[RE]SIGNIFICAR HOSPEDARIA E CENTRO DE INTEGRAÇÃO E EMPODERAMENTO DA CULTURA DO REFUGIADO E IMIGRANTE
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•Ressignificação e Acolhimento
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[RE]SIGNIFICAR HOSPEDARIA E CENTRO DE INTEGRAÇÃO E EMPODERAMENTO DA CULTURA DO REFUGIADO E IMIGRANTE
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU | ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO | DEZEMBRO 2017 VINICIUS FRANÇA DE ARAÚJO ORIENTADORA: MARIA DO CARMO VILARINO
As coisas sĂŁo impermanentes e podemos enxergar beleza nela se quisermos...
[...] Lembrando que nada vai voltar a ser como era antes. MOREIRA, O.G
Primeiramente agradeço à minha família e em especial aos meus pais Lucienne e Washington que foram fortaleza em todos os momentos, sem medir esforços para me motivar e me apoiar. Aos meus grandes amigos Porquinhos: Ana, Jefferson, Jessica, Jessyca, Laís, Rafael, Renata, Rodrigo e Talita, que tornaram essa jornada da graduação mais divertida ainda que nos momentos mais difíceis. À Bruna e Luciana por toda paciência, pelas palavras carinhosas e por toda ajuda nessa trajetória. À minha orientadora Maria do Carmo Vilarino, por me acompanhar e mergulhar comigo neste trabalho.
obrigado,
AGRADECIMENTOS
Por fim, a todos que se fizeram presente nesse processo, tanto nas conversas, nos conselhos e principalmente nos reconfortantes abraços.
É sabido que a cidade está em constante transformação, a cidade é efêmera e ela é resultado de um longo processo de sobreposição de camadas projetadas e pensadas ao decorrer da história, sejam acontecimentos políticos, economia, conflitos, ou a espontaneidade de ocupa-la. Portanto o trabalho parte com três pilares básicos de análise: A busca e compreensão dos fatores que levaram a Região do Parque Dom Pedro II ao que presenciamos hoje, uma área abandonada e segregada, sem relação alguma com o contexto da cidade, podendo ser considerado apenas o local de transição entre leste e centro. O questionamento sobre a preservação de bens culturais na cidade, tomando como elemento de estudo o edifício II Batalhão das Guardas, localizado dentro do parque, e num triste processo de deterioração e abandono desde a década de 90.
RESUMO
E por fim prover um espaço capaz de integrar o refugiado e imigrante na cidade através da criação de uma hospedaria e um centro de empoderamento da cultura destes.
Ressignificação e Acolhimento •
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APRESENTAÇÃO
DE PARQUE À EMARANHADO
O CENÁRIO DO REFÚGIO E IMIGRAÇÃO
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//21
//49
Introdução
1.1 A Urbanização da Várzea do Carmo
2.1 Refúgio
Justificativa
1.2 A Expansão de Vias
2.2 Cenário no Brasil
Objetivo
1.3 Arquitetura e Ressignificação
2.3 Instância de Integração
Metodologia
1.4 Reconexões
2.4 Préstima Existente 2.5 Demandas
[3]
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SOBRE A ÁREA ESCOLHIDA
SOBRE AS REFERÊNCIAS
PROPOSTA
//67
//89
//99
3.1 Diagnóstico
4.1 Plástica
5.1 As Premissas
3.2 Prognóstico
4.2 Programática
5.2 O Sistema
4.3 Ressignificação
5.3 O Programa
4.4 Tectonica
5.4 Desenhos 5.5 O Módulo
//137
Conclusão Referências Bibliográficas
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APRESENTAÇÃO Intrudução Justificativa Objetivo Metodologia
INTRODUÇÃO Percebe-se em São Paulo, a partir da década de 20 uma sequência de resultados contrários aos almejados nos projetos urbanos, decorrentes – em suma – à escala de projeto e de se tratar de um território urbano não estável. Percebe-se a necessidade de pensar associadamente o desenvolvimento das cidades através de análise territorial em conjunto com o projeto, desta forma evita-se criar barreiras aos pedestres, romper com os fatos urbanos e a dinâmica existente da cidade. A região do Parque Dom Pedro II passou por intensas intervenções ao longo dos anos para responder às novas demandas impostas pelo dinamismo da cidade que vinha em um intenso crescimento, como apresentado no livro A Leste do Centro – Territórios do Urbanismo (2006). O conjunto destas ações resultou em uma área desconexa, perdendo sua articulação urbana, criando uma fenda no meio da cidade, além de diversos espaços residuais que impõem sua condição de abandono Em meio à esse caos de vias, pontes e prédios abandonados temos diversos imóveis históricos e tombados, como o II Batalhão das Guardas (1842), Casa das Retortas (1898), Mercado Municipal (1933), dentre outros com um grande potencial à ser explorado para tornar-se uma região vívida. Imergido nisto, pretende-se como foco implementar uma hospedaria voltada à imigrantes em conjunto com um centro de acolhimento no que hoje é o prédio do Segundo Batalhão das Guardas, edificação tombada em 1981. Historicamente os centros das grandes cidades sempre foram porta de entrada para os imigrantes, devida, sua alta oferta de emprego e infraestrutura e em São Paulo não foi diferente, entre os séculos XIX e XX estima-se que mais de 70 nacionalidades chegavam na cidade com intuito de reestruturarem suas vidas. Foi proposto então uma hospedaria para imigrantes no bairro da Moóca, onde passaram por volta de 2,5 milhões de imigrantes entre 1887-1978. A imigração é um acontecimento social, decorrente dos mais variados motivos – religião, orientação sexual, conflitos políticos, almejo de condições melhores de vida. Nos dias atuais São Paulo ainda é rota de muitos imigrantes, como africanos e sul americanos, ainda que a cidade não tenha uma estrutura pensada para suportar essa demanda.
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JUSTIFICATIVA A região do Parque Dom Pedro passou por intensas transformações no decorrer dos anos, podemos qualificar essa área como a entrada para a zona leste de São Paulo e por assim sendo, foram necessárias aberturas de diversas vias e cruzamentos, de forma desenfreada e priorizando o automóvel, tendo como principal resultado a fragmentação do parque. A cicatriz criada na malha da cidade desenvolveu diversos outros problemas sociais, talvez os principais foram a degradação e o alto índice de moradores de rua e dependentes químicos, o conjunto destes fatores induzem a área a um local inseguro - o que de fato ocorre - descaracterizando o conceito de parque. Além do problema urbanístico e social claramente presentes na região, podemos destacar também a alta incidência de imigrantes que normalmente ocupam a região da Sé, Brás e República, entretanto antes de se acomodarem em uma residência (não estamos tratando ainda das condições dessas moradias), essas pessoas passam por um processo um tanto complicado de adaptação à nova cidade, seja pela dificuldade com a nova língua, seja com a oferta de trabalho, ou até mesmo para emissão de documentos. Para quantificar essa demanda, estima-se que entre 2010 e 2014, aproximadamente 39.000 haitianos entraram no Brasil, segundo a Polícia Federal.
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A proposta é criar um espaço onde esses imigrantes possam passar por um período de reestruturação, recebendo todo o auxílio e suporte necessário para isso, além de promover a integração e o convívio. Atualmente algumas organizações e igrejas realizam parcialmente esse trabalho, porém sem capacidade de suprir a demanda. A ideia de implementar esse equipamento nesta região surgiu através do desconforto causado em presenciar uma área com uma grande oferta de infraestrutura, comercio e cultura, entretanto pouco explorado e em um rápido processo de degradação. Deste modo o projeto proposto enquadra-se em ma das principais premissas para região, como apresentado pela organização Viva o Centro que objetiva o desenvolvimento do centro intensificando seu caráter de metrópole promovido pelo equilíbrio econômico e social, mesmo ideal presente no Plano Diretor Estratégico de São Paulo.
OBJETIVO Apropriação de um patrimônio na investigação de outros usos a fim de promover a reabilitação de um trecho da área central da cidade, através da implementação de uma Hospedaria e Centro de Acolhimento ao Imigrante, reduzindo a carência deste tipo de equipamento em um período político de intensos conflitos.
METODOLOGIA Partindo do pressuposto de que função não necessariamente determina a forma, como Aldo Rossi (2001) apresenta em seu livro, A Arquitetura da Cidade, pretende-se estudar a implementação de um novo uso ao II Batalhão das Guardas. Embasando-se na tese do José Paulo De Bem (2006) que por sua vez também serviu como base para o Plano desenvolvido para a área pelo escritório Una Arquitetos, pretende-se incorporar uma nova edificação à preexistência, trabalhando com os conflitos de intervir no consolidado e no patrimônio. Por se tratar de uma área de vulnerabilidade social – fator que precisa ser levado em conta durante todo o processo -, é preciso analisar acervos históricos a fim de compreender como se deu o processo de urbanização e desenvolvimento da área, bem como índices da situação atual referênte aos imigrantes, além de entrevistas com moradores e população flutuante da região.
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DE PARQUE À EMARANHADO A Urbanização da Várzea do Carmo A Expansão de Vias Arquitetura e Ressignificação Reconexões
1.1 A URBANIZAÇÃO DA VÁRZEA DO CARMO A várzea do Carmo, faz parte da área inundada do Rio Tamanduateí, geograficamente a região sempre foi vista como um obstáculo natural à expansão da cidade, entretanto servia de acesso importante ao Centro aos que vinham do Rio de Janeiro, bem como ferramenta de suporte ao núcleo urbano, isto é, a área era utilizada para executar atividades como pastoreio de animais, lavagem de roupas e despejo de lixo, o que tornou em pouco tempo o local em um espaço insalubre e inóspito. Um dos principais problemas da cidade naquele período eram as constantes inundações do rio, que traziam consigo uma intensa propagação de agentes patogênicos. Dado isso, foram realizadas diversas propostas e intervenções a fim de reduzir os impactos causados, o primeiro relatado ocorreu por volta de 1810 com a abertura de uma vala ao centro da várzea, mas a intervenção de grande porte viria a ocorrer apenas em 1849, transformando drasticamente a configuração do rio, projeto assinado pelo engenheiro Carlos Bresser. Nesta intervenção o rio deixa de serpentear ao longo de suas sete curvas e dá espaço a novas edificações, além da criação da Rua de Baixo, que viria a ser chamada de 25 de Março em 1865. (TRAVASSOS, 2004). As condições geográficas foram determinantes para o retardamento da urbanização além do Triângulo Histórico. O solo alagadiço e pouco consistente impunha dificuldade de apropriação da várzea e sua transposição, basicamente a margem a leste era composta de chácaras utilizadas em suma para produção frutícola, mas que vieram a ser desmembradas por volta de 1867. O acesso à margem leste era dada através da rua do Brás, atual avenida Rangel Pestana, juntamente com a estrada da Moóca e o caminho da Moóca, atuais rua da Moóca e rua Piratininga, deste modo iniciou-se o desenvolvimento próximo a esses eixos que davam acesso também ao Rio de Janeiro.
◄ Rio Tamanduateí por volta de 1862.
Autor desconhecido. Fonte: Jornal Estadão.
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Ao lado temos uma carta datada por volta de 1810, nesta podemos perceber claramente as curvas originais do Rio Tamanduateí, que foram sendo modificadas ao decorrer dos anos, dando luz a um traçado cada vez mais retilíneo que intensificavam as constantes enchentes na várzea. Em destaque dentro do círculo vermelho situa-se o atual II Batalhão das Guardas, o que na época era o Convento do Carmo.
Fonte:Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira
Fonte: Arquivo Histórico Municipal
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A pintura acima foi produzida por volta de 1892 por Benedito Calixto, uma grande tela a óleo intitulada “A Inundação da Várzea do Carmo”. Observando o horizonte a partir da região do Pátio do Colégio, dando enfoque para a várzea e em primeiro plano o mercado, as casas, o morro. Ilustra-se uma cidade até então pouco representada, por ser considerada caótica.
Após a construção da estrada de ferro São Paulo Railway Company ocorre uma valorização – não financeira – dos terrenos à leste do centro, tornando-se determinante para localização das indústrias em São Paulo, visto que possuíam facilidade de acesso, baixo custo, topografia quase que plana, além da facilidade de adaptar a ocupação existente (chácaras) no novo uso industrial conforme a demanda. Esse novo tipo de ocupação influenciou em toda a configuração dos bairros que se desenvolveram em torno dessas industrias e comércio, crescendo populacionalmente e construtivamente muito rápido, dentro de um curto período. Por exemplo, o bairro do Brás registrou crescimento populacional de 530% entre 1886 e 1893.
Essas transformações feitas por Oliveira possibilitaram a inauguração de uma fábrica de gás nas terras a leste do Tamanduateí, pela companhia inglesa The São Paulo Gas Company, responsável por produzir e distribuir gás canalizado, que por sua vez viabilizou a implementação de iluminação pública na região central da cidade, demanda crescente continuamente exigiu a construção de uma nova edificação para a queima do gás, a então denominada Casa das Retortas, inaugurada em 1889.
O primeiro gestor público que procurou valorizar a região da várzea, foi João Correia de Oliveira (1872-1875), que realiza diversos aterrados estabelecendo ligações entre o Brás e o centro, além de criar um circuito viário em volta da cidade,neste momento percebe-se uma primeira preocupação em reabilitar a região da várzea incluindo passeio público além da criação da Ilha dos Amores, uma espécie de coreto que originou-se a partir da sobra de terras da primeira retificação do rio onde nas proximidades eram oferecidos comércio e espaços de lazer.
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Rio Tamanduateí por volta de 1890 - Ilha dos Amores em destaque Autor desconhecido. Fonte: Blog Quando a Cidade era Mais Gentil
Mapa da Capital da Provincia de São Paulo - 1877 Fonte: Arquivo Histórico Municipal
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Na carta ao lado observa-se a primeira configuração após a retificação do rio Tamanduateí, extinguindo suas sete voltas possibilitando a criação do antigo Mercado Municipal e o que hoje é a rua 25 de Março. Destaque para o item 24, neste momento o batalhão era utilizado como um hospício, que se integrava a uma das curvas do rio abrindo um largo
Com a expansão urbana a leste, a situação da várzea era vista como lastimável e foco de transmissão de doenças, deste modo se consolida a ideia da criação de um parque, no início do século XX, intensificam-se os desejos de reabilitar a região, transformando-a em uma área de convivência e integração.
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Teorias médicas indicavam a necessidade e os benefícios propiciados pela arborização urbana, deste modo as futuras propostas deveriam conjugar a preocupação com o saneamento, a fruição e o embelezamento e monumentação. O projeto inicial foi de canalizar o rio Tamanduateí desde a foz do rio Ipiranga, seu afluente, até o rio Tietê, além de criar vias marginais em seus dois leitos, resultando em um canal com seção de 23 metros e avenidas de 18,5 metros. Após essas intervenções pensou-se o projeto do parque, os precursores dessa transformação foram os arquitetos Joseph Bouvard e Francisque Couchet, entretanto apenas a proposta de Couchet veio a luz, visando conciliar o parque com empreendimentos como o futuro Palácio das Indústrias e o novo Mercado Municipal, atraindo investidores para a região. Em 1921 é inaugurado o parque, de modo geral a proposta da Couchet foi implantada em sua totalidade, principalmente quanto aos caminhos sinuosos, entretanto equipamentos esportivos não foram implementados, sendo apenas plantado vegetação nestas áreas.
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Lavandeira às margens do Tamanduateí, entre 1900/1910 Autor: Vicenzo Pastore Fonte: Acervo Instituto Moreira Salles
Parque Dom Pedro II visto do Palácio das Indústias, com linhas gerais do projeto desenvolvido por Couchet. Fonte: Acervo Museu da Imigração
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Mapa área central da cidade de São Paulo em 1930. Fonte: Sara Brasil
No mapa acima percebe-se quanto a cidade expandiu-se rapidamente em todos os eixos, a leste com um intenso desenvolvimento viabilizado pela ferrovia, que possibilitou a implementação de indústrias e consequentemente vilas operárias que caracterizam os bairros do Brás, Moóca e Belém até a atualidade. O parque Dom Pedro II surge como elemento de transição, mas esse processo resultou também na segregação da cidade, como Villaça apresenta em seu livro O Espaço Intra Urbano no Brasil. Ressignificação e Acolhimento •
1.2 A EXPANSÃO DE VIAS Durante todas as intervenções ocorridas na região eram propostas conjuntamente vias ou passagens para suprir as necessidades da intensa expansão urbana; na década de 20, a criação de anéis viários ampliaram o circuito exterior já existente e permitiram o crescimento conforme a demanda. Neste mesmo período inicia-se o seccionamento do Parque Dom Pedro II, com a criação de um eixo, onde hoje é a avenida Rangel Pestana, proposto pelo engenheiro Ullhoa. O famoso Plano de Avenida (1930) de Prestes Maia intensificou sucessivamente as obras viárias que rasgavam a malha urbana, criando vias expressas. O caráter destas vias rompiam as relações existentes na cidade, uma vez que o objetivo principal era facilitar o deslocamento rápido do maior número de automóveis, ou seja, com poucos acessos, sem cruzamento em nível, etc. Um exemplo, desse tipo é a Radial Leste e a Avenida do Estado. Posteriormente, outros governadores deram continuidade ao plano e a forma de intervir na cidade: o primeiro viaduto construído na região foi o Diário Popular sob gestão de Paulo Maluf em 1971. Em conjunto ao crescimento de automóveis particulares na cidade, aumentam também o número de ônibus que transitam pela região central. Como medida para mitigar os problemas causados pelo grande número de veículos no centro histórico cria-se um terminal urbano temporário no Parque Dom Pedro II por volta da década de 70. Cada vez que era aprovada uma nova medida ou intervenção para a área, se distanciava mais da configuração inicial e aparência de parque urbano.
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Diagrama esquemático expansão urbana da cidade de São Paulo. Fonte: Reproduzido pelo autor com base na análise do arquiteto Villaça.
Plano de avenida Prestes Maia. Tratava-se de um plano urbanístico abrangente em diversas vertentes da cidade, compondo parques, sistema de transporte público e viário. Fonte: A Leste do Centro
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Esquema de vias e obstáculos de transição Fonte: H+F Arquitetos
Obstáculos
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Edificação sendo demolida para dar espaço a abertura da via que viria a ser a atual Radial Leste em 1951 Fonte: Acervo Histórico Estadão
Obstáculos Leste - Oeste
Obstáculos Norte - Sul
Terminal Parque Dom Pedro II de transporte público em 1971 Fonte: Acervo Históricom Estadão
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Foto aérea trecho cidade de São Paulo, 1945 Fonte: A Leste do Centro
Ao lado temos uma vista aérea da região do Parque Dom Pedro II por volta de 1945, nela fica clara a expansão viária ocorrida durante o Plano de Avenidas, neste momento inicia-se o seccionamento do parque, mas ainda mantendo a escala do pedestre, visto que não existiam ainda as pontes. Em destaque algumas das edificações significativas da região, como o Palácio das Indústrias, Casa das Retortas e Mercado Municipal. Como já foi dito anteriormente, buscava-se estabelecer elementos atrativos para o investimento na região. • R e s s i g n i f i c a ç ã o e A c o l h i m e n t o
Podemos dizer que a vista aérea ao lado representa todos os fatores que determinaram a configuração atual do Parque Dom Pedro e que o induziram ao abandono, percebe-se que quase não restam mais áreas verdes e caminhos para o pedestre, como apresentado originalmente no projeto do urbanista Couchet.
Diversos viadutos foram implantados para a melhoria do fluxo viário, além do alargamento das vias do leito do rio Tamanduateí.
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Foto aérea trecho cidade de São Paulo, 1973 Fonte: A Leste do Centro
Posteriormente a essa imagem, a linha de metrô foi construída, tendo a estação incorporada ao parque, mas totalmente desconexa do terminal de ônibus, o que dificultou a rápida integração. Ressignificação e Acolhimento •
1.3 ARQUITETURA E RESSIGNIFICAÇÃO Apesar de todo o contexto conturbado, a várzea do Carmo presenciou a construção de muitas edificações importantes que compõem seu cenário atual. As transformações viárias executadas para atender as demandas de locomoção acabaram por isolar essas edificações, rompendo suas conexões. Para o projeto é importante compreender como deram-se as inserções, uma vez que uma intervenção em área consolidada não deve nunca ser desassociada das características já presentes. Dentre os exemplares, foram selecionados apenas cinco, sendo quatro destes inseridos na área do parque, todos representam uma fase importante para o desenvolvimento econômico da cidade e já tiveram mais de um uso
no decorrer da história, atualmente são referência de cultura, inclusive passando por incentivos públicos para tal. Intervir em elementos preexistêntes vai além de cumprimento de regras legislativas de defesa do patrimônio, trata-se de poder projetar algo novo em um elemento característico de um outro período, levando em consideração todas as ações temporais que a edificação presenciou, é analisar as potencialidades de adaptação a um novo uso que a cidade contemporânea necessita dando continuidade a história de forma harmoniosa e respeitosa com a preexistência e com a cidade.
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1 2 ◄ Foto aérea trecho cidade de São Paulo, 2017 - indi-
cando edificações importantes do Parque Dom Pedro II e região Fonte: Google Earth e indicações do autor
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Lidar com as estruturas urbanas existentes é um estimulante exercício de projeto quando são consideradas de forma criteriosa as referências, as potencialidades e limitações, de forma criativa e responsável. Meuron, 2001
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1.3.1. Batalhão das Guardas Pedro II (1842) Um dos primeiros exemplares de arquitetura antiga da cidade, construído por volta de 1842, acredita-se que o edifício foi um presente de D. Pedro II para a Marquesa de Santos. Caracterizado por suas janelas azuis, o prédio foi utilizado das mais variadas formas, inicialmente como habitação, convento, manicômio, quartel, até ficar abandonado em 1992, entrando em um rápido processo de degradação. Apesar de não possuir características monumentais, o edifício foi tombado pelo CONDEPHAAT, devido sua arquitetura colonial e seu contexto histórico. O edifício aparece já nas primeiras cartas geográficas da cidade, inicialmente com um único corpo, que posteriormente anexou-se aos dois braços gerando um U, com o pátio voltado ao rio Tamanduateí. Durante o processo de tombamento já eram relatados problemas na estrutura do edifício, como presença de cupins, infiltrações, e materiais não condizentes com o conjunto, além de destacar a descontinuidade dos anexos ao edifício original. Com as grandes obras na antiga várzea, estreitou-se a relação do edifício com o Rio Tamanduateí, mas também resultou no isolamento do mesmo pelas grandes vias expressas da Avenida do Estado em duas de suas faces.
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Vista do II Batalhão das Guardas por volta da década de 80. Fonte: São Paulo Antiga
1.3.2. Hospedaria (1887) ◄ Vista entrada principal da antiga Hospedaria, atual-
mente Museu da Imigração no bairro da Móoca. Fonte: Foto do autor.
Ainda que não fazendo parte da dinâmica do Parque Dom Pedro II, a Hospedaria de Imigrantes era o principal local de abrigo dos estrangeiros recém chegados em São Paulo. Sua localização próximo ao Brás facilitava o acesso ao centro e ao trabalho nas indústrias. Foi projetada para suportar 3 mil imigrantes, mas já chegou a abrigar por volta de 10 mil simultaneamente. A cidade de São Paulo, foi fundada e desenvolvida a partir da influência de diferentes nacionalidades, estima-se que aproximadamente 70 nacionalidades desempenharam esse fenômeno nessa terra repleta de oportunidades, a hospedaria da Moóca, desempenhou um importante trabalho referente a isso, visto que oferecia serviços de alojamento, serviço de telégrafo, assistência médica, lavanderia, refeitório. O conjunto foi tombado em 1982 pelo CONDEPHAAT, após encerrar suas atividades de hospedaria e passando a desenvolver atividades culturais.
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1.3.3. Casa das Retortas (1889) Construído em 1889 fazendo parte integrante do complexo do gasômetro, a Casa das Retortas era conhecida por abrigar os recipientes que faziam a queima do carvão para obtenção de gás, representou um importante marco para o desenvolvimento da cidade, como exemplo podemos destacar a iluminação pública que era realizada através do gás produzido no complexo. O prédio possui características bem claras da tipologia da arquitetura industrial brasileira nos moldes ingleses, grandes pavilhões compostos por tijolos de barro e cobertura de telha francesa. Quando viabilizou-se a utilização de energia elétrica ao gás, o edifício perdeu sua função, em 1974 e deu início ao processo de restauração por Paulo Mendes da Rocha para vir a ser um Centro de Pesquisa em conjunto com o Departamento de Patrimônio Histórico da Secretaria da Cultura. Atualmente o edifício passa por mais um período de restauração para abrigar o Museu de História da Cidade.
◄ Vista edifício da Casa das Retortas
Fonte: Arquiteto Paulo Bastos & Associados
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1.3.4. Palácio das Indústrias (1911-1924) Idealizado na proposta de Bouvard, mas concretizado pelo arquiteto Couchet, para a várzea do Carmo, o Palácio das Indústrias levou 13 anos para concluir suas obras, sendo inaugurado em 1924 como local de exposições para a cidade. A partir de 1947 o edifício passou por diversos outros usos que o levaram a degradação em conjunto com o Parque Dom Pedro II. Em 1992 é realizada a primeira restauração – pela arquiteta Lina Bo Bardi – e o prédio passa a abrigar a sede da Prefeitura, antes localizada no Parque Ibirapuera. O edifício mantem este uso até 2004 quando a prefeitura é transferida para o Edifício Matarazzo e desde 2009 a edificação é utilizada como um Museu de Ciências. Projetado por Domiziano Rossi em conjunto com Ramos de Azevedo e Ricardo Severo, possui uma linguagem eclética e faz alusão a castelos da época medieval, sendo reconhecido como patrimônio em 1982. ◄ Vista do Palácio das Indústrias, hoje como Museu de Ciências
Fonte: São Paulo inFoco
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1.3.5. Mercado Municipal (1933) Popularmente conhecido como Mercadão, foi construído para substituir o antigo Mercado Central que funcionava no que hoje é a rua 25 de Março, foi proposto em um período em que se buscava a higienização e a valorização da área central, como forma de representação de modernidade. Com arquitetura neoclássica o edifício projetado pelo escritório Ramos de Azevedo, sendo o desenho das fachadas por Felisberto Ranzini, em estilo eclético, além dos vitrais de Sorgenicht que mostram diversos aspectos da produção alimentícia. Projetado com a função de abastecer o comércio alimentício paulistano, perdeu muito de seus clientes com a criação da CEAGESP, na década de 60, chegando inclusive a cogitação ser demolir o mercadão, o que não ocorreu devido ao empenho dos proprietários em reformar para que o edifício fosse reconhecido pelo CONDEPHAAT, o que não ocorreu inicialmente devido ao estado do mesmo. Apenas em 2004, durante a gestão da então prefeita Marta Suplicy, que o edifício passou por uma reforma, redefinindo seu uso e transformando-se em um polo gastronômico, posterior a isso, finalmente ele foi reconhecido como patrimônio cultural a ser preservado.
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Vista noturna Mercado Municipal de São Paulo Fonte: Estudio Carlos Fortes Vista interna Mercado Municipal de São Paulo, destaque para vitrais de Sorgenicht Fonte: Estudio Carlos Fortes
1.4 RECONEXÕES A partir da construção de grandes vias expressas (Plano de Avenidas 1930) que determinaram o crescimento da cidade de modo desenfreado e sem muita preocupação com os elementos existentes, resultou em diversas áreas ilhadas, na região do Parque Dom Pedro II não foi diferente, sendo seccionada pela avenida do estado e posteriormente por viadutos, como por exemplo o Viaduto Diário Popular (1969) construído durante a gestão de Paulo Maluf. Por volta da década de 80 surgiram as primeiras propostas de recuperação do Parque Dom Pedro II através do desenvolvimento de Planos Integrados que deveriam considerar a arquitetura do entorno, bem como pela elaboração do Plano Urbanístico Básico. Esses planos foram presentes no mandato de vários prefeitos: Olavo Setúbal (1975-1978), Reynaldo de Barros (1979-1982), Mário Covas (1983-1985), Jânio Quadros (19861988), entretanto sempre com dificuldade de concretização. Na gestão da Luiza Erundina (1989-1992) um novo estudo da área a partir de novas premissas lançadas por José Paulo de Bem, onde buscava-se a recuperação da unidade física do parque, potencializando os usos ali instalados e no espaço construído, através da intervenção no sistema viário, como por exemplo pela remoção dos viadutos. Neste mesmo período era previsto o retorno da Prefeitura para o centro, que ocupou o edifício do Palácio das Indústrias, entretanto o conjunto não correspondia às necessidades para um bom funcionamento deste uso, levando a mudança de sede do município para o edifício Matarazzo, em 2004, durante a gestão de Marta Suplicy. ◄
Fotografia terminal Parque Dom Pedro II Autor: Thomaz Kravezuk
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A cidade de São Paulo foi se desenvolvendo a partir de uma sequência de planos urbanisticos que procuravam organizar a cidade. Ainda que muitos destes não tenham sido executados como planejados inicialmente, são essas diversas camadas de planos que determinam a dinâmica urbana que presenciamos nos dias atuais.
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Considerou-se a possibilidade de se criar uma Operação Urbana para o desenvolvimento do Parque D. Pedro II / Pari, mas não foi levada adiante, tendo suas propostas incorporadas a Operação Urbana Centro cujo objetivo era o de tornar a região atraente para investimentos privados e recuperar a região da antiga várzea como grande parque urbano. Uma das reformulações mais recentes foi o projeto do terminal de ônibus realizado por Paulo Mendes da Rocha em parceria com a equipe do escritório de arquitetura MMBB, tornando o terminal menor possibilitou liberar uma área próxima ao rio, que posteriormente foi ocupado pelo Expresso Tiradentes.
Linha do tempo sintetizando alguns marcos importantes do desenvolvimento urbanístico na região do parque dom pedro. Autor: Desenvolvido pelo autor
A) O Plano e As Estações Fantasmas Conforme a cidade foi se expandindo e ultrapassando fronteiras municipais com uma urbanização espontânea e sem planejamento prévio, foi criado em 1968, após Prestes Maia contratar dois grandes planos: o Plano Urbanístico Básico (PUB) e a rede de Metrô. O primeiro surge a fim de abandonar o modelo mononuclear, isso é, incentivar a criação de subcentros autossuficientes - o que já havia sido proposto em 1947 pelo então prefeito da cidade, Luís Inácio Anhaia Mello - com isso prover desenvolvimento de serviçõs, comércio e todos os itens vitais em outras regiões mais distantes ao centro, com isso viu-se necessário a criação de um sistema de transporte capaz de interligar esses núcleos.
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A região do Parque Dom Pedro II desempenhava um importante papel nesse estudo, visto que a previsão era de que a atual estação Pedro II fosse um importante “nó” entre a região sudeste e sudoeste, tendo seu entorno um caráter similar ao do Parque Trianon na região da Paulista, entretanto o projeto nunca saiu do papel, ainda que a estação já tivesse sido construída para comportar tal uso, como podemos verificar a presença da plataforma do que seria a linha amarela na parte inferior da clarabóia central da estação.
Diagrama do projeto inicial do traçado do metrô da cidade de Sâo Paulo previsto na década de 1970. Em destaque estação Pedro II que serviria de um importante nó de transferência entre as linhas vermelha, amarela e laranja Autor: Viatrólebus
Partindo de uma visão setentista, muitas das obras do metrô foram abandonadas ou atrasadas para investimentos na contrução de viadutos na região e em toda cidade, como o Diário Popular, 25 de Março, dentre outros, reforçando o intuíto da criação da cidade para os automóveis privados.
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Vista interna de plataforma de metrô abandonada na estação Pedro II Fonte: Folha de São Paulo
Ressignificação e Acolhimento •
A) Memória e Projeto - José Paulo de Bem | 1989-2006 Em 1996 foram realizados estudos de viabilidade de requalificação da área a partir do Concurso Nacional de Ideias Para um Novo Centro. Era tido como premissa o incentivo à diversidade funcional, o empoderamento da metrópole no cenário mundial e a garantia de um equilíbrio de acessibilidade entre o transporte coletivo sem excluir o particular. Antes disso, durante a gestão da Luíza Erundina (1989-1993) foi solicitado ao arquiteto José Paulo de Bem realizasse estudos para diversas regiões da cidade a fim de viabilizar futuros projetos embasados com experiências já vividas ao longo dos anos durante a formação da cidade. Quanto a região do Parque Dom Pedro II, De Bem divide a análise em 5 pontos gerais: fluxo, organização da superfície, ordenação da vegetação, reordenação de espaços públicos, edificações. Em seu estudo, recupera as propos-
tas realizadas em períodos anteriores e realiza uma análise profunda da viabilidade de opções de intervenções, servindo inclusive como embasamento para futuros projetos. Paulo de Bem parte do entendimento de que o Parque Dom Pedro foi concebido com preceitos da Beaux-Art, segundo Ignasi Solà Morales, isso representa portanto um sistema de edifícios públicos ou privados com os quais o parque ou o jardins estabelecem relações de continuidade, direcionamento, focalização e perspectiva, com influências clássicas. São estabelecidos as premissas gerais quanto ao estudo, os limites do parque definido pelo alinhamento das construções lindeiras como estrutura consolidada a ser mantida, rio Tamanduateí como estrutura longitudinal central, além de considerar as ligações da rua do Gasômetro e av. Rangel Pestana e buscar a recuperação geométrica do jardim Beaux-Arts concebido por Bouvard.1 ◄
DE BEM, J. São Paulo Cidade / Memória e Projeto | pág. 161. São Paulo 1
◄ Estudo para área do Parque Dom Pedro II,
por José de Bem Fonte: São Paulo Cidade | Memória e Projeto
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• Fluxos: Neste período já é entendida a área como desconexa devido as vias que seccionam o parque como eixo metropolitano de transposição, portanto de imediato o arquiteto propõem a remoção das vias que tangenciam o curso do rio Tamanduateí, o que faz com que os viadutos percam sua função, estes devendo ser removidos também, deste modo reestabelece o parque como um conjunto, interligando as edificações por caminhos sinuosos. • Organização da Superfície: Este tópico baseia-se na remodelação das transposições do rio, isto é, após a retirada da via que o margeia é possível estabelecer uma relação do pedestre com o leito d’água provendo espaços de estar, tirando proveito da topografia, caminhos, etc. • Ordenação da Vegetação: José de Bem busca reimplantar os preceitos do projeto realizado por Bouvard, isto é, um parque com as características Beaux-Arts, na qual harmoniosamente relacionar a arquitetura construída com os elementos da paisagem urbana.
• Reordenação de Espaços Públicos Anexos ao Parque: Após as alterações propostas nos itens anteriores, busca-se integrar novos usos ou significados ao contexto, até mesmo dar continuidade às relações perdidas após as alterações. Quanto aos viadutos que permaneceram é proposto implementar usos esportivos que atendam ao parque, além de diminuir o índice de áreas obsoletas na região. Um outro ponto interessante discutido neste item do estudo é referente ao edifício São Vitto. Em sua tese, De Bem propõem a integração de outros três edifícios articulando com o existente, a fim de criar uma grande densidade. • Edificações: Durante o estudo viu-se a necessidade de analisar a dinâmica dos usos dos edifícios lindeiros ao parque, de modo a propor melhorias ou adaptações a contemporaneidade, o mais discutido é referente ao Palácio das Indústrias, recebendo, por exemplo, um auditório. Além disso é discutido sobre sua fachada “principal”, que deverá ser estabelecida, conforme eixos predefinido em relação a edificação e o desenho urbano do parque e área envoltória.
Reordenação do Palácio das Indústrias / Desenho arquiteto D. Tradd Neto | 1989 Fonte: Desenho feito com base em original em: São Paulo Cidade/Memória e Projeto
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A fim de reestabelecer as relações entre o existente com o proposto, De Bem divide seu estudo em 5 seguimentos que estão sintetizados no master plan ao lado: fluxos, organização da superfície, ordenação da vegetação, reordenação de espaços públicos, edificações. A seguir iremos aprofundar um pouco mais nestes itens com o objetivo de compreender a importância do estudo do arquiteto foi representativo para as seguintes propostas desenvolvidas para a região do Parque Dom Pedro
Ressignificação e Acolhimento •
B) Plano Urbanístico Parque Dom Pedro II Una Arquitetos + Colaboradores | 2010 O Plano Urbanístico Parque Dom Pedro, desenvolvido pelo Una Arquitetos e colaboradores, apoia-se em estudos anteriores realizados pela prefeitura para a região, levando em consideração suas características geográficas, morfológicas, evolução urbana e contexto histórico, além de dar continuidade a proposta já prevista anteriormente. O objetivo principal dessa intervenção é de recuperar a região que tem uma grande oferta de infraestrutura e transformá-la com capacidade de abrangência metropolitano. É sabido que para essa proposta, foram lançadas algumas condicionantes pelo poder público municipal de São Paulo: demolição do viaduto Diário Popular, demolição do edifício São Vitto e Mercúrio, rebaixamento parcial da Avenida do Estado.
O projeto do parque se desenvolveu em cinco seguimentos projetuais, sendo eles: sistema viário, lagoa de drenagem, terminal intermodal, arco norte e arco oeste.
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Viu-se necessário expandir o perímetro de intervenção, visto que é preciso irradiar as melhorias para uma recuperação completa da área, portanto foram criadas nove subdivisões de análise: Mercado Municipal, Colina Histórica, Glicério, Igreja Pentecostal, Pátio do Pari, Zona Cerealista, Gasômetro, Brás e Cambuci. Além disso propõe-se um terminal intermodal unindo linhas de ônibus, metrô e expresso Tiradentes em um único complexo. Foi considerado também a implementação de novos equipamentos como o SESC e o SENAC, bem como habitações e comércios próximos a Rua 25 de Março.
• Sistema Viário: Entende-se que o sistema viário é um grande responsável pela degradação da região do parque, visto que ele segregou o território e rompeu as relações existentes de parque urbano, portanto para reestabelecê-las foi necessário remodelar as conexões viárias, entretanto com o devido cuidado, pois as vias que passam no local possuem caráter metropolitano de fluxo intenso. Na proposta são retiradas três viadutos (laranja) que cruzam o parque, restando apenas o elevado do metrô, além disso o enterramento parcial da avenida do estado (em vermelho), deste modo estreita-se o caráter de parque urbano.
Diagrama alterações de sistema viário Fonte: Una Arquitetos
• Lagoa de Drenagem: Como já dito anteriormente, a região do Parque Dom Pedro presenciou diversas enchentes e é um problema atual, ainda que com menor frequência. Em resposta à esse problema é a implementação de lagoas de drenagem que por hora são praça / área de permanência e quando preciso, transforma-se em uma lagoa que se integra ao existente de forma harmoniosa e funcional.
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• Terminal Intermodal: É incontestável a importância que o atual Terminal Parque Dom Pedro II, desempenha para a mobilidade da cidade, entretanto o mesmo não possui integração direta com o metrô, causando transtorno para população que depende do mesmo. Sabendo-se disso, os arquitetos do Una retomam a proposta de projetar um novo terminal próximo ao metrô, resolvendo todo o programa verticalmente. Enterrado encontra-se o nível de acesso ao Expresso Tiradentes, no superior a plataforma de embarque e passarela que dá acesso ao metrô, em um nível intermediário o terminal urbano e por fim a plataforma do metrô. Deste modo permite fazer o trajeto que antes levava aproximadamente 15 minutos em um percurso de mais de 1 km, em poucos minutos e num trajeto bem menor e coberto.
Diagrama Terminal Intermodal Fonte: Una Arquitetos
• Arco Norte: Já podemos observar algumas alterações na morfologia da face norte do parque. Neste trecho estão implantados a maior parte das construções significativas do parque (Palácio das Indústrias, Mercado Municipal e Casa das Retortas), e também já teve em sua área dois edifícios polêmicos da cidade, o Edifício São Vito e Mercúrio, ambos demolidos em 2010. No espaço deixado pelos edifícios pretende-se edificar uma nova unidade do SESC e do SENAC, o que também só foi possível devido a remoção do viaduto Diário popular. ◄
Perspectiva Futura unidade SENAC Fonte: Una Arquitetos
• Arco Oeste: Este trecho de intervenção não se trata do entorno imediato do parque, mas sim de recuperação da perspectiva da colina histórica, além de implementar um centro de referência ao morador de rua e um complexo de compras, incentivando o comércio pulsante da região. ◄
Esquema de usos novas edificações Arco Oeste Fonte: H+F Arquitetos
Ressignificação e Acolhimento •
A proposta feita já está em fase de implementação e foram realizadas algumas demolições, por exemplo do Edifício São Vito e Mercúrio, todavia por se tratar de uma intervenção em grande escala optou-se por intervir em fases para não impedir a dinâmica da área. Segundo os arquitetos do projeto, o Plano Urbanístico partiu da compreensão dos aspectos infraestruturais, programáticos e sociais do Parque D. Pedro II consolidados no tempo, procurando reordená-los a fim de garantir, com a qualidade devida, suas funções de conexões metropolitanas, bem como seu caráter urbano e simbólico.
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Perspectiva Lagoa de Drenagem Fonte: Una Arquitetos
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Impantação Plano Urbanístico Parque Dom Pedro II. Em destaque área de estudo Fonte: Una Arquitetos
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Maquete Plano Urbanístico Parque Dom Pedro II Fonte: Una Arquitetos
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O CENÁRIO DO REFÚGIO E IMIGRAÇÃO Refúgio Cenário no Brasil Instância de Integração Préstima Existente Demandas
2.1 O REFÚGIO O tema do refúgio é tão antigo quando a humanidade. Por diversos motivos as pessoas se veem obrigadas a deixar seu país de origem, problemas oriundos de conflitos, etnia, religião, opinião política, orientação sexual ou por sentir-se vulnerável. Durante a Grécia antiga o refúgio era de caráter religioso, destinando essas pessoas aos templos, o que repeliam os perseguidores, mas neste período em geral quem buscava refúgio eram criminosos — oposto ao que ocorre atualmente — portanto o refúgio transformou-se em um importante instrumento internacional de proteção ao indivíduo. Estima-se que atualmente cerca de 22,5 milhões de pessoas estão em situação de refúgio ao redor do mundo segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), índice ainda mais agravado devido os recentes conflitos no oriente médio. Neste contexto podemos considerar que existem três variações referente ao tema – imigrante ilegal, regular e refugiado. Os conflitos políticos do século XX foram responsáveis por intensificar diversos deslocamentos, principalmente durante a II Guerra Mundial, onde os problemas de refúgio tomaram proporções jamais vistas anteriormente. Após a II Guerra Mundial surgem instituições a fim da proteção e auxílio ao imigrante refugiado, como por exemplo, Organização Internacional para Refugiados (IRO), mas apenas em 1949 que é criado um órgão integrado à Organização das Nações Unidas (ONU) que debate sobre a temática até hoje, chamado ACNUR
Ressignificação e Acolhimento •
A partir desta Convenção fica proibida qualquer tipo de discriminação ao indivíduo que solícita refúgio, tendo o país acolhedor o dever de proteger e dar suporte ao solicitante, além de assegurar-lhes parâmetros de proteção, como por exemplo a cláusula referente ao non-refoulement, a qual define que nenhum país deve expulsar um refugiado contra sua vontade. Art. 1º - Definição do termo “refugiado” 2) Que, em conseqüência dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 e temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua residência habitual em conseqüência de tais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele.
Neste momento acreditava-se que o acontecimento do refúgio se restringia a algo temporário em detrimento das recentes guerras, portanto havia uma cláusula neste tratado estabelecendo um refúgio temporal, entretanto a questão do refúgio inicia a dar indícios de ser algo crescente e não podendo mais estar atrelada a II Guerra • R e s s i g n i f i c a ç ã o e A c o l h i m e n t o
Mundial, o que levou a revisão da Convenção de 51, dando origem ao Protocolo em 1967, retirando o limite de tempo de refúgio. Atualmente os índices são alarmantes quanto ao tema, segundo a ACNUR, no final de 2016 tinhamos aproximadamente 63,91 milhões de pessoas deslocadas à força em todo o mundo, dos quais 16,2 milhões eram refugiados, 3,2 milhões de solicitantes e 37,4 milhões de deslocados internos. Nos últimos anos, diversos acontecimentos tem levado ao aumento gradativo desses números, como por exemplo os conflitos da Síria, Oriente Médio e África. De imediato a Europa recebeu diversas solicitações de asilo, principalmente Alemanha e Hungria, somando aproximadamente 248 mil solicitações, mais que a metade para toda a Europa que somam 427.384 solicitações no ano de 2015. A fim de estabelecer paralelos para estudos a ACNUR desenvolveu uma plataforma que disponibiliza dados dos deslocamentos migratórios de refúgiados a partir da Convenção de 1951 até os dias atuais, apresentando de forma gráfica os dados, possibilitando um rápido entendimento e a investigação quanto aos acontecimentos sociais e políticos de cada período. Esses dados são divididos em subgrupos diferenciando a situação do processo. São eles: refugiado, solicitante de asilo, pessoas deslocadas internamente, refugiados regressados e outros. No mapa ao lado temos as informações referentes ao ano de 2015 obtidas com dados da ACNUR. Infográfico com estatísticas mundiais quanto ao cenário de imigrantes refugiados Fonte: ACNUR http://popstats.unhcr.org/en/overview
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A temática referente ao refúgio tomou proporções mais abrangentes após a Convenção de 1951, em Genebra, onde foram discutidos sobre o status legal do refugiado a nível internacional, estabelecendo padrões básicos de tratamento e conduta dos países acolhedores.
MIGRAR | Passar periodicamente de uma região a outra ou mudar de um lugar, país etc. IMIGRANTE | Pessoa que migra para outras regiões em suma por razões econômicas. REFUGIADO | Migração a fim de preservar sua integridade física, seja devido conflitos políticos, perseguição religiosa, ou qualquer outro fenômeno que viole seus direitos..
Ressignificação e Acolhimento •
2.2 CENÁRIO NO BRASIL O Brasil se desenvolveu em grande parte com a cultura da imigração o que lhe designou um caráter de acolhedor, entretanto dimensionar essa população nos dias atuais se transformou uma tarefa complicado, visto que os dados são obtidos em gestões fragmentadas, dando incerteza quanto ao número exato de imigrantes refugiados no país, além de muitos destes entrarem no país ilegalmente. Obter esses dados é importante para dimensionar políticas públicas no território nacional para realizar o suporte a essas pessoas. Em 2010 três amigos internacionalistas e pesquisadores do tema do refúgio fundam a Adus, uma ONG com o intuito de reintegrar migrantes refugiados no cenário brasileiro, além de empoderar a cultura e mitigar a xenofobia em suma, causada por falta de informação de parte da população brasileira. A fim de disseminar conhecimento referente ao tema essa ONG realiza um trabalho muito importante para a contemporaneidade paulistana referente ao tema, copilando informações de órgãos como o Comitê
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Nacional para os Refugiados (CONARE), Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e o Sistema Nacional de Cadastro e Registro de Estrangeiros (SINCRE), este último sendo utilizado para a elaboração do relatório anual, devido estar vinculado ao Departamento da Polícia Federal, portanto para a elaboração dessa pesquisa serão considerados esses dados. Em 2016 foi realizado o relatório anual da Adus, neste constam dados, pesquisas e entrevistas quanto ao cenário atual do refúgio no Brasil entre 2010 e 2015, período em que o país ganhou grande notoriedade devido ao crescente número de pedidos de refúgio indeferidos na Europa, além dos recentes conflitos políticos e catástrofes naturais na América do Sul e América Latina. Portanto estes fatores incluem novamente o Brasil na rota da imigração, isto é, passa novamente a ser visto como um país promissor e com oportunidades atrativas. No gráfico abaixo é apresentado a origem dos imigrantes legais do Brasil, tendo a Europa e América Latina com os maiores índices.
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Gráfico apresentando dados de solicitantes de refúgios pendentes e aprovados conforme região. Destaque para dados referente ao continente africado. Fonte: Relatório Anual Adus
Refugiado Reconhecido
Solicitação de Refúgio Pendente
PARALELOS
Quando esses dados são comparados com acontecimentos mundiais conseguimos compreender um pouco melhor o motivo dessas migrações, por exemplo, em 2010 um forte terremoto atingiu e destruiu parte do Haiti, obrigado cerca de 40 mil pessoas buscassem asilo no Brasil. Esse fenômeno fez com que o Brasil desenvolvesse medidas emergenciais para essa nova demanda, visto que no ocorrido, essas pessoas não se enquadravam como refugiado, segundo a Convenção de 51 tampouco a legislação interna brasileira. Deste modo o Conselho Nacional de Imigração (CNIg) concedeu permanência aos haitianos através dos vistos humanitários, possibilitando a essas pessoas a emissão de documentos e acesso ao ensino e trabalho. Estabelecendo um paralelo entre os dados apresentados anteriormente, fica claro que o número de imigrantes africanos não é correspondente às solicitações de refúgio e refugiados reconhecidos, portanto eles representam uma parcela importante dos refugiados no país. A constatação disso é importante pois tem implicações sociais no desenvolvimento de políticas, sendo em sua maioria população negra.
O Brasil é reconhecido mundialmente como um país acolhedor, ainda que sem toda a infraestrutura adequada para isso. Em 1997 foi redigido o Estatuto do Refugiado, a fim de internalizar a Convenção de 1951 e atualizá-la para a realidade brasileira. Esse novo estatuto é considerado pela ONU como um dos mais modernos e generosas do mundo. Ainda em busca de criar um polo abrangente de abrigo, países da América do Sul e América Latina elaboraram a Declaração do México em 2004, almejando um sistema integrado de proteção internacional as vítimas de perseguição. Apesar de todas essas medidas legislativas e políticas o Brasil não tem capacidade de suportar uma grande demanda, fato comprovado após a intensa migração de haitianos em 2010 e a recente migração da população síria, faltam espaços de acolhida, organização documental, políticas de reinserção na sociedade, além de incentivos internos a discussão e empoderamento do tema, visto que ainda hoje, presenciamos casos de xenofobia.
Ressignificação e Acolhimento •
Como apresentado anteriormente existe um paralelo entre três subgrupos de imigrantes: os europeus, latino-americanos e africanos. Apesar de representarem um único grupo - migrantes - existe uma diferenciação de tratamento e de condições de recebimento, podemos atrelar isso a questões raciais e financeiras. Em 2015 foi realizado um experimento social¹ por uma organização de auxilio ao refugiado, o experimento baseava-se apenas em duas palavras Estrangeiro e Refugiado que deveriam fazer parte da descrição de um voluntario em um aplicativo de relacionamento. Durante o processo percebe-se o quanto a população brasileira ainda possui uma ideia errônea da pessoa refugiada. Nos resultados quando utiliza-se o termo estrangeiro são obtidos várias combinações, mas quanto o termo é refugiado a situação muda completamente, tendo um grande número de rejeição. PERFIL SOLICITANTES DE REFUGIO NO BRASIL EM 2016
Mais de 60 Anos 1%
95 52
De 0 a 17 Anos De 18 a 29 Anos De 30 a 59 Anos 11% 41% 47%
72 62
84 93
Para compreender o perfil do refúgiado no Brasil considerou-se os dados levantados pela Polícia Federal junto ao ACNUR, deste modo o número total acumulado oficial de refugiados legais no país é de 9.552 até o ano de 2016 contemplando cerca de 82 nacionalidades resultando em um aumento de 12% destes referêntes ao ano anterior, ainda que as solicitações de refugio tenham diminuído no mesmo período. Vale destacar que número de refugiados reconhecidos pelos órgãos públicos representam apenas 0,0045% da população do país, enquanto dos imigrantes (1,2 milhões) representa menos de 1%.
49
84 42
35 40
2011
2012
2013
2014
2015
REFUGIADOS RECONHECIDOS NO BRASIL
• R e s s i g n i f i c a ç ã o e A c o l h i m e n t o
2016
1. Experimento social Estrangeiro x Refugiado. Disponível em < https://www. youtube.com/watch?v=cz0ETbnx8Y0> Acesso em 05/05/2017.
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2010
Mulheres 32% ◄
39 04
75
Homens 68%
Perfil do solicitante de refúgio no Brasil conforme dados de 2016. Fonte: Departamento da Polícia Federal
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Refugiados reconhecidos no Brasil (total acumulado 2010 - 2016) Fonte: Comite Nacional para Refugiados
A) O CASO DA VENEZUELA
B) REMODELANDO O ESTATUTO
De tempos em tempos nos deparamos com conflitos políticos ou eventualidades que resultam na imigração de sua população, atualmente como grandes fenômenos podemos citar a Síria e a Venezuela, essa segunda bem significativa para os dados brasileiros referentes ao refúgio. Após anos Hugo Chavez governou o país, logo após sua morte, seu vice, Nicolás Maduro assumiu o cargo e foi iminente a explosão da crise econômica. A queda do valor do petróleo resultou em uma crescente escassez de itens como alimentos, energia elétrica; em outras palavras, na quebra da Venezuela. Atrelado a isso o governo, até então democrático, apresenta caracteríscas do autoritarismo, resultando em inúmeros protestos espalhados pelo país devido a insatisfação da população. Nesse breve panorama percebe-se quão caótica estão as coisas no vizinho Sul Americano, isso rapidamente foi percebido nos dados de solicitação de asilo no Brasil, subindo de 1101 pedidos em 2015, para 4434 em 2016, representando um aumento de mais de 300%, vale dizer que por dividir fronteira com o país, muitos venezuelanos entram no Brasil ilegalmente, estimam-se que atualmente já são mais de 30.000 venezuelanos vivendo no país. Essa migração é feita tanto por pessoas perseguidas pelo governo, quanto pessoas em busca de condições melhores.
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A Nova Lei de Migração no Brasil e os Direitos Humanos Autor: Camila Asano e Pétalla Timo Fonte: https://br.boell.org/pt-br/2017/04/17/nova-lei-de-migracao-no-brasil-e-os-direitos-humanos
Em 1980 foi aprovado o Estatuto do Estrangeiro, elaborado durante a ditadura militar contendo muitas diretrizes contrárias aos tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil faz parte, como por exemplo climinalizar a migração embasado que representam ameaça à segurança nacional. Em contra partida temos em 1997 o Estatuto do Refugiado, apresentando diretrizes totalmente diferêntes, incentivando a proteção e acolhimento dos refúgiados. Sabendo-se disso, em abril deste ano, foi aprovada a revogação deste estatuto e a aprovação da nova Lei de Migração, esta apresenta condicionantes contemporâneas a essas pessoas, como por exemplo o direito de exercerem sua cidadania, lhe garantem condições de igualdade com os nacionais, como a utilização de sistemas públicos de saúde e educação, bem como exercer cargos públicos, deixando para trás o passado discriminatório do Estatuto do Estrangeiro/80 A formação populacional no Brasil é historicamente composta pelas migrações de diversos países como a japonesa, libanesa, italiana e alemã. Brasileiros e brasileiras, em sua vasta maioria, têm pais, avós ou bisavós migrantes; e muitos de nós, também, migramos. O tom de país acolhedor tem predominado, até agora, nos discursos políticos e na convivência na sociedade. É fato, contudo, que aumentam as denúncias e demonstrações de discriminação e xenofobia no país. É preciso fazer face a tal tipo de postura conservadora e retrógrada demonstrando a rica e diversa contribuição das pessoas migrantes em todos os aspectos, cultural, econômico, científico, etc.
Ressignificação e Acolhimento •
2.3 INSTÂNCIA DE INTEGRAÇÃO
IN·TE·GRAR
VTD | 1. Incorporar(-se) um elemento num conjunto; incluir 2. Tonar(-se) adaptado a um grupo ou uma comunidade 2
Como o próprio termo já diz, incorporar-se a uma nova cultura é uma troca mútua de experiências, histórias e conhecimento, portanto é preciso prover espaços em que possam ocorrer esses episódios e incentivar essa vivência. Segundo o relatório anual do Adus, alguns pontos são responsáveis por essa troca: aspectos culturais, sociais, religiosos e políticos. CULTURAL: É fato de que o choque cultural é algo presente nessas trocas de experiências, tanto brasileiros quanto migrantes possuem costumes diferentes, formas distintas de se portarem quanto a sociedade, religião, relações pessoais, etc. Segundo a irmã Rosita Milesi, diretora do Instituto de Migrações e Direitos Humanos, a dimensão cultural deve ser levada em consideração no processo de adaptação a fim de evitar o isolamento e a sensação de não pertencimento por parte do refugiado. Até a atualidade ainda presenciamos casos de racismos, com o pensamento incorreto sobre a índole dos refugiados, esse pensamento só dificulta a reinserção dessas pessoas na sociedade. Além do racismo, apresentam-se alguns casos de xenofobia por exemplo, relacionando qualquer paquistanês ao terrorismo, ou quanto ao uso de turbante no ambiente de trabalho por mulheres angolanas. Portanto percebe-se a necessidade de espaços para disseminação de conhecimento e trocas culturais a fim de mitigar esses problemas causados por falta de informação, acabando sendo tratado um pouco como tabu pela população brasileira. SOCIAL: Sobre as questões sociais podemos dividi-la em subgrupos: língua, habitação, trabalho. Seguindo a sequência temos a língua como alicerce dos outros, aprender o idioma do país é visto como a primeira obstáculo a integração, visto que não bastam apenas os espaços das salas de aula para tal feito, surgem questões como a distância das escolas, o preço do transporte público, falta de alimentação e até mesmo alguém para cuidar dos filhos, são alguns dos fatores que levam ao abandono das aulas.
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O habitar, item básico previsto em constituição para brasileiros, é um item de extrema importância aos refugiados, muitos deles chegam aqui sem dinheiro, sem conhecidos, sem emprego, sem saber se comunicar em português, enfim, um conjunto de fatores que dificultam o acesso a moradia, portanto, no caso da cidade de São Paulo, essas pessoas são levadas aos centros de acolhidas espalhados pela cidade, que somam aproximadamente 470 vagas, entretanto esses espaços não suprem a demanda exigida, além de possuírem regras, como por exemplo, ter que sair pela manhã e retornar apenas de noite, essa ação dificulta e integração do refugiado, onde muitos são obrigados a ficar na rua o dia inteiro sem saber o que fazer e sem alimentação. Além disso, esses espaços também possuem prazo máximo de permanência, obrigando o refugiado a entrar no aluguel, entretanto a falta de emprego dificulta esse processo, decorrente disso é comum agregar-se a movimentos sociais que reinvidicam o acesso a moradia. Podemos citar, por exemplo, o caso do antigo Hotel Cambridge, que a ocupação deu origem ao filme homônimo. No terceiro segmento temos o acesso ao emprego, este dependendo majoritariamente do primeiro (língua) e
pode ser considerado também o mais difícil. O refugiado encontra dificuldade em exercer a mesma atividade que desempenhava em seu país de origem, o processo de validação de certificado é longo e caro, o que faz com que muitos optem por cargos considerados de baixa qualificação. Além disso ocorre também o problema frente às empresas contratantes devido ao preconceito e o receio na contratação. Algumas organizações buscam reverter essa ótica, como é o caso da Estou Refugiado. RELIGIOSO: Como resultado do recebimento de diversas nacionalidades é trazido juntamente sua religião e seus costumes, para muitos povos a religião é um escape e muito importante para a sensação de pertencimento no novo país, portanto, espaços para o livre culto é importante. POLÍTICA: Apesar de estar inserido na sociedade brasileira, segundo o artigo 14, § 2° da Constituição Federal, “Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros”, portanto, independente do tempo que o refugiado estiver no país, ele não consegue participar da política interna, dado que vem sendo discutido para alteração.
Ressignificação e Acolhimento •
2.4 PRÉSTIMA EXISTENTE No contexto histórico da cidade de São Paulo podemos citar a fundação da Hospedaria do imigrante, localizada no Brás na metade do século XIX, nela era possível hospedar-se nos alojamentos, obter assistência médica e jurídica, além de ter o encaminhamento para o mercado de trabalho, na época baseado na produção de café e indústrias. Neste período era comum os espaços de recepcionar estrangeiros (europeus), inicialmente em casas alugadas na Luz, mas de forma inadequada, devido a isso, viu-se necessária a construção de um espaço maior e com capacidade correspondente a demanda. Atualmente o índice de imigrantes e refugiados reduziu bastante em comparação ao período em que foi construída a hospedaria, consequentemente o número de abrigos e alojamentos também reduziram. Na capital existem quatro entidades que prestam esse serviço, sendo parceria entre governo e ongs e/ou recintos religiosos, entretanto ainda não dão conta da demanda, o que acaba levando em alguns casos os refugiados a trabalharem em regime de semiescravidão em situações precárias, sem quaisquer acesso aos seus direitos previsto em lei. ◄
“Eu sinto saudade do Brasil. Mas não era uma vida normal. Era só trabalho” Malena Aruquipo Rios, de 37 anos, 15 deles vividos em São Paulo em situação de escravidão. 2
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Exemplo de como eram os alojamentos, grandes espaços, repletos de camas separados por sexo. Esses alojamentos ficavam fechados durante o dia e abriam apenas ao anoitecer. Alojamento para mulheres por volta de 1936 Fonte: Acervo Museu da Imigração
Reportagem sobre situação vivída por imigrante boliviana na cidade de São Paulo | 2017 Fonte: Jornal BBC. Disponível em < http://www.bbc.com/ portuguese/noticias/2015/01/150127_boliviana_escravizada_ms> Acesso em 07/05/2017 2
Infelizmente o relato da boliviana Malena não é algo esporádico, então é preciso intensificar a fiscalização e a promoção de espaços de convívio como previsto e discutido na Convenção de 1951 e no Estatuto do Refugiado, para de fato, o Brasil ser visto como um país acolhedor e de fato ter estrutura de oferecer esse acolhimento. No relatório anual do Adus foi realizada uma pesquisa com funcionários e pessoas ligadas ao serviço público prestado a esses refugiados, a fim de mapear as lacunas que eles veem quanto ao serviço. De modo geral os questionamentos são referente as barreiras da língua, falta de informações por parte dos funcionários e migrantes, preconceito, falta de capacitação, ausência de vagas nos abrigos, burocracia para emissão de documentos. A seguir a descrição dos serviços prestados.
CRAI (Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes) Governo Municipal / Lotação: 110 vagas noturnas e 80 diurna Localização: Rua Japurá, 234 - Bela Vista Serviços: Alojamento, atendimento em diversos idiomas, interme- diação jurídica, assistência psicológica e social. CASA DE PASSAGEM TERRA NOVA Governo Estadual / Lotação: 50 pessoas Localização: Rua da Abolição, 145 - República Serviços: Alojamento, oficina de idiomas, atividades ocupacionais, orientação profissional e inclusão no mercado de trabalho. CIC DO IMIGRANTE (Centro de Integração e Cidadania) Governo Estadual e Federal Localização: Rua Barra Funda, 1.002 - Barra Funda Serviços: Regulariação migratória, assistência jurídica, acesso à in ternet, cursos profissionalizante e de idiomas. CASA DO MIGRANTE Instituição Filantrópica / Lotação: 105 pessoas Localização: Rua Glicério, 225 - Liberdade Serviços: Alojamento, alimentação, assistência psicológica e so cial, lavanderia, depóstito, atendimento religioso, atendi mento médico emergêncial, distribuição de roupas, atividades de lazer, orientações sobre serviçõs na cidade.
Ressignificação e Acolhimento •
2.5 DEMANDAS Segundo dados da ACNUR existem cerca de 5.196 refugiados no Brasil em 2013, cerca de 1.000 destes estavam na cidade de São Paulo, esse dado quase que duplicou, conforme o dados atualizados do ACNUR, constam 8.707 em 2015. Portanto fica clara a crescente demanda deste fenômeno, o que também deixa claro quanto a carência de espaços de acolhida, na cidade os 4 espaços de acolhida contam com aproximadamente 450 vagas, sendo que o número de solicitante é bem maior. Como podemos observar nos mapas abaixo, a região sudeste representa a maior parte dos refugiados no Brasil, entretanto, quando analisado o mapa de solicitações, percebemos que onde tem a maior demanda é a região sul. Podemos relacionar isso a economia dos estados, por exemplo, o estado de São Paulo representa mais de 30% da economia do país, o que é o objetivo dos imigrantes, áreas com grande oferta de trabalho. Como já foi dito anteriormente, no Brasil os dados quanto ao tema são muito divergentes, entretanto a entidade Casa do Migrante, disponibiliza os dados dos refugiados que eles prestaram auxílio, com isso é possível estabelecer uma visão geral da população que chega na cidade, além de compreender melhor suas necessidades. O primeiro dado importa é quanto ao sexo, em 2016 a casa do migrante atendeu certa de 998 pessoas, sendo 88% homens, 7% mulheres e 5% crianças. Na maior parte dos casos esses refugiados saíram de seus países por perseguição política o que corresponde a 58%, vindo em seguida o refúgio religioso com 18% e em sequência, em busca de trabalho, representando cerca de 14% dos motivos de migração.
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Gráfico identificando demanda de abrigos em São Paulo | 2015 Fonte: Dados ACNUR
Refugiados no Brasil
Solicitação de Refugiono Brasil
8,28%
16,08% 1,39%
0,26%
12,35%
18,48%
71,97%
25,23%
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Mapa identificando população refugiada no Brasil em | 2015 Fonte: Dados ACNUR
39,95% Mapa identificando população refugiada no Brasil em | 2015 Fonte: Dados ACNUR
Ressignificação e Acolhimento •
Dedicado aos que, assim como Alan Kurdi, arriscaram tudo e perderam a vida
O MENINO NA AREIA Emi Mahmoud Eu vejo um menino em sua última batalha hoje. Com o rosto enterrado em uma cama de areia. Corpo de bruços, inclinado, quebrado como as ondas. Seu peito não se movia, seu coração não batia. tudo em volta dele estava suspenso no meio daquela agitação entre terra e água Puxando e empurrando como se estivesse tentando trazê-lo de volta. É assim algumas vezes, quando eu vejo corpos de estranhos. Esse tipo de morte Visto de fora do último suspiro de uma pessoa faz o ar parar. O oceano passa a se mover lentamente, a Terra se torna um berço, um cemitério, um monumento, uma pedra Como um menino morto descansando na areia.
[3]
SOBRE A ÁREA ESCOLHIDA Terreno e Entorno Legislação
3.1 TERRENO E ENTORNO Com base nas informações apresentadas, percebe-se a presença de dois problemas, não tão distintos - a degradação e subutilização da região do Parque Dom Pedro e a carência de espaços de acolhida na cidade de São Paulo - com base nisso parte-se para o entendimento da área para averiguar a viabilidade de inserção de um equipamento voltado aos refugiados.
uma ressignificação, porquê não juntar forças e agregar-se a entidade já existente, a proximidade foi visto como ponto positivo, a fim de estabelecer conexões, consequentemente aumentando sua demanda e suas experiências. Abaixo temos sintetizado os pontos que foram levados em consideração para a escolha do local, a proximidade das duas linhas de metrô mais importantes da cidade, além de estar em um “nó” importante da cidade, o Parque Dom Pedro II mostrou-se mais viável para o estudo e proposta. Em roxo são apresentados os locais na cidade que possuem assistência aos refugiados, sendo apenas o CIC fora do eixo do centro antigo da cidade.
Considerando as necessidades dessa população, buscou-se uma região na cidade onde tivesse grande oferta de infraestrutura, o que viabiliza a reinserção na sociedade dessas pessoas, além disso, foi levado em consideração áreas da cidade com maior índice de imigrantes na contemporaneidade. Com essas primeiras informações chegou-se a duas localidades: Parque Dom Pedro II e Barra Funda, é comum presenciar imigrantes nessas duas regiões, talvez decorrentes dos equipamentos públicos que promovem ações já citadas, Missão Paz no primeiro e o CIC no seguinte. Analisar as potencialidades de cada uma das partes foi determinante para a decisão do local, ambas regiões passam por processo de incentivo ao desenvolvimento urbano através das Operações Urbanas, ambas também possuem resquícios da industrialização da cidade no século passado. Portanto a decisão foi tomada a partir de um desejo antigo de intervir no edifício do II Batalhão das Guardas, coincidentemente implantado no Parque Dom Pedro, próximo a estação de metrô da linha vermelha.
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Foi percebido então a proximidade do edifício com a Missão Paz, inicialmente pareceu-me prejudicial implementar um equipamento com um programa similar à um existente a poucos metros de distância, entretanto, a região necessita de
Mapa estudo de local para proposta de tfg | 2017 Fonte: Análise do autor sobre mapa do Google Maps
Área de Estudo Vetores de locomoção A.S. Refugiado Linha 01 Azul Linha 02 Verde Linha 03 Vermelha Linha 04 Amarela Ressignificação e Acolhimento •
Decidido quanto ao Parque Dom Pedro II, percebe-se que se trata de uma área muito fragmentada, com uma grande taxa construtiva, entretanto isso não é correspondido com a densidade populacional. O edifício foco de estudo (em azul no mapa abaixo) fica localizado na área do que restou do parque, todas as fachadas dele possui vistas, a mais problemática sendo a oeste devido estar voltada para uma via de fluxo intenso e sujeita à ruídos. Neste mapa fica mais clara a proximidade com o centro de acolhida Missão Paz, estando a aproximadamen-
te 1km de distância, entre a preexistência e a entidade religiosa, existem dois terrenos com uso obsoleto, podendo inclusive integrar-se futuramente a proposta. Vale destacar a proximidade com o bairro do Glicério, este que vem se transformando nos últimos anos, recebendo incentivos inclusive de grandes incorporadoras. Historicamente ele sempre foi um dos bairros mais degradados da cidade e periodicamente sendo pauta de de estudos de revitalização, de modo geral ele se dá por diversos edifícios antigos e algumas indústrias.
1 000 m 500 m 250 m ◄
Aproximação área de estudo TFG | 2017 Fonte: Análise do autor sobre mapa do Google Maps
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Imagens aéreas Parque Dom Pedro II | 2016 Fonte: Google Earth
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Imagens aéreas Parque Dom Pedro II | 2016 Fonte: Google Earth
Ressignificação e Acolhimento •
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A) LEGISLAÇÃO A região do Parque Dom Pedro é gerida pela subprefeitura da Sé, podemos destacar as relações estabelecidas na região do Parque Dom Pedro II com os planos de intervenção e legislação vigente no estado, que visam uma qualificação urbanística e melhorias para a cidade. O Plano Diretor Estratégico foi revisado em 2014 na então gestão do prefeito Fernando Haddad. Prezando por uma cidade mais humana, priorizando a mobilidade através de transporte púbico, espaços de convivência e afins o PDE lança premissas para tal feito. Segundo o PDE o Parque Dom Pedro II, enquadra-se como uma macroárea de estruturação metropolitana, isto é, um território para o desenvolvimento da cidade, caracterizado por suas atividades que giram o capital e promovem cultura atravessando a região da capital paulistana. Por sua vez a região ainda faz parte da macrozona de estruturação e qualificação urbana. Dentre suas premissas do PDE podemos destacar, por exemplo o incentivo a fachada ativa e promoção de edifícios culturais. Essas medidas de adaptação estão conseguindo reverter o esvaziamento do centro que ocorreu por volta da década de 90 e se estendia até o início do século. Vale ressaltar o Programa de Metas para a cidade que possui como a quarta meta a requalificação da área central. A OU Centro foi criada em 1997 na Lei 12.349, a fim de requalificar aproximadamente 663 hectares no que conhecemos por ‘Centro Velho’ e ‘Centro Novo’ englobando diversos bairros históricos e que tiveram um importante papel no desenvolvimento da cidade como um todo. O objetivo da Operação Urbana Centro visa estimular investimentos na região central, através de incentivos a produção de novas edificações, reformas para adequação de uso, etc. Ainda assim todo esse conjunto de benéficos não foi suficiente para gerar os resultados esperados.
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O.U.
Operação Urbana Centro
MEM
Macroárea de Estruturação Metropolitana
12.772
Área total do terreno (m²)
2.600
Área total do patrimônio (m²)
ZEPEC
Zona Especial de Preservação Cultural
HIDROGRAFIA + VEGETAÇÃO Historicamente a região do atual Parque Dom Pedro II sofreu com constantes enchentes, o que o determinou como local insalubre, como já foi apresentado anteriormente, apesar das diversas intervenções elaboradas para o local, esporadicamente a região ainda sofre com tal condicionante, por conta disso é importante incentivar áreas verdes na região. No projeto proposto pelo escritório Una Arquitetos, são previstas lagoas de drenagem a fim de mitigar os transtornos causados pela pluviosidade.
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Mapa de hidrografia e vegatação Fonte: Base Cartográfica: Mapa Digital da Cidade, 2004.
USOS Ao lado são apresentadas as informações quanto aos usos da região do Parque Dom Pedro II, percebe-se uma grande predominancia de uso comercial e seviços, principalmente a norte e a oeste, onde se encontra, por exemplo, a 25 de Março. O edifício do Batalhão das Guardas, ocupa um trecho do então Parque Dom Pedro, sendo considerado portanto como áreas verdes no Plano Diretor Estratégico (PDE).
◄ Mapa de Usos Região
Parque Dom Pedro II Fonte: Base Cartográfica: Mapa Digital da Cidade, 2004.
EQUIPAMENTOS A fim de destacar a riqueza de equipamentos na região central da cidade, foi elaborado o mapa ao lado. Toda essa oferta de equipamentos públicos e privados auxiliam na integração e na oferta de trabalho, além de manter o centro vívído.
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Mapa de Equipamentos Região Pq. Dom Pedro II Fonte: Base Cartográfica: Mapa Digital da Cidade, 2004.
DENSIDADE Como pudemos analisar no mapa de usos, esse trecho da região central é predominantemente comercial, tendo o Glicério como um grande aglomerado de habitações, ainda que não sejam nas melhores condições. No mapa ao lado percebemos como é importante reverter esse índice de baixa densidade, embasado no fato de ter uma grande oferta de infraestrutura, entretanto utilizada em sua totalidade apenas em alguns períodos do dia, além disso, adensar o centro, significa aproximar trabalhador x emprego, trazendo com isso qualidade de vida, redução de transido, dentre outros.
◄ Mapa de Densidade Re-
gião Parque Dom Pedro II Fonte: Base Cartográfica: Mapa Digital da Cidade, 2004.
MOBILIDADE A área escolhida conta com uma vasta rede de transporte, facilitando o acesso dos refugiados e imigrantes chegados nas rodoviárias da Barra Funda, Tiete e Jabaquara, além de facilitar na mobilidade dentro da cidade para retirada de documentos, oferta de trabalho.
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Mapa de Mobilidade Região Pq. Dom Pedro II Fonte: Base Cartográfica: Mapa Digital da Cidade, 2004.
BENS TOMBADOS A região central da cidade de São Paulo contempla um grande acervo de bens tombados, e preservados por órgãos públicos como Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) e Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp). Vale destacar que intervir no centro deve ser levado em consideração esses elementos a fim de preservar seu contexto.
◄ Mapa de ZEPEC Região
Parque Dom Pedro II Fonte: Base Cartográfica: Mapa Digital da Cidade, 2004.
SINTETIZANDO... Como podemos perceber a região do Parque Dom Pedro II foi historicamente seccionada por vias expressas o que lhe determinou tal situação atual, ainda assim, a área possui diversas potencialidades devido sua proximidade com o centro histórico e centro novo da cidade, como diversos modais de transporte, equipamentos de saúde, educação, lazer, comércio, etc. Um dos principais problemas da implantação da edificação escolhida para estudo são suas barreiras físicas, a faixa de rolamento e o rio do outro, o que rompeu totalmente com os fatos urbanos, conforme a Arquitetura da Cidade de Aldo Rossi, do contexto do local. Além das barreiras foram resultantes do processo de criação de vias, diversas áreas subutilizadas ou obsoletas, como por exemplo, a própria edificação escolhida para estudo, podendo supor até que seu estado de rápida deterioração pode ter sido intensificado pela dificuldade de ocupar um imóvel com tal circunstâncias de implantação. Conforme as sequenciais intervenções tiveram como resultado a descaracterização do parque, hoje sendo considerada uma área insegura e inóspita, adjetivos contrários à uma área verde pública, podemos fazer uma analogia disso com o livro de Jane Jacobs, Morte e Vida das Grandes Cidades, onde ela diz que a sensação de segurança está atrelada a pessoas na rua, que a cidade são para as pessoas, portanto recuperar o caráter de parque, incentivar seu uso e prover o incentivo também de aumento da densidade consequentemente irá reduzir a sensação de insegurança e cada vez mais
Ressignificação e Acolhimento •
O BATALHÃO Construído por volta de 1842, com taipa de pilão o edifício do II Batalhão das Guardas representa uma mescla de linguagem arquitetônica, seu corpo retangular inicial com características colôniais e seus dois braços voltados para o Tamanduateí com características neoclássicas, que ainda que construídos em períodos distintos, utilizou-se a mesma técnica: taipa.
Durante o processo de tombamento, foi realizado um estudo prévio da configuração atual (1981) do edifício e nesse período o edifício já necessitava intervenção para tratar dos problemas decorrentes do tempo e da falta de manutenção. É apresentado já que o prédio sofre com infestação de cupins, goteiras e vedos que não conversam com o todo. Nesse relatório propõem-se a intervenção em três etapas:
A primeira intervenção no edifício ocorreu por volta de 1930, executando modificações nos detalhes das platibandas e na troca das vergas, até então retas, por uma arqueada, na face externa do corpo principal do edifício. Porém a fachada desse mesmo prédio, voltada para o interior do pátio, não foram alteradas, possibilitando na atualidade perceber os traços nos moldes coloniais presentes na edificação.
• 1 Etapa: Recuperação do edifício; • 2 Etapa: Recuperação dos valores arquitetônicos e reutilização; • 3 Etapa; Estudo do entorno imediato ao prédio.
A próxima alteração se deu anos mais tarde, com a construção de um anexo, fechando o pátio para o interior do edifício, perdendo relação com o Tamanduateí. Esse novo anexo seguiu de linhas gerais similar a preexistência, mas já com a troca da técnica construtiva, de taipa para alvenaria de tijolos e laje de concreto. Quando o edifício converte seu uso como quartel, são construídos mais anexos empregando novos materiais, delimitando o terreno do conjunto.
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Vista fachada Avenida do Estado Fonte: Keiny Andrade / AE
Percebe-se que apesar do relatório ter sido elaborado em 1981, os problemas permanecem os mesmos, foram apenas agravados com o decorrer dos anos, portanto para base de estudo, compreende-se de que o processo de requalificação do edifício seguirá as mesmas diretrizes apresentadas.
Imagem externa II Batalhão das Guardas, provavelmente olhando aresta da fachada noroeste Fonte: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga
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Imagem interna mostrando pátio interno, na época em que o edifício era utilizado como Batalhão, este local contemplava uma quadra para prática de esportes. Fonte: Héveles Martinez / São Paulo Antiga
Ressignificação e Acolhimento •
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Imagem externa II Batalhão das Guardas, em destaque acesso pela Avenida do Estado, 2011 Fonte: Acervo Donaldo Icibaci
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Imagem externa II Batalhão das Guardas, em destaque acesso pela Avenida do Estado, 2015 Fonte: Acervo Donaldo Icibaci
AS CARTAS A partir da década de 30 do século passado, muito se discutiu sobre a preservação de bens arquitetônicos como passagens da história para as gerações futuras, inicialmente com a Carta de Atenas (1931), posteriormente a Carta de Veneza (1964) e a mais recente Declaração de Amsterdã (1975). Em suma essas Cartas foram ficando cada vez mais específicas referente ao tema do restauro e preservação conforme o valor dado aos artefatos e elementos da paisagem. Entretanto surge o dilema do restauro a fim de trazer a luz exatamente como a edificação era na antiguidade, ou restaurar entretanto deixando claro os elementos que não fazem partes do mesmo período de construção da edificação existente. Neste dilema surgem diversos autores importantes até os dias atuais como Aldo Rossi, Camilo Sitte, Viollet-le-Duc, Ruskin, Solà-Morales, dentre muitos outros teóricos que apresentaram seu ponto de vista referente ao fenômeno que é a preservação. Para análise foram consideradas as diretrizes contempladas na Carta de Veneza, que foi elaborada em um período pós guerra, período em que não busca apenas a preservação do elemento isolado, mas sim de toda a ambientação e o contexto e memória. Nesta carta são apresentadas diretrizes de restauro, entretanto deixando claro que deve ser analisado caso a caso, cada circunstância e situação é diferente, portanto não pode existir uma receita pronta de restauro. Basicamente qualquer tipo de intervenção em um tecido consolidado e histórico varia conforme o valor dado ao mesmo, no nosso exemplo do II Batalhão das Guardas foi tombado pelo CONDEPHAAT a fim de preservar sua historicidade desde sua construção, um grande exemplo de arquitetura colonial bem no centro da cidade, entretanto, desde sua construção até a data de seu reconhecimento como patrimônio cultural a edificação já havia passado por adaptações, além de seu uso ter danificado boa parte dos seus elementos originais. Dado isso almeja-se no Restauro Crítico, isto é respeitando as marcas deixadas no decorrer dos anos na edificação existente e evidenciar tudo aquilo que é novo através da materialidade de tecnologias contemporâneas.
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Imagem interna II batalhão das Guardas, 2015 Fonte: Diogo Yanata
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Imagem interna II batalhão das Guardas, 2015 Fonte: Diogo Yanata
Imagem interna II batalhão das Guardas, 2015 Fonte: Diogo Yanata
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Imagem interna II batalhão das Guardas, 2015 Fonte: Diogo Yanata
Ressignificação e Acolhimento •
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3.2 PROGNÓSTICO Com base em tudo o que foi apresentado constatou-se que estabelecendo um paralelo entre a demanda existente na cidade de espaços de acolhida ao refugiado em conjunto com os fatores que levaram a degradação da região do Parque Dom Pedro II e as recentes políticas de ressignificação desta área, justificam a implementação de uma hospedaria e centro de convivência com foco na temática do refugiado. Foi pensando em propor uma hospedaria visto que o habitar é um dos alicerces básicos para a reintegração dessas pessoas na sociedade, os programas públicos que existem na capital não suportam a demanda, além de possuírem regras que dificultam em alguns casos a vida dos refugiados, como por exemplo, não poder ficar durante o dia no local. Portanto fica claro que um espaço que ofereça esse serviço será bem vindo, além disso o habitar impulsiona a vida na cidade, isso quer dizer, que aumentar a densidade populacional da região consequentemente auxilia na reversão do quadro de abandono e insegurança presente no Parque. Apoiando-se também no Projeto Urbanístico desenvolvido pelo escritório UNA arquitetos, percebe-se as possibilidades infinitas que o local possui, claramente existe um efeito em cadeia das transformações e que pode ser muito maior do que prevemos, a cidade e a sociedade está em uma constante transformação.
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Diagrama
Áreas obsoletas numa região com grande oferta de infraestrutura Carência de vagas para hospedagem, inexistência de espaços de empoderamento da cultura
Região degradada e abandonada pelo governo, o que resulta no abandono da população II
HOSPEDARIA + CENTRO DE CONVIVÊNCIA Reinserção na cidade/ pertencimento ao espaço
Ressignificação da área e patrimônio construído
Promoção de equipamento com abrangência regional
Troca de experiências e conhecimento
Batalhão das Guardas: Abandono do patrimônio cultural da cidade
Apropriação do espaço pela população
Maior segurança, cidade na escala do pedestre
Almejo do PDE e políticas públicas ◄
Diagrama de análise benéfica de intervenção, Desenvolvido pelo autor
Ressignificação e Acolhimento •
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SOBRE AS REFERÊNCIAS Plástica Programática Ressignificação Tectonica
4.1 PLÁSTICA Edifício no Porto de Antuérpia / Zaha Hadid Architects
Originado de um concurso de projeto, a nova sede dos escritórios do porto Antuérpia foi inaugurado em 2006 sobre um edifício histórico, anteriormente utilizado como corpo de bombeiros. A única exigência do concurso era de que a proposta incorporasse o edifício no novo projeto.Inicialmente a arquiteta foi questionada quanto a descaracterização do edifício por conta da estrutura que toca o solo, obstruindo parte da fachada, entretanto, facilmente contornado pelo fato de todas as quatro serem iguais. É criado um térreo elevado acima da cobertura do edifício existente, servindo de mirante e também como elemento de transição entre o clássico e o contemporâneo. Portanto, essa referência desmitifica a necessidade de necessariamente respeitar o gabarito, da nova construção ser quase que imperceptivel ao patrimônio, mas sim de forma que o edifício novo se integre à preexistência, respeitando-o, mas também impondo-se.
Foto átrio e externa do edifício no Porto de Antuérpia | 2016 Fonte: Zaha Hadid Architects
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Foto externa edifício no Porto de Antuérpia | 2016 Fonte: Zaha Hadid Architects
Ressignificação e Acolhimento •
4.2 PROGRAMÁTICA Ourco Juares / SPBR + Angelo Bucci
A partir de propostas para reinventar Paris, surge o Réinventer Paris, promovido pela prefeitura da capital francesa, que baseava-se na venda de imóveis subutilizados para empreendedores com pautas novas de ocupação e transformação do tecido tradicional. O escritório SPBR em parceria com o arquiteto Angelo Bucci propõem um complexo de moradias estudantis em um miolo de quadra cercado por edifícios de baixa densidade. O projeto conta com 30 módulos de dormitórios estruturados em madeira sobre laje de concreto. A forma proposta desses módulos baseia-se na ideia de 1 conjunto de banheiro serve dois módulos de dormitórios, além de incentivar encontros e áreas de convívio no que por hora é corredor, por hora é cozinha, por hora é espaço de estar, tudo isso definido por painéis pivotantes. A organização dos espaços servem como referência importante para a disposição da hospedaria em si, embasando-me na questão de espaços de convívio compartilhado, e dormitórios provisórios vistos como módulo adaptável as necessidades.
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Diagrama Residência Estudantil Ourcq Jaures | 2015 Fonte: SPBR
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Foto Residência Estudantil Ourcq Jaures | 2015 Fonte: SPBR
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Foto Residência Estudantil Ourcq Jaures | 2015 Fonte: SPBR
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Planta Residência Estudantil Ourcq Jaures | 2015 Fonte: SPBR
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Corte Residência Estudantil Ourcq Jaures | 2015 Fonte: SPBR
Ressignificação e Acolhimento •
4.3 RESSIGNIFICAÇÃO Cerámica de Arganil / Vitor Seabra Mofase
O projeto parte da cautela com a preexistência, para que seja mantida a sua história e suas características, portanto a intervenção baseia-se na criação de uma estrutura interna independente da já existente, onde foi pensado a implementação da área comercial, restaurante e programas similares. O edifício possui como característica ser limpo, sem conter qualquer elemento construtivo sem função, isso evidência ainda mais sua trajetória. Ele se integra com outros dois blocos que diferente deste, possui cores claras e vedos ritmados de vidro, como se o contraste de cores de texturas emoldurasse a pré existência. Este edifício trata-se de um importante exemplo de alteração de uso de imóvel histórico, mas ainda assim mantendo suas características originais. Deste modo harmonicamente a pré existência adapta-se as novas demandas, podendo receber os usos mais diversos, mas sem descaracteriza-la. Essa relação é imprescindível na hospedaria proposta, embasando a importância de ressignificar um espaço para reabilita-lo.
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Fachada Cerámica de Arganil | 2009 Fonte: Arq. Vito Seabra
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Corredor Cerámica de Arganil | 2009 Fonte: Arq. Vito Seabra
4.4 TECTÔNICA SESC Pompéia - Lina Bo Bardi
Correspondente tanto ao programa, mas principalmente ao caráter obtido com a trabalhabilidade dos materiais contrapondo e evidenciando o período histórico de cada construção, o Sesc Pompéia é um ótimo exemplo disso, de forma harmoniosa um grande edifício é construído de concreto aparente ao lado dos galpões de gabarito baixo, mas ainda que próximos o patrimônio não é descaracterizado, muito pelo contrário, existe uma conversa entre os dois conjuntos.
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Interior Sesc Pompéia | 1986 Fonte: Pedro Kok, Fernando Stankuns
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Interior Sesc Pompéia | 1986 Fonte: Pedro Kok, Fernando Stankuns
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PROPOSTA As Premissas O Sistema O Programa Projeto O Mรณdulo
AS PREMISSAS... Com base nos estudos de caso, análise do entorno e da edificação existente foi possível traçar uma linha de raciocínio capaz de guiar durante o ato de projetar, levantando questões que deveriam ser solucionadas de forma a criar um espaço capaz de ressignificar a região do parque, prestar um serviço social de acolhimento, lidado com legislações vigentes, tanto de preservação cultural, urbanística e humanitária. Dito isso, o estudo a seguir respaldou-se no projeto realizado em 2010 pelo escritório Una Arquitetos + colaboradores, que visa a requalificação do parque como um todo, entretanto dando ênfase para a área norte, onde irá ser implantado uma nova unidade do SESC e outros equipamentos, enquanto para a área mais a sul, especificamente no edifício do então II Batalhão das Guardas, não foi previsto detalhamento de nenhum projeto, apenas uma previsão de transformar o patrimônio em um museu da polícia militar. A partir disso temos claro os três pilares básicos de projeto/estudo: o Parque, o Patrimônio, o Acolhimento. Para o parque foi considerado o cenário pós intervenção projetada pelo escritório Una Arquitetos, deste modo já foram realizadas algumas “costuras urbanas”, como por exemplo o rebaixo parcial da Avenida do Estado e a retirada de alguns viadutos, entregando ao parque seu caráter unificado, excluindo as ilhas e espaços ociosos/obsoletos. Além disso considerando já os novos equipamentos culturais, bem como a criação do ponto intermodal integrando os principais modais de locomoção da cidade, o Metrô, o ônibus e o Expresso Tiradentes. O patrimônio desperta inquietações em muitas pessoas que passam na região do Parque Dom Pedro II, muitos inconformados com o estado da edificação, curiosos com os motivos que o destinaram a isso, é comum ver olhares curiosos partindo de dentro do vagão do metrô que se perdem ao adentrar no túnel rumo à estação Sé. Dito isso, desde o início foi prevista a recuperação e ressignificação do II Batalhão das Guardas, com o intuito de dar um novo uso capaz de integrar-se com o novo caráter do parque e mante-lo vívido em toda sua extensão.
Ressignificação e Acolhimento •
Tratando-se de um imóvel histórico e tombado foram consideradas as diretrizes conforme a legislação vigente, bem como as Cartas já citadas, a fim de manter suas características originais, mas que ainda assim permitisse a integração com o contemporâneo, Por fim o ultimo pilar surgiu junto a necessidade de construir um espaço capaz de acolher e integrar pessoas que chegam na cidade após terem seus direitos violados em seu país ou em busca de melhores condições de viver. Foi proposto um equipamento deste nessa região devido a grande incidência de refugiados pelos bairros do Brás, República, Liberdade, além de ter fácil acesso às rodoviárias da cidade, bem como a proximidade com oferta de emprego. Copilando essas informações e inquietações o projeto surge como um elemento vertical para o habitar, unindo os dois braços da pré existência, recriando o pátio interno, mas agora como uma grande praça de eventos em dois níveis, que interliga o térreo do batalhão com um antigo pavimento técnico que ficava semi enterrado. Trazer a luz esse pavimento surge como elemento ativador do espaço, servindo basicamente com atividade públicas, como um restaurante de comidas típicas e um auditório junto a um café, isto é, esse antigo pavimento técnico permite criar um espaço funcional e atrativo, funcional pela passagem das instalações e atrativo devido a grande procura por espaços alternativos, como exemplo disso podemos citar o Restaurante Arcos, localizado no subsolo do Theatro Municipal. Podemos dividir o projeto em dois grandes grupos, a hospedaria e o centro de empoderamento, o primeiro contendo os módulos de dormitório e o segundo toda a parte de suporte e empoderamento ao refugiado e imigrante.
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Habitar é vivenciar o espaço, é usá-lo de forma a supir suas necessidades. As relações humanas - com o espaço e com outras pessoas e coisas - são agentes transformadores do espaço e do lugar. MONTEFORTE, L. 2017
O SISTEMA... O edifício do II Batalhão das Guardas foi construído conforme as necessidades do período, inicialmente o corpo principal, logo após seus braços e posteriormente os diversos anexos distribuídos no terreno, criando uma planta retangular, entretanto para o processo de tombamento foram desconsiderados esses anexos, ainda que de arquitetura similar, não representam o conjunto, segundo o CONDEPHAAT, órgão responsável pelo tombamento. Além disso, no relatório de tombamento é apresentado a situação dos elementos arquitetônicos, como forro, janelas, piso, vedos, onde já é possivel verificar que neste período o edifício já encontrava-se em um estado de abandono, portanto em seu tombamento não existe um nível para delimitar futuras intervenções, sendo apenas necessária a aprovação do órgão responsável pela preservação. Optou-se então pela remodelação do conjunto, retirando os anexos, mantendo apenas o imóvel tombado, e neste retirando todas as paredes, sendo necessário reestrutura-lo com perfis metálicos, que seguem as diretrizes de intervir no patrimônio, de trabalhar com a materialidade contemporânea a fim de destacar os períodos presentes na edificação.
Imagem interna II batalhão das Guardas, 2015 Fonte: Diogo Yanata
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Imagem interna II batalhão das Guardas, 2015 Fonte: Diogo Yanata
Avenida do Estado
TÉRREO
Manter Demolir ◄
Diagrama de demoliçõa de alvenarias existentes Térro Fonte: Elaborado pelo autor
1º PAVIMENTO
Ressignificação e Acolhimento •
O segundo grupo, entende-se pelo Centro de Empoderamento da Cultura do Refugiado e Imigrante, baseia-se na troca de experiências, unindo pessoas de diversos locais, diversas histórias, mescla de idades e cultura, trazendo uma harmonia de integração e sensação de pertencimento, algo tão importante quando pessoa se vê obrigada a sair de seu país deixando para trás família, amigos, trabalho, uma vida inteira. Essa parte do projeto conta com as partes de assistência como psicólógica e jurídica, além dos setores culturais, como biblioteca, e uma grande galeria.
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Hospedaria 410m² 19
Hospedaria 410m² 19 Biblioteca 500m² 04 Salas de Aula 250m² 16 Assistência 400m² 17 Administração 500m² 18 Hospedaria 600m² 19
|TÉRREO|
Optou-se por organizar toda a parte da hospedaria no edifício novo, deste modo o impacto estrutural no edifício existente é menor, além de agilizar o processo de construção. Esse grupo contempla atividades do habitar, em outras palavras o módulo de dormitório, áreas de convívio, áreas de suporte coletivo (refeitório e lavanderia), além de um espaço multimídia com equipamentos para comunicação dos hospedados com seus parentes e amigos.
Galeria de Arte 255m² 01 Espaço Múltiplo 960m² 02 Banheiros 84m² 03 Biblioteca 690m² 04 Multimídia 130m² 05 Recepção Hospedaria 190m² 06 Térreo Livre 445m² 07 Praça Descoberta 1300m² 08 Espaço Glicério 330m² 09 Restaurante 510m² 10 Banheiro 60m² 03 Praça Descoberta 803m² 08 Foyer 375m² 11 Auditório 440m² 12 Café 130m² 13 Refeitório 300m² 14 Lavanderia 50m² 15
|PROGRAMA|
Hospedaria 410m² 19
|SUBSOLO|
O programa do edifício se divide em dois segmentos, a hospedaria e o centro de integração. Este programa de necessidade foi criado baseando-se em instituições que prestam um serviço similar na cidade de São Paulo, como por exemplo, a Casa do Migrante.
|1º PAV| |2º PAV| |3º PAV| |4º PAV|
O PROGRAMA...
Espaço Multiplo Restaurante Café
Biblioteca
Galeria de Arte
Salas de Aula Biblioteca
Assistência Administração
Auditório
Refeitório
Multimídia
SUBSOLO
TÉRREO
Dormitórios
1º PAVIMENTO
Hospedaria Centro de Acolhida Administração Espaços Comunitários ◄
Diagrama de principais usos do edifício. Fonte: Elaborado pelo autor
Ressignificação e Acolhimento •
N
Implantação Esc. 1:1500
06
05
07
04
08
09
01
03 02 03
02
N
19
18
04
17
16
N
1ยบ Pavimento Level: 732.50 Esc. 1:500
19 2ยบ Pavimento Level: 736.00 Esc. 1:350
3ยบ Pavimento Level: 739.50 Esc. 1:350
19
N 19 4ยบ Pavimento Level: 743.00 Esc. 1:350
13
12
14
11
15
08
10 03
N Subsolo Level: 723.00 Esc. 1:500
Corte AA Esc. 1:250
Corte BB Esc. 1:250
Corte CC Esc. 1:250
Corte DD Esc. 1:250
Corte EE Esc. 1:250
Corte FF Esc. 1:250
Corte GG Esc. 1:250
Pé direito duplo que possibilita a utilização tanto para exposições quanto performaces artísticas.
A passarela estreira de madeira e coberta por um grande espelho d’água, faz uma analogia à tragetória dos refugiados e imigrantes.
Todos os pavimentos possuem este hall de acesso, separando as atividades desenvolvidas dentro de cada recinto, possibilitando seu funcionamento independente do restante Portão de acesso utiliza um sistema de guilhotinha invertida, possibilitanto toda sua abertura e ficando resguardado dentro do piso durante o funcionamento do edifício.
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Perspectiva praça interna, vista da biblioteca Fonte:Desenvolvido pelo autor
Ressignificação e Acolhimento •
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Perspectiva do corredordos módulos de dormitórios. Fonte:Desenvolvido pelo autor
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Perspectiva externa, vista do Rio Tamanduateí Fonte:Desenvolvido pelo autor
Ressignificação e Acolhimento •
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Perspectiva interna centro de empoderamento. Fonte:Desenvolvido pelo autor
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Perspectiva externa, vista da praça interna Fonte:Desenvolvido pelo autor
Ressignificação e Acolhimento •
O MÓDULO... Como já foi dito anteriormente, o programa que contempla a hospedaria é composto por módulos de dormitórios, isto é, através do processo de elaboração do layout da hospedaria foi levado em consideração as mais variadas formas de habitar o espaço, além disso o fato de não haver um número constante de refugiados e imigrantes, sendo sempre decorrentes de eventos pontuais de cada região, dado isso chegou-se a uma dimensão retangular, capaz de abrigar confortavelmente no máximo oito pessoas, podendo variar entre beliches, cama de solteiro e casal. Viu-se necessário propor algo efêmero para que a intervenção consiga manter-se em transformação, independente das novas necessidades que ainda estão por vir, deste modo prevenindo que o edifício caia novamente na obsolescia. Nas características gerais, o módulo possui um formato retangular de 28m² (7x4m), distribuído em dois setores, o primeiro logo ao adentrar o espaço que podemos caracterizá-lo como vital, contemplando áreas de um banheiro comum, entretanto fragmentado. Por tratar-se de uma unidade pequena, foi proposto fragmentar o banheiro, deste modo até quatro pessoas conseguem utiliza-lo simultaneamente, facilitando a fruição e funcionamento do módulo. O segundo setor podemos caracteriza-lo como o estar onde ficam dispostas as camas e áreas de descanso, essa área maior é a que propriamente possui a disponibilidade de alterar-se conforme novas demandas. O pé direito alto, de 3,5m possibilitou fazer a passagem de toda a infraestrutura pelo forro e ainda permitir que os beliches tenham uma altura agradável para o indivíduo sentado na cama.
• R e s s i g n i f i c a ç ã o e A c o l h i m e n t o
7.00 1.93
0.07
1.90
0.60
1.90
Pia Dupla 1.25
Cama
1.50
0.07
4.00
0.07
Capacidade para 2,4,6 e 8 pessoas
0.20
1.00
0.07
0.86
Área de Banho
0.07
Vaso Sanitário Independente
Cama
5.00
0.20
Armários Indíviduais
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Planta Módulo de Dormitório Esc. 1:50 Fonte:Desenvolvido pelo autor
Cama
1.25
1.25
2.10
4.00
1.83
Cama
Ressignificação e Acolhimento •
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Perspectiva interna do módulo de dormitório Fonte:Desenvolvido pelo autor
A partir das imagens apresentadas podemos perceber melhor a dinâmica interna dos módulos, como por exemplo, os armários individuais e a relação das camas com o pé direito, percebe-se também que ainda que o banheiro seja fragmentado, não é prejudicial às suas atividades desempenhadas.
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Perspectiva interna do módulo de dormitório Fonte:Desenvolvido pelo autor
Ressignificação e Acolhimento •
Ao lado temos um exemplo de um possível layout do módulo, alterando apenas uma das partes da marcenaria já é possível dar espaço à uma mesa de trabalho. Essa flexibilidade permite que o edifício se adeque as mais variadas formas de se hospedar. Temos também uma perspectiva do núcleo hidráulico, mais propriamente dito da área do chuveiro, contendo também uma área de troca com prateleiras, mantendo a privacidade dos usuários.
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Perspectiva interna do módulo de dormitório Fonte:Desenvolvido pelo autor
◄ Perspectiva interna núcleo
hidráulico. Fonte:Desenvolvido pelo autor
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Um elemento de destaque no projeto são as janelas dos módulos de dormitório, com um vão de 1,50m a janela piso-teto, corre externamente sobre um perfil metálico que além de desenhar a fachada, serve também de estrutura para o brise manual ripado de madeira.
◄ Modelos apresentando funcionamento do
vedo do módulo de dormitório. Fonte:Desenvolvido pelo autor
Ressignificação e Acolhimento •
CONCLUSAO
O presente trabalho buscou discutir temas pertinentes a atualidade, tanto arquitetonicamente quanto social, quebrando tabus e distimificando a ótica preconceituosa referênte ao refugiado e imigrante no Brasil, bem como mostrar possibilidades de intervir em edificações históricas e o benefício que isso trás para a cidade como um todo, preservando sua história para as futuras gerações e evitando que locais tradicionais se tornem obsoletos.
Ressignificação e Acolhimento •
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, E. Arquitetura e Memória. Revista Pós, n. 38, p. 58-78, dex. 2015 DEVECCHI, A.M. Reformar não é construir: A reabilitação de edifícios verticais: Novas formas de morar em São Paulo no século XXI. 2010. 547 f. Tese(Doutorado – Área de Concentração : Habitat) – FAUUSP FERREIRA, Barros. O Nobre e Antigo Bairro da Sé. São Paulo, 1971. 158 p. LEMOS, C. A.C O que é patrimônio histórico. 1º reimpr. da 5. ed. de 1987. São Paulo. Brasiliense, 2000. (Coleção Primeiros Passos. n.51) MEYER, R; GROSTEIN, M. A Leste do Centro: Territórios do Urbanismo. São Paulo, 2006. 324 p. NASCIMENTO, F.B. Blocos de memórias: habitação social, arquitetura moderna e patrimônio cultural. 2011. 396 f. Tese (Doutorado – Área de Concentração : Habitat) – FAUUSP ____________ . Habitação como patrimônio: A preservação dos conjuntos resienciais modernos. Revista CPC, n.4, p. 23-39, maio/out. 2007. UNA ARQUITETOS_Plano Parque Dom Pedro II. Disponível em: <http://www.unaarquitetos.com.br/site/projetos/detalhes/188/plano_urbanistico_parque_ dom_pedro_ii> Acesso em 28/02/2017 RELATÓRIO ADUS, 2016. Disponível em: < http://www.adus.org.br/relatorio-adus-2016/> Acesso em 02/05/2014 Refúgio no Brasil: a proteção brasileira aos refugiados e seu impacto nas Américas / Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto, organizador. – 1. ed. – Brasília: ACNUR, Ministério da Justiça, 2010. ROSSI, A. A arquitetura da cidade. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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