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NOME A DA • Páginas 16– 41

JETSUN PEMA

É inverno quando Gelek, 12 anos, foge do Tibete para a Índia. Ele atravessa as montanhas calçando sapatos de pano fino que não são apropriados para a neve. Depois de alguns dias, seus pés começam a doer. Eles incham e queimam como fogo.

G

elek chora e quer voltar atrás, mas isso agora é impossível, pois o pai dele pagou um homem para liderar um grupo de exilados para atravessar o Himalaia. Os adultos olham para os pés de Gelek e dizem que eles estão queimados e ulcerados pelo frio. Ele pode perder os pés. Naquela noite, os adultos se revezam carregando Gelek nas costas, mas ele tem que andar o resto do caminho à pé. São necessárias quatro semanas para chegar à fronteira com o Nepal. Alguns dias depois, Gelek acorda em uma cama de hospital, sem os pés. No lugar deles, restam apenas dois toquiQuando Gelek chegou à Dharamsala ganhou sabonete e creme dental.

POR QUE JETSUN PEMA FOI NOMEADA? Ela foi nomeada para o WCPRC de 2006 pela sua luta de 40 anos em favor das crianças exiladas tibetanas na Índia. Seu incansável trabalho tem salvado vidas e dado a mais de 10 mil crianças um lar, uma família, educação e esperança para o futuro. Pema tem como prioridade o melhor para as crianças e transformou a TCV (Vilas das Crianças Tibetanas) na maior organização dos direitos da criança e de educação dos exilados tibetanos. Todo ano, quase 15000 crianças exiladas recebem ajuda através da TCV. Nessas vilas, as crianças crescem em

China

paquistão Dharamsala

Tibete Deli

ne

pa l

Lhasa butão

índia bangladesh

um ambiente tibetano cheio de amor, com valores budistas tradicionais como a não-violência e o respeito por toda a vida.

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Quando tinha nove anos, Pema foi enviada para uma escola-internato na Índia. Ela só pôde ver sua mãe uma vez em dez anos, pois o Tibete havia sido invadido pela China.

Quem é o Dalai Lama? Dalai Lama quer dizer “Mar de sabedoria” e é o título do mais alto líder espiritual e político dos tibetanos. O Dalai Lama que vive hoje é o décimo-quarto em sua ordem e foi conclamado Dalai Lama quando tinha apenas 4 anos. Ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1989 por liderar a luta para que os tibetanos tenham de volta seu país sem violência. Dalai Lama

Nascida no Tibete Todos os anos, centenas de crianças exiladas arriscam suas vidas para fugir do Tibete. Muitas são órfãs. Outras são enviadas pelos pais para escaparem da pobreza e da opressão no país controlado pela China. Nas vilas de crianças tibetanas de Jetsun Pema, elas ganham um novo lar e podem ir à escola. Ela se dedica às crianças exiladas tibetanas há 40 anos e as crianças a chamam de “amala” (“mãe respeitada”, em tibetano). Jetsun Pema nasceu no Tibete em 1940. Naquela época, seu irmão mais velho já tinha sido nomeado Dalai Lama, o maior líder do

Tibete. Quando ela completou nove anos, foi enviada para uma escola-internato na Índia. Alguns anos depois, o Tibete foi invadido pela China. Depois de uma tentativa fracassada de rebelião, em 1959, o Dalai Lama e sua família fugiram para a Índia. – Estava tão feliz por eles estarem vivos que, para mim, nada mais importava, recorda Pema. Ao mesmo tempo, ela também estava triste e angustiada. – Tínhamos perdido nosso país. Nós éramos refugiados. O futuro do Tibete A Índia doou uma terra aos tibetanos em Dharamsala, norte dos país. Ali, o Dalai Lama recebeu os quase 85000 tibetanos que fugiram seguindo seu exemplo. Milhares deles morreram nas montanhas durante a

TEXTO : CARMILL A FLOYD FOTO : KIM NAYLOR

nhos enrolados em ataduras. Hoje, Gelek frequenta uma escola tibetana na Índia.

Teto do mundo Algumas vezes, o Tibete é chamado de “teto do mundo” por causa da altura média do país (4000 metros acima do nível do mar). Muitos dos topos das montanhas do Tibete têm mais de 8000 metros de altura, como por exemplo, o Monte Everest, a montanha mais alta do mundo.

fuga, outros morreram nos campos de refugiados, onde faltava comida, medicamentos e lugar para dormir. – Apenas os mais fortes conseguiam sobreviver ao frio, à fome e às doenças. As crianças foram as mais atingidas, conta Pema. Para salvar as crianças – e

Bem-vindo em tibetano Quando os tibetanos querem que um convidado se sinta bem-vindo, eles põem uma Kata( manta branca e fina) sobre o pescoço. Uma pessoa pode dar uma Kata para um líder religioso ou político, quando precisa de uma bênção ou ajuda. Quando uma pessoa entrega uma manta branca, ela mostra que não tem más intenções nem pensamentos negativos. Na foto, Thardoe e Tenzin, 10 anos, mostram como entregá-la.

Por que as crianças fogem? O Tibete de hoje é completamente controlado pela China. Os chineses afirmam que o Tibete sempre foi uma província chinesa. Mas, até a invasão em 1951, a China não tinha poder nenhum sobre o Tibete. Os tibetanos tinham um exército próprio, uma moeda própria e uma língua própria. Mas, depois da Segunda Guerra Mundial, o Tibete não foi reconhecido pela ONU como um país independente e, desde a invasão chinesa, estima-se que 1,2 milhão de tibetanos morreram. Eles

foram baleados, bombardeados, aprisionados, assassinados, torturados ou morreram de fome. Desde 1980, 7,5 milhões de chineses se mudaram para o Tibete e, quase todas as escolas se encontram onde eles moram. No interior do país, onde 90% dos 6,5 milhões de tibetanos vivem, metade das crianças não tem nenhuma escola, e as escolas que existem são muito caras. Os professores ensinam apenas em chinês e tratam as crianças tibetanas de forma diferente das chinesas.

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Pema tinha 23 anos quando assumiu os trabalhos com as crianças exiladas tibetanas.

o futuro do Tibete- o Dalai Lama abriu um orfanato no qual sua irmã mais velha, Tsering Dolma, tomava conta. Dentro de pouco tempo vieram 800 crianças, sozinhas, para Dharamsala em busca de ajuda. – As poucas casas que tínhamos ficaram superlotadas, lembra Pema. As crianças menores dormiam em caixas de papelão, enquanto as maiores dormiam seis em cada cama ou no chão. Elas tinham terríveis pesadelos! Uma parte delas tinha visto

No começo, as vilas não tinham nenhuma sala de aula. Todas as aulas aconteciam ao ar livre ou debaixo de árvores, se chovesse ou para proteção contra o forte sol indiano.

seus pais serem mortos pelos chineses, outros perderam a família durante a fuga. Pema assume os trabalhos Após um certo tempo, Tsering Dolma adoeceu e morreu. Pema tinha 23 anos, mas quando o Dalai Lama a pediu que assumisse o lugar de Dolma, ela não teve a menor dúvida. – Queria dar às crianças um lar de verdade, uma família e uma educação. Soluções temporárias já não eram suficientes.

Pema buscou e conseguiu dinheiro, tanto de velhos amigos como de grandes organizações. Com isso, conseguiu construir novas salas de aula e pequenas casas familiares para 25 crianças e uma mãe substituta. Estas casas foram chamadas de Khimtsang (“lar”, em tibetano). Com a chegada de novas crianças, aos milhares, a primeira vila cresceu e se tornou uma cidade em miniatura. Lá, vivem hoje quase 2500 crianças em Dharamsala,

onde elas têm escola, padaria, costureira, ginásio esportivo, teatro e hospital. Outras vilas de crianças têm sido construídas em toda a Índia e, todos os anos, um total de 15000 crianças recebem ajuda. – Meu sonho é que todas as crianças exiladas tenham a oportunidade de crescer como irmãos e irmãs e receber muito amor de suas mães substitutas, exatamente como em um lar de verdade, diz ela.

O que é a TCV?

• Dez creches. • Quatro escolas profissionalizantes. • Quatro casas de hospedagem para As vilas das crianças e as escolas jovens sob a responsabilidade de Pema são • Quatro asilos (por exemplo, para dirigidas pela organização Tibetan as mães substitutas mais velhas) Children’s Villages (Vilas das • Ajuda para as crianças exiladas Crianças Tibetanas), chamada norque não conseguem lugar nas vilas malmente de TCV. A TCV tem: das crianças. • Cinco vilas de (as) crianças tibetaEm 2006, a TCV vai começar a nas com escolas próprias. construir uma Universidade Tibetana • Sete escolas-internato. • Sete escolas em período integral. no sul da Índia.

Bandeiras de oração

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Na creche moram as crianças menores e aqueles que têm alguma deficiência. O garoto que está treinando com a bola de borracha, tem uma séria doença muscular.

Padrinhos no mundo Jetsun Pema faz sua caminhada diária na vila das crianças do Tibete. Em todo lugar as crianças querem conversar e contar os últimos acontecimentos. Milhares de crianças exiladas chamam Jetsun Pema de “ama la” (mãe respeitada). Ela também foi nomeada “mãe do Tibete” pelo governo dos exilados (Tibete) em Dharamsala (exílio significa: viver fora de seu país contra a vontade). – Eu aceitei o título de honra, não para mim mesma, mas para as fantásticas mães substitutas das vilas das crianças – afirma Pema.

Quando Pema precisava de dinheiro, ela procurava seus ex-colegas de classe no exterior. Eles e os amigos enviavam pequenas ajudas. Devagar, mas sempre, o conhecimento sobre as crianças refugiadas se espalhou e, mais pessoas queriam ajudar. Hoje, quase todas as crianças nas vilas têm padrinhos que as ajudam com as despesas de escola, comida e vestuário.

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Tashi fugiu para a escola O pai de Tashi morreu quando ela era pequena. Logo depois, a mãe dela ficou muito doente e a família não tinha dinheiro para comprar os remédios. Antes que Tashi completasse oito anos, sua mãe morreu, deixando ela e os irmãos totalmente órfãos.

Tashi, 12 Tem saudades: Meu irmão. Ama: Minha irmã e minha

TEXTO : CARMILL A FLOYD FOTO : KIM NAYLOR

mãe substituta. Gosta: De ir à escola. Sonha: Ser professora. Admira: Jetsun Pema Fica com raiva: Quando é difícil na escola.

Tashi vai à escola pela primeira vez em sua vida. Às vezes, é difícil acompanhar tudo, mas ela se esforça muito e fica feliz quando os professores a elogiam.

O

s budistas tibetanos acreditam que a alma só deixa o corpo 49 dias após a morte. Nesse período, Tashi e seus irmãos não podem se pentear nem lavar o rosto, muito menos cantar e dançar. Eles queimam todas as fotografias da mãe e doam as roupas que pertenceram a ela. Depois disso Tsering, a irmã mais velha de Tashi, diz que eles devem se mudar para Lhasa, a maior cidade do Tibete. – Não vamos conseguir sobreviver aqui no vilarejo – Temos que trabalhar

Adora a irmã mais velha e a mãe substituta Juntas com a irmã mais velha Tsering e a mãe substituta Pempa Dolma.

Tashi gira a roda de oração.

para sobreviver”, diz Tsering, que acabara de completar 12 anos. Vida dura em Lhasa Em Lhasa, Tsering consegue logo um emprego numa fábrica, mas, para Tashi, não é tão fácil. Ela é muito pequena. Tem apenas oito anos de idade. Um dia ela vê um cartaz na janela de um restaurante: “precisa-se de ajudante”. – O emprego é seu, se for capaz de fazê-lo, diz o chinês, dono do lugar. Ele mostra como ela deve esfregar e

enxaguar pratos, talheres e copos em uma bacia enorme. A água, ela tem que buscar em um tonéu no quintal. É inverno em Lhasa, Tashi trabalha das 5hs às 23hs. Uma noite, com as mãos na água super gelada, os dedos da menina ficam duros. De repente, uma tigela escorrega de suas mãos e se quebra no chão de pedra. A mulher do dono do restaurante corre em sua direção. – Menina desastrada, ela diz e dá um empurrão em Tashi. Mas, ainda assim, ela é mais gentil que seu marido.

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– Não faça mais isso, reclama a mulher, recolhendo os pedaços quebrados para que o marido não veja. Tashi também tem que limpar as mesas. Algumas vezes, ela vê crianças comendo com seus pais. Triste e irritada, se pergunta: “Por que justo eu tinha que nascer em uma família pobre?“ “Por que é que eu não posso ir à escola nem comer em um restaurante com minha mãe e meu pai?” No escuro do quarto, antes de dormir, as irmãs conversam sobre o futuro. Tashi quer parar de traba-

lhar e ir para a escola. – Agüenta só mais um pouquinho, diz Tsering. Se trabalharmos duro, vamos poder guardar um dinheirinho e mandar você estudar na Índia. Tsering conta que existem escolas tibetanas na Índia que são gratúitas para crianças refugiadas. Lá, as crianças recebem comida, têm uma casa e podem viver em liberdade. Mas, para chegar à Índia, é preciso pagar um guia que saiba atravessar as montanhas do Himalaia. Mas elas ainda não têm o dinheiro suficiente para isso.

Hora de fugir Um dia, as irmãs ficam sabendo que um grupo de refugiados se prepara para seguir rumo à Índia.

No dia seguinte, Tashi diz à seu patrão que não quer mais trabalhar. – Tenho que voltar para a minha cidade – diz ela. Tashi não quer mentir, mas ela sabe que, se a polícia descobrir o plano de fuga, podem ir para a cadeia. Elas iniciam a fuga à noite. Durante muitas horas, elas se apertam com o resto do grupo na traseira de um caminhão. De repente,na metade do caminho para o Tashi em frente ao famoso palácio Potala, a casa do Dalai Lama, em Lhasa, no Tibet.

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Tashi já não se sente órfã e sozinha.

Nepal, o guia diz que elas devem pagar mais. As duas irmãs conseguem falar com um parente, que manda mais dinheiro por um amigo chinês, bondoso e corajoso. Na última parte do caminho, eles caminham pelas montanhas por quase uma semana, à noite, para não serem descobertos por militares, que

patrulham a área. Tashi fica com muito medo porque tem que se equilibrar num caminho estreito e cheio de penhascos. Numa manhã, elas chegam à um rio violento. Todos dão nós em suas cordas, camisetas e chales, formando uma longa corda. O homem mais forte entre eles é o primeiro a cruzar o rio, segurando uma das pontas da corda. Ele usa uma vara de madeira e pula sobre o rio, como no salto com vara olímpi-

ca. Depois dele, todos atravessam, um após o outro. Tashi está ensopada, cansada e tremendo de frio. Quando a comida e a água acabam, elas andam dois dias sem comer e sem beber. As duas irmãs jogam fora quase todas as suas coisas, porque são muito pesadas para levar. À noitinha, Tashi ouve o som de um riacho, mas não consegue encontrálo no escuro. Finalmente, ela arranca gelo do chão e come. O gelo está cheio de grama e lama, mas Tashi está com fome e sede. De repente, ela cai no escuro. Ela se segura em algumas raízes que crescem nas laterais da montanha e grita por sua irmã,

Pendurado no pescoço de Tashi, está um retratinho do Dalai Lama e de um outro grande lama, Karmappa. Ela também guarda o santo rosário que ganhou do Dalai Lama quando chegou à Índia. Tashi se lembra que ele lhe disse para estudar muito e cuidar da saúde. Ele também disse que, brevemente, os tibetanos terão seu país de volta.

Tsering que consegue puxála de volta para cima. Alguns minutos depois é a vez de Tsering Ela afunda até a cintura em um buraco cheio de lodo e lama e tem de ser retirada por dois adultos. Escondidas Quando o grupo chega até a Fugimos pelo Himalaia.

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As crianças da casa de Tashi cuidam de uma cabra que elas salvaram do matadouro.

fronteira do Nepal, as duas irmãs se escondem na casa de uma velha senhora, mãe do guia. Finalmente, uma senhora as ajuda a vestiremse como meninas “sherpa” do Nepal. Ela passa poeira de carvão no rosto de Tashi, para esconder suas bochechas vermelhas. – A polícia sabe que os Tibetanos têm bochechas vermelhas, diz a mulher. As meninas enrolam um xale na cabeça, e recebem ordens para olhar só para o chão quando chegarem à fronteira. Tashi está com tanto medo que se treme toda ao passar pelos guardas armados. Ela deixa seus cabelos caírem sobre o rosto e fica esperando alguém gri-

tar : “Peguem os tibetanos!” Mas nada acontece. Um pouco depois da estação de controle da fronteira, um caminhão está esperando para levá-los até Kathmandu, a capital do Nepal, e para o centro de atendimento a refugiados. Finalmente as duas estão seguras.

Tsering está cursando o ensino médio e mora em um dormitório com outros jovens. Tashi se mudou para uma casa familiar. Agora ela tem uma mãe e quase 40 irmãos! – Não me sinto mais sozinha e órfã. As crianças daqui são como irmãs pra

mim e, eu amo a minha mãe substituta. Ela é boa e toma conta de mim como se eu fosse sua própria filha. Me sinto parte de uma família de verdade. A única coisa que me entristece é pensar que meu irmão está sozinho lá no Tibete.

Nova família Agora, Tashi e sua irmã moram na vila das crianças tibetanas em Bir, no norte da Índia. Quase todas as crianças e jovens que moram lá são nascidas no Tibete. E quase todos os professores cresceram em uma vila das crianças tibetanas. Muitas crianças e professores são órfãos, exatamente como Tashi. 23

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Sonam e Lopsang mostram o que receberam do Dalai Lama.

Sonam e Lopsang jogam cartas com exilados recém-chegados.

Dalai Lama fala aos recémchegados. Sonam mostra seu respeito pelo Dalai Lama deitando no chão quando este entra no templo.

A nova vida começa Sonam e Lopsang, ambos com 12 anos, chegam de Dharamsala bem cedo, enquanto o sol desponta sobre os topos das montanhas. Depois de meses em fuga, eles estão prestes a começar uma nova vida na vila das crianças tibetanas. Mas, primeiro, eles vão se encontrar com o Dalai Lama.

O

s exilados do Tibete chegam primeiro ao centro de atendimento para exilados em Kathmandu, Nepal. Foi lá que Lopsang e Sonan se encontraram. Quando os refugiados chegam à Dharamsala, na Índia, eles, em primeiro lugar, se encontram com o

Dalai Lama e recebem sua benção. Isto se chama “ter uma audiência”. Depois, os exilados começam a ir à escola, participar de mosteiros, ou procurar emprego. A estação de refugiados de Dharamsala está superlotada. Lá só existem dois dormitórios e, muitos já estão dividindo uma cama, outros

dormem no chão. Lopsang, Sonam e os outros novatos recebem as boas vindas, ganham cupons para alimentação, sabonete, pasta e uma escova de dentes. Sonam e Lopsang ficam alegres ao saber que serão enviados para o mesmo lugar. Eles vão ficar na vila das crianças tibetanas em Bylakuppe, no sul da Índia. Ali, onde vive a maioria dos refugiados, os tibetanos receberam terrenos do governo indiano. Finalmente a audiência Finalmente chegou o convite

para a audiência! Todos acordam bem cedo e vestem suas melhores roupas para ir ao templo. Sonam e Lopsang estão tensos e cheios de expectativa! Quando o Dalai Lama chega, eles se sentam de joelhos, dão as mãos e curvam a testa para encostá-la no chão. É difícil ficar nessa posição e tentar enxergar o grande líder tibetano. O Dalai Lama brinca e ri, juntamente com eles, mas ele é sério também. – Vamos voltar para o Tibete um dia - diz ele. – Mas, enquanto formos exilados na Índia, devemos

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para ser abençoado pelo Dalai Lama. Quando a polícia chinesa soube disso, acusaram-no de espião. Ele ficou três anos preso. Nós temos medo que eles o prendam de novo, por isso ele está escondido. Minha mãe enviou a mim e a minha irmã para cá, para que pudéssemos ir à escola e estar em segurança.

Papai foi preso Wangmo, 13 anos, está com saudades de casa depois de algumas semanas na vila das crianças em Gopalpur. – Tenho muita saudade de minha família, fico chorando o tempo todo. Mas as crianças e os professores dizem que, no começo,

é sempre pior e que vou me sentir melhor depois de algum tempo. Quase todos aqui já passaram por isso. A mãe de Wangmo decidiu mandá-la para a Índia desde que o pai dela foi preso. – Meu pai foi para a Índia

Papai se afogou

manter viva a cultura tibetana. Vocês, crianças, devem estudar pra valer e cuidar de sua saúde! Depois do discurso, todos podem falar com o Dalai Lama e receber um envelope com a foto do santo nacional do Tibete, um rosário para pendurar como amuleto no pescoço, e muito mais. Sonam e Lopsan correm, com seus novos presentes embaixo do braço, para fazerem as malas em casa. A partir de amanhã, começam suas novas vidas.

Pulseiras contra a cadeia Os presos políticos tibetanos começaram a fabricar estas pulseirinhas, pretas e brancas, de lã. Agora elas são usadas por Wangmo e outras crianças tibetanas, para demonstrar que eles não esqueceram todos aqueles que estão presos na cadeia.

Pendurado no penhasco Kunsang, 12 anos, fugiu do Tibete pelas montanhas. Foi horrível. Eu estava com medo o tempo todo. Várias vezes, pensei que ia morrer. As montanhas estavam cheias de militares chineses a procura de exilados. Toda vez que os guias ouviam algum barulho de motor ou de gente, eles nos amarravam com cordas e nos penduravam nos penhascos dos lados das montanhas. Eles eram nepaleses e podiam fingir que estavam só dando uma voltinha. Às vezes, ficávamos pendurados por muito tempo, lá em cima, bem alto – longe da terra, às vezes, até no meio da noite. Mas eu não estava com medo de cair. Estava com medo de ser descoberto e terminar na cadeia. Também tinha medo do que poderia acontecer com meus pais se eu fosse preso! Vistos de permanência para exilados tibetanos na Índia.

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TEXTO : CARMILL A FLOYD FOTO : KIM NAYLOR

Choeky, 10 anos, mora na vila das crianças em Bir. O pai dela foi preso muitas vezes pela polícia no Tibete. A polícia o acusava de ser espião, pois ele viajava muito cruzando a fronteira do Nepal, por causa de seu trabalho. Um dia, ele não voltou do posto policial. – Minha mãe estava grávida, mas, ainda assim, fomos para Lhasa tentar descobrir o que tinha acontecido. Ninguém queria nos contar nada. Finalmente, meu avô ouviu dizer que eles tinham jogado o papai, de uma ponte bem alta, no rio. Foi então que entendemos que ele deveria estar morto, pois ninguém poderia sobreviver naquela correnteza. Foi então, também, que a minha mãe me enviou para a vila das crianças tibetanas na Índia.

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Um dia na vila das O dia começa cedo na vila das crianças. Na casa de Rinchen, 11 anos, a mãe substituta acorda os garotos primeiro. Mas, enquanto ela vai acordar as garotas, eles caem no sono de novo!

06.00 O despertador toca – hora de levantar. Toda a família tem de acordar, forrar a cama, lavar-se e vestir-se rapidamente. A mãe substituta conta com a ajuda das crianças mais velhas para aprontar as menores.

07.00 Os tibetanos acreditam que o cérebro funciona melhor pela manhã. Por isso, as crianças lêem suas lições uma hora antes do café.

08.45 Algumas vezes durante a semana, toda a escola se reúne. Depois de uma curta oração, o diretor ou um professor fala sobre o que tem acontecido ultimamente e o que está por vir.

08.00 Antes do café, as crianças fazem a oração matinal. –É bom para o corpo e para a alma – diz a mãe substituta. Quando as crianças repetem suas orações, os chamados mantras, elas ficam mais calmas e se concentram melhor. O café da manhã tibetano – chá de manteiga e tsampa (mingau de cevada), só se come nas manhãs de domingo, pois o preparo é demorado.

Os amiguinhos ajudam uns aos outros com o penteado.

Uma casa – um lar Jetsun Pema deseja que as crianças exiladas cresçam em um ambiente familiar, seguro e caloroso. É por isso que as vilas das crianças têm casas familiares ao invés de dormitórios. Eles são chamados de Khimtsang (Lar, em tibetano). Entre 25 e 40 crianças recebem os cuidados de uma mãe substituta e, algumas vezes (se a mãe substituta é casada), o “pai substituto” ajuda. A primeira casa familiar foi inaugurada pelo Dalai Lama em 1967. – Meu sonho é que as casas venham a funcionar como lares de verdade, onde as crianças possam crescer como irmãos e irmãs – afirma Pema. E elas funcionam!

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s crianças tibetanas

09.00–11.00 Aulas

11.00–11.20 Na hora do recreio se pode fazer muita coisa! A quadra de basquete e o campo de futebol estão perto.

11.20 –13.10 Aulas

A classe mais limpa da semana! Todas as semanas, se escolhe a “classe mais limpa” na vila das crianças em Gopalpur. Aqui, a terceira série ganhou um lindo quadro do famoso palácio de Potala, na sua terra natal – o Tibete. Eles podem pendurar o quadro na parede da sala de aula por uma semana, até que a próxima classe mais limpa o arrebate!

Escola para mães!

13.10 –14.10

– As mães substitutas têm o trabalho mais pesado da vila das crianças – diz Jetsun Pema. Elas vivem juntas com até 40 crianças dando amor e cuidado, da manhã até a noite. Para que elas possam ser bem sucedidas em sua missão, elas participam de um curso de quatro meses de duração.

Almoço Durante o almoço as crianças se apressam para ir à suas casas, onde eles ajudam a preparar e servir a comida. Todas as refeições são feitas em casa e todos ajudam nos afazeres domésticos. Eles buscam água, descascam batatas, lavam roupa e forram as camas. Exatamente como eles fariam se estivessem em suas casas no Tibete. Se o clima estiver bonito, eles almoçam do lado de fora. As crianças maiores tomam conta das menores e ajudam a servir a comida.

Lavando as janelas da sala de aula! Depois das aulas as crianças ajudam a arrumar as coisas, limpar a sala e lavar as janelas, se necessário.

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14.10–16.00 Aulas. Depois do almoço, as aulas continuam, se o clima não atrapalhar. A vila das crianças em Dharamsala sofre, por exemplo, com as monções (chuvas com ventos fortes típicas da Ásia) – a vila é um dos lugares mais chuvosos do país! Quando a chuva piora, as aulas da tarde são canceladas. Uma parte dos alunos recebe aula de reforço assim mesmo, enquanto outros ficam em casa brincando, fazendo suas lições e cuidando da casa.

Hora de lavar a louça

Ovos e pão à caminho de casa.

Sangay, 10 anos, varrendo ao redor de sua casa.

Duas vezes por semana lava-se roupa nas casas familiares.

Lopsang Dorjee é sonâmbulo! Os amigos de Lopsan Dorjee, no dormitório, têm de ficar de olho nele, pois ele é sonâmbulo! – Ele tateia até a porta e tenta sair – contam eles. – Algumas vezes, nós temos de ajudá-lo a voltar pra cama e deitar-se de novo. Lopsang acabou de fugir do Tibete para a vila das crianças. Ele traz, no pescoço o cordão sagrado e retratos do Panchen Lama e do santo nacional do Tibete. – Eles me protegem do mal. Eu espero que eles possam me ajudar a deixar de ser sonâmbulo, mas até agora não funcionou!

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16.00 – 16.20

Descascar batatas para 40 irmãos demora um bom tempo!

TEXTO : CARMILL A FLOYD FOTO : KIM NAYLOR

Hora do chá. Os tibetanos bebem, de preferência, chá de manteiga (po cha); chá preto misturado com sal e bastante manteiga, feita de leite de iaque. O chá é servido em uma tigela de metal ou de madeira. É muito importante manter-se saudável. Aqui, a larista distribui vitaminas para suas crianças.

16.30 – 18.00 Brincadeiras e lições Muitas das casas familiares têm animais domésticos que precisam de amor, e banho!

18.00

Jantar. Nas vilas das crianças serve-se normalmente comida indiana, como arroz e verduras. Comida tibetana, como “momos” (bolinhos de carne), demora muito para ser preparada.

20.30 Distribui-se pasta de dentes em fila, antes da oração da noite. A mãe substituta segura firme o tubo.

Sim-ja-nango!

21.00 Boa noite. “Sim-ya-nango”. Apagam-se as luzes. Muitos se deitam e ficam pensando um pouquinho antes de dormir, ou conversam com os colegas. Outros caem no sono de uma vez só. 29

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A garota da Yoga Ngawang, 10 anos, gosta de praticar yoga. Todos os sábados, ela treina tentando colocar os pés atrás da cabeça, com seus amigos no clube de yoga. A yoga é uma forma de relaxamento, ginástica e meditação que existe na Ásia há 5000 anos. – No começo doeu um pouco, mas agora já não dói. É um bom exercício para o corpo e a mente – afirma Ngawang.

A cesta do basquete quebrou Quando a cesta de basquete quebrou, por causa das fortes jogadas, uma calça jeans velha foi usada para consertá-la. O jeans foi cortado em tiras longas e depois de alguns nós, o trabalho ficou pronto!

Vacas de presente. Há muitos, muitos anos atrás, algumas pessoas na vila das crianças queriam comprar vacas que pudessem fornecer leite às crianças. Mas Pema sugeriu que, em vez disso, eles poderiam emprestar o dinheiro para as famílias pobres indianas que moravam perto da vila, para que elas comprassem vacas. Metade do leite ficava com as famílias e a outra metade ia para a vila das crianças – como pagamento do empréstimo. A dívida das famílias já foi paga há muito tempo. Mas, ainda hoje, a vila das crianças compra quase todo o seu leite das mesmas famílias que adquiriram as primeiras vacas.

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Brincando com pedras Tsegyal e Zuulung estão jogando Abdo, É preciso ser rápido e estar com os dedos prontos. “Ab”, significa lançar e, “do”, significa pedra. É preciso ter cinco pedras. O jogo consiste em jogar as pedras para o ar. Primeiro uma, ao mesmo tempo em que você pega mais uma e segura a outra com a mão (tigela). Depois disso você joga duas pedras para o ar enquanto pega a terceira. E assim por diante, na mais alta velocidade.

Álbum de memórias Muitas crianças na vila das crianças têm álbuns de memórias onde elas guardam muitas coisas. Fotos da família, fotos de seus ídolos, desenhos e seus pensamentos sobre a vida. Tenzin,12 anos, tem muitas fotos de seus parentes do Tibete, em seu álbum.

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Patinando com barris

Hora do críquete! O cabeleireiro viajante Todas as semanas vem um cabeleireiro indiano até a vila das crianças. Aqui, ele corta o cabelo de Tsering, 11 anos. O cabeleireiro faz a maioria dos cortes no mesmo estilo. Curtos. Quando temos tantas crianças morando tão perto umas das outras, um cabelo comprido pode causar uma epidemia de piolhos nas casas. – Se eu pudesse escolher gostaria de ter cabelos longos – fala Tsering. O ídolo dele é John Abrahim, um astro do cinema indiano, com cabelos compridos, claro.

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Uma própria seleção Foi Jetsun Pema quem teve a idéia de que os tibetanos no exílio deveriam ter uma própria seleção de futebol. O técnico e muitos dos jogadores da seleção de hoje cresceram nas vilas das crianças. Mas a seleção do Tibete não pode jogar na Copa do Mundo nem nas Olimpíadas, pois é a China que governa o Tibete.

Das batatas ao futebol! É difícil de acreditar que o grande campo de futebol na vila das crianças em Dharamsala foi uma plantação de batatas um dia! Demorou sete anos para que Jetsun Pema, os funcionários e as crianças terminassem de cavar para retirar o monte onde a plantação se encontrava e se livrarem de toda a terra. Até mesmo Pema cavava uma hora por dia, até que o campo de futebol estivesse pronto!

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Cortando o barbante Los meninos jogam com tampas de lata e barbante. É fácil: corte a parte de baixo de uma lata de refrigerante e faça um buraco nela. Passe o barbante por ela. O truque está em conseguir rodar a tampa e cortar o barbante do seu oponente.

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Jangchup é monge em temp Jangchup queria ser um monge budista desde pequeno. Quando o mosteiro do Dalai Lama começa a buscar novos monges, seus pais o deixam ir.

M Jangchup adora jogar futebol e basquete com os outros monges.

uitas crianças tibetanas sonham em se tornar monges budistas, exatamente como crianças em outros países sonham ser jogadores de futebol profissional ou artistas de cinema. Mas, para as crianças tibetanas, ser rico e famoso não interessa muito. Viver de modo simples, em mosteiros, e dedicar suas vidas aos ensinamentos budistas é a melhor coisa

Jangchup gira a roda de orações, cheia de orações budistas, os chamados mantras. Quando elas giram uma volta completa, significa que ele já fez todas as orações.

Novo lar de Jangchup Jangchup é um monge no mosteiro de Nyamgal. Ele foi fundado no século XVIII e ficava no palácio de Potala, que também era a casa do Dalai Lama. Quando o atual Dalai Lama fugiu para a Índia, os membros do mosteiro o seguiram. Ali vivem cerca de 200 monges que sonham em, um dia, poder retornar ao palácio de Potala e ao Tibete.

que um tibetano pode fazer em sua vida. Mesmo assim, os pais de Jangchup o pediram para esperar um pouco antes de se decidir. Monges jamais têm permissão para, por exemplo, se casar ou ter fi lhos. Eles deixam suas famílias para sempre, mas ganham uma nova família no mosteiro. Notícias surpreendentes Jangchup está feliz e cheio

de expectativas quando diz adeus. Mas, quando percebe que sua mãe está segurando as lágrimas, ele também chora. A viagem ao mosteiro leva três dias e o monge budista que o recebe tem notícias surpreendentes. – Quando o semestre escolar começar, você vai se mudar para a vila das crianças tibetanas e vai à escola – diz o monge. Você só pode voltar para o mosteiro uma vez por mês e nas férias. Antigamente, se ia à escola no mosteiro, mas agora o Dalai Lama decidiu que todos os pequenos monges devem frequentar uma escola tibetana normal. Ele acha que os monges modernos precisam aprender inglês e ciências. Além disso, costuma acontecer que, as crianças que escolhem viver como monges, se arrependem quando ficam adultos. Então eles devem ser capazes de ter empregos comuns. Na primeira noite, Jangchup divide o quarto do mosteiro com Thai. Deitados, os novos amigos conversam noite adentro. Jangchup sente saudades de sua família pela primeira vez, especialmente de sua mãe. – Mas não me arrependo de nada – diz ele à Thai. ➼

Jangchup, 13 Nascido em: Comunidade tibetana em Orissa, Índia.

Mora: Vila das crianças tibetanas em Dharamsala e no mosteiro de Namgyal. Adora: Futebol. Estudar sobre o budismo.

Melhor jogador de futebol : Ronaldinho.

Admira: Meu professor no mosteiro.

Fica triste: Quando me sinto sozinho, tenho saudades da minha família. Acha engraçado: comediante indiano Johnny Lever.

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mpo parcial

Quando vai ao mosteiro, Jangchup se hospeda numa cela de monges. Os monges trocam de celas frequentemente, para aprenderem que moradia e bens materiais não têm importância. Seus lares devem estar em seu corações.

Jigme reencarnado! Homem ou mosquito?

Quando o semestre escolar começa, Jangchup se muda para a vila das crianças. Ali, vivem monges com idades entre sete e 16 anos, juntos, em uma casa familiar. No mosteiro, eles tinham a cabeça raspada, e vestiam roupas de monge, mas, na vila das crianças, eles deixam o cabelo crescer e vestem o uniforme da escola.

Jangchup veste suas roupas de monge uma vez por mês e vai ao mosteiro para estudar o budismo e conhecer a vida monástica. Depois de um ano no mosteiro e na vila das crianças, Jangchup tem certeza que fez a escolha certa. – Vou ser um monge até morrer – diz ele decidido.

O mais jovem preso político?

O Tibete e o budismo O budismo é uma das grandes religiões do mundo. Ele nasceu na India há mais de 2500 anos, com um homem que se chamava Buda (“o iluminado”). Existem cerca de 500 milhões de budistas no mundo. O Tibete se converteu ao budismo durante o século VIII e se tornou um país pacífico, ao invés de um país guerreiro, como tinha sido. A coisa mais importante na cultura tibetana é ter “um coração amoroso e compassivo e, uma mente calma e tranqüila”.

Nas paredes das casas dos monges na vila das crianças, estão pendurados cartazes com o seguinte texto: “Libertem Panchen Lama”. Ele e o Dalai Lama são os mais importantes líderes do Tibete. O Panchem Lama anterior, morreu em 1989 e, seis anos depois, o garoto Gedhun Choekyi foi reconhecido como a reencarnação dele. A China raptou o menino e sua família e disse que o Panchen Lama Panchen Lama era outro. Nunca mais se teve notícias de Choekyi, que hoje deve ter 16 anos. – Fico com raiva e muito triste quando penso que ele ficou preso quase toda sua vida –diz Jangchup.

TEXTO : CARMILL A FLOYD FOTO : KIM NAYLOR

➼ O cabelo cresce

Jigme, sete anos, mora com os outros pequenos monges na vila das crianças. Os pais dele o levaram para um mosteiro desde que o Dalai Lama o apontou como uma reencarnação de um líder religioso morto. – Foi uma grande honra para a família – conta Jigme, que gosta de dar cambalhotas. Os budistas crêem na reencarnação ou “peregrinação da alma”, que quer dizer que quando um ser humano morre, ele renasce em um novo corpo. Se uma pessoa vai reencarnar como ser humano ou como, por exemplo, um mosquito depende de como foi sua vida anterior. A peregrinação da alma não pára até que tenha alcançado o Nirvana. Segundo os budistas, quem alcança o Nirvana é puro de alma e consegue se unir com o universo e com tudo o que vive. No Nirvana não há tristeza, dor, sofrimento, nem saudade.

Buda

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Os tibetanos adoram roupas bonitas, enfeites e chapéus grandes e felpudos. Eles fazem tranças nos cabelos com pedras preciosas e costuram enfeites de prata em suas roupas. Mas os exilados tibetanos, na Índia, se vestem de maneira simples, pois tiveram de deixar suas coisas no Tibete.

O guarda-roupa de Lamo – A única coisa que falta no meu guarda-roupa é um despertador digital. Com ele, seria mais fácil chegar cedo na escola – diz Lamo, que mora na vila das crianças tibetanas em Bir. – Minha mãe ainda está no Tibete, eu não a vejo desde que fugi. Mas, em comparação com as outras crianças, que estão no Tibete, eu me sinto privilegiada. Eu posso ir à escola e viver em liberdade. Lamo admira Jetsun Pema, pois foi ela quem construiu a vila das crianças tibetanas e fez com que as crianças exiladas pudessem ter uma escola e um novo lar, na Índia. – Eu nunca a encontrei pessoalmente, mas, se tivesse a chance, diria muito obrigada e perguntaria quantos anos ela tem!

O uniforme escolar

TEXTO : CARMILL A FLOYD FOTO : KIM NAYLOR

– Nós ganhamos dois uniformes escolares todo ano. As meninas e os meninos têm uniformes parecidos: calças azuis e camisas quadriculadas azuis. Nós os lavamos às quartas-feiras e sábados, assim, sempre temos um que está limpo. No fim do ano escolar, a costureira da vila tira novas medidas para os uniformes do ano seguinte. Os antigos a gente devolve e deixa para os alunos mais novos, se o uniforme deles estragar.

Lamo, 12 Nasceu: Tibete. Veio para a vila das crianças: Quando tinha seis anos.

Chupa

Naquele tempo, ela estava – A chupa é um traje tradi- larga, mas agora está na medida certa. cional tibetano. Esta aqui Eu estou feliz de tê-la, ela ganhei da minha mãe. Ela a é a única lembrança que comprou no mercado de tenho da minha mãe. Lhasa e a empacotou quando fugi para a Índia.

Gosta: Da escola. De ler revistas em quadrinhos.

Quer ser: Professora de inglês.

Camisetas e calças favoritas

Admira: Jetsun Pema.

O guarda-roupa – Eu guardo minhas roupas em um armário que fica perto da porta da casa. Nossa mãe substituta presta atenção para ver se nós mantemos a ordem no armário. Isso é importante, pois somos muitos na casa.

– Estas são minhas roupas favoritas. Não faz mal que estejam velhas. A camiseta eu ganhei de uma menina maior, que é como minha irmã mais velha. Ela me dá suas roupas quando elas ficam pequenas. É assim que fazemos. Os mais velhos cuidam dos mais novos. Nunca jogamos roupas fora, a não ser que estejam completamente estragadas. Nós emprestamos roupas uns aos outros também.

O chapéu Descalços dentro de casa Os tênis de Dawa. Os tibentanos não usam sapatos dentro de casa.

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Guarda-roupa de Rinchen Rinchen mora na vila das crianças em Dharamsala com suas irmãs, Dolkar,8 anos, e Tso, 9. Eles vieram do Tibete e não vêem seus pais há anos. Muitas famílias não escrevem cartas, pois o regime chinês as abre e lê. Mas eles enviam encomendas! Rinchen recebeu uma, com queijo tibetano e uma chupa, a tradicional capa tibetana. Rinchen de uni-

Rinchen de Chupa.

forme escolar.

Chupa veste a todos No Tibete, meninos e meninas vestem a chupa, uma capa que vai até o tornozelo e é presa por um cinto. A chupa usada no diaa-dia é feita de tecido comum e de uma cor apenas. Já a usada em festas, pode ser feita de seda e com motivos fantásticos! A chupa dos homens tem mangas longas e é feita de um tecido mais grosso do que a das mulheres, que é como um vestido sem mangas.

Rinchen, 11

Linda com jóias

Os tibetanos adoram jóias grandes! Homens e mulheres podem usar brincos.

Casada ou solteira? É muito fácil perceber se uma mulher tibetana é casada ou solteira, pois só as casadas vestem um avental listrado por cima da chupa. O avental combina com o vestido. Uma mulher casada chega a ter vários aventais, para que ela possa mudar de estilo todos os dias do ano.

mostra quem você é!

No Tibete você tem que cobrir a cabeça com algo para não congelar. E, é claro, para ficar bonito! O tipo de chapéu usado por um tibetano vai depender do que ele é (monge, músico,

Gosta: Ler quadrinhos, desenhar, filmes, críquete e futebol. Artista favorito: Penpa Tsering, que cresceu na vila das crianças. Quer ser: Ator ou artista.

Jogadores de futebol e de basquete favoritos: Beckham e Iverson.

Uma manga com muito estilo Phuntrok e Tridhe têm capas de seda bordadas, como as que vestiam os homens ricos antigamente no Tibete. As mangas longas eram usadas para mostrar que eles não precisavam sujar as mãos, pois tinham muitos servos. Deixar uma das mangas penduradas e arrastando no chão é tipicamente tibetano e, mostra muito estilo! No Tibete, os dias quentes podem ser seguidos de noites frias como o gelo. Por isso, os homens tibetanos tinham a tradição de andar com apenas uma manga da capa no braço, ou amarravam as duas mangas na cintura. Mas, no frio da noite eles vestiam a capa inteira. mulher ou homem) e de onde mora. Nas vilas das crianças os chapéus são usados, na maioria das vezes, quando as crianças fazem teatro ou se apresentam com música e dança.

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Bate-papo e bicicleta para sobreviver TEXTO : CARMILL A FLOYD FOTO : KIM NAYLOR

Jetsun Pema quer que as crianças da vila das crianças, aprendam tudo o que for preciso para dar conta de si mesmas quando deixarem a escola. Nem tudo se resume em aprender tibetano, matemática e inglês. Elas também devem saber usar o computador, nadar e andar de bicicleta.

Bate-papo com budistas Norbu, 13 anos, vai quase todos os dias à sala de Internet do TCV em Dharamsala. Se tiver um lugar vazio, ele usa o chat e conversa por duas horas com outros jovens na sala de bate-papo budista.

Dhondup com alguns de seus alunos na sala de aula.

se tornou Dhondup professor Dhondup foi sozinho como criança exilada à vila das crianças tibetanas, quando ele tinha cinco anos. Ele ainda mora lá, mas agora trabalha como professor ! – Eu queria ajudar minha escola e meu povo e a melhor maneira de fazer

isso seria como professor diz ele. É muito importante que as crianças refugiadas tenham professores tibetanos. Nós falamos a mesma língua, e passamos por experiências semelhantes. Dhondup admira Jetsun Pema como se fosse sua própria mãe. – Ela visitava nossa casa

– Geralmente temos a mesma idade. Nós escrevemos em inglês e tentamos nos conhecer. A maioria deles não conhece nada sobre o Tibete e ficam muito curiosos, querendo saber tudo sobre quem nós somos e onde estamos. Eu costumo contar que nós somos exilados na Índia e que perdemos nosso país para a China. Uma vez alguém perguntou como é a bandeira do Tibete. Eu não tinha nenhuma foto para mandar, mas tentei descrever com minhas palavras como ela é. Norbu nunca encontrou nenhum tibetano que more no Tibete na sala de batepapo. regularmente, conversava e perguntava se nós estávamos passando por algum problema. Ela trabalhava mais do que qualquer um! Os pais de Dhondup permaneceram no Tibete e ele só os encontrou uma vez em quase 20 anos, no país vizinho, o Nepal. – Esta é a minha melhor

– O governo da China diz que eles fizeram o Tibete mais livre e mais aberto, mas eu não consigo acreditar. Se as pessoas pudessem usar a internet no Tibete e se comunicar com o mundo lá fora, seria muito bom. Quando Norbu não está no chat, ou fazendo a lição de casa, ele gosta de ler estórias populares do Tibete. Sua favorita é sobre dois meio-irmãos, filhos de um rei. – Primeiro, eles brigam sobre quem vai ocupar o trono depois do rei, e um deles tenta tirar a vida do outro, mas tudo termina bem. Os dois irmãos se tornam reis e governam juntos.

recordação da infância, disse Dhondup. Dhondup conta para os alunos que muitas coisas mudaram nas vilas das crianças. – As salas de aula estão melhores, a comida também. Os alunos têm acesso à muitas coisas, desde canetas e computadores até livros e roupas. 39

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Salvem as cabra

Tsering, 15 anos planta uma árvore com sua coleguinha, Kyi, no Clube ecológico.

Clube ecológico salva a natureza Os clubes ecológicos das vilas das crianças fazem de tudo, desde cuidar de plantas e árvores até coletar lixo e estudar questões ambientais. Eles também tentam fazer com que outras crianças tenham mais cuidado com a natureza.

TEXTO : CARMILL A FLOYD FOTO : KIM NAYLOR

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o Tibete, as pessoas vivem perto da natureza. Como budistas, nós devemos tratar a natureza com respeito – fala Tsering, 15 anos. – Minha professora no clube ecológico explicou como as coisas estão conectadas. O modo de vida das pessoas afeta o meio-ambiente de diversas maneiras. Tsering tinha apenas seis anos quando fugiu do Tibete, mas ela se lembra que sua mãe dizia que as pessoas devem respeitar a natureza e todos os seres vivos. – Tanto Jetsun Pema quanto o Dalai Lama, falam freqüentemente sobre o meioambiente. Isso é bom, porquê nós crianças, realmente, os escutamos. Tsering acredita que a poluição é a maior ameaça para o meio ambiente. – Além disso, nós cortamos árvores demais. As pessoas parecem crer que nós temos florestas de sobra para desmatar. Mas um dia, talvez,

Tseten pula nas alturas e sobe nas paredes. Os alunos ficam surpresos quando, de repente, uma cabra põe a cara na janela na sala de aula do terceiro andar.

nós acordemos sem nenhuma árvore ao nosso redor. Sem oxigênio, não poderemos viver. O problema no Tibete Tsering teme que o Tibete, onde ela cresceu, não exista mais. – A China arranca nossas florestas e explode montanhas para construir fábricas, minas, prédios e estradas. Eles também jogam lixo radioativo no Tibete. Desenvolvimento e modernização podem até ser bons, mas não se a natureza for destruída para sempre. Meu professor falou que algumas plantas e animais estão extintos no Tibete por causa da destrui ção do meio-ambiente.

Tsering quer ser jornalista. Ela acredita que pode ser uma boa maneira de ajudar as pessoas em dificuldades. – Eu quero escrever sobre todas as injustiças (no) do mundo, não apenas sobre o meio-ambiente ou o Tibete. Todas as pessoas têm o mesmo valor, não importa de onde elas vêm nem sua aparência.

Respeitem a natureza! Jetsun Pema luta para que todos nas vilas das crianças tratem a natureza e os animais com respeito. Nada deve ser desperdiçado, nem lixo nem roupas. Há alguns anos já se recicla vidro, papel e plástico. Em muitas das vilas das crianças, usa-se também a energia solar para aquecer a água e as casas.

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Dawa toca para o Dalai Lama

TEXTO : CARMILL A FLOYD FOTO : KIM NAYLOR

De maquiagem.

Dawa,12 anos, tem quase que beliscar o próprio braço para ter certeza que não está sonhando. Ela vai se apresentar diante de milhares de pessoas e do mais alto líder do Tibete: o Dalai Lama.

O disco de Penpa para Pema. Muitas das crianças que cresceram na vila das crianças se tornaram artistas profissionais. Um dos mais populares cantores tibetanos, Penpa Tsering, cresceu ali no “lar da música”. As crianças o chamam de “brother Penpa”. Ele dedicou seu primeiro disco à Jetsun Pema e a primeira música do disco é sobre ela!

De sapatos.

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ete de julho é um dia importante para os tibetanos espalhados pelo mundo. É o aniversário do Dalai Lama. Em Dharamsala, o dia é celebrado com um grande festival de dança e música, do lado de fora do templo. Estar entre os artistas é uma grande honra para um aluno de colégio. Mas Dawa não está nervosa. Ela ensaiou todos os dias, na escola, durante semanas! Festa sob chuva O período das monções acaba de começar em Dharamsala. Em pouco tempo, a chuva começa a cair sobre as milhares de pessoas que ficaram horas na fi la em frente ao templo Tsuglakhang. Mesmo assim, elas estão felizes. Em seu país, o Tibete, os chineses proibiram o povo de festejar o aniversário do Dalai Lama.

Dawa e seus amigos trocam de roupa atrás do templo. O local está lotado de crianças, dançarinos e músicos. – Está na hora! – grita alguém. Dawa levanta o seu pesado instrumento de cordas e segue devagar no meio da multidão. De repente, ela vê o Dalai Lama. Ele está sentado bem à frente. Jetsun Pema também está lá. Acima dos convidados e dos músicos, estão enormes faixas com o símbolo tibetano da felicidade pintado de preto e amarelo. Quando o grupo de Dawa começa a tocar e a dançar, ele é ofuscado por uma tempestade de flashes. Fotógrafos do mundo todo vieram fi lmar e fotografar o Dalai Lama. O grupo recebe aplausos calorosos e Dawa vê o Dalai Lama acenando para eles quando saem do palco.

Tranças no lugar Dawa ganha cabelos mais compridos com a ajuda de tranças postiças. Segundo a tradição tibetana, fazem-se tranças nos cabelos com fios coloridos.

Mantendo a cultura viva Em todas as vilas e escolas, as crianças aprendem sobre a dança, a música e o teatro tibetanos. Jetsum Pema deseja que todos façam teatro, toquem um instrumento, cantem e dancem para manter a cultura tibetana viva. Uma parte das crianças se dedica bastante à música e ao teatro e se apresenta nos dias festivos, como o Lhosar – o ano novo tibetano – e no término do ano escolar. 36

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Naljor é chamada de vovozinha por causa do jeito de andar Quando Naljor, 14 anos, sobe as escadas da vila das crianças, ela tem de parar para respirar. As outras crianças a chamam de vovozinha, pois ela anda devagar e encurvada como uma senhora de idade. Eles não fazem por mal, mas Naljor fica triste mesmo assim.

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aljor anda cansada e com dificuldade de comer desde que chegou à Índia, quando tinha quatro anos. – Minha mãe morreu quando eu nasci. Acho que é por isso que eu sou tão fraca – conta Naljor. – Eu não fui amamentada. Os médicos indianos dizem que Naljor tem falta de vitaminas no sangue. Eles lhe dão vitaminas, mas ela não melhora. Finalmente, a mãe substituta de Naljor a leva a um médico tibetano. Os médicos tibetanos ou “amchis”, como são chamados em sua língua, desenvolveram suas tradições médicas há mais de 2500 anos.

Quando os tibetanos fugiram para a Índia em 1959, um médico conseguiu sair do país com eles. Esse médico recebeu do Dalai Lama a missão de abrir um hospital tibetano e iniciar um curso de medicina. O pulso revela tudo O médico pergunta, primeiro, como Naljor está se sentindo e de onde ela vem. Depois, ele segura seus pulsos e começa a examiná-los. Ele não está contando as pulsações do coração, mas aperta os pulsos dela em lugares diferentes, com as pontas de seus dedos. Pelo pulso, um médico tibetano pode sentir que parte do cor-

Os médicos tibetanos usam três métdos para examinar seus pacientes. Eles pedem um exame de urina, lêem os pulsos e fazem perguntas; como os médicos de outros lugares, eles também se utilizam de Raio-X para poderem ver.

po de uma pessoa está doente. Outros médicos precisariam de raio-X. Naljor acha bom que o doutor seja tão calmo e fale gentilmente. Ela sabe que um médico tibetano deve sempre ter “uma mente calma e clara” antes de atender os pacientes. O doutor aconselha Naljor sobre como se alimentar melhor, mas também passa um remédio, que ela promete tomar, mesmo sabendo que os comprimidos tibetanos são conhecidos por possuírem um sabor horrível. Mas tudo vale a pena, para que seu sonho de ficar boa e poder jogar basquete, se torne realidade.

O médico examina Naljor fazendo uma leitura de seus pulsos.

A medicina tibetana contém milhares de ingredientes, de ervas à plantas.

Contas preciosas As admiráveis contas preciosas são feitas com uma mistura de ervas e pós finos de pedras preciosas como esmeraldas, rubis e ouro. Elas são empacotadas em bolsas de seda e são muito caras. 37

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Aprenda Tibetano A língua tibetana tem sido esquecida no Tibete. A maioria dos professores nas escolas veio da China e ensina em chinês! Manter viva a língua é uma das mais importantes razões, pelas quais pais e mães tibetanos enviam suas crianças às escolas das vilas das crianças, na Índia.

Escreva em tibetano

Vamos contar em tibetano 1 – chig 2 – nyi 3 – sum 4 – shi

Tenzin, 12 anos, gosta muito de aprender o alfabeto tibetano e de escrever com a caligrafia tibetana. Os tibetanos têm um alfabeto próprio há mais de 1000 anos! Ele parece muito com o sânscrito da Índia. Tenzin chegou à vila das crianças em Gopalpur há cinco anos. Quando ela morava no Tibete, ela não podia ir à escola. – Custava muito caro e as escolas que existiam, ficavam muito longe de casa.

5 – nga 9 – gu 6 – druk 10 – chu 7 – dun 8 – gyey

Ouça Tashi contando até dez no site:

www.childrensworld.org

Falando em tibetano Mamãe Ama Papai Pema Oi Tashi delek Adeus Kaley shu

Sim La rey Não Mindu Tack Tu djey tchey Com licença Gongta /Desculpe-me

Como vai você? Kerang kusu depo pey? Como é seu nome? Kerang ming karey rey? Quantos anos você tem? Kerang lo katsey rey?

Tashi diz

Tashi delek

Tenzin exibe seu trabalho artístico escrito em tibetano.

Bandeira proibida Norbu foi perguntado, na sala de bate-papo budista, como era a bandeira do Tibete. Ela é proibida na China. No meio da bandeira, há uma montanha branca, coberta de neve. Aquele é o Tibete. As seis partes vermelhas representam o povo do Tibete e, as seis partes azuis representam o céu do Tibete. Um sol dourado mostra seu brilho por trás do topo dos montes, que representa a alegria pela luz que dá liberdade e felicidade material e espiritual. As jóias que os leões da neve seguram entre si, simbolizam o budismo. A borda amarela significa que os ensinamentos do Buda irão se espalhar e florescer.

Próprio Curso para professores

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Jetsun Pema quer que as crianças exiladas tenham aulas em sua própria língua no primário, para que elas não percam contato com sua cultura nem seu idioma. Por isso o TCV criou um curso para seus próprios professores. O objetivo é garantir que existirá um número suficiente de bons professores tibetanos no futuro. A maioria dos professores que trabalha no TCV hoje cresceu nas vilas das crianças.

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ras e não matem as moscas! Os funcionários do matadouro nunca viram algo assim. Em toda a Índia, apareciam crianças tibetanas querendo comprar, com suas economias, cabras que iam para o abate. –

As utilidades do iaque O iaque é o animal mais importante dos tibetanos. Do leite do iaque se fabricam iogurte, manteiga e queijo. As fezes do iaque são um bom combustível e de seus longos pêlos pode se fazer cobertores, cordas e tendas. Se um iaque morre, usa-se tudo dele, da carne (comida do jantar) ao couro (botas e bolsas). E o rabo do iaque é perfeito para espantar as moscas!

O clube das cabras, com a cabra Tseten que foi salva do matadouro. Thupten, Lopsang (no canto esquerdo) e Ngawang.

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alvamos duas cabras – conta Lobsang,13 anos. Ele faz parte do clube das cabras na vila das crianças em Gopalpur e ajuda a tomar conta da cabra Tseten. – É legal e me lembra da minha cidadezinha no Tibete. Lá, nós tínhamos cabras e eu tomava conta delas de vez em quando – conta Lopsang. Há um ano, as vilas das crianças começaram a salvar animais do matadouro. Além disso, eles também estão tentando parar de comer carne. Por tradição, os tibetanos sempre comeram carne, pois era muito difícil plantar alguma coisa em sua terra fria e seca. – Mas, no Tibete, nós só comemos os animais necessários para nossa sobrevivência – diz Lopsang. Nas casas das vilas das crianças têm de tudo, formigas, moscas, aranhas e escaravelhos. Algumas vezes, até escorpiões! O que você não vai encontrar são mata-moscas e ratoeiras. Não matar, nem usar violência são duas partes muito importantes do budismo. É o que se chama de “ahimsa”. As crianças tibetanas costumam parar para salvar formiguinhas que caem em poças d’água e minhocas que aparecem nas estradas. – Se eu vir uma aranha em casa, eu não posso esmagá-la – explica Lopsang. Em vez disso, eu tento capturála e soltá-la na grama. 41

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