{voz da literatura}

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{voz da literatura} n. 2 | junho | 2018 distribuição digitãl grãtuitã

- olavo bilac: o cronista - periódicos - pesado demais para a ventania: Ricãrdo Aleixo - egonia: Fernãndo Rãmos - entrevista: imprensa e literatura Alvãro Sãntos Simoes Jr. {Unesp}

- sumário:

Mãriã Angelicã Melendi

- álvares de azevedo: Mãchãdo de Assis - editoras: Penãlux e UFPR - sala de aula: Kelcilene Grãciã-Rodrigues {UFMS} - vitrine literária - alfarrábios: Juliã Lopes de Almeidã e Jose Veríssimo - agenda

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{} editor Rãfãel Voigt Leãndro

{} colaboradores

desta edição

Alvãro Sãntos Simoes Jr. Fernãndo Rãmos Kelcilene Grãciã-Rodrigues Jose Veríssimo {in memoriam} Juliã Lopes de Almeidã {in memoriam} Mãchãdo de Assis {in memoriam} Ricãrdo Aleixo Rodrigo Tãdeu Gonçãlves Wilson Gorj Tonho Frãnçã

{voz da literatura} revistã de críticã e divulgãção de obrãs literãriãs e ãfins. independente, mensãl, grãtuitã e distribuídã digitãlmente. www.vozdãliterãturã.com | fãcebook | instãgrãm vozdãliterãturã@gmãil.com brãsíliã-df {voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

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{poesia}

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PESADO DEMAIS PARA A VENTANIA | RICARDO ALEIXO | EDITORA TODAVIA | 2018

Homens Leonilson pintava e bordava. Bispo do Rosário colecionava delírios e bordava. Lampião tocava o terror no sertão e bordava. João Cândido punha a República no curé e bordava.

Belo-horizontino de 1960, RICARDO ALEIXO É POETA, ensaísta, artista visual e sonoro e compositor. Apresenta na Rádio Inconfidência FM, emissora pública de Minas, a coluna semanal “Poesia &”. Publicado originalmente no livro Antiboi (Ed. Crisálida/LIRA, 2017), este poema integra a antologia Pesado demais para a ventania (Ed. Todavia, 2018).

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{crítica literária}

OLAVO BILAC: O CRONISTA REGISTRO {CRÔNICAS} | OLAVO BILAC | ORG. ALVARO SANTOS SIMÕES JR. | EDITORA UNICAMP | 2011 {} RAFAEL VOIGT

440 crônicas de Olavo Bilac, publicadas no jornal A Notícia {RJ}, entre os anos 1900 e 1908, estão republicadas na obra Registro: crônicas da Belle Époque carioca {2011, Editora da Unicamp}, em trabalho de pesquisa, catalogação, transcrição, revisão e organização de Alvaro Santos Simões Jr., professor de literatura brasileira na Unesp.

Dentro do largo quadro social estampado por Bilac da capital federal de seu tempo, é possível conectar as crônicas com a contemporaneidade. Salta aos olhos, por exemplo, a relação da atual e desastrosa intervenção militar no Rio de Janeiro e sua similitude com o fio histórico da denúncia de Bilac sobre a inoperância da polícia em “População ignorada” (1902):

Simões Jr. é extremamente claro ao apontar o objetivo principal dessa antologia de crônicas de Bilac: “documentar o posicionamento do cronista diante do processo de modernização por que passava o Rio de Janeiro no início do século XX” (p. 36).

Ou por má organização da polícia central, ou por deficiência de pessoal na brigada policial, o que está na consciência de todos é que o Rio de Janeiro não tem policiamento. E como “sociedade civilizada” quer dizer essencialmente “cidade policiada”, deixemonos de lamentações estéreis. (p. 128)

A diversidade de temas é uma característica própria dos cronistas, “filhos de Cronos”, em particular quando se sabe que a coluna “Registro”, no jornal A Notícia, se alimentava de crônica diária. Trata-se de diversidade difícil até mesmo de ser catalogada, por mais que haja um critério na seleção das crônicas. Como instrumentos valiosos de pesquisa, há cuidadosos índices onomástico e remissivo ao final da edição preparada pela Editora da Unicamp.

Ao cobrir boa parte do período da primeira década do século 20, as crônicas de Bilac registram um tempo em que se propõem questões prementes de vários setores da vida brasileira, especialmente da ótica de quem vivia e participava da imprensa carioca. Rio de Janeiro (ou Sebastianópolis, como às vezes é nomeada pelo cronista) abastece de temas as crônicas de Bilac. Se por um lado o valor histórico dessas crônicas está no registro da formação e modernização da cidade, como bem acentua o professor Alvaro Simões Jr.; por outro, nota-se que essa modernização se deu diante de quadro social fartamente documentado pelo cronista, composto de crescimento urbano descontrolado, pobreza, falta de saneamento básico, incluindo precário abastecimento de água.

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No espaço dessa crítica, seria inútil e contraproducente esmiuçar todos os assuntos abordados por Olavo Bilac em Registro. O modelo de vida parisiense, símbolo da Belle Époque, aparece aqui ou ali nas crônicas, seja pela comparação do Rio de Janeiro com a capital francesa, seja por meio da possibilidade de na América do Sul se instalar uma capital dentro {4}


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desses moldes, como acontecia em Buenos Aires. Nesse ínterim, um dos pontos mais debatidos por Olavo é sobre o descaso com o saneamento da cidade do Rio de Janeiro.

do cronista, são legítimas e revelam o avanço de uma nação, como no relatado tumulto durante as eleições no Rio de Janeiro em fins de 1901: {...} Aqui houve cinco ou seis cabeças quebradas; em qualquer capital da Europa haveria cem mortos e quinhentos feridos. Na América do Norte, uma eleição é uma rude campanha em que se gastam milhões de dollars e milhões de balas de SmithWesson. Põe em campo, a princípio, a corrupção, mas afinal a boa causa triunfa, o povo impõe a sua vontade – e a prova de tudo é para bom fim está em que as cidades norte-americanas são modelos de limpeza, de conforto, de higiene e de boa administração... {...} (“Eleições violentas”, 30.12.1901)

Sobre o capítulo do saneamento, muitas elucubrações - das mais proveitosas - podem ser feitas sobre o posicionamento político de Bilac, para o argumento em prol da proteção e segurança social, a partir da oferta de melhores condições de vida à população. Um dos pontos de culminância dessa preocupação com o saneamento e a higiene pública chega na crônica “Reações à vacina” (11.11.1904), em que se coloca à tela o episódio histórico da Revolta da Vacina:

Olhando para outra faceta do cronista, convém ressaltar que dariam um estudo à parte as narrativas de viagem de Olavo Bilac. Há muito o que se analisar sobre suas impressões de viajante, em um exercício literário de quem escreve num átimo, de prontidão, como um diário contínuo, como se a vida não fosse vida sem que a escrita o acompanhasse de perto. Refiro-me, particularmente, à sua viagem para a Europa em 1904, em que pousou por seis meses entre as cidades de Lisboa, Paris, Turim, Gênova, Roma e Florença.

{...} Essa gente tem a sua opinião, - e é preciso que se respeitem todas as opiniões. Mas o que é perfeitamente injusto e perfeitamente reprovável, é que contra essa medida se açule, de modo irritante e perverso, o ódio da multidão. O regulamento da vacinação obrigatória vai ser estudado e discutido por homens competentes; e já esta mesma Notícia começou ontem a recolher opinião e críticas de profissionais ilustres. Essas coisas não se podem estudar nem discutir no meio da rua, aos berros.

Nessas viagens, reúne-se grande acervo cultural e de reflexões socioculturais de Bilac sobre o Brasil e sobre o Rio de Janeiro, o que não destoa da seleta realizada por Álvaro Simões Jr. São essas viagens que formam boa parte do espírito de Bilac, o que é bem anotados por ele. É o que se observa em sua passagem por Turim:

Se houver motins de certa gravidade, a quem caberá a responsabilidade deles? – Ao governo que calmamente procura obter sobre o seu regulamento a opinião da gente que sabe onde tem o nariz? Ou àqueles que vão logo apelando para a rebelião e para a desordem? {...] (p. 304)

Outro fato correlato às medidas saneadoras encontra-se em “O arrasamento do morro do Castelo”, em que se discute a destruição do morro, levado a cabo em reforma urbana de 1922. Tudo a conta de livrar a cidade da alcunha de “Pestópolis”, como assinala Bilac em “Resistências à higiene” (13.02.1905). Nesse particular, em “O Palácio do Congresso” (04.06.1906), o cronista destaca a atuação de expoentes da política e da história carioca:

Ainda há poucas horas, na Pinacoteca da Academia de Ciências de Turim, diante de uma Virgem de Giovanni Bassi, diante de um Felipe IV de Velázquez, diante da Danaé de Veronese e do S. Jerônimo de Ribera, passei minutos de vida espiritual que valeram mais do que anos de vida animal. (“Em Turim”, 20.07.1904, p. 270)

Sinto, em particular, que voltarei algumas vezes a essas narrativas de viagem de Bilac. O processo de leitura e estudo de uma obra, empreendida por um crítico literário, resulta, infindáveis vezes, em mais pesquisas. E o sabor da descoberta agrega significados ao já escrito. Foi com surpresa que, em breve consulta na rede, encontramos o livro Viagens, de Olavo Bilac, composto de uma série de poemas provavelmente inspirados por suas experiências de viajante. Escusado dizer que Viagens merece nova leitura a partir do que as próprias narrativas do viajante Bilac sugerem, para amplitude dos significados de sua poética.

{...} Se, nestes últimos quatro anos, de abençoado e espantoso progresso, o Brasil houvesse prestado o ouvido e dado atenção ao apavorado clamor dessas Cassandras, nada se teria feito. Lauro Müller não teria realizado a obra benemérita da construção do porto e da radiante Avenida Central; Pereira Passos não teria transformado a velha cidade imunda numa capital esplêndida; e Osvaldo Cruz não teria tirado de cima de nós o espantalho, o terror, o pesadelo da febre amarela! {...} (p. 387) [grifos meus]

Outras comparações com o modelo de vida europeu ou norte-americano são exemplos de idealizações de Bilac sobre a nação, por vezes em flagrante contradição. Tal como acontece com o uso da violência e da força, que, segundo a fina ironia

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Deixo, antecipadamente, sugestão para que seja compilada obra sobre as narrativas de viagem de

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Bilac. Em Registro, há uma boa amostra de seu valor literário.

registro; na Gazeta, escreve-se registo. {...}” (p.

Para o pesquisador da área de literatura, abre-se nesse volume outra possibilidade de pesquisa: o nacionalismo e o espírito patriótico de Bilac. Uma das vias desse campo de pesquisa seria acompanhar, no discurso do cronista, as comparações estabelecidas entre o Brasil e as demais nações, em discussões sobre a política internacional ou a simples análise de outras nacionalidades, como acontece no texto “Civilização Norte-Americana” (29.12.1904):

Ainda no que tange a aspectos da cultura nacional, inadequações de nossos costumes, em especial da classe da população aspirante aos padrões belle époque, podem ser lidas em “Roupas claras e leves” (14.11.1905): “Oh! A sobrecasaca! Oh! A Cartola! Oh! Essa negra mortalha e essa fúnebre chaminé lustrosa, com que os ‘homens sérios’ desta terra afligem durante o verão o corpo e a cabeça, para afirmar e manter a sua seriedade!” (p. 367).

Aqui, no Brasil, quase todos acham que a América do Norte é o ideal de nação, um modelo de país, a flor suprema da Civilização Humana...

Por vezes, durante a leitura, somos tomados de espanto em crônicas como “Comércio de escravos” (1905), pelo simples motivo de Bilac mencionar que ainda havia, àquele tempo, no Brasil a escravização e o comércio de pessoas. Não custa lembrar que essa peste ainda não foi erradica do Brasil...

339).

Santo Deus! Civilização não é só riqueza e força: civilização é, principalmente, justiça e bondade. (...) (p. 314)

Ainda sobre esse capítulo do nacionalismo no discurso de Bilac, mereceria sincera atenção “Perigo estrangeiro” (10.01.1905), em relação aos imigrantes alemães do Sul do país. E, claro, não podem ficar de fora dessa temática aquelas crônicas em que ovaciona figuras de relevo de nossa história, como “José do Patrocínio” (30.01.1905), “Tiradentes” (21.04.1906), “Deodoro da Fonseca” (16.10.1908).

Em estudo sobre o ciclo da borracha na Amazônia, sabe-se das agruras por que passavam os seringueiros no Acre, transformando-se em verdadeiros escravos, como, nos dizeres de Euclides da Cunha, homens que trabalhavam para se escravizar. Contudo, parece que não é somente a esse fato histórico a que o cronista faz menção, a partir do que lê em um jornal. Merece destaque o seguinte excerto de “Comércio de escravos”:

O conteúdo nacionalista ou patriótico do cronista pode chegar às raias de discutir o lema da bandeira brasileira:

É um telegrama lacônico, - apenas duas linhas secas: “Manaus, 15. – O prefeito do Acre publicou uma circular, proibindo o comércio de escravos!”.

{...} Cosidas à faixa branca que retalha a esfera azul, aquelas letras obrigam a nossa bandeira a ter direito e avesso: e não há nada tão ridículo como possuir uma divisa, que, ao sabor do vento, ou ao acaso da posição em que se olha o pano, tanto pode ser Ordem e Progresso, - como ossergorP e medrO, que parece língua de maluco. (p. 348)

Comércio de escravos! No Acre! No Brasil! Em 1905! – A coisa é tão inesperada, tão extravagante, tão monstruosa, que parece um gracejo de mau gosto, invenção satânica de algum espírito perverso. Mas, não! O caso é real! No Acre, vendem-se e compramse homens como mercadoria! Num ponto do Brasil, num trecho da grande pátria livre, há um mercado de carne humana! E é a primeira autoridade do lugar, é o prefeito quem reconhece o crime hediondo, proibindo, em circular oficial, o tráfico infamante! (p. 346)

Nesses dias de governo ilegítimo no Brasil, parece que nossa bandeira só tremula a contrapelo, pelo avesso, em contraposição a seu lema e no rumo do ossergorP e medrO. Mas, cabe lembrar que Bilac escreveu a letra do “Hino à bandeira”. Coerente com essa crônica, o poeta não utiliza o lema da bandeira no hino.

Nessa mesma linha, “Escravidão nos seringais” (28.10.1908) apresenta a sina dos “escravos da borracha” no início do século passado na Amazônia. Nessa crônica, Olavo Bilac noticia o uso de palmatórias nos seringais. E aqui Bilac está de braços dados com a denúncia feita por Euclides da Cunha sobre a situação desses trabalhadores naquelas plagas:

Outro traço da composição de nossa identidade nacional revela-se em um bom conjunto de crônicas do poeta parnasiano: a língua portuguesa. Discute as mais diversas questões, entre elas a “Reforma ortográfica” (25.05.1905): “É inegável que a barafunda, na maneira de grafar as palavras, é grande e deplorável. No Brasil (com s ou z?) ninguém se entende neste particular. Veja-se a imprensa diária... Nós, aqui, na Notícia, escrevemos {voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

É uma chaga hedionda que se descobre. Ainda não há muito tempo, em artigos publicados no Jornal do Comércio, Euclides da Cunha descreveu a miséria da condição dos seringueiros, engajados no seio das populações famintas do Norte, seduzidos com

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promessas ridentes, e explorados pelos feitores: quando, ultimada a colheita da borracha, os trabalhadores pedem o encontro das contas, é sempre o empreiteiro quem tem saldo a seu favor; fornecendo comida, roupa e ferramentas ao operário, o feitor sempre reserva para si a parte do leão, - de modo que escraviza pela dívida o devedor, - dandolhe a escolher estas duas pontas de um dilema feroz: ou a continuação do trabalho sem salário, ou abandono, a fome, a miséria, a morte no meio do deserto. Mas nem todos os explorados se resignam imediatamente ao cativeiro: alguns protestam. E é então que entra em cena a palmatória, acompanhada e secundada talvez pelo vergalho e pelo “tronco”... (p. 488)

Ainda sobre escravidão, em “Siô Benedito e Siá Belmira” (27.07.1905), Bilac relembra o caso de exescravos africanos que escravizavam outros negros: “Naquele tempo, eu não compreendia como um preto, que fora cativo, tinha a coragem de escravizar e torturar os seus irmãos infelizes...” (p. 352). As crônicas de Registro despertam profundas contradições de nosso processo de construção histórica. A leveza da crônica de Bilac não foge à possibilidade do humor por meio da ironia. Em “Profissões extraordinárias” (24.01.1908), relata o surgimento de profissões extravagantes, muitas das quais caracterizadas por aproveitadores de muita má -fé, como no seguinte episódio: No Rio de Janeiro, há poucos anos, com o aparecimento da peste bubônica coincidiu a invenção de uma nova indústria, - a dos criadores e importadores de ratos. A Diretoria de Saúde anunciou que pagaria trezentos réis a qualquer pessoa que lhe apresentasse, vivo ou morto, um desse ladinos roedores, transmissores perversos da peste. Saíram a campo os caçadores; e em pouco tempo foi consumido todo o stock das ratoeiras nas lojas de ferragens. Mas alguns homens espertos quiseram ampliar o negócio; e estabeleceram em casa viveiros de ratos, e, além disso, começaram a importar do Estado do Rio os animais preciosos... A Diretoria de Saúde viu-se tonta! Toada a rataria do mundo parecia ter invadido o Rio de Janeiro! Os ratos chegavam aos milheiros, em sacos, em cestos, em carroças! Afinal, foi descoberta a tratantada, e suspendeu-se o comércio... (p. 456)

Muitos são os temas que se desenrolam nas centenas de crônicas de Bilac, mesmo que Álvaro Simões Jr. tenha selecionado segundo critério ressaltado no início dessa crítica. Os caminhos da modernização e desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro podem ser sentidos no incentivo do cronista à comercialização de automóveis (“Isenção de impostos para automóveis”, 26.09.1905) ou na campanha insistente a favor da educação pública e {voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

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do combate ao analfabetismo (“Literatura e analfabetismo”, 13.11.1905; “Analfabetismo e segurança nacional”, 26.02.1904). A vida cultura não poderia ficar à margem dessa breve crítica a Registro. Bilac nos auxilia no entendimento do quadro da literatura e dos leitores em um “País de analfabetos” (11.02.1903): “Pobre país, habitado por oito ou dez milhões de analfabetos! Como é que há de haver literatura, como é que há de haver arte no teu seio?” (171) Nesse sentido, outra crônica elucida o problema: “O Brasil não lê” (04.12.1903). Ao lado dessa constatação, pode-se alinhar sua severa crítica ao academicismo literário brasileiro em “Academias estaduais” (11.04.1907): É lícito esperar que, daqui a dez anos, não haverá, nesta extensíssima terra de oito milhões e quatrocentos mil quilômetros quadrados, um só quilômetro quadrado que não possua a sua Academia de Letras. Seria talvez melhor que em cada um desses quilômetros quadrados houvesse uma escola primária... Mas, enfim, quem não tem o que quer, contenta-se com o que tem. Um homem pode perfeitamente ser homem de letras sem saber ler e escrever. Há muitos exemplos disso!

No centro da vida cultural, o jornalista Bilac registra o surgimento de “Associação dos jornalistas” (31.10.1905), para fortalecer as vantagens da associação dos profissionais do jornalismo. Tempos depois, em “Fonocinematogazeta” (15.05.1908), escreve sobre o futuro do jornal impresso: Decididamente, estão contados os nossos dias, ó cronistas, escritores de artigos de fundo, noticiaristas, e mais operários do jornal escrito! Já se anuncia, bem perto, o jornal do futuro, falado e cinematografado, entrando rapidamente pelos olhos e pelos ouvidos, graças à ação combinada dos fonógrafos e das fitas do Pathé.” (p. 471-472)

Vários escritores aparecem, volta e meia, nas crônicas, como para fortalecer uma visão de sistema literário nacional que se instalava mais fortemente a partir do século 19. Figuras como as de Antônio Vieira, Gregório de Matos, Gonçalves Dias, Aluísio Azevedo, Artur Azevedo, Odorico Mendes, João do Rio, dialogam ou ajudam a construir o discurso do cronista Bilac. Para contemplar esse aspecto, não se poderia fechar essa breve análise crítica de Registro, sem um excerto de crônica escrita a respeito da morte de Machado de Assis: Não me é possível dizer agora, neste momento em que a notícia da morte de Machado de Assis me


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acabrunha, o que sinto e o que penso desse homem raro, e talvez único, que foi uma esfinge para muita gente. E dizê-lo, para quê? Que palavras de entusiasmo ou carinho podem aumentar a glória desse nome sem igual, que fica sendo a mais pura tradição da nossa vida literária? (29.09.1908, p. 481)

Bilac fez de “Registro” sua crônica diária e, acima de tudo, um diário muito pessoal: “Este Registro foi sempre o meu ‘diário’, todos os dias aberto, todos os dias escrito, fixando as impressões dos meus olhos, do meu espírito, da minha inquieta curiosidade. {...}” (“Despedida”, 09.04.1904). Esse apanhado de crônicas de Bilac, em Registro, proporciona aos leitores brasileiros uma amplificação da atuação do poeta em seu tempo, especialmente como homem da imprensa, capaz de opinar sobre as mais diversas questões da vida, mesmo que a partir da ótica carioca e com tantas flagrantes contradições em seu discurso. A visão sobre a profundidade do trabalho do professor e pesquisador Alvaro Santos Simões Jr. pode ser ampliado pelo leitor interessado com o auxílio da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/), que disponibiliza muitos números - senão todos - do jornal vespertino A Notícia, incluindo os correspondentes ao período da pesquisa de Simões Jr. As crônicas de Bilac, diárias na coluna “Registro”, estão na segunda página do jornal. A leitura cronológica auxilia na observação do principal objetivo de Álvaro Simões nessa seleta das crônicas de Bilac em A Notícia, isto é, o de observar a capital carioca em seu processo dialético de modernização durante a chamada Belle époque. Todavia, ao leitor interessado em desvendar o pulso de cronista do poeta Olavo Bilac, é possível uma leitura por temas (com ajuda dos índices ao final da obra), ou avulsa, ao acaso, o que talvez poderá surpreender ainda mais o leitor.

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Em outra instância, essa obra publicada pela Editora da Unicamp auxilia a configurar melhor o quadro de cronistas brasileiros responsáveis pela constituição desse gênero, presente até os dias de hoje nas páginas dos jornais brasileiros. A historiografia literária brasileira só tem a louvar o trabalho empreendido por Álvaro Simões Jr. Oxalá outros trabalhos possam desfraldar tesouros perdidos de nossa literatura no mar dos periódicos antigos, o que contribuiria sobremaneira para uma visão ainda mais completa e complexa de nosso espírito literário, que diz bastante sobre o nosso sentido de nacionalidade. Não me considero um bilac-ano, muito menos um profundo admirador de sua poesia. Não obstante, sua prosa como cronista contribui fartamente para o registro de um largo período de nossa história, no início de um século de modernização das cidades, de mudanças consideráveis na face do mundo, com a primeira guerra mundial e a Revolução de 1917. Bilac, em Registro, não chega a tanto, porque seu período como cronista dessa coluna se situa apenas entre 1900 e 1908. Mas esta obra reforça em mim o desejo de ler o cronista Olavo Bilac sob novo ângulo e, quem sabe, na busca de crônicas da sua última década de vida – se é que existem -, em suas reflexões sobre os avanços de nossa recéminstituída República, bem como de outras viagens por ventura empreendidas pelo jornalista. Uma certeza fica ao final da leitura. É preciso ler e reler o cronista Olavo Bilac. É um dos grandes cronistas do Brasil - com a licença dos superlativos, em certas ocasiões tão vazios de significados... É preciso redescobrir suas crônicas, como forma de redescobrir histórica e literariamente o Brasil.

{} RAFAEL VOIGT, editor da {voz da literatura}, é doutor em literatura pela UnB. Autor de Os ciclos ficcionais

da borracha e a formação de um memorial literário da Amazônia (2016).

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{voz qual ĂŠ a sua}

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{periódicos}

RASCUNHO _ jornal de literatura do Brasil - Curitiba {PR} _ mensal | impresso e digital _http://rascunho.com.br/ ESTUDOS DE LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA _Outras alteridades _Org. Alessandra Santana Soares | Gislene Maria Barral _n. 54, maio-agosto, 2018 | trimestral _ Universidade de Brasília {UnB} http://periodicos.unb.br/index.php/estudos/ | facebook CADERNOS DE TRADUÇÃO _Translation in Exile _n. 38, n. 1, jan.-abr., 2018 | quadrimestral _ Universidade Federal de Santa Catarina {UFSC} https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/index

LAVOURA _Graciliano Ramos: o estado novo _prosa, poesia, artes visuais. _n. 3, 2018 | digital _ São Paulo {SP} _revistalavoura.com.br | facebook | instagram

REVISTA TERCEIRA MARGEM _{Alguns temas: José Saramago, Thomas Merton, Joaquim Manuel de Macedo, Machado de Assis, João do Rio, Carlos Drummond de Andrade, Natyashastra de Bharata, Gregório de Matos, Caetano Veloso, Mario Faustino...} _ano xxi, n. 36, 2017 | semestral _ Universidade Federal do Rio de Janeiro {UFRJ} _https://revistas.ufrj.br

RELEVO _jornal literário _impresso | mensal _ Curitiba {PR} _facebook | instagram

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{entrevista}

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IMPRENSA E LITERATURA

ALVARO SANTOS SIMÕES JR., PROFESSOR DE LITERATURA BRASILEIRA {UNESP} É, desde 1998, professor de Literatura Brasileira da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Assis. Em 2010, tornou-se pesquisador do CNPq. Publicou, pela Editora da UNESP, os livros A sátira do Parnaso (2007), Estudos de literatura e imprensa (2015) e Bilac vivo (2017). Além dessas publicações, reuniu crônicas de Olavo Bilac na obra Registro: Crônicas da Belle Époque Carioca (Campinas: Ed. da UNICAMP/ FAPESP, 2012) e, no livro Sátiras (Lisboa: CLEPUL; FCT, 2017), recolheu textos publicados na imprensa pelo poeta parnasiano.

Boa parte de sua produção acadêmica está relacionada ao tema “imprensa e literatura”. Como chegou a esse campo de pesquisa?

críticas e até mesmo edições de inéditos e dispersos de autores relevantes para a literatura brasileira. Cabe assinalar, por exemplo, que clássicos como Memórias de um sargento de milícias, de M. A. de Almeida, O guarani, de J. de Alencar, Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba, de M. de Assis, foram “experimentados” em periódicos antes de conhecerem uma versão, - às vezes bastante modificada, - em livros.

Tudo começou em fase preparatória para o Mestrado. Naquela altura, interessei-me pelos versos de circunstância de Olavo Bilac, especialmente pelos Pimentões (1897), escritos a quatro mãos com Sebastião Guimarães Passos. Descobri então que os textos eróticos e humorísticos do livro tinham sido publicados originalmente em uma seção da Gazeta de Notícias intitulada “O Filhote” (1896-1897) e, assim, minha dissertação acabou versando sobre a participação de Bilac nessa seção. Como “O Filhote” era um “jornal” paródico colocado no canto superior direito da primeira página da folha dirigida por Ferreira de Araújo, comecei com esse estudo a conhecer as convenções jornalísticas do final do século XIX e a intensidade das “trocas” entre literatura e jornalismo nesse período.

Quais desafios você enfrentou ao trabalhar com fontes primárias durante um período em que boa parte do acervo de bibliotecas públicas e hemerotecas não estavam ainda digitalizados? Para quem, como eu, vive e trabalha no interior, havia significativas dificuldades de acesso aos periódicos, que eram consultados a partir de cópias microfilmadas fornecidas principalmente pela Biblioteca Nacional. O Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (CEDAP) da UNESP/Assis foi formando ao longo do tempo, graças a investimentimentos dos programas de pós-graduação em Letras e História, um acervo de periódicos como a Gazeta de Notícias e O Estado de S. Paulo. Além disso, pesquisadores como eu fizeram pedidos de financiamento às agências de fomento e enriqueceram o acervo com doações. Assim, o CEDAP recebeu, por exemplo, coleções fragmentadas de A Notícia, Correio da Manhã, A Bruxa e A Cigarra, para citar apenas periódicos cariocas. Em virtude de necessidades de pesquisa, era inevitável também fazer longas viagens – de ônibus! - para consultar os acervos mais ricos da própria Biblioteca Nacional, Arquivo do Estado de S. Paulo, biblioteca Mário de Andrade, os institutos históricos e geográficos de S. Paulo e Rio de Janeiro, Casa de Rui Barbosa, UNICAMP etc. No quarto de século a que me dedico aos periódicos,

Nesse universo “imprensa e literatura”, há uma vertente de pesquisa dedicada às fontes primárias em periódicos antigos, em verdadeiro trabalho de garimpagem. Como é esse processo? A literatura brasileira da segunda metade do século XIX e início do século XX correu pelo leito dos periódicos, fossem eles jornais diários, hebdomadários ilustrados, revistas literárias ou de entretenimento. Os escritores brasileiros publicavam nesses veículos contos, poemas, romances-folhetins e, principalmente, crônicas de vária natureza. Desse modo, os periódicos se configuram hoje como um rico manancial de fontes primárias para o estudo da história literária, do que resultam novas produções {voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

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{entrevista}

já me vali de antigas máquinas de leitura de microfilmes fabricadas na extinta República Democrática Alemã e de mais modernos equipamentos computadorizados, que, a princípio, forneciam cópias impressas e hoje permitem a produção de arquivos digitalizados. Em alguns casos, a leitura é antes um trabalho de decifração...

Gostaria de lembrar também de Marisa Lajolo, autora de um ensaio pioneiro sobre a literatura paradidática de Bilac. Ivan Teixeira, recentemente falecido, Felipe Fortuna, Paulo Franchetti, Regina Zilberman e Luís Austo Fischer produziram trabalhos esclarecedores para o estudo do poeta parnasiano. Tenho também notícia de jovens pesquisadores como Emmanuel Santiago e Robson Teles Gomes que atualmente se interessam pela obra de Bilac.

Desde seu doutorado, você se dedica à obra de Olavo Bilac. Poderia nos dizer quem foi o Bilac jornalista?

Entre outras coisas, você se dedicou a pesquisar os efeitos de livros de poesia do decadentismosimbolismo português em periódicos cariocas. Poderia contar um pouco sobre os resultados dessa pesquisa e sua relevância para a historiografia literária brasileira?

Quando jovem, o poeta da Via Láctea sonhava em dedicar-se exclusivamente à literatura. Porém, o abandono do curso de Medicina levou-o a romper com o pai, médico que atuara da Guerra do Paraguai. Sem recursos para sobreviver, aceitou o cargo de revisor que lhe ofertou José do Patrocínio, diretor do diário Cidade do Rio e líder de um grupo de intelectuais boêmios. A rigor, porém, seu ingresso no jornalismo ocorreu no ano de 1887 em S. Paulo, onde tentava cursar Direito. De 1887 a 1908, abraçando definitivamente o jornalismo, colaborou em todo tipo de periódico, dos jornais diários às revistas ilustradas, chegando inclusive a fundar periódicos como A Rua (1889), O Combate (1892), A Cigarra (1895) e A Bruxa (1896-1897). Sua produção foi extremamente diversificada, dedicando-se tanto à crônica de amenidades quanto ao jornalismo mais combativo.

Trata-se de uma pesquisa ainda em andamento, com a qual tenho vasculhado periódicos do Brasil e de Portugal em busca de apreciações críticas e até meras notícias sobre o decadentismo-simbolismo no final do século XIX. Tenho estudos bastante adiantados sobre o decadentismo-simbolismo português (1890-1893) e sobre a recepção na imprensa da obra de Cruz e Sousa (1893-1905). Tudo se originou da vontade de compreender melhor as razões pelas quais uma obra de inquestionável valor como a do assim chamado Dante Negro não encontrou uma ressonância condigna junto aos seus contemporâneos. Tenho razões para acreditar em que serei bem sucedido no empreendimento.

O que ainda pouco se sabe sobre essa faceta de Olavo Bilac? Por que vale a leitura de seus artigos jornalísticos?

Sua pesquisa estende-se também pelas relações entre “imprensa e literatura” na contemporaneidade?

Antonio Dimas já publicou obras definitivas sobre o Bilac jornalista, mas ainda há a possibilidade de estudarem-se produções específicas como as sátiras e artigos escritos contra Floriano Peixoto. Durante 20 anos, Bilac foi um observador atento da vida brasileira e testemunhou episódios fundamentais da nossa história como a Abolição, a Proclamação da República, a Revolta da Armada, a Guerra de Canudos e a Revolta da Vacina. Se, por um lado, foi um opositor incansável do assim chamado Marechal de Ferro, deu, por outro lado, apoio incondicional governo republicano quando este se viu ameaçado por golpes ou levantes populares.

Não, embora seja esse um tema fascinante, inclusive pelas possibilidades de comunicação abertas pelos modernos recursos de informática. Deve-se, porém, ressalvar que a imprensa tradicional, - jornais e revistas impressos, - tem restringido cada vez mais o espaço reservado à literatura, o que é lamentável. Qual avaliação você faz da preservação documental dos periódicos antigos e fora de circulação no Brasil? Há tanto motivos para consternação, quando se ouvem histórias acabrunhantes sobre o estado de conservação de determinados acervos, quanto para júbilo, em virtude de projetos específicos de conservação e organização de acervos realizados por instituições privadas e principalmente públicas, - neste caso vinculadas às universidades brasileiras.

Além de você, quais são os principais pesquisadores sobre a obra de Bilac no Brasil? Em primeiro lugar, deve-se citar, pela qualidade e abrangência das obras já publicadas, Antonio Dimas.

{voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

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{entrevista} Em suas pesquisas, certamente, se deparou com alguns periódicos literários. Se você fosse reeditar um deles, qual escolheria? Por quê?

atualmente também pelo trabalho dos correspondentes estrangeiros nos jornais cariocas do final do século XIX e início do século XX. Outro assunto com que ocasionalmente me ocupo é a literatura paradidática publicada durante a Primeira República. Venho tentando despertar o interesse dos orientandos por esses âmbitos de pesquisa, mas acolho praticamente qualquer proposta de investigação que aborde textos de interesse literário publicados em periódicos nacionais ou estrangeiros.

Pela qualidade editorial e pela importância histórica, eu escolheria a revista Kosmos (1904-1909), sobre a qual há um trabalho fundamental de A. Dimas. O que vem pesquisando atualmente? Como esse projeto guarda relação com sua atuação como docente? Você costuma incentivar o engajamento de graduandos nesses projetos? Meus esforços principais têm sido dedicados ao estudo do decadentismo-simbolismo, mas me interesso

OBRAS DE ALVARO SANTOS SIMÕES JR. A sátira do parnaso: Estudo da poesia satírica de Olavo Bilac publicada em periódicos de 1894 a 1904 {ensaio}

Registro {crônicas}

_ Editora Unesp

_ Editora Unicamp

_2007

_2011

Estudos de literatura e imprensa {ensaio}

Bilac vivo {ensaio}

_Olavo Bilac _Org. Alvaro Santos Simões Jr.

_ Editora Unesp

_ Editora Unesp

_2017

_2014

{voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

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{prosa}

}

EGONIA: 9MM DE PROSA {ROMANCE} | FERNANDO RAMOS | EDITORA PATUÁ | 2018 SILÊNCIO

FERNANDO RAMOS É ESCRITOR, cineasta, artista plástico e compositor.

{voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

Sem escutar o praguejo do vento, ofertava ao mundo a cara descarada, alma lavada, riso transgressor de doces arpejos, amarelando os dentes dos que a invejavam por despeito. Não se entorpecia com joguetes, só usava torniquetes; não emulava algoz, só cantava em falsete. E por certo nunca foi tiete de quem não fosse à sua altura par, jorrava fúria serena de Arvo Part; ao mar, ao fim, ao surdo: lembrava um cometa a ponto de estourar a estratosfera terrestre. Nasceu, dizem, da cruza do cipreste de Hera com a concha de Hades e assim, meus confrades, tudo às avessas, nasce um milagre andrógino, um arcanjo selvagem, uma valente que ruge, tão sereno que ela arde. Sinto na pele da crença o sangue torpe das vespas vestidas em Roma, com referendo popular ao crucificar o Amor, Dioniso, Sodoma; digo ébrio na testa deste edifício, Jesus Cristo ressuscitou bilhões de vezes, nos ossos de tantos Josés, Marias, Franciscos, na carne negra, surrada e baleada; na carne amarela, napalmizada e desatomizada; na carne vermelha, degolada e estuprada; na carne da mulher, violentada e acorrentada. E o mar se abriu em raiva e se jogou contra a cidade, por engolir o esgoto de tanta crueldade, mas homens não são peixes, não haverá piedade. Quando o pai do mar, Oceano, enfim acordar, com sede e com fome, onde restarão os nomes, no abismo abissal redundantemente profundo do mar? E serão necessários mil vulcões, furacões, tsunamis, terremotos, pandemias, alergias, bombas, sementes estéreis desertificando o mundo, usando capas pretas e o logotipo da Monsanto? Inda não caiu a ficha? Nossos dias estão contados. Seremos auto aniquilados. A praga humana será exterminada por alienígenas glóbulos brancos. Quão tolos somos nós, nem entendemos que o Universo é um só corpo e nossas bactérias duram apenas uma febre terçã. Estamos no dia três. Aliás, já são onze e meia da noite. Façam as contas. Quanto custa para eu tomar banho, quanto vale esse copo de água, quanto pago para andar nessa rua, posso estacionar minha alma nessa vaga por apenas duas horas? O que será que aconteceu conosco, somos múmias, farrapos toscos; nós somos o mundo, não existem outros culpados. Mas que porra de beco sem saída é esse, ódio telurizou nos homens, só há uma grande empresa, um único caminho a seguir. A gentrificação dos seres, escárnio dos prazeres e dos sonhos; tudo que supomos, cai por terra num deslize diplomático fatal, uma dose de vodca a mais e o dono do botão explode o mundo. Não seria melhor agendar logo a data cabal, encerrar de vez e sem ressentimento esse mal entendido? Direto e reto. Abrupto ponto final? Se alguém souber de algo que deslegitime esse pandemônio, fale agora ou se cale para sempre. Silêncio. Sendo assim, eu vos declaro: ponto final. Carbono: pode beijar o Caos. {14}


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}

{sumário} ESTRATÉGIAS DA ARTE EM UMA ERA DE CATÁSTROFE {ENSAIOS} | MARIA ANGÉLICA MELENDI | EDITORA COBOGÓ | 2017

“Nesse cenário de destroços, a arte parecer ser um dos únicos lugares onde é possível interiorizar os conflitos e elaborá-los como experiência. Ao provocar rupturas, perturbações, percepções alteradas, a obra de arte despertaria um estranhamento que nos impregnaria com o conhecimento da realidade social. A arte contemporâneo tem demonstrado possuir uma potência de elaborar imagens que logram uma certa intermitência temporal, pois, fugindo dos discursos formal e meta-artístico, se debruça, muitas vezes, sobre assuntos escamoteados pela narrativa histórica, tanto do passado recente quanto do distante.” (p. 16)

11 PREFÁCIO

187 A sordidez do arquivo: entre pedras soterradas e fotografias esquecidas

A memória como dispositivo, por Eduardo de

Jesus

211 Mãos pequenas: a infância como sonho e como fantasmagoria

15 INTRODUÇÃO

IV MONUMENTOS

I ESTRATÉGIAS DO PENSAMENTO

235 Antimonumentos: estratégias da arte na era das catástrofes

25 Da adversidade vivemos ou Uma cartografia em construção

249 Monumentos horizontais: a memória nas ruas

45 Sobre as ruínas do futuro

263 Água e memória: histórias de espectros

77 Contra formalismos (outra vez?): algumas anotações

V ESPAÇOS DA MEMÓRIA

87 Território dos poemas silenciosos: o jardim de sendeiros que confluem

281 A cidade escondida: lembranças de Brasília 305 Intervenções suburbanas: anotações e esboços

II POLÍTICAS DA MEMÓRIA 105 Corpos ausentes, corpos espetaculares: anotações e esboços sobre arte, corpo e memória

323 Garrafas no mar: da urgência à desesperança 341 Evaporação dos sentidos: comunidade

121 Entre censuras: cenas da arte brasileira durante a ditadura

357 O museu das insignificâncias: a memória, a arte e os restos da derrota

141 De Nossa Senhora dos Descamisados a

375 A invenção de Inhotim: uma paragem para a arte contemporânea

montonera

III ARQUIVOS

171 Arquivos do mal/Mal de arquivos {voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

o museu e a

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{sala de aula}

}

RELATO DE EXPERIÊNCIA

KELCILENE GRÁCIA-RODRIGUES | PROFESSORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL {UFMS} Doutora em Estudos Literários pela UNESP/Araraquara. Professora Associada da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/Campus de Três Lagoas, atuando no curso de Letras e no Programa de Pós-Graduação em Letras. Foi coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Letras (2009-2013) e do Doutorado Interinstitucional (DINTER) em Letras, de 2013 a 2017, entre na UFMS (Instituição Receptora) e a Universidade Presbiteriana Mackenzie (Instituição Promotora). É líder do Grupo de Pesquisa Historiografia literária: recepção, crítica e ensino. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Poesia Brasileira contemporânea. Suas publicações voltam-se principalmente para os seguintes temas: Manoel de Barros, literatura brasileira, teoria literária, poesia brasileira contemporânea, metáfora e literatura de Mato Grosso do Sul. É membro da Rede de Ensino e Pesquisa em Arte, Cultura e Tecnologias Contemporâneas, Rede CO3 (UnB, UFG, UFMT, UFMS, UFU, UFGD). Compõe a Diretoria da ABRALIC (Gestão 2018-2019). Atualmente, realiza Estágio Pós-Doutoral na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal).

Construir um texto que relate uma experiência, como docente, que tenha me marcado parece fácil, mas não é. Risco aqui; rabisco ali. Passo dias selecionando, dentre os fatos de minha trajetória enquanto estudante e professora, aquele que será narrado. Ao longo de quase 20 vinte anos como professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, quero compartilhar a importância do profissional responsável pelo ensino, aprendizagem e formação do aluno. Aqui, exponho experiências captadas de professores que deixaram seus traços no meu desenvolvimento acadêmico, da fase inicial até a graduação.

eu queria ter acesso a outros livros, que me eram impossíveis na época. Nesta ânsia de leitura, comecei a ler os “romances de bancas”: Sabrina, Bianca e Júlia. Só me foi possível lê-los porque minha mãe era leitora assídua deste tipo de livro. Penso que não era a leitura ideal para uma menina de 8 anos, mas era muito prazeroso sair dos contos de fadas e ter acesso a histórias mais reais, mesmo que no final os protagonistas “vivessem felizes para sempre”. E lia, lia, como lia... Até que um dia, novamente, queria algo novo, que me apresentasse o desconhecido e que ampliasse a minha visão de mundo.

Revivo a minha infância e reavivo a minha professora da quarta série. Lembro-me da forma como ela ensinava e, em especial, da dedicação para com seus alunos e para com a profissão que exercia. Hoje, distante no tempo, percebo que aquela professora foi além do ensinar as primeiras letras, irradiou em mim os princípios que me regem como docente: amor, dedicação e respeito à profissão escolhida e aos alunos.

Os anos se passaram e comecei a ter acesso a outros livros, tais como os integrantes da coleção Vagalume: O escaravelho do diabo, A ilha perdida, Tonico ; os best-sellers de J. M. Simmel, Sidney Sheldon, Harold Robbins e Agatha Christie; as obras de José de Alencar e Machado de Assis. A paixão pela leitura e, sem me dar conta, naquela época, a sedução da beleza das palavras, culminou em uma escolha feita no Ensino Médio: ser professora de Literatura.

Tornei-me leitora muito menina. Recordo-me das muitas, muitas e muitas vezes que li a coletânea de contos dos Irmãos Grimm, que fora comprada com muito sacrifício pelo meu pai. Ler, reler e “transver” as histórias era a minha brincadeira predileta. Mesmo que lidas tantas vezes, sempre encontrava a magia que emanava das palavras e não se bastavam em si, por isso {voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

Pesaram sobre mim os aprendizados positivos com minhas professoras, assim como me lançaram a outros mares de experiências negativas durante o Ensino Médio. Não líamos nenhum livro de Literatura, que era ensinada de maneira mecânica: início e término da escola literária, as “características” e os principais {16}


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}

{sala de aula}

autores do movimento. Quanta frustação! Não com a Literatura, é óbvio, mas com a professora. Fiz várias leituras de livros que me foram possíveis e buscava informações para além do conteúdo ministrado por ela. Um dia a professora teve a ideia de montar uma biblioteca de obras literárias na escola. Pensei: Nossa, que ótimo! Só que todos os alunos tinham que contribuir, obrigatoriamente, com um valor “x” mensal para comprar os livros, pois valia ponto na média final. Até aí, tudo bem. Montou-se, devagar, a tal da biblioteca. Só que eram pouquíssimas as produções de escritores da Literatura e em grande quantidade os bestsellers. Não entendia muito a razão da desproporção. O pior viria: não podíamos pegar os livros nem para ler na escola e muito menos levar para casa. Os livros ficavam em uma sala na qual os alunos não tinham acesso. Os meus colegas nem ligavam; eu ficava indignada. Embora considerada como a grande professora de Literatura, o modo como as aulas eram ministradas e como era interposta a distância entre os livros e os leitores nortearam-me sobre que tipo de professora de Literatura que eu não deveria ser.

Na Graduação tive um professor – vou dizer o nome dele: José Batista de Sales – com quem dialogava muito sobre autores e obras da Literatura. Ele me possibilitou, talvez sem saber, ampliar e reforçar os caminhos que eu queria. Com ele, aprendi a ler e a analisar poesia. Adentrei por corixos literários e fui “apresentada” a poesia de Manoel de Barros, poeta objeto de estudo no Mestrado, no Doutorado e sobre o qual até hoje desenvolvo projeto de pesquisa. Ah, o mais interessante de tudo isso é que aquela professora na quarta série – e vou dizer quem é: Celina Nascimento – e o professor José Sales, hoje aposentados, foram meus colegas de trabalho durante anos no Curso de Letras da UFMS. São as aprendizagens do passado que ecoam em mim e que me movem como docente. E como docente, tento – espero que eu sempre consiga – trazer para o brilho dos olhos de meus alunos o poder humanizador da Literatura. Cada aula que ministro sempre tem o intuito de mostrar o quanto de beleza há nas palavras arquitetadas pelo escritor, o quanto a Literatura é escrita pelo homem para tratar do homem em todas as suas nuances. Ela é capaz de nos fazer penetrar no âmago do homem, desvendá-lo na sua profundeza, aborda a miséria humana da maneira iluminadora e até redentora, poder que só a Literatura e a Arte possibilitam. Desse modo, em cada olho em que vejo um brilho, sinto-me gratificada. Prossigo caminhando com muitos desses alunos da graduação, que também envolvidos pela beleza da arte literária tornaram-se mestres e doutores, atuando como professores de Literatura em instituições de ensino. Uma certeza me move: também eles poderão abrir portas e janelas para arejar o nosso mundo caduco.

Profissão escolhida, segui os estudos da graduação em Letras, na UFMS. Tive que cursar as disciplinas da grade curricular, embora só quisesse me dedicar as da área de Literatura. Aprendi muito, em especial com as disciplinas de Linguística (tive um professor muito bom, que exigia muito estudo), de Língua Portuguesa (que maravilha de professora e de aulas que tive! Muitos ensinamentos sobre a estrutura da língua), de Latim (que professora espetacular, até pensei em ser professora de Latim) e as de Literatura: Literatura Portuguesa (professor que nos cobrava a leitura de muitos romances por ano; pena que não focava a poesia) e Literatura Brasileira (aí meu coração explodia de tanta felicidade!). E a Literatura dominava o meu ser!

{voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

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}

{quem tem voz}

{voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

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}

{vitrine } Poema/processo: uma vanguarda semiológica

Alguns aspectos da teoria da poesia concreta {ensaios}

_Org. Gustavo Nóbrega

_Paulo Franchetti

_Editora WMF Martins Fontes

_4ª ed. ampliada _Editora da Unicamp

_2017

_ 2012

Do palco à página: publicar teatro e ler romances na época moderna— séc. XVIXVIII {ensaios}

Dois ensaios sobre Utopia {ensaios} _João Almino

_Roger Chartier

_Editora UnB

_Trad. Bruno Feitler _Editora EdUFSCAR,

_2017

_2017

Atlas ou o gaio saber inquieto - o olho da história, III {ensaios}

A velha {romance} _Daniil Kharms {1905-1942} _Trad. Moissei Mountain

_Georges Didi-Huberman

_Editora Kalinka _2018

_Trad. Vera Casa Nova; Márcia Arbex

_Literatura russa

_Editora UFMG, _2018

Granulações {romance}

De minha vida: poesia e verdade {biografia}

_Anna Monteiro

_Johann Wolfgang von Goethe _Trad. Mauricio M. Cardozo

_Editora Reformatório

_Editora Unesp _2017

_2018

{voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

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}

{crítica literária}

ÁLVARES DE AZEVEDO {} MACHADO DE

ASSIS

Quando, há cerca de dois ou três meses, tratamos das

Cita-se sempre, a propósito do autor da Lira dos vinte anos, o nome de Lord Byron, como para indicar as predileções poéticas de Azevedo. É justo, mas não basta. O poeta fazia uma frequente leitura de Shakespeare e pode-se afirmar que a cena de Hamlet e Horácio, diante da caveira de Yorick, inspirou-lhe mais de uma página de versos. Amava Shakespeare, e daí vem que nunca perdoou a tosquia que lhe fez Ducis. Em torno desses dois gênios, Shakespeare e Byron, juntavam-se outros, sem esquecer Musset, com quem Azevedo tinha mais de um ponto de contato. De cada um desses caíram reflexos e raios nas obras de Azevedo. Os Boêmios e o Poema do Frade, um fragmento acabado, e um borrão por emendar, explicarão melhor este pensamento.

Vozes da America, do sr. Fagundes Varela, aludimos de

passagem às obras de outro acadêmico, morto aos vinte anos, o sr. Alvares de Azevedo. Então, referindo os efeitos do mal byrônico que lavrou durante algum tempo na mocidade brasileira, escrevemos isto: «Um poeta houve que, apesar da sua extrema originalidade, não deixou de receber esta influência, a que aludimos; foi Alvares de Azevedo. Nele, porém, havia uma certa razão de consanguinidade com o poeta inglês e uma ínfima convivência com os poetas do norte da Europa. Era provável que os anos lhe trouxessem uma tal ou qual transformação, de maneira a afirmar-se mais a sua individualidade, e o desenvolver-se o seu robustíssimo talento». A estas palavras acrescentávamos que o autor da Lira dos vinte anos exercera uma parte de influência nas imaginações juvenis. Com efeito, se lord Byron não era então desconhecido ás inteligências educadas, se Octaviano e Pinheiro Guimarães já tinham trasladado para o português alguns cantos do autor de Giaour, uma grande parte de poetas, ainda nascentes e por nascer, começaram a conhecer o gênio inglês através das fantasias de Alvares de Azevedo, e apresentaram, não sem desgosto para os que apreciam a sinceridade poética, um triste ceticismo de segunda edição. Cremos que este mal já está atenuado, senão extinto.

Mas esta predileção, por mais definida que seja, não traçava para ele um limite literário, o que nos confirma na certeza de que, alguns anos mais, aquela viva imaginação, impressionável a todos os contatos, acabaria por definir-se positivamente. Nesses arroubos da fantasia, nessas correrias da imaginação, não se revelava somente um verdadeiro talento; sentia-se uma verdadeira sensibilidade. A melancolia de Azevedo era sincera. Se excetuarmos as poesias e os poemas humorísticos, o autor da Lira dos vinte anos raras vezes escreve uma página que não denuncie a inspiração melancólica uma saudade indefinida, uma vaga aspiração. Os belos versos que deixou impressionam profundamente; Virgem Morta, A minha Mãe, Saudades, são completas neste gênero. Qualquer que fosse a situação daquele espírito, não ha dúvida nenhuma que a expressão desses versos é sincera e real. O pressentimento da morte, que Azevedo exprimiu em uma poesia extremamente popularizada, aparecia de quando em quando em todos os seus cantos, como um eco interior, menos um desejo que uma profecia. Que poesia e que sentimento nessas melancólicas estrofes!

Alvares de Azevedo era realmente um grande talento; só lhe faltou o tempo, como disse um dos seus necrólogos. Aquela imaginação vivaz, ambiciosa, inquieta, receberia com o tempo as modificações necessárias; discernindo no seu fundo intelectual aquilo que era próprio de si, e aquilo que era apenas reflexo alheio ou impressão da juventude, Alvares de Azevedo acabaria por afirmar a sua individualidade poética. Era daqueles que o berço vota à imortalidade. Compare-se a idade com que morreu aos trabalhos que deixou, e ver-se-á que seiva poderosa não existia naquela organização rara. Tinha os defeitos, as incertezas, os desvios, próprios de um talento novo, que não podia conter-se, nem buscava definir-se. A isto acrescente-se que a íntima convivência de alguns grandes poetas da Alemanha e da Inglaterra produziu, como dissemos, uma poderosa impressão naquele espírito, aliás tão original. Não tiramos disso nenhuma censura; essa convivência, que não poderia destruir o caráter da sua individualidade poética, ser-lhe-ia de muito proveito, e não pouco contribuiria para a formação definitiva de um talento tão real. {voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

Não é difícil ver que o tom dominante de uma grande parte dos versos ligava-se a circunstâncias de que ele conhecia a vida pelos livros que mais apreciava. Ambicionava uma existência poética, inteiramente conforme a índole dos seus poetas queridos. Este afã dolorido, expressão dele, completava -se com esse pressentimento de morte próxima, e

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{

enublava-lhe o espírito, para bem da poesia que lhe deve mais de uma elegia comovente.

}

prosador como poeta, pode-se afirmar, pelo que deixou ver e entrever, quanto se devia esperar dele, alguns anos mais.

Como poeta humorístico, Azevedo ocupa um lugar muito distinto. A viveza, a originalidade, o chiste, o humour dos versos deste gênero são notáveis. Nos Boêmios, se pusermos de parte o assunto e a forma, acha-se em Azevedo um pouco daquela versificação de Diniz, não na admirável cantata de Dido, mas no gracioso poema do Hyssope. Azevedo metrificava ás vezes mal, tem versos incorretos, que havia de emendar sem dúvida, mas em geral tinha um verso cheio de harmonia e naturalidade, muitas vezes numeroso, muitíssimas eloquente.

O que deixamos dito de Azevedo podia ser desenvolvido em muitas páginas, mas resumo completamente o nosso pensamento. Em tão curta idade, o poeta da Lira dos Vinte Anos deixou documentos valiosíssimos de um talento robusto e de uma imaginação vigorosa. Avalie-se por aí o que viria a ser quando tivesse desenvolvido todos os seus recursos. Diz-nos ele que sonhava, para o teatro, uma reunião de Shakespeare, Calderón e Eurípedes, como necessária à reforma do gosto da arte. Um consórcio de elementos diversos, revestindo a própria individualidade, tal era a expressão de seu talento.

Ensaiou-se na prosa, e escreveu muito. Era frequentemente difuso e confuso; faltava-lhe precisão e concisão. Tinha os defeitos próprios das estreias, mesmo brilhante como eram as dele. Procurava a abundância e caía no excesso. A ideia lutava-lhe com a pena, e a erudição dominava a reflexão. Mas se não era tão

{} revisado a partir do texto publicado no Diário do Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1866, na seção “Semana Literária”, disponível na Hemeroteca Digital Brasileira (Biblioteca Nacional). No texto original, não há título, apenas o nome da seção anteriormente mencionada.

A EDITORA CARAMBAIA LANÇARÁ, EM AGOSTO, UMA NOVA EDIÇÃO DE DOM CASMURRO, DE MACHADO DE ASSIS.

ESTUDOS SOBRE MACHADO DE ASSIS Um mestre na periferia do capitalismo {ensaios}

Machado de Assis: impostura e realismo {ensaios} _John Gledson

_Roberto Schwarz

_ Trad. Fernando Py _Editora 34

_Companhia das Letras

_2000 {1ª edição} {voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

_1991 {1ª edição} {21}


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}

{editoras}

A Penalux surgiu em 2012 com a proposta inicial de investir em novos autores nacionais. De lá para cá, já foram mais de 600 títulos publicados, nos mais variados gêneros. A partir de 2015, a editora iniciou-se também na tradução e publicação de clássicos desconhecidos (ou esquecidos) pelo público brasileiro, bem como na publicação de literatura estrangeira contemporânea. Seu catálogo atualmente é um dos mais promissores e respeitados no cenário independente editorial. POR TONHO FRANÇA E EDITORAPENALUX.COM.BR | FACEBOOK:

WILSON GORJ, EDITORES DA PENALUX

@PENALUXEDITORA | INSTAGRAM: @EDITORAPENALUX

A Editora UFPR completou 30 anos em 2017 e tem crescido cada vez mais nos últimos anos. Com três Prêmios Jabuti, dois na categoria tradução (pelo Schopenhauer de Eduardo Ribeiro da Fonseca e pela "Anatomia da Melancolia" em quatro volumes de Guilherme Gontijo Flores), tem publicado livros acadêmicos em todas as áreas do conhecimento, mas também tem se consolidado como uma editora especializada em traduções de livros técnicos e de textos literários e científicos, como o "Diário de Beagle", de Charles Darwin, traduzido por Caetano Galindo, e "Depois de Babel", de George Steiner, traduzido por Carlos Alberto Faraco. Com alguns best sellers na área de ensino de música e nas ciências naturais, por exemplo, a Editora UFPR também faz parcerias com instituições como a Fundação Grupo Boticário, com a qual tem publicado volumes importantes ligados à preservação da natureza, como os livros de crônicas "O Poema Imperfeito", de Fernando Fernandez, já na terceira edição (que acaba de virar documentário, dirigido por Zulmira Coimbra), e o "Equinócio dos Sabiás", de Marcos Rodrigues, que acaba de sair em 2018. Contando com importantes coleções como a "Direitos Humanos" e "Semeando Novos Rumos / Sembrando Nuevos Senderos" (com livros bilíngues sobre a América Latina), a editora lança também em 2018 a coleção "dramas & poéticas" com uma tradução inédita do "Tiestes" de Sêneca feita pelo especialista José Eduardo dos Santos Lohner. Em 2018, a editora UFPR também lançou seu primeiro Concurso Literário, na categoria de poesia, com inscrições gratuitas e publicação do livro como premiação para o primeiro colocado. A primeira edição recebeu mais de 200 inscrições e terá o vencedor anunciado no lançamento do livro durante a Feira do Livro UFPR / Semana Literária SESC, festival literário que ocorre anualmente em setembro há uma década, e que se consolida cada vez mais como grande evento cultural de difusão da leitura. A Editora UFPR tem edital de publicação de livros anual, não cobra absolutamente nada de seus autores, passa todas as submissões por avaliadores externos e por conselho editorial, e comercializa seus livros através de um edital público de credenciamento de parceiros comerciais. Com um programa ao vivo semanal na rádio UniFM 94.5 (Sentido Literal, em que os diretores conversam com autores e dão dicas de leitura) e um programa na UFPR TV (programa Quarta Capa, prestes a reestrear), a Editora visa tornar público e acessível o conhecimento, a cultura e a literatura não apenas interna à UFPR, mas do modo mais amplo possível. Todas as informações podem ser encontradas em nosso site, bem como em nossas contas de Facebook e Instagram. POR RODRIGO TADEU EDITORA.UFPR.BR | FACEBOOK:

GONÇALVES, DIRETOR DA EDITORA DA UFPR

@EDITORA.UFPR | INSTAGRAM: @EDITORAUFPR

a cada número, a {voz da literatura} convidará diferentes editoras, por meio de seus editores ou diretores, para que se apresentem aos leitores da revista. {}

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{alfarrábios}

A ÁRVORE {POESIA} | JÚLIA LOPES DE ALMEIDA {RJ, 1862-1934} A LIÇÃO DA ÁRVORE Vida, que a vida serves e alimentas, Graminea débil, melindroso arbusto, Folhagens., franças, frondes opulentas, Esguio caule, tronco alto e robusto; Frutos e flores — pábulo e beleza; Grão que dá vida e a vida perpetua, Que enche de vida toda a Natureza Se cai no sulco aberto da charrua; Semente que germina, estala e engrossa, Cresce e, tronco, frondeja e toma vulto, Árvore, amiga do homem, que ele possa Fazer do teu amor um vasto culto; Que aprenda, á luz do Sol que te redoura A ramaria verde e o tronco bruto, Que és Bondade — na sombra abrigadora, E Generosidade, no teu fruto. Árvore! que o homem te ame sempre e veja, Enternecido, em teu aspecto rude, Que nada, amiga, fazes que não seja Exemplo de moral e de virtude! COM AFONSO LOPES DE ALMEIDA | LIVRARIA FRANCISCO ALVES | 1916 | DISPONÍVEL EM: HTTPS://DIGITAL.BBM.USP.BR

A AMAZÔNIA: ASPECTOS ECONÔMICOS {ENSAIOS} | JOSÉ VERÍSSIMO {1857-1916} II Se no conhecidíssimo dizer de Heródoto é o Egito um dom do Nilo, a Amazônia, pode-se também asseverar, é um dom do Amazonas. Singularmente errado se me afigura o conceito do Sr. Sylvio Romero, em a sua História da Literatura Brasileira de que o grande rio seja antes um estorvo que um elemento favorável àquela região. O contrário é a indiscutível verdade. Sem o Amazonas, e, portanto, sem a vasta e única rede hidrográfica cujo centro é essa região de mais de três milhões de quilômetros quadrados, seria um Saara, ou, antes, um Atacama. {...} (p. 13) BIBLIOTHECA DO JORNAL DO BRAZIL | 1892 | DISPONÍVEL EM: HTTPS://DIGITAL.BBM.USP.BR {voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

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{vitrine}

Interrompidos {contos}

Literatura e ensino: territórios em diálogo {ensaios}

_Alê Motta _Editora Reformatório

_Org. Diana Navas, Elizabeth Cardoso, Vera Bastazin

_2018

_ Editora EDUC _2018

Cartas para Fouad El-Etr {ensaio}

Com borges _Alberto Manguel

_Antoine Berman

_Editora Âyiné

_Trad. Simone Petry

_2018

_Zazie Edições _2018

Literatura à margem {ensaios}

A face serena {contos}

_Cristovão Tezza

_Maria Valéria Rezende

_Dublinense

_Editora Penalux

_2018

_2018

Poéticas a céu aberto: o cordel e a crítica literária {ensaios} _Bruna Paiva de Lucena

O fogo e o relato: ensaios sobre criação, escrita, arte e livros {ensaios} _Giorgio Agamben _ Trad. Andrea Santurbano e Patrícia Peterle _Boitempo Editorial _2018

{voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

_Edições Carolina _2018 _eBook

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{voz

quem ouve a sua}

{voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

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{leituras}

O NOME NA PONTA DA LÍNGUA | PASCAL QUIGNARD | TRAD. YOLANDA VILELA; RUTH SILVIANO BRANDÃO | ED. CHÁO DA FEIRA | 2018 Pascal Quignard mescla ficção e filosofia para vasculhar a linguagem, a escrita, o pensamento, a leitura e a vida. A obra reúne dois textos do autor. O primeiro, "O nome na ponta da língua", compõe-se de três partes. A mais ficcional não se apaga da memória facilmente: a história inicial de "A palavra na ponta da língua", o lendário caso de Jeûne e Colbrune, como mito, profecia, alegoria, sonho, para pensar a “palavra", o "nome". A leveza da narrativa contrasta com a densidade das reflexões de Quignard. O segundo texto do livro divide-se em duas partes. "O enigma" constitui narrativa dotada de magia mítica de alto teor filosófico e poético em torno da metalinguagem e até da tradução, sem contar as relações com a psicanálise. O tema da tradução continua em “Comentário sobre três versos de Donne". Quignard deixa, no leitor, um gosto de poesia na ponta da língua.

O PESO DO PÁSSARO MORTO {ROMANCE} | ALINE BEI | ED. NÓS | 2017 Uma mulher aos 8, 17, 18, 28, 37, 48, 49, 50 e 52 anos. A morte da amiga Carla na infância. A experiência marcante com o benzedeiro Luís. O estupro e a violência sexual sofridos de seu namorado Pedro quando tinha 17, o que resultou em uma gravidez indesejada. O filho, Lucas, nascido no ano seguinte. Um Lucas que jamais saberia de como havia sido gerado, nem do paradeiro do pai. Dez anos depois, Bete cuida de Lucas, mais do que a própria mãe. Ainda criança, o filho brincava de matar pássaros. Bete morre. Com 37, vê o filho partindo para Ouro Preto, para cursar História. Encontra um cachorro abandonado em uma loja de conveniência em um posto de gasolina. Vento passará a ser seu melhor companheiro. Aos 48, descobre-se avó. Um ano depois, a mudança do apartamento para uma casa. Lembranças da infância em velhos guardados lhe assaltam. Com 50, ainda mais só, troca a televisão por uma vitrola. Vento é atropelado e morto. Tudo isso é narrado em primeira pessoa, com exceção das últimas páginas no capítulo “póstumo”. Narrativa com estilo próprio, organizada em espécie de versos (sem rimas), com vários espaços em brancos, com quebras inusuais de parágrafos e palavras com inicial maiúscula ao acaso, para acentuação de significados. O sinal de + serve como novo sinal de pontuação para o encadeamento das partes da narrativa. Aline Bei constrói sua própria linguagem, permitindose romper com a mancha contínua da prosa na folha de papel, para ressignificar o sentido poético da metáfora por trás do “peso do pássaro morto”. COMO SE FAZ UMA NOVELA {ENSAIO} | MIGUEL DE UNAMUNO | TRAD. LUCAS PICCININ | ED. UFPR | 2017

Engana-se quem pensa que Miguel de Unamuno pretende ensinar de modo formal e aristotélico como se escreve uma novela ou qualquer gênero narrativo. O autor de Vida de Dom Quixote e Sancho se propõe, na verdade, a construir um “novelo”, termo não empregado por ele, mas que aqui empregamos para dar sentido à confluência de história, religião, política, filosofia, poesia. Escrito entre 1925 e 1927, Como se faz uma novela veio à lume em situação de exílio vivenciada por Unamuno em Hendaye, cidade da fronteira entre Espanha e França. Exílio sofrido em razão da perseguição do ditador espanhol Primo de Rivera. Unamuno iniciou a obra em Paris. E é na capital francesa que seu personagem “U. Jugo de La Haza”, uma espécie de alter ego, pontilha o discurso. Como se faz uma novela serve como espaço para que Unamuno reflexione com o leitor sobre as relações entre literatura e política, entre narrativa e história, bem como acerca do nacionalismo espanhol diante do País Basco, demonstrando a força da literatura nessas encruzilhadas. A edição vem acompanhada ainda de um texto de Jean Cassou sobre o escritor espanhol e um prefácio do tradutor, além de diversas notas explicativas. {voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

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{agenda }

{6} junho 1-10

PA, Belém

4-5

DF, UnB

5-7

DF, UnB

5-8

MA, UFMA

6-8

MG, Uberlândia (UFU) Unesp, Campus São José do Rio Preto

6-8

XXII Feira Pan-Amazônica do Livro http://www.feiradolivro.pa.gov.br III Jornada de Crítica Literária—Literatura e ditaduras Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea (UnB)

I Jornada de Histórias em Quadrinhos da UnB

https://www.bce.unb.br/2018/05/i-jornada-de-historias-em-quadrinhos-da-unb/

Simpósio Internacional Imprensa, Literatura, Linguagem e História:

http://www.cemdop.ufma.br/eventos/sobre-o-evento/apresentacao/ Semana Nacional de Letras http://www.eventos.ufu.br/selet V Congresso Internacional do Programa de Pós-Graduação em Letras e XIX Seminário de Estudos Literários “Escritas literárias: reflexão estética, política e tradução”: http://www.ibilce.unesp.br/#!/eventos472/19sel/ Ciclo de Conferências - A Cultura em Processo Cultura e Adversidade - Zuenir Ventura Teatro R. Magalhães Jr. , Av. Presidente Wilson, 203 - Castelo, às 17h30 Feira do Livro de Resende www.feiradolivroderesende.com Transepoéticas: poéticas em transe I Festival de Brasília da Poesia Brasileira Museu Nacional da República Feira do Livro de Joinville www.feiradolivrojoinville.com.br 34ª Feira do Livro de Brasília https://camaradolivrododf.wordpress.com

7

RJ, ABL

7-10

RJ, Resende

8-10

DF, Brasília

8-17

SC, Joinville

8-17

DF, Brasília

13-15

PR, Maringá (UEM)

13-15

MG, Unimontes

5º Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários – CIELLI – Universidade Estadual de Maringá: http://anpoll.org.br/portal/wp-content/uploads/2017/12/Circular-1-portugues.pdf XII seminário Nacional de Literatura Brasileira http://www.cch.unimontes.br/seminariodeliteratura2018/

14

AM, Manaus

Lançamento de “Belas Narrativas Amazônicas“, de João Cruz (Ed. Valer, 2018) Livraria Leitura, Amazonas Shopping, às 17h30

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}


{

}

{agenda }

{6} junho Ciclo de Conferências - A Cultura em Processo Inteligência Artificial e Cultura - Muniz Sodré Teatro R. Magalhães Jr. , Av. Presidente Wilson, 203 - Castelo, às 17h30 Lançamento do livro Considerações sobre a Poesia Goiana (Cânone Editorial) Livraria Palavrear, R. 232, 338—Setor Leste Universitário 18h30 IV Seminário Internacional de Estudos Literários e o IV Workshop do Grupo de Pesquisas em Dramaturgia e Cinema “O cinema e seus duplos” https://estudosliterarios.wordpress.com/chamada-para-comunicacoes/ Lançamento de Agora vai ser assim (Editora Nós, 2018), de Leonardo Tonus Livraria da Vila, Rua Fradique Coutinho, 915, às 19h

14

RJ, ABL

14

GO, Goiânia

18-22

SP, Unesp (Araraquara)

21

SP, Vila Madalena

21-22

MT, Unemat (Campus Sinop)

21

RJ, ABL

23

SP, Osasco

27-01jul

MG. Araxá

27-05jul

RJ, Rio de Janeiro

20º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens http://www.fnlij.org.br/site/

28

RJ, ABL

Ciclo de Conferências - A Cultura em Processo Língua, cultura e identidade nacional - Domício Proença Filho Teatro R. Magalhães Jr. , Av. Presidente Wilson, 203 - Castelo, às 17h30

Lançamento de Gênero, número e graal {poesia} e Xibio {romance} Luiz Renato de Souza Pinto

Ciclo de Conferências - A Cultura em Processo Aspectos da cultura brasileira contemporânea - Joaquim Falcão Teatro R. Magalhães Jr. , Av. Presidente Wilson, 203 - Castelo, às 17h30 Lançamento No Chão do seu vestido {poesia}, de Sílvio Valentin Liorbano Tempero & Arte (Café e Bistrô), Avenida Crisântemo, 305, de 19h às 22h. FliAraxá VII – Festival Literário Alma, leitura e revolução:

http://fliaraxa.com.br/

{7} julho 3

RS, Canoas

12-13

Portugal, Universidade do Minho

25-29

RJ. Paraty

30 – 03.ago

MG, Uberlândia (UFU)

Poesia de Guardel 34ª Feira do Livro de Canoas

Encontro Internacional Linguagens de Poder – Braga, Portugal:

http://ceh.ilch.uminho.pt/eventos_show.php?a=314 Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP)

http://flip.org.br/a-flip/sobre

Congresso Internacional ABRALIC www.abralic.org.br

a agenda da {voz da literatura} recebe informações sobre eventos literários permanentemente pelo {vozdaliteratura@gmail.com} ou pelas redes sociais {facebook e instagram}. {}

{voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

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}

{voz da literatura} www.vozdaliteratura.com vozdaliteratura@gmail.com facebook | instagram {voz da literatura} n. 2 | junho | 2018

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