EDIÇÃO ZERO JUN & JUL 2014
A LIBERDADE DE SER JOVEM 1
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BEM VINDO A
AN TI 9
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CARTA DO EDITOR
A LIBEDADE DE SER JOVEM Anti: Elemento de formação; prefixo grego que indica a idéia de oposição, contrariedade, direção oposta. A ideia de ser “anti alguma coisa” vai além do simples prazer de contrariar, mas surge da vontade inerente de contestar, de questionar, de pensar fora da caixa pra tentar solucionar os problemas do mundo. E é a juventude que possui a força e a gana para duvidar do mundo, colocar a cara a tapa e correr atrás de seus ideiais. Ser jovem é ter a liberdade de escolha, a liberdade de pensamento e, mais do que isso, ter a mente aberta pra absorver diferentes ideias e culturas. Mas, ao mesmo tempo, essa liberdade aprisiona e confunde. Até aonde ser livre é ter liberdade? A revista Anti surge para dar voz à essa geração. Para dar a ela um meio de se expressar e para nela encontrar um lugar comum. Um lugar onde os pensamentos se unem, onde trabalhos se destacam e onde referências influenciam o desenvolvimento de coisas novas. Falamos de arte, de vida, de experiências, de comportamento e de juventude por meio da moda. Não queremos ser apenas uma revista, mas um meio de comunicação entre uma geração. Formamos um espaço para acolher a todos; um espaço para dar espaço. Queremos que você se sinta parte de um todo. E que você nos conteste, nos questione e nos estimule a pensar fora da caixa. VANESSA SAMURIO PUBLISHER 11
EXPEDIENTE
#ZERO :: ANO 01 :: JUN & JUL 2014 DIREÇÃO DE CRIAÇÃO Vanessa Samurio vanessa@anti.magcom
COLABORADORES Flávia Silva Deisi Witz Igor Bastos Lúcia Marques Ren Hung Malu Bortolini Charli Howard Cecília Plentz Box 1824 Catárticos
DIREÇÃO DE MODA E ESTILO Chico Soll chico@antimag.com DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA Miguel Soll miguel@antimag.com
COMERCIAL xxxxx comercial@antimag.com
JORNALISTA João Veppo nome@antimag.com
PARTICIPE DA ANTI Se você é fotógrafo ou faz parte da indústria da moda, entre em contato conosco. comercial@antimag.com
REVISÃO Vanessa Samurio nome@antimag.com
PONTOS DE DISTRIBUIÇÃO Faculdades Estúdios Eventos de moda Lojas de roupas Lojas alternativas Salões de beleza Bares
COLUNISTAS Box 1824 nome@antimag.com CAPA FOTO: Miguel Soll STYLING: Malu Bortolini MAQUIAGEM: Bárbara Mattivy CABELO: Gotan MODELO: Bruna Dadalt
10.000 exemplares :: Circulação bimestral :: Distribuição gratuita Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial da revista sem autorização prévia do conteúdo editorial. Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidad dos autores e não refletem a opinião da revista. A Anti não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados nesta revista nem garante que promessas divulgadas como publicidade serão cumpridas.
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SUMÁRIO
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OCKSÅ
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A MORTE DA IDADE
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A INTERNET REESCREVE A CULTURA JOVEM
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BAD BAD WOMAN
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MIDNIGHT BLUES
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FLÁVIA SILVA
FOTOS: MIGUEL SOLL
COMO FOI DESCOBERTA: Naquelas de várias pessoas falando “tu podia ser modelo, tem todo o perfil” eu resolvi ir atrás, na verdade. Sou desconfiada com essas pessoas que te param no shopping MUSICA/BANDA FAVORITA: Eu sou muito eclética, aí classifico as músicas por situações, a música que eu tenho ouvido agora em loop é “Tears dry on their own” da Amy. DESIGNER FAVORITO: Eu adoro estilistas locais e uma das que eu mais gostei de trabalhar foi a Solaine Piccoli aqui de Porto Alegre. Ela faz vestidos de noivas e a vida ela é isso. No atelier está o vestido com o qual ela casou, fotos dos casamentos das filhas dela... MARCA QUE GOSTARIA DE SER MODELO: Claro que como modelo é um sonho trabalhar com as maiores marcas do mundo, Versace, Dior, Chanel, mas eu vou estar ansiosa sempre pelo próximo. MELHOR EXPERIÊNCIA COMO MODELO: Foi o editoral pra L’officiel. Foi um dos meus primeiros trabalhos, a equipe era sensacional, naquele estilo indiadao-que-eu-tô-fazendo-aqui e o resultado foi demais, daqueles que tu tem vontade de manter no teu portfólio pra sempre. 17
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21 anos - 176 cm AgĂŞncia Premier Porto Alegre, RS
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OCKSÅ TEXTO: EVA COUTINHO /VICE BRASIL FOTOS: MIGUEL SOLL
Också, em sueco, significa aquilo que tem o poder de soma. E foi para somar talentos que Deisi Witz e Igor Bastos se uniram. Eles eram colegas de faculdade e decidiram unir seus diferentes, porém complementares, talentos para fundar a marca. Depois de estrearem – muito bem – no Fashion Rio em 2013 (integrando o Rio Moda Hype), a dupla gaúcha da marca Också parte para uma nova etapa integrando o line up do Dragão Fashion Brasil 2014. A coleção de estréia recebeu o nome de PARACHUTE e foi mostrada ano passado no Rio de Janeiro. Eles exploraram as formas utilitárias do acessório e uniram a isso a vontade de soltar-se sem medo na moda. Assim, surge uma coleção cheia de formas, drapeados e abotoações “corajosas”, ou seja, é preciso ter muita personalidade para usar as peças da coleção. A cartela de cores sóbria fechou muito bem e deu um ar minimalista as peças, mesmo com todos os recortes e volumes. Para o Dragão Fashion Brasil 2014 a Också apresentou a coleção SPECTRUM. Segundo Igor Bastos, esta coleção seguirá a linha oposta da coleção de estréia. ” O conceito surgiu a partir do raio solar quando difuso resultando em uma gama extensa de cores vibrantes, um verão bem colorido, porém, aos nossos olhos, bem sóbrio! Nosso trabalho de estampas é concebido de outra forma, então continuaremos apresentando texturas orgânicas, originadas de tecidos como gazar de seda, tule e lonas de vinil. O desfile terá um mood um tanto quanto “cósmico… mineral”, onde a mulher desta coleção encontra-se numa solidão espiritual”, diz Igor. A dupla pretende aproveitar bem a oportunidade de integrar o line up de um evento influente e lançador de novos talentos, como o DFB. O lançamento de uma segunda label, que possa colocar no mercado uma linha de roupas mais casual, inspirada nas coleções conceituais da Också, já está sendo planejada. 21
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DE ONDE VOCÊ TIRA SUA INSPIRAÇÃO? IGOR: Eu acho que minhas viagens têm sido uma influência muito importante. Eu gosto de estar em contato com pessoas e culturas diferentes pra poder começar a observá-los e como eles eles se vestem para ter essa visão global quando eu começar a criar meu trabalho. Arte e arquitetura também são muito importantes. E, é claro, existem mentes brilhantes na indústria da moda que eu admiro, como Rei Kawakubo, Yohji Yamamoto, Vivienne Westwood e Glória Coelho, pra falar de alguns DEISI: Eu também! Arte e arquitetura são tão importantes. Inspiração vem do ambiente ao meu redor e pode chegar a qualquer hora, em qualquer lugar... QUAL É A INFLUÊNCIA MAIS EXCITANTE E PROGRESSIVA NA INDÚSTRIA NO MOMENTO? IGOR: Eu admiro Hussein Chalayan a pois ele consegue trazer uma visão doferente para a moda, muito inteligente e forte. DEISI: Na minha opinião as marca que misturam o conceito de luxúria com sustentabilidade são as mais excitantes. O QUE VOCÊ TEM VESTIDO NORMALMENTE? IGOR: Eu sou muito básico no meu estilo, tudo muito e simples, camiseta e calça. Eu costumo gostar de camadas. Não sou muito obcecado por marcas, tem que ficar bonito e servir bem. DEISI: Eu não sou muito chegada a marcas. Gosto de roupas vintage e muita coisa de “faça você mesmo”. QUE TIPO DE MODELO MOSTRA MELHOR O SEU TRABALHO? QUEM ESTÁ EM ALTA NO MOMENTO? IGOR: Eu idealizo essa mulher poderosa, não tão feminina, com um look pouco irritado. Neste momento eu diria que a Cara Delavigne ou a Lara Stone. DEISI: Na minha opinião a melhor modelo hoje é a Cara Delavigne. 24
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GLITCH TEXTO: THE GLITCH MOMENT(UM) IMAGENS: MIGUEL SOLL
Como a popularização e cultivo de artefatos glitch estão agora a expladir-se de forma mais ampla, é interessante acompanhar o desenvolvimento desses processos e as suas respetivas consequências. Uma dessas consequências é que podemos considerar o glitch como um gênero artístico.
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Não é novidade ver artistas usando erros para criar uma nova técnica ou obra. Agora, na fotografia e no vídeo, o novo exemplo disso é a glitch art. A origem da palavra é alemã e aponta para uma expressão como escorregar ou deslizar. Utilizada inicialmente na eletrônica, é mais ou menos isto que ela indica: um deslize do sistema eletrônico por conta de um pulso fraco demais para fazer com que o conjunto funcione corretamente. Glitch são defeitos nas imagens causados por algum problema no computador ou na câmera, coisa muito comum em jogos que acabam transformando a tela em uma confusão de pedaços coloridos. Como a popularização e cultivo de artefatos glitch estão agora a expladir-se de forma mais ampla, é interessante acompanhar o desenvolvimento desses processos e as suas respetivas consequências. Uma dessas consequências é que podemos considerar o glitch como um gênero artístico. Mas o que realmente significa dizer que o ‘glitch é um género artístico’? A forma decisiva do glitch/ (falha) e a sua orientação em sentido da destruição do real, pode apresentar alguns problemas para aqueles que pretendem descrever a nova e antiga cultura como um contínuo coeso sobre diversas práticas opostas. Uma abundância de denominações, tais como databending, datamoshing e circuitbending são utilizadas de modo a designar e sustentar um conjunto de variedades práticas do glitch, mas na verdade, estes nomes referem-se a praticas similares de um abrangente fluir dentro de diferentes tecnologias ou plataformas.
Defeito ou arte?
Enquanto a ‘falha’ tecnológica exige principalmente um processo de investigação e cognição, a arte glitch pode ser descrita como uma colecção de formas e eventos que oscilam entre determinados extremos: o momento frágil de base tecnológica que resulta em perdas de informação por material danificado, a investigação conceitual ou techno-cultural de ruptura de informação, e a comodidade aceitável e padronizada em que o glitch se pode manifestar. Para resumir um conjunto de processos instáveis e intenções, por vezes quase contraditórias por parte dos artistas glitch, convém considerar o glitch enquanto gênero artístico. Ao reflectir sobre um movimento que engloba tanto os mais rebeldes como obras mais estáveis ou comoditizadas, a primeira pergunta que se coloca, é se pode mesmo existir qualquer tipo de denominador comum nestas obras. Para considerar o glitch enquanto gênero artístico significa também sugerir que é inteligível como tendência, isto de modo a explorar a média28
reflexividade e de assumir o questionamento retórico do seu uso perfeito, as funções tecnológicas, as suas convenções e expectativas. Paradoxalmente a parte da sua instanciação em erros e rupturas, a arte glitch, através da sua manifestação e convenções, pode ser descrita como um gênero que atende a diversas expectativas. Esta abordagem reflexiva sobra a materialidade no glitch tende a re-conceptualizar a importância de si mesma como “a interação entre as características físicas de um texto e as suas estratégias de significação.” Na parte de vídeos, o processo é conhecido como Datamosh. É uma técnica usada para comprimir dois vídeos juntos, removendo keyframes de um arquivo para que os pixels de um vídeo “sangrem” no outro. A técnica tem sido explorada por artista e cineastas como Takeshi Murata, Paper Rad, Kris Moyes e Paul B. Davis, como estética visual. Sua origem, uso e até mesmo seu nome se tornaram um tanto controversos. Mas os amantes de arte e tecnologia continuam utilizando o Datamoshing há um bom tempo. Entre os famosos temos Kanye West, que abusou do efeito no clipe “Welcome To Heartbreak”, vídeo não compreendido por muitos na época de seu lançamento.
QUESTIONAMENTO RETÓRICO DAS CONVENÇÕES E EXPECTATIVAS 29
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LÚCIA MARQUES FOTOS: LÚCIA MARQUES
QUANDO COMEÇOU A FOTOGRAFAR? Com uns 15 anos, por aí. POR QUE FOTOGRAFA? Talvez pela necessidade de comunicar o que não consigo verbalizar, a fotografia é a única maneira que consigo criar algo sem que a minha autocrítica me proíba de mostrar para os outros, o jeito que encontrei para dividir com pessoas como eu me sinto, como eu percebo as coisas, quem eu sou. O QUE FAZ QUANDO NÃO ESTÁ FOTOGRAFANDO? Estudo História da Arte na UFRGS e sou estagiária na Fundação Iberê Camargo, no setor de Catalogação e Pesquisa.
FOTÓGRAFOS FAVORITOS? Todd Hido, Nan Goldin, Francesca Woodman, Yojiro Imasaka e Larry Clark foram os que pensei de primeira. É foda falar sobre os favoritos, tanta gente, tanta coisa incrível. O QUE INSPIRA? Qualquer coisa que remeta ao silêncio, mesmo que essa coisa emita algum som. BANDA /FILME/ LIVRO FAVORITO: Through the Trees Pt. 2 - Mount Eerie, Stranger than Paradise - Jim Jarmusch, Retrato do Artista quando Jovem - James Joyce.
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Câmera que usa: Minolta SR-T e Olympus µ[mju:] 35mm.
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REN HANG FOTOS: REN HANG
Com base em Pequim, o fotógrafo chinês Ren Hang retrata de maneira única a subcultura jovem da China, onde esse tipo de comportamento é rigidamente punido. Com temas como indulgência e sexo, Ren viu seu trabalho ser banido em seu país. No entanto, o interesse pelo trabalho do artista ao redor do mundo foi grande nos últimos tempos, o que abriu portas para importantes exposições em diferentes países. Ren Hang conseguiu de maneira brilhante escapar da censura chinesa e mostrar uma parte oculta da China.
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Tuas fotos são tão sentimentais, tão complexas, que sentimos como se te conhecêssemos muito bem só de ver fragmentos da tua mente, transformados em imagens. Claramente, por outras entrevistas, dá pra ver que a fotografia é a tua vida. De que maneira fotografar tem te ajudado a viver? Eu não gosto do meu país, e gosto menos ainda de outros países. Eu não gosto do mundo contemporâneo e, em particular, o meu país, pois é um país muito conservador e feudal, um lugar muito opressor. No entanto, quando eu tiro fotos, distancio-me desse mundo; sinto como se eu existisse, residisse em outro espaço, atmosfera. Esse distanciamento é bom, pois, caso contrário, eu teria um colapso nervoso. Sinto-me como se pudesse causar um colapso na vida de outros em meu país, como se eu fosse uma grande ferida infeccionada.
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A gente percebe uma possível divisão na temática das tuas fotos: de um lado, existem imagens que retratam o sentimento puro, de uma forma lírica e bela; mas também há muitas em que se nota a ausência total do sentimento, como uma animalização ou objetificação das pessoas envolvidas. O que tu acha dessa visão sobre o teu trabalho? No momento em que tiro as fotos, não penso em classificação ou divisão. Sou rápido, estou constantemente em movimento, sempre fotografando; eu sinto isso onde quer que eu vá. Todos os temas ou categorias das fotos são gerados após a seleção das fotografias. Tu mora em Beijing, na China. Nós sabemos o quão difícil é ser artista quando todo o ambiente em que tu vive oprime a tua expressão. O Brasil passou por um período muito grande de censura política e, ironicamente, foram os anos de produção artística mais intensa no país. Tu acha que a opressão funciona como catalisadora de um pensamento artístico? Caso sim, de que forma tu vê essa censura como influência do teu trabalho? Tua arte seria a mesma se vivesse em um país mais “livre”, por assim dizer? Eu quero que a opressão seja a principal razão para o meu trabalho. Muitas vezes, me pergunto: por que não podemos? Por que não podemos comer juntos, dançar juntos, ou até mesmo tomar banhos juntos, fazer amor juntos? Acho que há coisas que contrariam a natureza humana, como diferentes crenças religiosas, tabus de gênero e de diferentes opções sexuais, leis ou regras contra essa natureza. Recentemente, tenho pensado que devo ter vindo a esse mundo com uma missão
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especial, pois, antes que eu enlouqueça, desejo fazer, realizar algo contra esse mundo e lutar até o fim. O que significa “liberdade”? Esse mundo não tem liberdade verdadeira. Ninguém possui a liberdade verdadeira. A verdadeira liberdade existiria nesse mundo apenas se essa palavra não existisse. Desculpa bater nessa mesma tecla, mas censura é foda. Tu já sofreu alguma dificuldade ou represália forte por causa do teu trabalho? Claro. Minhas exibições são proibidas pelo governo chinês com frequência. Quando foram à minha exposição e observaram as
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fotografias, algumas pessoas chegaram a cuspir no chão. Também já fui preso após ser denunciado à polícia por tirar fotos. Mas vou continuar tirando fotos de nu artístico. Não tenho medo dessas coisas. Além disso, eu quero ser fotógrafo na China. Eu sou chinês. Por que eu não poderia fazer o que eu tenho vontade na minha terra natal? A escritora americana Susan Sontag disse, na década de 1970, que a fotografia da China se limitava a temas e posições pré-estabelecidos, relacionados à ordem moral rígida dominante na época. Apenas os aspectos positivos e moralmente adequados do cotidiano eram retratados pelos fotógrafos, de modo que se tivesse acesso apenas a uma ficção idealizada da realidade do país. Percebemos, hoje, que tu faz uma quebra abrupta com esse ponto de vista, mostrando exatamente o oposto no teu trabalho.
Tu acha que, nas tuas fotos, tu mostra a natureza real da China de hoje? Como os fotógrafos do teu país te inspiraram a ser ou a não ser? O que te inspira? O que serve de referência pras tuas fotos? Eu não tenho nenhum padrão moral. Meu padrão moral é próprio. Minha inspiração vem da vida: tudo que eu vejo, escuto, sinto. A gente entende as fotografias como narrativas visuais. Quem são os personagens das tuas fotos, de onde eles surgem e que história tu espera que eles contem? Meus modelos são amigos íntimos, que confiam muito em mim, e é por isso que estão nas minhas fotos, em seu comportamento mais natural, seja físico ou mental.
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A MORTE DA IDADE TEXTO: BOX 1824 FOTOS: MIGUEL SOLL
Foi-se o tempo em que era possível ser especial . Se você fosse diferente das pessoas ao seu redor, você estaria a salvo. Mas a internet e a globalização acabaram com essa lógica para todo mundo. Assim como um vídeo pode viralizar, qualquer coisa também pode.
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Youth Mode
Pense no Kevin Spacey em Beleza Americana: um marombeiro que fuma maconha na crise da meia-idade. Esse é um modelo Baby Boomer de rejuvenescimento. É voltar a um estágio em que o colarinho branco ainda não havia sugado sua vida e lhe transformado em um robô corporativo. Obviamente, tudo deu errado para esse personagem. Estar em YOUTH MODE não significa reviver perpetuamente sua própria juventude, e sim estar presente e jovem em qualquer idade. Juventude não é um processo, envelhecer é. Em YOUTH MODE, você é infinito. Juventude não é liberdade em um sentido político. É uma emancipação do tédio, do previsível, da tradição. É atingir um potencial máximo: a habilidade de ser a pessoa que você quer ser. Trata-se da liberdade de escolher como se relacionar; de experimentar coisas novas; de cometer erros. A juventude entende que toda liberdade tem limites e que ser adaptável é a única forma de ser livre. Não importa se você é ________ , ________ , ou ________ , o desejo de escapar das limitações da vida cotidiana é universal. Estar em YOUTH MODE garante a liberdade de se realinhar radicalmente com o mundo.
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A JUVENTUDE É UM MODO OPERANTE. É UMA FORMA DE AGIR.
Youth Mode: Mass Indie
É como se alguém tivesse gritado ‘Fogo!’ em um cinema lotado no dia da morte do Kurt Cobain e todos tentaram achar uma saída diferente. Mass Indie é o que aconteceu 45 minutos depois. Cansados de tentar passar pelas portas, todos decidiram ficar no cinema. O pânico se dissipou em ambivalência. O Mass Indie abandonou a preocupação do Alternativo de evitar a uniformidade e elegeu a celebração da diferença como a única possibilidade. Mas ser diferente não é sempre uma jornada solitária; pode ser um processo coletivo. Mass Indie entende que a cultura é baseada em sobreposições: diferentes identidades não podem ser mutuamente exclusivas pois geram sempre novas combinações. Assim 47
como um equalizador de áudio, a cultura Mass Indie mistura o bizarro com o normal até chegar no ponto de nivelamento. Esse é o dogma: jaqueta jeans surrada com vestido de noite, atividade luxuosa de lazer em um espaço industrial. Nesse cenário, dominar as diferenças é uma forma de neutralizar as ameaças e obter status dentro de um grupo. Mas só porque o Mass Indie é pró-diversidade, não significa que seja pós-escassez. Há uma quantidade limitada de diferenças no mundo. E quando a diferença é a busca da grande massa, ela se torna insuficiente e escassa. A ansiedade de não existir um território novo é sempre um catalizador para a mudança.
Problema 1: Parecer um clone
Os detalhes que lhe definem são tão pequenos que ninguém percebe que você é diferente. Fast.ly, Vid.ly, Vend.ly, Ming.ly, Mob.ly: cada um oferece um serviço específico, destinado a uma necessidade específica do usuário, criado por um espírito empreendedor específico. Todos tem um target diferente, mas ninguém mais lembra quem é quem. Até os próprios CEOs tem dificuldade de lembrar do seu ingrediente secreto. Todas suas decisões em alta resolução foram anuladas, e suas startups voltaram ao ponto básico de partida. Esse é um problema de HD. É difícil acompanhar o todo quando os detalhes relevan-tes estão cada vez menores. O cérebro humano é capaz de processar uma certa quantidade de informação.
Problema 2: Isolamento
Você é tão especial que ninguém sabe do que você está falando. Um jantar onde cada convidado leva um prato, e as pessoas tem tantas restrições alimentares que cada um só pode comer o que levou. A festa que é tão exclusiva que ninguém aparece. Você precisa do Google Tradutor só para dizer, “Oi, tudo bem? Como estão as coisas?” Não é que você esteja de fato sozinho, mas age como se estivesse. Você fez de tudo para ser tão preciso nas suas decisões que sua micrológica só é percebida por um círculo cada vez menor de amigos. Você pode ser o maior expert mundial em Danças Religiosas Malanésias, mas depois de formado, percebe que ninguém se importa a não ser o seu orientador do PhD. 48
Problema 3: Passar dos limites
Os traços de individualidade são tantos e se reproduzem tão rápido que é impossível estar sempre atualizado. “Trolada?” Você já ouviu essa expressão na balada, mas o Dicionário Informal não está acompanhando. Adolescentes ficam famosos na internet e deletam seus perfis. O fluxo de notificações é sufocante. Talvez eles reativem suas contas por um minuto, voltem a escavá-las e então desativem tudo novamente. É um equilíbrio tênue entre o FOMO (Fear Of Missing Out) e o DGAF (Don’t Give a Fuck). Oportunistas de conteúdo se degladiam na busca pela próxima Inês Brasil, pois acertar em cheio sem nenhum esforço é algo muito raro. Apenas sábios/ignorantes conseguem estar no lugar certo e na hora certa e nem se dar conta disso.
BUSCA PELA LIBERDADE DE NÃO SER EXCLUSIVO
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Youth Mode: Norm Core
Era uma vez um tempo em que as pessoas nasciam em comunidades e lutavam por sua individualidade. Hoje, elas nascem como indivíduos e devem achar as suas comunidades. Mass Indie responde a essa situação criando panelinhas de indivíduos que sabem de tudo, enquanto Normcore sabe que o desafio é domi-nar o potencial para a conexão surgir. É sobre adaptabilidade, não exclusividade. Normcore entende o processo de diferenciação através de uma perspectiva não-linear. É um reflexo apurado do YOUTH MODE. Não é a liberdade de se tornar alguém e sim a liberdade de poder estar com qualquer pessoa. Você pode não entender nada de futebol e mesmo assim sentir um arrepio com o grito da torcida na Copa do Mundo. Em Normcore, uma pessoa não finge estar acima da vergonha de querer pertencer. Normcore se distancia de uma noção de cool baseada na diferença e adota um modelo de pós-autenticidade que opta pela igualdade. Porém, ao invés de se apropriar de uma versão estereotipada do mainstream, faz bom uso de cada situação presente. Para ser Normcore de verdade, é preciso entender que o normal na verdade não existe.
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NORMCORE É O CAMINHO PARA UMA VIDA EM PAZ
Em conversas de elevador potencialmente interessantes, Mass Indie é falar de um sonho que você teve na noite anterior, enquanto Normcore é conversar sobre o clima. Ambos permitem que emoções verdadeiras sejam reveladas em uma situação cotidiana. No entanto, não importa a intensidade da sua descrição, o seu sonho termina com você, enquanto a tempestade afeta todos nós. Normcore sabe que as escolhas do consumidor não são irrelevantes, são só temporárias. Pessoas se comprometem, pessoas são inconsistentes. Fazer uma determinada escolha hoje e outra conflitante amanhã não faz de você um hipócrita, apenas complexo. O consumo nunca foi uma oportunidade de absoluta auto-realização e sim apenas uma forma de navegar a realidade, seja de maneira coletiva ou pessoal. A individualidade já foi uma promessa de liberdade pessoal — uma forma de viver a vida nos seus próprios termos. Entretanto, esses termos foram ficando tão específicos que acabamos nos isolando. A ideia de Normcore busca uma liberdade proveniente da não-exclusividade. É a libertação em não ser tão especial e o entendimento de que só a adaptabilidade leva ao pertencimento. Normcore é o caminho para uma vida em paz. 51
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A INTERNET REESCREVE A CULTURA JOVEM TEXTO: PY-ZINE IMAGENS: MIGUEL SOLL
Com a identidade jovem ganhando mais liberdade, estamos vendo não somente um poder maior sendo entregue à gerações mais novas em termos de música e moda, mas uma influência maior que os adolescentes estão tendo na cultura como um todo.
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A CULTURA JOVEM NÃO ESTÁ SE PERDENDO COM A TECNOLOGIA, MAS ESTÁ SENDO REAPROPRIADA POR ELA. A medida que grupos modernos de jovens britânicos se entrelaçam e conversam perpetuamente - notamos menos limites entre eles. Pode ser que os grupos de jovens saídos da Segunda Guerra Mundial eram mais inclinados a criar tribos carregadas de iconografias tão fortes que elas se tornaram instantaneamente reconhecíveis? Grupos de jovens britânicos deixaram uma marca gigantesca na cultura ocidental e, indiscutivelmente, estabeleceram uma referência e um tom para a juventude mundial que existe ainda hoje, reapropriando-se, reutilizando e explorando-a até sua morte. Em uma cultura como a atual, estamos eternamente exposto e infiltrados a uma midia explosiva que as pessoas freqüentemente confundem com barulho visual. Na realidade, a cultura jovem não está se perdendo com a tecnologia, mas está sendo reapropriada por ela. E nós precisamos estar em paz com isso. A internet tem um poder tão esmagador sobre a música, a moda e a juventude porque nossas juventudes emergentes estão informadas por ela. O próprio Tumblr é um movimento da juventude. Nós tínhamos o MySpace em meados dos anos 200 e nós tivemos muitos rivais. MySpace iniciou uma tribo que teve uma vida relativamente curta mas altamente reconhecível - chamada “Emo”. O “profile” ou “blog” online simplesmente representa uma pseudo identidade, que agora interpreta um papel fundamental nas tribos
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jovens e na auto-expressão. Esse doppelgänger online trabalha em sincronia com a identidade da vida real (freqüentemente chamada de IRL - identity in real life). O gênero Emo/Hardcore surgiu do Pós-Punk, Hardcore e Indie dos anos 2000 e inspirou e evocou adolescentes com tanta paixão que, como em todas tribos jovens, freqüentemente pavimentou o caminho para suas identidades adultas. Novas tribos são freqüentemente ignoradas como verdadeiros grupos jovens embora sejam integrais para o nosso desenvolvimento como observadores da sociedade para identificar essas novas microtribos e para nos equiparmos para celebrá-las. O que é tão interessante sobre esses grupos novos é a falta de um local físico no qual eles mossam se manifestar em pequenos grupos ao redor do mundo. A cultura Harajuki e Manga é um ótimo exemplo disso.
Hoje os jovens estão qualificados pela era digital e enquanto é freqüentemente muito fácil desenterrar seus males sociais, é importante entender seu significado cultural. Se nós realmente queremos adivinhar onde nossa próxima tribo irá achar suas ideias, nós precisamos olhar como nossas experiências na web estão envolvidas. Um grupo jovem recente inspirado pelo mau gosto da tecnologia e pela cultura reciclada e regurgitada são os Seapunks. A internet alcançou um ponto interessante de hiper auto consientização. Atualmente dominar o zeitgeist cultural é um senso real pós-pósmodeno. Uma exposição distorcida e niilista da vergonha que é a internet do pré anos 2000. Contas de Tumblr estão mostrando imagens kitsch do início da computação, girando em torno de objetos de casa de mau gosto e animações brutas que ajudam a revigorar a relevância do GIF animado. A juventude moderna está tomando para si a compreensão e o questionamento da própria existência. Estamos transicionando em um uma era tão podera de auto consciência e implacável re-crescimento, que a cultura jovem com certeza irá crescer alé do reconhecimento desde que nossa própria texnologia faça o mesmo.
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PB & PINK FOTOS: DIVULGAÇÃO
Os normcores são básicos, comuns, discretos e querem conforto. Escolhemos produtos inspirados nessa nova tendência, mas com uma pegada fashion. Looks oversized, sapatos confortáveis e acessórios (nem tão) básicos para o dia-a-dia. E para quebrar a discrição do preto e branco, cores fundamentais para uma vida Normore, um toque de cor.
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STEVEN TAI /QUILTED SILICONE HOODIE
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FUJIFILM /INSTAX MINI 90
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GIVENCHY /MULTI-PRINT SWEATSHIRT
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TOPSHOP /MILO ROUND SUNGLASSES
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ALEX MATTSSON /BOBO SHORT DUNGAREES
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PURIFIED /GEORGE COX LEATHER CREEPERS
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CÉLINE /PINK MINI BACKPACK
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TOPSHOP /FLUFFY CREW
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SAINT LAURENT /METALLIC COATED BOMBER JACKET
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MAISON MARTIN MARGIELA /3D FLORAL PRINT LACE-UPS
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NIKE /FREE INNEVA WOVEN SP
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LOOKS FOTOS: MIGUEL SOLL
VESTIDO: Zara BOLSA: Ellus QUAL SUA RUA FAVORITA NO MUNDO INTEIRO? Cabrillo Avenue in Venice, California. O QUE VOCÊ FAZ NO FINAL DE SEMANA? Fico acordada até tarde pequisando e trabalhando com música e moda. Ah, e durmo também!
Amanda Rodrigues Designer de Moda
Carla Becker Modelo
BLUSA: Farm SHORT: AMP QUAL SUA MÚSICA FAVORITA NO MUNDO INTEIRO? Tears dry on their own, Amy Winehouse O QUE VOCÊ FAZ NO FINAL DE SEMANA? Gosto de ir em barzinhos com os meus amigos epra tomar uns drinks.
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BLUSA: Hering SHORT: Zara BOTA: Arezzo QUAL SEU ARTISTA FAVORITO NO MUNDO INTEIRO? Cabrillo Avenue in Venice, California. O QUE VOCÊ FAZ NO FINAL DE SEMANA? Fico em casa lendo ou vejo um filme. Gosto de ir em exposições de arte, quando tem alguma.
Fernanda Felden Estudante de artes
Pedro Schmidt Modelo
CAMISETA: Renner CASACO: Ellus CALÇA: Renner MOCHILA: Zara QUAL SEU LIVRO FAVORITO NO MUNDO INTEIRO? On the road, do Jack Kerouac. O QUE VOCÊ FAZ NO FINAL DE SEMANA? Saio com os meus amigos pra fazer qualquer coisa.
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BAD BAD WOMAN FOTOS: MIGUEL SOLL MODELO: CHARLI HOWARD /UNION MODELS STYLING E MUA: NATHALIE DATTELKREMER TODAS AS ROUPAS SÃO DE BRECHÓS
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MID NIGHT BLUES FOTOS: MIGUEL SOLL MODELO: BRUNA DADALT /SUPER AGENCY STYLING : NANCY GARCEZ CASTING: MALU BORTOLINI PRODUZIDO POR : CHICO SOLL TODAS AS ROUPAS SÃO DE BRECHÓS
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A música existe para ser experimentada. E isso os caras do Nacional Riviera sabem bem. Depois de experimentar muito, eles acertaram em cheio no som do novo EP. O primeiro trabalho dos gaúchos foi o EP “Despedida/Empate”, lançado há um ano atrás com três faixas. Reunindo diferentes ritmos, mas sempre fiel ao rock, eles nos contaram que o novo material conseguiu deixar mais claro essa mistura que é a Nacional Riviera. “As referências não são exatamente novas, acho que usamos as velhas mesmo, alguns clássicos, alguma banda que conhecemos há alguns meses, tudo depende, mas não buscamos referências. A banda em si, já tem na sua proposta juntar diferentes climas. É da natureza da banda misturar, já que tem membros da escola do jazz, percussionista com influências latinas o pessoal do rock, folk. O que mudou mesmo foi o crescimento da banda que está conseguindo deixar mais claro essa fusão.”
NACIONAL RIVIERA Pela Manhã /Boas Novas 86
Cœur De Pirate Trauma
A última coisa de que temos registro da adorável Béatrice Martin é seu excelente álbum Blonde, de 2011. Para surpresa de muitos, a amável canadense ressurge das cinzas logo nesse começo de ano; a explicação: nesse meio tempo – entre o lançamento de Blonde e o retorno da moça – ela casou e teve um filho! Sim, apesar de sua feição juvenil, Cœur de Pirate é adulta o suficiente pra fazer tais coisas. Começando 2014 com o pé direito (e o esquerdo também para não cair), Martin lança Trauma, o seu primeiro álbum em inglês e o seu primeiro álbum que não tem nenhuma canção original sequer. OUÇA: “Heartbeats Accelerating” e “Last Kiss”
Johnny Cash Out Among The Stars
Young the Giant
Com uma discografia extensa, com mais de setenta discos, a força de Johnny Cash se mantém, mesmo após quase 11 anos de sua morte. O problema, porém, dos discos póstumas é a incerteza: nunca saberemos completamente se o artista realmente desejou que sua obra fosse lançada ou se algum detentor de seus direitos está se aproveitando e lançando material que deveria ser engavetado. Gravado na década de oitenta, junto com The Baron, lançado em 1981, Out Among The Stars acabou esquecido.
Mind Over Matter
Sabemos que todo segundo álbum de qualquer banda que seja é cercado de dúvidas, sejam elas sobre a qualidade ou até mesmo o estilo de som que a banda irá apresentar; e quando o hype sobre o debut é grande, essas dúvidas crescem mais ainda; e esse é o caso dos californianos do Young the Giant, que após o homônimo e excelente álbum de estreia, que fez bastante barulho no dito mainstream, rendendo até performance no Grammy e música na série Glee, estão de volta com Mind Over Matter. OUÇA: “Crystalized” e “Mind Over Matter” 87
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OCKSÅ REN HANG A INTERNET REESCREVE A CULTURA JOVEM GLITCH A MORTE DA IDADE
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