Painel - Padrões de conectividade

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA LABORATÓRIO DE NECTOLOGIA

PADRÕES ESPACIAIS E CONECTIVIDADE DE HABITATS MARINHOS DA COSTA SUL DO ESPÍRITO SANTO Hudson Tércio Pinheiro1,2; Thiony Emanuel Simon1; João Batista Teixeira1, Nelio Augusto Secchin1, Thiago José F. Costa2, Fernando P. M. Repinaldo Filho2,3 htpinheiro@gmail.com; thionysimon@hotmail.com; jboceano@gmail.com; nelio.augusto@gmail.com; thiagojfc@hotmail.com; fernandopmrf@yahoo.com.br 1Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, Vitória, ES. ² Associação Ambiental Voz da Natureza. vozdanatureza@gmail.com ³ Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade MATERIAIS E MÉTODOS

INTRODUÇÃO

Área de Estudo: O estudo ocorreu entre os municípios de Anchieta e Marataízes, litoral sul do Espírito Santo (Fig.2). Os pontos estudados situam-se entre 1 e 20 km da costa e entre profundidades de 3 a 25 m. Mapeamento dos Habitats: O mapeamento dos habitats ocorreu em três etapas: 1) foram conduzidas oficinas participativas em cada comunidade pesqueira da área de estudo. Com o auxílio de um questionário guia, foi realizada uma dinâmica de discussões orientadas através de perguntas chaves que visaram determinar a distribuição dos habitats de fundo. Os pescadores desenhavam os habitats em transparências, que eram posteriormente validadas com a sobreposição das transparências de cada grupo de pescadores. 2) Foi realizado um imageamento do fundo marinho com a utilização de um Sonar de Varredura Lateral a fim de validar os mapas integrados que foram confeccionados pelos pescadores. 3) Foram realizados levantamentos da ictiofauna e cobertura bentônica de 30 pontos compreendidos na trajetória do sonar. A ictiofauna foi levantada através de censos visuais (transects de 20 x 2m) e comunidade bentônica através de fotoquadrates (100 fotos por transecte). Um total de 220 censos e 710 foroquadrates foram conduzidos. Análise dos Dados: A abundância de peixes é expressa em número de indivíduos por 100m², a diversidade medida através do índice de Shannon-Wiener e a riqueza é o numero total de espécies registradas.

Definir a escala de conectividade entre populações marinhas e determinar os fatores que dirigem esta conectividade são fundamentais para entender as dinâmicas populacionais, estrutura genética e biogeografia de muitas espécies costeiras. Além disso, os padrões espaciais de distribuição de comunidades e a conectividade entre os habitats são informações que colaboram para a criação de estratégias de conservação e sustentabilidade dos recursos. A costa sul do Espírito Santo apresenta grande quantidade de habitats marinhos, possuindo uma elevada biodiversidade de peixes e algas (GASPARINI et al., 2000). Contudo, ambientes recifais pouco conhecidos se estendem por grandes áreas da plataforma costeira. Este trabalho é parte de um projeto de mapeamento de habitats marinhos, que estudou diferentes ambientes recifais e de fundos inconsolidados no litoral sul do Espírito Santo. Os dados levantados neste projeto visam contribuir para o entendimento da dinâmica de habitats costeiros, bem como para a definição de áreas prioritárias para a conservação e sustentabilidade dos recursos naturais.

Figura 3: Riqueza de espécies nos pontos amostrados.

RESULTADOS E DISCUSSÕES O litoral sul do Espírito Santo possui uma plataforma continental interna bastante diversificada, apresentando diferentes tipos de ambientes: Recifes rochosos, Fundos biogênicos, Fundos biogênicos de Algas, Recifes biogênicos e Fundos inconsolidados, os quais estão distribuídos irregularmente por toda a plataforma interna (Fig. 2). Os ambientes Fundos biogênicos, Algas e Cabeços apresentam ampla distribuição, abrangendo as porções norte, central e sul da área de estudo, bem como áreas próximas e afastadas da linha de costa (Fig.2). O ambiente “Recifes rochosos” ocorre na porção central da área de estudo e, com exceção do ponto Pedra do Mero, próximo à linha de costa (Fig.2). Neste trabalho foi encontrado que áreas mais afastadas da costa e, conseqüentemente, mais expostas, apresentam maior densidade de macroalgas e algas calcárias incrustantes, enquanto em áreas mais próximas da costa e, conseqüentemente, mais abrigadas, algas turf, zoantídeos e corais massivos dominam o ambiente. A riqueza de espécies e a diversidade (Fig.3 e 4) tenderam a ser maiores nos pontos mais próximos da linha de costa, exceto nos pontos Nino (riqueza de espécies) e Cabeço 2 (diversidade), onde também foram elevadas. A abundância total de peixes não apresentou nenhum padrão espacial definido (Fig.5), com os maiores valores sendo encontrados nas porções central (afastado da linha de costa) e sul (próximo da linha de costa) da área de estudo. A conectividade entre os habitats proporciona algumas semelhanças entre os mesmos. Considerando um nível de similaridade de 60 % (índice de Bray-Curtis), o cluster elaborado com base na abundância das espécies indica a formação de três grupos (Fig.1). O primeiro reúne os ambientes “fundo biogênico com Algas”, “Recifes rochosos” e “Cabeços” e foi caracterizado por apresentar elevada riqueza de espécies e abundância. Os outros dois grupos foram formados pelo ambiente “Fundos biogênicos” e pelo ambiente “Fundos inconsolidados”, ambos com baixa riqueza de espécies e abundância.

Figura 4: Diversidade de espéicies nos pontos amostrados

Figura 2 – Mapa de fundo e padrões de distribuição espacial da comunidade de peixes.

CONCLUSÃO O fato da costa sul do Espírito Santo não possuir recifes de coral verdadeiros (FLOETER et al., 2007) faz com que os recifes rochosos e biogênicos constituam os principais habitats para peixes e outros organismos recifais. Contudo, os recifes rochosos e biogênicos (cabeços), apesar de apresentarem elevados valores de riqueza e diversidade de peixes, representam apenas uma pequena área comparada com os outros ambientes recifais, formados principalmente por algas calcárias e briozoários (fundos biogênicos). Estes ambientes de fundo biogênico, por serem amplamente distribuídos, atuam como corredores ecológicos entre os recifes rochosos e cabeços, tornando efetiva a conectividade e interdependência destes. Assim, a conservação de recifes rochosos, que possuem enorme biomassa e diversidade, poderia abastecer os estoques de peixes recifais dos cabeços (importantes pontos pesqueiros) próximos e distantes da linha costa.

REFERÊNCIAS FLOETER, S.R.; KROHLING, W.; GASPARINI, J.L.; FERREIRA, C.E.L. & ZALMON, I.R. 2007. Reef fish community structure on coastal islands of the southeastern Brazil: the influence of exposure and benthic cover. Environmental Biology of Fishes, 78: 147-160.

Figura 1: Cluster elaborado com base na abundância das espécies de

peixes levantadas nos diferentes ambientes.

GASPARINI, J.L.; FLOETER, S.R.; GANDOLFI, S.M. 2000. Proposta para criação do parque estadual marinho ilhas de Guarapari, Espírito Santo. Anais do V Simpósio de ecossistemas brasileiros: conservação. Vitória, ES.

Figura 5: Abundância de peixes nos pontos amostrados.


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