MOBILIDADE HUMANA
PARA UM BRASIL URBANO
Mobilidade Humana para um Brasil Urbano © 2017, ANTP Edição Associação Nacional de Transportes Públicos - ANTP Rua Marconi, 34, 2º andar, conjs. 21 e 22, República 01047-000, São Paulo, SP Tel.: (11) 3371.2299, fax: (11) 3253.8095 E-mail: antpsp@antp.org.br Site: www.antp.org.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Associação Nacional dos Transportes Públicos - ANTP Mobilidade humana para um Brasil urbano. Luiz Carlos Mantovani Néspoli (Branco) (coordenação geral). Eduardo Alcântara de Vasconcellos (coordenação técnica). Apresentação: Ailton Brasiliense Pires e Luiz Carlos Mantovani Néspoli (Branco). 288p. il. Bibliografia ISBN 978-85-86454-02-8 1. Infraestrutura urbana. 2. Mobilidade urbana. 3. Planejamento urbano. 4. Política de transportes urbanos. 5. Transportes - Planejamento. 6. Transportes urbanos - Brasil. I. Néspoli, Luiz Carlos Mantovani (coord.). II. Vasconcellos, Eduardo Alcântara de (coord.). III. Pires, Ailton Brasiliense (apres.). IV. Mendonça, Adolfo Luis Machado de. V. Pelegi, Alexandre. VI. Guth, Daniel. VII. Raymundo, Hélcio. VIII. Malatesta, Maria Ermelina Brosch. IX. Álvares, Olímpio Melo. X. Stuchi, Silvia Regina. XI. Godoy, Sonia. 17-04766 CDD-388.40981 Índices para catálogo sistemático: 1. Brasil: Mobilidade humana: Transportes urbano 388.40981
ANTP Mobilidade Humana versão 1 (22 05 2017).indd 4
24/05/2017 16:19:54
Mobilidade Humana para um Brasil Urbano
Caso 4.16 Passagens Jardim Ângela – abordagem interdisciplinar e colaborativa para recuperar os articuladores da mobilidade Desde 2014, o Instituto Cidade em Movimento - IVM tem promovido estudos, atividades e concursos para a criação ou recuperação de passagens. Em Tours, Túnis, Argel, Montevidéu, Barcelona, Buenos Aires, Xangai, Toronto, Valparaiso e São Paulo, estudantes, cineastas, artistas, moradores, gestores públicos, arquitetos e urbanistas trabalharam em estudos e soluções para estes pequenos espaços da mobilidade. Em São Paulo, a pesquisa esteve centrada no distrito do Jardim Ângela. O desenvolvimento da cidade contemporânea, heterogênea e descontínua, foi acompanhado da multiplicação das barreiras, materiais e simbólicas, que transformam os percursos dos pedestres em uma corrida de obstáculos. Túneis, pontes, passarelas, escadas rolantes, teleféricos urbanos… diariamente, usamos estas conexões para passar de um transporte a outro, de um ambiente urbano a outro. O conceito de passagem combina efetivamente três dimensões: - o elo funcional, isto é, o atalho eficaz entre dois espaços urbanos, que não se limita à ligação ime-
diata de acessos, mas remete inevitavelmente a uma escala urbana mais ampla; - o lugar em sua singularidade social e espacial, que reforça os usos existentes e remete a necessidades de conforto e bem-estar (a amplitude do espaço, a paisagem, a iluminação); - a transição entre práticas e universos urbanos diferentes como quando se atravessa a barreira entre dois trechos de cidade, do centro à periferia, do bairro popular ao bairro rico, da cidade informal à cidade constituída. Nosso comportamento não é o mesmo quando saímos para trabalhar e quando voltamos para casa. Há, portanto, uma espécie de transição que deve acontecer. E é a passagem que torna isso possível, dando o tempo para que nos acostumemos à mudança de ambiente: “É o lugar onde fazemos e desfazemos o nó da gravata.” Neste sentido, é preciso abordar a passagem em seu contexto de rede para então pensar uma transformação urbana consistente.
Jardim Nakamura, que faz parte do Jardim Ângela, desde o escadão de acesso principal. Foto: C. Bianchi.
62 ANTP Mobilidade Humana versão 1 (22 05 2017).indd 62
22/05/2017 17:20:24
4. Transporte ativo
Simulação da acessibilidade em 5, 10 e 15 min andando desde uma escola do Jardim Nakamura sem considerar as passagens e as escadarias. Fonte: IVM-Readymake (dados SMDU, levantamento de campo, simulação com Network Analyst).
Simulação da acessibilidade em 5, 10 e 15 min andando desde uma escola do Jardim Nakamura ao considerar as passagens e as escadarias. Fonte: IVM-Readymake (dados SMDU, levantamento de campo, simulação com Network Analyst).
Passagens Jardim Ângela
zamentos, passarelas, escadarias e vielas que são elos fundamentais da mobilidade deste bairro de urbanização densa, implantado em uma topografia irregular. Situado na extremidade sul da metrópole de São Paulo, o distrito do Jardim Ângela representa
A pesquisa Passagens Jardim Ângela se apoia sobre um estudo piloto da micromobilidade da região para a elaboração de propostas concretas de recuperação da qualidade e do sentido social de cru-
Fotos das escadarias e passagens da região. Fotos: C. Bianchi.
63 ANTP Mobilidade Humana versão 1 (22 05 2017).indd 63
22/05/2017 17:20:25
Mobilidade Humana para um Brasil Urbano
o arquétipo do bairro de periferia das grandes cidades, concentrando muitos problemas: população em condições precárias, excluída das dinâmicas de emprego, isolada dos grandes polos econômicos e culturais e com um alto índice de violência, que atinge principalmente os jovens moradores. A decisão do município de São Paulo de criar uma nova rede de corredores exclusivos de Bus Rapid Transit - BRT ao longo da avenida principal do bairro, a avenida M’Boi Mirim, com seu terminal metropolitano, promete reconectar quase um milhão de pessoas com a rede de mobilidade da metrópole. Porém, sua execução esbarra numa problemática dupla: superar a inadequação de escala do local com seu ambiente sem fazer dessa rede uma barreira suplementar; resolver questões topográficas num território de colinas em área de mananciais. Abordagem inovadora: O IVM Brasil escolheu uma abordagem plural e integradora para o estudo da estrutura e dos padrões de uso das passagens no distrito Jardim Ângela. Com a coordenação de arquitetos especializados no tema a mobilidade das crianças e jovens, por exemplo, foi abordada por meio de mapeamento de caminho escolar. A ONG Cidade Ativa, por meio de seu projeto Olhe o Degrau, registrou as condições físicas e os usos das escadarias. Professores da FAU Mackenzie recuperaram a história de formação do bairro. As produtoras Cavalo Marinho, Favela da Paz e 3D Design (do Jardim Ângela) realizaram vídeos de percursos rotineiros de moradores. E vários grupos e coletivos locais colaboraram em levantamentos, oficinas e conversas.
4.2. A mobilidade por bicicletas no Brasil: de 1996 a 2016 Credita-se às crises do petróleo, ao final da década de 1960 e durante os anos 1970, a retomada da bicicleta em muitas cidades europeias. Se, por lá, fatores externos impulsionaram uma cultura da bicicleta que sempre existiu nas cidades, mas que até então estava sufocada, infelizmente não se pode esperar para o Brasil caminho meramente parecido. O Brasil vive crises hídricas, econômicas, do setor energético e crises político-institucionais, mas não vive uma crise do petróleo. E apesar das turbulências por que tem passado a Petrobrás nos últimos
Essas pesquisas traduziram-se em: - Registro da dinâmica da mobilidade local a pé, em moto, a mobilidade de bens, a mobilidade dos mais vulneráveis e a integração com redes formais e informais de transporte. A cartografia detalhada de escadas, passagens, percursos e lugares mais perigosos, a fim de se conceber desenvolvimentos urbanos: luz, limpeza, tempo de permanência, tratamento de escoamento de águas e realização de filmes que registram os percursos rotineiros de moradores. - A apresentação desses trabalhos no quadro do Fórum Social de Pesquisadores do Jardim Ângela. - Análise de traçado da nova linha de ônibus rápido, para evitar a criação de mais desníveis ou barreiras. Ações futuras: - Formalização de protocolo: conjunto de recomendações para o Departamento de Obras Públicas da cidade de São Paulo. - Concurso profissional interdisciplinar para realizar projetos para três escadarias e passagens com diferentes tipologias.
Fonte: Instituto Cidade em Movimento - IVM.
anos, o Brasil não viverá, tão cedo, uma crise nas dimensões da que a Europa viveu no início da década de 1970. Isso significa que, para rompermos com o paradigma da crescente motorização do Brasil, será preciso muita vontade política e pressão da sociedade civil. Vontade política, aliás, que pouco avançou na esfera federal executiva, em contraposição a importantes avanços – que verificaremos a seguir – de iniciativas de municípios, da própria sociedade civil e no âmbito do Legislativo, com importantes marcos legais sancionados neste período. Foi na segunda metade dos anos 1970 – ainda sob efeito da crise do petróleo e observando os movimentos de retomada da bicicleta na Europa – que o governo fede-
64 ANTP Mobilidade Humana versão 1 (22 05 2017).indd 64
22/05/2017 17:20:26