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Saúde
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16 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sábado, 9 de julho de 2016
Diabetes tipo 2 chega ao cérebro Estudo norte-americano mostra que a doença metabólica altera o volume da massa cinzenta em adolescentes. O impacto ocorre em áreas do órgão ligadas a funções cognitivas, emoções e autocontrole s adolescentes com diabetes tipo 2 têm mudanças significativas no volume de substância cinzenta do cérebro, principalmente nas regiões ligadas a tomadas de decisão, visão, audição, memória, emoção, expressão e autocontrole. É o que indica um estudo conduzido por pesquisadores da Cincinnati Children’s Hospital Medical Center, nos Estados Unidos, conduzido com 40 voluntários e apresentado no American Diabetes Association’s Scientific Sessions, no mês passado, em New Orleans (EUA). Segundo Amy Sanghavi Shah, um dos autores, estudos anteriores haviam sugerido essa diferença de concentração de massa cinzenta e queda na função cognitiva em jovens com o problema metabólico. “Os volumes total e regional do cérebro, porém, não tinham sido avaliados de forma abrangente até então. Nós também procuramos determinar se os resultados que encontramos poderiam explicar os resultados cognitivos mais pobres”, complementou o médico. A equipe analisou 20 adolescentes com diabetes tipo 2 e 20 sem a complicação metabólica. Os participantes eram semelhantes em idade, raça e sexo, e foram submetidos a exames de ressonância magnética de alta resolução. Nenhum tinha doença neurológica ou psicológica prévia ou ressonâncias magnéticas anormais antes do início da pesquisa. Ao comparar as imagens, os cientistas descobriram que os integrantes do primeiro grupo tinham seis regiões com muito menos massa cinzenta e três com consideravelmente mais. “Nossos dados sugerem que o volume de substância cinzenta do cérebro foi significativamente
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palavras desconhecidas. Coordenador do Núcleo de Neurologia do Hospital Samaritano de São Paulo, Renato Anghinah explica que diabéticos têm mais propensão a desenvolver problemas cognitivos principalmente pelo fato de o cérebro ser o órgão do corpo humano que mais demanda energia.“Ele consome mais glicose. Por isso, precisa de uma oferta maior no organismo. A falta pode levar a problemas no desenvolvimento das estruturas cerebrais”, detalha.
Melhor prevenir O prejuízo fica ainda mais preocupante por dois fatores. Durante a adolescência, o cérebro passa por mudanças profundas, e, também nessa fase da vida, são fortes os hábitos que desencadeiam a doença metabólica: sedentarismo e dieta pouco equilibrada. Segundo dados da última pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por InquéritoTelefônico(Vigitel2015), 28,5% da população brasileira
Trabalhos anteriores haviam mostrado ligações entre as dietas vegetarianas e melhores resultados na saúde, incluindo a redução do risco de diabetes tipo 2. Mas o estudo mais atual é o primeiro a fazer distinções entre as dietas à base de plantas saudáveis e os alimentos menos indicados, como comidas e bebidas açucaradas. A pesquisa também considerou o efeito da inclusão de alguns alimentos de origem animal na dieta. Para isso, os cientistas analisaramdadosdemaisde200miltrabalhadores, homens e mulheres, que, durante 20 anos, responderam
regularmente a questionamentos sobre hábitos alimentares, estilo de vida, história médica e diagnóstico de doenças. Com relação à ingestão de vegetais, utilizou-se um índice com pontuação mais alta para alimentos derivados de plantas e mais baixa para os de origem animal. A alta adesão a uma dieta baseada em plantas e com poucos alimentos de origem animal foi associada ao risco 34% menor de surgimento do diabetes tipo 2, enquanto que uma versão menos saudável — incluindo alimentos como grãos refinados, batatas e bebidas adoçadas com açúcar —
aumentou em 16% a probabilidade de desenvolvimento da doença metabólica. Mesmo que modestamente, a redução do consumo de alimentos de origem animal — por exemplo, de cinco a seis porções por dia para quatro por dia — foi ligada à menor incidência da enfermidade. “A mudança para um padrão alimentar mais elevado em alimentos à base de plantas saudáveis e menor no consumo de alimentos de origem animal, especialmente carnes vermelhas e processadas, pode conferir benefícios substanciais para a saúde na redução do risco de diabetes tipo 2 “,
ressaltou Frank Hu, professor de nutrição e epidemiologia da Universidade de Harvard Chan School e um dos autores do estudo. Segundo os autores, a proteção natural acontece porque os vegetais indicados são pobres em gordura saturada e ricos em fibras, antioxidantes, ácidos graxos insaturados e micronutrientes como o magnésio. Além disso, contribuem para a formação e a manutenção de uma flora intestinal saudável. Há indícios científicos de que as bactérias que formam essa microbiota interferem na forma como o organismo utiliza as calorias ingeridas.
pesquisadores removeram algumas dessas células e, depois, adicionam a elas um gene que faz o receptor emergir nas células-T. A nova versão de anticorpo, que pode se ligar à célula-alvo, foi multiplicada em laboratório e recolocada nos pacientes. “Nós imaginamos que poderíamos adaptar essa tecnologia para combater especificamente as células B que produzem anticorpos que causam a doença autoimune” explica Milone. Na Pensilvânia, os cientistas desenvolveram células-T que atacassem apenas as B, que produzem anticorpos anti-Dsg3, relacionados ao pênfigo vulgari. Em ratos, as células especiais
mataram os agentes imunológicos prejudiciais e impediram a formação das bolhas. Agora, os pesquisadores pretendem testar a técnica em cães, animais que também desenvolvem a doença autoimune. “Se pudermos usar essa tecnologia para curar o PV com segurança em cães, seria um grande avanço para a medicina veterinária e poderia vir a pavimentar o caminho para ensaios dessa terapêutica em humanos”, acredita Aimee Payne. A aplicação da técnica em outras doenças e condições imunológicas, como rejeição imunitária em transplantes, também faz parte do horizonte dos cientistas.
(A pesquisa) serve para gerar uma reflexão sobre os atuais hábitos alimentares da nossa juventude. Eles estão consumindo muitos alimentos hiperprocessados e recheados de açúcares. Esse é um prato cheio para aparecimentos de doenças metabólicas” Christiano da Cunha Tanuri, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein
34% Redução do risco de surgimento do diabetes tipo 2 em pessoas que seguem uma dieta rica em alimentos de origem vegetal
Mais vegetais e menos carne Uma dieta rica em alimentos de origem vegetal de alta qualidade, como grãos integrais, frutas, legumes, nozes e leguminosas, está relacionada à diminuição no risco de surgimento do diabetes tipo 2, de acordo com pesquisa da Harvard T.H. Chan School of Public Health, nos Estados Unidos,
diminuído em jovens com diabetes tipo 2. Descobrimos que as áreas mais afetadas pela diminuição do volume de substância cinzenta estão nos lobos temporais, associados à capacidade de processamento verbal e visuoespaciais”, diz Jacob Redel, pesquisador na Divisão de Endocrinologia Infantil de Cincinnati e principal autor do estudo. A equipe também detectou uma relação entre menor volume de massa cinzenta no cérebro e queda na habilidade de pronunciar
com 18 a 24 anos tem uma alimentação com excesso de açúcar. Nessa faixa etária, 30% costumam beber refrigerantes diariamente. Redel pondera que a razão da ocorrência das mudanças no cérebro não é bem compreendida. “Nossos resultados não mostram causa e efeito. Não sabemos se as alterações que encontramos são o resultado direto do diabetes. Mas estudos em adultos com diabetes tipo 2, com maior duração da doença, também mostram diferenças de volume do cérebro, alterações vasculares cerebral e declínio cognitivo”, diz. Os investigadores consideram, por exemplo, um novo experimento com participantes obesos e não diabéticos. Segundo eles, a nova amostra — também com um número maior de participantes — lhes permitirá examinar se as diferenças encontradas na ressonância magnética estão mais relacionadas à obesidade ou ao nível elevado de açúcar no sangue, além de testar se outros domínios cognitivos, como memória, linguagem, inteligência e atenção, são afetados por diferenças no volume do cérebro.“Neste momento, não sabemos se essas mudanças são temporárias ou permanentes. Portanto, não podemos determinar se elas podem ou não ser reversíveis”, afirma. Diante das indefinições, o melhor conselho é evitar a complicação metabólica, defende Christiano da Cunha Tanuri, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein. “Essa é um importante pesquisa e serve para gerar uma reflexão sobre os atuais hábitos alimentares da nossa juventude. Eles estão consumindo muitos alimentos hiperprocessados e recheados de açúcares. Esse é um prato cheio para aparecimentos de doenças metabólicas como o diabetes” alerta.
divulgada recentemente na revista Plos Medicine. “Esse estudo destaca que mudanças, mesmo moderadas, feitas para direcionar uma alimentação saudável à base de plantas podem desempenhar papel significativo na prevenção do diabetes tipo 2”, disse Ambika Satija, principal autor do estudo.
DEFESAS PRESERVADAS
Nova terapia trata doença autoimune sem prejudicar a imunidade normal, mostra um teste pré-clínico detalhado na edição de hoje da revista Science. As células-T desenvolvidas nos laboratórios da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, atuam seletivamente contra células produtoras de anticorpos que causam pênfigo vulgaris (PV), uma enfermidade autoimune que se
manifesta inicialmente com bolhas na pele e nas mucosas. A técnica, testada por enquanto em ratos, não prejudica o resto do sistema imunitário, ao contrário das terapias clássicas com medicamentos. Muitas vezes, as drogas suprimem o sistema imunológico e deixam os pacientes vulneráveis a infecções oportunistas fatais, além de cânceres. “Essa é uma poderosa estratégia para alvejar apenas as células
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Tratamento melhorado para doença autoimune
autoimunes e poupar as outras estruturas do sistema imunológico que nos protegem de infecções”, resume a pesquisadora-sênior Aimee Payne. A técnica é adaptada de terapias oncológicas que projetam células-T (de defesa) para destruir tumores de leucemias e linfomas. “Nosso estudo amplia essa tecnologia anticâncer para o tratamento de uma gama muito maior de doenças, incluindo as de autoimunidade e a rejeição de transplantes”, diz o coautor Michael Milone. O elemento-chave da nova estratégia é o receptor quimérico antigênio, que pode ser manipulado nas células-T. Em testes com humanos, os
Como queimaduras Mais comum em adultos e idosos, essa doença, quando muito avançada, é tão prejudicial quanto queimaduras graves. Isso porque as bolhas podem se romper e formar úlceras dolorosas, que podem ser infectadas. Se não for tratado, o pênfigo vulgaris é geralmente letal. Assistidos, cerca de 90% dos pacientes conseguem viver com a doença autoimune, segundo o Manual Merck de Informação Médica. A terapia é baseada no uso de altas doses de corticosteroides, que são reduzidas à medida que a crise é controlada.