Membros do Júri Infantil 2011 e 2012.
O QUE FAZ O JÚRI INFANTIL? Os membros do Júri Infantil do Prêmio das Crianças do Mundo são especialistas em direitos da criança, por suas próprias experiências. As crianças podem fazer parte do júri até completarem 18 anos. Cada membro do júri representa, em primeiro lugar, todas as crianças do mundo com experiências semelhantes às suas. Porém, eles também representam as crianças de seu país e continente. Sempre que possível, o júri inclui crianças de todos os continentes e das principais religiões. • As crianças do júri compartilham suas histórias de vida e quais de seus direitos da criança foram violados ou por quais desses direitos elas lutam. Dessa forma, ensinam a milhões de crianças de todo o mundo sobre os direitos da criança. • Todos os anos, o Júri Infantil seleciona os três nomeados ao Prêmio das Crianças do Mundo, entre todos aqueles que foram indicados durante o ano. • O Júri Infantil conduz a cerimônia anual do programa do Prêmio das Crianças do Mundo, a grande cerimônia de premiação.
• Os membros do júri são embaixadores do Prêmio das Crianças do Mundo em seus países e pelo mundo. • Durante a semana da cerimônia de premiação, os membros do júri visitam escolas na Suécia e conversam sobre suas experiências de vida e os direitos da criança. Aqui, você conhece os membros do júri.
Gabatshwane Gumede, 17, ÁFRICA DO SUL Os pais de Gabatshwane morreram de AIDS quando ela era pequena. Embora Gaba, como ela é chamada, não tivesse HIV nem AIDS, muitas pessoas tinham medo de serem infectadas por ela. Ela não tinha amigos e todos riam dela na escola. Onde Gaba mora, a maioria dos moradores está desempregada. Muitos são HIV positivo e muitas crianças são órfãs. Violações dos direitos da criança são comuns. Porém, hoje em dia, ninguém mais zomba de Gaba. Ela é cantora e campeã dos direitos da criança, e muitas crianças a admiram. Sempre que pode, Gaba compra alimentos para os pobres e doa cestas de alimentos aos colegas de escola que são órfãos. – Eu reivindico aos políticos que trabalhem pelos direitos da criança. Já debati esse assunto com a ministra da educação e muitos outros políticos. Gabatshwane representa crianças que ficaram órfãs devido à AIDS e crianças que lutam pelos direitos de crianças vulneráveis.
Hannah Taylor, 16, CANADÁ Aos cinco anos de idade, Hannah viu um homem sem-teto comendo restos tirados de uma lata de lixo. Desde então, ela tem conversado com estudantes, políticos, empresários e o primeiro ministro do Canadá para dizer que não deveria haver pessoas sem-teto. Ela fundou uma fundação que já arrecadou milhões de dólares americanos para projetos de apoio aos sem-teto, e criou um programa para escolas. – Queremos mostrar que todos podem se engajar e fazer a diferença para os sem-teto e pelos direitos da criança. Todos nós precisamos compartilhar o que temos, e devemos sempre nos importar uns com os outros. Quando visitei um lar para adolescentes sem-teto em Toronto, abracei todas as crianças. Uma delas, a mais calada, disse: ‘Até hoje, eu achava que ninguém gostava de mim, mas agora sei que você gosta’. Hannah representa crianças que lutam pelos direitos de outras crianças, principalmente os direitos das crianças sem-teto.
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FOTOS: KIM NAYLOR
Maria Elena Morales Achahui, 16, PERU Maria Helena deixou sua aldeia na montanha quando tinha 12 anos, sem avisar seus pais. Ela tem sete irmãos e irmãs, e sabia que sua família enfrentava muitas dificuldades financeiras. Além disso, ela achava que o ensino na escola da aldeia era fraco. Na cidade de Cuzco, ela se tornou empregada doméstica na casa de sua tia. Não havia remuneração, pois ela recebia apenas alguns trocados, e tinha que trabalhar tanto que não conseguia ir à escola. Quando reclamou, sua tia ameaçou espancá-la. Maria Elena sentia muitas saudades de sua família e foi para casa, visitá-los. Quando voltou à casa de sua tia, foi mandada embora. Hoje Maria Elena mora num abrigo da organização Caith. Ela frequenta a escola e integra um grupo que atua em defesa dos direitos das trabalhadoras domésticas. Maria Elena representa meninas que trabalham como domésticas, muitas vezes em situação análoga à escravidão, e a luta pelos seus direitos.
Hamoodi Mohamad Elsalameen, 14, PALESTINA
Hamoodi vive em uma aldeia pobre ao sul de Hebron, na Cisjordânia, território ocupado por Israel. – Uma noite, os soldados israelenses vieram em tanques de guerra à nossa aldeia. Pelo alto-falante, ordenaram que todos acendessem as luzes e depois dispararam em todas as direções. Três pessoas foram mortas, diz Hamoodi. Aos cinco anos de idade, quando lhe contaram como um garotinho havia sido morto, Hamoodi disse: “Quero uma arma!”. Entretanto, ele agora participa do diálogo pela paz. Hamoodi tem amigos judeus e joga futebol com eles várias vezes por mês em Israel. – Gosto de jogar futebol, mas não temos lugar para jogar aqui na aldeia. Costumamos jogar em um campo distante daqui, mas quando os soldados israelenses chegam para prender alguém, eles nos levam para longe. Isso acaba com a diversão, diz Hamoodi. Hamoodi representa crianças em zonas de conflito e crianças que vivem em territórios ocupados.
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Brianna Audinett, 15, EUA Quando Brianna tinha onze anos, sua mãe abandonou seu violento pai. Brianna e seus três irmãos tornaram-se sem teto em Los Angeles. No início, eles se mudavam com frequência e ficavam em motéis, apesar de ser proibida a estadia de cinco pessoas em um único quarto. Então, eles tinham que se mudar com frequência. Eventualmente, conseguiram vaga em um abrigo, onde eles dormiam em beliches num dor-
mitório com outros sem-teto durante meses. Eles tinham que ficar sempre quietos e quase não podiam brincar. Porém, em frente ao abrigo ficava a School on Wheels (Escola sobre Rodas), onde Brianna e seus irmãos tinham um lugar para brincar e ganhavam material escolar e ajuda para fazer as lições de casa. – Quero ser médica quando crescer, e ajudar principalmente as pessoas sem-teto. Elas não têm nenhum dinheiro, mas eu as ajudarei mesmo assim, diz Brianna, que finalmente conseguiu um lugar para morar com sua família. Brianna representa todas as crianças sem-teto.
Lisa Bonongwe, 16, ZIMBABWE
Quando Lisa tinha quatro anos, seu pai bebia e batia em sua mãe quase todas as noites, às vezes, até ela cair inconsciente no chão. Quando Lisa chorava e gritava pedindo que o pai parasse, ele a expulsava, junto com seu irmão mais velho de casa. – Até mesmo no ápice do inverno, nós tínhamos que dormir na varanda, fazia muito frio, conta Lisa. Quando ela tinha 7 anos, sua mãe expulsou o pai de casa e Lisa passou a integrar o clube das meninas da Girl Child Network em sua escola. Ele ensina às meninas sobre seus direitos. – Nos clubes das meninas, conversamos sobre questões importantes para nós. As meninas não estão seguras no Zimbábue. Somos abusadas, estupradas e precisamos fazer todo o trabalho doméstico. Se não há dinheiro suficiente, apenas os meninos têm permissão para frequentar a escolar. Eu ajudo a promover encontros e protestos pelos direitos das meninas”. Lisa representa crianças que lutam pelos direitos das meninas.
Mae Segovia, 13, FILIPINAS
Quando tinha nove anos, Mae foi forçada a abandonar a escola e começar a trabalhar para ajudar a sustentar sua família. Ela tinha que dançar e se despir diante de uma câmera em um Internet café. As imagens eram transmitidas em todo o mundo através da Internet. Levou dois anos para o proprietário que abusava de Mae ser pego pela polícia. Agora, ele e muitos dos que assistiam às imagens estão na prisão, mas Mae não poderia mais viver com sua família. Havia o risco de que ela ficasse em apuros novamente devido à pobreza. Hoje ela vive em uma casa segura para meninas vulneráveis da organização Visayan Forum. Ela vai à escola e luta por outras meninas que são vítimas de abuso. – Sinto falta da minha família, mas amo a escola e estou melhor aqui, diz Mae. Mae representa crianças abusadas no comércio do sexo e crianças que lutam pelos direitos da criança. Nuzhat Tabassum Promi,14, BANGLADESH – Se o nível do mar subir um metro, a parte sul de Bangla desh, onde eu moro, ficará submersa. Penso nisso com frequência. O aquecimento global está causando o derretimento do gelo ao redor dos polos e do Himalaia, o que significa que somos mais atingidos por ciclones e inundações. No caminho para a escola no dia seguinte ao megaciclone havia mortos e feridos por toda parte, diz Nuzhat. – Ela vive na pequena cidade de Barisal, no sul de Bangladesh. Todas as manhãs, ela veste seu uniforme
escolar, acena para um bicitáxi e segue na condução até a escola. – Ciclones, tempestades muito poderosas, atingem Bangladesh todos os anos. O país está bem preparado e tem um bom sistema de alerta de ciclone. A pior coisa que me aconteceu na vida foi quando pensei que a escola havia sido destruída pelo megaciclone. Nuzhat representa crianças que têm seus direitos violados, como resultado de desastres naturais e degradação ambiental, e crianças que exigem respeito aos direitos das meninas.
Mofat Maninga, 15, QUÊNIA – Eu quero falar com o presidente do Quênia e contar a ele como a vida é difícil para as crianças, que sua polícia espanca crianças que vivem na rua e as joga na prisão. Na prisão! Como se pode trancar uma criança só porque ela é obrigada a viver na rua? Como é possível roubar a liberdade de uma criança? Eu diria ao presidente que, em vez disso, ele deveria cuidar das crianças. Dar-lhes um lugar para morar, algo para comer e a chance de ir à escola. Quando Mofat tinha oito anos, sua mãe morreu de AIDS. – Minha avó cuidava dela e não me contou quão doente minha mãe estava. Aquilo veio como um choque. Eu me sentia muito só. – Alguns anos mais tarde, o próprio Mofat adoeceu. Sua avó cuidava dele, mas, quando ela morreu, o resto da família expulsou Mofat de casa. Ele
Mais crianças do júri
tinha 13 anos e teve que morar na rua. Porém, atualmente, Mofat mora em um lar para crianças de rua e voltou a frequentar a escola. Mofat Maninga representa crianças que são infectadas com o HIV, e crianças que vivem na rua.
Liv Kjellberg, 13, SUÉCIA – Começa com provocações por algum motivo, como usar as roupas erradas, ser tímido ou não parecido com todos os outros. E depois simplesmente continua, com empurrões e coisas assim, e só piora cada vez mais, diz Liv. Logo nos primeiros anos da escola, ela foi excluída do grupo das meninas. Ela se sentava sozinha no refeitório e era submetida a assédio moral e cutucões. – Os professores nem sempre sabem o que está acontecendo entre os alunos e quando você começa a ser intimidado, provavelmente não diz nada. Você pensa que amanhã provavelmente será melhor e que poderá ficar junto com os outros. A própria Liv cuidou da questão e levantou dinheiro para que a organização Friends, que trabalha contra o assédio moral, pudesse vir à sua escola. – Agora é divertido na sala de aula e ninguém pratica assédio moral. E tenho sete bons amigos na escola, diz Liv. Liv representa crianças vítimas de assédio moral e crianças que lutam contra o assédio moral.
Poonam Thapa, 16, NEPAL Representa e luta pelas meninas que são traficadas e vendidas a bordéis como escravas, e todas as meninas que sofrem abuso. Páginas 8–9
David Pullin, 15, REINO UNIDO
Representa crianças que são separadas dos pais e ficam aos cuidados da sociedade, e crianças que lutam pelos direitos da criança. Páginas 10–11
Ndale Nyengela, 14, D.R. KONGO Representa soldados-criança e crianças em conflitos armados. Páginas 12–13
Emelda Zamambo, 12,
MOÇAMBIQUE
Representa crianças órfãs e crianças que lutam pelos direitos da criança. Páginas 34–39
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O homem que vendeu Poonam é levado. O Nepal tem uma nova lei contra o tráfico humano e ele pode ser condenado a 20 anos de prisão e pagar o equivalente a 5 anos de salário para Poonam.
Poonam
TE X TO: MARTIN SCHIBBYE
FOTO: JONAS GR AT ZER
denunciou traficante de pessoas Quando a nepalesa Poonam Thapa conheceu um rapaz mais velho, ele a enganou e vendeu para um bordel na Índia. Hoje, Poonam está livre e faz parte do Júri Infantil do Prêmio das Crianças do Mundo. Recentemente, ela conseguiu denunciar o rapaz que a vendeu, e ele foi preso pela polícia. – Você me convenceu a fugir
e prometeu que iríamos nos casar, grita Poonam para o rapaz mais velho, preso a um banco na organização Maiti Nepal na capital, Katmandu. Poonam reconheceu o 8
homem quando ele visitou o centro da Maiti uma semana antes, procurando por sua esposa desaparecida. Ela não teve coragem de dizer nada até que ele fosse embora. Mas quando Poonam contou que ele era o rapaz que a vendera, deram um jeito de atraí-lo de volta.
– Eu nunca vi essa menina e nunca estive na Índia, diz o rapaz. Ele não tem tempo de dizer mais nada, pois Poonam explode. – Eu sei o nome do seu pai, sei que ele é cego de um olho, por isso, não minta para mim! Anuradha Koirala, a fundadora da Maiti Nepal, chama a
polícia e pede a Poonam, que agora tem 16 anos de idade, para contar tudo desde o início. Poonam cresceu na aldeia de Ichtko, em um dos países mais pobres do mundo, o Nepal. Os jovens da aldeia sonhavam com uma vida diferente. A aldeia era frequentemente visitada por traficantes de pessoas, que tentam atrair jovens com falsas promessas de trabalho. Os pais nem sempre entendiam o perigo, e achavam que a oferta era uma grande oportunidade. Menos uma boca para alimentar e, além disso, uma renda. Como Poonam não tinha pais, ela viajou muito jovem para a cidade indiana de Shimla para colher maçãs e cogumelos e trabalhar como garçonete em um restaurante. Foi lá que ela conheceu o rapaz um pouco mais velho. Enganada e vendida
Quando Poonam tinha 14 anos, voltou à sua aldeia natal no Nepal, e seu grande amor sugeriu que eles fugissem para a grande cidade de Mumbai, na Índia, para se casarem para viver juntos. – Mas você deve fugir no dia seguinte à minha partida, para que ninguém suspeite que fugimos juntos. Depois, nos encontraremos na Índia, disse o rapaz para Poonam. Após vários dias em diversos carros e ônibus, Poonam chegou a um beco escuro em um subúrbio da cidade indiana de Mumbai, que tinha 14 milhões de habitantes. Porém, havia algo errado. A sala estava cheia de meninas. Várias delas eram mais jovens – Você me enganou, Poonam grita, perturbada, para o rapaz que a vendeu a um bordel.
do que ela. O rapaz que deveria encontra-la não estava lá. Uma das mulheres da casa mandou Poonam tomar um banho e vestir uma saia curta. Depois, ela foi maquiada. Os homens que ali chegaram a obrigaram a tomar bebidas alcoólicas, e ela ouvia todos conversando sobre “clientes”. No Inferno
– O que é um cliente? – perguntou ela a Mala, uma das meninas mais velhas. – Você foi vendida, isto aqui é um bordel, respondeu Mala. À noite, muitos homens vieram ao bordel. Poonam se recusou a deixar que a tocassem. Ela chorou, gritou, chutou e mordeu. Eles a amarraram, a açoitaram com cabos elétricos e a queimaram com cigarros, até que ela cedeu. Poonam era usada por 10-15 homens todos os dias. Quando ela tentou escapar, conseguiram pegá-la. Após 10 meses, policiais indianos invadiram o local. Eles haviam recebido uma denúncia de que havia crianças no bordel, e levaram Poonam.
Assim Poonam chegou à organização Maiti Nepal, que recebeu o Prêmio das Crianças do Mundo em 2002 por seu trabalho pelas meninas que foram vítimas de tráfico humano e exploradas. A polícia chega
O walkie-talkie do comissário de polícia crepita quando ele entra na sala da Maiti Nepal onde Poonam e o rapaz que a vendeu esperam. – Sim, sim, eu vendi Poonam por 40.000 rúpias indianas (mil dólares dos EUA), mas foi a primeira e última vez que vendi uma menina! – reconhece o homem que Poonam identificou.
O silêncio paira na sala. De acordo com a nova lei do Nepal, o “Human Trafficking Act” (lei do tráfico humano), o homem é condenado a 20 anos de prisão e a pagar uma multa equivalente a cinco anos de salário para Poonam. – Enquanto houver pessoas dispostas a vender seres humanos, é difícil para nós, da polícia, conseguirmos intervir, diz o policial. Ele considera Poonam incrivelmente corajosa. – Se ela hesitasse o mínimo, seria difícil conseguir condenar alguém, diz ele, levando o traficante de pessoas para o carro da polícia. Na sala, Poonam está sen-
tada, completamente exausta. Apesar de tudo, parece que seu futuro será brilhante. Na Maiti Nepal, ela e outros sobreviventes recebem apoio e formação profissional. No Júri Infantil do Prêmio das Crianças do Mundo, Poonam representa e luta pelas meninas vítimas do tráfico humano e vendidas a bordéis como escravas, e todas as meninas que sofrem abuso.
Poonam entrega flores à Rainha Silvia, da Suécia, durante a cerimônia de premiação do Prêmio das Crianças do Mundo no Castelo Gripsholm, em Mariefred, Suécia.
Mais escravos hoje Duzentas mil meninas e mulheres do Nepal são escravas em bordéis na Índia. A cada ano, doze mil novas meninas chegam lá, muitas das quais são menores de 16 anos. Acredita-se que haja 1,2 milhão de escravas sexuais em todo o mundo. Estima-se que o lucro com o comércio de sexo esteja entre 9,5 bilhões e 32 bilhões de dólares dos EUA. Há pelo menos 12,3 milhões de escravos no mundo atualmente, aproximadamente o mesmo que o número total de escravos que foram enviados para a Europa e América entre os séculos XV e XIX. Outros acreditam que atualmente existem 27 milhões de escravos.
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– Todos os membros do Conselho Municipal de Staffordshire assinaram uma declaração, The Pledge (A Promessa), redigida por nós, do Conselho Infantil, em que eles prometem cumprir nossos direitos, conta David.
David luta por crianças in Os pais de David eram alcoólatras e, quando ele era pequeno, muitas vezes o deixavam sozinho durante todo o dia. Atualmente, ele vive com uma família adotiva e luta por crianças com histórias de vida semelhantes. O britânico David Pullin, de 15 anos, é novo no júri do Prêmio das Crianças do Mundo, onde representa as crianças que são separadas de seus pais e ficam sob a tutela da sociedade. “Quando era pequeno, eu
morava com minha mãe e meu pai. Eles eram alcoólatras e muitas vezes me deixavam sozinho no apartamento quando saíam para beber. Às vezes, ficava sozinho durante todo o dia. Como ficava trancado, eu não podia sair de lá. Nunca havia comida suficiente, apenas salgadinhos, biscoitos e talvez um pouco de pão. Eu não tinha amigos e geralmente ia me deitar sozinho. Era difícil, pois eu tinha medo do escuro. Logo que comecei a frequentar a pré-escola, os professores perceberam que havia algo errado. Eu estava desnutrido e sempre usava roupas sujas, que 10
eram muito pequenas para mim. E, como eu não estava acostumado a conviver com outras pessoas, ficava a maior parte do tempo sentado sozinho num canto. Minha mãe geralmente estava cheirando a álcool ao me levar e buscar na escola. Meu pai foi preso e meus professores entraram em contato com autoridades do serviço social e lhes informaram que a situação em casa não era boa para mim. Quando eu tinha sete anos, foi decidido que eu iria morar com uma família adotiva. Mesmo quando tudo vai mal em nossa casa, ainda desejamos, de alguma forma, poder continuar com nossos pais; por isso, eu esta-
va muito preocupado. Será que a nova família seria gentil comigo e gostaria de mim? Voz das crianças
Porém, assim que cheguei lá, me senti seguro. Eles me abraçaram e me cumprimentaram. Em pouquíssimo tempo, parecia que aquela era minha própria família. E também fiz amigos na escola. Mas, apesar disso sentia-me um pouco solitário por não ter com quem compartilhar minha experiência. Então meu assistente social me falou sobre a Voz das Crianças, onde crianças que ficaram sob a tutela da comunidade podem se reunir para conversar sobre o que passaram, e apoiarem-se mutuamente. Eu já participo da Voz das Crianças há três anos. Inicialmente, eu participava – Meu sonho é que todas as crianças que ficam sob a tutela da sociedade possam levar uma vida digna e ter seus direitos, exatamente como todas as outras crianças.
porque precisava de apoio, agora é mais para apoiar àqueles que precisam de minha ajuda, pois, embora tenha passado por coisas muito difíceis quando era mais jovem, eu tive muita sorte. Tenho uma nova família maravilhosa e tudo vai bem para mim. Entretanto, sei que nem todas as crianças que ficaram sob a tutela da sociedade tiveram a mesma sorte, e eu quero lutar por seus direitos. Eu participei da produção de um pacote de informações para crianças, que cada criança que fica sob a tutela da sociedade deverá receber. Ele contém informações sobre os direitos
da criança, bullying e números de telefone importantes, de hospitais, serviços sociais e dos responsáveis pelos direitos das crianças no governo. É importante que todas as crianças institucionalizadas conheçam seus direitos e saibam a quem recorrer para exigir que eles sejam cumpridos. Conselho Infantil
Em Staffordshire, onde moro, existe um conselho das crianças, onde todos os doze membros, são crianças que ficaram sob a tutela da sociedade. As outras crianças do projeto Voz das Crianças me convidaram para participar do conselho das crianças, ao qual me juntei há dois anos. Entre outras coisas, participei da reivindicação de aumento da quantia semanal que as crianças sob a tutela da sociedade recebem. Eu vou junto com os membros do Tribunal Adulto do Conselho Municipal, visitar orfanatos para verificar se as crianças que vivem nesses lugares estão bem. Se as por-
tas e os móveis estiverem quebrados ou as janelas estiverem em más condições e o lugar como um todo for desorganizado, eu o denuncio ao Conselho Municipal, que se encarrega de corrigir os problemas. Um menino de um dos lares recebia apenas metade do subsídio a que tinha direito. Reclamei com o superintendente e o Conselho Municipal e, no dia seguinte, a situação foi resolvida! Outra tarefa muito importante que tenho através do conselho municipal das crianças é participar de entrevistas com adultos que desejam trabalhar para o município com as crianças que estão sob a tutela da sociedade. Neste caso, procuro adultos que sempre priorizam os interesses e o bem estar das crianças, e que sejam simpáticos e divertidos! Até o momento, os adultos contrataram as pessoas que nós recomendamos! Adultos escutam
Em geral, eu sinto que as
autoridades aqui em Stafford shire escutam as crianças que estão sob a tutela da sociedade. Afinal de contas, foram as autoridades que criaram a Voz das crianças e o Conselho Infantil, que nos dá a oportunidade de influenciar questões importantes que nos dizem respeito. Recentemente, todos os membros do Conselho Municipal assinaram uma declaração – A Promessa – escrita por nós, do Conselho Infantil, em que eles prometem cumprir os nossos direitos. Entre outras coisas, que
stitucionalizadas
temos direito a assistentes sociais bons e bem treinados para cuidar de nós. Estou animado, porque é exatamente por isso que eu luto, para que sejamos respeitados e ter voz. Meu sonho é que cada criança que é colocada sob a tutela da sociedade viva uma vida digna e tenha seus direitos, como qualquer outra criança. Agora minha mãe está sóbria, e nos encontramos regularmente. Porém, decidimos que devo ficar com a minha nova família até tornar-me adulto”. David representa as crianças que são separadas dos pais e ficam sob a tutela da sociedade.
TE X TO: ANDRE AS LÖNN
– Faço parte da Voz das Crianças há três anos. No início, eu precisava muito de apoio, agora é mais para apoiar os outros que precisam de minha ajuda, diz David.
Ciclismo para todos! – As crianças que estão sob a tutela da sociedade muitas vezes não têm sua própria bicicleta, e eu acho que isso é errado, porque querem se divertir como todo mundo. Falei com autoridades sobre isso e afirmei que pensava que todas as crianças que não podem pagar, ou cujas famílias adotivas não podem pagar, deveriam receber uma bicicleta gratuitamente do município. Eles concordaram! Porém, eles disseram que o Conselho Infantil deveria lançar o projeto. Até agora, doze crianças já receberam bicicletas de nosso projeto! 11
– Agora esta é a sua caneta, disse o soldado, entregando uma arma para Ndale Nyengela, sequestrado aos 11 anos de idade, no caminho para a escola, por um grupo armado na RD Congo. Hoje Ndale tem 14 anos, está livre e é um novo membro do Júri Infantil do Prêmio das Crianças do Mundo. “Era um dia normal. Acordei
com o nascer do sol, me lavei e vesti o uniforme escolar. Peguei minha bolsa com caneta, caderno, régua, e fui ao encontro de meus colegas. Éramos seis, e corríamos de
Ndale
teve que trocar a caneta pelo rifle vez em quando, pois estávamos um pouco atrasados. Pegamos um atalho por uma trilha através da floresta. De repente, vimos dois soldados armados entre as árvores. Eles gritaram conosco, e já era tarde demais para correr de volta. – Aonde vocês estão indo, meninos? – perguntou um soldado. Ele pegou nossas bolsas escolares e as esvaziou jogando tudo que havia nelas no
chão. Eles também encontraram o dinheiro que eu tinha para pagar a taxa escolar e comprar feijão. Era dia de feira, e minha mãe me pedira para comprar dois quilos de feijão marrom. – Sabem, rapazes, neste país não há soldados suficientes; por isso, agora é hora de vocês ajudarem, disse o outro soldado. – Estamos indo para a escola, eu disse. – Escute aqui! Se você pretende argumentar, podemos muito bem matá-lo aqui mesmo. Entendeu!? – Ele disse, e bateu em nossas cabeças com uma vara. Eu estava muito assustado e pensei que Deus devia ter se esquecido de mim. Não podia Ndale estava a caminho da escola quando foi sequestrado e forçado a tornar-se soldado. Depois de três anos, ele conseguiu escapar.
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– Agora minha vida começou de novo, ele diz. Na organização BVES, Ndale e outros soldados-crianças libertados recebem ajuda para processar as terríveis experiências pelas quais passaram, e para voltar para a escola.
haver outro motivo para eu acabar naquela situação. Pensei em meus pais e irmãos. O pesadelo era real
Andamos por três dias sem comer ou dormir. Nós podíamos falar uns com os outros. Quando andávamos devagar, nos chutavam e gritavam conosco. Eu estava exausto. Uma noite, eles queimaram os nossos uniformes escolares. Tudo era como um pesadelo, mas era realidade. Após três dias chegamos ao seu acampamento. Quando vi todos os soldados e quão mal eles viviam em casas feitas de galhos e folhas de plástico, pensei: – Este é o fim da minha vida. Eu sou estudante, o que devo fazer entre todas essas armas? Um dos soldados deu-nos uniformes e armas.
– “Esta agora é a sua caneta” – disse ele, enquanto estendia sua espingarda para mim. O uniforme era grande demais para mim, mas uma mulher cortou as mangas e pernas. Havia outros soldadoscriança no acampamento. Eles perguntaram se tínhamos algum dinheiro. Mas não tínhamos. No dia seguinte, começamos a treinar tiro com o rifle. O tempo todo eu pensava: – Eu não quero aprender a atirar, eu sou estudante. Quando já conseguíamos manejar a arma, eles disseram que agora teríamos que aprender a matar pessoas. – Essa árvore é um ser humano. Certifique-se de acertar bem no coração! Participou da guerra
Depois de dois meses no
A fuga
Fiquei três anos naquele exército. Um dia um amigo meu, um soldado adulto, veio até mim e disse: – Fuja daqui comigo! Eu ouvi no rádio que as tropas da ONU e outros, chamados BVES, estão aqui e querem ajudar os soldados-criança a serem libertados. Seu plano era conseguir roupas civis de um dos vendedores ambulan-
criança, de modo que todos entendam que as crianças têm direitos. Eu quero garantir que as crianças não sejam usadas como soldados. Todos os adultos devem se lembrar de que já foram crianças. Muitos adultos se esquecem disso. Porém, também quero cuidar dos meus pais”. Ndale representa crianças-soldados e crianças em conflitos armados.
“Sim ao uniforme escolar” e “Uniforme militar nunca mais”, dizem dois dos cartazes. Agora os soldadoscrianças tiraram os uniformes para queimá-los.
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DEPOIMENTO A: GUNILL A HAMNE FOTO: GUNILL A HAMNE & BO ÖHLÉN
tes que vinham ao acampamento. Vestiríamos as roupas sob o uniforme e fugiríamos para longe durante a noite. Nós rastejamos para longe durante a noite. Quando chegamos mais para dentro da floresta, jogamos fora nossas armas e tiramos os uniformes. Dormimos na floresta e pudemos, então, ir com nossas roupas civis para onde tínhamos ouvido falar que os libertadores de soldados-criança estavam. Nos apressamos para chegar até eles. – Fugimos de um exército, e você pode ver que ele é uma criança. Vocês podem cuidar dele? – disse meu amigo a um homem da BVES que estava ao lado de um grande carro da ONU. – Não tenha medo, nós vamos cuidar de você, o homem me disse. Eu fiquei muito feliz e minha vida começou de novo. Aqui no BVES estou calmo. Aqui posso ir à escola. As disciplinas de que mais gosto são música, inglês, geografia e história. Quando eu terminar meus estudos, quero fazer músicas contando como é estar no exército e sobre os direitos da
acampamento, uma manhã ouvimos vozes animadas: – O inimigo está vindo se vingar! Todos os homens preparem-se para a batalha! Poucos dias antes, soldados do nosso acampamento haviam atacado outro exército, roubando uma vaca e muitas outras coisas. Agora o exército vinha tomar de volta o que foi roubado. Nós, crianças, tivemos que ir primeiro. Era sempre assim. Escondemo-nos na mata, perto de uma estrada. Alguém começou a atirar. Eu não consigo descrever quanto medo eu sentia. Foi minha primeira batalha e estava quase escuro. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Pessoas caíam mortas ao meu lado. Pessoas gritavam. Todos atiravam. Eu me senti muito sobrecarregado pela sensação de medo. Quando tentei arrastar-me para longe, os outros soldados me empurraram e disseram: – Se o seu amigo morrer, não se preocupe, basta passar por cima dele! É seu dever. Dois dos meus colegas de escola foram mortos no primeiro dia. A luta continuou por 12 dias. Tudo por causa de uma vaca. Quando voltei para o acampamento, estava sem dormir ou comer havia muitos dias. Porém, quando me permitiram dormir, eu não conseguia, devido a todos os pensamentos e pesadelos sobre as experiências pelas quais eu havia passado.