Livro - Cartas de uma jovem inglesa na fronteira de Uruguaiana

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168 páginas, ISBN 978-85-205-0582-3

que seus comentários e observações desvendam a estrutura da mente hegemônica, ou seja, como os países hegemônicos,

“A vista é dessas às quais me acostumei a apreciar muito. O Ibicuí serpenteia a cerca de uma milha,

introdução a esta tradução versa sobre “A mente hegemônica de Miss Frances”. Auxiliado pelas ilustrações da época da jovem inglesa, Fernando Cacciatore de Garcia desvenda os mecanismos que fazem com que os “colonizados” aceitem os padrões mentais dos “colonizadores”. Nesse processo, entre com o opressor”, glosando Freud. Por ser uma análise original da mente brasileira, essa introdução toca pontos polêmicos diante de todas as formas de história tidas como válidas no Brasil.

Fernando Cacciatore de Garcia, nasceu em Porto

Alegre. É diplomata aposentado (Ministro), historiador, poeta, ensaísta, gravador e colecionador; desde 2005 vive no bairro Moinhos de Vento em sua cidade natal.

Obras publicadas: “O Príncipe Irreal e o Poeta Errante” (2008), poesias, “As Ligações Perigosas”, de Laclos, tradução (2008); “Darmapada”, tradução do páli (2009); “Fronteira Iluminada – História do Povoamento, Conquista e Limites do Rio Grande do Sul, a partir do Tratado de Tordesilhas – 1420-1920” (Sulina, 2010); São Paulo: “Memória da Tortura” , álbum com pontas-secas e poesias.

outro lado; três serras são como pequenas nuvens azuis sobre o horizonte. No lado esquerdo, podem ser vistas as pequenas construções do acampamento Santa Maria e um ponto branco brilhante, que é a estação. No primeiro plano, vê-se o campo – avermelhado aqui e ali em frente à qual se encontra o rancho de madeira de Wittman e de onde se embarcam lenha e cimento. Agora, o rio está tão alto que a praia de areia na outra margem está quase coberta e um grupo de árvores mais parece uma ilha. A solidão desse recanto, o ar delicioso e o sentimento de amplidão, além do colorido da redondeza, fazem dele um lugar ao qual nunca me cansarei de ir. Voltei para almoçar, mas retornei de tarde àquele lugar solitário.”

May Frances

As vinte e quatro cartas escritas por Miss May Frances

Tradução, introdução e notas

F ER NA ND O C AC C IATORE

DE

G ARCI A

para uma amiga de sua Inglaterra natal, entre 1887 e 1888, possuem valor inestimável. Escreveu-as da Fronteira, na vizinhança de Uruguaiana, mais precisamente de um

CARTAS DE UMA JOVEM INGLESA NA FRONTEIRA DE URUGUAIANA

domínio que têm sobre países, povos, nações etc. Por isso, a

M AY F RA N C E S

O grande valor das cartas de Miss Frances vem do fato de

M AY F RA N C E S

rancho coberto de capim, nas cercanias do Rio Touro Passo. Tal valor, contudo, não viria da descrição glória, da construção da BGS, a Brazilian Great Southern, a ferrovia que ligava o Rio Quaraí (desde Barra do Quaraí) fazer companhia no rancho mencionado – participou da construção da BGS como engenheiro-chefe. Tal valor, igualmente, não viria do inspiradíssimo registro que fez da nossos horizontes, de nossos céus, dos “esplendorosos” crepúsculos sanguíneos, dos luares, das noites profundas da Fronteira, “salpicadas de poeira de diamante”, quando sua pena chega a momentos de sentida poesia, que expressam o amor que dedicou a essa paisagem amplíssima, libérrima, onde sentia perfeitamente que estávamos sobre uma dessas esferas que povoam o anotações precisas das temperaturas e do volume das chuvas, ou das descrições dos fenômenos meteorológicos que Nem localizamos esse grande valor na extensa e minuciosa descrição que fez dos traços psicológicos, costumes, hábitos, trajes, crenças, comidas, etc. dos habitantes da Fronteira de então.





M ay F ra n c e s Tradução, introdução e notas

F e r n a n d o C a cc i at o r e

de

G a rc i a


@ Editora Meridional, 2010 Título original: Beyond the Argentine or Letters from Brazil, publicado em Londres, em 1890, por W. H. Allen & Co. Tradução, introdução e notas: Fernando Cacciatore de Garcia Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica: Vinícius Xavier Revisão: Patrícia Aragão Ilustrações: Mapa e desenho do rancho dos irmãos Frances: edição original. Demais ilustrações: bicos de pena de Carlos Fonttes sobre postais da época (direitos reservados) e postal de sua coleção. Capa: detalhe da ilustração na p.120.

Bibliotecária responsável: Denise Mari de Andrade Souza CRB 10/960 F815c Frances, May Cartas de uma jovem inglesa na fronteira de Uruguaiana (18871888) / May Frances; tradução, introdução e notas de Fernando Cacciatore de Garcia. -- Porto Alegre: Sulina, 2010. 168p. Tradução de: Beyond the Argentine or Letters from Brazil ISBN: 978-85-205-0582-3 1. Cartas – Relatos de Viagens. 2. História do Brasil. 3. História do Rio Grande do Sul. 4. Fronteira - Extremo Sul. I Título. II. Garcia, Fernando Cacciatore de. CDU: 981 981.65 CDD: 981

Todos os direitos desta edição reservados à

Editora Meridional Ltda. Av. Osvaldo Aranha, 440 cj. 101 – CEP: 90035-190 – Porto Alegre-RS Tel: (0xx51) 3311.4082 / Fax: (0xx51) 3264.4194 www.editorasulina.com.br – e-mail: sulina@editorasulina.com.br

Outubro/2010 Impresso no Brasil / Printed in Brazil


Mapa do Rio Uruguai, tal como consta na 1ª edição (1890) do livro de Miss Frances.



Sumário

INTRODUÇÃO, 11 A mente hegemônica de Miss Frances

Nota introdutória do editor, 25 CAPÍTULO I, 27 Touro Passo, 3 de setembro. – Viagem Rio Uruguai acima – De Uruguaiana ao Rio Touro Passo – A casa –Os arredores – Visita de brasileiros – Comportamento curioso do gado.

CAPÍTULO II, 36 Touro Passo, 11 de setembro. – A construção da ponte – Criados brasileiros – Escassez de comida – Um baile – Visita de vizinhos – Passeio a cavalo – Rãs musicais – A matança do gado – Nossos domingos – Presentes dos locais.

CAPÍTULO III, 44 Touro Passo, 25 de setembro. – Visita ao Ibicuí – Piquenique Ibicuí acima – Andando a cavalo pelo campo – Enchente súbita – Remessa dos materiais para a construção da ponte – Visita de um inglês bêbado – Quero-quero de estimação.

CAPíTULO IV, 55 Touro Passo, 28 de setembro. – Visita a Uruguaiana – Grande calor – A doença do cozinheiro – Meu cavalo estranha minha roupa – Corujinhas – Lindo entardecer – Festa surpresa – A saúde dos locais – Um lagarto – Calor e vento norte – Visita de Marcelino – Meu pequeno carpincho – A tesourinha.

Capítulo V, 63 Touro Passo, 9 de outubro. – Terrível tormenta – O preço da comida – Tentativas de cozinhar. 18 de outubro. – Festa espanhola em Uruguaiana – Visita ao Itapitocai.

CAPÍTULO VI, 67 Touro Passo, 28 de outubro. – Na frente da locomotiva até o Japeju – Acidente com o trole – Outra grande tormenta – Meus bolos – Carne de cordeiro.


CAPÍTULO VII, 70 Touro Passo, 3 de novembro. – Visita de senhoras européias – Um passeio a cavalo com moças brasileiras – Chuva – Aranhas, caranguejeiras e outros insetos – Minhas galinhas.

CAPÍTULO VIII, 75 Touro Passo, 11 de novembro. – Correspondência com brasileiros – Visita a Uruguaiana. 22 de novembro. – O jantar de despedida de nosso Chefe – Ida ao Itapitocai e volta na locomotiva.

CAPíTULO IX, 80 Touro Passo, 27 de novembro. – Descrição dos campos – Crepúsculos – Pássaros – Animais aquáticos – As casas dos brasileiros – Mate – Conservadorismo fatal – Criação de gado e cavalos. Um estancieiro montado em seu cavalo.

CAPÍTULO X, 89 Touro Passo, 1° de dezembro. – Tempo cada vez mais quente. Progresso na construção da ponte – Projetos de viagem Uruguai acima – Visita de Siciliano – Minha horta – Os cães.

CAPÍTULO XI, 93 Touro Passo, 12 de dezembro. – Ida a Concórdia – Como o Sr. Bettinelli se locomove – O pampero – A chegada da Sra. Fitzgerald – Ida e volta a Uruguaiana a cavalo – Jantando fora de casa sob a luz dos lampiões – Visitas não convidadas.

CAPÍTULO XII, 100 Uruguaiana, 15 de dezembro. – Esperando a locomotiva – Sua chegada e o acidente.

CAPÍTULO XIII, 106 Ibicuí, 24 de dezembro. – Viagem de duzentas milhas para uma consulta médica em Concórdia – Minha estada, entrementes, em Uruguaiana – Visita emocionante ao Ibicuí – Mais tormentas.

CAPÍTULO XIV, 112 Ibicuí, 29 de dezembro. – Estragos causados pelas enchentes e tormentas – Natal no Ibicuí – Excursão a São Borja.

CAPÍTULO XV, 116 Touro Passo, 10 de janeiro. – Longo passeio a cavalo, café em uma venda no caminho – Viagem a Itaqui – Andando a cavalo e desenhando – Um cemitério no campo – A picada do Ibicuí – Grande calor – Imprecisão dos mapas das vizinhanças.


CAPÍTULO XVI, 126 Touro Passo, 18 de Janeiro. – Visita a um vizinho criador de cavalos – Excursão de sábado a segunda-feira – A longa viagem a cavalo do Sr. Cartwright – Resultados de dormir com a janela aberta – As vigas de metal da ponte do Touro Passo.

CAPÍTULO XVII, 130 Touro Passo, 30 de janeiro. – Confecção benfeita de uma roupa de montaria – A grande seca – Os trabalhos da ponte – Termômetro a 102ºF – Término da linha telegráfica.

CAPÍTULO XVIII, 133 Touro Passo, 8 de fevereiro. – Nosso baile – Moças brasileiras dançando o cotillon – Cinco dias frescos – Colonizadores portugueses e italianos – Um banho de rio com moças brasileiras e um passeio.

CAPÍTULO XIX, 139 Touro Passo, 12 de fevereiro. – Festejando o carnaval no campo – Religiosidade dos locais – Seus costumes – A vida das mulheres, sua inconsciente ignorância – Casamentos.

CAPÍTULO XX, 146 Touro Passo, 17 de fevereiro. – O primeiro trem do Ibicuí até Uruguaiana.

CAPÍTULO XXI, 149 Touro Passo, 25 de fevereiro. – Efeitos da seca contínua – Tempo mais fresco – Carne de cordeiro – Diminuição do número de trabalhadores – Sela inglesa e cavalos locais – Renda brasileira – Outro baile – Grande visita de inspeção.

CAPÍTULO XXII, 156 Concórdia, 9 de março. – Viagem trabalhosa para uma consulta médica em Concórdia.

CAPÍTULO XXIII, 159 Touro Passo, 16 de março. – Volta a Uruguaiana e para casa – Saladeros – Método de matar reses em cinco minutos – Fazendo as malas.

CAPÍTULO XXIV, 162 Montevidéu, 2 de abril. – Deixando o Touro Passo – Despedida no Ibicuí – Viagem rio abaixo – Três dias em Paissandu – Línguas em conserva – Férias em Montevidéu – Temperatura agradável – Embarque para a Inglaterra.



INTRODUÇÃO A mente hegemônica de Miss Frances O valor é inestimável das vinte e quatro cartas escritas por Miss May Frances para uma amiga de sua Inglaterra natal, entre 1887 e 1888. Escreveu-as da Fronteira, na vizinhança de Uruguaiana, mais precisamente, de um rancho coberto de capim, nas cercanias do Rio Touro Passo. Tal valor, contudo, para mim, não vem da descrição cinematográfica que fez, com momentos de suspense e apoteose, da construção da BGS, a Brazilian Great Southern, a ferrovia que ligava o Rio Quaraí (desde Barra do Quaraí) a Itaqui, já em 1888. Seu irmão Geoffrey – a quem veio fazer companhia no rancho mencionado – participou da construção da BGS como engenheiro-chefe do setor em que se construía, justamente, a bela e grande ponte de ferro sobre o Touro Passo. Tal valor, igualmente, não viria do inspiradíssimo registro que fez da natureza, do pampa, de sua flora e fauna, da amplidão de nossos horizontes, de nossos céus, dos “esplendorosos” crepúsculos sanguíneos, dos luares, das noites profundas da

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Fronteira, “salpicadas de poeira de diamante”, quando sua pena chega a momentos de sentida poesia, que expressam o amor que dedicou a essa paisagem amplíssima, libérrima, quando sentia perfeitamente que estávamos sobre uma dessas esferas que povoam o universo infinito. Não viria esse valor, tampouco, de suas anotações precisas das temperaturas e do volume das chuvas, ou das descrições dos fenômenos meteorológicos que fez do fim do inverno de 1887 ao início do outono de 1888. Nem localizamos esse grande valor na sua extensa e minuciosa descrição dos traços psicológicos, costumes, hábitos, trajes, crenças, comidas, etc. dos habitantes da Fronteira de então. Para nós, o grande valor das cartas de Miss Frances vem do fato de que seus comentários e observações desvendam a estrutura da mente hegemônica, ou seja, como os países poderosos, ontem e hoje, construíram e constroem ideologias que justifiquem o domínio que têm sobre países, povos, nações etc. Tais ideologias, veremos, têm como fundamento essencial a intolerância contra tudo que seja diferente do país dominante, com o consequente desprezo pelo dominado, por seus hábitos, crenças, língua, o que for; tal desprezo é manifestado sem o menor pejo, ao contrário, é constituído por preconceitos expressos com total convicção, como se fossem “fatos”. Isso porque é a inferioridade do desprezado que justifica tanto a “intrínseca superioridade” do dominador como o “inevitável domínio” que exerce. Como não poderia deixar de ser, tais preconceitos são destituídos de fundamento objetivo e só servem para quem os utiliza como instrumento de domínio. Contudo, são eles exteriorizados com tanta convicção 12


que humilham o desprezado, de tal forma que esse se sente efetivamente menor; por isso, trata de “copiar”, seguir os preceitos de seus algozes – em um processo de “identificação com o opressor”1 – com a esperança de ser aceito, aprovado pelos membros de uma “civilização superior”, que o menoscaba. No caso da Inglaterra, essa ideologia de “desprezo-com-domínio” foi em muito facilitada pela superioridade bélica e tecnológica daquele país, especialmente no séc. XIX. Mas antes de desvendarmos tais processos de domínio e de aceitação do domínio, precisamos saber quem era Miss Frances, localizando sua classe social e consequentes valores. Até hoje, na Inglaterra, Miss Frances e seu irmão Geoffrey – que sempre chama de G. –, seriam considerados membros da middle class. A tradução literal para “classe média” é errônea. Como se sabe, os ingleses vivem em uma monarquia, em que a aristocracia subsiste de modo visível e atuante, política e socialmente. Assim, a middle class é lá localizada entre a aristocracy (aristocracia) e a working class (a classe trabalhadora). Desse modo, o dono da mais poderosa multinacional inglesa, o mais rico e bem-sucedido banqueiro, advogado ou médico, o mais influente jornalista, pensador ou professor universitário são igualados, em termos de classe social, ao pequeno comerciante de bairro, à professorinha de escola primária, à dona do salão de cabeleireiro da esquina, aos pequenos proprietários rurais, aos empregados especializados das firmas e fábricas, etc. Abaixo deles está “a classe trabalhadora”, constituída pelos operários, os trabalhadores rurais, os trabalhadores não especializados, etc. 1

Esse instrumento de análise é glosa do conceito freudiano de “identificação com o agressor”.

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que seus comentários e observações desvendam a estrutura da mente hegemônica, ou seja, como os países hegemônicos,

“A vista é dessas às quais me acostumei a apreciar muito. O Ibicuí serpenteia a cerca de uma milha,

introdução a esta tradução versa sobre “A mente hegemônica de Miss Frances”. Auxiliado pelas ilustrações da época da jovem inglesa, Fernando Cacciatore de Garcia desvenda os mecanismos que fazem com que os “colonizados” aceitem os padrões mentais dos “colonizadores”. Nesse processo, entre com o opressor”, glosando Freud. Por ser uma análise original da mente brasileira, essa introdução toca pontos polêmicos diante de todas as formas de história tidas como válidas no Brasil.

Fernando Cacciatore de Garcia, nasceu em Porto

Alegre. É diplomata aposentado (Ministro), historiador, poeta, ensaísta, gravador e colecionador; desde 2005 vive no bairro Moinhos de Vento em sua cidade natal.

Obras publicadas: “O Príncipe Irreal e o Poeta Errante” (2008), poesias, “As Ligações Perigosas”, de Laclos, tradução (2008); “Darmapada”, tradução do páli (2009); “Fronteira Iluminada – História do Povoamento, Conquista e Limites do Rio Grande do Sul, a partir do Tratado de Tordesilhas – 1420-1920” (Sulina, 2010); São Paulo: “Memória da Tortura” , álbum com pontas-secas e poesias.

outro lado; três serras são como pequenas nuvens azuis sobre o horizonte. No lado esquerdo, podem ser vistas as pequenas construções do acampamento Santa Maria e um ponto branco brilhante, que é a estação. No primeiro plano, vê-se o campo – avermelhado aqui e ali em frente à qual se encontra o rancho de madeira de Wittman e de onde se embarcam lenha e cimento. Agora, o rio está tão alto que a praia de areia na outra margem está quase coberta e um grupo de árvores mais parece uma ilha. A solidão desse recanto, o ar delicioso e o sentimento de amplidão, além do colorido da redondeza, fazem dele um lugar ao qual nunca me cansarei de ir. Voltei para almoçar, mas retornei de tarde àquele lugar solitário.”

May Frances

As vinte e quatro cartas escritas por Miss May Frances

Tradução, introdução e notas

F ER NA ND O C AC C IATORE

DE

G ARCI A

para uma amiga de sua Inglaterra natal, entre 1887 e 1888, possuem valor inestimável. Escreveu-as da Fronteira, na vizinhança de Uruguaiana, mais precisamente de um

CARTAS DE UMA JOVEM INGLESA NA FRONTEIRA DE URUGUAIANA

domínio que têm sobre países, povos, nações etc. Por isso, a

M AY F RA N C E S

O grande valor das cartas de Miss Frances vem do fato de

M AY F RA N C E S

rancho coberto de capim, nas cercanias do Rio Touro Passo. Tal valor, contudo, não viria da descrição glória, da construção da BGS, a Brazilian Great Southern, a ferrovia que ligava o Rio Quaraí (desde Barra do Quaraí) fazer companhia no rancho mencionado – participou da construção da BGS como engenheiro-chefe. Tal valor, igualmente, não viria do inspiradíssimo registro que fez da nossos horizontes, de nossos céus, dos “esplendorosos” crepúsculos sanguíneos, dos luares, das noites profundas da Fronteira, “salpicadas de poeira de diamante”, quando sua pena chega a momentos de sentida poesia, que expressam o amor que dedicou a essa paisagem amplíssima, libérrima, onde sentia perfeitamente que estávamos sobre uma dessas esferas que povoam o anotações precisas das temperaturas e do volume das chuvas, ou das descrições dos fenômenos meteorológicos que Nem localizamos esse grande valor na extensa e minuciosa descrição que fez dos traços psicológicos, costumes, hábitos, trajes, crenças, comidas, etc. dos habitantes da Fronteira de então.


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