Meu amigo ½ branco Esse texto é um convite a uma reflexão coletiva sobre a parditude, parditude acrítica e afroconveniencia.
Sabe essa carcaça aqui? Ela tem 27 anos e já suportou de tudo. Diversos tipos de abusos e violências por um simples motivo, minha cor. Nunca tiveram dúvidas da minha cor, e também nunca me deixaram esquecer qual era já que ela se apresenta antes de mim quando eu chego.
“O que vc é é só o que vc diz que é? Ou vc depende da compreensão do outro do reconhecimento do outro?
Não sei o que é ser pardo, branco, ou meio branco, mas a negritude me acompanha desde sempre, sei o que é ser negro como a palma da minha mão que por ventura é tão preta quanto um 2 de paus. A auto identificação por si só não faz um negro, já que a leitura social do mesmo é responsabilidade de terceiros e é construída em relação.
Não te torna negrx Ser o mais escuro da sua família não te torna necessariamente negro, suportar as piadinhas e apelidos deles não te torna negrx, só evidencia o racismo na sua família.
Não te torna negrx Pagar pra ter acesso a sua negritude não te torna negro, então colar no salão e meter tranças não te torna negro.
Desde a popularização da cultura negra como algo empoderador tenho me deparado com pessoas em busca da construção de uma identidade individual/coletiva levantando a bandeira dos movimentos sociais depois de VELHOS e VELHAS alegando sua negritude.
Já pararam pra pensar na equivalência dessa ação? Posso afirmar que eu alisar meu cabelo não me torna branco.
Leiam o livro da Nilma Lino Gomes sobre indumentĂĄria e estĂŠtica negra
Leiam o livro do Frantz Fanon, "Pele Negra, Mรกscaras Brancas."
Não te torna negrx Colar nos terreiros pra se conectar com suas “raízes africanas” não te torna negro, te torna alguém espiritualizado.
Colar na capoeira/ dança afro pra legitimar sua negritude também não te torna negro, te torna alguém saudável conectado a cultura e ao esporte.
Não te torna negrx
“Sou favelado devo ser negro por osmose.
Não te torna negrx
Viver na favela, perifa, quebrada, ou cohab e tentar legitimar local geografico como negritude não te torna negrx, porque além de problemático reafirma o preconceito de que todos os negros são naturais da favela e evocar isso quando lhe convém é algo complexo mas não te torna negro, ser negro não é classe.
Essas tentativas falhas de legitimação não te tornam negrxs, te tornam afro conveniente.
Eu particularmente odeio a onda promovida por alguns que excluem a parditude da negritude, mas gosto menos ainda quando pardos gozam dos privilégios sociais atribuídos a sua “dupla identidade racial”.
"Só se é negro em relação. Somos negros em relação! Somos negros em relação a Brancos e Asiáticos, e mesmo estes sofrem com algum tipo de preconceito, entretanto não sofrem com o racismo genocida promovido pelo estado.
"Ser negro é uma questão social, cultural e econômica
assim como o racismo também é uma questão Social, cultural e econômica.
E por favor, não falem que ser negro é uma condição.
Ser negro só é condição por sermos condicionados a negritude e subalternizados pela crença de que existe uma continuação moral do que seria um estereotipo de negritude, uma preconcepção ou preconceito.
"O que me torna negro é o racismo. Sem ele sou um ser humano, só. Sem o racismo, eu não teria de lutar pra ser considerado um.
Pense em quais direitos humanos básicos as pessoas negras tem acesso. Saúde? Educação? segurança...? sobre esse último, reflita! A polícia está batendo record de “casos isolados” esse ano.
"A negritude é algo dos negros e deles somente a negritude é a transformação de sua condição de negros e negras positivada em relação.”
Ao se considerar negro, mas não tão escuro assim pra se chamar retinto, preferindo adotar a parditude como identidade, reflitam bem sobre o privilegio vinculado a essa ação.
Pardos podem se passar por pretos em relação a _____________ Assim como se passam por brancos em relação a _____________
É um privilégio gigantesco poder pertencer a esse “não lugar”, que vcs dizem ser tão doloroso.
Um dia desses numa conversa com a Ana Elisa, ela me disse uma coisa que me gerou um incomodo, entretanto o Wagner de hoje concorda plenamente. Ela me disse o seguinte:
“Eu acho incrĂvel como o entendimento de uma galera sobre a negritude estĂĄ ligado ao cabelo.
Usar um corte ou penteado afro não te torna
negro
A ideia de alguns brancos e pardos que começaram a se identificar como negros recentemente, adotando a indumentária como fantasia é cruel com as pessoas que sustentam sua negritude desde sempre.
Seguir padrões estéticos que a branquitude aceita socialmente não me tornou branco, porque vc se “fantasiar” de negro iria te tornar um?
“Ser negro mata, Ser negro vende, Ser negro segrega, Ser negro objetifica! Não sei porque, de um tempo pra cá se tornou legal a terceiros! E outra, conectar-se com suas raízes “afro” pagando por isso só alimenta uma indústria que produz mais desigualdade social ea instaura novos padrões estéticos pra serem seguidos e à risca pelas pessoas negras que ja lutam contra essas imposições todo os dias.
Já pararam pra pensar que ocupam um local de ambiguidade e tem de ponderar sobre como sua branquitude afeta suas relações? Já pararam pra pensar que quando brancos, e pardos acríticos dizem que “somos”, mais um preto morre! Já se perguntou porque tal violência nunca chega até vc?
Já se perguntou como vc se afirmar NEGRO/PARDO ou NEGRA/PARDA por capricho afim de garantir benefícios sociais, afeta os negros e negras retintas perto de vc? Isso os deixa desconfortáveis? Não falo aqui de uma “negritude frágil” a ponto de ruir por algo assim, mas Já se perguntou como sua auto declaração tira valor ou tenciona a experiência de negritude deles? Ao se declarar negro ou negra a ação te inclui ou segrega? Se inclui ou sentimento é mutuo pelos seus novos pares?
Já pediu desculpas a todos os negros que vc constrangeu e humilhou quando não estava coberto com a afro conveniência? Já pensou em como suas falas e ações também contribuiram para traumatizar as negras e negros retintos ao seu redor? Negar sua branquitude sem reconhecer seus privilégios muda em alguma coisa o racismo que eu e outros negros sofremos, ou so te faz se sentir melhor com vc mesma/o?
A esses brancos/pardos um conselho se querem ser incluídos ou AJUDAR de alguma forma já que ao negar sua branquitude ainda se beneficiam de tudo que ela tem a lhes oferecer.
Questionem seus privilégios brancos!