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Parte integr Part grante gr antee do Jorn Jo al Agora gora São Paulo - Não pode ser vendida separadamente - Ano 16 – nº 793 – Vinicius Pereira/Folhapress

Revista

Domingo, 8 de junho de 2014

A atriz e ex-BBB Aline Dahlen diz que saía para tomar um suco e voltava com uma sacola

Viciados em

compras Pesquisa aponta que mais da metade dos brasileiros comprou algo por impulso nos últimos três meses; veja como fugir da tentação e aprenda a organizar as finanças


Vinicius Pereira/Folhapress

Loucos por

compras

Está comprovado em números que o brasileiro adora comprar e não sabe planejar o futuro; consumidores por impulso não se preparampara imprevistoseacabam se endividando.Vejacomo fugir dos gastos desnecessários e organizar a vida financeira O brasileiro adora comprar e não para até o seu crédito acabar. De acordo com pesquisa realizada pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), 52% da população assume que já fez pelo menos uma compra por impulso nos 6

últimos três meses. “Percebemos que esse é um comportamento comum do brasileiro. E o acesso fácil ao crédito no país acaba sendo um estímulo para o consumo”, explica Luiza Rodrigues, economista-chefe do SPC Brasil.


capa

A blogueira Raphaela Cunha, que luta contra a vontade de comprar

O principal problema, segundo a especialista, é a falta de planejamento e de traçar objetivos de vida, comportamento percebido em todas as classes sociais. “Se tal anel entra na moda, todo o mundo sai comprando, sem pensar que aquilo é um supérfluo e que pode estar levando embora o dinheiro da casa própria ou daquela grande viagem com a qual a pessoa sonha”, diz Luiza. Ela ainda brinca que nunca ouviu falar de um ganhador da loteria que te-

nha se tornado empresário de sucesso. “Poucos se concentram em investir, as pessoas só pensam no agora. Se a minha felicidade é ter aquela televisão, eu vou comprá-la”, explica a economista. Uma das dicas da especialista para conseguir se organizar é acessar o site www.meubolsofeliz.com.br. “A página faz atésimulação da melhor aposentadoria privada para escolher”,descreveela. “Infelizmente,eu sou um desses casos”, diz a blogueiraRaphaelaCunha, 29 Agora Revista da Hora Domingo, 8/6/2014 7 ■


Rivaldo Gomes/Folhapress

A dona de casa Patricia Gracio adora uma promoção; agora, com a família, ela teve de conter os gastos

anos. “Eu sempre caí em pegadinha de promoções. Acho que o produto está com um superdesconto e, depois, acaba batendo o arrependimento, porque não precisava daquilo”, conta. Apaixonada por roupas, sapatos e maquiagem, ela diz que até já usou o seu blog (superquero.com) como desculpa para consumir e experimentar novos produtos.A mineira, que vive sozinha em São Paulo,teve 8

deaprendera controlar o vício, pois tem contasa pagar. “Eu precisei amadurecer na marra. Aindatenho muito o que aprender, mas já melhorei bastante”, avaliaa blogueira. Naépoca em que vivia com ospais, Raphaela chegava a esconder sacolas de compras para não levar bronca. “Quando cheguei a São Paulo, fiquei um poucodeslumbrada coma cidade egastei muito,


capa mas tive que me virar para pagar tudo.” Para Dori Boucault, advogado especialista em direitos do consumidor, há uma boa explicação para esse comportamento. “O brasileiro é muito otimista. No início do ano, ele já adianta o 13º salário e a restituição do imposto de renda, sem saber se vai cair na malha fina depois. Conta com um dinheiro que nem sabe se terá”, diz o advogado. “Claro que é chato fazer isso, mas o ideal é reunir a família e até já ensinar os filhos a agir de maneira diferente. Dê mesada e os deixe gastar com o que quiserem. Assim, aprenderão a lidar com o dinheiro recebido”, aponta o especialista, que destaca também a importância da recompensa. “Se sobrar, é possível premiar a família com uma viagem, por exemplo.” Esse jeitinho brasileiro, de sempre achar que tem como pagar depois, aumentou proporcionalmente ao poder aquisitivo da chamada nova classe média, segundo o economista e filósofo José Eustáquio. “Essa nova classe, que surgiu em função da redistribuição de renda e da inclusão social, saiu de uma condição de não poder comprar para, agora, suprir as necessidades antes não atendidas. Junto a isso, há o fato de que o brasileiro é imediatista, só pensa no hoje”, completa ele. A dona de casa Patricia Gracio, 40 anos, não podia ver uma promoção pela frente. “Não importava onde eu estava, no shopping, na feira, andando pela

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capa faculdade Esamc Santos (Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação). O cantor Jeffinho Pinheiro, 31 anos, por exemplo, tem mania de bonés. “Na adolescência, cheguei a ter mais de cem. Agora reduzi a uns 40”, conta ele. Metade deles agora está na casa da mãe dele e a outra parte no apartamento em que vive atualmente com a mulher. “Era só colocar o pé na rua que voltava com um boné novo. E não é algo necessário, hoje eu vejo que é meio louRonny Santos/Folhapress

Comprar demais pode virar doença Consumir em excesso também é caso de saúde, quando vira compulsão. “O comportamento compulsivo nas compras chega a seu ápice quando gera perdas financeiras, pessoais, emocionais e até sociais. O número excessivo de cartões de crédito e boletos de lojas pode ser o primeiro sinal”, diz a psicóloga Elaine Lopes. Ela afirma que, segundo alguns pacientes, há uma mistura de culpa e prazer após fazer compras. Quando a pessoa percebe que o caso é sério, é possível procurar ajuda com psicólogos, psiquiatras ou buscar associações especializadas, como a Devedores Anônimos, com sedes em vários Estados. Hoje coordenadora da organização, F.G., de 40 anos, uniu-se ao grupo ao perceber que a gastança estava acabando com sua vida financeira e amorosa. “Hoje, recebemos homens e mulheres, pessoas de diferentes classes sociais. Há casos diversos, como de quem já fez um empréstimo para cobrir o outro, perdeu bens e já até sofreu ameaças por dever a agiotas”, diz a ex-devedora. “Nossa filosofia é como a do Alcoólicos Anônimos. Há os 12 passos para a melhora. Em um deles, por exemplo, a pessoa deve contar toda a sua história de vida, a fim de entender qual é a raiz do problema”, diz.

DevedoresAnônimos Escreva para grupodajardins@ gmail.com ou vá aos endereços: Paróquia Nossa Senhora doPerpétuo Socorro (r. SampaioVidal, 1.055, Jardim Paulistano). Reuniões às ter., qua. e qui., a partir das 18h; Sáb., a partir das 16h50. ■ Grupo Pacaembu(r. Itápolis, 1.020, Pacaembu). Reuniões aos dom., às 10h. Ainda há sessões pela internet.

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cura, mesmo.” Pinheiro chegou a desembolsar R$ 400 pelo exemplar de um time de basquete norte-americano. “Hoje, quando compro, gasto de R$ 130 a R$ 200”, revela. Diferentemente das mulheres, os homens que gastam muito com algum produto específico costumam ser mais vistos como colecionadores. “Há bastante semelhança nos dois comportamentos”, esclarece José Carlos Carturan Filho, especialista em medicina comportamental pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “Em ambos os casos, quando a pessoa compra, acaba ativando um mecanismo de estruturas cerebrais chamado sistema de recompensa, que traz sensações de prazer. A diferença básica reside no fato de que um colecionador pode possuir

um foco específico para comprar, enquanto quem compra exageradamente não possui esse foco principal”, explica Carturan Filho. “Agora, qualquer compra exagerada pode se tornar compulsão, a chamada oneomania. Essa, sim, mais comum em mulheres”, diz o especialista.

Crédito e parcelamento

Outro grande problema do brasileiro é adorar uma parcela e abusar do crédito liberado pelos bancos. “As pessoas calculam apenas o valor da parcelinha que cabe no bolso. Só que nessa, ele paga o preço de duas geladeiras em vez de uma”, exemplifica o consultor Dori Boucault. “Já no cartão de crédito, ela vai pagando o valor mínimo e os juros só acumulam. O brasileiro tem que se lembrar de que está em um país de juros altos.” Ter crédito, enfim, não é de todo ruim. O problema é que o brasileiro

Rivaldo Gomes/Folhapress

A dona de casa Rosemeire Santos Soares Prete acumulou dívidas em vários cartões de crédito

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não sabe desfrutar dele, segundo Luiza Rodrigues, economista do SPC. “O crédito deve ser guardado para emergências. Se há um caso de doença ou gravidez na família”, por exemplo. “Ainda há outros bons motivos, como o financiamento de um carro para ser utilizado em uma nova oportunidade de trabalho”, completa. Ela alerta para um ou-

tro hábito do brasileiro: “Há quem saia fazendo várias pequenas parcelas e não perceba que o valor total extrapola o orçamento mensal. Não é raro ter pessoas que ficam devendo até cinco parcelas de uma compra”, completa. Uma das vítimas desse problema foi a dona de casa Rosemeire Santos Soares Prete, de 47 anos. “Eu comprava a mesma blusa ou modelo de sapatos de Vinicius Pereira/Folhapress

A atriz e ex-BBB Aline Dahlen trocou o consumo compulsivo por hábitos mais saúdaveis

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