Maracatu - Livro Didático - Pibid Univali

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MARACATU História e características


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O Maracatu O Maracatu de Baque Virado ou Maracatu Nação é uma manifestação da cultura popular brasileira afrodescendente, originalmente de cunho religioso. Surgiu durante o período escravocrata, provavelmente entre os séculos XVII e XVIII, onde hoje é o Estado de Pernambuco, principalmente nas cidades de Recife, Olinda e Igarassu (que, antigamente, abrangia também o que são hoje os municípios de Itapissuma, Abreu e Lima e Itamaracá). Como a maioria das manifestações populares do país é uma mistura de culturas ameríndias, africanas e européias.


Xilogravura com o tema de Maracatu. Autor desconhecido. Fonte: http://maracatu.org.br/o-maracatu/files/2009/05/gravura_breve_historia.jpg

Breve história

Apesar de existirem muitas

visões, histórias e hipóteses diferentes, a explicação mais difundida entre os estudiosos acerca da origem do Maracatu Nação é a de que ele teria surgido a partir das coroações e autos do Rei do Congo, prática implantada no Brasil supostamente pelos colonizadores portugueses e, por consequência, permitida pelos senhores de escravos. Os eleitos como Rainhas e Reis do Congo eram lideranças políticas entre os cativos: intermediários entre

o poder do Estado Colonial e as mulheres e homens de origem africana. Destas organizações teriam surgido muitas manifestações culturais populares que passaram a realizar encontros e rituais em torno dessas representações sociais originando manifestações populares como Maracatu de Baque Virado, que também estabeleceu ao longo dos anos em diversos “agrupamentos” uma forte ligação com a religiosidade do Candomblé ou Xangô Pernambucano. Com a abolição da escravatura no Brasil, no fim do século XVIII, o Maracatu passou gradualmente a ser caracterizado como um fenômeno típico dos carnavais recifenses, como ocorreu com o Frevo e outras práticas populares brasileiras.


Caboclo de lança, personagem de destaque do Maracatu Rural (Baque Solto) Fonte: https://static.todamateria.com.br/upload/ma/ra/maracaturural-cke.jpg

Após um intenso processo de decadência dos maracatus de Recife durante quase todo o século XX, ocorreu nos anos 1990 o que podemos chamar de “Boom do Maracatu”. A prática ancestral adquiriu uma notoriedade que nunca havia conquistado antes, resultado, entre outras coisas, da ação do Movimento Negro Unificado (MNU) junto a Nação Leão Coroado, (uma das nações mais tradicionais de Recife), do movimento Mangue Beat (que tem como principais expoentes Chico Science e o grupo Nação Zumbi,

a Banda Mestre Ambrósio, entre outros), e do grupo Nação Pernambuco (uma de suas principais marcas foi ter separado a dimensão da música e da dança do Maracatu de sua dimensão religiosa). Nesse contexto o Maracatu de Baque Virado saiu de seu palco principal que é a cidade de Recife e chegou a diversos lugares do país e do mundo. Atualmente existem grupos percussivos que trabalham com elementos da Cultura do Maracatu Nação em quase todos os estados brasileiros e em diversos países como Canadá, Inglaterra, França, Estados Unidos da América, Japão, Escócia, Alemanha, Espanha, entre outros.


Questões históricas Grande parte do território Africano foi invadido e dominado pelos colonizadores europeus a partir do século 15, resultando no estabelecimento de colônias controladas por grandes potências da época como França, Portugal, Inglaterra e Espanha. As colônias portuguesas se estabeleceram principalmente nos territórios onde atualmente estão Angola e Moçambique, mas também em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau. O processo de dominação e colonização européia na África teve início já no século 15, com a dominação em 1415 da cidade de Celta no norte africano. Nos séculos posteiores gradualmente o litoral do continente, tanto no Oceano Atlântico quanto no Oceano Índico, passou para o domínio europeu que também se estabeleceu no século 16 na América do Sul, principalmente pelas mãos dos portugueses e espanhóis. O tráfico de escravos ao Brasil se tornou uma prática crescente e já por volta de 1550 havia escravos africanos na Vila de São Vicente. Nos anos seguintes a expansão do tráfico negreiro foi impulsionada por alguns fatores como a dificuldade de escravizar os nativos da América do Sul ou os negros da terra, o crescimento da produção de açúcar e, no século 18, a descoberta de ouro. Força motriz da economia colonial do Brasil a mão de obra escrava se espalhou por todos os cantos da colônia resultando em uma grande presença de homens e mulheres negras no território brasileiro. Trabalhando principalmente na mineração, nas plantações de café e cana-de-açúcar e nos engenhos os escravos eram mantidos sob torturas e condições precárias em todos os aspectos, aprisionados nas senzalas de onde saíam apenas para trabalhar e apanhar. Com a abolição da escravatura no Brasil no fim do século XVIII, o Maracatu passa gradualmente a ser caracterizado como um fenômeno típico dos carnavais recifenses, como ocorreu com o Frevo, o Caboclinho, o Cavalo-marinho entre outras práticas populares brasileiras, mas mantém em muitos “agrupamentos” uma forte ligação com a religiosidade do Candomblé ou Xangô Pernambucano. No período carnavalesco em Pernambuco é comum nos depararmos com os batuques dos maracatus nação, que anunciam o cortejo real. Na

verdade o que hoje nos parece tão comum ainda traz muitas interrogações sobre sua história. Considera-se que surgiu onde hoje é o estado de Pernambuco, principalmente nas cidades de Recife, Olinda e Igarassu (que antigamente abrangia também o que são hoje os municípios de Itapissuma, Abreu e Lima e Itamaracá), durante o período escravocrata, provavelmente entre os séculos XVII e XVIII. Como a maioria das manifestações populares do país é uma mistura de culturas ameríndias, africanas e europeias. Apesar de existirem muitas visões, histórias e hipóteses diferentes, a explicação mais difundida entre os estudiosos a cerca da origem do Maracatu Nação é a de que ele teria surgido a partir das coroações e autos do Rei do Congo, prática implantada no Brasil supostamente pelos colonizadores portugueses e por consequência permitida e difundida pelos senhores de escravos. Os eleitos como Rainhas e Reis do Congo eram lideranças políticas negras, intermediários entre o poder do Estado Colonial e as mulheres e homens de origem africana. Destas organizações teriam surgido muitas manifestações culturais populares que passaram a realizar encontros e rituais em torno dessas representações sociais, dando origem ao Maracatu de Baque Virado. Após um intenso processo de decadência dos maracatus de Recife durante quase todo o século XX, ocorreu nos anos 1990 o que podemos chamar de “Boom do Maracatu”. A prática adquiriu uma notoriedade que nunca havia conquistado antes, provavelmente resultado, entre outras coisas, da ação do Movimento Negro Unificado (MNU) junto a Nação Leão Coroado, (uma das nações mais tradicionais de Recife), do movimento Mangue Beat (que tem como principais expoentes Chico Science e o grupo Nação Zumbi, a Banda Mestre Ambrósio, entre outros), e do grupo Nação Pernambuco (uma de suas principais marcas foi ter separado a dimensão da música e da dança do Maracatu de sua dimensão religiosa). Nesse contexto o Maracatu de Baque Virado saiu de seu palco principal que é a cidade de Recife e chegou a diversos outros lugares do país e do mundo. Atualmente existem grupos percussivos que trabalham com elementos da Cultura do Maracatu Nação em quase todos os estados brasileiros e em diversos países como Canadá, Inglaterra, França, Estados Unidos da América, Japão, Escócia, Alemanha, Espanha, entre outros.


O que são grupos de Maracatu? No final do século XX principalmente a partir dos anos de 1990, começaram a nascer, inicialmente em Pernambuco, diversos grupos dedicados a arte do Maracatu de Baque Virado, mas que em uma série de aspectos diferenciavam-se das tradicionais Nações de Maracatu. Motivados entre outras coisas, pela forte presença do movimento Manguebeat, já no final da década de 90 era possível encontrá-los em cidades fora de Pernambuco, dando início a um movimento de expansão da arte do Maracatu de Baque Virado, que atualmente já alcançou quase todas as capitais do país e diversas cidades pelo mundo. Estes grupos, também nomeados por muitos simplesmente como grupos percussivos, acabaram por construir o uma nova relação com a Cultura do Maracatu, porém muitas vezes mais dedicados a sua música do que a outras questões desta cultura. São muitas as características que diferenciam uma Nação de Maracatu de um Grupo de Maracatu, como não poderia ser diferente cada grupo tem suas peculiaridades, mas de um modo geral, podemos destacar dois aspectos que marcam estas diferenças: Na maioria dos casos os Grupos de Maracatu não mantém relação com a religiosidade de Matriz Africana e/ou Ameríndia, ainda que em muitas situações alguns de seus integrantes estejam ligados a esta religiosidade, via de regra não é esta a finalidade da maioria dos grupos ou agremiações. Também em muitos casos os Grupos de Maracatu não mantém em suas apresentações a estrutura da corte, ou seja, não desfilam com integrantes caracterizados como Rei, Rainha, Dama do Passo e etc. Substituindo a corte em diversas situações por um corpo de dançarinas(os).

Preferimos adotar Grupos de Maracatu e não Grupos Percussivos, por acreditar que o segundo termo é muito abrangente e não dá conta de nomear os grupos dedicados apenas a cultura do Maracatu de Baque Virado. Apenas por fins didáticos adotamos aqui três designações que consideramos esclarecedoras, sem, é claro, ter a pretensão de encerrar a discussão acerca dos desdobramentos da Cultura do Maracatu de Baque Virado, são elas: Nações de Maracatu: são os grupos tradicionais, muitas vezes seculares e que na maioria dos casos estão ligados a religiosidade de matriz africana e/ou ameríndia. Apresentam-se com um grupo de batuqueiros responsáveis pela execução musical, regidos por um mestre(a), e com uma corte formada por personagens caracterizados como Rainha, Rei, Dama do Passo e etc. Grupos de Maracatu: usamos esta terminologia para nomear os grupos que trabalham exclusivamente com a cultura do Maracatu de Baque Virado, sem promover em sua apresentação, misturas com outros ritmos ou folguedos da cultura popular brasileira, e que, utilizam apenas instrumentos percussivos encontrados nas tradicionais Nações de Maracatu de Baque Virado, tais como a Alfáia/Afaya ou Bombo, o Gongue, entre outros, não mantendo institucionalmente vinculo religioso. Grupos que utilizam a linguagem do Maracatu de Baque Virado: são grupos que se utilizam da linguagem artística do Maracatu de Baque Virado para compor outras musicalidades, promovendo misturas com diversos ritmos, danças e instrumentações, sem muitas vezes limitar-se a instrumentos percussivos.


Alguns dos instrumentos de percussão usados no Maracatu Fonte: https://static.todamateria.com.br/upload/in/st/instrumentosmaracatu-cke.jpg

Outros tipos de Maracatu Além do Maracatu de Baque Virado existem outras manifestações da Cultura Popular Brasileira que levam o nome de Maracatu, ou como é dito popularmente, existem outros tipos de Maracatu, diferentes do ponto de vista da estrutura, dos personagens e das características musicais. São eles o Maracatu de Baque Solto também chamado de Maracatu Rural ou de Orquestra e o Maracatu Cearense.

O Maracatu Rural O Maracatu Rural também é uma brincadeira que se originou onde hoje é o estado de Pernambuco, provavelmente entre os séculos XIX e XX. Como no Maracatu Nação, este possui um setor responsável pela execução

da música e outro formado por personagens caracterizados, mas seus personagens, sua música, seus instrumentos e suas apresentações são completamente diferentes. No Maracatu Rural a parte musical conta com um conjunto de metais (clarinete, saxofone, trombone, corneta ou pistom), além da percussão formada normalmente por tarol ou caixa, surdo, ganzá, chocalhos, porca (cuíca), zabumba e gonguê. O ritmo é mais acelerado em relação ao Maracatu Nação e o coro é exclusivamente feminino. Entre os personagens estão Reis, Rainhas, Catirinas, Damas do Passo, Caboclos de Pena e outros mais. Nos últimos anos tem ganhado bastante destaque a figura do Caboclos de Lança, que além de realizar sua dança movendo sua lança em todas as direções, levam nas costas chocalhos (que também podemos chamar de guisos ou sinetas), dando a marcação acelerada do Maracatu de Baque Solto.


Leitura extra...

Eram típicos no carnaval de antigamente. Típicos, numerosos, importantes, suntuosos. No meio do vozerio da mascarada, dominando as marchas dos cordões, ouvia-se ainda longe o rumor constante, uniforme, monótono dos atabaques: Bum…bum…bum…bum… Bum…bum…bum…bum… Era um maracatu. Havia os que gostavam dele e esperavam-no com curiosidade. Havia os que protestavam contra a revivescência africana e resmungavam. Bum…bum…bum…bum… No fim da rua, por cima do povo, surdia o grande chapéu de sol vermelho, rodando, oscilando, curvando-se. E o batuque cada vez mais perto, mais perto. Dali a pouco desfilava o cortejo real dos negros. Vinha o rico estandarte com cores vivas e bordados a ouro. Seguiam-se as alas de mulheres ostentando turbantes, saias bem rodadas, corpetes enfeitados de vidrilhos. Traziam fetiches religiosos nas mãos. Depois o Rei e a Rainha, em trajes majestosos, debaixo da ampla umbela de seda encarnada com franjas douradas. Empunhavam os cetros, vestiam longos mantos, e tinham cabeças coroadas. Na retaguarda do préstito, os atabaques, as marimbas, os congás, os pandeiros, as buzinas… As canções que todos entoavam eram ordinariamente nostálgicas, como uma ancestral saudade da terra de berço, ficada tão distante. Costumavam também cantar assim: Bravos, Ioio! Maracatu Já chegou. Bravos, Iaia! Maracatu vai passar. Uma das mulheres empunhava uma grande boneca de pano toda engalanada de fitas, e repetia numa toada dolente: A boneca é de seda…

A boneca é de seda… Os maracatus paravam em frente às casas dos protetores e ali dançavam durante alguns minutos. Antigamente licenciavamse dezenas deles e apresentavam-se com verdadeiro luxo. Nas sedes havia demoradas festas, com danças e batuques, a que assistiam os soberanos sob um docel de veludo. Todos os negros da costa, tão comuns no Recife de ontem, aqueles mesmos que se reuniam , também, religiosamente, na Igreja do Rosário, lá se achavam para tomar parte no toques. O maracatu hoje escasseia e já não tem mais o esplendor de antes. Em menino eu tinha medo dos maracatus. Medo e como uma espécie de piedade intraduzível. Aqueles passos de dança, aqueles trajes esquisitos, aqueles cantos dolentes, me davam uma agonia…Eu me encolhia todo, juntandome à saia de chita de minha mãe preta, com receio talvez de que os negros do maracatu a levassem também. E eu não sabia ainda ser o maracatu uma saudade… Hoje é que a compreendo, que a sinto, recordando os maracatus de minha infância e de minha terra, vendo os carnavais de outras cidades e de outra época… Parece-me perceber ainda o batuque longínquo, cada vez mais remoto, cada vez mais indeciso, quando, na alta noite da terça-feira, no silêncio e na tristeza do Carnaval acabado, o derradeiro maracatu se recolhia à sede… Bum…bum…bum…bum… Bum…bum…bum…bum… E lá se ia, como se foi, o meu maracatu de menino…” Trecho de “Maxombas e Maracatus” – Mário Sette. (SETTE, Mário. Maxombas e Maracatus. 4.ed., Recife, Fundação da Cultura de Recife, 1981.)


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