Análise de partidos arquitetônicos na arquitetura residencial de Eduardo de Almeida

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PRÓ REITORIA DE PESQUISA (PRP) UNICAMP PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS - PIBIC/SAE Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Relatório Final de A vidade

Análise de partidos arquitetônicos na arquitetura residencial de Eduardo de Almeida

Aluno: VINICIUS MENEGASSO ROSSI

RA: 150825

Curso: Arquitetura e Urbanismo Orientadora: Profa. Dra. ANA MARIA TAGLIARI FLORIO Início da bolsa: 01/08/2016

Término da bolsa: 31/07/2017

Duração: 12 meses


SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………………..………….. 2 2. MATERIAIS E MÉTODOS …………………………………………………………………..…….… 3 3. RESULTADOS ……………………………………………………………………………………..………. 5 3.1 Conceito e par do ……………………………………………………………………………..…….. 5 3.2 Eduardo de Almeida ………………………………………………………………………….…..… 8 3.3 Análise gráfica ………………………………………………………………………………………….. 10 3.4 Análise gráfica das residências ……………………………………………………………….. 15 3.4.1 Jardim Guedala …………………………………………………………………………………………….. 15 3.4.2 Cidade Jardim ……………………………………………………………………………………………….. 17 3.4.3 Jardim Paulistano I……………………………………………………………………………………....... 19 3.4.4 Jardim Paulistano II …………………………………………………………………………………..……. 21 4. DISCUSSÃO …………………………………………………………………………………………………. 23 5. CONCLUSÃO ……………………………………………………………………………………………….. 24 6. MATÉRIA ENCAMINHADA PARA PUBLICAÇÃO ………………………………………….…. 25 7. BIBLIOGRAFIA …………………………………………………………………………………………..... 26 8. AGRADECIMENTOS E APOIO …………………………………………………………………….... 26

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1- INTRODUÇÃO Em agosto de 2016 foi aprovado o projeto de iniciação cien fica: “Análise de partidos arquitetônicos na arquitetura residencial de Eduardo de Almeida” com bolsa SAE. A par r de então foi dado o início ao desenvolvimento da pesquisa conforme o cronograma apresentado no projeto. A pesquisa foi organizada em seis etapas, sendo, a primeira etapa o levantamento bibliográfico, leituras programadas, realização de resumos, iden ficação dos conceitos a serem analisados nos projetos. A segunda etapa refere-se a um levantamento de elementos gráficos necessários para a criação dos redesenhos dos projetos, levantamento de publicações e estudos realizados sobre os projetos selecionados. A terceira etapa é a realização dos redesenhos dos projetos selecionados e da produção de modelos tridimensionais como apoio para a próxima etapa. Já a etapa quatro e cinco referem-se a análise dos projetos residenciais por meio de desenhos, u lizando o método de análise gráfica, como também, a organização dos apontamentos e dos resultados ob dos a par r dos diagramas. E na úl ma etapa , a sexta, é a elaboração final do relatório, apresentação e par cipação de eventos cien ficos. Esta pesquisa tem como objeto de inves gação quatro projetos residenciais desenhados pelo arquiteto Eduardo de Almeida para a cidade de São Paulo entre as décadas de 1970 e 1990. O obje vo é o estudo e compreensão da arquitetura contemporânea brasileira através da análise de projetos residenciais de um dos mais importantes escritórios que se destacam na produção atual. Foram iden ficados e analisados os seus traços caracterís cos através do estudo do par do arquitetônico de cada obra selecionada, o qual leva em consideração as questões da distribuição dos programas juntamente com a estratégia de implantação, as relações dos espaços, a estrutura, as técnicas constru vas e todo o conceito que a obra é fundamentada. O obje vo específico foi a análise dos par dos arquitetônicos das residências selecionadas projetadas por Eduardo de Almeida, por meio de desenhos e diagramas. Por meio da inves gação por desenhos e diagramas foi possível compreender como o arquiteto organizou o programa de necessidades das residências selecionadas e, portanto analisar seus par dos arquitetônicos. A análise foi realizada de modo a entender cada projeto individualmente e em relação ao conjunto selecionado. Em meio à essa produção, na qual os projetos privilegiam grandes estruturas de concreto sem muito acabamento, Eduardo de Almeida se destaca com projetos com um perfeito acabamento industrial, quase em regime artesanal, com detalhes minuciosos nos encontros dos materiais e também como um arquiteto que soube absorver as diferentes linguagens e soluções arquitetônicas.

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2 - MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia adotada para a produção da pesquisa foi organizar a bibliografia selecionada em três grupos fundamentais: Conceito e partido; Eduardo de Almeida e Análise gráfica. Temos conhecimento que há diversos livros e ar gos que tratam sobre arquitetura, par do, conceito, análise por desenhos em inúmeras abordagens e ponto de vista. No entanto, como se trata de uma pesquisa de Iniciação Cien fica e também devido ao foco definido no projeto de pesquisa, definimos um recorte na bibliografia dentro do universo e dos obje vos que esta pesquisa se propõe. O primeiro grupo de estudo é denominado “Conceito e Partido”, com o obje vo de estudar a definição de conceito e par do. E também como o programa de necessidades, técnica constru va, volumetria, circulação e acessos são as bases para definir o par do na arquitetura. Para isso, foram selecionados e estudados os ar gos: 1. 2.

3. 4. 5. 6.

BISELLI, Mario. Teoria e prática do partido arquitetônico. Arquitextos, São Paulo, ano 12, n. 134.00, Vitruvius, jul. 2011 <h p://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.134/3974>. BRANDÃO, Carlos A. L. “Linguagem e arquitetura: o problema do conceito”. Revista de Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo. Vol.1, n.1, novembro de 2000. Belo Horizonte: Grupo de Pesquisa "Hermenêu ca e Arquitetura" da Escola de Arquitetura da UFMG. Disponível: <h p://www.arq.ufmg.br/ia>. MACIEL, Carlos Alberto. Arquitetura, projeto e conceito. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 043.10, Vitruvius, dez. 2003<h p://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.043/633>. NEVES, Laert Pedreira. Adoção do partido na arquitetura. Salvador: Centro Editorial e Didá co da UFBa, 1989. 206.p LEMOS, Carlos A.C. O que é Arquitetura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981. 80.p SNYDER e CATANESE, James C e Anthony J. Introduction to Architecture. McGraw-Hill, 1979. 450.p

O segundo grupo de estudo, denominado “Eduardo de Almeida”, com o obje vo de obter informações sobre sua formação, valores, arquitetos e escolas importantes que o influenciaram. E também como sua produção se situa na arquitetura contemporânea. Assim, foi adotado como base um livro e duas teses de doutorado: 1. 2. 3.

GUERRA, Abílio (org.). Eduardo de Almeida. Arquiteto Brasileiro Contemporâneo. São Paulo: Romano Guerra, 2006. Iwamizu, Cesar Shundi. Eduardo de Almeida. Reflexões sobre estratégias de projeto e ensino. São Paulo, 2015. 545 p. Tese de doutorado FAUUSP. Orientadora: Helena Aparecida Ayoub Silva Imbronito, Maria Isabel. Procedimento de projeto com base em retículas: estudo de casas de Eduardo de Almeida. São Paulo, 2008. 155p. Tese de doutorado FAUUSP. Orientadora: Marlene Yurgel

O terceiro grupo de estudo, “Análise gráfica”, tem como obje vo adotar um método de análise por desenhos no intuito de inves gar os par dos por meio de diagramas. A bibliografia selecionada foi: 1. 2. 3. 4. 5.

Florio, Ana Maria Tagliari. Os projetos residenciais não-construídos de Vilanova Artigas em São Paulo. São Paulo, 2012. 417 p. Tese de Doutorado FAUUSP.Orientador: Rafael Antonio Cunha Perrone CHING, Francis D.K. Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. São Paulo: Mar ns Fontes, 1998. CLARK, Roger H.; PAUSE, Michael. Arquitectura: temas de composición. Barcelona: Gustavo Gili, 1997. UNWIN, Simon. Analysing Architecture. London: Routledge, 1997. Beltramin, Renata Maria Geraldini. Caracterização e sistematização de quatro modelos de análise gráfica: Clark, Pause, Ching, Baker e Unwin. Campinas, 2015. p.168. Tese de Mestrado. Orientador: Daniel de Carvalho Moreira

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Para a análise gráfica das residências é necessário a compreensão das questões como o programa de necessidades, conceito, a estratégia de implantação, o sistema constru vo, acessos, circulação e volumetria que definem o par do na arquitetura. Para isso, as bibliografias selecionadas do primeiro grupo de estudo são importantes para o entendimento de como essas questões se relacionam com o par do. Já o segundo grupo de estudo, a compreensão da formação e de como o arquiteto Eduardo de Almeida compreende as questões anteriormente apontadas, fornecendo uma importante direção para análise. E o terceiro grupo, a definição e estudo dos métodos de análise gráfica para orientar a produção dos diagramas e da própria análise.

Figura síntese da abordagem adotada para esta pesquisa.

As quatro residências selecionadas nesta pesquisa: Jardim Guedala, Cidade Jardim, Jardim Paulistano I e Jardim Paulistano II da direita para esquerda.1

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Disponível em: h p://arquivoeduardodealmeida.com/category/projetos/ Acessado em: 20 de Janeiro de 2017

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3 - RESULTADOS 3. 1 Conceito e Partido Durante o desenvolvimento desta pesquisa uma das questões importantes que surgiu reside na compreensão de conceito, par do e o processo projetual na arquitetura. Como o par do e conceito definem soluções projetuais? E como inves gar o par do nas residências estudadas? Assim, a busca por essas respostas é parte fundamental para realizar a análise das residências selecionadas de Eduardo de Almeida. No ar go Linguagem e arquitetura: o problema do conceito, de Carlos A. L. Brandão2, introduz a discussão a respeito do conceito na arquitetura desconstruindo o viés cartesiano, que o encara como linear, primeiro uma ideia clara e dis nta para depois representá-la nos meios gráficos bi e tridimensional. Dessa forma, o autor põem em fim a ideia que o projeto fosse concebido e concluído antes de qualquer representação e produção do espaço. Nesse viés, o conceito passa ser compreendido como "não apenas uma elaboração mental prévia, des nada a ser subs tuída pelo projeto no qual ela seria totalmente absorvida, mas o médium histórico da linguagem através da qual nos cons tuímos e compreendemos o mundo que vivemos." (BRANDÃO, 2000, p.3). O conceito também é a ponte entre os universos dis ntos de quem projeta e quem habita. Assim, não é unicamente uma ideia abstrata, pois tem a capacidade de transmutar-se em ação constru va, e transformar os meios onde habitam os homens. Brandão ar cula que o conceito se faz na construção e na representação, e para o crí co orienta que o "conceito está na obra e no projeto e não na subje vidade do arquiteto."(BRANDÃO, 2000, p.5). Portanto, o desenho, a maquete e a fotografia são os primeiros recursos a serem inves gados para compreender o conceito. Mas alerta, que o desenho não representa a totalidade do conceito, sim a ar culação, entre obra, desenho, arquiteto e habitante. O desenho não é a representação gráfica do conceito, é um meio na qual busca-se o conceito, cria-se um diálogo e uma maneira de “torná-lo familiar ao universo da arquitetura, assimilá-lo, no sen do de tornar-se semelhante a ele.”(BRANDÃO, 2000, p.7). O conceito apresenta-se de forma clara a par r do momento que o projeto e obra estão finalizadas, e não antes. Assim, o autor conclui que o conceito de um projeto não é concebido a par r do nada, mas sim daquilo que existe, das tradições, das experiências próprias dos espaços e reflexões dos significados em um determinado contexto histórico. “(...) a virtude de um conceito não é propriamente ser original, mas ser, ao mesmo tempo, colheita e semete, capaz de ar cular o passado e o futuro através do projeto que apresentamos (...)”. (BRANDÃO, 2000, p.8)

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BRANDÃO, Carlos A. L. “Linguagem e arquitetura: o problema do conceito”. Revista de Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo. Vol.1, n.1, novembro de 2000. Belo Horizonte: Grupo de Pesquisa "Hermenêu ca e Arquitetura" da Escola de Arquitetura da UFMG. Disponível: <h p://www.arq.ufmg.br/ia>.

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Com a compreensão do conceito, o ar go Teoria e prática do partido arquitetônico do Mario Biselli3, oferece uma base para o entendimento de par do na arquitetura. Mario Biselli, que é arquiteto atuante e também professor e pesquisador, transita entre teoria e prá ca com naturalidade e propriedade. O autor afirma que a história apresenta diversos exemplos de definições de par do. O par do é compreendido como “(...) a discussão de aspectos como estratégia de implantação e distribuição do programa, estrutura e relações de espaço, todas elas questões centrais para os arquitetos.” (BISELLI, 2011, p.1). Em outras palavras, o par do seria consequência direta das determinantes: as condições topográficas do sí o, o sistema constru vo disponível, o programa de necessidade, das questões financeiras e da legislação do município. Em "Adoção de par do em arquitetura" (NEVES, Laert Pedreira. Adoção do partido na arquitetura. Salvador: Centro Editorial e Didá co da UFBa., 1989. 206. p) busca definir par do arquitetônico como uma ideia preliminar do edi cio projetado. Afirma: "Idealizar um projeto requer, pelo menos, dois procedimentos: um em que o proje sta toma a resolução de escolha dentre inúmeras alterna vas, de uma idéia que deverá servir de base ao projeto do edi cio do tema proposto; e outro em que a idéia escolhida é desenvolvida para resultar no projeto. É do primeiro procedimento, o da escolha da idéia, que resulta o par do, a concepção inicial do projeto do edi cio, a leitura do seu esboço." (NEVES, 1989, p. 15) Já em “Construção, composição, proposição: o projeto como campo de inves gação epistemológica” (OLIVEIRA, Rogério Castro de. Construção, composição, proposição: o projeto como campo de investigação epistemológica. In: CANEZ, Ana Paula; SILVA, Cairo Albuquerque ), Biselli aponta para uma outra definição mais complexa de par do: “Em suma, no projeto de arquitetura, a concepção do par do arquitetônico pressupõe a proposição de configurações que descobrem, ou inventam, relações espaciais e programá cas a par r de uma dispersão inicial, indeterminada, de possibilidades projetuais. A coerência de tais construções deriva, antes, de um progressivo fechamento interno do que de determinação externa. O par do é, por hipótese, uma prefiguração do objeto, que o proje sta elege como ponto de par da e fio condutor: cabe à inves gação epistemológica construir contextos de explicitação das razões que asseguram per nência e validade a essas arquiteturas projetadas” ( OLIVEIRA, 2009,p.35) Le Corbusier define par do com um viés mais próximo da lógica da matemá ca, como aponta Mario Biselli: “Le Corbusier enfa zou ainda mais o uso da lógica matemá ca de Descartes ao dizer que o início do processo de criação é a definição da planta arquitetônica, que por sua vez é a representação do programa arquitetônico (função da edificação). Assim, a projeção ver cal da planta resultaria, segundo ele, nas paredes que por sua vez se tornariam volumes: linhas que se transformam em planos que se transformam em volumes; é a seqüência linear e crescente do raciocínio cartesiano. (...)” (AMARAL,1985, p.1)4

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BISELLI, Mario. Teoria e prática do partido arquitetônico. Arquitextos, São Paulo, ano 12, n. 134.00, Vitruvius, jul. 2011 <h p://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.134/3974>. 4

AMARAL, Cláudio Silveira. Descartes e a caixa preta no ensino-aprendizagem da arquitetura. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 090.07, Vitruvius, nov. 2007 <h p://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.090/194>.

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Apesar da interpretação e compreensão do par do está aberto aos novos tempo, as questões e premissas que toda arquitetura deve resolver através de um partido são constantes: o programa de necessidades, o sistema construtivo, a volumetria, acessos e circulação e o sítio da implantação. O ar go de Carlos Maciel5 discute como cada uma dessas premissas estão relacionadas com a definição do par do em uma obra. “A realização de um projeto de arquitetura, como qualquer outro trabalho, tem premissas que lhe são próprias: há um programa a ser atendido, há um lugar em que se implantará o edi cio, e há um modo de construir a ser determinado. Esse conjunto de premissas é elaborado graficamente em um desenho que opera como mediador entre a idéia do projeto e sua realização concreta.” (MACIEL, 2003, p.1) A interpretação do lugar tem o potencial de direcionar e induzir maneiras diferentes de produção do espaço, da estrutura e do próprio conceito e par do. A conformação original do terreno natural, a relação com estrutura urbana, com a paisagem e com os aspectos naturais evidenciam diretrizes para ordenação do espaço e da forma. Cabe ao arquiteto o esforço rigoroso de observação e da interpretação, podendo ou não repercu r na configuração final da obra, dependendo de como pretende-se relacionar com o lugar. Determinado o programa, o dimensionamento dos espaços é de fundamental importância para criar uma hierarquia e de definir espaços dis ntos, de qualificá-los como público ou privado, de permanência ou de percurso. Portanto, “ (...) o dimensionamento é fundamental, em primeira instância, para um domínio das demandas de espaço a que correspondem às diversas a vidades e, em segunda instância, para a definição de hierarquias e demarcação de diferenciações claras entre os espaços de naturezas dis ntas.”(MACIEL, 2003, p.2) Também, outro aspecto importante é a compreensão das tradições, sendo que o papel do arquiteto é realizar uma interpretação e transformá-la de forma adequada, em busca de rever os paradigmas e propor novas formas de habitar um espaço, assim, distanciando-se da mera reprodução dos padrões culturalmente desenvolvidos. “Habitamos simplesmente o espaço, mesmo quando nele momentaneamente não desenvolvemos qualquer a vidade, ou seja, o habitar não passa pela noção da função ou da u lidade imediata.” (MACIEL, 2003, p.3) O conhecimento da construção é a via de materialização do projeto arquitetônico. Faz parte da forma ou pode ser o que origina a forma. “(…) acredito ser sua realização através da manipulação a va de sua lógica de construção, operando a par r de seus fundamentos para a ngir uma resposta concreta, fisicamente edificada, que faça repercu r no objeto arquitetônico, de modo complexo, o conhecimento, a interpretação e transformação de todas as restrições e determinações do lugar, do programa e das próprias possibilidades de construção.” (MACIEL, 2003, p.4) Portanto, nesta pesquisa entendemos Partido Arquitetônico como o modo que o arquiteto organizou o programa de necessidades, envolvendo, dessa maneira, estratégias de implantação, acessos e circulação, volumetria, de maneira sinté ca, que poderá ser visualizada de forma visual nas análises por desenhos. Compreendendo cada uma das questões comuns às obras arquitetônicas, que são possíveis de serem analisadas e interpretadas, prosseguimos com leituras a respeito do arquiteto Eduardo de Almeida para compreender como o arquiteto trabalha. Com o obje vo de buscar informações acerca de sua formação e valores, como situou-se no

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MACIEL, Carlos Alberto. Arquitetura, projeto e conceito. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 043.10, Vitruvius, dez. 2003<h p://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.043/633>.

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contexto da produção de arquitetura brasileira nas décadas de 60 e 70, suas referências e outros arquitetos que o influenciaram.

3.2 Eduardo de Almeida - Arquiteto da medida justa6 Como parte da metodologia desta pesquisa foram estudados livros e ar gos sobre o arquiteto Eduardo de Almeida. Também buscou-se estudar livros e ar gos referentes à arquitetura brasileira de modo geral, como uma base bibliográfica fundamental. Neste sen do os livros de Yves Bruand, Lauro Cavalcan , entre outros, foram importantes neste sen do. O livro Eduardo de Almeida Arquiteto Brasileiro Contemporâneo7, com a introdução do Luis Espallargas Gimenez ofereceu um panorama da trajetória, forma de pensar e atuar de Almeida. A tese de doutorado Eduardo de Almeida: Reflexões sobre estratégias de projeto e ensino8 do Cesar Iwamizu apresentou um acervo rico de material gráfico necessário para análise das residências: os desenhos técnicos, croquis e fotos. Como também mais informações sobre a formação do Eduardo de Almeida como arquiteto. A tese de Maria Isabel Imbronito9 forneceu uma base melhor para compreender a questão do grid ou re cula presente em muitos projetos de Almeida. Eduardo Luiz Paulo Riesencampf de Almeida, nasceu em 1933, São Paulo, SP. Obtém a formação de arquiteto na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, FAU-USP, em 1960, e a par r de 1967 leciona nas disciplinas de desenho industrial e projeto de edificações, aposentando-se em 1998. Pertence a uma geração de arquitetos inseridos em um período de grande agitação polí ca e intelectual, o golpe militar e a consolidação do movimento moderno no Brasil, com inauguração de Brasília. Em 1962, cursou desenho industrial e história a arte e da arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Florença, na Itália. Trabalhou e foi associado a arquitetos como Sérgio Bernardes, Arthur Fajardo Ne o, Henrique Pait, Arnaldo Mar no e João Antônio Seixas. A formação acadêmica de Almeida ocorreu em um período de intenso debate entre a arquitetura orgânica, representada por Frank Lloyd Wright, e a racional, correspondida por Le Corbusier na FAU-USP. Fez parte do grupo com a maior tendência Wrightiana, na qual incluía colegas com quem realizou seus primeiros projetos como aluno em 1957, e depois como arquiteto formado em 1960. Tal grupo formaria o Horizon Arquitetos um escritório na qual nome fazia alusão a um dos conceitos importantes da arquitetura wrigh ana, a horizontalidade e uso de materiais naturais. “(...) na produção dos arquitetos “wrigh anos” da FAU USP que, desde o início de suas carreiras, a influência organicista passava pelo filtro da reflexão sobre a realidade brasileira e que os princípios “wrigh anos” permaneceram mesmo enquanto a concepção espacial e constru va dos arquitetos evoluiu dentro do quadro da Escola Paulista. De Carlos Millan a Eduardo de Almeida e os irmãos O oni, vemos uma progressão que passa da inspiração “wrigh ana” para o cânone de Ar gas sem deixar de lado os conceitos de Wright.” (FUJIOKA, Paulo. 6

Eduardo de Almeida - Arquiteto da medida justa. Documentário. Direção: Thomas Piper, São Paulo. Produção: Brasil, 2015. Indicação: livre. Distribuição: digital. 7

GUERRA, Abílio (org.). Eduardo de Almeida. Arquiteto Brasileiro Contemporâneo. São Paulo: Romano Guerra, 2006.

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Iwamizu, Cesar Shundi. Eduardo de Almeida. Reflexões sobre estratégias de projeto e ensino. São Paulo, 2015. 545 p. Tese de doutorado FAUUSP. Orientadora: Helena Aparecida Ayoub Silva 9

Imbronito, Maria Isabel. Procedimento de projeto com base em retículas: estudo de casas de Eduardo de Almeida. São Paulo, 2008. 155p. Tese de doutorado FAUUSP. Orientadora: Marlene Yurgel

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Princípios da Arquitetura Organicista de Frank Lloyd Wright e suas influências na Arquitetura Moderna Paulistana. São Paulo, FAU USP, 2003, p.212) A trajetória de Almeida foi marcada por Vilanova Ar gas e Carlos Millan, como arquitetos e professores, e da consolidação da Escola Paulista. Por ter uma postura não dogmá ca, em muitos projetos afasta-se da sintaxe brutalista (ZEIN, 2005). Mesmo assim, não deixa de aproximar-se da produção paulista, já que muito dos seus projetos possuem muitas caracterís cas dessa linguagem. E também devido a sua par cipação dos primeiros grupos de alunos da FAUUSP e posteriormente como um importante professor. “O melhor detalhe é aquele que não se vê”10 (GUERRA,2006, p.13) Luis Espallargas Gimenez aponta: “não é muito arriscado dizer que o ponto de par da preferido de Almeida é o desenho da planta, uma prá ca muito comum no modernismo, na qual estabelece - até mesmo em seus croquis iniciais - medidas estruturais, que orientam e ordena o programa e cria hierarquia nos ambientes existentes.” (GUERRA,2006, p.16) “(...) uma vez que o arquiteto procede do mesmo modo que nos demais projetos: parte de um sistema de medidas, capaz de resolver, ao mesmo tempo, o programa e a construção. Os alinhamentos ob dos em planta e a organização do programa confirma este diagnós co.” (IMBRONITO, 2008, p.148) Podemos dessa forma compreender que a re cula para Eduardo de Almeida é uma estratégia de projeto que resolve as questões do programa de necessidade e da construção, um aspecto importante do par do. O grid é um instrumento que ordena e viabiliza as demandas do projeto, análise da re cula é fundamental para compreender a arquitetura de Almeida. A técnica constru va para o Eduardo de Almeida “está mais próxima do artesão do que a do ar sta que busca na técnica a representação” (Luis Espallargas Gimenez. Em: Guerra, 2006, p.19). Não busca superar grandes dimensões ou obter as mínimas, para ele a técnica constru va é parte de um raciocínio que orienta todo o processo de projeto. Muitas vezes é a parte que define o todo, componentes constru vos como bloco de concreto que determina um módulo para todo o projeto, como é o caso da residência do Jardim Guedala. As residências de Almeida, de forma geral, podem ser organizadas em quatro grupos: coberturas de abóbadas, pór cos múl plos, níveis desencontrados e por úl mo pá o. São elementos constru vos e assuntos que organizam e norteiam a ordem na construção. “É di cil fazer arquitetura. Pois o ato de projetar exige atenção constante em relação à realidade e uma su l sabedoria na manipulação das relações entre as necessidades do homem e a construção do espaço. Compreender o contexto, interpretar as relações sociais, desenhar formas, dominar a técnica, integrar as partes ao todo, ajustar proporções são os desafios co dianos que cada projeto nos propõe.” ( IWAMIZU, 2015, p. 389) Com essas leituras percebemos que o sistema constru vo, associado a uma malha espacial ou um módulo, é um importante aspecto do processo de concepção dos projetos do Eduardo de Almeida, que orienta e organiza o programa de necessidade e cria hierarquias espaciais, portanto deve ser analisado nas residências escolhidas para a pesquisa. As estratégias projetuais, elementos e ambientes como pá o, pór cos múl plos e meios-níveis são

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Fala de Eduardo de Almeida em uma conversa com Hélio Piñon e Luis Espallargas Gimenez, em 27 nov. 2011. (GUERRA,2006, p.13)

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importantes em sua obra, pois são constantes e organizam muitas vezes o programa de necessidade, acessos e a circulação, definindo o Partido Arquitetônico. Podemos compreender Eduardo de Almeida como um arquiteto pertencente a segunda geração de arquitetos modernos de São Paulo. Não buscou dogmas ou preconceitos na concepção dos projetos, mas sim uma intensiva pesquisa do que já foi feito e das caracterís cas e sugestões impostas pelo sí o. Influenciado inicialmente por Wright durante sua formação na FAUUSP e por Ar gas, com a Escola Paulista, mas demonstrando grande flexibilidade para novos conceitos. Percebe-se em seus projetos mais recentes conceitos provenientes do arquiteto Mies Van Der Rohe.

3.3 Análise dos projetos A definição de análise, por René Descartes11, é a capacidade de dividir o todo em quantas partes forem necessárias. Dessa maneira, o produto de uma análise gráfica de um projeto de arquitetura, no caso da pesquisa projetos residenciais, é um conjunto de diagramas que revelam o par do. A questão é quais diagramas produzir e o que inves gar? Relembrando a definição de par do que é a estratégia para resolver as demandas do programa de necessidades, do sistema constru vo, da volumetria, acessos e circulação e o sí o da implantação. A par r disso estabelece-se quais principais itens que serão analisados e gerados diagramas analí cos. A análise por meio de diagramas é um ato de reflexão, de imaginar e dividir em partes menores uma realidade dada. A análise parte de um processo inverso, a residência está totalmente materializada, com todas as decisões projetuais concre zadas, sendo necessário ir desvendando os porquês e razões, de procurar compreender a arquitetura e o arquiteto por meio desenhos técnicos, croquis e fotografias. Por isso, um olhar atento e reflexivo promovido por estudos através de desenhos é fundamental para a compreensão dos par dos das residências. O livro Arquitectura: temas de composición de Clark e Pause12, ilustra um método para análise e inves gação do par do, para isso, os autores determinam ser preciso analisar separadamente diversos aspectos do edi cio. Um deles é a estrutura, que pode seguir um padrão estrutural que define a circulação, expressa conceitos e reforça a geometria e forma, sendo uma consequência do resultado das intenções arquitetônicas ou da determinação do cálculo estrutural. Outro aspecto importante destacado é a volumetria, percebida independente das partes menores, como aberturas e vãos, é a tridimensionalidade do edi cio que dita hierarquias conforme as proporções, determinando relação com entorno e influenciando na circulação. Outro ponto importante do livro para pesquisa é a relação entre a circulação e o espaço de uso, um diagrama que permite compreender como se estruturam os percursos pelo edificio, relacionando a organização do programa de necessidade espacialmente. Em Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem13, do Francis D. K. Ching, compreende a arquitetura como uma solução de composição a um determinado problema dado. O autor estabelece uma relação entre projeto e linguagem, na qual estabelece o termo “vocabulário de projeto”, assim fundamenta um processo de análise baseado em quatro conceitos de estruturação: a forma, o espaço, o sistema e a ordem.

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DESCARTES, R. DISCURSO DO MÉTODO. Tradução MARIA ERMANTINA GALVÃO. Revisão da tradução MONICA STAHEL. Mar ns Fontes. São Paulo 2001 12 CLARK, Roger H.; PAUSE, Michael. Arquitectura: temas de composición. Barcelona: Gustavo Gili, 1997. 13

CHING, Francis D.K. Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. São Paulo: Mar ns Fontes, 1998.

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“A fundamentação do modelo de análise de projetos e obras de arquitetura de Francis Ching (2013) lança mão dos conceitos de forma e espaço como ponto de par da para a delineação de uma estrutura sistêmica inerente à arquitetura enquanto produto, estrutura essa que deve ser considerada sempre como grid de desenvolvimento em todo exercício de análise. ” (BELTRAMIN, 2015, p. 21)14 A par r desses dois conceitos - ordem e espaço - Francis D. K. Ching descreve elementos ou sistemas que são os itens composi vos de uma obra arquitetônica, possíveis de serem verificados em uma análise, tais sistemas mais interesses para a pesquisa são: 1. 2. 3. 4. 5.

Programa de necessidades: são as necessidades, exigências e os anseios dos futuros usuários, associados a fatores socioeconômicos e de tradições culturais. Espaço: onde estabelece as relações de organização dos lugares, das hierarquias e disposições. Estrutura: é como os sistemas constru vos ar culam-se espacialmente, através de módulos, grids e padrões. Aspecto importante na organização espacial da solução arquitetônica. Movimento: esse sistema iden fica como os acessos e circulação estabelecem-se na solução espacial da arquitetura. Contexto: compreende o local, as condições climá cas, a topografia e as questões culturais.

Dessa maneira, podemos dizer que o sistema proposto por Francis Ching (1998) trata a arquitetura como uma composição de ordens, de formas e do espaço. E para realizar análise, esses conceitos são divididos em sete elementos interdependentes. No entanto, não devem ser vistos de forma isolada, mas como partes de um todo, que revelam o par do da obra estudada. “Elementos e sistemas devem estar relacionados entre si para formarem um todo integrado com uma estrutura unificadora e coerente. A ordem na arquitetura é criada quando a organização das partes torna visível seu relacionamento com cada uma delas e com a estrutura como um todo. Quando essas relações são percebidas como reforçando e contribuindo mutuamente para a natureza singular do todo, temos a existência de uma ordem conceitual – uma ordem que pode, inclusive, ser mais duradoura que as visões percep vas transitórias.” (CHING, 2013, p.xii, apud BELTRAMIN, 2015, p. 24 ) No livro Analysing Architecture15 de Simon Unwin, trata a análise como a iden ficação de elementos e qualidades, que quando organizados como um todo estabelecem as principais intenções arquitetônicas de uma obra. Os elementos condicionantes de Unwin são: o terreno, o meio na qual a arquitetura se apropria e cria relações; gravidade, pode ser compreendido como elemento que “sustenta” a arquitetura; luz, meio que possibilita a sensibilidade as formas; o tempo, um meio para as sensações e experiências do andar na arquitetura; e o espaço acima, entendido como a tridimensionalidade na qual a arquitetura molda-se. Esses são os elementos abstratos principais que Simon Unwin determina ser comum a todos projetos arquitetônicos, a par r desses divide em mais outros elementos denominados de básicos (foco, marco, aberturas, caminhos, parede e o solo) e modificadores da arquitetura ( o som, o odor, temperatura, cor, ven lação e a textura e tato). Também propõem quatro estratégias para compreender a organização do espaço: 1.

Espaço e estrutura: meio na qual arquitetura estabelece-se, nem sempre relacionadas entre si, pois a estrutura pode ser um fator limitante e organizador do espaço, ou apenas corresponder às exigências estruturais da obra.

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Beltramin, Renata Maria Geraldini. Caracterização e sistematização de quatro modelos de análise gráfica: Clark, Pause, Ching, Baker e Unwin. Campinas, 2015. p.168. Tese de Mestrado. Orientador: Daniel de Carvalho Moreira 15 UNWIN, Simon. Analysing Architecture. London: Routledge, 1997.

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2. 3. 4.

Hierarquia e transição: são os lugares dinâmicos, de transição, e está cos, os ambientes de permanência. A hierarquia cria uma relação e ordem de importância entre esses dois pos de lugares. Estratificações: é como o projeto estabelece os diferentes planos e dessa forma organiza as a vidades presentes. Paredes Paralelas: diz respeito às estratégias de implantação, e de como os planos horizontais e ver cais estão relacionados.

A leitura desses três autores diferentes a respeito da análise gráfica na arquitetura forneceu uma importante base para a concepção dos diagramas para as residências do Eduardo de Almeida. Apesar de cada autor tratar de forma diferente a análise gráfica, todos tem como ponto de par da a divisão do todo em partes menores para a compreensão e que quando visto - as partes - em conjunto permitem o entendimento da arquitetura, ou seja, de seu par do. Podemos dizer que Roger Clark e Michael Pause fornecem um método de iden ficar certos elementos fundamentais da arquitetura, através de diagramas que permitem uma rápida compreensão do projeto e também comparações. Nesse aspecto, Francis D.K. Ching se assemelha, mas com diferenças na maneira de produzir tais peças gráficas de análise e do entendimento dos elementos para análise. Já o Simon Unwin busca compreender de forma muito mais ampla o projeto do que iden ficar determinados elementos importantes da arquitetura. Assim, os diagramas gráficos potencializam a divisão das partes do todo, facilitando a visualização, organização e também para critérios de comparação. As mesmas ferramentas usadas para projetar, o desenho e maquete, são usados para inves gar a arquitetura buscando sua compreensão e a inves gação do par do. A imagem é o recurso mais rápido para visualizar ideias e pensamentos, principalmente as ideias espaciais, es mulando a imaginação e compreensão, promovendo assim, o entendimento dos projetos arquitetônicos. A produção de maquetes virtuais também foi um importante recurso de análise dos projetos. A sua elaboração é um meio a vo de leitura das residências estudadas, principalmente da compreensão espacial, pois a maquete por mais que seja virtual permite a aproximação e entendimento das relações espaciais. Um processo que busca recuperar o caminho adotado pelo arquiteto, desvendando suas intenções e escolhas projetuais, e também interpretando conceitos. Não sendo apenas um resultado final ou uma a vidade puramente mecânica sem reflexão, dúvidas e ques onamentos.Mesmo com as limitações de um modelo virtual, foi escolhido como meio de complementar a espacialidade compreendida por meio de desenhos e diagramas. Por fim, podemos concluir que análise gráfica foi um meio sa sfatório para se a ngir a compreensão dos par dos das residências estudadas. É um processo de leitura a va que promove um olhar crí co, atento e a reflexão con nua. A mesma ferramenta usada para criar também é usada para estudar a arquitetura, compreendendo e organizando de forma prá ca as partes do todo. Como etapa da metodologia adotada foi levantado todos os desenhos referentes aos projetos: planta, corte e elevação; croquis; perspec vas e fotos, dos projetos estudados. Como também o contexto urbano em que as residências estão implantadas, e as demandas do programa e do cliente, dificuldades e limitações constru vas e do sí o, e caso exista notas e textos do próprio arquiteto sobre a obra. O processo de produção dos diagramas da análise foi organizado em três etapas: 1.

O levantamento dos desenhos técnicos: planta, cortes e elevação, como também fotografias e croquis disponíveis.

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2.

3.

Re-desenhar no programa AutoCad16 os desenhos técnicos, que são uma base para a criação dos outros diagramas como também do modelo tridimensional. Imprimir para realizar estudos através do desenho e croquis. Com os re-desenhos do Autocad, é realizado a modelagem no programa Sketchup17 para a produção dos diagramas.

A par r do entendimento que o par do é como ocorre a organização do programa de necessidades, podemos analisar os par dos das residências selecionadas a através dos seguintes elementos: 1.

2. 3. 4.

16 17

Setorização: obje vo de iden ficar através de uma perspec va “explodida” e em planta como as principais demandas do programa de necessidades, dividido em setor social, ín mo e serviços e como relacionam-se com o volume, com os diferentes pavimentos e com a circulação. Volumetria: através de uma perspec va isometrica podemos compreender como o programa foi organizado, estudar os cheios e vazios, e as relações espaciais. Acessos e circulação: representado na perspec va “explodida” e em planta, outro aspecto fundamental para entender como o programa de necessidade foi organizado e estabelecido nos diferentes pavimentos Estrutura: a par r de uma perspec va isométrica da estrutura e do desenho do grid em planta, para compreender como estão relacionados com a organização espacial da solução arquitetônica.

AUTODESK, AutoCAD version 2017, computer-aided design (CAD) and dra ing so ware applica on [S.l.]: AUTODESK, 1982. Mídia digital Trimble Inc, Sketchup version 2016, 3D modeling computer program [S.l.]: Trimble Inc, 2000. Mídia digital

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Tabela com os itens a serem analisados atravÊs dos respec vos diagramas. Foi realizado um diagrama de síntese, com a intenção de representar o principal elemento do par do adotado.

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3.4 Análise gráfica das residências 3.4.1 Jardim Guedala

Ano: 1977 Local: Jardim Guedala, São Paulo, SP Uso: Residencial unifamiliar Cliente: Eduardo de Almeida A segunda casa que Eduardo de Almeida projetou para sua família, composta pelo casal e cinco filhos. Um elemento importante é o bloco de concreto de 40x40 especialmente desenvolvido pelo fabricante, dimensão esta que define todos os espaços do edi cio. Toda casa parte de um rigoroso respeito ao elemento modular, o bloco de concreto, que define todos ambientes e inclusive o mobiliário incorporado à arquitetura. Como também os fechamentos de vidro temperado, venezianas de alumínio e acabamento dos pisos. Sem um único módulo seccionado. Fica evidente umas das caracterís cas marcantes do Eduardo de Almeida o primor pelo processo constru vo e coordenação modular, são estes os detalhes que não se vê para o olhar desatento.

Setorização / Circulação / Implantação

Primeiro e segundo pavimento, e a implantação, da esquerda para direita. Sem escala.

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Setorização e a organização espacial por malhas

Síntese

Dessa forma, podemos concluir que o partido adotado tem como principal aspecto os três meios-níveis que organizam o programa de necessidade e determinam a circulação através de rampas e escadas. O volume é um monobloco de blocos de concreto, aproveitando-se do desnível do terreno para estabelecer um acesso direto com a rua. A rampa também proporciona um aspecto da percepção do espaço diferente, pois permite a contemplação com um andar mais lento e voltado para o pá o.

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3.4.2 Cidade Jardim

Ano: 1978 Local: Morumbi, São Paulo, SP Uso: Residencial unifamiliar Cliente: Max Define A casa é fechada para a rua movimentada, abre-se para um jardim exuberante projetado por Fernando Chacel. O que caracteriza a residência é a sua fluidez, não há corredores na casa, as paredes dos ambientes cole vos são tratadas como biombos, com sua altura reduzida, estão mais para demarcar e setorizar os espaços do que isolá-los. A cozinha um ambiente de serviço abre-se completamente para o restante da casa, tornando-se um importante espaço de convívio. A relação interior e exterior é constante através de aberturas e a transparência dos fechamentos de vidro, em alguns momentos o jardim adentra na casa, como no pavimento térreo fazendo parte da casa. Mesmo com toda essa fluidez, os ambientes cole vos e mais ín mos não deixam de ser demarcados, mas são fronteiras su s. Em um depoimento o Eduardo de Almeida diz que essa residência foi em muito influenciada pelo projeto James King do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, reformulou seus estudos mantendo o mesmo par do mas com uma nova linguagem.

Setorização / Circulação / Implantação

Primeiro e segundo pavimento, e a implantação, da esquerda para direita. O verde azulado é o pá o. Sem escala.

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Setorização e a organização espacial por malhas

Síntese

É possível dizer que o par do é formado seguintes elementos: monobloco de concreto com fechamentos de jolo de barro cozido, com a presença do pátio na circulação, formada por escadas, o programa de necessidades é essencialmente resolvido em um único pavimento e por um grid estrutural, dessa forma, estabelece uma forte relação entre os diferentes setores e também por paredes com altura menor do que o pé-direito e o sistema constru vo que permite essa liberdade.

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3.4.3 Jardim Paulistano I

Ano: 1999 Local: Pinheiros, São Paulo, SP Uso: Residencial unifamiliar Cliente: Cidinha Brito A residência tem sua espacialidade determinada por um pá o de proporções quadradas, a casa organiza-se em três blocos para atender um extenso programa. O sistema estrutural é de concreto com módulos iguais de 5,40m por 6,80m, complementado por uma estrutura metálica na escada e brises. O programa é organizado por blocos, no primeiro andar situam-se os serviços em um bloco, em outro o setor social composto por uma sala que conversa com quintal com piscina e o pá o, e dois quartos. Já no segundo andar é o espaço ín mo, composto por quartos dos filhos e do casal, e da área social, o escritório e sala. O elemento marcante dessa residência é o pá o e as transparências dadas por paredes altas de jolo de vidro, também percebe-se uso de cores e acabamentos mais refinados se comparado com as duas outras residências estudadas.

Setorização / Circulação / Implantação

Primeiro e segundo pavimento, e a implantação, da esquerda para direita. O verde azulado é o pá o. Sem escala.

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Setorização e a organização espacial por malhas

Síntese

Nessa residência, o par do resolve o programa de necessidades através de dois pavimentos, não deixando de cons tuir um monobloco de aço e blocos de concreto. O pátio está adjacente a circulação marcada por jolos de vidro, que cria uma transparência e uma relação diferenciada com a luz. A circulação principal é resolvidos por um corredor principal com um acesso direto com entrada.

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3.4.3 Jardim Paulistano I

Ano: 1996 Local:Jardim Paulistano, São Paulo, SP Uso: Residencial unifamiliar Cliente: Philipe Reichstul A casa é organizada em dois blocos, são conectados por uma galeria elevada de vidro de pé direito duplo fechada com vidro e aço, um bloco é des nado aos espaços de estar e social e outro aos espaços de serviços. O primeiro volume, com um sistema estrutural em concreto, configura-se como um volume fechado e com poucas aberturas, des nado aos serviços compar mentado em pequenas áreas. O segundo volume, o bloco principal, voltado para o jardim com grande árvores mangueira, abriga os espaços des nados ao setor social e ín mo no segundo pavimento. O sistema constru vo desse volume é definido por um módulo em aço com vão transversal de 8,40m, e uma cobertura com telha de aço em duas águas.

Setorização / Circulação / Implantação

Primeiro e segundo pavimento, e a implantação, da esquerda para direita. O verde azulado é o pá o. Sem escala. 21


Setorização e a organização espacial por malhas

Síntese

O programa de necessidades é resolvido através de dois blocos de aço e bloco de concreto, conectados por um pátio interno associado a circulação. Um dos volumes, no primeiro pavimento, recebe o setor de serviços social e outro o ín mo, este úl mo voltado para as áreas verdes da residência. O segundo pavimento des nado apenas para os ambientes mais reservadas do programa de necessidades, criando dessa forma uma hierarquia nos setores. O acesso junto com a circulação tem uma relação direta com a entrada principal.

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4. Discussão Após as análises individuais das residências, foi realizado uma tabela compara va dos partidos para estabelecer relações entre as soluções adotadas pelo arquiteto Eduardo de Almeida.

A par r das análises pudemos iden ficar par dos diferentes nos projetos analisados. Apesar do arquiteto demonstrar interesse em algumas soluções projetuais e estratégias de projeto, iden ficamos que cada projeto tem seu par do definido de acordo com suas singularidades. Por outro lado iden ficamos algumas constantes, como o desenho do pá o, a organização do programa em meios-níveis, adoção de rampas, e a re cula modular. Podemos notar que a configuração do pá o associado a circulação e também com uma relação com o paisagismo é uma solução u lizada de forma constante nos projetos estudados de Eduardo de Almeida, no entanto, não estabelece uma regra composi va para os volumes, permi ndo uma grande variedade de par dos. O grid estrutural é outro elemento que pode ser observado em todas residências estudadas, uma estratégia para organizar e estabelecer o programa de necessidade. Os pavimentos e meio níveis também são muito u lizados nas distribuição dos setores e dos ambientes do programa de necessidade criando hierarquias.

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5. Conclusão Para realizar a análise dos par dos arquitetônicos das residências selecionadas foi necessário primeiro entender o que é conceito e par do. Podemos afirmar que, após a leitura da bibliografia selecionadas para esta pesquisa de IC, o conceito é um meio de expressar um discurso e argumentos para jus ficar e defender as soluções espaciais adotadas, já o par do é como o arquiteto organizou o programa de necessidades, envolvendo o conceito, o sistema constru vo, estratégias de implantação, decisões essas consequente das condicionantes existentes. Assim, após a leituras dos ar gos relacionados a esses temas, ficou claro que os desenhos, fotos e croquis são as primeiras fontes de informação para serem inves gadas. Não só isso como também as condicionantes existentes para concepção da residência: o programa, a técnica constru va, as condições sicas e topográficas. O estudo sobre o Eduardo de Almeida foi outro ponto fundamental para compreender as decisões projetuais adotadas nas residências estudadas. Almeida pertenceu a segunda geração de arquitetos modernos de São Paulo, influenciado por Vilanova Ar gas com a Escola Paulista, e por Frank Lloyd Wright, mas demonstrando flexibilidade para novas soluções e não se prendendo a sintaxe brutalista. Não almeja superar grandes dimensões, a técnica é parte de um raciocínio que orienta todo o processo de projeto, através de grid estruturais. Após essas leituras, estudos e pesquisas foi necessário entender como usar as ferramentas de análise gráfica: desenhos, diagramas e modelos digitais, para inves gar os par dos das residências. Consiste em um processo de leitura a vo dos projetos, que promove um olhar crí co, atento e de uma reflexão con nua. A mesma ferramenta usada para criar, o desenho, é usada para compreender a arquitetura, suas partes e o todo, um importante meio para organizar e comparar as residências analisadas. Após a realização desta pesquisa pudemos observar que o pressuposto da pesquisa e seus obje vos são adequados para uma pesquisa de Iniciação Cien fica. A metodologia adotada se mostrou apropriada para o que a pesquisa se propôs. Acreditamos que esta pesquisa gerou conhecimento, criação de repertório e gerou reflexão sobre temas importantes como a aplicação de conceitos na análise de projetos de arquitetura.

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6.Matéria encaminhada para publicação

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7. Bibliografia BISELLI, Mario. Teoria e prática do partido arquitetônico. Arquitextos, São Paulo, ano 12, n. 134.00, Vitruvius, jul. 2011 <h p://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.134/3974>. BRANDÃO, Carlos A. L. “Linguagem e arquitetura: o problema do conceito”. Revista de Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo. Vol.1, n.1, novembro de 2000. Belo Horizonte: Grupo de Pesquisa "Hermenêu ca e Arquitetura" da Escola de Arquitetura da UFMG. Disponível: <h p://www.arq.ufmg.br/ia>. MACIEL, Carlos Alberto. Arquitetura, projeto e conceito. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 043.10, Vitruvius, dez. 2003<h p://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.043/633>. NEVES, Laert Pedreira. Adoção do partido na arquitetura. Salvador: Centro Editorial e Didá co da UFBa., 1989. 206.p LEMOS, Carlos A.C. O que é Arquitetura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981. 80.p SNYDER James C; CATANESE, Anthony J. Introduction to Architecture. McGraw-Hill, 1979. 450.p GUERRA, Abílio (org.). Eduardo de Almeida. Arquiteto Brasileiro Contemporâneo. São Paulo: Romano Guerra, 2006. Iwamizu, Cesar Shundi. Eduardo de Almeida. Reflexões sobre estratégias de projeto e ensino. São Paulo, 2015. 545 p. Tese de doutorado FAUUSP. Orientadora: Helena Aparecida Ayoub Silva Imbronito, Maria Isabel. Procedimento de projeto com base em retículas: estudo de casas de Eduardo de Almeida. São Paulo, 2008. 155p. Tese de doutorado FAUUSP. Orientadora: Marlene Yurgel Florio, Ana Maria Tagliari. Os projetos residenciais não-construídos de Vilanova Artigas em São Paulo. São Paulo, 2012. 417 p. Tese de Doutorado FAUUSP.Orientador: Rafael Antonio Cunha Perrone CHING, Francis D.K. Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. São Paulo: Mar ns Fontes, 1998. CLARK, Roger H.; PAUSE, Michael. Arquitectura: temas de composición. Barcelona: Gustavo Gili, 1997. UNWIN, Simon. Analysing Architecture. London: Routledge, 1997. Beltramin, Renata Maria Geraldini. Caracterização e sistematização de quatro modelos de análise gráfica: Clark, Pause, Ching, Baker e Unwin. Campinas, 2015. p.168. Tese de Mestrado. Orientador: Daniel de Carvalho Moreira DESCARTES, R. DISCURSO DO MÉTODO. Tradução MARIA ERMANTINA GALVÃO. Revisão da tradução MONICA STAHEL. Mar ns Fontes. São Paulo 2001 AMARAL, Cláudio Silveira. Descartes e a caixa preta no ensino-aprendizagem da arquitetura. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 090.07, Vitruvius, nov.2007<h p://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.090/194>. FUJIOKA, Paulo. Princípios da Arquitetura Organicista de Frank Lloyd Wright e suas influências na Arquitetura Moderna Paulistana. São Paulo, FAU USP, 2003, p.212

8. Agradecimentos e Apoio Agradeço à minha orientadora Prof Ana M.Tagliari Florio e o PIBIC-SAE pelo incen vo e a oportunidade de pesquisa. 26


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