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Dar um Tempo
Desalento
Vida minha, que farei sem ti? O que será do amanhecer sem teu colo, o anoitecer sem teu calor? Como serão meus dias à espera de tua chegada? O que será de mim sem te tocar, te sentir, te ouvir? Sem teu sorriso, teu cheiro, tuas carícias?
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Estás em minhas entranhas, em meu ser, em minha mente. Dominas minhas vontades e meus mistérios.
Levastes meu discernimento, Criastes um vendaval de emoções que me deixaram desolada, inquieta, prostrada, angustiada, desatinada, sem rumo, perdida.
Quisera jamais ter te conhecido, receber tanta luz e depois ser jogada no inferno. Sentir o êxtase e ser levada ao mais árido deserto. Viver a plenitude e cair no vazio. Ver o pulsar da vida arrastado às profundezas da morte. Sentir o coração rasgando de tanta dor, explodindo de tristeza.
Náufraga no de mar de emoções, a alma grita, chora, cala, lembra, revolta-se, clama, desalenta-se, implora, desespera-se, desfalece, desiste, morre.
Dar um Tempo
A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor da necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente. Flávio Gikovate
Nas relações afetivas modernas, é comum ouvir a expressão “dar um tempo”. Quando não se sabe o que fazer diante de uma crise de convivência, se pede “um tempo”. Então o casal se afasta, presume-se que temporariamente, e para refletir sobre o que está incomodando, o que está errado na relação.
Na verdade, não há uma definição clara do que é “dar um tempo”, nem parece que as pessoas que o propõe se preocupem em estabelecer como seria o comportamento de cada um nesse intervalo.
O que é dar um tempo? É o afastamento físico? É manter a distância emocional? É evitar cobranças recíprocas? É ter tempo de sentir falta? Quem pede um tempo, de verdade, reflete sobre a crise ou apenas a deixa de stand by? Quanto é esse tempo? É possível dimensiona-lo? Quem aceita a trégua pode suportar a indefinição da medida desse tempo? O casal tem ideia do que pode ocorrer, que risco a relação corre? É simplesmente ficar em compasso de espera, ou é deixar cada um livre para ter novas experiências? É aceitar que pode surgir outra pessoa, mesmo que não se esteja procurando? Em sendo assim, não é melhor terminar a relação, por que a qualquer tempo é possível a retomada? E assim, não haveria a angústia da espera de quem tem que “dar um tempo”? Não se pode ignorar que toda convivência tem seus momentos de conflito, entretanto a abertura para o diálogo sempre permite que desentendimentos sejam resolvidos, dúvidas esclarecidas, erros corrigidos e mágoas perdoadas. Há casal que permanece junto enquanto não se resolve o conflito, outro concorda em não dormir brigado, cada um encontra um caminho para o entendimento, se o propósito é a união.
Dar um tempo parece uma medida extrema e drástica que, ao invés de permitir clareza da situação diante do distanciamento do problema, na maioria das vezes é uma fuga do enfrentamento dos desafios que a convivência traz, causando assim mágoas, sentimento de rejeição e insegurança.
Melhor seria fazermos como recomenda a poesia de Gilberto Gil: “o seu amor, ame-o e deixe-o livre para amar”. Assim inexistiria a cobrança de corresponder à expectativa recíproca do que se espera da relação, da fidelidade, exclusividade, do contato físico ou emocional.
Amar pelo amor e não pelo que pode receber em troca. Amar o que o outro nos desperta, sensibiliza, pelo compartilhamento, pela troca, pela verdade e respeito. Se amar é querer bem, estaremos felizes se o amado está, ainda que longe de nós ou com outra pessoa, pois sabemos que não deixaremos de amar porque ele ou ela escolheu caminho diverso.
O amor é nosso, está dentro de nós, não precisa ser correspondido para