Onomástica Pré-Romana. A Propósito de Três Divindades Na ante-Romanas da Região de Entre Douro e Vouga» (separata da Revista de Portugal, vol. XXV (Lisboa). De 1961 são: «Povoamento Medieval de Entre Douro e Vouga. Fontes Toponomásticas» (Lisboa); «A Palavra que». De 1962: «Antiqva Lvsitania : nomina virorvm mvliervm deorvm aliqve in lvsitania reperta : elementa ad elementa ad locvpletivs stvdivm)», na Revista de História, órgão do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de S. Paulo; «Toponomástica LatinoPortuguesa», Ministério da Educação e Cultura (Serviços de Documentação); «Fontes de Língua Portuguesa no Brasil», Ministério da Educação e Cultura do Brasil (Casa de Rui Barbosa); «Tradicionalismo Arcaico e Provinciano Português na Língua do Brasil», Revista da Academia Brasileira (Rio de Janeiro); «Origens Históricas e Folclóricas de Expressões Populares de Algumas Povoações e locais», separata da Revista de Portugal, vol. XXVI (Lisboa); «Vocabulário de Entre Douro e Vouga»; «Arte de Pesca Marítima», revista Letras, da Universidade do Paraná; «Toponímia do Paroquial Suevo» (Séc. VI), editora J. Ozoni; «Onomástica Pré-Romana. O Nome Aveiro», Revista de Portugal; «A Poesia Popular de Entre Douro e Vouga», edição Domingos Barreira, Porto; «Vocabulário de Entre Douro e Vouga, Subsídios de Geografia Linguística para um Atlas Geral da Língua Portuguesa», Tradições Populares de Entre Douro e Vouga», «Estudos de Língua Portuguesa no Brasil»; «Plauto - Ambularia - Latim, tradução, comentários gramaticais»; «Novos Elementos para o Estudo do Nome Lisboa». Arlindo de Sousa tomou ainda parte nos seguintes congressos: «XVIII Congresso Luso- Espanhol para o Progresso das Ciências», em Córdoba (Espanha); «XIX Congresso LusoEspanhol para o Progresso das Ciências», em S. Sebastian (Espanha); «Congresso de Ciências Antropológicas e
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Etnológicas», em Bruxelas (Bélgica); «Congresso Internacional de Geografia», em Lisboa; «IV Congresso Nacional de História», em S. Salvador da Baía (Brasil); «1.º Congresso Brasileiro de Folclore», Rio de Janeiro; «1.º Colloquium Internacional de Estudos Luso-brasileiros», em Washington; «1.º Congresso de Dialectologia e Etnografia», em Porto Alegre (Rio Grande do Sul, Brasil); «1.º Congresso Internacional em Prol do Latim Vivo», em França. Colaborou no «VIII Centenário da Tomada de Lisboa aos Mouros», nas «Festas Comemorativas da Chegada a Braga, em 550, de S. Martinho de Dume», em 1950, nas «Festas do IV Centenário da Morte de S. Francisco Xavier», em 1952, nas «Festas do 1.º Milénio de Aveiro», no «IV Centenário da Fundação de S. Paulo» (Brasil), nas «Festas do 1.º Centenário da Completa definição e Proclamação do Dogma da Imaculada Conceição de Maria» e nas «Festa do 1.º Centenário da Morte de Almeida Garrett». Em todas estas actividades apresentou vários dos seus trabalhos. Colaborou no «Jornal do Comércio», do Rio de Janeiro, de 1955 a 1957, SOUSA, Bernardo José de (? – ?). Aparece como Reitor encomendado no único assento de óbito por ele assinado em 22 de Agosto de 1817.
Bibliografia David Simão Rodrigues, Rio Meão, a Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001 SOUSA, Domingos Augusto de (1874 – 1924). Nasceu em Braga em Janeiro de 1874. Era filho de Manuel da Silva Sousa e de D. Maria do Patrocínio Gomes de Sousa. Veio para a Vila da Feira ainda muito novo, comprou a Farmácia Rocha que estava instalada na rua Direita, transferindo-a em Novembro de 1899 para uma casa defronte da igreja matriz. Era casado com D. Adelina Amália Correia Alves, filha de Francisco Plácido Alves. Deste casamento houve dois filhos: Dr. Domingos Caetano de Sousa, que foi médico, subdelegado de Saúde, médico municipal, presidente da Câmara da Feira e provedor da Santa Casa da Misericórdia da Feira, casado com D. Cacilda Nery de Oliveira e Sousa; e D. Maria Felicidade de Sousa Alves Moreira, casada com Júlio Alves Moreira que foi tesoureiro e chefe de secretaria e director do jornal «Tradição». Domingos Augusto de Sousa foi nomeado director, em 1916, do jornal «Progresso da Feira», órgão do Partido Progressista local que tinha sido fundado em 17 de Julho de 1904. Faleceu em 24 de Janeiro de 1924.
Bibliografia David Simões Rodrigues, Rio Meão - A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001
Bibliografia Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira. Revista «Aveiro e o seu Distrito, n.º 8, 1969
SOUSA, Braz de (? – ?). O Padre Frei Braz de Sousa foi reitor da igreja de Santiago de Rio Meão por mais de 40 anos e já o era em 11 de Agosto de 1686, e ainda era vivo em 1732, pois teria falecido entre esta data e 1735. Em 19 de Setembro de 1725, por se achar vago, recebeu aforamento do prazo de vida das terras do «Pinhal», vago por termo da 3.ª vida Manuel Gonçalves, por alcunha «o lustra algurilho», que os tinha recebido de seus pais, Francisco Gonçalves e Maria Catarina Gonçalves. Em 21 de Janeiro de 1731 eram moradores em casa do Venerável Reitor da freguesia de Rio Meão, Manuel Gomes dos Santos, casado com Joana de Sousa dos Santos, caseiros de propriedades da Comenda nas Figueiras chamadas do «Pinheiro» e parte dos passais da Comenda. Joana dos Santos seria sobrinha do Reitor.
SOUSA, Domingos Caetano de (1905 – 1991). Nasceu na Vila da Feira em 26 de Novembro de 1905. Era filho de Domingos Augusto de Sousa, proprietário da Farmácia Sousa e de D. Adelina Amélia Correia Alves. Formou-se em Farmácia e Medicina na Universidade do Porto em 1928, fixando residência na sua terra natal onde exerceu medicina. Foi médico dos Caminhos de Ferro do Vale do Vouga, do Sindicato dos Metalúrgicos e da Casa do Povo. Foi Provedor da Santa Casa da Misericórdia da Feira durante desde 1940 até Julho de 1974, período durante o qual foi construído o Abrigo dos Pequeninos, ao lado da Igreja da Misericórdia. Exerceu o cargo de Presidente da Câmara Municipal da Feira desde 1945 a 1959, em que «a sua acção foi notável», ficando-se-lhe a dever, entre outras, as seguintes iniciativas: a conclusão da estrada de acesso ao Castelo; construção
do Parque Municipal em terrenos adjacentes à nova estrada de acesso ao Castelo; a abertura do arruamento do Pontão ao Rossio, obra que deu origem a novos arruamentos e edificações nas zonas do Montinho e de Fijô; abertura da Rua da Índia; construção do Mercado Municipal; aprovação do 1.º Anteprojecto de Urbanização da Sede do Concelho; captação e distribuição domiciliária de águas na Vila da Feira e 1.ª fase da rede de esgotos na sede do concelho. Foi ainda presidente da Assembleia geral do Clube Desportivo Feirense de 1960 a 1969, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Feira, director das Termas das Caldas de S. Jorge, director do Centro de Saúde. Foi subdelegado de Saúde cerca de trinta anos cessando funções nos dois últimos cargos em 1975 por imperativo da Lei sobre o limite de idade Era casado com D. Cacilda Nery de Oliveira e Sousa, de quem teve os seguintes filhos: Maria Manuela, Maria Luiza e Carlos. Faleceu em 9 de Abril de 1991 com 85 anos de idade. Bibliografia Correio da Feira, 19.4.1991; Francisco Neves, Do Alto da Piedade. Edição da LAF - Liga dos Amigos da Feira, 2003 Luís Higino, O Centenário do Nascimento do Dr. Domingos Caetano de Sousa. «Correio da Feira», 16.12.2005 SOUSA, Domingos Fernandes (? – ?). Vivia em 1832, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «natural de Velha, freg. de S. Nicolau, Feira, e morador na vila de Recife de Pernambuco; filho de Manuel João, o «Trabucão», e de Joana Ferreira, naturais da Freg. de S. Nicolau e moradores no lugar da Velha; neto paterno de João José e de Mariana Gomes, e materno de Pedro Fernandes e de Ana Fernandes, naturais da mesma freguesia e moradores respectivamente nos lugares da Velha e de Eiras de Além; casado com D. Maria Dinis Bandeira, natural do Recife, filha do Capitão Francisco Antunes de Araújo, Familiar do Santo Ofício, e de D. Maria Dinis Bandeira, moradores no Recife. Carta de Familiar de 4 de Novembro de 1832. Domingos - m. 28, n.º 532.
Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», nº. 113 (Janeiro, Fevereiro e Março), 1963 SOUSA, Domingos da Fonseca e (? – 1759). Natural de Rio Meão, foi senhor da casa e Quinta do Rego, Alpoços. Era filho do Dr. Domingos da Fonseca, natural de Tui, Galiza, e de D. Jerónima de Sousa Ferreira. Casou na igreja de Rio Meão em 15 de Fevereiro de 1721 com D. Felícia Luíza de Azevedo, filha do Dr. Manuel Luís Branco, advogado, e de D. Páscoa da Costa Azevedo, filha do Dr. Domingos da Costa Azevedo, da Quinta de Alpoços. Era licenciado em Direito. Foi desembargador, tendo sido agraciado com o grau de cavaleiro da Ordem de Cristo. Tendo residido primeiramente no Porto, acabou por se fixar definitivamente na sua casa de Alpoços em 1752. Do seu casamento houve 8 filhos: Ana Maria Vitória da Fonseca e Sousa Veloso de Azevedo, nascida a 6.12.1722; José Pedro, nascido em 1730; Manuel Luís; António, que foi abade de Espargo; João Luís; Maria, nascida a 9.2.1734; Gaspar, batizado a 26.4.1735; Vicência, nascida a 15.9.1736. O Dr. Domingos de Sousa faleceu em 23 de Outubro de 1759. Bibliografia Francisco Azevedo Brandão, Família Azevedo Aguiar Brandão. Revista «Villa da Feira», nº14, 2006; David Simões Rodrigues, Rio Meão - A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001; Padre Joaquim Correia da Rocha, Recordar 900 Anos de Paços de Brandão. Edição da Junta de Freguesia de Paços d Brandão. 1995 SOUSA, Domingos José de Pinho e (? – ?). Vivia em 1763, segundo Provisão de Comissário do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «Abade da vila de S. João Baptista de Cadavim, Arciprestado de Pesqueira, Opositor em Coimbra, Graduado em Cânones, natural da freguesia de Arrifana de Santa Maria, Feira; filho do Capitão Manuel Tomé de Pinho e de Maria Teresa de Sousa, naturais e moradores na mesma freguesia de Arrifana de Santa Maria; neto paterno de Manuel Tomé,
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natural de Cevada freguesia de S. Cosme de Gondomar, e de Isabel de Pinho, natural de Manhouce, freguesia de Arrifana de Santa Maria, e aí moradores, e materno de João de Sousa, natural da mesma freguesia de Arrifana, e de Luísa Gomes, natural de Cernada, freguesia de Santo André de Mosteirô, Feira, e moradores em Arrifana. Provisão de Comissário de 22 de Julho de 1763 Domingos m. 46, n.º769» Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º 113, 1963
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SOUSA, Henrique da Silva e (1923 – ?). Nasceu na freguesia de Lourosa, Feira, em 9 de Julho de 1923. Era filho de Henrique da Silva e Sousa e de D. Maria Pereira da Silva. Licenciou-se em Ciências Económicas e Financeiras, foi professor do Instituto Comercial do Porto e presidente do Grémio Regional dos Industriais de Cortiça do Norte. Vem mencionado no «Dicionário Biográfico Parlamentar, 1935.1974, Vol. II, (M - Z)), da direcção de Manuel Braga da Cruz e António Costa Pinto, com verbete assinado por Ana Filipa Silva e que diz o seguinte; «A 25 de Novembro de 1957 foi admitido como procurador VII Legislatura (1957-1961), na qualidade de representante dos industriais de cortiça, pelo Grémio Regional do Industriais de Cortiça do Norte, integrando a VII Secção (Indústrias Transformadoras). 4.ª Subsecção (Outras Indústrias Transformadoras), Posteriormente, dada a reorganização da Câmara Corporativa em Setembro de 1960, passou a integrar a V Secção (Indústria), 6.ª Subsecção (Cortiça). Nesta função subscreveu o anexo II, referente ao parecer subsidiário das Secções de Pesca e Conservas (Subsecção de Pescas) e Indústrias Transformadoras (Subsecção de Indústrias Metalúrgicas, Indústrias Químicas e Indústrias Têxteis), acerca do capítulo II (pesca e indústrias extractivas e transformadoras) do parecer n.º 3/VII, sobre o projecto do II Plano de Fomento (1959-1964) para a metrópole (continente e ilhas) (ACC, n.º 27, 25.9.1958. Voltou a desempenhar o mesmo cargo na VIII Legislatura, integrando as mesmas secção e subsecção, não tendo, no entanto, subscrito ou relatado qualquer parecer»:
Bibliografia Manuel Braga da Cruz e António Costa Pinto, Dicionário Biográfico Parlamentar, 1935-1974, Vol. II, (M – Z), 2005 SOUSA, Jacinto Leal de (? – ?). Vivia em 1710, segundo Provisão de Comissário do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «reitor da igreja de S. Pedro de Canedo, Feira, formado pela Faculdade dos Sagrados Cânones da Universidade de Coimbra; natural de Arrifana do Sousa, Penafiel; filho de António de Sousa Pacheco, natural de Casal de Frade, freg. de Mouriz, Paredes, e de Ana Leal, natural de Arrifana, e aí moradores; neto paterno de António Gonçalves, natural de Casal de Frade, e de Maria Antónia, natural da aldeia de S. Paio, freg. de Cristelo, Paredes, e materno de Pantaleão Rodrigues, natural de Espessande, freg. de Cristelo, e de Maria Leal, natural de Arrifana; primo materno de Manuel de Bessa Leal, Comissário do Santo Ofício. Provisão de Comissário de 3 de Outubro de 1710. A.N.T.T. – Jacinto - m. 2, n.º 30» Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º129 (Janeiro, Fevereiro e Março), 1967 SOUSA, Jerónimo Lopes de (1730 – 1815). Foi pároco de Paços de Brandão desde 27 de Outubro de 1764 a 18 de Julho de 1815. «O rev. Abade Jerónimo Lopes, natural da freguesia de Perozelo, comarca de Penafiel, de idade de 35 anos, e boa disposição», como disse o Visitador D. Nicolau Thorel, em 1769, cinco anos depois da tomada de posse do padre Jerónimo Lopes. Tinha sido beneficiado Coadjutor da Sé do Porto e provido por concurso na freguesia de Paços de Brandão. Foi o continuador das obras da igreja, principalmente na parte dos altares, já que as obras tinham sido iniciadas pelo seu antecessor, na capela-mor, padre José Queiró, falecido em 1764. Ao padre Jerónimo Lopes se deve o altar, retábulo e a imagem com a invocação de «Senhor dos Desamparados», que tem por trás de si a data de 1767 escrita a giz vermelho na cal da parede, e que era da sua muita devoção, pois no seu testamento não deixou de escrever o seguinte: «No dia da minha sepultura deixo para a lâmpada do
Senhor dos dezemparados, outras três (canadas) de azeite e mais 2 arráteis (de cera branca) para o (altar) do Senhor dos Dezemparados». O altar do Senhor dos Desamparados foi arreado para se reformar, em 19 de Abril de 1895. Faleceu em 18 de Julho de 1815, com 85 anos de idade. Bibliografia Francisco Azevedo Brandão, Família Azevedo Aguiar Brandão. Revista “Villa da Feira”, nº 14 Outubro 2006. Padre Antero, Apontamentos sobre Paços de Brandão Padre Joaquim Correia da Rocha, Recordar 900 Anos de Paços de Brandão. Edição da Junta de Freguesia de Paços de Brandão, 1995 SOUSA, João de (? – ?). Vivia em 1704, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «natural de Arrifana de Santa Maria, Feira; filho de João de Sousa, natural de Entre-Ambos-os-Rios, e de Maria Correia, natural de Arrifana de Santa Maria, e aí moradores; neto paterno de Domingos de Sousa e de Aldónia Rodrigues, naturais e moradores em Entre-ambos-os-Rios, e materno de João Rodrigues, natural de Arrifana de Santa Maria, e de Apolónia Correia, natural da freg. de S. Nicolau da Vila da Feira; casado com Luísa Gomes, filha de António Gomes, presbítero, natural da freg. de S. Salvador de Fornos, Feira, e de Maria Dias, natural de freg. de Santo André de Mosteiro, neta paterna de Gonçalo Fernandes, natural de Fornos, e de Catarina Gomes, natural de Mosteiro, moradores em Vinha, freg. de Fornos, e materna de Domingos Dias, natural de Mosteiro e de Domingas Francisca, natural de Macieira, freg. de S. Mamede de Travanca, Feira, moradores em Mosteiro; enviuvando, ajustado para casar, em 1716, com Maria Valente, filha de João Valente e de Maria da Costa, moradores em Guilhovai, freg. de S. Cristóvão de Ovar, neta paterna de Gaspar Dias e de Maria da Silva, de Guilhovai, e materna de Simão Fernandes, de Samil, freg. de S. Pedro de Vila Chã, Oliveira de Azeméis, e de Maria da Costa, de Marelães, freg. de S. João Baptista de Cepelos, Vale de Cambra; ajustado de novo para casar, em 1724, com Teresa Rodrigues dos Reis, filha de Manuel Rodrigues dos Reis e de Maria Fernandes, moradores em Ribeiro, freg. de S. Miguel do Souto, Feira; neta paterna de Domingos Manuel, de Barreiro de Cabanões,
freg. de S. Cristóvão de Ovar, e de Maria Manuel, de Ribeiro, e materna de Marcos Jorge e de Anastácia Fernandes, de Fornos. Carta de Familiar de 14 de Agosto de 1704. A.N.T.T. João - m. 37, n.º798» Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro» (Julho, gosto e Setembro), 1968 SOUSA, Joaquim José de (? – ?). Era pároco da Freguesia de Guisande em 1685. Bibliografia António Ferreira Pinto, Defendei Vossas Terras – Monografia de Guisande. Edição da Junta de Freguesia de Guisande, 1999 SOUSA, José da Fonseca e (1704 – ?). Era pároco da freguesia de Canedo, Feira, em 1751, quando era bispo do Porto, D. Frei António de Távora, e ainda ali se encontrava em 1769. Nesta data, um visitador, por ordem do Vigário Capitular D. Nicolau Joaquim Thorel da Cunha Manuel, percorreu toda a comarca da Feira e organizou um relatório das freguesias, donde constava que Canedo tinha 488 fogos, 997 pessoas maiores, 133 menores e 149 ausentes, e que este reitor tinha 65 anos de idade. Bibliografia Correio da Feira, 20.7.1963; Padre António Ferreira da Silva, S. Pedro de Canedo – no concelho da Feira. «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º 15, 1938 SOUSA, José Leite de (1828 – 1901). Natural da Cruz, Vila da Feira, onde nasceu em 1828. Foi muito novo para o Brasil tendo depois regressado. Foi em mais de um triénio vereador da Câmara Municipal da Feira e provedor da Santa Casa da Misericórdia da Feira durante 14 anos. Era um «influente progressista». Faleceu na sua casa da Cruz, em 1901, com 73 anos de idade.
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Bibliografia Correio da Feira, 5.2.1966
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SOUSA, Lino Henrique Bento de (1858 – 1921). Nasceu em S Tiago de Lobão em 1851. «Espírito lúcido e homem empreendedor», dedicou-se à vida comercial em S. Paulo, Brasil, onde adquiriu grande fortuna. Quando regressou a Portugal dedicou-se a fazer o bem e tornou-se um cidadão benemérito que tantos e tão vastos benefícios espalhou na sua terra e naquelas para onde era pedido o seu concurso, como Oliveira de Azeméis». A ele se deveu o edifício escolar para ambos os sexos, o cemitério e a residência paroquial, bem assim como as obras de remodelação da igreja paroquial, em Lobão. Por tais serviços, foi agraciado com o título de Conde de S. Tiago de Lobão. A atestar e a perpetuar os feitos dos condes de S. Tiago de Lobão, existe na parte exterior da igreja uma lápide em mármore que diz o seguinte: «A Junta de Freguesia de Lobão, em 1917, interpretando o sentir máximo do seu Povo, presta pública homenagem aos nobres Beneméritos Ex.m.ºs condes de S. Tiago de Lobão, pois, a expensas suas terem sido feitos os melhoramentos seguintes: em 1894, refundição dos sinos; em 1899, reforma e estuque da igreja; em 1907, douramento geral da igreja, dotando-a de objectos de culto, compra de terreno, ampliação e reforma do cemitério, melhoramento da sacristia e construção do 2.º andar; em 1911, compra do terreno, construção e mobiliário das esplêndidas escolas dos dois sexos; em 1917, compra da residência e passal para benefício da freguesia. Nestes melhoramentos já está gasta a quantia superior a 16.000$00». Faleceu na sua casa da Boavista, a 13 de Abril de 1921 Bibliografia Correio da Feira, 16.4.1921 e 1.1.1988 SOUSA, Luís de Oliveira (? – ?). Vivia em 1757, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «mestre alfaiate; natural da freguesia da Sé do Porto e morador na Rua da Ponte Nova da mesma cidade; filho de Baptista de Oliveira, natural de Paço, freguesia de S. João de Ver, Feira, e de Margarida Fernandes, natural de Souto redondo, S. João de Ver; neto paterno de Manuel de Oliveira e de sua segunda mulher Maria Coelha, e materno de Pedro Gonçalves e de sua segunda mulher Ária Alves, todos igualmente naturais de S. João de Ver, e aí moradores.
Carta de Familiar de 6 de Maio de 1757 Luís - m.28, n.º507 Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º 150, 1972 SOUSA, Manuel António de (? – ?). Era natural de Fiães, onde residia no lugar da Presa. Paroquiou a sua freguesia desde Setembro de 1826 a Julho de 1827. Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940 SOUSA, Manuel José da Costa e (? – ?). Era natural de Ovar e era sub-prefeito da comarca da Feira em 1834. Foi ele que no dia 20 de Abril desse ano nomeou nos paços do concelho de Ovar a comissão Municipal interina daquela vila, de cuja presidência foi encarregado o Dr. José Rodrigues da Graça e onde todos juraram manter e fazer manter a Carta Constitucional e obediência ao governo de D. Maria II. Bibliografia Alberto Sousa Lamy, Monografia de Ovar, da Idade Média À República, 1026-1910, 1.º volume. Ovar, 1977 SOUSA Manuel Lopes de (? – ?). Vivia em 1797, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «abade da igreja de S. João de Ver; natural do Porto, da Ferraria de Baixo, freg. de N.ª Sr.ª da Vitória; filho de Manuel Lopes da Cunha, cereeiro, natural de Febros, freg. de S. Pedro de Avintes, e de Margarida de Jesus Ribeira, natural de Ferraria de Baixo, e aí moradores; neto paterno de Manuel Lopes, lavrador, e de Isabel Antónia, naturais e moradores em Febros, e materna de Ventura Pereira de Sousa, cereeiro, natural do Porto, da rua da Banharia, e de Maria de Araújo Ribeira, natural da freg. de Carrazedo do Carvalho, moradores na Ferraria de Baixo; bisneto paterno de Manuel Lopes e de
Maria Lopes e de João Gonçalves e de Isabel Antónia, de Febros, e materno de José de Sousa e de Madalena Pereira, da rua da Banharia, e de Manuel Ribeiro e de Luísa Ribeira, de Carrazedo de Carvalho. Provisão de Comissário de 24 de Janeiro de 1797 – A.N.T.T. - Manuel - m. 268, n.º1854» Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º 157 (Janeiro, Fevereiro e Março), 1974 SOUSA, Pedro Nunes de (? – ?). Vivia em 1708, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nesta data e que a seguir se transcreve: «natural de Vila Verde, freguesia de Santiago de Lourosa, Feira, morador na cidade da Baía, freg. da Sé; filho de Manuel André, natural de Vila Verde. E de Catarina Fernandes, natural de Souto Redondo, freg. de S. João de Ver, Feira, lavradores em Vila Verde; neto paterno de Gaspar André e de Margarida Fernandes, lavradores, naturais e moradores em Vila Verde, e materno de Pedro Fernandes e de Francisca Nunes, lavradores, naturais e moradores em Souto Redondo; casado com Madalena da Silva, natural da Baía, filha de João Ferreira Neves e de Maria da Silva, naturais e moradores na freguesia da Sé da Baía, neta paterna de Bernardo Ferreira, pedreiro, e de Ângela de Serqueiros, naturais da freguesia de Santa Maria Maior de Viana, e materna de Manuel Fernandes Moreira e de Sebastiana Lopes da Silva, naturais da Baía, onde todos eram moradores. Carta Familiar de 12 de Março de 1708. Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º167 (Julho, Agosto e Setembro), 1976 SOVERAL, Martim Pires de (? – ?). Foi proprietário na Terra de Santa Maria. Era casado com Guiomar Anes, herdeira de uma família da região do rio Sousa, a dos Frazões. O seu solar original situava-se nas margens do rio Ferreira, afluente do Sousa. Os seus filhos Pêro, Fernão
e Gil Garcia de Frazão possuíram propriedades em várias localidades da Terra de Santa Maria, provavelmente herdadas de seus pais, segundo as inquirições de 1288 que as situa em Gemeiro, Vila Chã e Argoncilhe. Bibliografia José Mattoso, O Castelo e a Feira (A Terra de Santa Maria nos séc. XI e XII). Editorial Estampa, 1989 TAVARES, António Pinto (? – ?) Vivia em 1703, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «Tratante; natural e morador em Gramil, freg. de S. Pedro de Canedo, Feira; filho de António Tavares, também tratante, e de Maria Pinta, naturais de Gramil; neto paterno de Diogo Fernandes, igualmente tratante, e de Guiomar Tavares, de Sandim de Baixo, Feira (hoje Gaia), e materna de Domingos Gonçalves, lavrador, e de Maria Pinta, do lugar do Carvoeiro, freg. de S. Pedro de Canedo. Carta de Familiar de 26 de Janeiro de 1703. A.N.T.T. António - m. 41, n.º 963» Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º100 (Outubro, Novembro e Dezembro), 1959 TAVARES, Bernardo José da Silva (? – ?). Natural da freguesia de Canedo, da Casa de Fagilde. Foi brigadeiro do Exército e foi casado com D. Gertrudes Xavier Pereira do Vale, de quem teve 4 filhos: Bernardo José da Silva Tavares, que foi cónego e Hermenegildo José da Silva Tavares, que foi capitão-mor da Feira, Francisco de Assis da Silva Tavares e Vitorino José da Silva Tavares, coronel. Bibliografia Padre António Ferreira Pinto, S. Pedro de Canedo – no concelho da Feira». Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º15, 1938 TAVARES, Bernardo José da Silva (1801 – 1888). Nasceu na freguesia de Canedo, concelho da Feira. Era filho do Brigadeiro Bernardo José da Silva Tavares e de D.
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Gertrudes Xavier Pereira Valente. Licenciou-se na Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra, em 3 de Outubro de 1830, sendo nomeado cónego Magistral do Cabido de Lamego. Por decreto de 21 de Agosto de 1856, foi nomeado cónego da Sé do Porto e passada Carta Régia em 7 de Outubro seguinte. Não satisfeito com os termos da carta, requereu ao Governo para lhe ser concedida a Conezia de Magistral. Na nova carta, trazia no verso: «por declaração e apostilha foi concedido ser Magistral no Porto, vago pela morte do doutor Manuel Tomaz dos Santos Viegas». Foi então nomeado para aquele cargo em 2 de Abril de 1857, tendo tomado posse no dia 8 do mesmo mês. Esteve depois algum tempo paralítico e faleceu a 22 de Março de 1888 com a idade de 87anos, tendo sido sepultado na sua freguesia.
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Bibliografia Cónego A. Ferreira Pinto, Cónegos e Beneficiados da Sé do Porto. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º19, 1939 TAVARES, Francisco de Assis da Silva (? – ?). Era filho do brigadeiro Bernardo José da Silva Tavares, da Casa de Fagilde, em Canedo. Era doutor em leis. Bibliografia Cónego A. Ferreira Pinto, S. Pedro de Canedo. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º 15, 1938. TAVARES, Francisco dos Santos (? – ?). Vivia em 1754, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «homem de negócios, natural do Porto, freguesia de São Nicolau e morador em Lisboa, por detrás da capela-mor da igreja de São Julião. Era filho de Manuel da Costa Godinho, tanoeiro, natural da freguesia de Esmoriz e de Maria Soares, natural da freguesia de Santa Cruz de Alvarenga, Arouca. Neto paterno de Tomé da Costa, natural da freguesia de Santiago de Rio Meão e de Ana Álvares, da dita freguesia de Esmoriz e ai moradores; e materno de António Tavares e de Domingas Fernandes, moradores em Vila Nova da freguesia de Alvarenga. Era bisneto paterno de Manuel da Costa e de Isabel João, de Rio Meão, já referido, e de João António e de Maria Álvares, da dita Esmoriz. Bisneto materno de António Gonçalves e de Isabel Tavares, de Trancoso e de Pedro Fernandes e de Isabel
Gonçalves, de Alvarenga. Era irmão do familiar do Santo Ofício Domingos Tavares Guerra. Estava casado com Maria Josefa, natural da freguesia de São João Baptista, de Beja, filha de Manuel de Sousa, mestre-de-obras de pedreiro, natural de Santiago do Cacém, e de Eugénia da Conceição, natural da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Barregões, termo de Messejana, Aljustrel, diocese de Beja. Neta paterna de João de Sousa, natural da freguesia de São Julião de Setúbal e de Sebastião Penela, natural de S. Francisco da Serra, termo de Santiago do Cacém e materna de Marcos Rodrigues e de Ana Pinheira, naturais de Nossa Senhora de Abela, termo de Santiago do Cacém. Bisneta paterna de Álvaro de Sousa e de Madalena João, de Setúbal e de Manuel Ribeiro e de Catarina Vaz, de S. Francisco da Serra; e materna de Marcos Rodrigues e de Bárbara Pereira, de Abela, e de Francisco Pinheiro e de Maria Rodrigues, de Santiago do Cacém. Era irmã de Ana Joaquina, casada com José Pereira do Vale, que se estava a habilitar também para Familiar, e do Padre Inácio da Silva, da Congregação do Oratório do Recife de Pernambuco, Propósito da mesma Congregação. Carta de Familiar de 31 de Dezembro de 1754. - A.N.T.T. - Francisco - m. 82, n.º1428». Bibliografia David Simão Rodrigues, Rio Meão, a Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001 TAVARES, Hermenegildo José da Silva (? – ?). Era filho do brigadeiro Bernardo José da Silva Tavares, da Casa de Fagilde, em Canedo, e de D, Gertrudes Xavier Pereira do Vale. Foi capitão-mor da Feira. Bibliografia Cónego A. Ferreira Pinto, S. Pedro de Canedo. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º 15, 1938 TAVARES, João Alves Lopes (1889 – 1949). Nasceu em Vilar do Andorinho em 1889, no seio de uma família ligada à música, pois seu tio era o maestro da Tuna de Sermonde. Aos 12 anos já era executante de violino, tendo frequentado a Escola de Música de Vila Nova de Gaia, Frequentou aulas de solfejo e piano, assistindo quase sempre aos concertos de ópera na cidade do Porto. Aos 17 anos já era
primeiro violino da Banda de Música de Valadares, começando desde então a compor trechos clássicos, nos quais dava um toque pessoal. Aos 20 anos entrou para o exército onde conheceu o Miguel da Modiga, executante da Tuna Velha de Paços de Brandão, que o convenceu a vir para a sua terra. E aqui ficou de 1911 a 1937, alternando, contudo, pela tunas de região, mas sempre fiel à Tuna Velha de Paços de Brandão que ajudou a consolidar. Entre 1911 e 1941 compôs mais de 100 músicas para tunas, teatro, revista musicais, missas, ladainhas, canções de embalar ao menino, tornando-se num dos maiores compositores do país. Foi regente por mais de 40 anos em todas as Tunas da região da Feira, Gaia e Porto. Faleceu em 1949 e é lembrado em Paços de Brandão como um bom e dedicado amigo daquela terra. Bibliografia Informação fornecida pelo Sr. Eduardo Rocha, correspondente do «Correio da Feira» em Paços de Brandão TAVARES, João Carlos da Rocha (? – ?). Foi pároco da freguesia de Pigeiros, apresentado, em 1748, pelos «Rochas», continuadores dos antigos Pereiras da Quinta do Paço de Pigeiros. Bibliografia P.e José Inácio da Costa e Silva, «Santa Maria de Pigeiros», jornal «Tradição», número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940. TAVARES, Manuel (1950-2011) Natural da Freguesia de Sanfins, Santa Maria da Feira, onde nasceu no dia 18 de Janeiro 1950. Foi funcionário da Câmara MUnicipal de Santa Maria da Feira e esteve desde sempre ligado à cultura e à imprensa. Foi presidente da Academia de Música de Santa Maria da Feira e do Centro de Cultura e Recreio do Orfeão da Feira, Director do Seminário Correio da Feira e colaborador do semanário O Regional, de S. João da Madeira, e Notícias de Paços de Brandão. Manteve durante alguns anos o programa radiofónico Quinta à Noite, na rádio Serra Mar de S. João da Madeira e esteve ligado aos Lions Clube da Feira e ao Clube Desportivo Feirense. Foi membro da Assembleia de S. João de Ver e do Conselho Municipal da Feira. Faleceu em 12 de Março de 2011.
Bibliografia Terras da Feira, Março de 2011. TAVARES, Manuel Alberto da Rocha (? – 1599). D. João V manda passar carta de brasão, em 1732, a pedido de Manuel Alberto da Rocha Tavares, Morgado de Pigeiros, nos seguintes termos: «Dom Joam. Por graça de Deos, Rey de Portugal, e dos Algarves, daquém e dalém, mar em África, Senhor da Guine, e da Conquista, navegação, do comercio da Ethiopia, Arábia, Pérsia, e Índia, etc. A quantos esta minha carta virem faço saber. Q Manoel Alberto da Rocha Tavares, morgado de São Martinho, e futuro sucessor do morgado de Castelãos e de Pigueiros, e padroeiro da Igreja de Santa Maria do dito Pigueiros, me fés petição em como elle descendia e vinha da geração e linhagem dos Rochas, Tavares, Pintos, e Pereiras, e suas armas de direito lhe pertencião, e pedindome por mercê, que para a memoria de seus antecessores se não perder, e elle usar, e gozar da honra das armas que pellos merecimentos de seus serviços ganharão, e lhe forão dadas, e assim dos previllegios, honras, graças e mercês, que por direito e por Be della lhe pertencerem, lhe mandace dar minha carta das ditas armas, que estavão registadas em os livros dos registos das armas dos nobres e fidalgos de meus Reynos que tem Portugal, meu Rey darmas. A qual petição, vista por mim, mandei sobre ella tirar inquerição de testemunhas, pelo Doutor Manuel da Costa Amorim, do meu desembargo, e meu Dezembargador, em esta minha Corte, e daza da supplicação Corregedor do Cível em ella, e por Caetano Joseph de Moura escrivão do dito juízo, pella quaes fui serto que elle procede, e vem de geração, e linhagem dos ditos Rochas, Tavares, Pintos, e Pereiras, com filho legitimo de Salvador da Rocha Tavares, morgadiõ de Castelãos, e de Pigueiros, padroeiro dea dita Igreja, e de D. Anna Maria de Souza Vareiro e Ávila. Neto pela parte paterna de Manoel Tavares da Rocha, morgado, e padroeiro, de Santa Maria de Pigueiros e de D. Maria de Matos Soares e Fonçeca. Bisneto de Francisco Tavares da Rocha, morgado, e padroeiro, de Santa Maria de Pigueiros, e de D. Maria Lobato Godinha. Terceiro Neto de Manoel Tavares da Rocha, morgado, e padroeiro de Santa Maria de Pigueirois e de D. Marta da Cunha. Quarto neto de Francisco Tavares Pinto, e de Margarida da Rocha, morgada, e padroeira de Santa Maria de Pigueiros; Quinto neto de Jerónimo Tavares, e de Maria Pinta. Sexto neto de Francisco Tavares, e de D. Maria
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Pereira. Instituidores do morgado de Castelãos. Os quaes todos forão pessoas nobres, e se tratarão a ley da nobreza, e que nelles não ouue raça de Judeo, Mouro, ou Mulato, nem de outra infecta nação, e que de direito as suas armas lhe pertencem. As quaes lhe mandei dar em esta minha carta com seu Brazão, Elmo, e Timbre, como aqui são deuizadas, e sim como fiel e verdadeiramente se acharão devizadas, e registadas em os livros dos registos do dito Portugal, meu Rey darmas. A saber. Hum escudo esquartelado, no primeiro quartel as armas dos Rochas, em campo de prata huma banda vermelha com cinco vieiras de ouro, no segundo as dos Tavares, em campo de ouro cinco estrelas vermelhas em sautor, no terceiro as dos Pintos, em campo de prata, cinco crescentes de lua vermelhos com as pontas para sima postas em sautor, e no quarto as dos Pereiras em campo vermelho, huma crus de prata floreteada, e uazio de campo. Elmo de prata aberto, guarnecido de ouro; Paquife dos metaes, e cores das armas; Timbre o dos Rochas, huma aspa vermelha com huma vieira de ouro, e por diferença, huma brica azul, com hum trifolio de ouro. O qual escudo, armas, e simaes posa trazer, e traga o dito Manoel Alberto da Rocha Tavares, assim como as troucerão e dellas uzarão seus antecessores, em todos os lugares de honra em que os ditos seus antecessores, e os nobres e antigos fidalgos sempre as costumarão trazer, em tempo dos muy esclarecidos Reys meus antecessores, e com ellas posa entrar em batalhas, campos escaramuças, reptos, e exercitar com ellas em todos os outros actos lícitos da guerra, e da paz, e assim as posa trazer em seus firmaes, anéis,lentes, e devizas, e as que em suas cazas, e idfficios, e dixadas sobre sua própria sepultura, e finalmente se servir, honrar e gozar, e aproveitar dellas, em todo, e por todo, como a sua nobreza convem; Com o que quero e me apraz que haja elle, e todos os seus descendentes, todas as honras, previllegios, liberdades, graças, mercês, e inzenções, e franquezas, que hão, e deuem hauer os fidalgos nobres, e de antiga linhagem, e como sempre de todo uzarão, e gozarão, seus antecessores. Porem mando a todos meus Corregedores, e Dezembargadores, Juízes, Justiças, Alcajdes, e em especial, aos meus aos meus (sic) Reys darmas, Arautos, e Passavantes, e a quaesquer outros officiais, e pesoas a que esta minha carta for mostrada, e o conhecimento dela pertencer, que em todo lho cumprão, e guardem, e fação comprir, e guadar, como nella he contheudo, sem duvida nem embargo algum,
q. em ella lhe seja posto por que assim he minha mercê. El Rey nosso senhor o mandou por Manoel Pereira da Sylva, seu Rey darmas Portugal. Frej Joseph da Crus da ordem de São Paulo, Refformador do Cartório da nobreza do Reyno, por especial Provizão do dito Senhor a fés, em Lisboa Occidental, aos quinze dias do mês de Outubro do ano de mil setecentos e trinta e dois, e vaj sobscrita por António Francisco e Souza, escrivão da nobreza nestes Reynos, e Senhorios de Portugal, e suas Conquistas. Eu António Francisco e Souza o sobscrevi. P. Rey darmas, Pal». Este brasão ficou registado no livro 8 de registos dos brasões da nobreza de Portugal a fls. 190. Lisboa ocidental aos 19 dias de Outubro de 1732. Manuel Alberto da Rocha Tavares faleceu a 2 de Março de 1599. Bibliografia Padre Domingos Moreira, Nótulas Históricas sobre Pigeiros (Feira), Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», nº. 150 (Abril, Maio e Junho), 1972; Padre Domingos Moreira, Documentos sobre Pigeiros. Revista «Aveiro e o seu Distrito», n.º 31 TAVARES, Manuel do Couto (? – ?). Vivia em 1730, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «natural da freguesia de Santa Maria de Sandim, Vila Nova de Gaia, e morador na freguesia de S. Pedro de Canedo, Feira; filho de João Rodrigues e de Domingas Tavares; moradores em Sandim; neto paterno de Manuel Francisco, o «Sibichacho», e de Apolónia André, naturais respectivamente de Gestosa de Cima e de Gestosa de Baixo, Sandim, e materno de Cristóvão Fernandes e de Catarina Rodrigues, naturais de Sandim, e moradores na freguesia de S. Martinho de Argoncilhe, Feira; casado com Francisca de Sá Pinta, natural de Canedo, filha de António de Sá e de Maria Antónia, naturais e moradores em Canedo, neta paterna de Domingos Manuel. Natural de Tanhel, freguesia de Santa Maria de Fermedo, Arouca, e de Domingos de Sá, natural de Parada do Monte, freguesia de S. Vicente de Louredo, Feira, e materna de Manuel Francisco o «Catumba», natural da Corga, freguesia de Santiago de Lobão, Feira, e de Maria Antónia, natural de Canedo. Carta de familiar de 21 de Março de 1730 Manuel - m .98, n.º1823
Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º155, 1973 TAVARES, Manuel Pinto (1701 – 1768). Nasceu na Laje, freguesia de Fornos, Feira em 16 de Janeiro de 1701. Era filho de Juseph Pinto Tavares e de Joana dos Santos; neto paterno de António Tavares e de Maria Pinta, naturais de Framil, freguesia de Canedo, e materno de Domingos Rabelo e de Maria Fernandes. No ano de 1719/20 encontra-se matriculado no curso de Cânones na Universidade de Coimbra, tendo recebido o grau de bacharel a 5 de Julho de 1727. Após a sua formatura «vive algum tempo na sua casa da Laje, com bastantes ausências, algumas das quais seriam na sua casa de Framil (Canedo)». Em 1735 um seu tio Vicente de Cintra Marreiros, Tenente da Marinha, natural da freguesia do Varão de São João, do Termo de Lagos, Algarve, desiste da sua tença pessoal em seu favor, através da Carta de Padrão de Tença de 20 de Julho, dada pelo rei D. João V, na qual, a certa altura, diz textualmente o seguinte: « tendo respeito aos serviços de Vicente de Sintra Marreiros, natural da Freguesia do barão de São João, termo da cidade de Lagos, filho de Pedro Anes obrados na Infantaria da Provisão de Alentejo, e no Reino do Algarve por mais de 43 anos contados de 6 de Agosto de 1690 até 15 de Setembro de 1734 em Praça de soldado Cabo de Esquadra sargento supra, e do N.º e de Granadeiros, e nos postos de Alferes Ajudante, e ultimamente no de Tenente em que ficou continuando, e no tempo referido se achar no socorro que se deu à Praça de Ceuta, o de 1697 se embarcar de Guarnição na Nave N. Sr.ª do Rosário que foi arribada à Baía de Sagres; os de 1705 e 1709, 1710 e 1712 nos socorros que se deram a Provisão de Alentejo: Em satisfação de tudo. Hei por bem e me apraz fazer-lhe mercê de 18 mil reis de Tença efectiva cada ano em vida para seu sobrinho o Licenciado Manuel Pinto Tavares, filho de sua irmã por conta dos 30 mil reis com que foi deferido » Em 7 de Abril de 1729 requereu a habilitação de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida, pois, nas inquirições que foram feitas se diz que «Manuel Pinto Tavares por si, seus pais e avós é inteiro e legítimo cristão limpo de toda a infecta nação e sem fama nem rumor boa vida e costumes, com capacidade para a ocupação que pretende, sem infâmia terá 30 anos de idade, é formado na Faculdade de Cânones terá
de seu dez mil cruzados em boas fazendas». Em 1739, depois de vários impedimentos que foram resgatados pelo pagamento de uma soma de 600 000 reis, Manuel Pinto Tavares recebe a carta de Padrão de Cavaleiro da Ordem de Cristo. Em 1741 manda construir a Capela da Laje ou Capela da N.ª Sr.ª da Boa Morte, em cuja fachada se destaca, por cima do portão principal, o brasão de granito com as armas dos Tavares (de ouro, com cinco estrelas de seis raios de vermelho. Timbre: um pescoço e cabeça de cavalo, de vermelho, brindado de ouro) e dos Pintos (escudo de prata com cinco crescentes de vermelho, postos em sautor. Timbre: um leopardo de prata, armado e lampassado de vermelho, com um crescente do mesmo na espádua). O brasão foi-lhe concedido por D. João V, através da Carta de Brasão de 26 de Junho de 1742. Embora solteiro, Manuel Pinto teve vários filhos: Marta, nascida a 5 de Julho de 1738, de Domingas Fernandes, residente no lugar de Moinhos; e Josefa Pinto Tavares e José Pinto Tavares, de Joana, filha de Manuel Marques e de Isabel Fernandes, do lugar da igreja, Fornos. Estes dois últimos foram legitimados pelo fidalgo em 14 de Outubro de 1766. Manuel Pinto Tavares faleceu na Laje a 28 de Março de 1768 e foi sepultado no interior da igreja de Fornos. Bibliografia Padre José Alves de Pinho, Outrora…Fornos. Colecção Santamariana, edição LAF - Liga dos Amigos da Feira, 2005 TAVARES, Sebastião Alves Ribeiro (? – 1988). Natural de Argoncilhe, formou-se em medicina, tendo-a exercido na sua terra. «Grande benemérito, a sua terra fica-lhe a dever muito». Faleceu em 7 de Maio de 1988. Bibliografia Correio da Feira, 13.5.1988 TAVARES, Manuel (1950 – 2011). Natural da freguesia de Sanfins, S. M. da Feira, foi funcionário da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e esteve desde sempre ligado à cultura e à imprensa. Foi presidente da Academia de Música da Feira e do Orfeão da Feira, director do semanário Correio da Feira e colaborador dos semanários O Regional, de S. João da Madeira e Notícias
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de Paços de Brandão. Manteve durante alguns anos om programa radiofónico «Quinta à Noite», na rádio Serra Mar, de S. João da Madeira e esteve ligado ao Lions Club da Feira e ao Clube Desportivo Feirense. Faleceu em 12 de Março de 2011. Bibliografia Correio da Feira, Março de 2011 «Terras da Feira», Março de 2011
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TÁVORA, Fernando de Tavares e (1876 – 1961). De nome completo Fernando Pinto de Mendonça Ferrão Castelo Branco e Almeida de Tavares e Távora, nasceu na Vila da Feira em 30 de Agosto de 1876. Era filho de Bernardo José Pinto Ferrão, bacharel, natural de S. Vicente de Sangalhos, e de D. Maria Carlota Coutinho Ferrão, Senhora da Casa de São João de Cepins, concelho de Cantanhede. Descendente da «ilustre casa de Ramalde, do Porto», D. Fernando de Tavares e Távora. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, em 27 de Junho de 1902. Exerceu o cargo de Conservador do Registo Predial da Vila da Feira até ao final da Monarquia do Norte, em 1919, data em que foi demitido por ter aderido ao movimento monárquico de Janeiro, conhecido por Monarquia do Norte. Reintegrado em 1931, foi colocado na 2.ª Conservatória do Porto, onde esteve até à sua aposentação. Dedicou-se a estudos de Arqueologia e História e foi sócio fundador da Academia Nacional de Heráldica e Genealogia, e um dedicado membro da Comissão de Vigilância pela Guarda e Conservação do Castelo da Feira. Foi vogal da Comissão Distrital do Porto da Causa Monárquica, pertencendo ao Integralismo Lusitano, e Presidente do Grémio da Lavoura do Porto. Fez parte da Comissão para a recepção real a D. Manuel II na Vila da Feira, aquando da inauguração da Linha do Vale do Vouga e integrou a comitiva que foi a Lisboa agradecer a visita que D. Manuel II fez à Feira, em 23 de Novembro de 1908. D. Fernando era amigo do rei D. Carlos e assíduo frequentador da corte em Lisboa. Era casado com D. Maria da Conceição da Silva Fonseca de Meneses Cyrne de Bourbon Leite Pereira, de quem teve 8 filhos: D. Maria Mariana, nascida na Lavandeira, Vila da Feira, em 11 de Fevereiro de 1906; D. Maria Carlota, nascida na Casa de Ramalde, em 19 de Setembro de 1907; D. Bernardo Pedro, nascido na Lavandeira, Vila da Feira, em 13 de Janeiro de 1909; D. Pedro Henrique, nascido na Casa de Ramalde, em 10 de Maio d 1910; D. Maria da Paz, nascida na Piedade, Vila
da Feira, em 22 de Outubro de 1911; D. Diogo, nascido na Lavandeira, Vila da Feira, em 27 de Junho de 1913; D. Maria José, nascida na Praia da Granja, em 16 de Abril de 1919; e D. Maria Ana, nascida na Casa de Ramalde, em 24 de Novembro de 1926. D. Fernando de Tavares e Távora faleceu, na sua casa de Ramalde, Porto, em 23 de Agosto de 1961. Bibliografia Celestino Portela, D. Fernando de Tavares e Távora. Revista «Villa da Feira - Terra de Santa Maria», n.º 9, Fevereiro de 2005 Padre Albano Alferes, «Velharias », «Correio da Feira», 11.6.1982 TEIXEIRA, Américo (1890 – 1960). Nasceu na freguesia de Sanfins em 4 de Janeiro de 1890. Era filho de Manuel Gomes Teixeira e de D. Rita Jesuína Correia de Sá. Licenciado em Direito, foi advogado na Vila da Feira e no Porto. Na Vila da Feira foi o primeiro director do jornal «O Democrata Feirense», que iniciou a sua publicação em 5 de Outubro de 1914 e terminou em 1936, e administrador do concelho de Março de 1915 a Outubro de 1917. No Porto foi ainda professor do Instituto do Comércio. Bibliografia Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira. Revista «Aveiro e o seu Distrito», n.º 8, 1969 TEIXEIRA, Estêvão Hermiges de (? – ?). Descendente dos senhores de Lanhoso, casou com Urraca Fernandes de Louredo, daí o ter vivido na Terra de Santa Maria, particularmente nas serras de Canedo e nas margens do rio Ul. Foi através de uma das suas filhas que nos finais do século XIII os «Coelhos», uma linhagem bastarda dos de Riba Douro, conseguiram obter património na Terra de Santa Maria, documentado em 1288 numa quinta pertencente a Pêro Anes Coelho, casado com Margarida Esteves de Teixeira. Bibliografia José Mattoso, O Castelo e a Feira (A Terra de Santa Maria nos séc. XI e XII). Editorial Estampa, 1989 TEIXEIRA, José António Cardoso (1883 – ?). Nasceu em Cabaças, Moimenta da Beira em 1 de Março
de 1883. Era casado com D. Maria Augusta de Andrade. Foi professor primário em Moimenta da Beira e Arrifana (Feira), onde foi director do jornal «O Arrifanense», que iniciou a sua publicação em 1 de Maio de 1924. Exerceu ainda o cargo de inspector pedagógico em Moimenta da Beira, Viseu e Porto. Bibliografia Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira. Revista «Aveiro e o seu Distrito», n.º 8, 1969 TELES, António da Fonseca (? – ?). Foi pároco de Fiães durante 18 anos (1666-1684). Promoveu a reforma dos Estatutos da Confraria do Santíssimo de Fiães em 1667. Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940 TELO, João Afonso (? – ?). Foi senhor da Terra da Feira, dada, em 1372, por D. Fernando e confirmada pelo mesmo monarca, conjuntamente com Dona Leonor, sua mulher e o consentimento da filha Dona Beatriz, em 27 de Janeiro de 1383, nos seguintes termos: «Doamos, outorgamos e fazemos livre e pura doação para todo o sempre entre vivos valedoura ao dito Dom João Afonso, Conde de Barcelos e a todos que d´Elle descenderem põe linha direita das nossas terras de Santa Maria da Feira com seus julgados e termos; Cabanões de Ovar; da terra da Cambra com seus julgados e termos, direitos e pertenças dos ditos julgados. E lugares e terras com todas suas entradas e saídas, rocios, montes, matas, fontes e ribeiras e pescarias e com todas suas jurisdições, crime e cível, salvo as apelações e correição maior que reservamos para nós ou para aqueles que de nós descenderem e mero e misto império e sujeição assim nas pessoas como nos bens, de todas as rendas e tributos, e com todos seus foros e possessões e com todos os outros direitos reais e corporais e segrais, espirituais assim cumpridamente como os Nós havemos. Mas se o dito Conde morrer sem filhos ou filhas, netos ou netas ou outros descendentes deles lídimos, que os ditos lugares tornem à Coroa dos nossos reinos» Conde de Barcelos Era irmão da Rainha D. Leonor Teles e descendente do 1.º
conde de Barcelos. Em 1385, D. João I entregou a Terra de Santa Maria aos Pereiras, donde sairia, nos finais do século XV o 1.º conde da Feira. Bibliografia Francisco Ribeiro da Silva, Sucessão dos Senhores e Condes da Feira Segundo as Doações e Confirmações Régias. Revista «Villa da Feira - Terra de Santa Maria», Ano IV, n.º 10, 2005; José Mattoso, O Castelo e a Feira (A Terra de Santa Maria nos séc. XI e XII). Editorial estampa, 1989 TINOCO, Manuel Mateus (? – ?). Vivia em 1729, segundo Carta de Familiar do santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «homem de negócio; natural da freguesia de S. Martinho de Escapães, Feira, morador em Vila Rica do Ouro Preto; filho de António Mateus, natural de Escapães, e de Maria Fernandes, natural da freguesia de S. Salvador de Fornos, Feira, moradores em Escapães; neto paterno de António Mateus, natural de Guidalhães, freguesia de Santa Maria de Arrifana, Feira, e de Maria Fernandes, natural de Escapães, e aí moradores, e materno de António Dias, natural de Vinhais, e de Maria Fernandes, natural de Cerrado, ambas as localidades da freguesia de Fornos; ajustado para casar, em 1733, com Catarina de Sousa, natural de Ribeirão do Gama, Minas Gerais do Ouro Preto, filha de Diogo de Sousa Falcão, natural de Lisboa e de Joana da Costa, natural da freguesia de Monserrate, da cidade de S. Paulo, Minas Gerais, neta paterna de Diogo Pessanha Falcão, natural de Évora, e de Joana de Sousa, solteira, natural de S. Mamede, termo de Torres Vedras. E materna de José Gonçalves da Costa e de Catarina Camorgos, naturais e moradores na freguesia de Monserrate, sobrinha paterna de Sebastião de Andrade Pessanha, Promotor do Santo Ofício. Carta Familiar de 4 de Novembro de 1729 Manuel - m. 97, n.º 1817 Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º157, 1874
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TOPA, António da Silva (1920 – 1992). Natural da freguesia de Vila Maior, foi presidente da Junta desde 1964 a 1975. É recordado «como um dos filhos mais queridos» de Vila Maior. Durante o seu mandato «foi um trabalhador incansável e esclarecido. Pelo seu aprumo e dinamismo soube conquistar para a sua terra muitos melhoramentos» como a estrada que do Padrão vai para Sanguedo, passando pelo lugar de Gaeta; a abertura da estrada que passa do lugar do Barreiro ao Casal; fontanários no lugar do Padrão, no lugar do Sobral e no Fundo da Quintã. Era casado com D. Alzira Topa e pai do Engenheiro Topa que foi vereador da Câmara da Feira, pelo Partido Social Democrata. Faleceu na sua casa do Padrão, em 20 de Setembro de 1992, com 72 anos de idade.
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Bibliografia Correio da Feira, 9.10.1992 TRINCÃO, Domingos Simões (1895 – 1974). Nasceu em Coimbra em 1895. Licenciado em Direito exerceu aqui o lugar de notário e de advogado desde 1920 e onde fixou residência. Foi vice-presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal da Feira, dissolvida em 1926. Fundou a Sociedade dos Amigos da Vila da Feira que chegou a promover alguns melhoramentos na vila, e foi presidente da Humanitária Associação dos Bombeiros Voluntários da Feira e do Clube Feirense. Foi autor de revistas, musicadas pelo Dr. Paulo de Sá e António Martins, levadas à cena no extinto Teatro D. Fernando, na Vila da Feira. Foi também um apreciado poeta repentista. Politicamente militou no Partido Democrático. Era casado com D. Maria de Azevedo Trincão, da qual teve dois filhos: Dr. Renato de Azevedo Trincão e Dr. António Luís de Azevedo Trincão. Faleceu em Coimbra, onde tinha fixado residência depois da sua aposentação, em 15 de Julho de 1974, com 79 anos de idade. Bibliografia Correio da Feira, 27.7.1974; Francisco Neves, Do Alto da Piedade. Edição da LAF - Liga dos Amigos da Feira, 2003 Padre Albano Alferes, Homens e Factos. «Correio da Feira», 17.4.1992
TRINDADE, Frei Manuel João (? – ?). Foi pároco de Rio Meão de 15 de Outubro de 1718 a 21 de Outubro de 1748. Em 21 de Agosto de 1741 o visitador lamenta não estar ainda fundada uma Irmandade e Confraria das Almas e em 29 de Dezembro de 1748 refere a necessidade de substituir o telhado da igreja que se encontrava em mau estado e sabe da falta de pontualidade da hora matinal da missa. Em 1745 manda fazer uma torre e colocar uma cruz de Malta no frontispício da igreja. Bibliografia David Simões Rodrigues, Rio Meão - A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001 TRUCTESENDES, Egas (? – ?) e sua mulher Vivili Garcia, venderam a Diogo Aires, em 1127, por 100 «modios», partes de terras situadas no casal de Sá e em Rio Meão. Bibliografia Robert Durand, Le Cartulaire Baio Ferrado du Monastère de Grijó (XI-XIII Siècles). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1971 TRUCTESENDES, Ouroana (? – ?). Conjuntamente com seu marido, Pedro Pais, prometeram ao Mosteiro de S. Salvador de Grijó, em 6 de Junho de 1140, à sua morte, o 1/5.º da sua propriedade em Paço. Bibliografia Robert Durand, Le Cartulaire Baio Ferrado du Monastère de Grijó (Siècles XI-XIII). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1971 TRUCTESENDES, Paio (? – ?). Vivia em 1137, pois comprou a Nodario Gides e sua mulher Elvira Pais uma terra que aqueles possuíam na Villa Palatiolo (Paços de Brandão), por 80 modios. Em Março de 1154 lega ao mesmo mosteiro a sua propriedade de Argoncilhe e de Ataqui. (Argoncilhe). Em Dezembro de 1150 compromete-se a não alienar a sua propriedade de Argoncilhe sem o consentimento dos monges do Mosteiro de S. Salvador de Grijó.
Bibliografia Robert Durand, Le Cartulaire Baio Ferrado du Monastère de Grijó (XI-XII Siècles). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1971 TRUTESENDES, Diogo (? – ?) Vivia em 1136, pois a 27 de Abril desse ano, ele , seus filhos e netos doaram ao mosteiro de S. Pedro de Pedroso, a quinta parte do que tem no lugar de «Palácios» (Paços de Brandão), e a parte secular eclesiástica que lhe pertence no mosteiro de Vilar, onde quer ser sepultado e que deseja bem povoado, mas sem perder o senhorio dele. Bibliografia João Pedro Ribeiro, Dissertações Cronológicas e Críticas Padre Joaquim Correia da Rocha, Recordar 900 Anos de Paços de Brandão. Edição da Junta de Freguesia de Paços de Brandão, 1995 TULFIZ, Rodrigo (? – ?). Era pároco da freguesia de Fiães em 1072. Nesta data fez doação das vilas do Outeiro e de Vilar, em Fiães ao mosteiro de Pedroso, segundo um pergaminho daquele mosteiro. Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Subsídios para a História de Fiães da Feira, «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º18, 1939 UNISCO (? – ?) e seus filhos Martinho, Mendo e Diogo Pais, vendem, em Outubro de 1155, aos monges do Mosteiro de S. Salvador de Grijó, pelo equivalente de 20 morabitinos, parte em gado, parte em ouro, a sua terra de Argoncilhe, no lugar chamado Outeiro. Bibliografia Robert Durand. Le Cartulaire Baio Ferrado du Monastère de Grijó (XI-XIII Siècles). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1971 URRÔ, Rui Dias de (? – ?) O seu estabelecimento na Terra de Santa Maria deveu-se ao seu casamento com Teresa Fernandes de Macinhata, que era irmã de Martim Fernandes Pimentel, ambos descendentes de antigos proprietários no território, «como parece apontar a posse conjunta do padroado da igreja de Macinhata e,
no caso de Martim Fernandes, a de honra de Gulpilhares, detida nos finais do século XIII, pelos cavaleiros de Agarei/ (Válega), seus presumíveis parentes». Em meados do século XIII já vivia nas margens do rio Antuã e em 1288 detinham a quinta de Macinhata, continuando a efectuar novas alianças matrimoniais na região. Bibliografia José Mattoso, O Castelo e a Feira (A Terra de Santa Maria nos séc. XI e XII). Editorial Estampa, 1989 VALE, Francisco Januário (? – ?). Vivia em 1781, segundo Provisão de Comissário da Inquisição de Coimbra que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «bacharel formado nos Sagrados Cânones e Reitor da freg. De S. Miguel de Souto, Feira; natural do Porto, freg. de S. Nicolau; filho de Domingos Álvares Vale, natural da freg. de Santa Maria do Telhado, Famalicão, e de Isabel Maria da Conceição, natural de freg. do Salvador de Lemenhe, Famalicão; neto paterno de António Álvares de Gouveia e de Catarina Rodrigues, solteira, do Telhado, e materno de Estêvão Luís e de Maria Luís, de Lamenhe. Provisão de Comissário da Inquisição de Coimbra de 16 de Outubro de 1781. A.N.T.T. Francisco - m.124, n.º1847» O padre Francisco Januário ofereceu à Capela de Nossa senhora da Guia, de Tarei, uma banqueta de quatro castiçais, uma cruz em talha dourada e um cálice que se encontra ainda na referida capela. Mais tarde foi nomeado para a Sé Catedral do Porto. Bibliografia Padre Albano Alferes. Párocos de Souto. «Correio da Feira», 8.6.1979 Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º119 (Julho, Agosto e Setembro), 1964 VALENTE, Alexandrino Chaves Pereira (? – ?). Era sub-prefeito da Comarca da Feira em 1834. Organizou nesse ano listas de cidadãos perigosos, «desafectos ao liberalismo, recomendando a sua especial vigilância». Bibliografia Alberto Sousa Lamy, Monografia de Ovar, Da Idade Média À República, 1026-1910, 1.º volume. Ovar, 1977
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VALENTE. Joaquim José Pinto (1871 – 1927). Nasceu na Vila da Feira, em 9 de Maio de 1871. Era casado com D. Margarida Godinho de Oliveira Valente. Foi Director do jornal «Gazeta Feirense» a partir de 16 de Março de 1911, jornal que tinha sido fundado em 23 de Novembro de 1908, sob a direcção do Dr. Henrique Vaz Ferreira. Pinto Valente foi ainda administrador do concelho da Feira, de Março a Maio de 1906 e de Julho a Outubro de 1910. Faleceu em Angra do Heroísmo, em 14 de Setembro de 1927. Bibliografia Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira. Revista «Aveiro e o seu Distrito, n.º 8, 1969
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VALENTE, José Fernandes (? – ?) Vivia em 1785, segundo Carta de Familiar do Santo ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve «homem de negócio; natural da freg. de Santo André de Gião, Feira, e morador na freg. de N.ª Sr.ª da Conceição da Praia da cidade da Baía; filho de Domingos Fernandes e de Antónia Valente, naturais e moradores em Gião, e de Águeda André, da freg. de Santo André de Leça, V.N. de Gaia, e materno de Manuel Dias e de Antónia Valente, igualmente naturais e moradores na freg. de Santo André de Gião. Carta de Familiar de 5 de Outubro de 1785. A.N.T.T – José - m.152, n.º29 4 9» Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º140 / Outubro, Novembro e Dezembro), 1969 VALENTE, Manuel Lopes (1909 – 1988). Nasceu no lugar da Carvalhosa, na freguesia de Sanfins (V. N. de Gaia) em 30 de Setembro de 1909. Emigrou para o Brasil em 1928, onde chegou a 22 de Agosto. Aqui matriculouse no Liceu Literário Português, tirando o curso de contabilista e gestor de empresas. Em paralelo com o seu exercício profissional, manteve intensa actividade social e associativista,
tendo sido sócio fundador da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria no Rio de Janeiro. Foi ainda fundador de 9 instituições portuguesas, 10 luso-brasileiras, 11 brasileiras e director de 13 agremiações dedicadas à afirmação dos valores portugueses «e reforço dos laços culturais luso-brasileiros». O seu empenhamento nos interesses portugueses no Brasil foi reconhecido pelo governo português que o agraciou com a Comenda da Ordem de Benemerência, em 1955, pelas mãos do presidente da República, general Craveiro Lopes. Mereceu ainda as medalhas de honra da cidade carioca, de cidadão de Guanabara, Benemérito da cidade do Rio de Janeiro, Comendador da Câmara Legislativa do Rio de Janeiro A Casa da Vila da Feira nasceu nos seus escritórios a 12 de Julho de 1953, por isso foi-lhe atribuído o n.º 1 de sócio daquela Casa no Rio de Janeiro. Faleceu em Maio de 1988 Bibliografia Correio da Feira, 13.5.1988 VASCONCELOS, Diogo Leite de (? – ?). Vivia em 1688, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «Cavaleiro de Cristo e Capitão-mor do Couto da Régua donde era natural; filho de Jerónimo Dinis Pinto, natural do Couto da Régua, e de D. Maria de Vasconcelos, natural da Feira; neto paterno de Jerónimo Dinis Pinto, do mesmo Couto, e de Maria Rebelo, de Gondim, da mesma freguesia, e materno de Diogo Moreira de Vasconcelos, e de Filipa de Matos da Vila da Feira; ajustado para casar, em 1690, com D. Maria Barradas Pacheco, natural e moradora na vila de Lumiares, filha de Manuel Saavedra de Carvalho, natural de Lumiares, e de D. Maria Barradas, natural de Sendim, neta paterna de João Rodrigues Saavedra e de Maria Tomé de Carvalho, de Lumiares, e materna de Diogo da Fonseca, natural de Leomil, e de Francisca Barradas, de Sendim, todos do Bispado de Lamego. Carta de Familiar de 11 de Fevereiro de 1688 Diogo - m. 5, n.º152 Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º113, 1863
VASCONCELOS, Domingos Manuel Soares de Albergaria e (? – ?). Foi capitão-mor da Vila da Feira, por carta de 22 de Novembro de 1775 que exerceu «com muito zelo, inteiro cumprimento e satisfação, como consta de um documento datado de 3 de Junho de 1787, assinado pelo Brigadeiro Sebastião Corrêa de Sá, Governador de Armas da cidade do Porto e que se encontra no arquivo da casa dos Morgados de S. João da Madeira e senhores de Gafanhão, que ficou para Mário Ramos, como seu descendente. Era filho do capitãomor da Vila da Feira, Salvador José dos Reis e Vasconcelos e de D. Isabel Teresa Maria Soares de Albergaria. Era casado com D. Inês Antónia Maria Margarida Rangel e Quadros, da Casa do Carmo, Aveiro, filha de Diogo Luís Perestrelo Rangel de Quadros e Veiga e de D. Catarina Maria Inácia de Mascarenhas e Mesquita, da Casa do Carrascal, em Torres Novas. Deste casamento houve um filho, Domingos Manuel dos Reis Soares de Albergaria Mascarenhas de Quadros. Bibliografia Mário Reis, Casas Brasonadas de Oliveira de Azeméis. «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º 30, 1942 VASCONCELOS, Jorge de Cabedo de (? – ?) Vivia em 1686, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «natural e morador em Setúbal; filho de José de Cabedo de Vasconcelos e de D. Luísa Maria da Cunha, moradores em Setúbal; neto paterno de Jorge de Cabedo de Vasconcelos, igualmente natural de Setúbal, e de D. Ana de Castelo Branco, natural de Fronteira, e materno de Manuel da Cunha Soares, Familiar do Santo Ofício, e de Mariana da Cunha, filha de Diogo da Cunha Castelo Branco e sobrinha de D. Maria Madalena da cunha, mulher de Pedro Ferraz Barreto, Familiar do Santo Ofício; sobrinho paterno de Luís de Cabedo de Vasconcelos, Comissário do St,º Ofício, em Setúbal; ajustado para casar, em 1711, com D. Joaquina Maria de Meneses, natural da Vila da Feira, freg. de S. Nicolau, filha de D. Fernando Forjaz Pereira Pimentel, 8.º Conde da Feira, Familiar do Santo Ofício, e de D. Ana Maria Viveiros, natural da Feira, neta paterna de D. Manuel Pimentel, Conde da Feira, e de D. Joana Forjaz Pereira, 6.ª Condessa da Feira, e materna de Feliciano Leitão Coelho e de D. Maria Coutinho de Almeida, naturais e moradores na Vila da Feira.
Carta de Familiar de 19 de Fevereiro de 1686. A.N.T.T. Jorge - m.2, n.º48» Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro» (Outubro Novembro e Dezembro), 1968 VASCONCELOS, José Inácio Pereira Castro Coutinho de (? – ?). Foi pároco de Fiães durante 27 anos (1798.1826). Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940 VASCONCELOS, Frei Simão (1788 – 1832). Nasceu na freguesia de Cesar, concelho de Oliveira de Azeméis, das antigas Terras de Santa Maria, em 28 de Dezembro de 1788 e foi baptizado na Igreja de Romariz, Feira, a 6 de Janeiro de 1789. Pertencia a uma família de nove irmãos, cinco rapazes, dois dos quais seguiram a carreira das armas e dois a vida monástica, e quatro raparigas, das quais três ficaram em casa e uma foi freira no Mosteiro de Arouca, passando depois para o Convento de Santa Clara, no Porto e mais tarde para as Comendadeiras dos Santos, em Lisboa. Frei Simão professou na Ordem de Cister, no Mosteiro de Alcobaça. Em 1816, pediu a sua secularização para prestar assistência às suas irmãs, que tinham ficado órfãs. Em César dedica-se à administração das suas propriedades e monta uma pequena fábrica de «sombreiros» na sua casa do Outeiro. Com a revolução de 1820, Simão de Vasconcelos adere ao liberalismo, percorre as terras de César e arredores a espalhar as novas ideias da liberdade, igualdade e fraternidade. Com a revolução do Porto, comandada por D. Pedro IV, Simão de Vasconcelos, «delirante de alegria», mandou à Vila da Feira comprar morteiro e bombas. Acusado por um vizinho, Inácio da Fonseca, o corregedor da Feira, Mourão Guedes mandou um batalhão de milícia para o prender. Este conseguiu fugir, mas perseguido é alvejado a tiro e feito prisioneiro, ficando preso na cadeia da Vila da Feira. Daqui conseguiu fugir e andou homiziado durante dois anos. Em 1832, D. Pedro IV assumiu a regência de Portugal e Simão de Vasconcelos organiza e comanda uma guerrilha, composta por quarenta
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homens, percorre toda a região do Porto a Cesar e Arouca, têm recontros com tropas miguelista estacionadas na Vila da Feira, Oliveira de Azeméis e numa dos combates foi ferido e preso juntamente com outros guerrilheiros, na Ribeira de Moldes, próximo do lugar de Adufe, freguesia de Moldes a 9 de Setembro de 1832 e levados para a prisão de Arouca, depois para a de Lamego e daqui foram conduzidos, a pé, para Viseu, onde foram julgados. Uma Comissão Mista, sob a presidência do Marechal de Campo Governador de Armas, Luís António Salazar Moscôzo condenou à morte Simão e mais seis guerrilheiros no dia 16 de Outubro de 1832. Conduzidos, nesse mesmo dia, ao terreiro de Santa Catarina, foram fuzilados por uma escolta de milícias de Bragança. Simão de Vasconcelos foi sepultado na capela de S. Martinho, existente no terreiro e mais tarde com a instauração do liberalismo os seus restos mortais e os dos seus companheiros foram trasladados para os claustros da Sé de Viseu, onde se conservaram em um mausoléu até 1957, data em que este foi levado para o antigo cemitério de Viseu onde se encontra actualmente. Sobre esta personagem escreveram-se os seguintes livros: «O Testamento de Frei Simão (esboço Histórico de Uma Vida Célebre»), de Manuel Mentarfa; César Comemora Frei Simão de Vasconcelos», de Américo Oliveira; «O Processo de Frei Simão de Vasconcelos e da sua Guerrilha», de Samuel de Bastos Oliveira; e «A Guerrilha de Frei Simão (Romance Histórico»), de Alberto Pimentel. Bibliografia Orlando Silva, Frei Simão de Vasconcelos - Um Frade liberal mártir da Liberdade. Revista Villa da Feira, n.º 3, ano I, Fevereiro, 2003 VASCONCELOS, Salvador José dos Reis e (? – ?). Cavaleiro da Ordem de Cristo, Familiar do Santo Ofício, foi capitão-mor da Vila da Feira. Era casado com D. Isabel Teresa Maria Soares de Albergaria, sua parente, de quem teve Domingos Manuel. Bibliografia Mário Reis, Casas Brasonadas de Oliveira de Azeméis. «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º30, 1942 VIANA, João Maria de Sá (? – ?). Foi pároco da freguesia de Pigeiros, apresentado, em 1875, pela monarquia constitucional.
Bibliografia P.e José Inácio da Costa e Silva, «Santa Maria de Pigeiros», jornal «Tradição», número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940 VIEGAS, D. Gonçalo (1002 – 1057). Em 1050, no inventário das propriedades de D. Gonçalo Viegas e de sua mulher D. Flâmula (Chamôa), são incluídos bens que tinham sido do seu avô D. Crescónio, em Travanca e Prosêlhe (Mosteirô). Era filho de Egas Eriz e de Ildôncia Formarigues. Foi governador de Montemor de 1017 a 1026 sob a autoridade de Afonso V e fez «largas presúrias na mesma região». Herdou propriedades em Lamas, Anta, Travanca, Paramos, Aveiro, Lalim, Segadães, Pedaçães, Fermentões, Valongo, Recardães, Fermentelos, Ourenta, Cedrim, Serem, Canelas, Pedroso, Alheira, Seixezelo e Sá. Para além destas propriedades herdadas, Gonçalo Viegas, integrado nas hostes do conde Mendo Luz, aumentou o seu património com a aquisição de outras propriedades no Vale do Vouga e na região de Coimbra ou por compra ou por presúria. Pertencia à família dos senhores de Marnel. Durante o período de 1017 a 1026 «os senhores de Marnel» fundaram o Mosteiro de S. Martinho de Anta, que foi entregue por Froila Gondesendes, bisneto de Gondesendo Eriz e tio, pela mulher, de Gonçalo Viegas, a Tudeildo, abade de Vacariça, e que se tornaria, antes de 1045, numa igreja paroquial dependente do Mosteiro de Leça, governado também pelo abade Tudeildo. Do seu casamento houve 5 filhos: Paio, Honorico, Fernando, Ero e Urraca. Bibliografia Samuel de Bastos Oliveira, Travanca - a informação paroquial de 1758 e uma retrospectiva do seu passado. Revista «Villa da Feira - Terra de Santa Maria», Ano IV, n.º 11, Outubro 2005; Resenha Histórica das Freguesias de Souto, S. Vicente de Pereira e S. Martinho da Gandra. Jornal «Tradição», 4.5.1935; José Mattoso, A Nobreza Medieval Portuguesa - A Família e o Poder. Editorial Estampa, 4.ª edição, 1994; José Mattoso, O Castelo e a Feira (A Terra de Santa Maria nos Séc. XI e XII). Editorial Estampa, 1989
VIEIRA Manuel (? – ?). Vivia em 1711, segundo Carta de Familiar que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «bacharel formado na Faculdade dos Sagrados Cânones pela Universidade de Coimbra e reitor da igreja de S. Mamede de Vila Maior; Feira; natural de Arcos de Valdevez; filho de Domingos Vieira, natural da freg. de S. João de Covas da Ribeira de Soaz, e de Ângela Gonçalves, natural de freg. de Santa Comba de Vila Fonche, termo de Arcos; neto paterno de Adrião Vieira da Cruz, natural da freg. de Santa Maria de Rendofinho, Póvoa de Lanhoso, e de Madalena Álvares, de Ribeira de Soaz, e aí moradores, e materno de António Xisto, natural de Santa Comba de Vila Fonche, e aí moradores. Provisão de Comissário de 13 de Outubro de 1711. A.N.T.T. - m. 75, n.º 1465» Bibliografia Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício». Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º 161 (Janeiro, Fevereiro e Março), 1975. VILARINHO, António Cardoso (1887 – 1940). Nasceu no lugar da Chousa a 17 de Outubro de 1887. Ordenou-se presbítero em 1913. Foi pároco de Sanfins (Gaia), Lomba (Amarante) e Vilar do Andorinho (Gaia). Em 1936 foi dispensado das funções de pároco por motivo de doença e exerceu o cargo de capelão em Fiães. Faleceu em 8 de Novembro de 1940. Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940 VILARINHO, José Francisco (? – 1901). Natural de Fiães, interessou-se sempre pela defesa do progresso da sua terra. Colaborou na construção da nova igreja matriz e na mudança do cemitério para o lugar de Valos. A criação da escola masculina data de 1884. Não havendo edifício próprio, este benemérito adquiriu, a expensas suas, ofereceu gratuitamente uma casa de habitação, no lugar do Rio, para a instalação da dita escola. Faleceu em 1901. Bibliografia Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun´Álvares, Porto, 1940
VITISCILIZ, Paio (? – ?). Era filho de Vitiscilo Vtisciliz. Casou com Patrina Eriz, filha de Erro Gonçalves, de quem teve Mendo, Soeiro, Garcia e Nuno. Paio Vitisciliz possuiu propriedades em S. Jorge (a igreja), Lobão, Vila Cova e Santa Cruz. Bibliografia José Mattoso, A Nobreza Medieval Portuguesa - A Família e o Poder. Editorial Estampa, 4.ª edição, 1994 ZUZARTE, Gonçalo (? – ?). Era pároco da freguesia de Travanca em 1560. Bibliografia Padre Jorge de S. Paulo, O Convento da Feira. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º 63 (Julho, Agosto e Setembro), 1950 117
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PEDRAS FALANTES! Noé Oliveira Bernardes* Numa casa de Rodrigo, baixa, beirã,
Voz sibilina, roçagante zoou de um canto da casa,
Há uma pedra à entrada, serva da ombreira,
Era da pedra metamorfoseada,
É a mais bela e a mais sã.
Por todos venerada.
Tão enleante e namoradeira,
“Não toques na pedra irmã,
Logo nos trava a passagem;
Nem profanes a lareira que o calor nos dá,
Tem ares de feiticeira!
Barrota e telha o envoltório, Não nos deixes ao Deus dará!”
Entro num todo irmanado onde há outras seminais, São retas, meeiras, com enleios de fada,
“Repõe tudo como outrora,
Anjos vigilantes, antes albergue dos nossos pais.
Mesa, alcova, baú com bordados dos serões e as rendas da memória, Fica aqui, faz outra, nova história!”
Sentinelas emparedadas do tempo contado fugido, Cansadas, centenárias, sobrepostas estão, Anseiam apenas o afago e a carícia de uma mão. Busco a pedra matriarcal, tenho pressa em obrar, Permissão para a empreitada, Onde estás pedra angular? *Advogado
CAPÍTULO PRIMEIRO A CASA GRANDE DE ROMARIGÃES APRESENTA-SE Manuel de Lima Bastos* Desde o dia em que assentei que me convinha gastar quase todo o meu tempo a escrever sobre a vida e a obra de Aquilino Ribeiro que me atraía a ideia e alimentava o projecto de dedicar uma obrinha inteira a divagar sobre certos aspectos da sua Casa Grande de Romarigães mas a coisa revelou-se encargo mais complicado do que parecera numa primeira abordagem. Qual o porquê de ter escolhido A Casa Grande de Romarigães e não um outro qualquer livro do grande escritor? No meu raciocínio o motivo desde logo se mostrou tão claro e cristalino como a água que desce das alturas da serra da Labruja formando um córrego que desliza no meio de carvalhas centenárias e no qual, em seu momento, a truta palmeira se espicha num salto de acrobata de circo para abocanhar a libélula descuidosa que voeja ao rés da correnteza, cena idílica de princípio do mundo que logo fez o reverendo Gonçalo da Cunha cair de amores pelo sítio onde havia de nascer alguns anos depois a Quinta de Nossa Senhora do Amparo, o vero nome da Casa Grande de Romarigães.
E essa razão, ou somatório de razões, advém de considerar que esta é a obra-prima do beirão genial, escrita com setenta e dois anos e estando já no ocaso do pendor da vida, a precisa idade em que eu próprio agora me vejo. Para além disso, e acima de tudo o mais, ressalta o facto de toda a minha vida ter considerado A Casa Grande de Romarigães como a mais bela, importante e perfeita criação de toda a literatura em prosa que algum dia se escreveu na língua portuguesa. Aceito que muitos discordem da afirmação ou que a julguem pelo menos controversa e discutível. Tudo isso e mais alguma coisa aceito de boa mente e reconheço que existe fundamento para divergir. Adiantarei, como complemento de explicação e justificação que não incluo o texto do mestre na categoria de romance, de novela ou de outro qualquer género literário nem o irei abordar numa tal perspectiva ou classificação porque me convenci que será redutor querer encaixá-lo em baias onde decerto não se sentirá bem e a gosto. A obra foi publicada em 1957 - há cinquenta e cinco anos - e desde essa época poucos devem ter sido aqueles em que a não reli pelo puro deleite que a sua fruição me proporcionou desde a primeira leitura até hoje. Por isso não andarei longe da verdade ao afirmar que me terei embrenhado pelas páginas da obra magnífica para cima de cinquenta vezes só pelo puro prazer estético porque as incidências factuais da trama, essas conheço-as de cor e salteado.
*Advogado. Devoto Aquiliniano. Publica-se o 1º capítulo da quinta obra sobre Aquilino Ribeiro titulada À Sombra de Mestre Aquilino na Casa Grande de Romarigães, do nosso dedicado colaborador Manuel Lima Bastos
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Que colhi eu de tão numerosas quanto persistentes visitas, que encontro de tão excepcional no livro que Aquilino Ribeiro escreveu já com os horizontes da vida sombreados pela proximidade do fim mas exibindo ainda uma tão rara e inexplicável plenitude criadora? Foi o escritor que quis deixar de si próprio um último retrato pintado com palavras suas: trabalho, trabalho e trabalho como se me penetrasse um fecundo verão e cito de memória. Por minha parte confesso que a razão do regresso repetido à obra magistral tem sido sempre o desejo de mergulhar, uma e outra vez, na água lustral da musicalidade da língua pátria trabalhada na sua mais esplêndida forma literária.
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Para lá dos estudos das categorias e classificações literárias, para lá das análises formais que delas decorrem, para lá ainda das diferentes ossaturas e teceduras da construção romanesca que entendidos nesta matéria costumam fazer para sua alta recreação mas de forma tão abstrusa e impenetrável que só outros amigalhaços, que vão à missa na mesma capela das letras e igualmente sabichões, lhes conseguem meter o dente ficando aqueles que se limitam a ler, e a gostar cada vez mais de ler, a olhar para as elucubrações eruditas deste ou daqueloutro barra como bois a olhar para palácios, de focinhos estupefactos e bocas abertas até às orelhas. Ora, senhoras e senhoras, eu permito-me o atrevimento de julgar a coisa muito mais simples e afirmo despudoradamente acreditar que quem aprendeu a exprimir-se escorreitamente na língua materna, teve uma mediana educação em humanidades e - o mais importante de tudo! – criou desde novo o hábito da leitura regular de obras que se não confundem com as histórias da carochinha ou com as aventuras daquele destemido capitão Sandokan, pirata dos mares da Micronésia ou lá de onde raio era (facto de que não virá mal algum a este mundo onde a Cristo nem sequer lhe deram tempo para romper as meias solas das sandálias) está mais do que habilitado a expressar opiniões e a fazer os pronunciamentos que bem entenda. Eis o meu caso e são os títulos que exibo: com nove anos iniciei-me em Aquilino lendo o romancinho delicioso que se intitula Cinco Reis de Gente e nunca mais interrompi o convívio com o escritor durante quase todos os dias da minha vida, quando menos para ler duas ou três páginas antes de apagar a luz e adormecer com o espírito confortado. Mercê dos dois anos de frequência e aprovação obrigatórias para alunos da área de letras na disciplina de literatura portuguesa acabava por se ficar com algumas ideias sobre os vultos com maior
destaque neste domínios. Depois era o gosto, o empenho ou a queda de cada um que ditavam o que viria a seguir. No que me toca, o bichinho das belas letras entrou-me no corpo e nunca mais deixou de lá morar até aos dias de hoje. Ler é um vício e um hábito que se arreiga tanto ou mais que o de fumar: não podemos passar sem uma dose diária mínima dessa recreação do espírito. Foi este o motivo, para lá do estudo curricular da literatura portuguesa, que me levou a meter o nariz curioso e a entrar fartamente por Camões, Gil Vicente, Manuel Bernardes, Padre Vieira e mais uns tantos e a demorar-me com mais vagar nos nomes grandes do século XIX como Garrett, Herculano, Fialho mas com Camilo e Eça à testa do pelotão. Tornei-me um leitor compulsivo que nem sabe fazer contas à eternidade de horas que passou perdido e achado por bibliotecas públicas depois de ter devorado a pequena livraria de meu pai, de ter esgotado as dos amigos, de me ver em trocas e baldrocas de livros usados onde gastava boa parte da pecúnia que chegava ao meu bolso de pobretana. Cheguei até a cometer a infâmia de ajustar com um colega, especialista em fazer mão baixa por tudo quanto era livraria e que generosamente se propusera industriar-me na arte de furtar, a obtenção de certa obra de Malraux acabada de sair e que muito queria ler. O amigo ainda chegou a levar-me com ele a uma das mais importantes livrarias da Baixa de Coimbra para me iniciar nas manhas do ofício de surripiar livros sem que os argos vigilantes dessem conta da ladroagem. Era essencial vestir capa e batina uma vez que o volume bifado por via dessas malas-artes passaria a porta da rua dissimulado debaixo das dobras da capa. Foi então que descobri, pelo tremer das mãos e pela sudação copiosa, que um dos poucos defeitos com que a natureza não me quis beneficiar foi precisamente o talento para abarbatar o que pertence ao próximo e pus-me a andar sem sequer tentar o golpe com espanto e desgosto do companheiro da ladroagem frustrada que praticava o ofício com o à vontade duma longa e frutuosa prática. Não foram duas nem três as vezes em que me exibiu luxuosos álbuns de pintura, sobretudo de impressionistas, e grossos tratados estrangeiros sobre diversas matérias, tudo de preço exorbitante, que compradores anónimos lhe haviam encomendado. Acabou por me arranjar o Malraux que eu ansiava ler e ofereceu-mo grato pro Deo. Aceitei a dádiva desejada mas dei bem conta que a consciência me apontava o dedo acusador. Retribui a dádiva oferecendo-lhe,
num restaurante da Baixa chamado Aeminium, ceia modesta composta por um prego no prato com ovo a cavalo e batatas fritas. Como uma mão lava a outra, consideramos a questão encerrada e não se pensou mais no assunto. O curioso da questão é que o fulano, praticando tal arte regularmente em escala a bem dizer profissional, nunca foi apanhado em flagrante e passou incólume de roubalheira em roubalheira sem outra consequência que não fosse talvez obrigar as empresas livreiras da cidade a reforçar as suas dotações para dar cobertura às perdas provenientes do furto de livros. Chego a pensar que este diabo, se vivesse nesta época e lhe desse na telha roubar os argentários e a gatunagem vária que por aí se passeia contente da vida e legitimasse esses ganhos distribuindo-os pelos pobres, bem poderia ter sido um Robin Hood lusitano, raça que traz no sangue a tendência para a roubalheira aprendida há milénios na escola filosófica dos turdetanos. Julgo até que teria excelentes hipóteses de, quando partisse deste vale de lágrimas que ninguém larga de boa vontade, o empoleirarem no supedâneo dos altares com a gentinha da casa lusíada a requer-lhe a intercessão divina contra a ladroeira infrene daqueles que - nunc et semper se repoltreiam nos cadeirões do poder gozando da mesma impunidade que o novo santificado usufruiu largamente em vida e mostram escrúpulos idênticos quando rapinam, com mão baixa, a coisa pública que intencionalmente deixam desprotegida à mercê de tais passarões. Falava eu dos autores que fui digerindo na minha juventude e fizera uma pausa ao referir os grandes nomes do século XIX embora alguns deles – muito poucos – ainda tivessem transposto o umbral do século XX produzindo obra nos seus primeiros anos. Deste século, no qual quase toda a minha vida transcorreu, existindo sem sombra de dúvida casos de escritores meritórios, o único que quero destacar é o de mestre Aquilino Ribeiro que tão fundamente marcou tanto o meu carácter como a minha concepção do mundo. O resto, verdadeiramente todo o resto que surgiu no palco das letras nos nossos dias, só muito relativamente me interessou por ser – e parafraseio Baptista-Bastos – literatura suburbana, ou pouco mais que isso, ao considerar muito justamente Aquilino Ribeiro como o último gigante das letras portuguesas. E lá fui também fazendo umas incursões pelos espanhóis do siglo d’oro, os franceses e os russos do grande romance
clássico, os italianos e franceses que se iniciaram na corrente neo-realista e depois quase todos se espantaram em direcções várias como bando de estorninhos assustadiços, os romancistas norte-americanos da época dentre as duas guerras mundiais dos quais muitos vieram aprender a arte para Paris e deixaram nomes famosos na literatura do nosso tempo legando também excelente memória na condição de beberrões descendentes directos do patriarca Noé. E lembro a contribuição dos escritores sul-americanos que foram erguendo as paredes mestras desse outro magnífico edifício literário que foi baptizado com a designação de realismo fantástico. Perguntarão: estudou tudo isso? Não, fui lendo, relendo e treslendo, o que é muito menos que estudar tudo isso mas seguramente é um pouco mais que passar por tudo isso como cão que passa por vinha vindimada. É alguma coisa. É portanto no substrato acumulado de conhecimentos que estas leituras me foram proporcionando ao longo de mais de sessenta anos que estribo a opinião de que A Casa Grande de Romarigães é, nos domínios da prosa de ficção, o maior, mais belo e importante monumento literário que se escreveu algum dia na língua portuguesa constituindo o acume da literatura lusíada. Na nota preambular de introdução à obra explica Aquilino Ribeiro que ao tomar posse da Quinta de Nossa Senhora do Amparo, mais conhecida como a Casa Grande de Romarigães, num armário, não maior que o nicho dum santo, embutido na ombreira da janela, que a portada, em geral aberta, dissimulava atrás de si, encontrou-se uma volumosa rima de papéis velhos. E acrescenta: não posso ver um farrapo impresso que não se me sobressalte a curiosidade. No meio dos tais papéis velhos descobriu Aquilino um manuscrito com a sua centena de páginas metidas numa capa de pergaminho que tinha por título este extenso relambório: Livro que há-de servir ao assentamento das coisas notáveis que assucederam na Casa Grande de Romarigães, também chamada Quinta de Nossa Senhora do Amparo. Com um epítome da origem, fundação, sítio e nobilíssima árvore de seus morgados, pelo Padre Sebastião Mendrugo, da Casa da Cachada, e seu capelão. Ano da Graça de 1680. Da autoria de um tal senhor Manuel Afonso, de Venade e miguelista dos quatro costados, no meio dos tais papéis foi encontrado o outro manuscrito, em letra especiosamente
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torneada, com o título Vida de D. Luís António de Antas e Meneses, sargento-mor de Milícias e procurador às Cortes de 1828. Refere-se ainda um terceiro caderno [que] tinha ares de copiador. Era o vasto repositório duma ciscalhada inominável […], sinal de que o escriba propendia para literato, e até cartas de amor. Estas estadeavam um título autónomo dentro do vasto armazém de ferro-velho: “Cartas de dois amantes verdadeiros”. Conclui o escritor: de modo que em grande parte deste livro eu não fiz mais que marchar na esteira dos cronistas que tenho por veros, uma vez que não tinham interesse em ser mentirosos. Por tal razão Aquilino justifica-se não querendo que chamassem romance ao seu trabalho, quando muito crónica ou história romanceada. Com a graça do chiste onde vemos cintilar a faísca do mais íntimo e puro gozo remata o preâmbulo do livro: Romance…!? Se me saiu romance, aconteceu-me a mesma coisa que a um triste e tosco carpinteiro dos meus sítios, de quem toda a gente zombava, decerto por milagre desenfadado do Espírito Santo: estava a fazer um gamelo para o cão e saiu-lhe uma viola. Que pensar desta explicação e de tudo o mais? Terá o escritor lançado mão do artifício literário de inventar imaginárias fontes históricas para dar à sua obra a enganadora aparência de realidade sustentando que não fez mais que marchar na esteira de cronistas que tem por veros? Não o creio. Acredito que o escritor realmente encontrou a tal rima de papéis velhos na qual estavam os três documentos que foram mencionados e dos quais se aproveitou tal como se fossem uma sorte de roteiros para aparelhar a ossatura da obra. Por outro lado, sob o ponto de vista estritamente literário, é-me igual que tenha sido dum modo ou doutro porque o que mais importa é que, partindo da base de factos reais, isto é, que historicamente em boa parte aconteceram, construiu um verdadeiro e autêntico romance que na sua magnitude e beleza é comparável a um fresco ou a um mural grandiosos da autoria de extraordinário mestre pintor. O facto incontroverso é que Aquilino pegou na ciscalhada inominável e, por obra a graça do génio e do trabalho, transformou-a num romance perfeito onde a cada passo nos surpreendemos com a descoberta de autênticas pedras preciosas talhadas nas mais belas formas estéticas e mostrando o que há de mais puro e subtil na beleza da construção literária.
Para não ir mais longe, podemos a tal propósito raciocinar deste modo: entreguem-se um belo bloco de mármore, o escopro e a marreta a um escultor e ordene-se: faça-me uma escultura que não seja inferior a uma obra-prima de Rodin. Ou, do mesmo modo com uma tela em branco, pincéis e tintas, peça-se a um qualquer artista para pintar um quadro que nada fique a dever a um outro assinado por nome consagrado da grande pintura e veremos o que sai daqui. Ou, melhor ainda, entregue-se a tal ciscalhada inominável a um escritor, a um dos muitos escrevinhadores que por aí se passeiam pela praça das letras e, admitindo que A Casa Grande de Romarigães estava ainda no limbo das coisas por acontecer, entregue-se-lhe a ciscalhada e imagine-se o resultado do seu trabalho. Nunca por nunca da transformação literária dos ditos documentos originais poderia resultar um milagre tão admirável que tivesse asas para voar até às alturas literárias de A Casa Grande de Romarigães inventada pela pena incomparável do mestre prosador. Era a conclusão que me propunha alcançar: pouco ou nada interessa o material de que o escritor disponha como ponto de partida porque tanto pode resultar numa obra excelente como num trabalho de reles fancaria. Tudo vai da capacidade do autor para o transformar em algo irrepetível ao iluminar a mera e tosca factualidade tocando-a com varinha mágica da graça e do engenho do seu génio. Assim aconteceu com Aquilino Ribeiro e a sua esplendorosa obra A Casa Grande de Romarigães. Relembro o passo de um diálogo que se pode ler na obra Cinco Réis de Gente no qual determinada personagem dizia para o dono da casa, fidalgo de pendão e caldeira, no decurso de um homérico banquete e que vou traduzir de memória e por palavras minhas embora fielmente: - Veja V. Excia. a gente que tem diante de si, sentada à sua mesa. Está aqui representado todo o Portugal desde o tempo dos Cabrais até aos dias de hoje. Coisa semelhante se pode dizer de A Casa Grande de Romarigães que começa na época dos Filipes e vem até à segunda metade do século XIX, com mais de duzentos anos percorridos ao longo da sua história e onde podemos encontrar a vera alma do velho Portugal nos seus defeitos e vícios, na falta de grandeza, no atraso congénito, na imbecilidade que advém da ausência do saber e em tudo o mais que resultou do predomínio classista de uma nobreza indolente, sem
carácter nem iniciativa, dissipadora do pouco que o mundo rural produzia e acolitada por uma classe de religiosos tão numerosos que inçavam conventos e mais conventos, quase sempre preocupados apenas em comer, rezar e dormir e, quanto ao mais, indiferentes ao destino do povo resignado à condição miserável, com o que se mantiveram as gentes no estado imutável de brutinhos de Nosso Senhor e fazendo com que o país continuasse ditosamente pequeno e insignificante no concerto dos povos da Europa mais progressivos. Embora a acção predominante da obra tenha como cenário a região do Alto Minho, não deixa por isso de ser retrato minucioso e fidedigno do Portugal que viveu ainda por mais de dois séculos sob o despótico regime absolutista e durante as décadas de transição e fortalecimento do regime liberal. E podemos ver aspectos multifacetados da vida do país descritos para além da linha estreita dos limites do Alto Minho nos apontamentos que perpassam por toda a obra sobre Barcelos e Ponte de Lima, Braga e Porto, a vilegiatura na praia de Moledo e as incidências da guerra com os espanhóis na raia galega. Assume especial relevo a trágica viagem dos procuradores minhotos às Cortes de 1828 onde D. Miguel, o arcanjo salvador da pátria, seria sagrado rei do país que se predispunha a governar com a mesma mão de ferro que era de uso dispensar aos hotentotes do interior africano no período colonial, o que nos permite avaliar com rigor da natureza das relações de classe prevalecentes entre os vários estratos sociais nas regiões que cruzaram desde o Alto Minho seguindo derrota por Ponte de Lima, Barcelos, Braga e Guimarães em fora. Pelos altos durienses do monte Marão saiu-lhes ao caminho a guerrilha liberal capitaneada por Serafim de Anreade que acabou por chacinar a comitiva miguelista após várias peripécias aventurosas das quais apenas o padre Tirteu dos Santos, capelão da Casa Grande de Romarigães, se conseguiu safar por, ao ver-se em tal perigo de vida, se ter agarrado com unhas e dentes, in mente mas fervorosa devoção, à fímbria do manto de Nossa Senhora do Amparo, padroeira e protectora do morgadio, assim obtendo da Mãe de Deus a graça de se ver escapo da tramóia fatídica para que pudesse dar relato do sucesso. Também a maneira como se vivia e os hábitos da pouco asseada corte portuguesa e, de um modo mais genérico na Lisboa imperial da época, são magnificamente narrados a propósito da estância, com certa demora, do fidalgo morgado
da Casa Grande, D. Luís António de Antas e Meneses, com intuito de obter salvo-conduto, sob a forma de carta de familiar da Santa Inquisição, para um filho que iria cair nas garras da alçada deste nefando tribunal. Para pagar isto exigia-se tanto, para custear aquilo deita para cá mais outro tanto, a roubalheira era de tal modo desbragada e posta em prática de forma tão meticulosamente urdida que a pouca vergonha geral estendia-se desde o influente na Corte ao merceeiro, do escudeiro desta ou daquela eminência parda mas esfomeada ao amigo que se tinha como valedor na aflição que motivara a vinda a Lisboa. Não é abuso nenhum concluir que só não se apropriava do alheio quem não podia mas mesmo assim estes deviam esforçar-se tanto que por certo o suor lhes havia de correr em fio pelas caras estanhadas. A similitude com o que se passa no presente autorizame a concluir sem exagero algum que pouco ou nada se alterou nos amplos e confortáveis sofás da casa portuguesa onde dormem a sono descansado e mais do que merecido os privilegiados cérebros governativos dos escalões baixo, médio e alto – especifico porque me repugna medir tudo pela mesma rasa – uma vez que a única coisa que mudou neste país esquecido de Deus foram as moscas por se subordinarem à lei geral da evolução das espécies. D. Luís António de Antas e Meneses, o rico morgado da Casa Grande, farto e refarto de ser cardado até ao cocuruto da cabeça pela nobreza, clero e povo, em comparação com os quais os quadrilheiros das suas falperras eram rapazes que ainda não passavam a navalha na cara e até podiam ajudar à missa recebendo todos os dias a hóstia consagrada pelo corpo de Nosso Pai, mal se viu servido do que procurava chamou o criado fiel que o acompanhara e deu-lhe ordens para arrumar os pertences. E logo que se apanhou de malas aviadas bateu com os calcanhares no rabo e só parou quando à sua frente apareceram, a perder de vista até à linha do horizonte, os prados esmaltados pelo verde brilhante da erva gorda e balofa que crescia fartamente nas suas ricas veigas de Romarigães. Já atrás deixei consignado o meu interesse de há anos em espiolhar as páginas, estupendas como nenhumas outras escritas na língua portuguesa, de A Casa Grande de Romarigães mas o certo é que, durante meses a fio, bem intentava dar-lhe início mas a coisa não havia meio de arrancar. Provavelmente estava a acontecer comigo o que
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acontecia frequentemente com a récua dos burros e das mulas do almocreve Malhadinhas que, carregados com os odres de azeite do Tedo e os presuntos dos cerdos criados a farelos e lavagens nos poviléus turdetanos da Lapa e da Nave, estavam em ordem de marcha para, vale de Arouca em fora, descerem até à beira-mar mas nem pela mão de Deus Padre nem à força de vergastadas se resolviam a pôr as patas em movimento. Ora se o António Malhadas, de vergasta na mão e palavreado adjuvante capaz de fazer corar a fina-flor dos carroceiros lisboetas, acabava por resolver o caso pondo as bestinhas teimosas em andamento, nas minhas circunstâncias não vislumbrava maneira de vencer a força da inércia, situação muito comum da qual enfermam habitualmente as inteligentes personalidades que ocupam cargos na governação do país o que não é nada mau para o interesse público já que, não fazendo nada, pelo menos livram-se e livram-nos de fazer asneiras. No que me diz respeito o impasse criador, salvo seja, não me convinha porque começo a desconfiar que o tempo de que disponho está a ficar escasso. A pouca água que a minha acanhada bica literária deitava a conta gotas, talvez por causa desta época de ardentia estival, mal dava para encher o copo de umas poucas de páginas e, quando vinha atrás para lhes dar uma vista de olhos, pouco se aproveitava. E toca a rescrever o que já se tinha escrito uma e outra vez, a rever cada período com a paciência de cavador de enxada e nem assim o resultado valia o esforço. Quando me dava a freima de reler, com olho crítico, o modesto pecúlio que tinha acumulado verificava que poucos eram os parágrafos onde o texto não cincasse com dissonâncias graves, com palavras a rimar fora de propósito e com as epanalepses, feias como a escumilha que a varíola pinta no rosto das raparigas. Pois então que havia de ocorrer-me? Corriam os primeiros dias do mês de Setembro, altura em que já não há-de faltar muito para que as águas novas rebentem nas madres se as chuvas outoniças não se fizerem esperar. Por este conduto também não era impossível que me começasse de novo a borbulhar a veia da inspiração se um certo factor catalítico externo interviesse na química complexa das ideias que afluem à cachimónia do fabiano vulgar. Pensei, a falar comigo próprio e com o dedo mindinho: que melhor factor propiciatório era possível arranjar que mudarme temporariamente, com armas e bagagem sumárias, para o alto da serra da Lapa, a cerca de mil metros de altitude,
aboletando-me no antigo colégio dos Jesuítas que veio mais tarde, depois da expulsão destes religiosos imposta pelo Marquês de Pombal, a passar para a regra mendicante dos franciscanos onde Aquilino Ribeiro, ainda na puerícia, viveu quase dois anos e concluiu a instrução primária prestando as provas finais na cidade de Lamego? O problema que se antolhava bicudo era obter autorização para habitar sozinho, por uns dias ou por umas semanas, naquele casarão feio e lôbrego de paredes em granito com côvado e meio de largura pois sabia de antemão que abria portas unicamente para repouso breve das pessoas em peregrinação até ao Santuário de Nossa Senhora da Lapa que lhe fica a deslado muito embora faça parte do mesmo conjunto arquitectónico. Existe até um passadiço superior que permitia o trânsito de um edifício para outro aos estudantes e professores no tempo – há cerca de duzentos anos - em que o colégio funcionou evitando a promiscuidade indesejável com o mulherio que preenchia a nave do santuário. Afinal foi extremamente fácil obter a autorização de alojamento já que o reitor do Santuário, sacerdote amável e prestativo, lembrava-se bem de mim por causa de outras visitas que fizera servindo de cicerone a umas quantas grosas de pessoas ao longo dos últimos anos. Embora a estadia no colégio se destine em exclusivo a acolher peregrinos que se deslocam à Lapa por motivos religiosos, não levantou qualquer problema quando lhe disse, usando de lisura e franqueza, que vinha para reflectir sobre umas ideias que havia de passar ao papel conforme fosse conversando com Aquilino Ribeiro que em rapazinho ali, naquele casarão pouco acolhedor que na altura se encontrava sob a égide dos piedosos de S. Francisco de Assis, vivera e estudara durante quase dois anos. Poderia bem suceder que, passando as noites sozinho naquela enorme mole de granito que já albergara passante de uma centena de pessoas, se me deparasse num dos largos corredores do casarão, tão largos que serviam de recreio aos alunos na época desabrida do inverno na serra ou quando chovia, com o fantasma do vulto astral que em vida se chamou Aquilino Ribeiro e na época não passava de um rapazinho igual aos demais. Para o meu trabalho, como estímulo e fonte de inspiração, que melhor encontro podia querer no virar de um canto escuso do velho colégio fundado pela Companhia de Jesus? Fiz a viagem de duas centenas de quilómetros desde casa até ao topo da serra da Lapa manhãzinha bem cedo, com um
Setembro de sorriso amável a correr caloroso e previsões meteorológicas a dizerem-me que o bom tempo, quente e seco, iria continuar, razão pela qual ia munido de escassa bagagem e roupa leve adequada para o verão. Mas quando, pouco depois das nove horas da manhã cheguei lá acima, ao topo da serra, o frio era tão glacial e soprava um vento barbeiro tão áspero que enregelou o corpo e a alma deste vivente pouco ou nada habituado às inclemências daquelas paragens. Abriguei-me no santuário e esperei que o reitor acabasse de celebrar a missa diária e me facultasse a acomodação no quarto que me havia destinado. Quando ajustamos a minha estadia tinha-lhe declarado que não precisava de mais luxos que os de uma cela franciscana mas, quando me foi dado examinar o aposento onde iria viver pelo menos cinco dias e cinco noites em reclusão absoluta, constatei que a aventura tinha riscos que talvez não devesse correr. O quarto, vulgar mas asseado, dispunha duma cama ampla coberta por colcha de renda feita talvez pelas mãos pacientes de alguma religiosa zeladora do santuário, tinha pé direito elevado existindo no alto do tecto uma pequena lâmpada eléctrica economizadora, única fonte iluminante que espalhava uma luz tíbia e amarelada que mal devassava a lobreguidão reinante no aposento. Não havia sequer uma simples mesa para pousar o computador mas tão-somente uma pequena cómoda estreita que me dava pela altura do peito. Ora, a trabalhar em pé, só me recordo que Camilo e Eça o costumavam fazer utilizando uma daquelas escrivaninhas com o tampo em rampa e rebordo na parte inferior para impedir que os fólios corressem para o chão enquanto o escritor passeava de cá para lá e de lá para cá à espera que a inspiração, esse pássaro fugidio de tons furta cores, se dignasse visitá-lo trazendo, presas no bico dourado, as ideias ou as palavras que se lhe escapavam ou lhe andavam a fazer negaças. Da sua existência conservo perfeita memória por ver os contabilistas das lojas e dos estabelecimentos comerciais do Porto, de óculos encavalitados na cana do nariz e com os manguitos de cetim já baços e rompidos pelo muito uso enfiados nos braços até aos cotovelos, a trabalhar nelas fazendo com pausa e paciência lançamentos e mais lançamentos no Razão, no Deve e Haver ou no Caixa onde ficavam fielmente registadas as contas da empresa. A mim é que, para escrever, a posição erecta não me
vai nada de feição. Logo também me dei conta que no local não tinha nem rede no telemóvel nem sinal de internet tendo de ficar durante as noites isolado da família e do mundo. E, envergando apenas o meu pijama estival, tinha de deslocar-me duas ou três vezes por noite, ao longo do corredor, para utilizar o quarto de banho. Isto além do receio, mais psicológico que real, de não ter quem chamar se subitamente me sentisse mal. Enfim, cosas de viejos! Apesar da ideia tentadora que continuava a permanecer no meu espírito e na minha vontade, prevaleceram razões de ordem prática e de bom senso que expus ao reitor do santuário salientando a necessidade de ter acesso à internet para tirar qualquer dúvida ou fazer algumas pesquisas, agradeci-lhe a boa vontade e disponibilidade e ofereci óbulo modesto para ajudar às obras de recuperação do pequeno incêndio que tinha ocorrido tempos antes no edifício consagrado a Nossa Senhora da Lapa, o que o levita aceitou e agradeceu. Congraçado com a Senhora da Lapa e com as minhas comodidades, pus-me a descer do alto daquela serrania para as chãs férteis e amenas que preenchem os vales discorrendo entre os rios Távora e Varosa onde realmente se fazia sentir a derradeira golfada de calor do verão que estava de partida, no meu caso sabe-se lá se para nunca mais. Acabei por encontrar excelente alojamento a preço moderado num confortável hotel que já conhecia e onde, com amabilidade discreta, me trataram na palma das mãos. Aí passei os dias úteis de uma semana inteira. Começava o trabalho por volta das cinco horas da madrugada quando lá fora, no negrume da noite, ainda se não adivinhava, nos longes da meseta ibérica a nascente, a chegada da açucena puríssima da alva rasgando o horizonte como se fora uma imensa aguarela em tom rosa nacarado e, nos montes e vales fronteiros, ainda se não se ouvia o chilido de um pássaro, sequer do pardal que é o proletário do céu e deixa o abrigo do ninho antes de todos os outros bichos alados pondo-se ao trabalho bem cedinho para levar o cibalho do dejejum à filharada. Trabalhei, trabalhei e trabalhei. Descontado o pouco tempo de descanso para dormir, as pausas breves para comer e um pequeno passeio que dava ao fim da tarde para espairecer pelas redondezas da barragem de Vilar onde se represam as águas do Távora agora com o nível muito minguado pela ausência de chuva nos meses de inverno e da primavera,
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calculo que ocupei, queimando as pestanas na escrita, umas boas catorze horas diárias que me renderam, no total, o prefácio e este primeiro capítulo que estou prestes a rematar. Foi tudo o que brotou da fonte de chafurdo e veremos, lá mais para diante, se não será preciso fazer-lhes uma poda severa como se faz às roseiras no pino do verão para que deitem rebentos novos e floresçam até perto do Natal. Deixo ainda a advertência habitual: tudo o que figurar nesta obrinha em itálico provém da pena e do engenho magnífico de mestre Aquilino Ribeiro sem mais avisos. Quando a origem não for essa, manter-se-á a grafia em itálico mas logo se há-de declarar a diferente paternidade da citação. Para abrir o apetite ao leitor guloso e amante destas bizarrias, fechemos esta croniqueta falando de trutas que é bicho que falava, como nenhum outro, ao entendimento gustativo de mestre Aquilino. Imagine-se que, por intercessão celestial de S. Francisco de Assis, il poverello dulcíssimo da Úmbria, pelo qual o prosador e eu temos especial simpatia – para não dizer devoção que é termo que não vai bem na companhia de quem se jurava materialista - mão amiga e generosa do que havia de se lembrar? De remeter, por correio rápido e seguro, uma cesta de vime cheia até às bordas com trutas acabadas de sair da água e postas, camada por camada, em seus coxins de fetos e folhas de castanheiro colhidas dos ramos baixos que nascem no tronco da árvore prodigiosa. Seriam umas dúzias de peixes e vamos agora separá-los por tamanhos: num lado poremos as trutas mais numerosas, pequeninas como bogas miúdas, que irão a fritar em renques de meia dúzia, atravessadas pelos olhos de fora a fora com uma caruma de pinheiro. Se depender de mim, usarei na fritura um bom azeite virgem da Beira Alta ou de Trás-os-Montes, aquele óptimo tipo de azeite com alguma acidez, por isso mesmo de sabor excelente na sua textura encorpada e de bela cor a puxar para um verde forte e profundo, não a cor em tom amarelo leve dos azeites do centro e sul do país, bons para a dieta dos doentes ou para quem tiver o estômago delicado. Fritemo-las de imediato até que fiquem levemente douradas e estaladiças para que se comam inteiras e se abram na boca oferecendo toda a sapidez do paladar inigualável. Vamos agora às trutas medianas, mais ou menos do comprimento de um palmo da mão de homem avantajado e por isso se lhes chamam palmeiras. Para estas o modo adequado de as confeccionar é, sem qualquer sombra dúvida, de escabeche. Para tal, também se fritarão com o mesmo tipo de azeite mas que se não cometa o crime de as tostar já que
carne deliciosa ficaria seca perdendo na sertã a textura e o sabor inconfundíveis. Depois da leve fritura em azeite que se estime necessário para a calda do escabeche, retirem-se as trutas e aloure-se a cebola cortada às rodelas até ficar translúcida na companhia de alguns dentes de alho levemente esmagados sem lhes tirar a casca, umas folhas de louro, sal, pimenta e malagueta a gosto. Depois tempere-se fartamente com vinagre branco de boa qualidade, tanto que se lhe sinta bem a presença ácida na calda e, sempre que possível, aconselho usar vinagre branco de Jerez que é carote mas de qualidade excepcional. Traslade-se então a calda para um caçoilo de barro vermelho vidrado, largo e baixo, na qual se mergulham as trutas que, só com olhar para elas, logo fazem salivar de gozo as papilas dos felizes felizardos que as vão comer, como se fossem a recordação da bem-aventurança que se gozou no paraíso terreal. A propósito destas trutas de escabeche diga-se ainda que, postas em sítio fresco, serão um mimo do sibarita que as irá degustando como ante pasto, hoje uma e outra amanhã, até que acabem. Recordo um parágrafo do romance O Homem Que Matou o Diabo de mestre Aquilino que já citei noutra altura e vou agora lembrar de novo: Provamos, era uma deliciosa calda de escabeche, gorda e profunda como cheia do Nilo, que afogava uma boa dúzia de trutas, esses extraordinários salmonídeos que pediram a casaca aos marqueses de Luís XIV, para serem os janotas da água doce, e o sabor ao manjar dos deuses para não ir nada igual à mesa dos gulosos. Olhando para o fundo do cesto de vime onde vieram as trutas, no meio da rama dos fetos e das folhas de castanheiro, repousavam as três ou quatro mais taludas. Estas vão ser preparadas de maneira muito simples mas era a que o escritor preferia: arranjadas e limpas, iam a cozer brevíssimos minutos em água fervente ou ao vapor. Em seguida, já com a truta no prato a olhar para quem a vai degustar, rega-se a golpes leves do bom azeite beirão, espremem-se-lhe em cima umas lágrimas do sumo de meio limão e umas quantas pedras de sal marinho. E está pronta para ir à mesa onde será desmontada posta a posta, seguindo a linha do fio da espinha dorsal, pelo bisturi minucioso do comensal afortunado que, com unção e recolhimento, se há-de deliciar com a sua carne tão divinalmente delicada e saborosa. De minha parte faço gosto em convidar os pios leitores a provar as trutas preparadas das três maneiras: fritas as mais
pequeninas, de escabeche as palmeiras e cozidas as mais gradas. Com uma condição inultrapassável: cada vez que queiram servir-se duma truta têm de lhe apontar o dedo e adivinhar se foi pescada no alto Paiva, ali para as bandas da Soutosa onde Aquilino Ribeiro costumava habitar durante os meses do verão até aos princípios do Outono de cada ano, ou ao contrário, proveio das águas do rio Coura que corre parelhas com o último socalco dos campos inferiores da Casa Grande de Romarigães onde o mestre prosador também residiu durante os seus anos derradeiros e a ambos considerava, naquela época, como os rios mais truteiros de todo o orbe.
E agora…? Agora o leitor e eu vamos fazer de conta que temos as trutas à nossa espera na mesa porque estes salmonídeos, no seu estado selvagem e tal como se criavam na natureza em rios e ribeiros de curso acidentado, com águas frias e transparentes bem batidas em seus declives e cascatas, com os seus pegos mais fundos que a altura de um homem, as suas lorgas escavadas terra adentro como se fossem galerias de refúgio para os peixes se acoitarem, quase já só se poderão encontrar nestas páginas onde foram criadas por obra e graça do milagre estupendo da fantasia e da imaginação deste contador de contos inverosímeis.
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A Casa Grande de Romarigães
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MORNIDÃO SETEMBRINA Maria Mar*
Serpenteio pelos braços escancarados Das pedras que rasgam o meu chão Em busca da derradeira Reste de sol… E a mornidão setembrina Vem morder-me de mansinho! No horizonte já se arma a neblina… É tempo de voltar ao ninho!
2010.09.21
*Natural de Ovar e residente em Santa Maria da Feira. Licenciada em Contabilidade desde 2000. Amante de poesia desde criança. Em 2007 integrou a Onda Poética, onde é “residente” desde então. Participa ainda assiduamente noutros eventos e tertúlias poéticas.
Foto de Clara Azevedo
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A LEITURA Maria do Carmo Vieira*
Com a passagem do Tempo, vamo-nos dando conta do desejo de voltar a ler livros, cujo primeiro contacto se fez há dezenas de anos, criando com eles uma relação diferente, conforme nos é dado constatar. Voltamos aos clássicos, nacionais e estrangeiros, descobrindo um novo olhar e um interesse diferente por personagens que no passado não nos haviam impressionado tão profundamente, sobretudo, no que às reflexões sobre a condição humana diz respeito. Agora, numa outra forma de estar em nós mesmos, paramos por diversas vezes, interrompendo a leitura e deixando-nos estar ruminando, sem preocupação de tempo, as palavras que nos dizem e pensam mundos diversos. Com elas nos libertamos e redescobrimos. Há também livros que se enraizaram tão fortemente em nós, que intervêm espontaneamente na imensa variedade de situações que vivemos a sós ou com os outros ou com o outro que, mais intimamente, nos acompanha. Por isso, é sem esforço que sussurramos extractos memorizados, que nos surgem comportamentos e gestos contemplados ou palavras que se tornaram nossas. O escritor grego, e
membro do partido comunista, Nikos Kazantzakis,1 nascido em Iráklio, Creta, a 8 de Fevereiro de 1883 e falecido em Friburgo, a 26 de Outubro de 1954, com a sua obra Cristo Recrucificado, é um desses exemplos e nos tempos difíceis que vivemos, reencontramos os mesmos «notáveis» da aldeia grega, sufocada pela opressão turca. Esses «notáveis» (ricos, religiosos, bajuladores), ontem como hoje, na Grécia ou em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo, mantêm-se indiferentes ao sofrimento e alimentam-se da corrupção, da ambição, da ganância e da crueldade, punindo exemplarmente quem ouse intervir em defesa dos mais fragilizados. O título da obra – Cristo Recrucificado - anuncia a metáfora que a cada um de nós caberá interpretar, no recolhimento da leitura. É com amizade que vos aconselho este livro, espécie de relíquia que, pela sua força humanista, associada ao espírito verdadeiramente solidário das primeiras comunidades cristãs, iluminará naturalmente um quotidiano conturbado, alertando para a urgência de não nos silenciarmos perante o sofrimento e a miséria.
1 Autor de «Zorba, o grego», «A Última Tentação», «Irmãos Inimigos», entre outras obras.
* Licenciada em Filologia Românica, mestre em Literatura de Viagens e Professora do Ensino Secundário. Tem vários livros publicados sobre ensino e viagens; em 2010 publicou o Ensino do Português, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa.
Outro autor que gostaria de partilhar convosco é André Gorz,2 filósofo austríaco, de ascendência judaica, naturalizado francês (1954), e que escreveu a mais bela história de amor: Lettre à D., Histoire d’un amour. (Carta a D., História de um amor). Publicada em 2006 pela Galilée, não se encontra inexplicavelmente traduzida em português.
Lettre à D., obra autobiográfica e expressivamente circular, escrita entre 21 de Março e 6 de Junho de 2006, retoma no final o seu início, salientando de forma bastante emotiva e comovente a relação de amor fortíssimo que une o casal, André e Dorine, sobressaindo, ainda, ao longo da narrativa, um certo número de interrogações interiores que revelam um muito recente desassossego do narrador.
Tudo se inicia a 23 de Outubro de 1947, em Lausanne, quando, numa noite em que nevava, André Gorz reencontra casualmente Dorine, jovem inglesa, que conhecera semanas antes, e a convida a dançar, gesto que é aceite com um breve e vivo «Why not?».
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É a tradução desses dois extractos (início e final da narrativa autobiográfica) que vos deixo: Em breve farás oitenta e dois anos. Tens menos seis centímetros, pesas apenas quarenta e cinco quilos e continuas bela, graciosa e desejável. Há cinquenta e oito anos que vivemos juntos e amo-te mais do que nunca. Sinto de novo no fundo do meu peito um vazio devorador que só o calor do teu corpo contra o meu consegue preencher. Tenho necessidade de te dizer simplesmente estas coisas antes de abordar as questões que desde há pouco me atormentam. Por que razão estás tão pouco presente no que escrevi quando a nossa união foi o que houve de mais importante na minha vida? 2 André Gorz, nascido Gerhard Hirsch, em Viena, Fevereiro de 1923, licenciouse em Engenharia Química (Lausanne, 1945), tendo sido também jornalista, e um dos fundadores do semanário Le Nouvel Observateur (1964). Amigo de Sartre (1946) com quem rompeu mais tarde por desentendimento político (década de 70), distinguiu-se pelos seus ensaios filosóficos e políticos, incidindo sobre o Trabalho, a Ecologia e a Política, numa visão crítica do Capitalismo.
Acabas de fazer oitenta e dois anos. Continuas bela, graciosa e desejável. Há cinquenta e oito anos que vivemos juntos e amo-te mais do que nunca. Recentemente tornei-me a apaixonar por ti uma vez mais e trago de novo em mim um
vazio devorador que só se preenche com o teu corpo apertado contra o meu. Durante a noite vejo por vezes a silhueta de um homem que, numa estrada vazia e numa paisagem deserta, caminha atrás de um carro funerário. Eu sou esse homem. É a ti que o carro funerário leva. Não quero assistir à tua cremação; não quero receber uma urna com as tuas cinzas.
Oiço a voz de Kathleen Ferrier que canta «Die Welt ist leer, Ich will nicht leben mehr»3 e desperto. Vigio a tua respiração, a minha mão toca-te levemente. Cada um de nós gostaria de não sobreviver à morte do outro. Dissemos muitas vezes que se, por impossível, tivéssemos uma segunda vida, gostaríamos de a passar juntos.
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André Gorz suicidou-se com Dorine, atormentado continuamente por uma doença incurável, a 22 de Setembro de 2007, em Vosnon (França).
3 O mundo está vazio, não quero já viver.
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RESTA O RESTO E UM SONHO! António Madureira*
Resta o desequilíbrio
Resta
desnutrido, desconcertado
uma disponibilidade
sintonia perfeita
um sonho
com a ausência
uma maré vazante
Resta uma réstia de ternura
Resta um sentimento
que vagueia pela rua
que é meu
dando passos
que partilho contigo
para o fim conquistado
na noite
Resta uma inércia
Resta
em casa passo
o resto
em cada gesto
um sonho
dentro de um labirinto
uma melodia e o amanhã, talvez
Resta a revolta de gestos sons dispersos e uma decomposição poética em cada choro
*Nasceu em 1963, na freguesia de Massarelos, Porto. Actualmente reside e exerce a sua actividade profissional em Santa Maria da Feira.
Domingos Azevedo Moreira *
TEXTO DO II LIVRO DE VISITAÇÕES DE PIGEIROS (1850-1873) (continuação)
Vol. I
(1769 – 1849)
Vol. II
(1850 – 1873)
PIGEIROS 1990
*Abade de Pigeiros. Faleceu a 10 de Janeiro de 2011.
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| 9 «Dezobrigas no anno corrente de 1855 e providencias que se deram e que devem de servir de nos guiar com os faltozos para o futuro. No Rol dos Confessados desta Igreja de Pigeiros despaxou (sic) o Meretissimo (sic) Snr. Provizor deste Bispado do seguinte modo: Registe-se e exija o R.do Abb.e ou dos q. considera por faltozos ou do Reverendo Párocho perante o qual dizem ter satisfeito o competente bilhete de haverem comprido (sic) aos preceitos e me remetta o mesmo bilhete expondo os motivos pelos quaes considera seus parochianos os ditos faltozos e em q. se fundou o outro Reverendo Párocho para os admittir. Porto, 3 de Maio de 1855. Vasconcellos. Acta da declaração dos faltozos. Aos cinco de Maio de mil oito centos e cincoenta e cinco nos moinhos de Luíza Clara, viúva, de lugar de Quintám, desta Freg.ª de S.ta Maria de Pigeiros, Comarca e 4.º Distr.º da Feira, Bispado do Porto, onde eu Antonio Caetano Ozorio Gondim Abb.e desta mesma Freguezia vim para o effeito de cumprir as ordens do nosso Ill.mo e R.mo Snr. D.or Provizor deste Bispado escritas no Rol dos Confessados desta Paróchia no dia 3 do corrente mez e anno na companhia dos R.dos Sacerdotes desta Freguezia abaixo assinados, em cuja prezença perguntei ao
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moleiro pelo seu nome e me dice (sic) chamar-se Manoel da Silva, cazado com Anna Roza com elle moradora que tem dous (sic) filhos ahinda de menoridade e q. há tres mezes, Vai em quatro, que habita nestes moinhos desta paróchia. Pedindolhe eu o escrito de sua dezobriga e de sua mulher, respondêrão q. o não tínhão mas q. se dezobrigárão na Alumieira da Freg.ª do Loreiro (sic), porém não tendo nunca hum pólo fixo, ora dizíão que pensávão q. Confessando-se athé ao Espírito Santo ahinda era a tempo, ora ostentávão desprezo pela excommunhão q. lhes fulminava a Igreja: bem se deixa ver q. não se dezobrigárão e q. nelles há contumácia e desprezo pelas Leis eccleseásticas e como o Párocho de Loreiro fica m.to longe desta paróchia e não móstrão escrito, he de prezumir q. não cumprírão; eu e todos os meus Eccleseásticos abaixo assinados empregamos todos os meios de brandura e mansa persuazão p.ª os movermos à communhão paschal mas debalde nos cansamos, porque nada obtivemos, de q. lavramos esta Acta q. assinamos em duplicado, era ut supra. O Abb.e Antonio Caetano Ozorio Gondim, P.e M.el J.e Per.ª Duarte, P.e Bernardo Alves Gomes dos Santos, P.e Firmino J.e Henr.es Coutinho, P.e Joze Henriques da Silva». Apprezentação da Certidão de Dezobriga. Às sete horas da tarde de hoje, oito do corrente mez e anno, me foi apprezentada pelo moleiro faltozo a Certidão seguinte: Francisco Joaq.m da Costa, Párocho de S. João do Loureiro. Certefico (sic) q. os meus Parochianos Manoel da Silva e sua mulher Anna Roza hoje a moer na Freg.ª de Pigeiros satisfizérão nesta sua Igreja aos preceitos da Dezobriga deste anno. Rezidencia Parochial de S. João do Loureiro, 7 de Maio de 1855. Fran.co Joaq.m da Costa». «Cópia da Carta q. sobre este facto e com os Documentos originaes acima copiados remetti ao Snr. Provizor. Ill.mo Snr. D.or Provizor des- | 9 v deste Bispado do Porto: Vendo no Rol dos Confessados desta Freg.ª o prudemtíssimo (sic) Desp.º de V. S.ª pelos seguintes termos “Registe-se e exija o R.do Párocho ou dos q. considera p.r faltozos ou do Párocho perante o qual dizem ter satisfeito, o competente bilhete de haverem cumprido os preceitos e me
remetter o mesmo bilhete expondo os motivos pelos quaes considera seus parochianos os ditos faltozos e em q. se funda o outro R.do P.co p.ª os admittir. Porto, 3 de Maio de 1855”, no dia 5 de corr.e dirigi-me pessoalmente à caza dos faltozos Manoel da Silva e sua Mulher Anna Roza nos Muinhos (sic) do lugar da Quintám desta Freg.ª levando na minha companhia os R.dos Eccleseásticos meus Parochianos p.ª q. servissem de testem.as com os quaes se lavrasse huma Acta pela qual conste o q. se passava; esta Acta foi lavrada em duplicado sendo huma remettida a V. S.ª e a outra recolhida no archivo desta Igreja. Desta Acta lavrada no dia 5 do corrente se vê q. os faltozos Manoel da Silva e sua m.er Anna Roza declarárão diante das testemunhas q. rezidem nesta paróchia há tres mezes completos e já em quatro. No Dom.º da Septuagésima em q. eu na Igreja tomei a rol os meus Freguezes, já alguns destes me avizárão de q. rezidíão nos referidos moinhos aquelles cazados mas, ahinda mesmo q. haja 3 ou 4 mezes de rezidencia como elles conféssão nesta Paróchia, he certo q. se verifica o q. ordena terminantemente a Const. VII, Liv.º 1.º, Tít. VI, digo, Tít. 6.º. Em consequencia era eu o seu Párocho e na minha Igreha he q. devíão receber a Communhão paschal. Tres dias depois de lavrada a incluza Acta, appareceo na minha habitação o moleiro faltozo e depois de me insultar com o epíteto de ignorante e q. estava bem aconselhado, q. o seu Párocho de Loureiro sabia muito mais do q. eu e q. por isso podia confessar-se por dezobriga e pela mesma (forma) commungar quando quizesse e onde quizesse e se quizesse sem q. isso fosse da minha conta e depois de m.tos insultos aprezentou-me a Certidão q. dice (sic) ser do seu R.do Abb.e do Loureiro e q. remetto! Não conhesço pessoalmente aquelle R.do Colega e muito menos reconhesço a sua letra, não posso ter p.ª com elle sentim.tos de amor nem de ódio e o seu attestado só excita em mim lástima e compaixão. Pois attesta ter dezobrigado aquelles cazados q. elle mesmo declara rezidirem na minha Paróchia!.. e chama-lhes seus parochianos!!! ... Se o Attestado he verdadeiro não sei como diffinir este Párocho! Há visivelmente hum crime q. me parece q. não pode nem deve ficar impune, p.r q., além de se quebrantarem as Constituiçoens Diocesanas, principalm.te a já citada, postergárão-se as repetidas Pastoraes do último falecido Ex.mo Snr. Bispo.
Admittida a devassidão de cada qual se dar ao Rol onde quizer, como poderemos satisfazer ao Mappa da população q. os Administradores nos pedem todos os annos e a tantas outras declaraçoens? Eu exijo, Ill.mo Snr., huma pequena satisfação a este insulto p.ª q. os meus Parochianos conhêsção q. eu obro com justiça, negando-lhes licensa (sic) de receberem a Comm.ão Paschal nas paróchias extranhas e quando lhes ensino q. taes licensas (sic) só podem ser dadas pelos Ex.mos Snr.s Bispos ou q.m suas vezes fizer, p.ª q. todos conhêsção q. obro assim não por impertinencias mas por hum forçoso dever do emprego parochial. Esta expozição e seus documentos fícão copiados no Competente livro parochial onde fielmente copiarei todas as providencias q. forem dadas a este respeito e quaesquer q. ellas séjão, tem de ser p.ª o futuro a regra da minha conduta e dos meus successores a este respeito. D.s g.de a preciozissima vida da V. S.ª como havemos mister. Rezidencia p.al de S.ta Maria de Pigeiros e 4.º Dis- | 10 Distr.º da Feira, 9 de Maio de 1855. O Abb.e de Pigeiros, A. C. Ozorio Gondim. Está conforme. A. C. Ozorio Gondim». 136 «Em 16 de Julho de 1855 Pastoral ou Circular da data supra mandando fazer Preces com Santissimo Sacramento exposto em três dias p.ª que a Div.ª Mizericordia afaste de nós os flagelos que nos opprimem e ameáção (a Cólera Morbus) (151) . E q. todos os R.dos Párochos e Sacerdotes dê(e)m nas Missas tanto solemnes como privadas a competente Oração emquanto (sic) durar a necessidade. Porto, 16 de Julho de 1855. Bispo do Porto. Recebi em 18 do mesmo mez e anno. O Abb.e Ozorio». 137 «Portaria ou Circular de 15 de Outubro de 1855. 1.º (Na) Colecta da Missa deve dizer-se “Regem nostrum
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O parêntese consta do texto.
Petrum, Regem Ferdinandum Regiaeque Domus Principes” etc.; 2.º Sujeição dos Párochos às intimaçoens q. lhe(s) forem feitas dorante (sic) a actual crise sanitaria sobre Officios do corpo prezente, sinaes a Defuntos e saimentos apparatozos, podendo os mesmos Párochos dirigir à competente auctoridade Administrativa quaesquer reprezentaçoens q. conceituarem justas». 138 «Em 11 de Outubro de 1855. Fazendo saber q. o S.mo P.e Pio 9.º, annuindo à Súplica do Ex.mo Cardial Patriarcha de Lisboa, rezolveo em 12 de Fevr.º deste anno cometter-lhe a faculdade de communicar a todos os Prelados deste Reino o indulto da pror(r)oga p.r tempo de dez annos relativam.te à despenssa (sic) de serem applicadas “pro Populo” as Missas dos R.dos Párochos, segundo a Declaração pontificia de 23 de 7br.º de 1845; comtudo (sic) devem-se applicar “pro Populo” as Missas nos 4 dias annuaes: Padrueiro (sic) da Igreja, S. Joze, S.to Antonio e Snr.ª da Natividade. Que o mesmo S.mo P.e, annuindo igualmente pela rezolução de 28 de Marso (sic) deste anno sobre consulta da Sagrada Congregação do Concílio, houve por bem declarar suprimidos os preceitos de jejum e abstinencia em todas as Vigílias dos dias S.tos abolidos por Letras Apostolicas de 14 de Junho de 1844, ficando todavia transferido o preceito do jejum para as Sextas e Sábados do tempo do Advento. Recebida nesta Igreja em 4 de 9br.º (de) 1855. O Abb.e Ozorio». 139 «Bullas p.ª o proximo futuro anno de 1856. Circular de 22 de Novembro de 1855. Davendo dar-se princípio aos trab.os preparatórios p.ª a publicação da Bula da S.ta Cruz.da q. tem de verificar-se com toda a solemnid.e nesta Cathedral do Porto no Dom.º 13 de Janr.º do futuro anno de 1856 e em seguida por todas as Freg. as cabeças de comarca e de concelhos conforme as Ordens régias e determinaçoens da ex.ma Junta e p.ª q. nessa época todos os P.cos se achem já previam.te munidos dos Sumarios, escritos e bulas q. houverem de distribuir em suas respectivas paróchias e póssão os Fieis aproveitar-se pelo tempo
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quaresmal das m.tas graças, indulg.as e previlegios concedidos a q.m tomar a burra (sic), por estes motivos convém q. o M. R. Vig.º da V.ª do 4.º Dr. da Feira tenha em vista a Circular do Ex.mo e R.mo Prelado da Diocese datada de 17 de Janeiro do corr.e anno, observe as seg.tes dispoziçoens: 1.ª diz respito só ao Snr. Vig.º da Vara e por isso não copio. 2.ª | 10 v Quando (o m.mo Snr. Vig.º da Vara) (152) tiver recebido as Bullas, o fará constar a todos os P.cos do seu Distr.º a fim de q. todos com tempo procurem fornecer-se da quantid.e e qualidade de sum.os q. julgarem precizos ... 3(153) ao tempo das publicaçoens. 3.ª M.to confio q. todos os R.dos P.cos a q.m esta Circular he tambem dirigida, continuarão a empregar todo o seu zelo no dezemp.º desta tão import.e e meritoria tarefa, não perdendo nunca de vista a pré-citada circular de S. Ex.cia r.ma de 17 de Janeiro q. a todos foi remettida impressa por ordem do m.mo Ex.mo Snr. 4.ª Diz respeito às Caixas das bulas onde as há; mas, como aqui se não colocárão, não pertence (esta dispozição) a esta paróchia. 5.ª o m.mo q. a anterior. Porto, 22 (154) de 9br.º de 1855. oaq.m J.e Corr.ª de Vasconcellos, Provizor e Gov.or do Bisp. do . O Abb.e Ozorio». 140 «Bullas em Janeiro de 1856 (officio meu requezitando-as) (155). Ill.mo e R.mo Snr.: Pelo meu honrado Amigo, vizinho e Colega, o Ill.mo Snr. Reitor de Milheirós espero que V. S.ª se sirva mandar-me as seguintes Bullas: de 80 rs. vinte na importancia de 1:600 Mais de 40 rs. 60 na importancia de 2:400 total quatro mil rs. 4:000
O parêntese consta do texto. Estes três pontos constam do texto. (154) No texto parece estar mais “29”. (155) O parêntese consta do texto.
De que me Constituo devedor. D.s g.de a V. S.ª Ill.mo Snr. Vig.º da Vara deste 4.º Distr.º da Feira. Pigeiros, 2 de Janeiro de 1856. Ozorio. Em 7 de Maio remetti 3:040: gastei 20 de 80 rs., 36 de 40 rs.». 141 «Obrigação de mandar mensalmente à Administração do Concelho huma relação dos Nascimentos, Cazamentos e óbitos da paróchia. Circular de 7 de Janeiro de 1856. Para satisfazer ao q. me he exigido pelo Governo Civil do Distr.º em Officio de 3 do corr.e, não repito as terminantes ordens e recommendaçoens q. pela Auctoridade Ordinaria desta Diocese têm sido expedidas a fim de q. todos os R.dos Párochos cúmprão o dever de enviar à competente Auctoridade Administrativa as relaçoens dos nascimentos, cazamentos e óbitos (156) da sua paróchia assim de pretérito quanto ao q. não tiverem sido mandadas, como de futuro e sem interrupção (157), mas de mais a mais convindo ter conhescimento de quaes são os Reverendos Párochos q. têm faltado a este dever, o muito reverendo Vig.º da Vara procederá sobre isto às necessarias averiguaçoens e me remetterá huma relação delles, fazendo tambem girar esta na forma do estilo. Porto, de 7 de Janeiro de 1856. Joaq.m J.e Correia de Vasconcellos, Provizor e Governador do Bispado. Nesta Freg.ª em 10 de Janeiro de 1856. Ozorio». 142 «Aprezentação annual dos Assentos aos Snr.s Vig.os da Vara. Circular de 18 de Fever.º de 1856. O D.or Joaq.m J.e Correia de Vasconcellos, Cónego Capitular da Sé Cathedral, Provizor, Vig.º Geral e Juiz dos Cazamentos nesta Cid.e e Bispado do Porto.
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No texto não está sublinhado mas está em tipo maior e mais grosso. No texto não está sublinhado mas está em tipo maior e mais grosso.
Faço saber q. pelo Ex.mo e R.mo Snr. Bispo me foi remettida e pela prezente Circular mando se cumpra a Portaria do teor seguinte: Quando nos faltassem claras e decezivas (sic) provas de culpavel negligencia e desmazelo com que em tempo não mui remoto muitos párochos se houvérão no dezempenho do seu dever de lanssarem (sic) nos Livros das suas Igrejas os assentos de ba(p)tizados, cazamentos e óbitos, bastaríão para nos convencer dessa indescupável omissão e esquecimento as contínuas queixas q. nos são apprezentadas a | 11 tal respeito e sendo rarissimo o dia q. não chega à nossa prezença requerim.to d’algum nosso súbdito, arguindo a dita falta. Nem outro foi o motivo por que o nosso Antecessor, dezejando obstar à continuação daquelle criminozo e intolerável abuzo, ordenou em Circular de 24 de Setembro de 1844 q. todos o r.dos párochos apprezentassem os Livros dos Assentos nesta Cidade e seu Destrito (sic) ao nosso m.to r.do doutor provizor e nos outros Districtos da Diocese aos m.to r.dos vigarios da vara p.ª serem revistos e examinados os assentos da maneira q. prescreve a dita Ordem circular. O N. M. R.do D.or Provizor governando o Bispado “sede vacante”, ordenou mui prudentemente q. se observassem todas as Pastoraes e Circulares do nosso Antecessor e a verdade pede q. se declare que a maior parte dos r.dos párochos tem continuado a cumprir aquella determinação, mandando os seus Livros annualmente à revizão; outros porém em m.to menor número têm-se excuzado a fazê-llo na soppozição (sic) de q. a dita Circular, não tendo sido por nós expressamente confirmada, caducara, deixando de ser obrigatória a sua observancia. E porq. entendemos q. faltando por ora a vizitação ordinaria de Prelado ao qual deveríão ser apprezentados os Livros, he de suma necessidade e conveniencia q. continue a revizão dos Livros pelo n. m.to r.do D.or Provizor, Vig.os da Vara, ordenamos a todos e a cada hum dos r.dos párochos q. ahinda não tiverem apprezentado os seus Livros p.ª serem revistos, os aprezentem dentro de dez dias impror(r)ogáveis. E não lhes sancionamos pena porq. a julgamos desnecessaria quando nos dirigimos à respeitavel Classe parochial. Para esclarecim.to de alguns declaramos q. o L.º dos Cazam.tos d.e ir acompanhado dos Documentos q. Comprovem a legalidade com q. fôrão abertos os Assentos, pois q. della se não pode julgar senão à vista dos competentes Documentos. E p.ª q. assim conste e se execute, o n. m.to r.do d.or provizor mande passar as circulares necessarias p.ª os Distr.os desta Cid.e e p.ª os mais Destr.os (sic) das Comarcas. Porto, 6 de Fever.º de 1856. Bispo do Porto.
Devem p.r tanto todos os r.dos p.cos desta Diocese copiar esta no respectivo Livro e dar-lhe promto (sic) e exa(c)to Comprimento (sic), incumbindo de mais a mais aos m.to r.dos vig.os da vara o fazê-la girar na forma do estilo. Dada no Porto sob selo d’armas de S. Ex.cia R.ma e meu sinal aos 18 de Fever.º de 1856 e eu João da Rocha P.to (a) subscrevi. Joaq.m J.e Corr.ª de Vasconcellos». 143 «Contas das Bullas no prezente anno de 1856. Circular de 22 de Abril de 1856. Esta Circular ordena q. p.r todo o mez de Maio próximo se enviem ao Snr. Vig.º da Vara o producto dos Sumarios distribuídos e os não distribuídos e recebendo do mesmo Vig.º da Vara o comp.e recibo. Trás (sic) mais outras dispoziçoens p.ª onde houver caichas (sic) da bulla; recebida em 25 de Abril de 1856». 144 «Circular de 10 de 7br.º de 1856 sobre falsas reliquias e indulgencias. O D.or Joaq.m Joze de Vasconcellos, Cónego Capitular da ta S. Igr.ª Cathedral desta Cid.e, Provizor, Vig.º Geral e Juiz dos Cazam.tos deste Bispado do Porto e interinamente encarregado do Governo do Bispado pelo Ex.mo e R.mo Snr. Bispo do mesmo, etc. Faço saber q. pelo mesmo Ex.mo e R.mo Snr. B.º me foi remettida e pela prez.te Circular mando se cumpra a Portaria do theor seguinte: Havendo o S.mo P.e Pio IX decretado em Audiencia de 14 de Abril do anno corr.e sobre informação da Congregação das Indulgencias e Sagradas Relíquias q. os Ordinarios do Orbe Catholico procurassem, quanto possivel | 11 v fosse, cohibir o abuzo q. homens perversos fazem da boa Fé e piedade dos Fieis, espalhando Indulgencias falsas, publicadas em summarios e bilhetes apócriphos ou ligadas a Oraçoens8(158) ou outros meios, ordenamos em comprim.to (sic) da sobredita determinação e de outras dos Sob(e)ranos Pontífices q. os R.dos Párochos da nossa Diocese pônhão todo o cuidado em
A leitura “Oraçoens” está bem clara no livro de Visitações de Caldas de S. Jorge f. 26.
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evitar q. as suas ovelhas não séjão iludidas por estes lobos dissimulados nas pelles do cordeiro, mandando a seus parochianos debaixo da S.ta Obediencia q. rejeitem como apócriphas e falsas todas as Indulgencias q. não forem publicadas pela nossa auctorid.e Episcopal ou não tênhão sido de nossos antecessores e determinando-lhe(s) outros(s)im q. fáção entrega a elles R.dos Párochos dos Summarios, Bilhetes, contas ou outros obje(c)tos q. se dígão indulgenciados e q. não estéjão sanccionados pela mesma legítima auctoridade. O q. tudo havemos por muito recomendado aos mesmos R.dos Párochos e Esta nossa Po(r)taria (sic) será registada no Livro dos Capítulos da Vezita das Igrejas por onde for correndo. E p.ª q. assim se cumpra, o N. M. R.do D.or Provizor mande passar Circulares na forma do Estilo. Quinta de S.ta Cruz (do Bispo), 30 de Agosto de 1856. B.º do Porto. Devem portanto todos os R.dos Párochos desta Diocese copiar esta no L.º competente e dar-lhe promto (sic) e exa(c) to comprimento (sic), incumbindo-se de mais a mais aos M.to R.do(s) Vig.os da Vara o fazê-la girar na forma do estilo. Dada no Porto sob selo d’Armas de S. Ex.cia R.ma aos 10 de 7br.º de 1856 e eu João da Rocha Pinto (a) subscrevi. Joaq.m J.e Correia de Vasconcellos. Telles. Sello. Cumpra-se na forma do estilo. Macieira de Sarnes, 18 de 7br.º de 1856. Maia da Silva. Está conforme. Pigeiros, 19 de 7br.º de 1856. Abb.e A. C. Ozorio Gondim». 145 «Pu(r)taria (sic) de 9 de 7br.º de 1856 − Sobre Eleiçoens (Honroso Documento q. m.to enobrece a classe Parochial, pois constute (sic) a cada um dos Párochos “Servus a mandatis” dos Administradores). O D.or Joaq.m J.e Corr.ª de Vasconcellos, Cónego Capitular da S.ta Igreja Cathedral desta Cidade, Provizor, Vig.º Geral e Juiz dos Cazam.tos deste Bispado do Porto e interinam.te encarregado do Governo do Bispado pelo Ex.mo e R.mo Snr. B.º do mesmo, etc. Faço saber q. pelo mesmo Ex.mo e R.mo Snr. Bispo me foi remettida e pela prezente Circular mando se cumpra a Portaria do theor seguinte:
Dezejando o Governo de S. Mag.de q. as próximas eleiçoens de Deputados séjão a expressão sincera e amplamente livre do suffragio nacional e removida toda a coacção, digo, toda a occasião de violencia e soborno, a escolha recahia em homens honestos, probos e verdadeiramente dedicados ao interesse público e, sendo mui justo e conveniente q. o respeitavel corpo do Clero e mormente os R.dos Párochos da nossa Diocese se conformem com as rectas intençoens do Governo, Ordenamos aos mesmos Reverendos Párochos que, tendo em vista a Circular publicada no Diario do Governo n.º 183, em tudo se acommodem com as instrucçoens nella expendidas e se pônhão em (h)armonia com as Auctoridades Administrativas q. neste sentido recebêrão as instrucçoens convenientes e, p.ª q. esta nossa Portaria chegue ao Conhescimento dos mesmos Reverendos Párochos, o nosso m.to r.do D.or Provizor mande passar Circulares na forma do estilo. Porto, 3 de Setembro de 1856. B.º do Porto. Devem portanto todos os R.dos párochos desta Diocese copiar | 12 esta no Livro competente e dar-lhe promto (sic) e ezacto (sic) comprimento (sic), incumbindo de mais a mais aos m.to r.dos vig.os da vara o fazê-la girar na forma do estilo. Dada no Porto sob selo d’Armas de S. Ex.cia R.ma aos 9 de 7br.º de 1856 e eu João da Rocha Pinto (a) subscrevi. Joaq.m J.e Correia de Vasconcellos. Selo. Telles. Cumpra-se na forma do estilo. Macieira de Sarnes, 18 de Setembro de 1856. Maia da Silva. Está conforme. Pigeiros, 19 de 7br.º de 1856. Abb.e A. C. Ozorio Gondim». 146 «Bullas em 1856. Em 5 de Dezembro de 1856 riqueri (sic) ao M.to R.do Snr. Vig.º da Vara interino Bulas (o Snr. do Roupal) 4$000 de Bulas sendo 20 de 80 rs. e 60 de 40 rs.». 147 «Portaria de 15 de Dezembro de 1856. Manda obedecer à Auctorid.e competente p.ª dar todos os esclarecimentos e assistir à revizão dos eleitores e elegíveis p.ª Deputados no próximo mez de Janeiro. Recebeu-se nesta paróchia em 21 de Dezembro (de) 1856».
148 «Pastoral de 6 (de) Dezembro de 1856. D. An.to Bernardo da Fonseca Moniz , p.r mercê de D.s e da S.ta Sé Apostolica B.º do Porto, do Con.co de S. Mag.de, Par do Reino, etc. A todos os R.dos Vig.os da Vara, Párochos e mais Clero da nossa Dioceze saúde e paz em J. C. Sendo da máxima necessid.e encontrar os exforsos (sic) q. o inim.º das nossas Almas não cessa de fazer p.ª aumentar o desleixo, falta de zelo em huns, fomentar vícios e ignorancia em outros, introduzir abuzos e práticas pagáns e emfim (sic) reduzir tudo à dezordem e anarchia social e religioza e, sendo do nosso dever e Apostólica solicitude procurar o bem espiritual e ahinda temporal do rebanho q. D.s confiou à nossa direcção e vigilancia, havemos por bem, debaixo da Santa Obediencia e das penas ao diante cominadas, ordenar e mandar o seguinte: 1.º − Constando-nos q. se têm movido dúvidas sobre a validade actual das Pastoraes e regulamentos dos nossos Antecessores, declaramos q. confirmamos e havemos por bem Confirmadas e em vigor todas as determinaçoens e Pastoraes de nossos antecessores q. não tênhão sido expressamente derrogadas, digo, revogadas e mandamos se observem e cúmprão debaixo das penas q. ellas m.mas cominárão. 2.º − As conferencias moraes determinadas pela Pastoral do nosso Antecessor de 22 de Setembro de 1840 e q. em alguns círculos sem justa cauza nem consentimento nosso têm sido interrompidas, continuarão imediatamente a pôrse em prática pela forma e segundo a mesma organização estabellecida pelo dito nosso antecessor, rezervando-nos p.ª opportunam.te e a requerimento dos interessados e informação dos m.tos R.dos Vig.os da Vara fazer as alteraçoens q. exigir a commodidade dos concorr.es, na certeza de q. não serão attendidos requerim.tos p.ª jurisdicção ou uzo de Ordens sem q. vênhão instruídos das competentes Certidoens de frequencia às ditas Conferencias. 3.º − Os Capelaens q. nas Freg.as ruraes costúmão dizer as Missas 1.as às quaes concorre a máxima parte do Povo q. por essa cauza, com grave deterim.te (sic) da sua Salvação, não assiste à catechesi, e estação da Missa Conventual deve- | 12 v rão de hora (sic) em diante, sub pena de suspensão “ipso facto”, antes de principiar a Missa ou depois do offertorio, fazer huma breve prática por tempo de quinze
minutos pouco mais ou menos sobre Doutrina Christám ou ler p.r algum livro espiritual apto em instruir e edificar os Fieis. Fícão porém dispensados os ditos Capelaens desta obrigação no Cazo q. os R.dos párochos quéirão pessualm.te (sic) fazer a dita cathequeze. 4.º − Os S.tos Óleos vão-se buscar à Sé athé Dom.º “Bonus Pastor” const. Dioc. f. 128
O rol dos Confessados q. segundo o disposto na Constituição Diocezana L.º 1.º, Tít 6.º, constituição 5.ª, verso 6.º, deve ser trazido a nosso Provizor athé 15 dias depois da Dom.ª “Ego sum Bonus Pastor”; de hora em diante, antes de ser registado, deverá haver Certidão de q. a Igreja a que pertense (sic) fica provida de S.tos Óleos novos, passada em o m.mo Rol pelo Sacerdote encarregado da Distribuição dos mesmos em a nossa Sé Cathedral athé aos ditos quinze dias depois da mesma Dominga. E outros(s)im ordenamos q. os R.dos Párochos pessoalm.te por Clérigo de Ordens Sacras condúzão ou fáção conduzir os S.tos Óleos, sendo bem estranhável e reprehensível q. alguns R.dos P.cos tênhão mandado buscar por leigos e ahinda por pessoas de pouca confiança o S.to Chrisma, q. os P.es da Igreja tivérão sempre em tão g.de veneração e q. S. Cirillo de Jerusalém não duvida comparar com o m.mo Pão Eucharístico!
Os R.dos P.cos, observando o q. determínão as Constituiçoens Diocesanas L.º 1.º, Tít. 5.º, Const. XII.ª e L.º 3.º, Tít. 2º, Const. 1.ª e seguintes, não permíttão q. em suas Igrejas ou em Capellas ou ermidas de suas Paróchias se faça exposição do S.mo Sacram.to ao povo ou procissoens públicas, geraes ou particulares, sem expressa Lincensa (sic) nossa ou do nosso Provizor e os P.cos ou Clérigos q. de seu “motu proprio” ou em virt.e de determinação de alguma outra autorid.e permittirem ou assistirem em
5.º − Licença p.ª expor o SS. Sacramento
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semelhantes funcçoens sem a dita nossa expressa permissão, fiquem Sospensos (sic) “ipso facto”9(159), pois convém m.to ao bom regimen da nossa Diocese e à m.ma dignid.e do culto q. se guardem mui rigorozam.te as supra citadas Constituiçoens Diocesanas. E outros(s)im mandamos q. nas procissoens q. ligitimam.te (sic) se fizerem não se leve o S.mo Sacram.to junto com imagens de S.tos nem em procissoens de regozijo ou em honra de S.tos se ostentem andores com imagens da Paixão de Cristo ou da Compaixão de Maria S.ma. E finalm.te ordenamos q. nos Adros ou proximid.es das Igrejas, seja por motivo d’alguma festa ou sem ella, se não consíntão reprezentaçoens Thiatraes (sic), bailes, múzicas e cantigas profanas com grave irreverencia do lugar e quebra dos costumes christãos e os P.cos q. nisto consentirem serão castigados a nosso arbítrio segundo a Culpa q. tiverem. 6.º − Os R.dos P.cos q. dentro do tempo determinado na Pastoral do nosso antecessor de 24 de Setembro de 1844 não tiverem aprezentado os L.os dos Assentos de Ba(p)tismos, Cazam.tos e óbitos de suas Paróchias aos m.to r.dos vigários da vara, como érão obrigados, o deverão fazer dentro de oito dias contados daquelle | 13 em q. receberem este nosso prezente regulamento sub pena de serem castigados como merecer sua falta. Aquelles porém a quem agora ou no futuro mais convenha aprezentar os ditos Livros a nós ou a nosso Provizor o poderão fazer, comtanto (sic) q. logo dê(e) m p.te disso aos m.to R.dos Vigarios da Vara para q. estes nos informem em tempo competente e se verifique se nos fôrão apprezentados os ditos Livros. 7.º − Os m.to r.dos vig.os da Vara e párochos não passarão attestados de vida e costumes a Clérigos sem q. preceda portaria nossa ou de nosso Provizor. Poderão porém, sem preceder a dita licensa (sic), certificarem da obediencia Canónica e coadjuvação e costumes do Clero de suas paróchias à face de requerimentos q. hájão de nos ser apprezentados para jurisdicção, recepção e uzo de ordens, os quaes deverão vir instruídos desses attestados p.ª serem attendidos. 8.º − Sendo certo q. nada corrompe tanto a moral pública como o escândalo daquelles q. vivem em públicas e notórias mancebias, m.to recommendamos aos r.dos párochos empreguem toda a deligencia (sic) e zelo q. convém ao seu menisterio parochial para fazer cessar e dar reparação a taes escândalos, nos q. devem ter em vista o q. dispõem os
(159)
No texto não está sublinhado mas em tipo maior e mais grosso.
Sagrados Cânones e designadamente as Const. deste Bispado Livro 1.º, Tít. 5.º, Const. 4, vers(o) 6.º e seguintes, e Liv. 4, Tít 12, Const. 7.ª e 8.ª. E p.ª mais facilitar a essas desvairadas Ovelhas o regresso ao redil do Div.º Pastor, quando dezejem, por ser o único meio de terminar o escândalo, contrahir o matrimonio e lhes obste por hum lado algum impedimento canónico dispensável e por outro a extrema pobreza q. os inhabilitem de alcansar (sic) Dispensa ordinaria, neste cazo quer S. Santid.e conceder-lhes Dispensa inteiramente gratuita, p.ª o q. os R.dos párochos devem dirigir-nos sua Súpplica em que summariamente expônhão: 1.º a natureza do impedimento e se he de consanguinidade ou affinidade, lícita ou ilícita e o grao de parentesco; 2.º o público escândalo e o ser o cazamento o único meio de o fazer cessar; 3.º a impossibilidade dos impetrantes, por serem pobres e não terem q. esperar heransas (sic) de parentes ou estranhos p.ª poderem tirar a dispensa ordinaria, pedindo-nos em concluzão p.ª q. impetremos a disp.ª “gratis in omnibus” do Ex.mo e R.mo Núncio Apostólico. Esta Súpplica do R.do párocho deve ser acompanhada de outra, dirigida pelos impetrantes ao Ex.mo e R.mo Snr. Núncio na qual breve e verdadeiramente fáção a mesma expozição, supplicando por isso a dita Disp.ª. Tanto huma como outra Súpplica deve ser escrita em papel de pezo não sellado e remettida à nossa secreteria (sic) onde depois os interessados a devem procurar p.ª sua devida execução. E p.ª q. estas nossas dispoziçoens cheguem ao conhescimento daquelles a quem compete sua execução, os m.to r.dos vig.os da Vara da Diocese farão chegar às mãos dos r.dos párochos de seus distritos os exemplares impressos q. lhes são dirigidos e cada hum dos m.mos párochos o registará no Livro competente e farão constar o seu conteúdo ao Clero de suas paróchias, a fim de q. inteiramente se executem e se não possa alegar ignorancia e os ditos m.to r.dos Vig.os da Vara nos darão parte de terem sido recebidos e distribuídos os mencionados exemplares. Dada nesta Cid.e do Porto sob nosso sinal e sellada com o sello de nossas armas aos 6 dias do mez de Dezembro de 1856 e eu Henrique da Silva Barboza, secretario de S. Ex.cia R.ma, a escrevi. An.to, Bispo do Porto. Lugar do sello. E eu Abb.e Antonio Caetano Ozorio Gondim a registei aos 27 de Dezembro de 1856 nesta Resid.ª de Pigeiros».
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«Circular do Vig.º da Vara Interino J.e Joaq.m Corr.ª de Magalhães de 7 de Fever.º de 1857, exigindo em carta fechada e com a possivel brevidade huma relação de todos os Clérigos da Freg.ª, seus empregos, ordens q. tiver(em), idades e na caza das observaçoens seu comportamento civil, moral e Religiozo como o modelo junto: Relação de todos os Clérigos da Freg.ª de ... Nomes
Empregos Ordens
Idades
Observaçoens
Exige tambem dos Prezidentes dos círculos de Conferencias lhes respôndão se no seu respectivo Círculo se instalárão as Confer.as no princípio de Janeiro p. p. e se têm Continuado com proficuidade. Em Pigeiros 9 de Fever.º (de) 1857». 150 «Pagam.to Bulas de 1856 de f. 12». 151 «Circular de 22 de Abril de 1857 no art.º 2.º diz: todo o produto das bullas seja remettido aos Vig.os da Vara por todo o mez de maio, recebendo-se delle o compet.e recibo». 152 «Circular de 17 de Outubro de 1857 q. diz assim: P.r bem do serviço d’Estado e devendo satisfazer ao q. me foi requizitado pelo Gov.º Civil deste Distr.º do Porto cumpre q. os R.dos Párochos deste Bispado sem excepção dos pertensentes (sic) a diverso Distr.º auxiliam promta (sic) e satisfatoriamente os Adm.ores dos Con.cos e seus subalternos (o q. sempre farão em cazos semelhantes)10(160) com as informaçoens q. lhe(s) forem pedidas a fim de se alcansarem (sic) os necessarios esclarecimentos p.ª a execução da Purtaria (sic) expedida pela Secretaria de Estado dos Neg.os Eccleseásticos e de Justiça com data de 18 de Agosto do corr.e anno e segundo os respectivos modelos. Assim o hei p.r m.to recomendado a
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O parêntese consta do texto.
todos os m.mos R.dos P.cos sobre (sic) sua responsabilid.e e o m.to R.do Vig.º da Vara cumpra com urgencia etc. Porto, 17 de Outubro de 1857. Joaq.m J.e Corr.ª de Vasconcellos, Provizor e Gov.or do Bispado». 153 «Circular do Snr. Adm.or de 22 de Outubro de 1857. Adm.ão do Con.co da Feira. Ill.mo e R.mo S.r: Sendo certo q. a maior parte dos mendigos ándão esmolando já por diversas Freg.as do Con.co, já fora delle sem q. tênhão p.ª isso absoluta carencia de meios mas sim costumados à vadiagem e ociosidade e sendo necessario pôr termo a semelhante costume, vou rogar a V. S. q. com o auxílio da Junta de Paróchia e outros quaesquer pessoas se sirva inviar-me (sic) huma relação dos nomes e moradas da rezid.ª de todos os seus parochianos q. p.r absoluta carencia de meios não podem viver sem esmolas, declarando se he por molestia q. p.ª isso os obriga ou p.r qualq.r motivo. V. S.ª terá a bond.e (de) remetter esta Circular ao Snr. R.do P.co q. se segue (Guizande)11(161). A Adm.ão do Con.co da F.ra, 22 de Outubro (de) 1857. O Adm.or M.el de Lima Ferrás da Silva. Recebida em 25 do d.º. (Ozorio)». 154 «Dispoziçoens preliminares p.ª as Bullas p.ª o proximo anno. Pela Circular de 16 de Novembro de 1857.são todos os Eccleseásticos, Irmandades e huma pessoa de cada caza (exortados?) a assistir ao Sermão da Publicação (da Bulla) q. p.ª nós há de ser em Romariz no dia 5 de Janeiro às 10 horas. Na Circular | 14 do Snr. Vig.º da Vara deste Distr.º marca p.ª serem procuradas as Bullas e apprezentação dos Livros todos os Domingos, 3.as e 5.as feiras no proximo Janeiro. No Dom.º 3 de Janeiro he q. eu devo exhortar o povo a ir à publicação da Bulla a Romariz».
(161)
O parêntese consta do texto.
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155 «Circular de 7 de Dezembro de 1857. Tendo de proceder-se em cumprim.to da Lei no próximo Dom.º, digo, no 1.º Dom.º do próximo mez de Janeiro à revisão do recenseam.to dos eleitores e Deputados e p.ª outros cargos públicos, ordenamos aos m.to R.dos P.cos desta Diocese assístão em observancia da m.ma Lei à predita revizão, subministrando às commissoens revizoras os esclarecim.tos q. lhes forem pedidos p.ª ao seu alcanse (sic) p.ª q. aquelles importantes trab.os Valerem ao fim com o mais exa(c)to dezemp.º etc. Porto, 7 de Dezembro (de) 1857. Bispo do Porto. Está conforme. Ozorio Gondim». 156 142
«Negocios q. pertencerem a Bulas desde este anno de 1857 em diante ha de ser escrito neste L.º a f. 140». 157 «Circular de 14 de Janr.º de 1858 do Snr. B.º sobre expostos, Ordenando aos Párochos a mais severa fiscalização sobre os expostos e (que) avizem ao Chefe da repartição da roda quaesquer abuzo das amas etc. E na m.ma Circular hum avizo do Snr. Vig.º da Vara p.ª q. se dê a parte trimensal do estado das Conferencias».
15812(162) (Ver Apêndice 40) «Circular de 4 de Fever.º de 1858 (sobre)
Este texto aparece também num escrito avulso do abade Osório (cuja parte restante transcrevemos no Apêndice n.º 40) com estas variantes: (a) “arrojárão” em vez de “arrójão”; (b) “,” em vez de “e”; (c) “q.m” em vez de “quem”; (d) “concorrerem” em vez de “concorrem”; (e) “indevíduos” em vez de “Indivíduos”; (f) “consérvão” em vez de “conservarem”; (g) “algum” em vez de “alguns”. (162)
Prohibição de Cruzes nos Enterros e Procissoens à excepção da Cruz parochial e das Irmandades a q. pertencerem os falecidos; he como se segue: Constando-nos q. em varias Freguezias do 4.º Distr.º da Feira alguns indevíduos (sic) cheios d’ambição ou dominados de ignorancia e superstição se arrójão (sic) (a) a ter em seu poder cruzes compridas e (b) com a Imagem de Jezus Crucificado e com mangas à semelhança das Cruzes parochiaes, para alugarem a quem (c) as procurar, a fim de servirem nas procissoens de enterros e em solemnes Festevidades (sic) da Igreja, chegando em algumas dessas occazioens a apparecerem vinte e trinta cruzes assim alugadas, quando a Cruz parochial he a única q. deve cubrir (sic) a procissão, sem excluir as Cruzes das Irmandades, quando estas concorrem (d) encorporadas. E sendo do nosso dever cohibir esse abuzo supersticiozo, esse tráfico simoníaco, infame e escandalozo e bem assim a criminoza audácia de expor à veneração dos Fieis Imagens do Crucificado sem terem sido por nós vistas, approvadas e benzidas, ordenamos a todos e cada hum dos R.dos Párochos do mesmo Distr.º q. sob pena de suspensão “Ipso facto” não admíttão em qualquer acto ou funcção da Igreja ou seja de enterramento ou de Festividade alguma outra Cruz q. não seja a parochial ou de Irmandades e Confrarias, quando estas a tênhão propria e concorrerem ao acto encorporadas. Mandamos outros(s)im a cada hum dos Indivíduos (e) q. conservarem (f) em seu poder as preditas Cruzes q. sob pena de excommunhão “Ipso facto” incorrenda não aluguem mais alguma Cruz para servir nas mencionadas occazioens e na mesma pena incorrerá todo o q. for solicitar o aluguel (sic) da Cruz, ahinda q. este não se verifique. E a nós rezervamos a absolvição das ditas Censuras se porventura, o q. não esperamos, alguns (g) dos sobreditos incorrer(em) nellas. E p.ª q. esta nossa Determinação tenha o devido comprimento (sic), o m.to R.do Vig.º da Vara faça correr esta pelas paróchias do seu Distr.º e os R.dos Párochos a copiem no L.º dos Cap.os da Vezita e a leiam na | 14 v estação da Missa Conventual a seus Freguezes; depois do q. sendo esta por elles Reverendos Párochos vista e assinada, será devolvida à nossa secretaria. Porto, 4 de Fever.º de 1858. Bispo do Porto. Está conforme. Pigeiros, 8 de Fever.º de 1858 oito. O Abb.e Ozorio».
159 «Circular de 10 de Julho de 1858. D. An.to Bernardo da Fonseca Moniz, p.r mercê de D.s e da S.ta Sé Apostólica B.º do Porto, do Cons.º de S. M. F., Gram Cruz da Ordem de S. Thiago da Espada, Par do Reino, etc. A todos os R.dos P.cos e Clero deste nosso Bispado saúde e paz em J. C. nosso Snr. Salvador. Fazemos saber sendo do nosso maior cuid.º e pastoral solicitude o reprimir a relaxação q. desgraçadam.te se nota em alguns dos Membros do Clero, cortar abuzos q. athé hoje não tem sido possivel extirpar de todo, obstar a outros q. de novo se querem introduzir e emfim (sic) acautelar os Fieis contra as insidiozas pertensoens (sic) do espírito maligno, debaixo da S.ta obediencia e das penas ao diante cominadas ordenamos o seguinte: 1.º Todos os Eccleseásticos p.ª celebrar Missa, administrar Sacramentos ou exercer actos d’Ordem vestirão batina com mangas inteiras, talar e fechada ou abotoada athé à orla. E para celebrar Missa calçarão çapato (sic) e meia preta, sendo solemne e não uzarão de botas, mesmo nas Missas privadas nas freguezias desta Cidade e seu destricto nem na Cidade de Penafiel e Vilas notáveis desta Diocese. E os q. contrariarem a estas disposiçoens incorrerão na pena de suspensão “ipso facto” e nas mais a nosso arbítrio. Esta dispozição porém só terá vigor hum mez depois da sua publicação. 2.º Nas m.mas penas incorrerão os R.dos P.cos, Vig.os do Culto, Capelaens e Presbíteros q. nas Dom.as preveligiadas e nos dias do Rito clássico ou Duplex cantarem ou permittirem q. se cantem missas de Festas differentes do officio proprio do dia. 3.º As Missas solemnes de Festivid.es não poderão principiar depois das Onze horas13(163) nem as Missas rezadas antes do romper da aurora ou depois do meio dia sob pena de procedimento contra os Clérigos q. a celebrarem ou acolitarem, excepto se tiverem especial licensa (sic) ou previlegio.
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No texto não está sublinhado mas em tipo maior e mais grosso.
4.º Prohibimos nas Funçoens Religiozas o q. vulgarm. te chamam imagens vivas q. com tão grave escândalo e irreverencia costúmão em algumas Freg.as ruraes empregar-se, mormente no tempo da Quaresma. E outros(s)im prohibimos q. nas Procissoens figurem por Anjos pessoas maiores de dez annos ou q. séjão levados por leigos Vazos e obje(c)tos q. tênhão sagração Episcopal e os q. contravierem a estas dispoziçoens incorrerão na pena de suspensão “ipso facto” sendo Clérigos e excommunhão maior tambem “ipso facto” sendo leigos. 5.º Os Requerim.tos p.ª Festevidades (sic) serão de ora em diante assinados pelos R.dos P.cos respectivos, q. deverão empregar o zelo, a diligencia q. lhes cumpre p.ª instruir seus parochianos do q.to he improprio e indecente levarem nas Procissoens de regozijo e em honra dos S.tos Imagens da Paichão (sic) de Christo e da Compaixão de Maria S.ma. He esta huma ostentação intolerável que não só distróhe a (h)armonia e boa ordem dos Ritos | 15 mas coloca os mais altos Misterios em huma linha inferior e accessória aos mais Santos. Esperamos pois q. os R.dos P.cos esclarêção os seus Freguezes neste ponto disciplinar da Igreja e daremos em culpa aos q. praticarem o contrario, assim como aos q. consentirem ou tolerarem q. deixe de observar-se o q. a este respeito ordenamos no § 5.º da nossa Circular em 6 de Dezembro de 1856 ou concorrerem p.ª q. se nos peça dispensa da dita dispozição. 6.º Os R.dos P.cos, Vig.os do Culto, Capelaens ou outras pessoas a cujo cargo estéjão as Igrejas não consíntão, sob pena de procedim.to, q. nas ditas Igrejas se preguem sermoens sem q. os Pregadores mostrem q. têm Licensa (sic) nossa p.ª pregarem. E o m.mo farão com os Presbíteros, não sendo Párochos, q. se aprezentarem para ouvirem Confissoens ou dizer Missa, aos quaes não permittirão q. exérção essas funcçoens sem se terem certificado q. elles têm a competente jurisdicção do Ordinario. 7.º Nenhum Presbítero celebre Missa em Oratorio privado nas 4 principaes solemnidades do anno sem q. o dono do m.mo esteja munido da compet.e Bulla d’Oratorio, conforme a condição expressa nos Breves Pontificios sob pena de procedim.to.
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8.º Não permittimos se fáção expoziçoens do S.mo Sacram.to em sacristias, Capelas lateraes ou outros lugares senão só nas Igrejas e no Altar deputado p.ª isso e, se este p.r justo motivo estiver impedido, transferir-se-há a expozição p.ª outro dia dezempedido (sic). Outros(s)im prohibimos o intolerável abuzo q. nos consta se pratica em algumas Freguezias ruraes, de deixar, acabada a Missa da Festa, o S.mo Sacram.to exposto no Throno só com duas luzes acezas e a porta da Igreja fechada ou ahinda encerrá-lo p.ª de novo o expor à tarde do m.mo dia. E os q. contravierem a qualquer destas dispoziçoens, incorrerão em suspensão “ipso facto” sendo Clérigos e excommunhão maior tambem “ipso facto” sendo leigos.
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9.º Os R.dos P.cos ensinem ao povo q. a simples promessa de Cazam.to, não sendo reduzida a escriptura pública na forma da Lei de 6 de Outubro de 1784, não produz impedimento ou effeito algum jurídico, a fim de q. se não deixem iludir com tal promessa. Outros(s)im os R.dos P.cos, sendo requeridos pelos contrahentes, não fáção dilaçoens sob qualquer pretexto p.ª os proclamarem mas, fazendo no entretanto (sic) as averiguaçoens (a) q. são obrigados, declararão nas Certidoens as auzencias ou impedimentos q. lhes constarem, procedendo no mais segundo a Const. Dioc. e Pastoraes dos nossos antecessores. 10.º Não passem os R.dos P.cos Certidoens de terem proclamado huma ou duas vezes os contrahentes sem previam.te lhes ser aprezentado a dispensa compet.e de hum ou dous proclamas e haverem declarado ao Povo qual era a última denunciação. Esta mesma circunstancia deve mensionar-se (sic) na Certidão dos Banhos, a qual bem como as Certidoens dos L.os devem ser passadas em papel de selo de quarenta rs., advertindo porém q. os banhos podem ser lidos em | 15 v papel ordinario. E se os Contrahentes forem menores de 25 a.s, os respectivos P.cos declararão na mesma Certidão dos banhos se elles têm ou não o consentimento de seus legítimos superiores e, quando estes o prestarem, deverão assinar com o P.co e duas testemunhas as suas declaraçoens. 11.º Os R.dos P.cos ou outras quaesquer pessoas a cujo cargo estéjão as Igrejas não fáção nem mandem fazer preces públicas
ou “Te Deum” em acção de Graças sem nossa expressa Licensa (sic) ou do nosso Provizor, sendo sobremaneira estranhavel q. alguns P.cos tênhão praticado o contrario, não só tornando-se singulares no meio de seus colegas mas intrometendo-se em couzas da nossa episcopal atribuição. Fiquem pois advertidos e, se reincidirem, serão processados e castigados como merecer a sua ouzadia e inqualificável prezunção. 12.º Os m.to R.dos Vig.os da Vara fáção cumprir as Ordens q. temos dado sobre as conferencias de moral, pois he notavel neste ponto o desleixo q. reina em alguns distr.os. Os m.mos m.to R.dos Vig.os da V.ª, se assim o julgarem precizo, dê(e) m nova Organização àquelles Círculos, q. p.r mui extensos dão motivo ou pretexto p.ª não serem frequentadas as ditas conferencias. 13.º Ordenamos q. os Ordinandos, Clérigos e Beneficiados de qualq.r natureza ou título do nosso Bispado tênhão m.to em vista e cúmprão as Const. Diocez. L.º 3.º, Tít. 1.º, Const. 2.ª e 11.ª. E a respeito daquella, determinamos q. os Clérigos fora das funcçoens eccleseásticas, em q. devem trazer hábitos talares etc., não uzem de vestidos à moda profana mas não prohibimos q. trajem cazaco comprido (athé) ao meio da perna, com calsa (sic) e botina14(164) ou çapato e meia, tudo de cor preta, parda ou escura, devendo sempre trazer cabeção, volta e chapeu redondo e nunca derrubado. E os q. forem achados com vestidos menos graves ou de outras cores e feitios garridos15(165), incorrerão nas penas da supracitada Constituição. Finalm.te recommendamos a todos os nossos súbditos e especialm.te aos chefes de Familia não deixem ler as pessoas indoutas ou q. p.ª isso não tênhão especial licensa (sic) livros prohibidos ou ahinda q. o não estêjão sem primeiro se terem certificado q. elles nada contêm contrario à moral e à Religião. Infelism.te os maos livros grássão em nossos dias como huma pista por toda a parte. Há pouco nos veio à notícia hum q. tem por título “Educação das mãis de Família ou a Civilização do género humano pelas mulheres”, o q.l está cheio do veneno da
Esta leitura também consta no livro de Visitações de Romariz f. 47. No texto está “guerridos” mas no livro de Visitações de Romariz f. 47 está “garridos”.
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herezia e da descrensa (sic). A Civilização q. delle q. delle (sic) poderia rezultar seria a Civilização pagám, isto he, o aviltam. to e opróbio do género humano de q. só o pode arrancar a Civilização Christám; a Civilização de nossos Pais q. he toda fundada na sólida virt.e e nas verd.es reveladas da nossa S.ta Fé. Sim, amados F.os em J. C., só a Fé Cathólica, S.ta, Única e Apostólica he a pedra firme e rocha segura sobre q. deve fundar-se o edificio social. Todos q. pretendem edificar fora desta pedra | 16 edifícão sobre areia e qualq.r vento das paixoens e das falsas doutrinas, o infundado edifico dezaba (sic) em ruínas de q. assás (sic) temos visto o ensanguentado espe(c)táculo. E, p.ª q. esta nossa circular chegue ao conhescimento das pessoas a quem compete a sua observancia, os R.dos P.cos as (sic) registarão e lerão ao Povo à estação da missa conventual e será conservado hum Exemplar nas Sacristias das Igrejas deste nosso Bispado, remettendo-se os necessarios exemplares aos capelaens, vig.os do culto e sacristães das Igrejas e Capelas das Corporaçoens e Ordens 3.as a fim de q. as observem e as fáção observar na parte q. lhes diz respeito. Dada no Porto sob nosso sinal e selo de nossas armas aos 10 dias do mez de Julho de 1858 e eu Henrique da Silva Barboza secretario de S. Ex.cia R.ma a escrevi. Antonio, B.º do Porto. Está conforme. Pigeiros, 24 de Julho de 1858. O Abb.e Ozorio». 160 «Reprezentação da Junta desta Paróchia à Junta da Bulla da Cruzada sobre paramentos. Ex.ma Junta Geral da Bulla da Cruzada: A Junta de Paróchia de Santa Maria de Pigeiros, Comarca e 4.º Distr.º da Feira, Bispado do Porto, teve a honra de receber pelo seu Prezid.e a Carta appensa do Ex.mo e R.mo Snr. Prezid.e desse tão respeitavel Tribunal n.º 1 e em (h)armonia com tão sábios cons.os leva ao conhecim.to de V. Ex.cia q. hum incendio terrivel reduzio a cinzas toda esta Igreja com tudo q.to em si continha, arruinando athé as m.mas paredes na madrugada de 25 de Setembro de 1843. O Ex.mo Snr. Bispo desta Diocese, a intâncias do Prezid.e desta Junta, teve a bondade de promover huma subscripção da qual se junta cópia N.º 2. Porém essas esmolas esgotárão-se nas obras de pedreiro,
carpinteiro e trolha. Concluírão-se os 4 altatres (sic) e Tribuna com as esmolas voluntarias dos Filhos desta paróchia, porém elles estão já cansados e fáltão ahinda param.tos q. jamais se poderíão obter sem q. haja um valiozo subsídio, porq.to, Ex.ma Junta, fáltão Duas Dalmáticas com cazula e véo d’hombros tudo branco q. não podem importar menos de 30$000 Duas Dalmáticas, cazula e capa preta 30$000 E um Valdequino ou Altar portátil p.ª o sagrado Viático 10$000 Hum Missal q. talvez se não tire menos de 09$000 79$000 Com mais huma cazula branca p.ª o uzo quotidiano 6$000 85$000 Fáltão ahinda alvas, porq. há só duas, tendo as outras sido roubadas com m.tos outros trastes na noute de 8 p.ª 9 de Junho de 1857 em q. os ladroens arrombárão a Igreja. Esta paróchia concorre annualm.te com 30$000 rs. | 16 v de finta p.ª a sostentação (sic) do seu Párocho e isto m.mo não custa pouco a cobrar e q. acontecerá se lhe lansar (sic) de derrama mais 85$000 rs.. Esta paróchia regula p.r 100 fogos; Tirando-lhe os proletários, fícão só 50 contribuintes; a pequena finta de 50$000 q. se lhes lanse (sic) cabe mil rs. a cada hum q. junto às contribuiçoens ordinarias produziria hum motim popular, a q. ninguem q. tenha juízo quereria expor-se. O Párocho, prezid.e desta Junta, m.tas vezes tem pedido a seus Ex.mos Prelados q. se annexe esta Párochia p.ª outras ou outros povos a esta párochia mas não o tem conseguido. Tem tambem forcejado por impedir as festevidades (sic) p.ª se evitarem indecensias (sic) mas os Festeiros tanto ínstão q. o Párocho p.ª se conservar em paz com o seu povo vem por fim a annuir e as Festevidades fazem-se, pedindo-se numa paróchia as alvas, noutras as Dalmáticas etc. etc. etc. M.tas requiziçoens se farão a essa Ex.ma Junta mas nenhuma com tão sólidos fundamentos como esta. Se essa Junta Ex.ma visse a pobreza e dezalinho das alfaias remendadas desta Igreja, conhesceria q. não há palavras com q. se possa descrever huma tal mizeria; acresce ahinda q. esta Igreja está mui próxima às Caldas de S. Jorge e por isso he muito frequentada pelo Povo q. do Porto e de diversas partes ali concorre. A Junta Supp.e não desconhesce a sua situação: sabe q. está em huma Aldeia onde não se espera riqueza nos paramentos Sacerdotaes mas sim decencia e limpeza e por isso com o m.s submisso respeito
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P. a V.Ex.cia se digne mandar-lhe dar ao Cofre da Bulla da S.ta Cruzada ou as alfaias q. supplica, (a)hinda q. uzadas séjão e pobres ou huma esmola para as comprar e por tanta Religião e humanidade. R. M. Em Junta de paróchia de 12 de Setembro de 1858. O Prezid.e servindo de secret.º Antonio Caetano (Ozorio Gondim). O Regedor Manoel Fran.co Pascoal, Manoel Henriques de Paiva, O Vogal e Thezoureiro da Junta Manoel Per.ª Coelho, o Prezidente e secret.º An.to Caetano Ozorio Gondim. Está conforme. Ozorio gondim».
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«Esta reprezentação foi acompanhada da Carta q. o Ex.mo Snr. Bispo D. Sebastião Commissario Geral me escreveu em 26 de Junho de 1858, cujos conselhos eu segui, e da subscrição, impressão das esmolas obtidas p.ª a reedificação desta Igreja». «Informe do Snr. Vig.º da Vara q. he do teor seguinte: He justa a pertensão (sic) da Junta de Paróchia de Pigeiros e cuja obtensão (sic) muito concorreria p.ª excitar a Devoção dos Fieis em tomar a Bulla da S.ta Cruzada. S. João da Madeira, 15 de setembro de 1858. O vig.º da Vara do Distr.º Joze Joaq.m Correia de Magalhaens». «Informe do Snr. Adm.or: Manoel de Lima Ferrás da Silva, Adm.or do Con.co da Feira p.r S. Mag.de Fidelissima q. D.s G.de. Attesto q. a Reprezentação da Junta de Paróchia de S.ta Maria de Pigeiros he em tudo verdadeira, p.r q., sendo esta huma das mais pequenas paróchias deste Con.co, não pode sem hum grande Sacrificio occorrer às despezas necessarias p.ª a compra dos obje(c)tos de q. necessita para a decencia do culto, m.to principalmente p.r ter soffrido o incendio da Igreja q. a m.to custo pôde ser reedificada; por me ser pedida, mandei passar a prezente nesta Adm.ão do Con.co da Feira aos 17 de Setembro de 1858. Henrique Vicente da Costa Neves a escrevi. M.el de Lima Ferrás da Silva.
| 17 «Cópia da Carta q. com os Docum.tos já ditos remetto ao Ex.mo Snr. Bispo D. Sebastião Commissario Geral e Prezid.e da Junta da Santa Bulla da Cruzada em Lisboa:
Ex.mo e R.mo Snr.: Na Sagrada e pontifical Bênção de V. Ex.cia m.to me encommendo. Em vista da Honrozíssima Carta q. a Bondade de V. Ex.cia R.ma se dignou transmittir-me pelo meu Ex.mo Snr. Bispo (do Porto)16(166) com data de 26 de Junho do corr.e anno fiz com a minha Junta a reprezentação a esta appensa. Deveria eu recorrer ao meu Ex.mo Snr. Bispo, mas não pôde ser, porq. de S.ta Cruz (do Bispo) (donde eu esperava q. elle voltasse ao Porto)17(167) dirigio-se p.ª Palme. Nesta impossibilid.e recorri ao meu R.do Vig.º da Vara deste 4.º Distr.º q. m.s em contacto com esta Paróchia do q. m.mo S. Ex.cia R.ma de q.m elle he Delegado melhor conhesce a nossa pobreza e circunstancias; elle approvou e justificou esta reprezentação e o nosso Adm.or deste Con.co da Feira praticou o m.mo. Rogo a V. Ex.cia R.ma a Bond.e de mandar apprezentar a essa Ex.ma Junta, a q. V. Ex.cia tão dignam.te prezide, esta nossa reprezentação. Não era possivel, Ex.mo Snr., q. esta Reprezentação se fizesse em segredo; houve toda a publicidade e os olhos de todos estão fictos neste negocio e em todo este Con.co nem hum só homem dotado de senso commum há q. não julgue m.to justa esta pretensão e posso debaixo da minha palavra de honra affiansar (sic) a essa Ex.ma Junta q., se obtivermos desse Tribunal os pedidos paramentos, a Devoção da Bulla muito se enraizará e prosperará. Eu deixo ficar toda esta reprezentação, seus Docum.tos e esta mesma Carta tudo rezistado (sic) no Livro das Vezitaçoens desta Igreja p.ª ali escrevermos e perpetuarmos os justissimos Louvores à Ex.ma Junta, se obtivermos; e no cazo opposto, p.ª q. a todo o tempo conste que não fomos caens mudos: q. bradamos em altas vozes a quem nos podia soccorrer mas q. nossos brados não fôrão ouvidos e, sobre quem pretenser (sic), recahia a responsabilidade das indecensias (sic) q. se pratícão nesta Igreja na celebração dos Off.os Divinos. Há m.to, Ex.mo Snr., q. soffremos resignadam.te tantas privaçoens; não quizemos (h)á mais tempo requerer para não multiplicar embaraços a esta Devoção nascente e só o fizemos agora depois q. pelas contas dessa Ex.ma Junta notamos q. esmolas se têm dado talvez menos necessarias p.ª a doutoração de Padres, filhos ou herdeiros de grandes propriedarios e Capitalistas.
(166) (167)
O parêntese consta do texto. Só o segundo parêntese com a sua expressão interior consta do texto.
M.tas Igrejas haverá nas mesmas precizoens mas talvez nenhuma q. fosse tão completamente distrohida p.r hum incendio e q. só se pôde reedificar, pedindo-se de porta em porta huma esmola e q. agora não tem nem 5 rs. p.ª paramentos. Supplico a V. Ex.cia se digne aprezentar estas consideraçoens à sua Ex.ma Junta. D.s g.de, Ex.mo Snr., a precioza Vida de V. Ex.cia como tanto he mister q.m he, Ex.mo Snr.. De V. Ex.cia Capelão e mais attenciozo e obrigado. An.to Caet.º Ozorio Gondim. Rezidencia parochial de S.ta Maria de Pigeiros, 17 de Setembro de 1858 oito da Vila da Feira. Está conforme. Ozorio. Sobre-escrito: Ao Ex.mo Snr. Bispo D. Sebastião, Commissario Geral e Prezid.e da Junta da S.ta Bulla da Cruzada, Lisboa Do Abb.e de Pigeiros». «Todos estes papeis fôrão por mim seguros e francos no corr.º desta Vila da Feira, pagando eu de seguro e porte 265 rs. ao Snr. Victorino do Correio q. tudo remetteo neste correio de 17 de 7br.º de 1858 a.s». «Ex.mo Snr. Bispo D. Sebastião, Commissario Geral e Prezid. da Junta da S.ta Bulla da Cruzada: esperaremos o recibo q. deve chegar pelo corr.º da Feira p.r estes 8 ou 15 dias e depois ou louvaremos ou censuraremos pelos periódicos o comportam.to ou rezultado. Ozorio». e
| 17 v «(Título do segundo dos Documentos “retro” escritos e remessa p.ª Lisboa. Cópia fiel, cujo original se conserva na minha carteira)(168). Segundo (Armas riaes)19(169) Certificado. Registo feito na Estação Postal da Feira para a de Lisboa: (168) (169)
O parêntese consta do texto. O parêntese consta do texto.
“Em 17 de Setembro de 1858. À vista deste certificado se entregará ao Snr. Bispo D. Sebastião, Commissario Geral da Bulla huma Carta registada que lhe remette o Snr. Antonio Caetano Ozorio Gondim de q. pagou de premio Cem rs., além do sello da franquia do porte correspondente, cobrando-se do destinatario recibo da entrega da dita carta passada no vesso (sic) deste e legalm. te reconhescido, q. se enviará sem demora a esta Estação postal, depois de feitos ahi os devidos assentamentos. O Fiel da Administração ou Director do Correio Victorino Joze da Costa. Lansado (sic) no Livro competente a folhas 83 em 20 de 7br.º”. No verso está o recibo seguinte: “Recibo Recebi da Estação Postal de Lisboa a carta constante do Certificado “retro”. Lisboa em 21 de Setembro de 1858. como procurador o P.e Carlos de J.s M.ª da C.ta Card.º”; vai escrito tudo como se acha e está conforme. O Abb.e Antonio Caetano Ozorio Gondim». «He pois evidentissimo q. todos os papeis q. eu por insinuaçoens do Ex.mo Bispo Commisario Geral da Bulla da Cruzada lhe remetti, todos lhe fôrão fielmente entregues e he igualmente certo que athé fins de Dezembro deste anno nenhuma outra mais resposta tive: parece-me ahinda impossível q., se nenhum cazo havíão de fazer das reprezentaçoens e Documentos, contribuírão p.ª me enganarem, fazendo-me perder papel selado, trabalhos e portes de correio. Esperaremos mais alguns mezes e, se nada providenciarem, ficará tirada a prova rial de q. a Bulla nada valle senão para nutrir ociozos. Nada colhe o argumento q. nos offrecem (sic) de q. nada temos com as más applicaçoens das esmolas, porquanto, quando pagamos ao Alfaiate ou ao mercenario, não nos deve importar o uzo q. elle fás do estipendio q. lhe damos: este raciocinio he um verdadeiro sofisma e só pode embaraçar papalvos; querem confundir um estipendio com uma esmola: forte mizeria! O q. eu dou pela Bulla he paga ou he esmola para certos e determinados fins. Se he paga, não quero a bula p.ª não commeter uma simonia, comprando uma couza sagrada e quem compra graças espirituaes comette o crime de Simão Mago de cuja absolvição e perdão S. Pedro duvidou. Se o q. se dá pela Bulla he esmola p.ª certos e destinados fins, cumpre-nos examinar se se cuida desses fins
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ou se se desprézão e se se dissípão as esmolas no luxo, na prodigalidade e compadrio e neste ultimo cazo não só não devo ter mais Bulla mas peco, se a tomar, porq. vou contribuir com o meu dinheiro p.ª os peccados dos outros, o q. a Caridade prohibe. Se hum homem meu parochiano todos os annos vier pedir-me uma esmola p.ª comprar huma Umbella p.ª o Sacramentos (sic) e se cada anno juntar dinheiro para muitas Umbellas e nunca comprar nenhuma e disser q. tudo gastou em despezas nestes peditorios, eu ser(e)i tão maniote que continuarei annualmente com a minha esmola? A Bulla está no mesmo cazo: pede-se para Seminarios e elles não apparecem, p.ª paramentos de igrejas pobres e nicles, “ergo” rozas!!! Não dezesperemos: daremos mais hum anno de espera e então melhor se escreverá o rezultado p.r q. a todo o tempo conste aos meus R.dos Successores. Ficará papel em branco para se escrever o que sobre isto for occorrendo. Pigeiros, 17 de Dezembro de 1858. O Abb.e A. C. Ozorio Gondim». «A Ex.ma Junta da Bulla da S.ta Cruzada, tomando em consideração o q. lhe reprezentou a Junta de Paróchia da Freguezia de S.ta Maria de Pigeiros sobre as urgentes necessidades da sua Igreja, rezolveo solicitar de Sua Magestade a preciza authorização para lhe conceder o subsídio que for compatível com o estado do cofre e com muitas idênticas reclamaçoens a q. tem de attender: O q.| 18 participamos à dita Junta de Paróchia para sua inteligencia. Porto, 28 de Março de 1859. Bispo do Porto. Está conforme: no Sobre-escrito lê-se: S. N. e P. Ao R.do Párocho de S.ta Maria de Pigeiros; Do Bispo da Diocese (selo do correio)20(170), Feira; no reverso: Expedido a 28 de Março de 1859, Barboza. Está tudo conforme. Pigeiros, 4 de Abril (de) 1859 nove. O Abb.e A. C. Ozorio Gondim». «Feliz rezultado da nossa Súpplica à Junta da S.ta Bulla da Cruzada. Louvores eternos séjão dados à Ex.ma Junta que nos mandou dar oitenta e cinco mil rs. fortes para os paramentos e
que nós recebemos em 2 do corr.e outubro de 1860 das mãos do Ex.mo Vig.º Capitular. Com este dinheiro concertárão-se os velhos paramentos; Comprou-se hum Veo de hombros branco para a condução do Sagrado Viático (mas já muito uzado)21(171), hum paramento ou Cazula branca para o uzo; três cíngulos; huma cazula branca e duas dalmáticas, tudo novo de damasco branco com floroens vermelhos para tambem servirem nessa mesma cor, sendo precizo; bolsas de Corporaes com seus veos vermelhos, brancos e pretos. Tambem se comprárão huma cazulla, duas dalmáticas e huma Capa, tudo preto, novo e bom mas deste paramento deve-se vinte mil rs. que eu adiantei, por o dinheiro não chegar para tanto». «Cópia da Carta de agradecimento à Ex.ma Junta: Ex.mo Snr. Prezid.e da Junta da Bula da Cruzada: A Junta de paróchia desta Freguezia de S.ta Maria de Pigeiros, Comarca e 4.º Distr.º ecclezeástico da Feira, Governo Civil de Aveiro, Bispado do Porto, vai por este modo, cheia da mais viva gratidão, agradecer a V. Ex.cia e a essa Ex.ma Junta a q V. Ex.cia tão dignamente prezide, o tão valiozo donativo de oitenta e cinco mil rs. fortes, q. essa Ex.ma Junta se dignou enviar-lhe para a compra dos indispensáveis paramentos do culto Div.º nesta Igreja. Esta Junta em seu nome e em nome da paróchia q. reprezenta agradece e muito louva o zelo e religiosidade com q. essa Ex.ma Junta cumpre com a discreta applicação das esmolas da S.ta Bulla e grande coroa de gloria terá ella diante de D.s, porquanto, Ex.mo Snr., já dezapparecêrão os farrapinhos com q. neste Templo (depois do fatal incendio q. o reduzio a cinzas com q.to em si continha) (172) se revestíão os Sacerdotes, farrapinhos q. tanto provocávão os rizos dos libertinos como as lágrimas dos verdadeiros catholicos! Graças a Deus! Já neste Santuario se vê decencia nas Sagradas Vestes! Mas tudo he devido a essa Ex.ma Junta q. de nós de compadeceo! mil louvores lhes séjão! Fica-nos (173) agora só faltando uma cappa pluvial branca, irmám dos paramentos q. comprámos, mas como ella importa em perto de quarenta mil rs. e nós não temos p.r modo algum meios de obter essa quantia, continuaremos a servir-nos do antigo farrapo. He a única falta q. gravem.te sintimos (sic) e m.to lamentamos.
O parêntese consta do texto. O parêntese consta do texto. (173) No texto não está sublinhado mas sim em tipo maior. (171) (172)
(170)
O parêntese consta do texto.
Digne-se V. Ex.cia e toda essa Ex.ma Junta receber os nossos tão cordiaes como respeitozos agradecimentos q. vão ser por nós tambem publicados em alguns dos mais acreditados Periódicos do Porto (174) para confuzão dos inimigos da S.ta Bula e estímulo da pied.e dos verdadeiros fieis. D.s g.de a V. Ex.cia como todos hão mister. Sala das sessoens em Junta de paróchia de S.ta Maria de Pigeiros, 7 de Outubro de 1860. Eu Prezid.e, servindo de secret.º, A. C. O. G. a escrevi. Prezid.e Antonio Caet.º Ozorio Gondim. Regedor M.el Fran.co Pascual. M.el Fran.co Leite. M.el Henriques de Paiva». 161 «Carta Pastoral do Ex.mo Snr. nosso Bispo D. Antonio de 29 de Outubro de 1858 Sobre Bullas. D. An.to Bernardo da Fonseca Moniz, p.r mercê de D.s e da ta S. Sé Apostolica Bispo do Porto, do Cons. de S. M. F., Gram Cruz da Ordem de S. Thiago de Espada, Par do Reino, etc. Aos R.dos P.cos, Clero e todos os nossos Diocezanos saúde e paz em J. C. nosso Salvador. Estando próxima a publicação da Bula da S.ta Cruzada e a communicação das graças q. p.r meio della a Igreja concede a seus f.os, julgamos do nosso dever exortar-vos p.ª q. vos aproveiteis dellas. Não seja a vossa omissão a cauza da perda de tão singular benef.º nem a vossa negligencia e desmazelo | 18 v o motivo de não produzir effeito as m.mas graças q. deduzem todo o seu valor e virt.e dos infinitos merecim.tos de J. C.. A experiencia dos a.s passados tem-nos sufficientem.te mostrado q. o zelo dos m.to r.dos vig.os da Vara e r.dos P.cos e Clero nossos amados súbditos não só não tem esmorecido com o tempo mas tem redobrado a sua acção, persuadindo e aconselhando os Fieis a seguirem e abraçarem aquelle eficaz e piedozo meio de satisfação. Nós lhes consignamos aqui o justo e merecido louvor e confiadamente esperamos q. nenhum motivo humano, nenhum pérfida sugestão, nenhuma fraude satânica fará afrouxar esse zelo em huma obra Santa q., dirigindo-se toda ao bem e salvação das Almas, he ao m.mo tempo de grande auxílio e alívio tanto p.ª os Confessores como p.ª os penitentes no Sag.do ministerio do confessionario.
Ver efectivamente o jornal O Amigo do Povo de 3-11-1860 na página 2 com algumas variantes ortográficas (com a cota P-D-14 na Biblioteca Pública Municipal do Porto). Ver adiante n.º 172.
(174)
Mas a razão e justiça e a verd.e não soffrem q. os justos louvores dados a q.m dellas é merecedor se estêndão aos q. os não merecem nem os querem. Entre o Clero alguns há, com mágoa o dizemos, q. por seu inqualificavel procedimento se têm mostrado indifferentes e pouco apreciadores das Graças da Bula da S.ta Cr.da; entre os seculares hum m.to maior número se tem manifestado formalm.te desprezadores dessas Graças da Igreja. Ora q. os Montanistas, Waldenses, Wiclefistas, Luteranos, Calvinistas, Jansenistas e outras Seitas nascidas daquellas negassem o valor e mérito das indulgencias não pode cauzar admiração, p.r q. os hereziarchas e seus sectarios, separando-se da Igreja Catholica, logo cahem no erro e em todos o(s) seus passos e inovaçoens commettem novos erros nascidos das trevas e abismo em q. se precipitárão. Porém q. Christãos q. se dizem Catholicos Romanos e se incúlcão estar no grémio da Igreja pensem e abracem o erro dos hereges he cauza digna da maior estranheza. Esse erro pode proceder ou da total ignorancia da Doutrina da Igreja Catholica ou da corrupção e depravação de espírito da indiferensa (sic) p.ª todos os actos da Religião, emfim (sic), de huma desgraçada e cega libertinagem. Huns e outros são dignos da nossa compaixão e por todos devemos pedir ao Omnipotente Pai das luzes e mizericórdia q. os ilumine, esclareça e converta ao verdadeiro caminho, à Doutrina da Igreja de q. estão separados. Estão na verd.e fora do gremio da Igreja p.r q. ou elles négão ao Supremo Pastor da Igreja e aos B.os na forma prescrita pelo Direito a faculdade de conceder Indulg.as ou, não negando essa faculd.e, sostêntão (sic) q. as Indulg.as não têm préstimo algum: em qualquer dos cazos elles incorrem no anáthema fulminado pelo Sag. do Concílio de Trento contra os q. seguem ou sostêntão taes doutrinas, attêndão bem pois aonde os leva o seu obstinado erro. Os Eccleseásticos q. não estão dominados delle e cuja apparente indifferença provém só de desmazelo e negligencia lembrem-se q. darão g.de motivo de alegria e triunfo aos hereges e libertinos, se estes souberem q. Sacerdotes christãos desprézão as graças da Igreja e darão não menor motivo de mágoa e tristeza aos verdadeiros Catholicos. Confiamos na Div.ª Mizericordia q. nenhum se deixará cahir e permenecer no erro e q. todos abraçarão do c(oração) a verdadeira doutrina da Igreja. Exhortamos aos nossos Amados filhos seculares q. se têm deixado levar do vento da má doutrina a q. sígão os conselhos de pessoas Religiozas e prudentes, pois q. se trata não de
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interesses de momento mas da Salvação eterna. Lembremse q. sua criminoza audácia provoca a vingansa (sic) Div.ª; q. elles se Condénão a si mesmos p.r q. o seu crime tem o carácter de soberba incredulidade e dezobediencia. Reformem sua vida e emendem seus costumes, tendo sempre em lembransa (sic) q. o homem corrompido he hum motivo de dor p.ª a Igreja e hum flagelo da socied.e, p.r q. tudo o q. seria impossivel p.ª os outros, he facílimo p.ª christãos corrompidos e profanadores q. vivem neste mundo como se não houvesse Vida eterna e não conhescessem outra Lei mais q. seus apetites e paixoens. P.ª estes o jugo da Religião q. J. C. no Evang.º diz ser suave he pezadissimo, não podem soportar (sic) seu inorme (sic) pezo e têm razão: he pezadissimo o seu jugo p.r q. não têm q.m o(s) ajude a soportá-lo, p.r q. J. C. só concede alívio e consolaçoens aos verdadeiros penitentes e verdadeiros Christãos e os libertinos são abandonados a si m.mos e submergidos no atoleiro de seus vícios e paixoens donde não sahirão jamais, se huma graça especial Div.ª os não levantar. Compete a todos os Min.os da nossa S.ta Religião e com especialidade aos R.dos P.cos ensinar aos Fieis a verdadeira Doutrina da Igreja, combater os erros q. contra a m.ma ouzem (sic) surgir, prevenir os incautos, exortar os indiff.tes e animar a todos com o seu bom exemplo, o q.l, manifestando-se em huma vida e comportam.to regular e honesto, he sempre de efficacíssimo eff.to. Expliquem pois os R.dos P.cos a seus parochianos as inumeraveis Graças q. concede a Bulla da S.ta Cruz.da e quaes os meios q. devem empregar p.ª lucrarem a indulg.ª plenaria, mostrem-lhes q. esta mesma plenaria Indulg.ª pode applicarse não directam.te mas em modo de suffragio pelas Almas q. estão no purgatorio | 19 porq., ahinda q. ellas não estão debaixo da jurisdicção da Igreja, não déixão de aproveitarlhes as Oraçoens d’ella, porq. D.s nosso Senhor aprova o q. a sua Igreja faz em ordem ao bem e à salvação das Almas. E p.r q. em taes materias nenhuma explicação se acomoda à intelligencia do povo, he supérflua, he necessario e justo q. todos os Fieis vão ouvir o sermão da publicação da Bulla e este dever elles cumprirão de boa vont.e, se os R.dos P.cos lhes derem o exemplo como lhes cumpre. E p.r q. não he possivel haver sermão da Bulla em todas as Igrejas, havendo-os nas Cabeças dos Concelhos, aonde os povos devem concorrer, esp.ª q. esta concorr.ª seja facil e cómoda.
Aos R.dos P.cos das Freg.as q. são cabeças de Con.co participarão a todos e a cada hum dos seus colegas o dia e hora em q. o sermão da public.ão da Bula d.e ter lugar na sua Igreja. Esperamos q. todos assim o cúmprão, dando desse modo clara e pozitiva (sic) prova do seu ilustrado e incansavel zelo pelo bem espiritual de seus Parochianos. E p.ª q. chegue à notícia de todos, a prez.te circular será publicada no 1.º dia festivo à estação da Missa Conventual e registada no L.º compet.e de cada huma Igreja. Dada em S.ta Cruz (do Bispo) sob o nosso sinal e selo de nossas armas aos 29 de Outubro de 1858. Antonio, Bispo do Porto. Está conforme. Pigeiros, 18 de Dezembro de 1858 oito. O Abb.e Antonio Caetano Ozorio Gondim». 162 «Aumento da Ladainha de Nossa Senhora (tem 3 datas!!!) . Circular de 23 de Dezembro de 1858 ou 11 de Dezembro do m.mo p.r q. tem ambas as datas. Nesta Circular ordena S. Ex.cia o R.mo S.r B.º D. An.to auctorizado p.r S. Eminencia q. na Ladainha de N. Snr.ª ao verso “Regina San(c)torum Omnium” se acrescente “Regina sine labe originali concepta”. A 1.ª data de 10 de Dezembro he do Snr. B.º. “Cumprase” do Snr. Provizor Vas.cos (de) 23 de Dezembro de 1858, tudo do mesmo anno. Não falando do “Cumpra-se” do Snr. Vig.º da Vara q. tem a data de 24 de Dezembro do corr.e anno de 1858». 25(175)
163 «Circular de 23 e 11 de Dezembro de 1858 sobre resenseam.to (sic) de elegíveis e recrutam.tos militares. Esta circular manda-nos obedecer aos Administradores, comparecendo nos recenseamentos legaes com os Livros dos Assentos e dando os esclarecimentos q. nos pedirem; p.r outra ensina-nos q. pratiquemos o mesmo q. sempre temos feito, sem outra novidade alguma; tem tambem duas datas de 11 e 23 de Dezembro».
(175)
O parêntese consta do texto.
164 «Officio q. dirigi ao Snr. Vigario da Vara em q. repelimos as Assinaturas p.ª a 2.ª edição da obra de moral do Snr. Bispo do Rio de Janeiro, pedidas pelo nosso Bispo e Snr.. Respondendo à Circular em q. se pedem assinaturas p.ª a 2.ª edição da obra Theologica (sic) Moral do Snr. Bispo do Rio de Janeiro, sinto m.to declarar-lhe q. não pode obter nem huma só. Os Padres ponderárão-me q. sendo huma e outra Theologia huma sciencia estacionária que por sua natureza não admitte progresso como as outras, Que tendo já a 1.ª se torna a 2.ª edição huma obra de mero luxo: Que fazendo-se huma 2.ª, em breve se fará 3.ª e a esta succederá a 4.ª e assim por diante. Não está por isso nenhum delles rezolvido a assinar, contentando-se com a 1.ª edição q. todos já têm e isto se conforma m.to com o meu modo de pensar e está muito em (h) armonia com os diminutíssimos lucros q. têm os Ecclezeásticos nesta terra. Assim o participo a V. S.ª p.ª o fazer constar a q.m convier. D.s g.de a V. S.ª. Pigeiros, 8 de Janeiro de 1859. Ill.mo Snr. Vig.º da Vara deste 4.º Distr.º da Feira. O Abb.e de Pigeiros A. C. Ozorio Gondim». 165
| 19 v
«Circular de 13 de Maio de 1859. D. An.to Bernardo da Fonseca Moniz, B.º do Porto, etc. etc. etc. A todos os R.dos párochos, Clero e Fieis da N. D. saúde e paz etc.. As providencias q. athé agora temos dado p.ª obstar às práticas pagáns e profanas, excessos q. a mais rude e cega ignorancia não cessa de introduzir e conservar nas funcçoens do Culto Div.º com gravissima offensa da nossa S.ta Religião e da Moral Christám não têm conseguido pôr-lhes termo. As procissoens públicas, que, como diz(em) as Const. do Bispado, são desde os tempos Apostólicos instituídas para darmos ao Supremo Senhor de todas as coisas o culto q. lhe he devido e implorarmos da sua Div.ª Clemencia as Graças de q. carecemos p.ª nosso bem espiritual e temporal, as procissoens, dizemos, q., como actos de verdadeira Religião, demándão a maior modestia, reverencia e acatam.to mesmo
para q. todos os Fieis de edifiquem e môvão a religiozos sentim.tos, infelismente são invadidas por reprezentaçoens indecentes e escandalozos abuzos. Quem não tem visto não só p.r occazião de Romarias e festas religiozas mas ahinda nas procissoens e dentro dos mesmos Templos, reprezentaçoens theatraes e até sacrílegas, homens e mulheres talvez de má nota e vida desregrada, vestindo os hábitos e reprezentando S. João Evangelista, S.ta Maria Madalena, os Apóstolos e Evangelistas, S. Joze e a S.ma Virgem e athé mesmo a Div.ª Pessoa de J. C.?! E estas grosseiras e sacrílegas irreverencias, estas indignas e sempre prohibidas figuras vivas não se têm limitado às freguezias ruraes mas, coiza incrível, têm arrojado-se a entrar nas Vilas e Cidades e chegárão a encontrar ahi acolhim.to e applauso!! Era de esperar q. hum povo Fiel e Catholico se mostrasse com o andar dos tempos cada vez mais instruído na Doutrina Christám e nas máximas do Evang.º mas, por desgraça dos Séculos e effeitos das revoloçoens e da relaxação q. se introduz na mesma disciplina da Igreja, os povos têm hoje menos instrucção moral, menos piedade e devoção, por maneira q., quando em virt.e dos cargos q. occúpão nas Igrejas, a(s) Confrarias têm de fazer celebrar alguma Festevid.e (sic) religioza, esta(s) querem q. seja acompanhada d’outras Festas profanas, q. desvirtuam aquella, q. lhe offusquem o brilho e soffoquem (sic) as piedozas impressoens q. porventura houvesse produzido. E tem havido povos nesta Diocese (ou antes indivíduos q. os reprezêntão)26(176) q. não se lhes tendo permittido essas práticas pagáns, de involta com as Funcçoens religiozas, logo dezistírão destas, mostrando assim bem claram.te q. não era seu intento dar culto e gloria a D.s mas sim dar pasto ao vício e servir Satanaz. Assim he q. a ignorancia, a mal entendida devoção e athé a impiedade forcéjão de contínuo, rezistindo tenazmente à voz dos Prelados e às dispoziçoens Canónicas p.r introdução nas funcçoens espirituaes e nas mais augustas solemnid.es da Igreja as mais indecentes práticas e escandalozos abuzos. E tão avultados e audaciozos se têm elles tornado q. S. Mag.de F. houve por bem empregar o seu rial (sic) poder p.ª cohibilos, expedindo pela secretaria de estado dos N. Ecc. e de Justiça o Régio Avizo de 23 do Mez passado no qual entre outras providencias exhorta os Prelados do Reino a q.m por direito pertense (sic) estabelecer, regular e dirigir todas as
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O parêntese consta do texto mas falta o segundo traço.
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Procissoens e Funcçoens Sagradas a ado(p)tarem e expedirem as ordens q. mais adequadas e efficazes lhe(s) parecerem a fim de pôr termo a essas irregularidades e profanaçoens. Em vista pois das Régias determinaçoens e cumprindo o nosso dever sagrado, ordenamos: 1.º 1.º − (sic) Renovamos e instauramos p.ª a sua mais restricta observancia a Dispozição da Const. Diocez.ª no L.º 3.º, Tít. 2.º, Const. 2.ª emq.to (sic) prohibe q. sem nossa licensa (sic) se fáção Procissoens públicas ou particulares, excepto aquellas q. pela m.ma Const. da Diocesa são expressam.te permittidas.
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2.º A predita licensa (sic) será por escrito e p.ª a mesma se obter nos será previam.te aprezentado programa de toda a Festevidade (sic) religioza, isto he, hum requerim.to em q. se exponha tudo o q. se pertende (sic) fazer dentro e fora da Igreja, declarando se se pertende q. haja expozição do S.mo, q. o m.mo Augusto Sacram.to seja levado em pública e solemne Procissão ou se esta constará só de andor ou andores de alguns Santos, qual o giro q. deve ter em hum e outro cazo e se há todos os paramentos e alfaias necessarias para se celebrar com a devida decencia a religioza funcção. O R.do Párocho respectivo informará explicitam.te sobre as circunstancias referidas, fazendo as observaçoens q. forem convenientes p.ª evitar qualquer indecensia (sic), abuzo ou irregularidade. 3.º Suscitamos a rigoroza observancia do § 4 da nossa Circular de 10 de Julho do anno passado, na q.l prohibimos nas funcçoens religiozas as imagens vivas, permittindo somente os Anjos reprezentados p.r meninos menores de 10 a.s. E declaramos q. incorrerão nas penas decretadas no dito art.º de suspensão “ipso facto” aos Eccleseásticos e excommunhão maior aos Seculares q. dentro ou fora da Igreja a título de Função dos Reis ou dos Pastores ou qualquer outra pertenderem (sic) fazer auctos ou re-| 20 prezentaçoens, figurando a S.ma Virgem, S. Joze. S. João, os Apóstolos e Evangelistas e as S.tas mulheres e mais pessoas q. assistírão à Sagrada Paixão e morte de N. S. J. C. assim como as pessoas dos Santos da Igreja ou dos Patriarchas e Profetas do antigo Testam.to.
4.º Prohibimos q. se reprezentem comedias ou outros actos de passatempos profanos junctos (sic) à Igreja ou nos seus Adros ou q. se levantem teatros para taes reprezentaçoens nos ditos lugares ou em outros p.r onde houver de transitar alguma procissão nem emfim (sic) em qualquer parte q. possa ser avistada de algum ponto do trânzito (sic) da mesma procissão. E outros(s)im prohibimos q. durante o trânzito da procissão se não lansem (sic) foguetes ou outros fogos de artificio na occazião q. a mesma procissão vae passando, o q. só serve para distrahir e cauzar talvez dezordens e irreverencias. E cominamos a pena de excommunhão maior a todos os q. concorrerem para infringir as sobreditas dispoziçoens. 5.º Ordenamos q. se observe a Const. Dioc. q. determina q. nas solemnidades em q. houver expozição do S.mo Sacram.to haja pelo menos seis Eccleseásticos assistentes. E outros(s) im prohibimos q. os Pregadores leiam no Púlpito dorante (sic) a solemind.e da Festa as eleiçoens de mordomos chamados de Devoção, permittindo tão somente q. publiquem os nomes dos officiaes q. hão de servir a Confraria ou irmand.e na forma do seu estatuto e ainda estes, se excederem o número de quinze pessoas, não poderão ser proclamados do Púlpito sem nossa especial permissão. E os Pregadores q. o contrario fizerem, incorrerão “ipso facto” em suspensão do ministerio do púlpito. 6.º Insistimos em a nossa Pu(r)taria (sic) de 4 de Fevr.º aos R.dos P.cos do 3.º e 4.º Distr.º da Feira e agora a tornamos extensiva a todo o Bispado, ordenando q. nas Procissoens de Enterros ou de Festevidades (sic) se não admíttão Cruzes de particulares q. as quéirão levar por devoção ou por paga, devendo só ir nas Procissoens arvorada a Cruz parochial e as Cruzes das Confrarias ou irmandades q. acompanharem a mesma procissão. E os Reverendos P.cos ou quaesquer outras pessoas a q.m pertensa (sic) dirigir as ditas procissoens, q. admittirem as ditas Cruzes de particulares e bem assim as pessoas q. as alugarem ou levarem por si ou por outrem nas procissoens, incorrerão em suspensão “ipso facto” sendo Clérigos e em excommunhão maior a nós rezervada sendo leigos.
7.º Insistimos na Observancia da Const. 4.ª do Livro 4.º, Título II desta Dioceze em q. se determínão os sinaes q. se devem fazer pelos finados. E além daquelles q. ali se declárão, poderão tão somente fazer-se os mais q. por estatutos approvados de Irmand.es ou Confrarias se dêvão fazer pelos irmãos dellas e, havendo motivos attendíveis p.ª se permittir maior número de sinaes por finados, as respectivas Juntas de Paróchia poderão requerer para os determinarmos e taxarmos a esmola q. deverá pagar-se p.r cada sinal mais q. se fizer applicada p.ª a fábrica das respectivas Igrejas. E as pessoas q. contravierem a estas dispoziçoens incorrerão na pena de suspensão “ipso facto” sendo Clérigos e em excommunhão maior tambem “ipso facto” a nós rezervada sendo leigos. E p.ª q. assim se cumpra, esta Carta Circular será lida pelos R.dos P.cos da nossa Diocese à estação da Missa conventual e registada no livro de Vizita de cada Igreja. Dada no Porto sob nosso sinal etc. aos 13 de Maio de 1859 e eu Henrique da Silva Barboza, secret.º de S. Ex.cia R.ma, a escrevi. Antonio, Bispo do | 20 v Bispo do Porto. Está conforme. Pigeiros, 14 de Junho de 1859. O Abb.e Antonio Caetano Ozorio Gondim». 166 «Circular de 9 de Junho de 1859. D. An.to Bernardo da Fonseca Moniz, Bispo do Porto, do Con. co de (S.) M. F., Gram Cruz da Ordem de S. Thiago da Espada, Par do Reino. A todos os R.dos P.cos, Clero e Fieis da nossa Diocese saúde e paz em J. C. N. S.. O S.mo P.e Pio 9.º actualm.te prezidente na S.ta Igreja de D.s, cheio de charidade e solicitude pelo bem commum de seus Filhos e consternado pela assoladora guerra q. repentinam.te veio affligir e alagar em sangue a Itália sem q. se possa prever athé onde poderão alcansar (sic) suas terriveis consequencias, por sua Encíclica de 27 de Abril deste anno ordena e recommenda a todos os Prelados do Orbe Catholico q. em suas respectivas Dioceses institúão Preces públicas p.ª q. os Fieis, implorando o poderozissimo patrocínio da S.ma e Immaculada Virgem Mãi de D.s, orem e suppliquem instantem. te ao Pai das Misericordias q., pelos merecim.tos de nosso S. J.
C., afastando de nós a sua indignação e extinguindo a guerra em todos os confins da terra, a todos ilumine com Div.ª Luz da sua Graça e acenda nos Coraçoens o amor da Paz Christám, fazendo pois sua Omnipotente virt.e q. todos observem seus S.tos Mandam.tos, implorem o perdão dos peccados com coração contrito e humilhado e dest’arte, fugindo do mal e praticando o bem, caminhem pela vereda da Justiça e hájão entre si mútua charidade, conseguindo paz saudável com D.s, consigo mesmo e com todos os homens. Pelo q., annuindo de todo o Coração aos piedozos dezejos de Sua Santid.e, igualm.te acceitos (sic) ao paternal coração de S. M. F., ordenamos q. na nossa Sé Cathedral e em todas as Igrejas parochiaes da nossa Diocese em todos os domingos e dias S.tos de guarda por occazião da Missa Conventual se fáção preces públicas “pro bono pacis” emq.to (sic) durar a guerra na Europa e as m.mas Preces poderão fazer-se em quaesquer outras Igrejas desta Cidade e Diocese de manhám ou de tarde, como melhor convier nos ditos dias e pelo m.mo tempo e nas Freguezias ruraes poderão fazer-se p.r occazião da Missa de Pastores aonde concorra maior número de Fieis, ficando nesse cazo aliviados os Capellaens de fazer a Prática espiritual ordenada p.r nossa Circular de 6 (de) Dezembro de 1856 § 3.º. E os Sacerdotes assim nas Missas solemnes como privadas darão na Missa a Oração correspondente “pro bono Pacis” emq.to (sic) a Paz se não restabelecer na Europa. Outros(s)im Sua Santid.e p.ª mais afervorar a devoção dos Fieis e tornar suas Oraçoens mais profícuas, abrindo o thezouro da Igreja, concede Trezentos dias de Indulgencias a todos os Fieis q. devotamente assistirem e fizerem as ditas preces. E, além disso, em todo o tempo q. durarem as m.mas Preces concede o m.mo S.mo P.e aos Fieis huma vez cada mez Indulg.ª plenaria q. poderão lucrar no dia q. nela devotamente, digo, no dia q. dentro do d.º mez se confessarem e commungarem e vezitarem alguma Igreja, orando nella devotamente pela dita intensão (sic). E porq., além do açoite da guerra, parece, amados Filhos, q. o Senhor nos ameaça ahinda com o flagelo da fome com as contínuas e copiozas chuvas q. vão alagando os campos e destruindo as searas, p.r occazião das m.mas preces ordenamos e recomendamos a todos os nossos súbditos q. juntam.te com o bem da paz implorem da Div.ª Clemencia nos conceda a serenid.e do tempo necessario p.ª q. se póssão criar e recolher os fructos da terra, repetindo-se p.r 3 vezes nas Litánias tambem emq.to (sic) durar a necessid.e o versículo “Ut
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fructus terrae” na forma do Ritual e na Missa assim solemne como privada dirão os Sacerdotes a Oração “Ad petendam serenitatem” emq.to durar a necessid.e. | 21 Lembremo-nos, Amados F.os, q. são as nossas iniquid.es e impenitencia q. atrahem sempre os Castigos da Div.ª Justiça mas que tambem o Senhor não nos pune senão a seu pezar e q. o seu fim em castigar-nos he mover-nos à Contrição e reparação de nossos peccados. Não sejamos pois surdos ao trovão da sua voz, quando troa irado aos nossos ouvidos. Prostremo-nos ante os Altares do D.s da Paz e da charid.e e imploremos a sua Mizericordia, certos de q., se orarmos com o coração contrito e humilhado e com a confiansa (sic), perseveransa (sic) e charid.e christám, conseguiremos infalivelm.te q. o Senhor se compadeça de nós e nos conceda os bens temporaes e espirituaes q. lhe pedimos. Approveitemos tambem esta occazião de nos santificarmos, utilizando-nos da exuberantes Graças q. Sua Santid.e nos concede, abrindo p.ª isso os inesgotáveis thezouros da Igreja. E p.ª q. esta nossa Carta Pastoral chegue ao Conhescim.to de nossos Diocesanos e tenha execução o q. nella ordenamos, os R.dos Párochos a lerão a seus Freguezes no 1.º dia Santificado depois q. a receberem, dando nesse mesmo dia princípio às Preces públicas e a registrarão (sic) no L.º da Vezita das Igrejas. Dada no Porto sob nosso sinal e selo de nossas armas aos 3 de Junho de 1859. E eu Henrique da Silva Barboza, secret.º de S. Ex.cia R.ma, a escrevi. An.to, Bispo do Porto. Está conforme. Pigeiros, 14 de Junho de 1859. O Abb.e Antonio Caetano Ozorio Gondim». 167 (Ver Apêndice n.º 1) «Circular do Adm.or da Feira sobre o registo Parochial, recebida em 22 de Novembro de 1859 nove. Devendo o registo Parochial ser do 1.º de Janeiro de 1860 em diante formulado conforme as prescripções regulamentares do Decreto de 19 d’Agosto último e das instrucçoens e modelos juntos à Portaria circular dirigida pelo Ministerio dos Negocios Eccleseásticos e de Justiça aos Prelados Diocesanos em 8 d’Outubro último e determinando o artigo 3.º do m.mo Decreto q. os livros séjão fornecidos aos Párochos pelas respectivas Juntas de Paróchias, por isso communico às Juntas de paróchia:
1.º q. o registo parochial comprehende quatro espécies distinctas d’assuntos, convém a saber: os assentos dos Nascimentos, cazamentos e reconhecim.to e legitimação dos filhos; 2.º Os assentos hão de ser feitos em duplicado, havendo p.ª cada uma de suas espécies dous livros em tudo iguaes; 3.º q. em consequencia são precisos 8 livros, os quaes devem ser de bom papel e bem emcadernados (sic); 4.º finalm.te q. as Juntas de Paróchia procederão à compra dos indicados livros, não a retardando debaixo de pretexto algum, porq. no caso de não haver meios no cofre da Paróchia, tem a seu favor as providencias, contidas nos artigos 322 a 325 do Código administrativo.
| 21 v Depois de recebida a presente circular pela Junta de Paróchia d’uma freguezia, lhe porá o visto e fará enviar immediatamente à que se segue e pela última me será remettida a presente. Administração do Concelho da Feira, 17 de Novembro de 1859. O Adm.or Manoel de Lima Ferrás da Silva». «Cópia do Officio q. sobre os Livros do novo registro (sic) parochial vou remeter ao R.mo Vigario da Vara João Soares de Azevedo deste 4.º Distr.º da Feira. Ill.mo e R.mo Snr. Vig.º da Vara deste 4.º Distr.º da Feira: A Circular de 17 de Agosto, mandada cumprir por V. S.ª em 4 de 7br.º do corr.e anno, principiei eu a responder na mesma Circular mas conhescendo q. esta resposta devia ser dada em separado a V. S.ª dentro de 10 dias ou então cumprir agora. Q.to ao 1.º quezito (sic) respondo q. desde o 1.º de Janeiro do corr.e anno têm sido aqui feitos os Assentos parochiaes nos Livros devidam.te organizados e rubricados segundo o Decreto de 19 de Agosto de 1859 e respectivos modelos, fui eu q. os paguei com o meu dinheiro, esperando q. em todo este anno se reconsiderasse e abolisse tão monstruozo Decreto ou se mandassem distribuir por todos os P.cos os 8 livros competentem.te rubricados e gratuitos para os ditos Assentos; nenhumas providencias porém se têm dado e eu protesto não continuar a pagar à m.ª custa esses Livros nos a.s seguintes,
pois impor-me, além de tantas, mais essa contribuição annual he a maior sem razão, o maior dispotismo a q. eu me não sujeito mais p.ª satisfazer vaidozos e loucos caprichos. Ao 2.º Q(uezito), se não Comprasse os L.os à minha custa, ahinda hoje os não teria. Q. approveitou o dizer-nos o Ex.mo e R.mo Snr. Vig.º Cap.ar, quando mandou cumprir esse Decreto, q. nos entendêssemos com as Auctoridades Adm. as a q.m S. Ex.cia R.ma tinha escrito p.ª obtermos os meios de comprar os referidos L.os? Essas tão justas palavras fôrão inteiram.te ocas, p.r q. eu requeri ao Adm.or, este respondeo q. requeresse à Câmara deste Con.co da Feira; esta finalm. te nenhum despacho deo ao meu requerim.to, mandando-me dizer verbalm.te pelo seu escrivão Joaq.m Teix.ra q. requeresse ao Gov.or Civil em Aveiro mas q. p.ª isto era mister juntar hum attestado de dous Livreiros por onde provasse o custo dos L.os, fazer a derrama por meus parochianos, publicá-la, dar-lhes os dias da Lei e do costume p.ª requererem os q. se julgassem offendidos, entregar o rol dessa derrama à Câmara p.ª lhe pôr a sua confirmação e depois mandar eu hum homem a Aveiro solicitar a auctorização da derrama pelo Gov.or Civil deste Distr.º!!!!!... Fiquei admirado desta rezoloção (sic) Camarária, porq. homem nenhum de inteligencia e de descrição vai daqui a Aveiro menos de 4$800 rs. de paga, fora ahinda as desp.as do processo. Ora ter tantos trab.os e gastar huma moeda p.ª obter (se se al- | 22 cansasse) (177) meia moeda ou pouco mais, he contrato q. homem nenhum de senso commum faria. Não quiz (sic) continuar nesse jogo de cabra cega e paguei à m.ª custa com firmissima rezoloção de não repetir. Espalhou-se na minha paróchia a notícia de q. se ia lansar (sic) finta annual p.ª os ditos L.os, fôrão logo os parochianos aconselhar-se e consultar hábeis Letrados e todos lhes respondêrão “Que hum Decreto não pode impor contribuiçoens: q. podíão oppor-se e q. os defenderíão”. Voltárão elles m.to contentes e firmem.te rezolutos a não pagar nem hum único rial (sic), proclamando por toda a parte “Ai daquelle q. fizer a derrama p.ª os oito L.os”. No Domingo 8 de Julho do corr.e anno pedi ao Adm.or deste Con.co Manoel de Lima q., quando derramasse pelo meu povo os trinta mil rs. da minha côngrua annual, lhes addicionasse mais 3 ou 4 mil rs. p.ª os referidos L.os mas qual foi o meu
Assombro quando o Adm.or me respondeo: Que isso excedia as suas attribuiçoens: que não podia fintar sem lei (178). Então o Adm.or não pode e há-de poder o pobre párocho! Ah! Justiça de D.s! Justiça de D.s! apelamos p.ª ti! porq. a justiça dos homens he desta forma!!!!!! 3.º Quesito, respondo q. só mandando-se esses oito L.os annualm.te p.ª cada Paróchia, legalm.te rubricados e gratuitos todos, ou seja, à custa do Governo de S. M. ou dos Snr.s Bispos, he q. o monstruozo Decreto se executará; o tempo há-de mostrar q. esse Decreto he muito prejudicial; sei q. em muitas paróchias se não fazem a maior parte dos Assentos pelo pueril trab.º q. cáuzão. E se dantes, quando se fazia hum só, não havia tempo p.ª o fazer, q. diremos agora q. esses Assentos se fazem em duplicado? He certo q. os Párochos de pequenas paróchias, na sua maior parte, todos estão m.to mal congruados e q.m paga mal, não (tem) direito de ser bem servido. Repito, Ill.mo Snr, e em voz bem alta p.ª q. V. S.ª faça constar a todos os nossos Superiores assim Eccleseásticos como Seculares q. eu não torno mais a comprar os referidos L.os à minha custa (179), q. não há meios nesta nem nas paróchias deste destrito (sic) q. eu conhesço para comprar esses L.os annuaes sem contribuição e ella he illegal e o povo bem o sabe: que, acabando o prezente anno, se me não mandarem os oito Livros todos gratuitos, rubricados e promtos (sic), eu mais não cumprirei o Decreto e escreverei os Assentos pelo antigo sistema no Livro antigo q. havia antes comprado também à minha custa e q. está ahinda quase vazio: não há meios para o necessario e há de havê-los para caprichos? Chove-me em toda a Igreja: não tenho nella Altar onde |22 v onde não chova e precizaremos daqui em diante celebrar cobertos com hum guarda-chuva; não tem athé aqui havido paramentos para celebrar Missas particulares; os das festas públicas vão-se pedir emprestados; há um conflicto a este respeito entre os Padres e o povo desta paróchia. Os Padres querem contribuir com suas esmolas para os paramentos mas querem q. os Parochianos seculares contribúão tambem, estes porém dizem q. quem rompe os paramentos q. os pague! Nestas circunstancias nada se faz: eu achei farrapos q.do vim, tenho comprado cíngulos, corporaes e tudo a q.to posso chegar; remendárão-se emq.to segurárão ponto e há já annos
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O parêntese consta do texto.
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No texto não está sublinhado mas em tipo maior. No texto não está sublinhado mas em tipo maior.
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q. aqui se celebra cobertos de farrapos q. muito provócão a(s) lágrimas e às vezes o rizo. Já em vezitação no meu tempo, em 1840, fôrão pelo R.mo Vizitador Luiz Mor.ª Maia capitulados os paramentos, Missal, Ritual, estola parochial, sobrepeliz, os telhados e vidros das frestas etc. etc., obrigando-me a tirar cópia de todos esses capítulos e remettê-los em officio Ao (sic) Adm.or Civil p.ª este partecipar (sic) ao Adm.or Geral a fim de q. o mesmo desse as providencias segundo a Legislação novíssima, são formaes palavras escritas naquella Vizitação. Eu cumpri: mandei cópia dos referidos capítulos p.ª o Adm.or do Con.co q. então era o D.or Bernardino Maciel Rebello de Lima q. ahinda vive e elle remetteo tudo para Aveiro ao Adm.or Geral (hoje Gov.or Civil) (180) e ahinda hoje espero pela resposta!!! Cansado de esperar, queixei-me ao Adm.or Bernardino Maciel e tive em resposta q. nada podia eu esperar p.r q. em Aveiro se seguia geralm.te este princípio: A religião he negocio de D.s, dos Padres e do Povo: lá se entêndão huns com os outros como podérem (sic): se alguém não quizer (sic) telhar, reparar e adressar a sua caza (sic), nós não o podemos obrigar: o mesmo devemos praticar com a Igreja. À vista de tão estranha rezoloção (sic) dirigi-me ao Ex.mo Snr. Bispo D. Jerónimo, pedindo-lhe a sopressão (sic) da minha paróchia ou aceitasse a demissão da minha parochialidade mas elle exhortou-me e applicou-me o remédio geral da paciencia e da fortaleza. Repeti a minha demissão por huma carta ao B.º D. Antonio e tive a mesma resposta. O Governo Civil do Destricto continua a ler pela mesma cartilha pois sem grandes protecçoens nada para a Igreja se obtém em Aveiro; a experiencia me ensina isto mesmo, pois vai em 2 a.s q. requeri huma finta p.ª telhados, pram.tos e tapagem do Adro q. serve de cemiterio, foi tudo legalm.te documentado; mandárão q. o Adm.or M.el de Lima informasse sobre a pertensão (sic) desta Junta; elle informou q. era justissima; voltárão os papeis p.ª Aveiro e lá ficou o negócio adiado athé às Calendas Gregas! Espérão empenhos! Mas eu nunca incommodei os meus amigos p.ª obter o q. he de justiça. Os telhados|23 da Igreja das duas Sacristias estão arruinadíssimos: a armação já deve estar quase podre e talvez em breve tenha de dezabar (sic), fazendo mais ou menos víctimas; há annos abri huma subscrição p.ª o concerto mas ninguém concorreo; requeri
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O parêntese consta do texto.
a Aveiro com todas as formalidades do Código Adm. e nada obtive e foi precizo (sic) q. tudo ameaçasse ruína e q. eu com alguns homens mais influentes fôssemos por toda a paróchia pedir de porta (em porta) e pedir-lhes a todos quaze (sic) com o joelho em terra e as mãos erguidas p.ª juntarmos só 4.000 rs. q. apenas chegárão p.ª remediar os telhados, quando elles precízão ser feitos todos de novo e não se evitando dezastres (sic), cuja imputabilidade vá depois a quem pertenser (sic). V. S.ª sabe q. eu cumpro exactam.te a Lei q. prohibe os enterram.tos dentro das igrejas, enterrando-se no Adro q. está servindo de cemiterio mas o Adro está aberto por todos os lados, ali êntrão quadrúpedes de toda a espéc(i)e, que ali pástão dia e noute e não será p.ª admirar q. algum Cadáver appareça dezenterrado (sic) pelos animaes: o povo mesmo recuza (sic) vedá-lo porq. espera por algum dezacato (sic) aos cadáveres p.ª tornar-se (a enterrar) na Igreja; todas as Auctoridades sabem isto e fêxão (sic) os olhos! Aqui não tem havido athé agora senão farrapos em vez de paramentos e nem um véo de hombros nem bom nem mao, tendo havido p.ª levar aos enfermos o sagrado Viático, e, se tudo está agora melhor, deve-se à compaixão q. de nós teve a Ex.ma Junta da Bulla mas taes generosidades não costúmão repetir-se. Se os Snr.s Bispos viessem, como tanto lhes cumpria vizitar, às suas Igrejas, elles solicitaríão ao Governo de S. M. F. a dotação do Clero e das fábricas das Igrejas e a supressão ou anexação das pequenas paróchias. Mas não se dá esse passo tão necessario! Tápão-se os ouvidos p.ª não ouvirem e os olhos p.ª não verem!!! He pois sobre elles q. devem pezar (sic) as responsabilidades de tantas indecensias (sic) e de todos os dezastres q. póssão acontecer. Já dice (sic) e repito a V. S.ª em voz bem alta q. he urgentíssimo q. se verifiquem huma de duas: ou a annexação desta paróchia a qualq.r outra das circu(m)vizinhas ou então juntar-se-lhe pelo menos outro igual n.º de fogos. Huma paróchia de cem vizinhos, tirando-se os proletários q. não podem concorrer com coiza (sic) alguma e depois tirando dos ricos os q. p.r avareza ou p.r falta de religião não querem gastar com a Igreja 5 rs., q. contribuintes fícão? He precizo ser m.to destituído do senso commum p.ª não conhescer a força deste argumento. Espero q. V. S.ª leve este tão enfadonho q.to verdadeiro relatorio ao conhescimento de q.m pertense e q. fique bem gravado na memoria q. sem me mandarem a esta minha
rezidencia os 8 livros annuaes competentem.te rubricados e tudo gratuitam.te não continuarei a cumprir mais o Decreto de 19 de Agosto de 1859, seguindo o antigo costume embora me tirem a Igreja: com ella tenho despendido (sic) mais do q. recebi-|23 v recebido. Este officio fica todo copiado no L.º das Vezitaçoens desta
Igreja a f. 22-v p.ª q. a todo o tempo se conhesça q. não tenho sido cão mudo. Pigeiros, 12 de Setembro de 1860. O Abb.e Antonio Caetano Ozorio Gondim». Está conforme. O Abb.e Ozorio».
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MINUTO Manuela Correia*
Ao longe abetos tão cerrados ao perto sombras macilentas O que me assalta de improviso o que me isola de indiferença
Casas torres árvores frutos nada me dizem nem pergunto De tão alada e imprecisa nada quero neste minuto
* Nasceu na aldeia de Cabrum, concelho de Vale de Cambra, em 1961. Em Vale de Cambra, durante a frequência do liceu, aprendeu o gosto pela poesia. Iniciou a sua actividade profissional aos 18 anos e aí viveu durante anos. Actualmente exerce a sua actividade profissional no Porto e reside em Santa Maria da Feira, Vila Boa. Tem colaborado em muitas sessões e tertúlias de poesia. Livros publicados: - “As nuvens não são mais de algodão”, de 2000. - “Poemas Tri Angulares”, de 2002. - “Interlúdio d’ Eros”, de 2003. - “Escritos de Areia” de 2005.
AS DUAS «CANTIGAS MEDIEVAIS” de Manuel Bandeira Maria da Conceição Vilhena* O predomínio da afetividade sobre o pensamento lógico constitui a característica principal da lírica medieval galegoportuguesa. Poesia mais sentida que pensada, ela é a expressão do arrebatamento sentimental dos trovadores, obsessivamente fixados num exacerbamento amoroso feito de desajustamento e de dor. Em vez de se abandonar ao prazer estético de descrever a amada ou os seus transportes sentimentais, o trovador prefere o intimismo tímido da confissão e do suspiro. Daí a restrição retórica que dá uma impressão de carência estilística, mas que é antes o resultado desta supremacia dada aos efeitos que a paixão produz na alma do amante. O trovador renuncia aos adornos estilísticos, porque eles o distraem daquilo que lhe ocupa totalmente o espírito: seu amor profundo e constante, tornado obsessivo pelo desespero da não realização. Ao contrário, o estilo tautológico aparece-lhe como a técnica que melhor lhe permite exprimir os seus anseios. O recurso da repetição destina-se assim a obter um efeito procurado e querido: a expressão de um estado de espírito atormentado e suplicante. O teor repetitivo está pois a serviço de uma verdade
psicológica e não traduz de nenhum modo uma deficiência da arte trovadoresca. Impedindo o poeta de se afastar do núcleo afetivo do poema, ele permite uma concentração do sentimento que, de outro modo, correria o risco de se espraiar em múltiplas emoções; paralelas ou convergentes essas emoções, que poderiam representar certo interesse estético, contribuiriam certamente para a desintegração da intensidade da paixão, única realidade que o trovador deseja transmitir. O paralelismo e o refrão são os meios de repetição mais utilizados pelos trovadores. Ao mesmo tempo que permitem ao poeta jogar artisticamente com as palavras, constituem o processo eficaz de imprimir à cantiga uma energia expressiva, capaz de traduzir a obsessão amorosa do amante. São portanto dois tipos de técnica de reiteração praticados conscientemente pelo trovador, visando a atingir um determinado objetivo. Ora, na poesia contemporânea, nós encontramos igualmente a utilização desta técnica considerada como característica da poesia medieval. Não que os poetas dos nossos dias tenham a intenção de reconhecer o predomínio da afetividade sobre o pensamento; ou que o seu lirismo esteja contido dentro das fronteiras da paixão sentimental. O poeta contemporâneo vive uma lucidez fecundada de sonho, feita da interpenetração do sentimento e do pensamento. Aberto aos problemas da sua época, recorre aos processos de reiteração a fim de dar maior realce ao conteúdo da sua mensagem e de
* Licenciada em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras de Lisboa, 1965. Doutoramento de Estado ès-Lettres, pela Sorbonne, Paris, 1975; Professora Catedrática. Lecionou na Universidade de Aix-en-Provence, França; na Universidade dos Açores; na Universidade Aberta de Lisboa e na Universidade da Ásia Oriental, em Macau. Tem publicado perto de cento e cinquenta trabalhos (livros e artigos) sobre literatura, linguística, etnografia e história. Atualmente é aposentada e Presidente Honorária e Vitalícia da Associação de Solidariedade dos Professores.
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a fazer penetrar mais profundamente no espírito do leitor1. É o caso desta poesia de António Gedeão: Calçada de Carriche Luísa sobe, sobe a calçada, sobe e não pode que vai cansada, Sobe, Luísa, sobe que sobe, sobe a calçada.
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Saiu de casa de madrugada; regressa a casa é já noite fechada. Na mão grosseira, de pele queimada, leva a lancheira desengonçada. Anda Luísa, Luísa sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. A repetição da 1ª estrofe à maneira de refrão tem como efeito uma intensificação dos sentimentos que o conteúdo da poesia em nós desperta. Dá-nos como que a visão da personagem, mergulhada na sua vida de sacrifício diário, feita de atos repetidos automaticamente e sem esperança; e assim o poema ganha em profundidade e valor estético. Se a compararmos a esta cantiga paralelística, veremos como é idêntico o efeito produzido pelo refrão: Sedia-me eu na ermida de San Simion e cercaram-mi as ondas, que grandes son. Eu atendendo o meu amigo, eu atendendo o meu amigo! Estando na ermida ante o altar, e cercaron-mi as ondas grandes do mar. Eu atendendo o meu amigo, eu atendendo o meu amigo!2. 1 Uma predileção muito acentuada pelo paralelismo se nota na poesia de Cecília Meireles, Mário de Andrade e José Régio. 2 Mendinho, CV, 438, CBN, 852.
Outro procedimento medieval igualmente utilizado pelo poeta contemporâneo é o do paralelismo semântico. A ideia expressa na primeira estrofe, repetindo-se sem alteração nas estrofes seguintes, penetra com acuidade no espírito do leitor e aí se fixa. Ao mesmo tempo que traduz um sentimento obsessivo ou uma ideia fixa do poeta, o paralelismo semântico contém uma força de persuasão irresistível. A emoção estética que produz impõem-se ao leitor com uma violência que arrebata e domina: As colunas partiam de madrugada As colunas partiam de madrugada para o norte partiam para a morte partiam de Luanda flor pisada levavam morte de Luanda para o norte. De Luanda partiam flor pisada colunas que levavam Luanda para o norte para a morte de Luanda partiam madrugada. De Luanda madrugada para o norte as colunas partiam Levavam de Luanda a flor pisada para a morte do norte para a morte.3 A quase totalidade das cantigas medievais são assim construídas: uma ideia ou um sentimento que se exprime numa primeira estrofe e que depois, por palavras diferentes, ou as mesmas combinadas em novos sintagmas, se repete nas estrofes seguintes: Non sei oj’, amigo, quen padecesse coita qual padesco que non morresse, se non eu, coitada, que non nacesse, porque vos non vejo com’eu queria; e quisesse Deus que m’escaesesse vos que vi, amigo, en grave dia.
3 Manuel Alegre, O canto e as armas, p. 35.
Non se, amigo, mulher que passasse coita qual eu passo que já durasse que non morress’ou desesperasse, porque vos non vejo com’eu queria; e quisesse Deus que me non nernbrasse vos que vi, amigo, en grave dia. Non sei, amigo, quen a mal sentisse que eu senço que o sol encobrisse se non eu, coitada, que Deus maldisse, porque vos non vejo com’eu queria; e quisesse Deus que nunca eu visse vos que vi, amigo, en grave dia. 4 Tudo o que tinha a dizer, D. Dinis o disse na primeira estrofe. Nas seguintes nada acrescentou e nada suprimiu. Não há o desenvolvimento de uma ideia, ou a descrição de um sentimento em várias etapas. Há apenas o aprofundar de uma impressão inicial que se grava cada vez mais, à medida que vamos lendo. No campo de temática, também os poetas contemporâneos manifestam uma certa predileção por temas cultivados na época medieval. As flores do “verde pino”, criadas pela imaginação poética de D. Dinis, inspiram a Afonso Lopes Vieira o poema a que deu o título de “Pinhal do Rei”. O poeta medieval ouve-as em diálogo com a donzelinha que deseja notícias do seu bemamado. Mensageiras da felicidade, elas lhe dão a esperança de um breve regresso: - Ai, flores, ai flores do verde pino, se sabedes novas do meu amigo? Ai, Deus, e u é? - Vos preguntades pelo voss’amigo ? E eu ben vos digo que é san’ e vivo. Ai, Deus, e u é? Para o poeta contemporâneo, as flores do “verde pino” são antes as mensageiras da saudade. Interrogadas por ele, já não respondem, limitando-se a suspirar num cântico em que “se alonga e se prolonga a longa voz do mar”:
4 D. Dinis, CV 207; CBN 568.
Catedral verde e sussurante, aonde a luz se ameiga e se esconde e aonde ecoando a cantar, se alonga e se prolonga a longa voz do mar: ditoso o “Lavrador” que, a seu contento por suas mãos semeou este jardim; ditoso o Poeta que lançou ao vento esta canção sem fim... Ai flores, ai flores do Pinhal florido, que vedes no mar? Ai flores, ai flores do Pinhal florido, rei D. Dinis, bom poeta e mau marido, lá vem as velidas bailar e cantar.5 Inspiração nos cancioneiros medievais. Continuidade e permanência temática. Reutilização de técnicas. Tudo o que permite e produz determinadas semelhanças, sem dúvida. Mas semelhanças que não apagam as múltiplas e sensíveis diferenças resultantes de uma nova maneira de pensar e de sentir; de tudo o que comporta a expressão de uma mentalidade e de uma sensibilidade posterior, de oito séculos. Entre os poetas contemporâneos de inspiração medieval, Manuel Bandeira ocupa um lugar muito especial, pelo tipo de imitação perfeita, total, que foi capaz de realizar e que revela uma particular capacidade de desdobramento de personalidade.6 A sua personalidade poética é das mais ricas da nossa época. De uma independência de espírito extraordinária, Manuel Bandeira impressiona-nos pela sua capacidade de se exprimir em formas múltiplas e variadas. É um modernista capaz de tornear com perfeição uma estrofe rigorosamente geométrica; é um parnasiano aberto à inovação, um técnico exuberante de virtuosismo e um diletante das formas, cultivando com o mesmo à vontade e a mesma segurança tanto o verso livre como o verso metrificado e rimado. O seu lirismo prodigiosamente facetado permitiu-lhe ser tão autêntico quando tratava um tema novo, como quando poetava “à maneira de”. Aprendeu dos clássicos; e, aprendendo, decorou. Decorando, assimilou; e repetiu. Repetindo, continuou.
5 De Ilhas de Bruma 6 Não pretendemos fazer aqui um estudo das raízes tradicionais ou da influência portuguesa na poesia de Manuel Bandeira, mas apenas analisar as duas poesias a que o próprio poeta chamou «medievais».
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Gosta de fazer incursões no passado e de se abandonar às Musas dos mestres. Muitos dos seus poemas são feitos durante o sono. Ao acordar, procura recompô-los; e vê então surgirem-lhe versos de poetas que admira.7 As suas poesias “à maneira de” são exercícios de ginástica espiritual, em que põe à prova a sua sensibilidade às influências e a sua admirável capacidade de imitação. A propósito dos versos que escreveu em francês, Manuel Bandeira explica: “Esses versos me saíram em francês, sem que eu saiba porquê”. Mais tarde, parecendo-lhe que exprimiam uma certa pretensão, decidiu traduzi-los. Esforçou-se nesse sentido, tentou, mas fracassou. Não valia a pena “forçar a mão”. Esses poemas foram “gerados” em francês e só em francês existiam no seu espírito. Segundo o próprio poeta afirma, a sua poesia não é o resultado da vontade nem do esforço. O seu trabalho de poeta não consiste em “fazer”, mas sim em “escutar”. O poema flutua nele por algum tempo e, de repente, surge. Mais que labor, há no poeta abertura e obediência à inspiração. A qualquer hora do dia ou da noite, a emoção ritma-se em versos e estrofes que, num jato, se impõem ao papel ou à memória. Num dado momento da sua vida, aí por 1921, Manuel Bandeira é tentado a destruir todas as suas poesias em que mais sente a influência de outros poetas, como “Mulheres”, “Não sei dançar”, “Pensão familiar”. É Mário de Andrade que o dissuade de tal propósito, explicando-lhe que essas poesias “à maneira de” são “o que há de mais Manuel”. E são-no na medida em que permitem a expressão de uma personalidade rica e multifacetada, que cria e repete com a mesma autenticidade; que se “molda” e “incarna”, sem deixar de ser ele próprio. Aos 52 anos Manuel Bandeira nada conhece ainda de lírica trovadoresca galego-portuguesa, segundo confessa no seu Itinerário de Pasárgada (p, 97). Tendo sido nomeado professor de Literatura no Colégio Pedro II, em 1938, as suas ocupações docentes levamno então a ler os cancioneiros medievais; e sente-se completamente conquistado pelos trovadores. Leu-os durante
7 «O trabalho de composição está em eu ter adequado às circunstâncias ele minha vida fragmentos de poetas queridos e decorados em minha infância» (Itin. de Pasarg., p. 83).
meses seguidos; e com tanto prazer o fez que não consegue mais libertar-se do seu encanto: “Li tanto e tão seguidamente aquelas deliciosas cantigas que fiquei com a cabeça cheia de “velidas” e “mha senhor” e “nula ren”; sonhava com as ondas de mar de Vigo e com romarias a San Servando. O único jeito de me livrar da obsessão era fazer uma cantiga (a obsessão era sintoma de poema em estado larvar). Escrevi o cantar de amor no vão propósito de fazer um poema trecentista” 8. Aqui estão pois as circunstâncias e os motivos ligados à criação dos poemas medievais de Manuel Bandeira. A sua génese confirma assim a afirmação do poeta de que nunca fez poesia quando quis, mas sim quando ela, poesia, quis. Os poemas medievais a que Manuel Bandeira alude são “Cantar de Amor” e “Cessante”. No entanto há um terceiro que também denota uma certa influência medieval, a começar pelo próprio titulo, “Cantiga de Amor”: Mulheres neste mundo de meu Deus Tenho visto muitas - grandes, pequenas, Ruivas, castanhas, brancas e morenas. E amei-as, por mal dos pecados meus! Mas em parte alguma vi, ai de mim, Nenhuma que fosse bonita assim! Andei por S. Paulo e pelo Ceará (não falo em Pernambuco, onde nasci) Bahia, Minas, Belém do Pará... De muito olhar de mulher já sofri! Mas em parte alguma vi, ai de mim, Nenhuma que fosse bonita assim! Atravessei o mar e, no estrangeiro, Em Paris, Basileia e nos Grisões Lugano, Génova por derradeiro, Vi mulheres de todas as nações. Mas em parte alguma vi, ai de mim, Nenhuma que fosse bonita assim! Mulher bonita, não falta, ai de mim! Nenhuma porém, tão bonita assim! 9.
8 Itin. de Pasarg. p. 97. 9 M. Bandeira - «Lira do Brigadeiro», in Poesia completa e prosa, p. 482.
Temos de concordar que é diferente das cantigas de amor medievais: no pormenor das cores de pele e tamanho das mulheres, e na nota local que é dada pela referência às várias cidades e regiões brasileiras e europeias. No entanto o fundo é o mesmo: o poeta conhece uma mulher que é mais bela que todas as outras, como era sempre a amada do trovador. A forma é igualmente característica da poesia medieval: três estrofes de quatro versos, seguidas de refrão, e terminando por um remate de dois versos à maneira de finda 10 A predileção de Manuel Bandeira pelas cantigas medievais pode ser talvez explicada em parte pela sua paixão pela música. Conforme confessa, muitas vezes tentou “estruturar os seus versos segundo uma severa arquitetura musical”. No poema “Evocação do Recife”, as duas formas Capiberibe Capibaribe têm uma intenção musical: a alternância a-e davalhe a impressão de um acidente “como se a palavra fosse uma frase melódica dita da segunda vez com bemol na terceira nota”11 . Se a compararmos com esta de João Garcia de Guilhade, veremos como são flagrantes as semelhanças: Vy oj’eu donas mui ben parecer e de muy bon prez e de muy bon sen e muyt’amigas son de todo ben, mays d’ua moça vos quero dizer: de parecer venceu quantas achou hua moça que x’agora chegou (CV,35-1)
Andey, senhor, Leon e Castela, depois que m’eu d’esta terra quitei, e non foy y dona, nem donzela, que eu non viss’, e mais vos eu direi: quantas mais donas, senhor, alá vi, tanto vos eu mui mais precei des y. (CV, 536) Ora a poesia medieval estava intimamente ligada à música. Cultivada numa época em que o livro quase não existia e nem a leitura constituía uma ocupação do espírito, o cântico era a forma habitual de existência que conhecia a poesia em língua vulgar. O refrão e o paralelismo estrutural são formas características duma poesia que se destinava a ser cantada e dançada. A rima própria das cantigas paralelísticas é a assonância, em que alternam as vogais i-a, i·e, ou i-o. Manuel Bandeira, que tanto apreciou o efeito produzido pela alternância de e-a em Capiberibe-Capibaribe, não deve ter ficado indiferente à assonância das paralelísticas. Tanto mais que aquela, realizada a nível das vogais átonas, é bastante menos sensível que esta, que se realiza sempre entre vogais em posição tónica: amigo – amado mentido – jurado amigo – flores navio – amores Simion – altar son – mar
E igualmente com estas duas de João Airas de Santiago: Vi eu donas, senhor, en cas d’el-rey, fremosas e que pareciam ben e vi donzelas muytas hu andei e mha senhor, direi-vos hua ren: a mais fremosa de quantas eu vi long’estava de parecer assí. (CV,534)
10 De sabor medieval nos aparece ainda esta «Cantiga», mais como reminiscências dada pela repetição das sequências «ondas do mar» e «ondas da praia», ao que pelo todo do seu tema ou da sua forma: Nas ondas da praia Nas ondas do mar Quero ser feliz Quero me afogar (Estrela da Manhã) 11 Itin. de Pasarg. pp, 37-39.
Na sua cantiga paralelística, a que deu o nome de «Cossante», foi este o tipo de rima que utilizou: Ondas da praia onde vos vi, Olhos verdes sem dó de mim, Ai Avatlântica! Ondas da praia onde morais, Olhos verdes, de ondas sem fim, Ai Avatlântica ! Olhos verdes sem dó de mim, Olhos verdes inter-sexuais, Ai Avatlântica!
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Olhos verdes de ondas sem dó, Por quem me rompo, exausto e só, Ai Avatlântica! Olhos verdes, de ondas sem fim, Por quem jurei de vos possuir, Ai Avatlântica! Olhos verdes sem lei nem rei Por quem juro vos esquecer, Ai Avatlântica!12
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O esquema estrófico utilizado por Manuel Bandeira é o esquema próprio da paralelística estrutural, constituído por dísticos seguidos de refrão. No entanto o poeta não o praticou com rigor absoluto. Segundo os cânones medievais o 2º verso do 1º dístico é repetido como 1º do 3º dístico; e o 2º verso do 2º dístico, como 1º do 4º dístico, e assim sucessivamente. Ora foi aqui que o poeta falhou, certamente por obediência à sua inspiração que lhe terá ditado em verso um pouco diferente. Todavia, esta pequena infração à lei permitiu-lhe uma rima mais variada, com alternâncias em i-a, i-o e i-e, numa mesma cantiga. Quanto à temática, ela é igualmente medieval, embora associe dois temas que os trovadores sempre cultivaram separados. O primeiro verso transporta-nos imediatamente à tão bela e tão conhecida barcarola (ou marinha) de Martin Codax: Ondas do mar de Vigo, se viste meu amigo! e ai Deus, se verra cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado! e ai Deus, se verra cedo!13 O segundo verso faz-nos recordar uma cantiga de João Garcia de Guilhade, em que uns olhos verdes são a causa do tormento do poeta:
12 «Lira dos cinqüent’anos» ln Obras Poéticas, p. 299. 13 C. V. 884; CBN. 1278.
Amigos, non poss’ eu negar a gran coita que d’amor ei, ca me vejo sandeu andar, e con sandece o direi: Os olhos verdes que eu vi me fazen ora andar assi. Pero quen-quer x’entendera aquestes olhos quaes son; e d’est’alguen se queixara; mais eu, ja quer moira, quer non: Os olhos verdes que eu vi me fazen ora andar assi. Pero non devi’a perder ome, que ja o sen non a, de con sandece ren dizer; e con sandece dig’ eu ja: Os olhos verdes que eu vi me fazem ora andar assi14(14). Notemos entretanto a diferença de atitude dos dois poetas. João Garcia está apaixonado por alguém que tem uns olhos verdes e que o faz enlouquecer de amor. Manuel Bandeira canta uns olhos verdes intersexuais e impiedosos que o atraem e o repelem; que levam o poeta a desejar simultaneamente possuí-los e esquecê-los. Simples jogo poético, sem relação com a vida real dos sentimentos. Ao contrário, João Garcia parece cantar um sentimento autêntico. De maneira velada, dá a entender quem é a pessoa por quem está apaixonado. De tal modo aprecia o encanto dos olhos verdes, uma novidade na poesia trovadoresca, que os faz figurar novamente numa das suas cantigas de amigo. Passado o entusiasmo da paixão, agora é a amada que se queixa da indiferença do amigo perante a sua beleza: Vedes por que o digo assi, por que non a no mundo rei que visse o talho que eu ei que xe no morresse por mim. Siquer meus olhos verdes son, e meu amigo agora non me viu e passou per agui15. 14 João Garcia de Gullhade, CA, 229. 15 Guilhade, CV, 344.
O refrão “Ai Avatlântica” sugere apenas os suspiros do apaixonado. Nada acrescenta à cantiga, mas está-lhe intimamente ligado. O seu conteúdo semântico é vago, no entanto possui uma força de visualização muito rica. “Avatlântica” é uma palavra criada pelo poeta que engloba dois elementos em relação com a dupla temática dos olhos verdes e das ondas do mar. Ave, a corporização e o símbolo desse alguém exuberante de vida que se agita e agita os sentimentos do poeta. Atlântico, a realidade envolvente, associada aos olhos verdes por semelhança e por contiguidade. É o mar em que se produzem as ondas que beijam a praia onde o poeta a viu; mas é também o símbolo da profundidade daqueles “olhos verdes de ondas sem fim”, “olhos verdes sem lei nem rei”, livres e indomáveis como o mar. Os “refrães-suspiro” paralelísticas:
são
frequentes
nas
cantigas
“Ai, mia senhor velida!16 Ai, madre, moiro d’amor!17 Algumas vezes traduzem a inquietação e a dúvida pelo emprego da forma interrogativa: Ai, Deus, e u é?18 Ai, Deus se verra cedo?!19 O refrão utilizado por Manuel Bandeira, na medida em que é formado por uma palavra não lexicalizada, situase no mesmo plano do de várias cantigas medievais, cuja interpretação oferece dificuldade até hoje insuperáveis. É o caso desta poesia de Pedro Eanes Solaz : Eu velida non dormia, lelia doura, e meu amigo vénia, edoi lelia doura. Non dormia e cuidava, lelia doura, e meu amigo chegava, edoi Ielia doura. 16 João Narro, CV, 754. 17 D. Dinis, CV, 169. 18 Idem, CV, 101 19 Martin Codax, CV, 884.
“Edoi Ielia doura, leli” são palavras desconhecidas na lírica galego-portuguesa; e a oito séculos de distância, é impossível descobrir o sentido que elas teriam tido para o poeta, ou o que poderiam então sugerir, Estribilho árabe, como pretende Brian Dutton?20 Reminiscência de fórmulas mágicas? Ou simples combinação de sons, sem conteúdo, que serviriam apenas como suporte musical, como os atuais estribilhos “O í ó ai”, “Ó ai ó linda”, “Tiro liro liro”? Igualmente misterioso e indecifrável é o desta cantiga de D. Dinis: – e que morredes, filha, a do corpo velido? – Madre, moiro d’amores que mi deu meu amigo. Alva e vai Iiero, – De que morredes, filha, a do corpo Ioução? – Madre, moiro d’amores que mi deu meu amado. Alva e vai liero. Trata-se de um refrão semanticamente dissociado do corpo da cantiga, o que não é de modo algum um caso isolado, pois o refrão podia continuar e completar o sentido da estrofe ou ser-lhe completamente alheio. O que torna impenetrável o seu sentido é a presença da última palavra, “liero”, desconhecida do léxico medieval. Podemos supor que se trate de uma criação do trovador, numa tentativa de arranjo musical: a frequência do som l, tanto neste refrão como no precedente, produz um agradável efeito sonoro, semelhante em ambas as poesias. Aliás o l é a consoante mais utilizada atualmente no estribilho musical sem conteúdo semântico: “o larilólé”, “trálarálá… lá... “21 Criação dos trovadores ou reutilização de estribilhos pertencentes ao folclore medieval, essas palavras são hoje tão enigmáticas para nós, como o será talvez, daqui a um milénio, o refrão “Avatlântica” criado por Manuel Bandeira. A sua cantiga paralelística é, pois, uma boa imitação da paralelística medieval. O poeta não incarnou a amada, como era costume, preferindo cantar ele próprio a beleza dos seus olhos; mas os trovadores também o fizeram algumas vezes,
20 Bulletin of Hispanie Studies, v. XLI, n.º 1. 21 Amália Rodrigues, na canção «Não peças demais à vida», repete quarenta e oito vezes «lá» no fim de cada estrofe
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embora raramente22. O quadro em que se desenvolve o pequeno “drama lírico” é o típico das cantigas de amigo, com o mar, as ondas e a praia a participarem na vida idílica dos apaixonados. No entanto a língua utilizada é a atual, o que dá à cantiga um sabor contrastivo de passado e de presente. Já o mesmo não sucede com o seu “Cantar de Amor”, em que o poeta, plenamente penetrado pelo espírito dos trovadores, faz seus não só o tema e a expressão dos sentimentos, mas até a própria linguagem arcaica em que se exprime. É neste plano que Manuel Bandeira nos aparece como um caso raro de imitação total: Cantar de Amor Quer’ eu en maneyra de proençal Fazer agora hum cantar d’amor ... (D. Dinis) 166
Mha senhor, como’oje dia son, Atan cuitad’e sen cor assi! E par Deus non sei que farei i, Ca non dormho a mui gran sazon. Mha senhor, ai meu lum’e meu ben, Meu coraçon non sei o que ten. Noit’e dia no meu coraçon Nulha ren se non a morte vi, E pois tal coita non mereci, Moir’eu logo, se Deus mi perdon. Mha senhor, ai meu lum’ e meu ben, Meu coraçon non sei o que ten. Des oimois o viver m’é prinson : Grave di’ aquel en que naci! Mha senhor, ai rezade por mi, Ca perç’o sen o perç’a razon, Mha senhor, ai meu lum’e meu ben, Meu coraçon non sei o que ten.23 Manuel Bandeira tinha-se assim libertado da obsessão das “velidas” e das “mia senhor fremosa”. Receando ter cometido 22 Por exemeplo, a paralellstica de João Nor’ro «Em Lisboa, sobre lo mar, barcas novas mandei lavrar. Ai mia senhor velidas!» CV, 754. 23 Do livro «Lira dos cínquent’anos», in Obras Poéticas, p. 300.
alguns anacronismos de linguagem, o poeta submete em seguida a poesia à crítica de um amigo, que lhe declara estar perfeita. Com efeito, o vocabulário desta cantiga é aquele que faz parte da linguagem habitual dos trovadores. As sequências “mha senhor”, “meu lume e meu ben” , “a mui gran sazon”, “nulha ren”, “se Deus mi perdon”, “ca perço o sen”, são tipicamente trovadorescas e de emprego muito frequente. Através delas traduz o poeta esta atitude de apaixonado infeliz que constitui uma constante nas cantigas de amor. Há, no entanto, dois pormenores que se afastam um pouco do espírito trovadoresco: esta manifestação de angústia que leva a suplicar as orações da amada e o não compreender o que se passa no seu coração. Duma maneira geral o amante tem medo da amada e o pedir-lhe que reze é uma prova de confiança que não existia entre ambos. A “senhor” é altiva, fria, distante. Pouco lhe importa o tormento em que possa viver o poeta. Demais Deus criou a “senhor”, fê-la mais bela que todas as outras, mas não intervém no desenrolar do processo amoroso. A frequência do termo “Deus” nas cantigas medievais não traduz de modo algum a fé ou a esperança do apaixonado na proteção divina. “Que Deus me perdon” ou “Ai Deus” são expressões próprias duma civilização cristã, mas que perderam todo o conteúdo semântico. O trovador emprega-as constantemente, de uma maneira automática, sem que espere a intervenção divina na solução da sua “coita” de amor. Esta cantiga de Rui Pais de Ribella ajuda-nos a situar Deus na vida dos apaixonados: E Deus que vus en poder ten, tan muito vus fezo de ben que non soub’el no mundo ren per que vus fezesse melhor. Par Deus, ay dona Leonor, gran ben vus fez Nostro Senhor! En vos mostrou el seu poder qual dona sabia fazer; de bon prez e de parecer e de falar, fez vos, senhor. Par Deus, ay dona Leonor, gran ben vus fez Nostro Senhor! O verbo que nas cantigas de amar exprime a súplica é “rogar” e não “rezar”. O trovador roga a Deus que lhe permita
ver a amada ou que a faça mudar de caráter. Deus, que a fez bela e permitiu ao trovador que a visse e se apaixonasse, é responsável pelo seu sofrimento. Não só permite a “coita”, como também é causa; daí certa tentação de amaldiçoar Deus, a que o trovador às vezes cede. Deus está presente, mas nada pode contra a fatalidade do amor. “Meu coracon non sei o que ten” deixa transparecer uma dúvida que tem pouco de trovadoresca. Em geral, o trovador via a mulher e apaixonava-se imediatamente, sem reflexão ou hesitação. Este não compreender o que se passa no seu coração revela um esboço de análise introspetiva que estava ausente do espírito dos trovadores. Eles sabiam bem o que tinham: estavam apaixonados e a paixão não correspondida só trazia sofrimento. O processo amoroso era para todos o mesmo: suspirar, chorar, não comer, não dormir, perder o “sen”, morrer. Não havia, portanto, necessidade de analisar um sentimento que nascia, se desenrolava e terminava sempre da mesma maneira. Demais a “coita” tirava ao apaixonado toda a capacidade de raciocinar ou de descrever. Quanto à forma, a intuição poética de Manuel Bandeira levou-o a materializar a sua inspiração no sistema estrófico mais representativo da arte trovadoresca. Primeiro, porque 60% das cantigas de amor são de três estrofes, sendo apenas 28% de quatro estrofes e 8% de duas, os restantes 4% compreendendo as de uma, cinco, seis e sete estrofes. Segundo, porque os trovadores galego-portugueses preferiam a cantiga de refrão à cantiga de mestria. Das 788 cantigas de amor registadas no Repertorio metrico della lirica galego-portoghese, de Giuseppe Tavani, 421 são de refrão e 367 de mestria, o que corresponde a uma percentagem de 53% para as primeiras. Destas 421 cantigas de refrão, 210, portanto 50%, apresentam o sistema estrófico da cantiga de Manuel Bandeira, quer dizer, são formadas por três estrofes de quatro versos, seguidas de refrão de dois versos. Os restantes 50% distribuem-se pelos outros esquemas estróficos, em número de 54. Os dois versos que Manuel Bandeira coloca em epígrafe são bem adequados à situação, por definirem uma identidade de intenção. D. Dinis propõe-se fazer uma cantiga de amor à maneira dos trovadores provençais, Manuel Bandeira propõe-
se fazer uma cantiga de amor à maneira dos trovadores galegoportugueses. Propósitos idênticos, resultados parcialmente idênticos. D. Dinis faz uma cantiga de mestria, que no fundo tem pouco de provençal: a expressão dos sentimentos, a extensão do poema, a língua utilizada, são fundamentalmente portuguesas. Manuel Bandeira faz uma cantiga de refrão que é tipicamente medieval. D. Dinis imita, conservando intacta a sua personalidade; faz poesia “à maneira de” sem abdicar do tempo e do espaço. A sua poesia situa-se na intersecção de duas escolas líricas, mas obedece com fidelidade ao espírito da escola galego-portuguesa; é a realidade portuguesa traduzida em forma provençal, mas não impregnada de espírito provençal. Manuel Bandeira subtrai-se ao tempo e ao espaço; de tal modo se deixa penetrar pela poesia dos trovadores, que a sua personalidade de poeta brasileiro do século XX é como que aniquilada: o tema, o esquema estrófico, a língua, tudo é português e medieval. A cantiga de D. Dinis é portanto superior como criação, mas inferior como imitação. Vale pela sua autenticidade, pela sua originalidade e afirma-se como expressão de um temperamento poético que resiste à pressão cultural do mais forte. A cantiga de Manuel Bandeira é um ótimo exercício poético, válido na medida em que testemunha de uma capacidade especial de assimilar e de ser assimilado. O seu amigo Sousa Silveira, a cuja crítica submeteu o “Cantar de Amor” para saber se não teria cometido anacronismos de linguagem, respondeu-lhe que a língua era perfeita; o que era falso, sim, perfeitamente anacrónico, era o sentimento. O seu “exercício de ginástica espiritual” era portanto literalmente válido, pois para Manuel Bandeira “a literatura está nas palavras, se faz com palavras e não com ideias e sentimentos”.24
24 Itin. de Pasarg., p. 22.
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Foto Arlindo Costa
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ENLACE anaas* perco-me em ti p´la alvorada em doce enlace solto as amarras leio teus olhos beijo-te a face mergulho horas templo velado na tua pele rasgam-se rendas brotam poemas sabes-me a mel és tu o mar onde navegam os meus desejos ancoro o ventre nessa corrente de devaneios como te adoro hora de ponta dos meus sentidos fundem-se corpos encontro d´águas mares em delírio
mordem-se bocas entre cabelos em desalinho esvai-se o mundo quente e profundo tão de mansinho sopras palavras doces murmúrios ao meu ouvido cerro meus olhos e então sossego em paz contigo
ANAAS – Ana Almeida Santos, natural do Porto, autora do livro Confissões debaixo da Cama, de textos publicados na revista Piolho, poemas no livro Verticalidades/Horizontalidades do Barroso e na galeria Vieira Portuense, obra coletiva. Citação própria: “Entre o que sou e o que quero, a alma em que me vou inventando”.
REFORMA ANTECIPADA, VELHICE DOBRADA Frei Acaribe* Há alguns anos a esta parte temos lido e ouvido que muitos, sobretudo funcionários públicos, e não só, têm pedido a reforma antecipada. Não vamos, nestas breves considerações, julgar das razões ou motivos que levam alguns cidadãos a tomar tal decisão. Todavia, julgo mais que oportuno, a necessidade de lançar um alerta sobre estas tomadas de decisão. Começo por afirmar que a velhice, tal como o crescimento, não acontece, não se faz por saltos. Verifica-se sim que é um devir, um fluir contínuo. Quer uma (a velhice) quer o outro (o crescimento) acontecem sem que nos apercebamos da sua evolução. Apenas os acidentes, as transformações ou mutações que se vão operando no corpo da criança, do animal, da árvore, etc. nos dizem e nos levam a constatar que há crescimento. No dia a dia é praticamente impossível constatar esta evolução da vida. Sabemos apenas que nasceu naquele dia, hora e minuto determinados, que cresceu e que morreu no dia tal, hora e minuto igualmente determinados. E o que acontece com o crescimento, acontece de igual modo com o envelhecimento. Só nos apercebemos que estamos a envelhecer quando começamos a sentir as primeiras limitações: perda do olfacto, da audição, da visão *Professor. Historiador.
etc; primeiros cabelos brancos; dificuldade em mover os membros quer superiores quer inferiores; aparecimento de doenças em alguns, e por vezes, em todos os órgãos interiores etc. Mas estas limitações e doenças ainda não são o maior mal, porque afectam, atingem apenas a parte física ou corporal da pessoa humana. Pior é quando se tem de suportar as doenças e afrontas morais e espirituais. E pior ainda quando as afrontas, desprezos e abandonos partem dos próprios familiares, ou daqueles que considerávamos os nossos melhores amigos, e afectam a parte invisível do ser humano como seja a sensibilidade, a compreensão, a afectividade, o carinho, o amor, etc, quando já ninguém nos quer ouvir e nos tornamos um estorvo, um peso, um utensílio gasto que se arruma para a secção dos objectos fora de uso. É bem certo o adágio popular: “Na abundância não faltam amigos, todos te procuram; na penúria ninguém te conhece, todos te abandonam”. Ou este outro igualmente muito certo: ”Ao bébé todos fazem festa; ao velho nem atenção se presta”. Mas voltemos ao assunto que nos propusemos apresentar à consideração e reflexão dos nossos amáveis leitores. É do conhecimento geral a plêiade de reformados por antecipação. Será que tomaram a atitude mais correcta?... Se atendermos apenas ao comodismo e à parte económica até parece que está certo. Abandona-se o despertador para
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levantar e deitar à hora que apetecer; acabam as viagens de ida e volta para o trabalho com os seus gastos e perigos; deixa-se o trabalho, quantas vezes cheio de contrariedades e altercações entre colegas e patrões; acabam os descontos para a segurança social; passa-se a dar mais atenção à família e aos amigos; pode-se dedicar com mais afinco àquele “hobby” que mais os encanta etc… A reforma antecipada parece realmente a atitude mais certa.
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Mas em todas as fases da vida há sempre o reverso da medalha. A grande limitação da natalidade, o desemprego, a fuga aos impostos, os desempregados que deixam de descontar, a longevidade cada vez mais acentuada (graças a uma melhor segurança social e seus correlativos, sobretudo os de apoio aos doentes e idosos), todos estes factores nos levam a concluir que num futuro muito próximo serão relativamente poucos a fazer descontos para a segurança social. E então, onde encontrar os fundos para efectuar os pagamentos aos reformados cada vez em maior número, e que até poderão superar o número dos contribuintes? A reforma antecipada tornar-se-á na “ caça contra o caçador”. E vamos adiante. Pensemos também um pouco sobre a parte espiritual, moral, social e caritativa. Para melhor compreensão analisemos situações concretas. Geralmente os trabalhadores sabem apenas do seu ofício, sobretudo quando auferem um ordenado que consideram suficiente para manter o nível de vida compatível com a sua categoria social. Portanto, deixando o emprego e não sabendo fazer mais nada, não tendo qualquer outra ocupação, o seu refúgio é a Televisão, a Internet, talvez a leitura de um livro, revista ou jornal, o jogo dumas cartas e pouco mais. Mas tudo isto aliado à falta de convívio com os colegas de trabalho, com os quais algumas vezes desabafavam e se aliviavam dos seus problemas do dia a dia, ou até só tagarelavam, acabaram. E é agora que começa a sentir-se o vazio, o stress, a irritação, a incompreensão, o isolamento, a violência verbal, a violência física, a destruição da felicidade dum lar, com as consequências nefastas sobretudo para os filhos. A situação torna-se incontornável. Se acontece aparecer alguém que dê o alerta e aconselhe a procura dum bom psicólogo, ainda poderá haver salvação… Mas na grande parte dos casos ninguém quer envolver-se.
Mesmo os que se diziam amigos e até os familiares, mesmo os mais chegados, afastam-se. E então é o fim que todos infelizmente conhecemos. Por tudo o que fica exposto e pelo mais que poderíamos apresentar, (e aqui estão algumas das razões que nos moveram a partilhar estas considerações), a minha opinião é que os reformados por antecipação deviam, antes de tomar tal atitude, frequentar um curso onde aprendessem a viver a sua reforma antecipada para não sofrerem uma velhice dobrada. Porque não ocupar e aproveitar os tempos livres para se enriquecerem com um curso superior, ou com um segundo se já é licenciado ou até doutorado?... Na impossibilidade de frequentar um curso, porque bastante oneroso e a parca reforma não chegue para tudo, há ainda a possibilidade de frequentar uma Universidade Sénior. E se esta também não estiver ao seu alcance, poder-se-á recorrer ao voluntariado, a passeios, convívios, palestras, desporto ao ar livre, v.g. pesca, etc. Fechar-se em casa, nunca.
Nota: Sobre este assunto, sugiro e recomendo a leitura dos livros seguintes: 1º - A Identidade na Velhice de Susana de Matos Viegas / Catarina Antunes Gomes. AMBAR Colecção Idade do Saber, nº 7, 1ª edição 2007 2º - A Nova Velhice / Um novo público a educar da autoria de António Simões. AMBAR Colecção Idade do Saber nº 5, 3ª edição. 2006. 3º - A Força do Optimismo de Luis Rojas Marcos, Tradução de Carlos Aboim de Brito, Esfera dos Livros, 1ª edição , Março de 2006. 4º - Como superar a depressão de Linus Mundy, Paulinas, 3ª edição, Agosto de 2008 5º - Saber aceitar-se de Lisa Engelhardt, 4ªedição, Fevereiro de2008 6º - O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa de Maria João Valente Rosa, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Maio de 2012.
POSTAIS DO CONCELHO DA FEIRA Ceomar Tranquilo* A - Postais Ilustrados Coleção de postais de Orlando da Silva, de homenagem a Manuel Laranjeira, que reproduzimos no encerramento das comemorações do Centenário da Morte do Ilustre Escritor. 171
117 - Rosto da 2ª Edição da carteira da coleção dos postais.
117A - Reverso, circulado como postal. Obliteração de 2012-04-03. * Caminheiro por feiras, lojas e mercados.
Santa
Maria
da
Feira,
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118 - Postal nº. 1 - Orlando 2003
118A – Reverso do mesmo postal 1/8 – Vergada – Santa Maria da Feira Casa onde nasceu Manuel Laranjeira (Demolida) (Desenho a tinta da China por Orlando da Silva) Circulado em 2003-12-22
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119- Postal nº. 2 - Orlando 2003
119A – Reverso do mesmo postal 2/8 – Vergada – Santa Maria da Feira Casa dos Camelos (Demolida) Ligada à Biografia de Manuel Laranjeira (Desenho a tinta da China por Orlando da Silva) Obliteração dos CTT. Ilegível
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120 - Postal nº. 3 - Orlando 2003
120A – Reverso do mesmo postal. 3/8 . Ramil – Santa Maria da Feira Casa de Domingos Fernandes da Silva Ligada à Biografia de Manuel Laranjeira (Desenho a tinta da China por Orlando da Silva) Circulado de Coimbra (S.José) em 2004-01-09
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121 - Postal nº. 4 - Orlando 2003
121A – Reverso do mesmo postal 4/8 – Vergada – Santa Maria da Feira Casa da Paneca Ligada à Biografia de Manuel Laranjeira (Desenho a tinta da China por Orlando da Silva) Circulado em 2003-12-22
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122 – Postal nº. 5/ Orlando 2003
122A – Reverso do mesmo postal 5/8 – Vergada – Santa Maria da Feira Casa de Maria Ferreira Regal Ligada à Biografia de Manuel Laranjeira (Desenho a tinta da China por Orlando da Silva)
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123 - Postal nº. 6 - Orlando 2003
123A – Reverso do mesmo postal
6/8 – Vergada – Santa Maria da Feira Casa de Bernardino Ferreira Coimbra Ligada à Biografia de Manuel Laranjeira (Desenho a tinta da China por Orlando da Silva)
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124 - Postal nº 7 - Orlando 2003
124A – Reverso do mesmo postal 7/8 – Ramil – Santa Maria da Feira Casa de Maria Soares Laranjeira Ligada à Biografia de Manuel Laranjeira (Desenho a tinta da China por Orlando da Silva) Obliteração de Lourosa - 2004-01-05
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125 - Postal nº. 8 - Orlando 2003
125A – Reverso do mesmo postal 8/8 – Rua 19 – Espinho Casa onde se suicidou Manuel Laranjeira (Desenho a tinta da China por Orlando da Silva) Obliteração de Espinho - 2003-12-24
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O BOMBISTA BOMBÁSTICO
(Para o amigo, colega e pessoano notável Dr. Celestino Portela esta homenagem a Fernando Pessoa e ao seu banqueiro anarquista) Manuel de Lima Bastos*
Um determinado Fernando, que deambulou por Lisboa e de quem disseram ter sido heteronimamente múltiplo como uma versão poética do espírito santo em pessoa, para alumiar a mente usava bagaço de fabrico nacional.
Contudo tinha dúvidas ligeiras a respeito do aperfeiçoamento do já perfeito homem bancário até conhecer no café Martinho, em dia de escasso numerário, um certo banqueiro anarquista que sonhava rebentar à bomba o inexpugnável éden capitalista.
Conhece-se de fonte segura que pelo fim da tarde pairava sobre os armazéns vinícolas José Maria da Fonseca & cª, de quem foi freguês assíduo, acreditava sem olhar para trás na evolução geral das espécies e na transmigração das almas.
Já eu, que não sou o Fernando, talvez nem sequer uma pessoa, o desalento da época e da idade forçaram a que me convertesse, por imposição das circunstâncias, num espécimen raro de bombista que quer vingar-se da humanidade atirando-lhe bombas bombásticas. *Advogado. Devoto Aquiliniano.
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À Venda na Livraria Vício das Letras
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