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Dança pelo futuro

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Idioma ameaçado

Idioma ameaçado

Todo ano, meninas e mulheres indígenas desaparecem no Canadá, algumas são achadas mortas, outras nunca são encontradas. Mas isso está começando a mudar, graças a activistas como Theland Kicknosway, que usa de tudo, da dança ao Instagram, para buscar justiça.

Quando era jovem, Theland costumava acompanhar sua mãe a reuniões onde as pessoas mostravam fotos de suas fi lhas, irmãs e mães perdidas, acendiam velas, realizavam cerimônias e discursavam. Quando tinha nove anos, ele perguntou à sua mãe:

– O que acontece com as crianças quando suas mães desaparecem?

A mãe respondeu que elas precisavam de ajuda com tudo, de comida até roupas e conforto. Também era importante que mais pessoas no Canadá soubessem sobre as injustiças, para poder exigir dos políticos que dessem às meninas e mulheres indígenas melhor proteção e apoio.

Descobre mais

Theland também pergunta à sua tia, Bridget, que mora na reserva Kitigan Zibi, das Primeiras Nações. Quando sua própria mãe, Gladys, foi morta, Bridget fundou uma organização que luta por meninas e mulheres desaparecidas e assassinadas. Theland frequentemente cantava nas reuniões de protesto.

– Tia Bridget me pedia para cantar em memória das desaparecidas e assassinadas, e para dar força aos outros, diz Theland.

Bridget contou a história de Maisy e Shannon, duas adolescentes que desapareceram após um baile da escola em Kitigan Zibi. A família relatou o desaparecimento à polícia, mas esta demorou duas semanas para começar a procurá-las. Maisy e Shannon continuam desaparecidas.

Muitos aplaudiram quando Theland correu pelas meninas desaparecidas e assassinadas.

Tem uma ideia

Bridget disse que é importante lutar.

– Independentemente daquilo que passamos e dos obstáculos que enfrentamos, temos que seguir adiante, um pé na frente do outro, ela disse a Theland. Isso lhe deu uma ideia. Ele gostava de correr e, ao fazê-lo colocava um pé na frente do outro.

– Pretendo correr pelo

PERTENCE A: Povo Potawami

Cree, Clã do Lobo

AMA: Dançar, cantar, batucar, correr e andar de bicicleta.

NÃO GOSTA DE: Preconceito e discriminação.

MUDA COM: Criatividade e redes sociais.

SONHA COM: Participar na criação de um futuro melhor.

A mãe de Maisy, Laurie, à esquerda, luta para garantir que ninguém se esqueça de sua filha desaparecida ou da amiga, Shannon.

Canadá para conscientizar e arrecadar dinheiro para as crianças, disse Theland!

– O Canadá é um país muito grande, respondeu sua mãe. Isso levaria vários meses. Theland decidiu correr da capital, Ottawa, onde mora, até a casa da Tia Bridget, em Kitigan Zibi, uma distância de cerca de 130 quilômetros. Ele começou a treinar e também a aprender mais sobre as desaparecidas e assassinadas. Ele queria contar sobre elas a todos que conhecesse pelo caminho. Como milhares haviam desaparecido nos últimos 30 anos, ninguém sabia exatamente quantas. Meninas e mulheres indígenas tinham seis vezes mais chances de serem afectadas do que outras no Canadá. Uma causa fundamental foi que os abusos cometidos contra indígenas levaram à tristeza e à pobreza, mas também que muitos tratavam meninas e mulheres indígenas como menos dignas.

O tiro de largada Quando começa a correr em direção a Kitigan Zibi, Theland acaba de completar onze anos.

– Coloquei um pé na frente do outro, como tia Bridget me disse.

Vários outros percorrem partes da rota com Theland. Eles contam a todos que encontram sobre as meninas desaparecidas e assassinadas, especialmente Maisy e Shannon. Todos prometem espalhar as informações ainda mais, e alguns acompa-

Venha ao Powwow

– O Powwow é como um remédio para o povo, explica Theland. Ele dança nas festas Powwow desde que aprendeu a andar. Em um Powwow, amigos e familiares se reúnem e celebram com música e dança tradicionais, comida, artesanato e cerimônias.

Durante muito tempo, o governo canadiense proibiu o Powwow nos seus esforços para erradicar a cultura indígena. Na década de 1960, a luta pela igualdade de direitos dos indígenas cresceu. Então, o Powwow se tornou uma forma de exigir justiça e fortalecer a cultura. Os não indígenas são quase sempre bem-vindos a visitar um Powwow, desde que tenham respeito.

Veja Theland dançar e fazermuito mais no Insta e no tiktok @the_landk nham Theland por uma pequena parte do caminho. Para que todos durassem o caminho todo, foi usado um sistema em que você só corria até onde conseguia.

Um pequeno Theland aprende a dançar com um mestre.

No terceiro dia, Theland sente uma dor de estômago muito forte.

– Foi horrível, eu queria correr. Mas os outros me disseram para descansar um dia, que o fariam por mim! No dia seguinte, eu consegui correr novamente!

Finalmente, depois de seis dias, Theland chegou a Kitigan Zibi.

– Eu não estava nada preparado para o facto de que haveria muita gente torcendo por nós nos últimos quilômetros até a casa da tia Bridget, e que fariam uma grande festa. Senti como se eu tivesse ganhado uma medalha de ouro olímpica! E poderoso, por tantos desejarem fazer justiça para as vítimas e suas famílias.

Passo a passo

Desde a primeira vez, Theland continua a correr pelas meninas desaparecidas e assassinadas todos os anos. Ele chama a atenção para as injustiças, tanto históricas quanto atuais, e mantém as tradições vivas de várias maneiras, por exemplo, mostrando aos seus quase 100.000 seguidores no Instagram tudo, desde dança até como fazer tranças.

– É uma forma de retribuir, diz Theland. c

A voz do espírito urso

Cindy e a First Nation Caring Society fizeram vários filmes de animação e livros sobre o Spirit Bear. Nos filmes, Theland é a voz do espírito urso!

– Cindy é um grande exemplo para mim. Ela é uma voz para tantas pessoas, e isso acende uma chama em mim e noutros jovens. Você sente que se ela pode, eu também posso!

Famílias desfeitas

Theland com os seus pais, Elaine e Vince, sobreviventes das separações de famílias indígenas na década de 1960.

Theland sempre acompanhou sua mãe, Elaine, a reuniões de protesto e palestras. Aqui, eles estão sentados no Parlamento do Canadá há muito tempo! Minha mãe foi tirada de seus pais e criada por uma família que não sabia nada sobre sua cultura.

– Sou um dos primeiros da minha família a crescer com minha mãe e meu pai em um lar seguro, diz Theland.

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