NOMEADA • Páginas 46–50
Prateep Ungsongtham Hata
Por que Prateep é nomeada? Prateep Ungsongtham Hata é nomeada à Heroína dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua luta de 40 anos pelos direitos das crianças mais vulneráveis da Tailândia. Desde os 16 anos, Prateep dedica-se integralmente a oferecer a dezenas de milhares de crianças pobres nas favelas e no campo uma vida melhor e a chance de ir à escola. A organização de Prateep oferece apoio financeiro à crianças, dirige quinze creches, uma escola para crianças com dificuldade de audição, lares para crianças vulneráveis, constrói bibliotecas escolares, concede empréstimos através do “Banco dos pobres” e dirige “A estação de rádio dos pobres” onde as crianças podem se fazer ouvir. A vida de Prateep é ameaçada por gangues das favelas de Bangkok. Elas não gostam que Prateep dê às crianças pobres a oportunidade de estudar e dizer não ao trabalho nocivo, às drogas, à prostituição e à criminalidade.
Prateep Ungsongtham Hata nasceu em Klong Toey, a maior favela de Bangkok. Quando tinha dez anos, ela retirava ferrugem dos navios do porto para sobreviver. Nos sonhos, porém, ela ia à escola... Hoje Prateep tem 56 anos e há 40 vem ajudando milhares de crianças tailandesas pobres a terem uma vida melhor e a frequentarem a escola.
A
história de Prateep começa antes do seu nascimento, em uma pequena vila de pescadores ao sul de Bangkok. Seu pai, o pescador Thong You, escutou os boatos de que o porto de Bangkok precisava de gente para trabalhar. Decidiu então, mudar-se com toda a família. Gente pobre de todos os lugares do interior se aglomerava no porto com a esperança de ter uma vida melhor na cidade. Eles começaram construindo pequenos barra-
cos de chapas de metal, papelão e velhas tábuas. Assim nasceu a favela de Klong Toey. Vendia doces Quando Prateep nasceu, seu pai trabalhava no porto, mas toda a família tinha que ajudar a ganhar dinheiro. – Aos quatro anos, comecei a perambular e vender doces que mamãe fazia, recorda Prateep. Toda manhã, ela dava água aos patos da família e procurava os ovos que eles botavam. Aqueles ovos que a família não precisava, Prateep vendia na feira. Todo dia, ela também ajuda-
va sua mãe a buscar água a dois quilômetros de distância. Sua mãe Suk queria que Prateep frequentasse a escola, porém não havia nenhuma escola em Klong Toey. E como Prateep, assim como todas as crianças pobres dali, não possuíam uma certidão de nascimento, elas não podiam entrar na escola pública da cidade. Sem certidão, as crianças não são consideradas cidadãs tailandesas e, por isso, não tem direito de ir à escola. Afinal, quando Prateep tinha sete anos, a mãe encontrou uma escola privada barata que aceitaria a filha. – Eu estava felicíssima! O primeiro dia de aula foi o mais feliz da minha vida. Prattep se saiu muito bem na escola. Ela não se importava que os colegas tivessem roupas melhores. Estava feliz só de poder ir à escola. De tarde, Prattep continuava a vender doces. Ela tinha muito o que fazer, porém estava feliz.
Prateep acha uma injustiça que as crianças pobres não possam ir à escola.
Prateep abriu uma escola em sua casa.
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– Encontrei meus antigos colegas. Eles iam para a escola vestindo seus belos uniformes. Eu vestia apenas trapos e roupas sujas. Quando me perguntaram por quê eu saí da escola, me senti uma boba e comecei a chorar. Tudo parecia tão injusto. Naquele momento, me decidi. De alguma maneira, eu voltaria para a escola! Prateep entregava à mãe a maior parte do dinheiro que recebia, porém sempre economizava um pouco para ela também. Depois de trabalhar no cais por quatro anos, Prateep conseguiu economizar o bastante para pagar uma escola noturna barata na cidade. – Meu sonho se realizava! Eu estudava à noite e trabalhava no cais do porto de dia. Vivia quase sempre cansada e dormia no ônibus no caminho de ida e volta da escola. Primeira escola! Durante os anos no porto, Prateep conheceu muitas crianças que trabalhavam e tinham uma vida difícil. Nenhuma tinha certidão de nascimento. Prateep pensou que isso era muito injusto. Aos 16 anos, ela decidiu inaugurar sua própria escola! – Eu e minha irmã
Um sex to da las . Oito m populaç ão mundia l mora em ilhões de las vivem milhões d na Tailând favee crianç a ia s tailande tunidade sas não tê . Três de ir à es m c ola . Muita a oportrabalhar s são obri ep g ad as a na prostitu elo menos 3 0 .0 0 0 crianç as iç ão. Para vivem a pobres , P rateep e a judar estas crianç a su s Prateep F oundation a organizaç ão Dua ng , a DPF, fa zem o seg uinte: • 2.500 c rianças po b res recebe para pode m ajuda fin rem frequ anceira entar a es • Nas 15 cola . creches d e P rateep, as leite e alim cri entação n utritiva , alé anças recebem médico e m de trata dentário g mento ratuito. • Uma esc ola para c ri a nç a vas. As fam ílias não tê s com dificuldades au m condiçõ mand ar se es econôm ditius filhos p ara as esc icas de cializadas olas caras para crian e espeças surda de audiçã s e com p o. roblemas • Dois lare s para as c rianças m m a s d e ag ais vulnerá ressão, ab veis uso ou c o drogas, on m problem , vítide elas tê a s com m um a no • C onstro va c h a n c e em bibliote . c a s em vilare crianças p jos e apóia ara que po m as ssam estu especial é dar. Um ap oferecido o io à s meninas pos s a m o , para que bter algum e a renda e no vilarejo assim, perm las . Se a s me a n nec er in correm gra as deixare m sua vila nde risco de termina • O “Banc natal, r na prosti o d o s Po b tuição. res' pobres, q ue não tem empresta dinheiro a os m c o bancos tra mo obter e dicionais. mpréstimo ais • A 'Estaç s nos ão d e R ád io dos Pob crianças s res' permit e façam o e que a s uvir.
TEXTo: ANDRE AS LÖNN FOTO: PAUL BLOMGREN
O pior dia Um dia, porém, quando Prateep tinha dez anos e acabara de concluir a quartasérie, sua mãe disse que eles não tinham mais condições de mantê-la na escola. – Foi um dos dias mais tristes da minha vida. Eu não conseguia parar de chorar. Primeiro, Prateep começou a trabalhar em uma fábrica de fogos de artifício, depois em uma fábrica de panelas. Nos dias em que as fábricas não precisavam de sua mão de obra, ela trabalhava no cais. – Eu raspava a ferrugem dos navios de carga. Como era pequena, eu tinha que rastejar debaixo do convés e limpava compartimentos estreitos difíceis para um adulto ter acesso. Era assustador e perigoso, pois não tínhamos nenhum equipamento de segurança. Às vezes, depois de trabalhar o dia todo, o capataz nos dizia que teríamos que continuar à noite também. Muitas crianças usavam drogas para aguentar o trabalho. Algumas noites, eu também usei. Eu me sentia doente, mas, ao menos, ficava acordada. Numa manhã, no caminho para o porto, aconteceu algo que transformou totalmente a vida de Prateep.
No primeiro dia, 29 crianças vieram à escola de Prateep, em pouco tempo havia mais de cem.
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Prakong organizamos uma sala de aula no único cômodo do andar de baixo do nosso barraco de palafitas. Depois, avisamos à vizinhança que eles poderiam mandar seus filhos à nossa escola por um baht (0,03 dólares) por dia. Já na primeira manhã havia crianças que não podiam pagar, mas mesmo assim puderam ficar. Na primeira semana, Prateep deu aula a 29 crianças sentadas em jornais no chão. A notícia sobre a escola se espalhou rapidamente. Depois de um mês, 60 crianças e, pouco depois, mais de cem estavam na porta da casa de Prateep todas as manhãs. – Eu lia histórias e ensinava-lhes a ler, escrever e fazer contas. Percebi que muitos não haviam comido nada antes da escola. Então, muitas vezes, eu cozinhava arroz e dava às crianças antes da aula começar. – Por diversas vezes, eu tentei conseguir a aprovação das autoridades para o funcionamento da escola. Eu tinha medo que me obrigassem a fechá-la. Já perdi a conta de quantos funcionários visitei só para dizer: “Por favor, as crianças pobres de Klong Toey também precisam estudar. Nós temos tanto valor quanto qualquer outra criança. Já que não podemos estudar nas escolas públicas, queremos que vocês aprovem a nossa escola!' Também pedi ajuda para que nós, crianças pobres, tivéssemos nossas certidões de nascimento. – A maioria deles ria e me dizia que pobre não é gente de verdade. Eles ameaçavam me prender se eu não parasse de dar aulas. Prateep venceu mesmo assim, e sua escola foi apro-
vada pelas autoridades. Mas foram precisos oito anos! Finalmente, as crianças conseguiram outros professores, mais material escolar e até um novo prédio para a escola foi construído. Ajudou centenas de milhares de crianças Aos 26 anos, Prateep recebeu um prêmio de 20.000 dólares. Prateep não guardou para si um tostão, pelo contrário usou todo o dinheiro para criar a Fundação Duang Prateep e, assim ajudar ainda mais crianças. Hoje, Prateep luta pelos direitos das crianças pobres da Tailândia há 40 anos. Dezenas de milhares de crianças pobres agora têm uma vida melhor e acesso à educação. Entre as cerca de cem pessoas que trabalham na Fundação Duang Prateep, a maioria é de Klong Toey. – Meu sonho é que todas as crianças da Tailândia tenham uma vida decente, assim a Fundação Duang Prateep não precisará mais existir. Porém, ainda hoje, milhões de crianças precisam trabalhar ao invés de ir à escola. Outras são forçadas a entrar na prostituição infantil e muitas acabam nas drogas e na criminalidade. Enquanto eu estiver viva irei lutar pelos direitos dessas crianças!
Deuan recebe apoio financeiro para ir à escola de Prateep para crianças com dificuldades de audição.
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Kea “não existe”nascimento, por isso
KEA
rtidão de – Eu não tenho ce diz Kea. a escola comum, um a ir nunca pude que prove bres não têm nada Muitas crianças po considera, por isso não são que elas nasceram “existem” para ndesas. Elas não das cidadãs taila s, que outras têm os seus direito as autoridades e , negados. crianças usufruem
fugiu do homem malvado Quando Kea ficou órfã, ela foi mal tratada no vilarejo onde vivia. Ela fugiu para a cidade, entrou para uma gangue e, aos 8 anos, foi condenada a três anos de reclusão numa prisão para jovens. Quando Kea tinha onze anos, sua “madrasta” a vendeu por 50 dólares a um homem. Um tempo terrível a esperava. Hoje, porém, Prateep ajudou Kea a construir uma vida nova.
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uma cidade próxima ao nosso vilarejo, encontrei outras crianças abandonadas, que se tornaram meus amigos. Morávamos na favela. Cuidávamos uns dos outros e os amigos passaram a ser minha família. Muitas vezes, acabávamos brigando com outras gangues da região. Uma vez, minha melhor amiga esfaqueou uma menina, que ficou gravemente ferida. Quando a polícia perguntou quem tinha feito aquilo, eu disse
que tinha sido eu. Eu adorava minha amiga e ela tinha sua própria família. Eu não tinha ninguém para sentir minha falta se eu fosse presa. A polícia acreditou em mim e fui condenada a três anos de reclusão numa prisão escola para meninas. Eu nunca pensei que a pena seria tão comprida! Como eu só tinha oito anos, era a mais jovem de todas as internas e as mais velhas tomavam conta de mim. Na verdade, o lugar não era bem uma escola, era mais uma
prisão. Não tivemos uma única lição em três anos. Vendida por 50 dólares Quando eu saí da prisão para meninas, retornei aos meus amigos. Alguns dias, porém, eu me sentia tão triste e sozinha que comecei a cheirar cola para esquecer. Um dia, uma mulher e sua fi lha se aproximaram para conversar comigo. Ela disse que era a segunda mulher do meu pai e que vinha me procurando desde que ele morreu. Finalmente, parecia que a minha vida ia melhorar! Um dia, um amigo da minha “madrasta” veio nos visitar. Ele morava perto de Bangkok e disse que precisava de uma doméstica. Minha madrasta sugeriu que eu o acompanhasse e trabalhasse para ele alguns meses para ajudar a trazer dinheiro para
a família. Pensei que estava tudo bem, pois eu sabia que voltaria para casa em breve. Antes de partirmos, o homem deu a minha madrasta 2.000 baht (50 dólares) adiantados. A principio, eu não achei nada estranho, mas logo depois entendi que tinha sido enganada. Logo que chegamos na casa do homem, ele se transformou em uma pessoa rude. Havia um muro bem alto em torno da casa, que parecia assombrosa quase como uma prisão. Eu fiquei com muito medo. Havia outras meninas da minha idade dentro da casa, mas fui proibida de falar com elas. No inicio não entendi que tipo de lugar era aquele, mas depois de um tempo descobri que todas as noites outros homens vinham visitar as outras meninas. Eles entravam nos quartos e forçavam as meninas a fazer coisas nojentas com eles. Até 49
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– Aqui não aprendemos apenas a ler e escrever. Também aprendemos a cultivar verduras e a cozinhar, conta Kea.
Adultos deveriam aprender sobre os direitos da criança! – Aqui, com Prateep, aprendemos muito sobre os direitos da criança. Eu acho muito bom, mas na verdade são os adultos que deveriam aprender sobre nossos direitos. São eles que têm que saber o que é certo e o que é errado, já que são eles que nos prejudicam, diz Kea.
então, eu só tinha que ajudar na limpeza, mas vivia com muito medo e não conseguia dormir. Fuga para sobreviver! Uma noite, o homem que me comprou veio até o meu quarto e disse: 'agora é hora'. Ele tentou fazer coisas feias comigo, mas eu me recusei. Então, ele começou a me bater com um fio elétrico por todo o meu corpo – no meu rosto, nas minhas pernas e costas. Depois desse dia, ele e outros homens vinham ao meu quarto com frequência. Eu tentava me defender, mas não era fácil. Eu só tinha onze anos. – Uma noite, após três meses naquela casa, eu me cansei. Conversei com Pun, que se tornou minha amiga. Decidimos que iríamos fugir na manhã seguinte, enquanto todos dormiam. – Silenciosamente, nós rastejamos até o muro. Eu subi nos ombros da Pun, já que
eu pesava menos, e escalei até o outro lado. Então, abri o portão pelo lado de fora e nós corremos em fuga. – Tínhamos dinheiro suficiente para pegar o ônibus até Bangkok. – Nós fomos até uma feira. Estávamos ali paradas, quando a polícia se aproximou. Eles ficaram desconfiados porque tínhamos marcas roxas e machucados por todo o rosto depois de tantas surras. Quando eles perguntaram o que houve, eu comecei a chorar e contamos nossa história. – Tivemos sorte, pois os policiais eram gentis e tomaram conta de nós. Como eu não tinha família, tive que ficar com a polícia alguns dias. Mais tarde, entrei em contato com Prateep que prometeu cuidar de mim. Ela me deu uma segunda chance na vida. Ganhei um lar e posso até frequentar uma escola!
Direitos da Criança na Rádio das Crianças! – Os adultos não costumam escutar as crianças na Tailândia. Eles só nos dão ordens sem se preocupar sobre o que pensamos, diz Duang, 14 anos. Em Klong Toey, porém, muitos adultos escutam a rádio comunitária das crianças, que ensina a eles o que são os direitos da criança. Certamente, os adultos nos levam mais a sério quando falamos na rádio! diz Duang às gargalhadas. Em criança não se bate! Cerca de 130.000 pessoas moram em Klong Toey, então a rádio de Jib, Som e Duang tem uma grande audiência! – O rádio é legal porque alcançamos muitas pessoas ao mesmo tempo. Eu sei que muitas crianças no meu bairro apanham. Através do nosso programa de rádio, podemos explicar a todos em Klong Toey, de uma forma simples, que está errado bater em crianças, diz Som, 13 anos.
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Dunga Mothers Tudo começou com Ferdinand e sua mãe, Rita, na aldeia Dunga, às margens do lago Victoria, no Quênia. Ambos morreram de Aids, mas antes da morte de Ferdinand, o menino tinha sugerido que um grupo se unisse para ajudar as crianças que tivessem ficado órfãs por causa da Aids. O grupo se chamaria Mães de Santa Rita, em homenagem à sua mãe. Hoje, a maioria dessas mães constituíram as Dunga Mothers. Apesar de serem pobres, elas vêm trabalhando arduamente há dez anos, para ajudar as crianças órfãs.
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erdinad nasceu portador do vírus HIV. Ambos os seus pais eram vítimas do HIV/ Aids e, quando eles morerram, Ferdinand passou a ser cuidado pela tia. Com o passar dos anos, Ferdinand foi ficando cada vez mais doente. Apesar disso, o menino insistia na idéia de que eles deveriam tentar ajudar outras crianças, cujos pais também houvessem morrido de HIV/Aids. Desta maneira, mais crianças também teriam as mesmas chances de sobrevivência que ele tinha tido. Havia uma quantidade cada vez maior de crianças na aldeia que eram deixadas sozinhas, quando os pais morriam de Aids, e muitas delas eram obrigadas a abandonar a escola, pois
não tinham recursos para continuar. Muitas acabavam nas ruas da cidade de Kisumu, por não terem outra forma de sobreviver além de pedir esmolas. Enfim, vinte mães decidiram trabalhar juntas para ajudar e cuidar do maior número possível de crianças órfãs. Elas não tinham dinheiro nenhum, mas mesmo assim iniciaram o trabalho. Ferdinand ficou muito feliz. Ele queria muito participar e contribuir, mas não foi possível. Ferdinand morreu quando estava na sexta série. Todos ajudam Já no primeiro dia, um grupo de crianças órfãos chegou. Elas precisavam de comida, roupas, uniforme escolar e um lugar para morar.
Ferdinand
Rita
No início, as mães não sabiam o que fazer, porque não tinham nenhum dinheiro. Algumas começaram a fazer pães e bolos para vender na cidade. Outras vendiam verduras e legumes que plantavam. Depois de um tempo, elas juntaram dinheiro suficiente para comprar uma vaca. Então, passaram a vender leite também. Em seguida, elas decidiram que, no primeiro sábado de cada mês, cada uma das mães doaria no mínimo 200 shillings quenianos (US$ 2,68) para ajudar as crianças. Muitas mães são viúvas, desempregadas e precisam cuidar dos próprios filhos. Para elas, 200 shillings que-
Por que as Dunga Mothers são nomeadas? As Dunga Mothers (outrora denominadas as Mães de Santa Rita) são nomeadas à Heroínas dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua árdua luta não remunerada, para ajudar crianças cujos pais morreram vítimas do HIV/ Aids. Sem o apoio que recebem, essas crianças viveriam nas ruas, envolvidas com drogas, criminalidade e prostituição. As mães lutam pelos direitos das crianças órfãs e para que tenham as mesmas possibilidades na vida que todas as crianças. Apesar de viverem, em sua grande maioria, com poucos recursos, elas fornecem comida, roupas, tratamento médico, escola, um lar, novas famílias e amor à 70 órfãos.
Crianças precisam de família As Dunga Mothers acreditam que as crianças devem viver em família, não em orfanatos. Elas desejam que as crianças tenham uma vida o mais normal possível, e que façam parte da vida comunitária da aldeia. Elas não têm condições de cuidar de todas as crianças órfãs e, por isso, procuram novas famílias para elas. Porém, a grande maioria dos moradores das aldeias é pobre e não tem condições de adotar uma criança.
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Visita as crianças “Eu percorro a aldeia, visitando as crianças que cuidamos. Eu sento e converso com elas para assegurar que tudo está bem. Se as crianças precisam de qualquer coisa, nós mães trazemos as demandas quando nos encontramos, buscando ajudar o máximo que podemos. Me sinto péssima quando vejo uma criança sofrer. Como muitas das crianças vivenciaram situações terríveis, acredito que o melhor que podemos fazer por elas é oferecer amor e esperança”. Judith Kondiek
Ajuda três meninos Lucia Auma Okore
Cuida de três irmãos Mary Awino
Brinca e conversa com as crianças Rose Adhiambo
Vende peixe Mary Okinda
Cuida de cinco crianças Jerusa Ade Yogo
Faz pão e conversa com as crianças
Colhe papiro para vender Birgita Were Mbola
TEXTe: ANDRE AS LÖNN FOTO: PAUL BLOMGREN
Martha Adhiambo
nianos é muito dinheiro. Contudo, todas deram o que podiam, e aquelas que não podiam ajudar com dinheiro, ajudavam de outras maneiras. Algumas lavavam as roupas e faziam a comida das crianças. Outras se tornaram mães adotivas e permitiram que algumas crianças se mudassem para suas casas. O direito de toda criança Há dez anos, as Dunga Mothers trabalham arduamente para oferecer às crian-
ças órfãs uma vida melhor. 70 crianças recebem comida, roupas, tratamento médico, escola, um lar, novas famílias e amor das mães. – Todas as crianças têm o direito de serem amadas. Se não as ajudarmos, elas acabarão nas ruas da cidade, envolvidas com drogas, criminalidade e prostituição. Não poderão ir à escola e, com isso, não terão um futuro melhor. As crianças são da nossa aldeia, por isso é nosso dever ajudar e dar a
elas um bom início de vida. Gostaríamos de oferecer a todas as crianças um almoço de verdade todos os dias, assim elas poderiam ter pelo menos uma refeição nutritiva por dia. Há cerca de 1.500 crianças órfãs na nossa comunidade. – Nosso maior sonho é que um dia encontrem uma cura para a Aids, para que assim, muitas crianças possam continuar a viver com seus próprios pais. Então, já não precisariam mais de nosso trabalho. Porém, não passa
uma semana sem que novas crianças batam em nossas portas pedindo ajuda. Sempre tentamos ajudar, mesmo com poucos recursos. Nunca mandamos uma criança embora. O Quênia é um dos países mais atingidos com o HIV/ Aids. Acredita-se que lá, há 1,3 milhão de crianças órfãs do HIV/Aids. A região mais atingida está no oeste do Quênia, ao redor do grande lago Victoria, onde a aldeia Dunga está situada.
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Penina
quer ser como as mães
Apesar de Penina sentir muitas saudades da mãe e de pensar nela todos os dias, sente-se feliz com a ajuda das Dunga Mothers. Graças a elas, a menina e os irmãos podem morar juntos e ir à escola.
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enina costuma se sentar sozinha e pensar na mãe. – À noite, ela costumava cantar e contar histórias para mim e meus irmãos. Não tínhamos muito dinheiro, mas tínhamos uns aos outros. – Quando eu estava na segunda série, minha vida mudou totalmente. Mamãe adoeceu. Às vezes, eu era obrigada a faltar à escola por muitas semanas. Eu cuidava da minha mãe, ao invés dela cuidar de mim. Eu dava banho na mamãe, penteava seus cabelos e tinha que levá-la ao banheiro várias vezes por dia. – Dormíamos na mesma cama e, com frequência, ela me acordava no meio da noite sussurrando que precisava de beber água. Muitas vezes tive que consolá-la. Eu estava muito triste, porém não queria preocupá-la. Só chorava quando mamãe não estava presente. Penina nunca irá se esquecer quando sua mãe morreu. – Naquela noite, eu e meus irmãos nos sentamos do lado de fora de casa e choramos muito. Eric, o meu irmão mais velho, tentava, em vão, nos consolar.
Penina sentia uma falta terrível da mãe. De madrugada, ela se sentava fora de casa e fitava o infi nito, ao invés de dormir. Alguns meses depois, Penina voltou a frequentar a escola. No princípio, ela sentia dificuldades em se concentrar, mas com o tempo foi melhorando. Eric, o irmão mais velho, pescava e tentava conseguir o maior número possível de trabalhos para sustentar os irmãos. Porém, Eric sabia que era impossível sustentar sozinho os quatro irmãos e irmãs menores. A salvação Outras crianças da aldeia contaram à Penina que estavam sendo ajudadas pelas Dunga Mothers. Penina tomou coragem e pediu ajuda. Desde então, Penina e seus irmãos vêm recebendo auxílio para quase tudo o que necessitam. – Todos nós estamos na escola e se nos falta comida, recebemos ajuda. Se precisamos de remédios contra a malária ou outra doença
podemos buscá-los na farmácia, que as mães pagam. Porém, o mais importante é que, com o apoio das mães, Penina e seus irmãos podem continuar morando juntos em sua aldeia natal. – É importante nos mantermos unidos agora que perdemos mãe e pai. Não estaríamos tão bem se estivéssemos em um orfanato. Aqui, ainda somos uma família. Adoro as mães e, atualmente, chamo todas de “mamães'. Quando eu ficar mais velha, quero ser como elas e ajudar outras crianças órfãs.
Conte até dez em luo e swahili! No Quênia, há mais de 40 etnias e línguas. A língua oficial é o swahili, mas as crianças sobre as quais você leu fazem parte da etnia luo e falam a língua luo. Aprenda a contar até dez em luo e swahili: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.
LUO
SWAHILI
Achiel Ariyo Adek Ang'wen Abich Auchiel Abiryo Aboro Ochiko Apar
Moja Mbili Tatu Nne Tano Sita Saba Nane Tisa Kumi
Escute as crianças contando em luo e swahili no www.worldschildrensprize. org
Bola de meia Encha uma meia com sacos plásticos. Assim, você já estará pronto para jogar queimada ou futebol.
Queimada! De tarde, Penina brinca com os irmãos e os amigos de um jogo parecido com a queimada. Eles fazem uma bola de meia, recheada de sacos plásticos. Duas crianças ficam no meio, o truque é evitar ser atingido quando uma das duas arremessadoras inesperadamente jogarem a bola nas crianças do meio, ao invés de lançá-la para os outros. Se uma das crianças é acertada pela bola, sai do jogo.
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Recebemos ajuda das mães Mamãe, como é o céu? “Papai morreu antes de eu nascer e mamãe, quando eu tinha quatro anos. Já faz tanto tempo, que se não houvesse uma fotografia eu não me lembraria de como ela era. A foto é da minha tia, mas eu posso olhá-la de vez em quando. Eu e minha mãe somos muito parecidas e me sinto bem com isso, pois ela era muito bonita. Mamãe deixou alguns vestidos dela para mim. Não vejo a hora de poder usálos. Gosto de ter alguma coisa que tenha sido da minha mãe, mas ao mesmo tempo acho triste. Eu acredito que a mamãe esteja bem lá no céu. Tento falar com ela
quando eu rezo e sonho com o dia em que nós vamos nos encontrar novamente. O primeiro que eu vou dizer é “Jambo!' (Oi). Depois vou perguntar como ela está. Também vou lhe contar que sinto muitas saudades dela, mas que apesar de tudo vivo bastante bem. Vou lhe contar que as Dunga Mothers me ajudam a comprar o uniforme escolar e os livros, assim posso ir à escola, e que também me dão comida sempre que preciso.” Winnie Awino, 9
Papai era meu melhor amigo
Sem ajuda com as lições
“Papai morreu quando eu tinha nove anos, mas às vezes ainda choro quando vejo sua fotografia. Tenho muitas saudades dele. Juntos, nós plantávamos milho, cana-de-acúcar e outros vegetais. Conversávamos muito enquanto trabalhávamos. Se eu tinha algum problema na escola, sempre podia contar para ele e logo me sentia melhor. Depois de trabalhar na plantação costumávamos ir até o lago nadar. Era super divertido! Eu tenho tantas saudades. Papai era meu melhor amigo. Minha mãe está viva, mas está quase sempre doente. Tenho muito medo de que ela também morra e eu e meus irmãos fiquemos sozinhos no mundo...” Victor Otieno, 14
“Mamãe morreu quando eu era pequena, por isso não me lembro bem dela. Já o papai, morreu no ano passado e tenho muitas saudades dele. Adorava estudar com o papai. Ele me ajudava com os deveres, especialmente de matemática. Era muito bom para explicar coisas complicadas de uma forma que eu entendesse. Agora, ninguém me ajuda, por isso tenho dificuldade em acompanhar as aulas e fico atrasada em relação aos meus colegas. Não tenho nenhum objeto de recordação dos meus pais, o que é uma pena. Adoraria ter alguma lembrança, mas a mulher do papai levou tudo que era dele. A mesa, as cadeiras, as ferramentas, tudo...” Maritha Awuor, 13
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Mamãe contava histórias “Eu era tão pequeno quando meu pai morreu que quase não me lembro dele. Mas me lembro nitidamente da mamãe, pois quando ela morreu, eu tinha dez anos. Ela tecia tapetes de papiro e os vendia. Enquanto trabalhava, contava histórias pra mim e meus irmãos. Nós ríamos muito e eu sinto muitas saudades daqueles momentos. Penso muito nas dificuldades por que passamos e às vezes fico doente de tanto pensar e me preocupar. O pior é quando estou sozinho. Todos os pensamentos vêm à tona e fico triste. Se eu pudesse dizer alguma coisa à minha mãe, diria que gostaria que ela estivesse aqui, assim poderíamos conversar um pouco. Então, eu lhe diria que a amo e que sinto falta dela.” Erick Odhiambo, 14
Futebol com papai “Mamãe morreu quando eu tinha 11 anos e papai, quando eu tinha 12. Quando mamãe estava viva íamos ao mercado juntos. Eu queria ajudar e sempre carregava a cesta de tomates, cebolas e outras verduras que ela comprava. Papai me levava aos jogos de futebol na cidade quase todos os sábados. Esses foram os melhores momentos da minha vida. Minha melhor recordação foi o dia em que meu time favorito, o Gor Mayia, ganhou do Telecom por 2 a 1. Papai tinha uma bicicleta e me levava na garupa até a cidade todas as vezes que havia jogo. Eu nunca mais fui a um jogo desde que meu pai morreu. Não tenho nem bicicleta nem dinheiro para tomar ônibus ou táxi-bicicleta até o estádio. Tomar um táxi-bicicleta até a cidade custa 25 shillings quenianos (US$ 0,30). É caro demais para mim. Eu ganhei esta blusa do papai. É a única lembrança que tenho dele. Quando estou com ela penso nele.” Dennis Otieno, 14
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Aids faz muitas vítimas Mortos por Aids: Adultos: 25 milhões Crianças: 4 milhões Portadores do HIV/Aids: No mundo: 33,2 milhões África (sul do Saara): 22 milhões Ásia: 5 milhões América Latina: 1,7 milhão Europa Oriental e Ásia Central: 1,5 milhão América do Norte: 1,2 milhão Europa Central e Ocidental: 730 mil Oriente Médio e África do Norte: 380 mil Outros países: 690 mil Quantas pessoas são contaminadas? No mundo: 7400 pessoas por dia (2,7 milhões de pessoas por ano). 1013 são crianças menores de 15 anos (370 mil crianças por ano).
Papai comprava chocolate “Meu pai morreu quando eu tinha dez anos e estava na quarta-série. Mamãe morreu quando eu ia começar a quintasérie. Quando eles estavam vivos costumávamos ir à cidade nos fins de semana. Papai sempre comprava chocolates. Eu adorava! Às vezes ele até comprava um vestido ou umas calças jeans para mim. Íamos ao restaurante comer carne e beber refrigerante. Eu era tão feliz! Tomávamos um táxi-bicicleta ou um ônibus da nossa aldeia para a cidade. Hoje em dia, se tenho que ir à cidade, sou obrigada a andar, pois o ônibus é muito caro. São mais de quatro horas de caminhada, ida e volta. Eu tenho algumas peças de roupa da mamãe de recordação. Olho para as roupas e me lembro dela. Sinto mais falta da mamãe e do papai quando alguém é rude comigo. Se eu pudesse falar com a mamãe, diria que voltasse para tomar conta de mim. Então, minha vida seria muito mais fácil e feliz do que é agora.” Winnie Anyango, 13
Crianças Portadoras do HIV/Aids: No mundo: 2,1 milhões África (sul do Saara): 1,8 milhão Órfãos da Aids : No mundo: 15 milhões de crianças África (sul do Saara): 11,6 milhões de crianças Outros países: 3,4 milhões de crianças Golpe duro no Quênia Total de portadores HIV positivo: 1, 7 milhão Crianças portadoras do HIV: 160 mil Morte devido à Aids: 110 mil pessoas por ano Total de mortos pela Aids: 1, 5 milhão Número de crianças órfãs da Aids: 1, 1 milhão Quantas pessoas morrem de AIDS ? 5500 morrem de Aids todos os dias (2 milhões por ano) Uma criança morre de Aids a cada minuto (290 mil crianças por ano)
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