Revista Barulho

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BARULHO Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, Nº5, 1º Direito / 7800-589 Beja Telefone: 962 364 768

editorial

EMAIL barulho@barulho.pt WEBSITE www.barulho.pt FACEBOOK www.facebook.com/barulho ASSINATURAS assinaturas@barulho.pt PUBLICIDADE publicidade@barulho.pt Enviar cartazes para Rua Gaiteiro de Figueira, nº 22, 1º direito, 2200-390 Lisboa. Divulgamos consoante disponibilidade. PUBLICAÇÃO MENSAL ISSN: 082-2930 DEPÓSITO LEGAL: 392039/22 Registada na Entidade Reguladora para a Comunicação Social sob o nº 112930 TIRAGEM 10.000 exemplares PROPRIEDADE Barulho - O melhor da Música Extrema Lda. NIF: 510229305 DIRECTOR Vitor Domingos (vitor@barulho.pt)

UM SONHO TORNADO REALIDADE

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arece impossível, mas já foi há uma década que os Urfaust lançaram o seu primeiro álbum. Constituído a partir da abordagem mais ritualista a que nos têm habituado, «Geist ist Teufel» ajudou a soidificar as regras básicas do black metal eremita que praticam. Num género tão carregado de clones e marcado por uma forte ortodoxia na escrita como o black metal, poucas bandas terão uma identidade tão vincada como os Urfaust. Em 2015, a banda holandesa vai estrear-se ao vivo em Portugal, no festival SWR Barroselas Metalfest. São uma das bandas de eleição da redacção, e como consequência do anúncio da sua vinda a Portugal, a editora Van Records cedeu-nos o contacto do baterista VRDRBR, e uma entrevista desenrolou-se. É para nós um sonho tornado realidade... Vitor Domingos

CHEFE DE REDACÇÃO João Prudêncio (joao@barulho.pt) COLABORADORES Ricardo Bonifácio, Esdrubal Moreira, Ana Nogueira, Sara Valente, Júlio Ribeiro, Sandro Emanuel FOTOGRAFIA Gertrudes Martins, José Seno, Amílcar Pereira, Silvino Moreira DESIGN Vitor Domingos ILUSTRAÇÕES André Coelho DEPARTAMENTO FINANCEIRO Pedro Passos Coelho (pedro@barulho.pt), Vitor Silvino (silvino@barulho.pt), Luís Mineiro (luis@barulho.pt) DEPARTAMENTO MULTIMÉDIA Vitor Domingos WEBDEVELOPER Vitor Domingos IMPRESSÃO E DISTRIBUIÇÃO Divulgista Lda.

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nacionais

indice

O top 5 nacional de 2014 da barulh

o melhor da música extrema

Álbuns 1. Mão morta 2. Martelo negro 3. midnight priest 4. bosque 5. jibóia

festivais 1. Santa maria summer fest 2. swr barroselas 3. amplifest 4. évora metal fest 5. Reverence valada

18URFAUST Trovadores do Diabo

05 nacionais 06 sangue fresco 07 lado negro 07 Usnea 08 necrophagia 09 nihill

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10 Entrevistas

25 rescaldo

22 Disco do mês

28 passatempo 30 agenda

10 today is the day 12 job for a cowboy 16 accept 23 discos

25 Amplifest 27 Saint vitus + orange goblin

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Concertos 1. filii nigrantium infernalium 2. martelo negro 3. serrabulho 4. midnight priest 5. brutal brain damage feito com base numa votação da redacção

O Santa Maria Summer Fest volta em 2015, e as primeiras bandas anunciadas prometem um cartaz inovador

NACIONAIS Em tempos de crise, o SANTA MARIA SUMMER FEST tem novidades fresquíssimas. O conhecido “festiva de música pesada onde a troika não manda nada” acaba de anunciar os primeiros nomes do cartaz de 2015, e entre eles destaca-se Children Of Technology, grande banda do punk pós-apocalíptico Italiano, assim como Necro Deathmort, Ingleses do dub industrial que já mostraram o que têm a dar no Amplifest de 2012. A organização adianta que será uma edição diferente, e um ponto de viragem para o aclamado festival, adicionando nomes do espectro alternativo como são o caso dos já anunciados Marvel Lima e Jibóia. A Barulho assinou uma parceria com o festival, e todos os meses sairão novidades relativas ao mesmo. «Savage» é o título do segundo álbum dos MOE’S IMPLOSION. Formado há sete anos no Montijo, o quinteto quis experimentar novas sonoridades, sendo mais ambicioso na composição do trabalho que sucede ao single «Broken Record» de 2012 e ao primeiro álbum «Light Pollution» (2011). Gravado nos estúdios Casinha com Ricardo Rodriguez o disco obteve masterização em Nashville, no Sage Audio. O single de avanço é «Fassbender», sendo «Preacher» e «Dream Wide Awake» outros novos títulos. A banda já fez algumas datas de apresentação em Outubro e prossegue pelos palcos do país este mês, com actuações no Porto (dia 7) e Vila Real (dia 8). Com músicos graduados da Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto, e o baterista Marcelo Aires, ligado a bandas como Colosso, Nebulous e Oblique Rain, PÃODEMÓNIO é um novo projecto instrumental, na linha “jazzística” de uns Trioscapes, Exivious ou mesmo raízes em Frank Zappa. Com o apoio da Alien Mosher PR, acaba de saír o álbum de estreia «Pirraças Pueris», em 45 minutos de expressão contemporânea que vai da

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música alternativa ao metal, passando pelo rock, funk e, claro, muito jazz. As cinco peças do disco foram gravadas no estúdio Stone Sound com Ricardo Oliveira, estando o tema título online para descarga grátis. Dez anos após a estreia «Sideral Passage», os NEOPLASMAH preparam-se para lançar um segundo álbum na forma de «Auguring The Dusk Of A New Era». O death metal do quinteto sedeado no Seixal está de volta com a chancela da editora Helldprod. A vocalista Sofia Silva, os guitarristas José “Melkor” Marreiros e Vitor Mendes e a secção rítmica dos Grog - Alexandre Ribeiro no baixo e Rolando Barros na bateria - dão corpo a esta nova etapa do grupo que agendou lançamento ao vivo para 29 de Dezembro no RCA Club, em Lisboa. Como convidados da noite estarão os Bleeding Display, Göatfukk e Trepid Elucidation. Uma década depois da primeira versão, os SHADOWSPHERE lançam agora uma regravação do álbum «DarkLands», com produção e mistura de Wilson Silva, baterista dos More Than A Thousand. Gravados nos estúdios Wrecords, os oito temas têm agora edição pela Sphere Music Media, com nova capa e artwork criado por Samuel Lucas. Para a nova tour, os mebros fundadores Luis Goulão e Paulo Gonçalves contarão com a renovada secção rítmica de Luis Miguel Slva e André Silva, o baterista no “primeiro” «DarkLands». O disco é apresentado ao vivo, dia 8, no RCA Club, em Lisboa com suporte dos Equaleft e Diabolical Mental State. Neste mês de Dezembro, o Stairway Club de Cascais e o RCA Club de Lisboa recebem uma série de concertos sob a sigla SPRINT TO ROCK FEST. Entre os nomes mais sonantes estão os Trouble (dia 15) com data única ibérica, secundados pelos Dawnrider e pelos noruegueses Purple Hill Witch, bem como John Garcia, ex-Kyuss.

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sangue fresco

lado negro

Fruto do profícuo movimento punk/crust que fervilha de há uns anos para cá no underground mundial, os ANOPHELI são um projecto transatlântico que junta o britânico Alex CF (vocalista dos muito aplaudidos Fall of Efrafa e Lightbearer) a quatro músicos norteamericanos, alguns dos quais fazem parte dos Monuments Collapse. Reza a lenda que os cinco se foram cruzando na estrada, desenvolveram profundos laços de amizade e, como já vem sendo habitual nestas andanças, começaram a germinar aideia de um projecto. O objectivo para que o fariam a nível musical foi traçado antes sequer de terem tocado uma nota juntos, uma fusão do crust melódico dos From Ashes Rise e Remains Of The Day com a atitude mais próxima do screamo que, a dada altura, caracterizava bandas espanholas de neo-crust como Ekkaia, Ictus e Madame Germen. E com o violoncelo como elo comum a todos os temas que conduzem o ouvinte por uma descarga de emoção dsregrada, pontuada de d-beat contundente e melodias orelhudas.

Os belgas NEWMOON são a mais recente aposta do selo Secret Voice, que acaba de disponibilizar o EP «Invasion to Hold». Ao ouvir os três temas que compõem este lançamento - intitulados «Mask», «Aria» e «Dwell» - percebe-se de imediato o interesse de Jeremy Bolm, vocalista dos Touche Amore e stratega da independente norteamericana (com distribuição via Deathwish), na música feita pelo quinteto oriundo de Antuérpia. Com raízes e um passado ligados ao movimento punk/hardcore, à semelhança de uns Nothing, Whirr ou Death Of Lovers, este projecto de criação recente mostra os cinco múscos a abandonarem de vez a agressividade que permeou as suas anteriores investidas em favor de um som mais melódico e planante, que vai beber inspiração aos bastiões do shoegaze e dreampop. My Bloody Valentine e Slowdive são as referências mais que óbvias ao longo dos pouco mais de dez minutos que dura esta estreia, mas é a paixão pelo grunge e post rock que, eventualmente, os vai destacar da competição.

Liderados por Peter Pawlk, exvocalista dos muito badalados Rings of Saturn, os WORSE são - como o nome da banda faz adivinhar desde cedo - feios, porcos e maus, ruins ao ponto de serem desagradáveis, sendo que fazem questão de o afirmar ao mundo a cada oportunidade que têm ao seu dispor. Aos gritos, de preferência. Na estreia homónima em formato EP não há nem sequer vestígios do malfadado deathcore que o bom do Peater andou a vociferar entre 2009 e 2011, sendo que - segundo o próprio - este seu novo outlet criativo começou a tomar forma precisamente no moento em que os seus gostos começaram a extremarse. Daí que não seja totalmente estranho tomar contacto com a real chapada na tromba que os seis viciosos petardos de grindcore disfarçado de powerviolence constituem, um autêntico assalto aos sentidos do ouvinte incauto e um verdadeiro deleite para todos aqueles que regozijam a cada novo lançamento de bandas como os Dead In The Dirt, Torch Runer ou Baptists. Aproveitem para ouvir.

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USNEA P

Revelação do doom/sludge dá o passo em frente com um colosso de lentidão obscura e melancólica

ara os leitores não familiarizados com o maravilhoso universo dos líquenes e da fitoterapia, “usnea” é um fungo também vulgarmente conhecido como “Barba de Velho”, que cresce em diversas árvores no noroeste do Pacífico. É também um tónico natural para o sistema imunulógico, seguro para animais de estimação e crianças. O mesmo não se poderá dizer da música dos norte-americanos USNEA, uma descarga selvagem e de enorme profundidade, capaz de usar, sem qualquer pudor, animais de estimação e criancinhas como isco para caçar animais de grande porte “O doom está a atravessar um momento fantástico,” dispara Justin Cory via Skype. “O estilo está em franca expansão e, tanto a nível criativo como de exposição, não tem arado de crescer. Todos apreciamos imenso os pais do doom, mas nunca se fez música tão interessante neste género como agra.” Oriundo de Portland - um reduto bem conhecido pela música pesada, lenta e etrema que tem produzido ao longo da última década - o quarteto juntou-se há três anos e transformou-se numa das mais excitantes propostas saídas da cena local. “Vimos de uma cidade que já tem tradição neste tipo de música e isso mantém-nos alerta,” explica o guitarrista/vocalista. “Aldebaran, Atriarch, Tress, Black Chalice...

São tudo bandas que respeitamos e de qualidade inquestionável. E não é que não exista algum tipo de competição entre nós, até porque somos todos amigos, mas ermos surgido no seio de um movimento tão produtivo mantém-nos focados. Só queremos dar o melhor.”. É, de resto, o que têm feito desde que se juntaram em 2011. Primeiro com uma muito aplaudida estreia homónima em Janeiro de 2013 e, já no início deste último Verão, um EP de 7” partilhado com os conterrâneos Ruins. Os músicos vêm agora os seus esforços D.I.Y finalmente recompensados, dandoo ambicioso salto para a Relapse, que se prepara para editar o muito aguardado segundo longa-duração. “Escrevemos o disco e não imaginávamos sequer que poderia suscitar o interesse de uma editora maior,” recorda Justin. “Fizemos uma pré-produção caseira, essencialmente para afinarmos todos os pormenores, mas acabámos por enviar essas gravações para algumas editoras com que gostaríamos de trabalhar. O mais engraçado é que a Relapse não estava nessa lista. [risos] Não imaginávamos que pudessem estar interessados em trabalhar com uma banda como a nossa, por isso receber a proposta deles foi uma boa surpresa.” Apesar da criação recente, os Usnea são tudo menos novatos, sendo que os seus elementos já

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têm um currículo de respeito. O baterista Zeke Rogers fez parte dos Amarok, o baixista/vocalista Joel Williams é o mentor de um one man project de black metal chamado Banishing, o guitarrista Johnny Lovingood acumula actualmente funções em projectos como Effrays ou Electric Desert e o nosso simpático interlocutor fez parte dos Bodhisattva. Oriundos das proveniências estilísticas tão distintas, é essa diversidade de referências - aliada a uma sensibilidade muito inteligente para a composição de bons riffs, ganchos e melodias - que os destaca de grande parte dos seus competidores. “A paixão que nutrimos pelo doom é óbvia e nunca vamos negar as nossas influências,” confessa o músico. “No entanto, também não queremos soar demasiado derivativos e nenhum de nós ouve exclusivamente doom ou sludge, por isso o objectivo foi sempre termos uma personalidade própria. É isso que vai mantendo as coisas interessantes; tanto para nós, como músicos, como par quem nos ouve.” Combinando elementos de funeral doom, sludge e black metal, «Random Cosmic Violence» pega em todos os predicados contidos no fulgurante registo de estreia e amplia-os no que toca à intensidade e dinamismo, dando origem a um dos mais interessantes registos deste ano. [Vitor Domingos]

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Killjoy, e também o Housecore Horror Film Festival. “Fico feliz por ele, o Phil sempre foi um grande aficionado do horror. Quanto à editora, eu tinha a Baphomet Records e o Phil gostava da forma como geria a editora e do aspecto das edições. Como ele sempre quis ter a sua editora, sugeriu a fsão de ambas. Tudo funcionou bastante bem nos primiros lançamentos mas tornou-se muito complicado quando chegou a certas bandas com as quais ele trabalhava, ou até de que era membro, que não queriam estar numa editora underground.” Mas terá a relação entre ambos azedado? “Nunca setratou de uma questão de estarmos em desacordo, a separação surgiu de outras direcções. Ele sempre esteve muito envolvido na Baphomet/Housecore e isso causou muito stress e conflitos, por isso cada um seguiu o seu caminho. Desejo-lhe o melhor em tudo o que faça.”

necrophagia Catedrais, regravações e o horror de Zé do Caixão

“A

cabámos de gravar o disco em Novembro de 2012. Deveria ter sido misturado e masterizado pouco tempo depois mas esperámos demasiado tempo sem resultados ou progressos,” conta-nos Killjoy sobre este novo trabalho dos NECROPHAGIA. Chegou então o momento de tomar uma aitude: “Decidimos simplesmente gravar o álbum todo, o que nos atrasou, mas olhando para trás foi a melhor decisão que poderíamos ter tomado pois podemos assim contar com Mirai Kawashima dos Sigh na gravação. O Mirai é um génio louco, que adicionou alguns novos elementos que complementam as canções e fazem-nas

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soar ainda mais horríficas. Esta regravação também nos permitiu trabalhar com Jaime ‘Gomez’ Arellano, que já trabalhou com Ghost, Cathedral ou Angel Witch, e que fez um excelente trabalho de mistura e masterização. Este é o nosso lançamento com melhor som de sempre.” Parece que uma maldição ensombra tudo aquilo que os Ecrophagia fazem, desde «Season Of The Dead», estreia em 1987 que passou quase desapercebida até que Phil Anselmo lhe teceu louvores e aé se juntou à banda em 98 sob o pseudónimo Anton Crowley, elevando a notoriedade da banda. Hoje em dia, Anselmo mantém a Housecore Records, que ainda vem da associação com

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O imaginário de horror, especificamente do cinema, é indissociável do universo explorado por Killjoy nos Necrophagia, mas como é que esta inspiração se reflecte no process de composição? “De várias formas. Liricamente, gosto de escrever canções sobre os meus filmes favoritos mas muitas vezes as letras são histórias desviantes e ideias conceptuais que me surgem. Às vezes oiço composições novas e inspiram-me imediatamente ou evocam uma certa atmosfera que as coisas simplesmente se desenrolam. Se escrever letras antes, tentamos que a composição capture o vibe do filme sobre o qual escrevi ou sobre o conceito criado. Nunca acontece só de uma maneira ou de outra, varia de canção para canção, mas a fórmula é basicamente essa.” E podemos comprovar que a literatura e cinema de horror marcaram uma influência na música extrema, sendo os Necrophagia um portaestandarte dessa contracultura. Também por isso foi inevitável falar da alegada notícia daquele dia, que seria a morte de Zé do Caixão, figura mítica do horror mundial. “Sim, tudo não passa de um boato de mau gosto. Sei que ele tem alguns problemas de saúde, mas não morreu.” tranquiliza-nos Killjoy. “Considero o Coffin Joe um amigo e uma influência. Esteve sempre à frente do seu tempo, quebrando inúmeras regras e tabus com os seus filmes. Foi um verdadeiro vilão do cinema, uma espécie de papão. Também sempre foi muito original e fez filmes marcantes e que estabeleceram novos padrões. Fiquei muito orgulhoso dele ter feito o «Encarnação do Demónio», que partiu de onde tinha ficado e completou a trilogia de forma épica e leal à tradição de Zé do Caixão. Adorei trabalhar com ele, foi provavelmente o ponto alto da minha carreira. Esteve sempre extremamente envolvido no projecto e fiquei muito contente de expor o seu talento a um novo público.” [Sara Valente]

Nihill S

Fazem a música separados uns dos outros, e o problema de tocar ao vivo é terem que estar juntos. BLACK METAL!

im, a pequena frase de introdução aqui por cima tem um tom um bocado jocoso, mas acaba por aí qualquer boa disposição no que diz respeito aos NIHILL. Não se brinca com esta gente. Uma das bandas de black metal mais intimidantes e de qualidade mais superlativa que apareceu neste século, o trio holandês já vai no seu quarto álbum, e «Verderf» é mais um passo de andamento bastante diferente dos anteriores, uma constante numa discografia heterogénea que mantém apenas a contundência brusca e a escuridão profunda como denominadores comuns. Mais curiosidade há desta vez em saber as motivações por trás do novo trabalho, já que os primeiros três álbuns faziam parte de uma trilogia que se concliui com «Verdonkermann» em 2012. “O «Verderf» é sobre o poder da morte,” afirma sem rodeios o imponente vocalista Michiel Eikenaar, a garganta de fogo que também está por trás dos Dodecahedron e os Anaphylactic Shock. “A morte que lança sombras sobre todos nós. Quisemos uma aproximação mais directa à temática desta vez, como um punho na cara, por isso há partes mais pesadas e mais doom neste disco. De vez em quanto até se consegue perceber uma estrutura mais ‘metal’ em alguns temas.

Para além disso, continuamos a precisar de barulho espesso e de bateria em assalto constante para transmitirmos a nossa mensagem. A trilogia que fizemos foi uma longa passagem que lidou com misticismo, transformação e o ciclo do nascimento, morte e renascimento. «Verderf» trata apenas de uma força imparável que põe todos de joelhos.” Em relação ao método de escrita, Michiel faz uma revelação curiosa, e muito reveladora do porquê desta música ser ão assustadoramente confrontacional e desprovida de emoções: “Todos os membros dos Nihill operam como indivíduos e fazemos as nossas partes separados uns dos outros. Não criamos os temas juntos e não os gravamos juntos. Pode parecer estranho para os outros, mas é a forma como trabalhamos de maneira a manter vivos a crueza e a pura energia do mal que flui da música.” Quando confrontado com os elementos de noise e de drone que permeiam os novos temas, Michiel continua a dar lições sobre black metal. Ouçamos e aprendemos. “A crueza e a austeridade estao sempre presentes na nossa arte. Acreditamos firmemente que é essa a essência do black metal. Tem que haver uma reacção física quando se é submetido a nossa música.

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Portanto, o feeling drone e industrial é natural para nós. Faz arte da nossa vida, já que vivemos numa cidade industrial ruidosa. Usámos esses elementos como usaremos qualquer outro que seja um meio para atingir os nossos fins artísticos. Chegaremos a eles por qualquer meio necessário. Sem piedade por ninguém.” Anónimos no início da sua careira, os Nihill acabaram por evelar as suas identidades entretntos, e até já deram um par de concertos amplamente elogiados. Nada que altere a postura da banda, claro. “Nada se alterou por causa disso, honestamente,” diz Michiel no eu tom habitualmente sério. “Tinhamos uma visão muito clara de como queríamos soar ao vivo e do que queríamos para essa actuação. Fizemo-lo sem quaisquer compromissos. A única coisa que se altera é o facto de termos que estar na mesma sala para ensaiar algumas vezes por causa dos concertos. Pode ser um problema dado o tipo de indivíduos que somos.” Finalmente, para os fãs das outras bandas onde Michiel urra, há boas e más notícias: “Os Anaphylactic Shock estão mortos sem nenhuma ressurreição à vista. Os Dodecahedron estão a escrever um álbum novo. É um processo muito lento.” Até lá, o «Verderf hega e sbra para nos dar pesadelos. [Júlio Ribeiro] 9


entrevistas

Today is the day Instintos Primários

O disco novo dos TODAY IS THE DAY, «Animal Mother», é daqueles que entra pelas tripas adentro e raspa tudo à sua volta até sangrar. Diz o grande agitador e único membro fixo do conjunto norte-americano, Steve Austin, que o título lhe ocoreu pelo contraste entre as duas palavras - “mother” que geralmente inspira imagens de amor e gentileza, e “animal” que é uma palavra muito volátil e selvagem. É destes e de muitos outros conflitos que a obra dos Today Is The Day é feita, pelo que conversámos com o sábio guitarrista/vocalista sobre tos os sentimentos em brasa que estiveram na origem desta nova obra. Que os leitores da BARULHO saibam que terminaste um ensaio três minutos antes do previsto para seres pontual nesta nossa convesa, porque é algo digno de realce. Como é que estão a correr estes ensaios? Foi fantástico, ainda estou todo suado. [risos] O set que estamos a preparar para as digressões que aí vêm é extremamente intenso de tocar. Parece que torci a coluna vertebral há alguns minutos, só a “passarme” com o efeito que a música estava a ter em mim. Um sentimento semelhante ao inspirado pelo disco novo na maior parte dos ouvintes, sem dúvida. Já chegaste a descrever o «Animal Mother» como um cruzamento entre o «Temple Of The Morning Star» e o «In The Eyes Of God», dois álbuns particularmente caros a quem segue os Today Is The Day há algum tempo. Manténs essa opinião? Usei essa descrição porque acho que o «Temple Of The Morning Star» é um disco de metal muito experimental, e o «In The Eyes Of God» tem um tipo de ataque mais speed metal, mantendo também o experimentalismo. Com este disco novo, queria mesmo pegar na complexidade da escrita e elevar o factor xperimental um pouco mais, queria forçar-nos a escrever temas desafiantes e duros. No final de contas, estou muito entusiasmado com o resultado, porque acho que o grupo de canções que temos no álbum são muito

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diferentes umas das outras, mas ao mesmo tempo o que têm em comum é o facto de esticarem os limites de complexidade e velocidade, dois factores proeminentes nesses dois álbuns mencionados. Não é o «Animal Mother» também de certa forma uma reacção à composição mais “simples” e mais directa que regeu o anterior «Pain Is A Warning»? Depois de fazer um disco como o «Axis Of Eden», que foi muito extremo e agreste, queria mesmo entrar por algo que fosse mais “despido, com riffs que fossem punchy e muito imediatos, e foi nesse contexto que surgiu o «Pain Is A Warning». Ainda estou particularmente orgulhoso desse álbum, acho que é uma espécie de offshot mesmo cru do estilo dos Today Is The Day, é hard rock primitivo de erta forma. Todo o período que rodeou esse disco permitiu-nos descansar um bocado da escrita bastante complicada que costumamos efectuar, por isso quando começámos trabalhar no «Animal Mother», estávamos cheios de vontade de voltar a esse território, de nos forçar a tocar merdas que não conseguimos tocar, mas que de alguma maneira acabámos por tocar na mesma. [risos] É de alguma forma significativo para ti que este seja o décimo disco da carreira dos Today Is The Day? Não é algo em que pense muitas vezes, mas de cada vez que penso, faz todo o sentido.

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Acho que tudo na vida anda em ciclos, o tempo passa e as coisas acontecem. Para mim, a morte da minha mãe há cerca de um ano trouxe para primeiro plano a ideia da mortalidade e o significado da morte. Reafirmou a razão pela qual a banda começou, e que o nome Today Is The Day verdadeiramente significa - podes não ter sequer dez minutos restantes para viver, por isso, seja o que for que vais fazer, faz agora mesmo. E fá-lo ao máximo do que as tuas capacidades permitirem, porque podes não ter a oportunidade de dizer o que queres dizer quando já cá não andares. Esta música vem de... não diria de querer provar algo a mim mesmo, mas de uma necesisdade de auto-afirmação, de perceber quem sou enquanto pessoa e músico, e de me forçar a ir mais além em todas as áreas. Que calhe num número “redondo” só ajuda a reforçar esta ideia de ciclos. Foi-te por isso mais difícil do que o costme encarar estes temas, em particular as letras e as inspirações por trás da sua existência? Não foi difícil de um ponto de vista técnico, mas o tal sentimento de “aqui mesmo, agora mesmo”, de ter que dizer tudo, fez com que tivesse que encarar várias coisas que me estavam a estragar todo por dentro. Ser honesto comigo mesmo e encarar a morte e as suas consequências foi algo que tornou o álbum numa exploração pessoal, misturada com uma espécie de curativo, para mim e para os mortos. Nada disto foi intencional, não me sento a pensar nestas coisas, mas quando tinha tudo escrito, reli e apercebime de que tinha posto ali todas estas coisas difíceis e dolorosas que seria complicado para mim sequer mencionar em voz alta na “vida real”. Agora estão todas na minha música. Comoé que vai ser, quando tiveres que tocar essa música ao vivo? Certamente vai-me fazer reviver coisas que são muito difíceis para mim, mas é esse todo o objectivo da banda - estou a partilhar sentimentos sobre as coisas da minha vida que estou a atravessar, e a pessoa que está à minha frente também a lutar com a sua vida, a sua família, os seus vícios, seja o que for, a ouvir a nossa música, ai sentir que está a “levar” com qualquer coisa muito honesta que a poderá ajudar na sua própria vida e nas suas lutas Pode ser que possamos servir como antídoto para as coisas que perturbam as pessoas. Apesar de a maior parte dos fãs associar os Today Is The Day à tua imagem exclusivamente, falas sempre no plural quando te referes à banda, mesmo em termos da escrita, e já afirmaste que

este disco é produto de “pure band songwriting”. O Jefffrey [Lohrber, baterista] e o Sean [Conkling, baixista] foram importantes, apesar de estarem há pouco tempo na banda? Tiveram muito input em tudo, na verdade. Só fiz uma demo com um molho de temas antes da escrita propriamente dita, porque o que eu gosto é de tocar com os tipos que estão na banda e construir os discos todos em conjunto com eles. Neste disco, houve até três temas no quais o Jeff teve ideias de bateria para a canção completa,

e propôs que as gravássemos primeiro para eu depois escrever o tema em cima disso. Até foi engraçado, porque as cenas que ele inventou eram tão maradas que me demorou um bocado a arranjar qualquer coisa que ficasse ali bem. Os temas resultantes («Divine Reward», «Imperfection» e «Law Of The Universe») são do mais original e único que os Today Is The Day já fizeram e não exisitiram sem esta dinâmica. Isso diz bem da importância deles.

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Os Today Is The Day não são o Steve Austin Show, portanto. Toa a gente que já tocou comigo contribuiu de alguma maneira para o rumo que tomámos. Aliás, sou muito aberto em relação a esta banda. Considero toda a gente que gosta dos Today Is The Day tão parte da banda como eu, por isso quando estamos na estrada e partilho histórias com as pessoas, sinto que estou a atingir o objectivo principal da banda. [Vitor Domingos]

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Descreveste as reacções ao novo álbum como estando a ser “super cool”. Na verdade nenhum de nós estava à espera de nada, acho. Estamos muito satisfeitos com o que fizemos e, claro, entusiasmados para mostrar o material, mas qualquer pessoa que siga o nosso Facebook sabe que, no que toca aos comentários, temos propensão a atrair uma base de trolls hardcore brutal. Na generalidade, as reacções dividem-se a mei e 50% são de gente que parece ter vontade de obliterar-nos. [risos] Talvez por isso, não acalentámos grandes esperanças quando disponibilizámos o primeiro tema online, mas as reacções acabaram por ser surpreendentes.

Job for a cowboy Sem Rodeios Terminando o ciclo de promoção a «Demonocracy», os JOB FOR A COWBOY decidiram aguçar o seu foco para a criação de um registo que englobasse odo o dinamismo contido no seu imenso talento colectivo. Pintado em tons futuristas, com espectro amplo de texturas e ritmos e uma abordagem mais directa à composição, o novo «Sun Eater» apresenta-nos a uma banda revigorada e, acima de tudo, cada vez mais alheada do rótulo deathcore que insistem em colar-lhe. Coadjuvado pelo produtor Jason Suecof e contando com o muitissimo talentoso Danny Walker na bateria, o quarteto formado por Jonny Davy, Al Glassman, Tony Sannicandro e Nick Schendzielos criou o registo mais completo e equilibrado da carreira do projecto norte-americano. Foi o baixista, que acumula funções nos Cephalic Carnage, que se chegou à frente para, deforma bem disposta, detalhar todo o processo de transformação que a banda operou durante o último ano. 12

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Há algo que possas apontar como fonte dessa resposta positiva e, para variar, consensual? Tenho a certeza que as alterações a nível da produção têm algo a ver com isso... O público parece estar a gostar do novo som e isso é fantástico. Além disso, penso que o facto de termos adicionado mais espaço, balanço, dinâmicas e texturas à música também deve ter ajudado. Operámos mudanças a nível estrutural e isso parece estar a reconquistar os fãs que gostaram do material mais antigo e depois começaram a perder o interesse. Sinto que os últimos dois discos, se calhar os três últimos, tinham momentos super-técnicos só porque sim, se é que me faço entender. Essa vontade de ser técnico apenas para ser técnico, acabou mesmo por roubar muito do espaço para respirar que o primeiro álbum tinha e isso fez com que tudo parecesse uma sequência de riffs rápidos e intricados, sem grande variação. Com os novos temas quisemos trazer de volta os outros elementos, como alguns compassos mais lentos, que fazem os Job For A Cowboy serem os Job For A Cowboy desde o início. Isso quer dizer que se fartaram da música que andavam a tocar? Não sei.. talvez um pouco. [risos] Os níveis de agressão e brutalidade não têm de passar exclusivamente ou necessariamente apenas pelos tempos mais rápidos. Essa forma de tocar não tem absolutamente nada de errado, até porque voltámos a fazer algumas coisas assim neste novo disco, mas acho que é o contraste que torna as coisas realmente interessantes - em tudo na vida, no que toca à música e a tudo o resto. A beleza das coisas está nos altos e nos baixos, nas dinâmicas, nas surpresas. Imaginem que a vossa comida favorita é lagosta... Agora, imaginemse a comer lagosta a todas as refeições, todos os dias. Quanto tempo iria passar até começarem a odiar a vossa adorada lagosta? [risos] Passa um bocado por aí e, quando comparado com o último disco -

em que demos às pessoas muitas, mesmo muitas notas -, desta vez fomos um bocado mais selectivos e escolhemosa dedo que notas íamos tocar. Os riffs são mais marcados, mais contundentes. Foi um caso de, em determinado momento, perceberem que já tinham provado a toda a gente que sabiam tocar e, neste álbum, iam fazer apenas o que vos apetecesse? Sem dúvida, essa afirmação está 100% correcta. Especialmente após o «Demonocracy», que é uma espécie de... “Mansão de riffs”! [risos] A sério, há tantos riffs nesse álbum que, às vezes, até a mim próprio custa a acreditar. Atingimos ali o apogeu do que podíamos fazer nessa onda e, desta vez, quisemos apenas fazer canções cool, que nos entusiasmassem. Não temos absolutamente nada aprovar, por esta altura acho que ninguém duvida que os elementos desta banda sabem tocar, por isso quisemos fazer um disco mais obscuro e que se adequa muito bem ao conceito que desenvolvemos. O facto de terem perdido o Jon [Rice, ex-baterista] a dada altura, influenciou, de alguma forma, estas mudanças a nível sonoro ou nem por isso? Seria extremamete injusto dizer que sim, porque o Jon é um dos bateristas mais dinâmicos que conheço e, nos últimos discos, limitou-se a fazer aquilo que o material pedia. Se os riffs não pediam mais dinamismo, não havia forma de ser ele sozinho a contrariar a natureza mais linear do que estávamos a fazer. Acho que, de certa frma, ele sentiu qu enão estava a ter o impacto que podia ter tido na nosa música em termos de composição e agora, olhando para trás, percebo que foi mesmo uma oportunidade que deixámos escorregar pelos dedos. Sei que ele teria brilhado num álbum como o que fizemos agora, porque tanto é um baterista exímio a tocar lento como rápido, mas o facto de ter abandonado acabou por ter uma influência indirecta no que fizemos. O facto de estarmos a trabalhar como quarteto fez-nos não ter qualquer receo de fazer coisas diferentes e, depois, termos de procurar o baterista capaz de acentuar esta nova abordagem à composição também foi decisivo. Como chegaram ao Danny Walker? Foi daquelas pessoas em que falámos logo numa primeira fase e, sempre que mencionávamos o assunto a alguém, o nome do Danny Walker vinha inevitavelmente à baila. Foi como se algo nos estivesse a empurar para ele ou, quem sabe?, a puxá-lo para nós. Ainda ponderámos outros dois ou três nomes, mas tornou-se óbvio que seria o baterista mais indicado para interpretar este

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Danny Walker Reconhecido pela sua técnica e criatividade, construiu uma reputação notável como um dos bateristas mais versáteis da música extrema actual. Participou na gravação de mais de vinte discos e já andou em tour por todo o mundo. Nasceu em Santa Mónica, Califórnia, a 25 de Dezembro de 1981, no seio de uma família com raízes musicais. Cresceu nos subúrbios de Camarillo, California e, reza a sua biografia, “começou a bater em panelas e frigideiras quando ainda era criança”, passando para o kit profissional aos oito anos. Autodidata, eventualmente teve aulas de bateria e estudou uma variedade de estiulos que vão do rock ao funk e ao jazz. Depois de uns anos a batalhar no underground local, ganhou um primeiro impulso com os Uphill Battle, com os quais esteve mais de cinco anos, durante os quis a banda gravou dois discos para a Relapse. Thornlord, Cinema Strangefor e Exhumed mantiveramno no activo durante os anos seguintes, com o músico a viajar pela América do Norte, Europa, Japão, México e Austrália. Em 2005, muda-se para Los Angeles e cria os Intronaut. Três álbuns e dois EPs depois, o músico continua não se furtar a aventuras extra-curriculares. Seja a tocar com os seus projectos - como os Murder Construct - ou a colaborar com bandas de renome como Jesu, Phobia, Bastard Noise, Bad Acid Trip, Exhumed e, mais recentemente, Job For A Cowboy.

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material. Não posso falar por ele, mas acho que gostou do que lhe mostrámos desde o primeiro momento. Se não fosse assim, provavelmente não tinha contribuído como contribuiu para o resultado final. Cada vez que lhe pedimos uma opinião, teve sempre uma palavra a dizer e, a partir do momento em que começámos a trabalhar nas partes de bateria todos juntos, o entusiasmo que demonstrou em relação ao que estávamos a fazer foi crucial. Começaram a trabalhar sem baterista e, depois, incorporaram o Danny na composição, foi isso? Fizemos uma maqueta inicial com todos os temas do álbum, mas com bateria programada. Os padrões eram bem fixes, mas nada que se comparasse ao que o Danny fez depois. Numa primeira fase, enviámos-lhe versões dos temas com bateria e sem bateria, sendo que fiz questão de lhe pedir para ouvir estes últimos... Basicamente, queria que ouvisse os riffs e decidisse o que queria fazer por si próprio, sem ter uma ideia pré-definida do que esperávamos. Não sei se foi o que fez, mas as coisas correram de forma muito fluída desde o primeiro momento em que começámos a trabalhar juntos. Sempre adorei a forma como o Danny acentua as notas e aprecio muito o traalho que tem feito, por exemplo, com os Intronaut, que são uma das minhas bandas favoritas. Já os vi ao vivo inúmeras vezes e, de certa forma, sempre invejei a forma como ele e o Joe Lester interagem. São uma secção rítmica inquebrável, incrivelmente coesa.

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Por tudo isso, foi um enorme prazer poder colaborar com um baterista como ele. O teu entusiasmo é palpável... Sentes-te triste por não poder contar com ele a tempo inteiro? Somos grandes amigos dos Intronaut, eles mercecem ser bem maiores do que são e não queremos, de orm alguma, estar a “roubar-lhes” o Danny. O que ficou decidido foi que gravávamos o álbum e, se ele quisesse fazer alguns concertos connosco, isso seria apenas um bónus. Falámos com ele e, se aparecer uma tour que não interfira com a agenda dos Intronaut, dos Murder Construct ou seja o que for, vamos fazê-la juntos. Não há ninguém com que gostasse mais de apresentar este disco ao vivo do que com o Danny, que foi quem escreveu as partes de bateria e gravou estes temas connosco. Já começaram à procura de um substituto? Mais ou menos... Ainda não escolhemos ninguém, mas já iniciámos o processo de busca e temos testado uns bateristas aqui e ali. O disco vai ser editado agora e, durante o Outono e o Inverno, vamos resolver essa situação - provavelmente só voltamos à estrada na Primavera. Seria fixe podermos começar com o Danny, nem que fosse apenas para uma tour inicial de um mês ou algo desse género, mas depois logo se vê o que acontece. Uma coisa é certa: está a tornar-se cada vez mais complicado encontrar um substituto à altura. Já não era fácil ocupar o lugar antes de termos gravado este novo álbum, mas

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agora as coisas tornaram-se ainda mais complicadas... [risos] Quem vier tocar connosco, vai ter de aprender as partes do Jon e as partes do Danny, que são dois bateristas de excepção. Voltaram a trabalhar com o Jason Suecof, produtor que vos acompanha desde o «Ruination». É verdade. às vezes, gera-se uma sinergia com as pessoas... e, neste caso em particular, acho que não há palavra mais adeuqada para descrever o que se passa entre nós e o Jason do que sinergia. O álbum que as pessoas vão ouvir, dos riffs às linhas de baixo e voz, passou todo pelo filtro do Jason Suecofe posso dizer que, se não tivessemos gravado com ele, o «Sun Eater» seria um álbum diferente. Não sei como soaria, mas seria diferente. Os Job For A Cowboy já trabalham com ele há cerca de seis anos e, mais do que nunca, é o único produtor que percebe na plenitude as nossas intenções. Na maioria das vezes, sabe o que queremos fazer antes sequer de falarmos nisso e é uma ferramenta preciosa para concretizarmos os nossos objectivos, o que acaba por ser uma enorme mais-valia num produtor. Não há assim tantas bandas que possam gabar-se disto, mas parece-me que encontrámos a pessoa perfeita para trabalhar connosco no estúdio e por isso tudo, pode dizer-se que o Jason é o sexto elemento da banda. Não estou a excluir a hipótese de, no futuro, colaborarmos com outras pessoas, mas neste momento - não nos vejo a trabalhar com mais ninguém. [risos] [Sandro Emanuel]

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accept

A raiva de quem sabe De facto, poucas bandas se poderão gabar de terem dois ou mais picos nas suas carreiras. Para os ACCEPT, após o regresso de 2009, tem sido sempre a subir, ao ponto de liderarem a tabela de vendas na sua Alemanha com o mais recente «Blind Rage». Presentemente na estrada, a gozar os louros desta bem sucedida terceira investida com Mark Tornillo no micro, o grupo gemânico mostra todos os pergaminhos que faz dele uma força a ter em conta em todo o historial do heavy metal. Raízes dos tempos marcantes com uma produção moderna tornam este terceiro trabalho com o vocalista norte-americano num festim de raiva melódica. Sobre mais um tiro certeiro e temas paralelos com o passado, falámos com o guitarrista e fundador Wolf Hoffmann.

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Como receberam estas notícias de sucesso absoluto nas tabelas de países como a Alemanha e a Finlândia? É algo surpreendente ou acharam que, mais tarde ou mais cedo, iria acontecer? Como é que alguém pode esperar uma coisa dessas?! Ainda estamos completamente fascinados e surpreendidos com esses números. Tipo... a sério? [risos] Estamos no paraíso! Uma vez que a fórmula de gravação deste terceiro disco com Mark Tornillo é similar à dos dois anteriores, com o Andy Sneap na produção, quais são para ti as características próprias de «Blind Rage» que o tornam especial? Eu e o Peter [Baltes, baixista] smos a dupla de compositores desde os meus dezasseis anos. Nunca trabalhei num tema dos Accept de forma diferente. Desde que estamos com o Mark, a “Deaffy” [NR: mulher de Wolf] passou-lhe as letras, embora todos possamos dar o nosso contributo às histórias. A diferença é que o Mark tem uma forma fantástica de jogar com as palavras e isso nota-se ainda mais neste disco. Pessoalmente, sou um perfeccionista e preciso de ter tempo para montar uma canção. Mas como eu e o Peter sabemos exactamente o que queremos, torna-se fácil para nós. Nunca temos um plano. Deixamos as coisas saírem por si e, depois, vem aquela parte às vezes dolorosa em que tentamos tornar tudo melhor; no ponto. A fórmula foi a mesma, de facto. Que balanço fazes desta fase mais recente dos Accept? Mais realizados do que alguma vez imaginaram, quando anunciaram o regresso em 2009? A maior prova da nossa aventureira e

muito espontânea ideia de regressarmos ao activo foi o que aconteceu a 10 de Maio de 2010, em Nova Iorque. Nunca tinhamos estado com o Mike Tornillo em nenhum palco, nem o tinhamos visto em nenhum palco! Esse foi, certamente, o momento marcante. Foi num concerto esgotado e ele arrasou desde o tiro de partida. Em Setembro deste ano voltámos à mesma sala de Nova Iorque e tiveram de fechar as portas; alguns fãs ficaram lá fora... Acho que isso diz tudo sobre os Accept. Estamos sólidos e a trabalhar para avançarmos sempre um passo a seguir ao outro. Sim, temos de lutar para chegarmos onde queremos chegar, mas todos os músicos também o têm de fazer. Para já, não poderíamos estar mais satisfeitos. O Udo Dirkschneider já não é uma sombra nas alusões dos vossos fãs? Cada banda hoje tem o seu caminho bem clarificado e os Accept podem, cada vez mais, seguir em frente sem o “fantasma” do vosso primeiro vocalista? Espero que ele não seja um fantasma e esteja por aí em força! Nunca percebemos porque é que alguns fãs - e tenho a certeza que ainda há por aí muitos até hoje - não encaixam isto: o Udo tem a sua própria banda há 25 anos! A maioria das bandas nem chega a durar tanto... é um quarto de século! Já tardava que ele pudesse desfrutar da sua própria carreira e da sua própria fama? Claro. Assim como é natural que exista uma certa competição, sobretudo amistosa, entre todas as bandas. Há um milhão de grupos por aí que acreditam serem mehores que os outros. Toda a força para eles! Nesta altura, os Accept estão num bom momento e tudo está bem para nós. Ao mesmo tempo, tudo está bem para outras bandas. São os fãs que decidem

para quem vai hoje a sua lealdade e o seu dinheiro, mais agora que nunca, porque têm uma mente muito mais aberta. E são capazes de adorar mais que apenas uma banda.

cada vez que isso é dito... que, de certa forma, abrimos portas para outros gandes músicos. Por vezes, chga a altura de outros pegarem na tocha e correrem com ela. É muito estimulante para mim.

Ao vivo: mais uma vez, não se vêm datas portuguesas na vossa longa tour deste ano. Isso deve-se a falta de propostas dos promotores ou a outras razões? Tem mais a ver com o nosso itinerário, em geral. Estamos agora a tocar em tantos e diferentes países, que também temos de ir a Portugal! Já pensámos numa segunda rota europeia para 2015, portanto, vamos ver o que acontece. Estamos muito empolgados com todos os lugares onde vamos. O Japão é um antigo bastião para os Accept e os nossos fãs são muito leais, lá. A Austrália nem fazia parte do nosso radar. Nos anos 90, quando parámos, não tocavam lá muitas bandas e, mesmo agora, poucas de fora vão à Austrália. Aí, será mesmo terreno novo para nós. Já esgotámos uma data em Melbourne e vamos acrescentar uma segunda!

Honestamente, achas que os accept deveriam ser reconhecidos no mesmo nível de influência de bandas como Iron Maiden, Judas Priest ou Metallica? Os fãs, a história e pessoas como vocês vão decidir isso!

De vez em quando, aparece uma nova banda com óbvias influências de Accept. Como olhas para isso - é lisonjeador ouvir o teu estilo de guitarra replicado por jovens músicos ou preferirias que fossem o mais originais possível? Bom, ser totalmente original nunca foi tão impossível como hoje. Quando aparecemos, não havia muito por onde copiar ou coisas que servissem de influência. E, mais tarde, não sabíamos o quão influentes éramos. O facto de podermos deixar pegadas na história da música pode separar-nos de muitos outros. Não personalizo bandas, mas tenho de dizer que algo mexe comigo de

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Com estes trabalhos recentes e com os futuros, achas que conseguirão sempre fazer novos hinos que sobrevivam ao teste do tempo, como clássicos como «Metal Heart» ou «Balls To The Wall», por exemplo, pelos quais são bem conhecidos? Queres assustar-me?! Claro que sim. [risos] Tenho de acreditar em nós. Acredito e acho que estamos no topo do nosso campeonato. Posso fazer três concertos num dia, assim como o Peter, e sinto-me completamente empolgado como se se estivéssemos a chegar perto das nossas melhores actuações. Talvez ainda falte um pouquinho para chegarmos lá, mas estamos prontos e nada nos pode parar. Mas, ao afirmar isso, quero assegurar que toda a gente o compreende - tem tanto a ver com a nossa felicidade em sermos músicos, assim como tem a ver com os nossos fãs. E claro, se vendermos mais discos e bilhetes, tanto melhor Estamos num ponto das nossas vidas em que podemos dizer: sim, estamos aqui e conscientes da fantástica viagem que é tudo isto. Penso que não poderia ser muito melhor. E temos muito, mas mesmo muito a agradecer aos nossos fãs. Eles são os maiores. [Ana Nogueira] 17


destaque

O primeiro disco

O segundo disco

O terceiro disco

Geist ist Teufel - 2004

Verräterischer, nichtswürdiger Geist - 2005

Der freiwillige Bettler - 2010

Tracklist 1 - Intro 2 - Die kalte Teufelsfaust 3 - Drudenfuß 4 - Auszug aller tödlich seinen Krafte 5 - Geist ist Teufel 6 - Outro

8/10 Isso torna as coisas ainda mais simples – Pentagram!

URFAUST Trovadores do Diabo Num género tão carregado de clones e marcado por uma forte ortodoxia na escrita como o black metal, poucas bandas terão uma identidade tão vincada como os URFAUST. Já são mais de uma dezena de lançamentos de black metal atmosférico do mais minimalista e ritualista que há, marcados por riffs arrepiantes acompanhados por uma bateria simples mas tremendamente eficaz a criar ambientes hipnotizantes. Depois há a incomparável forma desconcertante como IX canta (sim, leram bem, canta), capaz de transmitir mais sentimento e emoção numa música do que muita gente durante uma carreira inteira. A estreia em Portugal está marcada para Barroselas e tem tudo para ser um evento memorável, pelo menos a julgar por aquilo que pudemos testemunhar no Roadburn do ano passado, naquela que foi indubitavelmente uma das grandes actuações do festival, o que não é dizer pouco. Com o concerto no festival minhoto como pano de fundo, aproveitámos também para falar sobre a história da banda e planos futuros. Eles são os trovadores do diabo!

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O dia 26 de Abril vai marcar a vossa estreia em Portugal e para muitos dos vossos fãs lá será a primeira vez que vos vêm. O que é que eles podem esperar dos Urfaust? Podem esperar a nossa música “clochard” num ritual em ambiente de transe. Vamos fazer aquilo que sempre fizemos: queimar incenso e tocar black metal lento, repetitivo e de afinação baixa. Aquilo que verificamos é que na maioria das vezes o público se transforma num bando de zombies a abanar a cabeça. O que é precisamente o que queremos, saudar a intoxicação, preferencialmente com as pessoas a fazer o mesmo, e com a atmosfera certa penso que será uma boa noite. Num ponto de vista pessoal, como é que encaram a presença no festival? Algum outro nome que vos apele particularmente? Os Pentagram, sem pensar duas vezes. Se o Bobby estiver inspirado vai ser fantástico e se ele estiver fodido vai ser uma merda. Para além disso também temos amigos nos Negură Bunget. Já os vi várias vezes, até organizámos alguns concertos para eles na Holanda e foram sempre bons, são uma banda que corresponde bastante bem ao vivo... Nesse aspecto temos uma má notícia: os Negură cancelaram recentemente o concerto deles no festival.

Vocês costumam ter merchandise desenhado especialmente para cada concerto. Há alguma hipótese de isso acontecer nesta data? Sim, temos uma t-shirt especial para o festival, desenhada pelo Patrick Z da Karmazid designs. Tem um toque português, pelo que não deve desapontar. Tentamos sempre incluir algo específico do local em que vamos tocar e neste caso, como não encontrámos nenhuma referência histórica de Barroselas em si e soubemos do episódio do cemitério após o cancelamento dos Mayhem há uns anos, decidimo-nos por esse tema. Se não estou em erro, este é o vosso décimo aniversário como banda. Podes levar-nos até dez anos atrás e contar como é que os Urfaust surgiram, como é que se tornaram naquilo que são hoje? Bem, na verdade os Urfaust já existem há mais tempo, mas na encarnação actual faz realmente dez anos. No início era um projecto ambiente do IX (guitarrista e vocalista) até que numa noite de embriaguez fizemos uma jam e essencialmente gravámos o Geist Ist Teufel numa master-tape. Um gravador de fita magnética com um microfone e tudo tocado bêbado ao vivo. Entretanto claro que a nossa música evoluiu, fomos adicionando mais sintetizadores e até temos incluído baixo nas gravações, algo que não acontecia no passado. Afastámo-nos um bocado do black metal que tocávamos na altura, incorporámos outras influências e tornámo-nos mais profissionais na gravação, principalmente porque temos melhor equipamento, mas

Tracklist 1 - Dunkel, still von Ewigkeit 2 - Ragnarök Mystiker 3 - Gespinnst des Verderbens 4 - Trauerhöhle 5 - Verflucht das Blenden der Erscheinung 6 - Der Gottesverächter 7 - In den weiten öden Räumen

Tracklist 1 - Vom Gesicht und Rätsel 2 - Der freiwillige Bettler 3 - Das Kind mit dem Spiegel 4 - Der Mensch, die kleine Narrenwelt 5 - Ein leeres Zauberspiel 6 - Der hässlichste Mensch 7 - Der Zauberer

8/10

9/10

também pela preciosa ajuda que temos tido do nosso amigo Deportator, com quem costumamos gravar. Dizer mais do que isto é complicado, acho que o normal é uma banda evoluir e foi isso que aconteceu. Preferimos deixar escrutínios mais detalhados, mas tem sido um percurso divertido.

que nunca conseguiríamos transpor aquele som para um palco e por ai adiante. Só que começámos a tocar ao vivo e acontece que é mesmo assim que gravamos a música, mesmo hoje que temos mais instrumentos, bateria, guitarra e voz são sempre captadas ao vivo, dai os erros fodidos tanto em álbum como em concerto, mas somos mesmo assim. Acaba por ser fácil para nós tocar ao vivo e estou bastante satisfeito por termos provado tanta gente errada.

Mesmo tendo em conta a quantidade de sub-géneros diferentes de black metal que existem, vocês têm uma abordagem bastante única e isso é algo que já se notava no primeiro álbum. Na altura deve ter apanhado uma data de gente desprevenida, ainda te lembras de alguma reacção mais curiosa que tenham provocado? Sim, lembro-me que ao início mostrámos as primeiras músicas a alguns amigos e as reacções foram bastante engraçadas: metade odiou e metade adorou. Também mandámos demos para algumas editoras e recebemos uma série de cartas a dizer qualquer coisa do género “obrigado pela demo, mas isto é lixo”. Neste momento devem estar a coçar a cabeça porque temonos safado bastante bem. Em termos de reviews propriamente ditas, lembro-me de alguém que dizia que aquilo soava como uma mistura entre gajo de ópera e um Tom Jones intoxicado que entrava num bar de karaoke e descobria que em vez de músicas do Tom Jones eram Burzum que tocava no fundo. Também houve uma série de comparações engraçadas entre o Willem (IX) e um Frank Sinatra bêbado. Ele não faz grande segredo que é grande fã do Sinatra e o tem como inspiração na forma de cantar, portanto esse foi o melhor comentário que já tivemos. Para além disto havia também quem dissesse que era impossível para nós tocar ao vivo,

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Mencionaste à pouco o Geist Ist Teufel, o vosso primeiro álbum. Foram recentemente anunciados planos para uma reedição este ano, já decidiram data e formato para isso? Data específica ainda não, mas estamos a apontar para que saia algures no verão. A razão da incerteza é que a Van Records o quer lançar juntamente com outros três trabalhos que temos na calha, nomeadamente um mini-álbum ao vivo, um split de 7’’ com King Dude e um 7’’ de um lado em nome próprio. Quanto à reedição, vai sair tanto em vinyl como em cd e a boa notícia é que vamos fazê-la com o grafismo que queríamos originalmente. Na altura saiu pela Christcrusher records que fez um trabalho óptimo, mas tinha um ar demasiado underground, demasiado DIY com uma capa colada à pressa. Agora, sim, vai fazer justiça ao desenho do Mannuel Tinnemans, minimalista e sóbrio. Em relação ao artwork, utilizaram um diferente aquando da primeira reedição, em 2009, se não estou em erro porque o primeiro se tinha perdido. Como é que o recuperaram? Sim, esteve perdido durante bastante tempo. Nós não o tínhamos e o Mannuel perdeu-o algures numa mudança, mas 19


“Normalmente apercebemo-nos rapidamente se aquilo que estamos a fazer é bom ou uma merda e acaba por ser um método que se ajusta bem à nossa disponibilidade, que para ensaiar é bastante pouca” contactou-me recentemente a avisar que o tinha encontrado. Foi o timing perfeito. Gostamos imenso do trabalho dele e acho que representa bem a atmosfera do álbum, com aquele Fausto enorme, gordo e velho, sentado com ar chateado na cadeira. Encaixa-se mesmo! Outro álbum com uma capa bastante curiosa é a versão de cd do Verräterischer, Nichtswürdiger Geist, com aquela figura algo estranha em grande plano. Que é que nos podes dizer sobre ela? O desenho foi feito pelo próprio Willem, numa altura em que estudava bastante cultura japonesa. Aliás, ainda hoje dedica bastante tempo a artes marciais japonesas e tudo o que lhes está associado. A figura representa um guarda de um templo, já não sei muito bem qual. Ele na altura explicou-me mas entretanto o álcool tratou de apagar isso. Vamos então falar dos outros três lançamentos, começando pelo álbum ao vivo, o vosso primeiro. Em que concerto é que isso aconteceu e porque é que resolveram editar algo do género? O concerto em causa aconteceu em Dublin, em Setembro do ano passado, quando tocámos no Dublin Doom Days. Antes de irmos para lá a organização contactou-nos a avisar que iam gravar profissionalmente as actuações todas e que se quiséssemos nos davam a gravação para decidirmos o que lhe fazer. Pareceunos bem e resolvemos ir para a frente com isso. Quanto ao concerto em si, acho que tivemos uma prestação boa, sólida vá, não demasiado alcoolizados. Foi tudo misturado ao vivo pelo Deportator e soa para além de bem, estávamos numa atmosfera muito boa e sobretudo as vozes estão bem melhor que nos álbuns. São seis músicas e vai ter lançamento exclusivo em vinyl. 20

No que diz respeito a músicas novas, vocês já disseram que não gostam de estar em estúdios, tanto que as gravações do Der Freiwillige Bettler foram divididas entre uma quinta e um bunker antigo. Onde é que gravaram os temas dos dois 7’’? O 7’’ de um lado foi gravado a norte de Groningen numa quinta enorme e antiga a que chamamos “gravestones”. O terreno é de um amigo nosso e tinha um grande barracão completamente vazio que foi perfeito para o som de bateria. Estivemos lá dois dias e como a área está deserta podíamos tocar e gravar dia e noite, o que contribuiu para uma atmosfera muito boa. A nossa música do split com King Dude, que tem uma abordagem mais acústica, foi gravada numa pequena adega que o Willem tem em casa. O tamanho acabou por proporcionar um ambiente algo claustrofóbico que acho ter ficado patente no som. Normalmente o que fazemos é chamar o Deportator para onde quer que decidamos gravar, montamos o nosso equipamento e fazemos as coisas à nossa maneira. Quando entras num estúdio, tempo é dinheiro, não tens a mesma liberdade e é uma merda se tiveres de gravar quando a atmosfera certa simplesmente não está lá. A atmosfera é uma parte fundamental daquilo que os Urfaust são e para nós é muito importante estar no estado de espírito certo porque é algo que acaba sempre por se reflectir na música. Como é que dividem a composição? Cada um compõe o seu instrumento ou há algum tipo de mistura? A maioria das ideias vem da mente do Willem. Ele aparece com um riff e simplesmente começamos a tocá-lo sem grandes planos. Normalmente apercebemo-nos rapidamente se aquilo que estamos a fazer é bom ou uma merda

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e acaba por ser um método que se ajusta bem à nossa disponibilidade, que para ensaiar é bastante pouca. Vivemos a três horas um do outro, temos horários de trabalho estranhos, desde noites a fins de semana, e é complicado encontrar tempo para ensaiar, quanto mais para tocar ao vivo. Apesar de nunca terem tocado com ele, já expressaram várias vezes a vossa admiração por King Dude. Como é que surgiu a oportunidade de fazer este split, aliando o vosso black metal ao neofolk dele? Descobri-o há pouco mais de um ano e, sendo fã de neofolk, fiquei imediatamente impressionado. Enquanto ouvia aquilo só pensava “foda-se, isto é mesmo bom”, portanto enviei-lhe um mail para comprar uns cds e acabámos por começar a falar e a trocar música. Aparentemente ele também é fã do que fazemos, acabámos por nos encontrar umas quantas vezes e tornámo-nos bons amigos, porque não lançar algo em conjunto? Não estamos presos a um único género e de qualquer maneira sempre fizemos splits com bandas estranhas e este acaba por ser mais uma variante interessante. Estou entusiasmado com o que ai vem, até porque apesar de a música dele ser claramente King Dude, tem ali qualquer coisa de Urfaust, com o mesmo a acontecer com a nossa. Há algum plano de eventualmente tocarem juntos ao vivo? Sim, fomos a um concerto dele na última tour europeia, encontrámo-nos, bebemos uns whiskeys e falámos dessa possibilidade. A ideia inicial era fazer um concerto em segredo com Urfaust e King Dude, mas o management dele não gostou da ideia e tivemos que a descartar. Entretanto temos falado em fazer uma tour com ele no próximo ano, possivelmente

tocar uns concertos na Alemanha. Ainda não está nada confirmado mas gostávamos bastante que acontecesse.

onde já estivemos várias vezes ou ir por exemplo a Portugal, visitar locais que não conhecemos e encontrar pessoas novas.

Seria certamente uma mistura engraçada de públicos, algo já recorrente para vocês, tendo tocado com bandas tão diferentes com Black Anvil e The Devil’s Blood. Não há nada forçado em termos de tocar com bandas deste estilo ou daquele, recebemos ofertas e se acharmos que é algo que gostávamos de fazer, vamos para a frente. Nós fizemos ambos parte dos The Devil’s Blood, eu por alturas do EP The Gravyeard Shuffle e o Willem era guitarrista nos primeiros ensaios. Desde essa altura que continuamos bons amigos, pelo que fazia todo o sentido tocar juntos. Com os Black Anvil é mais ou menos a mesma coisa, somos amigos deles já dos tempos dos projectos anteriores e gostamos bastante dos Black Anvil, portanto quando nos convidaram para dar uns concertos nos Estados Unidos, não foi difícil dizer que sim. Que melhor do que ir com amigos para um país estrangeiro, tocar música, beber cerveja e estar lá completamente livres?

Vocês têm já algum historial de splits bastante bem sucedidos, tendo colaborado com Celestial Bloodshed, Joyless, The Ruins of Beverast e Circle of Ouroborus, sendo que este último é dos vossos lançamentos mais conceituados. No entanto são quase todos difíceis de encontrar, tendo sido recolhido a maioria desse material o ano passado, juntamente com parte do Verräterischer, Nichtswürdiger Geist, numa compilação intitulada Ritual Music for the True Clochard. Ainda assim, há alguma hipótese de um dia reeditarem os splits propriamente ditos? Não, isso não vai acontecer. Até falámos com o pessoal de Circle of Ouroborus sobre essa possibilidade, mas eles não querem a parte deles lançada de novo e temos de respeitar essa decisão. Como disseste, eles estão esgotados e as pessoas começaram a pagar uma javardice de dinheiro por eles através do ebay ou do discogs, por isso contactámos as várias bandas para saber se não se importavam que recolhêssemos as nossas músicas para a compilação. Era uma estupidez que pessoas que nos conhecem há menos tempo e queiram ter o material original tivessem de pagar aquela quantidade de dinheiro, também torna mais fácil pessoas que não sejam familiares com esses lançamentos terem conhecimento deles. Por estas razões acho que a compilação acabou por ser uma boa solução.

Aquando do concerto do Roadburn, tenho a impressão de que anunciaram que era o último concerto na Holanda. Porque é que tomaram a decisão? Na verdade já tínhamos decidido isso antes, tanto que quando o Walter nos ligou a dizer que queria mesmo ter-nos lá a tocar começámos por rejeitar por ser na Holanda. Acabámos por fazer o concerto quando ele nos disse que na prática estávamos a tocar num território estrangeiro, já que a maioria do público vem de outros países. A razão da decisão prende-se em parte com o público holandês. Sinceramente o ambiente na

A escolha de bandas para colaboração foi sempre vossa ou foram decisões de editoras? Fomos sempre nós que escolhemos as bandas e só colaboramos com amigos

“Fomos sempre nós que escolhemos as bandas e só colaboramos com amigos ou bandas com quem tenhamos bons contactos” cena underground não é o melhor e está repleto de intrigas e invejas. Há um ditado holandês que diz qualquer coisa como “se ergueres a cabeça acima do trigo alguém ta vai cortar” que se adequa perfeitamente – fazes algo diferente e fora da zona de conforto das pessoas e elas simplesmente não percebem o que se está a passar. Para além disso, como já dissemos, é bastante complicado para nós encontrar um fim de semana e nos quinze anos em que estivemos activos em várias bandas já tocámos em praticamente todos os recintos aqui. No fundo acaba por ser uma escolha bastante fácil, entre tocar num sítio

para splits futuros que ainda terão de ser gravados. Infelizmente não te posso dizer já com quem vão ser, mas fica já adiantado que vai ser mais dentro do black metal. Falaste em outras bandas em que estiveram activos, no entanto só os Herder é que têm estado bem vivos. Qual é o estado de projectos como Botulistum, Planet AIDS ou Fluisterwoud? Os Botulistum foram recentemente reerguidos das cinzas. Acabámos de gravar um split com uma banda holandesa chamada Göll e vamos tocar pelo menos um concerto lá para o fim do mês. É sempre assim, pomos um projecto no frigorífico durante um tempo até que alguém nos sugere um concerto e acabamos por fazer alguma coisa nessa altura. Quanto aos Planet AIDS, o nosso álbum Apokalyptik AIDS vai ser reeditado algures depois do verão por uma editora chinesa cujo nome não me lembro e temos planos para gravar um novo álbum chamado Law of AIDS. Fluisterwoud, bem como a maioria das outras coisas, está encerrado ou posto na gaveta por um tempo. De resto estou ocupado com um projecto novo para o qual espero ter uma demo pronta depois do verão mas ainda é muito cedo para adiantar mais pormenores. Finalmente, temos um novo vocalista nos Herder (Ché Snelting) e vamos lançar o 7’’ de duas músicas já com ele no Roadburn. Para acabar, têm algum plano para um quarto álbum? Sim, estamos a pensar gravar material novo depois do verão. O Willem tem trabalhado em alguns riffs, eu também tenho ideias de coisas que quero fazer, pelo que só nos falta arranjar tempo e especialmente lugar. Também nesse aspecto já temos alguns sítios em mente, ainda temos de tratar de algumas coisas mas esperemos conseguir fazê-lo em breve. [Ricardo Bonifácio]

ou bandas com quem tenhamos bons contactos. Os gajos de Circle of Ouroborus são bons amigos nossos há bastante tempo e o mesmo para os Celestial Bloodshed e para o Alex de The Ruins of Beverast. Quanto a Joyless, conheço o Olav há algum tempo, sou grande fã da banda e é uma pessoa com quem tenho vindo a trocar cartas e música. Assim que ele me disse que a banda ia ser reactivada e voltar às gravações sugeri-lhe fazermos o split. Acho que as duas bandas se enquadram bem juntas de uma forma algo estranha e como a malta da Van Records é grande fã deles acabou por ser fácil. Já temos planos

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discos

Code Orange «I Am King»

Disco do mês Machine Head «Bloodstone & Diamonds»

Nesta idade do imediatismo e do descartável - será que é mesmo assim ou vivemos uma espécie de selecção natural artística em que só sobrevivem os mais audazes, mas estando permanentemente expostos aos medíocres? - é óptimo ver trabalho a sério. Um disco com todos os predicados musicais que se podem esperar de uma banda como Machine Head (e pelo que parece, ao nível do artwork, também), um trabalho para perdurar se nos dispusermos a isso. Desde «Through The Ashs Of Empires», Robb Flynn induz uma ponta de paixão em cada um dos registos dos Machine Head. Isto, claro, se não aludirmos à marcante estreia «Burn My Eyes» de há vinte anos, com pontuais momentos de fulgor criativo nos dois discos seguintes. Mas é em «Bloodstone & Diamonds» que essa veia de inspiração emocional parece ser ainda 22

mais convincente. Se os dois trabalhos anteriores pecaram por um excesso de

guitarrada-porque-sim, perdendo-se o foco em vários temas, este oitavo álbum dá-nos os solos certos, nos momentos

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certos e na quantidade adequada. Mas sem regras definidas. De resto, qualquer um dos doze temas encerra em si impacto para poder abrir o disco e isso diz muito da força, ao nível da composição, que este trabalho reúne. «Now We Die» é épico, mas intenso e até soberbamente orquestrado; «Killers & Kings» não esquece as raízes thrash do quarteto da California; «Ghosts Will Haunt My Bones» enaltece o lado mais sentimental do grupo... e estamos só a falar do primeiro trio de faixas. «Bloodstone & Diamonds» é uma banda no topo da sua maturidade, numa dúzia de canções com alma, cujo sempre útil dedo final de Colin Richardson contribui para fazer destes 70 minutos a melhor sessão de groove emocional do ano. Trata-se dum álbum amplo, que deve ser ouvido com tempo e atenção. [9.5/10] [Vitor Domingos]

Os Code Orange deixaram caír o “Kids” do nome e, fazendo jus à mudança de designação, apresentam-se bem mais adultos em «I Am King». E se a estreia «Love Is Love//Return To Dust» revelou ao underground um bando de miúdos com garra de meter inveja a muitos músicos com o dobro da sua idade, agora o seu sucessor afirma-se como o disco da emancipação, aquele em que moldam uma personalidade própria à custa de mais músculo e experimentação, para a cuspirem cá para fora com uma intensidade que continua a não encontrar grande rival noutros projectos de criação tão recente. Com o crescimento vem, inevitavelmente a mudança, sendo que estes 33 minutos de música denotam também um óbvio afastamento em relação ao som que dominou uma grande parte do primeiro álbum. Para trás ficam aquelas explosões hardcore lo-fi e, mais obscuro, pesado e experimental, o quarteto adopta uma abordagem mais agressiva, progressiva e antagónica, com riffs e breakdowns demolidores apimentados por apontamentos planantes (e belos, porque não?) ou texturas abrasivas (e feias), que tanto apelam a fãs dos The Locust (em «Your Body Is Ready...») como dos Melvins («Slowburn») e fazem do feedback um ataque aos sentidos ainda mais intenso do que já é por natureza. Do início ao fim, uma experiência auditiva devastadora. [8/10] [Sara Valente]

resta-lhes o space shuttle que montam e adereçam a cada LP. Seis anos após essa última fugida para o exterior do planeta, os Darkspace uma vez mais congregam esforços para fazerem do black metal a sua cosmonave de eleição - mas há diferenças. Sem abandonar a densidade de outrora, a produção surge depurada e de pulmões abertos para que cada instrumento ressoe livre. A essa claustrofobia dos antecessores, responde agora uma convulsa orgia de sintetizadores, uivando por entre a ríspida bateria programada e as cavernais vozes, que se camulam nos graves quais invisíveis carrascos noturnos. Há neste quarto álbum também um pulsar mecânico, robótico, industrial; como se os Darkspace deixassem finalmente de ser carne e osso para rumarem às dimensões que só o aço alienígena permite e suporta. [8.5/10] [Vitor Domingos]

dinamarquês. Este lançameto está dividido em duas partes: os anos com a Roadrunner e os com a Metal Blade, contabilizando 33 temas, remasterizados e escolhidos pelo próprio King Diamond. No primeiro CD poderemos escutar algumas das malhas icónicas do grupo como «The Candle», «Family Ghost», «Welcome Home», «Sleepless Nights» ou «Eye Of The Witch», cobrindo os rimeiros cinco álbuns e seis anos de carreira. A partir do início da década de 90 o percurso foi menos profícuo com alguns altos e baixos, como provam temas como «Dreams», «Waiting», «Black Devil», «Spirits» ou «Neverending Hill». Sete anos após a edição do último álbum de estúdio - o aclamado «Give Me Your Soul... Please» - este «Dreams Of Horror» serve como introdução aos mais jovens fãs que começaram a conhecer King Diamond graças à visibilidade concedida pelos Metallica e aos fantásticos concertos dados pelo grupo em festivais nos últimos anos. [7.5/10] [Sandro Emanuel]

«Carrion Skies»

Neil Morse

Fen

«Songs from November»

Quase que sorrateiramente, estes ingleses foram granjeando uma fiel base de seguidores em virtude de um potencial apurado para transformar o black metal num mundo de horizontes bem abertos (sem ser preciso grandes choques dogmáticos). Os Fen constroem, desde 2006, um legado de música obsura, melancólica e com grande espessura em termos de emotividade. Neste terceiro tomo, tornam a sua música ainda mais épica, delicada e variada, com os devidos acessos de raiva aqui e ali. [7/10] [Ana Nogueira]

Darkspace King Diamond «Dark Space III I»

«Dreams of Horror»

A carreira musical de Neal Morse está marcada pela sua conversão ao cristianismo em 2002. A partir daqui dedica-se musicalmente à sua religião tendo editado uma série infindável de discos orientados para esta nova faceta da sua vida. «Songs From November» segue a linha soft rock de tons progressivos dos anteriores registos, introduzindo vários convidados que acrescentam novas camadas às estruturas criadas pelo norteamericano. Presentes estão coros soul, instrumentos de sopro e violinos. Para mentes abertas, algo relaxado e pacífico. [6/10] [Ricardo Bonifácio]

October 31

«Bury The Hatchet» Aqui aos camaradas suícos nunca lhes agradou de sobremaneira a circuscrição à atmosfera. Fisicamente impossibilitados de se escapulirem rumo ao vácuo além-Terra,

Comemorando-se 30 anos de carreira de King Diamond a solo em 2015, a Metal Blade edita uma compilação que reúne alguns dos melhores momentos do

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Apesar de criados a segunda metade da década de 90, os October 31 transpiram a anos 80 por todos os poros, com uma mistura de NWOBHM com o power metal norte-americano que se lhe seguiu cronologicamente. Desde o último álbum de estúdio passaram-se nove anos mas, em termos evolutivos, este quinteto parece ter ficado perdido no tempo. Em «Bury The Hatchet» tudo soa um pouco confuso: a produção final, a interpretação e a composição de alguns temas. Juntando a isto, as vocalizações de King Fowley parecem mais faladas do que cantadas, ao estilo Paul Di’Anno, o que tornou os temas um pouco repeitivos. O ambiente criado pelas guitarras de Brian Williams e do novato Matt Ibach conseguem salvar temas como «Down At Lovers Lane» ou «Gone To The Devil» mas poucos mais pontos positivos poderão ser acrescentados em «Bury The Hatchet»[5/10] [Sandro Emanuel]

os Today Is The Day, mas poucas bandas desafiam a descrição por palavras como a de Steve Austin. Há muita coisaaacontecer, com dissonâncias e contrastes inesperados com melodias acústicas e, tematicamente, Austin explica que «Animal Mother» representa a personificação do dom profético xamânico, capaz de penetrar o passado e o futuro. Compreender o que isto significa é como percorrer os labirintos que «Animal Mother» encerra e até tentar responder a questões que coloca. Ainda que não tenhamos resposta, é uma jornada gratificante. [8.5/10] [Esdrubal Moreira]

Torch Runner «Endless Nothing»

Today Is The Day

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Os melhores 5 discos de 2014 da barulh

o melhor da música extrema

1. Yob 2. skull fist 3. mão morta 4. swans 5. alcest feito com base numa votação da redacção

Witch Mountain

«Animal Mother»

Steve Austin sempre teve uma visão musical do mundo muito própria, e não se pode dizer que seja propriamente iluminada. Os lugares mais escuros da sua psique ofuscam-lhe a visão, mas esses recantos sempre foram tantos que lhe permitiram nunca fazer dois discos iguais. Em «Pain Is A Warning», álbum de 201, Austin deixou a gravação a cargo de Kurt Ballou e concentrou-se mais na composição, resultando num disco dinâmico, de atitude mais rock, e talvez o mais conseguido desde o clássico «Temple Of The Morning Star». Em «Animal Mother», há um recuperar de ambientes que nos levam ao mais agressivo dos Today Is The Day, embora mantendo a musicalidade do disco anterior, por oposição a trabalhos mais caóticos, como «Kiss The Pig» ou«Axis Of Eden». Ao recuperar outro tipo de atosferas, este álbum pode ser visto como uma reacção a «Pain Is Warining» (que é quase AC/DC para os seus padrões, mas de inconfundível identidade Today Is The Day), um pouco da mesma forma que «In The Eyes Of God» surge depois de «Temple Of The Morning Star». Este puzzle de referências a registos anteriores podeá pouco ou nada dizer a quem não estiver familiarizado com

rescaldo

«Mobile of Angels»

Desde que se juntou, em 2007, este trio oriundo da Carolina do Norte, formado por Rob Turner, Scott Hughes e Josh Platt, tem vindo discretamente a construir uma reputação sólida como uma das mais entusiasmantes bandas de grindcore formadas na recta final da primeira década do século XXI. Na sequência de uma óptima estreia em longa-duração e de um split EP com os igualmente extremos Young And In The Way, os Torch Runner voltam à carga com o primeiro lançamento escrito sob a batuta da Southern Lord. Como diz o Armand, dos Sick Of It All, “o hardcore tem mais impacto se for escrito (...) com o deficit de atenção que caracteriza o estilo em mente”. Nesse sentido, e tendo em conta que, à semelhança do hardcore, na raíz o grind não é mais que uma extensão do punk, a abordagem “chegar, partir tudo e ir embora como se não fosse nada com eles” adoptada pelos três múicos de Greensboro destaca-os de muitos dos seus competitores. Com treze temas em 23 minutos, a descarga de blastbeats frenéticos começa com «Attrition» e prolonga-se nos seis temas seguintes, depois tem um momento para respirar na colossal «Circle Of Shit» e, daí ao final de «Endless Nothing», não volta a haver descanso, com o grupo a despejar grindcore intenso, contimentado pelo ocasional d-beat, um ou outro groove mais death metal e uma influência noise latente. Directos ao assunto e sem truques na manga, compensam a linearidade da coisa com a intensidade que cospem petardos como «Circuition», «Wordless» ou «A.L.E.L.». [7.5/10] [Sara Valente]

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Amplifest «Mobile Of Angels» é composto por cinco canções de personalidade vincada, que têm na interpretação sui generis de Uta Plotkin a força motriz. Ouça-se a dinâmica simplesmente desarmante de um tema como «Can’t Settle». Nasce bluesy e subtil, revolta-se numa secção interm´dia medonha, onde a jovem deixa de ser senhora transformando-se num monstro cavernoso, e mais tarde desagua numa foz de melodia e emoção, com claras influências sabbathianas. De resto, é de emoções fortes que se faz o doom dos Witch Mountain. Sem grandes complicações, com riffs simples mas cheios de pujança e comoventes olos de guitarra (improvisos blues) que esgrimem protagonismo com o vozeirão de Plotkin. «You Corrupt Ways (Sour The Hymn)», peça central do disco, é um “baladoom” cheio de alma e amargura, enquanto o tema-título surpreende, disruptivo, com múltiplas texturas de sintetizadores e piano, e voz sombria a lembrar a Chelsea Wolfe. A despedida do álbum e de Plotkin, que entretanto deixou a banda do Oregon, faz-se em «The Shape Truth Takes», um lamento divinal, com inesquecíveis harmonias inspiradas no rock clássico. Recomendado. [7.5/10] [Ana Nogueira]

A

Um festival de melómanos para melómanos

quele que se apresenta como mais que um festival, uma experiência, teve a sua quarta edição no primeiro fim-de-semana de Outubro e este foi mais um ano de afirmação. Um salto de maturidade após um crescimento que tem sido feito de forma sustentada e desenvolvendo o seu poder de apelo a mais que o público nacional. E este ano teve uma prova de fogo, pois nos outros anos não existia um festival como o Reverence Valada menos de um mês antes, o que poderia ter um efeito nefasto em termos de afluência, especialmente no contexto de crise actual. Felizmente, os receios revelaram-se infundados. Ambos os festivais, de conceitos díspares mas com muitas características comuns em termos de direcção artística, podem conviver entre si e, melhor que isso, complementamse. Embora o termo “festival” remeta, tradicionalmente, para os eventos de verão ao ar livre, o Amplifest tem uma filosofia diferente, como outros fesivais urbanos europeus, ocorrendo num espaço que se torna, ele próprio, no elemento nuclear do evento. As suas duas salas oferecem condições de excelência para o público e bandas, acolhendo ainda as amplitalks no

hall de entrada, cujas paredes expunham o magnífico trabalho de André Coelho para o recente volume «Terminal Tower». A sua localização, junto à Ribeira do Porto, é no mínimo inspiradora. Tendo sabido dar os seus passos e aprendendo a cada nova edição, esta pareceu ser efectivamente a mais tranquila de todas. Tudo decorre com naturalidade, dentro dos horários previstos ou com ligeiros e compreensíveis atrasos, e respira-se uma atmosfera de comunhão, de pessoas que viajaram, de perto ou de longe, apenas por um motivo: música. O cartaz também tem sido consistente e optando claramente na diversidade e em permitir às bandas apresentar o seu set, sem excessivas restrições de tempo para dar lugar a mais quantidade. Em termos de calendário, as datas são estrategicamente escolhidas para coincidir com rotas de tournées europeias, como foi o caso dos norte-americanos YOB e Pallbearer, duas das mais interessantes bandas de doom da actualidade. A banda de Mike Scheidt foi a primeira a subir a palco, estreando o excelente «Clearing The Path To Ascend», considerado disco do ano da redacção. Entrega irrepreensível e canções que

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movem montanhas, mas nunca chegaram àquele patamar superior, muito por culpa do som de bateria, demasiado afundado na mistura, e apesar de alguns acertos à medida que o concerto avançou, nunca permitiu que se criasse a muralha de som característica dos YOB. Já os Pallbearer, na sala 2, demonstraram as razões para tanto falatório, pela qualidade das suas composições, que tanto melhoraram em «Foundations Of Burden», embora a voz de Brett Campbell, ao vivo, continue a ser o seu calcanhar de Aquiles. Mas antes disso o senhor do free jazz Peter Brötzmann impressionou com Steve Noble na sala 2 e Marissa Nadler esforçou-se na principal, encantando os presentes com a sua folk. O estatuto de grande concerto do dia estava naturalmente reservado, se dúvidas houvesse, para os Swans. Banda seminal iderada por Michael Gira, os Swans são uma espécie de mentores esirituais de todo um left field artístico que está na génese de grande parte das bandas que já passaram pelo Amplifest, como do próprio festival. Apesar das passagens pelos mais recentes discos «To Be Kind» e «The Seer», um concerto de Swans não se faz de reproduções do passado, antes de 25


revisitações criativas e da própria criação que o público pode testemunhar à sua frente. Coube aos Hexis a ingrata tarefa de lhes suceder, mas mesmo noutro horário aquele hardcore tingido de negro genérico dificilmente consegue entusiasmar mais que alguns minutos. Depois do cancelamento no ano passado, Margaret Chardiet pôde finalmente incomodar, no bom sentido, os que se sujeitaram ao noise e power electrinics de Pharmakon. Numa linha não distante, coube ao australiano Ben Frost fechar a sala principal, numa actuação que atingiu um pico quando Thorr Harris, dos Swans, subiu ao palco. A banda não anunciada acabou por ser Sektor 304, projecto industrial do ilustrador André Coelho, que demonstrou merecer outro nível de exposição e ter uma presença mais assídua nos palcos. O segundo dia começou com vertentes mais pesadas, do sludge/doom teutónico

fúnebre e, apesar da qualidade de um álbum como «Nowhere», ao vivo não têm ainda a coesão desejável. A única nota negativa do fim-de-semana foi o cancelaento dos Urfaust, devido a uma emergência familiar, mas o baterista VRDRBR juntou-se a músicos de Sektor 304 e Black Shape Of Nexus para uma improvisação de bom efeito. O regresso dos Wovenhand a Portugal dificilmente poderia ter sido melhor. Com elementos dos Planes Mistaken For Stars, em formato de banda rock, linguagem predominante nos dois mais recentes trabalhos que dominaram o alinhamento, continuará sempre a ser Dave Eugene Edwards o centro das atenções. Tem o magnetismo e o carisma dos grandes, de Curtis a Morrisson, e vê-lo ao vivo, seja com a banda ou sozinho a cantar «Whistling Girl», é uma experiência marcante. Os Wolvserpent parecem estar sempre naquela fronteira do pretensiosismo

ridículo, da banda que diz que cada concerto é um ritual e coisas do género. Mas a verdade é que nunca resvalam para o lado de lá da força, ficam no darkside, e puxam tudo à sua volta qual buraco negro. A atmosfera é opressiva, pungente, e não deixou ninguém indiferente. Já os Cult Of Luna, colectivo tão acarinhado em Portugal, tiveram o efeito oposto, naquela que terá sido a sua mais deinspirada actuação por cá. Banda de inuestionável competência, mas tudo soa previsível e a fórmula, numa performance mecânica cujo único objectivo pareceu ser querer chegar ao fim. Da Bélgica, país que tem dado cartas, vieram os VVOVNDS a quem coube o papel desempenhado pelos Hexis na noite anterior, e com semelhantes resultados, embora nesta altura o cansaço também já não ajudasse. Em suma, e como é afirmado, o Amplifest é, e cada vez mais, uma experiência. E no próximo ano, marcaremos presença. [Vitor Domingos]

Saint vitus + orange goblin Q

uando, naquela noite de segundafeira, vimos Wino a brindar com o público e a oferecer algumas garrafas de cerveja, ninguém diria que há 30 anos atrás era habitual que essas garrafas fossem arremessadas do público para o palco. Os Saint Vitus sempre foram o patinho feio, nunca se inserindo em cena alguma e numa época em que foram constantemente ostracizados - “I know I don’t belong and there’s nothing I can do”. O disco que melhor encapsulou este sentimento de ser um pária e incompreendido pela maioria foi «Born Too Late», clássico de 1986 que é recuperado na íntegra nesta tournée de 35º aniversário da banda. Tendo em conta este passado dos Saint Vitus, é indisfarçável

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Lendas em palco o sentimento de justiça quando se testemunha a banda a ser recebia em Lisboa por uma sala efusivamente cheia. A recepção deu-se ao som de «Living Backwards» e do clássico «I Bleed Black» logo a seguir, conforme se ouve noutro disco incontornável, «V». Seguiram-se duas viagens mais curtas, até «Lillie: F-65» de 2012, que se adequam perfeitamente ao set, e ouviu-se ainda «The Troll» e «White Stallions» antes de «Born Too Late» ser tocado do final para o início, com a inolvidável «Dying Inside» no seu devido lugar, até ao tema-título, com a letra apaixonadamente cantada por quase todos os presentes. Houve lugar para um encore, com «Saint Vitus», a canção com que tudo começou como dis Dave Chandler, e que

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aqui serviu para fechar um concerto em que o importante foi o sentimento e a comunhão, não a destreza instrumental, que nunca foi uma característica dos Saint Vitus. Antes disso, os Orange Goblin estrearam-se em Lisboa, depois depassagens por Cascais e Barcelos, e ficou evidente a qualidade do seu novo disco, com «Sabbath Hex» e, fundamentalmente, «Heavy Lies The Crown», a serem pontos altos de uma actuação algo morna para a qual nada contribuiu um som demasiado baixo para o seu próprio bem. Precisavam de outro poder de fogo para conseguir tornar-se na besta de palco que inquestionavelmente são. Decerto hão de voltar ao país para o provarem novamente. [Vitor Domingos] 27


passatempo

A BARULHO e os CODE ORANGE têm para oferecer cinco cópias do seu no álbum, «I Am King». A banda de hardcore dos E.U.A. dispara nete registo 11 temas potentes que podem ser vossos caso sejam dos primeiros a enviar-nos para barulho@barulho.pt (incluindo nome e morada completa, e com o assunto Passatempo Code Orange) a resposta à seguinte pergunta: Como se chamava o primeiro álbum dos Code Orange, quais os membros que integravam a banda e em que ano foi lançado? Os vencedores serão anunciados no próximo mês, nesta mesma secção.

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agenda

Novembro

Dezembro

Janeiro

02 - Pontiak [E.U.A.] / Asimov - Stairway Club, Cascais Sprint To Rock Fest 04 - All For Nothing [Hol] / Backflip / Same Old Chords - República da Música, Lisboa 06 - Maybeshewill [Ing] - Gare, Porto Post Amplifest Session 07 - Mão Morta - Casa da Cultura, Beja 08 - WAKO / Above The Hate / Destroyers Of All / Stonerust / Analepy / Derrame / Face The Facet / Griever / Advent Mechanism / 11th Dimension - G.D.R. Manique de Cima Hell In Sintra 13 - Garotos Podres [Bra] / Albert Fish / Suspeitos do Cotume / Asas da Vingança - Maktub Bar, Faro 15 - [In Mute] [Esp] / Heid [Esp] / Martelo Negro / The Unholy / Inquisitor / Lvnae Lvmen / Deadlyforce - Casa da Cultura, Beja Pax Julia Metalfest IV 27 - Dying Fetus [E.U.A.] / Goatwhore [E.U.A.] / Malevolence [Ing] / Fallujah [E.U.A.] - Hard Club, Porto 28 - Sólstafir [Isl] / Obsidian Kingdom [Esp] / Esben and the Witch [Ing] - Hard Club, Porto 30 - Epica [Hol] / Dragonforce [Ing] / Dagoba [Fra] - Hard Club, Porto

06 - D-A-D [Din] / [...] - Paradise Garage, Lisboa 06 - A Peaceful Chaos / The Autist / Gennoma / Mass Disorder / 11th Dimension - República da Música, Lisboa Christmas Metal Fest 12 - Noturnall [Bra] / Dragon’s Kiss / Deadlyforce / Fallen Paradise - RCA Club, Lisboa 12/13 - Bleeding Display / Brutal Brain Damage / Analepsy / [...] - Castelo Branco XV Butchery At Christmas Time 14 - Sabaton [Sue] / Korpiklaani [Fin] / Týr [I.F.] / [...] - Hard Club, Porto 20 - Trouble [E.U.A.] / Dawnrider / Purple Hill Witch [Nor] - Stairway Club, Cascais 27 - Corpus Christii / Scum Liquor Angels Place, Cacilhas 29 - Greenleaf [Sue] / Lama / Jackie D Stairway Club, Cascais

10 - Cancer [Ing] / Desaster [Ale] / Arkham Witch [Ing] / Display Of Power [Esp] / Web / Attick Demons / Enchantya / Acromaníacos / Serrabulho / Ravensire / Undersave / Terror Empire - C.C. Santo André, Mangualde Hardmetal Fest 2015 16 - Marche Funèbre [Bel] / Agonia - Side B, Benavente 17 - Marche Funèbre [Bel] / Bosque / Grimoire De Occulte [Ale] / Gilded Twilight - Metalpoint, Porto Labyrinth Doom Fest 23 - Picture [Hol] / Wild [Esp] / Deadlyforce - Republica da Música, Lisboa 24 - Prostitute Disfigurement [Hol] / Grog / Jig-Ai[R.C.] / VxPxOxAxAxWxAxMxC [Aut] / Serrabulho / Brutal Brain Damage / Analepsy / Görrinerh [Esp] / Shoryuken - RCA Club, Lisboa XXXapada na Tromba - Freak n’ Grind Fest

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