2º Edição - março/abril
Foto: Luciano Coca
A Irreverência do Artista
Foto: Luciano Coca
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Turismo e Requinte
Editorial
Um segundo número, um segundo desafio, uma segunda realidade. Com a consolidação deste trabalho, o turismo regional dá mais uma passo em busca de visibilidade que precisa conquistar. Se a primeira edição teve como destaque Ubatuba e suas belezas naturais, o segundo número abre espaço para a maior festa popular do país: o Carnaval. No Vale do Paraíba, várias são as opções. Há a tradição das marchinhas em São Luiz do Paraitinga – agora produto de exportação, já que muitos outros municípios têm dado atenção a este estilo musical – as escolas de samba de Guaratinguetá - que apresentam um espetáculo de rara beleza - e a Ametra, em Taubaté, um trabalho que vai além do desfile na avenida, sendo uma verdadeira aula de cidadania. Mas não é só isso, a proposta da “Turismo e Requinte” é trazer opções para aqueles que moram e visitam a região. Recentes pesquisas apontam que a grande maioria das pessoas escolhe como destino turístico lugares próximos de suas cidades. Além disso, a crise do setor aéreo tem contribuído para o aumento desta tendência. O momento, então, é propício para que o moradores do Vale, Litoral e Serra conheçam sua própria região. O chamado Cone Leste Paulista é riquíssimo em belezas naturais, arquitetura, cultura, história e gastronomia. É um pólo turístico que nada fica a dever a qualquer outra região do país. O que precisa é que hajaincentivo para sua descoberta. Isso mesmo, porque os moradores da região ainda não descobriaram tudo o que pode ser visitado. Nesta proposta, mais uma vez, a equipe da “Turismo e Requinte” foi em busca de possibilidades. Foi atrás, novamente, das belezas de Ubatuba e passou pela força do turismo rural, com destaque para Paraibuna. A intenção é conhecer e valorizar a região. A cada edição novas oportunidades. Porque há lugares que passam despercebidos, mas que guardam tesouros fantásticos. Para a “Turismo e Requinte”, cada número é uma aventura, e uma descoberta que é feita junto com o leitor, sempre com a certeza de que há muito o que se encontrar. Boa leitura. Turismo e Requinte
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Parabéns, gostei muito da revista, principalmente das fotos. Vocês souberam valorizar bastante a paisagem, o verde. Ubatuba realmente é linda e tive a certeza de que ainda conheço pouco essa cidade. - Patrícia Villas – Hortolândia - SP
Vi o primeiro número da revista e achei muito legal a forma como fizeram a entrevista com o Clodovil. Deu pra ver que ele não é só polêmica. Depois de ler a matéria tive a certeza de que fiz bem em votar nele. - Sandra Amares Souza – São Paulo
Gostei da revista e acho que faltou uma matéria sobre esportes radicais. Passei o ano novo em Ubatuba. Há opções legais por aí. A revista podia destacar isso também. - Pedro Souto – Curitiba
E muito bom ver nossa cidade sendo valorizada como ela merece. A revista soube aliar qualidade e beleza com a informação de lugares que muitos moradores não conhecem, inclusive eu. Se a idéia era criar a vontade de visitar, vocês conseguiram. Parabéns!!! - Daniely da Silva – Ubatuba
Visito Ubatuba todos os anos, mas sempre ficava nas mesmas praias. Desta vez, resolvi seguir a sugestão de vocês (revista) e fui conhecer a praia do Cedro. MARAVILHOSA!!! Tão perto e eu dando bobeira. Valeu pela dica! - Douglas Elieser – Taubaté
SR PRADO PRODUÇÕES LTDA TURISMO E REQUINTE Diretor Executivo:
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Luciano Coca
Editor e Artes Gráficas:
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Repórteres desta edição:
Gabriela Silveira e Daniela Bairros
Colaboradores desta edição: Aline Bernardes, Regina de Castro, Camila Soares, Cláudia Oliveira, Caroline Soares, Wendell Marques, Emílio Campi, João Carlos de Faria, Xinica Medeiros, Carlos Marcondes, Júlio Scarpelli e Marco Antônio Pinto.
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A revista Turismo e Requinte não se responsabiliza por idéias e conceitos emitidos em artigos e matérias assinadas, que expressam apenas o pensamento dos autores, não sendo necessariamente a opinião de seus diretores.
Impressão: Gráfica Off-Set
Sum谩rio
6 Um Show de Cidadania
15 Simplicidade e Alegria
Paz e tranquilidade em Paraibuna
Beleza e Hist贸ria se Encontram Turismo e Requinte
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A avenida Walter Thaumaturgo já ganhou muitos apelidos, mas nenhum deles combina mais com o carnaval do que “Avenida da Alegria do Povo”. É deste jeito que uma das vias mais
importantes da cidade pára por quatro dias e se transforma no palco do carnaval taubateano. Mais do que isso. Proporciona, além de música, luzes e cores, uma lição de cidadania.
Fotos:Julio Scarpelli-Ametra
Um show de cidadania no Carnaval Por: Gabriela Silveira
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confecciona as fantasias. Outra ajuda fundamental são as doações de material reciclável”, explica a coordenadora do projeto, Silvana Rocha. É com restos de lantejoula doados por uma indústria de São Paulo, por exemplo, que são enfeitadas as fantasias. Isso sem falar em outras peças criativas, como os chapéus feitos com Foto:Luciano Coca
A maior atração do carnaval de Taubaté não é um imenso carro alegórico, nem sambistas profissionais ou puxadores famosos, tampouco mulatas esculturais. Mesmo assim, consegue atrair um público recorde falando de cultura e educação, em pleno período de festas. É a beleza de um projeto educacional que este ano fará cerca de três mil crianças caírem no samba. A AMETRA (Amparo ao Menor Trabalhador) não decepciona. Todos os anos, alunos de escolas municipais e programas sociais voltados à infância e à adolescência mostram tudo o que foi preparado com carinho e dedicação nas unidades das Escolas do Trabalho, onde são oferecidos cursos profissionalizantes durante o ano letivo. “A gente conta também com a ajuda do projeto Ação Mulher no século XXI, que
jornais e garrafas PET. Este ano, o enredo, interpretado também por um puxador mirim, vai falar sobre uma das figuras mais importantes da música popular brasileira: o cantor Jair Rodrigues. A escolha do tema ocorreu em Outubro, assim como o levantamento dos participantes nas escolas da
Foto:Luciano Coca
Cores e formas tambĂŠm fazem o Carnaval Turismo e Requinte
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Fotos:Júlio Scarpelli/AMETRA
cidade. A partir daí, o trabalho começou: estagiários, funcionários, alunos e professores passaram a se mobilizar em um trabalho intenso até o momento do desfile. “Fazemos o que precisa ser feito, sem divisão de tarefas. Vamos até enfeitar a avenida. Eu, por exemplo, já passei 4 horas em cima de um caminhão Munk colocando os enfeites”,
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Homenageado do ano passado, Maurício de Souza se diverte ao som dos tamborins
diverte-se a professora de educação física Luciana Cascardo. O que reina definitivamente dentro das unidades é mesmo a diversão. Durante o ano letivo, a alegria em fazer um dos desfiles mais belos do carnaval é aliada ao prazer de aprender ao máximo sobre o enredo. Este ano, as principais canções
em passag para a iada pelo o h in e cam sonagem cr ue abr r Destaq a Magali, pe d da ala is ta h desen
interpretadas por Jair Rodrigues foram estudadas em salas de aula. Nas quadras, as aulas de interpretadas por Jair Rodrigues foram estudadas em salas de aula. Nas quadras, as aulas de educação física também foram
carnaval, educação e utilizadas para treinar as alas e diversão os destaques. Já nas oficinas profissionalizantes, foram confeccionados os carros alegóricos. “Na época do carnaval, todo mundo vira artesão. O aluno ganha porque isso reforça o aprendizado”, explica a professora de arte Valquíria Rodrigues de Souza. Este diferencial faz com que praticamente todos os homenageados tenham interesse em se envolver com o projeto. Ao saber da homenagem, Jair Rodrigues fez questão de conhecer os preparativos nos “barracões” e participar da escolha do samba-enredo. Maurício de Souza, homenageado do ano passado, resolveu ver de perto todo o trabalho dos alunos, assim como
Foto: Júlio Scarpelli/AMETRA
Em pleno
o carnavalesco Joãozinho samba tradicionais de Taubaté. Trinta, que para Valquíria, foi o Mesmo com muito trabalho, e homenageado mais marcante. sem concorrer a nenhum título, “Foi muito bonito o Centro ver o envolvimento Taubateano de dele com as Cores e brilho Eventos lota nos crianças. A fazem da escola uma dois dias de desfile simplicidade dele das mais bonitas do da escola mirim. encanta. Foi o carnaval taubateano Para os primeiro artista personagens que veio principais deste espetáculo, o interessado em conhecer a prêmio maior é saber que o gente”, relembra. samba-enredo está na ponta da Todos sabem que têm uma língua dos componentes, que imensa responsabilidade ao levam no coração o verdadeiro entrar na avenida. A AMETRA sentido do carnaval e o amor Carnaval chega a ser cinco por tudo que representam. vezes maior que as escolas de PROGRAMAÇÃO DO CARNAVAL 2007
Data Horário Atividade 17/02 – Sáb. 20h Abertura Oficial com presença do Senhor Prefeito Municipal e a Corte de Momo 2.007 21h Desfile do Projeto AMETRA (Amparo ao Menor Trabalhador) 23h30 Desfile do G.R.S.C.E.S.Mocidade X TaubateanaGrupo de Acesso em competição 01h Desfile do G.R.E.S. Unidos do JaraflorGrupo de Acesso em competição 02h30 Entrega dos envelopes pelos jurados à Comissão de Carnaval com o lacre na presença dos representantes das agremiações. 18/02 – Dom. 15h Matinê 20h Apresentação da Corte de Momo ao público presente 21h Desfile do G.R.E.S. Unidos do Parque Aeroporto Grupo Especial em competição 22h30 Desfile do E. C. XV de Novembro e Acadêmicos do Chafariz - Grupo Especial em competição 00h Desfile do G.R.E.S. Boêmios da Estiva Grupo Especial em competição 01h30 Desfile do E.S. Império Central da Mocidade Alegre (Vila das Graça) Grupo Especial em competição 03h Desfile do G.C.E.S. Acadêmicos da Santa Fé
Grupo Especial em competição 04h30 Entrega dos envelopes pelos jurados à Comissão de Carnaval com o lacre na presença dos representantes das agremiações. 19/02 – Seg. 15h Matinê 15 Apuração das Campeãs do Carnaval 2.007 de Taubaté no Clube de Campo Abaeté 20h Apresentação da Corte de Momo ao público presente 21h Apresentação do ONG OPS – Organização Pró Solidária - Sem julgamento 21h20 Apresentação do G.R.C. Bloco Carnavalesco Dragões Alvi Azul - Sem julgamento 22h40 Apresentação da A.D.C. Ford TaubatéSem julgamento 01h Apresentação do G.R. Bloco dos FarraposSem julgamento 20/02 – Ter.15h Matinê 20h Apresentação da Corte de Momo ao público presente 21h Desfile do Projeto AMETRA (Amparo ao Menor Trabalhador) 00h Apresentação da Campeã do Grupo de Acesso 01h30 Apresentação da Campeã do Grupo Especial Turismo e Requinte
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Opinião
CARNAVAL E O ADEUS À CARNE Uma autorização do incosnciente coletivo , que permite que tudo aconteça, inclusive a liberação das fantasias mais íntimas, sem que haja culpa social
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ão festas e comemorações muito antigas. Chegam a ser mais antigas do que a própria religião cristã. Essas festas tiveram origem como forma de adeus à carne (último dia de terça-feira gorda), antes do início da quaresma; um acontecimento tipicamente religioso. Então vamos ver como o ser humano pensa e reage: Depois da terça-feira gorda, os homens deveriam passar 40 dias sem a manifestação do desejo pela carne, pelo prazer e pelo gozo. O ser humano, sentindo-se tão ameaçado por tais privações, resolveu desfrutar nos três, quatro dias de carnaval - que antecedem a quarta-feira de cinzas - todo o excesso do qual ele se privaria pelos próximos 40 dias. Então, o carnaval passou a ser uma autorização do inconsciente coletivo, permitindo que tudo pudesse acontecer. Por meio de fantasias e máscaras, os desejos reprimidos começaram a ser liberados nesta época. Essas danças, cultos e rituais, tradições sábias e manifestações culturais, apareceram no carnaval representando o mundo interno de cada indivíduo, de cada lugar, do campo simbólico do ser humano, ou de uma comunidade. É comum a todos os seres humanos, independente de cor, cultura ou credo, terem a sua linguagem simbólica representada por suas fantasias. O carnaval tem esse “poder de escancarar” todo tipo de fantasia, antes reprimido nas pessoas, mas que agora ficam
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sem o medo de passarem pelo crivo da censura. Assim, durante o carnaval podem-se retirar aquelas máscaras sociais falsas, e permitir a liberação da imaginação. É mais que saudável usar fantasias que irão preencher os sonhos e aliviar as ansiedades e o medo. A pressão e repressão social e coletiva atingem o corpo e a mente até adoecer. O que nos chama muito a atenção nos tempos modernos é a liberação das fantasias de auto-extermínio - que ocorrem por meio da droga e do álcool - e os monstros internos que acabam usando o carnaval para morrer ou matar. Esses monstros vêm, como dissemos, pela via do álcool, da droga, mas também por meio da agressividade, da Aids e da morte. Pare e pense: existem fantasias saudáveis do super-homem, da mulher maravilha, da tiazimha, da noivinha, da bigbrother, da novela, do cinema, da igreja e até da política, que manifestarão seu desejo reprimido sem as distorções do álcool e da droga. Lembro de um rapaz, que vinha fantasiado de caixa de presente, por que será? Outro de camisinha, outro de Chavez, outra de rainha do Egito, outro de mulher, outra de Xuxa. Por que será? Lembre-se: CARPE DIEM (aproveite o dia) e espere mais um ano com a expectativa de poder passar pelo mesmo processo de crescimento novamente! REGINA DE CASTRO Psicóloga Clínica (12) 3632-8042 regina.castro@hotmail.com
FRAGMENTOS DA HISTÓRIA
A Tradição do Carnaval de São Luiz do Paraitinga Por Caroline Soares Historiadora Colaboração Leda
DESDE SUA ÉPOCA como vilarejo, São Luiz já cultivava o Carnaval. Em seus primórdios era uma região muito rica devido ao cultivo da canade-açúcar. Logo, neste período de fartura, as festividades, incluindo o carnaval eram estimuladas. Contudo, uma mudança no ciclo econômico nacional derruba o açúcar e eleva o cultivo do café. São Luiz não adota o novo produto. Nesta fase, assume a função de ‘entre posto’-cidade dormitório entre as principais regiões produtoras e os portos localizados no Litoral Norte de São Paulo e no Sul do Rio de Janeiro. Esta também foi uma fase de fartura e a antiga riqueza pode até hoje ser testemunhada pelas fachadas dos grandes casarões que se encontram na cidade. Mas, no final do século XIX e início do XX, o café também entra em decadência e todas as regiões dependentes dessa iguaria enfrentam uma forte crise econômica. Monteiro Lobato definiu essas cidades do Vale do Paraíba como ‘cidades mortas’, e de fato eram. Junto com o café foram sepultadas as riquezas e as festividades, inclusive o carnaval luizense. A este fator econômico somou-se também um fator religioso que, de certa forma, contribuiu para a supressão deste carnaval. Surge em São Luiz, já no século XX, o Mon Senhor Ignácio Gióia, figura religiosa avessa ao carnaval que afirmava que o diabo faria nascer rabos e chifres nos foliões. Muitos se preocuparam com as profecias, mas muitos as ignoraram.
Nasceu aí, em um ato de rebeldia ou de irreverência, o ‘Encuca a Cuca’ talvez o principal bloco carnavalesco de São Luiz. Seus membros incorporavam os rabos e os chifres, mas saiam mascarados numa tentativa de ‘driblar’ o diabo, ou a própria população luizense mais radical, ainda ligada as ‘profecias cristãs’. Paralelo a este fato, aproximadamente na metade da década de 1970, Dona Cinira, temendo que seus filhos fossem pular carnaval em outras cidades, onde poderiam entrar em contato com drogas e violência, resolveu estimular a formação de novos blocos carnavalescos no município. Seu esposo, Eupídio Santos, músico, a apoiou e desta forma surgiu o “Paranga”, tradicional grupo de São Luiz, responsável pelas mais famosas marchinhas da cidade. O patriarca, “seu Eupídio”, já é falecido, mas sua presença ainda se faz sentir no carnaval luizense por meio de suas músicas, que são cantaroladas durante o festejo. Os blocos multiplicaram-se na proporção que foram surgindo mais foliões. É um carnaval protegido culturalmente, exalta o regionalismo. Uma multidão aprova essa decisão e vai para São Luiz nos dias de carnaval, brincam pelas ruas e ladeiras da cidade tendo como cenário os casarões antigos. Curtem ao som das marchinhas, nada de Axé, Funk ou qualquer outro ritmo que nos remeta ao Século XXI. É um carnaval à moda antiga. É uma volta ao tempo.
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Fotos: Chinica Medeiros
Vá a São Luiz nesse Carnaval e divirta-se como nunca Por João Carlos de Faria
Os versos que ecoam pelas ruas e becos de São Luiz do Paraitinga, na abertura da festa de Momo, ficam se repetindo o ano inteiro na memória de quem vai à cidade pela primeira vez ou para aqueles que já se acostumaram à folia com jeito de antigamente. Para esses, nem bem termina um Carnaval e as reservas já ficam feitas para o próximo ano. São fregueses de carterinha, das pousadas, calçadas e bares da pequena e imperial cidade do Alto Paraíba. A essas alturas, achar vaga em algum lugar para ficar na cidade nos três dias de Carnaval, é missão impossível, mas tem gente que não se importa com o conforto e se ajeita em
Endereço: Avenida Governador Abreu Sodré, 1047 12
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qualquer lugar, ou então vai e volta todos os dias... Um detalhe importante: no carnaval luizense não se tem violência, é quase que uma festa de família. No sábado de Carnaval, a alegria toma conta de milhares foliões que não estão nem aí para a taxa de R$ 30 para estacionar nas ruas da cidade, e descontraidamente acompanham o mais famoso bloco e o mais prestigiado personagem luizense, o Juca Teles do Sertão das Cotias. Até o meio dia, o clima é de preparação e expectativa: tem café da manhã no Largo do Teatro para pessoas carentes e os megafones anunciam pelas ruas, a festança que se prenuncia. A cidade fica num burburinho só,
mas sem ele - o Juca - o carnaval não se abre oficialmente. Só depois que ele discursa é que a festa começa de verdade. Daí pra frente é música dia e noite, mas sem axé, pagode ou coisa do gênero; o ritmo é marcado pelos compassos de inúmeras marchinhas, umas criticando, outras fazendo rir, mas todas falando da mesma coisa: a alegria do Carnaval. O clima, na verdade, esquenta desde o começo de fevereiro, quando o Festival de Marchinhas sempre revela novos talentos ou surpreende com figuras já calejadas, que trazem alguma novidade para o palco. Neste ano, quem levou o prêmio foi Flor de Primavera, música dos taubateanos Puru, Germano Drumond, Lu Baleiro e Chicó. O melhor intérprete foi Tonho Prado, outro taubateano, cuja performance no palco lembrou muito bem o caipira Mazaroppi. Diga-se de passagem, nessa história de marchinha, muitos outros lugares resolveram seguir o rastro de São Luiz e começam a fazer seus próprios festivais: Ubatuba, Taubaté, Campos do Jordão e até o Rio de Janeiro. Quem quiser levar uma boa lembrança para casa, tem que comprar o novíssimo CD “Outros Carnavais”, tirado da cartola, gravado e produzido pelo músico, compositor, diretor de Cultura e “cabeça” do Carnaval, Galvão Frade, com músicas de carnavais das décadas de 80 e 90 e outras composições mais
Bairro: Perequê-Açú TeleFax: (12) 3833-9800
recentes. Com 11 faixas, incluindo alguns pout-porris, o CD tem boas parcerias de Frade com Marcos Ribeiro Branco, Pio Santos (in memorian) e outros autores locais. As marchinhas luizenses surgem espontaneamente, do nada, de situações do cotidiano ou de temas que estão na mídia ou na boca do povo. O ritmo tem um quê de mistura de batidas e acordes do verdadeiro caldeirão musical que a cidade apresenta durante o ano inteiro, nas festas religiosas e nos encontros musicais. Entre os blocos, o Maricota se destaca bem nesse sentido: na sua passagem, os tambores fazem a terra tremer e fechando os olhos se tem a sensação de que uma grande congada se aproxima. Mas não poderia ser diferente mesmo, numa cidade que faz festa o ano inteiro e venera a música como se venera a pessoa amada. Os blocos são parte fundamental na festa, cada um à sua maneira, improvisando fantasias ou trajando algo mais elaborado, mas sem ostentação: o tecido oficial é a chita colorida e as cartolas e adereços são de papelão e as máscaras, de papel machê. Uns se vestem de bebê, outros viram fantasmas do outro mundo, tem gente de pijama, roupão, camisola ou simplesmente enrolada num lençol. Vale tudo! O que importa é a alegria, as letras bem humoradas e nomes estrambóticos como bloco do Lençol, Etesão, Pé na Cova, Pai do
Endereço: Avenida Governador Abreu Sodré, 1047
Troço, Cruis Credo, Balacobaco, Bico do Corvo... Nesse ano, a novidade é que todos eles vão desfilar com um bonecão, resgatando tradição antiga do Carnaval local. No tempo do saudoso Encuca Cuca – bloco pioneiro do carnaval luizense, que deixou de desfilar há uns dez anos - era dessa forma que saiam pelas ruas, figuras do folclore local, escondidos o ano inteiro no baú das lendas. Um dos bonecões mais conhecidos nas festas locais até hoje é o casal João Paulino e Maria Angu. O artista Benito de Campos é quem mais sabe desses e de outros bonecos, aos quais se dedica o ano inteiro e de quem cuida como filhos. Vale a pena conhecer a sua casa-ateliê, que fica na rua de trás da Matriz. Alguns blocos, além do Juca Teles, são muito esperados e tem até fã-clube, como o Bloco do
Barbosa, cujo patrono, motorista de ônibus e figura conhecida dentro e fora de São Luiz, arrasta a multidão atrás de si, provocando risos pela coreografia meio desajeitada de alguns, que, com teor de álcool mais alto e o calor de terça-feira de Carnaval ficam meio desequilibrados. Tem o Bloco do Casarão, formado por neo-luizenses por paixão, cuja maioria já freqüenta a cidade o ano inteiro e está perfeitamente integrada ao espírito local. Os cortejos saem do Mercado, da rua Barão do Paraitinga, do Largo do Rosário e das Mercês, mas sempre desembocam na praça Oswaldo Cruz, onde se dispersam, depois de muita festa. Enquanto isso, em algum lugar da cidade, outro bloco já se prepara para desfilar. Os bares são os lugares mais freqüentados de São Luiz do Paraitinga durante o Carnaval, além da rua, é claro. Para muitos
Bairro: Perequê-Açú TeleFax: (12) 3833-9800 Turismo e Requinte
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moradores ou para alguns dos que ficam alojados ou hospedados na cidade, a casa, nesses dias, só serve para poucas coisas: tomar banho, dormir, comer (às vezes) ou ir ao banheiro. No mais, é nos bares que se passa o tempo; o do Nhô, na praça é dos mais freqüentados. Nos dois cantos da praça a oferta é diversificada: de um lado, fica o Barão Café, com s a l g a d o s , refrigerantes e outras guloseimas; do outro está o Bar dos Maia, o antigo Café Paris, onde o legal é pedir uma cachaça de alambique preferencialmente uma Luizense - e como tira-gosto, um “pastel de vento”. Mas, invariavelmente, nos bares, restaurantes e até nos botecos que se improvisam na parte baixa dos casarões, se toma cerveja, muita cerveja...São mais de 200 mil latas nos quatro dias de Momo. Mas será que São Luiz só tem de bom a folia? Muita gente já descobriu que não e faz da viagem de carnaval, uma oportunidade para curtir outras coisas de cidade pequena, desafogar-se do estresse e desfrutar de outros atrativos que a cidade oferece. Além dos casarões centenários, que transportam quem os observa para o tempo dos barões – a cidade tem mais de 90 prédios tombados como patrimônio histórico do Estado – há também os recantos e becos e as igrejas: das Mercês – a mais antiga -, do Rosário e a majestosa matriz de 14
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São Luiz de Tolosa. Os mais ligados na história devem visitar a Casa de Oswaldo Cruz, patrício dos luizenses, embora tenha vivido praticamente a vida inteira fora da terra natal. Quem busca coisas da terra, vai ao Mercado Municipal, uma raridade nos dias de hoje, mesmo nas pequenas
cidades da região. Se for para a roça, escolha Catuçaba, o bucólico distrito luizense que guarda preciosas tradições, como a cavalgada do “seo” Renô Martins, a Festa de São Pedro, além de grupos de folia e artesãos. Um fato curioso e até hoje inexplicável, são os sobrenomes franceses do povo simples do lugar, que não tem nada a ver com a descendência dos gauleses. Nos arredores do povoado, ficam algumas fazendas antigas e o Refúgio das
7 Cachoeiras, um lugarzinho especial, onde além da profusão de águas – são oito cachoeiras num pequeno trecho de rio – também tem comida boa e muitas redes para uma soneca depois do almoço, que pode ser ali mesmo, ou no Taperê, charmoso restaurante que fica um pouco antes de chegar na vilinha. Nesse caso, o cardápio reserva surpresas agradáveis como os pratos à base de carne de coelho, ou a comida regional, acrescida de pequenos detalhes que a deixam mais saborosa. Ah! E é bom saber que em Catuçaba também tem carnaval... Como é certo que quem vai a São Luiz pela primeira vez, vira freguês, quem sabe, numa próxima viagem haverá tempo para curtir outras faces da cidade e da roça. Poderá, por exemplo, comparar a algazarra dos dias de Carnaval com a tranqüilidade do dia-adia da cidade. Os mais corajosos poderão cavalgar pelas estradinhas e trilhas rurais, cortando paisagens de se encher os olhos ou se aventurar descendo o rio Paraitinga de bote, depois de uma caminhada dentro da mata, no Núcleo Santa Virgínia, na serra do Mar. Mas isso, é assunto para outra reportagem. Até lá divirtase muito, mas cuidado para não ficar com o “pé na cova”, depois do Carnaval. SERVIÇO: Receptivo Paraitinga (12) 3671-269 Prefeitura: (12) 3671-7000 ou 3671-
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“Sempre fui, sou e serei uma pessoa simples. Nunca me senti o maioral, porque aprendi que, maior, só Deus”
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A Alegria e a Simplicidade de Jair Rodrigues Por: Ednelson Prado Fotos: Luciano Coca Colaboração: Júlio Scarpellii
Sabe aqueles momentos em que você está em um lugar, com toda a liberdade e tranqüilidade, que nem percebe o tempo passar... É assim que você se sente quando está na casa e na companhia de Jair Rodrigues. O cantor, um dos mais importantes da música popular brasileira - e que possui mais de 45 anos de carreira - é uma daquelas figuras que você conhece e com a qual logo se identifica. Sua alegria é contagiante e a simplicidade é um dos seus maiores atributos (além do 16
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talento musical, é claro). Homenageado deste ano no carnaval de Taubaté, Jair Rodrigues nos recebe em sua casa em Cotia, na grande São Paulo, para uma conversa e não para uma entrevista. Uma entrevista seria uma relação baseada em perguntas e respostas; mas com Jair a coisa é diferente, se torna um bom bate papo, daqueles em que você pode ficar horas e nem perceber o passar do tempo. Sobre a homenagem proposta pela escola de samba Ametra, o cantor
confessa que ficou muito emocionado com o convite. Jair garante que, há muito tempo, familiares e amigos mais próximos questionavam o fato de ainda não ter recebido uma indicação, uma homenagem como esta. Para todos eles, a resposta, ele garante, foi a espera. “Aprendi com minha mãe que tudo tem seu tempo. Quando era criança ficava muito ansioso e minha mãe sempre dizia para ter calma, paciência, e foi com ela que aprendi a esperar, e neste caso valeu muito à
pena”. Para Jair Rodrigues, sua trajetória de sucesso ocorreu devido a alguns fatores, entre eles, talento, esforço e seu jeito de ser. A alegria , afirma, é sua eterna companheira. Sobre o sucesso, o cantor garantiu que ele nunca o atrapalhou. “Sempre fui, sou e serei uma pessoa simples. Nunca me senti o maioral, porque aprendi que, maior, só Deus”. A casa, construída em uma bela chácara, localizada em Cotia, é um local muito agradável e bonito. Quem chega e observa a decoração tem a certeza de que ela tem tudo a ver com o cantor, a partir de detalhes que vão ao encontro de seu estilo, do seu jeito de ser. É o caso de um pequeno portão que dá acesso à área da casa, construído em forma de porteira. As mesas e cadeiras complementam essa paisagem quase rural. Ao falar a respeito decoração, Jair Rodrigues solta uma gargalhada. O cantor confessa que praticamente todas as pessoas que o visitam pela primeira vez têm a impressão de que a decoração foi feita por ele, ou a pedido dele. Mas a verdade é outra. A responsável pelos detalhes que tornam o local tão aconchegante é sua esposa. “As pessoas pensam que sou eu, mas é a Clodine, minha esposa, que é cuida de tudo isso. Claro que ela pede minha opinião, mas ela é a grande responsável por tudo isso aqui”. A relação com Taubaté, cidade da qual receberá a homenagem neste carnaval, o cantor de Disparada explica que já foi maior. Um dos motivos desse distanciamento seria o cuidado com a própria carreira, que mereceu atenção especial ao longo dos últimos anos. “Passava bastante
por Taubaté, pela região. Confesso que há um bom tempo não vou à cidade. Visitava mais durante minha juventude. Agora, a agenda de shows não me permite muito. Mas tenho um carinho enorme pela cidade, ainda mais agora depois dessa lembrança”. Além da cidade valeparaibana, Jair Rodrigues lembra que outro local que visitava bastante em sua juventude era Ubatuba. Na cidade litorânea, a viagem tinha como razão o lazer, principalmente a pesca. Com tantos anos de carreira, é comum o artista ser procurado por pessoas que vão em busca de conselhos e orientações sobre os caminhos do sucesso. Jair garante que se sente feliz por poder passar
um pouco de sua experiência para os mais jovens. “Quando vejo que a pessoa quer um conselho, uma sugestão, tento ajudar. Só não gosto quando percebo que a pessoa quer apenas usar minha imagem, dizer que esteve comigo só para ganhar espaço na mídia”. Foram quase duas horas de conversa, mas poderiam ter sido três, quatro, pois a descontração fez com que o tempo não fosse sentido. Ao finalizar, Jair Rodrigues ressaltou, mais uma vez, que o carinho por Taubaté, trazido desde a juventude, só aumentou com a homenagem e que a cidade pode esperar uma grande festa durante o carnaval. Turismo e Requinte
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Praia de Iperoig, onde beleza e história se encontram... “Conhecer um lugar é mais do que passar por ele, é degustá-lo, conhecê-lo em suas peculiaridades e passar a fazer parte. Ubatuba nos permite viajar através dos tempos com a emoção de estar presente” Por: Claudia Oliveira
No despertar
do
amanhecer, os pescadores retornam para suas casas após uma noite cansativa e quem está caminhando pela orla de Iperoig (baia de tubarões em tupi-guarani) tem uma imagem da qual alguns só ouviram falar... Poesia para uns, rotina corriqueira para outros. A praia, que também leva o duplo nome de Cruzeiro, é simbolizada por uma enorme cruz, onde fiéis ascendem suas velas, fazem suas promessas e relembram
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do ‘acunticido’ como diria o caiçara; do Primeiro Tratado de Paz da América Latina, batizado nos livros de história como ‘Paz de Iperoig’, defendida pela ‘Confederação dos Tamoio’ e assinada em 14/09/1563. Quem pisa nas areias de Iperoig tem o privilégio de reviver histórias que estão ligadas diretamente à formação de nosso país. Suas areias foram cúmplices da maior renda per capita do Brasil, quando Ubatuba ainda pertencia ao Estado do Rio de Janeiro, e abrigava o maior
porto da época, importando e exportando especiarias como cana-de-açúcar, café, etc. Em suas areias também pisaram personagens ilustres de nossa história como o alemão Hans Staden – cuja passagem por terras brasileiras resultou em um longa-metragem - o santificado Padre José Anchieta, que escreveu nas areias de Iperoig o poema “À Virgem”, com mais de cinco mil versos eternizados em páginas de livros que contam sua história. O importante empreendedor Ciccillo
Foto: Emilio Campi
Pela manhã, ou à tarde, a caminhada pelo calçadão do Cruzeiro é uma forma de interagir com a natureza e de renovação
Matarazzo, que chegou a ser prefeito da terra, que é a menina dos olhos do litoral norte paulista; construiu sua mansão ao lado da praia de Iperoig só para apreciar esta vista paradisíaca. Até o professor Thomaz Galhardo, criador da primeira cartilha de alfabetização do país, não resistiu e construiu sua casa beirando a orla, local hoje onde funciona a Câmara Municipal. Coaquira o chefe da tribo de Iperoig já não esta
mais aqui... Mas muitos, depois dele, fizeram suas pegadas nas areias... hoje quem faz a história são os turistas, moradores e amantes dessa beleza embriagante, ou ainda, os que nela nascem, filhos que ‘cai e çara’. Conhecer Ubatuba é vivenciar experiências ímpares como acontece todo o mês ás 18h, quando a lua cheia surge na baía proporcionando um marcante espetáculo, lembrando aos amantes que é
para sempre, e, para todos, que a nossa história não pára... Mistérios ocorridos no céu, caravelas em alto mar, guerrilha e paz em terra, o que mais suas areias guardarão? Localizada no centro da cidade, quando a tarde cai, as famílias e amigos dão vida à orla de Iperoig: tomam sorvetes, lêem livros, sentados nos bancos do jardim da praia; visitam a feira hippie, a praça dos Artistas Plásticos; assistem à missa da Matriz, conhecem o Casarão do Porto, aproveitando para ver a exposição do mês; e depois jantam em um dos bons restaurantes espalhados ao longo da avenida. Com o passar das horas, logo mais à noite, os jovens e boêmios vêm substituir a tranqüilidade pelo agito, e é aí que tudo acontece. Os bares noturnos com música ao vivo (há para todos os gostos) e a moçada passando de um lado para o outro, distribuindo juventude. E lá está a bela Iperoig, cúmplice da história que estamos construindo. Eternas em nossas vivencias de uma beleza que só os olhos podem perceber e a alma sentir.
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Opinião
Qualidade e Seriedade a Serviço do Turismo Fiquei surpreso ao ler e apreciar a revista “TURISMO E REQUINTE”. O diretor Ednelson Prado e toda sua equipe estão de parabéns; o Vale do Paraíba, o Litoral Norte e a Serra da Mantiqueira careciam e mereciam de uma publicação como esta Ao constatar a qualidade das fotos e a propriedade das matérias, percebe-se que o trabalho foi realizado por profissionais que têm competência, talento e, acima de tudo, mostramse comprometidos com seriedade e qualidade. O comprometimento faz com que a inspiração da alma aflore e é desta forma que senti o envolvimento dos responsáveis, ao elaborarem o trabalho. Ubatuba, por exemplo, assim como as demais cidades do Litoral Norte, possui uma história muito rica. Ao ler, na primeira edição, a passagem de Ciccilo Matarazzo pela prefeitura de Ubatuba, lembrei-me de uma figura ímpar, que conheci em minha infância: trata-se de “Idalina Graça”, grande benfeitora de Ubatuba, amiga de todas as horas do inesquecível médico Wladimir de Toledo Pizza, ex-prefeito de São Paulo, ex-deputado, autor do célebre e
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humaníssimo “Livro das Mãezinhas” e amante de Ubatuba. D. Idalina escreveu alguns livros: um deles, “Terra Tamoia”; o outro, “Bom Dia, Ubatuba”, onde , em suas páginas 85 e 86, generosamente fala a meu respeito, quando eu contava apenas 18 anos. Hoje, com 55 anos, sinto-me feliz e honrado ao receber o convite para, mensalmente, escrever algumas linhas sobre aspectos da região, especialmente os que envolvem o mercado imobiliário e o ramo de seguros em geral. Como advogado, corretor de imóveis, empresário, vibro com o sucesso turístico de nosso Litoral Norte, do Vale e da Serra, e formulo meus melhores votos para que esta publicação se transforme em mais uma alavanca de desenvolvimento para Ilhabela, São Sebastião, Caraguatatuba e Ubatuba, no Litoral Norte; mas também que colabore para o fortalecimento cada vez maior do chamado Cone Leste Paulista, uma das regiões mais promissoras do Estado. Parabéns! Sucesso aos idealizadores! Carlos Marcondes Avogado e Empresário
Boa vida e tradições de antigamente são os atrativos de Paraibuna Fotos: João Rural
Por João Carlos de Faria
Fazenda “Boa Esperança”, local de rara beleza
A Estradas de terra, ladeando riachos de águas claras e a paisagens verdes, cheias de ondulações que se perdem no olhar, até alcançar o horizonte. Ribeirões cheios de cascatas e cachoeiras, que desembocam na represa, formando uma imensidão de águas, um verdadeiro “mar caipira”. Animais que se agitam em volta do curral, ao amanhecer, quando passarinhos cantam animados e o cheiro do café de coador se espalha no ar. Um cenário assim, que povoa o imaginário de quem vive nas grandes cidades, faz parte da rotina de Paraibuna,
cidade de tradições rurais, quase a meio caminho do Litoral Norte, na região denominada Alto Paraíba. E isso tudo está ao alcance dos turistas, que desejam curtir um final de semana diferente, sem ir muito longe para apreciar atrativos que têm tudo a ver com a vida na roça. O município tem mais de 300 anos de história, lembrada por antigos casarões na praça central e prédios como o mercado municipal ou por fazendas centenárias como a Boa Esperança, recémrestaurada e sede do Vale da Fartura – referência a uma antiga região de grande
produção cafeeira. As centenárias portas da fazenda guardam muitas histórias, desde os idos de 1806, quando foi criada a Sesmaria do Vale da Fartura e o prédio está em estudos para ser tombado como Patrimônio Histórico Nacional, por ser um exemplar único na região, no estilo bandeirista. A fazenda apresenta programas para escolas e grupos e realiza cursos de gastronomia tradicional. Destacam-se ainda as fazendas São Pedro, Boa Esperança, da Grama e Bom Retiro. É em Paraibuna também que nasce o rio Paraíba do Sul, Turismo e Requinte
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Foto: João Rural
comidinha bem caseira e aproveitar para a compra de outras preciosidades, como rapaduras, frangos caipiras, embutidos e outras miudezas. Produtos feitos de taboa, madeira, argila, bambu e papel e impregnados de religiosidade e de sentido utilitário formam a base do artesanato local, que pode ser encontrado, apreciado e comprado na Fundação Cultural “Benedicto Siqueira e Silva”, ou diretamente com os próprios artesãos.
A preservação das tradições percorre o caminho que leva até a “Boa Esperança”
A culinária paraibunense tem pratos tradicionais como o “fogado”, que foi até tombado como patrimônio municipal, e o “pastel do Manézinho”, além de doces artesanais, queijos e dois produtos que já se tornaram referência da cidade: a bananinha Paraibuna e as lingüiças da família Demarchi, as preferidas do presidente Lula. Além de vários restaurantes na cidade e ao longo da rodovia dos Tamoios e de vários pesqueiros, também vale conhecer o famoso “Café Caipira da Dona Maria”, no bairro do Espírito Santo, onde se toma café como antigamente se tomava na roça: com muita fartura e variedade de bolos, doces e salgados e, dependendo da época, pamonha e milho cozido. O mercado municipal é uma construção de 1880, quando Paraibuna era grande exportador de porcos, e ainda mantém algumas das características originais, como o telhado. No seu interior, os visitantes podem saborear uma 22
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SERVIÇO: Informações Turísticas – Fone: (12) 3974-0621 /39740717
Faria rlos de oão Ca Foto: J
na fusão dos rios Paraibuna e Paraitinga, que correm quilômetros serra abaixo, até se juntar na represa, que tem 206 km2 de extensão, 204 ilhas e profundidade média de 100 metros. Passeios de barco e visitas aos projetos ambientais da Cesp – que recupera a fauna e flora regional – e ao Parque Ecológico do Fundão são programas interessantes.
Todos esses atrativos se complementam com as facilidades oferecidas pela cidade, que já tem uma boa rede de pousadas, bares, restaurantes e outros serviços, além de um clima de muita tranqüilidade. O sugestivo slogan da cidade, “Paraibuna, Chão Caipira”, também não deixa dúvidas de que lá, o turista vai encontrar simplicidade e muita hospitalidade.
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