4 arte gótica

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O ESTILO GÓTICO

O estilo Gótico, que se afirmou na Europa entre os séculos XII e XV, marcou uma evolução significativa em termos do domínio das formas e das técnicas por parte dos artistas da época face ao período românico, desenvolveu-se na Europa, principalmente na França, durante a Baixa Idade Média e é identificado como a Arte das Catedrais. A partir do século XII a França conheceu transformações importantes, caracterizadas pelo desenvolvimento comercial e urbano e pela centralização política, elementos que marcam o início da crise do sistema feudal. No entanto, o movimento a arraigada cultura religiosa e o movimento dos cruzados preservavam o papel da Igreja na sociedade. Enquanto a Arte Românica tem um carácter religioso tomando os mosteiros como referência, a Arte Gótica reflecte o desenvolvimento das cidades. Porém deve-se entender o desenvolvimento da época ainda preso à religiosidade, que nesse período se transforma com a escolástica, contribuindo para o desenvolvimento racional das ciências, tendo Deus como elemento supremo. Dessa maneira percebe uma renovação das formas, caracterizada pela verticalidade e por maior exactidão em seus traços, porém com o objectivo de expressar a harmonia divina. O termo Gótico foi utilizado pelos italianos renascentistas, que consideravam a Idade Média como a idade das trevas, época de bárbaros, e como para eles os godos eram o povo bárbaro mais conhecido, utilizaram a expressão gótica para designar o que até então chamava-se "Arte Francesa ". Catedral de Notre-Dame, Paris

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ARQUITECTURA

A arquitectura foi a principal expressão da Arte Gótica e propagouse por diversas regiões da Europa, principalmente com as construções de imponentes igrejas. Apoiava-se nos princípios de um forte simbolismo teológico, fruto do mais puro pensamento escolástico: as paredes eram a base espiritual da Igreja, os pilares representavam os santos, e os arcos e os nervos eram o caminho para Deus. Além disso, nos vitrais pintados e decorados se ensinava ao povo, por meio da mágica luminosidade de suas cores, as histórias e relatos contidos nas Sagradas Escrituras. Se a Arquitectura Românica com o seu ar sólido e rústico, com as suas figuras toscas e ingénuas tinha sido erguida à escala humana, a Arquitectura Gótica pela sua altura, pela elegância das suas proporções e pela sua verticalidade parecia querer atingir o céu e aproximar-se de Deus.

Vista da Catedral de Colónia, Alemanha.

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Do ponto de vista material, a construção gótica, de modo geral, se diferenciou pela elevação e desmaterialização das paredes, assim como pela especial distribuição da luz no espaço. Tudo isso foi possível graças a duas das inovações arquitectónicas mais importantes desse período: o arco em ponta, responsável pela elevação vertical do edifício, e a abóbada cruzada, que veio permitir a cobertura de espaços quadrados, curvos ou irregulares. No entanto, ainda considera-se se o arco de ogiva como a característica marcante deste estilo.

Pelas rosáceas e vitrais entram focos de luz que se cruzam e provocam a admiração dos presentes.

No exterior, as esculturas escul do pórtico afirmavam a supremacia de Deus perante os homens, mas as agora não se confinam ao tímpano e capitéis. A parte esculpida distribui-se se por toda a fachada e, por vezes, nem os arcos nem as colunas escapavam a anta nta liturgia.

Catedral de Chartres Portal norte, c 1194 -1230, França.

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Os elegantes pináculos apontam o caminho dos céus, mas a sua altura sublinha também a pequenez dos que os observam.

Este é de resto um dos objectivos das suas imponentes fachadas e da exuberância dos seus elementos arquitectónicos e decorativos:p promover o pasmo e a consciência da sua insignificância nos homens, assegurando egurando a sua obediência e passividade.

Mais do que locais de oração e recolhimento, as igrejas góticas foram construídas para intimidar as populações face ao poder quer religioso quer temporal. A grandiosidade e riqueza do estilo gótico assinalam um tempo temp em que a igreja se afasta cada vez mais do povo, exibindo pela ostentação uma riqueza e um poder que não parava de crescer.

A primeira das catedrais construídas em estilo gótico puro foi a de Saint-Denis, Denis, em Paris, e a partir desta, dezenas de construções com as mesmas características acterísticas serão erguidas em toda a França. A construção de uma Catedral passou a representar a grandeza da cidade, onde os recursos eram obtidos das mais variadas formas, normalmente fruto das contribuições dos fiéis, tantos membros da burguesia com das camadas populares.

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ESCULTURA A escultura gótica desenvolveu-se desenvolveu paralelamente à arquitectura das Igrejas e está presente e nas fachadas, tímpanos e portais das catedrais, que foram o espaço ideal para sua realização. Caracterizou-se Caracterizou por um calculado naturalismo que, mais do que as formas da realidade, procurou expressar a beleza ideal do divino; no entanto a escultura pode ser er vista como um complemento à arquitectura,, na medida em que a maior parte das obras foi desenvolvida separadamente e depois colocadas no interior das Igrejas, não fazendo parte necessariamente da estrutura arquitectónica. arquitectónica

A princípio, as estátuas eram alongadas e não possuíam qualquer movimento, com um acentuado predomínio da verticalidade, o que praticamente as fazia desaparecer. A rejeição à frontalidade é considerado um aspecto inovador e a rotação das figuras passa a ideia de movimento, quebrando o rigorismo formal.

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As figuras vão adquirindo naturalidade e dinamismo, as formas se tornam arredondadas, a expressão do rosto se acentua e aparecem as primeiras cenas de diálogo nos portais.

Esculturas do portal da Catedral de Magdeburgo, Magdeburgo As Três Virgens. Virgens

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PINTURA

A pintura teve um papel importante na arte gótica pois pretendeu transmitir não apenas as cenas tradicionais que marcam a religião, mas a leveza e a pureza da religiosidade, com o nítido objectivo de emocionar o espectador. Caracterizada pelo naturalismo e pelo simbolismo, utilizou-se principalmente de cores claras. “Em estreito contacto com a iconografia cristã, a linguagem das cores era completamente definida: o azul, por exemplo, era a cor da Virgem Maria, e o marrom, a de São João Batista. A manifestação da ideia de um espaço sagrado e atemporal, alheio à vida mundana, foi conseguida com a substituição da luz por fundos dourados. Essas técnicas e conceitos foram aplicados tanto na pintura mural quanto no retábulo e na iluminação de livros".

Anunciação do pintor gótico espanhol Alejo Fernández

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A pintura (a representação de imagens numa superfície) durante o período gótico era praticada em quatro principais ofícios: frescos, painéis, iluminura de manuscritos e vitrais. Os frescos continuaram a ser utilizados como o principal ofício pictográfico narrativo nas paredes de igrejas no sul da Europa como continuação de antigas tradições cristãs e românicas. No norte, os vitrais foram os mais difundidos até ao século XV. A pintura de painéis começou em Itália no século XIII e espalhou-se pela Europa, tornando-se a forma dominante no século XV, ultrapassando mesmo os vitrais. A iluminura de manuscritos representa o mais completo registo da pintura gótica, fornecendo um registo de estilos em locais onde não sobreviveu nenhum outro trabalho. Pintura com óleo em lona não se tornou popular até aos séculos XV e XVI e foi um dos ofícios característicos da arte renascentista

Na última fase da pintura gótica, nos anos de 1400 a 1500, apareceram os pintores pré-renascentistas. Distinguiam-se pela progressiva libertação com o convencionalismo bizantino e da minúcia oriunda das miniaturas. Os italianos Giotto 1336) e Masaccio 1428) antecipam libertação.

(1266(1401essa Giotto, O beijo de Judas.

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O GÓTICO E A MAGIA DO VITRAL

Sainte Chapelle de Paris é de longe a mais célebre Capela Santa entre as suas congéneres, dada a sua importância histórica, e mais ainda pela rara beleza do próprio monumento que é. A Sainte Chapelle é um dos monumentos mais belos de Paris no seu estilo gótico, um conjunto único de vitrais e de pinturas murais. A capela do primeiro andar era de uso exclusivo do soberano e comunicava-se por uma galeria com os aposentos reais. Os aspectos mais belos, e considerados os melhores no seu género , em todo o mundo, são os seus vitrais magníficos emoldurados por delicado trabalho em pedra, com rosáceas entretanto acrescentadas à capela superior no século XV. Durante a Revolução Francesa a capela foi transformada em escritório administrativo, e os vitrais foram tapados com enormes armários. A sua beleza ocultada foi assim preservada do vandalismo que sofreu noutras partes, tendo os assentos do coro o painel do altar principal destruídos, o pináculo do tecto destruído e as relíquias dispersas. No século XIX Viollet-le-Duc restaurou a Sainte Chapelle, e o pináculo actual é obra sua.

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Vitral da Capela

Detalhes de Vitrais

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um artigo sobre -

O GÓTICO

A arte gótica brota na Europa medieval quando esta se prepara para encarar novas formas de vida e as nações encetam diferentes relacionamentos. Afastada a inquietação provocada pelas incursões dos Eslavos, Normandos e Muçulmanos, abrem-se estradas para um mais frutuoso intercâmbio de gentes, bens e ideias. É o tempo do nascimento da Europa de hoje, da Europa dos Estados, em que se formam, no fundamental, os contornos do mapa moderno e em que também algumas nações se estreiam na grande aventura de passar para além dos velhos horizontes, na inteligência, nas consciências e nos mares. (...) A arte gótica é assim uma arte dinâmica, reflectindo a constante e cada vez mais acelerada mudança da sociedade que a determina. Portugal formou-se à sombra das igrejas e torres românicas, mas só veio a encontrar a sua dimensão continental definitiva e lançar-se na expansão ultramarina quando as nervuras ogivais cobriam as salas por onde haveriam de ecoar as notícias das maravilhas desses novos mundos que os Portugueses andavam a descobrir. Poderemos dizer que, se o nosso berço foi românico, a juventude passámo-la sob as ogivas do gótico. (...) As primeiras manifestações plenas de arquitectura gótica surgiram durante o século XII, mas não é ainda possível dizer com segurança quando e onde se deram os passos iniciais que levaram à construção das magníficas catedrais centro-europeias e britânicas do século XIII. Deverá dizer-se também que o gótico nada tem a ver com o românico, pelo menos no campo da arquitectura, não podendo ser considerado como uma evolução ou mutação. Os princípios que enformam o estilo gótico são completamente distintos, as soluções técnicas são outras e outros são também os resultados. (...) Mas a arquitectura gótica tem outras características muito peculiares que convém realçar. A primeira reside no facto de ser a mais livre das artes, a que mais variantes e soluções permitia, a que menos se prendia à precedente ou buscava arquétipos na Antiguidade. Ela é, afinal, a mais genuína criação do homem artista medievo, a que mais deve à imaginação e ao gosto. Nascido na Normandia, ou na Ilha de França, certo é que o gótico ganhou rapidamente adeptos entre reis, nobres, prelados e abades e até entre os homens simples das cidades,

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mesteirais e os rústicos das aldeias. Ainda na primeira metade do século XII, o abade Suger, de Saint-Denis, levantou em gótico a sua abadia real e, no final da centúria, as mais belas catedrais francesas viram elevar no ar os pilares que sustentariam as espantosas abóbadas ogivais. No século de Duzentos, em Inglaterra, e mais tarde em toda a Europa Média e Sulocidental, fizeram-se belas e imensas catedrais nas cidades onde estavam instaladas as sedes das dioceses. Os templos viram desaparecer os pesados muros laterais que se abriram para permitir a entrada da luz através de belos vitrais. Os pilares estreitaram-se e foram elevados a maiores alturas. As abóbadas de berço, pesadíssimas, foram substituídas por esqueletos de ogivas cruzadas com linhas policêntricas e os lunetos triangulares esféricos cheios de blocos de bem talhada cantaria. Os impulsos fortíssimos dessas massas, que se elevavam a dezenas de metros, recaíam agora parcialmente sobre os arcobotantes, que vinham buscar as pressões às zonas de intercepção das curvas com as rectas e as descarregavam nos pegões gigantescos.

Luz, verticalidade, amplidão, tais eram as características fundamentais desses templos, então transformados em palco cénico, onde os distintos grupos sociais marcavam as suas diferenças nas atitudes, no trajar, na linguagem do quotidiano. Mas a arquitectura gótica manifestou igualmente o gosto requintado pelo naturalismo e, assim, os capitéis deixaram de ser ocupados por monstros enrolados, répteis e semihomens e cobriram-se de folhagem, que, década após década, se tornava mais naturalista.

A escultura monumental ganhou maior relevo e por toda a parte se impunha, fosse nos interiores, fosse nos exteriores, em portais, torres, nichos, etc. Por toda a Europa a norte dos Pirenéus as cidades competiam, tentando elevar as torres das suas catedrais mais alto do que as das sés das dioceses vizinhas, e por vezes era tão grande a sua ambição que os meios disponíveis lhe não correspondiam, ficando frequentemente as catedrais com uma só torre ou com duas completamente diferentes, por terem sido executadas com muitas décadas ou mesmo séculos de intervalo. Na Península Ibérica, porém, o panorama não era o mesmo. Por um lado, as grandes catedrais espanholas só foram construídas quando, no resto dos reinos da

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Europa Ocidental, o gótico tinha mais de um século de vida adulta, e, por outro, porque em Portugal nunca existiram edifícios com esse carácter sumptuoso, luxo e arrogante grandiosidade. As igrejas que por todo o nosso país se levantaram eram bastante modestas em relação às suas congéneres francesas, espanholas, alemãs ou britânicas. Além do que se acaba de referir, há a acrescentar que o gótico peninsular colheu também influências da arte islâmica, ganhando formas peculiares que integram o complexo das soluções construtivas e decorativas mudéjares. (...) Pequenas, de estruturas económicas, com cobertura de madeira nas naves e no transepto, quando este existia, as nossas igrejas não necessitavam geralmente de arcobotantes. Os contrafortes de tradição românica mantiveram-se, o que obrigou a conservar um tipo de aberturas pequenas, afinal modestas frestas comparadas com as grandes obras envidraçadas e coloridas que são o emblema de tantas catedrais europeias. (...) Em resumo, são estas as características fundamentais da arquitectura gótica portuguesa e também as principais diferenças em relação à de outros países do Ocidente Europeu. Há algo, no entanto, que convirá notar: que quer em França, quer em Inglaterra, quer nas restantes nações mais desenvolvidas artisticamente, também havia igrejas iguais às nossas. Só que a existência das outras, das de grandes dimensões, faz esquecer aquelas e a historiografia tem tido tendência para as omitir nos seus estudos de conjunto. Porém, estas correspondem ao resultado de situações idênticas às vividas pelas comunidades portuguesas. Isto é, a igreja de uma paróquia rural com vinte ou trinta vizinhos tinha as mesmas dimensões e estrutura quer em Portugal, quer em qualquer outro país europeu. O que a nossa terra não teve foi ricas cidades com milhares de habitantes vivendo de um florescente comércio ou de um activo artesanato, ou senhores donos de imensos domínios em terras fertilíssimas. A terra era, como hoje, pequena e pobre e condicionava os empreendimentos dos seus filhos.

DIAS, Pedro, "O Gótico", in História da Arte em Portugal, vol. 4, Barcelona, Pub. Alfa, 1986, pp. 10-14

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O GÓTICO PORTUGUÊS Em Portugal, o estilo gótico aparece no último quartel do século XII, com as obras do Mosteiro de Alcobaça (começado em 1178 e habitado a partir de 1222). O Mosteiro, fundado pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, para a Ordem Cisterciense, é a primeira obra totalmente gótica de Portugal.

Planta do Mosteiro de Alcobaça

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Entretanto, a dissolução do estilo românico pelo gótico ocorreu lentamente, havendo muitas igrejas portuguesas de estilo de transição românico-gótico datando do século XIII e até do século XIV. A expansão da arquitectura gótica em Portugal deveu muito às ordens religiosas mendicantes (franciscanos, dominicanos, carmelitas, agostinhos), que construíram vários mosteiros em cidades portuguesas nos séculos XIII e XIV. Importantes exemplos são as igrejas franciscanas e dominicanas de Santarém e Guimarães, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha em Coimbra, Mosteiro de São Francisco do Porto, Igreja do Convento do Carmo em Lisboa e muitas outras. Também as ordens medievais militares contribuíram para a expansão do gótico. Algumas catedrais portuguesas também foram construídas em estilo gótico, como a Sé de Évora, a Sé Silves e a da Guarda.

Mosteiro da Batalha (séc XIV-XV).

Um marco na arquitectura gótica portuguesa é o Mosteiro da Batalha, construído a mando do rei D. João I para comemorar a vitória na Batalha de Aljubarrota contra os castelhanos. A obra do mosteiro, começada em 1388 e que seguiu até o século XVI, introduziu o gótico internacional flamejante em Portugal. A dissolução do gótico pelo estilo renascentista ocorreu lentamente, sendo o estilo intermediário chamado manuelino devido a que coincidiu com o reinado do rei D. Manuel I (1495-1521). O manuelino mistura formas arquitectónicas do gótico final com a decoração gótica e renascentista, criando um estilo tipicamente português. O manuelino atinge o ápice com a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos, ambos em Belém (Lisboa), a Igreja do Convento de Cristo de Tomar. Além da arquitectura religiosa, muitos castelos foram construídos e/ou reformados em estilo gótico em Portugal, como os Castelos de Leiria, Estremoz, Beja, Bragança e Santa Maria da Feira.

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sugest천es

http://historiarn.blogs.sapo.pt/121072.html http://www.youtube.com/watch?v=f9LDItqj-Ak

http://cultura.portaldomovimento.com/arte_gotica.html

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