Thaís Pina
A crônica está na moda
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Ficha catalográfica elaborada por Iris Caldas Laranjeiras CRB/5:1115 Cento Universitário Jorge Amado - UNIJORGE P645c Pina, Thaís. A crônica está na moda / Thaís Pina. - [S.l.:s.n.], 2009. 111 p.
1. Moda. 2. Crônicas. I. Titulo CDU 391
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“Precisamos mais da moda do que das roupas, não para cobrir nossa nudez, mas para vestir nossa autoestima!” Colin McDowell
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Orientação: Márcia Guena Revisão: José Egídio Projeto gráfico: Vladesk Falcão Capa e Ilustrações: Jean Ribeiro Foto da orelha: Yolanda Poirey Gráfica: Alphagrafics
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Sumário Apresentação
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PEÇAS Eu uso por proteção do sol mesmo Papo íntimo Ser enigmático Temaki com pimenta, vai?! Urubu num velório Queria ser uma centopéia Os três R’s Trajes noturnos A moda é ser você! O souvenir virou moda
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CONCEITOS Segunda pele Precisamos da moda. E você, sabe disso?! Moda, a arte de imitar Assim como os ícones Modelitos hermanos Trabalho de roupa! “Desigual, distinto e diverso”
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TRABALHO Taka – moda – aí! Primeira fila Coração metalizado Sem descer do salto Colírio para os olhos e alegria para o coração Com que roupa?! Para menores de 12 anos! Com quantas mãos se faz uma passarela
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Bibliografia
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A Crônica Está na Moda
Apresentação Mais um livro de crônicas jornalísticas surgiu, timidamente, e ganhou forças quando assumiu o seu verdadeiro tema: moda (preciso confessar ser esse o meu desejo inicial). E o livro “A crônica está na moda” ganha vida. A escolha do tema tem relação direta com a minha experiência de consumidora e de quem faz moda, pois tenho uma confecção de roupas e acessórios. Desenho, crio e recrio modelos e tendências. E o contato direto com o mundo da moda despertou o meu interesse em conhecer o que tem por trás de apenas vestir-se. Por isso foi preciso pesquisar, estudar e, mais do que nunca, observar o comportamento das pessoas. Mais do que usar roupas e acessórios, descobri que a moda é modo, costume e cultura de um povo. Por que a moda sofre tantos preconceitos? Por que é considerada fútil e desnecessária? Simplesmente porque as pessoas não sabem o que realmente significa, repondo com firmeza. E com graça, leveza e experiências este livro proporciona ao leitor aprender e conhecer o que é moda em seu pleno sentido. Moda como indumentária, como modo, como costume, como comportamento e como relato histórico de épocas, momentos e ideais das pessoas que neste planeta habitam, mesmo que muitas vezes pareçam ser de outro mundo que ainda não conhecemos. Acredito na moda como vestimenta, e como acredito... Mas sei que ela é muito mais do que sapatos, bolsas, roupas e desfiles. E quero que você também saiba disso. Talvez você já saiba, só que ainda não percebeu. E aqui lhe dou essa oportunidade de uma maneira simples e divertida. O jornalismo de moda é uma atividade crescente, e que tem merecido atenção e pesquisas. Como o tema inspira criatividade escolhi tratá-lo em crônicas, gênero que possibilita a união entre o relato histórico com a informação e ainda, permite que a opinião do autor apareça. Com caráter noticioso e muita investigação as crônicas reunidas neste livro são textos jornalísticos de fácil leitura, dinâmicos e até divertidos. Ler este livro permitirá que você, independentemente de quem seja e do que faça e onde mora, se identifique com pelo menos uma das inúmeras situações descritas. São relatos vivenciados por mim, autora do livro, ou por pessoas próximas. Pessoas que fizeram chegar ao meu conhecimento suas experiências sabendo do meu desejo e gosto de observar o outro e, quem sabe, tentar entendê-lo. É por esse motivo que convido você, leitor, a fazer o que me é de costume e que fez parte do processo de produção deste livro: vamos nos colocar no lugar do outro. O livro é um convite ao conhecimento das diversas perspectivas da moda e à diversão. Convido-lhe ao riso, a se divertir com a brincadeira séria de se despir da ignorância e sair por aí, trajando, elegantemente, a moda. Moda como vestuário, modo e costume.
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PEÇAS
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Eu uso por proteção do sol, mesmo!
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Eu uso por proteção do sol, mesmo! De onde veio a ideia de usar óculos escuros à noite? Ei, alguém por aí sabe? O pior é que essa prática virou moda! Não consigo entender... A função dos óculos escuros não é, justamente, proteger da luz, do sol? E que sol tem a noite? Aí várias pessoas começaram a pensar que era bacana, estiloso ... Que nada é uma maluquice! Os artistas adoram. Dizem que é para se esconder, mas acabam aparecendo ainda mais. Então, outro dia eu assistia o programa “Ídolos” na TV, isso mesmo, o cúmulo de quem não tem o que ver, mas é nessa hora que vemos coisas inacreditáveis. Nesse dia , por exemplo, o apresentador do tal programa, que fala de música e enquadra também o estilo do próximo “ídolo” nacional, estava usando óculos escuros. E passou as duas horas do programa noturno com aquela loucura. Gente, parecia que ele estava com conjuntivite ou que tinha levado um soco nos olhos... Gente, ele falava com o telespectador sem olhar nos olhos!
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Eu uso por proteção do sol, mesmo!
Que isso acontecesse - e seria normal -, se ele tivesse alguma deficiência visual, mas não era o caso... Era questão de estilo, mesmo, ou melhor, de não estilo. E aquilo me incomodava de uma maneira que, meu deus, a vontade que eu tinha era de ligar para a emissora, falar com ele, dar um toque... Não sei, tinha que fazer algo. Aquilo estava estranho. E ainda o modelo dos óculos era dos anos, anos... Bom, não me lembro. Tive que buscar o nome dessa tendência, acho que é anos 80... Encontrei: é anos 80 mesmo, quando fez sucesso, mas a criação foi nos anos 50, quase ninguém sabe disso, quem me contou foi Milena Arenda, estudiosa em projetos e tecnologias para o vestuário. E ainda encontrei mais, tem um nome específico para essa tendência: “Moda Fashion 80 Retro Vintage”. E os óculos recebem o nome de Wayfarer (em português: passageiro, viajante), ressuscitado pela moda mais uma vez. Aproveitei que já estava pesquisando fui buscar uma possível justificativa para essa loucura dos óculos escuros à noite. Porque para mim não existe uma explicação plausível. Logo de cara encontro algo que já era do meu conhecimento, Dinah Pezzolo conta em seu livro que os primeiros óculos escuros surgiram com a finalidade de proteger os olhos de alguém – esse alguém foi o tenente MacCready, que tinha acabado de atravessar o Atlântico num balão, e sofreu com a luminosidade -, então surgiram os óculos Ray-Ban, que significa “que bane os raios”. Ah, isso foi em 1920, mas a comercialização veio mais tarde, em 1937.
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O Ray-Ban, da época, era leve e com armação de metal, vocês conhecem como o chamado “estilo aviador”. Eles continuam sendo comercializados e nos últimos anos voltaram a ser moda. De lá para cá muita coisa aconteceu, muitos mo-
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delos, cores e inovações tecnológicas fizeram com que as lojas transbordassem opções, e usar óculos escuros passou a ser um costume comum... O formato dos seus óculos, o estilo, a linha têm tudo a ver com sua personalidade. Foi nessa “onda” de novidades que apareceu a idéia de usar óculos escuros á noite, olha só: eles são tão para o dia que alguns os chamam de “óculos de sol”, e tem gente que quer usar em plena luz da lua... Outro uso que me incomoda é em ambientes fechados, você já vou pessoas usando os tais nos shoppings ou barzinhos, por exemplo?! Ai, parece que eles querem esconder alguma coisa, porque de lentes escuras não podemos ver para onde a pessoa está olhando. Ui, chega a dá medo e desconfiança. Parece que eles não querem ser reconhecidos, também. Alguns usuários se desculpam dizendo que os óculos têm grau, e que é chato ficar trocando óculos de grau com óculos escuros e vice-versa, toda hora. Então coloca o grau nos escuros que já serve para as duas situações. Bom, pra mim não serve não! Acho, no mínimo, deselegante você usá-los nessas duas situações: ambientes fechados e a noite. Até a Glorinha Kalil já deu explicações sobre o uso. É, ela usa! Mesmo tão chique, ela também comete garfes. E depois de tanta polêmica ela deu mesma desculpa que citei há pouco, que os óculos escuros dela têm grau, e depois deu a sua explicação fashion, que por sinal eu não concordo, disse ela em seu livro “Alô, Chics”: “são mais charmosos que os transparentes, rejuvenescem, dar um ar um pouco misterioso, disfarçam eventuais olheiras e a falta de maquiagem”. Bom, concordo com tudo que ela disse, só que acredito que a colocação não foi utilizada no contexto correto. Os óculos de sol são tudo isso mesmo, mas para serem usados na luz, ao ar livre dando um ar de elegância.
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Eu uso por proteção do sol, mesmo!
O que me tranquiliza é que ela, mesmo aderindo ao seu estilo próprio, concorda que não tem cabimento o uso de óculos escuros à noite. Ela confirma o ar sinistro e teatral de que falei antes e ainda fala da ideia de que parece que a pessoa está com conjuntivite. Mas tem algo que compreendo perfeitamente. Os jornalistas de moda, que sentam na primeira fila do desfile, podem usar o tal assessório. Nos desfiles os refletores batem diretamente nas pupilas, o que prejudica a visão, já passei por isso em desfiles, é verdade mesmo. Lentes escuras existem para proteger os olhos da luz forte, seja ela do Sol ou artificial. Ok! Isso está provado e aprovado! Jornalistas de moda em desfiles: pode! Mas só eles! Para esconder olheiras, servir como disfarce, ocultar o choro, fazer charme, permitir a visão, cobrir uma conjuntivite, por puro estilo, para proteger de luz e do vento, com tantas finalidades até o maluco beleza do Raul Seixas encontrou a sua, para “quem não tem colírio, usa óculos escuros”... E você já encontrou a sua? P.S: A finalidade do apresentador de quem falei no início não consegui identificar, até o momento. Se alguém souber avise, por favor. Ainda estou curiosa!
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Papo íntimo
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Papo íntimo O nosso papo de hoje é para chamar a atenção sobre o alcance da moda. A nossa amiga é tão retada que ultrapassou as roupas de cima e alcançou as roupas de baixo. Se falamos de vestuário precisamos incluir as peças íntimas. Então lá vamos nós. Acredito que a primeira a usar foi Eva, lá no paraíso. Vocês já observaram o tamanho da “roupa” que dizem ser a que ela usava? Hoje aquilo seria uma roupa íntima. E que lingerie, hein?! Até porque só mesmo no paraíso poderíamos ficar só de tanguinhas... Mesmo que a história nos conte que até o século XVI nunca nenhuma mulher ou homem tinha usado qualquer coisa por baixo da vestimenta, como mostrou em seu último livro Dinah Pezzolo. Eu imagino a tanga de Eva como uma roupa de baixo, só que vista de cima (risos). Até chegar ao que usamos hoje - calcinhas, sutiãs e cuecas - nossos antepassados experimentaram muitos outros tipos de roupa de baixo, como os coepets, as combinações, o corpinho, as cintas, as ligas, os espartilhos. Sempre com o objetivo de atender às necessidades de cada época. Hoje parece que a necessidade é estar na moda, e as roupas de baixo parece que “entraram nessa onda”. O surgimento da calcinha foi por necessidade, como conta Dinah Pezzolo, o seu aparecimento envol-
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Papo íntimo
veu traição, ciúmes, conquista e poder. Catarina de Médici foi a primeira mulher a usar roupa íntima, na época chamada “calção, para atrair a atenção do seu marido, Henrique II. No século XVIII os calções foram substituídos por “collants” (que significam justos ou agarrados) dos pés à cintura. Mas a graça mesmo começou no século XIX, quando começaram a aparecer as rendas e bordados, e daí em diante a peça só diminuía. E parece não parar mais, dois séculos depois esse “encurtamento” das calcinhas ainda não parou. A moda de hoje alcança as lingeries, e pra elas quanto menor melhor. O bumbum mesmo, coitado, fica todo de fora. Hoje tem modelos de todos os gostos, estampas, transparências, lacinhos... E para acompanhar as calcinhas eis que surge o sutiã. Ô, toda panela tem sua tampa... O primeiro sutiã surgiu no século XX, em 1912, foi o que sobrou do espartilho. Mesmo com a rejeição no início pelo incômodo que causava, o sutiã sobreviveu e, com os anos, também ganhou nova roupagem e importância, Atualmente ele é imprescindível para arrumar qualquer mulher, desde as “despeitadas” até aquelas de “comissão de frente” exageradas. As inovações só aumentaram, e “modas” surgiram. Lembra do sutiã de alça de silicone? Quem não usou ou usa?! E as alcinhas de strass? Ah, tem uma dos últimos três anos, o sutiã colante ou “invísibol”. Aquele que é um silicone que cola no seio, sem alça nem feixe. As alças foram sofrendo mais alterações, todas com o intuito de facilitar o uso de blusas e vestidos decotados e transparentes, sem que as mulheres precisem se preocupar se o sutiã aparece ou não.
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Quem imagina que as cintas-ligas surgiram para incrementar o visual de baixo está enganado. A primeira intenção foi por ordem médica, já que as ligas ajustadas diretamente sobre as pernas causavam problemas de circulação. Só depois o adereço ganhou fetiche: sedução, sensualidade e erotismo passaram
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Papo íntimo
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a envolver a peça, que hoje tem sua função variando com a necessidade ou intenção. Para poucas mulheres é usada exclusivamente para sustentar as meias. Para muitas, por pura provocação. A moda tomou conta do adereço e hoje encontramos de todas as cores, tamanhos e estampas. As figuras de novelas também ajudaram na moda das lingeries, depois de Juliana Paes interpretar Creuza, em América, usando roupas íntimas supersexys para seduzir os homens, foi a vez de Dira Paes. Ela foi a norminha, em Caminho das Índias, e lançou moda com seus sutiãs coloridos aparecendo em suas roupas. E com a moda nas novelas a rua logo se enche de tudo que as personagens usam, e nós mulheres usamos as lingeries sexys da Creuza e algumas pessoas também aderiram à moda de mostrar a pontinha do sutiã nos vestidos e blusas... Para resolver o problema de roupas muito justas ou transparentes surgiram as peças intimas sem costura. Baita invenção, apesar de que para mim, que tenho bumbum grande, a calcinha entra toda! E assim eu entro no que é a última moda na linha de lingeries: a calcinha do “todo enfiado”, é como o nome mesmo diz. Não preciso mais detalhar explicações. Acho até bem sensuais, mas cá pra nós: é bem desconfortável, não? Usar no dia-a-dia é quase um suicídio... é muita agonia! Como tem meninas que ainda usam?! De tudo que já vimos nas roupas de baixo, o que é mais feio são as calcinhas e sutiãs “cor da pele”. Ninguém merece! Os homens detestam, é sem graça, sem glamour, parece de mil novecentos e antigamente, parecem velhas... Se você usa uma dessas, por favor, em nome de todas as suas amigas e de todos os homens, aposente! Ou, pelo menos, nunca deixe elas aparecerem quando você abaixa com aquela calça de cintura bem baixinha. Nem tire a roupa para ninguém se estiver com uma dessas, ok? Assim só as suas inimigas vão gostar. E vão gostar porque vão rir de você!
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Ser enigmático
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Ser enigmático Pedindo licença para aqueles que não acreditam, tenho certeza de que a bolsa feminina é, sim, um ser! E por que não um ser vivo, já que esconde muitas coisas e ainda faz sumir muitas outras? Enigmático, no entanto, você vai entender logo. Garanto que até o final deste texto. Não vou apenas chamá-la de assessório, pois nós mulheres a consideramos como amiga, companheira e imprescindível ao nosso visual e cotidiano. A moda de hoje permite que a gente use todo modelo de bolsa, das minibolsas de mão até aquelas enormes, que nos desequilibram. No mundo fashion esse utensílio se tornou um “toque” especial no traje que você veste. Você pode mudar todo o seu visual se muda a bolsa. Esquecendo um pouco esse lado fútil e fazendo uma viagem histórica vamos aprender um pouco mais da moda como costume. O costume de se usar bolsa. Você sabe onde e como isso começou? Acompanhe. Mesmo não podendo precisar quando, exatamente, surgiram as bolsas, a Wilkipedia contou que a história registrou imagens femininas usando as tais penduradas no braço, e já eram vistas em pinturas rupestres (pintura sem rocha) desde os povos primitivos. Alguns, ainda, consideram o surgimento do apetrecho na Idade Média, quando eram usadas para carregar uma série de implementos indispensáveis
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Ser enigmático
aos hábitos da época. No século V a alforje, nome da bolsa antes de se chamar bolsa, era amarrada em um galho e bastões. Perceba que o uso do acessório era muito mais do que um mero apetrecho fashion, era na verdade uma ferramenta, usada por homens e mulheres para proteger seus pertences mais preciosos – a caça, na época. Imagine se hoje vemos um homem de bolsa? Duvidamos logo de sua sexualidade... Que bobagem a nossa. Às vezes penso que não evoluímos. Continuando... E foi no século XVII que a história começa a relacionar a bolsa ao uso feminino, nessa época as mulheres carregavam suas coisas em bolsos, no entanto era fácil perder seus pertences, então surgiu o Bolso de Livro, o qual era uma espécie de carteira em forma de envelope carregada na mão por mulheres. Olhe bem, a utilidade continua ali firme e forte. E então, está bom não vou mais resistir, vou falar do costume de usar a bolsa aliado moda. Veja só, no século XVIII a moda era marcar as curvas e silhuetas das mulheres, e a bolsa já era um acessório indispensável do vestuário, foi então que surgiu a Bolsa de Mão, ou seja, uma bolsa com alça para mão e do mesmo tecido da roupa que estava vestida. E daí em diante a mistura de formatos, modelos, tamanhos, cores, estampas e utilidades tomaram conta das nossas queridas amigas, as bolsas. E também variações delas para todas as horas. Existem bolsas para a noite, para o dia, para o trabalho, para levar o filho no parquinho, para o carnaval, para o supermercado e mais inúmeras variações que só nós mulheres entendemos e criamos.
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Mas também pudera, o que um homem precisa levar para qualquer lugar? Essa é fácil, a carteira, a chave e o celular. Agora se prepare para a lista das mulheres: carteira, chave, celular, escova de cabelo, batom, lenço, absorvente e mais zilhões de coisinhas indispensáveis. É por isso que criamos os nossos “kits de bolsa”. É comum você encontrar as bolsa femininas divididas em kits, são eles: kit geral, kit beleza,
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Ser enigmático
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kit higiene, kit farmácia e por aí vai. Ah, gente, nunca sabemos quando vamos precisar de uma caneta (kit geral), retocar o blush (kit beleza) ou quando o homem, que nos acompanha, terá uma dor de cabeça ( kit farmácia). Ah, tem umas amigas que têm ainda o kit fé, com santinho, figa e fita do Senhor do Bonfim. Por que não se prevenir?? E quando estamos esperando ser atendidas no médico, ou quando o maridão atrasa, ou ainda quando o filho não para de chorar? Quem nos ajuda? Ela, nossa fiel escudeira bolsa, que sempre tem uma coisinha pra distrair. Uma balinha, uma agenda, um brinquedo do filho... A bolsa invadiu o mundo fashion com novidades a cada estação, de diferentes preços e marcas, de materiais mais evoluídos e de melhor qualidade. Hoje as mulheres não saem de casa sem suas companheiras, cada uma com uma, e sem intenção de emprestar, pois segundo uma pesquisa em São Paulo as mulheres se sentem nuas ou desprevenidas quando estão longe de suas bolsas. Vale tudo na moda de hoje: pequenas, médias e grandes, de lado, tiracolo e de mão. Lisa, estampada e misturada. De couro, de plástico e até as recicladas. Inclusive o mais antigo modelo Chanel, o 2.55, voltou a ser uma das mais cobiçadas, voltou a estar na moda. Ah, vamos falar a verdade, Chanel nunca sai de moda... E não adianta querer saber o que guardamos em nossas queridíssimas e indispensáveis amigas. Nem muito menos dizer que temos muitas e já temos todas. Nada disso, mulheres sempre irão precisar de uma bolsa nova. Os homens deviam voltar a usá-las, quem sabe assim não iam mais deixar por aí seus pertences, ou não iam ficar pedindo pra gente guardar tudo pra eles. É, vocês já perceberam isso? Falam tanto das nossas bolsas que são grandes e sempre pedem pra guardar a carteira ou a chave do carro. E quando são pequenas, ah... É reclamação na certa. Por essas e outras nossas bolsas têm que ser, e são, mesmo, seres enigmáticos.
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Temaki com pimenta, vai?!
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Temaki com pimenta, vai?! No final de dezembro irei receber duas amigas mineiras para passar o fim do ano em Salvador. Então resolvi começar a programar os passeios turísticos que faremos. Que tal se levá-las ao Elevador Lacerda, com uma visita ao Pelourinho antes e ao Mercado Modelo depois? Seguindo o tour, pensei em mostrá-las a Igreja do Bonfim e a Ribeira. Mas não tomaremos sorvete, pois para fechar o passeio com chave de ouro vou levá-las para provar uma boa comida baiana. Adivinha? Temaki! Não, não é acarajé. Se quem está lendo agora não mora em Salvador deve estar achando estranho. “Por que essa louca não vai oferecer o tal acarajé, tão falado na Bahia?!”, deve estar se perguntando. Para quem mora na cidade não deve estar estranhando, nada de surpresas. Sabe, gente, é que o acarajé caiu de moda por aqui, o costume agora é comer temaki. É claro que ainda existem as nossas baianas, mas os tabuleiros estão dividindo espaço com as temaquerias. Antes era comum vermos em cada esquina o acarajé “Da Cida”, “Da Dinha”, “Da
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Temaki com pimenta, vai?!
Sueli” e por aí vai... Agora encontramos letreiros grandes estampando nomes como “Ki-temaki”, “Kero-maki”, “Temaki-in-box”, “Shuchimaki” e haja criatividade e “maki” por aí. Não posso falar de outras cidades, mas aqui em Salvador o temaki virou a programação preferida. Conquistou primeiro os jovens e logo as crianças e adultos aderiam à ideia. Aniversário, encontro com amigos, confraternização de fim de ano, despedidas, boas vindas, paquera, happy hour, tudo virou motivo de comer temaki. Ah, esqueci de contar o que é a tal gostosura. De forma simples, é um grande sushi em forma de cone. São enrolados na tal alga, muito usada na culinária japonesa, preta desidratada e crocante, que para mim parece um papel, chamada Nori com recheio de arroz, legumes, peixes e frutos do mar. Esses são os crus, mas também há os fritos. E com essa enxurrada dos “maxi-sushis” logo surgiram inovações, como os cones doces, preparados com morango, nutela, banana, brigadeiro, sorvete e muitas outras variações. Será que surgirão os temakis com vatapá e caruru? Espero que antes disso a moda passe! Ou logo, logo estaremos pedindo temaki completo com pimenta e tudo! Com menos de dois anos de lançamento em Salvador, a moda que veio do Japão e invadiu metrópoles como Nova York, Londres, Rio de Janeiro e São Paulo, já tem, aproximadamente, 300 temakerias. As casas ficam lotadas desde o início da noite até o fim da madrugada.
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E como não existe hora para comer um delicioso acarajé, também não tem momento certo para a novidade gastronômica. Com a explosão dos temakis, bares e restaurantes passaram a servir a guloseima e contam que eles já substituem os petiscos que acompanhavam os chopes no fim
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Temaki com pimenta, vai?!
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de tarde e os crepes que já tiveram sua época de moda. No Japão os temakis são consumidos como um lanche rápido e barato. No metrô, pelas ruas ou no trem é fácil saborear os sushis populares. A comida tem o seu conceito inspirado em duas características do mundo moderno: a pressa e a necessidade de se comer comida saudável. Criatividade e modernidade são princípios do povo e da cultura japonesa, que ainda tem a fama de ser proprietária de uma culinária saudável. Até eu que nunca tinha comido nada, mas é nada mesmo, cru não resisti e resolvi provar. Para falar a verdade detestei na primeira mordida, achei aquela alga nojenta e tive a sensação que mastigava um papel. Eca! Mas aí me apresentaram a versão frita, e assim caí nas garras do temaki. Me tornei mais uma adepta da moda das temakerias e também marco meus encontros e reunioesinha por lá. O preço baixo, a grande oferta e o fácil alcance foram fatores que fizeram disseminar rapidamente a cultura de se comer temaki. Não sei se em Minas a moda já pegou, de qualquer maneira, farei questão de apresentar às minhas amigas, pelo menos, uma temakeria baiana. E, claro, não vou esquecer de saborear deliciosos acarajés, moquecas e cocadas com as mineirinhas. Uai! Farei isso antes que as moquecas comecem a serem servidas cruas e em “folha” de Nori ou que os temakis ganhem uma boa pimenta baiana para incrementar.
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Urubu num velório
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Urubu num velório Hoje resolvi mudar. Mudar de roupa. Parece banal... Ah, já sei o que você está pensando... Tudo bem, também troco de roupa todo dia, e mais de uma vez por dia. Vou ser mais precisa, mudei o meu estilo. Não, não virei hippie. Mas usei uma roupa que nunca tinha usado antes. Um vestido longo! Nunca fui muito de usar vestidos, mas a moda pediu. Então experimentei uns, gostei e hoje já são peças certas no meu guarda-roupa. Mas sempre eles são curtos, adoro mostrar minhas pernas, tenho que aproveitar enquanto posso. Daí a moda surge insistindo para usarmos vestidos longos. E olha que loucura: no verão. No último verão os vestidos, que foram moda nos anos 70, chegaram com tudo. Eu dizia: “ai meu deus, deve fazer um calor... é muito pano”. E não usei. Resisti até onde pude. Sempre achei lindíssimo, mas sentia calor só em olhar outra pessoa vestida. Paquerava um modelo fazia tempo, pensava: “um dia vou usar esse vestido”. E o dia foi hoje.
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Urubu num velório
Completando a “inovação”, ele é todo preto! É tão difícil eu usar preto e, mais raro ainda, quase impossível vestir uma cor só. Mas usei, usei e arrebentei. Fiquei até pensando se dei uma “bola fora”, pois o mais indicado é usar vestidos estampados durante o dia, principalmente se forem longos, mas não, o preto está também super em alta e reinará no verão 2009. Digo mais uma vez: usei e arrebentei! Primeiro porque me senti bem. E acredito que de nada vale a moda se você não estiver bem consigo mesmo. Depois porque todo mundo comentou, e como ninguém é de ferro, eu muito menos, adoro ser elogiada e que reparem na minha roupa. É um jeito de mostrar que prestam atenção na gente. Que contraditório eu usando longo preto em pleno verão. Ah, mas está na moda, sabia?! O preto vem do inverno e continua no verão, e os fashionistas dizem “seja inteligente, aproveite o que você pode usar em várias estações”. Olhe eu aqui!! É como eu vi o Paulo Borges, diretor e criador do São Paulo Fashion Week, dizer numa entrevista: “ninguém mais compra uma roupa porque é verão ou inverno. Compra porque é uma ideia nova, uma imagem nova. Até porque, com a atual confusão de climas que o planeta está vivendo, não se pode saber se vai fazer frio ou calor no dia seguinte, imagine nos meses que seguem”. Assim estava completamente certa, inclusive por usar uma ideia nova. Nova pra mim mesmo!
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No verão vale usar longo de todo tipo, lisos ou estampados, florais são ótima pedida. Para as noites com brisa de verão um bolerinho combina bem. O fato é que os longos de hoje são bem maus despojados que os de antigamente, e por isso não só de noite, mas também de dia, eles podem ser requisitados. São leves ,e assim ganham
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Urubu num velório
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indicação para o dia. E como dizem os fashionistas por aí: “uma delícia: livre, leve e solto”, identificados como representantes do novo minimolismo. E tudo isso é como o meu vestidinho longo é: simples, básico, prático e folgado. A cara do verão. Assim o vestido longo é totalmente sem contra indicação. No trabalho um engraçadinho até disse: “vai para um velório, é?”, pensando ele que ia me abalar... Que nada, o fofo não sabia que antes dele chegar outro colega havia comentado: ”uau, adorei o novo estilo, está linda!”. Depois disso até a Joyce Pascowitch podia dizer que eu estava brega ou desapropriada. Ainda ganhei comentário na faculdade, minha professora exclamou: “você está muito bonita hoje! Tem algo novo! Ah, é o vestido, está maravilhoso!” Até podia mesmo estar parecendo um urubu num velório, mas quer saber... estava me sentindo tão bem. Até mais magra me senti... Veja só?! Vestidos longos nos alongam mesmo, dizem especialistas. Baixinhas, vocês não só podem como devem usá-los! Agora preciso contar o melhor do dia, do vestido, da história enfim. Claro que gostaria de dizer: ”vou usar meu pretinho básico diversas vezes a partir de hoje”, mas não posso! Quando eu saia do carro, no fim do dia, exuberante, desfilando o meu mais novo estilo, o longo vestido preto prendeu na porta e rasgou um enorme pedaço da saia. Não. Antes que eu consiga ouvir as gargalhadas de vocês, eu não fiquei pelada, minha calcinha não apareceu. Mas o meu vestido rasgou! Será que meu estilo é mesmo mostrar as pernas?
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Queria ser uma centopéia
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Queria ser uma centopéia Eu queria ser uma centopéia. Só para ter muitos pés e poder usar vários pares de sapatos ao mesmo tempo. Como eu gosto de sapatos. Acho que é trauma de infância. Quando era pequena só usava tênis, nem sei por que. Aliás, sei, porque eu gostava. Minha mãe insistia para eu usar sandalhinhas, tamancos, mas eu só gostava de usar tênis. Então tinha dois diferentes: um para ir à escola e outro para sair (ir a aniversários, shoppings, passear). As raras vezes que usei sandália aberta tinha que colocar meias, olha que breguice. Mas com 11 ou 12 anos isso mudou. Acho que via minha mãe comprar tantos sapatos que gostei da idéia. E aí passei a usar todos os tipos e modelos. E olhe que o mercado estava lotado de opções. No início da minha adolescência a moda era usar Melissa. Ah, como eu adorava... Era tão viciada que até o cheiro me fascinava. Lembrando agora chego a sentir o cheirinho de plástico no ar. Que grande invenção foram os sapatos, imagina nós andando nas ruas sujas, no sol quente ou na neve, com vidro, no asfalto descalças?! Íamos
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Queria ser uma centopéia
sofrer bem mais do que com os nossos saltos altíssimos. Os calçados, sem dúvida, nasceram da necessidade do homem em proteger os pés. A historiadora Ida Helena Thon conta em seus escritos que o primeiro sapato surgiu na Mesopotâmia, era confeccionado com fibras vegetais e couro. Naquela época nem todos podiam usar sapatos, eles eram exclusivos dos soberanos. Guardadas as devidas proporções hoje isso ainda acontece, quantos meninos e meninas descalços vemos nas sinaleiras brasileiras? E isso acontece por todo o mundo, mesmo que não em sinais, mas espalhados pelas ruas. Os sapatos ainda são sinal de luxo, mesmo que tão necessários. Vejo minha sapateira recheada de lindos pares de sapatos de todos os tipos, mas será que sempre foram assim? Quem inventou as diferentes numerações? E a diferença de um pé para o outro? É claro que nada começa assim tão perfeito, até porque sempre estaremos criando novas formas de torná-los ainda melhores. A primeira fábrica de sapatos surgiu em 1720 no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos. E foi na Idade Média, na Inglaterra, que o rei Eduardo I uniformizou as medidas, originando, assim, a numeração dos sapatos. Já os pés foram diferenciados em direito e esquerdo entre 1801 e 1822, na Filadélfia. Devia ser difícil calçar os dois pés iguais, hein?! Quando eu troco, sem querer, um com o outro já acho estranho... Bom, essas coisas eu sei por que andei pesquisando nos relatos da historiadora já mencionada.
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Histórias de sapatos todo mundo tem. Eu mesma, quando me imaginava como cinderela, pensava no meu sapatinho de cristal como um tênis de cristal (risos). Lembra que eu só usava tênis quando criança?! Detalhe: era tênis Bical, então surgia na minha cabecinha de vento tênis Bical de cristal! Até rimava... Ah, tenho outra historia, quer dizer,
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Queria ser uma centopéia
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essa não, é bem minha, não, mas faço parte. É que uma das minhas amigas tem um sapatinho que parece com o da Dorothy, do Mágico de Oz. Na primeira vez que ela usou o sapato tudo deu certo na nossa noite. Então durante muito tempo, toda vez que saíamos para uma balada ela dizia: “fiquem tranquilas, meninas, vou usar o meu “Dorothy” e qualquer coisa é só bater os sapatinhos que, num passe de mágica, tudo se resolve”. E assim ela não se desgruda do tal sapatinho de Dorothy. E quem nunca teve um sapato que machucou? Ou que quebrou no meio da rua? Quem nunca saiu nas ruas de pés trocados? Ah, podia passar horas aqui contando mil histórias de cada uma dessas situações. Tenho todas elas. Outra coisa que eu faço também é se eu gosto do sapato compro mais de um do mesmo modelo, tento mudar a cor, mas se não tiver vai da mesma cor mesmo, vai que eu não acho um que calce tão bem?! Os pés podem ser muito sedutores. Existem culturas em que o pé é algo tão sagrado que não se deve mostrá-lo, principalmente as mulheres. Na China, a beleza e a virtude da mulher estavam vinculadas ao tamanho de seus pés, que tinham que se assemelhar ao tamanho de uma pequena “flor de lótus”. Então, durante muito tempo, uma tradição de deformação dos pés reinou no país e as mulheres chinesas eram obrigadas a deformar os seus pés, num ritual que os quebravam, amarravam e colocavam os pequenos pés em sapatos ainda menores. Ainda bem que isso já não acontece mais... A moda sempre traz inovações para os nossos protetores dos pés, atiçadores da imaginação masculina e apoio para todo o corpo humano, dessa vez o conforto falou mais alto e as rasteirinhas estão com tudo. Claro que os saltos nunca caem de moda, mas já é permitido o uso de uma
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Queria ser uma centopéia
sandália sem salto sem perder a classe. Sapatos estão tão na moda que até as simples sandálias havaianas, sandálias de dedos antes usadas apenas para ir à praia ou ficar em casa, já estão por aí nas ruas. Alguns dizem que é por conta da garantia de durabilidade, mas acredito ser por beleza também. E já são até motivo de coleção, são moda e todo mundo usa! Ninguém pode negar! Existe até o Museu Nacional dos Calçados, no Rio Grande do Sul. O lugar mantém uma exposição permanente e ainda organiza atividades culturais ligadas ao design de calçado e da moda. Gente, sapato também é cultura. No local podemos realizar uma verdadeira pesquisa histórica e ainda encontrar uma variada coleção de modelos diferentes e inusitados. Bom, infelizmente ainda não visitei o lugar, mas vi umas fotos lindíssimas. Parece que vale a pena conferir. Alpercatas, babouche, botas – canos curto, médio, longo, western -, botinas, chanel, chinelos, coturnos, escarpin, gladiador, havaianas, keds, mocassins, mule, oxford, plataforma, rasteirinhas, salto agulha, salto alto, salto anabela, sapatilha, tamanco, tênis. Ufa! São tantos tipos diferentes que quase é preciso de um dicionário para saber identificar cada um deles. Usar cada tipo na ocasião e com a roupa certa é uma verdadeira arte feminina, e masculina também, porque homens, apesar de mais básicos, também adoram sapatos. Espero que eu sempre acerte. De qualquer modo vou continuar pedindo para na próxima encarnação voltar de centopéia, quem sabe assim não posso calçar meus inúmeros sapatos de uma só vez e não gasto tanto tempo escolhendo o que usar?!
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Os três R’s
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Os três R’s Você já pensou em dar ao seu filho papinhas sustentáveis? E ter uma roupa confeccionada com cintos de segurança? E quem sabe ter um “Greenjob”(empregos-verdes, ou seja, que de alguma forma contribuem para a sustentabilidade ambiental, economica e social)? É eco de cá, eco de lá... Está todo mundo na “onda” do sustentável, ô palavrinha que caiu na boca do povo e logo virou costume. Está na moda ser sustentável, mesmo até que você nem saiba o que é, o importante é ser, ou, pelo menos, mostrar às pessoas que é. O que todos sabem é que ser sustentável é se preocupar com a natureza, mas será que isso é tudo? Ser sustentável é, de forma simplificada, suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas. Esse conceito se aplica a todos os aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana. Pensando dessa forma entende-se porque a moda agora é ser sustentável. E o costume invadiu ambientes de trabalho, de lazer e a nossa casa. O ecodesenvolvimen,to ecoa, hoje, por todos os cantos. E mesmo que grande parte das pessoas
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Os três R’s
não saiba nem o porque de todo esse movimento, está lá pensando que ajunda no processo. Você já viu empresas que usam, por exemplo, papel reciclado? Mas o que adianta, se continuam com o uso excessivo das folhinhas?! O que adianta ter uma empresa sustentável se o seu dono não executa a ideia na sua própria casa?! Como educar seus funcionários dessa forma?! Acho engraçado e até ridículo como as pessoas “forçam a barra” para algo.Que me desculpem os ambientalistas, não passa de hipocrisia. Outro dia pesquisava em um supersite do assunto sobre dicas de ajuda ao meio ambiente, entre tantas dicas interessantes. achei cômicas certas colocaçoes. Imagine você que uma delas dizia mais ou menos assim: tire o sapato antes de entrar em casa, pois assim você evita que a sujeira entre lhe acompanhando e, consequentemente, evita o uso desnecessário de aparelhos eletrodomésticos e materiais de limpeza. Acho brilhante o ato de não entrar em casa de sapatos, isso eu até faço, mas é loucura acreditar que fazemos isso com a intenção de economizar energia. Então é melhor não limpar mais a casa, só para não correr o risco de estragar com o meio ambiente... Você sabia que voos com escala não são sustentáveis? Eles emitem duas vezes mais carbono na atmosfera do que os voos diretos. Logo vão aparecer propagandas das companhias aéreas: “voe verde, faça voo direto”. Há muito tempo que apenas reciclar não satisfaz o costume do sustentável. É preciso atitudes diárias, é preciso respirar a sustentabilidade para transbordar vida amanhã.
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Eu concordo com a ideia de defender o verde, cuidar do planeta hoje para ele ainda existir amanhã, mas tudo tem limite, a última de hoje foi “designer cria molde para talheres comestíveis”, tudo isso para não usarmos mais talheres de plásti-
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co. Até acho uma boa idéia, eu que sou comilona ia adorar comer até os talheres. Mas será que vai dar certo?! Será que as pessoas pensarão estar economizando o meio ambiente ou que surgiu uma deliciosa inovação na culinária?! As minhas dúvidas são quanto ao consumo e sustentabilidade consciente. O que adianta encher as escolas de lixeiras recicláveis se ninguém ensina às crianças nem a diferença de lixo orgânico e reciclável? O que adianta você sair por aí com camisetas estampando as três setinhas símbolo da reciclagem, se em casa você nem separa as garrafas pets para a coleta seletiva? E olhe que garrafa pet é o material básico, praticamente foi ela que deu início ao movimento... As campeãs de sustentabilidade são as sacolinhas plásticas, ou melhor, o abandono do seu uso e a inserção das sacolas sustentáveis no nosso diaa-dia. As novas bolsas de lona passaram a exibir frases que deixam claro que não são de plásticos. A designer Anya Hindmarch foi a primeira a lançar, em parceria com a ONG We are what we do (Nós somos o que fazemos) em 2007, uma bolsa que era mais um cartaz do que um “saco” para guardar coisas, a estampa trazia a frase I’m not a plastic bag (Eu não sou uma sacola de plástico). Depois dessa primeira iniciativa choveram imitações das sacolas sustentáveis. Nessa hora me pergunto, mais uma vez, será que as pessoas acreditam que só em comprar a bolsa já estão ajudando o planeta? Ah, não. Esqueceram de dizer a esse mundo de gente que só quer entrar na moda que ter a bolsa entre as inúmeras que tem no armário não ajuda verde nenhum! As sacolas são para substituir o uso das sacolas plásticas quando você sai do supermercado, loja, leva alguma coisa pra qualquer lugar ou para um amigo. E não são para fazer parte de um look.
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Os três R’s
Quem quiser, realmente, ser sustentável tem que pensar nos três R’s: reduzir, reutilizar e reciclar. Apenas juntos eles fazem o seu esforço valer a pena. Acho o máximo essa onda de atitudes ambientais, mas elas nada valem se não forem realizadas com consciência. Não se pode promover e passar adiante uma ideia que não se sabe de onde veio, nem o que é. Apoio a luta a favor do verde, e a favor do dia de amanhã. Mas com limites. Excesso, o nome já diz, não é saudável. Entre na moda de forma inteligente e com conhecimento. Compre produtos com refil, recicle seu jornal, desligue o chuveiro na hora de ensaboar, retire o carregador da tomada, imprima no modo “rápido” ou “rascunho”. São ações simples e diárias que fazem você ter o costume sustentável e não fazer parte apenas da moda pura e simplesmente. Reduza, reutilize e recicle o que você puder!
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Trajes noturnos
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Trajes noturnos Tem gente que dorme pelada, tem gente que dorme de calcinha ou de cueca, eu gosto de roupa de dormir. Se inventaram uma roupa própria para o solene ato de deitar, fechar os olhos, relaxar e sonhar, por que não usá-la?! Eu faço muito gosto, adoro uma camisolinha ou um baby-doll bem quentinho, faço tanto gosto que, se dependesse de mim, no momento em que entrasse em casa eu colocaria minha confortável roupa de dormir. Mas tem meu pai, que vive reclamando das janelas, de uma visita que pode chegar a qualquer momento. Poxa, estou na minha casa! O que seria de nós se não tivesse surgido a roupa de dormir? Aí de mim, eu nem sei o que imaginar. Eu simplesmente amo vestir o “pijama”, como é chamado. Imagina: chego em casa, tomo um banho e visto o meu pijama, levinho, macio, fresquinho se tiver calor e quentinho se estiver frio. É verdade. Você nunca reparou que as roupas de dormir se adaptam ao clima? Se os bons costumes, e meu pai, permitissem eu saía na rua com os meus... O costume de usar uma roupa “especial” para dormir surgiu no século XVI. Segundo Dinnah
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Trajes noturnos
Pezzolo, as chamadas “camisas de noite” ou “camisas para dormir” apareceram para substituir os trajes diurnos apertados e incômodos da época. Assim as roupas para dormir eram largas, confortáveis e chegavam até os pés. Naquela época, usadas por homens e mulheres, a única diferença eram possíveis bordados nas femininas. No século XVIII nasceu uma real diferença nas peças para homens e mulheres, elas agora usavam o “negligé”, uma peça ajustada, com recorte e plissados, geralmente de seda. E mais na frente, em 1920, homens vestiam pijamas – calças e camisas de botão bem folgados - e as mulheres algo intermediário entre as camisas de dormir e o negligé, surgia a camisola. Daí em diante a moda tomou conta de transformar as peças de dormir. Hoje sabemos que muita coisa mudou. A moda tomou partido dos modelos noturnos e, como sempre, inovou. Até peças bem justinhas e que desenham o corpo surgiram, contrariando a primeira ideia das roupas para dormir. Variações como o baby-doll já fazem parte do guarda-roupa e da cama feminina. Os homens também não ficaram por baixo, abandonaram as camisas e calças compridas e muitos dormem apenas com um short, conhecido como “cueca samba canção”. Como a moda faz milagres, ela facilmente transformou o costume de usar uma roupa para dormir em mais um modelito para você se sentir bem, bonita (o) e conquistar quem está ao seu lado, todas as noites. E assim modelos de renda, tecidos macios e brilhantes, transparentes, cores diversas, estampas, enfim você pode fazer o seu look até mesmo na hora de dormir. Então, escolha ao seu gosto e de quem você quer conquistar.
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Alguns designers defendem que suas roupas de dormir são tão modernas, bonitas e chiques que
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Trajes noturnos
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parecem com roupas de sair na rua. A modernidade trouxe a necessidade de pijamas e camisolas servirem como roupas para ficar em casa, sem perder a elegância, tudo pelo conforto. Ai se meu pai ouvisse isso... As indústrias oferecem modelos arrojados, que se adequam ao seu gosto e necessidade, com qualidade e que acompanhe as tendências da moda. As marcas garantem que investem em beleza, qualidade, design moderno, mas nunca esquecem do conforto. Pois, apesar de tantas inovações, o gostoso mesmo é estar confortável na hora de relaxar na cama. Eu me sinto tão bem com as minhas roupas de dormir que pra mim é como se eu estivesse pelada, em relação ao conforto. E me sinto tão bem vestida que não me importaria se qualquer pessoa me visse com uma delas, até mesmo meu príncipe encantado, é isso que meu pai não entende. Eu tenho tantos, de tantos modelos, cores e estampas, para todas as ocasiões: frio, calor, noite sensual, casa de amiga, viagem em família, até uma para uma possível (e que não aconteça tão cedo) recuperação em hospital, enfim, tenho tantas que às vezes quando estou me preparando para dormir me faço a célebre pergunta: com que roupa eu vou? Acredita?
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A moda é ser você!
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A moda é ser você! Certa vez conheci uma menina com pouco mais de treze anos. A mocinha era bonita, tinha cabelos longos, olhos claros e era muito magra. Até então não tinha me dado conta do problema. Parecia tudo muito normal, era uma menina jovem e linda que não me chamava a atenção por nenhum motivo, apenas conversamos no salão de beleza. Muitas pessoas hoje em dia, seguem um único padrão de beleza. Era um dia de sol forte e ela, muito branquinha, saiu com chapéu bem grande e me disse que a pele dela não poderia ser exposta àquele “stress”, como ela mesmo falou, de forma alguma. Na hora não entendi, mas hoje sei os reais motivos para aquela atitude. Após quinze dias voltei ao meu cabeleileiro e olha só: encontrei a menina outra vez. Puxei um assunto. Resolvi falar do meu assunto favorito, comida. Então percebi que os sintomas se agravaram. Quanto mais eu falava de pratos e sobremesas e coisas gostosas, o desconforto dela
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aumentava. Até que ela pediu: - Por favor, pare de falar desse assunto. Odeio falar de comida... Me dá vontade de vomitar! - Desculpe. – Foi tudo que consegui dizer. Meu Deus, naquele momento foi como se ela tivesse me jogado um balde de água fria. Eu não queria falar mais nada. Fiquei ali pensando por que ela tinha aquele horror a comida. Será que estaria grávida? Não, não... Era muito nova, muito magra... Parada ali, olhando aquela menina muito alta, supermagra, de pele branquinha e tão lisa quanto um pêssego, cuidando da beleza e com horror a comida, matei a charada! A menina com quem eu conversava era uma modelo, com uma provável anorexia ou bulimia. Mesmo que desde 1998 a Organização Mundial de Saúde (OMS) tenha recomendado a utilização do IMC – Índice de Massa Corporal – para saber se uma modelo está apta ou não a desfilar, assim elas precisam ter seu índice dentro de uma média estabelecida, muitas jovens arriscam suas vidas com dietas e práticas irregulares para estar magras. É lastimável. Outro dia ouvi dizer que o Brasil não é somente o país do futebol, mas é também o país da cirurgia plástica. Dá para entender que um país de tantas diversidades - cultural, racial, musical etc. - tem um padrão coletivo de beleza? Não, não posso entender! As pessoas mudam seus corpos para se tornarem parecidas com outra pessoa, normalmente as que aparecem na TV, e com isso têm absoluta certeza de que podem se TRANSFORMAR em outro por causa de um corpo. Que horror!
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Enquanto pensava no ser humano tão fútil em que estamos nos tornando, tentava encontrar o real motivo para sermos tão submissos à ditadura da moda, vi então que uma outra mulher me chamou a atenção. Dessa vez não era mais uma
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menina, e também não era tão magra, ao contrário, estava bem acima do peso, mas também estava usando uma minissaia que tinha um coes bem baixinho. Ela estava de barriga de fora, estava feio e com certeza ela sabia disso, pois não parava de puxar o “topizinho”, para baixo e colocar a bolsa para esconder o “cofrinho”. As pessoas se expõem ao ridículo para estar na moda? Sim, e chegam a ser figuras engraçadas, como essa que vi. Essa exposição é, na verdade, a vontade de estar na moda, onde somente os magros e com um padrão de beleza são valorizados. Para que estereotipar o ser humano? Que coisa antiga! Não cheguei a essa observação sozinha, estudiosos, como Renata Pitombo, também acreditam que “para ter um corpo que corresponda ao modelo imposto pela moda as mulheres sofrem de tal modo que seria até mesmo difícil exprimir, e o pior é que o sentimento de sofrimento é completamente incorporado, adotado sem remorso algum, sobre o pretexto e necessidade compulsória de estar na moda. E se elas colocam sua própria saúde em jogo é por um único objetivo, aquele de agradar, de seduzir do outro e, em muitos casos, a si mesma”. Voltei pra casa com o assunto me consumindo. Até que parei em frente ao espelho do meu quarto, que susto, que decepção. O que eu estava vendo ali era a pura imagem de tudo que tinha pensado durante o caminho. Encontrei em mim mesmo os cabelos da Gisele Bundchen, o mesmo tamanho da prótese de silicone que Danielle Winits colocou, meu bumbum era tão empinado quanto o da Juliana Paes e o meu vestido, para completar, era igual ao que Angélica desfilou no último São Paulo Fashion
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Week. Senti uma enorme vergonha de também ser uma seguidora dos padrões, e usar tudo aquilo muito mais para aparecer bem na sociedade do que por vontade própria. Então tive vontade de ir ao salão para voltar aos meus cabelos originais e de tirar a minha prótese. Não. E se meu marido não gostasse? Daí pensei em trocar todo o meu guarda-roupa, ah não! Isso não! Dessa vez minhas amigas não me perdoariam...
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O souvenir virou moda
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O souvenir virou moda Ai gente, queria inventar uma moda. A moda do souvenir! É que sou tarada numa lembrancinha de lugares. Tipo assim imã, chaveirinho, caneta, lápis, mas não dá para sair por aí usando um desses como roupa e assessório... Sempre adorei viajar e trazer algo que me fizesse lembrar do local. E também sempre que viajamos um amigo, parente, enfim, é comum alguém pedir: “traz uma lembrancinha pra mim?”. E a gente faz de tudo pra chegar do lugar com um monte de coisinhas, nem vou dizer inúteis, mas que ficam lá na estante se enchendo de poeira. Para quem não sabe o significado, um souvenir é um objeto que resgata memórias que estão relacionadas ao destino turístico. Tem até uma explicação psicológica para isto, por exemplo, se um viajante compra um suvenir nas férias, ele irá associar muito provavelmente o suvenir às suas férias. Recordará desse momento especial cada vez que o olhar. Os turistas compram os suvenires como presentes para pessoas queridas. Este fato é comum em muitas
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culturas. Em Camarões, por exemplo, a idéia é que alguém que pode permitir-se viajar pode também permitir-se trazer algo para os que não podem, e assim eles compartilham culturas e experiências dessas viagens. Imagina poder permitir um monte de gente na rua lembrar ou ter curiosidade em conhecer um pouco de tantos lugares possíveis?! Toda vez que visito uma cidade fico observando o que vou levar de lembrancinhas (risos). Ah, eu gosto ué! Não pode?! Quem nunca visitou um ponto turístico e na porta não comprou um bibelô na barraquinha de souvenirs?! Estava assistindo uma novela, Viver a Vida, e tinha umas modelos viajando a trabalho, então foram fazer um tour pelo lugar em que estavam, a Jordânia, e olha lá elas comprando souvenirs! Observando essa cena passou uma louca idéia na minha cabeça: “poxa, por que não inventar a moda de usar souvenir? Ia ter muito mais sentido viajar e se acabar comprando lembrancinhas...”. Agora que estou escrevendo me vem à cabeça que, na verdade, essa moda já até existe. Só não é, assim, assumida. Explícita. Tipo: está na moda usar souvenir! Aí já é loucura da minha cabeça, não?! Mas veja bem, quando se tem 15 anos qual é a moda? Eu respondo: viajar para a Disney e trazer, entre os mil ursinhos de pelúcia, um casaco de uma das personagens, ou das marcas Planet Hollywood ou Hard Hock Café. E quando você chega de volta tem que ir para a escola usando. Pode estar o maior calor, mas você está lá com o tal casaco e na testa estampado: EU FUI À DISNEY! Não posso dizer que é moda usar souvenir?! Posso, sim, moda é costume!
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Quando entramos na faculdade o comum é você fazer intercâmbio, e aí quando volta... Lá vem você usando camisa, boné, mochila com o nome da marca e em baixo o nome da cidade em que você morou. Assim: “GAP, London” ou “ADIDAS, Madrid”.
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O souvenir virou moda
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E olhe a moda mais uma vez... Na Europa tem lembrancinhas legais e bem características. Pelo menos as mulheres, toda vez que visitam qualquer cidade européia, trazem uma nécessaire, bolsa, sombrinha ou lenço em que a estampa é o nome do lugar várias vezes. E aí vemos em toda parte mulheres usando os tais souvenirs. Afinal, tudo que tem o nome, uma imagem de um lugar, é considerado souvenir. Quem viaja pelo Brasil, principalmente no Nordeste, encontra como lembrancinhas camisetas de malha, bolsas ou bonés com frases típicas como “Estive em Recife e não me esqueci de você!”, ou uma clássica: “Alguém que me ama muito foi à Bahia e lembrou de mim...”, e por aí vai... Mas esses souvenirs “mixurucas” ninguém quer usar na rua, só na praia ou em casa, e olhe lá... Só porque é brasileiro. Ô povinho besta! Quando a minha “moda do souvenir” estiver nas passarelas e depois nas ruas isso vai acabar! Infelizmente a moda dos souvenirs ainda não chegou às passarelas. E como, normalmente, esperamos as lindas modelos para depois nós, pobres mortais, usarmos, eu escolhi outro souvenir para ser motivo de consumo, coleciono copinhos de “shoot”, ou de tequila, se preferirem. Para ficar mais popular, copinho de pinga, mesmo. Mas continuo defendendo: quero uma moda de usar lembrancinhas de viagens, os souvenirs! Ah, gente! Quase que esqueço. Antes de terminar, queria lembrar: prestem atenção no tipo de lembrancinha, que eu estou me referindo, é de viagem, apenas. Não vem para cá com camisa de congresso, show, propaganda política... Nada disso, hein?! Essas não valem! Agora sim: continuo defendendo que quero a moda de usar lembrancinhas de VIAGEM, os souvenirs!!
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CONCEITOS
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Segunda pele
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Segunda pele Você já parou para pensar que é a roupa a camada de proteção que usamos a fim de proteger algo nosso que não queremos mostrar a todo momento? É exatamente o que certa vez li em um livro de Renata Pitombo, “a roupa é como uma segunda pele”. Traduz-se, então, segundo o Aurélio, roupa como: “Membrana que reveste exteriormente o corpo humano, bem como o da maioria dos animais; epiderme; coura; casca”. E ainda de forma mais profunda lembro-me de estudos dos franceses, Jean Maisonneuve e Marilou Brouchin-Schweitzer, que dizem que a maneira de se vestir constituiria para cada sujeito a solução de um compromisso: exprimir às vezes o que se queria ser (imagem ideal de si) e o que se crer ser (imagem de si). É como se tivéssemos a primeira intenção de vestir-se por pura e simples funcionalidade de proteção, assim como fizeram os primeiros que se vestiram, lá na Idade Média, e não precisa de maiores explicações. Pensando no que a roupa esconde, e qual seria a resposta imediata se perguntássemos nas ruas para que se vestir, a indumentária esconde o corpo. Ela é um instru-
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A Crônica Está na Moda
Segunda pele
mento do pudor. Se já foi difícil controlar Adão e Eva no paraíso, imagina controlar os bilhões de habitantes espalhados no planeta Terra?! Idealize você, agora, lendo um jornal no escritório peladão e sua secretária peladona também. Você estaria à vontade? Concretizadas duas funcionalidades do uso de uma segunda pele, partimos para o que seria inútil à primeira vista, mas que hoje talvez seja o mais discutido, a roupa como ornamentação. Nos acostumamos a usar panos nos cobrindo, então raramente discutimos as suas funções primordiais. Nossa preocupação é usar o que está na moda, o que fica bem no nosso corpo, o que gostamos ou o que nos sentimos bem usando. Como extensão do corpo, a vestimenta expressa o que você quer mostrar para as pessoas. O que você quer mostrar de si ou o que não quer deixar que as pessoas vejam. A roupa é o que você é, e não há dúvidas nisso. Se a pele protege os demais órgãos e partes do corpo humano, a roupa é a única capaz de esconder a pele e assim todo o corpo. Repare que existe roupa para todo tipo de situação, desde vestimentas que protegem o corpo de possíveis intempéries de trabalho até aquelas que expõem e, assim, seduzem numa festa. A roupa é a nossa maior aliada, ela é a única parte do nosso corpo que realmente podemos escolher. Pode ser do nosso gosto. Pode esconder e pode mostrar. Se você tem vergonha do seu corpo se cobre com o tanto de peças que quiser, se você se acha gostosão ou gostosona exibe roupas justas, curtas e o quanto menos melhor.
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A roupa pode esconder uma cicatriz indesejada, uma tatuagem de adolescência, uma excitação fora de hora, mas pode mostrar o silicone recém- apli-
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Segunda pele
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cado, uma coxa torneada, uma gordurinha fofa e sensual. Entende porque pousar nua em revistas, filmes, televisão é enorme exposição? Quando se está nú, fica-se vulnerável e desprotegido. Os olhos dos outros invadem você como se estivessem entrando em seu corpo. A sua camada de proteção foi tirada de você, imagina você sem pele? Estaria submetido a infecções, sujeira, invasão de corpo estranho, a mesma coisa acontece quando tiramos a nossa segunda pele, a roupa. Você consegue pensar, por exemplo, em passear no shopping pelado e na hora de lanchar sentar em uma cadeira da praça de alimentação? E encontrar o marido da sua melhor amiga peladão no supermercado? Seriam situações engraçadas, mas só permitidas em ambientes propícios como praias de nudismo e naturalismo, ou então seria “atentado ao pudor”, como diz a lei. A roupa é como você se apresenta, como você quer ser visto, e é por isso que existem tantas opções, porque cada um é do seu jeito, tem o seu gosto. Se não fosse por isso usaríamos todos fardas, para qualquer lugar, em todos os lugares do mundo e em todos os momentos do dia. Já dizia Che Guevara “a farda modela o corpo e atrofia a mente”, para que melhor explicação para a existência da moda como vestimenta?! Enfim, entende-se a moda como uma representação do corpo, para Renata Pitombo um exercício de interpretação do corpo. E ainda uma ligação entre corpo e sociedade como funcionalidade para o fenômeno moda.
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Precisamos da moda. E você, sabe disso?!
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Precisamos da moda. E você, sabe disso?! Sempre que falamos a palavra “moda”, atribuímos a ela significados fúteis, desinteressantes e, porque não dizer, preconceituosos. Mas essa idéia vinga na sociedade por que pessoas pensam em moda apenas como a maneira de se vestir. Foi na tentativa de tirar essa ideia do público que na última semana a SIM – Semana Iguatemi de Moda – transformou os seus desfiles de moda anual em um evento rico em idéias e valores, culturalmente falando. Para isso trouxe para o público exposições de arte, lançamentos de produtos, filmes e revistas. Moda transcende um único significado. É só pedir socorro ao dicionário que logo encontramos que a moda é o modo, a maneira com que cada um faz as coisas, é vontade, é costume ou usos que prevalecem por determinado período de tempo e variam segundo o gosto de cada um. A moda é, também, a arte do vestuário dotada no último estilo.
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Com tantos significados cabe-nos discuti-los e entender, concordar ou discordar a questão levantada, o que deve ter sido a intenção do evento que, talvez, esteja inaugurando um novo estilo para a nossa cidade. Primeiro: talvez você nunca tenha parado para pensar em moda como costume. Posso contar um fato vivido por mim. Recentemente estive na Europa e observei que era costume das pessoas passearem com seus cães em supermercados, aeroportos, bares e shopping centers. De maneira muito comum, os animais se comportavam como verdadeiros acompanhantes de seus donos, raramente se ouvia um latido ou coisa parecida. Meses depois, no Brasil, me deparei em um shopping center com um cão dentro de uma sacola no ombro da sua dona, pessoas olhavam em volta e uma única frase saía das suas bocas: “Isso vai virar moda!”. E pode-se dizer que o costume, o uso, já está se tornando comum por aqui. O comércio já vende “sacolinhas” incrementadas para a nova moda. Segundo: a moda como peça do vestuário vai muito mais longe do que modelos desfilando em passarelas. As roupas e acessórios usados em determinada época contam histórias. Com certeza quem usava o traje exigido pelo talibã, durante seu regime no Afeganistão, não acreditava que ele era bonito, confortável, nem usava por vontade própria. Mas hoje, depois que o regime acabou, afegãos continuam a usar aquelas roupas que transpiram a influência do talibã em seus tecidos. Como relata a jornalista Asne Seierstard em seu livro “O Livreiro de Cabul”. Fora de moda? Não, não acredito.
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E o que podemos dizer das minissaias dos anos 60? E dos óculos enormes que voltam às passarelas e, consequentemente, ao nosso cotidiano
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Precisamos da moda. E você, sabe disso?!
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no novo milênio? As minissaias representam a ousadia e o começo da liberdade para muitas mulheres. Para outras uma falta de vergonha, um desrespeito. Talvez os modelos de óculos grandes tenham voltado na época certa, época em que temos medo de enxergar o que está acontecendo à nossa volta. As armações enormes podem ser um artifício para disfarçar a dura realidade que vivemos. Tudo isso é moda! As exposições de arte também fazem parte da moda em todo o mundo. O que o artista reproduz em suas obras faz parte da sua cultura e é eternizada como tendência daquela época. Aí está a importância de a população contemplar essas obras de arte, que nos fazem entender o que a sociedade viveu no passado e vive na modernidade. Concordo com o olhar de Lipovetsky, para ele a moda consumada vive de paradoxos: sua inconsciência favorece a consciência; suas loucuras o espírito de tolerância; seu mimetismo o individualismo; suas frivolidades o respeito pelos direitos do homem. Assim a moda vista de outro ângulo pode ser caracterizada como uma necessidade do homem de expressar o que vive, o que sente. Expressar a sua vontade. Por isso acredito que a verdadeira moda é a sua, é a que você faz e usa. Ao contrário de muitos, a moda permite que você expresse sua vontade. Conhecendo a moda ligada aos costumes, à arte e à economia os preconceituosos hipócritas, porque eles também fazem uso da moda de alguma forma, podem perceber o poder que a ela tem de comunicar posicionamentos sociais. Precisamos dessa liberdade, precisamos da moda e, agora, você sabe disso!
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Moda, a arte de imitar
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Moda, a arte de imitar Você já deve ter percebido que a moda é atividade de imitação. Mesmo que sempre existam as inovações, as novidades sempre surgem de algo que já existe. Compliquei? Você já vai entender. Nada de “inspiração em“, como dizem os espertinhos dos estilistas, são imitações, isso sim. Mas não tiro o mérito deles não, imitar é uma arte. Com essa ideia de inspiração, imitamos épocas, movimentos, pessoas e estilos. É só seguir uma linha e dar um toque especial e pronto, vira moda nova! Segundo a jornalista Dinah Pezzolo, a moda passa por cinco estágios vitais, são eles: inspiração, criação, imitação, uso e declínio. Olha a imitação aí! Esses cinco estágios funcionam como um ciclo. Mais do que apenas imitar, a moda se faz pela necessidade desse ato. O modo de usar, se comportar e vestir passa para o outro pela vontade que se tem de se igualar ao outro. Ter o que o outro tem, usar o que o outro usa, ser o que o outro é. A maneira com que você faz o mesmo que o outro pode ser melhor ou pior, o que importa, nesse momento, é a ideia de disseminar que a moda acontece pelo
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desejo de fazer igual, de imitar o outro. E mesmo que paradoxalmente, ser diferente, imitar sendo diferente. Como? Você pega o objeto, o conceito, e acrescenta a ele a sua ideia. Assim começam as novelas, por exemplo, a ditar moda. O público usa o que a personagem usa e assim vira costume nas ruas. Estamos sempre procurando o que aparece nas passarelas, nos artistas, e para que? Para usar também. As costureiras olham revistas, copiam modelos das vitrines. E esse fluxo “boca a boca”, ou “olho a olho” é que faz a moda circular pelo mundo. É claro que a imitação não faz o costume sozinho. Mesmo que seja paradoxal, como já disse, esse segmento de que falamos tem gosto pelo novo. O seu alicerce é o gosto contínuo pelo que existe de mais atual. Mas quando o último lançamento aparece nas vitrines, em pouco tempo as outras lojas já estão distribuindo por aí. E ainda temos as famosas falsificações. O que seria de nós, consumidores, sem uma boa falsificação? De certo que andar na moda custa caro, e com a intenção de atender todo tipo de público o produto “genérico” surge e garante seu lugar no mercado. Uma bolsa Louis Vuitton, por exemplo, só os ricos podem ter em mãos, aí chegam as falsificações nas ruas e fazem a alegria de quem tem um pouquinho menos de grana.
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Infelizmente esse mercado falsário não agrada a todos, é claro que as marcas imitadas não ficam felizes com todo esse consumo ilegítimo. Muitas vezes as peças estão nas ruas antes mesmo das originais serem lançadas, nesse caso não acho certo... Por outro lado, só copiamos aquilo que gostamos, o que significa a aprovação daquela marca e daquele produto. Se imitamos é porque faz sucesso, isso deveria deixar até os originais felizes. Mas o que
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Moda, a arte de imitar
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vale é o valor econômico dessa briga. Também é preciso levar em conta a qualidade do produto, é claro, e eu penso que nem precisaria dizer isso, mas é bom sempre explicar tudinho, a qualidade de um produto original jamais será a mesma de um falsificado, pode ser até muito melhor, a diferença é que não terá o valor da marca. Apesar de saber que é um mercado, muitas vezes ilegal, que a qualidade é inferior, atire a primeira pedra quem nunca usou um Bolex, no lugar de um Rolex... Ou Watch no lugar dos famosos Swatch. As falsificações possibilitam muita gente usar as novidades e ainda dar vapor ao ciclo do consumo e disseminação da moda. Ainda existem as marcas que não falsificam outras, mas que copiam, sim, os seus modelos. E temos então objetos de qualidade, legais e com o preço mais baixo. Seriam as imitações originais. O processo de imitação gera uma moda alternativa, uma opção a mais para o consumidor. Não só o vestuário é vítima da imitação. Os costumes e os modos, portanto moda, também fazem parte do processo. Imitamos a maneira de falar, de agir e de se comportar do outro. Se um, dois ou três estão viajando para tal lugar, lá vamos nós viajar pra lá também. Se na novela se fala “harebaba”, “meu rei”, “treva” nós passamos a usar essas palavras no nosso vocabulário. É um grande fenômeno popularmente chamado de “Maria vai com as outras”, é o fenômeno da imitação. Refletir a realidade da sociedade é uma das funções da moda.
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Assim como os ícones
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Assim como os ícones Desde a pré-história, já eram encontrados indícios de que os primeiros homens buscavam viver em grupos, da mesma maneira. Em grupos, os animais conseguem, com mais eficácia sua sobrevivência, e consequentemente está assegurada a perpetuação da espécie. Embora se compreenda a eficácia de se viver em grupos, na civilização moderna, o que se constata muitas vezes é a dificuldade da convivência. Temos a impressão de que muitas pessoas, às vezes, preferem viver a sua independência. E assim surge a moda de ser diferente. Hoje adereços e estilos que serviam para destacar e diferenciar quem os utilizava estão virando moda, e os verdadeiros fundamentos dessa “comunidade” estão caindo no esquecimento em meio a esse monte de gente que tem como finalidade traçar uma concorrência de estilo, beleza e popularidade. Mesmo que contraditório, ser diferente caiu na mesmice, no comum. E aí encontramos as loucuras do diferente. Já virou moda, por exemplo, fazer tatuagem. O ato que antigamente buscava expressar uma ideologia, os
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desenhos traziam significados, nos dias atuais são mais uma maneira de se sentir “estiloso”, e então meninas fazem estrelinhas e meninos escrevem o nome da família pelo corpo. O que era singular em algumas pessoas, hoje é a coisa mais banal e comum de se ver nos jovens. Diferente é aquele que não tem nada tatuado. Nessa linha, ícones da história também viram moda. Lembram de Che Guevara? Famoso revolucionário comunista da história? Quem nunca viu uma camisa ou bolsa com a estampa de seu rosto?! Pessoas em todo o mundo espalham estampas com frases e imagens do “Che” e na sua maioria nem sequer sabem o que é comunismo. É o ícone pelo ícone e não pelo que ele signigicou e significa. Chamo isso de moda vazia. O Black Power também sofre essa onda de moda vazia. O movimento Black Power, para quem não sabe, surgiu nos anos 60, nos EUA, e enfatizava o orgulho racial e da criação de instituições culturais e políticas negras para cultivar e promover interesses coletivos, valorizar a população negra atraves da estética e representar um importante momento de luta por direitos. O movimento, que literalmente significa “Poder Negro”, seus ideais seguidos por negros em todo o mundo. Nos anos 60 e 70, a moda do Black era por conscientização política, décadas depois já tomava conta de cabeças de jovens brancos e negros que nem sabiam da existência do movimento. E mais uma vez aponto o costume como vazio, sem consistência, apenas pela tentativa de ser diferente.
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Esse processo em que o diferente se transforma em produto é nada mais que efeito do capitalismo. Sistema político que defende e promove o consumo. Que tem o poder de transformar o homem e seus ideais em produto, a fim de gerar consumo, movimentar dinheiro. O homem, infelizmente, é fa-
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Assim como os ícones
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cilmente conquistado, já que em troca acredita que recebe poder, status, e assim eleva sua autoestima. Marcas e lojas também entraram na onda de ser diversificadas. O exemplo mais claro no momento pra mim é uma marca de sapato e outra de joias femininas que trazem algo novo na publicidade. As propagandas dessas marcas giram em torno de mostrar mulheres juntas, em poses eróticas, sexys, supersensuais, uma com a outra usando o produto. Dizem por aí que mulher se veste e quer ficar bonita para outra mulher, não é isso? Com o intuito de despertar inveja... Para isso as propagandas mostravam mulheres rodeadas de homens, desejadas por eles. Agora o processo é inverso. A ideia é que elas estejam juntas, unidas, amigas e até companheiras. Assim, nessas posições em que se tocam, provocam a imaginação de homens e mulheres, e o produto? Ah, esse está em segundo plano para quem ver. O importante é chamar a atenção por ser diferente. O produto? Não! A propaganda mais uma vez e depois o olhar passa pela peça mostrada. Além disso, as propagandas trazem o conceito de atingir um público ainda maior. Além de mulheres diretamente atraídas, a ideia é seduzir um consumidor relativamente novo, o consumidor homossexual. Como a sociedade ainda não permite publicidades tão diretas, a saída é fazer de forma sutil. Mas muitas pessoas ainda pensam que mulheres gays, por exemplo, são aquelas com um jeito “machão”, que não se preocupam com vaidade, o processo está mudando. Mulheres que têm opção sexual por mulheres também são femininas, gostam de se arrumar. A indústria da moda percebeu que o mercado homossexual é promissor. De maneira amadora, pense que homossexuais trabalham e ganham dinheiro, como qualquer heterossexual, mas com
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uma enorme diferença: gastam o seu dinheiro com eles mesmos, se existirem companheiros e filhos isso acontece depois de muito tempo, e de muita estabilidade, até porque é muito difícil a realização desses passos. Assim o dinheiro que têm é para si, para gastar com o que quiserem e, nesse momento, entra o vestuário, pois geralmente são muito vaidosos, e as viagens, o mercado do turismo, também já têm essa percepção. Ser exclusivo, também, está na moda, mas se todo mundo for exclusivo vai estar todo mundo igual, cadê a diferença nisso? O desejo de ser diferente ou de se afirmar, ou ainda, a rejeição das convenções, faz com que as pessoas não se preocupem com o que possa ser interpretado como bizarro. Como bem disse Gabriel de Tarde – sociólogo, filósofo e psicólogo francês -, na moda o que prevalece é a novidade, aquilo que se apresenta como outro, diferente, estranho ao já familiar. Assim, dentro dos seus limites, seja como os ícones: diferentes conscientemente e esteja na moda!
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Modelitos hermanos
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Modelitos hermanos Está chegando o verão, e quando essa estação se aproxima ouvimos uma palavra em exaustão: despojado. Ui! Chega a dar calafrio na barriga! Blogs, colunas, estilistas, programas de Tv, vendedoras de lojas, todos dizem para usarmos o jeans despojado, a camiseta despojada, porque é verão. Tem tudo a ver... A sandália do verão, por exemplo, é rasteira, superdespojada... É camiseta folgada pra cá, vestido solto pra lá, tudo assim, bem despojado... Isso me lembra a última viagem que fiz no verão. Visitei a capital da Argentina. E lá tomei um susto. As mulheres só andavam descabeladas, malvestidas. Andavam na rua parecendo que estavam em casa. Aparentavam até estar meio sujas, unhas sem fazer. É, menina, um horror! E olha que não foi uma nem duas vezes não, foram várias as mulheres que vi assim. Aí eu, curiosa, comecei a perguntar onde chegava se as mulheres se vestiam sempre daquele jeito, se os cabelos bagunçados eram moda... Oh, vai saber... Mas o que responderam me surpreendeu ainda mais: “Ah, isso é porque é verão... ninguém
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se arruma muito no calor. Não dá, não é?”. Quase piro com o que ouvi. Gente, é costume, por isso moda, andar bagunçado porque faz calor?! Aqui, no Brasil, é o contrário. O povo adora a estação do sol, as cores e as estampas dão vontade de comprar. E os modelos costa-nua, decotados, curtinhos! Ah, ficamos loucas para usar! As argentinas se arrumam no inverno, o frio faz com que elas fiquem mais elegantes e bem vestidas. Esse é o caso, no Brasil somos elegantes e lindas o ano todo. Faça chuva ou faça sol adoramos uma roupinha nova, um cabelo bem penteado. Estou errada?! Aí percebo como o clima do lugar interfere na nossa vestimenta. Como mudamos a maneira de nos vestir quando mudamos de estação. E não é preciso nem dizer que a moda acompanha essas transformações. A necessidade, o conforto e as sensações fazem com que você mude de roupa a cada estação. E por esse motivo é que as coleções são intituladas primavera/verão ou outono/inverno. Como você se sente quando vê o sol? O que é necessário naquele momento? O que você tem vontade de vestir? As respostas para todas essas perguntas estão intimamente ligadas e se completam. Num dia ensolarado o corpo pede que você use roupas leves, que amenizem o calor provocado pelo sol. Roupas soltas no corpo, que não “grudem” na pele e não deem mais calor do que você já vai sentir por conta dos raios de sol. Em dias assim é comum que as pessoas se sintam mais alegres, a luminosidade do dia e as brisas da noite causam uma sensação de conforto e leveza, por isso preferimos as cores claras, vivas e, ao mesmo tempo, fortes.
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Além de tudo isso, normalmente, associamos o verão ao período do ano reservado às férias, o
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que torna a época mais alegre e que queremos tudo mais leve. No verão há mais bom humor no ar e, no inverno, mais introspecção. E existe uma justificativa científica para tal observação. Segundo especialistas, um dos motivos que fazem com que todos se sintam mais felizes diante das altas temperaturas é a influência solar. A exposição à luz do sol estimula a produção de três substâncias (serotonina, dopamina e melatonina) responsáveis por trazerem bom humor e energia. Além das reações químicas positivas que a presença do sol traz para o organismo, também existem benefícios psicológicos. Nos meses e estações onde os dias são mais quentes, iluminados e longos, existe algo no ar que nos convida a sair e interagir. São momentos atrativos ao convívio social, fazendo com que o bom humor apareça, e eu associo tudo isso à moda. Quando estamos felizes, queremos ficar mais belos, nos arrumar e sair por aí esbanjando charme. E as argentinas fazem tudo ao contrário... Que coisa doida... O mercado da moda brasileira ferve no verão, é época de festas e festejos e para nós é hora de comparar roupas novas. Assessórios novos. Cores vibrantes. Decotes e luz, muita luz. Ficarmos ainda mais belas. E, mesmo que despojadas, sempre arrumadas!
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Trabalho de roupa!
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Trabalho de roupa! O tema que escolhi para dissertar hoje é um tanto desconcertante. O que vestir na hora de trabalhar é um quesito bastante importante. Mesmo que alguns não concordem, e por isso não se preocupem, a maneira que você se veste interfere até no respeito que o cargo e a profissão impõem. É comum você perceber num ambiente de trabalho pessoas que não estão vestidas adequadamente. Às vezes exageradas demais, outras desleixadas e o equilíbrio entre esses dois casos é raro acontecer. Para ficar mais fácil entender o que quero mostrar, vamos imaginar “situações problemas” e, porque não, tentar encontrar as devidas soluções. Proponho que idealizemos um cargo de direção, pode ser de qualquer empresa, em qualquer setor. Caberia aqui o uso de decotes, calças apertadas, brilhos, lantejoulas? Seria melhor usar roupas descombinadas, sobreposições excessivas e alça de sutiã à mostra? Acredito que os dois casos são extremamente incorretos. O primeiro pode despertar colegas em funcionários a exibição ostentatória, ou seja, a roupa como elemento que suscita admiração
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e desejo do outro, que procura impressionar o maior número de pessoas, signo de riqueza. Conceitos que não devem ser defendidos e provocados por nenhum funcionário, principalmente num cargo de direção. Também não é de bom tom usar uma vestimenta que transpire desleixo e desarrumação. Usar roupas velhas, machucadas, com (des) combinação de cores não condiz com a hierarquia do cargo em questão. E ainda não impõem o respeito necessário para tal atividade. Não podemos esquecer que, como escreve a jornalista Renata Pitombo, se por um lado a vestimenta age através das determinações sociais, sexuais etc., por outro lado essa indumentária oferece uma representação sensível e metafórica da pessoa, estilizando-a num personagem social, dentro de uma aparência particular. Dessa forma, acredito eu, que uma diretora deve ser discreta ao se vestir. Isso não quer dizer que só use terninhos, mas sim que utilize roupas compostas o suficiente para não estimular o desejo dos colegas. Nem ostentar o poder que ali exerce, mas se impor e a vestimenta ajudar a fazer esse papel. Qual aluno, por exemplo, respeitaria uma professora de minissaia ou sandália de dedo? Ainda mais com essa professorinha do “todo enfiado” solta por aí... Comum, também, é encontrar mulheres que esquecem que trabalham com homens e usam roupas embaraçosas. Aqui preciso explicar que emprego o verbo “esquecer”, pois, realmente, muitas mulheres não percebem, por mera distração, que não vestem a peça conveniente para o trabalho.
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Imagine você vestindo uma saia e confortavelmente sentada na sua mesa de computador – é impossível ficar “bem sentada” nessas novas mesas de escri-
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Trabalho de roupa!
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tórios coletivos, onde temos que dividir um metro quadrado (e é um metro mesmo) com cadeira, computador, telefone, papéis, bolsa etc. Assim para estar confortável é comum esquecer-se das boas maneiras de se sentar de saias. Daí o danado do computador dá uma pane... Seu colega, homem e técnico da máquina, vai lhe auxiliar e abaixa para ver o que aconteceu com a CPU, é nessa hora que você acaba causando constrangimento ao pobre homem que apenas tentava realizar o seu trabalho, mas que por descuido seu viu a sua calcinha sexy vermelha ou aquela velhinha, furada e encardida branca. Imaginou o desconforto que causou a ambos? Desnecessário, pois se você estivesse com uma saia mais comprida isso não aconteceria. A culpa é sua! Comportamento inconveniente são o uso de transparência e o não uso de sutiã. Normalmente as salas de empresas e escritórios possuem ar condicionado forte e o frio pode causar o famoso “farol aceso”, olhe aí o desconforto se você estiver sem sutiã?! O episódio, com certeza, irá gerar comentários entre os funcionários e sua reputação estará comprometida com um fato simplório de resolver: melhore o seu guarda-roupa! Repare que mais me refiro às mulheres do que aos homens. Isso é porque eles normalmente usam calça e camisa. Poucas são as variantes desse traje. Mas de uma coisa posso falar, imagina se em uma reunião o presidente da empresa vestir um bermudão e uma camisa regata? Provavelmente seus funcionários estariam de sunga... Chato, não?! Nunca devemos esquecer que o chefe deve dar, primeiro, o bom exemplo. Podemos aceitar o presidente Lula num encontro internacional de calça jeans e camisa pólo?! Até o programa humorístico Casseta & Planeta brin-
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ca com essa história de como se vestir no trabalho. Eles colocaram o presidente de um banco usando roupas exóticas, pretas, cabelo tipo “emo”, muitas correntes, enfim um modelo descolado. E na dúvida se estava usando vestimentas adequadas para a sua função, ele pergunta ao seu consultor de moda que prontamente responde: “não se preocupe, a moda esta assim, hoje, muito louca”. Ironicamente o programa fez uma crítica ao modo como as pessoas se vestem no trabalho e usam como desculpa a moda. Não é necessário seguir regras pré-determinadas, mas sim procurar usar roupas que passem credibilidade sem perder o estilo próprio. Conforto deve ser uma palavra imprescindível num guarda-roupa profissional. Como certa vez afirmou Tatiana Putti, coordenadora de moda do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), unidade de São Paulo ”a escolha da roupa apropriada para usar no trabalho é uma tarefa que deve misturar conforto com bom senso”. Naquele período em que está exercendo a sua função, quanto mais você estiver confortável mais irá facilitar o seu exercício. Por exemplo, uma professora de educação física não tem como usar salto alto, o tênis é o calçado mais adequado para a profissão, o que não a deixa desarrumada. Um encanador não tem condições de usar terno e gravata, alias nem camisa de botão, o movimento, a força, o esforço que faz durante seu trabalho não combinam com o calor de um traje desses.
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“Desigual, distinto e diverso”
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“Desigual, distinto e diverso” Outro dia estava assistindo a novela das oito, que é das nove agora, e ouvi algo que é no mínimo interessante. Olha só: “está na moda ser diferente...”. Engraçado, tinha certeza que para você estar na moda era preciso seguir os padrões dela. Se todo mundo usa roupa folgada, você usa. Se todo mundo come em tal restaurante, você vai nele também. Se o cabelo é curto, você corta seu cabelo, se é cabelo longo, você aplica o “megahair”. Mas desde que ouvi isso comecei a pensar no assunto. E fui rever a aplicação da frase na novela. O contexto era uma modelo negra que estava fazendo sucesso, então uma mulher branca dizia à sua filha modelo, branca, “está na moda ser diferente”. E no caso, a moda escolhia como diferente uma pessoa negra. E isso explicava porque a mocinha branca não tinha sido escolhida para desfilar: ela era igual a todas, branca, cabelo liso, olhos claros. A moda quer o diferente.
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“Desigual, distinto e diverso”
Segundo o dicionário Aurélio, diferente é “desigual, distinto e diverso”. E assim entendo tudo. É fato que mesmo por trás daquela colocação cheia de preconceitos existe, sim, uma verdade. Afinal, o que mais quer a moda senão ser diversa a cada estação, a cada coleção?! E nesse exemplo, em especial, ainda encontramos outra questão que é a moda da inclusão. Virou moda, virou lei você incluir pessoas com raças, opções sexuais, deficiências distintas em tudo e assim se mostrar sem preconceitos. Por que ser negro é diferente para o mundo da moda? De maneira vergonhosa, mas verdadeira, porque se construiu um padrão de beleza desde as colonizações. Aprendemos com a escravidão a esconder a beleza e as qualidades dos negros, aprendemos a acreditar que o belo é ser senhor e, portanto, branco. De preferência de olhos claros e cabelos loiros e lisos. Porque cabelo liso é cabelo bom. Quem disse isso? Não existe cabelo bom nem ruim. Existem raças, estilos e gostos diferentes. E com essa última afirmação acredito e aceito que o negro é diferente, assim como o branco, o índio, o oriental. Mas nenhum deles é melhor que o outro, nem, pior.
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Prefiro levantar a questão racial com o preconceito de brancos para negros, não que não existam outros, mas porque é o mais evidenciado. O fato é tão notório que programas de moda inteiros já foram dedicados ao assunto. A Multishow, por exemplo, discutiu com modelos, produtores de desfiles, estilistas e agentes por que não existe espaço para o negro na passarela. E foi vergonhoso assistir o depoimento de brancos diretores de eventos e responsáveis pela escolha do casting dizerem que, com suas próprias palavras, “o modelo de moda de passarela tem específicas demandas, como medidas certas, o jeito correto de andar, ou
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“Desigual, distinto e diverso”
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seja, determinados atributos e investir nessa lapidação é caro”. O que ele queria dizer é que o negro não tem condições financeiras para tal. Ah, então não existe branco pobre, minha gente. Desculpe eu ter que dizer isso, mas vai catar coquinho... Dizer que não existe racismo por trás da passarela é fácil, moleza para quem nunca enfrentou uma situação dessas. Afinal, para os brancos, fazer fotos de negros como escravos não é preconceito é valorização dos antepassados. Então penso, se a moda gosta tanto de inovar por que não fotografar um negro senhor e um branco escravo?! Olha só que boa ideia eu tive! Quero ver que branco vai topar... Nos últimos tempos podemos perceber um tímido, mas persistente, movimento de inserção do negro na moda. Essa incorporação acontece primeiro pela luta incansável do negro, depois pela obrigação exigida por lei. E nessa hora preciso falar de uma interpretação que nunca tinha pensado, discutindo o tema com uma professora negra, e com plena consciência da raça, ouvir-la defender as leis de cotas negras, pois tempos atrás as leis eram contrárias, excluíam e impediam essa socialização do negro, apoiando totalmente o branco sem pestanejar. Por que hoje fazer o inverso, aliás, nem se proíbe o branco apenas assegura a posição negra em porcentagem, traz tanta revolta? Depois de refletir sobre isso, passei a pensar de outra forma e ainda estou processando as informações para ter meu próprio discurso. Enfim, voltando ao processo de inclusão do negro na moda, depois das normas legais, o mercado percebeu que o negro já é consumidor e possui um valor estético também. E assim, finalmente, o mundo da moda dedica olhares e atenção à raça negra. Bom, só tenho a dizer: “antes tarde do que nunca!”
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“Desigual, distinto e diverso”
Para Sueli Carneiro, professora doutora em Educação e membro do Geledés (Instituto da Mulher Negra), a vitória eleitoral e a chegada de Barack Obama à Casa Branca entusiasmou os militantes pela igualdade racial, o que pode ser uma esperança de mudança e atenção na mídia, na moda e na publicidade. Em seu artigo ela cita como exemplo dessa possível variação a edição da revista Vogue que, meses antes da eleição presidencial americana, publicou uma edição que se transformou em referência por apresentar apenas modelos negras. E com esse exemplar nasceu a expressão “Black is the new black”, que diz “preto é o novo preto”, o novo modelo, em referência à famosa cor, uma das mais clássicas da moda. Mas infelizmente essa consciência não alcançou todos, os publicitários erraram feio e continuaram com suas inúmeras publicidades de modelos todas brancas. E fica claro que para eles os clientes continuam sendo brancos. O branco continua sendo o público alvo. De qualquer maneira, sim, eles podem! Mais guerreiros que os brancos cheios de apoio, os negros mostram que chegam lá. Na verdade talvez eles tenham consciência que mesmo que os brancos e todas as outras raças não assumam o apoio e a admiração que têm pelo negro, elas acreditam e sabem que, sim,nos eles podem! Acredito na força desse povo e adoro ver esses lindos rostos e corpos cheios de atitude e esbanjando o famoso “carão” nas passarelas.
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TRABALHO
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Taka – moda – aí!
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Taka – moda – aí! Apesar de ser uma tolice, nunca tinha pensado na moda do Japão. Sempre tenho curiosidade em saber o que acontece na Europa, nos Estados Unidos e em outros lugares que já visitei. Mas, e no Japão? Nunca me passou pela cabeça mesmo, até que encontrei num cantinho do jornal que faço leitura diariamente o título: “Tókio fashion”. É bem verdade que era uma notinha de apenas três linhas, porém chamou a minha atenção. O que se veste em Tóquio? O que primeiro veio à minha cabeça foram aqueles “roupões de seda”, chamados de quimonos. Mas o que seria da moda baiana se nos imaginassem vestindo roupas de Baianas de Acarajé? Imagine que coisa cômica, eu chegando à redação do jornal vestida de saia rodada, turbante na cabeça e colares e pulseiras mil? Não dá! Assim peço desculpas as minhas às amigas japonesas. Para acabar com a minha ignorância, e saiba que o termo, segundo o dicionário, significa nada mais do que pessoa que desconhece, fui buscar conhecer o que é moda no Japão. Então joguei no “Google”, chamei de pesquisa “moda japonesa” e logo apare-
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Taka – moda – aí!
ceu tudo que eu procurava. De primeira encontrei o site do evento e desde já me encantei. A campanha do evento traz imagens de roupas vestidos na mão humana. Deixe eu explicar melhor. Pense quando você faz com os dedos – indicador e médio – o sinal de paz e amor, depois vire-os de cabeça para baixo. Então eles formam as pernas femininas e o resto da mão o corpo, cobertos deslumbrantemente com modelos exuberantes. Diz a campanha: “O Japão tem orgulho de apresentar ao mundo as suas mãos mais talentosas”. E literalmente o fizeram. Cheia de expectativas fui olhar fotos dos desfiles. E então comecei a ficar menos entusiasmada. Claro que pouco sei, ou melhor, nada sei da moda japonesa, mas levando em conta que, mesmo com adaptações para cada lugar, a mesma moda gira por todo o planeta. Acredito que o estilo japonês é, no mínimo, bem esquisito. O que posso dizer dos desfiles de primavera-verão em Tóquio é que tem uma produção fantástica. Os cenários são lindos, a maquiagem é bem carregada e os cabelos são bem exóticos e bagunçados. Os tons escuros predominaram nas coleções. O cinza e o preto foram as cores que mais apareceram. Timidamente tons mais “abertos”, como rosa, laranja e vermelho, ganharam vida numa peça menor e mais ousada. Pouco eu vi trajes inteiros de cores assim, vamos dizer, mais fortes. Outra observação é que teve uma coleção – da Designer Hiroto Ito – que foi toda branca. Dessa eu gostei!
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O que não apareceu nos desfiles foram as estampas. Pois é, primavera-verão sem estampas e flores. Inovador. Será isso?! Ah, tinha homem usando saia e vestidos e mulher calçando sapato de homem. Inovador também?! Será que vai virar tendência?
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Taka – moda – aí!
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Um fato comum em modelos e que ficou ainda mais evidente nas japonesas foi a seriedade na passarela. Elas desfilam seríssimas, quase zangadas, assim de “bico”, sabe?! Mas não é que de tão sérias ficam até engraçadas?! Claro que não tinha apenas modelos japonesas... As ocidentais também desfilaram lindamente como as orientais. E tentando absorver os conceitos que a passarela e seus artistas desejaram mostrar, aprendi no último desfile que fui essa coisa de “conceito” – aquilo que você tem que extrair dos looks da passarela e usar nas ruas -, suguei, desculpe se o termo é desapropriado, foram as transparências. Elas estão com tudo mesmo. No Brasil já estamos usando também. Durante a minha pesquisa encontrei o depoimento de um jornalista, infelizmente não identificado, que dizia: “O Japão é uma fábrica de tendências . O Japão atual pode ser comparado à Paris dos anos 20: fonte inspiradora para a criação”. Para quem se pergunta como observei tanta coisa sem, ao menos, levantar da cadeira, respondo que o próprio evento tem uma incrível página sobre o que aconteceu nessa semana de moda. O site disponibiliza uma foto de cada look desfilado por cada grife participante. E por esse motivo, por ter interpretado o evento apenas com base nos olhos dos organizadores, que pouco falei sobre os bastidores e as reações das pessoas, como costumo fazer. (Indico o acesso ao site, assim vocês poderão ver as imagens da campanha que tanto me encantaram.) De certo, posso dizer que a sensualidade das gueixas eu não encontrei nos looks desfilados. De qualquer maneira, prefiro guardar o encantamento inicial da criatividade japonesa, isso eles têm de sobra... E você não esqueça: Taka - moda – aí!
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Primeira Fila
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Primeira Fila Na última semana tive uma nova experiência. Cobri o meu primeiro evento como jornalista e esse evento era de moda. Era muita coisa ao mesmo tempo, a emoção de estar fazendo a minha primeira cobertura jornalística e ainda relacionada à moda, meu tema favorito. Aí veio a minha primeira insegurança: como irei vestida? Tinha a obrigação de me vestir bem, mas como? Descontraída ou séria? Fashion ou mais comum? De cores fortes, da estação, ou mais sóbrias? Bom, optei por usar um pouco de cada. Achei interessante usar as cores do verão, mas modelos não tão devassos. Um jeans sempre para fazer o balanço dos tons mais fortes, e um assessório que levantasse a roupa. No caso, sapatos. Ai, adoro sapatos! Tenho muitos! Posso variar. Mas mesmo com meus looks escolhidos não deixei de prestar atenção no que os meus colegas jornalistas usavam. E como era de se esperar, deu de tudo. Repara só. A primeira que vou falar é um fenômeno da gozação. Uma minimulher, porque ela deve ter, no máximo, um metro e meio de altura, usa um salto gigantesco e cada dia ela vestiu um bicho diferente. Onça, zebra e vaca. Assim ela se cobria de luxo, pensava ela. Sem contar que a zebra era azul, a vaca vermelha e por
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aí vai. Os sapatos, bolsas e colares ainda conseguiam ser mais chamativos. E a sua pessoa, por sua vez, gritava, dava risadas altas e divertia todos. Assim ela fez seu “estilo colunista social”. Tinha aquelas que se vestiam apenas de uma cor, acredito que era pra chamar menos à atenção, mas pra mim o resultado foi o contrário. Imagina você ver uma pessoa toda de branco ou toda de preto? Ou toda de vermelho, como tinha uma criatura lá? Chamou à atenção tanto como a que estava de onça. As repórteres dos noticiários de maior circulação local estavam sérias, sóbrias. Com o famoso terninho bege ou cinza. Bem penteadas e maquiadas. E a jovem jornalista de moda de destaque no Estado, e que começa a aparecer no país, vestiu roupas um pouco confusas. Mistura de cores, estampas e estilos. Peças maravilhosas separadas, mas que juntas não passaram de coisas soltas e descombinadas. Como ela mesma costuma dizer, “estava de última”. Uma apresentadora de TV, considerada elegantérrima por todos, preferiu usar um dos estilistas que apresentou sua coleção no desfile. E estava superadequada. Cores suaves, modelo comportado. Afinal gravava ali um quadro do seu programa. Na dúvida de quem estava mais adequada para o evento, mesmo com o meu bom senso funcionando, fui pesquisar para saber como deve se vestir um jornalista que cobre moda. Encontrei uma especialista em moda, chamada Dinah Bueno Pezzolo, e anotei a sua dica. Confira traduzida em minhas palavras:
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Estar em contato com as novidades é obrigação do jornalista de moda, mas ele deve vestir-se de acordo com as suas atividades diárias. Na Redação usará roupas adequadas, confortáveis e pouco chamativas. Durante uma reunião com subordinados não deverá ostentar seu status por meio da roupa, criando
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Primeira Fila
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um ambiente amigável e respeitoso. Em jantares e coquetéis, é a hora de maior capricho na produção, sempre despertando a atenção pelo correto e não pelo excêntrico. Depois dessa dica podemos entender que uns abusaram da excentricidade. E outros fizeram certos. Acredito que eu estava na parte dos certo. Ufa! Ia ser uma decepção para mim ter feito feio, pagado um mico. Nos desfiles, jornalistas aparecem maciçamente, e segundo especialistas, os nomes mais importantes da área têm seus lugares marcados na primeira fila. Ai meu deus, se sou um nome importante eu não sei, mas eu estava na primeira fila. Agora que me dei conta! Os investimentos na moda são colossais, e a opinião da imprensa pode tanto multiplicar o sucesso de uma coleção como lançá-los ao descaso. Por isso é preciso cuidado quando for escrever. Mas o que me surpreendeu mesmo, no estilo jornalístico de vestir, foram os homens. Como nessa área tem uma maioria gay, imaginava encontrar meninos puramente afetados e extravagantes em seus modelitos. Para minha surpresa eles estavam bem discretos. De camisa pólo, calça jeans e alguns usavam um boné para esconder a careca (risos). Cores neutras também foram escolhidas pelos colegas. Claro que alguém tinha que “causar”, e esse usou uma camisa social com transparência, acredita? No final dos três dias, sai satisfeita. Era uma novata deslumbrada com a chance de estar ali entre tantos já consagrados, aprendendo o que fazer e o que não fazer num evento como esse. Sugando tudo o que consegui alcançar e encantada com a oportunidade de clicar, entrevistar e olhar tantos famosos de tão perto.
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Coração metalizado
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Coração metalizado Na passarela desfilavam os novos talentos baianos. Garra, inspirações, cores, e vestidos, muitos vestidos marcavam os desfiles. Até que a cena de um beijo entre duas modelos invade os olhos do público. Quando digo beijo, é beijo mesmo, na boca e com língua. Para a gente que assistia primeiro a surpresa, depois gritos eufóricos tomaram conta da platéia. A ousadia, como denominou a imprensa no dia seguinte ao desfile, foi do estilista de Feria de Santana Vitorino Campos. Ele já é uma grande revelação da moda baiana, já passou de ser um novo talento faz tempo. O cara realmente arrasa! Tem uma coleção elegantérrima, um luxo só. Mas daí a encerrar o seu desfile com um beijo gay... ah , isso é demais para minha cabeça. Eu diria que isso é apenas a tentativa de impactar. De ser o assunto do evento. Até que eu fui conversar com ele e, entre muitos trejeitos, ele me deu uma explicação poética sobre o acontecimento. Gente, é que por trás daquela cena existe uma história de amor. O romance é de uma pessoa que se livra de todas as emoções e vai de encontro ao amor e,
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nessa ocasião, ela se depara com as faces que esse sentimento deixava subentendido. Então, aparece a esperança de que o amor vive, de que o amor existe em segredo e continuará dentro do coração metalizado dessa pessoa, ah, e essa pessoa é específica. Quem é? Também não sei, ele não diz... Deve ser ele mesmo, afinal a coleção é intitulada como Confissão. Até parece que ninguém sabe que ele é homossexual, precisa confessar... Mas o grande final tem uma explicação ainda melhor. “A idéia foi representar uma contemplação, uma apreciação além do ser, um amor que se esquece da libido, esquece o sexo. É o amor pelo outro, independentemente de ser homem ou mulher. Não foi uma ousadia, nem foi para causar polemica”, assim me disse o estilista em questão. Ah, gato, quem na platéia conseguiu interpretar essa profundidade de inspiração? Quem? Como é que a sociedade que temos, que até se diz moderninha, mas que na “hora h” esquece a modernidade e se assusta, vai entender tudo isso na confusão de emoções que é você ver duas meninas lindas, vestidas pra matar, supersensuais, novinhas, com um corpo maravilhoso dando o maior beijão e ainda pensar “oh, que lindo! Isso é pelo amor ao outro”. Ah, meu amigo, dá um tempo. Nada contra, mas isso é sapatisse mesmo. O pior é que ainda tem um monte de socialites alucinadas, que acha que para ser chique deve usar o tal do estilista, e se usa o tal, deve concordar com o que ele faz e ainda sai por ai dizendo “uau, você viu que coragem, que personalidade do Vitorino”. Precisava ser um beijo na boca para mostrar o amor?! Mas para ele “o beijo é a maior representação do sentimento”.
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Pra mim, o beijo foi pouco para a cena seguinte. É porque um desfile só acaba quando o estilista aparece no palco para ser aplaudido. E esse apareceu e desfilou entre as duas modelos do beijo, agarrados os
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Coração metalizado
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três, sorrindo muito e a platéia de pé. Oh, gente hipócrita... Aí eu fico na dúvida, que coisa ambígua: um gay assumido entre duas mulheres lindas, quase num harém, de braços dados. Se ele não fosse assumidamente gay eu até diria que ele tava ali aproveitandose das duas. Então é como alguém me disse “ele estava ali mostrando era uma grande suruba”, e a orgia era aplaudida por uma galera que se diz da alta sociedade baiana. E no dia seguinte os jornais estampavam “maturidade e ousadia marcaram o Barra Fashion”. Maturidade? É, querida, maturidade hoje é você aceitar a orgia em público, aplaudir e tudo. Relativize. Ainda bem que eu estava lá de pé, aplaudindo, e quer saber mais, acho o tal estilista muito bom mesmo. De um jeito inovador, Vitorino confirma o que dizem por aí: que na passarela o artista apresenta conceitos, mas nem tudo que está nas modelos você deve usar na rua, você não precisa segui-lo, basta escolher o que lhe convém. E ainda dizem por aí que moda é algo vazio... Vai entender!
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Sem descer do salto
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Sem descer do salto Como em toda profissão, no mundo da moda também acontece imprevistos. As passarelas são ambientes de trabalho propícios a erros, tropeços e escorregões. Não é difícil a gente ver nos noti ciários de moda as “sinucas de bico” que as modelos enfrentam. É um salto que quebra, um botão que abre, um brinco que cai e só com muito jogo de cintura pra não descer do salto numa situação como essas. Nos desfiles do Barra Fashion de 2009 não foi diferente. Presenciamos cenas de tirar o fôlego. Imagine você numa sandália plataforma altíssima, porém muito folgada em seu pé. No meio da rua ela escapole e você fica descalça de um pé só. Agora imagina isso acontecendo com uma modelo na passarela? E ela, de maneira elegante, continua caminhando, com um pé só calçado e o outro na ponta para alcançar a mesma altura do salto. E ainda com a mesma graça de antes. Isso é que eu chamo de não descer do salto. Quatro ou cinco entradas depois, uma colega atenciosa pegou o “sapato solitário” que ficou
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Sem descer do salto
no chão e levou para o camarim. Coisa parecida aconteceu na apresentação de um designer de jóias famoso. Imagina que um dos brincos, superpesado, caiu no chão logo na primeira entrada, e ficou lá caído. Aí veio a segunda moça e quase pisa na peça, e a terceira fez o mesmo, quarta também. A plateia já estava sem respirar, vendo a hora de uma tragédia acontecer. A qualquer momento um salto podia escorregar ali e estragar a modelo e a peça também. Até que, mais uma vez, uma fofíssima colega pegou e retirou a peça de cena. Outro mico engraçado aconteceu no Barra, com a atriz Tayla Ayala, que era destaque em um dos desfiles. A sua segunda roupa, um vestido, teimava em subir deixando aparecer a calcinha da famosa. Ela puxava de um lado, puxava do outro, mas o danado continuava a subir. A plateia e a própria Tayla levaram a insistência do vestidinho assanhado na brincadeira e deram, todos, muitas risadas. Mas a Shivani, nome da personagem que a atriz representou na novela Caminho das Índias, não foi a única famosa que pagou mico em desfile não. Já tivemos piores. A celebridade instantânea do último programa global Big Brother Brasil, Josiane, caiu duas vezes no mesmo desfile em Fortaleza, no início deste ano. No segundo tombo Josi patinou, pois o chão estava molhado, e caiu de quatro na passarela. Esse foi King Kong!
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Em eventos como estes sempre acontecem coisas do tipo. No último Fashion Rio, por exemplo, duas modelos se estabacaram na passarela de Juliana Jabour. Uma delas no fim do desfile, quando todas as tops entraram juntas com a estilista para receber os aplausos da plateia. Bruna Tenório, de fama internacional, também levou o maior tropeço e quase foi para o chão. Ao término do desfile, muita gente passava a mão na passarela para checar por que ela estava escorregadia. Na última
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Sem descer do salto
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temporada em Milão não foi diferente, tombos e passarela lisa como sabonete. Invariavelmente são os tropeços, as quedas, ou a alça que cai e revela o seio e por aí vai, que viram o assunto do desfile. A grande sacada tem que ser da modelo. Nada de vergonha, isso acontece com qualquer um, o negócio é deixar passar. Não fazer daquilo o foco de quem assiste. Eles estão ali para ver as roupas, sapatos e assessórios. “Só o profissionalismo da modelo pode amenizar o incidente, e seu desespero pode evidenciar o ocorrido”, já dizia a jornalista de moda Dinah Pezzolo. Então, coloca o chamado “carão”, empina o nariz poderosa e não desce do salto, porque se cair, amiga, do chão não passa. Quedas, micos e imprevistos não podem é virar moda. Mas os aplausos da plateia quando eles acontecem, ah, isso sim, pode. Pode virar moda em toda estação. O público deve entender e respeitar as profissionais que estão ali, nervosas. E de fato já é prometido, como esperar equilíbrio de corpos tão magros e altos em sapatos de saltos tão finos e quase que aéreos?! De qualquer maneira, vale virar moda aplausos em todas as horas!
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Colírio para os olhos e alegria para o coração
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Colírio para os olhos e alegria para o coração A história que vou contar hoje é vencedora. Além de colírio para os olhos, o desfile do Yacht Club trouxe alegria ao meu coração. Desfilou com todo glamour uma marca que eu vi crescer. Quem aprecia as peças de praia de uma marca consagrada no mercado, como a Costa Leste, não imagina como ela surgiu. Lembro de visitar o apartamento de Maria José e seu marido Joel, fundadores da pequena confecção que começava a surgir, com minha mãe e as três, sentadas no chão, escolhíamos os modelos que queríamos. Isso mesmo, Maria José sentava no chão e derramava entre suas pernas um saco de biquínis, sungas e maiôs para que a gente escolhesse. Se não me falha a memória, na época, as peças custavam quinze reais. Hoje, com a grife fazendo sucesso, você visita uma das oito lojas espalhadas por todos os grandes shoppings da cidade e ainda em outros estados, e não consegue comprar uma peça por menos de oitenta reais. Isso é sinal do sucesso.
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Colírio para os olhos e alegria para o coração
Os biquínis e sungas eram como a moda pedia: básicos. Sem muitos detalhes, mas com estampas lindíssimas. Os modelos atendiam os mais variados corpos e gostos. Logo abriram a primeira loja e fábrica. E com a pequena portinha vieram os complementos para as roupas de banho. Cangas, shortinhos, sainhas e vestidos que acompanhavam os biquínis na praia e na piscina. A moda praia brasileira e sua criatividade desde cedo desenvolveu inúmeros modelos com base nas duas pequenas peças: enroladinho, asa-delta, com sutiã cortininha, lacinhos laterais. E ainda, de forma mais arriscada, a mulher brasileira queria mais, mais ousadia e menos pano: surgiu o fio-dental. A moda continuou lançando modelos mais sofisticados e inovadores, designers de moda se especializaram na área, o mercado cresceu. As ideias vingaram: decotes, fivelas, bojos, lantejoulas, tipos de tecidos diferenciados e a minha loja amiga acompanhou as tendências, sempre. Já tivemos a época em que os suquinis, ou seja, modelos da calcinha do biquíni mais larguinha, eram a sensação do verão. Hoje quanto menor melhor, como as calcinhas das roupas íntimas. O modelo do varão é a calcinha curtininha. Você pode regular se quer menor ou maior a sua peça. A ideia das coleções é atender a mulher com funcionalidade e sofisticação.
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E a mulher contemporânea, que busca estar bem vestida em qualquer ocasião, é o objeto de inspiração. Então, aparecem na passarela os modelos que me entusiasmaram para escrever sobre o assunto, modelos com detalhes simples, mas sofisticados. Peças metálicas centrais ou laterais, amarrações bastante modernas, correntes, argolas ou fivelas, além de babados e recortes muito bem elaborados foram apresentadas ao público com muita maestria. E eu que escolhia os meus biquínis sentada no chão...
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Colírio para os olhos e alegria para o coração
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Fico encantada com os diversos modelos, modelagens menores para as mulheres mais sensuais ou mais amplos para os diferentes corpos, os tops dos biquínis que ganharam alças e recortes variados, entre os tomara-que-caia, frente única, assimétricos, com alças largas ou finas. Mas a verdade é que a maioria das lindas peças vistas nas passarelas não tem tanta utilidade no dia-a-dia, pelo menos na minha opinião e humilde observação. Nunca vejo na praia ninguém com modelos tão sofisticados. Esses que vemos na passarela são pra desfilar mesmo. Talvez em um churrasco, aniversário... Mas nada de tomar sol e ficar com marcas grandes, se o que mais queremos são as marquinhas bem fininhas... De qualquer modo fica a intenção de fazer com que a mulher moderna sinta-se confortável e elegante. Não posso terminar este assunto sem antes comentar, brevemente, o processo inverso da moda praia masculina. Enquanto os biquínis diminuíam de tamanho, as sungas só faziam crescer. Hoje, só vemos nas praias e piscinas os chamados “sungões”. E aí fico me lembrando das sungas de meu pai a uns dez anos atrás, eram ridículas!!! Tão pequenas eram as laterais... Os rapazes mais tímidos preferem usar o bermudão por cima da cueca mesmo e livremente entrar e sair da água. Para esse público, tecidos de secagem rápida foram desenvolvidos. Assim atendese a todos os gostos. Não perca tempo, o verão já chegou! Escolha seu modelo, coloque seus óculos de sol mais fashion, calce suas havaianas e curta o sol quente. Eu vou me despedir de vocês e correr para dar um grande beijo na minha amiga de história vencedora. Detalhe: o desfile foi aplaudido de pé!
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Com que roupa?!
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Com que roupa?! A moda está tão na moda que adivinha como o Yacht Club da Bahia resolveu comemorar seus 75 anos? Como, como, como?! Com um desfile de MODA comemorativo! O clube podia ter feito uma festa para seus sócios, uma regata, uma prova de natação, tanta coisa, mas não. Fizeram um desfile de moda, que aconteceu no final do mês de outubro. Acredito que isso seja mais uma prova de como a moda está na moda. E como as pessoas estão aprendendo a vê-la de outra maneira. Para unir outra coisa que sempre está em alta o desfile era beneficente, ou seja, o valor dos convites foi doado a uma instituição de caridade. Cunho social nunca cai de moda! Então eu não podia ficar de fora dessa. Lá fui eu ver de perto o que acontecia... Dessa vez fui como “convidada”. Paguei ingresso, ajudei a instituição, fiquei curiosa para saber como era o desfile – e olha que já conheço como tudo acontece -, fiz tudo como “manda o figurino”. Ah, faltou dizer uma coisa que é de praxe em eventos como esse: também fiquei na dúvida do que vestir e quando cheguei, mesmo vendo que estava adequada, continuava desconfiada, com a sensação de que podia estar melhor.
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Com que roupa?!
É verdade. Se tem uma coisa que já observei em desfiles é que as pessoas deixam estampados no rosto que morreram de tanto escolher o que iam vestir e chegam no local e não estão confortáveis. E aí as figuras mais hilárias saem do armário. Tem aquelas sessentonas com roupas superformais e antigas, com broches e joias lindíssimas. Essas chegam, sentam, apreciam o desfile sem mudar, hora nenhuma, de feição, e não se sabe se gostam ou não do que estão vendo. Tem aquelas peruas, cheias de dinheiro, que querem parecer mais jovens então, estão todas plastificadas e com roupas superatuais. Até exageram na modernidade e, às vezes, chegam perto do ridículo. As menos favorecidas financeiramente também comparecem, sabe deus como conseguem o convite, mas vão e ainda fazem pose. São marca registrada figuras que não fazem ideia do que vestir então, tiram aquelas roupas que estavam escondidas no armário, aquelas separadas para eventos especiais, de brilho e paetês, cheirando a naftalina e tudo, e vestem como se estivessem chiquérrimas. De fato estariam se fosse, pelo menos, duas décadas atrás. Essas eu chamaria de “as desatualizadas” do mundo da moda. Aparecem, ainda, aqueles que querem fazer moda, criar moda. Daí misturam um monte de maluquice e ficam ali, se sentindo “o fashionista”. E tem, claro, os “básicos”, que usam uma calça jeans, uma camiseta ribana ou qualquer outra coisa sem muita informação. E acredite: se sentem muito bem, obrigada! Não vou negar que mesmo entre tantas figuras exóticas encontramos pessoas elegantes, e que assim chamam a atenção. Sem precisar de lantejoulas, nem muito menos um perfume forte para serem percebidos. Basta serem discretos, atuais, usar o seu estilo e assim serem chiques sem forçar nada.
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O comum entre todos esses tipos de convidados encontrados num desfile é que ninguém fica à
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vontade. Todos se entreolham, ficam desconfiados, pensando que tem alguém olhando e falando mal da sua roupa... Ah, relaxa... E curte o momento, baby! Com tantos modelitos na passarela vão reparar logo o seu? E até vão mesmo (risos), mas e daí? Ninguém paga suas contas, fofa... Sem querer puxar o saco, mas já o fazendo, para mim quem melhor se vestiu dessa vez foi minha mãe. É, ela me acompanhou... Estava com um vestido preto, lindíssimo. Aquele que é tudo em um só: arrumado e simples, sensual sem ter um só decote, nem curto nem longo, nem velho nem jovem demais, clássico, nem branco nem colorido, preto. Enfim, aquele que faz jus ao que dizem do vestido que nós, mulheres, temos que ter no guarda-roupa “um pretinho básico”. Minha coroa estava elegantérrima!
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Para menores de 12 anos! No desfile do Yacht Club a presença de pequenos notáveis me chamou atenção. Duas inquietas meninas de seus sete anos rondavam o salão pra lá e pra cá... Elas experimentavam cada cadeira, escolhendo o melhor lugar para ver o desfile que logo ia começar. Mas o que me impressionava não era a inquietação delas, já que isso é comum na maioria das crianças, mas, sim, o look moderno e arrojado que desde pequenas já desfilavam. Então fiquei pensando que começamos o interesse em moda desde muito cedo. Desde que nossos pais nos fazem usar as sandalinhas da Xuxa, quer dizer, Xuxa era na minha época, agora são Hello Kitty, Bem 10 e outros... Infelizmente esse incentivo precoce não é bem acompanhado por pais e indústrias, em geral os modelos fabricados em larga escala sempre trazem o mesmo perfil. É fácil encontrar bonecas de cabelos lisos, super-heróis brancos, mas e onde ficam as outras raças?! Você já pensou como é difícil os pais darem a seus filhos bonecos e bonecas negras e com cabelos crespos? E o primeiro motivo é, simplesmente, porque não se encontra no mercado.
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E assim, sem parâmetros, a moda infantil invade as escolinhas e, claro, as passarelas. Nesse desfile em que participei, por exemplo, uma marca francesa mostrou seus modelos de roupas para pais e filhos. É uma marca de shorts masculinos que são confeccionados com a mesma estampa para pais e filhos. As peças chegam a custar R$ 300,00 a versão infantil e R$ 500,00 a adulto. E tem gente que paga?! As marcas infantis investem fundo no seu público, desfiles direcionados só para os pequenos trazem coleções novas a cada estação e, como os de gente grande, levam “minifamosos” para arrasar na passarela. Sem dúvida é uma graça ver os danadinhos desfilando, mas será que eles queriam estar ali? Raros são os pais que perguntam a seus filhotes se querem participar de tal exposição, ou melhor, que explicam o significado de dar uma voltinha na passarela. Assim como as roupas mostradas eles viram mercadorias, vendem e passam a desejar o que exibem. Será que é certo cultuar o gosto por marcas desde tão cedo? Certamente não. A moda infantil já escolheu sua mais celebre representante, Suri Cruise, que com três anos desfila os modelos mais charmosos do “mundo dos baixinhos”, como diria a rainha deles, Xuxa Meneghel. Cheia de estilo ela passeia pelas ruas de todo o mundo, sempre ao lado da mamãe famosa, Katie Holmes, exibindo seus lindos modelitos e sapatinhos coloridos e assim é reconhecida pela mídia por seu charme e graça. Depois de usar esmalte vermelho aos dois anos, combinar seus brinquedos com a cor das suas roupas e esbanjar formosura com óculos escuros, a última vez que foi flagrada usava uma sandalinha de salto alto. Isso mesmo, salto alto. O sapatinho combinava com a saia de babados e a bolsinha que não tirava da mão.
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Uma pergunta ficou no ar: será que é um exagero uma criança de apenas três anos usar saltos? Mas
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foi só acompanhar mais um pouco o passeio da lindinha às compras, que logo os fotógrafos flagraram a mãe da minicelebridade trocar os saltos da boneca por uma sapatilha baixinha, mais confortável e cor de rosa. Sem sair da moda e sem perder o estilo, assim Suri ficava mais adequada para a sua idade. Ainda bem que sua mãe reconhecia. Apesar desse reconhecimento acredito ser, sim, um exagero de puro exibicionismo Suri usar salto alto. Espero que o fato tenha servido, no mínimo, para causar polêmica e chamar a atenção de outros pais para os absurdos a que estão submetendo seus filhos em busca de vaidade. Aproveitando essa onda de glamour da minifashionista Suri, todos os dias lojas e marcas lançam novidades para a garotada. Linhas exclusivas são criadas. A tendência para os pequenos é a influência do guardaroupa dos pais no armário dos filhotes. Nada mais de vestidinhos de “princesa”, agora a moda mirim pede jeans descolado, de diversos tons e estilos. Camisas sociais para os meninos também fazem parte da coleção. Acredita que as duas meninas que eu observava vestiam roupas descoladissimas? Uma usava um macacão sarouel (com aquele gancho enorme, que toca quase no joelho) todo estampado e comprido. A outra usava uma calça jeans coladinha com uma blusinha superfashion. As duas estavam de sandálias baixinhas, mas bem arrumadinhas, nada de desenho animado estampado, eram douradas e com pedrinhas decorando a alça. Muito chique! E claro estavam, cada uma, com sua bolsinha na mão. Duas fofas! Tudo começa com a brincadeira de vestir as roupas dos pais, as meninas usam maquiagem também e logo a vaidade toma conta dos pequenos “trocinhos”. As perfumarias já possuem linhas de maquiagem infantil e já existe até o concurso da miss mirim. E aí
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a brincadeira passou a ser coisa séria, com sacrifícios e tudo. E então passa dos limites, não são papais e mamães? Está na hora de repensar esses exageros. Preocupados com a aparência cada dia mais cedo, meninos e meninas já são clientela certa nos salões de beleza. Meninas que fazem escova, chapinha e até, absurdamente, depilação. Meninos que abusam nos cortes de cabelos mais diferentes. Segundo fontes de pesquisa da associação de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, o mercado desse setor aponta um crescimento de 40% nos produtos das linhas infantis, nos últimos dois anos. O que significa um movimento de 200 mil reais na economia, reflexo da vaidade cada vez mais precoce. Com as maquiagens dividindo espaço com os brinquedos, os passeios aos parquinhos sendo substituídos por desfile, teremos bonecas Barbies, símbolo de um padrão único de beleza e da vaidade feminina em forma de boneca, vivas em nossas casas. Olhei o relógio, já passava das dez da noite e as duas continuavam animadas, de olhinhos grudados na passarela. E no intervalo dos desfiles correram para tirar fotos e conhecer os jornalistas de moda que ali rondavam. Não tem jeito, essas duas nasceram para a moda! Mesmo assim, já era hora de criança estar dormindo!
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Com quantas mãos se faz uma passarela
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Com quantas mãos se faz uma passarela O trabalho por trás da passarela é facilmente esquecido quando se vê tudo pronto, ali exibido em belos corpos e com tudo dando certo. Mas será que foram aquelas mulheres lindíssimas que fizeram tudo? Sabemos que não. Para chegar ao resultado final, muitas mãos trabalham juntas e escondidas, sem aparecer para o público. É fácil ver a peça pronta, gostar, comprar e usar. Mas quem pensa em quanta gente trabalhou para que tudo desse certo?! É por isso que resolvi fazer uma homenagem simbólica para essas pessoas, e escrever um pouco sobre elas e seus trabalhos. Para quem não sabe, a moda é um dos setores com mais possibilidades de geração de empregos e crescimento. É um setor de movimento certo na cultura e na economia, com uma enorme repercussão nesses fatores. Os números encontrados pela estilista e designer de moda Marta Kaszinar em uma pesquisa são animadores. Segundo os dados encontrados, atualmente, cerca de 4.391 indústrias têxteis e 18 mil confecções
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registradas compõem o complexo têxtil só no Brasil. E olha que não se fala das inúmeras confecções informais espalhadas pelos quatro cantos do país. O faturamento estimado é de U$ 24 bilhões de dólares. Você ainda tem dúvidas do poder da moda? Não podemos negar que uma transformação na “visão de moda” vem acontecendo há algum tempo. Uma cultura mundial tem favorecido o crescimento da área e assim passa a ser vista como um grande negócio. Nessa perspectiva aumenta o interesse em investir e procurar profissionais capacitados nas mais diversas atividades interligadas ao mundo da moda. A grosso modo, podemos dizer que existe interesse em todos os lados, consumidores que compram e procuram o que comprar a todo momento, empresários querendo investir para terem o que for de melhor para oferecer e mão de obra que trabalhe nas mais variadas funções para atender essa demanda que só cresce. O número de desfiles e eventos de moda aumenta em todo o país. Na Bahia, por exemplo, tínhamos, até o ano passado, apenas dois desfiles por ano, hoje já são cinco confirmados anualmente. Ou seja, o número mais que dobrou. Isso gera fervor no mercado de trabalho e na economia do estado. Imagina isso acontecendo em vários lugares por aí?! Quem leva todo o brilho do que vemos na passarela são as modelos, elas que são lindas, exuberantes e estão estampadas em todas as capas de revistas, às vezes o estilista também recebe um “gliter”, quando esse ganha nome ou tem sua marca própria. Porque nós que visitamos os bastidores sabemos que muitas grifes reconhecidas escondem seus talentos a sete chaves.
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No meu último passeio pelos bastidores de um desfile, vai e vem eu reparava o tanto de profissionais que estavam por ali. Sabia que as grandes marcas
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contratam uma pessoa apenas para passar todos os looks que vão para a passarela? Agora imagina se uma passadeira dessa queima uma peça minutos antes do desfile?! Sacou a importância da profissional? E aí me lembro de tantos profissionais, que nem posso citar cada um deles e suas funções porque correria o risco de esquecer de alguém ou de não dar nesse espaço que tenho. Mas alguns eu faço questão de apresentar para vocês. Você pensa que o estilista tira molde – para se fazer uma roupa é necessário modelar a peça, ou seja, criar em papel o desenho de cada parte que juntas formarão a peça idealizada - , corta o pano, senta na máquina para costurar? Nada disso. Existe um profissional para cada etapa. Vamos lá: depois que o estilista pensa no tema e no conceito da coleção, um profissional chamado stylist tem a tarefa de idealizá-lo nas peças, então outro chamado de modista faz os moldes em papel do desenho criado. O cortador, por sua vez, pega esse molde junta com o tecido e corta os pedaços da roupa, a costureira pega esses pedaçinhos e junta-os fazendo a peça ficar pronta. Bom, só na fase de costura têm algumas pessoas que trabalham juntas, é melhor eu nem falar para você não se atrapalhar por aí. Mas ainda nem chegamos à metade, já pensou em quem tem a idéia do cenário? E quem monta esse cenário? E quem escolhe as modelos? Respectivamente, respondo essas perguntas, cenógrafo, apoio e diretor de casting. E ainda têm aqueles que providenciam um lanche para as modelos, os que cuidam da música e do som. Os que falam com a imprensa e muito mais. Ah, tem os seguranças também, eles são inesquecíveis, sempre barrando nós, jornalistas, e o público para não termos acesso a nada antes da hora. É todo mundo muito importante. Tenho milhões de elogios para todos esses profissionais, mas uma questão não me sai da cabeça. Por
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esses camarins, observei algo em comum entre a maioria das pessoas que trabalham por trás das passarelas: elas são tão desarrumadas! É raro estarem de cabelos bem penteados, roupas bacanas e maquiagens bem feitas. Por que será? Hum... Eles também estão sempre mal-humorados, preocupados... Minutos antes do desfile então, nem chegue perto. Nem parece que trabalham com produtos tão divinos. Mas acredito ser medo de algo dar errado, é muita responsabilidade... E no mundo da moda ainda existe um agravante, grande parte dos profissionais reclama que é tudo em cima da hora. Nada vem com antecedência, até porque não se tem tempo, a moda é muito rápida. São tantos erros e acertos, lágrimas e sorrisos, se faz e se desfaz tantas costuras até chegar ao produto final, que esses profissionais escondidinhos merecem nossos aplausos. Sem eles não teríamos indústrias fervendo de tarefas, mercado de trabalho aumentando e para os consumidores nada de moda quentinha do forno a cada estação.
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