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edição 02 l outubro 2012

ibitipoca

a partir do dia 8/12

FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO


conect dos na sustentabilidade

Foto l Luiz Fernando Cigani

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proveitando a oportunidade da visita da cientista Valéria Magalhães, professora em Águas na UFRJ, na Pousada “Sítio das Hortências” de Danestis e Adriana registrei a conversação deles durante o café da manhã: “Ibitipoca é maravilhosa! Diz a Valéria. Danestis concorda com seu encanto ao Parque. “É um patrimônio bem cuidado. Não se encontra papel de bala, toco de cigarro. Tem águas límpidas. É bom estarmos aqui, mas no seu entorno, há algo preocupante... “Então, vamos refletir, intervém a mestra. Onde o ser humano habite há crescimento populacional. Das regras desrespeitadas advém danos. Então, quem vive no entorno, na Vila, em Lima Duarte, JF, os turistas, enfim, as pessoas estão cuidando do que usam? Pensar na preservação desse “tesouro”, prossegue, porque é óbvio que do

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esgoto jogado in natura no corpo d’água, essa água não servirá para nada. Antevendo isso, há de se analisar a permeabilidade do lençol freático, se foi, está sendo atingido, ou corre riscos (a Universidade Federal de Juiz de Fora pode ajudar nesses estudos). Eliminar o que polui. Criar hábitos como a conscientização sobre o uso correto dos detergentes, a reciclagem. Lembrar que a nossa vida depende da sobrevivência de outras criaturas”. E atuar junto às crianças, numa formação salutar dessas medidas (...) “Também salientar que, exemplifica Adriana, a despeito dos que preferem ignorar, a água é finita! (não é professora?)”. Exatamente. Se queremos felizes o turista, a comunidade e quem vive do turismo. Às futuras gerações: urge atuar em prol do bem estar em nossa querida Ibitipoca!”, finaliza.


PÁGINA ESPÍRITA

32 3216-9616

PLANTÃO DE SOCORRO ESPIRITUAL A CASA DO CAMINHO

Na presença

Allan Kardec por Iriê Salomão

do Cristo “Em verdade vos digo que o céu e a terra não passarão sem que tudo o que se acha na lei esteja perfeitamente cumprido, enquanto reste um único iota e um único ponto.” - Jesus (Mateus, 5:18.) “0 Cristo foi o iniciador da mais pura, da mais sublime moral, da moral evangélico-cristã, que há de renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que há de fazer brotar de todos os corações a caridade e o amor do próximo e estabelecer entre os humanos uma solidariedade comum; de uma perfeita moral, enfim, que há de transformar a Terra, tornando-a morada de Espíritos superiores aos que hoje a habitam.” - Cap. 1, 9. A ciência dos homens vem liquidando todos os problemas, alusivos ao reconforto da Humanidade. Observou a escravidão do homem pelo próprio homem e dignificou o trabalho, através de leis compassivas e justas. Reconheceu o martírio social da mulher que as civilizações mantinham em multimilenário regime de cativeiro e conferiu-lhe acesso

às universidades e profissões. Inventariou os desastres morais do analfabetismo e criou a grande imprensa. Viu que a criatura humana tombava prematuramente na morte, esmagada em atividade excessiva pela própria sustentação e deu-lhe a força motriz. Examinou o insulamento dos cegos e administrou-lhes instrução adequada. Catalogou os delinquentes por enfermos e transformou prisões em penitenciárias-escolas. Comoveu-se, diante das moléstias contagiosas, e fabricou a vacina. Emocionou-se, perante os feridos e doentes desesperados, e inventou a anestesia. Anotou os prejuízos da solidão e construiu máquinas poderosas que interligassem os continentes. Analisou o desentendimento sistemático que oprimia as nações e ofereceu-lhes o livro e o telegrafo, o rádio e a televisão que as aproxima na direção de um mundo só. Entretanto, os vencidos da angústia aglomeram-se na Terra de hoje como enxame-

avam na Terra de ontem... Perderam o emprego, que lhes garantia a estabilidade familiar, e desorientam-se abatidos, à procura de pão. Foram despejados de seu teto, hipotecado à solução de constringentes necessidades e vagueiam sem rumo. Encontram-se despojados de esperança, pela deserção dos afetos mais caros, e abeiram-se do suicídio. Caíram em perigosos conflitos da consciência e aguardam leve sorriso que os reconforte. Envelheceram sacrificados pelas exigências de filhos queridos que lhes renegaram a convivência nos dias da provação, e amargam doloroso abandono. Adoeceram gravemente e viram-se transferidos da equipe doméstica para os azares da mendicância. Transviaram-se no pretérito e renasceram, trazendo no próprio corpo os sinais aflitivos das culpas que resgatam, pedindo cooperação. Despediram-se dos que mais amavam no frio portal do túmulo e carregam os últimos sonhos da existência, cadaverizados agora no esquife do pró-

prio peito. Abraçaram tarefas de bondade e ternura, e são mulheres supliciadas de fadiga e de pranto, conduzindo os filhinhos que alimentam à custa das próprias lágrimas. Gemem, discretos, e surgem na forma de crianças desprezadas, à maneira de flores que a ventania quebrou, desapiedada, no instante do amanhecer. Para eles, os que tombaram no sofrimento moral, a ciência dos homens não dispõe de recursos. É por isso que Jesus, ao reuni-los em multidão no tope do monte, desfraldou a bandeira da caridade e, proclamando as bem-aventuranças eternas, no-los entregou por filhos do coração...

www.iriesalomao.com.br

Companheiro da Terra, quando estendes uma palavra consoladora ou um abraço fraterno, uma gota de bálsamo ou uma concha de sopa, aliviando os que choram, estás diante deles, na presença do Cristo, com quem aprendemos que

o único remédio capaz de curar as angústias da vida nasce do amor, que derrama, sublime, da ciência de Deus. Página transcrita do Livro da Esperança, obra de Emmanuel, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

Jornalista Vinícius Fagundes Netto Pimentel Filho Reg. Prof. L9-fls.80 de 06/04/81 com registro em 02/04/81 Revisor Editorial Luiz Fernando Cigani Lima - Reg. Prof. SRP. nº. 2300 - liv. 013 - fls. 51 - data 02/04/90

clubedopedaljf@yahoo.com.br Editoração wa editoração - (32) 3218-2449

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canastra BERÇO REDENTOR DO ‘VELHO CHICO’

Fotos l Luiz Fernando Cigani

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“Velho Chico” é sinônimo de vida para as populações ribeirinhas ao longo de seus 2.814 km de percurso. As águas do “Rio dos Currais” abrangem 5 estados formando a 3a maior bacia hidrográfica do país. O batismo com o nome santo deu-se em 4 de outubro de 1501 quando o explorador italiano Américo Vespúcio avistou a foz do Rio “Opará” (“rio-mar” em “tupiguaranês”) e consagrou-o. Pouca coisa mudou depois de anos da descoberta da nascente do “Velho Chico” no Parque Nacional da Serra da Canastra. Os 3 olhos d’água nascem de um brejinho a 1500 m de altitude. Outras nascentes desbrotam nos 14 km até que o finalmente, o riacho despenque por 200m de altura na plácida cachoeira Casca D’Anta; cartão-postal que fica na “parte baixa do Parque” em Vargem Bonita. Cidade responsável pelo garimpo de diamantes no século XIX. O PARQUE Da portaria do Parque administrado pelo Instituto Chico Mendes em São Roque de Minas, após 4 km depara-se com a imagem do padroeiro da ecologia “São Francisco” a abençoar a reserva e a estradinha que liga a Sacramento em 70 km de extensão. Do outro lado, quase como escondido e próximo a Sacramento chega-se ao ar-

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raial de Desemboque, na região do Triângulo Mineiro. Garimpo de diamantes no século XVIII, hoje, o local é mais lembrado pelo nascimento do ator global Lima Duarte. Num caminho inverso a estradinha própria a veículos off-road e bikes leva a Delfinópolis, outra “porta de entrada” para o Parque desvenda a Serra da Babilônia e a Barragem dos Peixotos. AS ÁGUAS FASCINAM E A BIODIVERSIDADE ENCANTA Visitante ilustre, o botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, 1o pesquisador a explorar o interior do Brasil a convite do Império no século XIX, identificou alguns dos 120 tipos de quaresmeiras entre as 1200 espécies do lugar. Deixou o legado na obra “Viagens as nascentes do Rio São Francisco” . Já os naturalistas alemães Johann Spix e Carl Von Martius citaram a paisagem, sua fauna e flora naquele século no 2o volume da obra “Viagem pelo Brasil”. O inglês Richard Francis Burton e o engenheiro, imigrante alemão Henrique Guilherme Fernando Halfeld descreveram a região O romancista Guimarães Rosa evidenciou os musicos, poetas de São Roque de Minas e dessa maneira estão vivas as almas dos que formaram o Brasil, a identidade cultural de seu povo.

João José

Paulo Henrique

Fé, esperança e trabalho “O mineiro e o queijo”: no que depender dos produtores de queijo da Serra do Salitre Paulo Henrique da Silva, 48 anos e João José de Melo, 44 anos a tradição desse alimento está assegurada. A alquimia iniciada há 4 gerações pelos “tetra avós” vem sendo defendida no embate ao entrave estatal que inibe a comercialização nos mercados de São Paulo e Rio aliada a concorrência desleal dos atravessadores do queijo a serviço da industria. MOTIVAÇÃO “A nossa sobrevivência nas regiões férteis das montanhas e serras próximas as nascente do Rio Parnaíba e da Serra da Canastra, deve-se muito ao incentivo dos Chefs da alta gastronomia, do “slow food” e do Instituto do Patrimonio Histórico eArtístico Nacional (IPHAN) que certificou o queijo”, declarou João José e arrematou, “resgatamos a cultura de nossos antepassados dando continuidade ao trabalho que servia exclusivamente a alimentação familiar. Na década de 60 com a expansão comercial o queijo perdeu a qualidade. Inovamos com valores e hoje, o sabor natural do queijo da fazenda chega ao consumidor que tem opções de um produto encorpado de sabor suave e agradável. Sabemos que o mercado está carente; existem paladares diferenciados. Somos capacitados e se as pesquisas garantem a segurança do produto, à ciência só falta atestar nossa produção”, conclui. O impasse atingiu em cheio os guichês de Brasília após o lançamento do documentário “O Mineiro e o Queijo – Patrimônio Proibido” do cineasta Helvécio Ratton em setembro de 2011 e premiado na 15a Semana de Cinema em Tiradentes em 2012. A organização da Semana de Gastronomia de Tiradentes convidou os produtores da Serra do Salitre para uma noite de degustação e a palestra interessante revelou a criação do queijo com chocolate. CREDIBILIDADE Para finalizar, Paulo Henrique nos disse que, “uma lei de 1952, sem embasamento científico e repleta em suposições descabidas prevalece sob a indiferença do Estado. Da forma que está, a lei vigora e o queijo desaparece. Esse filme do Helvécio nos dá credibilidade. Motiva a nossa luta iniciada há 15 anos e que felizmente, ganha notoriedade nos eventos gastronomicos como a excelência desse em Tiradentes. Tivemos fenomenal acolhida, saímos daqui felizes. Nosso produto está “apadrinhado” pelos chefs e suas receitas em pratos requintados, de bom gosto. E a aprovação pelo consumidor tem-nos dado o dever em retribuir com a competência qualitativa” . O prestígio do queijo mineiro receberá em breve o registro de Indicação Geográfica da Propriedade Industrial (Inpi). Essa é só mais uma peculiar demonstração do porque Minas Gerais deve ser conhecida e sua gente valorizada.



VITORIANO VELOSO

O ENCANTO DO “Se o Brasil é um país sem memória, não é por falta de cenários que estimulem uma volta ao passado”.

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BICHINHO

No Circuito Trilha dos Inconfidentes as cidades que circundam a Serra de São José são exemplos perfeitos de um passado glorioso em que se o ouro tornou-se irrisório hoje é o turismo que desnuda tesouros que esses lugares possuem. Vitoriano Veloso, famoso “Bichinho” é distrito de Prados. O acesso preferido pelos turistas se dá a partir da charmosa cidade de Tiradentes. Trecho da Estrada Real em calçamento, a curta viagem de 6kms denota a exuberante paisagem da Serra de São José até chegar a “Bichinho”. Esse caminho era percorrido pelos tropeiros vindos das minas de ouro e pedras preciosas que “desciam” de Diamantina e Ouro Preto passando por Carandaí e Prados vindo a pernoitar nessa localidade que ganhou o apelido de “Bichinho” em referência a presença de animais que “roubavam” alimentos desses viajantes (...). Desse passado de lendas, repletos de “causos” e estórias que esse povo conta o “quase arraial” guarda tradições que contrastam com o inevitável progresso.

De família tricentenária no Bichinho Luzia Maria da Silva, a professora e proprietária da Pousada Vovó Cota acompanhou a instalação dos postes de energia nas ruas do distrito há 30 anos e conclui que com o maior poder aquisitivo das famílias a juventude está acomodada e desabafa: “estamos inquietos com a falta de um atendimento médico competente. Alertamos ao prefeito em Prados da necessidade do posto policial há anos. Infelizmente, essa ineficiência perdura. Fora isso o Bichinho tem tudo de bom. Daqui nem penso em mudar(...)”. Parece que nada muda mesmo o cotidiano de vida dessa gente simples e hospitaleira que tiravam o sustento da terra. Hoje sobrevivem do talento que foi despertado na década de 80 pelo artista plástico Antonio Carlos Bech, o “Tóti” que criou uma oficina de artesanato apresentando ferramentas e métodos de produção à comunidade. Martiniano Moreira Carvalho, o “Naninho” um dos mais respeitados escultores em madeira do Brasil naquela época já transformava

madeira bruta em valiosas peças sacras. Juntamente, com Tóti, Bageco e “Passarinho” motivou a comunidade que fazem hoje do Bichinho referência mundial em artesanato. Para atender a demanda de turistas a Chef Ângela abandonou o trabalho no campo para se dedicar a gastronomia. Atende a mais de 300 clientes em um só dia nos feriados e fins de semana prolongados.”A nossa hospitalidade é de muito carinho e quem vem retorna. Aqui passa gente de todo o mundo, classes sociais e temos tratamento idêntico, com alegria. Valorizamos o ser humano num trabalho para as futuras gerações”, disse. A filha de Ângela, Mônia Silva complementa: “nesse lugar encontra-se a cultura mineira de origem, de raiz...”. A genuína Bichinho está em expansão. Terrenos ganham residências, novos ateliês e empresários já administram negociações das terras. A belorizontina Denise de Oliveira Lobo vivia em Tiradentes. Conheceu Bichinho em 2009, declarou, “foi paixão à primeira vista. Hoje é sonho, estou cercada dessa


xar de conhecer a preciosidade escondida na Serra de São José. A partir do pórtico do Bichinho a “Estrada-parque Passos dos Fundadores” tem extensão de 9 km até Prados. Dezenas de cachoeiras no topo da serra circundadas pela vegetação de Mata Atlântica, Campos Rupestres e Cerrados abrigam fauna e flora e exemplares endêmicos. Uma mina dágua fluoretada. Lindo visual de Bichinho, Prados e Tiradentes. A estrada é fiscalizada pelo IEF que possui um Centro de Visitantes “Casa Verde” com interessante acervo. Ao turista curtir dias abrigando-se nas confortáveis pousadas do Bichinho, levantando-se da cama “um pouco mais tarde” para apreciar a serra a cavalo, de bike ou em carros tracionados ou simplesmente, “bater pernas” pelos ateliês, saborear a especialíssima comida ao fogão à lenha, apreciar uma cerveja artesanal ou mesmo aquela pinga da boa (Tabaroa) vai levar daqui um sentimento da mineiridade que nos leva a concluir que mesmo para quem é nascido em Minas Gerais orgulha-se do que é ser mineiro.

Fotos l Luiz Fernando Cigani

energia fabulosa. Criei a firma ACI, qualidade em serviços para oferecer lotes a partir de 250m2. Quero satisfazer a quem procura o mesmo que eu”,. Turistas e artistas que se apaixonam pelo local tomam a decisão de “mudança de ares”, trocam o “caos” dos grandes centros urbanos pela simplicidade. A Chef Áurea Simões Lombardi, natural de São João del-Rei morou 25 anos em BH. Administrou um buffet para empresas e criou há 15 anos em Tiradentes, o Restaurante “Ora pro Nóbis” especializado em leitão à pururuca na Rua do Chafariz. E assegura que “um amigo do Bichinho o “Airton das Macelas” falou-me desse lugar encantador. Eu trouxe o restaurante há um ano. Bem de frente a “Dona Carmen do Fuxico”, que é um amor de pessoa. Se preciso de limão, couve, alface vem da horta. Tudo sem agrotóxico. Aqui não há falta de nada. É saúde. Daqui não arredo pé, de jeito nenhum! O PRESENTE DE TESOUROS Se o Bichinho exibe explicitamente, as marcas do passado barroco, o turista que respira esses “ares sagrados”, encontra os traços da mineiridade de sua gente e não pode dei-

Teatro Barracão Cultural www.barracaocultural.com.br

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Ricardo (Dedé) Valle de Mello

Foto l Luiz Fernando Cigani

Flávia Oliveira

HARMONIA SUSTENTÁVEL

Ricardo (Dedé) Valle de Mello

DO BLUES LUNAR AO 13o IBITIPOCA BLUES Flavia Oliveira 39 anos, produtora do Festival Ibitipoca Blues nasceu em Lima Duarte. A afinidade com Ibitipoca remete à infãncia. Com a mãe, tia e amigos subia a serra para tomar os banhos de cachoeira, estar na Vila. Foi crescendo com as coisas do lugar que a apaixonaram. Subiam a serra levando colchões e toda a parafernália para a casa do tio Guaraci, o “Cici”, coração bom (...)”. Diz, Flavinha: “não tinha banheiro. Havia uma biquinha. O riachozinho atrás do terreno para os banhos. Uma vez deu bagunça. Era tanta gente. Roupas misturadas, mochilas trocadas, enfim, a casa ficou pequena. Aí montamos o camping “Tô no Osso”. Minha mãe, de quem herdei o estilo “guerreira,” criou banheiros

de lona. O chuveiro de balde com cordinha. Água requentada no fogão à lenha. Cobrávamos uma taxa simbólica. E o reveillon de 1996/97 foi ma-ra-vi-lho-so! Com participação de todos ceiamos esplendidamente. É essa história que resultou no que é o IbitiLua. O Festival segue na filosofia. Mas, agora não resido aqui. E sempre que venho, só recebo presentes!!! Nessa mescla de IbitiLua e Festival ganhou forma na 1a edição, o “Ibitipoca Blues”, batizado “Blues Lunar”. A geada surreal naquelas noites geladas marcou o “agosto de 99”. Era o brinde por vencer adversidades. Numa dessas, o caminhão quebrou na subida da serra. A “tropa” foi mobilizada, montou-se o palco. O sucesso do evento tem até hoje essa sinergia por

determinação. Foi conquistada a abertura a nível de Prefeitura, o apoio da Associação de Moradores e Amigos de Ibitipoca e a consideração da comunidade, que tem merecido recíproca. SUSTENTABILIDADE “Temos o Projeto LIXO ZERO que nos mostrou na 1a etapa o problema da coleta. Entendemos que a Prefeitura tem outros distritos para trabalhar a questão e iremos organizar tudo. Nessa etapa o uso das lixeiras na Vila não deu certo. Em outubro, prevê Flavinha, instalamos as lixeiras “de mão”e as maiores para as pousadas. Até dezembro distribuimos cartilhas. As pousadas ganham embornais e os hóspedes colaboram trazendo o lixo das caminhadas. A intenção do projeto

vai além da conscientização. Cooptamos pelo lado social num questionário sobre a estrutura na Vila. Estamos em busca da sustentabilidade na mão de obra” . Flavinha diz, “divulgaremos o Circuito Serras do Ibitipoca, seus atrativos belíssimos. O Parque é a nossa “vitrine” que é a mais visitada no estado! Encontramos tanta gente bacana, que na mesma sintonia, faz as coisas fluirem. A questão ambiental é missão. Do jeito que está não vai ficar. Entristece que o córrego em que nadávamos está impraticável. Se há pousadas que abrem fossas até que o ar se torne impróprio, alertamos para a falta de respaldo ao belíssimo projeto da Fundação João Pinheiro que prevê tratamento do esgoto. Pessoas adoentam-se ao aprofundar na questão. Não devemos e nem vamos desistir! Precisamos de tempo para manter um necessário equilíbrio – é uma “travessia” que faremos de mãos dadas. Conscientes desse amor que devemos a Ibitipoca”. QUERO MAIS! A 13a edição do Ibitipoca Blues deixa o gosto de quero mais: Irmandade do Blues, Beale Street, Jefferson Gonçalves, Artur Menezes, Adriano Grineberg Omar Coleman (EUA) consolidam toda a expectativa. Alem do show particular de cada um homenageando a Celso Blues Boy (que está na Pátria Espiritual desde início de agosto e participou de 2 edições do Festival) uma energia incrível pairou na noite do sábado dia . Quem presenciou, ganhou bis. Agora está acionada a contagem regressiva para o próximo agosto! “LONGA VIDA...” Fica a torcida para um patrocínio “de peso”. Incentivo das leis da Cultura. Do crescimento. Que o “Ibitipoca Blues” se realize também pelas bandas da “Serra dos Inconfidentes”. Promoters da cidade de Tiradentes estão ‘sedentos’ por um evento a nível do Blues em Ibitipoca que consagra-se no circuito nacionalmente. Parabéns a toda equipe: Jussara Reis, Daniel Veloso, Cátia Galoleti, Victor Zaiden da filmagem e Flavinha. Para o advento do novo ano já confirma-se a participação “do cara” do Mississipi Blues (RS). Os “souvenirs” (camisetas, casacos, embornais, bolsas, etc..), novos lançamentos e novidades, podem ser acessadas pelo site www.ibitipocablues.com. br. Que venha 2013!

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MOMENTO COM A CHEF

Gabriela Rodrigues Rosa A exímia chef Gabriela Rodrigues Rosa comanda a Cantina Santa Fé no Shopping Libertas em Tiradentes. Apaixonada pela cozinha italiana aprendeu desde criança, com a mãe de origem portuguesa as receitas do “velho mundo”. Aos 16 anos auxiliava a avó na cozinha. Depois, por dez anos aprimorou seu talento com a ex-sogra .

Recentemente, a experiência de 2 anos no Curso Gastronomico da America Latina deu formação a sua praticidade singular. As receitas, a releitura, estilo e conceito, como diz, são “para encantar, festejar, homenagear, impressionar, brincar, jejuar,celebrar, esperar e prender marido! “. Afirma que, “a inspiração vem dos meus filhos, a

O que a mais contenta da boa mesa, as receitas consagradas ou a surpresa da culinária, no improviso? Acho que os ingredientes remete as pessoas lembranças. Divirto-me na criação para surpreender os convidados. Não é modismo a simplicidade ou a tecnica elaborada na culinária. O importante é que a boa cozinha me faça evoluir como Chef. Isso me deixa feliz. Dos cardápios que montou recentemente, quais tem maior apreciação. Segue a alguns rituais no preparo? A Lasanha de Berinjela e a receita que revelo aqui tem mais saída. Sigo um ritual ao preparar os molhos, a massa. Tudo organizadinho. Executo depois, Misanplis O que você acha mais importante para se degustar um cardápio? A sensibilidade. Para apreciar o

Foto l Luiz Fernando Cigani

Chef Gabriela, o que você acha desse domínio masculino nas cozinhas dos restaurantes? Acho engraçado porque da mesma forma que as mulheres vem quebrando barreiras em atividades antes masculinas os homens tornaram-se maioria nas cozinhas. Há um grande desenvolvimento tecnológico na área culinária. Novos equipamentos facilitam o cozinhar. Mas, o trabalho na cozinha profissional continua exaustivo. E exaustão é algo que lido muito bem. Se do ponto de vista social o papel da mulher mudou, porque não chefiando uma cozinha?

Laura que com dez anos cria receitas e o Davi com 8 já é um crítico culinário”. E finaliza, “nos momentos que estou a volta com os utensílios, ingredientes, invento, improviso e recrio (...)”. Gabriela. nos concede alguns minutos de seu precioso tempo nessa entrevista e nos aplica a deliciosa receita...

RECEITA Raviole de Baroa ao molho de Cogumelo Paris na manteiga de alho MASSA 300g de farinha; 3 ovos; pitada de sal; 1 colher de manteiga

prato deve-se degustar devagar. A fome atrapalha e é por isso que na culinária italiana há todo ritual de entradas. Os temperos, condimentos aguçam o paladar. Gosto de manjericão, tomate, noz moscada, pimenta do reino e o queijo aliados a uma salada de folhas verdes. Se fosse sugerir uma entrada agora, qual seria sua sugestão? Pessoalmente, adoro embutidos. Que tal uma salada de folhas verdes com figo e mussarela dentro rodeado de presunto parma ao forno? Destaques na culinária: Um ingrediente: pimenta do reino. Um utensílio: a faca do chef de tamanho médio. Ótima. Corta tudo! Um hábito: gosto de estar solitária no preparo dos ingredientes e execução dos pratos. Me inspiro melhor para que possa admirar os pratos que voltam do salão, vazios!

Cozinhar é uma arte que aguça nossos cinco sentidos. Deve-se respeitar a alquimia entre os alimentos. Os ingredientes extras são: carinho, amor e a paixão. Ao se desejar a quem a deguste que o faça num clima de amizade e fraternidade e se complete no segredo da magia e no retorno às nossas raízes, o que torna tudo mais prazeroso CHEF GABRIELA RODRIGUES

RECHEIO 3 baroas grandes e cozidas; 200 ml de creme de leite; pitada de sal; pimenta do reino MANTEIGA DE ALHO 150g de manteiga; 1 alho pequeno EXTRA 1 bandeja de Cogumelo Paris

e bata com alho no liquidificador. Montagem Abra a massa retangular e corte com o cortador de forma quadrada. Recheie com a mistura de baroa e feche com clara de ovo. Pincele os ravioles e leve ao forno por 10 minutos. Saltear os cogumelos na manteiga e adicione em cima do raviole. Sirva quente. Bom apetite!

PREPARO DA MASSA Colocar a farinha em uma tigela. Fazer uma cavidade e acrescentar os ovos, sal, manteiga. Mistura até formar uma massa homogênea. PREPARO DO RECHEIO Amasse a baroa a ponto de purê com creme de leite e tempere a gosto. PREPARO DA MANTEIGA Derreta a manteiga

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entrevista Com a família presente em Ibitipoca há 4 séculos, o produtor rural Valtemberg Sales de Carvalho assimilou com a avó, Delfina Sales Pacheco a valorização do passado. Entre os anos 70 a 90, trabalhou na construção das principais rodovias, portos e aeroportos do Brasil. Consultou o Arquivo Publico Mineiro, Museu da Inconfidencia, Museu Nacional do Rio para transmitir conhecimento. Espírita convicto, acredita na reencarnação. Diz, “a vida em outras épocas me leva a luta pelo preservacionismo na região e afirma que, não tenho um centavo que venha da corrupção ou de algum deslize eventual(...)”. Designado conselheiro do Parque de Ibitipoca acompanhou as ações do “amortecimento da área de preservação”. Não gostou do que presenciou. Denunciou. Empreendeu a reativação da “mina dágua”ao lado da igreja e desde então, conscientiza a comunidade sobre o dever em relação postura de obras em Conceição de Ibitipoca. Hoje, encontra elogios. Até de quem o criticava no passado... Ibitipoca foi a primeira Vila registrada pelas “bandeiras” da Capitania de São Paulo? Sim. Em 1674 os bandeirantes partiram de Taubaté e Cunha (SP) seguindo a trilha dos índios para os escravizar no trabalho das lavouras. Na região do “Monte Ebitipoca” houve confronto sangrento com os resistentes que evadiram-se. Contudo, os pacíficos índios Aracis deixaram dominar-se e indicaram a existência de pepitas de ouro. Assim que a notícia chegou a Capitania os bandeirantes seguiram as “bandeiras” (registros) que avançava em direção a Borda do Campo. A do Padre Faria Fialho “Fazenda do Tanque, no Monte Ebitipoca” fora registrada em 1690 e notabiliza-se numa das 1as fazendas no estado. Os bandeirantes que exploravam “Ebitipoca” ultrapassam os limites da “Fazenda Borda do Campo” em Barbacena. Inúmeras trilhas se encontravam na passagem no que seria o “Rio das Mortes” onde Tomé Portes estabeleceu pedágio. Era “São João del-Rei”, onde as terras foram arrendadas para criação de gado e plantação de rosas. Do vizinho arraial de “Ponta do Morro” onde brotava ouro de superfície surgiu o que é hoje, a majestosa cidade de Tiradentes. Os bandeirantes avançavam. Fernão Dias segue em busca das pedras preciosas e morre tragicamente. Seu

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genro, Manoel de Borba Gato funda Sabará. Em 1698 Duarte Lopes ao capturar indios no “Pico do Itacolomi” intercepta ouro puro e na região do “Vale do Tripuí” em 1771 ganha nome de “Arraial de Villa Rica de Albuquerque”que daria origem a Ouro Preto em 1823. O “Caminho Novo” já descortinava a riqueza, encurtava distância e favorecia a fiscalização até Diamantina, sendo Ibitipoca importante local de fiscalização e escambo naquela época. Além do pioneirismo, Ibitipoca tem outros fatos relevantes nesse contexto? Dos 20 conselheiros que tinham província onze estabeleceram-se em Ibitipoca.O padre Manoel da Costa, conhecido como “Inconfidente dos livros” nasceu aqui na “Rua Amargurinha” que hoje está repleta de valetas. Quantas vezes, ele e o “Tiradentes”, que eram amissíssimos passaram aqui nessa rua? Infelizmente, as pessoas não tem o menor zelo por isso... Além de todo ouro lavado as margens do Rio Conceição e o movimento entre Vila Rica, Rio e São Paulo passar aqui, a história religiosa marcou nossa igreja erguida em 1768. Dessa época o que até hoje o sr. destacaria? Como o sr. avalia o potencial turístico de Ibitipoca? Além dos primeiros templos religiosos da Zona

da Mata mineira, em Ibitipoca o nome Fazenda do “Tanque” deve-se aos tanques que facilitavam a lavra do ouro. Mas, em 1840 o rego deixou de correr e os benfeitores Coronel Severino Baldino com o irmão Manoel de Paula canalizaram a agua pura para o manancial que existe até hoje no adro da igreja. Foi revitalizado na década de 90 por iniciativa minha. Arrecadei dinheiro com a comunidade, tive apoio moral da Prefeitura de Lima Duarte. Hoje a Vila está belíssima.

Numa pesquisa da Demanda Turística realizada pela Secretaria de Turismo de Minas Gerais (Setur), o Parque Estadual de Ibitipoca, um dos mais encantadores do Brasil, é o que tem a melhor aceitação pelos turistas. Ocupa o 1o lugar, com nota 8,4 seguido do “Pico da Bandeira”, no Parque Nacional do Caparaó, com nota 8,0

Como o senhor, avalia o comportamento dos que aqui desfrutam dessa beleza natural? O parque realmente é nosso cartão de visitas preservado. Contudo, fico perplexo da impressão desses que acham que podem fazer da Vila de Conceição de Ibitipoca uma “terra sem lei”. O que parece verdade, porque, por exemplo, após um encontro de jipeiros que teve gente de todos os cantos desse país, o comércio beneficiou-se. Ótimo. Mas, nós, os produtores rurais, que moramos à margem das estradas vicinais ganhamos dos turistas, o lixo. Deixam dejetos nas proximidades das propriedades, quebram porteiras, cercas das propriedades (...). Falta amparo às famílias da área rural que têm pessoas de até 90 anos desassistidas. Somos imcompreendidos e a Vila não tem ação fiscalizatória! A conclusão é que é preciso abandonar o modelo de administração à distância. Como o município com 800 mil m2 e uma area de população de menos de 20 mil habitantes irá estruturar essa área territorial à distância de 30km desse distrito? Há demanda aqui maior que a população de Lima Duarte. Enfim, a necessidade é para esse lugar (que não pode ter suas próprias regras) um fato pejorativo?

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Luiz Fernando Cigani

visconde de mauá

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s índios foram os primeiros habitantes dessa região com ares de europa. Colonizadores (jesuitas, bandeirantes, fazendeiros e imigrantes) foram tomando conta das terras até que nos anos 70 surgiram os “hippies”, fato que despertou a curiosidade de turistas ávidos pela vida alternativa em meio à bela natureza. A infraestrutura local tem sido impulsionada por projetos arrojados com foco no tratamento do esgoto, coleta seletiva de lixo e reciclagem que priveligia a estradinha asfaltada de 16 km que liga Resende a Mauá, (“Capelinha-Mauá”) – é a 1a estrada-

-parque brasileira aos moldes de projetos canadenses e americanos. O acesso “off-road” por Minas Gerais passa por Itamonte, Alagoa, Aiuruoca (Estrada Real), Bocaina de Minas, Santo Antônio do Rio Grande, Mirantão e Passa Vinte. A Vila de Visconde de Mauá tem um campinho, igreja e casas antigas conservadas. A partir dali se chega a Maringá pela estradinha ladeada de hortênsias margeando o riacho de águas cristalinas. Uma pequena ponte sobre o Rio Preto divide Maringá ao município de Bocaina de Minas (MG) e

a Resende (RJ). GASTRONOMIA REQUINTADA A truta, especialidade regional, vem acompanhada de cremes, castanhas, pinhão, cogumelos e molhos exóticos. Queijo de cabra, parmesão, ovos, geleias, mel, são fornecidos pelos produtores locais que primam pelo manejo correto em respeito ao meio ambiente. Se a gastronomia é de “enlouquecer” outro orgulho da Maringá de Minas são os eventos que reúnem celebridades, além de seus restaurantes consagrados há anos consecutivos pelo “Guia 4 Rodas”.

CONFORTO & AVENTURA As pousadas oferecem lençois térmicos, lareiras, ofurô, sauna, piscina, serviços de massagem, acunpuntura e Pilates. Nas áreas externas cercadas de mata atlântica, bosques de pinus ao som das aguas do Rio Preto tornam a hidromassagem ao ar livre mais agradável. A apenas 3 km de Maringá, rios e mais de 100 cachoeiras estão catalogadas na Vila do Pavão e em Maromba. A Cachoeira do Escorrega nasce no alto do Parque Nacional do Itatiaia a 2.200m de altitude. O “toboágua natural” tem 40 metros de descida. Velocidade para um mergulho profundo. O “Poção” que está próximo ao “Escorrega” propicia mergulhos a 8m de altura. Opção de “puro êxtase” está nas trilhas em meio as cachoeiras de Santa Clara (paredão de 40m de altura) e do Alcantilado (com “pedágio”). A Pousada “Sítio das Astrapéias” em meio a tudo isso está bem proxima ao Museu Duas Rodas. Para atravessar Visconde de Mauá para o Pico das Agulhas Negras ou a escalada ao Pico das Prateleiras guias experientes podem ser contratados nas agências receptivas. Por tudo isso, quando chega a hora de partir os planos para voltar devem estar traçados...

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Fotos l Luiz Fernando Cigani

êh trem

charmoso! Os irmãos Arthur, 5 anos e Eliza Lucas Cigani 12 anos com a amiga Giseli Andrade 18, realizaram um passeio na Maria Fumaça a convite da Ferrovia Centro Atlântica ao “Jornal Boa Ideia!” À estação inaugurada em 1881 por D. Pedro II misturamo-nos aos turistas. O apito ouvido de longe agita a todos que com suas câmeras registram a chegada majestosa da “Baldwin Locomotiv Works”, máquina fabricada na Filadélfia, Estados Unidos. É uma das únicas locomotivas a vapor ainda em atividade no mundo e que transporta passageiros na linha de bitola 76 cm. A conhecida “bitolinha” viaja entre São João del-Rei e Tiradentes.

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a al de

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Ao parar na estação e feito o desengate dos vagões é posicionada na “rotunda” - mecanismo para inverter a posição da locomotiva em curta manobra. Engata-se aos vagões para o regresso. Daí, as pessoas recolhem-se a um dos 9 vagões e aguardam a partida. A fumaça, o apito, o badalar do sino e o tranco no trenzinho dá sequência ao deslocamento num ritmo lento, embalado pela velocidade. As cenas típicas do interior mineiro vão aparecendo. “Batendo e quarando roupas”, as lavadeiras em frente as suas modestas casas, interrompem a atividade. Acenam. Agitam os braços. A vista das janelas da composição, a história registrada há sécu-

los é trazida à memória. Aqueles campos foram palco da “Guerra dos Emboabas” (1702 a 1709). O conflito entre portugueses e paulistas se deu pela cobiça ao ouro que brotava da superfície numa outrora “São José del-Rei”, como havia sido batizada a atual Tiradentes. O imponente Rio das Mortes com seus contornos ganhou o nome porque daquele combate os corpos inertes dos combatentes “desciam” na turbulência de suas águas. VIDA SOBRE OS TRILHOS Eliza, Arthur e Giseli, alheios a isso, expressavam nos olhos e no sorriso a emoção ditada pelas ce-

nas típicas do interior mineiro, a paisagem delineada pela Serra de São José. No banco vizinho ao nosso, por sorte do “acaso” deparei-me com o ex-maquinista Luiz Gonzaga Cardoso que revelou sua vida sobre os trilhos. Natural de Conceição da Barra de Minas, começou a trabalhar na Ferrovia aos 22 anos. Na lida com as caldeiras a lenha e carvão, trabalho pesado, não imaginava que após 33 anos em sua aposentadoria em 1983, as viagens de trens de passageiros estariam no fim. “Tenho paixão por isso aqui. Acabou mas, ainda tem a vantagem desse trecho para o pessoal divertir, distrair. A Ferrovia cobriu

mais de 600 km entre as cidades de Antônio Carlos, Barroso, Prados, Tiradentes, São João de Rei, Divinópolis, Barra do Paraopeba, Lavras e Ribeirão Vermelho” relembra. Entre idas e vindas Luiz de todas as viagens, guardou a maior lembrança. “Reparava numa mocinha que estava sempre na janela de sua casa. Eu perguntava, como vai? Ela sorria. Eu chegava do trabalho, tomava banho e ia a pé por mais de 20 km para encontrar com ela. Casamos e vivi 53 anos com aquela menina. Arrumei namorada trabalhando, você acredita?, pergunta sorrindo. Da união, meus filhos Aloísio e Geovane, são, hoje, funcionários da ferrovia” conta, orgulhoso. Nos despedimos do sr. Gonzaga para desembarcar na estação de São João del-Rei. A visita ao Museu ficou para outra oportunidade já que o telhado estava em recomposição. Saboreamos um sorvete do outro lado da praça. Como bons mineiros retornamos a tempo de folga para conhecemos o “nosso maquinista”. Alexandre Augusto Campos que há 10 anos lida com as locomotivas... Sobre o lixo que presencia-se ao chegar a São João del-Rei comenta: “Infelizmente, a população joga de tudo na beira da linha. Nossa equipe de manutenção conserva o coliseum, os vagões, locomotivas, a estação, museu: mas, limpa-se a beira da ferrovia, no dia seguinte está suja. O pessoal precisa de colaborar com nosso trabalho”, adverte. A satisfação completa-se no regresso da viagem em 12 km e a volta ao tempo, marca patente do passado. Testemunho espetacular do Brasil histórico. Mais gostoso, ameno. Cordial. Que jóia preciosa!

INFORMAÇÕES 32 3571-8485


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